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UFFS – UNIVERSIDADE FEDERAL DA FRONTEIRA SUL

HISTÓRIA – 2ª FASE
INTRODUÇÃO À PRÁTICA CIENTÍFICA
PROF. DR. FERNANDO VOJNIAK

KANT, Immanuel. Resposta à pergunta: o que é o iluminismo. in: A paz perpétua e


outros opúsculos, Lisboa, Edições 70, 1990.

RÔMULO AUGUSTO JUCHEM SCHNEIDER

Immanuel Kant nasceu 1724, em família pouco abastada e luterana, na cidade de


Könisberg (atualmente Kaliningrado), no antigo Reino da Prússia, atualmente território
russo. O fato de sua família possuir poucos recursos, fez com que Kant tivesse uma
educação baseada no pietismo (movimento proveniente do luteranismo, que
supervalorizava as experiências individuais do crente). Mais tarde veio a estudar na
Universidade Albertina, centrando seus estudos “na apreciação crítica das condições de
possibilidade do conhecimento humano”, na “capacidade de julgar” e na “forma como
nos devemos conduzir, isto é, da ética”1. Morre em 1804 com sinais de demência na
cidade em que nasceu.
Kant deixou um grande número de obras, entre elas O que é o esclarecimento?,
sendo sua conclusão publicada em 1783, tornando-se um marco filosófico como sinônimo
de iluminismo.
No início de sua obra escrita em formato de artigo, Kant sintetizou que o
esclarecimento para ele viria a ser “a saída do homem de sua minoridade, da qual o
próprio é culpado”2, apresentando que esta minoridade seria a incapacidade do individuo
usar seu entendimento sem ter o auxilio de outra pessoa. Sendo assim o homem precisaria
ser corajoso para usar seu próprio entendimento, Kant emprega então a frase Sapere
Aude3. Sendo assim, a razão é um exercício de autonomia, a autonomia é livre, assim
atingir a ‘maioridade’ seria praticar o livre uso da razão.
Mesmo que Kant disserte sobre os patrocines de se praticar o uso livre da razão
em busca do esclarecimento, o próprio explica que alguns passarão pela ‘minoridade’ em
algum momento de sua vida, mas muitos não passarão por mero oportunismo.

1
KANT. 1783.
2
KANT. 1783. P, 1.
3
“Ouse saber”, tradução própria.

1
Nesse sentido, o ‘não’ uso da razão para buscar o esclarecimento, abre caminho
para que outros tomem as rédeas da vida do indivíduo, que se faz facilmente manipulável
e também impedindo-o de buscar o esclarecimento por si mesmo. Nesse contexto, Kant
dá este indivíduo o conselho Sapere Aude, ou seja, sair da ‘minoridade’ na busca pela
‘maioridade’, mesmo que sofra no início de sua caminhada.
Assim, o esclarecimento, para Kant, está andando de mãos dadas com a liberdade,
mesmo que a limitação da liberdade seja constante, sendo o motivo da carestia do
esclarecimento, pois questionar obedecendo não conduz ao esclarecimento. Assim, se faz
necessário o uso público da razão, sendo este o uso com liberdade, uma vez que o uso
privado da razão, é limitado e usado ante constrangimento. Portanto, o uso da razão para
Kant seria:
Entendo, contudo, sob o nome de uso público de sua própria razão aquele que
qualquer homem, enquanto sábio, faz dela diante do grande público do mundo
letrado. Denomino uso privado aquele que o sábio pode fazer de sua razão em
um certo cargo público ou função a ele confiado.
(KANT. 1783; p. 2.)

Assim, Kant constrói o conceito de direito individual, fazendo uso público da


razão pela possibilidade do uso da razão livre. Assim sendo, a razão pública é ilimitada
e autônoma, ao contrário da razão privada, que é constrangida e presa a amarras.
Portanto, o uso público da razão beneficia toda a sociedade, enquanto o seu uso privado
é mais restrito, não atingindo o bem comum.
Para Kant, a obediência mesmo que não leve ao esclarecimento se faz necessária,
pois:
Seria muito prejudicial se um oficial, a quem seu superior deu uma ordem,
quisesse pôr-se a raciocinar em voz alta no serviço a respeito da conveniência
ou da utilidade dessa ordem. Deve obedecer. Mas razoavelmente, não se lhe
pode impedir, enquanto homem versado no assunto, fazer observações sobre
os erros do serviço militar, e expor essas observações ao seu público para que
as julgue (...). Do mesmo modo também o sacerdote está obrigado a fazer seu
sermão aos discípulos do catecismo ou à comunidade, de conformidade com o
credo da Igreja a que serve, pois foi admitido com essa condição. Mas,
enquanto sábio, tem completa liberdade, e até mesmo o dever, de dar
conhecimento ao público de todas as suas ideias cuidadosamente examinadas
e bem-intencionadas, sobre o que há de errôneo naquele credo, e expor suas
propostas no sentido da melhor instituição da essência da religião e da Igreja.
(KANT. 178 p. 3.)

Então, para Kant, é necessário que se obedeça, entretanto, também é necessário


que se faça uso público da razão, pois só assim o esclarecimento é atingido. Dessa forma,
o indivíduo pode pessoalmente e por algum tempo adiar o esclarecimento, mas não o
renunciar.

2
Kant conclui: “[...]raciocinais tanto quanto quiserdes e sobre qualquer coisa que
quiserdes; apenas obedecei![...]”4. Portanto, o pensamento livre deve desenvolver-se até
as raízes do princípio do governo, achando conveniente para si próprio tratar o homem,
que neste momento passa a ser mais do que uma simples máquina, agindo de acordo com
a sua dignidade.

4 KANT. 1783. P, 7.

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