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A Igreja de Nossa Senhora da Boa Morte, localizada na região central de São

Paulo, é conhecida por ser uma das remanescentes edificações coloniais a resistirem ao
crescimento urbano que o país possui. Ao contrário do exuberante barroco mineiro, em
São Paulo, as construções dessa época não se caracterizam pelo de luxo. "A igreja em si
já nasce pequena e não tem nenhuma importância, em termos de riqueza, de um barroco
mais requintado", observa Tirapeli. "Entretanto, a partir de 1913, quando quase todas as
igrejas próximas dela foram derrubadas, ela se torna referência daquele período
histórico."
Ao longo do século 19, acredita-se que a igreja tenha sido parada obrigatória de
escravos condenados à forca. A execução costumava ocorrer próximo de onde hoje é a
Praça da Liberdade, no centro da cidade paulista. De acordo com a tradição religiosa,
era recomendável pedir a Nossa Senhora da Boa Morte, como o próprio nome sugere,
uma "boa morte".
O templo era conhecido como "a igreja das boas notícias". Seu apelido se deu
devido à sua localização na entrada da cidade. Dessa forma aqueles que vinham do
Ipiranga em direção à cidade, encontravam os sinos ressoando, dando-lhes boas vindas,
anunciando a chegada de novas pessoas na cidade. Após a proclamação da
independência, em 1822, acredita-se que Dom Pedro I foi recebido na cidade pelo
badalar dos sinos da igreja de Boa Morte.
Construída em 1810, em taipa de pilão e adobe (tijolos de terra batida), a igreja
que se encontra localizada a uma quadra da Praça da Sé, a partir do início dos anos 2000
encontrou diversas dificuldades estruturais. Dificuldades essas que a levaram a ser
fechada em 2005 devido a um intensão estágio de degradação. Entre os problemas
enfrentados nesse período, destacam -se o seu teto, que sofria ameaças de ruir e o
madeiramento, o qual se encontrado infestado por cupins.
Em virtude do estado de deterioração, degradação e abandono, em 2006, é criado
um projeto de restauro, que contou com o apoio da FormArte. O projeto destinou-se,
além de reformas estruturais, a realizar intervenções em paredes e telhados e ao resgate
das cores branco e ocre das fachadas. A restauração da Igreja incluiu a recuperação de
algumas obras de arte sacra, tais como as pinturas murais, altares que remontam à
primeira metade do século XIX, acabamentos das talhas e demais elementos decorativos
(2018, Formarte).
O projeto de restauração caracterizou-se por ser minucioso e atento aos detalhes
do projeto original da igreja. A restauração durou três anos, contou com cerca de 60
profissionais e custou R$ 6,5 milhões. Após a sua reabertura, ocorrida em julho de
2009, a igreja foi tombada como patrimônio histórico pelos órgãos estadual e municipal
de proteção ao patrimônio. Desde então, os religiosos da Aliança da Misericórdia,
associação com trabalhos sociais voltados à população carente, assumiram a
administração da igreja.
Durante o trabalho de restauração, foram retiradas 10 toneladas de madeira
podre e descobertas algumas obras que se encontravam sob os escombros. Entre essas
obras achadas, uma delas é a pintura barroca da cena da Coroação da Virgem, escondida
debaixo de grossas camadas de tinta, com algumas partes perdidas. À medida que se
removeram as camadas de tinta remanescentes da pintura original, surgiram traços da
representação, os quais despertaram o interesse por seus aspectos pictóricos e formais,
acentuados pela boa qualidade técnica e integridade das cores.

https://sao-paulo.estadao.com.br/noticias/geral,igreja-da-boa-noticia-comemora-200-
anos-no-centro-imp-,597700

(PDF) Aspectos pictóricos da Igreja de Nossa Senhora da Boa Morte em São


Paulo. Available from:
https://www.researchgate.net/publication/293813654_Aspectos_pictoricos_da_Igreja_d
e_Nossa_Senhora_da_Boa_Morte_em_Sao_Paulo [accessed Nov 02 2018].

5.2.1 Fundamentação Teórica

A conceituação do projeto foi baseada nas teorias de Cesare Brandi (restauro


crítico), nas recomendações das cartas patrimoniais de Atenas de 1931 e Veneza de
1964 e nos critérios estabelecidos pelo Conselho Internacional de Monumentos e Sítios
- ICOMOS.

5.2.2 Ambiência

A localização da Igreja da Boa Morte, implantada em um terreno de esquina,


preservou características visuais importantes, as quais valorizam o conjunto
arquitetônico religioso. As construções de gabarito baixo do entorno também permitem
que a leitura aconteça de vários pontos da cidade. Não foram propostas em projeto
soluções relacionadas ao contexto urbano. A preocupação se deu com o objeto isolado e
os problemas de conservação do edifício.
5.2.3 Dados Históricos

A pesquisa histórica foi desenvolvida durante a primeira fase do projeto. Ela foi
feira pelo próprio arquiteto projetista e se revelou fundamental para o traçado da
cronologia arquitetônica da edificação. Nesse momento, ficaram evidenciadas as várias
etapas construtivas e as diferentes técnicas e materiais utilizados.

5.2.4 Documentação Fotográfica

As fotografias utilizadas auxiliaram na montagem gráfica dos desenhos de


levantamento métrico, principalmente como suporte para representação gráfica dos
elementos compositivos decorativos (ornamentação). Não foi fornecido relatório
fotográfico sistematizado.

5.2.5 Levantamento Métrico Arquitetônico, linear e cruzado

O levantamento métrico arquitetônico foi realizado da forma tradicional,


contando com o auxílio fotográfico da equipe de arquitetos e colaboradores que
desenvolveram o projeto. Foram utilizados nesse levantamento equipamentos métricos e
eletrônicos (trena, paquímetro) e fotografia digital. O levantamento foi representado em
escala apropriada de desenho, com cotas lineares e cotas cruzadas em planta e cotas
lineares em altura (cortes e elevações). Assim como ocorreu na Igreja Evangélica
Luterana de São Paulo, todo o conjunto de desenhos necessários à compreensão do
projeto foi apresentado ao órgão de preservação e serviu de embasamento para as etapas
seguintes de identificação dos materiais e técnicas construtivas, diagnóstico da
edificação e proposta de restauro.

Figura 23 b. Desenhos Ilustrativos de Levantamento Métrico. Igreja da Ordem


Terceira do Seráphico Pai São Francisco. Elevação

5.2.6 Descrição e Análise Tipológica

A análise tipológica, que verificou princípios estéticos, de composição e


volumetria da Igreja Nossa Senhora da Boa Morte, foi abordada no corpo da pesquisa
histórica e no memorial descritivo. Os elementos de ornamentação foram levantados
metricamente e identificados em pranchas gráficas de desenho em escala apropriada,
não para reprodução (a reprodução implica na execução de moldes em tamanho 1:1),
mas como forma de registro.

5.2.7 Cronologia Arquitetônica, Hierarquia dos Espaços

A cronologia arquitetônica da Igreja Nossa Senhora da Boa Morte foi


estabelecida através de pesquisa histórica e investigações arquitetônicas no local, que
possibilitaram a adoção de um partido de intervenção. Todas as fases construtivas da
igreja foram registradas graficamente, através de desenhos de implantação (plantas) e
desenhos das fachadas.

Figura 26 a e b. Desenhos Ilustrativos da Cronologia Arquitetônica da Edificação.


Igreja Nossa Senhora da Boa Morte, Fachada Frontal – 1810 (acima) e 1825
(abaixo).

Figura 27 a e b. Desenhos Ilustrativos da Cronologia Arquitetônica da Edificação.


Igreja Nossa Senhora da Boa Morte, Fachada Frontal – 1860 (acima) e 1910
(abaixo).

Figura 28 a e b . Desenhos Ilustrativos da Cronologia Arquitetônica da Edificação.


Igreja Nossa Senhora da Boa Morte, Fachada Frontal – 1975 (acima) e 2008
(abaixo).

5.2.8 Identificação dos materiais

A identificação dos materiais de revestimento e técnicas construtivas foi feita


por meio de investigações arquitetônicas e pesquisa histórica.

5.2.9 Análises Laboratoriais

Os materiais de amostragem para análise foram colhidos em locais apropriados,


para que preservassem as características estéticas do conjunto, sem grandes
interferências visuais. Eles foram retirados de locais mais íntegros, pouco expostos e
com menos problemas de conservação. Todas as análises de laboratório necessárias
foram feitas pela empresa CONCREMAT, durante a execução da obra.
5.2.10 Prospecções Parietais e Arquitetônicas

Prospecções de pintura e arquitetônicas foram realizadas no local. As


prospecções de pintura foram feitas pelo restaurador Júlio Moraes, as quais geraram um
memorial com fichas para cada prospecção e recomendações técnicas sobre
procedimentos para consolidação, conservação, restauro e repintura (reprodução). Os
moldes para recomposição das pinturas foram feitos na escala 1:1.

5.2.11 Diagnóstico e Mapeamento das Patologias

Para a execução deste projeto realizou-se um diagnóstico visual preliminar,


descrito em memorial, e um mapeamento das patologias em pranchas gráficas de
desenho, identificadas a olho nu e com auxílio de binóculos. Não foram apresentados
testes para verificação da estrutura da edificação. Não foram realizados testes de
percussão para verificação do estado de desprendimento dos revestimentos.

5.2.13 Memorial Descritivo

Todos os projetos apresentaram memorial descritivo de procedimentos técnicos,


que contemplavam diretrizes para conservação e restauração das edificações baseados
nas recomendações conceituais e técnicas, usuais para a atividade. Todos os memoriais
foram desenvolvidos por equipes de projeto especializadas, que trataram a construção
de modo peculiar e com base em 96 estudos realizados. Não serão discutidos neste
projeto os critérios de intervenção e os procedimentos técnicos adotados para restauro,
uma vez que variam conforme as necessidades de conservação e as propostas de
intervenção relativas ao bem protegido.
A abordagem do artefato arquitetônico segue referências conceituais de Cesare
Brandi33, que esteve à frente do Instituto de Restauro de Roma por duas décadas e
escreveu a Teoria da Restauração, condicionante para o restauro desde então até a
atualidade.”
“A pesquisa histórica permitiu o entendimento do artefato e ajudou na tomadas
das decisões de projeto. Por se tratar de um exemplar muito antigo, a primeira capela
data do início do século XVI, desenhos de projeto original não foram encontrados, mas
os registros iconográficos permitiram traçar a evolução cronológica da igreja.”
O levantamento métrico arquitetônico foi feito tradicionalmente, com uso de
trena e paquímetro. Ele foi realizado em conjunto com outras quatro pessoas da equipe.
Os desenhos, reproduzidos em AUTOCAD, foram feitos com auxilio de fotografias
planificadas.
No decorrer do projeto foram realizadas análises de argamassa, em que as
amostras foram retiradas dos locais mais preservados, com menor incidência de sol,
protegidos das intempéries e, sempre que possível, de locais menos expostos
esteticamente para não prejudicar visualmente o conjunto. A análise de argamassa foi
feita pela empresa CONCREMAT. O resultado das análises foi incorporado ao projeto e
consta no memorial de procedimentos técnicos. As reconstituições de argamassa feitas
na edificação levam em consideração traço, coloração e granulometria revelados pela
análise da amostragem.
Algumas investigações arqueológicas foram feitas pela Concrejato, empresa
responsável pela execução da obra. As prospecções arquitetônicas também foram
realizadas pela Concrejato, com acompanhamento direto da equipe de projeto, sendo
fundamental para a descoberta dos diversos tipos de materiais utilizados na igreja ao
longo dos séculos (taipa. Adobe, pau a pique e alvenaria de tijolos), bem como para
traçar uma cronologia arquitetônica da edificação, primordial para a adoção do partido
de restauro. As investigações e prospecções realizadas foram essenciais para o
reconhecimento do objeto, ajudando na datação das intervenções e, com isso ,
promovendo o resgate e a ambientação das diversas fases do edifício.

http://repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/284429/1/Ditolvo_AnaMartaAlexand
re_M.pdf
http://www.formarte.com.br/projetos-finalizados-igreja-nossa-senhora-da-boa-morte
https://sao-paulo.estadao.com.br/noticias/geral,igreja-da-boa-noticia-comemora-200-
anos-no-centro-imp-,597700
http://www.olympioaugustoribeiro.com.br/projetos.php?projeto_id=2

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