You are on page 1of 10

Reinhart Koselleck

PUC RIO

Reitor
Pe. Jesus Horta! Sánchez, S.J. FUTURO PASSADO
Vice-Reitor Contribuição à semântica
Pe. Josafá Carlos de Siqueira, S.J.
dos tempos históricos
Vice-Reitor para Assuntos Acadêmicos
Prof. Danilo Marcondes de Souza Filho

Vice-Reitor para Assuntos Administrativos


Prof. Luiz Carlos Scavarda do Carmo

TRADUÇÃO DO ORIGINAL ALEMÃO


Vice-Reitor para Assuntos Comunitários
Prof. Augusto Sampaio Wilma Patrícia Maas
Carlos Almeida Pereira
Vice-Reitor para Assuntos de Desenvolvimento
Pe. Francisco Ivern, S.J. REVISÃO DA TRADUÇÃO

César Benjamin
Decanos
Prof.• Maria Clara Lucchetti Bingemer (CTCH)
Prof.• Gisele Cittadino (CCS)
Prof. Reinaldo Ciüixto de Campos (CTC)
Prof. Francisco de Paula Amarante Neto (CCBM)

COnTRAPOnTO

EDITORA

PUC RIO
© Suhrkamp Verlag Frankfurt am Main, 1979

Direitos para o Brasil adquiridos por Contraponto Editora Ltda.

UDESC- BC

i-;:V
Contraponto Editora Ltda.
Bibliot~1a Univ~rsitá~.ia
lo'~
Caixa Postal 56066
Rio de Janeiro- RJ- CEP 22292-970 Data:'- j
Telefax: (21) 2544-0206 I 2215-6148 Acervo: ~ ""='-> o '(
Ex.: ~ S ~ ç: 8 1 8
Site: www.contrapontoeditora.com.br
E-mail: contrapontoeditora@gmail.com
C.P.O.:X V o r.., o ~ o~ lJ j
Editora PUC-Rio Patrimônio: 502M Para Felicitas Koselleck
Rua Marquês de S. Vicente, 225- Projeto Comunicar AA
Praça Alceu Amoroso Lima, casa V ~~ .t.. wl~ '(\~ j.L{ 65J
Gávea- Rio de Janeiro- R]- CEP 22453-900 Oct . oO IJJ 1 8 lo a
Telefax:(21)3527-1838/3527-1760 ~5Jt J"P,·Ü l ::J
Site: www.puc-rio.br/editorapucrio
E-mail: edpucrio@vrc.puc-rio.br FN=n-~
Conselho Editorial \-h~
Augusto Sampaio, Cesar Romero Jacob, Dan ilo Marcondes de Souza
Filho, Maria Clara Lucchetti Bingemer, Fernando Sá, Gisele Cittadino,
Reinaldo Calixto de Campos, Miguel Pereira

Capa e projeto grájico


Regina Ferraz

Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser


reproduzida ou transmitida por quaisquer meios (eletrônico ou
mecânico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em qualquer
sistema ou banco de dados sem permissão escrita das editoras.

CIP· BRASIL CATALOGAÇÃO-NA· FONTE


SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RI

K88f Kosclleck, Rcinhart, 1923-2006


Futuro passado : contribuição à semântica dos tempos históricos I
Reinhart Kosellcck ; tradução do original alem<io Wilma Patrícia
Maas, Carlos Almeida Pereira ; revisão da tradução César Benjamin.
-Rio de Janeiro: Contraponto: Ed. PUC-Rio, 2006.
368p.; 23 cm
Tradução de: Vcrgangene Zukunft
ISBN 85-85910-83-6
I. História - Filosotia. 2. História - Periodização. 3. Historiografia.
I. Título.
CDD 901
SUMÁRIO

Apresentação - Marcelo fasmin 9


Prefácio - Reinhart Koselleck 13

Parte I
Sobre a relação entre passado e futuro na história moderna
1 O futuro passado dos tempos modernos 21

2 Historia Magistra Vitae - Sobre a dissolução do topos


na história moderna em movimento 41
3 Critérios históricos do conceito moderno de revolução 61
4 Prognósticos históricos nos escritos de Lorenz von Stein
sobre a Constituição prussiana 79

Parte II
Sobre a teoria e o método da determinação do tempo histórico
5 História dos conceitos e história social 97
6 História, histórias e estruturas temporais formais 119

7 Representação, evento e estrutura 133


8 O acaso como resíduo de motivação na historiografia 147
9 Ponto de vista, perspectiva e temporalidade -
Contribuição à apreensão historiográfica da história

Parte III
Sobre a semântica histórica da experiência
10 A semântica histórico-política dos conceitos antitéticos
assimétricos 191
11 Sobre a disponibilidade da história 233
12 Terror e sonho - Anotações metodológicas para
as experiências do tempo no Terceiro Reich 247
13 "Modernidade"- Sobre a semântica dos conceitos de
movimento na modernidade
14 "Espaço de experiência" e "horizonte de expectativa":
duas categorias históricas 305

Notas
Fontes
132
REINHART KOSELLECK • FUTURO PASSADO

~:, :~xJ·~~~ssão registra a passa~em da noção de história universal como CAPÍTULO 7


o composto por umdades se d
ceita de história universal como sistema ~=ra as, um agregado,. ao con- Representação, evento e estrutura*
uma teoria da hist, · ~ . . ' com 0 que a necessidade de
à n~ção do globo,:;~:,,~: ~~:~~:~;;:e:::~~:preendida erelacionada
esde entao tornou-se possível compreender a históri O problema da representação, isto é, da maneira como a história [His-

;;,:~~:~ô::s~~;~!~:~~!% :~;~,a~~::a:~:p~!~:.:t~ed;:::::~: ~:
te, a partir de relações causais A d. , . d , . fiCien-
torie] narra e descreve, remete, no campo do conhecimento, a diferentes
dimensões temporais do movimento histórico. A constatação de que
uma "história" já se encontra previamente configurada antes de tomar a
uma dinâmica suí generís. Tra~a-se ~~:::a a modermdade histórica é
forma de uma linguagem limita não só o potencial de representação
sujeito ou sujeitos podem ser investigado processo de resultados, cujo
como também exige do historiador que se volte necessariamente à fonte
processo, sem ue . , . s somente na reflexão sobre o
Com isso, a teoiogi~~~ .Issod o propno p~ocesso se faça determinável. em busca.de fatos. Esta contém indicadores de sucessão temporal muito
menta huma vma e outrora cai na ambigüidade do planeja- diversos. Por conta disso, da perspectiva do historiador, a questão pode
d no, o que pode ser verificado na ambivalência do . ser revertida: trata-se de diferentes camadas de tempo que, por sua vez,
fi~i~:o;~~~~i~~eq~:~~e ;~: ~e ser identificado ~o ~esm~ :em;~:~:~ exigem diferentes aproximações metodológicas. Isso leva o historiador a
mete ao espaço e ao mundo na~~:a~ ~a~p·o semantico ongmal, que re- estabelecer um pressuposto: conforme o resultado da investigação, serão

ceito de história extrai sua ambivalên.cia da~~~::g~çrã:~eot


moderno can-
utilizados diferentes meios de comunicação do conteúdo, nos quais, para
usarmos uma expressão de Santo Agostinho, narratio demonstrationi si-
sado como um t d ( · d er que ser pen-
mesmo temp . o ~ amd a que fosse por razões estéticas), mas que ao milis (est).I Antecipando a minha tese: na prática, o limite entre a nar-
o Jamais po e ser dado como terminad . f ração e a descrição não pode ser mantido; já na teoria dos tempos histó-
manece desconhecido ainda q d c . o, pois o uturo per-
, ue e 10rma conheCida. ricos, os níveis que abrigam as diferentes extensões temporais não se
interpenetram completamente. Para explicar melhor esta tese, partimos
Tradu!ão de Wilma Patrícia Maas e Fabiana Angélica do Nasci do princípio de que "eventos" só podem ser narrados e "estruturas" só
Revzsao de Marcos Valéria Murad menta podem ser descritas.

1.Eventos, que são isolados ex post da infinidade dos acontecimentos-


ou, para usar uma linguagem burocrática, são retirados dos arquivos - ,
podem ser experimentados pelos próprios contemporâneos como um
conjunto de fatos, como uma unidade de sentido que pode ser narrada.
É essa provavelmente a causa da prioridade dada aos relatos feitos por
testemunhas oculares que, até o século XVIII inclusive, valeram como
fontes primárias especialmente confiáveis. Reside aí a extrema valoriza-

* Esta contribuição é fruto de uma discussão mantida durante uma reunião do grupo "Poe-
tik und Hermeneutik", em 1970. Os resultados das discussões foram publicados por Wolf-
Dieter Stempel e por mim sob o título Geschichte: Ereignis und Erziihlwzg, Munique, 1972
* Emalem~o, progresso é Fortschritt, literalmente um . , ("Poetik und Hermeneutik" V). Minha contribuição refere-se especialmente às interven-
uma distancia geográfica em relaça- d , passo que se da a frente, cobrindo ções dos senhores Fellmann, Fuhrmann, )auss, Lübbe, Stierle, Stempel, Szondi e Taube, a
o ao mun o natural. [N.T.]
quem expresso aqui os meus cordiais agradecimentos pelas sugestões.
134
REINHART KOSELLECK • FUTURO PASSADO
REPRESENTAÇÃO, EVENTO E ESTRUTURA 135

ção, como fonte, de uma "história" transmitida pela tradição, que repro-
duz um acontecimento a ela contemporâneo.
~ue
- onologia natural em si é destituída de significado his-
E certo a cr 1 K nt demandou que a cronologia se orientasse
O pano de fundo no qual diferentes acontecimentos se organizam em tórico, motivo pelo qu~ a h" . la cronologia.3 Para que se
um evento é, antes de tudo, a cronologia natural. A exatidão cronológica 1 história e não o mverso, a Istona pe
pe a . , I ·a histórica- também para os eventos- era
na classificação de todos os elementos que constituem os eventos per-
tence por isso ao postulado metodológico da narrativa histórica. Neste
constlt,u~ss;. ~~~t~r~~~,~~~r isso se pôde falar, em princípio, de ur~a e:-
necessan? e, . ho"e ode soar estranho. Há estruturas diacro-
caso existe, no sentido de uma sucessão temporal histórica, um "limite trutura diacromca, o que J p 'T' d h"stória revela que
I::~~:
da segmentação em unidades mínimas" (Simmel), 2 abaixo do qual o - . t ao decurso de eventos. J.O a I
nicas que sao e:eus grandes momentos, suas peripécias, suas cri-
evento se dissolve. A unidade de sentido que faz dos diferentes aconteci-
seu ponto de p- . ' r , . também para os atares participantes. Na
mentos um evento é composta de um mínimo de "antes" e "depois': As ses e seu fim sao mte Igiveis .. antes sobretudo na li-
circunstâncias ao longo das quais se dá um_ evento, seu antes e seu de- existência de alternativas, no númer~ de padrtiCip .
. - 0 no estabelecimento de ntmos etermma os,
d podem-se re-
pois, podem ser estendidas; sua consistência permanece, entretanto, pre-
sa à sucessão temporal. Mesmo a intersubjetividade de uma conjuntura ::çe:~,
.
:s condições intrins~cas.às. seq~êndas de:::;'~~~!~;:~.;:
d . m sua estrutura diacromca. or Isso,
de eventos deve, enquanto os atares a realizam, manter-se aderida ao es- Isso,
, 1ad qurre - ou com uma dada tipologia , torna-se possível
bstraçao . campa-
I' d
quema das seqüências temporais. Basta pensarmos nas histórias das eclo- mve e a . - uerras e histórias constitucionais. A em e
sões das guerras em 1914 e em 1939. O que realmente aconteceu, justa- rar seqüênCias de revoluçoes, g . t h' também estru-
tais estruturas diacrónicas ligadas aos aco?teCimen o~, . a dia
mente por conta da interdependência das ações e omissões, só pode ser
turas a longo prazo, expressão de uso mais corrente OJe em .
visto decorridas as primeiras horas, o dia seguinte ...
A transposição de experiências outrora imediatas em conhecimento
2. Sob os preceitos das questões prop?stas pela histó~ia social, ~rt::~
histórico - entendida como o rompimento de um horizonte de expec- " t " foi admitido à história mais recente, especialment~ p
tativa, que deixa à mostra um sentido inesperado -permanece sempre destru ura - 0 "histona
. , . estrutura1".4 Desde então ' são entendidas ,como .
comprometida com a seqüência cronologicamente mensurável. Também a expressa l"d
elação à sua tempora I a - de aquelas circunstanCias
fiashbacks ou avanços em direção ao futuro como meio estilístico de re- - - emnizam
estrutura r . sucessao
segundo a estnta - dos eventos passados.
presentação (é só lembrarmos os discursos de Tucídides) servem para ~ao ~~e
qEul e orgamai·or duração maior estabilidade, alterando-se em pr~-
elucidar o momento crítico ou decisivo no decurso da narrativa. as Imp ICam ' . ,d · 1 ga duraçao
zos mais longos. Utilizando-se as catego_nas de me Ial_e on do sé-
O antes e o depois constituem o horizonte de sentido [Sinnhorizont] . . preCisa o que na mguagem
pôde-se formular de maneira mais d"d '"estado de fato" [Zu-
de uma narrativa- "veni, vidi, vid'- mas somente porque a expe-
culo XIX, era conceituado e compreen I do comod , [Scht"chtung] CUJ.O
riência histórica que constitui o evento está necessariamente inserida
stiinde]. A referência a u_ma JU~ ap; I
. "" t s"ção e cama as '
tático está presente no radical
na sucessão temporal. Desse modo, a sentença de Schiller, de que a his- sentido original é espaCial, ten en o ao es ' T s a ex-
do substantivo "história" [ Geschichte]. Dess:. f~;Ta~s~~;~si:~~~i~do de
tória do mundo é a história do julgamento do mundo, pode ser lida
pressão "história est~u.tural" [Struk~~rg~~; ~ ~:~brado pela etimologia
assim: "O que se perde em um minuto não se recupera em uma eterni-
dade." Mesmo quem se nega a aceitar a pesada conseqüência da frase de forma dupla e metafonca a esse senti o I er
Schiller, ou seja, a dissolução da escatologia na realização processual da
História, terá que fazer da sucessão do tempo histórico o fio condutor da palavra. . .dade são elementos constitu-
t ·aridade e postenon
Ao passo, que
. ,an en - dos eventos a preCisao . - de limites nas deter-
da representação, de modo a tornar possível a narração dos eventos da tivos necessanos a narraçao . ' .t enos significativa na
política, da diplomacia e das guerras, nacionais ou civis, na irreversibili-
dade de seus decursos.
1, · ' videntemente mm 0 m
minações crono ogiCas e,_ e _
descrição de estados OU Situaç~es de 1ongo r.
' razo Isso já pode ser obser-
vado nos fenômenos estruturais que, sem UVI a,.
d. precedem e integram
136
REPRESENTAÇÃO, EVENTO E ESTRUTURA 137
REINHART KOSELLECK • FUTURO PASSADO

trial que sucedeu a Revolução de 1848, se ele ocorreu apesar ou por cau-
eventos momentâneos, mas cuja posição em relação a esses mesmos
sa da revolução fracassada. Existem argumentos a favor e contra; pod~
eventos se define de maneira diferente de uma mera relação de anterio-
ser que nem um nem outro sejam convincentes,. m,as .amb~s ren:e~em a
ridade cronológica. Citamos como exemplo algumas estruturas: mode-
dinâmica que se impôs transversalmente em meiO a sltuaçao pohtlca de
los constitucionais, formas de domínio que não se modificaram da noite
revolução e reação. Assim, é possível que a reação, nesse caso, tenha atua-
para o dia, mas que são pressupostos da ação política. Ou ainda as for-
do de modo mais revolucionário do que a própria revolução. Se revolu-
ças produtivas e as relações de produção, que se transformam apenas a
ção e reação podem ser, ao mesmo tempo, indicadores d~ uma e mesma
longo prazo e, às vezes, aos empurrões, mas que, de toda maneira, con-
dinâmica, que se alimenta de ambos os campos e que f01 desencadea~a
dicionam os acontecimentos sociais e atuam em conjunto com eles. Fa-
por ambos, então este par de conceitos indica evidentemente um movi-
zem parte desse grupo de fatores as constelações amigo-inimigo, que de-
mento histórico, um avanço irreversível de transformação estrutural a
cidem a guerra e a paz, mas que também podem prolongar-se sem que
longo prazo, que ultrapassa os prós e contras associados ao sentido polí-
com isso sejam favorecidos os interesses de um ou outro oponente, o que
tico de reação e revolução.
torna esse processo controverso. A isso acrescentamos circunstâncias
. O que hoje se apresenta como reflexão metodológica em relação à
geográficas e espaciais, conjugadas à capacidade técnica, a partir das
história estrutural pode ter feito parte da experiência quotidiana das ge-
quais se originam alternativas de ação política de longo prazo, assim
rações de então. As estruturas e suas transformações podem ser (re- )con-
como formas de relações econômicas ou sociais. É preciso ainda citar
vertidas em experiência quando seu período de duração não ultrapassar
formas de comportamento inconscientes, guiadas por instituições ou
a unidade de memória das gerações contemporâneas.
que criam suas próprias instituições e que tanto ampliam quanto deli-
Sem dúvida, existem também estruturas que são tão duradouras que
mitam os campos de ação e de experiência. Ademais, citemos a sucessão
permanecem guardadas no inconsciente ou na não-consciência daqueles
natural de gerações que, conforme seu limiar de experiência, podem fa-
que a viveram, ou cujas alterações se dão a tão longo prazo que escapam
vorecer a criação de conflitos ou a legitimação da tradição, de forma to-
ao conhecimento empírico dos atingidos. Aqui, somente a sociologia ou
talmente independente do comportamento geracional e das seqüências
a história como ciência do passado podem dar notícia que conduza para
transpessoais. Por fim, devem ser citados aqui também os costumes e os
além dos campos de experiência das gerações contemporâneas de então.
sistemas jurídicos, que regulam os decursos da vida em sociedade e da
vida dos Estados, a longo ou médio prazo.
3. Eventos e estruturas têm, portanto, no campo de experiência do mo-
Sem desejar avaliar aqui a relação de tais estruturas, podemos dizer
vimento histórico, diferentes extensões temporais, que são problemati-
que todas têm em comum o fato de que suas constantes temporais ul-
zadas exclusivamente pela história como ciência.
trapassam o campo de experiência cronologicamente registrável dos
Tradicionalmente, a representação de estruturas aproxima-se mais da
indivíduos envolvidos em um evento. Os eventos são provocados ou so-
descrição, por exemplo, na antiga estatística do absolutismo esclarecido;
fridos por determinados sujeitos, mas as estruturas permanecem supra-
já a representação dos eventos aproxima-se mais d~ narr~7ã.o, ~~ ~?rma
individuais e intersubjetivas. Elas não podem ser reduzidas a uma única
semelhante à história pragmática do século XVIII. Fixar a h1stona des-
pessoa e raramente a grupos precisamente determinados. Metodologica-
ta ou daquela maneira seria impor escolhas inapropriadas. Ambos os ní-
mente, elas requerem, por essa razão, determinações de caráter funcio-
veis, o das estruturas e o dos eventos, remetem um ao outro, sem que
nal. Com isso, as estruturas não se tornam grandezas extratemporais; ao
um se dissolva no outro. Mais ainda, ambos os níveis alternam-se em im-
contrário, elas adquirem freqüentemente um caráter processual - que
portância, revezando-se na hierarquia de valores, dependendo da natu-
pode também se integrar às experiências dos eventos cotidianos.
reza do objeto investigado.
Há, por exemplo, fenômenos de longa duração que se impõem ime-
Assim, as seqüências estatísticas temporais nutrem-se de even~os co~­
diatamente, independentemente de serem combatidos ou favorecidos.
cretos e individuais, dotados de um tempo próprio, mas que so adqm-
Hoje se pode indagar, a respeito do prodigioso desenvolvimento indus-
REINHART KOSELLECK • FUTURO PASSADO REPRESENTAÇÃO, EVENTO E ESTRUTURA 139

rem significação por força de uma perspectiva estrutural de longo pra- dito. "A relevância, em perspectiva, de um enunciado narrativo abran-
zo. Narração e descrição se ajustam de modo que o evento se torna um gente" (Jauss)- ainda que seja considerada, em termos hermenêuticos,
pressuposto para proposições estruturais. uma conditio sine qua non para o conhecimento histórico - transfere
Por outro lado, estruturas mais ou menos duradouras, mas de todo suas prerrogativas à relevância, em perspectiva, de uma análise estrutu-
modo de longo prazo, são condições de possibilidade para os eventos. ral abrangente.
O fato de que uma batalha possa ser decidida nos três tempos do "veni, Esse procedimento de gradação e de estratificação se pode realizar
vidi, vinci" pressupõe determinadas formas de dominação, certa capa- desde o evento isolado até a história universal. Quanto mais rigorosa for
cidade técnica sobre as circunstâncias naturais, assim como uma per- a coerência sistemática, quanto mais longos forem os prazos dos aspec-
cepção global das configurações "aliado-inimigo" etc. - estruturas, tos estruturais, tanto menos eles poderão ser narrados em ordem crono-
portanto, que fazem parte do evento que constitui essa batalha e que o lógica estrita, com antes e depois. Também a "duração" pode se tornar
condicionam. A história da batalha narrada de maneira apodíctica por evento, do ponto de vista historiográfico. Conforme o ângulo da pers-
Plutarco contém dimensões temporais de diferentes extensões, que estão pectiva, certas estruturas de médio alcance, como a sociedade estamen-
no centro da narração ou da descrição muito tempo "antes" de serem tal de tipo mercantil, por exemplo, podem ser integradas, como um com-
analisados os efeitos que conferiram "sentido" ao evento da batalha. Tra- plexo único de eventos, a conjuntos de eventos maiores. Nesse caso, elas
ta-se, portanto, de estruturas in eventu, para utilizarmos uma expressão adquirem importância e valor específicos e se deixam determinar cro-
de H. R. Jauss, sem prejuízo do pressuposto hermenêutico de que elas só nologicamente, permitindo definir épocas na evolução do modo e das
se tornam apreensíveis na sua significação post eventum. Tais estruturas relações de produção. Uma vez analisadas e descritas, as estruturas po-
correspondem às "causas gerais" de Montesquieu, 5 as quais tornam pos- dem ser objeto de narrativas, como fatores que pertencem a um conjun-
sível que uma batalha, travada em meio a acasos, possa ser, mesmo as- to de eventos de outra ordem. A forma mais adequada para se apreender
sim, decisiva para a guerra. o caráter processual da história moderna é o esclarecimento recíproco
No que diz respeito aos eventos isolados, pode-se afirmar que certas dos eventos pelas estruturas e vice-versa.
condições estruturais possibilitam seu transcurso. É possível descrevê-las. Permanece, contudo, um resquício irresolúvel, uma aporia metodo-
Entretanto, elas podem ser também inseridas na narrativa se, entendidas lógica que não permite amalgamar eventos e estruturas. Existe um hiato
como causas independentes da cronologia, contribuírem para a análise entre os dois elementos porque suas extensões temporais não podem ser
do evento. obrigadas à congruência, nem na experiência, nem na reflexão científica.
Inversamente, certas estruturas só podem ser apreendidas nos even- A distinção e delimitação entre evento e estrutura não deve conduzir a
tos nos quais se articulam e por meio dos quais se deixam transparecer. que se eliminem suas diferenças, de modo a conservar sua finalidade
Um processo de conquista de direitos trabalhistas tanto pode ser uma cognitiva: nos ajudar a decifrar as múltiplas camadas de toda história,
história dramática, no sentido de um "evento", como também um indi- como nos lembra a etimologia de "história" [Geschichte].
cador de circunstâncias sociais, jurídicas ou econômicas de longo prazo. O antes e o depois de um evento conserva características temporais
Conforme o tipo de investigação, modifica-se a ênfase da história nar- próprias, que jamais se deixam reduzir totalmente às condições de longo
rada e a forma de reproduzi-la: ela é, então, hierarquizada em níveis tem- prazo. Cada evento produz mais e, ao mesmo tempo, menos do que está
porais de diferentes extensões. Ou bem se problematiza o caráter an- contido nas suas circunstâncias prévias: daí advém sua surpreendente
terior ou posterior do acontecimento, do processo e de seu ponto de novidade. 6 Os pressupostos estruturais para a batalha de Leuthen nunca
partida e respectivas conseqüências, ou a história é decomposta em seus poderão esclarecer de modo suficiente por que Frederico o Grande ven-
elementos, destacando-se as condições sociais que permitem compreen- ceu a batalha da maneira como venceu. Seguramente, os eventos e as
der o decurso dos eventos. A descrição de tais estruturas pode ser até estruturas remetem uns aos outros: a composição do exército de Fre-
mesmo "mais dramática" do que a narração do processo propriamente derico II, seu sistema de recrutamento, sua implantação dentro de um
140 REINHART KOSELLECK • FUTURO PASSADO REPRESENTAÇÃO, EVENTO E ESTRUTURA 141

sistema agrário como o do leste do Elba, aliados ao sistema fiscal e o "cai- ÍIIÚTlPlc~s alternância dos níveis temporais, com a passagem do evento
xa de guerra" constituído sobre essas bases, a arte da guerra de Frede- a estrutura e vice-versa, não resolve em nada o problema: tudo pode
rico II dentro da tradição da história militar- tudo isso possibilitou a :explicado, mas não de qualquer maneira. Quais explicações são váli-
vitória de Leuthen. Contudo, o 5 de dezembro de 1757 permanece único ou deveriam ser, só pode ser decidido estabelecendo-se um pressu-
na sucessão cronológica imanente. teórico. Que estruturas permitem estabelecer o âmbito das histó-
O desenrolar da batalha, seus efeitos políticos e bélicos, a importância singulares possíveis? Que fenômenos podem se tornar eventos, que
da vitória no contexto da Guerra dos Sete Anos, isso só pode ser narra- devem ser integrados à trama da história passada?
do de maneira cronológica, extraindo daí seu sentido. Mas Leuthen tem característico da historicidade de nossa disciplina o fato de que as
um significado simbólico. Já a própria história subseqüente de Leuthen questões preliminares não possam ser reduzidas a um deno-
pode ganhar significado estrutural. Ou seja, o evento adquire uma cate- comum; esclarecer seus níveis de temporalidade é um impera-
goria estrutural. Na história da tradição prussiana de Estado, por seu metodológico. Eventos e estruturas são igualmente "abstratos" ou
impacto exemplar para a avaliação dos riscos bélicos no planejamento para o conhecimento histórico- isso vai depender do nível
militar da Alemanha prussiana (Dehio), Leuthen converteu-se em um fa- em que nos colocamos. Com isso, ficar a favor ou contra a rea-
tor duradouro e de longo prazo, que substituiu as condições dadas, cons- histórica do passado não é uma alternativa.
titucionais e estruturais, que, por sua vez, haviam tornado possível a pró- A esse respeito sejam permitidas duas considerações relevantes do
pria batalha. de vista da teoria do conhecimento: o conteúdo factual estabele-
Se relacionarmos metodologicamente as formas de representação às ex post aos eventos investigados nunca é idêntico à totalidade das
dimensões temporais subordinadas a elas no "âmbito do objeto" da his- '"'·''-"1" passadas, supostamente tomadas como reais naquele mo-
tória, chegaremos às seguintes conclusões: primeiro, os planos temporais, Todo evento investigado e representado historicamente nutre-se
por mais que se condicionem reciprocamente, nunca se fundem total- ficção do factual, mas a realidade propriamente dita já não pode mais
mente; em segundo lugar, conforme o nível em que se dá a investigação, apreendida. Com isso não se quer dizer que o evento histórico seja
um evento pode adquirir significado estrutural, assim como, da mesma ·-·... u-.n:;'-n.tu sem cuidado ou de maneira arbitrária, uma vez que o con-
forma, e em terceiro lugar, a "duração" pode converter-se em evento. p-ole das fontes assegura a exclusão daquilo que não deve ser dito. Mas
Isso nos conduz à relação, do ponto de vista da teoria do conhecimen- esse mesmo controle não prescreve aquilo que pode ser dito. Pode-se
to, entre os conceitos de evento e estrutura, os quais foram esboçados, que o historiador, de um ponto de vista negativo, está sujei-
até aqui, apenas no que diz respeito à sua forma de representação e aos tado pelos testemunhos da realidade passada. Por outro lado, de um
correspondentes planos temporais. modo positivo, quando interpreta um evento a partir das fontes, ele se
aproxima daquele narrador literário que se submete à ficção contida nos
4. Seria errôneo querer atribuir aos "eventos" um conteúdo maior fatos para tornar mais verossímil a sua narrativa.
de realidade do que às assim chamadas estruturas, só porque os eventos, Assim, de acordo com a teoria do conhecimento, o conteúdo factual
no desenrolar concreto de um acontecimento, permanecem atados ao dos eventos passados que são relatados não é maior do que o conteúdo
antes e ao depois ligados à cronologia natural, empiricamente verificável. factual das estruturas, que talvez ultrapassem o limiar do conhecimento
A história seria diminuída, se ela se obrigasse somente à narração, em empírico das gerações que os viveram. Estruturas de longa duração, não
detrimento de uma análise de estruturas cuja efetividade está em outro apreensíveis pela consciência dos contemporâneos, podem até mesmo ser
nível temporal, não sendo menor por isso. -ou ter sido - tão mais "efetivas", quanto menos estiverem integradas
Ora, trata-se de um procedimento historiográfico comum, hoje em à totalidade constituída pelo evento singular, empiricamente apreensível.
dia, alternar os níveis de argumentação, deduzindo um de outro- ainda Mas isso só pode se dar no plano hipotético. A ficcionalidade dos eventos
que esse outro seja de natureza totalmente diversa. Infelizmente, porém, narrados corresponde, no nível das estruturas, ao caráter hipotético de
142 REINHART KOSELLECK • FUTURO PASSADO REPRESENTAÇÃO, EVENTO E ESTRUTURA 143

sua "realidade". Ora, sem dúvida, tais afirmações da teoria do conheci- 5. A partir da diferente coordenação entre eventos e estrutura, assim
mento não podem impedir o historiador de se servir da ficcionalidade e como do significado (que se altera a longo prazo) dos conceitos históri-
das hipóteses para comunicar lingüisticamente a realidade passada como cos, podemos deduzir a mudança que afeta o velho provérbio Historia
um resultado de um estado de coisas empiricamente assegurado. magistra vitae. A esse respeito, consideremos mais uma observação.
Mas, para isso, o historiador precisa lançar mão de conceitos históri- O fato de que as dimensões temporais contidas em um processo his-
cos que, ao mesmo tempo em que recobrem a massa de constelações de tórico são apreendidas de forma distinta faz com que os ensinamentos
eventos passados, devem ser entendidos hoje, por ele mesmo e por seus trazidos pela história também sejam apreendidos de forma distinta. Fa-
leitores. Nenhum evento pode ser relatado, nenhuma estrutura represen- bula docet sempre foi um clichê, uma fórmula vazia passível de ser pre-
tada, nenhum processo descrito sem que sejam empregados conceitos enchida das mais diferentes maneiras - como qualquer antologia de
históricos que permitam "compreender" e "conceitualizar" ["begreifen"]* provérbios pode atestar-, tendo sido possível lhe atribuir conteúdos de
o passado. Ora, toda conceitualização [Begriffiichkeit] tem alcance mais sentido contraditório. No que diz respeito à sua estrutura temporal for-
vasto do que o evento singular que ela ajuda a compreender. As catego- mal, deve-se ao contrário indagar em que nível a história se estabelece,
rias empregadas na narração de um evento singular, por meio da lingua- ou deveria se estabelecer, como mestra da vida: no nível das circunstân-
gem, não possuem a mesma unicidade temporal que pode ser atribuída cias de ação em curto prazo e de sua moral respectiva, junto às quais a
ao próprio evento. À primeira vista, essa afirmação é trivial. Entretanto, história atua como modelo de experiência, ou no nível dos processos de
ela deve ser lembrada para elucidar a exigência estrutural que decorre do médio prazo, a partir dos quais certas tendências podem ser projetadas
emprego não usual de conceitos históricos. em direção ao futuro? No primeiro caso, a história instrui a respeito das
O estudo da semântica histórica 7 mostra que todo conceito que faz condições de existência de um possível futuro, sem prognosticá-lo; no
parte de uma narrativa ou de uma representação- por exemplo, Esta-
segundo, a história diz respeito ao nível da duração meta-histórica, a
do, democracia, exército, partido, para citar apenas conceitos gerais -
qual, por isso mesmo, não está situada fora do tempo.
torna inteligíveis contextos, precisamente por não reduzi-los à sua sin-
Inclui-se aqui a análise de cunho social e psicológico dos partidos
gularidade histórica. Os conceitos não nos instruem apenas sobre a uni-
socialdemocratas, conduzida por Robert Mitchel com o objetivo de iden-
cidade de significados (sob nossa perspectiva) anteriores, mas também
tificar uma regularidade na formação das elites como medida profilática
contêm possibilidades estruturais; colocam em questão traços contem-
do comportamento político. Com o provérbio "a arrogância precede a
porâneos no que é não-contemporâneo e não pode reduzir-se a uma
queda': evocamos aqui uma expressão que formula, pura e simplesmen-
pura série histórica temporal.
te, uma possibilidade histórica, ainda que tenha sido empregada, na épo-
Conceitos que abrangem fatos, circunstâncias e processos tornam-se,
ca, somente uma vez.
para o historiador - que se serve deles nos procedimentos cognitivos
Onde a história só informa sobre a possibilidade de repetição dos
-categorias formais que podem ser colocadas como condições para his-
eventos, é lá que ela deve demonstrar possuir condições estruturais ca-
tórias possíveis. Somente os conceitos providos de duração, aptos a uma
pazes de desencadear algo como um evento análogo. Tucídides, Maquia-
utilização reiterada em outros contextos, e que remetam a um referen-
vel, Guicciardini em menor escala, mas também Montesquieu e Robert
cial empírico- ou seja, conceitos de caráter estrutural- permitem q~e
Michel puderam contar, falando em termos modernos, com tais condi-
uma história que em seu momento foi dada como "real" possa ser hoJe
ções estruturais.
dada como possível e, com isso, ser representada.
No entanto, uma vez que as próprias condições estruturais se modifi-
cam - como, por exemplo, a técnica, a economia e com isso também a
* O sentido dicionarizado do verbo begreifen é "compreender, entender". No entan~o: be-
greifen dá origem ao substantivo Begriff, literalmente, "conceito': As aspas são do ongmal. Sociedade como um todo e mesmo sua Constituição - a história terá
[N.T.] que informar sobre as próprias estruturas em processo de alteração, co-
144 REINHART KOSELLECK • FUTURO PASSADO REPRESENTAÇÃO, EVENTO E ESTRUTURA 145

mo é o caso da história moderna. As estruturas mostram-se cada vez "É possível prever o que está por vir, desde que não se queira profetizá-
mais instáveis e modificáveis, submetendo-se ao empuxo da temporali- lo em detalhe" (Lorenz von Stein). 8
zação. Originou-se aí o impulso inicial da escola historicista, a qual re- A história singular deixa de ser exemplar por seu caráter repetitivo, a
sultou da reflexão sobre o espantoso ineditismo de seu próprio presente. não ser que se deseje evitá-la. Seu valor está em enunciar proposições
Pois o âmbito da experiência se estreita na mesma medida em que tem estruturais, que falam de um futuro construído como um processo. Exa-
que se adequar continuamente aos processos que outrora ocorriam no tamente quando a heterogeneidade dos fins é introduzida como fator
longo prazo e que hoje são abreviados com uma velocidade variável ou constante de incerteza, a análise histórica estrutural conserva seu poten-
simplesmente acelerada. Assim, a singularidade da história pôde se tor- cial prognóstico. Nenhum planejamento econômico é hoje possível sem
nar um axioma de todo conhecimento histórico. que se tenha em conta as experiências advindas da crise da economia
A singularidade dos eventos - principal premissa teórica tanto do mundial - única no gênero - de 1930. A história como disciplina de-
historicismo como das teorias do progresso - não conhece a repetição veria então renunciar a essa função em nome do axioma da singularida-
e, por isso, não permite nenhuma indicação imediata quanto ao provei- de? A história refere-se às condições de um futuro possível, que não se
to das ações passadas. Neste ponto, a "história" [ Geschichte] moderna deduz somente a partir da soma dos eventos isolados. Mas nos eventos
destronou a velha historia como magistra vitae. Mas o axioma do princí- que ela investiga delineiam-se estruturas que estabelecem ao mesmo
pio da singularidade individual que determina o conceito moderno de tempo as condições e os limites da ação futura. Desse modo, a história
história se refere - estruturalmente falando - menos ao ineditismo demarca os limites para um futuro possível e distinto, sem que com isso
efetivo dos eventos do que à singularidade do conjunto das transforma- possa renunciar às condições estruturais associadas a uma possível repe-
ções da modernidade. Isso comprova-se pelo que passamos a chamar de tição dos eventos. Em outras palavras, só se chegará a uma crítica bem
"mudanças estruturais". fundamentada à garantia voluntarista oferecida pelos planejadores de
Daí não resulta, entretanto, que o futuro se subtraia terminantemen- um futuro utópico quando a história [Historie] como magistra vitae ex-
te a qualquer ensinamento que venha da história. O que acontece é que trair seus ensinamentos não apenas das diferentes histórias, mas também
os ensinamentos se movimentam sobre um patamar temporal compre- das "estruturas dinâmicas" de nossa própria história [ Geschichte].
endido sob um ponto de vista teórico diferente. Tanto a filosofia da his-
tória quanto os procedimentos prognósticos dela decorrentes informam
sobre o passado, de forma a deduzir, a partir dele, instruções e diretivas Tradução de Wilma Patrícia Maas e Fabiana Angélica do Nascimento
Revisão de Marcos Valéria Murad
de ação para o futuro. Tocqueville, Lorenz von Stein ou Marx são teste-
munhas disso. Se, no entanto, abandonarmos o campo de experiência
tradicional e nos aventurarmos em um futuro desconhecido, antes de
t~do tentaremos compreender a experiência de um "tempo novo': A par-
tir daí, o caráter pedagógico da "história" se modifica. É certo que o diag-
nóstico e o prognóstico podem continuar a apoiar-se, como sempre, em
estruturas duráveis, de modo a projetar respostas para questões futuras
a partir da premissa teórica da capacidade de repetição dos eventos. Po-
rém, desde a Revolução Industrial e da Revolução Francesa, esse caráter
repetitivo não recobre mais o espaço da experiência. As mudanças es-
truturais de longo prazo, com intervalos de tempo cada vez mais curtos,
resultam em predições que têm por objeto não mais eventos concretos
singulares, mas sim as condições de um determinado futuro possível.

You might also like