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Análise de impactos
e riscos ambientais
FLÁVIO HENRIQUE MINGANTE SCHLITTLER
Objetivos do capítulo
Existe impacto ambiental quando uma atividade produz uma alteração no meio ou
em qualquer um de seus componentes. Analisar os impactos ambientais é qualificar
e quantificar estas alterações. Essas análises avaliam a qualidade ambiental com e
sem determinada ação ou empreendimento. É necessário que se realizem essas ava-
liações antes da realização de um projeto, com o objetivo de efetuar o planejamento
e a formulação de propostas do ponto de vista ambiental, ou seja, considerando
todos os fatores ambientais. Isto deve acontecer por parte do empreendedor da ati-
vidade ou ação e por parte das autoridades públicas quando aprovam, ou rejeitam,
uma proposta ou uma determinada alternativa. A análise de riscos ambientais é uma
atividade correlata à análise de impactos e que pode, inclusive, ocorrer em conjunto
com esta. Risco é conceituado como uma situação de perigo, com a imediata possi-
bilidade de um evento indesejável ocorrer. A análise de riscos envolve a identificação,
avaliação, gerenciamento e contenção de riscos ao ambiente e também à saúde pú-
blica. Os estudos de riscos ambientais antecipam eventos ambientalmente maléficos,
planejando ações de controle e de emergência.
lisados. A matriz mais conhecida e mais uti- les com configuração linear (ferrovias, ro-
lizada é a matriz de Leopold (Leopold et al., dovias, oleodutos e outros).
1971). Na sua concepção original, possui 88
linhas (aspectos ambientais) e 100 colunas
(atividades) perfazendo um total de 8.800 Métodos quantitativos
quadrículas. O preenchimento de uma qua-
drícula representa a identificação de um Os impactos são quantificados e transfor-
impacto para o qual são atribuídos valores mados em unidades padronizadas, ponde-
de 1 a 10 quanto a dois aspectos. O primeiro radas em função da importância relativa, e
é a definição da magnitude do impacto manipulados matematicamente. Obtêm-se
sobre um setor específico do ambiente. O índices de impacto total para um número
segundo aspecto é a medida do grau de im- de alternativas a serem comparadas. Um
portância de uma determinada ação sobre o exemplo clássico é o Sistema Battelle – Co-
fator ambiental. Se o impacto for positivo, lumbus (DEE et al 1973), que foi desenvol-
deve-se indicar com um sinal positivo antes vido para avaliar projetos de recursos hídri-
do valor de magnitude. cos e manejo de qualidade de água, mas
A matriz deve vir acompanhada de que, no entanto, podem ser adaptados para
um texto que aborde os aspectos mais rele- outros tipos de empreendimentos.
vantes dos impactos identificados. Os tópicos de interesse são divididos
em quatro categorias: ecologia, poluição
ambiental, estética, interesse humano e so-
Superposição de cartas cial. Cada categoria é composta por um
conjunto de componentes. Cada compo-
Elabora-se um inventário onde os fatores nente compreende um conjunto de fatores,
ambientais são mapeados. Esses dados são in- totalizando 78 variáveis.
terpretados em função da localização das ati- As medidas ou estimativas dos parâ-
vidades e traduz-se em mapas de capacidade metros ambientais são transformadas e
para cada atividade. A área de estudo é subdi- normalizadas através de curvas específicas
vidida em unidades geográficas (quadrícu- ou funções, em índices de qualidade am-
las). Para cada unidade são levantadas infor- biental (IQA), para permitir a comparação
mações sobre os fatores ambientais e os inte- entre os impactos. Este índice varia de 0 a 1.
resses da comunidade. Esses interesses são Quando a variável possui apenas juízo de
agrupados por categorias não conflitantes valor, a população é consultada.
(econômicas, sociais, paisagísticas), limitadas Cada variável possui um valor de im-
quanto à abrangência de identificação de im- portância relativa dentro do sistema, que é
pactos, pois só utilizam dados que podem ser fixado para projetos similares e baseia-se no
representados pela cartografia. No entanto, julgamento da equipe multidisciplinar.
esta limitação pode ser contornada com a uti- Multiplica-se o IQA de cada fator am-
lização de um Sistema de Informação Geo- biental e seu peso. A somatória desses pro-
gráfica (SIG). Assim torna-se extremamente dutos resulta no valor para o meio ambien-
eficaz para a definição de padrões espaciais e te. Faz-se o cálculo para o ambiente sem o
localização dos efeitos e impactos, pois as pre- projeto (partindo-se de medidas reais dos
visões são feitas por unidade de área. parâmetros ambientais) e com o projeto e
Esse método é adequado para síntese e suas várias alternativas.
importante na elucidação de relações espa- O impacto ambiental é expresso pela
ciais complexas e é recomendável nos pro- diferença do valor do ambiente com e sem a
jetos de desenvolvimento regional e naque- ação, mais as várias alternativas.
224 Rosa, Fraceto e Moschini-Carlos (Orgs.)
diagnósticos ambiental da área de influên- requisitos básicos a serem atendidos nas fases
cia do projeto; a identificação dos prováveis de localização, instalação e operação, obser-
impactos ambientais da implantação e ope- vados os planos municipais, estaduais e fede-
ração da atividade, considerando o projeto, rais de uso do solo. A emissão da LP ocorre
suas alternativas, os horizontes de tempo de somente após a aprovação do EIA/RIMA.
incidência dos impactos e indicando os mé-
todos, técnicas e critérios adotados para sua
identificação, quantificação e interpretação; Licença de instalação (LI)
a caracterização da qualidade ambiental fu-
tura da área de influência comparando as Solicitada depois de concluído o projeto
diferentes situações da adoção do empreen- executivo do empreendimento e antes do
dimento e suas alternativas, bem como a hi- início das obras. É concedida após análise e
pótese de sua não realização; a descrição do aprovação dos projetos que especificam os
efeito esperado das medidas mitigadoras dispositivos de controle ambiental e as me-
previstas em relação aos impactos negati- didas de mitigação ou compensação am-
vos, mencionando aqueles que não pude- biental.
rem ser evitados, e o grau de alteração espe-
rado; o programa de acompanhamento e
monitoramento dos impactos; e, finalmen- Licença de operação (LO)
te, a recomendação quanto a alternativa
mais favorável (conclusões e comentários Solicitada antes da operação comercial do
de ordem geral). empreendimento. Autoriza, após diferentes
verificações, o início da atividade e o fun-
cionamento de seus equipamentos de con-
LICENCIAMENTO AMBIENTAL trole ambiental, de acordo com o previsto
nas licenças anteriores.
O processo de avaliação de impactos am- Os agentes que participam da elabora-
bientais (AIA), no Brasil, está vinculado, ção da avaliação de impactos ambientais
pela legislação, ao processo de licenciamen- devem conduzir suas atuações de maneira
to ambiental pelas empresas e pelo setor integrada, visando sempre aos princípios
público quando da instalação de ações, pro- norteadores da Política Nacional do Meio
gramas e projetos. O licenciamento am- Ambiente e a Legislação Brasileira. O pro-
biental apresenta uma variada gama de par- cesso de avaliação de impactos ambientais
ticularidades, cuja complexidade e nível de é, em suma, um conjunto tripartite de ações
exigências estão relacionadas com as dife- conjugadas, configurado pela participação
rentes naturezas dos empreendimentos ou dos órgãos ambientais, dos empreendedo-
projetos apresentados aos órgãos ambien- res e de equipes multidisciplinares encarre-
tais. Assim, basicamente os empreendimen- gadas de produzir documentos técnicos que
tos necessitam de três licenças fundamen- irão subsidiar as tomadas de decisão. Este
tais para seu pleno funcionamento e cum- conjunto integrado nada mais é do que o
primento das etapas de sua existência: reflexo das conjunturas formais de partici-
pação no referido processo, que são: a socie-
dade, que afinal vai julgar e decidir sobre a
Licença prévia (LP) relação custo-benefício de determinada ação
ou empreendimento; a economia de uma
Deve ser requerida pelo empreendedor no região ou país, que se consolida com a apli-
início do planejamento da obra, contendo os cação de recursos financeiros, energia e ma-
226 Rosa, Fraceto e Moschini-Carlos (Orgs.)
Relação custo-benefício
Procedimentos para
realização do EIA Não se deve esquecer que, além de oferecer
um conhecimento do ambiente regional, as
Os estudos de impactos ambientais devem avaliações pretendem também escolher as
atentar também para quatro pontos princi- melhores alternativas para um projeto ou
pais: ação determinados.
Como o objetivo fundamental de um
a) identificação causa-efeito; estudo de impacto ambiental é a otimização
228 Rosa, Fraceto e Moschini-Carlos (Orgs.)
do uso de um território e dos recursos nele da avaliadas pelo público para posterior jul-
existentes, deve-se balancear as consequên- gamento (Machado, 2009).
cias do impacto ao ambiente (que seriam
causados por um projeto) e os benefícios
socioeconômicos que este projeto poderia Tramitação do EIA
trazer para a região. (com ênfase para o
Outro ponto que deve ser analisado Estado de São Paulo)
com cuidado é a generalização de soluções,
ou seja, aplicar soluções regionais de um A Secretaria do Meio Ambiente fornece o
modo global para qualquer área física, des- Roteiro Básico para elaboração do EIA/
respeitando as características específicas de RIMA e, a partir deste, se desenvolverá o Pla
cada região. no de Trabalho que será submetido à apro-
Os estudos ambientais podem tam- vação da Secretaria.
bém ser benéficos do ponto de vista econô- Com o Plano de Trabalho aprovado, o
mico, uma vez que podem prever e corrigir interessado (proponente do projeto e a equi-
os impactos por custos menores, uma vez pe multidisciplinar) desenvolverá e apresen-
que proporcionam amplos conhecimentos tará o EIA/RIMA, em tantas vias quantas
dos recursos ambientais existentes. forem solicitadas pela Secretaria, através do
Importante que se reconheçam que to Departamento de Avaliação de Impactos
dos os procedimentos a serem tomados se Ambientais (DAIA) que procederá:
jam bem estabelecidos legal e institucional-
mente para que existam aparatos econômi- a) à abertura de processo;
cos e humanos bem definidos pelos agentes b) ao preenchimento de ficha contendo:
que precisam realizar um estudo de impac-
– identificação e caracterização do em
tos ambientais.
preendimento;
– localização do empreendimento;
– identificação dos principais impactos
Participação do público e das áreas técnicas a serem consulta-
das para análise do estudo.
A participação do público em um estudo de
impactos ambientais é um importante as- c) à preparação de informe a ser enviado
pecto. As audiências públicas podem ser so- pela Assessoria de Comunicação, ao Di-
licitadas pela comunidade afetada por um ário Oficial e/ou órgãos da imprensa
empreendimento ou pelo próprio órgão local, para divulgação;
ambiental, quando existem aspectos polê- d) à coordenação da análise do estudo, corre-
micos ou esclarecimentos obscuros no pro- lacionando os pareceres emitidos pelas
jeto. Não se exige cidadania brasileira para áreas consultadas, e resultando na prepa-
manifestar-se sobre os estudos ambientais. ração de parecer estabelecendo exigências,
Não se concebe um EIA sem a possibilidade ou recomendando condições em que o
de serem emitidas opiniões de pessoas e de empreendimento deva ser licenciado;
entidades (ONGs, sindicatos, universida- e) após a análise, a Secretaria submete o
des, partidos políticos, tribos indígenas, EIA/RIMA, bem como parecer ao CON-
etc). Uma decisão política, e mesmo técni- SEMA (Conselho Estadual do Meio
ca, em matéria de meio ambiente torna-se Ambiente), para decisão;
coerente quando as opiniões dos especialis- f) após a decisão do CONSEMA, o proces-
tas são esclarecidas, publicadas e em segui- so retorna ao DAIA para preparação de
Meio ambiente e sustentabilidade 229
EXERCÍCIOS
1) SIMULAÇÃO I
HISTÓRICO DO MUNICÍPIO
O município é antigo (século XVIII), inicialmente pouso de tropeiros, dedicou-se à pecuária extensiva utili-
zando o cerrado. A partir de 1930, instalou-se na região (na cidade de Morocotó, distante em 60 km), uma
siderúrgica de grande porte, em função do minério de ferro ali existente. Assim, os municípios vizinhos
passaram a fornecer carvão vegetal proveniente do cerrado para a indústria siderúrgica. A devastação foi
intensa, embora houvesse recuperação natural do cerrado.
A partir de 1970, novas siderúrgicas instalaram-se na região e atualmente elas formam um consórcio
denominado Associação das Indústrias Siderúrgicas Reunidas (AISR) que decidiu implantar um grande re-
florestamento com eucalyptus no município de Tesouras, com o objetivo de suprir de carvão vegetal os
fornos das siderúrgicas, em vista da atual escassez dos recursos naturais da região.
CARACTERÍSTICAS DO EMPREENDIMENTO