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Aluno: Arthur Tinoco

Professor: Luis Reznik

Resenha - “Trabalhadores do Brasil!”: as comemorações do Primeiro de


Maio em tempos de Estado Novo varguista” de Isabel Bilhão

Isabel Bilhão é uma historiadora formada pela PUC-RS, com mestrado na


mesma instituição e doutorado na UFRGS, atualmente trabalhando como professora
da pós-graduação na Universidade do Vale do Rio Sinos (UNISINOS). Seu artigo,
intitulado “Trabalhadores do Brasil!”: as comemorações do Primeiro de Maio em
tempos de Estado Novo varguista, foi publicado na Revista de História Brasileira, no
no volume 31, em dezembro de 2011. Dentro deste artigo, a autora trabalha sobre a
importância da comemoração do Dia do Trabalho no período Vargas, bem como sua
utilização política pelo departamento de propaganda do governo, além das disputas
anteriores sobre o feriado entre anarquistas e comunistas. É interessante notar que o
artigo dialoga de maneira direta com o texto de Ângela de Castro Gomes, que aborda,
dentre outras coisas, o caráter político e social que o Dia do Trabalho adquiriu dentro
do Governo Vargas, a partir de 1938, sendo bastante utilizado como uma forma de
diálogo entre o governo e o trabalhador. O texto de Bilhão apresenta, inicialmente,
um panorama geral sobre como o feriado era um ponto de disputa ideológica sobre
sua utilização durante a República Velha. Enquanto os anarquistas afirmavam e
defendiam que o feriado deveria ser utilizado como dia de luto e de lutas, com greves
gerais marcadas para o dia, o governo de Artur Bernardes transformou a data em um
feriado nacional, dando a “chancela” do Estado para o evento.

No entanto, de acordo com Bilhão e encontrando respaldo em Castro Gomes,


podemos observar que, a partir do governo Vargas, o feriado se transformou ainda
mais em uma plataforma política para o governo, utilizando-se da data para promover
ações em prol do trabalhador e melhorar a relação entre os trabalhadores e o Estado.
Em 1938, o primeiro ano onde as festividades foram feitas durante o período
varguista, não houveram grandes eventos sociais públicos, ainda que Vargas tenha
aproveitado a data para anunciar a lei do salário mínimo e se comprometido a “dar
um presente aos trabalhadores” a cada novo dia 1º de Maio, sempre com ações
sociais que visavam melhorias para a classe. Mas em 1939, o evento teve o salto
definitivo em importância, tamanho e alcance, sendo transferido para o Estádio de
São Januário, até então o maior estádio da cidade do Rio de Janeiro e se tornando
aberto para o público, costumeiramente uma massa de trabalhadores. Além do
discurso de Getúlio, também existe um destaque grande aos desfiles dos sindicatos,
que participavam como uma forma de marcar sua posição no evento e levar seus
associados ao desfile cívico. Na fala de Vargas durante a cerimônia, o interesse de
demonstrar que o governo atual tinha muito mais interesse nos trabalhadores em
comparação com os governos anteriores é um dos assuntos mais discutidos, bem
como o papel de Vargas como um “ajudante” dos trabalhadores.

Ainda de acordo com Bilhão, o feriado foi utilizado como plataforma do esforço
de guerra brasileiro, durante o período de 1942-44, aonde o Brasil entrou na Segunda
Guerra Mundial. Embora a entrada oficial no conflito tenha se realizado em Agosto
(após, portanto, o Dia do Trabalhador), desde o final de Janeiro Getúlio havia cortado
relações diplomáticas com os países do Eixo, como deliberado pela reunião entre os
chanceleres dos países americanos. Esta intenção política era óbvia, com intenção
de se distanciar das políticas nazi-fascistas, apresentando-se como uma figura
diferente de Hitler ou Mussolini, ainda que o Brasil vivesse uma ditadura. Bilhão
descreve de maneira clara que a data foi utilizada durante todo o Estado Novo como
uma forma de promoção das políticas trabalhistas de Vargas, e uma maneira de o
governo se colocar sempre como benfeitor público e do trabalho, utilizando-se do
carater festivo do evento e da popularidade do “presente” dado aos trabalhadores em
cada dia primeiro de Maio. Durante os anos subsequentes, os discursos se tornaram
cada vez mais direcionados a participação política dos trabalhadores e da população
no governo, mas sempre pautados pelo papel central que o Estado tinha em mediar
essas relações entre as partes envolvidas. Novamente isto encontra ressonância no
texto de Castro Gomes, que demonstra e pontua os motivos que levaram a figura de
Vargas se tornar tão cultuada, de maneira quase mitológica. Os desfiles de Primeiro
de Maio certamente são um dos fatores que elevaram o culto a personalidade de
Getúlio, cuidadosamente planejados para isto. As celebrações serviram para apontar
rumos sociais e econômicos, demonstrar força, propagandear a pretendida coerência
do ‘projeto governamental’ e, progressivamente, cultuar a figura de Vargas.
O texto de Bilhão é bem documentado, utilizando-se dos jornais do período,
que detalhavam os eventos públicos, além dos discursos de Vargas, que foram
publicados na íntegra. Dentre os autores citados, o artigo utiliza a própria Ângela de
Castro Gomes como bibliografia complementar, mostrando a proximidade dos temas.
Além da bibliografia, as fontes diretas, ou seja, os discursos de Getúlio são muito
importantes para entender com clareza a função dos eventos do dia do trabalho, já
que indicavam qual era a pauta do governo para sua política social e trabalhista,
especialmente depois de 1939. Em suma, o artigo aqui resenhado é bem detalhado
acerca das ideias que a autora gostaria de passar sobre a importância do Dia do
Trabalhador para o Estado Novo, em relação às suas propostas sociais e econômicas
bem como em relação a criação de um culto a personalidade de Getúlio Vargas, culto
este que persiste até os dias de hoje.

Bibliografia:

BILHÃO, Isabel. (2011). "Trabalhadores do Brasil!": as comemorações do


Primeiro de Maio em tempos de Estado Novo varguista. Revista Brasileira de História,
31(62), 71-92. https://dx.doi.org/10.1590/S0102-01882011000200006

GOMES, Ângela de Castro. A invenção do trabalhismo. 2.ed. Rio de Janeiro:


Relume Dumará, 1994. Cap. VI

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