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Mas como tinha sido visto o Barroco no seu século de ouro? Como os
intelectuais da época percebiam as mudanças visíveis na literatura e na arte?
Isso pode ser resumido por um debate que até hoje é um grande motivo de
estudos acerca da vida intelectual do século XVII: a “Querela entre os Antigos e
os Modernos”, título dado às inúmeras discussões que opunham os antigos (os
clássicos, os acadêmicos) e os modernos (os que eram diferentes destes
últimos e propunham novas maneiras de representar a realidade).
Longe de ser uma discussão local ou reduzida a uma único país, essa querela
era recorrente em quase todos os países do mundo ocidental, mostrando ser
um fenômeno abrangente geograficamente e que também não se reduzia ao
mundo da arte e da literatura.
As características do Barroco
Por volta do final do século XVII, a atitude mudou. Incorporando a dúvida
como único elemento de certeza na existência humana, Descartes inaugurou
um sistema de pensamento que implicava uma série de alternativas diferentes
para o ser humano, gerando assim um pensamento que implicava múltiplos
caminhos, um mundo plural, mas que exigia diretrizes claras para ajudar o
homem em sua escolha.
1 - Antítese
O sistema cartesiano, apesar de tudo, era um sistema aberto. Não sendo
simples unidades, os elementos de todo um sistema dependiam de sua
propagação e um caráter dinâmico e centrífugo tornou-se geral em todas as
esferas. Propagação apenas se torna significante quando relacionada a
um centro que representa os axiomas básicos e as propriedades do sistema.
Os centros religiosos, políticos, econômicos e científicos eram focos de
atração e radiação e, vistos do centro, não tinham limites.
Os sistemas do século XVII tinham caráter dinâmico e aberto. Partindo de um
ponto fixo, eles podiam ser estendidos infinitamente, num jogo antitético
entre centralização e expansão sem limites. Nesse mundo
infinito, movimento e força são de primeira importância.
2- Persuasão
Para que suas expectativas fossem alcançadas, o sistema jogava com
a Persuasão. Nesse contexto, a Igreja Católica passou a dar importância
cada vez maior às imagens; as igrejas protestantes praticavam a persuasão
por meio dos sermões em língua vernácula e com cantos e música sagradas;
as monarquias absolutas usavam as festas e os festivais como maneira de
fazer aparecer a glória do sistema.
A Igreja também quer manifestar pela obra de arte e pela imagem não apenas
os principais dogmas. Ela não se limita a transmitir exortações morais ou
exemplos edificantes. A Igreja quer manifestar pela arte a origem e a
extensão universal de sua autoridade, mais do que difundir as verdades da fé
ou influenciar o comportamento humano.
O mesmo se pode dizer do poder civil, que tem sua expressão maior na
monarquia absoluta, seus edifícios grandiosos e seus festins requintados e
exuberantes.
3 - Imaginação e Ilusão
O parecer é mais importante do que o ser na estética barroca. Para isso, é
preciso fazer apelo a uma qualidade inerente a todos, a imaginação.
Submetida à ilusão provocada por inúmeros recursos, a imaginação transporta
o indivíduo a paragens desconhecidas e puramente ficcionais.
Para atingir esse objetivo, o artista barroco lança mão de recursos óticos e
artísticos que implicam a extensão do espaço, no trompe l’oeil, no contraste
absoluto entre o claro e o escuro.
No Milagre de Santo Inácio, fundador da ordem dos jesuítas, pintado por Rubens, vemos
perfeitamente bem o recurso da profundidade marcado claramente pela linha reta que
desemboca diretamente sobre o santo com vestimentas douradas. O movimento da
obra se prolonga ainda na linha em diagonal que segue na direção do fundo do quadro.
4 - Imaginação e Sentimentos
A ilusão é sempre falsidade sob o ponto de vista do conhecimento. Mas a
apreensão do real não é resultado apenas da razão: os sentimentos têm papel
importante em nossa contemplação.
Para que isso ocorra, o Barroco enche a obra de elementos recorrentes que
podem ser a repetição de fachadas bem parecidas que se alinham sem deixar
espaços entre si. Outro recurso bastante eficaz para evitar a dispersão do
olhar e da sensação é unir as linhas umas às outras num jogo pulsante. É
o horror ao vácuo que a obra barroca explora com eficiência, com o objetivo
de conduzir claramente os sentimentos do observador. Mas o excesso de
detalhes não torna confusa a mensagem da obra barroca. A certeza está
sempre no ponto em maior evidência, conseguida mediante uma série de
artimanhas que unem todas as criações barrocas.
Essas obras, O rapto das sabinas, de Rubens; David e Golias, de Caravaggio; e A leiteira,
de Vermeer,não deixam dúvida sobre a prevalência das linhas curvas e diagonais na
obra barroca e que são visíveis no urbanismo, na arquitetura, na pintura, na escultura
e no que se convencionou chamar de artes menores. O contraste entre cores escuras
e claras, estas em geral posicionadas sobre o personagem principal, o exagero do
tamanho, são recursos recorrentes e eficazes na definição do centro da ação. Outra
característica que chama a atenção nessas três pinturas é a integração espacial de
todos os componentes da obra .Eles se integram num todo em que uma linha leva a
outra, num movimento constante e durante o qual temos a captura de um instante,
como numa fotografia.
Vídeo
Seu impacto sobre o visual do entorno urbano foi bastante explorado nas
grandes exposições universais ou nacionais correntes nos séculos XIX e XX,
dentro de um contexto glorificante das maravilhas do progresso capitalista.
(Exposição do Centenário na França, em 1889, disponível em:
http://dicasdefrances.blogspot.com.br/2011/10/exposicao-universal-de-1889-em-
paris.html).