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APRESENTAÇÃO
Enfim, esperamos que vocês aprendam um pouco mais sobre como um bom
projeto pode contribuir para o conforto térmico das pessoas e reduzir a incidência
de doenças relacionadas à qualidade do ar.
Introdução à Tecnologia da Refrigeração e da Climatização – Prof. Jesué Graciliano da Silva 4
Introdução à Tecnologia da Refrigeração e da Climatização – Prof. Jesué Graciliano da Silva 5
1- Sistemas de Climatização
1.1 - Introdução
Quando falamos em “climatizar ambientes”, estamos nos referindo ao processo de
tratamento de ar em recintos fechados, de modo a controlar simultaneamente sua temperatura,
umidade, pureza e movimentação. Para que isso aconteça é necessário que se coloque o ar em
movimento contínuo, fazendo-o passar por elementos de filtragem, de resfriamento,
aquecimento, umidificação ou desumidificação. Há sistemas de distribuição de zona única
(Figura 1.1) que atendem a apenas um recinto, por exemplo, um auditório, e há sistemas de
zonas múltiplas, como o caso do condicionamento de diversas salas com controles individuais
(Figura 1.2).
Pode-se notar que, nestes sistemas de zonas simples, tem-se o controle da taxa de
renovação através da tomada de ar externo. Pode-se observar, também na Figura 4.1, que o ar de
retorno é misturado com o ar de renovação para depois passar pelos processos de tratamento:
resfriamento, desumidificação ou aquecimento. Na figura 4.1, também se pode observar a
presença de uma serpentina de resfriamento e desumidificação (SRD). Essa serpentina fria é
responsável pelo resfriamento e desumidificação do ar e corresponde ao componente
evaporador do sistema de compressão mecânica de vapor. Na Figura 1.2, pode-se observar um
sistema de duas zonas com reaquecimento terminal do ar.
Introdução à Tecnologia da Refrigeração e da Climatização – Prof. Jesué Graciliano da Silva 6
para sua avaliação. Esta escala varia de -3 a +3, onde -3 corresponde à sensação de muito frio, -
2 à sensação de frio, -1 de ligeiramente frio, 0 de neutralidade térmica (nem frio nem quente),
+1 ligeiramente quente, +2 à sensação de quente e +3 à sensação de muito quente.
O PMV é calculado por uma única equação que relaciona o nível de atividade,
resistência térmica do vestuário, temperatura do ar, temperatura média de radiação das
superfícies vizinhas, e pressão parcial de vapor. A partir do PMV é possível calcular a
porcentagem de pessoas insatisfeitas (PPD).
Figura 1.6- Ilustração de um aparelho do tipo self-contained com uma rede de dutos.
2- Condicionamento do Ar
2.3-Processos Psicrométricos
Os processos psicrométricos são as transformações ocorridas nas propriedades do ar
durante a climatização/refrigeração. Alguns processos comuns no tratamento do ar são:
resfriamento, desumidificação, aquecimento, umidificação e mistura de jatos de ar.
Geralmente, o resfriamento e desumidificação do ar acontecem simultaneamente
quando um fluxo de ar passa através de um evaporador, também chamado de serpentina de
resfriamento e desumidificação (SRD). Nesse processo, há redução da temperatura do ar e da
umidade absoluta do mesmo, com condensação de parte do vapor d´água dissolvido no ar, o que
exige providências quanto à instalação de bandeja de condensado com dreno. Na figura 2.2,
ilustra-se este processo.
Balanço de massa: O fluxo de massa de ar seco que entra no volume de controle é igual ao
fluxo de massa de ar seco que sai deste volume, logo:
1 m
m 2 m
a
E, da mesma forma, o balanço do fluxo de água dissolvida no ar pode ser calculada como:
a .w1 m
m a .w2 m
cond
Balanço de energia: A energia que entra no volume de controle é igual à energia que sai deste
volume, logo:
a .h1 m
a .h2 Q
m SRD mcond .hcond
Observamos que a entalpia da água condensada (hcond) é muito pequena comparada com
as outras grandezas dessa equação. Sendo assim, para fins de aplicações práticas, o último termo
pode ser desprezado.
A mistura de duas correntes de ar acontece geralmente na casa de máquinas do sistema
de climatização, onde o ar de retorno, voltando do ambiente climatizado, é misturado com uma
parcela de ar externo de renovação, fundamental para garantir uma qualidade do ar interior
(Figura 2.3).
Este processo, quando representado em uma carta psicrométrica, obedece à chamada “Lei
da Linha Reta”.
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Essa lei determina que as condições resultantes do fluxo de ar (3) podem ser obtidas em
um ponto situado sobre uma reta que liga a condição do fluxo de ar (1) à condição do fluxo de
ar (2), conforme ilustrado Figura 2.4, onde é representada a situação em que uma vazão de
540m3/h de ar externo de renovação na condição TBS = 32oC e UR = 60% é misturada com
2800 m3/h de ar de retorno na condição TBS = 32oC e UR = 60%. Na carta tem-se que h1 =
78kJ/kg e h2 = 51kJ/kg.
A entalpia do ar na condição de mistura (ponto 3) pode ser obtida por meio da aplicação
de um balanço de energia (energia que entra no Volume de Controle é igual energia que sai do
Volume de Controle). Nessa equação é possível utilizar também a vazão do ar em m3/h.
1.h1 m
m 2 .h2
h3
(m 1 m
2)
540.78 2800.51
h3 55,3kJ / kg ar
3340
O processo de insuflamento de ar no ambiente faz com que o jato de ar frio receba uma
parcela de carga térmica sensível e latente, o que proporciona um processo de aquecimento e
umidificação. A linha representativa deste processo na carta psicrométrica ocorre paralela à
linha de fator de calor sensível (FCS), dada através da relação entre a carga térmica sensível e a
carga térmica total ambiente.
Para fins práticos, pode-se definir carga térmica como a quantidade de calor sensível e
latente que deve ser retirada ou adicionada ao ambiente condicionado para que se mantenham as
condições desejadas de temperatura e umidade relativa. Para se representar o processo de
insuflamento em uma carta psicrométrica, basta traçar uma linha paralela à linha de Fator de
Calor Sensível ambiente (FCSa), partindo do ponto de retorno do ar (R) até o ponto de
insuflamento. No exemplo mostrado na Figura 2.5 tem-se um FCSa de 0,7 marcado no
transferidor à esquerda da carta psicrométrica. Uma linha paralela é traçada partindo do ponto R
(25oC e 50%). A temperatura de insuflamento geralmente é obtida pelo cruzamento da linha de
entalpia do ar na condição de insuflamento com a linha paralela ao FCS.
Exemplo de aplicação 1:
Considere a instalação de climatização ilustrada na Figura 2.7. Observe que uma dada
quantidade de ar de renovação (externo) é misturada com uma dada quantidade de ar de retorno
e = 0,7kg/s é
antes da entrada no equipamento (SRD). O fluxo de massa de ar externo (1) m
misturado com um fluxo de ar de retorno m r = 4,5kg/s. As condições do ar externo (E) ou
ponto 1 são: TBS=32C e umidade relativa ()=60%. Já o ar de retorno (2) apresenta as
seguintes condições (iguais ao ar de exaustão, 2”): TBS=25C e =50%. Sabendo ainda que a
carga térmica sensível ambiente Q sensível =12kW e a carga térmica latente Qlatente =2kW.
Calcular:
a temperatura do ar de insuflamento;
a capacidade da serpentina de resfriamento e desumidificação;
a quantidade de água retirada pela serpentina de resfriamento e desumidificação.
Solução.
O primeiro passo é marcar as condições conhecidas na carta psicrométrica. Para isso são
necessárias sempre duas propriedades termodinâmicas.
h3
0,7.79 4,5.50,5 54,3kJ / kg
a
5,2
4 h4 Q CARGA _ TÉRMICA m
m 2 h2
Com a entalpia 4 é preciso calcular e traçar a linha de Fator de Calor Sensível na carta.
Como FCSa = 12/14 = 0,85 (relação entre a carga térmica sensível e a carga térmica total)
devemos traçar uma reta a partir do ponto 2 na carta psicrométrica seguindo a mesma inclinação
da linha de FCSa. No cruzamento da linha paralela ao FCS (partindo do ponto 2) e da linha de
entalpia específica da condição 4, h4 = 47,8kJ/kg, encontramos o ponto 4 que tem
TBS4=22,8C. Essa é a condição de insuflamento do ar no ambiente climatizado.
3h3 Q SRD m4 h4
m
Da mesma forma calcula-se o fluxo de água retirada pela serpentina através do balanço
de massa de água na serpentina.
3 w3 m
m cond m
4 w4
cond m
m 3 w3 m
4 w4 m
( w3 w4 )
Exemplo de Aplicação 2:
Solução:
O Fator de Calor Sensível é calculado como sendo 42.000/60.000 = 0,7. No cruzamento
da linha de TBS da temperatura do ar de insuflamento e da linha paralela ao FCS tem-se o
ponto 4 na carta psicrométrica. A entalpia h4 é de 35kJ/kg. A entalpia h2=75kJ/kg. Logo,
fazendo-se um balanço de energia no ambiente climatizado. O valor de 60.000BTU/h é
equivalente a 17,58kW.
4h4 Q CARGA_ TERMICA m2 h2
m
q 17,58( kJ / s )
m 1,10kg / s
h 2 h 4 (75 35)( kJ / kg )
h3
0,24.75 0,86.51 56,2 kJ / kg
1,10
SRD m4 h4 m3h3 m(h3 h4) 1,10.(56,2 35) 23,32k W
Q
3. Projeto de Climatização
3.1- Princípios
A estimativa de carga térmica de um ambiente é o primeiro passo para se dimensionar os
equipamentos de climatização. A seguir serão detalhadas algumas condições gerais de projeto.
Na Figura 3.1 tem-se a representação de um desenho para climatização com o posicionamento
do equipamento self-contained na casa de máquinas, a indicação da posição do retorno do ar e
da tomada de ar externo de renovação, bem como da rede de distribuição de ar por meio de
dutos de aço galvanizado. As medidas dos dutos são indicadas em centímetros. Os difusores
(bocas de insuflamento) são de 4 vias.
Estudo preliminar - Nesse momento, são estabelecidas as normas que serão levadas em
consideração para definição do sistema a ser projetado;
Bases de cálculo - Nessa etapa, são fixados os parâmetros adotados como base para o
dimensionamento do sistema, tais como: condições de temperatura, pressão e umidade e
taxas de ocupação, iluminação e ar exterior;
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a) Transmissão
No caso de paredes que não recebem radiação solar, paredes e vidros internos, teto e piso
entre andares, a carga térmica por transmissão é calculado por:
A U Te Ti
Q (3.1)
t
a área superficial de troca de calor (área de parede ou vidro interno), em (m²); U é o coeficiente
global de transmissão de calor de superfícies (W/(m².C)); Te é a temperatura do ar do ambiente
externo (C) e Ti a temperatura do ar do ambiente interno. Quando a parede for interna deve-se
reduzir em 3C no diferencial de temperatura.
Para fins de projeto é comum ignorar a carga térmica através de pisos que se encontram
diretamente sobre o solo. Da mesma maneira, quando os ambientes vizinhos encontram-se
condicionados, a carga térmica através das paredes divisórias com esses ambientes é
desprezada. Na tabela 3.3 são mostradas as ordens de grandeza de alguns coeficientes globais de
transferência de calor. Para outros materiais construtivos recomenda-se a utilização de tabelas
disponíveis na literatura técnica.
Exemplo de Aplicação
Estime a taxa de calor que atravessa 30m2 de uma parede à sombra, construída com
tijolos maciços de 21cm de espessura e reboco dos dois lados de 2cm de espessura cada.
Considere a condutividade kreboco = 1,15 W/m.oC e ktijolo = 0,85 W/m.oC . Considere a
temperatura externa de 32oC e a interna de 25oC. Considere também he = 25W/m2oC e hi =
7W/m2oC, conforme Figura 3.3.
ÁREA SUPERFICIAL
(As=30m2)
CALOR TROCADO
32oC 25 oC
REBOCO (kr)
ESPESSURA (Lr) TIJOLO MACIÇO (kt) ISOLANTE(ki)
ESPESSURA (Lt) ESPESSURA (Li)
Podemos fazer uma analogia com um circuito elétrico em série, conforme apresentado
no Capítulo 2. Primeiro, é preciso calcular o coeficiente “U”:
1
1 0,02 0,21 0,02 1 W
U 2,15
25 1,15 0,85 1,15 7 m 2 .o C
2,15.30.(32 25) Q
Q 452 W
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Onde Q vidros é ganho de calor de um recinto provocado por superfície transparente, em
Q vidros U .A . (Te Ti) A . FGCImax . Cs (3.3)
Tabela 3.6 - Fator de Ganho de Calor por Insolação – FGCI máximo (W/m2) Latitude: -23,5 ( sul )
SO O NO
Mês Horizontal S SE L NE N
Jan 993 157 635 764 471 165
Fev 955 132 534 762 580 265
Mar 863 113 392 720 668 434
Abr 726 92 234 636 712 571
Mai 610 78 126 555 713 637
Jun 558 72 87 515 705 655
Jul 597 75 119 549 708 634
Ago 710 86 233 633 703 558
Set 844 104 392 714 655 416
Out 938 122 532 757 570 251
Nov 984 149 630 761 471 160
Dez 997 199 665 756 425 154
Tabela 3.7- Fator de Ganho de Calor por Insolação – FGCI máximo (W/m2) Latitude: -32,0 ( sul )
Tabela 3.8- Fator de Ganho de Calor por Insolação – FGCI máximo (W/m2) Latitude : -28 (sul )
Exemplo de aplicação:
Qual a carga térmica que ingressa pela tarde por uma janela de vidro comum de 4 mm de
espessura e área de 8m2, localizada na face Oeste de um prédio localizado na latitude 27 graus
sul, para o mês de janeiro. A temperatura externa é de 32oC e a interna é de 25 oC. Considere o
FGCI como sendo 700W/m2 e Cs = 0,5 pois há cortinas internas. Considere “U” vidro como
sendo 5,8 W/m2oC.
Aplicando-se a equação 3.4, tem-se que a carga térmica que penetra o ambiente pela
superfície transparente da janela é de aproximadamente 3,1kW.
No caso das superfícies opacas (paredes, telhados, tetos e lajes), o calor é conduzido para
dentro do recinto por “condução” térmica. Há um intervalo de tempo para que a insolação sobre
as paredes possa atingir o ambiente. Isso depende muito dos elementos construtivos que podem
facilitar ou retardar a entrada do calor. Isso significa que o calor pode penetrar mesmo após o
sol ter se posto.
A quantidade de radiação solar que incide sobre uma superfície depende: do tipo de
superfície; sua orientação solar; posição dos prédios vizinhos; cor da superfície externa; da
latitude; da época do ano e da hora do dia (Figura 3.4). O conhecimento destas informações é
importante na tomada de decisão quanto ao projeto ou na seleção do equipamento. Em boa parte
do Brasil as paredes de orientação Norte e Oeste recebem insolação direta no período da tarde.
Introdução à Tecnologia da Refrigeração e da Climatização – Prof. Jesué Graciliano da Silva 32
é o ganho de calor por uma superfície opaca com insolação, (W); “A” é a área
Onde Q
da superfície opaca (parede ou telhado) com insolação, em m²; “U” é o coeficiente global de
transmissão de calor de superfícies (W/m².C); “FGCI” é o valor da insolação sobre a
superfície; “Te” é a temperatura do ar externo e “Ti” a temperatura do ar interno (C); “ α ” é a
absortividade da superfície externa. Para paredes claras esse valor é da ordem de 0,2. Para
paredes escuras esse valor é da ordem de 0,8; “Rar” é a resistência à passagem de calor por
convecção, que é da ordem de 0,04 para aplicações comuns.
Exemplo de Aplicação:
Estime a carga térmica que penetra em um telhado de 100 metros quadrados (Figura
3.5), composto por uma camada de telhas cerâmicas de 1,5cm de espessura (L1), uma camada
de laje de concreto de 12cm (L2), um espaço de ar de 50cm e uma camada de gesso de 2cm de
espessura (L3). Considere a insolação FGCI sobre o telhado como sendo 870W/m2 para
Florianópolis, no mês de janeiro. Considera-se TBS do ar externo de 32oC e TBS do ar interno
24oC. A resistência térmica do ar sobre o telhado Re = 0,04 m2oC/W. A resistência do ar
confinado é Rc = 0,21 m2oC/W e a resistência térmica do ar sob o gesso como sendo Ri = 0,17
m2oC/W.
Introdução à Tecnologia da Refrigeração e da Climatização – Prof. Jesué Graciliano da Silva 33
Para resolver a questão, é preciso calcular o coeficiente “U” e aplicar na equação 3.4.
1
0,015 0,12 0,02 W
U 0,04 0,21 0,17 1,775 2 o
0,85 1,75 0,35 m.C
d) Infiltração e ar de renovação
Outra fonte de carga térmica é o ar exterior. É preciso estimar a quantidade de energia que
penetra o ambiente devido à renovação de ar externo e à infiltração. A taxa mínima de
renovação depende principalmente da finalidade do recinto e do número de ocupantes. A
infiltração através de portas e janelas depende da área, velocidade do ar e da freqüência com que
são abertas. Qualquer que seja o caminho pelo qual o ar penetre, ele deve ser obrigatoriamente
filtrado, resfriado e desumidificado. A Portaria 3.523/98, do Ministério da Saúde, estabelece
uma taxa de 27m3/h, por pessoa, para renovação do ar. Esse valor cai para 17m3/h, por pessoa,
(Resolução 09/2003 da ANVISA) no caso de uma loja, por exemplo, onde há grande
rotatividade.
Introdução à Tecnologia da Refrigeração e da Climatização – Prof. Jesué Graciliano da Silva 34
A vazão volumétrica necessária para manter o ambiente dentro dos padrões esperados da
qualidade do ar interior é calculada pela equação 3.5.
Q n Trenovação (3.5)
ambiente e Trenovação é a taxa de renovação de ar por pessoa (m³/h). Para obter a vazão em m3/s é
necessário dividir esse valor por 3.600. O fluxo de massa de ar de renovação m ar (kg/s) é obtido
pela multiplicação da vazão de ar em m3/s pela sua densidade em kg/m3.
Para se calcular a carga térmica devido à taxa de renovação de ar externo é preciso
conhecer as condições de TBS e TBU do ar externo e interno. As entalpias específicas do ar
(condição externa “h1” e interna “h2”) devem ser inseridas na equação 3.6 e marcadas em uma
carta psicrométrica.
Q sensível m
ar .(h x h 2 ) Qlatente m
ar . (h1 h x ) 3.6
Exemplo de aplicação:
Utilizando-se de uma carta psicrométrica estime qual o valor da carga térmica latente e
sensível introduzida por uma vazão de 900m3/h de ar externo de renovação na condição TBS de
32C e UR de 60% (condição 1) de umidade relativa. Observamos que a carta psicrométrica
utilizada nesse texto é para pressão atmosférica de 101.325 Pa. Para cidades que não estejam ao
nível do mar é preciso utilizar cartas psicrométricas específicas. O ar deve ser resfriado e
desumidificado até a TBS de 25C e UR de 50% (condição 2 – ar de renovação).
Na carta psicrométrica devem ser marcados os pontos referentes às condições do ar
externo e do ar de renovação. Obtivemos h1 = 79kJ/kg e h2 = 51kJ/kg. A entalpia do ponto
intermediário “x” é encontrado graficamente como sendo hx = 58kJ/kg. Esse procedimento é
ilustrado na Figura 3.6.
Introdução à Tecnologia da Refrigeração e da Climatização – Prof. Jesué Graciliano da Silva 35
Figura 3.6 – Obtenção das entalpias para o cálculo da carga térmica decorrente da renovação.
900
ar
m .1,13 0,282 kg/s
3600
e) Ocupação
Uma das maiores parcelas de carga térmica interna (fontes internas) é decorrente das
pessoas. Para auditórios, teatros e cinemas, por exemplo, a carga térmica de ocupação é
significativa quando comparada com outras parcelas.
As pessoas liberam calor tanto na forma sensível como latente. Esta quantidade dependerá
do tipo de atividade desenvolvida. Na NBR 16.401/2008 há uma lista detalhada da liberação de
calor pelas pessoas de acordo com o tipo de atividade e do ambiente (Tabela 3.9).
Para se estimar essa parcela de carga térmica, é importante conhecer o perfil de ocupação
do ambiente. Há situações em que a ocupação máxima ocorre no período da noite, por exemplo.
Se não for possível determinar precisamente a taxa de ocupação, podemos seguir as
recomendações apresentadas pela NBR 16.401/2008.
Para escritórios, por exemplo, podemos estimar que uma pessoa ocupa um espaço de 6m2.
Para um teatro, esse valor é da ordem de 0,75m2 por pessoa. Se um teatro tem 300m2 de área
destinada ao público, sua ocupação será de 225 pessoas. Na Tabela 3.10 há algumas aplicações
comuns.
f) Iluminação
O calor liberado por lâmpadas incandescentes ou fluorescentes não é afetado pela
temperatura do ambiente climatizado. As lâmpadas fluorescentes requerem energia extra para os
reatores. Por isso, se os reatores ficam dentro do ambiente climatizado, deve se adicionar 25%
na potência de iluminação. Na atualidade há lâmpadas de LED que produzem menos calor que
as lâmpadas fluorescentes comuns.
Para recintos onde não se dispõe da potência de iluminação é recomendável utilizar os
valores em W/m2 recomendados pela NBR 16.401/2008.
3.3.1- Aquecimento
aquecimento A . U. Ti Te
Q (3.7)
Exemplo de aplicação:
Estime a carga térmica de uma sala de aula localizada na região Sul do Brasil,
Florianópolis (Figura 3.7) para o período da tarde no verão.
Introdução à Tecnologia da Refrigeração e da Climatização – Prof. Jesué Graciliano da Silva 39
Solução:
A condição do ar externo para verão na cidade de Florianópolis é de 32 oC e UR = 60%.
Considere que o ambiente climatizado deve ser mantido a 25oC e com UR de 50%. Inicialmente
é importante avaliar as áreas de troca das quatro paredes e da cobertura.
f) equipamentos e iluminação:
3000W
Q10
PORTA
DE INSPEÇÃO TOMADA DE
AR EXTERNO
PONTO DE FORÇA
DRENO
AR DE CONDENSAÇÃO
3.4.3- Filtros
O ar insuflado deve ser totalmente filtrado e parcialmente renovado. Isto deve ser
realizado através da utilização de pré-filtros / filtros na entrada da caixa de mistura e na entrada
da serpentina de resfriamento e desumidificação. Geralmente o filtro e pré-filtro (chamados de
filtragem em dois estágios) são montados em caixilhos independentes, montados sob pressão. O
primeiro estágio deve ser formado por filtros do tipo permanentes, laváveis e metálicos,
galvanizados ou de alumínio com 50mm de espessura em geral. O segundo estágio deve ser
formado por filtros de lã de vidro ou fibra sintética de poliester com 25mm de espessura. Na
Tabela 3.11 são apresentados os tipos mais comuns de filtros para diversas aplicações.
Cada instalação exigirá uma seleção determinada. A Portaria 3523/98 exige a utilização
de filtros da classe G3 para aplicações convencionais.
Introdução à Tecnologia da Refrigeração e da Climatização – Prof. Jesué Graciliano da Silva 43
Para seleção da TAE, geralmente adota-se uma velocidade livre de face de 2,0 m/s.
Conhecendo-se a vazão de ar necessária para renovação é possível obter a área efetiva da
TAE. A escolha do tipo de TAE dependerá do grau de controle exigido pela instalação.
Exemplo de aplicação:
Uma vazão de ar de renovação e 540m3/h de ar deve ser introduzida em um ambiente
climatizado. Qual deve ser a área efetiva da TAE?
Solução:
A vazão de 540m3/h é equivalente a 0,15m3/s. Esse valor é obtido dividindo-se 540 por
3600. A vazão volumétrica é igual a velocidade multiplicada pela área de passagem do ar. Logo,
considerando-se velocidade de 2m/s, a área efetiva da TAE é calculada como sendo:
VAZÃO 0,15 m3 / s
ÁREA 0,075 m 2
VELOCIDADE 2,00 m / s
Na Tabela 3.12 é possível obter as medidas da TAE como sendo 600mm x 300mm ou
60cm x 30cm.
Introdução à Tecnologia da Refrigeração e da Climatização – Prof. Jesué Graciliano da Silva 45
Q 0,666
Q V.A A
0,166m 2
V 4
(4.1)
A 0,166
A LH L 0,65m
H 0,25
Tabela 4.1- Resultado do cálculo de uma rede de dutos pelo método da velocidade
Trecho Vazão Velocidade Área da LXH
(m3/s) (m/s) secção (m2) (m x m)
AB 0,66 4,0 0,16 0,65 x 0,25
BC 0,44 4,0 0,11 0,55 x 0,20
CD 0,22 4,0 0,055 0,35 x 0,15
p Hg .g.(h 1 - h 2 )
metro é de, aproximadamente, 13,6Pa/m, pois: p1-2 13600. 10. (0,006 - 0,005) 136Pa .
Figura 4.3- Ilustração da definição do diâmetro equivalente para mesma perda de pressão.
o duto de secção circular equivalente deve apresentar a mesma perda por metro quando
trabalhando com a mesma velocidade que no duto retangular. Nesse caso, temos:
2. L. H
Deq (4.2)
( L H)
o duto de secção circular equivalente deve apresentar a mesma perda por metro quando
trabalhando com a mesma vazão que no duto retangular. Dessa forma, temos:
( L. H ) 0,625
Deq 1,30. (4.3)
( L H ) 0,25
Para simplificar os cálculos, podemos utilizar uma tabela de áreas que apresentam igual
atrito no escoamento. Para mostrar como o método funciona, considere o exemplo anterior. O
primeiro trecho apresenta um escoamento de 100% da vazão em uma área de duto considerada
de 100%. No segundo trecho a vazão de ar é apenas 66,6% (0,44/0,66) da vazão do primeiro
trecho (inicial) e no terceiro temos apenas 33,3% (0,22/0,66) da vazão inicial. Para que esses
três trechos mantenham a mesma perda de carga por metro, é possível observar na Tabela 4.4
Introdução à Tecnologia da Refrigeração e da Climatização – Prof. Jesué Graciliano da Silva 49
que a área do duto do segundo trecho deve ter 72,5% da área do primeiro e que área do terceiro
trecho deve ter 41% da área do trecho inicial. Assim sendo, temos o dimensionamento realizado
ao multiplicar-se cada valor da linha da quarta coluna pelo valor da área do primeiro trecho
(AB), que se encontra na segunda linha da quinta coluna, em destaque na Tabela 4.3 = 0,165
m2 .
Tabela 4.3- Estimativa de cálculo de duto usando áreas proporcionais
Trecho Vazão % % Área LxH
(m3/s) Vazão Área (m2) (m x m)
AB 0,66 100 100 0,165 0,65 x 0,25
BC 0,44 66,6 72,5 0,119 0,60 x 0,20
CD 0,22 33,3 41,0 0,068 0,45 x 0,15
Tabela 4.4- Áreas necessárias aos ramais para manter a mesma perda de carga
% % % % % % % %
Vazão Área Vazão Área Vazão Área Vazão Área
2 3,5 26 33,5 52 60,0 76 81,0
4 7,0 28 35,5 54 62,0 78 83,0
6 10,5 30 37,5 56 64,0 80 84,5
8 13,0 32 40,0 58 65,5 82 86,0
10 16,5 34 42,0 60 67,5 84 87,5
12 18,5 36 44,0 62 69,0 86 89,5
14 20,5 38 46,0 64 71,0 88 90,5
16 23,0 40 48,0 66 72,5 90 92,0
18 25,0 42 50,0 68 74,5 92 94,0
20 27,0 44 52,0 70 76,5 94 95,0
22 29,5 48 56,0 72 78,0 96 96,5
24 31,5 50 58,0 74 80,0 98 98,0
Introdução à Tecnologia da Refrigeração e da Climatização – Prof. Jesué Graciliano da Silva 50
Exemplo de Aplicação:
Dimensione a rede de dutos mostrada na Figura 4.4. Considere a velocidade do ar no
primeiro trecho AB como sendo 5m/s. Utilize o método do igual atrito. Adote a altura do trecho
AB como sendo 30cm.
A grelha de retorno pode ser instalada no teto, no piso ou na parede. A decisão deverá
considerar a possibilidade de arraste de sujeira para a casa de máquinas. O retorno do ar pode
ser realizado diretamente ou por meio de uma rede de dutos específica.
Tabela 4.6- Bitolas de chapas para a fabricação de dutos rígidos (baixa pressão)
Espessuras Circular Maior comprimento
do duto retangular
(em mm)
Alumínio Aço Helicoidal Calandrado com -
Galvanizado (mm) costura longitudinal
(mm)
Bitola mm Bitola mm - - -
24 0,64 26 0,50 até 225 até 450 até 300
22 0,79 24 0,64 250 a 600 450 a 750 310 a 750
20 0,95 22 0,79 650 a 900 750 a 1150 750 a 1400
18 1,27 20 0,95 950 a 1250 1150 a 1500 1410 a 2100
16 1,59 18 1,27 1300 a 1500 1510 a 2300 2110 a 3000
Na tabela, um duto de medidas 100cm de largura por 40cm de altura, por exemplo, deve
ter espessura de 0,79mm (bitola #22). Normalmente, no cálculo da área de chapa para
construção dos dutos considera uma perda de material da ordem de 20%. A área superficial de
chapa é realizada multiplicando-se para cada trecho o comprimento do duto pelo seu perímetro.
Introdução à Tecnologia da Refrigeração e da Climatização – Prof. Jesué Graciliano da Silva 53
Exemplo de aplicação:
Calcule a quantidade de chapas de aço galvanizado para confecção da rede de dutos
mostrada na Figura 4.5. Considere que cada trecho tenha 5m de comprimento.
A solução do problema começa a partir do cálculo do perímetro dos dutos. Esses valores
devem ser multiplicados pelo comprimento informado para se obter as áreas.
Exemplo de Aplicação:
Dimensione a rede de dutos mostrada na Figura pelo método do IGUAL ATRITO. Como
referência, considere a velocidade do Trecho AB como sendo 5m/s. As alturas dos dutos são
0,35m, 0,30m, 0,25m e 0,20m nos trechos AB, BC, CD e DE respectivamente. Se os trechos
AB, BC, CD e DE possuem comprimentos de 8, 6, 4m e 6m, qual é a área de chapas de aço
necessária para construção dos dutos? Adicione 20% para compensar os recortes. A vazão em
cada boca de insuflamento é de 850m3/h. Arredonde as medidas dos dutos de 5 em 5cm.
Exemplo de Aplicação:
Dimensione a rede de dutos mostrada na Figura (questão 1) pelo método da Velocidade. Mas
agora, considere VELOC = 4m/s. Considere também as alturas dos dutos são 0,40m, 0,30m,
0,25m e 0,20m nos trechos AB, BC, CD e DE respectivamente. Considere que a vazão em cada
boca de insuflamento é de 750m3/h. Arredonde a medida dos dutos de 5 em 5cm.
Exemplo de Aplicação:
Uma rede de dutos é composta por três trechos em sequência (AB, BC e CD). Ela está
conectada a um equipamento self-contained que tem uma vazão de 4800m3/h. Ao final do
primeiro trecho tem-se duas bocas de insuflamento laterais. O próximo trecho é o BC, onde
passa a vazão do equipamento menos as vazões que saíram ao final do trecho AB. Ao final do
trecho BC há também duas bocas de insuflamento. No trecho CD tem-se uma vazão de apenas
1600m3/h. Ao seu final há também mais duas bocas de insuflamento. As vazões em cada boca
são de 800m3/h. Se a velocidade dentro da rede de dutos é de 5m/s em toda sua extensão e se os
comprimentos AB, BC e CD são de 8m, 6m e 5m quais são as medidas das secções transversais
dos dutos e a massa de chapas necessárias para confecção? UTILIZE O MÉTODO DA
VELOCIDADE. A velocidade dentro da rede de dutos é de 5m/s. Considere um acréscimo na
massa de 20% para compensar as perdas nos cortes. A espessura do duto é de 0,79mm e a
densidade do aço é de 7600kg/m3. As alturas dos dutos são de 40cm, 30cm e 20cm nos trechos
AB, BC e CD.
Exemplo de Aplicação:
Uma rede de dutos é mostrada na Figura. A vazão em cada boca de insuflamento é de 700 m3/h.
Método do velocidade (V = 5m/s). Considerando as alturas marcadas no desenho é possível
afirmar que as LARGURAS dos trechos AB, BC e CD e CG em centímetros são
respectivamente (com arredondamento de 5 em 5 cm)
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Formulário:
Vazão = velocidade x área
1 hora = 3600 segundos
Área de um retângulo = Largura x Altura
Dequivalente = 2.(Largura x Altura) / (Largura + Altura)
Perímetro de um retângulo = 2 x ( Largura + Altura)
Massa = densidade x volume
Volume de uma chapa = Área superficial x Espessura
1 m = 1000 mm
1 mm = 0,001m
Densidade do aço = 7600 kg/m3
Tabela de áreas proporcionais – Faça a média entre os valores mais próximos caso necessário.
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REFERÊNCIAS
GUYTON, A.C. Physiological of The Human Body, Ed. Guanabara Köögan S.A., 7a. Ed.,
Rio de Janeiro, R.J., 1996.
ISO 7243, Hot Environments - Estimation of the heat stress on working man, based on the
WBGT - index (wet bulb globe temperature). Geneva: International Standards Organization,
1989.
ISO 7933, Hot Environments - Analytical determination and interpretation of thermal stress
using calculation of required sweat rate. Geneva: International Standards Organization, 1989.
ISO 7730, Moderate Thermal Environments - Determination of PMV and PPD indices and
specification of the conditions for thermal comfort). Geneva: International Standards
Organization, 1984.
NETO, C.B., Apostila de Carga Térmica, Centro Federal de Educação Tecnológica de Santa
Catarina, 1998.
NIELSEN, B. Heat stress and acclimation, Ergonomics, vol. 37, pp. 49-58, 1994.