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Dia 26/11/18

Teoria do conhecimento II – Prof. Gerson Lousada

Análise sobre o argumento da existência de Deus (nos parágrafos


§15 à §25) em Descartes

Nº00260873
Rafael Vieira Pires

A questão central de Descartes é analisar a hipótese de que haja algo existente (ideato –
representação da ideia) correspondente à ideia de uma substância infinita, i.e., Deus. Como
ponto de partida, toma a análise das ideias na mente. No parágrafo 15, identifica a natureza
das ideias na mente como sendo homogênea, i.e., tomadas como simples modos do pensar
são iguais entre si, pois sua origem é a realidade formal. A esta realidade formal representa
o modo pelo qual as ideias são produzidas numa mente. Num segundo momento, a análise
compara as diferenças quanto às imagens (ideatos) dessas ideias que a mente produz, já que
quanto à sua natureza formal são iguais. As ideias vistas de um modo representado, ou seja,
em relação ao seu ideato, possuem diferenças de natureza: as substâncias, diferentemente
dos modos, possuem algo por si, i.e., possuem mais realidade objetiva ou maior perfeição.

No parágrafo 16, Descartes busca analisar o conceito de causalidade à luz das ideias
claras e distintas. Para isso, ele parte da ideia de que: 1) que causa e efeito são conceitos
homogêneos na análise; 2) se a causa compreende o efeito, implica que o efeito estava
contido necessariamente na causa, sendo este um juízo analítico verdadeiro; logo 3) se a
causa não tivesse realidade própria, não poderia produzir qualquer efeito.

Do parágrafo 15 e 16 implica a conclusão do parágrafo 17, que pela análise do conceito de


causa e efeito nada pode surgir sem causa, ou seja, somente algo que existe pode causar
outra coisa existente, manifestando seus efeitos de diversos modos: seja no caso das ideias
(realidade formal), seja no caso dos ideatos (realidade objetiva). Logo, se a ideia contém
realidade objetiva (no seu ideato), é necessário que tenha uma causa, seja formal ou
objetiva, pois se a ideia não tivesse causa, seria algo surgida do nada. Mas como se
apresenta na conclusão anterior, seja de modo formal ou objetivo, a ideia não pode ter nada
como origem. Dessa forma, partindo da necessidade da causa e da possiblidade das ideias
terem como origem realidades formais ou objetivas, as ideias enquanto existentes devem-se
necessariamente a sua causa: o pensamento ou realidade formal. Mas a representação do
objeto de uma ideia, ou ideato, não pode depender somente da mente como causa objetiva
de sua existência. Caso fosse assim, toda ideia seria formalmente e objetivamente causadas
(teria realidade) somente pela mente, i.e., não haveria algo que se referisse à ideia que outra
ideia e assim ao infinito. Já que, no decurso da análise, não podemos prosseguir ao infinito,
necessita-se de uma ideia que seja clara e distinta e que seja primeira na ordem do
pensamento quanto à causa da ideia na mente.
Por causa do regresso ao infinito, é necessário chegar a uma ideia que possua perfeição,
i.e., um ideato fora da ideia, assim como a causa formal da ideia do ideato (o modo do
pensamento) que contenha a causa da ideia no pensamento. Visto que a realidade formal de
nossas ideias não pode produzir algo para além de sua atividade (a ideia de algo mais
perfeito que a causa dessa ideia) não podemos produzir ideias que são mais fundamentais
do que a realidade objetiva da ideia (ideato), assim como o elefante como modo do
pensamento não é mais real que o que existe nas savanas.

No parágrafo 18, Descartes levanta a hipótese que se o ideato desta ideia tem realidade
objetiva, não existe somente como modo do pensamento, i.e., a mente não é a sua causa
necessária, por conseguinte, o ideato existe fora do modo do pensamento e é causado por
outra coisa. Pois, se não encontrar a causa formal do ideato, i.e., como ocorre ao
pensamento à ideia do ideato, não terá como determinar algo que seja fora da ideia e pelo
qual corresponda, senão como modo do pensamento.

Aqui, no parágrafo 19, busca analisar como as ideias se apresentam diferentemente à


mente quanto à representação das ideias (ideato). Divide-se a representação das ideias em:
realidade formal e realidade objetiva. Aquelas que podem representar uma realidade formal
são passíveis de serem compostas de outras ideias mais simples (p.x.: anjos, da ideia de
homem e de Deus), outras são obscuras e confusas (p.x.: a luz, as cores, etc.) que não se
pode determinar a verdade ou falsidade, visto que podem representar o nada como se fosse
algo. A estas ideias que representam algo de maneira obscura e confusa, não poderia
afirmar que representam alguma coisa de real e positiva, mas que se referem a uma
realidade formal. Logo, se procede da realidade formal a natureza de ideias obscuras e
confusas, e algo na mente podem vir do nada, segue-se que esta natureza não é
inteiramente perfeita, pois não pode discernir o ser do não ser.

No parágrafo 20, das distinções feitas no parágrafo 19 sobre o modo de representação das
ideias, Descartes analisa as ideias contidas na realidade formal da mente. Sendo algumas
dessas ideias claras e distintas representações de coisas corporais, sendo que podem ser
pensadas nas mesmas categorias em que a ideia de mente pensa a si mesma: substância,
duração, número. Ao ser possível pensar algo fora da mente, pode pensá-lo como uma
substância, apesar das diferenças no modo de existir, que ainda representa algo que é por si
capaz de existir. Dado que pode se analisar ao vistoriar as coisas fora da mente, pode
atribuir às coisas fora da mente uma mesma realidade que possui as ideias no momento em
que representa os ideatos no ato de pensar.

Descartes, no parágrafo 21, continuando a análise sobre o modo de representação das


ideias, distingue as ideias que derivam da ideia complexa (que pode ser dividida em ideias
mais simples) das coisas corporais das ideias puramente contidas numa realidade formal.
Afirma que algumas ideias que derivam das ideias das coisas corporais não pertencem a
uma realidade formal, visto que a esta realidade só pode pertencer aquilo que cria a partir
de si mesma, i.e., a partir da mente. Mas como são representadas a uma realidade formal no
momento em que existem por si, podem estar contidas nessa realidade formal no ato, i.e.,
eminentemente.
No parágrafo 22, Descartes estrutura o argumento para a existência de Deus a partir da
ideia de que: 1) dado que há ideatos que não são produzidas pelas ideias da mente e 2) dado
que algo deve ter causado esses ideatos, pois o contrário seria absurdo, 3) logo, deve haver
uma causa para que esses ideatos existam e que contêm mais realidade (realidade objetiva)
que a ideia da mente. Para tal, Descartes enuncia a primeira parte do argumento da
perfeição da ideia de um ser infinito e em si: Dado que uma ideia de um ser que subsiste
por si e que é infinito possui mais realidade do que a ideia de uma mente, logo esta ideia
não poderia ter sua perfeição dada pela realidade formal, sendo algo que subsiste por si e
infinito, pois Deus como ideato de um ser infinito não pode ter como origem a realidade
formal de um ser finito. Portanto, a ideia de Deus deve ter realidade objetiva.

No parágrafo 23, enuncia a segunda parte do argumento referente à anterioridade da ideia


objetiva (da substancialidade) de um ser infinito e em si em relação à realidade formal da
mente finita: Dado que a ideia que a mente possui ideias claras e distintas, assim como
obscuras e confusas, é imperfeita, visto que erra ao discernir o falso do verdadeiro, mas
ainda percebe algo fora da mente como sendo em si verdadeiro. Logo esse algo que em si
verdadeiro deve ser anterior à ideia que a mente tem de si mesma, sendo esta ideia,
também, verdadeira, visto esta ser mais perfeita que a de uma mente. Logo, essa ideia que é
em si verdadeira não pode ser somente produto da realidade formal, mas que deve existir
como ideato, i.e., como sendo a ideia de algo infinito e em si.

Pelas premissas anteriores (parágrafo 22 e 23), chega-se no parágrafo 24 à conclusão de


que é absurdo que a ideia objetiva de um ser infinito e em si não exista de fato e não
somente na ideia: Esta ideia de um ser infinito e em si não pode ser falsa, visto que ela teria
que ser produzida pela mente. Mas isso é impossível, visto que não pode produzir uma ideia
clara e distinta de algo que possui mais perfeição que a ideia que tem de si mesmo. Por
consequência. a ideia de um ser infinito e em si não pode ter por origem a realidade formal,
mas é necessariamente verdade em sua realidade objetiva.

Portanto, a conclusão do parágrafo 25 é a ideia de um ser infinito e em si é verdadeira, i.e.,


Deus existe, visto que a realidade das coisas fora da realidade formal é assegurada por algo
que existe anteriormente a ideia da mente, esta que não pode produzir por si a realidade
objetiva da ideia.

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