You are on page 1of 4

AVALIAÇÃO FINAL - FILOSOFIA DO DIREITO

Turma A
Professora Doutora Karine Salgado
2018/2º semestre

1) Leia a notícia a seguir:

“Após uma missão de duas semanas no Reino Unido, o relator da ONU para Pobreza e Direitos Humanos
produziu um duro relatório em que condenou as políticas de austeridade implementadas pelo governo
britânico. Segundo Philip Alston, as medidas "infligiram desnecessariamente grande miséria sobretudo aos
trabalhadores pobres, às mães solteiras lutando contra as adversidades, às pessoas com deficiência já
marginalizadas e a milhões de crianças presas num ciclo de pobreza da qual terão grande dificuldade de
escapar". De acordo com o relatório, atualmente um quinto da população britânica (14 milhões de pessoas)
vive em condições de pobreza, enquanto cerca de 1,5 milhão de cidadãos não podem comprar bens básicos.
A pobreza infantil corre risco de aumentar 7% entre 2015 e 2022, atingindo até 40% das crianças, segundo
Alston, que cita dados do Instituto para Estudos Fiscais e considera os índices calamitosos para a quinta
maior economia do mundo. "Que quase uma a cada duas crianças seja pobre no Reino Unido do século
XXI é não apenas uma desgraça, mas uma calamidade social e um desastre econômico", diz o enviado no
seu relatório. "Embora a provisão de segurança social para os necessitados seja um serviço público e uma
âncora vital para evitar que as pessoas sejam arrastadas para a pobreza, as políticas postas em prática desde
2010 são geralmente discutidas sob a rubrica de austeridade". Desde que os conservadores voltaram ao
poder em 2010 no Reino Unido, anunciaram mais de US$ 40 bilhões em cortes de benefícios e
abandonaram as metas anteriores para reduzir substancialmente a pobreza infantil até 2020. A tendência é
de reversão dos avanços anteriores à crise financeira de 2008, que antecedeu anos de aperto
orçamentário. Entre 1998 e 2012, o número de menores de idade em pobreza relativa — ou seja, com
renda famíliar anual inferior a 60% da média nacional — caíra em cerca de 800 mil a 3,5 milhões. O relatório
cita histórias de crianças sem local seguro para dormir, de jovens que se uniram a grupos criminosos na
tentativa de sair da miséria e de pessoas que passaram a realizar atividades sexuais em troca de dinheiro ou
abrigo. Alston considera que "a pobreza é uma escolha política no Reino Unido", criticando, por exemplo,
a recente decisão do governo de reduzir impostos dos mais ricos em vez de utilizar estes recursos para
esforços de alívio da pobreza. Já líderes do Partido Conservador que pressionaram pelo programa de
austeridade não concordam que esta seja a causa do aumento da pobreza infantil nem que a pobreza infantil
esteja aumentando. Eles argumentam que um novo sistema que agrupa a maioria dos pagamentos em um,
conhecido como crédito universal, é uma melhoria. Enquanto o Reino Unido vive um período de
turbulência política na tentativa de acertar os termos da sua saída da União Europeia , a avaliação do relator
é que as perspectivas para o futuro próximo são negativas com o Brexit. Para ele, o maior impacto será
sentido pelas populações mais vulneráveis (...).” (Relator da ONU chama miséria crescente de ‘escolha
política’ no Reino Unido. O Globo, Rio de Janeiro, 16 nov. 2018. Disponível em:
https://oglobo.globo.com/mundo/relator-da-onu-chama-miseria-crescente-de-escolha-politica-no-reino-
unido-23238834. Acesso em 26 nov. 2018.

Escolha como marco uma das perspectivas teóricas estudadas no âmbito da filosofia liberal
(liberalismo igualitário de Rawls, libertarianismo de Nozick ou comunitarismo) e, a partir de seus
princípios, faça uma crítica das duas correntes restantes. Na sequência, aplique esses princípios em
uma interpretação do fato narrado na notícia acima, justificando por meio deles as opções político-
jurídicas nele indicadas ou propondo uma solução para o problema.
2) “Aristóteles é muito lúcido acerca da origem dos conflitos capazes de desestabilizar o governo da polis
e assim ameaçar a continuidade da associação política, com a qual tem preocupação prioritária. É do fato
de pessoas não iguais não receberem partes iguais (uma consequência importantíssima da sua concepção
fundamental de justiça como igualdade) que decorrem os conflitos. Dizer a justiça como igualdade não
resolve o problema da concreta definição do meio-termo e assim do acesso de cada um aos bens repartidos:
ao contrário, isto pode e é causador de tensões e conflitos decorrentes do fato de os homens, por serem
desiguais, não receberem coisas em partes iguais.”
(COELHO, Nuno Manoel Morgadinho dos Santos. Sensatez como modelo e desafio do pensamento jurídico em
Aristóteles. São Paulo: Rideel, 2012.-, p. 61)
No Livro V da Ética a Nicômaco, Aristóteles considera a justiça como virtude, e coloca a questão
dos diferentes tipos de justiça que agem na partição de bens presentes na cidade. Com base nisso,
explique como, para Aristóteles, a justiça pode ser considerada uma virtude, e faça a diferenciação
entre justiça distributiva e justiça comutativa.

3) “O Estado é uma realidade cultural, isto é, uma realidade constituída historicamente em virtude da
própria natureza social do homem, mas isto não implica, de forma alguma, a negação de que deva também
levar em conta a contribuição que consciente e voluntariamente o homem tem trazido à organização da
ordem estatal. Afirmamos a concepção tridimensional do direito porque não nos parece possível
compreender o direito sem referibilidade a um sistema de valores, em virtude do qual se estabeleçam
relações de homem para homem com exigibilidade bilateral de fazer ou não fazer alguma coisa.”
(REALE, Miguel. Teoria Geral do Direito e do Estado. São Paulo: Saraiva, 2000, p. 9)

Considere o trecho acima e os estudos sobre culturalismo jurídico realizados na disciplina, e


responda:
a) em que consiste a teoria dos objetos da compreensão culturalista do direito?
b) de que modo se formam as normas jurídicas, de acordo com o processo de normogênese descrito
por Miguel Reale em sua Teoria Tridimensional do Direito
AVALIAÇÃO FINAL - FILOSOFIA DO DIREITO

Turma B
Professora Doutora Karine Salgado
2018/2º semestre

1) Leia os seguintes artigos do Novo Código de Processo Civil e a tirinha:

“Art. 8º Ao aplicar o ordenamento jurídico, o juiz atenderá aos fins sociais e às exigências do bem comum,
resguardando e promovendo a dignidade da pessoa humana e observando a proporcionalidade, a
razoabilidade, a legalidade, a publicidade e a eficiência.

Art. 9º, caput: Não se proferirá decisão contra uma das partes sem que ela seja previamente ouvida.

Art. 10. O juiz não pode decidir, em grau algum de jurisdição, com base em fundamento a respeito do qual
não se tenha dado às partes oportunidade de se manifestar, ainda que se trate de matéria sobre a qual deva
decidir de ofício.
Art. 11, caput: Todos os julgamentos dos órgãos do Poder Judiciário serão públicos, e fundamentadas todas
as decisões, sob pena de nulidade.”

Escolha como marco uma das perspectivas teóricas estudadas no âmbito das conexões entre
direito e linguagem (nova retórica de Perelman, teoria da argumentação jurídica de Alexy ou a
teoria da ação comunicativa de Habermas) e, expondo os seus princípios gerais, aponte quais são
os alertas e as contribuições positivas que oferece aos cidadãos enquanto membros de um Estado
Democrático de Direito. Na sequência, reflita sobre como esse papel repercute especificamente na
esfera jurídica para as atividades desempenhadas pelo Poder Judiciário na contemporaneidade.

2) Leia o trecho:
"Barroso dizia, até um tempo atrás, que havia bastante ativismo, para ser bem generoso com as suas críticas
de então. Tudo está a indicar que, agora, já não considera haver tanto ativismo. É o que se depreende de
sua entrevista. Todavia, ao mesmo tempo, em posição externada na sabatina do Senado, revela um
movimento de defesa de um poder normativo criador por parte do STF: ‘Quando há uma manifestação
política do Congresso ou do Executivo, o Judiciário não deve ser ativista, deve respeitar a posição política.
Mas se não há regra, o Judiciário deve atuar’. Ao mesmo tempo, há a defesa de que o Supremo Tribunal
Federal deva ser uma ‘vanguarda iluminista’ pronta a atuar subsidiariamente ante a inércia dos demais
poderes, verbis: ‘essa matéria [a ADPF tratando do aborto de anencéfalos], o processo legislativo, o
processo político majoritário, não consegue produzir uma solução. E quando a história emperra, é preciso
uma vanguarda iluminista que a faça andar. É este o papel reservado ao Supremo no julgamento de hoje’."
(STRECK, Lenio Luiz. O ativismo judicial existe ou é imaginação de alguns? Senso Incomum. Portal Conjur,
13 de junho de 2013.)

Responda: Tendo em vista a pretensão kelseniana de construção de uma teoria pura do Direito,
discorra sobre a estruturação escalonada do ordenamento jurídico e sua relação com a teoria da
validade da norma e a noção de moldura. Considerando o papel que o autor reserva à interpretação,
bem como os mencionados conceitos, em que medida o pensamento de Kelsen admitiria ou
rechaçaria a validade desse fenômeno corriqueiramente identificado como ativismo judicial?

3) Aponte os contornos peculiares dados por Kant ao problema da relação entre razão e liberdade,
tratando, ainda, das suas repercussões no âmbito do Direito, inclusive no que diz respeito à
conciliação entre a heteronomia que especifica o fenômeno jurídico e a autonomia que caracteriza
o agir livre.

You might also like