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FÍSICA III

Fundamentos do
Eletromagnetismo

ABÍLIO MATEUS JR.


T E X T O B A S E A D O N A S N O TA S D E A U L A D A S D I S C I P L I N A S

FÍSICA III (FSC5113), FÍSICA TEÓRICA B (FSC5133) E FÍ-

S I C A G E R A L I I I ( F S C 5 1 9 3 ) , L E C I O N A DA S P E L O AU TO R E N -

T R E 2 0 0 9 – 2 0 1 8 N O D E PA R TA M E N T O D E F Í S I C A D A U N I V E R -

S I D A D E F E D E R A L D E S A N TA C ATA R I N A ( U F S C ) .
A B Í L I O M AT E U S J R .

FÍSICA III
FUNDAMENTOS DO

ELETROMAGNETISMO

2018
Copyright © 2018 Abílio Mateus Jr.

abilio.mateus@ufsc.br

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Sumário

1 Interação elétrica 1
1.1 Um pouco de história da eletricidade 2
1.2 Carga elétrica 5
1.3 Lei de Coulomb 7
1.4 Testes experimentais da lei de Coulomb 14
Problemas propostos 18

2 Campo elétrico 23
2.1 O campo elétrico 24
2.2 Campo elétrico de distribuições contínuas de carga 28
2.3 Carga puntiforme em um campo elétrico 45
2.4 Um dipolo em um campo elétrico 47
Problemas propostos 50

3 Lei de Gauss 55
3.1 Superfície gaussiana 56
3.2 Fluxo de um campo vetorial 56
3.3 A lei de Gauss para o campo elétrico 59
3.4 Aplicações da lei de Gauss 64
iv

3.5 Equilíbrio em um campo eletrostático 72


3.6 Condutores em equilíbrio eletrostático 73
3.7 Teste experimental da lei de Gauss 77
Problemas propostos 79

4 Potencial elétrico 85
4.1 Campos conservativos 86
4.2 Potencial elétrico 87
4.3 Potencial elétrico de cargas pontuais 91
4.4 Energia potencial elétrica 94
4.5 Potencial de distribuições contínuas de cargas 95
4.6 Cálculo do campo a partir do potencial 101
4.7 Superfícies equipotenciais 104
4.8 Potencial elétrico de um condutor carregado 106
Problemas propostos 109

5 Capacitores e dielétricos 113


5.1 Capacitância 114
5.2 Cálculo da capacitância 115
5.3 Energia armazenada nos capacitores 120
5.4 Dielétricos 123
Problemas propostos 133

6 Corrente elétrica e circuitos 137


6.1 Corrente elétrica 138
6.2 Força eletromotriz 150
6.3 Regras de Kirchhoff 152
6.4 Energia em circuitos elétricos 157
6.5 Circuitos RC 159
Problemas propostos 165

© 2018 Abílio Mateus Jr.


v

7 Interação magnética 171


7.1 O magnetismo 172
7.2 Definição de campo magnético 174
7.3 Movimento circular de uma carga em um campo magnético 178
7.4 Efeito Hall 183
7.5 Força magnética sobre condutores de corrente 184
7.6 Torque sobre uma espira em um campo magnético 188
Problemas propostos 192

8 Fontes de campo magnético 195


8.1 A origem do eletromagnetismo 196
8.2 Lei de Biot-Savart 197
8.3 Lei de Ampère 203
Problemas propostos 214

9 Indução eletromagnética 219


9.1 Experimentos de Faraday 220
9.2 Condutores em movimento em um campo magnético uniforme 222
9.3 Lei de Faraday da indução eletromagnética 225
9.4 A lei de Lenz 227
9.5 Campos elétricos induzidos 229
9.6 Geradores 232
9.7 Correntes parasitas 234
Problemas propostos 236

© 2018 Abílio Mateus Jr.


vi

Apêndices 243

A Constantes físicas 243

B Tabela de derivadas 245

C Tabela de integrais 247

D Identidades trigonométricas 251

E Vetores 253
E.1 Definição e propriedades 253
E.2 Produto escalar 254
E.3 Produto vetorial 256

F Sistemas de coordenadas 259


F.1 Coordenadas cartesianas 261
F.2 Coordenadas cilíndricas 263
F.3 Coordenadas esféricas 266

G Integral de linha 271

H Integral de superfície 273

Respostas dos problemas 275

Bibliografia consultada 281

Referências Bibliográficas 283

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1
Interação elétrica

O eletromagnetismo clássico, desenvolvido até o começo do


século xx, possui um intenso formalismo matemático, além
de uma longa tradição experimental. No entanto, até meados
do século xviii, os tópicos de eletricidade e magnetismo, que
eram tratados de forma distinta um do outro, não possuíam
qualquer base matemática e quase nenhum rigor no campo
experimental, sendo baseados apenas em especulações e
demonstrações curiosas.
O estudo da eletricidade iniciou-se a partir do século
xvii, curiosamente com a publicação de um tratado sobre
o magnetismo no qual se buscava fazer uma clara distinção
entre corpos elétricos e magnéticos. Nas primeiras décadas
do século xviii, a descoberta de fenômenos elétricos que
poderiam ser facilmente reproduzidos, tornou a eletricidade
um dos campos mais férteis da física experimental. Um dos
primeiros tratados dedicados exclusivamente à descrição das
propriedades elétricas foi publicado em 1777 por Tiberius
Cavallo (1749–1809).1 1
Cavallo T., A complete
treatise of electricity in the-
Até por volta de 1780, a quantificação dos efeitos
ory and practice. London:
elétricos era limitada e não havia um formalismo matemático Printed for Edward and
para descrever as interações elétricas. Como veremos neste Charles Dilly, 1777
capítulo, isto começou a mudar com a descrição quantitativa
da força de atração e repulsão entre os corpos elétricos.
2 física iii

1.1 Um pouco de história da eletricidade

O âmbar. Um dos primeiros fenômenos de origem elétrica foi


observado na Grécia antiga. Por volta de 600 a.C., o filósofo
grego Tales de Mileto (624–546 a.C.) relatou que o âmbar,
uma resina vegetal fóssil (Figura 1.1), quando atritado com Figura 1.1: Uma formiga
a lã, adquiria a propriedade de atrair objetos leves e peque- e um pedaço da cauda plu-
mada de um dinossauro que
nos. O termo elétrico surgiu exatamente a partir do termo viveu 99 milhões de anos
grego para o âmbar, elektron, e foi originalmente empregado atrás são preservados em
no tratado De Magnete,2 publicado por William Gilbert uma peça de âmbar. Crédi-
tos da imagem: R. C. Mc-
(1544–1603) em 1600. Neste tratado, Gilbert distinguia kellar, Royal Saskatchewan
os fenômenos elétricos associados ao âmbar dos fenômenos Museum.
magnéticos relativos ao ímã.
2
Gilbert W., De Magnete,
Dois tipos de eletricidade. Em 1733, Charles François du Magneticisque Corporibus,
Fay (1698–1739) realizou algumas observações interessan- et de Magno Magnete Tel-
lure. Peter Short, London,
tes sobre as interações elétricas.3 Em um dos relatos, ele
1600
afirma que a eletrização por atrito, obtida ao se esfregar um
objeto em um tecido, por exemplo, não é uma característica 3
Fay M. D., A Letter from
exclusiva do âmbar, podendo ser aplicada a outros tipos de Mons. Du Fay, F. R. S. and
objetos feitos de diferentes materiais, como madeira, vidro of the Royal Academy of
ou papel. Uma das observações mais importantes foi a des- Sciences at Paris, to His
Grace Charles Duke of Ri-
coberta de que pedaços de âmbar quando atritados com um chmond and Lenox, con-
tecido se repeliam entre si, enquanto o vidro atritado com cerning Electricity, Philo-
um tecido atraía o âmbar. Peças de vidro eletrizado tam- sophical Transactions, 1733,
v. 38, p. 258–266
bém se repeliam entre si. Dessa forma, ele distinguiu duas
“espécies” de eletricidade: eletricidade resinosa, relacionada
ao âmbar, e eletricidade vítrea, do vidro. Du Fay também
realizou outros experimentos para desvendar a natureza da
eletricidade. Por exemplo, em um deles ele concluiu que a
propriedade de um objeto eletrizado de atrair ou repelir não
dependia de sua cor, como se imaginava na época.

Eletricidade positiva e negativa. Em correspondências data-


das de 1747,4 Benjamin Franklin (1706–1790) adotou os 4 Franklin B., Franklin W.,
termos utilizados atualmente, eletricidade positiva (vítrea) Duane W., Memoirs of
Benjamin Franklin. vol. 2
e negativa (resinosa), para descrever as suas observações. of Memoirs of Benjamin
Franklin, McCarty & Davis,
© 2018 Abílio Mateus Jr. 1840
interação elétrica 3

No entanto, Franklin acreditava que a eletricidade fluía de


um corpo para outro na eletrização por atrito, como se fosse
uma espécie de fluido elétrico. Nesse caso, um corpo ficava
com menos eletricidade, ou negativo, e o outro com mais
eletricidade, ou positivo.

O filosófo descalço. Posteriormente, em uma série de relatos


publicados em 1759,5 Robert Symmer (1707–1763) descre- 5
Symmer R., Mitchell J.,
veu várias observações curiosas que ele realizou ao calçar e New Experiments and Ob-
servations concerning Elec-
retirar suas meias, feitas de materiais distintos, como seda e tricity; By Robert Symmer,
lã, e de diferentes cores, especialmente as brancas e pretas. Esq; F. R. S., Philosophical
Assim como Franklin havia sugerido, ele também utilizou Transactions, 1759, v. 51, p.
340–393
os termos eletricidade positiva e negativa, mas com uma
interpretação diferente, considerando os dois tipos de eletri-
cidade como dois estados distintos e investigando as suas
propriedades, de forma similar ao que havia sido feito por
Du Fay. Porém, os experimentos realizados por Symmer
foram relegados a um segundo plano, e como ele utilizou
suas próprias meias para tal fim, ficou conhecido mais tarde
como o filósofo descalço. Por outro lado, a teoria dos dois
estados opostos de eletrização proposta por Symmer, que
figurava como uma teoria dualista em oposição à teoria de
um único fluido defendida por Franklin e seus seguidores,
difundiu-se entre os pensadores da época. Até por volta de
1790 ela já era aceita pela maioria daqueles que trabalhavam
em desvendar a origem da eletricidade dos corpos.6 6
Para mais detalhes sobre
a história de R. Symmer e o
Condutores e isolantes. Em 1729, Stephen Gray (1666–1736) desenvolvimento das ideias
sobre a eletricidade, veja:
realizou uma série de experimentos publicados dois anos mais
Heilbron J. L., Robert
tarde,7 que o levou à descoberta da condução de eletricidade Symmer and the Two Elec-
(ou, como ele chamava, virtude elétrica) entre diferentes cor- tricities, Isis, 1976, v. 67, p.
pos e a grandes distâncias. Otto von Guericke (1602–1686) pp. 7–20
também já havia observado a condução de eletricidade em
um fio de linho, mas naquela época seus experimentos não 7
Gray S., A Letter to
Cromwell Mortimer, M.
avançaram. Gray também descobriu que certos materiais D. Secr. R. S. Contai-
retinham mais eletricidade do que os condutores (metais), o ning Several Experiments
que hoje conhecemos como isolantes. Os termos condutor e concerning Electricity; By
Mr. Stephen Gray, Philo-
isolante foram utilizados pela primeira vez por John The-
sophical Transactions, 1731,
v. 37, p. 18–44
© 2018 Abílio Mateus Jr.
4 física iii

ophilus Desaguliers (1683–1744), em 1742.8 Atualmente, 8 Desaguliers J., A Disser-


sabemos que condutores são materiais em que um número tation Concerning Electri-
city. W. Innys, and T. Long-
significativo de partículas carregadas (elétrons livres) po- man., 1742
dem movimentar-se com uma relativa liberdade, como é
o caso dos metais, do grafite e do próprio corpo humano.
Quando uma certa quantidade de carga se move através de
um material condutor dizemos que existe uma corrente elé-
trica no material. Nos materiais não-condutores ou isolantes
as partículas carregadas não se movem livremente. Como
exemplo de isolantes, podemos citar o vidro, a maioria dos
plásticos, a borracha, a porcelana e o ar.

Eletrização por indução. Um dos experimentos curiosos


realizados por Stephen Gray consistia de um menino entre
oito e nove anos de idade suspenso por fios de seda, ficando
acima de lâminas de latão espalhadas sobre um suporte.
Quando um tubo de vidro era eletrizado por atrito e em
seguida aproximado dos pés do menino, sem encostar nele, os
pedaços de latão eram atraídos pela sua cabeça e mãos. Uma
ilustração desse experimento, extraída de uma publicação de
1774, é mostrada na Figura 1.2. Este tipo de experimento
também foi repetido anos depois por Du Fay e é um exemplo
curioso de eletrização por indução, ou seja, sem contato
direto.

Figura 1.2: O menino


voador, experimento rea-
lizado por Stephen Gray
em abril de 1730. Cré-
ditos da imagem: Johann
Gabriel Doppelmayr, Neu-
entdeckte Phaenomena von
bewunderswürdigen Wür-
kungen der Natur (Nurem-
burg, 1774).

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interação elétrica 5

1.2 Carga elétrica

A intensidade da interação gravitacional entre dois ou mais


corpos é caracterizada pela massa atribuída a eles. De forma
similar, podemos caracterizar o estado de eletrização dos
corpos através da definição de uma propriedade análoga à
massa, que chamamos carga elétrica, ou simplesmente carga,
representada pelo símbolo q ou Q. Assim como a massa, a
carga elétrica é uma propriedade física intrínseca da matéria,
de forma que podemos distinguir uma partícula de acordo
com sua massa e carga.

Princípio da atração e repulsão. Como vimos anteriormente,


as primeiras experiências sobre a eletrização dos corpos mos-
traram a existência de dois tipos de eletricidade ou carga
elétrica, que historicamente chamamos carga positiva (sím-
bolo ⊕) e carga negativa (símbolo ). Em decorrência disso,
surge uma importante propriedade das cargas elétricas, que
é o chamado princípio da atração e repulsão descoberto por
Du Fay:

Cargas elétricas de mesmo sinal se repelem. Cargas elétri-


cas de sinais opostos se atraem.

Esta é uma das principais características que distinguem


a interação elétrica da gravitacional, já que esta última é
sempre atrativa.

Corpos neutros. Podemos caracterizar a carga total de um


corpo pela soma algébrica simples de suas cargas positivas
e negativas. Quando um corpo possui o mesmo número de
cargas positivas e negativas, sua carga total é nula e dizemos
que ele está eletricamente neutro. Se o equilíbrio de cargas é
desfeito, dizemos que um corpo está eletrizado, ou seja, uma
carga líquida existirá e ele poderá interagir eletricamente.

Princípio da conservação da carga elétrica. Quando um


corpo é eletrizado por atrito, o estado de eletrização final se
deve à transferência de cargas de um objeto para o outro.

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6 física iii

Não há criação de cargas no processo. Portanto, se um dos


objetos cede uma certa carga negativa ao outro, ele ficará
carregado positivamente, com a mesma quantidade de carga
cedida ao outro. Na eletrização por indução de um corpo
neutro, por exemplo, ocorre um deslocamento de cargas
dentro do corpo deixando-o mais negativo de um lado do
que de outro. No entanto, a carga líquida ao longo de todo
o corpo continua sendo nula, mantendo sua neutralidade
e garantindo a conservação de carga durante o processo.
Em ambos os casos, e em qualquer processo observado na
natureza, a carga total de um sistema isolado se conserva:
A carga total não varia para qualquer processo que se
realiza dentro de um sistema isolado.

Jamais foi observada na natureza uma situação física que


viole este princípio.

Unidade de carga elétrica. A unidade no Sistema Interna-


cional (SI) para a carga elétrica é o coulomb (símbolo C).
Ele é definido em termos da unidade de corrente elétrica,
o ampère (símbolo A), como a carga que passa por uma
determinada seção de um condutor em 1 segundo quando
uma corrente de 1 ampère está fluindo através do condutor.
A corrente elétrica será estudada no Capítulo 6.

Quantização da carga elétrica. No século XVIII, a carga elé-


trica era considerada como um fluido contínuo. Entretanto,
no início do século XX, em um trabalho publicado em 1913,
Robert A. Millikan (1868–1953) descobriu que o fluido
elétrico não era contínuo.9 A carga elétrica é constituída 9 Millikan R. A., On
por um múltiplo inteiro de uma carga fundamental e, ou the Elementary Electrical
Charge and the Avogadro
seja, a carga q de um certo objeto pode ser escrita como Constant, Physical Review,
1913, v. 2, p. 109–143
q = ne, com n = ±1, ±2, ±3, ...
onde e possui o valor de 1,602 176 6208 × 10−19 C, sendo con-
siderada uma das constantes fundamentais da natureza.10 10
http://physics.nist.gov/cgi-
bin/cuu/Value?e
Podemos dizer que a carga elétrica existe em pacotes
discretos ou, em termos modernos, é “quantizada”, não

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interação elétrica 7

Partícula Carga (C) Massa (kg) Tabela 1.1: Principais pro-


priedades dos constituintes
elétron −1e 9,109 38 × 10−31 de um átomo.
próton +1e 1,672 62 × 10−27
nêutron 0 1,674 93 × 10−27

podendo assumir qualquer valor. Outras experiências da


época de Millikan mostraram que o elétron tem carga −e e
o próton +e, o que assegura que um átomo neutro tem o
mesmo número de prótons e elétrons. Os nêutrons, como
o próprio nome sugere, possuem carga nula. A Tabela 1.1
sumariza as cargas e massas das partículas atômicas.

1.3 Lei de Coulomb

Em 1784, Charles Augustin de Coulomb (1736–1806) re-


alizou experimentos com uma balança de torção e mediu
as atrações e repulsões elétricas entre duas esferas eletrica-
mente carregadas. A partir dessas medidas ele deduziu a lei
que governa a eletrostática:11 11
Coulomb C., Premier mé-
moire sur l’électricité et le
A força elétrica exercida por um corpo carregado sobre magnétisme. In: Histoire de
outro depende diretamente do produto do módulo das l’Académie Royale des Sci-
cargas e inversamente do quadrado da distância que os ences , De l’imprimerie
royale, 1785a, p. 569
separa.

A interação entre cargas elétricas em repouso também é


chamada de força eletrostática ou coulombiana. Antecessores
de Coulomb já haviam sugerido que a força eletrostática
seria inversamente proporcional ao quadrado da distância
entre as cargas, portanto semelhante à força gravitacional
descrita por Newton (para uma discussão mais detalhada,
veja a seção 1.4). No entanto, Coulomb foi o primeiro a de
fato mostrar experimentalmente tal relação e enunciar a lei
que rege as interações eletrostáticas.
Em termos matemáticos, podemos expressar a lei de
Coulomb como
|q1 | |q2 |
F ∝ ,
r2

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8 física iii

onde q1 e q2 são as cargas elétricas de dois corpos separa-


dos por uma distância r. Introduzindo uma constante de
proporcionalidade, k, a expressão matemática para a lei de
Coulomb fica:
|q1 | |q2 |
F =k .
r2
Note que a lei de Coulomb assemelha-se à lei da gravitação
universal de Newton,
m1 m2
F =G ,
r2
onde G = 6,673 84 × 10−11 m3 kg−1 s−2 é a constante gravi-
tacional, e m1 e m2 são as massas de dois corpos quaisquer
separados pela distância r. Ambas são leis para o inverso do
quadrado da distância. A carga q, neste caso, é o análogo
da massa.
A constante k é definida como:
1
k= = 8,99 × 109 N m2 C−2 ,
4πε0

onde
ε0 = 8,854 187 817 × 10−12 C2 N−1 m−2 ,
é a constante de permissividade elétrica do vácuo.12 12
http://physics.nist.gov/cgi-
bin/cuu/Value?ep0
Assim, podemos escrever o módulo da força eletrostá-
tica dada pela lei de Coulomb como

1 |q1 | |q2 |
F = .
4πε0 r2

Exemplo 1.1: Força eletrostática e gravitacional no átomo


de hidrogênio
O elétron e o próton de um átomo de hidrogênio estão separados
por uma distância média de aproximadamente 5,3 × 10−11 m.
Qual o valor absoluto da força eletrostática e gravitacional entre
eles?

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interação elétrica 9

Aplicando a lei de Coulomb, a magnitude da força eletrostática


é
1 |e| | − e|
Fe =
4πε0 r2
(1,60 × 10−19 C)2
= (8,99 × 109 N m2 /C2 )
(5,3 × 10−11 m)2
Fe = 8,2 × 10−8 N.

Usando a lei da gravitação de Newton e considerando as


massas de cada partícula, encontramos a magnitude da força
gravitacional: +
mp me
Fg = G
r2 +
−11 2 2(1,67 × 10−27 )(9,11 × 10−31 ) kg2
= (6,67 × 10 N m /kg )
(5,3 × 10−11 m)2
Fg = 3,6 × 10−47 N.

A razão entre as duas é Fe /Fg ≈ 2 × 1039 . Logo, a força


gravitacional entre partículas atômicas carregadas é desprezível
comparada com a força eletrostática.

Forma vetorial da lei de Coulomb


Até aqui consideramos apenas o módulo da força entre duas –
cargas, determinada de acordo com a lei de Coulomb. A
força, sendo um vetor, também possui propriedades direcio-
nais.
Considere as duas cargas, q1 e q2 , mostradas na Fi-
gura 1.3. A localização da carga q1 é dada por um vetor ~r1
a partir de uma origem arbitrária O, e para a carga q2 , o
vetor é ~r2 . A separação vetorial entre ~r1 e ~r2 é dada pelo
Figura 1.3: Sentido da força
vetor que aponta da carga q2 para a carga q1
eletrostática entre duas car-
~r12 = ~r1 − ~r2 , gas elétricas (a) de sinal po-
sitivo e (b) de sinais opos-
e seu módulo é r12 = |~r1 − ~r2 |, a distância entre as duas tos. Para uma melhor cla-
reza, os vetores ~ r12 e r̂12
cargas. É conveniente definir um vetor unitário que dá a foram omitidos em (b).

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10 física iii

direção de ~r12 , ou seja,


~r12 ~r1 − ~r2
r̂12 = = .
r12 |~r1 − ~r2 |
Com estas definições, a força eletrostática sobre a carga
q1 exercida pela carga q2 , F~12 , pode ser escrita vetorialmente
como
1 q1 q2
F~12 = 2 r̂12 .
4πε0 r12
A força entre as cargas atua ao longo da linha que as une;
ela é repulsiva se q1 e q2 tiverem o mesmo sinal, e atrativa
se tiverem sinais opostos.
Podemos mostrar que a força exercida sobre a partícula
2 pela partícula 1, F~21 , é oposta a F~12 :
1 q2 q1
F~21 = 2 r̂21 ,
4πε0 r21
como r21 = r12 e ~r21 = ~r2 − ~r1 = −~r12 , temos
F~21 = −F~12 .

Princípio da superposição
Quando há mais do que duas cargas presentes, a força
resultante sobre qualquer carga será dada pela soma vetorial
de todas as forças individuais atuando sobre ela. Este é o
chamado princípio da superposição. Por exemplo, a força
resultante que atua sobre uma carga q1 devido à presença
de N cargas pontuais pode ser escrita como
F~1 = F~12 + F~13 + F~14 + · · · + F~1N .

Em termos gerais, a força resultante sobre uma carga


qi , cuja posição é dada por um vetor ~ri a partir de uma
origem arbitrária O, como ilustrado na Figura 1.4, é igual
Figura 1.4: O vetor ~ rij se
à soma vetorial das forças produzidas por todas as outras estende desde a posição da
cargas qj (com j 6= i): carga qj , dada pelo vetor ~
rj ,
X qi X qj até a carga qi , localizada
F~i = F~ij = 2 r̂ij ,
pelo vetor ~ri .
4πε0 rij
j6=i j6=i

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interação elétrica 11

onde
~rij ~ri − ~rj
r̂ij =
= .
rij |~ri − ~rj |
O princípio da superposição nos permite resolver qualquer
problema eletrostático, ou seja, descrever completamente as
interações entre cargas elétricas em repouso.

Exemplo 1.2: Força resultante em uma carga


Considere o arranjo de cargas mostrado na Figura 1.5 abaixo,
onde q1 = −1,0 µC, q2 = +3,0 µC e q3 = −2,0 µC. As cargas
q1 e q2 estão separadas por 15 cm no eixo x, e a carga q3 está a
10 cm da carga q1 , formando um ângulo θ = 30◦ com o eixo y.
Determine a força que atua sobre q1 .


– +

Figura 1.5: Arranjo de cargas. Qual a força resultante atuando sobre


a carga q1 ?

Usando o princípio da superposição, a força resultante que


atua sobre a carga q1 , devido às cargas q2 e q3 , é dada por
~1 = F
F ~12 + F
~13 = F12 r̂12 + F13 r̂13 ,

onde
|q1 | |q2 | (1,0 × 10−6 )(3,0 × 10−6 )
F12 = k 2
= 8,99 × 109 = 1,20 N
r12 (0,15)2

|q1 | |q3 | (1,0 × 10−6 )(2,0 × 10−6 )


F13 = k 2
= 8,99 × 109 = 1,80 N
r13 (0,10)2
Os vetores unitários são

r̂12 = ı̂ e r̂13 = sen θı̂ − cos θ̂.

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12 física iii

Assim, a força sobre a carga q1 é

~1 = 1,20ı̂ + 1,80 sen 30◦ ı̂ − 1,80 cos 30◦ ̂


F

~1 = (2,10 N)ı̂ − (1,56 N)̂.


F

O módulo é dado por:


q
~1 | = F 2 + F 2 = (2,10)2 + (−1,56)2 = 2,62 N.
p
|F 1x 1y

A força resultante F
~1 forma um ângulo α com o eixo x, obtido
pela relação:
F1x
F1x = F1 cos α ⇒ cos α = ⇒ α = 36,7◦ .
F1

Exemplo 1.3: Distribuição de cargas com simetria


A Figura 1.6 mostra duas cargas positivas iguais q1 = q2 = 2,0 µC
localizadas em x = 0, y = 0,30 m e x = 0, y = −0,30 m,
respectivamente. Qual o módulo e direção da força elétrica
total que as cargas q1 e q2 exercem sobre uma terceira carga
q3 = 4,0 µC em x = 0,40 m, y = 0?

Figura 1.6: Cargas positivas e simétricas. Qual a força resultante sobre


a carga q3 ?

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interação elétrica 13

A Figura 1.6 mostra os vetores das forças F


~31 e F
~32 , cujos módulos
serão iguais, já que as cargas são idênticas e as distâncias entre
elas e a carga q3 também são iguais. Aplicando a lei de Coulomb,
temos
(2,0 × 10−6 )(4,0 × 10−6 )
F31 = F32 = 8,99 × 109 = 0,29 N.
(0,50)2
As componentes x das duas forças também são iguais:
0,40
F31x = F32x = F cos θ = 0,29 = 0,23 N.
0,50
Por simetria, notamos que as componentes y das duas forças são
iguais mas opostas. Logo, elas se anulam e a força total F
~3 que
atua sobre a carga q3 possui apenas a componente x, que é a
soma das componentes x das forças F ~31 e F
~32 :

~3 = (F31x + F32x )ı̂ = (0,23 N + 0,23 N) ı̂ = (0,46 N) ı̂.


F

Exemplo 1.4: Força resultante e condição de equilíbrio


Três cargas pontuais estão distribuídas ao longo do eixo x como
mostrado na Figura 1.7. A carga positiva q1 = 15,0 µC está
em x = 2,00 m, a carga positiva q2 = 6,00 µC está na origem e
uma terceira carga negativa q3 está numa posição tal que a força
resultante sobre ela é nula. Qual é a coordenada x da carga q3 ?

+
– +

Figura 1.7: Três cargas ao longo do eixo x. Qual deve ser a posição
da carga q3 de forma que todo o sistema permaneça em equilíbrio?

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14 física iii

Como a carga q3 é negativa, ambas as forças F ~31 e F~32 são


atrativas, conforme indicado na Figura 1.7. Pela lei de Coulomb,
os módulos das forças são
|q1 ||q3 | |q2 ||q3 |
F31 = k , F32 = k .
(2,00 − x)2 x2

Para que a força resultante sobre q3 seja nula, a força F


~23 deve
ter o mesmo módulo da força F31 e direção oposta. Igualando os
~
módulo, temos

|q1 ||q3 | |q2 ||q3 |


k =k .
(2,00 − x)2 x2

Os termos k e q3 se cancelam, e resolvendo para encontrar x,


encontramos
(2,00 − x)2 |q2 | = |q1 |x2
(4,00 − 4,00x + x2 )(6,00 × 10−6 ) = x2 (15,0 × 10−6 )
3,00x2 + 8,00x − 8,00 = 0.
Resolvendo esta equação, encontramos que a raiz positiva é

x = 0,775 m.

A outra raiz é x = −3,44 m. Porém, neste caso, as duas forças


também possuem o mesmo módulo, mas apontam na mesma
direção, de forma que as forças não se anulam.

1.4 Testes experimentais da lei de Coulomb

A interação entre cargas elétricas foi experimentalmente


investigada por inúmeros cientistas a partir de meados do
Séc. XVIII. Um dos primeiros a estudar suas propriedades
foi Benjamin Franklin (1706–1790). Em 1755, ele obser-
vou que um pedaço de cortiça suspenso por um fio, ao ser
colocado próximo de um condutor metálico oco, era forte-
mente atraído pela superfície do condutor. Porém, quando
o objeto era colocado no interior do condutor, ele não era
atraído por sua superfície interna. Na época, Franklin não

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interação elétrica 15

conseguiu entender o fenômeno e comunicou sua descoberta


para seu colega, Joseph Priestley (1733–1804), para que ele
pudesse confirmar o resultado. Em 1766, Priestley repetiu o
experimento e concluiu que uma cavidade em um condutor
eletricamente carregado não produz força sobre uma carga
no seu interior. Além disso, ele também observou que não
haviam cargas na superfície interna da cavidade quando o
condutor estava eletricamente carregado. As observações de
Priestley foram publicadas em 1767,13 onde especulou que 13
Priestley J., The History
a lei que rege as interações entre cargas elétricas deveria and Present State of Elec-
tricity. Printed for J. Dods-
ser similar à lei da gravitação de Newton, isto é, deveria ley, J. Johnson and T. Ca-
ser uma lei proporcional ao inverso do quadrado da distân- dell, 1767
cia. No entanto, tal resultado permaneceu apenas no nível
especulativo.
Em 1769, outro experimento demonstrou que as for-
ças eletrostáticas deveriam ser dependentes de 1/r2 . John
Robison (1739–1805) determinou que a força de repulsão
entre duas esferas carregadas dependiam da separação entre
elas, mas ao invés de adotar o expoente 2 ele utilizou a
forma 2 + δ, ou seja, 1/r2+δ . Na ocasião, ele obteve um
valor δ = 0,06. O resultado encontrado por Robison só foi
publicado posteriormente,14 quando o trabalho de Coulomb 14 Robison J., A System
já era conhecido. of Mechanical Philosophy.
No. v. 4 in A System of Me-
Outro predecessor de Coulomb foi Henry Cavendish chanical Philosophy, John
(1731–1810) que, em 1773, utilizou esferas concêntricas para Murray, 1822
estudar a interação entre cargas indiretamente. Cavendish
sugeriu que, assim como a força gravitacional entre corpos,
a força elétrica entre cargas obedeceria uma lei do inverso do
quadrado da distância, com a diferença de ser repulsiva para
cargas de mesmo sinal e atrativa para cargas opostas. Como
Robison, a maioria dos resultados obtidos por Cavendish
foram publicados posteriormente à descoberta de Coulomb.
Graças a James Clerk Maxwell (1831–1879), as pesquisas
desenvolvidas por Cavendish na área de eletromagnetismo
foram publicadas um século depois, em 1879,15 quando 15 Cavendish H., The Elec-
trical Researches of Henry
Cavendish. (Maxwell, J. C.
ed.), Cambridge University
Press, 1879
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16 física iii

várias de suas descobertas já haviam sido creditadas a outros


cientistas.
Embora vários cientistas tenham investigado a lei que
rege as interações entre cargas elétricas, chegando até mesmo
aos resultados que conhecemos atualmente, Charles Cou-
lomb (1736–1806) foi o primeiro a apresentar, em 1785,16 16
Coulomb C., Premier mé-
uma lei consistente com a dependência da força entre cargas moire sur l’électricité et le
magnétisme. In: Histoire de
proporcional a 1/r2 . Os experimentos de Coulomb foram l’Académie Royale des Sci-
dividios em três partes: (1) usando uma balança de torção, ences , De l’imprimerie
ele demonstrou de forma direta que duas cargas de mesmo royale, 1785a, p. 569
sinal se repelem com uma força que varia inversamente com
o quadrado da distância entre elas; (2) a lei para a força
atrativa entre cargas opostas foi detectada indiretamente
por uma balança de torção, inspirada pela lei do inverso qua-
drado da gravitação; (3) obteve a relação entre a força e o
produto das duas cargas. Usando estes resultados, Coulomb
apresentou a famosa lei da eletrostática, que hoje chamamos
lei de Coulomb:
q1 q2
F =k 2 .
r
Durante algumas décadas após a sua descoberta, mui-
tos físicos contemporâneos a Coulomb criticaram os resul-
tados apresentados. Além disso, experimentos semelhantes
realizados por outros cientistas não chegaram às mesmas
conclusões. De fato, alguns acreditavam que Coulomb che-
gara à lei que conhecemos atualmente apenas utilizando
considerações teóricas, já que existiam várias incertezas
associadas às medidas feitas usando a balança de torção.
Outras formulações alternativas foram propostas, mas a lei
de Coulomb sobreviveu a todos os testes feitos até hoje.
Uma versão aprimorada do experimento de Cavendish
foi realizada por Maxwell em 1873.17 Um fenômeno idêntico 17 Maxwell J. C., A treatise
ao obtido por Cavendish foi observado por ele, que concluiu on electricity and magne-
tism. Clarendon Press, 1873
que o desvio δ da lei de Coulomb deveria ser menor do
que 1/21 600. Posteriormente, outros experimentos atingi-
ram valores cada vez menores, utilizando métodos diversos.
Por exemplo, Plimpton & Lawton (1936), utilizando um

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interação elétrica 17

esquema parecido com o proposto por Cavendish e Maxwell,


chegaram a um valor para o desvio da lei de Coulomb igual
a δ < 2 × 10−9 . Portanto, o expoente 2 estaria correto
com um erro de uma parte em um bilhão. Na década de
1970-80, Williams et al. (1971), utilizando uma configuração
formada por cinco icosaedros concêntricos, atingiram uma
precisão correspondente a δ < 2,7 × 10−16 , e mais tarde
Crandall (1983) propôs uma metodologia mais simplificada
para ser utilizada praticamente em qualquer laboratório uni-
versitário a baixo custo, atingindo uma precisão máxima de
δ < 6 × 10−17 . Por fim, cabe mencionar o excelente artigo
de revisão por Tu et al. (2005), que contém a discussão
apresentada acima de forma detalhada, bem como a con-
sequência do desvio da lei de Coulomb para as medidas da
massa do fóton.

EEE

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18 física iii

Problemas propostos
Níveis de dificuldade:
P1.1 š Duas cargas pontuais q1 = +3,0 µC e q2 = −2,0
µC estão separadas por uma distância de 4,0 cm. Calcule o š – de boa na lagoa;
módulo da força eletrostática que atua sobre cada carga. ˜ – mais fácil que capi-
nar um lote;
P1.2 š Qual deve ser a distância entre duas cargas punti- – – corram para as coli-
formes q1 = 20,0 µC e q2 = −30,0 µC para que o módulo nas!
da força eletrostática entre elas seja de 5,39 N?

P1.3 ˜ Três partículas carregadas, localizadas sobre uma


linha reta, estão separadas entre si pela distância d, como
mostra a Figura 1.8. As cargas q1 e q2 estão fixas. A
carga q3 , que está livre para se mover, encontra-se em equi-
líbrio (nenhuma força eletrostática líquida atua sobre ela).
Determine q1 em termos de q2 .

Figura 1.8: Problema 1.3.

P1.4 ˜ Uma partícula puntiforme que tem carga de


−2,5 µC está localizada na origem. Uma segunda partícula
que tem carga de 6,0 µC está em x = 1,00 m, y = 0,50 m.
Uma terceira partícula, um elétron, está no ponto cujas
coordenadas são (x,y). Determine os valores de x e y tal
que o elétron fique em equilíbrio. Considere as outras duas
cargas fixas em suas posições.

P1.5 ˜ Quais são as componentes horizontal e vertical


da força eletrostática resultante que atua sobre a carga q3
mostrada na Figura 1.9, onde q1 = −1,0 × 10−7 C, q2 = + -
−2,0 × 10−7 C, q3 = +2,0 × 10−7 C, q4 = +1,0 × 10−7 C e
a = 5,0 cm.

P1.6 ˜ Três partículas carregadas estão localizadas nos


vértices de um triângulo equilátero de 1,20 m de lado, con-
+ -
Figura 1.9: Problema 1.5.
forme ilustrado na Figura 1.10. As cargas têm os seguintes

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interação elétrica 19

valores: q1 = +4,0 µC, q2 = −8,0 µC e q3 = −6,0 µC. De- +


termine a expressão vetorial para a força elétrica resultante
que atua em cada carga devido à presença das outras.
P1.7 ˜ A Figura 1.11 mostra três cargas pontuais fixas
no plano xy. Uma carga positiva q1 = +8,00 µC está na
origem do sistema de coordenadas. As outras duas cargas
– –
possuem mesmo módulo, mas sinais opostos: q2 = −5,00 µC
e q3 = +5,00 µC. Se a distância r = 1,30 m e θ = 23,0◦ ,
Figura 1.10: Problema 1.6.
(a) determine a força resultante que atua sobre a carga na
origem. (b) Se q1 também possuísse uma massa m = 1,50 g
e fosse livre para se mover, qual seria sua aceleração?

Figura 1.11: Problema 1.7.



+

P1.8 ˜ Cinco cargas puntiformes idênticas, cada uma com


carga q, estão igualmente espaçadas em um semicírculo de
raio R, como mostra a Figura 1.12. Determine a força em
uma carga de prova q0 localizada em um ponto equidistante
das cinco outras cargas.

Figura 1.12: Problema 1.8.

P1.9 ˜ A Figura 1.13 mostra um retângulo de lados d e


4d. Três cargas positivas, de mesmo módulo q = +3,0 µC,

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20 física iii

estão fixas nos vértices A, B e C. Qual carga (módulo


e sinal) deve ser colocada no vértice D de forma que a
força resultante sobre a carga no vértice B possua apenas a
componente vertical?

+ Figura 1.13: Problema 1.9.

+ +

P1.10 ˜ Na Figura 1.14, uma carga q1 = +1,0 µC e uma


carga q2 = +4,0 µC são mantidas fixas a uma distância
L = 9,00 cm sobre o eixo x. Uma terceira carga q3 é então
colocada de tal modo que todo o sistema fica em equilíbrio.
Determine (a) as coordenadas x e y da carga q3 ; (b) o
módulo e sinal da carga q3 .

Figura 1.14: Problema


1.10.

P1.11 ˜ Duas pequenas bolinhas de borracha de massa m


são penduradas por fios não-condutores de comprimento `.
Se as esferas são carregadas com uma quantidade de carga
q, elas atingem a posição de equilíbrio mostrada na Figura
1.15, formando um ângulo θ com a vertical. Obtenha uma
expressão para a carga q em função de m, ` e θ.

P1.12 ˜ Um pequeno pedaço de borracha de massa m =


8,00 × 10−2 kg e carga q1 = 0,600 µC está pendurado por
um fio de massa desprezível. Uma segunda carga negativa
q2 = −0,900 µC é colocada a uma distância horizontal
r = 0,150 m da primeira, como mostra a Figura 1.16, de

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interação elétrica 21

Figura 1.15: Problema


1.11.

forma que o fio faz um ângulo θ com a vertical. Encontre


(a) o ângulo θ e (b) a tensão no fio.

+
– Figura 1.16: Problema
1.12.

P1.13 ˜ Duas bolinhas idênticas têm massa m e carga q.


Quando elas são colocadas em um recipiente hemisférico de
raio R, com paredes não-condutoras e sem atrito, as esferas
movem-se até atingir uma posição de equilíbrio ficando
separadas horizontalmente pela distância R, como ilustra a
Figura 1.17. Determine a carga elétrica q de cada bolinha.

P1.14 š O módulo da força eletrostática entre dois íons


iguais separados por uma distância de 5,0 × 10−10 m é
3,7 × 10−9 N. (a) Qual é a carga de cada íon? (b) Quantos
elétrons estão “faltando” em cada íon?

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22 física iii

Figura 1.17: Problema


1.13.

P1.15 š Uma carga Q é transferida de uma esfera de


plástico inicialmente neutra para outra esfera idêntica lo-
calizada a uma distância de 12 cm. A força de atração
entre as esferas é então de 17 mN. Quantos elétrons foram
transferidos de uma esfera para a outra?

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2
Campo elétrico

No nosso cotidiano, a maioria das forças que encontramos


dependem do contato físico direto entre os objetos. É o
caso da colisão entre dois corpos, ou quando puxamos ou
empurramos alguma coisa. No entanto, as interações fun-
damentais existentes na natureza, como a gravitacional e a
eletromagnética, aparecem mesmo quando os corpos estão
separados fisicamente no espaço. Assim, dizemos que ocorre
uma ação à distância, como no caso da interação entre o
Sol e os planetas do Sistema Solar.
Na Física, para descrever as interações decorrentes de
uma ação à distância é de vital importância a introdução
do conceito de campo. Campo pode ser definido como uma
propriedade física que se estende em uma região do espaço,
descrita através de uma função da posição e do tempo. Por
exemplo, a temperatura do ar em uma sala tem um valor
específico em cada ponto, e neste caso temos um campo
escalar de temperaturas, T (x,y,z,t), que também pode variar
com o tempo. Se ao invés de uma grandeza escalar, como a
temperatura ou pressão, tivermos grandezas vetoriais, como
a velocidade do fluxo num fluido, teremos um campo vetorial
associado a cada ponto do fluido, em cada instante de tempo,
~v (x,y,z,t). Outro exemplo de um campo vetorial é o campo
gravitacional terrestre.
24 física iii

2.1 O campo elétrico

Vimos no capítulo anterior que se uma partícula com carga


positiva q1 for colocada a uma distância r de uma segunda
carga positiva q2 , de acordo com a lei de Coulomb, ambas
sofrerão uma força eletrostática repulsiva proporcional a
q1 q2
F ∝ .
r2
Mas se as partículas não estão em contato, como elas inte-
ragem entre si?
No caso da interação entre cargas elétricas, Michael
Faraday (1791–1867) foi o primeiro a mencionar um campo
de força elétrica. Posteriormente, James Clerk Maxwell
(1831–1879) identificou o campo elétrico como o espaço em
torno de um objeto eletrizado, no qual a força elétrica atua.1 1 Maxwell J. C., A treatise
Dessa forma, dizemos que a carga q1 cria um campo elétrico on electricity and magne-
tism. Clarendon Press, 1873
no espaço ao seu redor. Em qualquer ponto P do espaço,
o campo tem módulo, direção e sentido. Logo, o campo
elétrico também é um exemplo de campo vetorial. Assim,
quando colocamos q2 no ponto P , q1 interage com q2 através
do campo elétrico existente em P . A primeira carga gera
um campo elétrico, e a segunda interage com ele, e vice-
versa. O módulo, a direção e o sentido desse campo elétrico
determinam o módulo, a direção e o sentido da força que
atua sobre as cargas.
Definimos o campo elétrico E ~ associado a um certo
conjunto de cargas em termos da força exercida sobre uma
carga de prova positiva q0 , em um determinado ponto do
espaço, ou seja
~
~ = F.
E
q0
A direção e o sentido do campo elétrico são dados pela força
sofrida pela carga de prova. A unidade SI para o campo
elétrico é o newton/coulomb:
newton N
[E] ≡ = .
coulomb C

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campo elétrico 25

Note que a carga de prova q0 deve ser suficientemente


pequena para não perturbar a distribuição de cargas cujo
campo elétrico estamos tentando medir. Isto é, em termos
matemáticos, a definição do campo elétrico poderia ser

~
~ = lim F .
E
q0 →0 q0

Porém, como a carga elétrica é quantizada, na prática essa


definição é incorreta e serve apenas para ilustrar a necessi-
dade da carga de prova ser a menor possível.

Campo elétrico de uma carga puntiforme


Seja uma carga de prova positiva q0 situada a uma distância
r de uma carga puntiforme q. A força eletrostática que atua
sobre q0 é dada pela lei de Coulomb,

1 qq0
F~ = r̂,
4πε0 r2

onde r̂ é o vetor unitário na direção da reta que passa pelas


duas cargas, com origem na carga q. O campo elétrico no
ponto em que se encontra a carga de prova é

~
~ = F = 1 q r̂.
E
q0 4πε0 r2

A direção de E~ será idêntica à de F~ , ao longo de uma linha


radial com origem em q e apontando para fora, se q for
positiva, ou para dentro, se q for negativa.
Para uma distribuição de N cargas pontuais, o campo
elétrico E
~ num ponto P qualquer será obtido através do
princípio da superposição:

~ =E
E ~1 + E
~2 + E
~3 + · · · + E
~N ,

ou seja, num dado ponto, os campos elétricos das cargas


individuais simplesmente se somam (vetorialmente) ou se

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26 física iii

superpõem independentemente. Essa soma vetorial pode


ser convenientemente escrita como:
N
~ = 1 X qi
E r̂i ,
4πε0 i=1 ri2
onde ri é a distância da carga qi até o ponto P e r̂i é o
vetor unitário da direção que liga a carga a este ponto, com
origem na carga.

Exemplo 2.1: Campo elétrico criado por um dipolo elétrico


A Figura 2.1 mostra uma configuração de cargas chamada dipolo
elétrico, composto por duas cargas de mesmo módulo e sinais
opostos, separadas por uma distância d. Qual o campo elétrico
produzido pelo dipolo elétrico em um ponto P localizado ao
longo do eixo que passa entre as cargas?


Figura 2.1: Dipolo elétrico. O campo elétrico E
~ em qualquer ponto é
dado pela soma vetorial dos campos gerados pelas cargas individuais.

As cargas geram campos elétricos E~+ e E


~ − , respectivamente.
Os módulos destes dois campos em P são iguais, já que P é
equidistante das cargas positiva e negativa. O campo elétrico
total em P é dado pela soma vetorial dos campos individuais:
~ =E
E ~+ + E
~ −.

As magnitudes dos campos de cada uma das cargas são dadas


por
1 q 1 q
E+ = E− = = . (2.1)
4πε0 r2 4πε0 x2 + (d/2)2

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campo elétrico 27

A componente x do campo será nula, já que:

Ex = E+ sen θ − E− sen θ = 0.

O campo total E
~ possui apenas a componente y, com módulo
dado por

Ey = E+ cos θ + E− cos θ = 2E+ cos θ. (2.2)

O ângulo θ é determinado por


d/2
cos θ = p .
x + (d/2)2
2

Substituindo este resultado e a equação 2.1 na equação 2.2,


obtemos
1 q d/2
Ey = 2
4πε0 x2 + (d/2)2 x2 + (d/2)2
p

1 qd
Ey = .
4πε0 [x2 + (d/2)2 ]3/2
Como E
~ = Ey (−̂), temos

~ =− 1
E
qd
̂.
4πε0 [x2 + (d/2)2 ]3/2
Esta expressão dá o campo elétrico em P devido ao dipolo.
Note que o sinal negativo indica que o campo aponta no sentido
negativo do eixo y. O produto qd representa o módulo de um
vetor p
~ chamado momento de dipolo elétrico, cuja direção é dada
pela reta que une duas cargas e o sentido aponta sempre da carga
negativa para a positiva:

|p
~ | = qd.

Frequentemente, observamos o campo de um dipolo elétrico em


pontos P cuja distância x ao dipolo é muito grande comparada
com a separação d, isto é, x  d, logo

~ ≈ − 1 p ̂.
E
4πε0 x3
Também é fácil verificar que o campo elétrico ao longo do eixo y
será proporcional a y −3 para pontos muito distantes do dipolo.

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28 física iii

Linhas de força +

Michael Faraday , que introduziu a ideia de campo elétrico


no século XIX, imaginava que o espaço ao redor de um
corpo carregado eletricamente estava preenchido por linhas
de força. As linhas de força do campo elétrico constituem
um auxílio para visualizar o campo. Uma linha de força ou
linha de campo é traçada de tal maneira que sua direção e
sentido em qualquer ponto são os mesmos que os do campo –
elétrico nesse ponto. A Figura 2.2 mostra exemplos de linhas
de campo para algumas distribuições de cargas elétricas. As
principais características das linhas de força são:

1. As linhas de força mostram a direção e o sentido do


campo elétrico em qualquer ponto. Em linhas curvas, a
direção do campo é tangente à curva.
+

2. As linhas de força se originam em cargas positivas e
terminam em cargas negativas.

3. As linhas de força são desenhadas de modo que o número


de linhas por unidade de área da seção reta (perpendicu-
+ +
lar às linhas) seja proporcional à intensidade do campo
elétrico.

2.2 Campo elétrico de distribuições contínuas de


carga

Considere uma distribuição contínua de cargas, cujo campo


gerado pode ser calculado dividindo-se a distribuição em
+

elementos infinitesimais de carga dq. Cada elemento de
carga produz um campo dE ~ num ponto P , conforme mostra
a Figura 2.3. O campo elétrico criado por cada elemento Figura 2.2: Linhas de
de carga dq é similar ao campo produzido por uma carga campo elétrico: carga posi-
pontual: tiva; carga negativa; dipolo
1 dq elétrico; duas cargas idên-
dE~ = r̂, ticas positivas; duas cargas
4πε0 r2 +2q e −q.

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campo elétrico 29

onde r é a distância entre o elemento de carga e o ponto P


e r̂ é o vetor unitário na direção de r.
O campo resultante (total) é determinado pelo princí-
pio da superposição, somando-se (integrando-se) as contri-
buições de campo de cada elemento dq, ou seja,
ˆ ˆ
~ ~ 1 dq
E = dE = r̂.
4πε0 r2

Note que esta é uma soma (integral) vetorial, de forma


que podemos decompor a integral em cada componente no
espaço cartesiano, por exemplo
Figura 2.3: Um elemento
ˆ ˆ ˆ de carga dq produz um ele-
Ex = dEx , Ey = dEy e Ez = dEz , mento de campo dE na po-
sição do ponto P .

e escrevemos o vetor campo elétrico como:

~ = Ex ı̂ + Ey ̂ + Ez k̂.
E

Densidade de cargas

Em geral, uma distribuição contínua de cargas é descrita


pela sua densidade de carga.

Densidade linear de carga. Numa distribuição linear como,


por exemplo, um fino filamento carregado, um elemento arbi-
trário de comprimento d` possui uma carga dq. A densidade
linear de carga, λ, ou carga por unidade de comprimento
(C/m), é definida por

dq
λ= e dq = λ d`.
d`
A carga total contida em uma linha de cargas L pode então
ser calculada através da integral
ˆ
q= λ d`.
L

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30 física iii

Se o objeto estiver uniformemente carregado, então λ será


constante e igual à carga total do objeto dividida pelo seu
comprimento total L. Neste caso,
q
λ= , carga linear uniforme.
L

Densidade superficial de carga. Se a carga estiver distri-


buída sobre uma superfície, uma carga dq estará contida em
um elemento de área dA. Define-se a densidade superficial
de carga, σ, ou carga por unidade de área (C/m2 ), como
dq
σ= e dq = σ dA.
dA
A carga total em uma superfície S pode ser calculada através
da integral ˆ
q= σ dA.
S
Em uma distribuição uniforme de carga sobre a superfície, σ
será constante e igual à carga total dividida pela área total,
ou seja
q
σ= , carga superficial uniforme.
A

Densidade volumétrica de carga. Analogamente, podemos


considerar uma carga distribuída num volume, ou seja, uma
carga dq contida em um elemento de volume dV. A densidade
volumétrica de carga, ρ, ou carga por unidade de volume
(C/m3 ), é dada por
dq
ρ= e dq = ρ dV.
dV
A carga total no volume V é dada pela integral
ˆ
q= ρ dV.
V

Se o objeto estiver uniformemente carregado, ρ será cons-


tante, de forma que
q
ρ= , carga volumétrica uniforme.
V

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campo elétrico 31

Alguns exemplos do cálculo do campo elétrico de al-


gumas distribuições contínuas de carga são discutidos nos
tópicos a seguir.

Linha infinita de cargas

A Figura 2.4 mostra uma linha contendo cargas positivas


uniformemente distribuídas ao longo de seu comprimento.
Vamos determinar o módulo do campo elétrico em um ponto
P localizado a uma distância x do ponto médio O da linha.
Assumimos que x é muito menor que o comprimento da
linha e que λ é a densidade linear de cargas.

Figura 2.4: Linha infinita


de cargas.

Definimos um sistema de coordenadas de tal forma


que o eixo y está na direção da linha, com origem no ponto
O. Um segmento da linha dy possui carga dq = λ dy. O
módulo do campo elétrico dE ~ no ponto P produzido por
este elemento de carga (ou pelo segmento da linha) é dado
por:

1 dq 1 λ dy
dE = = ,
4πε0 r2 4πε0 (x2 + y 2 )

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32 física iii

onde r = (x2 + y 2 )1/2 . O vetor dE


~ possui componentes dEx
e dEy , como mostrado na figura, onde

dEx = dE cos θ e dEy = dE sen θ.

Como o ponto O está na metade da linha, a componente y


do campo E
´ será zero, já que haverá contribuições iguais
~
para Ey = dEy acima e abaixo de O:
ˆ
Ey = dE sen θ = 0.

Portanto, temos
ˆ ˆ
λ cos θ dy
Ex = dE cos θ = .
4πε0 (x2 + y 2 )

Substituindo cos θ = x/r = x/ x2 + y 2 , a integral em y


p

resultante deve ser resolvida via o método de substituição


trigonométrica. Assim, é mais fácil reescrever a integral em
termos de θ. Como y = x tan θ, então
dy x dθ
= x sec2 θ ⇒ dy = .
dθ cos2 θ
Além disso, como cos θ = x/ x2 + y 2 , temos que
p

1 cos2 θ
= .
(x2 + y 2 ) x2
A integral acima fica:
ˆ ˆ π/2
λ cos2 θ x dθ λ
Ex = cos θ 2 = cos θ dθ
4πε0 x cos2 θ 4πε0 x −π/2
π/2
λ λ
Ex = sen θ = ,

4πε0 x 2πε0 x
−π/2

onde assumimos que a linha é extremamente longa em ambos


os lados (y → ±∞) que corresponde aos limites θ → ±π/2.
Conforme vimos, o campo aponta apenas na direção
do eixo x, ou seja, em qualquer ponto nas proximidades da

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campo elétrico 33

linha infinita o campo elétrico é perpendicular à linha, como


ilustrado na Figura 2.5. Assim, o campo elétrico produzido
pela linha infinita aponta sempre radialmente para um dado
elemento de carga da linha, isto é, E ~ = Er r̂:

~ = 1 2λ
E r̂.
4πε0 r

Barra finita de cargas

Seja uma barra finita de comprimento ` com densidade linear


Figura 2.5: Linhas de
de carga uniforme λ. Determinaremos as componentes x campo elétrico para uma li-
e y do campo elétrico produzido pela barra em um ponto nha infinita de cargas.
P qualquer, conforme ilustrado na Figura 2.6. Note que
neste caso, contrariamente ao caso da linha infinita, as
componentes horizontais do campo não se anularão.

Figura 2.6: Barra finita de


comprimento ` e densidade
linear de cargas λ.

A barra pode ser decomposta em elementos infinite-


simais de comprimento dx, cada um contendo uma carga
dq = λ dx. A contribuição do campo elétrico devido a cada
elemento é

~ = 1 dq 1 λ dx
dE r̂ = (− sen θı̂ + cos θ ̂),
4πε0 r2 4πε0 (x2 + y 2 )

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34 física iii

onde o vetor unitário r̂ em


p coordenadas cartesianas é r̂ =
− sen θı̂ + cos θ ̂ e r = x2 + y 2 . Podemos escrever as
componentes dEx e dEy do campo como

1 λ dx
dEx = − sen θ
4πε0 (x2 + y 2 )

1 λ dx
dEy = cos θ.
4πε0 (x + y 2 )
2

As integrais se resolvem mais facilmente em função de θ.


Usando as relações

y 1 cos2 θ
cos θ = p ⇒ =
x2 + y 2 x2 + y 2 y2
y
x = y tan θ ⇒ dx = y sec2 θ dθ = dθ
cos2 θ
Substituindo estas relações em dEx , temos

λ cos2 θ y λ 1
dEx = − 2 2
dθ sen θ = − sen θ dθ.
4πε0 y cos θ 4πε0 y
De forma análoga para dEy, temos

1 cos2 θ y 1 1
dEy = dθ cos θ = cos θ dθ.
4πε0 y 2 cos2 θ 4πε0 y
Integrando em θ nos limites correspondentes θ = θ1 até
θ = θ2 , obtemos
ˆ θ2
λ λ
Ex = − sen θ dθ = (cos θ2 − cos θ1 ).
4πε0 y θ1 4πε0 y

ˆ θ2
λ λ
Ey = cos θ dθ = (sen θ2 − sen θ1 ).
4πε0 y θ1 4πε0 y

O campo elétrico total pode ser escrito como


" #
~ = λ
E (cos θ2 − cos θ1 )ı̂ + (sen θ2 − sen θ1 )̂ .
4πε0 y

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campo elétrico 35

Note que este resultado é válido para qualquer linha de


cargas ao longo do eixo x. Por exemplo, se a linha é infi-
nita, θ1 → −π/2 e θ2 → π/2. Como cos(−θ) = + cos θ e
sen(−θ) = − sen θ, o resultado fica

~ = λ λ
E 2 sen(π/2)̂ = ̂,
4πε0 y 2πε0 y

conforme mostrado anteriormente.

Linha de cargas em forma de arco

Considere agora uma linha de cargas curvada na forma de


um arco de raio a. Uma carga negativa está distribuída
uniformemente ao longo do arco com uma densidade linear λ.
O arco subentende um ângulo total 2θ0 , simétrico em relação
ao eixo x, como mostra a Figura 2.7. Vamos determinar o
campo elétrico no ponto P , na origem.

Figura 2.7: Arco de raio a


carregado com uma densi-
dade linear e uniforme de
cargas negativas.

Seja um elemento de comprimento d` = a dθ, que


forma um ângulo θ com o eixo x. A quantidade de cargas
contida neste elemento é dq = λ d` = λa dθ.

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36 física iii

Podemos escrever a contribuição deste elemento de


carga para o campo elétrico no ponto P como:

~ = 1 dq
dE r̂.
4πε0 r2
Escrevendo o vetor unitário em coordenadas cartesianas

r̂ = cos θı̂ + sen θ ̂,

temos

~ = 1 dq 1 λ dθ
dE 2
(cos θı̂+sen θ ̂) = (cos θı̂+sen θ ̂).
4πε0 a 4πε0 a
Integrando em θ, desde −θ0 até +θ0 , obtemos
ˆ +θ0
~ = 1 λ
E dθ(cos θı̂ + sen θ ̂)
4πε0 a −θ0

+θ0
~ = 1 λ
E (sen θı̂ − cos θ ̂)

4πε0 a
−θ0

~ = 1 2λ sen θ0
E ı̂,
4πε0 a
onde usamos as identidades trigonométricas sen(−θ) =
− sen θ e cos(−θ) = + cos θ. Note que o campo elétrico
em P possui apenas a componente na direção x. Se tomar-
mos o limite θ0 → π, o arco torna-se um anel circular. Como
sen π = 0, o campo elétrico no centro do anel será nulo.

Anel de cargas
Seja um anel circular de raio a que possui uma carga total
q, positiva, distribuída uniformemente. O anel está situado
no plano xy, com centro na origem. Vamos calcular o
campo elétrico devido a este anel de cargas em um ponto
P localizado a uma distância z do seu centro ao longo de
um eixo central perpendicular ao plano do anel, conforme
mostrado na Figura 2.8.

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campo elétrico 37

Figura 2.8: Anel de cargas.

O módulo do campo elétrico no ponto P devido a um


segmento de carga dq é

1 dq
dE = .
4πε0 r2

Este campo possui uma componente dEz = dE cos θ ao


longo do eixo z e uma componente dE⊥ perpendicular ao
eixo z. O campo resultante em P deve estar orientado ape-
nas no eixo z já que as componentes perpendiculares de
todos os elementos de carga se cancelarão. Ou seja, a com-
ponente perpendicular do campo criado por um elemento de
carga qualquer é cancelada pela componente perpendicular
criada por um elemento no lado oposto do anel.

Como r = z 2 + a2 e cos θ = z/r, temos que:

1 dq z 1 z dq
dEz = dE cos θ = = .
4πε0 r2 r 4πε0 (z 2 + a2 )3/2

Todos os segmentos do anel possuem a mesma contribuição


para o campo no ponto P pois eles estão à mesma distância
desse ponto. Assim, podemos integrar a expressão acima

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38 física iii

para obter o campo total em P : Uma forma mais elegante


´
de resolver a integral dq é
ˆ ˆ
1 z dq 1 z considerar que um elemento
Ez = = dq. de carga dq ao longo do anel
4πε0 (z 2 + a2 )3/2 4πε0 (z 2 + a2 )3/2 pode ser escrito como
´
Como dq = q e E ~ = Ez k̂, temos dq = λ d` = λa dϕ.

1 qz Assim, integrando ao longo


~ =
E k̂. de todo o anel desde ϕ = 0
4πε0 (z 2 + a2 )3/2 até ϕ = 2π, temos
ˆ ˆ 2π
Este resultado mostra que o campo é zero em z = 0, ou dq = λa dϕ = q,
seja, no centro do anel. Além disso, se z  a, o campo é 0

igual ao produzido por uma carga pontual q. A Figura 2.9 já que λ = q/2πa.
mostra o gráfico de Ez /E0 , onde E0 = q/4πε0 a2 , em função
da distância z normalizada pelo raio do anel.
0,4

Disco uniformemente carregado 0,2

Na Figura 2.10, uma quantidade de carga elétrica está dis-


-4 -2 0 2 4
tribuída uniformemente sobre um disco circular de raio a.
-0,2
A carga por unidade de área (C/m2 ) é σ. Vamos calcular
o campo elétrico em um ponto P sobre o eixo do disco, a -0,4

uma distância z acima do seu centro.


Figura 2.9: Gráfico do
Podemos imaginar o disco como um conjunto de anéis campo elétrico produzido
concêntricos, de forma que é possível aplicar o resultado por um anel de cargas em
função da distância z nor-
malizada pelo raio do anel.
Figura 2.10: Disco unifor-
memente carregado.

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campo elétrico 39

obtido anteriormente para o caso de um anel carregado e


integrar ao longo do seu raio a, somando as contribuições
de infinitos elementos de carga na forma de anéis.
Para um anel de raio r0 mostrado na Figura 2.10, o
campo elétrico na direção z possui módulo:
1 z dq
dEz = ,
4πε0 (z + r02 )3/2
2

onde escrevemos dEz (ao invés de Ez ) para este fino anel de


carga total dq. O anel possui uma área dA = (dr0 )(2πr0 ) e,
portanto, uma densidade superficial de carga σ = dq/(2πr0 dr0 ).
Logo, temos que dq = σ2πr0 dr0 . Substituindo na expressão
acima para dEz , temos:
1 z σ2πr0 dr0 zσr0 dr0
dEz = = .
4πε0 (z 2 + r02 )3/2 2ε0 (z 2 + r02 )3/2
Integrando sobre todos os anéis, desde r0 = 0 até r0 = a,
temos ˆ
zσ a r0 dr0
Ez =
2ε0 0 (z 2 + r02 )3/2
Resolvemos esta integral fazendo u = z 2 + r02 , du = 2r0 dr0 ,
com limites u = z 2 (para r0 = 0) e u = z 2 + a2 (para r0 = a):
ˆ z 2 +a2
z2 +a2
zσ du zσ u−1/2
Ez = =
4ε0 u3/2 4ε0 (−1/2) 2

z2
z
" # " #
zσ 1 1 σ z z
Ez = − − = −√ .
2ε0 (z 2 + a2 )1/2 (z 2 )1/2 2ε0 |z| z 2 + a2
Podemos escrever este resultado assumindo os dois valores
possíveis para z, z > 0 e z < 0, em termos vetoriais
 " #
σ z
1− √


 k̂, z>0
 2ε0

 z 2 + a2

~ =
E (2.3)

 " #
 σ z
−1− √


 k̂, z < 0
2ε0 z + a2
2

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40 física iii

Esta expressão representa o valor de E ~ em qualquer ponto


1
z ao longo do eixo do disco. Se q (e σ) são positivos, E ~
aponta para fora do disco; se q (e σ) são negativos, E aponta
~ 0,5

em direção ao disco. Na Figura 2.11 é mostrado o gráfico


de Ez /E0 , onde E0 = σ/2ε0 , em função da distância z -2 0 2
normalizada pelo raio do disco. -0,5

-1

Disco uniformemente carregado em coordenadas polares


Figura 2.11: Gráfico do
Uma outra forma para se calcular o campo elétrico produzido campo elétrico produzido
pelo disco é através do uso de coordenadas polares, que por um disco carregado em
função da distância z nor-
são apropriadas para a geometria do problema conforme malizada pelo raio do disco.
ilustrado na Figura 2.12. Assim, consideramos que o disco
está localizado no plano com coordenadas (ρ, ϕ), associadas
aos vetores unitários (ρ̂, ϕ̂). O ponto P está localizado ao
longo do eixo z perpendicular ao disco, passando pelo seu
centro, de forma que cada ponto no disco possui coordenada
z = 0 e P = (0, 0, z). Os vetores unitários neste sistema
estão relacionados pela expressão: k̂ = ρ̂ × ϕ̂.

Figura 2.12: Geometria de


um disco uniformemente
carregado em coordenadas
polares.

Um elemento de carga dq está localizado a uma dis-


tância ρ da origem, de modo que podemos escrevê-lo em

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campo elétrico 41

termos da densidade superficial de carga, σ, como

dq = σ dA = σ ρ dϕ dρ.

O vetor ~r que aponta do elemento de carga até o ponto P é


dado por
~r = −ρρ̂ + z k̂,
cujo módulo, que dá a distância do elemento até o ponto, é

r = (z 2 + ρ2 )1/2 .

Logo, o vetor unitário r̂ que dá a direção do campo elétrico


produzido pelo elemento dq no ponto P pode ser escrito
como
~r ρ z
r̂ = =− 2 2 1/2
ρ̂ + 2 k̂.
r (z + ρ ) (z + ρ2 )1/2

A contribuição de dq para o campo elétrico no ponto P é


dada por
 
~ = 1 dq r̂ = 1 dq −
dE
ρ
ρ̂ +
z

4πε0 r2 4πε0 r2 (z 2 + ρ2 )1/2 (z 2 + ρ2 )1/2
 
~ = 1 σ ρ dϕ dρ ρ z
dE − ρ̂ + 2 k̂
4πε0 (z 2 + ρ2 ) (z 2 + ρ2 )1/2 (z + ρ2 )1/2
O campo elétrico total é obtido integrando-se esta expressão
nos intervalos apropriados para cobrir toda a superfície do
disco:
ˆ a ˆ 2π ˆ a ˆ 2π
~ 1 σ ρ2 dϕ dρ 1 zσ ρ dϕ dρ
E=− ρ̂ + k̂.
4πε0 0 0 (z 2 + ρ2 )3/2 4πε0 0 0 (z 2 + ρ2 )3/2
ˆ a ˆ 2π ˆ a ˆ 2π
~ =− 1 σ ρ2 dρ 1 zσ ρ dρ
E ρ̂ dϕ + k̂ dϕ.
4πε0 0 (z + ρ2 )3/2
2
0 4πε0 0 (z + ρ2 )3/2
2
0

As integrais angulares em dϕ ficam


ˆ 2π ˆ 2π
ρ̂ dϕ = 0 ρ̂ e k̂ dϕ = 2π k̂.
0 0

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42 física iii

A primeira se anula pois ρ̂ = cos ϕı̂+sen ϕ ̂. Note que neste


caso o campo elétrico produzido pelo disco possui apenas
a componente vertical na direção k̂ (por exemplo, veja a
discussão anterior para o caso do anel).
A expressão para o campo elétrico do disco fica
ˆ a
~ 1 zσ ρ dρ
E= k̂.
2ε0 0 (z 2 + ρ2 )3/2

Resolvendo esta integral fazendo u = z 2 + ρ2 , du = 2ρ dρ,


com limites u = z 2 (para ρ = 0) e u = z 2 + a2 (para ρ = a),
temos " #
~ σ z z
E= −√ k̂.
2ε0 |z| z 2 + a2

Plano infinito não-condutor


Se o raio do disco é muito maior que a distância do ponto
P ao disco, isto é, se z  a, temos a configuração de um
“plano infinito”. Neste caso, o segundo termo da equação 2.3
torna-se desprezível, de forma que para um plano infinito
temos:

~ = σ n̂,
E Figura 2.13: Gráfico do
2ε0 campo elétrico E em fun-
ção de z para um plano in-
onde n̂ é um vetor normal (perpendicular) ao plano
finito com densidade super-
infinito. A Figura 2.13 mostra o gráfico do campo elétrico ficial de cargas σ.
produzido pelo plano infinito não-condutor.
Este resultado é válido para qualquer ponto acima (ou
abaixo) de um plano infinito de qualquer formato que possui
uma densidade superficial de cargas σ. Ele também é válido
para pontos próximos de um plano finito, desde que o ponto
esteja suficientemente próximo do plano comparado com
sua distância para as bordas do plano. Assim, o campo
nas proximidades de um plano carregado uniformemente
é constante, e dirigido para fora do plano se a carga for
positiva.

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campo elétrico 43

Distribuição esférica de cargas

Considere uma esfera não-condutora carregada de raio a


com uma densidade volumétrica de carga ρ uniforme. Deter-
minaremos o campo elétrico produzido por esta distribuição
de cargas no exterior da esfera (r > a) e dentro da esfera
(r < a). Para este fim, podemos aplicar o teorema das
cascas esféricas.

Teorema das cascas esféricas. Na mecânica clássica, este


teorema simplifica o cálculo do campo gravitacional de cor-
pos com simetria esférica e foi provado pela primeira vez
por Isaac Newton. De forma análoga, ele também pode
ser aplicado para o cálculo do campo elétrico. No caso
eletrostático, este teorema afirma que:

• Um corpo carregado com simetria esférica afeta objetos


externos como se toda a sua carga estivesse concentrada
em um único ponto no seu centro;

• Uma casca esférica carregada (esfera oca) não exerce


força elétrica no seu interior.

Assim, vamos determinar a carga elétrica total, qtotal , con-


tida no interior de um dado raio, e o campo elétrico será
dado pela expressão do campo elétrico produzido por uma
carga pontual qtotal , como se toda a carga da esfera estivesse
concentrada em um ponto no centro da esfera.

Elemento de volume. Para uma distribuição esférica de


cargas, é mais sensato adotar o sistema de coordenadas
esféricas ao invés do cartesiano (veja a Figura 2.14). A
carga total é dada por

ˆ
qtotal = ρ dV.
V Figura 2.14: Sistema de
coordenadas esféricas:
© 2018 Abílio Mateus Jr. (r, θ, ϕ).
44 física iii

O elemento de volume dV em coordenadas esféricas pode


ser escrito como

dV = r2 sen θ dθ dϕ dr.

Campo fora da esfera (r > a). Substituindo a expressão


para o elemento de volume e expandindo a integral sobre
todo o volume da esfera, temos
ˆ a ˆ 2π ˆ π
qtotal = ρr2 sen θ dθ dϕ dr.
0 0 0

Note que o intervalo de integração em r vai de 0 a a. Resol-


vendo as integrais para dϕ e dθ, obtemos
ˆ a
qtotal = 4π ρr2 dr.
0

Considerando ρ constante e resolvendo a integral em r,


temos ˆ a
4
qtotal = 4πρ r2 dr = πρa3 .
0 3
O campo elétrico agora pode ser facilmente obtido
usando a mesma expressão para o campo produzido por
uma carga pontual de módulo qtotal :
4 3
~ = 1 qtotal 1 3 πρa
E r̂ = r̂
4πε0 r2 4πε0 r2
3
~ = ρ a r̂,
E (r > a).
3ε0 r 2

Campo no interior da esfera (r < a). Neste caso, a carga


total no interior da esfera é dada por
ˆ r ˆ 2π ˆ π
qtotal = ρr2 sen θ dθ dϕ dr.
0 0 0

Note agora que o limite de integração para a coordenada


radial vai até r, já que a carga que contribui para o campo

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campo elétrico 45

elétrico, de acordo com o teorema das cascas esféricas, é


apenas aquela contida na esfera de raio r. Resolvendo,
obtemos
ˆ r ˆ r
4
qtotal = 4π ρr2 dr = 4πρ r2 dr = πρr3 .
0 0 3

Novamente, o campo elétrico é equivalente ao produzido por


uma carga pontual qtotal localizada no centro da esfera:

4
1 q 1 πρr3
~
E=
total
r̂ = 3 r̂
4πε0 r2 4πε0 r2

~ = ρr r̂,
E (r < a).
3ε0
Já que a densidade de carga é uniforme, a carga total
4
na esfera é Q = ρV, onde V = πa3 é o volume total da
3
esfera. Assim, podemos reescrever as expressões para o
campo elétrico em função de Q, como

1 Q

 r̂, r>a
 4πε0 r2


~ =
E (2.4)
1 Qr


r̂, r < a


4πε0 a3

2.3 Carga puntiforme em um campo elétrico

Uma partícula de carga q em um campo elétrico E


~ experi-
menta uma força F dada por
~

F~ = q E.
~ (2.5)

Para estudar o movimento da partícula no campo elétrico,


tudo o que precisamos fazer é usar a segunda lei de Newton,
F = m~a, onde a força resultante sobre a partícula inclui
P~

a força elétrica e quaisquer outras forças que possam estar

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46 física iii

atuando. A aceleração da partícula, quando apenas a força


elétrica atua sobre ela, é
~
qE
~a = .
m
Se E~ é uniforme (isto é, constante em magnitude e direção),
a aceleração é constante. Se a partícula possui carga positiva,
sua aceleração está na direção do campo. Se a carga for
negativa, sua aceleração é na direção oposta ao campo
elétrico.
+ –

Exemplo: uma carga positiva acelerada


+ –

Uma partícula com carga positiva q e massa m parte do


repouso em um campo elétrico uniforme E
~ dirigido ao longo + –
+ +
do eixo x, como mostra a Figura 2.15.
+ –
Desprezando a força gravitacional, a aceleração da
partícula é constante e é dada por q E/m,
~ portanto ela + –
descreverá um movimento linear simples ao longo do eixo x.
Considerando as equações de cinemática em uma dimensão, + –

podemos descrever seu movimento:


Figura 2.15: Uma partícula
xf = xi + vi t + 21 at2 com carga positiva q move-
se na mesma direção de um
vf = vi + at campo elétrico uniforme.

vf2 = vi2 + 2a(xf − xi )


Escolhendo xi = 0 e vi = 0, temos:
qE 2
xf = 12 at2 =
t
2m
qE
vf = at = t
m
 
2 2qE
vf = 2axf = xf
m
A energia cinética da partícula após ela ter percorrido uma
distância x = xf − xi é
 
2qE
K = 21 mv 2 = 21 m x = qEx
m

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campo elétrico 47

2.4 Um dipolo em um campo elétrico

Considere um dipolo elétrico colocado em um campo elétrico


uniforme E,
~ como mostra a Figura 2.16.

Figura 2.16: Um dipolo elé-


trico num campo elétrico
+ uniforme.

As forças F~+ e F~− sobre as duas cargas possuem mag-


nitude qE, mas têm direções opostas. Logo, a força líquida
atuando sobre um dipolo num campo elétrico uniforme é
nula: F~ = F~+ + F~− = 0. Porém, as duas forças não atuam
ao longo da mesma linha, de forma que seus torques não se
cancelarão. O torque total em relação ao centro do dipolo é

~τ = ~r+ × F~+ + ~r− × F~−


d d d d
~τ = ( cos θı̂+ sen θ ̂)×(Fı̂)+(− cos θı̂− sen θ ̂)×(−Fı̂)
2 2 2 2
d d
~τ = F sen θ(−k̂) + F sen θ(−k̂) = dF sen θ(−k̂),
2 2
onde usamos F+ = F− = F . A direção do torque é −k̂,
entrando na página. O efeito do torque ~τ é girar o dipolo
no sentido horário de forma que ele fique alinhado com o
campo elétrico E.
~ Como F = qE, a magnitude do torque
pode ser escrita como

τ = d(qE) sen θ = (qd)E sen θ.

Como vimos, o módulo do momento de dipolo elétrico


é igual à carga vezes a separação:

p = qd.

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48 física iii

Por exemplo, para a molécula de água p = 6,13 × 10−30 C·m.


Mas o momento de dipolo elétrico é um vetor, cuja direção
é definida como sempre apontando da partícula negativa
para a positiva, como mostra a Figura 2.17. Em termos de
p, o torque sobre o dipolo fica

τ = pE sen θ.
Em termos vetoriais, podemos escrever o torque em termos
do produto vetorial entre p~ e E:
~ Figura 2.17: A molécula da
água é um exemplo de um
~ dipolo elétrico. O momento
~τ = p~ × E.
de dipolo é a resultante da
soma dos momentos p ~1 e p
~2 :
O torque sempre tende a alinhar o momento de dipolo p
~=p ~1 + p~2 .
elétrico na mesma direção do campo elétrico externo.

Energia potencial de um dipolo elétrico


O trabalho realizado pelo campo elétrico para girar o dipolo
por um ângulo dθ é

dW = −τ dθ = −pE sen θdθ.

O sinal negativo indica que o torque se opõe a qualquer


incremento em θ. Portanto, o trabalho total feito pelo
campo elétrico para girar o dipolo de um ângulo θ0 para um
ângulo θ é
ˆ θ
W = (−pE sen θ)dθ = pE(cos θ − cos θ0 ).
θ0

Este resultado mostra que um trabalho positivo é feito


pelo campo quando cos θ > cos θ0 . A variação de energia
potencial ∆U do dipolo é o negativo do trabalho feito pelo
campo:

∆U = U − U0 = −W = −pE(cos θ − cos θ0 ),

onde U0 = −pE cos θ0 é a energia potencial num ponto de


referência, que podemos escolher como sendo o ponto onde

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campo elétrico 49

θ0 = π/2 de forma que a energia potencial é nula, U0 = 0.


Assim, na presença de um campo externo, o dipolo elétrico
tem uma energia potencial

U = −pE cos θ = −~ ~
p · E.

Um sistema está em equilíbrio estável quando sua energia


potencial é mínima. Isto ocorre quando o momento de
dipolo p~ está alinhado paralelamente ao campo E,
~ fazendo
a energia potencial ser mínima com Umin = −pE. Quando
p~ e E
~ são paralelos mas apontam em sentidos opostos, a
energia potencial é máxima, Umax = +pE, e o sistema fica
instável.

EEE

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50 física iii

Problemas propostos
Níveis de dificuldade:
P2.1 ˜ Duas cargas pontuais . Duas cargas puntiformes estão
localizadas sobre o eixo x. A primeira possui uma carga š – de boa na lagoa;
+Q em x = −a. A segunda possui uma carga desconhecida ˜ – mais fácil que capi-
localizada em x = +3a. O campo elétrico na origem possui nar um lote;
módulo E = 2kQ/a2 . Quais são os dois possíveis valores da – – corram para as coli-
carga desconhecida? nas!

P2.2 ˜ Três cargas pontuais . Na Figura 2.18, as três partí-


culas são mantidas fixas em suas posições e possuem cargas
q1 = q2 = +e e q3 = +2e. Escreva uma expressão vetorial
para o campo elétrico no ponto P .

Figura 2.18: Problema 2.2.

P2.3 ˜ Dipolo elétrico . Considere o dipolo elétrico mostrado


na Figura 2.19. Mostre que o módulo do campo elétrico ao
longo do eixo x para pontos muito distantes da origem é
dado pela expressão
1 4aq
E' .
4πε0 x3

P2.4 ˜ Equilíbrio eletrostático . Uma pequena esfera carre-


gada de massa m = 1,00 g é suspensa por um fio na presença
de um campo elétrico uniforme, como mostra a Figura 2.20.
Quando E ~ = (3,00 × 105 ı̂ + 5,00 × 105 ̂) N/C, a esfera fica

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campo elétrico 51

Figura 2.19: Problema 2.3.

+

em equilíbrio formando um ângulo θ = 37,0◦ com a vertical.


Encontre (a) a carga q da esfera e (b) a tensão no fio.

Figura 2.20: Problema 2.4.

P2.5 ˜ Princípio da superposição . Uma linha infinitamente


longa de cargas tem densidade linear uniforme igual a
−1,50 µC/m e é paralela ao eixo y em x = −2,00 m. Uma
carga puntiforme positiva igual a 1,30 µC está localizada
em x = 1,00 m, y = 2,00 m. Determine o campo elétrico
em x = 2,00 m, y = 1,50 m.

P2.6 ˜ Anel de cargas . Na Figura 2.21, duas barras finas


de plástico, uma de carga +q e a outra de carga −q, formam
um anel de raio a no plano xy. Um eixo x passa pelos
pontos que unem as duas barras e a carga em cada uma
delas está uniformemente distribuída. Determine o campo
elétrico E
~ criado no centro do anel.

P2.7 ˜ Anel de cargas . Um anel de raio a tem uma dis-


tribuição de cargas que varia como λ(θ) = λ0 sen θ, como

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52 física iii

Figura 2.21: Problema 2.6.

mostra a Figura 2.22. Determine o campo elétrico no centro


do anel.

Figura 2.22: Problema 2.7.

P2.8 ˜ Linha infinita . Uma linha contínua de carga encontra-


se ao longo do eixo x, estendendo-se de x = +x0 até o infinito
positivo. A linha é carregada com uma carga positiva dis-
tribuída uniformemente ao longo de toda sua extensão com
uma densidade linear λ0 . Determine o campo elétrico E ~ na
origem?

P2.9 ˜ Disco carregado . Um disco de plástico de raio


a possui uma densidade superficial de carga uniforme σ.
Encontre a distância ao longo do seu eixo central na qual o

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campo elétrico 53

módulo do campo elétrico é igual à metade do módulo do


campo no centro do disco?

P2.10 ˜ Barra finita . Na Figura 2.23, uma carga positiva


q está distribuída uniformemente em uma barra fina, não-
condutora, de comprimento `. Mostre que o campo elétrico
de um ponto P situado ao longo da mediatriz da barra é
dado por
~ = q
E
1
̂.
2πε0 y (` + 4y 2 )1/2
2

Figura 2.23: Problema


2.10.

P2.11 – Casca cilíndrica carregada . Uma casca cilíndrica


uniformemente carregada de raio a e altura h possui uma
carga total Q. Determine o campo elétrico em um ponto
P localizado a uma distância z da base inferior do cilindro,
como mostra a Figura 2.24.

P2.12 – Cilindro carregado . Se agora temos um cilindro


sólido de raio a e altura h com uma carga Q distribuída
uniformemente ao longo de todo seu volume. Determine o
campo elétrico no ponto P mostrado na Figura 2.24.

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54 física iii

Figura 2.24: Problemas


2.11 e 2.12.

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3
Lei de Gauss

A lei de Gauss para o campo elétrico — uma das equações


fundamentais do eletromagnetismo — é uma consequência
direta da aplicação do chamado teorema da divergência, que
relaciona a “quantidade” de campo que atravessa uma dada
superfície com o comportamento do campo no interior do
volume limitado pela superfície.
O desenvolvimento do teorema da divergência é atri-
1
Green G., An Essay on
the Application of Mathe-
buído a três matemáticos. George Green (1793–1841) publi- matical Analysis to the
cou um trabalho em 1828 que continha um caso particular Theories of Electricity and
deste teorema,1 relacionando integrais de volume com inte- Magnetism. Nottingham,
1828
grais de superfície. Carl Friedrich Gauss (1777–1855), em
um artigo publicado em 1813,2 não definiu de forma explí- 2
Gauss C. F., Theoria at-
cita o teorema da divergência, mas a sua prova apresentada tractionis corporum sphae-
por James C. Maxwell em 1873 segue as ideias de Gauss. roidicorum ellipticorum ho-
Por outro lado, Mikhail V. Ostrogradsky (1801–1862), em mogeneorum methodo nova
tractata, Commentationes
um trabalho apresentado em 1828 e publicado em 1831,3 societatis regiae scientia-
introduziu o teorema assim como sua prova, utilizando uma rium Gottingensis recenti-
abordagem similar àquela utilizada por Gauss e Maxwell. ores, 1813, v. 2, p. 355–378

A aplicação da lei de Gauss no eletromagnetismo nos 3


Ostrogradski M., Pre-
permite determinar o campo elétrico produzido por uma mière note sur la théorie
de la chaleur , Mémoires de
dada distribuição de cargas. Para isto, inicialmente precisa- l’Académie impériale des
mos discutir os conceitos de superfície gaussiana, fluxo de sciences de St.-Pétersbourg,
um campo vetorial e simetria na distribuição de cargas. 1831, v. 1, p. 129–138
56 física iii

3.1 Superfície gaussiana

A lei de Gauss fornece um outro modo de descrever o campo


elétrico criado por uma distribuição de cargas através da
definição de uma superfície fechada hipotética, que delimita
o volume ocupado pelas cargas; daqui em diante esta su-
perfície será referida por superfície gaussiana. Ela pode
ter a forma que desejarmos, mas será de maior utilidade se
escolhermos uma superfície adequada para a simetria de um
dado problema.
A superfície gaussiana geralmente terá uma forma
geométrica simples, como uma esfera para simetrias esféricas,
um cilindro para simetrias cilíndricas e planares, um cubo
ou um bloco retangular para simetria planar. Além disso, a
superfície gaussiana sempre deve ser fechada, de modo que
podemos distinguir quaisquer pontos que estejam dentro da
superfície, sobre a superfície ou fora da superfície.
Veremos que a lei de Gauss relaciona o campo elétrico
que atravessa uma superfície gaussiana produzido por uma
distribuição de cargas localizadas no interior da superfície.
Mas como quantificar, ou medir, o campo elétrico que atra-
vessa uma superfície gaussiana? A resposta desta questão
surge com a definição de um novo conceito, o fluxo de um
campo vetorial.

3.2 Fluxo de um campo vetorial

Antes de discutirmos a lei de Gauss, devemos entender o


conceito de fluxo, que é uma propriedade de qualquer campo
vetorial.
Seja um campo vetorial qualquer, como a corrente de
ar de velocidade constante e módulo v fluindo em direção a
uma janela aberta de área A. Podemos definir um fluxo de Figura 3.1: Exemplos de
ar, Φ, isto é, a taxa pela qual o ar escoa pelo plano da janela. campo vetorial, represen-
tado por linhas de campo,
Este fluxo vai depender do módulo de ~v , do tamanho da área atravessando diferentes su-
A e também do ângulo entre o vetor ~v e o plano da janela, perfícies abertas.

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lei de gauss 57

conforme mostra a Figura 3.1. Quando ~v é perpendicular


ao plano, o módulo do fluxo é igual a vA; se for paralelo, o
fluxo é nulo. Para ângulos intermediários, o fluxo Φ depende
da componente de ~v que é perpendicular ao plano, ou seja
Φ = (v cos θ)A. (3.1)

Em termos vetoriais, a expressão acima se simplifica


se considerarmos um vetor unitário, n̂, cuja direção é per-
pendicular (normal) ao plano da área.4 Assim, podemos 4
Em alguns livros-texto, é
reescrever a equação 3.1 como o produto escalar entre o comum encontrar a defini-
ção de um vetor área, A
~=
vetor velocidade ~v da corrente de ar e o vetor normal n̂, An̂, que possui módulo A
multiplicado pela área A: e direção dada pelo vetor
normal n̂.
Φ = vA cos θ = ~v · n̂ A. (3.2)
Note que o produto escalar implica que consideramos para
o cálculo do fluxo apenas a componente do campo vetorial
que é perpendicular à área em questão. O fluxo pode ser
interpretado como a quantidade de campo que uma área
intercepta, podendo ser generalizado para qualquer campo
vetorial. É importante notar que o fluxo é um escalar e
pode ser positivo (0 ≤ θ < π/2), negativo (π/2 < θ ≤ π) ou
nulo (θ = π/2).
Considere agora uma superfície aberta S com forma
arbitrária e área A. Por exemplo, imagine que agora a janela
está deformada de maneira que em cada ponto sobre a sua
superfície o vetor normal n̂ aponta para uma direção dife-
rente. Neste caso, podemos dividir a superfície em pequenos
elementos de área ∆A, pequenos o suficiente para desprezar
qualquer curvatura. Cada elemento de área pode ser repre-
sentado por um respectivo vetor unitário n̂. Como estes
elementos de área são suficientemente pequenos, podemos
considerar que o campo de velocidades ~v é constante através
deles. Os vetores n̂ e ~v , para cada elemento de área, fazem
entre si um ângulo θ. O fluxo total do campo vetorial que
atravessa a superfície aberta S pode ser escrito como
X
Φ= ~v · n̂ ∆Ai , (3.3)
i

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58 física iii

onde somamos as contribuições do fluxo sobre todos os


elementos de área ∆Ai . Se tomamos o limite para ∆A → 0,
o elemento de área se aproxima de um limite diferencial dA
e a soma da equação 3.3 se transforma em uma integral
(dupla) que deve ser feita sobre toda a superfície S:

¨
Φ= ~v · n̂ dA. (3.4)

Para uma superfície fechada (gaussiana), realizamos


o mesmo procedimento. A diferença é que agora o vetor
normal, n̂, é definido como sempre apontando para fora da
superfície. O fluxo do campo vetorial ~v através da superfície Figura 3.2: Campo veto-
rial atravessando superfí-
fechada S é igual à integral fechada de ~v · n̂ dA, ou seja cies gaussianas. Nestes ca-
sos, o fluxo total é nulo.
˛
Φ= ~v · n̂ dA. (3.5)
S

Esta relação é válida para qualquer campo vetorial, como


é o caso do campo elétrico E.~ Note que, por comodidade,
usamos uma ¸ integral simples ao invés de uma integral dupla;
o símbolo S indica que a integral deve ser feita sobre toda
a superfície fechada. Por exemplo, se S possui a forma de
uma esfera, a integral deve ser feita sobre toda a superfície
esférica. Se S for um cubo, como ilustrado na Figura 3.2,
a integral fechada pode ser escrita como a soma de seis
integrais, uma para cada superfície do cubo.

Exemplo 3.1: Fluxo através de um cilindro


Vamos determinar o fluxo de um campo vetorial uniforme que
atravessa uma superfície cilíndrica, como ilustrado na Figura 3.3.

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lei de gauss 59

Figura 3.3: Campo vetorial uniforme atravessando uma superfície


cilíndrica.

¸
Neste caso, para resolver a integral de superfície S ~v · n̂ dA
devemos decompô-la em três integrais, uma para cada superfície
do cilindro:
˛ ˆ ˆ ˆ
Φ= ~v · n̂ dA = ~v · n̂ dA + ~v · n̂ dA + ~v · n̂ dA.
S S1 S2 S3

Como para a superfície S3 o vetor ~v é perpendicular ao vetor


unitário n̂, a terceira integral se anula. Para S1 , ~v · n̂ = −v e
para S2 , ~v · n̂ = v. Assim, o fluxo fica
ˆ ˆ ˆ ˆ
Φ=− v dA + v dA = −v dA + v dA,
S1 S2 S1 S2

onde usamos o fato de que o campo é uniforme (constante). A


integral de dA é a própria área A das superfícies S1 e S2 , logo

Φ = −vA + vA = 0.

Portanto, o fluxo do campo vetorial uniforme ~v que atravessa a


superfície cilíndrica é nulo. Isto também é válido para qualquer
campo que atravessa uma superfície fechada, já que não há
“fontes” de campo no interior da superfície.

3.3 A lei de Gauss para o campo elétrico

Fluxo de uma carga pontual. Seja uma carga elétrica pon-


tual q isolada no espaço. O fluxo do campo elétrico, ΦE ,

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60 física iii

produzido por esta carga através de uma superfície S qual-


quer é dado pela integral
˛
ΦE = ~ · n̂ dA.
E
S

Inicialmente, vamos considerar o caso mais simples de uma


superfície gaussiana esférica de raio r, centrada na carga q,
como mostra a Figura 3.4. O campo elétrico em qualquer
ponto sobre a superfície é
+

~ = 1 q r̂.
E
4πε0 r2
O fluxo do campo elétrico através de toda a superfície fe-
Figura 3.4: Uma superfície
chada é obtido pela integral
gaussiana esférica de raio r
˛ ˛
1 q envolve uma carga pontual
ΦE = E~ · n̂ dA = r̂ · n̂ dA. q. O vetor campo elétrico
2
S S 4πε0 r é paralelo ao vetor área em
O vetor unitário normal à superfície da esfera coincide com todos os pontos sobre a su-
perfície.
o vetor unitário r̂ que representa a direção radial, ou seja

n̂ = r̂ ⇒ r̂ · n̂ = 1.

Note também que a distância radial r é constante para todos


os elementos de área na superfície esférica. Assim, temos
˛ ˛
~ · n̂ dA = q
ΦE = E dA.
S 4πε0 r2 S
O elemento de área em coordenadas esféricas é escrito como

dA = r2 sen θ dθdϕ.

Logo ˛ ˆ ˆ ˆ
2π π r
dA = r2 sen θ dθdϕ
S 0 0 0
˛
dA = 4πr2 ,
S
que obviamente é a área da superfície gaussiana esférica de
raio r. Assim,
˛
~ · n̂ dA = q q
ΦE = E 2
(4πr2 ) = .
S 4πε0 r ε 0

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lei de gauss 61

Portanto, o fluxo elétrico através da esfera é proporcional


à carga no seu interior e independe do raio da superfície.
Se traçarmos várias superfícies esféricas concêntricas com
centro na carga q, o fluxo através de todas elas é o mesmo
e igual a q/ε0 . Cabe ressaltar que o fluxo do campo elétrico
é um escalar e sua unidade SI é o N·m2 /C.

Generalização para qualquer superfície. Considere agora


uma carga q no interior de uma superfície fechada de forma
arbitrária, como mostra a Figura 3.5. O fluxo total do
campo elétrico através da superfície é dado por: +

˛ ˛ ˛
~ · n̂ dA = q q r̂ · n̂
ΦE = E r̂ · n̂ dA = dA.
S S 4πε0 r2 4πε0 S r2 Figura 3.5: Uma superfície
fechada de forma arbitrária
A quantidade r̂ · n̂ dA corresponde à projeção do elemento
envolve uma carga pontual
de área dA em um plano perpendicular à direção radial r̂, a q. O fluxo elétrico líquido
partir de um ponto de origem situado a uma distância r de independe da forma da su-
dA. Esta área projetada, dividida por r2 , define o ângulo perfície.

sólido subentendido por dA, representado por dΩ e ilustrado


na Figura 3.6. A unidade de ângulo sólido é o esterradiano 5
Veja uma boa discussão
sobre ângulo sólido na seção
ou esferorradiano (símbolo sr).5 O ângulo sólido é o equiva-
3.4 de Nussenzveig (1997).
lente tridimensional do ângulo plano, expresso em radianos,
em duas dimensões. Para uma esfera,6 o ângulo sólido total, 6
Em coordenadas esféricas,
em esterradianos, é dado por podemos escrever o ângulo
sólido na forma diferencial
˛ ˛ como:
r̂ · n̂ 4πr2
dΩ = dA = = 4π sr.
r2 r2 dΩ = sen θ dθdϕ.
Integrando sobre toda a su-
Este resultado é válido para qualquer superfície fechada
perfície obtemos o ângulo
desde que o ponto de origem esteja no interior da superfície. sólido total correspondente
A Figura 3.7 mostra dois casos nos quais o elemento de ¨
ângulo sólido “corta” uma superfície fechada mais de uma Ω= sen θ dθdϕ.
S
vez, estando a carga elétrica (a) interna ou (b) externa à Por exemplo, para uma es-
superfície. É fácil verificar que nas situações em que há um fera, temos
número par de intersecções, como para a carga localizada ˆ 2π ˆ π
Ω= dϕ sen θ dθ
fora da superfície, o ângulo sólido total será nulo, e por 0 0
conseguinte o fluxo do campo elétrico. h iπ
Ω = 2π − cos θ = 4π.
0

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62 física iii

Figura 3.6: O ele-


mento de área dA
subtende um ângulo sólido
dΩ = (dA cos θ)/r2 na
posição da carga q.

Assim, para cargas elétricas localizadas no interior de


uma superfície fechada, o ângulo sólido total ao redor de
um ponto é 4π e temos que:
˛
q q q
ΦE = dΩ = (4π) = .
4πε0 S 4πε0 ε0
Este resultado é o mesmo que encontramos anteriormente
para uma superfície esférica centrada na carga. Ele é válido
para qualquer superfície fechada e independe da posição da
carga no interior da superfície. Se uma carga elétrica está
fora da superfície fechada, o fluxo elétrico é zero, já que o
fluxo que entra na superfície se iguala ao fluxo que sai.

Princípio da superposição. Considere agora uma superfície


gaussiana S que envolve N cargas pontuais, q1 , q2 ,. . ., qN .
O campo produzido por cada carga é E ~ 1, E
~ 2 ,. . ., E
~ N , de
forma que pelo princípio da superposição o campo total Figura 3.7: Elemento de ân-
produzido por este conjunto de cargas é dado pela soma gulo sólido que corta a su-
vetorial dos campos individuais: perfície S mais de uma vez
(a) para uma carga no inte-
~ =E
E ~1 + E
~2 + · · · + E
~N . rior da superfície e (b) para
uma carga fora de S.
O fluxo elétrico devido a todas as cargas envoltas pela
superfície gaussiana é dado por
˛
ΦE = (E ~1 +E ~ N ) · n̂ dA = (q1 + q2 + · · · + qN ) ,
~2 +· · ·+E
S ε0

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lei de gauss 63

Dessa forma, podemos definir a lei de Gauss que relaciona


o fluxo (total) ΦE de um campo elétrico através de uma
superfície fechada e a carga líquida qin que está envolvida por
essa superfície, isto é, a carga total no interior da superfície:
˛
ΦE = ~ · n̂ dA = qin ,
E
S ε0
onde a carga líquida qin é a soma algébrica de todas as cargas
positivas e negativas envolvidas pela superfície gaussiana
X
qin = q1 + q2 + · · · + qN = qi .
dentro
de S

Quando qin é positiva, o fluxo líquido está saindo da super-


fície (para fora); se qin é negativa, o fluxo é para dentro.
Cargas fora da superfície não são consideradas.
De uma forma geral, para uma distribuição contínua
de cargas qualquer podemos utilizar o conceito de densidade
de cargas para escrever a quantidade de carga elétrica no
interior do volume V limitado pela superfície gaussiana S.
Assim, a lei de Gauss pode ser escrita como
˛ ˆ
~ 1
E · n̂ dA = ρ dV.
S ε0 V
¸
Cabe ressaltar que, por simplicidade da´ notação, a S re-
presenta uma integral dupla, enquanto V representa uma
integral tripla.

Simetria. Na próxima seção, veremos que o cálculo do


campo elétrico a partir da aplicação da lei de Gauss torna-se
uma tarefa matemática bem simples se as distribuições de
cargas elétricas apresentarem simetria.
Em termos geométricos, se um objeto mantém uma
ou mais propriedades mesmo após ter sofrido algum tipo de
transformação, dizemos que ele possui simetria.7 As propri- 7 Weyl H., Symmetry. Prin-
edades que não mudam (se conservam) são ditas invariantes ceton paperbacks, Prince-
ton University Press, 1952
sob uma dada transformação. Por exemplo, um cilindro que

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64 física iii

é girado em torno de um eixo central conserva o mesmo


aspecto, de forma que ele possui uma simetria rotacional.
Para os propósitos deste capítulo, estamos interessa-
dos em certas situações nas quais a distribuição de cargas
apresenta algum tipo de simetria, que acaba se refletindo no
campo elétrico por elas gerado. Alguns exemplos são mos-
trados na Figura 3.8. De acordo com a direção do campo
elétrico produzido por uma dada distribuição de cargas,
podemos considerar as seguintes simetrias:

(i) Simetria esférica: a direção do campo é radial, como


aquele produzido por uma carga pontual. Neste caso, a
+
direção radial é tridimensional, já que deve ser descrita
pelas três coordenadas espaciais;

(ii) Simetria cilíndrica: a direção do campo também é


radial, mas perpendicular em relação a uma dada
direção. Por exemplo, o campo gerado por uma linha
infinita de cargas. Note que, neste caso, uma das
coordenadas espaciais será sempre constante, de forma
que a direção radial é bidimensional.

(iii) Simetria planar: o campo é uniforme e perpendicular


a uma dada superfície, como o produzido por um
plano infinito de cargas. Neste caso, a direção do
campo em um dado ponto sobre a superfície é descrita
completamente por apenas uma coordenada espacial
(unidimensional). Figura 3.8: Exemplos de
simetria esférica, cilíndrica
e planar para o campo elé-
trico.
3.4 Aplicações da lei de Gauss

Distribuição de cargas com simetria esférica


Uma esfera sólida e não-condutora (feita de um material
isolante) de raio a possui uma densidade volumétrica de
cargas uniforme ρ e está carregada com um carga total Q,
como mostra a Figura 3.9. O campo elétrico produzido

© 2018 Abílio Mateus Jr.


lei de gauss 65

pela esfera carregada, assim como acontece para uma carga


pontual, aponta radialmente na direção de um vetor unitário
r̂. Podemos escrever

~ = Er r̂,
E

onde Er é a componente radial do campo elétrico.

Figura 3.9: Esfera não-


condutora de raio a, carre-
gada com uma carga Q dis-
tribuída uniformemente em
todo seu volume.

Campo elétrico fora da esfera (r > a). Como temos uma


distribuição de cargas com simetria esférica, escolhemos
uma superfície gaussiana de raio r, concêntrica com a esfera,
como mostrado na Figura 3.9a. Esta escolha nos leva a duas
simplificações para a aplicação da lei de Gauss:

(i) E
~ é paralelo a n̂ em qualquer ponto da superfície
gaussiana, logo r̂ · n̂ = 1;

(ii) o módulo de E,~ Er , é constante ao longo de toda a


superfície gaussiana esférica, já que depende apenas
de r.

Portanto:
˛ ˛ ˛
~ · n̂ dA = qin
E Er dA = Er dA =
S S S ε0
˛
Q
Er dA = Er (4πr2 ) = ,
S ε0

© 2018 Abílio Mateus Jr.


66 física iii

¸
onde S dA = 4πr2 é a área da superfície gaussiana esférica.
Como E~ = Er r̂, temos

~ = 1 Q
E r̂, (r > a).
4πε0 r2
Note que este é o mesmo resultado que obtivemos para uma
carga puntiforme.

Campo elétrico no interior da esfera (r < a). Neste caso,


selecionamos uma superfície gaussiana esférica com raio r <
a, concêntrica com a esfera, conforme mostra a Figura 3.9b.
Vamos nos referir ao volume desta pequena esfera por V0 . Isto é válido pois ρ é cons-
8

tante. Por exemplo, se ρ


Para aplicar a lei de Gauss nesta situação é importante é uma função apenas de r,
reconhecer que a carga interna à superfície gaussiana de podemos escrever
volume V0 , qin , é menor do que a carga total da esfera, Q. dq = ρ(r) dV.
Para calcular qin , usamos o fato8 que qin = ρV0 :
Para uma simetria esférica,
0 o elemento de volume é
qin = ρV = ρ( 43 πr3 ).
dV = r2 sen θ dθdϕdr.
Por simetria, o módulo do campo elétrico é constante em
Considerando apenas a de-
qualquer ponto na superfície gaussiana e é normal à su- pendência radial, este ele-
perfície em cada ponto. Portanto, usando a lei de Gauss, mento fica
temos: dV = 4πr2 dr,
˛ ˛ ˛
~ qin e a carga interna será a in-
E · n̂ dA = Er dA = Er dA = Er (4πr2 ) = .
S S S ε0 tegral sobre o volume V0 :
ˆ ˆ
Resolvendo para Er , obtemos qin = dq = ρ(r) dV
V0
qin ρ( 43 πr3 ) ρ ˆ r
Er = = = r. qin = ρ(r)(4πr2 ) dr.
4πε0 r2 4πε0 r2 3ε0 0

Como, por definição, ρ = Q/V = Q/ 43 πa3 , a expressão para


~ = Er r̂ pode ser escrita como
E

~ = 1 Qr
E r̂, (r < a).
4πε0 a3
A Figura 3.10 mostra o gráfico do campo elétrico em função
da distância radial r para uma esfera não-condutora carre-
gada. O campo aumenta linearmente no interior da esfera e
diminui com 1/r2 fora da esfera. Figura 3.10: Gráfico do
campo elétrico E em função
da distância radial r para
© 2018 Abílio Mateus Jr. uma esfera não-condutora
carregada uniformemente.
lei de gauss 67

Figura 3.11: (a) O campo


elétrico dentro de uma
casca esférica carregada uni-
formemente é zero. (b) Su-
perfície gaussiana para r >
a. (c) Superfície gaussiana
para r < a.

Campo elétrico devido a uma casca esférica


Uma fina casca esférica de raio a possui uma carga total
Q distribuída uniformemente sobre sua superfície, como
mostra a Figura 3.11. Vamos determinar o campo elétrico
dentro e fora da casca.

Campo elétrico fora da casca (r > a). O cálculo do campo


fora da casca é idêntico ao que obtivemos no caso da esfera.
Se adotamos uma superfície gaussiana esférica de raio r >
a concêntrica com a casca, a carga no seu interior é Q.
Portanto, o campo em um ponto fora da casca é equivalente
àquele devido a uma carga pontual Q localizada no seu
centro:
~ = 1 Q r̂, (r > a).
E
4πε0 r2

Campo elétrico dentro da casca (r < a). O campo elétrico


no interior da casca é zero. Isto pode ser obtido pela aplica-
ção da lei de Gauss para uma superfície esférica com raio
r < a concêntrica com a esfera. Como a carga líquida no
interior dessa superfície é zero, a lei de Gauss nos diz que

~ = ~0,
E (r < a).

Descontinuidade do campo elétrico. A Figura 3.12 mostra o Figura 3.12: Gráfico do


gráfico do campo elétrico em função de r para a camada esfé- campo elétrico E em função
da distância radial r para
uma camada esférica carre-
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gada uniformemente.
68 física iii

rica carregada. Note que em r = a há uma descontinuidade


no campo, que pode ser calculada como

∆E ~ = E(r
~ = a) − E(r~ < a) = 1 Q r̂ − 0 = 1 Q r̂.
4πε0 a2 4πε0 a2
Como a carga está distribuída uniformemente sobre a su-
perfície da camada, podemos escrever σ = Q/A = Q/4πa2 .
Logo
∆E~ = σ n̂,
ε0
onde usamos n̂ = r̂ para indicar que a direção da desconti-
nuidade do campo é sempre na direção normal à superfície.
Portanto, ao atravessar a superfície da camada esférica com
densidade superficial de carga σ, o campo elétrico sofre uma
descontinuidade de módulo igual a σ/ε0 . Este mesmo com-
portamento também será encontrado em outras distribuições
de carga e ocorre simplesmente pelo fato de considerarmos
que a superfície da casca possui espessura desprezível.

Distribuição de cargas com simetria cilíndrica


Seja uma linha infinita de cargas positivas e densidade de
carga linear λ constante. Vamos calcular o campo elétrico a
uma distância r da linha.

+ Figura 3.13: Uma linha de


+ cargas infinita envolta por
+ uma superfície gaussiana ci-
líndrica.

+
+
+

A simetria dessa distribuição de cargas requer que E


~
seja perpendicular à linha de cargas e dirigido radialmente

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lei de gauss 69

para fora, como mostrado na Figura 3.13. Para refletir esta


simetria, vamos usar uma superfície gaussiana cilíndrica de
raio r e comprimento `, com eixo central correspondendo
ao eixo da linha. Neste caso, podemos escrever o campo
elétrico em função de r como

~ = Er r̂,
E

onde r̂ é o vetor unitário na direção radial, perpendicular à


linha de cargas.
A superfície gaussiana cilíndrica pode ser decomposta
em três partes para o cálculo do fluxo: S1 , a base superior
de área πr2 ; S2 , a base inferior, também de área πr2 ; e S3 ,
a superfície lateral do cilindro, com área 2πr`. O fluxo total
através da superfície gaussiana cilíndrica é a soma sobre
cada superfície:
˛ ˆ ˆ ˆ
~ · n̂ dA =
E E~ · n̂ dA + ~ · n̂ dA +
E ~ · n̂ dA.
E
S S1 S2 S3

Os fluxos através das superfícies S1 e S2 , as bases do


cilindro, são nulos, já que E ~ é perpedicular ao vetor normal
n̂ para estas superfícies. Portanto, r̂ · n̂ = 0 e
ˆ ˆ
Er r̂ · n̂ dA = Er r̂ · n̂ dA = 0.
S1 S2

Para a superfície lateral, S3 , n̂ possui uma direção


radial, de forma que

n̂ = r̂ e r̂ · n̂ = 1.

Além disso, como o campo elétrico é uma função de r, ele


será constante ao longo de todos os pontos sobre a superfície
S3 . Assim, o fluxo sobre esta superfície não é nulo e podemos
escrever o fluxo total sobre a superfície gaussiana cilíndrica
como
˛ ˆ ˆ
~ · n̂ dA = ~ · n̂ dA = Er qin
E E dA = Er (2πr`) = ,
S S3 S3 ε0

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70 física iii

´
onde usamos S3 dA = 2πr`, a área da superfície lateral do
cilindro.9 A carga total dentro da superfície gaussiana é 9
Em coordenadas cilíndri-
qin = λ`, logo cas, o elemento de área é
λ` dA = r dϕdz
Er (2πr`) =
ε0 ˆ 2π ˆ `
A= r dϕdz
λ 0 0
Er = .
2πε0 r A = 2πr`.

Em termos vetoriais, o campo elétrico fica

~ = λ
E r̂.
2πε0 r

Assim, o campo elétrico devido a uma distribuição de


cargas com simetria cilíndrica varia com 1/r, como mostra
a Figura 3.14.
Figura 3.14: Gráfico do
campo elétrico E em função
Plano infinito não-condutor da distância radial r para
linha infinita carregada uni-
Considere um plano infinito, não-condutor, carregado com formemente.
cargas positivas distribuídas uniformemente sobre sua super-
fície com densidade superficial de cargas σ, como o mostrado
na Figura 3.15.

Figura 3.15: Uma superfí-


cie gaussiana cilíndrica pe-
netrando um plano infinito
de cargas.

Para calcular o campo elétrico a uma distância qual-


quer do plano, por simetria, E ~ deve ser perpendicular a
ele e deve ser constante em todos os pontos a uma mesma
distância do plano. A direção do campo elétrico produ-
zido pelo plano é para fora do plano e perpendicular a ele,

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lei de gauss 71

E~ = E n̂ (ou E ~ = E k̂), em ambos os lados, como mostra


a Figura 3.15. A superfície gaussiana que reflete essa si-
metria é um pequeno cilindro cujo eixo é perpendicular ao
plano e cujas bases possuem área A, equidistantes ao plano.
Novamente, podemos decompor esta superfície gaussiana
cilíndrica em três partes: as bases do cilindro (superfícies
S1 e S2 ) e a superfície lateral (S3 ). Como E
~ é paralelo à su-
perfície S3 , o fluxo é zero em toda essa superfície. Portanto,
o fluxo total através da superfície gaussiana é a soma dos
fluxos através das superfícies S1 e S2 :
˛ ˆ ˆ
~ · n̂ dA =
E ~ · n̂ dA +
E ~ · n̂ dA.
E
S S1 S2

O módulo do campo elétrico através da superfície S1 é idên-


tico ao da superfície S2 , já que elas estão à mesma distância
do plano infinito. Além disso, o campo é constante e aponta
na mesma direção do vetor normal n̂ nestas superfícies:
E n̂ · n̂ = E. Portanto
˛ ˆ ˆ
E~ · n̂ dA = E dA + E dA = EA + EA = 2EA.
S S1 S2

A carga elétrica total no interior da superfície gaussiana é


qin = σA. Aplicando a lei de Gauss, temos
˛
~ · n̂ dA = 2EA = qin = σA
E
S ε0 ε0
σ
E= .
2ε0
Em termos vetoriais, podemos escrever
 σ
 n̂, z>0
 2ε0


~ =
E
 σ

−
 n̂, z < 0
2ε0

Como a distância até as bases da superfície gaussiana


cilíndrica não aparece nessa expressão, concluímos que o

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72 física iii

campo possui o módulo E = σ/2ε0 para qualquer distân-


cia até o plano, como mostra a Figura 3.16. Ou seja, o
campo elétrico é uniforme em todo o espaço em torno de
um plano infinito carregado com densidade superficial de
cargas constante.

Descontinuidade do campo elétrico. O gráfico da Figura 3.16


mostra que o campo elétrico apresenta uma descontinuidade Figura 3.16: Gráfico do
para z = 0, isto é, na superfície do plano infinito. Esta campo elétrico E em fun-
ção de z para um plano in-
descontinuidade pode ser calculada através da diferença dos
finito com densidade super-
campos elétricos nas duas bases da superfície gaussiana: ficial de cargas σ.
 
∆E ~ =E~S − E ~ S = σ n̂ − − σ n̂ = σ n̂.
1 2
2ε0 2ε0 ε0

Este resultado indica que a componente perpendicular do


campo elétrico apresenta uma descontinuidade igual a σ/ε0 ,
como também obtivemos para o caso da camada esférica.

3.5 Equilíbrio em um campo eletrostático

Considere uma distribuição de cargas elétricas idênticas e Figura 3.17: Cargas elétri-
negativas localizadas nos vértices de um quadrado, como cas negativas idênticas dis-
mostra a Figura 3.17. O que acontecerá com uma carga tribuídas nos vértices de um
quadrado. Uma carga po-
positiva se ela for colocada em um ponto no centro do qua- sitiva colocada no centro
drado? Por simetria, notamos que a força resultante sobre do quadrado pode estar em
a carga positiva é nula, mas ela estará em equilíbrio estável ? equilíbrio estável?
Em outras palavras, se a carga sofrer um leve deslocamento,
ela voltará para sua posição original de equilíbrio?
A resposta para estas questões é não! Para uma carga
estar em equilíbrio em um ponto P qualquer, o campo elé-
trico local deve ser nulo. Mas a condição para este equilíbrio
ser estável requer ainda que se a carga for afastada do ponto
P numa dada direção, r̂ por exemplo, uma força restau-
radora deve atuar no sentido oposto ao seu deslocamento
(imagine o caso de um oscilador harmônico). Assim, o campo
elétrico em todos os pontos ao redor de P deve apontar em

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lei de gauss 73

sua direção. Porém, de acordo com a lei de Gauss isto não


é possível!
Suponha que uma superfície gaussiana envolva um
ponto P qualquer, como mostrado na Figura 3.18. Se o
campo elétrico na vizinhança aponta em direção a P , o fluxo
do campo elétrico terá um certo valor, neste caso negativo.
Mas pela lei de Gauss, como não há carga elétrica no interior
da superfície gaussiana, o fluxo que a atravessa deve ser nulo. Figura 3.18: Uma carga co-
Portanto, o campo elétrico considerado acima viola a lei de locada no ponto P estará
Gauss. Note que no exemplo do começo desta seção, a carga em equilíbrio estável se o
campo for nulo e se o campo
positiva pode estar em equilíbrio no meio da distribuição ao redor apontar na direção
de cargas negativas, porém, elas devem estar mantidas fixas de P , o que viola a lei de
em suas posições por outras forças que não elétricas. Gauss.

Este resultado foi postulado por Samuel Earnshaw em


1842,10 e pode ser enunciado da seguinte maneira: 10
Earnshaw S., On the Na-
ture of the Molecular Forces
which Regulate the Consti-
Teorema de Earnshaw: Uma partícula carregada tution of the Luminiferous
não pode ser mantida fixa (estática) em equilíbrio estável Ether , Trans. Camb. Phil.
apenas por forças eletrostáticas. Soc., 1842, v. 7, p. 97–112

As implicações deste teorema recaem diretamente sobre a


estabilidade dos átomos se consideramos um modelo clássico
baseado em uma distribuição de cargas estáticas, como o
modelo proposto por J. J. Thomson (1856–1940) por volta
de 1900 após a descoberta do elétron.

3.6 Condutores em equilíbrio eletrostático

Um condutor elétrico é um sólido que contém muitos elétrons


que não estão ligados aos seus átomos (geralmente um ou
dois por átomo), chamados elétrons de condução ou “livres”,
capazes de se movimentar com uma certa liberdade através
do material sem que escapem por sua superfície. Em um
condutor típico, como em um metal, o número de elétrons
livres é tão grande que qualquer campo elétrico no seu
interior produz a movimentação de uma significativa parcela
deles, originando uma corrente elétrica. Esta corrente se

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74 física iii

mantém no interior do condutor enquanto a fonte de campo


externo continuar ativa.
Quando há um equilíbrio eletrostático, não considera-
mos fontes contínuas de corrente elétrica, de forma que os
elétrons se movem apenas até que eles se acomodem na su-
perfície do condutor, produzindo um campo elétrico nulo em
todos os pontos no seu interior. Se houvesse algum resquício
de campo elétrico, ele atuaria no sentido de movimentar
os elétrons. Assim, em uma situação eletrostática o campo
elétrico no interior de um condutor é nulo.

Propriedades de condutores em equilíbrio eletrostático

(i) O campo elétrico no interior de um condutor é nulo.


Na situação de equilíbrio eletrostático, não devem
existir cargas elétricas e tampouco campo elétrico no
interior do condutor.

(ii) Um condutor possui cargas apenas em sua superfície.


O excesso de cargas no condutor distribui-se na sua
superfície. Microscopicamente, essa carga reside numa
camada de transição, formada por algumas camadas
atômicas na superfície.

(iii) O campo elétrico na direção tangencial à superfície


do condutor é nulo. Se houvesse uma componente
do campo tangente à superfície, as cargas poderiam
movimentar-se nesta direção e o equilíbrio eletrostático
não seria atingido. Dessa forma, o campo deve ter
apenas a componente perpendicular à superfície do
condutor.

(iv) O módulo do campo é igual a σ/ε0 . Como veremos a


seguir, o campo elétrico nas proximidades da superfície
de um condutor é proporcional à densidade superficial
de cargas sobre o condutor.

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lei de gauss 75

Cálculo do campo elétrico na superfície de um condutor


O módulo do campo elétrico pode ser obtido através da
escolha de uma superfície gaussiana cilíndrica perpendicular
à superfície do condutor, tal como mostra a Figura 3.19.

Figura 3.19: O campo elé-


trico na região externa de
um condutor é perpendicu-
lar à sua superfície e possui
módulo E = σ/ε0 .

Assim como no caso do plano infinito não-condutor,


a superfície gaussiana cilíndrica pode ser dividida em três
partes. Mas agora, haverá campo elétrico apenas na base
superior (S1 ) da superfície, já que para a superfície lateral
(S3 ) o campo elétrico é perpendicular ao vetor normal n̂ e
para a base inferior (S2 ), localizada no interior do condutor,
o campo elétrico é nulo. Como o campo elétrico possui
apenas a componente perpendicular à superfície do condutor,
podemos escrevê-lo como E ~ = E n̂ para a base superior da
superfície gaussiana.
Aplicando a lei de Gauss, temos
˛ ˆ
~ qin
E · n̂ dA = E n̂ · n̂ dA = EA = .
S S1 ε0

Se o condutor possui uma densidade superficial de carga


qin
σ= ,
A
podemos derivar o campo elétrico produzido na parte ex-
terna do condutor:
σA σ
EA = ⇒E= .
ε0 ε0

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76 física iii

O campo elétrico sempre aponta na direção normal à super-


fície do condutor. Logo, em termos vetoriais, temos

E~ = σ n̂.
ε0

Descontinuidade do campo elétrico. Este resultado nova-


mente mostra que o campo elétrico apresenta uma desconti-
nuidade igual a σ/ε0 quando atravessa uma superfície com
densidade superficial σ:

∆E~ =E ~S − E ~ S = σ n̂ − 0 = σ n̂.
1 2
ε0 ε0

Cavidade no interior de um condutor


Considere um volume condutor isolado em equilíbrio eletros-
tático, como o mostrado na Figura 3.20a. Conforme vimos,
– ––
a carga líquida do condutor, Q, distribui-se completamente –– + ––
– –
em sua superfície e o campo no interior do condutor se –
– –
– – ––
anula.
O que acontece se o condutor, ao invés de ser com-
pletamente maciço, possuir uma cavidade no seu interior?
Figura 3.20: (a) Condutor
A Figura 3.20b mostra esta situação. Neste caso, o campo isolado em equilíbrio ele-
elétrico no interior do condutor continua sendo nulo. Se trostático. (b) Uma cavi-
traçarmos uma superfície gaussiana dentro do condutor, que dade dentro do condutor.
(c) Uma carga elétrica posi-
também envolve a cavidade, notamos que não devem existir tiva +q no interior da cavi-
cargas na sua superfície interna. dade.
Agora vamos considerar outra situação. Se uma carga
positiva +q for inserida dentro da cavidade, como represen-
tado na Figura 3.20c, uma carga negativa de mesmo módulo
q será induzida na superfície interna do condutor, de forma
que o fluxo elétrico que atravessa a superfície gaussiana
continue sendo igual a zero, já que a carga líquida será
nula. Nesta configuração, a carga total do condutor será
redistribuída em duas quantidades: na superfície interna
teremos uma carga −q, enquanto na superfície externa a
carga será Q + q. A carga líquida do condutor continuará
sendo Q = (Q + q) + (−q).

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lei de gauss 77

Condutor imerso em um campo elétrico


O campo elétrico externo redistribui os elétrons livres no
condutor, deixando um excesso de carga positiva sobre a
superfície externa em algumas regiões do condutor e cargas
negativas em outras (veja a Figura 3.21). Esta distribui-
ção de cargas é feita de tal forma que o campo elétrico
Figura 3.21: Um condutor
total no interior do condutor seja nulo. A nova distribui- imerso em um campo elé-
ção de cargas também altera a forma das linhas de campo trico externo.
nas proximidades do condutor, como mostra a Figura 3.21.
Esta configuração é frequentemente chamada de “gaiola de
Faraday”.

3.7 Teste experimental da lei de Gauss

A Figura 3.22 ilustra um aparato utilizado por Michael Fara-


day, em 184311 , para a realização de um experimento sobre 11
Faraday M., On static
indução eletrostática em condutores, que ficou conhecido electrical inductive action,
Philosophical Magazine Se-
como experimento do balde de gelo. Em termos gerais, o ries 3, 1843, v. 22, p. 200–
experimento é similar ao proposto por Franklin e realizado 204
por Priestley em 1766, conforme discutido na seção 1.4.

Figura 3.22: Ilustração do


experimento do “balde de
gelo” de Faraday (Hawkins,
1917).

O aparato utilizado por Faraday é composto por um


balde metálico (A) colocado sobre um banquinho de madeira

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78 física iii

(B) para isolá-lo da terra. Uma esfera de latão carregada ele-


tricamente (C), pendurada por um barbante isolante, pode
ser abaixada para dentro do balde. A parte externa do balde
está conectada por um fio a um eletroscópio (E), utilizado
para medir a quantidade de cargas em um condutor, neste
caso, o balde de metal. Faraday utilizou um eletroscópio
de folhas de ouro em seu experimento. Quanto maior o
número de cargas, mais separadas ficam as duas folhas do
eletroscópio devido à força elétrica repulsiva.
À medida em que a esfera aproxima-se do interior do
balde, o eletroscópio indica que a sua superfície externa fica
carregada com a mesma carga da esfera. O interior do balde,
se testado pelo eletroscópio, está carregado com um carga
oposta devido à indução eletrostática. Se a esfera é então
colocada em contato direto com a parte interna do balde,
a esfera e o interior do balde são descarregados, indicando
que suas cargas se cancelam. Isto demonstra que a carga
colocada no interior de um condutor oco induz uma carga
contrária de mesmo módulo na sua parede interna. Na
parede externa, a carga remanescente é a mesma da esfera
inicialmente carregada.

EEE

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lei de gauss 79

Problemas propostos
Níveis de dificuldade:
P3.1 š Fluxo através de um cubo . Um próton encontra-se no
centro de uma superfície gaussiana cúbica de aresta a. Qual š – de boa na lagoa;
o fluxo do campo elétrico que atravessa esta superfície? ˜ – mais fácil que capi-
nar um lote;
P3.2 ˜ Fluxo através de um cubo . Uma carga puntiforme – – corram para as coli-
q está localizada no vértice de um cubo de aresta a, como nas!
mostra a Figura 3.23. Determine o fluxo do campo elétrico
através da face sombreada do cubo.

Figura 3.23: Problema 3.2.

P3.3 – Fluxo através de uma superfície quadrada . Uma carga


puntiforme q está localizada a uma distância a acima de
uma superfície quadrada de lado 2a. Determine o fluxo do
campo elétrico através da superfície (a) usando a integral
de superfície que define o fluxo de um campo vetorial e (b)
usando a ideia de simetria e a lei de Gauss. Dica: no item
(a) você precisará usar as integrais tabeladas C.19 e C.21.

Figura 3.24: Problema 3.3.

P3.4 ˜ Fluxo através de um cilindro . Encontre o fluxo total


através de uma superfície fechada em forma de cilindro que
envolve uma linha carregada com densidade linear de cargas
λ(x) = λ0 (1 − x/h). Considere que o eixo do cilindro e a

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80 física iii

linha são paralelos ao eixo x, e ambos estendem-se desde


x = 0 até x = h.

P3.5 ˜ Fluxo através de uma esfera . Qual é o fluxo através


de uma superfície fechada que envolve completamente uma
esfera carregada de raio a com uma densidade volumétrica
de carga ρ(r) = ρ0 (r/a), onde ρ0 é a densidade na superfície
da esfera e r é a distância a partir do centro da esfera?

P3.6 ˜ Linha infinita . Uma linha longa infinita e unifor-


memente carregada está a uma distância d de um ponto
qualquer O, conforme mostrado na Figura 3.25. Determine
o fluxo elétrico total que atravessa a superfície de uma es-
fera de raio a centrada em O resultante da linha de carga.
Considere ambos os casos quando (a) d > a e (b) d < a.

Figura 3.25: Problema 3.6.

P3.7 ˜ Equilíbrio de forças . Na Figura 3.26, uma pequena


esfera não-condutora de massa m e carga q (distribuída
uniformemente em todo o seu volume) está pendurada em
um fio não-condutor que faz um ângulo θ com uma placa
vertical, não-condutora, uniformemente carregada (vista de
perfil na figura). Considerando a força gravitacional a que
a esfera está submetida e supondo que a placa possui uma
grande extensão, determine a densidade superficial de cargas
σ da placa em função de m, q e θ.

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lei de gauss 81

+ Figura 3.26: Problema 3.7.


+
+
+
+
+
+
+
+
+
+
+ +
+

P3.8 ˜ Cilindro infinito . Uma carga está uniformemente


distribuída através do volume de um cilindro infinitamente
longo de raio a. Determine expressões para o campo elétrico
E~ a uma distância r do eixo do cilindro (a) para r < a e (b)
para r > a.

P3.9 ˜ Distribuição cilíndrica de cargas . Uma distribuição


de cargas com simetria cilíndrica estende-se até o infinito
na direção ±z. A densidade de carga varia radialmente,
possuindo a seguinte dependência
  2
ρ r , r < a;
0
ρ(r) = a
0, a < r < b.

Determine expressões para o campo elétrico nestas duas


regiões.

P3.10 ˜ Distribuição esférica de cargas . Uma distribuição


de cargas não-uniforme, mas com simetria esférica, produz
um campo elétrico de módulo E(r) = αr4 , onde α é uma
constante positiva e r é a distância ao centro da esfera.
O campo aponta para fora do centro da esfera. Qual é a
densidade volumétrica de cargas ρ(r)?

P3.11 ˜ Campo elétrico de uma esfera . Uma distribuição


esférica de cargas possui uma densidade volumétrica dada
por ρ(r) = ρ0 /r, onde ρ0 é uma constante positiva. Encontre
o campo elétrico como função da distância radial r.

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82 física iii

P3.12 ˜ Campo elétrico de uma esfera . Uma esfera de raio


a tem densidade volumétrica de carga ρ(r) = ρ0 /r2 para
r < a, onde ρ0 é uma constante, e ρ = 0 para r > a.
(a) Determine a carga total na esfera. (b) Determine as
expressões para o campo elétrico no interior e no exterior
da distribuição de cargas.

P3.13 ˜ Camada esférica . Uma camada esférica não-condu-


tora de raio interno a e raio externo b tem densidade volu-
métrica uniforme de carga ρ. (a) Determine a carga total
na camada. (b) Determine expressões para o campo elétrico
em todas as regiões.

P3.14 ˜ Distribuição esférica de cargas . Em uma distribui-


ção de cargas com simetria esférica, a região com r < a
possui uma densidade de carga uniforme ρa . Ela é envol-
vida por uma camada com densidade ρb para a < r < b,
como mostra a Figura 3.27. Determine o campo elétrico nas
regiões: (a) r < a; (b) a < r < b; e (c) r > b.

Figura 3.27: Problema


3.14.

P3.15 ˜ Condutores com simetria esférica . Considere as dis-


tribuições de carga nos condutores mostrados na Figura 3.28.
(a) Como a carga +Q distribui-se em uma esfera condutora
perfeita (Figura 3.28a)? (b) Como a carga +Q distribui-se
em uma camada condutora esférica (Figura 3.28b)? (c) Se
uma carga +q está localizada no centro de uma camada
condutora esférica (Figura 3.28c), como fica o campo elétrico
em função da distância radial? (d) Se a carga +q está loca-
lizada no centro de uma camada esférica condutora e outra

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lei de gauss 83

carga −Q é adicionada à camada (Figura 3.28d), como a


carga distribui-se na camada e como o campo elétrico varia
com o raio em todas as regiões do espaço?

Figura 3.28: Problema


3.15.
+ +

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4
Potencial elétrico

Em 1828, George Green (1793–1841) publicou um longo


artigo de forma independente que continha a derivação do
que hoje chamamos teorema da divergência, além de sua
aplicação a problemas da eletrostática.1 Conforme vimos 1 Green G., An Essay on
no capítulo anterior, este teorema foi fundamental para o the Application of Mathe-
matical Analysis to the
entendimento da lei de Gauss aplicada ao eletromagnetismo. Theories of Electricity and
Green introduziu formalmente uma função chamada Magnetism. Nottingham,
potencial elétrico, que descreve a distribuição espacial de 1828
cargas elétricas. Esta função é de grande utilidade já que
a taxa com que ela diminui na direção de um dado ponto
(ou seu gradiente) representa o valor da força por unidade
de carga (ou campo elétrico) que atuaria naquela posição.
Algumas propriedades dessa função especial já haviam sido
descritas anteriormente por Laplace e Poisson, mas Green foi
o primeiro a notar as possibilidades de seu uso na resolução
de uma grande variedade de problemas da eletrostática.
As ferramentas criadas por Green foram utilizadas por
William Thomson (Lord Kelvin; 1824–1907) para explicar o
conceito fundamental de energia potencial de um sistema,
que é obtida multiplicando-se a função potencial pela sua
massa ou carga elétrica.
86 física iii

4.1 Campos conservativos

Antes de introduzir o conceito de potencial elétrico, precisa-


mos rever as propriedades de um campo conservativo.
Seja uma partícula qualquer sujeita a uma força F~
variável. O trabalho realizado pela força para mover a
partícula através de uma trajetória qualquer, de um ponto
A até um ponto B, é dado por
ˆ B
W = F~ · d~s. (4.1)
A

Esta integral é chamada de integral de linha. Para resolvê-la,


precisamos de uma descrição detalhada da trajetória e de
como a força F~ varia ao longo dela.
Por exemplo, podemos calcular o trabalho realizado
pela força gravitacional quando um objeto “cai” de uma
certa altura h:
ˆ B ˆ B ˆ B
Wg = F~g · d~s = mg cos θ ds = mg ds = mgh.
A A A

Note que, neste caso, o trabalho não depende do caminho


escolhido para levar o objeto de A até B, mas apenas da
distância entre os pontos A e B. Assim, usualmente escolhe-
mos uma trajetória contendo os pontos A e B que simplifica
o cálculo do trabalho através da integral de linha da equação
4.1. É importante também observar que o trabalho realizado
por um agente externo contra a força (por exemplo, levando
o objeto que caiu de volta para sua posição original, contra
a força gravitacional) é simplesmente

Wext = −Wg .

Uma força para a qual o trabalho depende apenas


Figura 4.1: Uma força é
dos pontos inicial e final, e não do caminho escolhido entre conservativa se o trabalho
eles, chama-se conservativa (ver Figura 4.1). Este é o caso realizado entre um ponto A
da força gravitacional e, como veremos, também se aplica e um ponto B independe do
caminho escolhido.
para a força eletrostática. Uma consequência disso é que

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potencial elétrico 87

se escolhermos uma trajetória fechada C (i.e. o ponto


de partida é igual ao ponto de chegada) o trabalho total
realizado por uma força conservativa será
˛
F~ · d~s = 0,
C
onde a integral de linha, que deve ser feita sobre toda a
trajetória fechada C, também é chamada de circulação do
vetor F~ sobre a trajetória C.
Quando consideramos uma força conservativa, é con-
veniente definir a energia potencial, U , conceito introduzido
por W. Rankine em 1853.2 A variação de energia potencial 2
Rankine W. J. M., XVIII.
associada a uma força conservativa F~ que move um objeto On the general law of the
transformation of energy,
de A até B é definida como Philosophical Magazine,
ˆ B
1853, v. 5, p. 106–117
∆U ≡ UB − UA = − F~ · d~s = −W,
A
onde W é o trabalho realizado pela força para mover o
objeto.

4.2 Potencial elétrico

Considere agora uma carga elétrica q em um campo elétrico


~ sujeita a uma força F~ = q E.
E, ~ Como veremos, esta força
é conservativa pois a força entre as cargas elétricas descrita
pela lei de Coulomb é conservativa, ou seja
˛ ˛
~
F · d~s = ~ · d~s = 0.
qE
C C
Quando esta carga se move no campo sob a ação de algum
agente externo, o trabalho feito pelo campo sobre a carga
é igual ao negativo do trabalho feito pelo agente externo
responsável pelo deslocamento da carga.
O trabalho efetuado pelo agente externo para mover
a carga de um ponto A a outro ponto B qualquer, sob a
influência de um campo elétrico, é dado por
ˆ B ˆ B
W =− F~ · d~s = −q ~ · d~s,
E
A A

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88 física iii

onde F~ é a força elétrica que atua sobre a carga em cada


ponto e d~s é o vetor deslocamento ao longo de um caminho
qualquer que liga A e B, como mostra a Figura 4.2.
Para os propósitos deste capítulo, é mais interessante
considerar o trabalho que seria realizado para mover uma
unidade de carga. O trabalho por unidade de carga, Ŵ , é Figura 4.2: O trabalho re-
ˆ B alizado por um agente ex-
~ · d~s. terno para levar uma carga
Ŵ = − E
A do ponto A ao ponto B é
igual ao negativo da inte-
Como a força eletrostática é conservativa, o trabalho gral de F
~ · d~s ao longo do
caminho escolhido.
Ŵ para levar a carga de A até B independe do caminho
escolhido, isto é, ele depende apenas dos pontos A e B.
Podemos então considerar um caminho que passe por um
ponto P qualquer (ponto de referência), como mostra a
Figura 4.3. Neste caso, o trabalho por unidade de carga
total realizado para levar a carga de A até B será igual à
soma dos trabalhos realizados entre A e P e entre P e B,
ou seja
ˆ B " ˆ
P
# " ˆ
B
#
Ŵ = − ~ · d~s = −
E ~ · d~s + −
E ~ · d~s .
E Figura 4.3: O trabalho re-
A A P alizado por um agente ex-
terno para levar uma carga
Invertendo o sentido de integração da primeira integral, de A até B por qualquer ca-
temos: minho é igual ao negativo
do trabalho realizado entre
ˆ B " ˆ # " ˆ #
B A P até A mais o trabalho en-
Ŵ = − ~
E · d~s = − ~
E · d~s − − ~
E · d~s . tre P até B.
A P P

Definimos os termos entre colchetes como sendo o potencial


elétrico no ponto B, VB , e no ponto A, VA . Em geral,
também consideramos que o ponto P esteja no infinito:
P → ∞. Portanto, temos
ˆ B
Ŵ = − ~ · d~s = VB − VA .
E
A

Incluindo a definição de diferença de potencial, obtemos


ˆ B
∆V ≡ VB − VA = − ~ · d~s.
E (4.2)
A

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potencial elétrico 89

Assim, fazendo uma analogia com um sistema mecâ-


nico, o potencial elétrico de um ponto A qualquer no espaço
é igual ao trabalho por unidade de carga necessário para
levar uma carga de um ponto de referência P até o ponto
A.3 A diferença de potencial entre dois pontos A e B é 3 Thomson W., XLV. On
então o trabalho por unidade de carga para levar uma carga the mutual attraction or re-
pulsion between two elec-
de A até B, quaisquer que sejam os caminhos escolhidos. trified spherical conduc-
tors, Philosophical Maga-
zine, 1853, v. 5, p. 287–297
Energia potencial elétrica. Dada uma diferença de poten-
cial, ∆V , podemos determinar a variação de energia poten-
cial elétrica que a carga sofre:

∆U = UB − UA = q∆V
ˆ B
UB − UA = −q ~ · d~s,
E
A

ou em termos do trabalho realizado de A até B, temos que

∆U = W,

onde
ˆ B
W = −q ~ · d~s.
E
A

Dessa forma, a diferença de potencial elétrico entre dois


pontos A e B no espaço é equivalente à diferença de energia
potencial elétrica, por unidade de carga, que uma carga
elétrica teria se estivesse localizada em A e B.

Unidades. A unidade do potencial elétrico é o joule/coulomb,


que recebe uma denominação especial, o volt,4 representado 4 Em homenagem ao físico
pelo símbolo V: experimental italiano Ales-
sandro Volta (1745–1827),
joule J inventor da pilha elétrica.
[V ] ≡ volt = = = V.
coulomb C
Uma unidade de energia bastante útil derivada a partir da
definição do volt é o elétron-volt (eV), que é a energia ganha

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90 física iii

(ou perdida) por um elétron quando ele se move por uma


diferença de potencial de 1 volt:

1eV = (1,6 × 10−19 C)(1V) = 1,6 × 10−19 J.

Segundo a equação 4.2, podemos adotar outra unidade para


o campo elétrico, o volt por unidade de comprimento, ou
V/m, que é equivalente ao N/C:
volt V N
[E] ≡ = = .
metro m C
Na prática, o V/m é a unidade de campo elétrico mais
utilizada.

Exemplo 4.1: Diferença de potencial em um campo elétrico


uniforme
Considere um campo elétrico E ~ uniforme como o mostrado na
Figura 4.4. Qual a diferença de potencial entre dois pontos, A e
B, separados por uma distância | ~s | = d, onde ~s é paralelo a E?
~

Figura 4.4: O ponto B está em um potencial elétrico menor que o


ponto A. Quando uma carga de prova positiva se move de A até B, o
sistema carga-campo perde energia potencial elétrica.

Aplicando a equação 4.2, temos


ˆ B ˆ B ˆ B
VB − VA = − ~ · d~s = −
E E cos θ ds = − Eds.
A A A

Como E é constante, podemos removê-lo da integral. Obtemos


que ˆ B
VB − VA = −E ds = −Ed.
A

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potencial elétrico 91

O sinal negativo indica que o potencial elétrico no ponto B é


menor que no ponto A, isto é, VB < VA . As linhas de força do
campo elétrico sempre apontam na direção em que o potencial
elétrico está diminuindo, como mostrado na Figura 4.4.
Se uma carga elétrica q move-se de A até B, podemos calcular
a variação da energia potencial do sistema carga-campo:

∆U = q∆V = −qEd.

Portanto, se q é positiva, ∆U será negativa. E portanto con-


cluímos que um sistema consistindo de uma carga positiva e um
campo elétrico perde energia potencial quando a carga move-se
na direção do campo.

4.3 Potencial elétrico de cargas pontuais

Conforme discutido nos capítulos anteriores, uma carga


pontual positiva e isolada q produz um campo elétrico que
possui uma direção radial para fora e centrado na carga.
Para calcular o potencial elétrico em um ponto qualquer lo-
calizado a uma distância r da carga q, partimos da expressão
para a diferença de potencial:
ˆ B
VB − VA = − E~ · d~s,
A

onde A e B são dois pontos arbitrários, como mostrado na


Figura 4.5. O campo elétrico produzido pela carga q em
função do raio r é dado por

~ = 1 q
E r̂.
4πε0 r2
A quantidade E
~ · d~s é

~ · d~s = 1 q
E r̂ · d~s.
4πε0 r2
Como a magnitude de r̂ é 1, o produto escalar r̂·d~s = ds cos θ,
onde θ é o ângulo entre r̂ e d~s. Mas ds cos θ é justamente

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92 física iii

Figura 4.5: A diferença


de potencial entre os pon-
tos A e B devido a uma
carga pontual q depende
apenas das coordenadas ra-
diais inicial e final, rA e
rB . Os dois círculos tra-
cejados representam seções
retas de superfícies equipo-
tenciais em torno da carga.

a projeção de d~s na direção de r̂, ou seja, ds cos θ = dr.


Portanto, isso mostra que qualquer deslocamento d~s ao
longo da trajetória que liga os pontos A e B corresponde a
uma variação dr na magnitude do vetor ~r. Fazendo essas
substituições, a expressão para a diferença de potencial fica
ˆ rB r
q dr q 1 B
VB − VA = − =
4πε0 rA r2 4πε0 r rA
 
q 1 1
VB − VA = −
4πε0 rB rA
Esta última equação dá a diferença de potencial entre os
pontos A e B. Se desejamos encontrar o potencial em
qualquer ponto (em vez da diferença de potencial entre dois
pontos), podemos escolher um ponto referencial no infinito,
onde V = 0. Por exemplo, assumindo rA → ∞ e rB → r,
obtemos para um ponto qualquer o potencial elétrico criado
por uma carga pontual:

1 q
V (r) = . (4.3)
4πε0 r

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potencial elétrico 93

Princípio da superposição. Se temos um conjunto com N


cargas, o potencial elétrico num dado ponto será obtido
calculando-se o potencial Vi devido a cada carga e somando-
se os valores
V = V1 + V2 + V3 + · · · + VN
ou simplesmente
N
X 1 X qi
V = Vi = ,
i=1
4πε0 i ri
onde qi é a carga elétrica da i-ésima carga e ri é a distância
dessa carga ao ponto onde queremos determinar o potencial.
Este é o princípio da superposição, que também é válido
para calcular o potencial elétrico.

Exemplo 4.2: Potencial elétrico de um dipolo elétrico


Seja um dipolo elétrico formado por duas cargas pontuais de mó-
dulo q e sinais opostos, separadas por uma distância d, mostrado
na Figura 4.6. O momento de dipolo elétrico é p ~, cujo módulo é
qd.

+ +

– –
Figura 4.6: (a) Um ponto P no campo de um dipolo elétrico. (b)
Quando r  d podemos considerar que a diferença de distâncias
r− − r+ ≈ d cos θ.

O potencial elétrico num ponto P qualquer pode ser calculado


usando o princípio de superposição:
X
VP = Vi = V+ + V− ,
i

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94 física iii

onde V+ e V− são, respectivamente, os potenciais das cargas


positiva e negativa. Substituindo as expressões para o potencial
criado por uma carga pontual, temos
 
1 q −q q r− − r+
VP = + = ,
4πε0 r+ r− 4πε0 r− r+

onde r+ e r− são as distâncias de cada carga até o ponto P .


Em geral, podemos considerar o ponto P muito distante, de
forma que r  d (onde r é a distância do ponto médio entre
as cargas até o ponto P ). Nesta condição, podemos deduzir da
Figura 4.6b que

r− − r+ ≈ d cos θ e r− r+ = r 2 .

O potencial se reduz a
1 qd cos θ 1 p cos θ 1 p~ · r̂
V ≈ = = ,
4πε0 r2 4πε0 r2 4πε0 r2
onde r̂ é o vetor unitário na direção de r e p
~ aponta da carga
negativa para a positiva.

4.4 Energia potencial elétrica

Consideremos agora a energia potencial de um sistema de


duas partículas carregadas. Se V2 é o potencial elétrico num Figura 4.7: (a) Se duas
ponto P devido à carga q2 , então o trabalho de um agente cargas pontuais estão se-
paradas por uma distân-
externo para trazer uma segunda carga q1 do infinito até o cia r12 , a energia poten-
ponto P é q1 V2 . Este trabalho representa a transferência cial do par de cargas é ∝
de energia para o sistema e a energia aparece no sistema q1 q2 /r12 . (b) Se a carga q1
é removida, um potencial
como uma energia potencial U quando as partículas estão
∝ q2 /r12 existe no ponto P
separadas por uma distância r12 , como mostra a Figura 4.7. devido à carga q2 .
Portanto, podemos expressar a energia potencial do sistema
como:
1 q1 q2
U (r) = .
4πε0 r12
Para um sistema de cargas pontuais e fixas, podemos
calcular a energia potencial do sistema de forma semelhante,

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potencial elétrico 95

somando-se a energia potencial de cada par de cargas. Por


exemplo, para uma distribuição de três cargas, a energia
potencial do sistema é dada por:
1 q1 q2 1 q1 q3 1 q2 q3
U= + + .
4πε0 r12 4πε0 r13 4πε0 r23
Note que a energia potencial é uma propriedade do sistema,
e não de alguma carga individual.

4.5 Potencial de distribuições contínuas de car-


gas

Podemos calcular o potencial elétrico devido a uma distri-


buição contínua de cargas de duas formas. Se a distribuição
de cargas é conhecida, podemos partir da equação 4.3 para
o potencial elétrico de uma carga pontual e considerar o
potencial produzido por um elemento infinitesimal de carga
dq, tratando este elemento como uma carga pontual, como Figura 4.8: Potencial elé-
ilustrado na Figura 4.8. O potencial elétrico dV num ponto trico num ponto P devido
a uma distribuição contínua
P qualquer devido ao elemento de carga dq é de cargas.
1 dq
dV = .
4πε0 r
Para obter o potencial produzido por toda distribuição,
integramos esta equação sobre todos os elementos de carga:
ˆ
1 dq
V (r) = .
4πε0 r

Se o campo elétrico já é conhecido, por exemplo aplicando-


se a lei de Gauss a uma distribuição simétrica de cargas,
podemos calcular o potencial usando a relação para a dife-
rença de potencial:
ˆ
∆V = − E ~ · d~s.

Neste caso, temos que considerar o potencial elétrico num


ponto de referência qualquer como sendo zero.

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96 física iii

Esfera não-condutora uniformemente carregada


Seja uma esfera sólida não-condutora de raio a possui uma
carga total Q distribuída uniformemente em todo o seu
volume Figura 4.9a. Vamos determinar o potencial elétrico
no exterior da esfera, sobre sua superfície e dentro da esfera.

Potencial no exterior da esfera (r > a). Inicialmente, con-


sideramos o potencial nulo no infinito r = ∞. O campo
elétrico fora de uma distribuição esfericamente simétrica de
cargas é dado por

~ = 1 Q
E r̂, (r > a),
4πε0 r2
onde o campo é dirigido radialmente para fora quando Q é
positiva. Para obter o potencial em um dado ponto externo
Figura 4.9: (a) Esfera não-
B, como mostrado na Figura 4.9, substituímos esta expres- condutora de raio a e carga
são para E~ na equação para o potencial. Como E ~ ·d~s = E dr total Q distribuída unifor-
neste caso, temos memente em seu volume.
(b) Gráfico de V versus r
ˆ r ˆ r em diferentes regiões do es-
Q dr 1 Q
VB − V∞ = − E dr = − 2
= . paço.
∞ 4πε 0 ∞ r 4πε 0 r

Note que este resultado é idêntico àquele obtido para o


potencial elétrico produzido por uma carga pontual. Gene-
ralizando para um ponto qualquer localizado a uma distância
r > a, temos

1 Q
V (r) = , (r > a).
4πε0 r

Potencial na superfície da esfera (r = a). Como o potencial


deve ser contínuo em r = a, podemos usar a expressão obtida
acima para determinar o valor do potencial na superfície
da esfera. Assim, o potencial no ponto C mostrado na
Figura 4.9 é

1 Q
V (a) = VC = , (r = a).
4πε0 a

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potencial elétrico 97

Potencial no interior da esfera (r < a). No interior da


esfera, o campo elétrico é dado por

~ = 1 Qr
E r̂, (r < a).
4πε0 a3
Podemos utilizar este resultado e determinar a diferença de
potencial entre o ponto C, sobre a superfície da esfera, e
um ponto D no interior da esfera:
ˆ r ˆ
1 Q r 1 Q 2 2
VD −VC = − E dr = − 3
r dr = 3
(a −r ).
a 4πε 0 a a 4πε 0 2a

Substituindo o valor de VC nesta expressão e resolvendo


para VD , obtemos
1 Q 2 1 Q
VD = (a − r2 ) +
4πε0 2a3 4πε0 a
1 Q a2 r2
 
VD = − 2 +2 .
4πε0 2a a2 a
Generalizando para um ponto qualquer no interior da esfera,
temos
r2
 
1 Q
V (r) = 3 − 2 , (r < a).
4πε0 2a a

Em r = a, esta expressão dá um resultado que é igual


ao valor de VC , o potencial na superfície. Um gráfico de V
em função de r para esta distribuição de cargas é mostrado
na Figura 4.9b.

Esfera condutora
Seja uma esfera condutora de raio a carregada com uma
carga líquida Q, como mostra a Figura 4.10. Fora da esfera, Figura 4.10: (a) Esfera con-
para r > a, o potencial pode ser calculado exatamente como dutora de raio a e carga
no caso de uma esfera não-condutora, fazendo V = 0 no Q. (b) Gráfico de V versus
r que mostra o potencial
infinito. Portanto, temos constante no interior da es-
fera. (c) Comparação com
1 Q
V (r) = , (r > a). o gráfico para o campo elé-
4πε0 r trico; no interior da esfera
condutora, E = 0.
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98 física iii

O potencial na superfície (r = a) será, então


1 Q
V (a) = , (r = a).
4πε0 a
Dentro da esfera condutora, o campo elétrico é nulo.
Assim, nenhum trabalho é realizado para mover uma carga
de um ponto a outro no seu interior. Isto significa que o
potencial dentro da esfera é constante e igual ao potencial
da superfície:
1 Q
V (r) = , (r < a).
4πε0 a

Linha infinita de cargas


Considere uma linha muito longa carregada com um densi-
dade linear de cargas λ. O potencial elétrico a uma distância
r da linha pode ser calculado a partir da componente radial
do campo elétrico
λ
E(r) = .
2πε0 r
A diferença de potencial entre dois pontos A e B, ao longo
da direção radial é (lembrando que E ~ · d~s = E dr):
ˆ B ˆ rB
λ dr λ rA
VB − VA = − E dr = − = ln .
A 2πε 0 rA r 2πε0 rB

Se considerarmos o ponto A no infinito de forma que VA = 0,


encontramos que VB terá um valor infinito para quaisquer
valores finitos de rB :
λ ∞
VB = ln .
2πε0 rB
Portanto, esta não é uma forma sensata de definir o potencial
para este tipo de problema. Ao invés disso, vamos considerar
que o potencial VA = 0 para uma distância finita e arbitrária
r0 . Assim, o potencial em um ponto qualquer V = VB será:
λ r0
V (r) = ln .
2πε0 r

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potencial elétrico 99

Anel de cargas

Um fino anel circular de raio a possui uma carga elétrica Q


distribuída uniformemente. Vamos determinar o potencial
elétrico em um ponto P sobre o eixo do anel a uma distância
z do seu centro, como mostra a Figura 4.11.

Figura 4.11: Anel circular


de raio a possui uma carga
elétrica Q distribuída uni-
formemente.

Cada ponto√ sobre o anel é equidistante de P e sua


distância é r = z 2 + a2 . O potencial é obtido integrando-
se sobre todos os elementos de carga dq:
ˆ ˆ
1 dq 1 1
V = = √ dq.
4πε0 r 4πε0 z + a2
2

´
Como dq = Q, temos

Q 1
V (z) = √ .
4πε0 z + a2
2

Para pontos muito distantes do anel, z  a, este


resultado se reduz ao esperado para o potencial de uma
carga pontual:

1 Q
V ≈ , (z  a).
4πε0 |z|

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100 física iii

Disco carregado
Um disco carregado uniformemente possui um raio a e
uma densidade superficial de carga σ. Vamos determinar
o potencial elétrico em um ponto P qualquer ao longo do
eixo central perpendicular do disco, conforme mostra a
Figura 4.12.

Figura 4.12: Disco carre-


gado.

Podemos considerar que o disco é formado por anéis


concêntricos (com uma fatia de cebola) e utilizar a solução
obtida anteriormente para um anel de cargas. Neste caso,
vamos considerar anéis infinitesimais com raio r0 e espessura
dr0 . A quantidade de carga em cada anel será

dq = σ dA = σ(2πr0 dr0 ) = 2πσr0 dr0 .

O potencial elétrico produzido por cada anel infinitesimal,


dV , a uma distância z do centro, pode ser obtido através
do resultado da seção anterior:
1 dq 1 2πσr0 dr0
dV = √ = √ .
4πε0 z 2 + r02 4πε0 z 2 + r02

Para obter o potencial elétrico no ponto P , integramos


a equação acima desde r0 = 0 até r0 = a, onde z é constante:
ˆ a
σ 2r0 dr0
V = √ .
4ε0 0 z 2 + r02

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potencial elétrico 101

Fazendo u = z 2 + r02 , du = 2r0 dr0 , e os limites ficam u = z 2


e u = z 2 + a2 :
ˆ z 2 +a2 z2 +a2
σ du σ √
V = = 2 u
4ε0 z2 u1/2 4ε0 z2

σ p 2 
V (z) = z + a2 − |z| .
2ε0
Se tomarmos o limite |z|  a, temos5 5
Usando o teorema bino-
mial
1/2 nx
a2 1 a2
  
(1 + x)n = 1 + +
p
z2 + a2 = |z| 1 + 2 = |z| 1 + + ··· . 1!
z 2 z2 n(n − 1)x2
+ + ···
2!
Simplificando a expressão para o potencial, temos

1 a2 σ a2
  
σ
V ≈ |z| + |z| − |z| = .
2ε0 2 z 2 4ε0 |z|

Multiplicando e dividindo por π e considerando que Q =


σ(πa2 ), obtemos

1 σπa2 1 Q
V = = , (z  a).
4πε0 |z| 4πε0 |z|

Portanto, para longas distâncias, |z|  a, o potencial elé-


trico do disco é o mesmo daquele produzido por uma carga
pontual.
No centro do disco, z = 0, o potencial possui um valor
finito e igual a

σa Q a 1 2Q
V (0) = = = .
2ε0 πa2 2ε0 4πε0 a

4.6 Cálculo do campo a partir do potencial

Podemos expressar a diferença de potencial dV entre dois


pontos separados por ds como

~ · d~s.
dV = −E

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102 física iii

Se o campo elétrico possui apenas a componente na direção


radial r, então E
~ · d~s = Er dr. Portanto, podemos escrever
o campo elétrico em função da diferença de potencial como

~ = Er r̂ = − dV r̂.
E
dr
Por exemplo, podemos encontrar o campo elétrico produzido
por uma carga pontual a partir do seu potencial, dado por
1 q
V (r) = .
4πε0 r
A componente radial do campo elétrico será
dV 1 d q 1 q
Er = − =− = .
dr 4πε0 dr r 4πε0 r2

De uma forma geral, o potencial V pode ser escrito em


termos das coordenadas cartesianas e as componentes do
campo elétrico, em cada coordenada, podem ser facilmente
obtidas a partir de V (x,y,z) através de derivadas parciais:
∂V ∂V ∂V
Ex = − , Ey = − e Ez = − .
∂x ∂y ∂z

Como E
~ = Ex ı̂ + Ey ̂ + Ez k̂, podemos escrever
 
~ = − ∂V ı̂ − ∂V ̂ − ∂V k̂ = − ∂ ı̂ + ∂ ̂ + ∂ k̂ V.
E
∂x ∂y ∂z ∂x ∂y ∂z
Aqui é conveniente definir um operador vetorial chamado
gradiente de uma função, representado pelo símbolo ∇
~ (na-
bla). Em coordenadas cartesianas ele é dado por

~ = ∂ ı̂ + ∂ ̂ + ∂ k̂.

∂x ∂y ∂z
Assim, o campo elétrico também pode ser definido em termos
do gradiente de V :
~ = −∇V.
E ~

Note que o operador ∇


~ aplicado a uma quantidade escalar,
como o potencial elétrico, resulta em um vetor (campo

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potencial elétrico 103

elétrico). Em termos matemáticos, podemos considerar o


campo elétrico E ~ como o negativo do gradiente do potencial
elétrico V . Fisicamente, o sinal negativo implica que se o
potencial V aumenta quando uma carga se move na direção
x, por exemplo, com ∂V /∂x > 0, então há uma componente
não-nula do campo na direção oposta (−Ex 6= 0). Por
exemplo, no caso da gravidade, se o potencial gravitacional
aumenta quando uma massa é levantada por uma altura h,
a força gravitacional apontará para baixo.

Exemplo 4.3: Campo elétrico de um anel e de um disco


carregado
A partir do potencial elétrico, obtenha as expressões para o
campo elétrico ao longo do eixo que passa pelo centro (a) de um
anel carregado e (b) de um disco carregado.

(a) O potencial elétrico produzido por um anel de cargas em


um ponto qualquer ao longo do seu eixo central, que coincide
com a direção z, é dado por
1 Q
V (z) = √ .
4πε0 z 2 + a2
Neste caso, como o potencial depende apenas de z, podemos
determinar a componente do campo elétrico nesta direção a partir
da derivada de V em relação a z:
∂V 1 Qz
Ez = − = .
∂z 4πε0 (z 2 + a2 )3/2

(b) De forma similar, o potencial elétrico produzido por um


disco carregado, ao longo do seu eixo central e perpendicular, é
dado por
σ p 2 
V (z) = z + a2 − |z| .
2ε0
O campo elétrico, calculado a partir do potencial, é obtido
simplesmente pela derivada de V em relação a z:
 
∂V σ z z
Ez = − = −√ .
∂z 2ε0 |z| z 2 + a2

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104 física iii

4.7 Superfícies equipotenciais

Seja um dado sistema físico que possui um potencial elé-


trico descrito em duas dimensões por uma função V (x,y).
As curvas caracterizadas por valores constantes de V (x,y)
são chamadas de curvas equipotenciais. De forma análoga,
curvas de nível em mapas topográficos são caracterizadas
por terem a mesma elevação em relação ao nível do mar, +

definindo linhas com mesmo potencial gravitacional.


Em três dimensões, teremos superfícies equipotenciais
descritas por uma função V (x,y,z) = constante, ou seja, o
valor do potencial em qualquer ponto de uma dada superfí-
cie equipotencial será sempre o mesmo. Portanto, quando
uma carga de prova move-se ao longo de uma superfície
equipotencial de um ponto A para um ponto B, ∆V = 0, e +

portanto
ˆ B
∆V = − E~ · d~s = 0.
A

Para que isto ocorra, o campo elétrico E ~ deve ser perpen-


Figura 4.13: Superfícies
dicular ao vetor deslocamento em cada ponto ao longo da equipotenciais (linhas tra-
superfície equipotencial (veja o Exemplo 4.4). Isto mostra cejadas) e linhas de campo
(linhas sólidas) para um
que as superfícies equipotenciais são sempre perpendiculares campo elétrico uniforme
às linhas de força do campo elétrico que as interceptam, produzido por uma placa in-
como mostrado na Figura 4.13. finita, uma carga pontual e
um dipolo elétrico.
Podemos resumir as propriedades das superfícies equi-
potenciais nos seguintes pontos:

(i) As linhas de campo elétrico são perpendiculares às


superfícies equipotenciais e apontam no sentido do
maior para o menor potencial.

(ii) Por simetria, as superfícies equipotenciais produzidas


por uma carga pontual podem ser representadas por
superfícies esféricas concêntricas, e para um campo
elétrico constante, formam um conjunto de planos
perpendiculares ao campo (veja a Figura 4.13).

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potencial elétrico 105

(iii) A componente tangencial do campo elétrico ao longo


de uma superfície equipotencial é nula.

(iv) Nenhum trabalho é realizado para mover uma partí-


cula ao longo de uma superfície equipotencial.

Exemplo 4.4: Gradiente e equipotencial


Seja V (x,y) o potencial elétrico no ponto P (x,y) mostrado na Fi-
gura 4.14. Qual será a variação de potencial, dV , se deslocarmos
para um ponto vizinho P (x + dx, y + dy)?

Figura 4.14: Quando há um deslocamento d~s de uma curva equipoten-


cial para outra há uma variação de potencial dV .

Podemos escrever a diferença de potencial entre os dois pontos


como
dV = V (x + dx, y + dy) − V (x,y).
Expandindo o primeiro termo usando série de Taylor, temos
 
∂V ∂V
dV = V (x,y) + dx + dy + · · · − V (x,y)
∂x ∂y

∂V ∂V
dV ≈
dx + dy.
∂x ∂y
Como o vetor deslocamento é dado por d~s = dxı̂ + dy ̂, podemos
reescrever dV como
 
∂V ∂V ~ · d~s = −E ~ · d~s.
dV = ı̂ + ̂ · (dxı̂ + dy ̂) = ∇V
∂x ∂y

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106 física iii

Se o vetor deslocamento é tangente à curva equipotencial pas-


sando por P (x,y), então dV = 0, já que V é constante. Isso
ocorre apenas se E~ ⊥ d~s ao longo de toda curva equipotencial.
O valor máximo de dV acontece apenas quando o gradiente do
potencial, ∇V
~ , é paralelo a d~s. Em termos físicos, isso indica que
o gradiente sempre aponta na direção em que ocorre a máxima
variação do potencial elétrico em relação ao deslocamento s.

4.8 Potencial elétrico de um condutor carregado

Em um condutor em equilíbrio eletrostático, a carga elétrica


total distribui-se em sua superfície, resultando que o campo
elétrico em seu interior é nulo. Podemos demonstrar que
todo ponto na superfície de um condutor carregado em
equilíbrio eletrostático está no mesmo potencial elétrico.
Considere dois pontos A e B na superfície de um con-
dutor carregado, como mostra a Figura 4.15. Ao longo de
uma trajetória de superfície conectando esses pontos, E
~ sem-
pre é perpendicular ao deslocamento d~s. Consequentemente,
o produto escalar E~ · d~s = 0. Usando esse resultado, temos
que a diferença de potencial entre A e B é
ˆ B
VB − VA = − ~ · d~s = 0.
E
A

Esse resultado é válido para quaisquer dois pontos na super-


fície. Como V é constante em toda a superfície do condutor,
ela pode ser considerada como uma superfície equipotencial.

Figura 4.15: Um condutor


de formato arbitrário com
um excesso de cargas posi-
tivas. Em equilíbrio eletros-
tático, o campo no interior
do condutor é nulo. O po-
tencial é constante dentro
O campo elétrico dentro do condutor é nulo. Isso do condutor e igual ao da
implica que o potencial em qualquer ponto no interior do superfície.

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potencial elétrico 107

condutor é o mesmo (constante), sendo igual ao valor na


superfície. Conclui-se que nenhum trabalho é necessário
para mover uma carga de prova do interior de um condutor
carregado para sua superfície.
Considere agora um sistema consistindo de duas esfe-
ras condutoras carregadas de raios r1 e r2 conectadas por
um fio condutor, como mostra a Figura 4.16. Supondo que
as esferas estão muito distantes entre si, o campo elétrico
produzido por uma não afeta a outra. Assim, o campo elé-
trico de cada esfera pode ser descrito pelo campo produzido
por uma distribuição esférica de cargas, que é o mesmo de
uma carga pontual.
Como as esferas estão conectadas por um fio condutor,
todo o sistema é um único condutor e todos os pontos em
sua superfície possuem o mesmo potencial elétrico. Em Figura 4.16: Duas esferas
particular, os potenciais nas superfícies das duas esferas condutoras carregadas com
cargas q1 e q2 estão conecta-
devem ser iguais, de forma que temos a seguinte relação: das por um fio condutor. O
1 q1 1 q2 q1 q2 potencial elétrico na super-
= ⇒ = . fície das esferas é o mesmo.
4πε0 r1 4πε0 r2 r1 r2
Portanto, a esfera maior possui uma maior quantidade de
carga: q1 > q2 , já que r1 > r2 .
Agora vamos comparar as densidades de carga sobre
as duas esferas:
q2
σ2 (4πr22 ) q2 r12 r2 r12 r1
= q1 = 2 = = .
σ1 q1 r2 r1 r22 r2
(4πr12 )
Logo, embora a esfera maior tenha uma carga total maior,
a esfera de raio menor possui uma densidade superficial de
cargas maior. Como o campo elétrico próximo à superfície
de um condutor é proporcional à densidade superficial de
cargas, E = σ/ε0 , isso mostra que o campo elétrico próximo
da esfera menor é maior que o campo nas proximidades da
esfera maior.
Podemos generalizar este resultado dizendo que o
campo elétrico devido a um condutor carregado é maior

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108 física iii

em superfícies pontiagudas (que possuem raios de curvatura


menor). Este fenômeno está ilustrado na Figura 4.17 e é
chamado poder das pontas.

Figura 4.17: Ilustração do


efeito das pontas. As linhas
de campo elétrico são mais
intensas em regiões onde o
raio de curvatura é menor,
isto é, nas pontas do condu-
tor.

Cavidade dentro de um condutor


Suponha agora um condutor de forma arbitrária que contém
uma cavidade, ou seja, um condutor oco, como mostra a
Figura 4.18. Assumindo que não há cargas no interior da
cavidade e que o condutor está em equilíbrio eletrostático, B
concluímos pela lei de Gauss que o campo elétrico no interior
do condutor é nulo, já que toda carga do condutor está na A
sua superfície externa.
Para provar este ponto, podemos utilizar a propriedade
básica de um condutor: todos os pontos num condutor Figura 4.18: Um condutor
possuem o mesmo potencial elétrico. Dessa forma, dois em equilíbrio eletrostático
pontos A e B num condutor oco mostrado na Figura 4.18 contendo uma cavidade.

devem possuir o mesmo potencial, de forma que


ˆ B
VB − VA = − ~ · d~s = 0.
E
A

A única maneira para tornar essa integral igual a zero para


todos os caminhos entre A e B, é considerar o campo E ~
nulo em todos os pontos no interior do condutor, incluindo
na cavidade. Além disso, como não há cargas dentro da ca-
vidade, também não pode haver cargas na superfície interna
do condutor.

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potencial elétrico 109

Problemas propostos
Níveis de dificuldade:
P4.1 š Um campo elétrico uniforme de magnitude 250 V/m
está na direção positiva do eixo x. Uma carga de 12,0 µC š – de boa na lagoa;
move-se da origem para o ponto (x,y) (20,0 cm, 50,0 cm). ˜ – mais fácil que capi-
(a) Qual é a mudança de energia potencial do sistema carga- nar um lote;
campo? (b) Através de qual diferença de potencial a carga – – corram para as coli-
se move? nas!

P4.2 š Uma placa não-condutora infinita possui uma


densidade superficial de cargas σ = +5,80 pC/m2 . (a)
Qual é o trabalho realizado pelo campo elétrico produzido
pela placa se um próton é deslocado da superfície da placa
para um ponto P situado a uma distância d = 3,56 cm da
superfície da placa? (b) Se o potencial elétrico V é definido
como sendo zero na superfície da placa, qual é o valor de V
no ponto P ?

P4.3 š Duas cargas puntiformes, q1 = +5,00 nC e q2 =


−3,00 nC, estão separadas por 35,0 cm. (a) Qual é a energia
potencial do par? (b) Qual é o potencial elétrico de um
ponto localizado entre as cargas?

P4.4 ˜ Duas cargas de mesmo módulo mas sinais contrá-


rios estão separadas por uma distância d, como mostrado
na Figura 4.19. Determine a expressão para a diferença de
potencial entre os pontos A e B, VB − VA , localizados na
linha entre as cargas.

Figura 4.19: Problema 4.4.


+

P4.5 ˜ Uma gota d’água esférica com um carga de 30 pC


tem um potencial de 500 V na superfície (com V = 0 no
infinito). (a) Qual é o raio da gota? (b) Se duas gotas de
mesma carga e raio se combinam para formar uma gota
esférica, qual é o potencial na superfície da nova gota?

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110 física iii

P4.6 š Uma esfera não-condutora tem raio a = 2,31 cm e


uma carga Q = +3,50 fC uniformemente distribuída em seu
volume. Considere o potencial elétrico no centro da esfera
como sendo V0 = 0. Determine o valor de V (a) para uma
distância radial r = 1,45 cm e (b) para r = a.

P4.7 ˜ O módulo do campo elétrico na superfície de uma


esfera de cobre de 20 cm de raio é de 3800 N/C, dirigido
para o centro da esfera. Qual é o potencial no centro da
esfera se assumirmos que o potencial no infinito seja igual a
zero?

P4.8 š Uma barra de plástico tem a forma de uma cir-


cunferência de raio a = 8,20 cm. A barra possui uma carga
Q1 = +4,20 pC uniformemente distribuída ao longo de
1/4 de circunferência e uma carga Q2 = −6Q1 distribuída
uniformemente ao longo do resto da circunferência, como
mostra a Figura 4.20. Com V = 0 no infinito, determine o
potencial elétrico (a) no centro C da circunferência; (b) no
ponto P , que está sobre o eixo central da circunferência a
uma distância d = 6,71 cm do centro.

Figura 4.20: Problema 4.8.

P4.9 ˜ Uma barra de comprimento ` = 1,00 m está


sobre o eixo x conforme mostra a Figura 4.21. Ela possui
uma densidade de carga não-uniforme λ = αx, onde α =
+1,00 nC/m2 . A distância d = 10,0 cm. Calcule o potencial
elétrico no ponto P .

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potencial elétrico 111

Figura 4.21: Problema 4.9.

P4.10 ˜ Uma barra não-condutora é curvada formando


um arco semicircular de raio a. Uma carga Q está distribuída
uniformemente ao longo de toda barra. Calcule o potencial
elétrico no centro de curvatura do semi-círculo. Considere o
potencial no infinito igual a zero.

P4.11 ˜ Uma esfera de metal com raio a é envolvida por


uma camada esférica metálica com raio b. A esfera está
carregada com uma carga +q e a camada com uma carga
−q. Calcule o potencial elétrico V (r) para (a) r < a, (b)
a < r < b e (c) r > b. Considere o potencial nulo para
r → ∞.

P4.12 ˜ Duas cascas cilíndricas coaxiais condutoras têm


cargas iguais com sinais opostos. A casca interna tem carga
+q e um raio externo a, e a casca externa tem carga −q e um
raio interno b, como mostra a Figura 4.22. O comprimento
de cada casca é `, muito longo comparado com os raios das
cascas. Determine a diferença de potencial Va − Vb entre as
cascas.

P4.13 š Em uma certa região do espaço, o potencial


elétrico é V = 5x − 3x2 y + 2yz 2 . (a) Encontre as expressões
para as componentes x, y e z do campo elétrico nesta região.
(b) Qual é o módulo do campo em um ponto P que tem Figura 4.22: Problema
4.12.
coordenadas (1, 0, 2) m?

P4.14 š Duas placas metálicas paralelas, de grande ex-


tensão, são mantidas a uma distância de 1,5 cm e possuem
cargas de mesmo valor absoluto e sinais opostos nas super-
fícies internas. Tome o potencial da placa negativa como

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112 física iii

sendo zero. Se o potencial a meio caminho entre as placas é


+5,0 V, qual é o campo elétrico na região entre as placas?

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5
Capacitores e dielétricos

Neste capítulo, vamos introduzir um dos elementos de cir-


cuito mais fundamentais, os capacitores, que são utilizados
para o armazenamento de energia potencial elétrica. Em
geral, um capacitor é composto por dois condutores, cada
um carregado com a mesma quantidade de carga elétrica,
mas com sinais opostos, separados por um material isolante,
chamado dielétrico.
Historicamente, o primeiro dispositivo utilizado para
este propósito ficou conhecido como a “garrafa de Leiden”,
que foi inventada em 1746 por Pieter van Musschenbroek
(1692–1761), professor da Universidade de Leiden, na Ho-
landa. Ela é constituída de uma garrafa de vidro com folhas
de alumínio cobrindo as suas superfícies interna e externa, e
de uma barra de metal projetada verticalmente pela abertura
da garrafa para estabelecer uma conexão com a superfície
interna, como ilustrado na Figura 5.1. Os primeiros experi-
mentos na área da eletricidade utilizavam garrafas de Leiden
para armazenar carga elétrica em suas camadas metálicas,
que eram posteriormente descarregadas para gerar um fluxo Figura 5.1: Ilustração de
de cargas ou corrente elétrica. uma garrafa de Leiden. (At-
kinson, 1903)
114 física iii

5.1 Capacitância

Considere uma esfera condutora de raio a carregada com


uma carga Q. O potencial elétrico na sua superfície é dado
pela expressão
Q
V = .
4πε0 a
A relação Q/V para a esfera é constante e independe da
carga Q, já que o potencial é proporcional à carga que o
produz. Isto é válido para todo condutor carregado e isolado,
independente de sua forma geométrica. Em consequência
disso, podemos definir a capacitância de um condutor isolado
como a sendo a razão entre sua carga e seu potencial:

Q
C= .
V

A capacitância de uma esfera condutora isolada é dada então


pela expressão
Q
C= = 4πε0 a.
V
De um modo geral, o conceito de capacitância pode se
estender a um sistema de condutores. O caso mais simples Figura 5.2: Ilustração de
alguns tipos de capacito-
é o formado por duas placas condutoras carregadas com
res encontrados em circui-
cargas +Q e −Q, separadas por uma dada distância. Se Va e tos elétricos e eletrônicos.
Vb são os potenciais em cada placa, a diferença de potencial
entre elas é V ≡ Va − Vb e a capacitância do sistema é
definida por
Q Q
C= = .
Va − Vb V
Este sistema de condutores é o que define um capacitor,
que possui diversas aplicações em circuitos elétricos. A Figura 5.3: Símbolo utili-
Figura 5.2 ilustra alguns exemplos de capacitores utilizados zado para representar um
capacitor em um diagrama
em circuitos, enquanto a Figura 5.3 mostra o símbolo gráfico
de circuito elétrico.
comumente empregado para representar um capacitor em
um diagrama de circuito elétrico.

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capacitores e dielétricos 115

Unidade de capacitância. A unidade de capacitância é o


farad (símbolo F), em homenagem ao físico inglês Michael
Faraday:

coulomb C
[C] ≡ farad = = = F.
volt V

Na prática, as unidades mais convenientes são submúltiplos


do farad, como o microfarad (1 µF = 10−6 F), o nanofarad
(1 nF = 10−9 F) e o picofarad (1 pF = 10−12 F).

5.2 Cálculo da capacitância

Capacitor plano

Considere um par de placas metálicas planas e paralelas,


carregadas com cargas +Q e −Q, como mostrado na Fi-
gura 5.4. Se a distância d entre as placas é muito menor que
as dimensões das placas, podemos tratá-las, com boa aproxi-
mação, como se fossem planos infinitos. Assim, desprezamos
os “efeitos de borda” nas suas extremidades.

Figura 5.4: Seção trans-


+
+
+
+
+
+
+
+
+
+
+
+
+
+

versal de um capacitor de
placas paralelas carregado.
Em geral, para o cálculo
da capacitância despreza-
mos os efeitos de borda e
– – – – – – – – – – – – – – campos externos.

O campo elétrico entre as placas pode ser considerado


uniforme e é dado por

σ
E= ,
ε0

onde σ = Q/A é a densidade superficial de cargas e A é a


área das placas.

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116 física iii

A diferença de potencial V entre as placas positiva e


negativa pode ser escrita como
ˆ + ˆ −
V ≡ V+ − V− = − ~ · d~s =
E ~ · d~s = Ed,
E
− +

pois E
~ aponta no sentido da placa positiva para a negativa.
Note que o potencial na placa positiva é maior do que na
negativa, de forma que V > 0. Logo,
σd Qd
V = = .
ε0 ε0 A
Portanto, para um capacitor de placas paralelas, ou plano,
a capacitância é dada por
Q ε0 A
C= = ,
V d
ou seja, ela depende apenas da geometria do capacitor.

Exemplo 5.1: Unidades de capacitância


Qual deve ser a área das placas de um capacitor plano de 1 F
supondo uma distância entre as placas de 1 cm?

Usando o resultado obtido acima para um capacitor plano e


resolvendo para a área A, obtemos:
ε0 A Cd
C= ⇒A= .
d ε0
Substituindo os valores, temos

(1 F) (1 × 10−2 m)
A= = 1,13 × 109 m2 ≈ 1000 km2 !!!
8,85 × 10−12 F · m−1

Capacitor cilíndrico
Considere um condutor cilíndrico sólido de raio a e carga +Q,
coaxial com uma casca cilíndrica de espessura desprezível

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capacitores e dielétricos 117

e raio b > a, carregado com uma carga −Q, cada um


com comprimento `, como ilustrado na Figura 5.5. Vamos
assumir que o comprimento dos cilindros é muito maior que
a separação entre eles, `  (b − a), de forma que podemos
desprezar os efeitos de borda.

Figura 5.5: Um capacitor


cilíndrico consiste de um
cilindro sólido de raio a e
comprimento ` envolto por
uma camada cilíndrica coa-
xial de raio b.

(a) (b)

Para calcular a capacitância desse conjunto, inicial-


mente determinamos a diferença de potencial entre os dois
condutores:
ˆ a ˆ b
V ≡ V+ − V− = Va − Vb = − ~
E · d~s = ~ · d~s.
E
b a

Como o campo elétrico E ~ = E(r)r̂ é paralelo ao elemento


d~s e considerando o módulo do campo elétrico produzido
por uma distribuição de cargas com simetria cilíndrica
λ
E = E(r) =
2πε0 r
temos
ˆ b ˆ b  
λ dr λ b
V = E(r) dr = = ln .
a 2πε0 a r 2πε0 a
Substituindo o valor absoluto de V na expressão para a
capacitância e usando λ = Q/`, temos
Q Q `
C= = Q/`
= 2πε0 .
V ln(b/a) ln(b/a)
2πε0

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118 física iii

Novamente, este resultado mostra que a capacitância de-


pende apenas de fatores geométricos envolvidos na constru-
ção de um capacitor.

Capacitor esférico
Um capacitor esférico consiste de uma camada condutora
esférica de raio b e carga −Q concêntrica com uma pequena
esfera condutora de raio a e carga +Q, como mostra a
Figura 5.6. Na região entre as esferas (a < r < b), o módulo
do campo elétrico é simplesmente E(r) = kQ/r2 e sua
direção é radial: E~ = E(r)r̂.
A diferença de potencial entre os dois condutores é
ˆ a ˆ b
V ≡ V+ − V− = Va − Vb = − ~ · d~s =
E ~ · d~s.
E Figura 5.6: Exemplo de um
b a capacitor esférico de raio in-
terno a e raio externo b.
Substituindo o campo elétrico, podemos escrever a diferença
de potencial entre as duas superfícies como
ˆ b ˆ b
b
Q dr Q 1
V = E(r) dr = =−
4πε0 r2 4πε0 r

a a
a
 
Q 1 1 Q b−a
V = − = .
4πε0 a b 4πε0 ab
Substituindo o valor absoluto de V na expressão para a
capacitância, temos

Q ab
C= = 4πε0 .
V b−a

Exemplo 5.2: Associação de capacitores em série e paralelo


Os capacitores podem combinar-se em associações de duas ma-
neiras: série e paralelo. Neste caso, podemos determinar a
capacitância equivalente da combinação de dois ou mais capaci-
tores.

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capacitores e dielétricos 119

A Figura 5.7 mostra um exemplo de conexão em paralelo,


onde os capacitores C1 , C2 , . . . , Cn estão sob a mesma diferença
de potencial V = Va − Vb . Se as cargas em cada capacitor são
Q1 , Q2 , . . . , Qn , então temos

Q1 = C1 V, Q2 = C2 V, ... Qn = Cn V.

Figura 5.7: Uma associação em paralelo de capacitores.

A carga total Q armazenada pelos capacitores é então

Q = Q1 + Q2 + · · · + Qn = (C1 + C2 + · · · + Cn )V.

Esse conjunto de capacitores é equivalente a um capacitor único,


de capacitância equivalente Ceq dada pela relação Q = Ceq V .
Para uma associação em paralelo, a capacitância equivalente é

Ceq = C1 + C2 + · · · + Cn .

Na conexão em série, representada na Figura 5.8, a placa


negativa de um capacitor se conecta com a positiva do seguinte
e assim sucessivamente. Consequentemente, todos os capacitores
possuem a mesma carga Q em suas placas.

Figura 5.8: Uma associação em série de capacitores.

Seja as diferenças de potencial V1 , V2 , . . . , Vn através de cada


capacitor C1 , C2 , . . . , Cn , temos que
Q Q Q
V1 = , V2 = , ... Vn = .
C1 C2 Cn
Logo, a diferença de potencial total, V = Va − Vb , é dada por
 
1 1 1
V = V1 + V2 + · · · + Vn = + + ··· + Q.
C1 C2 Cn

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120 física iii

Podemos substituir esse conjunto de capacitores por um equiva-


lente cuja capacitância satisfaça a relação V = Q/Ceq . Assim, a
capacitância equivalente de capacitores em série é dada por
1 1 1 1
= + + ··· + .
Ceq C1 C2 Cn

5.3 Energia armazenada nos capacitores

Uma das principais funções de um capacitor em um circuito


elétrico é armazenar energia no campo elétrico que pode
ser utilizada posteriormente para, por exemplo, acender
lâmpadas de flash em câmeras fotográficas. Neste caso, os
dispositivos dependem da carga e descarga dos capacitores.
Um capacitor carregado possui acumulada uma certa
energia potencial elétrica U , que é igual ao trabalho W
despendido para carregá-lo. Esta energia também pode ser
recuperada, permitindo-se a descarga do capacitor.
Suponha que q é a carga de um capacitor num dado
instante de tempo t. Nesse instante, a diferença de potencial
entre suas placas é V = q/C. Do capítulo anterior, sabe-
mos que o trabalho necessário para transferir uma pequena
quantidade de carga dq de uma placa para outra é
q
dW = V dq = dq.
C

O gráfico mostrado na Figura 5.9 representa o trabalho total


necessário para carregar o capacitor de q = 0 até uma carga
final q = Q, que é dado pela integral de dW : Figura 5.9: Gráfico do tra-
balho necessário para carre-
ˆ ˆ Q
q Q2 gar um capacitor.
W = dW = dq = .
0 C 2C

O trabalho realizado para carregar o capacitor aparece como


uma energia potencial elétrica armazenada entre suas placas,

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capacitores e dielétricos 121

de forma que
Q2
.U=
2C
Usando a relação Q = CV , podemos reescrever este resul-
tado como
1 1
U = CV 2 = QV.
2 2
Para um capacitor plano, isto leva a
 2
1 ε0 A 2 1 V 1
U= V = ε0 Ad = ε0 E 2 Ad.
2 d 2 d 2
Nesta expressão, Ad é o volume do espaço entre as placas
do capacitor, no qual o campo elétrico E fica confinado
(desprezando efeitos de borda). Logo, podemos pensar na
energia como estando armazenada no campo, no espaço entre
as placas, com uma densidade de energia (volumétrica) dada
por
energia 1
u= = ε0 E 2 .
volume 2
Apesar desta equação ter sido obtida para o caso de
um capacitor plano ela é válida para qualquer caso onde
temos uma fonte de campo elétrico, isto é, a densidade
de energia em qualquer campo elétrico é proporcional ao
quadrado da magnitude do campo em um dado ponto.

Exemplo 5.3: Energia armazenada em uma esfera condutora


Seja uma esfera condutora de raio a carregada com uma carga Q.
Determinar a energia total armazenada em seu campo elétrico.

Para uma esfera condutora, o campo elétrico é dado por


 1 Q
 4πε0 r2 r̂, r ≥ a


~
E= (5.1)


~
0, r<a
A densidade de energia associada a esse campo é
1 Q2
u= ε0 E 2 =
2 32π 2 ε0 r4

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122 física iii

para r ≥ a. No interior da esfera não há campo, portanto a


densidade de energia é zero. Para encontrar a energia associada
ao campo elétrico fora da esfera, precisamos resolver a integral
´
U = u dV, sobre todo o volume onde há campo, ou seja, desde
r = a até r = ∞. Em coordenadas esféricas, podemos escrever o
elemento de volume como dV = 4πr2 dr, e a integral fica
ˆ ∞ ˆ ∞
Q2 Q2 dr Q2 1
U= 2 4
4πr2 dr = 2
= = QV,
a 32π ε 0 r 8πε0 a r 8πε0 a 2

onde V = Q/4πε0 a é o potencial elétrico na superfície da esfera


condutora, com V = 0 no infinito.
Podemos verificar que essa energia potencial elétrica associada
à esfera carregada é exatamente igual ao trabalho feito para
carregá-la. Suponha que em um dado momento a esfera tenha
uma carga q e um potencial V = q/4πε0 a. O trabalho necessário
para adicionar uma carga dq ao sistema é dW = V dq. Assim,
obtemos o trabalho total para carregar a esfera,
ˆ ˆ ˆ Q
q Q2
W = dW = V dq = dq = ,
0 4πε0 a 8πε0 a
que é exatamente o mesmo resultado que obtivemos para o cálculo
da energia potencial elétrica do sistema.

Exemplo 5.4: Paradoxo dos dois capacitores


Um capacitor de capacitância C é carregado com uma carga
inicial Qi através de uma diferença de potencial Vi . Em seguida,
ele é conectado em paralelo com um segundo capacitor de mesma
capacitância, mas completamente descarregado, como ilustrado
na Figura 5.10. Quando a chave S é ligada, o segundo capacitor
é carregado, de forma que após um longo tempo ambos terão
a mesma diferença de potencial. (a) Determine a diferença de
potencial nos dois capacitores quando eles estiverem conectados.
(b) Qual a energia total armazenada nos capacitores antes e
depois da chave ser ligada?

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capacitores e dielétricos 123

Figura 5.10: Dois capacitores conectados em paralelo.

(a) A carga inicial no primeiro capacitor é Qi = CVi . Após


os dois capacitores serem conectados, metade dessa carga será
transferida para o segundo, já que eles possuem a mesma capaci-
tância. Logo, Qf = Qi /2. A diferença de potencial em ambos
capacitores será:
1 Qi 1
Vf = = Vi .
2 C 2
(b) Antes da conexão, a energia total armazenada nos dois capa-
citores é aquela contida no primeiro capacitor, já que o segundo
está descarregado:
1
Ui = CVi2 .
2
Após os dois capacitores serem conectados em paralelo, somamos
a energia potencial elétrica de cada um:
 2
1 2 1 2 2 1 1 Ui
Uf = CVf + CVf = CVf = C Vi = CVi2 = .
2 2 2 4 2

Note que metade da energia inicial, Ui , é “perdida” no processo


de carregamento do segundo capacitor em paralelo. A energia é
liberada para o ambiente via radiação eletromagnética ou calor,
como discutiremos na seção 6.4.

5.4 Dielétricos

Em muitos capacitores existe um material isolante, como


papel ou plástico, entre as placas condutoras. Este material,
chamado dielétrico, além de ser usado para manter uma sepa-
ração física entre as placas, também possui uma importante

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124 física iii

propriedade descoberta inicialmente por Cavendish, em ex-


perimentos realizados entre 1771 e 1773,1 e posteriormente 1 Cavendish H., The Elec-
por Faraday, em 1837.2 trical Researches of Henry
Cavendish. (Maxwell, J. C.
Ambos descobriram que a capacitância de um capa- ed.), Cambridge University
citor aumenta quando um dielétrico é colocado entre suas Press, 1879
placas. Por exemplo, se preenchemos o espaço vazio entre
2
Faraday M., Experimen-
tal Researches in Electri-
as placas de um capacitor plano com um material dielé- city. Eleventh Series, Phi-
trico, notamos que sua capacitância aumenta por um fator losophical Transactions of
κ, que depende apenas da natureza do material. Esse fator the Royal Society of Lon-
don, 1838, v. 128, p. 1–40
chama-se constante dielétrica do isolante (ou dielétrico), tal
que:

C = κC0 ,

onde C0 se refere à capacitância de um capacitor quando não


há nada entre as placas (portanto, para o vácuo, κ = 1). Na
Tabela 5.1, são mostrados alguns materiais dielétricos e suas
respectivas constantes dielétricas. Experimentos indicam
que todos os dielétricos possuem κ > 1. Note que para cada
dielétrico também há um valor para a rigidez dielétrica, que
é o valor máximo do campo elétrico aplicado no material
antes que as cargas elétricas comecem a fluir através dele,
ou seja, passam a conduzir eletricidade.

Material Constante Rigidez dielétrica Tabela 5.1: Valores da cons-


tante dielétrica e da rigi-
dielétrica κ (106 V/m)
dez dielétrica para diferen-
vácuo 1 – tes materiais.
ar (seco) 1,000 59 3
teflon 2,1 60
poliestireno 2,56 24
nylon 3,4 14
papel 3,75 16
quartzo fundido 3,78 8
porcelana 6 12
água 80 –
titanato de estrôncio 233 8

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capacitores e dielétricos 125

A constante κ pode ser tratada como uma medida da


resposta do dielétrico ao campo elétrico externo aplicado
sobre ele, por exemplo, o campo entre as placas de um
capacitor. Assim, para uma dada carga Q nas placas de um
capacitor, a diferença de potencial V quando um dielétrico
está presente, deve diminuir por um fator κ para fazer com
que sua capacitância (Q/V ) aumente pelo mesmo fator, ou
seja
V0
V = ,
κ
onde V0 é o potencial elétrico entre as placas do capacitor na dielétrico

ausência do dielétrico. Consequentemente, o campo elétrico


também deve diminuir, portanto + –
+ – +–
~ + –
~ = E0 ,
E + – +–
κ –
+
onde E~ 0 é o campo elétrico no vácuo entre as placas do + – +–
+ –
capacitor.
+ – +–
Essa diminuição do campo elétrico na presença de + –
um dielétrico implica que a densidade superficial de cargas, + – +–
responsável pela origem do campo, também diminui. Nas
placas condutoras do capacitor, a densidade superficial de Figura 5.11: Cargas super-
carga σ não muda, mas em cada superfície do dielétrico ficiais são induzidas em um
dielétrico na presença de
aparecem cargas induzidas de sinais opostos, como mostra a um campo elétrico externo
Figura 5.11. Essa densidade superficial de cargas induzida, E~ 0.
σP , que surge no dielétrico é o resultado da redistribuição
das cargas positivas e negativas no seu interior, fenômeno
conhecido como polarização.

Visão molecular dos dielétricos


A razão para o aumento da capacitância na presença de um
dielétrico pode ser explicada de um ponto de vista molecular.
Moléculas são polarizadas quando há uma separação entre
a posição média das cargas negativas e a posição média das
cargas positivas. Em algumas moléculas, como a água, esta
condição está sempre presente na forma de um momento de

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126 física iii

dipolo elétrico permanente e elas são chamadas de moléculas


polares. Moléculas que não possuem dipolos permanentes são
chamadas de moléculas apolares. Neste sentido, encontramos
dois tipos de dielétricos de acordo com o grau de polarização
das moléculas.

Dielétricos polares. São compostos de materiais cujas mo-


léculas polares possuem um momento de dipolo elétrico
permanente. Um exemplo típico é o da água, conforme dis-
cutimos na seção 2.4. A orientação das moléculas polares é
aleatória na ausença de um campo elétrico externo. Quando
um campo externo E ~ 0 é aplicado, um torque faz com que
as moléculas se alinhem parcialmente na mesma direção do
campo. O material dielétrico está então polarizado. O grau
de alinhamento das moléculas com o campo elétrico depende
da temperatura e da magnitude do campo. Em geral, o
alinhamento aumenta com a diminuição da temperatura e
com o aumento do campo elétrico. A Figura 5.12 ilustra o
alinhamento dos dipolos quando um campo elétrico externo
é aplicado em um dielétrico polar. Outros exemplos de mo-
léculas polares são a amônia (NH3 ), o ozônio (O3 ) e o ácido
clorídrico (HCl). A Figura 5.13 mostra as configurações
para a água, amônia e HCl e seus respectivos valores de
dipolo elétrico.

Figura 5.12: Moléculas



polares estão orientadas

+


+

+ de forma aleatória na au-


+

sência de um campo elé-


– +

+

+ trico externo. Quando


– + um campo elétrico externo


– +

– + E~ 0 é aplicado, as molécu-
– + las alinham-se parcialmente
com o campo.

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capacitores e dielétricos 127

Dielétricos apolares. Nestes dielétricos, como ilustra a Fi-


H H
gura 5.14, as moléculas apolares que os constituem não
possuem um momento de dipolo elétrico permanente. No
entanto, se aplicamos um campo elétrico externo, as molécu-
las adquirem uma polarização induzida que resulta em um N H

momento de dipolo elétrico que terá a mesma direção do H


campo externo. Exemplos de moléculas apolares são: H2 , H
O2 , CO2 (dióxido de carbono) e CH4 (metano).

H
Polarização e cargas induzidas
Cl
Como consequência do alinhamento parcial dos vetores as-
sociados aos momentos de dipolo elétrico (permanentes ou
induzidos) no sentido do campo externo aplicado, aparece Figura 5.13: Exemplos de
em cada elemento de volume dV do material um momento moléculas polares com a di-
reção e módulo dos momen-
de dipolo microscópico resultante, d~
p. É conveniente definir
tos de dipolo elétrico.
uma densidade volumétrica associada ao momento de dipolo
elétrico, chamada vetor polarização dielétrica, P~ , tal que

p = P~ dV.
d~

Note que a unidade de polarização é C/m2 , já que o momento


de dipolo é dado em C·m.
Em alguns materiais, chamados dielétricos lineares,
o vetor polarização P~ é proporcional ao campo elétrico

Figura 5.14: Moléculas


apolares não possuem uma
+ + – + – + polarização permanente.
– –
+ – + Quando um campo elétrico
+ – – + externo E ~ 0 é aplicado, as

+ – + moléculas ficam polariza-
+ – – +
– das e alinham-se na direção
do campo.

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128 física iii

aplicado E
~ 0 , podendo ser escrito como

P~ = χe ε0 E
~ 0,

onde χe , um parâmetro adimensional e positivo para a maior


parte das substâncias, é chamado de suscetibilidade elétrica
do dielétrico. A constante dielétrica κ está relacionada com
χe pela expressão
κ = 1 + χe .

O campo elétrico externo devido às placas do capaci-


tor polariza o dielétrico, o que produz a formação de uma
densidade superficial de cargas, σP , em cada face do dielé-
trico, com sinais correspondentes à polarização produzida
pelo campo externo. As cargas superficiais induzidas no
dielétrico podem ser representadas por duas placas paralelas,
de forma que um campo elétrico é induzido no seu interior,
com módulo EP e possuindo sentido oposto ao do campo
elétrico externo E
~ 0 . Portanto, o campo elétrico resultante
no interior do capacitor é dado por
~ =E
E ~0 − E
~P . (5.2)

No caso de um capacitor plano, o campo elétrico externo E ~0


pode ser relacionado com a densidade superficial de cargas
das placas como E ~ 0 = σ/ε0 n̂. De forma similar, o campo
elétrico induzido pela polarização no interior do dielétrico
é dado por E ~ P = σP /ε0 n̂. Como E ~ = E0 /κ n̂ = σ/κε0 n̂,
substituindo na equação 5.2, obtemos
σ σ σP
= −
κε0 ε0 ε0
o que resulta em
 
1
σP = σ 1 − .
κ
Como κ > 1, esta expressão mostra que a densidade de
cargas induzida no dielétrico é menor do que a densidade
de cargas nas placas do capacitor.

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capacitores e dielétricos 129

Exemplo 5.5: Capacitor preenchido por diferentes dielétricos


O capacitor plano mostrado na Figura 5.15 é formado por duas
placas paralelas quadradas de lado `, separadas por uma distância
d. O espaço entre as placas está preenchido por dois materiais
distintos com constantes dielétricas κ1 e κ2 , cada um com uma
espessura igual a d/2. Vamos determinar qual é a capacitância
deste capacitor.

Figura 5.15: Capacitor plano preenchido por dois dielétricos.

O campo elétrico que atravessa cada dielétrico é reduzido,


de forma que para cada metade da região entre as placas do
capacitor, temos
Q Q
E1 = e E2 = ,
κ1 ε 0 A κ2 ε 0 A

onde Q é a carga armazenada em cada placa de área A = `2 .


Assumindo que o campo elétrico seja uniforme em cada região,
a diferença de potencial entre as placas é dada por
 
E1 d E2 d Qd 1 1 Qd κ1 + κ2
V = + = + = .
2 2 2ε0 A κ1 κ2 2ε0 A κ1 κ2

Assim, a capacitância é
Q 2ε0 A κ1 κ2
C= = .
V d κ1 + κ2

Lei de Gauss para dielétricos

Considere o capacitor plano mostrado na Figura 5.16. Quando


não há um dielétrico entre suas placas, o campo elétrico

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130 física iii

E~ 0 na região entre elas pode ser encontrado usando-se a


lei de Gauss e adotando uma superfície gaussiana como a
mostrada na figura:
˛
~ · n̂ dA = E0 A = Q ⇒ E0 = Q .
E
S ε0 ε0 A

Figura 5.16: Superfície


gaussiana na ausência de
+
+
+
+
+
+
+
+
+
+
+
+
+
+
um dielétrico.

– – – – – – – – – – – – – –

Quando um material dielétrico é colocado entre as


placas, uma carga QP , induzida pela polarização, aparece
nas superfícies do dielétrico com sinais opostos aos que
temos nas placas do capacitor, como mostra a Figura 5.17.
A carga líquida envolvida agora pela superfície gaussiana é
Q − QP .

Figura 5.17: Superfície


gaussisna para um capaci-
+
+
+
+
+
+
+
+
+
+
+
+
+
+

tor com um dielétrico.


– – – – – – –
+

– – – – – – – – – – – – – –

A lei de Gauss para este capacitor fica:


˛
~ · n̂ dA = EA = Q − QP
E
S ε0

Q QP
E= − .
ε0 A ε0 A

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capacitores e dielétricos 131

Vimos anteriormente que o campo elétrico na presença de


um dielétrico deve diminuir por um fator κ, logo
E0 Q Q QP
E= = = − .
κ κε0 A ε0 A ε0 A
Desta expressão, obtemos o valor de QP :
 
1
QP = Q 1 − .
κ
Portanto, a carga líquida no interior da superfície gaussiana
mostrada na Figura 5.17 é
 
1 Q
Q − QP = Q − Q 1 − = .
κ κ
Assim, podemos escrever a lei de Gauss na presença de um
dielétrico como
˛
~ · n̂ dA = Q = Q ,
E
S κε0 ε
onde
ε = κε0 ,
é chamada de permissividade dielétrica do material.
Note que na carga Q não estão incluídas as cargas
devidas à polarização do dielétrico (QP ), apenas as cargas
“livres” no sistema (as cargas nas placas do capacitor). Na
prática, o efeito da presença de um dielétrico no campo
elétrico é simplesmente substituir ε0 → ε, e considerar
apenas as cargas livres imersas no dielétrico. Por exemplo,
o campo elétrico e o potencial elétrico de uma carga pontual
imersa em um meio dielétrico são, respectivamente,

~ = 1 q r̂
E e V =
1 q
.
4πε r2 4πε r
Se duas cargas pontuais estão imersas em um meio dielétrico,
o módulo da força coulombiana entre elas é
1 |q1 | |q2 |
F = .
4πε r2

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132 física iii

Como ε é geralmente maior do que ε0 , a presença de um


meio dielétrico produz uma redução efetiva da interação
entre as cargas, já que a polarização das moléculas no meio
comporta-se como uma blindagem.
Uma forma alternativa para a lei de Gauss em dielé-
tricos é definir um novo vetor, chamado vetor deslocamento
elétrico, dado por
~ = κε0 E.
D ~

Consequentemente,
˛
~ · n̂ dA = Q.
D
S

Energia armazenada na presença de um dielétrico


A energia armazenada em um capacitor de placas paralelas
que contém um dielétrico é

U = 12 QV = 21 CV 2 .

Podemos expressar a capacitância C em termos da área e


da separação entre as placas, e a diferença de potencial V
em termos do campo elétrico e da separação entre as placas,
para obter
 
1 1 εA 1
U = CV 2 = (Ed)2 = εE 2 (Ad).
2 2 d 2

A quantidade Ad é o volume da região onde há um campo


elétrico (entre as placas do capacitor). A energia por unidade
de volume, ou densidade de energia, é portanto

uE = 12 εE 2 = 12 κε0 E 2 .

Parte desta energia é a energia associada ao campo elétrico


e o restante é a energia associada com o estresse mecânico
devido à polarização do dielétrico.

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capacitores e dielétricos 133

Problemas propostos
Níveis de dificuldade:
P5.1 š (a) Qual a carga em cada placa de um capacitor
de 4,00 µF quando ele está conectado a uma bateria de š – de boa na lagoa;
12,0 V? (b) Se o mesmo capacitor é conectado a uma bateria ˜ – mais fácil que capi-
de 1,50 V, qual será a carga armazenada? nar um lote;
– – corram para as coli-
P5.2 š Uma esfera condutora carregada e isolada de raio nas!
12,0 cm cria um campo elétrico de 4,90 × 104 N/C a uma
distância de 21,0 cm do seu centro. (a) Qual é sua densidade
superficial de carga? (b) Qual é sua capacitância?

P5.3 š Um capacitor consiste de duas placas paralelas


preenchidas com ar no seu interior. Cada placa possui uma
área de 7,60 cm2 , separadas por uma distância de 1,80 mm.
Uma diferença de potencial de 20,0 V é aplicada a estas
placas. Calcule (a) o campo elétrico entre as placas, (b) a
densidade superficial de carga, (c) a capacitância e (d) a
carga em cada placa.

P5.4 š Quando uma diferença de potencial de 150 V é apli-


cada nas placas de um capacitor plano, as placas carregam-
se com um densidade superficial de carga de 30,0 nC/cm2 .
Qual é o espaçamento entre as placas?

P5.5 š A carga em um capacitor aumenta por 18 µC


quando a diferença de potencial aumenta de 97 V para
121 V. Qual é a capacitância deste capacitor?

P5.6 š Dois capacitores, C1 = 5,00 µF e C2 = 12,0 µF,


estão conectados em paralelo e a combinação resultante é
conectada a uma bateria de 9,00 V. (a) Qual é a capacitância
equivalente desta combinação? Quais são (b) a diferença de
potencial através de cada capacitor e (c) a carga armazenada
em cada capacitor?

P5.7 š Calcule a capacitância equivalente da configuração


mostrada na Figura 5.18. Todos os capacitores são idênticos
e cada um possui uma capacitância C.

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134 física iii

Figura 5.18: Problema 5.7.

P5.8 ˜ Quatro capacitores estão conectados como mostra


a Figura 5.19. (a) Encontre a capacitância equivalente entre
os pontos a e b. (b) Calcule a carga em cada capacitor se a
diferença de potencial entre a e b for Vab = 15,0 V.

Figura 5.19: Problema 5.8.

P5.9 š (a) Um capacitor de 3,00 µF está conectado a


uma bateria de 12,0 V. Quanta energia pode ser armazenada
no capacitor? (b) Se agora o capacitor é conectado a uma
bateria de 6,00 V, quanta energia seria armazenada?

P5.10 š Um capacitor de placas paralelas está carregado


com uma carga Q e a área de cada placa é A. Se a separação
entre as placas for dobrada, (a) por qual fator a energia
armazenada no campo elétrico mudará? (b) Quanto trabalho
deve ser feito para dobrar a separação entre as placas de d
para 2d?

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capacitores e dielétricos 135

P5.11 ˜ Um capacitor plano preenchido com ar tem uma


separação de placas de 1,50 cm e área das placas de 25,0 cm2 .
As placas foram carregadas com uma diferença de potencial
de 250 V e desconectadas da fonte. O capacitor é então
imerso em água destilada. Determine (a) a carga nas placas
antes e depois da imersão, (b) a capacitância e a diferença
de potencial após a imersão e (c) a variação de energia do
capacitor. Assuma que o líquido é um isolante e possui
constante dielétrica κ = 80,0.

P5.12 ˜ O campo elétrico entre as placas de um capacitor


plano cujas placas paralelas estão separadas por um pedaço
de papel (κ = 3,75) é 8,24 × 104 V/m. A espessura do
papel é de 1,95 mm e a carga em cada placa é de 0,775 µC.
Determine (a) a capacitância deste capacitor e (b) área de
cada placa.

P5.13 ˜ Determine uma expressão para a capacitância do


capacitor plano mostrado na Figura 5.20, formado por placas
paralelas quadradas de lado ` e separadas por uma distância
d. O capacitor está preenchido por dois dielétricos com
constantes κ1 e κ2 , conforme ilustrado na figura. Assuma
`  d.

Figura 5.20: Problema


5.13.

P5.14 ˜ Determine uma expressão para a capacitância


do capacitor plano mostrado na Figura 5.21, formado por
placas paralelas quadradas de lado ` e separadas por uma
distância d. O capacitor está preenchido por três blocos de
materiais dielétricos com constantes κ1 , κ2 e κ3 , conforme
ilustrado na figura. Assuma `  d.

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136 física iii

Figura 5.21: Problema


5.14.

P5.15 ˜ Um capacitor plano possui placas com área de


0,0225 m2 separadas por 1,00 mm de Teflon (κ = 2,1).
(a) Calcule a carga em cada placa quando o capacitor é
carregado por uma diferença de potencial de 12,0 V. (b)
Use a lei de Gauss para calcular o campo elétrico dentro
do Teflon. (c) Use a lei de Gauss para calcular o campo
elétrico se o Teflon for removido e a fonte de diferença de
potencial desligada.

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6
Corrente elétrica e circuitos

Em situações onde há um equilíbrio eletrostático, vimos


nos capítulos anteriores que o campo elétrico no interior
de qualquer condutor deve ser nulo. A presença de um
campo elétrico é necessária para movimentar as cargas e
para manter o seu movimento no interior do material. Na
prática, o campo é estabelecido a partir da aplicação de uma
diferença de potencial elétrico entre dois pontos quaisquer
do condutor. É exatamente isso que uma pilha ou bateria
faz quando utilizada em um circuito elétrico.
Figura 6.1: Ilustração da
Em 1791, Luigi Galvani (1737–1798) descobriu que pilha elétrica inventada por
os músculos de uma rã sem vida poderiam ser excitados por Volta em 1800.
descargas elétricas.1 Inspirado parcialmente por esta desco- 1
Galvani L., De viribus
berta, em 1800 Alessandro Volta (1745–1827), inventou electricitatis in motu mus-
culari commentarius. Ac-
um dispositivo que seria utilizado para produzir um fluxo cademia delle Scienze, Bo-
contínuo de cargas elétricas, isto é, uma corrente elétrica logna, 1791
contínua.2 Uma ilustração deste dispositivo, a pilha elétrica, 2
Volta A., On the Electri-
é mostrada na Figura 6.1. Antes de 1800, os experimentos city Excited by the Mere
Contact of Conducting
em eletricidade consistiam apenas na produção de cargas Substances of Different
estáticas por atrito e na geração de correntes elétricas pela Kinds, Philosophical
descarga de cargas eletrostáticas. Com o invento de Volta, Transactions of the Royal
Society of London, 1800,
iniciou-se o estudo das correntes elétricas em condutores, v. 90, p. 403–431
suas propriedades e aplicações.
138 física iii

6.1 Corrente elétrica

Podemos definir corrente elétrica como sendo um fluxo orde-


nado de cargas elétricas em movimento. Em um condutor,
a corrente elétrica aparece sempre que há uma diferença de
potencial entre suas extremidades, produzindo um desloca-
mento de cargas no seu interior. Em um circuito elétrico,
essa diferença de potencial é mantida por meio de fontes
ou baterias, por exemplo, que possibilitam o contínuo fluxo
de cargas através de toda trajetória fechada do circuito.
Neste capítulo, vamos discutir apenas o caso de correntes
estacionárias (que não variam com o tempo) originadas
pelo movimento de elétrons de condução em condutores
metálicos, como o caso da corrente elétrica em um fio de
cobre.
Suponha que um conjunto de cargas está se movendo
através de uma seção de área qualquer de um condutor. Se
dq é a quantidade de carga que passa através da área em
um dado intervalo de tempo dt, então a corrente elétrica,
representada pelo símbolo I, é dada por
dq
I= .
dt
Podemos determinar a quantidade de carga total que
atravessa a seção de área integrando a expressão acima:
ˆ ˆ t
q = dq = I dt.
0

Conservação de carga elétrica. Note que a corrente elétrica


é a mesma para qualquer superfície que intercepta com-
pletamente o condutor, como as superfícies A1 , A2 e A3
mostradas na Figura 6.2. Pelo princípio da conservação
da carga elétrica, e assumindo o caso de correntes estacio-
nárias, para cada carga elétrica que atravessa a superfície
A1 , há uma carga atravessando a superfície A3 , de forma
que a quantidade de carga total no volume entre as duas
superfícies permanece constante (se conserva).

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corrente elétrica e circuitos 139

Figura 6.2: A corrente elé-


trica estacionária que atra-
vessa as seções de área A1 ,
A2 e A3 deve ser a mesma
pelo princípio da conserva-
ção da carga elétrica.

Unidade de corrente elétrica. A unidade SI de corrente é o


ampere (A), definido como

coulomb C
[I] ≡ ampere = = = A.
segundo s

Em um relâmpago a corrente elétrica é da ordem de 5-100


mil amperes, enquanto nas sinapses nervosas ela está na
faixa dos nano ou mesmo pico-amperes.

Direção da corrente elétrica. Note que é necessário que


exista o escoamento de uma carga resultante dq para que
se estabeleça uma corrente elétrica. Além disso, a carga
resultante que atravessa uma dada superfície pode ser po-
sitiva ou negativa. Por razões históricas, convencionou-se
dizer que a corrente possui a mesma direção do fluxo das
cargas positivas. É importante ressaltar que a corrente elé-
trica é um escalar, de forma que a direção convencionada e
geralmente representada por setas em diagramas de circuito,
por exemplo, simplesmente indica o sentido do movimento
das cargas elétricas no circuito. Nos condutores elétricos,
como cobre ou alumínio, a corrente é devida ao movimento
de elétrons com carga negativa. Portanto, a corrente num
condutor possui direção oposta ao movimento dos elétrons.
No entanto, se estamos considerando um feixe de prótons
carregados positivamente num acelerador, a corrente possui
a mesma direção do movimento dos prótons. Portanto, é a
carga líquida em movimento que define o sentido da corrente
elétrica.

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140 física iii

Densidade de corrente
Considere um condutor com uma seção transversal de área
A transportando uma corrente I. A densidade de corrente
J é definida como a corrente por unidade de área:
I
J≡ ,
A
onde J possui unidades de A/m2 . Esta expressão é válida
apenas se a densidade de corrente é uniforme e somente se
a superfície da seção de área A é perpendicular à direção
da corrente.
De uma forma geral, a densidade de corrente é uma
quantidade vetorial e está relacionada com a corrente I pela
expressão ¨
I= J~ · n̂ dA,

onde n̂ é um vetor unitário perpendicular ao elemento de


superfície dA e a integral é calculada sobre toda a superfície
em questão.
A Figura 6.3 ilustra a definição de densidade de cor-
rente para uma corrente elétrica estacionária. Ao longo de
todo o condutor, a corrente elétrica possui sempre o mesmo
valor. Assim, na parte mais estreita a densidade de corrente
deve ser maior (mais linhas representando o fluxo de cargas
por unidade de área), enquanto nas partes mais largas a
densidade diminui.

Figura 6.3: A corrente elé-


trica é a mesma ao longo de
todo condutor. Como con-
sequência, a densidade de
corrente deve ser menor na
seção mais larga do condu-
tor e maior se o condutor
Conforme discutimos no Capítulo 3, o campo elétrico
for mais estreito.
no interior de um condutor em equilíbrio eletrostático é
nulo. Para que seja estabelecida uma corrente elétrica em
um condutor devemos aplicar uma diferença de potencial
através dele e, consequentemente, um campo elétrico.

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corrente elétrica e circuitos 141

Figura 6.4: Uma diferença


de potencial V = VB − VA
é aplicada a um condutor
cilíndrico de comprimento
` e área da seção reta A,
originando uma corrente I.

Quando ligamos uma fonte ou bateria às duas extremi-


dades de um fio condutor, uma diferença de potencial V é
originada e, se o comprimento do fio for `, então um campo
elétrico de módulo E = V /` aparecerá no seu interior, con-
forme ilustrado na Figura 6.4. Este campo elétrico E ~ atuará
sobre os elétrons livres do material de que é feito o condutor,
resultando em movimento das cargas no sentido oposto ao
campo E. ~ Assim, uma corrente elétrica será estabelecida
no mesmo sentido do campo elétrico aplicado.

Modelo cinético para condução elétrica.

Podemos utilizar um modelo simples para descrever o movi-


3
Uma descrição mais de-
talhada da estrutura mi-
mento dos elétrons no interior de um condutor baseado em croscópica de um condu-
princípios da física clássica.3 Um modelo proposto por Paul tor necessita de conceitos
Drude (1863–1906), em 1900, tenta explicar as propriedades da física quântica, especi-
almente quanto às proprie-
do transporte de elétrons em condutores usando como base
dades ondulatórias dos elé-
a teoria cinética dos gases aplicada aos metais.4 trons.
O campo elétrico exerce uma força F~ = −eE ~ sobre os 4
Drude P., Zur Elektro-
elétrons de condução do material de que é feito o condutor, nentheorie der Metalle, An-
mas esta força não produz uma aceleração resultante porque nalen der Physik, 1900,
v. 306, p. 566–613
os elétrons colidem continuamente com os íons positivos que
constituem a estrutura metálica do condutor. O efeito das
diversas colisões resulta numa pequena velocidade média
adquirida pelos elétrons, chamada velocidade de deriva ou –
de arraste, ~vd . Como os elétrons possuem carga negativa,
o sentido da velocidade de deriva é oposto ao do campo
elétrico, conforme ilustrado na Figura 6.5. Figura 6.5: Ilustração do
movimento dos elétrons em
© 2018 Abílio Mateus Jr. um condutor.
142 física iii

Se as colisões sofridas pelos elétrons com os íons ocor-


rem em intervalos de tempo cujo valor médio é igual a τ ,5 5
Em metais, valores típi-
podemos usar o teorema do impulso-momento linear e re- cos de τ estão na ordem de
10−14 a 10−15 s. A pro-
lacionar o momento médio adquirido pelos elétrons devido babilidade de um elétron
à ação do campo, me~vd , com o impulso associado à força sofrer uma colisão por uni-
elétrica durante o intervalo de tempo τ , −eEτ ~ : dade de tempo é 1/τ .

~
me~vd = −eEτ
e ~
~vd = − τ E.
me
Podemos agora determinar a densidade de corrente
associada a essa velocidade de deriva. O número de elétrons
livres ou de condução em um comprimento ` de um fio
condutor é nA`, onde n é o número de elétrons por unidade
de volume6 e A` é o volume do comprimento ` do fio. A 6
Para o cobre à tempera-
carga que atravessa o fio num intervalo de tempo ∆t = `/vd tura ambiente
é ∆q = (nA`)e. Logo, a corrente I é dada por: n = 8,47 × 1028 m−3 .

∆q nA`e
I= = = nAevd .
∆t `/vd

Como J = I/A, temos que

I J
vd = = .
nAe ne
Em termos vetoriais podemos escrever

J~ = −ne~vd ,

onde o sinal negativo indica que para os elétrons J~ e ~vd


possuem sentidos opostos. Substituindo a expressão para a
velocidade de deriva, temos

e2 ~
J~ = n τ E. (6.1)
me

Note que J~ e E
~ estarão sempre no mesmo sentido indepen-
dente da carga ser positiva ou negativa.

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corrente elétrica e circuitos 143

Lei de Ohm e resistência

Uma densidade de corrente J~ e um campo elétrico E ~ são


estabelecidos em um condutor qualquer que seja a diferença
de potencial mantida ao longo dele. Em alguns materiais,
a densidade de corrente é proporcional ao campo elétrico,
relação conhecida como a forma microscópica da lei de Ohm,
derivada por Gustav Kirchhoff (1824–1887) em 18507 7
Kirchhoff G., LXIV. On
a deduction of Ohm’s laws,
J~ = σ E.
~ in connexion with the the-
ory of electro-statics, Philo-
sophical Magazine Series 3,
A constante de proporcionalidade σ é chamada de conduti- 1850, v. 37, p. 463–468
vidade do material que constitui o condutor. Comparando
a expressão acima com a Equação 6.1, também podemos
escrever a condutividade como

ne2 τ
σ= .
me

Podemos obter uma versão macroscópica da lei de


Ohm da seguinte forma. Considere um fio condutor de
seção de área A e comprimento `, como o mostrado na
Figura 6.4. Uma diferença de potencial V é mantida através
do fio, criando um campo elétrico e uma corrente ao longo
dele. Supondo que o campo seja uniforme, o módulo da
diferença de potencial pode ser obtida pela expressão
ˆ
V = E ~ · d~s = E`.
fio

Portanto, podemos expressar a magnitude da densidade de


corrente no fio como
V
J = σE = σ .
`
Como J = I/A, a diferença de potencial fica
 
` `
V = J= I.
σ σA

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144 física iii

Obtemos uma relação linear entre a diferença de potencial


e a corrente. A constante de proporcionalidade é chamada
de resistência, R, do condutor

`
R= .
σA

Note que a resistência depende apenas da forma (compri-


mento e área) e do material (condutividade) do qual é feito
o condutor. Portanto, escrevemos a relação entre V e I
como
8
Ohm G. S., Bestimmung
V = RI. des Gesetzes, nach welchem
Metalle die Contaktelektri-
Esta relação também é conhecida como a lei de Ohm, mas citä leiten, nebst einem
no nível macroscópico. Georg Simon Ohm (1787–1854) a Entwurfe zu einer Theorie
des Voltaischen Apparates
obteve originalmente em 1826.8 Materiais que obedecem und des Schweiggerschen
a lei de Ohm são chamados ôhmicos. A lei de Ohm nesta Multiplicators, Journal für
forma será muito empregada na análise de circuitos elétricos. Chemie und Physik, 1826,
v. 46, p. 137–166

Unidade de resistência. A resistência possui unidades no


Sistema Internacional de volts por ampere, que recebe a
denominação de ohm (Ω):

volt V
[R] = ohm = = = Ω.
ampere A

Esta expressão mostra que se uma diferença de potencial Figura 6.6: Ilustração de
de 1 V ao longo de um condutor causa uma corrente de um resistor utilizado em cir-
cuitos eletrônicos. As fai-
1 A, a resistência do condutor é de 1 Ω. Para uma dada xas coloridas são codifica-
diferença de potencial, quanto maior for a resistência ao das, de forma que este é um
fluxo de carga, menor será a corrente. resistor de 47 kΩ.

Um condutor cuja função num circuito é fornecer uma


resistência específica é chamado de resistor. A Figura 6.6
mostra uma ilustração de um resistor típico encontrado em
circuitos eletrônicos. A Figura 6.7 mostra o símbolo gráfico Figura 6.7: Símbolo utili-
utilizado para representar um resistor em um diagrama de zado para representar um
resistor em um diagrama de
circuito. circuito elétrico.

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corrente elétrica e circuitos 145

Exemplo 6.1: Associação de resistores em série e paralelo


Assim como vimos para o caso dos capacitores, os resistores
também podem combinar-se em associações em série e em para-
lelo. A resistência equivalente da combinação de dois ou mais
resistores pode ser facilmente obtida.

A Figura 6.8 mostra um exemplo de conexão em paralelo,


onde os resistores R1 , R2 , . . . , Rn estão sob a mesma diferença
de potencial V = Va − Vb . As correntes através de cada resistor,
segundo a lei de Ohm, são dadas por
V V V
I1 = , I2 = , ... In = .
R1 R2 Rn

Figura 6.8: Uma associação em paralelo de resistores.

A corrente total I do sistema é


 
1 1 1
I = I1 + I2 + · · · + In = + + ··· + V.
R1 R2 Rn

Esse conjunto de resistores é equivalente a um resistor único de


resistência equivalente Req dada pela relação I = V /Req . Logo,
para uma associação em paralelo, a resistência equivalente é
1 1 1 1
= + + ··· + .
Req R1 R2 Rn

Por outro lado, na conexão em série, mostrada na Figura 6.9,


a corrente elétrica através dos resistores R1 , R2 , . . . , Rn é sempre
a mesma.

Figura 6.9: Uma associação em série de resistores.

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146 física iii

Se as diferenças de potencial através de cada resistor são


V1 , V2 , . . . , Vn , então

V1 = R1 I, V2 = R2 I, ... Vn = Rn I.

A diferença de potencial total, V = Va − Vb , é dada por

V = V1 + V2 + · · · + Vn = (R1 + R2 + · · · + Rn )I.

Podemos substituir esse conjunto de resistores por um equivalente


cuja resistência satisfaça a relação V = Req I. Assim, a resistência
equivalente para uma associação em série é dada por

Req = R1 + R2 + · · · + Rn .

Resistividade. O inverso da condutividade é chamada de


resistividade, ρ, de um dado material:
1
ρ= ,
σ
onde ρ possui unidades de ohm·metro (Ω · m). Como R =
`/σA, podemos expressar a resistência de um bloco uniforme
de material com comprimento ` como
`
R=ρ .
A
Esta relação só é válida para condutores homogêneos e
isotrópicos de seção reta uniforme e sujeitos a um campo
elétrico também uniforme. Note que a resistência é uma
propriedade do resistor, enquanto a resistividade é uma
propriedade do material de que é feito o resistor.

Variação da resistividade com a temperatura. A resistividade


de um material depende da temperatura. A resistência dos
metais geralmente aumenta com a temperatura. Isto não
é surpresa, já que para temperaturas mais altas os átomos
movem-se mais rapidamente e estão organizados de forma
menos ordenada, afetando de forma mais significativa o fluxo

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corrente elétrica e circuitos 147

de elétrons. Se a variação de temperatura não é tão grande,


a resistividade dos metais aumenta aproximadamente de
forma linear com a temperatura, de acordo com a relação:

ρ = ρ0 [1 + α(T − T0 )],

onde ρ0 é a resistividade numa dada temperatura de refe-


rência T0 (como 0℃ ou 20℃), ρ é a resistividade a uma
temperatura T e α é chamado de coeficiente de temperatura
da resistividade.

Material Resistividade ρ a 20℃, Ω·m Tabela 6.1: Valores da re-


sistividade para diferentes
Prata 1,59×10−8 materiais.
Cobre 1,72×10−8
Ouro 2,44×10−8
Alumínio 2,82×10−8
Tungstênio 5,60×10−8
Ferro 1,0×10−7
Mercúrio 9,8×10−7
Carbono 3,5×10−5
Silício 6,40×102
Vidro 1010 a 1014
Enxofre 1015

Exemplo 6.2: Cálculo da resistência: tronco de cone


Considere um material de resistividade ρ na forma de um tronco
de cone de altura h e raios das bases a e b, conforme mostra a
Figura 6.10. Assumindo que a corrente elétrica está distribuída
uniformemente através do cone, qual é a resistência elétrica entre
suas bases?

Figura 6.10: Tronco de cone.

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148 física iii

Em primeiro lugar, considere um disco fino de raio r a uma


distância z da base inferior do cone. Conforme ilustra a Fi-
gura 6.11, podemos aplicar o teorema da interseção (ou teorema
de Tales) para encontrar a relação entre os raios das bases, o
raio do disco, a altura do cone e a distância z. De acordo com
este teorema, quando duas retas transversais cortam um feixe
de retas paralelas, as medidas dos segmentos delimitados nas
transversais são proporcionais.

Figura 6.11: Diagrama mostrando a geometria do problema.

Em outras palavras:
b−r b−a
= ,
z h
ou
z
r = (a − b)
+ b.
h
Vimos na seção anterior que podemos escrever a resistência como
`
, R=ρ
A
onde ` é o comprimento do condutor e A é a área da sua seção
transversal. Portanto, podemos escrever a resistência de um ele-
mento infinitesimal do cone na forma de um disco com espessura
dz e área πr2 , como
ρ dz ρ dz
dR = = .
πr2 π[b + (a − b)z/h]2
Integrando, temos
ˆ h
ρ dz ρh
R= = ,
0 π[b + (a − b)z/h]2 πab

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corrente elétrica e circuitos 149

onde fizemos u = b + (a − b)z/h e du = (a − b)/h dz. Assim,


ρh
R= .
πab

Exemplo 6.3: Cálculo da resistência: cilindro oco


Considere um cilindro oco com raio interno a, raio externo b
e com um comprimento `, como ilustrado na Figura 6.12. O
cilindro é feito de um material com resistividade ρ. (a) Qual
é a resistência deste condutor se uma diferença de potencial
é aplicada entre suas bases? (b) Qual é a resistência caso a
diferença de potencial seja aplicada entre as superfícies interna e
externa do cilindro?

Figura 6.12: Um cilindro oco.

(a) Suponha que uma diferença de potencial seja aplicada


entre as extremidades do cilindro e produz uma corrente fluindo
paralela ao eixo do cilindro. Qual é a resistência medida?
Neste caso, a área da seção transversal é A = π(b2 − a2 ) e a
resistência é simplesmente dada por
` ρ`
R=ρ = .
A π(b2 − a2 )

(b) Se a diferença de potencial é aplicada entre as superfícies


interna e externa do cilindro de forma que uma corrente elétrica
flui radialmente para fora, qual é a resistência medida?
Vamos considerar um elemento infinitesimal na forma de
um cilindro de raio interno r e raio externo r + dr, com um

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150 física iii

comprimento `. Sua contribuição para a resistência total do


cilindro é dada por
ρ dr ρ dr
dR = = ,
A 2πr`
onde A = 2πr` é a área normal à direção da corrente. A resis-
tência total do cilindro é
ˆ b
ρ dr ρ b
R= = ln .
a 2πr` 2π` a

6.2 Força eletromotriz

Para estabelecer uma corrente elétrica em um condutor,


precisamos de um dispositivo que atue como uma espécie de
“bomba de cargas”, elevando a energia potencial elétrica das
cargas que o atravessam. O mecanismo responsável por este
transporte de cargas de um potencial mais baixo para um
mais alto é chamado de força eletromotriz, ou simplesmente
fem.9 Os dispositivos utilizados para este fim são chamados 9 O termo força eletromo-
fontes de fem. triz, empregado pela pri-
meira vez por G. Kirchhoff
Por exemplo, pilhas elétricas e baterias utilizam rea- em 1849, é equivocado, já
ções químicas para fornecer “força eletromotriz” ao circuito, que na verdade ele não re-
movendo as cargas elétricas através de uma região onde o presenta uma força, mas
sim um trabalho por uni-
campo elétrico se opõe ao seu movimento. A pilha elétrica dade de carga.
inventada por Volta, ilustrada na Figura 6.1, possuía exata-
mente este propósito. Ela era composta por discos de zinco
e de cobre empilhados e separados por pedaços de tecido em-
bebidos em solução de ácido sulfúrico (eletrólito). Energia
elétrica era produzida sempre que fios condutores (eletrodos)
eram ligados aos discos de zinco e de cobre, colocados na
extremidade da pilha. Neste caso, há conversão contínua de
energia química em energia elétrica. Outro exemplo de fonte
de fem são os geradores, que convertem energia mecânica
em energia elétrica.

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corrente elétrica e circuitos 151

Uma fonte de fem sempre realiza um trabalho (não-


conservativo) sobre as cargas que a atravessam, aumentando
ou diminuindo sua energia potencial elétrica (similar ao que
acontece quando levantamos um objeto e aumentamos sua
energia potencial gravitacional). Este trabalho por unidade
de carga é representado quantitativamente pela fem da fonte
(símbolo E), ou seja
dW
E= .
dq
A unidade de fem é o joule/coulomb que, conforme vimos,
corresponde ao volt (V). A Figura 6.13 mostra o símbolo
gráfico para uma fonte de fem que é convencionalmente
utilizado em diagramas de circuito elétrico; os sinais positivo
e negativo indicam onde o potencial elétrico é maior e menor,
respectivamente.
Uma fonte real, como uma bateria, tem sempre alguma Figura 6.13: Símbolo de
uma fonte de fem em um
resistência interna r para o fluxo de cargas. Consequente-
diagrama de circuito.
mente, quando ligamos uma bateria a um circuito gerando
uma corrente elétrica ao longo dele, a diferença de potencial
entre os terminais da bateria será uma quantidade diferente
da sua fem. Por exemplo, considere o diagrama de circuito
elétrico mostrado na Figura 6.14, representando uma fonte
de fem E e resistência interna r, conectada em série a um
resistor de resistência R através de fios condutores de re-
sistência desprezível. Quando passamos pela fem entre o
terminal negativo (menor potencial elétrico) e o positivo
(maior potencial), o potencial elétrico aumenta por uma Figura 6.14: Uma fonte de
fem E e resistência interna
quantidade exatamente igual a E. Quando passamos atra- r está conectada em série a
vés da resistência interna r, o potencial diminui por uma um resistor com resistência
quantidade Ir, onde I é a corrente no circuito. Assim, a R, formando um circuito
elétrico.
diferença de potencial elétrico entre as extremidades a e b
da fonte é dada por

V = Vb − Va = E − Ir. (6.2)

Para uma fonte ideal, desprezamos a sua resistência interna,


logo r = 0 e V = E. Se nenhuma corrente flui na fonte,

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152 física iii

V = E. Portanto, a diferença de potencial entre os terminais


de uma fonte depende da corrente e de sua resistência interna.
Em geral, em muitas situações a resistência interna da
fonte pode ser desprezada já que ela é muito menor que a
resistência efetiva do circuito.

6.3 Regras de Kirchhoff

Em geral, circuitos elétricos simples, como o mostrado na


Figura 6.14, podem ser analisados usando a lei de Ohm,
10
Kirchhoff G., Ueber den
V = IR, e regras para combinações de resistores em série e
Durchgang eines elektris-
em paralelo. Porém, em muitos casos não é possível reduzir chen Stromes durch eine
um circuito a uma forma simples. Para a análise de circui- Ebene, insbesondere durch
tos mais complexos, utilizamos dois princípios chamados eine kreisförmige, Annalen
der Physik, 1845, v. 140, p.
regras (ou leis) de Kirchhoff,10 em homenagem a Gustav 497–514
Kirchhoff , que as descreveu pela primeira vez em 1845.

Regra dos nós: princípio da conservação de carga elétrica.


Em um ponto de nó ou junção de um circuito, correntes
elétricas se dividem ou se combinam de forma que a soma
das correntes que chegam no nó é igual à soma das correntes
que saem dele, ou seja, um nó não acumula carga. Dessa
forma, podemos escrever
X
I = 0.
em um nó

Por exemplo, para o nó mostrado na Figura 6.15, a relação


entre as correntes é I1 = I2 + I3 . Esta regra está relacionada Figura 6.15: Regra dos nós
ao princípio da conservação de cargas aplicado a circuitos de Kirchhoff.
elétricos.

Regra das malhas: princípio da conservação de energia.


Uma malha em um circuito elétrico é uma trajetória
ou caminho fechado na estrutura do circuito. Assim, um
circuito pode conter apenas uma única malha, como o cir-
cuito da Figura 6.14, ou múltiplas malhas como veremos a
seguir. A regra das malhas nos diz que a soma algébrica das

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corrente elétrica e circuitos 153

diferenças de potencial encontradas em todos os pontos ao


longo de uma malha do circuito deve ser igual a zero. Esta
regra está associada ao princípio da conservação da energia
aplicada em circuitos elétricos.
X
V =0
ao longo
da malha

Quando aplicamos a segunda regra de Kirchhoff na


prática, consideramos as seguintes convenções de sinal, con-
forme ilustrado na Figura 6.16:

• Se atravessamos um resistor na direção da corrente, a


diferença de potencial será −IR.
• Se atravessamos um resistor na direção oposta da corrente,
a diferença de potencial será +IR.
• Se a fonte de fem (assumindo que possui resistência in-
terna desprezível) é atravessada na direção da fem (de −
para +), a diferença de potencial será +E.
• Se a fonte de fem (assumindo que possui resistência in-
Figura 6.16: Regras para
terna desprezível) é atravessada na direção oposta da fem determinação das diferen-
(de + para −), a diferença de potencial será −E. ças de potencial através de
um resistor, uma fonte de
• Se atravessamos um capacitor da placa negativa para a fem e um capacitor. Cada
positiva, a diferença de potencial será +q/C. elemento é atravessado da
esquerda para direita (de a
• Se atravessamos um capacitor da placa positiva para a para b).
negativa, a diferença de potencial será −q/C.

Circuitos de malha única


Considere o diagrama de circuito elétrico de malha única
mostrado na Figura 6.17, que contém uma fonte real (fem
E e resistência interna r) conectada a um resistor de resis-
tência R. Conforme discutimos anteriormente, a diferença
de potencial entre as extremidades da fonte, pontos a e d, é

Vd − Va = E − Ir.

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154 física iii

Figura 6.17: (a) Um cir-


cuito contendo uma fonte
A diferença de potencial entre os pontos e e f , que atravessa de fem E com resistência in-
o resistor de resistência R é terna r, e um resistor com
resistência R. A corrente
Vf − Ve = −IR. flui no sentido horário. (b)
Gráfico que mostra a va-
Usando a regra das malhas, temos que riação da diferença de po-
tencial através de cada ele-
E − Ir − IR = 0 ⇒ E = IR + Ir. mento do circuito.

Isolando a corrente, obtemos


E
I= .
R+r
Esta equação mostra que num circuito simples a corrente
elétrica depende da resistência do circuito R e da resistência
interna r da bateria. Se R é muito maior que r, como é
o caso de muitos circuitos reais, podemos desprezar r e a
corrente será dada por:
E
I=
,
R
que é a corrente máxima de um circuito operando a uma
dada fem E e com uma resistência R.

Circuitos de múltiplas malhas


Circuitos mais complexos podem ser compostos por várias
malhas, como o mostrado na Figura 6.18, que possui as ma-
lhas internas abef a e bcdeb, e a malha externa acdf a. Neste

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corrente elétrica e circuitos 155

circuito, temos dois pontos de nó, identificados pelas letras


b e e, nos quais as correntes elétricas se dividem/combinam.
Geralmente, em circuitos como este estamos interessados em
determinar as correntes que fluem através dele, neste caso
as correntes I1 , I2 e I3 . Note que na Figura 6.18, o sentido
das correntes é arbitrário, assim como o sentido horário
escolhido para a determinação das diferenças de potencial
ao longo de cada malha.

Figura 6.18: Exemplo de


um circuito elétrico de múl-
tiplas malhas: abef a, bcdeb
e acdf a.

Utilizando a regra dos nós para os pontos b e e, obtemos


a seguinte relação
I2 = I1 + I3 .
Para encontrar os valores de cada corrente, precisamos de
pelo menos mais duas equações que as relacionem. Assim,
podemos aplicar a regra das malhas para duas ou mais ma-
lhas do circuito e resolver o sistema de equações resultante.
Temos então as seguintes expressões para cada malha do
circuito da Figura 6.18:

abef a : E1 − R3 I3 + R1 I1 = 0
bcdeb : −E2 + R2 I2 + R3 I3 = 0
acdf a : E1 − E2 + R2 I2 + R1 I1 = 0

Conhecendo-se os valores de E1 e E2 , além das resistências


R1 , R2 e R3 , podemos facilmente determinar as correntes
do circuito (veja o exemplo a seguir).

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156 física iii

Exemplo 6.4: Circuito de múltiplas malhas


Considere o circuito elétrico de múltiplas malhas mostrado na
Figura 6.19. Determine os valores das correntes I1 , I2 e I3 do
circuito.

Figura 6.19: Um circuito de múltiplas malhas.

Em primeiro lugar, não podemos simplificar o circuito usando


as regras para resistores em série ou paralelo. Devemos utilizar,
então, as regras de Kirchhoff. Vamos definir de forma arbitrária
as direções das correntes tal como mostrado na Figura 6.19.
Aplicando a lei dos nós para o ponto c, obtemos

I1 + I2 = I3 .

Temos uma equação com três variáveis desconhecidas. Logo,


para encontrar os valores das correntes precisamos de pelo menos
mais duas equações que envolvam essas três variáveis. Podemos
dividir o circuito em três malhas: abcda, bef cb e aef da. Portanto,
necessitamos determinar as equações para duas malhas para
encontrar as correntes. Aplicando a regra das malhas para os
caminhos abcda e bef cb e atravessando o circuito no sentido

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corrente elétrica e circuitos 157

horário, obtemos as seguintes expressões:

abcda : 10,0 V − (6,0 Ω)I1 − (2,0 Ω)I3 = 0


bef cb : −(4,0 Ω)I2 − 14,0 V + (6,0 Ω)I1 − 10,0 V = 0

Portanto, temos três equações para determinar três variáveis.


Substituindo I3 = I1 + I2 na equação para abcda, temos:

10,0 V − (6,0 Ω)I1 − (2,0 Ω)(I1 + I2 ) = 0

10,0 V = (8,0 Ω)I1 + (2,0 Ω)I2


Dividindo cada termo da expressão para bef cb por 2 temos:

−12,0 V = −(3,0 Ω)I1 + (2,0 Ω)I2

Substituindo esta equação na anterior, eliminamos I2 e obtemos

22,0 V = (11,0 Ω)I1

I1 = 2,0 A
E determinamos I2 fazendo

(2,0 Ω)I2 = (3,0 Ω)I1 − 12,0 V

(2,0 Ω)I2 = (3,0 Ω)(2,0 A) − 12,0 V = −6,0V


I2 = −3,0 A
Finalmente,
I3 = I1 + I2
I3 = −1,0 A
Para finalizar o problema, notamos que as correntes I2 e I3
são ambas negativas, indicando que as correntes possuem sentido
contrário ao que escolhemos inicialmente.

6.4 Energia em circuitos elétricos

Se uma pilha é usada para estabelecer uma corrente elétrica


em um condutor, há uma contínua transformação da energia
química da pilha para a energia cinética dos elétrons. Outros

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158 física iii

tipos de fontes de fem também atuam de modo similar,


diferindo apenas no tipo de conversão de energia que ocorre
para manter uma diferença de potencial entre os terminais
da fonte.
A energia necessária para mover uma quantidade de
carga elétrica dq através de uma diferença de potencial V é

dU = V dq.

Esta energia é fornecida pela pilha ao custo da diminuição


da sua energia química. A taxa pela qual esta energia é
gerada pela pilha, ou sua potência, é dada pela expressão

dU dq
P = =V = V I,
dt dt

onde I é a corrente elétrica estabelecida no circuito. Para


uma fonte ideal, V = E.
Por outro lado, quando as cargas elétricas movem-se
através de um resistor, o sistema perde energia potencial
elétrica durante as colisões dos elétrons com os íons. Neste
processo, ocorre um aumento da energia interna do resistor
e, consequentemente, da sua temperatura. Em contato com
o ambiente, a energia interna do resistor é liberada na forma
de calor à medida que sua temperatura aumenta. Um caso
típico ocorre em um chuveiro elétrico, onde a “resistência” é
utilizada para o aquecimento da água. Além disso, como no
caso de uma lâmpada incandescente de filamento, ilustrada
na Figura 6.20, também pode ocorrer emissão de radiação
Figura 6.20: Ilustração de
térmica, uma outra forma de transferência de energia. lâmpadas incandescentes.
Após um certo intervalo de tempo, o resistor atinge A corrente elétrica aquece
uma temperatura constante e a energia fornecida pela ba- o filamento, fazendo-o emi-
tir radiação (luz). A lâm-
teria é balanceada pela energia liberada na forma de calor pada mais antiga ainda em
ou radiação pelo próprio resistor. Como V = IR, podemos funcionamento permanece
expressar a potência liberada pelo resistor como: acesa desde 1901 (http://
www.centennialbulb.org/).

V2
P = I 2R = .
R

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corrente elétrica e circuitos 159

Se a corrente I é expressa em amperes, V em volts e R em


ohms, a unidade SI de potência é o volt·ampere ou watt
(W).

Efeito Joule. O processo pelo qual a potência é liberada em


um condutor de resistência R na forma de calor foi desco-
berto por James P. Joule (1818–1889). Na comunicação
de seu trabalho feita em 1841, ele escreve:

Há poucos fatos em ciência mais interessantes do que aque-


les que estabelecem a conexão entre calor e eletricidade.11 11
Joule J. P., XXXVIII.
On the heat evolved by me-
A relação entre o calor gerado e a corrente elétrica que tallic conductors of electri-
city, and in the cells of a
percorre um condutor em um determinado intervalo de
battery during electrolysis,
tempo é frequentemente chamada de aquecimento Joule ou Philosophical Magazine Se-
efeito Joule. ries 3, 1841, v. 19, p. 260–
277

6.5 Circuitos RC

Até agora analisamos circuitos de corrente contínua nos


quais a corrente é constante. Se incluirmos capacitores nes-
tes circuitos, a corrente terá sempre a mesma direção mas
pode variar com o tempo. Um circuito contendo uma com-
binação em série de um resistor e um capacitor é chamado
circuito RC. Um exemplo deste tipo de circuito é mostrado
na Figura 6.21.

Carregando o capacitor
Considere o circuito RC simples mostrado na Figura 6.21a.
Vamos supor que o capacitor esteja inicialmente descarre-
gado. Não há corrente no circuito já que a chave mantém
o circuito aberto. Se a chave for ligada em a em t = 0,
como mostra a Figura 6.21b, a carga começará a fluir es-
tabelecendo uma corrente elétrica ao longo do circuito, o
que ocasionará o carregamento do capacitor. À medida que
as placas do capacitor vão sendo carregadas, a diferença
de potencial no capacitor aumenta. O valor máximo da

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160 física iii

Figura 6.21: (a) Um cir-


cuito RC simples contendo
uma fonte, um resistor e um
carga nas placas depende da fem da bateria. Quando a capacitor. (b) Quando a
carga máxima é atingida, a corrente no circuito é zero pois a chave do circuito é ligada
diferença de potencial no capacitor iguala-se à fem fornecida em a, o capacitor começa a
ser carregado. (c) Quando
pela bateria.
a chave é ligada em b, o ca-
Para analisar este circuito quantitativamente, vamos pacitor se descarrega.
aplicar a lei das malhas de Kirchhoff após a chave ser ligada
em a. Seguindo o circuito da Figura 6.21b no sentido horário,
temos
q
E − − IR = 0, (6.3)
C
onde q/C é a diferença de potencial no capacitor e IR é a di-
ferença de potencial no resistor, onde usamos as convenções
de sinal mostradas na Figura 6.16. Para o capacitor, note
que estamos atravessando-o na direção da placa positiva
para a negativa; isto representa uma diminuição do poten-
cial. Assim, usamos o sinal negativo para esta diferença
de potencial. Note que q e I são valores instantâneos que
dependem do tempo à medida que o capacitor vai sendo
carregado.
Podemos utilizar a equação 6.3 para encontrar a cor-
rente inicial no circuito e a carga máxima no capacitor. No
instante em que a chave é fechada (t = 0), a carga no capa-
citor é zero, logo a corrente inicial I0 no circuito é máxima
e igual a
E
I0 = (corrente em t = 0).
R

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corrente elétrica e circuitos 161

Quando o capacitor está carregado com seu valor máximo de


carga Q, não há mais fluxo de carga, a corrente no circuito
é zero e a diferença de potencial na bateria foi transferida
completamente para o capacitor. Substituindo I = 0 na
equação 6.3 obtemos a carga máxima do capacitor

Q = CE (carga máxima do capacitor).

Para determinar as expressões analíticas da dependên-


cia temporal da carga e da corrente, devemos resolver a
equação 6.3. A corrente deve ter o mesmo valor em todos
os pontos do circuito-série. Assim, a corrente que atravessa
a resistência R deve ser a mesma entre as placas do capa-
citor. Esta corrente é igual a taxa pela qual a carga nas
placas do capacitor varia. Logo, substituímos I = dq/dt na
equação 6.3, rearranjando os termos, temos:
dq E q
= − .
dt R RC
Para encontrar o valor de q, resolvemos esta equação dife-
rencial simples. Primeiro, combinamos os termos do lado
direito:
dq CE q q − CE
= − =− .
dt RC RC RC
Agora, multiplicando por dt e dividindo por q −CE, obtemos
dq 1
=− dt.
q − CE RC
Mudando as variáveis para q 0 e t0 e integrando esta expressão
considerando que q = 0 em t = 0, obtemos
ˆ q ˆ t
dq 0 1
0
= − dt0
0 q − CE RC 0
 
q − CE t
ln =− .
−CE RC
E resolvendo o logaritmo, podemos escrever esta expressão
como
   
q(t) = CE 1 − e−t/RC = Q 1 − e−t/RC , (6.4)

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162 física iii

onde Q = CE é a carga máxima no capacitor. A Figura 6.22


mostra o gráfico da variação de q em função do tempo.
Podemos determinar uma expressão para a corrente
diferenciando a equação 6.4 em relação ao tempo. Usando
I = dq/dt, encontramos
E −t/RC
I(t) =
e . (6.5)
R Figura 6.22: Variação de
A corrente decresce exponencialmente, como mostra a Fi- q em função do tempo
quando o capacitor está
gura 6.23.
sendo carregado.
A quantidade RC, que aparece nos expoentes nas
equações 6.4 e 6.5, é chamada de constante de tempo
capacitiva, τC , do circuito:
τC = RC.

Descarregando o capacitor
Considere novamente o circuito mostrado na Figura 6.21,
após o capacitor ser carregado com uma carga Q0 . Quando
a chave é ligada em b (Figura 6.21c), o capacitor inicia o Figura 6.23: Variação de
processo de descarga através do resistor. Num instante t I em função do tempo
quando o capacitor está
durante a descarga, a corrente no circuito é I e a carga no sendo carregado.
capacitor é q. Note que o circuito fechado da Figura 6.21c
equivale ao da Figura 6.21b se removermos a bateria. Assim,
eliminando a fem E da equação 6.3, obtemos
q
− − IR = 0.
C
Substituindo I = dq/dt nesta expressão, fica
dq q
−R
=
dt C
dq 1
=− dt.
q RC
Novamente, mudando as variáveis para q 0 e t0 e integrando
esta expressão usando o fato que q = Q0 em t = 0, temos
ˆ q ˆ t
dq 1
=− dt
Q0 q RC 0

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corrente elétrica e circuitos 163

 
q t
ln =−
Q0 RC

q(t) = Q0 e−t/RC .

A Figura 6.24 mostra a variação da carga no capacitor em


função do tempo.
Diferenciando esta expressão em relação ao tempo nos
dá a corrente instantânea em função do tempo: Figura 6.24: Variação de
q em função do tempo
dq d 
quando o capacitor está
I(t) = = Q0 e−t/RC = −I0 e−t/RC , sendo descarregado.
dt dt
onde I0 = Q0 /RC é a corrente inicial. A Figura 6.25 mostra
o comportamento da corrente em função do tempo. O sinal
negativo indica que à medida que o capacitor descarrega, a
direção da corrente é oposta à direção quando o capacitor
estava sendo carregado. Notamos que tanto a carga no capa-
citor como a corrente no circuito decaem exponencialmente
a uma taxa caracterizada pela constante de tempo τC .

Potência e energia em circuitos RC Figura 6.25: Variação de


I em função do tempo
quando o capacitor está
Quando a fonte está carregando o capacitor, em um dado
sendo descarregado.
instante de tempo, a taxa com que ela fornece energia para
o circuito é P (t) = EI(t). Parte desta energia é liberada no
resitor a uma taxa dada pela relação I(t)2 R e parte é armaze-
nada no capacitor a uma taxa correspondente a I(t)q(t)/C,
onde q(t)/C é a diferença de potencial instantânea entre as
placas do capacitor. Logo, temos
q
EI = I 2 R + I .
C
Podemos integrar esta relação para obter um censo de como
a energia se distribui no sistema. Considerando que I(t) =
E −t/RC
Re , a energia fornecida pela fonte é
ˆ ∞ ˆ ∞ ˆ ∞
E2
UE = P dt = EI dt = e−t/RC
0 0 R 0

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164 física iii

E2 h i∞
UE = −RCe−t/RC = CE 2 .
R 0
De forma similar, a energia liberada no resistor é
ˆ ∞ ˆ ∞ ˆ
2 E 2 ∞ −2t/RC
UR = P dt = I R dt = e
0 0 R 0
∞
E2

RC −2t/RC 1
UR = − e = CE 2 .
R 2 0 2
No instante em que o capacitor está totalmente carregado,
sua carga final é Q = CE. Como a energia armazenada
entre as placas é Q2 /2C, podemos escrever

1 Q2 1
UC = = CE 2 .
2 C 2
Portanto, apenas metade da energia fornecida pela fonte
é armazenada no capacitor; a outra metade acaba sendo
liberada no resistor:
1 1
UE = UR + UC = CE 2 + CE 2 = CE 2 .
2 2
A quantidade de energia armazenada independe da resis-
tência do circuito. Para valores pequenos de R, a corrente
inicialmente é alta mas decresce rapidamente. Quando R é
grande, a corrente inicial é baixa mas se estende por mais
tempo.

EEE

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corrente elétrica e circuitos 165

Problemas propostos
Níveis de dificuldade:
P6.1 š Corrente elétrica . Uma corrente de 5 A percorre um
resistor de 10 Ω durante 4 minutos. (a) Quantos coulombs š – de boa na lagoa;
e (b) quantos elétrons passam através da seção transversal ˜ – mais fácil que capi-
do resistor neste intervalo de tempo? nar um lote;
– – corram para as coli-
P6.2 š Densidade de corrente . Um feixe contém 2×108 íons nas!
positivos duplamente carregados por cm3 , todos movendo-se
para o norte com velocidade de 1 × 105 m/s. (a) Quais são
o módulo, a direção e o sentido da densidade de corrente
~ (b) Podemos calcular a corrente total I neste feixe de
J?
íons? Em caso negativo, que informações adicionais são
necessárias?

P6.3 š Corrente elétrica . A quantidade de carga q (em


coulombs) que passa através de uma superfície de área
2,00 cm2 varia com o tempo de acordo com a equação
q = 4t3 + 5t + 6, onde t é dado em segundos. (a) Qual é a
corrente instantânea que atravessa a superfície em t = 1,00 s?
(b) Qual é o valor da densidade de corrente?

P6.4 ˜ Corrente elétrica . Uma corrente elétrica é dada pela


expressão I(t) = 100 sen(120πt), onde I está em amperes
e t em segundos. Qual é a carga total transportada pela
corrente de t = 0 a t = (1/240) s?

P6.5 š Lei de Ohm . Uma lâmpada possui uma resistência


de 240 Ω quando uma diferença de potencial de 120 V
atravessa-a. Qual é a corrente na lâmpada?

P6.6 š Resistência . Um resistor é composto por uma


barra de carbono que possui uma seção reta de área de
5,00 mm2 . Quando uma diferença de potencial de 15,0 V é
aplicada através de uma das pontas da barra, ela carrega
uma corrente de 4,00 × 10−3 A. Encontre (a) a resistência da
barra de carbono e (b) o comprimento da barra (considere
que a resistividade do carbono é de 3,5 × 10−5 Ω·m).

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166 física iii

P6.7 ˜ Resistência . Suponha que você deseja fabricar um


fio uniforme usando 1,00 g de cobre. Se o fio tiver uma
resistência de 0,500 Ω e se todo o cobre for utilizado em sua
confecção, qual será (a) o comprimento e (b) o diâmetro do
fio? Considere que a densidade do cobre é 8,92 × 103 kg/m3
e a resistividade do cobre é 1,70 × 10−8 Ω·m.

P6.8 š Resistência . Um fio de metal de resistência R é


cortado em três pedaços iguais que são então conectados
lado a lado para formar um novo fio de comprimento igual
a 1/3 do tamanho original. Qual é a resistência deste novo
fio?

P6.9 š Resistência . Um fio de 1,00 m de comprimento tem


resistência igual a 0,300 Ω. Um segundo fio, feito de um
material idêntico, tem comprimento de 2,00 m e massa igual
à do primeiro fio. Qual é a resistência do segundo fio?

P6.10 š Resistência equivalente . (a) Encontre a resistência


equivalente entre os pontos a e b do circuito mostrado na
Figura 6.26. (b) Uma diferença de potencial de 34,0 V é
aplicado entre os pontos a e b. Calcule a corrente em cada
resistor.

Figura 6.26: Problema


6.10.

P6.11 ˜ Resistência . Um aquecedor elétrico tem um ele-


mento aquecedor de Nichrome com resistência de 8,00 Ω
a 20,0 ℃. Quando são aplicados 120 V, a corrente elétrica
aquece o fio de Nichrome a 1000 ℃. (a) Qual é a corrente

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corrente elétrica e circuitos 167

inicial no elemento aquecedor a 20,0 ℃? (b) Qual é a re-


sistência do elemento aquecedor a 1000 ℃? Considere o
coeficiente de temperatura, α, do Nichrome a 20,0 ℃ igual
a 0,3 × 10−3 K−1 .

P6.12 š Resistência . Uma bateria tem uma fem de 15,0 V.


A diferença de potencial entre seus polos é de 11,6 V quando
ela fornece 20,0 W de potência para um resistor R. (a)
Qual é o valor de R? (b) Qual é a resistência interna da
bateria?

P6.13 ˜ Resistência . A Figura 6.27 mostra um resis-


tor de resistência R = 6,00 Ω ligado a uma fonte ideal
E = 12,0 V através de dois fios de cobre (resistividade =
1,69 × 10−8 Ω·m). Cada fio tem 20,0 cm de comprimento e
1,00 mm de raio. Neste capítulo desprezamos a resistência
dos fios de ligação. Verifique se esta aproximação é válida
para o circuito da Figura 6.27, determinando (a) a diferença
de potencial entre as extremidades do resistor; (b) a dife-
rença de potencial entre as extremidades de um dos fios; (c)
a potência liberada no resistor; (d) a potência liberada em
um dos fios.

Figura 6.27: Problema


6.13.

P6.14 š Circuito de múltiplas malhas . A Figura 6.28 mostra


um circuito com mais de uma malha formado por uma
fonte ideal e quatro resistências com os seguintes valores:
R1 = 20 Ω, R2 = 20 Ω, R3 = 30 Ω, R4 = 8,0 Ω e E = 12 V.
(a) Qual é a corrente na fonte? (b) Qual a corrente em R2 ?
(c) Qual a corrente em R3 ?

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168 física iii

Figura 6.28: Problema


6.14.

P6.15 ˜ Circuito de múltiplas malhas . A Figura 6.29 mostra


um circuito cujos elementos têm os seguintes valores: E1 =
3,0 V, E2 = 6,0 V, R1 = 2,0 Ω e R2 = 4,0 Ω. As fontes são
ideais. Determine o valor absoluto e o sentido das correntes
nos três ramos.

Figura 6.29: Problema


6.15.

P6.16 š Potência no resistor . Uma torradeira possui uma


potência de 600 W quando conectado a uma fonte de 120 V.
Qual é a corrente que a torradeira transporta e qual sua
resistência?

P6.17 š Potência no resistor . Uma bateria de 10,0 V é


conectada a um resistor de 120 Ω. Ignorando a resistência
interna da bateria, calcule a potência transferida para o
resistor.

P6.18 š Potência no resistor . Uma diferença de potencial


de 120 V é aplicada a um aquecedor cuja resistência é de
14 Ω, quando quente. (a) A que taxa a energia elétrica é

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corrente elétrica e circuitos 169

transformada em calor? (b) A 5 centavos por kW·h, quanto


custa para operar este dispositivo durante 5 horas?

P6.19 š Circuito RC . Considere um circuito RC em série


com R = 1,00 MΩ, C = 5,00 µF e E = 30,0 V. Encontre (a)
a constante de tempo do circuito e (b) a carga máxima no
capacitor quando a chave é fechada. (c) Encontre a corrente
no resistor 10,0 s após a chave ser fechada.

P6.20 ˜ Circuito RC . Um capacitor de 2,00 nF com uma


carga inicial de 5,10 µC é descarregado através de um resistor
de 1,30 kΩ. (a) Calcule a corrente no resistor 9,00 µs após
o resistor ser conectado ao capacitor. (b) Qual a carga que
sobra no capacitor após 8,00 µs? (c) Qual é a corrente
máxima no resistor?

P6.21 ˜ Circuito RC . Um capacitor com uma diferença de


potencial inicial de 100 V começa a ser descarregado através
de um resistor quando uma chave é fechada no instante
t = 0. No instante t = 10,0 s a diferença de potencial no
capacitor é 1,00 V. (a) Qual é a constante de tempo do
circuito? (b) Qual é a diferença de potencial no capacitor
no instante t = 17,0 s?

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7
Interação magnética

No Capítulo 1, vimos que a força elétrica entre cargas é


inversamente proporcional ao quadrado da distância que as
separam. Esta relação, análoga ao caso da força gravitaci-
onal, é a chamada lei de Coulomb. Neste caso, as cargas
elétricas consideradas sempre estavam em repouso entre si e
em relação a um dado observador. Assim, estudamos como
a interação eletrostática ocorre através da introdução do
conceito de campo, especificamente do campo elétrico.
Quando partículas carregadas estão se movendo, a in-
teração entre elas também irá depender de seus movimentos
relativos de uma forma um pouco mais complicada. Uma
parte desta força, que aparece apenas quando as cargas
estão em movimento, recebe o nome de força magnética e o
campo associado a estas forças é chamado campo magnético,
que conforme veremos também é um campo vetorial.
De uma forma geral, podemos pensar o magnetismo
como um fenômeno associado a cargas em movimento re-
lativo a um dado observador, de forma que é mais correto
tratarmos todas as interações entre cargas elétricas dentro
de uma única área da Física, o eletromagnetismo.
172 física iii

7.1 O magnetismo

Na Grécia antiga, já eram conhecidas as propriedades mis-


teriosas de um minério de ferro encontrado na região de
Magnesia, Tessália, mostrada na Figura 7.1. Atualmente
este minério é chamado de magnetita e trata-se de um óxido
de ferro (Fe3 O4 ). Um pedaço de magnetita com tais carac-
terísticas “mágicas” constitui um ímã permanente, que atrai
pequenos fragmentos de ferro devido às suas propriedades
magnéticas. GRÉCIA
Na China, encontramos os primeiros relatos do uso de
uma agulha magnética como instrumento de orientação, a Figura 7.1: Região de Mag-
bússola. O primeiro registro datado sobre o uso da bússola nesia, na Grécia.
aparece por volta de 1088 em um texto de Shen Kuo
(1031–1095).1 Sua aplicação como instrumento de navegação 1
Needham J., Science
alastrou-se por toda Europa e um século depois, por volta and Civilisation in China,
vol. 4, Physics and Phy-
de 1190, encontramos as primeiras publicações sobre seu sical Technology, Part 1,
uso por Alexander Neckham (1157– 1217), entre outros. Physics. Cambridge Univ.
Press, New York, 1962
Em 1269, Petrus Peregrinus (Pierre Pèlerin de Ma-
ricourt) escreveu o primeiro tratado sobre as propriedades
dos ímãs, contendo uma descrição detalhada da bússola.2 2
de Maricourt P., The Let-
Além disso, também descreveu as leis de atração e repulsão ter of Petrus Peregrinus on
the Magnet, A. D. 1269 .
magnéticas, identificou como polos as duas extremidades McGraw publishing com-
de um ímã (onde as atrações/repulsões eram mais intensas) pany (1904), 1269
e chamou-os de polo Norte (N) e polo Sul (S). Em suas
observações, notou que polos iguais se repelem, enquanto
polos opostos se atraem, como ilustrado na Figura 7.2a. Pe-
regrinus também explicou em detalhes o experimento do ímã
dividido ao meio, cujas metades continuam apresentando os
dois polos, como mostra a Figura 7.2b, demonstrando ser
impossível isolar um polo magnético.
Em 1600, William Gilbert (1544–1603) publicou um
importante tratado sobre o magnetismo, conhecido como
“De Magnete”.3 Neste trabalho, ele observou pela primeira 3 Gilbert W., De Magnete,
vez que a própria Terra se comporta como um grande ímã. Magneticisque Corporibus,
et de Magno Magnete Tel-
Gilbert realizou mais de seiscentas experiências sobre mag- lure. Peter Short, London,
1600
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interação magnética 173

N Figura 7.2: (a) Atração e


N
S N N S N S repulsão de polos magnéti-
cos. (b) Inseparabilidade
N
S
S dos polos magnéticos.
N S S N
N N
S
S N S N S S N
S

netismo. Definiu como magnéticos os corpos que, como os


ímãs, se atraem, e descobriu as afinidades e diferenças entre
corpos elétricos e corpos magnéticos, fazendo uma clara
distinção entre o magnetismo e a eletricidade.
Um tratado publicado por John Michell (1724–1793),
em 1750,4 que apresentava métodos para a construção de 4 Michell J., A Treatise of
ímãs artificiais dirigido a marinheiros e navegadores, também Artificial Magnets. Printed
by J. Bentham, 1750
descrevia uma lista de propriedades dos corpos magnéticos.
Dentre elas, a observação de que a força magnética entre os
polos diminui com o quadrado da distância que os separa.
Posteriormente, esta relação foi confirmada de forma experi-
mental por Coulomb, em 1785,5 no mesmo ano em que ele 5 Coulomb C., Second mé-
descreveu a lei que rege a interação entre cargas elétricas. moire sur l’électricité et le
magnétisme. In: Histoire de
A distinção entre fenômenos elétricos e magnéticos l’Académie Royale des Sci-
permaneceu até por volta de 1820, quando um professor ences , De l’imprimerie
da Universidade de Copenhague, Hans Christian Ørsted royale, 1785b, p. 578

(1777–1851), obteve a primeira evidência de uma estreita


relação entre as correntes elétricas e o magnetismo presente
nas bússolas.
Posteriores avanços confirmaram esta relação, culmi-
nando na elaboração de uma teoria eletromagnética, em
1873, por James Clerk Maxwell (1831–1879).6 Em 1905, 6 Maxwell J. C., A treatise
com a publicação da teoria da relatividade restrita, Albert on electricity and magne-
tism. Clarendon Press, 1873
Einstein (1879–1955) confirmou a validade da teoria eletro-
magnética mostrando que o magnetismo pode ser tratado
como um efeito relativístico das interações entre cargas 7 Einstein A., Zur Elek-
elétricas.7 trodynamik bewegter Kör-
per , Annalen der Physik,
1905, v. 322, p. 891–921
© 2018 Abílio Mateus Jr.
174 física iii

7.2 Definição de campo magnético

Considere dois fios condutores paralelos entre si que condu-


zem correntes elétricas constantes na mesma direção. Este
experimento simples mostra que os dois fios são atraídos um
pelo outro, com uma força por unidade de comprimento que
é inversamente proporcional à distância que os separa. Se
as correntes são invertidas, a força passa a ser de repulsão.
Neste sentido, de forma similar ao que acontece com duas
cargas elétricas separadas por uma distância qualquer, uma
espécie de “ação à distância” aparece entre os dois fios condu-
zindo correntes constantes. Esta nova força está relacionada
unicamente ao movimento das cargas no interior dos dois
condutores, ou seja, ela depende apenas das duas correntes
elétricas. Forças que aparecem devido ao movimento rela-
tivo de cargas elétricas são chamadas de forças magnéticas;
o campo associado a estas forças recebe o nome de campo
magnético, que, assim como o elétrico, também é um campo
vetorial.
O mesmo fenômeno também é observado quando con-
sideramos a interação entre uma carga elétrica livre, como
uma carga de prova, e a corrente elétrica em um condutor.
Neste caso, dizemos que a partícula carregada em movi-
mento interage com o campo magnético produzido pela
corrente elétrica,8 resultando em uma força que altera o seu 8
A forma do campo mag-
movimento e cujo módulo depende da velocidade da partí- nético gerado por uma cor-
rente elétrica será o foco do
cula, da intensidade do campo magnético em sua localização próximo capítulo.
e de sua própria carga elétrica.9 Note que a carga de prova 9
A carga de prova em mo-
também é afetada pelo campo elétrico de todas as cargas vimento também gera um
elétricas presentes no condutor. Assim, podemos escrever a campo magnético no es-
paço ao seu redor, mas
força que atua sobre a carga elétrica como10 neste caso estamos negligen-
ciando este efeito.
F~ = q E
~ + q~v × B,
~ (7.1) 10
Nesta expressão, não le-
vamos em conta efeitos gra-
onde q E
~ é o termo correspondente à força eletrostática e o
vitacionais.
termo q~v × B
~ corresponde ao efeito da presença do campo
magnético, B.
~ A equação 7.1 é conhecida como força de
Lorentz e foi derivada originalmente por Hendrik Lorentz

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interação magnética 175

(1853–1928) em 1892.11 Note que, se a partícula carregada 11


Lorentz H. A., La théo-
estiver em repouso, ~v = 0, o termo magnético desaparece. rie électromagnétique de
Maxwell et son application
Neste momento, tudo o que a expressão para a força aux corps mouvants. Ex-
de Lorentz nos diz sobre o campo magnético B ~ é que ele é trait des Archives néerlan-
responsável por determinar a componente da força proporci- daises des sciences exactes
et naturelles, E. J. Brill,
onal à velocidade, que atua sobre uma partícula carregada 1892
em movimento. É interessante notar que o campo elétrico
não depende da velocidade da partícula. Por exemplo, se
queremos determinar as intensidades dos campos elétrico e
magnético em um dado ponto no espaço, precisamos usar
uma carga de prova para medir a força total que atua sobre
ela quando em repouso, e assim determinamos E. ~ Mas
para determinar o campo B, devemos colocar a carga em
~
movimento e determinar novamente a força que atua sobre
ela, que desta vez será a sobreposição das forças devido a
cada campo.
Um caso mais interessante ocorre quando tentamos ex-
plicar o que acontece com duas cargas idênticas movendo-se
no espaço, com a mesma velocidade (constante) e paralelas
entre si. Como são cargas em movimento, podemos associá-
las a correntes elétricas, que por sua vez geram campo
magnético. Assim como discutimos para o caso do campo
elétrico, podemos visualizar o campo magnético usando o
artifício das linhas de campo. Agora imagine um observador
movendo-se juntamente com as duas cargas, com mesma 12
Não cabe aqui uma dis-
velocidade. Neste caso, para este observador as duas cargas cussão mais detalhada a res-
peito desse aspecto do ele-
estão em repouso, logo não se configuram como correntes
tromagnetismo, que deve
elétricas e, assim, nenhum campo magnético é observado; ser tratado em cursos sobre
nenhuma linha de campo pode ser traçada! No referencial a Teoria da Relatividade
em que as cargas estão em movimento, observamos o campo Restrita, apresentada por
Albert Einstein em 1905.
magnético gerado por elas. Porém, no referencial em que
as cargas estão em repouso, não há campo magnético, ape-
nas o campo elétrico que pode ser determinado pela lei de
Coulomb. Assim, o campo magnético é apenas um efeito
relativístico, que depede do referencial do observador.12

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176 física iii

Figura 7.4: Limalhas


de ferro comportam-se
como pequenas bússolas
indicando a direção do
campo magnético nas
proximidades de um ímã e
materializando as linhas de
força.

Em geral, a direção do vetor campo magnético, B, ~


N S
em qualquer ponto do espaço, também pode ser dada pela
direção norte-sul da agulha de uma bússola nessa localização.
A Figura 7.3 mostra como o campo magnético de uma barra
imantada pode ser traçado com a ajuda de uma bússola,
definindo linhas de campo magnético.
Figura 7.3: Uma pequena
Quando salpicamos limalha de ferro sobre um ímã, bússola pode ser utilizada
como ilustrado na Figura 7.4, cada pequeno fragmento de para traçar as linhas do
campo magnético de uma
ferro se magnetiza por indução e funciona como uma mi-
barra imantada.
núscula agulha imantada (bússola), indicando a direção do
campo, de modo que materializamos assim as linhas de
campo magnético.
No caso dos ímãs, correntes microscópicas em escala
atômica aparecem no material e as forças de atração ou re-
pulsão entre os polos são resultado da interação dos campos
magnéticos gerados por estas correntes.

Unidade de campo magnético. A unidade SI do vetor campo


magnético, que pode ser obtida a partir da equação 7.1, é
chamada tesla (T), onde

[B] = tesla = T = N·s·C−1 ·m−1 .

Outra unidade de B ~ utilizada é o gauss (1 G = 10−4 T).


Por exemplo, a componente horizontal do campo magnético
da Terra varia de 0,25 a 0,65 G, ou de 25 000 a 65 000 nT
(nanotesla = 10−9 T).

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interação magnética 177

Força magnética sobre uma carga em movimento


A partir da equação 7.1, vamos considerar aqui apenas a
parte correspondente ao termo magnético:

F~B = q~v × B.
~

Esta relação mostra que a direção da força magnética,


F~B , é a mesma do produto vetorial ~v × B,~ ou seja, ela é Figura 7.5: Direção da
perpendicular tanto a ~v quanto a B, conforme ilustrado na
~ força magnética F ~B atu-
ando sobre uma partícula
Figura 7.5. A Figura 7.6 mostra exemplos de como aplicar
carregada movendo-se com
a chamada regra da mão direita para determinar a direção velocidade ~v na presença de
de um vetor resultante de um produto vetorial. um campo magnético B. ~

Em muitas situações, é mais conveniente representar


o campo magnético como um vetor perpendicular ao plano
da página, com os vetores associados à força magnética e
à velocidade estando sobre o plano. Neste caso, usamos
o símbolo (ponto) para representar o vetor saindo da
J

página e (cruz) para um vetor entrando na página.


N

Podemos escrever o módulo da força magnética como

FB = |q|vB sen θ,

onde θ é o ângulo entre ~v e B.


~ A partir desta expressão,
vemos que FB é zero quando ~v é paralelo ou antiparalelo a
~ (θ = 0◦ ou 180◦ ). Além disso, a força tem seu módulo
B
máximo, FB = |q|vB, quando ~v é perpendicular a B ~ (θ =
Figura 7.6: Duas formas de
90 ).

uso da regra da mão direita
Quando uma carga se desloca com uma velocidade ~v , para determinação da dire-
ção da força magnética.
um campo magnético aplicado pode alterar a direção do
vetor velocidade, mas não pode mudar a velocidade escalar
da partícula. Isto ocorre pois a força magnética associada
a um campo magnético permanente não realiza trabalho
quando uma partícula carregada é deslocada, já que

dW = F~B · d~s = F~B · ~v dt = 0.

O produto escalar FB · ~v será sempre nulo, pois a força


magnética é um vetor perpendicular a ~v .

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178 física iii

7.3 Movimento circular de uma carga em um campo


magnético

Considere o caso de uma partícula positivamente carregada


deslocando-se em um campo magnético uniforme quando
o vetor velocidade inicial da partícula é perpendicular ao
campo. Vamos supor que a direção do campo magnético
é para dentro da página. A Figura 7.7 mostra que a par-
tícula se desloca em uma trajetória circular cujo plano é
perpendicular ao campo magnético.

Figura 7.7: Quando a ve-


locidade de uma partícula
carregada é perpendicular
+ a um campo magnético uni-
forme, a partícula desloca-
se em uma trajetória circu-
+ lar em um plano perpendi-
cular a B.
~ A força magné-
tica atuando sobre a carga
é sempre direcionada para
o centro do círculo.
+

A partícula desloca-se dessa forma porque a força


magnética F~B é perpendicular a ~v e a B,
~ e tem magnitude
constante qvB. À medida que a força muda a direção de ~v ,
a direção de F~B muda continuamente, como na Figura 7.7.
Já que F~B sempre aponta na direção do centro do círculo, a
partícula pode ser modelada como estando em movimento
circular uniforme. Utilizando a segunda lei de Newton,
podemos determinar o raio da trajetória circular:
X mv 2 mv
F = FB = ma ⇒ qvB = ⇒r= ,
r qB

onde a aceleração centrípeta é v 2 /r. Isto mostra que o


raio da trajetória é proporcional ao momento linear mv
da partícula e inversamente proporcional à magnitude da

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interação magnética 179

carga da partícula e à magnitude do campo magnético. A


frequência angular da partícula, ou frequência cíclotron, é
v qB
ω= = ,
r m
e o período do movimento circular é
2πr 2π 2πm
T = = = .
v ω qB
Estes resultados mostram que a frequência angular da par-
tícula e o seu período não dependem da velocidade da par-
tícula ou do raio da órbita para uma determinada partícula
em um determinado campo magnético uniforme.

Movimento helicoidal
Qual será a trajetória de uma partícula carregada em um
campo magnético uniforme se sua velocidade não for exata-
mente perpendicular ao campo?
O vetor velocidade pode ser dividido em duas com-
ponentes, uma paralela e outra perpendicular ao campo,
como mostra a Figura 7.8. A componente paralela às linhas
de campo não sofre nenhuma força (θ = 0), de forma que
ela permanece constante. A componente perpendicular ao
campo dá origem a um movimento circular, como visto
anteriormente. Colocando estes dois movimentos juntos,

Figura 7.8: Movimento heli-


coidal de uma partícula que
possui uma componente da
velocidade na direção do
+ campo B.~

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180 física iii

produzimos um movimento helicoidal (na forma de uma


espiral) em torno das linhas do campo magnético.

Razão carga/massa do elétron

Em muitos experimentos que envolvem partículas carrega-


das em movimento, é importante que todas as partículas
tenham a mesma velocidade. Isto pode ser obtido através da
combinação de um campo elétrico e um campo magnético.
Este princípio foi utilizado por J. J. Thomson (1856–1940),
em 1897,13 para medir a razão carga–massa dos elétrons 13 Thomson J. J., Cathode
com o auxílio de um aparato como o mostrado na Figura 7.9, rays, Philosophical Maga-
zine, 1897, v. 44, p. 293
esquematizado na Figura 7.10.
Os elétrons com carga q = −e e massa me são emitidos
a partir de um cátodo C e são então acelerados em direção
ao ânodo A que contém uma fenda. Seja a diferença de
potencial entre A e C igual a V = VA − VC . A mudança
na energia potencial é igual ao trabalho externo feito para
acelerar os elétrons: ∆U = W = qV = −eV . Pela conserva-
ção da energia, a energia cinética adquirida pelos elétrons
será ∆K = −∆U = 12 mv 2 . Assim, a velocidade final dos
elétrons depois de passarem pela fenda em A é
r
2eV
v= .
me

Figura 7.9: Aparato utili-


zado por J. J. Thomson em
um dos experimentos que
resultaram na descoberta
do elétron. Fonte: Science
Museum London.

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interação magnética 181

Figura 7.10: Esquema do


aparato utilizado por J. J.
Thomson.
× × × × × × × × ×
× × × × × × × × ×
– ×
×
×
×
×
×
×
×
×
×
×
×
×
×
×
×
×
×
× × × × × × × × ×

Se, em seguida, os elétrons entram em uma região


onde existe um campo elétrico uniforme apontando para
baixo, eles serão defletidos para cima com uma força elétrica
de módulo eE. Mas se aplicarmos um campo magnético
perpendicular ao plano da página e entrando na página, uma
força magnética −e~v × B, ~ de módulo evB, apontará para
baixo. Quando os módulos dos dois campos são escolhidos
de tal forma que eE = evB, a partícula move-se em um
trajetória horizontal retilínea através da região contendo os
campos, com velocidade dada por

E
v= .
B

Apenas aquelas partículas que possuem velocidade v pas-


sarão através dos campos elétrico e magnético sem sofrer
desvios.
Combinando as duas equações para a velocidade, ob-
temos
e E2
= .
me 2 V B2

Através das medidas de E, B e V , a razão carga–massa dos


elétrons pode ser determinada. Atualmente, o valor medido
experimentalmente mais preciso é14 14
http://physics.nist.gov/cgi-
bin/cuu/Value?esme
e
= −1,758 820 024 × 1011 C kg−1 .
me

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182 física iii

Espectrômetro de massa
Um espectrômetro de massa separa íons de acordo com sua
razão carga/massa. Em uma versão deste dispositivo, conhe-
cido como espectrômetro de massa de Bainbridge, um feixe
de íons passa primeiro por um seletor de velocidades e em
seguida entra em um segundo campo magnético uniforme
de intensidade B~0 , que tem a mesma direção do campo mag-
nético do seletor. À medida que eles entram neste segundo
campo, os íons movem-se numa trajetória semicircular de
raio r até atingirem o detector num ponto P . Se os íons
têm carga positiva, são defletidos para a esquerda, como
mostra a Figura 7.11. Se eles são negativos, são defletidos
para a direita.

+ × × × × × Figura 7.11: Esquema


de um espectrômetro de
× × × × ×
massa.
× × × × ×
× × × × × × × × × × × ×
× × × × ×
× × ×+ × × × ×
× × × × ×
× × × × × × ×
× × × × ×
× × × × × × × × × × × ×
× × × × ×

Na presença do campo magnético, os íons sofrem uma


força que pode ser escrita como
X mv 2 q v
F = FB = ma ⇒ qvB0 = ⇒ = .
r m B0 r
A velocidade dos íons que saem do seletor de velocidades
é dada por v = E/B, onde E e B são, respectivamente, os
módulos do campo elétrico e magnético no seletor. Logo:
B B0 r
m=q
.
E
Portanto, podemos determinar a massa de uma partícula
através da medida do raio de curvatura da trajetória r e

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interação magnética 183

dos módulos dos campos elétrico e magnético aplicados


no espectrômetro. Na prática, são medidas as massas de
vários isótopos de um dado íon, com os íons contendo a
mesma carga q. Neste sentido, as razões de massa podem
ser determinadas mesmo sem que se conheça q.

7.4 Efeito Hall

Quando um condutor que transporta uma certa corrente


elétrica é colocado num campo magnético, o campo exerce
uma força sobre as cargas que estão movendo-se no interior
do condutor. Por exemplo, se elétrons movem-se para a
direita num condutor retangular mostrado na Figura 7.12, o
campo magnético orientado para dentro da página exercerá
uma força para baixo sobre os elétrons dada por

F~B = −e~vd × B,
~

onde ~vd é a velocidade de arrasto dos elétrons.

Figura 7.12: Efeito Hall.


Cargas negativas movem-se

– para a direita, originando


uma corrente elétrica.

Dessa forma, os elétrons tenderão a se mover mais


próximos do lado D do que do lado C. Logo, uma diferença
de potencial será criada entre os lados C e D do condutor
e, consequentemente, um campo elétrico E ~ H que exercerá
uma força eEH sobre as cargas em movimento (igual em
~
módulo e sentido contrário ao da força magnética). Este
efeito é chamado de efeito Hall, em homenagem a Edwin H.
Hall (1855–1938), que o descobriu em 1879.15 A diferença 15 Hall E. H., On a New
de potencial produzida é chamada fem Hall. Action of the Magnet on
Electric Currents, Ameri-
O campo elétrico originado da separação das cargas can Journal of Mathema-
é chamado de campo Hall, E ~ H , e aponta para baixo na tics, 1879, v. 2, p. 287–292

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184 física iii

Figura 7.12. Em equilíbrio, a força decorrente do campo


elétrico é balanceada pela força magnética evd B:

eEH = evd B.

Assim, EH = vd B. A fem Hall é então

EH = EH d = vd Bd,

onde d é a largura do condutor.


Uma corrente de cargas negativas movendo-se para a
direita é equivalente ao movimento de cargas positivas para
a esquerda. Usando o efeito Hall, podemos distinguir se um
condutor carrega cargas positivas ou negativas, dependendo
da diferença de potencial medida entre os lados C e D do
condutor. No caso da Figura 7.12, o potencial no lado D
é menor do que no lado C, indicando que cargas negativas
movem-se no condutor.

7.5 Força magnética sobre condutores de corrente

Como uma força magnética é exercida sobre uma única


partícula carregada quando ela se desloca através de um
campo magnético externo, não deve ser surpreendente des-
cobrir que um fio conduzindo corrente também sofre uma
força magnética quando colocado em um campo magnético
externo. Este efeito é mostrado na Figura 7.13, onde o
fio condutor sob a ação de um campo magnético desvia-se
para a esquerda ou para a direita quando uma corrente I o
atravessa.
Podemos quantificar a força magnética sobre um fio
condutor com corrente considerando um segmento reto de fio
de comprimento ` e área de seção transversal A, conduzindo
uma corrente I em um campo magnético uniforme externo B, ~
como mostrado na Figura 7.14. A força magnética sobre uma
carga q movendo-se com velocidade de deriva ~vd é q~vd × B.
~
Para encontrar a força magnética total sobre o segmento
de fio, multiplicamos a força magnética sobre uma carga

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interação magnética 185

Figura 7.13: Um fio sus-


penso verticalmente entre
os polos de um ímã é visto
do polo sul do ímã, tal que
o campo magnético (cruzes
azuis) está para dentro da
× × × × × × × × ×
× × × × × × × × × × × × × × × página. (a) Quando não há
× × × × × × × × × × × × × × × corrente no fio, ele perma-
× × × × × × × × × × × × × × ×
× × × × × × × × × × × × × × × nece imóvel. (b) Quando
× × × × × × × × ×
uma corrente é conduzida
pelo fio para cima, o fio é
desviado para a esquerda.
(c) Quando a corrente é
para baixo, o fio é desviado
para a direita.
(a) (b) (c)

pelo número de cargas no segmento, ou de forma similar,


pela densidade volumétrica de cargas, n, multiplicada pelo × × × × × × × × × × × × × × × ×
volume do segmento A`. Dessa forma, a força magnética ×
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total sobre o fio de comprimento ` é × × × × +× × × × × × × × × × × ×
× × × × × × × × × × × × × × × ×
× × × × × × × × × × × × × × × ×
× × × × × × × × × × × × × × × ×
F~B = (q~vd × B)nA`.
~ × × × × × × × × × × × × × × × ×

Podemos reescrever esta expressão usando o fato que a


Figura 7.14: Uma seção de
corrente no fio é I = nqvd A. Assim, F~B pode ser expressa um fio contendo cargas em
como movimento em um campo
F~B = I ~` × B,
~ magnético B.
~

onde ~` é um vetor na direção da corrente I com módulo `,


igual ao comprimento do segmento. ×
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Se desejamos calcular a força magnética sobre um × × × × × × × × × × × × × ×
condutor de corrente de formato arbitrário, como o mostrado ×
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na Figura 7.15, definimos um segmento muito pequeno do ×
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fio de comprimento d`. A força magnética atuando sobre ×
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este segmento na presença de um campo magnético externo ×
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× × ×
B~ é
dF~B = Id~` × B,
~ Figura 7.15: Um segmento
de fio de forma arbitrária
onde d~` é um vetor representando o comprimento do seg- conduzindo uma corrente I
mento, com direção e sentido igual à da corrente. Para em um campo magnético B ~
sofre uma força magnética.

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186 física iii

obter a força magnética total F~B sobre um comprimento de


fio entre dois pontos arbitrários a e b, integramos a última
equação entre esses pontos:
ˆ b
F~B = I d~` × B.
~
a

Neste caso, estamos considerando que a corrente é constante


entre os pontos a e b. Para resolver esta integral de linha,
inicialmente devemos determinar o produto vetorial entre
d~` e B,
~ para em seguida integrar o resultado obtido.

Condutor semicircular
Um fio condutor que carrega uma corrente I consiste de
um semicírculo de raio R e duas partes retilíneas, conforme
mostra a Figura 7.16. O fio está sob um plano perpendicular
a um campo magnético uniforme B. ~ A porções retas do fio
possuem comprimento ` dentro da região do campo. Vamos
determinar a força resultante que atua sobre o fio devido ao
campo magnético B. ~
As forças nas duas seções retas são iguais e possuem
um módulo I`B. Como estão em direções opostas, elas
se cancelam. Assim, a força resultante é aquela na parte
semicircular do fio.
Dividimos o semicírculo em pequenos pedaços de ta-
manho d` = Rdφ, como indicado na Figura 7.16, e usando
a equação dF~ = Id~` × B,
~ temos

dF = IBRdφ,

onde dF é a força sobre o comprimento d` = Rdφ, e o ângulo


entre d~` e B
~ é 90◦ . A componente x da força dF~ sobre o
segmento d~` mostrado, e a componente x da força sobre um
elemento simetricamente oposto localizado no outro lado
do semicírculo, se cancelam. Logo, para todo o semicírculo
não haverá componente da força no eixo x. Assim, devemos
calcular apenas as componentes no eixo y, que possuem

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interação magnética 187

módulo dF sen φ, e a força total será


ˆ π ˆ π
F = dF sen φ = IBR sen φ dφ = 2IBR,
0 0

com direção para cima no eixo y mostrado na figura.

Espira fechada
Considere agora um condutor na forma de um semicírculo
fechado, como o mostrado na Figura 7.17, que está sob um
campo magnético B. ~ A força total sofrida por este condutor
será a soma da força sobre a parte curva e da força sobre
a parte retilínea. Para a parte curva, podemos calcular a
força usando procedimento similar ao obtido anteriormente.
O módulo da força será então
ˆ π ˆ π
F = dF sen φ = IBR sen φ dφ = 2IBR,
0 0

e a direção apontará para cima.

Figura 7.16: Condutor


de corrente contendo uma
parte semicircular.

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188 física iii

Figura 7.17: Condutor de


corrente semicircular for-
mando uma espira fechada.

Para a parte retilínea, usamos

FB = I ~` × B
~ = I`B = 2IBR,

apontando para baixo. Portanto, a força resultante atuando


sobre este condutor na forma de uma espira fechada é nula!
Este resultado é válido para qualquer espira fechada que
está imersa em um campo magnético uniforme.

7.6 Torque sobre uma espira em um campo mag-


nético

Uma força magnética atua sobre um fio condutor na presença


de um campo magnético. Quando uma espira de corrente é
submetida a um campo magnético externo, a força resultante
que atua sobre ela é nula, porém o torque exercido sobre a
espira pode ser não-nulo.
Considere uma espira retangular conduzindo uma cor-
rente I na presença de um campo magnético uniforme ex-
terno no plano da espira, como mostrado na Figura 7.18a.
As forças magnéticas sobre os lados À e Â, de comprimento
b, são nulas pois esses fios são paralelos ao campo e, por-
tanto, d~` × B
~ = 0. Para os lados Á e Ã, as forças não são

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interação magnética 189

Figura 7.18: (a) Vista fron-


tal de uma espira de cor-
nulas e a magnitude dessas forças é rente retangular em um
campo magnético uniforme.
(b) Vista pelo fundo da es-
F2 = F4 = IaB. pira, mostrando que as for-
ças F~2 e F~4 exercidas so-
Se observarmos a espira pelo lado Â, como na Figura 7.18b, bre os lados Á e à criam
veremos as forças sobre Á e à direcionadas como mostra um torque que tende a gi-
rar a espira no sentido ho-
a figura. Se a espira possui um eixo móvel perpendicular rário. (c) Vista pelo fundo
à página e passando pelo ponto O, vemos que essas duas da espira girada por um ân-
forças magnéticas produzem um torque em relação a esse gulo θ em relação ao campo
magnético.
eixo que gira a espira no sentido horário. A magnitude do
torque, τmax , é

b b b b
τmax = F2 + F4 = (IaB) + (IaB) = IabB,
2 2 2 2
onde o braço do momento em relação a esse eixo é b/2 para
cada força. Como a área da espira é A = ab, a magnitude
do torque pode ser expressa como

τmax = IAB.

Agora suponha que o campo magnético uniforme faz


um ângulo θ com uma linha perpendicular ao plano da
espira, como na Figura 7.18c. Neste caso, B
~ é perpendicular

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190 física iii

aos lados Á e à e as forças magnéticas sobre os lados À e


 se anulam e não produzem torque.
O torque em relação ao centro da espira produzido
pelas forças F2 = F4 = IaB tem a magnitude
b b
τ = F2 sen θ + F4 sen θ
2 2
b b
= (IaB) sen θ + (IaB) sen θ = IabB sen θ
2 2
= IAB sen θ

onde A = ab é a área da espira. Uma expressão vetorial


conveniente para o torque é dada por
~
~τ = IA n̂ × B,

onde n̂ é um vetor unitário perpendicular ao plano da espira.


Definindo o momento de dipolo magnético µ
~ da espira,

~ ≡ IA n̂,
µ

podemos reescrever o torque como


~
~ × B.
~τ = µ

Esta expressão é válida para uma espira com qualquer for-


mato. No caso de uma bobina contendo N espiras de
fio, cada uma conduzindo a mesma corrente e possuindo
a mesma área, o momento magnético total da bobina será
~ = N IA n̂. A unidade SI do momento de dipolo magnético
µ
é o ampère-metro2 (A·m2 ). A Figura 7.19 mostra a regra
da mão direita usada para determinação da direção de µ ~.
A equação acima é análoga a ~τ = p~ × E, que representa
~
o torque exercido sobre um momento de dipolo elétrico p~
na presença de um campo elétrico E.~ Neste caso, a energia Figura 7.19: Regra da mão
potencial do dipolo elétrico é dada por U = −~ ~
p · E. direita que dá a direção do
vetor momento de dipolo
O trabalho exercido por um agente externo para girar magnético µ~.
o dipolo magnético de um ângulo θ0 para um ângulo θ é
ˆ θ ˆ θ
Wext = τ dθ0 = (µB sen θ0 )dθ0 = µB(cos θ0 − cos θ)
θ0 θ0

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interação magnética 191

Wext = ∆U = U − U0 .
Novamente, Wext = −W , onde W é o trabalho feito pelo
campo magnético. Escolhendo U0 = 0 em θ0 = π/2, o
dipolo magnético na presença de um campo externo possui
uma energia potencial

U = −µB cos θ = −~ ~
µ · B.

Note que, por esta relação, U é igual a zero quando o campo


magnético é perpendicular ao momento de dipolo.

EEE

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192 física iii

Problemas propostos
Níveis de dificuldade:
P7.1 š Um elétron num tubo de TV está se movendo a
7,2 × 106 m/s num campo magnético de intensidade 83 mT. š – de boa na lagoa;
(a) Sem conhecermos a direção do campo, quais são o maior ˜ – mais fácil que capi-
e o menor módulo da força que o elétron pode sentir devido nar um lote;
a este campo? (b) Num certo ponto, a aceleração do elétron – – corram para as coli-
é 4,9 × 1014 m/s2 . Qual é o ângulo entre a velocidade do nas!
elétron e o campo magnético?

P7.2 š Um elétron é acelerado a partir do repouso por


uma diferença de potencial de 350 V. Em seguida, ele entra
em uma região onde existe um campo magnético uniforme
de módulo 200 mT com uma velocidade perpendicular ao
campo. Calcule (a) a velocidade escalar do elétron; (b) o
raio da trajetória do elétron na região onde existe campo
magnético

P7.3 š Uma partícula tem carga q, massa m, momento


linear de módulo igual a p e energia cinética K. A partícula
move-se em uma órbita circular de raio R perpendicular a
um campo magnético uniforme B. ~ Mostre que (a) p = BqR
e (b) K = 2 B q R /m.
1 2 2 2

P7.4 ˜ Na Figura 7.20 uma partícula carregada penetra


em uma região onde existe um campo magnético uniforme
~ (para fora da página), descreve uma semicircunferência
B
e em seguida deixa a região. A partícula, que pode ser um
próton ou um elétron, passa 130 ns na região. (a) Qual é
essa partícula (próton ou elétron)? (b) Qual é o módulo de
~
B?

P7.5 ˜ Uma partícula A com carga q e massa mA e uma


partícula B com carga 2q e massa mB são aceleradas a
partir do repouso por uma diferença de potencial ∆V . Em Figura 7.20: Problema 7.4.
seguida, elas entram em uma região com um campo mag-
nético uniforme, onde descrevem trajetórias semicirculares
de raios R para a partícula A e 2R para a partícula B. A

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interação magnética 193

direção do campo magnético é perpedicular à velocidade


das partículas. Qual é a razão de suas massas, mA /mB ?

P7.6 ˜ Uma partícula com velocidade igual a 1,00 × 106 m/s


entra em uma região com um campo magnético uniforme
com magnitude igual a 0,800 T, que aponta para dentro da
página como mostrado na Figura 7.21. A partícula entra na
região a um ângulo θ = 60◦ . Determine (a) se a partícula é
um elétron ou um próton, (b) o ângulo de saída φ e (c) a
distância d.

P7.7 š Um fio de 1,80 m de comprimento é percorrido por


uma corrente de 13,0 A e faz um ângulo de 35,0◦ com um
campo magnético uniforme de módulo B = 1,50 T. Calcule
a força magnética exercida pelo campo sobre o fio. Figura 7.21: Problema 7.6.

P7.8 ˜ Um fio retilíneo não-flexível e horizontal de 25 cm


de comprimento, tem massa igual a 50 g e está conectado
a uma fonte de fem através de fios leves e flexíveis. Um
campo magnético de 1,33 T é horizontal e perpendicular
ao fio. Determine a corrente necessária para fazer o fio
“flutuar”, isto é, quando o fio é liberado a partir do repouso,
ele permanece em repouso.

P7.9 š Um fio de comprimento ` está enrolado em uma


bobina circular com N voltas. Mostre que, quando o fio
conduz uma corrente I, o momento magnético da bobina
tem magnitude dada por I`2 /4πN .

P7.10 ˜ Um fio de 25,0 cm de comprimento, percorrido


por uma corrente de 4,51 mA, é convertido em uma bobina
circular com N espiras e submetido a um campo magnético
uniforme B ~ de módulo 5,71 mT. Se o torque que o campo
exerce sobre a bobina é o maior possível, determine (a) o
ângulo entre B~ e o momento de dipolo magnético da bobina
e (b) o número de espiras, N , da bobina. (c) Qual o módulo
do torque máximo?

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8
Fontes de campo magnético

O efeito do campo magnético sobre cargas em movimento


e condutores de corrente elétrica foi estudado em detalhes
no capítulo anterior. Neste capítulo, vamos descrever como
uma corrente elétrica produz um campo magnético ao seu
redor e obter expressões para o campo magnético produzido
por condutores de corrente de diferentes formatos.
A suspeita de um elo entre eletricidade e magnetismo
começou a surgir a partir de uma observação curiosa publi-
cada em 1735, que relatava os efeitos magnéticos produzidos
em objetos metálicos durante uma tempestade de raios; a
descarga elétrica teria sido capaz de “magnetizar” pequenos
objetos de aço.1 1
Dod P., An Account of
an Extraordinary Effect of
Nos anos seguintes, muitos experimentos foram reali- Lightning in Communica-
zados para observar tal relação. Por exemplo, em 1805, J. N. ting Magnetism. Communi-
P. Hachette e C. B. Desormes construíram uma grande pilha cated by Pierce Dod, M. D.
voltaica de um metro de comprimento que foi colocada em F. R. S. from Dr. Cookson
of Wakefield in Yorkshire,
um pequeno barco de madeira, de forma que pudesse flutuar Philosophical Transactions,
na água e se orientar na direção dos polos magnéticos da 1735, v. 39, p. 74–75
Terra; mas não observaram qualquer efeito, logo a “bússola
elétrica” não funcionava.2 2
Hachette J. N. P., Expé-
rience sur le magnétisme
Finalmente, em 1820, um experimento relativamente de la pile électrique, Corres-
simples demonstrou a relação direta entre a corrente elétrica pondance sur l’École royale
e o magnetismo. polytechnique, à l’usage des
élèves de cette école, 1805,
v. 1, p. 151–153
196 física iii

8.1 A origem do eletromagnetismo

Pode parecer simplório, mas o eletromagnetismo — uma das


principais áreas da Física — surgiu a partir da observação
do leve movimento da agulha de uma bússola. Em julho
de 1820, o professor dinamarquês Hans Christian Ørsted
(1777–1851), em uma de suas aulas na Universidade de Cope-
nhague, na qual procurava verificar se uma corrente elétrica
seria capaz de produzir algum efeito magnético, colocou uma
bússola perpendicular a um fio retilíneo por onde passava
uma corrente e não observou nenhum efeito. Entretanto,
descobriu que ao colocar a bússola paralelamente ao fio fazia
com que a sua agulha sofresse uma deflexão, orientando-se
perpendicularmente a ele.3 Este foi o primeiro experimento 3 Ørsted H. C., Expe-
que demonstrou a relação entre os fenômenos elétricos e rimenta Circa Effectum
Conflictus Electrici
magnéticos, dando início ao estudo do eletromagnetismo. in Acum Magneticam.
Após a divulgação dos resultados obtidos por Ørsted, Hafniae, Schultz Press,
outros físicos dedicaram-se à explicação do fenômeno ele- 1820
tromagnético. Dentre eles, o físico francês André-Marie
Ampère (1775–1836), em uma comunicação publicada em
outubro de 1820, descrevia um experimento no qual de-
monstrava que dois fios conduzindo correntes elétricas no
mesmo sentido eram atraídos um pelo outro; se as correntes
eram opostas, os fios se repeliam. Além disso, argumentava
que existiriam correntes elétricas no interior dos ímãs e da
própria Terra, de forma que no experimento de Ørsted o
que se via era a interação entre essas correntes.4 4
Ampère A., Mémoire
sur l’action mutuelle entre
No mesmo ano, os também franceses Jean-Baptiste deux courants électriques,
Biot (1774–1862) e Félix Savart (1791–1841) apresen- un courant électrique et un
taram um trabalho onde determinavam a intensidade e a aimant ou le globe terres-
direção da força magnética exercida por um longo fio re- tre, et entre deux aimants,
Annales de Chimie et Phy-
tilíneo, conduzindo uma corrente elétrica constante, sobre sique, 1820, v. 15, p. 59–75
uma agulha imantada.5 Seus resultados mostraram que a 5
Biot J.-B., Savart F.,
força exercida é inversamente proporcional à distância ao Note sur le Magnétisme de
la pile de Volta, Annales
fio e sua direção é perpendicular tanto em relação a uma
de Chimie et de Physique,
linha traçada perpendicularmente ao fio, quanto ao próprio 1820, v. 15, p. 222–223

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fontes de campo magnético 197

eixo do fio. Segundo Biot e Savart, a corrente no fio o


tornaria magnético, como um ímã, havendo então uma ação
direta dos polos magnéticos do fio sobre os polos da agulha
imantada. Para uma tradução do tra-
balho de Biot e Savart, veja
Hoje sabemos que um fio retilíneo que transporta cor-
Assis & Chaib (2006).
rente elétrica produz um campo magnético ao seu redor.
Neste caso, as linhas de campo magnético são círculos em
planos perpendiculares ao fio, como está ilustrado na Fi-
gura 8.1. Este resultado foi originalmente observado por
Ørsted em 1823.6 6
Ørsted H. C., Expérience
électro-magnétique, Anna-
les de Chimie et Physique,
1823, v. 22, p. 201–203
8.2 Lei de Biot-Savart

A partir dos experimentos de Ampère, e principalmente de


Biot e Savart, podemos expressar o campo magnético em
um ponto do espaço em termos da corrente elétrica que o
produz. A essa expressão, damos o nome de lei de Biot-
Savart. Neste sentido, o campo magnético é produzido por
um elemento infinitesimal de corrente que é parte de uma
distribuição de corrente maior.
Considere um fio conduzindo uma corrente elétrica Figura 8.1: O campo mag-
constante I, como mostrado na Figura 8.2. A lei de Biot- nético B
~ circula um fio con-
duzindo corrente elétrica.
Savart nos diz que o campo magnético dB
~ no ponto P criado

Figura 8.2: O campo mag-


nético dB ~ em um ponto
P devido a uma corrente
I através de um elemento
de comprimento d~ ` é dado
pela lei de Biot-Savart. O
campo é para fora da pá-
gina em P .

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198 física iii

por um elemento do fio de comprimento infinitesimal d~` é

~ = µ0 Id~` × r̂
dB ,
4π r2

onde r é a distância do elemento de corrente d~` até o ponto


P , r̂ é um vetor unitário direcionado do elemento para o
ponto P e µ0 é a constante de permeabilidade magnética do
vácuo:
µ0 = 4π × 10−7 T·m/A.

A lei de Biot-Savart fornece o campo magnético pro-


duzido por um elemento de corrente I d`. Para determinar
Figura 8.3: Regra da mão
o campo magnético total produzido por uma distribuição
direita para determinação
de corrente devemos fazer a integração sobre todo o fio da direção do campo mag-
condutor: ˆ
nético ao redor de um fio
µ0 I d~` × r̂ longo e reto que conduz
~
B= . uma corrente I.
4π r2
fio

A Figura 8.3 mostra uma regra da mão direita útil para


determinar a direção do campo magnético devido a uma
corrente em um condutor.

Campo magnético de um fio conduzindo corrente


Considere um fio retilíneo condutor carregando uma corrente
constante I, orientado na direção do eixo x como mostra a
Figura 8.4. Vamos determinar o campo magnético produzido
pela corrente na posição do ponto P .
Inicialmente tomamos um elemento de comprimento
do fio d~` localizado a uma distância r do ponto P . A direção
do campo magnético no ponto P devido à corrente neste
elemento é para fora da página, dada pelo produto d~` × r̂.
Como todos os elementos de corrente I d~` estão no plano
da página, eles produzirão um campo magnético dirigido
para fora da página no ponto P . Assim, a direção do campo
magnético naquele ponto produzido pelo fio aponta para
fora da página.

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fontes de campo magnético 199

Figura 8.4: Um fio retilí-


neo com uma corrente I. O
campo magnético em um
ponto P produzido pela cor-
rente em cada elemento d`
do fio aponta para fora da
página.

Podemos determinar o elemento de campo magnético


~ devido ao elemento de corrente I d~` a partir da lei de
dB
Biot-Savart:
dB~ = µ0 Id~` × r̂,
4πr2
O produto vetorial é dado por

d~` × r̂ = |d~`| |r̂| sen θ k̂ = dx sen θ k̂,

onde k̂ é um vetor unitário na direção para fora da página.


Portanto, o campo magnético é

~ = µ0 I dx sen θ
dB k̂.
4π r2
Para integrar esta expressão, devemos relacionar as variáveis
θ, x e r. Uma alternativa é expressar x e r em termos de θ.
Da geometria mostrada na Figura 8.4, temos
a
r= = a csc θ.
sen θ
Como x = −a/ tan θ (o sinal negativo indica que d~` está no
lado negativo de x), temos

dx = a csc2 θ dθ.

Substituindo dx e r na expressão para dB,


~ obtemos

~ = µ0 I a csc2 θ sen θ µ0 I
dB 2 2
dθ k̂ = sen θ dθ k̂.
4π a csc θ 4πa

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200 física iii

O campo magnético no ponto P é obtido integrando-se


esta expressão entre dois ângulos θ1 e θ2 , como mostra a
Figura 8.5:
ˆ
~ µ0 I θ2 µ0 I
B= sen θ dθ k̂ = [cos θ1 − cos θ2 ] k̂.
4πa θ1 4πa

Podemos utilizar este resultado para encontrar o campo


magnético de qualquer fio conduzindo corrente se conhece-
mos a geometria do problema e, portanto, os ângulos θ1 e
Figura 8.5: Ângulos utiliza-
θ2 . Para um fio infinitamente longo, temos que θ1 = 0 e dos no intervalo de integra-
θ2 = π correspondem a elementos de corrente entre x = −∞ ção.
e x = +∞. Neste caso, o módulo do campo magnético em
torno do fio é
µ0 I µ0 I
B= [cos 0 − cos π] = .
4πa 2πa
Em coordenadas cilíndricas, o campo magnético de
uma corrente em um fio retilíneo possui apenas a compo-
nente angular dada pelo vetor unitário θ̂, como mostra a
Figura 8.6:
µ0 I
~
B(r) = θ̂. (8.1)
2πr
Este resultado mostra que a magnitude do campo magnético
é proporcional ao valor da corrente e diminui com o aumento I
da distância ao fio, como esperado.

Campo magnético de uma espira de corrente


Considere um fio circular na forma de uma espira de raio a Figura 8.6: Seção transver-
sal do fio em coordenadas
localizada no plano yz e com uma corrente constante I, como cilíndricas.
mostra a Figura 8.7. Vamos calcular o campo magnético em
um ponto P sobre o eixo da espira a uma distância x do seu
centro. Para ilustrar, a Figura 8.8 mostra algumas linhas
de campo magnético produzido por uma espira circular.
A Figura 8.7 mostra que um elemento de corrente no
topo da espira produz um campo magnético dB ~ que pode
ser decomposto em dois vetores, um paralelo ao eixo x, dBx ,

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fontes de campo magnético 201

e outro perpendicular ao eixo, dBy . Por simetria, todas as


componentes perpendiculares se anulam, restando apenas a
componente paralela ao eixo x, dBx = dB cos θ.

Figura 8.7: Geometria para


o cálculo do campo magné-
tico sobre o eixo de uma es-
pira circular vista de perfil.
Por simetria, o campo total
~ está ao longo do eixo x.
B

Aplicando a lei de Biot-Savart, temos que |d~` × r̂| = d`.


Além disso, todos os elementos de corrente estão a uma
mesma distância r do ponto P , onde r2 = a2 + x2 . Portanto,
temos que o módulo do campo magnético dB ~ produzido por
~
cada elemento de corrente d` é dado por

µ0 I |d~` × r̂| µ0 I d`
dB = 2
= .
4π r 4π (a + x2 )
2

A componente paralela ao eixo x é


µ0 I d` Figura 8.8: Linhas de
dBx = dB cos θ = cos θ. campo magnético para uma
4π (a + x2 )
2
espira de corrente.
Integrando sobre toda a espira, temos
˛ ˛
µ0 I d` cos θ
Bx = dBx = .
4π a2 + x2
Da geometria do problema, temos que
a
cos θ = 2 .
(a + x2 )1/2
Substituindo esta expressão na integral e notando que ambos
x e a são constantes, obtemos
˛
µ0 I d` a
Bx =
4π a2 + x2 (a2 + x2 )1/2

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202 física iii

˛
µ0 I a µ0 I a
Bx = 2 2 3/2
d` = (2πa),
4π (a + x ) 4π (a + x2 )3/2
2
¸
onde usamos d` = 2πa, que corresponde à medida da
circunferência da espira.
µ0 Ia2
~
B(x) = ı̂. (8.2)
2(a2 + x2 )3/2
No centro da espira, x = 0, e temos
µ0 I
B= .
2a
Para pontos muito distantes da espira, de forma que x  a,
˛ ˆ
podemos desprezar o termo a2 no denominador da expressão 2π
d` = a dφ = 2πa.
obtida anteriormente e obtemos: 0

Thank you, Captain


µ0 Ia2
B≈ . Obvious!
2x3
O módulo do momento de dipolo magnético µ da espira é
definido pelo produto da corrente pela sua área: µ = I(πa2 ).
Portanto, podemos escrever
µ0 µ
B≈ .
2π x3
Este resultado possui forma similar ao que obtivemos para
o caso do campo elétrico produzido por um dipolo elétrico
a grandes distâncias, E ∝ p/y 3 , onde p é o momento de
dipolo elétrico.

Força magnética entre dois condutores de corrente


Considere dois fios infinitamente longos, retos e paralelos,
separados pela distância a e conduzindo correntes I1 e I2
na mesma direção, como mostrado na Figura 8.9. Para Figura 8.9: Dois fios pa-
ralelos, cada um condu-
simplificar o problema, consideraremos que os diâmetros zindo uma corrente cons-
dos fios são muito menores que a distância que os separa. tante, exercem forças en-
Vamos determinar a força magnética entre os fios. tre si. A força é atrativa
se as correntes são parale-
O fio 2 gera um campo magnético B ~ 2 na posição do fio
las (como mostrado) e re-
1. A direção de B ~ 2 é perpendicular ao fio, como mostrado pulsiva se as correntes são
antiparalelas (possuem di-
reções opostas).
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fontes de campo magnético 203

na figura. A força magnética sobre o fio 1 de comprimento


` é F~1 = I1 ~` × B
~ 2 . Como ~` é perpendicular a B
~ 2 , o módulo
de F1 é F1 = I`B2 . O campo magnético devido ao fio 2 é
~
dado pela equação 8.1. Então, temos:
µ0 I2 `µ0 I1 I2
F1 = I1 `B2 = I1 `= .
2πa 2πa
A força por unidade de comprimento é
F1 µ0 I1 I2
= .
` 2πa
A direção de F~1 é para baixo, pois ~` × B ~ é para baixo. Se
considerarmos o campo gerado no fio 2 devido ao fio 1, a
força F~2 sobre o fio 2 é igual em módulo e oposta em relação
a F~1 . Portanto, podemos escrever que a força exercida sobre
cada fio é
F µ0 I1 I2
= .
` 2π a
Em 1820,7 Ampère observou que quando as correntes 7
Ampère A., Mémoire
estão em direções opostas, as forças magnéticas entre elas sur l’action mutuelle entre
deux courants électriques,
são repulsivas e os fios condutores se repelem. Se as correntes un courant électrique et un
estão na mesma direção, os fios condutores se atraem. aimant ou le globe terres-
tre, et entre deux aimants,
Annales de Chimie et Phy-
Definição do Ampère e do Coulomb. A força magnética sique, 1820, v. 15, p. 59–75
entre dois fios paralelos, cada um conduzindo uma corrente,
é usada para definir o ampère: se dois fios longos e paralelos
a 1 m de distância um do outro conduzem a mesma corrente
e a força por unidade de comprimento em cada fio é 2 ×
10−7 N/m, então a corrente é definida como sendo de 1 A.
A unidade SI de carga, o coulomb, pode agora ser
definida em termos do ampère: se um condutor conduz uma
corrente constante de 1 A, a quantidade de carga que flui
através de uma seção transversal do condutor em 1 s é 1 C.

8.3 Lei de Ampère

Considere inicialmente uma corrente retilínea infinita I.


Conforme vimos anteriormente, em coordenadas cilíndri-

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204 física iii

cas podemos escrever o campo magnético produzido pela


corrente como
~ µ0 I
B(r) = θ̂.
2πr
Vamos calcular a circulação de B
~ ao longo de um percurso
circular C de raio r composto de pequenos segmentos infini-
tesimais d~s. O campo magnético B ~ é tangente ao percurso,
de forma que B · d~s = B ds e é constante em módulo. Por-
~
tanto, a circulação magnética, ΛB , é
˛ ˛ ˛
~ s= µ0 I
ΛB = B·d~ B ds = B ds = B(2πr) = (2πr),
C C C 2πr
portanto
ΛB = µ0 I.
A circulação magnética é, então, proporcional à corrente
elétrica I, e é independente do raio do percurso C. Se
traçarmos vários círculos ao redor da corrente I, a circulação
magnética em todos eles será a mesma e igual a µ0 I.
Considere agora um percurso fechado arbitrário C que
circunda a corrente I. A circulação magnética em C é
˛ ˛
~ · d~s = µ0 I θ̂ · d~s
ΛB = B ,
C 2π C r

onde θ̂ é o vetor unitário na direção de B.


~ Mas θ̂·d~s é a
I
componente de d~s na direção do vetor unitário θ̂, e portanto é
igual a r dθ, como mostra a Figura 8.10. Consequentemente
˛ Figura 8.10: A direção do
µ0 I µ0 I campo magnético produ-
ΛB = dθ = (2π) = µ0 I, zido por uma corrente I é
2π C 2π
dada por um vetor unitário
porque o ângulo plano total ao redor de um ponto é 2π. θ̂. Neste caso, o produto
θ̂ · d~s é a componente de d~s
Este é, novamente, o nosso resultado anterior e é válido para na direção de û, que é igual
qualquer percurso fechado ao redor da corrente retilínea, a r dθ.
independentemente da posição da corrente com relação ao
percurso.
Uma análise mais cuidadosa indica que este resultado
é correto para qualquer forma da corrente, e não apenas

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fontes de campo magnético 205

para uma corrente retilínea. Se tivermos diversas correntes


I1 , I2 , I3 , . . . ligadas por uma linha fechada C, cada corrente
contribuirá para a circulação do campo magnético ao longo
de C. Portanto, podemos expressar a lei de Ampère como:

a circulação do campo magnético ao longo de uma linha


fechada que liga as correntes I1 , I2 , I3 , · · · é
˛
ΛB = ~ · d~s = µ0 Iin ,
B
C

onde Iin representa a corrente total envolvida pelo percurso


C, ou seja

N
X
Iin = I1 + I2 + I3 + · · · = Ii .
i

A lei de Ampère, formulada por Maxwell em 1873, é


uma das equações fundamentais do eletromagnetismo. Ela
é válida somente para correntes constantes. Além disso, em-
bora ela seja válida para todas as configurações de corrente,
ela apenas torna-se útil para calcular campos magnéticos
de configurações altamente simétricas (de forma similar ao
caso da lei de Gauss para o cálculo do campo elétrico de
distribuições simétricas de cargas).
Para a determinação dos circuitos ou trajetórias de
integração (algumas vezes chamadas espiras amperianas)
devemos satisfazer uma ou mais das seguintes condições:

1. O valor do campo magnético é constante ao longo da


trajetória.

2. O campo magnético é nulo em todos os pontos ao longo


da trajetória.

3. B
~ e d~s são paralelos e, portanto, B
~ · d~s = B ds.

4. B
~ e d~s são perpendiculares. Logo, B
~ · d~s = 0

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206 física iii

Campo magnético dentro e fora de um fio


Considere um fio retilíneo e longo de raio a conduzindo uma
corrente elétrica I uniformemente distribuída ao longo de
sua seção transversal, isto é, com uma densidade de corrente
constante, como mostra a Figura 8.11. Vamos determinar o
campo magnético em todos os pontos dentro e fora do fio.

Fora do fio: r ≥ a. Adotamos uma espira amperiana


circular de raio r que envolve completamente todo o fio,
com uma corrente interna Iin = I. Aplicando a lei de Figura 8.11: Fio retilíneo
Ampère, obtemos: de raio a conduzindo uma
˛ ˛ corrente I saindo da pá-
~ gina.
B · d~s = B ds = B(2πr) = µ0 I,
C C

µ0 I
B=
2πr
¸
onde C ds = 2πr, e o módulo do campo magnético é cons-
tante ao longo da espira.

Dentro do fio: r ≤ a. Assumindo que a densidade de


corrente seja constante sobre toda a seção de área transversal
do fio, a corrente elétrica interior à espira amperiana de raio
r < a pode ser obtida pela relação
¨
I= J~ · n̂ dA.

Como J~ é constante e paralelo a n̂, a relação fica


¨
I=J dA = J(πa2 ),

que dá a corrente total no fio de raio a. Similarmente, para


um raio r < a, a corrente é
¨
I r2
Iin = J dA = J(πr2 ) = (πr 2
) = I ,
πa2 a2
onde usamos o valor J = I/(πa2 ) obtido anteriormente.

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fontes de campo magnético 207

Aplicando a lei de Ampère de forma análoga ao que


fizemos para o caso do campo externo ao fio, temos
˛ ˛
~ · d~s = B r2
B ds = B(2πr) = µ0 I 2 ,
C C a

µ0 Ir
B=
2πa2
Portanto, o campo magnético devido a uma corrente
distribuída uniformemente em um fio retilíneo de raio a é
dado por
µ0 Ir

 , r≤a
 2πa2


B=
 µ0 I , r ≥ a



2πr
O gráfico de B em função da distância é mostrado na
Figura 8.12. Note que na superfície do fio r = a, ambas Figura 8.12: Gráfico do
expressões são válidas. campo magnético em fun-
ção da distância para um
fio retilíneo de raio a con-
duzindo uma corrente uni-
Campo magnético de um solenóide forme.

Um solenóide é um fio longo enrolado na forma de uma


hélice, pelo qual flui uma corrente elétrica I, como mostra a
Figura 8.13. Se as espiras estão muito próximas, essa confi-
guração pode produzir um campo magnético razoavelmente
uniforme por todo o volume contido pelo solenóide, exceto
próximo às suas extremidades. Cada uma das espiras pode
ser modelada como uma espira circular e o campo magné-
tico resultante é a soma vetorial dos campos produzidos por
todas as espiras.

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208 física iii

Figura 8.13: Solenóide.

I I

As linhas de campo magnético de um solenóide são


similares às de um ímã, como mostra a Figura 8.14. Assim,
uma das extremidades do solenóide comporta-se como o
polo norte e a oposta como o polo sul de um ímã.
A Figura 8.15 mostra, só para fins de ilustração, um
solenóide “expandido” visto em corte. Para pontos muito
próximos de uma das voltas do enrolamento, o observador
não percebe que o fio está encurvado. O fio se comporta
magneticamente quase como se fosse retilíneo, e as linhas Figura 8.14: As extre-
midades de um solenóide
de B~ nesta região são quase círculos concêntricos.
comportam-se como polos
magnéticos.
Figura 8.15: Um corte de
um solenóide cujas espiras
foram afastadas para efeito
de ilustração. São vistas as
linhas de campo magnético.

Solenóide ideal. Para um solenóide ideal, mostrado na


Figura 8.16, podemos considerar o campo magnético externo
nulo se o seu comprimento for muito maior que seu diâmetro.
Além disso, devemos considerar que não há espaço entre
os fios do enrolamento, de forma que as linhas de campo
magnético não “escapem” do interior do solenóide.

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fontes de campo magnético 209

Vamos aplicar a lei de Ampère para calcular o campo


magnético no interior deste solenóide ideal, considerando o
circuito retangular abcd mostrado na Figura 8.16:
˛
~ · d~s = µ0 Iin ,
B
C
¸
A integral fechada B ~ · d~s pode ser escrita como a soma
de quatro integrais, uma para cada segmento do circuito:
0
˛ ˆ b ˆ
*0 ˆ d
 c > ˆ a *0

~
B · d~s = ~ ~ 
B · d~s + B· d~s + ~
B · d~s + B
 ~ 
· d~s
C a b 
c d
A primeira integral da direita é igual a Bh, onde B é o
módulo do campo magnético e h é o comprimento arbitrário
do segmento ab. A segunda e quarta integrais são nulas pois
para cada elemento destes segmentos B ~ e d~s são perpen-
diculares. A terceira integral também é nula pois estamos
supondo que o campo é igual a zero em todos os pontos
externos ao solenóide ideal. Logo, para o circuito retangular
total temos: ˛
B~ · d~s = Bh.
C

A corrente resultante Iin que passa através do circuito


retangular é diferente da corrente I que percorre o solenóide,
pois o enrolamento faz com que os fios atravessem o circuito
mais de uma vez. Supondo que existem n espiras por uni-
dade de comprimento, a corrente total (que está saindo da

Figura 8.16: Um circuito de


Ampère retangular definido
pelos pontos abcd é usado
para calcular o campo mag-
nético deste solenóide longo
ideal.

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210 física iii

página) dentro do circuito retangular na Figura 8.16 é:


Iin = Inh.
A lei de Ampère torna-se então
Bh = µ0 Inh
B = µ0 nI.
Este é o valor do campo magnético no interior de um sole-
nóide ideal que depende apenas da corrente I e da densidade
de espiras n. Para um solenóide real (Figura 8.15), finito,
o campo “escapa” pelos espaços entre as espiras e, princi-
palmente, pelas extremidades do solenóide, mas o campo
na região central ainda permanece, com boa aproximação,
uniforme e dado pela expressão acima; o campo fora é muito
menos intenso do que dentro.

Solenóide finito. Considere um solenóide de comprimento


` e raio a, composto por N voltas e pelo qual flui uma
corrente I, como mostra a Figura 8.17. O eixo do solenóide
corresponde ao eixo z na figura, com suas extremidades
possuindo coordenadas z = z1 e z = z2 , de forma que
` = z2 − z1 . Vamos calcular o campo magnético em um
ponto P localizado ao longo do eixo do solenóide, a uma
distância z da origem.
A Figura 8.17 mostra um elemento infinitesimal do
solenóide com comprimento dz 0 , localizado a uma distância
z 0 da origem. Se a densidade de espiras é n = N/`, então
n dz 0 é o número de voltas do fio neste elemento, cada um
carregando uma corrente I. Podemos então considerar este
elemento infinitesimal como equivalente a uma espira de
corrente com dI = nI dz 0 , e usar o resultado que obtivemos
na equação 8.2 para o campo gerado por uma espira de
corrente ao longo do seu eixo. Assim, a contribuição deste
elemento infinitesimal do solenóide para o campo magnético
no ponto P é
µ0 a2 µ0 a2
dBz = 0
dI = (nI dz 0 ).
2 2
2[(z − z ) + a ] 3/2 2[(z − z 0 )2 + a2 ]3/2

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fontes de campo magnético 211

Figura 8.17: Geometria


para o cálculo do campo
magnético no interior de
um solenóide finito.

Integrando sobre todo o comprimento do solenóide,


desde z 0 = z1 até z 0 = z2 , obtemos

ˆ z2 z2
1 2 dz 0 1 2 z0 − z
Bz = µ0 nIa = µ nIa

0 2 2 3/2 0 p
2 z1 [(z − z ) + a ] 2

a2 (z − z 0 )2 + a2 z
1
" #
1 z − z1 z − z2
= µ0 nI p −p .
2 (z − z1 )2 + a2 (z − z2 )2 + a2

No caso de um solenóide ideal com comprimento `


muito maior do que seu raio a, z1 → −∞ e z2 → +∞.
Assim, a expressão entre colchetes na equação acima tende
ao valor 2, de forma que o campo magnético ao longo do
eixo de um solenóide infinito é

Bz = B0 = µ0 nI,

exatamente o mesmo valor que obtivemos pela aplicação da


lei de Ampère.
A Figura 8.18 mostra o gráfico de Bz /B0 em função
de z/a para dois solenóides com comprimentos ` = 20a e
` = 40a. Note que o campo magnético na região central do
solenóide, |z| < `/2, é praticamente uniforme e igual a B0 .

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212 física iii

Figura 8.18: Gráfico do


campo magnético ao longo
1
do eixo do solenóide em fun-
ção de z. Linha contínua:
solenóide com comprimento
0,75 ` = 40a; linha tracejada:
` = 20a.
0,5

0,25

-25 0 25

Campo magnético de um toróide

A Figura 8.19 mostra um toróide, que pode ser imaginado


como um solenóide encurvado formando um círculo. Por
simetria, as linhas de campo magnético formam circunfe-
rências concêntricas no interior do toróide. Vamos escolher
uma espira amperiana circular com raio r, concêntrica com
o toróide.

Figura 8.19: Toróide.

De acordo com a lei de Ampère, temos:

(B)(2πr) = µ0 IN,

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fontes de campo magnético 213

onde I é a corrente nas espiras do toróide e N é o número


total de espiras. Assim, temos:
µ0 N I
B= , a < r < b.
2πr
Isso mostra que, ao contrário do que acontece no caso do
solenóide, B não é constante ao longo da seção reta do
toróide.

EEE

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214 física iii

Problemas propostos
Níveis de dificuldade:
P8.1 š Um topógrafo está usando uma bússola magnética
6,1 m abaixo de uma linha de transmissão que conduz uma š – de boa na lagoa;
corrente constante de 100 A. (a) Qual é o campo magnético ˜ – mais fácil que capi-
produzido pela linha de transmissão na posição da bússola? nar um lote;
(b) Este campo tem uma influência significativa na leitura – – corram para as coli-
da bússola? A componente horizontal do campo magnético nas!
da Terra no local é 20 µT.

P8.2 š Dois fios retilíneos longos são paralelos e estão


separados por uma distância de 8,0 cm. As correntes nos
fios são iguais e o campo magnético em um ponto situado
exatamente entre os dois fios tem um módulo de 300 µT.
(a) As correntes têm o mesmo sentido ou sentidos opostos?
(b) Qual é o valor das correntes?

P8.3 š A Figura 8.20 mostra um próton que se move com


velocidade ~v = (−200m/s)̂ em direção a um fio retilíneo
longo que conduz uma corrente I = 350 mA. No instante
mostrado, a distância entre o próton e o fio é d = 2,89 cm.
Em termos dos vetores unitários, qual é a força magnética
a que o próton está submetido?

Figura 8.20: Problema 8.3.

P8.4 ˜ Na Figura 8.21, parte de um longo fio que carrega


uma corrente I forma uma seção circular de raio a. Encontre
uma expressão para o vetor campo magnético no centro do
círculo.

P8.5 ˜ Um circuito fechado consiste em dois semicírculos


de raios 40 cm e 20 cm, conectados por segmentos retilíneos
como mostrado na Figura 8.22. Uma corrente de 3,0 A

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fontes de campo magnético 215

Figura 8.21: Problema 8.4.

existe neste circuito e está no sentido horário. Determine o


campo magnético no ponto P .

P8.6 ˜ Duas espiras, uma em forma de circunferência e


outra em forma de quadrado, têm o mesmo comprimento L
e conduzem a mesma corrente I. Mostre que o campo mag-
nético produzido no centro da espira quadrada é maior que o
Figura 8.22: Problema 8.5.
campo magnético produzido no centro da espira circular.

P8.7 ˜ Considere o circuito mostrado na Figura 8.23,


composto por dois semicírculos de raios a e b conectados
por segmentos de reta. O sentido da corrente está indicado
na figura. Determine o campo magnético no ponto C, o
centro comum dos dois semicírculos.

Figura 8.23: Problema 8.7.

P8.8 ˜ A Figura 8.24 mostra um dispositivo conhecido


como bobina de Helmholtz, formado por duas bobinas circula-
res coaxiais de raio a = 25,0 cm, com 200 espiras, separadas
por uma distância d = a. As duas bobinas conduzem cor-
rentes iguais I = 12,2 mA no mesmo sentido. Determine o
módulo do campo magnético no ponto P , situado sobre o
eixo das bobinas, a meio caminho entre elas.

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216 física iii

Figura 8.24: Problema 8.8.

P8.9 ˜ Um solenóide ideal é construído com um pedaço


longo de fio de diâmetro dfio = 4,00 mm, comprimento
Lfio = 10,0 m e resistividade ρ = 1,70 × 10−8 Ω·m. Encon-
tre o campo magnético no centro do solenóide se o fio for
conectado a uma bateria que tem uma fem de 20,0 V.

P8.10 š Um solenóide longo tem 100 espiras/cm e conduz


uma corrente I. Um elétron se move no interior do solenóide
em uma circunferência de 2,30 cm de raio perpendicular ao
eixo do solenóide. A velocidade do elétron é 0,0460c (onde
c = 3×108 m/s é a velocidade da luz). Determine a corrente
I no solenóide.

P8.11 ˜ Os oito fios da Figura 8.25 conduzem correntes


de 2,0 A para dentro ou para fora da página,
¸ conforme
indicado. Determine a integral de linha B~ · d~s para as
curvas 1 e 2.

Figura 8.25: Problema


8.11.

P8.12 ˜ Quatro condutores longos e paralelos são percor-


ridos por correntes iguais de I = 5,00 A. A Figura 8.26 é

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fontes de campo magnético 217

uma vista de cima dos condutores. A direção da corrente


é para dentro da página nos pontos A e B e para fora da
página em C e D. Calcule a magnitude e a direção do campo
magnético no ponto P , localizado no centro do quadrado
com lado de 0,200 m.

× Figura 8.26: Problema


8.12.

P8.13 ˜ Um fio longo vertical conduz uma corrente des-


conhecida. Um cilindro oco, longo, de espessura desprezível,
coaxial com o fio, conduz uma corrente de 30 mA, dirigida
para cima. A superfície do cilindro tem um raio de 3,0 mm.
Se o módulo do campo magnético em um ponto situado a
5,0 mm de distância do fio é 1,0 µT, determine (a) o valor e
(b) o sentido da corrente no fio.

P8.14 ˜ A Figura 8.27 mostra uma seção reta de uma


fita longa e fina de largura w que está conduzindo uma
corrente elétrica I (para dentro da página) distribuída uni-
formemente ao longo de seu comprimento. Em termos dos
vetores unitários, qual é o campo magnético B
~ em um ponto
P no plano da fita situado a uma distância d de uma de
suas bordas?

P8.15 ˜ Na Figura 8.28, a corrente no fio longo e reto


é I1 = 5,00 A e o fio se encontra no plano da espira retan-
gular, que conduz 10,0 A. As dimensões são a = 0,150 m,
b = 0,450 m e c = 0,100 m. Encontre a magnitude e a dire-
ção da força resultante exercida sobre a espira pelo campo
magnético criado pelo fio.

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218 física iii

Figura 8.27: Problema


8.14.

Figura 8.28: Problema


8.15.

P8.16 ˜ A densidade de corrente dentro de um fio sólido,


longo e cilíndrico de raio a é paralela ao eixo e seu módulo
varia linearmente com a distância radial r ao eixo de acordo
com a expressão J(r) = J0 r/a, onde J0 é uma constante.
Calcule o campo magnético no interior do fio. Expresse sua
resposta em termos da corrente total I transportada pelo
fio.

P8.17 ˜ Uma longa casca cilíndrica tem raio interno a,


raio externo b e conduz uma corrente I paralela ao seu eixo
central. Considere que, no interior do material da casca,
a densidade de corrente está uniformemente distribuída.
Determine uma expressão para a magnitude do campo mag-
nético para (a) 0 < r < a, (b) a < r < b e (c) r > b.

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9
Indução eletromagnética

O experimento realizado por Ørsted em 1820, mostrando


que uma corrente elétrica exerce uma força sobre a agulha
de uma bússola, foi a primeira evidência de uma conexão
entre eletricidade e magnetismo. Essa descoberta levou os
cientistas contemporâneos a Ørsted a suspeitarem que, por
simetria, campos magnéticos também poderiam produzir
corrente elétrica.
Michael Faraday (1791–1867), brilhante físico e quí-
mico experimental inglês, foi quem originalmente desvendou
esta suspeita através da realização de inúmeros experimentos
para testar a veracidade de suas ideias. Em 1831, depois de
uma série de experimentos e investigações iniciados em 1822,
Faraday atacou o problema de produzir eletricidade a par-
tir do magnetismo. Finalmente, em setembro daquele ano,
chegou à descoberta de que um campo magnético variável
induz uma corrente elétrica em um circuito.
Este resultado, conhecido como a lei de Faraday da
indução eletromagnética, é uma das quatro leis fundamentais
do eletromagnetismo e foi publicado em 1832.1 Em suas 1
Faraday M., Experimen-
publicações, Faraday utilizava uma linguagem própria que tal Researches in Electri-
city, Philosophical Transac-
evitava o uso de formas matemáticas para descrever suas tions of the Royal Society
descobertas, o que foi feito apenas mais tarde com o tratado of London, 1832, v. 122, p.
sobre eletricidade e magnetismo de Maxwell. 125–162
220 física iii

9.1 Experimentos de Faraday

Considere dois circuitos condutores, um primário e outro


secundário, ambos parcialmente enrolados em um suporte
de ferro, como o ilustrado na Figura 9.1. O circuito primário
é conectado com uma bateria, produzindo uma corrente no
circuito que pode ser mantida, parada ou invertida através
de uma chave. O circuito secundário inclui apenas um
galvanômetro2 para indicar quaisquer correntes que passem 2
Instrumento utilizado
por ele. O galvanômetro é isolado, de forma que a corrente para medir correntes contí-
nuas de baixa intensidade.
primária não o influencie. Ele usa o princípio do
Faraday observou que, no instante em que a corrente é torque sobre uma bobina
ligada no circuito primário, o galvanômetro indica que uma numa região de campo
magnético. Seu nome foi
corrente induzida surge no circuito secundário com sentido inspirado no físico italiano
oposto ao do primário. Se a corrente do primário é mantida Luigi Galvani (1737–1798),
constante, a corrente induzida desaparece. Em seguida, se famoso pelos estudos
realizados em coxas de
o circuito primário é desligado, a corrente induzida volta rãs, quando descobriu que
a aparecer, mas agora no mesmo sentido da corrente do músculos e células nervosas
primário. Portanto, qualquer variação de corrente do cir- são capazes de produzir
eletricidade.
cuito primário provoca uma fem e, portanto, uma corrente
induzida no circuito secundário.

Figura 9.1: Experimento


de Faraday. Quando a
+ – 0
– 10
+
10 chave no circuito primá-
rio é fechada, o galvanô-
metro no circuito secundá-
rio se desvia momentane-
amente. A corrente indu-
zida no circuito secundário
é causada pela variação do
campo magnético através
No experimento anterior, se a corrente do primário for da bobina secundária.
constante, a corrente no secundário será nula. Agora vamos
considerar outra situação. Seja um fio retilíneo conectado
a uma bateria por um longo período, de forma que uma
corrente constante seja estabelecida ao longo dele (circuito
primário). Outro fio é ligado apenas a um galvanômetro,
estabelecendo um circuito secundário. Se o fio do circuito

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indução eletromagnética 221

primário se aproxima do secundário, uma corrente é indu-


zida com sentido oposto ao do primário. Se o fio se afasta,
o galvanômetro aponta uma corrente induzida no mesmo
sentido. Por outro lado, se agora mantivermos o circuito
primário em repouso e aproximarmos dele o secundário, no-
vamente uma corrente induzida aparecerá no secundário no
sentido oposto. Afastando o secundário, a corrente induzida
inverte de sentido. Logo, mesmo se a corrente do primário
for constante, ainda assim há uma corrente induzida no se-
cundário devido à movimentação do primário, do secundário,
ou de ambos.
Em outro experimento similar, substituímos o circuito
primário por um imã. Quando o polo norte do imã se
aproxima do circuito secundário, uma corrente elétrica é
induzida e indicada pelo galvanômetro. Afastando-se o imã,
a corrente inverte de sentido. Se o imã permanecer estático,
nenhuma corrente induzida é produzida no circuito.
Para entender estes fenômenos, Faraday introduziu
o conceito de linhas de força para medir a quantidade de
campo magnético produzido pelo circuito primário que atra-
vessa o circuito secundário. Posteriormente, em um trabalho
publicado em 1834,3 Heinrich Lenz enunciou uma lei para 3
Lenz H., Ueber die
definir o sentido da corrente induzida no circuito secundário, Bestimmung der Richtung
durch elektodyanamische
que será sempre na direção oposta ao movimento/ação que Vertheilung erregten galva-
a gerou. nischen Ströme, Annalen
Em todas as situações descritas acima, a lei da indução der Physik, 1834, v. 31, p.
483–494
de Faraday nos diz que uma corrente elétrica é induzida
em um circuito pela variação do campo magnético que o
atravessa. Como veremos adiante, outras situações físicas
também podem induzir uma corrente elétrica e, de forma
geral, um campo elétrico no espaço.

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222 física iii

9.2 Condutores em movimento em um campo mag-


nético uniforme

Antes de enunciar a lei de Faraday, vamos tratar de dois


casos simples utilizando os conceitos que já estudamos até
aqui para discutir o movimento de condutores em um campo
magnético uniforme.

Barra isolada em movimento em um campo magnético

Considere uma barra condutora de comprimento ` movendo-


se em um campo magnético uniforme que aponta para dentro
da página, conforme mostra a Figura 9.2.
Partículas carregadas no interior do condutor sofrem
uma força magnética igual a F~B = q~v × B, ~ que tende a
movê-las para cima (cargas positivas) ou para baixo (cargas
negativas). Em ambos os casos, o lado de baixo do condutor
ficará mais negativo. Essa separação de cargas dá origem
a um campo elétrico E ~ dentro da barra, que produz uma
força elétrica FE = q E. Se a carga for negativa, esta força
~ ~
apontará para cima, como mostra a figura.
No equilíbrio eletrostático, não deve haver mais mo- –
vimentação de cargas, de forma que a força elétrica age no
sentido de se opor à força magnética. Assim, temos

F~E = −F~B

~ = −q~v × B
qE ~ Figura 9.2: Uma barra con-
dutora movendo-se em um
ou campo magnético uniforme.

~ = −~v × B.
E ~

Como ~v e B
~ são perpendiculares entre si, a relação entre os
módulos é, simplesmente,

E = vB.

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indução eletromagnética 223

Em termos de potencial elétrico, a diferença de potencial


entre as extremidades da barra é dada por
∆V = E = E` = B`v.
Como esta diferença de potencial surge a partir do movi-
mento do condutor, ela é chamada de fem de movimento.
Note que se a barra parar, v = 0, a diferença de potencial
também será igual a zero quando o condutor estiver em
equilíbrio eletrostático (as cargas irão se rearranjar no in-
terior do condutor de forma que o campo elétrico no seu
interior seja nulo).

Barra móvel em um circuito


Considere agora o arranjo de condutores ilustrado na Fi-
gura 9.3, onde a barra condutora de comprimento ` move-se
sobre dois trilhos também condutores conectados por uma
resistência R. Por simplicidade, vamos assumir que a barra
possui resistência nula. Desprezamos também quaisquer
forças de atrito entre os condutores. Um campo magnético
uniforme B ~ é aplicado perpendicularmente ao plano do cir-
cuito formado. Quando aplicamos uma força externa F~ext
sobre a barra ela começa a se mover para a direita com
velocidade ~v = vı̂.

Figura 9.3: Uma barra


condutora deslizando sobre
dois condutores fixos.

À medida que a barra se move, a área formada pelo


circuito aumenta e mais linhas de campo magnético passam

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224 física iii

por ela. Podemos quantificar “quanto” de campo magnético


atravessa a área do circuito usando o conceito de fluxo do
campo magnético, que é definido de maneira similar ao fluxo
elétrico e é proporcional ao número de linhas do campo
magnético que atravessam uma área qualquer.

Fluxo do campo magnético. Definimos o fluxo magnético,


ΦB , através de uma superfície, como
¨
ΦB = ~ · n̂ dA,
B (9.1)

onde n̂ é um vetor unitário perpendicular à superfície de área


dA, como mostra a Figura 9.4. Para um campo magnético
~ uniforme através de uma área A, o fluxo magnético pode
B
ser simplesmente escrito como

~ · n̂A = BA cos θ,
ΦB = B

onde θ é o ângulo entre B


~ e n̂.
A unidade SI do fluxo mag-
Designando a posição da barra por x, a área do circuito nético é o weber :

num instante t é `x e o fluxo magnético através dela é weber = Wb = T·m2 .


¨
ΦB = ~ · n̂ dA = B`x.
B

Derivando em relação a t e lembrando que B e ` são cons-


tantes, obtemos a variação de fluxo por unidade de tempo:
Figura 9.4: Campo magné-
dΦB d dx tico através de um elemento
= (B`x) = B` .
dt dt dt de área dA.

Mas dx/dt = v. Logo,

dΦB
= B`v = E.
dt
Esta expressão mostra que qualquer variação de fluxo mag-
nético através de um circuito induz nele uma fem E. Como
veremos, uma variação de fluxo magnético também pode

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indução eletromagnética 225

acontecer se B ~ não for constante ou se o ângulo entre o


campo e o vetor normal à área também variar com o tempo.
Esta relação é o que chamamos de lei de Faraday para
circuitos e condutores.

Corrente induzida. Como a resistência do circuito é R, o


valor da corrente induzida é
|E| B`v
I= = ,
R R
e sua direção é no sentido anti-horário.

Força de freamento. Um condutor linear conduzindo uma


corrente I na presença de um campo magnético sofre uma
força dada por
F~B = I ~` × B.
~
Portanto, a barra móvel sofrerá uma força no sentido con-
trário ao seu movimento
B 2 `2 v
F~B = −I`B ı̂ = − ı̂.
R
Para a barra se mover com uma velocidade constante, a
força resultante sobre ela deve ser nula. Logo, um agente
externo precisa exercer uma força
B 2 `2 v
F~ext = −F~B = ı̂.
R

Potência dissipada Pela conservação de energia, a potência


fornecida por F~ext deve ser igual à potência dissipada no
resistor: P =
dW
=
d ~
F · d~s.
dt dt
B 2 `2 v (B`v)2 E2 Para uma força constante,
P = F~ext · ~v = Fext v = v= = = I 2 R. temos:
R R R
~ · d~s = F
P =F ~ · ~v .
dt
9.3 Lei de Faraday da indução eletromagnética

Os experimentos realizados por Faraday mostraram que uma


fem e, portanto, uma corrente elétrica podem ser induzidas

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226 física iii

em uma espira condutora fazendo variar a quantidade de


campo magnético (fluxo) que atravessa a área limitada pela
espira. Usando a definição de fluxo magnético introduzida
acima, podemos enunciar a lei de indução de Faraday da
seguinte forma:

O módulo da fem E induzida em uma espira condutora é


igual à taxa de variação temporal do fluxo magnético ΦB
que atravessa a espira.

Como veremos na próxima seção, a fem induzida se


opõe à variação do fluxo, de modo que, matematicamente,
a lei de Faraday pode ser escrita como
¨
dΦB d
E =− =− B~ · n̂ dA, (9.2)
dt dt

onde E é a fem induzida, ΦB é o fluxo magnético através


da espira condutora e o sinal negativo está associado com o
sentido da corrente elétrica induzida (ver próxima seção).
Se o fluxo magnético através de uma bobina de N
espiras sofre uma variação, uma fem induzida aparecerá
em cada espira, e a fem induzida total no circuito será o
somatório dos valores individuais. Se a taxa de variação
do fluxo for a mesma para cada uma das N espiras, a fem
induzida será dada por

dΦB
E = −N .
dt

Formas de variação do fluxo magnético


Há três maneiras de variar o fluxo magnético que atravessa
uma bobina para induzir uma corrente elétrica através dela:

1. Variando o módulo de B
~ com o tempo (Figura 9.5).

2. Variando a área total da bobina ou a parte da área


atravessada pelo campo magnético (Figura 9.6).

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indução eletromagnética 227

Figura 9.5: Campo magné-


tico diminui.

Figura 9.6: Área da bobina


diminui.

3. Variando o ângulo entre a orientação do campo mag-


nético B
~ e o plano da bobina, por exemplo, girando-a
(Figura 9.7).

Figura 9.7: Bobina é gi-


rada.

9.4 A lei de Lenz

O sinal negativo na lei de Faraday está relacionado com a lei


de Lenz, que nos permite determinar o sentido da corrente
induzida em uma espira:

A corrente induzida em uma espira fechada aparece em


um sentido que se opõe à variação que a produziu.

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228 física iii

Esta lei vale apenas para correntes induzidas que aparecem


em circuitos fechados. Se o circuito for aberto, podemos
usualmente pensar em termos do que poderia acontecer se
ele fosse fechado e desta forma encontrar a polaridade da
fem induzida.
A fem induzida tem o mesmo sentido que a corrente
induzida. Considere o campo magnético B ~ de um ímã se
aproximando de uma espira, como mostrado na Figura 9.8.
Se o ímã estiver inicialmente distante o fluxo magnético que
atravessa a espira é zero. Por exemplo, quando o polo norte
do ímã se aproxima da espira com o campo magnético B ~
apontando para baixo o fluxo através da espira aumenta.
Para se opor a esse aumento de fluxo a corrente induzida I
deve criar um campo B ~ ind apontando para cima. De acordo
com a regra da mão direita, o sentido da corrente deve ser
o sentido anti-horário.
Note que o fluxo de B ~ ind sempre se opõe à variação do
fluxo de B,
~ mas isso não significa que B ~ eB ~ ind sempre têm
sentidos opostos. Por exemplo, quando afastamos o ímã da
espira o fluxo ΦB produzido pelo ímã tem o mesmo sentido
que antes (para baixo), mas agora está diminuindo. Nesse
caso, o fluxo de B
~ ind também deve ser para baixo, de modo
a se opor à diminuição do fluxo ΦB . Portanto, B ~ eB~ ind
têm o mesmo sentido.

Figura 9.8: O campo


~ ind sempre tem o sentido
B
oposto ao sentido de B~ se
~ está aumentando (a), e o
B
mesmo sentido que B~ se B~
está diminuindo (b). A re-
gra da mão direita fornece
o sentido da corrente indu-
zida a partir do sentido do
campo induzido.

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indução eletromagnética 229

9.5 Campos elétricos induzidos

De acordo com a lei de Faraday, a variação do fluxo mag-


nético produz uma fem induzida num circuito. Esta fem
induzida representa o trabalho por unidade de carga neces-
sário para manter a corrente induzida. No entanto, como o
campo magnético não realiza trabalho, o trabalho realizado
para mover as cargas deve ser devido ao campo elétrico, que
neste caso não pode ser conservativo pois a integral de linha
de um campo conservativo deve ser nulo. No caso da lei de
Faraday, temos que a fem numa trajetória fechada C pode
ser escrita como
˛
E= E~ · d~s = − dΦB .
C dt
A fem induzida é a soma do produto escalar E ~ · d~s ao
longo de uma curva fechada, onde E ~ é o campo elétrico
induzido pela variação do fluxo magnético e d~s é o elemento
de comprimento. De acordo com esta equação, um campo
magnético variável induz um campo elétrico. Escrita dessa
forma, a lei de Faraday pode ser aplicada a qualquer curva
fechada que possa ser traçada em uma região onde existe
um campo magnético variável.

Figura 9.9: Um campo mag-


nético variável induz um
campo elétrico.

Como um exemplo do cálculo do campo elétrico in-


duzido por uma variação do campo magnético, considere

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230 física iii

a região circular mostrada na Figura 9.9 que representa a


seção reta de um solenóide longo de raio a. Um campo
magnético B ~ é paralelo ao eixo do solenóide, portanto per-
pendicular à área mostrada, e está entrando na página. Se
o campo magnético variar em função do tempo, um campo
elétrico será induzido. Vamos determinar expressões para
o campo elétrico induzido dentro (r ≤ a) e fora (r ≥ a) do
solenóide.

Dentro da região: r ≤ a. A lei de Faraday nos diz que a


circulação do campo elétrico ao longo de um circuito fechado
C é igual ao negativo da taxa de variação do fluxo magnético
através da área limitada pelo circuito. Podemos escrever
˛ ¨
~ dΦB d ~ · n̂ dA.
E · d~s = − =− B
C dt dt
Para resolver o lado esquerdo da equação, vamos considerar
uma trajetória circular de raio r de forma que um elemento
de comprimento d~s seja sempre paralelo ao campo elétrico
induzido. Além disso, ao longo desta trajetória, o campo
elétrico é constante. Assim,
˛ ˛ ˛
~ · d~s =
E E ds = E ds = E(2πr).
C C C

Para o lado direito da equação, o campo magnético é paralelo


ao vetor unitário n̂ e uniforme através de toda área da região
considerada, de forma que o fluxo magnético é
¨ ¨ ¨
~
B · n̂ dA = B dA = B dA = B(πr2 ).

Portanto, ignorando o sinal negativo, temos


dB
E(2πr) = (πr2 )
dt
r dB
E= .
2 dt
O sentido do campo elétrico é dado também pela lei de
Lenz, de forma similar ao que vimos para o caso de correntes

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indução eletromagnética 231

elétricas induzidas num condutor. Isso fica mais claro se


colocarmos uma espira circular de raio r concêntrica com o
solenóide. Um campo elétrico será estabelecido no interior
da espira, resultando em uma corrente elétrica na mesma
direção do campo.

Fora da região: r ≥ a. Neste caso, o lado esquerdo da lei de


Faraday nos dá o mesmo resultado. Para o fluxo magnético,
temos que considerar apenas a região que contém o campo
magnético, de modo que
¨ ¨ ¨
~ · n̂ dA =
B B dA = B dA = B(πa2 ).

Igualando os termos, temos


dB
E(2πr) = (πa2 )
dt
a2 dB
E= .
2r dt
Note que o campo elétrico induzido aparece mesmo fora da
região na qual há um campo magnético variável.

Campo não-conservativo
Os campos elétricos que são produzidos pelo processo de
indução não são associados a cargas, mas ao fluxo magnético
variável. Embora ambos os tipos de campos elétricos exer-
çam forças sobre as cargas, há uma importante diferença
entre eles.
A diferença de potencial entre dois pontos A e B é
definida como
ˆ B
VB − VA = − E~ · d~s.
A

Se quisermos que o conceito de potencial tenha alguma utili-


dade, esta integral precisa ter o mesmo valor para qualquer
caminho que ligue os pontos A e B. De fato, verificamos

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232 física iii

que isto era verdadeiro para todos os casos discutidos nos


capítulos anteriores, quando tratamos de campos elétricos
criados por cargas elétricas.
Um caso especial interessante ocorre quando A e B
são o mesmo ponto. O caminho que os liga é então uma
curva fechada; como VA deve ser idêntico a VB , temos:
˛
~ · d~s = 0.
E
C

Entretanto,
¸ quando um fluxo magnético variável está pre-
sente, C E ~ · d~s não é zero, mas igual a −dΦB /dt, de acordo
com a lei de Faraday. Isto implica que campos elétricos
associados a cargas estacionárias são conservativos, mas
campos elétricos associados a campos magnéticos variáveis
são não-conservativos. Os campos elétricos produzidos por
indução não podem ser expressos como gradientes de um
potencial elétrico, e, portanto, o potencial elétrico tem signi-
ficado apenas para campos elétricos produzidos por cargas
estáticas.

9.6 Geradores

Uma das principais aplicações da lei de Faraday é a existên-


cia dos geradores e motores elétricos. Um gerador converte
energia mecânica em energia elétrica, enquanto um motor
converte energia elétrica em mecânica.
A Figura 9.10 ilustra um gerador simplificado que
consiste de uma bobina com N voltas que gira dentro de
um campo magnético uniforme. O fluxo magnético através
da bobina varia com o tempo, induzindo uma fem. Pela
Figura 9.10b, podemos escrever o fluxo magnético como
¨
ΦB = ~ · n̂ dA = BA cos θ = BA cos ωt,
B

e a taxa de variação do fluxo é


dΦB
= −BAω sen ωt.
dt

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indução eletromagnética 233

Figura 9.10: (a) Um gera-


dor simplificado. (b) De-
Como a bobina possui N voltas, a fem total induzida nela é talhe do movimento de ro-
tação da bobina em um
dΦB campo magnético uniforme.
E = −N = N BAω sen ωt.
dt
Se a bobina for conectada a uma resistência R, a corrente
gerada no circuito é dada por

|E| N BAω
I= = sen ωt.
R R
Esta corrente varia com o tempo e seu sentido também.
Portanto, ela é chamada de corrente alternada. A potência
fornecida para este circuito é

(N BAω)2
P = IE = sen2 ωt.
R
Por outro lado, o módulo do torque exercido sobre a bobina
é
|~τ | = |~ ~ = µB sen θ = µB sen ωt,
µ × B|
onde µ é o momento de dipolo magnético da bobina, cujo
módulo é dado por

N 2 A2 Bω
µ = N IA = sen ωt.
R
A potência mecânica necessária para girar a bobina é

Pm = τ ω = µBω sen ωt.

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234 física iii

Substituindo o valor de µ, temos

N 2 A2 Bω (N BAω)2
 
Pm = sen ωt Bω sen ωt = sen2 ωt.
R R

Portanto, como esperado pela conservação de energia, a


potência fornecida para o circuito pela fem induzida é igual
à potência necessária para fazer a bobina girar.

9.7 Correntes parasitas

Quando uma espira move-se em um campo magnético, uma


corrente é induzida devido à variação do fluxo magnético.
Se, ao invés da espira, considerarmos um condutor plano
ou sólido, como mostra a Figura 9.11, a corrente elétrica
também pode ser induzida. A corrente induzida aparece
circulando regiões no interior do condutor e é frequentemente
chamada de corrente parasita ou corrente de Foucault.

Figura 9.11: Correntes pa-


rasitas aparecem quando
um condutor sólido move-
se num campo magnético.

As correntes parasitas induzidas no condutor também


geram uma força magnética que se opõe ao movimento,
tornando-se mais difícil mover o condutor através do campo
magnético (Figura 9.12).

Figura 9.12: A força magné-


tica devido à corrente para-
sita se opõe ao movimento
do condutor.

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indução eletromagnética 235

Como o condutor possui uma resistência não-nula


R, o efeito Joule pode ocasionar uma perda de potência
P = E 2 /R. Portanto, através do aumento do valor de R, a
perda de potência pode ser reduzida. Uma forma de aumen-
tar R é laminar o condutor ou construí-lo utilizando placas
condutoras separadas entre si por um material isolante (veja
a Figura 9.13a). Outra alternativa é fazer cortes no condu-
tor, como um pente, tornando o caminho percorrido pela
corrente mais longo e aumentando assim a sua resistência
(Figura 9.13b).
Figura 9.13: Correntes pa-
rasitas podem ser reduzi-
das (a) laminando a placa
condutora ou (b) fazendo-
se cortes no condutor.
EEE

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236 física iii

Problemas propostos
Níveis de dificuldade:
P9.1 š Determine o fluxo magnético através de um so-
lenóide ideal de 400 voltas que tem comprimento igual a š – de boa na lagoa;
25,0 cm, raio igual a 1,00 cm e conduz uma corrente de ˜ – mais fácil que capi-
3,00 A. nar um lote;
– – corram para as coli-
P9.2 ˜ Um longo solenóide tem n voltas por unidade de nas!
comprimento, raio R1 e conduz uma corrente I. Uma bobina
circular de raio R2 e com N voltas é coaxial ao solenóide
e está equidistante de suas extremidades. Determine o
fluxo magnético através da bobina se (a) R2 > R1 e (b)
R2 < R1 .

P9.3 ˜ Calcule o fluxo magnético através da espira retan-


gular mostrada na Figura 9.14, onde a = 5,0 cm, b = 10 cm,
c = 2,0 cm e I = 20 A.

Figura 9.14: Problema 9.3.

P9.4 ˜ A bobina retangular mostrada na Figura 9.15


tem 80 voltas, 25 cm de largura, 30 cm de comprimento
e está localizada em um campo magnético de 0,14 T que
aponta para fora da página. Apenas metade da bobina está
na região do campo magnético. A resistência da bobina
é 24 Ω. Determine a intensidade e o sentido da corrente
induzida se a bobina está se movendo com uma velocidade

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indução eletromagnética 237

de 2,0 m/s (a) para a direita, (b) para cima na página, (c)
para a esqueda e (d) para baixo na página.

P9.5 ˜ Um transformador é usado para transferir potên-


cia de um circuito elétrico de corrente alternada para outro,
mudando a corrente e a voltagem ao fazer isso. Um transfor-
mador particular mostrado na Figura 9.16 consiste em uma
bobina de 15 voltas com raio a = 10,0 cm que cercam um
solenóide longo com raio r = 2,00 cm e 1,00 × 103 espiras/m.
Se a corrente no solenóide variar como I = 5,00 sen (120t), Figura 9.15: Problema 9.4.
encontre a fem induzida na bobina de 15 espiras em função
do tempo.

Figura 9.16: Problema 9.5.

P9.6 š Um campo magnético uniforme B ~ é perpendicular


ao plano de uma espira circular com 10 cm de diâmetro,
formada por um fio com 2,5 mm de diâmetro e resistividade
de 1,69 × 10−8 Ω·m. Qual deve ser a taxa de variação de B
~
para que uma corrente de 10 A seja induzida na espira?

P9.7 ˜ Um gerador elétrico contém uma bobina de 100


espiras retangulares de 50,0 cm por 30,0 cm. A bobina
é submetida a um campo magnético uniforme de módulo
B = 3,50 T, com B~ inicialmente perpendicular ao plano da
bobina. Qual é o valor máximo da fem produzida quando a

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238 física iii

bobina gira a 1000 revoluções por minuto em torno de um


eixo perpendicular a B?
~ (Dica: faça ΦB = BA cos ωt.)

P9.8 ˜ Na Figura 9.17 uma espira quadrada com 2,0 cm


de lado é submetida a um campo magnético, dirigido para
fora do papel, cujo módulo é dado por B = 4,0t2 y, onde B
está em teslas, t em segundos e y em metros. No instante
t = 2,5 s, determine o valor absoluto e o sentido da fem
induzida na espira.
P9.9 ˜ A Figura 9.18 mostra duas regiões circulares, R1
e R2 , de raios r1 = 20,0 cm e r2 = 30,0 cm. Em R1 existe
um campo magnético uniforme de módulo B1 = 50,0 mT
Figura 9.17: Problema 9.8.
dirigido para dentro do papel, e em R2 existe um campo
magnético uniforme de módulo B2 = 75,0 mT dirigido para
fora do papel (ignore os efeitos da borda). Os dois campos
estão diminuindo¸ a uma taxa de 8,50 mT/s. Calcule o
valor da integral E ~ · d~s (a) para a trajetória 1; (b) para a
trajetória 2; (c) para a trajetória 3.

Figura 9.18: Problema 9.9.

P9.10 ˜ Um solenóide longo tem um diâmetro de 12,0 cm.


Quando o solenóide é percorrido por uma corrente I um
campo magnético uniforme de módulo B = 30,0 mT é
produzido no seu interior. Através de uma diminuição da
corrente I o campo magnético é reduzido a uma taxa de
6,50 mT/s. Determine o módulo do campo elétrico induzido
(a) a 2,20 cm e (b) a 8,20 cm de distância do eixo do
solenóide.

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indução eletromagnética 239

P9.11 ˜ Um longo solenóide tem n voltas por unidade


de comprimento e conduz uma corrente que varia com o
tempo de acordo com I(t) = I0 sen ωt. O solenóide tem
seção transversal circular de raio a. Determine o campo
elétrico induzido em pontos próximos ao plano equidistante
das extremidades do solenóide como função do tempo t e
da distância perpendicular r do eixo do solenóide para (a)
r < a e (b) r > a.

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Apêndices
A
Constantes físicas

Nome Símbolo Valor Unidade


−19
Carga fundamental e 1,602 176 565 × 10 C
Constante gravitational G 6,673 84 × 10−11 m3 ·kg−1 ·s−2
Constante de estrutura fina α = e2 /2hcε0 ≈ 1/137
Velocidade da luz no vácuo c 2,997 924 58 × 108 m/s
Permissividade elétrica do vácuo ε0 8,854 187 817 × 10−12 F/m
Permeabilidade magnética do vácuo µ0 4π × 10−7 H/m
k = (4πε0 )−1 8,987 6 × 109 N·m2 ·C−2

Constante de Planck h 6,626 075 5 × 10−34 J·s


Constante de Dirac ~ = h/2π 1,054 572 7 × 10−34 J·s
Magnéton de Bohr µB = e~/2me 9,274 1 × 10−24 A·m2
Raio de Bohr a0 0,529 18 Å
Constante de Rydberg Ry 13,595 eV
Comprimento de onda Compton do elétron λCe = h/me c 2,246 3 × 10−12 m
Comprimento de onda Compton do próton λCp = h/mp c 1,321 4 × 10−15 m
Massa de repouso do átomo de hidrogênio µH 9,104 575 5 × 10−31 kg

Constante de Stefan-Boltzmann σ 5,670 32 × 10−8 W·m−2 ·K−4


Constante de Wien kW 2,897 8 × 10−3 m·K

Constante universal dos gases R 8,314 41 J·mol−1 ·K−1


Constante de Avogadro NA 6,022 136 7 × 1023 mol−1
Constante de Boltzmann k = R/NA 1,380 658 × 10−23 J/K

Massa de repouso do eléctron me 9,109 382 91 × 10−31 kg


Massa de repouso do próton mp 1,672 621 777 × 1010−27 kg
Massa de repouso do nêutron mn 1,674 927 351 × 10−27 kg
Unidade de massa atômica mu = 12 m( 6 C)
1 12
1,660 565 6 × 10−27 kg
Magnéton nuclear µN 5,050 8 × 10−27 J/T

Diâmetro do Sol D 1 392 × 106 m


Massa do Sol M 1,989 × 1030 kg
Raio da Terra R⊕ 6,378 × 106 m
Massa da Terra M⊕ 5,976 × 1024 kg
B
Tabela de derivadas

Seja c uma constante, f (x) e g(x), e f 0 = df /dx.

d df dg
(f g) = g+f (B.1)
dx dx dx

d f f 0 g − f g0
= (B.2)
dx g g2

d c
f = cf c−1 f 0 (B.3)
dx

d
f (g) = f 0 (g)g 0 (B.4)
dx

d ax
e = a eax (B.5)
dx

d 1
ln x = (B.6)
dx |x|

d x
c = cx ln c (B.7)
dx

d g df dg
f = gf g−1 + f g ln f (B.8)
dx dx dx
246 física iii

d
sen x = cos x (B.9)
dx

d
cos x = − sen x (B.10)
dx

d
tan x = sec2 x (B.11)
dx

d
csc x = − csc x cot x (B.12)
dx

d
sec x = sec x tan x (B.13)
dx

d
cot x = − csc2 x (B.14)
dx
ˆ x
d
f (ξ) dξ = f (x) (B.15)
dx c
ˆ c
d
f (ξ) dξ = −f (x) (B.16)
dx x

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C
Tabela de integrais

Abaixo estão listadas algumas integrais essenciais para a


resolução dos problemas propostos. Para mais integrais
tabeladas, recomendo o site http://integral-table.com/.
ˆ
1
xn dx = xn+1 , n 6= −1 (C.1)
n+1
ˆ
1
dx = ln |x| (C.2)
x
ˆ ˆ
u dv = uv − vdu (C.3)

ˆ
ex dx = ex (C.4)

ˆ
1 x
ax dx = a (C.5)
ln a
ˆ
ln x dx = x ln x − x (C.6)

ˆ
sen x dx = − cos x (C.7)
248 física iii

ˆ
cos x dx = sen x (C.8)

ˆ
tan x dx = ln | sec x| (C.9)

ˆ
sec x dx = ln | sec x + tan x| (C.10)

ˆ
sec2 x dx = tan x (C.11)

ˆ
sec x tan x dx = sec x (C.12)

ˆ
a x
dx = tan−1 (C.13)
a2
+x 2 a
ˆ
a 1 x + a
dx = ln (C.14)
a2 − x2 2 x − a
ˆ
1 x
√ dx = sen−1 (C.15)
2
a −x 2 a
ˆ
a x
√ dx = sec−1 (C.16)
x x2 − a2 a

ˆ
1 p
√ dx = ln(x + x2 − a2 ) (C.17)
x2 − a2

ˆ
1 p
√ dx = ln(x + x2 + a2 ) (C.18)
x2 + a2
ˆ
dx 1 x
= 2√ (C.19)
(x2 + a2 )3/2 a x + a2
2

ˆ
x dx 1
= −√ (C.20)
(x2 + a2 )3/2 x2 + a 2

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tabela de integrais 249

√ !
−1 x b2 − a2
ˆ tan √
1 a b2 + x2
√ dx = √ (C.21)
(x2 + a2 ) x2 + b2 a b2 − a 2

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D
Identidades trigonométricas

Identidades pitagóricas

sen2 x + cos2 x = 1 (D.1)


2
1 + tan x = sec x2
(D.2)
2
1 + cot x = csc x2
(D.3)

Somas e diferenças de ângulos

sen(x + y) = sen x cos y + cos x sen y (D.4)


sen(x − y) = sen x cos y − cos x sen y (D.5)
cos(x + y) = cos x cos y − sen x sen y (D.6)
cos(x − y) = cos x cos y + sen x sen y (D.7)

Somas e diferenças de funções

1 1
sen x + sen y = 2 sen (x + y) cos (x − y) (D.8)
2 2
1 1
sen x − sen y = 2 cos (x + y) sen (x − y) (D.9)
2 2
1 1
cos x + cos y = 2 cos (x + y) cos (x − y) (D.10)
2 2
1 1
cos x − cos y = −2 sen (x + y) sen (x − y) (D.11)
2 2
252 física iii

Fórmulas de arco duplo

sen 2x = 2 sen x cos x (D.12)


2
cos 2x = cos x − sen x 2
(D.13)

Fórmulas de arco metade


x 1 − cos x
sen2 = (D.14)
2 2
2 x 1 + cos x
cos = (D.15)
2 2

Produtos de funções
1 1
sen x sen y = cos(x − y) − cos(x + y) (D.16)
2 2
1 1
cos x cos y = cos(x − y) + cos(x + y) (D.17)
2 2
1 1
sen x cos y = sen(x + y) + sen(x − y) (D.18)
2 2
1 1
cos x sen y = sen(x + y) − sen(x − y) (D.19)
2 2

Identidades exponenciais

eix = cos x + i sen x (D.20)

eix − e−ix
sen x = (D.21)
2i
eix + e−ix
cos x = (D.22)
2

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E
Vetores

E.1 Definição e propriedades z


~r = (x, y, z)

Um vetor pode ser matematicamente descrito por suas com-


ponentes no espaço cartesiano:
z k̂
y
~r = (x,y,z) ou ~r = xı̂ + y̂ + z k̂.
x ı̂ 0
Para multiplicar um vetor por um escalar, multiplique
suas componentes pelo escalar: x y ̂

a(x,y,z) = (ax,ay,az), Figura E.1: Representação


    de um vetor no espaço car-
a xı̂ + y̂ + z k̂ = axı̂ + ay̂ + az k̂ . tesiano.

Para somar dois vetores, some suas componentes:


(x1 ,y1 ,z1 ) + (x2 ,y2 ,z2 ) = (x1 + x2 ,y1 + y2 ,z1 + z2 ),
   
x1 ı̂ + y1 ̂ + z1 k̂ + x2 ı̂ + y2 ̂ + z2 k̂ = (x1 +x2 )ı̂+(y1 +y2 )̂+(z1 +z2 )k̂.

O comprimento de um vetor, ou seu módulo, é dado


por p
|~r| = |(x,y,z)| = x2 + y 2 + z 2 .
Um vetor unitário, n̂, é um vetor cujo comprimento é
igual a uma unidade
|n̂| = 1
254 física iii

Adição de vetores Figura E.2: Representação


~r1 geométrica da álgebra de
vetores.
~r2 + ~r1
~r2 ~r2
~r1 + ~r2

~r1
Subtração de vetores
~r2

~r1 − ~r2
~r1
~r1 − ~r2

−~r2

ou
n̂ = nx ı̂ + ny ̂ + nz k̂,
onde q
n2x + n2y + n2z = 1.

Um vetor unitário na direção de ~r é dado por

~r
n̂ = .
| ~r | θ

O deslocamento de uma posição dada por um vetor ~r1 360◦ − θ


para uma posição onde o vetor é ~r2 , é
0◦ < θ < 180◦

d~12 = ~r2 − ~r1 . θ

E.2 Produto escalar


360◦ − θ
O produto escalar, ou produto interno, entre dois vetores θ = 180◦
~r1 e ~r2 é representado por
360◦ − θ
~r1 · ~r2
θ
e é definido como o produto entre a magnitude |~r1 | de ~r1 , a
magnitude |~r2 | de ~r2 e o cosseno do ângulo θ entre os dois
vetores: θ = 0◦

~r1 · ~r2 = |~r1 | |~r2 | cos θ.


Figura E.3: Ângulo entre
vetores.
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vetores 255

~r2
Note que o produto escalar entre dois vetores é um
escalar: 0◦ ≤ θ < 90◦
(vetor) · (vetor) = (escalar) ~r1
r1 · ~
~ r2 > 0
O produto escalar é comutativo. Sejam ~r1 e ~r2 :
~r2
~r1 · ~r2 = ~r2 · ~r1 . 90◦ < θ ≤ 180◦

O produto escalar é distributivo. Sejam ~r1 , ~r2 e ~r3 :


~r1
r1 · ~
~ r2 < 0
~r1 · (~r2 + ~r3 ) = ~r1 · ~r2 + ~r1 · ~r3 .

Multiplicando por um escalar: ~r2


θ = 90◦
~r1 · (a~r2 ) = a (~r1 · ~r2 ) .
~r1
Para vetores perpendiculares entre si, θ = π/2 e r1 · ~
~ r2 = 0
cos θ = 0. O produto escalar entre dois vetores perpen-
diculares é zero. Por exemplo: Figura E.4: Sinal do pro-
duto escalar.
ı̂ · ̂ = 0 , ̂ · k̂ = 0 , k̂ · ı̂ = 0.

Para vetores paralelos, θ = 0 e cos θ = 1, o produto


escalar é igual ao produto de seus módulos:

ı̂ · ı̂ = 1 , ̂ · ̂ = 1 , k̂ · k̂ = 1.

O módulo de um vetor é igual à raiz quadrada do


produto escalar do vetor com ele mesmo:

| ~r | = ~r · ~r.

Considere o produto escalar entre dois vetores ~r1 =


x1 ı̂ + y1 ̂ + z1 k̂ e ~r2 = x2 ı̂ + y2 ̂ + z2 k̂
   
~r1 · ~r2 = x1 ı̂ + y1 ̂ + z1 k̂ · x2 ı̂ + y2 ̂ + z2 k̂
= x1 x2 ı̂ · ı̂ + x1 y2 ı̂ · ̂ + x1 z2 ı̂ · k̂
+y1 x2 ̂ · ı̂ + y1 y2 ̂ · ̂ + y1 z2 ̂ · k̂
+z1 x2 k̂ · ı̂ + z1 y2 k̂ · ̂ + z1 z2 k̂ · k̂
= x1 x2 + y1 y2 + z1 z2 .

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256 física iii

Assim, obtemos uma expressão para calcular o produto


escalar se conhecemos as componentes dos vetores:
   
x1 ı̂ + y1 ̂ + z1 k̂ · x2 ı̂ + y2 ̂ + z2 k̂ = x1 x2 + y1 y2 + z1 z2 .

Se conhecemos as coordenadas cartesianas de dois


vetores, podemos encontrar o ângulo entre eles, já que
   q q
x1 ı̂ + y1 ̂ + z1 k̂ · x2 ı̂ + y2 ̂ + z2 k̂ = x21 + y12 + z12 x22 + y22 + z22 cos θ.

Isto nos permite obter uma expressão para cos θ em termos


das componentes

x1 x2 + y1 y2 + z1 z2 ~r1 · ~r2
cos θ = p p = .
x21 + y12 + z12 x22 + y22 + z22 |~r1 | |~r2 |

E.3 Produto vetorial

O produto vetorial de dois vetores ~r1 e ~r2 é representado


por
~r1 × ~r2 .

O resultado é um vetor cujo módulo é dado pelo produto


dos módulos dos dois vetores e o seno do ângulo entre eles

|~r1 × ~r2 | = |~r1 ||~r2 | sen θ.

O vetor resultante é ⊥ a ~r1 e ~r2 e sua direção é determinada


pela regra da mão direita.

z
~r1 × ~r2 Figura E.5: Direção de ~
r1 ×
~r1 r2 .
~

θ y
0
~r2
P
x ~r2 × ~r1 =−~r1 × ~r2

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vetores 257

O produto vetorial é anti-simétrico:

~r1 × ~r2 = −~r2 × ~r1 .

O produto vetorial de dois vetores paralelos é nulo, já


que θ = 0, então sen θ = 0. Por exemplo:

ı̂ × ı̂ = 0, ̂ × ̂ = 0, k̂ × k̂ = 0.

O produto vetorial de vetores perpendiculares é igual z


ao produto de seus módulos. θ = 90◦ e sen 90◦ = 1. Por
1
exemplo: k̂ = ı̂ × ̂
ı̂ × ̂ = k̂, ̂ × k̂ = ı̂, k̂ × ı̂ = ̂. y
ı̂ 0 ̂ 1
Sejam dois vetores ~r1 e ~r2 , definidos no espaço cartesi- 1
x
ano: Figura E.6: Vetores unitá-
rios no espaço cartesiano.
~r1 = x1 ı̂ + y1 ̂ + z1 k̂ e ~r2 = x1 ı̂ + y2 ̂ + z2 k̂.

O produto vetorial entre eles é

~r1 × ~r2 = (y1 z2 − y2 z1 )ı̂ + (z1 x2 − z2 x1 )̂ + (x1 y2 − x2 y1 )k̂.

O que é equivalente a calcular o determinante da matriz


abaixo
ı̂ ̂ k̂
~r1 × ~r2 = x1 y1 z1
x2 y2 z2

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F
Sistemas de coordenadas

O eletromagnetismo estuda os efeitos das cargas elétricas


em repouso e em movimento. Algumas quantidades eletro-
magnéticas fundamentais são escalares enquanto outras são
vetoriais, podendo ser funções da posição e do tempo. Neste
sentido, faz-se necessário definir um sistema de coordenadas
apropriado para determinar, por exemplo, a posição de uma
dada carga elétrica no espaço.
As leis do eletromagnetismo são invariantes com res-
peito aos sistemas de coordenadas, ou seja, elas podem ser
completamente descritas usando um dado sistema de co-
ordenadas e devem permanecer inalteradas caso haja uma
mudança do sistema adotado para outro. Em geral, a es-
colha de um sistema de coordenadas específico depende da
geometria de um dado problema.
Um ponto no espaço (em três dimensões) pode ser
localizado através da intersecção de três superfícies. Por
exemplo, o canto de uma sala é o ponto de interseção de duas
paredes e o piso, que representam os três planos. Quando
estes planos são ortogonais entre si, temos um sistema de
coordenadas ortogonais. As superfícies que constituem um
sistema de coordenadas ortogonais não precisam ser necessa-
riamente planas; elas também podem ser superfícies curvas,
desde que os vetores unitários que definem a direção de cada
260 física iii

coordenada sejam ortogonais entre si. Alguns exemplos de


sistemas de coordenadas ortogonais são: coordenadas carte-
sianas ou retangulares; coordenadas cilíndricas; coordenadas
esféricas; coordenadas cilíndricas parabólicas; coordenadas
cônicas; coordenadas esferoidais prolatas; coordenadas esfe-
roidais oblatas; e coordenadas elipsoidais. Destas, as três
primeiras são as mais comuns e serão detalhadas neste capí-
tulo.
Em termos gerais, um sistema de coordenadas ortogo-
nais consiste basicamente de quatro elementos:

(1) Escolha de um ponto de origem. Para um dado objeto


físico, a escolha da origem, O, pode coincidir com um ponto
especial do objeto. Por exemplo, podemos considerar a
origem de nosso sistema de coordenadas em um ponto que
coincide com a posição de uma carga pontual a partir da
qual desejamos calcular suas propriedades eletrostáticas.

(2) Escolha dos eixos. Devemos escolher um conjunto de


eixos que caracterizam nosso sistema de coordenadas. O
caso mais simples é o conjunto que compõe as coordenadas
cartesianas, eixos x, y e z. Novamente, podemos adaptar
esta escolha de acordo com o problema em questão. Por
exemplo, se desejamos determinar a interação eletrostática
entre duas cargas pontuais podemos assumir que um dado
eixo cartesiano coincide com a reta que passa pelas duas
cargas.

(3) Escolha da direção positiva para cada eixo. Como ter-


ceiro passo, devemos assumir uma direção positiva para cada
eixo de nosso sistema. Por exemplo, no caso das coordena-
das cartesianas, convencionalmente o plano xy corresponde
ao plano da página. A direção horizontal da esquerda para
a direita é a direção positiva do eixo x e a direção vertical
de baixo para cima dá a direção positiva do eixo y. Em

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sistemas de coordenadas 261

problemas físicos, temos a liberdade de escolher os eixos e


direções apropriadas de forma a simplificar a sua resolução.

(4) Escolha de vetores unitários direcionais para cada eixo.


Para cada ponto do espaço P , podemos associar um conjunto
de três vetores unitários direcionais. Para o sistema cartesi-
ano temos os vetores (ı̂, ̂, k̂), associados a cada coordenada
(x, y, z), que indicam a direção na qual cada coordenada au-
menta. Estes vetores, como o próprio nome indica, possuem
módulo igual a um: |ı̂| = |̂| = |k̂| = 1.

F.1 Coordenadas cartesianas

Em coordenadas cartesianas (ou retangulares), um ponto P


é descrito por três números reais, indicando as posições das
projeções perpendiculares do ponto aos três eixos, x, y e z.
O ponto é então identificado pelo conjunto de coordenadas:
P = (x,y,z). Em geral, o eixo x é horizontal e aponta para
fora da página, o eixo y também é horizontal, apontando
para a direita, e o eixo z é vertical, apontando para cima,
como ilustrado na Figura F.1. O ponto x = 0, y = 0 e z = 0
corresponde à origem, onde os três eixos se cruzam.

Figura F.1: Sistema de co-


ordenadas cartesianas. Os
vetores unitários (ı̂, ̂, k̂) são
ortogonais entre si e indi-
cam a direção de cada eixo.

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262 física iii

Elemento infinitesimal de linha


Considere um pequeno deslocamento infinitesimal d~s entre
dois pontos P1 e P2 . Em coordenadas cartesianas este vetor
pode ser decomposto em

d~s = dxı̂ + dy ̂ + dz k̂.

Figura F.2: Vetores direci-


onais no sistema de coorde-
nadas cartesianas.

Elemento infinitesimal de área


Um elemento infinitesimal de área da superfície de um pe-
queno cubo, como mostrado na Figura F.3, é dado por

dA = (dx)(dy).

Figura F.3: Vetores direci-


onais no sistema de coorde-
nadas cartesianas.

Elementos de área podem ser definidos como vetores


cuja direção é perpendicular ao plano definido pela área.

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sistemas de coordenadas 263

Para uma superfície fechada, o vetor área sempre aponta


para “fora” da superfície. Assim, para a superfície acima, o
vetor área é
dA~ = dx dy k̂.

Elemento infinitesimal de volume


O elemento infinitesimal de volume ilustrado na Figura F.4,
em coordenadas cartesianas, é dado por

dV = dx dy dz.

Figura F.4: Vetores direci-


onais no sistema de coorde-
nadas cartesianas.

F.2 Coordenadas cilíndricas

As coordenadas cilíndricas (ρ, ϕ, z) de um ponto P são mos-


tradas na Figura F.5. A coordenada ρ mede a distância
radial do eixo z até o ponto P , com valores no intervalo
0 ≤ ρ < ∞. Pontos com mesmos valores de ρ definem cir-
cunferências centradas na origem. A partir das coordenadas
cartesianas, definimos a coordenada angular ϕ como sendo
o ângulo entre o eixo x positivo e a reta que passa pela
origem e pelo ponto P , cobrindo o intervalo 0 ≤ ϕ < 2π.
As coordenadas (ρ, ϕ) no plano no qual z é constante são
chamadas coordenadas polares de um ponto.
Os vetores unitários (ρ̂, ϕ̂, ẑ), associados às coordena-
das cilíndricas em um dado ponto P , também são mostrados

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264 física iii

Figura F.5: Vetores direci-


onais no sistema de coorde-
nadas cilindricas.

na Figura F.5. O vetor ρ̂ aponta radialmente para fora a


partir da origem. O vetor ϕ̂ aponta na direção em que ϕ
aumenta, sendo tangente ao círculo no plano xy centrado no
eixo z. O vetor ẑ aponta na direção em que a coordenada z
aumenta.
Sejam as coordenadas polares de um ponto (ρ, ϕ) no
plano xy. As coordenadas cartesianas (x,y) podem ser
obtidas pelas relações

x = ρ cos ϕ, y = ρ sen ϕ.

De forma similar, para converter coordenadas cartesianas


em polares usamos
p
ρ= x2 + y 2 , ϕ = tan−1 (y/x).

Os vetores unitários estão relacionados pelas expressões

ρ̂ = cos ϕı̂ + sen ϕ ̂

ϕ̂ = − sen ϕı̂ + cos ϕ ̂.

E, similarmente, temos

ı̂ = cos ϕ ρ̂ − sen ϕ ϕ̂

̂ = sen ϕ ρ̂ + cos ϕ ϕ̂.

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sistemas de coordenadas 265

Elemento infinitesimal de linha


Considere um pequeno deslocamento infinitesimal d~s entre
dois pontos P1 e P2 , como mostrado na Figura F.6. Este
vetor deslocamento pode ser escrito, em termos dos vetores
unitários em coordenadas cilíndricas, como

Figura F.6: Vetores direci-


onais no sistema de coorde-
nadas cilindricas.

d~s = dρ ρ̂ + ρ dϕ ϕ̂ + dz ẑ.

Elemento infinitesimal de área


Considere um elemento infinitesimal de área dA na superfície
de um cilíndro de raio ρ, como mostra a Figura F.7. A área
deste elemento tem magnitude igual a

Figura F.7: Vetores direci-


onais no sistema de coorde-
nadas cilindricas.

dA = ρ dϕ dz.

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266 física iii

O vetor área associado a este elemento possui direção que


aponta para fora da superfície cilíndrica fechada, tal que
podemos escrever

~ = ρ dϕ dz ρ̂.
dA

Elemento infinitesimal de volume


Um elemento infinitesimal de volume mostrado na Figura F.8,
é dado por

Figura F.8: Vetores direci-


onais no sistema de coorde-
nadas cilindricas.

dV = ρ dϕ dρ dz.

F.3 Coordenadas esféricas

As coordenadas esféricas (r, θ, ϕ) de um ponto P são mos-


tradas na Figura F.9. A coordenada r mede a distância
radial da origem até o ponto P , com valores no intervalo
0 ≤ r < ∞. Pontos com mesmos valores de r definem esferas
centradas na origem. A partir das coordenadas cartesianas,
definimos a coordenada angular θ como sendo o ângulo entre
o eixo z positivo e a reta que passa pela origem e pelo ponto
P , cobrindo o intervalo 0 ≤ θ ≤ π. A coordenada angular ϕ
é definida como o ângulo entre o eixo x positivo e a projeção
no plano xy da reta que passa pela origem e pelo ponto P .
A coordenada ϕ varia no intervalo 0 ≤ ϕ < 2π.

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sistemas de coordenadas 267

Figura F.9: Vetores direci-


onais no sistema de coorde-
nadas esféricas: (r, θ, ϕ).

Os vetores unitários (r̂, θ̂, ϕ̂), associados às coordena-


das esféricas em um dado ponto P , também são mostrados
na Figura F.9. O vetor r̂ aponta radialmente para fora a
partir da origem e θ̂ é tangente ao círculo na direção positiva
de θ, apontando na direção em que θ aumenta. O vetor ϕ̂
aponta na direção em que ϕ aumenta, sendo tangente ao
círculo no plano xy centrado no eixo z.
Para converter as coordenadas esféricas (r, θ, ϕ) de um
ponto no espaço para as coordenadas cartesianas (x,y,z),
podemos usar as seguintes transformações:

x = r sen θ cos ϕ

y = r sen θ sen ϕ
z = r cos θ
De forma equivalente, as coordenadas cartesianas podem
ser utilizadas para determinar as coordenadas esféricas de
um ponto:
r = +(x2 + y 2 + z 2 )1/2
 
−1 z
θ = cos
(x2 + y 2 + z 2 )1/2
ϕ = tan−1 (y/x)
Os vetores unitários estão relacionados pelas seguintes trans-
formações

r̂ = sen θ cos ϕı̂ + sen θ sen ϕ ̂ + cos θ k̂

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268 física iii

θ̂ = cos θ cos ϕı̂ + cos θ sen ϕ ̂ − sen θ k̂

ϕ̂ = − sen ϕı̂ + cos ϕ ̂

Elemento infinitesimal de linha

Considere um pequeno deslocamento infinitesimal d~s entre


dois pontos P1 e P2 , mostrado na Figura F.10. Este vetor
pode ser decomposto como

d~s = dr r̂ + r dθ θ̂ + r sen θ dϕ ϕ̂

Figura F.10: Vetores direci-


onais no sistema de coorde-
nadas esféricas: (r, θ, ϕ).

Elemento infinitesimal de área

Considere agora um elemento infinitesimal de área na super-


fície da esfera de raio r mostrado na Figura F.11. A área
deste elemento possui módulo

dA = (r dθ)(r sen θ dϕ) = r2 sen θ dθ dϕ

e aponta radialmente para “fora” da superfície da esfera.


Podemos então definir um vetor área da forma

~ = r2 sen θ dθ dϕ r̂.
dA

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sistemas de coordenadas 269

Figura F.11: Elemento de


área no sistema de coorde-
nadas esféricas: (r, θ, ϕ).

Figura F.12: Elemento de


volume no sistema de coor-
denadas esféricas: (r, θ, ϕ).

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270 física iii

Elemento infinitesimal de volume


O elemento infinitesimal de volume mostrado na Figura F.12
é dado por

dV = r2 sen θ dθ dϕ dr.

EEE

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G
Integral de linha

Uma integral de linha é uma expressão da forma:


ˆ b
~v · d~s,
a

onde ~v é uma função vetorial, d~s é um vetor deslocamento


infinitesimal e a integral é feita ao longo de uma determinada
trajetória ou caminho que liga os dois pontos a e b. Se a
trajetória em questão forma um circuito fechado (ou seja, se
a e b possuem as mesmas coordenadas, b = a), adicionamos
ao símbolo da integral um círculo:
˛
~v · d~s.

Em cada ponto ao longo da trajetória, devemos calcu-


lar o produto escalar entre ~v naquele ponto e o deslocamento
d~s até o ponto seguinte.
Em geral, o valor da integral de linha depende da
trajetória escolhida para ir do ponto a até o ponto b, mas
há uma importante classe de funções vetoriais para as quais
as integrais de linha são independentes da trajetória, sendo
determinadas apenas pelos pontos de início e fim. Por exem-
plo, o vetor campo elétrico criado por cargas elétricas possui
esta propriedade, e o chamamos de campo conservativo.
H
Integral de superfície

Uma integral de superfície é uma expressão da forma


ˆ
~v · n̂ dA,
S

onde ~v é uma função vetorial, dA é um elemento de área


infinitesimal e n̂ é um vetor unitário que define uma direção
perpendicular ao elemento de área. Há, é claro, duas direções
perpendiculares a qualquer superfície, de forma que o sinal
da integral de superfície é intrinsicamente ambíguo. Se a
superfície S é fechada, ao símbolo da integral adicionamos
um círculo ˛
~v · n̂ dA,

neste caso, tradicionalmente assumimos que o sentido “para


fora” da superfície é positivo, e “para dentro” negativo. Se a
função ~v descreve o fluxo de um fluido´(massa por unidade
de área por unidade de tempo), então ~v · n̂ dA representa
a quantidade de massa total por unidade de tempo que
atravessa a superfície.
Em geral, o valor da integral de superfície depende
da superfície escolhida, mas há casos especiais de funções
vetoriais para as quais o resultado é independente da super-
fície. Um exemplo deste caso especial é o do fluxo do campo
elétrico dado pela lei de Gauss.
Respostas dos problemas

1 Interação elétrica

P1.1 33,7 N P1.2 1,00 m P1.3 q1 = −4q2 P1.4 (x,y) =

(−1,8 m, −0,91 m) P1.5 Fx = 0,169 N; Fy = −0,047 N

P1.6 F~1 = −0,025ı̂ − 0,303̂ N, F~2 = −0,200ı̂ + 0,173̂ N e

F~3 = 0,225ı̂+0,130̂ N P1.7 (a) (0,166 N) ̂; (b) (111 m/s2 ) ̂


1 qq0 √
P1.8 F~ = − 2
(1 + 2) ̂ P1.9 −3,3 µC P1.10 (a)
4πε0 R
(x,y) = (3,0 cm; 0,0); (b) q3 =s
−0,44 µC P1.11 P1.12 (a)
mgR2
15,4◦ ; (b) 0,813 N P1.13 q = √ P1.14 (a) 3,2 × 10−19 C;
3k
(b) 2 P1.15 1 × 1012 elétrons

2 Campo elétrico

1 2 2e
P2.1 −9Q e +27Q P2.2 E
~ = (ı̂ + ̂) P2.3 De-
4πε0 a2
monstrar P2.4 (a) 1,09 × 10−8 C; (b) 5,44 × 10−3 N P2.5 E ~ =(1,62 kN/C)ı̂

− (4,18 kN/C)̂ P2.6 E ~ = − 1 4q ̂ P2.7 E ~ =


4πε0 πa2
1 πλ0 √
− ̂ P2.8 E ~ = − 1 λ0 ı̂ P2.9 z = ±a/ 3
4πε0 a 4πε0 x0
P2.10 Demonstrar
276 física iii

" #
~ = Q 1 1
P2.11 E p −√ k̂
4πε0 h (z − h)2 + a2 z 2 + a2

~ = 1 Q
 p 
P2.12 E h + (z − h)2 + a2 − z 2 + a2 k̂
2ε0 πa2 h

3 Lei de Gauss
q
P3.1 Trivial P3.2 q/24ε0 P3.3 P3.4 λ0 h/2ε0
6ε0
2λ √ 2
P3.5 πρ0 a3 /ε0 P3.6 (a) 0; (b) a − d2 P3.7 σ =
ε0
2
2ε0 mg tan θ ~ = ρr r̂; (b) E ~ = ρa r̂ P3.9 Er =
P3.8 (a) E
q 2ε0 2ε0 r
ρ0 r /4ε0 a ; Er = ρ0 a /4ε0 r P3.10 ρ(r) = 6αε0 r3 P3.11 E =
3 2 2

ρ0 a
ρ0 /2ε0 P3.12 (a) Q = 4πρ0 a; (b) (r > a): E = ,
ε0 r2
ρ0 4πρ 3
(r < a): E = P3.13 (a) Q = (b − a3 ); (b)
ε0 r 3
ρ
(r < a) : E = 0, (a < r < b) : E = (r3 − a3 ),
3ε0 r2
ρ ρa
(r > b) : E = 2
(b3 −a3 ) P3.14 (a) Er = ; (b) Er =
 3 3ε 0 r 3ε 0
a3 1 a3 ρa b3 a3
  
1 a ρa
+ (r − )ρ b ; (c) Er = + ( − )ρ b
3ε0 r2 r2 3ε0 r2 r2 r2
P3.15 (a); (b); (c); (d)

4 Potencial elétrico

P4.1 (a) −6,00 × 10−4 J; (b) −50,0 V P4.2 (a) 1,87 ×

10−21 J; (b) −11,7 mV P4.3 (a) 3,86 × 10−7 J; (b) 103 V


2kq(2b − d)
P4.4 P4.5 (a) 5,4 × 10−4 m; (b) 790 V
b(d − b)
P4.6 (a) −2,68 × 10−4 V; (b) −6,81 × 10−4 V P4.7 −760 V

P4.8 (a) −2,30 V; (b) −1,78 V P4.9 VP = 6,83 V

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respostas dos problemas 277

   
1 Q 1 1 1 1
P4.10 P4.11 (a) kq − ; (b) kq − ;
4πε0 a a b r b
2kq b
(c) 0 P4.12 Va − Vb = ln P4.13 (b) 7,07 N/C
` a
P4.14 6,7 × 102 V/m

5 Capacitores e dielétricos

P5.1 (a) 48,0 µC; (b) 6,00 µC P5.2 (a) 1,33 µC/m2 ; (b)

13,3 pF P5.3 (a) 11,1 kV/m; (b) 98,3 nC/m2 ; (c) 3,74 pF;

(d) 74,7 pC P5.4 4,42 µm P5.5 7,5 × 10−7 F P5.6 (a)

17,0 µF; (b) 9,00 V; (c) 45,0 µC e 108 µC P5.7 1,83 C

P5.8 (a) 5,96 µF; (b) 89,5 µC, 63,2 µC, 26,3 µC, 26,3 µC
Q2 d
P5.9 (a) 216 µJ; (b) 54 µJ P5.10 (a) 2; (b)
2ε0 A
P5.11 (a) 369 pC; (b) 118 pF e 3,12 V; (c) −45,5 nJ

P5.12 (a) 4,82 × 10−9 F; (b) 0,283 m2 P5.13 C =


ε0 `2 ε0 `2 κ1
 
κ2 κ3
(κ1 +κ2 ) P5.14 C = + P5.15 (a)
2d d 2 κ2 + κ3
5,02 × 10−9 C; (b) 1,20 × 104 N/C; (c) 2,52 × 104 N/C

6 Corrente elétrica e circuitos

P6.1 (a) 1200 C; (b) 7,5×1021 elétrons P6.2 (a) 6,4 A/m2

P6.3 (a) 17,0 A; (b) 85,0 kA/m2 P6.4 0,265 C P6.5 500 mA

P6.6 (a) 3,75 kΩ; (b) 536 m P6.7 (a) 1,82 m; (b) 280 µm
1
P6.8 R P6.9 1,20 Ω P6.10 (a) 17,1 Ω; (b) 1,99 A;
9
1,17 A; 0,818 A P6.11 (a) 15,0 A; (b) 11,1 Ω P6.12 (a)

6,73 Ω; (b) 1,97 Ω P6.13 (a) 12,0 V; (b) 2,15 mV; (c)

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278 física iii

24 W; (d) 4,30 mW P6.14 (a) 0,30 A; (b) 0,18 A; (c)

0,12 A P6.15 I1 = −0,50 A, I2 = 0,25 A, I3 = −0,25 A

P6.16 5,00 A e 24,0 Ω P6.17 0,833 W P6.18 (a) 1028 W;

(b) 25 centavos P6.19 (a) 5,00 s; (b) 150 µC; (c) 4,06 µA

P6.20 (a) −61,6 mA; (b) 0,235 µC; (c) 1,96 A P6.21 (a)

2,17 s; (b) 3,96 × 10−2 V

7 Interação magnética

P7.1 (a) Fmax = 9,56 × 10−14 N e Fmin = 0 N; (b) 0,267◦

P7.2 (a) 1,11 × 107 m/s; (b) 3,16 × 10−4 m P7.3 Dedu-

zir P7.4 (a) próton; (b) 0,252 T P7.5 mA /mB = 1/8

P7.6 (a) próton; (b) 60◦ ; (c) 13,1 mm P7.7 20,1 N

P7.8 1,5 A P7.9 Mostrar P7.10 (a) 90◦ ; (b) 1; (c)

1,28 × 10−7 N·m

8 Fontes de campo magnético

P8.1 (a) 3,3 µT P8.2 (a) opostas; (b) 30 A P8.3 (−7,75×


 
10−23 N)ı̂ P8.4 B ~ = 1 + 1 µ0 I k̂ P8.5 7,1 µT (en-
π 2a  
trando na página) P8.6 Demonstrar P8.7 B ~ = µ0 I 1 − 1 k̂,
4 a b
onde k̂ é a direção entrando da página P8.8 8,78 × 10−6 T

P8.9 0,464 T P8.10 0,272 A P8.11 curva 1: −2,5 × 10−6 T·m;

curva 2: 0 P8.12 20,0 µT, para baixo P8.13 (a) 5,0 mA;

(b) para baixo P8.14 B


~ = µ0 I
2πw ln(1 + w/d) ̂ P8.15 2,70 ×

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respostas dos problemas 279

µ0 Ir2
10−5 N, para esquerda P8.16 B = P8.17 (a) 0;
2πa3
µ0 I r2 − a2 µ0 I
(b) 2 2
; (c)
2πr b − a 2πr

9 Indução eletromagnética

P9.1 758 µWb P9.2 (a) µ0 nIN πR12 ; (b) µ0 nIN πR22

P9.3 0,50 µWb P9.4 (a) 0; (b) 0,23 A (horário); (c)

0; (d) 0,23 A (anti-horário) P9.5 −14,2 cos(120t) mV

P9.6 1,4 T/s P9.7 5,50 kV P9.8 8,0 × 10−5 V P9.9 (a) -

1,07 × 10−3 V; (b) -2,40 × 10−3 V; (c) 1,33 × 10−3 V P9.10 (a)

7,15 × 10−5 V/m; (b) 1,43 × 10−4 V/m P9.11 (a) E =


µ0 na2 I0 ω
− 12 rµ0 nI0 ω cos ωt; (b) E = − cos ωt
2r

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