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A cartografia no ensino-aprendizagem da geografia

Mafalda Nesi Francischett∗

Índice leitores, das informações expressas. A


maquete geográfica é uma representação
1 Principais enfoques sobre a geo- cartográfica tridimensional do espaço, re-
grafia e o ensino . . . . . . . . . . 1 presenta as categorias longitude, latitude e
2 Cartografia e ensino . . . . . . . . 3 a altitude. A representação tridimensional
3 Representação do espaço geográfico 7 do espaço adquire importância fundamental
4 Bibliografía . . . . . . . . . . . . 11 quando se pensa em aplicações em projetos
(inter)disciplinares voltados às questões
ambientais ou em simulações. O objetivo da
Resumo: Pensar e compreender o real maquete geográfica, enquanto representação
através das ações é essencial para a leitura e cartográfica, é produzir e transmitir infor-
entendimento do mundo real. A observação, mações e não ser, simplesmente, objeto de
a percepção, a análise conceitual e a síntese reprodução. O tema de fundo deste artigo
através das representações cartográficas é o ensino de Geografia que se constitui
possibilitam pensar significativamente o em preocupação recorrente para os que
conhecimento do espaço geográfico. É trabalham com a formação de professores
possível perceber que o estudo da linguagem e que vão, em diferentes lugares e ritmos,
cartográfica vem, cada vez mais, reafir- construindo um saber necessário, pautado
mando sua importância desde o início da nos debates das idéias já consagradas e em
escolaridade. O estudo das representações novas proposições.
cartográficas contribui não apenas para
que os alunos compreendam os mapas, Palavras chave: representações cartográ-
mas também desenvolvam capacidades ficas, maquetes, ensino, aprendizagem.
relativas à representação do espaço. Os
alunos precisam ser preparados para que
construam conhecimentos fundamentais
sobre essa linguagem, como pessoas que 1 Principais enfoques sobre a
representam, codificam o espaço e como geografia e o ensino

Professora de Cartografia e Prática de Ensino de No Século XIX, a Geografia começou a usu-
Geografia, líder do GP RETLEE – Grupo de Pesquisa, fruir o status de conhecimento organizado,
Representações, Espaços, Tempos nas Linguagens e
Experiências Educativas. UNIOESTE - Campus de
através da chamada Geografia Tradicional.
Francisco Beltrão/PR. mafalda@wln.com.br Uma das questões mais delicadas que se ar-
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rasta ao longo dos séculos é sobre o objetivo trutura coerente, com a valorização da per-
fundamental do estudo da Geografia, o que cepção.
acabou por trazer para a prática, contradições A Geografia Idealista representa a tendên-
dicotômicas como a dicotomia Geografia Fí- cia para valorizar a compreensão das ações
sica x Geografia Humana, em que a primeira envolvidas nos fenômenos, procurando fo-
estudava o quadro natural e a segunda, a dis- calizar o seu aspecto interior, o pensamento
tribuição dos aspectos originados pelas ativi- subjacente às atividades humanas. A meta
dades humanas. do geógrafo idealista é, segundo Christofo-
Outra contradição foi a dicotomia entre letti (1997), compreender a resposta racional
Geografia Geral x Geografia Regional. A para o fenômeno, mas não na explicação do
primeira procurava estudar a distribuição dos fenômeno em si, com focalização maior na
fenômenos na superfície da Terra, o que re- tendência histórica do que na espacial, e atri-
sultou na Geografia Sistemática e na subdivi- buindo importância ao pensamento.
são da Geografia; a segunda procurava estu- Já a Geografia Crítica, Radical, de Rele-
dar as unidades componentes da diversidade vância Social ou Marxista como é conhe-
de determinada área, da superfície terrestre, cida, iniciada na década de 1960, é uma
em que o geógrafo desenvolveu a habilidade corrente geográfica preocupada em ser crí-
descritiva. tica e atuante. Interessa-se pela análise dos
Tentando superar as dicotomias e os pro- modos de produção e das formações sócio-
cedimentos metodológicos da Geografia Re- econômicas. Os geógrafos críticos têm por
gional, a Nova Geografia desenvolveu-se base a filosofia marxista, que tem por obje-
procurando incentivar e buscar um enquadra- tivo colaborar ativamente para a transforma-
mento maior da Geografia no contexto cien- ção da sociedade. É nesse contexto que se
tífico global. encaixa a base teórica deste nosso trabalho
Conforme Christofoletti (1997), nos anos de pesquisa e ensino.
50 e 60, começa a aparecer nova estrutura A Geografia Crítica ou Radical faz a aná-
teórica que culminou com o uso de técni- lise geográfica, baseada nos aspectos indis-
cas estatísticas e matemáticas para a análise sociáveis da natureza e da sociedade. Não
dos dados. Aparecem obras de teorização e sendo, portanto, possível definir a natureza
quantificação e introduzem-se nas universi- sem que esteja presente o homem, já que
dades brasileiras as disciplinas relacionadas é o trabalho que mediatiza a relação entre
à quantificação na Geografia. o homem e a natureza. Alguns autores da
Marcando a superação da Nova Geografia, Geografia Crítica: Yves Lacoste, Massimo
começam a surgir as tendências alternativas. Quaini, David Harvey, James Anderson e
Nas últimas décadas ganharam ascensão três os brasileiros Milton Santos (que critica a
tendências: a Geografia Humana, Geografia Nova Geografia com rigor teórico e aponta
Idealista e a Geografia Radical ou Crítica. falhas no caráter eminentemente descritivo,
A Geografia Humanística tem suas bases com necessidade da explicação para se atin-
teóricas na Geografia da Percepção. A ta- gir a cientificidade) e Ruy Moreira.
refa básica do geógrafo humanista é mostrar Salienta Christofoletti (1997) ter sido atra-
como são espaço e lugar, através de uma es- vés dos trabalhos do sueco Torsten Hagers-

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trand, a partir de 1970, que se originou no Brasil a reflexão sobre a proposta teórico-
o grupo da Geografia do Tempo, apontada metodológica, sendo o positivismo clássico
como a Geografia Têmporo – Espacial, que e o historicismo questionados pelos geógra-
procura analisar as atividades dos indivíduos fos teoréticos da Geografia quantitativa. Em
e das sociedades em função das variáveis 1976, a obra de Lacoste, “A Geografia -
tempo e espaço, e visa promover a integra- isso serve, em primeiro lugar, para fazer a
ção de áreas diversificadas do conhecimento guerra”, questiona a forma como foi traba-
superando a lacuna entre a ciência sócio- lhado o ensino e revela a postura do Estado
econômica, de um lado, e a ciência bio- como dominador, que concentra o saber, en-
ecológica e tecnológica do outro. Visa sali- quanto ao cidadão revela-se o saber fragmen-
entar a significância das qualidades formais tado. A partir disso, os geógrafos atribuem
do tempo e do espaço. maior importância ao conteúdo político da
A Geografia continua sendo uma ciência Geografia.
com ebulições variadas em seu âmbito. Ao Nos anos 80, teóricos de orientação mar-
geógrafo cabe procurar identificar-se esco- xista influenciam a produção geográfica, ini-
lher, articular uma ou outra perspectiva me- ciando a década das transformações nos con-
todológica de pesquisa e ensino, analisando teúdos e nas abordagens da Geografia.
o conjunto global ou as categorias setoriais A Geografia Crítica, no Brasil, apresen-
dos fenômenos. tou um grande crescimento nos últimos vinte
Há muito tempo, discutem-se em congres- anos. Porém, segundo Oliveira (1997), a par-
sos, seminários e colóquios, temas sobre o tir de 1989 esta Geografia começou a apre-
ensino de Geografia. As concepções de cada sentar seus primeiros sinais de esgotamento
época influenciam a metodologia de ensino. diante da realidade em transformação, ex-
Como se sabe, a obra de Carvalho, de 1925 pondo seus limites teórico-metodológicos.
- professor do Colégio D. Pedro II do Rio Hoje, a partir dos trabalhos de José W. Ve-
de Janeiro - influenciou muito as concepções sentini, Douglas Santos, entre outros, os li-
de ensino desta disciplina. Em 1946, coube vros didáticos passaram a ter uma nova con-
ao Departamento de Geografia da USP, papel cepção para a qual a Geografia Crítica trouxe
importante no desenvolvimento do ensino da uma contribuição decisiva; mas no meio uni-
ciência geográfica. O IBGE também contri- versitário, verifica-se certa apatia quanto a
buiu imensamente nesta área, com divulga- Geografia Crítica.
ções que chegaram às principais cidades bra- De 1999 para cá a produção científica re-
sileiras e serviram como referencial biblio- ferente a Geografia Crítica, no Brasil, apa-
gráfico de ensino. rece principalmente em anais de encontros,
No período de 50 a 70, o ensino de Geo- centrada explicitamente no eixo temático re-
grafia no Brasil foi influenciado por Aroldo ferente à sala de aula.
de Azevedo através da sua produção sobre
a Geografia, dita descritiva ou tradicional,
2 Cartografia e ensino
apresentada em suas obras e livros didáticos
muito utilizados nas escolas na época. A Cartografia na Pré-história era usada para
A partir da década de 70, intensificou-se delimitar territórios de caça e pesca. Na Ba-

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bilônia, os mapas do mundo eram impres- pelos alemães, sentiram a falta do conhe-
sos em madeira, em forma de disco liso, cimento geográfico e promoveram reformas
mas foram Eratosthenes de Cirene e Hiparco no ensino, principalmente no ensino primá-
(século III a. C) que construíram as bases rio, com a obrigatoriedade de se realizarem
da moderna Cartografia com o globo como excursões geográficas, estudando-se previa-
forma, e o sistema de longitudes e latitudes. mente os mapas e realizando croquis. Há um
Ptolomeu desenhava os mapas em papel, si- reconhecimento de que o conhecimento dos
tuando o mundo dentro de um círculo, sendo lugares se dá mediante o entendimento das
imitado na maioria dos mapas feitos até a suas representações, do seu desenho. As re-
Idade Média. Foi só com a Era dos Desco- presentações se originam a partir das ques-
brimentos que os dados coletados durante as tões de orientação e de localização do ho-
viagens tornaram os mapas mais precisos. mem.
Os mapas primitivos mais antigos eram re- No século XX, ao ensino de Geografia
presentações autênticas dos lugares. O tra- coube conteúdo definido, priorizando a aná-
çado das ruas e casas tem semelhança com as lise positivista que ganhou espaço nessa ci-
plantas das cidades modernas. Geralmente, ência, como o estudo da Terra nos seus as-
esses mapas eram usados em locais sagra- pectos físicos, culturais, econômicos e polí-
dos, utilizados em rituais e sem a intenção ticos. O mapa passa, então, a ser trabalhado
de serem preservados após o evento, o que como figura ilustrativa para localizar o lugar
dificulta a precisão da origem das represen- de interesse do conteúdo ensinado. A Ge-
tações cartográficas. ografia aparece, aparentemente, separada da
A partir do século XVII, a Cartografia to- Cartografia e o conteúdo cartográfico vai fi-
mou novo rumo, aparentemente separada da cando cada vez mais ausente, sendo obser-
Geografia;1 as ciências redefiniram-se em vada uma queda no uso dos mapas no en-
meio a nova ordem mundial. A Geogra- sino da Geografia, mesmo que a sua neces-
fia, então, constitui-se, como a Cartografia, sidade seja admitida. Com a Geografia Crí-
numa ciência autônoma (Séc. XVIII). Am- tica, retoma-se a discussão sobre a importân-
bas têm como base de análise o espaço, em- cia do ensino pelos mapas, sendo ele visto
bora, uma priorize a análise da produção e como essencial para a condução do ensino
organização deste espaço e a outra, a sua re- geográfico.
presentação. A Cartografia é a representa- Os homens, através da história, usaram o
ção e o geógrafo, para representar, precisa espaço para sua sobrevivência quando a tec-
conhecer, descrever e viver o espaço. nologia ainda era algo distante. Sujeitavam-
A importância de estudar Geografia e, pa- se a caminhar longas horas em busca de me-
ralelamente os mapas, deu-se segundo Ca- lhores lugares, caminhada descrita por mui-
pel (1981), de forma acelerada após 1870, tos deles através de símbolos e sinais, que
quando os franceses, após serem derrotados compunham para imitar o espaço de vida.
1
Assim, constatamos que as representações
Constituem-se em ciências independentes, em-
bora inseparáveis, pois o que se vê e produz no espaço do espaço não são obras da atualidade. No
é representado. Brasil, os indígenas, primitivos habitantes,
nos fins do século XIX, já traçavam cartas

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dos rios e seus afluentes. Essas cartas ori- doutoramento de Le Sann (1989) com o tí-
entaram as primeiras expedições dos portu- tulo Elaboration d’un matériel pédagogique
gueses pelo território brasileiro. Depois de pour l’apprentissage de notions géographi-
tantos anos por que o trabalho com mapas e ques de bases, dans les classes primaires,
outras representações cartográficas têm sido au Brésil; Almeida e Passini (1989) com a
um problema para os professores e alunos? obra intitulada O espaço geográfico: ensino
Lacoste (1988) questiona o descompro- e representação; ainda com Almeida (1994),
misso da escola em relação à educação carto- a tese de doutorado versando sobre: Uma
gráfica, enfatizando que se vai à escola para proposta metodológica para a compreensão
aprender a ler, a escrever e a contar. Por que de mapas geográficos; a dissertação de mes-
não para aprender a ler uma carta? trado de Gebran (1990), intitulada: Como o
As últimas décadas testemunham o de- Rio não cabia no Mapa, Eu Resolvi Tirá-
senvolvimento da comunicação cartográfica; lo...: Ensino de Geografia nas Séries Ini-
principalmente, enfatiza-se a afinidade na re- ciais; Santos (1994), dissertação com o tí-
lação entre o cartógrafo e o usuário a partir tulo: Pensei que no Brasil só existia o sul e o
da observação da realidade. Percebe-se, por- norte...: As noções de orientação e localiza-
tanto, crescente o número de pesquisas nessa ção geográfica no ensino fundamental; No-
linha e principalmente no ensino de Carto- gueira (1994), dissertou sobre: o Mapa Men-
grafia. tal: Recurso Didático no Ensino de Geogra-
No final dos anos 70 e início da década fia no 1o Grau.
de 80, surgem as pesquisas sobre o ensino Outros pesquisadores realizaram trabalhos
de Geografia e Cartografia, sendo precursora sobre o ensino de Cartografia, como os estu-
Lívia de Oliveira (1978), que elaborou sua dos na tese de doutoramento de Vasconcellos
tese de livre docência sobre o estudo meto- (1993), sobre A cartografia e o deficiente vi-
dológico e cognitivo do mapa, priorizando sual: uma avaliação das etapas de produção
os métodos interdisciplinares. A partir dos e uso do mapa; que trata especificamente do
estudos de Oliveira, germina no Brasil a edu- ensino de mapas. Passini (1994) divulga sua
cação cartográfica, hoje com um grupo bas- pesquisa de mestrado, que trata da Alfabe-
tante ativo de pesquisadores tratando da Car- tização Cartográfica, afirmando que a pos-
tografia e do seu ensino. sibilidade de ler mapas de forma adequada
Existe certa representatividade de pesqui- é de grande importância para se educar o
sadores e trabalhos na área: a dissertação de aluno e as pessoas em geral para a autono-
mestrado de Goes (1982), que trata do en- mia. Obras que aparecem como pesquisas
sino/aprendizagem das noções de latitude e que tratam do ensino e dos conhecimentos
longitude no primeiro grau; a tese de dou- cartográficos, que dão enfoque para a me-
torado de Simielli (1986), versando sobre a todologia do ensino dos mapas e da Carto-
comunicação cartográfica no ensino de 1o grafia, são respectivamente as dissertações
Grau. de mestrado de Katuta (1997); Francischett
Muitas contribuições são resultado de es- (1997) e a tese de Archela (1997), que apre-
tudos sobre a metodologia do ensino de Car- senta uma análise da Cartografia produzida
tografia. Como exemplo, temos: a tese de

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pela Geografia a partir da implantação dos pois a história das representações temáti-
cursos de Geografia no Brasil. cas teve seu início sob enfoques qualitati-
Meneguette (1998), que vem desenvol- vos, tipológicos2 . A representação do as-
vendo um programa denominado “Educação pecto quantitativo de temas dava-se através
Cartográfica e o Exercício da Cidadania”, re- de convenções qualitativas e aparecem nos
aliza um dos poucos trabalhos com alunos do atlas do século XIX.
Ensino Superior. Ela afirma que: Percebe-se, na contemporaneidade, que é
“Na realidade, no tocante à aquisição e dada ênfase, na Geografia, ao estudo das
apropriação de conhecimentos geográficos e imagens. Para tal, recorre-se a diferentes
mais especificamente cartográficos, infeliz- linguagens na busca de informações, hipó-
mente temos que admitir que a educação teses e conceitos, trabalhando-se com a Car-
cartográfica do cidadão brasileiro é inade- tografia conceptual, apoiada numa fusão de
quada. Não basta oferecer aos atuais edu- múltiplos tempos e numa linguagem especí-
cadores os conteúdos básicos estabelecidos fica, que faça da localização e da espacializa-
para o Ensino Fundamental e Médio. É ne- ção uma referência da leitura das paisagens e
cessário oferecer à população em geral, um seus movimentos.
programa de educação continuada”. (Mene- A Cartografia é responsável por um
guette, 1998:39). conhecimento que vem desenvolvendo-se
O desafio é ainda maior quando se pensa desde a Pré-história. Através dessa lingua-
no Ensino Superior, pois pouco foi realizado gem, é possível sintetizar informações e re-
nesta perspectiva. A metodologia de en- presentar temas (conteúdos), conhecimentos
sino continua sendo o grande e relevante pro- e as formas mais usuais de se trabalhar com a
blema enfrentado com quem estuda e traba- linguagem cartográfica na escola e por meio
lha nesse nível de ensino e no tocante ao en- de situações nas quais os alunos sejam anco-
sino de Cartografia o impasse é ainda maior. rados na idéia de que a linguagem cartográ-
Os anos dedicados à pesquisa e à refle- fica é um sistema de símbolos que envolve
xão sobre o ensino de Geografia e de Car- proporcionalidade, uso de signos ordenados
tografia, principalmente através da experi- e técnicas de projeção.
ência enquanto professora, possibili-tou-nos Uma vez que as representações cartográfi-
perceber que, no meio acadêmico universitá- cas se valem de muitos símbolos para trans-
rio, há manutenção e predomínio do ensino mitir informações aos usuários, é importante
da Geografia Tradicional. O movimento de salientar que “a escola deve criar oportuni-
renovação crítica não atinge a todos os pro- dades para que os alunos construam conhe-
fessores e isso repercute nos outros níveis cimentos sobre essa linguagem nos dois sen-
de ensino, por ser no Ensino Superior que tidos: como pessoas que representam e codi-
se forma o profissional da Geografia (o geó- ficam o espaço e como leitores das informa-
grafo bacharel e o professor). ções expressas por ela”. (PCN, 1991:87).
Os métodos de representações da Carto- 2
É o que leva em conta, segundo Martinelli
grafia temática são hoje conhecidos e uni- (1991), a diversidade entre objetos que se diferenciam
versalmente empregados, embora tenham se pela sua natureza e tipo.
consolidado a partir de uma evolução lenta,

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É possível perceber que o estudo da lin- gráficos, perfis topográficos, maquetes, tex-
guagem cartográfica vem, cada vez mais, re- tos e outros meios que utilizam a linguagem
afirmando sua importância desde o início da cartográfica. A função dessa linguagem é a
escolaridade. Ele contribui não apenas para comunicação de informações sobre o espaço,
que os alunos compreendam os mapas, mas daí a necessidade de haver uma situação co-
também para desenvolver capacidades rela- municativa (exposição e divulgação dos tra-
tivas à representação do espaço. Os alunos balhos) para que a atividade seja significativa
precisam ser preparados para que construam e ocorra aprendizagem e avaliação do pro-
conhecimentos fundamentais sobre essa lin- cesso, além de contribuir para que mais pes-
guagem, como pessoas que representam e soas tenham acesso ao conhecimento.
codificam o espaço e como leitores. “Como as culturas não estão feitas só
Se os conhecimentos cartográficos, neces- de conhecimentos e ‘destrezas’ restritas ao
sários à vida cotidiana, fossem adqui-ridos mundo da produção, é necessário que repro-
somente no interior da sala-de-aula, tal ques- duzam, também, outros conhecimentos para
tão deixaria de existir. No entanto, como manter como culturas. Tal reprodução, como
ocorrem no contexto histórico do espaço ge- bem acentuou Ludgren, faz-se nas institui-
ográfico (espaço-tempo), há necessidade de ções escolares pela representação”. (Pedra,
representar esse processo de maneira que 1997:16).
essa reprodução possibilite a produção de Um dos objetivos em se trabalhar com as
conhecimento para a vida social. “... o representações cartográficas é o de se estabe-
modo como os geógrafos falam de sua dis- lecer articulação entre conteúdo e forma, uti-
ciplina dá muito pouco lugar aos problemas lizando a linguagem cartográfica para que se
da cartografia, que é habitualmente conside- construam conhecimentos, conceitos e valo-
rada como uma técnica (ou uma ciência) ni- res. No caso da maquete geográfica, os con-
tidamente separada e distinta da geografia”. ceitos de semiologia gráfica baseiam-se nas
(Lacoste, 1981:243). propriedades de percepção visual, nos siste-
No que se refere à representação do es- mas onde os sinais acumulam significados,
paço geográfico, a apropriação da linguagem tornando mais acessível a interpretação dos
cartográfica é um aspecto de relevante im- dados nela contidos, possibilitando atingir
portância, principalmente quan-do se trata de uma de suas finalidades básica, como meio
pensar na educação do indivíduo habilitado a de comunicação.
participar na interlocução e na comunicação A metodologia da semiótica gráfica3
de sua época. transcodifica a linguagem escrita para sua re-
presentação gráfica. Na maquete geográfica,
a seleção dos signos baseia-se em sistema
3 Representação do espaço
monossêmico.
geográfico 3
Como propriedades de percepção visual, nos sis-
A representação do espaço geográfico pode- temas onde os sinais acumulam significados e com
se dar através de cartas, plantas, croquis, ma- objetivo de tornar mais acessível a interpretação de
dados nos mapas.
pas, globos, fotografias, imagens de satélites,

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O(s) responsável(is) pela composição da transformações realizadas pelos indivíduos


maquete geográfica ascende(m) a condição que habitam, vivem e transformam o espaço
de intérprete(s) gráfico(s) para construtor(es) geográfico, além de possibilitar a compre-
da representatividade gráfica: “A maquete ensão das relações que estão por trás des-
aparece então como o processo de restituição tes processos, o entendimento da reprodu-
do ‘concreto’ (relevo) a partir de uma ‘abs- ção das relações cotidianas existentes na so-
tração’ (curva de nível), centrando-se aí sua ciedade. Ignorar a natureza social, histó-
real utilidade, complementada com os diver- rica e dialógica das representações cartográ-
sos usos a partir desse modelo concreto tra- ficas é desconsiderar seu valor comunicativo,
balhado pelos alunos”. (Simielli, 1991:06). sua importância na relação, no processo de
A maquete geográfica é uma representa- evolução do homem e na interpretação do
ção cartográfica tridimensional do espaço, mundo.
pois representa as categorias longitude, lati- Temos uma visão parcial do mundo por-
tude e a altitude. A representação tridimen- que nossa percepção da realidade é limitada.
sional do espaço adquire importância fun- O que permite diminuir essa limitação, ou
damental quando se pensa em aplicações o que nos possibilita obter a percepção é o
empregadas em projetos (inter)disciplinares conhecimento do real e das representações
voltados às questões ambientais ou em simu- que nos é propiciado pela mediação, aqui en-
lações. tendida como conjunto de ações e elementos
O objetivo da maquete geográfica, en- que possibilitam a relação entre o real e a re-
quanto representação cartográfica, é produ- presentação desse real.
zir e transmitir informações e não ser, sim- O ponto principal do processo de repre-
plesmente, objeto de reprodução. Na ma- sentação, no qual o mundo real se transforma
quete, cria-se a imagem visual modulando as em modelo conceitual, é o homem enquanto
três dimensões do plano (X,Y e Z), sendo o Z sujeito do conhecimento que, mediante a ob-
a terceira dimensão visual que atrai a atenção servação, o estudo e a mediação, obtém um
do observador da maquete, porque é explo- modelo conceitual e o transforma em repre-
rada para representar a temática da maquete sentação do real. No campo da produção
(o tema escolhido/necessário para o estudo, do conhecimento científico, a construção da
pesquisa ou ensino). maquete geográfica pertence à prática pela
Os dados de modelo altimétrico do terreno qual o investigador pode planejar e atuar so-
estão representados pelas coordenadas X, Y bre a realidade. Esta prática pode ser com-
e Z, onde Z é o parâmetro a ser modelado. A partilhada por diferentes campos do saber,
aquisição destes dados é realizada através do não ser exclusivamente da Cartografia e Ge-
estudo da carta topográfica, da planta carto- ografia. Daí, seu caráter interdisciplinar.
gráfica, do perfil topográfico e da elaboração Conceituando o processo de construção de
do gráfico (se necessário), sendo o tema da maquetes podemos afirmar que através da
representação obtido através de trabalho de Cartografia fica bem mais significativo o pro-
campo. cesso de ensino aprendizagem da Geogra-
Na construção da maquete acontecem as fia. A representação geocartográfica dos te-
ações concretas dos alunos, representando as mas na maquete proporciona que o educando

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passe por várias fases e todas elas significa- Oferecemos assim, alguma possibilidade
tivas cognitivamente: para que os alunos continuassem a pesquisar,
a) Fase da interatividade: formação dos ou seja, a possibilidade de simular o pensa-
grupos e escolha do tema. mento de quem construiu e de quem analisou
b) Fase da significação: discussão dos te- o construto numa maquete. Seria desejável
mas. que tal aquisição se desse no nível da geo-
c) Fase da organização das idéias. cartografia e no contexto da educação carto-
d) Fase da definição do tema. gráfica.
e) Fase da apresentação do projeto (coló- Nesse contexto o processo de ensino-
quio). aprendizagem resultou na construção e na
f) Fase da qualificação: (re)formulação do produção de conhecimento geocartográfico,
projeto. agregando conceitos de representação, pas-
g) Fase da escala: recorte e escolha da es- sando por várias fases até a concretização da
cala geográfica e da cartográfica (horizontal maquete.
e vertical). Enquanto linguagem, a maquete possibi-
h) Fase da (re)avaliação dos projetos. litou diminuir a distância entre os elemen-
i) Fase de planejamento da maquete. tos de comunicação, estabelecendo-se me-
j) Fase da construção da maquete. lhor decodificação dos pontos, linhas, áreas,
k) Apresentação dos resultados. símbolos e signos, principalmente em rela-
l) Avaliação de todo o processo. ção à tridimensionalidade e às perspectivas.
m) Reconstituição de um novo processo. A principal característica estrutural da ma-
Conforme Vygotsky (1991), o aprendi- quete é a função de representar a realidade,
zado organizado resulta em desenvolvimento com detalhes não vistos em outra forma de
mental e põe em movimento vários proces- representação. Além disso, para se che-
sos de desenvolvimento que, de outra forma, gar à construção da maquete são necessá-
seriam impossíveis de acontecer. rios conhecimentos geocartográficos. Atra-
Reconhecer-se-á a construção e a produ- vés da observação e percepção do espaço ge-
ção de conhecimento geocartográfico onde ográfico e pela sua representação (mapas),
se encontra um verdadeiro processo de produz-se um croqui e, em seguida, a ma-
ensino-aprendizagem. quete.
O reconhecimento crescente de se proces- Essa metodologia para a construção de
sar a inteligência capaz de apreender as re- maquetes apresentou uma proposta cole-
presentações cartográficas através de temas tiva, em que a fragmentação do ensino-
de estudo e pesquisa não é um processo me- aprendizagem e, o abismo que há entre
cânico, mas sim dinâmico e cognitivo, cujo teoria-prática cede lugar à pesquisa aplicada
caminho é a práxis. ao contexto social e ao sistema produtivo. É,
A maquete, além de representar o espaço portanto, um meio para promover a educa-
geográfico e o contexto nele inserido, repre- ção e a ciência na formação e competência
senta o pensamento de quem a idealiza. Este do geógrafo. Buscar o conhecimento é, se-
pensamento manifesta-se na simbologia da gundo Fazenda (1995), uma das atitudes bá-
representação que é a sua linguagem. sicas a serem desenvolvidas em quem pre-

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tende empreender um projeto pedagógico o quando bem planejada, vem ao encontro das
que só pode ser entendido pela sua efetiva- necessidades da educação cartográfica. Esta
ção. E isso depende muito da atitude do pro- é uma proposta que identifica a Cartografia
fessor. do cotidiano, voltada para a construção do
Essa proposta trata, portanto, do ensino e conhecimento cognitivo geocartográfico me-
pesquisa pela maquete geográfica. O cons- diado pela Semiótica e orientado pela inves-
trutor da maquete, tanto pode ser um estu- tigação qualitativa, que possibilita aprender
dante (de qualquer nível de ensino) a fim a utilizar a linguagem da época.
de apresentar seus conhecimentos geográfi- É pouco comum, no ensino universitário,
cos, como o geógrafo, ou outro profissional, a construção de maquetes atreladas a proje-
que procura explicar aspectos da organiza- tos de pesquisa. Quando são construídas, ge-
ção espacial, ou ainda um cidadão qualquer ralmente, têm enquanto fim apenas a própria
que planeja seu espaço ou lugar para fins de representação e não a função de estar repre-
representá-lo e para apreciação pública. sentando um espaço para estudo ou pesquisa,
Ao abordar criticamente as linguagens vi- ou como resultado disso.
suais no processo de ensino-aprendiza-gem, Encontramos muitas dificuldades ao tra-
essa prática cria uma mediação entre o fa- balhar um projeto coletivo, mas os resultados
zer e o refletir que o aluno, mesmo fora da são importantes para o ensino. Provoca mu-
universidade, conseguirá desenvolver. Para danças, principalmente por quem está dis-
Vygotsky (1987), os processos de funciona- posto ao desafio de superar visões fragmen-
mento mental do homem são fornecidos pela tadas, extrapolar as fronteiras entre discipli-
cultura, através da mediação simbólica. nas e, principalmente, para quem está dis-
Esta proposta aponta aspectos metodoló- posto a romper barreiras entre teoria e prá-
gicos favoráveis que podem ser trabalhados tica.
num curso superior através de projetos cole- Temos uma visão parcial do mundo por-
tivos, dando novo enfoque para a Cartografia que nossa percepção da realidade é limitada.
na formação do Geógrafo. Também enfatiza O que permite diminuir essa limitação, ou
a importância da Cartografia para a delimita- o que nos possibilita obter a percepção é o
ção (escala geográfica) do espaço local como conhecimento do real e das representações
prioridade de estudo e pesquisa voltada para que nos é propiciado pela mediação, aqui en-
a região, sem perder o contexto global em tendida como conjunto de ações e elementos
que ela precisa estar inserida. que possibilitam a relação entre o real e a re-
Enfim, demonstra como o processo de presentação desse real.
ensino-aprendizagem é prazeroso quan-do O ponto principal do processo de repre-
possibilita aos discentes e docentes a cons- sentação, no qual o mundo real transfor-ma-
trução de seus sonhos e perspectivas galga- se em modelo conceitual, é o homem en-
dos por um sentimento de crescimento inte- quanto sujeito do conhecimento que, medi-
lectual. ante a observação, o estudo e a mediação,
Nessas diversas maneiras devemos acres- obtém um modelo conceitual e o transforma
centar que a maquete geográfica, ainda em representação do real. No campo da pro-
pouco ou indevidamente explorada. Mas, dução do conhecimento científico, a constru-

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A cartografia no ensino-aprendizagem da geografia 11

ção da maquete geográfica pertence à prática CHRISTOFOLETTI, Antônio. As Perspec-


pela qual o investigador pode planejar e atuar tivas dos Estudos Geográficos. São
sobre a realidade. Esta prática pode ser com- Paulo: Difel, 1997.
partilhada por diferentes campos do saber e
não ser exclusivamente da Cartografia e Ge- FRANCISCHETT, Mafalda Nesi. A Carto-
ografia, o que lhe confere caráter interdisci- grafia no Ensino de Geografia: Cons-
plinar. truindo os Caminhos do Cotidiano.
Concordamos com Machado (1999) Francisco Beltrão: Grafit, 1997.
quando diz que aprender Cartografia para FRANCISCHETT, Mafalda Nesi. Interdis-
a Geografia é aprender regras de construir ciplinaridade: A Cartografia no Ensino
mapas, suas diferenças, o uso de cada tipo de Geografia – Desafio ou Alternativa?
de produto, e, atualmente, técnicas com- ANAIS – 5o Encontro Nacional de Prá-
putadorizadas. Isso deve ser considerado e tica de Ensino de Geografia. Belo Ho-
ensinado, mas não basta. Temos que enten- rizonte: PUC/MINAS, MG, de 25 a 28
der a Cartografia como construção social, de maio de 1999, p.36.
não como algo pronto, acabado e estático. A
Cartografia não é meramente um amontoado FRANCISCHETT, Mafalda Nesi. Mapa:
de técnicas, ela constrói, reconstrói e acima Alternativa Metodológica para o Ensi
de tudo revela informações. no-Aprendizagem de Geografia. Bole-
Neste sentido, o planejamento da cons- tim de Resumos da I Jornada Científica
trução de uma maquete geográfica segue na – VI Semana de Geografia da UEPG,
mesma direção. Começa pela leitura e iden- Ponta Grossa: UEPG, 1999, p.67.
tificação da carta topográfica, pelo entendi-
mento da altimetria e da planimetria nela FRANCISCHETT, Mafalda Nesi. . A
contidas, indispensáveis para estudar a dis- Cartografia no Ensino de Geografia:
tribuição dos fenômenos na superfície da Construindo os Caminhos do Cotidi-
Terra. A maquete possibilita o acesso à for- ano. ANAIS do Evento Fala Professor,
mação de uma rede especializada de infor- Curitiba – 18 a 13 de Julho de 1999,
mação da Cartografia temática e compõe a p.36.
síntese do conhecimento geocartográfico. FRANCISCHETT, Mafalda Nesi. Educação
Cartográfica e o Ensino de Geografia:
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la Geografia. Barcelona: Barcanova, FRANCISCHETT, Mafalda Nesi. Maquete
1981. Geográfica: Alternativa Metodológica
para Trabalhar a Cartografia do Muni-
CHRISTOFOLETTI, Antônio. As Perspec- cípio. ANAIS do XII Encontro Nacio-
tivas da Geografia. São Paulo: Difel, nal de Geógrafos: os outros 500 Na For-
1982 mação do Território Brasileiro – Pro-

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12 Mafalda Nesi Francischett

gramas e resumos AGB - Florianópolis


- 16 a 23 de Julho de 2000. p.269.
FRANCISCHETT, Mafalda Nesi. Represen-
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