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conceitos

. daarte
moderna
jorge zahar editor .
SUMÁRIO

Prefácio de NIKOSSTANGOS 7

Fauvismo / SARAHWHJ1FIELD 11

Expressionismo / NORBERTLYNTON 24

Cubismo I JOHNGoLDING 38

Purismo I CHRJSTOPHERGREEN 58

Orfismo / VlRGINIASPATE 63

Futurismo / NORBERTLYNTON 71

Vorticismo / PAUL OVERY 78

Dadá e Surreal ismo / DAWN ADES 81

Suprematismo / AARONScHARF 100

De Stijl/KENNETHFRAMPToN 103
111111
•• ",11111.1:
( ",11",", o! Mmlfrtl ArI 116
Construtivismo / AARONSCHARF
I, .III~ ".ulmI/Mdll da cdlçiio inglesa g:visla c ampliada
IIIIIIU••• I. em 19RR por Thumes and Hudson L1d, dc Londres, Inglalcrra, Expressionismo Abstrato / CHARLESHARRlSON 122
110",I~ "W ••rl,l ••f Ar!
Arte Cinética / CYRlL BARREf 150
('''l'y.1 hl ID mlKhlll1 cdltlon. 1974 Pcnguin Books L1d
Arte Pop / EDWARDLUCIE-SMITH 160
("I'y,1 hl ID "-vl,,,'d cdlllon, 198 I Thamcs and Hudson L1d, London

(-"I'V,I hl (:) 1991 ,h, ,'dlçi.o em llnguu portuguesa. Arte Op / JASIA REICHARDT 170
Jor I' Z lmr Editor LIda,
' 'M M ~I •• 1i ""h,
luJII Minimalismo / SUZIGABLlK 174
IM111 Itl ••• h 1IIIIIIIm,I{J
Arte Conceitual / ROBERTASMITH 182
I.MI••••• 11r"II" II'"",vlI,l"s,
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1I\llurl~lIdll d",lo p"blicllç,l", no lodo
Ilustrações 193
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Lista de Ilustrações 285


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1955 (em "'I'r(>d,,~,lll
Bibliografia Selecionada 294
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I N
ARlE POP 16i

a arte pop foi um movimento mais ou menos "underground", E quando veio à tona
houve um primeiro momento de recuo, até de resistência. Isso aconteceu espe-
cialmente em Nova York, por razões históricas. O expressionismo abstrato se tinha
tabelecido nos Estados Unidos como o primeiro estilo local a conquistar
ARTE POP proeminência internacional. Ora, como Mario Amaya disse em seu livro sobre arte
pop, os novos pintores "pareciam estar jogando pela janela toda a realização
mericana", Harold Rosenberg, um dos mais poderosos e inteligentes críticos
EDWARD LUCIE-SMITH
norte-americanos, tentou liquidar sumariamente o novo movimento. Disse ele:
"Boa parte do impacto é imputável ao fato de que se pode falar com muita
f cilidade sobre a arte ilusionística, em contraste com a abstração, cuja retórica foi
utilizada um sem-número de vezes até ficar quase esgotada." Para ele, a arte pop
r simplesmente "uma contribuição para a crítica de arte". Apesar dessas dúvidas
d es protestos, a arte pop foi bem-sucedida no nível material, ganhou pene-
arte pop tem no máximo dez a doze anos de idade. * O termo em si foi usado Ir çâo no público, foi adotada por colecionadores, e os principais artistas pop
A ~Ia primeir~ vez pelo crítico britânico Lawrence Alloway, em 1954, como nquistaram seu espaço e até ficaram ricos em um prazo de tempo espantosamente
um rotulo conveniente para a "arte popular" que estava sendo criada pela cultura urto.
de massa. Alloway ampliou o termo em 1962 para incluir a atividade de artistas que Apesar da hesitação inicial que acabei de descrever, a arte pop teve até agora
estavam procurando usar imagens populares em um contexto de "belas-artes". m maior impacto e ganhou raízes mais sólidas nos Estados Unidos do que em
~esde então surgiu uma série de outros rótulos concorrentes, mas este foi o que u Iqu r outro lugar. A causa básica talvez possa ser inferi da de uma declaração
vingou, apesar dos protestos (ocasionais) dos próprios artistas. m qu um estudante do Royal College of Art, em Londres, colaborou para um
. A primeira ~bra genuína de arte pop realizada na Grâ-Bretanha e geralmente um ntocoletivo intitulado "Um Modelo Composto do Processo Crítico". Disse
aceita como tal fOI a colagem de Richard Hamilton, O que Exatamente Torna os I : "A arte pop descreve o ambiente consumista e sua mentalidade: a fealdade
Lares de H?J: t~o !>iferentes, tã,oAtraentes? A obra foi executada para figurar em nv rt -se em beleza." Talvez se possa acrescentar a isso uma outra frase também
uma .exP?slçao lOtlt.ulada "Isto E Amanhã", na Whitechapel Art Gallery, em 1965. I nt do mesmo documento: "O tema eleva-se ao status de conteúdo pela
O pnmel~o _grande Impacto provocado pela arte pop sobre o público britânico foi I tud do artista para com ele." A pintura norte-americana dos anos do pós-guerra
na Exposiçâo dos Jovens Contemporâneos de 1961, que incluiu obras de David I maticamente nacionalista em suas atitudes. Os líderes do mundo artístico
Hockney, Derek Boshier, Allen Jones, Peter Phillips e R.B. Kitaj, e firmou toda m ricano expressaram com freqüência sua impaciência a respeito do que
uma g.er~ção de j~vens artistas. No mesmo ano, Peter Blake realizou sua primeira acontecendo na Europa; os principais pintores americanos são ferozmente
exposiçao no Instituto de Arte Contemporânea. titivos e manifestam freqüentemente um franco desdém pela obra de seus
O desenvolvimento da arte pop nos Estado Unidos não é tão fácil de mapear. uropeus. A arte pop, tal como emergiu dos experimentos realizados ao
Ela avançou por etapas surpreendentemente lentas em meio ao expressionismo d dada de 50, era o instrumento ideal para enfrentar o ambiente humano
abstrato então predominante, e muitos dos pintores pop americanos continuam m ricano. O elemento de agressividade que a arte pop foi buscar no design
apontando Willem de Kooning, um dos gigantes do expressionismo abstrato como I I na implacável técnica de venda, foi bastante atraente para os pintores
uma influência marcante em sua obra. O ano importante parece ter sido' 1955 m ri anos. Esses pintores, com efeito, acharam fácil convencer-se de que
marcado pelo surgimento de Robert Rauschenberg e Jasper Johns na cena artística I I u praticavam agora tinha uma linhagem especificamente americana, e de
de Nova York. Em 1958, Johns fazia a sua primeira exposição individual e o crític Indl d cachimbo, os cata-ventos pitorescos e os "primitivos americanos"
de Nova York, Leo Steinberg, assim descreve sua reação ao que viu: "As telas d Illlnattmirad e colecionados nos Estado Unidos, forneciam uma espécie defiat
De Kooning e Kline, segundo me pareceu, foram subitamente jogadas num m m Imprlmatur oficial para o que estavam tentando realizar. Uma importante
saco com Rembrandt e Giotto. Todos, também de súbito se convert ram 'Jlll'Ollçlolnlitulada "Arte Pop e a Tradição Americana" e montada em abril de
p~nto~es ilusi~nistas." Apesar disso, a cena artística nova-iorquina, como um t Mllwaukee Art Centre propiciou uma eloqüente confirmação disso.
so veio a sentir o pleno Impacto da arte pop no início de 1961. pr tende negar com isso, entretanto, que a arte pop também tenha tido
. .É necessá~o expor os fatos d~ forma singela, porque a art pop t v u lid d européia. Encontraremos suas raizes no Dadá, e veteranos
história bem curiosa - o seu acolhimento foi algo int iram nt di tlnt d rd ram em reconhecer a semelhança entre os dois movimentos,
tinha sido dispensado aos stilos mod mistas qu a pr d ramo H uv, rt, IlllIDOn I'IIClI cem lrando grande entusiasmo pelo falO. Em seu altam nte compe-
br v período d incubaç O.Durant prim I in n, p Imldlrner,t., m vim nto Dadá, H Rlcht r cil um qu Ih foi
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162 CONCEITOS DA ARlE MODERNA
AR'J'6.PoP 163

neles. Joguei-lhes o porta-garrafas e o mictório na cara como um desafio ... e agora reconhecimento visual através da exposição constante. Olhamos como se fosse a
eles os admiram por sua beleza estética!" primeira vez para coisas que nos são familiares, mas que foram separadas de seus
Duchamp, em sua desilusão, acertou tanto na diferença quanto na seme- contextos correntes, e refletimos sobre os significados da existência contem-
lhança. Parece-me que um dos aspectos enigmáticos da arte pop e aquele que mais porânea." Lichtenstein, Jim Dine e Oldenburg são aparentados a Warhol por' suas
urgentemente necessita de explicação é a sua evidente frieza sua ausência de imagens e preocupações estilísticas, mas abordaram a tarefa de criar consciência
envolvimento com o tema de que trata. À primeira vista, há umressurgimento de dos "significados da existência contemporânea" por métodos totalmente diferen-
téc~cas dadaístas, de truques dadaístas, mas sem o menor respaldo na filosofia I . Lichtenstein pinta ampliações exorbitantes de coisas num estilo tomado das
dada ..Cumpre .lembrar qu.e o movimento Dadá era especificamente antiarte, algo mais toscas histórias em quadrinhos - até as retículas do processo de impressão
que tInha surgido em radical oposição a uma situação já existente. Portanto, era -o meticulosamente reproduzidas. Dine é mais conhecido por suas combinações
moldado por essa situação. O que os artistas pop fizeram - pelo menos em sua fase d objetos reais e superfícies livremente pintadas - uma máquina de cortar grama,
exploratória inicial - foi encontrar alguma coisa positiva nesses gestos de uma bacia, um chuveiro, contra um fundo de texturas pictóricas. Oldenburg é mais
oposição, alguma coisa a partir da qual fosse possível construir. A aparente um criador de objetos do que um pintor, e esses óbjetos sempre possuem algo de
leviandade da arte pop não nos deve levar a pensar que ela seja um produto da falta urpreendente, seja em seu tamanho, em seu material ou em sua textura. Oldenburg
de cultura e da indisciplina, nem o seu aparente desligamento, que seja descorn- ria hambúrgueres gigantes, por exemplo, em pano e gesso, e equipamentos de
prometida. Pelo contrário, a arte pop é, entre outras coisas, um movimento culto e banheiro em plástico recheado de estopa. Indiana e Rosenquist também são
altamente consciente. Jasia Reichardt, em seu relato de como a arte pop evoluiu em dif rentes. Indiana é um pintor de insígnias gigantescas e ameaçadoras, de ordens
Londres, em parte através de uma série de reuniões na I.C.A., descreve os qu nos intimam, como "EAT" ["Coma"] ou "Die" ["Morra"]. Rosenquist
acalorados debates que tiveram lugar, as pesquisas e análises profundas de velhos mprega imagens enormes, mas em fragmentos. As várias partes são reunidas de
modo a formar um padrão quase abstrato. Sob muitos aspectos, o que Rosenquist
Ii.vro~ de histórias em qua~~inhos, de ~esterns e de revistas baratas de ficção
111. nã está muito longe do que já era feito nos anos 20 pelo pioneiro do
clentlfica: Aqueles que frequentavam tais debates estavam séria, perfeita e legiti-
mamente mteressad.os no que podemos chamar a arqueologia dos mitos produzidos modernismo nos Estados Unidos, Stuart Davis. Davis, que foi principalmente
m massa e do d~slgn popular. As preocupações dos principais artistas pop que influenciado pelo cubismo sintético, é, de fato, um dos ancestrais diretos da arte
trabalham na Grâ-Bretanha têm ido freqüentemente muito além dos interesses IKIP americana. Algumas de suas melhores telas baseiam-se em desenhos de
correntes que Ih~s.são atribuídos: Richard Hamilton, já mencionado no começo mbnlagens banais, e o modo como ele trata esse material tem sido freqüentemente
orno um dos originadores do estilo, fez uma cuidadosa reconstrução do Grande -itndo por críticos americanos como uma espécie de legitimação post hoc para o
1111' os pintores pop tentam fazer .
Vidro para a retrospectiva da obra de Duchamp na Tate Gallery em 1966. Hamilton
. rec~>nhecido em toda a parte como um dos principais especialistas na história do Se bem que os principais artistas pop americanos sejam diferentes uns dos
movimento Dadá. R. B. Kitaj, pintor norte-americano residente na Grã-Bretanha IIlItlll.', cxi te contudo uma diferença definível entre eles e seus colegas britânicos
. famoso pela elaboração das notas do catálogo, e uma dessas notas remetem o ( mhora seja indubitavelmente verdadeiro que a arte pop britânica deve muito
spe~tador pa~a coisas como o Journal of the Warburg Institute, uma publicação li própri s Estados Unidos. Os primeiros trabalhos de pintores como Peter
rudita que nao pode ser, sob qualquer aspecto, equiparada a uma história em hlllip. • Derek Boshier eram desinibidos hinos românticos a uma civilização
111 lu rcul • meio imaginada, um paraísodepin-upse máquinas caça-níqueis. David
quadrinhos do Batman.
110 kncy também mitifica os Estados Unidos - fez uma prolongada visita a Los
De fato, quando se trata de descrever uma típica pintura pop, logo se desco-
11 lcs, enviando de volta relatos pictóricos atônitos e excitados das coisas que
br que tal coisa não existe. A idéia de "estilo" se dissolve - a arte pop não tem
I I. obriu, Em termos de estilo, entretanto, a arte pop britânica é ainda mais
tilo e é hostil a categorias. Permitam-me citar alguns exemplos para provar a mi-
11 /1'11de .lassificar do que a americana. Richard Hamilton, por exemplo, tem um
nh~ t~e. Nos Es~ado,s Unidos, por exemplo, no grupo dos principais artistas pop
tao incluídos naoso Johns e Rauschenberg (que se situam um pouco à parte e tal- I or, umu falta de efervescência e um humor sardônico que o colocam à parte dos
11 ( • SUIIS produções tendem a diferir radicalmente umas das outras, porque cada
v z fossem melhor classificados como precursores, em vez de participantes), mas
UIII dchu . a consubstanciação de uma idéia, e à própria idéia foi consentido que
I mbém Andy Warhol, Jim Dine, Robert Indiana, Roy Lichtenstein, Tom Wessel-
mann, Claes Oldenburg e James Rosenquist. Cada um deles difere de man ira I mil1ll. 11 forma material. Se colocarmos, digamos, Hugh Gaitskell como um

r z av lrnente considerável de lodos os outros. Warhol, por exemplo, gostaria de tmoso Monstro do Cinema, de Hamilton, ao lado de sua fotografia alterada de
Iiminar totalmente a idéia de obra de arte manual. Muito d us quadro li numa praia (qu parece a ampliação de um desenho de Henri Michaux),
iam- m imag ns fotográficas transferidas diretamente para a I Ia por m i I i I no tratam nto, na textura ou na estrutura que nos diga terem sido essas
t nc i , Harold Ros nberg fala d sd nhosam nt d "oluna d rótulo d Ibrll produzidas p Ia m esrna mão. É apenas a continuidade do processo
p mp 11 m narcótice r petição, om uma an d Ia m raç ont d tuul 'lu rv orno traço de união d todas elas. Eduardo Paolozzi,
I nl um d pion iro da arte pop hritâni a ( r entcm nl um olab r d r
v z ,"Um rill mai ptlv ,nopr f iop r I I d r t
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164 CoNCErt'OS DA ARlE MODERNA ÁRlE PoP 1&

conteúdo pop. R.B. Kitaj, a quem já mencionei antes, é, como Richard Hamilton, De fato, o contexto necessário para a criação de arte pop é o estilo de vida pop,
um artista deliberadamente "erudito". Ele, como Hamilton, é um trabalhador ou melhor, a arte pop é em si mesma um subproduto acidental desse estilo de vida,
penosamente lento. Os três artistas a quem acabei de mencionar parecem-me uma cristalização que ocorreu quase por acaso. Só nesse sentido e em nenhum outro
representar um aspecto hermético, quase rabínico, da arte pop, que está muito longe é que se pode usar a palavra "estilo" a respeito da arte pop. Em todos os demais
da imagem usual no espírito do público. aspectos, ela é, como já afirmei, carente de estilo. O que estou sugerindo é o
Um outro artista que diverge um tanto da imagem aceite é Allen Jones. Jones seguinte: que a principal atividade do artista pop, sua justificativa, consiste menos
é um eclético que tenta criar um meio-termo entre as imagens pop e a tradição em produzir obras de arte do que em encontrar um sentido, um nexo para o meio
principal da arte moderna. Em seus esquemas de cores e em seu tratamento da tinta, à sua volta, aceitar a lógica de tudo o que o cerca em tudo o que ele próprio fa~. A
por exemplo, Jones mostra que aprendeu a lição de Matisse. Está interessado na descoberta dessa lógica, sua forma e direção tornam-se a principal tarefa do artista.
metamorfose de imagens de um modo que nos lembra os mais acadêmicos Warhol, sob muitos aspectos o mais desconcertante e o mais enigmático de todos
surrealistas - uma Female e Medal resultará ser uma tela produzida na forma de os pintores pop, é um exemplo extremo. Disse Warhol certa vez: MArazão por que
uma medalha com sua competente fita, composta de pernas que emergem de estou pintando assim é porque quero ser uma máquina. Tudo o que faço, e faço
calcinhas de seda. Os resultados têm um fino charme que fez de Jones um dos mais como máquina, é porque é isso o que quero fazer. Penso que seria estupendo se todo
bem-sucedidos pintores pop britânicos, no que diz respeito ao acolhimento mundo fosse igual." O desprendimento frio tornou-se uma identificação que é
público. I ualmente fria. Os primeiros "filmes underground" de Warhol foram uma outra
Joe Tilson, Patrick Caulfield e Anthony Donaldson são outros artistas firmação dessas atitudes - um exame minucioso do banal leva finalmente a uma
pop que se distinguiram por seus estilos independentes, que os fazem esquivar- id ntificação com o que é mostrado. Entretanto, Warhol é, em muitos aspectos,
se a um rótulo geral. Tilson foi muito influenciado por Kitaj e Paolozzi. Suas uma espécie de moderno xamã. Uma lata de sopa Campbell aberta é assinada e
criações, sumamente originais, são os relevos em plástico moldado a vácuo. Nesses nverte-se num Warhol, numa obra de arte. Teve lugar uma polarização; o artista
relevos, as unidades eram criadas em série, mas o modo como eram depois I grou alinhar-se, com total precisão, às forças que governam o mundo em que ele
montadas podia variar - o resultado era um gênero de arte em que cada objeto v v . Ao tornar-se igual a todos, tornou-se único. E isso habilita-o (mais ou menos)
combinava as qualidades do "feito em série" e do "único" - qualidades essas que r nunciar inteiramente ao negócio da arte.
a arte pop, por sua própria natureza, está sempre tentando combinar. As im- Antes de se chegar a uma conclusão acerca da arte pop, é essencial tentar
passíveis naturezas-mortas e paisagens de Caulfield Possuem muito mais persona- xpl rar algumas das condições que lhe deram origem, e isso significa fazer
lidade do que a maioria das obras de Tilson, mas também muito menos variedade. I umas perguntas radicais. Por exemplo, o que é a "cultura pop", que se presume
Parecem ser um comentário sobre os modos vulgares de ver, em lugar dos modos r 1m rcer à arte pop sua matéria-prima? Como praticamente tudo o mais em nossa
vulgares de representar. Donaldson representa ainda uma outra tendência: o desejo i dade, a cultura "pop" é o produto da Revolução Industrial e da séri~ de
de cruzar arte pop e abstração pura. Os quadros de Donaldson usam, por exemplo, voluções tecnológicas que lhe sucederam. Juntem-se moda, democracia e
as silhuetas de dançarinas de striptease como unidades abstratas repetidas no de- quina, e a cultura "pop" é uma parte do resultado. Nos dias em que tudo era feito
senho. E as cores são as tonalidades anêmicas de plásticos baratos. Não obstante, m o, a moda servia a uma variedade de propósitos. Um deles, mais importante
o impacto global é o de uma pintura abstrata. qu atisfazer o desejo de novidade ou de incentivar a atração sexual, era o de
A única coisa que todos esses artistas possuem em comum não é certamente lu orno um demarcador social. A moda começou no topo de uma estrutura
uma linguagem estilística, plenamente desenvolvida e pronta para toda espécie I I ba tante rígida e filtrou-se gradualmente de cima para baixo, tornando-se
possível de comunicação - o gênero de linguagem estilística que os pintores do n laborada e menos elegante à medida que o fazia. Esmero e estilo eram, na
Alto Renascimento possuíam. Em vez disso, encontramos neles uma resposta d ,quase a mesma coisa, e muita gente não tinha tempo nem dinheiro para
quase exageradamente sensível à atmosfera predominante. O que os pintores que r m andar na moda. A máquina mudou isso. Acarretou mais dinheiro e mais
venho analisando refletem, o que eles compartilham, é a tônica e as imagens da , ,a mesmo tempo, impôs uma lógica própria. Se os homens queriam coisas
megalópole moderna, da "vida da maioria", de homens encurralados em cidades máquina, era economicamente essencial que elas fossem fabricadas em
e divorciados da natureza. qu ntidade. Descobriu-se que a moda fornecia um forte impulso sempre
Quando se fala sobre arte pop, portanto, não se está discutindo um movimento quina estava envolvida. As coisas saíam de moda muito mais rapidamente
artí tlco, no sentido em que o cubismo o foi, mas um acontecimento que se estende tavam pelo uso. A moda acelerou o processo de substituição e ajudou
para além dos limites convencionais de um ensaio desse gênero e que, a bem dizer, Indú Iria em atividade. Ao mesmo tempo, o processo de democratização
de um modo muito marginal se relaciona com a noção de "arte". Não foi por 1 v u o ntimento de que todo mundo tinha direito a estar na moda, se
cidente que floresceu principalmente na Inglaterra e nos Estados Unidos ,com ul
m i r d taque, em Nova York e Londres. B v rdad qu houv pintor pop m
t p í : Alain Jacquet na rança, AI rto Mor tti na Itália, hl tr m n
u I. M rv d r In I u m ri n, v r rt p ri d Ihur
rir n I 1 ulu, uni r m m m
I I 1 nl .
166 CONCEITOS DA AR"rn MODERNA

miolo de um discurso abstrato. As coisas - objetos reais ou imagens de estêncil


serem desejáveis na arte, queria que esta fosse transitória, popular, de baixo custo, _ que surgem na obra de Rauschenberg não são imagens que sejamos conv~dados
produzida em massa, jovem, espirituosa, sexy, esperta, glamourosa e big business a olhar diretamente, mas coisas sobre as quais os olhos resvalam, pontuaçoes. ~o
- todas as coisas que a moda popular já é. fluxo da tinta. Rauschenberg, por essa característica, antecipa o que a arte pop ma
A cultura "pop" envolve uma mudança nas atitudes para com o objeto. Os ainda fazer, sem estar completamente comprometido com o seu ethos.
objetos deixaram de ser únicos. Sabemos que a maioria das coisas que usamos são Por exemplo, uma das primeiras descobertas que fazemos, quando .o~rva-
feitas aos milhares idênticas, sendo impossível distinguir cada uma delas das mos cuidadosamente a pintura pop, é que muito po~co nela c~eg~ at~ nos em
restantes. Tendemos a valorizar as coisas não por si mesmas, mas em função dos primeira mão, como produto original da ob_serv~ção dlret~ do propno pintor. ~le
serviços que desempenham. Muitos objetos - uma máquina de escrever, um não recria a nas escolhe. Suas escolhas sao feitas entre Imagens que, por assim
telefone, um aspirador de pó, um aparelho de televisão - são coisas em que dizer, já tinham sido processadas - não uma moça viva, mas uma pin-up numa
pensamos de um modo quase inteiramente abstrato, em termos dos serviços que revista ilustrada não uma lata ou uma embalagem de verdade, mas uma lata ou
fornecem. As obras de arte estão sentindo também os efeitos dessa atitude: estão embalagem vista num anúncio colorido ou num cartaz. Aqueles obje~os que ve~os
se convertendo mais em funções do que em coisas. A arte pop compartilha dessa m primeira mão em quadros pop estão geralmente presentes ao VIVO: a bacla~ o
característica com outros estilos contemporâneos: a arte op e a arte cinética, por cortador de grama, os vários artigos de vestuário que vemos ?os quadr~ de Jim
exemplo. Uma obra pop é, com freqüência, um evento congelado: surge diante de Dine; os moldes em gesso de pessoas cercados por móveis reais nos a.mblentes do
nós instantaneamente e deixa sua marca de forma definitiva. Não precisamos mais artista norte-americano George Sega\. O que freqüentemente parece tnt~ressar a.o
olhar para ela; é descartável. pintor pop é o fato de que o objeto está despersonalizado, toma-se um tipo, m.als
Um exemplo surpreendente da tendência para a arte "descartável" é o do que um indivíduo - o artifício da imagem idêntica e monotonamente repetida
Happening. Um Happening é uma obra de arte que envolve a interação de pessoas om que nos deparamos tantas vezes na arte pop é uma pr~va diss~. Com ~ras
e coisas num dado ambiente ou situação. Ouvi certa vez Marshall McLuhan defini- xceções - como Peter Blakee Larry Rivers - a arte pop evita o.P~rtlcular. ~ ISSO
10 como "uma situação em que todos atuam simultaneamente sem o fio condutor , de fato, o que um pintor abstrato como Mondria? fez. ~e d~c~dlrmo~ aceitar o
de um enredo". Os pintores pop de Nova Y ork foram os originadores do Happening p radoxo de sua abstração, a arte pop fica muito mais fácil de interpretar
- Dine e Oldenburg foram especialmente atuantes neles. O objetivo era produzir lisfatoriamente. .
um contexto emocional, e quando a catarse terminava, a obra de arte também Há três artistas, em particular, que tendem a provar o meu ponto ~e vista.
terminava. Tinha cumprido seu propósito e desaparecido. Há uma característica oi são as exceções que acabei de mencionar - Peter Bla~e e ~rry ~Ivers. O
peculiar aos Happenings que tem sido pouco comentada: o fato de que, embora eles r iro é o pintor Richard Smith, nascido na Inglaterra, r:nasha muito resl.dente nos
nvolvam pessoas e objetos, são eventos essencialmente abstratos, tendo a mesma I I dos Unidos. Blake e Rivers parecem-me ser enfaticamente figurativos, mas
relação com aperformance num palco convencional que uma tela abstrata moderna I orvidos no contexto da arte pop. A qualidade que têm em comum, além dis:so,
com um Rubens ou um Teniers. Atrever-me-ia a dizer que a grande maioria das no talgia. Em Blake, a nostalgia é algo que tem sido geralmente r~~onhecl~o
pinturas pop também são essencialmente abstratas. di cutido. Fornece a base para a comparação que o meu colega, o cnt\c~ David
Mas voltando à própria arte pop - no começo da década de 60, muitas ylv ster, fez certa vez entre arte pop e os pré-rafaelitas. Quando ~Iake ptn~ ~m
pessoas receberam-na favoravelmente como a inversão de uma tendência, uma 1\11 dro de um lutador de luta livre e cerca a im~gem c~m ~ma ~oleçao de msigmas
vitória súbita e inesperada da figuração sobre a pintura abstrata. Talvez não o hj tos simbólicos, ele está prestando um tnbuto, nao a r~ahdade pres:ente, mas
tivessem feito, se essas pessoas lhe tivessem estudado as origens mais detalhada- I o no passado, talvez até a um eu passado. Uma fantasl~ que podena P~recer
mente e, em especial, seus primórdios nos Estados Unidos. Já mencionei a ivamente tosca e grosseira, situada no presente, é cUld~dosa"!~nte distan-
influência exercida por De Kooning, cuja arte é uma em que as imagens emergem d . Há ironia na acariciadora suavidade da tinta; essa suavidade e tnad~ua~
d um fluxo abstrato de tinta; e essas imagens, sobretudo a famosa série d tema, mas não para o estado de espírito do pintor. O americano ~rry Rivers e
Mulheres, têm com freqüência um sabor "pop", As pinturas de Johns e Rausch- U nt mente deixado de fora nas análises da arte pop. E considerado uma
nberg também são significativas neste ponto. As mais conhecidas telas de Johr i d figura errante no cenário artístico, um pint.or b~lhanter:nente do~do,
- o os" Alvos" e "Bandeiras". Em cada caso, apresenta-se-nos algo que é ao mesm b icamente um tanto frívolo. De seus dotes mnguem duvida - Rivers
t mpo abstrato e reconhecível. Como disse Mario Amaya, "o espectador defronta ul a tinta com maior beleza do que qualquer outro pintor desde Manet. E é
c m um problema que consiste em ver algo exatamente como é na realidad , nt ,creio eu, que entra a nostalgia. Rivers não se volta para objetos que
om nt m t rmos de pinceladas trabalhadas de maneira sensitiva". Na abril d m pa do, mas para todo um modo de ver do passado. Ele tenta apreender
John ,tal como na de D Kooning, consente-se que a tinta se converta m RIo, d um Manet e transportá-Ia inteira para o século XX. Interpreta cornple-
v zd r f rçada a r pr s ntar algo; a imag m, por a im diz r, é in rente tin , t ~ t "contemporâneos", como um maço de cigarros Camel, com o
m n tlnt qu cone ntr m principalm nt a n ai nção - olham p t qu M net rvou para pintar retratos de meninas. Quando se fala
um t I d J h d um m mult m Ih nt qu I m Ih m p r u I v. ump I mbrar qu para um pintor nort -am ric no um
11 k, nd n iI lut m nl n nhu 1m al'llndo, Im'DrellIl<lml n t d : I t I hlalOlna CIO
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168 CONCEITOS DA ARTE MODERNA ARTE POP 169

Rivers esteja sempre questionando seu próprio virtuosismo técnico. Ele pintou sexy, glamourosa e por aí adiante. Ostenta as marcas de uma sensibilidade
uma série de quadros a que deu o título de "Partes do Corpo". Num deles, que especificamente urbana, quase em guerra com a natureza.
mostra um esplêndido nu, todos os aspectos anatõmicos estão cuidadosamente A arte pop não era a única influência a ser vista em ação na nova escultura
rotulados, em francês e em grandes letras de imprensa. As palavras e as linhas britãnica. De igual importância era uma corrente que proveio dos Estados Unidos,
pretas que conduzem até elas parecem uma tentativa de prender algo diaboli- a influência de David Smith. Foi a forte personalidade de Smith como escultor, ao
camente esquivo, algo que, a qualquer momento, se desvaneceria como um impor-se de modo tão mais acessível, o que parece ter freado o desenvolvimento
fantasma. O corajoso ato de recriação exigido pela pintura verdadeiramente em direção a qualquer escola autêntica de escultura pop nos Estados Unidos, e
figurativa parece não interessar a qualquer dos pintores pop, exceto a esses dois, ainda ter orientado os escultores para ideais mais austeros. O resultado é que, ativos
e não é por coincidência que eles pareçam ser também os dois únicos membros da como estão hoje os americanos no campo da escultura, é difícil encontrar qualquer
escola dotados de uma imaginação especificamente histórica (Kitaj usa aconteci- equivalente preciso dos artistas britânicos a quem mencionei há instantes. Nos
mentos históricos, mas de um modo estritamente contemporâneo). Estados Unidos existe, por um lado, o que poderemos chamar o "objeto pop" -
A obra de Richard Smith vai para o extremo oposto. Eis algo que é freqüentemente feito por um homem que é primordialmente um pintor, como Roy
reconhecivelmente pop e que, no entanto, é quase inteiramente abstrato. A Lichtenstein. Por outro lado, há a obra austera, deliberadamente inabordável, de
retrospectiva de Smith na Whitechapel Gallery, em 1966, ilustrou seu desen- escultores como Don Judd e Robert Morris, realizadores do que foi agora rotulado
volvimento até esse ponto. Em suas primeiras obras, telas de 1960 a 1962, Smith amo "Estruturas Primárias". Eles parecem refletir uma recusa puritana em montar
era um pintor abstrato que encontrou sua inspiração em embalagens modernas. no carrossel da cultura "pop". Na verdade, eles equivalem a uma censura contra
Tomou as formas e as cores (os vermelhos claros e os verdes sintéticos) e fez com aqueles artistas seduzidos pelas tri via Iidades da pop. Apesar de tudo isso, existe um
Ias uma tela onde a referência figurativa específica quase desaparece. Depois p rentesco entre os novos puritanos americanos e a obra dos seus contemporâneos
disso, veio a fase em que ele usava a tela sobre um chassi adaptado de modo a fazer britânicos muito mais exuberantes. A aceitação e a rejeição da Arte Pop parecem
a pintura se projetar da parede. As referências à embalagem ainda persistiam mas produzir mais ou menos o mesmo resultado - um gênero de escultura que evita
a pintura, por assim dizer, tornou-se a embalagem. Finalmente, essas telas r ferências à natureza.
moldadas tornaram-se inteiramente abstratas - as áreas de cor ficaram mais A reação contra a arte pop iniciou-se há muito tempo, mas está tendo lugar
definidas, menos trabalhadas, e o elemento pop parecia desaparecer. A obra de no ontextoque a própria pop forneceu ou, melhor dizendo, que foi a primeira a
Smith está hoje quase identificada à do grupo de "Estruturas Primárias" [minima- piorar. Pois um dos pontos estabelecidos pela arte pop é que não inventamos
lismo] nos Estados Unidos. Entretanto, essas obras mais recentes, tão agradáveis novos conjuntos de condições, meramente os reconhecemos. Se a arte pop foi (e
para os puristas, teriam sido impossíveis, penso eu, sem a experiência inicial da arte I r ter sido) a primeira a ser propositadamente feita para não durar, a implicação
pop e, por trás dela, a cultura "pop", I ra. A paixão pela obsolescência não era uma excentricidade - equivalia a uma
Smith nega que sua obra recente seja escultura, mas uma boa parte dela está laraçâo de que daí em diante nenhuma arte seria durável. Tudo na arte pop era
ta perto de ser tridimensional que fornece uma ponte conveniente para um outro transitório e provisório. Ao adotarem essas qualidades, os artistas pop
I pico: a questão da influência da arte pop sobre a escultura.'pe um modo bastante u ram um espelho onde a própria sociedade se vê refletida.
int ressante, coisas diferentes parece terem acontecido na Inglaterra e nos Estados
Unidos. Um certo número de esculturas foi assimilado, nos Estados Unidos, ao
movim nto da arte pop. Era um ponto discutível se os objetos de Oldenburg seriam
ou não esculturas, e a mesma pergunta poderia ser feita sobre os ambientes d
gal, ou os tableaux mais violentos e menos literários construidos por Kienholz.
Marisol, um talentoso e espirituoso escultor em madeira, fez uma série de auto-
tratos que recuaram, por um lado, ao índio de tabacaria no velho Oeste e, por
utr , à obra do falecido Elie Nadelman. Como tradição, a obra de Nadelman
r pr nta o extremo oposto à obra de Henry Moore, por exemplo. Leve, graciosa
lética, ela forneceu algo sobre o que construir, mas não muito contra o qu
glr.
Na Grã-Bretanha, a arte pop parece ter fornecido uma espécie de saída pa
t uma nova geração de escultores. Esses artistas - Philip King, Willian Tuck r
Tlm cott, por exemplo - não são escultores pop em nenhum sentido real d
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