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set 2010
www.nucleoparadigma.com.br
História de Vida
Dr. João Claudio Todorov
Editorial 3
Paradigma entrevista 11
Yara Nico entrevista Marino Pérez-Alvarez
Na estante 18
Resenha do livro Comportamento moral: Uma proposta para o
desenvolvimento das virtudes, de Paula I. C. Gomide e cols
por Giovana Del Prette
Resenha do livro Análise comportamental clínica: Aspectos teóricos e
estudos de caso, de Ana Karina C. R. de-Farias e cols
por Joana Singer Vermes
História de vida 23
Dr. João Claudio Todorov
por Ricardo Corrêa Martone
Comportamento em cena 35
Um Certo Olhar
Cassia Leal da Hora e Maria Carolina C. Martone
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Editorial
Caríssimos colegas e amigos,
Mais um ano se passou uma revista online, que traz artigos teóricos,
e aqui estamos de volta, em mais uma edi- reflexivos, históricos e resenhas sobre Análise
ção desta publicação. Desde sua concepção, o do Comportamento.
Boletim Paradigma vem desempenhando vários Outra importante novidade aconteceu já
papéis importantes para nós: tem possibilitado neste segundo semestre: a inauguração do curso
um contato anual com vocês, que fazem par- de aprimoramento em Psicologia do Esporte e
te da comunidade de pessoas interessadas em da Atividade Física, coordenado por profissio-
Análise do Comportamento, e tem trazido a nais altamente especializados na área e dispostos
chance de reunir textos de fácil leitura, que não a desenvolver alunos que almejam trabalhar em
se enquadrariam em veículos científicos, mas um campo bastante promissor. E foi também
que certamente são bastante interessantes ao neste ano que lançamos o curso de aprimo-
nosso público. Além disso, o Boletim nos ajuda ramento em Intervenção em Dificuldades de
a refletir sobre o que vem sendo produzido no Aprendizagem Acadêmica, que terá sua primei-
Paradigma e na Análise do Comportamento ra turma formada em meados de 2011.
em geral, proporcionando muita satisfação ao Além disso, continuamos trabalhando muito
notarmos que, a cada ano, estamos todos cres- para produzir mais e mais melhorias em todos
cendo um pouquinho. os nossos cursos, bem como em nosso espaço
2010, no entanto, não foi pleno de satis- físico. Em breve, nossa sede receberá mais um
fações. Com pesar assistimos à perda de Téia curso de especialização: Intervenção Precoce so-
(Teresa Maria Sério), certamente irrepará- bre Desenvolvimento Atípico, que deverá agre-
vel para a comunidade e para a Análise do gar muito àqueles que pretendem trabalhar em
Comportamento. A interrupção de seu traba- uma área em constante crescimento.
lho de ensino e pesquisa fará grande falta para Gostaríamos de agradecer a todos que con-
a formação de novos profissionais, bem como tribuem para que tudo isso seja possível: nossos
para o desenvolvimento conceitual e teórico alunos, clientes, colegas, professores, funcioná-
da abordagem. rios e amigos.
Ainda neste ano, o Paradigma completou Um forte abraço a todos e até a próxima
cinco anos de vida. E, com tantas novidades, edição!
não faltam motivos para comemorar. No início Denis Roberto Zamignani
do ano, a comunidade de analistas do compor- Joana Singer Vermes
tamento ganhou uma nova revista científica, Roberta Kovac
publicada pelo Paradigma: a Perspectivas – Roberto Alves Banaco
editorial 3
Agenda 2010 a 2011
MARÇO
19 e 20 VII Encontro Aberto de Terapia Analítico-Com- 12 Início do curso Intervenção Precoce em Crianças
portamental do ITECH com Transtornos Invasivos do Desenvolvimento no
Núcleo Paradigma
abril
12 e 13 I Jornada de Análise do Comportamento
15 a 17 II Encontro Catarinense de Análise do Com-
da USP
portamento
20 e 21 II Jornada de Análise do Comportamento de
maio Ribeirão Preto
7 e 8 III Encontro Maringaense de Análise do Com- setembro
portamento
3 a 7 III Congresso Brasileiro de Psicologia: Ciência &
7 a 9 IX Jornada de Análise do Comportamento da
Profissão
UFSCar
23 a 26 XIX Encontro Brasileiro de Psicoterapia e Me-
13 a 15 I Congresso de Psicologia e Análise do Com-
dicina Comportamental
portamento/IV Encontro Paranaense de Análise do
Comportamento/I Encontro Brasileiro de Estudos So- outubro
bre as Psicoterapias Analítico-Comportamentais da 14 a 17 XIV Congreso Latinoamericano de Análisis y
Terceira Onda Modificación del Comportamiento
15 III Jornada de Análise do Comportamento de Jundiaí 20 a 23 XL Reunião Anual da Sociedade Brasileira de
Psicologia
21 e 22 XI Jornada Mineira de Ciência do Compor-
23 e 24 III Jornada de Análise do Comportamento de
tamento
Poços de Caldas
28 e 29 I Jornada de Psicologia do Esporte do Núcleo
V Jornada de Análise do Comportamento de
Paradigma
Campinas
29 III Jornada Brasiliense de Análise do Comporta-
mento novembro
3 a 6 XV Encontro Cearense de Análise do
junho
Comportamento
19 I Jornada Sul-Mineira de Análise do Comportamento
5 e 6 IV Encontro de Análise do Comportamento da
30 Início do curso de Especialização em Clínica Analí- PUC-SP
tico-Comportamental no Núcleo Paradigma 6 e 7 X Encontro de Psicologia Comportamental do
31 Início do curso de Aprimoramento em Acompanha- Centro-Oeste
mento Terapêutico e Atendimento Extraconsultório no 27 e 28 II Jornada de Análise do Comportamento da
Núcleo Paradigma UNESP de Bauru
agosto janeiro de 2011
7 Início do curso de Aprimoramento em Psicologia do 10 a 21 II Curso de Verão em Psicologia Experimental:
Esporte e da Atividade Física no Núcleo Paradigma Análise do Comportamento da PUC-SP
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Teoria e aplicação
A aprendizagem de valores morais na infância1
Giovana Del Prette
6 boletim paradigma
de “pecados capitais”, listados por São Tomás de exigindo das crianças um repertório que eles
Aquino: soberba, inveja, ira, preguiça, avareza, mesmos não demonstram no dia-a-dia. Isso vale
gula e luxúria. Estas avaliações, em última ins- para comportamentos mais simples, como se ali-
tância, existem para auxiliar a controlar com- mentar de comidas saudáveis quando se preten-
portamentos específicos e importantes para a de que a criança assim o faça. Mas também vale
convivência em sociedade e para a sobrevivên- para comportamentos mais complexos, como
cia e manutenção de grupos. Se a ira é um peca- dividir as próprias coisas (modelo para genero-
do, significa que certas expressões de raiva são sidade), controlar-se para falar ao invés de gritar
socialmente condenáveis. Com isso, o controle (modelo para controle da ira), aceitar desculpas
sobre esses comportamentos torna-se legítimo e dar chances para a criança reparar comporta-
e justificado como forma de minimizar seus mentos inadequados (modelo para o perdão).
possíveis danos sociais, por meio da violência, Além disso, é importante levar em conta que ou-
por exemplo. Se o altruísmo é um valor moral, a tras pessoas ou mesmo personagens também são
sociedade ensinará e reforçará comportamentos modelo para a criança. Personagens de desenhos
de seus membros, desde a infância, no sentido animados violentos são modelo para comporta-
de autocontrole suficiente para doar e compar- mentos agressivos, e os cuidadores também de-
tilhar com os outros, reduzindo a probabilidade veriam regular aquilo a que a criança assiste e/ou
de seu oposto, a avareza. acompanhá-la diante de certos programas para
Mas como a sociedade faz para controlar es- oferecer modelo de um posicionamento crítico
ses comportamentos? Uma das maneiras é por sobre seu conteúdo. Colegas e amigos da criança
meio das “agências controladoras”, nome dado são modelos para todo tipo de comportamento,
por Skinner para designar instituições como a de modo que pode ser interessante intermediar
economia, o governo, a educação e a religião. relações para facilitar o contato da criança com
Em geral, a punição ainda é um dos mais fortes colegas que têm mais chance de fornecer um
(e mais questionáveis) métodos de controle: a modelo adequado.
criança que agride o colega na escola vai para a
diretoria; a que não divide o lanche é repreendi- Manejo do contexto
da; a que teve preguiça e não copiou a lição ga- Existem outras maneiras de manejar o contexto
nha um bilhete de alerta para os pais assinarem. em que a criança vive, além do modelo. Muitas
Um dos vários problemas2 do uso da punição é crianças aprendem menos do que poderiam por-
que ela não ensina comportamento novo. Ao in- que o contexto em que vivem dá pouca oportu-
vés do uso da punição, existem outros métodos nidade para a emissão de certos comportamen-
que podem ser utilizados e, em combinação, são tos, como as que passam muito tempo em casa
muito úteis no ensino de valores: diante da televisão e do videogame. De maneira
mais geral, o manejo do contexto implica expor
Modelo a criança a situações que facilitam a ocorrência
Uma das mais importantes maneiras de se en- de certos comportamentos. As brincadeiras são
sinar comportamentos às crianças é o cuidador uma ótima oportunidade para ensinar valores.
comportar-se da mesma maneira que deseja que O manejo do contexto, nesse caso, implica a es-
a criança se comporte. Parece óbvio, mas muitas colha do brinquedo mais apropriado para a faixa
vezes nos deparamos com pais ou professores etária e para os objetivos que se pretende alcan-
teoria e aplicação 7
çar. Crianças pequenas, por exemplo, podem se crever esse comportamento (regras) ou fazer
beneficiar mais de brincadeiras não estrutura- perguntas e favorecer que a própria criança o
das (massinha, bonecos, desenhos) e o cuidador descreva (autorregras). Essa descrição pode
pode dispor de material suficiente para que ela referir-se a comportamentos passados (auto-
possa dividir com o colega ou irmão, manten- conhecimento) ou a serem executados no fu-
do uma parte para si – nesse caso, combinando turo (autocontrole). As regras e as autorregras
o manejo do ambiente com outras estratégias, funcionam como antecedentes que controlam
como reforçamento diferencial. Crianças mais outros comportamentos. Por exemplo, um
velhas podem se divertir com jogos de compe- pai pode conversar com seu filho sobre seus
tição e, com o auxílio do cuidador, aprender a sentimentos diante de uma nota dada injus-
dar mais importância à atividade do que ao re- tamente pelo professor e levá-lo a elaborar
sultado, assim como a perder ou a ganhar sem alternativas para lidar com o problema. Ao
humilhar o adversário. analisar as consequências de cada alternati-
va, a criança pode decidir: “Vou pedir para
Modelagem o professor conferir a minha nota amanhã”.
A modelagem envolve: (a) prover consequên- Assim, ela pode aos poucos formular uma
cias para os comportamentos que se pretende autorregra mais generalizada, como “É válido
instalar e manter e (b) reforçar comportamen- reivindicar justiça quanto me sinto prejudica-
tos mais simples no início e mais complexos do”. A importância das autorregras é que, pela
somente à medida que a criança os desenvolve, suplementação verbal, as crianças começam a
num processo gradual. Ao elogiar a criança (e aprender a controlar seus próprios compor-
também ao criticar), é preferível referir-se ao tamentos, ao invés de dependerem sempre de
comportamento e não à pessoa, falando algo controle externo, o que significa mais autono-
como “Gostei de ver a paciência que você teve mia e independência.
para ajudar seu irmãozinho”, ao invés de “Filho,
você é ótimo!”. Mas reforçar não é sinônimo de Punições
elogiar. Existem alternativas ao elogio, como os Como já foi dito, a punição não ensina o com-
gestos. Entre eles, sorrir, abraçar, fazer um ca- portamento novo. Entretanto, muitas vezes
rinho etc. Outra opção é facilitar a ocorrência pais, professores e outros sentem-se impeli-
de consequências mais naturais. A consequên- dos a utilizar punição. É importante avaliar:
cia natural do brigar é produzir afastamento; (a) se esse uso ocorre por não saberem utili-
o reforço natural de brincar e saber ganhar é zar outras estratégias (que então precisariam
o adversário querer jogar novamente. Assim, ser aprendidas) ou por uma real necessidade;
há casos em que o elogio pode não só ser des- (b) como e que tipo de punição foi aplicada
necessário como também contraindicado, pois e (c) a possibilidade de utilizar outras estra-
tira o foco do reforço intrínseco à resposta. tégias concomitantes. É mais adequado que a
punição tenha referência direta com o com-
Regras e autorregras portamento inadequado (como quando se
Outra alternativa ao elogio é conversar com a restitui ao amigo um brinquedo novo após
criança sobre seu comportamento ou de ou- ter quebrado seu brinquedo antigo) ou impli-
trem. Nesta conversa, o cuidador pode des- que a restrição/retirada de algo, ao invés de
8 boletim paradigma
agressão física. Vale lembrar que o modo de pode ser muito inflexível e trazer prejuízos para
punir também pode ser imitado pela criança, si e para sua relação com os outros no longo
que aprenderá a resolver seus problemas da prazo. O ensino adequado dos valores morais
mesma maneira. é aquele que combina estratégias para contro-
le externo (pelos outros), mas também para o
Reforço intrínseco ensino do autocontrole, e leva em conta as con-
Um processo de ensino ainda mais complexo sequências do comportamento, imediatas e de
é o de nomear e descrever sentimentos e ou- longo prazo, para a criança e para o grupo ou
tros eventos encobertos3. Essa aprendizagem entorno social e sobre a coesão e a manutenção
contribui para que os sentimentos façam parte do grupo.
da contingência. Assim, a criança pode evitar
um comportamento egoísta em parte para se
esquivar do sentimento de culpa e pode com- 1 Tema discutido pela autora em palestra baseada no filme
portar-se de modo generoso em parte porque A Viagem de Chihiro, apresentado no Cinema Paradigma,
as consequências para o outro também pro- em abril de 2010.
duzem bem-estar para si. Com esse ensino, 2 Para saber mais sobre efeitos colaterais da punição, sugi-
os sentimentos passam a fazer parte das con- ro a leitura do livro Coerção e Suas Implicações, de Sidman
tingências de modo intrínseco, auxiliando no (1989/2003).
autocontrole. Esse ensino também é essencial 3 Para mais informações sobre o papel dos sentimentos e o
para a aprendizagem da empatia, e colocar-se seu ensino, recomendo a leitura do capítulo “Self ”, do livro
no lugar do outro é pré-requisito para qualquer Psicoterapia Analítica-Funcional: Criando Relações Intensas e
comportamento moral. É a coerência entre os Curativas, de Kohlenberg e Tsai (1991).
sentimentos, pensamentos e comportamentos
abertos que faz com que o comportamento mo-
ral seja avaliado como “autêntico”. Referências
Com essas estratégias de ensino, a aprendi-
Kohlenberg, J. R. & Tsai, M. (2001). Psicoterapia
zagem de valores é facilitada, além de a própria analítica funcional: Criando relações terapêuticas
criança comportar-se de modo a se tornar mo- intensas e curativas. (R. R. Kerbauy et al., Trad.).
delo para outras pessoas, disseminando as vir- Santo André: ESETec. (Trabalho original publicado
tudes aprendidas. O ensino de comportamen- em 1991).
tos correspondentes aos valores morais deve Sidman, M. (2003). Coerção e suas implicações
se iniciar desde a infância e é importante que (M. A. Andery & T. M. Sério, Trad.). Campinas: Livro
ocorra sem se recorrer a explicações sobrena- Pleno. (Trabalho original publicado em 1989).
turais, religiosas ou moralistas. Esse ensino não
pode ser realizado de maneira maniqueísta,
isto é, deve incluir uma ponderação adequada
dos contextos mais apropriados e das consequ-
Giovana Del Prette é terapeuta analítico-compor-
ências para si e para os outros. Em outras pa-
tamental no Paradigma, onde é professora do curso
lavras, uma criança exageradamente altruísta, de especialização e supervisora do curso de apri-
por exemplo, pode se tornar pouco justa consi- moramento em terapia infantil. É mestre e douto-
go mesma; outra criança, rigorosamente justa, randa em psicologia clínica pela USP-SP.
teoria e aplicação 9
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Paradigma entrevista
Yara Nico entrevista Marino Pérez-Alvarez1
paradigma entrevista 11
bar a faculdade em Madrid, claramente sus- [y] Podemos constatar em seus escritos uma
tentando que o paradigma de uma psicologia defesa de uma psicologia fenomenológica-com-
científica estaria em Skinner. Aqui em Oviedo portamental. Quais as razões para sustentar essa
havia, e ainda há, um filósofo muito importante união?
na Espanha: Gustavo Bueno. A influência desse [m] Desde muito cedo, já via afinidades entre o
filósofo e de outros da Universidade de Madrid, behaviorismo de Skinner e a filosofia existen-
como Bautista Fuentes2, que logo se tornou meu cialista. Antes de chegar à fenomenologia, meu
amigo, foi importante para consolidar o enten- contato foi com o existencialismo, na adoles-
dimento de que o paradigma de cientificidade cência, nos anos 1970: Sartre, Ortega y Gasset e
em psicologia viria pela via do behaviorismo Heidegger. Embora sejam filosofias de origens
radical de Skinner. Nos anos 1980, a polêmica totalmente distintas e quase desconhecidas en-
se deslocou do embate com a psicanálise para o tre elas, têm em comum um radical adualismo
embate com a psicologia cognitivista, que era a e, nesse sentido, se opõem ao dualismo da filo-
nova moda. Todo mundo havia se tornado cog- sofia tradicional e ao mentalismo da psicolo-
nitivista sem nunca ter sido comportamentalista gia cognitiva. Como naquela época estávamos
e todo mundo aprendeu a criticar o behavioris- numa polêmica entre Skinner e psicologia cog-
mo de Skinner e a considerar que ele não havia nitivista, com sua versão dualista cartesiana e
contribuído em nada, que sua psicologia era só mentalista, encontrávamos argumentos na fi-
animal e mecanicista. Nos coube então perfilar losofia fenomenológica e existencialista que a
o caráter científico e a importância teórica da tornava uma aliada para combater o dualismo
obra de Skinner. Ao mesmo tempo em que co- tão presente na época. A fórmula existencia-
mecei como professor da faculdade de psicolo- lista tão célebre de ser-no-mundo também me
gia de Oviedo, no começo dos anos 1980, abri parecia muita próxima à unidade de tríplice
junto com um colega um consultório particular. contingência: estímulo antecedente, resposta
Não fomos os primeiros psicólogos de Oviedo, e consequência. Esses três termos constituem
mas creio que fomos os primeiros que aplicáva- uma unidade e não uma separação ou uma
mos terapia comportamental. Durante seis ou ruptura. Essa unidade tem, sobretudo, uma
sete anos, tive um consultório. Depois passei a construção temporal. Há um SD aqui presente,
dedicar-me apenas à docência e à produção aca- uma resposta por ocorrer e, quando ocorre, ela
dêmica. Me lembro que naquela época ficamos produz uma consequência. Essa unidade, com
conhecidos pelo tratamento da enurese median- sua construção temporal e com a orientação
te o aparato de alarme “pipi-stop”, muito eficaz. para o futuro que tem o comportamento ope-
Cerca de 90% dos casos se resolviam em duas rante, me parece inteiramente afinada à noção
ou três semanas e havia uma explicação muito de ser-no-mundo e à estrutura temporal do ser
clara em termos de condicionamento clássico. como desenvolve Heidegger em Ser e Tempo,
O tratamento desse problema nos tornou co- ao postular que o ser humano está orientado
nhecidos e fez com que nos estabelecêssemos em direção ao futuro e está sempre posto em
frente a outras terapias, não apenas porque as uma situação; está ligado, fundido, unido com
crianças paravam de fazer xixi na cama, mas o mundo sem que haja uma mente interior,
também pelo fato de não terem nenhum tipo separada do corpo. São estas as razões filosó-
de substituição de sintomas. ficas da afinidade. E, para mim, essa afinidade
12 boletim paradigma
também tinha o sentido pragmático de criticar subjetividade. Acho que na análise skinneriana
a psicologia cognitivista que é dualista, menta- faltam termos, falta uma proposta capaz de dar
lista, que separa o que é inseparável. A fenome- conta de estudar a pessoa, o sujeito ou, se prefe-
nologia é uma filosofia ela mesma radicalmente rir termos tradicionais, o eu. É aqui onde uma
adualista e está orientada ao mundo da vida, a perspectiva fenomenológica-existencial que
entender o ser humano funcionando, operando seja operante, contextual, poderia dar pistas.
na vida concreta e sempre sobre um horizon- Uma perspectiva que não se encontra facilmen-
te espacial e temporal. Mas creio que lhe falta te em Skinner. Nesse sentido, a fenomenologia
uma concepção do ser humano como sujeito e o existencialismo estariam no mesmo espí-
operatório, que opera com as mãos, que atua, rito do comportamentalismo, mas em “letras
que muda o contexto, o mundo. Creio que há diferentes”, em linguagens distintas, porque a
nessas filosofias uma espécie de sujeito trans- linguagem de Skinner foi retirada do laborató-
cendental que faz uma síntese quase automática rio, da psicologia animal, e talvez não tenha o
do mundo e do conhecimento e que, no fundo, alcance e os matizes necessários para abordar
não se distanciam da noção tradicional de su- os aspectos da experiência subjetiva. Creio que
jeito, de sujeito pensante. Acho que essas filoso- a fenomenologia e o existencialismo podem
fias poderiam se interessar pelo behaviorismo oferecer uma perspectiva mais desembaraçada,
menos estreita e em termos me-
Creio que a fenomenologia e o existencialismo podem nos técnicos, de laboratório, à
oferecer uma perspectiva mais desembaraçada, menos estreita filosofia do behaviorismo. Este,
e em termos menos técnicos, de laboratório, à filosofia do por sua vez, pode ser útil na me-
behaviorismo. Este, por sua vez, pode ser útil na medida em dida em que coloca a ênfase na
que coloca a ênfase na noção de sujeito operante. noção de sujeito operante. Sinto
que falta uma maior elaboração
de Skinner porque este oferece uma concepção da noção de pessoa nos escritos de Skinner,
do ser humano como ser operatório, que está embora ele fale da pessoa como repertório
ligado às circunstâncias e que muda o mundo de comportamentos. Escrevi um artigo sobre
com suas ações e é modificado por ele. Creio a noção de pessoa3 e acho que é preciso ela-
que temos de progredir e levar mais adiante borar esta noção relacionando-a com a noção
o radicalismo de Skinner a partir do ponto de comportamento e de contingência, mas de
em que ele o deixou. Para mim, seu trabalho modo a aproximá-la à noção de ser-no-mundo
mais fundamental foi o de 1945, Uma Análise e creio que isso não deriva puramente do com-
Operacional dos Termos Psicológicos, onde esta- portamentalismo. Também vejo limitações na
belece a distinção entre o behaviorismo meto- fenomenologia e numa espécie de subjetivismo
dológico e o radical, e diz que está interessado e não quero situá-la como a saída ou a referên-
em entender o comportamento incluindo a ex- cia a que deve recorrer o behaviorismo para
periência subjetiva, o mundo dentro da pele. elaborar melhor a noção de pessoa, sujeito ou
Entretanto, os termos skinnerianos são todos eu. Mas a solução de Skinner não é uma solu-
retirados da caixa de Skinner, do laboratório, ção radical, pois está hipotecada em conceitos
e por isso podem ser estreitos, limitados, para que já estão em uso, como self ou eu. Adotei
tratar de construir uma teoria do sujeito, da outra estratégia que considero mais radical, a
paradigma entrevista 13
de acudir diretamente à noção de pessoa em em consideração as funções da linguagem em
um sentido dramatúrgico, do teatro. Essa no- terapia, pois as operações mais frequentes que
ção tem sua origem etimológica no teatro grego realiza um terapeuta são verbais. Mas do que
e encontro nessa origem etimológica, social e não estou totalmente seguro é que a RFT seja a
histórica um conceito radicalmente comporta- teoria que esteja abrindo novas possibilidades
mental. Porque a pessoa se define e se constrói de entendimento das funções de linguagem im-
pelos seus comportamentos em relação aos de- plicadas na terapia. Tenho uma posição sobre
mais e em um contexto, o cenário. Os especta- a mudança terapêutica mais global, molar, na
dores de uma obra de teatro podem entender o perspectiva da noção de pessoa ante uma pers-
que está passando ao protagonista e inclusive pectiva mecanicista, centrada numa espécie de
sentir o que ele deve estar sentido, sem que mecanismo de linguagem pelo qual uma fun-
entrem em sua mente, em seu self, em seu eu. ção será alterada e, a partir daí, outras relações
Considero que a metáfora dramatúrgica, do e funções serão derivadas - uma compreensão
drama, do teatro, tem muita afinidade com o mais molecular. Uma análise skinneriana das
behaviorismo radical e com a fenomenologia funções da linguagem me parece fundamental,
existencialista. Drama em grego significa ação. mas creio que deve prevalecer uma perspecti-
Acho que a imagem, a metáfora do drama tea- va mais global e menos focada nas mudanças
tral, é muito esclarecedora. derivadas de uma intervenção pontual ou me-
canicista. Não tenho uma posição totalmente
[y] Seu trabalho como psicólogo aplicado ocor- elaborada, embora minha tendência seja mais
reu em um momento histórico bem distinto do a de crer que poderíamos promover “aceitação”
atual. As terapias comportamentais da atualidade com base numa concepção mais existencial da
se caracterizam, dentre outras coisas, por sua ên- vida, igualmente eficaz na perspectiva da pes-
fase em mudanças em relações que constituem soa, sem ter de estar operando de acordo com
o comportamento verbal. Qual a sua avaliação os estudos da RFT. Confio mais em uma filoso-
sobre a necessidade de uma nova teoria como fia fenomenológica-existencial do que propria-
a relational frame theory (RFT), de Steven Hayes, mente em uma teoria da linguagem que consi-
para sustentar estas novas terapias contextuais, dero muito desvinculada dos usos da linguagem
como a ACT? que as pessoas têm na prática. Acredito que o
[m] Essa é uma questão muito debatida no terapeuta tem de saber manejar as metáforas,
mundo e também na Espanha. Aqui quem mas creio que há um entendimento mundano
sustenta a importância da RFT para fundar das metáforas que não depende destes estudos
estas novas terapias é Carmen Luciano, uma abstratos de laboratório com símbolos A, B, C,
autora muito importante em nível mundial. e D, sem sentido, muito descontextualizados,
Mas há outros, inclusive eu mesmo, que não mecanicistas. Esses estudos de RFT muitas
dão tanta importância a essa pesquisa básica vezes são descontextualizados para logo deri-
da análise da linguagem, da RFT. Considero var metáforas que já estão em jogo. Agora, os
que não é necessária porque tenho outra pers- conceitos de aceitação e compromisso podem
pectiva que vem certamente da fenomenolo- ser aplicados de modo eficaz, sem que estejam
gia, do existencialismo. A verdade é que estou baseados em todos estes estudos de RFT. Mas
totalmente convencido de que é preciso levar para aplicá-los adequadamente é preciso ter
14 boletim paradigma
muito domínio sobre uma filosofia contextual tura ocidental (Kafka, Pessoa, Dostoievski, entre
e, no meu caso, uma filosofia fenomenológica- outros). Nesse livro, sigo retrocedendo no tem-
existencial da pessoa, do ser-no-mundo. Acho po e encontro que essa hiper-reflexividade atual
que para entender a proposta de Hayes temos começou no Renascimento. Entendo que a pos-
de considerar também que, por um lado, há um sibilidade de reflexão é constituinte do ser hu-
pouco de interesse de política científica, de se mano, mas minha tese central é de que antes do
separar de Skinner para oferecer algo original, Renascimento essa reflexividade não produzia
que não se resume ao já sabido e, por outro, de problemas psicológicos; ela era produtiva e não
elaborar uma teoria que tem uma ortodoxia e necessariamente patógena. Então trato de esta-
que é distinta de outras derivações. Então creio belecer diferenças entre a reflexividade dos gre-
que há um pouco de política e de dogmatismo. gos, da Idade Média e da Modernidade. E ainda
Não tenho problemas em assumir que Skinner trato de buscar as raízes da reflexividade, tan-
não considerou todos os aspectos possíveis do to da ordinária, comum, quanto da exagerada.
comportamento verbal; não sou dogmático Encontro que a escrita produziu uma mudança
porque Skinner não poderia ter dito tudo. decisiva no desenvolvimento da história huma-
na, pois abriu a possibilidade de uma reflexão
[y] Há algum livro que está sendo elaborado nes- na qual alguém toma a si mesmo como objeto
se momento pelo sr.? de reflexão. Nas sociedades orais, pelo contrário,
[m] Faz um ano que estou envolvido em escre- não poderíamos falar da hiper-reflexividade que
ver o que espero que sejam quatro livros. Um encontramos nas sociedades gregas e muito me-
que trata de entender as distintas psicopatolo- nos nas sociedades modernas, porque o mundo
gias da clínica atual como derivadas de alguma se dava mais como evento, como fusão de fenô-
forma de hiper-reflexividade. Percebo que na menos. Ao não haver uma linguagem escrita,
base da maioria dos transtornos psicológicos há separada, objetivada, não havia possibilidade de
uma espécie de hiper-reflexividade ou enreda- tomar aspectos de si mesmo como objeto, por-
mento autorreflexivo, sendo um dos exemplos que as palavras voam, desaparecem, não estão
a “evitação experiencial”. Trata-se de entender presentes. Ao elaborar esse livro, senti uma ne-
a hiper-reflexividade como um produto histo- cessidade de posicionar-me a respeito de uma
ricamente dado na cultura ocidental. Quero explicação neurocientífica que trata de entender
a hiper-reflexividade como
As atividades humanas, a cultura, os comportamentos, incluindo derivada do cérebro, e não
a hiper-reflexividade, não podem ser reduzidos ao cérebro. Pelo da cultura. Então um capí-
contrário, o cérebro e seu funcionamento dependem das relações do tulo deste livro seria para
homem com uma cultura, anterior a qualquer cérebro em particular. criticar essa posição “cére-
brocêntrica”. Isso fez com
compreender as raízes do sujeito moderno, que que eu desenvolvesse um segundo ensaio que
é hiper-reflexivo. Para isso, faço uma análise acabou virando um segundo livro que já está
histórica. Em alguns trabalhos que já publiquei terminado. Espero que se intitule A Plasticidade
faço uma trajetória que começa no final do sé- Cerebral e a Alma de Aristóteles: Ensaio Contra
culo XIX e início do século XX e encontro essa o Cérebrocentrismo. A tese é de que as ativida-
hiper-reflexividade em vários autores da litera- des humanas, a cultura, os comportamentos,
15
incluindo a hiper-reflexividade, não podem ser ativação comportamental, compromisso, mas
reduzidos ao cérebro. Pelo contrário, o cérebro que tenha sua base na pessoa. Então, trata-se
e seu funcionamento dependem das relações do de desenvolver uma noção de pessoa um pouco
homem com uma cultura, anterior a qualquer mais elaborada do que a que se encontra por aí
cérebro em particular. Claramente, a “Alma” e que permita também compreender a psicose,
em Aristóteles não tem a ver com uma enti- a esquizofrenia (uma alteração da pessoa, do
dade separada. Então é um ensaio contra essa sujeito), e entender as terapias psicológicas que
tendência de explicar tudo a partir do cérebro cabem desenvolver.
e recorro à noção de plasticidade para defender
que é o cérebro quem resulta reorganizado pe-
los comportamentos humanos e pelas práticas 1 Entrevista concedida a Yara Nico no dia 15 de abril de
culturais. Um exemplo muito importante tem a 2010, na Universidade de Oviedo (ESP).
ver com a escrita, pois a escrita e a leitura são 2 Juan Bautista Fuentes Ortega. Doutor em filosofia pela
atividades muito complexas que implicam muita Universidad Complutense de Madrid. Atualmente, professor
atividade cerebral. Mas escrita e leitura não po- titular da faculdade de filosofia da Universidad Complutense
dem ser explicadas apenas pelo funcionamento de Madrid.
do cérebro. De fato, elas não formam parte da 3 Alvarez, M. & García, J. M. M. (2006). Persona, conduc-
bagagem genética nem das disposições do ser ta y contingencias (una visión aestética del conductismo).
humano; são uma invenção humana, uma vez International Journal of Psychology, 41(6), 449-461.
que existem, têm suas práticas, suas instituições,
suas formas objetivas de ocorrer, as quais reor-
ganizam o cérebro para que ele aprenda a ler e
escrever. Outro livro que tenho esboçado é sobre
a fenomenologia, uma espécie de apresentação
da psicopatologia numa perspectiva fenome- Referências
nológica. Exponho a fenomenologia - os dados Pardo, H. G. & Pérez-Alvarez, M. (2007). La invención
que lhe interessam e seus métodos - como alter- de trastornos mentales: ¿Escuchando al fármaco o al
nativa aos sistemas nosológicos e às explicações paciente? Madrid: Alianza Editorial.
neurocientíficas. Trato de exemplificar isso com Pérez-Alvarez, M. (1996). La psicoterapia desde
uma fenomenologia da ansiedade, da depressão el punto de vista conductista. Madrid: Biblioteca
e da esquizofrenia. Mas me atenho mais à es- Nueva.
quizofrenia. Na ansiedade, me centro na análise Pérez-Alvarez, M. (2003). Las cuatro causas de
heideggeriana da angústia e na depressão me los trastornos psicológicos . Madrid: Editorial
centro na teoria de Tellenbach sobre a melanco- Universitas.
lia. Será uma espécie de introdução a uma atua-
lização fenomenológica da psicopatologia. E há
um quarto livro, o que está menos desenvolvi-
Yara Nico é Mestre em Psicologia Experimental:
do, um projeto com vários colegas. O título já
Análise do Comportamento pela PUC-SP. No Núcleo
temos: Terapia Contextual Com Base na Pessoa Paradigma, é terapeuta analítico-comportamental,
Para a Psicose. Trata-se de elaborar uma terapia coordenadora e professora do curso de Especialização
que tem relação com aceitação, “mindfulness”, em Terapia Analítico-Comportamental.
16 boletim paradigma
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Na estante
Resenha do livro Comportamento moral: Uma proposta para o
desenvolvimento das virtudes, de Paula I. C. Gomide e cols
Editora Juruá (Curitiba), 2010.
Giovana Del Prette
18 boletim paradigma
virtude e a mera “hipocrisia social”, bem como S. Engelmann, Luiz A. Vieira e Carolina G.
apresentam alguns resultados de pesquisas so- Sicuro apresentam as nuances do conceito de
bre essa temática. “Honestidade”, demonstrando ser mais do que
No capítulo “Obediência”, Verônica B. não mentir, a partir da análise do contexto e de
Haydu, Paula I. C. Gomide e Veronicka fatores situacionais, como o ato, o autor, o indi-
Seegmueller mostram a amplitude do com- víduo afetado pela ação, a intenção, o resultado
portamento de obedecer, seu papel social e no e as diferenças individuais.
desenvolvimento e manutenção do comporta- Em “Justiça”, Maria G. S. Padilha e Marília
mento moral. A partir da análise de contingên- B. Spréa salientam o papel do terceiro nível
cias envolvidas no obedecer ou desobedecer, as de seleção (cultural) na transmissão do com-
autoras discutem diferentes tipos de mandos portamento justo, sendo aquele que promove
e também o uso de coerção, propondo outros igualdade, reciprocidade e honestidade. Em
métodos efetivos e menos danosos. “Generosidade”, Giovana Del Prette explicita
Ao tratar do tema “Empatia”, Giovana V. M. suas bases filogenéticas, ontogenéticas e cul-
da Rocha aborda esta virtude como essencial turais e discute de que forma esse comporta-
para a moral, o empenho em ações benéficas à mento operante pode se manter na sociedade
humanidade e à própria existência da vida so- se, por definição, o indivíduo que o pratica não
cial. Já no capítulo de Andressa S. Engelmann poderia ser beneficiado.
e Laisa W. Prust, a virtude da “Amizade” é apre- No capítulo “Vergonha e Culpa”, Giovana
sentada como uma relação de reciprocidade de V. M. da Rocha e Priscila Martins estabelecem
afeição, intimidade e apoio entre indivíduos, distinções entre esses sentimentos e demons-
baseada nas semelhanças entre eles e na tole- tram seu papel no autocontrole de atos social-
rância às discordâncias – e tais características mente inadequados. Em “Perdão e Reparação de
participam da correlação entre amizade e com- Danos”, Lúcia C. A. Willians trata deste emocio-
portamentos pró-sociais. nante tema em termos de componentes comple-
xos, como relembrar, empatizar
Os dados e reflexões apresentados ao longo do livro podem com o agressor e se compromis-
ser utilizados por psicólogos, pais e professores para o sar com atos de perdão, mes-
estabelecimento de metas e a aprendizagem de estratégias mo que o evento aversivo não
para alcançá-las, no ensino do comportamento moral de seus seja esquecido, e demonstra
clientes, filhos e alunos, e também para uma autorreflexão e a importância desse processo
mudança de seus próprios comportamentos. comportamental - para quem
perdoa, para quem é perdoado
Maria Martha C. Hübner, Giovana V. M. da e para a sociedade, como exemplificado na des-
Rocha e Leila L. S. Zotto analisam funcional- crição do perdão ao apartheid na África do Sul.
mente a “Mentira”, de modo imparcial, como Na segunda parte de Comportamento
comportamento capaz de preservar a priva- Moral, Paula I. C. Gomide descreve o Programa
cidade e os vínculos afetivos, a convivência de Comportamento Moral, com objetivos e téc-
e a manutenção nos grupos sociais, mas que nicas utilizadas em cada sessão. No programa,
pode ser nocivo quando a obtenção de van- todos os temas abordados na primeira parte do
tagens pessoais prejudica os outros. Andressa livro são ensinados às crianças com atividades
na estante 19
em sessão, como role plays, filmes, Ao término da leitura de Comportamento Moral, sentimos
histórias, brincadeiras, situações- a urgência de ampliarmos nossas intervenções terapêuticas
problema e discussões, além de e nos considerarmos agentes de transformação não apenas
tarefas de casa para que os ensina- de nossos clientes, mas também da sociedade.
mentos sejam colocados em prática
no cotidiano. Assim como na primeira parte, abordagem oferece o arcabouço teórico neces-
a complexidade dos temas bem encadeados sário para tratar de questões de moral e virtu-
aguça cada vez mais o interesse do leitor. Na des, destacando a necessidade de desenvolvi-
“Avaliação do Programa de Comportamento mento de mais pesquisas na área.
Moral”, Paula I. C. Gomide, Priscila Martins e Skinner, em Ciência e Comportamento
Adriano L. A. Watanabe mostram resultados Humano (1953/1970), atribuiu um grande papel
superiores entre as crianças participantes do à psicoterapia ao classificá-la como uma agên-
grupo experimental, submetidas ao programa, cia controladora, assim como o são o governo, a
comparadas ao grupo controle. religião, a educação e a economia. Para Skinner
Nas palavras de Paula I. C. Gomide, (1945/1984), a análise científica do comporta-
mento deve nos prover das técnicas necessárias
“Várias são as formas de se desenvolver
para adotar práticas diferenciadas para o con-
o Comportamento Moral. São muitas as
trole social, “para construir um mundo melhor
virtudes. . . . No entanto, independente-
e, através dele, um homem melhor” (p. 157). Ao
mente da forma ou das virtudes escolhi-
término da leitura de Comportamento Moral,
das o essencial é que se produzam mu-
sentimos a urgência de ampliarmos nossas in-
danças comportamentais positivas, que
tervenções terapêuticas e nos considerarmos
tornem o ser humano “bom” por den-
agentes de transformação não apenas de nossos
tro e por fora. Este caminho se mostrou
clientes, mas também da sociedade.
promissor como forma de desenvolver
comportamentos com probabilidade
alta de inibir comportamento antisso- Referências
cial. O percurso escolhido foi o de ca- Skinner, B. F. (1970). Ciência e comportamento hu-
minhar do Comportamento Antissocial mano (2ª ed.; J. C. Todorov & R. Azzi, Trad.). Brasília:
para o Comportamento Moral”. Universidade de Brasília. (Trabalho original publica-
do em 1953).
Os dados e reflexões apresentados ao lon-
go do livro podem ser utilizados por psicólo- Skinner, B. F. (1984). The operational analysis of
psychological terms. Behavior and Brain Sciences,
gos, pais e professores para o estabelecimento
7, 547-553. (Trabalho originalmente publicado em
de metas e aprendizagem de estratégias para
1945).
alcançá-las, no ensino do comportamento mo-
ral de seus clientes, filhos e alunos, e também
para uma autorreflexão e mudança de seus
Giovana Del Prette é terapeuta analítico-comporta-
próprios comportamentos. Comportamento
mental no Paradigma, onde é professora do curso de
Moral é o primeiro livro brasileiro sobre essa especialização e supervisora do curso de aprimoramen-
temática, utilizando as bases da Análise do to em terapia infantil. É mestre e doutoranda em psico-
Comportamento. A obra demonstra que a logia clínica pela USP-SP.
20 boletim paradigma
Resenha do livro Análise comportamental clínica: Aspectos
teóricos e estudos de caso, de Ana Karina C. R. de-Farias e cols.
Editora Artmed (Porto Alegre), 2010.
Joana Singer Vermes
na estante 21
muitos autores e que abrange diferentes temas, do livro, há conteúdos sobre a história da práti-
isso não constitui um problema; pelo contrário, ca terapêutica em Análise do Comportamento,
possibilita que cada capítulo fale por si. outro capítulo (muito rico) sobre as habilidades
Outro aspecto que torna o livro interessante terapêuticas necessárias e, ainda, outros abor-
é a possibilidade de ser aproveitado por pessoas dando discussões sobre a aplicação de questões
com diferentes bagagens e repertórios dentro da conceituais à prática clínica, tais como compor-
Análise do Comportamento. Especialmente na tamento governado por regras.
primeira parte do livro, todos os autores tiveram A segunda parte do livro apresenta es-
o cuidado e a delicadeza de apresentar o jargão tudos de casos bastante diferentes entre si, o
da abordagem de forma didática, sem assumir que é muito interessante para o leitor (espe-
que o leitor seja necessariamente iniciado na cialmente para os terapeutas iniciantes). Os
área. Ao mesmo tempo, vários desses capítulos capítulos da segunda parte podem ser apro-
trazem um aprofundamento de discussões, mui- veitados tanto por aqueles que pretendem
to interessante àqueles que apresentam maior estudar maneiras de se formular análises de
intimidade com a Análise do Comportamento. casos clínicos como pelos que visam a maior
A segunda parte, dedicada aos estudos de caso, compreensão sobre alguns transtornos, como
também contém uma linguagem acessível ao bulimia e ejaculação precoce.
estudante e, ao mesmo tempo, contribui para o Um dos capítulos contido na segunda
terapeuta atuante, uma vez que oferece algumas parte deste livro merece destaque especial,
formas interessantes de se analisar e manejar di- por abordar um assunto complexo com tanta
versas questões clínicas. qualidade e clareza: trata-se do capítulo es-
Alguns capítulos destacam-se por ofere- crito por Alysson B. M. Assunção e Luc M.
cerem algumas peculiaridades nem sempre A. Vandenberghe, sobre rupturas no relacio-
encontradas em obras do mesmo tipo. Por namento terapêutico. Certamente esse texto
exemplo, o primeiro capítulo, escrito pela pró- constitui um rico material para terapeutas em
pria organizadora, tem o mérito de explicar di- qualquer estágio profissional, já que toca em
versos termos da Análise do Comportamento um assunto com o qual em diversos momentos
de forma extremamente clara, apontando os o profissional é obrigado a se defrontar.
equívocos mais comuns entre aqueles que não A leitura do livro como um todo foi, sem
conhecem a abordagem. Trata-se de um capítu- dúvida, um grande prazer para mim. Mais do
lo que certamente pode ser utilizado em cursos que isso: trouxe bastante satisfação constatar
básicos de graduação ou extensão. Destaca-se que esse grupo de analistas do comportamento
também o segundo capítulo, de autoria de João tem se debruçado sobre questões difíceis e po-
Marçal. Ao final do texto, o autor apresenta lêmicas da prática terapêutica. Isso mostra uma
uma ótima série de questões de múltipla esco- combinação rara: delicadeza e ousadia.
lha, que permite ao leitor verificar o conheci-
mento adquirido após a leitura. Joana Singer Vermes é Mestre em Psicologia Experi-
mental: Análise do Comportamento pela PUC-SP. No
Outro ponto que chama a atenção no livro
Núcleo Paradigma, é terapeuta analítico-comporta-
diz respeito à variedade de assuntos tratados pe- mental, coordenadora do curso de Terapia Infantil, pro-
los capítulos, sem que se perca a coesão entre os fessora e supervisora do curso de Especialização em
mesmos. Por exemplo: ainda na primeira parte Clínica Analítico-Comportamental.
22 boletim paradigma
História de vida
Dr. João Claudio Todorov
por Ricardo Corrêa Martone
história de vida 23
partamento e da ida da equipe para Brasília. mais de 10 capítulos de livros e participação
Essas atribuições abrangeram a preparação na organização de um livro sobre Análise do
das primeiras disciplinas, incluindo tradu- Comportamento e cultura, tema este do qual
ções de textos como, por exemplo, Ciência e também vem se ocupando nos últimos dez
Comportamento Humano, de B. F. Skinner, tra- anos. Não só numericamente a produção de
dução feita em parceria com Rodolpho Azzi. Todorov se destaca, mas sobretudo em termos
Segundo o próprio João Claudio: “A tradução qualitativos. Muitos de seus trabalhos sobre es-
foi um trabalho fascinante para um aluno re- quemas concorrentes e lei da igualação torna-
cém-saído da graduação” (Todorov, 2005). ram-se referências obrigatórias na área e são ci-
Após sua passagem por Brasília, Todorov tados em um grande número de publicações.
iniciou seus estudos de doutorado na Arizona Além de toda a sua contribuição enquanto
State University, em 1965, por indicação do pesquisador básico, o legado de João Claudio
professor Fred Keller. Sob a orientação do Dr. nos diz muito sobre como planejar contin-
Stanley S. Pliskoff, obteve o título de Ph.D. gências para que possamos “aprender a apren-
em 1969, com a tese intitulada “Some Effects der” e “aprender a ensinar”. Qual analista do
of Punishment on Concurrent Performances” comportamento nunca leu algum dentre os
(Cunha, 2007). três seguintes textos em algum momento de
Antes de retornar definitivamente para sua formação: (1) “Behaviorismo e Análise
a UnB, em 1973, Todorov exerceu atividade Experimental do Comportamento (Todorov,
de ensino e pesquisa no Institut for Behavior 1982); (2) “A Psicologia como o Estudo de
Research, em Maryland, na University of Interações” (Todorov, 1989) e (3) “O Conceito
Virginia, e na USP de Ribeirão
Preto. Foi professor visitante da Além de toda a sua contribuição enquanto pesquisador
Universidad Nacional Autónoma básico, o legado de João Claudio nos diz muito sobre como
de México (UNAM) em 1977 e, em planejar contingências para que possamos “aprender a
1990, foi fellow da Fullbrith, da State aprender” e “aprender a ensinar”.
University of New York. Estruturou
e criou o laboratório de Análise Experimental de Contingência na Psicologia Experimental”
do Comportamento do Instituto de Psicologia (Todorov, 1991)? Nos últimos cinco anos, como
da UnB, desenvolvendo longa e produtiva tra- coordenador do curso de psicologia do Instituto
jetória de pesquisa. Em 2000, aposentou-se de Educação Superior de Brasília (IESB), orien-
da Universidade de Brasília, mas continuou a tou a (re)implantação do PSI em algumas disci-
contribuir com o Departamento de Processos plinas do curso do IESB, quarenta anos depois
Psicológicos Básicos, como pesquisador as- do início dos trabalhos para sua utilização na
sociado, orientando alunos de mestrado e UnB! Vários de seus ex-alunos ocupam hoje,
doutorado e de iniciação científica (Professor além de posições acadêmicas, papéis de destaque
Emérito João Claudio Todorov, 2007). na condução da psicologia científica no Brasil.
Sua produção científica reflete, em termos Podemos observar a atuação marcante de
numéricos, profícua carreira enquanto pes- Todorov também no desenvolvimento de so-
quisador: mais de 80 artigos científicos publi- ciedades científicas brasileiras e na adminis-
cados em revistas nacionais e internacionais, tração pública. Em 1971, foi um dos funda-
24 boletim paradigma
dores da Sociedade de Psicologia de Ribeirão
Preto, mais tarde transformada em Sociedade Referências
Brasileira de Psicologia, tendo sido seu pri- Cunha, R. N. (2007). João Claudio Todorov:
meiro vice-presidente. Foi também conselhei- Planejador de contingências para o aprender a
ro da Sociedade Brasileira para o Progresso da aprender e para o aprender a ensinar. Psicologia:
Ciência e, mais recentemente, teve destaque Teoria e Pesquisa, 23, 53-55. doi: 10.1590/S0102-
na criação do capítulo “Brasil”, da Association 37722007000500010.
for Behavior Analysis. Entre 1993 e 1997, foi Professor Emérito João Claudio Todorov. (2007).
reitor da UnB. Psicologia: Teoria e Pesquisa, 23 , 51-52. doi:
João Claudio Todorov sempre demons- 10.1590/S0102-37722007000500009.
doutorado, assim como de trabalhar ao seu Todorov, J. C. (1989). A psicologia como estudo de in-
lado no curso de psicologia do IESB. Por in- terações. Psicologia: Teoria e Pesquisa, 5(3), 25-347.
termédio de um livro novo ou mesmo de um Todorov, J. C. (1991). O conceito de contingência
artigo pertinente, presenteava-nos com sua na psicologia experimental. Psicologia: Teoria e
visão estratégica que, muitas vezes, não com- Pesquisa, 7(1), 59-70.
preendíamos de imediato. No entanto, com o Todorov, J. C. (2005). Ciência e comportamento huma-
passar do tempo sempre acabávamos enten- no. ABPMC Contexto, Vol. 30. Disponível em: http://
dendo o porquê daquela dica aparentemente www.abpmc.org.br/boletim/todorov_1.htm.
(e somente aparentemente, devo destacar!)
descontextualizada.
No ano de 2006, a Universidade de Brasília
outorgou a João Claudio Todorov o título de
Professor Emérito e, em 2009, o Conselho de
Diretores da SABA (Society for the Advancement
of Behavior Analysis) concedeu-lhe o prêmio
pela disseminação internacional da análise do
comportamento.
Sua vida reflete constante contribuição para
o desenvolvimento da psicologia como discipli-
na científica no Brasil. Produziu e continua a
todo vapor produzindo conhecimento, estru- Ricardo C. Martone é Mestre em Psicologia Experi-
turando contingências de ensino e fomentando mental: Análise do Comportamento pela PUC-SP e
a formação de recursos humanos. Enfim, nossa Doutor em Ciências do Comportamento pela Uni-
homenagem justa a este pesquisador, professor, versidade de Brasília, além de editor da Revista
Perspectivas e primeiro secretário da ABPMC (ges-
colega, administrador e orientador que é um
tão 2010-2011). No Núcleo Paradigma, é terapeuta
capítulo vivo da psicologia brasileira. analítico-comportamental, professor e supervisor
no curso de Especialização em Clínica Analítico-
Comportamental.
história de vida 25
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Análise do Comportamento
e educação
Contribuições à aprendizagem acadêmica
Miriam Marinotti e Daniel Del Rey
28 boletim paradigma
As razões pelas quais os analistas do com- os procedimentos envolvem um fluxo unidire-
portamento não conseguem “entrar” na estru- cional de tecnologia e esforço do perito para o
tura educacional são inúmeras e de naturezas professor ou estudante. Em essência, a classe se
torna um “laboratório aplicado”.
Já dispomos de uma teoria forte, dados de pesquisa Como a ênfase estaria na demonstra-
confiáveis e intervenções individuais bem-sucedidas. ção de eficácia de curto prazo e não no
O desafio, agora, é nos fazermos mais presentes nas estabelecimento de relacionamentos
instituições educacionais. de longo prazo, a generalização dos
resultados fica comprometida: os pro-
diversas: políticas, ideológicas etc. Sem a pre- cedimentos ocorrem em condições artificiais,
tensão de sermos exaustivos em nossa análise, pois apenas controlam o “ruído” produzido
citaremos algumas delas. pela classe e pelo professor, ao invés de incluí-
Em primeiro lugar, observa-se na escola e lo no estudo. Segundo os autores:
agências educacionais a mesma rejeição que
To promote teacher use of behavioral
ocorreu (ou ainda ocorre) à atuação dos ana-
methods, there must be a shift from ex-
listas do comportamento em outros contex-
perimenter-centered demonstrations to
tos (por exemplo, na clínica). Inserida numa
teacher-centered consultations, and a
cultura predominantemente mentalista, a AC
shift from an intensive person-based te-
provocou reações bastante adversas, seja pelos
chnology to a more versatile classroom-
pressupostos que adota, seja pela terminologia
based technology. (Fantuzzo & Atkins,
que utiliza. Assim, conceitos como controle,
1992, p. 39)
treinamento, condicionamento e outros tantos
têm sido, ao mesmo tempo, mal difundidos e Sendo assim, os autores sugerem, entre
mal compreendidos. Em geral, são interpreta- outros pontos, que: (a) deveríamos “entrar” na
dos de forma bastante negativa, sendo identi- escola e trabalhar com professores e demais
ficados com autoritarismo, arbitrariedade e profissionais, de forma a obter seu respeito e
tecnicismo indesejável. confiança e (b) os procedimentos se voltem
Gióia (2001) demonstrou que os materiais para a classe como um todo, e não para alunos
didáticos utilizados em cursos de formação de isoladamente.
professores omitem a AC ou a apresentam de De certa forma, seu argumento guarda rela-
forma muito parcial e distorcida aos futuros ções com a concepção de que a atuação do psi-
professores. cólogo na escola deva se voltar para o coletivo
Por outro lado, parte da dificuldade de (por meio de sua participação no planejamento,
nos inserimos na educação formal parece vir treinamento de professores e outras atividades)
de nossa própria atuação. Fantuzzo e Atkins e não se caracterizar como uma atuação clínica,
(1992) nos fornecem alguns elementos para em ambiente escolar.
análise. Em primeiro lugar, apontam que a Em síntese, já dispomos de uma teoria for-
grande maioria das intervenções tem envolvido te, dados de pesquisa confiáveis e intervenções
peritos externos à escola (outside experts) e tem individuais bem-sucedidas. O desafio, agora, é
como ênfase principal a demonstração da eficá- nos fazermos mais presentes nas instituições
cia de intervenções em sala de aula. Para tanto, educacionais.
I Encontro Sul-Americano de
Análise do Comportamento
XX Encontro Brasileiro de Psicoterapia
e Medicina Comportamental
Salvador/BA 2011
realização
20 anos
1991 . 2011
O Núcleo Paradigma apoia o XX Encontro Brasileiro de Psicoterapia e Medicina Comportamental e I Encontro Sul-Americano de Análise do Comportamento.
Do acompanhamento terapêutico
ao atendimento extraconsultório
Fernando Albregard Cassas
32 boletim paradigma
a festas, bares ou shows. Após a realização dessas 1 Para a Análise do Comportamento, não há um compor-
atividades (terceiro passo), existe uma avaliação tamento que, por definição, é um problema. Em outras pa-
para saber se atingimos os resultados pretendi- lavras, não existe comportamento mal adaptado; todo com-
dos, se alguma nova informação apareceu e se portamento tem uma função, produz uma consequência
existe a necessidade de rever o planejamento que o mantém ou altera a sua probabilidade de ocorrência
para uma nova intervenção (quarto passo). (portanto, é adaptativo em alguma instância). O que existe
Tais passos compõem nossa intervenção é um conjunto de comportamentos que implicam um alto
tanto em uma análise macroscópica como mi- grau de sofrimento, tanto para o sujeito em questão como
croscópica, ou seja, coletar dados, planejar, in- para os familiares ou amigos. Esses comportamentos é que
tervir e analisar resultados ocorrem tanto para denominamos como problema e somente por trazerem sofri-
o caso como um todo como para cada atividade mento aos envolvidos é que merecem ser alterados.
realizada. Isso porque, de modo geral, a análise
se torna mais complexa e completa à medida
que se acumulam informações. Dessa forma,
entendemos que é possível dar conta tanto da
queixa inicial como de novas demandas que Referências
apareçam ao longo do processo.
Guerrelhas, F. (2007). Quem é o acompanhan-
te terapêutico: História e caracterização. Em D. R.
Formação avançada em atendimento Zamignani, R. Kovac & J. S. Vermes (Orgs.), A clínica
extraconsultório de portas abertas: Experiências e fundamentação
A partir dessa compreensão do atendimento do acompanhamento terapêutico e da prática clíni-
extraconsultório, elaboramos um curso que ca em ambiente extraconsultório (pp. 33-46). São
possibilita ao aluno formado atuar como auxi- Paulo: Paradigma/ESETec.
liar dentro de uma equipe ou como terapeuta Skinner, B. F. (2005). Questões recentes na análise
autônomo. Nosso curso está estruturado em comportamental. São Paulo: Papirus. (Trabalho ori-
dois eixos principais: sólida formação concei- ginal publicado em 1989).
tual e intervenção supervisionada. Zamignani, D. R., Kovac, R. & Vermes, J. S. (2007). A
A formação conceitual inclui matérias que clínica de portas abertas: Experiências e fundamen-
tratam desde conceitos básicos da Análise do tação do acompanhamento terapêutico e da prática
Comportamento até noções básicas de psiquia- clínica em ambiente extraconsultório. São Paulo:
tria e farmacologia, passando por discussões Paradigma/ESETec.
sobre técnicas e estratégias de intervenção. Já
a parte de intervenção envolve, além de um
estágio supervisionado por profissionais ex-
perientes, matérias que tratam das habilidades
básicas do profissional, bem como de questões
da prática do atendimento extraconsultório. Fernando Albregard Cassas é Mestre e Doutoran-
do em Psicologia Experimental: Análise do Com-
Essa formação, acreditamos, aproxima o
portamento pela PUC-SP. No Núcleo Paradigma, é
aluno das principais discussões dentro de nos- terapeuta analítico-comportamental e coordenador
sa abordagem, capacitando-o para trabalhar do curso de Aprimoramento em Acompanhamento
em ambiente extraconsultório. Terapêutico e Atendimento Extraconsultório.
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Comportamento em cena
Um Certo Olhar
Cassia Leal da Hora e Maria Carolina C. Martone
Um Certo Olhar é o nome nhum sofrimento pela perda da filha. Por uma
dado ao filme originalmente intitulado Snow série de circunstâncias, Linda pede que Alex
Cake, cuja tradução literal para o português se- permaneça em sua casa por alguns dias, a fim
ria Bolo de Neve. No filme, o personagem Alex de que ele possa auxiliá-la com a retirada do
(Alan Rickman) é um ex-presidiário, recém- lixo (uma das tarefas semanais mais desagra-
saído da cadeia, cujo objetivo é encontrar a dáveis para ela), e ele acaba ficando até o fune-
mãe de seu falecido filho no Canadá. Na via- ral de Vivviene.
gem, ele conhece Vivviene (Emily Hampshire), O filme ilustra os desafios cotidianos en-
uma jovem marcante para quem ele oferece frentados por uma pessoa com características
carona. No caminho, eles sofrem um acidente autistas para viver de acordo com os seus in-
teresses peculiares e se adaptar ao
O filme ilustra os desafios cotidianos enfrentados por uma que é socialmente esperado, reve-
pessoa com características autistas para viver de acordo lando também como o persona-
com os seus interesses peculiares e se adaptar ao que é gem Alex (mesmo surpreso com
socialmente esperado o jeito de Linda) consegue lidar
com as esquisitices da nova ami-
de carro e Vivienne não sobrevive. Sentindo-se ga. Linda é uma autista adulta que aprendeu a
culpado, Alex resolve procurar a mãe da jovem morar sozinha e tem uma rotina de vida bas-
para comunicar o acontecido e lhe entregar o tante organizada. Por exemplo, ela já tem um
presente que a filha havia comprado minutos arranjo definido para cada objeto em sua casa,
antes do acidente. Ao encontrá-la, Alex desco- mostra uma aversão extrema a qualquer tipo de
bre que a mãe de Vivienne, Linda (Sigourney sujeira, vai e volta do trabalho sempre na mes-
Weaver), é autista. Neste primeiro encontro, ma hora, pelo mesmo caminho, e não precisa
ele fica admirado com a aparente indiferença de outras pessoas ao seu redor (exceto para a
que a morte da jovem Vivviene provocou em realização de tarefas desagradáveis, como a re-
Linda, uma vez que ela não demonstra ne- tirada do lixo). Para ela, não é uma tarefa fácil
comportamento em cena 35
lidar com qualquer alteração deste cotidiano e a notícia da morte da filha e a outra quando
a morte da filha, bem como a chegada de Alex, tem de fazer o reconhecimento do corpo do
desestabiliza essa rotina. necrotério. Nas duas situações, Linda não sabe
Para auxiliar a compreensão dessas dife- como se portar e não esboça nenhum tipo de
renças, é necessário entender alguns dos pa- reação emocional.
drões comportamentais que frequentemente Em relação aos prejuízos qualitativos na
são identificados no repertório de indivíduos comunicação, é comum identificar nos TID
que recebem o diagnóstico de autismo. O qua- vários atrasos ou mesmo ausência do desen-
dro de autismo é considerado um transtorno volvimento da fala (sem mecanismos de com-
do desenvolvimento e pertence ao grupo dos pensação). No caso de Linda, ela apresenta
Transtornos Invasivos do Desenvolvimento falta de iniciativa para o diálogo com outros,
(TID). As características deste grupo são de- perseveração em apenas um assunto e, acima
finidas por padrões de comportamentos es- de tudo, uma comunicação verbal bastante
pecíficos, dentre os quais se destaca o pre- pragmática. Linda se comunica basicamen-
juízo severo e invasivo em algumas áreas de te para conseguir coisas ou evitar que coisas
desenvolvimento relacionas às habilidades de desagradáveis aconteçam a ela. É interessante
interação social recíproca, às habilidades de observar que, quando Linda tenta esboçar cer-
comunicação verbal e não verbal e à presença to refinamento social (por exemplo, ao ofere-
de comportamento, interesses restritos e ativi- cer chá para Alex), ela o faz por modelos de
dades estereotipadas. conversa claramente aprendidos e treinados,
No caso de Linda, encontramos vários que pouco tem a ver com a observação de
padrões comportamentais que ilustram a sua comportamento do outro.
dificuldade de interação social. Por exemplo, Por fim, outro padrão comportamental
Linda não consegue manter um contato visu- comum refere-se à presença de comportamen-
al direto e não tem interesse em se relacionar to, interesses e atividades estereotipados, com
com colegas de trabalho ou vizinhos. Além prejuízo na imaginação e comportamento de
disso, no filme encontramos duas cenas mar- simbolizar que implicam padrões restritos e
cantes que apresentam a ausência de expressão repetitivos de comportamento, interesses e ati-
facial das emoções: a primeira quando recebe vidades. Para Linda, alterações em sua rotina
36 boletim paradigma
geram respostas emocionais intensas. A sim- bolo de neve. Enfim, Snow Cake é um filme
ples alteração de lugar de um objeto lhe causa que merece ser visto, tanto porque apresenta
extrema agitação. No filme, após o funeral da de forma bastante clara e humana as dificul-
filha, vizinhos e parentes se reúnem em sua dades que uma pessoa com autismo enfrenta
casa para prestar condolências. Entretanto, em seu cotidiano como porque permite ao
nesta reunião, objetos são mudados de lugar, analista do comportamento observar as rela-
farelos de comida caem no chão e várias pes- ções de controle de estímulos que determinam
soas conversam ao mesmo tempo, produzindo o comportamento de Linda, evidenciando as
um “barulho” ao qual ela não está acostumada. diferenças das variáveis de controle das rela-
Em determinado momento da reunião, Linda ções interpessoais de neurotípicos.
tem um explosão emocional: começa a gritar
e manda todos embora. O comportamento de
Linda faz com que todos os estímulos aversi-
Cassia Leal da Hora é psicóloga clínica formada pela
vos do momento cessem.
PUC-SP e Mestre em Psicologia Experimental pela
O filme ainda mostra Linda executando USP. No Núcleo Paradigma, é professora e supervi-
alguns movimentos autoestimulatórios, tam- sora no curso de Intervenção Precoce em Crianças
bém característicos de pessoas com autismo. com Desenvolvimento Atípico, terapeuta e super-
Entre eles, destacamos a cama elástica (Linda visora do Serviço de Atendimento a Crianças com
Atraso no Desenvolvimento e/ou Desenvolvimento
tem uma em seu quintal) e o flapping, movi-
Atípico e professora do curso de Intervenção em
mentos laterais de balanço que ela faz com as Dificuldades de Aprendizagem Acadêmica.
mãos. Além disso, Linda apresenta respostas Maria Carolina C. Martone é terapeuta ocupacional
incomuns a estímulos sensoriais, tais como formada pela USP e Mestre em Psicologia Experi-
gosto exagerado por objetos luminosos que mental: Análise do Comportamento pela PUC-SP. No
brilham e piscam e apetite por neve. Aliás, o Núcleo Paradigma, é coordenadora e professora do
curso Intervenção Precoce em Crianças com Desen-
nome do filme em inglês vem desta última ca-
volvimento Atípico e coordenadora do Serviço de
racterística de Linda, e Alex, ao ir embora de Atendimento a Crianças com Atraso no Desenvolvi-
sua casa, lhe deixa de presente na geladeira um mento e/ou Desenvolvimento Atípico.
37
Revista Perspectivas
em Análise do Comportamento
Refletindo sobre o laboratório didático de Análise do Comportamento análise a respeito das escolhas econômicas dos in-
Sérgio Dias Cirino, Rodrigo Lopes Miranda, Acríssio Luiz Gonçalves,
Jhonatan J. Miranda, Rodrigo Drummond Vieira, Silvania Sousa do Nascimento
divíduos à luz da crise mundial iniciada em 2008.
Terapeutas analítico-comportamentais e redes sociais
Regina Christina Wielenska
38 boletim paradigma
para tomadas de decisões éticas. Por fim, Felipe PERSPECTIVAS prima por uma revisão cui-
Corchs encerrou este primeiro número discor- dadosa das normas da American Psychological
rendo sobre o diálogo entre análise do compor- Association (APA, 10ª edição) e das normas
tamento e psiquiatria. linguísticas. PERSPECTIVAS conta com um
PERSPECTIVAS é uma revista de perio- site moderno e de fácil navegação, estendendo
dicidade semestral e publicação eletrônica (no ao layout dos manuscritos o mesmo cuidado
endereço http://www.revistaperspectivas.com. visual dado ao site. Esta nossa preocupação se
br), permitindo livre acesso a seu conteúdo e baseia na premissa de que a apresentação da
favorecendo a expansão e democratização do revista e dos manuscritos é a primeira impres-
conhecimento, fenômeno cada vez mais co- são e dela pode depender a opção do leitor por
mum entre os principais periódicos científicos. prosseguir ou não a leitura do material.
PERSPECTIVAS iniciou suas atividades com Apesar de sua pouca idade, PERSPECTIVAS
um Conselho Editorial respeitável e de abran- tem sido vista como um promissor periódico
gência nacional, tendo entre seus membros de difusão da análise do comportamento, do
consagrados nomes da análise do comporta- behaviorismo radical, da análise aplicada do
mento, do behaviorismo radical e da clínica comportamento e da clínica analítico-compor-
analítico-comportamental, vinculados às prin- tamental, buscando contribuir para o fortaleci-
cipais instituições de ensino superior do país. mento destas áreas. Para isso, PERSPECTIVAS
Com uma proposta editorial claramente de- adota as exigências estabelecidas pelos princi-
finida, PERSPECTIVAS se propõe a publicar ar- pais sistemas de indexação, visando posterior-
tigos inéditos destinados à discussão da análise mente a se tornar sua integrante. Dessa forma,
do comportamento, behaviorismo radical, aná- os materiais submetidos à revista serão avalia-
lise aplicada do comportamento e clínica ana- dos primeiramente pela Comissão Executiva e,
lítico-comportamental, contemplando análises estando de acordo com as normas e a proposta
de qualidade sobre a atuação nestas áreas, bem editorial, serão encaminhados para avalistas —
como seu desenvolvimento filosófico, concei- membros do Conselho Editorial ou consultores
tual, tecnológico e metodológico. Dentro desse ad hoc. Este processo é caracterizado pelo ano-
corpo de interesses, relatos de pesquisa histórica, nimato de ambas as partes (autores e avalistas),
estudos teóricos, relatos de experiência profis- atendendo ao sistema blind-review, como é co-
sional, revisões críticas de literatura, comuni- nhecido nos meios editoriais.
cações breves, cartas ao editor, notas técnicas e Finalmente, nós de PERSPECTIVAS apro-
resenhas serão aceitos para apreciação, visando veitamos para agradecer a todos aqueles que
à sua publicação. Dados de pesquisa básica não nos prestigiaram, navegando em nosso site ou
são o foco de PERSPECTIVAS e só serão aceitos enviando seus manuscritos, e convidamos a to-
quando tiverem por objetivo incrementar pon- dos a submeterem seus materiais para análise,
tos de vista apresentados no manuscrito. pois estamos trabalhando para lançar, em bre-
Nós, editores de PERSPECTIVAS, acredi- ve, mais um número de nossa revista.
tamos que a qualidade de um trabalho se deve
essencialmente ao seu conteúdo. Ao mesmo Ricardo Corrêa Martone [Editor]
tempo, defendemos a importância de uma boa Nicodemos Batista Borges [Editor Associado]
apresentação. Assim, a Comissão Executiva de Roberto Alves Banaco [Editor Associado]
revista perspectivas 39
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Uma publicação do Núcleo Paradigma
Ensino e Consultoria em Psicologia Ltda.
São Paulo, vol. 5, setembro de 2010.
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Coordenação Editorial P8I8:C8IFE@:F
Roberta Kovac
@ek\^iXf\eki\ÔcfjfÔX#k\fi`X\kZe`ZXgXiXldX]fidXf[\\oZ\ceZ`X
Assistente Editorial
Jan Luiz Leonardi :figf[fZ\ek\[\Xckjj`dfem\c
Ilustração da capa: Silvia Amstalden
Comissão executiva :fek\[fXgi\j\ekX[f[\]fidX^iX[lXc\d()[`jZ`gc`eXj
Roberta Kovac
Joana Singer Vermes gif^iXdX gYc`Zf$Xcmf
Denis Zamignani hlXkifd[lcfjj\d\jkiX`jZfd gj`Zcf^fj\d[`ZfjZfd
Roberto Alves Banaco ,0'_fiXj#[`jki`Yl[Xj\d1 i\j`[eZ`X\dgj`hl`Xki`X
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Projeto gráfico e diagramação -'_fiXj[\Xk\e[`d\ekfZce`Zf
Quem somos Silvia Amstalden +('_fiXj[\[`jZ`gc`eXjk\i`ZXj\fi`\ekXf
O Núcleo Paradigma é um centro de estudos, [\dfef^iXÔX
consultoria e pesquisa, localizado na cidade de
São Paulo, no bairro de Perdizes. Fundado em
2005, o Núcleo tem como objetivo a busca de
soluções para problemas relacionados ao com-
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portamento humano, nas mais diversas áreas XlcXjhl`eq\eXcd\ek\#j\okXj
de atuação da psicologia e oferece os seguintes [Xj(0_(,~j))_(,\j}YX[fj[Xj
serviços e atividades: /_*'~j(/_*'
Formação e atualização de terapeutas e acom- Núcleo Paradigma, Ensino e
panhantes terapêuticos para o atendimento das Consultoria em Psicologia Ltda. _fi}i`f[\jlg\im`jfj\okXj#[Xj
mais diversas populações. Rua Wanderley, 611, (-_~j(0_flk\iXjflhlXikXj#
Perdizes São Paulo-SP [Xj(0_~j))_
Consultoria, formação e atualização de pro-
fissionais de recursos humanos. CEP 05011-001
TEl: 55 11 3864 9732
Clínica composta por terapeutas e acompa-
nhantes terapêuticos (ATs) que trabalham sob a
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perspectiva analítico-comportamental no aten-
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dimento de crianças, jovens, adultos, idosos, nnn%elZc\fgXiX[`^dX%Zfd%Yi
casais, famílias, pessoas com desenvolvimento Setembro 2010 IlXNXe[\ic\p#-((
atípico e transtornos psiquiátricos. G\i[`q\j JfGXlcf&JG
Tiragem: 3.000 exemplares K\c%((*/-+0.*)
Eventos culturais que favoreçam o diálogo ISSN 2176-3445 :IG'-&*((/$A
da psicologia com diferentes áreas do conhe-
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cimento e da arte.
Kn`kk\i17elZc\fgXiX[`^dX
vol 05
set 2010
ISSN 2176-3445
www.nucleoparadigma.com.br
História de Vida
Dr. João Claudio Todorov