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19/12/2018 Reflexões acerca do futuro da produção petrolífera mundial
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19/12/2018 Reflexões acerca do futuro da produção petrolífera mundial
Dados inconfiáveis
Para a produção de petróleo dos EUA, essa incerteza é ainda maior. Em 2017, a
produção dos EUA de acordo com o EIA foi de 9,4 Mb/d para o petróleo bruto e
de 13,1 Mb/d para petróleo bruto e líquidos naturais; adicionando ganhos de
refinaria (1,1) e biocombustíveis (1,2) chegamos a um valor para todos os
líquidos de 15,4 Mb/d, que é 6 Mb/d mais do que para o petróleo bruto!
A quantidade mensal de petróleo bruto produzido nos EUA vem das estimativas
da EIA. Estas estimativas mudam ao longo do tempo, mas são finalizadas dois
anos depois de o petróleo ter sido perfurado pela primeira vez. Isso porque, no
Texas, os operadores podem esperar dois anos antes de relatar valores precisos,
devido a uma cláusula de confidencialidade nas regras de relatórios.
do fracking. Como mencionado acima, o tight oil dos EUA mudou tudo.
Certamente serviu para torpedear a discussão sobre o pico do petróleo.
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Existem apenas alguns países que ainda não atingiram o pico de produção,
como o Brasil, o Canadá (com suas areias petrolíferas), o Iraque, o Cazaquistão,
a Malásia, os Emirados Árabes Unidos e a Venezuela. Nos casos da Arábia
Saudita e dos EUA, o petróleo bruto pode estar actualmente a atingir o pico. Para
os EUA, a produção de líquidos de gás natural foi de 40% da produção de
petróleo bruto em 2017, quando era de apenas 33% em 2000 e 9% em 1950. É
importante verificar se "petróleo" é petróleo bruto ou petróleo bruto mais líquidos
de gás natural, porque os valores e tendências são bastante diferentes.
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A grande questão é quando a produção de LTO nos EUA atingirá o pico. Dentro
dos EUA, a bacia do Permiano, no Texas, provavelmente vai virar a maré. Desde
2006 que esta região já havia produzido até 32 mil milhões de barris (Gb) de
petróleo convencional; em seguida, de 2007 a 2017, foram extraídos 5,5 Gb
adicionais de petróleo convencional e não convencional. Das formações de LTO
no país, o Permiano tem actualmente a maior taxa de crescimento na produção,
e provavelmente será o último a atingir o pico.
A forte produção de petróleo dos EUA foi amplamente responsável por uma
queda nos preços globais do petróleo em 2015. Com preços mais baixos, a
produção de LTO não era rentável e a perfuração foi reduzida, o que, por sua
vez, levou a uma queda na produção. Mas consoante os preços do petróleo
recuperaram gradualmente, também a perfuração e a produção recuperou.
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As previsões oficiais de produção futura de LTO são baseadas num certo número
de furos multiplicado pela recuperação final estimada por furo, sem a
preocupação de verificar se há espaço suficiente para perfurar todos os poços
necessários. O LTO é frequentemente descrito como uma acumulação contínua
de petróleo que cobre toda uma região geológica, quando, na verdade, apenas
pequenas partes da região são economicamente produtivas; essas partes são
tipicamente chamadas de "zonas perfeitas". Em Bakken e Eagle Ford, estas
zonas foram quase completamente perfuradas. A bacia do Permiano, com várias
sub-bacias e muitos reservatórios, é menos perfurada. A produção durante o
primeiro mês aumenta quando os operadores perfuram segmentos de poços
laterais mais longos e quando injectam mais areia (uma quantidade recorde de
22 mil toneladas foi injectada num poço no Louisiana) para promover as fracturas
de rochas. No entanto, com estas "melhorias" tecnológicas, parece que a
recuperação final por furo pode diminuir e que novos furos diminuem a produção
dos furos adjacentes.
Estimativas de reservas para LTO que são feitas usando a mesma abordagem
daquelas do petróleo convencional são totalmente inconfiáveis. A melhor
abordagem para prever produção futura é a extrapolação da produção passada
(chamada linearização de Hubbert). Para Eagle Ford, a tendência pode ser
extrapolada para uma quantidade final de 3 Gb. Isso é mais que o dobro das
reservas restantes comprovadas de 2016, além da produção acumulada. A
extrapolação da produção passada de LTO nos EUA leva-me a supor que em
breve a LTO atingirá novamente o pico e decairá definitivamente, de modo que a
produção será insignificante em 2040, embora isto esteja em desacordo com o
que outros analistas estão a afirmar.
Sou ainda mais pessimista acerca a produção de LTO fora dos EUA. Em Junho
de 2013, a EIA publicou um relatório escrito pela firma consultora ARI,
"Technically Recoverable Shale Oil and Shale Gás Resources: An Assesment of
137 Shale Formations in 41 Countries Outside de United States" . Os autores
estimaram 287 mil milhões de barris de petróleo de xisto global de "recursos não
comprovados", dos quais 75 Gb estão na Rússia, 58 Gb nos EUA, 32 Gb na
China, 27 Gb na Argentina, 26 Gb na Líbia, 18 Gb na Austrália, 13 Gb na
Venezuela, 13,1 Gb na México, 4,7 GB em França e 3,3 GB na Polónia.
O principal problema com a LTO globalmente é que os EUA não podem ser
tomados como um exemplo para o resto do mundo. Isto em primeiro lugar porque
os EUA são o único país onde os direitos minerais subterrâneos (incluindo
petróleo) frequentemente pertencem aos proprietários da terra. Os proprietários
de terras recebem assim um grande bónus ao assinarem um acordo com um
operador de petróleo, além de comissões sobre a produção. A perfuração,
fracking e produção de LTOs causam muitos incómodos (incluindo várias
centenas de viagens de camião para um trabalho de fracking ), bem como
poluição. Os proprietários de terras aceitam esses incómodos nos Estados
Unidos, mas no resto do mundo estes têm apenas os incómodos e dinheiro
nenhum. É por isso que a NIMBY (Not In My Backyard) gera reacções tão fortes
noutros sítios. Muitos deles, incluindo França e até mesmo o estado norte-
americano de Nova York, proibiram as actividades de petróleo de xisto e gás de
xisto. Parece que a produção norte-americana de LTO irá declinar em breve,
enquanto a produção significativa de tight oil no resto do mundo ainda não
começou – e pode nunca realmente arrancar.
É provável que nos próximos anos a produção mundial de petróleo caia (em
torno de 5% por ano) e que a LTO venha a cair ainda mais acentuadamente. Isso
será um choque porque é contrário às previsões oficiais, que apontam para que a
produção de petróleo ascenda até 2040.
passado explica o futuro. O livro de Matthieu Auzanneau, Oil, Power, and War: A
Dark History, ajuda-nos a entender o passado da indústria petrolífera, o que por
sua vez ajuda-nos a vislumbrar o futuro não só do petróleo, mas também da
economia industrial global.
05/Dezembro/2018
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