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ÍNDICE
INTRODUÇÃO
ERROS BÍBLICOS
Quatorze gerações?
Suínos maratonistas.
CONTRADIÇÕES BÍBLICAS
ALTERAÇÕES BÍBLICAS
ACRÉSCIMOS BÍBLICOS
OMISSÕES BÍBLICAS
INTRODUÇÃO
“SOLA GRATIA, SOLA FIDES, SOLUS CHRISTUS, SOLA SCRIPTURA” Qual
cristão protestante nunca ouviu falar destas afirmações? A tradução é: Somente a Graça,
Somente a Fé, Somente Cristo e Somente a Escritura. Estes são os princípios que regiam
os Reformadores Cristãos Protestantes no Século XVI. Os cristãos protestantes sempre
defenderam a Bíblia. Para um cristão protestante a Bíblia é “a suprema autoridade em
matéria de vida e doutrina”, de modo que qualquer controvérsia deve ser julgada apenas
pela Bíblia, pois “só ela [a Bíblia] é o árbitro de todas as controvérsias”. O princípio de
SOLA SCRIPTURA e a sua aplicação através dos tempos têm levado muitos cristãos
protestantes a acreditar na afirmação dos teólogos e dos religiosos de que a Bíblia é
*inerrante. Este Estudo tem como objetivo fornecer subsídios para que o leitor possa
desmistificar esta antiga crença muito arraigada na mente de grande parte da população
evangélica brasileira.
*O termo inerrante é utilizado para fortalecer a idéia de que a Bíblia é a “palavra escrita de Deus” e, portanto, não contém qualquer tipo de erro.
As citações em letras itálicas, deste primeiro parágrafo, foram retiradas do texto SOLA SCRIPTURA de autoria de Alderi Souza de Matos publicado no site
www.monergismo.com .
A grande diferença entre este Estudo e os demais estudos do gênero está no fato de
que não buscamos, apenas, apontar as contradições e os erros bíblicos. Existem centenas
de livros, artigos e até sites na Internet especializados em identificar contradições e erros
bíblicos, e que procuram mostrar ao leitor e ao navegante virtual que a Bíblia é um livro
que contém erros como qualquer outro livro. Da mesma forma, também, existem centenas
de livros, artigos e sites na Internet que defendem a inerrância bíblica e a fé dos cristãos
protestantes. Respeitamos e honramos os especialistas em Crítica da Bíblia e os
*apologéticos, não apenas pelo tempo dispensado em suas pesquisas, mas também pelo
brilhante trabalho deixado para os demais pesquisadores. Este Estudo, no entanto, busca ir
além da identificação dos erros bíblicos ou simplesmente da crença cega na *apologética
pregada pelos religiosos. Buscamos mostrar para o leitor o que motivou as contradições e
os erros bíblicos identificados e também fornecer subsídios para que o leitor possa formar
sua própria opinião e, até mesmo, buscar resoluções para o problema da contradição e do
erro bíblico. O respeito que nutrimos pelo trabalho dos especialistas em Crítica da Bíblia e
pelos apologistas é o mesmo respeito que temos pela fé do leitor deste Estudo. Este
respeito não nos permite emitir opiniões pessoais, mas apenas fornecer informações que
levem o leitor a formar sua própria opinião.
*Apologética: Matéria estudada nas Escolas de Teologia que trata da defesa da fé cristã. *Apologéticos: Especialistas na matéria de apologética.
É um grande desafio que aceitamos de bom grado mesmo sabendo que o assunto
suscitará opiniões firmes, calorosas e apaixonadas por parte do leitor que, em sua maioria,
é um cristão religioso que deposita nas palavras da Bíblia a maior parte de sua fé. O leitor
não deve acreditar em nada do que escrevemos, mas anotar todas as citações e argumentos
usados para comparar, meditar, pesquisar e ao final formar sua própria opinião a respeito
do assunto abordado. Teremos o maior prazer em sermos questionados e confrontados
pelos leitores deste Estudo. Como somos pesquisadores, e aprendemos a cada dia, estamos
Um Estudo das revisões, alterações e acréscimos da Bíblia.
“No princípio era o Verbo...” 4
Esperamos que ao final deste Estudo o leitor se torne um melhor cristão. Um cristão
consciente de sua fé religiosa, possuidor de um senso crítico com relação ao texto bíblico e
à história cristã, um cristão curioso pela literatura de pesquisas religiosas, mas
principalmente que se torne um cristão tolerante, que saiba respeitar os demais seres
humanos que professam credos religiosos diferentes do seu.
Indicamos a leitura do Livro “O que Jesus disse? O que Jesus não disse?” de Bart D. Herman e, também, o “Manual Anti-Missionários” do grupo Judeus pelo
Judaísmo. São bons exemplos de Especialistas na Crítica Bíblica do Novo Testamento.
totalmente a tudo o que tiver, e nada lhe poupes; porém matarás a homem e mulher, meninos e crianças de peito...” 1Sm15:3 mas pelos erros,
contradições, revisões e até acréscimos. A quantidade de erros, contradições, acréscimos e
revisões da Bíblia passam das centenas de milhares. Por este motivo vamos abordar apenas
alguns trechos da Bíblia, mas saiba o leitor que toda a Bíblia não está imune a um olhar
mais aguçado. É sensato usar um “comparativo” para podermos afirmar que um
determinado trecho bíblico está errado ou contraditório, este “comparativo” tem que ser
aceito pelo leitor como válido ou então será estupidez de nossa parte utilizá-lo. O único
“comparativo” aceitável pelo leitor como válido para nossa argumentação é a própria
Bíblia, e será a Bíblia a eleita no nosso Estudo como “comparativo”. Já para a afirmação
de que trechos foram editados ou acrescentados, vamos utilizar as Bíblias, os Códices e os
Manuscritos mais antigos e confiáveis que dispomos hoje, sempre citando a fonte para que
o leitor possa fazer a anotação e posterior comprovação da informação.
O ideal seria o leitor ter um conhecimento mínimo do hebraico, grego e latim para
poder ler os Manuscritos mais antigos, como isto é inviável num curto prazo, indicamos
para o leitor deste Estudo a BÍBLIA DE JERUSALÉM. Trata-se da melhor tradução da
Bíblia em língua portuguesa disponível hoje no Brasil. É uma Bíblia de Estudo que teve o
Um Estudo das revisões, alterações e acréscimos da Bíblia.
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O leitor deve estar se perguntando onde está o erro bíblico? O autor do Evangelho
de Lucas também registrou esta passagem:
“...desde o sangue de Abel até ao de Zacarias, que foi assassinado entre o altar e a Casa de Deus. Sim, eu vos afirmo,
contas serão pedidas a esta geração.” Lc 11:51
Sabemos que as palavras registradas nos Evangelhos são atribuídas a Jesus. Logo as
duas principais questões, com relação a este erro específico, levantadas pelos especialistas
em Crítica da Bíblia são:
1) Jesus não tinha qualificação plena para pregar as Escrituras e comentava assuntos
dos quais não tinha conhecimento; e
Um Estudo das revisões, alterações e acréscimos da Bíblia.
“No princípio era o Verbo...” 6
Uma antiga lenda judaica narra o possível assassinato do líder dos essênios, o
“Mestre da Justiça”, conhecido também pelo pseudônimo de “Zacarias filho de
Berequias”, que também era um sacerdote da ordem de Zadoc.
homem de bem, pela maior de todas as injustiças, todos a uma voz declararam-no inocente. Ao ouvirem tal sentença os zelotes soltaram um grito de furor. Sua
raiva não pôde tolerar que aqueles juizes não houvessem compreendido, que o poder que lhes haviam dado era imaginário, e do qual não queriam que eles
fizessem uso algum; dois dos mais ousados daqueles homens atiraram-se sobre Zacarias e o mataram no meio do Templo, insultando-o ainda, depois de morto,
dizendo com a mais cruel de todas as zombarias: "Recebe esta absolvição que nós te damos e que é muito mais garantida que a outra". Lançaram em seguida
seu corpo numa vala comum que estava abaixo do Templo. Os setenta juizes foram expulsos indignamente a golpes de espada para fora do Templo, não porque
um sentimento de humanidade os havia isentado de manchar as mãos no sangue daqueles homens, mas para que se tendo espalhado por toda a cidade fossem
como outras tantas testemunhas, cuja deposição já não poderia permitir a ninguém duvidar de que a capital de um reino outrora florescente, não estava
reduzida à escravidão.”
GUERRAS JUDAICAS LIVRO IV – CAPITULO 19
Há, também, a possibilidade levantada por alguns estudiosos de que Jesus fosse um
essênio e estivesse reclamando a morte do “Mestre da Justiça” que foi o líder maior dos
essênios.
ERROS BÍBLICOS
Vamos iniciar o Estudo com o tema “ERROS BÍBLICOS” e depois
“CONTRADIÇÕES BÍBLICAS” que são os assuntos mais fáceis do leitor pesquisar, pois
os erros e as contradições estão em sua própria Bíblia. Não iremos abordar todos os erros
bíblicos, mas apenas alguns para que o leitor tome familiaridade com o assunto. Depois
que o leitor tiver analisado, neste Estudo, alguns erros bíblicos saberá identificar
facilmente outros erros não abordados aqui.
QUATORZE GERAÇÕES?
Um erro bíblico muito discutido está num pequeno comentário do Evangelho de
Mateus, neste comentário — de apenas um verso — o suposto autor conta as gerações da
linhagem de Jesus e registra um cálculo equivocado. No próprio texto do Evangelho de
Mateus, as gerações da volta do exílio até Jesus somam treze gerações, um número que
não confere com o número registrado, mas que muitos cristãos tentam adequar com
argumentos e até com malabarismos bíblicos, mas as regras matemáticas são exatas e não
aceitam adequações:
De sorte que todas as gerações, desde Abraão até Davi, são catorze; desde Davi até ao exílio na Babilônia, catorze; e desde
o exílio na Babilônia até Cristo, catorze. Mt 1:17
A contagem das gerações de Abraão até Davi está correta (segundo o texto bíblico),
são exatamente quatorze gerações. Entretanto, a contagem dos descendentes de Davi até o
exílio na Babilônia e também depois do exílio fica comprometida pelo fato de haver a
omissão de parentes no texto do autor do Evangelho de Mateus, uma omissão no verso 9,
outra no verso 11 e ainda mais outra no verso 12. Para compreendermos o erro bíblico
proposto também teremos que analisar os versos citados e suas fontes primárias:
Uzias gerou a Jotão; Jotão a Acaz; Acaz a Ezequias; Mt 1:9
OS SUÍNOS MARATONISTAS
Este erro bíblico seria cômico se não fosse trágico. Já ouvimos professores e
pastores tentando explicar o inexplicável, e alunos e fiéis tentando compreender o
incompreensível. Trata-se do desembarque de Jesus na margem do Lago da Galiléia na
cidade de Gadara quando foi recebido por dois homens possessos de espíritos impuros. Na
narrativa bíblica Jesus expulsou os espíritos, que antes de saírem pediram permissão para
entrar numa manada de porcos que pastava ali próximo, ao entrar nos porcos os espíritos
causaram um ataque de loucura nos suínos que correram, precipitaram-se no mar e
morreram afogados. Vamos ler a passagem bíblica:
Tendo ele chegado à outra margem, à terra dos gadarenos, vieram-lhe ao encontro dois endemoninhados, saindo dentre os
sepulcros, e a tal ponto furiosos, que ninguém podia passar por aquele caminho. E eis que gritaram: Que temos nós
contigo, ó Filho de Deus! Vieste aqui atormentar-nos antes de tempo? Ora, andava pastando, não longe deles, uma grande
Um Estudo das revisões, alterações e acréscimos da Bíblia.
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manada de porcos. Então, os demônios lhe rogavam: Se nos expeles, manda-nos para a manada de porcos. Pois ide,
ordenou-lhes Jesus. E eles, saindo, passaram para os porcos; e eis que toda a manada se precipitou, despenhadeiro abaixo,
para dentro do mar, e nas águas pereceram. Mt 8:28a32
Mas como encontrar o motivo que gerou o erro bíblico analisado, já que é
impossível que os porcos tenham percorrido 50 km, ou mesmo 12 km? O leitor pode ficar
espantado se nós começarmos as perguntas de outra forma: Houve mesmo este episódio?
Havia quantos homens possessos? Qual a cidade em questão? Qual evangelista está
correto?
Mas vamos, primeiramente, partir da suposição de que o episódio narrado nos
Evangelhos Sinóticos ACONTECEU e só depois analisar uma segunda hipótese. Então
Um Estudo das revisões, alterações e acréscimos da Bíblia.
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vamos continuar nossa suposição pelo Evangelho de Mateus que narra o acontecimento na
cidade de Gadara. Mas, por que o Evangelho de Mateus? Será a pergunta do leitor. Porque
a cidade de Gadara está mais próxima do Lago da Galiléia. Jesus e seus discípulos
desembarcaram na margem do Lago da Galiléia e quando estavam andando encontraram
um cemitério ali próximo com dois homens possessos, o restante da história nós já
conhecemos e o texto de Mateus diz ainda que o episódio deu-se fora da cidade o que
reforça a nossa suposição. O texto de Mateus é mais fácil de ser aceito e até preferível se
formos usar a lógica. Mas, o texto do Evangelho de Mateus não é o texto mais antigo dos
Evangelhos Sinóticos a relatar o acontecimento. O texto mais antigo é do Evangelho de
Marcos que, seguindo a tradição cristã primitiva, afirma que havia apenas um homem
possesso, na Cidade de Gerasa e que os porquinhos morreram no Lago da Galiléia. Como
observamos, o autor do Evangelho de Mateus tentou “consertar” as informações do
Evangelho de Marcos, transferindo o episódio da cidade de Gerasa para uma cidade mais
próxima do Lago da Galiléia que é a cidade de Gadara tornando o acontecimento mais
plausível. Com esta alteração no episódio proposto pelo autor do Evangelho de Mateus o
“problema” estava resolvido. Entretanto, alguns anos depois, outro autor, o autor do
Evangelho de Lucas começou a escrever seu Evangelho. O autor do Evangelho de Lucas
usou diversos documentos e Evangelhos da época para compor seu Evangelho, inclusive
os Evangelhos de Marcos e de Mateus. Quando chegou a passagem por nós analisada ele
escreveu:
Então, rumaram para a terra dos gerasenos, fronteira da Galiléia. Logo ao desembarcar, veio da cidade ao seu encontro
um homem possesso de demônios que, havia muito, não se vestia, nem habitava em casa alguma, porém vivia nos
sepulcros. E, quando viu a Jesus, prostrou-se diante dele, exclamando e dizendo em alta voz: Que tenho eu contigo, Jesus,
Filho do Deus Altíssimo? Rogo-te que não me atormentes. Porque Jesus ordenara ao espírito imundo que saísse do homem,
pois muitas vezes se apoderara dele. E, embora procurassem conservá-lo preso com cadeias e grilhões, tudo despedaçava e
era impelido pelo demônio para o deserto. Perguntou-lhe Jesus: Qual é o teu nome? Respondeu ele: Legião, porque tinham
entrado nele muitos demônios. Rogavam-lhe que não os mandasse sair para o abismo. Ora, andava ali, pastando no monte,
uma grande manada de porcos; rogaram-lhe que lhes permitisse entrar naqueles porcos. E Jesus o permitiu. Tendo os
demônios saído do homem, entraram nos porcos, e a manada precipitou-se despenhadeiro abaixo, para dentro do lago, e se
afogou. Lc 8:26a33
trazem esta informação, inclusive a primeira versão Revista e Corrigida de João Ferreira
de Almeida que é muito utilizada no meio evangélico.
O leitor agora deve estar se perguntando: Será que o texto do Evangelho de Mateus
está errado? Será que errados estão os textos dos Evangelhos de Marcos e Lucas? Será que
todos estão errados e o correto é a conjectura de Orígenes? Vamos continuar...
Dos textos considerados canônicos, os estudiosos e pesquisadores preferem o texto
do Evangelho de Marcos, quando analisam a História, e o texto dos Evangelhos de Mateus
e de Lucas, quando analisam os ditos de Jesus.
literário, mas em todos os trechos que este Evangelho recebeu acréscimos, revisões ou
edições o resultado foi sempre triste.
Além do trecho analisado, Mc 4:10a12 e Mc 16:9a20 são bons exemplos de acréscimos, revisões e edições que geraram erros grosseiros. Mas estes trechos nós
vamos analisar mais adiante.
Para compreender este episódio de forma alegórica, o leitor deve ter em mente que
este Evangelho foi escrito para uma platéia judaica. Logo o texto do Evangelho de Marcos
deve ser lido com “olhos judeus”, ou seja, é necessário para o leitor conhecer as práticas e
as crenças judaicas citadas no episódio, caso contrário, a interpretação do Midrash poderá
ser prejudicada ou — muito pior — ser interpretada como literal. A interpretação de um
Midrash é subjetiva, portanto vamos relatar as práticas e as crenças judaicas e, ao final, o
leitor irá fazer sua própria interpretação.
Um judeu religioso não tem como prática visitar o cemitério, salvo prescrição da Lei
Judaica. Uma das crenças judaicas com relação aos espíritos dos mortos é que eles existem
e que, inclusive, podem ouvir nossas conversas dirigidas a eles, pois passam a existir no
nosso mundo, porém em um outro plano espiritual. Depois da morte, o espírito da pessoa
destaca-se do corpo e, após o período de luto, retorna a Deus. Neste episódio que estamos
analisando, os espíritos chamados pelos cristãos de “demônios” são para os judeus,
espíritos de pessoas que não tiveram uma vida honesta, justa e pautada pela obediência aos
Mandamentos da Lei de Deus e por isso estão atormentados e não retornaram a Deus.
Estes espíritos atormentados freqüentam as residências em que moravam e os cemitérios
em que seus corpos estão enterrados. Às vezes se apoderam do corpo de pessoas ou até de
animais que ficam então possessos. Para realizar o exorcismo, a religião judaica sugere
que haja um número mínimo de dez pessoas sendo um deles um rabino praticante da Lei
que fará a conjuração do espírito, perguntando o seu nome, o que quer ou precisa para
finalmente exorcizar o espírito do corpo da pessoa ou animal possesso. Quando o rabino
exorciza um espírito, ele ordena que o espírito saia de perto de qualquer cidade, povoado
ou vila e siga em direção ao deserto, floresta, abismo ou mar. Outra possibilidade é
ordenar ao espírito que retorne a Deus. O exorcismo no judaísmo é visto como um ato de
extrema misericórdia para com o possesso e também para com o espírito. Já os
“demônios” são crias de Lilith, a primeira mulher de Adão. Lilith teve filhos-demônios
com Adão, com Asmodeu o chefe dos demônios, com os anjos e até com seus próprios
filhos-demônios. Os demônios e os anjos não precisam de corpos, pois podem se
materializar e adquirir qualquer forma, e por este motivo os demônios nada tem haver com
o episódio narrado. A cidade de Gerasa fazia parte de DECÁPOLIS, as dez cidades
habitadas por gentios na Palestina. As cidades de Decápolis eram frequentemente usadas
pelos galileus como passagem para Jerusalém, pois quando os samaritanos não impediam
Um Estudo das revisões, alterações e acréscimos da Bíblia.
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A resposta para o erro encontrado deve ser precedida pela escolha de uma das duas
suposições que mostramos ao leitor. A diferença entre a interpretação literal e a
interpretação de um midrash é que na primeira opção a resposta é objetiva, enquanto que
na segunda opção a resposta é subjetiva. Entretanto, dependendo da escolha do leitor, a
resposta suscitará outro problema que o leitor deverá conviver com ele: Se a interpretação
literal for escolhida o leitor terá que reconhecer o erro bíblico, se a escolha for pelo
midrash então o leitor terá que reconhecer que o episódio não existiu como a maioria dos
cristãos acredita.
Este é um erro simples de ser resolvido: É óbvio que Jesus, eu, você e qualquer ser
humano só têm condições de sentar-se em um animal. Mas nós vamos nos aprofundar um
pouco mais neste assunto... Vamos começar conferindo o que escreveram os autores dos
Evangelhos de Marcos, Lucas e João:
Marcos 11:2a7 Lucas 19:30a35 João 12:14a15
e disse-lhes: Ide à aldeia que está dizendo: Ide à aldeia que está E achou Jesus um jumentinho e
defronte de vós; e, logo que ali defronte e aí, ao entrardes, assentou-se sobre ele, como está
entrardes, encontrareis preso um achareis preso um jumentinho em escrito: Não temas, ó filha de
jumentinho, sobre o qual ainda não que nenhum homem ainda Sião! Eis que o teu Rei vem
montou homem algum; soltai-o e montou; soltai-o e trazei-o. E, se assentado sobre o filho de uma
trazei-mo. E, se alguém vos disser: alguém vos perguntar: Por que o jumenta.
Um Estudo das revisões, alterações e acréscimos da Bíblia.
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Por que fazeis isso?, dizei-lhe que o soltais?, assim lhe direis: Porque o
Senhor precisa dele, e logo o Senhor precisa dele. E, indo os
deixará trazer para aqui. E foram, e que haviam sido mandados,
encontraram o jumentinho preso acharam como lhes dissera. E,
fora da porta, entre dois caminhos, quando soltaram o jumentinho,
e o soltaram. E alguns dos que ali seus donos lhes disseram: Por que
estavam lhes disseram: Que fazeis, soltais o jumentinho? E eles
soltando o jumentinho? Eles, responderam: O Senhor precisa
porém, disseram-lhes como Jesus dele. E trouxeram-no a Jesus; e,
lhes tinha mandado; e os deixaram lançando sobre o jumentinho as
ir. E levaram o jumentinho a Jesus suas vestes, puseram Jesus em
e lançaram sobre ele as suas vestes, cima.
e assentou-se sobre ele.
Será possível que o autor do Evangelho de Mateus está correto? Vamos verificar a
passagem bíblica citada pelo autor:
Alegra-te muito, ó filha de Sião; exulta, ó filha de Jerusalém: eis aí te vem o teu Rei, justo e salvador, humilde, montado
num jumento, num jumentinho, cria de jumenta. Zc 9:9
Esta passagem que acabamos de ler é uma tradução realizada do atual texto grego e
também igual a do texto latim. Apesar de não ser necessário, quero que o leitor verifique
agora a mesma passagem traduzida direto do texto hebraico pela Bíblia de Jerusalém:
Exulta muito, filha de Sião! Grita de alegria, filha de Jerusalém! Eis que o teu rei vem a ti: ele é justo e vitorioso, humilde,
montado sobre um jumento, sobre um jumentinho, filho da jumenta. Zc 9:9
Mas, nos perguntará o leitor, se Mateus sendo hebreu não tinha conhecimento do
hebraísmo como expressão idiomática, então como pode ele ter escrito este Evangelho?
"Mateus reuniu, de forma ordenada, na língua hebraica, as sentenças [de Jesus] e cada um as interpretava conforme sua
capacidade". Pápias de Hierápolis
O leitor do Estudo agora deve estar se perguntando: Será que a Septuaginta utilizada
por Mateus tinha este trecho escrito de forma errada? Para respondermos a esta questão
vamos recorrer ao Prof. Dr. Edson de Faria Francisco, da Universidade de São Paulo,
especialista em Manuscritos, autor do Manual da Bíblia Hebraica: Introdução ao Texto
Massorético – Guia Introdutório para a Bíblia Hebraica Stuttgartensia. 2. ed. São Paulo:
Vida Nova. Em seu trabalho o Professor Faria faz um duro comentário contra os primeiros
manuscritos da Septuaginta, chegando a afirmar que apesar da lenda dos 72 sábios judeus
contada por Flávio Josefo, “os primeiros tradutores da Septuaginta não sabiam ler
hebraico e muito menos escrever grego”.
Como o próprio nome define, estes ERROS DE TRADUÇÃO são aqueles em que o
tradutor não teve a intenção de transmitir um erro para o seu trabalho.
A Lei (nomia), tratada na Bíblia, é por implicação a Lei Mosaica, ou seja, a Torah,
ou PENTATEUCO, os cinco primeiros Livros da Bíblia.
Vamos analisar, nas colunas abaixo, os Textos Bíblicos que contém estes Erros de
Tradução Premeditados e como estes mesmos Textos Bíblicos ficariam se fossem
traduzidos corretamente.
Ora, o aparecimento do iníquo é segundo a eficácia de Ora, o aparecimento do transgressor da Lei é segundo a
Satanás, com todo poder, e sinais, e prodígios da mentira, eficácia de Satanás, com todo poder, e sinais, e prodígios
2Ts2:9 da mentira, 2Ts2:9
Para evitarmos este tipo de equívoco tanto na explanação de nosso Estudo como na
compreensão do leitor vamos, primeiramente, analisar o episódio da cura da sogra de
Simão que é um bom exemplo de DIFERENTES FORMAS NARRATIVAS DO MESMO
EPISÓDIO para só depois explicarmos o que são as CONTRADIÇÕES BÍBLICAS.
A CURA DA SOGRA DE PEDRO
Marcos 1:29a31 Mateus 8:14e15 Lucas 4:38e39
E logo, saindo da sinagoga, foram E Jesus, entrando em casa de Ora, levantando-se Jesus da
à casa de Simão e de André com Pedro, viu a sogra deste acamada, sinagoga, entrou em casa de Simão;
Tiago e João. E a sogra de Simão e com febre. E tocou-lhe na mão, e a sogra de Simão estava enferma
estava deitada com febre; e logo e a febre a deixou; e levantou-se, e com muita febre, e rogaram-lhe por
lhe falaram dela. Então, serviu-os. ela. E, inclinando-se para ela,
chegando-se a ela, tomou-a pela repreendeu a febre, e esta a deixou.
mão, e levantou-a; e E ela, levantando-se logo, servia-os.
imediatamente a febre a deixou, e
servia-os.
1) Para o autor de Marcos, Jesus “precisou ser avisado” que a sogra de Simão estava
doente. Para o autor de Mateus, Jesus “viu” a situação da mulher.
3) Nos Evangelhos de Marcos e de Lucas, o episódio deu-se “depois que Jesus saiu
da sinagoga”. O Evangelho de Mateus nada diz a este respeito.
CONTRADIÇÕES BÍBLICAS
A principal diferença entre a CONTRADIÇÃO BÍBLICA e as DIFERENTES
FORMAS NARRATIVAS DO MESMO EPISÓDIO, é que na CONTRADIÇÃO
BÍBLICA as diferenças de narração dos autores dos Evangelhos são tão grandes e
intransponíveis que não existe a possibilidade de sabermos onde está o equívoco. Em
outras palavras:
“A Contradição Bíblica é identificada quando um texto bíblico contradiz outro texto
bíblico de mesma grandeza e importância”.
Os episódios que iremos analisar são sempre formados por dois, três e até quatro
textos contraditórios. Para o leitor ter uma pequena idéia do pensamento dos pesquisadores
com relação às contradições bíblicas, a Introdução aos Evangelhos Sinóticos da Bíblia de
Jerusalém chega a nomear de “aberrantes” as contradições encontradas entre os
Evangelhos. Apesar de não existir uma terceira fonte bíblica para solucionar a contradição,
forneceremos ao leitor do Estudo textos da Igreja Católica, textos do Talmude judaico,
textos históricos, elementos arqueológicos e opiniões de especialistas bíblicos. Assim, o
leitor terá condições de formar sua opinião sobre as contradições bíblicas.
viu os céus rasgarem-se dizendo: Eu é que Santo desceu sobre ele entre nós, É este a favor de quem eu
e o Espírito descendo preciso ser batizado por em forma corpórea começando no disse: após mim vem um
como pomba sobre ele. ti, e tu vens a mim? como pomba; e ouviu- batismo de João, até varão que tem a primazia,
Então, foi ouvida uma Mas Jesus lhe se uma voz do céu: Tu ao dia em que dentre porque já existia antes de
voz dos céus: Tu és o respondeu: Deixa por és o meu Filho amado, nós foi levado às mim. Eu mesmo não o
meu Filho amado, em ti enquanto, porque, em ti me comprazo. alturas, um destes se conhecia, mas, a fim de
me comprazo. assim, nos convém torne testemunha que ele fosse manifestado
cumprir toda a justiça. conosco da sua a Israel, vim, por isso,
Então, ele o admitiu. ressurreição. batizando com água. E
Batizado Jesus, saiu João testemunhou,
logo da água, e eis que dizendo: Vi o Espírito
se lhe abriram os céus, descer do céu como
e viu o Espírito de Deus pomba e pousar sobre ele.
descendo como pomba, Eu não o conhecia;
vindo sobre ele. E eis aquele, porém, que me
uma voz dos céus, que enviou a batizar com água
dizia: Este é o meu me disse: Aquele sobre
Filho amado, em quem quem vires descer e
me comprazo. pousar o Espírito, esse é o
que batiza com o Espírito
Santo. Pois eu, de fato, vi
e tenho testificado que ele
é o Filho de Deus.
Notamos que nos Evangelhos de Marcos e Lucas, Jesus foi batizado por João
Batista. Como o Livro dos Atos dos Apóstolos foi escrito pelo mesmo autor do Evangelho
de Lucas, a informação é idêntica. As contradições só começam a aparecer quando lemos
o Evangelho de Mateus. Nesta coluna, o autor do Evangelho de Mateus faz uma ressalva
no batismo de Jesus. João Batista não queria batizar Jesus, e só o fez por ordem do próprio
Jesus.
A conjectura descrita acima não é nova e nem de nossa autoria. Esta conjectura data
já dos primeiros anos do cristianismo. É comum uma pessoa recém convertida ao
cristianismo iniciar seus estudos da Bíblia e começar a fazer perguntas sobre a nova fé.
Quando chega ao episódio do batismo de Jesus, a “antiga conjectura” aparece na mente de
muitos dos novos cristãos. O autor do Evangelho grego de Mateus e seus revisores
conheciam muito bem esta conjectura e resolveram o “problema” do batismo de Jesus
fazendo a ressalva que Jesus “ordenou” o seu próprio batismo. E João Batista que não
queria realizar o batismo... “obedeceu”.
Se o leitor está surpreso com estas pequenas contradições nas narrações sobre o
batismo de Jesus, então vai ficar estarrecido com as contradições da “voz” ouvida após o
batismo de Jesus.
Para o autor do Evangelho de Marcos, Jesus saiu das águas do rio Jordão e viu os
céus se abrirem e o Espírito de Deus descer sobre ele em forma de pomba. Segundo o
mesmo autor do Evangelho de Marcos, “foi ouvida” uma voz que falava com ele.
Para não prejudicar o entendimento do tema CONTRADIÇÕES BÍBLICAS não vamos abordar a frase ouvida, mas somente como ela foi ouvida. No tema
ALTERAÇÕES BÍBLICAS, voltaremos a analisar a frase em questão.
Para o autor do Evangelho de Mateus, Jesus também saiu das águas do rio Jordão e
também viu os céus se abrirem e o Espírito descer sobre ele em forma de pomba. Mas,
diferentemente do Evangelho de Marcos, o autor do Evangelho de Mateus deixa parecer
que a voz foi ouvida apenas por Jesus.
Para o autor do Evangelho de Lucas, Jesus também foi batizado e saiu das águas.
Segundo esta narrativa, os acontecimentos analisados só ocorreram quando Jesus estava
em oração já depois do batismo. Mas, ao contrário das outras narrativas, Jesus não viu os
céus se abrirem. As pessoas presentes ao batismo de Jesus é que tiveram a oportunidade de
ver os céus se abrindo e uma “pomba” descendo “em forma corpórea” sobre ele enquanto
ouviam uma voz dos céus.
• Jesus foi batizado por João Batista • Jesus não foi batizado
• O Espírito de Deus desceu sobre Jesus em forma de • O Espírito de Deus que desceu sobre Jesus em forma
pomba de pomba foi uma visão de João Batista
• Foi ouvida uma voz dos céus • A voz era de João Batista
Ao analisar o episódio em questão com um olhar mais crítico, o leitor fica propenso
a aceitar que a narrativa do autor do Evangelho de João é mais plausível. Entretanto
devemos observar que, apesar de ser mais simples aceitar que a “voz divina” era na
verdade uma proclamação de João Batista e que o “Espírito em forma de pomba” era uma
visão contada por João Batista, para o autor do Evangelho de João, JESUS NÃO FOI
BATIZADO. O que causa não só uma CONTRADIÇÃO com todas as demais fontes
bíblicas, mas também com as fontes históricas.
Para compreendermos o episódio em análise e entendermos o motivo que levou o
autor do Evangelho de João a registrar uma narrativa tão diferente dos demais autores
evangelistas, vamos agora voltar nossa atenção para a história da figura central deste
episódio. E esta figura não é Jesus, mas sim João Batista.
Elias e nem o Profeta. Diante das respostas negativas, os sacerdotes inquiriram mais
diretamente quem ele era, a única informação que João Batista deu foi de que ele era “a
voz que clamava no deserto”. Sabemos que os sacerdotes ficaram satisfeitos com a
resposta e foram embora.
Esta resposta dada por João Batista foi interpretada pelos cristãos através dos
séculos como uma afirmação clara e precisa do cumprimento da profecia de Isaias. Mas o
motivo dos sacerdotes terem ficado satisfeitos com a resposta de João Batista e não terem
ao menos questionado o pregador sobre a profecia para que pudessem dar uma resposta
mais detalhada e objetiva aos seus superiores nunca foi abordado satisfatoriamente pelos
estudiosos bíblicos... até a descoberta dos Manuscritos do Mar Morto.
Vamos fazer agora um comparativo dos episódios dos Evangelhos de Mateus e João
com uma passagem dos Manuscritos do Mar Morto que trata do tema por nós analisado.
Naqueles dias, apareceu João Este foi o testemunho de João, E quando essas coisas sucederem
Batista pregando no deserto da quando os judeus lhe enviaram aos membros da comunidade em
Judéia e dizia: Arrependei-vos, de Jerusalém sacerdotes e Israel, no tempo designado,
porque está próximo o reino dos levitas para lhe perguntarem: separar-se-ão da habitação dos
céus. Porque este é o referido por Quem és tu? Ele confessou e homens perversos e irão para o
intermédio do profeta Isaías: “Voz não negou; confessou: Eu não deserto preparar o caminho do
do que clama no deserto: Preparai sou o Cristo. Então, lhe Senhor, como está escrito: “No
o caminho do Senhor, endireitai perguntaram: Quem és, pois? deserto preparai o caminho do
as suas veredas”. És tu Elias? Ele disse: Não sou. Senhor, endireitai a estrada para o
És tu o profeta? Respondeu: nosso Deus”.
Não. Disseram-lhe, pois:
Declara-nos quem és, para que
demos resposta àqueles que nos
enviaram; que dizes a respeito
de ti mesmo? Então, ele
respondeu: Eu sou a voz do que
clama no deserto: Endireitai o
caminho do Senhor, como disse
o profeta Isaías.
Com base neste texto de Qumrã, percebemos que a resposta dada por João Batista
aos sacerdotes foi aceita por estes últimos sem maiores problemas, pois eles tiveram a
certeza de que aquele homem que pregava e batizava às margens do rio Jordão era um
membro da Comunidade Essênia de Qumrã. Esta Comunidade existia há pelo menos
duzentos anos antes de Jesus.
O autor do Evangelho de Marcos registrou, e hoje nós sabemos que, João Batista se
alimentava da mesma forma que os membros da Comunidade de Qumrã.
As vestes de João eram feitas de pêlos de camelo; ele E quanto aos gafanhotos, de acordo com suas diferentes
trazia um cinto de couro e se alimentava de gafanhotos espécies, ele os cozinhará vivos no fogo ou na água, pois
e mel silvestre. é isto que sua natureza exige.
Saíam a ter com ele toda a província da Judéia e todos Que eles não entrem na água, para usar a purificação
os habitantes de Jerusalém; e, confessando os seus dos santos, pois eles não serão purificados até que se
pecados, eram batizados por ele no rio Jordão. tenham convertido de suas transgressões.
A pregação de que o Dia da Visitação do Senhor estava próximo e com Ele viria
também uma nova ordem de vida através do derramamento do Espírito da verdade que
purificaria pelo fogo as pessoas escolhidas era uma pregação apocalíptica essênica, mas
foi creditada exclusivamente a João Batista pelos séculos seguintes.
Já está posto o machado à raiz das árvores; toda árvore, Então, na hora da visitação, quando a verdade do
pois, que não produz bom fruto é cortada e lançada ao mundo aparecer para sempre, Deus purgará com sua
fogo. Eu vos batizo com água, para arrependimento; verdade todos os atos dos homens, purificando, isto é,
mas aquele que vem depois de mim é mais poderoso do pelo fogo, para si próprio alguns homens a fim de
que eu, cujas sandálias não sou digno de levar. Ele vos remover todo espírito impuro do meio de sua carne, para
batizará com o Espírito Santo e com fogo. purificá-los com um Espírito Santo de toda prática
injusta, e para derramar sobre eles um espírito de
verdade como água purificadora.
Os sacerdotes enviados para inquirir João Batista sabiam destes pormenores e foi
exatamente a prática daquele essênio em pregar para todos os que o quisessem ouvi-lo que
chamou a atenção das autoridades civis e religiosas.
João Batista pregava para os judeus, nos moldes dos antigos profetas, a proximidade
da vinda do Rei Messias que assumiria o trono de seu pai David e governaria Israel. Ele
era receptivo a qualquer pessoa que tivesse esperança no juízo final, mesmo publicanos e
Um Estudo das revisões, alterações e acréscimos da Bíblia.
“No princípio era o Verbo...” 25
Mas, se João Batista foi eliminado por Herodes por ter em sua pregação
“diferenças” com os Essênios, como podem alguns Pesquisadores e Especialistas
conjecturar ou até mesmo aceitar que João Batista era um membro da Comunidade de
Qumrã?
Notamos que existe um espaço de tempo de pelo menos meio Século entre a
finalização do Evangelho de Marcos e a finalização do Evangelho de João. O trabalho do
autor do Evangelho de Marcos é voltado para uma platéia judaica que vive um momento
singular em sua história, as Legiões Romanas estão para invadir a Judéia, os movimentos
apocalípticos fervilham neste momento histórico, a Comunidade de Qumrã ainda existe e
está preparada para a Guerra, a maioria dos seguidores dos ensinamentos de Jesus são
judeus e estão aguardando uma iminente intervenção Divina na História. Já o trabalho
final dos autores do Evangelho de João é voltado principalmente para gentios cristãos e
judeus essênios da Diáspora, a pregação de Paulo de Tarso obteve êxito entre os gentios,
ALTERAÇÕES BÍBLICAS
que sofreu pressões do Vaticano para ser modificado a partir da 2ª edição a fim de
concordar com a Vulgata Latina de Jerônimo.
O Texto Latim utilizado pelo Vaticano é um texto moderno, a escrita, as conjugações
dos verbos e a diagramação são melhores que os textos mais antigos. Mas, devido às
revisões sofridas para adequar os textos bíblicos ao pensamento dos exigentes teólogos
cristãos muitos textos foram modificados. Estas modificações alteraram até mesmo textos
inteiros.
Vamos ler como está escrito o mesmo episódio analisado, nas Bíblias traduzidas
diretamente dos textos gregos antigos.
A cura do leproso
40 Um leproso foi até ele, implorando-lhe de joelhos: “Se queres, tens o poder de purificar-me”. 41
Irado, estendeu a mão, tocou-o e disse-lhe: “Eu quero, sê purificado”. 42 E logo a lepra o deixou. E
ficou purificado. 43 Advertindo-o severamente, despediu-o logo, 44 dizendo-lhe: “Não digas nada a
ninguém; mas vai mostrar-te ao sacerdote e oferece por tua purificação o que Moisés prescreveu, para
que lhes sirva de prova”. Mc 1:40a44
O texto acima do Evangelho de Marcos mostra um Jesus irado com a platéia que se
recusava a reconhecer que a Lei judaica permitia ajudar ao próximo mesmo num Sábado e
que esta ajuda não era uma profanação do Sábado. Notamos, também, que o termo “irado”
do Evangelho de Marcos era incompreensível para os autores dos Evangelhos de Mateus e
Lucas que o deixaram fora de suas narrativas.
Segundo a Escola de Hillel: "É lícito violar um Shabat para que muitos outros possam
ser observados; as leis foram dadas para que o homem vivesse por elas, não para que o
homem morresse por elas." É lícito salvar vidas, aliviar dores, curar picadas de cobra e
cozinhar para os doentes (Shabat 18.3; Tosefta Shabat 15.14; Yoma 84b; Tosefta Yoma
84.15). A frase "o Shabat foi feito para o homem, e não o homem para o Shabat," também
aparece em material rabínico (Mekilta 103b, Yoma 85b). Além disso, os Rabinos da
Escola de Hillel frequentemente citavam Hoshea (Oséias) 6:6 para argumentar que ajudar
o próximo era mais importante que observar ritos e costumes (Suká 49b, Deuteronomy
Raba em 16:18, etc...).
Neste episódio, Jesus fica “irado” com seus próprios discípulos que não queriam
deixar algumas crianças virem até ele. Mais uma vez os autores dos Evangelhos de Mateus
e Lucas não conseguem compreender a “ira” de Jesus e retiram o termo de seus
Evangelhos.
A alteração do termo grego orgh (orge) do Evangelho de Marcos que significa
“ira, raiva ou indignação” para um termo teológico mais aceitável
splagcnizomai (splagchnizomai) que significa “movido de compaixão,
profundamente condoído ou movido de amor” foi realizada no sentido de equiparar o texto
do Evangelho de Marcos ao pensamento dos cristãos gentios do Século IV. Mas, ao alterar
o termo “ira” do Evangelho de Marcos a interpretação de todo o episódio ficou
prejudicada.
Um Estudo das revisões, alterações e acréscimos da Bíblia.
“No princípio era o Verbo...” 30
Para os autores dos Evangelhos de Lucas, João e até mesmo do Mateus grego, que
escreveram para leitores gentios do Império Romano era complicado mostrar um Jesus
“irado”. “Ira”, “Raiva”, “Desespero”, “Medo” e tantos outros sentimentos comuns aos
seres humanos em geral são abandonados pelos autores destes Evangelhos que buscam
mostrar para o leitor um Jesus “Rei”, “Filho de Deus”, “Puro”, “Sem pecados” e, portanto,
acima destes “sentimentos humanos”.
Já o autor do Evangelho de Marcos, em algumas situações, nos mostra um Jesus
“irado”. Este é um estilo desconcertante do autor do Evangelho de Marcos. O Jesus do
Evangelho de Marcos sempre fica “irado” quando alguém o contraria ou quando alguém
duvida de sua boa vontade. Para este autor não há problema algum em exteriorizar os
sentimentos de Jesus para seus leitores judeus, mostrando assim, a condição humana de
Jesus.