You are on page 1of 4

19/11/2018 Abordagem da cultura indígena nas obras de Daniel Munduruku

INSCREVER-SE PESQUISAR

INSCREVER-SE PESQUISAR

Ijoma ejot (Bem


Vindo) ao Blog
do Daniel
Munduruku
Páginas

Página inicial DANIEL MUNDURUKU AGENDA LOJA

Abordagem da
cultura indígena nas
obras de Daniel
Munduruku

fevereiro 13, 2013

COMPARTILHAR

por Fernanda Faustino | 08/01/2013

“Meu interesse ao escrever um livro é dialogar com crianças e jovens.

http://danielmunduruku.blogspot.com/2013/02/abordagem-da-cultura-indigena-nas-obras.html 1/8
19/11/2018 Abordagem da cultura indígena nas obras de Daniel Munduruku

INSCREVER-SE PESQUISAR

Daniel Munduruku: “Meu interesse ao escrever um livro é dialogar com crianças e jovens. Procuro encontrar um
cantinho na cabeça deles”

Procuro encontrar um cantinho na cabeça deles”, diz Daniel Munduruku,


escritor indígena graduado em filosofia e educador social, ao abordar a
reprodução da cultura indígena e o processo de criação de suas obras.

Com mais de 40 livros publicados, Daniel esteve em vários países da Europa,


participando de conferências e ministrando oficinas culturais para crianças,
com o intuito de dialogar sobre a cultura indígena. Ele conta que nunca
escolheu ser escritor, contudo, o fato de ter algo a dizer sobre seu povo o
motivava a fazer com que sua própria história e a de seus ancestrais fosse
registrada e disseminada. “A escrita foi tomando conta de mim e, aos
poucos, fui me aceitando: aceitando o fato de que minha escrita tem algo a
dizer, aceitando ser dono de um estilo de narrativa que me foi oferecido por
meus antepassados”, ressalta.

Apesar de tudo o que é feito para retratar e propagar a cultura indígena, o


autor aponta que ainda há muito a ser feito. “A cultura indígena ainda é vista
como folclórica. Isso é fruto de uma política que sempre tratou os indígenas
como seres do passado, parados no tempo, sem história”, relata. “O resultado
disso tem sido desastroso para a própria sociedade, pois acabou negando a
participação efetiva de nossa gente indígena na composição da identidade
nacional.”

Pela Global Editora, Daniel tem publicadas as seguintes obras: A Caveira


Rolante, A Mulher-Lesma e Outras Histórias Indígenas de Assustar, A
Palavra do Grande Chefe, A Primeira Estrela que Vejo É a Estrela do Meu
Desejo e Outras Histórias Indígenas de Amor, Contos Indígenas
Brasileiros, O Banquete dos Deuses, Outras Tantas Histórias Indígenas de
Origem das Coisas e do Universo, Parece que Foi Ontem, Sabedoria das
Águas, Você Lembra, Pai?, além de integrar as antologias Conto Com
Você e Um Fio de Prosa.

Confira a entrevista completa com o autor:

A partir de que momento você decidiu que queria ser escritor?

A escrita foi tomando conta de mim. Nunca escolhi ser escritor, mas me
deixei contaminar pela doença que é escrever. Aos poucos, fui aceitando o
fato de que minha escrita tem algo a dizer, aceitando ser dono de um estilo
de narrativa que me foi oferecido por meus antepassados. A eles sou sempre
grato.

Em seus livros, que aspectos da cultura indígena você procura retratar?

http://danielmunduruku.blogspot.com/2013/02/abordagem-da-cultura-indigena-nas-obras.html 2/8
19/11/2018 Abordagem da cultura indígena nas obras de Daniel Munduruku
Meu interesse ao escrever um livro é dialogar com crianças e jovens. Procuro
encontrar um cantinho na cabeça deles. Sei que há muito preconceito com
relação às populações indígenas, mas procuro ocupar esse espaço com INSCREVER-SE PESQUISAR
assuntos que podem substituir o olhar equivocado. Talvez seja por isso que
crio e conto histórias, reconto histórias tradicionais e trago informações.
Ainda há muito a ser dito sobre a cultura indígena. E é pensando nisso que
incentivo os jovens indígenas a escreverem suas histórias, pois não tenho
sensibilidade suficiente para tratar de toda a magia que envolve nossa gente.

Como você enxerga a reprodução da cultura indígena na sociedade?

Infelizmente a cultura indígena é ainda vista como folclórica. Isso é fruto de


uma política que sempre tratou os indígenas como seres do passado, parados
no tempo, sem história. A sociedade brasileira acabou incorporando esse
equivoco e aceitando como uma verdade absoluta. O resultado tem sido
desastroso para a própria sociedade, pois acabou negando a participação
efetiva de nossa gente na composição da identidade nacional. Além disso,
esconde, não sem cinismo, o componente indígena de seu DNA.

Veja aqui os títulos do autor publicados pela Editora Global

De onde surge a inspiração para seus livros?

Meus textos são frutos de minha observação da realidade. Procuro não


esquecer a beleza que há em cada momento, mesmo que não seja muito
favorável. Busco o invisível num mundo onde reina apenas a aparência.
Procuro não julgar, mas compreender. É dessa postura que nasce minha
inspiração. Ela nasce no momento em que fecho os olhos para enxergar
melhor.

Como educador, qual você considera ser a maior barreira quando se


trata da disseminação da cultura indígena?

A maior barreira está no interior dos educadores. Educar é professar um ato


de fé no ser humano. Para fazê-lo, é necessário saber fechar os olhos para se
jogar em um abismo do improvável. O problema maior é que grande parte
dos educadores não acredita em si mesmo. Ou seja, não é capaz de fechar os
olhos para enxergar melhor a si mesmo e ver que há nele um universo inteiro
que clama por uma verdadeira humanidade. Não crendo em si mesmo, como
pode crer nas outras pessoas? Como educar para a diversidade? Como
poderá ver a beleza que há no outro? Educar é sair de si e ir ao encontro do
outro. É um ato de generosidade, de renúncia. Numa sociedade onde o que
vale é o egoísmo, parece que pedir isso de alguém é absoluta falta de bom
senso. Mas é justamente aí que mora a grande dificuldade da educação
nacional.

Apesar do que vem sendo feito para propagar a cultura indígena, de que
forma você acredita que a sociedade pode contribuir para que essa

http://danielmunduruku.blogspot.com/2013/02/abordagem-da-cultura-indigena-nas-obras.html 3/8
19/11/2018 Abordagem da cultura indígena nas obras de Daniel Munduruku
cultura seja, cada vez mais, difundida?

INSCREVER-SE
A cultura indígena não precisa ser difundida. Não creio que os povos nativos PESQUISAR
estejam desejando ser melhor compreendidos ou conhecidos. A luta deles
tem sido em direção de se sentirem parte da sociedade. O que tem ocorrido é
uma invisibilidade patrocinada pelo sistema capitalista que prima pela
destruição das diferenças procurando homogeneizá-las através do processo
educativo. Penso que o melhor caminho é o da tolerância. Isso passa pela
educação familiar e não pela escola. Aprende-se a respeitar o outro
observando o exemplo dos adultos, mas a escola tem sido o lugar do
desaprendizado, pois ensina a separação, a divisão, a multiplicação, o
controle do outro, o domínio e o poder. Tolerar é deixar que o outro seja
quem ele quiser ser e não o que desejamos para ele. Quando o outro pode ser
plenamente o que é, a beleza acontece. É um aceitando o que é belo no outro
e não acentuando o que há de feio, de triste. Isso é valorizar o menos ao
invés do mais. Precisamos construir o caminho da tolerância, do respeito ao
outro, do encontro com a diversidade.

Com tanta influência dos meios externos, quais são as maiores


dificuldades das povos indígenas para manter sua tradição?

Quero deixar claro que há um equivoco ao ligar a tradição como algo do


passado longínquo. Tradição é um método de manutenção da cultura.
Método é caminho e caminho é movimento. Se há caminho, há segurança,
continuidade. Manter a tradição não é andar sempre pelo mesmo caminho,
mas não permitir que esqueçamos o caminho já percorrido. Este é o desafio
dos povos indígenas hoje: como percorrer os caminhos que temos pela frente
sem sair do caminho construído por nossos pais. Manter a tradição é, pois,
ser fiel ao que nos foi ensinado. E o que nos foi ensinado? Que temos de
viver o momento presente com a intensidade que ele se nos apresenta. E
justamente por respeitarmos a tradição é que temos que fazer o exercício
contínuo de atualizar a memória ancestral utilizando os instrumentos que
hoje temos a nossa disposição. Portanto, dominar as novas tecnologias da
informação e servir-se delas para difundir o caminho dos antepassados e
construir uma nova relação com a sociedade nacional, é a melhor forma de
nos sentirmos partícipes do universo sonhado pelos espíritos criadores.

http://www.globaleditora.com.br/noticias/abordagem-da-cultura-indigena-nas-obras-de-daniel-

munduruku/

COMPARTILHAR

http://danielmunduruku.blogspot.com/2013/02/abordagem-da-cultura-indigena-nas-obras.html 4/8

You might also like