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- Começa o dia
- Música/sono aparente
- “Eu te amo”
- Aldeia abandonada
- Apresentação do teatro
- Começa a noite
- Sacrifício do nobre
- Tempestade
O Sétimo Selo, de Ingmar Bergman, é uma tragédia esperançosa e uma imagem da sociedade e das
vocações humanas em face da morte. Um dia e uma noite bastam para significar toda a Criação.
O contexto, de pragas, é a situação na qual qualquer sociedade se encontra; remedia o mal sem
saber qual sua causa; elege bodes expiatórios para aplacar a ânsia de alguns. As pessoas vivem
com medo da morte mas não se arrependem dos pecados e logo se esquecem da visão do horror —
taverna após procissão dos enfermos. O sacerdote atemoriza os fiéis, e mesmo uma grávida, ao
invés de consolar-lhes e guiar-lhes a Deus; os soldados e empresários servem ao fim de atemorizar
e manter a aparência de ordem e o domínio sobre a população.
Os personagens são tipos — não são caracteres — e representam as quatro castas: O cavaleiro é
um verdadeiro herói, seu servo tem o senso prático do homem honesto, o ferreiro é um típico
coitado. O ator é um contemplativo que vê o próprio Deus menino e sua Santíssima Mãe.
Suas respectivas mulheres são: uma mulher fiel e estóica, que permanece quando todos partem,
uma mulher silenciosa e resignada, que vive à espera do término de seu sofrimento, uma mulher
guiada pela luxúria. A mulher do ator é devotada ao amor — ao filho, ao marido, a tudo quanto seja
amável.
Só o nobre vê a morte antes que ela venha fazer seu trabalho, só ao nobre ela atormenta — e o ator,
que a vê e, sabiamente, afasta-se dela. A camponesa piedosa vê na morte sua vitória: “A hora é
chegada”. O ator vê a virgem e entoa hinos a Deus; sua mulher não vê, mas vive no amor de Deus.
O nobre tem o senso de missão do herói, ainda que viva atormentado pelo que há para além da vida:
ajuda quem precisa, luta por ideais, protege e dá fuga aos que dele dependem, mas questiona a fé e
não se pode dizer que conheça a Deus — ao menos não como O conhece o ator.
O homem mau e o diretor da companhia são os párias; o primeiro, completamente degenerado, não
respeita sequer os mortos, o segundo não respeita os vivos: nem o matrimônio nem seus próprios
talentos, os quais estão voltados para a satisfação de seus instintos e à serviço de maus senhores —
he plays the Death para assustar as pessoas e, na hora da morte, não se arrepende, mas tenta
safar-se; só pensa em si mesmo e deixa guiar-se pelo sensual. Ambos acabam desesperados e
sozinhos; seus fins são lamentáveis.
A mulher do ferreiro é cheia de malícia, seja para trair seja para pedir perdão. Atrai com comida e
sexo, nas duas ocasiões. Volúvel, passa de um lado a outro da carroça com a mesma facilidade que
passou da frente para trás do palco, e de trás do palco para atrás dos arbustos.
O Sétimo Selo - 12/6/18, 10:51 PM / 3
O ferreiro preocupa-se, principalmente, com seu conforto e com seus chifres — sua imagem na
sociedade; teme que seus bens lhe sejam retirados; é facilmente corrompido pelo homem mau, a
ponto de cometer uma injustiça; deixa-se convencer pelas mentiras e promessas vulgares de uma
mulher vulgar. O servo, um homem prático, é justo mas não é piedoso. Salva uma vida e quer sua
recompensa — olho por olho, dente por dente. Mantém sua palavra e só se importa com o que vê e
com o que acontece; bom observador, sua sabedoria prática é suficiente para descrever todo o
campo de ação da classe imediatamente inferior e para compreender algumas das ilusões de seu
senhor — a nobreza não é um valor absoluto. O nobre é piedoso mas não tem o conhecimento de
Deus; não se interessa pela maior parte das coisas que não estejam sob sua responsabilidade; tenta
resolver racionalmente o que não pode ser resolvido a não ser pelo amor — e essa é sua vaidade,
que ele mantém até o último minuto, que lamenta batendo à testa, enquanto uns se justificam e
outros preferem ignorar. Vale notar que todos estavam no castelo para proteger-se da Peste,
inutilmente.
Do meio da selva escura, debaixo de um dilúvio, o casal com o filho aparece à beira do mar. Começa
um novo dia, uma nova vida.
Ao fim a mulher do ator — que é atriz por amor, pois fosse o marido outra coisa ela o acompanharia
— canta o hino que ouviu no dia anterior, com certa displicência: velava, mesmo dormindo.