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Saskia Sassen
SASSEN, Saskia. A Cidade Global. In: LAVINAS, L.; CARLETAL, L.; NABUCO, M.R. Reestruturação
do espaço urbano e regional no Brasil. São Paulo: ANPUR/Hucitec, 1993. p.187-202
Uma tese central que orienta minha apresentação é a de que a combinação de dispersão
espacial e da integração mundial – sob a condição de continuidade da concentração do
domínio e do controle econômicos – tem contribuído no desempenho de um papel estratégico
das maiores cidades na atual fase da economia mundial. Muitas vezes devido a suas longas
historias como centros mundiais de negócios e transações bancárias, estas cidades funcionam
hoje como postos de comando na organização da economia mundial; como lugares-chaves e
praças de mercado fundamentais para as industrias que lideram neste período, financeiras e
de serviços especializados para empresas; e como campos para a produção de inovações nas
indústrias. Estas cidades vieram a concentrar tão vastos recursos e as indústrias de liderança
exerceram tão pesada influência na ordem econômica e social destas cidades, que acabaram
por criar a possibilidade de um novo tipo de urbanização, e de uma nova cidade. Eu a chamo
de cidade global. Os maiores exemplos na década de 80 são Nova York, Londres e Tóquio. Um
número limitado de cidades emerge como pontos internacionais para investimentos, para
escritórios, para a prestação de serviços e de consultoria financeira a vários mercados do
mundo todo. (SASSEN, 1993, p. 188)
A nitidez das densidades demográficas extremamente altas nos centros expandidos destas
cidades é a expressão espacial desta lógica. A noção amplamente aceita de que a aglomeração
torna-se obsoleta, enquanto os avanços da telecomunicação mundial podem levar à máxima
dispersão, é apenas parcialmente correta. Eu digo que é exatamente porque a dispersão
espacial foi facilitada pelos avanços da telecomunicação que a concentração de atividades
centralizadoras se expandiu imensamente. Não se trata de mera continuidade de velhos
padrões de aglomeração mas, poder-se-ia dizer de uma nova lógica para a aglomeração. Uma
questão-chave se apresenta em relação a quando os avanços da telecomunicação serão
aplicados para esta funções centralizadoras. (SASSEN, 1993, p. 190-191)
A dinâmica-chave que atravessa estas várias atividades e que organiza a análise da posição da
cidades na economia mundial é a capacidade de controle global. Este último torna-se essencial
se a dispersão geográfica da atividade econômica – seja de fábricas, de escritórios ou de
mercados financeiros – estiver sob concentração contínua de domínio e de apropriação de
lucro. Esta capacidade para o controle global não pode simplesmente estar subsumida aos
aspectos estruturais da globalização da atividade econômica. É preciso ser produzida. É
insuficiente pressupor, ou tomar como certo, o poder assustador das grandes corporações.
(SASSEN, 1993, p. 193)
II – Impactos
1. A interdependência de cidades
Uma questão que se apresenta diz respeito ao impacto da globalização das maiores indústrias,
das automotoras às das finanças, nos sistemas urbanos nacionais. Cidades como Detroit,
Liverpool e, agora cada vez mais, Nagóia e Osaca, têm sido afetadas pela descentralização de
suas indústrias-chaves no nível nacional e internacional. Conforme a hipótese levantada antes,
este mesmo processo contribuiu para o crescimento da indústria de serviços que produz
insumo especializados para concorrer no processo de produção global e mercados globais de
insumos e produtos finais. Estas indústrias (assessoria jurídica e serviços de contabilidade,
consultorias de gerenciamento, serviços financeiros) estão maciçamente concentradas em
cidades tais como Nova York, Londres Tóquio. (SASSEN, 1993, p. 196-197)
Estas cidades constituem antes um sistema do que simplesmente competição de uma contra
outra. O que contribui para o crescimento na rede das cidades globais não contribui
necessariamente para o crescimento das nações. Por exemplo, o crescimento nas cidades
globais tem sido alimentado pelos déficits do governo no nível nacional e pelo declínio dos
maiores centros industriais nos Estados Unidos, no Reino Unido e no Japão. (SASSEN, 1993, p.
198)