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N.T. No original coudée (1 coudée = 52,56 cm).
- Talvez maior ainda.
Não se quis deter sobre as dimensões da lua e nem chegou a dá-las. A lua tinha
apenas um papel mediano. Lá voltaremos. Contudo, assinalou que, enquanto os Negros
eram criaturas da luz, extraídas a sol aberto, os Brancos haviam sido criados ao luar e daí
o seu aspecto larvar.
Dizendo isto, Ogotemmêli cuspiu o seu tabaco. Não tinha nada contra os brancos.
Mas também não dizia que lhe agradavam. Abandonava-os ao seu destino, nas terras do
norte.
Tendo, então, o deus Amma pegado num bocado de argila, apertou-o na mão e
atirou-o, como tinha feito com os astros. A argila espalha-se, atinge o norte na parte de
cima, alonga-se para sul, na parte de baixo, embora tudo se passe na horizontal.
- A terra está deitada, mas o norte está em cima.
Ela estende-se para oriente e ocidente, separando os seus membros como um feto
no útero. É um corpo, quer dizer, uma coisa cujos membros se separaram de uma parte
central.
E este corpo é feminino, orientado para nordeste, estendido no chão, com a cara
virada para o céu. Um formigueiro é o seu sexo, uma termiteira o seu clitoris. Amma está
só, quer unir-se a esta criatura e aproxima-se dela.
E é então que se produz a primeira desordem do Universo.
Ogotemmêli calou-se. Mãos cruzadas sobre a cabeça, perscrutava os vários sons
chegados dos pátios e terraços. Deteve-se na origem das calamidades, na primordial falta
de jeito de Deus.
- Se me ouvissem, eu teria um boi de multa!
Quando Deus se aproxima, a termiteira ergue-se, barra a passagem e mostra a sua
masculinidade. Assemelha-se ao sexo estrangeiro, a união não se pode consumir.
Mas Deus é todo-poderoso. Abate a termiteira rebelde e une-se à terra excisada.
Mas o incidente original marcara para sempre o seguimento das coisas: da união
defeituosa nasceu, em vez dos gémeos previstos, um ser único, o Thos Aureus, o chacal,
símbolo das dificuldades de Deus.
Ogotemmêli falava cada vez mais baixo. E não era por causa dos ouvidos das
mulheres. Outros tímpanos, imateriais, poderiam vibrar com estas palavras. O Branco e o
seu assistente negro, o sargento Koguem, debruçavam-se sobre o velhote como perante
assombrosos complots.
Mas como se chegava aos gestos benéficos de Deus, o tom voltou ao normal.
Deus teve mais relações com sua mulher e, dessas vezes, nada veio perturbar a
sua união, pois a excisão tinha feito desaparecer a causa da primeira desordem. A água,
semente divina, penetrou, então, no seio da terra e a geração prosseguiu o ciclo regular da
gemiparidade. Dois seres foram modelados.
- Deus criou-os como água. Eles eram verdes, em forma de pessoa e serpente. Da
cabeça até aos rins, eram humanos; em baixo eram serpentes.
Os olhos vermelhos estavam fendidos, como os dos homens e a sua língua
bifurcada como a dos répteis. Os braços, leves, não tinham articulações. Todo o seu corpo
era verde e liso, escorregadio como a superfície da água, guarnecido de pelos curtos e
verdes, anunciando vegetações e germinações.
Estes génios, chamados Nomo, eram, pois, dois produtos homogéneos de Deus,
de essência divina como ele, concebidos sem aventuras e desenvolvidos segundo as
regras na terra matricial. O seu destino conduziu-os ao céu onde receberam ordens de seu
pai. Não que Deus lhes tivesse de ensinar a Palavra, essa coisa indispensável a todos os
seres, como ao sistema universal: o par tinha nascido perfeito; pelos seus oito membros, o
seu número era oito, símbolo da palavra.
Ele possuía também a essência de Deus, visto ser feito da sua semente, que é ao
mesmo tempo, o suporte, a forma e a matéria da força vital do mundo, fonte de
movimento e de perseverança no ser. E esta força é a água. O par está presente em
qualquer água, é a água, a dos mares, dos confins, das correntes, das trovoadas, da concha
que se bebe.
Ogotemmêli empregava indiferenciadamente os termos «água» e «Nômo».
- Se não fosse graças ao Nômo, dizia ele, não se poderia mesmo criar a terra,
porque a terra foi amassada e foi pela água (pelo Nômo) que ela recebeu a vida.
- Que vida é que há na terra? - perguntou o Branco.
- A força vital da terra é a água. Deus moldou a terra com a água. Do mesmo
modo, fez o sangue com a água. Até na pedra existe essa força, pois a humidade está em
tudo.
Mas, embora Nômo seja a água, ele também produz o cobre. No céu coberto
vêem-se materializar raios de sol sobre o horizonte brumoso; estes raios, excrementos dos
génios, são de cobre e de luz. E são também de água, já que suportam a humidade
terrestre no seu caminho ascendente. O par produz luz porque também é luz.
Ogôtoméli procurava, desde há algum tempo, algo na poeira. Acabou por recolher
várias pedrinhas. Com um gesto rápido, lançou-as no pátio, sobre os seus dois
interlocutores que não chegaram mesmo a baixar a cabeça. Os projécteis caíram mesmo
no lugar onde acabava de cantar, alguns segundos antes, o galo de Hogon.
- O galo é um temporal, destrói as conversas.
E como o animal voltasse a cantar do outro lado do muro, Ogôtomeli enviou
Koguem atirar-lhe um pau. Logo que Koguem voltou, ele perguntou-lhe se o galo tinha
saído dos limites do bairro de Tabda.
- Está no campo do Hogon, disse Koguem, a ser vigiado por quatro crianças.
- Está bem, disse Ogôtomeli com um ligeiro sorriso, que ele faça bom proveito:
disseram-me que ele será comido na próxima Cerveja-dos-Gémeos.
Voltou ao assunto dos Génios Nômo, do Nômo, como ele dizia mais
frequentemente, pois esse par de gémeos representava a união perfeita, ideal.
O Nômo, do alto do céu, viu sua mãe, a Terra, nua e desprovida de palavra, o que,
sem dúvida, era a consequência do primeiro incidente ocorrido aquando das relações com
o Deus Amma. Era preciso pôr fim a tal desordem. O Nômo desceu sobre a Terra,
trazendo fibras retiradas de plantas já criadas nas regiões celestes. Ele separou dez
punhados correspondendo aos seus dez dedos e torceu cinco que colocou à frente e cinco
para trás. Ainda hoje, os homens mascarados trazem estes acessórios torcidos,
pendurados até aos pés.
Mas o papel deste fato não era apenas de pudor. Era o de apresentar ao mundo
terrestre o primeiro acto de ordenamento universal e o signo helicoidal que se projecta
sobre um plano na forma de uma linha quebrada serpenteante.
As fibras, com efeito, caíam em torcidos, símbolo dos tornados, dos meandros das
correntes, dos turbilhões das águas e dos ventos, da deslocação ondulante dos répteis.
Lembravam igualmente as espirais de oito voltas do sol sugador de humidade. E elas
próprias eram um caminho de água que havia engolido as frescuras das plantas celestes.
Estavam cheias da essência de Nômo, eram o próprio Nômo, em movimento, como bem
indica a linha ondulada que se pode prolongar até ao infinito.
Mas Nômo, quando fala, liberta como qualquer ser um bafo morno transmissor de
verbo, sendo ele próprio verbo. E este bafo sonoro, como qualquer líquido, move-se
sobre uma linha helicoidal. Os torcidos do vestuário constituíam, portanto, um caminho
privilegiado para a mensagem que o génio queria revelar à Terra. Ele encantava as suas
mãos tocando-as nos lábios enquanto entretecia. Deste modo, a sua palavra húmida
rodopiava com as tranças húmidas; a revelação espiritual impregnando a transmissão da
técnica.
Através destas fibras repletas de água e de palavras, Nômo estava continuamente
presente perante o sexo da sua mãe.
Vestida desta forma, a Terra tinha uma língua, a primeira deste mundo, o mais
frustre de todos os tempos. Sintaxe elementar, verbo raro, vocabulário sem graça. As
palavras eram sopros pouco diferenciados mas que, no entanto, transmitiam força. No seu
estado puro, a palavra sem nuances adequava-se aos grandes trabalhos do início das
coisas.
A meio de uma palavra, Ogotemmêli soltou um grito forte: respondia à divisa de
caça lançada através da chanfradura do muro pela face prudente de Akoundyo, presbítero
das mulheres que morrem durante o parto e dos nados-mortos.
Akoundyo cospe primeiro para o lado, com o olhar fixo no grupo dos homens.
Usava um barrete frígio, de cor avermelhada, que lhe tapava as orelhas e tinha uma ponta
revirada em bico sobre o nariz, à maneira chamada de «vento que sopra». Bochechas
salientes, dentes brilhantes, declama congratulações que são prontamente retorquidas
pelo velho. As fórmulas alternadas assumem um primeiro nível de exaltação.
- Que Deus! exclama Ogotemmêli, que Deus amaldiçoe quem não te adora em
Ogol-de-Baixo!
A agitação cresce no coração de Akoundyo atingindo o auge das réplicas.
- Que Deus! - exulta por fim o cego - Que Deus me amaldiçoe a mim próprio se
eu não te adoro!
Os quatro homens respiraram de alívio e gracejaram sobre a particular magreza da
caça no vale de I. Por fim, Akoundyo afastou-se, declarando num francês de atirador, que
ia «partir ao encalço da toca do porco-espinho», animal astuto e estimado.
Voltamos à Palavra. O seu papel era de organização: assim, ela era uma coisa boa;
contudo, provocava desde logo a desordem.
Com efeito, o chacal, filho iludido e ludibriador de Deus, desejava possui-la e
deitou a mão às fibras que a transportavam, isto é, às roupas da sua mãe. Por sua vez, ela
resistiu pois esse era um gesto incestuoso. Escondeu-se no seu próprio seio, no
formigueiro, disfarçando-se de formiga. Mas o chacal perseguiu-a. Outrora não havia no
mundo mais nenhuma mulher para desejar. O buraco que ela abriu não era
suficientemente profundo e finalmente teve de se considerar vencida. Deste modo foram
configuradas as lutas equilibradas entre homens e mulheres que assim terminam com a
vitória masculina.
O incesto teve importantes consequências: primeiro deu a palavra ao Chacal, o
que deveria permitir-lhe, para a eternidade, revelar aos adivinhos vindouros os desígnios
de Deus.
Além disso, ele foi a causa da aparição do sangue menstrual que tingiu as fibras.
O estado da terra, que se tornara impura, era incompatível com o reino de Deus. Este
afastou-se da esposa e resolveu criar directamente os seres vivos. Tendo modelado uma
matriz em barro, colocou-a sobre a terra e, das alturas do céu, cobriu-a com um bola
atirada no espaço. Fez o mesmo para o sexo masculino: tendo-o pousado no solo, lançou
uma esfera que se lhe fixou em cima.
Logo de seguida as duas massas organizaram-se; a sua vida desenvolveu-se; os
membros separaram-se do núcleo, os corpos apareceram, fazendo surgir das glebas um
casal humano.
Foi então que os dois Nommo entraram em cena para a realização de novas
tarefas. Previram que a regra fundamental dos nascimentos duplos ia ser abolida,
podendo daí resultar erros comparáveis aos do Chacal que havia nascido único, uma vez
que é devido à sua solidão que o primeiro filho de Deus age desta forma.
- Por causa de ter nascido único, dizia Ogotemmêli, o Chacal fez coisas que a
boca nem pode dizer.
O génio desenhou no chão duas silhuetas sobrepostas, duas almas, sendo uma
macho e a outra fêmea. O homem alongou-se então sobre as suas sombras e envolveu as
duas. O mesmo foi feito para a mulher.
Deste modo, cada ser humano, desde a origem, nasceu de duas almas de sexos
diferentes, ou melhor dizendo, de dois princípios que correspondiam a duas pessoas
distintas no interior de cada um. Para o homem, a alma feminina sediou-se no prepúcio.
Para a mulher, a alma masculina foi suportada pelo clítoris.
Mas a presciência dos Nommo alertaram-nos de forma clara para os
inconvenientes deste último recurso. A vida dos homens não podia instalar-se a partir
destes seres duplos. Era necessário decidir cada um deles pelo sexo para o qual estava
melhor preparado.
Foi assim que os Nommo circuncisaram o homem, anulando-lhe dessa forma toda
a feminilidade do prepúcio. Mas este metamorfoseou-se num animal que não é «nem
serpente, nem insecto, mas que é classificado com as serpentes».
Este animal tem o nome de nay. Tratar-se-ia de uma espécie de lagarto preto e
branco como a cobertura dos mortos. O seu nome significa também «quatro», número
feminino e «sol», entidade feminina.
O nay simbolizava a dor da circuncisão e a necessidade em que o homem se
encontrava de também ele sofrer no seu sexo, tal como a mulher.
Depois o homem uniu-se à sua companheira. Mais tarde ela engravidou dos dois
primeiros filhos de uma série de oito que viriam a ser os antepassados do povo Dogon.
Nesse momento, o sofrimento do parto concentrara-se no seu clítoris que, excisado por
uma mão invisível, separara-se dela e distanciara-se, metamorfoseado em escorpião. A
bolsa e o ferrão simbolizam o órgão; o veneno constitui a água e o sangue a dor.
Ao regressar através do campo coberto de milho, o europeu interroga-se sobre o
sentido de todas estas danças e contra-danças, de todos estes incidentes do pensamento
mítico:
Um Deus falha a sua primeira criação;
As coisas são restabelecidas mediante a excisão da terra e depois pelo nascimento
de uma parelha de génios, engenhosos e engenheiros do mundo, que trazem uma primeira
palavra;
Um incesto destrói a ordem e compromete os nascimentos dos gémeos;
A ordem é restabelecida pela criação de um casal humano; a gemiparidade é
substituída por uma alma dupla (Porquê a gemiparidade?);
Mas esta alma dupla é um perigo: um homem deve ser homem e uma mulher,
mulher. Circuncisão e excisão repõem, por sua vez, as coisas na ordem. (Mas porquê este
nay, porquê este escorpião?).
As respostas viriam só mais tarde. Elas inscrever-se-iam no imenso edifício que o
cego fazia emergir, a pouco e pouco, das brumas milenárias.
Mesmo por cima das cabeças do europeu e Koguem, as violáceas maçarocas de
milho destacavam-se sob o cinzento do céu. Os dois atravessavam então um campo de
espigas densas, que desafiavam as alturas, imóveis à brisa. Quando o milho cresce pouco,
está ralo, se as espigas são fracas ele agita-se aos mais leves sopros e ruídos. Os campos
pouco férteis são sonoros. Pelo contrário a seara da abundância pesa ao vento e dá-se em
silêncio.
SEXTA JORNADA
A terceira palavra, a descida do celeiro de terra batida e a morte
- Antigamente, no momento da criação, a terra era pura. A bola lançada por Deus
era de barro puro. Mas a falta cometida pelo Chacal poluiu a terra, o que produziu grande
desordem no mundo. Foi por isso que Nommo teve que o vir reorganizar. A terra que saiu
dos céus e que desceu era uma terra pura. Para o local onde caiu, transferiu toda esta
pureza, bem como para todos os locais arroteados. Em todos os sítios onde vingou a
cultura, afastou-se a impureza.
Mas a renovação da terra não era a única obra a realizar.
- O celeiro veio cheio de alimentos novos. Eram destinados à regeneração, à
modernização dos homens.
Só que o início destas tarefas veio a ser marcado por outros acontecimentos.
O Ferreiro ex-Nommo, não se aguentava no trabalho de monitor. O seu papel era,
aliás, sobretudo o de um técnico, pelo que requeria outros conhecimentos.
Imediatamente a seguir ao Ferreiro, primeiro antepassado, logo os outros sete
desceram também. O antepassado dos sapateiros, o antepassado dos trovadores, seguiram
um fio. Cada um deles possuía, as suas próprias ferramentas ou atributos. Os outros
vieram depois, segundo um certo escalonamento.
Foi então que se produziu o incidente que iria orientar a reorganização:
O oitavo antepassado, quebrando a regra de prioridade, desceu antes do Sétimo,
Mestre da Palavra. Este, enraivecido, virou-se contra os outros assim que chegou ao chão
e, sob a forma de uma grande serpente, precipitou-se no celeiro para apanhar as sementes.
Segundo uma outra versão, ele mordeu a pele do fole já instalado na forja para
dispersar as sementes que ali haviam sido depositadas.
De acordo com outras versões ainda, ele havia descido ao mesmo tempo que o
Ferreiro. Sob a forma do próprio celeiro tinha apanhado do chão o corpo de uma grande
serpente tendo-se instaurado forte discussão entre os dois génios.
Seja como for, o Ferreiro, quer para se desembaraçar de um adversário quer para
seguir os grandes desígnios de Deus, aconselhou os homens a matarem a serpente e a
comerem o seu corpo, confiando-lhe a cabeça.
Segundo outros, afirmou Ogotemmêli, que atribuía a máxima importância a este
revés da história do mundo, querendo expor escrupulosamente a atitude dos génios,
segundo outros, o Ferreiro, ao chegar à terra, encontrou os homens das oito famílias e
instalou a sua oficina perto deles. Como tinha pousado as peles do fole, a serpente grande
surgiu, precipitou-se sobre elas e dispersou o milho todo à volta. Os homens, tendo
reparado neste intruso, surpreendidos pelo seu gesto, mataram-no. O Ferreiro agradeceu-
lhes, deu-lhes o corpo para o comerem e guardou a cabeça.
Já no que toca à sequência dada a esta matança toda a gente corroborava:
- Quando estava na posse da cabeça, o Ferreiro levou-a até à pedra que lhe servia
de apoio para malhar o ferro, fez um buraco, enterrou-a e cobriu-a com a pedra.
- Então, perguntou o Europeu, o Sétimo Nommo-antepassado encontra-se em
todas as forjas que hoje existem?
- Sim, respondeu o cego, todo o ferreiro, quando trabalha, está por assim dizer
sentado sobre a cabeça da serpente.
Mas ainda havia mais labirintos a percorrer sobre este mistério.
O Nommo-antepassado número Sete foi morto pelos homens sob a sua forma de
serpente, tendo a sua cabeça sido enterrada. Mas pode também considerar-se que ele era o
celeiro caído dos céus, que foi quebrado e dividido, que a argila das paredes se
disseminou no terreno primordial, misturada com a das casas, que na altura das
sementeiras as sementes do seu ventre fugiram para o solo. Pode dizer-se que o Sétimo
foi morto e destruído e inumado como Serpente, como celeiro, como sementes.
- E porquê ele?
- Porque ele era o Mestre da Palavra.
- E porque é que era ele que tinha que morrer?
Ogotemmêli não respondeu directamente.
Tinha colocado o seu bastão sobre os joelhos dobrados e tocando-lhe no queixo;
mãos nas bochechas, mergulhado na sua escuridão.
- Ele foi morto em meados de Novembro, disse.
O Europeu fez uma pausa. O silêncio do seu interlocutor estava carregado de
promessas. E lembrava-se que na antevéspera, à pergunta: «O que há no celeiro?», o
velho homem respondera: «vôlô!» o que significa: «Nada!».