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Difícil imaginar a vida sem energia elétrica. É inconcebível que uma pessoa
possa viver desprovida de iluminação, geladeira para conservar seus alimentos,
ferro de passar para manter-se asseada, enfim, de todos os eletrodomésticos que
proporcionam minimamente uma vida digna. São prioridades humanas básicas
que, suprimidas, comprometem dramaticamente a saúde e principalmente a
vida dos seus destinatários.
O fornecimento de energia elétrica, enquanto serviço público essencial, deve
ser encarado sob a perspectiva da dignidade da pessoa humana. Fundamento
da República Federativa do Brasil expressamente positivado no art. 1º, III, da
CF/88, é conceituada por Ingo Wolfgang Sarlet como a “qualidade intrínseca e
distintiva de cada ser humano que o faz merecedor do mesmo respeito e consideração
por parte do Estado e da comunidade, implicando, neste sentido, um complexo de
direitos e deveres fundamentais que assegurem à pessoa tanto contra todo e qualquer
ato de cunho degradante e desumano, como venham a lhe garantir as condições
existenciais mínimas para uma vida saudável, além de propiciar e promover sua
participação ativa e co-responsável nos destinos da própria existência e da vida em
comunhão com os demais seres humanos” 1.
Valor jurídico fonte, dele decorre um feixe de direitos e garantias fundamentais
sem os quais o homem não viveria com dignidade, tais como o direito à vida,
integridade física e liberdade. Constitui, segundo José Afonso Da Silva, “valor
supremo que atrai o conteúdo de todos os direitos fundamentais do homem, desde
o direito à vida” 2.
Muito embora seja qualidade intrínseca ao ser humano, a dignidade não deve
ser encarada como algo apenas oriundo da sua natureza, à medida que sua evo-
lução histórico-social se mostrou essencial para que adquirisse o status atual de
respeito e tutela jurídica. Partindo da concepção cristã de que o homem é criado
1 Dignidade da pessoa humana e direitos fundamentais na Constituição Federal de 1988. 2ª ed. Porto
3 Cf. Luigi Ferrajolli. Derechos y garantías: La ley del más débil. Madrid: Trotta, 2000, p.31.
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Abaixo seguem os termos do acordo celebrado nos autos da ação civil pública
acima referida:
a) Público beneficiado: Pessoas físicas residentes no Município de São Paulo –
SP que não sejam reincidentes, entendidas estas como as que não foram anterior-
mente apanhadas em situação irregular;
b) Retroatividade do cálculo: Ao invés de 5 anos, a concessionária poderá retroagir
no máximo 2 anos e até a constatação, nesse lapso, do degrau de consumo que
atestará o termo inicial da ligação clandestina;
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Cabe esclarecer que se o consumo médio da unidade residencial for de até 220 Kw/h,
o não pagamento das parcelas do acordo de parcelamento não implicará no corte
de energia acaso o consumidor esteja em dia com as contas de consumo regular.
Trata-se de acordo que, sem dúvida, favorece os consumidores de baixa renda.
Além de contemplar critérios mais justos de cobrança, impõe a prévia instau-
ração de processo administrativo antes da realização de um eventual corte, que
somente ocorrerá no caso do consumidor não optar pela celebração de acordo
para pagamento da energia consumida e não registrada, ressalvadas as hipóteses
de reincidência e de risco à saúde e segurança do consumidor.
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5. Conclusão
Referências bibliográficas :
FERRAJOLLI, Luigi. Derechos y garantías: La ley del más débil. Madrid: Trotta, 2000.
SARLET, Ingo Wolfgang. Dignidade da pessoa humana e direitos fundamentais na Constituição
Federal de 1988. 2ª ed. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2002.
SILVA, José Afonso. Curso de direito constitucional positivo. 11. ed. São Paulo: Malheiros, 1996.