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“Segundo a doutrina clássica, o contrato é sempre justo, porque, se foi querido pelas
partes, resultou da livre apreciação dos respectivos interesses pelos próprios
contratantes. Teoricamente, o equilíbrio das prestações é de presumir-se, pois.
Sendo justo o contrato, segue-se que aos contratantes deve ser reconhecida ampla
liberdade de contratar, só limitada por considerações de ordem pública1 e pelos bons
costumes.”
Afirma o autor que acaso seja formado algum dissídio em relação ao pactuado, “a
missão do juiz terá de se circunscrever à apuração da vontade dos contratantes, em
um processo de pura reconstituição.”
Porém, “O exame da jurisprudência revela que, por vezes, o juiz adota solução não
convencionada pelas partes, nem fornecida pela lei supletiva.” Adotando assim a
teoria das condições subentendidas, onde “O juiz, de ordinário, simples aplicador ou
intérprete de sua vontade, vê-se na necessidade de construir uma solução estranha ao
consenti9mento. Procede por suposições, imaginando uma solução que, no seu
entender, seria a que as partes teriam adotado se o caso lhes tivesse ocorrido por
ocasião da elaboração do contrato e, por ficção, a admite como condição
subentendida ou tácita.”
De todo o modo, não é certeza de que a condição considerada subentendida pelo juiz
corresponde à real vontade das partes e, assim, acaba sofrendo a autonomia da
vontade, conforme aludiu previamente o autor.
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Marcel Planiol, Traité, v. 1, n. 291, doutrina que entre elas, incluem-se todas as leis de direito público e
as de direito privado que interessem à ordem social, como as relativas ao estado e à capacidade das
pessoas, as pertinentes à organização da propriedade, notadamente da imobiliária, e as que instituam
proibições ou medidas no interesse de terceiros.
Em seguida, trata o autor dos casos em que haja divergência entre a vontade real e a
vontade declarada, indagando qual delas deve prevalecer. Sendo certo que segundo a
teoria da vontade, a preponderância caberá à vontade real e, pela teoria da
declaração, prevalecerá a vontade declarada.
“Em todas as oportunidades, porém, em que a vontade real for sacrificada em favor
da declaração, a autonomia da vontade receberá novo golpe.”
“Se a justiça é igualdade de direitos, não pode haver justiça senão onde há equilíbrio
entre os sujeitos desses direitos. Cumpre, portanto, entender os princípios da
liberdade e da igualdade em uma compreensão mais larga das necessidades sociais,
2
Diz que a razão está com Démogue, pois o senso comum atribui ao homem alma e corpo, o ato jurídico
se compõe de um elemento espiritual – a vontade – e um elemento material – a declaração. Nem
estaria com a razão os franceses quando optam pelo primeiro, nem os alemães quando preferem o
segundo.
certo que é na harmonia entre a autonomia individual e a solidariedade social que
repousa o grande ideal da sociedade humana.”
Agindo assim, o juiz cria soluções não contempladas pelos Códigos, “constrói, à
margem da lei, sedutoras teorias, como a do abuso de direito, criação nitidamente
jurisprudencial”.
Salienta o autor que o dirigismo deve ser conduzido de maneira criteriosa e segura e
que estamos em um estágio de transição entre o milenar estádio individualista e uma
nova era, ainda indefinida, na qual as idéias sociais vão conquistar terreno e firmar-se
em bases mais sólidas.
Após trazes à baila ampla doutrina, alguns pró regulamentação, outros contra, concluí:
Adentra o campo do Direito Público, aduzindo à certas relações entre entes públicos
ou entre um ente público e outro privado, que ostentam estrutura idêntica à do
contrato. Salienta haver tenaz resistência sendo oposta pelos civilistas, à inclusão de
tais relações na área contratual.
Adentra nos ensinamentos de Georges Péquignot dizendo que nem todos os contratos
da Administração são propriamente administrativos, uma vez que ela recorre, por
vezes, aos contratos submetidos às regras do direito privado, v.g. os de compras,
locações, seguros, fretamento etc.
Assim, o direito privado já não é o habitat exclusivo do contrato, embora seja o seu
principal campo de atuação.
“Ao lado do contrato obrigacional, coloca-se, assim, o contrato real, pelos efeitos, isto
é, o que produz efeitos reais.”