Primeira Igreja Batista do Rio de Janeiro
Estudo 2 – A carta aos Gálatas (I) – Uma apologia paulina
Gálatas 1.1-9
1. Introdução
Alguma coisa havia de muito errado com
as igrejas da Galácia. O evangelho que
Paulo havia pregado pouco tempo antes
estava sendo colocado de lado. Até
mesmo a sua autoridade como apóstolo do
Senhor Jesus estava sendo questionada
por aqueles irmãos. Em sua carta aos
Gálatas, logo após sua saudação inicial,
Paulo manifesta sua admiração com a
rapidez com que os gálatas estavam
abandonando o evangelho que haviam
recebido, trocando-o por outro. Ele fala não
apenas dos que tomaram para si tais
mudanças mas também daqueles que as
ensinavam perturbando e pervertendo o
evangelho de Cristo.
O estudo dessa epístola se torna mais
importante não só no seu tempo mas na
atualidade à medida que mecanismos
semelhantes ocorridos com as igrejas da
Galácia também tem acontecido nos dias
de hoje. Quais foram exatamente essas
mudanças? O que seria esse “novo”
evangelho que estava surgindo? Que
implicações isso teria para aqueles crentes
do primeiro século e para nós hoje? Essas
são algumas das perguntas que
tentaremos responder no presente estudo.
2. O evangelho se espalha
As perseguições aos crentes em
Jerusalém, ocorridas cerca de quatorze
anos antes, fizeram com que muitos
saíssem da cidade. Antioquia da Síria, 800
mil habitantes, foi uma das localidades que
serviram de abrigo para vários deles.
Possivelmente lá fundaram uma igreja
local que veio ter grande influência na vida
da cidade e do mundo conhecido. Na
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Elaborado por Lincoln A. A. Oliveira
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cidade, essa influência foi tal que cerca de
25% da população se tornou cristã. No
auge de seu crescimento como igreja, o
Espírito Santo orienta os crentes de
Antioquia para separarem Paulo e Barnabé
para o que foi chamada a primeira viagem
missionária. Eles eram homens de Deus,
cheios do Espírito Santo, experimentados e
competentes. Vale notar que até então,
havia evangelismo mas não havia missões.
Os crentes que saíram de Jerusalém
evangelizaram como conseqüência de seu
espalhamento e não como objetivo
primário. Agora, havia um objetivo: os
missionários deveriam evangelizar e fundar
igrejas locais. Começaram pela ilha de
Chipre e seguiram para o continente,
passando por Perge, Antioquia da Pisídia,
Derbe, Listra e Icônio essas quatro últimas
localizadas na Galácia. A viagem deve ter
durado dois anos, entre 48 e 50 d.C.
Durante esses quatorze ou mais anos,
desde o apedrejamento de Estevão em
Jerusalém, o cristianismo se espalhara pelo
mundo gentio, agora, de forma mais
acelerada ainda, como fruto dessa primeira
iniciativa missionária da igreja de Antioquia.
Um ponto crítico a ser considerado, é que
começa a surgir um “outro evangelho”
paralelo, ou seja, falsas doutrinas,
especialmente aquelas propostas pelos
chamados judaizantes, gentios cristãos que
achavam que os crentes deveriam também
seguir os ritos do judaísmo para se
tornarem merecedores da salvação.
Após o retorno dessa primeira viagem de
Paulo e Barnabé, a igreja de Antioquia
recebe a visita de Pedro que foi até lá para
aferir o crescimento da igreja. Gálatas 2.11-
Pg. 1
21 relata que Pedro havia assumido um
comportamento estranho e repreensível no
que diz respeito a algumas práticas
defendidas pelos judaizantes. Paulo
percebe então quão crítico o assunto
estava se tornando o que o motiva a
repreender publicamente a Pedro, a
escrever a carta aos Gálatas e a participar
do chamado Concílio de Jerusalém, onde o
assunto seria debatido e esclarecido um
pouco tempo mais tarde.
3. Um outro evangelho
Conforme mencionado, os judaizantes
defendiam que o cristianismo era um tipo
de judaísmo e que para se obter a
salvação, era necessário o novo crente se
submeter aos ritos daquela religião. Esse
ponto era de extrema gravidade, pois
significava dizer que o sacrifício de Jesus
na cruz do Calvário não havia sido
suficiente para salvar as pessoas mas que
era necessário acrescentar algo mais.
Paulo argumenta em Gálatas 2.21 que se
a justiça vem mediante a lei (obras, ritos
etc), logo Cristo teria morrido em vão. É
importante observar que até os dias de
hoje encontramos resquícios dessa
doutrina não só fora do cristianismo mas
dentro dele também. Uma forma ampla de
se classificar as religiões é procurar
diferenciá-las quanto à questão da
salvação: há aquelas que acham que a
salvação se dá pelo mérito das pessoas e
aquelas que entendem que a salvação se
dá pelo mérito da divindade. Os
Evangelhos ensinam que Jesus morreu na
cruz para salvar a todo aquele que Nele
crê e que essa salvação é de graça,
bastando para isso que a pessoa
reconheça seus pecados e aceite esse
sacrifício de Jesus feito em seu lugar.
Nada mais é necessário para a salvação
em si pois ela nos é dada gratuitamente
pela misericórdia e pela graça de Deus. Ou
seja, os Evangelhos ensinam que a
salvação se dá pelos méritos de Deus.
Estabelecer mais condições além de crer
em Jesus, é escolher outro caminho ou
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outro Evangelho que não aquele que Deus
estabeleceu em Sua Palavra.
4. A defesa de Paulo
O problema de Paulo com os judaizantes
não era apenas a questão doutrinária, mas
também que eles contestavam sua
autoridade como apóstolo. Isso também era
grave uma vez que se os ensinos de Paulo
não eram autenticados, abria espaço para
que falsos mestres estabelecessem outras
doutrinas. Paulo reage a essa questão já
na primeira frase de sua carta quando se
apresenta como “Paulo, apóstolo (não da
parte dos homens, nem por intermédio
de homem algum, mas sim por Jesus
Cristo, e por Deus Pai, que o ressuscitou
dentre os mortos)”. Essa identificação era
necessária uma vez que naquela época,
havia diferentes tipos de apóstolos, pois a
palavra grega original significa “alguém que
é enviado”. Nesse sentido, os judaizantes
se diziam “apóstolos” da igreja em
Jerusalém, assim como Paulo e Barnabé
eram “apóstolos” da igreja em Antioquia.
Daí a necessidade de Paulo especificar de
que apostolado ele estava se referindo. E
nesse caso, ele se apresenta com toda a
autoridade como apóstolo do Senhor
Jesus, não enviado por homens mas pelo
próprio Senhor.
A estrutura da epístola aos Gálatas é um
desdobramento da defesa que Paulo faz no
primeiro verso da carta. Nos dois primeiros
capítulos, Paulo defende seu apostolado,
fato negado pelos judaizantes e agora,
questionado por alguns dos crentes da
Galácia. Nos capítulos 3 e 4, Paulo reitera
a mensagem do Evangelho. Os capítulos 5
e 6 mostram aspectos práticos da graça de
Deus que capacita os crentes a viverem em
um mundo corrompido.
É o que veremos nos próximos estudos.
Bibliografia:
• “Galatians: The Gospel of God’s Grace”, de Robert L.
Deffinbaugh, Th.M. Biblical Studies Press
• The New Interpreter’s Dictionary of the Bible. Abindgon
Press, Vol 3, 2008. Verbete: “Judaizers”
Pg. 2