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Annie Proulx
Tenho que admitir que quando os livros de Annie Proulx chegaram
pela primeira vez nas livrarias, eu passei reto pelas prateleiras.
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19/11/2018 Annie Proulx - VICE
Tenho que admitir que quando os livros de Annie Proulx chegaram pela primeira
vez nas livrarias, eu passei reto pelas prateleiras. Talvez por causa dos títulos—
Heartsongs and Other Stories, Postcards—e das capas em tom sépia. Então, em
algum momento dos anos 90, um amigo me deu uma cópia do The Shipping
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News, e disse que foi uma das melhores coisas que já tinha lido. Esse amigo era
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mais ligado emOPINIÃO
Lovecraft, crimeFOTOS
NSFW pesadoREVISTA
e em revistas como a Answer Me!, então
quei surpreso quando vi o nome da Annie Proulx na capa. Depois de dois dias
de leitura me vi envolvido com as aventuras mal-sucedidas de Quoyle na
pequena cidade canadense de Newfoundland, e pelo próprio estilo de escrita da
autora.
O ano de 1999 trouxe Close Range, o primeiro dos seus três contos de Wyoming
(Bad Dirt de 2004 e Fine Just the Way It Is de 2008). As histórias eram como
socos curtos no estômago, uma percepção profunda da obstinação das pessoas e
do esplendor indiferente do mundo físico. Lá estava uma escritora dando
tapinhas nas covas de Conrad e Hemingway. A história nal, “Brokeback
Mountain”, tem apenas 29 páginas, mas é arrebatadora de uma maneira que um
lme jamais poderia ser. Esses últimos livros surpreenderam até os críticos e os
juízes literários que a premiaram com um Pulitzer por The Shipping News. O
quão esquisito é o fato de Annie ter aparecido do nada com seu primeiro livro
aos 53 anos de idade e num período de 15 anos ter se tornado conhecida como
uma das melhores escritoras norte-americanas?
Annie viveu em Wyoming por muitos anos, evitando qualquer tipo de atenção (e,
aparentemente, enlouquecendo fãs de “Brokeback Mountain” que queriam co-
nhecê-la). Quando liguei para ela para fazer a entrevista, disse que gostaria de
concentrar nossa conversa nos contos. Ela resistiu: “O problema é que não me
lembro muito bem deles. E não tenho os livros aqui comigo”. Mas não importa,
ela é tão franca e envolvente que acabamos conversando sobre vários assuntos,
inclusive sobre literatura.
Vice: “Tits-Up in a Ditch” é uma das histórias mais implacavelmente frias que
você já escreveu. Mas eu moro no Oeste do estado de Nova York...
Annie Proulx: [risos] Falando de frio.
...e tem muita gente aqui cujas vidas estão tão fadadas economicamente quanto
aquelas que você descreve—incluindo aquela história desafortunada de
amputação no Iraque. O quanto você re ete sobre as condições econômicas
dos personagens?
Bastante. Um dos meus pontos de partida é saber qual a situação econômica do
lugar e da época. Sou acusada de escrever demais sobre homens, mas todo o
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Na verdade eu sei sim. Meu pai também era franco-canadense e fez a mesma
coisa em Denver.
Ah, em Denver. Entre tantos lugares.
Portage la Prairie, Manitoba. Ele também batalhou para chegar ao que minha
mãe chamava de classe alta baixa. Grande parte da vida dele foi como as
últimas palavras de “Brokeback Mountain”: “Você tem que aguentar o que não
pode consertar”.
Esse é um resumo da experiência rural. Os tempos difíceis chegam, você tem
que enfrentá-los. Coisas boas chegam, você coloca algumas de lado e não faz
muito alarde. É uma questão de car onde está e acocorar-se em tempos
difíceis. É isso que os personagens de “Tit-Up in a Ditch” fazem, porque têm que
fazer. Posso pensar em um escritor que aposto que você vai gostar se não tiver
lido nada dele. Têm tão poucos e, sério, muito poucos escritores nesse país que
escrevem sobre a classe trabalhadora. Mas um deles é o Dagoberto Gilb, um
texano de origem mexicana que mora em Austin. Sua mãe era mexicana, e seu
pai alemão deixou a família muito cedo. Não são rurais—são mais urbanos—mas
são trabalhadores. Um escritor maravilhoso, se é que você já não conhece seu
trabalho.
Na sua história “Them Old Cowboy Songs”, vemos que mesmo se você consegue
aguentar, mal e mal, você ainda pode ser apagado da paisagem. A coleção é
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Para sempre?
Não. Não estou nem lá, nem cá. Semi-sem-teto. O problema com minha casa em
Wyoming... é uma casa nova e nós não sabíamos, porque o agente imobiliário que
nos vendeu a propriedade cometeu um erro. Quando eu perguntei a ele se o
condado cuidava da estrada durante o inverno, ele disse, ah sim, claro. Bom, eles
não fazem isso, e nós só descobrimos isso depois que a casa foi construída. No
primeiro inverno em que eu estava lá, veio uma nevasca, e eu esperei pelo trator
para limpar a neve. E esperei. [risos] Finalmente acabei ligando para o condado
dizendo que eu estava presa, que havia montanhas de neve de sete metros
atravessando a estrada. Houve um longo silêncio na linha, e então descobri a
amarga realidade. O trator só vem se você tiver crianças em idade escolar na
casa.
Jesus. Eu quei preso em uma dessas suas nevascas de Wyoming uma vez,
enquanto viajava de carona. Fora de Centennial.
Eu morei em Centennial antes de mudar para o outro lado das montanhas.
OK, então você sabe algo a respeito. Violência climática súbita é algo esperado.
Seus livros têm aquele clima do Peckinpah de violência rápida e emblemática.
Você é ciné la?
Na verdade não. Atualmente estou tendo aulas de espanhol, então às terças-
feiras eu tenho lmes em espanhol nas aulas, e são sempre interessantes. O meu
preferido é La Caza, de Carlos Saura, feito em algum momento da década de 60.
Mas violência gratuita em lmes não é algo que me interesse. Aconteceram
tantas coisas pesadas na vida real do Ocidente que não poderiam ser
transformadas em histórias. É simplesmente horrível demais. Tem uma
historiadora que escreveu uma história da prostituição no Ocidente. Uma das
pessoas que ela descreve é uma garota de 12 anos em uma casa em Denver que
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“Hellhole” era a primeira história em Bad Dirt, o segundo volume das histórias
de Wyoming. Era um jeito muito corajoso de começar, já que a coletânea
anterior tinha sido tão malhada. Muitos críticos reclamaram que você mudou
seu estilo com Bad Dirt.
Muitos críticos são completos idiotas. É basicamente isso. Por exemplo, Edith
Wharton foi muito criticada por Ethan Frome, que considero a melhor coisa que
ela já escreveu. Mas eles dizem, ah, ela não entendeu o país de jeito nenhum, ela
só entendeu os ricos e a vida da sala de estar. Que podre.
Verdade.
Ela foi uma ótima escritora e Ethan Frome é perfeito.
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19/11/2018 Annie Proulx - VICE
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OPINIÃO NSFW FOTOS REVISTA
Tem um pouco desse tom nas críticas feitas a Bad Dirt. Essa é uma citação de
uma delas...
OK, antes que você faça isso, eu não leio resenhas.
Tudo bem. Bom, eu só quero falar de algo a respeito do qual os críticos atacam
os escritores de cção em geral: “Proulx não tem amor por esses personagens”.
Isso é mais do papo-furado que os que se dizem críticos passam para frente. Em
geral, são pessoas devagar. Não são bons leitores. Não leram muito. Têm uma
educação péssima. Críticos literários, pode car com eles.
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Às vezes eu co tão nocauteado pelo seu uso da linguagem que perco alguns
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pontos do enredo. Sempre
OPINIÃO tenho
NSFW que voltar
FOTOS e ler de novo.
REVISTA
Sou extremamente encantada com palavras, e escrever para mim é uma
brincadeira—brincar com palavras e arranjá-las para que elas tenham eco e
signi cado que possam carregar o peso da história.
Uma das minhas histórias preferidas é uma das suas primeiras, “Negatives,”
onde um casal masculino saudável se muda para New England e constrói uma
casa de vidro numa montanha. Um deles é um fotógrafo e acaba explorando
todos os pobres coitados à vista com sua câmera, uma situação que cresce até
um nal bem cruel. Você acha que as artes visuais são mais aptas a exploração
das pessoas que a cção?
Eu acho. Provavelmente não diria isso para ninguém fora você.
Você conhece Shelby Lee Adams, o fotógrafo polêmico por só fotografar o povo
dos Apalaches?
Sim. Um amigo meu é amigo dele, e eu já vi algumas daquelas fotos de cobras
retorcidas e Bíblias. Tenho certeza que ele não as vê como exploração. Não faço
ideia de como as pessoas se sentem em relação a elas. Não sei como ele as
convence, e talvez elas não aceitem mais. Eu sei que alguns dos fotografados pela
FSA durante a Grande Depressão caram muito bravos depois, porque foram
retratados como sujos e seminus. Então sim, está lá. Isso alimenta algum tipo de
coisa indecente em seres humanos que gostam de ver outros mais miseráveis e
humilhados. Não é isso que eu tento fazer. Não tento explorar as pessoas e não
escrevo sobre pessoas especí cas, é mais uma amálgama de centenas de pessoas
que eu vi, observei, co-nheci, vislumbrei.
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minha mente quando eu escrevia sobre essas pessoas. Em Wyoming isso está
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começando agora, genteNSFW
OPINIÃO vindo de Denver
FOTOS ou Boulder. Especi camente, Boulder
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meio que perdeu seu charme para muita gente que se mudou para lá porque é
muito perto das [montanhas] Flatirons, outro lugar rural excelente. Mas agora
mudou e estão começando a vir para Wyoming.
Uma delas havia matado mulheres e as empilhado em seu sótão por anos.
Então por que você se mudou para o Wyoming?
Eu tenho a tendência de me apaixonar violentamente pelos lugares na primeira
vez em que piso neles. Foi assim quando fui pela primeira vez para
Newfoundland, com Wyoming também. Mas Wyoming era… por causa das linhas
do horizonte distantes, e por causa do fato de você poder andar, andar e andar—
desde que o fato de pular cercas de arame farpado não te incomode—, era
maravilhoso para pensar. Histórias saltaram do ar só por causa da vista. Mas tem
mais aí. Sou imensamente interessada em geogra a e geologia. Tenho
consciência da terra sob meus pés e penso nela constantemente. Vou
mentalmente para dentro do magma derretido. Então isso acaba aparecendo nas
histórias.
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principal tinha visto. Então fui para o Oeste, e precisava de um lugar para car
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um tempinho eOPINIÃO
fazer pesquisas para completar
NSFW FOTOS REVISTA o que não sabia sobre a região.
Descobri que existia uma espécie de retiro de escritores em Ucross. Então fui até
lá, gostei muito aliás, e acabei me mudando.
Você não publicou seu primeiro livro de cção até ter 53 anos. Você
simplesmente pensava em fazer isso durante todos esses anos?
Acho que escrevi cção em minha mente muitos anos antes de colocar algo no
papel. Sempre pensei em mim mesma como uma leitora, e obviamente ainda
penso. Não como escritora, mas como leitora.
Encontrei um livro de Annie Proulx num bazar caseiro anos atrás. É de antes
de sua escrita de cção, chama The Fine Art of Salad Gardening, e é excelente.
Mais tarde descobri que você escreveu uma série de manuais. É isso que você
pretendia fazer no começo?
Não, isso colocava comida na mesa. Esses foram livros encomendados. Não eram
coisas sobre as quais eu queria escrever ou tivesse interesse. Apesar de sempre
ter gostado de jardinagem. Mesmo em Wyoming. Tenho uma estufa aqui e tenho
os tomates mais frescos do quarteirão.
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N
o dia 20 de outubro, a Folha de S. Paulo publicou uma matéria sobre
a exposição do artista recifense Samuel D'Saboia nos Estados
Unidos. Sob a chamada "Aos 21, artista plástico recifense expõe
violência do Brasil em Nova York", o post da reportagem no Twitter teve mais de
800 respostas. A maioria, porém, não eram comentários sobre a arte de Sarmurr
(como o artista é conhecido por seu usuário no Instagram). Muitos criticavam a
aparência do garoto negro, dizendo que ele tinha "cara de trombadinha", e faziam
malabarismos ideológicos para ligarem sua obra ao PT. Os que de fato falavam
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A arte de Sarmurr é plural e diversa. Além dos quadros, ele já trabalhou com
moda, vídeo e até mantinha um blog onde entrevistava outros jovens artistas que
tratavam dos temas que lhe interessam: corpos negros, a identidade queer, a
juventude contemporânea. Para a nossa Semana da Consciência Negra 2018,
entrevistei Samuel sobre sua obra, os desa os que ele enfrenta para adentrar o
mercado artístico tradicional (spoiler: ele não quer) e o conservadorismo que
atinge a arte.
Leia: Conheça Maxwell Alexandre, pintor inspirado pelo rap e autor da capa do
disco do BK'
VICE: Quando você estava crescendo, o que te levou gostar de arte e, depois, a
começar a pintar?
Sarmurr: Minha vida sempre foi rodeada por arte; eu a enxergava nas cenas
diárias. Em minha mãe costurando, na forma como meus pais dançavam juntos,
em como toda a energia da minha casa ia mudando enquanto eles colocavam
meus irmãos pra dormir… Por muito tempo, vivi numa redoma. Uma tia muito
próxima pintava e sempre me levava para vê-la pintando, ou dando comida pra
os patos. Toda essa nostalgia foi alimentada e reinventada em arte. Hoje em dia,
cada parte dessas memórias se alinha e alimenta o lado mais bucólico das
minhas pinturas. O apego e afago me fazem criar, é minha primeira forma de
falar, de criar e recriar momentos.
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Quando você de fato começou a fazer sua arte, quem você tinha como
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inspiração? Quanto dessa
OPINIÃO inspiração
NSFW FOTOS tinha a ver com o lugar em que você
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cresceu, no Recife, que é um grande polo cultural do Brasil?
Comecei de fato aos 13 anos. Eu não tinha acesso a internet então muita das
minhas inspirações vieram da [enciclopédia] Barsa, lembro de procurar as
palavras que eu pensava enquanto pintava e ir achando o acervo de imagens que
compactuavam com meus pensamentos. Recife foi um misto de prisão e castelo.
Eu sempre soube que tinha um mundo fora dali, mas ao mesmo tempo nunca
separei ou retirei o meu amor pela minha terra. Eu pintava outros mundos, mas
sempre com rostos conhecidos: contei as histórias dos meus amigos, dos meus
vizinhos, misturei com meus sonhos e um pouco de ácido… Eu amo o lugar de
onde eu vim, não pelos motivos culturais, mas pelo privilégio do ritmo. Eu não
seria o mesmo se tivesse crescido em outro lugar.
Como surgiu a série “Belas Feridas”, que você expôs em Nova York e Paris?
Como foi a experiência de expôr internacionalmente?
A série se baseia na minha trajetória de vida e na perda recente de vários amigos
queridos. Fala sobre amor, violência, genocídio, afeto, segurança, estabilidade e
loucura. Dentro de cada tela eu morri e renasci; foi como ter nalmente
conseguido dizer adeus aos meus amigos, às minhas irmãs. Uma reverência a
toda a potência destruída por esse sistema. Essa foi minha terceira exposição
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19/11/2018 Annie Proulx - VICE
A matéria sobre seu trabalho que foi publicada na Folha recebeu muitos
comentários conservadores sobre seus desenhos. O que você acha desse apego
à arte clássica e gurativa?
Foi muito bacana estourar a bolha. Observei de longe, pois passei três dias sem
saber o que estava acontecendo, até que uma amiga me ligou de madrugada aqui
em Paris e me avisou para olhar o Twitter. O interessante é que a discussão não
era sobre arte, era sobre o meu cabelo, minhas roupas e se eu era ou não o
anelinha que riscou o carro de alguém. Não tenho nada contra a arte clássica e
gurativa, mas não é o meu barato, pelo menos não agora. Na matéria, os
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desenhos que abrem a chamada foram feitos em Atlanta num jantar com o
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cantor Raury, nem sequer
OPINIÃO foramFOTOS
NSFW expostos em Nova York e estão bem felizes em
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Luxemburgo. Dias depois recebi mensagens de adultos, pais, mães, pessoas
trabalhadoras pedindo desculpas pelo que falaram, disseram que embarcaram no
delírio. Mas é isso, overdose de fake news deixa a galera ansiosa, neurótica.
Você relata ter sofrido de depressão muito jovem. Sua arte já chegou a
funcionar como terapia ou expurgo desses sentimentos? Como é trabalhar
isso?
A arte tem um fator muito espiritual na minha vida, às vezes até dói. A sensação
de cavar até achar a mais pura verdade e depois sair puxando de dentro mesmo
que rasgue tudo, muitas vezes foi assim enquanto eu pintava. É raro eu permitir
que me assistam pintando, apenas minha família e amigos mais próximos. Em
Nova York, me tranquei no estúdio por dias; tomava banho, dormia, e ia pintar de
novo. Fiquei sem comer mas não quei sem pintar. Posso dizer com convicção
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que é meu motor, é minha linguagem mais natural e alimenta meu dia-a-dia.
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Sinto a presença de DeusNSFW
OPINIÃO muitoFOTOS
nítida na criação artística, é onde eu oro e
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restauro minha fé. Se isso não é terapia, eu não sei o que é.
Você acha que as artes visuais podem ter uma importância na construção da
identidade negra no Brasil?
Não existiria arte no Brasil sem a presença negra, não existiria arte no mundo
sem a presença negra. Não existiria Picasso, não existiria Matisse. Temos
passados por processos mais explanatórios, mas até pouco tempo atrás, a
relação arte e pessoa negra no Brasil foi abusiva. Outras pessoas contando
nossas histórias, se apropriando da nossa fruta sem querer o caroço. Essa
importância sempre existiu porque a arte como fator cultural de ne a imagética
e pensamentos coletivo de um povo, de uma nação, de uma tribo. O que
necessita é a troca de palanque, ou um rodízio. Já deu de pintura de escravo,
quero ver rostos pretos sentados no trono.
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Como jovem negro, você acha que enfrentou (ou enfrenta ainda) resistência
para entrar no mercado de arte tradicional?
Não me atinge pois não é meu público nem me enche os olhos. O que entendo
como tradição quando falamos de arte são bienais e feiras comandadas por
pessoas que entendem a arte e o artista, que buscam o novo e tomam riscos.
Vejamos o stand do Kerry James Marshall na Frieze desse ano, Simone Leigh
arrasando na Art Basel. O problema não é o assunto, é a fala sem propriedade.
Acabei de fazer 21 anos e nenhuma dessas possibilidades soa impossível. Não é
arrogância: é saber da própria capacidade — o mercado está aí, cheio de gente
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19/11/2018 Annie Proulx - VICE
boa e cheia de gente ruim também. Sobrenomes não assustam, preços também
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não. No m, muito do jogo
OPINIÃO é sobre
NSFW contatos,
FOTOS vez ou outra talento e um pouco de
REVISTA
sorte.
Sou um jovem, essa pergunta não existiria se eu fosse branco, o que já diz muito
sobre o pensamento natural. Eu não faço parte da arte tradicional, eu não sou
tradicional, nem quero ser. Eu sou do Totó, meu pirraia, já peguei bigu, já fui pra
muito baile e já levei tapa de policial. Resistência eu aprendi a comer no café da
manhã com cuscuz.
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