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PODER J U D I C I Á R I O

TRIBUNAL DE J U S T I Ç A DE SÃO PAULO

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DE SÃO PAULO


ACÓRDÃO/DECISÀO MONOCRÁTICA
ACÓRDÃO REGISTRADO(A) SOB N°

*01915432*
Vistos, relatados e discutidos estes autos de

AGRAVO DE INSTRUMENTO n° 736.872-5/9-00, da Comarca de SÃO

PAULO, em que é agravante FEDERAÇÃO PAULISTA DE FUTEBOL sendo

agravado MINISTÉRIO PÚBLECO:

ACORDAM, em Décima Segunda Câmara de Direito

Público do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo,

proferir a seguinte decisão: "Não conheceram do recurso, com

determinação, por maioria de votos, vencido o 2 o juiz que

declarará.", de conformidade com o voto do Relator, que

íntegra este acórdão.

O julgamento teve a participação dos

Desembargadores PRADO PEREIRA (Presidente, sem voto), VENÍCIO

SALLES e J. M. RIBEIRO DE PAULA.

São Paulo, 20 de agosto de 2008.

WANDERLEY yTOSÉ FEDERIGM


Relator \ ^*S
PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

Agravo ée mstrwmeirte n. 736.872.5/9-00.


Agravante: Federação Paulista de Futebol.
Agravado: Ministério Publico*

Voto n. 6.212

COMPETÊNCIA - AGRAVO DE ÍNSTRLTMENTO


- Ação civil pública movida pelo Ministério Público
contra a Federação Paulista de Futebol perante
Vara Cívef da Justiça Estadual comum, na Comarca
da Capital - Recurso de agravo de instrumento
interposto perante esta Corte, distribuído a Câmara
da Seção de Direito Público — Descabimento -
Matéria afeita ao Código de Defesa do Consumidor
e ao Estatuto do Torcedor, não se tratando de
questão de direito público - Insurgência que deve ser
direcionada a uma das Câmaras de Direito Privado
do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo -
Redistribuição que se impõe - Recurso não
conhecido.

VrSTOS.

Nos autos de ação civil pública (proc n. Í45 102/2006, da


\T Vara.- Cível- da Comarca da- Capital-}, que é ajuizada- pelo MINISTÉRIO
PÚBLrCO DO ESTADO DE SÃO PAULO contra a FEDERAÇÃO PAULISTA
DE FUTEBOL, e outros- interpõe a refenda ré o presente recurso de agravo de
instrumento, contra a r. decisão de primeiro grau que rejeitou alegações preliminares

v\ Agravo de instrumento n. 736 872 5/9-00

ARTES GRÁFICAS - T j A 1 0035


PODER JUDICIÁRIO 2
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de ilegitimidade ati\a ítd èo Ministério Público e passiva da agravante e de


impossibilidade jurídica do pedido, determinando o prosseguimento da ação em
questão. Aduz que a mencionada ação tem como fundamento os fatos referentes ao
Campeonato Brasileiro de Futebol de 2005. quando se teria apurado, por meio de
inquérito civil, a existência de manipulação de resultados de jogos daquele certame
por parte dos então árbitros de futebol Edilson Pereira de Carvalho e Paulo José
Danelon, em conluio com Nagib Fayad. A ação. onde se pede a condenação dos co-
réus no pagamento de danos materiais e morais causados aos consumidores
torcedores, além de R$ 30.000.000,00 por danos morais difusos à sociedade
consumensta, em razão da mencionada manipulação dos jogos daquele campeonato,
é embasada no Código de Defesa do Consumidor e no Estatuto do Torcedor Insurge-
se a agravante contra a decisão de primeiro grau que rejeitou suas preliminares,
afirmando ser a mesma contra legem, impondo-se a- reforma da mesma Cita
legislação e jurisprudência, em longo arrazoado, para respaldar o seu entendimento.
Ao final,, pede a concessão de efeito ativo ao presente recurso; ao final, pede o
acolhimento do recurso* com a conseqüente extinção da ação. Junta a documentação
defls 21/145
Encaminhados os autos à Mesa, foram retirados de
pauta em virtude de pedido formulado pelo digno Procurador de Justiça, à fl. 149,
para diligência
Vieram, então, as contra-razões do Ministério Público
(fls. 154/159, com as cópias defls. 160/221)
Atendendo ao despacho de fl. 222. veio a manifestação
do Ministério Público, de fls. 226/237.
Vieram então os autos à conclusão.

É o relatório.

O piesente recurso não pode ser conhecido, na medida


em que esta Câmara não é competente para tanto.

v^ Agravo de insírumeríto n 736 &7 2 5/9-OÔ

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Em \erdade. a maténa tratada é der ação eml púbhca,


proposta. CGB&& a. agravaate (e. outros), peio ^4inistério Púbkeo -do Estado de São
Paulo* txamitandou. em primeiro grau, perante, uma. das Varas Cíveis da. Capital (e
não perante umas das Varas da Fazenda Pública), na medida em que cuida a referida
ação, basicamente, de direitos difusos, do consumidor e do torcedor de futebol.
embasada no Código de Defesa do Consumidor e no Estatuto do Torcedor, não se
tratando, à evidência, de matéria referente a questão de Direito Público, quando então
se justificaria a distribuição do presente recurso a uma das Câmaras da Seção de
Direito Público deste Tribunal. Provavelmente impressionou ao funcionário
responsável pelo Distribuidor a menção â "ação civil pública", tendo este concluído
equivocadamente a respeito da competência da Seção de Direito Público, a partir
dessa premissa, valendo Jembrar, a propósito, que as Câmaras da Seção de Ihreito
Privado desta Corte igualmente têm competência para julgar tais ações, dependendo^
da matéria tratada.
Não, pode esta Câmara, destarte, examinar, a questão em.
pauta. Impõe-se,, assim, o deslocamento da competência para o processamento e
análise deste recurso a uma das Câmaras da Seção de Direito Privado do Tribunal de
Justiça do Estado de São Paulo, promovendo-se a conclusão dos autos ao Exmo. Sr.
Desembargador Presidente da Seção de Direito Público deste Tribunal, para as
providências tendentes à referida redistribuição.

Com isto, não se conhece do presente recurso,


promovendo-se a sua conclusão ao Exmo. Desembargador Presidente da Seção de
Direito Público deste Tribunal, nos termos da motivação sobredita.

WANDERLEY JOSÉ FEDERJGHI


Relator |

\ Agravo de instrur/ento n 736 872 5/9-00

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VOTO DIVERGENTE

AGRAVO DE INSTRUMENTO n° 736.872.5/9


COMARCA : São Paulo
AGRAVANTE: Federação Paulista de Futebol
AGRAVADO: Ministério Público do Estado de São Paulo

VOTO n° 5064

1. Em que pese o zelo e a profundidade no


trato da questão envolvida no presente feito manifesto entendimento
contrário, entendendo que a presente ação se afeiçoa à competência
da Seção de Direito Público.

O direito atinente ao torcedor de que trata


a Lei n° 10.671/2003, o equipara ao consumidor, que na forma do
art. Io da Lei n° 8.078/90 é amparado por ncrmas de "direitopúblico
e interesse sociaF.

O resguardo jurídiop at> consumidor ou ao


torcedor decorre de uma ação intervenfiiva do Estado, que
reconhecendo o desequilíbrio de forças ná relação de consumo,
estabelece especial proteção. A relação de consumo não se forma

Voto 5064 Apelação Cível n° 736 872 5/9 - São Paulo


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apenas em razão da vontade das partes, mas de um posicionamento


qualificado pela direta participação estatal, que empresta força
jurídica para a parte fragilizada da relação.

Portanto, toda relação de consumo envolve


interesses tutelados pelo Estado, de forma a se submeter aos padrões
do Direito Público.

Ademais, em se tratando de ação civil


pública de índole coletiva, a submissão aos padrões do Direito
Público se confirma, fixando a competência de segundo grau,
independentemente de qual órgão de primeiro grau tenha realizado o
julgamento monocrático. 1

Portanto, entendo que a questão se insere


na competência das Câmaras de Direito Publico.

Quanto às questões que determinam a


remessa dos autos ao segundo grau por força de agravo de
instrumento, é de se observar que o Ministério Público é legítimo
tutor de interesses sociais, assim consideradoaos de sentido coletivo
e difusos, compondo parte deste contexto7\fc>s interesses gerais
ligados à relação de consumo. \\

Voio 5064 Apelação Cível n° 736 872 5/9 - São Paulo


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No caso, o Ministério Público pugna pela


fixação de indenização para recompor os desfalques perpetrados aos
torcedores em função da manipulação de resultados de partidas de
futebol. Trata-se de interesses individuais homogêneos, descritos no
inciso II, do art. 81, do Código do Consumidor, marcados pelo foco
coletivo de interesses especialmente tutelados.

Toda e qualquer proteção proclamada em


nome do torcedor consumidor poderá conquistar este sentido,
autorizando a proteção interventiva pelo Ministério Público.

No caso, o feito deve ter seqüência para a


exata verificação das responsabilidades e culpas, e no caso de
acolhimento, a constatação de danos, a sua exata quantificação,
tarefas difíceis e árduas, das quais se antevê possível insucesso, mas
que não são suficientes para inviabilizar o processamento.

Destarte, pelo meu voto/nego provimento


ao recurso.

SALLES
o
2 Juiz

Voto 5064 Apelação Cível n° 736 872 5/9 - São Paulo

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