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1 Departamento de Abstract This paper compares socioeconomic characteristics, prenatal care, and life styles of
Epidemiologia e Métodos
three groups of post-partum women, one consisting of adolescents (< 20 years) and the other two
Quantitativos em Saúde,
Escola Nacional de Saúde of women 20-34 years old, classified according to their history of pregnancy during adolescence.
Pública, Fundação A sample of 3,508 post-partum women was selected from public hospitals in the city of Rio de
Oswaldo Cruz.
Janeiro, Brazil, and interviewed just after childbirth. To verify the hypothesis of homogeneity of
Rua Leopoldo Bulhões 1480,
Rio de Janeiro, RJ proportions, chi-square tests (χ 2) were used. Comparing the three groups, the most adverse con-
21041-210, Brasil. ditions were found among the 20-34-year-old mothers with a history of pregnancy during ado-
granado@ensp.fiocruz.br
2 Departamento de lescence. These women have the least schooling, the highest rates of smoking and use of illegal
Informações em Saúde, drugs during pregnancy, and the fewest prenatal appointments. According to this study, prenatal
Centro de Informação care proved to be an effective compensatory policy for the prevention of prematurity and low
Científica e Tecnológica,
Fundação Oswaldo Cruz.
birth weight, especially among adolescent mothers.
Av. Brasil 4365, Key words Pregnancy in Adolescence; Low Birth Weight Infant; Maternal and Child Health;
Rio de Janeiro, RJ Life Style
21045-900, Brasil.
Resumo Este trabalho tem como objetivo comparar as características sócio-econômicas, a as-
sistência pré-natal e o estilo de vida de três grupos de puérperas, um composto por adolescentes
(< 20 anos) e os demais por mulheres de 20-34 anos, categorizadas segundo experiência (ou não)
de gravidez na adolescência. Foram entrevistadas 3.508 puérperas no pós-parto em maternida-
des municipais e federais do Município do Rio de Janeiro. A análise estatística consistiu em utili-
zar testes qui-quadrado (χ 2) para testar hipóteses de homogeneidade de proporções. Ao compa-
rar os três grupos, observou-se uma situação mais desfavorável entre as mães de 20-34 anos com
história de gravidez na adolescência. Estas têm pior nível de instrução, mostram com maior fre-
qüência hábitos de fumo e uso de drogas ilícitas durante a gestação e apresentam menor número
de consultas de atendimento pré-natal. A assistência pré-natal se apresentou neste estudo como
uma política compensatória eficiente para a prevenção da prematuridade e do baixo peso ao
nascer, sobretudo entre as puérperas adolescentes.
Palavras-chave Gravidez na Adolescência; Baixo Peso ao Nascer; Saúde Materno Infantil; Estilo
de Vida
Tabela 1
Grupos Mãe < 20 anos (1) Mãe 20-34 (2) Mãe 20-34
(foi gestante (não foi gestante
adolescente) adolescente)
(%) p-valor (%) p-valor (%)
Tabela 2
Proporção de puérperas segundo variáveis de estilo de vida e assistência pré-natal pelos grupos maternos.
Grupos Mãe < 20 anos (1) Mãe 20-34 (2) Mãe 20-34
(foi gestante (não foi gestante
adolescente) adolescente)
(%) p-valor (%) p-valor (%)
Estilo de vida
História de aborto anterior 9,6 0,000 33,2 0,000 17,4
Desejo por esta gravidez 32,5 0,000 30,8 0,000 44,4
Tentativa de interromper 8,7 0,000 9,6 0,000 3,8
a gravidez
Consumo de cigarro 13,5 0,806 25,0 0,000 13,9
na gravidez
Consumo de drogas 1,2 0,006 1,6 0,000 0,2
na gravidez
Vivência de agressão física 5,9 0,014 5,6 0,020 3,5
na gravidez
Assistência pré-natal
0-3 consultas no pré-natal 20,1 0,000 23,5 0,000 12,5
Sem consulta ou início após 10,3 0,026 12,6 0,000 7,5
o 6o mês
Tabela 3
Proporção de puérperas que desejaram a gravidez segundo número de filhos tidos anteriormente
pelos grupos maternos.
Grupos Mãe < 20 anos (1) Mãe 20-34 (2) Mãe 20-34
(foi gestante (não foi gestante
adolescente) adolescente)
Desejo sim (%) p-valor Desejo sim (%) p-valor (%)
* n da casela < 5
(1) Nível de significância descritivo (p) do teste χ2 de homogeneidade das proporções,
comparando o grupo de < 20 anos com o de 20-34, que não foi gestante adolescente.
(2) Nível de significância descritivo (p) do teste χ2 de homogeneidade das proporções, comparando
o grupo de 20-34 anos que foi gestante adolescente, com o de 20-34 que não foi gestante adolescente.
Tabela 4
Proporção de partos prematuros segundo alguns fatores de risco e experiência de gravidez na adolescência.
Grupos Mãe < 20 anos (1) Mãe 20-34 (2) Mãe 20-34
(foi gestante (não foi gestante
adolescente) adolescente)
(%) p-valor (%) p-valor (%)
como a principal variável de associação estatís- natal, por ter sido esta a variável que melhor
tica com os desfechos negativos do nascimento. discriminou, nas Tabelas 3 e 4, os riscos de des-
A Tabela 4 apresenta maiores proporções fechos negativos.
de recém-natos prematuros em filhos de puér- Os resultados desta tabela mostraram que
peras adolescentes, tanto entre as mães com ins- não houve diferença estatística entre os “desfe-
trução até a 4a série, como entre as que têm nú- chos negativos” e os grupos maternos quando
mero pequeno (0-3) de consultas no pré-natal. a gestante compareceu a quatro consultas ou
Pelos dados dispostos na Tabela 5, verifica-se mais no pré-natal. Por outro lado, naquelas em
que também o baixo peso ao nascer foi maior nos que a cobertura do pré-natal foi insuficiente ou
filhos de mães adolescentes, no grupo de mulhe- nula (0-3 consultas), o risco de parto prematu-
res que realizou de 0-3 consultas no pré-natal. Ne- ro e baixo peso ao nascer foi significativamente
nhuma outra diferença se mostrou significativa. maior no grupo de mães adolescentes.
Na Tabela 6 foram categorizados os resulta- Outro ponto a ser destacado nesta tabela é
dos adversos pelo número de consultas no pré- a relação inversa entre o número de consultas
Tabela 5
Proporção de baixo peso ao nascer (BPN) segundo alguns fatores de risco e experiência de gravidez na adolescência.
Grupos Mãe < 20 anos (1) Mãe 20-34 (2) Mãe 20-34
(foi gestante (não foi gestante
adolescente) adolescente)
(%) p-valor (%) p-valor (%)
Tabela 6
Proporção de recém-natos com desfechos negativos, segundo o grupo materno e o número de consultas no pré-natal.
Grupos Mãe < 20 anos (1) Mãe 20-34 (2) Mãe 20-34
(foi gestante (não foi gestante
adolescente) adolescente)
(%) p-valor (%) p-valor (%)
0–3 consultas
Peso < 2.500g 31,1 0,026 22,0 0,544 19,1
Prematuridade 30,7 0,006 15,7 0,999 15,7
4–6 consultas
Peso < 2.500 g 15,7 0,474 17,1 0,808 17,7
Prematuridade 14,5 0,522 15,2 0,697 16,3
7 consultas e +
Peso < 2.500g 9,6 0,619 11,1 0,867 10,7
Prematuridade 8,8 0,929 8,4 0,770 9,0
riência de gestação na adolescência apresen- Nas adolescentes desse estudo, a baixa pro-
tam os piores indicadores de condições de vi- porção de mulheres que desejava ter engravi-
da. Neste grupo, encontram-se os maiores per- dado, poderia ser justificado pela percepção,
centuais de mulheres com baixa escolaridade e por parte das jovens, da falta de estrutura para
residentes em favelas, e menores percentuais constituir uma nova família naquele momento.
de mulheres com trabalhos remunerados. Já entre as mulheres de 20-34 anos encontra-se
Camarano (1998) encontrou em seu estudo uma relação inversa entre o desejo de ter en-
que as baixas condições de instrução e renda gravidado e o número de filhos tidos, ou seja, o
estão diretamente relacionadas com o maior desejo decresce na medida em que aumenta a
risco de engravidar na adolescência. Tem-se quantidade de filhos. Por outro lado, hipóteses
discutido (Population Reference Bureau, 1992) sugeridas por outros autores estabelecem que
que a gestação nesta fase leva à interrupção existe uma parcela das adolescentes, notada-
precoce da escolaridade, dificultando tanto a mente nas camadas mais pobres da população,
inserção futura da adolescente no mercado de que busca a gestação, muitas vezes, como uma
trabalho, quanto à obtenção de emprego com oportunidade de status, como se fosse esse o
melhor remuneração, gerando assim um pro- único papel reservado a ela na sociedade (Scia-
cesso de reprodução da pobreza. ra & Ponterotto, 1998).
Os achados desta investigação sugerem que Outros prejuízos advindos de uma gravidez
a gravidez na adolescência nas mulheres atual- precoce vêm sendo discutidos na literatura,
mente com 20 a 34 anos contribuiu ou até mes- tais como maior risco de bebês prematuros,
mo agravou as suas condições desfavoráveis de com baixo peso ao nascer, óbitos perinatais e
vida, quando comparadas às outras da mesma infantis (Apte, 1987; Boskaya et al., 1996). Nes-
faixa etária e condição social. Stern (1997) con- sa investigação não se encontrou associação
tradiz esses resultados argumentando que ape- entre a baixa idade materna e baixo peso ao
sar de a gravidez na adolescência se encontrar nascer e prematuridade. Todavia, agravos po-
diretamente relacionada à baixa renda, não dem vir a ocorrer em longo prazo, como já evi-
implica que seja um fenômeno que conduza à denciado em trabalhos internacionais. Em es-
reprodução desta situação. tudo recente nos Estados Unidos, a Comissão
Os resultados obtidos mostraram que além para a Adolescência da Academia Americana
de maior exposição a abortos, pior nível de es- de Pediatria (1999) encontrou em filhos de
colaridade e ausência de emprego remunera- mães adolescentes maiores riscos de se torna-
do, as mulheres de 20-34 anos que foram ges- rem, também, pais na adolescência, atraso no
tantes na adolescência apresentam maior per- desenvolvimento, dificuldades acadêmicas,
centual de proles numerosas. A análise dos da- perturbações comportamentais e tóxico-de-
dos, embora não apresentados neste trabalho, pendência.
revelou que 36% dessas mães já tinham três ou Uma questão que merece destaque é a es-
mais gestações anteriores à atual. Este percen- treita relação dos efeitos adversos à gestação
tual foi de 10,7% no grupo de mulheres da mes- com a assistência prestada no pré-natal. O
ma faixa etária que não tinha engravidado an- acompanhamento médico adequado durante a
tes dos vinte anos de idade. gestação pode ser visto como uma política
Em relação aos indicadores de estilo de vi- compensatória da saúde, cabendo a ele o papel
da, o grupo de puérperas de 20-34 com expe- de minimizar o efeito das desigualdades sócio-
riência de gestação na adolescência foi tam- econômicas.
bém o que apresentou os piores resultados, com Pode-se considerar que a cobertura do pré-
maior prevalência de abortos anteriores, consu- natal foi relativamente satisfatória para o con-
mo de cigarros e de drogas ilícitas na gestação, junto das puérperas, uma vez que apenas 6%
confirmando a hipótese de se tratar de um gru- das mulheres não foram assistidas e mais de
po mais vulnerável no que tange ao aspecto do 80% delas tiveram quatro ou mais consultas.
cuidado com sua própria saúde e do seu bebê. Entretanto, essa cobertura foi diferente entre
No estrato da pesquisa sob consideração, a os grupos maternos, sendo mais adequada, pe-
maioria das mulheres entrevistadas não dese- lo menos em termos do número de consultas,
java ter engravidado, sendo a proporção ainda no grupo de 20-34 anos sem experiência de
maior nos grupos de adolescentes e de 20-34 gestação na adolescência.
que engravidou na adolescência. Resultados Chama a atenção que no grupo de pior co-
concordantes foram encontrados em estudos bertura do atendimento pré-natal (0-3 consul-
com gestantes adolescentes por Monteiro et al. tas), as adolescentes se mostraram como o gru-
(1998), no Ministério do Rio de Janeiro e Plaza po de maior sensibilidade em relação ao baixo
et al. (1994), em Granada, Espanha. peso ao nascer e a prematuridade, evidencian-
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