You are on page 1of 4

EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA VARA CRIMINAL

DA COMARCA DE XXXX

PEDRO PEREIRA PINTO, já qualificado nos autos do epigrafe processo, que lhe move
a justiça pública, por intermédio de seu advogado, infra-assinado, vem, perante Vossa
Excelência, com fundamento no artigo 403, § 3 do CPP, apresentar:

ALEGAÇÕES FINAIS EM FORMA DE MEMORIAIS

Pelas razões de fato e de direito a seguir aduzidas:

MM.Juiz

Trata-se de um processo no qual, conforme apresentado em peça acusatória, PEDRO


PEREIRA PINTO, réu primário, ao dia 10 (dez) de janeiro do corrente ano, por volta
das 10 (dez) horas, utilizou-se de arma de fogo, na tentativa de efetuar disparos contra
ANTONIO MIRANDA, seu vizinho.

Restou comprovado nos autos do processo que, uma semana antes do ocorrido, Pedro
pediu emprestada a uma colega de trabalho uma arma de fogo, bem como munição
suficiente para abastecê-la por completo, com o fim de efetuar disparos contra Antonio.

Seu filho, que ficara sabendo do que o pai planejara, sem que este percebesse, retirou
todas as balas do tambor do revólver. No dia seguinte, conforme já esperava, Pedro
encontrou Antonio em um ponto de ônibus, e sacou a arma desmuniciada pelo filho.

O réu foi autuado em fragrante delito. Foi, então, denunciado pelo representante do
Ministério Público como incurso nas sanções do art. 121, caput, c/c o art. 14, inciso II,
ambos do Código Penal.

Dos autos consta o laudo da arma apreendida, a confissão do acusado e as declarações


da vítima e do filho do acusado. Por ser primário, o juiz de primeiro grau concedeu ao
acusado o direito de defender-se solto.

Pedro apresentou defesa escrita de próprio punho, pois não tinha condições de constituir
advogado. A audiência de instrução e julgamento foi designada e Pedro compareceu
desacompanhado de advogado.

Naquela oportunidade, o juiz não nomeou defensor ao réu, ao aduzir que a presença do
Ministério Público se fazia suficiente.
As alegações finais de acusação foram oferecidas pelo representante do Ministério
Público, requerendo a condenação do acusado nos exatos termos da denúncia (PROC.
32456/2013).

Diante da complexidade do caso, foram concebidas as partes o oferecimento de


memoriais escritos, com fulcro no art. 403, §3º, como já assinalado, os quais ora
apresenta-os:

I - PRELIMINARMENTE

1. NULIDADE DO PROCESSO PELA AUSÊNCIA DE DEFENSOR DO


RÉU QUE NÃO CONSTITUIU ADVOGADO PARA APRESENTAR RESPOSTA
À ACUSAÇÃO

Conforme o disposto no art. 396-A, § 2.º, do CPP, a resposta do acusado, não sendo
intentada no prazo legal e este não tendo constituído defensor, faz-se necessária a
nomeação de defensor pelo juiz de modo a oferecê-la no prazo de 10 (dez) dias.

A peça de resposta à acusação é obrigatória no procedimento penal, fazendo-se


necessária para que sejam garantidos a ampla defesa e o contraditório ao acusado,
conforme o disposto no texto constitucional, também como garantia do devido processo
legal. Desta forma, o processo se encontra eivado de nulidade, por não ter sido esta
apresentada por defensor, nos termos do disposto na lei penal.

Conforme jurisprudência pátria:

NULIDADE. AUSÊNCIA. DEFENSOR. AUDIÊNCIA. Foi


realizada audiência para oitiva de testemunha de acusação, em
17/4/2000, sem a presença do advogado do paciente, não tendo
o juiz de primeiro grau, na oportunidade, nomeado defensor e,
na sentença, o juiz valeu-se desses depoimentos para amparar
sua conclusão sobre a autoria e a materialidade. Assim, verifica-
se o constrangimento ilegal sofrido pelo paciente que conduz
à nulidade absoluta do processo a partir do vício
reconhecido, por inequívoco cerceamento de defesa. Logo, a
Turma anulou o processo desde a audiência da oitiva de
testemunhas de aval da denúncia realizada sem a presença de
defensor e, após o paciente responder em liberdade, assegurou o
prosseguimento da referida ação penal, facultando a ele ser
novamente interrogado. (HC 102.226-SC, Rel. Min. Og
Fernandes, julgado em 3/2/2011.) (grifo nosso)

2. NULIDADE POR FALTA DE NOMEAÇÃO DE DEFENSOR AO RÉU


PRESENTE QUE NÃO O TIVER

Pugna-se, ademais, pela nulidade ao levar o fato apresentado mais adiante na lei penal,
explorando-a ao máximo.
De fato, é apresentado pelo artigo 564, III, “c”, do Código de Processo Penal que faz-se
nulo o ato quando se faça inexistente a nomeação de defensor ao réu presente, que não o
tiver. Ora, o acusado compareceu à audiência de instrução e julgamento e o MM. Juiz,
dada a devida vênia, incorreu em erro ao permitir o andamento do processo sem
constituir àquele um defensor.

Da mesma forma, o artigo 261 do mesmo instrumento apresenta e ratifica que nenhum
acusado, ainda que ausente ou foragido, será processado ou julgado sem defensor.

A Súmula nº 523 do STF, ao expor que “no processo penal, a falta de defesa constitui
nulidade absoluta, mas a sua deficiência só o anulará se houver prova de prejuízo para o
réu”, consolida o que foi apresentado, por ser contra o direito e, reafirmando-se, uma
quebra à possibilidade de ampla defesa e do devido contraditório ao acusado.

Segundo o Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul:

HABEAS CORPUS. AUSÊNCIA DE NOMEAÇÃO DE


DEFENSOR POR OCASIÃO DA AUDIÊNCIA
PRELIMINAR. NULIDADE. A ausência de nomeação, em
desconformidade com o que estabelece o artigo 72 da Lei nº
9.099 /95, de Defensor Público ou dativo ao autor do fato que
comparece desacompanhado de advogado por ocasião da
audiência preliminar, acarreta a nulidade do feito por
violação à garantia constitucional da ampla defesa. ORDEM
CONCEDIDA. PROCESSO ANULADO. (TJ – RS. Habeas
Corpus Nº 71003984101, Turma Recursal Criminal, Turmas
Recursais, Relator: Fabio Vieira Heerdt, Julgado em
20/08/2012) (grifo nosso)

II - DO MERITO E DO DIREITO

1. DA IMPOSSIBILIDADE DO CRIME

É improcedente e injusta a ação penal movida contra o réu, visto ter o acusado buscado
efetuar disparos com arma de fogo desmuniciada face a dita vítima, incorrendo no art.
17 do Código Penal, verbis:

Art. 17 - Não se pune a tentativa quando, por ineficácia absoluta


do meio ou por absoluta impropriedade do objeto, é impossível
consumar-se o crime.

O artigo transcrito assevera não ser passível de punição aquela tentativa que se mostre
infundada para alcançar um fim criminoso, tal como se apresentou no fato que em
questão. O agente não conseguiria chegar à consumação do crime, visto a ineficácia
absoluta do meio, a saber, a arma desmuniciada, para que se viabilizasse um homicídio.
Não é, pois, punida neste caso sequer a tentativa da prática ilícita.
O sobredito é corroborado pela melhor jurisprudência:

ABSOLVICAO SUMARIA.TRATANDO-SE DE CRIME


IMPOSSIVEL, EM QUE EXISTE A INEFICACIA
ABSOLUTA DO MEIO EMPREGADO, TORNA-SE
INEVITAVEL A ABSOLVICAO SUMARIA. NO
PRESENTE FEITO O REU SE UTILIZA DE ARMA
DESCARREGADA, O QUE LEVA A NAO SE COGITAR
DE PRONUNCIA POR TENTATIVA DE HOMICIDIO.
(RESUMO) (Recurso Crime Nº 692093909, Segunda Câmara
Criminal, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Sérgio Gischkow
Pereira, Julgado em 15/10/1992)

III - DOS PEDIDOS

Diante do exposto, requer - se a improcedência da denúncia ofertada pelo digníssimo


Representante do Ministério Público, julgando:

a) A nulidade do processo em epígrafe, com base nos artigos 396-A, § 2.º, do CPP,
564, III, “c”, do mesmo instrumento, visando a proteção da ampla defesa e do
contraditório ao acusado.
b) A absolvição sumária de PEDRO PEREIRA PINTO, com fulcro no artigo 397,
III, por tratar-se de crime impossível por inviabilidade do meio.

Termos em que pede deferimento.

Teresina, 29 de junho de 2016.

Advogado (a)
OAB/PI n° XXXX

You might also like