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UNIVERSIDADE DO OESTE DE SANTA CATARINA

CONCRETO ARMADO I

Prof. Cristian Paulo Caon – 2017/01

CISALHAMENTO

1. INTRODUÇÃO

O presente capítulo tem como principal objetivo o estudo dos esforços de


cisalhamento em estruturas de concreto armado, e posteriormente o comportamento
de vigas quando submetidas a esses esforços.
Existe uma infinidade de teorias e modelos para análise de vigas de concreto
sob força cortante, desenvolvidos geralmente com base na analogia de treliça ou de
campos de compressão de concreto. No Brasil se destacam os modelos de treliça
denominados treliça clássica e treliça generalizada.
O modelo inicial de treliça, desenvolvido por RITTER (1899) e MÖRSCH (1920,
1922), tem sido adotado pelas principais normas do mundo como a base para o projeto
de vigas à força cortante.
Adicionalmente ao modelo de treliça vem sendo considerada também a
contribuição do concreto (Vc) e a possibilidade de variação do ângulo de inclinação
(θ) das fissuras e bielas de compressão.
Apesar da analogia de uma viga fissurada com uma treliça ter sido criada há
cerca de cem anos, a sua simplicidade a faz continuar sendo um modelo para o
dimensionamento da armadura transversal das vigas.
A atual norma NBR 6118:2014 admite dois modelos de cálculo para a armadura
transversal de vigas, denominados Modelo de Cálculo I e Modelo de Cálculo II, os
quais serão explicados com detalhes no decorrer da apostila.
O material aqui apresentado tem como base as prescrições técnicas normativas
da NBR 6118:2014. Ainda, são aproveitadas bibliografias já consagradas e apostilas
de outras universidades como material complementar, de forma a contribuir para um
melhor entendimento do conteúdo.
Ao final da apostila são apresentadas as referências bibliográficas consultadas
para a sua confecção.

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Esta apostila não esgota todo o assunto, que é muito vasto e de grande
complexidade. Por isso, o aprendizado deve ser complementado com estudo dos itens
constantes nas Referências Bibliográficas e na bibliografias apresentadas na ementa
e no Plano de Ensino, dentre outras publicações.

2. REGIÕES DE ANÁLISE

Das hipóteses assumidas para a teoria de vigas, a consideração da seção


transversal permanecer plana proporciona um modelo simples e suficientemente
preciso para o projeto de vigas submetidas a esforços de flexão, com ou sem forças
axiais aplicadas. Mesmo após a fissuração a teoria pode ser mantida, porque as
fissuras de flexão, perpendiculares ao eixo longitudinal da viga, não invalidam a
hipótese de seção plana.
Como a ruptura por flexão ocorre na seção sob o máximo momento fletor, as
condições fixadas para esta seção são geralmente suficientes para o projeto da viga
à flexão.
Por outro lado, o mesmo não se pode dizer quanto a vigas submetidas ao
esforço cortante, porque há enormes diferenças de comportamento e de fatores
intervenientes.
A ruptura por efeito de força cortante é iniciada após o surgimento de fissuras
inclinadas, causadas pela combinação de força cortante, momento fletor e
eventualmente forças axiais. E a quantidade de variáveis que influenciam a ruptura é
muito grande, como geometria, dimensões da viga, resistência do concreto,
quantidade de armaduras longitudinal e transversal, características do carregamento,
vão, etc.
Por isso, ao contrário da flexão, o projeto à força cortante deve considerar não
apenas uma seção transversal, mas regiões ao longo do vão da viga, as chamadas
regiões B, mostradas na Figura 01.
Na figura abaixo, as regiões B se caracterizam por apresentar distribuição de
deformações linear. Já as regiões D apresentam descontinuidades e distribuição de
deformação não-linear.

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Figura 01 – Pontos de seções a considerar no cálculo do esforço cortante.

3. FATORES QUE INFLUENCIAM A RESISTÊNCIA À FORÇA CORTANTE

Diversas pesquisas na área da engenharia de estruturas buscam quantificar os


fatores contribuintes da resistência ao esforço cortante em vigas de concreto armado.
Segundo Leonhardt e Mönning (1982) são cerca de vinte fatores contribuintes,
muitos deles sem conhecimento suficiente de sua influência. A seguir serão
apresentados alguns desses fatores.

3.1. TIPO DE CARREGAMENTO

Para carregamento uniformemente distribuído, alguns ensaios com vigas


esbeltas sem armadura transversal indicaram uma capacidade resistente à força
cortante cerca de 20% a 30% maior do que para carga concentrada na posição mais
desfavorável.
Entretanto, na realidade, não há garantia de uma distribuição uniforme da carga
de utilização, por isso, os critérios de dimensionamento devem levar em consideração
os resultados mais desfavoráveis referentes às cargas concentradas.

3.2. POSIÇÃO DA CARGA E ESBELTEZ

Nas cargas concentradas, a distância do apoio até a carga tem grande


influência. Já para as cargas uniformes tem grande influência a esbeltez l/h.
Quanto à ruptura de uma viga com e sem armadura transversal por força
cortante, a posição mais perigosa de uma carga concentrada foi determinada para o

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trecho a = 2,5h a 3,5h, o que corresponde a uma relação momento-força cortante de


M/V = 2,5 a 3,5. Para cargas distribuídas, rigidezes de l/h = 10 a 14 são as que
conduzem a maiores perigos de ruptura por força cortante e, consequentemente, na
menor capacidade resistente à força cortante.
A capacidade resistente à força cortante aumenta bastante para cargas
próximas ao apoio, para uma relação decrescente a/h < 2,5. Um aumento
correspondente acontece com carga distribuída, quando l/h < 10.
Isto explica porque o efeito de viga escorada é tão mais favorável, quando mais
inclinadas (em relação à horizontal) forem as diagonais comprimidas de concreto.
Deve-se prever, a propósito, uma boa ancoragem da armadura longitudinal do banzo
tracionado.

3.3. TIPO DE INTRODUÇÃO DA CARGA

Efetuando-se a ligação de uma viga em toda sua altura d com outra viga, a viga
que se apoia distribui sua carga ao longo da altura da alma da viga que serve de apoio.
Diz-se então que se trata de um carregamento ou apoio indireto.
Em ensaios específicos, notou-se que, na região de cruzamento dessas vigas, é
necessária uma armadura de suspensão, a qual deve ser dimensionada para a força
total atuante no apoio ou nó.
Uma viga no Estádio II transfere sua carga ao apoio primordialmente pela
diagonal de compressão, e as diagonais comprimidas no modelo treliça define
claramente a necessidade de montantes verticais de tração, ou seja, armadura de
suspensão.
Entretanto, fora da região de cruzamento, a viga não é influenciada pelo tipo de
introdução de carga ou de apoio, isto é, o comportamento em relação à força cortante
é o mesmo que para o apoio ou carregamento direto.
Essas mesmas considerações valem para o dimensionamento à força cortante.
Na região de cruzamento, a armadura de suspensão atende simultaneamente à
função de armadura de transversal.
As cargas penduradas na parte inferior de uma viga produzem tração na alma e
devem ser transferidas pelas barras de tração da alma ao banzo comprimido. Essa
armadura de suspensão é adicional à armadura transversal normal para a força
cortante.

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3.4 INFLUÊNCIA DA ARMADURA LONGITUDINAL

O desenvolvimento de uma fissura inclinada por força cortante, ou seja, seu


aumento até próximo da borda superior da zona comprimida de concreto, depende da
rigidez à deformação do banzo tracionado, ou seja, quanto mais fraco for o banzo
tracionado, tanto mais ele se alonga com o aumento da carga e tão mais depressa a
fissura inclinada se torna perigosa.
O banzo tracionado não pode, portanto, ser muito enfraquecido na região de uma
possível ruptura por força cortante. Também um escorregamento da ancoragem no
apoio tem um efeito enfraquecedor. Ambas as influências devem ser consideradas
como detalhes construtivos na execução da armadura.
Uma outra influência é a qualidade da armadura longitudinal. Ensaios
demonstraram, por exemplo, que para a mesma porcentagem de armadura
longitudinal, uma distribuição das tensões com maior número de barras finas
influencia favoravelmente a capacidade resistente à força cortante.

3.5 INFLUÊNCIA DA FORMA DA SEÇÃO TRANSVERSAL

A forma da seção transversal tem uma forte influência sobre o comportamento


resistente de vigas de concreto armado solicitadas à força cortante.
A seção transversal retangular pode se adaptar livremente a uma forte inclinação
do banzo comprimido e, frequentemente, pode absorver toda a força transversal no
banzo comprimido (especialmente no caso de carga distribuída e de carga
concentrada próxima ao apoio).
Em seções transversais de vigas T, a força no banzo comprimido só pode ter
uma inclinação quase horizontal, porque na realidade ela permanece na largura
comprimida da laje até a proximidade do apoio, concentrando-se na alma apenas
gradativamente em direção ao apoio.
O banzo comprimido por este motivo, só pode absorver uma parcela da força
cortante, e a maior parte deve ser resistida pelas diagonais comprimidas e pelas
barras da armadura transversal. A relação da rigidez do banzo comprimido de largura
bf com a correspondente rigidez das diagonais comprimidas da alma com largura bw
é muito maior em vigas T do que em vigas retangulares.

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Nas vigas de seção retangular (bf/ bw = 1), os estribos são submetidos a tensões
de compressão até que, pouco antes da carga de ruptura, uma fissura de
cisalhamento cruze o estribo.
Nas vigas T essas tensões no estribo aumentam para almas delgadas, em todos
os casos, porém, essas tensões ficam bem abaixo da tensão de escoamento do aço
a qual foi calculada de acordo com a analogia de treliça clássica de Mörsch (com
diagonais a 45º).
Ensaios mostraram também que a inclinação das fissuras inclinadas ou das diagonais
comprimidas varia com a relação bf/ bw, essa inclinação situa-se em torno de 30º para
bf / bw = 1 e cresce para cerca de 45º para bf / bw = 8 a 12.
O dimensionamento da armadura transversal da alma deve ser feito a partir da
distribuição dos esforços internos, pouco antes da ruptura, ou seja, deve ser
considerada a largura da alma em relação a largura do banzo comprimido.

3.6. INFLUÊNCIA DA ALTURA DA VIGA

Ensaios realizados segundo uma lei de semelhança com vigas sem armadura
transversal e diferentes alturas d, com igual porcentagem de armadura longitudinal de
mesma distribuição de barras, mostraram que a capacidade resistente à força cortante
diminui consideravelmente como aumento da altura d, quando a granulometria e o
cobrimento do concreto não variarem de acordo com a escala.

4. COMPORTAMENTO DE VIGAS SEM ARMADURA TRANSVERSAL

O comportamento das vigas após a fissuração modifica-se consideravelmente


em função da existência ou não de armadura transversal. Por isso, inicialmente
apresentam-se as características do comportamento das vigas sem armadura
transversal, e em seguida das vigas com armadura transversal.
Numa viga de concreto armado sob ação de flexão e forças cortantes, que
ocasionam tensões principais como indicadas na Figura 02, a fissura se forma quando
a tensão principal de tração excede a resistência do concreto à tração. A maior parte
das fissuras inclinadas são extensões das fissuras de flexão.
Em vigas com mesas, como seções I e T por exemplo, ocorrem fissuras
inclinadas nas proximidades da linha neutra. A previsão da força cortante que provoca

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a fissura diagonal inclinada, segundo uma análise das tensões principais e em função
da resistência do concreto à tração, é maior que a verificada na realidade numa viga
sob flexão e forças cortantes.

Figura 02 – Trajetória das tensões principais de tração e compressão.

Assim ocorre devido principalmente à redistribuição de tensões de cisalhamento


entre as fissuras de flexão, entre outros fatores, como as tensões existentes devido à
retração do concreto.

4.1. PARÂMETROS MAIS IMPORTANTES

Existem vários parâmetros que influenciam significativamente a contribuição


relativa dos diferentes mecanismos resistentes à força cortante e conseqüentemente
a resistência última das vigas sem armadura transversal à força cortante.

4.1.1. RESISTÊNCIA DO CONCRETO

A resistência à força cortante aumenta com o aumento da resistência do


concreto, porém, não está definido ainda se é a resistência do concreto à compressão
ou a resistência à tração que exerce maior influência.
Normas que consideram a “contribuição do concreto” (Vc) como a força cortante
relativa ao aparecimento da fissuração inclinada, como a NBR 6118/2014 e o ACI 318,

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levam em consideração a resistência do concreto à tração, geralmente por meio de


equações em função da resistência do concreto à compressão elevadas a uma
potência.
O aumento da resistência à força cortante com o aumento da resistência do
concreto parece ser mais efetivo em vigas menores com altas taxas de armaduras e
feitas com concretos de baixa ou média resistência.
As vigas com alturas nem pequenas nem grandes e com taxas de armaduras
moderadas, apresentaram a tendência de maneira menos pronunciada.
Por outro lado, vigas altas levemente armadas e com concretos de alta
resistência de agregados pequenos não mostraram a mesma tendência, como
aquelas ensaiadas pelos outros autores.
Credita-se tal característica ao fato das superfícies das fissuras serem mais lisas
ou menos rugosas nos concretos de alta resistência que nos concretos normais, o que
diminui a eficiência do mecanismo de transferência da força cortante nas interfaces
das fissuras (atrito na interface).

4.1.2. ALTURA DA VIGA

É fato que a resistência à força cortante diminui em vigas de concreto (Armado


e Protendido) com o aumento da altura da viga, efeito chamado “size effect”. Algumas
pesquisas mostraram tal comportamento das vigas.
A Figura 03 mostra os resultados experimentais obtidos por SHIOYA et al. (1989)
de vigas com alturas efetivas (d) entre 10 e 300 cm, sem armadura transversal e
levemente armadas na direção longitudinal, comparados com a resistência prevista
pelo ACI 318-95 e pelo método simplificado (β) de acordo com o modelo MCFT.
A resistência última das vigas maiores foi apenas cerca de um terço das vigas
menores, e menos da metade da resistência teórica calculada segundo o ACI 318R-
02 (HAWKINS et al., 2005).
Nas vigas maiores nota-se que romperam com tensões de cisalhamento
menores que a metade das tensões teóricas previstas pelo ACI 318, e o MCFT
apresentou bons resultados.

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Figura 03 – Comportamento de vogas com variadas alturas (SHIOYA et. al, 1989)

Hoje, com os maiores conhecimentos sobre a influência da altura da viga sobre


sua resistência à força cortante, explica-se a ruptura das vigas pela influência da
altura, não corretamente avaliada pelo ACI da época.
Porém, o entendimento de tal comportamento das vigas ainda não está
completamente entendido pelos pesquisadores, dada as diferentes explicações
existentes para o fenômeno.
Alguns creditam à redução da transferência de força cortante nas interfaces das
fissuras devido a maior largura das fissuras que ocorrem em vigas de grande altura.
Outros creditam que, em vigas altas, a propagação de fissuras inclinadas ocorre de
maneira mais rápida, o que diminui a resistência à força cortante.

4.1.3. RELAÇÃO ENTRE A ALTURA DA VIGA E A POSIÇÃO DA CARGA

Numa viga simples sob carregamento de forças concentradas chama-se “a” a


distância entre o apoio e a força concentrada aplicada (“shear span”). Costuma-se
analisar a influência desta distância com relação à altura útil das vigas, isto é, a razão
a/d, que serve como um indicativo da esbeltez das vigas.

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Quando a relação a/d diminui a resistência da viga à força cortante aumenta,


sendo particularmente importante em relações menores que 2,5 a 3,0, porque uma
parcela significativa da força cortante é transmitida diretamente ao apoio pela ação de
arco.
E ainda, quanto menor a relação a/d mais pronunciada se torna a ação de arco.
As vigas-paredes são exemplos típicos da existência do efeito arco de forma
pronunciada.
Em vigas simples sob cargas concentradas a seção sob máximo momento fletor
e força cortante ocorre na distância a/d, pois Mmáx = Vmáx * a , e a razão de momento
fletor para força cortante é Mmáx / Vmáx * d = a/d.
No caso de vigas de concreto armado sob carregamento uniformemente
distribuído a relação é Mmáx / Vmáx * d = l / 4d, o que significa que a é a distância
entre o apoio e a resultante da carga uniformemente distribuída numa metade do vão.
O valor de a também relaciona as capacidades das vigas à flexão e à força cortante.
Numa ruptura por flexão a força cortante pode ser calculada dividindo-se o
momento de ruptura por a, e numa ruptura por efeito de força cortante o momento
fletor no meio do vão será calculado multiplicando-se a força cortante de ruptura por
a.

4.1.4. ARMADURA LONGITUDINAL

Para um dado carregamento mantido constante, se a armadura longitudinal da


viga é diminuída as tensões de flexão e as deformações nessa armadura devem
aumentar.
Consequentemente, as fissuras terão aberturas maiores e a resistência à força
cortante diminuída, e além disso, a ação de pino é também diminuída por existir menos
armadura. Barras longitudinais dispostas ao longo da altura das vigas diminuem o
espaçamento e abertura das fissuras, e por isso aumentam a resistência à força
cortante de maneira significativa.

4.1.5. FORÇA AXIAL

Forças axiais de compressão aumentam a resistência à força cortante porque


diminuem a largura das fissuras inclinadas, o que contribui para uma maior resistência

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nas interfaces das fissuras, e aumentam a altura do banzo de concreto comprimido, e


consequentemente a sua resistência à força cortante. Forças de tração, ao contrário,
diminuem a resistência à força cortante.

5. COMPORTAMENTO DE VIGAS COM ARMADURA TRANSVERSAL

A existência de armadura transversal modifica consideravelmente o


comportamento das vigas após o surgimento das fissuras inclinadas. Ao ser
interceptado por uma fissura o estribo faz a ponte de transferência das tensões de
tração entre os lados da fissura, e ao atingir a tensão f y o aço do estribo escoa.
Ainda existe um ganho de resistência proporcionado principalmente pelo atrito
entre as superfícies nas fissuras. Os estribos, ao continuarem escoando,
proporcionam uma ruptura dúctil.
Em vigas com altas taxas de armadura transversal a ruptura pode ocorrer
devido ao esmagamento do concreto comprimido das diagonais inclinadas,
principalmente vigas de seção I.
Após a formação de fissuras inclinadas uma parte da força cortante passa a ser
transferida pela armadura transversal. Quando essa armadura passa a escoar
qualquer força cortante adicional deve ser transferida pelos mecanismos já citados.
Quando a fissura tem a abertura aumentada o atrito nas interfaces diminui, o
que causa um aumento de força transferida pelo concreto do banzo comprimido e pela
ação de pino, até que rompe a ação de pino ou o concreto comprimido esmaga.

5.1 FUNÇÃO DO ESTRIBO

A colocação de estribos nas vigas tem três funções básicas:


a) resistir à parte da força cortante;
b) restringir o crescimento da abertura das fissuras, o que ajuda a manter o atrito entre
as interfaces na fissura;
c) aumentar a ação de pino das barras longitudinais.
Além disso, os estribos proporcionam uma pequena resistência por ação de
pino nas fissuras e aumentam a resistência da zona comprimida de concreto pelo
confinamento que promovem.

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A Figura 04 mostra a atuação ou trabalho desenvolvido pelo estribo vertical na


analogia de treliça, para uma viga com tração na fibra inferior. No nó inferior o estribo
entrelaça a armadura longitudinal tracionada e no nó superior o estribo ancora-se no
concreto comprimido e na armadura longitudinal superior.
As bielas de compressão se apoiam nas barras da armadura longitudinal
inferior, no trecho final dos ramos verticais dos estribos e nos seus ramos horizontais,
principalmente na intersecção do estribo com as barras longitudinais.
O ramo horizontal inferior dos estribos é importante porque, além de servir de
apoio às bielas, também atua para equilibrar as tensões de tração oriundas da
inclinação transversal das bielas diagonais, como indicado na Figura 31III e IV.
Ainda a Figura 04 mostra o apoio da biela na intersecção do estribo com a barra
longitudinal inferior, e o acréscimo de tensão Δσs na armadura longitudinal, entre um
estribo e outro e proveniente da atuação da tensão de aderência τb, entre a barra e o
concreto.

Figura 04 – Atuação do estribo no modelo de treliça.

No nó superior os estribos se ancoram no concreto comprimido, e nas barras


longitudinais aí posicionadas. Barras porta-estribos também atuam para evitar o
fendilhamento, que pode ser provocado pelo gancho do estribo ao aplicar tensões de
tração num pequeno volume de concreto.

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O ramo horizontal superior do estribo não é obrigatório, porém, sua disposição é


indicada para o posicionamento de barras longitudinais internas e para resistir a
esforços secundários que geralmente ocorrem.
Vigas largas, com larguras maiores que aproximadamente 40 cm, devem ter
estribos com mais de dois ramos verticais, sendo muito comum o uso de estribos com
quatro ramos, que oferece a vantagem de ser montado sobrepondo-se dois estribos
idênticos de dois ramos.
No caso do estribo com três ramos é colocada uma barra adicional no espaço
entre os ramos de um estribo convencional com dois ramos, como será visto
posteriormente.

6. COMPORTAMENTO RESISTENTE DE VIGAS SUBMETIDAS À FLEXÃO E À


FORÇA CORTANTE

Considere uma viga de Concreto Armado bi-apoiada (Figura 06), submetida a


duas forças concentradas P de igual intensidade, crescentes de zero até a força última
ou de ruptura.

Figura 06 – Viga ensaiada com respectivos esforços solicitantes.

As armaduras consistem da armadura longitudinal positiva (composta pelas


cinco barras inferiores) resistente às tensões normais de tração da flexão, e da
armadura transversal, composta por estribos verticais no lado esquerdo da viga e

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estribos e barras dobradas inclinadas (cavaletes) no lado direito da viga,


dimensionada para resistir às forças cortantes.
Nota-se que no trecho da viga entre as forças concentradas P a solicitação é
de flexão pura (V = 0).
A Figura 07a mostra a viga submetida às forças P de baixa intensidade, com
as trajetórias das tensões principais de tração e de compressão para a viga ainda não
fissurada, no Estádio I portanto.
Observa-se que no trecho de flexão pura as trajetórias das tensões de
compressão e de tração são paralelas ao eixo longitudinal da viga.
Nos demais trechos as trajetórias das tensões são inclinadas devido à
influência das forças cortantes. É importante observar também que as trajetórias
apresentam-se aproximadamente perpendiculares entre si.
Com o aumento das forças P e consequentemente das tensões principais, no
instante que as tensões de tração atuantes no lado inferior da viga superam a
resistência do concreto à tração, surgem as primeiras fissuras no trecho de flexão
pura, chamadas “fissuras de flexão” (Figura 07b).
As fissuras de flexão são aquelas que iniciam na fibra mais tracionada e
prolongam-se em direção à linha neutra, conforme aumenta o carregamento externo
aplicado. Apresentam-se aproximadamente perpendiculares ao eixo longitudinal da
viga e às trajetórias das tensões principais de tração, ou seja, a inclinação das fissuras
depende da inclinação das tensões principais de tração.
O trecho fissurado passa do Estádio I para o Estádio II e os trechos entre os
apoios e as forças concentradas, sem fissuras, permanecem no Estádio I, isto é, a
viga apresenta trechos nos Estádios I e II.
A Figura 07c mostra os diagramas de deformação e de tensão nas seções a e
b da viga, nos Estádios I e II, respectivamente. No Estádio I a máxima tensão de
compressão (σc) ainda pode ser avaliada de acordo com a lei de Hooke, o mesmo
não valendo para o Estádio II.
Continuando a aumentar as forças P outras fissuras de flexão continuam a
surgir, e aquelas já existentes aumentam de abertura e prolongam-se em direção ao
topo da viga (Figura 07d). Nos trechos entre os apoios e as forças P, as fissuras de
flexão inclinam-se, devido à inclinação das tensões principais de tração σI, por
influência das forças cortantes.

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Figura 07 – Comportamento resistente de viga bi-apoiada.

Essas fissuras inclinadas são chamadas de “fissuras de flexão com força


cortante”, ou fissuras de flexão com cisalhamento, que não é o termo mais adequado
porque tensões de cisalhamento não ocorrem por ação exclusiva de força cortante.
Nas proximidades dos apoios, como a influência dos momentos fletores é muito
pequena, podem surgir as chamadas “fissuras por força cortante, ou de cisalhamento”
(ver Figura 07). Com carga elevada, a viga se apresenta no Estádio II em quase toda
a sua extensão.
O carregamento externo introduz numa viga diferentes estados de tensões
principais, em cada um dos seus infinitos ponto, como pode ser visto na Figura 02,
onde são mostradas as trajetórias das tensões principais de uma viga ainda no Estádio
I, e o estado de tensões principais num ponto sobre a linha neutra.

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Na altura da linha neutra, as trajetórias das tensões principais apresentam-se


inclinadas de 45° (ou 135°) com o eixo longitudinal da viga, e em pontos fora as
trajetórias têm inclinações diferentes de 45°.
Além dos estados de tensão relativos às tensões principais, como o indicado na
Figura 08, outros estados podem ser representados, com destaque para aquele
segundo os eixos x-y, que define as tensões normais σx e σy e as tensões de
cisalhamento τxy e τyx.

Figura 08 – Componentes de tensão segundo os estados de tensão relativos aos eixos principais.

De modo geral, as tensões verticais σy podem ser desprezadas, tendo


importância apenas nos trechos próximos à introdução de forças na viga (região de
forças externas aplicadas, apoios, etc.).
Considerando σy = 0, as expressões que correlacionam σI e σII com as
componentes σx e τ (lembrando que τ = τ xy = τ yx) são:

-Tensão principal de tração:


σ𝑥 1
σ𝐼 = + √σ𝑥 ² + 4τ²
2 2
-Tensão principal de compressão:
σ𝑥 1
σ𝐼𝐼 = − √σ𝑥 ² + 4τ²
2 2

O dimensionamento das estruturas de Concreto Armado toma como base


normalmente as tensões σx e τxy. No entanto, conhecer as trajetórias das tensões

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principais é importante para se posicionar corretamente as armaduras de tração e


para conhecer a direção das bielas de compressão.
As tensões principais de tração inclinadas na alma exigem uma armadura
denominada armadura transversal, composta normalmente na forma de estribos
verticais fechados. Note que, na região de maior intensidade das forças cortantes, a
inclinação mais favorável para os estribos seria de aproximadamente 45, ou seja,
paralelos às trajetórias das tensões de tração e perpendiculares às fissuras.
Por razões de ordem prática os estribos são normalmente posicionados na
direção vertical, o que os torna menos eficientes se comparados aos estribos
inclinados de 45°.
A colocação da armadura transversal evita a ruptura prematura das vigas e, além
disso, possibilita que as tensões principais de compressão possam continuar atuando,
sem maiores restrições, entre as fissuras inclinadas próximas aos apoios.
O comportamento da região da viga sob maior influência das forças cortantes e
com fissuras inclinadas no Estádio II, pode ser muito bem descrito fazendo-se a
analogia com uma treliça isostática (Figura 09).

Figura 09 – Analogia de treliça em regiões próximas aos apoios de vigas.

A analogia de treliça consiste em simbolizar a armadura transversal como as


diagonais inclinadas tracionadas (montantes verticais no caso de estribos verticais), o
concreto comprimido entre as fissuras (bielas de compressão) como as diagonais
inclinadas comprimidas, o banzo inferior como a armadura de flexão tracionada e o
banzo superior como o concreto comprimido acima da linha neutra, no caso de
momento fletor positivo.
A treliça isostática com banzos paralelos e diagonais comprimidas de 45° é
chamada “treliça clássica de Ritter-Mörsch”.

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Sobre ela, Lobo Carneiro escreveu o seguinte: “A chamada treliça clássica de


Ritter-Mörsch foi uma das concepções mais fecundas na história do concreto armado.
Há mais de meio século tem sido a base do dimensionamento das armaduras
transversais – estribos e barras inclinadas – das vigas de concreto armado, e está
muito longe de ser abandonada ou considerada superada. As pesquisas sugerem
apenas modificações ou complementações na teoria, mantendo no entanto o seu
aspecto fundamental: a analogia entre a viga de concreto armado, depois de
fissurada, e a treliça”. É válido afirmar que essas palavras continuam verdadeiras até
o presente momento.
Os estribos devem estar próximos entre si a fim de interceptarem qualquer
possível fissura inclinada devido às forças cortantes, pois uma ruptura precoce pode
ocorrer quando a distância entre os estribos for ≥ 2 z para estribos inclinados a 45° e
> z para estribos a 90°, conforme mostra abaixo na Figura 10.

Figura 10 – Analogia de viga com treliça.

7. MODOS DE RUPTURA

Quando as tensões principais de tração inclinadas σI alcançam a resistência do


concreto à tração, surgem as primeiras fissuras devidas à força cortante,
perpendiculares à direção de σI, como mostrado anteriormente.
À medida que as fissuras vão surgindo ocorre uma redistribuição dos esforços
internos, e a armadura transversal e as diagonais comprimidas passam então a
“trabalhar” de maneira mais efetiva. A redistribuição de esforços depende da
quantidade e da direção da armadura transversal, o que leva a diversos tipos de
ruptura por força cortante.

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19

Com o aumento do carregamento as fissuras de flexão na região de maiores


forças cortantes propagam-se com trajetória inclinada, dando origem às chamadas
fissuras de flexão com cortante.
Se a armadura transversal for insuficiente, o aço atinge a deformação de início
de escoamento (εy). As fissuras inclinadas por efeito da força cortante próximas ao
apoio desenvolvem-se rapidamente em direção ao banzo comprimido, diminuindo a
sua seção resistente, que por fim pode se romper bruscamente.
A total falta de armadura transversal também pode levar a esta forma de
ruptura. A fissura propaga-se também pela armadura longitudinal de tração nas
proximidades do apoio, separando-a do restante da viga.
Pode também ocorrer o rompimento dos estribos, antes da ruptura do banzo
comprimido, ou a ruptura na ligação das diagonais comprimidas com o banzo
comprimido. A Figura 11 mostra a ruptura que pode ocorrer por rompimento ou
deformação excessiva dos estribos.

Figura 11 – Ruptura por rompimento ou deformação excessiva de estribos.

Em seções com banzos reforçados, como seções I, que possuam armaduras


longitudinal e transversal reforçadas, formam-se muitas fissuras inclinadas, e as bielas
de compressão entre as fissuras podem romper de maneira brusca ao atingir a
resistência do concreto à compressão.
Tal ruptura ocorre quando as diagonais são solicitadas além do limite da
resistência do concreto, antes que a armadura transversal entre em escoamento
(Figura 12).

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Figura 12 – Ruptura das bielas de compressão de concreto.

As bielas de compressão delimitam o limite superior da resistência das vigas


ao esforço cortante, o que depende da resistência do concreto. A tensão de
compressão nas bielas depende da inclinação dos estribos, como se verá adiante.

8. ANALOGIA DE TRELIÇA: A TRELIÇA CLÁSSICA DE RITTER-MÖRSCH

A treliça clássica, idealizada por Ritter e Mörsch, é chamada pela NBR


6118:2014 de Modelo de Cálculo I, onde admite-se inclinação das bielas de
compressão θ = 45°.
A analogia de uma viga fissurada com uma treliça foi introduzida por RITTER
(1899). Em sua analogia, cada barra da treliça representa uma parte de uma viga
simples: o banzo inferior é a armadura longitudinal de tração, o banzo superior é o
concreto comprimido pela flexão, as diagonais inclinadas de 45° representam o
concreto comprimido entre as fissuras (bielas de compressão) e as diagonais
tracionadas inclinadas do ângulo α os estribos.
Essa treliça é a chamada “treliça clássica”. Para estribos verticais imagina-se as
diagonais tracionadas dispostas na vertical, com ângulo α de 90°. Este modelo de
Ritter foi melhorado por Mörsch, assumindo que as diagonais comprimidas estendem-
se por mais de um estribo.
O modelo de treliça tradicional assume que as bielas de compressão são
paralelas à direção das fissuras inclinadas e que nenhuma tensão é transferida
através as fissuras.
No entanto, existem dois mecanismos que não são considerados no modelo de
treliça tradicional:

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- As tensões de tração que existem no concreto transversalmente às bielas de


compressão;
- As tensões de cisalhamento que são transferidas nas faces das fissuras inclinadas
pela ação do engrenamento dos agregados ou atrito.
Esses mecanismos resultam:
a) o ângulo da tensão principal de compressão na alma é menor que o ângulo de
inclinação das fissuras;
b) uma componente vertical da força ao longo da fissura que contribui para a
resistência à força cortante, sendo esse mecanismo resistente chamado como
“contribuição do concreto” (Vc).
Assim, considere uma viga bi-apoiada, com o carregamento de uma força
concentrada P, e com força cortante constante.
A analogia dessa viga fissurada (Estádio II) com a treliça clássica, com ângulo θ
de inclinação das diagonais comprimidas (bielas de compressão) de 45° e com
diagonais tracionadas inclinadas de um ângulo α qualquer, está mostrada na Figura
13.
A treliça clássica despreza a resistência do concreto à tração e mesmo após a
fissuração da viga as diagonais de compressão mantém-se inclinadas de 45°. A
“contribuição do concreto” é considerada por meio da parcela Vc, com diferentes
valores para cada norma.
Sendo a treliça isostática, as forças nas barras podem ser determinadas
considerando-se apenas as condições de equilíbrio dos nós, a partir da força cortante.
Considerando a seção 1-1 da treliça sob atuação da força cortante V, a força na
diagonal comprimida (biela de compressão - Rcb) é:

𝑉 = 𝑅𝑐𝑏 𝑠𝑒𝑛 45°

Ou, ainda:

𝑉
𝑅𝑐𝑏 = = √2 𝑉
𝑠𝑒𝑛 45°

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Figura 13 – Viga representada pelo modelo de treliça clássica.

A distância entre duas diagonais comprimidas adjacentes, na direção


perpendicular a elas, é dada por:

𝑧
𝑑𝑝𝑒𝑟𝑝 = (1 + 𝑐𝑜𝑡𝑔 𝛼)
√2

A força em cada diagonal comprimida pode ser considerada aplicada na área de


concreto (área da biela):

𝑧
𝐹 = 𝑏𝑤 (1 + 𝑐𝑜𝑡𝑔 𝛼)
√2

Onde α é o ângulo de inclinação das diagonais tracionadas. A tensão média de


compressão na biela é então dada por:

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𝑅𝑐𝑏 √2 √2 𝑉
𝜎𝑐𝑏 = 𝑧 =
𝑏𝑤 (1 + 𝑐𝑜𝑡𝑔 𝛼) 𝑏𝑤 𝑧 (1 + 𝑐𝑜𝑡𝑔 𝛼)
√2

Ou ainda, de forma mais simplificada:

2𝑉
𝜎𝑐𝑏 =
𝑏𝑤 𝑧 (1 + 𝑐𝑜𝑡𝑔 𝛼)

A força na diagonal tracionada (Rs,α), inclinada do ângulo α, pode ser


determinada fazendo o equilíbrio da seção 1-1 da treliça (Figura 16):

𝑉 = 𝑅𝑠,𝛼 𝑠𝑒𝑛 𝛼

𝑉
𝑅𝑠,𝛼 =
𝑠𝑒𝑛 𝛼

Cada diagonal de tração com força Rs,α é relativa a um comprimento da viga, a


distância z (1+cotg α), medida na direção do eixo longitudinal, e deve ser resistida por
uma armadura chamada transversal, composta por barras (estribos) espaçadas num
comprimento s e inclinadas de um ângulo α (Figura 14).

Figura 14 – Armadura transversal resistente à força de tração na diagonal.

Considerando Asw a área de aço de um estribo, a área total de armadura no


comprimento z (1+cotg α) é dada por:

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𝑧(1 + 𝑐𝑜𝑡𝑔 𝛼)
𝐴𝑠𝑤,𝛼 =
𝑠

Onde a equação acima representa o número de estribos nesse comprimento. A


tensão σsw na armadura transversal resulta:

𝑅𝑠,𝛼 𝑉 𝑠
𝜎𝑠𝑤,𝛼 = =
𝐴𝑠𝑤,𝛼 𝑧 (1 + 𝑐𝑜𝑡𝑔𝛼) 𝑧(1 + 𝑐𝑜𝑡𝑔 𝛼) 𝑠𝑒𝑛 𝛼 𝐴𝑠𝑤,𝛼
𝑠

Simplificadamente, a equação pode ser escrita na seguinte forma:

𝑉 𝑠
𝜎𝑠𝑤,𝛼 =
𝑧(𝑠𝑒𝑛𝛼 + 𝑐𝑜𝑠𝛼) 𝐴𝑠𝑤,𝛼

O ângulo α de inclinação da armadura transversal pode variar teoricamente de


45° a 90°, sendo que na esmagadora maioria dos casos da prática o ângulo adotado
é de 90°, com a armadura transversal consistindo de estribos na posição vertical.
Porém, é interessante fazer algumas comparações com o ângulo α assumindo
os valores de 45° e 90°, o que é mostrado na Tabela 01, desenvolvida por Bastos
(2008).

Tabela 01 – Respostas da estrutura de acordo com a variação do ângulo α.

A equação que determina a tensão na diagonal comprimida (σcb) mostra que o


ângulo α de inclinação da armadura transversal influencia o valor da tensão na
diagonal comprimida.

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Quando a armadura transversal é colocada na posição vertical, com α = 90°,


como a armadura fica inclinada com relação às tensões principais de tração σI, a
tensão na diagonal comprimida (biela de compressão) resulta o dobro da tensão para
quando a armadura é colocada inclinada a 45°.
Conclui-se que, quanto mais inclinada for a armadura – até o limite de 45°, menor
será a tensão nas bielas de compressão.
O fato já enunciado da armadura transversal inclinada de 45° ser mais eficiente,
por acompanhar a inclinação das tensões principais de tração σI, fica evidenciado ao
se comparar as equações da tensão na armadura transversal (σsw).
Nota-se que a armadura a 45° resulta 2 vezes menor que a armadura a 90°. No
entanto, a armadura a 45° apresenta comprimento 2 vezes maior que a armadura a
90°, o que acaba levando a consumos de armadura praticamente iguais.

9. ANALOGIA DE TRELIÇA: TRELIÇA GENERALIZADA (θ VARIÁVEL)

Com base nos resultados de numerosas pesquisas experimentais verificou-se


no século passado que a inclinação das fissuras é geralmente inferior a 45°, e
consequentemente as bielas de compressão têm inclinações menores, podendo
chegar a ângulos de 30° ou até menores com a horizontal, em função principalmente
da quantidade de armadura transversal e da relação entre as larguras da alma e da
mesa, em seções T e I por exemplo.
Além disso, a treliça não considera a ação de arco nas proximidades dos
apoios. Por não fazer essas considerações a treliça clássica de Ritter-Mörsch é
conservadora e conduz à armadura transversal um pouco exagerada.
Para levar em conta a menor inclinação das fissuras surgiu, na década de 60,
a chamada “treliça generalizada”, com ângulos θ menores que 45° para a inclinação
das diagonais comprimidas (Figura 15).
A determinação correta do ângulo θ para uma viga é muito complexa, porque
depende de inúmeros fatores.
A dedução das forças na treliça generalizada é semelhante àquela já
apresentada para a treliça clássica.

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Figura 15 – Representação da treliça generalizada.

Assim, sendo V a força cortante que atua na seção 1-1 da treliça, a força na
diagonal comprimida (Rcb) é:

𝑉 = 𝑅𝑐𝑏 𝑠𝑒𝑛 θ

A distância entre duas diagonais comprimidas adjacentes, na direção


perpendicular a elas, é:

𝑧 (𝑐𝑜𝑡𝑔 θ + cotg α) 𝑠𝑒𝑛 θ

A força em cada diagonal comprimida pode ser considerada aplicada na área de


concreto (área da biela):

𝑏𝑤 𝑧 (𝑐𝑜𝑡𝑔 θ + cotg α) 𝑠𝑒𝑛 θ

Onde α é o ângulo de inclinação das diagonais tracionadas.

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A tensão média de compressão na biela é então dada por:

𝑅𝑐𝑏
σ𝑐𝑏 =
𝑏𝑤 𝑧 (𝑐𝑜𝑡𝑔 θ + cotg α) 𝑠𝑒𝑛 θ

Ou, ainda:
𝑉
σ𝑐𝑏 =
𝑏𝑤 𝑧 (𝑐𝑜𝑡𝑔 θ + cotg α) 𝑠𝑒𝑛² θ

A força na diagonal tracionada (Rs,α) pode ser determinada fazendo o equilíbrio


da seção 1-1 da treliça:

𝑉 = 𝑅𝑠,𝛼 𝑠𝑒𝑛 𝛼

Cada diagonal de tração com força Rs,α é relativa a um comprimento da viga, a


distância z (cotg θ + cotg α), medida na direção do eixo longitudinal da viga, e deve
ser resistida por uma armadura transversal composta por barras (estribos) espaçadas
num comprimento s e inclinadas de um ângulo α, como indicado na imagem acima.
Considerando Asw a área de aço de um estribo, a área total de armadura no
comprimento z (cotg θ + cotg α) é dada por:

𝑧 (𝑐𝑜𝑡𝑔 θ + cotg α)
𝐴𝑠𝑤,𝛼 =
𝑠

Onde z (cotg θ + cotg α) / s representa o números de estribos nesse


comprimento. A tensão σsw na armadura transversal resulta:

R s,w
σ𝑠𝑤,𝛼 =
𝐴𝑠𝑤 𝑧 (𝑐𝑜𝑡𝑔 θ + cotg α)
𝑠

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Ou, ainda:
V s
σ𝑠𝑤,𝛼 =
𝑧 (𝑐𝑜𝑡𝑔 θ + cotg α) 𝑠𝑒𝑛 𝛼 Asw,α

No modelo de treliça generalizada o ângulo θ é uma incógnita no problema,


sendo dependente de diversos fatores. Este é um assunto que vem sendo
pesquisado, sendo que alguns pesquisadores já estão propondo métodos para o
cálculo exato deste ângulo.

REFERÊNCIAS

ARAÚJO, José Milton de. Curso de concreto armado. 4. ed. Rio Grande, RS: Dunas,
2014.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 6118. Projeto de


estruturas de concreto – Procedimento. São Paulo, 2004.

BASTOS, Paulo Sérgio dos Santos. Notas de aula da disciplina 1309 - Estruturas
de concreto II, FEC-Unicamp, Universidade Estadual Paulista, Campinas, São Paulo,
2008.

CARVALHO, Roberto Chust; FIGUEIREDO FILHO, Jasson Rodrigues de. Cálculo e


detalhamento de estruturas usuais de concreto armado. São Paulo: UFSCar,
2014. 308 p.

D’ÁVILA, Virgínia Maria Rosito. Notas de aula da disciplina ENG 01111 - Estruturas
de concreto armado I, UFRGS, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto
Alegre, Rio Grande do Sul, 2010.

FUSCO, P.B. Técnica de armar as estruturas de concreto. São Paulo, Ed. Pini,
2000, 382p.

LEONHARDT, F.; MÖNNIG, E. Construções de concreto – Princípios básicos do


dimensionamento de estruturas de concreto armado, v. 1, Rio de Janeiro, Ed.
Interciência, 1982, 305p.

LEONHARDT, F.; MÖNNIG, E. Construções de concreto – Princípios básicos


sobre a armação de estruturas de concreto armado, v. 3, Rio de Janeiro, Ed.
Interciência, 1982, 273p.

PINHEIRO, Libânio M.; MUZARDO, Cassiane D.; SANTOS, Sandro P. (2003). Notas
de aula da disciplina CV714 Concreto I, FEC-Unicamp, Universidade Estadual
Paulista, Campinas, São Paulo, 2003.

Unoesc (Campus Chapecó/SC) – Concreto Armado I – Cisalhamento

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