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O Ego

Do Nascimento
ao Renascimento

Volume Seis
The Notebooks of
PAUL BRUNTON
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O Ego - Do Nascimento ao Renascimento


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O perigo da maioria dos caminhos pseudo-espirituais é que estimulam o ego, enquanto o


caminho autêntico o sufocará.

A melhor medida para o progresso é, em estágios anteriores, o grau de desaparecimento


do governo do ego e, nos últimos, o grau de desaparecimento do próprio ego.

1. O que eu sou?
Eu egóico e Eu Superior
Corpo e consciência
Sentido de eu e memória
Ego como limitação
Ego como presença do Superior
Duas visões de individualidade
Perfeição por rendição
Ego subordinado, não destruído
Ego após a iluminação
Renúncia
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O que eu sou?
Eu egóico e Eu Superior

Esse elemento em sua consciência que o capacita a entender que ele existe, o que faz com
que ele pronuncie as palavras, "Eu Sou", é o elemento espiritual, aqui chamado "Eu
Superior". É realmente o seu eu básico para as três atividades de pensar, sentir e querer
que se derivam dele, são ondas que se espalham, são atributos e funções que lhe
pertencem. Mas, como normalmente pensamos sentir e agir, essas atividades não
expressam o Eu Superior porque estão sob o controle de uma entidade diferente, o ego
pessoal.

A fonte da sabedoria e do poder, do amor e da beleza, está dentro de nós, mas não dentro
de nossos egos. Está dentro da nossa consciência. Na verdade, sua presença nos
proporciona um contraste consciente que nos permite falar do ego como se fosse algo
diferente e separado: é o verdadeiro eu, enquanto o ego é apenas uma ilusão da mente.

É verdade que a maioria dos homens sofre de equivocada identidade? Que são totalmente
ignorantes da natureza bela e virtuosa, aspiracional e intuitiva que é seu Eu Superior? A
apatia que lhes permite aceitar sua natureza menor, seu pequeno eu comum, deve ser
descoberta pelo que é.

Uma vez que a pessoa em que o homem mais se interessa é ele mesmo, por que não se
conhecer a si mesmo como realmente é, não apenas como ele parece ser?

Dentro de cada entidade humana há uma silenciosa atração de dentro para seu centro, o
Eu real. Mas ao lado disto, há uma atração mais forte de fora para seus instrumentos - os
sentidos do corpo, o intelecto e os sentimentos - o falso eu. A entidade é compelida a dividir-
se, a sua vida e atenção, entre estes dois opostos, involuntariamente através do despertar
e do sono, voluntariamente através do ego entregue ao Eu Superior.

O que é o ego senão o Eu Superior, cercado de barreiras, condicionado por seus


instrumentos - o corpo, os sentimentos e o intelecto - e esquecido de sua própria natureza?

O ego é a criatura que nasceu do próprio fazer e pensar do homem, mudando lentamente
e crescendo. O Eu Superior é a imagem de Deus, perfeita, completa e
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imutável. O que ele tem que fazer, se ele quer que se cumpra, é deixar que um brilhe
através do outro.

Pense! O que significa "eu"? Esta única e simples carta é preenchida com um mistério
inexpressivo. Pois além do vazio infinito em que nasce e a qual deve retornar, não tem
significado. O Eterno é seu núcleo e conteúdo oculto.

O ego é, afinal, apenas uma ideia. Ele deriva sua aparente realidade de uma fonte mais
alta. Se fizermos o esforço interior para procurar a sua origem, devemos encontrar a Mente
na qual essa ideia se originou. Essa mente é o Eu Superior. Esta pesquisa é a Busca. A
auto-separação da ideia da mente que torna sua existência possível é o egoísmo.

O que ele considera ser a sua verdadeira identidade é apenas um sonho que o separa dele.
Ele tornou-se uma criatura curiosa que aceita com entusiasmo a confusa escuridão da vida
do ego e volta suas costas para a ardente luz da vida da alma.

Uma vez que esta pergunta - o que sou? - se responde, não há outras perguntas. À luz de
sua deslumbrante resposta, ele sabe como lidar com todos os seus problemas.

O eu que lhe dá uma consciência pessoal não é o seu verdadeiro eu.

O que um homem considera como ele mesmo? É o centro consciente de tudo o que ele
pensa e experimenta, sente e faz.

Esta criatura miseravelmente limitada, pateticamente finita, que se chama homem (raiz:
sânscrito manas, mente) sabe tão pouco do que realmente é porque não conhece sua
própria mente.

Esta é a assombrosa contradição da vida do homem, que, apesar de ter o divino dentro de
si mesmo, ele só conhece e inabalavelmente persegue, tudo que é contrário.

Este é o paradoxo da existência humana: o ego é você mesmo e o Eu Superior é você


mesmo, mas o primeiro não pode facilmente entrar em contato com o segundo.

Uma surpresa tremenda surge quando o Eu Superior se mostra para si mesmo - quando,
pela primeira vez, o ego pode ver o que realmente é por uma luz divina.

O "eu" que olha esse espetáculo do mundo, deve examinar-se se queremos conhecer a
verdade sobre ambos.
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"Eu não sou eu". Essas palavras são absurdas ao intelecto, que não pode nada fazer delas.
Mas, para a intuição desperta, são perfeitamente compreensíveis.

Quando, para esta pergunta, "O que sou eu?" A resposta final e completa chega finalmente
como um despertar do sono, vem com ela um sentimento de bem-aventurança.

Para a maioria dos ouvidos ocidentais, o conselho, dado como uma panaceia universal à
humanidade sofrida, pelos eremitas monásticos, para não se preocupar com nada, exceto
de "conhecer o eu", pode soar estúpido e irritante. No entanto, há nele, uma profunda
sabedoria.

É difícil considerar a realidade da própria personalidade como um mito. Inclusive, poucos


são as probabilidades de se fazer a tentativa, de tão indesejável que parece. E haveria
poucas chances de sucesso se não houvesse uma tentativa simultânea de descobrir a
realidade do Eu Superior, que é para deslocar o mito.

O ego pessoal deriva sua própria luz da consciência e o poder da atividade do Eu Superior.

O ego é apresentado pelo Eu Superior.

O pequeno ego é o único ser que ele conhece: o Ser maior da consciência filosófica seria,
e é, além de sua compreensão.

O ego se move através de todos os três estados, mas o próprio Turiya (estado natural do
Ser) está imóvel.

Não devemos confundir Atman com o ego. O ego é produzido, junto com o mundo do não-
ego, por Atman.

O ego toma emprestado sua realidade, seu poder de percepção, sua própria capacidade
de ser consciente, da sua associação com o Eu Superior.

O ego é uma coisa passageira, mas sua fonte não é.

A mente tem diferentes camadas entre a consciência da superfície externa e a consciência


fundamental interna. Essas camadas intermediárias não representam o Eu verdadeiro e,
portanto, devem ser cruzadas e passadas no esforço para conhecer o verdadeiro Eu. Por
exemplo, algumas camadas são conscientes e outras são subconscientes; há camadas de
memória e camadas de desejo; existem camadas que são armazéns dos resultados das
experiências passadas em reencarnações anteriores
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- elas contêm os hábitos e tendências, complexos e associações que descendem daqueles


tempos anteriores. Existem outras camadas que contêm o passado da atual reencarnação
com suas sugestões da hereditariedade, da educação, da escola, do meio ambiente e da
infância. Existem camadas cheias de desejos e esperanças, desejos e aspirações,
ambições e paixões do ego. Todas essas camadas devem ser penetradas pelo místico e
ele deve ir mais profundo e mais abaixo delas porque nenhuma delas representa o
verdadeiro Eu. Ele não deve permitir-se ser detido em nenhuma delas. Todas estão dentro
da esfera confinada do ego pessoal e, nesse sentido, fazem parte do falso eu. Muitas vezes
elas detém o buscador em seu caminho ou o distraem de seu progresso: conhecer o
verdadeiro Eu é conhecer um estado de ser no qual nenhum delas entra.

Continue pensando nas diferenças entre o ego pessoal e o Eu Superior impessoal até que
você se familiarize completamente com elas.

O verdadeiro eu do homem está escondido num núcleo central de quietude, um vazio


central de silêncio. Esse núcleo, esse vazio ocupa apenas uma dimensão específica. Ao
redor dele há um anel de pensamentos e desejos que constituem o imaginado eu, o ego.
Este anel está constantemente fermentando com novos pensamentos, mudando
constantemente com novos desejos e, alternadamente, borbulhando de alegria ou se
agitando com dor. Enquanto que o centro está sempre em repouso, o anel ao redor nunca
está em repouso; enquanto o centro concede paz, o anel a destrói.

A consciência do Eu Superior é refletida no ego, que logo imagina que tem sua própria
consciência original e não derivada.

Cada homem é três seres: um animal, outro uma entidade humana, o terceiro um ser
espiritual. O conflito interno é resultante de onde os três estão ativos.

É uma excelente pergunta para se colocar diante de qualquer homem - Quem sou eu? -
mas precisará do acompanhamento de outra - O que eu sou? - se o principiante deve
conseguir um trabalho mais fácil e mais completo da intenção de sua mente, para obter
uma resposta menos desconcertante.

Por que eu escolhi "O que sou eu": (1) Porque eu queria começar com a ideia de uma
consciência não "Eu" em vez de seu próprio "Eu" com a qual estão continuamente
ocupados; (2) Porque a palavra Brahman é de gênero neutro, nem masculino nem feminino.
Brahman em nós é Atman, o Si mesmo - mas totalmente impessoal. "O que" se presta mais
facilmente a essa impessoalidade do que "Quem"; (3) A resposta para "O que eu sou?” é
múltipla, mas começa com "uma parte do mundo!" E é seguida de outra pergunta: "Qual é
a minha relação com este mundo?"
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A resposta requer a descoberta do Mentalismo, levando de volta ao pensamento do mundo,


do pensador e da consciência, para Brahman.

Temos que distinguir constantemente entre a integridade universal do ser indiviso e o ego
individual finito, com o qual esse ser está associado e pelo qual, por conseguinte, está
enganado.

A resposta à pergunta "O que sou eu?" é "Uma alma divina". Esta alma está relacionada e
enraizada em Deus. Mas isso não nos torna equivalentes a Deus. Aqueles que o dizem,
estão usando a linguagem descuidadamente.

O ego deve estar lá, pois é necessário ser ativo neste mundo; mas não precisa assumir o
comando exclusivo do homem. Há esse outro, esse Eu Superior também.

Existem outras forças em trabalho em nós, além das que todos reconhecem. Algumas são
mais elevadas e mais nobres do que o nosso eu comum, outras mais baixas e indignas.

Normalmente, o ego é o agente da ação. Isso é aparente. Mas se uma investigação for
definida e sua origem e natureza penetradas com sucesso, uma descoberta surpreendente
sobre o "eu" será feita. Sua verdadeira energia é derivada do não-eu, ser puro.

Este incomum interrogatório de si mesmo, esta exigência de saber o que é, pode levar uma
vida inteira do mais profundo exame para satisfazer.

O homem é um ponto na mente universal. Como tal, ele está só, de modo que, no mundo,
vive com os demais, bem perto deles, mas completamente separados.

A freqüente referência de Ramana Maharshi ao "Eu-Eu", simplesmente significa o Eu


Imutável (em contraste com o ego sempre em mudança).

O ego não possui a resposta final às nossas perguntas mais profundas, nem tampouco
pode. Devemos buscar em outro lugar.

O homem é como um ator que se tornou tão envolvido na interpretação de seu papel, que
se esqueceu de sua identidade original. De fato, o impede de se lembrar de quem e o que
é.
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Não é a fórmula de Descartes: "Penso, logo, existo", mas "A Alma está dentro de mim,
portanto, eu sou". Para Descartes, o "eu" é relativo e variável, enquanto para o místico, é
absoluto e permanente.

Se não houvesse dentro de um homem, algo superior a esse seu pequeno ego, ele nunca
seria levado a renunciá-lo, já que, em ocasiões, ele o renuncia.

O "eu" conhece-se como o Eu Superior quando deixa de se limitar à entidade individual,


liberando assim sua vontade ao máximo. A ideia de Schrõdinger sobre o eu é a pura
consciência, ou "matéria fundamental" sobre a qual nossas experiências pessoais se
limitam a acumulam.

A essência do homem é perfeita, mas o ego do homem não é.

As aventuras de alguém no autodescobrimento, apenas se realizarão quando descobrir o


que está além do ego.

Qual é a identidade permanente do homem? Não é lógico que, quando a mente de um


homem está cheia de seu "eu" a transbordar, não pode haver espaço para o que o
transcende, o Eu Superior?

Quem é este ser no espelho? A imagem refletida de seu corpo, vem responder. Então, aí
estou eu! Não, continue, o corpo é apenas uma parte de você, a parte que é o objeto que
recebe a sua atenção. E a sua consciência disso? Você está tendo a experiência disso.
Então, quem é essa entidade que é você? Para obter a resposta adicional, achei necessário
participar numa iniciativa dupla. Primeiro, tive que pensar muito cuidadosamente e
profundamente através de um pequeno pedaço de filosofia psicológica que estava
escondida no núcleo de um conto árabe, que pode ter sido o precursor de nosso inglês
Robinson Crusoé, mas que aumentou para um nível mais alto de compreensão e intuição.
Foi o Despertar da Alma de Ibn Tufail. Em segundo lugar, tive que praticar algo
completamente contrário ao pensamento, algo que cheguei a chamar de quietude.

Existe o eu pessoal dentro de mim. Há também o eu impessoal, o Eu Superior dentro de


mim. Podemos reagir de forma errada através da perspectiva limitada do ego - ou
reconhecer o Eu Superior.

Nosso eu real não está em movimento, nem se altera, nem se forma. Temos que nos
identificar com esse invisível eu.

"O conhecimento procede de 'O que sou? ' para 'Eu Sou'."- Abu Hassan el-Shadhili, o Sufi
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Assim como o Ser Divino é tanto a Mente-em-si como a Mente-em-atividade, de acordo


com o aspecto que vemos, bem como o Poder-estático e o Poder-dinâmico, de modo que
seu raio no homem é Puro Ser-Consciência, aparecendo como o ego mentalmente-ativo,
bem como a Força-Vida aparecendo como corpo-fisicamente ativo.

Corpo e consciência

Nem o corpo com seus sentidos nem a mente com seus pensamentos é o ser supremo que
sou. O corpo age e a mente se move, mas atrás deles está a Consciência livre de
pensamento, o Princípio Consciente.

O primeiro grande erro a ser descartado é comum: a aceitação do corpo físico como o eu
real, quando é apenas uma expressão e um canal, um instrumento e veículo do eu.

Nossos pensamentos e estados de humor sofrem de referência corporal.

Você tem um corpo, mas o real você não é físico. Você tem um intelecto, mas o real você
não é intelectual. Você tem emoções, mas o real você não é emocional. O que você é?
Você é a consciência infinita do Eu Superior.

O ego expressa desejos e preferências, o intelecto pensa e lembra, os órgãos sensoriais


do corpo experimentam e percebem o mundo lá fora. Nenhum desses três é o verdadeiro
"eu" de um homem.

Muitas vezes, dizemos que somos o que somos por natureza e hereditariedade, mas muitas
vezes deixamos de lado o ingrediente mais importante da individualidade, o mais oculto e
o mais esquivo, a fonte da vida pessoal. Que essa omissão é causada pela ignorância, ou
pela falta de qualquer experiência esclarecedora, é verdade, mas não perdoa nossa inércia
e apatia. Pois a Consciência nos dá o "eu", nos dá o mundo, nos dá vigília e o sono. É o
que realmente somos. No entanto, tudo o que podemos dizer sobre isso é confundi-la com
uma coisa, o cérebro carnal, e deixá-la ir nessa rejeição.

Como ele entende a si mesmo, assim ele entenderá que o mundo é. Se ele entende que
ele é apenas um corpo material, o mundo aparecerá a ele igualmente. Se ele não encontra
conteúdo espiritual em si mesmo, também não o encontrará no mundo.
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O corpo em que ele habita não é ele mesmo. O intelecto com o qual ele pensa não é ele
mesmo. A consciência pela qual ele pronuncia "eu" é ele mesmo.

Essa capacidade de pronunciar o pronome "eu" - para compreender que ele é ele mesmo
e ninguém mais - garante uma consciência que transcende "eu" e se sustenta a si mesmo.

Há algo em cada homem que diz "eu". É o corpo? Normalmente ele pensa que sim. Mas
se ele pudesse estabelecer uma análise mais profunda, ele acharia que a consciência o
levaria para longe do corpo-pensamento em si mesmo. Ali, em sua própria existência pura,
ele encontraria a resposta a sua pergunta: "Quem sou eu?"

O corpo é um complexo de pensamento que eu tenho, e, como um pensamento, certamente


é parte de mim mesmo. Mas isso não me faz corretamente.

É uma visão unilateral que vê o homem como apenas um ser físico ou apenas um ser
mental. Tampouco é muito correto considera-lo como tendo esses dois aspectos
separados. Ele é ao mesmo tempo, um ser psicofísico.

Esse sentido, força ou sentimento dentro dele, que se chama eu, tem sua parte mais íntima
naquilo que o observa, o Eu Superior.

Todos podem dar o seu consentimento à afirmação de que seu ambiente físico não é ele
mesmo, mas exige uma grande penetração para dar o seu consentimento à afirmação
igualmente verdadeira de que seus pensamentos não são ele mesmo.

O "eu" não é um pensamento. É o próprio princípio da própria Consciência, Puro Ser. Não
é nem mente pessoal, nem corpo físico, nem ego nem o pequeno eu. Sem ela, eles não
poderiam existir ou funcionar. É sua testemunha.

Todos pensamos, experimentamos, sentimos e nos identificamos com o "eu". Mas, quem
sabe realmente o que é? Para fazer isso, precisamos olhar dentro da mente, não no que
contém, como fazem os psicólogos, mas no que é em si mesma. Se perseverarmos,
podemos encontrar o "eu" por trás do "eu".

Seria errado acreditar que existem duas mentes separadas, duas consciências
independentes dentro de nós - uma mente ego-inferior, e a outra, a Mente superior - com
uma, ela mesma, não observada, observando a outra. Há apenas uma mente iluminadora
independente e tudo o mais é apenas uma imagem limitada e refletida dentro dela. O ego
é uma série de pensamentos que depende dela.
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O mistério da personalidade pode ser resolvido se nós, primeiro, concedermos que pode
haver apenas um eu real. Uma vez que isso seja concedido, ver-se-á que qualquer outra
coisa que reivindique ser a personalidade só pode ser um falso eu.

O ego não possui uma existência totalmente separada, pois seus pensamentos e suas
forma carnal chegam tanto do exterior quanto do interior.

O Eu Superior permanece no vazio dentro do coração. Daí brota o sentido do ego de "eu".
Só que o ego compreende mal sua própria natureza e coloco em lugar indevido o "eu" como
sendo o corpo.

Existe apenas uma única luz da consciência na câmera da mente. Sem ela, o mundo não
poderia ser fotografado sobre o filme de nossa ego-mente. Sem ela, a própria mente do
ego estaria tão em branco. Essa luz é o Eu Superior.

Se ele pudesse tomar conhecimento da sua própria consciência!

Como alguém poderia dizer que experimentou o mundo a menos que estivesse separado
dele e pudesse interagir com ele? Mas esta verdade deve ser estendida para incluir seu
corpo que, embora menos obviamente, é algo igualmente experimentado e sentido. Em
seu erro, ele se identifica com seu corpo quando deve haver um Princípio que o
experimenta, algo que sente que o mundo e o corpo estão lá e que, portanto, deve ser
outro e separado deles. Este Princípio é, e só pode ser, o Eu estável, o real e permanente
de um homem.

A pessoa é simplesmente a coleção totalizada de todas as formas de pensamento da


experiência ao longo do dia. Esse elemento em todas essas formas de pensamento que
sempre se modificam, que não se altera, mas que permanece fixo, é a Consciência pura
delas.

Deveremos, de fato, fazer uma distinção entre o eu consciente que está tão ligado ao corpo
e ao eu superconsciente, que não é alcançado e nem captado pelos sentidos corporais.

Os psicanalistas que examinaram a natureza mais profunda do homem e descobriram


somente impulsos sexuais ou complexos raciais, necessitam ir ainda mais fundo.

Na minha qualidade de autor, quando estou sentado no escritório usando uma caneta, o
termo eu me identifica com o corpo; mas na minha capacidade como criador dos
pensamentos expressados na escrita, ele me identifica com a mente. É bastante apropriado
usar o termo em ambos os casos, mas qual das referências é o Eu Superior?
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Além disso, quando eu durmo e sonho repetidamente de viver na França durante o período
revolucionário, o termo eu ainda é apropriado à figura salva da guilhotina, quem é o
sonhador, senão eu mesmo? Meu senso de eu muda com cada uma dessas situações.
Mas olhando mais de perto deles, uma coisa emerge como sendo comum a todos os eus -
a consciência!

A consciência geralmente se considera limitada ao corpo físico. Essa crença é chamada


"eu", afirma ser o "eu". Que eles estão associados entre si é inquestionável. Mas uma
investigação adicional produzirá um resultado adicional e surpreendente: ela funciona
através do corpo e, nesse sentido, a conexão dá vida ao corpo, criando assim a crença de
que é o corpo quando, na realidade, ela apenas o permeia. O que acontece é que uma
parte (o corpo) está se impondo ao todo (a consciência).

A experiência normal leva um homem a se identificar com seu corpo, mas ele não consegue
ir mais longe e mais profundamente para se perguntar: "Quem está presente no corpo?"

Ele não está mais identificado com seu corpo do que o Dr. Samuel Johnson estava com o
casaco manchado de sopa. Mas o casaco ainda era parte da personalidade do erudito.

Com seus pensamentos e sentimentos centrados no corpo, o eu de um homem ainda não


é completo, nem mesmo tão real como parece ser.

Ele é apenas um membro da colônia humana de formigas, alojada numa minúscula parte
do sistema solar, que é em si mesmo um ponto microscópico na galáxia da Via Láctea.
Isso seria perfeitamente verdade se ele não fosse mais do que seu corpo físico.

O homem não é mais do que um pequeno animal perverso e corrupto pelo crescimento do
intelecto? Este é um conceito superficial da entidade humana.

O "eu" final não é o "eu" dos sentidos, nem dos desejos, mas uma entidade mais profunda,
livre e desapegada, serena e autossuficiente.

A ciência materialista do século XIX deu origem a doutrinas materialistas de que o homem
é governado apenas por forças físicas e que sua história é moldada apenas por eventos
físicos, seu destino determinado por um ambiente físico. Isto é apenas parcialmente
verdadeiro e limita o homem aos interesses dos animais. Idéias e ideais, crenças, também
contribuem para a sua criação.
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Este mesmo materialismo religioso ou oculto é frequentemente levado ao chamado


pensamento espiritual quando é proposto e acredita que a alma é uma duplicata imaterial
do corpo.

Muito depende do significado que colocamos nesta palavra "eu". Podemos colocar um
menor ou maior, um raso ou um mais profundo, um falso ou um verdadeiro.

A atitude mental é muito importante. Pode responder a qualquer sugestão - que ele é o
débil ego ou que ele é o divino Eu Superior; é questão de onde ele coloca sua fé.

O objetivo final é considerar-se primordialmente um ser mental e não um físico, para cessar
essa idólatra identificação de si mesmo como carne, sangue e osso.

Sentido de eu e memória
Como é que eu sou - e sei que eu sou - substancialmente o mesmo homem hoje que o de
ontem, que me lembro dos acontecimentos de um ano atrás? A resposta deve ser que
existe um eu contínuo, ou ser, ou mente, em mim, distinto de seus pensamentos ou
experiências.

Nem o sono profundo, nem a contusão cerebral, nos impedem de recuperar o sentido de
"eu" quando eles terminam.

Se buscamos o eu nessa mistura de instintos contraditórios e tendências cambiantes,


encontramos apenas confusão. Essas coisas são o conteúdo da consciência, e não a
faculdade de consciência.

Mesmo o soldado chocado que sofre de uma amnésia quase total, esquecendo sua
identidade pessoal e sua história pessoal, não sofre qualquer perda da consciência de que
ele existe. Suas antigas idéias e imagens podem temporariamente ter desaparecido ou
mesmo permanentemente, mas a própria mente continua.

O sentido pode nos enganar com uma ilusão física, mas o próprio eu pode nos enganar
mentalmente? Não é de certo um fato, que não depende da experiência do sentido, o fato
de que existimos como indivíduos e que conscientemente existem? Não é o direito de dizer
"Eu sou" a única certeza que não pode ser dissipada, a única verdade que não pode ser
negada?
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Ego como limitação


O ego pessoal do homem se forma fora da vida impessoal do universo, como uma onda
que se forma fora do oceano. Ele contrasta, limita, restringe e limita essa vida infinita a uma
pequena área finita. A onda faz o mesmo com a água do oceano. O ego encerra tanto o
poder e a inteligência contidos no ser universal, que parece pertencer a uma ordem de
existência inteiramente diferente e completamente inferior. A onda também, uma vez que
se forma apenas na superfície da água, não dá nenhuma indicação em sua pequena
estatura, da tremenda profundidade e largura e volume de água abaixo dela.

Considere que nenhuma onda existe por si só ou por si mesma, que todas as ondas são
inescapavelmente partes do oceano visível. Do mesmo modo, nenhuma vida individual
pode separar-se da Vida Universal, mas é sempre uma parte dela de alguma forma. No
entanto, a ideia de separação é mantida por milhões. Essa ideia é uma ilusão. Daí brotam
seus problemas diretos. O trabalho da busca é simplesmente isso: libertar o ego de suas
limitações auto-impostas, permitir que a onda do ser consciente diminua e se endireite nas
águas de onde veio. A pequena onda é assim reconvertida para o infinito.

É ridículo se essa parte da mente que é apenas dentro da consciência pessoal, o ego, se
propõe a negar a Mente em si mesma - sua própria Fonte. Pois o ego está fechado no que
experimenta e conhece - uma área muito limitada.

O princípio de Advaita Vedanta de que o espírito divino foi dominado pela ignorância, é
inaceitável para a filosofia. O que este último diria é que algo saiu ou emanou do espírito
divino e é isso que foi dominado pela ignorância. Mas o próprio espírito divino permanece
intocado. Esse "algo" é o ego e é como a imagem no espelho. Embora a imagem não seja
o próprio objeto, ainda assim ele extrai sua existência do objeto. Mas o que quer que
aconteça não afeta o objeto.

Sim, nós somos essa Consciência. Mas a restringimos às formas que toma, enquanto nos
restringimos às idéias que produz; a encurtamos e a reduzimos aos pensamentos do ego.

A suprema qualidade e a augusta imensidade da Mente não podem ser estreitadas no


pequeno ego, nem sua verdade na falsidade deste último.

Quando se diz que a separação é o grande pecado, isso não se refere à relação de alguém
com outros seres humanos. Refere-se a se separar no pensamento do Eu Superior.
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A mente deve ser liberada de suas falsas crenças. A ilusão que mais escurece é que o eu
é que é mais familiar e real. Uma vida de equivocado pensamento e de fé iludida trouxe-a
à escravização por erro, conjectura e opinião. A saída exige coragem para seguir novos
caminhos e inteligência aguda para compreender a verdadeira identidade. O pessoal se
separa do eu real, interpreta erroneamente a Realidade, ignorando que ele próprio é um
pensamento na MENTE-TOTAL.

Mesmo a conduta irrepreensível e os modos impecáveis pertencem ao ego e não à


iluminação.

Desenhamos a própria capacidade de viver a partir do Eu Superior, o próprio poder de


pensar da mesma fonte. Mas limitamos tanto a capacidade quanto o poder para uma esfera
pequena, fragmentada e principalmente física. Dentro deste confinamento, o ego se senta
entronizado, servido por nossos sentidos e penalizado por nossos pensamentos.

Este estreito fragmento de consciência, que é a pessoa que sou, esconde o grande segredo
da vida no seu núcleo.

A Mente Infinita se recusa a ser personalizada, e nós a encerramos ao ego apenas


desligando-a completamente.

Quem entra pela primeira vez na experiência filosófica e penetra assim na natureza real do
ego, descobre com surpresa, que ao invés de ser um centro da vida como pretende ser, é
realmente um centro de morte - pois imensamente minimiza, obstrui e desliga a corrente
da vida não revelada no homem.

Os pensamentos se levantam e caem na superfície da consciência, assim como ondas no


oceano. Tanto os pensamentos quanto as ondas desaparecem novamente na sua fonte. O
ego é uma totalidade de pensamentos fortemente mantidos com uma longa ascendência
por trás deles. Então, também se dissolve eventualmente na mente universal. Sua
consciência de apoio não é perdida, é essa mesma Mente permanente. O eu pessoal é
uma individualização dessa mente. Não saiu do nada e, portanto, não pode voltar para
nada quando ele morre; ele morre nesta Mente universal viva, é absorvido por ela.

O ser não pode cessar; essa imortalidade é possível por causa da sua universalidade. Mas
a projeção, o pequeno ego pessoal, pode cessar.

Tomamos parte do ser humano para todo o ser, e então nos perguntamos por que a
felicidade humana é tão escorregadia e a sabedoria humana tão rara.
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A parte inferior da mente do homem que calcula, analisa, critica, culpa e organiza é a parte
que não tem compreensão dos princípios divinos e, portanto, seus planos são
frequentemente inúteis. O homem não tem como se limitar a mente inferior, e quando ele
entender isso, deixará seu futuro nas mãos de Deus, e então suas reais necessidades
serão atendidas.

O que alguém vê de outras pessoas não é nem o seu ser essencial, sua parte mais
importante, nem a sua melhor parte, mas apenas algo que está sendo usado para auto-
expressão em condições muito limitadas, enganosas e obscurecidas.

É uma ironia da vida que um homem pode ver claramente o ego físico, mas do que depende
para a existência, o Eu Superior, ele não vê. Portanto, ele negligencia ou ignora a atenção
que precisa e perde grande parte da oportunidade que uma reencarnação oferece para
promover seu desenvolvimento interno.

A visão egocêntrica dos homens comuns não é definitiva. Um dia, eles evoluirão para a
visão cósmica.

Em um sentido, o ego é uma corrupção da consciência divina, bem como uma diminuição
dela.

A consciência humana comum tem sido imposta a um adivinho e a oculta, cobre-a


monopolizando toda a atenção do pensamento e do sentimento.

Quaisquer que sejam as imperfeições ou manchas que encontramos no universo, devemos


sempre lembrar que estamos fazendo um julgamento, um julgamento humano - e, portanto,
um de um ponto de vista limitado.

Sob o pequeno "eu" se estende a Consciência universal.

Ego como presença do Superior


Não há necessidade de lamentar nossa situação como um ego confrontado por um mundo,
como uma dualidade, como um eu que aspira - muitas vezes em vão - ao seu Eu Superior.

Somente ao olhar mais fundo, em outro nível, em outra dimensão, podemos ver que essa
criatura lamentável, esse ser humano débil e limitado ao ego, limitado pela carne, não é
menos que uma demonstração da Mente Divina, um fragmento do Mundo-ldeia, que
qualquer outra das suas expressões.
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O ego ao qual ele está tão apegado se mostra na investigação não ser nada menos que a
presença de Mente-Mundo dentro de seu próprio coração. Se a identificação é então
deslocada pela prática constante de um para o outro, ele alcançou o propósito da vida.

O que achamos como os atributos do ego são uma imagem refletida, limitada e cambiante,
do que encontramos no Eu Superior. Eles, em última instância, dependem do próprio Eu
Superior tanto para sua própria existência como para sua própria natureza.

Por muito mal que todos refletimos o Eu Superior na personalidade, por mais minúsculo
que seja, quebrada e distorcida a imagem refletida no geral, ainda assim é um reflexo. Está
na capacidade de todos para torná-la melhor, e dentro da capacidade de alguns para torná-
la perfeita.

Deixe que eles não desperdicem tantas palavras sobre ou contra esse pequeno ego nosso,
criticando seu caráter ou negando sua existência, mas tente entender o que realmente está
acontecendo em sua vida curta. Deixe que averiguem o que realmente está sendo forjado
dentro e ao redor dele. Deixe que reconheçam que o Governador do Mundo está
relacionado a ele e que estamos mergulhados na Divindade, sem importar se estamos
conscientes disso ou não.

Não é correto supor que somos as formas manifestadas da perfeição da qual emanamos.
Mais precisamente, somos projeções de um meio mais denso da mente universal,
aparecendo por algum processo catalítico em seqüência natural nesse meio. A atividade
cósmica fornece a cada uma dessas entidades-projeção, um centro individual de vida e
inteligência através de um processo evolutivo, pelo que suas próprias energias diretivas
volitivas são, em última instância, fundidas com a vontade cósmica em perfeita unidade e
harmonia.

A importância que ele dá ao seu próprio ego não é infundada. Deriva, se rastreado até o
chão mais profundo, do Eu Superior. Ele perdeu sua verdadeira identidade, mas o falso
não é inteiramente assim.

Aqui, no ego miserável e limitado, temos um "sinal" do Eu Superior gloriosamente ilimitado,


uma indicação de que está presente como a própria fonte.

Se pudéssemos definir esse senso de "eu" - que está por trás de tudo o que pensamos,
dizemos e fazemos, e se pudéssemos separá-lo dos pensamentos, sentimentos e corpo
físico, ao fazê-lo, acharíamos que está enraizado e ligado ao poder superior por trás do
mundo inteiro.
19

A consciência do ego é um eco imensamente reduzido, imensamente enfraquecido, da


Consciência do Eu Superior. Está sempre mudando e se dissipa no final, enquanto o Eu
Superior é sempre o mesmo e eterno. Mas o ego é extraído do Eu Superior e deve retornar
a ele, então o vínculo está lá. Além disso, a possibilidade de retornar voluntariamente e
deliberadamente também está lá.

A menos que o ego humano seja em si mesmo uma emanação do Eu Superior, seria
incapaz de se identificar com a sensação de separação do corpo durante o processo que
chamamos de morrer.

Esta coisa que o Eu Superior projetou no espaço-tempo não perdeu todo o vínculo com
sua fonte, por mais que as aparências externas sugiram o contrário.

Assim como uma sombra revela uma luz, o ego revela sua fonte no Eu Superior.

A personalidade está enraizada no Eu Superior. Daí o seu próprio poder e movimento


refletem, embora minuciosamente, ligeiramente e distorcido, alguns dos próprios atributos
do Eu Superior.

Expressado em linguagem religiosa mais familiar, pode-se dizer que Deus colocou algo de
Si mesmo em cada um de nós. Mas está lá apenas como um potencial; devemos fazer o
esforço necessário para nos conscientizar cada vez mais.

Duas visões de individualidade

A essência de sua personalidade humana é uma individualidade divina.

O "eu" do ego é apoiado pelo "eu" do ser espiritual, o eu espiritual. De fato, o primeiro deriva
sua realidade do segundo e o segundo sobrevive quando o primeiro passa.

O ego pessoal tem suas singularidades e particularidades, seus objetivos atuais e


memórias passadas, sua vida dentro do tempo, seu próprio temperamento e características
especiais. Tudo isso eqüivale a isso: é único. A individualidade é a parte mais alta, mais
sutil e mais divina do ser. Está fora do tempo. É pura essência, a outra é uma entidade
composta. Para ela as horas não passam; para o outro, há uma seqüência constante, uma
existência de momento a momento. Às vezes, os homens a vislumbram, esse outro eu que
é realmente o seu próprio eu melhor e que não é algo a ser alcançado por uma progressão,
uma vez que está presente para
20

sempre. Não tem ou precisa de pensamentos. Cada momento que eles dão para se
identificar com ele é a salvação deles. Se isso leva alguns para longe de parentes e amigos,
de todo discursos com todas as pessoas, também o leva numa relação divina e a
comunicação com eles.

Como egos, eles são certamente vidas e seres individuais. Sua separação é inquestionável.
Mas, como manifestações do Único e Infinito Poder-Vida, sua separação dele é uma grande
ilusão.

É o que está atrás do indivíduo, e não o próprio indivíduo, isso realmente importa.

É o que está atrás do indivíduo, o que realmente importa, e não o próprio indivíduo.

O dervixe giratório que gira em seu próprio eixo, enquanto, ao mesmo tempo, gira em um
círculo maior com seus dervixes companheiros, é simbólico da própria centricidade do ego,
lado a lado com seu movimento evolutivo inconsciente.

Se olho dentro ou fora, o "eu" é o meu centro. Esta afirmação é verdadeira se eu descer
para os limites mais estreitos da personalidade egoísta ou ascender à maior liberdade de
vontade; da natureza inferior até o mais alto e mais nobre, o ego muda sua natureza, mas
não sua centralidade.

Perder o ego é entregá-lo a um Poder Superior, mas perder a individualidade não é o


mesmo.

O ego é o centro da individualidade humana.

O que separa um homem dos outros, o que o torna uma pessoa, um ser individual, é o seu
ego.

Poderia ser minuciosamente examinado, que se verificaria que cada ser humano era
individualmente individual, com seu próprio caráter essencial intrínseco, seus próprios
modos inatos, compulsões e tendências. A espécie humana é infinitamente variada.

Nenhum ego é exatamente o mesmo em características e perspectivas como qualquer


outro ego em todo o mundo. Cada um é único, marcado com sua própria individualidade.
Mas todos os egos são exatamente o mesmo nisso: que seu apego ao "eu" e sua
consciência de si, são dominantes.

O pensador consciente, o "eu", o ego.


21

O ego de alguém, o si mesmo, "eu", está detrás e debaixo de pensamentos e atos,


sentimentos e paixões.

O homem individual, a pessoa que ele é, é único: ele é distinto dos demais em forma e
caráter, separado dos outros em existência. Ele é ele próprio, seu próprio ser com sua
própria aura.

Sua individualidade deve ser notada se é um ser humano separado. Externamente, todos
diferem, mas na raiz mais profunda da consciência, todos são iguais.

Um aluno disse: "Como pode alguém, por mais que seja espiritualmente auto-realizado,
dizer que não tem ego? Pois, sem ele, como poderia funcionar neste mundo? É o ego que
diz ao corpo o que fazer - Levante uma mão, ande, e assim por diante. O que ele poderia
dizer corretamente é que ele se tornou um canal. Mas, para evitar confusão, seria melhor
chamar esse canal, "a individualidade".

Perfeição por rendição


Como o homem pode se expressar completamente, a menos que ele se desenvolva
completamente? A evolução espiritual que o obriga a abandonar o ego é paralelo à
evolução mental que exige que ele o aperfeiçoe.

Apesar de toda a conversa que despreza o ego, não é errado, mas é louvável desenvolver
a melhor personalidade possível e depois usá-la. Seu caráter pode ser purificado, suas
paixões controladas, suas fraquezas superadas, sua ignorância dissipada. Novas virtudes
podem ser introduzidas e se desenvolver um novo poder. Pode-se então aproveitar melhor
essa personalidade - para a sua própria vantagem e para o serviço dos outros - e você
deve.

Ele deve aprender a transcender seu próprio ego, e ainda exigir seu lugar e manter o
equilíbrio no mundo; para transcender o egoísmo de sua família, e ainda assim, respeitar
seus direitos e propriedades.

Todas as experiências desempenham seu papel no desenvolvimento de toda a consciência


do ego. Nos estágios anteriores, esse desenvolvimento se limita a ver, ouvir, sentir, cheirar,
provar e sentir coisas; mas nos estágios posteriores se expande para compreendê-los. Mais
tarde, a atenção do ego é voltada para si mesmo e, através da faculdade intuitiva, aprende
a reconhecer o princípio criativo oculto que o trouxe a luz.
22

Nós chegamos a esta terra para entender a nós mesmos, pouco a pouco.

Este grande egocentrismo preparou o caminho para seu próprio colapso, e daí para a
mentalidade espiritual que o transcende e que está próximo de ser desenvolvido.

Se, por um lado, a filosofia o obriga a seguir a linha da natureza na construção do ego e
desenvolver todos esses quatro elementos de sua personalidade - vontade, pensamento,
sentimento e intuição - do outro lado, paradoxalmente, ela pede que ele negue toda a
personalidade. Se o ego deve ser aceito porque não pode ser destruído, todavia deve ainda
ser dominado e destruído.

O ego é parte da ordem divina da existência. Deve emergir, crescer, escravizar e,


finalmente, ser escravizado.

Este é o paradoxo, ou a ironia da evolução: que primeiro o ego cresce em pleno ser através
da forma vegetal, animal e humana; então inverte o objetivo e concorda com sua própria
alteração e morte.

O paradoxo da situação humana é tremendo. Ele tem que abandonar a própria vida e ainda
desenvolver a natureza própria. Ele tem que esmagar os desejos do ego e ainda permitir
que sua plenitude se revele.

Se o ensino minimiza a importância do ego humano de certa forma, no entanto, ele amplia
o sentido do valor humano de outras maneiras.

Se ele deixa de olhar para a sua própria vida do ponto de vista fechado de seu pequeno
ego e, em vez disso, olhe para ela desde o ponto de vista grande angular de seu lugar no
ciclo de desenvolvimento reencarnatório, se encherá de novos significados, rico em valores
mais elevados. Colocar sua ideia pessoal em alinhamento com o Mundo-ldeia, se
converterá, então, em seu dever e em sua felicidade.

Não é irônico que o Eu Superior projete o ego até o ponto em que nega sua fonte, e então
espera indefinidamente que o ego se dissolva?

É hora de falar de empobrecer o ego – e isolá-lo e aniquilá-lo - quando o ego se tornar


desenvolvido e enriquecido o suficiente para ter algo a oferecer ou a perder. Também é
hora de falar de renunciar ao mundo quando há suficientes posses
23

mundanas ou apegos pessoais, ou posição suficiente, para tornar a renúncia um verdadeiro


sacrifício.

Depois que as capacidades físicas, intelectuais, estéticas e espirituais do ego foram


desenvolvidas, é o momento correto de renunciar, não antes. Mas o egoísmo e a
indisciplina do ego podem e devem ser renunciados a qualquer momento.

Quando o ego descobre que é uma parte do todo, naturalmente deixará de viver apenas
para seu próprio bem e também começará a viver para o bem geral.

Se as experiências anteriores da vida destinam-se a desenvolver o ego desde o estágio


primitivo animal ao completamente humanista, as experiências posteriores destinam-se a
induzir o homem a dar o ego como uma oferenda ao Eu Superior.

O ego não é por si só maligno, mas o que parece fazê-lo também é a recusa de reconhecer
e, em seguida, tomar seu lugar subordinado ao Eu Superior, a quem deve servir.

Se é verdade, o equipamento humano deve ser suficientemente desenvolvido e sensível


para ser capaz de reconhecê-lo como tal. Não só isso, mas a disposição humana de aceitar
a autodisciplina em pensamento e ação também deve estar presente se quiser ser uma
verdade vivida, isto é, Egohood. Sem essas condições, ainda é possível encontrar uma
fração se o todo for rejeitado. Existe um risco aqui nesse caso de distorção e adulteração
para se adequar aos desejos do ego, mas uma sinceridade total e franca pode evitá-lo.

Embora o desdobramento da natureza do ego primeiro o cegue com ignorância, seu


desenvolvimento posterior ilumina-o com conhecimento.

Ego subordinado, não destruído


Quando a consciência do ser primário verdadeiro e real é finalmente descoberta, pensada
e sentida como ele, o ser secundário não precisa ser destituído, negado a existência e
suprimido, como tantas vezes é ensinado. Mas por causa de sua tirania, sua usurpação
certamente deve ser interrompida e seu próprio lugar secundário lhe é imposto; e por causa
da ignorância, uma reeducação ao mentalismo também deve ser imposta sobre ela.

Não se trata tanto de uma questão de destruir o ego como de equilibrá-lo com o Eu
Superior, pois sua necessidade de desenvolvimento deve ser reconhecida. Tal ato não
24

lhe dará poder igual, mas o colocará em seu devido lugar, já que a individualidade de uma
criança precisa ser equilibrada com a de seus pais.

(1) Como, por que e em que medida o ego é real? (2) É absurdo descartar o ego como
inexistente quando, sem ele, nenhuma experiência individual seria possível, pois inclui o
corpo físico. (3) A confusão semântica está aqui quando as declarações Advaita o
descartam e negam o mundo. "Quem nega sua própria existência é um tolo".- O Dalai Lama

Toda vida individual desde o poderoso elefante até a célula microscópica, é uma entidade
auto-evolutiva que se move através do tempo e do espaço. Tem um significado, um
propósito e, eventualmente, uma realização aqui. Por que, então, falam de destruir aquele
com o qual vocês são mais íntimos - seu próprio ego?

O ego deve ser construído através de tantas vidas apenas para que possa ser destruído
no final?

Para libertar a si mesmo, por um período tão curto, da consciência do eu pode parecer uma
realização impossível. Mas a afirmação de que geralmente leva a uma compreensão
confusa e precisa ser mais restrita. Aplica-se à rendição da consciência pessoal à
consciência de Eu Superior impessoal. Existe um tipo de eu em ambos.

O ego não encerrará sua existência, mas acabará com seu domínio.

Nada pode aniquilar o ego durante a vida do corpo, mas sua função pode ser reduzida a
uma mera submissão ao próprio Eu.

O ego deve viver no mundo, deve satisfazer suas necessidades fora de seu meio ambiente.
Por conseguinte, tem direito a seu ponto de vista. O erro reside em tornar tiranicamente o
único ponto de vista.

Este conceito generalizado de que o ego é (a) o maior inimigo do homem, e (b) uma não-
coisa inexistente, desaparece com sua nova percepção. "A" é uma ideia que surge com o
vislumbre do iniciante. "B" surge quando uma tentativa de comunicação com os outros é
feita, pois termina em uma falta de comunicação; nenhuma palavra pode ser totalmente
precisa ao descrever o que é um paradoxo, um desconhecimento para o intelecto humano.
Só o silêncio mantém a verdade. "A" pode ser corrigido mais tarde, mas é uma etapa útil
se não for permitido se tornar uma parada. "B" é um conceito expresso em palavras e
atingindo alguém que tenta transformá-lo em seus próprios pensamentos. Mas, assim como
a consciência parece inexistente depois de entrar no sono profundo, o ego pode ser
embotado e perdido; mas, como a consciência, retorna mais tarde. O que acontece, então,
se o
25

homem realmente está absorvido no Eu Superior? O ego é posto em seu lugar, o pequeno
círculo se encontra preso e cercado pelo maior, aparentemente sem medida. Já não é o
governante despótico. Sua tirania se foi. Ele vê o jogo que está sendo jogado, a cena que
se promulga, mas a iniciativa já não vem de si mesma, mas doravante da Mente-Mundo.
Se os Grandes Mestres pregam sua negação, essa é a maneira deles de persuadir os
outros ao autocontrole moral e ao auto-desprendimento intelectual.

Em cada ponto de seu progresso, o ego segue funcionando - exceto na contemplação


profunda, livre de pensamentos, quando se suprime -, mas torna-se, por etapas bem
definidas, um personagem melhor e mais fino, cada vez mais em harmonia com o Eu
Superior. Mas a renúncia total do ego pode acontecer apenas com a renúncia total do
corpo, isto é, na morte.

O maior objetivo da busca não é a iluminação obtida pela destruição do ego, mas sim pela
perfeição do ego. É a função do egoísmo que deve ser destruída, não o que funciona. O
governo do ego deve ir, não o próprio ego.

Em toda a atividade humana, o ego desempenha seu papel, e enquanto essa atividade
continuar, o ego continua. Há muita confusão e muito mal-entendido sobre esse ponto. É-
nos dito para que eliminemos o ego; também nos é dito que o ego não existe. O fato é que
ele deve existir se existe a atividade. O que então deve ser feito pelo aspirante espiritual?
Ele pode trazer e eventualmente deve submeter o ego à sujeição ao Poder Superior. Ainda
está ali, mas é colocado no seu devido lugar. Agora, por que nos é dito para matar o ego
se não é possível? A resposta é que é possível, mas apenas no que é o ponto mais
profundo da meditação, chamado nirvikalpa em sânscrito, onde todos os pensamentos são
apagados, todos os relatórios de sentido deixam de existir, e uma espécie de condição de
transe é criada. Nessa condição, O ego é incapaz de existir; torna-se inoperante, mas
certamente não é morto ou não retornará novamente após a condição terminar, pois deve
terminar. Na verdade, não ajuda a afirmar que o ego não existe, ou se existe, que deve ser
morto. O fato é que deve ser levado em conta por todos que buscam a vida superior;
quaisquer teorias que ele entretém sobre o ego, está lá, deve ser contado, deve ser
confrontado. Alguma confusão é devido ao fato de que o ego é uma coisa de mudança;
Isso muda com o tempo e a experiência, enquanto o Ser Infinito, o Último, é imutável. Nesse
sentido, a realidade não pode ser atribuída ao ego, mas apenas nesse último sentido. No
entanto, vivemos aqui, no tempo e no espaço, e ignoramos este fato é cultivar um intelecto
surdo e idiota.

Um ego que temos, nós somos; sua existência é inevitável para que o pensamento cósmico
seja ativado e a evolução humana nele se desenvolva. Por que tornou-se, então, uma fonte
de maldade, fricção, sofrimento e horror?
26

A energia e o instinto, a inteligência e o desejo que estão contidos em cada fragmento


individualizado da consciência, cada um composto pelo "eu", não são originalmente maus
em si mesmos; mas quando o apego a eles se torna extremo, o egoísmo torna-se forte. Há
um fracasso no equilíbrio e as virtudes mais suaves se exprimem, entendendo que os
outros têm direitos, o sentimento de boa vontade e simpatia, acomodação para o bem-estar
comum - todos se vão. A atenção natural e correta às necessidades de cada um torna-se
ampliada até a tirania. O ego, então, só existe para se servir a todo custo, agressivo e
explorador de todos os demais. Deve ser repetido: um ego deve existir para que haja uma
Ideia-Mundo. Mas deve ser colocado e mantido em seu lugar (o que não é um egoísmo
endurecido). Deve ajustar-se a duas coisas: ao bem comum e à fonte de seu próprio ser.
A Consciência diz-lhe o primeiro dever, seja atendido ou não; intuição diz-lhe o segundo,
seja ignorado ou não. Pois, negligenciado ou mal interpretado, a relação entre o mal e o
homem não deve ocultar o fato de que as energias e a inteligência usadas para o mal
derivam no princípio do divino no homem. Eles são dons de Deus, mas se viraram para o
serviço da impiedade. Esta é a tragédia, que os poderes, os talentos e a consciência do
homem são por tantas vezes ocupadas no ódio e na guerra quando poderiam trabalhar
harmoniosamente para o Mundo-ldeia, que sua própria desarmonia traz seu próprio
sofrimento e envolve a outros. Mas cada onda de desenvolvimento deve seguir seu curso,
e cada ego deve se submeter no final. Aquele que se endurece dentro de um egoísmo
grosseiro e rejeita seu lado espiritual mais suave, torna-se seu próprio Satanás, tentando
a si mesmo. Através da ambição ou da ganância, através da aversão ou do ódio que é
instilado nos outros, ele deve cair no fim, pelo Karma que ele faz, em destruição por seu
próprio lado negativo.

Isso não significa destruir o ego - como se alguém pudesse! - mas de destruir a sua tirania,
harmonizar sua vontade pessoal com a da Ideia-Mundo.

O ego pode ser suprimido, mas não erradicado, como quando uma pessoa é usada pelo
poder superior para dar uma mensagem, uma orientação ou uma revelação.

Em cada etapa dessa busca, desde a do postulante mais veraz que acaba de nela entrar
até a dos proficientes avançados, a necessidade de subjugar o ego está sempre presente.

A separação da pessoa é denunciada como ilusória pelos Upanishads hindus e pela


maioria dos textos budistas; mas, como uma ilusão, todavia está ali, ainda experimentada,
ainda viva. Esta é a situação peculiar do ser humano. Não vamos torná-lo mais complicado,
mais enigmático, ao negar essa experiência que todos nós temos, risonhas e igualmente
não iluminadas. Deixe-nos ver as coisas como elas são: isso não diminuirá nossa natureza
superior ou diminuirá nossa dignidade espiritual. Por que não aceitá-lo pelo que é, mas
colocá-lo em seu humilde lugar?
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A conversa solta sobre o desapego do ego que provem dos expositores modernos ou
propagandistas, tanto do Oriente como do Ocidente, da antiga "filosofia", é às vezes
delirante, às vezes ridícula, muitas vezes ilusória e muito raramente praticada ou praticável.
Essas pessoas são teóricas, sonhadoras, que usam seus próprios egos para dizer aos
outros que se desfaçam deles! Como se alguém pudesse! Mas o que se pode fazer - e
deveria fazê-lo - com o ego está além da sua sabedoria. Pois, baseando-se na filosofia da
verdade, é a única maneira praticável. Quando examinado, o ego é encontrado como um
complexo de corpo e pensamento, sentidos físicos e tendências mentais. Pregar aos
homens que eles se separem de todas essas coisas é geralmente desperdício de energia,
pois a consciência está tão ligada a eles que não pode ser tirada deles. Como poderia
alguém ser ativo no mundo sem eles? O desapego - se cheio e real - significaria não ter
consciência do mundo: o ego é uma parte necessária da existência. Se um homem
estivesse totalmente liberado de seu ego, ele se tornaria totalmente incapaz de atender aos
assuntos comuns de sua própria existência! Mas deixe-nos afastar desse absurdo e olhar
o corpo e o mundo à luz da filosofia da verdade. Aprendemos que eles são apenas
aparências dentro da experiência pessoal, que, no final, isso é mental, apesar da sua
solidez e intensidade, de que o "eu" é reduzível a um único pensamento, que sua relação
e a dependência de seu ser real e a essência pode ser trazida à luz, para que a mente
possa ser reeducada e controlada de modo que o ego volte ao seu devido lugar, não mais
tiranizando sobre ele. Isso pode acontecer por si só em um repentino resplendor solar ou,
mais provável, lentamente imperceptivelmente e sutilmente. Esse processo pode ser
chamado de desapego e seu trabalho é cooperar com ele. Mas lembre-se: o entendimento
obtido da reflexão sobre a filosofia da verdade, combinado com as meditações prescritas
por ela, o separa naturalmente. Não há esforço forçado, artificial e falso.

Há muita confusão sobre esta questão do ego e muita imprecisão no uso de palavras a
respeito. É-nos dito para que eliminemos o ego e erradiquemos o eu pessoal. Mas o fato é
que, enquanto ele estiver nesta terra, está usando um corpo e uma mente e herdando toda
uma combinação inteira de fatores, tendências, características que descendem de vidas
anteriores e juntas agora constituem sua personalidade. Eles ainda estarão presentes
enquanto ele estiver vivo. Destruir completamente o ego significaria necessariamente
destruir o corpo físico, que é parte dele, e remover sua individualidade particular que o
distingue dos outros. Isso não pode ser feito, mas o que pode ser feito é tornar o ego
subordinado ao Eu Superior, um instrumento obediente da vontade superior.

Jung acreditava que o esforço meditativo para transcender o ego pessoal terminaria em
total esquecimento porque, sem ele, a consciência desapareceria. Nisto ele cometeu um
erro e, acredito, nos últimos anos de sua vida mudou sua visão.
28

Apesar de todas as pregações religiosas e argumentos moralizantes, todas as dissertações


analíticas intelectuais, o ego não parece um elemento irredutível e irresistível na natureza
humana? Apesar de toda a conversa alta que tem surgido das instituições ou que fluem de
forma lúcida da boca daqueles preocupados com religião, misticismo e metafísica, o ego
ainda permanece como o próprio fundamento de sua própria existência, sua própria
atividade. A própria pessoa que nega a sua realidade deve usar um ego para fazer sua
negação!

Para um homem, negar-se a si mesmo pode parecer ser a negação de tudo o que é
humano. Mas isso não é necessariamente assim, exceto onde reina o desequilíbrio ou o
fanatismo. Ninguém, de fato, escapa de sua humanidade: ele apenas enobrece, diminui,
torce ou se encolhe.

A filosofia nega ao ego o governo final do homem, mas permite ao ego as atividades
necessárias do homem. De que outra forma ele pode viver neste mundo? O ego pode
permanecer no seu devido lugar atendendo às necessidades e ao sustento de seu corpo e
intelecto, mas sempre como um subordinado ao Eu Superior e obedecendo à vontade
superior.

De uma visão de longo alcance, a consciência individual não é perdida. Há momentos em


que é atenuada temporariamente e até mesmo mergulhada no completo esquecimento por
um tempo. Isso acontece tanto durante a vida no corpo como fora dela. Quando, como por
um golpe ou por ser gaseado, desaparece, simplesmente passa a um estado latente e será
revivido novamente.

Talvez um dia alguma mente brilhante escreva um livro intitulado Inspirado Egoísmo para
fazer as pessoas compreenderem que o ego também tem o seu lugar no esquema das
coisas. É o pequeno círculo dentro do maior do Eu Superior, e se ele permanece consciente
de sua verdadeira relação com o Eu Superior, pode ainda descansar ali e continuar com
suas funções.

Sem o ego, como podemos viver e atuar nosso papel neste mundo? É uma ferramenta que
usamos. Um homem cujo ego quebrou e desmoronou geralmente é considerado insano e
é segregado.

O que há de errado com a ideia de personalidade se é corretamente compreendido, se


seus sinais e padrões são mantidos abaixo do status inferior? Deixe-o ser aceito como uma
coisa passageira em mudança, se você quiser; que sempre seja subserviente à realidade
sempre presente de Eu Superior: mas por que temer sua expressão?
29

É verdadeiro e também falso que não possamos levar o ego conosco na vida de iluminação
mística. O ego é, afinal, apenas um reflexo, extremamente limitado e muitas vezes
distorcido, do Eu Superior... Mas ainda assim é um reflexo. Se pudéssemos colocá-lo em
alinhamento correto e submissão ao Eu Superior, isso não seria nenhum obstáculo para a
vida iluminada. O ego não pode, de fato, ser destruído enquanto precisarmos de seus
serviços, enquanto estivermos na carne; mas pode ser subjugado e transformado num
criado em vez de permitir que ele permaneça um mestre. Quando isso for entendido, o ideal
filosófico de um ego plenamente desenvolvido, dominado e ricamente arredondado que
atua como um canal para a inspiração e orientação do Eu Superior será melhor apreciado.
Um ego egoísta, naturalmente, forma um canal mais limitado para a expressão do Eu
Superior do que um mais evoluído. O inimigo real a ser superado não é o ego da entidade,
mas a função do egoísmo.

Ego após a iluminação


O ego está totalmente perdido, totalmente aniquilado nessa conquista? Só posso dizer que
nenhum dos nossos conceitos habituais se ajusta ao resultado real, que é difícil de
descrever, e essa sugestão deve substituir a descrição. Pois o ego e o Eu Superior se
fundem e se unem, mas a união não destrói a capacidade do ego de se expressar ou de
ser ativo no mundo. Sua própria aniquilação é uma experiência transitória durante o estado
contemplativo. A retomada da vida mundana, enquanto permanentemente estabelecida em
perfeita harmonia e obediência, o Divino Eu Superior é o objetivo seguinte e final.

Se um homem pudesse retirar-se o suficiente de seu ego para deixar de permitir que seus
interesses e desejos o dominassem, ele deixaria a paz chegar a triunfar em seu coração.
O verdadeiro paraíso, o verdadeiro reino celestial, que foi adiado por um clero ignorante
para o mundo pós-morte, tornando-se tão distante e evasivo, está de fato tão próximo a
nós como a nós mesmos, e tão presente como hoje. Se quisermos entrar, podemos e
devemos entrar enquanto ainda na carne. Não é um momento ou lugar, mas um estado de
vida e um estágio de desenvolvimento. É a vida sem ego. O ego não é chamado a se
destruir, mas a disciplinar-se. O pessoal num homem deve viver, mas apenas como escravo
do impessoal. Essas duas identidades compõem-se.

Se o ego continuar a desempenhar as suas funções, tal como precisa e deve, mesmo após
a Realização, não o faz mais como seu mestre, não mais como seu próprio eu. Pois, daqui
em diante, obedece ao Eu Superior.
30

Para o homem nessa consciência elevada e identificado com ela, o ego é simplesmente
um canal aberto através do qual seu ser pode fluir para o mundo do tempo e do espaço.
Não é ele mesmo, como é para o homem não iluminado, mas um complemento para si
mesmo, obedecendo e expressando sua vontade.

Em tal estágio, o ego torna-se um mero instrumento, colocado ou retirado em qualquer


momento pelo Eu Superior. Já não são seus próprios pensamentos, emoções, desejos ou
desejos no controle; em vez disso, eles são totalmente controlados pela maior potência.

Ele terá o poder de descartar seu ego à vontade.

O ego definitivamente deixa de existir e é totalmente absorvido no Eu Superior somente


em estados especiais, temporários e de transe. Em todos os outros momentos, e
certamente em todos os tempos ativos e cotidianos, continua a existir. O fracasso em
aprender e entender esse ponto importante sempre causa muita confusão em círculos
místicos. O estado atingido em meditação profunda é uma coisa; O estado retornando
depois de tal meditação é outra. O ego desaparece em um, mas reaparece no outro. Mas
há certos efeitos posteriores dessa experiência sobre isso que provocam gradualmente
uma mudança em sua relação com o Outro. Envia, obedece, expressa e reflete o Outro.

Quando ele percebe claramente e sente intensamente que seu ego é inexistente, irreal e
fictício, como pode afirmar que encontrou Deus, Verdade ou Iluminação? Porque, ele
então, verá claramente que não há ninguém para fazer tal afirmação. Os outros que o
fazem, demostram assim que ainda têm um ego; consequentemente, eles ainda
permanecem fora da Verdade. Sua alegação de iluminação é, por suas próprias palavras,
carimbada como falsa.

Se ele perde seu ego absolutamente e plenamente, de modo que nenhum vestígio dele
exista, ele teria que morrer, pois seu corpo faz parte do ego. Mas ele continua. Isso mostra
que o que ele realmente perde não é a natureza do ego, mas a vontade do ego. É
substituída pela vontade superior.

O ego vive entrincheirado no mundo interior do buscador. Se ele se tornar um santo, é


perdido de tempos em tempos na meditação, mas é encontrado novamente sempre que
ele emerge disso. Se ele se tornar um sábio, é perdido para sempre. Essa é uma diferença.

Sim, o ego como individualidade, permanece uma identidade separada. Mas se torna
renascido, purificado, humilhado diante do poder superior, não mais se estreita em
interesses, não mais tiraniza o homem, não é mais egoísta no sentido da
31

palavra. Pois, como um ser iluminado, pode permanecer inofensivo para todos os seres,
benevolente para todas as criaturas, respondendo a uma consciência atemporal
envolvendo sua personalidade comum. O círculo menor pode continuar a existir dentro do
maior até a libertação da morte. Não é mais a fonte da ignorância e do mal; esse ego é
dissolvido e obliterado. O novo ser é simplesmente separado em corpo, pensamento,
sentimento dos demais, mas não do universal, sendo a massa por trás deles. Ali, todos são
um.

Neste novo e misterioso relacionamento, ele não é impedido de estar ciente do ego, mesmo
que o Eu Superior agora o direcione. Mas há uma unidade entre eles que estava ausente
antes.

O ego desaparece numa espécie de não-entidade, desaparece como uma onda no oceano
da vida universal.

Se o indivíduo se fundir no Ser puro, qual é o ego que deixa de existir? Pois o corpo físico
ainda permanece e deve ser incluído na consideração de um homem. Esta é uma das
razões pelas quais mesmo a maior realização mística deve ser naturalizada, integrada
mesmo com sua vida normal como chefe de família, profissional ou intelectual. Ele então
funciona em três níveis - animal, humano e angélico - mas eles se encaixam em harmonia
como uma parede em mosaico. Quem pensa o contrário, confunde duas situações
diferentes, está sobrepondo o buscador ao homem realizado. Se, por exemplo, ele concede
a possibilidade aos monges solitários, então ele coloca um limite no Ilimitado e estreita a
área de sua presença. Pois o homem que está estabelecido na Luz agirá a partir de dentro
e por ela, não importa se ele esteja envolvido no trabalho do mundo, não importa se está
casado ou não.

A prova de que a maioria dos místicos contribui com algo de seu próprio eu pessoal com
sua experiência mística, algo de seu próprio ego, reside no fato de que a grande maioria
dos místicos cristãos geralmente não tem experiência interior em relação a qualquer líder
espiritual diferente de Jesus Cristo. Da mesma forma, a grande maioria dos místicos
indianos não tem tais experiências, exceto sobre líderes espirituais indianos, como Krishna.
Isso ocorre porque a religião que eles possuem, a fé em que eles acreditam, o salvador ou
o guru ideal para quem dirigem suas orações ou adoração, é constantemente mantida em
sua mente; ele se torna o pensamento dominante, já que é por sua Graça, acreditam eles,
que a experiência veio para eles. Se eles obtém uma experiência mística, esperam que ela
seja associada com sua própria fé particular e, portanto, isso é o que acontece. Mas o ponto
interessante aqui, psicologicamente, é que o ego está presente de alguma forma, mesmo
antes da experiência ou logo depois - antes da expectativa e após a interpretação. Então,
o que aconteceu entre esses dois momentos quando a experiência realmente ocorreu?
Bem, se os pensamentos entraram em suspensão nesse momento, se todos
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os pensamentos estivessem perdidos, então o pensamento do salvador ou do guru também


foi atrapalhado; mas estava ali deitado na margem da experiência, no início e no final e foi
a primeira coisa que eles pegaram quando começaram a pensar novamente. No entanto,
é uma rara ocorrência para o pensamento ser totalmente interrompido, já que esse estado
é equivalente ao que os hindus chamam de nirvikalpa samadhi. Eles têm outro estado, não
tão distante, que eles chamam de savikalpa samadhi, onde os pensamentos subsistem
dentro da experiência mística e o pensamento continua, mas é mantido, por assim dizer,
pela experiência superior. Isto é o que geralmente acontece na maioria dos casos dos
místicos. Os traços do caráter, as tendências da mente, podem desaparecer durante a
experiência e ele sai dela como se fosse um ser novo, totalmente alterado; mas então o
efeito da experiência gradualmente desaparece e com ela descobre que ainda é o ser
antigo. O ego não desapareceu em sua vida normal porque ele o está usando para atender
seus assuntos de consciência desperta. Se, além da prática da meditação, ele tenha sido
submetido ao treinamento filosófico, então mudanças reais ocorrem no caráter do homem
e o lado negativo do ego fica cada vez menor, o lado mais alto e positivo fica cada vez
maior até que seu caráter atinja um ponto em que ele é chamado de altruísta e sem ego;
mas tais termos são inapropriados. Eles estão corretos, talvez, se usados no sentido moral,
mas não no sentido psicológico. Ele é um indivíduo e um indivíduo ele permanece ao longo
da vida.

Sim, o ego está lá e deve estar lá se quisermos viver nesse plano. Mas pode sofrer um
renascimento espiritual e não mais ser um tirano que nos nega nosso direito de nascimento
espiritual e nossa consciência espiritual, mas sim um canal que serve a essa consciência.

O ego sempre terá seus problemas. Por sempre, um meio desde o nascimento ao longo
dos anos até a morte. Isso é verdade para todo ser humano, embora um ser humano
superior os trate de maneira superior.

Se o ego não está ali, outra coisa e; algum agente que faz o que se presume estar fazendo.

As diferenças entre as pessoas são diferenças de tendências corporais e mentais. Na sua


totalidade, estas pertencem ao ego. Mesmo o homem espiritualmente iluminado ainda as
tem, embora já não seja tiranizado por elas. Não é correto dizer a um aspirante que eles
devem ser libertados, mortos e destruídos. Em vez disso, eles devem ser transcendidos.
Pois mesmo a pessoa iluminada ainda usa o ego para direcionar as atividades do seu
corpo, seja simples, como fazer uma refeição, ou complicadas, como resolver um problema.
Seu ego, tornando-se um canal porque é transcendido, não entra no caminho. O homem
comum e suas atividades são governadas por ele.
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O corpo é parte do ego; o corpo vital (duplo etérico) e o corpo emocional astral também são
parte dele; o corpo mental dos pensamentos também é parte do ego. Todos esses corpos
continuam a existir mesmo após a Realização, uma vez que são necessários para a vida
humana; dizer que não existe ego é ABSURDO. Esses corpos devem ser purificados e
rendidos.

O homem iluminado ainda é consciente de sua individualidade, mas é uma individualidade


diferente, transformada.

O "eu" ainda está aqui, não a velha e familiar pequena criatura incerta, mas outro "eu", um
gloriosamente transformado.

O ego, a pessoa, ainda existe; quem nega a sua existência, deve negar a existência do
corpo, e com ela toda a sua experiência física. Não seria melhor, menos confuso, admitir o
ego em seu lugar apropriado e negar qualquer realidade acima de uma ideia?

Renúncia
Essa parte do homem que está dentro do mundo físico, o ego, deve, no final, reconhecer e
reverenciar sua maior individualidade, invisível e desconhecida, embora possa ser. Isso
exige um crescimento através do tempo, através de muitos renascimentos.

O que ele chama de "eu" não renasce em outros corpos, como ele acredita, nem o fez no
passado. Mas parece que sim. Somente o profundo pensamento analítico associado à
meditação mística pode tirá-lo da hipnose de sua própria ideia.

Seria um erro acreditar que é o Eu Superior é quem se reencarna. Isso não é assim. Mas
a sua descendência - o ego - o faz.

"Minha Emanação mais íntima / Chora incessantemente por meu pecado". Quão errado
estava William Blake quando escreveu estas linhas!

Este é o ego que pensamos falsamente como nosso ser real. Este é o ego ao qual a
memória nos liga. Esta é a parte ilusória da nossa dupla personalidade; esta é a parte
conhecida do nosso ser, uma mera sombra lançada pela parte desconhecida que é
infinitamente maior. Isso se move de um corpo terrestre para outro, de um sonho para outro
através da fantasmagoria da existência sem despertar para a realidade.
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A imortalidade do tipo que a maioria dos seres humanos anseia pode ser encontrada num
aspecto do Eu Superior, que retém uma espécie de individualidade por causa de sua
relação histórica e psicológica com a sua descendência. Assim, quando foi escrito que a
imortalidade do Eu Verdadeiro é relativamente permanente, o termo "relativo" foi usado do
ponto de vista mais elevado possível e não do ponto de vista humano. É suficiente e
bastante verdadeiro do ponto de vista humano aceitar a afirmação de que a imortalidade
do Eu Superior é a verdadeira imortalidade, se não a última, porque a primeira deve ser
alcançada primeiro.

A entidade que vive no mundo espiritual após a morte é o mesmo ego que habitava na
terra, emanada e sustentada pelo mesmo Eu Superior. Nessa relação, eles ainda são
entidades distintas e separadas, embora tão intimamente conectadas quanto o pai e o filho.

Quão insensato é exigir permanência e imortalidade para um ego que já sofreu inúmeras
mudanças de natureza interna e forma externa, apenas o decidido buscador da verdade,
que não quer viver por ilusões, pode perceber.

A sobrevivência perpétua do pequeno ego pessoal através do tempo interminável é


impossível, indesejável e ridícula. Mas o céu como um estado temporário é tanto uma
necessidade quanto um fato.

A imortalidade em seu sentido mais verdadeiro é, e só pode ser, a rendição total da


individualidade e a fusão final da pequena mente com a Absoluta e Indiferenciada Mente.

The Notebooks are Copyright © 1984-1989, The Paul Brunton Philosophic Foundation.

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