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PRIMAVERA 2018
Nº 306 – R$ 10,00
ISSN 2318-7107
Criatividade e proteção
do planeta
La Vie – A Alegoria
do Amor de Picasso
A educação
espiritual
A disciplina pessoal
no Misticismo
A Rosa e a Cruz
A Verdadeira
Imaginação
na Alquimia
O Fazer Artístico
em Projeção no
Mundo Objetivo
Edição comemorativa de
N o dia 02 de agosto de 2018, Ano R+C 3371, a Grande Loja da Jurisdição de Língua Portuguesa veio a público para colo-
car em ação um conjunto de práticas de natureza metafísica, mas também de natureza física e operacional, de valoriza-
ção da vida, instando a busca por um mundo melhor e em prol de uma efetiva cultura de paz, em espírito de fraternidade. O
dia 02 de agosto foi escolhido por ser o Dia Nacional dos Rosacruzes no Brasil e, anualmente, terá atividades especiais que
pautarão o compromisso da AMORC em atuar em favor da Paz e da Fraternidade entre os povos. Atividades relacionadas a
este movimento estão sendo desenvolvidas e serão realizadas nos Organismos Afiliados da AMORC.
Você está convidado, como rosacruz, a atuar proativamente para o objetivo do movimento:
Enviando vibrações de Paz para a Humanidade durante as atividades no seu Sanctum privado;
Disseminando a cultura de Paz e Fraternidade em suas redes sociais, sejam elas físicas ou virtuais;
Participando da atividade Luz, Vida e Amor no seu Organismo Afiliado;
Colaborando e participando das iniciativas e atividades relacionadas ao tema nos Organismos Afiliados;
Atuando com tolerância na expressão de seus pensamentos, palavras e ações.
n MENSAGEM
Saudações Rosacruzes!
Sincera e Fraternalmente
AMORC-GLP
18
Por RICK COBBAN, FRC
28 A educação espiritual
Por SERGE TOUSSAINT, FRC
36 A Rosa e a Cruz
Por ARTHUR C. PIEPENBRINK, FRC
28
39 Reunião anual da SGL
AMORC NO MUNDO
48 Sanctum Celestial
“FAÇAMOS COM QUE O NATAL SE TORNE VERDADEIRO” por H. SPENCER LEWIS, FRC
52 Ecos do passado
UMA HOMENAGEM À HISTÓRIA DA AMORC NO MUNDO
32
2 O ROSACRUZ · PRIMAVERA 2018
O
s textos dessa publicação não representam a palavra oficial da
AMORC, salvo quando indicado neste sentido. O conteúdo dos
artigos representa a palavra e o pensamento dos próprios autores
Publicação trimestral da e são de sua inteira responsabilidade os aspectos legais e jurídicos que
Ordem Rosacruz, AMORC
possam estar inter-relacionados com sua publicação.
Grande Loja da Jurisdição de Língua Portuguesa
Bosque Rosacruz – Curitiba – Paraná Esta publicação foi compilada, redigida, composta e impressa na Ordem
Rosacruz, AMORC – Grande Loja da Jurisdição de Língua Portuguesa.
Todos os direitos de publicação e reprodução são reservados à Antiga
e Mística Ordem Rosae Crucis, AMORC – Grande Loja da Jurisdição de
Língua Portuguesa. Proibida a reprodução parcial ou total por qualquer meio.
As demais jurisdições da Ordem Rosacruz também editam uma revista
do mesmo gênero que a nossa: El Rosacruz, em espanhol; Rosicrucian
Digest e Rosicrucian Beacon, em inglês; Rose+Croix, em francês; Crux
Rosae, em alemão; De Rooz, em holandês; Ricerca Rosacroce, em italiano;
Barajuji, em japonês e Rosenkorset, em línguas nórdicas.
CIRCULAÇÃO MUNDIAL
Propósito da expediente
Coordenação e Supervisão: Hélio de Moraes e Marques, FRC
Ordem Rosacruz n
A Ordem Rosacruz, AMORC é uma orga- n Editor: Grande Loja da Jurisdição de Língua Portuguesa
nização internacional de caráter templário,
místico, cultural e fraternal, de homens e
n Colaboração: Estudantes Rosacruzes e Amigos da AMORC
mulheres dedicados ao estudo e aplicação
como colaborar
prática das leis naturais que regem o uni-
verso e a vida.
Seu objetivo é promover a evolução da
humanidade através do desenvolvimento
das potencialidades de cada indivíduo e
n Todas as colaborações devem estar acompanhadas pela declaração do
propiciar ao seu estudante uma vida har- autor cedendo os direitos ou autorizando a publicação.
moniosa que lhe permita alcançar saúde,
felicidade e paz.
n A GLP se reserva o direito de não publicar artigos que não se encaixem
Neste mister, a Ordem Rosacruz ofe- nas normas estabelecidas ou que não estiverem em concordância com a
rece um sistema eficaz e comprovado de pauta da revista.
instrução e orientação para um profundo
autoc onhecimento e compreensão dos n Enviar apenas cópias digitadas, por e-mail, CD ou DVD. Originais não
processos que conduzem à Iluminação. serão devolvidos.
Essa antiga e especial sabedoria foi cui-
dadosamente preservada desde o seu n No caso de fotografias ou ilustrações, o autor do artigo deverá providenciar
desenvolvimento pelas Escolas de Misté- a autorização dos autores, necessária para publicação.
rios Esotéricos e possui, além do aspecto
filosófico e metafísico, um caráter prático. n Os temas dos artigos devem estar relacionados com os estudos e práticas
A aplicação destes ensinamentos está ao rosacruzes, misticismo, arte, ciências e cultura geral.
alcance de toda pessoa sincera, disposta a
nossa capa
aprender, de mente aberta e motivação
positiva e construtiva.
São Columbano
os primórdios do
desenvolvimento
da Europa
Por CHRISTIAN BERNARD, FRC – Imperator da AMORC*
N
a Antiga e Mística Ordem Rosae da origem deles. A Bíblia e outros textos sa-
Crucis fazemos referência a grados estão sempre à mão e nos deparamos
todas as religiões, uma vez que com os rostos e as vidas daqueles que são
elas são parte integral da história chamados de santos em locais e monumentos
do nosso mundo, sendo ela inseparável do que visitamos em qualquer lugar no mundo,
que, em termos gerais, é conhecido como “A disseminados pelos países que foram tocados
Tradição”, o que inclui o Rosacrucianismo. pelo Cristianismo. Embora não seja religiosa,
Estamos muitas vezes familiarizados com a AMORC está imbuída dessa cultura cris-
a história do Cristianismo e com os seus san- tã, assim como de outras: por exemplo, há
tos, mesmo que não estejamos trilhando esse referência à São João na Tradicional Ordem
caminho religioso específico. Ao longo dos Martinista. Portanto, por meio deste pequeno
séculos, essa história acabou tendo um pouco artigo, gostaria de familiarizá-lo com uma
mais a ver com cultura do que com assuntos figura que é menos conhecida que os santos
espirituais, e muitos provérbios e dizeres que que geralmente são mais mencionados, como
usamos na nossa linguagem cotidiana fazem São Pedro, São José, São João Batista. Essa
referência a isso, mesmo não nos lembrando figura é São Columbano.
Criatividade
e proteção do planeta
Por DANIEL PIERRE, FRC
“
var a decretar que não somos capazes de enfrentar o desa-
fio. Outros pensarão que são unicamente os dirigentes dos
diferentes países que estão em condição de encontrar as
…a
soluções adequadas. Essas declarações revelam uma falta criatividade é o
de confiança em si e uma recusa em assumir suas respon-
sabilidades. Em contrapartida, a posição mais razoável maior poder que
consiste em ver que cada um de nós, à sua medida e de
acordo com os seus talentos ou competências, deve assu-
o homem pode
mir a sua cota na progressiva resolução do problema.
À solução apropriada, não sendo ainda conhecida,
deveremos fazer tentativas. Tentativas são inerentes à
criatividade e não devem nos amedrontar. Para avançarmos,
manifestar.
”
uma introspecção pessoal pode ser feita, por exemplo, a partir
da lista dos seguintes pontos. Obviamente, esta lista é um esboço
a ser aprimorado de acordo com a disponibilidade de cada um:
a outra sem se desfazer daquilo que real- fez de um monte uma espécie de travesseiro
mente queriam para si mesmas, e a igreja para ela, e cedo ela adormeceria profunda-
estava repleta de pessoas que pensavam mente no ar gelado e ninguém mais poderia
que talvez os maravilhosos sinos pudes- acordá-la. De tudo isto Pedro se apercebeu
sem, uma vez mais, ser ouvidos. Todavia, em um instante. Ajoelhou-se ao lado da
embora o serviço fosse esplêndido e inúme- mulher, procurou animá-la puxando um
ras as oferendas, apenas o sibilar de vento pouco seu braço, como se tentasse fazê-la
podia ser ouvido no alto do campanário. andar. Voltou o rosto da mulher em sua
A poucas milhas distante da cidade, em direção para poder retirar a neve que sobre
um pequeno povoado onde nada poderia ser ela caíra, e quando olhou fixamente para
visto da grande igreja exceto vislumbres da ela por um instante, ficou de pé e disse:
torre quando o tempo estava bom, vivia um
menino chamado Pedro, e seu irmãozinho. – Não adianta, irmãozinho, você terá de ir só.
Eles muito pouco sabiam a respeito do carri-
lhão de Natal, porém tinham conhecimento – Só? – Indagou o irmãozinho. – E
do serviço religioso da véspera de Natal, e você não vai assistir a festa de Natal?
conceberam um plano secreto que frequen-
temente haviam discutido quando a sós, – Não – Respondeu Pedro, sem poder con-
para ir assistir a deslumbrante celebração. trolar a emoção que lhe embargava a voz.
“Ninguém pode imaginar, irmãozinho”,
Pedro repetidas vezes dizia, “todas as coisas – Olhe para esta pobre mulher. Seu rosto
lindas que lá se pode ver e ouvir. Cheguei parece o da madona que está no vitrô da ca-
mesmo a saber que o Menino-Deus algu- pela, e ela morrerá de frio se ninguém dela
mas vezes desce para abençoar o serviço. cuidar. Neste momento, todos já devem
Que bom seria se pudéssemos vê-lo, não?” estar na igreja, porém quando você voltar
A véspera de Natal foi um dia de frio deverá trazer alguém para socorrê-la. Vou
rigoroso, com uns poucos flocos de neve friccioná-la para evitar que ela fique gelada,
isolados esvoaçando o ar e uma dura crosta e tentar fazê-la comer o doce de passas que
branca no chão. Cheios de determinação, tenho no bolso.
Pedro e o irmãozinho silenciosamente es-
capuliram nas primeiras horas da tarde; e, – Mas eu não posso me separar de você
embora a caminhada fosse penosa com o ar e ir sozinho! – disse o irmãozinho.
muito frio, antes do anoitecer haviam ca-
minhado tanto, de mãos dadas, que podiam – Não é necessário que nós dois dei-
ver as luzes da grande cidade à sua frente. xemos de assistir o serviço – retrucou
Estavam, na verdade, para cruzar um dos Pedro – e é melhor que fique eu do que
grandes portões da muralha que a circunda- você. Você facilmente chegará à igreja
va, quando viram algo escuro sobre a neve e deverá ver e ouvir tudo em dobro, ir-
a perto do caminho em que se achavam e mãozinho, uma vez por você e outra por
para lá encaminharam-se para ver o que era. mim. Estou certo de que o Menino-Deus
Encontraram, então, uma pobre mulher deve saber como me sentiria em ir com
que havia caído às portas da cidade, por de- você para adorá-lo, e, ouça, se tiver pos-
mais doente e cansada para que pudesse nela sibilidade, irmãozinho, dirija-se ao altar
penetrar e procurar abrigo. A neve macia sem ser visto e sobre ele coloque esta
La Vie
A Alegoria do Amor
de Picasso
Por Rick cobban, frc
P
icasso foi emocionalmente devastado
pela morte de seu amigo e artista
Carlos Casagemas. Como jovens
artistas, Casagemas e Picasso eram
inseparáveis amigos da Catalunha, que ex-
ploravam todas as liberdades e novas ideias
que floresceram em Paris e que sua Espanha
nativa não oferecia. Profundamente afetado
pelo suicídio do seu amigo íntimo, Picasso
imediatamente começou a pintar retratos
fúnebres de Casagemas entre julho e no-
vembro de 1901. Essas obras cruas, como a
Morte de Casagemas, trazem as influências de
Lautrec e Van Gogh. Na pintura Evocação: o
funeral de Casagemas podem ser encontradas
as influências de El Greco e Odilon Redon.
Todos esses desenhos e pinturas culminaram
em maio de 1903, quando Picasso pintou La
Vie ou “Vida” em Barcelona. Muitos con-
sideram La Vie a primeira obra-prima de
Acima, retrato de Pablo
Picasso no ano de 1962 e à Picasso. É certamente uma das pinturas mais
direita, página seguinte, a obra
“La Vie” (A Vida em português)
abertas à interpretação criadas por qual-
concebida em 1903. quer grande artista durante o século XX.
O contexto
histórico
da arte
de La Vie
A trágica história por trás
de La Vie é a história da
iniciação de Casagemas e
Picasso nas oportunida-
des e responsabilidades
da vida. O jovem Carlos
Casagemas se apaixona
obsessivamente por Ger-
maine Pichot, modelo de
artistas e lavadeira. Ela
então o rejeita por causa
do seu comportamento
possessivo e sua incapa-
cidade de satisfazê-la.
Picasso e Casagemas
retornam à Espanha, mas
Casagemas volta a Paris
antes de Picasso porque
este conseguiu um traba-
lho artístico em Barcelo-
na. Casagemas, depois de
ser rejeitado novamente,
oferece um jantar em
Montmartre, onde ele
está em uma mesa e atira
em Germaine com uma
“Evocação – O funeral pistola. Ele sente a falta
de Casagemas”, por
Pablo Picasso.
de Germaine e pensan-
do que ela está morta,
vira a pistola contra si
e dispara uma bala na
cabeça, suicidando-se. Germaine, sobrevivente e após o retorno de Picasso, inicia um relaciona-
mento com ele, o que teria um efeito a longo prazo sobre o artista, embora ele tenha negado isto.
Picasso foi profundamente influenciado pelas tragédias em sua vida: o suicídio de Casagemas, a
morte prematura de sua irmã, o suicídio de Vincent van Gogh em 1890 e o destino de Paul Gauguin
como artista boêmio alienado. Falando da inspiração de Picasso na época, Jaime Sabartés disse: “Pi-
Interpretações
biográficas estéticas,
esotéricas e pessoais
William H. Robinson escreve: “Embora La Vie tenha
sido interpretada de várias formas como representa-
ção simbolista do ciclo da vida, uma alegoria do amor
sagrado e profano, e um comentário político sobre
os perigos da vida enfrentados pelo casal da classe
trabalhadora à esquerda, os esboços de Picasso para
a composição indicam claramente que sua intenção
original era se retratar como um artista no estúdio”.
Vários esboços para La Vie mostram Picasso sendo
abraçado por uma modelo no lado esquerdo do cava-
“Sketch for La Vie”, lete de um artista, com um homem mais velho (um
por Pablo Picasso
artista – seu pai?) à direita do cavalete. Este conceito foi
provavelmente inspirado na pintura realista de Gustave
Courbet, The Artist’s Studio: A Real Allegory (1854-55).
Picasso estava familiarizado com escritores simbolistas que frequentemente comparavam artistas
e poetas com Deus por causa de suas habilidades criativas. Charles Baudelaire declarou: “A ima-
ginação é uma faculdade quase divina que percebe imediatamente, sem recorrer a métodos filo-
“Noli me Tangere”,
por Antonio Correggio
Radiografia
de “La Vie”
“Guernica”,
por Pablo
Picasso
É possível ir ainda mais além na educação negativo que criamos para nós mesmos pela
espiritual e explicar às crianças que Deus não aplicação – tanto positiva quanto negati-
é um super-homem que se encontra nalguma va – de nosso livre arbítrio condicionam o
parte do céu e que decide pessoalmente a sorte nosso porvir a curto, médio e longo prazo.
dos seres humanos, inclusive a hora e as cir- Isso quer dizer que aquilo que nos aguarda
cunstâncias de sua morte, mas sim uma Inte- no pós-vida será a continuidade daquilo
ligência absoluta e impessoal que se manifesta que tivermos feito neste plano. Isso também
através de leis ditas ‘divinas’, no sentido de leis significa que é aqui e agora que estabele-
naturais (sucessão das estações, alternância cemos as bases daquilo que será a nossa
das marés etc.), universais (gravitação, propa- próxima encarnação. Você não acha que é
gação da luz etc.) e espirituais (carma, reen- do interesse de nossos filhos saber isso?
carnação etc.). Tenhamos consciência disso ou A partir de uma determinada idade (cerca
não, nosso bem-estar e nossa felicidade de- de 5 anos), as crianças passam a se interrogar
pendem de nossa aptidão para respeitar essas sobre a morte e questionam seus pais a res-
leis e viver em harmonia com elas. Isto pres- peito: “Eu vou morrer um dia?”; “Vocês vão
supõe estudá-las – e é a isso que se dedicam os morrer também?”; “O que acontece quando a
rosacruzes através de seus ensinamentos. gente morre?”; “O que existe depois da morte?”
Dentre as leis espirituais que é preciso co- etc. São questões que não devem ser esqui-
nhecer, e como indicado anteriormente, está o vadas, pois a morte é uma realidade com a
carma, a que se chama também de “lei de com- qual todos se confrontam cedo ou tarde. Os
pensação”. Na aplicação dessa lei, que todos os pais que se esforçam para responder essas
sábios do passado ensinaram, cada qual colhe questões o fazem em função de suas crenças
cedo ou tarde aquilo que semeou, tanto em e de suas convicções. Aqueles que seguem
coisas positivas quanto negativas. Nas crian- uma religião tendem a dizer que todos temos
ças, ela opera com mais flexibilidade do que uma alma e que esta, após a morte, vai para o
nos adultos, pois a experiência que elas têm da céu, onde continua a viver em companhia de
vida é mais limitada, assim como o seu livre outras almas, não sem deixar de acrescentar
arbítrio. Entretanto, é importante explicar- que aqueles que se amam acabam sempre por
-lhes esse princípio de causa e efeito, a fim de lá se reencontrar. No melhor dos casos, ela
que sejam responsáveis e se sensibilizem ao presumivelmente vai para o paraíso e se be-
fato que sempre chega um momento em que neficia de um pós-vida dos mais felizes.
devemos assumir as consequências dos nossos Os ateus ficam mais embaraçados do que
atos. Certamente, é possível negar a existência aqueles que creem para responder as questões
do carma, mas isso não impede de forma algu- que seus filhos acabam por lhes fazer um dia
ma que ele se aplique em nossa existência. a respeito da morte, pois, mesmo que não
Se você admitir a ideia da reencarnação, creiam no além, sentem dificuldades para lhes
tal como a evoquei anteriormente, há de dizer que a morte leva ao nada e que não há
compreender que a lei cármica não se aplica portanto nenhuma esperança de reencontro
unicamente em nossa vida atual. Dado que após esta vida presente. É por essa razão que a
essa lei é o fundamento de nossa evolução maioria deles se esquiva do assunto e faz dele
espiritual e que esta por sua vez prossegue um tabu. Ora, se é verdade que não se pode
por numerosas vidas, os carmas positivo e provar a existência da alma, tampouco se pode
A disciplina
pessoal no
Misticismo
Por RALPH M. LEWIS, FRC
“ A Rosa
representa
mérito e
luz. A Cruz
representa
trabalho e
esforço.
”
pessoas são infelizes, e por que as pessoas ser sempre cuidados e vigiados, para que
não conseguem se ajustar à vida que as não os percamos.
cerca, vemos que é principalmente por- A Rosa representa mérito e luz. A
que elas estão encarando a vida de modo Cruz representa trabalho e esforço. A rosa
errado, e que é por isto que não conhe- é apenas parcialmente aberta, simboli-
cem a verdadeira natureza do SER, como zando o fato de que estamos sempre cres-
nós conhecemos. Não sabem ao certo se cendo ou evoluindo, sem jamais alcan-
haverá sempre uma reação a tudo o que çarmos um ponto em que não tenhamos
façam, porque não conhecem o eletro mais para onde ir, ou nada mais a atingir.
magnetismo, com sua polaridade dual, e Em muitos casos, a cruz é entendida
sua tendência de sempre voltar ao estado no sentido de nossas provas e tribulações,
de equilíbrio. Não sabem ao certo qual mas seu primeiro significado é de trabalho
é o sentido da vida, nem por que afinal e esforço. Trabalho e esforço constituem
estão vivendo, visto que não conhecem a a nossa primeira opção, e podemos sa-
natureza do SER. Não sabem nada a res- tisfazer os requisitos da cruz mantendo a
peito da unidade, porque não conseguem nossa vida em ordem antes que aconteça
ver todas as coisas diferentes da sua vida alguma coisa. Quando negligenciamos a
como partes de UM SÓ e vasto Ser. Por nossa vigilância; quando nos tornamos
isto fazem suposições, e logo todo mundo preguiçosos; quando deixamos cessar
acaba com uma ideia ligeiramente dife- aquilo que se faz necessário para nos
rente sobre a vida. É de admirar então mantermos sadios e produtivos, é então
que as pessoas tenham tanta dificuldade que deixamos a luz se extinguir. É então
para se unir em qualquer coisa? que nos vemos tropeçando nas trevas,
Isto nos traz de volta à Rosa-Cruz. Os forçados a trabalhar duas vezes mais para
Rosacruzes partem da premissa de que restaurar essa luz. E é então que a cruz se
somos responsáveis pelos nossos atos. torna uma prova e uma tribulação. Mas
Acreditamos que o mérito e a luz não vêm ela nunca tem de ser isto, nunca! 4
a nós sem trabalho e esforço, nunca; e * Mensagem do Supremo Secretário, Arthur C. Piepenbrink,
acreditamos que o mérito e a luz têm de proferida por ocasião da IX Convenção Nacional da GLP.
“
Os alquimistas acreditavam que
a imaginação é um pedaço do céu
escondido dentro de nós, uma conexão
divina com a Mente Única cósmica.
cortar nossos laços com a realidade oculta
”
reza, através de quem os corpos se regeneram
enquanto ainda somos crianças. Famílias, es- nas entranhas da terra. E imagine isso com
colas, igrejas – autoridades de todos os tipos verdade e não com imaginação fantástica”.
– negam nossa conexão inata com a mente A Verdadeira Imaginação prevê os pro-
divina e a substituem por seu próprio dogma. cessos sutis da natureza e os conecta com
“Há uma pedra secreta”, explica um seus arquétipos divinos. Ela tenta capturar
alquimista do século XIV, “escondida em a “Semente do Mundo” como a mente di-
um poço profundo, sem valor e rejeita- vina sonha. Portanto, quando os escritores
da”. “Nossa pedra mais preciosa”, lamenta herméticos falam de “ver com os olhos do
outro, “lançada sobre o monturo, sendo espírito”, eles estão descrevendo um processo
muito querida, é feita o mais vil do vil”. que penetra na gênese mais profunda das
Segundo Paracelso, “a Verdadeira Ima- coisas além de suas aparências externas.
ginação leva a vida de volta à sua realidade Os alquimistas acreditavam que a ima-
espiritual, e então assume o nome de medi- ginação é um pedaço do céu escondido
tação”. O que ele queria dizer era que a Ver- dentro de nós, uma conexão divina com
dadeira Imaginação vislumbra a fonte divina a Mente Única cósmica. Se você procurar
de qualquer coisa, que pode então ser explo- a definição de “imaginação” no Lexicon
rada e compreendida através da meditação. of Alchemy (1612), de Martin Rulandus, a
Os métodos meditativos usados pelos encontrará definida como “a Estrela no Ho-
alquimistas consistiam em invocação pro- mem, um corpo celestial ou supercelestial”.
longada e silenciosa de poderes divinos. “O conceito de Imaginatio dos alquimis-
Às vezes, o “anjo interior” de uma pessoa tas”, explica Carl Jung (1875-1961), “é a chave
ou “eu superior” era invocado. Em suas mais importante para entender o Opus. Nós
meditações, eles procuravam o “raio an- temos que conceber esses processos ima-
gélico” que une o mundo das formas com ginários não como os fantasmas imateriais
os ideais divinos que são a fonte de tudo. que prontamente levamos como quadros de
O autor do Rosarium (1550) descreve esse fantasia, mas como algo corpóreo, um corpo
tipo especial de meditação alquímica: “Tome sutil. O ato de imaginar era como uma ati-
cuidado para que sua porta esteja bem e fir- vidade física que poderia ser encaixada no
memente fechada, para que aquele que está ciclo de mudanças materiais que as provo-
dentro não possa escapar, e, se Deus quiser, cavam e, por sua vez, eram provocadas por
você alcançará o objetivo. A natureza reali- elas. O alquimista relacionou-se não apenas
za suas operações gradualmente; e, de fato, com o inconsciente, mas diretamente com
gostaria que você fizesse o mesmo: deixe sua a substância que ele esperava transformar
imaginação ser guiada totalmente pela natu- através do poder da imaginação. O ato de
Fazer
Artístico
em Projeção
no Mundo
Objetivo
Por JULIO MUNHOZ
www.juliomunhoz.com
Há aqui uma certa relação de poder favo- forma para conter e transmitir a mensagem
recendo aquele que emite a mensagem, pois poética” – “captação e decodificação da men-
a comunicação linear implica um significado sagem pelo receptor segundo seu repertório
prévio formulado pelo emissor, sendo que o de vida e sensibilidade criativa” – “recria-
receptor tem de se esforçar por decodificar ção e nova potencialização da mensagem
esta mensagem e interpretá-la, para só depois original da obra por parte do receptor”.
da mensagem estar decodificada e entendida “Eureka!” – na arte, o receptor (a au-
conforme foi concebida pelo emissor, poder diência) é convidado a se tornar proativo no
reagir a ela, concordando, discordando, ou processo da decodificação da mensagem,
mesmo ignorando-a. com liberdade para também criar e sobre-
Curiosamente, grande parte dos pro- por sentidos em seu contato com a obra.
cessos de comunicação humana viajam na Isto talvez explique o porquê das audiên-
vertente linear: as notícias, o entretenimento, cias saírem de sessões de filmes artísticos
as conversas, o rádio… e também quase tudo com diferentes interpretações daquilo que
que nos chega via indústria cultural de mas- assistiram, motivando boas conversas com
sas – conteúdos estes por vezes chamados de amigos e provavelmente estimulando outras
obras de arte, embora quase nunca o sejam. futuras assistências ao mesmo filme (e a cada
assistência descobrindo outros elementos que
Mas então, ainda não haviam percebido – ou imaginado
– anteriormente).
novamente, onde Neste sentido, a arte potencializa o indiví-
duo e o fortalece em sua projeção individual
é que fica a arte? no mundo.
A arte navega na vertente revolucionária Eis a vertente revolucionária e libertadora
dos processos de comunicação não-lineares, da arte!
sincrônicos, poéticos, no sentido em que con- Talvez este fato explique a dificuldade
vida e potencializa os seus receptores (todos histórica que regimes totalitários tiveram
nós, os apreciadores das artes) a também se com seus artistas, quase sempre impondo
tornarem ativos no processo de comunicação. perseguições e banimentos, dado que regi-
Na arte, a fórmula básica do processo co- mes repressores querem controlar, e a arte
municacional talvez possa ser escrita assim: pressupõe a libertação.
“desenvolvimento da mensagem artística O código genuíno artístico é fortíssimo,
pelo criador” – “definição da linguagem e e talvez por isso mesmo tem sido exausti-
E
stamos nos aproxi- Natal, há a comemoração do judeus, gentios e muitos ou-
mando do tempo Ano Novo, que é amplamen- tros povos que pertencem a
de flexibilidade em te reconhecido e festejado na outras religiões aceitam esse
que a maioria das pesso- maioria dos países do mun- dia como o que marca um
as do mundo ocidental do ocidental. É por isto que, tempo de boa vontade para
dá livre curso a todas as entre 25 de novembro e 2 de todos os seres. Vinte e cinco
suas emoções reprimidas janeiro, nossa vida, nossos de dezembro, como já disse-
relativamente às festas afazeres sociais, nossos inte- mos em outra oportunidade,
e às relações fraternais, resses pessoais, nossos negó- era uma época de boa von-
humanas e religiosas. cios e muitas outras coisas, tade, de troca de presentes e
O fato de sermos ou não são grandemente afetados de alegria para a consciência
cristãos absolutamente não pelo espírito quase univer- humana bem antes que Je-
afeta nossa apreciação do sal de festa, de boa vontade sus, o Cristo, tivesse nascido.
espírito do Natal. Natural- e de regozijo humano. Dentre os numerosos
mente, um mês antes das Possamos ou não, segun- dias de festa dos pagãos e
férias de Natal há a come- do o espírito cristão, aceitar os numerosos dias de folga
moração popular de Ação de o 25º dia de dezembro como dos povos religiosos e não
Graças nos Estados Unidos o aniversário de Jesus, o religiosos que precederam
e, imediatamente após o Cristo, persiste o fato de que a era cristã, 25 de dezem-
SERENIDADE – É verdade também que todo ser na senda aspira à serenidade. Esta pode surgir
ao cumprirmos certas tarefas, mas será acima de tudo aquele estado durável, fruto do trabalho
sobre nós mesmos, aquela calma profunda, isenta de problemas emocionais, calma que seria a
marca do real equilíbrio, propiciando ao homem enfrentar as situações mais diversas a aceitar quais-
quer mudanças sem ansiedade e com aquiescência.
Vemos, portanto, que o silêncio, o serviço, a serenidade, são três pontos importantes de nossa
existência, sobre os quais é recomendável meditarmos. Muitas coisas poderiam ser ditas sobre isto,
mas cabe a cada um de nós, no respeito à tradição Rosacruz/Martinista, refletir sobre esses pontos
e deles absorver ensinamentos úteis, na paz do coração.
S.I.
A
humanidade recebe de tempos em tempos personalidades-
-alma que são “divisoras de águas”, ou seja, o mundo é um
antes delas e outro após elas.
Como verdadeiros mensageiros de Luz a serviço da
humanidade, esses seres receberam do Cósmico a missão de causar
uma forte influência na sociedade em que estavam inseridos,
recebendo postumamente o reconhecimento pela visão, liderança
e iluminação que abrangeram todo o nosso mundo. Vieram
para mudar, romper paradigmas e deixar os seus pensamentos,
palavras e ações como exemplos de seres humanos especiais.
Esta capa da revista “O Rosacruz” é dedicada a esses seres
de luz que, como Mestres, nos ensinaram o sentido da vida.
“Tudo o que acontece no universo tem uma razão de ser; um objetivo. Nós, como
seres humanos, temos uma só lição na vida: seguir em frente e ter a certeza de
que apesar de às vezes estar no escuro, o sol vai voltar a brilhar.”
– Irmã Dulce