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6’ PERCEPCAO DO RISCO } £ ‘Atotaldde nto igual o soma dos partes” (Wundt), Antes de tudo é preciso que se tenha nog6es bdsicas o sobre como se dio proceso perceptivo. Locke foi um dos mais famosos estudiosos no campona percepgio sensorial e entendeu, assim como Aristételes, que as percepcées se dio a partir do que jd vivernos e das experiéncias que tivemos wrod assim nossa no¢o de realidade. Dessa forma, a percep¢So ocorre nao apenas de forma passiva ou por meio de associaces livres, mas adquirindo sentido € significado pela reflexo e abstracSo criando uma experiéncia completa.” Do mesmo modo, Kant entendeu que todo objeto percebido buscaria algum: significado e sentido formando uma organiza¢ao de elementos que resultaria ‘em um algo coerente. Em outras palavras podemos entender também que percepgao nada mai 4 do que um processo de estimulos sensorials que se organizam em sinais > neurais, sendo assim interpretados em informacOes e significado. Desse modo, primeiro ocorre a sensa¢ao (captacSo do estimulo) e depois a percep- Go (processamento do estimulo em informacgo). A férmula mais simples. 3 apresenta-se desta maneira: ie oo wecerio ata [sme | Es Gans me a ya Para quea sensagSo ocorra, énecessério que haja uma energia minima desse - estimulo para que ocorra o processamento. Devemosainda consideraroestado emocional, as condigbes de satide, experiéncias anteriores, expectativas que influenciargo diretamente nesse processo perceptivo. A isso chamamos de Limiar Absoluto, ou seja, a condico minima necesséria para que um estimulo ff “T ail + uci Sides Sebben seja percebido e desencadeie algum tipo demudanca comportamental. Outro aspecto a considerar, diz respeito ao limiar diferencial, ou seja, 0 quanto as pessoas podem distinguir entre dois estimulos. Exemplo: amaioria das pessoas no consegue distinguir entre a ponta de um ou de dois dedos repousados sobre suas costas (tato), ou a presenca de outro instrumento que foiacrescido uma orquestra (audicao). Outro aspecto a observar refere-se 8 adaptacdo sensorial que ocorre com © passar do tempo diante de ur mesmo estimulo permanente e que nao se modifica. Este tendea desparecer de nossa sensagéo, visto que perde em ener- gia reduzindo as mensagens neurais e, por consequéncia, 0 processamento perceptivo. Um exemplo deste fendmeno: Em dias nublados a luz ¢ filtrada pelas nuvens e o contraste diminui, mesmo que a intensidade se mantenha, dessa maneira o vermelho parece menos vermelho, o verde parece menos ver- de, 0 azul, mais azul e assim por diante. J4 com pessoas deprimidas verifica-se uma percep¢o de contraste de cores diminu(da. Em um dia ensolarado uma pessoa clinicamente deprimida poderd ter uma percep¢o de cor diferente de uma pessoa saudavel. Dessa forma, vocé acredita que a maneira como percebemos as cores podem afetar o nosso humor, da mesma maneira que ‘© nosso humor pode afetar nossa percep¢ao de cores? Nossa percepgao de cores pode influenciar nossa vida psiquica? Poder uma percepcio deficiente das cores ser um dos fatores que influenciam o surgimento de uma depressao? Portanto, ndo reconhecemos o ambiente como ele na realidade se apre- senta, mas como somos capazes de reconhecé-los partindo de nosso padrgo mental, nossos conceitos, valores e cultura. Quero dizer com isso que essa percepsao da realidade dependerd de registros que jé acumulamos, nossa ‘carga emocional e cognitiva que dé sentido e significado ao que nos rodeia. (© que vocé vé no primeiro olhar? E a pessoa ao seu lado, 0 que ve? ° _AvaliaggoPsicoszoca psicologia aplicada & segurangano trabalho CULTURA, VALORES E CIRCUNSTANCIAS, Para compreender as diferencas na percepco, devemos considerar as variagdes de fenctipo (a pessoa aqui e agora) que envolvem diferencas bio- légicas, na capacidade sensorial e cerebral, na idade e na experiéncia, assim ‘como no contexto geografico e cultural de cada individu. Isso tudo a torna singular em suas habilidades especificas, seus motivos, seus valores e seus ‘tracos constituindo, assim, sua personalidade. A experiéncia com um objeto ‘também leva a mudangas significativas na maneira pela qual este é percebido: seu reconhecimento se torna mais fécil,o objeto ¢ organizado perceptivamente de maneira diferente, aparecem novas propriedades atreladasa ele... Nareal- dade, nossas capacidades sensoriais, capacidades para descobrir os estimulos edistinguilos uns dos outros, podem ser aperfeicoadas com a pratica. As mu- dancas na percep¢ao so aspectos essenciais no processo da aprendizagem. Do mesmo modo, a forma como percebemos um objeto depende de nossas ‘motivagées, nosso estado emocional, nossos conhecimentos, até mesmo de nossas condig6es fisicas. Isso tudo influencia nossa sensibilidade para receber ‘0 objeto, assim como suas propriedades percebidas. Dependendo da motivagéo afe- tiva, por exemplo, as imagens percebidas podem ter represen- tages diferentes (um célice ou duas pessoas frente a frente, preparando-se para um beijo, se encarando, refletindo. Para compreender a influéncia da motivag3o na percepc3o, podemos ter como exemplo 0 caso do alimento. Este é percebido mais rapidamente pelo faminto do que pelo saciado e, além disso, parece também mais apetitoso a0 faminto. Uma mulher pode ser percebida pelo homem de uma determinada ‘maneira antes do ato sexual e de outra bem diferente depois. 14 as influéncias fisiolégicas nas percep¢6es podem ser ilustradas, por exemplo, em estados excepcionais associados & doenca, gravidez, menstruaggo, etc. Na mulher gré- vida, por exemplo, a capacidade para perceber os aromas € diferente. Enesse aspecto, devemos considerar 0 uso de drogas e alcool gerando alteragdes bastante sighificativas no processo de interpretacao da percepcao. Amaconha, por exemplo, pode fazer o sentido do tempo ficar deformado, assim como o * Luca Sime Sebben alcoolismo agudo e cronico pode ser acompanrado por periodos de alucinaggo ‘em que ocorrem experiéncias perceptuais assustadoras, tais como as de ver ~animais subindo as paredes de sua casa ou sendo invadida. Nossas necessidadles também se tornam determinantes no processo de percepgao. Muitos experimentos mostram que nossa necessidade nos predis- Sea perceber o que queremos. Por exemplo: um individuo com fome que ve uma imagem pouco definida pode percebé-1acomo um alimento, assim como uma pessoa carente e solitéria pode compreender a fala pouco clara de um terceiro como um convite para sair. Jaoestado emocional interfere na percepgio influenciando no pensamento eno significado do objeto percebido. Um bomexemplo disso é quando verios um rosto de alguém parecido com quem néo gostamos e imediatamente j4 sentimos uma certa antipatia pela imagem percebida. Appercepsao de uma pessoa esté diretamente associada a seus conceitos morais, seus valores éticos e culturais e até mesmo religiosos. Estes definiro fortemente sua forma de perceber a realidace que o cerca. Por exemplo, se mostrar uma foto de uma mulher ocidental de biquini na praia para um senhor 4rabe de orientago muculmana de idade avangada, suareagdo provavelmente serd de reprovacdo. Assim como se serviramesa um prato de gafanhotos fritos para um jovem ocidental, sua reacdo certamente nao seré de salivar e querer devorar essas iguarias. Apenas com algumas palavras jé podemos observar os valores do individuo. Por exemplo, a palavra “Sagrado” era mais rapidamente reconhecida por pessoas que apresentavam elevado valor religioso do que Por pessoas com outros valores predominantes. Portanto, existem comprovadamente predisposigdes perceptuals deter- minadas pelos valores, crencas, desejos ou necessidades do individuo que iro variar quanto a saliéncia, especificidade, duragdo, relacSo com outras predisposides. ‘Algumas predisposicGes dominam inteiramente a consciéncia daquele de que percebe. Se alguém est4 insistentemente em busca da chave perdida em uma gaveta em desordem, tem uma saliente predisposicao para ver a chave entre as coisas dispersas da gaveta. Outras predisposigdes so menos salientes. Ao procurar a chave, a pessoa pode encontrarimediatamente uma caneta que procurava hd muitos dias, embora possa ndo observar outros objetos. Nesse aso, a predisposigao para a chave era a mais saliente, para a caneta a menos saliente e nao existia predisposi¢go para outros objetos. ‘As predisposices diferem também quanto a sua duragio. Algumas so ‘extremamente répidas e outras mais duradouras. A mae, por exemplo, esté predisposta durante 24 horas por dia, para owvir 0 choro de seu bebé, e pode -valagoPseossocapseolgtaaplicada 3 segurancano trabalho ouvilo mesmo quando em meio a outros ruidos ou quando outras pessoas no conseguem ouvi-lo. ‘Na atual neurociéncia encontramos a contribuicgo de Weber e Fechner que ‘apontam quatro atributos bésicos de um estimulo: modalidade, intensidade, tempo e localizagSo. Csses atributos dizem respeito as diferentes localidades 8 consequente mudanca de conceito existente. Por exemplo: uma crianca do interior que vive no campo facilmente reconheceria as diferencas entre os animais que vivem a seu redor, o que para uma crianga da cidade talvez fosse uma dificuldade. Quanto maior a quantidade de estimulos referentea um mes- ‘mo objeto, maior a energia e a possibilidade de uma experiéncia perceptiva ‘mais completa. Assim, se olharmos uma arvore caindo na televisdo e sem som, teremos uma experiéncia meramente visual; mas se estivermos presenciando a queda da érvore ao vivo, teremos a experiéncia visual, olfativa, auditiva, do tato e, ainda, cenestésica (trata-se do sentido causado internamente em de- corréncia de um estimulo externo). Quando isso ocorre, a possibilidade dessa percep¢o ser ainda mais rca intensa aumenta, visto que a experiénciaadquire maior significado e sentido. Digamos que, enquanto a sensagao oferece pessoa o fundamental da realidade, na percepgdo, esse fundamental se organiza de acordo com estru- turas especificas, conferindo originalidade pessoal & realidade apreendida. A partir da percepgo que se transforma na realidade consciente, o sujeito passa a ofrecer &s suas sensagGes um determinado fundo pessoal sobre o qual se assentardo as demais futuras sensagGes. Desa forma, o objeto sensivel esté sempre se relacionando com esse fundo perceptivo individual e existiré sem- pre uma apreciavel diferenca subjetiva entre 0 objeto em sie o fundo pessoal sobre 0 qual ele se faz representar. Assim, a sensago se da por meio dos cinco sentidos jS conhecidos, porém pode sofrer alteragdes com base em dois aspectos distintos: a base fsiolégica e especificamente organica que depende da integridade do sistema sensorial e suas vias neurolégicas, e uma segunda que diz respeito a condicdo psiquica compreendida pelos elementos emocionais estabelecidos pela consciéncia de sua realidade. As alteragGes na intensidade das sensacOes referem-se ao aumento e 2 di- minuiggo do numero e daintensidade dos estimulos procedentes dos diversos campos da sensibilidade. Hiperestesia sensorial é 0 aumento da intensidade das sensacGes. € identifi cada por meio do aumento da ansiedade, maior excitabilidade da sensibilidade fisioldgica e acelerag3o do ritmo dos processos psiquicos podendo levar a0 estresse e esgotamento. a

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