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UNIVERSIDADE FEDERAL DO AMAPÁ

Discente: Marhina Lima Farias

Avaliação Final

Macapá, AP
2018
Elabore um balanço da segurança internacional no momento pós-guerra fria, focando
especificamente na relação entre os Estados Unidos e a China, oferecendo argumentos
embasados, exemplos precisos e citando autores pertinentes da área de Relações
Internacionais e Estudos Estratégicos.

O fim da Guerra Fria proporcionou mudanças profundas no sistema internacional


onde se observou um reordenamento das relações internacionais devido a revolução
tecnológica, a globalização e novas formas poder, em especial, a força do dinheiro, (que
possibilitou a diluir o poder geopolítico de arsenais militares) que aparecem e delineiam uma
nova ordem mundial (MAGNÓLIO,2004). Se no sistema bipolar se tinha Estados Unidos e
a União Soviética como superpotências centrais na formulação da política internacional, a
dissolução do conflito fez os Estados Unidos despontarem como a única superpotência
mundial que teve e tem um papel importante nos novos acontecimentos que surgiram pós-
Guerra Fria. No entanto, devido a ascensão da China graças às reformas econômicas feitas
nos anos 70, a competição e as discordâncias entre os dois países se acirraram e a China
também emergiu como potência.

Desde o fim da Guerra Fria, a trajetória das relações entre esses países é marcada por
avanços e retrocessos, visto que os dois vem trabalhando para diminuir suas discordâncias,
mas o desacordo quanto suas prioridades marcam as divergências entre eles. Antes do
colapso da URSS, China e Estados Unidos, apesar das divergências ideológicas, se
aproximaram com o propósito de deteriorar o poder da União Soviética (KISSINGER, 1994).
Contudo, o cenário muda com o fim da guerra fria em 1991, como aponta novamente
Kissinger em sua obra Sobre a China, o fim da União soviética criou um novo contexto
geopolítico, com a hegemonia soviética deixando a cena “as diferenças entre valores e visões
de mundo passaram a ocupar o centro do palco” (KISSINGER, 2011. p. 288)

As relações entre os dois países já estavam afetadas por causa da violenta resposta
chinesa às manifestações de Tiananmen em 1989, onde estudantes chineses reivindicavam
uma reforma democrática na China. Como resposta, o governo chinês enviou tropas militares
para suprimir a mobilização, matando centenas de manifestantes. Esse evento foi duramente
criticado pelo governo norte-americano e o então presidente, George H. W. Bush reagiu com
sanções econômicas e a suspensão de vendas de equipamentos militares para a China (CFR,
2018).

Nos anos 90, os líderes Jiang Zemin, na China e Bill Clinton, nos Estados Unidos
difundiram uma política de engajamento, perpetuada por uma parceria estratégica ressaltando
a importância de estreitar laços entre os países. Ressaltou-se os dividendos de uma grande
interdependência nas relações sino-americanas (SHU, 2005) e foi nessa década que ficaram
cada vez mais claras a relações econômicas dos dois. Segundo Kissinger (2011) o comércio
americano que no início da década de 90 era mais expressivo com Taiwan, foi dando espaço
ao comércio EUA-China que ao final da década quadruplicou, com as exportações chinesas
para os Estados Unidos crescendo (em 2006, a China superou o México e se tornou o segundo
maior parceiro comercial dos EUA). As grandes empresas norte-americanas viam a China
como componente essencial para a difusão de seus negócios devido ao seu grande
contingente populacional e a flexibilização na produção. Já a China usava as reservas
cambiais cada vez maiores para investir em títulos do tesouro americano, em 2008 se
tornando a maior detentora estrangeira de dívidas americanas (Kissinger, 2011, p. 211).

Ainda no plano econômico, foi por meio da política de engajamento, quando houve
um processo de formatação de novas regras e ajustes que visavam institucionalizar a presença
da China no cenário internacional no campo do comércio, investimentos e fluxos financeiros
(SHU, 2005, p.61). Por meio dessa política foi possibilitada a admissão da China na
Organização Mundial do Comércio (OMC) em 2001.

Cabe, no entanto, a observação de que ao longo das negociações houve diversos


acontecimentos que prejudicaram a entrada da China na OMC. Um desses acontecimentos
ocorreu em 1996, devido a intimidação por parte da China aos eleitores de Taiwan, no que
os EUA retrucaram com o fortalecimento de sua força naval nos Estreitos da Formosa (SHU,
2005). Problemas como esse revelam vulnerabilidades no campo da segurança e autores
como Silvana Shu (2011) preveem que se a política de engajamento romper entre os dois
países, é provável que seja em decorrência de iniciativas militares envolvendo Taiwan.
Em 2001, com a vitória George W. Bush verifica-se um ponto de inflexão nas relações
sino-americanas, onde o presidente classifica a China como “concorrente estratégica”. Por
meio dessa estratégia o governo norte-americano pretendia preservar e difundir a hegemonia
do país, através de seu poder estratégico-militar. O exercício dessa hegemonia (SHU, 2005)
ficou claro com eventos como: o acidente onde um avião norte-americano chocou-se um caça
chinês em 2001; a venda de armamentos à ilha de Taiwan (que cresceram no período Bush)
e o bombardeio em Belgrado que foram classificados como uma “estratégia ampla de
segurança nacional que ajuda manter a estabilidade e a paz no mundo” (BBC, 2001). Apesar
disso, foi sob a administração de Bush que as relações na agenda de segurança resultaram em
progressos, principalmente em decorrência do atentado de 11 de setembro. Na ocasião, em
um de seus últimos discursos como presidente, Jiang Zemin prometeu estreitar as relações
sino-americanas para a manutenção da paz na península coreana, no sudeste asiático e no
Oriente Médio.
Com a posse de Barack Obama em 2009, foi definida como parte da política externa
americana o “giro para Ásia” onde foi estabelecido que o futuro das relações econômicas e
políticas está na Ásia (BURGUER, 2017). Foi sob essa nova inclinação que a presença militar
norte-americana aumentou principalmente em países como Filipinas, Austrália e Cingapura.
O acordo de venda de armamentos com Taiwan foi o maior desde a década de 90. Esses
acontecimentos foram vistos pela China como uma política clara de contenção e criou novas
formas de atrito na região. Além disso, os dois países têm tecido acusações sob suas
motivações no Mar do Sul da China. Os Estados Unidos sempre se declararam neutros
perante esses conflitos, mas as tensões foram acirradas em 2016, quando as Filipinas
recorreram aos Estados Unidos para arbitrar um conflito com a China, no que este país acusou
os americanos de intervirem nas relações quando lhes convém. Por sua vez, os Estados
Unidos acusaram o país de usar as ilhas artificiais do Mar do Sul para testar equipamentos
militares. Segundo Mariana Burguer (2017) a neutralidade aqui é comprometida por
interesses estratégicos de ambos as partes. No que tange a economia, também houve um
aumento de tensões devido as cotas da China que segundo os EUA, violam as normas
internacionais de comércio fazendo com que empresas multinacionais se mudem para o país,
o que a China considera injusto.
Atualmente sob os governos de Xi Jinping e Donald Trump, a China e os Estados
Unidos veem suas relações tencionarem cada vez mais. O economista Arthur Krober destaca
que hoje os principais vetores da rivalidade entre os dois estão pautados nos planos Made In
China 2025 e a Belt and Road Initiative. Também destaca o fato de que a competição entre
os dois não ser só comercial, mas também tecnológica. Para a contenção da ascensão chinesa,
o governo americano tem imposto medidas tais como: “a imposição de restrições a
investimentos chineses em setores de alta tecnologia nos EUA; a limitação da entrada de
estudantes e profissionais chineses na área de tecnologia; a adoção de controles mais rígidos
a exportações norte-americanas de alto conteúdo tecnológico” (KROBER, 2018, p. 5). Além
disso, em abril de 2018, o governo estadunidense anunciou a imposição de um aumento de
tarifas para produtos chineses em US$ 50 bilhões. No que o governo chinês respondeu com
um aumento também em US$ 50 bilhões para importações norte-americanas. Em dezembro
de 2018, uma trégua comercial foi negociada nas reuniões do G20. Por parte dos Estados
Unidos, Donald Trump se comprometeu a não elevar a alíquota de importações de produtos
chineses, enquanto Xi Jiping, prometeu aumentar a compra de mercadorias americanas (G1,
2018).
Segundo Krober (2018), a ascensão chinesa tem provocado preocupação nas elites
americanas que chamam o país de competidor estratégico. Embora as ações recentes tenham
ajudado a exacerbar a competição entre os dois, ele considera que essa rivalidade já está
enraizada na política externa desde antes da administração Trump. Como previsões, o autor
considera que a China pode fazer uma virada ao livre comércio cada vez maior e os Estados
Unidos se voltarem ainda mais para políticas protecionistas. Já análises mais pessimistas
como a de Joseph Nye (2010) veem como perigosas medidas protecionistas que não tendem
a cooperação, sendo possível que os tradicionais aliados dos EUA não mais acatem sua
liderança. Além disso, Nye destaca que o aumento de tensões mesmo que seja somente pela
retórica, propaga um medo exacerbado entre a comunidade internacional de um novo conflito
emergir.
Referências bibliográficas

BURGUER, Mariana. As relações China - Estados Unidos no contexto dos conflitos


territoriais do mar do sul da China. In: Encontro da Associação Brasileira de Relações
Internacionais, 6., 2017. Belo Horizonte. Anais...Belo Horizonte: ABRI, 2017. p. 2-19.
BBC. Caça chinês cai após colisão com avião espião americano. Disponível em:
https://www.bbc.com/portuguese/noticias/2001/010401_aviao.shtml. Acesso em : 12 de
dezembro de 2018.
CFR. U.S. Relations With China. Council On Foreing Relations. Disponível em:
https://www.cfr.org/timeline/us-relations-china. Acesso em : 12 de dezembro de 2018.
G1. Apesar de 'trégua' negociada no G20, guerra comercial China-EUA está longe do
fim: qual o impacto para o Brasil?. Portal G1. Disponível em:
https://g1.globo.com/economia/noticia/2018/12/02/apesar-de-tregua-negociada-no-g20-
guerra-comercial-china-eua-esta-longe-do-fim-qual-o-impacto-para-o-brasil.ghtml. Acesso
em: 13 de dezembro de 2018.
KISSINGER, Henry. Sobre a China. Rio de Janeiro: Objetiva, 2011.
KISSINGER, Henry. Diplomacy. New York: Simon & Schuster, 1994.
KROBER, Arthur. A Rivalidade Estratégica entre Estados Unidos e China. CEBRI
artigos, v. 19, p. 5-9, mar. 2018.
MAGNOLI, Demétrio. Relações Internacionais: Teoria e História. São Paulo:
Saraiva, 2008.
NYE, Joseph. Joseph Nye: mudança do poder global. Disponível em:
https://www.youtube.com/watch?v=796LfXwzIUk&t=757s. Acesso: 11 de dezembro de
2018.
SHU, Silvana. A INSERÇÃO INTERNACIONAL DA CHINA NO PÓS-GUERRA
FRIA. 2005. 107 f. Dissertação (Mestrado em Relações Internacionais)- Programa de Pós-
Graduação em Relações Internacionais. Pontifícia Universidade Católica de Campinas. São
Paulo.

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