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Diálogos - Revista do Departamento de

História e do Programa de Pós-


Graduação em História
ISSN: 1415-9945
rev-dialogos@uem.br
Universidade Estadual de Maringá
Brasil

Urban, Ana Claudia


A didática da história nos manuais destinados à formação de professores
Diálogos - Revista do Departamento de História e do Programa de Pós-Graduação em
História, vol. 19, núm. 1, enero-abril, 2015, pp. 275-287
Universidade Estadual de Maringá
Maringá, Brasil

Disponível em: http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=305538472014

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Diálogos (Maringá. Online), v. 19, n.1, p. 275-287, jan.-abr./2015. DOI 10.4025/dialogos.v19i1.1065

A didática da história nos manuais destinados à formação de


professores*

Ana Claudia Urban**

Resumo. O texto que se segue apresenta argumentos que consideram a


existência de um código disciplinar da didática da história que foi constituído
historicamente, agregou ideias sobre o que é ensinar e aprender; sugeriu regras e
identificou conteúdos voltados à formação do professor. A intenção é
apresentar elementos do código disciplinar da didática da história presente
particularmente nos manuais voltados à formação de professores. Os manuais,
entendidos como “textos visíveis”, permitem comprovar que, historicamente,
foi construída uma forma de pensar o ensino e a aprendizagem em história e,
por certo, essa forma de pensar influenciou tanto a formação quanto a prática
de professores. A partir de uma seleção prévia de manuais, foi investigado
como a relação entre o ensinar e o aprender história foi pensada e construída,
independentemente de sua nomenclatura. Os manuais foram tomados como
fontes de investigação, primeiramente por entendê-los como “fontes visíveis”
do código disciplinar da história, segundo a conceituação discutida pelo
pesquisador Raimundo Cuesta-Fernandez (1988).

Palavras-chave: Didática da história; Formação de professores; Ensino de


história.

The didactics of history in textbooks for teachers´ formation

Abstract. Current essay provides arguments on the existence of a disciplinary


code on the Didactics of History which was historically constructed, aggregated
ideas on what should be taught and learned, suggested rules, and identified
contents on teachers´ formation. Elements of a disciplinary code on the
Didactics of History in textbooks for teachers´ formation will be provided.
Handbooks, known as ‘visible texts’, prove that historically a manner of
thinking the teaching and learning in History was constructed which affected
teachers´ formation and practice. Through a previous selection of textbooks,
the manner relationships between teaching and learning History was thought

*
Artigo recebido em 26/01/2015. Aprovado em 09/02/2015.
**
Professora de Metodologia e Prática de Ensino em História da UFPR. Pesquisadora do
Lapeduh, UFPR, Curitiba/PR, Brasil. E-mail: claudiaurban@uol.com.br
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and constructed has been investigated, regardless of the nomenclature


employed. Handbooks were considered sources of investigation since they were
thought to be ‘visible sources’ of the discipline code of History, according to
concepts by researcher Raimundo Cuesta-Fernandez (1988).

Keywords: Didactics of History; Teachers´ formation; The teaching of History.

La didáctica de la Historia en los manuales destinados a la


formación de profesores

Resumen. El texto a continuación presenta argumentos que consideran la


existencia de un código disciplinario de la Didáctica de la Historia, que fue
constituido históricamente y agregó ideas sobre qué es enseñar y aprender, que
sugirió reglas y que identificó contenidos orientados a la formación del
profesor. La intención es presentar elementos del código disciplinario de la
Didáctica de la Historia, especialmente presente en los manuales para la
formación de profesores. Los manuales, entendidos como “textos visibles”,
permiten comprobar que, históricamente, fue construida una forma de pensar
la enseñanza y el aprendizaje de la Historia y que esa forma de pensar también
influyó tanto en la formación como en la práctica de los profesores. Partiendo
de una selección previa de los manuales, se investigó cómo se pensó y
construyó la relación entre el enseñar y el aprender Historia,
independientemente de su nomenclatura. Los manuales fueron tomados como
fuentes de investigación, primero por entenderlos como “fuentes visibles” del
código disciplinario de la Historia, según el concepto discutido por el
investigador Raimundo Cuesta-Fernández (1988).

Palabras Clave: Didáctica de la Historia; Formación de profesores; Enseñanza


de Historia.

Introdução

Os manuais voltados à formação de professores foram tomados neste


trabalho como fontes de investigação, primeiramente por entendê-los como
“fontes visíveis” do código disciplinar da história, pois conforme Schmidt em
seu texto “Estado e construção do código disciplinar da Didática da
História”, optar pela análise de manuais

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significa tratar este objeto com base nos marcos definidores


iniciais, isto é, como manuais didáticos relacionados ao processo
de escolarização, constitutivos da cultura escolar e destinados à
formação didático-pedagógica dos professores em determinado
período e contexto da sociedade brasileira. O fato de proporem
métodos e atividades de ensino da disciplina de História indica a
necessidade de explicar o que se entende pelo conjunto de
conhecimentos veiculados por estes manuais ou o tipo de saberes
constitutivos destas publicações (SCHMIDT, 2006, p. 712).

Assim como Schmidt (2006), acredita-se que os manuais constituem-se


como marcos definidores em relação ao período em que são produzidos e, por
certo, tornam-se indicativos da forma pela qual o ensino de história foi
entendido. Dessa maneira, infere-se que as discussões tendo os manuais como
“fontes visíveis” contribuíram no sentido de se perceber como um código
disciplinar voltado ao ensino de história foi pensado.
As obras destacadas não são as únicas, no entanto, optou-se por alguns
manuais voltados à formação do professor e que discutem elementos
constitutivos do ensino e da aprendizagem em história tomando-se como
referência dois momentos da história da educação brasileira:
O primeiro momento foi anterior à década de 1980: muitas das obras
publicadas foram notadamente produzidas sob a influência de
movimentos/reformas educacionais e também sob a tutela do Estado.
O segundo momento refere-se ao período pós-década de 1980: por
entender que a partir daquele momento o ensino de estudos sociais passava por
uma crise, dando espaço aos questionamentos pautados na retomada do ensino
de história.

1 Manuais destinados à formação de professores, anteriores à década de


1980

Para o primeiro período destacam-se as obras Methodologia da História na


aula primária, publicada em 1917, e Como se ensina História, 1935, de Jonathas
Serrano.

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Schmidt (2004), em estudo acerca das obras de Jonathas Serrano, analisa


as suas contribuições e o significado de suas obras para a época. Destaca a autora
que as discussões de Serrano representaram uma aproximação entre a história e a
pedagogia, o que contribuiu para a construção de um código disciplinar da
didática da história, pautado justamente na ideia de uma disciplina ensinada sob a
influência da psicologia, da didática geral, valorizando os métodos de ensino.
As obras de Jonathas Serrano, particularmente a obra de 1917,
Methodologia da História na aula primária, passou a ser recomendada para os cursos
de formação de professores, tornando-se uma bibliografia referendada por
professores que atuavam na escola normal. Este autor destacava a necessidade de
que fosse contemplado, nos cursos de formação de professores, o que
denominou de “methodos especiais”, aos quais o “alumno-mestre” deveria ter acesso
para organizar as suas aulas e assim pudesse melhor ensinar os conteúdos de
história.
Além das contribuições de Serrano, destaca-se a obra “A História no
curso secundário”, de Murilo Mendes, em 1935. Segundo Freitas, no texto “A
Pedagogia da História de Murilo Mendes” (2004), o autor da obra apropriava-se
metodicamente da literatura sobre filosofia da educação, reformas na escola
secundária e métodos aplicados ao ensino de história. Era lente da Escola
Normal de Campinas em 1928, onde demonstrou simpatia pelas ideias de
Sampaio Dória e Lourenço Filho (FREITAS, 2004, p. 163).
Destaca-se na obra de Mendes (1935) uma preocupação com uma
renovação metodológica para o ensino de história. O autor dedicou uma parte
da sua obra às discussões sobre a adequação entre os ideais e interesses da
juventude, fazendo reflexões sobre as Novas directrizes da methodologia da historia.
Também no período que antecede à década de 1970 foi publicada a
obra de Amélia Americano Franco Domingues de Castro (1952), em São Paulo,
que tem como título Princípios do método no ensino de História.

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A obra, em linhas gerais, discute elementos do ensinar história,


tendo como referência as diretrizes psicopedagógicas do ensino, bem como
os processos didáticos, como a seleção e o uso do material de ensino e a
direção de aprendizagem.
Na década de 1950, o Ministério da Educação e Cultura manifesta
interesse e preocupação com a fiscalização e a aplicação de leis, com a
inspeção das escolas, com as medidas que atendessem às novas demandas e
necessidades da clientela urbana. Para tanto, criou órgãos que atuavam
nessas situações. Destacam-se aqui o Instituto Nacional de Estudos
Pedagógicos - INEP (1944) e a Campanha de Aperfeiçoamento e Difusão
do Ensino Secundário – Cades (1953). “Entre as ações principais desses
órgãos estava a publicação de periódicos e manuais destinados à formação
complementar dos professores brasileiros” (SCHMIDT, 2006, p. 717).
Entre os materiais publicados pela Cades, destacam-se as
“Apostilas de Didática Especial de História” (1959). As obras apontavam
para uma preocupação com o ensinar e o aprender história. Na unidade
intitulada “A motivação da aprendizagem da História” são relacionadas
orientações referenciadas em estratégias decorrentes, tanto da psicologia
como da didática geral.
Na década seguinte – em 1963, foi publicada a obra Curso de
Didática de História, de João Alfredo Libanio Guedes que, entre outros
aspectos, apontou para uma preocupação com teoria geral de didática de
história, os alvos do ensino, os fundamentos psicológicos do aprendizado
histórico, o plano de aula, as técnicas de ensino e a verificação da
aprendizagem.
Guedes, ao apresentar a sua obra, ressalta que, antes de
pormenorizar aspectos referentes à didática da história, é “indispensável
formular alguns conceitos básicos, estabelecer algumas diretrizes gerais e

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fixar pontos de referência úteis ao desenvolvimento dos problemas


pedagógicos” (1963, p. 13).
Da mesma forma que a psicologia se tornou um ponto de
referência, a preocupação com a forma de ensinar também foi ressaltada,
tendo como indicativo as questões advindas da própria didática geral.
Ainda na década de 1960, mais uma obra revela a forma de pensar o
ensino e aprendizado de histórico: O ensino da História no Primário e no Ginásio
de Miriam Moreira Leite.
A obra faz inferências acerca da disciplina escolar da história tanto
na etapa denominada de primário, como no ginásio. Tendo como aporte de
organização a psicologia, a obra apresentou-se como uma referência para a
formação de professores, sendo considerado um trabalho pioneiro para o
período. Em relação à obra, afirma Oliveira: “até mesmo para a autora,
parece ser circunstancial e motivado por questões pessoais, para só depois
se configurar num modelo e motivador de estudos de outros profissionais”
(2003, p.41).
Essas intenções, relacionadas ao ensino de história, expressam as
preocupações sobre o que se esperava que o aluno aprendesse e, como
consequência, qual era a perspectiva que rondava a prática do professor.
As publicações citadas como as de Jonathas Serrano, Murilo
Mendes, Amélia Americano Franco Domingues de Castro, as apostilas da
Cades, a obra de João Alfredo Libanio Guedes e Miriam Moreira Leite,
configuram-se em alguns exemplos de manuais, voltados à formação de
professores, que expressam a existência de um código disciplinar da didática
da história, pois nas proposições de suas obras revelaram uma forma de
pensar o ensino e a aprendizagem histórica. Em seus textos, os autores
estabeleceram um diálogo inicialmente com a sua época e com a forma
como se idealizava o ensino e aprendizado histórico.

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2 Manuais destinados à formação de professores, posteriores à década de


1980

O segundo grupo de manuais analisados foi publicado depois da


década de 1980; este período representou para a história como disciplina
escolar um marco pelas mudanças que estavam ocorrendo no contexto
educacional, a favor do retorno do ensino de história em substituição aos
estudos sociais. Dada esta situação, a forma de ensinar também passou a ser
discutida tanto no meio acadêmico, como no interior das escolas, haja vista
que muitos professores que atuavam especialmente nas séries iniciais tiveram
em sua formação acadêmica a didática dos estudos sociais.
Na esteira das reflexões sobre o retorno do ensino de história no
então primeiro grau, vários professores e investigadores levantaram suas
bandeiras argumentando sobre a necessidade de discussões sobre tal temática
que se impunha frente ao momento que era vivido.
Entre as publicações representativas desse período, está a obra da
ANPUH, Repensando a História (1982), que teve como organizador Marcos A.
da Silva.
Esta obra foi produzida pelo Núcleo da ANPUH (Associação
Nacional dos Professores Universitários de História) de São Paulo e reuniu
reflexões de vários professores que discutiam aspectos relevantes em relação
ao período em que o ensino de história passava por intensas discussões acerca
de sua importância no cenário educacional.
Entre as obras do período mencionado destaca-se O ensino de História
e a criação do fato, organizada por Jaime Pinsky, publicada em 1988.
A proposta geral foi discutir o conceito de fato, bem como uma
concepção de história justamente no momento em que o seu ensino de estava
vivendo amplas discussões quanto a sua função nos currículos escolares.
Portanto, essas reflexões deixavam transparecer um código disciplinar

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pautado em uma forma de entender a história, tendo em vista que, no


momento de sua publicação, havia um forte apelo em torno do compromisso
da história com a verdade e esta suposta busca pela verdade, era visualizada
por diversos meios, inclusive pelo livro didático.
As discussões suscitadas por este livro traduziam uma nova forma de
pensar o ensino e os valores que perpassavam as práticas nas escolas, nos
textos escolares, depois de anos em que tais proposições estavam ausentes do
ensino de história. O livro não pontua diretamente uma forma de
compreender o ensino e a aprendizagem histórica, mas revela elementos que
compunham uma forma de pensar a história, um conjunto de valores que, de
certa forma, legitimava o seu ensino, e que foi entendido, nesta investigação,
como elemento de um código disciplinar da didática da história.
Outra obra que, se não foi pensada como referência para os cursos de
formação de professores, acabou por compilar dados sobre o momento das
reformas curriculares pelas quais o ensino de história passou, a partir da
década de 1970, é Caminhos da História Ensinada, de Selva Guimarães Fonseca,
em 1993.
Na introdução, a autora anuncia que o livro foi uma proposta de
recuperação histórica, da forma como o ensino de história foi tratado nas
reformas curriculares ocorridas em diversos Estados brasileiros nas décadas
de 1970 e 1980. Como o código disciplinar também agrega “Discursos,
regulaciones, prácticas y contextos escolares […] de los sujetos profesionales
[…] y de los destinatarios sociales” (CUESTA-FERNÁNDEZ, 1998, p. 8-9),
compreende-se que o livro de Fonseca (1993) registra uma forma de pensar o
ensino de história em meio às mudanças que ocorriam no contexto
educacional brasileiro, no recorte temporal escolhido pela autora.
Na década de 1990, foi proposta a edição dos Parâmetros
Curriculares Nacionais (PCNs), material publicado pelo Ministério da

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A didática da história nos manuais destinados à formação de professores 283

Educação que se apresentou, por meio do discurso oficial, não como um


currículo obrigatório, mas como uma referência para a organização dos
programas curriculares regionais.
Mesmo frente a apoios e críticas, não se pode ignorar a presença dos
parâmetros curriculares nacionais, pois integraram ações do Ministério da
Educação, publicados em 1997, num primeiro momento para as primeiras
séries do ensino fundamental; em 1998 para o ensino de quinta a oitava séries
do ensino fundamental e para o ensino médio em 1999.
Assim, a partir de 1997, os parâmetros passaram a integrar as
discussões acerca dos encaminhamentos referentes ao ensino, no ensino
fundamental, especialmente nas séries iniciais, constituindo-se uma referência
para o código disciplinar da didática da história.
O volume voltado ao ensino de história apresenta argumentações
sobre a criação dos estudos sociais, bem como sobre o retorno da história e
da geografia no ensino fundamental. Propõe, ainda, uma discussão em torno
de conceituações do ensino e aprendizado histórico apresentando noções
como o conceito de fato, de sujeito e de tempo histórico, buscando a
relação destes conceitos, com a historiografia e uma concepção de
educação.
O texto dos parâmetros curriculares nacionais assumiu o discurso de
um ensino problematizador, veiculando a necessidade de compreensão da
realidade, apontando os objetivos gerais de história para o ensino
fundamental.
Em relação ao seu significado para o ensino de história, importa
perceber de que forma o discurso oficial, explicitado no material, retrata uma
forma de conceber o ensino e a aprendizagem histórica, ou impõe uma
“proposta” que não se coaduna com as concepções que estavam sendo
debatidas.

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Este documento, publicado sob a chancela do poder público,


traduziu uma forma de pensar a relação ensino e aprendizagem, objeto de
reflexões de todos os envolvidos na dinâmica escolar, seja na educação
básica ou no ensino superior.
Entre as discussões que marcavam a década de 1990, foi publicada a
obra O saber Histórico na sala de aula (1997), organizada por Circe Bittencourt.
Na apresentação foi registrado que os autores pretendiam
“contribuir para a necessária reflexão dos professores neste momento de
redefinição dos conteúdos e dos métodos de ensino” (BITTENCOURT,
1997, p. 7).
A primeira parte do manual possui quatro textos que versam tanto
sobre a questão curricular, quanto sobre a formação de professores. A
segunda parte da obra discute o que foi denominado de “necessidades e
dificuldades na utilização de diferentes recursos de ensino”
(BITTENCOURT, 1997), remetendo-se aos livros-textos, à iconografia, ao
trabalho com museus, à memória e à utilização de filmes como “linguagens”
possíveis de serem usadas no ensino de história.
Destacam-se também algumas obras publicadas a partir do ano
2000, a saber: Ensino de história: Conceitos, temáticas e metodologia, publicada em
2003, com a organização de Abreu e Soihet. Uma das organizadoras
esclarece que a produção do livro se deu, entre outros motivos, em função
da “necessidade de textos conceituais que subsidiassem o trabalho de
professores em sala de aula” (ABREU; SOIHET, 2003, p.7).
O livro aborda temáticas como identidade por meio dos textos,
identidades plurais e identidade nacional e ensino e aprendizagem histórica:
a diversidade como ‘patrimônio sociocultural. A temática cultura é abordada
em alguns textos, como “Cultura popular: um conceito e várias histórias” e
“O ensino de história e a luta contra a discriminação racial no Brasil”. O

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manual caracteriza-se por um debate historiográfico, tendo as temáticas


mencionadas como um ponto de discussão, voltadas ao ensino de história.
A outra obra publicada a partir do ano 2000 é Ensinar História, de
Maria Auxiliadora Schmidt e Marlene Cainelli (2004). Entre os temas
discutidos na obra estão: histórias do ensino de história; a construção do
fato histórico; a construção de conceito histórico; as fontes históricas; o
livro didático e a avaliação. O manual aborda temas inerentes tanto à
formação inicial do professor, como também à sua formação continuada.
Por caracterizar-se como obra com uma proposta definida, as proposições
de cada tema (organizadas em capítulos) podem ser discutidas durante o
processo de formação inicial de professores, aprofundando as discussões
baseadas na bibliografia sugerida, como também por meio de debates
apontados no item ampliando o debate.
A característica da obra é que as autoras apoiam-se em referências
da historiografia, articulando-as com possibilidades metodológicas para a
discussão dos temas, numa dinâmica que favorece ao mesmo tempo um
estudo sobre os temas e discussões metodológicas, que podem ser
trabalhadas tanto em sala de aula ou como atividades complementares.

Considerações finais

Todas as obras anteriormente mencionadas representam o que


Nadai (1993) pontuava como “perspectivas para as reflexões em torno do
ensino de História”, destacando aspectos relacionados ao perfil da disciplina
escolar da história, aos seus métodos de ensino, aos seus conteúdos, às
propostas curriculares, à avaliação, ou seja, elementos do código disciplinar
da didática da história, demonstrando que, nas últimas décadas, o ensinar e
aprender história estiveram presentes.

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A literatura relacionada ao ensino e aprendizado histórico continua


apontando possibilidades de se pensar tanto o ensino quanto a aprendizagem.
Em síntese, os manuais, ao serem produzidos, revelam que o ensino e a
aprendizagem histórica buscam contribuições, ora da psicologia, ora da didática
geral, ora da historiografia, isto é, os autores comprovam que, ao pensarem essa
relação, fazem uso de diferentes “lentes”, atestando, mais uma vez, a existência
empírica de um código disciplinar da didática da história.

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