You are on page 1of 28

Proposta para Incorporação de Medicamentos em Doenças Raras 1

Proposta para
Incorporação de
medicamentos em
Doenças Raras
D E F I N I Ç ÃO D E C R I T É R I O S PA R A AVA L I AÇ ÃO D E
R E E M B O L S O D E M E D I C A M E N TO S Ó R FÃO S PA R A
T R AT A M E N T O D E D O E N Ç A S R A R A S N O S U S

S ÃO PAU LO, F E V E R E I R O D E 2015


2

SUPERVISÃO S O B R E A I N T E R FA R M A

Antônio Britto
Presidente-executivo Interfarma
Associação da Indústria
COORDENAÇÃO-GER AL Farmacêutica de Pesquisa
Maria José Delgado Fagundes
Inovação e Responsabilidade Social – Interfarma Fundada em 1990, a Interfarma é uma entidade
setorial, sem fins lucrativos, que representa
COORDENAÇÃO DE
COMUNICAÇÃO empresas e pesquisadores nacionais ou estrangeiros
Octávio Nunes responsáveis pela inovação em saúde no Brasil.
Comunicação Institucional – Interfarma

Estes agentes buscam, por meio da inovação,


APOIO

Marcela Simões promover e incentivar o desenvolvimento da


Acesso e Inovação – Interfarma
indústria de pesquisa científica e tecnológica no País
Selma Hirai
Comunicação – Interfarma voltada para a produção de insumos farmacêuticos,

Paula Lazarini matérias-primas, medicamentos e produtos para a


Comunicação – Interfarma
saúde humana.

EDIÇÃO
Atualmente, a Interfarma possui 55 laboratórios
Grupo Resulta
www.gruporesulta.com.br associados, que hoje, são responsáveis pela venda de
80% dos medicamentos de referência do mercado e
PROJETO GR ÁFICO
por 33% dos genéricos, no canal farmácia.
Nebraska Composição Gráfica
Além do conceito de inovação, a Interfarma promove
a interação e o estreitamento das relações com os
diversos agentes, principalmente com as autoridades
de saúde no sentido de discutir, de maneira ampla
e transparente, temas como pesquisa clínica, acesso
à saúde, ambiente regulatório, biotecnologia,
ética e combate à informalidade que são, no nosso
entendimento, fundamentais para aprimorar o

Rua Verbo Divino, 1.488 – 7º andar – Cj. 7A debate em torno da saúde pública no País.
Chácara Santo Antônio – São Paulo – SP
CEP: 04719-904
Tel.: (55 11) 5180-3499
Fax: (55 11) 5183-4247

w w w.i nte r f ar ma .o rg.b r

www.youtube/inovacaoesaude
www.facebook/inovacaoesaude
www.twitter.com/inovacaoesaude
Proposta para Incorporação de Medicamentos em Doenças Raras 3

Visão sem ação não passa de sonho;


ação sem visão é só passatempo;
visão com ação pode mudar o mundo
               J O E L B A K E R
4

Desta vida nada se leva, a não ser a vida que se leva. Só se deixa.
              A N T O I N E D E S A I N T - E X U P É R Y

A Marcos Teixeira (in memoriam) pela sua contribuição com este trabalho, por agregar a visão das associações de pacientes e discutir
o custo social das pessoas com doenças raras, dado importante para o sucesso da Política Nacional.
Proposta para Incorporação de Medicamentos em Doenças Raras 5

Apresentação
A “Política Nacional de Atenção Integral às Pessoas com Doenças Raras e as Diretri-
zes para Atenção Integral às Pessoas com Doenças Raras no âmbito do Sistema Único
de Saúde”, publicadas via Portaria 199/2014, é, em nossa visão, um passo importante
em direção a um sistema de saúde cada vez mais igualitário e para todos os brasileiros.

Apesar disso, o processo de implementação desta política levanta questões estruturais


e essenciais para os sistemas públicos e universais de saúde, não só no Brasil, como
em outros países com o mesmo desafio: o acesso e a incorporação de medicamentos
e novas tecnologias em saúde e o impacto, principalmente, orçamentário a ser gerado
no sistema, o que, muitas vezes, infelizmente, cria uma verdadeira “escolha de sofia”.

Atualmente, os medicamentos órfãos são avaliados pela Comissão Nacional de Incor-


poração de Tecnologias no SUS (CONITEC) considerando-se as mesmas exigências
e critérios de análise utilizados para medicamentos destinados ao tratamento de do-
enças altamente prevalentes. Com isso, em virtude da característica rara da doença,
na maioria das vezes critérios de qualidade considerados essenciais não são preen-
chidos, o que leva, na prática, a não incorporação de grande parte dos medicamentos
avaliados.

Considerando esse cenário, a Interfarma apresenta, com essa publicação, o resultado


de uma iniciativa, que tem como objetivo avaliar modelos internacionais de incor-
poração de tecnologias relacionados às doenças raras, incluindo aspectos clínicos,
econômicos e sociais (multicritérios e outros) e discutir os possíveis critérios a serem
adotados para avaliação de reembolso de medicamentos para doenças raras no Brasil.

Utilizando uma metodologia intitulada Painel Delphi, essa publicação traz ainda a vi-
são de atores essenciais do processo: médicos (especialistas em determinadas doenças
raras e geneticistas), acadêmicos da área das ciências farmacêuticas e de economia da
saúde e a sociedade civil organizada.

Esperamos que, dada a complexidade do tema e os inúmeros desafios a serem equa-


cionados, a necessidade de garantir o acesso a medicamentos órfãos, que possamos
contribuir para a criação de um modelo de avaliação a ser seguido pela CONITEC
para a incorporação de tecnologias relacionadas às doenças raras.

Boa leitura!

Theo van der Loo Antônio Britto


Presidente do Conselho Diretor Presidente-Executivo
6
Proposta para Incorporação de Medicamentos em Doenças Raras 7

Sumário
9 Introdução
9 Panorama Nacional
9 Medicamentos Órfãos
10 Protocolos Nacionais
10 Medicamentos Órfãos Não Incorporados
11 Incorporação de Tecnologias
11 Incorporação de Medicamentos Órfãos

12 Objetivo

12 Metodologia

12 Status do cenário internacional para avaliação de reembolso de medicamentos órfãos


12 Austrália
13 Canadá
13 Coréia do Sul
13 Escócia
14 França
14 Holanda
14 Japão
14 Reino Unido
16 Critérios de Avaliação para Reembolso

17 Painel de Especialistas
17 Avaliação individual da importância de cada critério
21 Discussão em Grupo

22 Conclusão
23 Tópicos Adicionais para Discussão
23 Registros de Pacientes

24 Recomendação para estudos futuros

25 Referências Bibliográficas

26 ANEXO: Questionários aplicados


8

Resumo
Introdução Resultados
Em janeiro de 2009 foi instituída no âmbito do Sis- Os resultados finais mostraram que a maioria dos
tema Único de Saúde (SUS) a Política Nacional de países pesquisados possuem Centros Especializa-
Atenção Integral em Genética Clínica. Em feverei- dos em doenças raras com objetivo de otimizar a
ro de 2014, a Portaria Nº 199 instituiu no âmbito alocação dos recursos para investigação, diagnós-
do SUS a Política Nacional de Atenção Integral às tico e tratamento, e garantir que os tratamentos
Pessoas com Doenças Raras. De acordo com esta disponíveis sejam reembolsados. Já em outros pa-
política, é considerada rara a doença com uma pre- íses não há nada específico para estes casos, mas
valência de até 65 casos por 100.000 habitantes. organizações trabalham para apoiar tais projetos.

Os principais critérios identificados através do pai-


nel de especialistas para priorização de incorpo-
Objetivo ração de medicamentos para doenças raras são: o
Avaliar modelos internacionais de incorporação de fato de a doença poder ser diagnosticada de acordo
tecnologias relacionados às doenças raras, incluin- com critérios internacionalmente aceitos; a com-
do aspectos clínicos, econômicos e sociais (multi- provação de que a doença levaria o paciente a um
critérios e outros). estado de saúde grave e progressivo se não tratada;
a confirmação de que a doença se enquadra no cri-
Discutir os possíveis critérios a serem adotados
tério de raridade com prevalência de até 65 casos
para avaliação de reembolso de medicamentos para
por 100.000 habitantes; a comprovação do impacto
doenças raras no Brasil e propor um modelo de
da doença sobre a qualidade de vida do paciente
avaliação a ser seguido pela CONITEC.
e de seu cuidador; e a avaliação de medicamentos
com comprovação de ganhos clínicos considerá-
veis para a condição de saúde estudada.
Metodologia
Foi realizada uma busca por modelos internacio-
nais de avaliação de reembolso de medicamentos Conclusão
órfãos relacionados às doenças raras na Austrália,
Mediante a complexidade do assunto e os inúme-
Canadá, Coreia do Sul, Escócia, França, Holanda,
ros desafios a serem resolvidos, é importante haver
Japão e Reino Unido.
a implementação de uma política nacional para
Na sequência, foi realizado um painel envolvendo doenças raras que ocorra de maneira progressiva.
especialistas médicos, representantes de associa- Em paralelo a esta política de atenção integral às
ções de pacientes e da academia, para discussão e doenças raras, deveriam ser revisados os critérios
definição dos melhores critérios para avaliação de para avaliação dos medicamentos destinados ao
reembolso de medicamentos órfãos para tratamen- tratamento das doenças raras, pois o seguimento
to de doenças raras no SUS. dos métodos tradicionais não confere a estes medi-
camentos a atenção que precisariam receber.
Proposta para Incorporação de Medicamentos em Doenças Raras 9

Introdução Em torno de 80% das doenças raras tem origem genéti-


ca5. O restante decorre de infecções bacterianas e virais,
alergias, ou causas degenerativas.

A maioria das doenças raras (75%) se manifesta no iní-


Panorama Nacional cio da vida, e estas contribuem significativamente para a
morbimortalidade nos primeiros 18 anos de vida5.
Em janeiro de 2009 foi instituída no âmbito do Sistema
Único de Saúde (SUS) a Política Nacional de Atenção In-
tegral em Genética Clínica1, considerando a necessidade Apesar de a nova política ter resultado na incor-
de estruturar no SUS uma rede de serviços especializada poração de novos testes diagnósticos para doenças
que permita a atenção integral em Genética Clínica e a raras no SUS, não houve até o momento avanços
melhoria do acesso a esse atendimento. em relação à incorporação de medicamentos para
tratamento destas condições clínicas.
Essa política foi implantada de forma articulada nas três
esferas de gestão do SUS e tinha por objetivos: organi- Em torno de 2% das doenças raras podem se beneficiar
zar uma linha de cuidados integrais como promoção, de medicamentos órfãos4 e mesmo este número reduzi-
prevenção, tratamento e reabilitação, que atendesse a to- do de tecnologias não foi incorporado ao SUS.
dos os níveis de atenção; possibilitar a identificação dos
O Ministério da Saúde informou que atualmente exis-
principais problemas de saúde relacionados a anomalias
tem cerca de 100 medicamentos para aproximadamente
congênitas e doenças geneticamente determinadas, de
8 mil doenças raras e que, por isso, a política é mais
forma a fornecer subsídios para melhores ações no setor;
focada em prevenção, cuidado e tratamento não medi-
definir critérios técnicos para o funcionamento, monito-
camentoso5.
ramento e avaliação dos serviços; incentivar a realização
de pesquisas e qualificar a assistência educando os pro- Recentemente, a Consulta Pública Nº 20 de 26 de setem-
fissionais de saúde envolvidos com essa política. bro de 20146 tornou pública nos termos do art. 19 do
Decreto 7.646, de 21 de dezembro de 2011 a Proposta de
A política prevê o atendimento dos pacientes em dois priorização do elenco de doenças raras para elaboração
níveis: Atenção Básica e Atenção Especializada em ge- de Protocolos Clínicos e Diretrizes Terapêuticas (PCDT)
nética clínica1. para Atenção Integral às Pessoas com Doenças Raras,
elaborada pela Secretaria de Ciência, Tecnologia e Insu-
Entretanto, esta não trouxe impacto favorável ao cenário
mos Estratégicos e pela Secretaria de Atenção a Saúde do
de diagnóstico e tratamento das doenças raras no SUS.
Ministério da Saúde.
Em fevereiro de 2014, a Portaria Nº 199 instituiu no
âmbito do SUS a Política Nacional de Atenção Integral
às Pessoas com Doenças Raras. Esta foi atualizada em
Medicamentos Órfãos
republicação de maio de 20142. A Resolução da Diretoria Colegiada – RDC de 28 de
abril de 20077 define medicamentos órfãos como medi-
De acordo com esta política, é considerada rara a do-
camentos eficazes no tratamento ou diagnóstico de do-
ença com uma prevalência de até 65 casos por 100.000
enças raras ou negligenciadas. Além disso, a RDC Nº 57
habitantes2. Atualmente são conhecidas de 6.000 a 7.000 de 20 de dezembro de 20138 define doenças raras como
mil doenças e regularmente são descritas novas doenças aquelas de baixa prevalência na população, conforme
na literatura médica3. Estas afetam uma parcela consi- parâmetro estabelecido pelo Ministério da Saúde, que
derável da população mundial – entre 6% e 8%, ou 420 determina que estas são, geralmente, crônicas, progres-
milhões a 560 milhões de pessoas4. sivas, degenerativas e até incapacitantes.
10

De acordo com a regulação européia, medicamentos ór- Medicamentos Órfãos


fãos são produtos que atendem aos seguintes critérios:
Não Incorporados
Prevalência: Tratam doenças que atendam ao crité-
Dentre as doenças citadas acima, existem ainda tecno-
rio de doenças raras, no caso do Brasil, com prevalên-
logias disponíveis não contempladas nos protocolos de
cia menor que 65 casos por 100.000 habitantes.
tratamento.
Gravidade: Tratam doenças que ameacem a vida ou
sejam cronicamente debilitantes.
Doença Medicamentos
Necessidades não atendidas: Tratam doenças para Esclerose Lateral Amiotrófica Riluzol
as quais não existe autorização/aprovação de trata- Angioedema Hereditário Icatibanto
mento satisfatório ou, caso exista, o novo medicamen-
Inibidor de C1 esterase
to ainda oferece um benefício significativo. Angioedema Hereditário
derivado de plasma humano
Acromegalia Pegvisomant

Protocolos Nacionais
E além destas, existem 10 doenças para as quais existem
Os critérios diagnósticos e terapêuticos recomendados e medicamentos órfãos registrados no Brasil, mas que não
adotados pelo Sistema Único de Saúde para determinada foram incorporados pelo SUS e não possuem protocolos
condição clínica são definidos a partir de Protocolos Clí- de diagnóstico e tratamento estabelecidos.
nicos e Diretrizes Terapêuticas (PCDTs)9. A atualização
de tais PCDTs encontra-se sob a responsabilidade da
Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias do Doença Medicamentos
SUS (CONITEC). Doença de Pompe Alfaglicosidade
Deficiência de Biotinidase Biotina
Doença de Fabry Alfagalsidade, Beta-Galsidade
Existem atualmente 31 protocolos clínicos
ligados a doenças raras no âmbito do SUS4. Mucopolissacaridose I Laronidase
Mucopolissacaridose II Idursulfase
Angiodema Hereditário Fibrose Cística
Mucopolissacaridose IV A Elosulfase Afa
(Manifestações
Artrite Reativa –
Pulmonares) Mucopolissacaridose VI Galsulfase
Síndrome de Reiter
Hepatite Autoimune Niemann-Pick Tipo C Miglustate
Dermatomiosite e
Polimiosite Hiperplasia Adrenal Leucemia Mielóide Aguda Idarrubicina
Congênita
Diabetes Insípido Polineuropatia Amiloidótica Tafamidis Meglumine
Hipertensão Arterial Familiar
Distonias Focais e
Pulmonar
Espasmo Hemifacial
Hipoparatireoidismo
Doença Celíaca
Hipopituitarismo
Doença de Addison
Hipotireoidismo
Doença de Crohn
Congênito
Doença de Gaucher
Ictioses Hereditárias
Doença de Parkinson
Imunodeficiências
Doença de Wilson Primárias com Deficiência
Doença Falciforme de Anticorpos

Esclerose Lateral Lúpus Eritematoso


Amiotrófica Sistêmico

Esclerose Múltipla Miastenia Gravis

Fenilcetonúria Osteogênese Imperfeita

Fibrose Cística Síndrome de Guillan-Barré


(Insuficiência Pancreática) Síndrome de Turner
Proposta para Incorporação de Medicamentos em Doenças Raras 11

Incorporação Incorporação de
de Tecnologias Medicamentos Órfãos
A Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias Atualmente, os medicamentos órfãos são avaliados pela
no SUS (CONITEC) foi instituída pela Lei Nº 12.401, CONITEC considerando-se as mesmas exigências e cri-
de 28 de Abril de 201110 e possui a responsabilidade de térios de análise utilizados para medicamentos destina-
avaliar e emitir pareceres sobre a incorporação de no- dos ao tratamento de doenças altamente prevalentes.
vas tecnologias ao SUS, incluindo medicamentos, e de
Entretanto, em virtude da característica rara da doença,
desenvolver protocolos clínicos e diretrizes terapêuticas
na maioria das vezes critérios de qualidade considerados
(PCDTs)9 para as mais diversas condições clínicas.
essenciais não são preenchidos, tais como:
A análise desenvolvida pela CONITEC leva em consi-
A existência de ensaios clínicos randomizados com
deração:
número elevado de pacientes.
Padrão de tratamento adotado pelo SUS para uma de-
terminada condição clínica e necessidades não aten- A comprovação do prolongamento da sobrevida ou
didas pelo tratamento disponível; redução de desfechos considerados relevantes no con-
texto da doença no longo prazo com o uso do novo
Eficácia e segurança do novo medicamento em rela- medicamento.
ção ao padrão atualmente adotado no SUS;
Atingimento de limites de custo-efetividade aceitá-
Custo-efetividade do novo medicamento em relação
veis, pois em geral os custos por paciente são bastante
ao padrão adotado no SUS, ou seja, se existe e qual
elevados, e geralmente comparados a um cenário sem
deve ser o investimento adicional para alcançar o be-
tratamento direcionado que impacte na evolução ou
nefício clínico proposto pelo novo medicamento;
progressão da doença, no qual somente um tratamen-
Impacto orçamentário da incorporação do novo me- to de suporte seria oferecido ao paciente.
dicamento para tratamento da população elegível
Desta forma, o uso de critérios idênticos aos dos demais
atendida pelo SUS.
medicamentos para avaliação de medicamentos órfãos
Neste contexto, são priorizados tratamentos que levem leva na prática a não incorporação de grande parte dos
ao prolongamento de sobrevida dos pacientes ou à me- medicamentos avaliados.
lhora de desfechos que sejam clinicamente relevantes e
Praticamente nenhum medicamento órfão para doenças
que não agreguem custos considerados inaceitáveis para
raras atinge um limite de custo-efetividade considerado
o sistema de saúde.
aceitável em todo o mundo.
O desafio se encontra no fato de que não é clara atual-
mente a definição de quais são os critérios para prioriza- Diante deste cenário, torna-se necessária a busca por
ção de necessidades não atendidas em diferentes condi- critérios alternativos que possibilitem a incorporação de
ções clínicas, quais benefícios clínicos são considerados medicamentos para doenças raras que tragam benefícios
clinicamente relevantes e, ainda, se existe um limite de para os pacientes, mesmo diante das limitações apresen-
investimento adicional por benefício clínico para que tadas acima.
uma nova tecnologia seja considerada custo-efetiva.

Neste contexto, não são transparentes os critérios de


priorização atualmente adotados para a incorporação de
tecnologias ao Sistema Único de Saúde.
12

Objetivo Status do cenário


Avaliar critérios específicos seguidos por outros países internacional
para priorização de reembolso de medicamentos órfãos
relacionados às doenças raras, incluindo aspectos clíni-
para avaliação
cos, econômicos e sociais.
de reembolso de
Discutir os possíveis critérios a serem adotados para
avaliação de reembolso de medicamentos órfãos para medicamentos
doenças raras no Brasil e propor um modelo de avalia-
ção a ser seguido pela CONITEC.
órfãos
Os resultados encontrados para cada país serão apresen-
tados a seguir.

Metodologia Austrália
O processo de Avaliação de Tecnologias em Saúde na
Foi organizado um Painel de Especialistas envolvendo Austrália é coordenado pelo Pharmaceutical Benefits
especialistas médicos e representantes de associações Advisory Committee (PBAC)11, órgão que desenvolve na
de pacientes e da academia para discussão e definição Austrália papel similar ao da CONITEC no Brasil.
dos melhores critérios para avaliação de reembolso de Não há programas específicos para avaliação de medica-
medicamentos órfãos para tratamento de doenças raras mentos para tratamento de doenças raras na Austrália,
no SUS. mas existem alternativas possíveis para o financiamento.

Como preparação para o painel foi realizada uma re- Para que uma droga órfã se candidate à análise e deci-
são sobre o financiamento é necessário atender a oito
visão da literatura e de bases especializadas em busca
critérios relacionados ao programa “Life Saving Drugs
de modelos internacionais de avaliação de reembolso
Programme” (LSDP)12:
de medicamentos órfãos. Em especial foi pesquisado o
uso de critérios específicos diferentes dos convencionais 1. Medicamento aprovado para tratamento de uma do-
para avaliação de medicamentos órfãos. ença rara clinicamente possível de ser definida.

2. A doença pode ser identificada com precisão diag-


Os seguintes países foram incluídos na busca:
nóstica razoável.
Austrália França
3. Existem estudos epidemiológicos comprovando que
Canadá Holanda a expectativa de vida do paciente é significativamen-
te reduzida em função da doença.
Coreia do Sul Japão
4. Existem evidências aceitáveis de que a expectativa
Escócia Reino Unido
de vida do paciente é significativamente aumentada
Estes foram selecionados por serem países de referência após o tratamento com o novo medicamento.
no processo de Avaliação de Tecnologias em Saúde ou 5. A eficácia do tratamento foi aceita, mas o medica-
por possuírem programas planejados ou em andamento mento foi rejeitado por não atender aos limites de
relacionados ao cenário das doenças raras. custo-efetividade analisados pelo PBAC.
Proposta para Incorporação de Medicamentos em Doenças Raras 13

6. Não existem medicamentos alternativos para pro- tar as chances de superar as doenças raras e de melhorar
longar a vida destes pacientes. Vale ressaltar que a a qualidade de vida dos pacientes.
existência de um medicamento alternativo já inclu-
Para atingir tais objetivos, o centro fornece os recursos
ído ao LSDP não desqualifica o novo medicamento
para avaliação. necessários para o diagnóstico e tratamento garantindo
que os pacientes tenham acesso ao melhor tratamento
7. Não existem terapias não medicamentosas (por possível.
exemplo: cirurgias, radioterapia) reconhecidas por
autoridades médicas como eficazes e custo-efetivas E, por fim, recolhem as informações mais recentes sobre
para o tratamento da doença. as doenças raras e os medicamentos utilizados, como
forma de construir uma base de dados de desfechos clí-
8. O custo anual com o novo medicamento pode ser nicos e fornecer informações aos pacientes e aos pro-
considerado excessivamente alto para ser arcado fissionais médicos, contribuindo para a melhoria dos
pelo próprio paciente ou cuidador. cuidados de saúde de pacientes com doenças raras15.

Canadá
Escócia
Não existem critérios para incorporação de tecnologias
As novas tecnologias elegíveis a reembolso na Escócia
em saúde específicos para doenças raras no Canadá.
passam por um processo de avaliação realizado pelo
Existe um projeto em discussão para o estabelecimento
Scottisch Medicines Consortium (SMC). Todas as sub-
de um framework regulatório que definiria um medica-
missões ao SMC devem ser completas independente do
mento órfão como aquele destinado ao diagnóstico, tra-
tipo de medicamento avaliado16.
tamento, atenuação ou prevenção de doenças que amea-
cem a vida e sejam seriamente debilitantes e que afetem Entretanto, o SMC pode ser mais flexível em aceitar
no máximo 5 em cada 10.000 habitantes no Canadá13. Os maior incerteza nas avaliações econômicas ou um maior
fabricantes submeteriam processos ao Health Canada custo por QALY para medicamentos órfãos17.
para designação de um medicamento como órfão. Se
Alguns fatores são levados em consideração para esta
concedida tal designação, os fabricantes seriam elegíveis
flexibilização17:
a receber incentivos regulatórios específicos13.
O medicamento oferece tratamento para uma doença
No Canadá foi criada ainda a Canadian Organization
que ameace a vida;
for Rare Disorders (CORD)14 que é uma organização
que representa todos aqueles que possuem uma doença O medicamento comprovou aumento significativo da
rara. A CORD trabalha com o governo, bem como com expectativa de vida e/ou qualidade de vida dos pacientes;
pesquisadores, médicos e com a indústria para promo-
Não existem outras opções terapêuticas eficazes para
ver a investigação, diagnóstico, tratamento e serviços
a doença;
no atendimento de pacientes com doenças raras. São
dedicados cerca de 2 milhões de dólares canadenses em O medicamento é utilizado para um subgrupo especí-
apoio a projetos, mas há falta de recursos para as inves- fico de pacientes;
tigações.14. O medicamento promove a recuperação e não somente
a estabilização de uma determinada condição clínica;
Coreia do Sul O medicamento ocupa um gap terapêutico até a reali-
Na Coreia do Sul foi criado o Centro de Drogas Órfãs da zação de um tratamento definitivo;
Coréia do Sul (KODC)15: Esta é uma Organização sem O medicamento oferece uma alternativa para outro
fins lucrativos estabelecida em conformidade com a Lei medicamento não registrado que é o único tratamen-
de Farmácia Nº 91 da República da Coréia. to em uso para a doença específica.
O centro foi idealizado com o financiamento do governo Existem contribuições de especialistas e de grupos de
coreano, após uma pressão social crescente para aumen- pacientes favoráveis à incorporação do medicamento.
14

França Japão
O Governo Francês criou um Plano Nacional para Do- No Japão foi lançado em 1972 um Programa Nacional de
enças Raras que envolvem especialistas, profissionais Doenças Raras e Intratáveis. Desde então o governo tem
de saúde, representantes de associações e Ministério da promovido pesquisas e apoio aos pacientes com doenças
Saúde. Existem atualmente 67 centros que cobrem 18 ca- raras20.
tegorias de doenças raras18. Em algumas partes da Fran- O programa tem algumas características únicas20:
ça o reembolso para tratamentos não é completo, pois as
Pacientes com uma das doenças específicas podem se
despesas com viagens e alojamentos para pacientes são
inscrever em um sistema de registro que cobre custos
muito altas.
hospitalares e ambulatoriais, bem com medicamen-
O Ministério da Saúde solicitou a criação de uma célula tos.
nacional de doenças raras para garantir aos pacientes
Grupos de pesquisa financiados pelo governo devem
100% de reembolso. A cada seis meses os responsáveis se
realizar pesquisas sobre prevalência, diagnóstico e
unem para verificar o andamento dos planos, melhorias,
tratamento da doença, mas também disponibilizar
redefinir as doenças e seus avanços18. uma rede para divulgar as informações encontradas.
Não foram encontrados critérios específicos seguidos A experiência e o conhecimento dos investigadores e
por esta célula para priorização da incorporação de me- colaboradores específicos devem ser repassados para
dicamentos órfãos para doenças raras. os grupos sucessivos.

Hoje o Japão atua com 60 grupos de pesquisa e são estu-


dadas 123 doenças raras20. Não foram encontrados cri-
térios específicos utilizados para seleção das doenças ou
Holanda tecnologias priorizadas para avaliação.
O processo de precificação e reembolso na Holanda dife-
rencia medicamentos raros de uso hospitalar e ambula-
torial e é conduzido pelo Board de Reembolso em Saúde Reino Unido
Holandês (CVZ)19. A RDUK (Aliança Nacional do Reino Unido) adotou
Para medicamentos de uso ambulatorial cujo objetivo seja através da União Européia, cuidados especiais para os
alcançar um preço prêmio de reembolso, são exigidas in- portadores de doenças raras e desenvolveu estratégias
que garantam que os pacientes e seus familiares tenham
formações clínicas e farmacoeconômicas sobre o produto,
acesso a procedimentos, tratamentos e serviços efica-
bem como uma análise de impacto orçamentário19.
zes21.
No caso de medicamentos de uso ambulatorial para do-
Essa Aliança é composta por:
enças raras, os fabricantes podem pedir dispensa da sub-
missão de estudos farmacoeconômicos e neste caso so- Pesquisa;
mente uma análise de impacto orçamentário é exigida19.
Prevenção;
Para medicamentos de uso hospitalar para doenças ra- Diagnóstico;
ras, foi criado uma política específica que prevê reem-
bolso provisório para novos medicamentos órfãos por Triagem;
três anos para hospitais universitários que sejam centros Tratamento;
de referência, condicionado à obtenção de dados clíni-
Assistência e Apoio;
cos e de custo-efetividade que permitam a reavaliação
do medicamento pelo CVZ após três anos19. Informações e Planejamento.
Proposta para Incorporação de Medicamentos em Doenças Raras 15

Planos de ação estão sendo realizados com vários par- Alguns critérios são levados em consideração durante a
ceiros para que ainda no ano de 2014 sejam lançados os avaliação22:
projetos ao público21. São eles:
Natureza da condição de saúde, incluindo morbidade
Cuidados pessoais para cada paciente e familiar; e incapacidade clínica gerada com os atuais padrões
de tratamento; impacto na qualidade de vida dos cui-
Criação de centros clínicos especializados; dadores; e disponibilidade de opções de tratamento.
Melhor formação para os profissionais da saúde. Impacto da nova tecnologia em termos de efetividade
As iniciativas acima objetivam alcançar os seguintes re- clínica, magnitude dos benefícios para os pacientes e
sultados21: cuidadores, quando apropriado.

Custo para o Sistema Público de Saúde e Serviço de


Melhorar o diagnóstico precoce das doenças raras.
Seguridade Social, considerando o impacto orçamen-
Ampliar o acesso dos pacientes a tratamentos seguros tário, robustez dos dados de custo considerados e pos-
e eficazes. sibilidade de negociação de acordos para acesso do
paciente.
Promover o Reino Unido à líder mundial em pesquisa
e desenvolvimento no tratamento das doenças raras. Valor pelo dinheiro, ou seja, magnitude do impacto
do benefício clínico alcançado com o medicamento
Desde abril de 2013 o NICE voltou a ser responsável por comparado ao tratamento padrão versus recursos fi-
avaliar a incorporação de medicamentos para doenças nanceiros e técnicos necessários para utilizar a tecno-
raras22. logia, levando em consideração ainda o impacto além
Esta avaliação é desenvolvida por um comitê que in- de benefícios médicos diretos e possíveis reduções de
custo fora do sistema de saúde.
clui indivíduos que trabalham para o Sistema Público
de Saúde (NHS), indústria farmacêutica e de devices, Impacto na prestação dos cuidados especializados,
organizações de pacientes e cuidadores, e disciplinas em termos de recursos humanos e infraestrutura ne-
acadêmicas relevantes. cessária para correto uso da nova tecnologia.
16

Critérios de Avaliação para doenças raras, foi definida uma lista de 16 critérios
para Reembolso utilizados, que serão apresentados a seguir na Figura 1.

Após avaliação dos critérios utilizados por diferentes países Estes critérios formaram a base para discussão durante o
para decidir sobre o reembolso de medicamentos órfãos painel de especialistas que será detalhado a seguir.

Figura 1. Critérios Especiais de Avaliação para Reembolso de Medicamentos Órfãos

EPIDEMIOLOGIA / DIAGNÓSTICO CRITÉRIO NO PAÍS

A condição de saúde estudada é clinicamente possível de se definir e afeta até 65 pessoas em cada
100.000 indivíduos, ou seja, 1,3 pessoas para cada 2.000 indivíduos?

A doença pode ser identificada considerando critérios diagnósticos internacionalmente aceitos?

GRAVIDADE / IMPACTO DA DOENÇA CRITÉRIO NO PAÍS

O estado de saúde do paciente é grave e progressivo?

A condição de sáude afeta a qualidade de vida do paciente e de seu cuidador?

A expectativa de vida dos pacientes com a condição clínica avaliada é significativamente reduzida
(dados suportados por estudos epidemiológicos)?

TRATAMENTO DISPONÍVEL CRITÉRIO NO PAÍS

Há outro medicamento disponível para tratamento dos pacientes com a condição de saúde avaliada?

Se sim, este medicamento tem estudos clínicos comprovando redução de mortalidade?

Se sim, este medicamento está disponível no SUS?

Existe alguma terapia não medicamentosa disponível para o tratamento da condição de saúde
estudada?

Existe estudos clínicos comprovando que esta terapia traga benefícios clínicos relevantes para os
pacientes?

MEDICAMENTO CRITÉRIO NO PAÍS

O medicamento está registrado no Brasil para tratamento da doença rara em análise?

O medicamento proposto promove melhora clínica considerável para a condição de saúde estudada?

Existem evidências de que o medicamento proprosto melhore a qualidade de vida dos pacientes ou
as comorbidades associadas?

Existem estudos clínicos que comprovem o aumento da expectativa de vida do paciente em uso do
medicamento proposto?

CUSTOS / RECURSOS ADICIONAIS CRITÉRIO NO PAÍS

O custo anual com o medicamento proposto pode ser considerado excessivamente alto para ser
arcado pelo próprio paciente ou responsável?

Para o uso de medicamento proposto existe a necessidade de algum recurso adicional ainda não
disponível no SUS?

Austrália Escócia Reino Unido


Proposta para Incorporação de Medicamentos em Doenças Raras 17

Painel de (muito importante), qual o grau de importância de cada


critério para priorização da incorporação de medica-

Especialistas mentos órfãos para doenças raras no Brasil.

Cada participante definiu ainda se cada critério deveria


O painel de especialistas foi realizado no dia 21 de Julho ser considerado excludente, ou seja, caso o critério espe-
de 2014, das 13h30 as 17h30, no Auditório da Divisão de cífico não fosse atendido, a tecnologia seria considerada
Biblioteca e Documentação do Conjunto das Químicas automaticamente inelegível para reembolso pelo Siste-
(DBDCQ) - Av. Prof. Lineu Prestes, 950 – Universidade ma Único de Saúde.
de São Paulo, Campus Butantã, contando com a partici-
pação de especialistas médicos, representante de asso-
ciações de pacientes e da academia:
Avaliação individual da
Durante o painel foi apresentado o panorama nacional e importância de cada critério
internacional de avaliação de reembolso de medicamen-
tos órfãos para doenças raras e os critérios apresentados Como resultado da avaliação da importância individual
na Figura 1 foram discutidos. de cada critério, foram obtidos os resultados apresenta-
Foi solicitado que cada participante preenchesse um dos na Figura 2. Nesta análise, critérios com maior per-
questionário (ANEXO) no qual avaliaram, em critério centual de respostas iguais a 7 foram considerados muito
de importância variando de 1 (pouco importante) a 7 importantes por um maior número de participantes.

Tabela 1. Participantes Médicos

Participantes médicos Especialidades


Dra. Anete Grumach Alergista
Dra. Denise Bomfim Neurologista
Dra. Erlane Ribeiro Geneticista
Dra. Gisela Martina Meyer Cardiologista
Dr. João Gabriel Daher Geneticista / Especialista em Doenças Raras
Dra. Nina Musolino Endocrinologista
Dr. Régis Campos Alergista
Dr. Roberto Giugliani Geneticista

Tabela 2. Participantes Associações de Pacientes

Participantes - Associações de Pacientes Associação


Adriana Ueda Instituto Canguru
Luciana Holtz Instituto Oncoguia
Marcos Antônio Teixeira GEDR Brasil (Grupo de Estudos de Doenças Raras)
Presidente da Federação Brasileira de Associações Civis de Portadores de Esclerose Múltipla
Wilson Gomiero
(FEBRAPEM)/Conselheiro do Conselho Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficiência (CONADE)

Tabela 3. Participantes Academia

Participantes - Academia Especialidades


Antônio Carlos Coelho Campino Professor Doutor da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo
Roberto Parise Filho Professor Dr. da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Universidade de São Paulo
18

Figura 2. Resultados gerais - importância dos critérios

O estado de saúde do paciente é grave e progressivo? 7 7 7 7 71

A doença pode ser identificada considerando critérios


7 21 7 64
diagnósticos internacionalmente aceitos?

O medicamento proposto promove melhora clínica


14 7 14 64
considerável para a condição de saúde estudada?

A condição de saúde estudada é clinicamente possível de se definir e afeta até 65


7 21 14 57
pessoas em cada 100.000 indivíduos, ou seja, 1,3 pessoas para cada 2.000 indivíduos?

A condição de saúde afeta a qualidade de vida do paciente e de seu cuidador? 7 21 14 57

Existem evidências de que o medicamento proposto melhore a qualidade


8 8 15 15 8 46
de vida dos pacientes ou as comorbidades associadas?

O custo anual com o medicamento proposto pode ser considerado


7 14 14 21 43
excessivamente alto para ser arcado pelo próprio paciente ou responsável?

A expectativa de vida dos pacientes com a condição clínica avaliada é


7 7 21 7 21 36
significativamente reduzida (dados suportados por estudos epidemiológicos)?

Existem estudos clínicos comprovando que esta terapia traga 14 7 21 7 14 36


beneficios clínicos relevantes para os pacientes?

Para o uso do medicamento proposto existe a necessidade de algum


14 7 21 14 14 29
recurso adicional ainda não disponível no SUS?

Existem estudos clínicos que comprovem o aumento da expectativa


21 7 21 29 21
de vida do paciente em uso do medicamento proposto?

Existe alguma terapia não medicamentosa disponível para


14 7 7 14 14 21 21
o tratamento da condição de saúde estudada?

O medicamento está registrado no Brasil para tratamento da doença rara em análise? 7 36 14 14 14 14

Há outro medicamento disponível para tratamento dos


14 7 7 14 14 29 14
pacientes com a condição de saúde avaliada?

Se sim, este medicamento tem estudos clínicos comprovando redução de mortalidade? 21 21 29 14 14

Se sim, este medicamento está disponível no SUS? 14 7 14 29 7 14 14

1 2 3 4 5 6 7

De acordo com o gráfico acima, o critério que avalia Em quarto lugar com 57% das respostas com nota 7,
se o estado de saúde do paciente é grave e progressivo apareceu o critério que avalia se a condição de saúde é
foi considerado como o mais importante por 71% dos clinicamente possível de se definir e afeta até 65 pessoas
participantes. Isto ressalta a importância dada pelos par- em cada 100.000 indivíduos.
ticipantes à gravidade da doença.
O quinto lugar no ranking dos critérios com os mesmos
Em segundo e terceiro lugar com 64% das respostas, fo- 57% das respostas foi ocupado pelo critério que avalia se
ram considerados importantes os critérios que avaliam a condição de saúde afeta a qualidade de vida do pacien-
se a doença pode ser identificada considerando critérios
te e de seu cuidador.
diagnósticos internacionalmente aceitos e se o medica-
mento proposto promove melhora clínica considerável Esses foram os critérios considerados como os mais
para a condição de saúde estudada. importantes, ou seja, aqueles com maior percentual de
Proposta para Incorporação de Medicamentos em Doenças Raras 19

notas iguais a sete, pelos especialistas participantes do Uma segunda forma de análise dos critérios mais im-
painel. portantes de acordo com a nota conferida de 1 a 7 para
Embora o ganho de sobrevida tenha ficado abaixo des- cada critério foi realizada multiplicando-se para cada
ses primeiros lugares, isto ocorreu principalmente em critério o percentual observado de respostas para cada
função do fato de que muitos dos novos medicamentos nota vezes a nota absoluta.
não conseguiram ainda comprovar ganhos de sobrevida
A Tabela abaixo apresenta os percentuais por tipo de
pelo baixo número de pacientes incluídos e curto tempo
nota observados para cada critério e a nota média pon-
de seguimento de boa parte dos estudos clínicos. Duran-
te o painel este aspecto foi discutido e houve consenso derada resultante da multiplicação de cada percentual
de que medicamentos orfãos que comprovem ganho de pela nota absoluta. Os critérios foram classificados em
sobrevida para os pacientes portadores de doenças raras ordem decrescente considerando-se a nota média pon-
seriam muito bem avaliados por médicos e pacientes. derada resultante do cálculo descrito acima.

Tabela 4. Nota média ponderada para os critérios avaliados

Critérios 1 2 3 4 5 6 7 Nota ponderada


A doença pode ser identificada considerando critérios
0% 0% 0% 7% 21% 7% 64% 6,29
diagnósticos internacionalmente aceitos?
O estado de saúde do paciente é grave e progressivo? 0% 7% 0% 7% 7% 7% 71% 6,21
A condição de saúde estudada é clinicamente possível de se
definir e afeta até 65 pessoas em cada 100.000 indivíduos, ou seja, 0% 0% 0% 7% 21% 14% 57% 6,21
1,3 pessoas para cada 2.000 indivíduos?
A condição de saúde afeta a qualidade de vida do paciente e de
0% 0% 0% 7% 21% 14% 57% 6,21
seu cuidador?
O medicamento proposto promove melhora clínica considerável
0% 0% 14% 0% 7% 14% 64% 6,14
para a condição de saúde estudada?
O custo anual com o medicamento proposto pode ser
considerado excessivamente alto para ser arcado pelo próprio 0% 0% 7% 14% 14% 21% 43% 5,79
paciente ou responsável?
Existem evidências de que o medicamento proposto melhore a
8% 0% 8% 15% 15% 8% 46% 5,38
qualidade de vida dos pacientes ou as comorbidades associadas?
A expectativa de vida dos pacientes com a condição clínica
avaliada é significativamente reduzida (dados suportados por 7% 7% 21% 0% 7% 21% 36% 5,00
estudos epidemiológicos)?
Existem estudos clínicos comprovando que esta terapia traga
14% 0% 7% 21% 7% 14% 36% 4,93
benefícios clínicos relevantes para os pacientes?
Existe alguma terapia não medicamentosa disponível para o
14% 7% 7% 14% 14% 21% 21% 4,57
tratamento da condição de saúde estudada?
Para o uso do medicamento proposto existe a necessidade de
14% 7% 21% 0% 14% 14% 29% 4,50
algum recurso adicional ainda não disponível no SUS?
Há outro medicamento disponível para tratamento dos pacientes
14% 7% 7% 14% 14% 29% 14% 4,50
com a condição de saúde avaliada?
Existem estudos clínicos que comprovem o aumento da
expectativa de vida do paciente em uso do medicamento 21% 0% 7% 21% 29% 0% 21% 4,21
proposto?
Se sim, este medicamento está disponível no SUS? 14% 7% 14% 29% 7% 14% 14% 4,07
Se sim, este medicamento tem estudos clínicos comprovando
21% 0% 21% 29% 0% 14% 14% 3,86
redução de mortalidade?
O medicamento está registrado no Brasil para tratamento da
7% 36% 14% 14% 14% 0% 14% 3,50
doença rara em análise?
20

De acordo com esta nova visão sobre os resultados, fo- Os considerados essenciais pelos especialistas foram:
ram mantidos como principais os cinco critérios ante-
A condição de saúde estudada é clinicamente possível
riormente listados, mudando somente a ordem em que
de se definir e afeta até 65 pessoas em cada 100.000
apareceram. indivíduos, com 57% das respostas positivas, ou seja,
A Figura 3 apresenta os resultados da avaliação sobre se indicando que para 57% dos participantes este pode-
os critérios analisados deveriam ser considerados ou não ria ser considerado um critério excludente;
como excludentes, ou seja, se o medicamento em análise A doença pode ser identificada considerando critérios
não atender ao critério ele estaria automaticamente ex- diagnósticos internacionalmente aceitos, com 43%
cluído da consideração de incorporação. das respostas positivas;

Figura 3. Resultados gerais - Critérios que devem ser considerados excludentes

A condição de saúde estudada é clinicamente possível de se definir e afeta até 65


57 43
pessoas em cada 100.000 indivíduos, ou seja, 1,3 pessoas para cada 2.000 indivíduos?

A doença pode ser identificada considerando critérios


43 57
diagnósticos internacionalmente aceitos?

O medicamento proposto promove melhora clínica 36 64


considerável para a condição de saúde estudada?

Existem estudos clínicos comprovando que esta terapia traga 36 64


beneficios clínicos relevantes para os pacientes?

Existem evidências de que o medicamento proposto melhore a qualidade


29 71
de vida dos pacientes ou as comorbidades associadas?

Se sim, este medicamento tem estudos clínicos comprovando redução de mortalidade? 29 71

A condição de saúde afeta a qualidade de vida do paciente e de seu cuidador? 21 79

Existem estudos clínicos que comprovem o aumento da expectativa


de vida do paciente em uso do medicamento proposto? 21 79

O custo anual com o medicamento proposto pode ser considerado 21 79


excessivamente alto para ser arcado pelo próprio paciente ou responsável?

O estado de saúde do paciente é grave e progressivo? 14 86

A expectativa de vida dos pacientes com a condição clínica avaliada é


14 86
significativamente reduzida (dados suportados por estudos epidemiológicos)?

Há outro medicamento disponível para tratamento dos


14 86
pacientes com a condição de saúde avaliada?

Se sim, este medicamento está disponível no SUS? 14 86

O medicamento está registrado no Brasil para tratamento da doença rara em análise? 7 93

Existe alguma terapia não medicamentosa disponível para


7 93
o tratamento da condição de saúde estudada?

Para o uso do medicamento proposto existe a necessidade de algum


100
recurso adicional ainda não disponível no SUS?

Sim Não
Proposta para Incorporação de Medicamentos em Doenças Raras 21

O medicamento proposto promove melhora clínica Quais ganhos clínicos deveriam ser considerados cli-
para a condição de saúde estudada, com 36% das res- nicamente relevantes se comprovados para um deter-
postas positivas; e minado medicamento específico para tratamento de
uma doença rara?
Existem estudos clínicos comprovando que esta te-
rapia traga benefícios clínicos para os pacientes, com Eficácia do tratamento;
36% das respostas positivas.
Ganho de qualidade de vida para o paciente e seus
Unanimidade só foi obtida em relação a não conside- familiares;
rar excludente o fato de ser necessário o uso de algum
Ganho de expectativa de vida;
recurso adicional ainda não disponível no SUS para re-
alização da terapia. Ganho de produtividade;
Para os especialistas, os critérios deveriam ser avaliados Redução de comorbidades a fim de evitar posteriores
de acordo com a doença e/ou o medicamento, pois isso intervenções onerosas para o Sistema de Saúde.
impacta na vida do paciente e seus familiares. De acor-
do com a discussão do painel foi sugerido que nenhum
critério específico deveria ser considerado excludente na Especialistas Médicos
proposta final ao governo.
Quais critérios devem ser adotados para definição de
gravidade de uma doença rara para priorização?

Discussão em Grupo Aumento da mortalidade;

Na discussão em grupo, foram divididos dois grupos, Lesões sequelares definitivas que interfiram na quali-
um composto pelos especialistas médicos e outro com- dade de vida ou atividades do individuo;
posto por representantes de associações de pacientes e
Repercussão da doença não tratada sobre atividades
da academia, para discussão e alinhamento de alguns
habituais do paciente;
critérios antes da discussão com o grupo completo.
Necessidades de tratamentos adicionais secundários à
Dois aspectos foram discutidos:
doença de base não tratada:
Quais deveriam ser os critérios adotados para definição – Internações (Nº de Internações);
de gravidade de uma doença rara para priorização?
– Cirurgias (Necessidades de procedimentos ou ci-
Quais ganhos clínicos deveriam ser considerados cli- rurgias);
nicamente relevantes se comprovados para um deter- – Medicamentos (Custo medicamentoso associado a
minado medicamento específico para tratamento de comorbidades).
uma doença rara?

As respostas fornecidas como consenso por cada grupo Quais ganhos clínicos deveriam ser considerados cli-
de discussão estão apresentadas a seguir: nicamente relevantes se comprovados para um deter-
minado medicamento específico para tratamento de
uma doença rara?
Associação de Pacientes/Academia Aumento na expectativa de vida;
Quais critérios devem ser adotados para definição de
Redução de lesões sequelares;
gravidade de uma doença rara para priorização?
Impacto favorável em aumento da qualidade de vida
Considerar que o paciente já tenha o diagnóstico fe-
e/ou redução da dor;
chado;
Redução da necessidade de tratamentos secundários.
Possibilidade de óbito do paciente com alta mortali-
dade em idade precoce, e com baixa taxa de sobrevida.
22

Conclusão 7. Medicamentos com evidências comprovadas de que


melhorem a qualidade de vida dos pacientes ou as
comorbidades associadas.
A experiência internacional revelou que a criação de
8. Medicamentos aprovados para doenças que redu-
um plano integrado para doenças raras, incluindo regis-
tro, diagnóstico, treinamento de profissionais de saúde e zam significativamente a sobrevida dos pacientes
oferta de tratamentos multidisciplinares e integrados em quando não tratadas.
centros de referência, promoveram economias significa-
9. Medicamentos com benefícios clínicos relevantes
tivas em relação ao tratamento convencional, pontual e
para os pacientes e comprovados por estudos clíni-
fragmentado.
cos.
Considerando-se as notas dadas para cada critério, pon-
derando cada possível nota de 1 a 7 pelo percentual de 10. Não existem medicamentos disponíveis para tratar
respostas, os dez principais critérios listados para priori- o subgrupo de pacientes com indicação para o me-
zação de avaliação da incorporação de novas tecnologias dicamento avaliado, sejam eles todos os pacientes
para tratamento de doenças raras, em ordem de impor- com a doença ou aqueles que tenham falhado a um
tância de acordo com os participantes do painel, foram: tratamento inicial.

1. Medicamentos aprovados para doenças que possam Como conclusão, dada à complexidade deste tema e os
ser identificadas considerando critérios diagnósti- grandes desafios, é importante a implementação de polí-
cos internacionalmente aceitos. ticas integradas que contemplem educação sobre o tema,
2. Medicamentos aprovados para doenças que levem o acesso a diagnóstico e tratamento medicamentoso e de
paciente a um estado de saúde grave e progressivo. suporte aos pacientes com diagnóstico confirmado, para
que exista um progresso no conhecimento e tratamento
3. Medicamentos aprovados para doenças clinicamente
dos pacientes com doenças raras.
possíveis de se definir e que afetem até 65 pessoas em
cada 100.000 indivíduos, ou seja, 1,3 pessoas para Esse será o caminho mais adequado para que o sistema
cada 2.000 indivíduos, atendendo ao critério definido possa ser monitorado e ajustado ao longo do processo,
pelo Ministério da Saúde para doenças raras.
propiciando melhores recursos e resultados a pacientes,
4. Medicamentos aprovados para doenças que afetem familiares e profissionais.
a qualidade de vida do paciente e de seu cuidador.
Os resultados do painel de especialistas indicam que
5. Medicamentos que comprovem melhora clínica existem critérios específicos, além dos fatores hoje con-
considerável para a condição de saúde estudada. siderados pela CONITEC para avaliação de incorpora-
6. Medicamentos com custo anual considerado exces- ção de novas tecnologias, que poderiam ser utilizados
sivamente alto para ser arcado pelo próprio paciente para priorização de incorporação de medicamentos ór-
ou responsável. fãos para doenças raras no Brasil.
Proposta para Incorporação de Medicamentos em Doenças Raras 23

Tópicos Adicionais para Discussão Como forma de buscar as iniciativas em curso em outros
países no sentido de criar registros de pacientes com
Durante o painel, tópicos adicionais de importância para doenças raras, foi realizada uma busca acerca do tema.
o cenário de diagnóstico e tratamento das doenças raras
foram abordados, porém como se encontravam fora do A Organização Europeia para as Doenças Raras (EU-
escopo deste painel, foram documentados para pesqui- RORDIS) considera que os registros de pacientes com
sas futuras. doenças raras são determinantes para uma investigação
de sucesso, pois assim possuem maior probabilidade de
Os tópicos adicionais mais relevantes foram:
desenvolvimento de melhores tratamentos23. Além dis-
A existência de medicamentos testados, aprovados so, a análise de dados consistentes dos pacientes, facilita
e utilizados no exterior que não são aprovados pela a criação de padrões de atendimento e melhoras na ex-
ANVISA, algumas vezes porque não chegam a ser pectativa de vida mesmo na ausência de novas terapias.
submetidos pelo fabricante para registro.
A EURORDIS, a Organização Nacional de Doenças Ra-
A necessidade de divulgação sobre a patologia, sinto-
ras (NORD) e a Organização Canadense para as Doen-
mas e métodos de diagnóstico, além da necessidade
de formação técnica de profissionais de saúde e de ças Raras (CORD) emitiram uma declaração conjunta
médicos geneticistas. sobre os princípios comuns dos registros de pacientes
com doenças raras devido a um número estimado de
A necessidade de implementação de um sistema de
60 milhões de pessoas que vivem com essas doenças na
notificação compulsória para as doenças raras como
Europa e América do Norte24.
pré-condição para que o paciente tenha acesso ao tra-
tamento. Esta seria uma forma de gerar dados e esta- Eles reconhecem que os registros de pacientes com do-
tísticas nacionais em uma plataforma única. enças raras constituem instrumentos fundamentais para
aumentar o conhecimento sobre essas doenças. Além
disso, o apoio à investigação clínica e epidemiológica e a
Registros de Pacientes
vigilância dos medicamentos órfãos é fundamental nos
O tema acerca da necessidade de geração de dados clíni- tratamentos utilizados. Os registros podem ainda ser
cos e econômicos a respeito do diagnóstico e tratamento utilizados como um instrumento de apoio ao planeja-
das doenças raras no Brasil foi discutido de forma re- mento de saúde e serviços sociais. Em resumo, esses re-
corrente. Existem iniciativas isoladas de coleta de dados gistros são poderosos instrumentos de baixo custo para
sobre doenças raras específicas, mas as ferramentas de melhorar a qualidade geral do atendimento, qualidade
coleta não são uniformizadas. Tal cenário impede mui- de vida e sobrevida dos pacientes24.
tas vezes uma análise combinada dos dados de diversas
associações de pacientes, por exemplo, ou o uso de tais A EPIRARE (Plataforma Européia para os Registros
informações para alimentar avaliações clínicas e econô- de Doenças Raras) foi um projeto iniciado em abril de
micas de novos medicamentos com o objetivo de solici- 2011, co-financiado pela Comissão Europeia, no âmbito
tação de reembolso pelo SUS. do programa comunitário de ação da União Europeia no
domínio da Saúde Pública. O objetivo final deste projeto
Uma possível solução seria a criação de uma plataforma é o desenvolvimento de ferramentas e serviços de apoio
de acesso público, que organizasse as bases de dados para aos registros existentes e favorecer a criação de novos
coleta de registros de pacientes com doenças raras. Asso- centros, se necessário. A pesquisa é direcionada para
ciações de pacientes, médicos e prestadores de serviços ambos os registros de doenças raras ativos e expirados.
de saúde que tivessem o objetivo de coletar informações
sobre pacientes com doenças raras poderiam utilizar o No ORPHANET um portal de informação para profis-
mesmo formato de coleta de dados de modo que as in- sionais e pacientes interessados em doenças raras, foi pu-
formações pudessem ser comparadas entre instituições blicada em 2009 uma lista de registros de pacientes com
bem como analisadas em conjunto. A anonimidade dos doenças raras na Europa. Esta lista inclui 600 registros
dados deveria ser garantida de forma a manter o sigilo com dimensão regional, nacional, europeia e mundial25.
dos pacientes. Os dados são atualizados anualmente.
24

Em 2013 o EUCERD (Comissão Europeia de Peritos so- 7. Registros de pacientes com doenças raras devem
bre Doenças Raras) iniciou o processo de monitorização incluir dados diretamente relatados pelos pacientes
para finalmente sintetizar os resultados dos principais juntamente com os dados relatados por profissionais
projetos em registros da União Europeia, trabalhando de saúde.
com estratégias para uma possível plataforma de refe-
rência, pois são instrumentos valiosos para o conhe- 8. Parcerias Público-Privadas devem ser encorajadas a
cimento das Doenças Raras. Além disso, o EUCERD assegurar a sustentabilidade dos Registros de pacien-
adotou em 2013, uma Recomendação sobre Bancos de tes com Doenças Raras.
Dados e Registros de Doenças Raras para orientar a for- 9. Os pacientes devem ser igualmente envolvidos com
mação da União Europeia e as políticas nacionais sobre outras partes interessadas na governança dos Regis-
o assunto26. tros de pacientes com Doenças Raras.
Nas várias reuniões formadas pelos Estados-Membros 10. Registros de pacientes com doenças raras devem ser-
da EUCERD são estabelecidos planos nacionais e estra-
vir como instrumentos-chave para a construção e
tégias para a sustentabilidade dos registros de pacientes
fortalecimento de comunidades de pacientes.
e a participação de todas as partes interessadas incluindo
políticos, pesquisadores, médicos, indústria e pacien- A maior importância neste momento é a implementação
tes26. Esses dados coletados precisam estar disponíveis de medidas para que exista um progresso no conheci-
para o benefício da saúde pública e de investigação para mento e tratamento dos pacientes com doenças raras.
fins regulatórios, incluindo a vigilância de tratamentos e
Infere-se, portanto, que a preocupação com o desenvol-
estudos da vida real. Por fim, registros e bancos de dados
vimento, manutenção e harmonização das informações
devem ser financeiramente sustentáveis.
de registros de pacientes é uma realidade em outras par-
Juntos a EURORDIS, EUCERD, NORD E CORD desen- tes do mundo e o Brasil pode aprender com tais experi-
volveram uma Declaração Conjunta dos 10 princípios ências para acelerar o avanço no sentido de desenvolver
fundamentais para os Registros de Pacientes com doen- registros nacionais de pacientes com doenças raras.
ças raras27.

Segue a lista abaixo:

1. Registros de pacientes devem ser reconhecidos como


uma prioridade global no domínio das doenças raras. Recomendação
2. Registros de pacientes com doenças raras devem
abranger o âmbito geográfico mais amplo possível.
para estudos
3. Registros de pacientes com doenças raras devem ser
centrados em uma doença ou grupo de doenças em
futuros
vez de uma intervenção terapêutica. Uma importante recomendação do painel foi a necessi-
4. A interoperabilidade e harmonização entre os Re- dade de discussão contínua sobre o tema de doenças ra-
gistros de pacientes com doenças raras devem ser ras, envolvendo os diversos interessados neste processo,
consistentemente perseguidas. sendo eles os pacientes, os médicos, o governo e a aca-
demia. Foi destacado o papel fundamental da criação de
5. Um conjunto mínimo de elementos de dados co- registros de pacientes como ferramenta para diagnóstico
muns deve ser usado consistentemente em todos os
da situação atual dos pacientes com diferentes doenças
Registros de pacientes com doenças raras.
raras no Brasil, bem como para acompanhamento de
6. Dados de registros de pacientes com doenças ra- avanços no tratamento das doenças e prognóstico dos
ras devem estar conectados com dados do banco de pacientes com a incorporação de novas alternativas te-
amostras biológicas correspondente. rapêuticas.
Proposta para Incorporação de Medicamentos em Doenças Raras 25

Referências
14. Canadian Organization for Rare Disorders. Disponível em: http://
raredisorders.ca/. Acessado em: 26/06/2014.

Bibliográficas 15. Korea Orphan Drug Center. Disponível em: http://www.kodc.


or.kr/english/about4.asp. Acessado em: 26/06/2014..

16. Scottish Medicines Consortium. Assessment of medicines for end


of life care anda very rare coditions (orphan and ultra-orphan me-
1. Ministério da Saúde. Portaria Nº 81 de Janeiro de 2009. Disponível dicines) in Scotland. Disponível em: http://www.scottish.parlia-
em: http://dtr2001.saude.gov.br/sas/PORTARIAS/Port2009/GM/ ment.uk/S4_HealthandSportCommittee/Inquiries/Assessment_
GM-81.htm. Acessado em 26/06/2014. of_medicines_for_end_of_life_care_and_very_rare_conditions.
pdf. Acessado em 02/07/2014.
2. Ministério da Saúde. Portaria Nº 199, DE 30 de Janeiro de
2014. Disponível em: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/ 17. Timoney A. SMC Modifiers used in appraising new medicines
gm/2014/prt0199_30_01_2014.html. Acessado em 26/06/2014. [Internet]. Glasgow: Scottish Medicine Consortium; 2012 Jun.
Disponível em: http://www.scottishmedicines.org.uk/About_
3. Orphanet. 2014. Disponível em: http://www.orpha.net/natio-
SMC/Policy_Statements/SMC_Modifiers_used_in_Appraising_
nal/PT-PT/index/sobre-doen%C3%A7as-raras/. Acessado em
New_Medicines. Acessado em: 26/06/2014.
26/06/2014.
18. Eurordis Rare Diseases Europe. The Voice Rare Disease Patients
4. Interfama. Doenças Raras: Contribuições para uma Política Na-
cional. Edições Especiais Saúde. Volume V. 2013:8. Disponível in Europe. 2009. Disponível em: http://www.eurordis.org/content/
em: http://www.interfarma.org.br/uploads/biblioteca/14-Doen- french-national-plan-rare-diseases. Acessado em: 02/07/2014.
cas%20Raras%20-%20site.pdf. Acessado em 26/06/2014.
19. OHE Briefing. Access mechanisms for orphan drugs: a comparati-
5. EURORDIS Rare Diseases Europe. Disponível em: http://www. ve study of selected European countries. N 52, October 2009. Dis-
eurordis.org/about-rare-diseases. Acesado em 26/06/2014. ponível em: http://www.ohe.org/publications/article/access-me-
chanisms-for-orphan-drugs-26.cfm. Acessado em: 26/06/2014.
6. Diário Oficial da União. Secretaria de Ciência, Tecnologia e In-
sumos Estratégicos. Disponível em: http://www.jusbrasil.com.br/ 20. Hayashi S, Umeda T. 35 years of Japanese policy on rare diseases.
diarios/DOU/ - Acessado em 02/10/2014. Esta Consulta Pública The Lancet 2008,372:889-90.
(Nº 20, de 26 de Setembro de 2014) foi republicada com alterações,
por meio de errata, no dia 13 de Outubro de 2014”. 21. Rare Disease UK. The National Alliance for people with rare dise-
ases & all Who support them. Disponível em: http://www.raredi-
7. Brasilsus. Resolução da Diretoria Colegiada – RDC Nº 28, de sease.org.uk/strategy-background.htm. Acessado em 04/07/2014.
4 de Abril de 2007 Disponível em: http://portal.anvisa.gov.
br/wps/wcm/connect/a450e9004ba03d47b973bbaf8fded4db/ 22. NICE. Interim process and methods of the highly specialised
RDC+14_2007.pdf?MOD=AJPERES. Acessado em 01/07/2014. technologies programme. London: National Institute for Heal-
th and Care Excellence; 2013 May. Disponível em: http://www.
8. Brasilsus. Resolução da Diretoria Colegiada – RDC Nº 57, de 20
de Dezembro de 2013. Disponível em: http://bvsms.saude.gov.br/ nice.org.uk/Media/Default/About/what-we-do/NICE-guidance/
bvs/saudelegis/anvisa/2013/rdc0057_20_12_2013.html. Acessado NICE-highly-specialised-technologies-guidance/Highly-Speciali-
em 02/09/2014. sed-Technologies-Interim-methods-and-process-statements.pdf.
Acessado em: 26/06/2014.
9. Decreto N. 7646, de 21 de dezembro de 2011. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2011/De- 23. EURORDIS. Rare Diseases Europe. Disponível em: http://www.
creto/D7646.htm. Acessado em 03/07/2014. eurordis.org/sites/default/files/publications/Factsheet_registries.
pdf. Acessado em 14/08/2014.
10. Presidência da República. Lei Nº 12.401, de 28 de Abril de 2011.
Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011- 24. EURORDIS. Rare Diseases Europe. Disponível em: http://www.
2014/2011/Lei/L12401.htm - Acessado em 02/10/2014. eurordis.org/content/eurordis-nord-cord-release-joint-declara-
tion-10-key-principles-rare-disease-patient-registries. Acessado
11. Australian Government. Department of Health. Pharmaceutical
em 14/08/2014.
Benefits Advisory Committee. Disponível em: http://www.health.
gov.au/internet/main/publishing.nsf/Content/Pharmaceutical+B 25. ORPHANET. Portal para doenças raras e medicamentos órfãos.
enefits+Advisory+Committee-1. Acessado em: 26/06/2014.
Disponível em: http://www.orpha.net/consor/cgi-bin/index.php.
12. Australian Government. Department of Health. Life Saving Dru- Acessado em 15/08/2014.
gs Programme. Disponível em: http://www.health.gov.au/inter-
26. EUCERD. European Union Committee of Ecperts on Rare
net/main/publishing.nsf/Content/79DD3FACA8E75AE2CA2
57BF0001BAF7A/$File/LSDP_Criteria_final.pdf. Acessado em: Dieseases. Disponível em: http://www.eucerd.eu/wp-content/
26/06/2014. uploads/2013/07/ExecSumm_RegistriesReco.pdf. Acessado em
15/08/2014.
13. CADTH. Drugs for rare diseases: evolving trends in regulatory
and health technology assessment perspectives. Issue 42, October 27. EURORDIS-NORD-CORD. Disponível em: http://download.
2013. Disponível em: http://www.cadth.ca/media/pdf/ES0281_ eurordis.org/documents/pdf/EURORDIS_NORD_CORD_Joint-
RareDiseaseDrugs_es_e.pdf. Acessado em: 26/06/2014. Dec_Registries_FINAL.pdf. Acessado em 14/08/2014.
26

Anexo
CRITÉRIOS DE AVALIAÇÃO PARA REEMBOLSO DE MEDICAMENTOS PARA DOENÇAS RARAS

Nome do Participante (opcional):

Grupo (médico, associação de paciente, academia):

Importância Ranking
Critérios Excludente
(1 a 7) (1 a 16)
Epidemiologia/Diagnóstico
A condição de saúde estudada é clinicamente possível de se definir e afeta até 65
Sim Não
pessoas em cada 100.000 indivíduos, ou seja, 1,3 pessoas para cada 2.000 indivíduos?
A doença pode ser identificada com precisão diagnóstica? Sim Não
Gravidade/Impacto da doença
O esta de saúde do paciente é grave e progressivo? Sim Não
A condição de saúde afeta a qualidade de vida do paciente e de seu cuidador? Sim Não
A expectativa de vida dos pacientes com a condição clínica avaliada é
Sim Não
significativamente reduzida (dados suportados por estudos epidemiológicos)?
Medicamento
O medicamento está registrado no Brasil para tratamento da doença rara em análise? Sim Não
O medicamento proposto promove melhora clínica considerável para a condição de
Sim Não
saúde estudada?
Existem evidências de que o medicamento proposto melhore a qualidade de vida dos
Sim Não
pacientes ou as comorbidades associadas?
Existem estudos clínicos que comprovem o aumento da expectativa de vida do
Sim Não
paciente em uso do medicamento proposto?
Tratamento disponível
Há outro medicamento disponível para tratamento dos pacientes com a condição de
Sim Não
saúde avaliada?
Se sim, este medicamento tem estudos clínicos comprovando redução de mortalidade? Sim Não
Se sim, este medicamento está disponível no SUS? Sim Não
Existe alguma terapia não medicamentosa disponível para o tratamento da condição
Sim Não
de saúde estudada?
Existem estudos clínicos comprovando que esta terapia traga beneficios clínicos
Sim Não
relevantes para os pacientes?
Custos/Recursos adicionais
O custo anual com o medicamento proposto pode ser considerado excessivamente alto
Sim Não
para ser arcado pelo próprio paciente ou responsável?
Para o uso do medicamento proposto existe a necessidade de algum recurso adicional
Sim Não
ainda não disponível no SUS?
Liste abaixo outros critérios que deveriam ser considerados, caso necessário:

DEFINIÇÕES DE CRITÉRIOS ESPECÍFICOS

Grupo (médico, associação de paciente, academia):

Definições
Qual critério deve ser adotado para definição de gravidade de uma doença rara para priorização?

Quais ganhos clínicos deveriam ser considerados clinicamente relevantes se comprovados para um determinado medicamento
específico para tratamento de uma doença rara?
Proposta para Incorporação de Medicamentos em Doenças Raras 27
28

Rua Verbo Divino, 1.488 – 7º andar – Cj. 7A


Chácara Santo Antônio – São Paulo – SP
CEP: 04719-904
Tel.: (55 11) 5180-3499
Fax: (55 11) 5183-4247

w w w. i nte r f a r m a . o rg. b r

You might also like