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Introdução
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2 Esta definição como institucionalistas pragmáticos é de PINHEIRO (2000) Em geral são definidos como
“liberais”, mas diferem bastante dos “liberais” argentinos.
3 Malamud e Castro (2007) classificam as percepções existentes sobre o Mercosul no Brasil e na Argentina
em três grupos: liberais, realistas (aqui pragmáticos) e progressistas.
4 O Pacto de Punto Fijo foi um acordo de governabilidade assinado em 1958 pelos partidos Acción Democrática,
Copei e URD, no qual se estabeleceram as regras de funcionamento da democracia venezuelana.
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5 Em 1992 Wendt publica o artigo “Anarchy is what state make of it: the social construction of power
politics, na revista International Organization n.46, p.391-425, lançando as bases da corrente construtivista
nas Relações Internacionais.
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6 Sobre as correntes de pensamento econômico, Chudnovsky e López (2000) fornecem elementos interessantes
para se entender suas diferenças.
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7 Cabe assinalar que a heterodoxia foi mais forte nos governos de Alfonsín (UCR), Duhalde e Kirchner
(Partido Justicialista), enquanto a ortodoxia teve força no período de Menem (Justicialista) e um pouco com
De la Rúa (UCR).
8 Vigevani, Favaron, Ramanzini Jr. E Correia (2008) fornecem uma boa interpretação para a posição brasileira
frente ao Mercosul.
9 O pensamento propriamente liberal no Brasil foi minoritário.
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globais devem ser defendidos por todos). Neste caso, busca, na América do Sul,
uma liderança mais discreta.10 Em relação ao Mercosul, sua visão aproxima-se dos
pragmáticos na Argentina: a institucionalização só será bem vinda na medida em
que potencialize a capacidade do bloco de produzir benefícios.
Os desenvolvimentistas (que se enquadram nos padrões da heterodoxia)
buscavam a integração como mecanismo de acesso a mercados externos, como
impulso para transformações e de maior eficiência no sistema produtivo interno,
assim como um canal de projeção e fortalecimento nas negociações econômicas
internacionais. Sua maior identidade na esfera diplomática dá-se com a corrente
autonomista, que defende uma projeção mais autônoma e ativa do Brasil na
política internacional; que teria preocupações de caráter político-estratégico dos
problemas Norte/Sul; e que buscaria um papel de maior liderança brasileira na
América do Sul. Por perceber a integração sul-americana sob a liderança brasileira
como prioridade, considera importante a ampliação do bloco pela entrada de novos
Estados. O Mercosul poderia atuar como um instrumento capaz de proporcionar
ao Brasil um melhor posicionamento regional, assim como atuar na esfera comercial
como elemento capaz de abrir caminho para a formação de uma área de livre comércio
na região.
Desde 1991 estas duas abordagens convergiram em torno da formação e
evolução do Mercosul. O modelo baseado em uma união aduaneira incompleta, no
não-aprofundamento da integração política e no baixo perfil institucional atendeu
as diferentes visões. Atuaria como um reforço para a inserção internacional do
Brasil, sem os condicionamentos próprios de um mercado comum ou de traços
supranacionais.11
A perspectiva de uma aliança entre com a Argentina frente aos temas da
política regional também foi objeto de consenso entre as duas correntes diplomáticas
e outros setores do aparato burocrático brasileiro: a política externa brasileira seria
sensível e vista como questão de soberania nacional. Segundo Pinheiro (2000,
323), no caso das relações com países vizinhos o desejo de autonomia “se utiliza da
concepção (grociana) para a satisfação de sua busca por poder”.12 Assim seus espaços
de atuação externa em termos individuais e do aumento de sua projeção no cenário
internacional não deveriam ser dificultados por qualquer “partilha de soberania”.
Como agravante, a corporação diplomática brasileira tem uma visão da Argentina
como parceiro menor e as mudanças freqüentes que ocorrem na política externa
argentina geram desconfiança.
De forma lateral, a visão progressista desenvolveu-se com pouca influência no
interior da diplomacia e de outras agências do governo. Diz respeito a uma visão de
10 Sobre o “desejo de autonomia” e a perspectiva de adesão por parte do Brasil aos regimes internacionais na
matriz da política externa brasileira dos anos 90, PINHEIRO (2000), fornece reflexões interessantes.
11 VIGEVANI, FAVARON, RAMANZINI JR. E CORREIA, op.cit.
12 “grociana” está no próprio artigo.
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O caso venezuelano:
O giro hacia el sur e as percepções dos atores políticos
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13 O fim das negociações da Alca comprometeu seus argumentos favoráveis a maior aproximação com os
Estados Unidos.
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14 Celso Amorim (2005) faz um balanço dos dois primeiros anos da política externa do governo de Lula,
com muito destaque para a América do Sul. Sobre o Mercosul, a preocupação são seus ganhos frente a outros
países da região.
15 Os problemas econômicos regionais no Brasil dificultam uma aceitação política interna de que o país exerça
o papel do paymaster na região e absorva custos dos parceiros menores.
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Considerações finais
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dentro dos parceiros do bloco. Foram consideradas pouco diplomáticas, dado que
a Venezuela é um país ainda em processo de conversão em membro pleno.
Um segundo elemento que pode afetar a formação de uma “percepção
comum” dentro do Mercosul diz respeito às relações externas do bloco. As relações
conflituosas de Chávez com os Estados Unidos, seus conflitos intermitentes com
líderes europeus, ou as tensões com países sul-americanos como Colômbia e
Peru, são um problema que Mercosul terá que encarar. O Mercosul é uma união
aduaneira que está negociando com a UE e com outros países. Também subscreveu
um acordo de livre comércio com os países andinos. Ademais, não ter uma agenda
de negociações comerciais com os Estados Unidos pode tornar-se um entrave
considerando que Washington reorganizou boa parte de suas relações comerciais
com a América Latina por meio dos tratados de livre comércio. Neste contexto,
resulta complexo como compatibilizar a agressiva política externa venezuelana
com a estratégia comercial externa do Mercosul.
Por fim, cabe ressaltar a importância do impacto das idéias na formulação
do comportamento dos três países frente ao processo de integração. Se tomamos
em conta as divisões e percepções internas existentes nestes países que incidiram
sobre a evolução do Mercosul podemos encontrar algumas explicações para a
distância entre discurso e ação, para a paralisia do bloco em alguns períodos de
sua história, para as dificuldades para se estabelecer um marco mais institucional.
Por outro lado, os interesses também demonstraram sua influência persistente no
destino do Mercosul. As idas e vindas nas prioridades estratégicas da Argentina e
do Brasil, o impacto do comportamento argentino no compromisso em relação à
importância do bloco regional, ou a percepção da forma como o Mercosul pode
ser útil na reconfiguração das relações com potências ou outros blocos regionais,
foram variáveis que, sem dúvida, tiveram um impacto na evolução do bloco.
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Resumo
Abstract
The article analyses perceptions of domestic political actors about the integration in
Mercosur inside each of its biggest members, and presents some ideas for and against
the block. To achieve this aim, it analyses ideas defended by these actors in Argentina
and Brazil and evaluates how domestic actors in Venezuela were involved in the process
of incorporation of this country to Mercosur.
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