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Bacia de Jequitinhonha

Hamilton Duncan Rangel1, José Luiz Flores de Oliveira2, José Maurício Caixeta2

Palavras-chave: Bacia de Jequitinhonha l Estratigrafia l carta estratigráfica


Keywords: Jequitinhonha Basin l Stratigraphy l stratigraphic chart

introdução parte emersa da bacia perfaz 5.535 km2 , cerca de


20% da área total da bacia.
Trinta e um poços exploratórios foram per-
A Bacia de Jequitinhonha situa-se na costa sul furados na bacia, todos localizados em terra ou na
do Estado da Bahia, entre os paralelos 14 o 37’ Sul e área proximal, portanto, o conhecimento geológico
16 o 24’ Sul, na costa leste do Brasil. Ela possui uma da bacia em sua porção média e distal baseia-se em
área de 25.685 km2 até a cota batimétrica de 3.500 m dados sísmicos.
(Caixeta et al. 2006). Seu limite norte com a Bacia Inicialmente, levantamentos sísmicos foram
de Almada ocorre no Alto de Olivença (Santos et al. efetuados por dezessete equipes sísmicas 2D em
1994) e o limite sul com o Alto de Royal Charlote. A diferentes áreas da bacia. Posteriormente, foi ad-

1
E&P Exploração/Gestão de Projetos Exploratórios/NNE – e-mail: hdrangel@petrobras.com.br
2
E&P Exploração/Interpretação e Avaliação das Bacias da Costa Leste/Interpretação

B. Geoci. Petrobras, Rio de Janeiro, v. 15, n. 2, p. 475-483, maio/nov. 2007 | 475


quirido um levantamento 2D SPEC em toda a bacia (coquinas e folhehos), englobadas na parte infe-
com o objetivo de eqüalizar os parâmetros sísmicos rior do Grupo Nativo.
de aquisição e processamento, permitindo uma Como a Formação Cricaré não foi atingida pe-
melhor caracterização na continuidade dos eventos los poços perfurados na bacia, sua presença é inter-
geológicos. Mais recentemente, dois levantamen- pretada pelas fácies sísmicas típicas para essa unida-
tos sísmicos 3D foram adquiridos (um no bloco BM-J-1, de atravessada por poços nas bacias do Espírito San-
área rasa) e outro no BM-J-3 e 4 (porção média e to (Vieira et al. 1994) e de Campos (Rangel et al.
profunda). Portanto, o conhecimento de grande 1994). A presença da Formação Cricaré também
parte da bacia se baseia nas informações obtidas pode ser indicada pela presença de fósseis retraba-
em linhas sísmicas 2D e 3D adquiridas na parte lhados de idade Jiquiá, encontrados dentro de sedi-
média e distal, pois o poço mais distal foi perfurado mentos siliciclásticos de idade Alagoas em poços
em lâmina d’água de 880 metros. O imageamento perfurados na parte emersa da bacia.
sísmico propiciado principalmente pelo levantamento Pelos dados geológicos podemos inferir
sísmico 3D no BM-J-3 e 4 permitiu descortinar a que a extensão areal original da Formação Cri-
individualização das unidades estratigráficas da caré era muito mais ampla, inclusive na parte
bacia, assim como sua arquitetura deposicional e terrestre da bacia, sendo exumada em sua por-
posterior movimentação causada principalmente ção proximal durante o Alagoas, encontrando-
pela movimentação de sal. se presente em grábens e semi-grábens nas por-
ções média e distal da bacia (conforme eviden-
ciado pelas seções sísmicas).

embasamento
O embasamento da Bacia de Jequitinho- Superseqüência Pós-Rifte
nha é constituído predominantemente por rochas
do Proterozóico Superior, constituídas por meta-
carbonatos, metapelitos, metarenitos com baixo
Seqüência K40
grau de metamorfismo pertencentes ao Grupo
Rio Pardo e foi amostrado por vários poços no Outra característica singular na bacia ocor-
Alto de Olivença. reu durante o Aptiano médio e superior (equivalen-
te ao andar local Alagoas médio e superior), pois a
seção do Andar Alagoas, muito espessa na parte
terrestre, parece acunhar-se na porção média da
bacia, conforme evidenciado pelas linhas sísmicas.
Superseqüência Rifte Os sedimentos atravessados pelos poços são consti-
tuídos por camadas espessas de arenitos e folhe-
lhos pertencentes à Formação Mariricu/Membro
Seqüência K30 Mucuri (parte superior do Grupo Nativo), com es-
pessura atravessada por poço de 2.380 metros, um
A Bacia de Jequitinhonha apresenta carac- dos maiores registros dessa unidade estratigráfica
terísticas estrutural-sedimentares que a diferen- ao longo das bacias marginais brasileiras.
cia das demais bacias da costa leste e sudeste O acunhamento do Membro Mucuri na parte
brasileira, inclusive na seção rifte: a seção dos média da bacia propicia a deposição dos evaporitos
andares Barremiano ao Aptiano inferior (andares (Membro Itaúnas) do Andar Alagoas (Seqüência
locais Aratu, Buracica e Jiquiá) ocorre provavel- K50) diretamente sobre coquinas e folhelhos (For-
mente na porção média e distal da bacia. Atra- mação Cricaré/Membro Sernambi) do andar Jiquiá
vés das linhas sísmicas pode-se prever a presen- (Seqüência K30). O topo dessa unidade é capeado
ça da Seqüência K30 (do Andar Aratu ao Andar por discordância, principalmente na parte média da
Jiquiá), constituída pela Formação Cricaré, Mem- bacia, diferentemente do que acontece em outras
bros Jaguaré (arenitos e folhelhos) e Sernambi bacias da margem leste e sudeste do Brasil, onde a

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seção clástica do Andar Alagoas se estende até a
região de águas profundas. Superseqüência Drifte
A seção do Andar Alagoas foi também
atravessada por vários poços no Alto de Olivença,
onde se apresenta constituída basicamente por
Seqüência K60
sedimentos pelíticos e carbonáticos com espes-
sura máxima de poucas dezenas de metros até O ambiente marinho franco se instalou a
atingir o Embasamento. partir do Eoalbiano com a deposição de arenitos
de leques deltaicos na borda da bacia que gradam
rapidamente a carbonatos de alta energia. Esses
Seqüência K50 sedimentos constituem a parte inferior do Grupo
Barra Nova, composta pelas formações São Mateus
Domos de sal proeminentes com direção su- (siliciclásticos grosseiros) e Regência (calcários de
deste-noroeste também se aproximam muito da bor- alta a baixa energia e níveis de folhelhos radioati-
da da bacia em sua porção norte, diferentemente vos). A sedimentação durante o Albiano foi muito
de outras bacias onde a progradação de sedimen- influenciada pela movimentação do sal da seqüên-
tos associada ao basculamento propiciou a migra- cia sotoposta, propiciando a formação de um grande
ção do sal para as partes mais distais dessas ba- e espesso alto estrutural com direção N-S na parte
cias. A Seqüência K50 é constituída por halitas e proximal da bacia, localizado a sudeste do Alto de
anidritas englobadas na Formação Mariricu/Mem- Olivença e da Fossa de Jequitinhonha. Esse grande
bro Itaúnas, sendo amostrada por vários poços, in- alto foi parcialmente perfurado por poços explora-
clusive na porção emersa da bacia. A precipitação tórios, constituído basicamente por calcilutito, cal-
dos evaporitos aconteceu num tempo geológico de carenitos e arenitos do Albiano Inferior e Superior.
menos de dois milhões de anos.
Estima-se uma espessura de cerca de 2.000 m da
Os evaporitos (basicamente as halitas) fo-
seção albiana nesse alto estrutural. A leste desse
ram intensamente deformados logo após o início
grande alto do Albiano, o estilo estrutural é carac-
de sua deposição, e essa deformação continuou
terizado por blocos de carbonatos escorregados,
de forma intensa até os dias atuais, moldando a
criando calhas receptoras de sedimentos carboná-
arquitetura da bacia e controlando intensamente
ticos de baixa energia, margas e folhelhos de se-
a deposição das seqüências superiores. A intensa
qüências sobrepostas, pertencentes às partes mé-
movimentação de sal propiciou também o escor-
regamento de grandes blocos sobrejacentes de dia e superior do Grupo Barra Nova (Albiano Supe-
arenitos e calcários do Albiano, criando grandes rior a Cenomaniano).
baixos estruturais, inclusive a Fossa de Jequitinho- De maneira geral ocorre um afogamento
nha (Garcia, 1999). gradacional da base para o topo do Grupo Barra
Na parte média e distal da bacia ocorreu a Nova, os sedimentos passam de alta energia na base
formação de bacias interdômicas controladas por para baixa energia no topo e o mesmo acontece
domos proeminentes de sal. Em porções mais em direção à parte distal da bacia. Dentro da Se-
distais da bacia ocorrem feições compressivas cau- qüência K60 do Andar Albiano Inferior, níveis de
sadas pela movimentação do sal, propiciando lo- afogamento são marcados pela presença de cama-
calmente os afloramentos de rochas sedimentares das de folhelho. O topo dessa seqüência é capeado
Paleógeno, Neógeno e do Cretáceo Superior no por discordância regional, que se torna concordan-
fundo do mar. te na parte distal da bacia.
No extremo norte da Bacia de Jequitinho-
nha, divisa com a Bacia de Almada, localmente
ocorrem níveis de halita mais antigos do que os
Seqüência K70
depositados regionalmente não só nessa bacia
como em outras bacias do leste e sudeste da Corresponde a arenitos da Formação São
margem brasileira. Durante a deposição da Se- Mateus na borda da bacia, que gradam a calci-
qüência K50 ocorreu a ruptura da crosta conti- lutitos pertencentes à Formação Regência. Em
nental e a implantação da crosta oceânica na baixos estruturais e na porção distal da bacia
Bacia de Jequitinhonha. ocorre a presença de margas também da For-

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mação Regência. De maneira geral essa seqüência Meso-Campaniano, constituído por folhelhos e
registra um maior afogamento do mar em relação à camadas de turbiditos arenosos na parte média e
seqüência sotoposta. Essas duas formações estão distal da bacia, depositados em água profunda;
englobadas na parte média do Grupo Barra Nova. enquanto que na parte proximal ocorrem folhe-
Seu topo é marcado por discordância regional. lhos, margas e arenitos. A presença de muitos
O conteúdo plantônico das rochas carbonáti- domos e almofadas de sal, desde a área proximal,
cas (mudstones e wackestones) apresenta conteúdo condicionou a distribuição de areias turbidíticas
fossilífero dominado por elementos caracteristicamen- na seção pós-sal, provavelmente provenientes do
te tetianos, encontrados em sucessões carbonáticas noroeste devido aos alinhamentos de sal, forman-
coevas do México, Golfo do México e Cárpatos oci- do calhas condutoras de sedimentos nessa dire-
dentais (Carvalho et al. 1999). ção e desempenhando um importante papel na
distribuição de areias turbidíticas pós-sal, princi-
Seqüência K82-K84 palmente nas Seqüências K88-K90, K100-K110 e
K120-K130 e no Paleógeno. Os sedimentos da Se-
qüência K88-K90 são englobados na Formação
Corresponde a arenitos proximais da Forma-
Urucutuca. Com a subsidência e o basculamento
ção São Mateus e a calcitutitos e margas da For-
da bacia ocorre uma espessa seção retrogradacio-
mação Regência, pertencentes à parte superior do
nal sobre uma superfície discordante em direção
Grupo Barra Nova. Na região proximal da bacia,
sua espessura é bem menor do que as das seqüên- à parte proximal da bacia. É registrado no topo
cias do Albiano Inferior e Superior, devido à pre- dessa seqüência uma discordância que a separa
sença de altos estruturais proeminentes no Albiano. da seqüência sobreposta.
Pelas linhas sísmicas, a Seqüência K82-K84 se es-
pessa localmente em baixos estruturais. Seqüência K100-K110
Seqüência K86 Corresponde aos sedimentos de idade Meso-
Campaniana. Seu limite inferior é constituído pela
Compreende a porção basal do Grupo Espí- base da seção retrogradante da Seqüência K88-
rito Santo, referente ao andar Turoniano, caracte- K90, que repousa sobre discordâncias de diferen-
rizado por folhelhos da Formação Urucutuca. Du- tes idades ao longo do mergulho da Bacia de Je-
rante o Turoniano, a bacia registra um grande afo- quitinhonha e seu topo é limitado pela Discordância
gamento do mar na Bacia de Jequitinhonha, ca- Intra-Campaniana. Ela é constituída por folhelhos
racterizado por folhelho radioativo e velocidade bacinais e arenitos turbidíticos e por seção de fo-
sônica baixa. Nas seções sísmicas esse folhelho está lhelhos, margas e arenitos na parte proximal da
associado à reflexão sísmica de baixa velocidade. bacia pertencentes à Formação Urucutuca, parte
Os sedimentos do Andar Turoniano acompanham inferior do Grupo Espírito Santo.
o estilo estrutural da seção sotoposta do Albo-ce-
nomaniano. O padrão de subsidência termal e o
conseqüente basculamento, associado a soergui-
Seqüência K120-K130
mentos causados pela movimentação do sal do
Andar Alagoas, propiciou a erosão intensa da Se- Engloba os sedimentos dos andares Neocam-
qüência K86 em grande parte da bacia. A presen- paniano a Maastrichtiano, constituído por folhelhos
ça de arenitos turbidíticos na Seqüência K86 é e margas e arenitos turbidíticos pertencentes à For-
sugerida pelas fácies sísmicas, mas carece de com- mação Urucutuca, parte inferior do Grupo Espírito
provação por poços. Santo. Seu limite superior é a discordância no topo
do Maastrichtiano, que marca a passagem do Cre-
táceo para o Paleógeno.
Seqüência K88-K90 A presença de arenitos turbidíticos imersos
na seção pelítica do Turoniano ao Maastrichtiano foi
Engloba a parte inferior do Grupo Espírito evidenciada com base em sismofácies detectadas nas
Santo, referente aos andares Eo-Coniaciano ao linhas sísmicas.

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As seqüências entre os andares Eo-Coniacia- sedimentar da Bacia de Jequitinhonha. As fácies
no a Maastrichtiano geralmente preenchem a par- proximais de plataforma rasa (calcarenitos e are-
te basal das mini-bacias formadas pelos domos de nitos) passam a ser preservadas de erosão e es-
sal, mas a presença de sismofácies associadas a tão presentes nas áreas proximais da bacia. Es-
arenitos não parece acontecer na maior parte des- ses sedimentos pertencem à parte média do Gru-
sas mini-bacias. po Espírito Santo, sendo os arenitos proximais
denominados Formação Rio Doce; os carbonatos
proximais de plataforma denominados Formação
Seqüência E10-E30 Caravelas; e os folhelhos distais com intercala-
ções de arenitos turbidíticos denominados For-
Compreende os sedimentos depositados entre mação Urucutuca. Vulcânicas extrusivas e
o Paleoceno e o Eoceno Inferior, constituído basica- intrusivas (Formação Abrolhos) se espraiaram para
mente por folhelhos com intercalações de arenitos a parte distal da bacia em direção a norte a par-
turbidíticos na parte distal e níveis de margas e calca- tir do Alto Vulcânico de Royal Charlote (Rangel,
renitos na parte proximal da bacia, englobados na 2006), que separa a Bacia de Jequitinhonha da
Formação Urucutuca, parte média do Grupo Espírito Bacia de Cumuruxatiba.
Santo. Rochas vulcânicas (Formação Abrolhos) intru- Ocorre também uma mudança no padrão
sivas de idade eocênica ocorrem na parte distal da deposicional, passando de uma deposição retro-
bacia. A Seqüência E10-E30 tem sua base e seu topo gradacional (até o Paleoceno), para prograda-
marcado por discordâncias. Alguns eventos geológi- cional (a partir do Eoceno Inferior). Na região
cos foram importantes durante o Paleoceno. onde os domos de sal são mais proeminentes é
Adjacente ao Alto de Olivença ocorreu o es- comum o soerguimento da seção do Eoceno que
corregamento (propiciado pela movimentação de aflora localmente no fundo do mar. Toda a se-
sal) de toda a seção pré-paleocênica, resultando ção do Eoceno Inferior e Médio, assim como ocor-
em situações estratigráficas onde o Paleoceno jaz re com as seqüências do Paleoceno-Eoceno Infe-
diretamente sobre evaporitos Alagoas. Esse escor- rior (E10-E30), do Maastrichtiano/Neocampania-
regamento propiciou a formação de uma calha no (K120-K130), do Mesocampaniano (K100-
receptora de sedimentos paleógenos e neógenos K110), do Mesocampaniano ao Eoconiaciano
muito espessos (Fossa de Jequitinhonha), do Paleo- (K88-K90) se espessam na parte média e distal
ceno, Eoceno, Oligoceno e, principalmente, do da bacia.
Mioceno, Plioceno e Holoceno.
Ocorreu a formação de canyons submarinos
e a deposição de turbiditos arenosos nesses canyons, Seqüência E60
observados nas seções sísmicas. Isso ocorre ime-
diatamente sobrejacente ao topo do Maastrichtia- Engloba os sedimentos do Eoceno Médio
no. Esses canyons são mais freqüentes na parte (parte média) e do Eoceno Superior. Tem como li-
média da Bacia de Jequitinhonha. mite inferior a Discordância do Eoceno Médio (43
Também no Paleoceno provavelmente come- Ma) e como limite superior a Discordância do Eo-
çou a deposição de rochas vulcânicas que ocorrem, ceno Superior (34,4 Ma).
principalmente, no Alto de Royal Charlote; porém, A porção proximal é constituída por sedimen-
vulcânicas intrusivas são evidenciadas pelas seções tos de arenitos de plataforma (Formação Rio Doce)
sísmicas na parte mais distal da bacia. e carbonatos de plataforma (Formação Caravelas)
que gradam para folhelhos de talude e da bacia
da Formação Urucutuca da parte média do Grupo
Seqüência E40-E50 Espírito Santo.
A partir do Mesoeoceno, pouco sedimen-
Compreende os sedimentos depositados to foi disponibilizado para a bacia. O pouco se-
durante a parte média do Eoceno Inferior e a dimento disponível que chegou na bacia ficou
parte média do Eoceno Médio, capeados por trapeado na Fossa de Jequitinhonha e a sedi-
uma discordância (Discordância do Eoceno Mé- mentação na parte média e distal da bacia foi
dio). No Eoceno ocorre uma mudança no padrão muito reduzida.

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Seqüência E70 nitos na área de plataforma rasa da bacia. No ta-
lude atual ocorre espessa seção de argilito devido
a pouca compactação de sedimentos argilosos
Compreende os sedimentos que marcam a nessa parte da bacia. Muito pouca sedimentação
passagem do Eoceno para o Oligoceno. Sua base pelítica passou pelas barreiras propiciadas pela
coincide com a Discordância do Eoceno Superior arquitetura da bacia, além de que a seção de fo-
(34,4 Ma) e seu topo coincide com a Discordância lhelhos do Mioceno Superior/Plioceno na parte
do Oligoceno Inferior (30 Ma), caracterizado por are- média e distal da bacia é delgada.
nitos (Formação Rio Doce) e calcarenitos (Formação Estudos de traço de fissão de apatita indi-
Caravelas) de plataforma que passa a folhelhos (For- cam que o embasamento aflorante da bacia so-
mação Urucutuca) em direção à bacia.
freu pouca denudação a partir do final do Eoceno,
disponibilizando pouco sedimento para a bacia.
Seqüência E80-N20 O proto Rio Jequitinhonha parece ter sido a princi-
pal fonte pontual de sedimentos para a bacia prin-
cipalmente a partir do final do Eoceno. Na parte
A seção do Oligoceno apresenta uma discor-
emersa da bacia ocorre a deposição de sedimen-
dância em sua parte inferior (Discordância Oligoceno
tos continentais da Formação Barreiras.
Inferior) e um marco estratigráfico relacionado a um
afogamento da bacia (Marco Azul). O Marco Azul é
constituído por delgadas camadas de calcilutitos in-
tercaladas com folhelhos e margas, formado por
Seqüência N60
cocólitos em um estágio avançado de cimentação
calcífera. Foraminíferos plantônicos globigeriniformes Na parte emersa da bacia, constituída pelas
e, principalmente, cocosferas do gênero Braarudos- planícies dos rios Jequitinhonha e Pardo, ocorrem
phaera ocorrem associados, indicando sedimentação sedimentos arenosos e argilosos depositados por
em águas calmas e relativamente profundas (Carva- extravasamento desses sedimentos nas enchentes
lho e Antunes, 1988). dos rios, além de cordões litorâneos ao longo da
A passagem do Oligoceno para o Mioceno costa. Na parte submersa ocorrem sedimentos ar-
parece ser gradacional. O estilo deposicional do gilosos da Formação Urucutuca.
Oligoceno difere das unidades estratigráficas
sotopostas. A Bacia de Jequitinhonha ficou faminta
de sedimentos a partir do Oligoceno Superior, gran-
de parte da sedimentação ficou trapeada na Fossa
de Jequitinhonha e somente uma capa de sedimen-
tos pouco espessa se espraiou pelas áreas média e
referências
distal da bacia. Além do mais, o soerguimento dos
sedimentos causados pelos domos de sal faz com
bibliográficas
que a seção do Oligoceno aflore no fundo do mar
em vários pontos da bacia. CAIXETA, J. M.; RANGEL, H. D.; FLORES, J. L.;
O topo da Seqüência E80-N20 é marcado por NASCIMENTO, M. M., GALVÃO, M. V. G.; MA-
discordância no Mioceno Médio a aproximadamen- CHADO, E. C. V. Tectônica de sal na Bacia de
te 15 Ma. Na parte proximal da bacia ocorreu a de- Jequitinhonha. In: MOHRIAK, W.; SZATMARI, P.;
posição de arenitos proximais da Formação Rio Doce, ANJOS, S. M. C. (Org.). Sal geologia e tectôni-
que gradam para calcarenitos da Formação Caravelas ca: exemplos das bacias brasileiras. São Paulo:
e que passam para argilitos e folhelhos da Formação Beca, 2008. p. 272-283.
Urucutuca em direção à bacia.

CARVALHO, M. D.; ANTUNES, R. L. Calcilutitos do


Seqüência N30-N50 Oligoceno da Bacia de Jequitinhonha: similaridade
com os calcilutitos do “Marco Azul” da Bacia de
A seqüência do Mioceno Superior/Plioceno Campos. Boletim de Geociências da Petrobras,
é constituída basicamente por arenitos e calcare- Rio de Janeiro, v. 2, n. 2-4, 1988.

480 | Bacia de Jequitinhonha - Rangel et al.


CARVALHO, M. D.; DIAS-BRITO, D.; FERRE, B.;
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Campus de Rio Claro – SP, p. 643-649, 1999.

GARCIA, S. F. M. Estudo tridimensional de efei-


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167 p. Tese (Mestrado) – Universidade Federal de
Ouro Preto, Ouro Preto, 1999.

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v. 8, n. 1, p. 191-202, jan./mar. 1994.

B. Geoci. Petrobras, Rio de Janeiro, v. 15, n. 2, p. 475-483, maio/nov. 2007 | 481


BACIA DE JEQUITINHONHA

SEDIMENTAÇÃO
NATUREZA DA
LITOESTRATIGRAFIA
GEOCRONOLOGIA AMBIENTE
DISCORDÂNCIAS
Ma DEPOSICIONAL
FORMAÇÃO MEMBRO
ÉPOCA IDADE
0

N30 - N50
NEÓGENO

EO ZAN C LE AN O
M E S S I N I AN O
NEO
T ORT ONIAN O

CA RAV EL AS
10
S E R R AVAL IA N O
MESO

PROFUNDO / TALUDE / PLATAFORMA


LAN G H I AN O

B U R D I GAL IA N O

E80 - N20
RIO DOCE
EO
MARINHO REGRESSIVO
20

2578
AQ U I TAN IA N O

NEO C HAT T IAN O

30
EO R U P E L IA N O
E70

SANTO
PALE Ó G ENO

NEO P R I AB O N I AN O

UR UC UTU CA
BAR T O N I AN O E60
40
EOCENO

MESO
L UT E T I AN O
E50

ESPÍRITO
E40
50
EO YP R ES I AN O

E10 - E30
PALEOCENO

T HAN E T I AN O
NEO
60 S E LAN D I AN O

EO DAN I AN O

K120-
K130
PLATAF. / TALUDE / PROFUNDO

70
(S EN ON IAN O )

MARINHO TRANSGRESSIVO

K100-
K110
CAM PA N IAN O
80

K88-K90
NEO

SAN T O N I AN O

C O N I AC I AN O
90
T U R ON I AN O K86

K82-
K84
ATE US
CRETÁCEO

BARRA NOVA

C E N O MA N IA N O
REGÊNCIA

100
1337
2177

K70
SÃ O M

AL B I AN O
( G ÁLI CO )

PLATAFORMA K60
110 RASA
ITAÚNAS 170 K50
MARIRICU
CONTINENTAL

LAGUNAR MUCURI 2380 K40


ALAGOAS
NATIVO

APTIANO
120
EO

JI QUIÁ SERNAMBI
BARRE- BURACICA LACUSTR E CRICARÉ K30
MIANO JAGUARÉ
130
ARAT U
( NE OC O MIANO )

HAUTE-
RIVIANO

VALAN-
GINIANO RI O
140 DA
BERRIA- SERRA
SIANO

DOM
TITHO-
JOÃ O
NIANO
150
542
EM BASAME NTO

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B. Geoci. Petrobras, Rio de Janeiro, v. 15, n. 2, p. 475-483, maio/nov. 2007 | 483

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