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MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE, DOS RECURSOS

HÍDRICOS E DA AMAZÔNIA LEGAL - MMARHAL


Secretaria de Recursos Hídricos - SRH

DOCUMENTO APRESENTADO NA REUNIÃO


WORLD WATER COUNCIL
LATIN AMERICAN WATER FORUM

Política para o planejamento e gerenciamento dos


Recursos Hídricos da bacia do Rio São Francisco

Eduardo A. C. Garcia
Pesquisador em Economia de Recursos Naturais

SÃO PAULO - Brasil


Janeiro de 1997
2

E du ar do A. C . G arc i a

SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO 1

PRIMEIRA PARTE
4
1 PROBLEMAS

2 OBJETIVOS 14

3 METODOLOGIA 19

3.1 Descrição Geral da Bacia do São Francisco 20

3.1.1 Características fisiográficas 20

3.1.2 Clima 21

3.1.3 Hidrologia 23

3.1.4 Solos 28

3.1.5 Demografia 29

3.1.6 Aspectos socioeconômicos 31

3.2 Técnicas e Métodos de Síntese e Análise de Dados 34

3.3 Técnicas e Métodos de Planejamento: Conceitos 36

SEGUNDA PARTE
40
4 MARCO INSTITUCIONAL E LEGAL PARA O DESENVOLVIMENTO DO
VALE DO SÃO FRANCISCO

4.1 Programas de Desenvolvimento do Vale do São Francisco 40

4.2 Princípios, Diretrizes e Instrumentos da Política Nacional de Recursos 45


Hídricos

4.3 Ações e Diretrizes Esperadas do Plano Plurianual 1996-1999 50

TERCEIRA PARTE
52
5 PLANEJAMENTO E GESTÃO
3
Política para o planejamento e gerenciamento dos recursos hídricos
da Bacia do Rio São Francisco

5.1 Recursos hídricos 55

5.2 Meio ambiente 58

5.3 Saneamento básico 59

5.4 Energia 60

5.5 Transporte

5.6 Agricultura e irrigação

5.7 Educação

5.8 Pesquisa e desenvolvimento, e ciência e tecnologia

5.9 Organização social

6 CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES 62

7 BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 64
4

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LISTA DE ILUSTAÇÕES

FIGURA 1 Linhas de produção de sedimentos em vários postos de registros 8


do rio São Francisco

FIGURA 2 Regiões fisiográficas do Vale do São Francisco 12

FIGURA 3 Principais tributários e sub-balios do rio São Francisco 25

FIGURA 4 Perfil longitudinal do rio São Francisco destacando os trechos 26


navegáveis

FIGURA 5 Desenvolvimento sustentável regional como um produto de


conciliação de interesses, de negociação e de compartilhamento
orientado pela análise multicritério
37

FIGURA 6 Síntese do Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos


Hídricos proposto no Projeto de Lei no. 2.249 da Política nacional
50
de Recursos Hídricos

TABELA 1 Produção de sedimentos, degradação do solo média anual e


outras informações registradas em postos sedimentométricos do
8
Vale do rio São Francisco

TABELA 2 Situação dos municípios do Vale do São Francisco, por Estado,


segundo os maiores índices de indigência
11

TABELA 3 Características físicas regionais do Vale do São Francisco 23

TABELA 4 Principais características da rede hidrográfica do Vale do São 24


Francisco

TABELA 5 Estimativa dos períodos de retorno de cheias diárias, em m3/s, 27


do rio São Francisco

TABELA 6 Área e população dos municípios das Unidades da Federação


que compõem a bacia do rio São Francisco
30

TABELA 7 Estimativa de indicadores básicos de um cenário tendencial para 30


o Nordeste no horizonte 1994-2020

TABELA 8 Aptidão dos solos para a agricultura irrigada no Vale do São 31


Francisco

TABELA 9 Evolução e tendência da área irrigada (no período 1960/94 32


5
Política para o planejamento e gerenciamento dos recursos hídricos
da Bacia do Rio São Francisco

TABELA 10 Área média e índice de desigualdade da distribuição de posse da


terra no Brasil e Nordeste no período 1975/85
34

QUADRO 1 Trechos e características das águas do rio São Francisco 9

QUADRO 2- Principal potencial hidrogeológico do Vale do São Francisco 27

QUADRO 3 Aptidão dos solos para a agricultura irrigada no Vale do São


Francisco
6

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RESUMO
Desde a colonização, o rio São Francisco tem desempenhado importante papel na ocupação e no
desenvolvimento de parte densamente ocupada (15,6% da população total) do território brasileiro
(7,5% da área total), sendo denominado “rio da unidade nacional”. Nos últimos cinquenta anos o Vale
tem sido motivo de intervenções do Governo visando iniciar e conduzir um processo de
desenvolvimento regional. Estas intervenções, de modo geral, foram setorizadas (principalmente para
geração de energia e irrigação) e não integradas, temporalmente descontínuas e institucionalmente
instáveis, não trazendo os resultados propostos e motivando conflitos de uso da água entre setores,
gerarando novos problemas e configurando ameaças e riscos ao meio ambiente e às comunidades da
bacia. Grande parte desses resultados pode ser atribuída a falta de uma política de planejamento e
gestão integrada de seus recursos naturais, a falta de um comprometimento efetivo e possível de planos
e gestões dos recursos hídricos com as soluções socialmente eficientes e ecologicamente sustentáveis,
e a falta de vontade política o suficiente para promover esse desenvolvimento. O Plano Diretor para o
Desenvolvimento do Vale do São Francisco (Planvasf), instituído por lei e na espera de sua
implementação há oito anos, constitui um esforço para integrar setores, ações e estratégias orientadas
para o desenvolvimento. O propósito deste documento é apresentar uma síntese de uma proposta
fundada e que complementa o Planvasf, colocando em evidência aspectos conceituais da metodologia,
baseada em uma análise numérica a ser complementada pela análise cartográfica de bases amostrais
robustas e suficientes, a partir de modernas e disponíveis técnicas de domínio relativo brasileiro (SIG).
Trata-se de uma visão que atualiza, em alguns aspectos, o Plano da Codevasf e procura a inserção da
política de planejamento e gestão dos recursos hídricos do Vale nas propostas do Plano Plurianual
1996-1999 e da Política Nacional de Recursos Hídricos, contempladas em seus correspondentes
Projetos de Leis. O documento objetiva, também, incluir novos paradigmas da modernização da
administração e recomendações de organismos internacionais, entre outros da ONU/ECO-92-Agenda
21, procurando efetivar a integração entre órgãos públicos e entre os setores público e privado, bem
como destacar a importância do compartilhamento responsável e comprometido de ações e estratégias
entre os setores público e privados e entre estes e a comunidade organizada e preparada para participar
em processos como os de planejamento e gestão. A síntese da descrição da área e dos conceitos de
tratamento e análise da informação foi destacada no documento. Diversos aspectos de um plano como
cronogramas, orçamentos, equipe multidisciplinar, estratégias, resultados esperados e outros, ainda que
pertinentes, foram propositadamente omitidos do documento.
Termos para indexação: desenvolvimento sustentável, planejamento regional, economia de recursos
naturais, análise numérica, planejamento estratégico, gestão integrada e compartilhamentada.

ABSTRACT
Since the colonization, the São Francisco River has played an important role in the occupation and development of densely
occupied part (15.6% of the total population) of the Brazilian territory (7.5% of the total area), being named "River of
national unity". Over the last fifty years the Valley has been cause for government interventions aiming to initiate and
conduct a process of regional development. These interventions, in General, were specialized (mainly for power generation
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Política para o planejamento e gerenciamento dos recursos hídricos
da Bacia do Rio São Francisco

and irrigation) and non-integrated, temporally discontinuous and institutionally unstable, not bringing the results proposed
and motivating water use conflicts between sectors, gerarando new problems and threats and risks setting the environment
and to the communities of the basin. A large part of these results can be attributed to lack of a policy of integrated planning
and management of their natural resources, the lack of an effective compromise and possible plans and resources
managements hybr
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Política para o planejamento e gerenciamento dos recursos hídricos
da Bacia do Rio São Francisco

INTRODUÇÃO
Desde os primórdios da colonização, o rio São Francisco tem desempenhado importantes
funções no processo de ocupação do território brasileiro, tanto como caminho principal dos
“bandeirantes” quanto pela importância fundamental, reconhecida desde cedo, como via de
comunicação e transporte interligando diferentes regiões do País. Por isso tem sido cognominado de
“Rio da Unidade Nacional”.
O Vale sempre esteve presente no cenário político, econômico, sociocultural e ecológico não só
da região mas do País, despertando, há mais de 50, anos as atenções do governo, quer pelo seu enorme
potencial hidrelétrico quer pelos problemas decorrentes de secas, enchentes e recentemente, do meio
ambiente. Não obstante, nunca teve uma política de desenvolvimento harmonioso e sustentável, e de
conservação e manejo integrados e racionais de seus recursos naturais.
Nas últimas cinco décadas, desde que o Vale do São Francisco foi incluído no texto da Carta
Constitucional de 1946 ficando determinada, no ato das Disposições Transitórias, como atribuição do
Governo Federal traçar e executar um plano geral de aproveitamento de seu potencial econômico, a
ocupação tem-se caracterizado por diversas intervenções, principalmente do Governo Federal, visando
iniciar e conduzir o seu processo de desenvolvimento.
Entretanto, essas intervenções não foram devidamente orientadas nem suficientes para provocar
o desenvolvimento, melhorar as condições de vida das comunidades e modificar o perfil
socioeconômico da Região, a despeito de condicionantes favoráveis, como a localização privilegiada
da bacia circundada por grandes centros consumidores e o fato desse Vale constituir importante
fronteira de expansão agrícola (BRASIL, 1995, p. 11).
As intervenções do Governo têm ocorridos, em geral, de formas setorizadas e sem as interações
nem integrações dentro de cada setor, descontínuas ao longo do tempo e espaço, e institucionalmente
instáveis, marcadas pelas ausências de planejamentos e gestões adequadas às condições e às exigências
da Região. Persistem, dessa forma, problemas básicos (estruturais), sociais e econômicos, bem como
são favorecidos o surgimento de novos problemas afetando o meio ambiente. Dessa ocupação
econômica setorial e por vezes predatória, se destacam algumas ações e efeitos - problemas:
a) A geração de energia, sem grandes resultados positivos sociais nas mediações das faixas
litorâneas do rio, uma vez que, de forma paradoxal, grande parte da irrigação privada existente,
uma das perspectivas e potenciais do Vale, é ainda movida a óleo (BRASIL, 1995).
b) A navegação tem sido desativada pela generalizada ausência de ações orientadas para superar a
precariedade da navegabilidade ao longo do rio.
c) A agricultura irrigada, com diversos problemas e alguns impactos negativos sobre o meio
ambiente.
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Historicamente, se relacionam como fatores de retardamento, erros administrativos no


planejamento e na execução (PLANVASF, 1989, p. 10), sendo que a carência de planos adequados
trouxe diversas consequências ou esteve relacionada com intervenções deletérias, tais como:
a) Propostas e execução de obras mal projetadas e demora excessiva na execução dessas obras que,
além do prejuízo, encarceram os custos das mesmas.
b) Interferências perturbadoras de ordem política.
c) Erros legislativos na pulverização de recursos financeiros e na multiplicidade excessiva de obras
autorizadas (DNOCS, 1959).
As respostas de insuficiências e de ineficiências de intervenções governamentais no Vale do rio
São Francisco podem estar relacionadas, também, às faltas de prioridade e decisão política e de um
compromisso nacional para com a Região.
As insuficiência e ineficiência de intervenções governamentais se acusam de várias formas. Há
claros sinais e algumas estimativas do processo de perdas, riscos e ameaças de degradação do
patrimônio natural do Vale, - de suas fontes de recursos naturais. Assim, os efeitos perversos das
intervenções não planejadas e executadas sem adequados critérios, bem como as externalidades dos
modelos utilizados e das intervenções que aprofundaram as diferenças sociais, não incorporaram ao
processo produtivo tecnologias adequadas, possíveis e almejadas pela sociedade e não conservaram os
recursos naturais.
O processo de decadência socioeconômica e de progressiva erosão e degradação do patrimônio
natural, atrelado à organização de atividades produtivas sem adequada consideração com a proteção
ambiental (provável raiz da decadência da economia rural de grande parte da Região), e a
irracionalidade de posturas e atitudes nesse processo, dá conteúdo a expressão de Freire, em sua obra
Casa Grande e Senzala: “a sociedade rural do Nordeste se caracteriza por avós ricos, filhos
burgueses e netos pobres”.
O compromisso da União para com o Vale deverá ser orientado para reverter as tendências de
agravamento dessa decadência, de restaurar ambientes comprometidos e de resgatar o patrimônio
natural e sociocultural da Região, a partir da retomada do planejamento no âmbito federal, destacando
a consistência, a integração e o compartilhamento de ações e estratégias numa visão sistêmica,
necessariamente interdisciplinar e com a imprescindível participação de todos afinados para a obtenção
de um propósito maior e comum.
Nessa abordagem buscar-se-á a compatibilização de demandas hídricas às disponibilidades e às
possibilidades (potencialidades, perspectivas, restrições, oportunidades de financiamento para
aumentar a oferta hídrica etc.), com a formação de capital social (aumento da capacidade da sociedade
para organizar-se e procurar as mudanças exigidas e legítimas dentro da capacidade de suporte do
meio ambiente e de suas perspectivas).
11
Política para o planejamento e gerenciamento dos recursos hídricos
da Bacia do Rio São Francisco

Trata-se de um novo processo, - a substituir modelos, com efeitos positivos sustentáveis, capaz
de substituir, com vantagem e exequibilidade técnica e operacional, o atual modelo, permitindo a
conservação dentro da necessária proteção dos recursos e ambientes naturais.
Um novo processo que deverá ter como base de compromisso o conhecimento de
potencialidades e limitações da Região; como estrutura do processo produtivo, a qualidade, a
diversificação e a sustentabilidade, com inclusão social; como princípio de ação e estratégia, a
parceria, a cooperação, a descentralização, o compartilhamento de intervenções com responsabilidade
e os novos paradigmas da globalização, da competitividade, e de vantagens da associação e integração.
Uma base que é reconhecida e privilegiada no processo de coordenação da Política de Recursos
Hídricos promovida pela Secretaria de Recursos Hídricos do Ministério do Meio Ambiente, dos
Recursos Hídricos e da Amazônia legal - SRH/MMA.
Outro compromisso para fundamentar o desenvolvimento sustentável é a conciliação da proteção
e preservação de “estados” de qualidade do meio ambiente com o crescimento econômico, vale dizer,
da proteção da fonte com a conservação do fluxo.
Trata-se de uma tarefa difícil, pois a preservação da natureza poderá tender a inibir o
crescimento, enquanto este tende a agredir a natureza e com isto, compromete-lo.
São compromissos e novas posturas da sociedade e do Governo que deverão ser definidos no
contexto do meio ambiente físico, socioeconômico e político-institucional, com base em diagnósticos
realistas, profundos e integrados. Parte dessas ações e das estratégias se define no cálculo que precede
e preside as ações, projetos e estudos integrados, constituído pelo planejamento em formas como as
estratégicas e integradas do tático com o operacional.
A abordagem de políticas de planejamento para o gerenciamento integrado dos recursos da bacia
do rio São Francisco é apresentada em três partes:
A primeira sintetiza os principais problemas do Vale no setor de recursos hídricos, suas causas
e consequências. Estabelecem-se os objetivos e se relacionam aspectos conceituais gerais da
metodologia.
A ênfase é para a conceptualização de determinados aspectos da análise numérica que integra/
relaciona atributos de um componente e de componentes em um sistema.
A segunda parte apresenta uma síntese do marco institucional e legal para o desenvolvimento
do Vale; nessa síntese se relacionam os principais programas de desenvolvimento com os princípios,
diretrizes e instrumentos da Política Nacional de Recursos Hídricos e com diretrizes propostas no
Plano Plurianual 1996-1999.
A terceira parte apresenta breve descrição dos setores componentes das propostas de
planejamento e gestão dos recursos hídricos.
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Nesta última parte se apresentam conclusões e recomendações, procurando resgatar e aplicar/


adequar considerações/recomendações de conferências e compromissos assinados pelo Brasil, com
destaque para alguns contemplados na Agenda 21 da Conferência das Nações Unidades realizada no
Rio de Janeiro, em 1992.
O documento é ilustrado com mapas, figuras, tabelas e quadros, com a síntese de dados
apresentada por estatísticas e indicadores próprios.
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Política para o planejamento e gerenciamento dos recursos hídricos
da Bacia do Rio São Francisco

PRIMEIRA PARTE
A primeira parte considera, com base em pesquisas documentais, a caraterização do Vale do rio
São Francisco mediante a relação de problemas como referências necessárias para a proposição de
planejamentos temáticos e setoriais a serem integrados em um Plano Diretor que deverá orientar a
gestão descentralizada e participativa dessa bacia.
A partir dessa relação se definem os objetivos e a metodologia para realizar os estudos e gerar os
critérios e indicadores sobre os quais se projetam e monitoram as ações e se estabelecem as estratégias
do novo modelo de planejamento e de gestão, dentro do conceito de desenvolvimento sustentável
adequado à realidade da bacia do rio São Francisco.
É oportuno indicar que os dados de pesquisas documentais utilizados neste estudo não são
suficientes para adequar processos e implantar ações a desenvolver; é preciso complementar essa base
de dados com novos elementos de pesquisas amostrais, indicando-se, no texto, as necessidades de
dados primários. Portanto, os resultados da apresentação que segue são apenas uma introdução de um
processo complexo (...), um porto de partida e de reflexão a iniciar com a caracterização de problemas,
desafios - riscos e oportunidades a desvendar.

1 PROBLEMAS
A ocupação, a forma de estruturação e organização de processos produtivos e seus produtos e
serviços, e a gestão de empresas nos processos desenvolvidos no Vale geraram diversos problemas,
configuram ameaças e riscos cada vez maiores ao meio ambiente e a sociedade, motivaram conflitos
de uso e são responsáveis por diversos problemas ambientais com reflexos sociais, econômicos e
institucionais em panoramas prospectivos.
Até pouco tempo atrás propriedades localizadas no Vale (Carinhanha, Xique-Xique, Pilão Arcado, Remanso etc.),
foram cenários de sangrentas lutas entre famílias, por questões de terra, gado e política, promovidas pelos “coronéis”,
sendo que a intervenção do homem era caracterizada, em muitos casos, pela despreocupação, destruindo as reservas
naturais sem cogitar a sorte das futuras gerações (Nou e Costa, 1994).
Parte dos problemas no Vale podem ser atribuídos às intervenções do Governo nos últimos cinquenta anos,
realizadas em geral, de forma setorizada, sem consulta à sociedade, não integradas ou harmonisadas com outras e sem
continuidade espacial e temporal, em virtude do escopo do curto prazo em que foram propostas tais intervenções.
O aumento de ações privadas e governamentais foram e continuam sendo direcionadas para/por objetivos setoriais e
regionais específicos, muitas vezes conflitantes e com efeitos negativos sobre o meio ambiente e as comunidades locais.
A geração de energia, a captação de água para consumo industrial e doméstico, a pesca, a navegação e a irrigação
são exemplos de usos setorias da água que não foram convenientemente coordenados e adequadamente implementados no
Vale. A explotação de outros recursos naturais como os minerais, solo e vegetação foi e continua sendo realizada, também,
sem a necessária consideração de princípios modernos e adequáveis de planejamento e de gerenciamento.
A exploração das águas do Vale deu-se fundamentalmente para a geração de energia. Paradoxalmente, contudo, as
populações de suas margens não foram atendidas o suficiente. Com efeito, grande parte da área de irrigação privada
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(1.917ha do Médio São Francisco; Araújo, 1996) e em torno de 75,0% dos perímetros (Brasil, 1995a), em muitas sub-
bacias do Vale, utilizam energia da hidreletricidade em apenas 10,0% (1,8 mil KW) nos perímetros de irrigação, enquanto
que em torno de 16,0 mil KW (90,0%) corresponde a energia gerado por motores a Diesel. A própria irrigação não foi
estimulada adequadamente, como preciso, visto que apenas um em quatro hectares irrigados no Vale são de iniciativa
pública. E mesmo a iniciativa particular não contou com linhas de crédito e outros meios adequados para o
desenvolvimento desse setor (Brasil, 1995a).
A navegação que existiu quando não haviam cargas geradas na própria região, na atualidade, quando o Vale do São
Francisco começa a se transformar em importante celeiro da produção de grãos (1,7 milhões de toneladas), frutas
(promissoras perspectivas no mercado internacional) e outros produtos, está desativada (Brasil, op. cit.), tanto por falta de
incentivos à iniciativa privada, quanto pelas condições precárias de navegabilidade nos principais estirões: entre Pirapora
(MG) e Juazeiro (BA) / Petrolina (PE) com extensão de 1.312km, e entre Piranhas (AL) e a foz do rio, com extensão de
208km.
O Baixo São Francisco, devido a baixa velocidade e redução da vazão pela cascata de CHESF, tem interceptada a
navegação. No rio principal, apesar de apresentar corredeiras e grandes desníveis que fragmentam seu curso para a
navegação, há grandes trechos em condições propícias para a navegação de comboios de até 1.000 toneladas nas ligações
inter-regional Nordeste/Sudeste, com vantagens de aproveitamento, se levada em conta a posição estratégica do rio (Brasil,
1995b).
A foz do São Francisco vem sofrendo grande assoreamento em conseqüência das obras sem adequado planejamento.
Furtado Portugal, em relatório ao DNPVN em 1943, (citado por Alves, 1996) advertia que a pretensão de construir grandes
obras no Médio e Baixo São Francisco para a geração de força hidráulica e irrigação, não podiam receber tratamento
parcial sob pena de prejudicar as áreas de jusante. Ao executar essas obras sem o atendimento às condições relacionadas
naquele relatório, registram-se mudanças da qualidade da água com impactos negativos no meio ambiente e graves
repercussões na foz e no estuário. Anterior à intervenção, o rio realizava a “auto-dragagem”, sendo que a acumulação de
material nas épocas de menos vazão, espalhava-se no mar nos meses de cheias. Esse fenômeno foi alterado pela contínua
contenção de sedimentos favorecida por oito barramentos a que está submetido o rio.
Numa perspectiva de mudança, é necessário considerar que a condição básica para que o planejamento e o
gerenciamento racional dos recursos naturais se torne impositivo é a escassez relativa dos recursos. Esta condição, aliada
ao fato desses recursos apresentarem opções de alocação alternativa entre fins competitivos, determina que a imposição
seja definida, também, como um problema econômico, com as demandas hídricas dos diversos setores e nos múltiplos usos
da água, atuais e projetados, se aproximando às disponibilidades hidrológicas.
Os dois componentes da relação necessidades hídricas — disponibilidades hidrológicas, a serem mantidios dentro
de certas condições propiciadoras ou consistentes com a sustentabilidade dos processos ali desenvolvidos, apresentam
características que tornam impositiva e inadiável as ações e estratégias dos planejamentos setoriais integrados em um
Plano Diretor e da implementação/implantação dessas medidas na administração dos recursos ba caia, vistas como
problemas simultaneamente tecnológicos, político-administrativos e econômico-ecológicos.
No Alto São Francisco, principalmente na Região Metropolitana de Belo Horizonte, onde ocorre concentração da
população humana e de atividades dos setores primário, secundário e terciário da economia, se geram e acumulam impactos
negativos sobre o meio ambiente, alguns irreversíveis. Segundo resultados laboratorias da CETEC, o trecho do Rio das
Velhas, à jusante da Região Metropolitana de Belo Horizonte, por exemplo, apresenta altos teores de sulfatos, cloretos,
sódio e potássio, com elevadas concentrações de coliformes fecais, turbidez e sólidos totais nessas águas avaliadas pelo
IQA como “muito ruim”.
Outros impactos são os produzidos pelas atividades de garimpo e mineração, e os decorrentes dos subprodutos
nocivos das indústrias químicas, alimentícias, siderúrgicas e metalúrgicas (Codevasf, 1992). Nesse trecho são destacados os
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Política para o planejamento e gerenciamento dos recursos hídricos
da Bacia do Rio São Francisco

conflitos de uso da água dentro setores, principalmente de irrigação, e entre setores, com problemas sociais e econômicos
graves que se acusam a jusante desse trecho.
Os desmatamentos progressivos para a implantação de atividades agropecuárias e de carvoarias destinadas a
abastecer siderúrgicas, olarias e cerâmicas (Silva 1985) também geram notáveis impactos negativos sobre o meio ambiente
no Alto São Francisco. Um desses efeitos, traduzido na redução da vida útil econômica dos solos (perda do patrimônio
natural) e de obras hidráulicas (perdas do patrimônio construído), é a degradação do solo estimada em 0,17mm/ano dos rios
contribuintes ao reservatório de Três Marias, com registros, em Pirapora (MG), de 0,08mm/ano associados a uma vazão
média de 8,4 milhões de t/ano (Codevasf, 1989a).
Na área da bacia localizada no Estado da Bahia, os principais problemas se referem aos impactos negativos de
grandes barragens, de desmatamentos para a pecuária extensiva, de esgotos sanitários sem sistemas de tratamento lançados
ao rio pelas populações ribeirinhas e de focos de desertificação provocados por:
a) a explotação agrícola desenvolvida sem os devidos cuidados com o meio ambiente: mecanização inapropriada, uso
intensivo e sem o devido controle de fertilizantes e agrotóxicos etc., não compatível com as condições físicas de
tolerância (danos a resiliência) desse meio ambiente;
b) atividades de garimpo, mineração e indústrias, com efluentes sendo lançados diretamente nos mananciais (Codevasf,
1992).
Nesse trecho do rio São Francisco também se acusam conflitos de uso da água no setor de irrigação como no rio
Salitre, a jusante de Sobradinho, quando numerosos pequenos irrigantes foram afetados por grandes obras à jusante
(Araújo, 1996).
Nou e Costa (1994), indicam que os agricultores que trabalham nas margens do reservatório de Sobradinho vivem o
drama de assistir ao secamento do lago sem condições de acompanhar o caminho das águas. Em determinadas épocas do
ano a taxa de evaporação média é de 200m3/s, o que representa uma baixa no pé da barragem em torno de 0,5cm3/dia ou um
secamento de 1 a 2 km na planície. Este fenômeno sazonal está relacionado com a chamada “Indústria da Seca”
aproveitada por poucos para obter vantagens ao divulgá-la de forma dramática.
Na área do Vale do Estado de Pernambuco são relacionados os problemas da desertificação agravados em
conseqüência do desmatamento do uso intensivo e do manejo inadequado dos solos, e o problema da salinização de
reservatórios que comprometem o abastecimento de água às populações ribeirinhas.
Na área do Vale do Estado do Alagoas, os problemas se concentram, principalmente, na Região da Mata, que possui
o maior número de habitantes e de atividades dos setores primário e secundário e onde cerca de 95,0% de sua área
encontra-se desmatada. Os problemas são agravados pelas grandes destilarias de álcool, queima de cana-de-açúcar e
utilização de agrotóxicos. Na Zona do Sertão, os desmatamentos dão origem à erosão dos solos e a focos de desertificação.
No Vale do Estado de Sergipe, destacam-se os problemas de esgotos sanitários em quase todos os municípios
localizados às margens do rio, com efeitos na saúde pública.
Os mapas da FAO/Codevasf apresentam uma visão geral do problema da erosão na bacia, definindo áreas críticas
para os valores de perdas do solo superiores a 10t/ha/ano. Essas áreas representam em torno de 13,0% da área total
(aproximadamente 83 mil km2) localizadas no Alto São Francisco (regiões de Belo Horizonte, Serra do Espinhaço e Vale
do rio Abaeté, de áreas com declividades médias superiores a 4,0%); Médio São Francisco (Serra da Mangabeira e região
sul/sudeste do reservatório de Sobradinho na Bahia), Sub-médio São Francisco (vale do rio Pajeú,) e pontos isolados do
Baixo São Francisco (Codevasf, 1996).
Ao longo do rio, em função de características geomorfológicas e, principalmente, de uso e manejo dos solos, são
registrados índices de degradação do solo (decrescentes das cabeceiras do rio São Francisco até a foz) com níveis médios
de produção de sedimentos de 0,08mm/ano (posto de Pirapora, com vazão sólida de 8,4 milhões de t/ano) até 0,04mm/ano
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E du ar do A. C . G arc i a

(Posto de Morpará, com vazão sólida de 32 milhões de t/ano), passando por 0,07mm/ano (Manga, 32 milhões de t/ano). Em
termos econômicos as perdas totais são incalculáveis e irreparáveis.
A comparação dos valores estimados de produção de sedimentos no Vale ( TABELA 1) com os resultados de Khosla,
citado por Carvalho (1994) e considerados como referência neste caso, indicam, entretanto, que a maioria dos níveis de
produção se encontram abaixo dos índices normais, com exceção dos registros de alguns postos do Alto São Francisco
(Indaiá, Paraopeba e das Velhas) (FIGURA 1). Em média, a degradação do solo de 0,8 m/1.000 anos (Posto de Pirapora) a
0,07 m/1.000 anos (Manga), é significativamente inferior aos índices registrados em rios como os do Lo, Chiang e Amarelo
(China) de 4,18, 4,09 e 1,60 m/1.000 anos, respectivamente.

TABELA 1 - Produção de sedimentos, degradação do solo média anual e outras informações


registradas em postos sedimentométricos do Vale do rio São Francisco a
PRODUÇÃO DE DEGRADAÇÃO
CURSO D’ÁGUA ÁREA DE DESCARG
SEDIMENTO DO SOLO
POSTO DRENAGEM A LÍQUIDA
MÉDIA ANUAL MÉDIA ANUAL
PERÍODO (km2) (m3/s)
(t/km2/ano) (mm/ano))
- Rio São Francisco
Andorinhas 13.300 248 228,0 0,14
Out. 1972 a dez. 1985
- Rio Pará
Porto Pará 11.300 145,0 44,0 0,03
Jul. 1960 a jun. 1961
- Rio Paraopeba
Belo Vale 2.690 43,7 582,4 0,36
Set. 1972 a dez. 1981
- Rio Indaiá
Porto Indaiá 2.260 52,1 1.031,9 0,64
Out. 1977 a ago. 1985
- Rio São Francisco
Pirapora em Barreiro 61.880 775,0 116,0 0,07
Dez. 1975 a nov. 1982
- Rio das Velhas
Jequitibá (Ponte Raul 6.292 75,1 312,1 0,20
Soares) (4.780) (74,4) (661,9) (0,41)
Dez. 1975 a nov. 1982
- Rio das Velhas
Honório Bicalho 1.642 32,7 705,21 0,44
Mar. 1975 a dez. 1982
- Rio Paracatu
Santa Rosa (Porto
12.915 171,0 154,4 0,10
Alegre)
(42.120) (441,0) (123,4) (0,08)
Abr. 1976 a nov. 1982
(1966/74)
- Rio São Francisco
São Romão (Pedras de
154.870 1.727,0 128,2 0,08
Maria da C.)
(191.063) (1.981,0) (92,6) (0,06)
Dez. 1968 a mar. 1975
(1972/75)
- Rio Correntes
28.720 214,0 18,7 0,01
Santa Maria da V.
(31.121) (216,0) (29,2) (0,02)
(Porto Novo)
17
Política para o planejamento e gerenciamento dos recursos hídricos
da Bacia do Rio São Francisco

Maio 1967 a abr. 1975


(1972/75)

TABELA 1 - Produção de sedimentos, degradação do solo média anual e outras informações


registradas em postos sedimentométricos do Vale do rio São Francisco a
DEGRADAÇÃ
DESCARG PRODUÇÃO DE
CURSO D’ÁGUA ÁREA DE O DO SOLO
A SEDIMENTO
POSTO DRENAGEM MÉDIA
LÍQUIDA MÉDIA ANUAL
PERÍODO (km2) 3 2 ANUAL
(m /s) (t/km /ano)
(mm/ano))
- Rio São Francisco
Gameleira (Morpará) 309.540 2.582,0 84,5 0,05
Abr. 1972 a fev. 1975 (344.800) (2.929,0) (62,3) (0,04)
(1978/84)
- Rio São Francisco
Pilão Arcado
443.100 2.703,0 41,5 0,03
(Juazeiro)
(510.800) (2.666,0) (48,6) (0,03)
Dez. 1968 a dez. 1973
(1967/75)
- Rio São Francisco 590.790 3.454,0 32,6 0,02
Petrolândia (Traipu) (622.520) (2.905,0) (30,4) (0,02)
Ago. 1980 a dez 1984
(1968/74)
a
Fonte: Carvalho (1994, p. 245-247, simplificado).

A legislação brasileira dispõe sobre a proteção da fauna, proibindo a caça de animais. No entanto, normas que não
consideram as situações e condições regionais e que são desprovidas dos mecanismos operacionais e administrativos
necessários e suficientes para sua efetivação, resultam ineficientes, responsáveis por outros problemas.
Conforme a Portaria no. 715/89-P, de 20 de set. de 1989 do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos
Naturais Renováveis (Ibama) que enquadrou os cursos de águas federais das bacias, o rio São Francisco teve, há quase dez
anos atrás, os resultados apresentados no QUADRO 1, registrando-se, nos trechos Submédio e Baixo, problemas que já
exigiam, na época, tratamento da água para fins de consumo doméstico.
Algumas estimativas preliminares, considerando o deflúvio sólido anual de 32 milhões de toneladas e uma camada
arável de 20cm de solo, chegam a um desgaste médio de 10.000ha agricultáveis ou aproximadamente mil toneladas de solo
arrastada anualmente pela calha principal do rio (Fonseca, citado por Alves, 1996, complementado).
Esta perda do patrimônio natural pode ser traduzida, em parte, em termos econômicos, pelo equivalente da
fertilidade dos solos em nutrientes a ser reposto pela fertilização, com uma estimativa preliminar em torno de US$ 1,0
bilhão por ano. A perda poderá ser ainda maior se contabilizado o prejuízo do assoreamento do leito do rio, canais e
reservatórios, os prejuízos sobre a ictiofauna, a redução da navegabilidade do rio e o rigor das enchentes para equivalentes
níveis de vazão que se contrapõem aos efeitos de regularização das correspondentes obras hidráulicas.
Outro componente da degradação do meio ambiente é a perda da vegetação nativa, provocada pelo desmatamento
sem controle (uso e ocupação dos solos sem estudos prévios da aptidão ou potencialidade e das limitações, e sem propostas
de proteção/preservação ambiental; falta de cumprimento da legislação pertinente; falta de fiscalização/monitoramento e
18

E du ar do A. C . G arc i a

ainda falta de legislação apropriada) e pela baixa capacidade de suporte vegetal (Codevasf, op. cit.) que favorece a perda
gradual da vegetação nativa.

Logarítmos dos
valores de
produção de
Valores Considerados como “Normais”
sedimentos e referências ( Khosla, Carvalho, 1994)
(t/km2/ano)

Alto São
Francisco
Médio São
Francisco
Baixo São
Francisco
Logaritmos dos valores das áreas
das sub-bacias do Vale (km2)

FIGURA 1 Linhas de produção de sedimentos em vários postos de registros do rio São Francisco a
a Fonte: Carvalho, 1994

QUADRO 1 - Trechos e características qualitativas das águas do rio São Francisco a

TRECHO CLASSE CARACTERÍSTICAS

Das nascentes até a confluência Especial - Abastecimento doméstico sem prévia ou com simples desinfeção
com o ribeirão das Capivaras
- Preservação do equilíbrio natural das comunidades aquáticas

Da confluência com o ribeirão 1 - Abastecimento doméstico após tratamento simplificado


das Capivaras até a confluência
com o rio Mombaça - Proteção das comunidades aquáticas

- Recreação de contato primário

- Irrigação de hortaliças que são consumidas cruas e de frutas que se


desenvolvem rentes ao solo

- Criação natural ou intensiva (aquicultura) de espécies destinadas à


alimentação humana

Da confluência com o rio 2 - Abastecimento doméstico após tratamento convencional


Mombaça até a sua foz
- Proteção das comunidades aquáticas

- Recreação de contato primário

- Irrigação de hortaliças e plantas fruteiras

- Criação natural ou intensiva (aquicultura) de espécies destinadas à


alimentação humana
19
Política para o planejamento e gerenciamento dos recursos hídricos
da Bacia do Rio São Francisco

a
Fonte: Souza e Motta (1994)

Apesar das disposições orientadas para a preservação e proteção de “estados” de qualidade desejáveis e possíveis do
meio ambiente e dos recursos hídricos, tais como as contempladas em portarias do Ibama para serem aplicadas às indústrias
canavieiras1, tem-se registrados graves problemas, havendo necessidade, portanto, de que sejam implementadas (em alguns
casos atualizá-las e/ou adequá-las às condições da região) pelos órgãos competentes (em muitos casos tais órgãos devem
ser modernizados e adequados as condições e exigências locais).
_________________
1 Entre estas disposições se relacionam a Portaria no. 323/78, proibindo o lançamento do vinhoto em coleções hídricas e a Portaria no. 158/80,
estabelecendo a obrigatoriedade de se implantar o tratamento e destino final para as águas residuais de usinas de açúcar e álcool

Parte desses problemas resultam/favorecem a sobreposição de funções e a indefinição de competência dos órgãos e
instituições dos recursos hídricos, em complicados arcabouços jurídico e institucional, na falta de continuidade temporal ou
na fragmentação espacial de ações e obras (algumas inacabadas), responsáveis por conflitos ao desagregar a unidade de
planejamento.
Ao considerar a bacia hidrográfica como a unidade de planejamento e de gestão surgem conflitos uma vez que a
bacia não é a mesma unidade geopolítica constituída pela União, os Estados e os municípios, os mapas de águas
superficiais nem sempre correspondem aos mapas de água subterrâneas e os fenômenos do ciclo hidrológico são globais.
Com o agravamento dos problemas ambientais acima relacionados se coloca em evidência a escassez relativa dos
recursos hídricos pelo comprometimento de atributos qualitativos, para a maior parte da bacia (56,0% de sua área
correspondente ao Polígono das Secas que se estende no Vale; Souza & Mota, 1994). Os problemas do meio ambiente, por
sua vez, se traduzem em problemas econômicos, jurídicos, legais, institucionais e administrativos.
A água deve ser reconhecida como um bem econômico, com custos crescentes para a sua obtenção em quantidade,
critérios de qualidade e oportunidade espacial e temporal apropriados para todos os usos e usuários, das atuais e futuras
gerações. Entretanto, não se dispõe da necessária informação e dos meios para efetivar este reconhecimento e colocar em
evidência o valor econômico-social-ecológico intrínseco, de mercado e inter-temporal desses recursos, com vista a sua
conservação e seu manejo integrado.
No Polígono das Secas, de maneira particular, a água potável é um recurso natural escasso e bastante vulnerável,
com disponibilidades, principalmente de seus atributos qualitativos, limitadas e/ou críticas, o que contrasta com os elevados
índices de perdas nas grandes cidades do Nordeste, entre 30 a 40% de água tratada (Projeto ARIDAS 1995, p.112),
alimentado pela falsa “cultura da abundância”. Desta forma os conflitos potenciais e mesmo atuais, são realidades
estimadas com base em indicadores de vulnerabilidade da maioria dos rios temporários, e mesmo em trechos do rio São
Francisco (Campos, 1994).
A proposta de um modelo de planejamento e gestão se depara com fatores geopolíticos desagregados e com
interesses setoriais e regionais, públicos e privados, atuais e com possível agravamento no futuro, de encontro à
sustentabilidade.
A coordenação do processo de integração e a conciliação desses interesses pressupõe princípios, diretrizes e
critérios consistentes e flexíveis não existentes (em fase de definição). Por outro lado, no novo modelo de planejamento e
gestão deverão considerar os problemas estruturais e os instrumentos propostos nas políticas 2.

___________________________
20

E du ar do A. C . G arc i a

2 Forças desintegradoras e de encontro entre elas, a serem reorientadas na coordenação dos órgãos setoriais que tratam dos recursos hídricos; vícios da
cultura da administração pública (tais como o documento tem mais importância que o fato; a dimensão humana perde-se na relação Estado-cidadão o que
gera o descompromisso pela coisa pública; ausência de diretrizes e de princípios de longo prazo etc. a superar, em parte, com informações, programas de
educação e novas posturas do Governo e da sociedade; cultura do desperdício e do manejo irresponsáveis dos recursos naturais a ser mudada por um
processo permanente de conscientização social para a conservação; falta de informações sobre o valor dos recursos hídricos para alicerçar programas de
conservação; descoordenação ou falta de meios para definir, adequar e implantar instrumentos como o direito de outorga de uso da água, o cadastro
usuários, o levantamento de disponibilidades hídricas.

Da situação atual se relacionam e destacam os conflitos de uso d’água no âmbito da sustentabilidade e no campo da
vulnerabilidade (semi-árido localizado no Vale).
No Plano de Aproveitamento Integrado dos Recursos Hídricos do Nordeste (Plirhine) foram estabelecidas
categorias de conflitos e ordenamento prioritário no atendimento das demandas hídricas, cujas considerações são
pertinentes na formulação de políticas para o planejamento e gestão dos recursos hídricos de grande parte da bacia.
No caso da sustentabilidade, os problemas surgem, em geral, pelo não atendimento de necessidades hídricas
(algumas aparentemente legítimas ou legitimadas por determinados setores e/ou usuários) a partir de certa disponibilidade
hidrológica. Em outros casos, os problemas poderão referir-se ao descontrole sazonal dessa disponibilidade como ocorre
com as enchentes (regularização de vazões pelas barragens), a drenagem de áreas rurais e urbanas, e os problemas de
erosão dos solos e de transporte de sedimentos. No campo da vulnerabilidade os problemas surgem em determinados
períodos como os de estiagens prolongadas; para isto contribui a falta de conhecimento da distribuição espacial das secas
(Campos 1995).
Devido à falta da informação e do conhecimento relevante da vulnerabilidade às secas em grande parte da Bacia, ao
nordeste, não é possível a definição de uma política eficiente e eficaz de uso e de manejo dos recursos hídricos e da
convivência de mitigação desse fenômeno. Isto poderia explicar (hipótese) as limitadas repercussões sociais e econômicas
de diversos programas propostos para a solução da seca, apontadas por Campello Netto (1995), o elevado número de obras
hidráulicas sem concluir, com presumível elevado custo social e o fracasso de ações e estratégias linearizadas ou
homogeneizadas para problemas diferenciados entre áreas e dentre setores com resultados ecológicos, econômicos e
políticos desastrosos.
Na área econômica, o problema está na não-sustentabilidade e na pouca atratividade financeira de atividades,
gerando, em decorrência, poucos investimentos do setor privado. Nas poucas sub-regiões, onde ocorreram mudanças (como
as tecnológicas) para atenuar esses fatores negativos, por exemplo no pólo Juazeiro/Petrolina do Submédio São Francisco 3,
os problemas foram reduzidos e esses locais passaram a constituir-se em polos de atração.
Os índices de produtividade agrícola no Vale, em geral, são baixos, traduzindo os elevados riscos da agricultura de
sequeiro no semi-árido, de fenômenos como os “veranicos” que ocorrem na época de chuvas, e de insuficiências
tecnológicas apropriadas às condições do Vale. A observação quanto à absorção de novas tecnologias apontam que esta se
tem processado de forma muito lenta, principalmente por parte dos pequenos produtores.
O rio São Francisco ainda apresenta grande potencial para a produção de pescado, porém sob forte ameaça ou risco
de perda. A exploração e explotação crescente e sem controle de mais de 41 mil pescadores artesanais (Souza, 1996), aliada
ao manejo inadequado desses recursos e às intervenções (construção de barragens, desmatamento de matas ciliares,
poluição industrial e doméstica, subprodutos de agrotóxicos e de garimpo etc.), têm provocado mudanças na composição e
no comportamento da ictiofauna, especialmente sobre as espécies migratórias, apresentando baixo índices de produtividade
e com algumas espécies de peixe ameaçadas de extinção, como consequência da destruição de seus habitats.

_______________
3
Este pólo era composto por 70 municípios, ocupava uma área de aproximadamente 138mil km 2 e tinha em 1992 mais de dois milhões de habitantes
(SUDENE, 1995)
21
Política para o planejamento e gerenciamento dos recursos hídricos
da Bacia do Rio São Francisco

A construção de grandes barragens ao longo do rio São Francisco provocou o surgimento de obstáculos à migração
reprodutiva dos peixes, ao transformarem ambientes de características lóticas em ambientes lênticos a montante dos
barramentos, e reduzirem as cheias a jusante das barragens, impedindo a inundação das lagoas marginais na época das
chuvas, e com isto, alterando (destruindo) o ciclo biológico de muitas espécies de peixes.
Além destes problemas, é importante mencionar benefícios sociais das barragens que regulariza os caudais
(reduzindo os riscos de enchentes catastróficas) e pagam compensações financeiras (royalties) sobre a geração hidráulica
conforme definido pelo Decreto no. 1/11/91, beneficiando 40 municípios de seis Estados: Alagoas (12,5% dos municípios e
3,1% da compensação), Bahia (47,5% e 77,8%), Maranhão (10,0% e 2,3%), Pernambuco (15,0% e 12,0%), Piauí (10,0% e
2,4%) e Sergipe (5,0% e 2,5%) com R$63,7 milhões (US$60,3 milhões) no período de 04/12/1995 (Informação da CHEST
1996).
No que tange a energia elétrica e a despeito do grande potencial hidrelétrico do São Francisco de 10.379,2 MW/ano
de energia firme, dos quais 5.840,0 MW/ano se encontram em operação ou em fase de construção (IBGE, 1994), o
consumo por habitante é muito baixo, devido a problemas de abastecimento, ao baixo nível de renda de grande parte da
população e a falta de fornecimento, ou fornecimento precário de energia elétrica nas áreas de ocupação econômica recente.
Como resumo dos principais problemas do setor de transporte (modalidades rodoviário, ferroviário, hidroviário e
aeroviário) destacam-se: a ausência de conservação e baixo padrão da rede rodoviária e, em menor escala, da rede
ferroviária, a falta de estradas nas áreas de fronteira agrícola, o elevado custo do transporte e uma malha desarticulada e
bastante deteriorada.
O sistema de educação no Vale é insatisfatório, obsoleto e inadequado à realidade, com graves carências e
distorções no ensino básico, com infra-estrutura precária e incapacidade de atendimento, tanto nas zonas urbanas quanto
maior nas zonas rurais (Codevasf, 1994).
O abastecimento de água e o saneamento básico são precários, sendo a população ribeirinha atingida, com
freqüência, por doenças veiculadas pela água e em decorrência de inundações. O atendimento as necessidades de saúde no
Vale é insuficiente e desprovido de infra-estrutura adequada e oportuna. Isto, aliado aos precários serviços de saneamento
são responsáveis pelo elevado índice de mortalidade infantil, constituindo-se uma das causas de emigração da população
para centros urbanos (Codevasf, op. cit.). Conforme dados levantados pelo estudo Mapa da Fome III (Pelicano 1993), a
situação dos municípios do Vale, por Estado, segundo os maiores índices de indigência, é grave, sendo sintetizado na
TABELA 2.

TABELA 2 - Situação dos municípios do Vale do São Francisco, por Estado,

segundo os maiores índices de indigência a


22

E du ar do A. C . G arc i a

DE 40 A 50% DE FAMÍLIAS MAIS DE 50% DE FAMÍLIAS


INDIGENTES INDIGENTES
ESTADO

No. MUNICÍPIOS % No. MUNICÍPIOS %

Minas Gerais 15 7,6 0 0

Bahia 46 40,3 65 57,6

Pernambuco 26 44,0 28 47,6

Sergipe 23 88,5 21 75,5

Alagoas 22 46,8 24 51,1

a
Fonte: Peliano (1993) citado por Araújo (1996)

Grande parte dos planos aplicados no Vale, em geral, além de desarticulados entre as sub-regiões e sem
continuidade temporal, foram implantados parcialmente, por erros de concepção ou por inadequação aos condicionantes
políticos, institucionais, sociais, econômicos, financeiros e do meio ambiente, característicos de cada sub-região e
determinantes da execução, do acompanhamento e da avaliação desses planos. Acrescenta-se as limitações advindas da
falta de um marco teórico-científico e tecnológico adequado às condições da região e exequível, com os recursos e
condicionantes socioeconômicos, para induzir o processo de desenvolvimento sustentável dessa bacia.
Relacionado com os problemas acima mencionados, a Codevasf (1989, p. 21) indicou outros aspectos problemáticos
não menos graves, os quais deverão ser considerados numa proposta de políticas de planejamento e gerenciamento dos
recursos hídricos do São Francisco:
a) desvinculação do processo de planejamento do processo decisório;
b) tendência a confundir sistemas de planejamento com elaboração de planos;
c concentração de esforços na preparação de planos muito detalhados e, portanto, pouco flexíveis.
Neste documento são relacionados, também, como problemas graves, os seguintes:
a) a falta de dados e informações hidrometeorológicas “consistidas” e abrangentes, em diferentes setores e para diversos
períodos, em um sistema de coordenação central para alimentar uma rede de subsistemas integrados;
b) a falta de um sistema integrado (alimentado) e integrável (alimentador de uma rede) de dados e informações
permanentemente atualizadas, com procedimentos sistematizados (porém flexíveis e adequados às condições e
possibilidades de cada sub-região do Vale) de coleta normatizada, com tratamento de consistência e armazenamento/
gerenciamento de dados, e de análise, síntese, integração e difusão oportuna de informações hidrometeorológicas
georeferenciadas.
Esse sistema tecnicamente possível e socialmente almejado deverá incorporar os procedimentos e as técnicas modernas de
domínio brasileiro (informática, sensoriamento remoto, Sistemas de Informações Geográficas -SIG etc.) e alimentar os
processos de tomada de decisões, de formulação das políticas e de socialização da informação aplicada em serviços como
os de alerta de fenômenos de interesse social.
23
Política para o planejamento e gerenciamento dos recursos hídricos
da Bacia do Rio São Francisco

2 OBJETIVOS
A política de planejamento e gestão dos recursos hídricos deverá estar devidamente inserida, harmonizada, integrada
e complementada, de forma sinérgica, no modelo de desenvolvimento sustentável. Particularmente esta integração deverá
ocorrer nos planos regionais e em planos nacionais como o Plano Plurianual 1966-69 e a Política Nacional de Recursos
Hídricos, quando implementados, com objetivos, ações, projetos, metas e estratégias claras e definidas. Parrte desses
objetivos se orientarão para:
a) Criar as condições legais, institucionais e técnicas para adequar o uso múltiplo das águas, considerando-se a realidade
econômica, social e ecológica de cada região do País e a crescente escassez d’água. Este objetivo geral pressupõe a
concepção e aplicação de um novo modelo de gerenciamento de recursos hídricos. Nesta linha de ação foram
propostas, como metas para 1996/99:
- a elaboração de cinco planos de integração de bacias hidrográficas do rio São Francisco com outras bacias,
- a implementação de um sistema de gerenciamento de mananciais subterrâneos,
- a implementação de um cadastro nacional de informação de usuários da água,
- a capacitação de recursos humanos,
- a promoção de três campanhas educativas,
- a ampliação e manutenção da rede hidrométrica;
b) Aumentar a oferta de água potável às populações rurais, a partir do aproveitamento integrado e sustentável das
potencialidades hídricas [respeitando as restrições e condições locais], principalmente no semiárido, com ações e
projetos como os de fortalecimento da infraestrutura hídrica do Nordeste (Prohidro), pela construção de cisternas
comunitárias, poços rasos, barragens subterrâneas, tanques, e perfuração, instalação e recuperação de poços
profundos;
c) Promover investimentos regionais e setoriais que valorizem a força de trabalho pelo conhecimento de seu potencial;
d) Conduzir os processos de organização e negociação pela capacitação (formação do capital social) e descentralização,
com base em informações dos cenários e dos condicionantes desse desenvolvimento.
As questões dos recursos hídricos deverão ser tratadas em contextos mais abrangentes (integrados, harmonizados e
balanceados) com as questões, objetivos, ações e projetos de setores como os do meio ambiente, pesquisa e
desenvolvimento, ciência e tecnologia, saneamento básico, agricultura, educação, transporte e energia e, principalmente na
área social.
Nesta síntese não é possível relacionar todos esses objetivos, ainda que pertinentes no documento, destacando-se
apenas alguns deles:
a) Conservar e preservar a bacia hidrográfica, contemplando diversas ações e projetos integrados de conservação e de
proteção de sub-balios, e de conservação e revitalização de micro bacias;
b) A conservação, proteção e recuperação de solos, reconhecendo que nessa desarmonia está, em parte, a causa da
redução da água que alimenta reservatórios;
c) A proteção, recuperação ou recomposição de matas ciliares e dos topos de morros, bem como das cabeceiras dos rios;
d) Outras ações e projetos se orientarão para incentivar as práticas sustentáveis de conservação dos recursos naturais,
bem como para promover o controle das fontes de poluição dos solos e das águas. Neste contexto o Plano
Plurianual 1996-1999 (Rodrigues, 1996) define como meta possível preservar 10 afluentes do rio São Francisco.
24

E du ar do A. C . G arc i a

As questões no setor dos recursos hídricos do Vale, que responde por cerca de 70,0% da disponibilidade hídrica total
existente no Nordeste (Brasil, 1995), colocam-se como fundamentais e estratégicas para o desenvolvimento da região. Estas
questões definidas em um plano diretor, passam pelo tratamento dos problemas dado, em parte, pelas organizações do
Vale, e pelas agências, conselhos e comitês de bacias (resolução dos assuntos práticos e imediatos), estes últimos vistos
pela SRH/MMA como fóruns adequados para a avaliação do balanço disponibilidades/necessidades de água, planejamento
do uso múltiplo, assessoria técnica-econômica e gestão financeira-econômica. Tanto a elaboração do plano como a
formação de agências, conselhos e comitês deverão ser orientadas e incentivadas conforme princípios, diretrizes, critérios e
instrumentos da Política Nacional de Recursos Hídricos, da SRH/MMA e de organizações regionais como a CEEIVASF.
Parte da política de recursos hídricos do Vale considerada no documento Compromisso pela Vida do São Francisco
(SUDENE, 1995), coloca, de forma explícita, vários objetivos, que constituem também objetivos para a política de
planejamento e gestão, com destaque para:
a) Definir um modelo institucional para a gestão integrada da bacia do São Francisco, que envolva a participação
definida (conforme a incumbência de cada ator) e oportuna (conforme as exigências e possibilidades de cada um)
dos governos federal, estaduais e municipais;
b) Elaborar, em conjunto com as diferentes instâncias da administração e de forma integrada e complementar dos
setores público, privado e da sociedade civil organizada, um diagnóstico dos problemas que afetam o rio e seus
afluentes;
c) Elaborar, em conjunto, um plano diretor para a bacia e seus afluentes, dentro da perspectiva de integração com
bacias de outras regiões;
d) Dar continuidade aos estudos relativos ao projeto de transposição das águas do rio São Francisco, de acordo com
critérios de sustentabilidade para o uso múltiplo e dos diversos usuários dos recursos hídricos.
Diversas propostas e compromissos assinados pelo Brasil em conferências internacionais, principalmente, na
Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento (CNUMAD, 1995/ Agenda 21), auxiliam na
definição de um marco de referência para especificar os objetivos de uma política de planejamento e gestão de recursos
hídricos do Vale, entre as quais se relacionam as seguintes:
a) Elaboração de políticas para o desenvolvimento sustentável, mediante a integração entre meio ambiente e
desenvolvimento na tomada de decisões nos planos político, de planejamento e de manejo dos recursos naturais,
com a utilização eficaz de instrumentos econômicos e de incentivos de mercado (Capítulo 8 da Agenda 21). Nesta
proposta, a responsabilidade de planejamento e administração deve ser delegada às organizações regionais, e os
métodos [técnicas] nativos de administração de recursos naturais devem ser considerados sempre que possível. Um
dos meios de implantação é o fortalecimento institucional.
b) Promover regionalmente o combate à pobreza, o incentivo dos processos de geração de emprego e a melhoria de
renda para setores da população pobre, assim como o treinamento profissional e o aprimoramento dos sistemas
adequados de saúde e educação (Capítulo 3). A capacitação dos pobres para a obtenção de meios de subsistência
sustentáveis é uma área prioritária, com diversas atividades, uma delas é a delegação de poder às comunidades.
c) Promover padrões de consumo e produção que reduzam as pressões ambientais e atendam às necessidades básicas da
comunidade. Diversas atividades propostas no Capítulo 4, como o estímulo a uma maior eficiência no uso dos
recursos, redução ao mínimo da geração de resíduos, estímulo à reciclagem e redução do desperdício dos recursos
naturais, entre outras, contribuirão para a mudança dos padrões perdulários de consumo.
d) Mitigar os impactos negativos das atividades humanas sobre o meio ambiente e os impactos negativos das mudanças
do meio ambiente sobre as populações humanas, fazem parte da sustentabilidade, com atividades como as pesquisas
sobre a interação entre tendências, fatores demográficos e desenvolvimento sustentável (Capítulo 5).
25
Política para o planejamento e gerenciamento dos recursos hídricos
da Bacia do Rio São Francisco

e) Proteger e administrar os recursos de água doce. Neste sentido, o Capítulo 18 dessa Agenda traz referências
conceituais para a produção sustentável de alimentos e para o desenvolvimento rural integrado, bem como para o
manejo integrado dos recursos hídricos. Estas deverão ser consideradas no planejamento e gestão, prévios os testes e
as adequações do caso, quando necessário.
f) Deter a expansão dos processos de desertificação. As propostas contidas no Capítulo 12 dessa Agenda defendem a
erradicação da pobreza e a promoção de meios de subsistência alternativos, como a geração de empregos em regiões
áridas e semiáridas, onde os modos tradicionais de sobrevivência são frequentemente inadequados e insustentáveis
por causa da seca e da pressão demográfica.
f) No Capítulo 10 se sugere uma abordagem integrada do uso de recursos do solo, onde as questões do meio ambiente,
sociais e econômicas devem ser consideradas simultaneamente. Nessa abordagem se destaca o papel da pesquisa
para avaliar os impactos e riscos, bem como os custos e benefícios associados aos diversos usos dos recursos
naturais.
Com esta síntese de objetivos e com base na identificação sumária de problemas acima apresentados, se definem os
objetivos de políticas para o planejamento e gestão:
a) Elaborar um conjunto de diagnósticos integrados dos problemas físicos que afetam o rio, seus afluentes e a bacia,
dos problemas sociais e econômicos das comunidades que se relacionam com a problemática dos recursos hídricos
dessa bacia, e dos aspectos legais e jurídicos que se relacionam com a estrutura, uso, posse e manejo desses
ambientes e recursos, entre outros aspectos relacionados, para fundamentar os cenários sobre os quais se
estabelecerão as ações e as estratégias do planejamento e da administração desses recursos. Dentre tais estudos é
possível destacar alguns como:
- ordenamento e zoneamento dos recursos naturais e socioeconômicos, visando definir os critérios para orientar a
conservação e o manejo integrado dos recursos naturais;
- análise da problemática migratória sazonal à luz dos fatores determinantes e condicionantes, com vistas a identificar e
caracterizar as áreas de expulsão atual e as áreas de atração potencial, gerando os critérios necessários para definir
políticas dinamizadoras nas áreas deprimidas e de fortalecimento nas áreas receptoras e/ou potenciais.
b) Elaborar, em parceria com os setores público e privado e dentro da competência individual e coletiva, e com a
participação efetiva dos principais órgãos e instituições atuantes na região, um Plano Diretor para a bacia e seus
afluentes, abrangendo períodos de médio e longo prazos, dentro da perspectiva de integração com bacias de outras
regiões. Este Plano deverá ser a síntese e a integração dos diagnósticos, dos cenários atuais e prospectivos e dos
planejamentos setoriais integrados que assegurem, na fase que se segue à gestão, a necessária coordenação e
controle na alocação ordenada dos recursos hídricos nos diversos setores usuários. Deverá incluir, também, os
mecanismos de permanente atualização e adequação às novas realidades e exigências do Vale.
O Plano pressupõe negociações e acordos alicerçados em sistemas de informações, bases técnicas e tecnológicas
para orientar esses acordos, a organização e a formação do capital social para assumir os compromissos da
descentralização e outros e, principalmente, vontade política para dinamizar os processos de planejamento, integrá-
los no Plano e implementá-los na gestão.
c) Definir um modelo institucional para a implementação e implantação do Plano de gestão dos recursos naturais da
bacia que envolva a participação efetiva, definida e integrada na negociação dos governos federal, estaduais e
municipais, da sociedade civil organizada em conselhos, comitês e outras, e das instituições atuantes na região,
respeitando as características e as áreas de atuação ou de competência de cada um dos interessados. Este modelo tem
entre seus objetivos mediatos:
- a conservação dos recursos naturais da bacia, isto é, o se aproveitamento sustentável e a proteção de reservatórios que
perpetuem/renovem os fluxos hídricos,
26

E du ar do A. C . G arc i a

- a recuperação de sistemas degradados com base em critérios técnicos, tecnológicos, econômicos e ambientais
próprios; este objetivo pressupõe a formação de equipes multidisciplinares afins, atuações interdisciplinares
balanceadas/integradas e orientadas, e resultados transdisciplinares integrados para a solução desejada e possível,
- o crescimento econômico compatível com os potenciais, as limitações e as perspectivas das sub-regiões componentes
da bacia, bem como, consistente com as formas de organização e estruturação dos processos de crescimento, e de
uso e manejo adequado às condições das sub-regiões; este objetivo mediato poderá ser auxiliado pela P&D e pela
C&T que evidenciam os potenciais, minimizam as restrições, modernizam os sistemas, orientam a organização
social e administrativa e definem o manejo integrado dos recursos naturais,
- o aumento da oferta de emprego e melhoria do nível de renda e da qualidade de vida da população do Vale, em
consequência do crescimento econômico sustentável e distribuído, de mudanças na estrutura produtiva que garantem
a sustentabilidade do processo, e de ampliação ou melhoria da cobertura ou da infraestrutura dos serviços sociais
básicos das comunidades na Região,
- como objetivos dependentes da melhoria das condições sociais e econômicas, especificamente da geração de emprego,
do aumento da renda e de melhoria/aumento de serviços sociais no Vale, se têm a diminuição da emigração do setor
rural e de pequenas comunidades para os grandes centros urbanos, a redução das disparidades intra-regionais e a
incorporação de sub-regiões à economia regional e do País.
O objetivo é apresentar elementos de políticas para o planejamento e gestão dos recursos hídricos no Vale,
destacando elementos de um novo modelo de desenvolvimento, procurando obter subsídios do Latin Ameriacan Water
Forum para aperfeiçoar essa proposta.
Os subsídios poderão orientar-se na forma de críticas, sugestões e novas referências ou experiências para realizar as
mudanças ou para o aperfeiçoamento de técnicas e métodos considerados nesse novo modelo de gestão, ou ainda para
apontar inconsistências, erros ou omissões dos instrumentos propostos, e para obter o apoio financeiro às propostas futuras.

3 METODOLOGIA
Em termos gerais, o modelo proposto pauta-se na eficiência e eficácia, possíveis e desejáveis, dos processos
econômicos, com qualidade e sustentabilidade, dependentes dos recursos hídricos, consultando para tal, as características,
potencialidades e limitações do meio ambiente, sócioeconômicas e político-institucionais do Vale, de suas comunidades e
do entorno. Nesses processos se incorporam novos paradigmas da reestruturação do Estado, com a estratégia pautada pela
inserção da dimensão ambiental nas atividades econômica, social e política.
O Estado visto não mais como principal produtor e investidor na maioria dos setores mas sim, como coordenador e
formulador de princípios, diretrizes e critérios flexíveis e adequáveis para induzir e conduzir o processo (investidor apenas
em determinados setores de sua incumbência) de forma otimizada e sustentável, em parcerias com as associações
comunitárias e com a iniciativa privada, com ações descentralizadas e compartilhadas dos setores público e privado, e com
estratégias acordadas de associações com vantagens para todos.
O potencial de crescimento econômico não mais sustentado em vantagens comparativas e vantagens decorrentes da
extensão territorial e da dotação qualificada de recursos naturais, mas sim em ações e estratégias, aliadas às vantagens
relativas da dotação e qualificação de recursos naturais e da territorialidade, para evidenciar as vantagens da conservação e
proteção, das medidas preventivas e educativas, do capital social e da informação acurada e oportuna, bem como para
destacar as novas vantagens da associação, do compartilhamento de ações e responsabilidades e da integração com a
economia regional, nacional e mundial. Esse potencial derivado de/para as funções do rio, segundo a sinopse que segue,
27
Política para o planejamento e gerenciamento dos recursos hídricos
da Bacia do Rio São Francisco

deve ser acrescido e incorporado ao processo de crescimento, exigindo para tal que os planejamentos setoriais sejam
integrados/balanceados em um Plano Diretor.

- Controle de Enchentes (barragens, açudes..)


Abastecimento de água - Combinação e otimização de fontes hídricas
- Fontes alternativas de energia/comunidade

Geração de energia

CONHECE-LAS PARA; Melhoria da Navegação


Conserva-las Integração intermodal
Protegê-las
Drenagem da bacia Preservá-las
Valorizá-las
Fortalece-las
Tecnologias para irrigação/agricultura
Agricultura (41,6%); Irrigação FUNÇÕES Manejo Integrado de recursos naturais
(4,2%) Unidades de conservação e proteção
do Rio
Tecnologia para a piscicultura
Piscicultura
rio
Ecoturismo
Paisagismo
Diagnósticos para os planejamentos
Ecológica: Planejamentos integrados no Plano
Suporte à vida (à biota) Plano Diretor para a gestão
Navegação Regulador de processos Gestão para a conservação
Conservação para o bem coletivo

A definição de políticas de planejamento e gestão deve ser realizada com base em amostras consistentes da
realidade, analisadas e integradas em cenários estratégicos. No atual “estado” da arte, em geral, esses cenários não se
encontram adequadamente caracterizados para os propósitos de tomada de decisões na gestão. É necessário, por tanto,
complementar a atual base de dados e informações utilizando técnicas e métodos modernos e exeqüíveis, entre outros, as
dos sistemas de informação geográfica (SIG).
No levantamento e consulta das características, condicionantes e possibilidades para se definir políticas e um novo
modelo de planejamento e gestão dos recursos naturais é mister relacionar e caracterizar os fatores componentes dos
cenários, tais como: físicos (climáticos, hidrológicos, solos, geomofológicos, hidrogeológicos, topográficos etc.), sócio-
econômicos (demográficos, socio-culturais, sistemas de produção, pólos industriais, agroindustrias, agrícolas, hidrelétricos,
irrigação, pesqueiros, turísticos etc.), ambientais (potenciais, aptidões, limitações, vulnerabilidades etc.), pesquisa e
desenvolvimento (P&D) e ciência e tecnologia (C&T) para incorporar com eficiência e sustentabilidade os potenciais e
debelar/mitigar as restrições e limitações de uso e manejo dos ambientes e recursos naturais, e político-institucionais-
financeiros para conduzir e viabilizar todos este processo de desenvolvimento.

3.1 Descrição Geral da Bacia do São Francisco


28

E du ar do A. C . G arc i a

A bacia do rio São Francisco se encontra entre os paralelos 7 o. e 21o. de latitude sul, o que determina características
climáticas variadas, com chuvas que vão de 350 a 1.600mm e temperaturas médias de 18 a 27 o.C.
A área total de drenagem de 645.067km2 (IBGE, 1994) ou 631.133km2, (Projeto ARIDAS, 1995), corresponde a
aproximadamente a 7,5% do território brasileiro, sendo que 61,8% ou 389.900km 2 se localiza no Nordeste, 237.045km2
(37,5%) no Sudeste e 4.188km2 (0,7%) no Centro-Oeste (Goiás e Distrito Federal) (Souza & Mota, 1994). Da área da bacia
situada no Nordeste, 300.263km2 (47,6% do total ou 77,0% da área do Nordeste) se situa no Estado da Bahia e cerca de
14,0% nos Estados de Pernambuco, Alagoas e Sergipe ( TABELA 3).

3.1.1 Características físiográficas


O Vale é uma área diferenciada no espaço do Nordeste, com mais da metade de seu território, em torno de 56%,
inserida no Polígono das Secas. O Polígono4, reconhecido pela legislação como sujeito a repetidas crises climáticas e que
deveria ser objeto de providências especiais por parte dos Governos, tem uma área de 353.435km 2 (Projeto ARIDAS,
1995).
__________________
4 A Área circunscrevia-se, até 1933, a parte dos Estados de Ceará, da Paraíba e do Rio Grande do Norte, excluídas até mesmo as respectivas
capitais,(Secas do Ceará). Por força do art. 177 da Constituinte de 1934, a área de atuação do Governo Federal foi ampliada. A Lei no. 175 de 07/01/36
ampliou o campo de aplicação de recursos com a definição do Polígono das Secas com uma área de 1.150.662km2. Os constituintes de 1946 modificaram
a Carta de 1934, com a introdução do conceito Secas do Nordeste. Outras disposições, tais como os decretos-lei nos. 8.486 e 2.284 (28/12/45), e 9.857
(13/09/46), as leis nos. 1.348 (10/10/51), 3.692 (15/12/59), 4.239 (27/06/63), 4.762 (30/08/68), 5.508 (11/10/68) e 61.544 (17/10/67), os decretos n os.
52779 (29/10/63), 57.427 (14/12/65), 62.214 (1/02/68) e 46.237 (12/06/59), e as portarias ministeriais n o. 27 (9/02/68) e no. 23 (01/01/69), modificaram a
área estendendo os benefícios a um maior número de habitantes. O Fundo Constitucional de Financiamento do Nordeste (FNE) (27/09/89) elegeu a
isoieta média anual de 800mm com fator de delimitação do semiárido; este fator tem-se revelado insuficiente e de aplicação inadequada (Souza et al.,
1994).

Ao longo do período 1933/96 o Polígono tem experimentado significativas mudanças por força de legislações
acomodadas a interesses circunstanciais e orientadas, aparentemente, para a luta contra a seca em lugar da procura do
convívio e da harmonia do homem com ela5, assimilando, com base no conhecimento dessa realidade, essas crises. Nesse
Vale é possível diferenciar quatro sub-regiões fisiográficas sumariamente delimitadas e descritas na FIGURA 2.
A seguir se apresentam dados e informações de aspectos físiográfico, climático, hidrológico, do solo, demográfico e
socioeconômico.

3.1.2 Clima
As características climáticas do Vale são determinadas por vários fatores, entre eles:
a) A configuração orográfica, com efeito visível na distribuição das temperaturas médias, coincidindo os maiores
índices na calha do rio São Francisco; para uma e outra margens, as temperaturas diminuem por efeito da altitude
(Codevasf, 1989).
- o Alto São Francisco, da nascente até Pirapora, com altitude de 600 a 1.600m, apresenta clima úmido e subúmido,
com chuvas no verão e inverno seco; as precipitações médias anuais variam entre 1.200 e 1.500mm e a temperatura
média situa-se em torno de 23,0o C.
29
Política para o planejamento e gerenciamento dos recursos hídricos
da Bacia do Rio São Francisco

- o Médio São Francisco, entre Pirapora e Remanso, com altitude de 400 a 1.000m, apresenta um clima subúmido seco
e semi-árido, com chuvas de verão e precipitações médias anuais que variam de 600 - 800mm, na planície oriental, a
1.400mm no limite oeste da bacia ao longo Serra Geral de Goiás, sendo a temperatura média anual de 24,0 o C.
- o Submédio São Francisco, entre Remanso e Paulo Afonso, com altitude de 300 a 400m; o clima apresenta-se árido e
semiárido, com regime de chuvas muito irregular variando entre 350 e 800mm, conforme a altitude. A temperatura
média anual é de 26,5o C.
- o Baixo São Francisco, entre Paulo Afonso e a foz, com altitude de 0 a 300m e precipitação entre 400 a 1.300mm; o
clima é semiárido no interior, modificando-se para sub-úmidoúmido em direção à foz do rio.
b) Diferentes massas de ar com movimentações orientadas NE - SW na primavera e verão e E - W no outono e inverno.
A região apresenta baixo índice de nebulosidade, permitindo a alta incidência de radiação solar (Codevasf, 1994).
Em função das elevadas temperaturas médias anuais, da localização geográfica intertropical e da reduzida
nebulosidade na maior parte do ano, a evapotranspiração potencial é muito alta acompanhando as variações de
temperatura, com os maiores índices (2.140mm) no Subúmido São rancisco, descendo para 1.300mm na zona alta do limite
norte do Vale.
________________
5José Guimarães Duque (Queiroz, 1980) conhecedor da zona semi-árida nordestina, não conseguiu ser ouvido na sua advertência de que é mais fácil
aprender a conviver com a seca, do que lutar contra ela, procurando frutos da aridez da harmonia com a natureza (DNOCS, 1959)

Ceará

Submédio
São Francisco

Petrolina

Piauí Baixo
Juazeiro
São Francisco

Sergipe
Barreiras

Médio
Goiás São Francisco

Bom Jesus
da Lapa

REGIÕES FISIOGRÁFICAS DO VALE DO SÃO FRANCISCO a

1 - O Alto São Francisco. Desde as cabeceiras no município de São


Bahia Roque, Serra da Canastra (MG), até a cidade de Pirapora (MG),
com o relevo mais acidentado e com altitudes que atingem os 1.600
msnm (600 a 1.600 msnm), com declividades que oscilam entre 0,2
DF a 0,7 m/km; a evaporação média de 2.300mm, umidade relativa de
76% e luminosidade de 2.400h. O regime pluvial é intensivo com
chuvas variando de 1.200 a 1.900 mm/ano. A vegetação é de
floresta e cerrado e o clima é tropical-úmido, com temperaturas
médias de 23,0o.C. Compreende a região de maior densidade
populacional do Estado de Minas Gerais das sub-bacias dos rios das
Velhas, Pará, Indaiá Abaeté e Jequitaí.

2 - O Médio São Francisco, entre as cidades de Pirapora e Remanso


Minas (BA). As altitudes variam entre 500 (nas planícies) e 1.000 msnm,
com fortes variações de nível e com potencial de aproveitamento
Gerais hidrelétrico e declividades médias entre 0,2 a 0,1 m/km; evaporação
média é de 2.900mm, umidade relativa de 60% e luminosidade de
3.300h. A precipitação oscila entre 400 a 1.600mm. A vegetação é
de cerrado-caatinga e o clima é tropical semi-árido. Neste trecho se
encontram as sub-bacias dos afluentes Pillão Arcado, Jacaré,
Paracatu, Carinhanha, Correntes, Grande, Verde Grande e
Paramirim.

3 - O Submédio São Francisco compreendido no trecho entre as cidades


de Remanso e Paulo Afonso, abrangendo, portanto, áreas dos
Estados da Bahia e Pernambuco. As altitudes variam entre 200 a
500 msnm e declividades entre 0,10 a 0,3 m/km; a evaporação
média é de 3.000 mm, umidade relativa de 60% e luminosidade de
30

E du ar do A. C . G arc i a

Belo
Horizonte
Alto
São Francisco

FIGURA 2 - Regiões fisiográficas do Vale do São Francisco a

a Fonte: Informação primária obtida da Codevasf (1994)

TABELA 3 - Características físicas regionais do Vale do São Francisco a

CARACTERÍSTICA ALTO MÉDIO SUBMÉDIO BAIXO


S
(Canastra- (Pirapora-Sobradinho) (Sobradinho-P.Afonso) (P.Afonso-O.Atlântico)
Pirapora)

Altitude 1.600-600 1.000-500 500-200 200-0

Vento (m/s) SE - 3 NE - 4 SE - 4 SE 4

Umidade (%) 76 60 60 73

Luminosidade (h) 2.400 3.300 2.700 2.400


31
Política para o planejamento e gerenciamento dos recursos hídricos
da Bacia do Rio São Francisco

Nebulosidade (0 a 10) 5 4 4 5

Evaporação (mm) 2.300 2.900 3.000 2.300

Precipitação (mm) 1.900 a 1.200 1.600 a 400 600 a 350 1.200 a 500

Estação chuvosa Nov. a abr. Nov. a abr. Nov. a abr. Mar. a set.

Vegetação Floresta e Cerrado Cerrado e Caatinga Caatinga Caatinga e Mata

Clima Tropical úmido Tropical Semi-árido Tropical Semi-árido Tropical Semi-árido

Declividade (m/km) 0,70 a 0,20 0,20 a 0,10 0,10 a 0,30 3,10 a 0,10

a Fonte: Codevasf (1989) complementado com dados de Portobrás, citadas por Araújo (1996)

Esta elevada evapotranspiração não compensada pelas chuvas determina o déficit do balanço hídrico do solo durante
todo o ano na região árida. Esse déficit diminui com o afastamento da zona árida, não sendo inferior a três meses, mesmo
no extremo sul da bacia.
Desta forma, as culturas anuais na época seca só são possíveis com irrigação.
Os valores médios anuais de umidade relativa se situam entre 60 e 80%, com os valores mais altos nas proximidades
da foz. Para o caso do semi-árido, o clima é, por vezes, úmido, outras, desértico e algumas vezes o meio termo.
Na sub-região do Baixo São Francisco o clima tem sido caracterizado pela insuficiência e evidente irregularidade
temporal e espacial das chuvas, temperaturas elevadas, fortes taxas de evaporação e dominante déficit no balanço hídrico.

3.1.3 Hidrologia
O rio São Francisco tem 36 tributários, dos quais 19 são perenes, com uma descarga média anual no oceano
Atlântico em torno de 90 bilhões de m3 de águas drenadas de extensas e distintas regiões hidrográficas do Vale.
As principais características dessa rede são apresentadas na TABELA 4 e FIGURA 3, enquanto que a FIGURA 4
apresenta o perfil longitudinal do rio São Francisco.
As áreas de drenagem destes afluentes, com excecão do rio Verde Grande, estão situadas na região não abrangida
pelo Polígono das Secas que, apesar de representar cerca de 44,0% da área total da bacia, são responsáveis por 85,0% dos
deflúvios de estiagem e 74,0% dos deflúvios da bacia, que ocorrem na seção de Traipu (Silva, 1996).
A distribuição irregular das disponibilidades hidrológicas superficiais obedece a um conjunto de fatores, tais como:
extrema variabilidade de ocorrência de chuvas no tempo e no espaço; condições climáticas severas nas regiões semi-áridas,
com uma evaporação muito intensa durante todo o ano; fatores geomorfológicos, em particular a impermeabilidade dos
solos cristalinos que, junto a fatores de vegetação promovem o escoamento superficial.

a
TABELA 4 - Principais características da rede hidrográfica do Vale do São Francisco
32

E du ar do A. C . G arc i a

RIOS ESTAÇÕES VAZÕES MÉDIAS ANUAIS (m3/s)

ÁREAS DRENAGENS (km2) b Rendimentos Específicos (l/s/km2)

- São Francisco Três Marias e Pirapora 707 e 768

(De montante a jusante) 49.750 e 61.880 14,21 e 12,41

Barra do Jequitaí e Cach. Manteira 1.015 e 1.132

90.990 e 107.070 11.16 e 10,57

São Romão e São Francisco 1.520 e 2.082

153.702 e 182.537 9,89 e 11,41

Januária e Manga 2.168 e 2.050

191.700 e 200.789 11,31 e 10,21

Carinhanha e Morpará 2.207 e 2.421

251.209 e 344.800 8,79 e 7,02

Barra e Juazeiro 2.652 e 2.731

421.400 e 510.800 6,29 e 5,35

Pão de Açúcar e Traipu 2.847 e 2.980

608.900 e 622.600 4,68 e 4,79

Margem esquerda: Porto Alegre e Barra do Escuro 436 e 251

- Paracatu e Urucuía 41.709 e 24.658 10,45 e 10,18

- Carinhanha e Corrente Junenília e Porto Novo 150 e 251

15.832 e 31.120 9,47 e 8,07

- Grande Boqueirão 262

61.900 4,23

Margem direita: Porto Mesquita e Várzea da Palma 140 e 292

- Paraopeba e Das Velas 10.300 e 25.940 13,59 e 11,26

- Jequitaí e Verde Grande Jequitaí e Boca da Caatinga 46 e 19

6.811 e 30.174 6,75 e 0,63

a Fonte: DENAEE citada pela Codevasf (1989) b Área de drenagem controlada pela estação
33
Política para o planejamento e gerenciamento dos recursos hídricos
da Bacia do Rio São Francisco

Um balanço preliminar das águas meteóricas indica que dos volumes precipitados na bacia, em média, 84,0% são
consumidos pela evaporação e evapotranspiração, 11,0% se escoam através dos cursos de água e 5,0% realimentam os
aquíferos.
Analisando os coeficientes de escoamento das áreas de drenagem dos principais tributários, se observam variações
entre 11,0% a 32,0%, com os seguintes valores: Paracatu (32,0%), Carinhanha (29,0%), Rio das Velhas (29,0%), Corrente
(25,0%), Jequitaí (17,0%) e Grande (11,0%).
O regime anual das enchentes caracteriza-se por apresentar cheias no verão e estiagens no inverno, sendo que as
enchentes do rio são oriundas, basicamente, de grandes contribuições das regiões do Alto e Médio cursos, provenientes de
áreas de drenagem à montante de Pirapora (29,0%), dos rios das Velhas (18,0%), do Paracatu (19,0%) e do Urucuia
(11,0%), as quais totalizam 77,0% da vazão total do rio. Os 23,0% restantes são aportados pelos rios Jequitaí, Correntes,
Carinhanha, Grande, Verde Grande e escoamentos de áreas não controladas (Codevasf, 1989, p. 141-144).
Registros de vazões afluentes à Juazeiro, durante o período de 1930 a 1980, indicam que em 35,0% desse período os
registros foram superiores a 2.800 m3/s, enquanto que em 65,0%, as vazões foram inferiores a 2.800m3/s. Esta informação é
importante para definir níveis de comprometimento da vazão em horizontes de planejamento de longo prazo.

Ceará

21
15
E 16
Piauí
19 20

F
11
D 14
Sergipe
10 13
C 12

Principais tributários e sub-bacias de drenagem


Goiás 9 do rio São Francisco
1 = Rio São Francisco; 2 = Rio Paraopeba ; 3 = Rio das Velhas;
4 = Rio Paracatu ; 5 = Rio Preto ; 6 = Rio Verde Grande; 7 = Rio
Carinhanha ; 8 = Rio Correntes ; 9 = Rio do Meio ; 10 = Rio Grande; 11
= Rio Preto ; 12 = Rio Verde ; 13 = RioJacaré; 14 = Rio Salitre ;15 = Rio
Pajeú; 16 = Rio Moxotó; 18 = Reservatório Três Marias; 19 = Reservatório
de Sobradinho; 20 = Reservatório de Paulo Afonso; 21 = Reservatório de
8 Moxotó
Bahia
Disponibilidade Hídrica Superficial
QM Q7,10 QR
(m3/s) (m3/s) (m3/s)
7 A = Pirapora
B = São Francisco
C = Morpará
D = Barra
E = Juazeiro 2.250
F = Traipu
34

E du ar do A. C . G arc i a

6
DF
785 125
1.845 292
5 B 2.430 585
2610 718
2.742 754
2.945 810
Minas
A
Gerais
4

VALE DO SÃO FRANCISCO E PRINCIPAIS SUB-BACIAS DE DRENAGEM POR


TRECHOS
Trecho Sub-bacia Área Regime Sub-bacia Área Regime

1o. São Franc. 26.621 Perene Pará 12058 Perene


Paraopeba 13549 Perene das Velhas 27900 Perene
18 Indaiá 2981 Perene Borrachudo 1727 Perene
3 Abaeté 6435 Perene Jequitaí 8697 Perene

2o. Paracatú 47764 Perene Pacuí 16273 Perene


Urucuia 24107 Perene Pandeiros 10568 Perene
Verde Grande 40955 Perene Carinhanha 27108 Perene
das Rãs 16057 Intermit. Corrente 42179 Perene
S.Onofre 6034 Intermit. Grande 82902 Perene
1 2 Paramirim 19604 Intermit. Verde 20611 Intermit.
Jacaré 20642 Intermit. Pilão Arc. 16468 Intermit.

3o. Jibóia 14238 Intermit. Salitre 16818 Intermit.


Garças-Pontal 13991 Intermit. Curaçá 12480 Intermit.
Macururé 10465 Intermit. Brígida 13816 Intermit.
Ouricuri 7227 Intermit. Pajeú 17229 Intermit.
Moxotó 12243 Intermit.

4o. Do Sal 8125 Intermit. Capia 5572 Intermit.


Ipanema 8162 Perene Traipu 5972 Perene
Betume 5006 Perene

a
FIGURA 3 - Principais tributários e sub-bacias de drenagem do rio São Francisco e

a
Fonte: Informação primária obtida da Codevasf (1994) e DNAEE (1985)

ALTITUDE (m)

C
a
s
c
a


Á
n
t
a
35
Política para o planejamento e gerenciamento dos recursos hídricos
da Bacia do Rio São Francisco

1.000 M
a
r
P e
a c
u h
P l a
i o l
750 r J
a u A F
p a f l
o z
r
Trecho Navegável o o
e n r
a i s i
r o a
o n
500 o

250 Trecho
Navegável

F
o
z

4 8 1 1 2 2 km de extensão
0 0 2 6 0 4
0 0 0 0 0 0 0
0 0 0 0

a
FIGURA 4 - Perfil longitudinal do rio São Francisco destacando os trechos navegáveis

a Fonte: Codevasf (1989)

À jusante do posto São Francisco, em Juazeiro, com uma área de drenagem três vezes superior e para o mesmo
período de retorno, a vazão foi muito próxima (9.564 m3/s: LN ou 9.734/m3/s: LP). Para o aumento de 110 mil km2 entre
Juazeiro e Traipu, a análise hidrológica mostrou uma maior variabilidade, isto é, a curva de freqüência aumenta sua
inclinação.
Em 25% dos anos as vazões foram inferiores a 500m3/s, com um mínimo de 303m3/s no mês de outubro. Cerca de
50% do tempo as vazões foram inferiores a 620 m3/s e 75% inferiores a 815 m3/s. Na cidade de Pirapora, onde os
requerimentos para navegação são de 500 m3/s, foi estimada a freqüência de meses com vazões inferiores, de 3 a 8 meses
(antes da construção da barragem de Três Marias).
As principais enchentes ocorridas na bacia foram registradas nos anos de 1946, 1949, 1975, 1979 e 1985. Dessas
enchentes, a de 1975 foi a mais severa, a de 1979 já teve seus efeitos amortizados pelo reservatório de Sobradinho e a de
1985, esteve localizada a jusante dessa barragem. No lado oposto se tem o fenômeno das secas extraordinárias, visto pela
análise das vazões mínimas mensais. Uma análise apresentada no relatório técnico RTE 86/16 - Recursos hídricos
36

E du ar do A. C . G arc i a

superficiais do Planvasf (1988), mostra-se que as vazões mínimas, no posto da Manga, ocorreram, principalmente em,
setembro.

TABELA 5 - Estimativas dos períodos de retorno de cheias diárias, em m3/s,do rio São Francisco a

POSTO DISTRIBUIÇÃO b PERÍODO DE RETORNO (Anos)

10 25 50 100

São LN 9.902 11.422 12.524 13.606


Francisco
LP 10.042 12.072 13.701 15.432

Carinhanha LN 9.635 10.928 11.854 12.754


LP 9.781 11.699 13.267 14.691

Morpará LN 9.324 10.637 11.582 12.504


LP 9.480 11.666 13.543 15.651

Barra LN 9.585 10.779 11.629 12.450


LP 9.728 11.682 13.322 25.128

Juazeiro LN 9.564 11.027 12.089 13.132


LP 9.734 12.004 13.925 16.058

Traipu LN 11.325 13.249 14.663 16.062


LP 11.544 14.491 17.012 19.837

a b
Fonte: Ceeivasf (1981); Distribuição Log-normal (LN); Distribuição Log-Perason III (LP)

Um aspecto importante que deve ser avaliado e considerado na política de planejamento e gestão dos recursos
hídricos diz respeito as disponibilidade de águas subterrâneas. Essas águas, no Vale do São Francisco, ocupam diferentes
tipos de reservatórios, desde as zonas saturadas do substrato pré-cambrico, até depósitos quaternários recentes.
As reservas e potenciais de águas subterrâneas no Vale são agrupadas em nove províncias, das quais 4 são
importantes para o abastecimento de água no consumo doméstico e hidroagrícola, destacando-se os aqüíferos não
confinados, contínuos, com porosidade e condutividade hidráulica intersticial. Além desses aluviões se registram, também,
Dunas e Coberturas Detríticas, conforme se indica e sintetiza no QUADRO 2 (Codevasf, op. cit.).
QUADRO 2 - Principal potencial hidrogeológico do Vale do São Francisco a
37
Política para o planejamento e gerenciamento dos recursos hídricos
da Bacia do Rio São Francisco

PROVÍNCIA RESERVA
HIDROGEOLÓGICA EXPLORÁVEL
b LOCALIZAÇÃO

- Aluviões e Dunas Litorâneas 1.630 Ao longo dos principais cursos d’água e nas
proximidades da foz do rio

Coberturas Detríticas das 477 Serra de Tabatinga, entre a Serra do Esteiro e o rio
Depressões Sanfranciscanas São Francisco, do rio Grande até Pilão Arcado e
entre Bom Jesus da Lapa e Barra

Chapadas Areníticas 5.668 Sertões sergipanos e alagoanos, entre o São


Francisco e o Varra Barris, nordeste da Bahia,
bacias dos rios Preto, Paracatu e Prata e Chapada
da Araripe

Zonas aqüíferas Cársticas 780 Platô do Irecê, Alto e Médio São Francisco

a Fonte: Codevasf (1994, p. 21). b Dados em unidades de 10.000.000 m3/ano

3.1.4 Solos
A variedade de solos é o resultado da diversidade de formações geológicas, de condições topográficas e de
interferências climáticas, condicionando a ocorrência das feições vegetais, permitindo diferenciar pelo menos três zonas,
apresentadas a seguir (Anexo):
a) No Alto e Médio São Francisco, há predominância de latossolos e solos podzólicos (com aptidão para a agricultura
irrigada), encontrando-se, também, areias quartzosas. Na área montanhosa são freqüentes os cambissolos e os
litossolos, que apresentam cobertura vegetal tipo cerrado, ocorrendo vegetação tipo caatinga nas áreas de menor
precipitação pluviométrica.
b) No Submédio São Francisco predominam os solos brunos não cálcicos, regossolos, litossolos, areias quartzosas,
planossolos, vertissolos, cambissolos e solonetz solodizados, sendo a área do Vale com os menores potenciais de
solos e reduzidas possibilidades de irrigação.
c) No Baixo São Francisco predominam os solos podzólicos, latossolos, litossolos, areias quartzosas e solos
hidromórficos, sendo que a agricultura irrigada está condicionada a fatores de topografia e drenagem.
Margeando todo o rio São Francisco e seus afluentes encontra-se a faixa de solos aluviais, cuja utilização agrícola
requer estudos e tecnologias apropriadas dada a incidência de inundações.
Em solos situados em regiões de baixa precipitação pluvial e com lençol freático próximo da superfície, há riscos de
salinização. Desta forma, solos situados no semi-árido, quando submetidos à prática da irrigação, apresentam possibilidades
de se tornarem salinos, a curto prazo, desde que não possuam um sistema de drenagem subterrânea adequada. Estima-se
que de 20 a 30% das áreas irrigadas, em regiões áridas e do Vale (Codevasf, 1994), necessitam drenagem subterrânea para
manter sua produtividade.
Em estudo da Utilização compatibilizada dos recursos hídricos da Bacia do São Francisco para múltiplas
finalidades, citado pelo IMIC (1994), conclui-se que a disponibilidade de terras irrigáveis no Vale está muito acima das
38

E du ar do A. C . G arc i a

suas disponibilidades hídricas, mesmo considerando apenas as demandas atuais para outros fins. O estudo conclui que o
“fator restritivo da irrigação .... , no que tange aos recursos naturais, não é a disponibilidade de terras, mas sim de água”.
Desta forma, o potencial de solos irrigáveis está muito além das disponibilidades hídricas e o estabelecimento de um
programa de aproveitamento de 1,8 milhões de ha, deverá inserir-se num plano integrado de desenvolvimento dos seus
recursos hídricos, para evitar conflitos entre os diversos setores. Ao referir-se ao Projeto de Transposição de Águas do São
Francisco conclui-se que este deve ser colocado em um contexto mais amplo [holístico] de um Plano de Utilização
Integrado de Recursos Hídricos em um horizonte de longo prazo que forneça uma ordenação de prioridades; dar prioridade
ao aproveitamento dos recursos hídricos ainda não explorados e economicamente aproveitáveis das próprias bacias antes de
utilizar água importada de transposições.
No Vale, a maioria das áreas apresenta declividade menor de 6%, reduzindo, portanto, os riscos de erosão, com
favoráveis condições para a implantação de projetos de irrigação, considerando as conclusões acima indicadas.
Quanto a ocupação dos solos do Vale (Codevasf, 1994), em torno de 7,3% se encontra com vegetação florestal de
florestas ombrófila densa e ombrófila aberta (noroeste do estado de minas gerais) e florestas estacional semidecidual e
decidual (oeste do estado da Bahia).
No que se refere à vegetação campestre, destacam-se o cerrado (34,0% da área total) e caatinga (21,0%). Outras
áreas são de refúgio ecológico/preservação (1,0%) e reflorestamento (0,9%).
A grande maioria das terras, 92,8% da área total ou 623.780 km2, tem ocupação ou vocação, para atividades agro-
silvo-pastoris, podendo-se diferenciar grupos, tais como: zona úmida (39,1% ou 243.935 km2), zona subúmida (22,5% ou
140.983 km2), zona semi-árida (18,2% ou 113.672 km2) e zona árida (20,1% ou 125.189 km2)

3.1.5 Demografia
Em 1996, o Vale estava composto de 463 municípios, dos quais 82,5% com sua área total na bacia e 50,1% na bacia
e no Polígono das Secas. Conforme dados do censo populacional do IBGE de 1991, cerca de 23,8 milhões habitavam a
região com 635,3 mil km2, com uma densidade demográfica de 37,5 hab/km2 (53,8% da população dos sete Estados).
Outras informações são apresentadas na TABELA 6.
Um aspecto de interesse no planejamento e gestão dos recursos hídricos se refere à dinâmica demográfica, com
estimativas, dentro da caracterização de cenários, de projeções de fenômenos vitais (taxas de natalidade e mortalidade) e de
índices migratórios da população determinando esvaziamentos (por exemplo no Alto São Francisco: Montes Claros e
Januária), reduzidos crescimentos rurais (Petrolina) e a generalizada urbanização do Nordeste (IBGE, 1994).
Com efeito, na década de 60, os emigrantes do setor rural foram de 4,1 milhões, dos quais 42,0% ficaram no meio
urbano regional. Na década de 70, aquela quantidade foi de 4,7 milhões, com maior poder de absorção urbano na região
(63,0%). Isto significa que o meio rural nordestino tem revelado baixa e decrescente capacidade de retenção relativa do
crescimento vegetativo de sua população, passando de 28,0%, na década de 60, para 16,0% na década de 70, sendo
negativa na década de 80.
O crescimento demográfico regional deverá continuar sua trajetória declinante, estabilizando-se em torno de um
índice de crescimento de 1,0% na década de 2010-2020, quando a população esperada poderá ser de 60,0 milhões,
concentrada em centros urbanos (urbanização de 80,0%). Nesse cenário tendencial há outros indicadores demográficos,
sociais e econômicos que se traduzem em desconcentração de pólos de atração, menores índices de mortalidade, maiores
níveis de renda e emprego, e ampliação da infra-estrutura e cobertura dos serviços de abastecimento de água e saneamento
básico na região (TABELA 7).
39
Política para o planejamento e gerenciamento dos recursos hídricos
da Bacia do Rio São Francisco

O efeito será uma forte pressão de aumento da demanda de água a ser alocada entre usos alternativos, setores
competitivos e sub-regiões ou ambientes estratégicos, impondo-se, assim, medidas de conservação para disciplinar o seu
uso prioritizado e orientar o seu manejo de forma integrada e com base em índices da capacidade de suporte ambiental.

TABELA 6 - Área e população dos municípios das Unidades da Federação que

compõem a bacia do rio São Francisco a

POPULAÇÃO ÁREA
ESTADO (Mil habitantes em 1991) (Mil km2)

( MUNICÍPIOS ) TOTAL TOTAL no VALE TOTAL


(1993) URBANA URBANA no TOTAL no VALE
VALE
[Municípios no Vale; % ] RURAL TOTAL no Pol. das. Secas; %
RURAL no VALE

Minas Gerais b 15.731,9 6.856,0 588,4


( 787 ) 11.776,5 5.644,5 235,6
[ 237; 28,0 ] 3.955,4 1.211,5 92,7; 39,3%

Bahia 11855,1 2.518,1 567,3


( 415 ) 7.7007,7 1.060,5 304,3
[ 114; 27,5 ] 4.847,4 1.457,6 218,5; 71,8%

Distrito Federal 1.598,4 1.598,4 5,8


(1) 1.513,5 1.513,5 1,3
[ 1; 100,0] 84,9 84,9 0

Goiás 4.012,5 94,2 341,3


( 232 ) 3.241,1 71,4 3,0
[ 3; 1,3 ] 771,4 22,9 0

Pernambuco 7.122,5 1.571,0 98,9


( 177 ) 5.046,5 729,1 69,3
[ 65; 36,7 ] 2.076,0 841,9 69,3; 100,0%

Sergipe 1.491,9 254,4 22,0


( 75 ) 1.001,9 116,3 7,3
[ 26; 34,7 ] 489,9 138,1 5,9; 78,1%

Alagoas 2.513,0 966,7 27,9


( 100 ) 1.481,1 432,2 14,3
40

E du ar do A. C . G arc i a

[ 49; 49,0 ] 1.031,9 534,5 12,2; 85,3%

TOTAL 44.325,5 23.858,9 1.651,7


( 1.787 ) 31.068,4 9.567,6 635,3
[ 495; 26,7 ] 13.257,0 4.291,4 401,1; 63,1%

a Fonte: Codevasf - 20 anos de sucesso (1994. b Parcialmente atualizado 1995/96

TABELA 7 - Estimativa de indicadores básicos de um cenário tendencial


para o Nordeste no horizonte 1994 - 2020 a

INDICADOR ANO OU PERÍODO

1994 1995/2000 2000/2010 2010/2020

População (Milhões de habitantes) 44,8 48,8 54,6 60,6

PIB (Bilhões de US$ de 1990) 58,1 77,9 139,5 238,3

PIB per capita (US$) 1.298 1.597 2.556 3.933

Crescimento do PIB (%) - 5,0 6,0 5,5

PEA (Milhões de pessoas) 6,4 7,9 11,6 16,8

Pobreza (Milhões de pessoas) 23 22 18 15

Incidência pobreza (% população) 51,0 45,0 33,0 25,0

Índice de urbanização (%) 62,0 65,0 72,0 80,0

Expectativa de vida (Anos) 59 64 67 69

Analfabetismo (% Pop. > 15 anos 36 30 25 20

Abastecimento água (% domicílios) 42 48 60 75

a Fonte: Projeto ARIDAS (1995). Uma estratégia de desenvolvimento sustentável

A exploração para a explotação de um aqüífero aluvial depende, em grande parte, das condições de operação, da
intensidade de explotação e do manejo dos mananciais superficiais interrelacionados ou integrados com os aqüíferos, sendo
que perturbações em um poderão traduzir-se em efeitos nocivos no outro.
41
Política para o planejamento e gerenciamento dos recursos hídricos
da Bacia do Rio São Francisco

3.1.6 Aspectos socioeconômicos


Os diagnósticos setoriais da infraestrutura econômica são importantes fontes de informações para a definição de
cenários, sobre os quais se definem, por sua vez, os planejamentos a integrar no Plano Diretor executado na gestão. Desses
aspectos, as modalidades de transporte (rodoviário, ferroviário, hidroviário e aeroviário) e a energia são fundamentais para
o desenvolvimento do Vale.
A região utiliza comercialmente três fontes de energia primária: hidráulica, lenha e cana-de-açúcar. No tocante a
energia secundária, a sua produção é relativamente diversificada, abrangendo usinas hidroelétricas, refinaria de petróleo,
usinas de álcool e numerosas carvoarias.
Do complexo econômico se relaciona, de forma sintética, parte das atividades do setor primário, onde se preveem
vantagens para a irrigação, apoiada na sua capacidade de gerar desdobramentos no âmbito dos serviços e do complexo
agroindustrial, na viabilização de crescimento desconcentrado e no valor da produção irrigada, 13 vezes superior ao valor
da agricultura de sequeiro, por unidade de superfície, segundo estimativas do Brasil (1994).
A água do rio São Francisco é considerada ótima para irrigação, apesar de insuficientes para o potencial de solos
irrigáveis. Por outro lado, os solos não são contínuos na sua aptidão para a agricultura irrigada. No atual “estado”
tecnológico, a aptidão dos solos (44,9% da superfície do Vale) para a agricultura irrigada no Vale se apresenta na TABELA
8.

TABELA 8 - Aptidão dos solos para a agricultura irrigada no Vale do São Francisco a

ESTADO APTOS b ESTUDOSb INAPTOSb TOTAL b


( A ) (A/B, %) (B)

Minas Gerais 10.534 (41,6) 1.175 13.608 25.317

Bahia 17.592 (54,0) 1.844 13.146 32.582

Pernambuco 1.630 (22,7) 470 5.067 7.167

Alagoas 405 (24,8) 501 725 1.631

Sergipe 150 (18,5) 127 532 809

Total 30.311 (44,9) 4.117 33.078 67.506

a Fonte: Codevasf, citada por Brasil (1994). b Unidades em 1.000ha

É oportuno salientar que a aptidão não pode ser considerada apenas do ponto de vista dos solos. Outros fatores,
econômicos, sociais e do meio ambiente, deverão ser considerados para avaliar essa capacidade e, principalmente, para
definir as formas de alocação no uso e de manejo integrado e racional desses recursos, o que constitui um desafio para a
P&D.
42

E du ar do A. C . G arc i a

Se considerados os solos situados a uma distância não superior a 60km da fonte de água e uma elevação até 120m, o
potencial de irrigação no Vale poderia ser de 8,1 milhões de hectares, se as disponibilidades hídricas e as alternativas de
alocação da água foseem favoráveis. Com distâncias e elevações menores, o potencial, ainda que com possíveis vantagens
traduzidas em menores esforços de pesquisa e menores custos de infra-estrutura, poderiam ser entre 3 e 1,5 milhões de
hectares. Em ambos os casos, seria vasta a área de possível aproveitamento para a agricultura irrigada, comparada com a
situação de apenas 300 mil hectares registradas em 1994 (73.000 ha de irrigação pública, segundo a Codevasf, 1989), caso
não se configurassem restrições na disponibilidade hídrica.
A evolução da irrigação no Vale está marcada pela presença do Poder Público provedor da infraestrutura de
transporte, de energia e hidráulica, além da instalação de grandes perímetros de irrigação (1950/60). As estimativas de
tendências dessa evolução são apresentadas na TABELA 9, onde se observa um significativo crescimento da área irrigada a
partir da década de 80. Este resultado pode ser atribuído ao Programa de Irrigação do Nordeste (Proine), em 1985/86. Em
média, a estimativa do incremento de área irrigada acumulada no Vale foi de 8.500ha/período.

TABELA 9 - Evolução e tendência da área irrigada no período 1960/94 a

PERÍODO BRASIL NORDESTE VALE

Até 1960 461,6 28,6 10,8

Até 1970 795,8 116,0 60,2

Até 1975 1.086,8 163,4 88,0

Até 1980 1.481,2 261,4 144,5

Até 1985 1.853,7 335,8 205,0

Até 1990 2.911,7 732,5 232,6

Até 1994 - - 300,0

Tendência b 84,0 24,9 8,5

a Fonte: Codevasf (1995) b Estimativa da tendência linear da área (1.000 ha) acumulada irrigada

Dentre os complexos aspectos econômicos da agricultura do Vale a considerar no planejamento e gestão dos
recursos hídricos relacionam-se, nesta síntese, os custos e benefícios dos perímetros de irrigação. As estimativas de custos
entre US$ 11,2 e US$8,9 mil/ha, com indicação de economias de escala, quando comparadas com as de outros países,
parecem apontar que a irrigação na bacia é cara.
Entretanto, aspectos metodológicos dessas estimativas requerer revisões/adequações e avaliações
adicionais/complementares. Nestas revisões/avaliações deverão considerar-se, além de outros argumentos da função de
43
Política para o planejamento e gerenciamento dos recursos hídricos
da Bacia do Rio São Francisco

custo da irrigação, novos conceitos de economia do bem-estar e de economia-ecológica para a definição de propostas
consistentes, a serem contempladas e integradas no Plano Diretor de bacia.
O planejamento e a gestão, como ações integradas da política dos recursos naturais do Vale, deverão incluir
importantes atividades econômicas e sociais ali desenvolvidas, com base em estudos e diagnósticos detalhados e
harmonizados. Entre essas atividades se relacionam os recursos pesqueiros, minerais, florísticos, faunísticos e o turismo,
este último de grande potencial e com forte vínculo com a conservação de recursos naturais.
A inclusão dessas atividades deverá evidenciar aspectos como os de degradação do meio ambiente, custo das
externalidades privadas e análise de custo/benefício da despoluição e recuperação de ambientes, entre outras. Para este
propósito a SRH/MMA se prepara com o fortalecimento institucional e com a definição/adequação de critérios, princípios e
diretrizes para a coordenação e incentivos dessas ações.
Nos processos de definição (re-definição, se for o caso), implementação e implantação de atividades econômicas, a
contribuição da educação ambiental, da conscientização dos setores público e privado para a conservação e o manejo
integrado dos recursos naturais, e da visibilidade, apoio e organização a quem se sente não apenas na obrigação, mas
também no direito de participar e compartilhar as ações e estratégias com responsabilidade (cidadania pelas águas),
deverão resultar de inestimável valor para o planejamento e administração dos recursos hídricos. Serão, portanto, objeto de
consideração e internalização nos processos de planejamento e gestão dos recursos hídricos do Vale.
A SRH/MMA, ainda que com severas limitações de recursos financeiros e humanos, procura o fortalecimento do
movimento de cidadania pelas águas, de educação ambiental e de treinamento/capacitação para o planejamento e gestão de
recursos hídricos. Parte dos esforços se orientam para o fortalecimento institucional e para a formação e funcionamento de
centros de referência e documentação. O maior esforço desta Secretaria é para o estabelecimento de critérios, diretrizes,
princípios e fundamentos técnicos e operacionais flexíveis, que possibilitem a implementação e implantação da Política
Nacional de Recursos Hídricos e de propostas diretamente relacionadas a essa Política, como as consideradas no Plano
Plurianual 1996-1999, entre outras.
Com a implantação de determinadas obras hidráulicas e com aparentes pequenos ajustes administrativos-
operacionais na infraestrutura dessas obras existentes no Vale, é possível incentivar a piscicultura e a pesca artesanal, que
se apresentam com grande potencial a ser explorado, a partir do melhor conhecimento dos ambientes e da ecologia das 139
espécies de peixes nativas já identificadas (Codevasf, 1994, p. 60).
Em outras obras como grandes barragens ao longo do rio São Francisco, surgiram obstáculos à migração reprodutiva
dos peixes e foram reduzidos ou alterados, de forma acentuada, os regimes de cheias a jusante dessas obras, com efeitos
nocivos para locais constituídos como criadouros naturais (lagoas marginais), quebrando o ciclo anual de recrutamento de
peixes jovens ao rio.
Além de reduzir drasticamente a produção pesqueira, as barragens estão provocando o desaparecimento de espécies
de importância econômica e ecológica, com graves consequências sociais pelo contínuo e forçado êxodo de pescadores
artesanais (Souza, 1996) e estão permitindo a instalação de espécies exóticas, algumas das quais não desejadas, devido a
seu alto grau de agressão às espécies nativas.
É necessário, portanto, empreender ou intensificar, na medida em que se processam as perturbações, atividades
compensatórias (?) ou de restauração (repovoamento com alevinos, estações piscícolas, educação ambiental, etc.)
planejadas e executadas com base em critérios técnicos e científicos consistentes e exequíveis no contexto das
possibilidades e das necessidades da Região, por exemplo, das 27 colônias de pescadores (Souza, op. cit.).
A estrutura fundiária do Vale, conforme dados do censo agropecuário do IBGE (1985), relaciona 752.150
estabelecimentos, com uma área de 40,6 milhões de hectares. Um indicador importante da estrutura fundiária em termos de
concentração e evolução no período 1975/85, é apresentado na TABELA 10, observando-se que em termos de desigualdade
da posse da terra, o Nordeste (índice de Gini de 0,870) supera o Brasil (0,858).
44

E du ar do A. C . G arc i a

TABELA 10 - Área média e índice de desigualdade da distribuição de posse da terra

no Brasil e Nordeste no período 1975/85 a

INDICADOR PERÍODO

1975 1980 1985

Área média (ha):- Brasil 64,9 70,8 64,6

- Nordeste 33,5 36,2 32,7

Índice de Gini - Brasil 0,855 0,857 0,858

- Nordeste 0,863 0,862 0,870

% de área dos 50 - - Brasil 2,5 2,4 2,2

- Nordeste 2,1 2,1 2,0

% de área dos 5 + - Brasil 68,7 69,3 69,2

- Nordeste 68,3 68,3 69,8

a Fonte: Silva (1989)

O crescimento do setor agropecuário tem ocorrido sem a adequada e oportuna ampliação e melhoria de serviços de
apoio, o que tem afetado a eficácia e a eficiência (hipótese de estudo) que poderiam ser alcançadas pelo setor.
Na parte de P&D, também se apontam deficiências devidas, principalmente, a falta de recursos de
crédito/financiamento ao produtor, conhecimentos e tecnologias adequadas e suficientes como “input” da mudança
tecnológica e assistência técnica rural, a despeito dos resultados significativos atingidos pela Embrapa na Região, e pelas
empresas estaduais de pesquisa e extensão rural, de Universidades e da Codevasf em setores específicos.

3.2 Técnicas e Métodos de Síntese e Análise de Dados


O processo contínuo técnico-científico, social, econômico, ecológico e político-institucional de caracterização de
medidas certas e oportunas para a solução de problemas relevantes e prioritários, e de negociação, articulação e
operacionalização flexível, gradativa e crescente de esforços orientados para o bem coletivo sustentável e a justiça social,
deverá ocorrer em diversos níveis e enfoques.
No nível macro deverão considerar-se os fatores e atividades que podem interferir ou auxiliar o desenvolvimento do
Vale, sendo o espaço institucional constituído pela União, os Estados, as instituições e órgãos federais, com apoio das
agências internacionais, que atuam na bacia. Nesse nível se definem as grandes linhas de ação e se apresentam os princípios
e diretrizes gerais. Parte dessas ações consiste na orientação para a formulação de estratégias de planejamentos temáticos-
setorias integradas no Plano Diretor, a articulação inter-institucional e as considerações realistas de propostas e aplicações
45
Política para o planejamento e gerenciamento dos recursos hídricos
da Bacia do Rio São Francisco

de recursos financeiros, orçamentais e outros, federal e estaduais, conforme critérios adequados ou convenientes e
operacionais.
No nível regional e micro, o planejamento tem um enfoque local participativo, onde são envolvidos os órgãos e
instituições estaduais e municipais e as organizações comunitárias como os conselhos, comitês, agências de bacias e as
ONGs para a implantação das medidas.
O planejamento local fornece os dados e informações básicas, se identificam ações de operacionalização, e se
definem as bases (critérios) para o monitoramento, implantação, controle e administração nesse nível. Este processo dá
legitimidade ao planejamento quando aplica a endogeneidade como fator de sustentabilidade.
Os enfoques metodológicos dos planejamentos temáticos e setoriais, a serem integrados, e dos estudos e
diagnósticos, são estratégicos e merológicos-holísticos para a harmonização sistêmica do concurso das diversas disciplinas,
com seus resultados transdisciplinares naturalmente integráveis.
Os processos seqüenciais e balanceados entre a caracterização de cenários-problemas atuais ou potenciais e os
cenários-soluções possíveis e desejáveis no futuro nos diferentes níveis, passa pela definição de bases de dados (bancos),
síntese e análise para gerar informações gerenciadas por sistemas, e pela aplicação dessas informações no planejamento
para a gestão definida no contexto do desenvolvimento sustentável.
No planejamento para a gestão dos recursos hídricos o espaço inter-cenários pode ser representado pela expressão:

Resultados = f (dados/informações, técnicas/métodos/modelos; pessoal)


(almejados e possíveis)
(robustos, suficientes, consistidos e (testadas e apropriadas às condições,
integráveis; a diferença com o estado da exigências e possibilidades locais)
arte pode ser preenchida pelos SIG)

Preparação técnica para o trabalho


em equipe; equipes interdisciplinares
(função que descreve o fenômeno para o trabalho em sistemas; sistemas
físico dependente da escala e da
de/para a conservação ambiente
natureza dos processos em análise)

Se os dados não forem confiáveis e integráveis a outros, em uma estrutura de um banco de dados que representem
uma visão particular da “realidade” da Região, e os conteúdos, relevantes quanto a temas e características importantes
representadas no período e áreas abrangidas, os resultados estarão comprometidos, serão de pouco ou sem valor aplicativo,
mesmo utilizando técnicas e modelos sofisticados.
Neste contexto, a questão crucial, para qualquer que seja escala, é a necessária representatividade espacial e
temporal dos dados amostrais, sendo que técnicas como as de sensoriamento remoto e os sistemas de informações
geográficas -SIG, entre outras, aliadas às técnicas e métodos convencionais de obtenção de dados, constituem-se úteis
ferramentas para este propósito.
Por outro lado, com técnicas, métodos e modelos inadequados aplicados a amostras suficientes e confiáveis, muitas
informações secundárias de comportamento e de inter-relação entre dados espaciais e dados de atributos, poderão ser
ignoradas. A arte está em combinar estes dois aspectos dentre os condicionantes ou limitantes financeiros, econômicos,
sociais.
46

E du ar do A. C . G arc i a

O argumento “pessoal” da relação funcional genérica acima indicada é o fator crucial na obtenção de resultados:
dispor de dados e informações relevantes, atualizadas, completas, necessárias e suficientes para os propósitos do
planejamento e gestão dos recursos naturais, e dispor da infra-estrutura computacional de equipamentos, programas,
técnicas, métodos e modelos adequados às condições da região, não são condições suficientes para garantir a obtenção de
bons resultados. A formação de capital social, na conceituação de Cernea (1993), ou a especificação do argumento
“pessoal”, deverá preceder e ser integrado ao desenvolvimento dos outros argumentos da função acima indicada, puxando-
os e orientando-os para a obtenção dos resultados esperados com o planejamento e gestão dos recursos hídricos.

3.3 Técnicas e Métodos de Planejamento: Conceitos


A tese central que orienta a definição de técnicas e métodos reside na conceitualização do planejamento como um
processo, simultaneamente técnico e político (não se trata apenas de dar consistência e racionalidade técnica as decisões
políticas, mas interagir com elas para orienta-las), com ações e estratégias contínuas, gradativas e flexíveis, desenvolvidas
com os setores público e privado, de forma integrada, participativa e descentralizada, porém coordenada.
Este conceito tem sua origem nas experiências na área de planejamento e gestão da água atestado pelos conflitos
entre setores usuários, resultado e expressão de um modelo de planejamento setorial e de curto prazo.
Nesse processo há uma correlação explícita, ao longo do tempo, entre a profundidade e a amplitude dos
conhecimentos gerados na abordagem multidisciplinar-holística que compreende as diversas dimensões, as vezes em
conflito, da realidade amostrada.
A síntese e integração dos conhecimentos da “realidade” é fundamental para o cálculo que precede e preside as
ações (na gestão) como um processo permanente de reflexão e análise de fatores condicionantes dos cenários atuais e
prospectivos para o ordenamento e escolha das alternativas que permitam alcançar determinados resultados desejados e
possíveis.
O planejamento, como processo ordenado e sistemático, consiste na preparação para a adoção das “melhores
decisões sociais, econômicas e ecológicas” que antecipem o futuro, definam as ações e estratégias no presente e sejam
capazes de orientar as intervenções que levam ao cenário almejado e possível no futuro.
Esse cálculo representa uma relação entre o presente com determinados problemas, que expressa a história e define
as circunstâncias sobre o qual se planeja, e o futuro a ser construído com base em possibilidades e condicionantes.
Quando se trata de decisões que envolvem interesses e percepções diferentes, por vezes conflitantes entre usos,
usuários e setores múltiplos, esse cálculo ganha conotação política. Por outro lado, concomitantemente com a diferenciação
de interesses e condicionantes, a reflexão e análise deverá ser suficientemente ampla e flexível, constituindo-se parte do
exercício do poder sobre o futuro, segundo conceituação de Ingelstam (1987). Desta forma, o planejamento considera o
risco (e por vezes, a incerteza que acompanha o processo de tomada de decisões), introduzindo a análise probabilística.
Como parte do processo político, o planejamento constitui um espaço (abc, na FIGURA 5), a ser privilegiado e
mantido, de negociação e articulação de interesses, alternativas e possibilidades de diversos agentes que, sob orientação e
coordenação segura e adequada às condições, se formulam acordos, princípios e diretrizes, dentro de princípios e diretrizes
nacionais mais abrangentes.

0 100%
47
Política para o planejamento e gerenciamento dos recursos hídricos
da Bacia do Rio São Francisco

Compartilhamento
Parceria, Integração
Faixa de negociação
negociação, conciliação
EQUILÍBRIO

Objetivo Econômico Conflitos


Econômico -
sociais
(Eficiência “economicista” Objetivo Social
vs. eficiência econômica social) (Equidade distributiva dos
benefícios do crescimento
Situação c b sustentável)

Atual C Conflitos Social


- ecológicos

B
Conflitos a
Econômico - Situação
ecológicos
Atual
100%
0
A
0 Objetivo do Meio Ambiente 100%
Situação  (Sustentabilidade pela capacidade de suporte: resiliência)
Atual

FIGURA 5 - Desenvolvimento sustentável regional como um produto de conciliação de


interesses, de negociação e de compartilhamento, orientado pela análise multicritérial

Nesse espaço, ao assimilar pressões e interesses da síntese de conflitos, e ao preparar-se para atuar na reversão
parcial de desequilíbrios, quando trata das relações de poder, o planejamento contribui para a organização da distribuição
espacial de benefícios e custos sociais conciliando os diversos interesses.
Esta conceitualização pode ser representada na FIGURA 5, onde o triângulo ABC representa determinada situação
atual, com eficiência econômica moderada para alguns setores (posições economicistas), alta concentração de benefícios e
socialização das externalidades dos custo da degradação ambiente, e capacidade moderada de tolerância do meio ambiente.
Esta situação, portanto, é insustentável no longo prazo.
É oportuno indicar que a concepção (planejamento e gestão) de obras de usos múltiplos, com a busca de soluções
para os conflitos em torno da alocação, uso e manejo da água, pode gerar resultados opostos: emergem e se intensificam os
conflitos entre os usuários setoriais, no que se refere ao rateio de custos das despesas de instalação, manutenção,
administração etc. de obras para fins de uso coletivo.
Desta forma, a solução dos conflitos inter-setoriais remete ao próprio processo de planejamento e de gestão de cada
setor, sendo necessário integrar esses planejamentos e suas correspondentes gestões setoriais sob diretrizes e princípios
relativamente flexíveis e endógenos. A faixa de amplitude de cada componente é indicada pela flecha dupla em negrito da
FIG. 5.
48

E du ar do A. C . G arc i a

O planejamento para o desenvolvimento sustentável tem sua origem nas questões regionais e se orienta para a
mudança social e para a elevação de oportunidades sustentáveis da sociedade, compatibilizando, no tempo e no espaço, o
crescimento econômico otimizado possível (substitui a maximização “economicista” imediatista), a proteção/conservação
do meio ambiente, e a qualidade de vida e equidade social, tendo como referência um claro compromisso com o futuro e
com a solidaridade entre gerações (Buarque, 1994; ampliado).
Dessa forma conceitualizada, o planejamento para o desenvolvimento sustentável contêm cinco objetivos
diferenciados e, nem sempre confluentes, (na FIGURA 5 foram ilustrados apenas três desses objetivos) que envolvem
relações complexas das, e entre as dimensões econômica, social, ecológica e política-institucional, dependentes do avanço
tecnológico, outra dimensão de notáveis efeitos sobre os outros componentes.
Na abordagem metodológica do planejamento se destaca o planejamento estratégico que introduziu inovações nas
técnicas e métodos, incluindo o planejamento global e setorial. Esta abordagem constitui um processo ordenado e
sistemático de decisões sobre ações e iniciativas selecionadas e hierarquizadas, capazes de gerar resultados esperados e
desejados, num determinado horizonte de tempo (Ansoff et alli, 1987), com três idéias centrais:
a) O futuro como algo a ser construído socialmente (em bases sustentáveis) ressaltando a necessidade de uma visão de
longo prazo, que orienta as ações no presente. Nessa visão se incorporam os conceitos de risco (associados a
probabilidade) e incerteza perante o futuro, levando a uma postura flexível nas formulações e decisões estratégicas.
Desta forma, o resultado deve ser visto como um roteiro estratégico para orientar as ações com certa flexibilidade e
com possibilidades de ajuste ou adequação às condições do contexto e da realidade em evolução.
b) A percepção dos limites e possibilidades das ações e estratégias condicionada pelas circunstâncias. O processo de
planejamento deve partir da compreensão das circunstâncias em que se planeja e se decide, como forma de perceber
os limites e possibilidades de intervenção e dos seus impactos, ressaltando as relações do objeto com o seu meio,
partindo do princípio que toda a realidade é parte de um todo mais complexo, com o qual interage.
c) Os limites e possibilidades representam também escassez de meios e instrumentos para a implementação das ações, o
que se traduz, por sua vez, em um rigoroso processo de seletividade com base em critérios, exigindo um esforço
técnico de otimização e de seleção dos instrumentos para assegurar a efetividade da intervenção. Este processo
envolve o conceito de custo de oportunidade.
Esta parte conceitual finaliza com uma relação de princípios e elementos, destacando-se:
a) As propostas de planejamento e gestão dos recursos naturais definidas a partir do homem, com o homem e para o
homem como parte integral mais importante e integrada ao ambiente, considerando sua diversidade, identidade e
especificidade no espaço e no tempo.
b) A sustentabilidade como princípio orgânico da formulação de políticas, tendo uma visão integral as dimensões
social, econômica, ecológica, político-institucional e tecnológica (P7D e C&T ao servico dessa sustentabilidade).
c) O caráter global sistêmico do desenvolvimento na medida em que as dimensões interagem/interdependem, com
tratamentos simultâneos e integrados, e com efeitos distribuídos (o caráter não-excludente da sustentabilidade).
Parte da base científica que deverá expressar a racionalidade das intervenções na gestão, tem como referencial o
ecossistema como a totalidade ecológica (integrar os fatores físicos às biocenoses incluindo os fatores antrópicos em
todas as suas sub-dimensões).
Dos elementos da estratégia no planejamento dos recursos naturais são destacados:
a) O homem: erradicar a pobreza e os “bolsões” de miséria (menos pobreza e menos desigualdade), acesso a serviços
básicos de saúde, saneamento, educação, renda/emprego, alimentação, moradia, fortalecimento de valores culturais,
sociais e tecnológicos (a partir dos quais se incentiva a formação/consolidação da riqueza social, o maior dos
patrimônios).
49
Política para o planejamento e gerenciamento dos recursos hídricos
da Bacia do Rio São Francisco

b) As instituições e contextos jurídico, legal e operacional/administartivo mais eficientes e eficazes: procurar o


fortalecimento institucional e a organização da comunidade para planejar e decidir.
c) O ordenamento e zoneamento do território com base em espaços e atributos discriminantes relevantes e integrados do
meio ambiente, destacando neles os recursos hídricos. A unidade de estudo para o ordenamento e zoneamento é a
bacia, onde as práticas de manejo do solo, da água, das florestas, da fauna (recursos pesqueiros), entre outros, além
da caracterização das formas de ocupação e dos sistemas de produção, devem obedecer a uma lógica e interesse
comunitário. As propostas de planejamento para a gestão deverão conter os fundamentos essenciais à modificação
das relações homem-natureza quando um deles é prejudicado.
d) A democracia e transparência, onde seja garantida a participação de todos como condição da sustentabilidade; o
planejamento como fórum de debate e conciliação de interesses (área abc da FIGURA 5), quando bem orientado,
fortalece os princípios da democracia.
50

E du ar do A. C . G arc i a

SEGUNDA PARTE

4 MARCO INSTITUCIONAL E LEGAL PARA O DESENVOLVIMENTO DO


VALE DO SÃO FRANCISCO
Três aspectos básicos são considerados nesta parte do documento:
a) O primeiro se refere a uma síntese de programas de Governo propostos para orientar o desenvolvimento do Vale,
indicando as principais experiências de cada um deles.
b) O segundo trata de tópicos relacionados com o planejamento e gestão de recursos hídricos considerados na Política
Nacional de Recursos Hídricos e no Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos e regulamentará o
inciso XIX do art. 21 da Constituição Federal (compete à União instituir o sistema nacional de gerenciamento de
recursos hídricos e definir critérios de outorgas de direitos de seu uso).
c) O terceiro trata de aspectos relacionados com os recursos hídricos propostos no Projeto de Lei do Plano Plurianual
1996-1999, estabelecendo, de acordo com o art. no. 165 da Constituição Federal, as diretrizes e metas da
Administração Pública Federal para investimento e programas. Este Projeto contém inovações no planejamento
governamental ao privilegiar a parceria entre as ações da União, dos Estados, dos Municípios e do setor privado.
Nesse processo de compartilhamento de ações e responsabilidade, a escassez dos recursos orçamentários impõe seu
uso prioritário para o atendimento de demandas sociais.

4.1 Programas de Desenvolvimento do Vale


O Vale, desde 1945, vem merecendo especial atenção do Governo Federal voltada para o aproveitamento de seus
recursos naturais, inicialmente do seu potencial energético e depois com ações direcionadas para o desenvolvimento da
agricultura incorporando os recursos de água e solo (irrigação), com a criação de organismos e programas, tais como:
a) A Companhia Hidrelétrica do São Francisco - CHESF, em outubro de 1945, com a destinação de recursos para a
construção da usina de Paulo Afonso e da barragem-eclusa de Sobradinho, eliminando obstáculos de corredeiras,
com a decorrente regularização do curso do rio e da navegação entre Pirapora e Juazeiro.
b) A Comissão do Vale do São Francisco - CVSF, em dezembro de 1948, inspirada no modelo americano de
valorização econômica do vale do rio Tennessee (Tenenesse Valley Authority). Esta Comissão foi vinculada
diretamente à Presidência da República, tendo como principais funções, formular o Plano Geral de Aproveitamento
do Vale, visando a regularização de seus rios, a utilização do potencial hidrelétrico, o desenvolvimento da
agricultura, da irrigação e da indústria, entre outras atividades, preconizando a importância do rio para a navegação,
a irrigação e a geração de energia.
Com a criação da CVSF foi iniciado um extenso programa de estudos físicos e socioeconômicos com vistas à
formulação do Plano Geral, abrangendo o período de 20 anos dividido em quatro quinquênios aprovados pelo
Congresso em 1950, com o planejamento realizado em três fases, assim: plano de emergência, Plano Geral e a
execução daquele Plano.
No primeiro plano quinquenal foram realizados estudos básicos e ações de atendimento às necessidades das
populações, sendo inaugurada a primeira unidade de geração de energia hidrelétrica de Paulo Afonso (1953).
51
Política para o planejamento e gerenciamento dos recursos hídricos
da Bacia do Rio São Francisco

No segundo plano quinquenal (1956/60), a CVSF enfatizou a implantação de infraestrutura, culminando com a
construção da barragem de Três Marias (1956).
O terceiro plano quinquenal (1961/65), além de dar prosseguimento aos programas em curso e intensificar os
estudos, teve como prioridade a construção da barragem de Sobradinho, outras atividades importantes foram a
implantação de sistemas de irrigação no Médio e Submédio São Francisco e a organização da navegação fluvial.
A formulação do Plano Geral apresentou uma grande dimensão e complexidade, atribuindo à CVSF grande número
de atividades e responsabilidade, que aliado a problemas financeiros e outros, não permitiu atingir os objetivos de
transformação e do desenvolvimento projetado para o Vale. Deixou, em pouco mais de 18 anos de existência, no
entanto inúmeras obras de grande, médio e pequeno portes em diversos setores (hidroelétrico: Paulo Afonso e Três
Marias, usinas termoeléctricas, infraestrutura para irrigação, serviços de abastecimento de água, rodovias, portos,
escolas, hospitais etc.), com as seguintes lições:
- a hipertrofia do campo de ação da CVSF, que assumiu a execução tanto de grandes obras (barragens e usinas
hidrelétricas, por exemplo) quanto a implantação de pequenos projetos e serviços (hospitais, escolar, colonização,
saneamento etc.), com recursos e prazos exíguos;
- a criação de expectativas que gerou um grande fluxo de solicitações de prefeituras para o atendimento de seus
problemas e o retraimento das ações dos demais órgãos que historicamente atuavam e aplicavam recursos no Vale;
com isso coube a CVSF a imensa tarefa de promover o desenvolvimento.
c) A Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste -SUDENE, em dezembro de 1959, com diversas ações
desenvolvidas no Vale tendo reflexos diretos para o Nordeste.
d) A Superintendência do Vale do São Francisco -SUVALE, em fevereiro de 1967. Surgiu com a extinção dos
recursos previstos na Constituição de 1946 para o Vale, pela exclusão do orçamento da Região (Constituição de
1967) e pelas recomendações orientadas pala a extinção da CVSF e criação de um novo órgão.
O SUVALE era uma autarquia do Ministério do Interior, sem a autonomia da CVSF e com seus programas vinculados
ao planejamento geral da SUDENE, visando substituir a política extensiva e diversificada de sua antecessora por
uma política de prioridades para as áreas programas, selecionadas e delimitadas em função do potencial de recursos
hídricos e da exigência dos solos para fins de irrigação, voltando-se para a formulação de planos diretores, estudos
de viabilidade e projetos executivos, segundo padrões do Banco Mundial -BIRD e Banco Inter-americano -BID.
Após sete anos e como conclusão de estudos de avaliação apontando para a sua reorganização, o Suvale foi
incorporada em um novo órgão, a Codevasf.
e) A Companhia de Desenvolvimento do Vale do São Francisco - CODEVASF, em julho de 1974, motivada pela
necessidade de se dispor no Vale de um órgão do Governo Federal com uma estrutura ágil e eficiente, capaz de
executar atividades de uma agência de desenvolvimento regional e com condições de estabelecer uma articulação
eficiente entre as ações governamentais e a iniciativa privada. Uma das forças propulsoras para promover o
desenvolvimento foi a irrigação vista como um empreendimento multisetorial, visando estruturar uma economia
auto-sustentada.
O objetivo da Companhia era aproveitar, para fins agrícolas, agropecuários e agro-industriais, os recursos hídricos e
os solos, diretamente ou por intermédio de entidades públicas e privadas, promovendo o desenvolvimento integrado
de áreas prioritárias, capaz de gerar empregos e riquezas à população da bacia.
A CODEVASF tem dado prosseguimento à ação iniciada por suas antecessoras com soluções setoriais e com o
aproveitamento parcial dos recursos e potencialidades do Vale. Apesar desse esforço, não tem havido mudanças
significativas no contexto econômico e social, persistindo problemas básicos (CODEVASF, 1989, p.15). No elenco
de medidas para o desenvolvimento do Vale, se relacionam, entre outras (CODEVASF, 1994):
52

E du ar do A. C . G arc i a

- a tecnologias para a explotação sustentável da pesca e aquicultura, de melhoramento genético do rebanho bovino e
caprino e de promoção de investimentos da iniciativa privada;
- implementar o programa de recuperação de bacias e do sistema de abastecimento de água para usos múltiplos.
Nessas medidas coloca-se em destaque a importância do Plano Diretor para o Desenvolvimento do Vale, aprovado
pela lei federal no. 8.851 de 31/01/94 e em fase de regulamentação do Poder Executivo, enfatizando-se a necessidade da
integração das iniciativas públicas e privadas, da parceria e da cooperação entre as diversas instituições do Governo com
vistas a planejar e desenvolver atividades de forma articulada e complementar.
A parceria e a cooperação inter-institucional, a ser fortalecida, prévias às definições de competência e
responsabilidade dos órgãos componentes e das adequações impostas pela modernização do Estado, deverão apontar para
ações e estratégias conjuntas da CODEVASF-SRH/MMA, CODEVASF-EMBRAPA, CODEVASF-IBAMA,
CODEVASF-DNAEE-INEMET, CODEVASF-órgãos regionais de desenvolvimento e CODEVASF-iniciativa privada,
CODEVASF-Universidades, entre outras.
Como auxílio e para efeitos de avaliação dos órgãos propostos (ou para a criação de novos órgãos) para o
desenvolvimento do Vale, foram criadas comissões temporárias, entre outras:
a) A Comissão Interministerial de Estudos para o Controle das Enchentes do Rio São Francisco, em junho de 1979,
sendo coordenada pelo DNOS, com a participação da CODEVASF, SUDENE, SEMA, DNAEE, PETROBRAS,
SUDEPE, SEPLAN e ELETROBRAS, além dos governos dos Estados de Minas Gerais, Bahia, Pernambuco,
Alagoas e Sergipe (CODEVASF, 1989). Entre as recomendações daquela Comissão se destacam:
- a conservação dos recursos naturais considerada de extrema importância pelos seus reflexos benéficos esperados na
redução das enchentes, e pelos efeitos positivos esperados no combate a erosão (principalmente no Alto São
Francisco correspondente à área mais pluviosa, mais acidentadas e de maior atividade antrópica), e ao assoreamento
de rios e reservatórios;
- a necessidade de uma legislação ecológica específica para a bacia, para protegê-la dos efeitos nocivos de uma esperada
aceleração de ações antrópicas, principalmente no que tange ao volume útil dos reservatórios face ao aporte de
descarga sólida;
- a necessidade de se declarar, por parte do órgão competente (SEMA / IBAMA), áreas de preservação permanente no
Vale, as matas de galeria e ciliares, as veredas, as bordas e escarpas das chapadas e tabuleiros voltados para as
calhas dos rios e as encostas com declividade superior aos 45o.
b) O Comitê Executivo de Estudos Integrados da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco - CEEIVASF, em outubro
de 1979. Tinha como finalidade realizar estudos integrados e acompanhar a utilização dos recursos hídricos. Para tal
propósito estruturou, em 1984, o sistema de comitê de bacia, com as seguintes características (CODEVASF, 1989,
p. 18):
- um sistema de planejamento, tendo como unidade territorial uma bacia hidrográfica;
- um sistema de planejamento para um número reduzido de setores ou funções governamentais;
- um sistema instrumentalizado em termos técnicos e praticamente sem instrumentalização financeira;
- um sistema de nível reduzido de definição legal e isolado em relação aos sistemas de planejamento dos níveis federal
e estadual.
c) A Comissão Inter-estadual Parlamentar para o Desenvolvimento Sustentado do São Francisco (CIPE-São
Francisco), constituída pelos presidentes das Assembleias Legislativas dos cinco Estados componentes da Bacia,
tendo como função, entre outras, aspectos organizacionais.
53
Política para o planejamento e gerenciamento dos recursos hídricos
da Bacia do Rio São Francisco

d) A União das Prefeituras do Vale do São Francisco (Univale), que agrupa todos os municípios do Vale, sendo
constituída por vice-presidências temáticas nas seguuntes áreas: energia, irrigação, saneamento e habitação, turismo
e lazer, navegação, educaçãoe cultura e preservação ambiental (Informação pessoal do Presidente do Comitê
Executivo de Estudos Integrados da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco - CEEIVASF, Dr. José Theodomiro
de Araújo, fac-simile no. 199/93, de 23/09/1996, Ceeivasf-SRH).
e) O Instituto Manoel Novaes para o Desenvolvimento do Vale do São Francisco, cujo objetivo principal é a defesa do
Rio e o desenvolvimento do Vale, utilizando-se de estratégias ambientais, econômicas e sociais. Este Instituto é
constituído pela Associação Comercial da Bahia, a Federação da Agricultura da Bahia, as Universidade Federal da
Bahia e do Estado da Bahia, e o Ceeivasf.
f) A Comissão Especial para o Desenvolvimento do Vale do São Francisco, criada pelo Senado Federal através de
requerimento no. 480 de 1995, destinada a promover ampla discussão acerca de políticas, programas, estratégias e
prioridades visando o desenvolvimento do Vale (Brasil, 1995). Esta Comissão tinha como objetivos:
- a regional, bem como propostas e projetos relacionados com o equilíbrio socioeconômico e do meio ambiente no
Vale;
- analisar propostas e definir formas adequadas de gerenciamento e recuperação de ambientes degradados;
- constituir-se em fórum de discussões sobre o potencial econômico do Vale para o Nordeste, analisando possibilidades
de investimentos públicos e privados;
- discutir e definir novos projetos para a região à luz do enfoque do desenvolvimento sustentável.
Após 11 painéis e numerosos depoimentos de autoridades e cientistas da área com experiência no Vale, realizados
em 1995, (Brasil, op. cit.), a Comissão Especial mostrou, mais uma vez, o potencial econômico e a importância
estratégica do rio São Francisco para o desenvolvimento do País e, particularmente, do Nordeste, com as seguintes
conclusões:
- a retomada da ação federal na Bacia como indispensável e imperativo da política nacional de desenvolvimento, não
pelo estabelecimento de uma nova política autárquica, repetindo as experiências do passado, mas orientando-se por
uma necessária e indispensável coerência, compatibilidade e consistência com a política econômica nacional [dos
órgãos existentes];
- a estabilidade econômica possibilita e requer a recuperação do planejamento de longo prazo, uma prática que a
inflação acentuada condenou ao desuso;
- o Vale representa uma oportunidade dinâmica e moderna de desenvolvimento, com a vantagem de situar-se em pleno
Nordeste, o que por si só constitui condição suficiente para merecer a atenção e a prioridade nacional;
- no Nordeste existem áreas e setores plenamente viáveis e perfeitamente compatíveis com os princípios atuais de
gestão da economia em âmbito internacional, sendo o Vale uma dessas áreas, tal vez a mais extensa, abrangendo
setores como a agricultura irrigada, a lavoura de grãos e a agroindústria, entre outros, que carecem, no entanto, de
infraestrutura pública e de crédito para o desenvolvimento.
É oportuno destacar entre as ações orientadas para o desenvolvimento do Vale, o Projeto Plano Diretor para o
Desenvolvimento do Vale do São Francisco - PLANVASF, proposto em janeiro de 1981, com a finalidade de orientar e
ordenar as ações governamentais e incentivar aquelas a cargo da iniciativa privada. O Plano deveria definir as ações de
desenvolvimento a serem executadas e incentivadas, visando:
a) o aproveitamento integrado dos seus recursos naturais, prioritariamente para elevar a produção de alimentos e
matérias-primas mediante a agricultura irrigada e para aproveitar as potencialidades de energia elétrica;
b) a prevenção e controle de enchentes;
54

E du ar do A. C . G arc i a

c) o desenvolvimento da infraestrutura de transporte, com ênfase para a navegação fluvial;


d) o saneamento básico bem como o controle e preservação do meio ambiente;
De todo o processo de intervenção do Governo no Vale pode concluir-se que há necessidade de ações e estratégias
integradas, planejadas no contexto de longo prazo sobre cenários convenientemente caracterizados e
implementadas/implantadas na gestão a partir de um Plano Diretor.
Entretanto, os esforços de planejamentos setoriais, integrados no Plano Diretor, serão infrutuosos quando
desprovidos da necessária e suficiente vontade política que se traduza em compromissos, ações e estratégias desenvolvidas
com efetividade na gestão, quando não sejam executadas as atividades de fortalecimento institucional e feita a dotação de
recursos necessários e na oportunidade para a gestão criteriosa e compartilhada, e quando o homem não seja a referência
principal desse desenvolvimento sustentável.

4.2 Princípios, Diretrizes e Instrumentos da Política Nacional de Recursos Hídricos


Conforme conceitualizado na metodologia, o planejamento tem, também, uma conotação política e institucional
destacadas, constituindo-se, portanto, importantes condicionantes para a efetividade das ações e das estratégias do
planejamento para a gestão dos recursos hídricos.
Nesta parte se relacionam elementos de um desses condicionantes do Plano Diretor de bacia, apresentados com base
na Política Nacional de Recursos Hídricos -PNRH (Lei 9.433, de 8 de jan. de 1997) a qual estabelece o marco de
fundamentos, princípios e diretrizes da intervenção.
Estes fundamentos princípios e diretrizes definem a base de atuação da SRH/MMA no desempenho de sua
missão, destacando-se os seguintes:
a) água é um recurso natural limitado [e escasso em regiões como a do semi-árido nordestino], dotado de valor
econômico [a ser devidamente calculado e evidenciado como instrumento direto ou como parte de outros
instrumentos dessa PNRH];
b) em situações de escassez, o uso prioritário dos recursos hídricos é para o consumo humano e a dessedentação de
animais;
c) a gestão [precedida de criteriosos planejamentos setoriais integrados em um Plano Diretor, um instrumento da
PNRH] dos recursos hídricos deve sempre proporcionar o uso múltiplo das águas [prévias as considerações técnicas
e sócioeconômicas necessárias para pautar o manejo integrado de reservatórios e ajustar-se aos fenômenos do ciclo
hidrológico que venham a garantir esses usos múltiplos; por sua vez, os usos devem ser ordenados ou priorizados
conforme critérios técnicos, sociais, ambientais e econômicos, um deles é o custo social na alocação dos recursos
hídricos];
d) a bacia hidrográfica é a unidade territorial [unidade básica de planejamento e gestão] para a implementação da
Política Nacional de Recursos Hídricos e atuação do Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos
contemplados na Lei 9.433;
e) a gestão dos recursos hídricos deve ser descentralizada e contar com a participação [integrada e coordenada] do
Poder Público, dos usuários organizados e das comunidades [com base no binômio embasamento técnico-científico
 administração participativa e descentralizada];
f) a gestão dos recursos hídricos ambientalmente sustentável é um elemento fundamental para a conservação dos
ecossistemasa e para a promoção da saúde, saneamento e bem-estar humano; o planejamento integral e integrado,
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Política para o planejamento e gerenciamento dos recursos hídricos
da Bacia do Rio São Francisco

contemplando no Plano Diretor de bacia, deve ser compatível com as políticas social, econômica e ambiental
reguionais e nacionais;
g) a gestão integrada de recursos hídricos deve seguir critérios racionais (endógenos) e ordenados-integrados, utilizando
vários instrumentos para a valorização d’água, tais como a cobrança pela sua utilização (contemplados na Lei
9.433) e o rateio de custos de obras de uso múltiplo, de interesse comum ou coletivo. Alguns desses instrumentos
para a operacionalização da gestão dos recursos hídricos são:
- o regime de outorga de direitos de uso segundo critérios e prioridades estabelecidos em legislação própria, definido
para assegurar o controle quantitativo e qualitativo dos usos múltiplos das águas e o efetivo exercício dos direitos de
acesso à água;
- cobrança pela utilização da água, conforme indicado na Lei da Política Nacional de Recursos Hídricos e especificado
em legislação própria;
- peculiaridades regionais e das bacias hidrográficas definidas em diagnósticos específicos e estudos propostos no
Plano Diretor de bacia (Cadavid Garcia, 1996a-1996c);
- disponibilidades hídricas, vazão e seu regime de variação espacial e tempoal;
- classes de usos preponderanes d’água, e grau de regularização assegurado pela obras hidráulicas;
- carga de efluentes e capacidade de auto-depuração do sistema hidrológico.
h) é essencial considerar a unidade do ciclo hidrológico, levando-se em conta suas fases superficiais, subterrâneas e
meteóricas, e reconhecer que os atributos de quantidade e qualidade das águas são indissociáveis.
São objetivos da Política Nacional de Recursos Hídricos (Lei 9.433):
a) assegurar à atual e às futuras gerações a necessária [e oportuna] disponibilidade de água, em padrões [critérios] de
qualidade [e quantidade] adequados aos respectivos usos [e demandas];
b) a utilização racional e integrada dos recursos hídricos, incluindo o transporte aquaviário, com vistas ao
desenvolvimento sustentável;
c) a prevenção e a defesa contra eventos hidrológicos críticos de origem natural ou decorrentes do uso [consumo]
inadequado dos recursos naturais [mediante a conservação e o manejo integrado desses recursos].
As diretrizes gerais de ação para a implementação da PNRH, pressupõe a articulação da União com os Estados
tendo em vista o gerenciamento dos recursos hídricos de interesse comum, como é o caso do Vale do São Francisco.
Estas diretrizes se orientam, conforme prescrito no texto da Lei, como segue:
a) a gestão sistemática dos recursos hídricos [precedida de um planejamento estratégico conforme a importância vital
desses recursos, levando em conta os principais aspectos do ciclo hidrológico], sem dissociação de características e
atributos de quantidade e qualidade da água;
b) a adequação da gestão dos recursos hídricos às diversidades físicas, bióticas, demográficas, econômicas, sociais e
culturais das diferentes regiões do País;
c) a integração da gestão [e do planejamento] dos recursos hídricos com a gestão [e o planejamento] ambiental [do meio
ambiente];
d) a articulação do planejamento de recursos hídricos com os dos setores usuários e com os planejamentos regional,
estadual e nacional;
e) a articulação da gestão [e do planejamento] de recursos hídricos com a do uso do solo [e da biodiversidade];
56

E du ar do A. C . G arc i a

f) a integração da gestão das bacias hidrográficas com a dos sistemas estuários e zonas costeiras.
Os instrumentos da PNRH contemplados na lei 9.433 são:
a) os Planos de Recursos Rídricos -PRH, definidos como Planos Diretores que visam a fundamentar e a orientar a
implementação da PNRH e o gerenciamento desses recursos. São Planos de longo prazo, com horizonte de
planejamento compatível com o período de implementação de seus programas e projetos, elaborados por bacia
hidrográfica, por Estado e para todo o País.
b) o enquadramento dos corpos de água em classes, estabelecidas pela legislação ambiental pertinente, segundo os seus
usos preponderantes [explícitos no Plano Diretor], visando assegurar à água a qualidade compatível com os usos
mais exigentes a que forem destinadas, e diminuir os custos de combate à poluição mediante ações preventivas [de
proteção] permanentes [educativas].
c) a outorga dos direitos de uso de recursos hídricos está condicionada às prioridades de uso [e critérios de manejo
integrados desses recursos] estabelecidas no Plano Diretor, sendo efetivada por ato da autoridade competente do
Poder Executivo Federal, dos Estados ou do Distrito Federal, conforme seja o domínio dos recursos outorgados; esta
outorga visa assegurar o controle quantitativo e qualitativo do uso das águas e o efetivo exercício desse direito,
estando sujeito à outorga os seguintes usos d’água:
- derivações ou captações de parcelas da água existente em um corpo de água e a extração de água de aqüífero
subterrâneo para consumo final ou insumo de processo produtivo;
- lançamento em corpo de água de esgotos e demais resíduos líquidos ou gasosos, tratados ou não, com o fim de sua
diluição, transporte ou disposição final;
- aproveitamento dos potenciais hidrelétricos e outros que alterem o regime, a quantidade ou a qualidade da água
existente em um corpo de água.
No instrumento de outorga de direito de uso de água o critério legal estabelece outras disposições como a de
suspensão parcial ou total desse direito e as circunstâncias em que se aplica a suspensão do direito, os prazos de
vigência da outorga e outras, que deverão ser objeto de considerações para a implementação no Plano Diretor e
implantação na gestão.
d) a cobrança pelo uso de recursos hídricos incidindo sobre os usos sujeitos à outorga nos termos relacionados na Lei
pertinente, com vistas a:
- reconhecer a água como bem econômico e dar ao usuário uma indicação de seu real valor (estimado em função das
derivações, captações e extrações de água, do volume retirado do reservatório, do regime de variação dessa fonte, do
nível de perturbação no lançamento de esgotos e demais resíduos líquidos, e da natureza físico-química, biológica e
de toxicidade do afluente sobre o corpo de água a ser preservado) para incentivar a racionalização de seu uso [e para
pautar os critérios técnico de manejo integrado];
- gerar recursos financeiros para o financiamento de programas e de intervenções (projetos e obras contemplados no do
Plano Diretor) necessárias à garantia da disponibilidades desses recursos, e no custeio dos correspondente conselhos,
comitês e agências de bacia hidrográfica.
Na proposta do instrumento de outorga de direito de usos da água se definem outras disposições como as relativas à
fixação dos valores a serem cobrados e o destino dos recursos arrecadados para financiar a conservação da
correspondente bacia.
e) O Sistema de Informações sobre os Recursos Hídricos conceitualizado como um sistema de coleta (atualizado de
forma sistemática e permanente), tratamento (consistência), armazenamento, recuperação e divulgação de
57
Política para o planejamento e gerenciamento dos recursos hídricos
da Bacia do Rio São Francisco

informações sobre os recursos hídricos (“estados” de qualidade e quantidade) e fatores intervenientes em sua gestão
[e planejamento].
Neste Sistema são propostos os seguintes princípios básicos para o funcionamento do Sistema:
- a descentralização da obtenção e produção de dados e informações, porém com uma coordenação unificada;
- o acesso [facilitado e oportuno] aos dados e informações garantido à toda a sociedade.
Na Lei no. 9.433, de 8 jan. 1997 (Cap. IV, Art. 29) se estabelece a competência do Poder Público na implementação
da PNRH para:
a) tomar as providências necessárias à implementação e ao funcionamento do Sistema Nacional de Gerenciamento de
Recursos Hídricos;

b) outorgar os direitos de uso de recursos hídricos (o Poder executivo Federal indicará, por decreto, as autoridades
responsáveis pela efetivação dessa outorga, para os recursos sob domínio da União, com é o caso do rio São
Francisco], e regulamentar e fiscalizar esses usos nas água sob seu domínio;
c) implantar e gerir o Sistema de Informações sobre os Recursos Hídricos no nível nacional, bem como promover a
integração da gestão [e do planejamento] de recursos hídricos com a gestão [e planejamento] do meio ambiente.
Na implantação da Política, a proposta define competência aos Poderes Executivos Estaduais e do Distrito Federal,
na sua esfera de competência, nos seguintes termos:
a) outorgar os direitos de uso de recursos hídricos, e regulamentar e fiscalizar os usos, nas águas sob seu domínio;
b) realizar o controle técnico das obras de oferta hídrica; implantar e gerir o Sistema de Informações; e promover a
integração da gestão [e planejamento] de recursos hídricos com a gestão [e planejamento] do meio ambiente.
Aos Poderes Executivos do Distrito Federal e dos Municípios competem promoverem a integração das políticas
locais de saneamento básico, de uso, ocupação e conservação do solo e de meio ambiente com as políticas federal e
estaduais de recursos hídricos.
A síntese do Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos (Título II, Cap. 1, Art. 32 da Lei op. cit.) é
apresentada na FIGURA 6.
A legislação brasileira no setor dos recursos hídricos mostrou, desde cedo, a preocupação quanto a conservação
desses recursos.
O Código de Águas, publicado em 1934, é um marco no disciplinamento do uso das águas, dispondo sobre a
classificação e utilização dos recursos hídricos e dando ênfase ao aproveitamento do potencial hidráulico que, na década de
30, já era considerado um fator importante do crescimento econômico.
O Código de äguas embasa também a formulação de princípios para o uso múltiplo da água e mostra preocupação
em relação à saúde e à manutenção da qualidade das águas. Apesar dessas considerações, avançadas para a época, o Código
não conseguiu orientar as ações da administração pública, setorizadas, centralizadas e com tratamentos isolados e não
continuados de qualidade e quantidade, sendo necessárias adequações à realidade e exigências para sua implementação.

4.3 Ações e Diretrizes Esperados do Plano Plurianual 1996-1999


Esta parte finaliza com uma síntese do PPA 1996-1999 destacando as soluções inovadoras e participativas para a
superação dos problemas dos recursos hídricos. Neste sentido, a concepção e implantação de novo modelo de
58

E du ar do A. C . G arc i a

gerenciamento dos recursos hídricos, que coíba a poluição dos mananciais e garanta o seu uso e manejo adequado, receberá
do Governo atenção prioritária.
O Governo promoverá e viabilizará a conclusão dos empreendimentos de irrigação e de armazenamento de água no
semi-árido brasileiro que apresentem elevado grau de execução física e as formas alternativas de financiamento e gestão de
obras hídricas nessa região, nas quais os Estados, Municípios e a iniciativa privada terão papel expressivo.
As ações propostas nesse Plano serão orientadas para atingir os seguintes objetivos:
a) a criação de condições legais, institucionais e técnicas que permitam o uso e manejo adequado das águas,
considerando-se suas múltiplas finalidades;
b) o fortalecimento de comitês e a promoção Planos Diretores de bacias, com destaque para a bacia do São Francisco;
c) a conservação e proteção/preservação das bacias hidrográficas mediante a proteção das cabeceiras e matas ciliares,
bem como incentivo à adoção de práticas sustentáveis de uso e manejo integrado dos solos e o controle de fontes de
poluição;
Na área do meio ambiente relacionada com os recursos hídricos, o Plano visa a produção, sistematização e
disponibilização de informação ambiental, o estabelecimento de padrões [vale dizer critérios] de excelência na gestão das
unidades de conservação, o fortalecimento do ordenamento [zoneamento] ambiental-territorial, facilitando o conhecimento
e a compatibilização de ações de desenvolvimento com as potencialidades espaciais, e formulação de políticas setoriais de
pesca e floresta, entre outras, para o desenvolvimento sustentado, estimulando as atividades de pesquisa e fomento.

SISTEMA NACIONAL DE GERENCIAMENTO SECRETARIA EXECUTIVO DO


DE RECURSOS HÍDRICOS CONSELHO NACIONAL
COMPETE: coordenar a gestão integrada; arbitrar conflitos; » Compete prestar apoio administrativo,
implementar a política; planejar, regular e controlar o uso
d’água, a preservação e a recuperação dos recursos
técnico e financeiro ao Conselho
hídricos; promover a cobrança pelo uso » Elaborar o Plano Nacional de RH
» Instruir os expedientes dos Conselhos
Estaduais
»Coordenar o Sistema de Informações

COMPOSIÇÃO

» Conselho Nacional - Representantes do Ministérios e Secretarias da Presidência ORGANIZAÇÕES CIVIS


- Representante sdos Conselhos Estaduais
- Representantes dos usuários dos RH » Consórcios, associações locais, setoriais,
- Representantes das organizações civis de recursos hídricos intermunicipais de bacias, técnicas etc.
» Poderão receber delegações do Conselhos
e dos Comitês de bacias

COMPETE AO CONSELHO NACIONAL:


»Promover a articulação do planejamento dos RH com planejamentos nacional, regional e setorial
» Arbitrar e deliberar, em última instância, os conflitos entre os Conselhos Estaduais e questões
» Deliberar sobre os projetos de aproveitamento dos RH que extrapolam o âmbito dos Estados
» Analisar propostas de alteração da legislação pertinente a RH
»Estabelecer diretrizes complementares para implementação da Política, aplicação de instrumentos
» Aprovar o Plano Nacional de RH, a instituição dos comitês de bacias e estabelecer critérios gerais
para outorga de direitos de uso e para cobrança por seu uso
59
Política para o planejamento e gerenciamento dos recursos hídricos
da Bacia do Rio São Francisco

COMPOSIÇÃO, JURISDIÇÃO E COMPETÊNCIAS DOS COMITÊS DE BACIAS


» Representantes da União, dos Estados, dos Municípios, dos usuários e das entidades civis
» A jurisdição poderá ser sobre a totalidade, um grupo de bacias ou sub-bacias de tributário do curso principal
» Compete: promover o debate das questões pertinentes e articular a atuação das entidades intervenientes
» Arbitrar em primeira instância, os conflitos em sua jurisdição; aprovar e acompanhar a execução Plano de RH;
» Propor, nas instâncias superiores, derivações, captações e lançamentos de pouca expressão, para a isenção
» Estabelecer critérios de cobrança pelo uso dos RH e sugerir os valores a serem cobrados; estabelecer critérios e
promover o rateio de custos das obras de uso múltiplo, de interesse comum ou coletivo

COMPETÊNCIA DAS AGÊNCIAS DE BACIAS


Manter o balanço atualizado da disponibilidade de RH em sua área de atuação; manter o cadastro de usuários;
efetuar, mediante delegação do outorgante, a cobrança pelo uso de RH; analisar e emitir pareceres sobre
projetos e obras financiadas com recursos gerados pela cobrança; acompanhar a administração financeira dos
recursos arrecadados com a cobrança pelo uso dos RH; gerar o Sistema de Informações sobre RH; celebrar
convênios e contratar financiamentos e serviços; elaborar a sua proposta orçamentária e submetê-la à
apreciação do respectivo Comitê; promover os estudos necessários para a gestão; elaborar o Plano de RH para
apreciação do respectivo Comitê; propor ao respectivo Comitê, o enquadramento dos corpos de água nas
classes de uso, os valores a serem cobrados, o plano de aplicação e o rateio de custos das obras de uso múltiplo

FIGURA 6 - Síntese do Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos proposto


na Lei no. 9.433 de 8 de ja. 1997 da Política Nacional de Recursos Hídricos

Outros aspectos relacionados com os recursos hídricos propostos no Plano são:


60

E du ar do A. C . G arc i a

a) agricultura, sendo o desafio da política agrícola o de, simultaneamente, manter o estímulo à produção e reduzir a
interferência direta do Estado nos processos de comercialização e financiamento; para uma atuação mais eficaz do
Governo, há que se conjugar múltiplas ações em irrigação, ampliação e modernização do transporte intermodal,
pesquisa-extensão, educação e profissionalização, conservação ambiental e redução da carga tributária na
agricultura;
b) ciência e tecnologia: revisão da estrutura dos incentivos de apoio a P&D; fortalecimento da infra-estrutura e
consolidação de núcleos de excelência em C&T; formação de recursos humanos, vale dizer capital social; apoio
direto à pesquisa privada e ao processo de inovação em pequena e mediada empresa; estímulo à entrada de capitais
de risco para investimento em C&T; adequação de política de proteção de impactos ambientais;
c) diversas atividades em meio ambiente, turismo, desenvolvimento social e cidadania.
61
Política para o planejamento e gerenciamento dos recursos hídricos
da Bacia do Rio São Francisco

TERCEIRA PARTE
5 PLANEJAMENTO E GESTÃO
No cenário atual, onde o setor hídrico é segmentado por vários usos e usuários, com atuações isoladas e nem sempre
confluentes, as vezes de encontro e atritos, e na ausência de uma coordenação efetiva definida sobre princípios e diretrizes
reais e operacionais e de uma política6 voltada para o aproveitamento sustentável dos recursos naturais do Vale, as ações
integradas de planejamento e as estratégias acordadas de negociação e compartilhamento, definidas em termos
operacionais, tecnicamente exeqüíveis e de forma acessível, se tornam necessárias e urgentes.
______________
6
Um exemplo da pouca objetividade e da falta de vontade e decisão política das ações públicas no atual cenário é o Planvasf que, apesar de ser
transformado em lei, se encontra paralisado por falta de regulamentação do Poder Executivo, com risco de desatualização em suas bases e pressupostos .

Tais ações e estratégias devem ser consistentes com os esforços do Governo Federal orientados para implantar as
reformas constitucionais e institucionais necessárias à remoção dos entraves à competitividade da economia, à
modernização do Estado, ao aumento dos investimentos, em particular os da área de infra-estrutura, e à
proteção/preservação da qualidade ambiente. Neste contexto macroeconômico são propostas no Plano Plurianual 1996-
1999, com efeitos sobre os recursos hídricos e os recursos naturais do Vale, várias ações/estratégias, entre outras:a) a
eliminação de obstáculos ao crescimento sustentável e com maior eqüidade, traduzido em desenvolvimento, bem como a
abertura de novas fronteiras para esse desenvolvimento;
b) a consolidação de uma economia mais competitiva e mais expostas aos estímulos do comércio internacional, que
incorpore as novas vantagens;
c) a melhoria da eficiência do sistema econômico com qualidade ambiente, e com a redução do “custo Brasil” no
processo de produção, alocação, distribuição etc.
Concomitante com essas questões se definem três estratégias que quando aprovadas pelo Congresso Nacional,
orientarão as ações do Governo para:
a) A construção de um Estado moderno e eficiente que possa formular e executar as políticas públicas de modo eficaz,
com capacidade para identificar e atender aos interesses maiores da sociedade, com garantia (sustentabilidade do
meio ambiente, econômica e social) desse atendimento.
Como desdobramento da estratégia de um Estado moderno e eficaz foram identificadas e propostas, no processo de
planejamento, entre outras, as seguintes diretrizes:
- descentralização das políticas públicas para Estados e Municípios, setor privado e organizações não-governamentais;
- aumento da eficiência do gasto público, com ênfase na redução dos desperdícios e no aumento da qualidade e da
produtividade dos serviços;
- aprofundamento do programa de desestatização;
b) Redução dos desequilíbrios espaciais e sociais introduzindo o conceito de eixos nacionais de integração e de
desenvolvimento; esse conceito incorporará a dimensão espacial como variável endógena e induzirá mudanças ao
enfoque tradicional das políticas regionais de natureza compensatória, propondo soluções de caráter estrutural, em
detrimento das ações pontuais que marcaram a má utilização e a pulverização de recursos públicos.
No Eixo de Integração do Nordeste e no Eixo de Integração Norte-Sul resulta de fundamental importância o
desenvolvimento sustentável do Vale.
Associada à estratégia de redução dos desequilíbrios espaciais e sociais o PPA propõe as seguintes diretrizes:
62

E du ar do A. C . G arc i a

- criação de novas oportunidades de ocupação, [a serem incorporadas nos planejamentos setoriais e no Plano Diretor
que os integra], da força de trabalho, bem como melhoria das condições de trabalho e produtividade do pequeno
produtor;
- redução dos custo de produtos de primeira necessidade e melhoria das condições de vida nas aglomerações urbanas
críticas (saneamento, habitação, transporte coletivo etc.);
- ampliação do acesso da população aos serviços básicos de saúde [saneamento];
- melhoria educacional, com ênfase na educação básica [educação ambiental];
- mobilização da sociedade e comprometimento do governo para a erradicação da miséria e da fome;
- fortalecimento da cidadania e preservação dos valores nacionais.
c) Inserção competitiva e modernização produtiva envolvendo a reestruturação e modernização do sistema produtivo
com a incorporação do progresso técnico e de novos métodos de gestão [planejamento] e organização (formação de
recursos humanos e ampliação da infraestrutura econômica, entre outras), com diretrizes que deverão afetar todos os
setores. Entre essas propostas de diretrizes se relacionam:
- modernização e ampliação da infraestrutura, bem como fortalecimento de setores com potencial de inserção e
estímulo à inovação tecnológica e à restruturação produtiva [neste contexto, são grandes os desafios da P&D para
incorporar os potenciais e reduzir as restrições/limitações naturais; parte desse desafio é orientado para a definição
de práticas de conservação e manejo integrado dos recursos água-solo-biodiversidade];
- aumento da participação do setor privado em investimentos para o desenvolvimento [com ênfase na formação do
capital social, o maior patrimônio do País].
Dentro das ações e projetos do PPA 1996-1999 relacionados com os recursos hídricos, principalmente no semi-árido
do Nordeste (grande parte do Vale), as políticas, as quais tradicionalmente privilegiaram a oferta de água em detrimento de
seu aproveitamento racional e que permitissem contemplar objetivos sociais mais amplos, exigem medidas inovadoras e
participativas para reverter o quadro adverso que se apresenta nos cenários atuais. Parte dessas políticas se definem e
aplicam em programas como o PRO-ÁGUA.
Para tal propósito, se dará prioridade à conclusão de obras de irrigação e de infraestrutura hídrica. Investimentos em
infraestrutura hídrica, no valor de R$3,5 bilhões que permitirão ampliar a capacidade de acumulação de água em 11,2
bilhões de m3, envolvendo a construção de barragens, açudes e canais.
Serão exigidas, também, obras para a agricultura irrigada de 970 mil ha, bem como investimentos para modernizar o
gerenciamento [planejamento] dos recursos hídricos no País, no valor de R$100 milhões, envolvendo a implantação de
comitês de bacias hidrográficas e a elaboração de Planos Diretores de bacias hidrográficas. A SRH/MMA se prepara para
coordenar estas ações e orientá-las na implantação, de maneira consistente e integrada com as propostas dos Projetos de Lei
do PPA 1996 - 1999, da Política Nacional de Recursos Hídricos e de outras políticas do meio ambiente e promotoras do
desenvolvimento descentralizado, participativo e sustentável.
Conforme considerações apontadas na metodologia, a gestão dos recursos hídricos configura-se a partir de vários
elementos, entre eles os contemplados na política de recursos hídricos, no planejamento criterioso e na ação
administrativa descentralizada e participativa. Estes elementos, para o caso do setor hídrico, são traduzidos em medidas
integradas no Plano Diretor. Entretanto, esta condição não é suficiente; é preciso vontade e decisão política o bastante para
tornar efetivos os planos diretores realizados na gestão.
Por sua natureza, a política de recursos é concebida a nível central e dentro do novo conceito do Estado moderno,
sendo a sua implantação realizada em níveis local, regional, estadual e nacional, (internacional ara os casos de bacias
63
Política para o planejamento e gerenciamento dos recursos hídricos
da Bacia do Rio São Francisco

internacionais: Amazônica, com claras especificações técnicas e definições de atuação dos órgãos participantes, conforme
esquema geral, de processos em curso.
A parte que segue pressupõe que esse processo político atinja seus objetivos e/ou seja implantado, definindo os
elementos da política de recursos hídricos necessários para realizar o planejamento e delinear as medidas a serem
implementadas pelas instituições governamentais, nos níveis Federal, Estadual e Municipal. Estas medidas, integradas às
medidas da iniciativa privada, deverão constituir o Plano Diretor, um ajuste e/ou adequação, se necessário, do Planvasf, o
qual, sob uma coordenação eficiente e eficaz, deverá ser capaz de induzir/conduzir o desenvolvimento sustentável do Vale.
O conjunto ordenado de setores que compõem o Plano, conforme a prioridade de cada um deles, é o resultado de
avaliações de priorização e de referências/experiências de diversas comissões de avaliação propostas para este fim. Estas
considerações são propositadamente omitidas nesta síntese, admitindo-se que os setores prioritários componentes do Plano
Diretor da bacia do São Francisco sejam:

5.1 Recursos hídricos


Os fundamentos da gestão se inspiram, principalmente, nos fundamentos da Política Nacional de Recursos Hídricos,
tornando-se impositiva na medida em que a escassez relativa da água se acentua, com as demandas hídricas, em
determinadas sub-regiões do Vale, se aproximando às disponibilidades senão constantes, em decréscimos.
Algumas questões básicas a serem atendidos pelo gerenciamento desses recursos, orientadas por recomendações de
conferências, principalmente da ECO-92, Agenda 21, Capítulo 18, sintetizadas por Cadavid Garcia 1996b e 1996c) são:
a) as ações e estratégias da gestão devem ser integradas, sem dissociação de aspectos quantitativos e qualitativos da
água, considerando as fases meteórica, superficial e subterrânea do ciclo hidrológico;
b) a unidade geográfica básica para o planejamento e o gerenciamento dos potenciais hídricos é a bacia hidrográfica,
devendo ser realizados de forma descentralizada e contar com a participação efetiva e articulada do Poder Público,
dos usuários e das comunidades;
c) no desenvolvimento e gerenciamento dos recursos hídricos se deve promover o enfoque interdisciplinar dinâmico,
interativo, iterativo e multisetorial que leve em conta a diversidade e as peculiaridades físicas, bióticas, sociais,
econômicas, tecnológicas e culturais das sub-regiões do Vale, considerando, por um lado, as necessidades e
prioridades da coletividade, e pelo outros, os potenciais e limitações do meio hidrológico; neste processo de
desenvolvimento se devem elaborar projetos e estudos que sejam economicamente eficientes e socialmente
adequados;
d) diversos estudos e projetos realizados com base em termos de referências adequados e viabilizáveis em nível local e
regional; parte desses estudos se orientam para a avaliação dos recursos hídricos feitas em termos de diagnósticos
integrados, devendo ser realizados com técnicas, métodos e tecnologias apropriadas às condições da região,
assegurando o máximo aproveitamento da informação na proposição de políticas e no ajuste do planejamento e
gestão; se deve desenvolver dispositivos institucionais para garantir a coleta, análise, armazenamento, tratamento e
divulgação de informação sobre qualidade e quantidade dos recursos hídricos para subsidiar instrumento da gestão
como os de outorga de direitos de uso, cobrança pelo uso e monitoramento de “estudos”; faz parte da avaliação
capacitar e manter recursos humanos qualificados;
e) manter a integridade dos hidro-ecossistemas a partir de um inventário completo e documentado das fontes
superficiais e subterrâneas desses recursos, através de estudos e programas de prevenção, proteção, recuperação e
políticas de conservação e manejo integrado dos recursos hídricos. Esta atividade pressupõe estabelecer critérios de
64

E du ar do A. C . G arc i a

qualidade física, biológica e química para as massas de águas superficiais e subterrâneas, bem como mecanismos
operacionais que garantem os “estados” de qualidade;
f) manter e garantir o abastecimento de água potável e o saneamento ambiental mediante o planejamento e a gestão
integradas da água e dos despejos líquidos e sólidos.
O sistema de abastecimento de água para uso múltiplo compreende diversas propostas e propostas com diversos
enfoques e considerações, algumas em andamento. Uma dessas propostas com diversos enfoques é o Projeto de
Transposição de Águas do rio São Francisco.
Conforme a abordagem do Ministério da Integração Regional, a proposta consiste na captação de água do rio São
Francisco (provavelmente em locais próximos a cidade de Cabrobó -PE) para abastecer regiões semi-áridas de
Pernambuco, Ceará, Paraíba e Rio Grande do Norte, com o armazenamento de água em grandes reservatórios que
alimentarão rios intermitentes. Nessa proposta, e segundo estimativas da CODEVASF, a vazão regularizada na barragem
de Sobradinho, de 2.060m3/s, garantiria apenas os compromissos de geração de energia e uso consuntivo de perímetros de
irrigação propostos, se ocorrer um longo período de secas severas.
Em outra abordagem do Projeto considera a necessidade de acrescentar mananciais, interligando reservatórios por
canais em nível, conectados ao rio São Francisco em pontos como o reservatório de Sobradinho, Cabrobó e o reservatório
de Itaparica. Nesses canais se captariam as precipitações locais sendo interligados a mananciais perenes, com derivações do
rio significativamente menores, apenas para complementar os níveis dos reservatórios que alimentarão os rios
intermitentes.
Em ambos os casos, conforme recomendações explícitas no campo normativo e legal da Comissão Parlamentar
instituída para a avaliação de obras pela Decisão no. 227/95 do Tribunal de Contas da União e por outras disposições
relativas a avaliação de impactos ambientais e relatórios desses impactos, estas propostas são colocadas no marco do
ajuste técnico-científico e da negociação operacional-administrativa.
A utilização crescente de águas subterrâneas, especialmente nos aquíferos sedimentares, decorre das vantagens que
essa fonte apresenta sobre os recursos de superfície e do avanço no conhecimento de suas condições de ocorrência, quanto
à tecnologia de captação. No entanto, a prática de explotação de águas subterrâneas no País e no Vale (semiárido), tem sido
essencialmente predatória, determinada por uma visão imediatista de uso dos recursos.
No Vale o potencial hidrogeológico nos aqüíferos livres descontínuos poderá constituir uma reserva para aliviar a
pressão de demanda hídrica no semiárido nordestino, devendo ser orientada para contemplar objetivos sociais mais
amplos, incorporando novas formas de financiamento e de gestão. A semelhança do Projeto de Transposição, este potencial
deve ser cuidadosamente planejado seguindo as recomendações normativas, legais e operacionais pertinentes, bem como os
correspondentes critérios de avaliação contemplado no Plano.
Qual é essa pressão? Por um lado, os indicadores de crescimento econômico, de crescimento da população e de
melhorias nas condições de vida, os quais determinam o crescimento da demanda de água. Pelo outro, os elevados índices
de degradação do meio ambiente, o comprometimento de reservatórios e a rápida aproximação de indicadores críticos da
vulnerabilidade do sistema hídrico em parte do Vale que determinam a queda na oferta de água.
Estas duas forças, quando consideradas em projeções para horizontes de 20 ou mais anos mostram, mantidas as
tendências, situações críticas insustentáveis, principalmente nas bacias de rios intermitentes onde predomina o uso
consuntivo de água.
O aumento da oferta hídrica, quando planejada em bases sustentáveis, pressupõe um diagnóstico detalhado dos
fatores que condicionam essa oferta, para orientar possíveis construções de obras de regularização de vazões de alguns
afluentes do rio São Francisco, e obras de captação de bacias vizinhas, que garantiriam, sob determinadas condições de uso
e manejo (a serem convenientemente caracterizadas), o funcionamento de reservatórios interligados por canais e a
disponibilidade hídrica, cuidado do controle de enchentes e de poluição, bem como de combate às secas.
65
Política para o planejamento e gerenciamento dos recursos hídricos
da Bacia do Rio São Francisco

Nesse processo, a primeira atividade é a avaliação do “estado” da arte. Isto pressupõe o levantamento, avaliação de
consistência, armazenamento e tratamento de dados, colocados em sistemas para um gerenciamento moderno e necessário
no planejamento e gestão dos recursos hídricos. Partes desses sistemas são constituídas pelo cadastro de usos e usuários da
água e pelo inventario das disponibilidades das diversas formas de reservatórios de água no Vale.
Com base nesse “estado” se determina a necessidade de complementação dos dados existentes para se ter uma
amostra hidrometeorológica e hidrológica robusta e suficiente, conforme conceitualizado neste documento. Esta
complementação pressupõe, por sua vez, a parceria e a efetividade de convênios CODEVASF - DNAEE - INEMET - INPE
etc.
Assim sendo, a primeira atividade do planejamento para a gestão dos recursos hídricos, trata do diagnóstico do setor
hídrico em termos de dados consistidos disponíveis e dados necessários para o planejamento das obras que aumentarão a
disponibilidade hídrica e orientarão sua distribuição, uso e manejo pelos critérios do desenvolvimento sustentável.

5.2 Meio ambiente


Os modelos de crescimento e diversos planos aplicados no Vale, conforme síntese apresentada inicialmente,
começam a mostrar-se insustentáveis e com sinais de depredação e vulnerabilidade do sistema natural; estas características
apontam para a necessidade de mudanças de atitude e comportamento da sociedade e do Governo diante do
esgotamento/erosão progressivas de recursos e ambientes naturais e a falta de capacidade de recuperação (resiliência) dos
ecossistemas. Dessas pressões se destaca a desenfreada competição de usos da água entre hidreletricidade, agricultura
irrigada e abastecimento doméstico.
Da complexidade dos problemas da área ambiental apenas se relacionam dois aspectos para o planejamento e gestão
integrados:
a) recuperação e preservação de “estados” de qualidade da bacia hidrográfica que propicie a restauração do potencial
de recursos pesqueiros e a incorporação do mesmo à atividade produtiva (setor pesqueiro) mediante instrumentos
criteriosos de planejamento e gestão; parte das ações para atingir esse objetivo se orientará, prévios os estudos do
caso, para a restauração de habitats e para o repovoamento de espaços e espécies aquáticas atualmente
superexplotadas, de modo a recompor os estoques e propiciar a sua exploração sustentada;
b) proteção de ambientes e recursos naturais em processos acelerados de degradação, como é o caso do solo e da biota,
com efeitos negativos nas terras erodidas (redução significativa da vida útil das terras agricultáveis), ao longo do
transporte na calha dos rios pelo desgaste de equipamentos nas obras hidráulicas, e nos lugares de assoreamento,
leitos e barragens, pela redução da vida útil econômica de reservatórios.
Os processos de desertificação, os crescentes níveis de erosão do solo e os impactos negativos no meio ambiente,
urgem por uma solução racional, operacional (exequível) e sistemática, associada ás mudanças e aos ajustes em sistemas
como os jurídico e legal, econômico e administrativo.
À semelhança do setor hídrico, o tratamento das questões de qualidade do meio ambiente pressupõe o levantamento
do “estado” da arte, a avaliação desse “estado” à luz da modernidade, possibilidade e exigência do cenário desejável e
possível, e diversas atividades para preencher os vazios, neste campo, e realizar as necessárias adequações que evitarão a
continuação dos processos de degradação e perdas do patrimônio natural do Vale e áreas de influência.
Os projetos novos envolverão programas de manutenção e recuperação da cobertura vegetal e proteção à fauna.
Preveem, além da preservação de áreas a serem protegidas por lei, o uso e manejo adequado da vegetação, água e solo,
especialmente quanto à salinização e erosão, e ainda o monitoramento da flora e fauna, a partir de inventário e cadastros
iniciais.
66

E du ar do A. C . G arc i a

Serão desenvolvidos ou intensificados programas de educação ambiental e sanitária em caráter permanente e


sistematicamente aprimorados/adequados, com a finalidade de orientar as atividades pertinentes nos projetos de irrigação,
quanto à necessidade de cuidados com a manutenção de “estados” de qualidade ambiental proveniente do manejo adequado
das águas de irrigação e das águas servidas, manuseio e destinação adequada de agrotóxicos, tratamento e destinação final
de resíduos (esgoto e lixo).
Os programas de monitoramento e controle da qualidade das águas são fundamentais quando se considera o uso in
natura para dessedentação humana e animal, dada a racionalidade econômica das medidas preventivas e educativas. Neste
sentido os programas de prevenção e controle de poluição por insumos agrícolas, de recuperação de áreas degradadas, de
preservação e aprimoramento de “estados” de saúde, de deslocamento e reassentamento de moradores nativos de
determinadas áreas do Vale, entre outras, são prioritários e objetos de planejamento e gestão.
Nesta área as estratégias de planejamento, organizadas em pelos menos três grupos, são orientadas para definir
estratégias e parcerias inter-institucionais (SRH/MMA-EMBRAPA-IBAMA-CODEVASF-EMATERs etc., visando a
definição em implanatação de ações compartilhadas definidas, em acordos e parcerias, para diversos horizontes:
Ações de curto prazo:
a) realizar estudos de ordenamento e zoneamento em áreas críticas para subsidiar as ações mitigadoras de controle da
erosão dos solos e da biodiversidade;
b) realizar diversos estudos para a determinação e caracterização de cenários ótimos sustentáveis de uso e de manejo do
solo e de outros recursos sob forte pressão antrópica (descritos na relação de problemas);
c) definir critérios para a avaliação, controle e monitoramento sistemáticos das áreas críticas e outras com limitações e
propensão à degradação ambiental, em função de características técnicas como erosividade, erodibilidade.
Ações de médio e longo prazos:
a) definir e implantar ações de reflorestamento em áreas de preservação e/ou a serem restauradas;
b) definir e implementar obras de restauração e de proteção para a recuperação;
c) definir e implementar programas de educação ambiental.

5.3 Saneamento e saúde


No setor se registram graves problemas com elevado custo social afetando, principalmente, populações com menos
de 5.000 habitantes. As soluções diferenciadas das severas restrições no abastecimento de água potável, principalmente
para a região do semiárido nordestino, está vinculada, em muitos aspectos, à solução de problemas dos recursos hídricos,
tais como: processamento de água, manejo de fontes, proteção de qualidade de mananciais, aumento da disponibilidade de
água potável etc.
A política de saneamento no Vale obedecerá a diretrizes, entre outras:
a) a participação dos diversos agentes, locais, regionais e estaduais atuantes na bacia, envolvidos no planejamento e
gestão dos serviços de saneamento básico;
b) relativa flexibilização da prestação dos serviços para atender à diversidade geográfica, social e econômica do Vale,
observando as peculiaridades, potencialidades e possibilidades locais e regionais;
c) integração das ações e estratégias do setor de saneamento entre si e com as de outros setores e políticas afins:
recursos hídricos, agricultura irrigada, saúde, desenvolvimento urbano, renda/emprego, meio ambiente etc.;
67
Política para o planejamento e gerenciamento dos recursos hídricos
da Bacia do Rio São Francisco

d) abertura do setor para a área privada reunindo capacidade de planejamento e gestão e a possibilidade de
financiamento para o setor;
e) fortalecimento da função reguladora do Estado e das funções de execução, controle e monitoramento definidas no
âmbito dos Municípios.
Os programas de saneamento deverão estar voltados à ampliação da cobertura dos serviços de abastecimento de
água, esgotamento sanitário, coleta e destinação final de resíduos sólidos e líquidos e à proteção permanente e sistemática
de reservatórios, mananciais, matas ciliares e outros ambientes importantes para a manutenção de “estados” de qualidade
do sistema hidrológico. Desta forma, as principais ações e projetos do saneamento integrado se orientarão para o
planejamento e gestão dos serviços, destacando, a implantação ou aperfeiçoamento de programas de qualidade da água e de
combate da poluição hídrica.

5.4 Energia
Apesar do elevado potencial hidrenergético da bacia, os estudos mostram déficit no atendimento deste serviço à
população de baixa renda e no atendimento da demanda de determinados setores como o de irrigação. Em alguns casos
deve-se levar em conta o esgotamento de fontes regionais de energia hidrelétrica.
Para aproveitar o potencial hidrenergético e, concomitantemente com o tratamento dos problemas dos recursos
hídricos e de qualidade do meio ambiente, algumas medidas deverão ser motivo de planejamento para a gestão, quando
atendidas as exigência dos órgãos governamentais, assegurada a participação efetiva da comunidade e garantido o alicerce
técnico-científico necessário da sustentabilidade econômica, social e ambiental. Entre essas se relacionam as seguintes:
a) a implantação de infra-estruturas hidráulicas de captação, regularização (aspecto destacado e considerado básico
neste documento), distribuição de água e geração de hidroeletricidade no Vale e bacias vizinhas para o atendimento
amplo local e regional;
b) a geração de energia elétrica através de fontes alternativas para abastecer perímetros de irrigação.

5.5 Transporte
O PPA 1996-1999 considera que a hidrovia do São Francisco deverá ser revitalizada, com investimentos estimados
em R$ 25 milhões, destinados para a melhoria das condições de navegabilidade entre as cidades de Pirapora e Juazeiro,
efetuando-se obras de dragagem nos passos de areia, sinalização em trechos como o lago de Sobradinho e Barra-Pirapora,
balizamento e aquisição de equipamentos destinados à manutenção da hidrovia em trechos mineiros, de forma a viabilizar o
escoamento competitivo dos pólos industriais (elevado potencial da demanda de gipsita, insumo para cimento, por
exemplo) agrícolas (grãos e algodão, entre outros) e centros em desenvolvimento, para os quais se estimam, no mediano
prazo, volumens em torno de dois milhões de t/ano, 60,0% acima do maior volume de carga já registrado na hidrovia.
Na área de transporte deverão ser propostos estudos de viabilidade técnica-econômica para a melhoria da
navegabilidade de trechos como os de Rio Grande (350 km) visando a captação de cargas da região de Barreiras, e trechos
a jusante de Petrolina para viabilizar a integração intermodal com a ferrovia Transnordestina até o Porto de Suape; isto
representará significativa redução de custos de transporte; outros estudos serão desenvolvidos para a análise de viabilidade
intermodal hidrovia-ferrovia Pirapora-Unai-Malha Centro de grandes perspectivas para o desenvolvimento desses centros .
Outras medidas se orientarão para a “desfederalização” da empresa de navegação FRANAVE, como parte do
processo de modernização do Estado.
68

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5.6 Agricultura e irrigação


A política hídrica no Brasil tem se concentrado e orientado, em geral, para a construção de obras físicas, algumas
questionáveis e parte delas não concluídas ou sem lograr cumprir o cronograma de implantação e as metas previstas, sem
planejamentos nem gerenciamentos integrados e racionais dos recursos hídricos e capaz de conduzir a um aproveitamento
ótimo e sustentável do potencial desses recursos no Vale.
Parte dos objetivos de um novo modelo de irrigação e drenagem agrícola são definidos para subsidiar e estabelecer
critérios e diretrizes técnicas e administrativas para avaliar a necessidade e a conveniência social, econômica e ambiental
(capacidade de suporte com o mínimo e tolerável risco) de sustentabilidade do meio hidrológico. Para este propósito a
SRH/MMA se prepara para desempenhar a sua missão: coordenar e orientar aos parceiros para o estabelecimento de
estratégias voltadas à motivação de produtores agrícolas e da agro industrialização, a utilizarem as fontes hídricas para a
irrigação, sob bases econômicas, de mercado e critérios de sustentabilidade do meio ambiente; estabelecer critérios e
indicadores de normais ambientais para o aproveitamento hidro agrícola; subsidiar, incentivar e contribuir com os parceiros
para a promoção de formas de planejamento e gestão emancipada de perímetros irrigados.
As ações são orientadas para a obtenção de expressivos e sustentáveis ganhos na produtividade agrícola, redução de
custos e perdas no processo produtivo, maior eficiência no repasse de inovações tecnológicas aos produtores e tecnologias
mais eficientes de irrigação, e de uso e manejo racional dos recursos água-solo. Essas ações se relacionam e estão
vinculadas com instrumentos de política agrícola, aplicações de investimentos ao setor e com o desempenho da P&D para
incorporar, com eficiência e sustentabilidade, os potenciais ambientais.
Os resultados esperados, no contexto do novo modelo, resultarão em novas técnicas e novas tecnologias de irrigação
agrícola, em atividades como: captação, uso e manejo de águas nos perímetros irrigados, sistemas de produção
tipologizados com qualidade, agro industrialização vinculada ao processo de produção primária, comercialização,
mercados, outros instrumentos do desenvolvimento agrícola como crédito, assistência técnica ao produtos-alvo etc.; estes
resultados esperados são consistentes com atividades do planejamento em setores como os de transporte, educação e
treinamentos, energia, P&D e C&T e organização social, entre outras propostas para o desenvolvimento do Vale e áreas de
influência.

5.7 Educação
Neste setor os diagnósticos apontam para graves e profundas deficiências na infraestrutura educacional, na
composição, qualificação e dotação do corpo docente, e, principalmente nos pobres resultados nos discentes. As perdas
devidas à repetência e à evasão escolar registrados no Nordeste e no Vale atingem níveis não toleráveis num contexto de
desenvolvimento. Na educação ambiental e na capacitação através de cursos profissionalizantes se observam grandes
perspectivas de formação do capital social que contribuirá para viabilizar o próprio desenvolvimento sustentável do Vale e
áreas de influência.
Uma fonte do processo de mobilização social e de indução ao compartilhamento de responsabilidades no programas
de descentralização, bem como o da inserção da dimensão ambiental na atividade econômica, como exigência da realidade
no setor de recursos hídricos, é derivada da educação, com programas, infraestrutura e condições salariais adequadas.
A construção do capital social é possível com o investimento em educação orientado para educar para a
convivência, para aprender a planejar, interagir e decidir em grupo, visando a proteção e a conservação do entorno, para
aprender a valorizar esse entorno e, dessa forma participar conscientemente da conservação e da proteção da água no
presente e para futuras gerações. É a partir desse capital social e com base em centros de referências diretrizes e
princípios, que ações como o movimento de cidadania pelas águas, dá conteúdo à tomada de consciência conservacionista,
ao manejo sensato, integrado e criterioso dos recursos hídricos.
69
Política para o planejamento e gerenciamento dos recursos hídricos
da Bacia do Rio São Francisco

Diversas atividades em outros setores do desenvolvimento como as de geração e difusão de tecnologias, fomento às
atividades produtivas da agricultura e artesanais, e às de conservação das tradições locais, à educação para o saneamento
básico e o fomento ao turismo, entre outras, estão relacionadas diretamente com a educação e com a conscientização da
necessidade e das vantagens de processos, produtos e serviços “limpos” e sustentáveis.

5.8 Pesquisa e desenvolvimento, e ciência e tecnologia


Estas atividades, quando devidamente orientadas (para evitar os efeitos negativos de “segunda geração” das
modernas, porém não adequadas tecnologias ao meio ambiente) e integradas (para aproveitar o sinergismo), permeiam e
dinamizam/influenciam todos os setores do desenvolvimento, com destaque para os de educação e de formação do capital
social. As novas vantagens da economia e da modernidade estão ancoradas nos resultados dessas atividades.
As políticas para o planejamento e gestão dos recursos hídricos deverão aproveitar o ensejo das ações e estratégias
contempladas nos Projetos de Lei do PPA 1996-99 e da Política Nacional de Recursos Hídricos, entre outras, que na área
de C&T propõem:
a) revisão da estrutura de incentivos fiscais de apoio a P&D, aprovação de projetos de incentivos à C&T e P&D e
estímulo à entrada de capital de risco para investimento nessas atividades;
b) fortalecimento da infra-estrutura e consolidação de núcleos de excelência em C&T e de recursos humanos (capital
social) para P&D, bem como estabelecimento de centros tecnológicos para a difusão de práticas modernas e para o
aumento da transferência de tecnologia; as ações se orientarão para reforçar, incentivar ou adequar instrumentos e
meios da capacitação científica e da pesquisa na região, mediante investimentos, criteriosamente planejados e
adequadamente aplicados, na formação do capital social, bem como na articulação entre instituições nacionais
(Embrapa, Universidades, centros de pesquisa privadas etc.) e internacionais;
c) apoio direto à pesquisa privada e ao processo de inovação em pequenas e médias empresas, e estimulo à interação
empresa-universidade; parte desse esforço deverá orientar-se para a adequação da política, baseada em critérios
gerados pela P&D, de proteção de impactos ambientais, e para a conservação e manejo integrado dos recursos
naturais no Vale e áreas de influência.

5.9 Organização social


Na relação de setores prioritários objeto de planejamento foi destacada a organização social para assumir a
descentralização e exercer a parceria e compartilhamento com responsabilidade.
Na área social, o Programa Comunidade Solidária congrega as principais ações a nível federal, em articulação com
os Ministérios desse setor. O Programa trabalha com a perspectiva municipal, com dois grupos:
a) no primeiro a ênfase era para o reforço alimentar da população pobre atendendo, em 1994, 150 municípios do Vale;
b) o segundo grupo compreendia, em 1994, 17 municípios dos chamados “bolsões de pobreza”, nos quais o esforço se
orientava para projetos sociais referentes aos setores de alimentação, moradia, geração de emprego, saúde e
educação.
Um aspecto a ser destacado na política de planejamento e gestão dos recursos hídricos diz respeito a organização de
conselhos, comitês e agências de sub-bacias. Para este propósito a SRH/MMA se prepara para orientar e incentivar esse
processo de organização para a gestão.
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6 CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES
Os programas governamentais propostos e implantados ao longo de mais de cinco décadas, para o desenvolvimento
do Vale, não atingiram plenamente seus objetivos.
Desta forma, apesar de serem identificados significativos logros geográficos e setorialmente isolados, persistem
problemas há muito tempo diagnosticados, surgiram novos problemas afetando, principalmente, o meio ambiente, e o
agravamento de outros é visível, concluindo-se que a fraca ou a inexistência de articulação das ações entre as agências de
desenvolvimento e a falta de planejamento numa visão de médio e longo prazos, constituem-se fatores responsáveis por
esse fracasso relativo.
A análise dessas intervenções evidencia, entre outros, os conflitos gerados no âmbito de setores usuários da água,
como resultado de um modelo de planejamento setorial e de visão de curto prazo, atendendo emergencias, proposto muitas
vezes sob o entusiasmo de aparentes vantagens.
A concepção apresentada de planejamentos temáticos orientados para serem integrados em um Plano Diretor que
possa referenciar as ações e estratégias desenvolvidas na gestão dos recursos hídricos, bem como as formas de organização
da descentralização em conselhos, comitês e agências de bacias hidrográficas, apesar de serem concensuais, apresentam
limitações para a solução de conflitos, e poderão tornar-se instrumentos inoperantes se desvinculados de um processo de
mudança estrutural afetando, principalmente, os processos de formação do capital social. É um processo lento porém
necessário que deverá permear, de forma permanente e sistêmica, o novo modelo de desenvolvimento sustentável.
A implementação e implantação dos programas integrados das políticas de planejamento e gestão da bacia do São
Francisco deverão enfatizar a necessidade e a importância das ações compartilhadas, descentralizadas e participativas,
elaborando-se propostas inter-disciplinares de cooperação inter-institucional; isto envolve processos de negociação
provilegiados no planejamento e na gestão integrados.
Da discussão apresentada em torno dos paradigmas do novo modelo de desenvolvimento que servem de referência
para o planejamento e gestão dos recursos hídricos no Vale, ficou evidente a necessidade de uma participação mais efetiva
da comunidade organizada para assumir o compromisso da descentralização e para o exercício da parceria, de mudanças de
comportamento e posturas e da necessidade da cooperação/integração dos setores público e privado, em todos os setores e
instâncias da administração.
Todo o processo de mudanças possíveis e almejadas pela comunidade não terá consequências positivas e
permanentes em ausência de vontade política o suficiente para dar a prioridade que o problema requer e estabelecer o
compromisso dos setores público e privado que a solução pressupõe.
Em nível macro e no âmbito administrativo, as recomendações se orientam para:
a) a instituição e manutenção atualizada de um cadastro documentado de obras públicas custeadas com recursos
públicos, para fins de acompanhamento e controle pelos órgãos competentes, para auxiliar planos e gestões de
agências, conselhos e comitês da bacia e de sub-bacias, e para o controle e acompanhamento dos Estados e
municípios que compõem o Vale e com intervenções na região;
b) a reestruturação dos sistemas de planejamento, orçamento e controle internos das diversas instâncias administrativas;
c) a reestruturação e simplificação/adequação do sistema integrado administrativo financeiro, procurando a sua
integração com a elaboração da proposta do Orçamento Geral da União e dos Orçamentos Estaduais, para que esse
sistema possa ser utilizado com efetividade como ferramenta de planejamento e gestão, controle e avaliação;
d) a instituição de mecanismos técnicos, científicos e operacionais de apreciação de propostas nos aspectos físicos-
técnicos e orçamentais integrados em um cronograma de obras, e de mecanismos de acompanhamento da execução
71
Política para o planejamento e gerenciamento dos recursos hídricos
da Bacia do Rio São Francisco

e avaliação dessas obras para reduzir o índice de obras iniciadas e não concluídas; neste sentido a SRH/MMA se
prepara para atender, na parte que a ela cober, essas exigências;
A discussão no texto permite sintetizar e concluir sobre a orientação geral de linhas e estratégias de ação, com
destaque para as seguintes: caracterizar e ordenar os problemas seculares e emergenciais; elaborar planos operacionais
integrados e sequências nos diversos horizontes; definir e acordar as participações integradas das instituições e das
disciplinas, tanto em nível técnico-financeiro como profissional; incentivar, apoiar e participar de todas as formas de
organização e estruturação (nos marcos legais e operacionais) das associações comunitárias para que, conforme a natureza
e possibilidades de cada uma, assumam seu papel no planejamento e na gestão descentralizada; procurar a melhoria da
qualidade ambiental mediante a incorporação/adequação de critérios como os das séries ISO e outros.
O Plano Diretor da bacia deverá ser adequadamente articulado com os instrumentos, diretrizes, princípios e
fundamentos das políticas de planejamentos temáticos integrados no Plano Diretor e dos recursos naturais da União e dos
Estados componentes do Vale, devendo considerar o fortalecimento institucional e a dotação necessária de recursos para
efetivar a descentralização, realizar os planejamentos e executar a gestão propostas nessas instâncias.

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