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PENTAGRAMA

A revista Pentagrama propõe-se a atrair a ÍNDICE:


atenção dos leitores para a nova era que 2 INTRODUÇÃO
começou para o desenvolvimento da 4 A PEDRA DE TOQUE
BRANCA
humanidade.
5 QUAL É A ESTRUTURA
INTERIOR DO MUNDO?

O pentagrama sempre foi, em todos os 11 ORIGEM E UTILIZAÇÃO


DOS SÍMBOLOS
tempos, o símbolo do homem renascido, do
16 ÁRVORE:
novo homem. Também é o símbolo do universo SÍMBOLO UNIVERSAL

e de seu eterno devir, por meio do qual 20 SÍMBOLOS E


MAGIA
acontece a manifestação do plano divino.
24 FIGURAS GEOMÉTRICAS,
SÍMBOLOS DE EVOLUÇÃO
ESPIRITUAL
Entretanto, um símbolo apenas tem valor
34 A LINGUAGEM: UM SÍMBOLO
quando se torna realidade. O homem que INFINITAMENTE VARIÁVEL

realiza o pentagrama em seu microcosmo, em 36 CONVIVENDO


COM SÍMBOLOS
seu próprio pequeno mundo, permanece no
38 HOMEM E MULHER,
caminho de transfiguração.
SÍMBOLOS BÍBLICOS

1996
A revista Pentagrama convida o leitor para
ANO 18
operar esta revolução espiritual em si mesmo. NÚMERO 2

© Stischting Rozekruis Pers. Reprodução proibida sem autorização prévia.


INTRODUÇÃO
Os símbolos sempre tiveram algo de do Deus único. À medida em que os
misterioso. São sinais que, por um sentidos, e portanto a consciência e a
compreensão se desenvolviam, os si-
lado, dizem respeito a religiões e
nais de transmissão do conhecimento
civilizações antigas das quais nem iam tornando-se mais complexos. A as-
sempre conhecemos o grau de ele- sistência oferecida à humanidade, tanto
vação e que, por outro lado, guiam hoje como antigamente, situa-se em
nossa vida cotidiana como simples dois níveis: espiritual e material. A estre-
la de cinco pontas — o pentagrama — é
indicações.
o sinal dos Mistérios, mas também é uti-
lizado no sentido contrário.
É aí que se situa a “compreensão”
E stes ideogramas, como são chama- dos símbolos. Cada um pode interpretá-
dos, às vezes vêm de antigos sinais,
-los conforme sua consciência, o que
mas muitas vezes também são dese-
não quer dizer que esta interpretação
nhados por seu autor para transmitir
corresponda ao sentido original.
conceitos e idéias novas, de tal modo
Vivemos em um tempo em que o inte-
que possam ir servindo pouco a pouco
resse pelos símbolos está crescendo
para o mundo inteiro. Os antigos signos
cada vez mais; por um lado, por uma ne-
astrológicos dos planetas são um exem-
cessidade espiritual de descobrir a ori-
plo: eles estão na base da vasta panó-
gem das coisas; por outro, para reduzir
plia de signos empregados em toda a
a complexidade de nossa sociedade
parte pelas ciências. O mesmo aconte-
com elementos de fácil compreensão.
ce no circuito comercial. Os signos que
Neste número da revista Pentagrama,
estimulam o instinto de posse e de pra-
nossa intenção é examinar o conceito
zer são universais, como: personagens
“símbolo” e tudo o que decorre deste
bebendo ou comendo, um cartão ban-
conceito (“a simbologia”) na esperança
cário no caixa automático ou uma flecha
de que nossos leitores possam perceber
em uma placa, indicando a direção a
claramente que existe uma grande dis-
seguir.
tinção a ser feita entre o significado espi-
Chegamos a uma época em que a
ritual e material de um símbolo.
transmissão de conhecimentos aconte-
ce por meio de signos originários do
ciclo solar, como os signos do Livro de
Dzyan (cf. “A Doutrina Secreta”, de He-
lena Blavatsky, Primeira Parte), os sig-
nos da Tábua Esmeraldina, de Hermes
Trismegisto, e os que estão desenhados
nas cavernas dos cátaros, no Sul da
França. Estes signos simbolizam algu-
mas etapas que se relacionam com a
evolução da humanidade no cosmo.
Geodo, Para quem os compreende, eles expli-
pedra oca cam todo o processo, representado por
contendo um alguns traços gráficos. O círculo simbo-
pentagrama
liza Deus, que tudo contém e tudo sus-
formado
naturalmente
tenta; a cruz representa a descida da luz
(Foto ao mundo das trevas; o triângulo, a trin-
Pentagrama). dade das forças agentes que emanam A REDAÇÃO

2
A PEDRA DE TOQUE BRANCA

A Pedra branca é um símbolo sim- Este amor divino está ligado ao cora-
ples, claro, atemporal e puro do ção, ao centro do templo espiritual, e a
caminho de transfiguração. A cor todos os que são chamados para prote-
gê-lo. Para que o amor divino possa agir
branca é o som puro, eterno, a voz
efetivamente, é preciso expandi-lo. É
do silêncio, o desaparecimento e a preciso fazer com que ele seja conheci-
morte total da velha natureza ego- do, estabelecê-lo dentro do tempo. Sem
cêntrica em que o homem original este milagroso poder magnético, não
pode ressuscitar. poderíamos completar este trabalho.
Um dia, todos os seres humanos acaba-
rão compreendendo de onde caíram, de
O homem nasceu para exaltar as obras que tipo de contato se privaram, e de
de Deus e delas dar testemunho através que tipo de força pura já não podem ser-
de si mesmo. Com esta finalidade, ele vir-se. A senda da transfiguração, vivifi-
recebe um poderoso auxílio destinado cada pela Rosacruz Áurea, coloca o
unicamente ao desenvolvimento do buscador diante da alma eterna, impe-
“homem verdadeiro”, que está aprisio- recível, e diante do crescimento, dentro
nado dentro do homem natural. Neste dele, do homem-alma-espírito, vivo e
processo, a alma é profundamente im- imortal. Quem quiser cumprir esta sen-
portante. A animação de uma natureza da, transforma-se e recebe a Pedra de
supra-orgânica eleva aquele que busca toque branca. Assim, passa a ser um
a Deus com seriedade muito acima de homem excepcional, purificado pelo
seu estado de nascimento natural, e amor divino. A Pedra de toque branca
pode transformá-lo em um ser humano deve refletir o amor divino que se mani-
divino que respira o Alento Divino, o festa dentro dele, e deste modo formar a
Pneuma da Nova Aliança. pedra angular sobre a qual o homem--
O amor de Deus sempre se manifes- alma-espírito tem a possibilidade de
ta em primeiro lugar em sua totalidade. elevar-se até a eternidade.

Cubo de
mármore, na
entrada do
Templo de
Renova (Foto
Pentagrama).

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QUAL É A ESTRUTURA INTERIOR DO MUNDO?

Desde sua origem, o homem tenta ma heliocêntrico, formulado pela pri-


conhecer e compreender os proces- meira vez desde a antigüidade por
Copérnico (1473-1543). Em seu livro
sos da natureza na qual ele vive e à
De Harmonice Mundi, Kepler define o
qual ele está submetido. Ele estuda conceito de harmonia como “a conso-
os ritmos e as leis da natureza, não nância ordenada dos corpos celes-
somente para utilizá-la para suas tes”. Pitágoras, como sabemos, cha-
próprias finalidades, mas também mava os sons emitidos pelos corpos
celestes em movimento de “harmonia
para atingir a sabedoria absoluta
das esferas”, sons não audíveis pelos
por meio da pesquisa e da experi- mortais. Ora, é possível torná-los per-
mentação, “para descobrir a estrutu- ceptíveis, evidenciar vibração, som e
ra interior do mundo” (Goethe, 1749- cor com o auxílio de conceitos como o
1832). de freqüência e o de oitava.
A freqüência é o número de repeti-
ções de um fenômeno periódico que
se produz em um tempo determinado.
A unidade é o hertz: um hertz equiva-
Com o passar do tempo, a pesquisa le a uma vibração por segundo. Foi
atingiu diversos picos; mas vastos domí- decretado em 1939 que o diapasão
nios do conhecimento também se per- que vibra um la normal (o quarto la do
deram e tiveram de ser reconquistados piano) seria capaz de fazer-nos ouvir
com grande esforço nos períodos cultu- uma vibração de 440 Hz (que portan-
rais que se seguiram, quando isto foi to seria animado de um movimento de
possível. Os buscadores tentavam ler o 440 “oscilações” por segundo). Na Eu-
Librum Naturæ, tanto o grande quanto o ropa, no continente europeu, o quarto
pequeno. Este Livro da Natureza é la era equivalente a 435 Hz para a
expressado, entre outras coisas, pelas música de câmara e de orquestra em
forças eletromagnéticas, pela luz, pela Paris. Na Inglaterra, o limite seria de
cor, pelo calor, pela coesão, pelo som, 432 Hz. Para conseguir maior harmo-
pelo ritmo e pelo movimento; em resu- nia, os músicos afinam freqüentemen-
mo: pela vida. Os antigos falavam da te seus instrumentos o mais alto pos-
harmonia das estrelas, criação surgida sível, sendo que algumas orquestras
do caos, do não-manifestado. chegam a subir até 445 Hz.
A oitava é a escala de oito notas
com sete intervalos (ou tons) que for-
PERSCEPÇÃO DOS SONS INAUDÍVEIS mam uma seqüência considerada “na-
tural” (na escala diatônica). Na Grécia
antiga, esta seqüência era chamada
Johannes Kepler, que nasceu em de harmonia na teoria musical (Philo-
1517, perto de Weil der Stadt, próxima laos). Em um violino ou em um violão,
a Calw, no Sul da Alemanha, trabalha- a oitava do som dada por uma corda
va em Praga como matemático e inteira é obtida dividindo-se o compri-
astrônomo na corte do rei Rudolf II. mento desta corda por dois: este é o
Ele fez uma descrição exata do siste- primeiro harmônico deste som. Ela

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cala, solfeggiare significa cantar seguin-
do as notas, e solfeggio é cantar sem
partitura.
Foi o músico italiano Guido d’Arezzo
(992-1050) que escolheu a primeira sí-
laba da quinta linha do hino “Ut queant
laxis” para indicar o quinto tom da esco-
la, o sol. Kepler deu um som a cada pla-
neta em seu texto De Harmonice Mundi.
Para a terra, ele conferiu a nota sol (g
nas línguas anglo-saxônicas). Observe-
-se a palavra grega que significa terra:
“geos”. Talvez não seja por acaso que a
clave de sol seja baseada no som de um
dia terrestre, o som da rotação da terra
em torno de seu eixo.
Assim, parece que os sons e os rit-
mos cósmicos podem tornar-se audí-
veis para os homens mortais por meio
de seus harmônicos. Também podemos
torná-los visíveis. Se subirmos o som da
rotação da terra até sua 65ª oitava (aci-
ma do audível), atingiremos as cores do
tem uma freqüência dupla, ou seja, espectro luminoso que estão compreen-
quando uma vibração é elevada à oi- didas entre o vermelho (375 bilhões de
tava, a freqüência é dobrada. Hz ou 375 Terahertz) e o violeta (750
Terahertz), correspondendo a um com-
primento de onda entre 800 nanômetros
FREQÜÊNCIA DE ROTAÇÃO DA TERRA (vermelho) e 400 nanômetros (violeta).
Um nanômetro eqüivale à bilionésima
parte de 1 metro. A 65ª oitava do dia ter-
A terra gira sobre seu eixo em 24 ho- restre corresponde a 427 Terahertz ou
ras, ou seja, 24x60x60 = 86.400 segun- 702 nanômetros, ou seja, à cor verme-
dos. A rotação da terra tem, portanto, lho-alaranjado. Foi provado que esta cor
uma freqüência de 1/86.400 Hz. Do- exerce uma ação fortemente dinamizan-
brando esta freqüência sucessivamen- te sobre os homens e sobre os seres vi-
te, obtêm-se oitavas crescentes da vi- vos em geral. Isto é bem compreensível,
bração fundamental. Dobrando-a 24 ve- pois, agora todos sabem que o DNA (a
zes, atinge-se a freqüência de 194,1874 estrutura molecular dos cromossomos
Hz. É um tom audível que corresponde que é portadora das características
perfeitamente ao sol de 193,77 Hz. Se hereditárias) pode vibrar até 351 nanô-
ainda dobrarmos esta 24ª oitava, atin- metros (que eqüivale à 66ª oitava de um
ge-se o sol da clave de sol, o quarto sol dia terrestre).
(388,36 Hz). Portanto, podemos consi- A terra não apenas gira em torno de
De vinte
em vinte anos derar o som da rotação da terra como seu eixo, mas também em torno do sol,
Saturno e um sol extremamente grave. durante 365 dias, aos quais é preciso
Júpiter entram Em latim, assim como em português, acrescentar cerca de 6 horas. Isto signi-
em conjunção. sol significa sol. Em francês, por exem- fica, principalmente, que o início da pri-
Uma volta
plo, sol é a terra sobre a qual ficamos. O mavera, de acordo com o ritmo cósmico,
completa pelo
zodíaco leva solfejo é o ensino dos princípios da mú- cai no dia 20 ou 21 de março, que é o
cerca de 2.400 sica. Solfejar é cantar a seqüência de ponto de intercessão do plano do equa-
anos. (Kepler). sons. Em italiano, solfa quer dizer es- dor e do plano da eclíptica (dia em que

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HERMES TRISMEGISTO, LIVRO 9 1 Sistema solar de
Kepler com as
figuras geométricas
Vers. 4 – Em verdade, antes de tudo e acima de tudo,
de Platão
realmente está Deus: o Eterno, o não-criado, o Criador (Mysterium
de todas as coisas; Cosmographicum,
O segundo, o mundo, é por ele formado segundo sua imagem, Tübingen, 1596).
é por ele mantido e nutrido e dotado de imortalidade, visto que,
emanado de um pai eterno, é, como ser imortal,
possuidor de vida desde a eternidade.

Vers. 6. Da matéria que ele destinou a esse fim, o Pai


formou o corpo do mundo; ele lhe concedeu a forma esférica e
determinou as qualidades das espécies que o deveriam ornar,
conferindo-lhe uma materialidade eterna, já que a substância
material era divina.

Vers. 7 – O Pai, após ter disseminado na esfera as


qualidades das espécies, encerrou-as como numa gruta, visto
que ele quis ornar sua criação com todas as qualidades.

Vers. 8 – E envolveu o corpo inteiro da terra com


imortalidade, a fim de que a matéria, desatando-se da força
conectora do corpo, não voltasse ao caos, que lhe é próprio.

Vers. 9 – Porque, meu filho, quando a matéria ainda não


havia sido formada num corpo, era não-ordenada. Ela
mostra isto em certa medida mesmo aqui, pela faculdade do
crescimento e do decrescimento, faculdade esta que os
homens chamam de morte.

Vers. 10 – Esse desordenamento, essa volta ao caos,


apresenta-se somente em criaturas terrestres. Pois os corpos
dos seres celestes mantêm a ordem única que desde o
princípio lhes foi concedida pelo Pai; e essa ordem é mantida
indestrutível mediante o retorno de cada um deles ao estado
de perfeição.

Vers. 11 – O retorno dos corpos terrestres ao seu estado


anterior consiste na dissolução da força conectora, que volta
aos corpos indissolúveis, isto é aos corpos imortais. Desta
forma, surge a eliminação da consciência dos sentidos, mas
não o aniquilamento dos corpos.

7
Modelo em metal
do Mysterium
Cosmographi-
cum, Museu
Kepler, em Weil
der Stadt,
Alemanha.

o sol passa pelo equador e quando a nal passa-se um ano trópico de 365,
noite tem a mesma duração do dia.) No 24219879 dias solares médios, o que
começo do cristianismo, a Páscoa, a equivale a 31.556.925,97 segundos.
festa da ressurreição, era celebrada no Transportando-se este número para fre-
dia da lua cheia que se seguia ao início qüências sonoras, o ritmo anual do sol,
da primavera. Neste mesmo dia, os in- na 32ª oitava dá o do sustenido de
dianos celebravam uma festa, e os ju- 136,1 Hz e, na 33ª oitava, o dobro, ou
deus celebravam sua Páscoa. Neste seja o do sustenido de 272,2 Hz. Ins-
dia, o sol se põe com uma luz púrpura- trumentos como cítara e tamborim têm
dourada, a lua cheia sobe no lado leste. o do sustenido como base. A caixa de
A terra fica no meio, banhada de luz. Pa- ressonância do violão também dá um
ra separar a festa cristã da tradição ju- do sustenido.
daica, o Concílio de Nicéia, em 325 A 74ª oitava do ano trópico nos trans-
d.C., decretou que os cristãos celebra- porta ao domínio óptico: 598,6 THz (501
riam a Páscoa sempre no domingo se- nanômetros). A freqüência e o compri-
guinte da primeira lua cheia depois de mento de onda correspondentes a ela
21 de março. Se a lua cheia caísse em dão uma cor verde. Esta cor se encontra
20 de março, a Páscoa seria celebrada na zona neutra do espectro, a zona indi-
em fim de abril. Este fato fez com que ferenciada da qual Goethe nos fala em
fosse esquecida a correlação existente sua Teoria das Cores. O verde também
entre a festa da ressurreição e a posi- tem um lugar importante na doutrina
ção do sol no equinócio de primavera. gnóstica.
Segundo J. V. Andreæ, a Cidade do
Sol, Christianopolis, está situada na ilha
VERDE: ESTA É A COR DA TRAJETÓRIA verde de Caphar Salama. No livro A Ro-
DA TERRA EM TORNO DO SOL sacruz Áurea2, Catharose de Petri diz:
“As sete cores do verde referem-se às
atividades da fé e da esperança”. Jan
Entre duas passagens no ponto ver- van Rijckenborgh, no livro “O Advento

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do Novo Homem”3 fala do “verde país da mos dizer o mesmo do la no paroxismo
esperança”, e também lemos no Apo- do agudo sobre o qual são afinados os
calipse de João (21:10, 11, 18): “E me instrumentos da música pop, o jazz, a
transportou, em espírito, até uma gran- “eletrônica” etc. (480 Hz).
de e elevada montanha, e me mostrou a
cidade santa, Jerusalém, que descia do
céu, da parte de Deus, a qual tem a gló- LIMITES DO CAMPO DE VIDA
ria de Deus. Seu fulgor era semelhante
a uma pedra preciosíssima, como pedra
de jaspe cristalina. A estrutura da mura- Se transportarmos a vibração de um
lha é de jaspe; também a cidade é de ano estelar até o domínio situado entre
ouro puro, semelhante a vidro límpido“4. a 88ª e a 89ª oitava, então atingiremos
os limites do visível. O limite inferior é
vermelho (378 THz), o limite superior é
MOVIMENTO DO EIXO DA TERRA violeta (756 THz). Pode-se dizer que um
ano estelar engloba uma fase de desen-
volvimento completa da terra. O verme-
O terceiro movimento da terra tem lho representa uma atividade do pólo
como conseqüência a precessão dos e- positivo, o violeta, uma poderosa ativi-
quinócios. Durante um ano estelar, que dade demolidora do pólo negativo. Já foi
equivale a aproximadamente 26.000 a- demonstrado cientificamente que a luz
nos terrestres, o eixo da terra, animado vermelha aumenta a atividade das enzi-
por um movimento de pião, descreve mas, que são substâncias necessárias
um círculo completo. Por esta razão, o para o metabolismo biológico, enquanto
ponto vernal recua um grau a cada 72 que a luz violeta a reduz.
anos em relação às estrelas fixas. Por-
tanto, ele leva cerca de 2.160 anos para
percorrer um signo do zodíaco, ou seja, A GRANDE SINFONIA DO CRIADOR
a décima segunda parte de um ano es- DO UNIVERSO
telar. Se transportarmos a freqüência de
um ano estelar para o domínio das fre-
qüências acústicas, atingiremos, na 48ª No livro Confessio da Fraternidade
oitava, a nota fa de 344,12 Hz. Esta no- da Rosacruz5, Jan van Rijckenborgh es-
ta corresponde ao quarto fa do piano. creve: “Se afastarmos o aspecto por
Podemos perguntar-nos agora se to- vezes simplesmente exotérico, o con-
dos estes cálculos estão de acordo e se teúdo universal e ilimitado desse texto
eles realmente são úteis para o buscador ressalta, e vemos estender-se, de um
da verdade. Responderemos que os mú- horizonte a outro, tal como uma vasta
sicos tentam, ao menos intuitivamente, abóbada, o caminho resplandecente da
sintonizar com a harmonia cósmica das verdade. Assim como o arco da promes-
esferas. A diferença entre o quarto la e o sa contém todas as cores visíveis e invi-
quarto sol são apenas algumas dezenas síveis, cores inerentes aos sons da har-
de Hertz. Se medirmos o movimento da monia das esferas, de maneira que não
terra com relação às estrelas fixas, che- podemos falar somente de um espectro
garemos a calcular um dia sideral de um de cores, mas também de um espectro
ano sideral. O quarto sol de um dia side- sonoro — lei contra a qual nenhum
ral é de 389,42 Hz, aproximadamente 1,1 artista mágico pecará — assim o pes-
Hz a mais que o quarto sol de um dia quisador que aplica a verdadeira chave
médio do ano trópico!. Parece que o la dessa nítida sabedoria, libera uma onda
normal (o quarto la) da música orquestral de sabedoria tão poderosa, tão pene-
entre 435 e 445 Hz está quase sintoniza- trante, que nos submerge”.
do com a harmonia cósmica. Não pode- Graças à coesão das leis exteriores,

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tanto a dos Dez Mandamentos como a grande sinfonia do Criador do universo.
da harmonia cósmica do universo mani- Este campo de vida, que se move ritmi-
festado, o homem é chamado a penetrar camente e envolve todos os aspectos
até a fonte original da vida. Cristo diz: da matéria, da força, da alma e do
“Eu não vim para abolir a lei, e sim para Espírito, exorta e incita os humanos à
cumpri-la”. A lei exterior, como reflexo da regeneração. Jan van Rijckenborgh diz,
harmonia divina, pode ser um símbolo, na Confessio5: “Nós, de quem disseram
um guia para descobrir a lei interior. que dirigiríamos a fria inteligência para
“Todas as figuras e todos os enca- a coisa suprema, sentimos como nosso
deamentos de números, todas as com- saber culmina em sua convicção profun-
binações de sons harmoniosos, assim damente religiosa. Curvamos os joelhos
como a sintonia que reina no movimen- diante da majestade de Deus, porque,
to dos astros, a manifestação individual após profunda sondagem, a intervenção
destes elementos, assim como sua ana- divina se comprova em todos os reinos;
logia, tudo isto deve tornar-se evidente porque experimentamos a força que im-
para quem está buscando de maneira pulsiona todas as coisas, a energia su-
correta. O que dizemos se revela, por- blime que sustenta nosso planeta atra-
tanto, claramente para aquele que, vés do espaço, a Luz do Mundo: Cristo”.
orientado puramente pelo Uno, esforça- Quem sente estas palavras no imo de
-se por tudo compreender; então, em sua alma e a elas reage de maneira cor-
verdade, a ligação de tudo o que acaba- reta, vivencia a luz, o calor e o som.
mos de citar surge diante dele.” (Platão) “São as três forças que fazem transfigu-
rar a alma”, diz Jan van Rijckenborgh,
“elas estão em harmonia com a palavra
O ETERNO IMPULSO PARA A CRIAÇÃO divina. Em seguida vem a coesão, a
vida e o movimento. A manifestação de
um novo corpo glorificado.”
Através de todos estes elementos, a Assim nossa “co-movimentação” não
ponte que liga novamente a criação ao tem como finalidade a natureza exterior,
Criador do céu e da terra é bem percep- nem sequer a lei exterior, ainda que não
tível; da mesma forma, no sétimo aspec- a desprezemos. Nossa “co-movimenta-
to planetário, o plano em que nada é ção” é totalmente consagrada ao Es-
durável, onde a ordem, o caos e a har- pírito Sétuplo.
monia se encontram e onde o homem
pode experimentar e viver a mensagem
de Deus. O Criador traçou com seu pró-
prio dedo os caracteres da natureza, e o
ser humano é impulsionado interior-
mente a meditar sobre estes caracteres.
Cada um deve um dia aproximar-se do
centro, do sol, de seu próprio sistema
1)
microcósmico, e penetrar nele. Jan van Rijckenborgh, A Gnosis Egípcia,
Tomo 2, p. 288-289, 1986, 1ª edição.
2)
Catharose de Petri, A Rosacruz Áurea,
ASSIM COMO É EM CIMA, É EM BAIXO; p. 40, 1986, 2ª edição.
ASSIM COMO É DENTRO, É FORA 3)
Jan van Rijckenborgh, O Advento do
Novo Homem, p. 34, 1988, 2ª edição.
4)
O jaspe é uma calcedônia colorida de
“Assim como é em cima é embaixo; verde pela ação dos óxidos.
assim como é no interior é no exterior.” 5)
Jan van Rijckenborgh, Confessio da
Portanto, o homem está preparado para Fraternidade da Rosacruz, p. 53 e 64, 1987,
vivenciar o cosmos como um som da 1ª edição.

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ORIGEM E UTILIZAÇÃO DOS SÍMBOLOS

Em sua origem, o símbolo é um si- Este significado da palavra símbolo


nal hermético que marca a relação (união de dois elementos separados e
entretanto aparentados) indica muito
que existe entre o que está “em ci-
bem a reaproximação de duas coisas em
ma” e o que está “embaixo”. É o en- um mesmo plano. É daí que vem o signi-
contro entre dois mundos: o supe- ficado atual da palavra símbolo: assim,
rior e o inferior, o plano exterior e o um símbolo indica que uma coisa inferior
plano interior, o consciente e o in- pode expressar uma coisa superior. Daí
para a frente, o símbolo ultrapassa uma
consciente, a idéia e a aparência.
fronteira, tornando-a possível de ser
Os antigos símbolos religiosos refe- reconhecida conscientemente.
riam-se à verdade e à senda que Neste sentido, uma alegoria não é
leva a ela. um símbolo, mas uma representação
simbólica ou figurativa. Um conceito co-
mo “a justiça” é representado alegorica-
Graças aos símbolos, podemos viven- mente por uma mulher com os olhos
ciar conscientemente certas limitações vendados, segurando uma balança; ou
e até mesmo ultrapassá-las, eventual- pela “morte”, armada de uma foice.
mente. É por esta razão que eles são Nestes casos, servimo-nos de elemen-
utilizados em todos os setores da vida: tos de um todo que não são da mesma
religioso, científico, artístico. São meios natureza, mas que exprimem a mesma
empregados com a finalidade de fazer idéia de diferentes maneiras. A alegoria
com que os seres humanos tomem não sugere a idéia de um limite decisivo
consciência de seus limites. E, se eles que pode ser atingido e até mesmo
conhecem estes limites, então os sím- ultrapassado.
bolos podem ajudá-los a ultrapassá-los.
“Assim como é em cima, é embaixo”: as
estruturas que estão “embaixo” corres- SÍMBOLOS PSICOLÓGICOS
pondem às que estão “em cima”, e daí
resulta que o que está embaixo pode
simbolizar o que está em cima. O significado de mundos ocultos por
A palavra “símbolo” vem do antigo detrás dos símbolos depende do plano
verbo grego symballein, que quer dizer sobre o qual entramos em contato. Por
“reaproximar”; portanto, um símbolo é a exemplo, na zona fronteiriça entre o
representação de um conceito ou de um consciente e o subconsciente, ou entre
processo ao qual a estrutura do símbo- o mundo da matéria e seu reflexo eté-
lo se assemelha, por assim dizer. O con- rico no além, ou entre a natureza infe-
ceito de símbolo era utilizado, entre ou- rior e a natureza superior. Na primeira
tros, para indicar que duas metades de zona, trata-se de representações psi-
um anel ou de uma tábua, que haviam cológicas que vêm do inconsciente e
sido quebrados de propósito, agora que estão em relação com a parte
estavam novamente reunidas. Mos- inconsciente e desconhecida da alma.
trando esta metade, amigos, esposos, São expressões de experiências inte-
crianças, provavam que eram bastante riores que podem ser percebidas pelos
ligados ou aparentados. sentidos. Em psicologia, as profunde-

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zas deste tipo de símbolos constituem OS SÍMBOLOS GNÓSTICOS
os elos ativos entre as forças incons-
ciente da psique e a consciência. Os
complexos individuais, assim como os Qual é o significado, ainda em nossa
coletivos, podem desempenhar um época, destes símbolos sublimes sobre
papel simbólico nas palavras, nas a- os quais fala Jung, uma vez que eles já
ções e nos sonhos. não indicam claramente o “sublime” que
Quanto a este ponto, os símbolos ge- ficou em segundo plano, isto é, Deus, a
ralmente são considerados como ins- Gnosis?
trumentos de compreensão do ser inte- Enquanto fatos e situações concretas
rior, assim como do mundo que o cerca. podem ser explicados com toda a exati-
Forças da região astral inconsciente dão por conceitos e definições, a super-
fazem nascer, em sonho, imagens que abundância e a profundidade infinita da
às vezes podemos reviver consciente- realidade divina pluridimensional são
mente depois de acordados. É possível expressas por símbolos.
que elas revelem em que “situação limi- Além disso, o homem terrestre tem a
te” nos encontramos, que mostrem a possibilidade de aproximar-se do mun-
causa da pressão e a crise que amea- do que está por trás de tudo. Estes sím-
ça. Seguindo este caminho, é possível bolos somente podem representar a
que a tensão pisicológica diminua e existência de uma realidade estranha à
possamos receber indicações para um consciência humana comum, e portanto
desenvolvimento mais equilibrado da inacessível.
personalidade. Mas isto também acar- Assim o símbolo cria um laço entre
reta alguns perigos que não podería- Deus e a personalidade, graças ao qual
mos enfrentar. Por exemplo, a projeção podemos elevar-nos acima de nossas
de um sentimento de culpa consciente próprias limitações. O símbolo evoca a
sobre uma outra pessoa, que vai assim força potencial irredutível que encerra o
suportar o peso do erro que a pessoa divino, mas que jamais se expressa na
culpada não quer tomar sobre si. matéria. Graças a esta ligação com o di-
Neste caso, surge o grande perigo vino, a simbologia gnóstica transcende
que ameaça quando um símbolo é con- este mundo perecível, mesmo que este
siderado a própria realidade. É um peri- mundo possa ainda comportar aspectos
go inevitável quando estamos viven- válidos, bons e verdadeiros. Por exem-
ciando o limite, sobretudo quando nos plo: uma pedra talhada se esfacela, mas
aproximamos da fronteira entre o cons- Cristo, a pedra angular simbólica sobre
ciente e o inconsciente, o mundo da a qual o santo microcosmo se edifica, é
matéria e o mundo dos mortos, a natu- inalterável.
reza mortal e a natureza imortal.
Carl Gustav Jung deplora esta
situação perigosa: “Desde o momento OS SÍMBOLOS MAIS SUBLIMES
em que nossos símbolos mais subli- SÃO REVELAÇÕES
mes foram embaciados, há uma vida
desconhecida e secreta no incons-
ciente do homem. É por esta razão Como os símbolos gnósticos puros
que a psicologia existe em nossos chegam até este mundo? Seriam um
dias, e que falamos a respeito do in- produto da fantasia humana? Ou seriam
consciente. Se estes símbolos tives- revelações divinas, ilustrações de prin-
sem permanecido dinâmicos e ativos, cípios e processos da inviolável criação
isto não seria necessário, pois estes original?
símbolos nascem do espírito que vem Esta questão provocou discussões
de cima”. veementes e muitas guerras no decor-
rer da história da humanidade e ainda

12
continua bastante atual. Conforme o A PORTA ENTRE O TEMPO E A ETERNIDADE
que já foi citado, podemos concluir que
a simbologia gnóstica pura provém de
revelações da Gnosis e que qualquer Portanto, um símbolo gnóstico não é
outra simbologia é um produto da cons- tanto um símbolo da Verdade ou uma
ciência humana. Os símbolos mais anti- informação que diz respeito a esta
gos provêm da fonte universal de sabe- Verdade, mas sim uma porta entre o
doria, e estão sintonizados com o tempo e a eternidade, entre a origem e
núcleo latente da sabedoria que está o fim. Um símbolo como este não ultra-
presente no coração humano. Eles se passa o limite em si; é o homem mesmo
elevam acima de toda a explicação que deve ultrapassar este limite, rumo à
egocêntrica e psicológica. A frase: “O realidade que se acha por detrás dele.
Reino do Céu está dentro de vós” ex- Todo o símbolo universal irradiado cons-
pressa que “Céu” ou “Deus” não são fic- cientemente pelos servidores na vinha
ções psicológicas, mas sim que a porta de Deus no mundo mortal sob forma de
de acesso à realidade divina se encon- palavras e imagens (e principalmente
tra no próprio centro do ser humano. É pelo exemplo de sua própria vida) é um
exatamente pela ligação que existe chamado para voltar.
entre a realidade divina e o centro divi- Este símbolo não é somente uma
no no homem que se manifestam todas mensagem espiritual ligada à vida divi-
as revelações e todos os símbolos na, mas também a força que desce do
gnósticos no mundo mortal. É esta liga- campo de vida original. Assim, a huma-
ção que designam as palavras de nidade recebe auxílio para descobrir a
Cristo: “O Pai e eu somos um”. verdade manifesta, compreendê-la e
Assim a divindade responde ao transformá-la em uma realidade vivente.
espírito, o espírito à inteligência, a inte- Os símbolos gnósticos são, portanto,
ligência à vontade, a vontade à repre- passarelas entre a verdade relativa ao
sentação, a representação ao poder de homem e a verdade imperecível de
percepção, o poder de percepção ao Cristo. Paulo escreve (Epístola aos
sentido e enfim o sentido ao objeto. Colossenses 1: 15, 17, 19, 20): “O qual
Pois tal é a relação e a ligação recípro- é a imagem do Deus invisível, ... nele,
ca pela qual todas as coisas do alto todas as coisas foram criadas.. porque
enviam raios através de todas as coi- foi do agrado do Pai que toda plenitude
sas de baixo, sem descontinuidade, até nele habitasse ... tanto as que estão na
a última. terra como as que estão nos céus”.
Este texto é uma citação de uma “O Verbo (a Palavra) se fez carne. Em
obra alquímica do século XVII que mos- Cristo, o homem é novamente um ins-
tra claramente que os símbolos gnósti- trumento do mundo divino. Cristo ‘derru-
cos têm diferentes funções: bou o muro de separação entre os dois.
• a revelação da natureza superior na Entre o homem terrestre e o homem
natureza inferior; divino’” (Efésios, 2, 14).
• o apelo ao retorno à realidade divina;
• a resposta do homem a este convite,
a realização progressiva de todos os O ENCORAJAMENTO DOS SÍMBOLOS
seus esforços para estudar a mani-
festação e a imagem que ele faz
dela. Como os símbolos gnósticos pos-
É por isso que muitos símbolos e suem um alto nível, é compreensível
representações simbólicas dão teste- que Carl Gustav Jung tenha deplorado o
munho do amor divino, da busca do fato de que nossa época tenha-se tor-
homem por Deus e da busca de Deus nado tão pouca receptiva a eles. Quan-
pelo homem. to mais o ser humano se deixa aprisio-

13
nar pela corrente técnico-econômica da eu. Quem não aproveita as possibilida-
atualidade, mais vai perdendo a cons- des oferecidas pelo símbolo gnóstico na
ciência de seu espaço interior. Ele julga senda da realização, não faz frutificar os
os símbolos a partir de critérios exterio- talentos que ele possui e os enfraquece.
res, como uma criança que estende a Neste caso, falta a inspiração e a cora-
mão em direção à lua, porque não tem gem que este símbolo sublime irradia no
consciência da distância. Mas, se com- coração daquele que se encontra real-
preendermos que tudo o que manifesta mente na senda, rumo a Deus.
um símbolo gnóstico diz respeito direta- Os símbolos gnósticos geralmente
mente a nosso mais profundo ser inte- são como que um espelho embaçado,
rior, então surge uma outra relação com para nossa consciência terrestre.
o mundo original. A vida muda de dire- Entretanto, eles nos são ofertados para
ção: ela torna o ser humano consciente que possamos cumprir nosso verdadei-
de tudo o que sua existência tem de infi- ro destino: voltar a Deus.
nito e o leva ao autoconhecimento; por-
tanto, logicamente, a atos que estão em
concordância, e a um comportamento
resolutamente direcionado a partir de
sua vida interior.
Então, este homem torna-se cons-
ciente da existência de Deus dentro de
si, e que este “Outro” dentro dele * Carl Gustav Jung, Von den Wurzeln
somente ressuscita pela morte de seu des Bewusstseins

Helena P. Blavatsky, A Doutrina


Secreta:
“Antes de nos voltarmos para as
verdades esotéricas, e a fim de que
estas últimas não possam ser cor-
rompidas, precisamos primeiro desen-
terrar a idéia fundamental que está na
raiz das religiões exotéricas. Além
disso, todos os símbolos de todas as
religiões naturais podem ser lidos
esotericamente, e a prova de uma
leitura precisa por sua transposição
em números e figuras geométricas
correspondentes é dada pela extra-
O Anjo,
guardião e ordinária concordância de todos os
mensageiro. glifos e símbolos, por mais diferentes
(Gustave Moreau, que eles sejam exteriormente uns dos
1826-1898. Museu outros”.
Gustave Moreau,
Paris.)

15
ÁRVORE: SÍMBOLO UNIVERSAL

No decorrer da história da humani- rente. Uma árvore que sobe bem alto
dade, a árvore sempre surgiu como parece ligar a terra ao céu; neste caso,
um símbolo importante. Mitos, tradi- ela é a imagem das forças que se ele-
vam e descem, o símbolo do encontro
ções religiosas e obras de arte mos-
entre o celeste e o terrestre. Todas estas
tram seus inúmeros aspectos, re- forças que se juntam para se elevar ilus-
portando de maneira característica tram o desejo do terrestre de atingir o
importantes evoluções da vida ter- celeste, e a vitória da vida imperecível
restre. sobre a morte e a instabilidade. Através
dos séculos, a árvore tornou-se o sím-
bolo do ideal e muitas vezes de ideais
N a Bíblia, o homem e a árvore sempre terrestres como a árvore da liberdade
estão associados para mostrar a rela- da Revolução Francesa, a árvore da paz
ção entre o cosmos e a vida sobre a entre os indianos, e a árvore de maio.
terra: a árvore da vida, a árvore do Alguns grupos ecológicos falam da
conhecimento do bem e do mal, a cruz “árvore-irmã” para representar uma
de Cristo, a árvore do Apocalipse. ordem mundial em que o homem e a
Vemos que este símbolo é utilizado e natureza estariam novamente unidos.
explicado em diversos níveis.
Antes de tudo, a árvore é o poderoso
representante do reino vegetal que ÁRVORES MENSAGEIRAS DE LUZ
mostra o poder e a força da vida da
natureza. É uma imagem primordial que
chama a atenção não somente por sua Alguns povos consideravam a árvore
forma e beleza, mas também pelas for- uma “morada dos deuses”. Geralmente,
ças da natureza que operam nela invisi- eles não a adoravam como árvore, mas
velmente. Enraizada dentro da terra, ela pelo deus que ela representava. Na
aspira as águas de suas profundezas. Grécia, por exemplo, o poder curativo e
Seus galhos recebem luz e calor do sol. purificador do loureiro era associado a
Ela participa do jogo dos elementos e, Apolo. Na mitologia germânica, a tília é
graças a eles, ela cresce, floresce e se o emblema de Freya, a deusa do amor e
carrega de frutos. As condições climáti- da fertilidade. Muitas vezes, as árvores
cas combinadas com o efeitos das esta- marcam o lugar de nascimento dos deu-
ções do ano determinam sua espécie e ses. Assim, o deus frígio Atis teria nas-
seu aspecto. cido de uma amendoeira, e o deus egíp-
A árvore é, portanto, um símbolo ada- cio Horus, de uma acácia.
ptado pela lei à qual todas as vidas es- As árvores também são considera-
tão submetidas: nascimento, crescimen- das mensageiras divinas: “A árvore do
to, florescimento e fenecimento. Ela mundo” é sempre verde. Os germânicos
reflete a curta vida do ser humano e o a chamavam Igdrasil, “o freixo do mun-
ciclo ao qual ele está submetido: nasci- do”. Debaixo desta árvore corria a fonte
mento, crescimento, maturidade, fecun- da terra e em sua copa morava a águia,
didade, morte. Mas, para aquele que é o pássaro dos deuses. Igdrasil é o sím-
receptivo a ela, a árvore também pode bolo do cosmo, onde habitam Deus, os
indicar uma realidade totalmente dife- homens e os gigantes (os homens que

16
se tornaram grandes espiritualmente). verdadeiro destino.
Em sua sombra, permanecem o bem e
o mal, a luta sem fim de um contra o
outro. A águia que mora nesta árvore é DESENVOLVIMENTO E RETORNO DO HOMEM
o símbolo luminoso do Espírito que quer
elevar-se rumo às alturas da verdadeira
vida. Na narração da criação da Gênese, o
Os antigos mistérios e os contos de destino da humanidade está estreita-
fada que provêm deles, falam de árvo- mente ligado à árvore da vida e à árvo-
res da vida, de jardins, de fontes celes- re do conhecimento do bem e do mal. O
tes onde se pode tomar a água da vida. primeiro se encontra “no meio do jardim”
A mitologia cristã também utiliza o sím- (Gênese, 2: 4), e representa o alimento
bolo da árvore. As árvores do jardim do espiritual que o ser humano absorve,
Éden evocadas na Bíblia já são mencio- quando vive do Espírito. Entretanto,
nadas pelas tradições da Mesopotâmia, quando ele se afastou do Espírito por
onde elas são rodeadas de riachos que sua livre e espontânea vontade pessoal,
jorram de fontes. ele sofreu a influência dialética das for-
Como os sumérios eram agricultores, ças terrrestres: a maldição do bem e do
a água era para eles uma necessidade mal, assim como de todas as forças
vital e a associação entre a água da contrárias associadas. Ele apenas se
vida e a árvore da vida era para eles liberará desta dualidade se lembrar-se
extremamente natural. Hoje, pesquisas de sua natureza original e aspirar a vol-
e experiências mostram a relação entre tar para a harmonia do campo de vida
o sol, o mundo vegetal, a água, a terra e divino. Ora, trata-se de um longo desen- Cristo, o
o homem. Os sumérios (4000 a 2000 volvimento. A volta ao mundo do Es- “Cordeiro de
a.C.) achavam que estes processos na- pírito significa para o homem a morte de Deus” na monta-
turais eram o resultado da ação dos seu ser terrestre natural, um processo nha do Paraíso,
deuses. Até onde fosse necessário, os que simboliza a cruz pela qual ele cum- de onde correm
os quatro rios da
sacerdotes transmitiam estes conceitos pre seu sacrifício, imitando a Cristo. “Água Viva” sobre
por intermédio dos Mistérios àqueles Para um gnóstico, a cruz está sempre a humanidade.
que deles eram dignos. Portanto, era im- associada à árvore, à árvore do mundo. À direita e à
portante compreender que, assim como Ela lembra o sacrifício de Odin, que lhe esquerda, uma
as plantas têm necessidade de água faz adquirir a sabedoria. A cruz é, por- árvore da vida.
(Sarcófago do
para crescer e florescer, o homem tem tanto, o símbolo da ressurreição e da
imperador romano
necessidade da água da vida espiritual vitória sobre o mundo. Ela está plantada Valentiniano III,
para desenvolver-se e tornar-se um ho- exatamente no “centro”, no local em que 419-455, em
mem de verdade, capaz de cumprir seu o céu encontra a terra. Segundo algu- Ravena, na Itália)

17
Uma das mas versões, sete renovos saem da
mais antigas cruz de madeira, representando os sete
representações céus que o homem deve atravessar em
da árvore da vida
seu caminho de elevação.
(Ur, no Sul da
Babilônia, 4000 a Na cabala, a doutrina esotérica dos
3000 anos a.C.) judeus, a árvore invertida é o símbolo
da criação que se realiza de cima para
baixo. A árvore dos Sephiroths repre-
senta a criação e os princípios univer-
sais que dirigem seu desenvolvimento,
mostrando a energia divina que desce
ao mundo da matéria e daí se eleva
novamente, acompanhada por aqueles
que seguiram este desenvolvimento em
um sentido positivo.

casca é a marca do que está no exte-


A PRÓPRIA ESSÊNCIA DA CRIAÇÃO ESTÁ rior; ela evoca o que é material: o corpo
PRESENTE NO MICROCOSMO E NO MACRO- humano. A folhagem e a copa represen-
COSMO. tam os campos de força e de atividade
não-materiais do cosmo e a lipika hu-
mana. A seiva que corre nas veias sim-
O símbolo da árvore desvela realida- bolizam a eternidade, o imperecível, a
des cósmicas e oferece uma represen- essência de todos os princípios e forças
tação profunda do mundo. Ibn Arabi do cosmo e do ser humano.
(século XIII), um dos principais repre- No Apocalipse (22:2), é dito: “...está a
sentantes da mística islâmica, vivencia árvore da vida, que produz doze frutos,
uma visão em que o universo surge sob dando o seu fruto de mês em mês, e as
a forma de uma árvore de copa larga, folhas da árvore são para a cura dos
cujas raízes saem da semente divina, povos”.
que é a palavra criadora de Alá. Da No livro A Fraternidade de Shamballa*,
mesma forma, o homem teria nascido e Jan van Rijckenborgh diz: ”O sistema
começado sua viagem pelo mundo. Os nervoso duplo no seu conjunto é indica-
Árvore da vida
perto da porta
galhos enormes representam a estrutu- do como uma árvore no simbolismo
que dá acesso à ra e a idéia que sustenta a criação, mas santo de todos os tempos. Essa simbo-
Vida (Assíria) também o verdadeiro destino humano. A logia é muito lógica, pois, se comparar-

18
mos com o tronco a coluna do fogo espi-
ritual espinal, que se eleva do plexus
sacralis, então o santuário da cabeça é
a fronde, e os doze pares de nervos ce-
rebrais, que descem do santuário da
cabeça para dentro do corpo todo, os
galhos pendentes”.
Ou o sistema aspira a força pura e
ilimitada do Espírito e daí retira os éte-
res; ou ele se encontra em um campo
de respiração terrestre limitado, por-
tanto dialético, e aspira às forças liga-
das à matéria. Neste último caso,
trata-se da árvore denominada “do
conhecimento do bem e do mal”. É o
campo de tensão das forças contrárias Palmeira
naturais regidas pela lei do “nascer, em forma de
florescer, fenecer”. A partir do momen- cruz egípcia,
to em que um ser humano respira no também chamada
tau (Rivers of Life,
campo de força do Espírito, seu siste- J.G.R.Forlong,
ma nervoso inteiro se renova e o resul- 1883)
tado é sua regeneração progressiva e
completa.
A coluna de fogo do Espírito, geral-
mente representada por uma serpente,
recebe agora uma nova tarefa. Um novo
fogo irradia: já nasceu a nova consciên-
cia do homem desperto no Espírito.

* Jan van Rijckenborgh, A Fraternidade de


Shamballa, p. 101, 1982, 1ª edição.

19
SÍMBOLOS E MAGIA

O ser humano tem a possibilidade mos os significados das palavras. O


de ver em uma parte do mundo nível de compreensão e de interpreta-
exterior um símbolo da vida interior. ção é determinado pelo nível de cons-
ciência. Palavras, gestos e símbolos
Geralmente ele mesmo cria este ti-
podem dinamizar e influenciar valores
po de símbolo e age como um ma- tanto superiores como inferiores. Os
go, atraindo, recebendo e transmi- resultados dependem dos motivos do
tindo forças por meio destas ima- orador e do nível de consciência daque-
gens. É preciso distinguir duas ori- le que recebe a informação. Este último
assimila o que foi falado por meio de
entações principais: a do homem
seus sentidos e, se tudo vai bem, se
interiormente liberto, que se serve abre; ou então se fecha àquele que está
destes símbolos primordiais para falando com ele.
evocar forças divinas em proveito de A publicidade, entre outras áreas,
seu próximo, e o homem ligado à aplica este meio de transmissão. Um
produto é associado a um símbolo atra-
natureza, que geralmente utiliza os
ente. Assim, muitas vezes são utilizados
mesmos símbolos para invocar as símbolos considerados sagrados para
forças da natureza para suas finali- algumas pessoas, ou que têm um senti-
dades materiais. do diferente em outros países. A relação
produto-símbolo deve criar no observa-
dor a impressão de que o produto apre-
Geralmente, o conceito de “magia” está sentado é uma fonte de felicidade, de
associado aos orientais, aos feiticeiros e glória, de poder, de riqueza, de saúde
aos curadores. As pessoas partem da etc. Esta forma de magia moderna está
idéia de que a magia se serve de rituais baseada em métodos muito antigos. Em
e de encantamentos para agir sobre princípio, o observador sempre tem a
potestades superiores ou inferiores, ho- liberdade de não reagir às sugestões
mens, animais e objetos. Neste sentido, publicitárias.
usam-se as expressões magia branca, Também há formas de magia que uti-
ou bem-intencionada, ou magia negra lizam conscientemente meios, forças e
ou diabólica e magia cinza, que seria seres supra-sensoriais para exercer
uma mistura das duas. Mas poucos sa- uma influência invisível e despercebida
bem que estas três formas estão igual- sobre alguém ou sobre outras forças ou
mente ativas na vida cotidiana do ho- seres supra-sensoriais. Esta transmis-
mem moderno. são também está baseada no fenômeno
Os humanos comunicam-se trocando da ressonância. Quando uma corda de
demonstrações, explicações, perguntas, violino vibra, a vibração se transmite à
promessas, ameaças, e conferindo tare- caixa de ressonância que, vibrando e
fas uns aos outros. Fazendo isto, eles se ressoando por sua vez, transmite o
exprimem por palavras, por gestos e som. Assim, um símbolo transmite cer-
muitas vezes por símbolos. Servimo-nos tas vibrações; ou seja, vibrações de
de palavras para sermos escutados; de mundos superiores ou inferiores desco-
gestos e de símbolos, para nos expres- nhecidos podem ser transferidos para
sarmos sem palavras ou para explicar- uma imagem no mundo exterior. Pelo fe-

20
nômeno de ressonância, estas vibra- mente, entretanto, todas estas formas Osíris, criador
ções às vezes são ainda amplificadas e de magia agem no interior dos limites da e senhor. Seu
evocam uma resposta. O mundo de natureza da morte. Elas não são basea- olho tudo vê, seu
ouvido tudo ouve,
onde elas provêm e o motivo do mago e das na liberdade interior, fruto de uma sua consciência
do beneficiário determinam finalmente o ligação viva com o reino original dos engloba o céu e
contato com um nivel espiritual superior céus. Neste sentido, elas nada têm a ver a terra.
ou então um mergulho mais profundo com as leis do mundo divino e também
na matéria. não têm nenhuma relação com o cami-
nho libertador que a Fraternidade da
Vida indica à humanidade inteira. A
A MAGIA LIGADA À TERRA ATRAI A PERSO- magia natural baseia-se em forças ter-
NALIDADE PARA UMA ESPIRAL DESCENDENTE restres; a magia gnóstica é a prática da
vida libertadora que começa quando
nos libertamos do domínio das forças
Os homens sempre tentaram influen-
ciar-se mutuamente pela magia. Os
objetivos e os meios variam desde os
mais baixos até os mais altos. A magia
inferior envia pensamentos, sentimen-
tos e impulsos da vontade, invisíveis
para muitos, e portanto capazes de
transmitir muito facilmente as intenções
do mago sem que a pessoa visada per-
ceba sua atuação. Mas qual seria então
a diferença entre a magia e a atividade
do campo de força de uma escola espi-
ritual autêntica?
As práticas do mago da natureza vi-
sam conservar e fazer crescer as forças
que agem na natureza. Com esta finali-
dade, as forças naturais invocadas com
ou sem símbolos consolidam o poder do
mago natural e ligam a ele seus adeptos
ou ouvintes. Deste modo, surge uma
concentração de forças naturais das
quais vivem tanto o mago quanto seus
ouvintes e que mantém o grupo neste
estado. Como já dissemos na introdu-
ção, trata-se de magia negra, branca ou
cinzenta, e as especificações do grupo
já indicam sua finalidade. A magia negra
está associada a métodos que dizem
ser primitivos; a branca, a uma forma
elevada; e a cinzenta, a todas as espé-
cies de formas intermediárias. Objetiva-

21
da natureza. As forças que este proces- Assim, o mago forma um elo que liga
so suscitam não são destinadas a um os sentidos ao supra-sensorial. Um
indivíduo ou a um pequeno grupo de símbolo pode constituir um elo. Mas,
pessoas dirigentes, mas têm como obje- perfumes vegetais, figuras compostas
tivo guiar a humanidade inteira em uma de certos objetos, signos, rituais e sons
fase de desenvolvimento superior. É por podem igualmente servir como inter-
esta razão que elas deixam o beneficiá- mediários. A história do aprendiz de fei-
rio livre para examinar o objetivo desta ticeiro mostra muito bem como os
vida superior e para engajar-se nesta “mestres” indignos ou de pouco poder
nova direção, se assim for seu desejo. A podem tornar-se vítimas das forças
Gnosis não têm por objetivo renovar ou invocadas por eles mesmos.
reforçar os laços terrestres, e uma esco- Quando o mago se coloca em tal
la espiritual autêntica apenas irá ocu- situação que o ser evocado apresenta-
par-se de apresentar a nova vida e o -se a ele, então já está ligado a este
caminho que leva a ela. ser. Na pior das hipóteses, já não pode
desvencilhar-se dele e o ser torna-se
seu mestre, e ele se torna um instru-
A MAGIA NATURAL PODE SERVIR PARA mento dócil em suas mãos. O espírito
MANIPULAR A PERSONALIDADE da terra diz a Fausto: “Tu te asseme-
lhas ao espírito que te compreende, e
não a mim”.
Alguns magos utilizam-se de símbo- Nenhum buscador sério que esteja
los e outras entidades para influenciar seguindo a senda espiritual para servir
o mundo do além. A literatura mundial a humanidade irá ocupar-se deste tipo
oferece inúmeros testemunhos de prá- de prática. E não há nenhuma diferença
ticas como estas e muitas pessoas, se, ao invocar estes seres, a intenção é
atualmente, estão bastante interessa- boa ou má. Elas influenciam o eu e apri-
das neste mundo desconhecido para a sionam a personalidade dentro de seus
maioria. A literatura moderna e o cine- próprios limites. Esta atividade do eu
ma são os primeiros a explorar estes impede a união com o Espírito divino,
temas. Todos conhecem muito bem as mesmo quando este eu é mentalmente
histórias de Aladim e sua lâmpada ma- desenvolvido e está inteiramente a ser-
ravilhosa, que dá a seu possuidor o po- viço da humanidade sofredora.
der sobre os espíritos, e a história de Quando um mago da natureza se
Fausto, que conjura o poderoso espíri- direciona para seu destino original, a
to da terra por meio de um símbolo volta ao campo de vida divino, ele é con-
mágico. Nestas histórias, os símbolos frontado com os seres e forças que ele
são objetos materiais que, por sua mesmo evocou e criou. Quem se encon-
estrutura, são análogos aos seres e tra na senda de libertação aprende que
forças supra-sensoriais. Quem conhe- o eu, o criador destes seres e forças
ce a natureza de um princípio supra- fantasmagóricas não é capaz de ames-
-sensorial como este pode invocar uma trá-las, e que somente o verdadeiro eu,
estrutura análoga por meio de um certo a alma imortal, pode conseguir coman-
símbolo, pois o mundo supra-sensorial dá-las.
está ligado ao mundo dos sentidos.

22
PROTEÇÃO CONTRA A MAGIA NATURAL neutraliza, lenta mas firmemente, os
habitantes da esfera refletora. A filosofia
oriental jâmblica (cerca de 250-325
Se existem homens que, por seus d.C.) diz o seguinte a respeito da magia:
pensamentos, sentimentos e vontades “Esta arte exige a santidade da alma,
tentam influenciar magicamente seu uma santidade que rejeita e exclui tudo
próximo com ou sem a utilização de o que dá relevo à natureza e à matéria;
símbolos, de forças ou de seres supe- de outro modo, esta arte conduziria à
riores, como poderemos proteger-nos profanação da alma. Uma é a unificação
deles? com a centelha divina em nós, a fonte
Em princípio, qualquer pessoa razoá- do Único Bem; a outra é o intercâmbio
vel e realista já está preservada contra com as forças da natureza, com os
eles. Se não nos deixarmos levar pela demônios e os elementais que subme-
exaltação, a embriaguês dos pensa- tem o ser humano, transformando-o em
mentos, das emoções e da ação, não um médium e guiando-o passo a passo
abriremos brecha para este tipo de ativi- rumo ao aniquilamento da alma e do
dade. É extremamente importante a- espírito”. (Jâmblico, De Mysteriis)
prender a fazer a diferença entre a ima-
ginação e a realidade. Muitas vezes, os
medos e os desejos pessoais são tão
fortes que se manifestam por meio de
vozes ou formas. A pessoa tem a im-
pressão de estar sendo guiada por for-
ças ou seres superiores, mas na reali-
dade eles não passam de fenômenos
criados por ela mesma e que, tornando-
-se independentes, provocam este tipo
de alucinações. É por esta razão que é
tão importante que o buscador da ver-
dade compreenda que é ele mesmo que
gera este tipo de experiências alucinató-
rias: esta compreensão é a chave da
neutralização destas interferências in-
desejáveis. Quem se mantém correta-
mente na senda espiritual desenvolve
não somente o poder de discernimento
necessário, mas também vivencia o po- * A esfera refletora é o duplo etérico da esfe-
der libertador que está sempre agindo ra material grosseira na qual se dá a vida
em seu interior. O discernimento lhe en- cotidiana. Quando alguém morre, seus veí-
sina a fazer a diferença entre a imagina- culos sutis ainda subsistem algum tempo
ção e a realidade. Ele vai vendo cada neste reflexo da vida terrestre que é a esfe-
ra refletora; mas aí também se encontram
vez mais claramente a atividade daquilo
todas as outras espécies de formas de vida.
que chamamos de forças da esfera Depois de algum tempo, os corpos sutis do
refletora* e as do Espírito divino, real- morto se volatilizam e a consciência nova-
mente libertadoras. Ele desmascara e mente é introduzida na matéria grosseira.

23
FIGURAS GEOMÉTRICAS,
SÍMBOLOS
DA EVOLUÇÃO
ESPIRITUAL
A importância da geometria não está damento da sociedade materialista mo-
em sua utilidade prática, mas em derna. A concepção qualitativa baseia-
sua investigação das coisas eternas -se na experiência de vida. Tudo é per-
cebido como parte de um todo. O signi-
e imutáveis e sobre o esforço de ele-
ficado próprio é exclusivamente reco-
vação da alma rumo à Verdade. nhecido em relação, em ligação, com o
Todo Único. Vistos sob este prisma, os
números constituem o primeiro princípio
Não é tão fácil analisar símbolos logica- de organização da evolução cósmica.
mente. A única possibilidade é abordá- Eles também podem apresentar-se
-los pelo entendimento interior, e isto como figuras geométricas. O que vale
não ao pé da letra, mas segundo o espí- para os números vale também para
rito. Os símbolos são como obras de suas formas: eles participam do mundo
arte. Eles escondem segredos que se visível e dos mundos invisíveis. Por um
renovam à medida que neles penetra- lado, a forma é uma expressão do
mos; portanto eles somente se desve- mundo visível, onde vivenciamos limites
lam pouco a pouco. Em conseqüência próprios aos objetos e às formas. Por
disso, não gostaríamos de considerar as outro lado, a forma está ligada ao
figuras geométricas em questão como mundo invisível: ela faz parte dele. É
objetos muito afastados de nós, mas sim neste sentido que Platão interpreta a
de tentar mostrar que elas podem matemática.
influenciar nossa vida. Não se trata de A forma invisível é força, causa, en-
trocar algumas idéias sobre leis e quanto que a forma visível é efeito,
expressões matemáticas, mas sim de resultado. Por detrás de todos os fenô-
penetrar mais profundamente em sua menos do mundo visível esconde-se
função simbólica na vida cotidiana. uma força. Existe uma energia divina,
original, que ativa o homem através da
criação, a fim de que ele retorne à uni-
LINGUAGEM E FORMA dade com a fonte divina, e o verdadeiro
caminho espiritual é a realização do divi-
no em seu ser interior. “Se uma coisa
Pitágoras pesquisou o princípio imate- quer concretizar-se, ela primeiro tem
rial suscetível de explicar todas as coisas. que existir in abstracto, pelo menos sob
Para isto, ele encontra o número. “O forma de potencialidade e de valores
número é o pai dos deuses e dos presentes.” (As Núpcias Alquímicas de
homens” (Pitágoras). Os números são as Christian Rosenkreuz, Jan van Rijcken-
expressões das forças fundamentais da borgh.)
criação; eles são símbolos destas forças.
Os números podem ser considerados
como conceitos quantitativos ou qualita- CÍRCULO, QUADRADO, TRIÂNGULO
tivos. O conceito quantitativo diz respei-
Moldura em
to ao fato de medir e de contar massas
pedra em uma
e objetos percebidos independentemen- Quando a energia original de algo mesquita de
te de sua constituição interna. Esta que ainda não tem forma penetra na pri- Ispahan, no Iran
visão puramente analítica forma o fun- meira dimensão, surge uma linha. A fase (século XII)

25
seguinte é a de duas dimensões: a su- FIGURAS GEOMÉTRICAS DE PLATÃO
perfície. A terceira é a das três dimen-
sões: espaço etc. Espaço e tempo são
as partes de um sistema que comporta O corpo tridimensional é a terceira
sete eixos, dos quais utilizamos três pa- fase de manifestação. O homem vive em
ra determinar o espaço, e para dar for- três dimensões às quais ele está ligado.
ma ao conceito de tempo. Na realidade, Os corpos visíveis podem ser símbolos
existem sete dimensões simultâneas, de atividades, de leis, de forças que se
mas a consciência humana somente po- manifestam no mundo original, espiri-
de expressar três, pois é incapaz de tual. Neste sentido, Platão diz que o
representar as outras dimensões. mundo criado formou-se à imagem de
Um dos símbolos mais marcantes da um mundo imperecível. Ele demonstra
Rosacruz atual é a combinação do cír- isto por meio de cinco figuras geométri-
culo, do triângulo e do quadrado. O cír- cas cujas características mais importan-
culo simboliza a eternidade, a Gnosis tes são as seguintes:
universal que suporta o universo. Quem • elas são todas delimitadas por polígo-
quer participar da eternidade deve a- nos regulares;
prender a viver do círculo. O triângulo e- • em cada ponto angular se unem vá-
qüilátero representa a atividade tríplice rias de suas faces poligonais;
desta universalidade. Os três aspectos • todas as arestas são de comprimento
da trindade divina são equivalentes, ca- idêntico;
da um com sua atividade específica. Os em seguida, parece que:
rosa-cruzes da Idade Média falavam a • todos os pontos angulares do polie-
este respeito em Trigonum Igneum, o dro se encontram na esfera que o cir-
Triângulo de Fogo, mostrando que, para cunscreve;
adquirir a liberdade espiritual, coração, • todos os centros das faces poligonais
cabeça e mãos devem empenhar-se se encontram na esfera inscrita den-
juntos com a mesma intensidade. tro do poliedro.
O quadrado é a base sobre a qual de- • todos os centros das arestas se encon-
ve começar este processo de evolução. tram em uma segunda esfera inscrita.
Os quatro ângulos estão relacionados
com o fogo, o ar, a água e a terra: os ele- O número destes volumes geométri-
mentos de construção do sétimo domí- cos é limitado, pois o ângulo de um
nio cósmico. Todos os que buscam poliedro regular é determinado exclusi-
seriamente a verdade, que querem ser vamente pelo encontro de várias faces
alunos na senda da vida, são confronta- poligonais cuja soma dos ângulos não
dos com os quatro ângulos: pode ultrapassar 360º. Somente as
• orientação única na tarefa espiritual cinco figuras geométricas de Platão sa-
de fazer nascer o corpo mental se- tisfazem estas condições pois, por não
gundo as exigências requeridas; comportarem ângulos, as formas perfei-
• ausência de luta com relação a tudo e tas da esfera e do ponto não satisfazem
a todos, para fazer nascer um novo estas condições.
corpo de sentimentos; As figuras platônicas representam
• harmonia no intercâmbio das ativida- não somente os sistemas de linhas de
des, para fazer nascer um novo corpo força do mundo invisível, mas também
vital; as da materialização destes sistemas.
• unidade de grupo, para fazer nascer Cada uma das cinco figuras de Platão
um novo corpo material. simboliza um princípio original e, juntas,
Tendo em vista esta reestruturação do elas simbolizam as cinco fases do cami-
sistema vital como um todo, são necessá- nho que, a partir da prisão da matéria,
rias quatro novas forças — ou éteres — que conduz à vida do homem alma-espírito,
são chamadas “os quatro éteres santos”. o homem que venceu a matéria.

26
O Hexaedro
O cubo compreende seis faces qua-
dradas iguais e ângulos exclusivamente
retos. De todas as figuras de Platão, é a
forma mais reta e fixa. Este símbolo
geralmente é utilizado para representar a
matéria. Ele representa o “eu sou” do
homem, o ponto a partir do qual ele deve
começar o caminho de sua libertação. O
cubo também está relacionado aos qua-
tro pontos cardeais e também ao superior
e ao inferior. No Apocalipse (21:16), a
Jerusalém celeste é descrita assim: ”A
cidade é quadrangular, de comprimento e
largura iguais. E mediu a cidade com a
vara até doze mil estádios. Seu compri-
mento, largura e altura são iguais”.
Quando é desdobrado, o cubo apre-
senta-se como uma cruz, cujos braços
têm uma relação de 2/3. Qualquer outra
relação entre os braços não deriva do
cubo e não está, portanto, em harmonia
com a atividade do campo de irradiação
original. Simbolicamente, o homem é
representado por uma cruz de seis qua-
drados, o que implica que ele está, com
certeza, ligado à matéria, ao tempo e ao
espaço, mas também que é aí que ele
começa o caminho de sua libertação. A
crucificação de sua natureza mortal
torna possível a ressurreição do homem
original imortal.

O tetraedro ou pirâmide triangular


O triângulo eqüilátero é o símbolo da eqüilátera colocada no interior de um Mapa do céu
divindade que se baseia nela mesma. cubo é considerada como o símbolo do shamânico
Nesta unidade, o número quatro (quatro Espírito na matéria. A terra e a persona- com estrela
polar ao centro
triângulos eqüiláteros) já está presente, lidade são irradiadas e transformadas (Sibéria).
mas ainda não está manifestado (página pelo Espírito; “A matéria do mundo tridi-
31). Como o triângulo eqüilátero sai do mensional se constrói em forma cúbica,
mistério e manifesta-se no mundo tridi- mas oculta em si o tetraedro, construído
mensional, surge o tetraedro ou pirâmi- sobre o equilíbrio divino. A matéria não
de triangular. Esta última sugere o equi- pode existir sem o conteúdo divino” (E.
líbrio e a harmonia. Seus quatro ângulos Haich, Einweihung.) Trata-se, portanto,
são os mais agudos de todos os volu- do fato de que na vida não estamos ou
mes platônicos. É por isso que Platão a não passamos a estar conscientes ex-
colocava sob o símbolo do fogo. Ela dá clusivamente de nosso corpo (o cubo),
testemunho das forças espirituais que mas que reconhecemos o elemento es-
abrem o caminho de uma libertação piritual em si, a quem podemos confiar a
interior e estimulam o homem a percor- direção de nosso ser por meio de um
rer este caminho. A pirâmide triangular comportamento consciente.

27
O octaedro ou a pirâmide dupla forçada, o que faz nascer uma podero-
sa atividade espiritual no ser, no grupo
Oito triângulos eqüiláteros formam o que aí se encontra. A água simboliza a
octaedro, uma figura que parece planar substância primordial: conseqüente-
no espaço: é por isso que Platão o cha- mente o icosaedro é considerado como
ma de elemento aéreo. Podemos dizer, o símbolo do princípio feminino supe-
também, que é um trigonum igneum rior, a mãe que é a fonte de toda a vida
óctuplo. Oito é o número de Saturno, o elevada.
guardião da fronteira. De um lado, ele
reina sobre a matéria inferior; de outro,
ele estimula a elevação no campo de O dodecaedro, a cidade de doze portas
vida supraterrestre. O número oito é for- Platão faz do dodecaedro o símbolo
mado por duas esferas que representam da matéria primordial de onde Deus for-
o mundo inferior e o mundo superior. De mou os elementos com números e for-
modo análogo, podemos considerar o mas. Esta figura consiste em doze pen-
octaedro como uma pirâmide dupla cuja tágonos regulares e aproxima-se bas-
parte de cima representa o Reino da tante da forma esférica. O pentágono é
Luz e cuja parte de baixo representa o símbolo da nova alma. As forças das
seu reflexo: a natureza terrestre. A quais vive o novo homem-alma são
superficie em que as duas pirâmides se duodécuplas, forças que, no mundo
tocam é o umbral, a linha divisória, mas material, estão relacionadas aos doze
também o plano a partir do qual os dois signos do zodíaco e, no plano espiritual,
mundos são invertidos. Se alguém atin- às doze forças originais. A combinação
giu este plano, então podemos dizer que dos doze pentágonos, quando é uma
ele já não é deste mundo, mesmo ainda manifestação do Espírito divino e da
não fazendo parte do outro. nova alma, pode gerar possibilidades
Quem reconhece pelo menos uma vez inimagináveis.
a verdadeira natureza da matéria e já No quinto dia de As Núpcias Alquími-
não se deixa dominar por ela, mantém- cas de Christian Rosenkreuz*, encontra-
-se no umbral, na linha divisória a partir mos a imagem dos sete navios que
da qual começa um outro mundo, um navegam pelo mar em direção da torre
mundo novo. Quando a antiga consciên- do Olimpo. Estes navios formam, em
cia dá lugar a uma nova consciência conjunto, o campo de irradiação da pi-
capaz de entrar neste novo mundo, en- neal, no centro do qual se efetua a liga-
tão o peregrino atravessa o portal de ção da nova alma com o Espírito. Cada
Saturno. Está feita a escolha decisiva: um dos navios leva como emblema um
para uma ressurreição ou para uma dos corpos geométricos regulares, e o
queda profunda. O número oito é a oita- navio de Christian Rosenkreuz, que traz
va superior do número um, a fonte de o globo como emblema, encontra-se no
todas as coisas, de onde parte todo o centro. No momento em que a pérola é
desenvolvimento novo. ofertada, os navios se dispõem em for-
ma de pentágono. Os que trazem o sím-
bolo do sol e da lua — os símbolos do
O icosaedro: vinte triângulos eqüiláteros
espírito e da alma — vêm no centro, e o
Entre a série de figuras platônicas, navio de Christian Rosenkreuz encabe-
esta é a que possui o maior número de ça a todos, como prova de que a nova
faces. Em cada ponto angular se encon- consciência concentra-se na cavidade
tram cinco triângulos, o que faz surgir frontal. Cada um dos cinco corpos regu-
uma estrutura relativamente arredonda- lares forma uma porta com o sol e com
da e fluida: por isso, Platão a coloca sob a lua: por esta porta penetram sete
o signo do elemento água. A força trípli- raios. As figuras geométricas simboli-
ce original encontra-se vinte vezes re- zam as diferentes atividades de cada

28
raio, que intervêm cada vez sob ângulos candidato progride em relação a seu
de incidência diferentes, em harmonia objetivo, pois estabelece a ligação com
com a orientação interior e de acordo o mundo do Espírito, com o oceano da
com o estado do candidato. Assim, o plenitude da vida, esta ligação tem
microcosmo é conduzido como um como conseqüência um afluxo de
“globo de ouro” sobre o mar do novo novas forças. Ora, a estas forças cor-
campo astral, até atingir, enfim, a torre respondem às novas e puras formas
do Olimpo. cristalinas, pois não há espaço vazio.
Novas forças significam, portanto,
novas manifestações, ou seja, a combi-
O GLOBO, A ESFERA, É A MAIS PERFEITA nação precisa de átomos provindos de
FORMA DA CRIAÇÃO Deus: isto é claro!”

Em Christianopolis, de Johann KEPLER E AS FIGURAS GEOMÉTRICAS


Valentin Andreæ, o globo de ouro é DEPLATÃO
descrito como “a cidade de doze por-
tas”. É o microcosmo santificado, no
interior do qual se cumpre o processo Filósofos e cientistas sempre se vol-
de transfiguração: sol e lua, espírito e tam, com muito interesse, para o segre-
alma, ocupam uma posição central do dos polígonos regulares. O astrólo-
neste processo e se encontram, por- go e astrônomo alemão Johann Kepler
tanto, no centro. Hermes Trismegisto (1571-1630) considerava que o número
diz que a esfera é a mais perfeita forma de planetas, sua ordem de sucessão e
do universo. É no interior da esfera que seu movimento respondiam a determi-
se produz toda a manifestação. A tota- nadas leis. Ele sempre agradecia “à luz
lidade do processo do macrocosmo, do da graça divina” pela compreensão
cosmo e do microcosmo está contida com a qual ela o gratificava. Até que
na forma esférica. ponto seus trabalhos eram baseados
De tudo o que foi dito, parece que, na pesquisa e na busca da ligação
por meio de estruturas regulares, são entre o original e o homem? Isto fica
transmutadas poderosas forças, no bem claro nesta observação: “Não há
momento em que o Espírito Sétuplo nada que eu mais tente sondar com o
penetra o cosmo e o microcosmo. A mais escrupuloso cuidado e aspire a
medida pela qual estas forças podem conhecer do que esta indagação:
operar depende inteiramente da capa- ‘Deus, que eu percebo claramente ao
cidade de assimilação da pessoa toca- contemplar o universo, será que eu
da. Quando o Espírito (o tetraedro) poderia encontrá-lo dentro de mim
irrompe no ser terrestre (o cubo), o mesmo?’”
buscador da verdade chega ao umbral, Com o auxílio de poliedros regulares
à linha divisória (o octaedro) da nova de Platão, Kepler determinou a posição
vida. Quando ele ultrapassa esta fron- dos planetas e sua distância em rela-
teira e assimila progressivamente as ção ao sol. Ele representou este siste-
novas forças vitais (icosaedro), então o ma em seu modelo do universo, o
novo homem-alma (dodecaedro) se Mysterium Cosmographicum (fig. 7), no
desenvolve totalmente e age no plano qual ele utilizou a relação entre a esfe-
divino. As doze forças divinas penetram ra inscrita e a esfera circunscrita dos
o sistema microcósmico e renovam cinco volumes de Platão. As pesquisas
todos os corpos do homem até sua últi- mostraram mais tarde que a relação
ma célula. Em As Núpcias Alquímicas entre as órbitas dos planetas e as figu-
de Christian Rosenkreuz, tomo II, Jan ras platônicas baseia--se no número
van Rijckenborgh escreve: “Quando o áureo**. As pesquisas atuais estão vol-

29
tadas para as sete dimensões, mas isto
nos levaria longe demais para os limi-
tes deste artigo. Esperamos ter de-
monstrado um pouco que tudo no
macrocosmo, no cosmo e no microcos-
mo ocupa seu próprio lugar a serviço
do plano divino.

Figuras geométricas
de Platão. Da
esquerda para a direita:
hexaedro ou cubo,
tetraedro ou pirâmide
triangular, octaedro
ou pirâmide dupla,
dodecaedro ou sólido
com doze faces
regulares e, no centro,
o icosaedro ou sólido
com vinte faces
regulares.

* Tomo II, Rozekruis Pers.


** É a relação entre duas medidas, de tal
modo que a menor esteja para a maior como
a maior está para a soma das duas, o que
dá o número áureo, a proporção de 0,618.

30
31
CRUZ DE LUZ

No silêncio profundo E vós não me reconheceis,


Repousa o Mistério, Guardando de mim uma imagem
Qual pérola que não corresponde ao que sou
No fundo do mar. Um manto superficial
que serve apenas para envolver.
O Mistério diz:
Assim, há eões,
Eu sou a Luz do Mundo, Meu desprendimento combate
Imutável, E eterna, Vosso egocentrismo.
O coração do universo. E minha Luz luta
Eu sou o sol dos sóis, Contra vossas trevas.
Oferto meus raios a vós
E os revelo na cruz de luz. Entretanto, ouvi e vede!

Em forma de centelha Já é hora da minha cruz de luz


Penetrei vosso coração, Triunfar em vosso mundo.
Infinitamente pequena como um
átomo, Tudo aquilo que não segue
Mas grande em poder; Minha palavra e minha força
Como botão que se desabrocha, Rumo à Cruz de Luz
transformando-se em rosa; É derribado.
Como semente que deseja tornar-
-se homem-luz. Ó, não hesiteis,
Vós que tendes fome de Espírito!
Despertai, sonhadores! Anelai vir ao meu encontro.
Rebelai, prisioneiros! Reconhecei-me.
Combatentes, rendei-vos à Luz! E não creais que uma veste carnal
Dirigi vossos olhos e ouvidos Do passado, pregada numa
Para o imo, Cruz de madeira, possa salvar-vos.
E vede o que ninguém percebeu no
reino dos sentidos. Eu sou o Verbo Vivente
Que traspassa todo o universo
Desde a origem dos tempos, Com puro Espírito.
Desço ao sepulcro deste mundo,
E faço com que minha luz flua Cerrai bem o velho mundo
Como o Verbo Vivente, Que vos mantém cativos na morte.
Como os símbolos sagrados. Despojai-vos da arbitrariedade e
Abri-vos aos raios que descem
Em forma de palavras de amor, De mim como os símbolos sagrados,
Sabedoria e força, Em força e plenitude sétuplas,
Volto desde tempos imemoráveis, Para que a alma encontre
De tempos a tempos, Seu caminho de retorno ao lar,
A vossa noite fria, E se inflame, segundo minha
A vosso vale da morte, Vontade, transformando-se
Vertendo meu esplendor Na Cruz de Luz.
sobre vosso pó.
Vinde a mim,
Mas sempre de novo Vós, alquebrados!
A arbitrariedade o arrebata Tomai minha luz e minha força

32
Como pão e vinho,
Como água e sangue,
Como cordeiro sacrifical e peixe.

Nutri o embrião da nova alma.


Fazei com que ela germine como
rosa na cruz vivente.

E, se ela florescer plenamente,


No coração e na cabeça,
Nas mãos e nos pés,
Fazei o que fiz por vós

Ide com minha força.

Sede Cruz de Luz para


Todos na noite.

E trazei a todos os que têm fome


De Espírito aquilo que vos dei.

Libertai-vos do mesmo modo


que libertais outrem!

Assim fala a Luz do Mundo


Em profundo silêncio.

Todos que ouvem e compreendem O Pai-Mãe-Filho,


Livram-se dos grilhões O Ser eterno,
E seguem o Verbo, Que se sacrifica pelo mundo na
A Vontade Sagrada, Aliança da Luz, da Cruz e do Graal.
Em jubilosa corrente de irmãos.

Eles se elevam na corda dos


Símbolos luminosos até o local dos
Libertos, avançando rumo à luz,
Para a pátria dos viventes.

E quando circundam o trono do sol


Permanecem no meio do mundo
Para apresentar suas oferendas.

Ouves a Palavra?
Sentes o alento da eterna Verdade?

Da taça áurea
Desce um raio até teu coração –

Para revelar-te

33
A LINGUAGEM: UM SÍMBOLO INFINITAMENTE VARIÁVEL

Cada linguagem é um sistema de reconhecessem. “E Adão deu nome a


símbolos muito extenso, um teste- todos os animais domésticos, às aves
munho que capta o poder que o ho- do céu e a todos os animais do campo.”
Ao permitir ultrapassar as relações
mem possui de criar símbolos. As
intuitivas e inconscientes com a nature-
palavras e a gramática de uma certa za, a linguagem dá a possibilidade de
língua expressam a maneira pela determinar, independentemente dela, o
qual um povo define sua relação que é necessário para adquirir o autoco-
com o mundo. Em sua origem, cada nhecimento e o conhecimento da natu-
reza, e finalmente de nos aproximarmos
palavra refletia uma parte da reali-
do mundo espiritual e entrar nele.
dade e representava sua essência O milagre da linguagem é claramente
tal como era percebida por cada visível na língua hebraica, cuja escrita
povo. quadrada, que se traça da direita para a
esquerda, preservou sua característica
original. Assim, do som ou da letra Beth
O conceito de linguagem pode ser defi- provêm o Beta grego e o B das línguas
nido como a totalidade dos conceitos modernas; mas nestas línguas o B já
que os humanos emitem pelos órgãos não é um símbolo vivo: é apenas um
da fala ou pela escrita, a fim de expres- sinal. Em hebreu, entretanto, Beth e o
sar pensamentos e sentimentos, e de som B significam casa. Uma casa se re-
comunicá-los. Por exemplo, examine- fere a um lugar separado do exterior. A
mos o som que constitui a palavra letra B não significa mais do que isto.
alemã “árvore”: BAUM. O AU reflete a Podemos verificar isto por sua pronún-
copa redonda da folhagem; o B é a abó- cia: os lábios expulsam o sopro para o
bada interior isolada do exterior; o M a exterior e criam um vácuo; isto também
leveza e a fluidez da folhagem. Outros pode ser bem visível na forma desta
povos, percebendo a árvore de modo letra. No esoterismo hebraico, observa--
diferente, utilizam uma outra combina- se que a Bíblia começa com a letra B:
ção sonora adaptada à estrutura de sua “B’reschit bara elohim e haschamajim
linguagem. w’et ha’arez”. (No princípio criou Deus
As orações subordinadas expressam, os céus e a terra”) Gênese, 1:1. De fato,
no momento atual, as relações entre a Bíblia começa com a criação do
certos acontecimentos. Por exemplo, a mundo e o mundo é a casa separada de
relação entre presente e futuro, entre Deus, a matéria que foi apartada do
causa e conseqüência, entre uma possi- Espírito.
bilidade e tudo o que depende dela. A A partir da unidade do Espírito, a cria-
mitologia relata que os humanos rece- ção formou a dualidade da matéria: o
beram seu poder de expressão de seres interior e o exterior, o Espírito e a maté-
superiores: depois as linguagens evoluí- ria que o engloba em uma forma, a fim
ram até tornar-se o que são hoje. de que o Espírito se liberte da matéria.
Segundo a Bíblia, o homem deu um no- A primeira letra da escrita hebraica é
me a todas as criaturas e a todos os o Aleph. Esta letra não se escreve, as-
objetos para orientar-se consciente- sim como as outras vogais. Aleph é “a
mente e também para que os outros os origem invisível no Espírito”, a unidade

34
que se torna dualidade pelo Espírito e
pela matéria. É por isso que Beth é igual
a 2, pois cada letra hebraica representa
também um número. Estes números
não traduzem quantidades, mas são
obtidos pela divisão e diferenciação. Do
1 provém o 2, por divisão. Aqui vemos
que o símbolo Beth representa simulta-
neamente um princípio estrutural da
realidade (separação), um princípio do
mundo dos números, o 2, e um estágio
de desenvolvimento da criação; o mun-
do da forma que se diferenciou a partir
do Espírito. Ao mesmo tempo todas
estas funções traduzem realidades con-
cretas que aparecem pelo desenvolvi-
mento do som e da forma das letras.
Trata-se de um maravilhoso simbolismo,
pois o que acabamos de dizer pode ser
demonstrado por todas as letras do alfa-
beto hebraico!

Sete seqüências
de signos sagrados
baseados no
hebraico (Bibliotheca
Magna Rabbinica, 1675).

35
CONVIVENDO COM SÍMBOLOS

“A Verdade não veio ao mundo nua, aspectos da verdade. Depois, chega o


mas em forma de símbolos e ima- momento em que as novas qualidades
de alma são grandes o bastante para
gens: de outro modo, o mundo não
tomar a direção de suas vidas. Então,
poderia recebê-la.” (Evangelho de tudo o que estas pessoas haviam adqui-
Felipe, descoberto em Nag Ham- rido (amigos, relações sociais ou profis-
madi.) sionais, idéias, hábitos), já não tem um
valor essencial para elas. O anseio pela
libertação, que nasceu da lei original
C omo ainda não reconhecemos o con- inscrita em seu coração, deve tornar-se
ceito de incorruptibilidade, nosso pensa- tão ardente que a vida material já não é
mento continua direcionado para o a finalidade de sua existência, e elas
perecível e, por esta razão, muitos sím- percebem claramente a porta que se
bolos primordiais foram degenerando abre para o bem espiritual superior. A
pouco a pouco, até passarem a se refe- prisão terrestre vai-se desfazendo exte-
rir apenas a considerações materiais. rior e interiormente, e todos os obstácu-
Entretando, se ainda continuam puros, los desaparecem. Neste processo que
eles representam uma grande força, leva à autonomia espiritual, as orienta-
que quase sempre é ignorada. ções que eram prescritas antes são dei-
Em sua origem, um único símbolo xadas de lado e as pessoas vão traçan-
continha uma mensagem que, embora do, individualmente, novas linhas de for-
velada, podia ser transmitida à humani- ça. Assim, quem está no caminho, bus-
dade. Podemos considerar estes primei- cando sua libertação, retoma toda a res-
ros símbolos como cordas salvadoras ponsabilidade sobre sua própria vida.
enviadas à humanidade sofredora para Mas será que o que acabamos de
arrancá-la para fora da matéria e elevá- dizer é tão fácil? Não é verdade que
la na imortalidade. Isto significa que sempre nos deixamos guiar por todo o
esta humanidade recém-criada ainda tipo de princípios, instruções e teorias
não era capaz de tomar, por si mesma, estatísticas? A autoridade dos outros
o caminho de volta rumo à eternidade. parece servir de apoio, pois ainda não
Assim, quando um símbolo se situa no procuramos mais além, e não percebe-
ponto de intersecção entre o mortal e o mos que os outros são tão falíveis quan-
imortal, é fácil de ser interpretado falsa- to nós mesmos. É que as pretensas
mente, ou degradado. Neste caso, a “autoridades” não passam de homens,
corda salvadora transforma-se em cor- debatendo-se também com o problema
rente, aprisionando a humanidade de suas próprias vidas! Eles são prisio-
decaída. neiros de seus princípios, como todas
Vamos imaginar um grupo de pes- as pessoas que ainda não perceberam
soas que estão buscando a verdade. a porta da imortalidade.
Elas já tomaram seu caminho rumo à Enquanto isso, a necessidade de um
verdade e vivenciam seu aprisionamen- certo suporte exterior realmente se faz
to na matéria, cada vez mais conscien- sentir, a tempo de adquirir a compreen-
temente. Uma imagem da libertação, são libertadora, e portanto de poder
uma nova perspectiva sob a forma de seguir um novo caminho. Mas, se o bus-
um símbolo, pode mostrar a elas novos cador não vai muito longe, os meios de

36
socorro espiritual obtidos degeneram possível utilizar falsamente um símbolo
rapidamente, transformando-se em pri- autêntico, mas este já não conserva sua
são espiritual, e ele enfeitará as paredes força. Ao fazer mau uso de um símbolo,
com alguns símbolos magníficos que quem o utiliza bebe de sua fonte secre-
dão testemunho de suas aspirações. ta e vivencia a experiência de receber
Para muitos, é assim que o nascimento, coisas completamente diferentes do
o caminho da cruz e a ressurreição do que gostaria ardentemente de receber.
salvador são símbolos cristalizados, No caso em que o buscador, ou o
transformados em dogmas. grupo de buscadores ultrapassam os
limites da natureza da morte e utilizam a
força liberada no sentido de sua desti-
COMO DEVEMOS COMPORTAR-NOS DIANTE nação original, surgem novas possibili-
DOS SÍMBOLOS? dades e propriedades. Assim, os símbo-
los já desembaraçados das teias de ara-
nha que os recobriam falam diretamen-
O nascimento, o caminho da cruz e a te ao buscador sério, de maneira liberta-
ressurreição de Cristo representam dora, em níveis cada vez mais elevados.
fases do desenvolvimento espiritual que Os dogmas, que quase sempre são os
acontece dentro de cada pessoa. É um frutos amargos do medo, vão perdendo
caminho onde não fazemos outra coisa sua força. Assim, a mensagem original
senão cair e levantar, como testemunha pode ser seguida e vivenciada: primeiro
Pedro, quando nega seu mestre. Tendo pelos pioneiros, depois por seus nume-
de escolher entre o antigo e o novo, ele rosos discípulos, e em seguida por toda
ainda não é bastante forte e cai nova- a humanidade, convocada para voltar
mente em seus hábitos antigos. O bus- sobre seus próprios passos.
cador da verdade conhece isto. As con-
seqüências de suas novas concepções
de vida são muitas vezes tão revolucio-
nárias que é preciso refletir muito bem
antes de saber se realmente quer conti-
nuar, se é isto o que ele realmente quer!
Não tendo certeza, ele recua. Ele bem
que gostaria de libertar-se dos laços do
espaço e do tempo, mas logo volta a
sua antiga natureza. E, a fim de salvar
seu próprio eu, ele se reveste da sabe-
doria dos símbolos, para tentar manter-
-se à frente e abusar dos outros. Ele
tenta mitigar sua fome de pão espiritual
com princípios e valores terrestres. Esta
fome vai-se tornando insuportável e, em
sua corrida rumo à verdade, ele imita a
verdade. Ele a falsifica e a oferece,
assim, a seus semelhantes. Quem age
desta forma, brinca com fogo, pois é

37
HOMEM E MULHER:
SÍMBOLOS BÍBLICOS

É possível considerar um certo


número de figuras bíblicas como
símbolos da evolução interior do ser
humano. Eles traduzem este avanço
no caminho da vida por situações
simbólicas que parecem sempre
levar mais longe, principalmente
sob a forma de narrativas alegóri-
cas. Assim, a entrada em cena de
certos personagens, na Bíblia, é a
própria ilustração das vivências que
experimentamos no caminho do
desenvolvimento espiritual e no cor-
respondente estado interior.

E stas narrativas alegóricas dizem res-


peito a todos os homens? Em princípio,
sim, pois o microcosmo foi criado “à
imagem de Deus” e carrega em si uma
semente divina. Ora, esta semente, ou
núcleo, dá ao portador do microcosmo
— o homem — a possibilidade de ligar-
-se novamente à força divina. Mas, ao
lado disso, podemos dizer que as expe-
riências simbólicas descritas na Bíblia
dizem respeito a um só ser: àquele que
está consciente de buscar a senda do
crescimento espiritual e quer realmente
empreendê-la. Um buscador da única
verdade torna-se progressivamente
sempre mais receptivo ao plano e à
força divina. Ele libera em si o núcleo
original, colocando de lado seu eu e
dando a palavra ao plano divino.
Para começar, este processo ainda é
passivo, mas ao mesmo tempo o
homem que busca a Deus está cha-
mando por socorro. Sua profunda nos-
talgia, seu desejo irrepreensível de po-

38
der seguir a senda de libertação se ex- masculino e feminino. Aquele que per-
teriorizam e o impulsionam a agir. Esta cebe que pertence à vida mortal e com-
“passividade” e esta “atividade” — rece- preende que deve direcionar-se para a
ber e emitir — estão ligadas e depen- imortalidade, tem o dever de devolver a
dem uma da outra. Em muitas narrativas Adão e Eva sua função original, por
alegóricas da Bíblia, estes dois pólos meio de seu próprio ser, antes que eles
são representados pelo homem e pela possam unir-se, pois neste momento
mulher, e sua ação é descrita sob a for- são forças distintas. O antigo Adão e a
ma de acontecimentos e personagens. antiga Eva devem tornar-se um novo
Adão e uma nova Eva.
No Novo Testamento surgem os mes-
O COMEÇO DO CAMINHO NO ANTIGO mos princípios baseados em uma espi-
TESTAMENTO ral superior, sob o aspecto de Maria e
José. Eles indicam que o processo de
purificação já está avançado, que o ho-
No começo do caminho de transfigu- mem-Jesus pode nascer destes dois
ração, o homem que busca a Deus ain- princípios: ou seja, com um corpo (ou
da está na fase de evolução do Antigo veículo) apto para se preparar para a
Testamento. Sem rumo, no estado de ressurreição.
queda em que ele se encontra, ele é to- Esta fase de desenvolvimento entre
cado pelas forças divinas. Ele ouve o “o antigo” e “o novo” faz parte do cami-
chamado e se põe a caminho. A senda nho de todo o autêntico transfigurista E
que leva do Antigo Testamento para o para ele, é sempre verdadeira a indaga-
Novo Testamento é a senda do chama- ção: “Onde está o Adão em mim? Onde
do, do “testemunho da antiga vida” para está Eva? Onde estão Maria e José?
o “testemunho da nova vida”. O Antigo Será que Jesus já nasceu? E Cristo?” O
Testamento representa o período da Adão decaído tem sua sede no sistema
preparação; o Novo Testamento descre- espinal, que vai da cabeça ao plexo sa-
ve a espiral superior desta evolução: o cro. Ele representa o antigo fogo ser-
despertar e o crescimento da nova al- pentino, a consciência decaída. A Eva
ma, a formação da nova consciência e a decaída encontra-se no santuário do
elevação da nova alma no Espírito. Tudo coração ainda não purificado. Ela encar-
o que se passa no Novo Testamento na a antiga vida de sentimentos de
está em preparação no Antigo Tes- natureza terrestre.
tamento. Isto fica demonstrado pela en- A força espinal tem um aspecto abs-
trada em cena dos profetas que apon- trato e um aspecto concreto. Na alma -
tam para a realização no Novo Testa- -espírito desperta, o aspecto abstrato é
mento. portador dos impulsos do mundo divi-
no: portanto, há uma atividade criadora.
O aspecto concreto liga a nova com-
ADÃO E EVA: preensão à matéria. A força espinal
SÍMBOLOS DO HOMEM DECAÍDO atrai a força astral — Eva. Por meio
dela, a alma-espírito pode trabalhar na
matéria. Quando esta colaboração
Todos os seres humanos na terra se acontece em harmonia, o instrumento é
encontram em um estado que já não formado para que Deus possa manifes-
está em conconrdância com a vida divi- tar-se na matéria; e a fim de formar um David e o
na original. É dito que Adão e Eva foram instrumento como este, é necessário pecado original
(Manuscrito
expulsos do mundo divino por terem co- que cabeça e coração unam-se pro-
da Biblioteca
mido do fruto da árvore do conhecimen- gressivamente e já não estejam a servi- Herzog August,
to do bem e do mal. Adão e Eva encar- ço do eu. em Wolfenbüttel,
nam o princípio emissor e receptor, Alemanha).

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DOZE NOVAS POSSIBILIDADES forças recebidas devem transformar-se
em um processo consciente: é a fase
Jesus. É impressionante que, no Novo
A fuga Adão e Eva simbolizam, em primeiro Testamento, já não seja tratada a ques-
do Egito lugar, a força espinal e a força astral do tão da linhagem das gerações, mas sim
(Gravura de
homem decaído. Em uma espiral supe- da consciência do indivíduo. Para encer-
Albert Durer,
1471-1528).
rior, eles retornam sob a forma de rar a antiga fase, surge João Batista, o
Abraão e Sara, símbolos da fé que faz último profeta, que lembra a fase da
nascer o toque do Espírito. Isaque e preparação em termos concisos. A este-
Rebeca lembram a concretização desta rilidade de seus parentes, Zacarias e
esperança; Jacó e suas esposas sim- Isabel, exprimia o fato de que eles
bolizam a nova energia liberada. Deles, haviam deixado a fase do Antigo
nascem doze filhos — doze novas for- Testamento e já não estavam receptivos
ças — que podem ser imaginadas às influências do antigo campo de vida
como símbolos das novas forças bipo- terrestre. A alma que se volta a Deus,
lares que atuam em diferentes níveis na por esta mesma razão, desvia-se do
vida humana. Assim, a compreensão mundo e se fecha a suas influências,
que é própria do homem do Novo porém não o abandona em seus sofri-
Testamento adquire um maior poder de mentos.
recepção e manifestação; o mesmo
acontece em sua vida sentimental
(Gênese: 49). Estes novos poderes O NASCIMENTO DE DEUS NO HOMEM
acarretam uma nova tarefa: uma prepa-
ração maior, tendo em vista o nasci-
mento de Jesus e a ressurreição de Quando a alma, deste modo, des-
Cristo. Esta é a fase do Antigo via-se do mundo, recebe novas forças.
Testamento — o testemunho da nova O pólo oposto do princípio feminino é o
vida que se desenvolve naquele que intelecto terrestre, agora purificado a
busca ponto de poder retirar-se para dar
Depois do toque do Espírito divino, as lugar a um desenvolvimento superior.
Esta compreensão do intelecto —
José — e a rendição do coração —
Maria — permitem que se cumpra uma
grande maravilha: a manifestação de
Deus no homem. Jesus nasce. O nas-
cimento de Jesus é, portanto, o símbo-
lo do nascimento de Deus no homem,
fato que deve acontecer um dia com
todos para permitir a ressurreição. A
alma “convertida” e o novo intelecto já
não acham seu lugar no velho mundo:
então, são expulsos pelas forças ter-
restres. Mas estes aspectos, que já
atingiram uma realidade superior, saú-
dam a chegada da Luz. Estes aspec-
tos são representados pelos três reis
Magos que, guiados por uma estrela
até o local de nascimento de Jesus,
vêm trazer-lhe ouro, incenso e mirra. O
incenso é o símbolo do coração reno-
vado e das novas forças astrais que
chegam até ele; o ouro é a imagem da
nova compreensão ou consciência, e a sentido, o buscador espiritual pode re-
mirra, a nova atividade que vai permitir conhecer seu próprio caminho com a
a expansão do Espírito divino no entrada em cena de Jesus, e também
mundo. de Pedro, João, Tomás, Judas e outros
discípulos. Os doze discípulos seguem
a Jesus como seu Mestre. Eles o
O CAMINHO DA NOVA ALMA seguem, e o traem inúmeras vezes, pois
eles não o compreendem e, sempre
caindo em seus velhos hábitos, querem
O caminho ainda não termina com o servir novamente ao deus terrestre. A
nascimento de Jesus, que é o segundo história dos doze discípulos descreve os
nascimento. Por mais que este nasci- aspectos positivos e negativos deste
mento tenha aberto a porta do mundo combate interior. Assim, Pedro mostra
espiritual, o novo homem deve crescer que é firme e perseverante. Em seu sen-
até poder participar conscientemente do tido negativo, estas qualidades se mani-
novo campo de vida. festam como intransigência e tendência
Em um determinado momento, Jesus a fazer intervenções intempestivas.
deixa seus pais, começa a pregação e Estes dois aspectos já foram descritos
reúne em torno de si seus doze discípu- no Antigo Testamento, quando Jacó
los, a quem ele revela os maiores aconselha seus irmãos.
Mistérios, que mantém velados ao povo, Os aspectos simbolizados pelos fi-
pois seus discípulos têm um nível mais lhos de Jacó e pelos discípulos de Je-
elevado. sus devem ser agora subordinados à
Os doze discípulos correspondem vida segundo o Novo Testamento. Tudo
aos doze filhos de Jacó, às doze tribos o que representa um obstáculo à nova
de Israel. No Antigo Testamento, havia vida deve ser reconhecido e vencido
doze atividades que resultavam do progressivamente: negação, traição, in-
toque do sangue pelo Espírito. Esta era veja, incredulidade, desejo de poder,
a fase dos profetas. No Novo Tes- vaidade e todos os outros elementos
tamento, estas doze atividades já não negativos da vida terrestre.
provém do sangue renovado, mas sim A terceira fase é a da libertação. De-
da nova alma, da nova consciência: é pois daquele que prepara os caminhos
por esta razão que elas são chamadas — João Batista — vem Jesus, a nova
por Jesus, que é o princípio da nova alma: depois de Jesus vem a ressurrei-
alma. Elas são chamadas, mas não ção — a nova alma unida ao Espírito.
totalmente realizadas, pois, apesar de já Nesta fase, entram em ação duas for-
estarem presentes em princípio, ainda ças que podemos definir como a alma
devem ser dinamizadas. Esta é uma ressuscitada e seus companheiros. É
ação consciente e este é o assunto tra- sobretudo Maria Madalena que aqui
tado pelo Novo Testamento: o testemu- desempenha um papel importante. Se-
nho da nova vida! gundo o evangelho, ela queria espalhar
Cada um de nós deve aprender a tra- óleos aromáticos pelo corpo de Jesus.
balhar com as doze novas forças no Ela apenas encontra seu corpo glorio-
caminho de transfiguração: é assim que so, o corpo que se tornou um corpo de
o sistema, como um todo, é renovado. luz. Depois de sua ressurreição, Jesus
Estas doze forças, no desenvolvimento ensinou seus discípulos, e sua aluna
do Novo Testamento, agem nos doze mais inteligente era Maria Madalena.
pares de nervos cranianos já prepara- Ao contrário dos outros discípulos, ela
dos para isto. Em outras palavras: co- sempre continuou no rumo certo, como
meça a tomar forma a nova doutrina é dito no Evangelho segundo Maria. A
(como base de trabalho) e as novas for- Bíblia conta que havia três mulheres ao
ças (como poder de execução). Neste lado da cruz: Maria (a mãe de Jesus),

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uma outra Maria e Maria Madalena. tes, e, se tiver a capacidade de traduzir
Podemos considerá- em atos libertadores o que compreen-
-las como companheiras da nova alma. de, então, se aproximará passo a passo
Elas sofrem e seguem o processo de de sua sublime finalidade. Ele descobri-
renovação por completo, mas seu tes- rá que a Bíblia desenha minuciosamen-
temunho é o silêncio, porque a com- te a senda de sua própria vida, e que
preensão natural não é capaz de con- ele próprio é um símbolo do ponto de “Naqueles
cebê-lo. encontro entre Deus e o homem, onde dias, dispondo-se
Maria, foi apressa-
acontece a vitória sobre a matéria.
damente à região
Do Adão e da Eva decaídos podem das montanhas,
NASCIMENTO DO NOVO CORPO ETÉRICO ressuscitar o novo Adão e a nova Eva, a uma cidade de
unidos em um só ser humano, um Adão Judá, entrou na
e uma Eva espirituais. Então, a queda é casa de Zacarias
e saudou Isabel”
A ressurreição é o desenvolvimento aniquilada, e o homem está de volta na
(Lucas, 1: 39 e 40)
do corpo da nova alma, nutrido pelas qualidade de participante do campo de (Catedral de
forças do Espírito. É apenas depois da vida divino. Freiburg, século
ressurreição que o sistema microcósmi- XIV, Alemanha).
co é ligado ao campo de vida divino. O
novo corpo etérico da alma de Cristo
envolve o campo de vida terrestre em
sua totalidade e dá a todos os buscado-
res sérios a força para continuar no pro-
cesso de renovação e conduzi-lo ao
“bom fim”. A vida de um homem como
este, em quem a alma é ressuscitada,
entra em uma fase totalmente nova. Os
pensamentos, os sentimentos e os atos
são inspirados pelo novo campo de
vida. Jesus diz: “Eu sou a ressurreição e
a vida”. Esta vida depois da ressurrei-
ção é a do menino-Deus, do ser que
está em ligação direta com o campo de
vida divino.

OS SÍMBOLOS TORNAM-SE REALIDADE

O Antigo e o Novo Testamento des-


crevem a evolução do homem em busca
de Deus, desde a primeira fase, da pre-
paração, até a última, da realização.
Não é essencial saber se todos estes
personagens bíblicos realmente vive-
ram e seguiram a senda ou não. Para
quem busca, o importante é seu signifi-
cado simbólico. Quem busca reconhece
sua própria senda e compreende a
riqueza destas figuras e narrativas sim-
bólicas. À medida em que ele avança na
senda de transfiguração, ele descobre
seu significado em vários níveis diferen-

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