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Proposta para
Incorporação de
medicamentos em
Doenças Raras
D E F I N I Ç ÃO D E C R I T É R I O S PA R A AVA L I AÇ ÃO D E
R E E M B O L S O D E M E D I C A M E N TO S Ó R FÃO S PA R A
T R AT A M E N T O D E D O E N Ç A S R A R A S N O S U S
SUPERVISÃO S O B R E A I N T E R FA R M A
Antônio Britto
Presidente-executivo Interfarma
Associação da Indústria
COORDENAÇÃO-GER AL Farmacêutica de Pesquisa
Maria José Delgado Fagundes
Inovação e Responsabilidade Social – Interfarma Fundada em 1990, a Interfarma é uma entidade
setorial, sem fins lucrativos, que representa
COORDENAÇÃO DE
COMUNICAÇÃO empresas e pesquisadores nacionais ou estrangeiros
Octávio Nunes responsáveis pela inovação em saúde no Brasil.
Comunicação Institucional – Interfarma
EDIÇÃO
Atualmente, a Interfarma possui 55 laboratórios
Grupo Resulta
www.gruporesulta.com.br associados, que hoje, são responsáveis pela venda de
80% dos medicamentos de referência do mercado e
PROJETO GR ÁFICO
por 33% dos genéricos, no canal farmácia.
Nebraska Composição Gráfica
Além do conceito de inovação, a Interfarma promove
a interação e o estreitamento das relações com os
diversos agentes, principalmente com as autoridades
de saúde no sentido de discutir, de maneira ampla
e transparente, temas como pesquisa clínica, acesso
à saúde, ambiente regulatório, biotecnologia,
ética e combate à informalidade que são, no nosso
entendimento, fundamentais para aprimorar o
Rua Verbo Divino, 1.488 – 7º andar – Cj. 7A debate em torno da saúde pública no País.
Chácara Santo Antônio – São Paulo – SP
CEP: 04719-904
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Proposta para Incorporação de Medicamentos em Doenças Raras 3
Desta vida nada se leva, a não ser a vida que se leva. Só se deixa.
A N T O I N E D E S A I N T - E X U P É R Y
A Marcos Teixeira (in memoriam) pela sua contribuição com este trabalho, por agregar a visão das associações de pacientes e discutir
o custo social das pessoas com doenças raras, dado importante para o sucesso da Política Nacional.
Proposta para Incorporação de Medicamentos em Doenças Raras 5
Apresentação
A “Política Nacional de Atenção Integral às Pessoas com Doenças Raras e as Diretri-
zes para Atenção Integral às Pessoas com Doenças Raras no âmbito do Sistema Único
de Saúde”, publicadas via Portaria 199/2014, é, em nossa visão, um passo importante
em direção a um sistema de saúde cada vez mais igualitário e para todos os brasileiros.
Utilizando uma metodologia intitulada Painel Delphi, essa publicação traz ainda a vi-
são de atores essenciais do processo: médicos (especialistas em determinadas doenças
raras e geneticistas), acadêmicos da área das ciências farmacêuticas e de economia da
saúde e a sociedade civil organizada.
Boa leitura!
Sumário
9 Introdução
9 Panorama Nacional
9 Medicamentos Órfãos
10 Protocolos Nacionais
10 Medicamentos Órfãos Não Incorporados
11 Incorporação de Tecnologias
11 Incorporação de Medicamentos Órfãos
12 Objetivo
12 Metodologia
17 Painel de Especialistas
17 Avaliação individual da importância de cada critério
21 Discussão em Grupo
22 Conclusão
23 Tópicos Adicionais para Discussão
23 Registros de Pacientes
25 Referências Bibliográficas
Resumo
Introdução Resultados
Em janeiro de 2009 foi instituída no âmbito do Sis- Os resultados finais mostraram que a maioria dos
tema Único de Saúde (SUS) a Política Nacional de países pesquisados possuem Centros Especializa-
Atenção Integral em Genética Clínica. Em feverei- dos em doenças raras com objetivo de otimizar a
ro de 2014, a Portaria Nº 199 instituiu no âmbito alocação dos recursos para investigação, diagnós-
do SUS a Política Nacional de Atenção Integral às tico e tratamento, e garantir que os tratamentos
Pessoas com Doenças Raras. De acordo com esta disponíveis sejam reembolsados. Já em outros pa-
política, é considerada rara a doença com uma pre- íses não há nada específico para estes casos, mas
valência de até 65 casos por 100.000 habitantes. organizações trabalham para apoiar tais projetos.
Protocolos Nacionais
E além destas, existem 10 doenças para as quais existem
Os critérios diagnósticos e terapêuticos recomendados e medicamentos órfãos registrados no Brasil, mas que não
adotados pelo Sistema Único de Saúde para determinada foram incorporados pelo SUS e não possuem protocolos
condição clínica são definidos a partir de Protocolos Clí- de diagnóstico e tratamento estabelecidos.
nicos e Diretrizes Terapêuticas (PCDTs)9. A atualização
de tais PCDTs encontra-se sob a responsabilidade da
Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias do Doença Medicamentos
SUS (CONITEC). Doença de Pompe Alfaglicosidade
Deficiência de Biotinidase Biotina
Doença de Fabry Alfagalsidade, Beta-Galsidade
Existem atualmente 31 protocolos clínicos
ligados a doenças raras no âmbito do SUS4. Mucopolissacaridose I Laronidase
Mucopolissacaridose II Idursulfase
Angiodema Hereditário Fibrose Cística
Mucopolissacaridose IV A Elosulfase Afa
(Manifestações
Artrite Reativa –
Pulmonares) Mucopolissacaridose VI Galsulfase
Síndrome de Reiter
Hepatite Autoimune Niemann-Pick Tipo C Miglustate
Dermatomiosite e
Polimiosite Hiperplasia Adrenal Leucemia Mielóide Aguda Idarrubicina
Congênita
Diabetes Insípido Polineuropatia Amiloidótica Tafamidis Meglumine
Hipertensão Arterial Familiar
Distonias Focais e
Pulmonar
Espasmo Hemifacial
Hipoparatireoidismo
Doença Celíaca
Hipopituitarismo
Doença de Addison
Hipotireoidismo
Doença de Crohn
Congênito
Doença de Gaucher
Ictioses Hereditárias
Doença de Parkinson
Imunodeficiências
Doença de Wilson Primárias com Deficiência
Doença Falciforme de Anticorpos
Incorporação Incorporação de
de Tecnologias Medicamentos Órfãos
A Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias Atualmente, os medicamentos órfãos são avaliados pela
no SUS (CONITEC) foi instituída pela Lei Nº 12.401, CONITEC considerando-se as mesmas exigências e cri-
de 28 de Abril de 201110 e possui a responsabilidade de térios de análise utilizados para medicamentos destina-
avaliar e emitir pareceres sobre a incorporação de no- dos ao tratamento de doenças altamente prevalentes.
vas tecnologias ao SUS, incluindo medicamentos, e de
Entretanto, em virtude da característica rara da doença,
desenvolver protocolos clínicos e diretrizes terapêuticas
na maioria das vezes critérios de qualidade considerados
(PCDTs)9 para as mais diversas condições clínicas.
essenciais não são preenchidos, tais como:
A análise desenvolvida pela CONITEC leva em consi-
A existência de ensaios clínicos randomizados com
deração:
número elevado de pacientes.
Padrão de tratamento adotado pelo SUS para uma de-
terminada condição clínica e necessidades não aten- A comprovação do prolongamento da sobrevida ou
didas pelo tratamento disponível; redução de desfechos considerados relevantes no con-
texto da doença no longo prazo com o uso do novo
Eficácia e segurança do novo medicamento em rela- medicamento.
ção ao padrão atualmente adotado no SUS;
Atingimento de limites de custo-efetividade aceitá-
Custo-efetividade do novo medicamento em relação
veis, pois em geral os custos por paciente são bastante
ao padrão adotado no SUS, ou seja, se existe e qual
elevados, e geralmente comparados a um cenário sem
deve ser o investimento adicional para alcançar o be-
tratamento direcionado que impacte na evolução ou
nefício clínico proposto pelo novo medicamento;
progressão da doença, no qual somente um tratamen-
Impacto orçamentário da incorporação do novo me- to de suporte seria oferecido ao paciente.
dicamento para tratamento da população elegível
Desta forma, o uso de critérios idênticos aos dos demais
atendida pelo SUS.
medicamentos para avaliação de medicamentos órfãos
Neste contexto, são priorizados tratamentos que levem leva na prática a não incorporação de grande parte dos
ao prolongamento de sobrevida dos pacientes ou à me- medicamentos avaliados.
lhora de desfechos que sejam clinicamente relevantes e
Praticamente nenhum medicamento órfão para doenças
que não agreguem custos considerados inaceitáveis para
raras atinge um limite de custo-efetividade considerado
o sistema de saúde.
aceitável em todo o mundo.
O desafio se encontra no fato de que não é clara atual-
mente a definição de quais são os critérios para prioriza- Diante deste cenário, torna-se necessária a busca por
ção de necessidades não atendidas em diferentes condi- critérios alternativos que possibilitem a incorporação de
ções clínicas, quais benefícios clínicos são considerados medicamentos para doenças raras que tragam benefícios
clinicamente relevantes e, ainda, se existe um limite de para os pacientes, mesmo diante das limitações apresen-
investimento adicional por benefício clínico para que tadas acima.
uma nova tecnologia seja considerada custo-efetiva.
Metodologia Austrália
O processo de Avaliação de Tecnologias em Saúde na
Foi organizado um Painel de Especialistas envolvendo Austrália é coordenado pelo Pharmaceutical Benefits
especialistas médicos e representantes de associações Advisory Committee (PBAC)11, órgão que desenvolve na
de pacientes e da academia para discussão e definição Austrália papel similar ao da CONITEC no Brasil.
dos melhores critérios para avaliação de reembolso de Não há programas específicos para avaliação de medica-
medicamentos órfãos para tratamento de doenças raras mentos para tratamento de doenças raras na Austrália,
no SUS. mas existem alternativas possíveis para o financiamento.
Como preparação para o painel foi realizada uma re- Para que uma droga órfã se candidate à análise e deci-
são sobre o financiamento é necessário atender a oito
visão da literatura e de bases especializadas em busca
critérios relacionados ao programa “Life Saving Drugs
de modelos internacionais de avaliação de reembolso
Programme” (LSDP)12:
de medicamentos órfãos. Em especial foi pesquisado o
uso de critérios específicos diferentes dos convencionais 1. Medicamento aprovado para tratamento de uma do-
para avaliação de medicamentos órfãos. ença rara clinicamente possível de ser definida.
6. Não existem medicamentos alternativos para pro- tar as chances de superar as doenças raras e de melhorar
longar a vida destes pacientes. Vale ressaltar que a a qualidade de vida dos pacientes.
existência de um medicamento alternativo já inclu-
Para atingir tais objetivos, o centro fornece os recursos
ído ao LSDP não desqualifica o novo medicamento
para avaliação. necessários para o diagnóstico e tratamento garantindo
que os pacientes tenham acesso ao melhor tratamento
7. Não existem terapias não medicamentosas (por possível.
exemplo: cirurgias, radioterapia) reconhecidas por
autoridades médicas como eficazes e custo-efetivas E, por fim, recolhem as informações mais recentes sobre
para o tratamento da doença. as doenças raras e os medicamentos utilizados, como
forma de construir uma base de dados de desfechos clí-
8. O custo anual com o novo medicamento pode ser nicos e fornecer informações aos pacientes e aos pro-
considerado excessivamente alto para ser arcado fissionais médicos, contribuindo para a melhoria dos
pelo próprio paciente ou cuidador. cuidados de saúde de pacientes com doenças raras15.
Canadá
Escócia
Não existem critérios para incorporação de tecnologias
As novas tecnologias elegíveis a reembolso na Escócia
em saúde específicos para doenças raras no Canadá.
passam por um processo de avaliação realizado pelo
Existe um projeto em discussão para o estabelecimento
Scottisch Medicines Consortium (SMC). Todas as sub-
de um framework regulatório que definiria um medica-
missões ao SMC devem ser completas independente do
mento órfão como aquele destinado ao diagnóstico, tra-
tipo de medicamento avaliado16.
tamento, atenuação ou prevenção de doenças que amea-
cem a vida e sejam seriamente debilitantes e que afetem Entretanto, o SMC pode ser mais flexível em aceitar
no máximo 5 em cada 10.000 habitantes no Canadá13. Os maior incerteza nas avaliações econômicas ou um maior
fabricantes submeteriam processos ao Health Canada custo por QALY para medicamentos órfãos17.
para designação de um medicamento como órfão. Se
Alguns fatores são levados em consideração para esta
concedida tal designação, os fabricantes seriam elegíveis
flexibilização17:
a receber incentivos regulatórios específicos13.
O medicamento oferece tratamento para uma doença
No Canadá foi criada ainda a Canadian Organization
que ameace a vida;
for Rare Disorders (CORD)14 que é uma organização
que representa todos aqueles que possuem uma doença O medicamento comprovou aumento significativo da
rara. A CORD trabalha com o governo, bem como com expectativa de vida e/ou qualidade de vida dos pacientes;
pesquisadores, médicos e com a indústria para promo-
Não existem outras opções terapêuticas eficazes para
ver a investigação, diagnóstico, tratamento e serviços
a doença;
no atendimento de pacientes com doenças raras. São
dedicados cerca de 2 milhões de dólares canadenses em O medicamento é utilizado para um subgrupo especí-
apoio a projetos, mas há falta de recursos para as inves- fico de pacientes;
tigações.14. O medicamento promove a recuperação e não somente
a estabilização de uma determinada condição clínica;
Coreia do Sul O medicamento ocupa um gap terapêutico até a reali-
Na Coreia do Sul foi criado o Centro de Drogas Órfãs da zação de um tratamento definitivo;
Coréia do Sul (KODC)15: Esta é uma Organização sem O medicamento oferece uma alternativa para outro
fins lucrativos estabelecida em conformidade com a Lei medicamento não registrado que é o único tratamen-
de Farmácia Nº 91 da República da Coréia. to em uso para a doença específica.
O centro foi idealizado com o financiamento do governo Existem contribuições de especialistas e de grupos de
coreano, após uma pressão social crescente para aumen- pacientes favoráveis à incorporação do medicamento.
14
França Japão
O Governo Francês criou um Plano Nacional para Do- No Japão foi lançado em 1972 um Programa Nacional de
enças Raras que envolvem especialistas, profissionais Doenças Raras e Intratáveis. Desde então o governo tem
de saúde, representantes de associações e Ministério da promovido pesquisas e apoio aos pacientes com doenças
Saúde. Existem atualmente 67 centros que cobrem 18 ca- raras20.
tegorias de doenças raras18. Em algumas partes da Fran- O programa tem algumas características únicas20:
ça o reembolso para tratamentos não é completo, pois as
Pacientes com uma das doenças específicas podem se
despesas com viagens e alojamentos para pacientes são
inscrever em um sistema de registro que cobre custos
muito altas.
hospitalares e ambulatoriais, bem com medicamen-
O Ministério da Saúde solicitou a criação de uma célula tos.
nacional de doenças raras para garantir aos pacientes
Grupos de pesquisa financiados pelo governo devem
100% de reembolso. A cada seis meses os responsáveis se
realizar pesquisas sobre prevalência, diagnóstico e
unem para verificar o andamento dos planos, melhorias,
tratamento da doença, mas também disponibilizar
redefinir as doenças e seus avanços18. uma rede para divulgar as informações encontradas.
Não foram encontrados critérios específicos seguidos A experiência e o conhecimento dos investigadores e
por esta célula para priorização da incorporação de me- colaboradores específicos devem ser repassados para
dicamentos órfãos para doenças raras. os grupos sucessivos.
Planos de ação estão sendo realizados com vários par- Alguns critérios são levados em consideração durante a
ceiros para que ainda no ano de 2014 sejam lançados os avaliação22:
projetos ao público21. São eles:
Natureza da condição de saúde, incluindo morbidade
Cuidados pessoais para cada paciente e familiar; e incapacidade clínica gerada com os atuais padrões
de tratamento; impacto na qualidade de vida dos cui-
Criação de centros clínicos especializados; dadores; e disponibilidade de opções de tratamento.
Melhor formação para os profissionais da saúde. Impacto da nova tecnologia em termos de efetividade
As iniciativas acima objetivam alcançar os seguintes re- clínica, magnitude dos benefícios para os pacientes e
sultados21: cuidadores, quando apropriado.
Critérios de Avaliação para doenças raras, foi definida uma lista de 16 critérios
para Reembolso utilizados, que serão apresentados a seguir na Figura 1.
Após avaliação dos critérios utilizados por diferentes países Estes critérios formaram a base para discussão durante o
para decidir sobre o reembolso de medicamentos órfãos painel de especialistas que será detalhado a seguir.
A condição de saúde estudada é clinicamente possível de se definir e afeta até 65 pessoas em cada
100.000 indivíduos, ou seja, 1,3 pessoas para cada 2.000 indivíduos?
A expectativa de vida dos pacientes com a condição clínica avaliada é significativamente reduzida
(dados suportados por estudos epidemiológicos)?
Há outro medicamento disponível para tratamento dos pacientes com a condição de saúde avaliada?
Existe alguma terapia não medicamentosa disponível para o tratamento da condição de saúde
estudada?
Existe estudos clínicos comprovando que esta terapia traga benefícios clínicos relevantes para os
pacientes?
O medicamento proposto promove melhora clínica considerável para a condição de saúde estudada?
Existem evidências de que o medicamento proprosto melhore a qualidade de vida dos pacientes ou
as comorbidades associadas?
Existem estudos clínicos que comprovem o aumento da expectativa de vida do paciente em uso do
medicamento proposto?
O custo anual com o medicamento proposto pode ser considerado excessivamente alto para ser
arcado pelo próprio paciente ou responsável?
Para o uso de medicamento proposto existe a necessidade de algum recurso adicional ainda não
disponível no SUS?
1 2 3 4 5 6 7
De acordo com o gráfico acima, o critério que avalia Em quarto lugar com 57% das respostas com nota 7,
se o estado de saúde do paciente é grave e progressivo apareceu o critério que avalia se a condição de saúde é
foi considerado como o mais importante por 71% dos clinicamente possível de se definir e afeta até 65 pessoas
participantes. Isto ressalta a importância dada pelos par- em cada 100.000 indivíduos.
ticipantes à gravidade da doença.
O quinto lugar no ranking dos critérios com os mesmos
Em segundo e terceiro lugar com 64% das respostas, fo- 57% das respostas foi ocupado pelo critério que avalia se
ram considerados importantes os critérios que avaliam a condição de saúde afeta a qualidade de vida do pacien-
se a doença pode ser identificada considerando critérios
te e de seu cuidador.
diagnósticos internacionalmente aceitos e se o medica-
mento proposto promove melhora clínica considerável Esses foram os critérios considerados como os mais
para a condição de saúde estudada. importantes, ou seja, aqueles com maior percentual de
Proposta para Incorporação de Medicamentos em Doenças Raras 19
notas iguais a sete, pelos especialistas participantes do Uma segunda forma de análise dos critérios mais im-
painel. portantes de acordo com a nota conferida de 1 a 7 para
Embora o ganho de sobrevida tenha ficado abaixo des- cada critério foi realizada multiplicando-se para cada
ses primeiros lugares, isto ocorreu principalmente em critério o percentual observado de respostas para cada
função do fato de que muitos dos novos medicamentos nota vezes a nota absoluta.
não conseguiram ainda comprovar ganhos de sobrevida
A Tabela abaixo apresenta os percentuais por tipo de
pelo baixo número de pacientes incluídos e curto tempo
nota observados para cada critério e a nota média pon-
de seguimento de boa parte dos estudos clínicos. Duran-
te o painel este aspecto foi discutido e houve consenso derada resultante da multiplicação de cada percentual
de que medicamentos orfãos que comprovem ganho de pela nota absoluta. Os critérios foram classificados em
sobrevida para os pacientes portadores de doenças raras ordem decrescente considerando-se a nota média pon-
seriam muito bem avaliados por médicos e pacientes. derada resultante do cálculo descrito acima.
De acordo com esta nova visão sobre os resultados, fo- Os considerados essenciais pelos especialistas foram:
ram mantidos como principais os cinco critérios ante-
A condição de saúde estudada é clinicamente possível
riormente listados, mudando somente a ordem em que
de se definir e afeta até 65 pessoas em cada 100.000
apareceram. indivíduos, com 57% das respostas positivas, ou seja,
A Figura 3 apresenta os resultados da avaliação sobre se indicando que para 57% dos participantes este pode-
os critérios analisados deveriam ser considerados ou não ria ser considerado um critério excludente;
como excludentes, ou seja, se o medicamento em análise A doença pode ser identificada considerando critérios
não atender ao critério ele estaria automaticamente ex- diagnósticos internacionalmente aceitos, com 43%
cluído da consideração de incorporação. das respostas positivas;
Sim Não
Proposta para Incorporação de Medicamentos em Doenças Raras 21
O medicamento proposto promove melhora clínica Quais ganhos clínicos deveriam ser considerados cli-
para a condição de saúde estudada, com 36% das res- nicamente relevantes se comprovados para um deter-
postas positivas; e minado medicamento específico para tratamento de
uma doença rara?
Existem estudos clínicos comprovando que esta te-
rapia traga benefícios clínicos para os pacientes, com Eficácia do tratamento;
36% das respostas positivas.
Ganho de qualidade de vida para o paciente e seus
Unanimidade só foi obtida em relação a não conside- familiares;
rar excludente o fato de ser necessário o uso de algum
Ganho de expectativa de vida;
recurso adicional ainda não disponível no SUS para re-
alização da terapia. Ganho de produtividade;
Para os especialistas, os critérios deveriam ser avaliados Redução de comorbidades a fim de evitar posteriores
de acordo com a doença e/ou o medicamento, pois isso intervenções onerosas para o Sistema de Saúde.
impacta na vida do paciente e seus familiares. De acor-
do com a discussão do painel foi sugerido que nenhum
critério específico deveria ser considerado excludente na Especialistas Médicos
proposta final ao governo.
Quais critérios devem ser adotados para definição de
gravidade de uma doença rara para priorização?
Na discussão em grupo, foram divididos dois grupos, Lesões sequelares definitivas que interfiram na quali-
um composto pelos especialistas médicos e outro com- dade de vida ou atividades do individuo;
posto por representantes de associações de pacientes e
Repercussão da doença não tratada sobre atividades
da academia, para discussão e alinhamento de alguns
habituais do paciente;
critérios antes da discussão com o grupo completo.
Necessidades de tratamentos adicionais secundários à
Dois aspectos foram discutidos:
doença de base não tratada:
Quais deveriam ser os critérios adotados para definição – Internações (Nº de Internações);
de gravidade de uma doença rara para priorização?
– Cirurgias (Necessidades de procedimentos ou ci-
Quais ganhos clínicos deveriam ser considerados cli- rurgias);
nicamente relevantes se comprovados para um deter- – Medicamentos (Custo medicamentoso associado a
minado medicamento específico para tratamento de comorbidades).
uma doença rara?
As respostas fornecidas como consenso por cada grupo Quais ganhos clínicos deveriam ser considerados cli-
de discussão estão apresentadas a seguir: nicamente relevantes se comprovados para um deter-
minado medicamento específico para tratamento de
uma doença rara?
Associação de Pacientes/Academia Aumento na expectativa de vida;
Quais critérios devem ser adotados para definição de
Redução de lesões sequelares;
gravidade de uma doença rara para priorização?
Impacto favorável em aumento da qualidade de vida
Considerar que o paciente já tenha o diagnóstico fe-
e/ou redução da dor;
chado;
Redução da necessidade de tratamentos secundários.
Possibilidade de óbito do paciente com alta mortali-
dade em idade precoce, e com baixa taxa de sobrevida.
22
1. Medicamentos aprovados para doenças que possam Como conclusão, dada à complexidade deste tema e os
ser identificadas considerando critérios diagnósti- grandes desafios, é importante a implementação de polí-
cos internacionalmente aceitos. ticas integradas que contemplem educação sobre o tema,
2. Medicamentos aprovados para doenças que levem o acesso a diagnóstico e tratamento medicamentoso e de
paciente a um estado de saúde grave e progressivo. suporte aos pacientes com diagnóstico confirmado, para
que exista um progresso no conhecimento e tratamento
3. Medicamentos aprovados para doenças clinicamente
dos pacientes com doenças raras.
possíveis de se definir e que afetem até 65 pessoas em
cada 100.000 indivíduos, ou seja, 1,3 pessoas para Esse será o caminho mais adequado para que o sistema
cada 2.000 indivíduos, atendendo ao critério definido possa ser monitorado e ajustado ao longo do processo,
pelo Ministério da Saúde para doenças raras.
propiciando melhores recursos e resultados a pacientes,
4. Medicamentos aprovados para doenças que afetem familiares e profissionais.
a qualidade de vida do paciente e de seu cuidador.
Os resultados do painel de especialistas indicam que
5. Medicamentos que comprovem melhora clínica existem critérios específicos, além dos fatores hoje con-
considerável para a condição de saúde estudada. siderados pela CONITEC para avaliação de incorpora-
6. Medicamentos com custo anual considerado exces- ção de novas tecnologias, que poderiam ser utilizados
sivamente alto para ser arcado pelo próprio paciente para priorização de incorporação de medicamentos ór-
ou responsável. fãos para doenças raras no Brasil.
Proposta para Incorporação de Medicamentos em Doenças Raras 23
Tópicos Adicionais para Discussão Como forma de buscar as iniciativas em curso em outros
países no sentido de criar registros de pacientes com
Durante o painel, tópicos adicionais de importância para doenças raras, foi realizada uma busca acerca do tema.
o cenário de diagnóstico e tratamento das doenças raras
foram abordados, porém como se encontravam fora do A Organização Europeia para as Doenças Raras (EU-
escopo deste painel, foram documentados para pesqui- RORDIS) considera que os registros de pacientes com
sas futuras. doenças raras são determinantes para uma investigação
de sucesso, pois assim possuem maior probabilidade de
Os tópicos adicionais mais relevantes foram:
desenvolvimento de melhores tratamentos23. Além dis-
A existência de medicamentos testados, aprovados so, a análise de dados consistentes dos pacientes, facilita
e utilizados no exterior que não são aprovados pela a criação de padrões de atendimento e melhoras na ex-
ANVISA, algumas vezes porque não chegam a ser pectativa de vida mesmo na ausência de novas terapias.
submetidos pelo fabricante para registro.
A EURORDIS, a Organização Nacional de Doenças Ra-
A necessidade de divulgação sobre a patologia, sinto-
ras (NORD) e a Organização Canadense para as Doen-
mas e métodos de diagnóstico, além da necessidade
de formação técnica de profissionais de saúde e de ças Raras (CORD) emitiram uma declaração conjunta
médicos geneticistas. sobre os princípios comuns dos registros de pacientes
com doenças raras devido a um número estimado de
A necessidade de implementação de um sistema de
60 milhões de pessoas que vivem com essas doenças na
notificação compulsória para as doenças raras como
Europa e América do Norte24.
pré-condição para que o paciente tenha acesso ao tra-
tamento. Esta seria uma forma de gerar dados e esta- Eles reconhecem que os registros de pacientes com do-
tísticas nacionais em uma plataforma única. enças raras constituem instrumentos fundamentais para
aumentar o conhecimento sobre essas doenças. Além
disso, o apoio à investigação clínica e epidemiológica e a
Registros de Pacientes
vigilância dos medicamentos órfãos é fundamental nos
O tema acerca da necessidade de geração de dados clíni- tratamentos utilizados. Os registros podem ainda ser
cos e econômicos a respeito do diagnóstico e tratamento utilizados como um instrumento de apoio ao planeja-
das doenças raras no Brasil foi discutido de forma re- mento de saúde e serviços sociais. Em resumo, esses re-
corrente. Existem iniciativas isoladas de coleta de dados gistros são poderosos instrumentos de baixo custo para
sobre doenças raras específicas, mas as ferramentas de melhorar a qualidade geral do atendimento, qualidade
coleta não são uniformizadas. Tal cenário impede mui- de vida e sobrevida dos pacientes24.
tas vezes uma análise combinada dos dados de diversas
associações de pacientes, por exemplo, ou o uso de tais A EPIRARE (Plataforma Européia para os Registros
informações para alimentar avaliações clínicas e econô- de Doenças Raras) foi um projeto iniciado em abril de
micas de novos medicamentos com o objetivo de solici- 2011, co-financiado pela Comissão Europeia, no âmbito
tação de reembolso pelo SUS. do programa comunitário de ação da União Europeia no
domínio da Saúde Pública. O objetivo final deste projeto
Uma possível solução seria a criação de uma plataforma é o desenvolvimento de ferramentas e serviços de apoio
de acesso público, que organizasse as bases de dados para aos registros existentes e favorecer a criação de novos
coleta de registros de pacientes com doenças raras. Asso- centros, se necessário. A pesquisa é direcionada para
ciações de pacientes, médicos e prestadores de serviços ambos os registros de doenças raras ativos e expirados.
de saúde que tivessem o objetivo de coletar informações
sobre pacientes com doenças raras poderiam utilizar o No ORPHANET um portal de informação para profis-
mesmo formato de coleta de dados de modo que as in- sionais e pacientes interessados em doenças raras, foi pu-
formações pudessem ser comparadas entre instituições blicada em 2009 uma lista de registros de pacientes com
bem como analisadas em conjunto. A anonimidade dos doenças raras na Europa. Esta lista inclui 600 registros
dados deveria ser garantida de forma a manter o sigilo com dimensão regional, nacional, europeia e mundial25.
dos pacientes. Os dados são atualizados anualmente.
24
Em 2013 o EUCERD (Comissão Europeia de Peritos so- 7. Registros de pacientes com doenças raras devem
bre Doenças Raras) iniciou o processo de monitorização incluir dados diretamente relatados pelos pacientes
para finalmente sintetizar os resultados dos principais juntamente com os dados relatados por profissionais
projetos em registros da União Europeia, trabalhando de saúde.
com estratégias para uma possível plataforma de refe-
rência, pois são instrumentos valiosos para o conhe- 8. Parcerias Público-Privadas devem ser encorajadas a
cimento das Doenças Raras. Além disso, o EUCERD assegurar a sustentabilidade dos Registros de pacien-
adotou em 2013, uma Recomendação sobre Bancos de tes com Doenças Raras.
Dados e Registros de Doenças Raras para orientar a for- 9. Os pacientes devem ser igualmente envolvidos com
mação da União Europeia e as políticas nacionais sobre outras partes interessadas na governança dos Regis-
o assunto26. tros de pacientes com Doenças Raras.
Nas várias reuniões formadas pelos Estados-Membros 10. Registros de pacientes com doenças raras devem ser-
da EUCERD são estabelecidos planos nacionais e estra-
vir como instrumentos-chave para a construção e
tégias para a sustentabilidade dos registros de pacientes
fortalecimento de comunidades de pacientes.
e a participação de todas as partes interessadas incluindo
políticos, pesquisadores, médicos, indústria e pacien- A maior importância neste momento é a implementação
tes26. Esses dados coletados precisam estar disponíveis de medidas para que exista um progresso no conheci-
para o benefício da saúde pública e de investigação para mento e tratamento dos pacientes com doenças raras.
fins regulatórios, incluindo a vigilância de tratamentos e
Infere-se, portanto, que a preocupação com o desenvol-
estudos da vida real. Por fim, registros e bancos de dados
vimento, manutenção e harmonização das informações
devem ser financeiramente sustentáveis.
de registros de pacientes é uma realidade em outras par-
Juntos a EURORDIS, EUCERD, NORD E CORD desen- tes do mundo e o Brasil pode aprender com tais experi-
volveram uma Declaração Conjunta dos 10 princípios ências para acelerar o avanço no sentido de desenvolver
fundamentais para os Registros de Pacientes com doen- registros nacionais de pacientes com doenças raras.
ças raras27.
Referências
14. Canadian Organization for Rare Disorders. Disponível em: http://
raredisorders.ca/. Acessado em: 26/06/2014.
Anexo
CRITÉRIOS DE AVALIAÇÃO PARA REEMBOLSO DE MEDICAMENTOS PARA DOENÇAS RARAS
Importância Ranking
Critérios Excludente
(1 a 7) (1 a 16)
Epidemiologia/Diagnóstico
A condição de saúde estudada é clinicamente possível de se definir e afeta até 65
Sim Não
pessoas em cada 100.000 indivíduos, ou seja, 1,3 pessoas para cada 2.000 indivíduos?
A doença pode ser identificada com precisão diagnóstica? Sim Não
Gravidade/Impacto da doença
O esta de saúde do paciente é grave e progressivo? Sim Não
A condição de saúde afeta a qualidade de vida do paciente e de seu cuidador? Sim Não
A expectativa de vida dos pacientes com a condição clínica avaliada é
Sim Não
significativamente reduzida (dados suportados por estudos epidemiológicos)?
Medicamento
O medicamento está registrado no Brasil para tratamento da doença rara em análise? Sim Não
O medicamento proposto promove melhora clínica considerável para a condição de
Sim Não
saúde estudada?
Existem evidências de que o medicamento proposto melhore a qualidade de vida dos
Sim Não
pacientes ou as comorbidades associadas?
Existem estudos clínicos que comprovem o aumento da expectativa de vida do
Sim Não
paciente em uso do medicamento proposto?
Tratamento disponível
Há outro medicamento disponível para tratamento dos pacientes com a condição de
Sim Não
saúde avaliada?
Se sim, este medicamento tem estudos clínicos comprovando redução de mortalidade? Sim Não
Se sim, este medicamento está disponível no SUS? Sim Não
Existe alguma terapia não medicamentosa disponível para o tratamento da condição
Sim Não
de saúde estudada?
Existem estudos clínicos comprovando que esta terapia traga beneficios clínicos
Sim Não
relevantes para os pacientes?
Custos/Recursos adicionais
O custo anual com o medicamento proposto pode ser considerado excessivamente alto
Sim Não
para ser arcado pelo próprio paciente ou responsável?
Para o uso do medicamento proposto existe a necessidade de algum recurso adicional
Sim Não
ainda não disponível no SUS?
Liste abaixo outros critérios que deveriam ser considerados, caso necessário:
Definições
Qual critério deve ser adotado para definição de gravidade de uma doença rara para priorização?
Quais ganhos clínicos deveriam ser considerados clinicamente relevantes se comprovados para um determinado medicamento
específico para tratamento de uma doença rara?
Proposta para Incorporação de Medicamentos em Doenças Raras 27
28
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