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COMPREENDER

OS DIREITOS HUMANOS
MANUAL DE EDUCAÇÃO PARA OS DIREITOS HUMANOS

Coordenação: VITAL MOREIRA e CARLA DE MARCELINO GOMES


Com a colaboração de ANA FILIPA NEVES, CATARINA DE MARCELINO GOMES,
HELENA BASTOS, PEDRO BRUM E RITA PÁSCOA DOS SANTOS
e de IRACEMA AZEVEDO (Angola), MÁRCIA MORIKAWa (Brasil), ALCINDO SOARES
e HELENA SILVES FERREIRA (Cabo Verde), AUA BALDÉ (Guiné-Bissau),
EUGÉNIA MARLENE REIS DE SOUSA (Moçambique),
RUI MANUEL TRINDADE SÉCA (São Tomé e Príncipe) e DÉLIA BELO (Timor-Leste)

Versão original editada por WOLFGANG BENEDEK


European Training and Research Centre for Human Rights and Democracy (ETC)
(Centro Europeu de Formação e Investigação em Direitos Humanos e Democracia)
Graz, Áustria
© Ius Gentium Conimbrigae/Centro de Direitos Humanos
Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra (FDUC)
Portugal

Com o apoio de:

Uma contribuição para a Rede de Segurança Humana


por iniciativa do Ministério Federal para os Assuntos Europeus e Internacionais, Áustria,
com financiamento da Agência Austríaca para o Desenvolvimento.

Todos os direitos reservados.

© 3ª edição em Língua Inglesa: European Training and Research Centre for Human Rights
and Democracy (ETC) Graz, 2012

Grafismo:
JANTSCHER Werberaum
www.werberaum.at
3

PREFÁCIO DA COMUNIDADE DOS PAÍSES DE


LÍNGUA PORTUGUESA - CPLP
É com enorme prazer que a CPLP se as- reforço da paz, da segurança e do desen-
socia à primeira edição em Língua Portu- volvimento humano dos países que com-
guesa do Manual Compreender os Direitos põem a CPLP. Seguindo uma recomen-
Humanos. dação do Conselho de Ministros da CPLP
Para a CPLP, o apadrinhamento desta obra foi assinado, em 2006, um Memorando de
representa um marco especial e um passo Entendimento com o Alto Comissariado
em frente num tema que a CPLP há muito de Direitos Humanos da ONU, refletindo o
promove e que agora vê aqui consagrado: desafio comum na promoção e defesa dos
a defesa e a promoção dos direitos huma- direitos humanos e liberdades fundamen-
nos. tais, o fortalecimento da relação institucio-
À luz dos seus Estatutos, a CPLP rege-se nal e o desenvolvimento da cooperação
por princípios como o primado da Paz, técnica no campo dos direitos humanos.
da Democracia, do Estado de Direito, Também sob recomendação dos Chefes de
dos Direitos Humanos e da Justiça Social Estado e de Governo da CPLP, realizou-
e dentro da sua missão deve estimular a se, em outubro de 2012, em Cabo Verde,
cooperação entre os seus membros com o um seminário sobre a criação e o reforço
objetivo de promover as práticas democrá- de Instituições Nacionais de Direitos Hu-
ticas, a boa governação, a justiça social e o manos (INDH), em conformidade com os
respeito pelos direitos humanos. “Princípios de Paris”, nos Estados mem-
Nesse âmbito, a CPLP aprovou em 2003, bros da CPLP, que encorajou as INDH dos
uma Resolução sobre Direitos Humanos e países de língua portuguesa a estabelece-
Abolição da Pena de Morte, pela qual rei- rem uma rede para partilhar entre si, e nos
terou o seu compromisso para com a pro- fora internacionais, experiências, melho-
moção e proteção dos direitos humanos res práticas e desafios das INDH.
e incentivou os Estados membros a irem Apraz-nos poder comunicar que a oficiali-
mais além neste âmbito, encorajando-os zação desta Rede coincidirá com o lança-
a integrarem normas internacionais de mento do presente Manual. A CPLP dá
direitos humanos nos seus ordenamentos assim um passo em frente na contribuição
nacionais, a incluírem uma abordagem de para o diálogo em matéria de direitos hu-
direitos humanos em programas e políti- manos nos países de língua portuguesa,
cas de desenvolvimento, a adotarem me- envolvendo membros ou representantes
didas de luta contra a violência sobre as do Governo, parlamentares, a sociedade
mulheres e as crianças e a reforçarem a civil e as INDH existentes, na criação ou
cooperação a nível internacional nos fora reforço de mecanismos conformes com os
das Nações Unidas. “Princípios de Paris”.
Em reuniões subsequentes, os Estados A CPLP tem também procurado nortear
membros da CPLP têm vindo a renovar a sua atividade de cooperação de acordo
o seu compromisso com estes princípios com os princípios de direitos humanos,
fundamentais dos direitos humanos para o apoiando projetos de cidadania para o
4 PREFÁCIO DA COMUNIDADE DOS PAÍSES DE LÍNGUA PORTUGUESA - CPLP

desenvolvimento, como o projeto “meni- defender e promover os direitos humanos.


nos de rua” ou o projeto “ODM desafio Envidaremos todos os esforços para com-
universitário”, projetos de capacitação em bater violações de direitos humanos, pois
diversas áreas, como a saúde, o ambiente, estas não só ameaçam a existência de um
a segurança alimentar e, ainda, promo- grande número de pessoas nos nossos Es-
vendo o reforço da capacitação técnica, tados membros, como contribuem para a
de que é exemplo a formação em combate sua vulnerabilidade à violência, aos maus
ao tráfico de seres humanos, bem como a tratos e ao seu silêncio a nível social, polí-
promoção de um dialogo global inclusivo tico e económico.
no quadro da sua participação na platafor- Apenas através do respeito integral e ho-
ma das Nações Unidas “Aliança das Civi- lístico dos direitos humanos podemos su-
lizações”. perar esses desafios e contribuir para o
Estamos, por isso, convictos de que no desenvolvimento sustentável das nossas
quadro desta agenda a CPLP irá continuar sociedades.
a promover a necessária e desejável uni- Da nossa parte daremos o nosso total
versalização dos direitos humanos – numa apoio para que assim o seja.
perspetiva de cidadania global de direitos
– e também desenvolver medidas que fo- Murade Murargy
mentem a promoção desses direitos por
todos os cidadãos da Comunidade. Embaixador
Por tudo isto, e de acordo com os princí- Secretário Executivo da CPLP
pios orientadores da CPLP, reafirmamos a
nossa convicção e assumimos a missão de Lisboa, 16 de Maio de 2013.
5

PREFÁCIO DO IUS GENTIUM CONIMBRIGAE


- CENTRO DE DIREITOS HUMANOS DA FA-
CULDADE DE DIREITO DA UNIVERSIDADE DE
COIMBRA

O Ius Gentium Conimbrigae/Centro de os países de língua oficial portuguesa. Daí


Direitos Humanos (IGC/CDH) da Fa- que tenhamos convidado para a equipa os
culdade de Direito da Universidade de seguintes colaboradores desses países, que
Coimbra (FDUC) – o mais antigo centro contribuíram para essa recolha: Alcindo
universitário de direitos humanos em Soares (Cabo Verde), Aua Baldé (Guiné-
Portugal – orgulha-se de se associar ao Bissau), Délia Belo (Timor-Leste), Eugénia
projeto Understanding Human Rights Marlene Reis de Sousa (Moçambique), He-
– Manual on Human Rights Education, lena Silves Ferreira (Cabo Verde), Iracema
organizado pelo European Training and Azevedo (Angola), Márcia Morikawa (Bra-
Research Centre for Human Rights and sil) e Rui Manuel Trindade Séca (São Tomé
Democracy (ETC), em Graz (Áustria), di- e Príncipe).
rigido pelo Professor Wolfgang Benedek,
ficando assim o IGC/CDH responsável A presente edição em língua portuguesa
pela versão e adaptação em língua por- tem por base a versão inglesa da 3ª edi-
tuguesa do livro Compreender os Direitos ção original do Manual publicada em
Humanos - Manual de Educação para os 2012. Considerando o nosso objetivo de
Direitos Humanos. disseminação do livro e, acima de tudo,
do que ele representa, ou seja a educa-
Para que este projeto fosse possível, foi ção para os direitos humanos, foi também
constituída no âmbito do IGC uma equipa nossa opção criar uma página na net para
de trabalho coordenada por Vital Moreira este projeto, alojada no website do IGC/
e Carla de Marcelino Gomes e composta CDH (www.fd.uc.pt/igc/), onde se pode-
por Ana Filipa Neves, Catarina de Marce- rá encontrar a versão eletrónica em lín-
lino Gomes, Helena Bastos, Pedro Brum e gua portuguesa deste livro, bem como os
Rita Páscoa dos Santos, que reúnem vá- respetivos materiais adicionais de apren-
rias formações académicas e com com- dizagem, também traduzidos para portu-
petências no domínio da língua inglesa guês e existentes, em inglês, no site origi-
e, em especial, no inglês técnico jurídico nal do projeto, no ETC.
e das ciências de educação. A equipa de
trabalho desde cedo se apercebeu que o É também nosso objetivo proceder à divul-
livro Compreender os Direitos Humanos gação do livro e do projeto em cada um
sairia enriquecido se nele pudessem ser dos países de língua oficial portuguesa,
incorporadas referências bibliográficas e aproveitando a oportunidade do lança-
informações adicionais oriundas de todos mento local da iniciativa para organizar
6 PREFÁCIO DO IUS GENTIUM CONIMBRIGAE

sessões de trabalho, com o intuito de di- Para um centro de direitos humanos como
fundir o método de trabalho do manual. o IGC, dedicado ao ensino e à formação
Pareceu-nos, portanto, um enlace natural em direitos humanos, a educação em di-
a associação da organização da Comuni- reitos humanos é em si mesma um direito
dade dos Países de Língua Portuguesa a fundamental de todos e de cada um. Daí a
este projeto, cujo apoio institucional e fi- importância deste livro.
nanceiro muito nos honra.
Coimbra, 25 de Abril de 2013.
Por fim e acima de tudo, pretende-se com
este projeto contribuir para uma difusão
de informação teórica, prática e de aces-
so fácil relativa aos direitos humanos, na
senda do artº 1º, nº 1, da Declaração das
Nações Unidas sobre Educação e Forma-
ção em Direitos Humanos, de 2011, segun- Vital Moreira
do a qual “Todas as pessoas têm direito a
saber, procurar e receber informações sobre
todos os direitos humanos e liberdades
fundamentais e devem ter acesso à edu-
cação e formação em matéria de direitos
humanos”1.
Carla de Marcelino Gomes

1
Tradução livre da equipa técnica.
7

AGRADECIMENTOS DA VERSÃO EM LÍNGUA


PORTUGUESA

Agradecemos à Comunidade dos Países de Ribeiro Sales, ao Dr. Caíque Thomaz Leite
Língua Portuguesa, que não só viabilizou da Silva, à Drª Cátia Duarte, à Drª Isabel
financeiramente esta 1ª edição em língua Gomes, à Drª Rita Perdigão e ao Engº Pa-
portuguesa do Manual, como nos auxiliou trício Figueiredo pelo seu precioso contri-
na revisão final e, neste particular, o agra- buto, em sede de revisão final das provas
decimento recai nas pessoas do Dr. Ma- e pela sua pronta disponibilidade, mesmo
nuel Clarote Lapão, Dr. Philip Baverstock com um prazo tão limitado. Agradecemos,
e Dr. Mário Mendão. ainda, às nossas famílias pela infindável
Este Manual não teria sido possível sem a paciência e apoio, ao longo destes anos.
colaboração de inúmeras pessoas que nos Alguns dos colaboradores responsáveis
auxiliaram em várias fases do processo. pelo capítulo das Referências Bibliográ-
Desde logo, gostaríamos de demonstrar a ficas e Informação Adicional em Língua
nossa gratidão ao Professor Doutor Wolf- Portuguesa gostariam, igualmente, de for-
gang Benedek, que nos honrou com o con- mular agradecimentos pelo auxílio que
vite para nos associarmos a este projeto e obtiveram na recolha da informação ne-
pela sua sempre pronta disponibilidade ao cessária. Infra, encontraremos os agradeci-
longo destes anos de trabalho. Agradece- mentos pela colaboração externa relativos
mos igualmente à Drª Barbara Schmiedl a Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau
e à Drª Sarah Kumar, pelo apoio na trans- e Moçambique.
missão de documentos e informações in- Angola: Secretaria de Estado para os Di-
dispensáveis. reitos Humanos, representada pela Dr.ª
Devemos um agradecimento muito sentido Ana Januário, e Centro Cultural Mosaiko,
ao Senhor Professor Doutor Jónatas Macha- representado pelo Frei Mário Rui Marçal,
do pelo seu aconselhamento sempre lúci- aos quais se endereça, desde já, os devidos
do e pelo acompanhamento constante ao agradecimentos.
longo das várias fases deste projeto. Agra- Brasil: Agradecimentos especiais ao Dr.
decemos à Drª Maria Natália Neves, pelo Francisco Prado de Paula Avelino, Auditor
auxílio no que respeita à língua inglesa e à Federal de Controle Externo do Tribunal
revisão final das provas. À Drª Ana Paula de Contas da União, Brasília-DF, pela sua
Silva agradecemos o inestimável auxílio na importante e imprescindível colaboração
criação da página web dedicada ao livro, nas pesquisas elaboradas desde Brasília.
bem como a elaboração da capa e contra- Agradecimentos ao Centro de Pesquisas e
capa para esta edição. À Drª Bárbara Alves Estudos Jurídicos de Mato Grosso do Sul
agradecemos o seu sempre pronto apoio, pela disponibilização de sua biblioteca, à
nomeadamente, em matérias de formata- Dra. Vanívia Zanuzzo pelo seu zeloso au-
ção e revisão gráfica. Um agradecimento xílio com pesquisas realizadas no Mara-
especial é ainda dirigido à Drª Ana Amélia nhão, e ao Professor Doutor Fábio d’Ávila
8 AGRADECIMENTOS DA VERSÃO EM LÍNGUA PORTUGUESA

da Faculdade de Direito PUCRS pela sua (“Democracia pelo Direito”) do Conselho


colaboração sobre a proibição da tortura. da Europa. Diversos trabalhos publicados
Cabo Verde: Nossos agradecimentos a to- na área dos direitos fundamentais ao nível
das as Instituições que de pronto e gen- nacional e ao nível da União Europeia; co-
tilmente aceitaram colaborar connosco e, autor, junto com J. J. Gomes Canotilho, da
muito em particular, a toda a equipa da Constituição da República Portuguesa Ano-
Comissão Nacional para os Direitos Hu- tada, dois vols., 4ª edição, Coimbra Edito-
manos e Cidadania, presidida pela Dra. ra, Volume I: 2007; Volume II: 2010.
Zelinda Cohen, Associação Cabo-verdiana
de Mulheres Juristas, através da sua Presi- Carla de Marcelino Gomes
dente e a Biblioteca Nacional. Coordenadora de Projetos e investigadora
Guiné-Bissau: A investigação foi feita com no Ius Gentium Conimbrigae/Centro de
a colaboração de Ercilio Evora, a quem Direitos Humanos (IGC/CDH), da Faculda-
muito agradecemos. de de Direito da Universidade de Coimbra,
Moçambique: Agradecimentos ao Dr. Dá- onde trabalha desde setembro de 2001.
rio Caetano de Sousa, docente de Direitos Doutoranda em “Política Internacional e
Fundamentais na Universidade São Tomás Resolução de Conflitos”, na Faculdade de
de Aquino em Maputo, que fez a pesqui- Economia, Universidade de Coimbra, es-
sa de algumas referências na Biblioteca pecialização nas áreas da justiça de tran-
da Universidade Eduardo Mondlane e que sição e das crianças-soldado. Detém o Eu-
forneceu algumas referências que têm sido ropean Master’s Degree in Human Rights
utilizadas nas suas aulas. Ao Diogo Ma- and Democratisation (2001), especializa-
nuel Coelho da Rocha que manifestou o ção em Direitos da Criança. Licenciada
interesse nos temas e fez a pesquisa nas em Direito (1996) pela Universidade de
bases de dados da Biblioteca do Instituto Coimbra. Codirectora executiva do Curso
Superior de Ciências Sociais e Políticas da em Operações de Paz e Ação Humanitária.
Universidade Técnica de Lisboa. Integra o corpo docente da Pós-graduação
em Direitos Humanos, no IGC/CDH, desde
2002. Tem várias publicações nas áreas da
NOTAS BIOGRÁFICAS DOS sua especialização. Participa em missões
COORDENADORES: de reconstrução pós-conflito e de desen-
volvimento, particularmente, em matérias
Vital Moreira de construção institucional, redação legis-
Professor da Faculdade de Direito da Uni- lativa e didática, bem como formação, em
versidade de Coimbra; vice-presidente do colaboração com entidades governamen-
Ius Gentium Genimbrigae/Centro de Direi- tais, ONU e ONG.
tos Humanos; cocoordenador e professor
da Pós-Graduação em Direitos Humanos do
Ius Gentium Conimbrigae da Faculdade de
NOTAS BIOGRÁFICAS DOS IN-
Direito da Universidade de Coimbra; diretor VESTIGADORES DO IGC:
nacional do European Master’s Programme
in Human Rights and Democratisation (Ve- Ana Filipa Neves
neza); antigo juiz do Tribunal Constitucio- Doutoranda do Programa de Doutora-
nal; antigo membro da Comissão de Veneza mento “Política Internacional e Reso-
NOTAS BIOGRÁFICAS DOS INVESTIGADORES DO IGC 9

lução de Conflitos”, na Faculdade de Helena Patrícia Bastos


Economia, Universidade de Coimbra. Pós-graduada em Relações Internacionais,
Em 2008, concluiu o European Master’s Especialização em Estudos para a Paz e
Degree in Human Rights and Democrati- Segurança pela Faculdade de Economia da
sation com tese desenvolvida no Danish Universidade de Coimbra; Pós-graduada
Institute for Human Rights, em Copenha- em Direitos Humanos pelo Ius Gentium
ga, na área do Islão, direitos humanos Conimbrigae/Centro de Direitos Humanos
das mulheres e migrações. Licenciada da Universidade de Coimbra. Licenciatura
em Direito pela Faculdade de Direito da em Relações Internacionais pela Faculdade
Universidade de Coimbra. Investigadora de Economia da Universidade de Coimbra.
e assessora no Ius Gentium Conimbri-
gae/Centro de Direitos Humanos da Fa- Pedro Brum
culdade de Direito da Universidade de Licenciado em Direito pela Universidade
Coimbra desde outubro de 2008. Integra, de Coimbra (1997) e Pós-graduado em
desde 2009, o corpo docente da Pós-Gra- Direito Penal Económico Europeu (1998),
duação em Direitos Humanos promovida também por esta Universidade. Em 2012,
pelo IGC/CDH. concluiu o Mestrado em Estudos de Se-
gurança Internacional, pela Universidade
Catarina de Marcelino Gomes de Leicester. Exerceu advocacia até 2005.
Licenciada e Mestre em Ciências da Edu- A sua experiência na área de direitos hu-
cação pela Faculdade de Psicologia e de manos resultou do exercício de assesso-
Ciências da Educação da Universidade de rias jurídicas em diversas instituições da
Coimbra e Mestre em Gestão de Recur- República Democrática de Timor-Leste,
sos Humanos pela Escola Superior de Al- nomeadamente no Ministério da Justiça,
tos Estudos do Instituto Superior Miguel Provedoria dos Direitos Humanos e Jus-
Torga. Desenvolveu estudos, na área da tiça e Ministério dos Negócios Estrangei-
Educação de Adultos e Psicologia Social ros. Trabalhou para instituições como o
na Facoltá delle Scienze della Formazione, Programa das Nações Unidas para o De-
Universidade de Florença, Itália. Enquanto senvolvimento, o Instituto Português de
Técnica Superior em Educação, tem exer- Apoio ao Desenvolvimento e a Fundação
cido funções na área de Educação e For- das Universidades Portuguesas.
mação de Adultos e Gestão da Formação,
nomeadamente, como coordenadora peda- Rita Páscoa dos Santos
gógica, mediadora e formadora no âmbito Licenciada em Direito pela Universida-
de Cidadania e Empregabilidade, Apren- de de Coimbra, frequentou igualmente a
der com Autonomia e em Processos de Re- parte escolar do curso de Pós-Graduação
conhecimento, Validação e Certificação de em Justiça Europeia sobre Direitos do Ho-
Competências. Certificada em Formação mem, coorganizado pelo Ius Gentium
de Formadores em Igualdade de Oportu- Conimbrigae/Centro de Direitos Huma-
nidades. Frequência da XV Pós-graduação nos e o CEDIPRE, da Faculdade de Direi-
em Direitos Humanos (2013), (IGC/CDH) to da Universidade de Coimbra. Em 2009,
da Faculdade de Direito da Universidade concluiu o Mestrado Europeu em Direitos
de Coimbra. Investigadora associada do Humanos e Democratização, pelo Euro-
IGC/CDH. pean Inter-University Centre for Human
10 AGRADECIMENTOS DA VERSÃO EM LÍNGUA PORTUGUESA

Rights and Democratisation. Foi bolseira man Rights Fellowship por Harvard Hu-
deste Centro Inter-Universitário na Dele- man Rights Program. Trabalhou como
gação da União Europeia junto da ONU advogada em Lisboa e em Bissau. Na
e de outras organizações internacionais Guiné-Bissau, foi Assessora Jurídica no
em Genebra. Colabora com o Ius Gentium Ministério da Educação e Assessora para
Conimbrigae/Centro de Direitos Humanos Assuntos Políticos no Gabinete Integrado
como investigadora associada e foi consul- das Nações Unidas para a Consolidação
tora internacional na Provedoria dos Direi- da Paz na Guiné-Bissau.
tos Humanos e Justiça de Timor-Leste.
Délia Imaculada Costa Ximenes Belo
(Timor-Leste)
NOTAS BIOGRÁFICAS DOS CO- Estudante da Faculdade Direito Universi-
LABORADORES DE ANGOLA, dade de Coimbra (frequência do 4º ano do
curso de Direito). Integrou a equipa técni-
BRASIL, CABO VERDE, GUINÉ- ca do Ius Gentium Conimbrigae/Centro de
-BISSAU, MOÇAMBIQUE, SÃO Direitos Humanos da Faculdade de Direito
da Universidade de Coimbra, no âmbito
TOMÉ E PRÍNCIPE E TIMOR- de uma parceria estabelecida entre o IGC/
-LESTE: /CDH, o Ministério da Justiça de Timor-
Leste e a UNICEF-Timor Leste.
Alcindo Júlio Soares (Cabo Verde)
Licenciado em Direito pela Faculdade Eugénia Marlene Reis de Sousa (Moçam-
de Direito da Universidade de Coimbra. bique)
Pós-graduado em Direito da Comunicação, Frequência do 2º ano do Mestrado em Po-
pelo Instituto Jurídico da Comunicação, da líticas de Desenvolvimento de Recursos
Faculdade de Direito da Universidade de Humanos no Instituto Superior de Ciên-
Coimbra. XV Curso Norma de Formação cias Sociais e Políticas da Universidade
de Magistrados do CEJ (Centro de Estudos Técnica de Lisboa (2012/2013). Frequên-
Judiciários) de Lisboa. Magistrado do Mi- cia da XV Pós-Graduação em Direitos Hu-
nistério Público de Cabo Verde, exercendo manos (2013), Ius Gentium Conimbrigae/
funções de Procurador-Geral Adjunto. /Centro de Direitos Humanos da Faculda-
de de Direito da Universidade de Coim-
Aua Baldé (Guiné-Bissau) bra. Licenciada em Relações Internacio-
Advogada; atualmente a trabalhar na nais pelo Instituto Superior de Ciências
missão de manutenção da paz da ONU Sociais e Políticas da Universidade Técni-
na Costa do Marfim. Pós-graduada em ca de Lisboa.
Direitos Humanos, Ius Gentium Conim-
brigae/Centro de Direitos Humanos da Helena Silves Ferreira (Cabo Verde)
Faculdade de Direito da Universidade Licenciada em Direito e Tradutor/Intérpre-
de Coimbra. Mestre em Direito, com te (Inglês) pelo Centro Universitário Ad-
especializaçao em Direito Internacional ventista de São Paulo – UNASP, campus
dos Direitos Humanos, pela Faculdade Engenheiro Coelho. Tradutora e intérprete.
de Direito da Universidade de Harvard. Advogada e Consultora Jurídica. Respon-
Distinguida com o prémio Henigson Hu- sável pela coordenação e elaboração dos
NOTAS BIOGRÁFICAS DOS COLABORADORES DE ANGOLA, BRASIL, CABO VERDE, GUINÉ-BISSAU, MOÇAMBIQUE 11

Relatórios de Direitos Humanos a serem senvolvido sua atividade profissional e de


apresentados pelo Governo aos Comités investigação nas áreas dos Direitos Huma-
específicos das Nações Unidas na Comis- nos, Direito Internacional Público e Direito
são Nacional para os Direitos Humanos e a Internacional Humanitário.
Cidadania (CNDHC) de Cabo Verde.
Rui Manuel Trindade Séca (São Tomé e
Márcia Morikawa (Brasil) Príncipe)
Doutora em Ciências Jurídico-Políticas Licenciado em Direito pela Faculdade de
pela Faculdade de Direito da Universidade Direito da Universidade de Coimbra; For-
de Coimbra, tendo concluído o Mestrado mado em Magistratura Judicial pelo CEJ
e a Pós-Graduação em Direitos Humanos – Portugal, Inscrito na OAP e OASTP, Ex-
nesta mesma Instituição. Docente da dis- Professor de Direito Administrativo no
ciplina de Direitos Humanos no Mestrado IUCAI; Coordenador do Gabinete Jurídico
em Serviço Social do ISCTE-Lisboa e da da Entidade Reguladora de Comunicações
Universidade Nacional Timor Lorosa’e eletrónicas, Postal, Água e Eletricidade
(UNTL). Docente das disciplinas de Filo- e Ponto Focal para Harmonização dos
sofia do Direito, Direitos Humanos e Me- quatro setores acima referidos, na África
todologia da Investigação na Faculdade de Central e Subsaariana; Assessor Jurídico
Direito da UNTL e de Introdução ao Direi- do Ministro da Educação e Cultura; Presi-
to, Direito Eleitoral e Ilícitos Eleitorais no dente da ONG Sítio do Equador; Secretário
Curso em Gestão e Administração Eleitoral Executivo do IDD; Vice-Presidente da Pla-
da UNTL. Assessora jurídica na Secretaria taforma de Direitos Humanos e Equidade
de Estado da Defesa (Ministério da Defe- de Género; Presidente da Rede STPWASH,
sa e Segurança) de Timor-Leste. Tem de- Consultor Jurídico do Governo de STP.
12

NOTAS DE TRADUÇÃO E ADAPTAÇÃO DA VER-


SÃO EM LÍNGUA PORTUGUESA

A equipa técnica deparou-se com alguns Um outro importante princípio que ado-
desafios de tradução de algumas palavras, támos foi o de envidarmos esforços para
umas vezes porque elas ainda não estão que todos os vocábulos fossem traduzidos
oficialmente reconhecidas no vocabulário para a língua portuguesa, mesmo aqueles
em língua portuguesa, outras porque nos que já adquiriram o estatuto de uso cor-
preocupámos em fazer uma correspondên- rente na nossa língua (ex. accountability,
cia exata de conceitos que nem sempre são advocay, bullying, etc.) pelo que nos so-
coincidentes, nos vários ordenamentos ju- corremos de traduções possíveis junto de
rídicos, nacionais e internacional. Assim, documentos e páginas oficiais de todos
houve opções genéricas que fizemos, ex- os países de língua oficial portuguesa, de
plicadas abaixo, e, noutros casos, procede- organizações internacionais intergoverna-
mos ao estudo caso a caso da palavra ou mentais que tenham documentos traduzi-
conceito em questão. dos para língua portuguesa, bem como das
ferramentas oficiais de tradução da União
A primeira opção de tradução que fizemos Europeia. Por vezes acrescentámos entre
foi dar preferência, sempre que possível, parêntesis o termo inglês originário, como
a linguagem utilizada nos documentos já referência auxiliar. Sobretudo no que res-
traduzidos para português e reconhecidos peita à descrição de algumas metodologias
oficialmente. Daí que tenhamos sempre aplicadas e nas secções relativas às ativi-
recorrido às páginas oficiais dos vários dades selecionadas, utilizámos o léxico
países de língua oficial portuguesa, no próprio das Ciências da Educação. Foram
sentido de encontrar as traduções ofi- poucas as exceções ao princípio acima
ciais. No que respeita a informação rela- enunciado: é o caso da palavra internet e o
tiva às Convenções, Declarações e outros de algumas abreviaturas (ex. UEFA, CIA),
documentos internacionais, utilizámos que mantivemos na língua inglesa, dado o
essencialmente as versões em português seu uso corrente e generalizado e o facto
contidas na página oficial do Gabinete de de as suas correspondentes em língua por-
Documentação e Direito Comparado da tuguesa não serem, de todo, comummente
Procuradoria-Geral da República, Portu- reconhecidas.
gal. No caso da Declaração das Nações Em casos excecionais, deparámo-nos com a
Unidas sobre Educação e Formação em utilização de palavras diferentes em países
Direitos Humanos, de 2011, não encon- diferentes para descrever a mesma realida-
trámos qualquer versão oficial traduzida de. É o caso da palavra “Tribunal” que, no
para língua portuguesa, pelo que fizemos Brasil, em alguns contextos, é também de-
uma tradução livre da mesma que, não signada por “Corte” e é também o caso das
sendo oficial, é da nossa inteira responsa- palavras “investigação”/”investigador” em
bilidade e não faz fé pública. âmbito académico que, no Brasil, correspon-
NOTAS DE TRADUÇÃO E ADAPTAÇÃO DA VERSÃO EM LÍNGUA PORTUGUESA 13

dem aos termos “pesquisa”/”pesquisador”. as entidades públicas e privadas adotem a


O mesmo acontece, por exemplo, com a pa- expressão universalista para referenciar os
lavra “violação” no âmbito dos crimes se- direitos humanos”.
xuais que, no Brasil, recebe a designação de
“estupro”. Já a palavra “registo” escreve-se Optámos pela expressão “Comunidade
“registro”, no Brasil. Por outro lado, a ex- Roma” no que diz respeito à tradução
pressão “toda a pessoa” encontrada em mui- da expressão “Roma Community”, ter-
tos dos instrumentos jurídicos internacio- minologia utilizada nas várias organiza-
nais de Direitos Humanos também aparece ções internacionais, sobretudo na União
traduzida por “toda pessoa”, como é o caso Europeia e na ONU. Fizemos esta opção,
no Brasil. Por sua vez, a palavra Caraíbas no âmbito deste Manual, pelo facto de
refere-se à palavra “Caribe” utilizada em al- ser já comummente aceite e genera-
guns dos países de língua oficial portuguesa. lizado que a expressão “Comunidade
Roma” se refere a vários grupos diferen-
Por razões de ordem doutrinária, demos tes que se autoidentificam, por exemplo,
preferência à expressão “direitos huma- como comunidades Roma, Manouche,
nos” em detrimento da expressão “direi- Ashkali, Sinti e Cigana. Cremos que o
tos do Homem”, mesmo quando ela ain- sentido com que a expressão é utilizada
da assim aparece em documentos oficiais no Manual, na versão inglesa pretende
(exs. Declaração Universal dos Direitos incluir todos esses grupos e não apenas
Humanos e Tribunal Europeu dos Direitos a comunidade cigana, pelo que não tra-
Humanos). Esta opção, no caso de Por- duzimos a referida expressão por “co-
tugal, vai ao encontro da Deliberação da munidade cigana”, pois essa seria uma
Assembleia da República de Portugal, de tradução redutora face ao que a versão
8 de março de 2013, que “recomenda que inglesa transmite.
14

PREFÁCIO DA TERCEIRA EDIÇÃO (VERSÃO


ORIGINAL)

A promoção e a proteção dos direitos (European Training and Research Centre


humanos foi sempre uma prioridade na for Human Rights and Democracy - ETC),
política externa da Áustria. A educação em Graz, na Áustria, o Manual é conce-
para os Direitos Humanos é uma parte bido para formar multiplicadores na edu-
central do nosso compromisso. De forma cação para os direitos humanos, em todas
a viver uma vida em segurança e com as regiões do mundo. Oferece módulos de
dignidade, as pessoas têm de conhecer formação que podem ser adaptados pelos
os seus direitos e liberdades fundamen- seus utilizadores, de acordo com os seus
tais e de estar confiantes de que os seus diferentes contextos, situações e regiões.
governos reconhecem e asseguram estes Já foi traduzido, até hoje, para 15 idio-
direitos. Por consequência, um dos ob- mas diferentes, bem como introduzido e
jetivos basilares da Áustria, também en- utilizado em sessões de trabalho multipli-
quanto membro do Conselho Executivo cadoras facilitadas pelo ETC, em diversos
da UNESCO, é promover e apoiar inicia- países e regiões.
tivas que encorajem as pessoas a melho- Para mim, é um privilégio especial poder-
rarem o conhecimento e o entendimento mos apresentar a terceira edição em inglês
de todos os seus direitos e os dos outros. do Manual de Educação para os Direitos
A Educação para os Direitos Humanos é Humanos, num momento em que a Áus-
mais do que o mero conhecimento de um tria integra o Conselho de Direitos Hu-
conjunto de regras e de princípios. Tam- manos das Nações Unidas e o Conselho
bém se refere à atitude, ao comportamen- Executivo da UNESCO. Esta edição, finan-
to e à mudança de atitude e do comporta- ciada pelo Ministério Federal dos Assuntos
mento. As pessoas devem ter não apenas Europeus e Internacionais e pela Agência
um conhecimento genérico do que são os Austríaca para o Desenvolvimento, surge
direitos humanos, mas também lhes deve num momento muito oportuno. Desde o
ser mostrado como estes direitos são im- início de 2011 que toda a atenção se encon-
portantes para elas e como podem aplicá- tra focada no Mundo Árabe, onde as pes-
los e defendê-los nas suas vidas diárias e soas, desde a Tunísia até ao Egito e desde a
no seu trabalho. Síria ao Iémen, estão a clamar por mudan-
O Manual de Educação para os Direitos ça. Os eventos a que pudemos assistir du-
Humanos “Understanding Human Rights” rante esta primavera Árabe transmitiram,
foi primeiramente apresentado ao público de uma forma impressionante, as aspira-
em 2003, na Reunião Ministerial da Rede ções de todas as pessoas pela liberdade e
de Segurança Humana. Elaborado por uma pelo reconhecimento dos seus direitos fun-
dedicada equipa de peritos austríacos e in- damentais e inalienáveis.
ternacionais de renome, sob os auspícios Neste ambiente de convulsão social e de
do Centro Europeu de Formação e Investi- reorganização, a educação e formação
gação em Direitos Humanos e Democracia para os direitos humanos podem incre-
PREFÁCIO DA TERCEIRA EDIÇÃO (VERSÃO ORIGINAL) 15

mentar a participação democrática efetiva instrumento prático, contribuírem para a


nas esferas política, económica, social e prossecução do respeito pelos direitos hu-
cultural. Podem ser utilizadas como for- manos e dignidade em todas as regiões do
mas de promover o progresso económico mundo.
e social, assim como o desenvolvimento Gostaria de agradecer ao Centro Europeu
sustentável centrado nas pessoas. Podem, de Formação e Investigação em Direitos
assim, contribuir para fortalecer o prima- Humanos e Democracia pelo seu compro-
do do Direito e a capacitação para a gover- misso e esforços empreendidos para esta
nação democrática, o que é reconhecido importante publicação.
como uma estratégia importante para a
democratização, responsabilização e esta-
bilidade governativa.
Os desafios à nossa frente são diversos e
complexos, porém, as pessoas afetadas ne-
cessitam de todo o apoio e encorajamento
possível para obterem a liberdade, justiça
e democracia, para promoverem o desen- Dr. Michael Spindelegger
volvimento e lutarem contra a opressão. Vice-Chanceler e Ministro Federal para
Quero encorajar todos os educadores, for- os Assuntos Europeus e Internacionais
madores e multiplicadores de direitos hu- da República da Áustria
manos para enfrentarem todos estes desa- Viena, janeiro de 2012
fios e, ao utilizarem este manual como um
16

PREFÁCIO DA SEGUNDA EDIÇÃO (VERSÃO ORI-


GINAL)
Em maio de 2003, o Manual de Educação A Declaração de Graz sobre os Princípios
para os Direitos Humanos “Compreender de Educação para os Direitos Humanos e
os Direitos Humanos” foi, pela primeira para a Segurança Humana, adotada pela
vez, apresentado ao público, na sua ver- 5ª Reunião Ministerial da Rede de Segu-
são original inglesa, na Reunião Ministe- rança Humana, a 10 de maio de 2003, em
rial da Rede de Segurança Humana, na Graz, contém o compromisso de traduzir
Cidade de Direitos Humanos de Graz, na o Manual para outras línguas, de modo a
Áustria. O Manual é o resultado de uma introduzi-lo em diferentes contextos re-
iniciativa da minha predecessora, Benita gionais e culturais. Hoje, apenas três anos
Ferrero-Waldner, na qualidade de Presi- após o seu lançamento, o Manual está dis-
dente da “Rede”, em 2002/2003. Foi ela- ponível em Inglês, Francês, Espanhol, Chi-
borado por uma dedicada equipa de re- nês, Árabe, Russo, Alemão, Albanês, Cro-
conhecidos peritos austríacos e de outras ata, Sérvio e Tailandês. Isto foi possível,
nacionalidades, sob a égide do Centro em colaboração e com o generoso apoio
Europeu de Formação e Investigação em de vários membros da Rede de Segurança
Direitos Humanos e Democracia (ETC), Humana, bem como de entidades intergo-
em Graz. vernamentais e não governamentais.
A Rede de Segurança Humana é compos- O Manual, que foi apresentado em vários
ta por um grupo de Estados de todas as países e regiões, através de sessões de for-
regiões do Mundo, determinados a resol- mação de formadores, conduzidas pelo
ver problemas pungentes relativos à se- ETC, tem recebido críticas muito positivas
gurança humana, numa perspetiva orien- de utilizadores de todo o mundo. Porém,
tada para a prática. Em muitas ocasiões, os céleres desenvolvimentos no âmbito
tal como a sua Reunião Ministerial, em dos Direitos Humanos impuseram uma
Santiago do Chile, em 2002, a Rede en- atualização do Manual. Portanto, com o
fatizou que “os direitos humanos forne- financiamento da Cooperação Austríaca
cem uma base sobre a qual o desenvol- para o Desenvolvimento e do Ministério
vimento humano e a segurança humana Federal da Educação, Ciência e Cultura da
podem ser realizados”. Portanto, a Educa- Áustria, foi elaborada uma segunda edição
ção para os Direitos Humanos tornou-se pelo Centro Europeu de Formação e Inves-
uma das suas prioridades. Imbuído deste tigação em Direitos Humanos e Democra-
espírito, o Manual “Compreender os Di- cia (ETC), em colaboração com uma vasta
reitos Humanos” dirige-se a audiências equipa de peritos austríacos e estrangeiros.
de todo o mundo e pretende funcionar O Manual pretende chegar a pessoas de
como um “instrumento de formação” ge- todas as regiões, culturas e grupos sociais
nuíno e prático. Consiste em módulos de do Mundo. Quanto mais diversos forem os
formação que podem ser diversificados e seus utilizadores, mais o Manual atingirá
adaptados, pelos seus utilizadores, con- o seu objetivo de promover os direitos hu-
soante os diferentes contextos e situações manos e a segurança humana. Em 2006,
de formação. com a criação do Conselho de Direitos
PREFÁCIO DA SEGUNDA EDIÇÃO (VERSÃO ORIGINAL) 17

Humanos, a arquitetura internacional dos


direitos humanos sofreu mudanças consi-
deráveis. Creio que esta segunda edição
do Manual de Educação para os Direitos Drª Ursula Plassnik
Humanos estará em condições de servir Ministra Federal dos Negócios Estrangeiros
como guia, face aos desafios de direitos da República da Áustria
humanos que se avizinham. Viena, maio de 2006.
18

PREFÁCIO DA PRIMEIRA EDIÇÃO (VERSÃO


ORIGINAL)
A segurança humana é “centrada nas pes- às diferenças culturais, baseada na univer-
soas” – tem nos indivíduos e nas suas salidade dos direitos humanos.
comunidades o seu principal ponto de re- O Manual inspira-se na Declaração de
ferência. Estabelecer uma cultura política Graz sobre os Princípios da Educação para
global baseada nos direitos humanos para os Direitos Humanos e para a Seguran-
todos é um requerimento indispensável ça Humana, adotada pelos Ministros da
para desenvolver a segurança humana. Rede, na reunião de 10 de maio de 2003,
A segurança humana requer uma compre- em Graz, a primeira Cidade de Direitos
ensão genuína dos direitos humanos. É Humanos da Europa. Pretende-se que seja
por isso que, na minha qualidade de Presi- uma contribuição duradoura da Rede de
dente da Rede de Segurança Humana, in- Segurança Humana, sob a presidência da
diquei a Educação para os Direitos Huma- Áustria, de modo a beneficiar a segurança
nos, bem como as Crianças Afetadas pelos humana das pessoas, hoje e no futuro.
Conflitos Armados, como temas prioritá- Creio que este Manual contribuirá para os
rios para a Rede de Segurança Humana, esforços, no âmbito da Educação para os
em 2002/2003. Direitos Humanos, de todos os associa-
A Educação para os Direitos Humanos, dos da Rede e em todo o mundo, ajudará
através das suas dimensões relativas à o Alto Comissariado das Nações Unidas
transferência de conhecimentos, ao desen- para os Direitos Humanos, na execução do
volvimento de competências e à transfor- seu mandato, bem como contribuirá e ins-
mação de mentalidades, consciencializa pirará ações subsequentes, no âmbito da
para a nossa base comum de proteção Década das Nações Unidas para a Educa-
da dignidade e da segurança humanas. ção em Matéria de Direitos Humanos.
Com esta finalidade, deleguei no Centro
Europeu de Formação e Investigação em
Direitos Humanos e Democracia (ETC),
em Graz, a criação de um Manual para
Compreender os Direitos Humanos, com
o apoio de mais de trinta peritos interna-
cionais, incluindo instituições associadas Drª Benita Ferrero-Waldner
à Rede de Segurança Humana, espalhadas Ministra Austríaca dos Negócios Estrangeiros
pelos cinco continentes. Destina-se ao uso Graz, 5ª Reunião Ministerial da Rede de
global, através de uma perspetiva sensível Segurança Humana, 9 de maio de 2003.
19

AGRADECIMENTOS (VERSÃO ORIGINAL)

Incumbida pelo Ministério dos Negó- e Cidadania Democrática na Universidade


cios Estrangeiros austríaco, uma equipa de Zagreb e a tradução vietnamita reali-
dedicada do ETC Graz, sob a direção de zada pelo Vietnam. A tradução sérvia e
Wolfgang Benedek e de Minna Nikolova, a respetiva publicação foram apoiadas
elaborou a primeira edição do Manual pelo Ministério para as Minorias da Sér-
“Compreender os Direitos Humanos”, em via e do Montenegro em cooperação com
2002/2003. Dois encontros de peritos, pro- o Ministério para a Educação, Ciência e
movidos pelo Ministério dos Negócios Es- Cultura austríaco, e elaboradas em co-
trangeiros austríaco, reuniram um amplo operação com o Centro para os Direitos
número de especialistas e profissionais em Humanos de Belgrado. A recente versão
educação para os direitos humanos dos albanesa do Manual foi traduzida e pu-
Estados-membros da Rede de Segurança blicada pelos Ministérios da Ciência e da
Humana, e outros, que contribuíram para Tecnologia e da Justiça do Kosovo, com a
este desafio pioneiro e inovador, verdadei- participação do Centro de Direitos Huma-
ramente intercultural e intergeracional, no nos da Universidade de Pristina. A edi-
âmbito da educação para os direitos hu- ção macedónia foi efetuada com o apoio
manos. A primeira edição foi apresenta- do Ministério dos Negócios Estrangeiros
da por ocasião da Reunião Ministerial da da Macedónia e do Instituto dos Direitos
Rede para a Segurança Humana em Graz, Humanos da Universidade do Sudeste Eu-
de 8 a 10 de maio de 2003. ropeu, em Tetovo. A edição chinesa foi
produzida com fundos do Instituto Raoul
O Manual tem recebido uma resposta en- Wallenberg de Direitos Humanos e Direi-
tusiástica que resultou na tradução em 15 to Humanitário, Suécia, pelo Instituto de
línguas, até ao momento. As traduções Direito da Academia Chinesa de Ciências
devem-se, principalmente, aos esforços Sociais. Finalmente, uma tradução em
dos membros da Rede de Segurança Hu- árabe foi proporcionada pela UNESCO,
mana, em particular do Ministério dos em Paris, que presentemente está a ser
Negócios Estrangeiros do Mali, com a aju- atualizada baseada na terceira edição.
da do PNUD Mali, e PDHRE Mali, para a Quase todas as versões podem ser en-
tradução francesa e respetiva publicação, contradas no website do Centro Europeu
do Ministério dos Negócios Estrangeiros de Formação e Investigação em Direitos
do Chile para a tradução espanhola, e do Humanos e Democracia, em Graz: http://
Ministério dos Negócios Estrangeiros da www.manual.etc-graz.at. O ETC Graz
Tailândia para a tradução e publicação agradece toda a colaboração e ajuda para
em tailandês. O Ministério dos Assun- a atualização das versões das várias lín-
tos Europeus e Internacionais da Áustria guas tendo em conta a terceira edição em
apoiou a publicação russa que foi traduzi- língua inglesa.
da pelo ODIHR/OSCE, a publicação croa-
ta que foi realizada pelo Centro de Inves- Novos desenvolvimentos bem como as rea-
tigação e Formação em Direitos Humanos ções encorajadoras à primeira e segunda
20 AGRADECIMENTOS (VERSÃO ORIGINAL)

edições tornaram necessária uma tercei- Liberdade de Expressão e Liberdade dos


ra edição revista e atualizada, para a qual Meios de Informação: Wolfgang Benedek
contribuiu um número adicional de peritos. (ETC e Universidade de Graz)
Agradecimentos especiais são devidos, Direito à Democracia: Christian Pippan
pelo seu extraordinário e dedicado traba- (Universidade de Graz)
lho, aos seguintes autores e colaboradores: Direitos das Minorias: Simone Philipp,
Introdução ao Sistema de Direitos Huma- Klaus Starl e Deva Zwitter (ETC Graz)
nos: Wolfgang Benedek (ETC e Universi- Direito ao Asilo: Veronika Apostolovski e
dade de Graz) Sarah Kumar (ETC Graz)
Proibição da Tortura: Renate Kicker (ETC Recursos Adicionais: Sarah Kumar (ETC
e Universidade de Graz) e Sarah Kumar Graz)
(ETC Graz) Metodologia da Educação para os Direitos
Direito a Não Viver na Pobreza: Veronika Humanos: Barbara Schmiedl (ETC Graz)
Apostolovski (ETC Graz); primeira e se- Atividades Selecionadas: Barbara Schmie-
gunda edição: Alpa Vora e Minar Pimple dl (ETC Graz)
(YUVA Mumbai) Assistentes de investigação: Kiri Flutter e
Não Discriminação: Sarah Kumar e Klaus Eva Radlgruber (Voluntários no ETC Graz)
Starl (ETC Graz) e Reinmar Nindler (Universidade de Graz)
Direito à Saúde: Gerd Oberleitner (Univer- Revisão de provas: Matthias C. Kettemann
sidade de Graz) (Universidade de Graz) e Sarah Kumar
Direitos Humanos das Mulheres: Barbara (ETC Graz)
Schmiedl (ETC Graz); primeira e segunda Conceção gráfica: Markus Garger, Robert
edição: Susana Chiarotti (PDHRE/CLA- Schrotthofer e Wolfgang Gosch, Kontra-
DEM) e Anke Sembacher (ETC Graz) part Graz e Gerhard Kress (capa)
Primado do Direito e Julgamento Justo: Ve- Editores e coordenação do projeto para a
ronika Apostolovski e Sarah Kumar (ETC primeira edição: Wolfgang Benedek e Min-
Graz); primeira e segunda edição: Leo na Nikolova (ETC Graz)
Zwaak (SIM Utrecht) Editor da segunda edição: Wolfgang Bene-
Liberdades Religiosas: Yvonne Schmidt dek (ETC e Universidade de Graz)
(Universidade de Graz) Assistente editorial para a segunda edição:
Direito à Educação: Wolfgang Benedek Matthias C. Kettemann (Universidade de
(ETC e Universidade de Graz) Graz)
Direitos Humanos da Criança: Sarah Ku- Editor da terceira edição: Wolfgang Bene-
mar (ETC Graz); primeira e segunda edi- dek (ETC e Universidade de Graz)
ção: Helmut Sax (BIM Viena) Coordenador do projeto e assistente edito-
Direitos Humanos em Conflito Armado: rial para a terceira edição: Sarah Kumar
Gerd Oberleitner (Universidade de Graz); (ETC Graz)
primeira e segunda edição: Alexandra Gostaríamos de agradecer, especialmente,
Boivin e Antoine A. Bouvier (CICV Ge- à rede PDHRE (People’s Movement for Hu-
nebra) man Rights Education) pela sua substan-
Direito ao Trabalho: Alexandra Stocker cial contribuição na elaboração da primeira
(ETC Graz) edição do Manual. Em particular, estende-
Direito à Privacidade: Veronika Apostolo- mos a nossa sincera gratidão aos seguintes
vski e Sarah Kumar (ETC Graz) peritos, conselheiros, amigos e instituições
AGRADECIMENTOS (VERSÃO ORIGINAL) 21

pelo seu contínuo apoio, valiosos comen- Manfred Nowak – Instituto Ludwig Boltz-
tários assim como sugestões conducentes mann de Direitos Humanos (BIM) – Viena,
e indispensáveis à finalização do manual: Monique Prindezis – CIFEDHOP – Gene-
Shulamith Koenig – PDHRE – Nova Ior- bra, a Liga Anti-Difamação – Nova Iorque,
que, Adama Samassekou e a equipa do o Comité Internacional da Cruz Vermelha
PDHRE – Mali, Manuela Rusz e a equipa – Genebra.
do Instituto de Direito Internacional e Re- Finalmente, gostaríamos de agradecer ao
lações Internacionais da Universidade de Departamento de Direitos Humanos do
Graz, Anton Kok – Centro de Direitos Hu- Ministério Federal dos Negócios Estrangei-
manos da Universidade de Pretória, Yan- ros austríaco, agora denominado de Minis-
nis Ktistakis – Fundação Marangopoulos tério Federal para os Assuntos Europeus e
para os Direitos Humanos – Atenas, Debra Internacionais, e à Agência Austríaca para
Long e Barbara Bernath – Associação para o Desenvolvimento, pela cooperação e
a Prevenção da Tortura (APT) – Genebra, apoio prestados.
22

COMO USAR ESTE MANUAL

A ideia de um manual de educação para os a compreender o funcionamento dos direitos


direitos humanos para todos, como uma humanos na vida diária, e uma terceira, de-
contribuição concreta do trabalho da Rede nominada de “parte dos recursos adicionais”,
de Segurança Humana, sob a presidência que contém dicas metodológicas, informação
austríaca, surgiu do ETC Graz. Uma equi- útil, referências bibliográficas suplementares
pa do ETC desenvolveu o enquadramento e fontes online. Por fim, a quarta parte inclui
concetual do livro e foi-lhe confiada a sua referências bibliográficas e informação adi-
elaboração, pelo Ministério dos Negócios cional em língua portuguesa.
Estrangeiros. Para facilitar a navegação através do texto,
O Manual “Compreender os Direitos Hu- os seguintes minis ajudá-lo-ão:
manos” foi concebido como uma ferra-
menta de apoio, para educandos e edu-
cadores, dos países associados da Rede - a saber
de Segurança Humana e outros, nos seus
esforços para a educação e aprendizagem
de direitos humanos, em vários contex- - boas práticas
tos culturais, enquanto estratégia para
melhorar a segurança humana. Tal como
está desenhado, o Manual poderá ser um - questões para debate
ponto de partida útil para compreender os
direitos humanos e as suas violações, para
formar futuros formadores e para abrir um - atividades sele-
fórum de debate, no âmbito do intercâm- cionadas
bio e consciencialização interculturais.
O Manual apresenta uma compilação sele- - perspetivas interculturais
cionada de teorias orientadas para a prática e questões controversas
e, adicionalmente, proporciona componen-
tes para o desenvolvimento de competên- - para mais informações, con-
cias e para a transformação de atitudes. sultar
A diversidade de temas abordados tem
como objetivo principal estimular a procu-
ra de uma plataforma comum e a partilha Este Manual pode ser usado por diferentes
de uma mesma perspetiva humana, bem utilizadores, de modos diversos. Através da
como apresentar assuntos controversos de sua estrutura de módulos, flexível e acessí-
uma ótica culturalmente sensível. vel para o utilizador, é nossa intenção en-
O Manual consiste em quatro partes princi- corajar uma leitura crítica e uma compreen-
pais, a saber, uma introdução geral aos fun- são ativa, tanto por educandos, como por
damentos dos direitos humanos, uma parte educadores.
especial com temas essenciais selecionados, Se procurar uma introdução geral aos
distribuídos por módulos, que deverão ajudar conceitos e princípios básicos de direitos
COMO USAR ESTE MANUAL 23

humanos, poderá começar pela primeira ber comentários e sugestões e onde estão
parte do Manual que contém a introdução. disponíveis as versões nas várias línguas.
Para os que procuram exemplos de ques- Também elaborámos apresentações em po-
tões específicas de direitos humanos, po- werpoint, para todos os módulos, que po-
derão começar a sua pesquisa pela parte dem ser descarregadas da nossa página de
dos módulos “convém saber”. Se procura internet. Além disso, podem ser encontra-
uma exploração mais sistemática e de aná- dos recursos adicionais, em todos os módu-
lise mais aprofundada de direitos humanos los, com materiais didáticos e atualizações
específicos, poderá começar com a parte em http://www.manual.etc-graz.at, em lín-
“a saber” dos diferentes módulos. E os in- gua inglesa. Os mesmos materiais podem
teressados em investigar e ensinar direitos ser encontrados traduzidos para língua
humanos, através de metodologias educa- portuguesa em www.fd.uc.pt/igc/manual/
tivas inovadoras, tanto a jovens, como a index.html.
adultos, poderão consultar diretamente a Agradecemos o envio de sugestões e co-
parte “atividades selecionadas” dos mó- mentários, pois estes ajudar-nos-ão a me-
dulos e, adicionalmente, ter em conside- lhorar o Manual de acordo com o objetivo
ração as notas gerais sobre a metodologia de ser útil aos educandos, educadores e
da educação para os direitos humanos. formadores, oriundos de contextos cultu-
Pretende-se que este Manual seja uma rais diversos e com níveis diferentes de co-
narrativa aberta e, deliberadamente, op- nhecimentos em direitos humanos.
tou-se por contemplar apenas um número Esperamos que lhe agrade a leitura e não
selecionado de temas essenciais. Gosta- hesite em contribuir para este projeto em
ríamos de o encorajar a, continuamente, curso, com as suas boas e melhores prá-
complementar o Manual com exemplos e ticas, com as preocupações da sua comu-
histórias, questões e experiências do seu nidade e encorajando mais pessoas a ler
próprio contexto local e agradecemos os e a compreender a atualidade vibrante
seus comentários. e o incessante fascínio dos direitos hu-
Com este propósito, o ETC criou, na sua manos.
página de internet, uma secção para rece-
24

LISTA DE ABREVIATURAS

ACMN – Alto Comissário para as Minorias CDESC – Comité de Direitos Económicos,


Nacionais (OSCE) Sociais e Culturais
ACNUDH – Alto Comissariado das Nações CDH – Conselho de Direitos Humanos
Unidas para os Direitos Humanos CdE – Conselho da Europa
ACNUR – Alto Comissariado das Nações CDPD - Convenção sobre os Direitos das
Unidas para os Refugiados Pessoas com Deficiência
ACP – Estados de África, das Caraíbas e CEDH – Convenção Europeia para a Prote-
do Pacífico ção dos Direitos Humanos e das Liberda-
ADF – Agência dos Direitos Fundamentais des Fundamentais
da União Europeia CEDM – Convenção sobre a Eliminação de
AGNU – Assembleia-Geral das Nações Unidas Todas as Formas de Discriminação contra
AI – Amnistia Internacional as Mulheres
AMM – Associação Médica Mundial CEDR – Comité para a Eliminação da Dis-
APJRF – Asia Pacific Judicial Reform Forum criminação Racial
(Fórum da Ásia-Pacífico para a Reforma CELRM - Carta Europeia das Línguas Re-
Judicial) gionais e Minoritárias
APT – Associação para a Prevenção da CEM – Comissão para o Estatuto da Mu-
Tortura lher
ASEAN – Association of Southeast Asian CERI - Comissão Europeia contra o Racis-
Nations (Associação das Nações do Sudes- mo e a Intolerância
te Asiático) C.I.A. – US Central Intelligence Agency
ASEF – Asia-Europe Foundation (Fundação (Agência Central de Informação dos EUA)
Ásia-Europa) CICV – Comité Internacional da Cruz Ver-
ASEM – Asia and Europe Meeting (Reu- melha
nião/Encontro Asiática/o-Europeia/eu) CIEDR – Convenção Internacional sobre a
Eliminação de Todas as Formas de Discri-
BIM – Ludwig Boltzmann Institute of Hu- minação Racial
man Rights (Instituto Ludwig Boltzmann CIM - Comissão Interamericana sobre as
de Direitos Humanos, Viena, Áustria) Mulheres
CINAT – Coalition of International Non-
CADHP – Comissão Africana dos Direitos Governmental Organizations Against Tor-
Humanos e dos Povos ture (Coligação de ONG Internacionais
CC – Comissões de Cidadãos contra Tortura)
CCC – Clean Clothes Campaign (Campa- CIPD - Conferência Internacional sobre Po-
nha Roupas Limpas) pulação e Desenvolvimento
CCT – Convenção das Nações Unidas con- CIPTM – Convenção Internacional sobre
tra a Tortura e Outras Penas ou Tratamen- a Proteção dos Direitos de Todos os Tra-
tos Cruéis, Desumanos ou Degradantes balhadores Migrantes e dos Membros das
CDC – Convenção da Organização das Na- Suas Famílias
ções Unidas sobre os Direitos da Criança CLADEM – Comité Latino-Americano e do
LISTA DE ABREVIATURAS 25

Caribe para a Defesa dos Direitos da Mulher FARE – Football Against Racism in Europe
CMSI – Cimeira Mundial sobre Sociedade Network (Rede de Futebol contra o Racis-
da Informação mo na Europa)
CNU – Carta das Nações Unidas FDC – Freedom from Debt Coalition (Coli-
CNUMAD – Conferência das Nações Unidas gação Contra o Endividamento)
sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento FLO – Fairtrade Labelling Organizations
CPDF – Convenção Internacional para a International (Organizações para a Etique-
Proteção de Todas as Pessoas Contra os tagem do Comércio Justo)
Desaparecimentos Forçados FMI – Fundo Monetário Internacional
CPLP – Comunidade dos Países de Língua FUEN – Federalist Union of European Na-
Portuguesa tional Minorities (União Federalista das
CPT - Comité Europeu para a Prevenção Minorias Nacionais Europeias)
da Tortura e Penas ou Tratamentos Desu-
manos ou Degradantes GATS – Acordo Geral sobre o Comércio de
CQMN - Convenção Quadro para a Prote- Serviços
ção das Minorias Nacionais GC – Global Compact
CSCE – Conferência sobre a Segurança e a GDM – Grupo Internacional de Direitos
Cooperação na Europa
das Minorias (Minority Rights Group Inter-
national)
DDPA – Declaração de Durban e Programa
GELMD – Gabinete Europeu para Línguas
de Ação
Menos Divulgadas (European Bureau for
DH – Direitos Humanos
Lesser Used Languages)
DIH – Direito Internacional Humanitário
DUDH – Declaração Universal dos Direitos
Humanos HREA – Human Rights Education Associ-
DST – Doenças Sexualmente Transmissíveis ates (Associados para a Educação para os
Direitos Humanos)
EAPN – European Anti Poverty Network
(Rede Europeia Anti-Pobreza) ICG – International Crisis Group (Grupo
ECOSOC – Conselho Económico e Social para a Prevenção e Resolução de Conflitos)
EDH – Educação para os Direitos Huma- ICSW – International Council on Social
nos (Human Rights Education) Welfare (Conselho Internacional de Bem-
EFA – Education for All (Programa “Educa- -Estar Social)
ção para Todos”) IDH – Índice de Desenvolvimento Humano
EPIC – Electronic Privacy Information Cen- IGC/CDH – Ius Gentium Conimbrigae/
tre (Centro de Informação sobre Privacida- Centro de Direitos Humanos da Faculdade
de Eletrónica) de Direito da Universidade de Coimbra
ERRC – European Roma Rights Centre (Cen- IHF – International Helsinki Federation
tro Europeu para os Direitos dos Roma) (Federação Internacional Helsinki para os
ET – Empresas Transnacionais Direitos Humanos)
ETC – European Training and Research Cen-
tre for Human Rights and Democracy (Cen- LAD – Liga Anti-Difamação
tro de Formação e Investigação em Direitos
Humanos e Democracia, Graz, Áustria) MT – Medicina Tradicional
EUA – Estados Unidas da América MGF – Mutilação Genital Feminina
26 LISTA DE ABREVIATURAS

OCDE – Organização para a Cooperação e RPU – Revisão Periódica Universal


Desenvolvimento Económico RSH – Rede de Segurança Humana
OCI – Organização da Conferência/Coo-
peração Islâmica SAARC – South Asian Association for Re-
ODIHR – Escritório para as Instituições De- gional Cooperation (Associação Sul-Asiáti-
mocráticas e Direitos Humanos ca para a Cooperação Regional)
ODM – Objetivos de Desenvolvimento do SARS – Severe Acute Respiratory Syndrom
Milénio (Sindrome Respiratória Aguda Grave)
OEA – Organização dos Estados Americanos SEAE – Serviço Europeu para a Ação Ex-
OERX – Observatório Europeu do Racismo terna
e da Xenofobia SPT – Sub-Comité para a Prevenção da
OIG – Organização Intergovernamental Tortura
OIT – Organização Internacional do Tra- SEEMO – South East Europe Media Organi-
balho sation (Organização dos Meios de Comu-
OMC – Organização Mundial do Comércio nicação do Sudeste Europeu)
OMS – Organização Mundial da Saúde
ONG – Organização Não Governamental TASO – The AIDS Support Organisation
ONU – Organização das Nações Unidas (Organização de Apoio contra a SIDA)
OPAS – Organização Pan-Americana de Saúde
TEDH – Tribunal Europeu dos Direitos Hu-
OSCE – Organização para a Segurança e
manos
Cooperação na Europa
TIDH – Tribunal Interamericano de Direi-
OUA – Organização da Unidade Africana
tos Humanos
TJUE – Tribunal de Justiça da União Eu-
PAE – Programas de Ajustamento Estrutu-
ropeia
ral do Banco Mundial
TPI – Tribunal Penal Internacional
PDHRE – People’s Decade/Movement for Hu-
man Rights Education (Década/Movimento TPIAJ – Tribunal Penal Internacional para
pela Educação para os Direitos Humanos) a Antiga Jugoslávia
PI – Privacy International (Privacidade In- TPIR – Tribunal Penal Internacional para
ternacional) o Ruanda
PIB – Produto Interno Bruto TRIPS – Trade-Related Aspects of Intellectu-
PIDCP – Pacto Internacional sobre os Di- al Property Rights (Acordo sobre os Aspe-
reitos Civis e Políticos tos dos Direitos da Propriedade Intelectual
PIDESC – Pacto Internacional sobre os Di- Relacionados com o Comércio)
reitos Económicos, Sociais e Culturais
PIETI – Programa Internacional para a Eli- UA – União Africana
minação do Trabalho Infantil UE – União Europeia
PNUD – Programa das Nações Unidas para UEFA – Union of European Football Asso-
o Desenvolvimento ciations (União das Associações Europeias
de Futebol)
Res. – Resolução UIP – União Interparlamentar
RDH-PNUD – Relatório do Desenvolvi- UNAIDS – Joint United Nations Program
mento Humano do Programa das Nações on HIV/AIDS (Programa das Nações Uni-
Unidas para o Desenvolvimento das para o Combate ao VIH/SIDA)
LISTA DE ABREVIATURAS 27

UNESCO – Organização das Nações Uni- VIH/SIDA – Vírus de Imunodeficiência


das para a Educação, Ciência e Cultura Humana/Síndrome de Imunodeficiência
UN-HABITAT – United Nations Human Set- Adquirida
tlements Programme (Programa das Nações VoIP – Voice over Internet Protocol (Voz so-
Unidas para os Assentamentos Humanos) bre o Protocolo de Internet)
UNICEF – Fundo das Nações Unidas para
a Infância ZFE – Zonas Francas Industriais de Expor-
UNIFEM – Fundo de Desenvolvimento das tação
Nações Unidas para a Mulher
28

ÍNDICE GERAL

PREFÁCIOS DA VERSÃO EM LÍN- H. Direito à Educação 275


GUA PORTUGUESA 3 I. Direitos Humanos da Criança 303
J. Direitos Humanos em Conflito Ar-
AGRADECIMENTOS DA VERSÃO EM mado 329
LÍNGUA PORTUGUESA 7 K. Direito ao Trabalho 353
L. Direito à Privacidade 385
NOTAS BIOGRÁFICAS 8 M. Liberdade de Expressão e Liberda-
de dos Meios de Informação 413
NOTAS DE TRADUÇÃO E ADAPTA- N. Direito à Democracia 439
ÇÃO DA VERSÃO EM LÍNGUA POR- O. Direitos das Minorias 467
TUGUESA 12 P. Direito ao Asilo 501

PREFÁCIOS (VERSÃO ORIGINAL) 14 III. RECURSOS ADICIONAIS 521


A. Metodologia da Educação para os
AGRADECIMENTOS (VERSÃO ORI- Direitos Humanos 522
GINAL) 19 B. A Luta Global e Contínua pelos
Direitos Humanos – Cronologia 535
COMO USAR ESTE MANUAL 22 C. Bibliografia Sugerida sobre Direi-
tos Humanos 543
LISTA DE ABREVIATURAS 24 D. Recursos sobre a Educação para
os Direitos Humanos 550
I. INTRODUÇÃO AO SISTEMA DE E. Declaração Universal dos Direitos
DIREITOS HUMANOS 43 Humanos 566
F. Declaração Universal dos Direitos
II. MÓDULOS SOBRE QUESTÕES Humanos (Sumário) 570
SELECIONADAS DE DIREITOS G. Declaração das Nações Unidas so-
HUMANOS 85 bre Educação e Formação em Di-
A. Proibição da Tortura 87 reitos Humanos 572
B. Direito a Não Viver na Pobreza 111 H. Glossário 578
C. Antirracismo e Não Discriminação 135
D. Direito à Saúde 165 IV. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFI-
E. Direitos Humanos das Mulheres 191 CAS E INFORMAÇÃO ADICIO-
F. Primado do Direito e Julgamento NAL EM LÍNGUA PORTUGUESA 587
Justo 223
G. Liberdades Religiosas 251 ÍNDICE REMISSIVO 643
29

ÍNDICE DESENVOLVIDO

Prefácios da Versão em Língua Portu- Conselho da Europa – a. Visão


guesa 3 geral - Instituições e Órgãos Euro-
Agradecimentos da Versão em Língua peus de Direitos Humanos – b. O
Portuguesa 7 Tribunal Europeu dos Direitos Hu-
Notas Biográficas 8 manos – 2. O Sistema de Direitos
Notas de Tradução e Adaptação da Humanos da Organização para a
Versão em Língua Portuguesa 12 Segurança e Cooperação na Euro-
Prefácio da Terceira Edição (Versão pa (OSCE) – 3. A Política de Direi-
Original) 14 tos Humanos da União Europeia
Prefácio da Segunda Edição (Versão – II. Américas – O Sistema Inte-
Original) 16 ramericano de Direitos Humanos
Prefácio da Primeira Edição (Versão – III. África – O Sistema Africano
Original) 18 de Direitos Humanos – IV. Outras
Agradecimentos (Versão Original) 19 Regiões
Como usar este Manual 22 I. Jurisdição Universal e o Proble-
Lista de Abreviaturas 24 ma da Impunidade 73
Índice Geral 28 J. Jurisdição Penal Internacional 74
Índice Desenvolvido 29 K. Iniciativas de Direitos Humanos
Prefácio de Shulamith Koenig 39 nas Cidades 75
L. Desafios e Oportunidades Glo-
I. INTRODUÇÃO AO SISTEMA DE bais para os Direitos Humanos 78
DIREITOS HUMANOS 43 M. Referências Bibliográficas e In-
formação Adicional 80
A. Compreender os Direitos Hu-
manos 44 II. MÓDULOS SOBRE QUESTÕES
B. Direitos Humanos e Segurança SELECIONADAS DE DIREITOS
Humana 47 HUMANOS 85
C. História e Filosofia dos Direitos
Humanos 51 A. PROIBIÇÃO DA TORTURA 87
D. Conceito e Natureza dos Direitos Histórias Ilustrativas: 88
Humanos 53 “O Interrogatório do Sr. Selmouni”
E. Padrões de Direitos Humanos a – “O Testemunho do Sr. al-Qadasi”
Nível Universal 56 A Saber: 89
F. Implementação dos Instrumentos 1. Um Mundo Sem Tortura – Proi-
Universais de Direitos Humanos 59 bição da Tortura e Segurança
G. Direitos Humanos e a Sociedade Humana - 2. Definição e Desen-
Civil 62 volvimento da Questão – O que
H. Sistemas Regionais de Proteção e é a tortura? - Métodos de Tortu-
Promoção de Direitos Humanos 64 ra - Como é Cometida a Tortura?
I. Europa – Instrumentos Euro- - Motivos para a Tortura – Por que
peus de Direitos Humanos – 1. O razão é a tortura praticada? - Ví-
Sistema de Direitos Humanos do timas e Perpetradores de Tortura
30 ÍNDICE DESENVOLVIDO

e Tratamentos Desumanos ou De- rais e Questões Controversas - Po-


gradantes - 3. Perspetivas Inter- breza Relativa e Pobreza Absoluta
culturais e Questões Controversas - Exclusão Social - 4. Implementa-
– 4. Implementação e Monitoriza- ção e Monitorização – Os Objeti-
ção – Comité das Nações Unidas vos de Desenvolvimento do Milé-
contra a Tortura - Protocolo Facul- nio das Nações Unidas – Órgãos
tativo à Convenção das Nações dos Tratados Encarregados de
Unidas contra a Tortura Monitorizar a Pobreza – Relatores
Convém Saber: 98 Especiais e Peritos Independentes
1. Boas Práticas – Atividades a Ní- – Desenvolvimento e Erradicação
vel Nacional - O Conselho Con- da Pobreza
sultivo Austríaco para os Direitos Convém Saber: 123
Humanos – Atividades a Nível 1. Boas Práticas - Os Pobres são
Internacional - O Relator Especial Financiáveis – Direito a Viver
sobre a Tortura: Objetivos, Man- Sem Fome – Justiça Económica
dato e Atividades - O Comité Eu- – Acordo de Cotonu - Rede Eu-
ropeu para a Prevenção da Tortura ropeia Anti-Pobreza – Conselho
e Penas ou Tratamentos Desuma- Internacional de Bem-Estar Social
nos ou Degradantes (CPT) - Ati- – O Programa Alimentar Mundial
vidades das Organizações Não das Nações Unidas – 2. Tendên-
Governamentais (ONG) – A Am- cias – Progresso relativamente aos
nistia Internacional (AI) - Progra- Objetivos de Desenvolvimento do
ma de 12 Pontos para a Prevenção Milénio – Estarão os países no tri-
da Tortura – A Associação para a lho? - Iniciativa Europa 2020 - 3.
Prevenção da Tortura (APT) - Có- Cronologia
digo de Ética – 2. Tendências - Atividades Selecionadas: 129
3. Cronologia Atividade I: O Mundo numa Aldeia
Atividades Selecionadas: 105 - Atividade II: Campanha de Ação
Atividade I: Torturar Terroristas? - Referências Bibliográficas e In-
Atividade II: Uma Campanha con- formação Adicional 132
tra a Tortura C. ANTIRRACISMO E NÃO DISCRI-
Referências Bibliográficas e In- MINAÇÃO 135
formação Adicional 108 História Ilustrativa: 136
B. DIREITO A NÃO VIVER NA PO- “Recomendação do Comité para a
BREZA 111 Eliminação da Discriminação Racial”
História Ilustrativa: 112 A Saber: 137
“Morrer de fome em terra de abun- 1. Não Discriminação – a Luta In-
dância” terminável e Contínua pela Igual-
A Saber: 113 dade – Discriminação e Segurança
1. Introdução – Pobreza e Seguran- Humana - 2. Definição e Desenvol-
ça Humana - 2. Definição e Desen- vimento da Questão – Atitude ou
volvimento da Questão - Definir o Ação – Perpetradores de Discri-
Conceito de Pobreza - Dimensões minação – Estados ou Indivíduos
da Pobreza - Grupos Vulneráveis – A Discriminação Racial – Racis-
à Pobreza – Por que Persiste a Po- mo – Violência Racial - Antisse-
breza - 3. Perspetivas Intercultu- mitismo - Xenofobia – Fenómenos
ÍNDICE DESENVOLVIDO 31

Relacionados: A Intolerância e o lidade, Acessibilidade, Aceitabilida-


Preconceito - 3. Perspetivas Inter- de e Qualidade – Não Discriminação
culturais e Questões Controversas – O Direito de Beneficiar do Pro-
- 4. Implementação e Monitoriza- gresso Científico – Globalização e o
ção - Comité para a Eliminação Direito Humano à Saúde – Saúde e
da Discriminação Racial (CEDR) Ambiente – 3. Perspetivas Intercultu-
- Relator Especial sobre Formas rais e Questões Controversas – Medi-
Contemporâneas de Racismo, cina Tradicional - Mutilação Genital
Discriminação Racial, Xenofobia Feminina (MGF) - 4. Implementação
e Intolerância Relacionada – De- e Monitorização - Respeitar, Proteger
claração de Durban e o Programa e Implementar o Direito Humano à
de Ação (DDPA) – Instrumentos Saúde – Limitações ao Direito Hu-
Regionais de Direitos Humanos – mano à Saúde – Mecanismos de
Discriminação entre Atores Não Monitorização
Estatais – Programas de Educação Convém Saber: 177
e Formação – O Papel Fundamen- 1. Boas Práticas – Prevenção do
tal dos Meios de Informação - O VIH/SIDA - Comissões de Cidadãos
Que é que NÓS Podemos Fazer? e Políticas de Saúde Pública – O Ju-
Convém Saber: 153 ramento de Malicounda – Livros de
1. Boas Práticas – Códigos de Con- Memórias - Atenção aos membros
duta Voluntários no Setor Privado mais vulneráveis da sociedade - A
– Cláusulas Autodiscriminação em Declaração de Montreal sobre a
Contratos Públicos de Aquisição – Deficiência Intelectual – Síndrome
Coligação Internacional de Cidades Respiratória Aguda Grave (SARS)
Contra o Racismo – Combater o – 2. Tendências – Estratégias para
Racismo na Liga Europeia de Fute- Integrar Direitos Humanos e De-
bol – 2. Tendências – A Relação en- senvolvimento da Saúde – 3. Esta-
tre Pobreza e Racismo/Xenofobia – tísticas - 4. Cronologia
Racismo na Internet – Islamofobia: Atividades Selecionadas: 184
Repercussões do 11 de setembro de Atividade I: Visualização de um
2001 - 3. Cronologia Estado de Completo Bem-Estar
Atividades Selecionadas: 157 Físico, Mental e Social - Ativida-
Atividade I: Todos os Seres Huma- de II: Acesso a Medicamentos
nos Nascem Iguais - Atividade II: Referências Bibliográficas e In-
Óculos Culturais formação Adicional 187
Referências Bibliográficas e In- E. DIREITOS HUMANOS DAS MU-
formação Adicional 160 LHERES 191
D. DIREITO À SAÚDE 165 História Ilustrativa 192
História Ilustrativa: 166 “Um Caso da Vida Real: A Histó-
“A história de Maryam” ria de Selvi T.”
A Saber: 168 A Saber: 193
1. O Direito Humano à Saúde num 1. Direitos Humanos das Mulheres
Contexto Mais Alargado – Saúde e – Género e o Equívoco Generali-
Segurança Humana - 2. Definição e zado dos Direitos Humanos das
Desenvolvimento da Questão – Saú- Mulheres – Segurança Humana e
de e Direitos Humanos – Disponibi- Mulheres – 2. Definição e Desenvol-
32 ÍNDICE DESENVOLVIDO

vimento da Questão – Uma Retros- dos Acusados – Igualdade peran-


petiva Histórica - Convenção sobre te a Lei e perante os Tribunais –
a Eliminação de Todas as Formas Independência e Imparcialidade
de Discriminação Contra as Mulhe- – Audiência Pública – Direito à
res (CEDM) - Protocolo Opcional à Presunção da Inocência – Direito
Convenção sobre a Eliminação de a Ser Julgado sem Demora Exces-
Todas as Formas de Discriminação siva – Direito a uma Defesa Ade-
Contra as Mulheres - A Plataforma quada e Direito a Estar Presente
de Ação de Pequim – Mulheres no Julgamento – Direito a Obter
e Pobreza – Mulheres e Saúde – a Comparência e a Interrogar ou
Mulheres e Violência – Mulheres Fazer Interrogar as Testemunhas
e Conflitos Armados – Mulheres – Direito à Assistência Gratuita de
e Recursos Naturais – A Menina – um Intérprete – Acesso a Mecanis-
3. Perspetivas Interculturais e Ques- mos de Proteção Judiciais Justos e
tões Controversas – 4. Implementa- Eficazes - O Princípio “Nulla Poena
ção e Monitorização Sine Lege” - A Fórmula de Rad-
Convém Saber: 211 bruch - Direito à Caução – Disposi-
1. Boas Práticas - Os Direitos Hu- ções Especiais para Crianças e Jo-
manos numa Perspetiva de Gé- vens – Execuções de Jovens desde
nero – Formação para os Direitos 1990 - 3. Perspetivas Interculturais
das Mulheres – O Apoio dos Meios e Questões Controversas - 4. Imple-
de Informação Digitais aos Direi- mentação e Monitorização
tos das Mulheres e das Meninas Convém Saber: 239
- 2. Tendências - Objetivos de De- 1. Boas Práticas – Escritório para
senvolvimento do Milénio (ODM) as Instituições Democráticas e
– Unidos para a Eliminação da Vio- de Direitos Humanos (ODIHR)
lência contra as Mulheres (UNiTE) – OSCE - Fortalecimento da In-
– ONU Mulheres – 3. Cronologia dependência do Poder Judicial e
Atividades Selecionadas: 216 Respeito pelo Direito a um Julga-
Atividade I: Parafraseando a CEDM - mento Justo - Fórum da Ásia-Pa-
Atividade II: O Caminho para a Igualia cífico para a Reforma Judicial
Referências Bibliográficas e In- 2. Tendências: Tribunais Interna-
formação Adicional 219 cionais - Mediação e Arbitragem
F. PRIMADO DO DIREITO E JUL- - (R)Estabelecer o Primado do Di-
GAMENTO JUSTO 223 reito em Sociedades Pós-Conflito
História Ilustrativa: 224 e Pós-Crise - 3. Cronologia
“Turquia: Farsa de Justiça no Jul- Atividades Selecionadas: 243
gamento de uma Ativista” Atividade I: “Ser Ouvido ou Não
A Saber: 225 Ser Ouvido?” - Atividade II: “Como
1. Introdução - O Primado do Di- Pode Defender Essas Pessoas?”
reito – Desenvolvimento Histórico Referências Bibliográficas e In-
do Primado do Direito – Primado formação Adicional 247
do Direito, Julgamento Justo e Se- G. LIBERDADES RELIGIOSAS 251
gurança Humana – 2. Definição História Ilustrativa: 252
e Desenvolvimento da Questão “Egito: Ativistas Livres Detidos em
- Padrões Mínimos dos Direitos Visita de Solidariedade”
ÍNDICE DESENVOLVIDO 33

A Saber: 252 vimento Histórico – 2. Definição e


1. Liberdades Religiosas: Ainda um Desenvolvimento da Questão – Con-
Longo Caminho a Percorrer – Li- teúdo do Direito à Educação e Obri-
berdades Religiosas e Segurança gações do Estado – Padrões a Atingir
Humana – 2. Definição e Desen- – Disponibilidade – Acessibilidade
volvimento da Questão – O Que é – Aceitabilidade – Adaptabilidade –
a Religião? – O Que É a Fé? – O que 3. Perspetivas Interculturais e Ques-
São as Liberdades Religiosas? – Pa- tões Controversas – O Exemplo do
drões Internacionais – O Princípio Uganda – A Década das Nações Uni-
da Não Discriminação – Educação das para a Alfabetização (2003-2012)
– Manifestar a Fé – Limitações às Li- – Conferência Mundial sobre o Direi-
berdades Religiosas – 3. Perspetivas to à Educação e os Direitos na Educa-
Interculturais e Questões Controver- ção - Convenção Quadro para a Pro-
sas – Estado e Fé – Apostasia – A teção das Minorias Nacionais - Carta
Liberdade de Escolha e Mudança Europeia das Línguas Regionais ou
de Religião – Proselitismo – O Direi- Minoritárias - Grupos Desfavorecidos
to de Divulgação da Fé – Incitação e o Acesso ao Direito à Educação –
ao Ódio por Motivos Religiosos e Os Direitos Humanos nas Escolas –
Liberdade de Expressão – Objeção 4. Implementação e Monitorização
de Consciência ao Serviço Militar – – Comité dos Direitos Económicos,
4. Implementação e Monitorização – Sociais e Culturais - Problemas de
Medidas de Prevenção e Estratégias Implementação
Futuras – O Que Podemos Fazer? Convém Saber: 291
Convém Saber: 262 1. Boas Práticas; 2. Tendências – O
1. Boas Práticas – Diálogo Inter- Quadro de Ação de Dakar - Edu-
religioso para o Pluralismo Re- cação para Todos - Comercializa-
ligioso – “Religiões para a Paz” ção da Educação – O Progresso na
através da Educação – 2. Tendên- Educação para Todos: Resultados
cias – Cultos, Seitas e Novos Mo- Ambíguos - 3. Cronologia
vimentos Religiosos – Mulheres Atividades Selecionadas: 296
e Fé – Extremismo Religioso e os Atividade I: Disponível? Acessí-
seus Impactos – Difamação da Re- vel? Aceitável? Adaptável? - Ativi-
ligião - 3. Cronologia dade II: Educação para Todos?
Atividades Selecionadas: 267 Referências Bibliográficas e In-
Atividade I: Palavras que Ferem - formação Adicional 298
Atividade II: A Fé do Meu Vizinho I. DIREITOS HUMANOS DA
e a Minha CRIANÇA 303
Referências Bibliográficas e In- Histórias Ilustrativas: 304
formação Adicional 270 “Castigos Corporais sobre Crian-
H. DIREITO À EDUCAÇÃO 275 ças” – “Crianças Afetadas por Con-
História Ilustrativa: 276 flitos Armados”- “Trabalho Infantil”
“A história de Maya” A Saber: 306
A Saber: 277 1. A Luta para Proteger os Direitos
1. Introdução - Porquê um Direito da Criança – Direitos da Criança e
Humano à Educação? – Educação Segurança Humana/da Criança –
e Segurança Humana – Desenvol- 2. Definição e Desenvolvimento da
34 ÍNDICE DESENVOLVIDO

Questão – A Natureza e o Conteúdo A Saber: 330


dos Direitos Humanos das Crian- 1. Até as Guerras têm Limites –
ças – Conceitos Principais Presentes Direito Internacional Humanitário
na Convenção sobre os Direitos da (DIH) – DIH e Segurança Huma-
Criança: Empoderamento e Emanci- na – As Origens do DIH - DIH en-
pação, Aspetos Geracionais e de Gé- quanto Direito Internacional – DIH
nero – Uma Perspetiva Holística da e Direitos Humanos – Quando é
Criança – A Relação Criança/Pais/Es- que o DIH é aplicável? - 2. Defini-
tado – Não Discriminação da Crian- ção e Desenvolvimento dos Direitos
ça – O Interesse Superior da Criança Protegidos – Quais são as Regras
– A Definição de “Criança” segundo Básicas do DIH nos Conflitos Ar-
a CDC – Os Direitos da Convenção: mados? – O Que é Que o DIH Pro-
Participação – Proteção – Sustento tege e Como o Faz? – Quem Tem de
- Resumindo: Porquê Utilizar uma Respeitar o Direito Internacional
Abordagem Assente nos Direitos da Humanitário? 3. Perspetivas Inter-
Criança? - 3. Perspetivas Interculturais culturais e Questões Controversas
e Questões Controversas – 4. Imple- – A Importância da Sensibilização
mentação e Monitorização – Comité Cultural – Perspetivas Conflituan-
dos Direitos da Criança – Protocolo tes Quanto à Aplicação do DIH -
Facultativo à Convenção sobre os Di- 4. Implementação e Monitorização
reitos da Criança relativo a um Proce- – Medidas Preventivas – Medidas
dimento de Comunicação de Monitorização do Cumprimen-
Convém Saber: 316 to – Medidas Repressivas
1. Boas Práticas – “Juntando Pes- Convém Saber: 338
soas” – “Relatórios Sombra” Não Movimento Internacional da Cruz
Governamentais e “Coligações Vermelha e do Crescente Verme-
Nacionais” para a Implementação lho - 1. Boas Práticas – Proteção
Nacional da CDC - Grupo de ONG de Civis – Proteger os Prisionei-
para a Convenção sobre os Direi- ros – Restabelecimento dos Laços
tos da Criança – Acabar com a Vio- Familiares – Uma Palavra acerca
lência nas Escolas - 2. Tendências do Emblema – Princípios de Fun-
– Factos e Números – Informação cionamento da Ação Humanitária
Estatística sobre os Direitos da – Os Princípios Fundamentais do
Criança - 3. Cronologia Movimento da Cruz Vermelha e
Atividades Selecionadas: 323 do Crescente Vermelho - 2. Ten-
Atividade I: Direitos e Necessida- dências – Tendências relativas a
des das Crianças - Atividade II: Conflitos Armados com base nos
Mesa Redonda de Ação para Re- Estados por Tipo: 1946-2008 -
duzir o Trabalho Infantil Tendências em Conflitos Armados
Referências Bibliográficas e In- Não Estatais por Região: 2002-
formação Adicional 325 2008 – Terrorismo - A Abolição
J. DIREITOS HUMANOS EM CON- de Minas Terrestres Antipessoais
FLITO ARMADO 329 e de Munições de Fragmentação –
História Ilustrativa: 330 Assistência do CICV (dados mun-
“Outrora um Rei Guerreiro: Memó- diais relativos a 2010) - 3. Crono-
rias de um Militar no Vietname” logia – Principais Instrumentos de
ÍNDICE DESENVOLVIDO 35

DIH e Outros Instrumentos Rela- clínio dos Sindicatos – Crescente


cionados Mobilidade Internacional: Traba-
Atividades Selecionadas: 346 lhadores Migrantes – Desemprego
Atividade I: Porquê Respeitar o dos Jovens – VIH/SIDA e o Mun-
DIH? - Atividade II: Ética da Ação do do Trabalho - 3. Cronologia
Humanitária Atividades Selecionadas: 377
Referências Bibliográficas e In- Atividade I: O seu Bebé ou o seu
formação Adicional 351 Trabalho! - Atividade II: “Vestido
K. DIREITO AO TRABALHO 353 Justamente”?
História Ilustrativa: 354 Referências Bibliográficas e In-
“Horríveis Condições de Trabalho em formação Adicional 381
‘Zonas Francas’” L. DIREITO À PRIVACIDADE 385
A Saber: 355 História Ilustrativa: 386
1. O Mundo do Trabalho no Sé- “Revelação de Dados Pessoais de-
culo XXI – Trabalho e Segurança vido a Medidas de Segurança Ina-
Humana – Uma Retrospetiva His- dequadas”
tórica – 2. Definição e Desenvolvi- A Saber: 386
mento da Questão – A Organização 1. Introdução – Desenvolvimento
Internacional do Trabalho (OIT) – histórico do Direito à Privacidade
As Mais Importantes Convenções – Privacidade e Segurança Huma-
da OIT - A Declaração Universal na – 2. Definição e Desenvolvi-
dos Direitos Humanos (DUDH) – mento da Questão – Conteúdo do
O Pacto Internacional sobre os Di- Direito à Privacidade – Grupos Es-
reitos Civis e Políticos (PIDCP) – O pecialmente Vulneráveis – 3. Pers-
Pacto Internacional sobre os Direi- petivas Interculturais e Questões
tos Económicos, Sociais e Cultu- Controversas – A Erosão do Direito
rais (PIDESC) – Direitos relativos à Privacidade Devido a Políticas de
à Igualdade de Tratamento e à Não Combate ao Terrorismo – Poderes
Discriminação – Níveis de Obriga- Ampliados para Parar, Interrogar e
ção - 3. Perspetivas Interculturais e Inspecionar – O Uso da Biometria
Questões Controversas – Uma Pará- e os Perigos dos Sistemas de Iden-
bola: O Pescador – 4. Implementa- tificação Centralizados - Circula-
ção e Monitorização ção de Listas de Vigilância – Reco-
Convém Saber: 368 lha de Dados em Bases de Dados
1. Boas Práticas - Programa In- Centralizadas – Privacidade na In-
ternacional para a Eliminação do ternet – as Redes Sociais – Porno-
Trabalho Infantil (PIETI) – Códi- grafia Infantil – 4. Implementação
gos de Conduta nas Empresas re- e Monitorização – A Organização
lativos ao Trabalho e aos Direitos das Nações Unidas – O Comité
Humanos – Iniciativas com Vários dos Direitos Humanos – O Rela-
Intervenientes – Etiquetagem de tor Especial das Nações Unidas
Artigos - Fairtrade Labelling Orga- para a Promoção e Proteção dos
nizations International (FLO) – O Direitos Humanos e Liberdades
Global Compact da ONU – 2. Ten- Fundamentais no Combate ao Ter-
dências – Zonas Francas Indus- rorismo – Convenções Regionais e
triais de Exportação (ZFE) - De- Órgãos de Monitorização
36 ÍNDICE DESENVOLVIDO

Convém Saber: 401 das Associações Profissionais e de


1. Boas Práticas – Privacy.Org Outras ONG – 4. Perspetivas Inter-
– Centro de Informações sobre culturais – 5. Cronologia
Privacidade Eletrónica (Electro- Convém Saber: 426
nic Privacy Information Centre 1. O Papel dos Meios de Informa-
– EPIC) – Privacy International ção Livres para uma Sociedade
– 2. Tendências – Listas de Vi- Democrática – 2. Meios de Infor-
gilância, Listas de “Não Voa” – mação e as Minorias – 3. Liber-
Vista da Rua do Google – Redes dade dos Meios de Informação e
Sociais – Base Nacional de Dados Desenvolvimento Económico – 4.
de ADN do Reino Unido – Decla- Propaganda de Guerra e Apologia
ração Conjunta sobre a Liberdade do Ódio – 5. Boas Práticas – 6. A
de Expressão e a Internet – 3. Cro- Liberdade dos Meios de Informa-
nologia ção e a Educação para os Direitos
Atividades Selecionadas: 406 Humanos - 7. Tendências – A In-
Atividade I: Dados Privados e Da- ternet – e a Liberdade de Expres-
dos Públicos – Atividade II: A His- são/Informação
tória de Marianne K. Atividades Selecionadas: 432
Referências Bibliográficas e In- Atividade I: Que chapéu usa? -
formação Adicional 409 Atividade II: O Impacto da Internet
M. LIBERDADE DE EXPRESSÃO E Referências Bibliográficas e In-
DOS MEIOS DE INFORMAÇÃO 413 formação Adicional 434
Histórias Ilustrativas: 414 N. DIREITO À DEMOCRACIA 439
“Só o Silêncio vos Protegerá, Mu- História Ilustrativa: 440
lheres” – “A Comunidade Interna- “Transição Democrática: O Legado
cional Apelou à Reação, pelo facto de Uma Revolução é Forjado de-
de a Situação da Liberdade de Ex- pois de a Luta ter Terminado”
pressão ter Piorado no Egito” – “A A Saber: 441
SEEMO Condena as Novas Amea- 1. Democracia em Alta? – Demo-
ças de Morte contra o Jornalista cracia e Segurança Humana - 2.
Croata Drago Hedl” Definição e Desenvolvimento da
A Saber: 415 Questão – O que é a Democracia
1. Relevância no Passado e no Pre- e como se Desenvolveu? – Ele-
sente – Segurança Humana, Liber- mentos Principais da Democracia
dade de Expressão e dos Meios de Moderna – Teorias de Democracia
Informação – Antigos e Novos De- – Formas de Democracia – For-
safios – 2. Conteúdo e Ameaças – mas de Democracia na Realida-
Principais Elementos da Liberdade de - 3. Perspetivas Interculturais e
de Expressão – Violações deste Di- Questões Controversas – O Debate
reito, Ameaças e Riscos – Restrições acerca dos “Valores Asiáticos” – O
Legítimas a este Direito – 3. Imple- Desafio da Democracia no Mundo
mentação e Monitorização – Siste- Muçulmano - Mais alguns pontos
mas Regionais de Monitorização - para reflexão – 4. Implementação e
Relator Especial sobre a Promoção Monitorização - Escritório para as
e Proteção do Direito à Liberdade Instituições Democráticas e Direi-
de Opinião e de Expressão - O Papel tos Humanos (ODIHR, em inglês)
ÍNDICE DESENVOLVIDO 37

- União Interparlamentar (UIP) - – Documentos Regionais de Direi-


Programa das Nações Unidas para tos Humanos para a Proteção das
o Desenvolvimento (PNUD) Minorias – A Década da Inclusão
Convém Saber: 454 da Comunidade Roma – 3. Perspe-
1. Boas Práticas – No Caminho da tivas Interculturais e Questões Con-
Democracia - 2. Tendências – Au- troversas – As Minorias “Antigas”
mento de Democracias – Partici- e “Novas” e o Critério de Cidada-
pação Política das Mulheres – Mu- nia – 4. Implementação e Monito-
lheres no Parlamento – Democr@ rização – Organização das Nações
cia online – Globalização e Demo- Unidas – Organização para a Se-
cracia – Défices Democráticos em gurança e Cooperação na Europa
Organizações Internacionais, em (OSCE) – Conselho da Europa
Empresas Multinacionais e em (CdE) – União Africana (UA) – Or-
Organizações Não Governamentais ganização dos Estados America-
Atividades Selecionadas: 460 nos (OEA) – Povo de Saramaka: O
Atividade I: Sim, Não ou algures Reconhecimento da Personalidade
no meio? - Atividade II: Um Mina- Jurídica, com o Direito ao Uso da
rete na Nossa Comunidade? sua Terra – Pressão Internacional:
Referências Bibliográficas e In- o papel das OIG, das ONG e dos
formação Adicional 464 Meios de Informação – O Que Po-
O. DIREITOS DAS MINORIAS 467 demos NÓS Fazer?
História Ilustrativa: 468 Convém Saber: 488
“O caso de D.H. e outros c. Repú- 1. Boas Práticas – Grupo Interna-
blica Checa” cional de Direitos das Minorias
A Saber: 469 - GDM (Minority Rights Group
1. A Luta pela Proteção dos Di- International) – Centro Europeu
reitos das Minorias: Desenvolvi- para os Direitos dos Roma (Euro-
mento Histórico – 2. Definição e pean Roma Rights Centre - ERRC)
Desenvolvimento da Questão – O – Gabinete Europeu para Línguas
Conceito de “Minoria” e a Noção Menos Divulgadas - GELMD (Eu-
de “Direitos das Minorias” – Os ropean Bureau for Lesser Used
Povos Indígenas e os Direitos dos Languages) – A Representação
Povos Indígenas - Desafios Conce- das Minorias no Parlamento da
tuais: Direitos Individuais e Cole- África do Sul – 2. Tendências – As
tivos – Os Direitos das Minorias e Minorias “Antigas” e as “Novas”
a Segurança Humana – Autono- e a Aplicabilidade do Sistema de
mia e Autodeterminação – Deve- Proteção das Minorias para as
res do Governo: Os Princípios da “Novas” Minorias – Diversidade e
Não Discriminação, Integração e Coesão – 3. Cronologia
Medidas Positivas – Instrumentos Atividades Selecionadas: 492
Internacionais de Direitos Huma- Atividade I: Confrontação entre
nos para a Proteção das Minorias Preconceitos e Discriminação – Ati-
– A Declaração das Nações Unidas vidade II: Cinco Formas de Proce-
Sobre os Direitos das Pessoas Per- der com as Minorias
tencentes a Minorias Nacionais ou Referências Bibliográficas e In-
Étnicas, Religiosas e Linguísticas formação Adicional 496
38 ÍNDICE DESENVOLVIDO

P. DIREITO AO ASILO 501 de Refugiados do Mundo – O


Histórias Ilustrativas: 502 Racismo e a Xenofobia em rela-
“Através do Olhar dos Refugiados” ção aos Migrantes, Refugiados e
A Saber: 503 Requerentes de Asilo – Distribui-
1. Introdução – Desenvolvimento ção Justa das Responsabilidades
histórico – O Asilo e os Direitos – 3. Cronologia
Humanos - O Asilo e a Segurança Atividades Selecionadas: 516
Humana – 2. Definição e Desen- Atividade I: Requerimento de Asi-
volvimento da Questão – O Refu- lo – Atividade II: Prepare a Mala e
giado, tal como Definido pelo Di- Fuja
reito Internacional – Requerentes Referências Bibliográficas e In-
de Asilo – Refugiados Prima-facie formação Adicional 518
– Alternativa da Fuga Interna –
Pessoas Apátridas – Migrantes III. RECURSOS ADICIONAIS 521
– Expulsão e Unidade Familiar –
Repatriação Voluntária e Depor- A. METODOLOGIA DA EDUCAÇÃO
tação Forçada – O Princípio da PARA OS DIREITOS HUMANOS 522
Não Repulsão (Non-Refoulement) B. A LUTA GLOBAL E CONTÍNUA
e Acordos de Proteção Subsidiá- PELOS DIREITOS HUMANOS –
ria – Exclusão do Estatuto de Re- CRONOLOGIA 535
fugiado – Grupos Especialmente C. BIBLIOGRAFIA SUGERIDA SO-
Vulneráveis – Alto Comissariado BRE DIREITOS HUMANOS 543
das Nações Unidas para os Refu- D. RECURSOS SOBRE A EDUCA-
giados (ACNUR) – 3. Perspetivas ÇÃO PARA OS DIREITOS HU-
Interculturais e Questões Con- MANOS 550
troversas – Refugiados Vítimas E. DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS
de Pobreza – Processos de Asilo DIREITOS HUMANOS 566
– Sistema Europeu Comum de F. DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS
Asilo – 4. Implementação e Mo- DIREITOS HUMANOS (SUMÁ-
nitorização – Alto Comissariado RIO) 570
das Nações Unidas para os Refu- G. DECLARAÇÃO DAS NAÇÕES
giados (ACNUR) – Instrumentos UNIDAS SOBRE EDUCAÇÃO E
Regionais – O Papel do Tribunal FORMAÇÃO EM DIREITOS HU-
Europeu dos Direitos Humanos MANOS 572
Convém Saber: 512 H. GLOSSÁRIO 578
1. Boas Práticas – Esquema de
Reunificação Familiar – RefWorld IV. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
– Emancipação dos Refugiados – E INFORMAÇÃO ADICIONAL EM
2. Tendências – Deslocados In- LÍNGUA PORTUGUESA 587
ternos – Migração Irregular pelo
Mar – Dadaab, o Maior Campo ÍNDICE REMISSIVO 643
39

PREFÁCIO DE SHULAMITH KOENIG


APRENDER E INTEGRAR OS DIREITOS HUMA-
NOS COMO UMA FORMA DE VIDA - UM PER-
CURSO QUE TODOS TEMOS DE PERCORRER
Nesta segunda década do século XXI, em derá chamar de “primavera dos direitos
que 50% da população mundial – qua- humanos” – o movimento da caridade à
tro biliões de pessoas - tem menos de dignidade.
25 anos, muitas comunidades em todo Muitos partilham, nestas páginas, as suas
o mundo, tanto mulheres como homens, experiências e os seus conhecimentos.
são impelidas para re-imaginar, redese- Estão a desafiá-lo para que aprenda sobre
nhar e reconstruir as suas vidas motiva- as implicações morais e políticas dos di-
das pela aspiração, esperança e expec- reitos humanos e para que saiba que são
tativa de uma vida livre do medo e de protegidos de forma sólida pela lei, acei-
privações. À medida que este processo te pela maioria das nações - no entanto,
promissor ganha autenticidade nacional e muitos poucos de nós conhecem a rele-
internacional, temos todos de nos juntar vância dos direitos humanos nas nossas
num compromisso para com a responsa- vidas diárias. À medida que integramos o
bilidade social, orientado pela visão ho- pensamento e as experiências partilhadas
lística e missão prática dos direitos huma- neste livro, esperamos que vá emergin-
nos como uma forma de vida, em relação do um sentido vital de responsabilidade,
à qual todas as democracias se devem para que cada um de nós se torne num
comprometer e em relação à qual não te- mentor e monitor de direitos humanos,
mos quaisquer outras opções. como forma de vida. A prossecução des-
O excelente documento educativo e abran- te escopo tem de realizar-se nas nossas
gente, agora nas suas mãos, pretende pro- casas, nas nossas vizinhanças, com as or-
vocar o diálogo e debates que conduzam ganizações da comunidade e como parte
ao pensamento crítico e à análise sisté- da nossa existência económica, religiosa
mica do futuro da humanidade que todos e cultural.
pretendemos gerar. Nas páginas deste li- À medida que examinamos as articula-
vro, poderá descobrir um quadro único e ções dos direitos humanos através das
poderoso que define o caminho a ser tri- suas normas e padrões, todos relevantes
lhado, para que as mulheres e os homens para a promoção e sustento da dignidade
alcancem a justiça económica e social. humana, irá juntar-se àqueles que estão
A indivisibilidade, interconexão e interre- a aprender a viver em dignidade com os
lação dos direitos humanos, refletidas nes- outros, em respeito e confiança de poder
tas páginas, são fundamentais para uma vir a tornar-se num agente de mudança,
nova compreensão dos direitos humanos, criativo e positivo.
de forma a conseguir-se uma mudança Diz-se que quando perguntavam a Voltaire
com significado e duradoura que se po- “O que podemos nós fazer em relação aos
40 APRENDER E INTEGRAR OS DIREITOS HUMANOS COMO UMA FORMA DE VIDA

direitos humanos?” ele respondia: “Dei- vidos, guiados pelos direitos humanos no
xem que as pessoas os conheçam”. Rosa sentido da sua realização plena.
Parks, cujo protesto silencioso acendeu o O quadro abrangente dos direitos huma-
movimento dos direitos civis nos EUA, dis- nos, se conhecido e reivindicado, é o mais
se que os seus atos colocaram poder nas importante guia para se traçar o futuro
mãos das pessoas para insistirem por par- por que todos ansiamos. É um sistema de
ticipação aquando da tomada das decisões apoio fundamental e uma ferramenta po-
que determinam as suas vidas. A isto, nós derosa para a atuação contra a atual desin-
acrescentamos: sermos guiados pelos di- tegração social, pobreza e intolerância que
reitos humanos como uma forma de vida. prevalece no mundo. É muito simples: os
A aprendizagem e a integração dos direi- direitos humanos estão todos relacionados
tos humanos referem-se ao conhecimento, com a igualdade sem discriminação. Com
apropriação, planeamento e ação. O edu- o conhecimento dos direitos humanos po-
cando assume a responsabilidade única de demos todos juntarmo-nos na mudança
se juntar ao esforço nobre para que todas do mundo, onde o sistema patriarcal pre-
as pessoas no mundo, mulheres, homens, valece, onde a justiça é injusta e onde as
jovens e crianças, possam conhecer os mulheres, assim como os homens, trocam
direitos humanos como inalienáveis, per- a igualdade pela sobrevivência. Não temos
tencentes a todos e como uma excelente outras opções!
ferramenta de organização, uma estratégia Tem nas suas mãos a história do milagre
única para o desenvolvimento económico, dos direitos humanos, criado pelas Nações
humano e societário. Unidas. É uma dádiva à humanidade de
Gota a gota, passo a passo, através de si e muitas nações que também se comprome-
das suas organizações, temos de nos en- teram em implementá-los. Infelizmente,
volver num trabalho de amor pela mudan- milhões de pessoas nascerão e morrerão
ça do mundo integrada em todos os níveis sem nunca saberem que são titulares de
da sociedade, uma aprendizagem signifi- direitos humanos e, por esse facto, inca-
cativa dos direitos humanos que conduza pazes de apelarem aos seus governos para
ao planeamento e a ações positivas. Na que cumpram com as suas obrigações e
realidade, o conhecimento dos direitos hu- compromissos (www.pdhre.org/justice.
manos é inerente a cada um de nós. Todos html). Nós dizemos, corretamente, que a
sabemos quando a injustiça está presente ignorância imposta é uma violação dos di-
e que a justiça é a expressão última dos di- reitos humanos e constitui uma falha que
reitos humanos. Todos nós nos afastamos mina a sua realização.
da humilhação de forma espontânea, po- É esta “violação de direitos humanos” e
rém, frequentemente devido ao medo da muitas outras, a ignorância sobre os direi-
humilhação, nós humilhamos os outros. tos humanos que este livro pretende elimi-
Este círculo vicioso pode ser quebrado se nar. Gota a gota, passo a passo - para que
as pessoas aprenderem a confiar e a res- as pessoas saibam, interiorizem e viven-
peitarem-se mutuamente, interiorizando ciem o desenvolvimento dos direitos hu-
e vivenciando os direitos humanos como manos e assegurem a sua realização para
uma forma de vida. Aprender que os di- todos.
reitos humanos apelam ao respeito mútuo À medida que prossegue nesta viagem,
e que todos os conflitos têm de ser resol- tente imaginar os direitos humanos como
PREFÁCIO DE SHULAMITH KOENIG 41

as margens do rio onde a vida pode fluir (Shulamith Koenig é a Presidente-Fun-


livremente. Quando vêm as cheias, as pes- dadora do PDHRE – People’s Movement
soas que aprenderam e integraram os di- for Human Rights Learning (www.pdhre.
reitos humanos irão elevar e fortificar as org), recebeu o prémio das Nações Uni-
margens, para protegerem as suas comuni- das para os Direitos Humanos, em 2003,
dades e onde a liberdade poderá fluir sem e a Medalha de Ouro de 2011 do Centro
obstruções. Não temos quaisquer outras Pio Munzo, pela sua “Contribuição para
opções. a Humanidade”.)
I. INTRODUÇÃO
AO SISTEMA
DE DIREITOS HUMANOS

DIGNIDADE HUMANA
DIREITOS HUMANOS
EDUCAÇÃO PARA OS DIREITOS HUMANOS
SEGURANÇA HUMANA

“A campanha recorda-nos que, num mundo ainda a despertar dos horrores da Segunda
Guerra Mundial, a Declaração foi a primeira afirmação global daquilo que agora toma-
mos como adquirido – a inerente dignidade e igualdade de todos os seres humanos.”
Sérgio Vieira de Mello, Alto-comissário das Nações Unidas para os Direitos Humanos. 2003
44 I. INTRODUÇÃO AO SISTEMA DE DIREITOS HUMANOS

A. COMPREENDER
OS DIREITOS HUMANOS
A aspiração de proteger a dignidade humana A solidariedade relaciona-se com os di-
de todas as pessoas está no centro do concei- reitos económicos e sociais, tais como o
to de direitos humanos. Este conceito coloca direito à segurança social, remuneração
a pessoa humana no centro da sua preocu- justa, condições de vida condignas, saú-
pação, é baseado num sistema de valores de e educação acessíveis, que são parte
universal e comum dedicado a proteger a integrante do sistema de direitos huma-
vida e fornece o molde para a construção de nos. Aqueles pilares surgem em detalhe,
um sistema de direitos humanos protegido sob cinco títulos, sendo estes os direitos
por normas e padrões internacionalmente políticos, civis, económicos, sociais e cul-
aceites. Durante o século XX, os direitos hu- turais, juridicamente definidos em dois
manos evoluíram como um enquadramen- Pactos paralelos que, juntamente com a
to moral, político e jurídico e como linha DUDH, formam a Carta Internacional dos
de orientação para desenvolver um mundo Direitos Humanos.
sem medo e sem privações. No século XXI,
é mais imperativo do que nunca tornar os “Todos os direitos humanos para todos”
direitos humanos conhecidos e compreendi-
dos e fazê-los prevalecer. foi o lema da Conferência Mundial sobre
O artigo (artº) 1º da Declaração Univer- Direitos Humanos de Viena, em 1993.
sal dos Direitos Humanos (DUDH), ado- Os direitos humanos empoderam os in-
tada pelas Nações Unidas em 1948, refere divíduos, bem como as comunidades de
os principais pilares do sistema de direi- modo a procurarem a transformação da
tos humanos, isto é, liberdade, igualda-
sociedade rumo à completa implementa-
de e solidariedade. Liberdades tais como ção de todos os direitos humanos. Os con-
a liberdade de pensamento, consciência flitos têm de ser solucionados através de
e de religião, bem como de opinião e de meios pacíficos, fundamentados no prima-
expressão estão protegidas pelos direitos do do Direito e no âmbito do sistema de
humanos. Do mesmo modo, os direitos direitos humanos.
humanos garantem a igualdade, tal como Contudo, os direitos humanos podem in-
a proteção igual contra todas as formas de terferir entre si; eles são limitados pelos
discriminação no gozo de todos os direitos direitos e liberdades dos outros ou por
humanos, incluindo a igualdade total en- requisitos de moralidade, de ordem pú-
tre mulheres e homens. blica e do bem comum de uma sociedade
democrática (artº 29º da DUDH). Os di-
“Todos os seres humanos nascem livres e
reitos humanos dos outros têm de ser res-
iguais em dignidade e em direitos […] de- peitados, não apenas tolerados. Os direitos
vem agir uns para com os outros em espíri- humanos não podem ser utilizados para
to de fraternidade.” violar outros direitos humanos (artº 30º
Artigo 1º da Declaração Universal dos Direitos Hu-
da DUDH); assim, todos os conflitos têm
manos. 1948.
de ser resolvidos no respeito pelos direitos
A. COMPREENDER OS DIREITOS HUMANOS 45

humanos, embora em tempos de emergên- fação, cumprimento e prática dos direitos


cia pública e em casos extremos possam humanos.
sofrer algumas restrições.
Deste modo, todos, mulheres, homens, “A educação, a aprendizagem e o diálogo
jovens e crianças necessitam de saber e para os direitos humanos têm de evocar
compreender os seus direitos humanos o pensamento crítico e a análise sistémi-
como relevantes para as suas preocupa- ca com uma perspetiva de género sobre as
ções e aspirações. preocupações políticas, civis, económicas,
sociais e culturais, no âmbito do sistema
“Na recente história da humanidade, ne- dos direitos humanos.”
nhuma expressão tem tido maior privilégio Shulamith Koenig, PDHRE.
de suportar a missão e o peso do destino
da Humanidade do que [a expressão] “di- O direito à educação para os direitos huma-
reitos humanos”[…] - o melhor presente do nos poderá fundamentar-se no artº 26º da
pensamento humano clássico e contempo- DUDH, segundo o qual “Toda a pessoa tem
râneo é a noção dos direitos humanos. De direito à educação. […] A educação deve
facto, mais do que qualquer outra lingua- visar à plena expansão da personalidade
gem moral que esteja disponível neste tem- humana e ao reforço dos direitos humanos
po histórico, [encontra-se] a linguagem dos e das liberdades fundamentais[…].”
direitos humanos[…]”.
Direito à Educação
Upendra Baxi. 1994. Inhuman Wrongs and Human
Rights.
A Resolução da Assembleia-Geral das
Isto pode ser conseguido através da edu- Nações Unidas (AGNU) 49/184, de 23 de
cação e aprendizagem para os direitos hu- dezembro de 1994, proclamou a Década
manos, que poderá ser formal, informal e das Nações Unidas para a Educação em
não-formal. A compreensão dos princípios Matéria de Direitos Humanos, a ser im-
e procedimentos de direitos humanos ha- plementada no âmbito do Plano de Ação
bilita as pessoas a participar nas decisões da Década da ONU para a Educação em
determinantes para as suas vidas, funcio- Direitos Humanos 1995-2004. Aí pode
na na resolução de conflitos e manutenção encontrar-se uma definição detalhada do
da paz segundo os direitos humanos, e é conteúdo e métodos da Educação para
uma estratégia viável para um desenvolvi- os Direitos Humanos. Em 18 de dezem-
mento humano, social e económico cen- bro de 2007, a Assembleia-Geral das Na-
trado na pessoa. ções Unidas declarou 2009 como sendo
A educação para os direitos humanos o “Ano Internacional da Aprendizagem
(EDH) e a sua aprendizagem têm de ser para os Direitos Humanos” (Res. 62/171
assumidas por todos os atores e interes- da AGNU). A abertura decorreu a 10 de
sados, pela sociedade civil, bem como dezembro de 2008, no 60º aniversário da
pelos governos e pelas empresas transna- DUDH. No seguimento, adotou-se a Res.
cionais. Através da aprendizagem dos di- 66/173 da AGNU, em dezembro de 2011.
reitos humanos, uma verdadeira “cultura A principal força motriz subjacente a esta
de direitos humanos” pode ser desenvol- iniciativa foi Shulamith Koenig, a funda-
vida, baseada no respeito, proteção, satis- dora da People’s Decade for Human Rights
46 I. INTRODUÇÃO AO SISTEMA DE DIREITOS HUMANOS

Education (PDHRE) - motivada pela visão (c) Promover a compreensão, a tolerân-


de, a longo prazo, tornar os direitos hu- cia, a igualdade de género e a ami-
manos acessíveis a todos, no nosso pla- zade entre todas as nações, povos in-
neta, “para que as pessoas os conheçam e dígenas e grupos raciais, nacionais,
os reclamem”. Em concordância, o objeti- étnicos, religiosos e linguísticos […]”.
vo da educação para os direitos humanos
é “literacia em direitos humanos para to- A 10 de dezembro de 2004, a AGNU pro-
dos”. Ou, parafraseando Nelson Mandela, clamou um novo Programa Mundial para
“desenvolver uma nova cultura política a Educação em Direitos Humanos (Res.
baseada nos direitos humanos”. AGNU 59/113A) que deverá ser implemen-
Notas Gerais sobre a Metodologia tado através de planos de ação a adotar de
da Educação para os Direitos Hu- três em três anos. O Plano de Ação para
manos a primeira fase (2005-2007, alargada até
2009) do Programa Mundial para a Educa-
ção em Direitos Humanos realça os sistemas
escolares, primário e secundário. A segun-
A Resolução 49/184 da Assem-
da fase (2010-2015) centra-se na educação
bleia-Geral, de 23 de dezembro de 1994,
superior e em programas de formação em
ao anunciar a Década das Nações Unidas
direitos humanos para professores e educa-
para a Educação em Matéria de Direitos
dores, funcionários públicos, agentes poli-
Humanos, refere: “[…] a educação para os
direitos humanos deve envolver mais do ciais e militares. A 2 de dezembro de 2011,
que o fornecimento de informação e deve a AGNU adotou a Declaração das Nações
constituir um processo abrangente e contí- Unidas sobre Educação e Formação para os
nuo pelo qual as pessoas em todos os níveis Direitos Humanos, preparada por um Gru-
de desenvolvimento e de todos os estratos po de Trabalho e adotada, primeiramente,
sociais aprendam a respeitar a dignidade pelo Conselho da ONU dos Direitos Huma-
dos demais e os meios e métodos para ga- nos em Genebra. Esta Declaração estabele-
rantir tal respeito em todas as sociedades”. ce uma nova base para todas as vertentes
da educação para os direitos humanos, as-
O Plano de Ação das Nações sim como uma definição de educação para
Unidas para a EDH sublinhou que: “[…] os direitos humanos:
a educação para os direitos humanos (a) A educação sobre direitos humanos
será definida como os esforços de forma- que inclui a transmissão de conheci-
ção, divulgação e informação destinados mentos e compreensão das normas
a construir uma cultura universal de di- e princípios de direitos humanos, os
reitos humanos através da transmissão valores subjacentes aos mesmos e os
de conhecimentos e competências e da mecanismos para a sua proteção;
modelação de atitudes, com vista a: (b) A educação através dos direitos huma-
nos que inclui aprender e ensinar no
(a) Reforçar o respeito pelos direitos hu-
respeito pelos direitos de educadores e
manos e liberdades fundamentais;
alunos;
(b) Desenvolver em pleno a personalidade (c) A educação para os direitos humanos
humana e o sentido da sua dignidade; que inclui o empoderamento de pesso-
B. DIREITOS HUMANOS E SEGURANÇA HUMANA 47

as, de forma a gozarem e exercerem os educação e a formação para os direitos hu-


seus direitos e respeitarem e protege- manos, para as quais devem elaborar pla-
rem os direitos de outros. nos de ação e programas que promovam
a sua implementação, designadamente,
“A educação para os direitos humanos “através da sua integração nos curricula
é toda a aprendizagem que desenvolve o das escolas e da formação”. Todos os inte-
conhecimento, as capacidades e os valores ressados relevantes devem ser envolvidos,
dos direitos humanos, que promove a equi- em harmonia com o Programa Mundial da
dade, a tolerância, a dignidade e o respeito Educação para os Direitos Humanos, assim
pelos direitos e pela dignidade dos outros.” como se espera que a sociedade civil de-
Nancy Flowers, Human Rights Center of the Univer- sempenhe um papel importante. Os Planos
sity of Minnesota de Ação para a Primeira e Segunda Fases
do Programa Mundial da Educação para
A Declaração identifica cinco objetivos os Direitos Humanos estabelecem uma
principais da EDH que são a conscienciali- estratégia de implementação que delimita
zação, o desenvolvimento de uma cultura quatro etapas:
universal de direitos humanos, a realização Etapa 1: análise de situações atuais da
de forma efetiva dos direitos humanos, a EDH
atribuição de oportunidades iguais para to- Etapa 2: estabelecimento de prioridades e
dos e a contribuição para a prevenção das desenvolvimento de uma estra-
violações dos direitos humanos. Os Esta- tégia nacional de implementação
dos e os governos têm a responsabilidade Etapa 3: implementação e monitorização
primordial de promover e de assegurar a Etapa 4: avaliação

B. DIREITOS HUMANOS
E SEGURANÇA HUMANA

A DUDH foi redigida na sequência das foi declarado que a segurança humana
mais graves violações da dignidade huma- visa proteger os direitos humanos, isto
na, em particular, a experiência do Holo- é, através da prevenção de conflitos e do
causto durante a Segunda Guerra Mundial. tratamento das verdadeiras causas para
O ponto central é a pessoa humana. O pre- a insegurança e a vulnerabilidade. Uma
âmbulo da DUDH refere-se à liberdade de estratégia de segurança humana pretende
viver sem medo e sem privações. A mes- estabelecer uma cultura política global, as-
ma abordagem é inerente ao conceito de sente nos direitos humanos. Neste contex-
segurança humana. to, a educação para os direitos humanos é
Na Sessão de Trabalho (Workshop) In- uma estratégia rumo à segurança humana,
ternacional sobre Segurança Humana e uma vez que capacita as pessoas na pro-
Educação para os Direitos Humanos que cura de soluções para os seus problemas,
decorreu em Graz, em julho de 2000, com base num sistema global de valores
48 I. INTRODUÇÃO AO SISTEMA DE DIREITOS HUMANOS

comuns e numa abordagem orientada Responsabilidade de Proteger, como parte


para as normas e direitos, em vez de uma do conceito de segurança humana.
abordagem orientada para o poder. A se-
gurança humana é promovida no seio da “A maioria das ameaças à segurança hu-
sociedade, de um modo descentralizado, mana revelam uma dimensão direta ou
começando pelas necessidades básicas indireta dos direitos humanos.”
das pessoas, mulheres e homens de forma 2ª Reunião Ministerial da Rede para a Segurança
idêntica. Referimo-nos a problemas de se- Humana. Lucerna. Maio 2000.
gurança pessoal, pobreza, discriminação,
justiça social e democracia. A vida sem Esta doutrina entrou no documento final
exploração e sem corrupção começa quan- da Cimeira da Assembleia-Geral das Na-
do as pessoas deixam de aceitar a violação ções Unidas, em 2005 [Fonte: Independent
dos seus direitos. As organizações da so- International Commission on Intervention
ciedade civil (como a Transparência Inter- and State Sovereignty. 2001. The Responsi-
nacional) apoiam este processo de eman- bility to Protect and GA-Res. 60/1 (2005)].
cipação com base no conhecimento dos As violações dos direitos humanos represen-
direitos humanos. tam ameaças à segurança humana e, conse-
Há diversas relações entre os direitos hu- quentemente, são usadas como indicadores
manos e a segurança humana. A “Segu- em mecanismos de alerta precoce na preven-
rança”, no sentido de segurança pessoal ção de conflitos. Contudo, também os direitos
(ex. proteção contra a detenção arbitrá- humanos desempenham um papel na gestão
ria), de segurança social (ex. suprimento de conflitos, na transformação de conflitos e
de necessidades básicas, como a seguran- na construção da paz pós-conflito. A educação
ça alimentar) e de segurança internacional para os direitos humanos, através da transmis-
(ex. o direito a viver numa ordem inter- são de conhecimentos, do desenvolvimento de
nacional segura), corresponde a direitos competências e do moldar de atitudes, consti-
humanos já existentes. As políticas de se- tui a base de uma genuína cultura da preven-
gurança têm de ser integradas muito mais ção de conflitos. Além de os direitos humanos
intimamente com estratégias de promoção serem um instrumento essencial na prevenção
dos direitos humanos, da democracia e do de conflitos, também são um conceito chave
desenvolvimento. Os direitos humanos, para a construção da governação e para a de-
o direito humanitário e o direito dos re- mocracia. Conferem uma base para resolver
fugiados fornecem o enquadramento ju- problemas sociais e globais através da partici-
rídico em que a abordagem da segurança pação ativa, de um aumento da transparência
humana se baseia. (Fonte: Departamento e da prestação de contas. A construção da
dos Negócios Estrangeiros e do Comércio governação consiste em duas formas comple-
Internacional, Canadá. 1999. Segurança mentares de desenvolvimento de competên-
Humana: Segurança para as Pessoas num cias: “a construção do Estado” e o “desenvolvi-
Mundo em Mudança.) mento da sociedade”.
O governo do Canadá solicitou a redação
de um relatório, por uma Comissão Inter- “O mundo nunca estará em paz enquanto
nacional Independente sobre Interven- as pessoas não tiverem segurança nas suas
ção e Soberania Estatal, que esteve na vidas diárias.”
PNUD. 1994. Human Development Report 1994.
base do desenvolvimento da doutrina da
B. DIREITOS HUMANOS E SEGURANÇA HUMANA 49

A Declaração de Graz também refere que


“[A segurança humana] é, na essência, os direitos humanos e a segurança huma-
um esforço para construir uma sociedade na estão inextricavelmente relacionados,
global onde a segurança do indivíduo está uma vez que a promoção e a implementa-
no centro das prioridades internacionais ção dos direitos humanos são um objetivo
[…], onde as normas internacionais dos e parte integrante da segurança humana
direitos humanos e o primado do Direito (artº 1º).
são antecipados e tecidos numa rede coe- A Comissão para a Segurança Humana,
rente protegendo o indivíduo […]” criada em 2001, sob a codireção de Sadako
Lloyd Axworthy, anterior Ministro dos Negócios Es- Ogata (ex-Alto Comissário da ONU para
trangeiros do Canadá. os Refugiados) e de Amartya Sen (Prémio
Nobel da Economia), juntamente com o
A construção do Estado propicia a “segu- Instituto Interamericano de Direitos Hu-
rança democrática”, que pode ser obser- manos e a Universidade para a Paz, orga-
vada sobretudo no esforço de reabilitação nizaram uma sessão de trabalho sobre a
e reconstrução pós-conflito. “O desenvolvi- relação entre Direitos Humanos e a Segu-
mento da sociedade implica uma educação rança Humana, em San José, Costa Rica,
amplamente baseada nos direitos huma- em dezembro de 2001. A Comissão elabo-
nos, de forma a empoderar as pessoas para rou uma Declaração sobre Direitos Huma-
reclamarem os seus direitos e para demons- nos como Componente Essencial da Segu-
trarem respeito pelos direitos das outras”. rança Humana (www.humansecurity-chs.
(Walther Lichem, PDHRE). org/doc/sanjosedec.html). O seu relatório
A Declaração de Graz sobre os Princípios “Segurança Humana Já” refere várias pre-
da Educação para os Direitos Humanos e ocupações relacionadas com os direitos
para a Segurança Humana, aprovada pela humanos. De acordo com Bertrand G. Ra-
5ª Reunião Ministerial da Rede de Seguran- mcharan, ex-Alto Comissário em exercício
ça Humana, em Graz, a 10 de maio de 2003, da ONU para os Direitos Humanos, o direi-
pretende reforçar a segurança humana atra- to internacional e o direito dos direitos hu-
vés da educação para os direitos humanos, manos definem o significado da segurança
começando no direito de cada um de co- humana.
nhecer os seus direitos humanos, passando
pela identificação da responsabilidade de “A sujeição aos interesses da segurança na-
todos os agentes relevantes ligados à Edu- cional, estritamente concebidos, e a insis-
cação para os Direitos Humanos e, por fim, tente adesão a visões míopes da soberania
acolhendo o Manual “Compreender os Di- do Estado triunfaram sobre os interesses da
reitos Humanos”, que deverá ser traduzido, segurança humana das vítimas apesar de,
distribuído e utilizado amplamente. ironicamente, ser a segurança da sua popu-
lação – não só coletivamente, mas também,
“Precisamos de uma nova cultura de rela- de forma crucial, individualmente – que
ções internacionais que tenha a segurança permite a segurança do Estado.”
humana no seu centro.” Louise Arbour, Alta Comissária das Nações
Srgjan Kerim, Presidente da Assembleia-Geral das Unidas para os Direitos Humanos. 2005. Res-
Nações Unidas. 2009. ponsibility to Protect in the Modern World.
50 I. INTRODUÇÃO AO SISTEMA DE DIREITOS HUMANOS

O artº 3º da DUDH e o artº 9º do Pacto Direito a Não Viver na Pobreza


Internacional sobre os Direitos Civis e Po- Direito à Saúde
líticos (PIDCP) protegem o direito da pes- Direito ao Trabalho
soa à sua liberdade e segurança humana
que, por sua vez, se refere em particular De acordo com o Relatório de Desenvol-
ao direito de viver sem medo (freedom vimento Humano de 2000, do PNUD, os
for fear). Mais, o artº 22º da DUDH e o direitos humanos e o desenvolvimento hu-
artº 9º do Pacto Internacional sobre os mano partilham uma visão e um propósito
Direitos Económicos, Sociais e Culturais comuns. O Índice de Desenvolvimento Hu-
(PIDESC) reconhecem o direito à segu- mano, usado pelos Relatórios de Desen-
rança social que, juntamente com outros volvimento Humano do PNUD, contém
direitos económicos e sociais, correspon- vários indicadores, tais como o acesso à
dem ao direito de viver sem privações educação, a segurança alimentar, os ser-
(freedom from want). A relação entre a viços de saúde, a igualdade de género e
globalização e a segurança humana é tra- a participação política, que correspondem
tada no Relatório do Milénio do anterior diretamente a direitos humanos. Em con-
Secretário-Geral das Nações Unidas, Kofi clusão, os conceitos de segurança huma-
Annan, em 2000. Também este distingue na, direitos humanos e desenvolvimento
entre o direito de viver sem medo e o humano são coincidentes, contingentes e
direito de viver sem privações, uma dis- reforçam-se mutuamente.
tinção que regressa às quatro liberdades
e direitos proclamados pelo Presidente “Assim, não se desfrutará do desenvolvi-
dos Estados Unidos da América, Franklin mento sem segurança, não se desfrutará
Roosevelt, em 1940, durante a Segunda da segurança sem desenvolvimento e não
Guerra Mundial, apresentados como uma se desfrutará nem de um, nem de outra
visão da ordem a estabelecer no pós- sem respeito pelos direitos humanos […]”
guerra. O Relatório “In Larger Freedom”, Kofi Annan, Secretário-Geral da ONU. 2005.
de 2005, do Secretário-Geral da ONU, In larger freedom: towards development, security and
concentra-se em como “aperfeiçoar o tri- human rights for all.
ângulo do desenvolvimento, da liberdade
e da paz” (§12).
A Assembleia-Geral das Nações Unidas, “Hoje, demasiados atores internacionais
no seu “Documento Final” da Cimeira de seguem políticas baseadas no medo, pen-
2005, pediu a elaboração de uma definição sando que assim aumentam a segurança.
de Segurança Humana. Depois de um rela- Porém, a verdadeira segurança não pode
tório do Secretário-Geral, a Assembleia-Ge- ser construída sobre esta base. A verdadei-
ral realizou consultas, em 2008. ra segurança tem de se basear nos princí-
A luta contra a pobreza e pelos direitos pios estabelecidos dos direitos humanos.”
económicos, sociais e culturais é tão rele- Sérgio Vieira de Mello, Alto Comissário das Nações
vante para a segurança como a luta pela Unidas para os Direitos Humanos. 2003.
liberdade política e pelas liberdades fun-
damentais. Uns não podem ser separados A UNESCO dá também especial atenção
dos outros, são interdependentes, interli- à Segurança Humana, inspirando-se nas
gados e indivisíveis. abordagens regionais relativas à Segu-
C. HISTÓRIA E FILOSOFIA DOS DIREITOS HUMANOS 51

rança Humana. Desde 2005, é publicado Na década que se seguiu à destruição ter-
um Relatório sobre Segurança Humana, rorista do World Trade Centre, em 11 de
sob a direção de Andrew Mack, que se setembro de 2001, tem havido mais ênfase
centra nas ameaças violentas à seguran- sobre a soberania nacional e os interes-
ça humana. Este Relatório mostra a rela- ses de segurança, também como resulta-
ção entre conflitos e governação demo- do da “Guerra ao Terror”, declarada pelos
crática, demonstrando que um aumento Estados Unidos e que, porém, teve lugar
de governos democráticos no mundo em detrimento dos direitos humanos. Na
conduz a uma redução dos conflitos vio- Europa, a preocupação central tem sido o
lentos (Relatório sobre Segurança Huma- equilíbrio entre a segurança, a liberdade e
na 2009/2010). os direitos humanos.

C. HISTÓRIA E FILOSOFIA
DOS DIREITOS HUMANOS
A ideia de dignidade humana é tão an- A ONU, sob a liderança de Eleanor Roose-
tiga quanto a história da humanidade e velt, René Cassin e Joseph Malik, elaborou
existe de variadas formas, em todas as a DUDH, com a participação de 80 peritos
culturas e religiões. Por exemplo, o im- do Norte e do Sul, que moldaram as ideias
portante valor atribuído ao ser humano e linguagem do documento. Os direitos
pode ser encontrado na filosofia africana humanos tornaram-se num conceito uni-
de ubuntu ou na proteção de estrangei- versal, com fortes influências do Oriente
ros no Islão. A “regra de ouro” segundo a e do Sul, designadamente, o conceito de
qual devemos tratar os outros como gos- direitos económicos, sociais e culturais, o
taríamos de ser tratados existe em todas direito à autodeterminação e ao desenvol-
as grandes religiões. O mesmo vale para a vimento, a proteção contra a discrimina-
responsabilidade da sociedade de cuidar ção racial e o apartheid.
dos seus pobres e para as noções funda- Atendendo a que, historicamente, os ci-
mentais de justiça social. dadãos se tornaram os primeiros bene-
Contudo, a ideia de “direitos humanos” é ficiários dos direitos humanos constitu-
o resultado do pensamento filosófico dos cionalmente protegidos, em virtude das
tempos modernos, com fundamento na fi- suas lutas pelas liberdades fundamentais
losofia do racionalismo e do iluminismo, e pelos direitos económicos e sociais, os
no liberalismo e democracia, e também no estrangeiros só poderiam ser titulares de
socialismo. Ainda que o conceito moder- direitos em casos excecionais ou com base
no de direitos humanos tenha emanado em acordos bilaterais. Os estrangeiros ne-
sobretudo da Europa, deve ser sublinhado cessitavam da proteção do seu próprio Es-
que as noções de liberdade e de justiça so- tado, que representava os seus nacionais
cial, que são fundamentais para os direitos no estrangeiro, enquanto o conceito de
humanos, são parte de todas as culturas. direitos humanos obriga qualquer Estado
52 I. INTRODUÇÃO AO SISTEMA DE DIREITOS HUMANOS

a proteger todos os seres humanos no seu


território. “Consideramos estas verdades como evi-
Para o desenvolvimento de normas de pro- dentes por si mesmas, que todos os homens
teção de não nacionais, o direito huma- são criados iguais, dotados pelo Criador de
nitário era de extrema importância. Tinha certos direitos inalienáveis, que entre estes
como objetivo estabelecer regras básicas estão a vida, a liberdade e a procura da
para o tratamento a conferir aos soldados felicidade. Que a fim de assegurar esses di-
inimigos, mas também aos civis envolvi- reitos, os governos são instituídos entre os
dos em conflitos armados. homens, derivando os seus justos poderes
do consentimento dos governados.”
Direitos Humanos em Conflito Declaração da Independência dos Estados Unidos
Armado da América. 1776.

As primeiras disposições referentes aos


atuais direitos humanos podem ser en- “A primeira é a liberdade de discurso e de
contradas nos acordos sobre liberdade de expressão – em todo o mundo. A segun-
religião, contidos no Tratado de Vestefália da é a liberdade de cada um de adorar a
de 1648, e na proibição da escravidão, Deus, de forma pessoal – em todo o mun-
como a Declaração sobre Tráfico de Es- do. A terceira é o direito de viver sem pri-
cravos do Congresso de Viena de 1815, a vações – que, traduzida em termos de al-
constituição da Sociedade Americana con- cance mundial, significa um entendimento
tra a Escravatura de 1833 e a Convenção económico que irá assegurar a cada nação
contra a Escravatura de 1926. uma vida saudável e em paz, para os seus
habitantes – em todo o mundo. A quarta é
Liberdades Religiosas o direito de viver sem medo […]”
Não Discriminação Franklin D. Roosevelt, 32º Presidente dos Estados
Unidos, 1941.
A proteção dos direitos das minorias tam-
bém tem uma longa história e foi um tema Estes direitos estavam agrupados segundo
da máxima importância no Tratado de Paz as categorias da liberdade, igualdade e da
de Versalhes de 1919 e da Sociedade das solidariedade, que foram recuperados na
Nações fundada no mesmo ano. Com a Carta dos Direitos Fundamentais da União
dissolução da União Soviética e da Jugos- Europeia de 2000. Olympe de Gouge foi uma
lávia, voltou a ser um tema central. das primeiras a pedir direitos iguais para as
A Luta Global e Contínua pelos mulheres, através da sua “Declaração dos
Direitos Humanos, Recursos Adi- Direitos da Mulher e da Cidadã” de 1791.
cionais
Direitos das Minorias Direitos Humanos das Mulheres
A Revolução Francesa, inspirada pela De-
claração Americana da Independência e O conceito de direitos humanos univer-
pela proclamação da Carta de Direitos da sais para todos os seres humanos só foi
Virgínia, em 1776, proclamou os Direitos aceite pelos Estados depois dos horrores
do Homem e do Cidadão, em 1789. da Segunda Guerra Mundial, quando se
D. CONCEITO E NATUREZA DOS DIREITOS HUMANOS 53

conseguiu o acordo sobre a DUDH, na mundial”, sob a direção de Klaus Küng,


altura entre 48 países, com a abstenção descobriu que todas as grandes religiões
de 8 países socialistas e da África do Sul, partilham valores comuns, que correspon-
como uma componente indispensável do dem, em larga medida, aos direitos huma-
sistema das Nações Unidas, interpretan- nos básicos.
do as disposições pertinentes da Carta
Liberdades Religiosas
das Nações Unidas (Preâmbulo e artos 1º,
nº 3 e 55º, al. c)). Desde então, os Es-
tados-membros das Nações Unidas já são Uma “ética da responsabilidade” (Hans Jo-
193, mas nenhum Estado se atreveu real- nas) e uma “ética global a favor dos direi-
mente a questionar esta Declaração, con- tos humanos” (George Ulrich) foram pro-
siderada, em muitas partes, como direito postas de modo a fazer face aos desafios
consuetudinário internacional. da globalização.
Os debates acerca de certos direitos prio-
Conceito Africano de Dignidade Humana: ritários e o universalismo versus o relati-
“Eu sou um ser humano porque os teus vismo cultural fizeram parte das agendas
olhos me veem como tal…” das duas conferências mundiais sobre
Provérbio africano, Mali. direitos humanos, em Teerão e em Vie-
na, respetivamente. A conferência de
O Direito Internacional dos Direitos Hu- Teerão, em 1968, clarificou que todos os
manos tem o seu fundamento em valores direitos humanos são indivisíveis e in-
comuns, tal como acordado no quadro terdependentes, e a Conferência de Vie-
das Nações Unidas, e que constituem ele- na, de 1993, acordou, por consenso, que
mentos de uma ética global. Filósofos, tais “Embora se deva ter sempre presente o
como Jean-Jacques Rousseau, Voltaire e significado das especificidades nacionais
John Stuart Mill debateram a existência de e regionais e os diversos antecedentes
direitos humanos. As “teorias contratuais” históricos, culturais e religiosos, compete
prevalecentes garantiam os direitos em aos Estados, independentemente dos seus
troca da lealdade para com o poder execu- sistemas políticos, económicos e culturais,
tivo, ao passo que a perspetiva cosmopo- promover e proteger todos os Direitos Hu-
lita de Immanuel Kant, reclamava a exis- manos e liberdades fundamentais”. (Fon-
tência de certos direitos para o “cidadão te: Declaração e Programa de Ação de
universal”. O projeto internacional “ética Viena. 1993, §5).

D. CONCEITO E NATUREZA
DOS DIREITOS HUMANOS
Atualmente, o conceito de direitos huma- pela Conferência Mundial de Viena sobre
nos é reconhecido como universal, como Direitos Humanos, em 1993, e nas Resolu-
se poderá verificar na Declaração adotada ções da ONU aprovadas por ocasião do 50º
54 I. INTRODUÇÃO AO SISTEMA DE DIREITOS HUMANOS

aniversário da DUDH, em 1998. Alguns cé- social, que deverão ser “realizados progres-
ticos que questionam a universalidade dos sivamente”, devido ao facto de implicarem
direitos humanos devem ser recordados de obrigações financeiras para os Estados
que Estados tão geograficamente diversos (cfr. Artº 2º, nº1 do PIDESC).
como a China, o Líbano ou o Chile se en- No passado, alguns Estados ou grupos de
contravam entre aqueles que participaram Estados, tais como os Estados socialistas
na elaboração deste conceito, na segunda em particular, expressaram preferência pe-
metade dos anos 40. De qualquer modo, los direitos económicos, sociais e culturais,
desde então, muitos mais Estados demons- em oposição aos direitos civis e políticos, ao
traram o seu apoio à DUDH e ratificaram passo que os Estados Unidos da América e
o PIDCP e o PIDESC, que se fundamentam os Estados-membros do Conselho da Europa
na DUDH. A Convenção sobre a Elimina- demonstraram uma certa preferência pelos
ção de Todas as Formas de Discriminação direitos civis e políticos. Porém, na Confe-
contra as Mulheres (CEDM) já foi ratifi- rência Mundial de Direitos Humanos de
cada por 187 países, em janeiro de 2012, Teerão, em 1968, tal como na Conferência
embora com muitas reservas, ao passo que Mundial de Viena, em 1993, aquele debate
a Convenção sobre os Direitos da Criança improdutivo foi resolvido, tendo-se concluí-
(CDC) foi ratificada por 193 Partes. do pelo reconhecimento da igual importân-
A base do conceito de direitos humanos cia de ambas as categorias ou dimensões
assenta no conceito da inerente dignidade de direitos humanos. Em Teerão, em 1968,
humana de todos os membros da família estes foram declarados indivisíveis e inter-
humana, consagrado na Carta das Nações dependentes, uma vez que o gozo pleno
Unidas (CNU), na DUDH e nos Pactos de dos direitos económicos, sociais e culturais
1966, que também reconheceram o ideal de é praticamente impossível sem o gozo dos
seres humanos livres no exercício da sua direitos civis e políticos e vice-versa.
liberdade de viver sem medo e sem priva-
ções e enquanto titulares de direitos iguais “Os direitos humanos são a fundação da
e inalienáveis. Em concordância, os direi- liberdade, paz, desenvolvimento e justiça e
tos humanos são universais e inalienáveis, o cerne do trabalho das Nações Unidas em
o que significa que se aplicam em todo o todo o mundo.”
lado e não podem ser retirados à pessoa Ban Ki-moon, Secretário-Geral das Nações Unidas.
humana, ainda que com o seu consenti- 2010.
mento. Tal como defendido na Conferência
Mundial de Viena sobre Direitos Humanos, Nos anos 80, uma categoria adicional de
em 1993, pelo então Secretário-Geral das direitos humanos obteve reconhecimento,
Nações Unidas, Boutros Boutros-Ghali, “os ou seja, o direito à paz e à segurança, o di-
direitos humanos adquirem-se à nascença”. reito ao desenvolvimento e o direito a um
Os direitos humanos também são indivi- ambiente saudável. Estes direitos forne-
síveis e interdependentes. Podem ser dis- cem o quadro necessário ao gozo de todos
tinguidas diferentes categorias ou dimen- os outros direitos. Porém, não há condi-
sões de direitos humanos: direitos civis e cionalidade, no sentido de que uma cate-
políticos, como a liberdade de expressão, goria constitua uma condição prévia para
e direitos económicos, sociais e cultu- a outra. A terceira categoria é designada
rais, como o direito humano à segurança por direitos de solidariedade, uma vez
D. CONCEITO E NATUREZA DOS DIREITOS HUMANOS 55

que implicam cooperação internacional e da América, do Canadá, da Nova Zelândia


aspiram à construção da comunidade. Os e da Austrália que, entretanto, modificaram
direitos humanos devem ser distinguidos as suas posições e agora subscrevem a De-
dos “direitos dos animais” e dos “direitos claração.
da Terra”, propagados por alguns grupos.
Enquanto os direitos humanos são os di- A Organização Internacional do Trabalho
reitos de todas as pessoas, quer detenham (OIT), revendo uma declaração anterior,
ou não a cidadania de um determinado em 1989, adotou a Convenção nº 169 rela-
país, os direitos dos cidadãos são direitos tiva a Povos Indígenas e Tribais em Países
fundamentais que são exclusivamente ga- Independentes. Em 2001, foi nomeado um
rantidos aos nacionais de um determinado Relator Especial da ONU para os direitos
país, como o direito de voto, o direito de humanos e liberdades fundamentais dos
ser eleito ou o direito de acesso a serviços povos indígenas. Seguindo uma recomen-
públicos de um determinado país. dação da Conferência Mundial de Viena
Também é necessário distinguir direitos sobre os Direitos Humanos em 1993, foi
humanos e direitos das minorias que são criado, em 2000, um Fórum Permanente
direitos de membros de um grupo com ca- para os Assuntos Indígenas, como autori-
racterísticas étnicas, religiosas ou linguís- dade subsidiária do ECOSOC, que se reu-
ticas particulares. Individualmente ou em niu, pela primeira vez, em 2002. A Comis-
conjunto com os outros membros do gru- são Africana dos Direitos Humanos e dos
po têm o direito humano de usufruir da Povos também estabeleceu um Grupo de
sua própria cultura, de professar ou prati- Trabalho relativo aos povos indígenas.
car a sua própria religião ou de usar a sua No quadro da UNESCO, a Convenção sobre
própria língua (artº 27º do PIDCP). Po- a Proteção e Promoção da Diversidade das
dem encontrar-se regras mais detalhadas Expressões Culturais, de 2005, e a Conven-
na Declaração da ONU sobre os Direitos ção para a Salvaguarda do Património Cul-
das Minorias, de 1993, e em instrumentos tural Imaterial, de 2003, complementam os
regionais europeus de direitos humanos. direitos humanos e os direitos das minorias,
na preservação da sua identidade cultural.
Direitos das Minorias Os direitos humanos também poderão ser
um instrumento a utilizar pelas pessoas
No respeitante aos direitos humanos dos para a transformação social, ao nível na-
povos indígenas, desde 1982, um Grupo de cional, regional ou universal. Portanto, o
Trabalho da ONU sobre os Povos Indígenas conceito de direitos humanos está intima-
debate formas de promoção e de proteção mente ligado ao conceito de democracia.
dos seus direitos humanos, em particular, a
sua relação com a terra. A Declaração das Direito à Democracia
Nações Unidas sobre os Direitos dos Povos
Indígenas foi adotada pela Assembleia-Ge- Os requisitos da União Europeia e do Con-
ral, em 2007 (A/RES/61/295). Quando o selho de Europa para a admissão de novos
documento foi apresentado, 143 países Estados-membros apontam nesta direção.
votaram pela sua aprovação, com apenas Contudo, o efeito transformador dos direi-
quatro votos negativos, dos Estados Unidos tos humanos dependerá do conhecimento
56 I. INTRODUÇÃO AO SISTEMA DE DIREITOS HUMANOS

e compreensão que as pessoas têm dos di-


reitos humanos e da sua prontidão para os “A violência terminará apenas quando nós
usar enquanto instrumento de mudança. confrontarmos o preconceito. O estigma e a
O conceito tradicional de direitos huma- discriminação terminarão apenas quando
nos tem sido criticado por feministas, por nós concordarmos em denunciar. Tal re-
não refletir apropriadamente a igualdade quer que todos nós façamos a nossa parte;
entre mulheres e homens e pela falta de de denunciar em casa, no trabalho, nas
sensibilidade relativamente ao género. As nossas escolas e comunidades.”
Conferências Mundiais sobre as Mulheres Ban Ki-moon, Secretário-Geral da ONU, 2010.
e a elaboração da CEDM, de 1979, con-
tribuíram, entre outros efeitos, para uma A Declaração e o Programa de Ação da Con-
perspetiva sensível ao género, no que ferência Mundial de Viena reconheceram a
respeita aos direitos humanos das mu- existência de diferentes abordagens quanto
lheres, e que também está refletida na à implementação dos direitos humanos com
Declaração de 1993 da ONU sobre a Vio- base em fatores históricos, religiosos e cultu-
lência Contra as Mulheres, na Convenção rais, mas, ao mesmo tempo, reiteraram a obri-
Interamericana de Belém do Pará, de 1995, gação de todos os Estados de implementar to-
e no Protocolo Adicional sobre os Direitos dos os direitos humanos (ver também o C.).
das Mulheres da Carta Africana sobre Di- Consequentemente, a existência de diferen-
reitos Humanos e dos Povos, de 2003. É ças culturais ou religiosas não pode ser utili-
importante referir que os instrumentos de zada como justificação para a não implemen-
direitos humanos apresentam um novo tação completa das obrigações internacionais
conceito social e político, ao reconhece- de direitos humanos. No entanto, o contexto
rem juridicamente as mulheres enquanto cultural deve ser tido em consideração. O diá-
seres humanos completos e iguais. logo de civilizações, que tem lugar na ONU,
tem precisamente como propósito o reconhe-
cimento do valor das diferentes civilizações,
Direitos Humanos das Mulheres sem se desculpar pelo não cumprimento das
obrigações decorrentes dos direitos humanos.
Alguns Estados invocam as suas particu- Um dos assuntos mais difíceis é a posição das
laridades históricas, religiosas e cultu- mulheres no seio de determinadas culturas,
rais, para argumentar que alguns direitos o que poderá conduzir a graves violações de
humanos não lhes são aplicáveis da mes- direitos humanos que têm de fazer parte de
ma forma que são a outros Estados. qualquer agenda para o diálogo.

E. PADRÕES DE DIREITOS
HUMANOS A NÍVEL UNIVERSAL

A história recente de estabelecimento 10 de dezembro de 1948, no rescaldo da


de padrões a nível global teve o seu iní- Segunda Guerra Mundial, palco das mais
cio com a DUDH, adotada pela AGNU a graves violações de direitos humanos de
E. PADRÕES DE DIREITOS HUMANOS A NÍVEL UNIVERSAL 57

sempre. A prevenção e a punição do ge- lar atenção às necessidades de grupos-alvo


nocídio, tal como foi cometido contra os específicos. No caso da Convenção relativa
Judeus durante o Holocausto, é o tema da às Mulheres, de 1979, o “problema das re-
Convenção para a Prevenção e Repressão servas”, que é um problema generalizado
do Crime de Genocídio, adotada um dia dos Tratados de Direitos Humanos, adqui-
antes da DUDH. riu uma proeminência particular, pois um
De modo a transformar os compromissos número de países tentou restringir alguns
assumidos na DUDH em obrigações juridi- direitos humanos das mulheres, através
camente vinculativas, a Comissão das Na- daquele mecanismo.
ções Unidas para os Direitos Humanos ela-
borou dois Pactos, um sobre direitos civis Resumo das convenções
e políticos (PIDCP) e o outro sobre direitos mais importantes
económicos, sociais e culturais (PIDESC). de direitos humanos da ONU
Devido à Guerra Fria, apenas foram ado-
tados em 1966 e entraram em vigor em - Convenção contra o Genocídio (1948, em
1976. Em janeiro de 2012, o PIDCP tinha janeiro de 2012 com 142 Estados Partes)
167 e o PIDESC 160 Estados Partes, respe- - Pacto Internacional sobre os Direitos
tivamente. O PIDESC foi adotado primei- Económicos, Sociais e Culturais (1966,
ro, indicando a preferência da então nova com 160 Estados Partes)
maioria, na ONU, dos países em desenvol- - Pacto Internacional sobre os Direitos
vimento e dos países socialistas, pelos di- Civis e Políticos (1966, com 165 Esta-
reitos económicos, sociais e culturais. dos Partes)
A DUDH e os dois Pactos são referidos - Convenção para a Prevenção e Puni-
usualmente como a “Carta Internacional ção do Crime de Genocídio (1948, com
dos Direitos Humanos” que também é 48 Estados Partes)
complementada por diversas outras con- - Convenção contra a Tortura e Outras
venções. Penas ou Tratamentos Cruéis, Desu-
Nos anos 60, a luta contra a discrimina- manos ou Degradantes (1984, com
ção racial e contra o Apartheid tomou a 146 Estados Partes)
dianteira, tendo como resultado a adoção - Convenção Internacional sobre a Eli-
de duas Convenções: contra a discrimi- minação de Todas as Formas de Dis-
nação racial e para a supressão do crime criminação Racial (1965, com 173 Es-
de apartheid. Outras Convenções foram tados Partes)
adotadas sobre a eliminação de todas as - Convenção sobre a Eliminação de
formas de discriminação contra as mu- Todas as Formas de Discriminação
lheres, contra a tortura e outras penas ou contra as Mulheres (1979, com 186
tratamentos cruéis, desumanos e degra- Estados Partes)
dantes, sobre os direitos da criança, sobre - Convenção Internacional sobre a
os direitos e dignidade das pessoas com Proteção dos Direitos de Todos os
deficiências e sobre a proteção de todas as Trabalhadores Migrantes e dos Mem-
pessoas contra desaparecimentos força- bros das Suas Famílias (1990, com
dos. Essas Convenções vão mais longe na 45 Estados Partes)
clarificação e especificação de disposições - Convenção sobre os Direitos da Crian-
presentes nos Pactos ou prestam particu- ça (1989, com 193 Estados Partes)
58 I. INTRODUÇÃO AO SISTEMA DE DIREITOS HUMANOS

- Convenção sobre os Direitos das Pes- designados de direitos inderrogáveis.


soas com Deficiência (2006, com 106 As disposições de emergência têm vindo
Estados Partes) a obter maior relevância na luta contra
- Convenção Internacional para a Prote- o terrorismo. Existem disposições se-
ção de Todas as Pessoas contra os De- melhantes na Convenção Europeia dos
saparecimentos Forçados (2006, com Direitos Humanos (artº 15º). O Comité
30 Estados Partes) da ONU para os Direitos Civis e Políticos
veio clarificar as obrigações dos Estados
no seu Comentário Geral (nº29, 2001)
De acordo com o princípio da não dis-
sobre “estados de emergência” (artº 4º)
criminação, os Estados têm de respeitar
e a Comissão Interamericana para os
e de assegurar a todas as pessoas, dentro
Direitos Humanos e o Comité de Minis-
do seu território, o gozo de todos os seus
tros do Conselho da Europa adotaram,
direitos humanos, sem discriminação no respetivamente, um relatório e linhas de
que respeita à raça, cor, sexo, língua, reli- orientação sobre “Terrorismo e Direitos
gião, opinião política ou outra, nacionali- Humanos”.
dade ou origem social, património, nasci- Alguns direitos podem conter as designa-
mento ou outro estatuto (artos 2º do PIDCP das “cláusulas de salvaguarda”, que per-
e do PIDESC). mitem restrições de certos direitos, caso
tal se mostre necessário, por razões de
Não Discriminação segurança pública, de ordem pública, de
saúde pública, de moral ou respeito pe-
los direitos e liberdades dos outros. Tal
Porém, também há a possibilidade do
possibilidade tem lugar, em particular,
uso de exceções e de cláusulas de sal-
no que respeita à liberdade de movimen-
vaguarda. Perante uma emergência pú-
to, à liberdade de sair de qualquer país,
blica, ameaçadora da vida de uma na- incluindo o seu próprio, à liberdade de
ção, um Estado pode derrogar as suas pensamento, de consciência e de religião,
obrigações, no caso de o estado de emer- incluindo a manifestação de uma religião
gência ter sido oficialmente proclamado ou crença, à liberdade de expressão e de
e as medidas deverão manter-se dentro informação, à liberdade de reunião e de
dos limites estritamente necessários na- associação. Estas restrições têm de estar
quela situação. As medidas têm de ser plasmadas numa lei, o que significa que
tomadas de uma forma não discrimina- terá de ser aprovada pelo Parlamento. As
tória (artº 4º, nº1 do PIDCP). Os outros instituições tais como os tribunais, ao in-
Estados Partes têm de ser informados terpretar as respetivas leis, têm a obriga-
através do Secretário-Geral da ONU. Po- ção de controlar o uso inapropriado das
rém, não são permitidas restrições a cer- suas disposições. Consequentemente, já
tos artigos, como é o caso do direito à chegaram vários casos junto do Tribu-
vida, a proibição da tortura e da escravi- nal Europeu dos Direitos Humanos e da
dão, a não retroatividade das leis penais Comissão e Tribunal Interamericanos,
ou o direito à liberdade de pensamento, questionando a aplicação de poderes de
de consciência ou de religião (artº 4º, emergência ou o uso de “cláusulas de sal-
nº2 PIDCP). Estes direitos são, portanto, vaguarda”.
F. IMPLEMENTAÇÃO DOS INSTRUMENTOS UNIVERSAIS DE DIREITOS HUMANOS 59

F. IMPLEMENTAÇÃO
DOS INSTRUMENTOS UNIVERSAIS
DE DIREITOS HUMANOS
Os Estados têm o dever de respeitar, pro- Outro desenvolvimento digno de nota é a
teger e implementar os direitos humanos. crescente ênfase na prevenção das vio-
Em muitos casos, a implementação signi- lações dos direitos humanos, através da
fica que o Estado e as suas autoridades adoção de medidas estruturais, isto é, atra-
têm de respeitar os direitos aceites, isto é, vés da atuação de instituições nacionais de
respeitar o direito à privacidade e o direito direitos humanos ou através da inclusão
de expressão. Isto é particularmente rele- de uma dimensão de direitos humanos nas
vante para os direitos civis e políticos, ao operações de manutenção da paz. O ob-
passo que os direitos económicos, sociais jetivo da prevenção é também uma priori-
e culturais implicam obrigações positivas dade da perspetiva da segurança humana
de implementação, por parte do Estado. relacionada com os direitos humanos (ver
Ou seja, neste último caso, o Estado terá também o B.).
de garantir ou fornecer certos serviços,
tais como a educação e a saúde e assegu- Em primeiro lugar, os direitos humanos
rar certos padrões mínimos. Neste contex- têm de ser implementados ao nível na-
to, é tida em consideração a capacidade de cional. Todavia, poderá haver obstáculos,
cada Estado para o fazer. Por exemplo, o nomeadamente, os relacionados com defi-
artº 13º do PIDESC reconhece o direito de ciências de “boa governação”, tais como a
todos à educação. Porém, especifica que existência de corrupção e ineficiência no
apenas o ensino primário tem de ser gra- âmbito dos poderes executivo ou judicial.
tuito. O ensino secundário e superior tem De forma a assegurar que o Estado está a
de ser disponibilizado e acessível, de uma cumprir com as suas obrigações, foi ins-
maneira geral para todos, mas apenas se tituída a monitorização internacional do
espera que a gratuitidade da educação seja desempenho dos Estados, na maior parte
conseguida progressivamente. O conceito das convenções internacionais de direitos
de realização progressiva de acordo com a humanos. Esta monitorização pode assu-
capacidade do Estado é aplicado a vários mir várias modalidades.
direitos económicos, sociais e culturais. O sistema de apresentação de relatórios
O dever de proteger requer que o Esta- existe em muitas convenções internacio-
do evite a violência e a violação de outros nais. Desta forma, os Estados têm de apre-
direitos humanos, junto da população do sentar relatórios, regularmente, acerca do
seu território. Do mesmo modo, os direitos seu desempenho no que respeita à prote-
humanos também têm uma “dimensão ho- ção dos direitos humanos. Normalmente,
rizontal”, que está a ganhar importância um comité de peritos analisa os relatórios
na era da globalização, ao suscitar a ques- e apresenta recomendações para o forta-
tão da responsabilidade social das empre- lecimento da implementação. O Comité
sas transnacionais. também pode elaborar Comentários Gerais
60 I. INTRODUÇÃO AO SISTEMA DE DIREITOS HUMANOS

quanto à interpretação correta da conven- tem os mecanismos criados pela Carta, que
ção. Em alguns casos, como o do PIDCP, se desenvolveram com base na Carta das Na-
existe um Protocolo facultativo que auto- ções Unidas e que se destinam às violações
riza o Comité dos Direitos Civis e Políticos dos direitos humanos no mundo. Um deles
a receber queixas individuais de pessoas foi o procedimento confidencial 1503, com
sobre alegadas violações dos seus direitos fundamento na Resolução 1503 do ECOSOC
humanos. Porém, tal só é possível para as de 1970, e 2000/3 de 2000, que permite o en-
pessoas que residem num dos 114 Estados vio de petições para o gabinete do Alto Co-
que ratificaram o protocolo facultativo. missário da ONU para os Direitos Humanos,
Protocolos semelhantes introduziram a em Genebra, e que são posteriormente ana-
queixa e, por vezes, também mecanismos lisadas por um grupo de peritos da Sub-Co-
de inquérito, no respeitante a outras con- missão da ONU para a Promoção e Proteção
venções, tais como o Protocolo Facultativo dos Direitos Humanos. Este procedimento,
ao PIDESC, de 2008 (6 Estados Partes2) ou que é especificamente destinado a violações
o Protocolo Opcional à Convenção sobre graves de direitos humanos, encontra-se sob
os Direitos das Pessoas com Deficiência, a responsabilidade do Conselho de Direitos
de 2006 (com 65 Estados Partes). Humanos desde 2006. As queixas sob o pro-
Algumas convenções também incluem o cedimento 1503 devem agora ser tratadas
mecanismo de queixas interestatais, mas através de dois comités (para as comunica-
esta é uma modalidade raramente utiliza- ções e para as situações), antes de chegarem
da. Só existe um procedimento judicial ao Conselho de Direitos Humanos. Durante
no âmbito das Convenções Europeia e o período de trabalho de 1947 a 2006, da Co-
Interamericana de Direitos Humanos, es- missão de Direitos Humanos e da sua Sub-
tando os respetivos Tribunais habilitados Comissão, os procedimentos especiais, isto
a emitir sentenças vinculativas para os Es- é, as atividades dos relatores especiais e dos
tados. Também se estabeleceu um Tribu- representantes da Comissão de Direitos Hu-
nal Africano dos Direitos Humanos e dos manos ou do Secretário-Geral relativamente
Povos, depois de o seu Estatuto (Protocolo aos direitos humanos, têm vindo a adquirir
à Carta Africana dos Direitos Humanos e importância. Há “relatores por país” como,
dos Povos) ter entrado em vigor com su- por exemplo, os relatores especiais e, confor-
cesso, em janeiro de 2004. Em 1 de julho me as circunstâncias, peritos independentes
de 2008, o tribunal foi fundido com o Tri- para situações específicas de direitos huma-
bunal de Justiça Africano, conhecido ago- nos no Sudão, no Haiti e Myanmar e na Re-
ra como o Tribunal Africano de Justiça e pública Democrática do Congo. Há também
Direitos Humanos. “relatores temáticos” como, por exemplo, os
De forma complementar aos mecanismos relatores especiais para a tortura ou para a
contidos nos instrumentos de direitos huma- violência contra as mulheres. O seu man-
nos, tais como as convenções, também exis- dato é normalmente de três anos, sujeito a
extensão.
No todo, existem cerca de 40 procedimen-
2
Nota da versão em língua portuguesa: O Protocolo tos especiais que recolhem informações de
Facultativo ao Pacto Internacional sobre os Direitos acordo com o seu país ou área temática de
Económicos, Sociais e Culturais entrou em vigor no
dia 5 de maio de 2013 tendo, nessa data, 10 Estados atividade, submetendo relatórios anuais.
Partes. Estes procedimentos refletem o ativismo
F. IMPLEMENTAÇÃO DOS INSTRUMENTOS UNIVERSAIS DE DIREITOS HUMANOS 61

crescente da ONU e também funcionam tuída pelo ‘Comité Consultivo para os Di-
como mecanismos de acompanhamento, reitos Humanos’, composto por peritos e
nos casos em que não tenham sido previs- realizando um trabalho substantivo a ser
tos procedimentos de cumprimento ou que adotado pelo CDH. Os procedimentos es-
se demonstre a falta de eficácia na susten- peciais continuam a ser testados. As pri-
tabilidade e na monitorização. Exemplos meiras experiências com o CDH foram de
podem ser encontrados na Declaração dos vária ordem. A intensidade das sessões
Defensores de Direitos Humanos, de 1998, aumentou, porém, os padrões de voto no
ou no caso de alguns direitos económicos Conselho deram a maioria aos países em
e sociais, tais como, os direitos humanos à desenvolvimento, especialmente do mun-
educação, à alimentação, a uma habitação do Islâmico, conduzindo a uma revisão
condigna, à saúde e a políticas de ajusta- das prioridades. Estes países pretenderam
mento estrutural. Existem ainda os “peritos que o Conselho focasse a sua atenção nos
independentes”, por exemplo do direito ao territórios palestinianos ocupados mais do
desenvolvimento e os “grupos de trabalho”, que, por exemplo, no genocídio no Sudão.
como é o caso do grupo de trabalho sobre os Também, os mandatos para os relatores
desaparecimentos forçados e involuntários. por país, de Cuba e da Bielorrússia, não
Em 2006, como parte das reformas das Na- foram renovados. Em 2010/2011, teve lugar
ções Unidas, o Conselho de Direitos Huma- a revisão dos novos procedimentos.
nos da ONU assumiu todos os mandatos, Note-se ainda que o Alto Comissariado da
funções e responsabilidades da Comissão ONU para os Direitos Humanos tem vindo
de Direitos Humanos e desde então respon- a aumentar os seus recursos, para o estabe-
de diretamente perante a Assembleia-Geral lecimento de missões do Alto Comissaria-
das Nações Unidas. O Conselho de Direitos do, em países em que existe uma situação
Humanos (CDH) é suposto levar a eficácia problemática no que diz respeito aos direi-
do sistema de direitos humanos das Na- tos humanos. Estabeleceram-se missões em
ções Unidas a um patamar mais elevado. países como o Afeganistão, a Bósnia-Her-
Para este efeito, aumentou-se o número de zegovina, o Camboja, a Colômbia, a Gua-
sessões para três por ano, assim como se temala, o Haiti, o Kosovo, o Montenegro,
atribuiu ao Conselho de Direitos Humanos a Serra Leoa, etc. Estas missões recolhem
a tarefa de rever a situação de direitos hu- informações e promovem a elevação dos
manos em todos os Estados-membros das padrões de direitos humanos, designada-
Nações Unidas, com base na DUDH e ou- mente, através da assessoria no processo de
tros tratados de direitos humanos ratifica- reforma legislativa ou da participação nos
dos [Revisão Periódica Universal (RPU)]. trabalhos da comunidade internacional.
Até 2011, todos os Estados-membros das As atividades destas instituições especiais
Nações Unidas foram submetidos à RPU têm um propósito de proteção e de promo-
que conclui com diversas recomendações e ção. Elas promovem a sensibilização para
constitui uma inovação relevante. os direitos humanos e a sua inclusão em
O Conselho de Direitos Humanos, através todas as ações, de modo a fundamentar
das suas sessões especiais, pode, rapida- solidamente as soluções adotadas em prin-
mente, responder a problemas graves de cípios de direitos humanos. Na verdade, a
direitos humanos. A Sub-Comissão para a promoção dos direitos humanos implica
Proteção dos Direitos Humanos foi substi- uma tarefa bem mais ampla que não pode-
62 I. INTRODUÇÃO AO SISTEMA DE DIREITOS HUMANOS

rá ser executada apenas pelas instituições (Ombudspersons) ou Comissões Nacionais


e organismos internacionais. A promoção de Direitos Humanos. Com esta finalida-
dos direitos humanos implica, acima de de, foram adotados pela AGNU, em 1993,
tudo, que as pessoas estejam conscientes os “Princípios de Paris” que estabelecem
dos seus direitos, que os conheçam e que vários padrões relativos às competências,
os saibam utilizar da melhor forma. De responsabilidades, garantias de indepen-
modo a atingir este propósito, vários ato- dência e de pluralismo, bem como méto-
res podem ser envolvidos, incluindo uni- dos operacionais. As instituições nacionais
versidades, o setor da educação em geral, podem desempenhar um papel muito im-
mas também Organizações Não Governa- portante, em particular em países que não
mentais (ONG). beneficiem de um sistema regional eficaz
Ao nível nacional, a ONU recomendou, de proteção de direitos humanos, tal como
na Res. AG 48/134 (1993), a criação de na Ásia e nos países Árabes. Estas institui-
instituições nacionais de direitos huma- ções cooperam regionalmente e no âmbito
nos que promovam e protejam os direitos do Conselho de Direitos Humanos, onde
humanos, como os Provedores de Justiça têm um estatuto consultivo.

G. DIREITOS HUMANOS
E A SOCIEDADE CIVIL
O impacto da sociedade civil, representado Helsinki Federation (IHF) influenciam os go-
sobretudo pelas ONG, tem-se revelado cru- vernos e a comunidade internacional através
cial para o desenvolvimento do sistema de da elaboração de relatórios de elevada qua-
direitos humanos. As ONG assentam na li- lidade, fundamentados na investigação dos
berdade de associação, protegida pelo artº factos e na monitorização. Uma outra forma
22º do PIDCP. Na ONU, tornaram-se uma de atuação eficaz das ONG é a elaboração
espécie de “consciência do mundo”. Normal- dos “relatórios-sombra” paralelos aos rela-
mente, prosseguem interesses de proteção tórios oficiais nacionais apresentados junto
específicos, como a liberdade de expressão e dos órgãos internacionais de monitorização.
dos meios de informação (Artº 19º) ou a pre- Algumas ONG, tais como a Avaaz (voz) ou a
venção da tortura e de tratamentos desuma- Change especializaram-se em campanhas de
nos ou degradantes (Associação para a Pre- direitos humanos, meio-ambiente ou desen-
venção da Tortura, APT). As ONG, como a volvimento, etc., utilizando para o seu esco-
Amnistia Internacional, utilizam procedi-
po, com muita eficácia, a internet.
mentos particulares, tais como os “pedidos
urgentes de ação” com o objetivo de pres-
sionar os governos. A estratégia “mobiliza- De acordo com uma resolução da AGNU,
ção da vergonha” pode ser bastante efetiva, em 1998, a Declaração dos Defensores
sobretudo, se contar com o apoio de meios dos Direitos Humanos, as pessoas e
de informação independentes. As ONG, tais as ONG que trabalham ao serviço dos
como a International Crisis Group (ICG), a direitos humanos têm de ter a liberda-
Human Rights Watch, ou a International de necessária para o fazer e têm de ser
G. DIREITOS HUMANOS E A SOCIEDADE CIVIL 63

protegidas contra qualquer tipo de per- ONU, a UNESCO, o Conselho da Europa


seguição. Em alguns Estados, organiza- ou outras instituições intergovernamen-
ções como a Amnistia Internacional ou tais. A nível global, a PDHRE, que deu
os Comités Helsinki têm sido sujeitas início à Década das Nações Unidas para
a críticas e, em alguns casos, mesmo a Educação em matéria de Direitos Huma-
perseguições pelo teor do seu trabalho. nos, também alcançou o Sul, onde pre-
Há inúmeros casos, em todo o mundo, tende a criação de Instituições Regionais
de detenção de ativistas de direitos hu- de Aprendizagem de Direitos Humanos.
manos por estes desenvolverem o seu No campo da formação contra o racismo
trabalho legitimamente. O Estado não e comportamento discriminatório, a Liga
só tem a obrigação de proteger esses ati- Anti Difamação (LAD) está ativa em todo
vistas dos seus próprios representantes, o mundo.
como é o caso da polícia, mas também A ONG Human Rights Education Associa-
de grupos violentos, nomeadamente, es- tes (HREA) organiza cursos de formação
quadrões da morte que assumem o con- através da internet e também disponibili-
trolo da lei, pelas suas próprias mãos. za recursos eletrónicos (www.hrea.org).
O Secretário-Geral da ONU nomeou um A ONG austríaca Centro de Formação e In-
Representante Especial para os Defenso- vestigação em Direitos Humanos e Demo-
res de Direitos Humanos que velará pela cracia (ETC) organiza cursos de formação
implementação da respetiva declaração de formadores no Sudeste da Europa, Ásia
da ONU. Também o Comissário dos Di- e África, com base no Manual de Educa-
reitos Humanos do Conselho da Europa ção para os Direitos Humanos.
e a UE têm o objetivo de os apoiar. As redes de ONG assumiram particular
importância na luta pela igualdade das
mulheres e a sua proteção. A UNIFEM, a
“O título de Defensor dos Direitos Huma- CLADEM ou a WIDE dão realce, nas suas
nos pode ser conseguido por qualquer um agendas, à Educação e Aprendizagem para
de nós. Não é um papel que requeira uma os Direitos Humanos, com o objetivo de
qualificação profissional. Depende apenas fortalecer o poder das mulheres de modo
da preocupação pelo próximo, da compre- a que estas ultrapassem os obstáculos à
ensão de que todos somos titulares de todos igualdade plena e a não discriminação.
os direitos humanos, do compromisso de Em África, as ONG reúnem regularmente
tornar esse ideal uma realidade.” antes da sessão da Comissão Africana de
Navi Pillay, Alta Comissária da ONU para os Direitos Direitos Humanos e dos Povos, assistem
Humanos. à sessão e organizam atividades conjuntas
de formação.

As ONG também desempenham As organizações da sociedade civil aju-


um papel determinante na Educação e dam a amplificar a voz dos não privile-
Aprendizagem para os Direitos Huma- giados, económica e politicamente. Em
nos, através do desenvolvimento de cur- campanhas sobre assuntos específicos
ricula, da organização de ações de forma- relacionados com o comércio justo, a
ção e da produção de materiais didáticos, violência contra as mulheres, os direitos
frequentemente, em cooperação com a humanos e as violações ambientais, refe-
64 I. INTRODUÇÃO AO SISTEMA DE DIREITOS HUMANOS

rindo só alguns, a sociedade civil interna- volver a participação cívica nos pro-
cional tem chamado a atenção do mundo cessos económicos e políticos e para
para as ameaças à segurança humana. assegurar que os compromissos institu-
As ONG podem fortalecer e mobilizar vá- cionais respondem às necessidades das
rias organizações da sociedade civil nos pessoas.
seus países, através de uma educação ba- (Fonte: Comissão sobre a Segurança
seada nos direitos humanos, para desen- Humana. 2003. Segurança Humana Já.)

H. SISTEMAS REGIONAIS
DE PROTEÇÃO E PROMOÇÃO
DE DIREITOS HUMANOS
Além do sistema universal de proteção lho da Europa (em 2012: 47 Estados-mem-
dos direitos humanos, desenvolveram-se bros), o da Organização para a Seguran-
vários sistemas regionais de direitos hu- ça e Cooperação na Europa (em 2012: 56
manos que, habitualmente, conferem um Estados-membros) e o da União Europeia
padrão mais elevado de direitos e da sua (em 2012: 27 Estados-membros, 28 depois
implementação. da adesão esperada da Croácia, em 2013).
A vantagem dos sistemas regionais é a O sistema europeu de direitos humanos é o
sua capacidade de resolver as queixas de sistema regional mais elaborado. Desenvol-
forma mais eficiente. No caso dos tribu- veu-se em reação às violações em massa de
nais, as sentenças são vinculativas e com direitos humanos durante a Segunda Guer-
indemnizações e as recomendações das ra Mundial. Os direitos humanos, o prima-
Comissões de Direitos Humanos são geral- do do Direito e a democracia pluralista são
mente levadas a sério pelos Estados. Po- os pilares do ordenamento jurídico euro-
dem não só resultar em “casos que abrem peu. Os instrumentos principais do Con-
precedentes” na interpretação e clarifica- selho da Europa e da União Europeia são
ção das disposições contidas nos instru- vinculativos para todos os Estados Partes.
mentos de direitos humanos, mas também
na alteração das leis nacionais de modo Instrumentos Europeus de Direitos
a torná-las conformes com as obrigações Humanos
internacionais de direitos humanos. Mais, - Convenção para a Proteção dos Direitos
os sistemas regionais tendem a mostrar Humanos e das Liberdades Fundamen-
uma maior sensibilidade para com preo- tais (1950) e 14 Protocolos Adicionais
cupações culturais e religiosas, caso haja
- Carta Social Europeia (1961), revista
razões válidas para elas.
em 1991 e 1996 e Protocolos Adicio-
nais 1988 e 1995
I. EUROPA
- Convenção Europeia para a Prevenção
O sistema europeu de direitos humanos da Tortura e das Penas ou Tratamentos
tem três dimensões: o sistema do Conse- Desumanos ou Degradantes (1987)
H. SISTEMAS REGIONAIS DE PROTEÇÃO E PROMOÇÃO DE DIREITOS HUMANOS 65

- Ato Final de Helsínquia (1975) e o vado interesse tem vindo a ser depositado
respetivo processo seguinte da CSCE/ na Carta Social Europeia que foi alterada
OSCE com a Carta de Paris para uma duas vezes, em 1988 e em 1995. Atual-
nova Europa (1990) mente, confere também a possibilidade de
queixas coletivas, com base num Protoco-
- Carta Europeia das Línguas Regionais lo Adicional.
ou Minoritárias (1992) Uma significativa inovação surgiu com a
- Convenção Quadro para a Proteção Convenção Europeia para a Prevenção da
das Minorias Nacionais (1994) Tortura e das Penas ou Tratamentos De-
- Carta dos Direitos Fundamentais da sumanos ou Degradantes, de 1987, que
União Europeia (2000) criou o Comité Europeu para a Prevenção
da Tortura e das Penas ou Tratamentos De-
1. O Sistema de Direitos Humanos do sumanos ou Degradantes. O Comité envia
Conselho da Europa delegações a todos os Estados Partes da
Convenção para realizarem visitas regula-
a. Visão geral res ou especiais (Ad-hoc) a prisões, hospi-
O instrumento jurídico principal é a Con- tais psiquiátricos e todos os outros locais
venção Europeia para a Proteção dos de detenção. Assim, a lógica do sistema
Direitos Humanos e das Liberdades Fun- assenta no seu efeito preventivo ao contrá-
damentais (CEDH), de 1950, juntamente rio da proteção ex-post facto ainda da res-
com os seus 14 Protocolos Adicionais. De ponsabilidade da CEDH e do seu Tribunal.
particular importância são os Protocolos Em dezembro de 2002, a AGNU adotou um
nº 6 e nº 13, sobre a abolição da pena Protocolo Facultativo à Convenção da ONU
de morte, que distinguem a perspetiva eu- contra a Tortura que prevê um mecanismo
ropeia de direitos humanos da perspetiva semelhante a operar em todo o mundo.
dos Estados Unidos da América, e os Pro- Este prevê os “Mecanismos de Prevenção
tocolos nº 11 e nº 14, que substituíram a Nacionais” a serem estabelecidos em todos
Comissão Europeia dos Direitos Humanos os Estados Partes e visitas preventivas a se-
e o Tribunal Europeu dos Direitos Huma- rem realizadas pelo Subcomité para a Pre-
nos por um tribunal permanente de Di- venção da Tortura (SPT).
reitos Humanos, o Tribunal Europeu dos
Direitos Humanos (TEDH), e melhoraram
os seus procedimentos. A CEDH contém, Proibição da Tortura
sobretudo, direitos civis e políticos, mas
também o direito à educação. A Convenção Quadro Europeia para a
A Carta Social Europeia, de 1961, foi con- Proteção das Minorias Nacionais (1995)
cebida para adicionar os direitos económi- foi elaborada após a Cimeira do Conse-
cos e sociais, mas nunca atingiu a mesma lho da Europa em Viena, em 1993, como
importância da CEDH. Desde o início que reação aos problemas crescentes com os
sofreu de um sistema de implementação direitos das minorias na Europa. Estes pro-
débil e ineficiente. Contudo, paralelamen- blemas são o resultado da dissolução da
te à crescente atenção conferida aos direi- União Soviética e da República Socialista
tos económicos e sociais, a nível universal, da Jugoslávia e, mais genericamente, dos
desde o final da década de 80, um reno- processos de autodeterminação que ocor-
66 I. INTRODUÇÃO AO SISTEMA DE DIREITOS HUMANOS

reram na Europa, na década de 90. Segun- - Comité Europeu dos Direitos Sociais
do a Convenção, os Estados têm de prote- (revisto 1999)
ger os direitos individuais dos membros de
minorias nacionais, mas também têm de - Comité Europeu para a Prevenção da
proporcionar as condições que permitam Tortura e das Penas ou Tratamentos
às minorias manter e desenvolver a sua Desumanos ou Degradantes (CPT,
cultura e a sua identidade. Contudo, o me- 1989)
canismo de efetivação da lei resume-se a - Comité Consultivo da Convenção Qua-
um sistema de apresentação de relatórios dro para a Proteção das Minorias Na-
e à existência de um Comité Consultivo de cionais (1998)
Peritos encarregado de analisar esses re-
latórios e que também realiza visitas aos - Comissão Europeia contra o Racismo e
países. a Intolerância (CERI, 1993)
A Comissão Europeia contra o Racismo - Comissário Europeu para os Direitos
e a Intolerância (CERI) foi estabelecida Humanos (1999)
na Cimeira da Europa em Viena, em 2003,
- Comité de Ministros do Conselho da
para combater o racismo, a xenofobia, o
Europa
antissemitismo e a intolerância. Para esta
finalidade, a Comissão, junto com os Esta- - Assembleia Parlamentar do Conselho
dos-membros do Conselho da Europa, pre- da Europa
para relatórios periódicos sobre a situação
nesta área. Também apresenta recomenda- Organização para a Segurança e Coope-
ções gerais de política e preocupa-se com ração na Europa (OSCE):
o envolvimento da sociedade civil, na luta
- Escritório para as Instituições De-
contra o racismo e intolerância.
mocráticas e os Direitos Humanos
O Conselho da Europa também estabe-
(ODIHR, 1990)
leceu, em 1999, um Comissário para os
Direitos Humanos que se centra nas la- - Alto Comissariado para as Minorias
cunas da proteção europeia dos direitos Nacionais (1992)
humanos, tal como a situação dos mi- - Representante para a Liberdade dos
grantes, e também realiza visitas aos paí- Meios de Informação (1997)
ses. A Assembleia Parlamentar do Con-
selho da Europa encontra-se ativamente União Europeia (UE):
envolvida nas questões dos direitos hu-
manos, enquanto o Comité de Ministros é - Tribunal de Justiça da União Europeia
o órgão funcional principal na supervisão (TJUE)
de todo o sistema. - Comissário Europeu de Justiça e Direi-
tos Fundamentais
Instituições e Órgãos Europeus de Di-
reitos Humanos - Agência dos Direitos Fundamentais
da União Europeia (2007), estabeleci-
Conselho da Europa (CdE): da a partir do Observatório Europeu
- Tribunal Europeu dos Direitos Huma- do Racismo e da Xenofobia (OERX,
nos (tribunal único em 1998) 1998)
H. SISTEMAS REGIONAIS DE PROTEÇÃO E PROMOÇÃO DE DIREITOS HUMANOS 67

b. O Tribunal Europeu dos Direitos Hu- grande número de queixas recebidas que
manos cresceu de cerca de 1.000, em 1998, para
O principal instrumento de proteção dos 56.000, em 2011, causando assim uma so-
direitos humanos na Europa é o Tribunal brecarga do sistema. Para fazer face a este
Europeu dos Direitos Humanos (TEDH), problema, foi adotado, em 2004, o Proto-
em Estrasburgo, cuja jurisdição obriga- colo nº14 à CEDH, porém, são necessárias
tória é reconhecida por todos os Esta- medidas adicionais. A adesão prevista da
dos-membros do Conselho da Europa. Em União Europeia à CEDH irá aumentar ain-
cada caso está envolvido um “juiz nacio- da mais o quadro de proteção dos direitos
nal” para facilitar a compreensão do direi- humanos na Europa, mas irá aumentar
to nacional. Contudo, uma vez nomeados, ainda mais o número de processos.
os juízes servem apenas na sua capacida-
de pessoal e o exercício das suas funções 2. O Sistema de Direitos Humanos da Or-
encontra-se limitado a 9 anos. ganização para a Segurança e Coope-
Para que uma queixa seja admissível, ração na Europa (OSCE)
têm de ser preenchidas quatro importantes
condições prévias: A OSCE, que substituiu a Conferência sobre
a Segurança e a Cooperação na Europa em
a. Violação de um direito consagrado na 1994, é uma organização muito peculiar.
Convenção Europeia dos Direitos Hu- Não tem uma carta jurídica nem personali-
manos ou nos seus Protocolos Adicio- dade jurídica internacional e as suas decla-
nais; rações e recomendações têm um carácter
b. O(s) autor(es) da queixa deve(m) ser meramente político e não são vinculativas
a(s) vítima(s) da violação; para os Estados. No entanto, as listas de
c. Esgotamento de todos os mecanismos obrigações frequentemente muito detalha-
de proteção nacionais eficazes; das, adotadas em diversas conferências
d. A queixa deve ser feita num prazo de 6 de acompanhamento ou em encontros de
meses depois de esgotados os mecanis- peritos e monitorizadas pelo Conselho de
mos de recurso nacionais. representantes dos Estados-membros, e as
conferências de acompanhamento regular-
Se considerada admissível, uma secção mente organizadas são um mecanismo de
de 7 juízes decide sobre o mérito do caso. monitorização bem sucedido. O “Processo
A sua decisão será definitiva se se con- de Helsínquia” desempenhou um papel
siderar que a questão não tem particular importante no desenvolvimento da coo-
relevância ou não representa uma nova peração entre o Leste e o Oeste durante a
linha de jurisdição. Caso contrário, verifi- Guerra Fria e na criação de uma base de co-
cando-se uma destas situações, o tribunal operação na Europa alargada de 56 países,
pleno, composto por 17 juízes, poderá in- incluindo os EUA e o Canadá.
tervir com a função de recurso. As senten- Sob o título da “dimensão humana”, a
ças são vinculativas e podem prever a atri- OSCE desenvolve diversas atividades na
buição de uma indemnização por danos. A área dos direitos humanos e dos direitos
supervisão da execução das sentenças é da das minorias, em particular. Também tem
responsabilidade do Comité de Ministros. vindo a desempenhar um papel importan-
O problema principal deste sistema é o te nas várias missões de terreno, como na
68 I. INTRODUÇÃO AO SISTEMA DE DIREITOS HUMANOS

Bósnia e Herzegovina ou no Kosovo. Com 3. A Política de Direitos Humanos da


este propósito, as missões da OSCE têm União Europeia
um departamento de direitos humanos,
cujos funcionários são destacados por todo Enquanto a Comunidade Económica Eu-
o país para monitorizar e relatar sobre a si- ropeia, criada em 1957, de início não se
tuação dos direitos humanos, assim como preocupava com questões políticas como
para os promover e prestar assistência em os direitos humanos, a integração política
casos de proteção. A OSCE também apoia da Europa no sentido da criação da União
instituições nacionais de direitos humanos Europeia, desde os anos 80, permitiu que
em países onde mantém missões, como foi os direitos humanos e a democracia se tor-
o caso dos provedores de justiça na Bósnia nassem conceitos chave da ordem jurídica
e Herzegovina ou no Kosovo. europeia comum. Um papel importante
Foram desenvolvidos mecanismos espe- foi desempenhado pelo Tribunal Europeu
ciais sob a forma de um Alto Comissário de Justiça que desenvolveu uma juris-
para as Minorias e um Representante dição de direitos humanos derivada das
para a Liberdade dos Meios de Informa- tradições constitucionais comuns aos Es-
ção (Direitos das Minorias, Liber- tados-membros e tratados internacionais
dade de Expressão e Liberdade dos Meios dos quais esses Estados-membros eram
de Informação) que têm os seus escritó- partes, nomeadamente, a Convenção Eu-
rios em Haia e em Viena, respetivamente. ropeia dos Direitos Humanos. Muitos di-
O Alto Comissário para as Minorias Na- reitos humanos foram construídos como
cionais constitui um instrumento de pre- princípios gerais de direito comunitário,
venção de conflitos, que tem a responsa- como o direito de propriedade, a liberdade
bilidade de lidar com as tensões étnicas de associação e religião ou o princípio da
na fase mais precoce possível. A OSCE igualdade, que é de particular importância
tem igualmente um papel importante na no direito da União Europeia.
monitorização de eleições democráticas, Desde os anos 80, a Comunidade Europeia
em vários países da Europa em transição também tem desenvolvido uma política de
para democracias pluralistas. O proces- direitos humanos nas suas relações com
so de democratização e a promoção dos países terceiros, o que se reflete igualmen-
direitos humanos são apoiados pelo Es- te nos denominados critérios de Copenha-
critório para as Instituições Democrá- ga para o reconhecimento de novos Esta-
ticas e dos Direitos Humanos (ODIHR, dos do Sudeste Europeu. Os artos 6º e 7º
em língua inglesa), localizado em Var- do Tratado da União Europeia, de 1995,
sóvia. A OSCE desempenha também um referem, explicitamente, a Convenção Eu-
papel relevante na resolução de conflitos ropeia dos Direitos Humanos de 1950. E
e na reconstrução pós-conflito na Euro- de acordo com o tratado reformador da UE
pa. Também está envolvida na promoção (Tratado de Lisboa) que entrou em vigor
da educação para os direitos humanos, em 2009, a UE iniciou negociações para
realizada através de projetos e ligações aceder à CEDH, na qualidade de membro.
com outras organizações regionais ou in- Em 2000, convocou-se uma Convenção
ternacionais, assim como ONG, sob a ex- para redigir a Carta dos Direitos Funda-
pressão “Educação para respeito mútuo e mentais da União Europeia, adotada na
compreensão”. Cimeira de Nice, em 2000. Atualmente,
H. SISTEMAS REGIONAIS DE PROTEÇÃO E PROMOÇÃO DE DIREITOS HUMANOS 69

esta Carta é o documento mais moderno tortura e a pena de morte ou à campanha


de direitos humanos na Europa e inclui, pelo Tribunal Penal Internacional.
num único texto, tanto direitos civis e po- A Agência dos Direitos Fundamentais
líticos, como económicos, sociais e cultu- da União Europeia (ADF) foi criada em
rais, à semelhança da DUDH. Com a en- Viena, em 2007. Baseia-se no trabalho do
trada em vigor do Tratado de Lisboa, em Observatório Europeu do Racismo e da
2009, a Carta de Direitos Fundamentais Xenofobia (OERX), criado anteriormente
passou a ter valor jurídico vinculativo. em Viena, em 1998, para abordar o pro-
Desde 1995, a UE inclui cláusulas de di- blema crescente do racismo e da xenofobia
reitos humanos nos seus acordos bilate- na UE. Desde então, o OERX, apoiado por
rais, como o Acordo de Cotonu, o Acordo ONG, monitorizava a situação na Europa
da Euromed e os Acordos de Estabilidade e apoiava atividades para combater o ra-
e Associação com países do sudeste euro- cismo e a xenofobia. A sua agência suces-
peu. sora, a ADF, também tem a incumbência
A União Europeia desenvolveu uma políti- de monitorizar todos os direitos contidos
ca de direitos humanos para as suas rela- na Carta da União Europeia dos Direitos
ções internas e internacionais, formando Fundamentais, na UE. Tal tem-se realizado
parte da sua Política Externa de Segurança com ênfase em áreas temáticas seleciona-
Comum. O Relatório Anual de Direitos das, mais do que através da redação de re-
Humanos, publicado pelo Serviço Euro- latórios regulares e abrangentes. Para esta
peu para a Ação Externa (SEAE), reflete finalidade, e tendo por base programas
a importância desta política de direitos multianuais, elaboram-se relatórios temá-
humanos para a União Europeia em geral. ticos e estudos com a ajuda de uma rede
O Serviço Europeu para a Ação Externa de pesquisa de pontos focais nacionais de
profere declarações públicas, mas também todos os Estados-membros da UE, denomi-
se encontra ativo nos bastidores, numa nada FRANET. Um comité científico e uma
“diplomacia de direitos humanos” casuís- plataforma da sociedade civil disponibili-
tica e, junto com a União Europeia, rea- zam aconselhamento.
liza “diálogos de direitos humanos” com O Tratado sobre o Funcionamento da
diversos países, como a China e o Irão. O União Europeia, no artº 19º, empodera a
Parlamento Europeu assumiu a liderança União Europeia para combater a discrimi-
no que respeita a manter os direitos hu- nação com base na origem racial ou étnica,
manos como uma prioridade europeia e, na religião ou crença, idade, deficiência ou
desde o início dos anos 90, também pu- orientação sexual. Em 2000, o Conselho
blica relatórios anuais sobre situações de adotou a diretiva 2000/43/EC, sobre a
direitos humanos no mundo e na UE. Por implementação do princípio do tratamen-
sua iniciativa, é disponibilizada ajuda fi- to igual entre as pessoas, independente-
nanceira para projetos de ONG na área dos mente da origem racial ou étnica, particu-
direitos humanos e democracia, por via da larmente no que respeita aos setores do
Iniciativa Europeia para a Democracia e emprego, educação, proteção social, bem
os Direitos Humanos, operacionalizada como o acesso e fornecimento de bens e
pela Europe Aid, em nome da Comissão serviços disponíveis ao público, incluindo
Europeia que define a estratégia política. É a habitação. A diretiva aplica-se tanto ao
dada importância especial à luta contra a setor público como ao privado, dentro da
70 I. INTRODUÇÃO AO SISTEMA DE DIREITOS HUMANOS

UE e, desde então, tem sido complementa- venção Interamericana para Prevenir, Pu-
da por outras diretivas. nir e Erradicar a Violência contra a Mulher
Do mesmo modo, a União Europeia dá par- (Convenção de Belém do Pará), que entrou
ticular importância à igualdade. De acordo em vigor em 1995, merece ser referida de
com o artº 157º do Tratado sobre o Funciona- forma particular. Já foi ratificada por 32 dos
mento da União Europeia, os Estados-mem- 35 Estados-membros da OEA. De acordo
bros têm de aplicar o princípio da “igualdade com esta Convenção, devem ser submetidos
de remuneração entre homens e mulheres” relatórios nacionais regulares à Comissão
e de adotar medidas destinadas a assegurar Interamericana de Mulheres, criada já em
o princípio da igualdade de oportunidades. 1928. Há também um Relator Especial so-
Além disso, este princípio foi desenvolvido bre os Direitos das Mulheres (desde 1994).
por regulamentos e diretivas, como a diretiva
atualizada do tratamento igual 2002/73/EC. Direitos Humanos das Mulheres

Não Discriminação e Direitos Hu-


Sistema Interamericano de Direitos
manos das Mulheres
Humanos
II. AMÉRICAS - Declaração Americana dos Direitos e
Deveres do Homem (1948)
O Sistema Interamericano de Direitos Hu- - Comissão Interamericana dos Direitos
manos começou com a Declaração Ame- Humanos (1959)
ricana dos Direitos e Deveres do Homem, - Convenção Americana sobre Direitos
que foi adotada em 1948, juntamente com Humanos (1969, em vigor 1978, 24
a Carta da Organização dos Estados Ame- Estados Partes)
ricanos (OEA). A Comissão Interamerica- - Protocolo Adicional em Matéria de Di-
na de Direitos Humanos criada pela OEA, reitos Económicos, Sociais e Culturais
em 1959, e constituída por 7 membros é o (1988, 16 Estados Partes)
órgão mais importante do sistema. - Protocolo Adicional referente à Aboli-
Em 1978, a Convenção Americana sobre ção da Pena de Morte (1990, 12 Esta-
Direitos Humanos, adotada em 1969, en- dos Partes)
trou em vigor e, desde então, foi comple- - Tribunal Interamericano dos Direitos
mentada por dois protocolos adicionais, Humanos (1979, em vigor 1984)
um sobre direitos económicos, sociais e cul- - Comissão Interamericana de Mulheres
turais e outro sobre a abolição da pena de (1928)
morte. Os Estados Unidos não são parte da - Convenção Interamericana para Preve-
Convenção, apesar de a Comissão ter a sua nir, Punir e Erradicar a Violência con-
sede em Washington. A Convenção também tra a Mulher (1994, 32 Estados Partes)
contemplou a criação de um Tribunal Inte- - Convenção Interamericana para a Elimi-
ramericano de Direitos Humanos, que foi nação de Todas as Formas de Discrimi-
criado em 1979, com sede na Costa Rica, nação contra as Pessoas Portadoras de
onde também está localizado o Instituto In- Deficiência (1999, 19 Estados Partes)
teramericano de Direitos Humanos.
Existem vários instrumentos jurídicos que As pessoas individualmente, grupos ou
conferem direitos às mulheres, mas a Con- ONG podem apresentar queixas, designa-
H. SISTEMAS REGIONAIS DE PROTEÇÃO E PROMOÇÃO DE DIREITOS HUMANOS 71

das “petições” à Comissão Interamericana O seu preâmbulo faz referência aos valores
dos Direitos Humanos, que pode também da civilização africana que tem como obje-
pedir informação sobre medidas de direi- tivo inspirar o conceito africano dos direi-
tos humanos tomadas. Ao Tribunal Intera- tos humanos e dos povos. Além dos direi-
mericano não se pode aceder diretamente, tos individuais, consagra também direitos
só através da Comissão que pode decidir dos povos. Enuncia, ainda, os deveres dos
sobre que casos deverão ser transmitidos indivíduos, por exemplo, relativamente
ao Tribunal. Deste modo, no passado, o à família e à sociedade mas, na prática,
Tribunal não recebia muitos casos, o que aqueles deveres são pouco relevantes.
mudou desde então. O Tribunal pode tam-
bém emitir pareceres, nomeadamente, Sistema Africano de Direitos Humanos
sobre a interpretação da Convenção. Tal
como a Comissão, o Tribunal tem sete - Carta Africana dos Direitos Humanos
membros, e não tem carácter permanente. e dos Povos (1981, em vigor 1986, 53
A Comissão pode igualmente levar a cabo Estados Partes)
investigações no terreno e publica relató- - Comissão Africana dos Direitos Huma-
rios especiais sobre situações específicas nos e dos Povos (1987)
preocupantes. Há muitas ONG que ajudam - Protocolo sobre o Estabelecimento do
as vítimas de violações de direitos humanos Tribunal Africano dos Direitos Huma-
a levar casos à Comissão Interamericana de nos e dos Povos (1997, em vigor 2003,
Direitos Humanos e ao Tribunal. Também 24 Estados Partes)
existem procedimentos especiais como os - Protocolo sobre os Direitos das Mulhe-
Relatores Especiais sobre a liberdade de ex- res (2003, em vigor 2005, 28 Estados
pressão, sobre os direitos dos trabalhadores Partes)
migrantes, sobre os direitos das mulheres e - Carta Africana dos Direitos e do Bem-
sobre os direitos da criança. Estar da Criança (1990, em vigor 1999,
45 Estados Partes)
III. ÁFRICA - Tribunal Africano de Justiça e Direitos
Humanos (2008)
O sistema africano de direitos humanos foi
criado em 1981 com a adoção, pela então A Comissão Africana dos Direitos Huma-
Organização da União Africana (OUA), da nos e dos Povos tem um mandato amplo
Carta Africana dos Direitos Humanos e na área da promoção dos direitos humanos,
dos Povos, que entrou em vigor em 1986. mas pode também receber queixas de Es-
A Carta estabelece a Comissão Africana tados (o que nunca aconteceu até à data)
dos Direitos Humanos e dos Povos, for- e de indivíduos ou grupos. Os critérios de
mada por 11 membros, que tem sede em admissibilidade são amplos e também per-
Banjul, na Gâmbia. Atualmente, todos mitem comunicações de ONG ou indiví-
os 54 Estados-membros da União Africa- duos, em nome das vítimas das violações.
na (UA), que sucedeu à OUA em 2001, No entanto, a Comissão não pode emitir
ratificaram a Carta Africana que segue a decisões juridicamente vinculativas, uma
abordagem da Declaração Universal dos das razões que justificou a adoção de um
Direitos Humanos unindo todas as catego- protocolo adicional à Carta sobre o estabe-
rias de direitos humanos num documento. lecimento do Tribunal Africano dos Direitos
72 I. INTRODUÇÃO AO SISTEMA DE DIREITOS HUMANOS

Humanos e dos Povos, que entrou em vigor África e de outros locais que podem parti-
em 2003. No entanto, em 2004, a Assem- cipar nas reuniões públicas da Comissão.
bleia dos Chefes de Estado e de Governo Frequentemente, levam-lhe casos de vio-
decidiu fundir o Tribunal com o Tribunal da lações e apoiam o trabalho da Comissão e
União Africana, o que veio a acontecer em dos seus relatores especiais. É também im-
2008, tornando-se no Tribunal Africano de portante que os governos façam com que
Justiça e Direitos Humanos. O Tribunal a Carta seja diretamente aplicável nos seus
encontra-se em Arusha, na Tanzânia, e teve sistemas jurídicos nacionais. Isto aconte-
a sua primeira reunião em 2006. Em 2009, ceu, por exemplo, na Nigéria, tendo tido
o Tribunal proferiu a sua primeira decisão. como resultado o facto de as ONG nigeria-
Pode receber queixas através da Comissão, nas, como a Constitutional Rights Project,
tal como no sistema interamericano. Os terem levado com sucesso aos tribunais ni-
indivíduos apenas podem recorrer direta- gerianos casos de violações da Carta.
mente ao Tribunal se os Estados proferirem Depois da adoção da Convenção da ONU
uma declaração direta a esse respeito, o sobre os Direitos da Criança, em 1989, foi
que constitui até agora a exceção. adotada, em 1990, uma Carta Africana dos
Uma monitorização regular da situação Direitos e do Bem-Estar da Criança. No
nacional relativa aos direitos humanos entanto, apenas entrou em vigor em 1999 e,
é feita pela Comissão, através do exame até 2011, foi ratificada por 45 Estados-mem-
de relatórios estatais. No entanto, estes bros da UA. O Comité Africano de Peritos
relatórios são frequentemente irregulares sobre Direitos e Bem-estar da Criança reú-
e insatisfatórios. Baseando-se na prática ne-se pelo menos uma vez ao ano.
da ONU, a Comissão nomeou Relatores
Especiais sobre execuções extrajudiciais, IV. OUTRAS REGIÕES
sumárias e arbitrárias, sobre prisões e
condições de detenção, sobre liberdade de Relativamente aos países islâmicos, deve-
expressão, sobre os direitos dos arguidos, rá ser mencionada a “Declaração do Cai-
sobre refugiados, requerentes de asilo, mi- ro sobre Direitos Humanos no Islão”, de
grantes e deslocados internos e sobre os 1990, que foi redigida pelos Ministros dos
direitos das mulheres. Negócios Estrangeiros da Organização da
Na Cimeira de Maputo, Moçambique, a Conferência Islâmica (OCI)3, mas nunca
UA adotou um Protocolo Adicional à Carta adotada oficialmente. Todos os direitos
sobre os Direitos das Mulheres em África, consagrados nesta Declaração estão sujei-
em 2003. O Protocolo de Maputo entrou tos à Sharia Islâmica, o que é questionável
em vigor em 2005 e, em julho de 2010, fora em termos do direito internacional.
ratificado por 28 países. Além disso, foi elaborada uma Carta Árabe
A Comissão também envia missões de in- dos Direitos Humanos por peritos de direi-
vestigação e de divulgação, organiza ses- tos humanos árabes e adotada pelo Conse-
sões extraordinárias em casos específicos, lho da Liga dos Estados Árabes, em 1994,
como depois da execução de nove mem- mas que nunca entrou em vigor devido à fal-
bros do Movimento para a Sobrevivência
do Povo Ogoni, em 1995, e o seu julgamen-
to injusto na Nigéria. Uma parte importan- 3
Em junho de 2011, a OCI passou a designar-se Or-
te da força da Comissão vem das ONG de ganização da Cooperação Islâmica.
I. JURISDIÇÃO UNIVERSAL E O PROBLEMA DA IMPUNIDADE 73

ta de ratificações. Adotou-se, em 2004, uma reitos Humanos da ASEAN.


nova versão que entrou em vigor, em 2008,
após 7 ratificações. Também se estabeleceu Ao nível da sociedade civil, por ocasião do
um Comité Árabe de Direitos Humanos que, 50º aniversário da DUDH em 1998, mais
porém, não pode receber quaisquer queixas, de 200 ONG asiáticas, sob a liderança do
mas apenas relatórios estatais. Asian Legal Resources Centre em Hong
Na Ásia, apesar de diversas tentativas, tal Kong, elaboraram uma Carta Asiática de
como a Convenção sobre Acordos Regionais Direitos Humanos como uma Carta dos
para a Promoção do Bem-estar da Criança, Povos. Há também uma Reunião asiática-
estabelecida em 2002, pela Associação Sul- europeia (Asia-Europe Meeting - ASEM)
Asiática para a Cooperação Regional (SAARC, anual sobre Direitos Humanos, entre a UE
sigla em língua inglesa), ainda não foi possí- e, atualmente, 19 Estados asiáticos, incluin-
vel adotar um instrumento regional de Direi- do a China. Um diálogo semelhante existe
tos Humanos ou estabelecer uma Comissão entre a União Europeia e a China.
Asiática de Direitos Humanos, sobretudo, Enquanto acordo inter-regional, o Acordo
devido à diversidade na região. No entanto, de Parceria de Cotonu entre 79 Estados de
há esforços em áreas de integração regional África, das Caraíbas e do Pacífico (ACP)
como a ASEAN, que conduziram a uma nova e os 27 Estados-membros da União Euro-
Carta da Associação das Nações do Sudeste peia de 2000, no artº 9º, nº2, reitera que o
Asiático, em 2007. Também o artº 14º desta “respeito pelos direitos humanos, os princí-
Carta prevê um órgão de direitos humanos pios democráticos e o Estado de Direito […]
da ASEAN, isto é, a Comissão Intergoverna- constituem os elementos essenciais do pre-
mental sobre Direitos Humanos, que consis- sente Acordo.” No caso de violações graves
te em representantes dos Estados-membros, de direitos humanos, se as consultas ini-
com um mandato, sobretudo, promocional e ciadas na sequência dessas violações fo-
consultivo. Uma das suas incumbências é o rem infrutíferas, partes do Acordo podem
desenvolvimento de uma Declaração de Di- ser suspensas.

I. JURISDIÇÃO UNIVERSAL
E O PROBLEMA DA IMPUNIDADE
A luta contra a impunidade e pela pres- convencer governantes antidemocráticos,
tação de contas tornou-se uma preocupa- normalmente generais, a transmitirem o
ção geral e global. Uma das considerações poder a governos eleitos democraticamen-
principais é a prevenção de mais crimes, te. Não deve ser confundida com as “am-
que normalmente constituem violações nistias” dadas relativamente a ofensas me-
sérias de direitos humanos e de direito hu- nores depois de guerras ou mudanças de
manitário. regime. A impunidade viola o princípio da
A garantia de impunidade a grandes prestação de contas, que cada vez mais é
violadores de direitos humanos tem sido realizado aos níveis nacional e internacio-
prática comum por todo o mundo, para nal, por exemplo, com o estabelecimento
74 I. INTRODUÇÃO AO SISTEMA DE DIREITOS HUMANOS

de tribunais penais internacionais espe- pediu-se a responsabilização pela repres-


ciais e generalistas. são violenta dos protestos. No Egito, o
Para prevenir violações de direitos huma- anterior presidente Mubarak foi levado a
nos, algumas convenções internacionais, julgamento.
como a Convenção das Nações Unidas Outras formas de assegurar a prestação
contra a Tortura de 1984 prevê uma obri- de contas, sem necessariamente punir os
gação de jurisdição universal para os per- perpetradores, são as Comissões de Recon-
petradores de crimes. No caso do General ciliação e de Verdade que foram estabele-
Augusto Pinochet, o antigo ditador chile- cidas na África do Sul e em outros países
no, um juiz espanhol, em 1998, requereu como forma de justiça não retributiva. Es-
a sua extradição do Reino Unido que, por tas Comissões dão às vítimas a oportuni-
decisão notável da Câmara dos Lordes foi dade de, pelo menos, saberem a verdade e
finalmente concedida, mas não implemen- à sociedade de aprender com o passado. A
tada devido à sua frágil condição de saúde. este respeito, o Conselho de Direitos Hu-
O princípio da jurisdição universal é apli- manos da ONU conceptualizou o “direito
cado pelo Tribunal Penal Internacional à verdade”.
(TPI) e ao nível nacional. Tal significa que
um indivíduo acusado da prática de tortu- No caso da Argentina, a Comissão Inte-
ra deve ser presente a tribunal ou deve ser ramericana dos Direitos Humanos con-
entregue para julgamento, em outro local. siderou que as leis de amnistia, conce-
Charles Taylor, o antigo chefe de estado da dendo impunidade, violaram os direitos
Serra Leoa foi inicialmente autorizado a de proteção judicial e de um julgamento
partir para a Nigéria, mas, em março de justo. Tem existido uma campanha in-
2006, voltou para ser presente à justiça. ternacional contra a impunidade, na
Ele está a ser julgado pelo Tribunal Espe- qual as ONG locais tiveram um papel
cial para a Serra Leoa, que tem sessões ex- decisivo. Finalmente, em 1998, as leis
traordinárias em Haia. de amnistia foram revogadas.
No caso da “primavera Árabe”, em 2011,

J. JURISDIÇÃO PENAL INTERNACIONAL


Nos termos do estatuto do Tribunal Penal vatura sexual, gravidez forçada
ç ou outras
Internacional (TPI), adotado em Roma, formas de violência sexual (Direitos
em 1998, e que entrou em vigor em 2002, Humanos das Mulheres), desaparecimen-
o TPI foi estabelecido em Haia como um to forçado de pessoas ou outros atos de-
tribunal permanente. A sua jurisdição sumanos que causem grande sofrimento,
engloba os crimes de genocídio, crimes como ferimentos graves que afetem a saú-
contra a humanidade “cometidos no qua- de mental ou física, crimes de guerra e o
dro de um ataque, generalizado ou siste- crime de agressão, na definição finalmente
mático, contra qualquer população civil”, conseguida numa conferência em Nairobi,
incluindo casos de violação sexual, escra- em 2010.
K. INICIATIVAS DE DIREITOS HUMANOS NAS CIDADES 75

O Tribunal Penal Internacional para a Tal como o Tribunal Penal Internacional


Antiga Jugoslávia (TPIAJ) foi estabeleci- para a Antiga Jugoslávia e o Tribunal Penal
do pelo Conselho de Segurança, em 1993, Internacional para o Ruanda, a jurisdição
em Haia, como um tribunal ad hoc para li- do TPI é complementar relativamente às
dar com as violações em massa de direitos jurisdições nacionais. Só se um Estado
humanos e de direito humanitário, no ter- não estiver disposto ou não for capaz de
ritório da antiga Jugoslávia. Deste modo, julgar os perpetradores é que o TPI pode
as suas competências incluem violações considerar o caso. Porém, o Conselho de
graves da Convenção de Genebra de 1949 Segurança das Nações Unidas pode tam-
relativa à proteção das vítimas de confli- bém apresentar casos, tal como aconteceu
tos armados, crimes contra a humanida- no caso de Kadhafi, em 2011. Todos os tri-
de, como homicídio, tortura, violações e bunais se baseiam no princípio da respon-
outros atos desumanos cometidos durante sabilidade individual, independentemente
o conflito armado, assim como genocídio. da função oficial do acusado.
Depois dos julgamentos de Karadzic e
Mladic, será sujeito a uma supressão pro-
gressiva. Como consequência do genocídio O semi-internacional Tribunal Especial
no Ruanda, em 1994, foi estabelecido em para a Serra Leoa, a funcionar desde
Arusha, na Tanzânia, o Tribunal Penal In- 2002, investiga homicídios, violações,
ternacional para o Ruanda (TPIR), tam- escravidão sexual, extermínio, atos de
bém temporário. No caso do Camboja, a terror, escravatura, pilhagens e incên-
implementação do acordo entre as Nações dios. Pretende julgar só os indivíduos
Unidas e o governo do Camboja relativo que sejam os maiores responsáveis pelo
ao Tribunal para os Crimes de Guerra do sofrimento do povo da Serra Leoa. Coo-
Camboja de 2003 foi protelada. O Tribunal perou com a Comissão de Verdade e Re-
realizou a sua primeira audiência apenas conciliação que, entretanto, terminou o
em 2008, existindo ainda problemas com seu trabalho.
o seu funcionamento.

K. INICIATIVAS DE DIREITOS
HUMANOS NAS CIDADES

Os programas de reforço dos direitos hu- desenvolvimento da sociedade – diversas


manos ao nível municipal são uma nova cidades, como Rosario (Argentina), Bongo
abordagem ao uso da moldura dos direitos (Gana), Korogocho (Quénia), Kati (Mali),
humanos como guia para o desenvolvi- Dinapur (Bangladesh), Bucuy (Filipinas),
mento social e económico. Por iniciativa Porto Alegre (Brasil), Graz (Áustria), Ed-
do PDHRE - ao usar a educação para os monton (Canadá) e Gwangju (Coreia do
direitos humanos como estratégia para o Sul) declararam-se “cidades de direitos
76 I. INTRODUÇÃO AO SISTEMA DE DIREITOS HUMANOS

humanos” ou “comunidades de direitos A estratégia de promover os direitos hu-


humanos”. No Fórum Mundial das Cida- manos nas comunidades, começando ao
des dos Direitos Humanos, em 2011, ado- nível local, tem a vantagem de poder
tou-se a Declaração de Gwangju sobre a considerar os problemas de direitos hu-
Cidade dos Direitos Humanos. manos na vida diária. O método sugeri-
Outra iniciativa foi conduzida pela cidade do pelo PDHRE e aplicado com sucesso
de Barcelona, onde, em cooperação com na prática é começar por fazer um inven-
a cidade de Saint Denis, foi elaborada, tário e identificar as aplicações dos direi-
em 1998, uma Carta Europeia de Garantia tos humanos e suas violações na cidade,
dos Direitos Humanos na Cidade que, em o que leva à elaboração de uma estra-
2011, tinha sido assinada por mais de 350 tégia traduzida num programa de ação.
cidades, principalmente na Europa me- Neste processo, os habitantes analisam
diterrânica. A Carta contém obrigações as leis e políticas sobre o uso dos recur-
políticas baseadas nos direitos humanos sos na cidade. Desenvolvem planos para
internacionais, por exemplo, no que res- reforçar a realização dos direitos huma-
peita aos direitos dos migrantes e reco- nos e ultrapassar os problemas de direi-
menda o estabelecimento de instituições tos humanos na sua cidade. Juntamente
e procedimentos locais para a proteção com as autoridades, comprometem-se a
dos direitos humanos, como o provedor fazer com que todas as decisões, políti-
de justiça, conselhos de direitos humanos cas ou estratégias, sejam guiadas pelos
ou um balanço de direitos humanos. Em direitos humanos.
reuniões regulares, como as de Veneza Com este propósito, aspira-se a uma abor-
(2002) ou Lyon (2006), são partilhadas dagem holística aos direitos humanos, o
experiências relativas a boas práticas, pe- que significa que todos os direitos huma-
las cidades e comunidades signatárias. A nos, civis e políticos, económicos, sociais
cidade de Tuzla foi anfitriã da 7ª Confe- e culturais, incluindo uma perspetiva de
rência da Carta Europeia para Salvaguar- género, são considerados como um todo.
da dos Direitos Humanos na Cidade, em De modo a sensibilizar as pessoas para os
outubro de 2010. seus direitos humanos, são extremamente
A Coligação Internacional de Cidades importantes as atividades de aprendiza-
contra o Racismo, iniciada pela UNESCO, gem e formação, incluindo programas de
aborda problemas de racismo e xenofobia formação de formadores para professores,
nas cidades, assistindo-as a tomar em con- administradores, polícia, profissionais da
sideração a diversidade cultural crescente saúde e sociais, líderes de associações lo-
dos seus habitantes. A Coligação traba- cais e ONG. Um sistema de monitorização,
lha principalmente ao nível regional, por liderado por um Comité de Direção que
exemplo, através da Coligação Europeia inclui todos os setores da sociedade, su-
de Cidades contra o Racismo iniciada em pervisiona o processo a longo prazo (ver:
2004 ou a Coligação Asiática. Muitas ci- www.pdhre.org).
dades têm também Comissões de Direitos Foi iniciada pelo PDHRE uma Campanha
Humanos e provedores de justiça ou ou- Global para as Cidades de Direitos Hu-
tras instituições, que trabalham no sentido manos, com o apoio do PNUD que está
da prevenção e reparação de violações de igualmente envolvido em projetos locais.
direitos humanos. As experiências das Cidades de Direitos
H. SISTEMAS REGIONAIS DE PROTEÇÃO E PROMOÇÃO DE DIREITOS HUMANOS 77

Humanos foram apresentadas à Confe- Exemplo de Cidade


rência UN-HABITAT na China, em 2008, de Direitos Humanos
através de uma publicação do PDHRE e de Graz, Áustria
de um filme austríaco a mostrar quatro 2001: decisão unânime da Câmara Mu-
cidades de direitos humanos de diferen- nicipal de Graz e cerimónia for-
tes regiões (ver: www.menschenrechtss- mal de inauguração na Universi-
tadt.at). dade de Graz com a presença de
Shulamith Koenig
Exemplo de Cidade 2002: apresentação do inventário e do
de Direitos Humanos projeto do programa de ação ela-
de Rosario, Argentina borado com a ajuda de mais de
1997: 35 instituições assinam um com- 100 indivíduos e organizações na
promisso, na Câmara Municipal, Câmara Municipal de Graz
na presença do presidente da 2006: junção à Coligação Europeia das
câmara e de Shulamith Koenig Cidades contra o Racismo
(PDHRE) 2007: estabelecimento do Conselho Con-
Desde então: constituição de um comité sultivo para os Direitos Humanos
executivo de ONG e instituições da Cidade de Graz
governamentais; coordenação 2007/2008: monitorização dos direitos hu-
através do Instituto do Género, manos nas eleições para a Câmara
Lei e Desenvolvimento (INSGE- Municipal, pelo Conselho Consulti-
NAR); Programas de Aprendiza- vo para os Direitos Humanos
gem e Formação em Direitos Hu- 2007: primeira entrega do Prémio de Di-
manos para a polícia, forças de reitos Humanos da Cidade de Graz
segurança, professores, futuros 2008: apresentação do primeiro Rela-
professores, etc.; sensibilização tório Anual sobre a situação dos
através de seminários, produções direitos humanos em Graz
cinematográficas, por exemplo, 2012: estabelecimento de um Gabinete
referentes à situação das mulhe- contra a Discriminação
res no Rosário, ambiente competi-
tivo, publicações, etc.; integração O processo é coordenado pelo Centro Eu-
de aborígenes (Quom) ropeu de Formação e Investigação em Di-
2005: apoio ao desenvolvimento da ci- reitos Humanos e Democracia (ETC) em
dade de direitos humanos de Por- Graz, que também oferece vários progra-
to Alegre, no Brasil. mas de educação e formação para os direi-
tos humanos.
78 I. INTRODUÇÃO AO SISTEMA DE DIREITOS HUMANOS

L. DESAFIOS E OPORTUNIDADES
GLOBAIS PARA
OS DIREITOS HUMANOS
Depois de várias décadas bem sucedidas das Nações Unidas sobre os Direitos das
de estabelecimento de padrões, o desafio Pessoas com Deficiência e o seu Protoco-
maior para os direitos humanos tornou- lo Opcional. A evolução também pode ser
se a implementação dos compromissos vista no trabalho em curso no âmbito de
assumidos. Estão a ser desenvolvidos áreas temáticas, tais como a diversidade
diversos métodos novos para reforçar a cultural, as questões de direitos humanos
implementação dos direitos humanos, relacionadas com a biotecnologia e enge-
tanto ao nível local e nacional, como nharia genética ou o comércio de órgãos
internacional. Entre estes, uma atitu- humanos. Tem de se prestar mais atenção
de mais dinâmica das Nações Unidas, aos direitos humanos dos migrantes (irre-
nomeadamente, a inclusão dos direitos gulares). Do mesmo modo, as implicações
humanos em todas as suas atividades e que a degradação ambiental, por exemplo,
uma presença mais sólida no terreno por a alteração climática tem sobre os direitos
parte do Alto Comissariado para os Direi- humanos, bem como as tecnologias de
tos Humanos, com funcionários de direi- informação, de comunicação e a internet
tos humanos em missões internacionais colocam novos desafios.
(de paz), institucionalizando, assim, as Ao mesmo tempo, os direitos humanos
preocupações dos direitos humanos, o existentes podem tornar-se mais visíveis,
que se espera venha a ter um importante dando ênfase a direitos essenciais, como
efeito preventivo e promocional. A longo demonstrado nos 6 mais importantes tra-
prazo, também poderão ter êxito propos- tados de direitos humanos das Nações
tas para um Tribunal Internacional de Unidas, ou nas 8 convenções principais
Direitos Humanos. do trabalho da OIT. Novos desafios vêm
O respeito pelos direitos humanos é tam- de alguns países do Sul que questionam
bém reforçado aos níveis local e nacional, o próprio conceito de universalidade dos
através da capacitação em matéria de di- direitos humanos e da democracia. Novos
reitos humanos de instituições locais, por desafios podem também ser vistos na ne-
exemplo, cidades de direitos humanos e cessidade de se dar maior atenção às liga-
a criação de instituições nacionais para ções entre os direitos humanos e o direito
a promoção e monitorização de direitos humanitário, como os “padrões funda-
humanos, nas quais as organizações não mentais da humanidade”. O mesmo vale
governamentais, enquanto representan- para a relação entre os direitos humanos
tes da sociedade civil, desempenham um e o direito dos refugiados, que existe tan-
importante papel. Há, ainda, necessidade to ao nível da prevenção dos problemas de
de estabelecimento de parâmetros em vá- refugiados, como ao nível do regresso dos
rias áreas preocupantes, como aconteceu, refugiados. Em ambos os casos, a situação
em 2006, com a adoção da Convenção de direitos humanos no país de origem é
L. DESAFIOS E OPORTUNIDADES GLOBAIS PARA OS DIREITOS HUMANOS 79

decisiva. Esta questão levanta uma outra 2011, um Grupo de Trabalho de 5 peritos
mais ampla relativa aos direitos humanos tem trabalhado sobre a implementação
e prevenção de conflitos, assim como a destes resultados.
questão da reabilitação e reconstrução Sob proposta do Secretário-Geral da ONU,
pós-conflito, que deve ser feita com base Kofi Annan, lançou-se o Global Compact,
nos direitos humanos e no primado do Di- em julho de 2000, como uma abordagem
reito. nova e inovadora no processo de globali-
zação. As empresas participantes aceitam
Direitos Humanos em Conflito dez princípios básicos na área dos direitos
Armado, Direito ao Asilo, Prima- humanos, padrões de trabalho, ambiente
do do Direito e Julgamento Justo, e anticorrupção, e participam num diálogo
Direito à Democracia orientado para os resultados sobre proble-
mas globais, por exemplo, o papel dos ne-
Em resultado da globalização, a res- gócios em zonas de conflito.
ponsabilização por violações de direi-
tos humanos e o respeito pelos direitos Direito ao Trabalho
humanos tornaram-se uma preocupação
global, que é exigida não só de indivídu- Um dos principais desafios é manter os
os, como também de atores não estatais, padrões de direitos humanos enquanto se
como empresas transnacionais (ET) e or- combatem novas ameaças terroristas. Nin-
ganizações intergovernamentais, como o guém pode ser deixado à margem da lei,
Banco Mundial, o FMI ou a OMC. Neste nem ser despojado dos seus direitos hu-
sentido, a questão da compensação de- manos inalienáveis sendo que, ao mesmo
pois de violações graves e sistemáticas tempo, a proteção dos direitos das vítimas
de direitos humanos tornou-se atual. As- de atos criminosos ou terroristas tem de
sim, em 2003, a Subcomissão da ONU ser aperfeiçoada. O Conselho da Europa
para a Proteção e Promoção dos Direitos adotou as “Orientações sobre Direitos Hu-
Humanos preparou as “Normas sobre a manos e o Combate ao Terrorismo”, assim
Responsabilidade de Empresas Transna- como linhas orientadoras sobre a “Prote-
cionais e Outras Empresas respeitantes a ção de Vítimas de Atos Terroristas” para
Direitos Humanos” que, porém, não fo- fazer face a estes novos desafios. O Se-
ram adotadas pela Comissão de Direitos cretário-Geral da ONU e o Alto Comissa-
Humanos. riado da ONU para os Direitos Humanos
Em 2005, o Secretário-Geral da ONU no- deixaram claro que a proteção dos direitos
meou John Ruggie como seu Represen- humanos deve fazer parte da luta contra
tante Especial para a questão dos direitos o terrorismo. O Tribunal de Justiça da UE,
humanos e as empresas transnacionais nos casos de Kadi (2008 e 2010), consi-
e outras empresas, para considerar a re- derou que as medidas antiterroristas do
lação entre os negócios e os direitos hu- Conselho de Segurança da ONU também
manos. Em 2011, Ruggie terminou o seu têm de respeitar as garantias dos direitos
relatório final, que contém um “Quadro humanos, tais como o direito a um julga-
para Proteger, Respeitar e Solucionar” e mento justo, incluindo o direito de acesso
um conjunto de “Princípios Orientadores às provas e um mecanismo de proteção.
para negócios e direitos humanos”. Desde O primeiro acórdão conduziu à introdução
80 I. INTRODUÇÃO AO SISTEMA DE DIREITOS HUMANOS

de novos procedimentos, por exemplo,


de um provedor pelo Conselho de Segu- “Peço às minhas irmãs e aos meus irmãos
rança, entretanto considerado insuficiente que não tenham medo. Não temam denun-
numa decisão de 2010. Esta última deci- ciar a injustiça, embora possam estar em
são foi, porém, alvo de recurso pelos Esta- desvantagem. Não temam procurar a paz
dos-membros da UE, por receio de entrar mesmo que a vossa voz se ouça menos.
em conflito com o Conselho de Segurança. Não temam exigir a paz.”
Ellen Johnson-Sirleaf, Prémio Nobel da Paz, 2011.
Primado do Direito e Julgamento
Justo A crescente relevância da internet e das re-
des sociais, como o facebook, aumentou as
“Acredito que não é possível nenhuma preocupações sobre a proteção dos direitos
transação entre os direitos humanos e humanos, como a liberdade de expressão
o terrorismo. A defesa dos direitos hu- ou o direito à privacidade e a proteção de
manos não se opõe ao combate contra o dados na internet. Dada a importância da
terrorismo: pelo contrário, a visão moral internet para o gozo pleno dos direitos hu-
dos direitos humanos - o profundo respei- manos, foi proposto um “direito humano
to pela dignidade de cada um - está entre de acesso” à internet. Esta pretensão, con-
as nossas armas mais poderosas contra tudo, suscitou algumas controvérsias.
o terrorismo.
Ceder na proteção dos direitos huma- Liberdade de Expressão e Direito
nos daria aos terroristas uma vitória à Privacidade
que estes não conseguirão alcançar por
De um modo geral, há ainda um longo
si mesmos. A promoção e a proteção
caminho a percorrer para alcançar uma
dos direitos humanos, bem como a ob-
cultura universal de direitos humanos
servância estrita do direito internacio-
que tenha como ponto central a dignidade
nal humanitário devem, nessa medida,
humana, como pedido por ocasião do 60º
estar no centro das estratégias antiter-
aniversário da Declaração Universal dos
roristas.”
Direitos Humanos por um painel de indi-
(Secretário-Geral da ONU, Kofi Annan. vidualidades que elaborou uma “Agenda
2003. para os Direitos Humanos para o Futuro”.
(Ver www.un.org/News/Press/docs/2003/ Contudo, olhando para trás, também cons-
sgsm8885.doc.htm) tatamos que foi feito um importante pro-
gresso. Este progresso tem de ser resistente
a regressões e ser desenvolvido no futuro.

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II. MÓDULOS SOBRE
QUESTÕES SELECIONADAS
DE DIREITOS HUMANOS

UNIVERSALIDADE
IGUALDADE
INDIVISIBILIDADE E INTERDEPENDÊNCIA

“A comunidade internacional acaba de sair de uma época de compromisso. Agora tem


de entrar numa época de implementação, em que mobilize a vontade e os recursos
necessários para cumprir as promessas feitas.”
Kofi Annan, Secretário-Geral da ONU. 2001.
A. PROIBIÇÃO
DA TORTURA

DIGNIDADE HUMANA E INTEGRIDADE PESSOAL


TRATAMENTO DESUMANO E DEGRADANTE
TORTURA

“Ninguém será submetido a tortura nem a penas ou tratamentos cruéis, desumanos ou


degradantes.”
Artigo 5º, Declaração Universal dos Direitos Humanos. 1948
88 II. MÓDULOS SOBRE QUESTÕES SELECIONADAS DE DIREITOS HUMANOS

HISTÓRIAS ILUSTRATIVAS

O Interrogatório do Sr. Selmouni ga, ameaçando injetar-me. Quando vi isto,


abri a manga da camisa dizendo “Força,
“Eu fui parado na estrada, no dia 25 novem- não têm coragem”; como eu tinha previsto,
bro de 1991, por volta das 9 horas da manhã. eles não concretizaram a ameaça…
Não havia problemas nesse momento […] Os polícias deixaram-me em paz durante
Fui então levado para a esquadra de polícia aproximadamente quinze minutos, depois
de Bobigny. Fui levado para o primeiro an- um deles disse, “Vocês, árabes, gostam de
dar, onde cerca de oito pessoas me começa- ser fornicados.” Agarraram-me, obrigaram-
ram a bater. Tive de me ajoelhar. Um dos po- me a despir e um deles inseriu um pequeno
lícias puxou-me pelo cabelo. Um outro polícia bastão preto no ânus.
bateu-me repetidamente na cabeça com um Quando o Sr. Selmouni conta esta cena,
objeto que parecia um taco de basebol. Outro começa a chorar. Eu tenho consciência de
continuou a dar-me pontapés e murros nas que o que vos acabei de contar é sério, mas
costas. O interrogatório continuou sem inter- é a verdade, eu sofri efetivamente estes
rupções durante cerca de uma hora… maus tratos…”
No dia 26 de novembro de 1991, fui interro-
gado novamente por vários polícias – três ou O Tribunal Europeu dos Direitos Humanos,
quatro – a uma determinada hora do dia […] depois de examinar os factos e provas do
Nessa altura, eles puxaram-me o cabelo, de- caso Selmouni c. França, decidiu unanime-
ram-me murros e bateram-me com um pau… mente, no dia 28 de julho de 1999, que tinha
Continuaram a agredir-me até à uma da havido uma violação do artº 3º da Conven-
manhã. Penso que esta sessão de maus ção Europeia dos Direitos Humanos.
tratos tinha começado por volta das 7 ho- (Fonte: Tribunal Europeu dos Direitos Hu-
ras da tarde. A um determinado ponto, manos. 1999. Caso Selmouni c. França.
obrigaram-me a ir para um longo corredor Decisão de 28 de julho de 1999.)
no qual o polícia que eu presumo fosse o
responsável me agarrou pelo cabelo e me O Testemunho do Sr. al-Qadasi
obrigou a correr pelo corredor enquanto os
outros se posicionavam em cada um dos “Os americanos interrogaram-nos na nos-
lados do corredor, fazendo-me tropeçar… sa primeira noite, que nós considerámos
Depois disso, eu fui levado para um escri- como a “noite negra”. Cortaram as nossas
tório e ameaçado com queimaduras se não roupas com tesouras, deixaram-nos nus, e
falasse. Quando eu recusei, acenderam dois tiraram-nos fotografias antes de nos darem
maçaricos que estavam ligados a duas bo- roupas afegãs para usar. Depois algema-
tijas de gás azuis e pequenas. Obrigaram- ram-nos as mãos atrás das costas, ven-
me a sentar e colocaram os dois maçaricos daram-nos e começaram a interrogar-nos.
a cerca de um metro de distância dos meus O interrogador era egípcio. Perguntou-me
pés, nos quais já não tinha sapatos. Ao os nomes de todos os membros da minha
mesmo tempo, batiam-me. Depois destes família, parentes e amigos. Ameaçaram-
maus tratos, acenaram-me com uma serin- me de morte e acusaram-me de pertencer à
A. PROIBIÇÃO DA TORTURA 89

Al’Qaeda. (…) Colocaram-nos numa cela Testemunho de um ex-detido numa prisão


subterrânea com, aproximadamente, dois em Kabul dado à Amnistia Internacional
metros por três metros. Éramos dez na cela. em abril 2004, Iémen.
Passámos três meses na cela. Não havia (Fonte: Amnistia Internacional Reino Uni-
espaço para dormir, por isso, tínhamos de do. Testemunhos. Disponível em: www.
alternar. A janela da cela era muito peque- amnesty.org.uk/content.asp?CategoryID
na. Apesar de, no exterior, a temperatura = 2039)
ser muito baixa (havia neve), na cela es-
tava muito calor porque estava superlota- Questões para debate
da. Eles abriam a cela de tempos a tempos 1. Como carateriza aquilo que aconteceu
para permitir que o ar entrasse. (…) Du- ao Sr. Selmouni e ao Sr. al-Qadasi? Que
rante o período de 3 meses na cela, não pensamentos lhe ocorreram com esta
fomos autorizados a sair para apanhar ar história?
fresco. Podíamos usar as casas de banho, 2. O que pensa que pode ser feito para
duas vezes por dia; as casas de banho esta- prevenir a ocorrência de situações se-
vam perto da cela.” melhantes? Sabe da existência de me-
Walid al-Qadasi continuou a relatar como canismos de prevenção ou controlo a
os prisioneiros eram alimentados durante nível local, regional ou internacional?
o dia e como a música num volume alto 3. Como pensa que a sociedade pode aju-
era utilizada como mecanismo de tortura. dar e apoiar vítimas como o Sr. Selmou-
Afirmou que um dos seus companheiros de ni e o Sr. al-Qadasi?
cela ficou louco com o tratamento que re- 4. Teria tomado outra posição se soubesse
cebeu. Walid al-Qadasi foi, posteriormente, que o Sr. Selmouni era: a) um suspeito
transferido para Bagram, onde enfrentou traficante de droga, b) um suspeito homi-
mais um mês de interrogatórios. cida, c) um suspeito terrorista? Porquê?

A SABER
1. UM MUNDO SEM TORTURA As formas mais graves de maus tratos estão
frequentemente associadas e são atribuídas
No início do século XXI, um mundo sem a sociedades e Estados onde as violações
tortura, tratamento desumano ou degra- de direitos humanos ocorrem diariamente.
dante é ainda uma ambição por concreti- Contrariamente à ideia geral de que a tortu-
zar. As organizações de direitos humanos ra é um fenómeno exclusivo das sociedades
e os meios de informação divulgam cada pobres e “subdesenvolvidas”, a Amnistia
vez mais casos de tortura e maus tratos Internacional - E.U.A relata que casos de
e tentam sensibilizar a sociedade para os tortura ou de maus tratos foram registados
padrões que foram comummente aceites e em mais de 150 países, incluindo em países
para os diferentes níveis de aplicação des- altamente industrializados e desenvolvidos.
ses padrões, pelos Estados. Na realidade, casos individuais de tortura e
90 II. MÓDULOS SOBRE QUESTÕES SELECIONADAS DE DIREITOS HUMANOS

de outros tratamentos cruéis, desumanos e os métodos brutais antigos e medievais


degradantes encontram-se em todos os pa- foram substituídos por técnicas mais
íses do mundo, embora a extensão da sua “sofisticadas”, mas igualmente cruéis e
prática e os métodos utilizados variem de eficazes. A tortura e outras formas graves
local para local. de maus tratos causam terríveis danos à
dignidade humana, violam seriamente
A proibição de tortura é absoluta e tem os direitos humanos e constituem uma
sido reafirmada como tal em muitos trata- ameaça à segurança humana. Estas afe-
dos internacionais e regionais de direitos tam a integridade física e psicológica do
humanos. Pertence aos direitos humanos ser humano e, portanto, requerem que
considerados inderrogáveis, isto é, válidos haja um esforço concertado para lidar
em todas as circunstâncias e que não per- com a questão, na sua raiz.
mitem restrições, exceções ou derrogações Os desenvolvimentos recentes, especial-
pelo Estado, por nenhuma razão e em ne- mente no campo do direito internacional,
nhuma circunstância. assim como as diversas formas de divulgar
informação, têm feito aumentar a cons-
“O ser humano a torturar o ser humano é ciencialização, a nível global, da questão
uma monstruosidade sem descrição.” da tortura e outras formas graves de maus
Henry Miller tratos. Tanto os governos como as organi-
zações não governamentais começaram a
A tortura e outras penas ou tratamentos cru- identificar e a considerar não só as conse-
éis, desumanos e degradantes são também quências de muitas formas de maus tra-
considerados proibidos de acordo com o di- tos, mas também as suas causas inerentes.
reito internacional consuetudinário. Apesar Foram estabelecidas e amplamente aceites
desta proibição, a tortura e os maus tratos normas internacionais inequívocas de pro-
são ainda praticados. A tortura e os trata- teção e prevenção. Também uma série de
mentos desumanos e degradantes aconte- órgãos de investigação, monitorização e
cem frequente e repetidamente: a pessoas supervisão emergiram, aos níveis nacio-
privadas da sua liberdade, a pessoas perten- nal e internacional, para salvaguardar tais
centes a grupos étnicos, sociais e culturais normas de prevenção e o princípio inder-
diferentes, a jovens e idosos, a mulheres e rogável de proibição da tortura e outras
homens. Ninguém está imune à tortura. To- formas de penas ou tratamentos cruéis,
das as pessoas podem ser vítimas. desumanos ou degradantes.
Até há pouco tempo, a tortura e os tra-
tamentos desumanos e degradantes Proibição da Tortura e Segurança Hu-
eram considerados como efeitos apenas mana
de guerras e da escravatura, enquanto A tortura e os maus tratos constituem
a sua ocorrência em tempo de paz era graves violações dos direitos humanos e
ignorada. No entanto, uma análise atual ameaças diretas à segurança de qualquer
mais aprofundada dos casos de tortura e pessoa. A proteção da vida humana e a
de tratamentos desumanos e degradan- preservação da integridade física e psico-
tes revela que as formas graves de maus lógica de todo o ser humano são essen-
tratos não pertencem ao passado. À me- ciais à abordagem da segurança humana.
dida que a humanidade foi progredindo, Assim, a proibição absoluta da tortura e
A. PROIBIÇÃO DA TORTURA 91

outras penas ou tratamentos cruéis, de- cos internacionais, não têm sido garantia
sumanos ou degradantes é central na teórica suficiente contra a ocorrência da
busca pela segurança humana. Indiscu- tortura. Continua a existir uma flexibili-
tivelmente, a sensibilização relativa aos dade na definição, deixando uma margem
direitos humanos, através da educação de interpretação às autoridades estatais,
para os direitos humanos, em conjunto o que garante, em princípio, a sua acei-
com o aperfeiçoamento da base legal tação das normas internacionais, mas
para a proteção contra a tortura e os maus que, na prática, permite um desvio destas
tratos, e a sua prevenção, são as pedras obrigações.
angulares para a melhoria do bem-estar Uma definição jurídica de tortura foi in-
e da segurança humanos. Adicionalmen- cluída e aceite por todos os Estados signa-
te, uma melhor implementação de todos tários da Convenção das Nações Unidas
os padrões de direitos humanos constitui contra a Tortura e Outras Penas ou Trata-
um importante elemento da estratégia mentos Cruéis, Desumanos ou Degradan-
global de aperfeiçoamento da segurança tes (CCT), adotada pela Assembleia-Geral,
humana. O Estatuto do Tribunal Penal na Res. 39/46, de 10 de dezembro de 1984
Internacional, cujo estabelecimento tem e que entrou em vigor a 26 de junho de
sido fervorosamente promovido pela 1987. De acordo com a Convenção, a pala-
Rede de Segurança Humana, reconhece, vra “tortura” encontra-se definida no Artº
explicitamente, a tortura como um crime 1º como:
contra a humanidade e como crime de
guerra e, nesse sentido, dá especial ên- “[...]qualquer ato por meio do qual
fase à preservação da vida humana e da uma dor ou sofrimentos agudos, físi-
segurança humana. cos ou mentais, são intencionalmente
causados a uma pessoa com os fins
Introdução de, nomeadamente, obter dela ou de
uma terceira pessoa informações ou
confissões, a punir por um ato que ela
2. DEFINIÇÃO E DESENVOLVIMENTO ou uma terceira pessoa cometeu ou se
DA QUESTÃO suspeita que tenha cometido, intimi-
dar ou pressionar essa ou uma terceira
O que é a tortura? pessoa, ou por qualquer outro motivo
Tem havido um longo debate sobre como baseado numa forma de discrimina-
definir tortura e maus tratos de forma ção, desde que essa dor ou esses sofri-
amplamente consensual, apesar de a sua mentos sejam infligidos por um agen-
condenação e proibição serem geralmen- te público ou qualquer outra pessoa
te aceites como normas perentórias de di- agindo a título oficial, a sua instigação
reito internacional consuetudinário. Além ou com o seu consentimento expresso
disso, qualquer definição jurídica parece ou tácito. Este termo não compreen-
ter pouco efeito na aplicação da proibi- de a dor ou os sofrimentos resultan-
ção da tortura no terreno. As disposições tes unicamente de sanções legítimas,
acordadas, a nível internacional, sobre a inerentes a essas sanções ou por elas
proibição absoluta da tortura, que se en- ocasionados.”
contram previstas em vários textos jurídi-
92 II. MÓDULOS SOBRE QUESTÕES SELECIONADAS DE DIREITOS HUMANOS

defendeu que “[…] as bases legais e mo-


“A tortura é uma violação atroz da digni- rais da proibição da tortura e outros tra-
dade humana. Desumaniza tanto a vítima tamentos ou penas cruéis, desumanos ou
como o perpetrador. A dor e o terror infligi- degradantes é absoluta e imperativa e não
dos, deliberadamente, por um ser humano pode, em circunstância alguma, ceder ou
a outro deixam marcas permanentes: co- estar subordinada a outros interesses, polí-
lunas torcidas por espancamentos, crânios ticas ou práticas”.”
abertos por canos de espingardas, pesa- Por ocasião do Dia Internacional das
delos recorrentes que mantêm as vítimas Nações Unidas de Apoio às Vítimas de
em medo constante. O direito de viver sem Tortura (26 de junho), o Conselho Inter-
tortura é um direito humano fundamental nacional para a Reabilitação de Vítimas de
que tem de ser protegido em todas as cir- Tortura afirmou que a “tortura é uma das
cunstâncias.” coisas mais horríveis que uma pessoa pode
Kofi Annan, Secretário-Geral da ONU. 2001. fazer a outra”. O objetivo da tortura é cau-
sar o máximo de sofrimento possível sem
Conforme a Convenção, os elementos dis- deixar que a vítima morra. O traço distinti-
tintivos da tortura são: vo tanto da tortura, como dos tratamentos
- um ato que causa um sofrimento físico desumanos e degradantes é causar inten-
ou mental agudo cionalmente dor e sofrimento, tanto físico
- que é intencionalmente infligido a uma como psicológico. Em termos jurídicos,
pessoa com um fim ou por qualquer a distinção, embora subtil, entre tortura
razão com base num qualquer tipo de e tratamentos desumanos e degradantes
discriminação está na natureza do ato cometido, no seu
- por um funcionário público ou pessoa objetivo, no grau de gravidade, assim
que aja a título oficial. como nos meios cruéis usados.
Embora esta definição jurídica tenha em
consideração tanto a dimensão psicológi- Métodos de Tortura
ca, como física de tortura e de maus tratos, Como é Cometida a Tortura?
não é exaustiva e não explica detalhada- Os métodos e os instrumentos de tortura
mente todos estes elementos. A definição têm sido desenvolvidos ao longo dos tem-
também exclui sanções legais, isto é, san- pos, particularmente por causa do envol-
ções previstas pela lei nacional, o que, vimento de empresas privadas no fabrico
em certos casos, pode levantar questões e comercialização de equipamentos rela-
sobre se essas sanções contradizem o es- cionados com a tortura. Um estudo recen-
pírito e os objetivos gerais da Convenção. te, dirigido pelo anterior Relator Especial
De qualquer modo, a definição contribui sobre a Tortura, analisou este fenómeno
para o entendimento geral, como referido da produção e comercialização de equi-
pela anterior Comissão da ONU para os pamentos especialmente concebidos para
Direitos Humanos, de que “[...] todas as infligir tortura ou outros tratamentos de-
formas de tortura e outros tratamentos ou sumanos e degradantes, o que levou a um
penas cruéis, desumanos ou degradantes aumento de policiamento estatal e contro-
não podem ser justificados, em nenhuma lo do mercado.
circunstância”. Theo van Boven, anterior Em contraste com o conceito tradicional
Relator Especial sobre a Tortura, também de equipamento de tortura, como os uti-
A. PROIBIÇÃO DA TORTURA 93

lizados na época medieval, muitos dos todo de incapacitação física e psicológica


instrumentos de hoje não são facilmente das vítimas.
identificáveis como potenciais instrumen- Todos os métodos de tortura usados são
tos de tortura. uma grave afronta à dignidade do ser hu-
Várias técnicas de tortura hoje amplamen- mano e uma violação dos seus direitos hu-
te utilizadas não deixam marcas físicas manos. Um mundo sem tortura significa
visíveis no corpo, mas têm, no entanto, um mundo sem uma imposição deliberada
um efeito negativo nos órgãos internos e de dor e a utilização desses métodos cru-
na integridade psicológica da vítima. Por éis por uma pessoa contra outra.
exemplo, choques elétricos infligidos por
armas de descargas elétricas ou elétrodos Motivos para tortura
colocados (em partes sensíveis) no corpo Por que razão
da pessoa podem não deixar marcas visí- é a tortura praticada?
veis no corpo da vítima, mas são conheci- Apesar das razões que motivam a tortura
dos por causar dores debilitantes. poderem variar muito, há no fundo, fre-
Em geral, os métodos de tortura podem ser quentemente, um motivo subjacente ou
classificados em dois grupos principais: fí- de demonstrar poder sobre os outros ou
sicos ou psicológicos. A tortura física cau- de esconder fraquezas e insegurança. Du-
sa dor aguda e um sofrimento excessivo da rante diferentes épocas da história mun-
vítima. Nas suas formas mais cruéis, pode dial, a tortura tem sido usada como um
levar à mutilação, desfiguração ou lesões método para manter o controlo e exercer
permanentes. Os métodos de tortura mais o poder sobre oponentes ou intelectuais
frequentes são agredir com chicotes, obje- progressistas, que, portanto, explícita ou
tos metálicos, pedras, cabos e bastões, ou implicitamente, ameaçam a autoridade e
pontapear e empurrar a vítima contra uma os sistemas de governo. Desta forma, a
parede. O método “falaka” ou “phalange” tortura tem sido muitas vezes usada como
(bater violentamente nas solas dos pés das um instrumento de repressão e opressão
vítimas) é tão usado como o método dos políticas, de punição e de vingança. Tra-
choques elétricos, sufocação, atar e quei- dicionalmente, a tortura e outras formas
mar com cigarros, afogamento simulado, de maus tratos têm sido utilizadas princi-
ou expor a vítima a temperaturas extrema- palmente para obter informação e con-
mente baixas ou altas. A tortura psicoló- fissões, apesar do facto de as confissões
gica inclui técnicas de privação e exaustão obtidas sob ameaça ou coerção física te-
como a privação de comida, água, sono e rem uma fiabilidade questionável. Como
de instalações sanitárias, técnicas de pri- resultado, tais depoimentos ou confissões
vação de comunicação como o confina- não podem jamais ser considerados como
mento solitário, cortar contatos com os prova, e a proibição da sua utilização em
outros detidos ou com o mundo exterior, procedimentos judiciais consta de provi-
técnicas de coerção e intimidação, como a sões legais na maioria dos sistemas jurídi-
presença forçada durante a tortura de ou- cos nacionais e no sistema internacional.
tras pessoas, ameaça de execução ou exe- A tortura e os maus tratos são também pra-
cução simulada, humilhação e amedronta- ticados para ameaçar, assustar e desuma-
mento contínuos, etc. Também a violência nizar a pessoa, como meio para humilhar,
sexual é frequentemente usada como mé- para instigar um sentimento de inutilidade
94 II. MÓDULOS SOBRE QUESTÕES SELECIONADAS DE DIREITOS HUMANOS

e inferioridade com o fim último de des- tos degradantes e correm o risco de serem
truir as capacidades mentais do indivíduo. novamente traumatizados. Os que vivem
Estes atos têm um impacto significativo e em centros médicos e hospitalares espe-
duradouro tanto nas capacidades físicas, cializados, como os idosos e as pessoas
como nas mentais da pessoa torturada. A com deficiência mental, são muitas vezes
reabilitação física frequentemente demo- desconsiderados e até esquecidos pela so-
ra anos e nem sempre se consegue uma ciedade, podendo tornar-se vítimas de prá-
recuperação total. Além disso, as cicatri- ticas semelhantes à tortura ou maus tratos.
zes psicológicas marcam as vítimas para Tais situações resultam, muitas vezes, da
o resto das suas vidas e frequentemente falta de funcionários e financiamento o
impedem-nas de ter uma existência grati- que conduz à incapacidade de assegurar
ficante. uma qualidade de vida decente, tratamen-
to médico adequado e um envelhecimento
Vítimas e Perpetradores de Tortura e Tra- com dignidade.
tamentos Desumanos ou Degradantes Contudo, não são apenas as vítimas que
Qualquer pessoa pode ser vítima de tor- terão de lidar com os efeitos da tortura e
tura e de maus tratos. Crianças, homens dos maus tratos. Aqueles que praticam tais
e mulheres, jovens e idosos podem ser atos, em regra, não participam de forma
vítimas de tortura. Tal acontece especial- voluntária e podem ser seriamente afeta-
mente em sociedades onde não há tradi- dos pelo seu envolvimento nessas situa-
ção do primado do Direito ou onde as leis ções.
e as respetivas obrigações são raramente
respeitadas. Os maus tratos acontecem, de “Eles pedem sempre que os matem. A tortu-
forma mais frequente, em prisões, em es- ra é pior do que a morte.”
quadras da polícia ou noutros centros de Jose Barrera, torturador das Honduras
detenção, mas a sua ocorrência em casas
particulares ou em centros médicos espe- Existem muitos casos de agentes da polícia
cializados para pessoas com deficiência ou ou de militares que, de forma oficial, atu-
doentes mentais, não são raras exceções. am no cumprimento de ordens ou como
As pessoas em prisão preventiva e conde- membros de grupos especializados nos
nadas pela prática de um crime constituem quais a tortura e os maus tratos são uma
grupos especialmente vulneráveis a maus prática diária. Também o pessoal médico e
tratos porque estão dependentes das auto- de segurança em instituições para pessoas
ridades no que respeita às suas necessida- com necessidades especiais pode tornar-se
des básicas. Estes locais de detenção são, perpetrador de maus tratos devido a negli-
por definição, fechados. Assim, os detidos gência, falta de controlo e supervisão ou
estão longe da vista do resto da socieda- falta de recursos ou formação.
de e são frequentemente considerados um
grupo relativamente ao qual o público ge- 3. PERSPETIVAS
ral sente pouca empatia ou simpatia. Ou- INTERCULTURAIS
tros grupos vulneráveis, tais como as mi- E QUESTÕES CONTROVERSAS
norias sociais, religiosas ou étnicas, assim
como os refugiados e requerentes de asilo As práticas culturais e perceções distintas
são frequentemente sujeitos a tratamen- afetam indubitavelmente o entendimento
A. PROIBIÇÃO DA TORTURA 95

das normas e parâmetros legais interna- terrogatório inovadoras”, incluindo o acor-


cionais, e, muitas vezes, moldam a sua rentamento ao chão por mais de 18 horas,
interpretação. Por exemplo, a punição levando a que os prisioneiros tivessem de
corporal (ex. o causar dor com uma cana urinar e defecar sobre si mesmos, a expo-
ou chicote como medida corretiva) é uma sição a ruídos ensurdecedores e a sujeição
forma de maus tratos muito comum. No a temperaturas extremas que, em muitos
âmbito da tradição islâmica da Sharia, a casos, levavam à perda de consciência e a
punição corporal e a amputação não só que os detidos, de forma frenética, puxas-
são práticas socialmente aceites, como sem o seu próprio cabelo. Hoje, há ainda
são medidas penais autorizadas, frequen- cerca de 170 pessoas detidas na Baía de
temente, impostas por tribunais religiosos Guantánamo. Em 2004, surgiram relató-
que regulam o casamento e as sucessões, rios sobre as graves violações de direitos
bem como outras áreas da vida temporal e humanos cometidas por militares norte-
espiritual dos Muçulmanos. Em 2010, por americanos a trabalhar na prisão de Abu
exemplo, tribunais em diversos estados ni- Ghraib, no Iraque, incluindo a prática de
gerianos basearam-se em normas penais tortura física e psicológica. Estes relatos
da Sharia para proferirem sentenças ex- foram, mais tarde, corroborados pela pu-
cessivas para ofensas simples, tais como blicação de fotografias e vídeos que mos-
pequenos furtos ou o consumo de álcool travam os soldados americanos a torturar
em público. Do mesmo modo, em casos e a humilhar prisioneiros. Outro exemplo
recentes, em 2010, na Arábia Saudita, Irão, do envolvimento de militares americanos
Malásia e Singapura, os tribunais religio- na prática de tortura e maus tratos é o pro-
sos, baseados nos princípios da Sharia, grama dos “voos secretos” levado a cabo
proferiram sentenças para a aplicação de pela C.I.A., através do qual um largo nú-
penas corporais. mero de detidos estrangeiros e de suspei-
tos terroristas eram levados para países de
Tem havido, desde há muito, um debate todo o mundo para serem interrogados e
aceso sobre se os atos de terrorismo são detidos em prisões secretas, denominadas
diferentes de outros crimes e se, desse “locais negros”, com autorização governa-
modo, impõem a adoção de normas espe- mental.
ciais para a sua prevenção e combate. Os De forma semelhante, o debate sobre a
atos terroristas, como os de 11 de setembro aceitação da tortura de suspeitos terroris-
de 2001, têm sido utilizados para justificar tas (ou outros criminosos) com o objetivo
a introdução de “leis antiterrorismo” em de salvar a vida de outros veio novamente
muitos países. Estas leis introduzem pro- à tona. Na Alemanha, em 2004, a decisão
cedimentos processuais penais com conse- do Tribunal Federal Constitucional no caso
quências graves para os direitos humanos. de Wolfgang Daschner, um chefe de polí-
Desde que os EUA declararam a sua “Guer- cia alemão que ameaçou o raptor de um
ra ao Terror” tem havido relatos de inúme- rapaz de 11 anos com o uso da força, na
ros episódios de tortura e maus tratos por esperança de salvar a vida do rapaz, mais
parte de soldados e oficiais americanos. Os uma vez reitera o princípio da proibição
suspeitos de terrorismo detidos nos cam- absoluta da tortura e a impossibilidade
pos de detenção da Baía de Guantánamo, de exceções ou derrogações, em qual-
em Cuba, foram sujeitos a “técnicas de in- quer circunstância. Intimamente ligado a
96 II. MÓDULOS SOBRE QUESTÕES SELECIONADAS DE DIREITOS HUMANOS

este problema está o direito de todas as No plano internacional, o Comité das Na-
pessoas ao princípio da presunção de ino- ções Unidas contra a Tortura e o Relator
cência até prova em contrário, de acordo Especial das Nações Unidas sobre a Tortu-
com a lei. ra, juntamente com um grande número de
Estes exemplos demonstram que apesar ONG, monitorizam a implementação dos
de a proibição da tortura ser quase univer- compromissos dos Estados sobre a proibi-
salmente aceite, a sua interpretação e im- ção da tortura e práticas semelhantes.
plementação podem diferir entre Estados. O Comité das Nações Unidas contra a Tor-
É, todavia, uma pergunta em aberto se tura, o órgão das Nações Unidas de mo-
tais diferenças reforçam a proibição uni- nitorização estabelecido de acordo com o
versal e absoluta da tortura num contexto artº 17º da Convenção da ONU contra a
culturalmente sensível ou se abertamente Tortura, começou os trabalhos no dia 1 de
contradizem os fins e o espírito tanto do janeiro de 1988. O Comité analisa os relató-
direito internacional codificado, como cos- rios dos Estados Partes da Convenção que
tumeiro. No respeitante à proibição da tor- devem ser submetidos cada quatro anos. O
tura, os juristas internacionalistas defen- Comité pode fazer inquéritos e pedir clari-
dem consistentemente a posição de que ficações aos Estados relativamente aos seus
a dualidade de parâmetros é inaceitável e relatórios, assim como pode solicitar infor-
de que as normas jurídicas internacionais mação adicional relativa à matéria de direi-
não deveriam ser aplicadas seletivamente to e de facto contida nos relatórios. Além
e deveriam ser respeitadas estritamente. disso, os Estados podem igualmente fazer
Só deste modo o espírito e a função do di- uma declaração reconhecendo a competên-
reito internacional, como guardião da paz cia do Comité para receber e analisar quei-
mundial, dos direitos humanos e da segu- xas individuais ou interestatais e enviar
rança humana, e o entendimento entre os ao queixoso e ao Estado em questão, as
Estados podem ser preservados. suas considerações finais e recomendações
para ação. Um relatório completo das ativi-
4. IMPLEMENTAÇÃO dades do Comité é publicado anualmente.
E MONITORIZAÇÃO
Protocolo Facultativo
Desde 1948, as disposições do direito in- à Convenção das Nações Unidas
ternacional sobre a proibição da tortura e contra a Tortura
outras formas de tratamentos cruéis, desu- A 57ª sessão da Assembleia-Geral das Na-
manos e degradantes têm sido substancial- ções Unidas adotou, em 2002, em Nova
mente desenvolvidas e melhoradas. Um Iorque, o Protocolo Facultativo à Conven-
número cada vez maior de Estados tem ção das Nações Unidas contra a Tortura e
assinado e ratificado esses compromissos outras Penas ou Tratamentos Cruéis, De-
internacionais, transpondo-os para a legis- sumanos ou Degradantes que entrou em
lação e práticas nacionais. Fortes sistemas vigor em 2006. O Protocolo, ratificado por
regionais de prevenção e proteção contra 61 Estados Partes até janeiro de 2012, foi
a tortura têm-se desenvolvido (na Europa, concebido para prevenir a tortura e outras
por exemplo) e também têm emergido me- formas de maus tratos, através do estabe-
canismos nacionais de inspeção indepen- lecimento de um sistema de visitas regu-
dentes (visitas). lares de inspeção a sítios de detenção por
A. PROIBIÇÃO DA TORTURA 97

órgãos de monitorização internacionais e No entanto, apesar de existirem garantias


nacionais. O Protocolo Facultativo, assim, legais internacionais para a prevenção
estabelece um novo órgão internacional de da tortura, estas não são completamente
peritos com um mandato para a realização implementadas ao nível nacional. É ne-
de visitas, o Sub-Comité para a Prevenção cessário que as disposições da legislação
da Tortura (SPT) que responde perante o nacional sejam harmonizadas com os pa-
Comité contra a Tortura. râmetros internacionais e que sejam cria-
O Protocolo também obriga os Estados Par- dos sistemas nacionais de monitorização
tes a estabelecer órgãos nacionais de inspe- e de denúncia. A erradicação completa da
ção (“mecanismos nacionais de preven- tortura apenas se pode tornar realidade
ção”). Sob a supervisão do Sub-Comité, quando os parâmetros internacionais en-
os órgãos nacionais visitam regularmente contrarem lugar em sistemas nacionais de
todos os locais de detenção e privativos implementação e monitorização viáveis e
de liberdade e fazem recomendações com imparciais, ao nível nacional e local, em
vista à melhoria do tratamento das pesso- todos os Estados-membros das Nações
as privadas da sua liberdade, assim como Unidas. Além disso, providenciar às ví-
das condições da sua detenção. timas de tortura e tratamento desumano
Este foco na prevenção representa um de- e degradante, reabilitação, ajuda legal e
senvolvimento inovador no sistema de di- compensação, assim como apoiar a sua
reitos humanos das Nações Unidas, uma reintegração na vida social são elementos
vez que os outros órgãos internacionais essenciais de uma ordem nacional justa.
existentes só podem atuar depois de uma
violação ter ocorrido. As visitas aos locais Há três aspetos principais numa preven-
de detenção são dos meios mais eficazes ção eficaz da tortura:
para prevenir a tortura e melhorar as con- 1. Estabelecer um quadro legal eficaz e
dições de detenção. Inspirado pelo sucesso assegurar a sua completa implemen-
do Comité Europeu para a Prevenção da tação, assim como aplicar as garantias
Tortura e Penas ou Tratamentos Desumanos apropriadas para a prevenção de tor-
ou Degradantes (CPT) que foi estabelecido tura – por exemplo, garantias funda-
com base na Convenção Europeia para Pre- mentais de quem se encontra privado
venção da Tortura e Penas ou Tratamentos da sua liberdade (acesso a advogados,
Desumanos ou Degradantes, do Conselho médicos, juízes, etc.) e a proibição de
da Europa, prevendo, pela primeira vez, detenção em regime de incomunicabi-
um mecanismo preventivo não judicial, na lidade;
Europa, para proteger as pessoas privadas 2. Estabelecer mecanismos de controlo,
da sua liberdade, o Protocolo Facultativo à em particular, mecanismos nacionais de
Convenção das Nações Unidas estabeleceu visita a locais de detenção e autorizar
critérios e salvaguardas para visitas preven- a monitorização e denúncia indepen-
tivas eficazes a uma escala mundial e por dentes por organizações civis;
órgãos de peritos nacionais. Este Protocolo 3. Formação contínua para os intervenien-
é, assim, considerado um verdadeiro avanço tes, como agentes de polícia, guardas pri-
no fortalecimento dos mecanismos interna- sionais, advogados, juízes e médicos, etc.
cionais e nacionais de prevenção da tortura Para além disso, todas as pessoas podem
e tratamentos desumanos e degradantes. estar envolvidas em atividades de preven-
98 II. MÓDULOS SOBRE QUESTÕES SELECIONADAS DE DIREITOS HUMANOS

ção de tortura através de ações, campanhas, sibilização sobre os assuntos relacionados


pressão para a ratificação de instrumentos com a prevenção da tortura, na nossa comu-
internacionais e a sua implementação ao nidade local ou região. Por fim, podemos
nível nacional, escrevendo cartas ou ape- apoiar as vítimas de tortura com a compre-
los. Através da participação no trabalho de ensão de como as suas preocupações po-
ONG e de voluntariado ou simplesmente dem ser tratadas, ajudando-as a denunciar
sensibilizando a família e os amigos, todos os seus casos e a procurar soluções através
podemos contribuir em atividades de sen- da ação jurídica contra o/s perpetrador/es.

CONVÉM SABER
gar no mundo sobre alguém que foi preso,
1. BOAS PRÁTICAS torturado ou executado porque as suas opi-
niões ou religião não são aceites pelo seu
Atualmente, há muitas atividades por todo governo. O leitor sente-se, furiosamente,
o mundo que visam mobilizar os governos impotente. Todavia, se estes sentimentos
e a sociedade contra práticas de tortura. de indignação se unissem para uma ação
Tais iniciativas operam em conjunto com comum, algo de efetivo podia ser feito.”
programas educativos cujos objetivos são Peter Benenson, Fundador da Amnistia Internacional.
a prevenção da tortura e dos maus tratos,
a assistência jurídica, bem como a reabi- Boas práticas para a prevenção de tortu-
litação física e psicológica das vítimas de ra e maus tratos podem ser:
tortura. Muitas das práticas são locais e • locais, que visam a ação – campanhas,
visam a ação; outras operam do topo para pressão, atividades de sensibilização,
a base, visando a capacitação local e o atividades educativas ao nível local;
conhecimento comunitário como meio de • reforço institucional e capacitação para
prevenção e proteção. influenciar estruturas e instituições já
Além disso, a capacitação institucional, a existentes, modificá-las ou criar novas
ratificação pelo Estado de tratados inter- instituições com capacidade local para
nacionais, as consequentes alterações à lidar com os problemas.
legislação e a respetiva implementação,
assim como a formação e programas de Atividades a Nível Nacional
educação promovem ainda mais as boas
práticas referentes à prevenção da tortura O Conselho Consultivo Austríaco para os
e dos maus tratos. Cada nível proporciona Direitos Humanos
mecanismos únicos para a promoção de Estabelecido em 1999, por sugestão do Co-
boas práticas, atuando também a uma es- mité Europeu para a Prevenção da Tortu-
cala maior e mais generalizada, no sentido ra e Penas ou Tratamentos Desumanos ou
da criação e estabelecimento de padrões Degradantes para aconselhar o Ministro
estatais e internacionais de ratificação e do Interior, o Conselho Consultivo Austrí-
implementação. aco para os Direitos Humanos produz re-
latórios e recomendações sobre problemas
“Abra o jornal em qualquer dia da semana estruturais de Direitos Humanos em todas
e encontrará uma reportagem de algum lu- as áreas de atividade da polícia austríaca.
A. PROIBIÇÃO DA TORTURA 99

Supervisiona seis Comissões de Direitos O mandato do Relator compreende três


Humanos que, funcionando como órgãos atividades principais: transmitir aos go-
de monitorização, podem visitar qualquer vernos comunicações que consistam em
local policial de detenção, na Áustria, em apelos urgentes e cartas contendo denún-
qualquer momento e sem aviso prévio. cias (alegados casos de tortura), realizar
Isto levou a importantes melhorias nos missões de investigação (visitas) a países
centros policiais de detenção. Com a ratifi- sobre os quais a informação existente in-
cação do Protocolo Facultativo à Conven- dicia que os casos de tortura não são in-
ção da ONU contra a Tortura, o Conselho cidentes isolados nem esporádicos e en-
Consultivo será integrado na Provedoria tregar ao Conselho de Direitos Humanos
de Justiça austríaca, um órgão de monito- e à Assembleia-Geral da ONU relatórios
rização independente que supervisiona a anuais sobre as atividades, o mandato e os
administração pública e que é designado métodos de trabalho do Relator Especial.
como Mecanismo Nacional de Prevenção
Diferentemente dos órgãos de monitoriza-
de acordo com o Protocolo Facultativo.
ção estabelecidos pelos tratados interna-
(Fonte: Menschenrechtsbeirat – Human
cionais, o Relator Especial não necessita
Rights Advisory Board, www.menschenre-
de aguardar pela exaustão dos mecanis-
chtsbeirat.at)
mos de proteção domésticos para agir em
casos individuais que envolvam o risco
Atividades a Nível Internacional
de tortura (apelos urgentes) ou alegados
atos de tortura (“alegações”).
O Relator Especial sobre a Tortura: Ob-
Desde 1 de novembro de 2010 que o Re-
jetivos, Mandato e Atividades
lator Especial da ONU sobre a Tortura é
A anterior Comissão de Direitos Huma- Juan Méndez, da Argentina.
nos das Nações Unidas, pela resolução
1985/33, decidiu nomear um Relator Es-
pecial para examinar questões relaciona- Os apelos urgentes podem ser dirigi-
das com a tortura, para procurar e obter dos a:
informações credíveis e fiáveis sobre tais Relator Especial sobre a Tortura
questões e para responder, eficazmente,
C/c. Gabinete do Alto Comissariado para
a essas informações. O Relator Especial
os Direitos Humanos
entrega, anualmente, um relatório exaus-
tivo sobre as suas atividades ao Conse- Gabinete das Nações Unidas em Genebra
lho de Direitos Humanos (o sucessor da CH-1211 Genebra 10
Comissão) referenciando a ocorrência e a Suíça
extensão da prática da tortura e fazendo
recomendações para ajudar os Governos E-mail: urgent-action@ohchr.org
a abolir e a prevenir tais práticas. O man- (Fonte : Relator Especial da ONU sobre
dato do Relator Especial abrange todos os a Tortura e Outras Penas ou Tratamen-
países, independentemente do Estado ter tos Cruéis, Desumanos ou Degradantes
ou não ratificado a Convenção contra a http://www.ohchr.org/EN/Issues/Tor-
Tortura e Outras Penas ou Tratamentos ture/SRTorture/Pages/SRTortureIndex.
Cruéis, Desumanos ou Degradantes. aspx)
100 II. MÓDULOS SOBRE QUESTÕES SELECIONADAS DE DIREITOS HUMANOS

O Comité Europeu para a Prevenção da Métodos de Trabalho


Tortura e Penas ou Tratamentos Desu-
manos ou Degradantes (CPT) O Comité realiza visitas periódicas a to-
dos os Estados Partes e, conforme neces-
Estabelecimento sário, pode, também, efetuar visitas ad
O CPT foi criado com base na Conven- hoc. As suas conclusões constam de rela-
ção Europeia para a Prevenção da Tortu- tórios confidenciais que são enviados ao
ra e Penas ou Tratamentos Desumanos respetivo governo e recomendações são
ou Degradantes, adotada em 1987. Ini- feitas. A adesão ao princípio da confiden-
ciou a sua atividade em 1989 quando a cialidade, nos termos observados para as
Convenção entrou em vigor. visitas e no processo de redação e entre-
Membros ga dos relatórios, é um ponto importante
para a credibilidade do Comité e melho-
O CPT abrange 47 países europeus (to- rou a sua posição internacional, ao mes-
dos os Estados-membros do Conselho da mo tempo que permite o diálogo perma-
Europa, incluindo a Turquia, a Federação nente e construtivo com os governos. Os
Russa e os países do Sul do Cáucaso).
relatórios, em conjunto com os comentá-
Desde março de 2002, tem também sido
rios realizados pelos respetivos governos,
possível a acessão de Estados não-Mem-
podem ser publicados com o acordo des-
bros do Conselho da Europa a convite
tes últimos. Com a exceção da Federação
do Comité de Ministros. O CPT é cons-
Russa, o consentimento para publicação
tituído por peritos independentes, com
tem sido dado com consistência.
formações profissionais diferenciadas,
incluindo, médicos, advogados e peritos Sanções Possíveis
em assuntos relacionados com as forças Se um Estado se recusar a colaborar ou
policiais, prisões e os direitos humanos. a melhorar a situação de acordo com as
O número de membros corresponde ao
recomendações do Comité, o CPT pode
número de Estados Partes da Convenção.
exercer pressão política através da realiza-
Termos de Referência ção de uma declaração pública. Até à data,
O Comité não trata apenas de assuntos este poder foi exercido seis vezes: em 1992
relacionados com a tortura, mas também e 1996, em relação à Turquia, em 2001,
com um leque de situações que podem 2003 e 2007 relativamente à República da
conduzir a penas ou tratamentos desu- Chechénia da Federação Russa e em 2011,
manos ou degradantes. Efetua inspeções relativamente à Grécia.
no local e examina o tratamento de pes- Visitas e Relatórios do CPT
soas privadas da sua liberdade. O CPT
Até 1 de janeiro de 2012, o CPT realizou
inspeciona esquadras de polícia, prisões,
314 visitas a Estados (190 visitas periódi-
hospitais psiquiátricos e todos os outros
locais onde as pessoas se encontrem deti- cas e 124 visitas ad hoc) e publicou 263
das, como as instalações para imigrantes relatórios.
irregulares ou requerentes de asilo, em [Fonte: Comité Europeu para a Preven-
zonas de trânsito de aeroportos interna- ção da Tortura e das Penas ou Tratamen-
cionais. Os membros do Comité têm o di- tos Desumanos ou Degradantes (CPT):
reito de falar em privado com os detidos. http://www.cpt.coe.int]
A. PROIBIÇÃO DA TORTURA 101

Atividades das Organizações Não Gover- por um Conselho Internacional representan-


namentais (ONG) te das secções da organização. As atividades
Em 1997, as Nações da AI incluem campanhas, relatórios sobre
Unidas proclamaram questões de direitos humanos e fazer pres-
26 de junho como o são junto de governos sobre questões espe-
Dia Internacional do cíficas de direitos humanos.
Apoio às Vítimas de Em outubro de 2000, a AI adotou o Pro-
Tortura. Desde en- grama de 12 Pontos para a Prevenção da
tão, redes internacionais mundiais para a Tortura que se tornou numa plataforma de
prevenção e proibição de tortura como a mais iniciativas in-
CINAT (Coalition of International Non- ternacionais para a
governmental Organizations Against prevenção da tortu-
Torture) têm realizado programas interna- ra e para reforçar os
cionais, eventos de alto nível e campanhas mecanismos de pro-
maciças com vista à erradicação completa teção contra a sua
da tortura. Muitos indivíduos e celebrida- ocorrência e institu-
des participam nestes eventos. cionalização.

A Amnistia Internacional (AI)


Programa de 12 Pontos
As atividades da
para a Prevenção da Tortura
Amnistia Interna-
cional, ao nível A Amnistia Internacional apela a todos os
mundial, são um governos para implementar o seu Programa
exemplo de abor- de 12 Pontos para a Prevenção da Tortura.
dagem holística a 1. Condenação oficial da tortura
iniciativas locais As mais elevadas autoridades de cada
e de fortalecimento institucional/capacita- país devem demonstrar a sua total oposi-
ção. No dia 28 de maio de 1961, o advoga- ção à tortura. Devem tornar claro a todos
do inglês Peter Benenson publicou o artigo os que asseguram o cumprimento da lei
“Os Prisioneiros Esquecidos” no jornal The que a tortura não será tolerada em ne-
Observer, Londres, Reino Unido, que inspi- nhuma circunstância.
rou a criação da Amnistia Internacional.
A Amnistia Internacional, com um Secreta- 2. Limites à detenção sem possibilidade
riado Internacional em Londres e escritórios de comunicação
de apoio em todo o mundo, tem atualmente A tortura acontece, muitas vezes, quan-
mais de três milhões de membros, subscrito- do as vítimas se encontram detidas de
res e doadores regulares, em mais de 150 pa- forma “incomunicável” – sem poderem
íses e territórios. A Amnistia Internacional é contatar pessoas no exterior que as pos-
um movimento inerentemente democrático, sam ajudar ou descobrir o que lhes está
governado por si próprio, através de um Co- a acontecer. Os governos devem adotar
mité Executivo Internacional de nove mem- medidas de salvaguarda para assegurar
bros, cujos mandatos de quatro anos são que a detenção “incomunicável” não se
alternados, com metade dos membros pas- torne numa oportunidade para a tortura.
síveis de serem reeleitos em cada dois anos, É vital que todos os detidos sejam presen-
102 II. MÓDULOS SOBRE QUESTÕES SELECIONADAS DE DIREITOS HUMANOS

tes, de forma célere, a uma autoridade tortura nunca possam ser invocadas em
judicial após serem detidos e que os seus procedimentos legais.
familiares, advogados e médicos lhes te- 7. Proibição legal da tortura
nham acesso imediato e regular.
Os governos devem assegurar que os
3. Não à detenção secreta atos de tortura sejam crimes puníveis
Em alguns países, a tortura acontece em pelo direito penal. De acordo com o di-
centros secretos e depois, muitas vezes, as reito internacional, a proibição da tortu-
vítimas são dadas como “desaparecidas”. ra não pode ser suspensa em qualquer
Os governos devem assegurar que as pesso- circunstância, incluindo estados de guer-
as privadas de liberdade são colocadas em ra ou outras situações de emergências
locais publicamente conhecidos e que in- públicas.
formação correta sobre o seu paradeiro seja 8. Acusação de alegados torturadores
disponibilizada a familiares e advogados.
Os responsáveis por atos de tortura de-
4. Garantias durante o interrogatório e vem responder perante a justiça. O prin-
o período de detenção cípio deve ser aplicado onde quer que es-
Os governos devem assegurar que os proce- tes se encontrem, onde quer que o crime
dimentos no âmbito da detenção e dos in- tenha sido cometido e qualquer que seja
terrogatórios sejam regularmente revistos. a nacionalidade dos perpetradores ou das
Todas as pessoas privadas de liberdade de- vítimas. Não pode existir qualquer “porto
vem, de imediato, tomar conhecimento dos seguro” para os que torturam.
seus direitos, incluindo o direito a apresen- 9. Procedimentos de formação
tar queixa contra a forma como é tratada.
Devem ser realizadas visitas de inspeção, Deve ser tornado claro, durante a for-
regulares e independentes, aos locais de mação de todos os profissionais envol-
detenção. Uma garantia importante contra vidos com a detenção, o interrogatório
a tortura seria a separação das autoridades ou o tratamento de detidos, que a tortu-
responsáveis pela detenção daquelas que ra constitui um crime. Estes devem ser
são competentes para o interrogatório. instruídos no sentido de que estão obri-
gados a desobedecer qualquer ordem de
5. Investigação independente de relatos
tortura.
sobre tortura
10. Indemnização e reabilitação
Os governos devem assegurar que todas as
queixas e os relatos relacionados com tor- As vítimas de tortura e os seus dependen-
tura sejam investigados de forma impar- tes devem ter direito a obter uma com-
cial e efetiva. Os métodos e as conclusões pensação financeira. Às vítimas devem
destas investigações devem ser tornados também ser assegurados cuidados médi-
públicos. Queixosos e testemunhas devem cos apropriados e a sua reabilitação.
ser protegidos contra a intimidação.
11. Resposta internacional
6. Não à utilização de declarações obti- Os governos devem utilizar todos os
das sob tortura meios disponíveis para interceder jun-
Os governos devem assegurar que as to dos governos acusados da prática de
confissões e outras provas obtidas sob tortura. Mecanismos intergovernamen-
A. PROIBIÇÃO DA TORTURA 103

tais devem ser estabelecidos e utilizados A Associação para a Prevenção da Tor-


para investigar, de forma urgente, os re- tura (APT)
latos de tortura e para agir eficazmente A Associação para a Prevenção da Tortura
contra esta. Os governos devem assegu- é uma ONG internacional que trabalha a
rar que a formação e as transferências nível global, regional e nacional, com um
de militares, seguranças e polícias não vasto número de intervenientes, incluindo
facilitem a prática da tortura. autoridades estatais, instituições nacionais
e sociedade civil. Tem estado na frente da
12. Ratificação dos instrumentos inter- campanha internacional para a adoção e
nacionais implementação do Protocolo Facultativo
Todos os governos devem ratificar os à Convenção das Nações Unidas contra a
instrumentos internacionais que conte- Tortura e oferece aconselhamento jurídico
nham garantias e mecanismos de prote- sobre a criminalização da tortura, enquan-
ção contra a tortura, incluindo o Pacto to realiza ações de formação relacionadas
Internacional sobre os Direitos Civis e com a visita a locais de detenção, aconse-
Políticos e o seu Protocolo Facultativo lhando no estabelecimento e funcionamen-
que admite queixas individuais. to de mecanismos nacionais de prevenção.
(Fonte: Associação para a Prevenção da
O Programa de 12 Pontos foi lançado no- Tortura, www.apt.ch)
vamente em abril de 2005, no âmbito da
campanha “Contra a Tortura na ‘Guerra ao Código de Ética
Terror’”, depois de testemunhos de “sus- Em Tóquio, em 1975, a Associação Médica
peitos de terrorismo”, presos em locais de Mundial (AMM) adotou a Declaração sobre
detenção como a Baía de Guantánamo, Normas Orientadoras para Médicos relati-
terem revelado que a “Guerra ao Terror” vas à Tortura e Outras Penas ou Tratamen-
conduziu ao uso crescente e à aceitação da tos Cruéis, Desumanos ou Degradantes no
tortura e de outras formas de maus tratos. âmbito da Detenção e da Prisão. A AMM
A Amnistia Internacional documentou um expressou claramente a posição da profissão
leque abrangente de abusos de direitos médica contra a tortura e os maus tratos ao
humanos, justificados pelos perpetradores declarar que “o médico não deve favorecer,
como necessários por motivos de seguran- aceitar nem participar na prática da tortura
ça nacional e de operações no âmbito do ou outras formas de procedimentos cruéis,
combate ao terrorismo. Tal conduziu a ou- desumanos ou degradantes, qualquer que
tra campanha da Amnistia Internacional, seja a ofensa da qual a vítima de tais pro-
em 2006, denominada “Contra o Terroris- cedimentos seja suspeita, acusada ou culpa-
mo através de uma Campanha de Justiça”. da, e quaisquer que sejam as crenças e os
Por último, a Amnistia lançou outra cam- motivos da vítima, em todas as situações,
panha mundial, em 2010, “Segurança com incluindo situações de conflito armado e de
os Direitos Humanos”, apelando ao fim luta armada”. Várias outras associações mé-
das violações dos direitos humanos come- dicas nacionais elaboraram os seus próprios
tidas pelos governos, em nome do comba- códigos de ética contra o envolvimento de
te ao terrorismo e da segurança nacional. médicos em atos de tortura e de maus tratos.
(Fonte: Amnistia Internacional, http:// (Fonte: Associação Médica Mundial:
www.amnesty.org/) http://www.wma.net)
104 II. MÓDULOS SOBRE QUESTÕES SELECIONADAS DE DIREITOS HUMANOS

2. TENDÊNCIAS número de pessoas privadas de liberdade


em 218 países independentes e territórios
O comércio de instrumentos de tortura dependentes, mais de 9.8 milhões de pes-
como algemas, grilhões, anjinhos, chicotes soas encontram-se detidas em instituições
e tecnologia de choques elétricos tem au- penais à volta do mundo. Este elevado nú-
mentado drasticamente nos últimos anos. mero de pessoas privadas de liberdade põe
De acordo com o relatório de 2001 “Stop- pressão nos funcionários e na gestão das
ping the Torture Trade”, da Amnistia Inter- prisões, tornando premente a necessidade
nacional, o número de países que se sabe de mais formação, mais sensibilização para
estarem a produzir ou fornecer equipamen- os direitos humanos e de mais recursos.
to de choques elétricos subiu de 30, nos A denominada “Guerra ao Terror” tem sido
anos 80, para mais de 130, em 2000. Em usada por governos para restringir as ga-
resposta a uma iniciativa do antigo Relator rantias dos direitos humanos e para ignorar
Especial contra a Tortura, Theo van Boven, a proibição absoluta da tortura e outras for-
a União Europeia introduziu, em 2005, uma mas de maus tratos. Alguns países emiti-
proibição no comércio de instrumentos de ram orientações a funcionários dos serviços
tortura. Porém, de acordo com um relató- secretos e a forças de segurança que apro-
rio publicado pela Amnistia Internacional vam técnicas de interrogatório que causa
e a Fundação de Investigação Omega, em danos físicos e mentais, proibidas pelo di-
março de 2010, vários países europeus con- reito internacional, bem como pela maioria
tinuam a exportar equipamento desenhado dos sistemas nacionais como formas de tor-
para tortura ou maus tratos. Descobriu-se, tura ou tratamentos cruéis ou desumanos.
por exemplo, que a República Checa emi-
tiu licenças de exportação a abrangerem 3. CRONOLOGIA
grilhões, armas de choques elétricos e pul-
verizadores químicos, a seis países onde a
Proibição da Tortura e Outras Penas
polícia e forças de segurança são conheci-
ou Tratamentos Cruéis, Desumanos ou
das por utilizarem estes equipamentos para
Degradantes – Bases estruturantes
tortura e outras formas de maus tratos,
enquanto a Alemanha emitiu licenças si- 1948 Declaração Universal dos Direitos
milares para correntes de pés e pulveriza- Humanos (DUDH), Artº 5º
dores químicos; e fornecedores na Itália e 1949 As Quatro Convenções de Genebra
Espanha promoveram a venda de punhos
1950 Convenção Europeia para a Proteção
ou mangas de choques elétricos de 50,000
dos Direitos Humanos e das Liberda-
voltes para o uso em prisioneiros.
des Fundamentais (CEDH), Artº 3º
Atualmente, a população prisional está
a aumentar em quase todas as partes do 1957 Regras Mínimas das Nações Unidas
mundo. Num movimento paralelo, o nú- para o Tratamento dos Reclusos
mero de mulheres e de jovens presos tem 1966 Pacto Internacional sobre os Direitos
também aumentado drasticamente. De Civis e Políticos (PIDCP), Artº 7º
acordo com a mais recente Lista Mundial 1966 Protocolo Facultativo Referente ao Pac-
sobre a População em Prisões, publicada to Internacional sobre os Direitos Civis
pelo Centro Internacional de Estudos sobre e Políticos
Prisões, que apresenta pormenores sobre o
A. PROIBIÇÃO DA TORTURA 105

1969 Convenção Americana sobre Direi- 1987 Convenção Europeia para a Preven-
tos Humanos, Artº 5º ção da Tortura e das Penas ou Trata-
1979 Código de Conduta das Nações mentos Desumanos ou Degradantes
Unidas para os Funcionários Res- estabelecendo o Comité Europeu
ponsáveis pela Aplicação da Lei para a Prevenção da Tortura (CPT)
1981 Carta Africana dos Direitos Humanos 1990 Regras das Nações Unidas para a
e dos Povos (Carta de Banjul), Art.º 5º Proteção dos Jovens Privados da
sua Liberdade
1982 Princípios de Deontologia Médica
aplicáveis à atuação do pessoal dos 1992 Convenção Interamericana para a
serviços de saúde, especialmente aos Prevenção e Punição da Tortura
médicos, para a proteção de pessoas 1994 Convenção Interamericana sobre o
presas ou detidas contra a tortura e Desaparecimento Forçado de Pessoas
outras penas ou tratamentos cruéis, 1998 Estatuto do Tribunal Penal Interna-
desumanos ou degradantes cional
1984 Convenção das Nações Unidas 2002 Protocolo Facultativo à Convenção
contra a Tortura e Outras Penas ou das Nações Unidas contra a Tortu-
Tratamentos Cruéis, Desumanos ra e Outras Penas ou Tratamentos
ou Degradantes (CCT) Cruéis, Desumanos ou Degradan-
1985 Relator Especial das Nações Unidas tes estabelecendo o Subcomité
para Tortura e outras Penas ou Tra- para a Prevenção da Tortura (SPT)
tamentos Cruéis, Desumanos ou 2006 Convenção Internacional para a
Degradantes Proteção de Todas as Pessoas con-
1985 Convenção Interamericana para tra os Desaparecimentos Forçados
Prevenir e Punir a Tortura (CPDF)

ATIVIDADES SELECIONADAS
ATIVIDADE I: mentos a favor e contra as questões le-
TORTURAR TERRORISTAS? vantadas, para analisá-las de acordo com
o quadro dos princípios de direitos huma-
Parte I: Introdução nos e debater outros assuntos relaciona-
O terrorismo e a tortura de (suspeitos) dos com estes.
terroristas e perpetradores de crimes ge-
rou um aceso debate particularmente de- Parte II: Informação Geral sobre a Ati-
pois do 11 de setembro de 2001. Muitas vidade
pessoas têm exprimido as suas opiniões Tipo de atividade: debate
e as suas preocupações, ainda que de for- Pergunta para debate:
mas diversas. É aceitável torturar (suspeitos) perpetra-
Através do debate proposto, poderia ser dores de crimes ou terroristas para salvar
feita uma tentativa para identificar argu- a vida de outras pessoas?
106 II. MÓDULOS SOBRE QUESTÕES SELECIONADAS DE DIREITOS HUMANOS

Metas e objetivos: Formulação, parti- Parte III: Informação Específica sobre o


lha e defesa de opiniões; aquisição de Debate
conhecimentos e sensibilização para a Introdução do tema:
questão de saber como a sociedade de- Como introdução ao tema, apresentar bre-
mocrática deve lidar com assuntos rela- vemente os recortes de jornais preparados,
cionados com a tortura; demonstrar que declarações contraditórias de funcionários
os direitos humanos e o princípio do pri- públicos, documentos de direitos huma-
mado do Direito podem ser um quadro nos e disposições relacionadas com terro-
importante para perceber dilemas com- rismo e a proibição de tortura, etc.
plicados. Dividir o grupo em duas partes e assegu-
Grupo-alvo: Jovens adultos, adultos rar que os grupos analisam e desenvol-
Dimensão do grupo: 10-12 vem argumentos a favor ou contra, tendo
Duração: 90-120 minutos em conta os princípios universais de di-
Preparação: Recolher recortes, artigos e reitos humanos, considerações morais e
fotografias de jornais locais e interna- éticas, etc.
cionais recentes; preparar e copiar um Processo do debate:
conjunto das normas internacionais e O processo do debate deve ser dirigido
regionais de direitos humanos sobre a com respeito e sensibilidade. Nenhum
proibição de tortura; pedir aos partici- participante deve ter a sensação de que os
pantes que tragam um tópico relaciona- seus argumentos ou atitudes são inapro-
do com o tema; em alternativa, rever o priados ou disparatados. Pedir aos partici-
julgamento no caso alemão de Wolfgang pantes que organizem os tópicos relacio-
Daschner. nados com o tema que trouxeram.
Material: cartões coloridos, cópias do ma- Dar tempo (45m) para trabalho em grupos
terial preparado, quadro ou papel e mar- mais pequenos e para a formulação de ar-
cadores gumentos. Começar o debate pedindo aos
Competências envolvidas: Construção de participantes que apresentem os seus ar-
competências argumentativas e críticas; gumentos e colocá-los do lado esquerdo
competências comunicativas; competên- (contra) ou direito (a favor) de uma linha
cias de gestão de conflitos. que divida a sala. Perguntar se todos con-
Regras do debate: cordam com a posição dos argumentos
Antes de começar o debate, pedir aos par- propostos e tentar que o grupo discuta as
ticipantes que determinem eles mesmos as diferenças de abordagem, a compreensão
regras e assegurar que todo o grupo con- e a razão das suas posições. (planear 45
corda e aceita as regras propostas. a 60 minutos)
Colocar as regras visivelmente e consultá-las Reações:
apenas quando houver problemas. Depois do debate ter terminado, distribuir
O facilitador deve assegurar-se de que as a todos os participantes um cartão verme-
seguintes regras estão incluídas na lista lho e um verde, por exemplo, e pedir-lhes
que os participantes elaboraram: que escrevam os sentimentos positivos e
1. Só uma pessoa deve falar de cada vez. negativos que tiveram sobre o conteúdo
2. O grupo tem de inventar um sinal pelo e a organização do debate. Finalmente,
qual expressar desacordo ou insatisfa- ler em voz alta os cartões e dar tempo
ção de uma forma respeitosa. para reflexão. Como alternativa, os par-
A. PROIBIÇÃO DA TORTURA 107

ticipantes podem colá-los na parede ou Parte IV: Acompanhamento


num quadro. Direitos relacionados/outras áreas a ex-
Sugestões metodológicas: plorar: direito à vida, pena de morte e se-
Manter sempre e usar, se necessário, 5 gurança humana.
minutos de pausa (para acalmar) quando
o debate estiver aceso e correr o risco de
ficar fora do controlo; ATIVIDADE II:
Dar tempo para reflexão silenciosa quando UMA CAMPANHA
a confusão ou a raiva se instalarem; CONTRA A TORTURA
Tentar resumir, clarificar e mitigar discus-
sões e não tomar posições abertamente. Parte I: Introdução
Outras sugestões: As diferentes formas de tortura e outras
Para estruturar melhor o conteúdo do de- penas ou tratamentos cruéis, desumanos
bate pode dar-se aos participantes uma e degradantes nem sempre são evidentes.
ficha informativa com a “A Escada da Não obstante, a maioria das pessoas tem
Tortura”: uma noção clara do que podem ser con-
• Alguém colocou uma bomba e admite siderados como tratamentos cruéis, desu-
tê-lo feito. Temos de torturar para salvar manos ou degradantes. Através desta ati-
vidas. vidade, os participantes serão encorajados
• Alguém é suspeito de ter colocado uma a tentar traduzir os seus conhecimentos
bomba. Temos de torturar para desco- em ação.
brir mais.
• Alguém é próximo de outra pessoa sus- Parte II: Informação Geral sobre a Ati-
peita de ter colocado uma bomba. Temos vidade
de torturar o amigo/familiar para desco- Tipo de atividade: criativa
brir mais sobre os planos do bombista. Metas e objetivos: Desenvolvimento de
• Alguém denuncia outra pessoa que abordagens criativas e inovadoras a pro-
partilha as mesmas ideias políticas do blemas complexos; ilustração da comple-
bombista. Temos de torturar o aliado xidade do tema.
político para descobrir mais sobre ou- Grupo-alvo: Jovens adultos, adultos
tras pessoas que o apoiam. Dimensão do grupo: 10-20, em grupos
• Alguém se recusou a dizer à polícia de 4 ou 5
onde está o suspeito. Esta pessoa deve Duração: 120 minutos
ser torturada para assegurar que outros Preparação: Recolher imagens e textos so-
não tentarão fazer a mesma coisa. bre o tema; recolher e preparar cópias das
Se usar esta ficha informativa, esta susci- normas relevantes de direitos humanos,
ta, em primeiro lugar, a questão de saber internacionais e regionais, sobre a proibi-
onde se encontra o limite – quando, se é ção de tortura.
que em alguma circunstância, se pode jus- Material: quadro ou papel, marcadores,
tificar a tortura? fotografias chocantes e histórias de víti-
(Fonte: Flowers, Nancy, et al. 2000. The mas de tortura, etc.
Human Rights Education Handbook. Effec- Competências envolvidas: Pensamento
tive Practices for Learning, Action and criativo; concretização de ideias criati-
Change.) vas.
108 II. MÓDULOS SOBRE QUESTÕES SELECIONADAS DE DIREITOS HUMANOS

Parte III: Informação Específica sobre a também que falem dos pensamentos e
Atividade emoções que tiveram ao preparar os car-
Introdução do tema: tazes.
Como forma de aquecimento, pedir aos Reações:
participantes que partilhem os seus pensa- Pedir a cada um dos participantes para
mentos, ideias e opiniões sobre a tortura, caracterizar a sua experiência com este
numa sessão de chuva de ideias. Registar exercício numa palavra ou numa frase.
as respostas mais interessantes num qua- Numa segunda volta, pode perguntar de
dro ou em papel. que gostaram mais e se pensam que houve
Processo da atividade: alguma coisa no exercício que fosse per-
Dividir o grupo em grupos menores (4 a 5 turbadora.
membros no máximo) e espalhar o mate- Sugestões metodológicas:
rial recolhido numa mesa grande ou no Dependendo do grupo com o qual está a
chão. Dar tempo suficiente para se exami- trabalhar, deve ser muito cuidadoso/a so-
narem os desenhos e as fotografias e se bre a exibição de pormenores de fotogra-
lerem os textos. fias ou relatórios sobre tortura!
Dar uma folha de papel suficientemente
grande a cada grupo para que possam fa- Parte IV: Acompanhamento
zer cartazes contra a tortura e outros trata- Convidar ativistas da AI ou outros ativis-
mentos cruéis, desumanos e degradantes, tas locais com experiência a partilharem
escolhendo para esse efeito por entre o as suas experiências e eventualmente a co-
material apresentado ou criando desenhos meçarem um novo grupo/uma nova cam-
ou textos. panha.
Utilizar os últimos 45 minutos para a apre- Direitos relacionados/outras áreas a ex-
sentação dos cartazes ao grupo reunido plorar:
em plenário. Pedir aos participantes não Direito à vida, pena de morte e segurança
apenas que expliquem o seu trabalho, mas humana.

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110 II. MÓDULOS SOBRE QUESTÕES SELECIONADAS DE DIREITOS HUMANOS

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Treatment or Punishment: www.cpt.coe. www.omct.org
int/en
B. DIREITO A NÃO VIVER
NA POBREZA

REDUÇÃO DAS INIQUIDADES


SUBSISTÊNCIA SUSTENTÁVEL
ACESSO AOS RECURSOS
PARTICIPAÇÃO
NÍVEL DE VIDA ADEQUADO

“Toda a pessoa […] tem direito à segurança social […] e pode legitimamente exigir a sa-
tisfação dos direitos económicos, sociais e culturais indispensáveis […] à sua dignidade e
ao livre desenvolvimento da sua personalidade”
Toda a pessoa tem direito ao trabalho […]
Toda a pessoa tem direito a um nível de vida suficiente para lhe assegurar e à sua família
a saúde e o bem-estar, principalmente, quanto à alimentação, ao vestuário, ao alojamen-
to, à assistência médica e ainda quanto aos serviços sociais necessários […]
[…] Toda a pessoa tem direito à educação. […]”
Artigos 22º, 23º, 25º, 26º da Declaração Universal dos Direitos Humanos. 1948.
112 II. MÓDULOS SOBRE QUESTÕES SELECIONADAS DE DIREITOS HUMANOS

HISTÓRIA ILUSTRATIVA

Morrer de fome em terra de abundância jas do governo. Mas em Bhoyal, como em


outros lugares, o sistema entrou em co-
Quando as colheitas se perderam e não exis- lapso. Os aldeões disseram que o sarpan-
tia trabalho, os aldeões de Mundiar come- ch (chefe da aldeia) local distribuiu todos
çaram a procurar comida na selva. Mas não os cartões de racionamento aos seus com-
encontraram nada. Em vez disso, encontra- parsas e membros da sua própria casta.
ram erva. E, assim, durante a maior parte do Aquele também apagou o nome das viú-
verão, as 60 famílias da aldeia tiveram de se vas que tinham direito a receber pensões
alimentar de sama – uma ração normalmen- governamentais. Entretanto, os donos das
te dada ao gado. Mas os humanos não de- lojas do governo, recusaram-se a vender
vem comer erva e, rapidamente, os aldeões, cereais baratos aos “intocáveis” Saha-
com as bochechas cada vez mais encovadas, riyas. Em vez disso, aqueles livram-se
foram enfraquecendo. Estes queixaram-se dos cereais no mercado negro. Quando os
de prisão de ventre e de letargia. Por fim, Sahariyas começaram a morrer, os donos
começaram a morrer. Um aldeão, Murari, das lojas preencheram os seus cartões de
assistiu ao lento sucumbir da toda a sua fa- racionamento numa tentativa de escon-
mília. Primeiro morreu o seu pai, Ganpat, der o seu esquema.
seguido pela sua mulher, Bordi. Quatro dias Os níveis de má nutrição na Índia – um
mais tarde, ele perdeu a sua filha. país de mais de 1 bilião de pessoas – estão
Ao longo desta região remota do norte da entre os mais altos do mundo. Em 2006,
Índia – que noutros tempos era coberta cerca de metade de todas as crianças in-
pelo denso verde da floresta, mas agora dianas sofriam de má nutrição, enquanto
tornada estéril devido à seca – é a mesma cerca de 50% das mulheres indianas so-
história. Durante os dois últimos meses, frem de anemia. E, ainda assim, a maioria
mais de 40 membros da comunidade tri- dos cereais da vasta montanha de alimen-
bal Sahariya morreram à fome. Cerca de tos é deitada fora ou comida pelos ratos.
60 milhões de toneladas de cereais exce- São aqueles que estão no fundo do sistema
dentes estão atualmente depositadas nos hierárquico de castas da Índia que mais
armazéns do governo. Esta é por isso, sem sofrem. As comunidades tribais, que re-
dúvida, uma imensa montanha de alimen- presentam cerca de 30% da população do
tos. Infelizmente, nenhuma das toneladas distrito de Baran, são também vítimas da
alcançou Mundiar ou qualquer outra vila injustiça histórica. Antes da independên-
mais remota do interior, no sudeste de Ra- cia em 1947, os Sahariyas proviam à sua
jasthan […]. sobrevivência através da caça e semeio
Oficialmente, na Índia ninguém morre à de algumas colheitas. Depois da indepen-
fome. No âmbito de um sistema público dência, os funcionários expulsaram-nos
de distribuição, os aldeões que vivem da selva e confiscaram as suas terras. Os
abaixo do limiar da pobreza têm direito a Sahariyas foram forçados a procurar traba-
um cartão de racionamento, que lhes per- lhos como trabalhadores agrícolas. Quan-
mite comprar cereais subsidiados das lo- do se perderam as colheitas neste verão,
B. DIREITO A NÃO VIVER NA POBREZA 113

ficaram sem trabalho e, portanto, sem Articule-as como “Violações dos direitos
nada para comer. humanos de/a …”.
“Os políticos não estão interessados em 2. O que desperta em si esta experiência e
nós”, disse uma mulher, Nabbo, de 50 o que pensa que deve ser feito?
anos, enquanto preparava a sua refeição 3. Compare/contraste a situação de pobre-
da noite de chapattis feita de sama – se- za em Baran com o que os pobres no
mentes de erva selvagem. seu país/contexto experienciam. Quais
(Fonte: Luke Harding. 2002. Dying of hun- são as imagens da pobreza de acordo
ger in a land of surplus. Caste and cor- com a sua experiência?
ruption connive to keep food from India´s 4. Vê alguma relação entre o aumento da
poor.) pobreza e a segurança humana? Acha
que tratar as pessoas da forma descrita
Questões para debate na história ilustrativa pode ter efeitos
1. Quais são as privações e vulnerabili- na segurança humana? Se sim, que tipo
dades sentidas pelos pobres em Baran? de efeitos?

A SABER

1. INTRODUÇÃO cificidades sociais. Em países em desen-


volvimento, a pobreza está difundida e é
Embora a pobreza tenha sido vista como caracterizada por fome, escassez de terra
um fenómeno histórico, as formas pelas e de recursos para subsistência, políticas
quais hoje se manifesta estão a tornar-se redistributivas ineficientes, desemprego,
significativamente complexas. Esta com- analfabetismo, epidemias, falta de servi-
plexidade é o resultado de muitos fatores, ços de saúde e água potável. Em países
incluindo a mudança na natureza do rela- desenvolvidos, a pobreza manifesta-se na
cionamento entre os seres humanos, a re- forma de exclusão social, em desemprego
lação entre sociedade e fatores e processos crescente e em baixos salários. Em ambos
de produção e a perspetiva dos governos os casos, a pobreza existe devido à falta de
e das instituições internacionais, como o equidade, igualdade, segurança humana e
Banco Mundial, o Fundo Monetário Inter- paz.
nacional ou as Nações Unidas sobre as vá- A pobreza significa a falta de acesso
rias dimensões de pobreza. num mundo pleno de oportunidades.
O conceito de pobreza tem evoluído ao Os pobres não têm capacidade para al-
longo do tempo. A pobreza, que era vista terar a sua situação, uma vez que lhes
apenas como relacionada com os rendi- são negados os meios para exercer essa
mentos, é agora vista como um conceito capacidade, devido à falta de liberdade
multidimensional que deriva e está in- política, incapacidade para participar
timamente relacionado com a política, a nos processos de tomada de decisão,
geografia, a história, a cultura e as espe- falta de segurança pessoal, incapacida-
114 II. MÓDULOS SOBRE QUESTÕES SELECIONADAS DE DIREITOS HUMANOS

de de participar na vida da comunidade 2. DEFINIÇÃO E DESENVOLVIMENTO


e ameaças à equidade sustentável e in- DA QUESTÃO: DEFINIR
tergeracional. A pobreza é a negação de O CONCEITO DE POBREZA
poder económico, social e político e de
recursos. É esta negação que mantém os Existem várias definições e manifestações
pobres mergulhados na pobreza. de pobreza:
• Do ponto de vista do rendimento, a
Pobreza e Segurança Humana pessoa é pobre se, e apenas se, o seu
nível de rendimento se encontra abai-
A pobreza, conducente a graves inse- xo do limiar da pobreza definido. Mui-
guranças sociais e alimentícias, é uma tos países adotaram linhas de pobreza
violação direta da segurança humana. relacionadas com o rendimento para
Não só ameaça a existência de um gran- monitorizar o progresso na redução da
de número de pessoas como contribui incidência de pobreza. A quebra da li-
para a sua vulnerabilidade à violência, nha de pobreza é definida em termos
aos maus tratos e ao seu silêncio a nível da posse de rendimento suficiente para
social, político e económico. uma quantidade específica de alimentos.
Amartya Sen sublinhou a necessidade • De acordo com o Relatório de Desenvol-
de considerar os desafios da equidade vimento Humano (RDH), de 1997, do
global e da segurança humana: “As PNUD, a “pobreza significa que as opor-
tarefas urgentes incluem a clarificação tunidades e escolhas mais básicas para
concetual bem como a promoção do de- o desenvolvimento humano são negadas
bate público, a juntar à identificação de – para conduzir uma vida longa, saudá-
projetos concretos de ação relacionados vel e criativa e para gozar de um padrão
com mudanças institucionais para a decente de vida, liberdade, dignidade e
promoção da equidade e para salvaguar- de respeito próprio e pelos outros”.
dar a segurança humana básica. Uma • O Índice de Pobreza Multidimensional
melhor compreensão dos conflitos e dos (PNUD, RDH 2010) utiliza indicadores
valores tem de ser integrada com a in- para identificar as diversas dimensões
vestigação de exigências no âmbito da da pobreza, tais como a precariedade
saúde, educação, remoção da pobreza e na saúde e na nutrição, educação e for-
redução da desigualdade de género e da mação insuficientes, meios de subsis-
insegurança.” tência desadequados, condições de ha-
(Fonte: Relatório da Segunda Reunião da bitação precárias, exclusão social e falta
Comissão sobre a Segurança Humana, de participação. O Índice de Pobreza
16-17 de dezembro de 2001) Multidimensional complementa os mé-
todos baseados em valores monetários
A pobreza é um estado de privação, bem com uma abordagem mais ampla, subs-
como de vulnerabilidade. Consequen- tituindo o Índice de Pobreza Humana,
temente, as crescentes desigualdades e publicado desde 1997.
discriminação geradas, entre nações e • A partir de uma perspetiva de direitos
dentro das mesmas, violam os direitos humanos, o Alto Comissariado das Na-
dos pobres de viver em segurança e com ções Unidas para os Direitos Humanos vê
dignidade. a pobreza como uma “condição humana
B. DIREITO A NÃO VIVER NA POBREZA 115

caracterizada pela privação prolongada e frente, devemos agora tentar relacionar as


crónica de recursos, capacidades, escolhas, palavras incluídas na definição de pobre-
segurança e poder necessários para desfru- za (ex. justiça, vulnerabilidade, dignidade,
tar de um padrão de vida adequado e ou- segurança, oportunidades, etc.) com as
tros direitos civis, culturais, económicos e questões da vida real, o que ajudaria a ex-
sociais”. Nas Linhas Orientadoras Provi- plicar as diferentes dimensões da pobreza:
sórias: Uma Abordagem de Direitos Hu-
manos para Estratégias de Redução de Subsistência: negação do acesso à terra,
Pobreza, do Alto Comissariado das Na- florestas e água - é o caso, por exemplo, do
ções Unidas para os Direitos Humanos, de que sucede em áreas rurais quando as leis
setembro de 2002, a pobreza é encarada do Estado sobre as florestas, não permi-
como uma “forma extrema de privação”. tem aos povos indígenas colher alimentos
O Relatório sugere que apenas a falta das e pasto que por direito lhes pertence. No
capacidades consideradas como essen- contexto urbano, a cidade quer migrantes
ciais, segundo uma determinada ordem rurais para os seus trabalhos, mas não se
de prioridade, devem qualificar-se como responsabiliza pelas suas necessidades de
pobreza. Apesar de esta qualificação po- habitação, saúde e educação, empurran-
der diferir de uma sociedade para outra, do-os, ainda mais, para a vulnerabilidade
o conjunto comum de necessidades con- e insegurança. O racismo e a discrimina-
sideradas básicas na maioria das socieda- ção baseados na etnia têm sido também
des inclui a necessidade de ser adequada- fatores decisivos para negar o acesso de
mente nutrido, evitando uma morbidade comunidades e grupos a recursos naturais
e mortalidade prematura, estar adequada- vitais para a sua subsistência, e, portanto,
mente abrigado, ter educação básica, ser para o seu direito humano a viver em dig-
capaz de garantir a segurança pessoal, ter nidade.
acesso equitativo à justiça, ser capaz de
Direito ao Trabalho e Não Discri-
aparecer em público sem vergonha, ser
minação
capaz de garantir a sobrevivência e parti-
cipar na vida da comunidade.
Necessidades básicas: negação da alimenta-
ção, educação, uma vida saudável e habita-
Os debates sobre como elaborar índices
ção, por exemplo, a comercialização de água,
e medir a pobreza persistem, mas a com-
eletricidade e serviços escolares e hospitala-
plexidade da vida humana significa que a
res impelem os preços dos serviços essenciais
pobreza continuará sempre na procura de
para além do alcance dos pobres, forçando-os
uma definição. A vulnerabilidade e a pri-
a vender os seus escassos bens e a viver em
vação, sendo essencialmente subjetivas,
condições sub-humanas, o que, em última
não podem ser limitadas a um quadro rígi-
análise, lhes retira o direito de viver em dig-
do aplicável universalmente.
nidade.
Dimensões da Pobreza Direito à Saúde
O fenómeno da pobreza é entendido e Direito à Educação
articulado diferentemente, dependendo
do específico contexto económico, social, Justiça: negação da própria justiça ou
cultural e político. Dando um passo em de uma justiça atempada, por exemplo,
116 II. MÓDULOS SOBRE QUESTÕES SELECIONADAS DE DIREITOS HUMANOS

os pobres em muitos países não conse- frequentemente listada no registo eleito-


guem aceder ao sistema judicial devido ral e, portanto, não pode votar.
aos elevados custos que lhe estão asso-
ciados. Os jovens de bairros pobres e de Direito ao Asilo
minorias étnicas e religiosas são os pri- Direitos das Minorias
meiros suspeitos de crimes ou mulheres
que procuram intervenção da polícia em Dignidade Humana: negação do direito de
assuntos de violência doméstica são des- viver uma vida com respeito e dignidade,
consideradas sob o pretexto da questão por exemplo, em áreas rurais, grupos de
ser um assunto privado. Muitas vezes, castas étnicos e de outras minorias que
devido à pressão do Estado e de outras formam a grande parte dos sem terra ou
influências poderosas, os tribunais são proprietários marginais de terras são for-
vistos a retardar assuntos judiciais rela- çados a comprometer a sua dignidade para
cionados com indemnizações a trabalha- ganhar magros salários. As crianças, em
dores ou a reabilitação de pessoas des- vez de estarem na escola, são exploradas
locadas, o que põe em causa o sustento e forçadas a realizar trabalhos, como a re-
dos pobres. ciclagem de lixo, o curtume de pele ou a
agricultura.
Primado do Direito e Julgamento
Justo Direitos Humanos da Criança
Não Discriminação Direito ao Trabalho
Direitos Humanos das Mulheres
Grupos Vulneráveis à Pobreza
Organização: negação do direito a orga- Apesar de a pobreza ser um fenómeno
nizar, assumir poder e resistir à injustiça, largamente difundido e afetar pessoas por
por exemplo, a pobreza interfere com a li- todo o mundo, ela é particularmente grave
berdade dos trabalhadores de se organiza- para as mulheres, crianças e pessoas com
rem por melhores condições de trabalho. deficiência.
A feminização da pobreza tem-se torna-
Direito ao Trabalho do um problema significativo em países
com economias em transição devido ao
Participação: negação do direito de aumento da migração masculina, desem-
participar e influenciar as decisões que prego e devido à proliferação de econo-
afetam a vida, por exemplo, o aumen- mias familiares orientadas para a exporta-
to do conluio entre interesses políticos ção que são mal pagas pelo seu trabalho.
e empresariais usurpa o espaço dos ci- A maioria do trabalho feminino não é
dadãos para participarem efetivamente documentado e não é pago. As mulheres
em assuntos públicos, como o aprovi- são preferidas aos homens, como traba-
sionamento de serviços básicos. A falta lhadores, em muitos setores da economia
de instrução e de informação, devido à uma vez que são vistas como “força de
deslocação, nega aos refugiados o direi- trabalho obediente”. Em muitas comuni-
to de decidir o seu futuro. Devido à sua dades, as mulheres não possuem e não
natureza migratória, a maioria dos mem- têm controlo sobre a terra, água, proprie-
bros das comunidades Roma não está dade e outros recursos e enfrentam bar-
B. DIREITO A NÃO VIVER NA POBREZA 117

reiras sociais e culturais na realização dos percentagem muito pequena de adultos


seus direitos humanos. com deficiência tem trabalho remunerado.

Direitos Humanos das Mulheres Por que Persiste a Pobreza


Os governos dos países ocidentais alta-
A pobreza nega às crianças a oportuni- mente desenvolvidos que controlam a
dade de realizarem o seu potencial como governação da economia mundial estão
seres humanos e torna-as vulneráveis à satisfeitos por tolerar e manter estruturas
violência, tráfico, exploração e abuso. A comerciais e financeiras que concentram a
elevada mortalidade infantil é normalmen- riqueza no mundo industrializado, o que
te causada pela má nutrição; elevadas pro- exclui os países e pessoas mais pobres de
porções de crianças/adultos são uma cau- uma parte da prosperidade global, resul-
sa adicional para pobreza de rendimento. tando na desigualdade entre nações no
Com o rápido aumento da urbanização, o norte e sul. É interessante ver que, tanto
número de crianças que vivem nas ruas dentro dos países desenvolvidos, como
está a aumentar. De acordo com a UNICEF, nos países em vias de desenvolvimento,
em 2010, cerca de 68 milhões de crianças existe um fosso cada vez maior entre ricos
por todo o mundo, em idade de frequentar e pobres.
o ensino secundário, nunca foram à escola Os Programas de Ajustamento Estrutural
e são presas fáceis para diferentes formas (PAE) do Banco Mundial e os pacotes de
de exploração. Também se estima que 150 estabilidade do Fundo Monetário Interna-
milhões de crianças (com idades dos 5-14) cional chegaram com a promessa de gerar
sejam vítimas de trabalho infantil. Para mais oportunidades de emprego, rendi-
além disso, o aumento da comercialização mento, riqueza e desenvolvimento econó-
da educação e de serviços de saúde priva mico, integrando as economias nacionais
as crianças dos seus direitos constitucio- num sistema económico global. Os PAE
nais básicos em muitos países. que procuram erradicar a pobreza através
da disciplina fiscal, sem se direcionar às
Direitos Humanos da Criança desigualdades no sistema de distribuição,
podem intensificar a pobreza, uma vez
As pessoas com deficiência estão entre que os países gastam o dinheiro para sal-
as pessoas mais pobres nos países em de- dar dívidas, descurando, assim, as despe-
senvolvimento. A pobreza pode provocar sas com os serviços básicos como a saúde,
deficiência e pode também conduzir a de- a educação e a habitação.
ficiências secundárias, para as pessoas já Algumas tendências económicas, que po-
afetadas pela deficiência, como resultado dem ser descritas como “globalização
de condições de vida precárias, falta de co- neo-liberal”, colocam ênfase na produção
mida ou água e acesso limitado a cuidados para exportação e ignoram os direitos bá-
de saúde. O PNUD estima que existem 650 sicos das pessoas de satisfazerem as suas
milhões de pessoas com deficiência em próprias necessidades e de ganharem a
todo o mundo e que 80% vivem nos paí- vida com dignidade. O retrocesso do Es-
ses em desenvolvimento, frequentemente tado nas suas responsabilidades sociais de
em extrema pobreza e exclusão social. De saúde, educação, alimentação e habitação
acordo com estes números, apenas uma e a ausência de redes de segurança pre-
118 II. MÓDULOS SOBRE QUESTÕES SELECIONADAS DE DIREITOS HUMANOS

judica especificamente os pobres. A infla- de 2005, 800 milhões de pessoas continu-


ção, a contração de emprego e a erosão am sem acesso à instrução. Outra questão
dos salários reais trazidos pela liberaliza- a considerar continua a ser a promessa de
ção e privatização de bens também afetam combater a mortalidade infantil, um desa-
os pobres. fio sublinhado pelo Relatório de Desenvol-
O Relatório de Desenvolvimento Huma- vimento Humano de 2005 de acordo com
no, de 2010, do PNUD, indica que o rápido o qual, em 2002, a cada 3 segundos uma
crescimento económico nos países já ricos criança com menos de 5 anos morreu. O
da Europa Ocidental, América do Norte e Relatório de Mortalidade das Crianças mais
Oceânia, juntamente com o contínuo cres- recente (2010) estima que cerca de 8.1 mi-
cimento lento na África contribuíram para lhões de crianças com menos de cinco
o aumento da desigualdade global, na anos morreram em 2009 – ou seja, mais de
segunda metade do século XX. Mesmo em 22.000 crianças por dia. Mais há a fazer,
tempos de crise financeira, este fosso entre por exemplo, na luta contra o VIH/SIDA e
países desenvolvidos e países em desenvol- a política de negar e negligenciar o assunto
vimento tem vindo a aumentar. O país mais ou até de enfatizar estereótipos de alguns
rico de hoje, o Liechtenstein, é agora três dos países mais afetados certamente não
vezes mais rico do que o país mais rico em ajuda ao alcance dos Objetivos do Milénio
1970, os Estados Unidos da América. O país relevantes.
mais pobre do mundo, o Zimbabué, é agora
25% mais pobre do que o país mais pobre 3. PERSPETIVAS
em 1970 (também o Zimbabué). INTERCULTURAIS
Hoje, um quarto da população mundial E QUESTÕES CONTROVERSAS
vive em pobreza severa, confinado às mar-
gens da sociedade. De acordo com o Rela- Pobreza Relativa e Pobreza Absoluta
tório de Desenvolvimento Humano de 2010 A pobreza relativa indica que uma pes-
do PNUD, estima-se que 1.44 biliões de soa ou um grupo de pessoas é pobre em
pessoas sobrevivam com o equivalente a relação aos outros ou em relação com o
menos de 1,25 dólares por dia. Consequen- que é considerado ser um padrão justo de
temente, a análise dos desenvolvimentos vida/ nível de consumo numa sociedade
neste processo leva também a informação específica. A pobreza absoluta indica que
altamente alarmante, tal como a previsão as pessoas são pobres em relação ao que
de, no caso de se manterem as políticas
atuais, o objetivo de reduzir a mortalidade Devemos estar kms
eza.
infantil fracassar e o objetivo de garantir abaixo da linha da pobr
É por isso que
a educação primária não ser alcançado, a descida dos preços
deixando 47 milhões de crianças fora da não nos afeta

escola até 2015. Embora tenha havido pro-


gresso no que diz respeito ao acesso a água Taxa de
potável e ao fornecimento de vacinação Inflação
básica, alguns objetivos, como o alcance cai para
4,71%
da alfabetização, ainda necessitam de uma
implementação apropriada. De acordo com
o Relatório de Desenvolvimento Humano
B. DIREITO A NÃO VIVER NA POBREZA 119

é entendido como um padrão mínimo de distributivas de muitos governos é que são


necessidades. Um indivíduo que é catego- responsáveis pela alocação dos ganhos do
rizado como absolutamente pobre pelos desenvolvimento de uma forma justa. Do
padrões americanos, pode ser considerado mesmo modo, a noção de que os pobres
como relativamente pobre, por exemplo, são responsáveis pelo consumo de recur-
no contexto africano. sos naturais e pela degradação do ambien-
te é questionável, pois, efetivamente, são
Exclusão Social os ricos que têm níveis de consumo mais
A exclusão social é frequentemente usa- elevados que os pobres.
da com sinónimo de “pobreza relativa”,
mas os conceitos não são idênticos. A ex- • O desenvolvimento sustentável pode le-
clusão social pode conduzir à pobreza e, var à redução da pobreza?
ao mesmo tempo, pode ser o resultado da A pobreza impele os pobres a escolher
pobreza. formas de vida insustentáveis. A falta de
saneamento e de sistemas de eliminação,
Questões para debate por exemplo, assim como a falta de com-
• Uma maior população traduz-se auto- bustível, pode levar a que os pobres recor-
maticamente em mais pobreza? ram a práticas que contribuem para a de-
Geralmente, acredita-se que o elevado gradação ambiental. Apenas se os países
crescimento populacional em países me- desenvolvidos aceitarem respeitar os com-
nos desenvolvidos ou em vias de desen- promissos que têm assumido para com o
volvimento é responsável pelo estado de mundo como a redução das emissões de
pobreza generalizado nessas nações. Este gases responsáveis pelo efeito de estufa,
argumento é usado pelos respetivos go- a implementação de normas sobre efici-
vernos do Sul e do Norte para desviar a ência energética e o pagamento de taxas
atenção das questões centrais que são as de transação pelo movimento de capital
causas que estão na base da pobreza nes- além-fronteiras, é que o desenvolvimento
sas regiões. Essas questões são a extração sustentável pode ser alcançado, resultan-
e a exploração contínua de recursos natu- do numa redução substancial da pobreza.
rais pelos interesses comerciais dos países
desenvolvidos, resultando na usurpação • É possível financiar a erradicação da po-
dos direitos das comunidades sobre os re- breza?
cursos; a falta de alocação de fundos para Sim, é possível. O custo adicional de al-
serviços básicos como educação, saúde e cançar serviços sociais básicos para todos,
água, cujo fornecimento poderia reduzir nos países em desenvolvimento, está esti-
substancialmente as taxas de mortalidade mado em 40 biliões de dólares americanos
e de doença das mulheres e crianças; e o por ano, o que é aproximadamente 5.6%
aumento dos conflitos e guerras pelo con- do orçamento de defesa americano, para
trolo de acesso a recursos, causando insta- 2012. A maioria destes recursos pode tam-
bilidade política, social e económica. bém resultar da reestruturação da despesa
O argumento de que um grande núme- dos governos nacionais, bancos multilate-
ro de pessoas pobres impede o caminho rais (Banco Mundial, Banco de Desenvol-
do progresso de uma nação não é válido, vimento Asiático e outros) e outras agên-
uma vez que, na verdade, as políticas re- cias de ajuda humanitária.
120 II. MÓDULOS SOBRE QUESTÕES SELECIONADAS DE DIREITOS HUMANOS

Financiar a erradicação da pobreza seria Objetivo 3: Promover a igualdade do


mais fácil se as instituições internacionais género e empoderar as mu-
como o Banco Mundial, o Fundo Monetá- lheres
rio Internacional e os governos dos países
da OCDE decidissem realmente perdoar as Objetivo 4: Reduzir a mortalidade infantil
dívidas existentes relativas a compromissos Objetivo 5: Melhorar a saúde materna
concretos dos governos, de modo a canali- Objetivo 6: Combater o VIH/SIDA, a
zar fundos para a erradicação da pobreza, malária e outras doenças
baseados nos requerimentos sociais locais.
Objetivo 7: Assegurar a sustentabilidade
Os custos estimados seriam ainda mais re-
ambiental
duzidos se os Estados respetivos decidis-
sem empreender reformas radicais na área Objetivo 8: Desenvolver uma parceria
da redistribuição da riqueza e de recursos e global para o desenvolvi-
se decidissem dar prioridade a despesas de mento
desenvolvimento relativamente a despesas
de defesa. A globalização e as suas controversas im-
plicações estão a gerar novas formas de
4. IMPLEMENTAÇÃO pobreza. Além disso, estas novas formas
E MONITORIZAÇÃO são manifestadas em sociedades que estão
em níveis diferentes de desenvolvimento
Durante a sessão da Cimeira do Milénio das sociopolítico e económico, englobando
Nações Unidas, em 2000, chefes de Estado pessoas de diferentes credos, crenças e
e de governo reconheceram a sua responsa- culturas. Por exemplo, o impacto da glo-
bilidade coletiva para garantir os princípios balização em África é bem diferente do
de dignidade humana, igualdade e equida- impacto na Índia, devido, principalmente,
de a nível global. Aqueles estabeleceram às diferentes condições sociopolíticas e
oito objetivos para o desenvolvimento e económicas em África, quando compara-
erradicação da pobreza, a serem atingi- das com as da Índia. Estas diferenças en-
dos até 2015. Isto inclui: erradicar a pobre- tre culturas e regiões geográficas tiveram
za extrema e a fome, alcançar a educação também um impacto na forma como as
primária universal, promover igualdade de pessoas têm compreendido as ameaças
género e o empoderamento das mulheres, emergentes do empobrecimento e de mar-
reduzir a mortalidade infantil, melhorar a ginalização social. Portanto, a questão crí-
saúde materna, garantir a sustentabilidade tica é continuar a desenvolver o quadro
ambiental e desenvolver uma parceria glo- que monitoriza estas diferentes formas
bal para o desenvolvimento. de pobreza aos níveis global e local e tam-
bém capacitar as pessoas para que forta-
Os Objetivos de Desenvolvimento do leçam a sua resistência e lutem contra as
Milénio das Nações Unidas forças exploradoras.
Objetivo 1: Erradicar a pobreza extrema Depois da segunda Guerra Mundial, a Car-
e a fome ta das Nações Unidas e a Declaração Uni-
versal dos Direitos Humanos tentaram
Objetivo 2: Alcançar a educação primá- fornecer o quadro moral para construir um
ria universal novo sistema de direitos e obrigações, co-
B. DIREITO A NÃO VIVER NA POBREZA 121

locando um grande destaque na proteção agências da ONU e outros, conseguindo,


da dignidade humana, paz e segurança deste modo, melhorar a situação dos direi-
humana para todas as pessoas. tos humanos, incluindo a diminuição da
É a abordagem holística dos direitos hu- pobreza.
manos que permite responder à natureza As observações finais sobre os Relatórios
multidimensional da pobreza. Esta abor- dos vários Estados Partes, pelo Comité dos
dagem vai para além da caridade, reco- Direitos Económicos, Sociais e Culturais,
nhecendo que o direito a não viver na po- mostram que a falta de clareza quanto ao
breza só é possível quando os pobres são estatuto do PIDESC no ordenamento jurí-
empoderados através da educação para dico interno, a falta de cumprimento da
os direitos humanos. Afirma que os po- legislação baseada em compromissos in-
bres têm direitos e que os atores estatais ternacionais de direitos humanos e a falta
e não estatais têm de cumprir obrigações de informação sobre aquele instrumento
jurídicas. Uma vez que os Estados indivi- do tratado são fatores impeditivos. Os re-
duais têm a principal responsabilidade de latórios observam que o peso da dívida, a
realização dos direitos humanos dos seus ausência de dados desagregados, a corrup-
cidadãos, outros atores estatais e não esta- ção generalizada nas autoridades do esta-
tais também têm a obrigação de contribuir do, os regimes militares que deterioram a
e apoiar este processo. Isto é de extrema justiça e as enraizadas influências religio-
importância para estabelecer sistemas sas conservadoras impondo discriminação
equitativos, justos e não protecionistas de se colocam no caminho da implementação
comércio multilateral, um adequado nível de estratégias de redução da pobreza.
de assistência financeira e para garantir Apesar de o número de países que ratifi-
que os pobres tenham uma participação caram o PIDCP e o PIDESC ter aumenta-
no processo de desenvolvimento neste do drasticamente, desde 1990, existe um
mundo globalizado. hiato significativo entre os compromissos,
Estes valores têm expressão em declara- as intenções políticas e a implementa-
ções políticas, tais como a Declaração do ção real. A falta de vontade política dos
Rio, a Agenda 21, a Declaração de Cope- governos, os compromissos conflituantes
nhaga, a Plataforma de Ação de Pequim assumidos nas plataformas internacionais
e a Agenda Habitat, concebidas pelos Es- como a OMC (ex. o Acordo TRIPS que
tados como um sistema internacional de pode resultar no aumento de custos de
desenvolvimento destinado a erradicar a medicamentos para satisfazer a ambição
pobreza e a criar requisitos indispensáveis corporativa e, assim, negar aos indivíduos
para o desenvolvimento sustentável. os seus direitos básicos a uma vida com
saúde e em dignidade) e distribuição ina-
Órgãos dos Tratados dequada de recursos para cumprir vários
Encarregados de Monitorizar compromissos são ameaças consideráveis.
a Pobreza
Os organismos de monitorização exami- Relatores Especiais
nam periodicamente os relatórios dos Esta- e Peritos Independentes
dos em intervalos regulares, podem aceitar A Comissão de Direitos Humanos das
queixas e fazer observações e recomenda- Nações Unidas (que foi substituída pelo
ções aos Estados, instituições financeiras, Conselho de Direitos Humanos, em 2006)
122 II. MÓDULOS SOBRE QUESTÕES SELECIONADAS DE DIREITOS HUMANOS

nomeou dois Peritos Independentes – um dial para 2003, por si só, cobriria o custo
tem o mandato de relatar, a um grupo de de construção de todas as escolas de que
trabalho especial, sobre a implementa- a África precisa para os jovens desde os
ção do direito ao desenvolvimento (Res. 0 até aos 18 anos e para pagar os seus
1998/72), enquanto o outro tem a respon- professores durante 15 anos”. No seu Re-
sabilidade de investigar e fazer recomen- latório de 2010, a Perita Independente
dações relativas ao efeito que a pobreza Magdalena Sepúlveda Carmona apresen-
extrema tem nos direitos humanos (Res. tou as suas recomendações sobre como
1998/25). O Perito Independente sobre melhorar o esboço de diretrizes sobre
Direitos Humanos e Pobreza Extrema extrema pobreza e direitos humanos, ori-
avalia as medidas tomadas ao nível na- ginariamente redigidos pela Subcomissão
cional e internacional para promover o para a Promoção e Proteção dos Direitos
pleno gozo dos direitos humanos pelas Humanos, em 2006.
pessoas que vivem em pobreza extrema,
examina os obstáculos encontrados e o Desenvolvimento e Erradicação da Po-
progresso feito pelas mulheres e homens breza
que vivem em pobreza extrema e apre- Objetivo: Reduzir para metade, até ao
senta também recomendações e propos- ano de 2015, a proporção da população
tas no âmbito da assistência técnica e mundial cujo rendimento é menor do
outras áreas para a redução e eventual que um dólar por dia e a proporção das
eliminação da pobreza. pessoas que passam fome.
No seu Relatório, de 2001, para a Comis-
são de Direitos Humanos, a Perita Inde- Estratégias de futuro:
pendente apresentou conclusões impor- Pobreza de rendimento
tantes sobre como a situação dos pobres - Assegurar o apoio a iniciativas econó-
pode ser alterada. Para cumprir estes re- micas e sociais promovidas pelos pa-
quisitos, a educação em direitos humanos íses que dão primazia à redução da
é necessária para empoderar os pobres pobreza;
e ajudá-los a modificar o seu destino.
- Reforçar a capacidade de prestar servi-
O processo de educação para os direitos
ços sociais básicos;
humanos promove e desenvolve a análise
crítica de todas as circunstâncias e reali- - Apoiar a capacitação para a avaliação,
dades com que os pobres são confronta- monitorização e o planeamento relati-
dos. Este processo fornece conhecimento, vamente à pobreza.
competências e capacidades adequados Fome
para lidar com as forças que os mantêm - Fazer um balanço das ações realizadas
pobres. Possibilita a estruturação de or- desde a Cimeira Mundial sobre a Ali-
ganizações e a criação de redes de auto- mentação de 1996 e propor novos pla-
ajuda de modo a que possam reclamar e nos, a nível nacional e internacional,
lutar pela realização progressiva de todos para alcançar os objetivos relacionados
os direitos humanos e erradiquem com- com a fome;
pletamente a pobreza. No seu Relatório
de 2004, a Perita Independente assinalou - Assegurar que o comércio de alimen-
que “o total do orçamento militar mun- tos e de produtos agrícolas, bem como
B. DIREITO A NÃO VIVER NA POBREZA 123

as políticas gerais de comércio condu- mais os progressos em certas áreas ou até


zam ao fomento da segurança alimen- contrariar os sucessos já alcançados.
tícia para todos através de um sistema O impacto mais grave das alterações climá-
mundial de trocas equitativo e justo; ticas está a ser sentido pelas populações
vulneráveis que menos contribuíram para
- Continuar a dar prioridade aos peque- o problema. O risco de morte ou incapaci-
nos agricultores e apoiar os seus es- dade e as perdas económicas em resultado
forços na promoção da sensibilização de desastres naturais estão a aumentar glo-
ambiental e das tecnologias simples e balmente e concentram-se nos países mais
de baixo custo. pobres. Os conflitos armados permanecem
(Fonte: Assembleia-Geral da Organiza- uma enorme ameaça à segurança humana
ção das Nações Unidas. 2001. Plano para e dificultam os ganhos dos Objetivos de
a Execução da Declaração do Milénio Desenvolvimento do Milénio. Largas popu-
das Nações Unidas. lações de refugiados permanecem em cam-
pos com oportunidades limitadas de me-
Os progressos na redução da pobreza ain- lhorar as suas vidas. Em 2009, 42 milhões
da estão em curso apesar de recuos sig- de pessoas tinham sido deslocadas devido
nificativos devido à retração económica a conflitos ou perseguições, quatro quintos
de 2008-2009, ainda a decorrer, e às cri- em países em desenvolvimento.
ses energética e na alimentação. O mundo A igualdade de género e o empoderamento
em desenvolvimento, como um todo, con- das mulheres estão no âmago dos ODM e
tinua no trilho para atingir o objetivo da são requisitos para ultrapassar a pobreza,
redução da pobreza até 2015. Apesar de fome e doença. Porém, o progresso tem
alguns progressos, estes têm-se feito sentir sido muito lento em todas as frentes – da
de forma desigual. Sem um maior impul- educação ao acesso à tomada de decisões
so, muitos dos Objetivos de Desenvolvi- políticas.
mento do Milénio não serão provavelmen- (Fonte: Relatório dos Objetivos de Desen-
te alcançados em muitas regiões. Antigos volvimento do Milénio. Nações Unidas.
e novos desafios ameaçam atrasar ainda 2010.)

CONVÉM SABER

Existe um consenso emergente baseado pelos pobres, instrução e educação, saúde,


nos movimentos civis e no trabalho de- habitação e nutrição. Oferecer gado bovi-
senvolvido por ONG e agências de ajuda no híbrido (cruzado) em vez de terras aos
humanitária que, para o desenvolvimento sem terra, empréstimos exclusivos para a
alcançar os pobres, têm de ser dados al- compra de terras para a agricultura sem
guns passos fundamentais no que respeita abordar outras necessidades relativas a
a reformas agrárias, propriedade e contro- infraestruturas numa situação onde as
lo dos meios de subsistência e recursos culturas estão dependentes de irrigação,
124 II. MÓDULOS SOBRE QUESTÕES SELECIONADAS DE DIREITOS HUMANOS

fornecer escolas flexíveis para crianças de todas as formas de discriminação


trabalhadoras em vez de garantir a sua to- contra as mulheres bem como do racis-
tal comparência na escola são abordagens mo e discriminação com base no esta-
que não resultaram. Estas apenas perpe- tuto étnico, social, etc.
tuaram a pobreza. As principais questões
são a vontade política e a redistribuição. - Maiores despesas com educação, saú-
A efetiva erradicação de pobreza é bem de, habitação, água, saneamento e ali-
sucedida quando acontece ao nível local mentos acessíveis reduzem a pobreza.
e descentralizado. Apenas quando os po- - O Estado e as suas agências têm um
bres participam como sujeito e não como papel relevante na redução da pobre-
objeto do processo de desenvolvimento, se za, especialmente, na era da globali-
torna possível gerar desenvolvimento hu- zação.
mano equitativo. - Uma maior prestação de contas das
instituições de desenvolvimento e fi-
Lições comuns e específicas aprendi- nanceiras, internacionais e nacionais,
das no âmbito de experiências locais, asseguraria um crescimento económico
nacionais e internacionais a nível da justo e equitativo.
redução da pobreza:
- Muitos dos países do mundo não se
- A pobreza é uma questão social, cultu- encontram em posição para erradicar,
ral e política tanto quanto é económica. imediatamente, a pobreza. Os seus es-
- O empoderamento político e económi- forços precisam de ser apoiados e com-
co dos pobres é o meio para erradica- plementados pela assistência e coope-
ção da pobreza. ração internacionais.
- O direito à informação e a educação - O perdão das dívidas tem uma rela-
para os direitos humanos possibilitam, ção direta com a redução da pobreza.
aos que são marginalizados, a tomada Se o perdão das dívidas se associasse
de consciência sobre os seus direitos a investimentos em educação, saúde e
humanos, o que pode levá-los a agir. noutros setores, tal contribuiria para a
- Estabelecer organizações de pesso- redução da pobreza.
as incentiva a sua força coletiva, pela - A guerra e os conflitos aumentam a
qual poderão reclamar os seus direitos pobreza. Os esforços para erradicar a
humanos. Através do seu empodera- pobreza estão condenados a falhar se
mento, os pobres podem afirmar o seu não forem asseguradas condições reais
direito aos recursos e melhorar o seu para a paz e a segurança.
respeito próprio e dignidade.
- Assegurar trabalho com salários sufi-
cientes para viver e o acesso a recursos 1. BOAS PRÁTICAS
para a subsistência permanecem a cha-
ve para a redução da pobreza. Os Pobres são Financiáveis
O Banco Grameen, no Bangladesh, começou
- A redução da pobreza deve ser acom- como uma sociedade de crédito de uma pe-
panhada da redução de desigualdades. quena aldeia, em Jobra, em 1976. Em 2009,
Deve ser dada prioridade à eliminação já tinha alcançado 7.9 milhões de mutuários,
B. DIREITO A NÃO VIVER NA POBREZA 125

97% dos quais eram mulheres. Com 2.562 às suas famílias. A organização trabalha
agências, fornece serviços em mais de 83.000 para despertar as pessoas para a possi-
aldeias. O Banco Grameen procura mobilizar bilidade e para a sua própria capacidade
os pobres e fazê-los avançar principalmen- de conseguir mudanças sociais através da
te através da acumulação de capital local e pesquisa, análise, educação e promoção,
criação de ativos. Os seus fins são alargar as de modo a acabar com mitos e a expor as
facilidades bancárias aos homens e mulheres causas, identificar obstáculos à mudança e
pobres no Bangladesh rural, eliminar a explo- formas de removê-los, avaliar e publicitar
ração dos “emprestadores de dinheiro”, lan- alternativas bem-sucedidas e promissoras.
çar oportunidades de criação de próprio em-
prego para recursos humanos não utilizados Justiça Económica
e subutilizados, organizar as pessoas desfa- A Freedom from Debt Coalition (FDC),
vorecidas de modo a que elas compreendam sediada nas Filipinas, trabalha para o de-
e garantam um desenvolvimento sócioeconó- senvolvimento humano e concentra-se na
mico independente, através de apoio mútuo. equidade (incluindo igualdade de género),
Por se centrar naqueles que são conside- direitos económicos e justiça, crescimento
rados como os maiores riscos do crédito, equitativo e sustentável, em exercer pres-
o banco estabeleceu o facto de que os po- são sobre os governos para que cumpram o
bres são dignos de crédito. O banco abor- seu papel e lutar por relações económicas
da o duplo fardo do género e da pobreza globais benéficas entre as nações. A FDC
com os quais são confrontadas as mulheres apoia a campanha global para cancelar as
pobres. O Banco Grameen tem sido capaz dívidas dos países mais pobres do mundo.
de iniciar mudanças significativas nos pa- A Coligação tem considerado várias outras
drões da propriedade dos meios de produ- questões incluindo segurança alimentar,
ção e nas condições de produção em áreas despesa pública e o impacto das políticas
rurais. Estas mudanças são significativas, económicas sobre as mulheres. O seu tra-
não apenas porque foram capazes de co- balho de defesa integra tarefas conside-
locar os pobres acima da linha da pobreza, ráveis na educação popular e informação
mas também porque com apoios adequa- pública, mobilização de massas, investiga-
dos possibilitaram o florescimento da cria- ção e análise de políticas, construção de
tividade nas aldeias. O processo do Banco alianças e de redes ao nível regional.
Grameen tem sido experimentado também
em outros países vizinhos. 90% do Banco Acordo de Cotonu
pertence aos pobres, 10% ao governo. O Acordo de Cotonu é o acordo de parce-
ria mais completo entre os países em de-
Direito a Viver Sem Fome senvolvimento e a União Europeia. Desde
A Food First, sediada na Califórnia, nos 2000 que tem sido o quadro para as rela-
Estados Unidos da América, está empe- ções da UE com 79 países da África, Ca-
nhada em eliminar as injustiças que cau- raíbas e do Pacífico (ACP). O Artº 54º do
sam a fome. Esta organização acredita que Acordo aborda exclusivamente a questão
todas as pessoas têm o direito básico de se da segurança alimentar e, assim, reconhe-
alimentarem e que devem ter um controlo ce o papel importante que ela tem na ga-
democrático real sobre os recursos neces- rantia da segurança humana e bem-estar
sários para se sustentarem a si mesmos e humano. O Acordo também demonstra a
126 II. MÓDULOS SOBRE QUESTÕES SELECIONADAS DE DIREITOS HUMANOS

evolução de linhas prioritárias nas atuais nizações membros, nacionais e internacio-


políticas de assistência ao desenvolvi- nais, visando promover o bem-estar, o de-
mento da UE em relação à melhoria da senvolvimento e a justiça sociais. O objetivo
segurança humana. A primeira revisão ao principal do ICSW é o de promover formas
Acordo de Cotonu teve lugar em 2005 e de desenvolvimento económico e social, vi-
preparou terreno para o quadro financeiro sando a redução da pobreza, dificuldades e
de assistência para o desenvolvimento de vulnerabilidade em todo o mundo, especial-
2007-2013. As negociações para uma se- mente entre as pessoas menos favorecidas.
gunda revisão foram concluídas em 2010. Pretende o reconhecimento e proteção dos
A cerimónia de assinatura oficial teve lu- direitos fundamentais à alimentação, abrigo,
gar em Ouagadougou, no Burkina Faso, educação, cuidados de saúde e segurança.
em 23 de junho de 2010. Pretende também a promoção da igualdade
de oportunidades, liberdade de expressão
Rede Europeia Anti-Pobreza e acesso aos serviços sociais. Visa a imple-
A Rede Europeia Anti-Pobreza (EAPN, na mentação das suas propostas pelos gover-
sigla inglesa) é uma rede independente, es- nos, organizações internacionais, agências
tabelecida em 1990, de organizações não não governamentais e outros. Trabalha em
governamentais (ONG) e grupos envolvidos cooperação com a sua rede de membros e
na luta contra a pobreza e exclusão social com um leque abrangente de outras organi-
nos Estados-membros da União Europeia. zações, a um nível local, nacional e inter-
A EAPN é, atualmente, uma rede de 26 re- nacional. A Conferência Global do ICSW
des nacionais de organizações voluntárias e realiza-se a cada dois anos e debruça-se so-
23 organizações europeias. Os membros da bre uma panóplia variada de questões de de-
EAPN encontram-se envolvidos em diversas senvolvimento social e de bem-estar social
atividades que visam o combate à pobreza (realizou-se recentemente em França, em
e exclusão social, incluindo atividades de 2008, e em Hong Kong, em 2010). Todos os
educação e formação, prestação de servi- anos, realiza-se um Fórum Global da Socie-
ços e atividades que visam a participação dade Civil, em Nova Iorque, imediatamente
e empoderamento das pessoas em situação antes da reunião da Comissão da ONU para
de pobreza e exclusão social. Os membros o Desenvolvimento Social. É dirigido por es-
da EAPN visam a colocação da luta contra a pecialistas de renome governamentais e da
pobreza como uma prioridade na agenda da sociedade civil de todo o mundo.
UE e assegurar a cooperação ao nível da UE,
com o escopo da erradicação da pobreza e O Programa Alimentar Mundial das Na-
exclusão social. Além disso, a EAPN tem um ções Unidas
estatuto consultivo junto do Conselho da O Programa Alimentar Mundial das Nações
Europa e é membro fundador da Plataforma Unidas é a agência da ONU que tem o es-
das ONG Sociais Europeias. copo de combater a fome no mundo. Por
exemplo, em 2010 deu assistência a mais
Conselho Internacional de Bem-Estar Social de 109 milhões de pessoas em 75 países.
O Conselho Internacional de Bem-Estar Esta teve lugar sob forma de ajuda de emer-
Social (ICSW, na sigla inglesa) é uma or- gência e através de outros programas, por
ganização não governamental mundial que exemplo, através da ajuda às comunidades
representa um leque abrangente de orga- para construírem melhores futuros após o
B. DIREITO A NÃO VIVER NA POBREZA 127

término da ajuda imediata, antes do início Ainda pior, outros 65 países não irão alcan-
das soluções a longo prazo. O objetivo é çar nem um Objetivo de Desenvolvimento
ajudar as pessoas que sofrem de fome, cer- do Milénio antes de 2040. Isto afeta, pri-
ca de 925 milhões, em 2010. meiramente, mas não exclusivamente, os
seus 1.2 biliões de habitantes.
2. TENDÊNCIAS (Fonte: PNUD. 2005. Relatório do Desen-
volvimento Humano. 2005.)
Progresso relativamente aos Objetivos
O Índice de Desenvolvimento Humano
de Desenvolvimento do Milénio – Esta-
(IDH) médio do mundo aumentou 18%
rão os países no trilho?
desde 1990, refletindo grandes melhorias
Muitos países fizeram progressos signifi-
agregadas na esperança de vida, escolari-
cativos, mas outros, geralmente os países
zação, alfabetização e rendimento. Quase
mais pobres, parecem ter dificuldades em
todos os países beneficiaram deste pro-
alcançar os objetivos. A análise de quatro
gresso. Com base nos dados de 1970-2010,
dos oito objetivos do milénio – mortalida-
dos 135 países que juntos representam
de infantil, inscrições escolares, paridade
92% da população mundial, apenas três
de género na educação, assim como o
(República Democrática do Congo, Zâm-
acesso a água e saneamento – conduzi-
bia e Zimbabué) têm hoje um IDH infe-
ram às seguintes conclusões do Relatório
rior do que em 1970. De uma forma ge-
de Desenvolvimento da ONU de 2005: 50
ral, os países pobres estão a aproximar-se
países, 24 dos quais estão na África Subsa-
dos países ricos. Esta convergência pinta
ariana, com uma população de, pelo me-
um quadro bastante mais otimista do que
nos, 900 milhões, retrocederam em vez de
uma perspetiva limitada às tendências dos
avançarem em relação a pelo menos um
rendimentos, onde a divergência persiste.
Objetivo de Desenvolvimento do Milénio.
Mas nem todos os países têm conhecido
um progresso rápido; aqueles que experi-
mentam o progresso mais lento são países
na África Subsaariana, atingidos pela epi-
demia de VIH, e os países da antiga União
Soviética, onde a mortalidade adulta au-
mentou.
(Fonte: PNUD. 2010. Relatório do Desen-
volvimento Humano. 2010.)

Iniciativa Europa 2020


A União Europeia estabeleceu, em termos
concretos, cinco objetivos ambiciosos,
respeitantes ao emprego, inovação, edu-
cação, inclusão social e clima/energia, a
serem alcançados até 2020. Através destes
pretende-se, em especial, reduzir a taxa
de abandono escolar precoce dos atuais
15% para os 10%, aumentar a parcela da
população com idades entre os 30-34 que
128 II. MÓDULOS SOBRE QUESTÕES SELECIONADAS DE DIREITOS HUMANOS

tenha finalizado o ensino superior de 31%


1988 Protocolo Adicional de São Salva-
para, pelo menos, 40% e reduzir em 25%
dor sobre os Direitos Económicos,
o número de europeus a viverem abaixo
Sociais e Culturais à Convenção
do limiar de pobreza nacional, retirando
Americana sobre Direitos Huma-
20 milhões de pessoas da pobreza. Cada
nos (15 ratificações até abril de
Estado-membro irá adotar as suas próprias
2012)
metas, em cada uma dessas áreas. A es-
tratégia irá concretizar-se através de ações 1989 Convenção sobre os Direitos da
concretas da UE e ao nível nacional. Criança, Artº 27º (193 ratificações
até abril de 2012)
3. CRONOLOGIA 1992 Dia Internacional para a Erradi-
cação da Pobreza, em 17 de ou-
Direito a Não Viver na Pobreza – prin- tubro, oficialmente reconhecido
cipais disposições e atividades pelas Nações Unidas. A primeira
1948 Declaração Universal dos Direi- comemoração teve lugar em Paris,
tos Humanos (Artos 22º, 23º, 25º, em 1987.
26º). 1996 Revisão da Carta Social Europeia
1961 Carta Social Europeia (13 ratifica- [a substituir, gradualmente, o Tra-
ções até abril de 2012) tado inicial de 1961 (30 ratificações
até abril de 2012)]
1965 Convenção sobre a Eliminação de
Todas as Formas de Discriminação 1998 Nomeação de Perito Independente
Racial, Artº 5º (174 ratificações até sobre os Direitos Humanos e a Po-
abril de 2012) breza Extrema
1966 Pacto Internacional sobre os Di- 2000 Adoção dos Objetivos de Desenvol-
reitos Económicos, Sociais e Cul- vimento do Milénio pela Assem-
turais, Artos 6º, 7º, 9º, 11º, 12º, bleia-Geral da ONU
13º (160 ratificações até abril de 2005 Documento resultante da Cimeira
2012) Mundial reitera o compromisso re-
1979 Convenção sobre a Eliminação de lativo aos Objetivos de Desenvolvi-
Todas as Formas de Discriminação mento do Milénio e à erradicação
contra as Mulheres, Artos 10º, 11º, da pobreza (UN Doc. A/RES/60/1,
12º,13º,14º (186 ratificações até §17, 19, 47)
abril de 2012) 2010 Cimeira de Revisão de 2010 dos
1981 Carta Africana dos Direitos Hu- Objetivos de Desenvolvimento do
manos e dos Povos, Artos 14º-17º, Milénio: adoção de um plano de
20º-22º (53 ratificações até abril de ação global para atingir os ODM
2012) até 2015
B. DIREITO A NÃO VIVER NA POBREZA 129

ATIVIDADES SELECIONADAS

ATIVIDADE I: “O MUNDO tar as instruções nas suas fichas de traba-


NUMA ALDEIA” lho enquanto são lidas:
I. Pedir aos participantes que imaginem
Parte I: Introdução que o mundo inteiro (7 biliões) encolheu
O exercício aborda a desigualdade e a pri- para uma aldeia constituída por apenas 10
vação enfrentadas pelos pobres, no con- aldeões.
texto dos instrumentos internacionais de 1. Na primeira fila, desenhar um círculo
direitos humanos. à volta da figura que o/a representa na
linha das pessoas que vai desde a mais
Parte II: Informação Geral sobre a Ati- rica do mundo (a primeira figura) até à
vidade mais pobre (a décima).
Tipo de atividade: Exercício 2. 50% da população do mundo (5 dos al-
Metas e objetivos: Sensibilizar os par- deões) seria mal nutrida, com fome ou
ticipantes sobre a questão da desigual- faminta. Riscar as últimas 5 tigelas da
dade na distribuição global de riqueza e segunda fila.
recursos. O exercício ajuda os jovens a 3. Oito dos aldeões estariam a viver numa
refletir sobre o seu próprio estatuto em casa com condições precárias (80% da
relação à pobreza e a realização dos seus população mundial). Isto inclui os margi-
direitos humanos. Dá-lhes a oportunida- nalizados, os sem-abrigo, os deslocados e
de de entender a necessidade urgente de os refugiados. Retirar as últimas oito casas.
alterar as desigualdades e as injustiças 4. Sete seriam incapazes de ler, isto é, 70% de
sentidas pelos pobres e de estabelecer toda a população no mundo não sabe ler.
prioridades de forma a garantir o desen- Colocar uma impressão digital do polegar,
volvimento de todos. nos últimos sete livros na quarta fila.
Grupo-alvo: Crianças e jovens 5. Uma pessoa teria 60% da riqueza to-
Dimensão do grupo: 20-25 tal no mundo, o que deixaria os outros
Duração: 90 minutos nove a partilhar os restantes 40%. Ris-
Preparação: fazer cópias suficientes de fo- car as primeiras seis pilhas de dinheiro
lhas de atividades para o número de pes- na quinta linha e marcar a primeira pes-
soas que participam no exercício. soa na linha com um grande 6.
Material: fotocópias da ficha de trabalho 6. Apenas um por cento da população
(infra), lápis de cor/ marcadores. mundial possui um computador (um
Competências envolvidas: capacidades décimo dos primeiros computadores
analíticas, de reflexão e de debate. nessa escala). Na sexta linha, pintar a
vermelho o nariz do primeiro homem
Parte III: Informação Específica sobre a ao computador.
Atividade 7. Apenas um por cento da população
Descrição da atividade/Instruções: mundial tem acesso a educação supe-
Distribuir as fichas de trabalho aos partici- rior. Desenhar um círculo à volta de
pantes. Depois, pedir-lhes para implemen- uma fita de graduação na sétima linha
130 II. MÓDULOS SOBRE QUESTÕES SELECIONADAS DE DIREITOS HUMANOS

para representar apenas um décimo IV. Comentários:


desse desenho. O grupo é encorajado a debater o que sente
8. Olhar para a ficha de novo e ver se é sobre as várias estatísticas que lhe foram
preciso rever a sua própria classifica- apresentadas. O exercício pode explorar:
ção. Desenhar dois círculos em volta da • As contradições que a informação evi-
nova classificação. dencia.
II. Pedir aos participantes para ouvir es- • Se a sua própria realidade é igual ou di-
tas afirmações: ferente das estatísticas.
• Se tiver comida para a próxima refeição • A relação destes dados com a realização
em casa, roupa, um teto sobre a sua ca- e/ou violação dos vários direitos huma-
beça e um lugar para dormir, está entre nos em relação à pobreza.
as primeiras três pessoas mais ricas. • Os objetivos e prioridades que eles gos-
• E se tem (ou os seus pais, no caso de tariam de estabelecer para o desenvolvi-
ser menor de idade) dinheiro no banco, mento e porquê.
algum dinheiro na sua carteira e alguns Sugestões práticas: enquanto os partici-
trocos perdidos na máquina em casa, pantes estão a fazer o exercício individual-
então está qualificado para representar mente, encorajá-los a partilhar o seu ponto
a pessoa mais rica na nossa escala. de vista com os outros. O papel do forma-
III. Dar a estatística mais recente sobre dor é fornecer dados e facilitar o debate.
educação, saúde, água, saneamento e des-
pesas militares, etc., do mais recente Re- Parte IV: Acompanhamento
latório de Desenvolvimento Humano do Os participantes podem ser encorajados
PNUD e/ou do Relatório do Desenvolvi- a fazer um plano de atividades que vise
mento do Mundo do Banco Mundial, para a educação para os direitos humanos,
um país ou grupo de países, dependendo baseado na atividade supra, com o intuito
do perfil dos participantes. de sensibilizar os seus pares.

(Fonte: adaptado de Abhivyakti – Media for Development.


Disponível em: www.abhivyakti.org.in)
B. DIREITO A NÃO VIVER NA POBREZA 131

ATIVIDADE II: Parte III: Informação Específica sobre a


CAMPANHA DE AÇÃO Atividade
Instruções:
Parte I: Introdução Começar por ler, em voz alta, algumas das
A natureza difundida da pobreza pode citações selecionadas que refletem as vo-
parecer avassaladora e as pessoas podem zes dos pobres de diferentes situações.
sentir que não têm qualquer papel na sua Encorajar os participantes a mencionar os
erradicação. Esta atividade desenvolve indivíduos/grupos/comunidades do seu
uma campanha de ação sobre uma ques- contexto que vivem em absoluta ou rela-
tão local relacionada com a pobreza. tiva pobreza ou que enfrentam a exclusão
social. Através do consenso, deixar os
Parte II: Informação Geral grupos identificar os casos que eles gosta-
Tipo de atividade: ação criativa riam de prosseguir neste exercício. Dividir
Metas e objetivos: Consciencialização e os participantes em pequenos grupos de
sensibilização para a pobreza no contexto modo a que cada um fique com 4-5 ele-
imediato dos participantes; desenvolver as mentos.
conexões entre as manifestações imedia- O/a voluntário/a que relata o caso da
tas e as causas da pobreza no seu todo; situação de pobreza concreta fica com o
identificar as ações - o que podem os par- papel de um dos pobres, enquanto outros
ticipantes fazer em relação a uma situação membros do grupo procuram falar com
particular de pobreza. ele/ela, explorando assim várias dimen-
Grupo-alvo: Adultos/ jovens adultos sões (sociais, políticas, económicas, cultu-
Dimensão do grupo: 20 pessoas ou menos, rais e ambientais) da vida da pessoa/da
em grupos compostos por 4 – 5 membros. comunidade.
Duração: 150 minutos Depois, os membros do grupo listam as
Preparação: cavalete, marcadores, tintas, lá- questões ou dimensões da pobreza, as
pis de cor, canetas, canetas de feltro, papel causas imediatas e as estruturais e iden-
de cartaz e imagens de pessoas a viver na tificam “quem” e o “quê” tem responsabi-
pobreza. Procurar e descarregar casos de es- lidade na situação. O grupo relaciona isto
tudo na internet de alguns dos sítios sugeri- com os artigos relevantes dos tratados de
dos na secção de Boas Práticas neste módulo direitos humanos.
que salientem violações diferentes de direitos Pedir a todos os grupos que desenvolvam
humanos. Por exemplo, governos que trans- uma campanha de educação para os direi-
ferem para as empresas multinacionais os tos humanos que aborde as questões en-
direitos para privatizar serviços básicos ou frentadas por este grupo e que proponham
direitos sobre a terra, florestas, lagos, por ações viáveis imediatas e de longo prazo.
exemplo, para realizar agricultura ou pesca Depois, o grupo prepara um panfleto/car-
comercial. Da “Voices of the Poor” (www. taz/qualquer outro material de campanha
worldbank.org) ou de qualquer outra fonte para convencer o resto do grupo a unir-se
de informação, selecionar algumas citações à campanha.
dos pobres sobre a sua própria situação. Reações:
Competências envolvidas: Competências Os outros participantes têm a oportunida-
analíticas, articulação de competências, em- de de clarificar, perguntar por que razão
patia – colocar-se na posição de quem é pobre. é importante aderir à campanha. O exer-
132 II. MÓDULOS SOBRE QUESTÕES SELECIONADAS DE DIREITOS HUMANOS

cício fornece um contexto de vida para se Parte IV: Acompanhamento


poder abordar mitos, equívocos e precon- Visualizar um filme que trace uma campa-
ceitos. O formador aproveita a oportuni- nha sobre uma questão específica de pobre-
dade para dar a conhecer os factos sobre za ou organizar uma visita a uma ONG que
pobreza/globalização, para resumir as vi- trabalhe com as comunidades marginaliza-
sões em relação às ligações micro-macro das. Encorajar os membros a associarem-se
da pobreza e para encorajar ideias cria- a uma ONG/campanha local que seja im-
tivas sobre como proceder a partir dali. portante para a sua vida.

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C. ANTIRRACISMO
E NÃO DISCRIMINAÇÃO

O DIREITO À NÃO DISCRIMINAÇÃO


RACISMO E XENOFOBIA
INTOLERÂNCIA E PRECONCEITOS

“Todos os seres humanos podem invocar os direitos e as liberdades proclamados na pre-


sente Declaração, sem distinção alguma, nomeadamente de raça, de cor, de sexo, de
língua, de religião, de opinião política ou outra, de origem nacional ou social, de fortuna,
de nascimento ou de qualquer outra situação […]”
Artigo 2º da Declaração Universal dos Direitos Humanos. 1948.
136 II. MÓDULOS SOBRE QUESTÕES SELECIONADAS DE DIREITOS HUMANOS

HISTÓRIA ILUSTRATIVA
Recomendação do Comité para a Elimi- do termo ofensivo pelos administradores
nação da Discriminação Racial teria violado a Lei federal contra a Discri-
minação Racial de 1975. Ele pretendia a
Em 1960, a tribuna de um importante centro remoção do termo ofensivo da tribuna e
de desportos em Toowoomba, Queensland, um pedido de desculpas pela administra-
na Austrália, recebeu o nome de “E. S. ‘Ni- ção. O Tribunal Federal rejeitou a ação do
gger’ Brown Stand”, em homenagem a uma requerente. O tribunal considerou que o
conhecida personalidade do desporto, o Sr. requerente não tinha demonstrado que a
E.S. Brown. A palavra racista, ofensiva “pre- decisão era um ato “com uma probabilida-
to” (doravante referida como “o termo ofen- de razoável de, em todas as circunstâncias,
sivo”) aparece numa grande placa na tribu- ofender, insultar, humilhar ou intimidar
na. O Sr. Brown, que faleceu em 1972, era um australiano indígena ou os australia-
de origem anglo-saxónica branca e tinha-lhe nos indígenas, em geral”. Por fim, o Tri-
sido dado o termo ofensivo, como alcunha. bunal considerou que a Lei não protegia
Tal termo era repetido oralmente em anún- a “sensibilidade pessoal dos indivíduos”,
cios públicos relativos às instalações despor- considerando ser esse o caso, mas sim
tivas e em comentários de jogos. que a Lei “considera ilegais os atos contra
Em 1999, o Sr. H., um australiano de ori- os indivíduos apenas quando envolverem
gem aborígene, solicitou à administração o tratamento do indivíduo de forma dife-
do centro de desportos que retirasse o ter- renciada e menos vantajosa em relação às
mo ofensivo, que ele considerava censu- outras pessoas que não pertençam ao gru-
rável e injurioso. Depois de consultar as po racial, nacional ou étnico do queixoso.”.
opiniões de vários membros da comunida- Em 2002, o Supremo Tribunal da Austrália
de que não se opunham ao uso do termo rejeitou o pedido do requerente.
ofensivo na tribuna, a administração infor- Numa queixa individual ao Comité para
mou o requerente de que nenhuma medi- a Eliminação da Discriminação Racial
da iria ser tomada. Numa reunião pública, (CEDR), o queixoso alegou que o termo
presidida por um proeminente membro da era “a palavra mais ofensiva racialmente
comunidade indígena local, e assistida por ou uma das mais ofensivas racialmente,
um grupo transversal da comunidade abo- na língua inglesa”. Por este motivo, ele e
rígene local, o presidente da câmara e o a sua família sentiram-se ofendidos pelo
presidente da administração do cento de seu uso no centro e, como tal, foram inca-
desportos aprovaram uma resolução de- pazes de comparecer aos eventos daque-
clarando que “O nome ‘E.S. Nigger Brown’ le que é o local mais importante para a
permanece na tribuna em homenagem a prática de futebol australiano. Ele defen-
um grande desportista e que, no interes- deu que, qualquer que fosse a posição
se do espírito de reconciliação, não serão tomada em 1960, a exposição atual e o
usados ou exibidos no futuro termos racial- uso do termo ofensivo era “extremamen-
mente derrogatórios ou ofensivos”. te ofensivo, especialmente para as pessoas
O requerente intentou uma ação no tribu- aborígenes e que preenchia a definição de
nal federal, alegando que a não remoção discriminação racial, nos termos do Arti-
C. ANTIRRACISMO E NÃO DISCRIMINAÇÃO 137

go 1º” da Convenção das Nações Unidas da placa em questão e que informe o Co-
para a Eliminação de Todas as Formas de mité quanto às diligências que realizou a
Discriminação Racial. Ele argumentou que este respeito.”
qualquer Estado Parte da Convenção tinha (Fonte: Comité para a Eliminação da Dis-
a obrigação de emendar as leis cujo efei- criminação Racial (CEDR). Comunicação
to era perpetuar a discriminação racial e nº 26/2002, CERD/C/62/D/26/2002 de 14
de se responsabilizar pelo combate contra de abril de 2003.)
os preconceitos conducentes à discrimina-
ção racial. O uso de palavras tais como o Questões para debate
termo ofensivo de uma forma muito pú- 1. Qual é a mensagem da história?
blica, representava a aceitação formal ou 2. Que direitos humanos foram violados?
aprovação e poderia perpetuar o racismo 3. O que fez o Sr. H para defender os seus
e reforçar os preconceitos conducentes à direitos?
discriminação racial. O requerente preten- 4. Por que é que os tribunais nacionais
dia a remoção do termo ofensivo da placa não seguiram as suas considerações?
e um pedido de desculpas, bem como al- 5. Por que é que a comunidade local não
terações à lei australiana que permitissem o apoiou?
um mecanismo de proteção efetivo contra 6. Por que é que o Comité subscreveu as
sinais racialmente ofensivos. alegações do queixoso?
Na sua comunicação nº 26/2002, o Co- 7. Estarão incluídos estereótipos e pre-
mité (CEDR) considerou que “o uso e ma- conceitos em relação a um grupo parti-
nutenção do termo ofensivo pode, no mo- cular de pessoas? Se sim, quais?
mento presente, ser considerado injurioso e 8. Tem conhecimento de incidentes seme-
insultuoso, mesmo que durante muito tem- lhantes no seu país? O que pode fazer
po não tenha sido necessariamente consi- em relação a eles?
derado desta forma.” Também considerou 9. Quais são os argumentos que os racis-
que “a memória de um desportista notá- tas usam para justificarem as suas ati-
vel pode ser honrada de outras formas que tudes e comportamento? Quais são os
não através da manutenção e exposição argumentos adequados para se contra-
de uma placa pública considerada racial- por a atitudes racistas?
mente ofensiva. O Comité recomenda que o 10. Como é que a não discriminação se
Estado Parte tome as medidas necessárias encontra ligada à liberdade de expres-
para garantir a remoção do termo ofensivo são?

A SABER
1. NÃO DISCRIMINAÇÃO - A LUTA IN- de discriminação em toda a sua vida. Verá
TERMINÁVEL E CONTÍNUA PELA que não encontrará uma!
IGUALDADE O princípio, pelo qual todos os seres hu-
manos têm direitos iguais e devem ser
Pense numa única pessoa que conheça que tratados de forma igual, é um dos pilares
nunca tenha sido alvo de qualquer forma da noção de direitos humanos e evoluiu a
138 II. MÓDULOS SOBRE QUESTÕES SELECIONADAS DE DIREITOS HUMANOS

partir da inerente e igual dignidade hu- lação a quaisquer outras pessoas, sendo a
mana de todas as pessoas. Enquanto nor- discriminação a expressão de tal imagina-
mativo comum de realização para todas as da superioridade.
pessoas e todas as nações, a Declaração Este módulo concentra-se em algumas das
Universal dos Direitos Humanos estabe- mais graves e devastadoras formas de dis-
lece os princípios básicos da igualdade e criminação, nomeadamente, o racismo, a
da não discriminação em relação ao gozo discriminação racial e as atitudes rela-
dos direitos humanos e das liberdades cionadas de xenofobia e de intolerância.
fundamentais, “sem distinção alguma, Na História da Humanidade, os seres hu-
nomeadamente de raça, de cor, de sexo, manos têm sido, uma e outra vez, classi-
de língua, de religião, de opinião política ficados segundo a artificialmente criada
ou outra, de origem nacional ou social, de categoria de “raça”, bem como segundo
fortuna, de nascimento ou de qualquer ou- o pressuposto errado da existência de
tra situação”. Porém, este direito natural à “raças superiores” e “raças inferiores”.
igualdade nunca foi, nem no passado nem Por exemplo, as teorias da evolução e da
no presente, plenamente reconhecido a to- sobrevivência dos mais aptos, de Charles
dos os seres humanos. Darwin, têm sido erradamente utilizadas
A discriminação, por uma ou outra forma, para justificar “cientificamente” noções
sempre foi um problema, desde o início da de “superioridade racial”. Formas de dis-
humanidade. A discriminação tem ocorri- criminação e racismo manifestam-se no
do contra os povos indígenas e as mino- sistema de castas indiano, bem como nas
rias em toda a parte, desde as florestas do antigas conceções gregas e chinesas de
Equador às ilhas do Japão, contra os abo- superioridade cultural. O racismo, nos
rígenes, os Roma, os judeus, assim como tempos medievais, foi dominado pela
contra as pessoas de pele escura. Acontece perseguição dos judeus em todo o mun-
contra trabalhadores migrantes, refugia- do. O sistema colonial espanhol, parti-
dos e requerentes de asilo. Ocorre contra cularmente dos séculos XVI e XVII, foi
crianças que são intimidadas ou abusadas, o primeiro a introduzir uma sociedade
contra mulheres tratadas como seres hu- racista de castas no “Novo Mundo” (o
manos com menos valor, contra pessoas continente sul-americano), onde a “pure-
infetadas pelo VIH/SIDA e contra aqueles za do sangue” se tornou um princípio su-
com incapacidades físicas ou psicológicas premo. As vítimas deste sistema foram os
ou devido à sua orientação sexual. Pode Americanos Nativos e os escravos depor-
encontrar-se até na nossa língua, através tados de África. Outros poderes coloniais
da qual, intencionalmente ou não, por ve- adotaram estas estruturas e tornaram-nas
zes, nos demarcamos em relação aos ou- a base das suas sociedades coloniais. No
tros. A discriminação aparece de muitas “Novo Mundo”, o termo ofensivo “ne-
maneiras e pode-se presumir que todos já gro/preto” era sinónimo de um membro
tenham sido afetados por esta em diferen- dos escravos de uma raça “inferior”, em
tes níveis. Assim, a consciência sobre o as- contraste com a raça branca dos donos.
sunto é essencial para se poder lidar com No final do séc. XVIII e início do séc. XIX,
a questão de forma eficaz. A raiz da mo- a ideologia do racismo atingiu uma outra
tivação para a discriminação encontra-se dimensão. Após a Guerra Civil Ameri-
na falsa sensação de superioridade em re- cana, os afro-americanos foram aterro-
C. ANTIRRACISMO E NÃO DISCRIMINAÇÃO 139

rizados pelo Ku Klux Klan, nos Estados forma desastrosa, o respeito próprio, a
do Sul. Embora a 14ª Emenda à Cons- autodeterminação e a dignidade humana
tituição americana garantisse proteção do ser humano discriminado. O racismo,
igual, perante a lei, a todos os cidadãos, a discriminação racial e outras violações
a segregação institucionalizada (doutrina de direitos dos que pertencem a grupos
“iguais mas separados”) manteve-se até vulneráveis, minorias ou imigrantes
ao final dos anos 60. O séc. XX assistiu pode, também, causar sérios conflitos
a formas muito extremas de racismo: o e um perigo para a paz e a estabilida-
ódio racial do regime Nazi na Europa re- de internacionais. O reconhecimento da
sultou no genocídio dos judeus europeus, inerente dignidade e dos direitos iguais
a discriminação racial institucionalizada de todos os membros da família huma-
do sistema do apartheid da África do Sul na, como estabelecido no Preâmbulo da
ou os genocídios motivados por razões DUDH, é o fundamento da liberdade, da
étnicas e raciais da Antiga Jugoslávia e justiça e da paz no mundo. Assim, ultra-
do Ruanda. passar na prática as desigualdades base-
Hoje, como consequência destes cri- adas em categorias tais como a “raça”,
mes contra a humanidade, a proibição género, deficiência, identidade étnica,
da discriminação encontra-se estabele- religião, identidade sexual, língua ou
cida em muitos tratados internacionais qualquer outra condição social deve ter
e constitui um elemento importante na alta prioridade na agenda da Segurança
legislação de várias nações. Todavia, a Humana.
discriminação com base na raça, cor,
etnia, bem como na religião, género, 2. DEFINIÇÃO
orientação sexual ou outras formas de E DESENVOLVIMENTO
dicriminação, constitui, ainda, uma das DA QUESTÃO
mais frequentes violações dos direitos
humanos que ocorre no mundo. O racismo e a discriminação racial cons-
tituem violações graves e obstáculos ao
Direitos Humanos das Mulheres gozo pleno de todos os direitos humanos
Liberdades Religiosas e negam a verdade evidente de que todos
Direitos das Minorias os seres humanos nascem livres e iguais,
em dignidade e em direitos.
Discriminação e Segurança Humana Existem diversos termos técnicos tais
como racismo, xenofobia, preconceito e
Um dos principais objetivos da seguran- intolerância. A discriminação implica ele-
ça humana é proporcionar as condições mentos de todos estes fenómenos.
para que as pessoas possam exercer e Em primeiro lugar, é muito importante dis-
expandir as suas oportunidades, esco- tinguir dois aspetos essenciais da discrimi-
lhas e capacidades, livres de inseguran- nação:
ça. A discriminação por qualquer moti-
vo impede as pessoas de exercerem, de Atitude ou Ação: Existe uma diferença sig-
forma igual, os seus direitos e escolhas e nificativa entre, por um lado, crenças e opi-
não só resulta em insegurança económi- niões pessoais e, por outro lado, manifesta-
ca e social como também afeta, de uma ções e ações concretas que são motivadas
140 II. MÓDULOS SOBRE QUESTÕES SELECIONADAS DE DIREITOS HUMANOS

por aquelas atitudes e crenças. A primeira antidiscriminação no setor privado ainda


noção refere-se à mente de cada pessoa, gera bastante controvérsia. A este respei-
enquanto, esta última, envolve ações que to foram estabelecidos pilares pelas Dire-
também afetam os outros. Todavia, na prá- tivas Antiracismo e Antidiscriminação da
tica, as atitudes e as opiniões racistas ou Comunidade Europeia que obriga os Esta-
xenófobas, em grande parte, levam a ações dos-membros a combater de forma eficaz
que afetam os outros negativamente, atra- a discriminação no setor privado, relativa
vés de insultos, abusos verbais, humilha- ao mercado de trabalho e ao acesso a bens
ções ou, até mesmo, agressões físicas e e serviços.
violência; conduzem também ao tratamen-
to diferenciado, prejudicando o exercício Implementação e Monitorização
de direitos e liberdades. Este tipo de ações
pode ser caracterizado como discriminação A Discriminação Racial
que, mediante certas condições, pode ser A discriminação, em geral, considerada
punida por lei. como uma qualquer distinção, exclusão,
restrição ou preferência dirigida à negação
Liberdade de Expressão ou recusa de direitos iguais e à sua prote-
ção, é a negação do princípio da igualdade
Perpetradores de Discriminação – Esta- e representa uma afronta à dignidade hu-
dos ou Indivíduos: Uma segunda área im- mana. Dependendo das razões para este
portante a ser considerada é a do ofensor tratamento diferente, fala-se em discri-
ou ator. Tradicionalmente, o sistema inter- minação racial ou fundada na etnia, cor,
nacional de proteção dos direitos huma- género, deficiência, religião, orientação
nos e os mecanismos jurídicos para a não sexual, etc. É crucial saber que nem toda
discriminação são, igualmente, dominados a distinção pode ser automaticamente de-
pela ideia de assegurar a proteção dos in- finida como discriminação no sentido de
divíduos contra a interferência do Estado. abuso de direitos humanos. Desde que a
Assim, os principais agentes (positiva e ne- distinção se baseie em critérios objetivos e
gativamente) sempre foram os Estados, ao razoáveis, pode ser justificável. Por exem-
passo que a discriminação entre indivíduos plo, em quase todos os países, os traba-
foi, mais ou menos, deixada sem regulação. lhos dos agentes policiais ou dos militares
Esta perceção só recentemente mudou, por ou empregos em outras instituições públi-
influência dos novos desenvolvimentos na cas encontram-se restritos aos nacionais
luta internacional contra o racismo e a dis- dos respetivos Estados, o que não consti-
criminação, conduzindo a uma compreen- tui uma discriminação.
são mais holística da discriminação e ten- O problema coloca-se quanto à defini-
do em consideração que muitos incidentes ção de “critério razoável”. O que signifi-
discriminatórios são causados por agentes ca realmente? E podem estes critérios ser
privados não estatais. idênticos em diferentes sociedades? Estas
Um exemplo é a atitude generalizada de ambiguidades podem explicar por que ra-
senhorios privados que não estão dispos- zão o princípio da igualdade de tratamen-
tos a arrendar apartamentos a migrantes, to é um dos princípios mais controversos
refugiados ou pessoas de pele escura. dos direitos humanos, já que a igualdade
Contudo, a incorporação de normas sobre na lei nem sempre equivale à igualdade
C. ANTIRRACISMO E NÃO DISCRIMINAÇÃO 141

de facto ou de resultado. Um exemplo tuem a discriminação e que são comuns


desta lacuna encontra-se na educação em a todas as formas de discriminação:
língua nativa, uma vez que, neste caso,
tratar todos os alunos de forma igual em 1. ações, isto é, a distinção, a exclusão, a
termos legais impossibilitaria as escolas restrição e a preferência; baseadas em
de oferecerem aulas especiais na língua 2. categorizações, tais como a etnia, cor,
materna, o que significaria dar um trata- ascendência, origem nacional, género,
mento desigual a alunos que têm poucos idade, deficiência, etc; com o
conhecimentos da língua de instrução. 3. propósito e/ou consequências de
Tais disposições, como as referentes a impedir as vítimas de exercerem e/
aulas na língua materna, são desejáveis, ou gozarem plenamente os seus di-
não discriminatórias e necessárias para, reitos humanos e liberdades funda-
plenamente, promover a educação cultu- mentais.
ral de todos os alunos, incluindo os per-
tencentes a minorias.
“Não se pode pegar numa pessoa que, du-
A Convenção Internacional sobre a rante anos, coxeou com o peso das corren-
Eliminação de Todas as Formas de Dis- tes, libertá-la, colocá-la na linha de partida
criminação Racial (CIEDR), de 1965, de uma corrida e depois dizer, “Estás livre
contém uma definição legal muito para competir com todos os outros” e, mes-
abrangente de discriminação racial que mo assim, acreditar, sinceramente, que se
tem sido utilizada como base para mui- foi completamente justo. Não é suficiente
tas outras definições e instrumentos que simplesmente abrir os portões da oportu-
se referem à discriminação. O artº 1º da nidade. Todos os nossos cidadãos têm de
Convenção estipula que “Na presente ser capazes de atravessar estes portões […].
Convenção, a expressão «discriminação Não procuramos […] só a igualdade como
racial» visa qualquer distinção, exclusão, um direito e uma teoria mas a igualdade
restrição ou preferência fundada na raça, como um facto e a igualdade como um re-
cor, ascendência na origem nacional ou sultado.”
étnica que tenha como objetivo ou como Lyndon B. Johnson.1965
efeito destruir ou comprometer o reconhe-
cimento, o gozo ou o exercício, em condi- Consequentemente, uma distinção tem
ções de igualdade, dos direitos humanos de ser feita entre discriminação direta e
e das liberdades fundamentais nos domí- discriminação indireta. A discriminação
nios político, económico, social e cultural direta significa que uma pessoa é tratada
ou em qualquer outro domínio da vida de forma menos favorável do que outra,
pública.” numa situação semelhante. A discrimina-
ção indireta significa que uma disposição
Implementação e Monitorização ou medida, aparentemente neutrais, na
realidade colocam em desvantagem uma
Três elementos da discriminação pessoa ou grupo em relação a outros.
Em termos gerais, podemos identificar Outras características importantes da
três elementos que, em conjunto, consti- discriminação: Normalmente, um grupo
142 II. MÓDULOS SOBRE QUESTÕES SELECIONADAS DE DIREITOS HUMANOS

dominante discrimina contra um grupo tipo de tratamento preferencial não pode


menos poderoso ou menos numeroso. O ser considerado como discriminação, mas
domínio tanto pode ocorrer em termos de sim, visto como uma medida para comba-
números (maioria versus minoria) como ter a discriminação.
de poder (isto é, “classe alta” versus “clas-
se baixa”), caso em que a minoria pode Questões para debate
também dominar a maioria, como na • Será que a proibição da discriminação
situação do regime de apartheid na Áfri- só significa tratamento igual?
ca do Sul. Através do domínio, um grupo • E quanto à noção de igualdade de opor-
trata outro grupo como inferior e, muitas tunidades, será que significa tratar de
vezes, nega a este grupo direitos humanos forma diferente, pessoas em situações
básicos. Isto significa que a discriminação iguais, para compensar o tratamento di-
é a negação da dignidade humana e de di- ferente de que foram alvo no passado?
reitos iguais para aqueles que são vítimas • Que forma de ação é justificável: impe-
da discriminação. dir ou favorecer?
Outro aspeto interessante prende-se com
a discriminação positiva ou “ação afirma- Racismo
tiva”, como é também denominada, um O racismo causa danos ao isolar e mago-
termo originário nos Estados Unidos. Des- ar pessoas e dividir comunidades. Tanto
creve medidas governamentais especiais e o racismo ativo como a aceitação passiva
temporárias que têm como objetivo alcan- de injustiça e privilégios baseados na raça
çar a igualdade de facto e ultrapassar for- afetam a saúde mental e o funcionamento
mas institucionais de discriminação. A dis- psicológico, tanto das vítimas como dos
criminação institucionalizada refere-se a perpetradores. As causas e as consequên-
leis, políticas e práticas estabelecidas que cias do racismo e intolerância relaciona-
resultam, sistematicamente, em desigual- da e os meios para a sua continuação são
dades e discriminação dentro de uma so- complexos, envolvendo vulnerabilidades e
ciedade, organização ou instituição. As discriminação jurídicas, desvantagens eco-
medidas de ação afirmativa sempre foram nómicas e educacionais, marginalização
extremamente controversas porque signifi- social e política e vitimização psicológica.
cam favorecer, temporariamente, de novo, O racismo e a discriminação produzem
um determinado grupo em relação a outro efeitos a longo prazo para a saúde; é co-
para compensar desigualdades passadas e, mum as vítimas demonstrarem sintomas
desse modo, proporcionar aos grupos al- graves de stress e de doenças psicossomá-
vos – ex: mulheres, minorias étnicas, etc. – ticas, assim como de autoagressividade.
oportunidades iguais, no presente, de go- Interessante é o facto de não existir qual-
zar todas as suas liberdades fundamentais, quer definição de racismo universalmente
especialmente no campo da educação, do aceite, porque existem inúmeras perspeti-
emprego e das empresas. vas diferentes sobre o seu exato significa-
De forma a assegurar-se a igualdade plena, do e alcance. As teorias sobre o racismo
no plano prático, mantêm-se ou adotam-se implicam a presunção errada da existên-
medidas específicas (ações positivas), por cia de denominadas “raças diferentes”, o
apenas um período de tempo limitado, que é cientificamente falso, e a assunção
até que se atinja a igualdade. Assim, este igualmente errada de que os grupos étni-
C. ANTIRRACISMO E NÃO DISCRIMINAÇÃO 143

cos são, de forma inerente, superiores ou “raça”, em si mesmo, é racista já que pres-
inferiores, desta forma sugerindo que uns supõe e defende a crença errónea de que
têm direito a dominar ou eliminar outros. existem diferentes “raças”. Os racistas de
De acordo com a UNESCO, “o racismo in- hoje dão mais ênfase às diferenças cul-
clui as ideologias racistas, as atitudes pre- turais e não às características biológicas,
conceituosas, o comportamento discrimi- sendo que se pode falar de um “racismo
natório, disposições estruturais e práticas cultural” recentemente desenvolvido que,
institucionalizadas que resultam na desi- muito provavelmente, representa a melhor
gualdade racial, assim como na noção fa- definição para a maioria das atitudes reais
laciosa de que as relações discriminatórias das pessoas que, hoje, são “racistas”.
entre grupos são moral e cientificamente Até o racismo como uma forma de pensar
justificáveis; encontra-se refletido em dis- pode ser nocivo, mas, sem expressão ou
posições discriminatórias, na legislação outra manifestação, as ideias racistas ou
ou regulamentação e em práticas discri- uma forma racista de pensar que só exis-
minatórias, bem como em crenças e atos tem em mentes racistas não podem ser
antissociais; dificulta o desenvolvimento sancionadas pela lei. Só se estes precon-
das suas vítimas, perverte quem os prati- ceitos e pensamentos levarem a políticas
ca, divide as nações internamente, impede discriminatórias, práticas sociais, discur-
a cooperação internacional e dá origem a sos de ódio ou à separação de grupos, se
tensões políticas entre os povos; é contrário poderá falar em ações discriminatórias
aos princípios fundamentais de direito in- sancionáveis ou em discriminação racial.
ternacional e, consequentemente, perturba
gravemente a paz e a segurança interna- Liberdade de Expressão
cionais”.
A Violência Racial é um exemplo particu-
O racismo existe em diferentes níveis – lar e grave do impacto do racismo, consti-
dependendo do poder usado e da relação tuindo atos específicos de violência e as-
entre a vítima e o perpetrador: sédio realizados contra uma pessoa ou um
• nível pessoal (atitudes, valores, crenças grupo com base na cor, ascendência ou
de alguém); origem nacional/étnica. A construção de
• nível interpessoal (comportamento para um grupo de pessoas como uma ameaça é
com os outros); uma parte essencial do ambiente político
• nível cultural (valores e normas de con- e social no qual ocorrem atos de violência
duta social); fundados no ódio.
• nível institucional (leis, costumes, tradi- Durante as últimas décadas de luta contra
ções e práticas). o racismo e a discriminação racial, um en-
tendimento mais amplo do termo racismo
O anterior regime do apartheid na África tem sido desenvolvido, incluindo a perce-
do Sul, que sistematicamente segregava os ção de que todas as sociedades no mun-
negros dos brancos, é um exemplo vívido do são afetadas e prejudicadas por este. A
de uma forma institucionalizada de racis- comunidade internacional empreendeu a
mo e discriminação racial. tarefa de determinar as causas básicas do
Hoje, a “raça” é entendida como uma racismo e de exigir as reformas necessá-
construção social. De facto, o termo rias para prevenir a erupção de conflitos
144 II. MÓDULOS SOBRE QUESTÕES SELECIONADAS DE DIREITOS HUMANOS

enraizados no racismo ou na discrimina- de incidentes, tais como a discriminação,


ção racial. Infelizmente, apesar de todas as os discursos de incitamento ao ódio e os
tentativas para abolir políticas e práticas crimes de ódio.
baseadas nestes fenómenos, estas teorias e
práticas persistem ou, até mesmo, ganham [...] o racismo, a discriminação racial, a
terreno e adquirem novas formas, como a xenofobia e a intolerância relacionada
“limpeza étnica”, que o mundo assistiu [...] constituem violações graves de direitos
durante os conflitos na antiga Jugoslávia, humanos, obstáculos ao seu pleno gozo e
no Darfur ou no Ruanda. negam a evidente verdade de que todos os
seres humanos nascem livres e iguais em
Antissemitismo dignidade e direitos [...].
O antissemitismo manifestou-se, ampla- Declaração da Conferência Mundial contra o Racis-
mente, na História e continua a existir até mo, Discriminação Racial, Xenofobia e Intolerân-
ao presente. Este ódio e hostilidade, por cia relacionada. 2001.
vezes, violenta contra os judeus - vistos
como um grupo religioso ou étnico distin- Xenofobia
to – mantém-se hoje, vivo como sempre, A xenofobia é descrita como o medo mór-
por vezes, escondido ou expressado de bido de estrangeiros ou de países estran-
forma encoberta. geiros e também caracteriza atitudes, pre-
No início do século XX, com o auge do fas- conceitos e comportamentos que rejeitam,
cismo, o antissemitismo tornou-se parte excluem e, muitas vezes, vilipendiam pes-
dessa sua ideologia. Durante o Holocaus- soas, com fundamento na perceção de que
to, perpetrado pelo regime Nazi, estima-se estes são estrangeiros ou estranhos para a
que seis milhões de judeus tenham sido comunidade, a sociedade ou a identidade
sistematicamente assassinados, só por nacional. Por outras palavras, a xenofobia
serem judeus. Hoje, os ataques contra as é um sentimento baseado em imagens e
comunidades e a herança judias não são ideias irracionais que conduzem a um ce-
raros e um número considerável de gru- nário simplista de “bom e mau”.
pos neonazis expressam, de forma clara, A xenofobia é, novamente, uma atitude e/
os seus pontos de vista antissemíticos. O ou crença. Daí que só as manifestações da
antissemitismo que é uma forma particu- xenofobia como comportamento discrimi-
lar de racismo, não faz só parte da ideolo- natório são sancionadas pelo direito nacio-
gia neonazi, estando as ideias antissemitas nal ou internacional.
disseminadas e acessíveis a toda a popu- A distinção entre racismo e xenofobia não
lação, mesmo a não neonazi. Além disso, é importante em termos legais e o impac-
o número crescente de sítios da internet e to nas vítimas de comportamentos e atos
de literatura que glorificam e disseminam racistas ou xenófobos é sempre o mes-
a propaganda nazi contribui para estes mo. Priva as pessoas do seu potencial e
desenvolvimentos preocupantes ao nível da oportunidade de perseguirem os seus
mundial. planos e sonhos, prejudica, profundamen-
Desde há vários anos que tem tido lugar, te, a autoestima e autoconfiança e, em mi-
novamente, um aumento do antissemitis- lhões de casos, chega mesmo a custar-lhes
mo que se tem manifestado, retórica e fisi- a vida. Uma influência particularmente
camente, através de um número crescente devastadora do racismo ou discriminação
C. ANTIRRACISMO E NÃO DISCRIMINAÇÃO 145

racial pode ser vista nas crianças, na medi- da ou expressada; pode ser dirigida a um
da em que o facto de terem presenciado ou grupo ou a uma pessoa desse grupo”.
sofrido racismo lhes causa profundos sen- Ambas as atitudes podem, facilmente, ser
timentos de medo e confusão. O racismo um motivo para qualquer tipo de ações
conduz a medos que quebram a confiança discriminatórias. Geralmente, a intolerân-
das crianças em si mesmas e nos outros. O cia e o preconceito são vistos como a base
tom racista, as palavras e os estereótipos e o ponto de partida para outros compor-
entram nas suas mentes tornando-se parte tamentos mais “específicos”, como o racis-
da forma como se veem a si mesmas. mo ou a xenofobia.
A noção de preconceito étnico só recen-
Durante um Painel de Debate das Na- temente foi desenvolvida, descrevendo a
ções Unidas, em Nova Iorque, que abor- antipatia fundada numa alegação de su-
dava o impacto do racismo nas crianças, premacia cultural de um grupo específico
uma senhora do Congo contou à audiên- em relação a outro. No contexto europeu é
cia que a primeira vez que ela tinha vi- exemplificado, nomeadamente, pelos pre-
venciado racismo foi à nascença, quan- conceitos antiturcos, antipolacos ou antir-
do a enfermeira no hospital se recusou russos. Uma vez que ataca, tipicamente,
a ajudar no parto complicado porque a os traços culturais/religiosos (reais ou
sua mãe era de uma zona diferente do imaginados) de um grupo particular, po-
país, que não a da enfermeira. Quando dem ser vistas algumas semelhanças com
ela cresceu, aprendeu rapidamente que o recente entendimento do racismo como
o seu contexto – a etnia a que pertencia, “racismo cultural”.
a língua que falava e a região onde vivia Normalmente, o preconceito e a intole-
– influenciava todos os aspetos da sua rância são difíceis de abordar e de com-
vida, o que a fez sentir inútil, insegura bater porque se adquirem com o tempo.
e incapaz logo desde o início da sua in- Para além disso, a noção de “tolerância”
fância. é controversa, já que pode implicar um
sentimento errado de superioridade, ao
Fenómenos Relacionados: tolerar-se a existência dos outros, mas sem
A Intolerância e o Preconceito realmente os receber bem ou os respeitar
A Universidade Estadual da Pennsylvania e aos seus direitos iguais. Por outro lado,
afirma na sua declaração de princípios que é importante ter consciência que a intole-
a intolerância é “uma atitude, sentimen- rância e os comportamentos intolerantes
to ou crença pela qual uma pessoa mos- não podem ser permitidos nem suporta-
tra desprezo por outras pessoas ou grupos, dos. A intolerância deve ser confrontada
com fundamento em características como através de coragem civil, o que significa
a raça, cor, origem nacional, género, orien- lidar-se com o comportamento intolerante
tação sexual, opiniões políticas ou crenças através de todos os meios apropriados.
religiosas”.
A definição clássica de preconceito é dada Questões para debate
pelo famoso psicólogo de Harvard, Gordon • Quem pode decidir sobre os limites da
Allport, que declara que “[…] o preconcei- tolerância?
to é uma antipatia fundada numa genera- • Existem normas ou padrões já estabe-
lização errónea e inflexível; pode ser senti- lecidos para distinguir entre tolerância
146 II. MÓDULOS SOBRE QUESTÕES SELECIONADAS DE DIREITOS HUMANOS

e intolerância e, se ainda não, poderão a discriminação pelos brancos contra os


ser criados? não-brancos, não existe uma sociedade
• Existem diferenças regionais ou cultu- que se possa dizer livre de qualquer for-
rais quanto à perceção de tais normas? ma de racismo. Existem muitos exemplos
na região da Ásia. Os coreanos no Japão,
Os limites e os parâmetros desenvolvidos por exemplo, não têm direito a desem-
pelo direito internacional dos direitos hu- penhar cargos públicos, apenas devido à
manos podem constituir o nível mínimo sua origem étnica coreana. Até há pouco
abaixo do qual as sociedades e os seus in- tempo, a minoria chinesa na Indonésia
divíduos caem na intolerância e na viola- não podia celebrar, publicamente, o seu
ção dos direitos humanos. tradicional Ano Novo Chinês. Os comités
de Direitos Humanos das Nações Unidas
Implementação e Monitorização expressaram repetidamente preocupa-
ções quanto à discriminação contra mi-
Existe um consenso sobre o facto de norias étnicas e religiosas na China. O
que as pessoas não nascem racistas mas sistema de castas na Índia discrimina, de
vão-se tornando racistas, daí que, a pri- forma grave, membros das “castas mais
meira causa de racismo e da xenofobia baixas”; existem mesmo relatos de vio-
seja a ignorância. O Secretário-Geral lações em massa e de massacres organi-
das Nações Unidas, Ban Ki-moon, disse, zados, cometidos por “membros das cas-
por ocasião do Dia Internacional para a tas mais elevadas”. O racismo também
Eliminação da Discriminação Racial, em existe nos países africanos: membros
21 de março de 2011: “[…] Para se ultra- de grupos étnicos que não estão no po-
passar o racismo temos de confrontar as der defrontam-se frequentemente com a
políticas públicas e atitudes privadas dos discriminação e assédio motivados pelo
cidadãos que o perpetuam. Neste Dia In- racismo e violência racista que ameaçam
ternacional apelo aos Estados-membros, as suas vidas.
organizações internacionais e não gover- A discriminação dos Roma – um número
namentais, meios de informação, socie- estimado de oito milhões que vivem no
dade civil e a todos os indivíduos […] continente europeu – constitui uma das
que trabalhem juntos contra o racismo, violações mais graves de direitos huma-
independentemente de quando e sob que nos da Europa. Tendo sido nómadas ao
forma ocorra.” longo da sua história, os Roma foram,
geralmente, forçados a assimilar-se. Em
alguns países, a sua língua romani foi
3. PERSPETIVAS proibida e as crianças foram retiradas
INTERCULTURAIS dos seus pais. Hoje, as comunidades
E QUESTÕES CONTROVERSAS Roma ainda experimentam a discrimina-
ção em muitas esferas da vida, como no
O racismo e a discriminação racial são emprego, na habitação, na educação, no
um problema contínuo manifestado de acesso à justiça ou a serviços de cuida-
várias maneiras em todos os países do dos de saúde.
mundo. Apesar de se relacionar, de for-
ma espontânea, a palavra ‘racismo’ com Direitos das Minorias
C. ANTIRRACISMO E NÃO DISCRIMINAÇÃO 147

4. IMPLEMENTAÇÃO todos os direitos e liberdades estabeleci-


E MONITORIZAÇÃO dos na lei, que estão sujeitos apenas às
limitações ou interferências, necessárias e
Os ensinamentos aprendidos com a escra- legítimas, previstas na lei. No respeitante
vatura, com o colonialismo e, acima de à discriminação, isto significa que os Es-
tudo, com a Segunda Guerra Mundial con- tados têm de respeitar a igualdade entre
duziram à incorporação do princípio da as pessoas, não podendo apoiar ou tolerar
não discriminação em muitas Constituições racismo ou discriminação.
nacionais e tratados internacionais. O tra- • Obrigação de proteger: Este elemento
tado internacional mais importante sobre a exige que os Estados protejam as pes-
discriminação racial é a Convenção Inter- soas de violações dos seus direitos. No
nacional sobre a Eliminação de Todas as respeitante à discriminação, refere-se
Formas de Discriminação Racial (CIEDR), ao comportamento racista e discrimi-
de 21 de dezembro de 1965. Com a elabo- natório entre pessoas privadas, ou seja,
ração desta Convenção, a Assembleia-Ge- o Estado tem de “combater”, de forma
ral das Nações Unidas reagiu aos horrores ativa, a discriminação racial e outras
do Holocausto e à existência contínua de formas de manifestações de racismo
atitudes e políticas racistas no mundo do por parte dos indivíduos na sociedade.
pós-Guerra. A CIEDR baseia-se no princí- • Obrigação de implementar: Esta obri-
pio da dignidade e da igualdade, condena gação exige que o Estado tome medi-
quaisquer formas de discriminação racial das jurídicas, administrativas, judiciais
e obriga os Estados a utilizarem todos os ou práticas adequadas para assegurar,
meios adequados, de forma célere, para eli- da forma mais eficaz, a realização dos
minarem a discriminação racial, em todas direitos garantidos. O artº 5º da CIE-
as suas formas. Até ao momento (janeiro DR obriga os Estados Partes a tomarem
de 2012), foi ratificada por 175 Estados e medidas para proibir e eliminar a discri-
tem-se revelado uma ferramenta relevante minação racial e de garantir a todos o
na luta contra a discriminação racial. direito de igualdade perante a lei.
As disposições da Convenção no que res- Obrigações no setor privado (ONG, meios
peita ao princípio da não discriminação são de informação, etc): Para além dos go-
aplicáveis aos Estados, ao setor privado e, vernos, o setor privado também tem um
de certa forma, também aos indivíduos. O poder considerável na luta contra a dis-
princípio fundamental da não discrimina- criminação e o racismo. Os seus protago-
ção garante aos indivíduos uma determi- nistas constituem a parte mais ampla da
nada conduta por parte dos Estados e das sociedade civil e, normalmente, as atitu-
suas autoridades. Assim, os Estados têm a des discriminatórias e racistas podem ser
obrigação de respeitar, proteger e imple- confrontadas, de forma mais eficaz, pela
mentar o princípio da não discriminação: sociedade civil através de uma abordagem
• Obrigação de respeitar: Neste contexto, “da base para o topo” (bottom up).
os Estados estão proibidos de atuar em
contravenção dos direitos e liberdades Boas Práticas
fundamentais reconhecidos. Por outras
palavras, os Estados têm de respeitar e O facto de a discriminação ser uma das
assegurar a todos dentro da sua jurisdição violações de direitos humanos que ocorre
148 II. MÓDULOS SOBRE QUESTÕES SELECIONADAS DE DIREITOS HUMANOS

com mais frequência, mostra o trabalho específicas, considerar comunicações


que ainda tem de ser feito nesta área. Em por parte de indivíduos ou de grupos,
princípio, a implementação dos instru- que se queixem de violações dos seus
mentos internacionais dos direitos huma- direitos enunciados na Convenção, por
nos é uma responsabilidade do Estado e, um Estado Parte.
assim, os instrumentos internacionais que O CEDR também publica a sua interpre-
lutam contra a discriminação racial têm tação das disposições da Convenção (Co-
de ser ratificados e implementados pelos mentários Gerais). Além de uma concre-
Estados Partes. Todavia, a implementação tização das obrigações dos Estados Partes
efetiva das normas internacionais só pode e da sua implementação, o Comité emitiu,
ser garantida se existirem sistemas de entre outras, uma recomendação sobre a
monitorização eficazes e mecanismos de formação dos funcionários responsáveis
cumprimento rogorosos. pela aplicação da lei na área da proteção
Além de estabelecer as obrigações dos dos direitos humanos (1993), sobre os di-
Estados Partes, a CIEDR também es- reitos dos povos indígenas (1997), sobre
tabelece o Comité para a Eliminação as dimensões relativas ao género da dis-
da Discriminação Racial (CEDR), que criminação racial (2000), sobre a discrimi-
foi o primeiro órgão dos tratados da nação contra os Roma (2000) e sobre não
ONU composto por peritos independen- nacionais (2004), ou sobre a prevenção da
tes a monitorizar e examinar a imple- discriminação racial na administração e
mentação da Convenção. O sistema de funcionamento do sistema de justiça cri-
monitorização criado consiste, essen- minal (2005).
cialmente, em quatro procedimentos: Como a manifestação do racismo e da
• A apresentação de relatórios: Todos xenofobia tem vindo a aumentar nas últi-
os Estados Partes estão obrigados à mas décadas, a comunidade internacional
apresentação de relatórios regulares reforçou os seus esforços para combater
ao Comité, sobre a forma como estão este fenómeno. O mandato do Relator Es-
a implementar a Convenção. O Comité pecial sobre Formas Contemporâneas de
examina cada relatório e dirige comen- Racismo, Discriminação Racial, Xeno-
tários e recomendações (“Observações fobia e Intolerância Relacionada criado
Finais”) ao respetivo Estado Parte. pela então Comissão de Direitos Humanos
• O sistema de alerta precoce: O Comité foi prorrogado, novamente, em 2008.
pode atuar perante problemas que exi- No desempenho do seu mandato, o Rela-
jam atenção imediata, de forma a evitar tor Especial transmite apelos urgentes e
que situações existentes se convertam comunicações aos Estados, realiza visitas
em conflitos e prevenir ou limitar viola- de investigação, publica relatórios sobre o
ções graves da Convenção. país e submete relatórios anuais ou temá-
• As queixas interestatais: Os Estados ticos ao Conselho de Direitos Humanos e à
Partes podem apresentar queixas ao Assembleia-Geral das Nações Unidas.
Comité sobre alegadas violações da
Convenção por parte de outro Estado
Parte. A Declaração de Durban e o Programa
• As queixas individuais (direito de peti- de Ação (DDPA), aprovado na Conferên-
ção): O Comité pode, em circunstâncias cia Mundial contra o Racismo de 2001,
C. ANTIRRACISMO E NÃO DISCRIMINAÇÃO 149

constitui um compromisso sólido da co- beleceu, em 1993, um órgão composto


munidade internacional para a preven- por peritos independentes, a Comissão
ção, combate e erradicação do racismo, Europeia contra o Racismo e a Intole-
discriminação racial, xenofobia e into- rância, para monitorizar, de forma regu-
lerância relacionada, a todos os níveis. lar, a situação real e os esforços empreen-
Reconhecendo que o racismo é uma didos contra o racismo, a discriminação
preocupação global cuja resolução deve racial, a xenofobia, o antissemitismo e
resultar de um esforço universal, abor- a intolerância nos Estados-membros do
dou um leque amplo de questões, con- Conselho da Europa. Outro importante
tendo recomendações com um alcance mecanismo de monitorização são os pro-
relevante e propondo medidas concretas. vedores antidiscriminação ou antirracis-
Em 2009, a Conferência de Revisão de mo, que, geralmente, são estabelecidos a
Durban analisou os progressos alcança- nível nacional e que desempenham um
dos e avaliou a implementação da Decla- papel importante na documentação dos
ração de Durban e o Programa de Ação incidentes de discriminação, na informa-
de 2001 e identificou outras medidas ção sobre normas nacionais e internacio-
concretas e iniciativas, a todos os níveis, nais e na procura de possíveis mecanis-
para o combate e a eliminação de todas mos de proteção.
as manifestações de racismo, discrimi-
nação racista, xenofobia e intolerância Em 2010, as agências dos EUA responsá-
relacionada, a fim de promover a imple- veis pelo cumprimento da lei relataram
mentação do DDPA e para enfrentar os 6.628 incidentes criminais motivados
desafios e contrangimentos. pelo ódio, a envolverem 7.699 vítimas.
Uma análise dos 6.624 incidentes de pre-
conceito simples que envolveram 7.690
Todos os instrumentos regionais de di- ofensas, 8.199 vítimas e 6.001 ofensores,
reitos humanos (por exemplo, a Conven- revelaram o seguinte:
ção Americana sobre Direitos Humanos,
a Carta Africana dos Direitos Humanos e 47,3% foram motivados por preconcei-
dos Povos, a Convenção Europeia dos Di- tos raciais;
reitos Humanos, Carta dos Direitos Fun- 20,0% resultaram de preconceitos reli-
damentais da União Europeia) incluem giosos;
disposições contra a discriminação, sen- 19,3% estiveram ligados a preconceitos
do a maioria acessórias, o que significa relacionados com a orientação sexual;
que só podem ser reclamadas em conjun-
to com outro direito previsto na respeti- 12,8% resultaram de preconceitos rela-
va convenção se a situação for levada a cionados com a origem étnica/nacional;
julgamento. O Protocolo Adicional nº 12 0,6% foram motivados por preconceitos
da CEDH, em vigor desde abril de 2005, relativos a incapacidades.
contém uma proibição geral de discrimi-
(Fonte: Federal Bureau of Investigation.
nação (artº 1º) estabelecendo um âmbito
Departamento de Justiça dos EUA. 2011.
de proteção que vai para além do gozo
Uniform Crime Reports. Hate Crime Sta-
dos direitos e liberdades previstos na
tistics 2010.)
Convenção. O Conselho da Europa esta-
150 II. MÓDULOS SOBRE QUESTÕES SELECIONADAS DE DIREITOS HUMANOS

O hiato entre “a lei na teoria” e a “lei estabelece um quadro geral para combater
na prática”: As convenções ratificadas, as a discriminação na área do emprego e ocu-
declarações e os planos de ação são só a pação, e a “Diretiva de Igualdade Racial”
primeira etapa de uma verdadeira estraté- que proíbe, no emprego e no acesso aos
gia de combate contra o racismo e a dis- bens e serviços, a discriminação com base
criminação. na origem étnica. Estas diretivas ampliam
Se aqueles não forem plenamente aplica- o conceito clássico de igualdade de trata-
dos, o seu impacte será limitado. Uma for- mento entre mulheres e homens de forma
te vontade política é necessária para uma a permitir uma proteção mais abrangente,
implementação efetiva que, infelizmente, baseada nas necessidades da sociedade de
na realidade, muitas vezes tem de deixar hoje. Todos os Estados-membros da União
espaço para outros interesses políticos. Europeia têm de transpor as diretivas para
Neste contexto, não pode ser subestimado a legislação nacional. A violação destes
o importante papel de organizações não direitos de não discriminação pode ser
governamentais baseadas na comunidade, alegada em tribunais civis, o que é con-
das suas campanhas, da pressão que fa- siderado como um marco no desenvolvi-
zem e da realização de projetos. Além dis- mento de legislação antidiscriminação.
so, estas pressionam constantemente os Presentemente debate-se uma proposta
governos para que cumpram com as suas para se ampliar ainda mais a proteção da
obrigações, nacionais e internacionais, de discriminação.
direitos humanos.
Os instrumentos internacionais e meca-
“Muitas vezes é mais fácil indignar-se com nismos mencionados estão a ser cada
a injustiça do outro lado do mundo do que vez mais utilizados para a monitorização
com a opressão e a discriminação a um da implementação do princípio da não
quarteirão de casa.” discriminação. A importância das medi-
Carl T. Rowan das e estratégias preventivas, tais como
sistemas de alerta precoce, mecanismos
Discriminação entre Atores Não Estatais: preventivos de visitas, procedimentos
Outro problema relativo à proteção eficaz urgentes, informação e a educação e for-
contra a discriminação refere-se ao facto mação para os direitos humanos, contu-
de a prevenção da discriminação entre pes- do, têm sido desde há muito subestima-
soas privadas ser uma zona legal cinzenta. das, negligenciando-se, assim, a resposta
Geralmente, só atos discriminatórios na mais eficaz contra a discriminação e o
esfera pública (por autoridades estaduais) racismo, uma vez que estas estratégias
e de indivíduos que agem em público, po- atacam estes fenómenos na sua origem.
dem ser punidos por lei. Assim, muitas
vezes, a discriminação entre indivíduos na Programas de Educação
sua “esfera privada” não pode ser punida e Formação:
da mesma forma. O racismo, a xenofobia e atitudes relacio-
Nos últimos anos, a União Europeia in- nadas surgem frequentemente de forma
troduziu as Diretivas de Não Discrimi- subtil e insidiosa, muitas vezes difíceis de
nação, para o setor privado, tais como a serem abordados e identificados. Tal pode
“Diretiva de Igualdade no Emprego” que conduzir à perceção perigosa de que o ra-
C. ANTIRRACISMO E NÃO DISCRIMINAÇÃO 151

cismo só é cometido por outros e, como sos grupos profissionais, tais como os
tal, é da responsabilidade de outrem. De agentes responsáveis pelo cumprimento
forma a enfrentar-se com sucesso essas da lei, autoridades judiciais e professores,
opiniões e crenças, a discriminação racis- é realizada com o escopo de sensibilizar e
ta, o racismo e a intolerância relacionada fortalecer o papel destes profissionais na
têm de ser combatidos através do reforço proteção dos direitos humanos e na luta
de uma cultura de direitos humanos, a contra o racismo.
todos os níveis da sociedade. O racismo, A chave para se mudarem as atitudes
enquanto fenómeno multifacetado, deve e comportamentos baseados no racis-
ser combatido com uma série de medidas mo, xenofobia e intolerância relacionada
realizadas a todos os níveis, incluindo a encontra-se na educação para os direitos
educação e aprendizagem para os di- humanos, a todos os níveis e para todas
reitos humanos visando a promoção do as idades. É importante desenvolvê-la e,
respeito e valorização da diversidade nas quando já exista, apoiar a implementação
sociedades, bem como transmitir com efi- e continuação dos programas escolares
cácia e incorporar os direitos humanos educacionais e dos recursos contra o racis-
na sociedade. Existem em muitos países mo a todos os níveis da educação formal,
programas de formação para os professo- assim como na educação não formal, de
res, para ajudá-los a lidar com inciden- forma a promover a compreensão e forta-
tes racistas na escola. Durante o processo lecimento do respeito pelos direitos huma-
de preparação da Conferência Mundial nos e liberdades fundamentais para todos.
contra o Racismo, relataram-se uma sé-
rie de exemplos e ideias interessantes. O Papel Fundamental dos Meios de In-
Estes incluíram os esforços já em curso formação: Os meios de informação in-
em diversos países africanos para com- fluenciam as atitudes das pessoas. Eles
bater os preconceitos racistas nos livros podem desempenhar um papel positivo no
e programas escolares, ou uma iniciativa combate a estereótipos racistas, contribuir
europeia de redes de escolas redigirem para a promoção da igualdade, respeito
um código de conduta, incorporando e dignidade humana e para a afirmação
princípios claros de não discriminação dos valores da diversidade. Infelizmente,
nos seus objetivos educacionais. Em mui- muitos jornais e estações de rádio e tele-
tos países, existem programas de inter- visão, em todo o mundo, usam linguagem
câmbio escolar, encorajando estudantes depreciativa e promovem estereótipos ne-
de diferentes países a partilharem a sua gativos em relação a indivíduos ou grupos
cultura e aprenderem os idiomas uns dos vulneráveis, particularmente migrantes e
outros. Muitos governos e ONG incluem refugiados, e contribuem para a dissemi-
programas de formação sobre a diversi- nação de sentimentos e comportamentos
dade e sensibilidade cultural no seu ma- xenófobos e racistas entre o público. De-
terial sobre a educação para os direitos terminados meios de informação até fa-
humanos, o que promove a compreensão zem propaganda de discriminação e ódio
da contribuição de cada cultura e nação. racista. O poder dos meios de informação
Em muitos países, a formação para os di- pode ser visto, por exemplo, no caso da
reitos humanos centrada no combate ao “Rádio Mille Collines” no Ruanda, usada
racismo e não discriminação, para diver- para incitar os hutus ao massacre de tutsis
152 II. MÓDULOS SOBRE QUESTÕES SELECIONADAS DE DIREITOS HUMANOS

durante a guerra civil em 1994 e não es- Ao observar um ato discriminatório ou


quecendo o papel importante da internet racista é importante desenvolver a co-
na divulgação de informação e de opini- ragem moral para interferir se possível,
ões. A CIEDR obriga os Estados Partes a reencaminhar os casos ou incidentes
condenar toda a propaganda racista e or- conhecidos para as instituições compe-
ganizações desta natureza e a adotar me- tentes de modo a ter acesso a possíveis
didas para a erradicação de todo o incita- mecanismos de proteção nacionais e in-
mento ao racismo e à discriminação. Para ternacionais, tais como os tribunais, os
este fim os Estados devem, designadamen- provedores de justiça ou os organismos
te, estabelecer que toda a disseminação de especializados.
ideias racistas ou incitamento constituem
ofensas puníveis por lei. A este respeito, a Em geral, todos nós podemos contribuir
Comissão Europeia contra o Racismo e a para a promoção do respeito pelos direi-
Intolerância (CERI) recomenda, nomeada- tos humanos, a prevenção de atos racis-
mente, que os meios de informação façam tas e discriminatórios e a implementação
todos os esforços para evitar e combater do princípio da igualdade. O primeiro
todas as formas de linguagem racista e xe- passo, e talvez o mais eficaz, é o de de-
nófoba e se abster da produção de estere- safiarmos as nossas próprias atitudes e
ótipos racistas nas suas reportagens, por preconceitos, tornando-nos conscientes
exemplo, através da adoção de códigos deles e tentando evitar, no dia a dia,
de ética, bem como de medidas de autor- comportamentos discriminatórios.
regulação dos profissionais dos meios de
informação.

Tendências
Liberdade de Expressão

O que é que NÓS


podemos fazer?
O verdadeiro desafio é a prevenção da
discriminação, ou seja, evitar atos discri-
minatórios antes que aconteçam. Assim,
é necessário visar atitudes, opiniões e Pequeno, Gordo e Negro!...
consequentes ações e comportamentos. Bom! Deve ser terrível!
Esta tarefa nada fácil só pode ser alcan-
çada através de uma educação para os Horrível!!
direitos humanos institucionalizada, de
informação local com uma abordagem
“da base para o topo” (bottom-up) e da
total participação das autoridades nacio-
nais em cooperação com todos os atores
não estatais relevantes.
C. ANTIRRACISMO E NÃO DISCRIMINAÇÃO 153

respostas vazias de uma pessoa a outra, o


“O racismo rebaixa tanto os odiados como racismo concentra-se sobre O QUE se é, e
os que odeiam, porque os racistas, ao ne- ignora QUEM se é. O racismo apenas vê o
garem a humanidade plena aos outros, rótulo e não a pessoa que o usa. O racismo
falham, eles mesmos, para com a huma- gosta de “nós” e odeia “eles”, sem nunca
nidade. Como o tribalismo, o fundamen- descobrir a verdadeira identidade “deles”.
talismo, a homofobia e todas as outras Timothy Findley

CONVÉM SABER
clusão, ao nível local. Com um “Plano de
1. BOAS PRÁTICAS Ação de Dez Pontos”, as cidades-membro
comprometem-se a promover e implemen-
Códigos de Conduta Voluntários no Setor tar iniciativas contra o racismo nas diferen-
Privado: Muitas empresas multinacionais tes áreas da competência das autarquias,
estabeleceram códigos de conduta volun- tais como a educação, habitação, emprego
tários, para si mesmas e para os seus par- e atividades culturais. Também se estão
ceiros, para impedir violações de direitos a criar coligações regionais em África, na
humanos, tais como, a discriminação por Região Árabe, na Ásia e Pacífico, na Eu-
motivos raciais. ropa, na América Latina e Caraíbas e na
América do Norte com os seus respetivos
Cláusulas Autodiscriminação em Con- Programas de Ação. Por exemplo, a Coli-
tratos Públicos de Aquisição: O governo gação Africana de Cidades contra o Racis-
sueco aprovou uma lei que exige das em- mo e Discriminação foi lançado em 2006
presas privadas que contratam com ór- em Nairobi, no Quénia.
gãos públicos um certificado confirman-
do que estas obedecem a todas as leis Combater o Racismo na Liga Europeia
antidiscriminação e promovem a igual- de Futebol: A União das Associações Eu-
dade nas suas políticas. O contrato pode ropeias de Futebol (UEFA, na sigla inglesa)
ser resolvido no caso de violação destas elaborou um plano de ação com dez pontos
disposições de antidiscriminação. Diver- listando várias medidas que incentivam os
sas cidades implementaram este concei- clubes a promover campanhas antirracismo
to (por exemplo, Londres, Galway). entre fãs, jogadores e funcionários. O plano
inclui medidas como declarações públicas
Coligação Internacional de Cidades Con- condenando os cânticos racistas em jogos
tra o Racismo: A Coligação Internacional ou ações disciplinares contra jogadores que
de Cidades contra o Racismo é uma inicia- que profiram insultos racistas. A UEFA tam-
tiva lançada pela UNESCO em 2004, para bém apoia a “FARE, na sigla inglesa - Rede
estabelecer uma rede de cidades interessa- de Futebol contra o Racismo na Europa”
das em partilhar experiências de forma a que realiza e coordena ações ao nível local
melhorar as suas políticas para o combate e nacional para combater o racismo e xeno-
ao racismo, discriminação, xenofobia e ex- fobia no futebol europeu.
154 II. MÓDULOS SOBRE QUESTÕES SELECIONADAS DE DIREITOS HUMANOS

2. TENDÊNCIAS tes pelas condições precárias de emprego


e de habitação.
A Relação entre Pobreza e Racismo/Xe-
nofobia
A relação potencial entre a pobreza, por Pobreza
um lado, e o racismo e a xenofobia, por Direitos das Minorias
outro lado, pode ser considerada de dife-
rentes maneiras. Será que o racismo e a Racismo na Internet
xenofobia causam pobreza? E além disso, A internet tornou-se um fórum para mais
será que a pobreza conduz a formas ativas de 2 biliões de utilizadores em todo o mun-
ou passivas de racismo e xenofobia? Não do. As tecnologias de comunicação digi-
existem respostas consistentes para estas tais, tais como a internet, constituem um
perguntas; as interpretações de estudos e importante meio de informação para todos
observações são variadas. Contudo, existe os atores na sociedade, sendo também uti-
um número crescente de peritos que con- lizadas por organizações racistas, violentas
firmam a existência de uma relação. e terroristas e grupos que propagam o ra-
Em muitas partes do mundo, a pobreza cismo, o antissemitismo, a xenofobia e o
é uma questão de etnia. De acordo com ódio e que disseminam conteúdos e ideias
o Departamento da Agricultura dos Esta- racistas. O racismo na internet é um pro-
dos Unidos, as famílias afro-americanas e blema crescente. Enquanto em 1995 apenas
hispânicas têm taxas, relacionadas com a existia um sítio racista, existem atualmen-
insegurança alimentar e a fome, até três te mais de dez mil sítios que promovem o
vezes mais altas do que as famílias bran- ódio e a violência racistas, o antissemitismo
cas. Os grupos minoritários visíveis en- e a xenofobia. Estima-se que o número de
frentam necessidades em todo o mundo. sítios desconhecidos seja significativamen-
Muitas vezes, o racismo e a discriminação te maior. (Fonte: Akdeniz, Yaman. 2009.
parecem ser a causa destas circunstâncias Racism on the Internet)
(ex.: barreiras ao igual acesso ao mercado Combater o extremismo online acarreta
de trabalho, educação e habitação), desta enormes dificuldades tanto tecnológicas
forma multiplicando as desigualdades. como legais. Ao nível das Nações Unidas,
Um assunto muito controverso é o debate os Estados Partes da Convenção Internacio-
sobre uma maior percentagem de tendên- nal sobre a Eliminação de Todas as Formas
cias racistas nas classes mais pobres da de Discriminação Racial (CIEDR) devem
sociedade. O nível mais baixo de educa- determinar que toda a disseminação de
ção é mais frequente entre a população ideias baseadas na superioridade racista
menos favorecida. Apesar de o racismo ou ódio, incitação à discriminação racista,
também existir nas “classes mais altas bem como todos os atos de violência ou in-
com educação superior”, a pobreza rela- citamento a estes atos contra determinados
cionada com uma menor educação pode grupos, constituem crimes puníveis por
conduzir a uma maior probabilidade de lei. Ao nível regional, o Protocolo Adicional
atitudes racistas. Em muitos casos, este à Convenção sobre o Cibercrime do Conse-
tipo de racismo é visto como um compor- lho da Europa, respeitante à criminalização
tamento de exclusão na luta por melhores de atos de natureza racista e xenófoba pra-
condições de vida, culpando os imigran- ticados através de sistemas informáticos,
C. ANTIRRACISMO E NÃO DISCRIMINAÇÃO 155

entrou em vigor em 2006 e pretende a har- bém, apreensiva. Em tudo o que faz, diz
monização da legislação criminal respeitan- ela, preocupa-se sobre como tal afetará a
te ao combate ao racismo e xenofobia na sua família […]. O inglês de Seema é, sem
internet e a melhoria da cooperação inter- dúvida, de Queens, mas ainda se nota um
nacional nesta área. As medidas a tomar a traço de Bengali. Ela é uma cidadã dos Es-
nível nacional incluem a criminalização da tados Unidos. Mas, verdade seja dita, refere
disseminação através de sistemas informá- ela, sinceramente, não se vê como america-
ticos de materiais racistas ou de natureza na. “Bengali primeiro”, diz ela, antes de ex-
xenófoba, da ameaça ou insulto motivado pressar a sua incerteza sobre o que significa
pelo racismo ou xenofobia e a negação, ser americano […]. Questões sobre o que
minimização grosseira, aprovação ou justi- significa ser americano, sempre pairaram
ficação do genocídio ou de crimes contra sobre meninas como ela. Só que, o 11 de se-
a humanidade. Espera-se que a adoção e tembro e as suas repercussões afetaram-nas
implementação destes padrões conduzam de forma intensa. Durante semanas, após
a ulteriores desenvolvimentos nesta área. os ataques, meninas muçulmanas que ela
conhecia, tiraram o véu. (Seema é muçul-
Liberdade de Expressão mana mas não se cobre.) Os rapazes tira-
ram a barba. Outros foram espancados por-
Islamofobia: Repercussões do 11 de se- que usavam turbantes; nem sequer eram
tembro de 2001 muçulmanos. O seu pai que trabalha num
Na semana após os ataques de 11 de se- restaurante, temeu perder o seu emprego. A
tembro de 2001, houve 540 ataques regis- sua mãe tinha medo de ir do metro até casa
tados contra árabes-americanos, e pelo na sua túnica salwar kameez. A escola era
menos 200 a Sikhs (ascendência indiana), o pior de tudo. Uma vez, quando um pro-
em território norte-americano, compara- fessor aplaudiu o ataque ao Afeganistão,
dos com os 600 ataques registados, em Seema lembra-se de ter levantado o dedo
2000, a árabes-americanos. (Fonte: Am- para dizer algo sobre o destino dos civis
nistia Internacional, 2001. Crisis Response afegãos; os seus colegas de turma riram-se
Guide). dela. Outro professor disse algo sobre como
Na Europa, houve um aumento perturba- John Walker Lindh, o alegado simpatizante
dor de ataques racistas e abusos contra californiano dos Taliban, tinha sido enfei-
membros das comunidades das minorias, tiçado pelo Islão. Seema replicou. “O Islão
particularmente contra muçulmanos bri- não é uma bruxa nem nenhum tipo de fei-
tânicos, depois dos ataques bombistas em tiço mágico”, disse ela.
Londres, em 2005. Quanto a estes factos, (Fonte: Somini Sengupta. Bearing the
o seguinte artigo é um exemplo pessoal weight of the world, but on such narrow
ilustrativo e deve ser visto como ponto shoulders. Extratos de uma entrevista de
de partida para o debate: “Seema tem 18 um jornalista norte-americano a uma jo-
anos, acaba de sair da escola secundária. vem do Bangladesh com nacionalidade
Nascida no Bangladesh, passou quase norte-americana. New York Times, 7 de
metade da sua vida neste país, em Woo- julho de 2002.)
dside, Queens. É pequena, séria e, como a
mais velha de três filhos numa família de Direitos das Minorias
imigrantes, ela própria, admite estar, tam- Liberdades Religiosas
156 II. MÓDULOS SOBRE QUESTÕES SELECIONADAS DE DIREITOS HUMANOS

1966 Pacto Internacional sobre os Di-


Questões para debate reitos Civis e Políticos (PIDCP),
• Que direitos foram violados nesta his- Artº 2º, nº 1
tória?
• O que podem fazer as vítimas para re- 1966 Pacto Internacional sobre os Direi-
cuperar os seus direitos? tos Económicos, Sociais e Cultu-
• Que perguntas fez a si mesmo após o 11 rais (PIDESC), Artº 2º, nº 2
de setembro 2001? 1967 Protocolo relativo ao Estatuto dos
• Acredita que os acontecimentos do 11 Refugiados
de setembro justificam restrições aos 1969 Convenção Americana sobre Direi-
direitos civis? tos Humanos, Artº 1º
• Quem decide sobre o objeto e as limita-
ções dos direitos humanos? 1973 Convenção Internacional sobre a
• Quem determina o objeto e as restrições Supressão e Punição do Crime de
dos direitos das minorias? Apartheid
1978 Declaração da UNESCO sobre a
3. CRONOLOGIA Raça e o Preconceito Racial
1978 Primeira Conferência Mundial em
1926 Convenção da Sociedade das Na- Genebra para Combater o Racismo
ções para a Abolição da Escravatu- e a Discriminação Racial
ra e do Tráfico de Escravos 1979 Convenção sobre a Eliminação de
1945 Carta da Organização das Nações Todas as Formas de Discriminação
Unidas, Artº 1º, nº 3 contra as Mulheres
1948 Declaração Universal dos Direitos 1981 Declaração sobre a Eliminação de
Humanos, Artos 1º, 2º Todas as Formas de Intolerância e
1948 Convenção para a Prevenção e Re- Discriminação Baseadas na Reli-
pressão do Crime de Genocídio gião ou Convicção
1950 Convenção Europeia para a Pro- 1981 Carta Africana (de Banjul) dos Direi-
teção dos Direitos Humanos e das tos Humanos e dos Povos, Artº 2º
Liberdades Fundamentais (CEDH), 1983 Segunda Conferência Mundial em
Artº 14º Genebra para Combater o Racismo
1951 Convenção das Nações Unidas re- e a Discriminação Racial
lativa ao Estatuto dos Refugiados 1989 Convenção da OIT sobre Povos In-
1960 Declaração das Nações Unidas so- dígenas e Tribais
bre a Concessão da Independência 1989 Convenção sobre os Direitos da
aos Países e Povos Coloniais Criança (CDC), Artº 2º
1960 Convenção da UNESCO contra a 1990 Convenção Internacional sobre
Discriminação na Educação a Proteção dos Direitos de To-
1965 Convenção Internacional sobre a dos os Trabalhadores Migrantes e
Eliminação de Todas as Formas de dos Membros das Suas Famílias
Discriminação Racial (CIEDR) (CIPTM)
C. ANTIRRACISMO E NÃO DISCRIMINAÇÃO 157

1992 Declaração das Nações Unidas Racial, a Xenofobia e a Intolerân-


sobre os Direitos das Pessoas Per- cia relacionada (Durban): Declara-
tencentes a Minorias Nacionais ou ção e Programa de Ação
Étnicas, Religiosas e Linguísticas 2001 Relator Especial das Nações Uni-
1993 Comissão Europeia contra o Racis- das sobre os Direitos dos Povos
mo e Intolerância (CERI) Indígenas
1993 Relator Especial das Nações Unidas 2004/2005 Leis Anti-Discriminação
sobre Formas Contemporâneas de para o sector Privado em 25 Esta-
Racismo, Discriminação Racial, Xe- dos-membros da Comunidade Eu-
nofobia e Intolerância relacionada ropeia
1998 Estatuto de Roma do Tribunal Pe- 2004 Coligação Internacional de Cida-
nal Internacional (TPI) des contra o Racismo
1998 Observatório Europeu do Racismo 2006 Convenção sobre os Direitos das
e da Xenofobia (OERX) Pessoas com Deficiência (CDPD)
1999 Tratado de Amesterdão (que es- 2007 Declaração das Nações Unidas so-
tabelece a competência da Comu- bre os Direitos dos Povos Indíge-
nidade Europeia para combater a nas
discriminação racial) 2007 Agência da União Europeia dos Di-
2000 Carta dos Direitos Fundamentais reitos Fundamentais
da União Europeia, Artº 21º 2009 Conferência de Revisão de Durban
2000 Protocolo nº 12 da CEDH (que es- (Genebra)
tabelece uma proibição geral de
discriminação) “A injustiça em qualquer lugar é uma amea-
2001 Terceira Conferência Mundial con- ça à justiça em toda a parte”.
tra o Racismo e a Discriminação Martin Luther King Jr.

ATIVIDADES SELECIONADAS
ATIVIDADE I: TODOS mite que os participantes identifiquem a
OS SERES HUMANOS discriminação e que a experimentem por
NASCEM IGUAIS si mesmos.

Parte I: Introdução Parte II: Informação Geral


Falar sobre discriminação pode elucidar Tipo de Atividade: Reflexão
as pessoas sobre as origens e mecanis- Metas e objetivos: Dar aos participantes a
mos da discriminação, porém, nunca oportunidade de descobrirem o significado
terá tanto impacto ou será tão instrutivo da discriminação tanto intelectual como
como sentir as emoções de uma vítima de emocionalmente.
discriminação. Assim, esta atividade per- Grupo-alvo: Jovens adultos, adultos
158 II. MÓDULOS SOBRE QUESTÕES SELECIONADAS DE DIREITOS HUMANOS

Dimensão do grupo: 15-20 Educação/Ocupação:


Duração: 45 minutos + Quem pode confiar na segurança finan-
Competências envolvidas: Honestidade ceira dada pela sua família?
+ Quem tem um grau de ensino final,
Parte III: Informação Específica sobre a como o certificado da escola secundá-
Atividade ria?
Instruções: + Quem recebeu educação superior ou
Reúnem-se os participantes ao longo de uma universitária?
linha de base, para se dar ênfase ao facto de - Quem teve de repetir um ano na escola?
que todos nascemos iguais. Dá-se espaço su- + Quem vive numa família com muitos
ficiente à frente e atrás da linha. O formador livros?
lê em voz alta diversas questões relacionadas + Quem aprendeu pelo menos duas lín-
com os potenciais motivos de discriminação. guas estrangeiras?
Dependendo das respostas às perguntas, cada - Quem teve de contar com a segurança
participante dá um passo à frente ou atrás de social, bolsas ou subsídio de desempre-
acordo com as instruções do formador. Após go?
a leitura de todos os motivos de discrimina- - Quem é o filho / filha de uma família de
ção, divide-se o grupo. O formador deve pe- classe operária?
dir aos participantes que façam uma pausa Género:
para refletirem sobre as várias posições, antes + Quem é homem?
de reunir novamente o grupo. - Quem é mulher?
Reações: - Quem tem filhos?
Reunir os participantes num círculo e Religião:
pedir-lhes para resumir o que sentiram e + Quem pertence ao grupo maioritário re-
pensaram durante a atividade. ligioso no país?
Sugestões metodológicas: - Quem não pertence à maioria religiosa?
Devido ao número de questões que afetam - Quem não tem uma confissão religio-
a esfera privada e ao posicionamento óbvio sa?
à frente dos outros, é necessário, para esta Deficiência, Doença, Violência:
atividade, que os participantes confiem ple- - Quem tem um problema relacionado
namente uns nos outros. Assim, é indispen- com o álcool ou drogas na família?
sável que o formador crie uma atmosfera de - Quem tem uma doença permanente ou
confiança no grupo. deficiência?
Outras sugestões: - Quem é órfão ou meio-órfão ou foi ado-
(‘+’ significa um passo em frente; ‘-’ sig- tado?
nifica um passo para trás) - Quem sofreu violência na sua família?
Etnia: - Quem viveu algum tempo num orfanato
+ Quem tem, como língua materna, a lín- ou família adotiva?
gua da maioria (no seu país)? - Quem tem cadastro criminal?
- Quem tem família que teve de deixar o Idade:
seu país de origem e fugir? + Quem tem menos de 45 anos?
- Quem é membro de um grupo étnico - Quem tem mais de 45 anos?
que constitua uma minoria no respetivo - Quem está a cuidar de um parente em
Estado? casa?
C. ANTIRRACISMO E NÃO DISCRIMINAÇÃO 159

Orientação sexual: Pedir a dois voluntários que desempenhem


- Quem é homossexual ou bissexual ou o papel de habitantes da ilha (uma mulher e
transexual? um homem). Depois de um curto período de
+ Quem vive numa relação heterossexual? tempo de preparação, durante o qual aque-
les são separados do resto do grupo e podem
ATIVIDADE II: familiarizar-se com a cultura da Ilha de Al-
ÓCULOS CULTURAIS batroz, os voluntários reúnem-se ao resto do
grupo e executam três curtas cenas.
Parte I: Introdução Boas vindas: Ambos os habitantes da ilha
Os padrões de comportamento e rituais passam lentamente pelas cadeiras dispos-
de outras culturas são normalmente ava- tas em círculo e certificam-se que ambos
liados em razão da experiência pessoal. os pés do resto do grupo tocam o chão.
Este tipo de suposições conduz muito fre- A mulher está sempre atrás do homem. O
quentemente a falsas interpretações do habitante homem apenas toca os visitan-
desconhecido e facilita o desenvolvimento tes homens, enquanto a habitante da ilha
de preconceitos. A atividade que se segue toca ambos, homens e mulheres.
visa revelar esses mecanismos e incentivar Comer: Os habitantes da ilha estão senta-
a reflexão sobre opiniões preconcebidas e dos para comer, o homem numa cadeira e
o pensamento estereotipado. a mulher ajoelhada no chão junto a ele. Ela
oferece-lhe uma tigela de amendoins e só
Parte II: Informação Geral sobre a Ati- come depois de ele ter acabado de comer.
vidade Absorção de energia: O homem coloca a sua
Tipo de atividade: Dramatização mão no pescoço da mulher enquanto ela se
Metas e objetivos: Reconhecer os precon- curva para tocar com a testa no chão, 3 vezes.
ceitos pessoais, reconsiderar as opiniões Os voluntários tomam então os seus lugares.
preconcebidas. Desempenho:
Grupo-alvo: Jovens, adultos Perguntar aos participantes com que impres-
Dimensão do grupo: Até 25 sões e suposições ficaram a partir dessas
Duração: 90 minutos três cenas curtas sobre a cultura e relações
Material: Uma tigela de amendoins de género na Ilha de Albatroz. Depois, ler
Preparação: Ficha de trabalho com a des- em voz alta o texto sobre a cultura de Alba-
crição da cultura na Ilha de Albatroz troz. Em seguida, debater outra vez quais os
Competências envolvidas: Ter uma mente padrões de comportamento dos habitantes
aberta em relação às diferentes culturas da ilha que conduziram a assunções (erró-
neas) por parte dos observadores e porquê.
Parte III: Informação Específica sobre a Ficha de apoio: A cultura da Ilha de Al-
Atividade batroz
Instruções: As pessoas que vivem na Ilha de Albatroz
Os participantes estão a visitar a Ilha de são muito pacíficas e amigáveis. Elas ado-
Albatroz. Como os participantes não en- ram, em especial, a deusa da terra; elas
tendem a língua dos habitantes da ilha, mantêm-se em contacto com ela ao tenta-
têm de retirar conclusões sobre a sua cul- rem ter ambos os pés no chão e sentando-
tura exclusivamente a partir dos seus pa- se na terra. Devido a isto, os amendoins
drões de comportamento e rituais. são a comida sagrada nesta Ilha.
160 II. MÓDULOS SOBRE QUESTÕES SELECIONADAS DE DIREITOS HUMANOS

As mulheres gozam de um elevado respeito Parte IV: Acompanhamento


na Ilha porque podem dar à luz, tal como a Após o debate sobre a dramatização e os
deusa da terra. Devido a este facto, são lhes comentários, pedir aos participantes que
dados privilégios especiais: elas podem pensem em situações semelhantes que vi-
sentar-se diretamente na terra enquanto venciaram ou testemunharam no dia a dia
os homens têm de se sentar em cadeiras. e os seus próprios “óculos culturais”, que
De forma a protegerem as mulheres, os ho- conduziram a julgamentos erróneos.
mens têm de caminhar sempre em frente a Direitos relacionados/outras áreas a ex-
elas. Pelo mesmo motivo, têm de testar a plorar:
comida antes de as mulheres a comerem. Liberdade religiosa, direitos das minorias
Os homens apenas podem entrar em con- (Fonte: Adaptado de: Ulrich, Susanne.
tacto com a deusa da terra ao tocarem no 2001. Achtung (+) Toleranz. Wege de-
pescoço da mulher enquanto ela realiza um mokratischer Konfliktregelung. Praxis-
ritual. Através deste gesto, parte da ener- handbuch für die politische Bildung.)
gia absorvida passa para o homem. Apesar
disso, um homem nunca pode tocar numa
mulher sem a sua permissão.

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D. DIREITO À SAÚDE

IMPLICAÇÕES SOCIAIS
PROGRESSO CIENTÍFICO
DISPONIBILIDADE E QUALIDADE

“Toda a pessoa tem direito a um nível de vida suficiente para lhe assegurar e à sua família
a saúde e o bem-estar, principalmente quanto à alimentação, ao vestuário, ao alojamen-
to, à assistência médica e ainda quanto aos serviços sociais necessários […]”
Artigo 25º da Declaração Universal dos Direitos Humanos. 1948.
166 II. MÓDULOS SOBRE QUESTÕES SELECIONADAS DE DIREITOS HUMANOS

HISTÓRIA ILUSTRATIVA
A história de Maryam

Maryam tem 36 anos de idade e é mãe de gua materna de Maryam, preferiu falar na
seis crianças. Cresceu numa aldeia longe língua dominante falada na capital e entre
dos centros urbanos e deixou de estudar a classe educada. A enfermeira intimidou
quando terminou o segundo ano. Os seus Maryam.
pais eram pobres e a escola era a quatro A sua vida foi uma longa saga de violên-
quilómetros a pé da sua aldeia. O seu pai cia, pobreza e carência. Maryam lutou
acreditava que a educação de uma menina para manter o seu corpo e alma juntos, ao
era uma perda de tempo e de esforço, uma longo das suas várias gravidezes e da edu-
vez que as meninas estão destinadas ao cação dos seus filhos. Ela cultivava uma
casamento e não a ganhar o sustento. pequena área de terra para alimentar as
Quando tinha 12 anos, Maryam foi circun- suas crianças porque o marido nunca lhe
cidada de acordo com o costume local. dava dinheiro suficiente. Recorreu aos pais
Aos 16 anos casou com um homem nos e até a missionários que visitavam a al-
seus 50 anos. O pai recebeu uma quantia deia. Todos lhe disseram para obedecer ao
substancial paga pelo noivo a título de marido e lembraram-lhe que o seu dever
dote. No ano seguinte, ela deu à luz um ra- era obedecer ao marido e família.
paz, mas a criança nasceu morta. A clínica Um dia o marido acusou Maryam de “fa-
regional era a 10 quilómetros da aldeia e zer companhia” a outro homem. Ele afir-
não assistia aos partos. O marido batia- mou que a viu a rir e a conversar com um
lhe muitas vezes durante a gravidez e ela aldeão local, num dia de mercado. Quan-
acreditava que o bebé tinha nascido morto do ela respondeu, ele agrediu-a repetida-
devido a esses espancamentos. Contudo, mente, esmurrando-a até ela cair no chão,
a família e muitos da aldeia colocaram a chamando-a de prostituta e jurando que ia
culpa pelo nascimento da criança morta vingar a sua desonra. Maryam ficou grave-
sobre ela. Maryam não tinha qualquer de- mente ferida e pensou que tinha fraturado
sejo de ter relações sexuais com o marido. algumas costelas. Durante semanas não
Ela tinha medo dele e temia uma gravidez. conseguiu sair de casa. Ela não tinha di-
O marido considerava que era seu direito nheiro para ir a um centro de saúde para
manter relações sexuais com ela e obriga- receber tratamento e não existia forma de
va-a, regularmente, a fazê-lo. Maryam não lá conseguir chegar. Ninguém na vila a aju-
queria engravidar mas não teve outra al- dou, embora algumas pessoas pensassem
ternativa. Ela visitou um curandeiro local, que, desta vez, o marido tinha ido longe
tomou misturas de ervas e usou amuletos demais. Uma mulher é assunto do marido.
que não trouxeram qualquer resultado. Incapaz de ir ao mercado para comprar e
Raramente tinha tempo para ir à clínica de vender e de tratar do seu quintal, Maryam
saúde e quando foi, porque os seus filhos e os filhos quase passaram fome.
estavam doentes, não conseguiu falar de Maryam sentiu que iria existir violência
contraceção com a enfermeira. A enfer- no futuro. Temeu pela sua vida e das suas
meira, embora parecesse perceber a lín- crianças. Num sonho, ela viu a sua própria
D. DIREITO À SAÚDE 167

morte e percebeu que tinha de partir. As- 2. Como foi ela tratada pelas figuras de
sim que conseguiu andar, pegou nos dois autoridade (pai, marido, enfermeira e
filhos mais pequenos e deixou a aldeia. missionário)? Porquê?
Agora vive noutra aldeia, uma refugiada 3. Que impacto teve a pobreza na vida de
no seu próprio país, vivendo no medo de Maryam e na dos seus filhos? Acha que
ser encontrada pelo marido e ser levada de Maryam e o marido eram igualmente
volta para casa. pobres?
(Fonte: Adaptado da Organização Mundial 4. Como é que posicionaria cada grupo
de Saúde. 2001. Transforming Health Sys- (homens, mulheres e crianças) na co-
tems: Gender and Rights in Reproductive munidade da Maryam, no que respeita
Health.) ao seu estatuto e poder? Justifique.
5. Que informação necessitaria Maryam
Questões para debate para mudar as circunstâncias da sua
Repare nos pontos de debate listados infra vida e a das suas crianças?
da perspetiva da definição de saúde, tal 6. Embora exista um centro de saúde na
como declarada na constituição da Organi- região, ele foi útil para a Maryam? Justi-
zação Mundial da Saúde (OMS), de 1946, fique.
“[…] um estado de completo bem-estar fí- 7. Observe o esquema abaixo: são dados
sico, mental e social, e não consiste apenas exemplos das interligações entre saúde
na ausência de doença ou enfermidade.” e direitos humanos. Que interligações se
1. Quando começaram os problemas de relacionam diretamente com as questões
Maryam? apresentadas na história da Maryam?

Saúde &
Direitos
Humanos
168 II. MÓDULOS SOBRE QUESTÕES SELECIONADAS DE DIREITOS HUMANOS

A SABER
1. O DIREITO HUMANO À SAÚDE NUM alimentação, ao vestuário, ao alojamento,
CONTEXTO MAIS ALARGADO à assistência médica e ainda quanto aos
serviços sociais necessários […]”.
O direito humano à saúde apresenta um vas- Uma definição ampla e visionária da saú-
to e complexo conjunto de questões inter- de é estabelecida no preâmbulo da Cons-
ligadas porque a saúde e o bem-estar estão tituição da Organização Mundial de Saúde
intrinsecamente ligados a todas as etapas (OMS): “[…] um estado de completo bem-
e aspetos da vida. Nos instrumentos inter- estar físico, mental e social, e não consiste
nacionais de direitos humanos encontram- apenas na ausência de doença ou de enfer-
se direitos específicos relacionados com a midade.”. Esta visão holística da saúde en-
saúde. Essencialmente, todos os direitos fatiza o facto de que muitas das políticas
humanos são interdependentes e interrela- que determinam a saúde são feitas fora do
cionados. Assim, a realização dos direitos setor convencional da saúde e afetam as
humanos e a negligência relativamente aos determinantes sociais da saúde.
mesmos ou a sua violação é relevante para
um conjunto de direitos humanos e não A OMS atribui uma importância crescente
para, apenas, um direito isolado. Esta in- à operacionalização dos princípios de di-
terconectividade torna-se evidente quando reitos humanos no seu trabalho e foca-se
se considera que o bem-estar humano (isto em três áreas principais: apoiar governos
é, a saúde) requer a satisfação de todas as na adoção e implementação de uma abor-
necessidades humanas, tanto físicas, tais dagem baseada nos direitos humanos ao
como a necessidade de ar, água, alimento e desenvolvimento da saúde, fortalecimento
sexo, como sociais e psicológicas, tais como das capacidades da OMS para integrar a
a necessidade de amor e pertencer a grupos abordagem baseada nos direitos humanos
de amigos, família e comunidade. no trabalho da OMS e promover o direito
Os direitos humanos encontram-se ligados à saúde no direito internacional e nos pro-
às obrigações dos Estados de contribuir cessos de desenvolvimento. A organização
para o cumprimento dessas necessidades adotou um documento com a sua posição
e de permitir a grupos e indivíduos viver sobre atividades de saúde e direitos huma-
com dignidade. A seguir à Segunda Guerra nos no seio da OMS, com o intuito de inte-
Mundial, a Carta das Nações Unidas tor- grar os direitos humanos no âmbito do seu
nou claro que os Estados-membros têm trabalho e de assegurar que o estatuto dos
obrigações a respeito dos direitos huma- direitos humanos seja elevado à condição
nos. O direito humano à saúde foi torna- de um elemento essencial nos sistemas na-
do explícito, em 1948, na Declaração Uni- cionais públicos de saúde.
versal de Direitos Humanos (DUDH), no
artº 25º que afirma que “Toda a pessoa Saúde e Segurança Humana
tem direito a um nível de vida suficiente
para lhe assegurar e à sua família a saú- O número crescente de conflitos arma-
de e o bem-estar, principalmente quanto à dos e emergências e o extenso número
D. DIREITO À SAÚDE 169

de refugiados que procuram proteção da micos, Sociais e Culturais (PIDESC), em


guerra e de desastres naturais colocam o 1966. Este tratado foi adotado ao mesmo
direito humano à vida no centro do di- tempo que o Pacto Internacional sobre os
reito à saúde. As organizações, como o Direitos Civis e Políticos (PIDCP). Esta se-
Comité Internacional da Cruz Vermelha, paração, através dos dois Pactos, em duas
os Médicos para os Direitos Humanos, categorias era sintomática das tensões da
os Médicos sem Fronteiras e os Médicos Guerra Fria durante a qual os países do
do Mundo, mobilizam profissionais da leste deram prioridade aos direitos hu-
saúde para aplicarem uma abordagem manos do PIDESC, enquanto os países
baseada nos direitos humanos, com o ocidentais promoveram os direitos civis e
intuito de assegurar o direito à saúde políticos como o centro das preocupações
em emergências e outras situações de de direitos humanos. Até à data, o PIDCP
insegurança humana. A violência é um foi ratificado por 167 países e o PIDESC
enorme problema de saúde pública e um por 160.
sério obstáculo à realização do direito
à saúde. Cada ano, milhões de pesso- O texto do artº 12º do PIDESC é pedra
as morrem em resultado de ferimentos basilar do direito à saúde e estabelece:
devidos à violência. Outras sobrevivem
mas vivem com incapacidades, tanto fí- 1. Os Estados Partes no presente Pac-
sicas como psicológicas. A violência po- to reconhecem o direito de todas as
de-se prevenir. É resultado de complexos pessoas de gozar do melhor estado
fatores sociais e ambientais. A experiên- de saúde física e mental possível de
cia da violência coletiva, que acontece atingir.
durante guerras civis e internacionais 2. As medidas que os Estados Partes no
num país, é referida como algo que torna presente Pacto tomarem com vista a
o uso da violência, nesses países, cada assegurar o pleno exercício deste di-
vez mais comum. reito deverão compreender as medi-
das necessárias para assegurar:
2. DEFINIÇÃO a) A diminuição da mortinatalidade
E DESENVOLVIMENTO e da mortalidade infantil, bem
DA QUESTÃO como o são desenvolvimento da
Saúde e Direitos Humanos criança;
Existem relações importantes entre saúde b) O melhoramento de todos os as-
e direitos humanos. As áreas de interseção petos de higiene do meio ambien-
incluem: violência, tortura, escravidão, te e da higiene industrial;
discriminação, água, alimentação, habi- c) A profilaxia, tratamento e contro-
tação e práticas tradicionais, nomeando lo das doenças epidémicas, endé-
apenas algumas. micas, profissionais e outras;
O compromisso da DUDH para o direito
d) A criação de condições próprias a
humano à saúde, como uma parte do di-
assegurar a todas as pessoas ser-
reito a um adequado padrão de vida, foi
viços médicos e ajuda médica em
tornado mais explícito no artº 12º do Pac-
caso de doença.
to Internacional sobre os Direitos Econó-
170 II. MÓDULOS SOBRE QUESTÕES SELECIONADAS DE DIREITOS HUMANOS

Existem vários tratados regionais de di- saúde, assim como de programas, que têm
reitos humanos que foram mais longe na de estar disponíveis em quantidade sufi-
definição do direito à saúde, incluindo o ciente.
artº 11º da Carta Social Europeia de 1961, A acessibilidade das instalações, bens e
que foi revista em 1996, o artº 10º do Pro- serviços para a saúde exige a não discrimi-
tocolo Adicional à Convenção Americana nação, a acessibilidade física, a acessibili-
sobre Direitos Humanos em Matéria de Di- dade económica e a informação adequada.
reitos, Sociais e Culturais de 1988 e o artº A aceitabilidade exige que todos os servi-
16º da Carta Africana dos Direitos Huma- ços de saúde, bens e serviços devam res-
nos e dos Povos, de 1981. peitar a ética médica e ser culturalmente
apropriados, sensíveis ao género e às con-
“É meu objetivo que a saúde seja, final- dições do ciclo da vida, assim como pro-
mente, vista não como uma bênção pela jetados para respeitar a confidencialidade
qual se espera, mas, sim como um direito e melhorar a saúde e o estado da saúde
humano pelo qual se tem de lutar.” daqueles a quem se dirige.
Kofi Annan A qualidade requer que os serviços de
saúde, bens e serviços devam ser cientí-
Os governos abordam as suas obrigações fica e medicamente apropriados e de boa
sob o artº 12º do PIDESC de forma dife- qualidade.
rente e o organismo encarregado de mo-
nitorizar a aplicação do Pacto procurou “O ser humano é a cura do ser humano.”
esclarecer as obrigações dos Estados com Provérbio tradicional Wolof
o seu Comentário Geral nº14, um texto
interpretativo adotado em maio de 2000. Não Discriminação
Este Comentário Geral demonstra como A discriminação em razão do género, et-
a realização do direito humano à saúde nia, idade, origem social, religião, defi-
depende da realização de outros direitos ciência física ou mental, estado de saúde,
humanos, incluindo os direitos à vida, ali- identidade sexual, nacionalidade, estado
mentação, habitação, trabalho, educação, civil, estatuto político ou outro pode pre-
participação, usufruto dos benefícios do judicar o gozo do direito à saúde. Parti-
progresso científico e sua aplicação, liber- cularmente importante neste sentido são
dade de procurar, receber e transmitir in- a DUDH, a Convenção Internacional so-
formações de todos os tipos, não discrimi- bre a Eliminação de Todas as Formas de
nação, proibição da tortura e liberdade de Discriminação Racial (CIEDR), de 1965,
associação, reunião e circulação. e a Convenção sobre a Eliminação de
Todas as Formas de Discriminação con-
Disponibilidade, tra as Mulheres (CEDM), de 1979, todas
Acessibilidade, elas se referindo ao acesso à saúde e a
Aceitabilidade e Qualidade cuidados médicos sem discriminação. Os
O Comentário Geral também estabelece artos 10º, 12º e 14º da CEDM afirmam
quatro critérios para, através deles, avaliar os direitos iguais das mulheres no aces-
o direito à saúde: so a cuidados médicos, incluindo pla-
A disponibilidade inclui o funcionamento neamento familiar, serviços apropriados
da saúde pública e dos bens e serviços de para os cuidados da saúde reprodutiva e
D. DIREITO À SAÚDE 171

gravidez e serviços de cuidado de saúde dos países em desenvolvimento. O aces-


familiar. so limitado a terapias antirretrovirais tem
aumentado a consciência de que para se
Não Discriminação alcançar o maior nível de saúde possível,
Direitos Humanos das Mulheres as pessoas em todo o mundo devem ter
a oportunidade de fazer uso do conheci-
A Declaração de Pequim e a Plataforma mento científico relevante para a saúde e
para a Ação (1995), cujo conteúdo foi prosseguir livremente a investigação cien-
confirmado pela reunião Pequim+10 em tífica. Desde há muito tempo, os governos
2005, põem no centro a visão holística da reconheceram no artº 15º do PIDESC o di-
saúde e a necessidade de incluir a total reito “a beneficiar do progresso científico e
participação das mulheres na sociedade, das suas aplicações” e a sua obrigação de
do seguinte modo: “a saúde das mulheres conservar, desenvolver e difundir a ciência
envolve o seu bem-estar emocional, social e a pesquisa científica. Ao mesmo tempo,
e físico e é determinado pelo contexto so- o artº 15º também protege os interesses
cial, político e económico das suas vidas, dos autores de produção científica, literá-
assim como pela biologia. Para alcançar ria e artística. O direito a beneficiar de
uma saúde ótima, a igualdade, incluindo a medicamentos que salvam vidas é preju-
partilha de responsabilidades familiares, o dicado pelos direitos de propriedade inte-
desenvolvimento e a paz são condições ne- lectual que protegem os direitos de patente
cessárias”. Estes princípios são integrados das companhias farmacêuticas. As políti-
no sistema das Nações Unidas e através cas de certos países como a África do Sul,
dos esforços das organizações não gover- Índia, Brasil e Tailândia para ultrapassar
namentais (ONG). As mulheres, crianças, obstáculos relativos à proteção de patentes
pessoas com deficiência, povos indígenas conduziram a uma decisão da Conferência
e tribais estão entre os grupos vulneráveis Ministerial de Doha, em 2001. Os mem-
e marginalizados que sofrem de proble- bros da Organização Mundial do Comér-
mas de saúde devido à discriminação. Um cio (OMC) concordaram que as regras que
exemplo da elaboração do direito à saúde, protegem tais patentes “ […] devem ser
como o ocorrido no caso das mulheres, interpretadas e implementadas de forma
ilustra a ênfase crescente na obrigação dos a apoiar os direitos dos membros da OMC
governos de contribuir para a plena reali- para proteger a saúde pública e, em parti-
zação desse direito. cular, para promover acesso a medicamen-
tos para todos.” Além disto, faz referência
Direitos Humanos das Mulheres específica ao direito de cada Estado “[…]
Direitos das Crianças a determinar o que constitui uma emergên-
Não Discriminação cia nacional ou outras circunstâncias de
Direitos das Minorias urgência extrema [permitindo as licenças
compulsórias]; é assim entendido que a
O Direito de Beneficiar crise de saúde pública, incluindo as rela-
do Progresso Científico tivas ao VIH/ SIDA, tuberculose, malária
A pandemia da SIDA revelou a urgência e outras epidemias, pode representar uma
de tornar os medicamentos e o conheci- emergência nacional ou outras circunstân-
mento científico disponíveis às pessoas cias de extrema urgência.”.
172 II. MÓDULOS SOBRE QUESTÕES SELECIONADAS DE DIREITOS HUMANOS

(Fonte: OMC.2001. Doha Declaration on pela preocupação relativamente ao di-


the TRIPS Agreement and Public Health.) reito à saúde. Um exemplo de crescente
consciencialização sobre a necessidade
Globalização de uma melhor regulação tem ocorrido
e o Direito Humano à Saúde em relação às licenças farmacêuticas.
Desde os anos 70 que a economia mundial Através da Declaração de Doha (2001) so-
se tem modificado drasticamente devido bre o Acordo TRIPS e a saúde pública, já
à globalização, o que tem tido impactos referidos na seção anterior, os membros
diretos e indiretos na saúde. Alguns resul- da OMC aceitaram que os governos po-
tados conduziram a alterações positivas, deriam conceder licenças compulsórias
tais como: o aumento nas oportunidades para produzir medicamentos em caso de
de emprego, a partilha de conhecimento emergência (artº 5º), que a ajuda deveria
científico e o aumento do potencial para ser fornecida aos países sem capacidade
a oferta de um nível elevado de saúde, em para produzir produtos farmacêuticos
todo o mundo, permitido pelas parcerias (artº 6º) e que os países desenvolvidos
entre os governos, sociedade civil e em- devem assistir os países em desenvolvi-
presas. Contudo, as consequências nega- mento a obter transferência de tecnologia
tivas têm sido numerosas, uma vez que a e conhecimento na área dos produtos far-
liberalização do comércio, o investimento macêuticos (artº 7º).
em países com baixos padrões laborais e A decisão do Conselho Geral da OMC, em
a comercialização de novos produtos em agosto de 2003, substituída pela emenda
todo o mundo tem, em alguns casos de- do Acordo TRIPS negociada em 2005, per-
vido ao fracasso de alguns governos ou mite aos países conceder licenças com-
à falta de regulação, produzido benefí- pulsórias para a produção de medicamen-
cios desiguais entre e dentro dos países tos patenteados para serem exportados,
e, por essa via, trouxe impactos negativos em particular, para países menos desen-
à saúde. A capacidade dos governos para volvidos que têm pouca ou nenhuma ca-
mitigar as possíveis consequências nega- pacidade de produção.
tivas do crescente aumento das trocas de
bens, capital, serviços, pessoas, culturas e “Os seres humanos encontram-se no centro
conhecimentos, para além das fronteiras das preocupações para o desenvolvimento
nacionais, não tem sido capaz de acom- sustentável.”
panhar o ritmo deste movimento. Ao mes- Declaração do Rio de Janeiro sobre o Meio Am-
mo tempo, as companhias multinacionais biente e o Desenvolvimento. 1992.
têm sido capazes de fugir à prestação de
contas. Por exemplo, de acordo com a Uni- Desta forma, as necessidades de saúde pú-
dade de Ação sobre Saúde e Economia da blica têm prioridade sobre os direitos de
Organização Mundial de Saúde, as subs- patente. Contudo, existe a preocupação
tâncias prejudiciais, como o tabaco, são de que estas realizações possam ser no-
livremente comercializadas sem proteção vamente limitadas através das chamadas
adequada para a saúde das populações. regras TRIPS-plus, contidas nos acordos de
O desafio às leis e práticas comerciais, comércio bilaterais e regionais, que estão
com base no Direito dos direitos huma- a criar novos desafios ao direito à saúde e
nos, tem sido motivado, em grande parte, ao direito à vida.
D. DIREITO À SAÚDE 173

em desenvolvimento são particularmente


Saúde e Ambiente afetadas por doenças transmissíveis e le-
O direito a um ambiente saudável, como sões, sendo que nos países desenvolvidos
declarado na Res. 45/94, de 14 de dezem- são mais frequentes as doenças cardio-
bro de 1990, da Assembleia-Geral da ONU vasculares e o cancro. As estratégias pú-
invoca que as pessoas têm o direito “[…] blicas e de prevenção para a redução ou
a viver num ambiente adequado para a eliminação dos riscos ambientais para a
sua saúde e bem-estar.” Este direito foi saúde seriam um modo economicamente
reconhecido em 90 constituições nacio- eficiente de contribuir para a saúde públi-
nais, incluindo a maioria das constituições ca em todas as comunidades. Ações como
nacionais aprovadas desde a Conferência a supressão progressiva da gasolina com
do Rio sobre Ambiente e Desenvolvimen- chumbo (uma causa de atrasos mentais
to (1992). A Cimeira da Terra no Rio de em crianças em várias regiões) demons-
Janeiro e o Plano adotado como Agenda tram que o sucesso é possível. No entanto,
21 (1992) criaram uma moldura política importantes iniciativas como o Objetivo
única que reuniu preocupações sociais, de Desenvolvimento do Milénio nº 7 que
económicas e ambientais como pilares in- visa a redução para metade da proporção
terdependentes do desenvolvimento sus- de pessoas sem acesso sustentável a água
tentável. A água e ar seguros e limpos e potável e saneamento até 2015 ainda têm
o adequado abastecimento de alimentos um longo caminho a percorrer.
nutricionais estão todos relacionados com (Fonte: OMS. 2006. Preventing Disease
um ambiente saudável e a realização do Through Healthy Environments: Towards
direito à saúde. A Cimeira Mundial sobre an estimate of the environmental burden
Desenvolvimento Sustentável, em Joanes- of disease).
burgo, em 2002, reviu a implementação Diversos documentos de direitos huma-
da Agenda 21. No Plano de Implementa- nos estabelecem uma ligação entre a saú-
ção de Joanesburgo, foi expresso um forte de e o ambiente, como a Carta Africana
compromisso para melhorar globalmente dos Direitos Humanos e dos Povos (no
os sistemas de informação da saúde e a seu artº 24º) e o Protocolo Adicional à
literacia sobre saúde, para reduzir a preva- Convenção Americana sobre Direitos Hu-
lência do VIH/SIDA, para reduzir elemen- manos em Matéria de Direitos Económi-
tos tóxicos no ar e na água e para integrar cos, Sociais e Culturais (no seu artº 11º).
preocupações de saúde na erradicação da A jurisprudência de órgãos de direitos
pobreza. humanos confirma esta ligação. Numa
No entanto, um quarto de todas as doen- comunicação apresentada à Comissão
ças ao nível mundial, desde a diarreia a Africana dos Direitos Humanos e dos Po-
infeções e cancro, são causadas pela po- vos, em 1996, várias ONG alegaram que
luição ambiental. Sendo que mais de um o governo militar da Nigéria esteve direta-
terço das doenças é atribuível a causas mente envolvido na produção de petróleo,
ambientais, as crianças suportam uma através da companhia petrolífera estatal e
parte desproporcionada deste fardo. Os a Shell Petroleum, e que estas operações
riscos ambientais influenciam em mais de causaram degradação ambiental e proble-
80% das doenças regularmente relatadas à mas de saúde entre a população Ogoni,
Organização Mundial da Saúde. As regiões resultantes da contaminação do ambiente.
174 II. MÓDULOS SOBRE QUESTÕES SELECIONADAS DE DIREITOS HUMANOS

Em outubro de 2001, a Comissão Africana terapias manuais e espirituais.” A prática


concluiu que a República Federal da Nigé- da MT está intimamente ligada ao direito à
ria tinha violado sete artigos da Carta Afri- cultura, às leis de proteção da propriedade
cana dos Direitos Humanos e dos Povos, intelectual, o direito à terra e o direito ao
inclusive, o direito à saúde. Numa decisão desenvolvimento sustentável. Reconhecen-
de 2007 do Tribunal Interamericano de Di- do o uso alargado e os benefícios da MT
reitos Humanos (o caso povo de Saramaka e a importância das terapias economica e
c. Suriname), este considerou o Suriname culturalmente apropriadas, a OMS desen-
responsável por violações de direitos hu- volveu uma Estratégia de Medicinas Tradi-
manos, incluindo o direito à saúde, causa- cionais (2002-2005) para auxiliar a garantir
das pela degradação ambiental resultante o uso racional da MT por todo o mundo em
da exploração florestal e de minas de ouro. desenvolvimento.
Em outros casos, o direito à saúde pode
Direitos das Minorias ser negligenciado ou violado devido às
relações de poder desiguais baseadas no
3. PERSPETIVAS género, idade, religião, etnia, etc., que
INTERCULTURAIS existem dentro dos grupos e são conside-
E QUESTÕES CONTROVERSAS radas fundamentalmente ligadas à cultura.
De novo, aplica-se o princípio básico da
A Declaração de Viena de 1993 torna claro não discriminação. A mutilação genital
que as diferenças devem ser reconhecidas, feminina (MGF) é uma prática que tem
mas não de forma a negar a universalidade uma ampla incidência em grande parte de
dos direitos humanos. O Comentário Geral África e partes do Mediterrâneo e Médio
nº 14 do CDESC sobre o Direito à Saúde Oriente. A prática, embora muitas vezes
incide sobre esta consciencialização, exi- falsamente atribuída à religião, tem uma
gindo que as instalações de saúde, bens história que remonta há 2000 anos. A
e serviços sejam culturalmente apropria- prática pode impossibilitar gravemente o
dos. Um aspeto cultural do direito humano bem-estar físico e psicológico das meninas
à saúde é a ênfase colocada sobre o sistema e das mulheres.
biomédico da saúde e, por isso, sobre o en- De acordo com uma declaração conjunta
tendimento de como realizar o direito hu- da OMS, da UNICEF e do Fundo para a
mano à saúde. Contudo, em muitos lugares População da ONU, de fevereiro de 1996,
do mundo, a medicina tradicional (MT) “é inaceitável que a comunidade interna-
domina a prática dos cuidados de saúde. cional continue passiva em nome de uma
Em África, mais de 80% da população uti- visão distorcida de multiculturalismo. O
liza a MT para ajudar a satisfazer as suas comportamento humano e os valores cultu-
necessidades de cuidados médicos. Na Ásia rais, por muito que pareçam sem sentido ou
(na China, em particular), América Latina e destrutivos, segundo uma perspetiva pesso-
entre as populações indígenas da Austrália al e cultural das outras pessoas, têm senti-
e das Américas, a MT é usada por mais de do e cumprem uma função para os que os
40%). A OMS define MT como terapias que praticam. Contudo, a cultura não é estática
“[…] envolvem o uso de medicamentos com estando em fluxo constante, adaptando-se
base em plantas, partes de animais e/ou mi- e reformando-se”. Em 2008, as três organi-
nerais; e terapias não medicamentosas […], zações atualizaram a sua declaração que
D. DIREITO À SAÚDE 175

apresentou novos factos sobre a prática e ser proativo na garantia do acesso aos cui-
salientou os aspetos de direitos humanos dados de saúde. Por exemplo, um número
e jurídicos. No mesmo ano, a Assembleia suficiente de clínicas de saúde deveria ser
Mundial da Saúde da OMS aprovou uma estabelecido para servir a população e es-
resolução sobre a eliminação da MGF que tas clínicas deveriam fornecer serviços de
se focou na importância da ação concer- acordo com os meios das populações que
tada entre os setores da saúde, educação, servem. O Estado deve publicitar a locali-
finanças, justiça e assuntos das mulheres. zação, serviços e requisitos da clínica. Isto
não pode ser garantido se os cuidados de
Direitos Humanos das Mulheres saúde forem relegados apenas para o setor
privado.
4. IMPLEMENTAÇÃO
E MONITORIZAÇÃO Limitações
ao Direito Humano à Saúde
Respeitar, Proteger Alguns direitos humanos são tão essen-
e Implementar ciais que não podem jamais ser limitados.
o Direito Humano à Saúde Estes incluem a proibição da tortura e da
As obrigações governamentais para garan- escravidão, e a liberdade de pensamento.
tir que os membros da sociedade usufru- Outros direitos humanos podem ser limi-
am do maior padrão de saúde possível re- tados quando o bem público tem priori-
querem um conjunto de compromissos. A dade sobre o direito individual. O artº 4º
obrigação de respeitar o direito humano do PIDESC permite limitações apenas se
à saúde significa que o Estado não pode as mesmas forem previstas por lei e ape-
interferir ou violar o direito. Um exemplo nas na medida em que as mesmas sejam
seria recusar prestar cuidados de saúde a compatíveis com a natureza desses direi-
certos grupos, tal como as minorias étni- tos e tenham como fim exclusivo a pro-
cas ou prisioneiros, e arbitrariamente re- moção do bem-estar geral numa sociedade
cusar cuidados de saúde, como no caso de democrática. Proteger o direito à saúde em
não permitir às mulheres serem cuidadas termos de saúde pública tem sido usado
por médicos e não providenciar médicas. pelo Estado como uma razão para colocar
Proteger o direito à saúde significa que restrições sobre outros direitos humanos.
o Estado deve prevenir que atores não es- É normalmente num esforço para prevenir
tatais interfiram de algum modo no gozo a propagação de doenças infecciosas que
do direito humano. Um exemplo seria têm sido limitadas outras liberdades. Ini-
evitar que uma empresa despejasse resí- bir a liberdade de movimento, estabelecer
duos tóxicos numa rede de abastecimen- quarentenas e isolar pessoas são medidas
to de água. Se a violação ocorre, o Estado que têm sido usadas para prevenir a pro-
deve fornecer à população algum tipo de pagação de doenças graves e transmissí-
compensação. Isto também significa que o veis, como o ébola, a SIDA, a febre tifoi-
Estado é obrigado a adotar a legislação ne- de e a tuberculose. Em certos momentos,
cessária e adequada, nomeadamente, leis estas medidas foram excessivas. De forma
reguladoras e de monitorização da gestão a prevenir os abusos de direitos humanos
de resíduos tóxicos. A implementação do cometidos em nome da saúde pública, as
direito à saúde significa que o Estado deve ações restritivas devem ser desenvolvidas
176 II. MÓDULOS SOBRE QUESTÕES SELECIONADAS DE DIREITOS HUMANOS

pelo governo apenas em último recurso. Estes relatórios sombra oferecem a visão
Os Princípios de Siracusa sobre as Dispo- da sociedade civil e podem não estar de
sições de Limitação e Derrogação no Pac- acordo com o relatório do governo. Toda
to Internacional sobre os Direitos Civis e a informação submetida é tida em conta
Políticos, de 1984, dão orientações a este quando o órgão do tratado prepara Co-
respeito e fornecem um quadro definido mentários e Observações Finais. Embora
estritamente sob o qual essas restrições não exista forma de impor o seu cumpri-
podem ser impostas. mento, este relatório torna-se parte do
Qualquer restrição: registo público e, a este respeito, o país
- deve estar prevista e ser imposta de acor- pode não desejar ser acusado de abusos
do com a lei; de direitos humanos que possam ter, en-
- deve aplicar-se no interesse de um objeti- tre outras consequências, um impacto di-
vo legítimo de interesse geral; reto sobre as relações com outros países.
- deve ser estritamente necessária numa Quando o Protocolo Facultativo ao Pacto
sociedade democrática para alcançar o ob- Internacional sobre os Direitos Econó-
jetivo; micos, Sociais e Culturais, adotado em
- deve aplicar-se se não existir outro meio 2008, entrar em vigor4, um mecanismo de
disponível, menos intrusivo e restritivo, queixas individuais também contemplará
para alcançar o mesmo fim; o direito à saúde e permitirá que o Comité
- não deve ser planeada ou imposta de for- dos Direitos Económicos, Sociais e Cultu-
ma arbitrária, ou seja, de forma discrimi- rais decida sobre casos individuais.
natória ou não razoável. O Relator Especial sobre o direito de to-
dos à satisfação do mais alto padrão atin-
Mecanismos de Monitorização gível de saúde mental e física, estabele-
Garantir que os governos cumpram com cido, em 2002, pela (então) Comissão de
as suas obrigações de respeitar, proteger e Direitos Humanos da ONU e mantido pelo
implementar o direito à saúde requer me- Conselho de Direitos Humanos compila
canismos, tanto ao nível nacional como informação e conduz um diálogo com os
internacional. Ao nível nacional, as co- governos e as partes interessadas, informa
missões governamentais, os provedores regularmente sobre o estado do direito à
de justiça e as ONG podem participar num saúde, incluindo leis, políticas, boas prá-
processo de revisão formal, assim que o ticas e obstáculos e faz as recomendações
país tenha ratificado o tratado que garan- necessárias. Para este fim, o Relator faz vi-
te o direito à saúde. Cada parte no tratado sitas aos diversos países e reage a alegadas
de direitos humanos deve apresentar um violações do direito à saúde.
relatório a um órgão de monitorização do
tratado, por exemplo, o Comité dos Di-
reitos Económicos, Sociais e Culturais. 4
Nota da versão em língua portuguesa: O Protocolo
No momento da revisão, as ONG também Facultativo ao Pacto Internacional sobre os Direitos
submetem relatórios que são muitas ve- Económicos, Sociais e Culturais entrou em vigor no
dia 5 de Maio de 2013 tendo, nessa data, 10 Estados
zes referidos como “relatórios sombra”.
Partes.
D. DIREITO À SAÚDE 177

CONVÉM SABER
Comissões de Cidadãos e Políticas de
1. BOAS PRÁTICAS Saúde Pública
As Comissões de Cidadãos (CC) são um
Prevenção do VIH/SIDA
novo modelo para adotar decisões políti-
Histórias de sucesso no Cambodja, no
cas de saúde pública. Os modelos no Rei-
Uganda, no Senegal, na Tailândia, na Zâm-
no Unido, na Alemanha, na Escandinávia
bia urbana e nos países ricos mostram que
e nos Estados Unidos da América envol-
uma abordagem abrangente de prevenção
vem 12 a 16 cidadãos comuns, ampla-
é eficaz. Os factos sustentam que:
mente representativos da população, para
• A mudança comportamental exige infor-
investigar a informação que lhes é dada,
mação específica, adequada ao local e
questionar peritos, debater, deliberar e
formação sobre negociação e capacida-
publicar as suas conclusões. As autorida-
des de tomada de decisão, apoio social
des devem responder dentro de um certo
e jurídico, acesso a meios de prevenção
período de tempo. No Reino Unido, vas-
(preservativos e agulhas esterilizadas) e
tos estudos-piloto sugerem que as CC são
motivação para a mudança.
melhores a tratar de questões complexas
• Nenhuma abordagem única de preven-
e a chegar a conclusões sólidas do que as
ção pode conduzir à mudança alargada
sondagens, grupos representativos e reuni-
de comportamento na população. Os
ões públicas. É claro que cidadãos comuns
programas de prevenção numa escala
estão dispostos a tornarem-se diretamente
nacional necessitam de se centrar em
envolvidos no processo de tomada de de-
múltiplas componentes desenvolvidas cisão, tendo uma forte e consistente visão
em estreita colaboração com a popula- sobre o tipo de saúde pública que querem
ção alvo. para si e para as suas famílias.
• Os programas de prevenção para a po-
pulação em geral devem centrar-se es-
O Juramento de Malicounda
pecialmente nos jovens.
Nos anos 80, uma organização popular do
• As parcerias são essenciais para o su-
Senegal desenvolveu um currículo de reso-
cesso. Programas múltiplos que procu-
lução de problemas que envolveu a apren-
ram múltiplas populações necessitam
dizagem, por parte de toda a aldeia, sobre
de parceiros múltiplos, incluindo os in-
direitos humanos e a sua aplicação na sua
fetados com VIH/SIDA.
vida quotidiana. O programa ofereceu aos
• A liderança política é essencial para
participantes a hipótese de abordar proble-
uma resposta eficaz.
mas tais como a saúde, higiene, questões am-
bientais, competências de gestão financeira
“Para se conseguir a abolição da prática
e material. A TOSTAN iniciou um programa
da MGF, será preciso uma mudança fun-
em Malicounda, uma aldeia de 3.000 habi-
damental de atitudes na forma como a so-
tantes, que é parte de uma série de aldeias
ciedade entende os direitos humanos das
em Bambara que ainda pratica infibulação,
mulheres.”
uma das mais completas e brutais formas
Efua Dorkenoo. Cutting the Rose.
de circuncisão feminina. Depois de grande
178 II. MÓDULOS SOBRE QUESTÕES SELECIONADAS DE DIREITOS HUMANOS

debate público, incluindo uma atuação de canais de comunicação, dentro das famílias,
teatro de rua que se focou sobre os proble- sobre o VIH/SIDA e, em particular, para aju-
mas de infeção, os partos perigosos e a dor dar as mães seropositivas a dizer aos seus
sexual causada pela infibulação, toda a al- filhos qual é o estado da sua infeção. Os pais
deia fez um juramento, prometendo acabar em estado terminal e os seus filhos traba-
com a prática da circuncisão feminina. Isto lham em conjunto para compilar um livro
tornou-se conhecido como o Juramento de de memórias que é normalmente um álbum
Malicounda. Depois, dois anciãos da aldeia que contém fotografias, piadas e outras re-
decidiram espalhar a palavra às outras al- cordações familiares. No Uganda, o uso de
deias de que esta prática tinha de ser parada. livros de memórias foi, pela primeira vez,
Em fevereiro de 1998, treze aldeias fizeram usado pela Organização de Apoio contra a
o Juramento. Mais 15 aldeias puseram fim à SIDA (TASO, na sigla inglesa), no início dos
prática, em junho do mesmo ano. O movi- anos 90. Desde 1998, a Associação Nacional
mento ganhou atenção internacional. A 13 de Mulheres que vivem com SIDA promo-
de janeiro de 1999, a Assembleia Nacional veu esta abordagem numa escala mais am-
do Senegal aprovou uma lei a proibir a mu- pla com ajuda da PLAN Uganda. A Associa-
tilação genital feminina. A ação jurídica, por ção descobriu que as mães infetadas com o
si só, não teria sido suficiente para abolir a VIH têm grande dificuldade em comunicar
prática. O poder reside no controlo social com os seus filhos sobre a sua saúde frágil;
executado pelas aldeias e na demonstração os livros de memórias foram boas formas de
da vontade pública ao prestar o Juramento as mães introduzirem a ideia do VIH/SIDA
de Malicounda. A formação realizada pela nas vidas dos seus filhos e debaterem o seu
TOSTAN enfatizou a ligação entre o direito à impacto. O livro funciona como uma lem-
saúde e outros direitos humanos. brança para os seus filhos das suas origens,
para eles não perderem o seu sentimento de
“Quando as plantas amistosas ouviram o pertença. O livro também promove a pre-
que os animais tinham decidido contra a venção do VIH/SIDA porque as crianças tes-
humanidade, planearam, por si mesmas, temunham e compreendem a agonia que os
uma contrajogada. Concordaram que cada pais estão a atravessar e não querem sofrer
árvore, arbusto, erva, relva e musgo encon- o mesmo destino.
traria uma cura para cada uma das doen-
ças referidas pelos animais e insetos. Depois, Atenção aos membros mais vulneráveis
quando os índios Cherokee visitavam o seu da sociedade
Xamã acerca das suas maleitas, e se o curan- Por todo o lado no mundo, os consumido-
deiro tivesse dúvidas, ele conversava com os res de droga e os prisioneiros estão entre os
espíritos das plantas. Eles sugeriam, sempre, membros mais vulneráveis da sociedade.
remédios adequados para as doenças da hu- No contexto do VIH/SIDA e em outras con-
manidade. Tal, foi o início da medicina na dições graves, o direito à saúde é raramente
tribo Cherokee há muito, muito tempo.” implementado entre esta população devido
Cherokee. The Origin of Medicine. à sua condição de criminosos ou da crimi-
nalização da toxicodependência que resulta
Livros de Memórias na falta de acesso à informação, educação
Em muitos países, os livros de memórias e serviços básicos de saúde e sociais. Nos
tornaram-se um modo importante para abrir anos 80, o Reino Unido e os Países Baixos
D. DIREITO À SAÚDE 179

conceptualizaram o modelo conhecido acima de tudo, seres humanos, em vez


como Redução de Danos. Desde então, tem de indivíduos com deficiências, deve ser
sido replicado e adaptado ao uso local por central a todas as políticas. A Declaração
todo o mundo. Esta estratégia destina-se a impele a comunidade internacional a ter
reduzir os danos para os consumidores de plena consciência da tarefa distinta de
drogas, tanto indivíduos como comunida- garantir que as pessoas com deficiências
des. O espectro de práticas varia desde um intelectuais exerçam os seus plenos direi-
consumo seguro até à gestão do consumo tos como cidadãos. A atenção recai sobre
e abstinência. Embora o paradigma de re- as qualidades fundamentais da igualdade,
dução de danos possa envolver a descrimi- não discriminação e autodeterminação.
nalização de algumas drogas previamente Ao afastar-se de um modelo puramente
designadas como ilícitas, como nos Países biomédico, a Declaração reconhece “[…]
Baixos, pelo menos requer uma mudança de a importância da abordagem dos direitos
atitude em relação à droga pelos não consu- humanos à saúde, bem-estar e deficiência”.
midores, na medida em que as normas de Apesar de não ser juridicamente vinculati-
direitos humanos guiam o tratamento dos va, a Declaração é o único documento que
consumidores de droga se estiverem presos serve de guia e estabelece os parâmetros
ou em liberdade na sociedade. Evidências para lidar com os direitos de pessoas com
fortes mostram que nas comunidades que deficiências intelectuais e, assim, será a
implementam políticas de redução de da- referência mais importante neste campo.
nos, a incidência de VIH/SIDA e outras in-
feções transmissíveis pelo sangue é menor Síndrome Respiratória Aguda Grave (SARS,
entre consumidores de droga, do que nas na sigla inglesa)
comunidades que não usam esta aborda- A epidemia da SARS começou em novem-
gem. Os países que introduziram medidas, bro de 2002 e foi considerada controlada
como instalações para injeção segura, troca em julho de 2003. Durante esse período,
por agulhas esterilizadas, educação e reabi- 8.400 pessoas foram declaradas infetadas
litação são também signatários de tratados e mais de 900 morreram. As estratégias
de controlo de droga e não consideraram de resposta dos países mais seriamente
que a redução de danos conflitua com ou- afetados – China, Hong Kong, Vietname,
tros tratados internacionais. Taiwan e Canadá – revelaram as várias
implicações relativas a direitos humanos
A Declaração de Montreal sobre a Defi- e sublinharam a necessidade de vigilân-
ciência Intelectual cia de forma a proteger todos os direitos
Depois de muitos anos de debate sobre as humanos enquanto se garante o direito à
necessidades das pessoas com deficiências saúde. As questões que surgiram durante
intelectuais, a Conferência sobre Deficiên- a epidemia incluiram: a importância da li-
cias Intelectuais da OPAS/OMS de Montre- berdade de imprensa, a obrigação dos Es-
al fez uma importante declaração, no dia tados para com a segurança internacional,
6 de outubro de 2004, que promete uma o direito individual à saúde e justificações
mudança paradigmática na forma como de quarentena. A OMS elogiou o Vietna-
os Estados e organizações internacionais me pelo seu sucesso durante os 45 dias do
definem os direitos das pessoas com defi- surto, durante os quais 65 pessoas foram
ciência. O facto de que estas pessoas são, infetadas e 5 morreram. A natureza holís-
180 II. MÓDULOS SOBRE QUESTÕES SELECIONADAS DE DIREITOS HUMANOS

tica do direito à saúde é evidente nas áreas


- tortura (prevenção e tratamento)
que foram identificadas como diretamente
responsáveis pelo sucesso do Vietname a - violência contra as mulheres
lidar com a situação:
• Uma rede de saúde pública nacional - doenças contagiosas
abrangente e de bom funcionamento; Áreas em que políticas e programas
• Tratamento rigoroso, vigilância e isola- começaram a refletir a consciencializa-
mento dos indivíduos afetados; ção sobre a importância de interligar a
• Trabalho efetivo com a OMS e outros saúde e os direitos humanos:
parceiros;
• Conhecimento público precoce do - direitos dos povos indígenas
surto;
• Transparência na informação diária dada - implicações da modificação genética na
ao público através dos meios de informa- bioética e direitos humanos
ção e de comunicação eletrónica; - saúde materna e da criança
• Cooperação excelente entre todas as
agências e instituições locais e nacionais. - direitos das pessoas com deficiência
- acordos de comércio específicos e o seu
2. TENDÊNCIAS impacto no direito à saúde
Estratégias para Integrar Direitos Hu- - reabilitação pós-desastre
manos e Desenvolvimento da Saúde
A consideração da saúde a partir de uma - redução da pobreza
perspetiva de direitos humanos pode for-
Áreas em que pouca investigação e
necer um quadro sobre a responsabilização
ainda menos aplicação se têm rea-
dos países e da comunidade internacional
lizado com base na integração da
pelo que tem sido feito e pelo que neces-
saúde e dos direitos humanos. A la-
sita de ser feito pela saúde da população.
cuna é particularmente sentida no
A extensão da integração dos direitos hu-
âmbito de:
manos na criação de políticas, na análise
das condições de saúde sociais e físicas e - saúde ocupacional
no provimento de cuidados de saúde indica
um movimento positivo na realização do - doenças crónicas
direito humano à saúde. A lista seguinte in- - nutrição
dica as tendências atuais:
- meio ambiente (ar, água, pescas, etc.)
Áreas em que existem experiências fa-
zendo a interligação entre a saúde e os
direitos humanos, tanto no âmbito das “A informação e as estatísticas são um ins-
práticas dos governos e dos seus parcei- trumento poderoso para a criação de uma
ros, como na literatura especializada:
cultura de prestação de contas e para efeti-
- direitos reprodutivos e sexuais var os direitos humanos.”
- VIH/SIDA Human Development Report. 2000.
D. DIREITO À SAÚDE 181

3. ESTATÍSTICAS

Despesa Pública em Educação, Saúde e Despesas Militares (em % do PIB)


Despesas
País Educação (2007) Saúde (2007)
Militares (2010)
Alemanha 4.4 (2006) 8.0 1.4
Austrália 4.7 6.0 -
Áustria 5.4 7.7 0.9
Burkina Faso 4.6 3.4 1.5
China - 1.9 2.0
Cuba 11.9 9.9 -
Estados Unidos da
5.5 7.1 4.8
América
Geórgia 2.7 1.5 3.9
Índia 3.2 (2006) 1.1 2.4
Mali 3.8 2.9 1.9
Reino Unido 5.6 6.9 2.7
Suécia 6.7 7.4 1.2
Zimbabué - 4.1 1.3

(Fonte: PNUD. 2010. Relatório do Desenvolvimento Humano 2010; Banco Mundial,


World Development Indicators, disponível em http://data.worldbank.org/indicator)

Despesa na Saúde (2009)

Total (pública Pública Per Capita


(Paridade
País e privada, (% da despesa
no Poder
% do PIB) total em saúde) de Compra US$)
Alemanha 11.3 75.7 4,629
Austrália 8.5 65.4 3,867
Áustria 11.0 74.5 5,037
Burkina Faso 6.4 61.7 38
China 4.6 50.1 177
Cuba 11.8 93.1 707
Estados Unidos da
16.2 48.6 7,410
América
182 II. MÓDULOS SOBRE QUESTÕES SELECIONADAS DE DIREITOS HUMANOS

Despesa na Saúde (2009)

Total (pública Pública Per Capita


(Paridade
País e privada, (% da despesa
no Poder
% do PIB) total em saúde) de Compra US$)
Geórgia 10.1 28.7 256
Índia 4.2 32.8 45
Mali 5.6 47.9 38
Reino Unido 9.3 83.6 3,285
Suécia 9.9 78.6 4,252
Zimbabué - - -

(Fonte: Banco Mundial, World Development Indicators, disponível em: http://data.


worldbank.org/indicator.)

Esperança média de vida calculada desde o nascimento (2010)


País Esperança de vida (população total)
Alemanha 80.2
Austrália 81.9
Áustria 80.4
Burkina Faso 53.7
China 73.5
Cuba 79.0
Estados Unidos da
79.6
América
Geórgia 72.0
Índia 64.4
Mali 49.2
Reino Unido 79.8
Suécia 81.3
Zimbabué 47.0

(Fonte: PNUD. 2010. Relatório do Desenvolvimento Humano 2010.)


D. DIREITO À SAÚDE 183

Mortalidade Materna (por 100.000 nados vivos, 2010)

País Ratio da Mortalidade Materna


Alemanha 4
Austrália 4
Áustria 4
Burkina Faso 700
China 45
Cuba 45
Estados Unidos da
20
América
Geórgia 66
Índia 450
Mali 970
Reino Unido 11
Suécia 3
Zimbabué 880
(Fonte: PNUD. 2010. Relatório do Desenvolvimento Humano 2010.)

4. CRONOLOGIA 1988 Protocolo Adicional à Convenção


Americana sobre Direitos Huma-
1946 Constituição da OMS nos em Matéria de Direitos Econó-
1961 Carta Social Europeia (revista em 1996) micos, Sociais e Culturais
1966 Pacto Internacional sobre os Direi- 1991 Princípios para a Proteção dos Do-
tos Económicos, Sociais e Culturais entes Mentais e a Melhoria dos
Cuidados de Saúde Mental
1975 Declaração sobre o Uso do Progres-
so Científico e Tecnológico no Inte- 1991 Princípios das Nações Unidas para
resse da Paz e para o Benefício da os Idosos
Humanidade 1992 Conferência das Nações Unidas so-
1975 Declaração dos Direitos das Pesso- bre o Meio Ambiente e o Desenvol-
as com Deficiência vimento (CNUMAD)
1978 Declaração de Alma Ata sobre Cui- 1993 Declaração sobre a Eliminação da
dados de Saúde Primários Violência contra as Mulheres
1981 Carta Africana dos Direitos Huma- 1994 Conferência Internacional sobre Po-
nos e dos Povos pulação e Desenvolvimento (CIPD)
184 II. MÓDULOS SOBRE QUESTÕES SELECIONADAS DE DIREITOS HUMANOS

1995 Quarta Conferência Mundial sobre 2002 Cimeira Mundial sobre o Desenvol-
as Mulheres vimento Sustentável
1997 Declaração Universal sobre o Ge- 2002 Relator Especial para o direito de to-
noma Humano e os Direitos Huma- dos à satisfação do mais alto padrão
nos (UNESCO) atingível de saúde mental e física
1998 Princípios Orientadores relativos 2003 Declaração Internacional sobre os Da-
aos Deslocados Internos dos Genéticos Humanos (UNESCO)
2000 Comentário Geral nº 14 do Comité 2006 Convenção das Nações Unidas so-
das NU dos Direitos Económicos, bre os Direitos das Pessoas com
Sociais e Culturais sobre o direito Deficiência
à saúde 2008 Protocolo Facultativo ao Pacto In-
2001 Declaração de Doha sobre o Acordo ternacional sobre os Direitos Eco-
TRIPS e a Saúde Pública nómicos, Sociais e Culturais

ATIVIDADES SELECIONADAS
ATIVIDADE I: ticipantes a consciencialização do direito
VISUALIZAÇÃO humano da saúde; criar ligações entre saú-
DE UM ESTADO DE COMPLETO de e outras necessidades fundamentais;
BEM-ESTAR FÍSICO, MENTAL E SOCIAL criar conexões entre necessidades funda-
mentais e direitos humanos.
Parte I: Introdução Grupo-alvo: Jovens adultos e adultos
Para muitas pessoas, o conceito de saúde Dimensão do grupo: 10-30
não está suficientemente desenvolvido de Duração: 120 minutos
forma a incluir as amplas necessidades da Materiais: folhas de papel grandes, marca-
sociedade, bem como o estado do indi- dores e fita adesiva para colar as folhas à
víduo. Esta atividade permite aos parti- parede; uma cópia da Declaração Univer-
cipantes reconhecer os vários elementos sal dos Direitos Humanos (DUDH).
que constituem uma condição ótima de Competências envolvidas: Comunicação
saúde e partilhar ideias com outros mem- verbal; análise participativa
bros do grupo de modo a criar um concei-
to abrangente. Parte III: Informação Específica sobre a
Atividade
Parte II: Informação Geral sobre a Ati- Instruções:
vidade O formador lê a definição de “saúde” da
Tipo de atividade: Sessão de chuva de OMS. O Preâmbulo da constituição da
ideias e reflexão de grupo. OMS define saúde como “[...] um estado de
Metas e objetivos: Tornar-se consciente do completo bem-estar físico, mental e social,
âmbito alargado de saúde como mais do e não meramente a ausência de doença.”.
que a “ausência de doença”; criar nos par- O formador faz a pergunta: que elementos
D. DIREITO À SAÚDE 185

e condições são necessários para realizar ou de outra fonte tematicamente organiza-


este amplo estado de saúde nas vossas co- da. O formador explica que todas as neces-
munidades? O formador certifica-se de que sidades da saúde que foram anotadas nas
todos entendem a declaração e a pergunta. folhas são direitos humanos. Por exem-
Se o grupo demorar a começar, o formador plo, num sentido amplo, o direito à vida,
pode pedir ao grupo para dar respostas rá- artº 3º da DUDH, apoia o direito à saúde.
pidas, seguindo a ordem em que eles estão Passo 2:
sentados. Todas as ideias são registadas em O formador pede aos participantes que se
grandes folhas de papel, suficientemen- dividam em grupos de 4 a 6 pessoas. Nes-
te grandes para que todos possam vê-las ses grupos, eles irão usar as listas que cria-
claramente. Nenhuma ideia deve ser ex- ram e irão encontrar o direito humano cor-
cluída. Quando o grupo tiver esgotado as respondente. Cada grupo irá escolher um
suas ideias, alguém irá ler todas as ideias porta-voz para apresentar as conclusões
tal como foram registadas. As folhas de pa- do grupo em plenário. Durante o período
pel são colocadas na parede para todos as de trabalho no pequeno grupo, o forma-
verem. Neste momento, o formador pede a dor visita cada grupo, observa e oferece
cada um para explicar as suas ideias, uma assistência quando é pedida. (Permitir 30
vez que todos elencaram um elemento. Os minutos)
participantes podem perguntar uns aos ou- Passo 3:
tros sobre os tópicos elencados. (Isto demo- O facilitador reúne novamente o grande
ra aproximadamente uma hora.) grupo. Os porta-vozes dos grupos apre-
Regras da chuva de ideias: sentam as suas conclusões. Alguém anota
Todos os participantes, incluindo o for- a nova lista de direitos humanos que apoia
mador, se sentam em cadeiras dispostas e garante o direito à saúde sobre novas fo-
num círculo ou num círculo no chão. Esta lhas de papel que estão coladas à parede
prática estimula um sentimento de igual- para todos verem. O grupo pode colocar
dade entre todos. A atividade envolve um questões ao longo da sessão. Estas listas
pensamento rápido uma vez que as con- manter-se-ão na parede para referência fu-
tribuições dos participantes alimentam as tura. (Permitir 30 minutos)
ideias e o processo de pensamento do gru- Passo 4:
po. O formador necessita manter a ordem De modo a avaliar a sessão, o formador
fazendo o seguinte: pede aos participantes para dizerem o que
1. Todos os participantes falam sobre as eles aprenderam na sessão e também suge-
suas ideias; contudo, têm de possibilitar rir como o exercício pode ser melhorado.
ao relator escrever as ideias à medida Sugestões metodológicas:
que elas são ditas. • Este é um exercício de empoderamento.
2. Durante a fase da revisão, os partici- O formador deve encorajar os partici-
pantes devem ouvir cuidadosamente, pantes a usarem as suas próprias ideias,
enquanto o porta-voz de cada grupo a serem capazes de pensar criticamente
apresenta uma nova lista, usando uma e a fazerem a sua própria investigação.
linguagem de direitos humanos. O formador não deve fazer de “perito”
Passo 1: que tem todas as respostas.
O formador distribui cópias da Declaração • Tanto na parte de chuva de ideias,
Universal dos Direitos Humanos (DUDH) como na parte reflexiva da sessão, to-
186 II. MÓDULOS SOBRE QUESTÕES SELECIONADAS DE DIREITOS HUMANOS

dos os participantes devem falar. Se Parte III: Informação Específica sobre a


uma ou várias pessoas dominarem o Atividade
debate do grupo, o formador deve su- Instruções:
gerir que ninguém deve falar mais do O formador dá informação sobre a seguin-
que uma vez até todos os outros terem te situação: o governo de um Estado afri-
sido ouvidos. cano cedeu à pressão da sociedade civil e
• Enfatizar a caraterística de “senso co- começou a distribuir e a vender medica-
mum” dos direitos humanos, dizendo mentos genéricos baratos, importados de
aos participantes que a DUDH é um có- outros países. Algumas empresas farma-
digo de ideias relativas à dignidade hu- cêuticas, considerando que tal constitui
mana que todas as pessoas têm como uma violação dos seus direitos de patente,
verdadeira. processaram o governo e algumas ONG.
Os participantes dividem-se em 4 grupos,
ATIVIDADE II: ACESSO cada um representando uma das partes no
A MEDICAMENTOS processo.
O formador informa cada grupo da sua po-
Parte I: Introdução sição no processo e dá-lhes cerca de 20 mi-
O acesso sem restrições à medicação nutos para se preparem para o julgamento,
não é assegurado a todos os que sofrem encontrando argumentos e enquadrando
ou estão doentes. Em África, por exem- posições.
plo, milhões de pessoas morrem porque Cada grupo designa um porta-voz que,
não têm dinheiro para os medicamentos mais tarde, apresentará os argumentos.
que prolongam a vida ou aliviam as do- Os seguintes papéis têm de ser desempe-
res e que são fornecidos pelas grandes nhados no “tribunal simulado”:
empresas farmacêuticas. Por esta ra- - o juiz pondera os argumentos das 3 par-
zão, e devido a pressões de ONG, al- tes e profere uma sentença;
guns governos começaram a importar - o representante da indústria farmacêu-
medicamentos genéricos mais baratos. tica está interessado em aumentar as
As indústrias farmacêuticas consideram vendas e não abdica do direito à patente
isto uma violação dos seus direitos de em favor dos doentes;
propriedade. - um representante do governo: o govero
distribui e vende medicamentos genéri-
Parte II: Informação Geral cos baratos, importados, apenas devido
Tipo de atividade: Simulação às pressões de ONG, mas, na realidade,
Metas e objetivos: Compreender a com- partilha da posição das empresas farma-
plexidade dos direitos humanos; conside- cêuticas;
rar opiniões opostas. - o representante das ONG conseguiu,
Grupo-alvo: Jovens adultos e adultos com sucesso, fazer com que o governo
Dimensão do grupo: 15 a 40 no máximo distribuisse medicamentos genéricos gra-
Duração: 120 a 180 minutos tuitos ou a um preço muito baixo.
Materiais: quadro, marcadores, fita ade- Enquanto os grupos preparam a sua argu-
siva mentação, o formador deve preparar a sala
Competências envolvidas: de comunica- para o julgamento. Depois, os grupos to-
ção, empatia mam os seus lugares, o juiz abre a audiên-
D. DIREITO À SAÚDE 187

cia e pede a cada grupo que apresente as de todas as partes. Depois de 30 minutos
suas posições e argumentos. O juiz resume de trabalho de grupo, cada grupo apresen-
todos os argumentos, pondera-os e profere ta o seu processo de debate e a sua pos-
uma decisão que tenha em consideração sível solução no plenário. As respostas e
as diferentes opiniões dos litigantes. soluções mais importantes são registadas
Outras sugestões: no quadro. Quando todos os grupos tive-
Encontrar um consenso no grupo: depois rem apresentado o debate do processo de
de todas partes terem apresentado os seus tomada da decisão, a atividade termina.
argumentos numa sessão plenária, os par- Direitos relacionados/outras áreas a ex-
ticipantes formam grupos de trabalho. Em plorar: Globalização, discriminação, po-
cada grupo de trabalho, deve haver um breza.
membro de cada litigante mais um juiz. O (Fonte: Adaptado de: Conselho da Euro-
formador pede aos grupos que tentem che- pa. 2002. Compass. A Manual for Human
gar a consenso sem negligenciar a posição Rights Education with Young People.)

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D. DIREITO À SAÚDE 189

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Ethical Globalization Initiative: www.re-
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People’s Health Movement: www.
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the United Nations (FAO): www.fao.org
Physicians for Human Rights: www.phy-
François-Xavier Bagnoud Center for
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Health and Human Rights: www.hsph.
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System: www.who.int/healthinfo/en the right of everyone to the enjoyment of
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International Harm Reduction Associa-
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Médecins sans Frontières (MSF): www.
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World Medical Association: www.wma.
www.disabilityrightsintl.org
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E. DIREITOS HUMANOS
DAS MULHERES

OS DIREITOS HUMANOS ATRAVÉS DE UM OLHAR SENSÍVEL AO GÉNERO


EMPODERAMENTO DAS MULHERES

“O avanço das mulheres e a conquista da igualdade entre mulheres e homens são uma
questão de direitos humanos e uma condição para a justiça social; não devem, portanto,
ser encarados isoladamente, como um problema feminino.”
Declaração de Pequim e Plataforma de Ação. 1995.
192 II. MÓDULOS SOBRE QUESTÕES SELECIONADAS DE DIREITOS HUMANOS

HISTÓRIA ILUSTRATIVA
Um caso da vida real: A história de Selvi T. taram nele. Disseram-lhe então: “Vai para
casa para o teu marido e fica lá”.
Selvi tem 22 anos e está grávida do seu quin- Selvi foi, secretamente, ao tribunal de fa-
to filho. O seu marido iniciou os ataques en- mília, mas disse ao procurador que tinha
quanto ela estava grávida do seu primeiro muito medo de apresentar uma queixa
filho. “Naquela primeira vez ele bateu-me, formal. Sendo o caso muito grave o pro-
pontapeou o bebé na minha barriga e atirou- curador iniciou, independentemente, um
me do telhado”, disse ela. “O bebé sobreviveu, processo para assegurar uma ordem de
mas penso que [a criança] tem uma doença proteção para a Selvi. O tribunal ordenou
mental.” Desde então, a violência tem au- ao marido da Selvi que se afastasse dela e
mentado, quanto à frequência e gravidade, e lhe pagasse uma prestação de alimentos.
agora afeta mesmo as crianças. O marido da Mas a ordem nunca foi executada. Ele não
Selvi controla todos os aspetos da sua vida e pagou quaisquer prestações de alimentos,
é extremamente ciumento. Ela relatou: “Ele nunca se mudou de casa e continuou a
viola-me a toda a hora e verifica os meus flui- bater-lhe. A polícia nunca a foi ver depois
dos ‘lá em baixo’ para confirmar que eu não da ordem ter sido emitida.
tive sexo [com um outro homem].” Numa dada altura Selvi mudou-se para
Em 2008, Selvi foi finalmente à polícia um abrigo. Porém, nem mesmo o abrigo
depois do seu marido ter “partido o seu oferecia segurança do seu marido que apa-
crânio e braço”. A polícia trouxe o seu ma- receu um dia depois da polícia ter revela-
rido à esquadra, deram ao casal alguma do a localização do abrigo. Uma mulher,
comida e mandaram-nos para casa, dizen- a trabalhar no abrigo disse à Selvi: “Fala
do-lhe: “Não há problema, falámos com com o teu marido, ele está aqui, a chorar.”
ele, estão novamente juntos.” A segunda Quando ela falou com ele, ele espetou um
vez que Selvi foi à esquadra, eles levaram- garfo no seu braço, resultando numa ci-
na ao hospital já que ela estava a sangrar catriz que ela mostrou na entrevista. Ele
da sua cabeça, pois ele tinha-a atingido levou-a para casa.
com uma pedra. No entanto, disseram-lhe Em junho de 2010, na altura em que a Hu-
que se devia reconciliar com o seu esposo. man Rights Watch falou com a Selvi, os
Nesta altura, em 2009, o marido da Selvi abusos continuavam. O seu esposo vive
trancou-a num quarto, batendo-lhe todos com ela, raramente trabalha, joga, não
os dias. Quando, numa terceira vez ela es- paga as contas e agride Selvi e as crianças
capou e foi à esquadra, eles chamaram o frequentemente. Ela tem muito medo de
marido e ele pediu desculpa. A polícia en- mandar as crianças para um dormitório do
viou-a para casa novamente. Em 2010, Sel- Estado e tem terror de fugir. Não consegue
vi foi, pela quarta vez, à esquadra quan- cuidados pré-natais que são urgentes, já
do o seu marido trouxe, à noite, amigos a que os abusos incluem pontapés no seu
casa tendo-lhes “oferecido” a Selvi. Para abdómen, pois o seu cartão do Estado do
fugir, ela saltou do telhado e fugiu para a seguro de saúde está entre os documen-
esquadra da polícia. O seu marido disse à tos civis que o seu marido queimou, numa
polícia que ela estava a mentir. Eles acredi- dada ocasião.
E. DIREITOS HUMANOS DAS MULHERES 193

Um grupo municipal de mulheres conhece a ciais estão em jogo devido ao sexo da


situação da Selvi e presta assistência, mas ela vítima?
não vê escapatória para si e os seus filhos. 3. Serão as leis e os regulamentos su-
(Fonte: Human Rights Watch. 2011. He ficientes para garantirem oportuni-
loves you, he beats you) dades iguais para todos os seres hu-
manos? O que mais pode assegurar o
Questões para debate tratamento igual entre os homens e
1. Quais são as questões principais para os as mulheres?
direitos humanos das mulheres, levan- 4. Como se podem prevenir casos seme-
tadas por este caso? lhantes? Especifique como se podem
2. Como se pode fazer justiça se o acesso usar mecanismos ao nível local, regio-
aos tribunais e os procedimentos judi- nal e internacional.

A SABER
1. DIREITOS HUMANOS DAS MULHE- o Artº 1º da Declaração Universal dos Di-
RES reitos Humanos (DUDH) estava a ser redi-
gido em 1948. Esta mudança na formula-
As mulheres tiveram de lutar pelo seu re- ção tornou claro que os direitos humanos
conhecimento como seres humanos ple- pertencem a todos os seres humanos, não
nos e pelos seus direitos humanos básicos importa se mulher ou homem, e introdu-
por um longo período de tempo e, infe- ziu a igualdade como um dos princípios
lizmente, a luta ainda não terminou. Em- fundamentais no discurso e regime de pro-
bora a sua situação tenha melhorado de teção dos direitos humanos internacional.
muitas formas, quase globalmente, fatores O princípio da igualdade como é formal-
sociais ainda impedem a total e imediata mente expresso na lei, sem diferenciação
implementação dos direitos humanos para entre mulheres e homens, envolve fre-
as mulheres em todo o mundo. O séc. XX quentemente uma discriminação oculta
trouxe muitos avanços, mas também mui- contra as mulheres. Devido às diferentes
tos retrocessos, e nem mesmo em tempo posições e papéis que as mulheres e os ho-
de paz e progresso as mulheres e os seus mens têm tradicionalmente na sociedade,
direitos humanos foram alvo de atenção a igualdade de iure resulta, muitas vezes,
especial e nem ninguém, nessa altura, se na discriminação de facto. Esta situação
opôs a tal política. No entanto, em todos obrigou os ativistas dos direitos humanos
os períodos da história se podem encontrar das mulheres a promover a diferenciação
heroínas que lutaram pelos seus direitos entre igualdade formal e substantiva.
e pelos direitos de outras mulheres, com Em muitos contextos, as noções formais
armas ou palavras. Eleanor Roosevelt, por de igualdade não ajudaram as pessoas em
exemplo, insistiu que devia ser usado “to- situações de desvantagem. A noção tem de
dos os seres humanos são iguais” em vez evoluir na direção de uma definição subs-
de “todos os homens são irmãos” quando tantiva de igualdade tendo em conta plu-
194 II. MÓDULOS SOBRE QUESTÕES SELECIONADAS DE DIREITOS HUMANOS

ralidade, diferença, desvantagem e discri- fico em vez de aceitá-las como a metade


minação. Como Dairian Shanti sublinhou da população do mundo, de cada país, de
no seu artigo “Igualdade e as Estruturas da toda a população indígena e de muitas
Discriminação”, “a neutralidade não per- comunidades. Esta conceção está refleti-
mite a sensibilidade a desvantagens que da nos documentos em que as mulheres
possam impedir que algumas pessoas be- surgem num parágrafo ou capítulo em
neficiem de um tratamento igual. Assim, o conjunto com os grupos vulneráveis,
enfoque deve mover-se para uma ênfase em tais como população indígena, população
‘resultados iguais’ ou ‘benefícios iguais’”. idosa, população com outras habilidades
Uma igualdade genuína entre homens e e crianças. O que une estes grupos vul-
mulheres só pode ser alcançada se tanto neráveis é que todos sofreram e ainda
a igualdade formal como a substantiva fo- sofrem discriminação e ainda não foram
rem completamente realizadas. capazes de gozar plenamente os seus di-
reitos básicos.
“Traduzir o poder dos números no poder
de ação para as mulheres, pelas mulheres e Não Discriminação
em parceria com os homens, é o que será o
próximo milénio.” Contudo, o género é uma categoria de
Azza Karan. 1998/2005. análise útil que nos ajuda a compreender
como os seres humanos assumem respon-
Género e o Equívoco Generalizado dos sabilidades, papéis e posições diferentes
Direitos Humanos das Mulheres na sociedade. Introduzir uma análise de
O género é um conceito que não se dirige género na teoria e na prática de direitos
apenas às mulheres e aos seus direitos hu- humanos torna-nos especialmente sensí-
manos, é antes um conceito mais complexo veis às diferenças entre homens e mulhe-
que inclui todos os sexos: homens, mulhe- res na sociedade e às formas específicas
res, assim como os transsexuais. Foi usado pelas quais os direitos humanos das mu-
pela primeira vez nos anos 70 e definido lheres são violados.
por Susan Moller Okin “[…] como a ins- É evidente que o pensamento sensível ao
titucionalização profundamente enraizada género deve ser promovido para se alcan-
da diferença sexual que permeia a nossa çar os mesmos direitos para todos, inde-
sociedade,” mas evoluiu posteriormen- pendentemente do género, cor, etnia e re-
te devido à dinâmica das transformações ligião.
políticas, sociais e económicas por todo o
mundo. Em 1998, o Artº 7º do Estatuto Segurança Humana e Mulheres
de Roma do Tribunal Penal Internacional
definiu género como “sexos masculino e A Segurança Humana e a condição das
feminino, dentro do contexto da sociedade mulheres estão intimamente ligadas,
[…]”, depois dos representantes dos Esta- uma vez que os conflitos tendem a pio-
dos debaterem intensivamente o conteúdo rar as desigualdades e as diferenças de
do conceito de género e de alguns se terem género. Quer os refugiados, quer as pes-
oposto à sua extensão à orientação sexual. soas deslocadas internamente, a maioria
No entanto, é comum encontrar as mu- dos quais são mulheres, idosos e crian-
lheres definidas como um grupo especí- ças, carecem de particular atenção e que
E. DIREITOS HUMANOS DAS MULHERES 195

lhes seja assegurada proteção especial. A prol da libertação e igualdade. Uma das
violência doméstica e outras formas de mais famosas proponentes do movimen-
violência ameaçam a segurança humana to foi Olympe de Gouges que escreveu a
das mulheres. Declaração dos Direitos da Mulher e da
Cidadã. Ela, assim como muitas das suas
A segurança humana trata, também, de companheiras, pagou na guilhotina o com-
assegurar o acesso igual à educação, promisso assumido com os direitos das
aos serviços sociais e ao emprego para mulheres.
todos, mesmo em tempo de paz. Às
mulheres é muitas vezes negado o ple- “A mulher nasce livre e goza de direitos
no acesso a estas áreas e o pleno gozo iguais aos dos homens em todos os as-
destes direitos. Assim, as mulheres e as petos”.
crianças, em particular, podem benefi- Artº 1º Declaração dos Direitos da Mulher e da
ciar de uma abordagem com base nos Cidadã.1789.
direitos humanos à segurança humana,
o que prova que esta não se atinge se os Também a Grã-Bretanha se revê numa
direitos humanos não forem totalmente longa e forte tradição de luta das mulhe-
respeitados. Desta forma, a erradica- res por direitos iguais. É até muitas vezes
ção de qualquer forma de discrimina- referida como “a terra natal do feminis-
ção, particularmente contra mulheres mo”. Logo por volta de 1830, as mulheres
e crianças, deve constituir uma priori- britânicas começaram a exigir o direito ao
dade na agenda da segurança humana. voto. Lutaram durante mais de 80 anos
Tem também particular relevância para com métodos distintos e, finalmente, em
a segurança humana, a situação das 1918, alcançaram os seus objetivos quan-
mulheres nos conflitos armados e a sua do lhes foi concedido o direito ao voto, a
proteção. partir dos 30 anos de idade. Outras áreas
de ação prioritárias destas primeiras fe-
Direitos Humanos em Conflito
ministas incluíram o acesso à educação,
Armado
o direito das mulheres casadas à proprie-
dade e o direito a desempenhar cargos
2. DEFINIÇÃO públicos.
E DESENVOLVIMENTO
DA QUESTÃO O Conselho Internacional das Mulheres
foi fundado logo em 1888 e, ainda hoje,
Uma Retrospetiva Histórica existe. Tem a sua sede em Paris e participa
Um importante acontecimento histórico, ativamente no processo de garantia dos di-
a Revolução Francesa, marca o começo reitos das mulheres, através de encontros
da luta das mulheres no sentido de serem internacionais, de seminários e workshops
reconhecidas como seres humanos iguais, nacionais, regionais e sub-regionais, com
num mundo masculino. Esta época consti- um programa de desenvolvimento intensi-
tui não só o começo do movimento a favor vo de projetos, em cooperação com agên-
dos direitos civis e políticos das mulheres cias internacionais, pelas Resoluções redi-
como também preparou o caminho para gidas e adotadas pela Assembleia-Geral,
o primeiro movimento de mulheres em pela cooperação, a todos os níveis, com
196 II. MÓDULOS SOBRE QUESTÕES SELECIONADAS DE DIREITOS HUMANOS

outras organizações não governamentais as pessoas cegas perante este facto. Os di-
e através de planos trienais de ação, em reitos fundamentais de mais de metade da
cada um dos seus cinco Comités Perma- humanidade foram esquecidos, o que, ine-
nentes. vitavelmente, conduziu à conclusão de que
não pode haver neutralidade de género nas
O primeiro órgão intergovernamental a leis internacionais ou nacionais, enquan-
tratar dos direitos humanos das mulheres to as sociedades, em todo o mundo, não
foi a Comissão Interamericana sobre as forem neutrais relativamente ao género, e
Mulheres (CIM), criada em 1928, para a continuem a discriminar as mulheres.
região da América Latina. Este órgão foi
o responsável pela elaboração do proje- Foi apenas nos anos 70 que a desigualdade
to da Convenção Interamericana sobre em muitas áreas da vida diária, a pobreza
a Nacionalidade das Mulheres, adotado entre mulheres e a discriminação contra me-
pela Organização dos Estados Americanos ninas levou as Nações Unidas a decidir ini-
(OEA), em 1933. Este tratado provocou ciar a Década para as Mulheres das Nações
um debate sobre o modo como a região Unidas: Igualdade, Desenvolvimento e
estava a desenvolver legislação que tratas- Paz, de 1976 a 1985. Em 1979, a Década cul-
se dos direitos humanos. minou com a adoção da Convenção sobre
a Eliminação de Todas as Formas de Dis-
Desde o início das Nações Unidas, em 1945, criminação contra as Mulheres (CEDM).
as mulheres procuraram participar na estru- Este documento é o mais importante instru-
tura e fazer sentir a sua presença no conteú- mento de direitos humanos para a proteção
do e na implementação dos instrumentos e e promoção dos direitos das mulheres e o
mecanismos dos direitos humanos. primeiro documento a reconhecer expres-
samente as mulheres como seres humanos
A Comissão para a Estatuto da Mulher plenos. A CEDM contém direitos civis e po-
(CEM) foi criada em 1946, com o mandato líticos, assim como direitos económicos, so-
de promover os direitos das mulheres em ciais e culturais, unindo os direitos humanos
todo o mundo. A sua primeira presidente que, por exemplo, nos Pactos Internacionais,
foi Bodil Boegstrup, da Bélgica. A CEM pro- estão divididos em duas categorias.
moveu a inclusão explícita dos direitos das
mulheres na DUDH e apresenta recomen- A Convenção regula questões relaciona-
dações ao Conselho Económico e Social das com a vida pública e privada das mu-
(ECOSOC), no respeitante a problemas ur- lheres. Vários artigos lidam com o papel
gentes a necessitarem de uma resposta ime- da mulher na família e na sociedade, a
diata, na área dos direitos das mulheres. necessidade de partilhar responsabili-
dades dentro da família e a urgência na
Embora as mulheres contribuíssem de igual implementação de mudanças nos sis-
forma, e desde o início, para a evolução do temas sociais e culturais que atribuem
sistema internacional político, económico e uma posição subordinada às mulheres.
social, a atenção dada aos problemas das Só através de tais mudanças elementa-
mulheres era mínima. Décadas de cegueira res é que o reconhecimento dos direitos
relativamente ao género, nos documentos humanos das mulheres pode ser trazido
dos direitos humanos, tornava, também, ao nível global. Até maio de 2012, 187
E. DIREITOS HUMANOS DAS MULHERES 197

Estados ratificaram a Convenção. Muitos - Tomar todas as medidas adequadas


Estados islâmicos apresentaram reservas para eliminar a discriminação contra as
de alcance substancial às obrigações da mulheres por qualquer pessoa, organi-
CEDM. O Comité da CEDM coloca ênfa- zação ou empresa;
se na remoção das reservas que obstam
ao gozo pleno dos direitos das mulheres - Revogar todas as disposições penais
contidos na Convenção. nacionais que constituam discrimina-
ção contra as mulheres;
A discriminação contra as mulheres é - Assegurar o total desenvolvimento e o pro-
definida pelo Artº 1º da Convenção como gresso das mulheres tendo em vista garan-
“qualquer distinção, exclusão ou restrição tir-lhes o exercício e a satisfação dos direitos
baseada no sexo que tenha como efeito ou humanos e das liberdades fundamentais
como objetivo comprometer ou destruir o numa base de igualdade com os homens;
reconhecimento, o gozo ou o exercício pelas - Modificar os padrões sociais e culturais
mulheres, seja qual for o seu estado civil, de conduta dos homens e mulheres;
com base na igualdade dos homens e das
mulheres, dos direitos humanos e das liber- - Eliminar preconceitos e costumes e to-
dades fundamentais nos domínios, políti- das as outras práticas baseadas na ideia
co, económico, social, cultural e civil ou em de inferioridade ou superioridade de
qualquer outro domínio”. qualquer um dos sexos ou em papéis
estereotipados para homens e mulheres;
- Garantir que a educação da família inclua
A CEDM obriga os Estados Partes a:
a compreensão correta da maternidade
- Incorporar o princípio da igualdade como uma função social e o reconheci-
dos homens e mulheres nas respetivas mento da responsabilidade comum dos
constituições nacionais ou outra legis- homens e das mulheres na educação e
lação apropriada; desenvolvimento dos seus filhos, reconhe-
cendo que o interesse das crianças é a con-
- Assegurar a realização prática do prin-
sideração primordial em todos os casos;
cípio da igualdade;
- Tomar todas as medidas adequadas
- Adotar medidas legislativas apropria-
para reprimir todas as formas de tráfico
das ou outras, incluindo sanções se
de mulheres e exploração da prostitui-
oportunas, proibindo toda a discrimi-
ção feminina;
nação contra as mulheres;
- Estabelecer a proteção legal dos direi- - Garantir às mulheres o direito de voto
tos das mulheres numa base de igual- em todas as eleições e referendos pú-
dade com os homens; blicos e de serem elegíveis, em todos
esses atos, por eleição;
- Abster-se do envolvimento em qual-
quer ato ou prática de discriminação - Garantir às mulheres os mesmos direi-
contra as mulheres e assegurar que as tos dos homens para adquirir, mudar
autoridades e as instituições públicas ou conservar a sua nacionalidade;
atuarão em conformidade com esta - Assegurar às mulheres os mesmos direi-
obrigação; tos dos homens no campo da educação.
198 II. MÓDULOS SOBRE QUESTÕES SELECIONADAS DE DIREITOS HUMANOS

A 6 de outubro de 1999, a Assembleia-Geral A Conferência Mundial sobre Direitos


adotou, através de consenso, o Protocolo Humanos que teve lugar em Viena, em ju-
Opcional à Convenção sobre a Elimina- nho de 1993, juntou milhares de ativistas
ção de Todas as Formas de Discriminação e peritos em direitos humanos. A Decla-
contra as Mulheres, e chamou todos os Es- ração de Viena e o Programa de Ação,
tados, sendo parte da Convenção, a torna- adotados como resultado da conferência,
rem-se parte do novo instrumento também. coloca ênfase na promoção e proteção dos
Ao ratificar este Protocolo Opcional, um Es- direitos humanos das mulheres e meni-
tado reconhece a competência do Comité nas no geral e na prevenção da violência
sobre a Eliminação de Todas as Formas de contra as mulheres. Aquela declara que os
Discriminação contra as Mulheres – o ór- direitos humanos das mulheres e das me-
gão que monitoriza o cumprimento da Con- ninas são uma parte inalienável, integral
venção por parte dos Estados Partes – para e indivisível dos direitos humanos univer-
receber e considerar queixas de indivíduos sais. Declara também que a total e igual
ou grupos, dentro da sua jurisdição. participação das mulheres na vida políti-
O Protocolo contém dois procedimentos: ca, civil, económica, social e cultural ao
• O procedimento de participação per- nível nacional, regional e internacional e
mite que mulheres, individualmen- a erradicação de todas as formas de discri-
te ou através de grupos de mulheres, minação com base no género são objetivos
submetam ao Comité participações de prioritários da comunidade internacional.
violações de direitos protegidos pela
Convenção. O Protocolo estabelece que Como parte do seu mandato, a Comissão para
para que as participações individuais o estatuto da Mulher (CEM) organizou quatro
sejam admissíveis para consideração grandes conferências globais com o objetivo
pelo Comité estejam preenchidos diver- de integração dos direitos das mulheres como
sos critérios, por exemplo, que se te- direitos humanos: México (1975), Copenha-
nham esgotado as soluções domésticas. ga (1980), Nairobi (1985) e Pequim (1995).
• O protocolo também estabeleceu um Após cada uma destas conferências lançou-se
procedimento de inquérito, permitindo um Plano de Ação, com medidas e diretrizes
ao Comité iniciar inquéritos a situações políticas que os Estados devem considerar
de violações graves ou sistemáticas dos para alcançarem a igualdade entre mulheres
direitos das mulheres. Em qualquer um e homens. Adicionalmente, o progresso relati-
dos casos, os Estados têm de ser parte da vamente aos compromissos feitos inicialmen-
Convenção e do Protocolo. O Protocolo te pelos governos na Conferência Mundial de
inclui uma “cláusula de autoexclusão”, Pequim de 1995 sobre as mulheres é avaliado
permitindo aos Estados que declarem, a cada cinco anos. A CEM, na retrospetiva dos
aquando da ratificação ou adesão, que 15 anos da implementação da Declaração e
não aceitam o procedimento de inquéri- Plataforma de Ação de Pequim (março de
to. O Artº 17º do Protocolo estabelece, 2010), deu ênfase à partilha de experiências
explicitamente, que nenhuma reserva é e boas práticas e à responsabilização no que
admitida ao Protocolo. O Protocolo Op- respeita aos Objetivos de Desenvolvimento
cional entrou em vigor em 22 de dezem- do Milénio.
bro de 2000. Até maio de 2012, 104 Esta- A Plataforma de Ação de Pequim é espe-
dos ratificaram o Protocolo Opcional. cialmente importante, já que constitui o
E. DIREITOS HUMANOS DAS MULHERES 199

programa mais completo sobre os direitos • As mulheres ganham, em média, 17%


humanos das mulheres, com um diagnós- menos que os homens.
tico global da situação das mulheres e um
exame das políticas, estratégias e medidas • Embora as mulheres realizem 66% do
para a promoção dos direitos das mulheres trabalho no mundo e produzam 50%
em todo o mundo. É dada especial atenção dos alimentos, elas ganham apenas
às seguintes doze áreas críticas de preocu- 10% dos rendimentos e detêm apenas
pação: pobreza, educação, saúde, violên- 1% da propriedade.
cia, conflitos armados, economia, a toma- • Em algumas regiões, as mulheres rea-
da de decisões, mecanismos institucionais, lizam mesmo 70% do trabalho agríco-
direitos humanos, meios de informação, la e produzem mais do que 90% dos
ambiente, meninas, sistema institucional e alimentos.
financeiro. Algumas destas áreas serão es-
pecificadas abaixo. A pobreza é também criada através de sa-
lários desiguais por trabalhos iguais, ne-
Mulheres e Pobreza gação ou acesso restrito à educação ou
Para compreender o diferente impacto da serviços públicos e sociais e em relação a di-
pobreza nas mulheres e nos homens é ne- reitos sucessórios e à propriedade de terras.
cessário olhar para a divisão da maioria dos A pobreza, na sua dimensão política, mostra
mercados de trabalho do mundo de acordo a desigualdade de direitos entre membros
com o género. Muitas vezes, as mulheres das nossas sociedades e coloca significativos
trabalham em casa, cumprindo os seus de- obstáculos no acesso aos seus direitos hu-
veres nos cuidados das crianças, dos doen- manos civis, políticos, económicos, sociais
tes e dos idosos, executando os trabalhos e culturais. Também diminui o acesso à in-
sem receber pagamento e, em quase todo o formação e as possibilidades de participação
lado, sem um seguro adequado e próprio, em organizações públicas e tomada de de-
apesar de as suas contribuições serem so- cisão. No contexto da migração, a pobreza
cial e economicamente necessárias e deve- conduz também a um aumento no tráfico de
rem ser altamente valorizadas. mulheres, especialmente na América Latina,
A divisão do trabalho baseada no género é Ásia, África e Europa de Leste.
uma das dimensões estruturais da pobreza
que afeta as mulheres. A função biológica Mulheres e Saúde
da maternidade é outra dimensão estrutural A saúde envolve o bem-estar emocional,
que é entendida como uma função social de social e físico. É determinada pelo contexto
parentalidade e responsabilidade social. social, político e económico das vidas das
mulheres, assim como pela biologia. O facto
Direito ao Trabalho das mulheres terem filhos implica uma re-
Direito a Não Viver na Pobreza levância especial à sua saúde reprodutiva e
sexual. Relações iguais entre homens e mu-
Factos e números lheres em matérias de relações sexuais e re-
produção requerem respeito mútuo, consen-
• O crescimento económico aumenta timento e responsabilidade partilhada. Tal
com a participação das mulheres no encontra-se implícito no direito dos homens
trabalho. e das mulheres a serem informados sobre os
200 II. MÓDULOS SOBRE QUESTÕES SELECIONADAS DE DIREITOS HUMANOS

métodos seguros de controlo de fertilidade


e a terem acesso a métodos seguros, eficazes, “Enquanto a assistente social estiver por
acessíveis e aceitáveis da sua escolha, bem perto, algumas mulheres dizem que não
como o direito ao acesso a serviços de saú- irão purificar as suas filhas. Elas entre-
de adequados, que permitam às mulheres têm-na até que ela se vá embora e uma vez
terem uma gravidez e parto seguros e darem que ela se tenha ido, vêm e pedem-me para
a possibilidade aos casais de terem um bebé circuncidar as suas filhas. Eu corto-as en-
saudável. A realidade, porém, é diferente: quanto as suas mães, tias ou vizinhas as
a discriminação com base no sexo conduz seguram.”
a muitos perigos para a saúde das mulhe- Parteira de aldeia Om Mohammed, Egito. 2012.
res, incluindo a violência física e sexual, as
doenças sexualmente transmissíveis (DST), Os costumes e tradições também consti-
VIH/SIDA, a malária e a doença pulmonar tuem uma fonte de perigo para as meninas
crónica obstrutiva, por cozinharem sobre as e adolescentes. A tradição persistente da
fogueiras. As taxas de mortalidade durante mutilação genital feminina (MGF), uma
a gravidez e parto continuam elevadas em violação fundamental dos direitos huma-
países do hemisfério Sul, tal como demons- nos das mulheres refere-se a diversos ti-
trado pela OMS, numa visão geral global. pos de cortes tradicionais profundamente
Para além do sistema das Nações Unidas, a enraizados, realizados em mulheres e em
questão também se encontra na agenda de meninas. A MGF integra-se, frequente-
organizações locais ou regionais: lançou-se, mente, em rituais de fertilidade ou de ini-
por exemplo, uma campanha para a adoção ciação no estado adulto e é, por vezes,
de uma Convenção Interamericana sobre justificada como forma de assegurar a
os Direitos Sexuais e Direitos Reprodutivos, castidade e a “pureza” genital. Estima-se
apoiada por uma aliança regional de organi- que mais de 130 milhões de meninas e de
zações latino-americanas. mulheres vivas, no momento presente, te-
nham sofrido a MGF, sobretudo em África
“Quando visitava a Nigéria, expliquei a e em alguns países do Médio Oriente; e
minha história pessoal. Todos recordam o dois milhões de meninas por ano encon-
meu nascimento como tendo sido 13 de ju- tram-se em risco de sofrerem a mutilação.
nho, mas não é exato. Foram relatados casos de MGF em países
Tenho de verificar, ainda não sei qual o dia asiáticos, tais como a Índia, Indonésia,
exato [do meu nascimento]. Na altura quan- Malásia e Sri Lanka, pensando-se que se
do nasci a taxa de mortalidade na Coreia realize por entre alguns grupos indíge-
era muito elevada, e, por isso, os pais não nas na América Central e do Sul. Apesar
registavam os nascimentos. Vamos apenas das leis nacionais proibirem a MGF, esta
ver se este rapaz ou menina irá sobreviver. também é praticada nas comunidades de
Por vezes tinha-se de esperar um ano ou seis migrantes na Europa, América do Norte
meses. [...] e Austrália.
Por isso, o meu nascimento foi registado Por não compreenderem a questão em ter-
mais tarde, muito mais tarde. O meu pai mos médicos, as meninas e as mulheres
apenas esperou [...] por isso, não acreditem vítimas da MGF, ficam sujeitas a enormes
na data de nascimento no meu passaporte.” dores, riscos para a saúde e, possivelmen-
Ban Ki-moon. 2011. te, perigo de vida. Para além de muitas
E. DIREITOS HUMANOS DAS MULHERES 201

ONG internacionais (como a Amnistia In- trou que o Egito ainda está entre os países
ternacional) e locais (como a Coligação do com a mais elevada (90%) prevalência de
Cairo do Egito contra a MGF), também as MGF no mundo. Para além das atitudes
Nações Unidas abordam frequentemen- pró-MGF de uma maioria de mulheres
te este assunto: em 2005, através de uma em ambos os cenários urbanos e rurais
abordagem estatística da UNICEF sobre a e das discussões políticas cada vez mais
MGF, em 2008, com a publicação de uma acesas com a Irmandade Muçulmana e fa-
declaração de interagências sobre a eli- ções Salafi, a impunidade é um dos prin-
minação da mutilação genital feminina cipais obstáculos para a redução da MGF
e, em 2010, através da promoção de uma no Egito. “Se denunciarmos a um polícia
estratégia global dirigida aos profissionais na esquadra local, estaremos a apresentar
da saúde para não realizarem a MGF. As uma denúncia junto a alguém que acre-
conclusões da UNICEF permanecem váli- dita nela”, explica um ativista anti MGF
das: as taxas de prevalência da MGF es- local.
tão lentamente a diminuir nalguns países,
as atitudes perante a MGF estão a mudar Uma pandemia que coloca seriamente em
lentamente com mais mulheres a oporem- risco as mulheres é o VIH/SIDA. Apesar
se à sua continuação. Considerando que, das novas infeções em todo o mundo terem
nalguns países, a Primavera Árabe trouxe atingido o pico em 1997 e de o número de
parlamentos e/ou governos com participa- novas infeções ter diminuído desde então,
ção islâmica, que tendem a adotar atitudes a percentagem de mulheres a viverem com
benevolentes em relação à MGF. Os luta- o VIH tem aumentado continuamente nas
dores contra a MGF devem considerar as últimas décadas. Em termos globais, as
seguintes recomendações: as estratégias mulheres representam metade de todas as
para acabar com a MGF enquanto um pessoas que vivem com VIH: nas Caraíbas,
comportamento social devem ser acom- no Norte de África e no Médio Oriente, a
panhadas de educação integral, com base percentagem é de cerca de 50%, na África
na comunidade e sensibilização; os pro- Subsaariana é de 59%, enquanto que as ta-
gramas devem ser específicos para cada xas de infeção na Europa são cerca de 27%
país e adaptados de forma a refletirem as e a América do Norte apresenta a menor
variações regionais, étnicas e socioeconó- taxa de todo o mundo de 21%.
micas, e a separação pormenorizada dos No entanto, o Relatório do Dia Mundial
dados por variáveis socioeconómicas pode da SIDA do UNAIDS para 2011 mostrou
otimizar significativamente e fortalecer os algumas tendências encorajadoras na luta
esforços de promoção ao nível nacional. contra a SIDA: a proporção de mulheres
a viverem com o VIH permaneceu está-
O caso do Egito mostra a necessidade vel e as novas infeções, em geral, dimi-
destas estratégias na linha de ação: em- nuíram em 33 países, 22 deles na África
bora a mutilação genital feminina tenha Subsaariana (a região mais afetada pela
sido proibida e seja punível com multa ou epidemia de SIDA), devido a mudanças
prisão, logo em 1959 (uma proibição con- no comportamento sexual, aumento da
firmada por vários decretos e decisões de idade do primeiro contacto sexual e au-
tribunais superiores, o mais recente em mento do tratamento antirretroviral nas
2008), o estudo de 2005 da UNICEF mos- mulheres grávidas.
202 II. MÓDULOS SOBRE QUESTÕES SELECIONADAS DE DIREITOS HUMANOS

O relatório apresenta uma visão positiva vivem ou que sejam afetadas pelo VIH em
cautelosa de que o objetivo de erradica- situações de conflito e pós-conflito.
ção das novas infeções em crianças pode
ser alcançado até 2015, se os esforços se Direito à Saúde
intensificarem em quatro áreas de ação:
prevenção da infeção do VIH nas mulhe- “Os Estados devem estabelecer um me-
res em idade reprodutiva, parando-se a lhor equilíbrio entre o controlo das fron-
transmissão sexual e relacionada com as teiras e a sua obrigação de proteger as
drogas; integrando-se os esforços de pre- pessoas que são titulares de direitos,
venção no cuidado pré-natal, possibilitan- nomeadamente, requerentes de asi-
do-se o acesso das mulheres aos serviços lo e vítimas presumidas de tráfico. [...]
de planeamento familiar; garantindo-se As obrigações de proteção para com as víti-
testes regulares de VIH e aconselhamen- mas de violações de direitos humanos devem
to às mulheres grávidas, assim como o ser vistas como parte integrante de uma po-
acesso a medicamentos antirretrovirais às lítica de migração ‘saudável’.”
mulheres grávidas com o VIH e aos seus Maria Grazia Giammarinaro. 2012.
recém-nascidos. A este respeito a África
do Sul pode servir como um exemplo de
boas práticas: em 2010, o país forneceu Mulheres e Violência
medicamentos antirretrovirais a cerca de Em muitas sociedades, mulheres e meni-
95% das mulheres elegíveis, para preve- nas são sujeitas a violência física, sexual
nir novas infeções do VIH entre as crian- e psicológica que é transversal a diferen-
ças, o que significa que a taxa de provisão tes rendimentos, classes e culturas, tanto
quase duplicou em apenas três anos. Esta na vida pública, como na privada. Muitas
conquista reflete o compromisso político, vezes, as mulheres são vítimas de viola-
o forte envolvimento da sociedade civil, ções, abusos sexuais, assédio sexual ou
uma prestação de serviços descentralizada intimidação. Escravidão sexual, crimes
e o empoderamento dos enfermeiros. relacionados com o dote, crimes de hon-
Também em 2011, o Conselho de Seguran- ra, gravidez forçada, prostituição forçada,
ça das Nações Unidas, na sua Resolução esterilização e abortos forçados, seleção
1983, afirmou que as mulheres e meninas pré-natal do sexo, infanticídio feminino e
são particularmente afetadas pelo VIH e a mutilação genital feminina são também
que o fardo desproporcional de VIH e SIDA atos de violência cometidos contra as mu-
nas mulheres é um dos obstáculos persis- lheres.
tentes e desafios para a igualdade de gé-
nero e empoderamento das mulheres. No Factos e números
âmbito do seu mandato de manutenção de
paz, o Conselho de Segurança apelou aos • No mínimo, uma em cada três mulhe-
Estados-membros e a outras partes inte- res no mundo já foi abusada, de algu-
ressadas para apoiarem o desenvolvimen- ma forma, durante a sua vida. Assim,
to e fortalecimento das capacidades dos a violência sexual contra as mulheres
sistemas nacionais de saúde e redes da so- e meninas é um problema de propor-
ciedade civil, a fim de prestarem uma as- ções pandémicas. Para além do mais,
sistência sustentável para as mulheres que as mulheres e as meninas normalmen-
E. DIREITOS HUMANOS DAS MULHERES 203

te conhecem o abusador. A violência abrange os seguintes atos, embora não se


contra as mulheres e meninas é uma limite aos mesmos:
das formas mais generalizadas de vio- • violência física, sexual e psicológica
lações de direitos humanos. Deixa vi- ocorrida no seio da família, incluindo os
das devastadas, fratura comunidades maus tratos, o abuso sexual das crian-
e empata o desenvolvimento. ças do sexo feminino no lar, a violên-
cia relacionada com o dote, a violação
• A violência contra as mulheres cau- conjugal, a mutilação genital feminina e
sa custos económicos enormes. Nos outras práticas tradicionais nocivas para
EUA, estima-se que o custo de vio- as mulheres, os atos de violência prati-
lência íntima do parceiro exceda 5.8 cados por outros membros da família e a
biliões de dólares por ano: $4.1 biliões violência relacionada com a exploração;
são para serviços de cuidados médi- • violência física, sexual e psicológica pra-
cos e de saúde diretos, com perdas ticada na comunidade em geral, incluin-
de produtividade contabilizadas em do a violação, o abuso sexual, o assédio
aproximadamente $1.8 biliões. A vio- e a intimidação sexuais no local de tra-
lência contra as mulheres diminui o balho, nas instituições educativas e em
desenvolvimento económico de cada outros locais, o tráfico de mulheres e a
nação; empobrece os indivíduos, fa- prostituição forçada;
mílias e comunidades. • violência física, sexual e psicológica
• O Fundo de População das Nações praticada ou tolerada pelo Estado, onde
Unidas estima que o número de víti- quer que ocorra.
mas de “crimes de honra” é cerca de
5.000 mulheres por ano. Em algumas Além disso, foi estabelecido, em 1994, um
sociedades a castidade das mulheres Relator Especial sobre a Violência contra
é considerada como um assunto de as Mulheres.
família, de forma a que as vítimas de
violação, mulheres suspeitas de terem Além do sistema das Nações Unidas, com
relações sexuais antes do casamento os seus esforços contínuos, algumas or-
e mulheres acusadas de adultério são ganizações regionais comprometeram-se
assassinadas pelos seus familiares. com a prevenção, ou até com a erradica-
ção, da violência contra as mulheres. O
Todos estes atos de violência violam e sistema Interamericano dos Direitos Hu-
enfraquecem ou anulam o gozo dos di- manos, por exemplo, promove a prote-
reitos humanos e liberdades fundamen- ção das mulheres através da Convenção
tais pelas mulheres. Por esta razão foi Interamericana para Prevenir, Punir e
de máxima importância que a Declara- Erradicar a Violência contra a Mulher,
ção sobre a Eliminação da Violência de Belém do Pará, de 1994. Até maio de
contra as Mulheres fosse adotada pela 2012, 32 dos 35 Estados independentes
Assembleia-Geral das Nações Unidas, das Américas ratificaram a Convenção,
por consenso, em 1993, como uma ferra- que é um dos mais significativos marcos
menta para prevenir a violência contra as na chamada de atenção para a questão das
mulheres. Nos termos do Artº 2º da De- mulheres no âmbito do sistema de direitos
claração, a violência contra as mulheres humanos. Esta Convenção foi desenvolvi-
204 II. MÓDULOS SOBRE QUESTÕES SELECIONADAS DE DIREITOS HUMANOS

da pela Comissão Interamericana das Mu- lho sem discriminação em razão do género,
lheres ao longo de um processo de cinco encontra-se previsto no Protocolo Adicional
anos e constitui um quadro importante a de 1988.
nível político e jurídico. Lança as bases
para uma estratégia coerente de aborda- Mulheres e Conflitos Armados
gem ao problema da violência, tornando As mulheres muitas vezes tornam-se as
obrigatória a implementação, por parte primeiras vítimas de violência durante a
dos Estados, de estratégias públicas para a guerra e o conflito armado. No seu ensaio
prevenção da violência e apoio às vítimas. “A Segunda Frente: a Lógica da Violência
Sexual”, Ruth Seifert afirma que, em mui-
No quadro da Comissão Africana dos Di- tos casos, é uma estratégia militar atingir
reitos Humanos e dos Povos, o Protocolo à as mulheres, de modo a destruir o inimigo.
Carta Africana dos Direitos Humanos e dos Tal como demonstrado acima, a violência
Povos sobre os Direitos das Mulheres em sexual contra a mulher é um crime que as-
África (Protocolo de Maputo), foi elaborado sume proporções pandémicas. Se, na vio-
e adotado pelos Estados-membros da União lência com a origem num parceiro íntimo
Africana (UA) em 2003, e subsequentemen- esta constitui uma forma dos homens do-
te entrou em vigor em 2005. Até maio de minarem as mulheres, a violência sexual
2012, 30 dos 53 Estados-membros da União em tempos de guerra consiste numa forma
Africana ratificaram este Protocolo. de comunicação entre homens, através do
atropelamento dos corpos das mulheres.
Entre as principais convenções do Conselho As mulheres e as meninas são considera-
da Europa (CdE), há duas convenções no das como táticas de guerra para humilhar,
âmbito dos direitos das mulheres: a Con- dominar, introduzir o medo, punir, disper-
venção Europeia dos Direitos Humanos sar e/ou deslocar à força os membros de
(CEDH) e a Carta Social Europeia, e os seus uma comunidade ou grupo étnico. A vio-
respetivos Protocolos. Embora os direitos lação e outras formas de violência sexu-
das mulheres não sejam explicitamente dis- al podem mesmo ser consideradas como
cutidos na CEDH, o artº 14º proíbe qualquer genocídio quando cometida com o intuito
distinção em razão do género (ou outras de destruir um grupo no seu todo ou em
razões). O Protocolo Adicional nº7 à Con- parte, como foi considerado pelo Tribunal
venção adicionou aos direitos protegidos, a Penal Internacional para o Ruanda (TPIR)
igualdade entre cônjuges no respeitante aos na sua decisão relativa a Jean-Paul Akaye-
seus direitos e responsabilidades no casa- su. Conclui-se, também da guerra na Bós-
mento, e no Protocolo nº12, é estabeleci- nia do início dos anos 90, que a “limpeza
da a proibição geral da discriminação por étnica” é uma estratégia de guerra e a vio-
qualquer autoridade pública, por qualquer lação não é um efeito lateral mas um dos
razão, incluindo o género. Os direitos espe- seus métodos. Tendo começado com os tri-
cíficos das mulheres são definidos na Carta bunais do Ruanda e da antiga Jugoslávia,
Social Europeia, tais como a remuneração estes crimes são agora perseguidos e não
igual, proteção materna, proteção de traba- mais permanecem na sombra da impuni-
lhadoras e a proteção social e económica de dade. O Estatuto de 1998 do Tribunal Penal
mulheres e crianças. O direito a oportunida- Internacional, pela primeira vez na histó-
des e tratamento iguais, em relação ao traba- ria, designa expressamente a violação, a
E. DIREITOS HUMANOS DAS MULHERES 205

gravidez e prostituição forçadas como cri- mente violência sexual, durante o confli-
mes contra a humanidade e estabelece um to. Todos estes fatores devem ser tidos em
sistema de responsabilização individual consideração, especialmente em futuras
que tem como objetivo tanto trazer justi- missões de manutenção de paz, de modo a
ça para as vítimas como a pena adequada que seja fornecida às mulheres a máxima
para os perpetradores de tais crimes. assistência possível para lidar com as suas
necessidades especiais.
“Agora é mais perigoso ser-se uma mu-
lher do que um soldado num conflito mo- Uma mudança de paradigma na recons-
derno.” trução pós-conflito foi trazida pela Res.
Maj. Gen. Patrick Cammaert. 2008.
1325 (2000) do Conselho de Segurança da
ONU que foi o primeiro documento legal
do Conselho a exigir às partes em conflito
Factos e números o respeito pelos direitos das mulheres e o
apoio à sua participação nas negociações
• Foram proferidas, no Tribunal Penal para a paz e na reconstrução pós-conflito,
Internacional para a antiga Jugoslá- e que foi seguida pelas Resoluções 1888,
via, 18 condenações relacionadas com 1889 e 1894 (2009). As Resoluções enfati-
a violência sexual, enquanto funcio- zaram a necessidade de adotar uma pers-
nários das Nações Unidas estimam petiva de género em conflitos armados,
que as vítimas de violações ascendam assim como na gestão institucional dos
a 60.000. O número de condenações conflitos, na manutenção da paz e recons-
de outros tribunais é mais baixa: oito trução pós-conflito, para dar formação aos
pelo Tribunal Penal Internacional para funcionários sobre os direitos das mulheres
o Ruanda e seis pelo Tribunal Especial e, da mesma forma, incluir as mulheres em
para a Serra Leoa. processos de manutenção da paz e segu-
rança, especialmente ao nível da tomada
As mulheres raramente têm um papel ati- de decisões. Vários Estados estabeleceram,
vo nas decisões que levam ao conflito ar- entretanto, planos nacionais de ação para a
mado. Pelo contrário, elas trabalham para implementação das Resoluções e iniciativas
preservar ordem social no meio dos confli- da sociedade civil trabalham com o mes-
tos e dão o seu melhor para garantir uma mo objetivo. Contudo, na prática, a ONU
vida o mais normal possível. Além disso, dificilmente consegue atingir os seus pró-
as mulheres, “muitas vezes suportam uma prios objetivos: Nenhuma mulher foi, até
parte desproporcional das consequências agora, nomeada chefe ou mediadora prin-
da guerra”, como o Centro Internacional cipal para a paz em processos de negocia-
para a Investigação sobre as Mulheres afir- ção para a paz promovidos pela ONU, mas
mou no seu boletim informativo sobre re- em alguns processos desenvolvidos pela
construção pós-conflito. Muitas mulheres UA ou outras instituições, mulheres faziam
são esquecidas como viúvas que enfren- parte de equipas de mediadores. Um caso
tam o fardo pesado de apoiarem as suas recente positivo é o papel de Graça Machel
famílias, enquanto muitas vezes elas pró- como um dos três mediadores para a cri-
prias têm de lidar com o trauma causado se no Quénia em 2008. A participação das
por estarem expostas à violência, especial- mulheres nos processos de negociação para
206 II. MÓDULOS SOBRE QUESTÕES SELECIONADAS DE DIREITOS HUMANOS

a paz é ainda feita de forma ad hoc, não epidémicas. Esta bio-pirataria está a ser
sistematizada - em média, é menor do que agora justificada como uma nova “parce-
8% nos 11 processos de paz relativamente ria” entre agronegócios e as mulheres do
aos quais tal informação se encontra dis- Terceiro Mundo. Para nós, o furto não pode
ponível. Menos de 3% dos signatários dos ser a base de uma parceria.”
acordos de paz são mulheres. Fazendo face Vandana Shiva. 1998.
a estas insuficiências, entre outras, a As-
sembleia-Geral das Nações Unidas apoiou A deterioração dos recursos naturais tem
adicionalmente as Resoluções do Conselho efeitos negativos na saúde, bem-estar
de Segurança com a sua Resolução 66/132 e qualidade de vida da população como
em 2011. um todo, mas afeta especialmente as mu-
lheres. Além disso, o seu conhecimento,
Direitos Humanos em Conflito competências e experiências são raramen-
Armado te tomados em consideração pelos deci-
sores, que são maioritariamente homens.
Mulheres e Recursos Naturais A Conferência das Nações Unidas sobre
De acordo com o excerto de “Monocultu- Desenvolvimento Sustentável Rio+20,
ras, Monopólios e Mitos e a Masculiniza- centrou-se, por isso, na igualdade de gé-
ção da Agricultura”, de Vandana Shiva, nero como sendo fundamental para um
as mulheres na Índia têm um papel im- futuro sustentável, na discussão de estra-
portante no que respeita à preservação de tégias e programas para a igualdade de
conhecimentos sobre recursos naturais e género e o desenvolvimento sustentável e
ambiente: “as mulheres que se dedicam destacou o empoderamento das mulheres
à agricultura têm sido as guardiãs das se- nas chamadas economias verdes. A Dire-
mentes e as que as fazem crescer, através tora Executiva da ONU Mulheres, Michel-
dos tempos”. Isto não é apenas verdade na le Bachelet apelou a políticas robustas e
Índia, mas em todo o mundo. Através da compromissos fortes que refletissem com
sua gestão e uso dos recursos naturais, as clareza o papel central das mulheres no
mulheres providenciam sustento às suas desenvolvimento sustentável e condu-
famílias e comunidades. Assim, a tendên- zissem a uma mudança real na vida das
cia recente para a “apropriação das terras” pessoas, através da participação plena das
– aquisições de terras em larga escala por mulheres na agenda do desenvolvimento
empresas domésticas e transnacionais, sustentável.
governos e indivíduos, no seguimento
da crise mundial do preço dos alimentos A Menina
de 2007-2008 – fez das mulheres e das Em muitos países, a menina enfrenta dis-
suas crianças, as primeiras vítimas em criminação desde os seus primeiros anos
muitas regiões do hemisfério sul. de vida, ao longo da infância e na idade
adulta. Devido às atitudes e práticas no-
“O fenómeno da bio-pirataria através da civas, como a seleção pré-natal do sexo,
qual as empresas ocidentais estão a furtar o infanticídio feminino, a mutilação ge-
séculos de conhecimento coletivo e inova- nital feminina, a preferência pelos filhos
ção levada a cabo pelas mulheres do Tercei- rapazes, o casamento precoce, a explora-
ro Mundo está agora a atingir proporções ção sexual, as práticas relacionadas com
E. DIREITOS HUMANOS DAS MULHERES 207

a saúde e a distribuição da alimentação, peito aos direitos das mulheres. A diversida-


menos meninas do que rapazes alcançam de cultural é demasiadas vezes usada como
a idade adulta em algumas áreas do mun- uma desculpa ou impedimento para a total
do. Em sociedades que preferem os filhos implementação dos direitos humanos das
às filhas, a seleção pré-natal do sexo e o mulheres. O documento adotado durante a
infanticídio feminino são práticas genera- Conferência Mundial sobre Direitos Huma-
lizadas que entretanto conduziram a uma nos em Viena, em 1993, é também um êxito
tendência demográfica do sexo masculino importante para as mulheres, uma vez que
que afeta já a vida de mais do que uma sublinha que “todos os direitos humanos
geração. Devido à falta de leis de proteção são universais, indivisíveis, interdependen-
ou ao fracasso na efetivação de tais leis, as tes e interrelacionados. […] Embora se deva
meninas são mais vulneráveis a todos os ter sempre presente o significado das especi-
tipos de violência, particularmente, a vio- ficidades nacionais e regionais e os diversos
lência sexual. Em muitas regiões, as meni- antecedentes históricos, culturais e religio-
nas enfrentam discriminação no acesso à sos, compete aos Estados, independentemen-
educação e à formação especializada. te dos seus sistemas políticos, económicos e
A tradição dos casamentos infantis tam- culturais, promover e proteger todos os direi-
bém conduz a problemas de saúde para as tos humanos e liberdades fundamentais”.
meninas. O casamento antes dos 18 anos
é uma realidade para muitas jovens. De Apesar do conceito amplamente partilha-
acordo com estimativas da UNICEF, mais do de universalidade, muitas áreas da vida
de 64 milhões de mulheres com idades quotidiana das mulheres ainda são fontes
compreendidas entre os 20 e os 24 anos de controvérsia. Em algumas religiões e
eram casadas ou viviam em união de facto tradições, as mulheres não gozam do mes-
antes dos 18 anos. Mais comum na Ásia, o mo tratamento que os homens. A negação
casamento precoce conduz inevitavelmen- de um acesso igual às oportunidades de
te à maternidade precoce e provoca “uma educação e de emprego, assim como a
mortalidade materna cinco vezes maior en- exclusão explícita da tomada de decisões
tre meninas de 10 a 14 anos do que entre políticas é considerada normal. Em casos
as mulheres com idades entre os 20 e os extremos, estas políticas e perceções colo-
24 anos”, como referiu o Comité de ONG cam mesmo uma ameaça à segurança pes-
sobre a UNICEF, na sua documentação re- soal e ao direito à vida das mulheres.
ferente à questão da saúde das meninas.
Em 2002, uma jovem mulher nigeriana foi
Direito à Educação sentenciada à morte por “apedrejamento”
Direito à Saúde por um tribunal que aplica a lei da Sharia.
De acordo com a Amnistia Internacional da
3. PERSPETIVAS Austrália, o crime alegadamente cometido
INTERCULTURAIS pela Amina Lawal foi dar à luz uma criança
E QUESTÕES CONTROVERSAS fora do matrimónio. Este veredicto causou
um enorme tumulto internacional e ques-
O conceito de universalidade é de importân- tiona a compatibilidade de algumas práticas
cia central para os direitos humanos, mas culturais e religiosas com a universalidade
indispensável especialmente no que diz res- dos direitos humanos. Infelizmente, inciden-
208 II. MÓDULOS SOBRE QUESTÕES SELECIONADAS DE DIREITOS HUMANOS

tes recentes, tais como o caso de Sakineh sa do dote na Índia e nos países vizinhos,
Ashtiani no Irão, cuja execução foi adia- desde há décadas, as estatísticas da Índia
da diversas vezes e, no fim, transformada sobre criminalidade relatam milhares de
numa sentença de dez anos, depois de uma casos anuais e números crescentes desde
vaga de protestos internacionais em 2010 e a década de 90.
2011, ou o caso de 2012 de um casal do Mali,
condenados a 100 vergastadas pelo crime Hoje, a participação política das mulhe-
de terem tido um filho fora do casamento, res é considerada mais importante do que
demonstram que se alcançaram poucos re- nunca, uma vez que as mulheres podem
sultados na reconciliação da religião ou da abordar melhor as suas preocupações.
tradição com os direitos das mulheres. Nos últimos 50 anos, mais e mais mu-
lheres alcançaram o direito de voto e de
Proibição da Tortura se candidatar e ocupar cargos públicos.
Liberdades Religiosas De acordo com o anterior Fundo de De-
senvolvimento das Nações Unidas para a
Outra prática religiosa que afeta o quoti- Mulher (UNIFEM), cada vez mais mulhe-
diano das mulheres pode ser encontrada res procuram transformar a política, e os
na Índia onde a Sati, a tradição Hindu de grupos de mulheres estão-se a centrar em
autoimolação na pira funerária com o seu esforços para aumentarem a representação
marido falecido, foi proibida pelo gover- das mulheres nas eleições, para revigorar
no britânico em 1829, mas ainda ocorre a responsabilização política. Hoje, existem
como é provado pelos últimos casos docu- mais mulheres no governo do que nunca.
mentados em 2006 e 2008. Enquanto que A proporção de mulheres deputadas a ní-
a Sati, vista tradicionalmente como o ato vel nacional aumentou 8% na década de
altamente respeitado de uma total devo- 1998 a 2008, em relação à média global
ção da mulher ao seu marido, ainda existe atual de 18,4%, em comparação com o
embora mais raramente, na Índia moder- aumento de apenas 1%, nas duas décadas
na, há um aumento chocante do número após 1975. No entanto, em todo o mundo,
de mortes entre mulheres (na maioria, jo- a igualdade de género no âmbito da gover-
vens) cujos maridos estão bem e vivos. As nação democrática continua a ser bastante
chamadas “mortes por causa do dote”, às limitada. As mulheres encontram-se em
vezes também referidas como “homicídios menor número, de 4 para 1, nas legisla-
de noivas”, ocorrem muitas vezes após turas em todo o mundo. Em meados de
um longo período de perseguição e tortura 2009, apenas 17 chefes de Estado ou de
pelos parentes do noivo, de forma a pres- governo eram mulheres. Mesmo continu-
sionar a família da noiva a pagar um dote ando a aceleração da taxa atual relativa à
mais elevado do que o anteriormente acor- participação das mulheres, em compara-
dado. Estes incluem casos de mulheres ção com as décadas anteriores, estaremos
que são assassinadas, mas também que ainda muito longe de alcançar a “zona de
são, presumivelmente, forçadas a cometer paridade” de 40-60%. De acordo com esti-
suicídio por autoimolação, envenenamen- mativas da ONU Mulheres, os países com
to ou enforcamento. Apesar das ONG e do sistemas eleitorais representativos por
governo, bem como de iniciativas interna- maioria simples dos votos, sem qualquer
cionais de luta contra as mortes por cau- tipo de regime de quotas, não vão atingir
E. DIREITOS HUMANOS DAS MULHERES 209

o limiar de 40% de mulheres em cargos migrante ou muçulmana terá mais difi-


públicos até perto do final deste século. culdades em encontrar um trabalho ade-
Também se tem assistido, nos últimos quado do que um homem migrante ou
anos, a uma forte participação feminina muçulmano ou uma mulher pertencente
nos movimentos e revoluções democráti- à maioria da população. A Agência dos
cos e sociais, assim como nos retrocessos Direitos Fundamentais da União Europeia
imediatos. Durante a Revolução Verde Ira- descreve a discriminação múltipla como
niana de 2009 e 2010 e a Primavera Árabe situações em que a discriminação tem lu-
de 2011, as estações de televisão de todo gar com base em mais do que um funda-
o mundo transmitiram imagens de mu- mento protegido e centra-se nas práticas
lheres na linha da frente, a manifestar-se das legislações nacionais e de organismos
e a lutar pela democracia e participação, para a igualdade, no entanto, até hoje este
transmitindo a ideia daquilo que poderia problema recorrente para muitas mulheres
ser a igualdade de género e participação não se encontra claramente refletido na le-
nas sociedades islâmicas. Porém, tendo as gislação Europeia contra a discriminação.
revoluções terminado em repressão contí-
nua, guerra civil ou as eleições democrá- Direito ao Trabalho
ticas ganhas pelos partidos islâmicos, a
participação política das mulheres parece 4. IMPLEMENTAÇÃO
ter sido novamente adiada. E MONITORIZAÇÃO

Direito à Democracia A total implementação dos direitos huma-


nos das mulheres requer esforços especiais
Desde o fim do comunismo, as mulheres para reinterpretar alguns instrumentos de
em países pós-comunistas ganham cer- direitos humanos internacionais e para de-
ca de um terço a menos do que os seus senvolver novos mecanismos para garantir
colegas masculinos pelo mesmo trabalho a igualdade de género.
realizado, com as mesmas qualificações.
Dentro da União Europeia, o artº 141º do Relativamente à implementação dos di-
Tratado Constitutivo da Comunidade Eu- reitos humanos das mulheres existem
ropeia exige um pagamento igual, para diferentes abordagens que podem ser se-
trabalho igual para homens e mulheres, guidas não apenas pelos governos, mas
com as mesmas qualificações. Contudo, também pela sociedade civil:
na realidade muitos Estados-membros • A primeira é a disseminação dos ins-
da UE estão ainda longe de alcançar com- trumentos e mecanismos de direitos
pletamente o pagamento igual, para tra- humanos das mulheres através da edu-
balho igual, entre homens e mulheres. cação para os direitos humanos nos
Além disso, está a aumentar a consciência sistemas educativos formal e informal.
de que ser mulher nem sempre é motivo Não é possível às mulheres poderem
único para a discriminação. Por exemplo, exercer os seus direitos humanos se não
em muitas áreas, é muito mais provável souberem o que são.
que seja a mulher e não o homem a per- • Outro passo é encorajar as mulheres
der o emprego quando envelhecer ou, em a monitorizar a atuação dos seus Es-
muitas sociedades europeias, uma mulher tados para saber se estes estão a cum-
210 II. MÓDULOS SOBRE QUESTÕES SELECIONADAS DE DIREITOS HUMANOS

prir os seus deveres, de acordo com os mentos de direitos das mulheres é a


instrumentos de direitos humanos que formação de mulheres defensoras
ratificaram. Se as obrigações do Esta- sobre o uso dos mecanismos de di-
do não são devidamente cumpridas, reitos humanos. Atualmente, poucas
as ONG podem preparar relatórios al- mulheres conhecem os instrumentos
ternativos ou “sombra” para o Comi- de direitos humanos e ainda menos
té específico. As mulheres devem ser percebem os passos apropriados para
encorajadas a preparar relatórios alter- invocá-los.
nativos tanto para o Comité da CEDM
que monitoriza o cumprimento pelos A Conferência Mundial sobre Direitos
Estados Partes das suas obrigações de Humanos realizada em Viena, em junho
acordo com a CEDM, e para outros ór- de 1993, apoiou a criação de um meca-
gãos dos tratados. Os relatórios sombra nismo novo, um Relator Especial sobre
permitem aos membros da sociedade a Violência contra as Mulheres, estabe-
civil responsabilizar os seus governos lecido em 1994. Em 2009, Rashida Man-
pelas obrigações e compromissos que joo, da África do Sul, assumiu a posição
aceitaram ao nível internacional. Para de Yakin Ertürk, da Turquia. Como parte
além de contribuírem para uma maior das suas obrigações, ela visita países e
consciencialização sobre o processo examina o nível de violência contra as
de elaboração de relatórios relativos à mulheres nesses países, mas também
CEDM, no país. emite recomendações para que esses pa-
• Nos países onde o Protocolo Opcional íses adaptem as suas práticas em confor-
à CEDM ainda não foi ratificado, de- midade com as normas jurídicas interna-
vem ser organizadas campanhas para cionais no campo dos direitos humanos
influenciar a sua rápida ratificação. A das mulheres.
ratificação deste Protocolo Opcional
significa que o Estado que ratifica reco- Apesar das melhorias significativas, nos
nhece a competência do Comité para a últimos 30 anos, no campo dos direitos
Eliminação da Discriminação contra a humanos das mulheres, o surgimento de
Mulher para receber e considerar quei- pensamentos ultraconservadores e do
xas de indivíduos ou grupos dentro da fundamentalismo em muitas sociedades
respetiva jurisdição do Estado. No caso significou um enorme retrocesso para
de violações graves e sistemáticas, o Co- os direitos humanos das mulheres e por
mité pode decidir iniciar uma investi- isso é de extrema importância que o ape-
gação, se esta possibilidade não for ex- lo urgente para uma total implementação
cluída pelo respetivo Estado ao ratificar dos direitos humanos das mulheres para
o Protocolo. todas as mulheres seja mantido a todo o
• Um passo importante em direção à custo.
completa implementação dos instru-
E. DIREITOS HUMANOS DAS MULHERES 211

CONVÉM SABER
da Declaração de Pequim e da Plataforma de
1. BOAS PRÁTICAS Ação relaciona as obrigações jurídicas com
a realidade, em muitos países, baseado em
Os Direitos Humanos numa Perspetiva relatórios de peritos, bem como em testemu-
de Género nhos de mulheres afetadas. Um outro manu-
O processo de interpretação dos instru- al “Between their Stories and our Realities”
mentos internacionais de direitos humanos foi produzido com o apoio do Instituto de
numa perspetiva sensível ao género já co- Viena para o Desenvolvimento e Coopera-
meçou. Um dos melhores exemplos é a ado- ção e pelo Departamento para a Cooperação
ção, pelo Comité dos Direitos Humanos das no Desenvolvimento do Ministério dos Ne-
Nações Unidas, do Comentário Geral nº gócios Estrangeiros Austríaco, em 1999, para
28, em março de 2000. Ao interpretar o artº comemorar o 20º aniversário da CEDM e é
3º do Pacto Internacional sobre os Direitos uma parte integrante da série de vídeo aci-
Civis e Políticos (PIDCP) no que respeita ma mencionada “Women Hold Up The Sky”.
aos direitos iguais de homens e mulheres no Com esta contribuição o People’s Movement
gozo de todos os direitos civis e políticos, o for Human Rights Education forneceu mate-
Comité reviu todos os artigos do Pacto atra- rial valioso para a formação das gerações fu-
vés de uma perspetiva sensível ao género. turas de ativistas dos direitos das mulheres.
Em 1992, o Comité Latino-Americano e
do Caribe para a Defesa dos Direitos da “Neste momento, gostaria de prestar home-
Mulher (CLADEM) lançou uma campanha nagem às mulheres da Women’s Caucus
que incluiu organizações de todo o mun- for Gender Justice, que tiveram em consi-
do que resultou na redação da Declaração deração as experiências das mulheres na
Universal dos Direitos Humanos (DUDH) guerra, identificaram estratégias para lidar
sob a perspetiva do género. Agora, esta com violações e ultrapassar a oposição in-
Declaração é usada como uma declara- tensa de muitos representantes nas nego-
ção “sombra”, para efeitos pedagógicos. ciações do Tribunal Penal Internacional
O objetivo é encorajar as mulheres não só (TPI), procurando garantir que a violação,
a aprender sobre direitos humanos, mas escravidão sexual, gravidez forçada e ou-
também a incluir neste quadro as suas tras formas de violência baseada no género
próprias experiências, necessidades e de- e sexual são incluídas no estatuto do TPI.”
sejos, expressos na sua própria língua. Mary Robinson, Alta Comissária das Nações Unidas
para os Direitos Humanos. 2000.
Formação para os Direitos das Mulheres
O People’s Movement for Human Rights O Apoio dos Meios de Informação Digi-
Education (PDHRE) fez uma importante tais aos Direitos das Mulheres e das Me-
contribuição para o avanço dos direitos das ninas
mulheres com o seu pioneiro “Passapor- Apesar do hiato digital mundial, mais mu-
te para a Dignidade” e as séries de vídeo lheres do que nunca, especialmente jo-
“Women Hold up the Sky”. O Passaporte vens e mulheres instruídas, têm acesso aos
para a Dignidade com a sua pesquisa global meios de informação eletrónicos e à World
sobre as 12 principais áreas de preocupação Wide Web. Um número crescente destas
212 II. MÓDULOS SOBRE QUESTÕES SELECIONADAS DE DIREITOS HUMANOS

mulheres não se limita a consumir conte- diversas questões de direitos humanos e


údo digital, mas aproveita também ativa- de direito humanitário. As mulheres aper-
mente as oportunidades de participação ceberem-se de que sem agrupamentos or-
oferecidas pelas tecnologias e aplicações ganizados, as preocupações das mulheres
da Web 2.0. Uma boa prática para se supe- não seriam apropriadamente defendidas e
rar a comunicação de apenas um sentido e promovidas. Em 1998, um grupo de mu-
se utilizar os meios de informação digitais lheres participou na Conferência de Roma
para compromissos sociais é o Prémio Ci- para a elaboração do Estatuto do Tribu-
meira Mundial de Juventude, que incenti- nal Penal Internacional para garantir que
va os jovens a utilizarem os meios de infor- os direitos humanos das mulheres fossem
mação digitais para agirem pelos Objetivos seriamente considerados e incorporados
de Desenvolvimento do Milénio das Nações pelos redatores. Avaliando o Estatuto de
Unidas: Metade dos vencedores, em todas Roma que entrou em vigor a 1 de julho
as categorias, foram projetos inicializados de 2002, elas foram bem sucedidas: O di-
ou executados por mulheres, com uma for- reito internacional humanitário atingiu um
te componente educativa, de informação novo marco com o Estatuto de Roma, es-
e de participação. Em 2011, dois dos três pecialmente no que respeita à inclusão de
vencedores do prémio “Poder para as Mu- crimes de violência sexual. As atrocidades
lheres” (Power 2 Women) abordaram expli- no território da antiga Jugoslávia e no Ru-
citamente a violência contra as mulheres: o anda também mostraram que a proteção
“Mapa de Assédio” (Harrassmap) do Egito das mulheres e dos seus direitos humanos
implementou um sistema de SMS para re- necessita de ser parte do mandato do Tri-
latar casos de assédio sexual, e o “Toque bunal Penal Internacional.
a Campainha!” (Bell Bajao), foi uma cam- O Estatuto de Roma menciona explicita-
panha multimédia para abordar os homens mente, pela primeira vez na história, uma
diretamente, no contexto da violência, an- variedade de crimes puníveis de acordo
tes um tabu grave na Índia, e para ajudar com o Estatuto que são principalmente co-
os homens a sentirem-se com legitimidade metidos contra as mulheres. Por exemplo,
para intervirem de forma a terminar, com o artº 7º, nº1, declara que “[…] violação,
eficácia, a violência doméstica. O terceiro escravatura sexual, prostituição forçada,
vencedor, “Estação de Rádio apenas para gravidez à força, esterilização à força ou
Mulheres” (Girls Only Radio Station), estabe- qualquer outra forma de violência no cam-
lecida no Egito em 2008, descreve-se como po sexual de gravidade comparável […]”
uma revista digital a incluir tópicos como constituem crimes contra a humanidade.
a autodefesa e a reabilitação após o abuso Além disso, é dada explícita atenção a ví-
sexual, assim como a consciência política timas e a testemunhas. O artº 68º do Esta-
para as mulheres em muitas áreas e desafia tuto afirma que “[…] a segurança, o bem-
a cultura prevalecente profundamente en- estar físico e psicológico, a dignidade e a
raizada de discriminação das mulheres. vida privada das vítimas e testemunhas”
deve ser preservada e que qualquer um
2. TENDÊNCIAS dos juízos pode decretar “[…] que um ato
processual se realize, no todo ou em par-
Nas últimas duas décadas, as ONG para te, à porta fechada ou permitir a produção
as mulheres envolveram-se ativamente em de prova por meios eletrónicos ou outros
E. DIREITOS HUMANOS DAS MULHERES 213

meios especiais. Estas medidas aplicar-se- adotaram a Declaração do Milénio das


ão, nomeadamente, no caso de uma vítima Nações Unidas, a partir da qual deriva-
de violência sexual ou de um menor que ram os oito objetivos. Todos os objetivos
seja vítima ou testemunha”. Estas medidas referem-se, explicita e implicitamente, às
de proteção são também um resultado de condições de vida das mulheres e dos ho-
experiências feitas durante os julgamentos mens; dois deles, os objetivos 3 e 5, ex-
que tiveram lugar no TPIAJ e no TPIR. clusivamente, a questões de mulheres:
Em março de 2012, 121 Estados de todo • Objetivo 3: Promover a igualdade de
o mundo haviam ratificado o Estatuto de género e empoderar as mulheres: o
Roma. Instituto de Estatística da UNESCO (UIS)
é a fonte oficial de dados estatísticos que
Também ao nível nacional, os movimentos monitoriza o progresso em direção aos
de mulheres foram bem sucedidos na pro- objetivos, e divulga os factos e números
moção dos direitos humanos das mulhe- mais recentes no Digesto da Educação
res. No Uganda, por exemplo, as mulheres Global. A edição de 2010 do digesto cen-
legisladoras pressionaram no sentido de trou-se no género e demonstrou a ten-
uma nova lei sobre as terras que permitiria dência geral de que apenas um em cada
as mulheres herdarem terras dos seus ma- três países alcançou a paridade em am-
ridos falecidos. O costume tinha proibido bas as educações primária e secundária.
este direito há muito tempo. Finalmente, As regiões em que a maioria dos países
elas conseguiram e agora muitas mulhe- se arriscam a não atingir as metas até
res sabem que têm o direito à terra de que 2015 são a África Subsaariana, a Amé-
necessitam para se sustentarem. Este su- rica Latina, os Estados Árabes, a Ásia
cesso encorajou-as a abordar outras ques- Oriental e a região do Pacífico.
tões relacionadas e importantes para as • Objetivo 5: Melhorar a saúde materna:
mulheres, tais como a Lei sobre Relações de acordo com as estimativas referentes
Domésticas que procura banir a violência à mortalidade materna, da Interagência
doméstica e algumas tradições, como a po- das Nações Unidas, de 2012, tanto o nú-
ligamia. mero global de mortes maternas como
a ratio de mortalidade materna caíram
O compromisso da comunidade interna- um terço desde 1990. Embora tenha ha-
cional de eliminar as disparidades de gé- vido um progresso significativo em to-
nero em todos os níveis de educação, até das as regiões em desenvolvimento, o
2015, faz parte dos Objetivos de Desen- declínio médio da percentagem anual,
volvimento do Milénio (ODM). O esco- em termos globais, ainda está aquém da
po dos Objetivos de Desenvolvimento do meta dos ODM. A taxa anual de declí-
Milénio é encorajar o desenvolvimento, nio estimada de 1,7% na África Subsa-
através da melhoria das condições sociais ariana, onde os níveis de mortalidade
e económicas nos países mais pobres do são os maiores, é mais lenta do que em
mundo. Estes objetivos derivam de metas qualquer outra região.
de desenvolvimento internacionais ante-
riores e foram oficialmente estabelecidos A campanha Unidos para a Eliminação
após a Cimeira do Milénio, em 2000, na da Violência contra as Mulheres (UNi-
qual todos os líderes mundiais presentes TE) foi lançada em 2008 e consiste num
214 II. MÓDULOS SOBRE QUESTÕES SELECIONADAS DE DIREITOS HUMANOS

esforço de vários anos a prevenir e elimi- ma das Nações Unidas, que se centravam
nar a violência contra as mulheres e me- exclusivamente na igualdade de género e
ninas em todas as partes do mundo. A empoderamento das mulheres: a Divisão
UNiTE apela aos governos, sociedade civil, para o Progresso das Mulheres, o Institu-
organizações de mulheres, jovens, ao setor to Internacional de Pesquisa e Formação
privado, aos meios de informação e a todo para a Promoção da Mulher, o Gabinete
o sistema da ONU para unirem forças para do Assessor Especial para Questões de
se enfrentar a pandemia global da violên- Género e Promoção da Mulher e o Fundo
cia contra as mulheres e meninas. de Desenvolvimento das Nações Unidas
A UNiTE pretende atingir até 2015 os se- para a Mulher (UNIFEM). As principais
guintes cinco objetivos, em todos os países: funções da ONU Mulheres são:
• a adoção e execução das leis internas • apoiar organismos intergovernamentais,
para enfrentar e punir todas as formas como a Comissão sobre o Estatuto das
de violência contra mulheres e meni- Mulheres, na sua formulação de políti-
nas; cas, padrões internacionais e normas;
• a adoção e implementação de planos de • ajudar os Estados-membros a imple-
ação nacionais multissetoriais; mentarem estas normas, disponibili-
• o reforço da recolha de dados sobre a zando-se para prestar apoio técnico e
prevalência da violência contra as mu- financeiro adequado aos países que o
lheres e meninas; solicitem, e estabelecerem parcerias efi-
• o aumento da consciência pública e mo- cazes com a sociedade civil; e
bilização social; e • manter o sistema das Nações Unidas
• a abordagem da violência sexual nos responsável pelos seus próprios com-
conflitos. promissos sobre a igualdade de género,
incluindo a monitorização regular do
Em 2010, as Nações Unidas agruparam as progresso de todo o sistema.
suas competências e esforços respeitantes
às mulheres e questões de género através da “No âmbito da ordem patriarcal existente,
criação da ONU Mulheres e a Entidade das a CEDM é um documento revolucionário
Nações Unidas para a Igualdade de Género extraordinário, único na sua perceção das
e o Empoderamento das Mulheres. mulheres enquanto seres humanos plenos.”
Shulamith Koenig. 2009.
Os Estados-membros da ONU deram,
desta forma, um passo histórico na ace- Um dos documentos mais recentes para a
leração do processo para se atingirem os aplicação e integração de questões de géne-
objetivos da organização respeitantes à ro na legislação e administração, bem como
igualdade de género e ao empoderamen- no âmbito das próprias Nações Unidas é a
to das mulheres. A constituição da ONU Resolução da Assembleia-Geral das Nações
Mulheres surgiu como parte da agenda Unidas 66/132, para o acompanhamento
de reforma das Nações Unidas, reunindo da Quarta Conferência Mundial sobre as
recursos e mandatos para obtenção de Mulheres, a implementação integral da De-
um impacto maior. Funde-se e constrói- claração e Plataforma de Ação de Pequim e
se sobre o trabalho importante de quatro dos resultados da vigésima terceira sessão
instituições distintas anteriores do siste- especial da Assembleia-Geral, em 2011.
E. DIREITOS HUMANOS DAS MULHERES 215

3. CRONOLOGIA 1985 Terceira Conferência Mundial das


Nações Unidas sobre as Mulheres
1789 Declaração dos Direitos da Mulher (Nairobi): Adoção das Estratégias
e da Cidadã (Olympe de Gouges) Prospetivas de Ação, de Nairobi,
1888 Fundação do Conselho Internacio- para o Progresso das Mulheres até
nal das Mulheres ao ano 2000
1921 Convenção Internacional para a 1994 Estabelecimento do Relator Espe-
Supressão do Tráfico de Mulheres cial sobre a Violência contra as
e Crianças e Protocolo retificativo Mulheres
1950 Convenção para a Supressão do Trá- 1994 Convenção para Prevenir, Punir e
fico de Pessoas e da Exploração da Erradicar a Violência contra a Mu-
Prostituição de Outrem (em vigor: lher, de Belém do Pará (em vigor
1951, ratificações até março 2012: 82) 1995)
1953 Convenção sobre os Direitos Políti- 1995 Quarta Conferência Mundial das
cos das Mulheres (em vigor: 1954, Nações Unidas sobre as Mulheres
ratificações até maio 2012: 122) (Pequim)
1957 Convenção sobre a Nacionalidade 1998 Estatuto de Roma do Tribunal Pe-
das Mulheres Casadas (em vigor: nal Internacional (em vigor: 2002,
1958, ratificações até maio 2012: 74) ratificações até maio 2012: 121)
1962 Convenção sobre o Consentimento 1999 Protocolo Opcional à Conven-
para o Casamento, a Idade Mínima ção sobre a Eliminação de Todas
para o Casamento e o Registo dos as Formas de Discriminação con-
Casamentos (em vigor: 1964, rati- tra as Mulheres (em vigor: 2000,
ficações até maio 2012: 55) ratificações até maio 2012: 104)
1967 Declaração sobre a Eliminação da 2000 Resolução do Conselho de Se-
Discriminação contra as Mulheres gurança das Nações Unidas S/
RES/1325 (2000) relativa a mulhe-
1975 Primeira Conferência Mundial das res, paz e segurança
Nações Unidas sobre as Mulheres
(Cidade do México) 2000 Protocolo relativo à Prevenção,
Repressão e à Punição do Tráfico
1976 Início da Década das Nações Uni- de Pessoas, em especial de Mu-
das para as Mulheres: Igualdade, lheres e Crianças, como suple-
Desenvolvimento e Paz mento à Convenção das Nações
1979 Convenção sobre a Eliminação de Unidas contra a Criminalidade
Todas as Formas de Discriminação Organizada Transnacional (em
contra as Mulheres (CEDM) (em vigor: 2003, ratificações até maio
vigor: 1981, ratificações até maio 2012: 147)
2012: 187) 2000 23ª Sessão Especial da Assem-
1980 Segunda Conferência Mundial das bleia-Geral sobre “Mulheres 2000:
Nações Unidas sobre as Mulheres Igualdade de Género, Desenvolvi-
(Copenhaga) mento e Paz para o Século XXI”
216 II. MÓDULOS SOBRE QUESTÕES SELECIONADAS DE DIREITOS HUMANOS

2003 Protocolo Adicional à Carta Afri- 2009 Resolução do Conselho de Se-


cana dos Direitos Humanos e dos gurança das Nações Unidas S/
Povos sobre os Direitos das Mu- RES/1894 (2009) relativa à prote-
lheres em África (Protocolo de ção de civis em conflitos armados
Maputo) 2010 Resolução do Conselho de Se-
2005 Pequim+10: Revisão dos Dez gurança das Nações Unidas S/
Anos e Apreciação da Declaração RES/1620 (2010) relativa a mulhe-
e Plataforma de Ação de Pequim res, paz e segurança
e do Documento Resultante da 2010 Pequim+15: Revisão dos Quinze
23ª Sessão Especial da Assem- Anos e Apreciação da Declaração
bleia Geral e Plataforma de Ação de Pequim
2008 Resolução do Conselho de Se- 2010 Estabelecimento da ONU Mulheres
gurança das Nações Unidas S/ (entidade das Nações Unidas para
RES/1820 (2008) relativa a mulhe- a igualdade de género e o empo-
res, paz e segurança deramento das mulheres) pela As-
2009 Resolução do Conselho de Se- sembleia-Geral das Nações Unidas
gurança das Nações Unidas S/ 2011 Resolução da Assembleia-Geral das
RES/1888 (2009) relativa a mulhe- Nações Unidas A/RES/66/132 sobre
res, paz e segurança o acompanhamento da Quarta Con-
2009 Resolução do Conselho de Se- ferência Mundial sobre as Mulheres
gurança das Nações Unidas S/ e a implementação plena da Decla-
RES/1889 (2009) relativa a mulhe- ração e Plataforma de Ação de Pe-
res, paz e segurança quim e dos resultados da 23ª Sessão
Especial da Assembleia-Geral

ATIVIDADES SELECIONADAS
ATIVIDADE I: a terminologia legal; trabalhar diferentes
PARAFRASEANDO A CEDM perspetivas sobre direitos das mulheres;
debater instrumentos jurídicos que lidam
Parte I: Introdução com os direitos das mulheres.
Esta atividade procura melhorar a compre- Grupo-alvo: Jovens adultos e adultos
ensão da CEDM e é especialmente direcio- Dimensão do grupo: 20-25; pequenos gru-
nada a não juristas que não estão familia- pos de trabalho e debate com o grupo todo
rizados com a terminologia jurídica. Duração: aproximadamente 60 minutos
Material: Cópias da CEDM, papel e caneta
Parte II: Informação Geral Competências envolvidas: leitura e para-
Tipo de atividade: Exercício fraseamento da terminologia jurídica, co-
Metas e objetivos: Sensibilização sobre os municação, cooperação e análise de dife-
direitos das mulheres; familiarizar-se com rentes pontos de vista.
E. DIREITOS HUMANOS DAS MULHERES 217

Parte III: Informação Específica sobre a intermédio dos homens? Quais são os
Atividade obstáculos à autonomia das mulheres?
Instruções: • O que diz a Constituição do seu país
Depois de fazer uma introdução à CEDM, sobre os direitos das mulheres? Existe
pedir aos participantes que se dividam em disparidade entre a realidade e a Cons-
grupos de 4 ou 5 pessoas. Cada grupo será tituição?
responsável por traduzir uma determinada • Tem conhecimento de algum processo
parte da CEDM para linguagem não jurídi- jurídico a decorrer atualmente a respei-
ca, linguagem corrente. É também possível to dos direitos humanos das mulheres?
entregar o mesmo artigo ou artigos a todos Qual é o assunto? Quais são os direitos
os grupos, o que torna o debate mais in- lesados?
teressante uma vez que diferentes pessoas Sugestões práticas:
poderão entender certas expressões de for- Trabalhar em pequenos grupos de quatro
ma diferente. ou cinco possibilita um debate mais inten-
Dar 30 minutos ao grupo para trabalhar sivo e permite aos participantes silencio-
e depois chamá-los para o plenário. sos ou tímidos uma melhor oportunidade
Cada grupo apresenta a sua “tradução” de se envolverem. Contudo, os resultados
ao grupo inteiro. Deixar tempo para o dos trabalhos de grupo devem ser sempre
debate e esclarecimento de questões. apresentados e debatidos na presença de
Depois, o grupo deve pensar na situa- todos de modo a garantir o mesmo nível
ção no seu país natal. O debate de todas de conhecimento a todos os participantes.
ou algumas das seguintes questões pode Outras sugestões:
ser útil na análise sobre o que pode ser A atividade pode ser realizada com qual-
modificado: quer documento jurídico de acordo com o
• A sua sociedade coloca os direitos das interesse dos participantes e os tópicos do
mulheres separados dos direitos huma- curso.
nos? Como é feita esta segregação: pela
lei? Pelo costume? Parte IV: Acompanhamento
• A segregação é direta? É um “facto da Um acompanhamento adequado pode ser
vida” sobre o qual ninguém fala? a organização de uma campanha para os
• A segregação afeta todas as mulheres? direitos das mulheres.
Se não, quais são as mulheres mais afe- Direitos relacionados/ outras áreas a ex-
tadas? plorar:
• Descreva exemplos particulares de se- Direitos humanos em geral, direitos das
gregação de género. minorias, não discriminação.
• Como respondem as mulheres à segre-
gação? ATIVIDADE II:
• Existem direitos humanos dos quais os O CAMINHO PARA A IGUALIA
homens gozam naturalmente enquanto
as mulheres têm de fazer um esforço Parte I: Introdução
especial para terem esses direitos reco- O caminho para a igualdade é longo e si-
nhecidos? nuoso...
• Existem aspetos da vida onde se espera Os participantes ajudam os viajantes a
que as mulheres devam agir através do encontrarem o seu caminho, por entre
218 II. MÓDULOS SOBRE QUESTÕES SELECIONADAS DE DIREITOS HUMANOS

diversos obstáculos, desenhando um rias que usem a metáfora de uma pessoa


mapa de fantasia do caminho para a em viagem para defender ideais morais.
Igualia, um país onde existe a igualda- Descobrir algumas metáforas comuns
de de género verdadeira. No presente, a por exemplo, a forma como uma flo-
Igualia existe apenas na imaginação das resta escura pode ser usada como uma
pessoas, mas o seu mapa mostra o cami- metáfora para o mal ou uma maçã ver-
nho para o futuro. melha para representar a tentação. O
viajante pode demonstrar força moral
Parte II: Informação Geral ao atravessar a nado um rio que flui
Tipo de atividade: Trabalho de grupo, rapidamente ou humildade ao auxiliar
imaginação e desenho outra pessoa.
Metas e objetivos: Desenvolver a com- Analisar brevemente a forma como se con-
preensão e a apreciação dos objetivos de cebem os mapas. Apontar os caminhos re-
igualdade e equilíbrio de género; o desen- presentados pelas linhas, o sombreamento
volvimento da imaginação e criatividade para as montanhas e os rios e os símbolos
para vislumbrar o futuro; promovendo a usados para as florestas, charnecas, pré-
justiça e o respeito dios, cabos de energia, etc.
Grupo-alvo: Jovens adultos e adultos Pedir às pessoas que se organizem em pe-
Dimensão do grupo: 10-30, trabalho em quenos grupos de 3 a 5 pessoas. Distribuir
pequenos grupos e debate com o grupo as folhas de papel e lápis e dar-lhes cer-
todo ca de 15 minutos para fazerem 3 curtas
Duração: aproximadamente 90 minutos discussões sobre como imaginam Igualia,
Material: Folhas de papel e lápis para a que obstáculos iriam encontrar no trajeto
chuva de ideias, folhas de papel grandes, para Igualia e como os iriam superar.
marcadores de diferentes cores, um mapa Entregar as folhas de papel grandes e os
pedestre ou qualquer outro tipo de mapa marcadores. Pedir a cada grupo que dese-
que contenha caraterísticas físicas, tais nhe o seu mapa de fantasia, a representar
como montanhas, vales, rios, florestas, al- as paisagens do presente e do futuro e um
deias, pontes, etc. caminho a passar entre os dois. Eles de-
Preparação: Familiarizar-se com o mapa e vem fazer os seus próprios símbolos para
os símbolos utilizados as características geográficas e para os
Competências envolvidas: Análise, dis- obstáculos e facilidades que se encontram
cussão e decisões de grupo, aptidões cria- ao longo do caminho.
tivas/desenho Dar aos grupos 40 minutos para desenha-
rem seus mapas. Lembrá-los de fazerem
Parte III: Informação Específica sobre a uma tabela para os símbolos que usaram.
Atividade Reunir o plenário e pedir às pessoas para
Instruções: apresentarem os seus mapas.
Explicar que nesta atividade os participan- Reações:
tes irão desenhar um mapa de fantasia de Começar com uma conversa sobre a for-
como chegar à Igualia, um país onde exis- ma como os diferentes grupos trabalha-
te igualdade de género verdadeira. ram juntos e como eles tomaram decisões
Pedir aos participantes que se lembrem sobre o que representar e sobre a forma
de contos populares ou de outras histó- como desenharam o mapa. Ao prosseguir,
E. DIREITOS HUMANOS DAS MULHERES 219

abordar a forma como na realidade seria a prazo para aumentar a igualdade de gé-
Igualia e sobre os obstáculos: nero?
• As pessoas gostaram da atividade? De • Quais outros grupos são discriminados
que gostaram? na sua sociedade? Como se manifesta
• Qual das três perguntas foi a mais fácil de essa discriminação? Quais os direitos
debater? Qual foi a mais difícil? Porquê? humanos que estão a ser violados?
• Quais são as principais caraterísticas da • Como se podem empoderar os grupos
Igualia? desfavorecidos de forma a poderem re-
• Quais são os principais obstáculos que clamar os seus direitos?
impedem que a sociedade do presente
seja a Igualia ideal? Parte IV: Acompanhamento
• Se tivesse de classificar o seu país en- Considerar a política da sua escola, clube ou
tre todos os países do mundo, no que local de trabalho sobre a igualdade de oportu-
respeita à igualdade de oportunida- nidades em relação ao género e discutir como
des entre homens e mulheres, como o as políticas são implementadas e se são ne-
classificaria numa escala de 1 a 10? 1 é cessárias mudanças ou esforços para elevar a
muito desigual, 10 é a igualdade quase sua instituição ao estatuto da Igualia.
ideal. Direitos relacionados/ outras áreas a ex-
• O que precisa mudar, de forma a cons- plorar:
truir-se uma sociedade onde exista Direitos humanos em geral, direitos das
igualdade de género? minorias, não discriminação.
• Qual é o papel da educação para o em- (Fonte: Rui Gomes et al. (eds.). 2002.
poderamento e os direitos humanos? COMPASS. A manual on human rights
• Justificam-se as políticas de discrimina- education with young people.)
ção positiva enquanto medidas a curto

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F. PRIMADO DO DIREITO
E JULGAMENTO JUSTO

O PRIMADO DO DIREITO EM SOCIEDADES DEMOCRÁTICAS


JULGAMENTO JUSTO – ELEMENTO PRINCIPAL DO PRIMADO DO DIREITO
OS ELEMENTOS DE UM JULGAMENTO JUSTO

“O primado do Direito é mais do que o uso formal dos instrumentos jurídicos, é também
o Primado da Justiça e da Proteção para todos os membros da sociedade contra um poder
governamental excessivo.”
Comissão Internacional de Juristas. 1986.
224 II. MÓDULOS SOBRE QUESTÕES SELECIONADAS DE DIREITOS HUMANOS

HISTÓRIA ILUSTRATIVA
Turquia: Farsa de Justiça no Julgamento cia decidiu que as suas declarações eram
de uma Ativista inadmissíveis como provas contra S.. Ne-
nhumas outras provas, testemunhais ou
Em 9 de fevereiro de 2011, S. vai ser jul- forenses, foram apresentadas para estabe-
gada pelo seu alegado envolvimento lecer uma ligação entre S. e a explosão.
numa explosão, em 1998, no Mercado de Verificou-se que uma declaração por escrito
Especiarias de Istambul, que matou sete supostamente feita pela tia de Ö., em que
pessoas e feriu mais de 100. É a terceira alegadamente identificou S. como tendo
tentativa para condená-la pela autoria de visitado a sua casa, foi fabricada, quando
um atentado com bomba letal apesar das se tornou claro que a sua tia apenas falava
provas substanciais de que não teve lugar curdo e não turco, tendo ela testemunhado
um atentado com bomba, mas sim que a que a polícia a tinha forçado a assinar um
explosão resultou de uma fuga de gás. documento cujo conteúdo ela desconhecia.
Em 1998, S., então com 27 anos, trabalha- No tribunal, tanto Ö. como a sua tia afir-
va num projeto de arte de rua em Istambul maram nunca sequer terem conhecido S..
quando foi detida. Um jovem de 19 anos de “O julgamento de S. representa uma per-
idade, Ö., também foi detido. O caso contra versão do sistema de justiça criminal e um
ele baseava-se na alegação, repetidamente abuso do processo equitativo”, disse Emma
negada, de que a explosão tinha resultado Sinclair-Webb, pesquisadora na Turquia
de um atentado com bomba e na acusação da Human Rights Watch, que irá assistir
feita por Ö., durante o interrogatório, da cul- ao julgamento. “A continuidade deste caso
pa de S.. Ö., mais tarde, retirou em tribunal desde há 12 anos viola os requisitos mais
a sua acusação, dizendo que tinha sido co- elementares para um julgamento justo. Es-
agido pela polícia, sob tortura. S. também tas acusações infundadas deveriam termi-
alega ter sido severamente torturada quando nar de uma vez por todas.”
se encontrava sob custódia da polícia. Persistem na Turquia preocupações bem
Inicialmente, os relatórios da polícia retira- fundadas sobre acusações motivadas po-
ram a hipótese de se tratar de um atentado liticamente, disse a Human Rights Watch.
com bomba, sugerindo que a explosão tinha Procuradores e juízes prosseguem proces-
sido causada por uma fuga de gás. O procu- sos, sem justificação, contra jornalistas e
rador que indiciou S. e Ö. rotulou a explosão editores, defensores dos direitos humanos,
como resultante de um atentado com bom- indivíduos que participam em manifesta-
ba, o que mais tarde foi refutado por três ções e pessoas envolvidas em atividades
relatórios separados de especialistas em di- legais políticas pró-curdas.
ferentes departamentos da universidade. Os S. é uma socióloga que fez campanhas e
relatórios da autópsia não referem quaisquer escreveu extensamente sobre questões dos
indícios de que as mortes tivessem sido cau- direitos humanos na Turquia, incluindo
sadas por um atentado à bomba. questões de género, dos direitos dos ho-
Quando Ö. foi absolvido de todas as acu- mossexuais, bissexuais e transsexuais, bem
sações, decisão confirmada pelo Tribunal como sobre os direitos dos curdos e de ou-
de Cassação, o tribunal de primeira instân- tras minorias. O seu julgamento é um dos
F. PRIMADO DO DIREITO E JULGAMENTO JUSTO 225

exemplos mais marcantes deste padrão de 2. Quais foram os direitos violados?


julgamentos injustos motivados politica- 3. O que pode ser feito para se prevenir
mente, disse a Human Rights Watch. que situações semelhantes ocorram no-
(Fonte: Human Rights Watch. 2011. Tur- vamente?
key: Activist’s Trial a Travesty of Justice) 4. Quais os sistemas de proteção interna-
cionais que podem ser usados nestes
Questões para debate casos?
1. Quais são os motivos para a acusação
de S.?

A SABER
1. INTRODUÇÃO duma sociedade democrática que se rege
pelo “primado do Direito”.
Imagine-se sentado num tribunal sem
saber porquê. Fica ainda mais confuso O Primado do Direito
quando o juiz começa a ler a acusação – o O primado do Direito abrange várias áreas
crime de que é acusado nunca antes foi e engloba aspetos políticos, constitucio-
considerado ilegal, uma vez que não se nais, jurídicos bem como dos direitos hu-
encontra descrito na atual legislação. Nin- manos. Qualquer sociedade democrática
guém responde às suas questões, sente-se tem de assegurar o respeito pelo primado
completamente incapaz de se defender a do Direito. Tal é essencial para a proteção
si próprio, porém, não lhe é facultado um efetiva dos direitos humanos.
advogado. Pior do que isto, quando se ini-
cia a inquirição das testemunhas, descobre Direito à Democracia
que pelo menos uma delas fala uma língua
que não compreende e que nenhum intér- Apesar de o primado do Direito ser um
prete está presente. Durante o julgamen- pilar da sociedade democrática, não
to, o juiz informa-o que esta é a segunda existe total consenso quanto a todos os
audiência, tendo a primeira decorrido sem seus elementos. Todavia, é comummente
a sua presença. À medida que decorre o aceite que os cidadãos só estão protegi-
julgamento, torna-se claro que todos estão dos contra atos arbitrários de autoridades
convencidos da sua culpa e que, na reali- públicas quando os seus direitos estejam
dade, a única questão é saber qual deve estabelecidos na lei. Esta lei tem de ser
ser a sua pena. de conhecimento público, tem de ser
aplicada de forma igualitária e o seu
Este exemplo demonstra o que acontece cumprimento tem de ser, efetivamente,
quando são violadas as garantias de um aplicado. Assim, torna-se evidente que
julgamento justo. O direito ao julgamen- a execução do poder estatal tem de ser
to justo, também denominado como “boa fundamentada em legislação elaborada
aplicação da justiça”, é um dos pilares de acordo com a Constituição e com o ob-
226 II. MÓDULOS SOBRE QUESTÕES SELECIONADAS DE DIREITOS HUMANOS

jetivo de garantir a liberdade, a justiça e a gos, como Aristóteles, que preferiam o esta-
certeza jurídica. do de direito ao estado discricionário. Outra
etapa pode ser identificada na Inglaterra me-
Em 1993, a Conferência Mundial das Na- dieval onde, em 1066, uma administração
ções Unidas sobre os Direitos Humanos, central foi estabelecida por Guilherme, o Con-
em Viena, reafirmou a ligação inquebrá- quistador. Embora o rei incorporasse os po-
vel entre o princípio do primado do Direi- deres executivo, legislativo e judicial centrais,
to e a proteção e promoção dos direitos ele próprio não se encontrava acima da lei –
humanos. Reconheceu que a ausência do era a lei que o tornara rei. Em consequência,
primado do Direito é um dos maiores obs- os tribunais de direito comum (common law)
táculos à implementação dos direitos hu- e o parlamento, em conjunto com a nobreza,
manos. O primado do Direito fornece os fortaleceram a sua influência no sistema na-
alicerces para a condução justa das rela- cional, estabelecendo a primeira monarquia
ções entre as pessoas, e é um pilar essen- parlamentar na Europa. As pedras angulares
cial do processo democrático. O primado do desenvolvimento do primado do Direito
do Direito também assegura a prestação foram a Magna Charta Libertatum (1215),
de contas e fornece um mecanismo de concedendo certos direitos civis e políticos
controlo daqueles que estão no poder. à nobreza, e a Lei do Habeas Corpus (1679)
que deu, a quem se encontrasse detido, o di-
“Para as Nações Unidas, o primado do reito inegável a ser informado das razões pe-
Direito refere-se a um princípio de gover- las quais a sua liberdade fora restrita.
nação no qual todas as pessoas, insti- Na Europa, o princípio do primado do Di-
tuições e entidades, públicas e privadas, reito ganhou importância no ambiente das
incluindo o próprio Estado, cumprem as revoluções civis, durante os séculos XVII e
XVIII. Atualmente, o primado do Direito é
leis promulgadas oficialmente, aplicadas
um princípio fundamental das instituições
com igualdade e imparcialidade e com-
nacionais e regionais em todo o mundo.
patíveis com os padrões e as normas in-
ternacionais de direitos humanos. Tam-
Primado do Direito, Julgamento Justo
bém requer medidas para a garantia da
e Segurança Humana
adesão aos princípios da supremacia do
direito, igualdade perante a lei, respon- A segurança humana tem a sua raiz no
sabilização em relação à lei, justiça na primado do Direito e no julgamento justo
aplicação da lei, separação dos poderes, e não se concretizará sem estes princípios
participação na tomada de decisões, se- fundamentais. Os princípios do primado
gurança jurídica, proibição da arbitrarie- do Direito e do julgamento justo contri-
dade e transparência processual e legal.” buem diretamente para a segurança da
pessoa, garantem que ninguém seja pro-
(Fonte: Nações Unidas. 2004. The Rule
cessado e preso de forma arbitrária e que
of Law and Transnational Justice in Con-
todos possam ser ouvidos em tribunal pe-
flict and Post-Conflict Societies.)
rante um juiz independente e imparcial.
Desenvolvimento Histórico do Primado A equidade nos procedimentos judiciais é
do Direito uma componente da justiça e assegura a
As raízes do princípio do primado do Direito confiança dos cidadãos numa jurisdição
podem ser encontradas já nos filósofos gre- com base na lei e imparcial.
F. PRIMADO DO DIREITO E JULGAMENTO JUSTO 227

Além disso, um sistema judicial forte de- 2. DEFINIÇÃO E DESENVOLVIMENTO


sempenha não só uma função corretiva DA QUESTÃO
mas também uma forte função preven-
tiva; pode também ajudar a reduzir as O Julgamento Justo
taxas de criminalidade e a corrupção, como Elemento Fundamental
contribuindo, assim, para o direito de do Primado do Direito
viver sem medo. Em situações de pós- O primado do Direito significa, primei-
conflito é particularmente importante ramente, a existência e o cumprimento
restabelecer o primado do Direito e o efetivo de leis, de conhecimento público
direito ao julgamento justo para acen- e não discriminatórias. Com este fim, o
tuar a segurança humana através da Estado tem de estabelecer instituições que
certeza jurídica, da administração im- salvaguardem o sistema jurídico, incluin-
parcial da justiça e da boa governação. do tribunais, procuradorias e polícia. Es-
Estas são formas essenciais para que tas instituições encontram-se vinculadas
os cidadãos voltem a confiar e a acre- às garantias dos direitos humanos, como
ditar no Estado e nas suas autoridades. estabelecido nos tratados universais e
No que respeita ao crescimento e desen- regionais de proteção dos direitos huma-
volvimento económico, um clima pro- nos, como o Pacto Internacional sobre os
pício ao investimento também depende Direitos Civis e Políticos (PIDCP), a Con-
fortemente de um sistema administrati- venção Europeia dos Direitos Humanos,
vo e judicial que funcione. Assim, o pro- a Convenção Americana sobre Direitos
gresso económico e o bem-estar social Humanos e a Carta Africana dos Direitos
que asseguram a segurança económica e Humanos e dos Povos.
social e contribuem, diretamente, para o O direito a um julgamento justo está re-
direito de viver sem privações, também lacionado com a administração da justiça,
dependem do primado do Direito e do tanto no contexto civil como no penal. Em
direito ao julgamento justo. primeiro lugar, é importante compreender
que a administração correta da justiça tem
dois aspetos: o institucional (ex: a inde-
pendência e imparcialidade do tribunal) e
“[…] apoiar os direitos humanos e o pri- o processual (ex: equidade na audiência).
mado do Direito, na realidade, funciona O princípio do julgamento justo contem-
para beneficiar a segurança humana. As pla uma série de direitos individuais asse-
sociedades que respeitam o primado do gurando a administração correta da justiça
Direito não acobertam a autoridade do desde o momento da suspeita à execução
executivo, mesmo ao lidar com situações da sentença.
excecionais. Estas sociedades aceitam
o papel essencial do poder judicial e do
poder legislativo para assegurar que os Padrões Mínimos dos Direitos dos Acu-
governos façam uma abordagem equili- sados:
brada e legal dos complexos assuntos de 1. Todos são iguais perante os tribunais
interesse nacional.” de justiça e têm direito a garantias mí-
Louise Arbour, Alta Comissária das Nações Unidas nimas que assegurem um julgamento
para os Direitos Humanos. 2004. justo com total igualdade.
228 II. MÓDULOS SOBRE QUESTÕES SELECIONADAS DE DIREITOS HUMANOS

2. Todos os acusados da prática de um 10. Ninguém deve ser condenado por atos
crime têm o direito a ser, atempada- ou omissões que não constituam um
mente, informados, em pormenor, ato delituoso, segundo o direito na-
num idioma que compreendam, da cional ou internacional, no momento
natureza e causa da acusação contra em que forem cometidos (“nullum
eles formulada. crimen, nulla poena sine lege”). Do
3. Todos os acusados da prática de um mesmo modo, não deve ser aplicada
crime têm o direito à presunção de nenhuma pena mais gravosa do que
inocência até ser provada a sua cul- aquela que era aplicável no momento
pa de acordo com a lei. em que a infração foi cometida.
4. O tribunal deve ser competente, in- 11. Todos têm o direito ao acesso gra-
dependente, imparcial e estabeleci- tuito a soluções judiciais eficazes e
do pela lei. equitativas. Todos aqueles que sejam
condenados pela prática de um crime
5. Todos têm direito a uma audiência equi- têm o direito a que a sentença que os
tativa e pública; termos em que, o público condena seja revista por um tribunal
só pode ser excluído em casos específicos. superior, nos termos da lei.
6. Todos têm o direito a ser julgados (Fonte: Extraídos dos principais instru-
sem demora excessiva. mentos dos Direitos Humanos da ONU.)
7. Todos têm o direito a estar presen-
te no julgamento. A pessoa acusada As disposições internacionais sobre o direito a
tem o direito a defender-se a si mes- um julgamento justo (por exemplo, o artº 14º
ma ou a ter a assistência de um de- do PIDCP que foi especificado e interpretado
fensor da sua escolha; se não tiver pelo Comité dos Direitos Humanos, no seu
defensor, deve ser informada do seu Comentário Geral nº 32, em 2007) aplicam-se
direito de ter um; sempre que o in- a todos os tribunais, quer ordinários quer
teresse da justiça o exigir deve ser- especiais. Em muitos países, existem tribu-
lhe atribuído um defensor oficioso, nais militares ou especiais que julgam civis.
a título gratuito, no caso de não ter Muitas vezes, a razão para o estabelecimento
meios para o remunerar. destes tribunais prende-se com permitir a apli-
8. A pessoa acusada tem direito a in- cação de procedimentos excecionais que não
terrogar, ou fazer interrogar, as tes- obedecem aos princípios normais da justiça.
temunhas de acusação e a obter a Embora o Pacto não proíba estas categorias
comparência e o interrogatório das de tribunais, as condições que estabelece, to-
testemunhas de defesa. A pessoa davia, indicam claramente que o julgamento
acusada tem direito a não ser força- de civis nestes tribunais deve ser excecional
da a testemunhar contra si própria e deve ter lugar em condições que garantam,
ou a confessar-se culpada. plenamente, o estipulado no PIDCP.
9. A pessoa acusada tem direito à assis-
Igualdade perante a Lei
tência gratuita de um intérprete, se
e perante os Tribunais
não compreender ou não falar a lín-
A garantia da igualdade é um dos princí-
gua utilizada no tribunal.
pios gerais do primado do Direito. Proíbe
F. PRIMADO DO DIREITO E JULGAMENTO JUSTO 229

leis discriminatórias e inclui o direito a em qualquer altura, pelo governo ou por


acesso igual aos tribunais e tratamento outras autoridades, a sua independência
igual pelos tribunais. institucional ficaria comprometida. Além
O seu aspeto prático mais importante é a disso, se tanto os tribunais como os pró-
igualdade de armas, abrangendo a ideia prios juízes estiverem sob o controlo ou
de que cada parte num processo deve ter influência de entidades não judiciais, o
uma oportunidade igual de apresentar o julgamento justo não poderá ser assegu-
seu caso e nenhuma parte deve gozar de rado. Exemplos deste controlo, que viola o
uma vantagem substancial relativamente à princípio da independência dos juízes, são
outra parte. as condições salariais dos juízes, a possi-
O outro aspeto do tratamento igual pe- bilidade de outros ramos governamentais
los tribunais refere-se a que cada pessoa darem instruções aos tribunais, ameaças
acusada tem direito a ser tratada de forma de transferência de juízes caso as suas de-
igual a outras pessoas, similarmente acu- cisões não coincidam com determinadas
sadas, sem discriminação de qualquer es- expetativas ou instruções, etc.
pécie. Todavia, neste contexto deve-se ter As decisões dos tribunais não podem ser
em conta que o tratamento igual não signi- alteradas por autoridades não judiciais,
fica tratamento idêntico. Significa sim que, exceto no caso de amnistias reconhecidas
onde os factos objetivos são similares, o constitucionalmente, normalmente conce-
tratamento pelo sistema administrativo e didas pelo Chefe de Estado.
judicial tem de ser similar, mas quando os As normas sobre o julgamento justo não
factos encontrados são diferentes, o prin- requerem uma estrutura específica para os
cípio da igualdade impõe tratamento dife- tribunais de justiça que podem ser com-
rente. postos, somente por juízes profissionais,
por painéis mistos de juízes profissionais
Não Discriminação e leigos ou por outras combinações destes.
Todavia, existem normas internacionais
Independência sobre a independência do poder judicial
e Imparcialidade que também incluem disposições sobre a
Um dos elementos básicos de um sistema nomeação de juízes. Nenhum instrumento
baseado no primado do Direito que funcio- internacional de direitos humanos impõe o
na refere-se ao papel desempenhado por julgamento de júri. Contudo, num país que
tribunais independentes e imparciais no tenha adotado o sistema de júri, as condi-
sistema legal. De acordo com o princípio ções da independência e da imparcialidade
da separação de poderes, o poder judicial aplicam-se, também, aos jurados.
tem de estar completamente separado dos
poderes legislativo e executivo. Isto signi-
“As comissões militares estabelecidas pelos
fica que o poder judicial enquanto institui-
presidentes Bush e Obama em Guantána-
ção, assim como os juízes têm de poder
mo não cumprem os padrões internacio-
exercer as suas responsabilidades profis-
nais de justiça e devem ser abandonadas.
sionais sem serem influenciados.
As comissões militares foram estabele-
A independência dos juízes é um dos
cidas especificamente para permitirem
pilares da independência do poder judi-
que as autoridades norte-americanas
cial. Se os juízes pudessem ser removidos,
230 II. MÓDULOS SOBRE QUESTÕES SELECIONADAS DE DIREITOS HUMANOS

contornem as proteções de que os argui- acordo com o qual a imprensa e o público


dos iriam beneficiar num tribunal civil. em geral podem ser excluídos de toda ou
O facto de terem realizado diversas revi- parte da audiência por razões de moralida-
sões estatutárias e processuais sugere que de, ordem pública ou de segurança nacio-
ficaram aquém do padrão de “tribunal nal numa sociedade democrática ou quan-
regularmente constituído”, exigido pelo do os interesses da vida privada das partes
Artigo comum nº 3 das Convenções de assim o exijam ou, na medida do necessá-
Genebra. rio, em circunstâncias especiais em que o
tribunal considere que a publicidade possa
A Amnistia Internacional apela, desde comprometer os interesses da justiça.
há muito, para que qualquer detido de Todavia, mesmo em casos em que o pú-
Guantánamo que os EUA pretendam acu- blico é excluído da audiência, a sentença
sar seja acusado rapidamente e conduzi- em processo criminal ou noutro caso tem
do a tribunal independente e imparcial de ser pública (exceto, quando a proteção
que aplique os padrões de julgamento de interesses de menores assim o requeira
justo, tal como um qualquer tribunal fe- ou quando os procedimentos digam res-
deral dos EUA, para aí receber um julga- peito a disputas matrimoniais ou à tutela
mento criminal justo. [...]” de crianças).
(Fonte: Amnistia Internacional. 2011. Mi-
litary Commissions.) Direito à Presunção
da Inocência
Audiência Pública O direito à presunção da inocência sig-
Para fomentar a confiança na adminis- nifica que todos os que são acusados de
tração da justiça e assegurar uma audi- um crime têm o direito a ser presumidos
ção justa das partes, a audiência deve ser inocentes e serão tratados como inocentes
aberta ao público em geral. De acordo com até serem considerados culpados, de acor-
a máxima que a justiça não deve ser só do com a lei, num julgamento justo. Este
feita, mas deve ser vista a ser feita, o pú- princípio aplica-se desde o momento da
blico tem o direito a saber como a justiça suspeita até à confirmação da sentença de
é feita e que decisões foram tomadas. Uma condenação pelo último degrau de recur-
audiência pública impõe audiências orais so. Assim, no âmbito penal, o Ministério
sobre o mérito da causa que devem ser re- Público tem de provar a culpa da pessoa
alizadas num local onde os membros do acusada e, se existir alguma dúvida razo-
público e da imprensa possam estar pre- ável, a pessoa acusada não pode ser con-
sentes. A este respeito, a informação sobre denada.
a hora e o local da audiência pública deve O direito à presunção da inocência impõe
ser facultada, de forma pública, pelos tri- que juízes e jurados se abstenham de julgar
bunais. O princípio da publicidade tem de antecipadamente um caso. Isto também se
ser plenamente respeitado, a não ser que aplica a todos os outros agentes oficiais
haja razões legítimas que permitam a ex- que englobem o processo. A presunção
clusão do público. de inocência também deve ser respeitada
As razões das restrições estão estabeleci- pelos cidadãos e jornalistas profissionais.
das nos próprios instrumentos internacio- O direito a manter o silêncio e o direito
nais, por exemplo, o artº 14º do PIDCP, de a não ser forçado a testemunhar contra
F. PRIMADO DO DIREITO E JULGAMENTO JUSTO 231

si mesmo ou a confessar-se culpado tam- defensor, a ser informada do seu direito de


bém pertencem ao âmbito do princípio do ter um e, sempre que o interesse da justi-
direito à presunção da inocência. O direito ça o exigir, a ser-lhe atribuído um defensor
a manter o silêncio também impõe que o oficioso, a título gratuito no caso de não ter
silêncio não pode ser tido em considera- meios para o remunerar” (Artº 14º, nº 3,
ção na determinação da culpa ou inocên- al. d) do PIDCP).
cia. O direito a não ser forçado a testemu-
nhar contra si mesmo ou a confessar-se Conteúdo do direito a defender-se a si
culpado implica a proibição do exercício próprio e do direito a estar presente no
de qualquer forma de pressão. julgamento:
- direito a defender-se a si próprio;
Direito a Ser Julgado
sem Demora Excessiva - direito a escolher o seu defensor;
O período de tempo considerado de acordo - direito a ser informado de que tem di-
com as disposições relativas ao julgamen- reito à assistência de um defensor;
to sem demora excessiva engloba não só o
- direito a estar presente no julgamento; e
período até ao início do julgamento, como
a duração total do processo, incluindo um - direito a ser-lhe atribuído um defensor
possível recurso para um tribunal superior oficioso a título gratuito.
até ao Supremo Tribunal ou qualquer ou-
tra autoridade judicial final. Dependendo da severidade da possível
O que constitui uma duração temporal ra- pena, o Estado não é obrigado a nomear
zoável pode ser diferente de acordo com um defensor em todos os casos. Por exem-
a natureza do caso em disputa. A avalia- plo, o Comité dos Direitos Humanos da
ção do que pode ser considerado demora ONU considerou que tem de ser nomeado
excessiva depende das circunstâncias do um defensor a qualquer pessoa acusada
caso, nomeadamente da sua complexida- de um crime punível com pena de morte.
de, da conduta das partes, o que está em Todavia, a uma pessoa acusada de condu-
causa para o queixoso e a atuação das au- ção em excesso de velocidade não tem,
toridades. necessariamente, de ser nomeado um de-
Além disso, deve ser tido em conta que, fensor à custa do Estado. De acordo com
em direito penal, o direito ao julgamento o Tribunal Interamericano dos Direitos
justo sem demora excessiva é também um Humanos, um defensor deve ser nomeado
direito das vítimas. O princípio subjacente se for necessário para assegurar um julga-
da norma está bem patente na frase: “jus- mento justo.
tiça atrasada é justiça negada”. Ao nomear um defensor, deve ter-se em
consideração que o acusado tem o direito
Direito a uma Defesa Adequada a um advogado de defesa experiente, com-
e Direito a Estar Presente petente e eficaz. Tem também o direito a
no Julgamento ter reuniões confidenciais com o seu ad-
Toda a pessoa acusada de um crime tem o vogado.
direito “a estar presente no processo e a de- Apesar da existência do direito a estar
fender-se a si própria ou a ter a assistência presente no julgamento, excecionalmente,
de um defensor da sua escolha; se não tiver podem ser realizados julgamentos na au-
232 II. MÓDULOS SOBRE QUESTÕES SELECIONADAS DE DIREITOS HUMANOS

sência do arguido, por justificadas razões, dimentos, o intérprete traduz, oralmente,


sendo que o cumprimento dos direitos da para o arguido e para o tribunal.
defesa será tanto mais exigido. O defensor
nunca poderá ser excluído dos procedi- Acesso a Mecanismos
mentos. de Proteção Judiciais Justos
e Eficazes
Direito a Obter a Comparência As normas sobre o julgamento justo con-
e a Interrogar ou Fazer têm vários elementos que abrangem a boa
Interrogar as Testemunhas administração da justiça. De certa forma,
De acordo com o princípio de igualdade estes elementos podem ser vistos como
de armas, a defesa e a acusação devem descrevendo as caraterísticas gerais das
estar numa posição de igualdade nos pro- instituições judiciais e traçando amplos
cedimentos. Esta disposição foi concebida parâmetros pelos quais a equidade num
para garantir ao acusado os mesmos pode- processo pode ser, no final, avaliada. Con-
res legais de forçar a comparência de tes- tudo, antes de se chegar ao ponto onde
temunhas e de interrogar ou contrainter- tais avaliações podem ser realizadas, tem
rogar qualquer testemunha disponível ao de ter sido dada à pessoa a oportunidade
Ministério Público. Assegura que a defesa de apresentar o seu caso.
tem a oportunidade de interrogar as tes- Um ponto importante em casos onde se
temunhas que prestem depoimento e de alega a violação do direito de acesso aos
desafiar os depoimentos prestados contra tribunais refere-se ao Estado não poder
o acusado. restringir ou eliminar o recurso judicial
Existem algumas limitações quanto ao in- em determinadas áreas ou para determina-
terrogatório das testemunhas de acusação. das classes de indivíduos. As decisões nos
Aquelas limitações são consideradas tendo procedimentos civis e penais têm de ser
por base a conduta do acusado, no caso passíveis de recurso. Isto significa que se
de a testemunha temer, razoavelmente, têm de institucionalizar, ao nível nacional,
represálias ou se a testemunha estiver in- tribunais de autoridade mais elevada, com
disponível. a competência para reverem e anularem as
decisões dos tribunais de primeira instân-
Direito à Assistência Gratuita cia, contribuindo assim para a prevenção
de um Intérprete da arbitrariedade.
A pessoa que não perceber ou não falar a
língua utilizada em tribunal tem o direi- O Princípio
to à assistência gratuita de um intérprete, “Nulla Poena Sine Lege”
incluindo a tradução de documentos. O A frase em latim “nulla poena sine lege”
direito a um intérprete aplica-se, de igual significa, simplesmente, que ninguém
modo, a nacionais e a estrangeiros que pode ser condenado por atos que não se-
não dominem, em grau suficiente, a lín- jam proibidos por lei no momento em que
gua utilizada no tribunal. O direito a um são praticados, mesmo que depois a lei
intérprete pode ser exercido pelo suspeito seja alterada. Desta forma, não pode ser
ou pelo arguido no momento do interroga- imposta uma pena mais grave do que a
tório pela polícia, pelo juiz de instrução ou aplicável no momento da prática do crime.
durante o julgamento. Durante os proce- Esta denominada não retroatividade da
F. PRIMADO DO DIREITO E JULGAMENTO JUSTO 233

lei assegura que quem vive de acordo com contra uma garantia financeira enquanto
a lei não corre o risco de, repentinamente, aguarda o início dos procedimentos judi-
ser punido pela prática de atos originaria- ciais. A existir na ordem jurídica de um
mente legais. Assim, a aplicação do princí- Estado, o direito à caução não pode ser re-
pio da não retroatividade é indispensável cusado, nem aplicado de forma arbitrária,
para a segurança jurídica. embora o juiz tenha poderes discricioná-
rios na tomada de decisão.

A “Fórmula de Radbruch” Disposições Especiais


para Crianças e Jovens
Na chamada “Mauerschützenfälle” (o caso Alguns tratados internacionais de direitos
dos atiradores do muro que dividia a Ale- humanos, como o PIDCP, a Convenção so-
manha em duas) levantou-se a questão bre os Direitos da Criança, a Carta Afri-
sobre se os guardas de fronteira da Alema- cana sobre os Direitos e o Bem-Estar da
nha Oriental, que tinham recebido ordens Criança e a Convenção Americana sobre
para dispararem contra as pessoas que Direitos Humanos, fazem uma referência
tentassem atravessar a fronteira, podiam especial às crianças e aos jovens. Por
ser punidos por homicídio após a queda exemplo, o artº 14º do PIDCP estabelece
do muro de Berlim, atendendo a que os que, tratando-se de jovens, o processo terá
seus atos não só não eram proibidos, mas em conta a sua idade e o interesse que re-
sim exigidos pela lei da República Demo- presenta a sua reabilitação. Isto significa
crática Alemã. Ao aplicar-se a chamada que os Estados, ao legislarem, devem es-
“Fórmula de Radbruch”, de acordo com tabelecer a idade mínima com que um jo-
a qual no caso de conflito entre o direito vem poderá ser acusado da prática de um
positivo e a justiça substantiva tem de se crime, a idade máxima em que a pessoa
desconsiderar o princípio da certeza jurídi- ainda é considerada jovem, a existência
ca, o Tribunal Federal de Justiça da Alema- de tribunais e procedimentos especiais, a
nha, numa decisão de referência, decidiu existência de leis processuais para jovens
que os perpetradores tinham de ser puni- e a forma como todas estas têm em conta
dos. A decisão foi mantida pelo Tribunal “o interesse que representa a sua reabili-
Constitucional Federal Alemão. tação”. Para os países que não aboliram a
A “Fórmula de Radbruch” reflete a mu- pena de morte, o artº 6º do PIDCP esta-
dança do paradigma do primado do Di- belece que a sentença com pena de morte
reito: no contexto das Leis de Nurem- não pode ser aplicada a crimes cometidos
berga teve de se aceitar que o direito por menores de 18 anos.
positivo foi utilizado para justificar até
as mais terríveis violações de direitos Direitos Humanos da Criança
humanos e que um Estado sob o prima-
do do Direito tem de proteger os direitos
humanos em quaisquer situações. Execuções de Jovens desde 1990
“O uso da pena de morte para crimes
Direito à Caução cometidos por pessoas menores de 18
A maioria dos sistemas jurídicos prevê o anos é proibido pelo direito internacional
direito à caução, ou seja, a ser libertado dos direitos humanos, no entanto, al-
234 II. MÓDULOS SOBRE QUESTÕES SELECIONADAS DE DIREITOS HUMANOS

guns países ainda executam crianças in- e Iémen. Alguns destes países mudaram
fratoras. Estas execuções são poucas, em as suas leis para excluírem a prática. A
comparação com o número total de exe- execução de crianças infratoras represen-
cuções no mundo. O seu significado vai ta uma pequena fração do total de exe-
para além do seu número e questiona o cuções em todo o mundo registadas pela
compromisso dos Estados que realizam Amnistia Internacional, em cada ano. Os
estas execuções em relação ao respeito EUA e o Irão executaram mais crianças
pelo direito internacional. infratoras do que os outros oito países
Desde 1990, a Amnistia Internacional juntos e o Irão excedeu agora o total dos
documentou 87 execuções de crianças EUA, desde 1990, em 19 execuções de
infratoras, em 9 países: China, Repúbli- crianças infratoras.”
ca Democrática do Congo, Irão, Nigéria, (Fonte: Amnistia Internacional. Execu-
Paquistão, Arábia Saudita, Sudão, EUA tions of Juveniles since 1990.)

Execuções conhecidas de crianças perpetradoras de crimes desde 1990:

Execuções
Total de
conhecidas Países que executam crianças perpetradoras
execuções
Ano de crianças de crimes (o número de execuções conhecidas
conhecidas no
perpetradoras aparece entre parêntesis)
mundo
de crimes
1990 2 2029 Irão (1), EUA (1)
1991 0 2086 --
1992 6 1708 Irão (3), Paquistão (1), Arábia Saudita (1), EUA (1)
1993 5 1831 EUA (4), Iémen (1)
1994 0 2331 --
1995 1 3276 Irão (1)
1996 0 4272 --
1997 2 2607 Nigéria (1), Paquistão (1)
1998 3 2258 EUA (3)
1999 2 1813 Irão (1), EUA (1)
2000 6 1457 Rep. Dem. do Congo (1), Irão (1), EUA (4)
2001 3 3048 Irão (1), Paquistão (1), EUA (1)
2002 3 1526 EUA (3)
2003 2 1146 China (1), EUA (1)
2004 4 3797 China (1), Irão (3)
2005 10 2148 Irão (8) Sudão (2)
2006 5 1591 Irão (4), Paquistão (1)
F. PRIMADO DO DIREITO E JULGAMENTO JUSTO 235

Execuções conhecidas de crianças perpetradoras de crimes desde 1990:

Execuções
Total de
conhecidas Países que executam crianças perpetradoras
execuções
Ano de crianças de crimes (o número de execuções conhecidas
conhecidas no
perpetradoras aparece entre parêntesis)
mundo
de crimes
2007 14 1252 Irão (11), Arábia Saudita (2), Iémen (1)
2008 8 2390 Irão (8)
2009 7 714, excluindo Irão (5), Arábia Saudita (2)
a China
2010 1 527, excluindo Irão (1)
a China
2011 3 Não dispo- Irão (3)
nível
(Fonte: Amnistia Internacional: Executions of Juveniles since 1990. Disponível em: http://
www.amnesty.org/en/death-penalty/executions-of-child-offenders-since1990)

3. PERSPETIVAS que por “primado do Direito” (rule of law)


INTERCULTURAIS está estreitamente ligada à noção de “de-
E QUESTÕES CONTROVERSAS mocracia ao estilo asiático”.

O princípio do primado do Direito é, de Direito à Democracia


forma geral, reconhecido. Contudo, dife-
renças culturais consideráveis podem ser Para o gozo dos direitos civis e políticos, as
encontradas ao comparar a interpretação distinções em razão do género são proibidas
que é feita do conteúdo do primado do pelos Artº 2º e Artº 3º do PIDCP. Todavia,
Direito em diferentes países. A distinção em algumas regiões, a Sharia – a codificação
mais óbvia é aquela entre o entendimento islâmica da lei – limita o direito das mulhe-
americano e o entendimento asiático do res ao julgamento justo, uma vez que estas
primado do Direito. Se os juristas ame- não têm o direito de acesso aos tribunais em
ricanos tendem a atribuir ao primado do pé de igualdade com os homens.
Direito caraterísticas específicas do seu
sistema jurídico, como o tribunal de júri, Em muitos países do mundo, as mu-
amplos direitos ao arguido e uma clarís- lheres ainda se encontram excluídas
sima separação de poderes, já os juristas do primado do Direito
asiáticos enfatizam a importância da apli-
cação normal e eficiente da lei, sem, ne- “Assistiu-se no século passado a uma
cessariamente, lhe estarem subordinados transformação no que respeita aos direi-
os poderes governamentais. Esta conceção tos das mulheres, com países em todas
mais restrita, melhor caracterizada por as regiões a ampliarem o alcance dos
“regulação pelo Direito” (rule by law) do direitos das mulheres. No entanto, para
236 II. MÓDULOS SOBRE QUESTÕES SELECIONADAS DE DIREITOS HUMANOS

a maioria das mulheres no mundo, as bem como pelo mau funcionamento dos
leis que existem no papel nem sempre se sistemas judiciais nacionais. O estabeleci-
traduzem na igualdade e na justiça. Em mento de um regime baseado no primado
muitos contextos, tanto em países ricos do Direito que funcione bem é essencial
como pobres, a infraestrutura da justi- à democracia, sendo que tal objetivo de-
ça - a polícia, os tribunais e o judiciário mora a ser alcançado e requer recursos fi-
- falha às mulheres, o que se manifesta nanceiros. Além disso, é difícil alcançar a
através de serviços deficientes e atitu- independência judicial sem uma tradição
des hostis por parte das mesmas pesso- de respeito pelos valores democráticos e
as cujo dever é fazer cumprir os direitos pelas liberdades civis. Contudo, num mun-
das mulheres. Como resultado, apesar do de globalização económica, a exigência
da igualdade entre homens e mulheres internacional de estabilidade, de prestação
se encontrar garantida nas Constituições de contas e de transparência, que só podem
de 139 países e territórios, leis inade- ser garantidas por um regime que respeite
quadas e lacunas no quadro legislativo, o primado do Direito, continua a aumentar.
execuções deficientes e vastos hiatos na
implementação fazem destas garantias As violações do direito a um julgamento
promessas ocas, com pouco impacto no justo não ocorrem apenas em países em
dia a dia das mulheres. [...] Sistemas le- transição. Ao arrepio das garantias dos di-
gais e de justiça a funcionarem bem po- reitos humanos, 171 cidadãos estrangeiros
dem constituir um mecanismo vital para encontram-se detidos (12 dos quais desde
as mulheres alcançarem os seus direitos. janeiro de 2002) no centro de detenções
As leis e os sistemas de justiça moldam a na base naval dos EUA na Baía de Guan-
sociedade, promovendo a responsabiliza- tánamo, em Cuba, sem terem sido formal-
ção, travando os abusos de poder, crian- mente acusados da prática de um crime.
do novas normas que definem o que é Desde 2002, dos 779 detidos apenas uma
aceitável. Os tribunais têm sido um local pessoa foi condenada por um tribunal civil
fundamental para as mulheres reivindi- dos EUA. No seu relatório de 2011 sobre o
carem os seus direitos e, em casos raros, centro de detenções de Guantánamo, a Am-
provocarem uma mudança mais ampla nistia Internacional afirmou que “desde o
para todas as mulheres, através de lití- primeiro dia que os EUA não reconhecem a
gios estratégicos.” aplicabilidade do quadro jurídico dos direi-
tos humanos às detenções de Guantánamo.
(Fonte: ONU Mulheres. 2011. 2011- À medida que nos aproximamos de 11 de
2012 Progress of the World’s Women. janeiro de 2012, o dia 3.653 na vida desta
In Pursuit of Justice.) conhecida prisão, os EUA continuam a não
abordar as detenções num quadro de direi-
Direitos Humanos das Mulheres tos humanos. O agora muito referido objeti-
vo de encerramento do centro de detenções
Alguns dos mais difíceis problemas en- de Guantánamo permanecerá ilusório – ou
frentados pelos países em transição para será alcançado apenas com o custo da deslo-
a democracia estão diretamente relaciona- cação das violações – a não ser que o gover-
dos com os sistemas governativos e legais no dos EUA nos seus três ramos aborde as
caraterizados pela corrupção generalizada, detenções enquanto um assunto que inequi-
F. PRIMADO DO DIREITO E JULGAMENTO JUSTO 237

vocamente cai no âmbito das obrigações in- ma equilibrado de “pesos e contrapesos”


ternacionais de direitos humanos dos EUA.” (checks and balances) que funcione. Mas
(Fonte: Amnistia Internacional. 2011. EUA. como podem todos estes conceitos ser
Guantanamo: A Decade of Damage to Hu- implementados na prática? Basicamente,
man Rights.) são necessárias três etapas: em primeiro,
a lei existente tem de ser revista e as no-
Proibição da Tortura vas áreas jurídicas têm de ser codificadas.
Em segundo, as instituições que garantem
4. IMPLEMENTAÇÃO a correta administração da justiça têm de
E MONITORIZAÇÃO ser fortalecidas, por exemplo, pela garan-
tia da independência judicial, pela forma-
Implementação ção contínua de juízes, entre outras. Por
A proteção dos direitos humanos começa a último, o cumprimento da lei e o respeito
nível nacional. Assim, a implementação do pela lei têm de aumentar. Assegurar o res-
princípio do primado do Direito depende peito pelos direitos humanos e a sua im-
da vontade do Estado para estabelecer um plementação é um princípio fundamental
sistema que garanta o primado do Direi- em todo o processo de implementação.
to e processos judiciais justos. Os Estados
têm de estabelecer e manter a infraestru- “[…] é um simples imperativo assegurar
tura institucional necessária para a corre- que os mecanismos do primado do Direito
ta administração da justiça e promulgar e estejam a funcionar em plena autoridade
implementar leis e normas que garantam e com pleno efeito, nacional e internacio-
procedimentos justos e equitativos. nalmente, para que os pedidos possam ser
atendidos e solucionados, com base nas
O conceito do primado do Direito está disposições da lei e em condições de jus-
estreitamente relacionado com a ideia de tiça.”
democracia, das liberdades civis e polí- Sérgio Vieira de Mello, Alto Comissário das Nações
ticas, e a sua implementação depende da Unidas para os Direitos Humanos. 2003.
compreensão destes valores. Vários ca-
sos de países em transição mostram que Órgãos específicos de assessoria, como a
o estabelecimento do primado do Direito Comissão de Veneza do Conselho da Euro-
fracassa quando os líderes políticos não pa, foram estabelecidos para fortalecer o
estão dispostos a cumprir os princípios primado do Direito. As associações profis-
democráticos básicos, permitindo assim, sionais de juízes ajudam ou monitorizam
a corrupção e estruturas organizacionais o desempenho dos governos.
criminosas.
Monitorização
Como regra geral, o fortalecimento do pri- Na maioria dos países, as disposições bá-
mado do Direito é uma das formas mais sicas sobre direitos humanos estão con-
eficazes para combater a corrupção, logo sagradas na Constituição. A Constituição
a seguir a prevenir que Chefes de Estado, também confere geralmente a possibilida-
recentemente eleitos, adquiram hábitos de de se invocar disposições sobre direi-
autoritários e a fomentar o respeito pe- tos humanos perante tribunais nacionais
los direitos humanos através de um siste- em casos de alegada violação destes direi-
238 II. MÓDULOS SOBRE QUESTÕES SELECIONADAS DE DIREITOS HUMANOS

tos. A nível internacional, os tratados de Tal possibilidade existe, por exemplo, sob
direitos humanos foram celebrados para o Protocolo Facultativo referente ao Pacto
proteger os direitos humanos. Assim que Internacional sobre os Direitos Civis e Po-
um Estado se torna parte de um destes líticos, a Convenção Europeia dos Direitos
tratados está obrigado a garantir e a im- Humanos (Artº 34º), a Convenção Ameri-
plementar as disposições a nível domés- cana sobre Direitos Humanos (Artº 44º) e
tico. a Carta Africana dos Direitos Humanos e
dos Povos (Artº 55º). De acordo com estes
A fim de monitorizar a implementação das tratados, os particulares podem apresentar
disposições de direitos humanos, alguns a sua queixa perante o Comité dos Direi-
dos tratados de direitos humanos, como o tos Humanos da ONU ou o Tribunal Eu-
Pacto Internacional sobre os Direitos Civis ropeu dos Direitos Humanos, a Comissão
e Políticos (PIDCP), estabelecem um me- Interamericana dos Direitos Humanos ou
canismo de supervisão. Este mecanismo a Comissão Africana dos Direitos Huma-
consiste num sistema de relatórios pelo nos e dos Povos. Estes órgãos dos tratados
qual os Estados Partes estão obrigados a analisam a queixa e, caso encontrem uma
apresentar relatórios, a intervalos regula- violação, o Estado em questão é aconse-
res, a um órgão internacional de monito- lhado a tomar as medidas necessárias para
rização, sobre a forma como têm imple- alterar esta prática ou a lei e para reparar
mentado as disposições do tratado. No a situação da vítima. Os Estados Partes es-
que respeita à implementação das obri- tão vinculados às decisões do Tribunal Eu-
gações dos Estados contidas no PIDCP, o ropeu dos Direitos Humanos, do Tribunal
Comité dos Direitos Humanos da ONU Interamericano dos Direitos Humanos e do
comenta os relatórios dos Estados Partes, Tribunal Africano dos Direitos Humanos e
dá sugestões e faz recomendações para dos Povos, em todos os casos em que se-
melhorar a implementação das obrigações jam partes.
dos direitos humanos. Além disso, emite Como parte dos seus procedimentos te-
Comentários Gerais sobre a interpretação máticos, a Comissão de Direitos Huma-
do PIDCP, como o Comentário Geral nº 13 nos das Nações Unidas nomeou relatores
de 1984, sobre a igualdade perante os tri- especiais sobre as execuções arbitrárias,
bunais e o direito a um julgamento justo sumárias ou extrajudiciais (1982), sobre
e público, por um tribunal independente a tortura e penas ou tratamentos cru-
estabelecido por lei (artº 14º do PIDCP), éis, desumanos ou degradantes (1985),
que foi substituído pelo Comentário Geral sobre a independência dos juízes e ad-
nº 32 sobre o artº 14º: Direito à Igualdade vogados (1994), sobre a violência con-
perante os Tribunais e a um Julgamento tra as mulheres, as suas causas e con-
Justo, em 2007. sequências (1994), sobre a situação dos
Alguns dos tratados dos direitos humanos defensores de direitos humanos (2000)
também estabelecem um mecanismo de e sobre a promoção e proteção dos di-
queixa. Após a exaustão dos mecanismos reitos humanos na luta contra o terro-
de proteção domésticos, um indivíduo rismo (2005). Em 1991, foi estabelecido
pode apresentar uma “comunicação” sobre um grupo de trabalho sobre a detenção
uma alegada violação de direitos humanos arbitrária.
que sejam garantidos por aquele tratado.
F. PRIMADO DO DIREITO E JULGAMENTO JUSTO 239

CONVÉM SABER
os países africanos de um poder judicial
1. BOAS PRÁTICAS forte e independente, que beneficie da
confiança do povo, para uma democracia
Escritório para as Instituições Demo- e desenvolvimento sustentáveis, apelou a
cráticas e Direitos Humanos (ODIHR) estes países para adotarem medidas legis-
– OSCE lativas para salvaguardar a independência
O mandato do Escritório compreende do poder judicial; para lhe disponibiliza-
“[…] assegurar o pleno respeito pelos di- rem recursos suficientes para aquele cum-
reitos humanos e liberdades fundamen- prir a sua função; para darem aos juízes
tais, reger-se pelo primado do Direito, condições de vida decentes e condições
promover os princípios da democracia de trabalho aceitáveis para assegurar que
e […] construir, fortalecer e proteger as possam manter a sua independência; para
instituições democráticas bem como pro- se absterem de praticar atos que possam
mover a tolerância em toda a sociedade”. ameaçar, direta ou indiretamente, a inde-
No campo do primado do Direito, o Escri- pendência e a segurança dos juízes e ma-
tório está empenhado em vários projetos gistrados.
de ajuda técnica para fomentar o seu de- Além disso, apelou aos juízes africanos
senvolvimento. O Escritório executa pro- que organizem, a nível nacional e re-
gramas nas áreas do julgamento justo, da gional, encontros periódicos de forma a
justiça criminal e do primado do Direito; trocarem experiências e avaliarem os es-
além de que presta ajuda e dá formação a forços empreendidos, contribuindo para
advogados, juízes, procuradores, funcio- um poder judiciário eficaz e independen-
nários governamentais e à sociedade ci- te. Em 2011, a Comissão adotou os Prin-
vil. Através de projetos quanto a reformas cípios e Diretrizes sobre o Direito a um
legais e revisões legislativas, o Escritório Julgamento Justo e Assistência Jurídi-
ajuda os Estados a colocar as leis domés- ca em África, que incluem os princípios
ticas em sintonia com os compromissos gerais aplicáveis a todos os procedimen-
da OSCE e outras normas internacionais. tos jurídicos (por exemplo, audiências
Neste contexto, o Escritório opera, es- justas e públicas, tribunais independen-
sencialmente, na Europa de Leste e de tes e imparciais, etc.), formação judicial,
Sudeste, bem como na Ásia Central e no direito a soluções eficazes, acesso a ad-
Cáucaso. vogados e serviços jurídicos, assistência
oficiosa e assistência jurídica, direito dos
Fortalecimento da Independência do Po- civis não serem julgados em tribunais
der Judicial e Respeito pelo Direito a um militares, disposições aplicáveis à de-
Julgamento Justo tenção e privação de liberdade, etc. De
Na sua Resolução sobre o Respeito e o acordo com este instrumento, os prin-
Fortalecimento da Independência do Po- cípios e diretrizes estabelecidos devem
der Judicial, adotada em 1996, a Comis- tornar-se conhecidos por todos em Áfri-
são Africana dos Direitos Humanos e dos ca e ser promovidos e protegidos pelas
Povos, reconhecendo a importância para organizações da sociedade civil, juízes,
240 II. MÓDULOS SOBRE QUESTÕES SELECIONADAS DE DIREITOS HUMANOS

advogados, procuradores, académicos e cessos para os tribunais nacionais na anti-


as suas associações profissionais. ga Jugoslávia e assiste-os ao processarem
os casos de crimes de guerra.
“A injustiça em qualquer lado é uma ame- O Estatuto de Roma foi adotado pela co-
aça à justiça em todo o lado” munidade internacional em 1998, entrou
Martin Luther King Jr. em vigor em 2002 e estabeleceu o Tribu-
nal Penal Internacional (TPI). É uma ins-
Fórum da Ásia-Pacífico para a Reforma tituição permanente, com o poder de exer-
Judicial cer a sua jurisdição sobre indivíduos, para
O Fórum da Ásia-Pacífico para a Refor- os crimes mais graves que preocupam a
ma Judicial (APJRF) é uma rede que visa comunidade internacional enquanto um
apoiar as jurisdições da Ásia-Pacífico de- todo, ou seja, o crime de genocídio, crimes
dicadas ao progresso da reforma judicial contra a humanidade, crimes de guerra e o
através da partilha de conhecimentos so- crime de agressão. A jurisdição do Tribu-
bre reformas judiciais, apoiando reformas nal é complementar às jurisdições penais
de justiça baseadas nos direitos humanos, nacionais. Até à data, o Estatuto de Roma
desenvolvendo ferramentas práticas para tem 121 Estados Partes.
uma reforma judicial de sucesso e apoian- Tal como o TPIAJ e o TPIR, os tribunais
do a implementação ao nível nacional. A mistos (“órgãos híbridos”) são estabe-
rede consiste em 49 tribunais superiores lecidos por um determinado período de
e agências do setor da justiça dos países tempo para lidar com situações específi-
com um compromisso com a APJRF. cas. O mandato destes órgãos é o de san-
cionar violações graves de direito interna-
2. TENDÊNCIAS cional humanitário e de direitos humanos
cometidas por indivíduos e ajudar no res-
Tribunais Internacionais tabelecimento do primado do Direito. Os
Como resposta a atrocidades cometidas tribunais híbridos combinam aspetos de
em massa, foram estabelecidos tribunais direito internacional e direito nacional e
internacionais, tais como o Tribunal Pe- são mistos na sua composição. Este mo-
nal Internacional para a Antiga Jugoslá- delo foi utilizado para o estabelecimento
via (TPIAJ) ou o Tribunal Penal Interna- dos tribunais para a Serra Leoa, Timor-
cional para o Ruanda (TPIR), enquanto Leste, Kosovo, Camboja e Líbano. O Tri-
tribunais ad hoc das Nações Unidas, para bunal Especial para a Serra Leoa, por
lidarem com crimes de guerra, crimes con- exemplo, tem mandato para julgar os res-
tra a humanidade e genocídio, pretenden- ponsáveis por violações graves de direito
do responsabilizar os seus responsáveis. internacional humanitário no seu territó-
Atendendo a que estes tribunais foram es- rio, tendo sido estabelecido em conjunto
tabelecidos para julgar crimes cometidos pelo Governo da Serra Leoa e as Nações
num conflito específico e durante um tem- Unidas.
po específico, estes tribunais ad hoc traba-
lham no sentido do cumprimento dos seus Mediação e Arbitragem
mandatos. O TPIAJ, por exemplo, centra- Os Estados estão a apostar de forma ativa
se na acusação e julgamento dos líderes em procedimentos de resolução de dis-
mais relevantes e encaminha outros pro- putas alternativos (mediação e arbitra-
F. PRIMADO DO DIREITO E JULGAMENTO JUSTO 241

gem) para aliviar os tribunais e encurtar mento do primado do Direito em socieda-


os procedimentos judiciais, mas também des pós-conflito:
com o objetivo de criar situações em que - prestação de ajuda no âmbito do primado
ambas as partes saem a ganhar através de do Direito que seja adequada ao país em
soluções mutuamente aceitáveis. questão e construção a partir de práticas
Enquanto os processos judiciais têm por locais;
objetivo substanciar pedidos legais, a me- - consulta, participação e debate públicos ao
diação também tem em consideração as planear reformas do primado do Direito;
necessidades e os interesses dos indivídu- - estabelecimento de comissões nacionais
os e, assim, alcança melhores resultados independentes de direitos humanos;
em assuntos no âmbito comercial, da fa- - inclusão de elementos de uma justiça
mília ou de relações de vizinhança. correta e do primado do Direito em man-
A mediação é um método de resolução de datos de manutenção da paz;
disputas pelas partes com a assessoria e - disponibilização de recursos humanos
a ajuda de um terceiro. A arbitragem é a e financeiros suficientes, na ONU, para
resolução da disputa através da decisão de planear os componentes do primado do
um árbitro, que vincula ambas as partes. Direito das operações de paz.
Muitos países têm mediação obrigatória na Para ultrapassar falhas nas estratégias de
fase anterior ao julgamento. O julgamento pós-conflito passadas e presentes, a Co-
só é necessário se a mediação não condu- missão da Segurança Humana propõe
zir a uma solução. Nos EUA e na Austrália, uma profunda abordagem com base na
por exemplo, existem, periodicamente, as segurança humana que consiste em cinco
denominadas “semanas de conciliação” grupos da segurança humana. Um destes
durante as quais todos os casos judiciais trata de “governação e empoderamento”
são alvo de mediação. E, de facto, um almejando, como uma das suas priorida-
grande número de casos é resolvido com des, o estabelecimento de instituições que
sucesso. Todavia, pode-se argumentar protejam as pessoas e assegurem o prima-
que negar às partes o acesso aos tribunais do do Direito.
como alternativa aos procedimentos judi-
ciais morosos e dispendiosos, pode impor “A justiça é um ingrediente indispensável
uma certa pressão às partes para encontra- num processo de reconciliação nacional. É
rem uma solução. essencial para a restauração das relações
pacíficas e normais entre as pessoas que
(R)Estabelecer o Primado do Direito em viveram sob um reino de terror. Quebra um
Sociedades Pós-Conflito e Pós-Crise ciclo de violência, ódio e retaliação extraju-
Em anos recentes, notou-se um aumento dicial. Deste modo, a paz e a justiça cami-
da atenção das Nações Unidas, de outras nham de mãos dadas.”
organizações internacionais, bem como da Antonio Cassese, antigo presidente do TPIAJ.
comunidade internacional, sobre a ques-
tão de (r)estabelecer o primado do Direito
“Para as Nações Unidas, o primado do
em sociedades pós-conflito. Este aumen-
Direito refere-se a um princípio de gover-
to de atenção sobre o primado do Direi-
nação pelo qual todas as pessoas, insti-
to também levou ao desenvolvimento de
tuições e entidades, públicas e privadas,
determinados princípios para o estabeleci-
242 II. MÓDULOS SOBRE QUESTÕES SELECIONADAS DE DIREITOS HUMANOS

incluindo o próprio Estado, são responsá- 1966 Pacto Internacional sobre os Direi-
veis perante as leis promulgadas oficial- tos Civis e Políticos, artos 9º, 10º,
mente, aplicadas com igualdade e impar- 14º, 15º, 16º, 26º
cialidade e compatíveis com os padrões e 1969 Convenção Americana sobre Direi-
as normas internacionais de direitos hu- tos Humanos, artos 8º, 9º
manos. Também requer medidas para a
1977 Protocolo Adicional (I) às Con-
garantia da adesão aos princípios da su-
venções de Genebra, artos 44º,
premacia do direito, igualdade perante a
nº 4, 75º
lei, responsabilização em relação à lei, jus-
tiça na aplicação da lei, separação dos po- 1977 Protocolo Adicional (II) às Con-
deres, participação na tomada de decisões, venções de Genebra, Artº 6º
segurança jurídica, proibição da arbitrarie- 1979 Convenção sobre a Eliminação de
dade e transparência processual e legal.” Todas as Formas de Discriminação
(Fonte: Nações Unidas. 2004. Relatório contra as Mulheres, Artº 15º
do Secretário-Geral sobre o Primado do 1981 Carta Africana dos Direitos Huma-
Direito e Justiça de Transição em Socie- nos e dos Povos (Carta de Banjul),
dades em Conflito e Pós-Conflito.) artos 7º, 26º
1982 Relator Especial das Nações Uni-
3. CRONOLOGIA das sobre Execuções Extrajudi-
ciais, Sumárias ou Arbitrárias
1948 Declaração Universal dos Direitos Hu- 1984 Convenção contra a Tortura e Ou-
manos, artos 6º, 7º, 8º, 9º, 10º, 11º tras Penas ou Tratamentos Cru-
1948 Declaração Americana dos Direi- éis, Desumanos ou Degradantes,
tos e Deveres Humanos, artos I, II, artº 15º
XVII, XVIII, XXVI 1984 Protocolo nº 7 à Convenção Euro-
1949 Convenção de Genebra (III) relati- peia para a Proteção dos Direitos
va ao Tratamento dos Prisioneiros Humanos e das Liberdades Funda-
de Guerra, artº 3º, al. d), artos 17º, mentais, artos 1º, 2º, 3º, 4º
82º-88º 1984 Comentário Geral nº 13 sobre a
1949 Convenção de Genebra (IV) relati- Igualdade perante os Tribunais
va à Proteção de Civis em Tempo e o Direito a um Julgamento
de Guerra, artº 3º, al. d), artos 33º, Justo e Audiência Pública por
64º-67º, 70º-76º um Tribunal Independente esta-
belecido pela Lei (Artº 14º do
1950 Convenção Europeia para a Pro-
PIDCP)
teção dos Direitos Humanos e das
Liberdades Fundamentais, artos 5º, 1985 Princípios Básicos das Nações Uni-
6º, 7º, 13º das relativos à Independência da
Magistratura
1965 Convenção Internacional sobre a
Eliminação de Todas as Formas 1985 Regras Mínimas das Nações Uni-
de Discriminação Racial, artos 5º, das para a Administração da Justi-
al. a), 6º ça Juvenil (Regras de Pequim)
F. PRIMADO DO DIREITO E JULGAMENTO JUSTO 243

1985 Relator Especial das Nações Uni- Mulheres, as suas Causas e Conse-
das sobre a Tortura e outras Penas quências
ou Tratamentos Cruéis, Desuma-
1998 Estatuto de Roma do Tribunal Pe-
nos ou Degradantes
nal Internacional
1989 Convenção sobre os Direitos da
2000 Relator Especial das Nações Uni-
Criança, artos 37º, 40º
das sobre a Situação dos Defenso-
1990 Princípios Básicos das Nações Unidas res de Direitos Humanos
Relativos à Função dos Advogados
2004 Carta Árabe dos Direitos Huma-
1990 Princípios Orientadores Relativos à nos, artos 12º, 13º, 15º, 16º, 17º,
Função dos Magistrados do Minis- 19º
tério Público
2005 Relator Especial das Na-
1991 Grupo de Trabalho das Nações
ções Unidas sobre a Promo-
Unidas sobre Detenção Arbitrária
ção e Proteção dos Direitos
1993 Estatuto do Tribunal Penal Interna- Humanos na Luta Contra o Terro-
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1994 Estatuto do Tribunal Penal Interna- 2006 Convenção sobre os Direitos das
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1994 Relator Especial das Nações Uni- 12º, 13º, 14º
das sobre a Independência de Juí- 2007 Comentário Geral nº 32 sobre o
zes e Advogados Artigo 14º: Direito à Igualdade
1994 Relator Especial das Nações Uni- perante os Tribunais e a um Julga-
das para a Violência contra as mento Justo

ATIVIDADES SELECIONADAS
ATIVIDADE I: SER OUVIDO volver capacidades analíticas e demo-
OU NÃO SER OUVIDO? cráticas.
Grupo-alvo: Jovens adultos e adultos
Parte I: Introdução Dimensão do grupo: 15-20
Compreender as regras e os procedimen- Duração: cerca de 90 minutos
tos de um julgamento é essencial para a Preparação: Arranjar a sala como se fosse
compreensão do sistema judicial e para um tribunal. Colocar, à frente, uma mesa
poder defender os seus direitos. para o juiz e outras duas em ângulos cor-
retos em relação àquela, ficando uma em
Parte II: Informação Geral frente da outra, uma para o acusado e para
Tipo de Atividade: Dramatização a defesa, a outra para a acusação (equipa
Metas e objetivos: Experimentar uma de procuradores).
situação de tribunal; identificar a noção Competências envolvidas: Pensamento
de julgamento justo e público; desen- crítico e capacidades analíticas, capacida-
244 II. MÓDULOS SOBRE QUESTÕES SELECIONADAS DE DIREITOS HUMANOS

des de comunicação, de formação de opi- Seguir em frente e motivar o grupo todo a


niões e de empatia. pensar sobre o processo e o objetivo das
duas dramatizações.
Parte III: Informação Específica sobre a - O que foi diferente nos dois cenários e
Atividade porquê?
Instruções: - Será que os participantes se sentiram in-
Explicar que vão representar uma situação comodados com o primeiro cenário?
de julgamento em dois cenários diferentes, - Acham que cenários como o primeiro
um sem a defesa e outro com os mecanis- acontecem na vida real?
mos de defesa. Explicar os papéis e deixar Sugestões práticas:
que os participantes escolham: Tentar não explicar todo o propósito das
- Uma pessoa erroneamente acusada de dramatizações antes de começar. O ele-
uma ofensa criminal, como furto. mento de surpresa pode ter um maior
- Equipa de duas ou três pessoas condu- impacto sobre os participantes e não
zindo a acusação. dificultará o desempenho na dramati-
- Grupo de três ou quatro pessoas que apre- zação. Ter atenção ao desempenho, es-
senta a queixa e a escreve no quadro. pecialmente, na primeira dramatização,
- Um juiz. e interromper se o acusado se começar
Os procuradores e o grupo que apresenta a sentir ansioso ou com medo. Isto não
a queixa têm dez minutos para preparar a quer dizer que a dramatização tenha fa-
sua acusação. lhado mas mostra o quão reais podem
Desempenho da Dramatização: ser as simulações.
No primeiro cenário, não existem advo- Outras sugestões:
gados de defesa e o acusado não se pode No segundo cenário, pode nomear um júri
defender. Os outros participantes são o pú- imparcial de três ou quatro em vez do juiz.
blico no tribunal. Ninguém mais pode dar Nas reações, debater a diferença entre um
a sua opinião. Dizer aos procuradores para júri e um juiz.
apresentarem o seu caso ao juiz e que este
decida só nesta base. Parte IV: Acompanhamento
Depois, no segundo cenário, nomear um Ler alto o artigo 10º da DUDH:
novo juiz para dar a sentença final de cul- “Toda a pessoa tem direito, em plena igual-
pado ou inocente. Nomear também uma dade, a que a sua causa seja equitativa
equipa de defesa com duas ou três pes- e publicamente julgada por um tribunal
soas. Permitir que o arguido fale e que a independente e imparcial que decida dos
equipa de defesa apresente o seu caso. seus direitos e obrigações ou das razões de
O público também pode dar opiniões. Só qualquer acusação em matéria penal que
agora deve o novo juiz tomar uma decisão. contra ela seja deduzida.”
Reações: Explicar, por outras palavras, que isto sig-
Reunir de novo os participantes. nifica que se for a julgamento, este tem
Primeiro perguntar aos que participaram de ser aberto ao público. Uma audiência
na dramatização: pública é aquela em que o arguido está
- Em que medida conseguiram influenciar presente e a prova é apresentada diante
a decisão do juiz e quão real foi a simu- dele ou dela, bem como da sua família e
lação? da comunidade.
F. PRIMADO DO DIREITO E JULGAMENTO JUSTO 245

Aqueles que julgam o acusado não se de- Preparação: Preparar uma ficha informati-
vem deixar influenciar por outros. Com base va com a declaração do advogado de defe-
na dramatização, discutir o facto de que to- sa Gerry Spence (ver abaixo).
dos têm de ter uma oportunidade equitativa Competências envolvidas: Pensamento
de apresentar o seu caso. Isto é válido para crítico e capacidades analíticas, formação
casos criminais como para disputas civis, de opinião, capacidades de comunicação,
quando uma pessoa processa outra. expressar opiniões e pontos de vista dife-
Debater a definição usada pela Nações rentes sobre um assunto.
Unidas sobre o que constitui um tribunal
independente e imparcial: “independente” Parte III: Informação Específica sobre a
e “imparcial” significa que o tribunal deve Atividade
julgar cada caso de forma justa com base Instruções:
nas provas e no primado do Direito, sem Apresentar o tópico, permitindo que os par-
favorecer qualquer uma das partes por ra- ticipantes imaginem criminosos que sejam
zões políticas. seus conhecidos (ou mostrando um vídeo
Direitos relacionados/outras áreas a ex- sobre um deles). Se quiser, pode colocá-
plorar: los no quadro. Deixar que os participantes
A presunção da inocência, o reconheci- imaginem que são advogados de defesa de
mento como pessoa perante a lei, o direito clientes acusados de crimes conhecidos.
a uma defesa competente, elementos da Distribuir a declaração do advogado de
democracia. defesa Gerry Spence, que responde à ques-
(Fonte: adaptado de United Nations Cy- tão que lhe era, frequentemente, colocada:
berschoolbus. 2003. Disponível em:http:// “Como pode defender essas pessoas?”. Ini-
cyberschoolbus.un.org). ciar o debate sobre os direitos dos perpetra-
dores com base nesta declaração.
ATIVIDADE II: COMO PODE - Deve toda a pessoa ser considerada ino-
DEFENDER ESSAS PESSOAS? cente até que se prove a sua culpa?
- Se for acusado de um crime, deve ter sem-
Parte I: Introdução pre o direito de se defender a si próprio?
Esta atividade é um debate baseado em ca- - Deve permitir-se que toda a pessoa soli-
sos da vida real com o objetivo de identifi- cite aconselhamento jurídico e que o ob-
car preconceitos e a correspondente noção tenha de forma gratuita se não o puder
de julgamento justo. pagar?
- Deve toda a pessoa ser considerada igual
Parte II: Informação Geral perante a lei?
Tipo de atividade: Debate Se quiser, pode colocar alguns argumentos
Metas e objetivos: Identificar preconceitos no quadro para resumir o debate.
e limites de uma observação neutra; de-
senvolver capacidades analíticas e demo- Texto para a ficha informativa:
cráticas. Gerry Spence, advogado de defesa:
Grupo-alvo: Jovens adultos e adultos “Bom, acha que o arguido deve ser jul-
Dimensão do grupo: 15-20 gado antes de ser enforcado? Se sim, de-
Duração: cerca de 60 minutos. verá ser um julgamento justo? A ser um
Material: fichas informativas (ver abaixo) julgamento justo, deverá o arguido ter, ou
246 II. MÓDULOS SOBRE QUESTÕES SELECIONADAS DE DIREITOS HUMANOS

poder ter, um advogado? Se tiver um advo- das as garantias necessárias de defesa lhe
gado, deverá o advogado ser competente? sejam asseguradas.
Bom, então, se o advogado de defesa sou- 2 - Ninguém será condenado por ações ou
ber que o arguido é culpado deverá tentar omissões que, no momento da sua prática,
perder o caso? Se não, deverá ele dar o seu não constituíam ato delituoso à face do di-
melhor para que a acusação seja provada reito interno ou internacional. Do mesmo
para além de qualquer dúvida razoável? E modo, não será infligida pena mais grave
se ele der o seu melhor e a acusação não do que a que era aplicável no momento em
for provada para além de qualquer dúvida que o ato delituoso foi cometido.”
razoável e o júri absolver o arguido culpa- Escrevê-lo no quadro e explicar o seu sig-
do, de quem é a culpa? Culpamos o advo- nificado e propósito. Deve ser considera-
gado de defesa que fez o seu trabalho ou o do inocente até ser provada a sua culpa.
Ministério Público que não o fez?” Se for acusado de um crime, tem sempre
(Fonte: Adaptado de: Harper’s Magazine. o direito a defender-se a si próprio. Nin-
1997.) guém tem o direito de o condenar ou punir
por algo que não tenha feito. A presunção
Reações: da inocência e o direito a uma defesa são
Numa ronda de opiniões, pedir aos par- os dois princípios importantes articulados
ticipantes que resumam, brevemente, o neste artigo.
debate: Pode fazer o acompanhamento da ativida-
- Por que acham que os advogados defen- de “Ser ouvido ou não ser ouvido?” rela-
dem criminosos? cionando com isto.
- Acham que estes advogados são vistos
de mesma forma que os criminosos que Parte IV: Acompanhamento
defendem e porquê? Ler em voz alta os artigos 6º e 8º da DUDH.
Sugestões práticas: Artº 6º: “Todos os indivíduos têm di-
Pode apresentar a atividade mostrando um reito ao reconhecimento em todos os
vídeo ou lendo um artigo sobre criminosos lugares da sua personalidade jurídica.”
conhecidos. Pode também referir circuns- Explicar que isto significa que deve ser
tâncias locais e atuais e mencionar pessoas legalmente protegido da mesma forma,
que foram condenadas em debate público em todos os lugares e como todas as
depois de terem cometido um crime grave. outras pessoas. Definição: Uma pessoa
Se o fizer, tenha em conta as emoções que perante a lei é alguém que é reconhe-
tal tópico pode gerar. Não julgar as opini- cido pela lei como sujeito da proteção
ões dos participantes mas dizer claramen- oferecida pelo sistema legal e das res-
te que os direitos humanos são para todos ponsabilidades, por este, exigidas.
e que não podem ser derrogados de forma Artº 8º: “Toda a pessoa tem direito a re-
arbitrária em nenhum momento. curso efetivo para as jurisdições nacionais
Outras Sugestões: competentes contra os atos que violem os
Ler o artigo 11º da DUDH: direitos fundamentais reconhecidos pela
“1 - Toda a pessoa acusada de um ato de- Constituição ou pela lei.” Isto significa que
lituoso presume-se inocente até que a sua lhe deve ser permitido solicitar aconselha-
culpabilidade fique legalmente provada no mento jurídico quando os seus direitos hu-
decurso de um processo público em que to- manos não são respeitados.
F. PRIMADO DO DIREITO E JULGAMENTO JUSTO 247

Direitos relacionados/outras áreas a ex- reito a uma defesa competente, demo-


plorar: cracia.
A presunção da inocência, o reconheci- (Fonte: Adaptado de: Carleton College.
mento como pessoa perante a lei, o di- Correspondence Bias in Everyday Life.)

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G. LIBERDADES RELIGIOSAS

LIBERDADE DE PENSAMENTO, DE CONSCIÊNCIA E DE RELIGIÃO


LIBERDADE DE ADOTAR OU MUDAR A SUA RELIGIÃO OU CRENÇA
LIBERDADE DE MANIFESTAR ESTES DIREITOS

“Toda a pessoa tem direito à liberdade de pensamento, de consciência e de religião; este


direito implica a liberdade de mudar de religião ou de convicção, assim como a liberdade
de manifestar a religião ou convicção, sozinho ou em comum, tanto em público como em
privado, pelo ensino, pela prática, pelo culto e pelos ritos.”
Artigo 18º da Declaração Universal dos Direitos Humanos. 1948.
252 II. MÓDULOS SOBRE QUESTÕES SELECIONADAS DE DIREITOS HUMANOS

HISTÓRIA ILUSTRATIVA
Egito: Ativistas Livres Detidos em Visita O tiroteio, o rescaldo (manifestações que ter-
de Solidariedade minaram com a detenção de Muçulmanos e
Cristãos; detenção de ativistas que davam as
A 6 de janeiro de 2010, seis Cristãos cop- condolências às famílias das vítimas do tiro-
tas e um guarda Muçulmano foram atingi- teio) e o tratamento do caso pelas autoridades
dos por tiros no Egito quando os Cristãos demonstram a situação precária dos Cristãos
deixavam uma igreja em Nag’ Hammadi Coptas no Egito. Os Coptas são vítimas de
depois da missa de Natal. Os tiros foram ódio religioso e de ataques com base na sua
disparados de um carro em andamento. afiliação e prática religiosas. No seu relatório
De acordo com relatórios, três homens fo- anual de 2010, a HRW acusou o Egito de “dis-
ram detidos dois dias depois, a 8 de ja- criminação disseminada contra os Cristãos
neiro, e condenados, a 9 de janeiro, por Egípcios, assim como de intolerância oficial
“homicídio premeditado, tendo posto a de seitas Muçulmanas heterodoxas.”
vida de cidadãos em perigo e também por (Fonte: Human Rights Watch. 2010. Egypt:
danos à propriedade pública e privada”. Free Activists Detained on Solidarity Visit; Hu-
Apesar de a detenção ser vista como um pas- man Rights Watch. 2011. World Report 2011)
so na direção certa pela Human Rights Watch
(HRW), não é suficiente. A HRW argumenta Questões para debate
que a rotina, em casos semelhantes, consis- 1. Que razões pensa terem estado na base do
te em chamar as famílias envolvidas para tratamento dos Cristãos Coptas no Egito?
que estas não prossigam com a investigação 2. Já ouviu falar de incidentes compará-
criminal e procedam à resolução do caso de veis no seu país ou região?
modo privado. Frequentemente é paga uma 3. Que parâmetros internacionais de direi-
compensação às famílias das vítimas. tos humanos foram violados?
Sarah Leah Whitson, Diretora da HRW 4. Como se poderão prevenir situações se-
para o Médio Oriente instou o governo melhantes?
egípcio a implementar uma “campanha 5. Que instituições e procedimentos inter-
séria de respeito pela diversidade religiosa nacionais existem para fazer face a es-
e de direitos iguais para todos.” tes casos?

A SABER
1. Liberdades Religiosas: ainda um lon- gá-lo, a deixar a família, a ser-se persegui-
go caminho a percorrer do, posto na prisão ou até morto.
Milhões de pessoas acreditam que existe No século III a.C., os Budistas eram perse-
algo superior à humanidade que nos guia guidos na Índia por acreditarem nos ensi-
espiritualmente. Por força daquilo em que namentos de Buda. A partir do século IX
se acredita, é possível ser-se forçado a ne- d.C. – a “Idade das Trevas” da Europa -
G. LIBERDADES RELIGIOSAS 253

Muçulmanos e outros crentes não Cristãos ódio de grupo. A perseguição por motivos
começaram a ser perseguidos “em nome religiosos pode ser vista em conflitos re-
de Deus”. Subsequentemente, a guerra centes entre crentes e não crentes, entre
para expandir o Império Otomano e o Is- religiões tradicionais e “novas”, ou entre
lão assustou a Europa. Os Judeus eram Estados com religião oficial ou preferida e
fechados em guetos por Cristãos, mas indivíduos ou comunidades que a ela não
também já o tinham sido anteriormente, pertencem.
por Muçulmanos. O extermínio dos habi-
tantes nativos da América Latina também “Por natureza, ninguém está vinculado a
foi levado a cabo durante o seu processo nenhuma igreja ou seita particular mas
de Cristianização. todos se juntam, voluntariamente, àquela
No passado e no presente, as pessoas têm sociedade em que acreditam ter encontrado
sido ameaçadas pelas suas crenças e con- aquela fé e culto que é, verdadeiramente,
vicções. A faculdade de acreditar em algo aceitável para Deus. A esperança na salva-
e de o manifestar é conhecida e protegi- ção, sendo a única razão para a sua entra-
da como liberdade religiosa. Esta é uma da nessa comunhão, só poderá ser a única
questão não só jurídica mas também mo- causa da sua permanência aí […] Assim,
ral. As crenças religiosas interferem bas- uma igreja é uma sociedade de membros,
tante com a esfera privada do indivíduo, voluntariamente, reunidos para aquele
uma vez que tocam convicções pessoais e fim.”
a compreensão do mundo. John Locke. 1689. Letter Concerning Toleration.
A fé é um dos maiores elementos de ex-
pressão da identidade cultural. É por esta
razão que as liberdades religiosas são um “Não haverá paz entre as nações sem paz
tópico particularmente sensível de abordar entre as religiões. Não haverá paz entre as
e parece causar mais dificuldades do que religiões sem diálogo entre as religiões. Não
outras questões de direitos humanos. haverá diálogo entre as religiões sem inves-
Um outro problema tem impedido a re- tigação dos fundamentos das religiões.”
gulação das liberdades religiosas no di- Hans Küng, Presidente da Global Ethic Foundation.
reito internacional dos direitos humanos.
Por todo o mundo, religião e crença são As violações atuais das liberdades religio-
elementos chave da política. As crenças sas ocorrem por todo o mundo. No en-
e liberdades religiosas são muitas vezes tanto, a supressão sistemática de certas
usadas incorretamente para exigências crenças manifesta-se presente nos seguin-
políticas e reivindicações de poder, o que tes países: na Birmânia, todas as minorias
resulta, frequentemente, em argumentos religiosas são perseguidas – em particular,
enganosos quando religião e política são os Muçulmanos Rohingya e também Pro-
ligadas. testantes e monges Budistas; o governo
Uma proteção adequada tem-se tornado Norte-Coreano considera todas as crenças
mais premente em anos recentes, uma e ritos religiosos além da ideologia Juche
vez que a intolerância religiosa e persegui- como uma ofensa ao culto da personali-
ção têm tido lugar de destaque em vários dade da família Kim e uma violação da
conflitos trágicos em todo o mundo que autoridade governamental; no Egito, as-
envolvem problemas de etnia, racismo ou sistimos a discriminação contra Coptas,
254 II. MÓDULOS SOBRE QUESTÕES SELECIONADAS DE DIREITOS HUMANOS

Cristãos ortodoxos, Bahai, Ahmadis, Cora- sas. Se não pode acreditar num Deus
nistas, Shiitas e Muçulmanos Sufi, assim ou num qualquer conceito de universo
como antissemitismo virulento; na Eri- que queira, a liberdade e a segurança
treia, os seguidores das Testemunhas de pessoais continuarão fora do alcance.
Jeová, os Cristãos Evangélicos e o Movi- As ameaças à liberdade de pensamento,
mento de Pentecostes são alvos de supres- de crença, de consciência e de religião
são particulares; no Irão há discriminação afetam, diretamente, tanto indivíduos
e perseguição dos Bahai, Sufis, Muçul- como grupos no que respeita a assegu-
manos dissidentes e Cristãos; no Iraque e rar e desenvolver a integridade pessoal.
na Nigéria contra Cristãos e no Paquistão Quando a discriminação e a perseguição
contra Ahmadis. Na China, os Muçulma- baseadas na religião são sistemáticas ou
nos Uigures em Xinjiang, Protestantes, se- estão institucionalizadas, tal pode levar
guidores de Falun Gong e os Budistas Ti- à existência de tensões entre comunida-
betanos são particularmente afetados. No des ou mesmo a crises internacionais.
Sudão, os Cristãos são discriminados, e na Os agentes da insegurança podem ser
Árabia Saudita, os Muçulmanos Shiitas e quaisquer uns – indivíduos, grupos e
Ismaelistas. Por fim, assistimos a discrimi- até Estados. Esta ameaça, omnipotente e
nação forte contra grupos religiosos não omnipresente, à segurança pessoal, com
registados no Turquemenistão e Uzbequis- base na religião e na crença, precisa de
tão. As violações das liberdades religiosas medidas de proteção especiais. A educa-
variam do crescimento recente do funda- ção e aprendizagem para os direitos hu-
mentalismo Cristão nos EUA, à intensifica- manos são a solução para se respeitar as
ção do extremismo religioso islâmico, bem crenças religiosas e os pensamentos dos
como a novas formas de antissemitismo outros. A compreensão do respeito, da
(i.e., medo e ódio por Judeus/Judaísmo) tolerância e da dignidade humana não
em vários países e, especialmente, desde o pode ser alcançada à força. Tem de ser
11 de setembro de 2001, a uma Islamofobia um compromisso duradouro de todos na
(i.e. medo e ódio de Muçulmanos/Islão) construção conjunta da segurança indi-
crescente, embora muitas vezes ignorada, vidual e global.
nos EUA e na Europa.
Infelizmente, existem outros numerosos 2. DEFINIÇÃO E DESENVOLVIMENTO
casos que podem exemplificar a urgência DA QUESTÃO
de lidar com as liberdades religiosas, es-
pecialmente, quando estão ligadas a extre- O que é a Religião?
mismo. Este fenómeno tem de ser aborda- Não existe uma definição comum de re-
do separadamente. ligião nas discussões filosóficas ou socio-
lógicas. No entanto, nas diferentes defini-
Liberdades Religiosas e Segurança Hu- ções, vários elementos comuns têm sido
mana propostos.
Etimologicamente, religião, ligada ao La-
O direito de viver sem medo é um va- tim religare, refere-se a uma “vinculação”.
lor essencial da segurança humana. Este Religião é aquilo que vincula o crente a al-
valor essencial é extremamente ameaça- gum “Absoluto” – concetualizado em ter-
do pela violação das liberdades religio- mos pessoais ou impessoais. Normalmen-
G. LIBERDADES RELIGIOSAS 255

te, inclui uma série de ritos e rituais, regras Contrariamente a esta definição intelectu-
e regulações que permitem ao indivíduo al estrita de fé como ato de reflexão, a fé
ou comunidades relacionar a sua existên- significa um ato de crença ou confiança
cia com um “Deus” ou com “Deuses”. De em algo Supremo (seja esse algo pessoal
acordo com Milton J. Yinger, a religião re- ou não, como as Quatro Nobres Verdades
presenta um “sistema de crenças e práticas do Budismo).
pelos quais um grupo de pessoas luta com O Comité dos Direitos Humanos das Na-
os problemas derradeiros da vida”. ções Unidas, no seu Comentário Geral
Em comparação, o Dicionário de Black nº 22 sobre o artº 18º do Pacto Interna-
Law define religião como “Uma relação cional sobre os Direitos Civis e Políticos
[humana] com o Divino, a reverência, ado- (PIDCP) define a proteção da religião ou fé
ração, obediência e submissão a ordens e deste modo: “O artigo 18º protege fés teís-
normas de seres sobrenaturais ou superio- tas, não-teístas e ateístas tal como o direito
res. No seu sentido mais lato, [religião] in- a não professar qualquer religião ou fé.” O
clui todas as formas de crença na existên- Comentário Geral menciona também “Os
cia de um poder superior que exerce poder termos religião e fé devem ser entendidos
sobre os seres humanos, impondo sanções latamente. O artigo 18º, no que respeita à
e regras de conduta, juntamente com com- sua aplicabilidade, não se limita a religiões
pensações e punição futuras”. tradicionais ou a religiões e fés com carac-
Esta definição e outras semelhantes in- terísticas institucionais ou práticas análo-
corporam o reconhecimento da existência gas às das religiões tradicionais. O Comité,
de um Supremo, Sacro, Absoluto, Trans- consequentemente, encara com preocupa-
cendente, seja pessoal ou impessoal. O ção qualquer tendência para a discrimi-
“Supremo/Derradeiro” tem uma função nação de qualquer religião ou fé por um
normativa e os crentes devem seguir os qualquer motivo, incluindo o facto de as
ensinamentos e as regras de conduta da mesmas terem sido recentemente estabele-
sua religião, como o caminho até este cidas ou representarem minorias religiosas
Absoluto. Os crentes devem igualmente que possam ser alvo de hostilidade por par-
expressar as suas crenças religiosas sob te de um grupo religioso predominante”.
várias formas de adoração ou culto. Mui- (Fonte: Comité dos Direitos Humanos da
tas vezes, mas nem sempre, uma entida- ONU. 1993. Comentário Geral nº22, §48,
de legal, como uma igreja ou uma outra sobre o artº 18º do PIDCP)
instituição é estabelecida para organizar o Fés de outra natureza - seja política, cul-
grupo ou as práticas de adoração. tural, científica ou económica – não caem
sob esta proteção e têm de ser tratadas de
O Que É a Fé? forma diferente.
Fé é um conceito mais amplo do que re-
ligião. Inclui religião mas não se limita Liberdade de Expressão
ao seu significado tradicional. O Dicioná- Liberdade dos Meios de Informação
rio de Black Law define a mesma como
a “crença na verdade de uma proposição, O Que São
subjetivamente existente na mente e indu- as Liberdades Religiosas?
zida por argumentação, persuasão ou pro- Em direito internacional, as liberdades reli-
va direcionada ao julgamento”. giosas são protegidas enquanto liberdade
256 II. MÓDULOS SOBRE QUESTÕES SELECIONADAS DE DIREITOS HUMANOS

de pensamento, consciência e religião. 2. Liberdade de exercer práticas coletivas;


Estas três liberdades básicas são aplicáveis 3. Liberdade de determinadas entidades;
igualmente a fés teístas, não teístas e ate- 4. Liberdade de não ter religião.
ístas, assim como a posições agnósticas e
incluem todas as fés com uma visão trans- 1. Liberdade de exercer práticas indivi-
cendente do universo e um código norma- duais específicas
tivo de comportamento. O artº 18º da Declaração Universal dos
A liberdade de religião e fé, num sentido es- Direitos Humanos (DUDH) identifica as
trito, inclui liberdade de religião e fé e liber- liberdades religiosas como um direito
dade de não ter religião nem fé, o que pode de “todas as pessoas”, o que significa que
ser entendido como o direito a aceitar e a protege crianças e adultos, nacionais e es-
não aceitar normas ou atitudes religiosas. trangeiros e não pode ser derrogada mes-
A liberdade de pensamento e consciência mo em estado de emergência ou em tempo
é protegida da mesma forma que a liberdade de guerra. A lista de liberdades religiosas
de religião e fé. Comporta a liberdade de pen- individuais contida no artº 18 do PIDCP
samento em todas as matérias, convicções fornece uma detalhada enumeração dos
pessoais e o compromisso com a religião ou direitos que constituem um padrão míni-
fé, quer estes sejam manifestados individual- mo aceite internacionalmente:
mente ou em comunidade com outros.
A liberdade de consciência é várias vezes - A liberdade de manifestar a sua fé ou
violada, como prova o número de “prisio- de reunião ligada a uma religião ou
neiros de consciência” existente em todo o crença, de estabelecer e manter locais
mundo. Estes prisioneiros, na sua maioria, para este fim;
pertencem a minorias religiosas.
- A liberdade de fazer, adquirir e usar,
A liberdade de pensamento e consciência
adequadamente, os artigos e os mate-
e a liberdade de escolher e de mudar de
riais necessários relativos aos ritos e aos
religião ou fé são protegidas incondicio-
costumes de uma religião ou crença;
nalmente. Ninguém pode ser forçado a
revelar os seus pensamentos ou a aderir a - A liberdade de solicitar e receber con-
uma religião ou fé. tribuições financeiras voluntárias e ou-
tras contribuições de indivíduos e ins-
Padrões Internacionais tituições;
O direito internacional dos direitos huma- - A liberdade de formar, nomear, ele-
nos evita a controvérsia acerca da defini- ger ou designar por sucessão, líderes
ção de religião e fé e contém, antes, um apropriados como estabelecido por
catálogo de direitos que visa a proteção normas e condições de qualquer reli-
da liberdade de pensamento, consciência, gião ou crença;
religião e fé. - A liberdade de respeitar dias de descan-
Para uma melhor compreensão da com- so e de celebrar dias sagrados e cerimó-
plexidade das liberdades religiosas, po- nias de acordo com os preceitos da sua
der-se-á fazer uma classificação com qua- religião ou crença;
tro níveis:
1. Liberdade de exercer práticas indivi- - Liberdades religiosas no trabalho, in-
duais específicas; cluindo o direito a rezar, códigos de
G. LIBERDADES RELIGIOSAS 257

vestuário e normas relativas à alimen- de Intolerância e de Discriminação Ba-


tação; seadas na Religião ou Crença.)
- A liberdade de assembleia e de associa-
ção para a prece e festas religiosas; 4. Liberdade de não ter religião
- A liberdade de manifestar a sua crença; A liberdade negativa de religião ou neutra-
- O direito de mudar ou recusar a sua lidade religiosa significa que os cidadãos
religião; não religiosos podem invocar a liberdade
de não ter religião no domínio público.
- O direito à educação religiosa “no inte-
Na Alemanha, por exemplo, a liberda-
resse superior” da criança.
de negativa de religião ou a neutralidade
(Fonte: Nações Unidas. 1966. Artº 18º religiosa tem sido particularmente salien-
do PIDCP) tada desde que o Tribunal Constitucional
Federal no “julgamento sobre crucifixo”
2. Liberdade de exercer práticas coletivas decidiu que afixar uma cruz ou crucifixo
Os direitos religiosos não habilitam apenas nas salas de aulas de uma escola pública
os indivíduos a gozar das liberdades acima obrigatória, uma escola não religiosa, con-
mencionadas. Uma religião ou crença pode traria o artº 4º, nº1, da Lei Fundamental
ser, e normalmente é, manifestada em comu- Alemã. Esta neutralidade religiosa atingiu
nidade e, por conseguinte, muitas vezes em um novo clímax com as novas leis e di-
espaços públicos. Este facto implica igual- retrizes e a sua implementação em oito
mente a garantia de liberdade de associação estados federados alemães; estes incluem
e assembleia à comunidade de crentes. restrições severas sobre o uso de símbolos
religiosos, incluindo os véus no setor pú-
3. A liberdade de determinadas entidades
blico. A organização de direitos humanos
Determinadas entidades com base religio-
Human Rights Watch criticou a neutralida-
sa também gozam de proteção total por
de religiosa alemã acentuada até à data,
força da liberdade de religião. Estas en-
uma vez que os novos regulamentos vio-
tidades podem constituir casas de culto
lariam a responsabilidade internacional da
ou instituições educativas que lidem com
Alemanda de proteger a liberdade religiosa
questões religiosas ou até mesmo ONG.
e também o direito de igualdade perante a
lei. A França e a Bélgica também têm leis
Os seus direitos incluem:
e proibições sobre o uso de roupas e sím-
- A liberdade de estabelecer e manter bolos religiosos no domínio público desde
instituições de solidariedade e humani- 2011.
tárias apropriadas;
- A liberdade de escrever, publicar e di- O Princípio da Não Discriminação
vulgar publicações relevantes nessas A discriminação e intolerância baseadas
áreas; na religião, significa que qualquer dis-
- A liberdade de ensino de uma religião tinção, exclusão, restrição ou preferência
ou crença em locais adequados. baseada na religião ou fé, são proibidas.
A proibição da discriminação e intolerân-
(Fonte: Nações Unidas. 1981. Declaração cia religiosas não se limita à vida pública,
para a Eliminação de Todas as Formas mas respeita também à esfera privada dos
258 II. MÓDULOS SOBRE QUESTÕES SELECIONADAS DE DIREITOS HUMANOS

indivíduos, na qual estão enraizadas as ticá-la, sozinho ou com outros, a cumprir


crenças religiosas ou de outra natureza. regras de dieta alimentar e regras de vestu-
ário ou ao uso de uma linguagem particu-
Não Discriminação lar e a celebrar rituais associados à nossa
fé. A manifestação da religião ou fé sig-
Educação nifica igualmente a possibilidade de evi-
Os pais têm o direito a educar os seus fi- tar atos que sejam incompatíveis com as
lhos de acordo com a sua fé. A disposi- prescrições de uma determinada fé. Estas
ção “no interesse superior da criança” tem ações podem consistir na recusa de jura-
como propósito limitar a liberdade de ação mentos, de serviço militar e a participação
dos pais apenas quando uma prática re- em cerimónias religiosas, confissão ou tra-
ligiosa possa prejudicar a saúde física ou tamento médico.
mental da criança. Esta prática pode con-
sistir na recusa de tratamento médico ou Limitações às Liberdades Religiosas
educação escolar. Por exemplo, a recusa Apesar de a fé em si mesma ser protegi-
de transfusões sanguíneas pode conduzir da sem reservas, a manifestação da crença
à morte dos filhos de Testemunhas de Jeo- pode atingir limites quando estão em cau-
vá cuja crença, por princípio, não permite sa os interesses de outras pessoas.
a transfusão de sangue. O artº 9º da Convenção Europeia dos Di-
No domínio público, os Estados têm a reitos Humanos (CEDH), por exemplo,
obrigação de providenciar educação que especifica que as restrições ao direito de
proteja a criança da intolerância e discri- manifestar uma crença religiosa têm de ser
minação religiosas e que ofereça curricula proporcionais e baseadas na lei. Apenas
que inclua a educação sobre liberdade de podem ser impostas quando necessárias
pensamento, consciência e religião. para proteger a segurança pública, a ordem,
a saúde ou moral ou os direitos fundamen-
Direitos Humanos da Criança tais e liberdades de outras pessoas. As limi-
Direito à Educação tações a esta liberdade são permitidas, por
exemplo, em casos de sacrifício humano,
Questões para debate automutilação, mutilação genital feminina,
1. Como é feita a educação religiosa no escravatura, prostituição forçada, atividades
seu país? subversivas e outras práticas que ameacem
2. O currículo escolar e os manuais lidam a saúde humana e a integridade física.
com a liberdade de religião e de fé, in-
cluindo a liberdade de não acreditar? 3. PERSPETIVAS
3. Existem, no seu país, garantias de inde- INTERCULTURAIS
pendência da educação religiosa? E QUESTÕES CONTROVERSAS

Manifestar a Fé Estado e Fé
A liberdade de manifestar uma crença Uma das maiores diferenças, a nível mun-
religiosa inclui a proteção da linguagem dial, no que respeita à proteção das liberda-
religiosa, ensinamentos, rituais, adoração des religiosas faz-se sentir na relação entre
e observância dessa fé. Temos o direito a os Estados e as religiões ou fés dos seus
falar sobre a nossa fé, a ensiná-la, a pra- cidadãos. Existem vários modelos princi-
G. LIBERDADES RELIGIOSAS 259

pais no que respeita à forma como os Esta- • Pensa ser possível estabelecer um sis-
dos podem interagir com as fés: religiões de tema de igualdade entre todas as fés,
Estado, igrejas estabelecidas, neutralidade quando uma é privilegiada?
dos Estados relativamente à fé e às suas • Pensa ser legítima a possibilidade de
instituições, inexistência de religião oficial, constituição de partidos políticos con-
separação do Estado e Igreja e proteção de fessionais ou religiosos?
grupos religiosos legalmente reconhecidos.
As normas internacionais não exigem uma Apostasia – A Liberdade de Escolha e
separação entre o Estado e a Igreja e não pres- Mudança de Religião
crevem qualquer modelo particular de rela- O ato de apostasia – abandono de uma reli-
ção entre o Estado e as fés. Os mesmos não gião por uma outra ou por um estilo de vida
requerem a visão de uma sociedade secular secular – é uma das questões mais contro-
que exclua a religião dos assuntos públicos, versas entre culturas diferentes, apesar da
apesar da separação da religião relativamente clareza das normas internacionais.
ao Estado ser uma das maiores caraterísticas Uma pessoa será apóstata se deixar uma
das sociedades modernas (ocidentais). religião e adotar uma outra ou assumir
O único requisito internacional é que uma um estilo de vida secular. Historicamente,
tal relação entre Estado e Igreja não resul- o Islão, o Cristianismo e outras religiões
te na discriminação contra aqueles que não adotaram uma visão muito reprovadora
pertençam à religião oficial ou às fés reco- dos apóstatas. A pena era frequentemente
nhecidas. No entanto, quando apenas uma a morte.
religião é considerada como constitutiva da No que respeita ao Islão, a apostasia é ain-
identidade nacional, é difícil perceber-se da severamente punida em muitos países
como pode ser garantido o tratamento igual onde as respetivas sociedades se baseiam
de fés diferentes ou minoritárias. nas lei Sharia. Países como o Afeganistão,
Do ponto de vista ocidental, é mais provável Irão, Indonésia, Índia, Paquistão, a Arábia
que uma relação neutral entre a religião e o Saudita ou o Egito simbolizam muitos ou-
Estado garanta plenamente a liberdade reli- tros onde é possível impor a pena perpé-
giosa do indivíduo. Pelo contrário, a lei tra- tua ou a pena de morte pela rejeição aber-
dicional Islâmica, Sharia, por exemplo, liga ta da fé Islâmica. Na prática, isto significa
o Estado e a fé porque este sistema é visto que não existe liberdade de escolha ou de
como aquele que providencia uma melhor mudança de religião ou fé.
proteção da liberdade religiosa da comuni- Este facto está em clara contradição com o
dade. Poder-se-á, no entanto, argumentar direito internacional dos direitos humanos.
que quando o Estado está ligado a uma igre- O indivíduo tem o direito a escolher a sua
ja ou religião particulares, será difícil que as fé com liberdade e sem coerção. O deba-
minorias religiosas recebam uma proteção te sobre esta questão é altamente emotivo
igual. e sensível, uma vez que toca convicções
profundas e diferentes entendimentos das
Questões para debate liberdades religiosas. O debate ilustra tam-
• Qual é a atitude do seu país relativa- bém as diferenças culturais na perceção da
mente às diferentes fés? liberdade religiosa e de outras liberdades e
• O seu país reconhece instituições de di- parece estabelecer uma diferença entre o
ferentes fés? “Ocidente” e o “resto do mundo”.
260 II. MÓDULOS SOBRE QUESTÕES SELECIONADAS DE DIREITOS HUMANOS

nova Lei sobre o Ódio Racial e Religioso,


Questões para debate que introduziu uma nova ofensa de “inci-
• Acredita que as pessoas podem escolher tamento ao ódio religioso”, não pudesse
e mudar as suas crenças livremente? impedir o direito de criticar e ridicularizar
• Podem estas situações conduzir a uma as crenças e as práticas religiosas como
colisão com outros direitos humanos? Se parte da liberdade de expressão. Tal Lei foi
sim, com que outros direitos humanos? alterada de acordo com estas observações.

Proselitismo – O Direito de Divulgação Liberdade de Expressão


da Fé Liberdade dos Meios de Informação
Todas as pessoas têm o direito a disseminar
as suas crenças e encorajar outros à con- Objeção de Consciência ao Serviço Mi-
versão de uma fé para outra, desde que não litar
seja usada força ou coerção. Esta ação de- A controvérsia intercultural sobre a ob-
nomina-se proselitismo ou evangelização. jeção de consciência ao serviço militar
Na Europa Central, de Leste e em África, obrigatório ainda existe atualmente. A
têm surgido conflitos entre igrejas locais e isenção ao serviço militar é possível se
religiões estrangeiras que promovem pro- a obrigação de usar força letal confli-
gramas missionários. Em determinados tuar seriamente com a consciência de
casos, estes programas têm sido proibidos uma pessoa e se, consequentemente,
pelos governos. O direito dos direitos hu- pessoas com outras fés não ficarem em
manos exige que os governos protejam o situação de desvantagem. Em países
direito à liberdade de expressão e que os onde existe a possibilidade de presta-
crentes gozem da liberdade de se ocuparem ção de serviço comunitário alternativo
com formas não coercivas de proselitismo, (por exemplo, na Áustria, em França,
como o “mero apelo de consciência” ou a no Canadá ou nos EUA), há uma certa
disposição de cartazes ou paineis. tendência para reconhecer aquele direi-
Apesar de ser claramente uma violação de to na legislação nacional. No entanto,
direitos humanos, forçar alguém a conver- noutros países como a Bielorrússia,
ter-se a uma outra fé, a questão de saber o Chile, Turquia, Turquemenistão, Armé-
que é considerado coerção ainda não está nia ou Israel, não existe qualquer reco-
regulada no direito internacional. Para que nhecimento da objeção de consciência
possa haver limitação do proselitismo é ao serviço militar e é possível colocar
necessário que haja uma “circunstância na prisão uma pessoa que se recuse a
coerciva”: o uso de dinheiro, presentes ou transportar uma arma.
privilégios para que a pessoa se converta;
proselitismo em espaços onde as pessoas Questões para debate
se encontrem por força da lei (salas de • Existem prisioneiros de consciência no
aula, instalações militares, prisões e afins). seu país?
• Pensa ser necessário reconhecer expres-
Incitação ao Ódio por Motivos Religiosos samente, no direito internacional dos
e Liberdade de Expressão direitos humanos, o direito a recusar-se
No início de 2006, no Reino Unido, grupos a matar?
de direitos humanos insistiram para que a
G. LIBERDADES RELIGIOSAS 261

4. IMPLEMENTAÇÃO lei Sharia tem de ser feita de acordo com


E MONITORIZAÇÃO as obrigações internacionais. O Tribunal
Europeu dos Direitos Humanos (TEDH),
O maior problema relativo à implementa- em Estrasburgo, é um dos instrumentos
ção da liberdade religiosa é a falta de exe- mais eficazes para a implementação da
quibilidade efetiva do artº 18º do PIDCP. liberdade religiosa ao nível regional euro-
A Declaração das Nações Unidas de 1981 peu. Muitas decisões, como a decisão so-
sobre a Eliminação de Todas as Formas de bre a Cientologia na Rússia (vide TEDH.
Intolerância e Discriminação Baseadas na 2007. Caso Igreja da Cientologia de Mosco-
Religião ou Crença, dedicada à luta contra vo c. Rússia, 5 abril, 2007) ou a decisão so-
a intolerância, os estereótipos negativos e bre o reconhecimento das Testemunhas de
a estigmatização de religiões, os apelos à Jeová como uma comunidade religiosa na
violência e a violência contra pessoas com Áustria (vide TEDH. 2008. Caso das Teste-
base na religião ou crença, tem um certo munhas de Jeová et al c. Áustria, 31 julho,
efeito legal, uma vez que pode ser vista 2008) são disso prova. A mais recente de-
como confirmando o direito internacional cisão sobre o debate relativo aos crucifi-
consuetudinário. No entanto, em geral, xos nas escolas públicas italianas também
uma declaração não é juridicamente vin- aponta nessa direção (vide TEDH. 2011.
culativa. Apesar de haver acordo interna- Caso Lautsi et al c. Itália, 18 março, 2011).
cional quanto à necessidade de uma con- Existem igualmente muitos órgãos e comi-
venção, não existe ainda consenso sobre o tés no seio do Conselho da Europa e da
seu possível conteúdo. Organização para a Segurança e Coopera-
Em 1986, foi instituído o mandato de Re- ção na Europa (OSCE) que lidam com os
lator Especial sobre Intolerância Religiosa direitos à liberdade de pensamento, cons-
para monitorizar a implementação da De- ciência, religião e ideologia.
claração de 1981. O seu mandato consiste
principalmente em identificar incidentes Medidas de Prevenção e Estratégias Fu-
e ações governamentais que sejam incon- turas
sistentes com as disposições da Declara- Antes de se continuar com os esforços ten-
ção e fazer recomendações de medidas dentes à adoção de uma convenção juri-
reparadoras que devam ser tomadas pelos dicamente vinculativa, é necessária uma
Estados. A perseguição e discriminação melhor promoção da Declaração das Na-
baseadas na religião afetam indivíduos e ções Unidas sobre a Eliminação de Todas
comunidades de todas as fés por todo o as Formas de Intolerância e Discriminação
mundo, incluindo violações do princípio Baseadas na Religião ou Crença de 1981, de
da não discriminação religiosa e da tole- forma a desenvolver-se uma cultura de co-
rância de religião e credo, violações dos abitação multirreligiosa. A ênfase deve ser
direitos à vida, integridade física e segu- colocada no papel da educação como meio
rança humana do indivíduo. essencial para combater a intolerância e a
Existem igualmente instrumentos regio- discriminação religiosas. Os Estados têm
nais de direitos humanos que lidam com obrigações claras de direito internacional
a liberdade religiosa: a Comissão Africana de combater a violência e a discriminação
dos Direitos Humanos decidiu, num caso no que respeita a questões de fé. Por outro
respeitante ao Sudão, que a aplicação da lado, as ONG, as organizações religiosas e
262 II. MÓDULOS SOBRE QUESTÕES SELECIONADAS DE DIREITOS HUMANOS

seculares têm uma obrigação igualmente que a sua fé é verdadeira. Uma cultura de
clara de salientar as violações dos Estados tolerância e respeito exige que nos recu-
e outros atores, de defender os persegui- semos a discriminar, denegrir ou difamar
dos e de promover a tolerância através de outras religiões e respeitemos o direito
campanhas informativas, campanhas de fundamental a ser-se diferente também em
sensibilização, programas educativos e termos religiosos. Significa igualmente que
educação. nos recusemos a discriminar o outro em
termos de emprego, habitação e acesso a
O Que Podemos Fazer? serviços sociais porque este tem outra fé. É
Nós podemos começar a prevenir a discri- também necessário, para uma efetiva mu-
minação e a perseguição religiosa, respei- dança de atitude, a promoção do diálogo in-
tando os direitos dos outros. A tolerância terreligioso e o encontro de crentes, numa
religiosa implica o respeito pelos seguido- plataforma comum, e não crentes para que
res de outras fés, quer acreditemos ou não aprendam a respeitar-se mutuamente.

CONVÉM SABER
1. BOAS PRÁTICAS • Parlamento Mundial das Religiões;
• Fundação Ética Mundial.
Diálogo Interreligioso Existem igualmente, por todo o mundo,
para o Pluralismo Religioso numerosas iniciativas locais e regionais
Durante as últimas décadas, as questões que promovem a resolução e prevenção de
sobre pluralismo religioso e cultural fize- conflitos, através do diálogo:
ram reavivar o interesse nas igrejas e co- • No Médio Oriente, a “Clergy for Peace”
munidades de crentes. Há um sentimento promove o encontro de rabinos, padres,
de urgência relativamente à construção de pastores e imãs em Israel e na Cisjordâ-
relações criativas entre pessoas de diferen- nia, tendo em vista o desenvolvimento
tes fés. Tal como o interesse no diálogo de uma ação comum e para ser teste-
tem crescido, assim também tem crescido munha da paz e justiça na região;
a sua prática, permitindo, deste modo, às • No Sul da Índia, o “Council of Grace” reú-
várias comunidades religiosas entende- ne Hindus, Cristãos, Muçulmanos, Budis-
rem-se melhor umas com as outras e tra- tas, Jains, Zoroastrianos, Judeus e Sikhs
balharem mais próximas na educação, re- numa tentativa de lidar com situações de
solução de conflitos e na vida quotidiana conflito comunitário (Comunalismo);
da comunidade. Entre muitas outras, estas • No Pacífico, a “Interfaith Search” reúne
ONG internacionais têm promovido o di- representantes de várias religiões nas
álogo religioso e a paz: Fiji com o objetivo de superar precon-
• Conselho Mundial das Igrejas; ceitos e promover o respeito e a apre-
• Conferência Mundial sobre Religiões e ciação mútuos;
Paz, com o seu grupo de trabalho per- • Na Europa, o “Project: Interfaith Europe”
manente sobre “religião e direitos hu- é a primeira iniciativa do género a con-
manos”; vidar políticos urbanos e representantes
G. LIBERDADES RELIGIOSAS 263

de diferentes religiões de toda a Europa 2. TENDÊNCIAS


para as cidades de Graz e Sarajevo;
• A cidade de Graz, na Áustria, estabeleceu Cultos, Seitas e Novos Movimentos Re-
um Conselho para Assuntos Interreligio- ligiosos
sos, onde se discutem problemas comuns Jacarta (16 de julho de 2005): O Vice-
às várias fés e se aconselha a cidade acer- -Presidente Yusuf Kalla condenou, no
ca do modo como os revolver. sábado, um ataque de cerca de 1000 mu-
çulmanos à sede de uma seita islâmica
Questão para debate pouco conhecida e considerada como
“No diálogo, a convicção e abertura são herege pelos principais grupos muçul-
mantidos em equilíbrio”. manos de todo o mundo. Munida com
(Fonte: Worldwide Ministries – Guidelines bastões e pedras, a multidão atacou a
for Interfaith Dialogue: www.pcusa.org/ sede da seita Ahamadiyah na cidade de
pcusa/wmd/eir/dialogue.htm) Bogor, situada a sul de Jacarta, vanda-
• Como pode ser feito este diálogo, indi- lizando escritórios e outras divisões. A
vidualmente e em comunidade? polícia tentou parar o ataque, mas foi in-
capaz perante tantas pessoas.
“Religiões para a Paz”
através da Educação (Fonte: The Jakarta Post. 16 julho, 2005.
A educação interreligiosa encoraja o res- VP condemns mob attack on Islamic
peito por pessoas de outras fés e prepara sect.)
os estudantes a pôr de parte barreiras de
preconceito e intolerância. A liberdade religiosa não deve ser interpre-
• Em Israel, um projeto chamado “Common tada estritamente, incluindo apenas as re-
Values/Different Sources” promoveu o en- ligiões tradicionais do mundo. Igual prote-
contro de Judeus, Muçulmanos e Cris- ção deve ser dada aos novos movimentos
tãos, tendo em vista o estudo de textos religiosos ou às minorias religiosas. Este
sagrados na procura de valores comuns princípio adquire particular importância à
que se possam praticar na vida quotidia- luz de acontecimentos recentes nos quais
na. O resultado deverá, eventualmente, novos movimentos religiosos são um alvo
ser um livro escolar uniforme; recorrente de discriminação e repressão.
• Na Tailândia e no Japão, recentes Cam- Estes novos movimentos são conhecidos
pos Éticos de Liderança Jovem pro- por diferentes nomes e necessitam de uma
moveram o encontro de jovens repre- análise mais profunda.
sentantes das comunidades religiosas Os termos “culto” e “seita” são usados
destes países em programas de forma- para referir grupos religiosos que diferem
ção em liderança, valores éticos e mo- das principais religiões nas suas crenças
rais, serviço comunitário e de fortaleci- e práticas. Ambas as expressões são al-
mento da reconciliação; tamente ambíguas. Uma seita geralmente
• Na Alemanha, Inglaterra e noutros pa- refere-se a um grupo religioso dissidente
íses, os educadores estão a analisar o que se formou a partir do ramo principal
tratamento das tradições religiosas em da religião dominante, enquanto culto
textos escolares, que sejam estranhas é geralmente visto como um sistema de
ao público-alvo dos livros. crenças religiosas não ortodoxo ou apócri-
264 II. MÓDULOS SOBRE QUESTÕES SELECIONADAS DE DIREITOS HUMANOS

fo, muitas vezes acompanhado por rituais mes as penalizem ou mesmo ameacem as
únicos. suas vidas:
Considerando que ambos os termos são • A taxa de mutilação de meninas em zo-
definidos a partir da ideia de “desvio da nas rurais do Egito é de 95%. A muti-
norma”, a visão do que constitui seita ou lação genital feminina (MGF) é uma
culto será diferente entre as várias cren- tradição cultural em muitos países e é
ças. Enquanto o Budismo e o Hinduísmo severamente condenada pelos padrões
usam estes termos num sentido neutro, no internacionais de proteção dos direitos
mundo ocidental, “seita” ou “culto” são humanos. Graves problemas de saúde
conceitos frequentemente usados com co- podem surgir subsequentemente, po-
notação negativa. Este facto deriva não só dendo potencialmente resultar na morte.
da diferença destes grupos relativamente No entanto, em junho de 2003, foi alcan-
à norma, mas também do facto de serem çado um progresso a este respeito quan-
muitas vezes associados com uma comple- do representantes de vinte e oito países
ta devoção ou abusos em termos financei- africanos e árabes afetados por esta prá-
ros. Não estão protegidos pelas liberdades tica assinaram a Declaração Conjunta
religiosas grupos que se tenham formado do Cairo para a Eliminação da MGF na
como negócios, em vez de grupos religio- Consulta de Peritos Africanos e Árabes
sos. Um famoso e controverso exemplo é sobre “Medidas Legais para a Prevenção
a Igreja da Cientologia, que, em alguns da Mutilação Genital Feminina”.
países (sendo a Alemanha o mais famoso • Em zonas da Nigéria, Sudão, Paquistão
exemplo) não é reconhecida como religião e noutros países, são praticados casa-
por ser antes vista como uma empresa. mentos forçados que resultam frequen-
temente em escravidão. A necessidade
Questões para debate de consentimento da mulher não é res-
• As minorias religiosas são protegidas no peitada. Muitas vezes, as “esposas” não
seu país? Se sim, como? têm mais do que nove anos. No seio de
• Essas minorias têm os mesmos direitos/ determinados grupos na Europa e na
apoio do que a(s) principal(ais) fé(s)? América do Norte, são também prati-
cados casamentos forçados, defendidos
Mulheres e Fé ou tolerados em nome da cultura, tradi-
Durante toda a história, as mulheres têm ção e religião, apesar da existência de
sido discriminadas por praticamente todas proibições gerais de tal prática, nesses
as fés. Só tardiamente o seu direito hu- países.
mano à liberdade religiosa foi abordado. • A violação como forma específica de
A discriminação das mulheres na religião “limpeza étnica”: a afiliação religiosa
envolve dois aspetos. Por um lado, pode das vítimas foi em muitos casos a ra-
haver uma limitação da sua liberdade de zão por detrás de violações em massa
manifestar a sua fé, se não puderem ace- na ex-Jugoslávia, Geórgia, Sudão, Ru-
der em condições de igualdade a espaços anda ou Chechénia. A gravidez força-
de culto ou não puderem pregar ou lide- da de mulheres violadas garantia que
rar as suas comunidades. Por outro lado, publicamente as mesmas fossem vistas
podem ser vítimas de determinadas fés, como tendo sido violadas e, consequen-
quando as leis religiosas, práticas e costu- temente, desonradas e humilhadas, pro-
G. LIBERDADES RELIGIOSAS 265

longando o dano psicológico. Os seus


“Tal como a religião pode ser usada, er-
filhos continuam a ser discriminados.
radamente, para justificar o terrorismo,
Entre as vítimas estavam meninas entre
também as ações “antiterrorismo” dos
os 7 e os 14 anos de idade.
governos podem ser erradamente usadas
para justificar atos que colocam em peri-
Extremismo Religioso e os seus Impactos
go os direitos humanos e a liberdade de
Depois dos ataques ao “World Trade Cen-
religião ou crença.”
tre” e ao Pentágono, em 11 de setembro
de 2001, e também como consequência (Fonte: OSCE. 2002. Conferência sobre a
do ataque no metro de Londres, a 7 de Liberdade de Religião e a Luta contra o Ter-
julho de 2005, o terrorismo parece explo- rorismo. Liberdade de Religião e Crença.)
rar, mais do que nunca, a crença religiosa.
Muitos entendem que estes trágicos acon- Difamação da Religião
tecimentos marcam apenas a ponta do Desde 1999 tem havido esforços nas Nações
icebergue que está por detrás da ligação Unidas no sentido de fazer da difamação da
entre fé e terrorismo: sequestro de aviões, religião uma forma nova de racismo. Estes
os bombardeamentos das embaixadas oci- esforços foram encorajados pela Organização
dentais em países dominados por Muçul- da Conferência Islâmica5 para proteger o Islão
manos, para não falar da questão “israelo- de ataques. Em 2001, a Comissão de Direi-
palestiniana” e outros “conflitos de baixa tos Humanos da ONU passou uma resolução
intensidade” por todo o mundo que usam para a luta contra a difamação da religião,
a religião por razões políticas. tendo nomeado apenas o Islão. A resolução
Esta ligação é, todavia, bastante perigosa, refere ainda que a difamação da religião con-
uma vez que divide o mundo entre “bons” duz a violações de direitos humanos e que
e “maus” cenários e rotula as pessoas com é a razão da instabilidade social no mundo.
base na sua fé. No entanto, tal como nem A resolução foi aprovada pelo Conselho de
todo o terrorista ou extremista será religioso, Direitos Humanos, tendo os Estados da UE,
nem todo o crente é terrorista. Quando ata- a Suíça e outros países ocidentais (ex. EUA,
ques extremistas são ligados à fé e os ofen- Canadá) abstido pelo facto de o conceito de
sores argumentam o cometimento de um difamação da religião ser inconsistente com o
crime “em nome de Deus”, a religião e as direito dos direitos humanos.
suas liberdades são usadas e abusadas para A resolução foi considerada contraditória,
ocultar atos ou exigências motivadas politi- uma vez que estabelece o direito de uma re-
camente. O recurso ao terrorismo em nome ligião em vez de um direito dos indivíduos,
da fé não prova a existência de um confron- enquanto os direitos humanos geralmente
to de diferentes culturas baseado em crenças protegem os indivíduos e não conceitos e, en-
religiosas, uma vez que o extremismo é uma quanto tais, religiões. Mais, um direito contra
ameaça global que não está limitada a uma a difamação de religião implicaria uma forte
sociedade ou fé em particular, mas que se restrição à liberdade de opinião. Em 2009,
baseia na ignorância e intolerância. uma coligação de mais de 180 ONG declarou
A única forma de combater efetivamente
o extremismo é encontrar formas de que-
brar o círculo vicioso de violência que gera 5
Em junho de 2011, a OCI passou a designar-se Or-
violência. ganização da Cooperação Islâmica.
266 II. MÓDULOS SOBRE QUESTÕES SELECIONADAS DE DIREITOS HUMANOS

a sua oposição à resolução pelo facto de a 1950 Convenção Europeia para a Pro-
mesma ameaçar a liberdade de opinião. Não teção dos Direitos Humanos
obstante, a resolução foi aprovada pelo Con- e das Liberdades Fundamentais
selho de Direitos Humanos. (Artº 9º)
Apenas em 2011, a Conferência dos Esta-
dos Islâmicos propôs uma resolução revis- 1965 Declaração sobre a Liberdade Reli-
ta que foi aceite por todos os estados do giosa pelo Conselho do Vaticano
Conselho de Direitos Humanos e preten- 1966 Pacto Internacional sobre os Direi-
de proteger pessoas que, por força da sua tos Civis e Políticos (Artos 18º, 20º,
religião ou crença, são confrontadas com 24º, 26º, 27º)
intolerância e violência. 1969 Convenção Americana sobre Direi-
(Fonte: Conselho de Direitos Humanos da tos Humanos (Artos 12º, 13º, 16º,
ONU. 2011. Combating intolerance, nega- 17º, 23º)
tive stereotyping and stigmatization of,
1981 Carta Africana dos Direitos Huma-
and discrimination, incitement to violence,
nos e dos Povos (Artos 2º, 8º, 12º)
and violence against persons based on reli-
gion or belief.) 1981 Declaração das Nações Unidas
sobre a Eliminação de Todas as
Questões para debate Formas de Intolerância e de Discri-
• Quais são as principais razões de confli- minação Baseadas na Religião ou
to no seio e entre comunidades religio- Crença
sas? Pode dar exemplos, tendo em conta 1989 Convenção sobre os Direitos da
a sua própria experiência? Criança (Artº 14º)
• Qual é o papel das fés na procura de paz
e na resolução de conflitos? Pense em 1990 Declaração do Cairo sobre Direitos
exemplos onde a religião tenha sido um Humanos no Islão
agente de reconciliação. 1992 Declaração das Nações Unidas so-
bre os Direitos de Pessoas Perten-
3. CRONOLOGIA centes a Minorias Étnicas, Religio-
sas e Linguísticas (Artº 2º)
Etapas importantes na história do de-
1993 Declaração para uma Ética Global,
senvolvimento das liberdades religiosas
apoiada pelo Parlamento das Reli-
1776 Declaração de Direitos da Virgínia giões do Mundo em Chicago
(1789 Carta de Direitos com Pri- 1994 Carta Árabe dos Direitos Humanos
meira Emenda) (Artos 26º, 27º)
1948 Declaração sobre a Liberdade Re- 1998 Carta Asiática dos Direitos Huma-
ligiosa do Conselho Mundial das nos (Artº 6º)
Igrejas
2001 Conferência Internacional Con-
1948 Declaração Universal dos Direitos sultiva das Nações Unidas sobre
Humanos (Artos 2º, 18º) a Educação Escolar em relação à
1948 Convenção sobre a Prevenção e a Liberdade de Religião e Crença, à
Repressão do Crime de Genocídio Tolerância e à Não Discriminação
(Artº 2º) (Madrid)
G. LIBERDADES RELIGIOSAS 267

2001 Congresso Mundial para a Preser- 2007 Declaração da OSCE sobre Intole-
vação da Diversidade Religiosa rância e Discriminação contra Mu-
(Nova Deli) çulmanos
2004 Carta Árabe dos Direitos Humanos

ATIVIDADES SELECIONADAS
ATIVIDADE I: Dividir os participantes em grupos de qua-
PALAVRAS QUE FEREM tro a seis pessoas. Uma pessoa de cada
grupo deve ler a primeira frase. Neste mo-
Parte I: Introdução mento, o grupo deve apenas aceitar que
Esta atividade visa mostrar os limites da se trata de um comentário ofensivo e de-
liberdade de expressão quando aquilo que bater a razão pela qual a pessoa magoada
se faz ou diz colide com as crenças religio- se sente dessa forma; se as pessoas devem
sas e sentimentos de outros. poder dizer tais coisas sem ter em conta os
seus possíveis efeitos e o que fazer quando
Parte II: Informação Geral isso acontece.
Tipo de atividade: Debate Repetir o processo para cada frase.
Metas e objetivos: Descobrir e aceitar os Reações:
sentimentos religiosos de outras pessoas; Como se sentiram os participantes durante
aprender sobre os limites que podem ser o debate? Foi difícil aceitar que os comen-
impostos à liberdade de expressão tários feriram alguém e ficar em silêncio?
Grupo-alvo: Jovens adultos e adultos Que limites devem ser impostos ao que se
Dimensão do grupo: 8-25 pode dizer sobre os pensamentos e cren-
Duração: pelo menos 60 minutos ças dos outros? Podemos dizer sempre
Material: quadro e marcador aquilo que queremos?
Preparação: Preparar um quadro e mar- Sugestões metodológicas:
cador. Assegurar-se de que é discreto e respeitoso
Competências envolvidas: Ouvir os outros, quando fizer esta atividade, não fazendo
ser sensível e aceitar opiniões diversas. ponderações ou valorizando subjetiva-
mente as afirmações.
Parte III: Informação Específica sobre a Outras Sugestões:
Atividade Como atividade final: uma carta para to-
Instruções: dos. Escrever os nomes dos participantes
Fazer com que os participantes elaborem uma em pequenos pedaços de papel, fazer
lista de comentários que firam e de estereóti- com que cada um tire um papel à sorte
pos relacionados com a consciência ou cren- e escreva uma carta dizendo coisas amá-
ças religiosas de alguém; comentários que os veis a essa pessoa – um final adequado a
participantes saibam que causem angústia. muitas atividades que evocam controvér-
Escolher alguns dos piores e escrevê-los. sias e emoções.
268 II. MÓDULOS SOBRE QUESTÕES SELECIONADAS DE DIREITOS HUMANOS

Parte IV: Acompanhamento Preparação: Preparar fotografias de dife-


Se os participantes continuarem a trabalhar rentes movimentos religiosos.
juntos, poderá ser uma atividade apropria- Competências envolvidas: Competências
da deixar o grupo encontrar e estabelecer sociais: ouvir os outros, analisar, comuni-
regras do debate e comunicação que po- car; competências de pensamento crítico:
dem ser afixadas na parede, dando assim a dar opinião, reflexão; competências cria-
oportunidade a todos de fazer referência às tivas: compreensão e aplicação de metá-
mesmas quando seja necessário. foras, desenvolvimento de símbolos ilus-
Direitos relacionados: Liberdade de Ex- trativos.
pressão e dos Meios de Informação
(Fonte: Nações Unidas. 2004. ABC Teach- Parte III: Informação Específica sobre a
ing Human Rights. Practical Activities for Atividade
Primary and Secondary Schools.) Instruções:
Primeira Parte
ATIVIDADE II: Espalhar fotografias de diferentes movi-
A FÉ DO MEU VIZINHO mentos religiosos, cerimónias, símbolos,
E A MINHA etc., na mesa ou no chão. Escolher as
fotografias de acordo com o grupo; em
Parte I: Introdução qualquer caso, as fotografias devem re-
O objeto desta atividade é o princípio da presentar todas as comunidades religio-
não discriminação e a proibição da into- sas no país (em muitos casos, mais do
lerância com base na religião. É preferível que se poderia pensar à primeira vista).
trabalhar com participantes que perten- Dependendo do grupo, considerar in-
çam a diferentes crenças religiosas. cluir fotografias de grupos ou movimen-
tos religiosos que (ainda) não são aceites
Parte II: Informação Geral no país.
Tipo de atividade: Atividade com múlti- Cada participante escolhe uma fotografia
plas tarefas que mostra algo que não tolera. Reunir o
Metas e objetivos: Trabalhar e perceber grupo em círculo. Cada participante mos-
a noção de tolerância; analisar as face- tra a fotografia que escolheu e explica por
tas das liberdades religiosas; desenvolver que é que não tolera.
competências de pensamento imaginativo Numa breve recolha de opiniões, pedir
e criativo; aprender sobre diferentes costu- aos participantes que reflitam sobre todo
mes/culturas. o processo:
Grupo-alvo: Jovens adultos e adultos Reações:
A atividade pode ser usada igualmente Por que é que alguém se perturbou com
para estudantes de todas as idades com algo mostrado numa fotografia? Será que
algumas modificações. alguns participantes escolheram a mesma
Dimensão do grupo: 5-30 fotografia? Se sim, porquê? Que fotografias
Duração: 120 a 240 minutos não perturbaram ninguém e porquê? Onde
Material: quadro, papel para quadro e estão as zonas de conflito entre as diversas
marcadores de texto, fotografias de vários religiões?
movimentos religiosos, canetas, canetas de Em resumo, explicar que religiões são
cores, papel, barro, madeira, arame, etc. aceites no país.
G. LIBERDADES RELIGIOSAS 269

Segunda Parte: tação de outros costumes não ofende os


Numa breve sessão de chuva de ideias, sentimentos religiosos de outros crentes,
os participantes revelam os seus conheci- discriminando-os. Começar o exercício
mentos sobre as religiões escolhidas. dizendo aos participantes que as apresen-
O porta-voz do grupo dá informações so- tações devem evidenciar a adoração ou
bre as comunidades religiosas. ritos e não a razão por que estes são os
Os participantes agrupam-se e cada grupo “verdadeiros” ou “bons”. Se, apesar das
escolhe uma das religiões de forma a que suas instruções, os alunos/participantes
mesmo os grupos com uma imagem nega- sentirem que estão a ser discriminados,
tiva tenham sido escolhidos. deverão ter o direito de parar as apresen-
Organizar um encontro multicultural. Pe- tações a qualquer momento. É melhor
dir a cada grupo de participantes que re- se todos os participantes acordarem no
presente um grupo religioso ou espiritual uso de um sinal (ex. um pedaço de pa-
diferente. pel vermelho como um semáforo) para
Pedir para que ilustrem através de uma pin- parar a apresentação que seja ofensiva
tura, pantomina, música, banda desenhada ou que simplesmente esteja baseada em
ou uma pequena peça algo que demonstre equívocos ou informação errónea. Depois
os costumes e crenças dessa religião. de a apresentação ter sido parada, deverá
Dar aos participantes 40 minutos para pre-
seguir-se um debate sobre os motivos de
paração.
ambas as partes.
De volta ao plenário, cada grupo apresenta
Outras Sugestões:
a sua contribuição criativa.
Se trabalhar em escolas pode cooperar com
Encerrar a segunda parte com uma breve
professores de artes para a segunda parte
ronda de opiniões.
da atividade. A apresentação pode também
Reações:
ser feita com plasticina e outros materiais.
O que podem os participantes aprender
com estas apresentações? Existe algo em
comum entre as diferentes apresentações? Parte IV: Acompanhamento
Quanto será preciso saber sobre outras re- Depois desta atividade baseada na experi-
ligiões para ser capaz de as apresentar sem ência e criatividade, pode continuar com
mal-entendidos? contributos intelectuais, por exemplo, pro-
Será mais fácil para os participantes tole- videnciando materiais sobre tolerância/
rarem outras crenças/religiões depois de intolerância.
terem aprendido algo sobre as mesmas? Direitos relacionados/outras áreas a ex-
Sugestões metodológicas: plorar:
Para esta atividade, certificar-se de que o Discriminação com base em outros moti-
grupo respeita as crenças religiosas dos vos, tais como etnia, cor ou género; Liber-
outros participantes. Por esta razão, esta dade de expressão.
atividade não deverá ser usada como uma (Fonte: adaptado de: Nações Unidas. Glob-
atividade de conhecimento do outro. Cer- al Teaching and Learning Project Cyber-
tificar-se igualmente de que a apresen- schoolbus.)
270 II. MÓDULOS SOBRE QUESTÕES SELECIONADAS DE DIREITOS HUMANOS

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H. DIREITO À EDUCAÇÃO

DISPONIBILIDADE E ACESSO IGUAL À EDUCAÇÃO


EMPODERAMENTO ATRAVÉS DO DIREITO À EDUCAÇÃO

“A educação deve visar à plena expansão da personalidade humana e ao reforço dos


direitos humanos e das liberdades fundamentais [...]”
Artigo 26º, nº2, Declaração Universal dos Direitos Humanos. 1948.
276 II. MÓDULOS SOBRE QUESTÕES SELECIONADAS DE DIREITOS HUMANOS

HISTÓRIA ILUSTRATIVA
A História de Maya Questões para debate
1. Quais os problemas centrais evidentes nes-
“O meu nome é Maya. Nasci há 14 anos te caso? Sente empatia por Maya e consi-
numa pobre família camponesa. Já havia dera que ela tem, por si mesma, alguma
muitas crianças, portanto, quando eu nas- possibilidade de ultrapassar a sua situação
ci, ninguém ficou feliz. de pobreza e de ter acesso à educação?
Quando eu era ainda muito pequena, 2. Consegue pensar em razões que justi-
aprendi a ajudar a minha mãe e as minhas fiquem o facto de uma tão elevada per-
irmãs mais velhas nas tarefas domésticas. centagem de pessoas analfabetas serem
Varri o chão, lavei roupas e carreguei água, meninas e mulheres?
bem como lenha. Alguns dos meus amigos 3. Considera que existem diferentes tipos
brincavam na rua mas eu não podia jun- de conhecimento? Se sim, que conhe-
tar-me a eles. cimento é importante? Que tipos de co-
Ficava muito feliz quando me permitiam ir nhecimento perdem relevância?
à escola. Lá, fiz amigos novos e aprendi a 4. Considera que o direito à educação é,
ler e a escrever. Mas, quando cheguei ao 4º atualmente, uma prioridade para a co-
ano os meus pais interromperam os meus munidade internacional?
estudos. O meu pai disse que não havia di- 5. De quem é a responsabilidade de eli-
nheiro para pagar as despesas escolares e minar a ignorância e o analfabetismo e
que eu era precisa em casa para ajudar a através de que medidas?
minha mãe e os restantes. 6. A educação é importante para o gozo de
Se tivesse a possibilidade de nascer de outros direitos humanos? Se sim, porquê?
novo, preferiria ser rapaz.” 7. Considera que a educação pode contri-
(Fonte: Nações Unidas. 2000. Relatório do buir para a segurança humana? Se sim,
Milénio das Nações Unidas.) como?
H. DIREITO À EDUCAÇÃO 277

A SABER
1. INTRODUÇÃO ções, grupos étnicos ou religiosos e pode
ajudar a desenvolver uma cultura univer-
Porquê um Direito Humano à Educação? sal de direitos humanos.
Quase um bilião de pessoas entrou no sé-
culo XXI incapaz de ler um livro ou de as- Educação e Segurança Humana
sinar o seu próprio nome. Este número re-
presenta um sexto da população mundial, A negação, assim como as violações do
ou a população total da Índia. direito à educação, prejudicam a capaci-
O direito humano à educação pode ser ca- dade das pessoas de desenvolverem as
racterizado como um “direito de empode- suas próprias personalidades, de susten-
ramento”. Tal direito confere ao indivíduo tar e de se protegerem a si próprias bem
mais controlo no percurso da sua vida, e, como às suas famílias e de participar
em particular, mais controlo sobre o efei- adequadamente na vida social, política
to das ações do Estado em si. Por outras e económica. Na sociedade em geral,
palavras, exercer um direito de empode- a negação da educação fere a causa da
ramento permite à pessoa experienciar os democracia e do progresso social e, por
benefícios de outros direitos. extensão, a paz internacional e a seguran-
O exercício de muitos dos direitos civis e ça humana. A falta de segurança huma-
políticos, tais como a liberdade de infor- na impede as crianças de irem à escola.
mação, liberdade de expressão, direito ao Isto é óbvio relativamente a crianças em
voto e a ser eleito, entre outros, depende conflito armado, e, em particular, para as
de, pelo menos, um nível mínimo de edu- crianças-soldado. Mas a pobreza, como
cação. Igualmente, um conjunto de direitos uma das ameaças à segurança humana,
económicos, sociais e culturais, tais como o pode conduzir, também, à negação do di-
direito a escolher o trabalho, a receber re- reito à educação. O direito de conhecer
muneração igual por trabalho igual, a bene- os direitos de cada um, através da edu-
ficiar dos avanços científicos e tecnológicos cação e da aprendizagem para os direi-
e a receber educação superior com base nas tos humanos, pode ser uma contribuição
suas capacidades, só pode ser exercido de vital para a segurança humana. Através
uma forma significativa se determinado ní- da educação e da aprendizagem para os
vel de educação for alcançado. direitos humanos e o direito humanitário,
Tal, também se aplica ao direito de fazer podem ser prevenidas as violações dos
parte da vida cultural. Para as minorias ét- direitos humanos nos conflitos armados e
nicas e linguísticas, o direito à educação é ser facilitada a reconstrução da sociedade
um meio primordial de preservar e refor- depois dos conflitos.
çar a sua identidade cultural.
A educação pode, igualmente, promover Direitos Humanos da Criança
(embora não seja garantia) compreensão, Direitos Humanos em Conflito
tolerância, respeito e amizade entre as na- Armado
278 II. MÓDULOS SOBRE QUESTÕES SELECIONADAS DE DIREITOS HUMANOS

A educação é mais do que aprender a ler, a de Direitos da Virgínia, de 1776, a De-


escrever ou a calcular. A origem Latina da claração da Independência dos EUA, de
própria palavra significa “conduzir alguém 1776, e a Declaração Francesa dos Direi-
para fora”. O direito de uma pessoa à edu- tos do Homem, de 1789, não continham
cação engloba oportunidades educativas, quaisquer direitos especificamente rela-
por exemplo, direito ao ensino básico, se- cionados com o direito à educação.
cundário e superior. Embora reconhecen-
do um conceito mais amplo do direito à No século XIX, a emergência do socialis-
educação, este módulo centra-se na edu- mo e do liberalismo colocou a educação
cação primária e básica, já que a um nú- com maior firmeza no campo dos direi-
mero vasto de pessoas são negados até os tos humanos. No século XIX, os pensa-
pilares da aprendizagem ao longo da vida. mentos liberais e anticlericais, também
O direito humano à educação, tal como influenciaram a definição dos direitos
definido na Carta Internacional de Direitos educacionais os quais foram formulados
Humanos das Nações Unidas, menciona o para defender e desenvolver as ideias de
direito à educação, gratuito e obrigatório, liberdade da ciência, pesquisa e ensino
nos estádios mais “elementares e funda- contra a interferência da igreja e do Es-
mentais”. Os Estados, contudo, interpre- tado.
tam este requisito de formas diferentes. Na O reconhecimento explícito dos direitos
Europa, na América do Norte, na Austrália educacionais emergiu durante a última
e em algumas zonas do Sul da Ásia, a es- metade do século XIX. A Constituição
cola “elementar” estende-se a todo o ensi- do Império Germânico, de 1871, conti-
no secundário. Todavia, uns 20 países no nha uma secção com o título “Direitos
Mundo não têm qualquer idade definida Básicos do Povo Alemão” que também
para a educação obrigatória. continha o direito à educação. De igual
forma, a Constituição Alemã de Weimar,
de 1919, incluía uma secção sobre “A
Desenvolvimento Histórico Educação e a Escolaridade”, reconhecen-
do, explicitamente, o dever do Estado de
Antes da época das Luzes na Europa, a garantir a educação, através da frequên-
educação era, em primeiro lugar, da res- cia gratuita e obrigatória da escola.
ponsabilidade dos pais e da igreja. Ape-
A conclusão dos tratados de paz, após a
nas com a emergência do moderno estado
Primeira Guerra Mundial, incluiu garan-
secular é que a educação começou a ser
tias do direito à educação das minorias.
considerada assunto de interesse públi-
A proclamação da Declaração de Gene-
co e da responsabilidade do Estado. Nos
bra, chamada de “Carta da Sociedade das
séculos XVI e XVII, filósofos eminentes,
Nações para o Bem-Estar das Crianças”,
como John Locke e Jean-Jacques Rosse-
em 1924, conduziu ao reconhecimento
au, escreveram sobre a conceção moder-
internacional do direito à educação.
na do direito individual à educação.
Durante o século XX, os aspetos do di-
Contrastando com estas ideias, instru- reito à educação foram contemplados
mentos civis clássicos como a Carta Bri- nas Constituições nacionais e nas de-
tânica de Direitos, de 1689, a Declaração clarações internacionais de direitos ou
H. DIREITO À EDUCAÇÃO 279

reconhecidos em legislação não consti- A nível regional, existem a Convenção


tucional ou em legislação ordinária de Europeia para a Proteção dos Direitos Hu-
cada país. O direito à educação cons- manos e das Liberdades Fundamentais
ta expressamente das Constituições de (Artº 2º do Primeiro Protocolo), a Conven-
mais de 50 países, como por exemplo, a ção Americana sobre Direitos Humanos
Nicarágua, Chipre, Espanha, Vietname, (Artº 13º do Protocolo Adicional à Con-
Irlanda, Egito, Japão, Paraguai e Polónia. venção Americana sobre Direitos Huma-
nos em Matéria de Direitos Económicos,
O Reino Unido e o Peru reconheceram Sociais e Culturais) e a Carta Africana dos
o direito à educação em legislação não Direitos Humanos e dos Povos (Artº 17º).
constitucional, enquanto a Coreia do Uma das mais recentes codificações em di-
Sul, Marrocos e Japão reconheceram reitos humanos é a Carta dos Direitos Fun-
esse direito tanto nas respetivas Consti- damentais da União Europeia, que inclui o
tuições como em legislação ordinária. direito à educação no artº 14º.
Na Constituição dos Estados Unidos não
é mencionado qualquer direito à educa- O direito fundamental à educação habilita
ção. Os Tribunais dos EUA, tanto a nível todos os indivíduos a determinadas formas
federal, como a nível estadual, desenvol- de comportamento pelos seus governos. Os
veram determinados direitos educacio- Estados têm a obrigação de respeitar, pro-
nais, particularmente relacionados com teger e implementar o direito à educação.
a igualdade de oportunidades educati- A obrigação de respeitar proíbe o Estado de
vas. agir em contravenção de reconhecidos direi-
(Fonte: Douglas Hodgson. 1998. The Hu- tos e liberdades, interferindo ou constringin-
man Right to Education) do o exercício de tais direitos e liberdades.
Os Estados devem, inter alia, respeitar a li-
berdade dos pais de escolher escolas priva-
2. DEFINIÇÃO E DESENVOLVIMENTO das ou públicas para os seus filhos e de asse-
DA QUESTÃO gurar a educação religiosa e moral das suas
crianças, em conformidade com as suas pró-
Conteúdo do Direito à Educação prias convicções. A necessidade de educar
e Obrigações do Estado rapazes e meninas, de forma igual, deve ser
O direito à educação tem uma base sólida respeitada, tal como os direitos de todos os
no direito internacional dos direitos huma- grupos religiosos, étnicos e linguísticos.
nos. Tal tem sido registado num conjunto
variado de documentos sobre direitos hu- “Os Estados Partes no presente Pacto re-
manos, com carácter universal e regional. conhecem o direito de toda a pessoa à
Por exemplo, temos a Declaração Universal educação. Concordam que a educação
dos Direitos Humanos (Artº 26º), o Pacto deve visar ao pleno desenvolvimento da
Internacional sobre os Direitos Económi- personalidade humana e do sentido da
cos, Sociais e Culturais (Artos 13º e 14º), sua dignidade e reforçar o respeito pelos
a Convenção sobre a Eliminação de Todas direitos humanos e das liberdades fun-
as Formas de Discriminação contra as Mu- damentais. Concordam também que a
lheres (Artº 10º) e a Convenção sobre os educação deve habilitar toda a pessoa a
Direitos da Criança (Artos 28º e 29º). desempenhar um papel útil numa socie-
280 II. MÓDULOS SOBRE QUESTÕES SELECIONADAS DE DIREITOS HUMANOS

dade livre, promover compreensão, tole- - Ensino recorrente intensificado para


rância e amizade entre todas as nações e aqueles que não tenham concluído o
grupos, raciais, étnicos e religiosos, e fa- ensino primário;
vorecer as atividades das Nações Unidas
para a conservação da paz.” - Estabelecimento de um sistema ade-
Artigo 13º, nº1º, PIDESC. 1966.
quado de bolsas e melhoria contínua
da situação dos professores.
A obrigação de proteger requer que os Es- (Fonte: Pacto Internacional sobre os Di-
tados tomem medidas, através de legisla- reitos Económicos, Sociais e Culturais.
ção ou por outros meios, que previnam e 1966. Artigo 13º, nº2).
proíbam a violação de direitos individuais e
liberdades, por terceiros. Os Estados devem Tal significa que a melhoria do acesso à
assegurar que as escolas públicas ou priva- educação para todos, com base no princí-
das não aplicam práticas discriminatórias pio da igualdade e da não discriminação,
ou inflijam castigos corporais nos alunos. bem como a liberdade de escolher o tipo
A obrigação de implementar prevista no de escola e respetivo conteúdo, represen-
Pacto Internacional sobre os Direitos Eco- tam o espírito e a essência absoluta do di-
nómicos, Sociais e Culturais (PIDESC), reito à educação.
significa a obrigação de uma concretiza-
ção progressiva do direito. Com este pro- O Comentário Geral nº 13 do Comité
pósito, obrigação de meios e obrigação de do Pacto Internacional sobre os Direitos
resultado podem ser distinguidas: Económicos, Sociais e Culturais (PIDESC)
A obrigação de meios diz respeito a uma identifica quatro princípios como obri-
determinada ação ou medida que o Esta- gações do Estado, no que diz respeito ao
do deve adotar. O melhor exemplo relati- direito à educação. São estes: Disponibi-
vamente a esta questão é o artº 14º do lidade, Acessibilidade, Aceitabilidade e
PIDESC, de acordo com o qual, os novos Adaptabilidade.
Estados Partes que ainda não asseguraram
o ensino primário como gratuito e obriga- Disponibilidade
tório têm o dever de “elaborar e adotar, O dever de estabelecer a escola primária
num prazo de dois anos, um plano deta- como obrigatória e gratuita é, sem dúvida,
lhado das medidas necessárias para reali- um pré-requisito da concretização do di-
zar progressivamente, num número razoá- reito à educação. Assegurar que as escolas
vel de anos, […] a aplicação do princípio primárias estejam disponíveis para todas as
do ensino primário obrigatório e gratuito crianças requer um considerável compro-
para todos”. misso, quer político, quer financeiro. Ape-
sar de o Estado não ser o único provedor de
Padrões a Atingir: educação, o direito internacional dos direi-
- Educação básica gratuita e obrigatória; tos humanos obriga-o a ser o provedor de
- Oferta de ensino secundário (10-14 último recurso, de modo a assegurar que as
anos de idade) acessível a todos; escolas primárias estejam disponíveis para
todas as crianças em idade escolar. Se a ca-
- Ensino superior acessível a todos com pacidade estrutural das escolas primárias
base na capacidade individual; está abaixo do número de crianças em ida-
H. DIREITO À EDUCAÇÃO 281

de escolar, então a obrigação legal do Esta- é obrigado a garantir que todas as escolas
do, face ao seu dever da escola obrigatória estão em conformidade com os critérios mí-
para todos, não é cumprida. nimos por si desenvolvidos, bem como a ve-
A disponibilidade do ensino secundário e rificar que a educação é aceitável tanto para
superior também é um aspeto importante os pais, como para os filhos”. Este princípio
no direito à educação. A exigência da in- envolve o direito de escolher o modelo de
trodução progressiva da educação gratuita educação recebida e o direito de estabele-
não significa que um Estado possa absol- cer, manter, orientar e controlar os estabe-
ver-se das suas obrigações. lecimentos de ensino privados. A educação
deve ser culturalmente apropriada e de boa
Acessibilidade qualidade. Os alunos e os pais têm o direito
No mínimo, os governos são obrigados a de ser livres da doutrinação e da obrigação
assegurar o gozo do direito à educação, de estudar assuntos incompatíveis com a
garantindo o acesso a instituições escola- sua religião ou outras crenças. Usar a au-
res existentes, de todas as meninas e rapa- toridade do sistema do ensino público para
zes, bem como mulheres e homens, com induzir as pessoas a mudar a sua fé pode
base na igualdade e não discriminação. ser considerado como proselitismo ilícito.

“Educar uma mulher é educar uma famí- Liberdades Religiosas


lia, uma comunidade, uma Nação.”
Provérbio africano Adaptabilidade
Normalmente, o que uma criança aprende
A obrigação positiva de assegurar um na escola deve ser determinado pelas suas
acesso igual às instituições educativas en- necessidades no futuro, enquanto adulto.
globa um acesso físico e construtivo. O Isto significa que o sistema educativo deve
acesso físico às instituições é especialmen- permanecer ajustável, tendo em conside-
te importante para os mais velhos e pes- ração o interesse superior da criança, tal
soas com deficiência. O acesso construtivo como o seu desenvolvimento social e os
significa que barreiras excludentes devem avanços a nível nacional e internacional.
ser removidas, por exemplo, através da eli-
minação de estereótipos sobre o papel do A obrigação dos governos de assegurar
homem e da mulher de textos e de estrutu- que o direito humano à educação é res-
ras educacionais, tal como previsto no artº peitado, protegido e implementado não é
10º da Convenção sobre a Eliminação de apenas um dever destes. É, também, uma
Todas as Formas de Discriminação contra função da sociedade civil promover e au-
as Mulheres. xiliar a implementação total do direito à
educação.
Não Discriminação
Direitos Humanos das Mulheres 3. PERSPETIVAS
INTERCULTURAIS
Aceitabilidade E QUESTÕES CONTROVERSAS
A anterior Relatora Especial para o Direi-
to à Educação, Katarina Tomasevski, afir- Hoje, uma visão comparativa e alarga-
mou num dos seus relatórios que “o Estado da do mundo revela disparidades subs-
282 II. MÓDULOS SOBRE QUESTÕES SELECIONADAS DE DIREITOS HUMANOS

tanciais na implementação do direito à e 2003. As taxas de inscrição são as mes-


educação. De facto, a concretização do mas, quer para os 20% mais pobres da
direito à educação varia de região para população, quer para os 20% mais ricos
região. e as diferenças de género deixaram de
A maior parte das crianças não matricula- existir no ensino primário. A inscrição
das na escola estão na África Subsaariana universal está agora ao nosso alcance,
e no Sul da Ásia. Em média, uma criança mas as taxas de abandono fazem com
nascida em Moçambique pode, atualmen- que a escolarização universal seja im-
te, prever vir a ter quatro anos de escola- provável em 2015.
rização formal. Uma criança nascida em
França terá 15 anos de escolarização com O relatório da UNESCO de 2010 “Alcan-
níveis de oferta consideravelmente supe- çar os marginalizados” apresenta avanços
riores. A média de escolarização no sul da consideráveis na educação durante a últi-
Ásia, de oito anos, corresponde a metade ma década. Não obstante, os Estados não
da do nível nos países ricos. Ademais, en- alcançarão o objetivo da educação primá-
quanto o hiato das matrículas no ensino ria universal até 2015. Cerca de 72 mi-
primário pode estar a fechar, o fosso entre lhões de crianças em idade escolar (escola
os países ricos e pobres, medido através da primária) e 71 milhões de adolescentes
média de anos no sistema educativo, está não frequentam a escola e, se esta tendên-
a aumentar. Tal, sem termos em conta as cia continuar, 56 milhões de crianças em
possíveis diferenças de qualidade na edu- idade escolar (escola primária) ainda não
cação: menos de um quarto das crianças terão frequentado a escola em 2015. Tem
na Zâmbia saem do ensino primário ha- havido pouco progresso no sentido de al-
bilitadas a realizar testes básicos de alfa- cançar o objetivo de reduzir para metade o
betização. Entretanto, o acesso ao ensino analfabetismo adulto – uma condição que
superior permanece um privilégio princi- afeta 759 milhões de pessoas, dois terços
palmente dos cidadãos dos países ricos. das quais mulheres.
Estas desigualdades educativas de hoje se- (Fonte: UNESCO. 2010. EFA Global Monito-
rão as desigualdades sociais e económicas ring Report 2010.)
de amanhã.
A Década das Nações Unidas para a Alfa-
“A educação é a arma mais poderosa que betização (2003-2012) é confrontada com
se pode usar para mudar o mundo” o facto de ainda 20% da população adulta
Nelson Mandela, antigo Presidente da África do Sul, mundial não ter o ensino básico. A alfa-
Prémio Nobel da Paz. 2003. betização é crucial para reforçar a capaci-
dade humana e a participação económica,
O exemplo do Uganda: Na segunda social e política nas sociedades do conhe-
metade dos anos 90, as prioridades de cimento de hoje.
redução da pobreza voltaram-se para a O analfabetismo é, habitualmente, o re-
educação. Foi introduzido o ensino pri- sultado de pobreza extrema. As mulheres
mário gratuito e as despesas públicas são menos letradas do que os homens. Em
neste domínio aumentaram. As matrícu- 2008, havia pouco menos de 796 milhões
las no ensino primário aumentaram de de pessoas adultas analfabetas, cerca de
5.3 milhões para 7.6 milhões, entre 1997 17% da população adulta mundial. Pouco
H. DIREITO À EDUCAÇÃO 283

mais de 509 milhões do número total são A questão da língua de aprendizagem


mulheres. tem gerado controvérsias. Não há um di-
(Fonte: UNESCO. 2011. EFA Global Monito- reito humano internacional geral para
ring Report 2011.) aprender a língua materna na escola,
Os ainda baixos níveis de alfabetização quando pertencendo a uma minoria lin-
nas zonas pobres do mundo são um moti- guística de um país. O artº 27º do PIDESC
vo significativo de preocupação. De acor- apenas refere que a prática de uma língua
do com a Res. AGNU 56/116, a literacia não deverá ser negada mas nada mencio-
é o coração da aprendizagem ao longo da na no que diz respeito à aprendizagem na
vida, disponibilizando a educação básica língua materna.
para todos e apoiando o ajuste às exigên- Na sua Convenção Quadro para a Pro-
cias da evolução. A aprendizagem ao lon- teção das Minorias Nacionais, de 1995,
go da vida ou a educação ao longo da o Conselho da Europa reconheceu o di-
vida para todos terão de fazer parte das reito de cada um a aprender a sua língua
futuras sociedades globais do conheci- materna, mas não reconheceu, explicita-
mento. Neste sentido, a educação vocacio- mente, o direito a aprender na sua língua
nal ou técnica, orientada para as aptidões, materna.
carece, também, de atenção adequada.
Muitos dos países mais pobres gastam sig- A Carta Europeia das Línguas Regionais
nificativamente mais em armas do que em ou Minoritárias, de 1992, foi mais longe
educação básica – 35 países foram afetados na promoção do ensino na língua mater-
por conflitos armados entre 1999 e 2008. Do na como uma opção para os Estados que
número total de crianças em idade escolar assinaram e ratificaram a Carta, sendo o
(escola primária) no mundo que não estão objetivo do Estado reconhecer o bilinguis-
inscritas na escola, 42% - 28 milhões – vi- mo das minorias. No entanto, há minorias
vem em países pobres afetados por conflitos. que não estão protegidas desta forma e
(Fonte: UNESCO. 2011. EFA Global Monito- que nem sequer têm o direito a aprender a
ring Report 2011.) sua língua materna na escola, tais como a
comunidade Roma, na Europa, e os Aborí-
A Conferência Mundial sobre o Direito à genes da Austrália.
Educação e os Direitos na Educação, de Estudos científicos mostraram que o ensi-
2004, na sua “Declaração de Amesterdão”, no primário numa língua estrangeira, por
realçou a necessidade de garantir o acesso exemplo, Francês na África Oeste, pode
à educação, salvaguardando os direitos edu- resultar em níveis mais baixos de sucesso
cativos e as necessidades de todos os alunos para os alunos. Assim, o direito ao ensi-
numa base não discriminatória. Os governos no primário na língua materna tem sido
e as organizações internacionais são chama- reclamado pela Academia Africana de Lín-
dos, inter alia, a ampliar as oportunidades guas, em Bamako, Mali.
educativas de grupos vulneráveis, como mi-
grantes, minorias, etc., a melhorar a quali- Direitos das Minorias
dade do ensino e o estatuto dos professores,
a tomar medidas que minimizem a violência Apesar do notável progresso nos esforços
na escola e a atender ao crescente apelo da de conceder às crianças o exercício comple-
aprendizagem ao longo da vida. to do seu direito à educação, ainda muito
284 II. MÓDULOS SOBRE QUESTÕES SELECIONADAS DE DIREITOS HUMANOS

trabalho necessita ser feito para que estes ninas, pessoas que pertencem a minorias,
objetivos sejam alcançados. Ainda há mui- refugiados e migrantes, indígenas, pes-
tas questões a resolver de discriminação, de soas com deficiências, bem como grupos
desigualdade, de negligência e de explora- sociais ou economicamente em desvan-
ção, que afetam, particularmente, as meni- tagem, como soldados desmobilizados
nas, as mulheres e as minorias. A UNICEF, ou jovens marginalizados. Estes grupos
no seu Relatório sobre a Situação Mundial tornaram-se o centro de preocupação e de
da Infância 2006, intitulado ‘Excluídos e In- ação internacional, por exemplo, nos rela-
visíveis’ e o Relatório da Human Rights Wa- tórios obrigatórios dos Estados. O Relator
tch ‘Failing our children: barriers to the right Especial das Nações Unidas para o Direito
to education’ fornecem inúmeros exemplos à Educação, por exemplo, dedicou o seu
das causas da exclusão. As sociedades de- relatório de 2010 ao direito à educação dos
vem, portanto, intensificar os seus esforços migrantes, refugiados e requerentes de
para resolver as práticas sociais e culturais asilo, tendo recomendado a eliminação da
que impedem as crianças e outros grupos, discriminação, a integração bem-sucedida,
de beneficiar plenamente dos seus direitos justiça social e inclusão de todos os tipos e
à educação, e assim contribuir para a sua níveis de educação.
segurança humana. (Fonte: Vernor Munoz. 2010. Relatório do
O Relator Especial das Nações Unidas para Relator Especial para o Direito à Educação.
o Direito à Educação, Kishore Singh, no O direito à educação dos migrantes, refu-
seu relatório de 2011 sobre a promoção da giados e requerentes de asilo.)
igualdade de oportunidades na educação,
recomendou o reforço dos quadros regula- Deve ser prestada particular atenção às
dores nacionais, a abordagem a múltiplas necessidades educativas das pessoas com
formas de desigualdade e discriminação, deficiência. A Ação-Quadro adotada na
bem como o assegurar que recursos ade- Conferência de Salamanca, em 1994, de-
quados são aplicados de forma a respon- clarou-se a favor da educação inclusiva.
der às necessidades especiais das vítimas Assim, “as escolas devem receber todas
de marginalização e exclusão. as crianças, independentemente das suas
(Fonte: Kishore Singh. 2011. Relatório do condições físicas, intelectuais, sociais, emo-
Relator Especial para o Direito à Educação. cionais, linguísticas, ou outras”.
A promoção da igualdade de oportunida-
des na educação.) Os Direitos Humanos nas Escolas
Contrariamente à obrigação consagrada
Não Discriminação no Artº 26, nº 2º da Declaração Univer-
Direitos das Mulheres sal dos Direitos Humanos (DUDH), os di-
reitos humanos nas escolas estão muitas
Grupos Desfavorecidos e o Acesso ao Di- vezes ausentes. As crianças ainda estão
reito à Educação sujeitas ao castigo corporal ou a traba-
Têm sido identificados pela UNESCO e lhar. Elas não são ensinadas, nem infor-
outras organizações diversos grupos que madas sobre os seus direitos, tal como
enfrentam dificuldades particulares no foi estabelecido pela Convenção sobre os
acesso total à educação, com base na Direitos da Criança, ratificada por todos
igualdade. Estes incluem mulheres e me- os Estados-membros das Nações Unidas,
H. DIREITO À EDUCAÇÃO 285

exceto os Estados Unidos da América e “realizar a cooperação internacional, re-


a Somália6. solvendo os problemas internacionais de
carácter económico, social, cultural ou hu-
Direitos Humanos da Criança manitário.” (Artº 1º, nº 3º, da Carta das
Nações Unidas).
“A aplicação efetiva do direito da criança à Uma cooperação internacional, através
educação é, essencialmente, uma questão da troca de informação, conhecimento e
de vontade. Apenas a vontade política dos tecnologia é fundamental na concretiza-
governos e da comunidade internacional ção eficaz do direito à educação, especial-
será capaz de promover este direito essen- mente para as crianças dos países menos
cial, até um ponto em que contribuirá para desenvolvidos. O direito à educação é,
a realização de cada indivíduo e para o igualmente, uma condição prévia para o
progresso de cada sociedade.” desenvolvimento económico. A disponibi-
Amadou-Mahtar M’Bow, anterior Diretor Geral da lidade da educação deve ser considerada
UNESCO. por todos os Estados como um investi-
mento a longo prazo e altamente prioritá-
Assim, necessita ser promovida a Educa- rio, dado que aquela desenvolve recursos
ção para os Direitos Humanos, bem como humanos individuais que serão uma mais-
a democracia nas escolas. Os professores valia no processo de desenvolvimento na-
também necessitam de proteção, se colo- cional.
cados sob pressão pelas autoridades ou As instituições financeiras internacionais,
se lhes são negados salários adequados, o tais como o Banco Mundial e o Fundo
que é reconhecido em convenções e reco- Monetário Internacional (FMI) sublinham
mendações da UNESCO. A violência nas a importância da educação como um in-
escolas é outro problema que tem aumen- vestimento no desenvolvimento do capi-
tado recentemente, tornando-se num foco tal humano. Contudo, precisamente estas
de atenção. As boas práticas podem ser en- mesmas instituições também forçaram os
contradas em 9000 instituições de ensino, governos a cortarem nas despesas públi-
de 180 países que fazem parte da UNESCO cas, incluindo aquelas relacionadas com a
Associated Schools Project Network (ASP- educação, ou a introduzirem pagamentos
net) (em abril de 2011). Celebrará o seu de matrículas mesmo no ensino primário,
60º aniversário em 2013. como resultado de condições rigorosas
aliadas aos seus Programas de Ajustamen-
4. IMPLEMENTAÇÃO to Estrutural.
E MONITORIZAÇÃO A Conferência Mundial sobre Educa-
ção para Todos, de 1990, realizada em
Desde o seu início, em 1945, as Nações Jomtien, Tailândia, declarou que a dispo-
Unidas reconheceram a necessidade de nibilização eficaz do ensino básico para
todos dependeria de um compromisso e
vontade políticos, sustentados por políti-
cas fiscais, económicas, comerciais, labo-
6
Nota da versão em língua portuguesa: a República rais, de emprego e de saúde apropriadas
do Sudão do Sul tornou-se Estado-membro da ONU
a 14 de Julho de 2011 e também ainda não ratificou a e sustentadas. Um estudo da UNICEF,
Convenção sobre os Direitos da Criança. realizado em nove países, identificou seis
286 II. MÓDULOS SOBRE QUESTÕES SELECIONADAS DE DIREITOS HUMANOS

temas abrangentes para obter melhores re- cia especializada das Nações Unidas, de-
sultados que permitem assegurar o direito sempenha um papel fundamental a este
universal ao ensino primário para todos. respeito, uma vez que, por força da sua
Estes são: compromisso político e finan- Constituição de 1946, a educação é uma
ceiro, o papel central do setor público, das suas funções principais. A UNESCO,
equidade no setor público, redução dos em cooperação com outras organizações,
custos de educação dos agregados fami- como a UNICEF ou a OIT, tem sido instru-
liares e integração de reformas educativas mental no início de reformas educativas e
em estratégias mais vastas de desenvolvi- de promoção da implementação total do
mento humano. direito à educação. Tal é evidenciado pela
panóplia de instrumentos que estabelecem
Do Fórum Mundial de Educação realiza- padrões mínimos, pelos variados docu-
do em Dakar, em 2000, resultou a maior mentos e relatórios, bem como numerosos
avaliação alguma vez feita no campo da fóruns, reuniões, grupos de trabalho, ati-
educação. No total, 164 países foram re- vidades de coordenação e a colaboração
presentados, além de 150 grupos da socie- com os Estados, organizações intergover-
dade civil, sobretudo, organizações não namentais internacionais e ONG. A UNES-
governamentais. A novidade do Fórum foi CO é, assim, a agência líder na coopera-
a adoção do Quadro de Ação de Dakar. ção internacional no campo da educação.
As Comissões Nacionais para a UNESCO
Convém saber: 2. Tendências asseguram que as ações desta sejam bem
enraizadas nos 193 Estados-membros.
O Fórum Mundial de Educação, realiza-
do em Dakar, também assistiu ao lança- A ação da UNESCO na educação desen-
mento de nove programas de proa da volve-se à volta de três objetivos estra-
“Educação para Todos”: A Iniciativa tégicos:
sobre o VIH/SIDA e a Educação; Cui- - Promover a educação como um direito
dados e Educação na Primeira Infân- fundamental;
cia; O Direito à Educação para Pessoas
- Melhorar a qualidade da educação;
com Deficiência; Em Direção à Inclusão;
Educação para a População Rural; Edu- - Promover a experimentação, a inova-
cação em Situações de Emergência e de ção e a difusão e partilha de informação
Crise; Concentração de Recursos numa e das melhores práticas, assim como o
Saúde Escolar Eficaz; Os Professores e a diálogo político sobre a educação.
Qualidade da Educação; A iniciativa das
Nações Unidas para a Educação das Me-
ninas; A Alfabetização no Programa da “A Educação não é uma forma de um país
Década das Nações Unidas para a Alfa- escapar à sua pobreza. É uma forma de lu-
betização. tar contra esta.”
Julius Nyerere

Para a implementação total do direito à A UNESCO tem desenvolvido um conjun-


educação será necessário um forte apoio to de mecanismos concebidos de forma
institucional. A UNESCO, enquanto agên- a permitir uma aplicação mais eficaz das
H. DIREITO À EDUCAÇÃO 287

disposições adotadas e a assegurar o me- taxas de abandono escolar, ratio aluno-pro-


lhor cumprimento das obrigações assumi- fessor, despesas públicas com a educação
das no que respeita ao direito à educação. face à percentagem total de despesas públi-
Os relatórios periódicos que os Estados cas ou em comparação com outros setores,
são obrigados a submeter têm como efei- como as forças armadas.
to informar sobre as medidas tomadas a O Relatório Global de Monitorização
nível nacional, a fim de cumprirem com da EFA (“Educação para Todos”) anual,
as suas obrigações, de acordo com as con- produzido pela UNESCO, desde 2002, fi-
venções das quais fazem parte. Todos os xou novos parâmetros, complementando
Estados Partes da Convenção relativa à o relatório anual da UNICEF, “A Situação
Luta Contra a Discriminação no Campo do Mundial da Infância”, que apresenta um
Ensino (1960), de acordo com o igualmen- foco mais alargado.
te estabelecido na Recomendação relativa Em dezembro de 2002, a Assembleia-Ge-
à Luta contra a Discriminação no Campo ral das Nações Unidas declarou 2005-2014
do Ensino, do mesmo ano, têm de relatar, como a Década das Nações Unidas da
a cada cinco a sete anos, as disposições Educação para o Desenvolvimento Sus-
legislativas e administrativas que adota- tentável. Como agência principal para as
ram e outras ações que desenvolveram no organizações da ONU, a UNESCO preten-
cumprimento da Convenção. A responsa- de implementar a educação para o desen-
bilidade de analisar os relatórios dos Esta- volvimento sustentável, promovendo e
dos Partes, de acordo com as suas diferen- melhorando a educação básica, sensibili-
tes obrigações de apresentar relatórios, foi zando o público e organizando formações.
concedida ao Comité sobre as Convenções
e Recomendações. Regularmente, existe A Comissão de Direitos Humanos da ONU,
também uma reunião de peritos UNESCO/ antecessora do Conselho de Direitos Hu-
ECOSOC sobre a monitorização do direito manos, criou, em 1998, um Relator Es-
à educação. pecial para o Direito à Educação com o
Além disso, em 1978, o Conselho Execu- mandato de fazer o relatório da situação
tivo estabeleceu um procedimento con- da concretização progressiva do direito à
fidencial, da competência da UNESCO, educação por todo o mundo, incluindo o
para análise das queixas contra os Estados acesso à educação básica, assim como as
Partes acerca de alegadas violações dos dificuldades encontradas na implementa-
direitos humanos. O objetivo é resolver o ção deste direito. O primeiro Relator no-
problema em espírito de cooperação, de meado foi Katarina Tomasevski, que se
diálogo e de conciliação. concentrou numa abordagem da educação
baseada nos direitos. Deixou o cargo após
Monitorizar a implementação do direito à seis anos, desiludida com o limitado apoio
educação, numa base progressiva, pode ao desempenho das suas funções. Entre
beneficiar da adoção e uso de indicadores 2004 e 2010, Venor Muñoz Villalobos foi o
fiáveis, do uso de comparações transnacio- Relator Especial para o Direito à Educação.
nais e de classificação dos países. No setor O seu sucessor é Kishore Singh.
da educação, os indicadores comparativos
ao longo do tempo incluem taxas de alfa- Há uma crescente ênfase na justiciabili-
betização, ratio de matrículas, conclusão e dade do direito à educação nos tribunais
288 II. MÓDULOS SOBRE QUESTÕES SELECIONADAS DE DIREITOS HUMANOS

nacionais e internacionais, tal como foi su- Frequentemente o principal obstáculo que
blinhado pelo Relator Especial para o Di- dificulta a uma criança o exercício do direito
reito à Educação, no seu relatório de 2005. à educação, nos países em desenvolvimento,
As questões principais são a discrimina- é a pobreza. O problema não é tanto que as
ção na educação, em particular, no acesso crianças não tenham escolas para frequen-
igual de todos à educação. tar. Na verdade, mais de 90% das crianças
dos países em desenvolvimento iniciam o
ensino primário. O verdadeiro problema são
O Comité dos Direitos Económicos,
as elevadas taxas de abandono escolar ou de
Sociais e Culturais é o órgão de super-
repetição do ano escolar. A pobreza dificulta
visão das Nações Unidas responsável
o pagamento, pelas famílias das taxas esco-
pela monitorização da implementação
lares, os livros e os restantes materiais esco-
do Pacto Internacional sobre os Direi-
lares. Mesmo quando a escola é gratuita, é
tos Económicos, Sociais e Culturais
difícil mandar a criança para a escola quan-
(PIDESC), pelos Estados Partes. Aquele
do o seu trabalho poderia contribuir para o
órgão examina os relatórios nacionais
escasso orçamento familiar.
apresentados regularmente por esses
Estados e mantém o diálogo com estes,
Direito a Não Viver na Pobreza
a fim de assegurar a implementação
mais eficaz dos direitos consagrados
“[…] não existe ferramenta para o desen-
pelo Pacto.
volvimento mais eficaz do que a educação
No que respeita ao direito à educação, de meninas”.
o Comité coopera estreitamente com a Kofi Annan, anterior Secretário-Geral das Nações
UNESCO. A concretização total do di- Unidas. 2004.
reito à educação pode ser alcançada
através de uma combinação de medi- A falta de fundos impede as autoridades
das, isto é, uma maior determinação de construir ou manter escolas, criar es-
por parte dos Estados em cumprirem as colas de formação de professores, recru-
suas obrigações quanto à apresentação tar professores e pessoal administrativo
de relatórios no âmbito dos instrumen- competentes, providenciar materiais de
tos internacionais relevantes, em boa ensino, entre outros, bem como criar sis-
fé, dos “relatórios-sombra” das ONG e temas de transportes adequados para os
pressão das associações de profissionais. alunos. Tudo isto depende, diretamente,
dos recursos económicos que estão à dis-
posição do Estado. Um estudo conduzido
Problemas de Implementação pelo Save the Children Fund revelou que,
Os direitos económicos, sociais e culturais devido ao peso da sua dívida, os Estados
muitas vezes requerem, ao longo do tem- Africanos têm sido forçados, em algumas
po, quantidades substanciais de capital situações, a impor ou a aumentar o valor
para que, progressivamente, a sua imple- das taxas escolares, elevando, assim, o
mentação seja eficaz. Na verdade, de acor- custo da educação para as famílias. Como
do com a experiência de muitos países, a resultado, milhões de crianças nunca fre-
educação constitui um dos itens de maior quentaram a escola ou não concluíram o
despesa dos governos. ensino básico.
H. DIREITO À EDUCAÇÃO 289

Um outro fator é o uso generalizado do tra- motivação dos pais em mandar as meninas
balho infantil. Infelizmente, muitas famí- para a escola. Determinados grupos de me-
lias necessitam deste salário suplementar ninas – tais como meninas de comunidades
para fazer face às despesas. Este problema indígenas ou nómadas, minorias étnicas,
é particularmente analisado pelo trabalho abandonadas ou com deficiência – enfren-
da Organização Internacional do Trabalho tam dificuldades particulares.
(OIT), por exemplo, pela Convenção rela- É, portanto, uma crescente preocupação
tiva à Interdição das Piores Formas de Tra- internacional proporcionar acesso igual
balho das Crianças, de 1999, e por vários à educação de meninas e, assim, capaci-
programas, como o Programa Internacio- tá-las de forma a cumprirem o seu poten-
nal para a Eliminação do Trabalho Infantil cial humano. Em 2000, no Fórum de Edu-
(PIETI). A Conferência Global de Haia so- cação Mundial, em Dakar, foi lançada a
bre Trabalho Infantil de 2010 acordou sobre “Ten-Year United Nations Girls’ Education
um Roteiro para a eliminação das piores Initiative”, tendo como fim a sensibiliza-
formas de trabalho infantil até 2016. ção sobre a educação das meninas e a eli-
O progresso foi significativo relativamente minação das desigualdades de género.
a crianças com idades compreendidas entre
os 5 e 14, sendo que o número de crian- Direitos Humanos das Mulheres
ças trabalhadoras com estas idades dimi- Direitos Humanos da Criança
nuiu em 10%. O trabalho infantil entre as Não Discriminação
meninas decresceu em 15%. No entanto,
aumentou entre os meninos (em 8 milhões O VIH/SIDA, que causou mais de 3 mi-
ou 7%). O trabalho infantil entre jovens lhões de mortes em 2004, teve um profun-
com idades compreendidas entre os 15 e os do impacto na educação, nomeadamente,
17 cresceu em 20%, de 52 a 62 milhões. na África Subsaariana. O Quénia, a Tan-
(Fonte: Organização Internacional do Tra- zânia e a Zâmbia perderam, pelo menos,
balho (OIT). 2010. Accelerating Action cada um, 600 professores em 2005. O
against Child Labour. Global Report under absentismo, devido à SIDA, tornou-se no
the follow-up to the ILO Declaration on Fun- maior problema para as escolas, em Áfri-
damental Principles and Rights at Work.) ca.
(Fonte: UNESCO. 2005. EFA Global Moni-
A pobreza e o trabalho infantil são, particu- toring Report 2006).
larmente, um grave obstáculo à educação O programa conjunto da ONU sobre VIH/
de meninas. Muitas destas têm de assumir SIDA (UNAIDS) será guiado pela nova
trabalhos pesados, em idade precoce, para estratégia 2011-2015, que tem como fim
poderem sobreviver. Não só se espera que avançar o progresso global para se al-
correspondam às necessidades das famílias cançarem objetivos por países relativos
e assumam as tarefas laborais, bem como ao acesso universal à prevenção do VIH,
correspondam às expectativas sociais, no- tratamento, cuidados e apoio, bem como
meadamente, a maternidade precoce e ao fim e reversão da propagação do VIH e
outras condutas antiquadas. Estas visões contribuição para os Objetivos de Desen-
tradicionais relativamente à educação das volvimento do Milénio até 2015.
meninas, apesar de míopes e unilaterais, Estima-se que cerca de 28 milhões de
ainda prevalecem, resultando na falta de crianças em idade escolar (escola pri-
290 II. MÓDULOS SOBRE QUESTÕES SELECIONADAS DE DIREITOS HUMANOS

mária) em países afetados por conflitos (Fontes: UNESCO. 2011. EFA Global Moni-
estejam atualmente fora da escola. As es- toring Report 2011.; UNICEF. 2011. The Role
colas deveriam ser respeitadas e protegi- of Education in Peacebuilding.)
das como santuários e zonas de paz. Na
maioria das zonas de conflito, são alvos O Relator Especial da ONU para o Direito
de guerra – uma violação flagrante das à Educação, Kishore Singh, no seu rela-
Convenções de Genebra de 1949. As Na- tório intercalar de 2011, recomendou que
ções Unidas criaram um sistema extenso se garanta o financiamento adequado da
de monitorização de violações graves de educação em situações de emergência,
direitos humanos contra as crianças. Este- que se melhore a proteção das escolas re-
jam em zonas de conflito, deslocados no lativamente a ataques e se preste atenção
seu próprio país ou refugiados, os pais, à exclusão de meninas e grupos margina-
professores e crianças afetados por confli- lizados.
tos têm pelo menos uma coisa em comum: (Fonte: Kishore Singh. 2011. Interim-Report
um nível extraordinário de ambição, ino- of the Special Rapporteur on the Right to
vação e coragem que demonstram quando Education. The right to education (Domes-
tentam manter o acesso à educação. Os tic financing of basic education).)
pais entendem que a educação pode dar
às crianças um sentido de normalidade e Direitos Humanos em Conflitos
que tal é uma vantagem – muitas vezes, a Armados
única – que podem levar consigo quando
deslocados. Sabia que: a implementação da educa-
ção primária universal, numa década,
“Nada é mais importante numa nova na- em todos os países em desenvolvimento,
ção do que dar às crianças uma educação. custaria 7 a 8 biliões de dólares anual-
Se se quer paz e justiça, se se quer emprego mente, o que representa o valor de cerca
e prosperidade e se se quer que um povo de sete dias de gastos militares globais,
seja justo e tolerante para com o seu seme- o valor de sete dias de especulação mo-
lhante, só há um ponto de partida – e esse netária nos mercados internacionais, ou
ponto é a escola.” menos de metade daquilo que os pais
José Ramos Horta. Prémio Nobel da Paz. 1996. norte-americanos gastam em brinquedos
para os filhos todos os anos, e menos de
Um relatório de averiguação da UNICEF metade daquilo que os europeus gastam
considerou que a abordagem predomi- todos os anos em jogos de computador
nante à construção para a paz ainda mar- ou em água mineral.
ginaliza a educação, apesar da educação
poder desempenhar um papel crucial na (Fonte: Kevin Watkins, 1999. Education
construção para a paz em todas as fases Now. Break the Cycle of Poverty.)
do conflito.
H. DIREITO À EDUCAÇÃO 291

CONVÉM SABER
tribunais juvenis em todas as principais
cidades.
1. BOAS PRÁTICAS • No distrito de Mashan, na China, foi
atribuída prioridade nos empréstimos
• No Egito, o governo integrou, com su- ou na atribuição de fundos para o de-
cesso, um novo conceito de escolas senvolvimento às aldeias e famílias que
comunitárias amigas das meninas, no tomaram medidas eficazes no sentido
sistema educativo formal. O governo de mandar as meninas para as escolas.
lançou um pacote completo de reformas • A República Democrática Popular do
com o objetivo de criar escolas saudá- Laos está a implementar, com sucesso,
veis e que promovam a saúde. uma medida de inclusão de género que
• Malawi (1994), Uganda (1997), Tan- assegura o acesso ao ensino primário,
zânia (2002) e Quénia (2003) cortaram com qualidade, a meninas de zonas
nos custos da educação para a família, minoritárias. O objetivo a longo prazo
eliminando as taxas escolares. Alguns é integrar mais mulheres no desenvol-
países aboliram, igualmente, o uso obri- vimento socioeconómico, melhorando
gatório de uniformes. progressivamente o seu nível educativo.
• O Programa Busti, no Paquistão, fruto • Em Mumbai (antiga Bombaim), na Ín-
de uma colaboração entre uma ONG de dia, a Iniciativa Prathan Mumbai Edu-
Karachi e a UNICEF, pretende propor- cation, uma parceria entre educadores,
cionar o ensino básico às crianças para grupos comunitários, patrocinadores e
que possam posteriormente ser admiti- governo, criou 1600 escolas e ajudou
das nas escolas formais. A faixa etária a modernizar mais de 1200 escolas pri-
abrangida é dos cinco aos dez anos; márias.
cerca de três quartos dos alunos são • No Afeganistão, onde as meninas foram
meninas. Esta iniciativa teve sucesso na excluídas do sistema de ensino formal,
medida em que inverteu o normal pre- a UNICEF tomou a arrojada decisão de
conceito sexista, em parte, proporcio- apoiar escolas em casa, para meninas e
nando educação em casa. Este progra- rapazes, no início de 1999.
ma criou mais de 200 escolas em casa, • O Projeto CRIANÇA, na Tailândia, que
matriculando mais de 6000 alunos, com começou com os donativos de compu-
custos unitários de $6, muito inferior ao tadores em segunda mão, monitoriza
custo médio das escolas primárias es- as ligações entre a aprendizagem das
tatais. crianças e a saúde.
• A Mauritânia adotou legislação que • O Mali adotou a iniciativa “Fast Track”
proíbe casamentos precoces, tornou o com o objetivo de acelerar o processo
ensino básico obrigatório e aumentou para alcançar a educação primária uni-
a idade mínima de acesso ao trabalho versal até 2015.
para os 16 anos. Fundou o Conselho da • De acordo com um relatório do Banco
Criança com o fim de promover a imple- Mundial, a taxa de conclusão relativa ao
mentação da Convenção sobre os Direi- ensino primário cresceu de 43,2%, em
tos da Criança e promoveu a criação de 2005, para 55,7%, em 2010, dos quais
292 II. MÓDULOS SOBRE QUESTÕES SELECIONADAS DE DIREITOS HUMANOS

64,4% eram meninos e 47,6% meninas. 2. TENDÊNCIAS


Estes dados, no entanto, demonstram
que ainda há um longo caminho a per- O Quadro de Ação de Dakar – Educação
correr para se atingir o ODM sobre edu- para Todos adotado no Fórum Mundial
cação, especialmente no que respeita às de Educação, (Dakar, Senegal, 28 de abril
meninas. (Fonte: Banco Mundial. 2011. 2000) exprime o compromisso de toda a
Mali - Education sector Investment Pro- comunidade internacional em concretizar
gram II: P093991 - Implementation totalmente o direito à educação. O Quadro
Status Results Report: Sequence 10.) de Ação de Dakar estabelece seis objetivos
• Como resultado da crise económica na para alcançar o ensino básico para todos
Argentina, as despesas com a educa- em 2015:
ção desceram drasticamente. Em 2004,
a Espanha concordou com a proposta 1. Expandir e melhorar os cuidados glo-
da Argentina em trocar a dívida pela bais na primeira infância e educação,
educação. Assim, a Argentina transfe- especialmente para as crianças mais vul-
riu $ 100 milhões para uma conta espe- neráveis e desfavorecidas;
cial de educação em vez de reembolsar
a Espanha. Os novos fundos ajudarão 2. Assegurar que, em 2015, todas as
215.000 alunos em três das partes mais crianças, particularmente, as meninas,
pobres do país. crianças em circunstâncias difíceis e as
(Fontes: UNESCO. 2005. EFA Global Moni- que pertencem a minorias étnicas, po-
toring Report 2006; Kevin Waktins. 1999. dem completar a educação primária gra-
Education Now. Break the cycle of poverty.) tuita, obrigatória e de boa qualidade;
3. Assegurar que as necessidades de
O Projeto do Direito à Edu- aprendizagem de todos os jovens e adul-
cação foi criado pela Rela- tos são satisfeitas através do acesso justo
tora Especial sobre o Direi- a programas apropriados de aprendiza-
to à Educação, em 2001, gem e de competências de vida;
para aumentar a transpa- 4. Conseguir 50% de melhoria nos níveis
rência do seu trabalho e de alfabetização de adultos em 2015, es-
para facilitar um fórum educacional pecialmente para as mulheres, e acesso
sobre o direito à educação. Sendo o equitativo à educação básica e perma-
único recurso de direitos humanos de nente, para todos os adultos;
acesso público, dedicado unicamente
ao direito à educação, o projeto promo- 5. Eliminar as disparidades de género
ve o aperfeiçoamento de todos os direi- na educação primária e secundária em
tos humanos através da educação, rea- 2005, e alcançar a igualdade de género
liza avaliações da concretização global na educação até 2015, dando especial
do direito à educação, fornece ideias ênfase à garantia do acesso total e igual
para estratégias educacionais e facilita das meninas à educação básica de boa
a exposição e a oposição às violações qualidade;
dos direitos humanos. (www.right-to- 6. Melhorar todos os aspetos da quali-
education.org) dade da educação e assegurar a exce-
H. DIREITO À EDUCAÇÃO 293

lência de todos, de tal forma que sejam comunidade doadora, sob a presidência da
atingidos, por todos, resultados reconhe- UNESCO e do Banco Mundial. No final de
cidos e mensuráveis da aprendizagem, 2010, o EFA FTI apoiava a educação em 44
especialmente na literacia e nas compe- países em vias de desenvolvimento que se
tências essenciais de vida. tornaram parceiros desta iniciativa. Entre
2004 e 2010, a FTI apoiou a reconstrução
de cerca de 30.000 salas de aula, forneceu
Alcançar o ensino primário universal mais de 200 milhões de livros escolares e
para todos os rapazes e meninas, igual- concedeu mais de dois biliões de dólares
dade de género e empoderamento das em ajuda financeira a países em vias de
mulheres, eliminando desigualdades de desenvolvimento. Também ajuda os doa-
género no ensino primário e secundário dores e os países em vias de desenvolvi-
até 2005, e, em todos os níveis de educa- mento parceiros desta iniciativa a traba-
ção, para todas as meninas e todos os ra- lhar conjuntamente, de modo a assegurar
pazes, até 2015, foi afirmado pela Cimeira que a ajuda à educação é mais bem co-
do Milénio, em setembro de 2000, como o ordenada e mais eficaz. Ajudou mais de
segundo e terceiro dos oito Objetivos de 19 milhões de crianças a ir à escola pela
Desenvolvimento do Milénio (ODM). O primeira vez. Em 2011, o nome foi mudado
compromisso de eliminar a discriminação para “Global Partnership for Education”.
com base no género na educação foi rea-
firmado pela Cimeira Mundial das Nações Comercialização da Educação
Unidas em setembro de 2005. Também ou- A globalização aumentou a comercializa-
tros ODM, como a redução da mortalida- ção da educação, que se está a tornar mais
de infantil e a melhoria dos cuidados de num serviço pago do que num serviço pú-
saúde materna ou combater o VIH/SIDA blico resultante de um direito humano. As
não podem ser alcançados sem políticas instituições educativas privadas, criadas
educacionais apropriadas. São exemplos: enquanto negócios, podem enfraquecer o
as iniciativas “EFA Flagship”, tal como a ensino público. Para contrariar esta ten-
iniciativa sobre o impacto do VIH/SIDA na dência e em resposta às preocupações das
educação, que são mecanismos de colabo- associações profissionais, a União Europeia
ração entre vários parceiros, em apoio aos evitou fazer quaisquer concessões nos ser-
objetivos do EFA. viços educativos, na Ronda de Doha de Ne-
gociações do Comércio Internacional.
O Banco Mundial que, outrora, sofreu crí-
ticas por não apoiar suficientemente o en-
sino primário gratuito, em 2002, começou O Progresso na Educação para Todos:
a iniciativa “EFA Fast Track” (EFA FTI) Resultados ambíguos.
como uma parceria global entre doadores e Tendências positivas desde 1999
os países em desenvolvimento, para asse-
gurar o rápido progresso em direção à edu- - Entre 1999 e 2008, mais 52 milhões de
cação primária universal. Os países com crianças se inscreveram na escola primá-
baixos rendimentos que demonstrem um ria. A inscrição na escola aumentou con-
compromisso sério em alcançar o segundo sideravelmente, em particular na África
ODM poderão receber apoio adicional da Subsaariana e no Sul e Oeste da Ásia.
294 II. MÓDULOS SOBRE QUESTÕES SELECIONADAS DE DIREITOS HUMANOS

- De acordo com uma perspetiva global, 3. CRONOLOGIA


o mundo está a aproximar-se lenta-
mente de uma paridade de género na 1946 Constituição da UNESCO: ideal
inscrição escolar. da igualdade de oportunidades na
- Os países de baixo rendimento au- educação
mentaram significativamente os seus 1948 A Declaração Universal dos Di-
esforços financeiros nacionais na edu- reitos Humanos é adotada pela
cação. Assembleia-Geral da ONU. A edu-
Desafios que permanecem cação é declarada como um direito
básico de todos.
- Se a tendência atual continuar, poderá
haver, em 2015, 56 milhões de crianças 1959 A Declaração dos Direitos da
fora da escola primária. Criança é adotada pela Assem-
bleia-Geral da ONU. A educação é
- Na sequência da crise financeira de declarada como um direito de to-
2008, as perspetivas de alcançar os ob- das as crianças.
jetivos da Educação para Todos (Educa-
tion for All) em muitos dos países mais 1960 UNESCO: Convenção relativa à
pobres do mundo foram gravemente Luta Contra a Discriminação no
comprometidas. Campo do Ensino

- Apesar de muitos países terem aboli- 1965 A Convenção Internacional sobre


do as taxas de frequência nas escolas a Eliminação de Todas as Formas
formais, de acordo com a obrigação de Discriminação Racial proclama
dos Estados contida no artigo 13º o direito de todos à educação, in-
do PIDESC, inquéritos continuam a dependentemente da cor ou etnia.
salientar a incapacidade dos pais su- 1966 Pacto Internacional sobre os Direi-
portarem as despesas com a escola tos Económicos, Sociais e Cultu-
como um fator importante na deci- rais, artigo 13º.
são de deixar as crianças desistir da 1973 Convenção da OIT sobre a Idade
escola. Mínima de Admissão ao Emprego.
- O hiato global relativo ao género no 1979 A Convenção sobre a Eliminação
que respeita à população fora da es- de Todas as Formas de Discrimina-
cola diminuiu, mas as meninas ainda ção contra as Mulheres defende a
representavam 53% da população fora eliminação da discriminação con-
da escola em 2008. As disparidades tra as mulheres e a igualdade de
são mais pronunciadas na Ásia do Sul direitos na educação.
e Ocidental, onde as meninas repre-
sentam 59% das crianças não inscritas 1985 Durante a Terceira Conferência
na escola. Mundial sobre as Mulheres, a edu-
cação é declarada como a base
(Fonte: UNESCO. 2011. EFA Global Moni- para melhorar o estatuto das mu-
toring Report 2011) lheres.
H. DIREITO À EDUCAÇÃO 295

1989 Convenção sobre os Direitos da 2000 Quadro de Ação de Dakar adotado


Criança. no Fórum Mundial da Educação
1990 Declaração Mundial sobre a Edu- no Senegal.
cação para Todos em Jomtien, 2000 Cimeira do Milénio: Educação pri-
Tailândia. A conferência, co-patro- mária e igual acesso para todas as
cinada pelo PNUD, a UNESCO, a crianças até 2015.
UNICEF, o Banco Mundial e, mais 2003 Década das Nações Unidas para a
tarde, o Fundo das Nações Unidas Alfabetização (2003-2012).
para a População, apresentou um
consenso global sobre uma visão 2004 Conferência Mundial, em Ames-
alargada da educação básica. terdão, sobre o Direito à Educação
e os Direitos na Educação.
1993 Cimeira da Educação E-9 dos nove
países em vias de desenvolvimento 2005 Década das Nações Unidas “Edu-
mais populosos em Nova Deli, Ín- cação para o Desenvolvimento
dia. Representantes governamentais Sustentável” 2005-2014
acordaram atingir o objetivo da edu- 2005 Programa Mundial para a Educa-
cação universal até 2000. Um Plano ção para os Direitos Humanos:
Mundial de Ação sobre a Educação primeira fase (2005-2009) coloca
para os Direitos Humanos e a De- ênfase na Educação para os Di-
mocracia é adotado por uma Con- reitos Humanos nos sistemas de
ferência Internacional em Montreal. educação primária e secundária;
1994 A Conferência Mundial sobre as segunda fase (2010-2015) coloca
Necessidades Educativas Espe- ênfase na Educação para os Di-
ciais: Acesso e Igualdade, em Sala- reitos Humanos para a educação
manca, Espanha. Os participantes superior e em programas de for-
declararam que todos os países mação para professores e educa-
devem englobar as necessidades dores, funcionários públicos, pes-
educativas especiais nas suas es- soal responsável pela aplicação
tratégias nacionais de educação e da lei e militares.
proporcionar uma “educação in- 2006 Convenção das Nações Unidas
clusiva”. sobre os Direitos das Pessoas
1997 Conferência Internacional sobre com Deficiência tem como obje-
Trabalho Infantil. tivo, promover, proteger e asse-
1998 Nomeação do Relator Especial so- gurar o gozo pleno e em termos
bre o Direito à Educação. de igualdade de todos os direitos
humanos às pessoas com defici-
1999 Comentário Geral nº 13 sobre o ência, incluindo o direito à edu-
Direito à Educação. cação.
1999 Convenção da OIT Relativa à In- 2009 Conferência Mundial da UNESCO
terdição das Piores Formas de Tra- sobre Educação para o Desenvol-
balho das Crianças. vimento Sustentável
296 II. MÓDULOS SOBRE QUESTÕES SELECIONADAS DE DIREITOS HUMANOS

ATIVIDADES SELECIONADAS
ATIVIDADE I: Pedir aos participantes para se juntarem em
DISPONÍVEL? ACESSÍVEL? pequenos grupos (4-6) e entregar a cada um
ACEITÁVEL? ADAPTÁVEL? uma folha de papel grande e marcadores.
Cada grupo escolhe um dos 4 princípios
Parte I: Introdução para a sua dramatização.
Esta atividade tem como objetivo aprofundar Primeiro, dar dez minutos ao grupo para
o conhecimento sobre as questões apresen- fazerem uma chuva de ideias sobre todas
tadas no módulo sobre o direito à educação. as suas ideias sobre o módulo e, de segui-
da, para identificarem duas ou três ideias
Parte II: Informação Geral principais que mais gostariam de trabalhar
Tipo de atividade: Dramatização, panto- na dramatização.
mima Dar ao grupo 30 minutos para delinear e
Metas e objetivos: A técnica da dramati- ensaiar a sua peça. Explicar que deve ser
zação pode possibilitar a aprendizagem. O um esforço de grupo, pelo que todos de-
seu propósito é fazer com que os partici- vem ter um papel na produção.
pantes experienciem situações pouco fa- Depois, juntar todos os grupos em círcu-
miliares, desenvolvendo empatia e apreço lo para que todos vejam as peças uns dos
por diferentes pontos de vista. outros.
Grupo-alvo: Jovens adultos, adultos Dar alguns minutos, depois de cada atua-
Dimensão do grupo: cerca de 20 ção, para comentários, reações e debate.
Duração: 90 minutos Solicitar primeiro aos intervenientes e de-
Material: cavalete com bloco de papel; pois aos observadores que dêem as suas
marcadores; cópias dos quatro princípios opiniões.
das obrigações do Estado (Disponibilida- Reações:
de, Acessibilidade, Aceitabilidade e Adap- Rever a própria atuação:
tabilidade) do “módulo do Direito à Edu- O que os participantes acharam desta ativi-
cação” (ver acima) dade? O que foi mais ou menos difícil face
Competências envolvidas: Capacidades ao que imaginaram? Quais os aspetos mais
de representação e linguísticas, bem como difíceis, ou o mais difícil de representar?
de empatia e criatividade. Os participantes aprenderam algo de novo?
Havia semelhanças ou diferenças entre os
Parte III: Informação Específica sobre a grupos? Se sim, quais?
Atividade Sugestões metodológicas:
Instruções: Uma dramatização pode seguir vários ca-
Explicar que o propósito do exercício é de- minhos, mas, em todos eles, os participan-
senvolver uma peça sobre o conteúdo do tes desenvolvem pequenas atuações que,
módulo do direito à educação. normalmente, despertam fortes emoções
Para começar, ler o significado dos 4 prin- tanto nos atores, como na audiência. Por-
cípios das obrigações dos Estados e asse- tanto, o líder do grupo deve ser encorajado
gurar-se de que todos os participantes en- a avaliar o que foi feito e a analisar a sua
tendem o seu conteúdo. relevância para os direitos humanos.
H. DIREITO À EDUCAÇÃO 297

Outras sugestões: a complexidade do direito à educação e as


Dizer “congelar” num momento da atua- interferências da educação e outros tópi-
ção de grande emoção, pedindo aos atores cos; cartões (de 8 por 8cm); tesouras; ca-
para descrever as suas emoções no mo- netas e marcadores.
mento ou convidar os outros (observado- Preparação: Reunir material relevante e
res) a analisar o que está a acontecer. informação.
Sem aviso, parar a atuação e pedir aos ato- Competências envolvidas: capacidades
res para trocarem de papéis e continuarem criativas, compreensão de interrelações
no ponto onde ficaram. complexas.
Colocar uma pessoa atrás de cada ator. Pa-
rar a atuação a meio e perguntar à “som- Parte III: Informação Específica sobre a
bra” o que acha que a sua personagem Atividade
está a sentir e a pensar e porquê. Instruções:
Os participantes criam um “jogo da memó-
Parte IV: Acompanhamento ria”. O jogo da memória consiste em pares
Procurar peças de teatro ou de literatura de cartões; metade dos cartões tem ape-
sobre o tema dos direitos humanos e orga- nas palavras-chave (ex: menina, dinheiro
nizar uma encenação para os membros da e fome); a outra metade descreve resumi-
sua comunidade local. damente de que forma as palavras-chave
Direitos relacionados: Todos os outros di- estão ligadas com o campo da educação.
reitos humanos. Pedir aos participantes que formem peque-
nos grupos de trabalho (3 a 4 pessoas). Dis-
ATIVIDADE II: tribuir os cartões e espalhar toda a informa-
EDUCAÇÃO PARA TODOS? ção na mesa.
Permitir o tempo suficiente para escolher
Parte I: Introdução os textos que servem como base para os
A “Educação para Todos” foi um dos obje- cartões de memória.
tivos do Fórum sobre a Educação Mundial, Algumas ideias para formar pares: meni-
em Dakar, Senegal. Porém, a realização do nas/mulheres – acesso restrito à educação;
direito à educação está relacionada e é in- minorias – acesso restrito à educação, não
fluenciada por muitos outros fatores. existência de ensino na língua materna;
exército – comparação dos orçamentos dos
Parte II: Informação Geral Estados a nível da educação e militar; globa-
Tipo de atividade: Reflexão e transferên- lização – consequências para o(s) sistema(s)
cia criativa educativo(s); internet – consequências para
Metas e objetivos: Compreender que a a educação; dinheiro – falta de dinheiro, sem
educação é um direito humano; compre- escola? comida/fome – dificuldades para a
ender as dificuldades na realização do ob- educação quando as necessidades básicas
jetivo da “Educação para Todos”. não são satisfeitas; trabalho infantil – traba-
Grupo-alvo: Jovens adultos e adultos lhar em vez de ir à escola; educação para os
Dimensão do grupo: até 25 direitos humanos – de quem é o proveito e
Duração: 120 a 180 minutos de quem é a responsabilidade?
Material: cópia dos artigos relevantes da Quando todos os cartões estiverem pron-
DUDH; artigos, relatórios, material sobre tos, pode-se começar o jogo da memória
298 II. MÓDULOS SOBRE QUESTÕES SELECIONADAS DE DIREITOS HUMANOS

com o grupo inteiro (ou em duas rondas que temos diferentes prioridades; que argu-
se o grupo for muito grande). mentos foram os mais persuasivos; como é
Regras do Jogo da Memória: colocar os a situação na sua própria comunidade?
cartões na mesa virados para baixo; quem Sugestões metodológicas:
começa a jogar, vira 2 cartões para que to- Assegurar-se que os participantes criam,
dos os possam ler. Se os cartões formarem no mínimo, 20 pares de cartões para tor-
um par, o participante pode ficar com eles; nar o jogo possível.
se não, são virados novamente, e o próxi-
mo participante, vira outros 2 cartões. Parte IV: Acompanhamento
Reações: Debater formas de alcançar o objetivo da
Convidar cada participante a falar sobre “Educação para Todos” nos países de cada
a sua experiência durante a atividade: foi participante. Se o grupo for muito ativo e
difícil criar pares de cartões? Aprenderam criativo, poderão iniciar uma campanha
algo que não sabiam antes? sobre a “Educação para Todos”.
Começar por convidar cada grupo a apre- Direitos relacionados: Globalização, par-
sentar os seus resultados. Continuar, anali- ticipação política. (Fonte: adaptado do
sando o quanto os participantes gostaram Conselho da Europa. 2002. Compass: A
da atividade e o que aprenderam. Manual on Human Rights Education with
Desenvolver algumas questões como: se- Young People.)
melhanças e diferenças entre os grupos; por

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I. DIREITOS HUMANOS
DA CRIANÇA

O EMPODERAMENTO E A PROTEÇÃO DA CRIANÇA


PARTICIPAÇÃO E SUSTENTO
NÃO DISCRIMINAÇÃO DAS CRIANÇAS
INTERESSE SUPERIOR DA CRIANÇA

“Todas as decisões relativas a crianças, adotadas por instituições públicas ou privadas de


proteção social, por tribunais, autoridades administrativas ou órgãos legislativos, terão
primacialmente em conta o interesse superior da criança.”
Artigo 3º da Convenção sobre os Direitos da Criança da ONU. 1989
304 II. MÓDULOS SOBRE QUESTÕES SELECIONADAS DE DIREITOS HUMANOS

HISTÓRIAS ILUSTRATIVAS
Castigos Corporais sobre Crianças - É mau ou triste quando o teu pai ou mãe
te dão uma palmada – tu tentas e dizes
Respostas de crianças sobre: Por que é que aos teus tios, mas eles não fazem nada.
achas que as crianças levam palmadas? (menina, 5 anos)
- Quando as pessoas se portaram mal e - Eu não fico triste, só quando a minha
estão a lutar, levam palmadas [dos seus] mãe me dá palmadas…e depois eu cho-
mãe ou pai. (rapaz, 6 anos) ro… (menina, 4 anos)
- [As crianças levam palmadas] quando (Fontes: Children’s Rights Alliance for
lutam com outras pessoas, quando atiram England and Save the Children UK (eds.).
pedras e coisas. (rapaz, 7 anos) 2004. It hurts you inside. Young children
- Talvez [quando se] pinta o tapete [ou] talk about smacking.; Elinor Milner. 2009.
fazemos desenhos no sofá [ou] não se lim- “I don’t get sad, only when my mum
pa o quarto – se se brinca com tinta e a smacks me.” Young Children Give Advice
derramamos sobre alguma coisa. E se se about Family Discipline.)
derruba o objeto de vidro preferido da mãe
e ele se parte. (menina, 5 anos) Questões para debate
- Bem, se estivesse na altura de limpar o 1. Por que é que as pessoas dão palmadas
quarto e só se tivesse uma hora para o fa- aos seus filhos?
zer e se se gasta essa hora a ler livros, po- 2. Dar palmadas às crianças é um modo
de-se levar uma palmada. (rapaz, 6 anos) legítimo de disciplinar?
- Porque os pais dizem para não se fazer 3. Quais as alternativas aos castigos cor-
algo e elas fazem-no. (menina, 7 anos) porais?
(Fonte: Carlyne Willow, Tina Hyder. 1998. 4. Por que é que só 29 países no mundo
It hurts you inside – children talking about proibiram os castigos corporais, de for-
smacking.) ma abrangente, em casa, nas escolas e
no sistema penal?
Respostas das crianças sobre: O que se sen- 5. O que é que cada um de nós poderá fa-
te quando alguém vos dá uma palmada? zer sobre esta questão, por si só e com
- Parece que alguém nos bate com um a ajuda de outros?
martelo. (menina, 5 anos)
- É como quando se está no céu e se cai Crianças Afetadas por Conflitos Arma-
para o chão e se magoa. (menino, 7 anos) dos
- Dói muito, faz-te sentir triste. (menina, “Eu fui raptada [por membros do Exército
6 anos) de Resistência do Senhor] quando ia com a
- Estás magoado choras [e] gotas saem dos minha mãe para o campo […]. Uma das ou-
teus olhos. (menina, 5 anos) tras meninas raptadas tentou fugir mas foi
- E sentes que já não gostas dos teus pais. apanhada. Os rebeldes disseram-nos que ela
(menina, 7 anos) tinha tentado fugir e que teria de ser morta.
- Sente-se, tu sentes como se quisesses fu- Eles obrigaram as crianças recém-chegadas
gir porque estão a ser como que maus e a matá-la. Eles disseram-nos que, se fugísse-
isso magoa muito. (menina, 7 anos). mos, matariam as nossas famílias.
I. DIREITOS HUMANOS DA CRIANÇA 305

Eles obrigaram-nos a caminhar durante 3. Quais serão as consequências de utili-


uma semana. […] Algumas das crianças zar crianças na guerra – para a criança,
mais pequenas não conseguiram aguentar, para a sociedade?
uma vez que caminhávamos para tão lon-
ge e sem descansar, e foram mortas. […] Trabalho Infantil
Algumas das crianças morreram de fome. “As crianças trabalham como nós, fazem
Senti-me sem vida, ao ver tantas crianças tudo. Geralmente, trabalhamos desde as 7
a morrer e a serem mortas. Pensei que seria da manhã às 7 ou 8 da noite. Cerca de 11 a
morta.” 12 horas por dia. Por vezes, vamos para o
Sharon, uma menina de 13 anos foi rapta- campo às 4 da manhã”.
da pelo Exército de Resistência do Senhor, Sabir S. foi entrevistado em Malybai, Ca-
um grupo rebelde com base no norte do zaquistão, onde trabalhava com o seu fi-
Uganda, que luta contra o Governo do lho, de 15 anos, e a sua filha, de 13, numa
Uganda, mas também aterroriza a popu- fazenda de tabaco. As crianças trabalha-
lação local, em especial, raptando crianças vam muitas horas, não tinham repouso
para as usar nas forças rebeldes. adequado, tinham pouco ou nenhum aces-
(Fonte: Human Rights Watch. 1997. The so a saneamento adequado e a nutrição,
Scars of Death: Children Abducted by the estavam expostas a temperaturas altas e
Lord’s Resistance Army in Uganda.) ao sol, não usavam máscaras ou roupas
protetivas, tinham queixas ao nível da pele
“Eles [o exército] levaram-nos para as bar- pelo contato com as folhas de tabaco e ti-
racas. Bateram-nos com as suas armas e nham acesso limitado a cuidados médicos.
botas. 15 dias depois, o meu amigo morreu (Fonte: Human Rights Watch. 2010. Hell-
dos espancamentos. Bateram-me repetida- ish Work: Exploitation of Migrant Tobacco
mente. Uma vez bateram-me até ficar in- Workers in Kazakhstan.)
consciente e fui levado ao hospital. Quando
recuperei a consciência, fui levado para as Questões para debate
barracas e espancado novamente. Quase 1. Quais são as principais razões que estão
morri. Não sei por que razão me bateram.” na base do trabalho infantil?
Ram, recrutado em 2004 pelos Maoístas 2. Por que razão os Estados não imple-
quando tinha 14 anos, descreve a sua cap- mentam as leis de acordo com as suas
tura pelo Exército Real Nepalês um ano obrigações internacionais e as fazem
depois. respeitar devidamente?
(Fonte: Human Rights Watch. 2007. Chil- 3. Por que razão as empresas empregam
dren in the Ranks: The Maoists Use of crianças?
Child Soldiers in Nepal.) 4. O trabalho infantil interfere também
com outros direitos humanos da
Questões para debate criança?
1. Quais poderão ser as razões para os
adultos utilizarem crianças para comba-
“O idealismo e a criatividade da juventude
ter as suas guerras?
são dos recursos mais importantes que um
2. O que deveria ser feito para retirar as
país tem.”
crianças-soldado deste ciclo de violên-
Ban Ki-moon. 2010.
cia?
306 II. MÓDULOS SOBRE QUESTÕES SELECIONADAS DE DIREITOS HUMANOS

A SABER
1. A LUTA PARA PROTEGER OS DIREI- trabalho explorador, a venda e o tráfico de
TOS DA CRIANÇA crianças e outras formas de abuso, negli-
gência, exploração e violência. Portanto,
Debater os direitos humanos das crianças as expectativas eram elevadas quando, em
é, por vezes, uma experiência singular e 2002, alguns milhares de representantes
ambivalente. Num primeiro momento, to- governamentais e não governamentais e
dos imediatamente concordariam com os mais de 600 jovens (até aos 18 anos), de
direitos dos jovens a um lar, a viver com mais de 150 países, se reuniram em Nova
família e amigos, a desenvolver a perso- Iorque, para a Sessão Especial da AGNU
nalidade e talentos, a ser protegido de para a Criança. Porém, o novo Plano de
abusos e a ser respeitado e levado a sério. Ação internacional “A World Fit for Chil-
Contudo, quando surgem questões sobre dren” que demorou quase dois anos a ser
padrões concretos de parentalidade e so- negociado, trouxe apenas um sucesso am-
bre responsabilidades para efetivar estes bíguo. E, mais surpreendentemente, um
objetivos, surgem também controvérsias. dos assuntos mais espinhosos foi o esta-
Atente-se na Convenção sobre os Direitos tuto da CDC no documento final, com al-
da Criança da ONU (CDC). Este tratado in- guns Estados, tais como os Estados Unidos
ternacional adotado pela Assembleia-Ge- da América a oporem-se totalmente a um
ral da ONU, em 1989, constitui a base da documento final inspirado nos direitos da
proteção internacional dos direitos huma- criança.
nos das crianças. A CDC é presentemente De acordo com a UNICEF, estima-se que
o tratado de direitos humanos mais rati- haja atualmente 127 milhões de crianças
ficado de sempre, com 193 Estados Par- com peso a menos no mundo em vias de
tes, incluindo todos os Estados da ONU, desenvolvimento, o que corresponde a
exceto dois (Estados Unidos da América 22% das crianças nos países em vias de
e Somália7), estabelecendo realmente pa- desenvolvimento; 9% das crianças no
drões universais de direitos humanos para mundo em vias de desenvolvimento está
as crianças. Porém, as boas notícias rela- em estado grave de falta de peso. Décadas
tivamente ao estabelecimento de normas depois dos compromissos feitos no sentido
contrastam abissalmente com o panorama de assegurar a qualidade da educação para
desastroso no que respeita à sua imple- todas as crianças, a cerca de 68 milhões de
mentação. A infância de milhões de crian- crianças em idade escolar (escola primá-
ças continua a ser devastada pela subnu- ria) este direito é ainda negado.
trição, pobreza e exclusão persistentes,
Direitos da Criança e Segurança Hu-
7
Nota da versão em língua portuguesa: a República
mana/da Criança
do Sudão do Sul tornou-se Estado-membro da ONU O conceito de segurança humana tem
a 14 de Julho de 2011 e também ainda não ratificou a sido descrito como liberdade de viver
Convenção sobre os Direitos da Criança.
I. DIREITOS HUMANOS DA CRIANÇA 307

sem ameaças invasivas aos direitos e à no contexto do debate atual sobre a par-
segurança da pessoa, promovendo o di- ticipação de crianças nos processos de
reito de viver sem medo e sem privações, paz e de reconstrução pós-conflito.
com iguais oportunidades para desenvol-
ver, plenamente, o seu potencial humano. Desde a sua criação, a Rede de Seguran-
Assim, dirige-se a situações de inseguran- ça Humana tem dedicado especial aten-
ça causadas por violência e pela pobreza ção à segurança da criança, especial-
e agravadas, ainda mais, pela discrimina- mente em relação aos conflitos armados.
ção e pela exclusão social. A necessidade Os conflitos são uma ameaça ao acesso
de dar prioridade e urgência a medidas por parte das crianças, à nutrição, água
para responder a ameaças imediatas à potável, saneamento, educação e a cui-
segurança da pessoa complementa fa- dados de saúde. As crianças são parti-
voravelmente o conceito dos direitos da cularmente vulneráveis a qualquer tipo
criança, particularmente se se seguir o de violência ou abuso e estão sujeitas
princípio da consideração primordial do a um maior risco de sequestro, tráfico,
interesse superior da criança. Todavia, ao recrutamento involuntário por grupos
utilizar o conceito da segurança humana ou forças armadas e de violência sexu-
como um instrumento político, algumas al, incluindo a violação como arma de
precauções devem ser consideradas. guerra. Nas suas Resoluções 1882 (2009)
e 1998 (2011), o Conselho de Segurança
Primeiro, um enquadramento jurídico das Nações Unidas condenou, de forma
vinculativo para a proteção dos direitos veemente, todas as violações do direito
humanos das crianças já existe, contem- internacional aplicável, que envolves-
plando direitos abrangentes e as respeti- sem o recrutamento e uso de crianças
vas obrigações dos Estados – enquanto pelas partes em conflitos armados, assim
para a segurança humana ainda falta como o seu recrutamento recorrente, ho-
este fundamento normativo. Segundo, micídio e mutilação, violação e outros
as abordagens à segurança humana/da tipos de violência sexual, sequestros,
criança podem conduzir a (um excesso ataques contra escolas ou hospitais e a
de) proteção, enfatizando a vulnerabili- negação do acesso humanitário pelas
dade e a dependência da criança – ao partes do conflito armado e todas as vio-
mesmo tempo negligenciando as capa- lações do direito internacional cometi-
cidades e os recursos da própria crian- das contra crianças durante as situações
ça. Assim, um desafio concetual para de conflito armado. Por conseguinte,
a segurança da criança encontra-se em reforçou o sistema de monitorização e
perceber como integrar da melhor forma de apresentação de relatórios relativos
o aspeto do empoderamento/autocapa- a estas sérias violações dos direitos das
citação, ponto essencial do discurso dos crianças durante os conflitos armados,
direitos humanos. estabelecido pela Resolução 1612 (2005)
Daqui retira-se que as sinergias entre as do Conselho de Segurança, que exige
abordagens aos direitos da criança e à das partes que cometem tais violações
segurança da criança devem ser acentua- de direito internacional uma comunica-
das, como demonstrado, por exemplo, ção direta e uma resposta.
308 II. MÓDULOS SOBRE QUESTÕES SELECIONADAS DE DIREITOS HUMANOS

2. DEFINIÇÃO reitos da Criança. O Protocolo Facultativo


E DESENVOLVIMENTO à Convenção sobre os Direitos da Crian-
DA QUESTÃO ça relativo à Participação de Crianças em
Conflitos Armados exige que os Estados
A Natureza e o Conteúdo dos Direitos Partes tomem as medidas possíveis para
Humanos das Crianças assegurar que os membros das suas for-
O conceito dos direitos das crianças de- ças armadas, com idade inferior a 18 anos,
senvolveu-se, por um lado, a partir do mo- não participem diretamente nas hostili-
vimento geral de direitos humanos, mas, dades e proíbam o recrutamento compul-
por outro lado, também decorre de outros sório antes dos 18 anos. O Protocolo não
desenvolvimentos nas áreas social, educa- exige uma idade mínima de 18 anos para
cional e psicológica, nos últimos duzentos recrutamento voluntário. Contudo, qual-
anos. Estes desenvolvimentos incluem o quer recrutamento voluntário antes dos 18
impacto da escolaridade obrigatória insti- anos tem de assegurar garantias suficien-
tuída pelos Estados, os efeitos negativos tes. Os Estados Partes devem também to-
da industrialização sobre as crianças (por mar todas as medidas possíveis para evitar
exemplo, a exploração infantil em fábricas que grupos armados independentes recru-
e minas) e as consequências da guerra so- tem e usem crianças, com idade inferior
bre as crianças. Uma nova compreensão a 18 anos, em conflitos. Atualmente, 146
do desenvolvimento da criança evoluiu a Estados são parte do Protocolo Facultativo
partir de novos conceitos de aprendiza- (abril de 2012).
gem e modelos de educação da criança até
aos “movimentos de libertação das crian- “Qualquer sociedade que queira negar os
ças”, nos anos 70, que foram essenciais direitos das crianças, ou de qualquer ou-
para alteração do discurso: um discurso tro grupo, que pertencem também a outros
anteriormente baseado na vulnerabilidade grupos, deve dar razões claras e sustentá-
e necessidade de proteção da criança para veis para o fazer. O ónus da prova recai
um novo discurso de autonomia, compe- sempre sobre quem quer excluir os outros
tência, determinação e participação da da participação; as crianças não devem ter
criança, rejeitando visões paternalistas de argumentar em favor do gozo de direitos
tradicionais das crianças enquanto objetos que são de todos.”
de controlo parental/dos adultos. Por fim, Bob Franklin. 1995.
a combinação de todos estes eventos teve
um impacto substancial no processo polí- Complementando a Convenção, que exi-
tico que teve início em 1978/79, no âm- ge que os governos protejam as crianças
bito da ONU, com a redação de um novo de todas as formas de exploração e abuso
instrumento juridicamente vinculativo sexual e que tomem todas as medidas pos-
sobre os direitos humanos da criança – a síveis para assegurarem que as mesmas
Convenção sobre os Direitos da Criança não sejam sequestradas, vendidas ou tra-
(CDC). O dia em que foi adotada – 20 de ficadas, o Protocolo Facultativo à Conven-
novembro de 1989 – é atualmente o Dia ção sobre os Direitos da Criança relativo à
Internacional dos Direitos da Criança. Venda de Crianças, Prostituição Infantil e
Em 2002, entraram em vigor dois Protoco- Pornografia Infantil exige que os Estados
los Facultativos à Convenção sobre os Di- Partes proíbam a venda de crianças (tam-
I. DIREITOS HUMANOS DA CRIANÇA 309

bém quando a mesma não tenha um ob- situação económica e social dos seus cui-
jetivo sexual, como outras formas de tra- dadores (por exemplo, desemprego, sepa-
balho forçado, adoção ilegal e doação de ração dos pais), que têm efeitos imediatos
órgãos), prostituição e pornografia infan- no nível de vida da criança. Contudo, ao
tis, e que considerem tais ofensas puníveis proteger os direitos humanos das crianças,
através de penas adequadas. Os Estados o seu estatuto jurídico e social, alterar-se-á
Partes devem disponibilizar às crianças ví- profundamente. Não é uma solução para
timas, serviços legais e outros serviços de todos os problemas que as crianças en-
apoio. Atualmente, 154 Estados são parte frentam, nem um fim em si mesmo, mas o
do Protocolo Facultativo (abril de 2012). meio necessário para embarcar num pro-
Em dezembro de 2011, a Assembleia-Geral cesso que se dirige a estes problemas, de
das Nações Unidas adotou e abriu para uma forma abrangente, baseada no inte-
assinatura o Protocolo Facultativo à Con- resse superior da criança (e da sociedade).
venção sobre os Direitos da Criança rela- Aceitar os direitos dos jovens, portanto,
tivo a um Procedimento de Comunicação não implica criar um grupo social especifi-
que permitirá às crianças apresentar quei- camente “privilegiado”, ao invés, é um re-
xas individuais ao Comité dos Direitos da quisito essencial para elevar o seu estatuto
Criança, alegando que os seus direitos, es- na sociedade para um nível onde podem
tipulados na Convenção, foram violados. defender os seus interesses, em igualdade
Em abril de 2012, o Protocolo tinha sido de circunstâncias com os adultos.
assinado por 20 Estados mas ainda não ti- Só então uma criança será ouvida em tri-
nha entrado em vigor. bunal, em casos de guarda, ou uma meni-
na se sentirá suficientemente segura para
Conceitos Principais Presentes denunciar o abuso sexual. Isto também
na Convenção sobre sublinha o aspeto de prevenção e cons-
os Direitos da Criança: Empoderamento ciencialização do empoderamento das
e Emancipação, Aspetos crianças.
Geracionais e de Género E só então os interesses das crianças, en-
Com base no respeito pela dignidade de quanto grupo social específico e distinto,
todos os seres humanos, a CDC reconhe- serão levados a sério – um desafio crucial
ce toda a criança como detentora dos seus considerando a situação demográfica nas
direitos humanos: estes direitos não deri- “sociedades envelhecidas” do Norte, mas,
vam, nem dependem dos direitos dos pais também no hemisfério do Sul, onde os jo-
ou de quaisquer outros adultos. Esta é a vens, regularmente, representam mais de
base dos conceitos de emancipação e de 50% da população total.
empoderamento da criança, elevando a
criança a um sujeito e cidadão respeitado “Cem crianças, cem indivíduos que são
da sociedade, capaz de desafiar e alterar pessoas - não projetos de pessoas, não pes-
perceções e expetativas limitadoras e dis- soas no futuro, mas pessoas agora, agora
criminatórias sobre os jovens. mesmo - hoje.”
Na verdade, as crianças ainda dependem Janusz Korczak. How to Love a Child. 1919.
dos adultos (de acordo com o seu desen-
volvimento físico, emocional e social, au- A juntar a este aspeto geracional, a dimen-
sência de recursos/rendimentos, etc.) e da são do género é de importância primacial
310 II. MÓDULOS SOBRE QUESTÕES SELECIONADAS DE DIREITOS HUMANOS

para o empoderamento das crianças. O com o desenvolvimento das capacidades da


tráfico de meninas para exploração sexu- criança”, o que significa que esta responsa-
al, o assassinato de meninas em nome da bilidade não garante nenhum poder abso-
“honra da família”, a exclusão e as desvan- luto sobre a criança, mas é constantemente
tagens na educação e emprego, assim como dinâmica e relativa. Mais, face ao Estado,
estereótipos degradantes nos meios de in- os pais são responsáveis, primeiramente,
formação e na indústria de entretenimento, pela educação da criança, embora se não
demonstram, claramente, a sua dupla dis- forem capazes ou não quiserem cumprir
criminação, enquanto meninas e crianças. com as suas obrigações seja legítimo que o
Estado/sociedade intervenham.
Uma Perspetiva Holística
da Criança Não Discriminação da Criança
A CDC é única, uma vez que é o primei- A Convenção contém uma proibição expres-
ro tratado universal de direitos humanos sa de discriminação contra as crianças, for-
que combina direitos económicos, sociais necendo uma extensa lista de fundamentos
e culturais, bem como civis e políticos, inaceitáveis de diferenciação (também no
num só documento. Portanto, a CDC ado- que respeita aos pais/representantes legais
ta uma perspetiva abrangente (“holística”) da criança), no artº 2º, nº1, “Os Estados
no tratamento da situação das crianças; Partes comprometem-se a respeitar e a ga-
vai além das declarações iniciais de direi- rantir os direitos previstos na presente Con-
tos da criança, que se concentravam nas venção a todas as crianças que se encontrem
necessidades de proteção durante o desen- sujeitas à sua jurisdição, sem discriminação
volvimento da criança, uma vez que tam- alguma, independentemente de qualquer
bém contém disposições que garantem o consideração de raça, cor, sexo, língua, reli-
respeito pela identidade da criança, auto- gião, opinião política ou outra da criança, de
determinação e participação. seus pais ou representantes legais, ou da sua
origem nacional, étnica ou social, fortuna,
A Relação Criança/Pais/Estado incapacidade, nascimento ou de qualquer
Simultaneamente, é importante sublinhar outra situação” e nº2, “Os Estados Partes
que estas dimensões dualísticas – direitos tomam todas as medidas adequadas para
de proteção e direitos de autonomia – não que a criança seja efetivamente protegida
são excludentes, mas reforçam-se mutua- contra todas as formas de discriminação ou
mente; a CDC não favorece, por exemplo, de sanção decorrentes da situação jurídica,
os direitos de autonomia sobre os direitos de atividades, opiniões expressas ou convic-
de proteção, como algumas vezes já foi ções de seus pais, representantes legais ou
alegado por críticos que designam a CDC outros membros da sua família”. O Comité
como “antifamília”, receando a dissolução das Nações Unidas dos Direitos da Criança,
de famílias ao garantir direitos humanos às que monitoriza a implementação da CDC,
crianças. A CDC reconhece, expressamen- interpretou esta lista de uma forma ampla,
te, responsabilidades, direitos e deveres de referindo-se também à discriminação contra
(ambos!) os pais, para assegurar a orien- crianças, por exemplo, infetadas com VIH/
tação e os conselhos adequados à criança. SIDA, crianças de rua, crianças que habi-
Porém, esta responsabilidade parental é tam em zonas rurais remotas, requerentes
qualificada como tendo de ser “compatível de asilo, etc.
I. DIREITOS HUMANOS DA CRIANÇA 311

“criança”, de acordo com a CDC? Seguin-


“Eu tenho um sonho que os meus quatro do uma perspetiva jurídica, a CDC define
pequenos filhos viverão, um dia, numa na- uma “criança” como qualquer ser humano
ção onde não serão julgados pela cor da com idade inferior a 18 anos (exceto, se a
sua pele mas pelo conteúdo do seu caráter.” maioridade for atingida mais cedo, no res-
Martin Luther King Jr. 1963. petivo país, artº 1º), consequentemente,
separando os adultos dos não-adultos. É
evidente que os desafios e necessidades de
“A promessa futura de qualquer nação um adolescente, frequentemente, diferem
pode ser medida, diretamente, pela atual muito dos de um recém-nascido. Devido à
perspetiva da sua juventude.” diversidade e heterogeneidade deste gru-
John F. Kennedy. 1963. po social “infra 18”, é fundamental que,
na aplicação da CDC, se seja claro quanto
O Interesse Superior da Criança ao grupo-alvo de quaisquer medidas, num
O artº 3º, nº1, da CDC enuncia o princí- dado contexto. Além disso, o Comité da
pio orientador geral de toda a Convenção, CDC tem vindo a sublinhar repetidamente
nomeadamente, dar atenção prioritária ao que a CDC também obriga os Estados Par-
interesse superior da criança. Não se limi- tes a rever as suas disposições nacionais
ta a ações que tenham as crianças como relativamente à maioridade, de uma forma
destinatários diretos (por exemplo, educa- consistente e fundamentada.
ção, casos judiciais de guarda, etc.), mas,
ao invés, é relevante para todas as ações Os Direitos da Convenção: Participação
que possam ter um impacto direto ou in- – Proteção – Sustento
direto sobre a criança (políticas de empre- Uma estrutura comummente utilizada
go, cabimento orçamental, etc.). Portanto, para descrever o conteúdo da CDC (para
implica uma obrigação de qualquer agen- além dos princípios orientadores enuncia-
te (estatal ou privado) de conduzir uma dos supra) é a sigla, em inglês, dos “3P”
“avaliação de impacto sobre a criança”, – participation, protection, provision (par-
que estabeleça considerações sobre possí- ticipação, proteção, sustento):
veis consequências de qualquer medida e • O aspecto da participação é representa-
suas alternativas e, de futuro, monitorizar do, acima de tudo, pelo reconhecimento
a implementação dessa medida e o seu im- expresso do direito de participação da
pacto nas crianças. criança, tal como plasmado no artº 12º,
Além disso, o princípio do interesse su- nº 1. Atribuir a “devida consideração”
perior da criança serve de cláusula ge- à perspetiva da criança é o elemen-
ral, quando nenhuma disposição da CDC to essencial desta disposição; implica
possa ser explicitamente aplicável e como um nível de envolvimento das crian-
orientador para qualquer situação de direi- ças (com o apoio de adultos, sempre
tos conflituantes no seio da CDC. que adequado), o que lhes possibilita
influenciar efetivamente os processos,
A Definição de “Criança” ter um impacto no processo de decisão.
segundo a CDC O Comentário Geral do Comité dos Di-
Por fim, permanece uma questão essen- reitos da Criança nº 12 (2009) sobre o
cial: quem é realmente considerado uma “Direito da Criança a ser Ouvido” veio
312 II. MÓDULOS SOBRE QUESTÕES SELECIONADAS DE DIREITOS HUMANOS

esclarecer o verdadeiro significado da - Os direitos da criança são abrangentes


participação e sublinha o facto de o di- e estão interrelacionados – não existe
reito a ser ouvido estabelecer não só um liberdade de expressão sem a proibição
direito per se, mas também dever ser da violência, não existe direito à educa-
considerado na interpretação e imple- ção sem condições de vida adequadas.
mentação de todos os outros direitos.
Além disso, a CDC adota outros direi- - Os direitos da criança são direitos le-
tos políticos e civis básicos, relevantes gais – clarificam responsabilidades e
para este contexto, enquanto direitos da responsabilizam os que devem ser con-
criança, tais como a liberdade de cons- siderados responsáveis.
ciência, de religião, de associação, de - Os direitos da criança empoderam-nas
reunião e respeito pela sua privacidade. – necessitam de uma nova cultura de
• No que diz respeito a questões de pro- interação com as crianças baseada no
teção, os direitos da CDC incluem pro- seu reconhecimento como sujeitos e ti-
teção de todas as formas de violência, tulares de direitos.
negligência ou exploração em relação às
crianças.
• Os direitos de sustento garantidos pela 3. PERSPETIVAS
CDC, incluem, por exemplo, o direito à INTERCULTURAIS
saúde, educação, segurança social e um E QUESTÕES CONTROVERSAS
nível de vida adequado.
Além disso, a CDC também desenvolve A proteção dos direitos da criança clarifica
novos padrões, ao formular o direito da o estatuto da criança na sociedade, os con-
criança à proteção da sua identidade, fa- ceitos prevalecentes de infância, os mode-
mília e outras relações sociais (incluindo los atribuídos às crianças, as condições de
a reunificação familiar), garante meios vida e as infraestruturas relevantes para
familiares alternativos e a adoção, o di- elas. Ademais, revela muito sobre o con-
reito ao repouso, tempos livres, a brincar ceito de família e o estatuto das mulheres
e a ter atividades culturais e a obrigação nesse meio.
do Estado de assegurar a recuperação e
reabilitação de todas as crianças vítimas
de qualquer forma de violência ou explo- “Se se desejar criar uma paz duradoura,
ração. tem de se começar pelas crianças.”
Mahatma Ghandi. 1931.

Resumindo: Porquê Utilizar uma


Um exemplo típico das ambiguidades fre-
Abordagem Assente nos Direitos da
quentemente relacionadas com as crianças,
Criança?
é o castigo corporal das crianças. Se, por
- Os direitos da criança são direitos hu- um lado, qualquer código penal do mun-
manos – respeito pela dignidade huma- do descreverá a perpetração de dano in-
na, independentemente da idade. tencional sobre adultos, claramente, como
- Os direitos da criança mudam o foco um ato criminoso, o mesmo princípio não
da atenção – para a criança individual se aplica às crianças. Ao invés, poderemos
e para as crianças como grupo social. encontrar debates sobre o número “razoá-
I. DIREITOS HUMANOS DA CRIANÇA 313

vel” de açoites, normas sobre o tamanho


e material da vara ou a obrigatoriedade de “As crianças devem estar no centro das
ter um médico presente, durante a punição, nossas considerações sobre alterações cli-
na escola. É impressionante ver que, atual- máticas, crise alimentar e sobre os outros
mente, há apenas uns 30 países no mundo desafios que consideramos diariamente.
que aboliram totalmente o castigo corporal. Sabemos o que fazer e como fazê-lo. Mes-
O Comité dos Direitos da Criança tem-se mo durante a mais severa crise económica
concentrado na violência infligida sobre das últimas décadas, os meios estão dispo-
crianças, pelo Estado e no seio da família níveis. Cabe-nos aproveitar a oportunidade
e na escola, no decorrer de duas sessões e criar um mundo que seja adequado às
temáticas, em 2000 e em 2001. Também crianças.”
deu início a um Estudo da ONU sobre a Ban Ki-moon. 2009.
Violência contra as Crianças, apresentado
pelo Perito Independente para o Estudo do Outras áreas controversas são, por exem-
Secretário-Geral sobre a Violência contra as plo, o estatuto das meninas (por ex. “pre-
Crianças à Assembleia-Geral da ONU em ferência por filhos rapazes” na família, edu-
2006. O estudo analisa a violência contra as cação, emprego, interpretação restritiva de
crianças em casa e no seio da família, nas leis religiosas, práticas tradicionais, como
escolas e estruturas de educação, institui- a mutilação genital feminina, casamento
ções que prestam cuidados e instituições de forçado, acesso a serviços de planeamento
justiça, o local de trabalho e comunidade. O familiar) e como, efetivamente, cuidar do
estudo contém também 12 recomendações problema do trabalho infantil, que está re-
abrangentes e uma série de recomenda- lacionado com vários fatores económicos e
ções específicas que formam uma estrutura sociais e condições em cada país.
exaustiva de acompanhamento. O processo
relativo a este estudo resultou igualmente “Existirá algum dever mais sagrado do que
no Relatório Mundial sobre a Violência a nossa obrigação de proteger os direitos da
contra as Crianças mais detalhado e tam- criança de forma tão cuidadosa como se pro-
bém em publicações amigas das crianças. tegem os direitos de qualquer outra pessoa?
Em 2007, o Perito Independente apresentou Existirá um maior teste de liderança do que
o seu relatório de progresso sobre a im- a tarefa de assegurar estas liberdades para
plementação das recomendações contidas cada criança, em cada país, sem exceção?
no estudo à Assembleia-Geral. Uma outra Kofi Annan. 2002.
medida de acompanhamento foi o estabe-
lecimento de um Representante Especial 4. IMPLEMENTAÇÃO
do Secretário-Geral para a Violência con- E MONITORIZAÇÃO
tra as Crianças pela resolução da Assem-
bleia-Geral A/RES/62/141. A resolução en- Tipicamente, existe um hiato entre os prin-
coraja o Alto Comissariado para os Direitos cípios de direitos humanos e a sua prática,
Humanos, o Fundo das Nações Unidas para entre os compromissos e a sua implemen-
a Infância (UNICEF), a Organização Mun- tação efetiva, mas, poderá argumentar-se
dial da Saúde (OMS) e a Organização In- que este hiato é, ainda mais lato, no âm-
ternacional do Trabalho (OIT) a cooperar e bito dos direitos da criança. Várias razões
apoiar o Representante Especial. podem ser adiantadas para esta situação
314 II. MÓDULOS SOBRE QUESTÕES SELECIONADAS DE DIREITOS HUMANOS

(as questões dos direitos da criança estão, nicação complementar ao procedimento


frequentemente, relacionadas com debates de relatórios previsto pela Convenção. O
controversos sobre “valores familiares” e mandato do Grupo de Trabalho foi alarga-
tradições culturais/religiosas, a ausên- do em 2010 para que o mesmo preparasse
cia de uma infraestrutura focada nos di- um projeto de um protocolo facultativo.
reitos da criança e de apoio a iniciativas Em dezembro de 2011, a Assembleia-Ge-
das crianças). Mas, há um outro fator que ral das Nações Unidas adotou e abriu
também contribui para esta situação, o para assinatura o Protocolo Facultativo à
sistema frágil de monitorização da CDC. Convenção sobre os Direitos da Criança
Até 2011, a Convenção apenas tinha esta- relativo a um Procedimento de Comuni-
belecido um mecanismo de relatório do cação, que prevê a criação de um proce-
Estado para monitorizar o cumprimento dimento de queixas individuais perante o
das suas disposições. De acordo com este Comité dos Direitos da Criança, permitin-
procedimento, os Estados estão obrigados do, deste modo, às crianças que alegam a
a submeter relatórios (de 5 em 5 anos) ao violação dos seus direitos consagrados na
órgão de supervisão da CDC, o Comité dos Convenção, submeter uma queixa direta-
Direitos da Criança, quanto aos seus pro- mente ao Comité. A entrada em vigor des-
gressos na implementação da Convenção te Protocolo que, em abril de 2012 tinha
(e dos Protocolos Facultativos). Este Pro- sido assinado por 20 Estados, será um im-
cedimento inicia um “diálogo construtivo” portante passo na promoção dos direitos
com o respetivo governo, que culmina das crianças.
com as “Observações Finais”, do Comité, Todavia, mesmo na situação atual, o Co-
sob a forma de uma avaliação crítica e re- mité tem vindo a ser muito inovador no
comendações ao governo. sentido de compensar a ausência dos
mecanismos habituais. Em primeiro, to-
“Implementar a Convenção não é uma mou uma posição muito recetiva quanto
questão de escolha, solidariedade ou cari- ao envolvimento de ONG, convidando-as
dade, mas sim, de cumprimento de obriga- a submeter os seus próprios relatórios
ções legais.” (“sombra”) sobre a situação dos direitos
Child Rights Caucus. 2002. da criança, no país, de modo a garantir
uma visão mais completa quanto aos as-
As ONG têm constantemente feito pressão suntos em apreço. Em segundo, o Comi-
no sentido da criação de um mecanismo té iniciou fora públicos anuais (“Dias de
de queixa individual que permitiria ao Debate Geral”) sobre tópicos específicos
Comité desenvolver a sua própria casuís- (por ex. “a criança e a família”, “justiça
tica – o que seria um impulso significativo juvenil”, “VIH/SIDA”, “violência contra as
para um discurso jurídico mais elabora- crianças no seio da família e na escola”, “o
do no campo dos direitos da criança. Em direito da criança à educação durante situ-
2009, o Conselho de Direitos Humanos es- ações de emergência”), de modo a chamar
tabeleceu um Grupo de Trabalho aberto, a atenção internacional para esses assun-
responsável por explorar a possibilidade tos. E, desde 2001, o Comité também tem
de elaboração de um Protocolo Facultativo vindo a publicar “Comentários Gerais”,
à Convenção sobre os Direitos da Criança interpretações oficiais fundamentais dos
que criasse um procedimento de comu- padrões da CDC, tais como “objetivos da
I. DIREITOS HUMANOS DA CRIANÇA 315

educação” (2001), “tratamento das crian- Além disso, ao nível estrutural, a criação
ças não acompanhadas e separadas fora de uma perspetiva baseada nos direitos
do seu país de origem” (2005), os “direi- da criança, em todos os níveis legislati-
tos das crianças com deficiência” (2006), vos e de governo, ainda constitui um de-
“crianças indígenas e os seus direitos nos safio significativo. A avaliação regular do
termos da Convenção” (2009), o “direito a impacto das normas sobre as crianças,
ser ouvido” (2009) e o “direito da criança um orçamento que tem em consideração
à liberdade de não ser sujeito a qualquer as crianças, a participação das crianças
forma de violência” (2011). em estratégias de redução da pobreza e a
Cada vez mais, contudo, o aumento do criação/fortalecimento de provedores das
número de normas, instrumentos e insti- crianças ainda são mais a exceção do que
tuições, implica novos desafios quanto à a regra. Ademais, a sensibilização para
sua monitorização, requerendo uma co- os direitos da criança continua a ser um
ordenação mais próxima entre todos os movimento largamente conduzido por
agentes envolvidos, tanto a nível interna- adultos, portanto, têm de ser exploradas
cional, como nacional. Quanto a este últi- novas formas de apoio a iniciativas lide-
mo, é importante recordar o Documento radas por crianças/jovens. Vários Estados
Final da Sessão Especial de 2002, “Um começaram a debater, ou já integraram,
Mundo para as Crianças” (A World Fit os princípios da Convenção nas Consti-
for Children) que estabeleceu uma agenda tuições nacionais, fortalecendo, assim, os
com uma série de objetivos e de metas ba- direitos da criança nas leis e procedimen-
seados em quatro prioridades: a promoção tos internos.
de vidas saudáveis, a disponibilização de Por fim, qualquer esforço de promoção
educação para todos, a proteção das crian- deverá ter por base informação efetiva e
ças contra abuso, exploração e violência, e de confiança, estratégias educativas e de
o combate ao VIH/SIDA. Os chefes de Es- formação, com a possibilidade de a edu-
tado comprometeram-se a criar um “Mun- cação sobre os direitos da criança e sobre
do para Crianças” e a cumprir com estes os direitos humanos abranger crianças,
compromissos até ao fim de 2010. A última jovens e adultos. Tal como o Comité da
vez que a UNICEF elaborou um relatório CDC declarou no seu primeiro Comentá-
sobre o progresso na implementação des- rio Geral sobre os Objetivos da Educação,
tes compromissos foi em 2007 com o seu em 2001: “uma educação cujo conteúdo se
relatório “Progresso para as Crianças: Re- baseie firmemente nos valores do artº 29,
visão Estatística relativa a um Mundo para nº1, é, para todas as crianças, uma fer-
as Crianças”, que se encontra estruturado ramenta indispensável nos seus esforços
de acordo com os Objetivos de Desenvol- para, no decurso da sua vida, alcançar
vimento do Milénio que são atualmente o uma resposta equilibrada e consentânea
foco dos esforços mundiais ao nível do de- com os direitos humanos, aos desafios que
senvolvimento. Muitas das metas de “Um acompanham um período de mudanças
Mundo para as Crianças” são pedras basi- radicais proporcionadas pela globaliza-
lares no sentido dos ODM de 2015 e, con- ção, novas tecnologias e fenómenos rela-
sequentemente, os Estados concentrarão cionados”.
os seus esforços principalmente nos seus
compromissos relativos aos ODM. Direito à Educação
316 II. MÓDULOS SOBRE QUESTÕES SELECIONADAS DE DIREITOS HUMANOS

CONVÉM SABER
CDC, relatórios sobre o progresso quanto
1. BOAS PRÁTICAS à implementação da CDC. De modo a faci-
litar uma revisão abrangente destes relató-
Os exemplos seguintes de iniciativas e rios estatais, o Comité congratula-se com o
projetos fortaleceram com sucesso a im- envio de “relatórios-sombra”/ “relatórios
plementação da CDC: alternativos”, preparados por ONG ou re-
des de ONG (“coligações nacionais”) com
“Juntando Pessoas” a sua própria avaliação sobre a situação
Um projeto de patrocínio a jovens refugia- das crianças e adolescentes, no país sob
dos, na Áustria, organizado pela Asylko- avaliação. Em cerca de 100 países, já fo-
ordination Österreich (uma ONG austríaca ram criadas tais coligações de direitos das
que coordena organizações de refugiados crianças, que promovem e monitorizam a
e migrantes), com o apoio do Comité Aus- implementação da CDC. Mais, um grupo
tríaco da UNICEF. internacional para a CDC, em Genebra,
A ideia básica deste projeto é juntar jo- fornece apoio a ONG e coligações no pro-
vens refugiados não acompanhados, com cesso de elaboração do relatório e moni-
adultos que vivem na Áustria e que estão torização.
dispostos a partilhar algum tempo com
eles e a fornecer-lhes algum apoio prático, Grupo de ONG para a Convenção sobre
por ex., na educação, cursos de línguas, os Direitos da Criança
emprego, encontros com as autoridades, O Grupo de ONG para a Convenção so-
atividades desportivas, etc. É estabelecida bre os Direitos da Criança é uma rede de
uma relação de confiança entre a criança 79 ONG internacionais e nacionais que
e o seu “patrocinador”, o que ajuda o re- trabalham conjuntamente no sentido de
fugiado a estabilizar no seu ambiente e a facilitar a implementação da Convenção.
beneficiar o “patrocinador” com uma ex- As principais tarefas do Grupo são defen-
periência pessoal enriquecedora. Todos der e sensibilizar a opinião pública sobre
os “patrocinadores” são cuidadosamente a importância da CDC, promover e facilitar
selecionados e são sujeitos a uma pré- a implementação da Convenção através de
formação em assuntos jurídicos, questões programas específicos e ações, promover a
psicossociais, a trabalhar com as autorida- participação ativa das crianças em todos os
des, etc. Desde o seu início, em 2001, o aspetos da implementação e monitorização
projeto recebeu comentários positivos dos da Convenção e servir como um meio de
seus participantes e do público, autorida- contato entre a sociedade civil e o Comité
des e meios de informação. dos Direitos da Criança. Como parte do seu
trabalho, o Grupo de ONG publicou linhas
“Relatórios Sombra” Não Governamen- diretrizes para as ONG sobre a preparação
tais e “Coligações Nacionais” para a Im- de relatórios alternativos ao Comité da CDC
plementação Nacional da CDC e encoraja a criação e o desenvolvimento
Os Estados Partes da CDC são obrigados de coligações nacionais de ONG que traba-
a submeter regularmente, ao Comité da lhem com os direitos das crianças.
I. DIREITOS HUMANOS DA CRIANÇA 317

Acabar com a Violência nas Escolas e contribuirá para a implementação dos


O guia da UNESCO “Acabar com a Violên- direitos das crianças.
cia nas Escolas: Um Guia para Professo- Em 2009, por ocasião do 20º aniversário
res” analisa diversas formas de violência da adoção da CDC, o Comité da CDC jun-
que ocorrem nas escolas e oferece suges- tamente com o Alto Comissariado para os
tões práticas sobre o que podem fazer os Direitos Humanos e outros parceiros orga-
professores para as evitar. São propostas nizaram uma celebração de dois dias, que
dez áreas de ação e cada uma contém destacava os três principais desafios que
exemplos específicos que os professores enfrenta a Convenção: 1. assegurar a dig-
podem adotar para fazer face e prevenir nidade da criança, 2. assegurar possibili-
a violência. São anexados ao documento dades completas para o desenvolvimento
exertos de instrumentos normativos inter- da criança, e 3. facilitar o diálogo entre
nacionais relevantes, bem como uma lista os adultos e as crianças, de acordo com
de links para recursos online para o com- a abordagem participatória da Convenção.
bate à violência nas escolas. O guia é uma O encontro centrou-se na identificação
contribuição para apoiar o projeto Educa- dos resultados alcançados relativamente
ção para Todos e a Década Internacional à implementação e exemplos de melhores
da ONU para a Cultura de Paz e Não Vio- práticas, desafios futuros e restrições, bem
lência para as Crianças no Mundo (2001- como na formulação de recomendações
2010). prioritárias para melhorar a implementa-
(Fonte: UNESCO (ed.). 2009. Stopping ção.
Violence in Schools: A Guide for Teachers). Em 2010, por ocasião do 10º aniversário
da adoção do Protocolo Facultativo relati-
2. TENDÊNCIAS vo à Participação de Crianças em Conflitos
Armados, o Representante Especial do Se-
A CDC, enquanto enquadramento para a cretário-Geral para as Crianças em Confli-
proteção dos direitos da criança, não é um tos Armados, bem como o Representante
documento “estático”, mas, outrossim, Especial sobre Violência contra as Crian-
sob um desenvolvimento contínuo. Este ças, a UNICEF e o Alto Comissariado para
processo é fortalecido, por exemplo, pelo os Direitos Humanos lançaram uma cam-
Comité dos Direitos da Criança, através da panha de dois anos “Zero-Antes-dos-18”
interpretação da CDC ou pela adoção de para se alcançar uma ratificação universal
novos padrões para a CDC, tais como, os do Protocolo Facultativo em 2012, encora-
Protocolos Facultativos (2000) relativos à jar todos os Estados a aumentar a idade de
Participação da Criança em Conflitos Ar- recrutamento voluntário para um mínimo
mados e à Venda de Crianças, Prostituição de 18 anos e promover a adoção e a im-
Infantil e Pornografia Infantil (ambos en- plementação efetiva da legislação nacional
traram em vigor em 2002). A institucio- relevante.
nalização de um procedimento de comu- Algumas tendências e debates recentes, na
nicações pelo novo Protocolo Facultativo área dos direitos da criança, incluem:
que estabelece a competência do Comité • Aspetos estruturais: apoio a iniciati-
da CDC para receber e considerar comuni- vas e organizações lideradas por crian-
cações individuais reforçará o mecanismo ças/jovens; estabelecimento de gabi-
de monitorização previsto pela Convenção netes de provedores da criança e da
318 II. MÓDULOS SOBRE QUESTÕES SELECIONADAS DE DIREITOS HUMANOS

juventude; monitorização dos direitos culo e do desporto, da publicidade e dos


da criança. meios de informação na cultura juvenil.
• Participação infantil e juvenil (local, • Impacto do VIH/SIDA nas crianças:
nacional e internacionalmente): partici- discriminação, perda dos pais, etc.
pação política/direito de voto. • Crianças em conflitos armados e
• Ambiente da criança e familiar: a sepa- crianças em situação de emergência
ração dos pais, famílias pluriparentais, fa- (desastres naturais): educação em si-
mílias monoparentais, crianças sem cui- tuações de emergência; reabilitação
dado parental e mecanismos alternativos. das crianças-soldado; participação das
• Direitos da criança-menina: modelos crianças na reconstrução pós-conflito;
sociais; estereótipos dos meios de infor- responsabilidades de agentes não es-
mação; contexto religioso/cultural; saú- tatais/companhias privadas; papel do
de reprodutiva. Conselho de Segurança; papel do TPI;
• Aspetos geracionais: não discrimina- formação em direitos da criança e códi-
ção das crianças relativamente a adultos gos de conduta para agentes que atuam
(“discriminação em razão da idade”); em missões de paz/no terreno.
alterações demográficas; distribuição
da riqueza; acesso a recursos; influên-
cia política; proteção dos interesses das Factos e Números – Informação Esta-
crianças e dos jovens. tística sobre os Direitos da Criança:
• Direito à informação: acesso à internet; • Registo de nascimento: só metade
proteção de dados; conteúdo violento, das crianças com menos de 5 anos de
nos meios de informação (imprensa es- idade, no mundo em vias de desenvol-
crita, televisão, jogos de computador, vimento, tem o seu nascimento regis-
etc); pornografia infantil na internet. tado. O registo de nascimento é uma
• Violência contra as crianças e explora- estratégia crucial para a criação de
ção sexual das crianças: proibição glo- um ambiente protetor para as crian-
bal dos castigos corporais; eliminação ças e para a defesa dos seus direitos
de todas as formas de violência contra e é considerado um direito humano,
as crianças; apoio psicossocial e forma- nos termos do artigo 7º da Convenção
ção parental; violência entre crianças/ sobre os Direitos da Criança.
violência entre pares.
• Mortalidade infantil antes dos cinco
• Educação inclusiva e formação profis-
anos: a probabilidade de as crianças
sional para a criança com deficiência.
nos países em vias de desenvolvimento
• Crianças e a economia: consideração de
morrerem é quase 10 vezes superior à
questões relacionadas com os direitos da
probabilidade referente aos recém-nas-
criança no contexto de programas contra
cidos nos países industrializados. Se-
a pobreza; previsão de serviços sociais;
gundo a UNICEF, mais de 24.000 crian-
trabalho infantil/eliminação das suas
ças com idade inferior a 5 anos – cerca
piores formas; efeitos da globalização
de uma a cada três segundos – morre
económica e da liberalização dos servi-
todos os dias, principalmente devido a
ços públicos (saúde, educação - Acor-
causas evitáveis. A maioria das mortes
do Geral sobre Comércio de Serviços,
de crianças é atribuível a seis causas:
GATS); impacto da indústria do espetá-
I. DIREITOS HUMANOS DA CRIANÇA 319

diarreia, malária, infeções neonatais, os 15 e os 24 anos viviam com VIH.


pneumonia, partos prematuros ou falta A UNAIDS estima que todos os dias
de oxigénio à nascença; de entre estas, 1.200 crianças por todo o mundo fi-
a pneumonia e a diarreia são responsá- cam infetadas com o VIH. A grande
veis pelo maior número de mortes. maioria destas crianças corresponde
a recém-nascidos infetados através da
• Mães que morrem durante o parto:
transmissão mãe-filho. Cerca de 90%
todos os anos, mais de meio milhão
de todas as crianças com o VIH vivem
de mulheres – aproximadamente uma
na África Subsaariana. O número es-
mulher a cada minuto – morre como
timado de crianças que perdeu um ou
resultado de complicações relacio-
ambos os pais devido à SIDA, na Áfri-
nadas com a gravidez e parto. Cerca
ca Subsaariana, em 2007, atingiu os
de 90% de todas as mortes maternas
14.1 milhões. Globalmente, o número
ocorre em países em vias de desen-
estimado é de 17.5 milhões.
volvimento. Uma em cada 16 mulhe-
res da África Subsaariana morre em • Alimentação: estima-se que haja 127
consequência da gravidez ou parto, milhões de crianças com peso a me-
comparado com uma em cada 4000 nos no mundo em vias de desenvol-
nos países industrializados. Os re- vimento, o que corresponde a 22%
cém-nascidos órfãos de mãe têm cer- das crianças nos países em vias de
ca de 3 a 10 vezes mais probabilidade desenvolvimento; 9% das crianças
de morrer do que os recém-nascidos no mundo em vias de desenvolvi-
cujas mães sobrevivem. O acesso a mento está em estado grave de falta
serviços de cuidados de saúde bási- de peso.
cos, incluindo auxiliares competentes
em todos os nascimentos e cuidados • Pobreza: 1.7 biliões da população
de emergência para as mulheres que combinada de 5.5 biliões de 109 paí-
desenvolvem complicações, poderia ses, analisados pelo PNUD, em 2010,
salvar a vida de muitas mães. vivem numa situação de pobreza mul-
tidimensional. Este tipo de pobreza é
• Gravidez na adolescência: 14 mi-
avaliado através do Índice de Pobre-
lhões de crianças em todo o mundo,
za Multidimensional do PNUD (MPi)
anualmente, nascem de mães com
que examina fatores como o acesso a
idade inferior a 19 anos. As compli-
água potável ou a serviços de saúde, o
cações durante a gravidez e parto são
que proporciona um melhor entendi-
as principais causas de morte para
mento sobre a pobreza do que quan-
as meninas com idades compreen-
do se considera apenas o rendimento.
didas entre os 15 e 19 anos, nos pa-
O número de 1.7 biliões a viver em
íses em vias de desenvolvimento.
situação de pobreza multidimensional
• VIH/SIDA: em 2009, estima-se que deve ser comparado com o número
2.5 milhões de crianças com idade estimado de pessoas que vive com
inferior a 15 anos e 5 milhões de jo- $1.25 por dia, que corresponde a 1.3
vens com idades compreendidas entre biliões de pessoas.
320 II. MÓDULOS SOBRE QUESTÕES SELECIONADAS DE DIREITOS HUMANOS

• Trabalho infantil: estima-se que 150 órfã ou foi separada das suas famílias.
milhões de crianças com idades com- Estima-se que 300.000 estejam direta-
preendidas entre os 5 e 14 anos es- mente envolvidas em conflitos como
tão envolvidas em trabalho infantil. crianças-soldado.
Milhões de crianças trabalham em
• Crianças refugiadas e deslocadas:
condições perigosas (por exemplo,
em todo o mundo há 27.1 milhões
em minas, com químicos e pesticidas
de pessoas que foram deslocadas in-
na agricultura ou com maquinaria pe-
ternamente por conflitos armados.
rigosa). A Organização Internacional
Destas, pelo menos 13.5 milhões são
do Trabalho (OIT) estima que mais de
crianças.
dois terços de todo o trabalho infantil
se encontre no setor da agricultura. • Crianças com deficiência: cerca de
Descobriu que as crianças em áreas 650 milhões de pessoas em todo o
rurais – meninas, especialmente – co- mundo vivem com uma deficiência.
meçam a trabalhar na agricultura logo De acordo com a Organização Mun-
aos 5-7 anos de idade. dial da Saúde (OMS), cerca de 10%
das crianças e jovens de todo o mun-
• Crianças de rua: estima-se que haja
do (cerca de 200 milhões) tem defi-
100 a 150 milhões de crianças de rua
ciências ao nível sensorial, intelectual
no mundo; este número está a au-
ou mental, sendo que 80% dos mes-
mentar.
mos vive em países em vias de desen-
• Educação: o número de crianças em volvimento. 20% das pessoas mais
idade escolar (escola primária) que pobres do mundo e 30% dos jovens
não frequenta a escola diminuiu de de rua tem uma deficiência; 90% das
115 milhões, em 2002, para 101 mi- crianças com deficiência nos países
lhões, em 2007. Em 2010, 68 milhões em vias de desenvolvimento não fre-
de crianças em idade escolar (escola quenta a escola.
primária) não frequentou a escola,
53% das quais eram meninas. • Violência: é impossível medir a ver-
dadeira magnitude da violência contra
• Serviços sociais e prioridades políti- as crianças, uma vez que uma grande
cas: em média, os países em vias de parte dos casos ocorre em segredo. No
desenvolvimento gastam mais em de- entanto, a UNICEF estima que entre
fesa do que na educação básica ou em 500 milhões e 1.5 biliões de crianças
cuidados de saúde básicos; os países experienciem violência anualmente e
industrializados gastam cerca de 10 que 2 em cada 3 crianças sejam subme-
vezes mais em defesa do que em ajuda tidas a punições físicas. A maioria da
internacional para o desenvolvimento. violência contra crianças é perpetrada
• Conflito armado: durante a última por pessoas que as crianças conhecem
década, mais de 2 milhões de crian- e em quem deveriam poder confiar,
ças morreram durante um conflito ar- como membros da família, pessoas
mado, 6 milhões foram severamente que cuidam das mesmas, professo-
feridas ou permanentemente incapa- res, etc. Os grupos de crianças par-
citadas. 1 milhão de crianças ficou ticularmente vulneráveis à violên-
I. DIREITOS HUMANOS DA CRIANÇA 321

cia incluem crianças com deficiência, Childinfo – Monitoring the Situation


crianças pertencentes a grupos mino- of Children and Women, http://www.
ritários, crianças que vivem nas ruas, childinfo.org; Programa da ONU para
crianças em conflito com a lei, crian- o Desenvolvimento (PNUD), www.
ças refugiadas, crianças deslocadas e undp.org; Representante Especial do
migrantes. Tendencialmente, os meni- Secretário-Geral para as Crianças e
nos estão expostos a um maior risco Conflitos Armados, www.un.org/chil-
de violência física e as meninas a um dren/conflict.)
maior risco de negligência e violência
e exploração sexuais. A UNICEF esti-
3. CRONOLOGIA
ma que 70 milhões de meninas e de
mulheres com idades compreendidas 1924 Declaração dos Direitos da Crian-
entre os 15 e 49, em 28 países em Áfri- ça (Eglantyne Jebb/ Sociedade das
ca, juntamente com o Iémen, tenham Nações)
sido vítimas de mutilação/corte geni-
tal feminino (M/CGF). A prevalência 1959 Declaração das Nações Unidas dos
da M/CGF tem diminuído lenta mas Direitos da Criança
constantemente durante as últimas 1989 Convenção das Nações Unidas
décadas. sobre os Direitos da Criança (ado-
• Tráfico de crianças: devido à nature- ção: 20 de novembro de 1989; en-
za clandestina do crime, o número es- trada em vigor: 2 de setembro de
timado de vítimas de tráfico de crian- 1990; ratificações em janeiro de
ças varia. A exploração sexual é de 2012: 193)
longe a forma de tráfico humano mais 1990 A Comissão de Direitos Humanos
comummente identificada (79%), se- da ONU nomeia um Relator Especial
guida pelo trabalho forçado (18%). sobre a Venda de Crianças, Prostitui-
O tráfico de seres humanos é um dos ção Infantil e Pornografia Infantil
crimes transnacionais com um cresci- 1990 Cimeira Mundial sobre a Criança,
mento mais rápido – estima-se que os em Nova Iorque (29-30 de setem-
criminosos que exploram vítimas de bro); adoção de uma Declaração
tráfico para exploração sexual e eco- Mundial e Plano de Ação sobre a
nómica tenham um lucro de $32 bili- Sobrevivência, a Proteção e o De-
ões por ano. senvolvimento das Crianças
• Suicídio: o suicídio é uma das três 1990 Carta Africana sobre os Direitos
principais causas de mortalidade entre e o Bem-Estar da Criança (entra-
as pessoas com idades compreendidas da em vigor: 29 de novembro de
entre os 15 e 35 anos. Globalmente, 1999)
estima-se que 71.000 adolescentes co-
1993 Conferência Mundial de Viena so-
metam suicídio anualmente e até 40
bre Direitos Humanos, ênfase con-
vezes este número tentam o suicídio.
siderável nos direitos das crianças
(Fontes: Fundo da ONU para as Crian- na sua Declaração e Programa de
ças (UNICEF), www.unicef.org; UNICEF Ação
322 II. MÓDULOS SOBRE QUESTÕES SELECIONADAS DE DIREITOS HUMANOS

1996 Graça Machel, perita independen- trada em vigor: 18 de janeiro de


te nomeada pelo Secretário-Geral 2002; ratificações em janeiro de
da ONU, apresenta o seu estudo, 2012: 152)
de grande impacto, sobre “Reper- 2002 Fórum sobre a Criança (5-7 maio)
cussões dos Conflitos Armados e Sessão Especial da Assem-
nas Crianças”, à Assembleia-Geral bleia-Geral da ONU sobre a Crian-
da ONU, o que leva à criação do ça, em Nova Iorque (8-10 maio);
mandato do Representante Espe- Documento, Declaração e Plano
cial do Secretário-Geral para as de Ação resultantes do Fórum so-
Crianças e Conflitos Armados bre a Criança (“Um Mundo para
1996 Congresso Mundial contra a Ex- as Crianças”) foram adotados
ploração Sexual Comercial de 2005 Adoção da Resolução 1612 do
Crianças, em Estocolmo (2001: Conselho de Segurança da ONU,
avaliação Yokohama) que cria um mecanismo de mo-
1998 Seis ONG internacionais formam a nitorização e de apresentação de
Coligação para Acabar com a Utili- relatórios sobre crianças em con-
zação de Crianças-Soldado com o flitos armados
intuito de fazer pressão no sentido 2006 Adoção da Convenção das Na-
da abolição do uso de crianças em ções Unidas sobre os Direitos das
guerras e conflitos armados Pessoas com Deficiência; Artº 7º:
1999 A Rede de Segurança Humana de- Crianças com Deficiência (entrada
senvolve-se a partir de um grupo em vigor: 3 de maio de 2008; rati-
de Estados que partilham posições ficações em janeiro de 2012: 109)
semelhantes, dando particular 2007 Adoção da Convenção do Conse-
atenção à situação das crianças lho da Europa para a Proteção das
afetadas pelos conflitos armados Crianças contra a Exploração Se-
1999 Convenção nº 182 relativa às Pio- xual e os Abusos Sexuais (entrada
res Formas de Trabalho Infantil em vigor: 1 de julho de 2010; rati-
adotada pela Organização Inter- ficações em janeiro de 2012: 17)
nacional do Trabalho (entrada em 2010 Lançamento da Campanha das Na-
vigor: 19 de novembro de 2000; ra- ções Unidas “Zero-Antes-dos-18”
tificações em janeiro de 2012: 174) no sentido de se alcançar a rati-
2000 Adoção de dois Protocolos Facul- ficação universal do Protocolo
tativos à Convenção sobre os Di- Facultativo à Convenção sobre os
reitos da Criança: relativo à Parti- Direitos da Criança relativo à Par-
cipação de Crianças em Conflitos ticipação de Crianças em Conflitos
Armados (entrada em vigor: 12 de Armados
fevereiro de 2002; ratificações em 2011 Adoção do Protocolo Facultativo
janeiro de 2012: 143) e relativo à à Convenção sobre os Direitos da
Venda de Crianças, Prostituição Criança relativo a um Procedimen-
Infantil e Pornografia Infantil (en- to de Comunicação
I. DIREITOS HUMANOS DA CRIANÇA 323

ATIVIDADES SELECIONADAS
ATIVIDADE I: rem, identificar o quadro com “NECESSI-
DIREITOS E NECESSIDADES DADES”.
DAS CRIANÇAS De seguida, debater as seguintes pergun-
tas relativamente ao seu país ou região:
Parte I: Introdução - Que necessidades básicas foram escolhi-
Quando se fala em direitos humanos, de- das? Os participantes pensaram em obje-
ver-se-ia distinguir claramente direitos de tos materiais, emoções, relações ou em
necessidades. algo que os outros deviam fazer ou não?
- Quem é responsável pela satisfação des-
Parte II: Informação Geral tas necessidades?
Tipo de atividade: Descrição e discussão - Que necessidades podemos nós próprios
dos direitos e das necessidades das crianças satisfazer? E para que necessidades de-
Metas e objetivos: Compreender os direi- pendemos de outras pessoas?
tos da criança e perceber que os princípios - Todos nós temos estas necessidades sa-
dos direitos humanos se aplicam os todas tisfeitas?
as pessoas. - Alguém conhece alguma criança pessoal-
Grupo-alvo: Crianças e jovens mente cujas necessidades não são “total-
Dimensão do grupo: 10-20 participantes mente” satisfeitas?
Duração: 1-2 horas - Alguém conhece grupos que não tenham
Preparação: disposição da sala, cópias da acesso (suficiente) a uma ou mais destas
CDC (texto abreviado) necessidades?
Material: papel ou cartão; fita adesiva ou - Quem é responsável pela mudança?
pins; parede ou quadro para pins. Num terceiro passo, olhar para o mundo:
Competências envolvidas: competências que necessidades apontadas são básicas
analíticas e criativas para as crianças em todo o mundo? Re-
mover os cartões que os participantes não
Parte III: Informação Específica sobre a considerem como universais. Acrescentar
Atividade itens que não foram referidos anteriormen-
Os participantes trabalham em pares ou te. Os resultados devem ilustrar, primeira-
grupos pequenos. Cada par ou grupo cria mente, a compreensão dos participantes.
10 cartões que ilustrem coisas de que as Não é necessário, nesta fase, referir-se a
crianças necessitem. Aconselhar os partici- padrões reconhecidos internacionalmente.
pantes a pensar em objetos materiais (por Análise de direitos relacionados:
exemplo: água, comida, roupa), ideias abs- Passar de necessidades a direitos junta-
tratas (ex: amor, paz) e pessoas (ex: pais, mente com os participantes. Explicar bre-
amigos). Cada par/grupo coloca os cartões vemente o sistema de direitos humanos da
na parede ou no quadro e explica por que é ONU e depois distribuir os artigos da CDC
que as coisas descritas são importantes. Os (texto abreviado, cada artigo numa folha
grupos revesam-se e vão colocando novos ou pedaço de papel). Pedir aos participan-
cartões. Quando todos os grupos acaba- tes que completem o quadro, adicionando
324 II. MÓDULOS SOBRE QUESTÕES SELECIONADAS DE DIREITOS HUMANOS

os direitos às necessidades que referiram. estratégias e alternativas possíveis; a dra-


Muito provavelmente haverá necessidades matização deve ser precedida de uma dis-
e direitos sem correspondência. Discutir as cussão sobre assuntos relacionados com o
correspondências e as diferenças com os trabalho infantil para familiarizar os parti-
participantes e pedir exemplos de locais e pantes com a situação.
situações em que os direitos da criança são Grupo-alvo: Jovens adultos e adultos
violados. Informar os participantes como e Dimensão do grupo: 15-20 participantes
por quais mecanismos/instituições/organi- Duração: até 2 horas, dependendo do pla-
zações são protegidos os direitos da criança no de ação
no seu país ou região. Preparação: Arranjo da sala, cartões com os
Outras Sugestões: nomes e papéis dos participantes, recortes
Os cartões podem ser desenhados, pinta- de jornais ou notícias recentes que possam
dos, feitos utilizando recortes de revistas ser utilizados como informação para os vá-
ou mais simplesmente, escrevendo. rios papéis e posições, relatórios da UNICEF,
OIT ou ONG sobre trabalho infantil, etc.
Parte IV: Acompanhamento Material: papel, quadro, etc., para docu-
Direitos relacionados/outras áreas a mentação.
explorar: possíveis ações para proteger Competências envolvidas: comunicação e
crianças e prevenir violações dos direitos análise
da criança.
(Fonte: Gerald Kador Folkvord. 2004. Ideen Parte III: Informação Específica sobre a
für den Unterricht. Em: Teaching Human Atividade
Rights 18/2004.) Apresentação do caso:
Informar que o problema do trabalho in-
ATIVIDADE II: fantil no país X tem sido muito criticado
MESA REDONDA DE AÇÃO pelas organizações locais de direitos da
PARA REDUZIR O TRABALHO INFANTIL criança e pela OIT, internacionalmente.
O governo decidiu organizar uma mesa
Parte I: Introdução redonda para discutir medidas contra o
Em muitas partes do mundo, as crianças trabalho infantil; os participantes repre-
têm de trabalhar para sobreviver ou para sentam os vários atores envolvidos (gru-
contribuir para o orçamento familiar. pos possíveis), principalmente (nem todos
Qualquer ação para banir o trabalho infan- têm de estar incluídos) crianças trabalha-
til pode ter efeitos positivos e efeitos in- doras, crianças que frequentam a escola,
desejáveis por causa da complexidade das pais, professores, organizações patronais,
dependências sociais e económicas. sindicatos, funcionários públicos, ONG de
direitos da criança (UNICEF/OIT).
Parte II: Informação Geral O principal objetivo do debate seria uma
Tipo de atividade: Dramatização sobre estratégia básica para um processo de
trabalho infantil acompanhamento (alternativamente: a
Metas e objetivos: Contribuir para a com- elaboração de um plano de ação).
preensão dos vários interesses e motivos Desempenho da dramatização:
envolvidos no trabalho infantil e as suas Escolher os participantes para a mesa
consequências para o desenvolvimento de redonda. Dar-lhes até 20 minutos para
I. DIREITOS HUMANOS DA CRIANÇA 325

definir uma posição/estratégia para o de- Parte IV: Acompanhamento


bate (alternativamente: dar-lhes de forma Direitos relacionados/outras áreas a ex-
antecipada material de leitura); o repre- plorar: Artº 3º (Interesse superior da
sentante da UNICEF/OIT/ONG pode ser criança), Artº 6º (Sobrevivência e desen-
o presidente da mesa e apresentar os par- volvimento), Artº 32º (Exploração econó-
ticipantes e as suas “funções”. O debate mica), Artº 24º (Saúde), Artos 26º e 27º
pode iniciar-se com uma breve alusão à (Segurança social, nível adequado de
situação atual das crianças, por exemplo, vida), Artos 28º e 29º (Educação), Artº 31º
“as crianças que trabalham em fábricas (Lazer) da CDC; Convenção da OIT rela-
de vestuário” ou pais preocupados quei- tiva às Piores Formas de Trabalho Infan-
xando-se do tratamento das crianças. Os til. Discutir o trabalho da OIT (a iniciativa
participantes devem apresentar as suas PIETI). Atenção às crianças que trabalham
posições num debate dirigido. Em resul- em vez de ou em acumulação com a esco-
tado, deve ser elaborada uma estratégia la na sua comunidade local.
ou um plano de ação, desenvolvido em Outros tópicos sugeridos para mesas re-
grupos separados. dondas: proibição de castigos corporais
Reações, Sugestões metodológicas: Per- em casa e na escola; responsabilidade das
guntar aos participantes quais os seus sen- crianças-soldado pelos crimes cometidos e
timentos, pensamentos e reações durante a formas de reabilitação; tráfico e prostitui-
peça; refletir particularmente sobre o papel ção infantil.
que as “crianças” tiveram no debate.

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J. DIREITOS HUMANOS
EM CONFLITO ARMADO

DIREITO INTERNACIONAL HUMANITÁRIO:


ATÉ AS GUERRAS TÊM LIMITES

“[…]são e manter-se-ão proibidas, em qualquer ocasião e lugar […]


As ofensas contra a vida e a integridade física, especialmente o homicídio sob todas as
formas, mutilações, tratamentos cruéis, torturas e suplícios;
A tomada de reféns;
As ofensas à dignidade das pessoas, especialmente os tratamentos humilhantes e degra-
dantes;
As condenações proferidas e as execuções efetuadas sem prévio julgamento, realizado por
um tribunal regularmente constituído, que ofereça todas as garantias judiciais reconheci-
das como indispensáveis pelos povos civilizados.
Os feridos e doentes serão recolhidos e tratados.”
Artigo 3º, nos1 e 2, comum às quatro Convenções de Genebra. 1949
330 II. MÓDULOS SOBRE QUESTÕES SELECIONADAS DE DIREITOS HUMANOS

HISTÓRIA ILUSTRATIVA
Outrora um Rei Guerreiro: Memórias de Veio-me à memória o treino, a programação
um Militar no Vietname para matar, e comecei a matar.
Varnado Simpson, veterano americano da
Eu tinha 19 anos quando fui para o Vie- guerra do Vietname, relatando eventos
tname. Era atirador especial de 4ª cate- que ocorreram em 1968.
goria. Fui treinado para matar, mas a (Fonte: adaptado de: Donovan, David.
realidade de matar alguém é diferente de 2001. Once a warrior king: memories of an
treinar e puxar o gatilho. Não sabia que ia Officer in Viet Nam.)
fazer isso. Eu sabia que as mulheres e as
crianças estavam lá, mas para mim, dizer Questões para debate
que as ia matar, não sabia que o ia fazer 1. Por que é que este soldado decidiu dis-
até o ter feito. Eu não sabia que ia matar parar, apesar de saber que mulheres e
alguém. Eu não queria matar ninguém. crianças não são alvos legítimos?
Não fui educado para matar. 2. Por que é que as mulheres e as crianças
Ela estava a correr de costas na direção de são pessoas protegidas durante um con-
uma linha de árvores mas carregava algo. Eu flito armado?
não sabia se seria uma arma ou outra coisa. 3. Acha que a obediência é importante
Eu sabia que era uma mulher e não queria quando se trava uma guerra? Os solda-
disparar sobre uma mulher, mas recebi or- dos devem sempre obedecer às ordens?
dem para disparar. Na altura, pensei que ela 4. Quem acha que determina o que é uma
estava a correr com uma arma e, então, dis- conduta legal e ilegal, numa guerra?
parei. Quando a virei, era um bebé. Disparei 5. Quão importante é para os soldados
sobre ela cerca de 4 vezes, as balas atravessa- aprender o que é ilegal? Qual o propósi-
ram-na e mataram também o bebé. Quando to de ter regras?
a virei, vi que metade do rosto do bebé tinha 6. Como é que se pode evitar tragédias
desaparecido. Nesse momento, apaguei-me. como a descrita supra?

A SABER
do indivíduo. Os direitos humanos nunca
1. ATÉ AS GUERRAS TÊM LIMITES cessam de ser relevantes mas o surto de
violência sistemática e organizada, que
Poucas são as situações que ameaçam são as verdadeiras caraterísticas de um
tão drasticamente a segurança humana, conflito armado, constitui uma afronta
como a guerra. Nas circunstâncias extre- precisamente aos princípios constituti-
mas de conflito armado, os governos dão vos daqueles direitos. Como tal, as situa-
por si a ter de tomar decisões difíceis, ções de conflito armado requerem um
entre as necessidades da sociedade e as conjunto complementar, mas separado,
J. DIREITOS HUMANOS EM CONFLITO ARMADO 331

de normas com base numa ideia muito mais, limitar o sofrimento que a guerra
simples, a de que até as guerras têm pode causar. No esforço de preservação
limites. Estas regras são comummente da dignidade humana, poder-se-á dizer
designadas por Direito Internacional que o DIH contribui para uma paz even-
Humanitário (DIH) ou Direito dos Con- tual através do aumento das possibilida-
flitos Armados. O DIH pode ser sinte- des de reconciliação.
tizado como o conjunto de princípios e
regras que estabelecem limites ao uso de
violência durante os conflitos armados, “A guerra deve ser sempre travada com vis-
de modo a: ta à paz.”
• Salvar aquelas pessoas (“civis”) não Hugo de Groot (Grócio).
diretamente envolvidas nas hostilida-
des; As Origens do DIH
• Limitar os efeitos da violência (até para Embora os académicos estejam de acordo,
os “combatentes”) ao nível necessário de um modo geral, que o nascimento do
para os propósitos da guerra. DIH moderno foi em 1864, com a adoção
da Primeira Convenção de Genebra, tam-
DIH e Segurança Humana bém é claro que as regras contidas nessa
Convenção não eram inteiramente novas.
Muitos já questionaram e muitos negam Na verdade, uma grande parte da Primei-
que a lei possa regular o comportamen- ra Convenção de Genebra teve a sua fonte
to na realidade excecional, anárquica e em direito consuetudinário já existente. De
violenta dos conflitos armados. Como se facto, já existiam regras que protegiam de-
pode esperar que, onde a sobrevivência terminadas categorias de vítimas de confli-
do indivíduo ou da sociedade estão em tos armados e costumes relacionados com
jogo, considerações legais restringirão o os meios e métodos de combate, autoriza-
comportamento humano? Embora possa dos e proibidos, durante as hostilidades,
parecer surpreendente à primeira vista, que remontam a 1000 a.C.
existem várias razões preponderantes Até meados do século XIX, os códigos e
para que, tanto agressores, como defen- os costumes que constituíam o DIH eram
sores sigam as regras de conduta estabe- limitados geograficamente e não expres-
lecidas pelo DIH. Enquanto a explosão savam um consenso universal. O ímpeto
da violência nega a própria ideia de se- para o primeiro Tratado de Direito Huma-
gurança, é, todavia, importante perceber nitário resultou, em grande parte, de um
que o DIH contribui para a segurança empresário suíço chamado Henry Dunant.
humana ao defender a ideia de que até Tendo testemunhado a carnificina que
as guerras têm limites. O DIH reconhece ocorreu em Solferino, em 1859, durante a
a realidade dos conflitos armados e res- batalha em que as forças francesas e aus-
ponde a esta, de forma pragmática, com tríacas se debateram, no norte de Itália,
regras práticas e detalhadas dirigidas aos Dunant decidiu escrever um livro no qual
indivíduos. Este ramo de direito não ten-
relatou os horrores da batalha e tentou su-
ta estabelecer se um Estado ou um grupo
gerir e publicitar medidas possíveis para
rebelde têm, ou não, o direito a recorrer
melhorar o destino das vítimas da guerra.
ao conflito armado. Pretende, antes de
A adoção da Convenção de Genebra, de
332 II. MÓDULOS SOBRE QUESTÕES SELECIONADAS DE DIREITOS HUMANOS

1864, para Melhorar a Situação dos Fe- mais abrangente: as regras e os princípios
ridos e Doentes das Forças Armadas em que regulam a coordenação e a coopera-
Campanha resultou num tratado interna- ção entre os membros da comunidade in-
cional, aberto a ratificação universal, pelo ternacional, isto é, o Direito Internacional
qual os Estados concordaram, voluntaria- Público.
mente, limitar o seu próprio poder em prol
do indivíduo. Pela primeira vez, os confli- DIH e Direitos Humanos
tos armados foram regulados por uma lei Pode dizer-se que o DIH protege o “núcleo
escrita e geral. duro” dos direitos humanos em tempo de
conflito armado, uma vez que se esforça
“Quando o sol nasceu a vinte e cinco de por limitar o sofrimento e os danos causa-
junho de 1859, desvendou os mais terríveis dos por este. Aquele núcleo duro inclui o
cenários imagináveis. Corpos de homens e direito à vida, a proibição de escravidão,
cavalos cobriam o campo de batalha: cadá- a proibição de tortura e tratamento desu-
veres estavam espalhados pelas estradas, mano e a proibição de qualquer aplicação
valetas, ravinas, matagais e campos […]. retroativa da lei. Ao contrário de outros di-
Os pobres homens feridos que foram reco- reitos (tais como a liberdade de expressão,
lhidos, durante todo o dia, encontravam-se de circulação e de associação) que podem
extremamente pálidos e exaustos. Alguns, ser circunscritos em tempos de emergên-
os feridos mais graves, tinham um ar estu- cias nacionais, a proteção essencial con-
pidificado como se não percebessem o que cedida pelo DIH nunca pode ser suspensa.
lhes era dito […]. Outros estavam ansiosos Uma vez que o DIH se aplica precisamente
e excitados pela tensão nervosa e abalados às situações excecionais que constituem
por tremores espasmódicos. Alguns, que ti- os conflitos armados, o conteúdo desse
nham feridas abertas já mostrando sinais “núcleo duro” de direitos humanos tende
de infeção, quase endoideciam com a dor. a convergir com as garantias jurídicas fun-
Imploravam para lhes acabarem com o seu damentais fornecidas pelo Direito Huma-
sofrimento e retorciam-se, com as faces dis- nitário. Enquanto o DIH, como lex specia-
torcidas, na sua luta contra a morte.” lis, regula as situações de conflito armado,
Henry Dunant. A Memory of Solferino. e os direitos humanos visam os tempos de
paz, o direito internacional dos direitos
DIH enquanto Direito Internacional humanos continua a ser aplicável durante
As regras e princípios do DIH são dispo- os conflitos armados. O DIH e o direito dos
sições jurídicas universalmente reconhe- direitos humanos complementam-se na
cidas, não sendo apenas preceitos morais proteção da vida e da dignidade daqueles
ou filosóficos ou costumes sociais. O co- que são apanhados em conflitos armados.
rolário da natureza jurídica destas regras
é a existência de um regime detalhado de Infra, surgem algumas das formas, se-
direitos e obrigações impostas às diversas gundo as quais o DIH protege os direitos
partes de um conflito armado. Os indiví- humanos em conflitos armados:
duos que não respeitam as regras do DIH
serão levados à justiça. • a proteção concedida a vítimas de
O DIH tem de ser entendido e analisado guerra tem de ser conferida sem qual-
como uma parte distinta de um quadro quer discriminação;
J. DIREITOS HUMANOS EM CONFLITO ARMADO 333

Os conflitos armados internacionais são


• uma grande parte do direito huma-
aqueles em que dois ou mais Estados
nitário dedica-se à proteção da vida,
entraram em confronto e aqueles em
especialmente, a vida de civis e de
que as pessoas se sublevaram em opo-
pessoas não envolvidas no conflito; o
sição a um poder colonial, a uma ocu-
DIH também restringe a aplicação da
pação estrangeira ou a crimes raciais,
pena de morte;
comummente referidos como guerras de
• o DIH vai para lá do tradicional direi- libertação nacional. Para além do regi-
to civil à vida ao proteger os meios me aplicável do direito dos direitos hu-
necessários para a vida, categoriza- manos, estas situações estão sujeitas a
do como direito ‘económico e social’ um espectro alargado de regras do DIH,
de acordo com o direito dos direitos incluindo as estabelecidas nas quatro
humanos; Convenções de Genebra e respetivo Pro-
• o DIH proíbe, em absoluto, a tortura tocolo I.
e o tratamento desumano;
• o DIH proíbe, especificamente, a es- DIH DH

cravidão: os prisioneiros de guerra


não podem ser considerados como - proibição de tomada
-direito à vida -proibição da escravidão
de reféns
propriedade de quem os capturou; - respeito pelas garantias
- proibição da - proibição da aplicação
retroactiva das dispo-
tortura e trata-
judiciais sições penais
• as garantias judiciais estão codifica-
mentos cruéis,
- cuidar dos doentes - direito ao reconhe-
humilhantes e
e feridos; tratamento cimento como pessoa
degradantes
das nas Convenções de Genebra e res- humano de pessoas não
- proibição da perante a lei
(ou já não) participantes - direito à liberdade de
petivos Protocolos Adicionais; nas hostilidades
discriminação
(com base na consciência e de religião
- regras que regulam a - proibição de prisão por
raça, cor, sexo
• a proteção das crianças e da vida conduta das hostilidaddes
ou religião) falta de cumprimento de
obrigação contratual
familiar é claramente enfatizada no
DIH: os exemplos incluem as regras
sobre as condições de internamento EM TODAS AS CIRCUNSTÂNCIAS...
de crianças e as regras contra a sepa-
ração de elementos da mesma família;
• o respeito pela religião é tido em Um conjunto mais limitado de regras é
consideração nas regras relativas aos aplicável nos conflitos armados internos.
prisioneiros de guerra, bem como nos Estas estão previstas, particularmente, no
rituais fúnebres. artº 3º, comum às quatro Convenções de
Genebra e ao Protocolo Adicional II. O
Quando é que o DIH artº 3º representa o padrão mínimo de hu-
é aplicável? manidade e é, portanto, aplicável em qual-
O DIH aplica-se em situações de conflitos quer situação de conflito armado. Mais,
armados internacionais e em situações um número de regras originariamente
de conflitos armados não internacionais, desenhadas para serem aplicadas em con-
bem como em situações de ocupação. flitos internacionais, também se aplicam
O conceito de “conflito armado”, desde como regras costumeiras durante conflitos
1949, substituiu o conceito tradicional de não internacionais.
“guerra”.
334 II. MÓDULOS SOBRE QUESTÕES SELECIONADAS DE DIREITOS HUMANOS

médico, estabelecimentos, transportes


Distinção e equipamento. Os emblemas da Cruz
“As vítimas dos conflitos atuais não são Vermelha, do Crescente Vermelho e
apenas anónimas mas, literalmente, inu- do Cristal Vermelho são o sinal para
meráveis […]. A terrível verdade é que, tal proteção e devem ser respeitados.
hoje, os civis não são só “apanhados em
4. Os combatentes capturados e os civis
fogo cruzado”. Não são vítimas acidentais
sob a autoridade de uma parte contrária
ou um “dano colateral”, como, de forma
têm direito ao respeito pelas suas vidas,
eufemística, são tratados. Demasiadas ve-
dignidade, direitos e convicções pesso-
zes, eles são um alvo deliberado.”
ais. Devem ser protegidos contra todos
Kofi Annan, Secretário Geral da ONU. 1999.
os atos de violência e de represália. De-
vem ter o direito a se corresponder com
O DIH não se aplica em situações de vio- as suas famílias e a receber ajuda.
lência que, em termos de intensidade,
5. Todos têm o direito a beneficiar das
não chegam a ser consideradas conflitos
garantias judiciais fundamentais. Nin-
armados. Nestes casos, as disposições do
guém deve ser responsabilizado por
direito dos direitos humanos e a legislação
um ato que não tenha cometido. Nin-
nacional relevante regulam o destino dos
guém deve ser sujeito a tortura física
que se envolvem em atos de violência.
ou mental, a castigos corporais ou a
tratamentos cruéis ou degradantes.
2. DEFINIÇÃO E DESENVOLVIMENTO 6. As partes do conflito e os membros
DOS DIREITOS PROTEGIDOS das suas forças armadas não têm uma
possibilidade de escolha ilimitada de
Quais são as Regras Básicas métodos e meios de guerra. É proibi-
do Direito Internacional do utilizar armas ou métodos de guer-
Humanitário nos Conflitos Armados? ra que possam causar perdas desne-
cessárias ou sofrimento excessivo.
1. As pessoas fora do combate e aqueles 7. As partes do conflito devem sempre
que não participam diretamente nas distinguir entre a população civil e os
hostilidades têm o direito ao respeito combatentes, de forma a poupar a po-
pelas suas vidas e pela sua integrida- pulação e a propriedade civis. Nem a
de moral e física. Devem, em todas as população civil, enquanto tal, nem os
circunstâncias, ser protegidos e trata- civis podem ser alvos de ataque. Os
dos humanamente sem qualquer dis- ataques devem ser dirigidos só contra
tinção adversa. alvos militares.
2. É proibido matar ou ferir um inimigo (Nota: Estas regras, delineadas pelo
que se renda ou que se encontre fora CICV, resumem a essência do DIH. Não
do combate. possuem a autoridade de um instrumen-
3. Os feridos e os doentes devem ser to legal e de forma alguma procuram
recolhidos e tratados pela parte do substituir os tratados em vigor. Foram
conflito que os tiver em seu poder. redigidas com o intuito de facilitar a pro-
A proteção também engloba pessoal moção do DIH.)
J. DIREITOS HUMANOS EM CONFLITO ARMADO 335

O Que é Que o DIH Protege ridas impossíveis de tratar. Os princípios


e Como o Faz? de humanidade, necessidade militar e
O DIH protege os indivíduos que não proporcionalidade são essenciais para as-
são, ou já não, participam nos combates, segurar o objetivo de proteger os civis de
tais como os civis, os feridos, os doentes, incidentes ou efeitos colaterais e os com-
os prisioneiros de guerra, os náufragos e batentes de um sofrimento desnecessário.
pessoal do serviço de saúde e religioso. A
proteção é garantida ao obrigar as partes Humanidade
do conflito a assegurar-lhes assistência “Ao preservar uma área de humanidade
material e a tratá-los humanamente, em bem no centro do conflito armado, o direito
qualquer circunstância e sem distinções internacional humanitário deixa aberta a
desfavoráveis. porta para a reconciliação e contribui não
Alguns locais e objetos, tais como hospi- só para restaurar a paz entre os beligeran-
tais e ambulâncias, também são protegidos tes mas também para promover a harmo-
e não podem ser atacados. O DIH define nia entre os povos.”
um número de emblemas e símbolos cla- União Interparlamentar. 1993.
ramente reconhecidos - em particular, os
emblemas da Cruz Vermelha, do Crescen- A necessidade militar refere-se às ações
te Vermelho e do Cristal Vermelho – que que são necessárias para dominar o adver-
podem ser utilizados para identificar pes- sário, sendo que a lei foi redigida conside-
soas e locais protegidos. Os monumentos rando esta referência. Assim, parte do di-
históricos, peças de arte ou locais de cul- reito humanitário acaba por não ser muito
to também são protegidos. O uso de tais ‘humanitário’ aos olhos de um jurista de
objetos no apoio dos esforços de guerra é direitos humanos, mas tem a vantagem de
estritamente proibido. Mais, o ambiente é ser preciso e realista.
igualmente uma preocupação do DIH que
proíbe métodos e meios de guerra que, in- Quem Tem de Respeitar
tencional ou expectavelmente, causem da- o Direito Internacional
nos generalizados, duradouros e graves ao Humanitário?
meio ambiente. Apenas os Estados podem ser partes dos
Tem de ser feita a distinção entre com- tratados internacionais e, consequente-
batentes e civis na conduta das hostili- mente, das Convenções de Genebra de
dades, mas também entre objetos civis e 1949, dos seus dois Protocolos Adicionais
objetivos militares. Isto significa que não de 1977. Porém, todas as partes envolvi-
apenas os civis, enquanto tais, estão pro- das num conflito armado – quer forças
tegidos, mas também os bens necessários armadas estatais ou forças dissidentes –
para a sua sobrevivência ou subsistência estão obrigadas pelo direito internacional
(alimentos, gado, reservas de água potá- humanitário. Atualmente, todos os Esta-
vel, etc.). dos do mundo são partes das 4 Conven-
O DIH protege contra o sofrimento desne- ções de Genebra de 1949, o que demonstra
cessário, ao proibir o uso de armas cujos a sua universalidade. Atualmente, 170 Es-
efeitos seriam excessivos relativamente às tados são partes do Protocolo Adicional I
vantagens militares previstas, tais como, relativo à proteção de vítimas de conflitos
balas explosivas cujo objetivo é causar fe- armados internacionais, ao passo que o
336 II. MÓDULOS SOBRE QUESTÕES SELECIONADAS DE DIREITOS HUMANOS

Protocolo Adicional II relativo à proteção Tal até acontece quando outro Estado está
de vítimas de conflitos não internacionais, indiretamente envolvido nos incidentes.
tem 165 Estados-parte. Aceitar que está a suceder uma situação
de conflito armado significa aceitar que
3. PERSPETIVAS os responsáveis pela execução da violên-
INTERCULTURAIS E cia podem ser dignos de proteção à luz do
QUESTÕES CONTROVERSAS DIH, para além da proteção básica conce-
dida pelo direito dos direitos humanos. De
A Importância da Sensibilização Cul- forma não surpreendente, as autoridades
tural governamentais têm mais tendência para
Os esforços da humanidade no sentido de qualificar estes perpetradores como cri-
limitar a brutalidade da guerra são univer- minosos, bandidos ou terroristas do que
sais. Muitas culturas, ao longo da História, como combatentes evitando, assim, as re-
tentaram restringir o uso da violência de gras do DIH.
modo a reduzir o sofrimento desnecessá- Uma das formas de tornar o DIH aceitável
rio e a limitar a destruição. Ainda que as para os Estados, em tais situações, é ga-
Convenções iniciais de Genebra e de Haia rantir que a aplicabilidade das regras não
não fossem universais na sua conceção, confere nenhuma legitimação aos grupos
uma vez que foram redigidas e adotadas envolvidos nas hostilidades. A abordagem
por juristas e diplomatas pertencentes à realista e pragmática do DIH é utilizada
cultura Cristã Europeia, os princípios que para proteger as vítimas dos conflitos, in-
lhe são subjacentes são universais. Esta di- dependentemente dos lados envolvidos.
mensão universal do DIH não deve ser ja- É importante sublinhar que o DIH é um
mais subestimada ou esquecida: frequen- equilíbrio entre conceitos conflituantes:
temente, o respeito e a implementação das por um lado, a necessidade militar e, por
regras dependerá, de facto, do estabeleci- outro lado, preocupações humanitárias.
mento de uma correspondência clara en-
tre os tratados aplicáveis e as tradições ou
“Sabemos como uma pessoa, independen-
costumes locais.
temente da nacionalidade, pode, facilmen-
te, ser apanhada pela psicologia da bru-
Perspetivas Conflituantes quanto à Apli-
talidade quando esteja envolvida numa
cação do DIH
guerra. Tal brutalidade é, muitas vezes,
Apesar dos princípios do DIH terem obti-
causada pelo ódio de outros, como clara-
do uma aprovação quasi-universal, podem
mente ilustrado pelos atos de racismo. O
ocorrer dificuldades na sua implementa-
problema fundamental que deve ser abor-
ção devido a ideias concorrentes no mo-
dado ao lidar com qualquer crime de guer-
mento em que manifestações de violência
ra, é o profundo medo da morte que expe-
se tornam num conflito armado. A quali-
rimentam os soldados. Para ultrapassar o
ficação de um conflito como armado é de
medo durante a guerra, as pessoas tendem
importância primordial já que é o requisito
a apoiar-se na violência que, por sua vez,
básico para o DIH se aplicar. Quando os
esbate a sua ética e se manifesta como um
Estados se confrontam com atos de vio-
surto de brutalidade.”
lência no seu território, costumam preferir
Yuki Tanaka, académico japonês.
lidar internamente com estas ocorrências.
J. DIREITOS HUMANOS EM CONFLITO ARMADO 337

4. IMPLEMENTAÇÃO humanos, o DIH confere uma contribuição


E MONITORIZAÇÃO única na educação para a cidadania aos
níveis local, nacional e internacional. A
Considerando a dificuldade em fazer cum- educação e a formação têm de ter início
prir o direito num conflito armado, os re- em tempos de paz, de modo a incutir uma
presentantes estatais que redigiram os trata- perceção verdadeiramente humanitária.
dos de DIH tiveram de prever mecanismos
específicos de implementação e adaptar os Medidas de Monitorização do Cumpri-
mecanismos gerais do direito internacional mento
às necessidades específicas das vítimas de O Comité Internacional da Cruz Verme-
conflitos armados. Infelizmente, os meca- lha (CICV) desempenha um papel funda-
nismos gerais e específicos, em conjunto, mental ao recordar os Estados de que estes
não conseguem garantir nem mesmo um assumiram tornar conhecidas as disposi-
mínimo de respeito pelos indivíduos, num ções humanitárias e que têm de efetuar
conflito armado. Tal só pode ser alcançado todas as diligências necessárias para asse-
se a formação e a educação levarem o co- gurar que a lei é efetivamente aplicada e
nhecimento a todos de que, nos conflitos plenamente respeitada.
armados, o inimigo continua a ser um ser
humano que merece respeito. Medidas Repressivas
De um modo geral, há três tipos de estra- O DIH obriga os Estados a reprimir todas
tégias aplicadas pelo DIH que visam asse- as suas violações. Algumas violações gra-
gurar a sua implementação: ves de direitos humanos, designadas por
• Medidas preventivas; crimes de guerra, são criminalizadas pelo
• Medidas que assegurem o seu cumpri- DIH. Na verdade, existe um requisito que
mento durante o conflito armado; obriga os Estados a adotar legislação na-
• Medidas repressivas. cional que puna crimes de guerra, que
procure os que alegadamente cometeram
Medidas Preventivas tais crimes e que os leve à justiça dos seus
Os Estados-parte das Convenções de Ge- próprios tribunais ou que os extradite para
nebra – o que significa quase todos os outro Estado, para serem sujeitos a um
Estados no mundo – têm a obrigação de procedimento judicial penal. Estas me-
disseminar, tanto quanto possível, o co- didas repressivas também são utilizadas
nhecimento sobre o direito internacional como dissuasoras e evitam a reincidência
humanitário. Não é suficiente que as for- de violações de direitos humanos.
ças armadas de um Estado aprendam so- O Tribunal Penal Internacional (TPI) é
bre o DIH: a sociedade civil e a juventude competente para julgar crimes de guerra,
também precisam de estar familiarizadas crimes contra a humanidade e genocídio. Ao
com a perspetiva humanitária no confli- contrário dos Tribunais ad hoc criados para
to armado. O âmago imediato do DIH é os conflitos na Antiga Jugoslávia e no Ru-
proteger a vida e a dignidade humana, em anda, o TPI tem jurisdição universal. Atual-
tempos de guerra; contudo, extensivamen- mente, estão pendentes no tribunal casos
te, também se dedica a proteger tais valo- sobre o Uganda, a República Democrática
res em todas as nossas experiências. Como do Congo, a República Central Africana,
tal, ao lado da educação para os direitos Quénia, Darfur/Sudão e a Líbia.
338 II. MÓDULOS SOBRE QUESTÕES SELECIONADAS DE DIREITOS HUMANOS

CONVÉM SABER
O Movimento Internacional da Cruz Ver- “A desintegração das famílias, em tempos de
melha e do Crescente Vermelho é compos- guerra, deixa mulheres e meninas especial-
to pelo Comité Internacional da Cruz Ver- mente vulneráveis à violência. Atualmen-
melha (CICV), pelas Sociedades Nacionais te, quase 80% dos 53 milhões de pessoas
da Cruz Vermelha e do Crescente Vermelho deslocadas devido a guerras, são mulheres
de 186 países e pela Federação Internacio- e crianças. Quando pais, maridos, irmãos e
nal de Sociedades da Cruz Vermelha e do filhos são levados para o combate, deixam
Crescente Vermelho. As Sociedades Nacio- mulheres, os mais novos e os mais velhos à
nais agem na qualidade de auxiliares das sua própria defesa. As famílias refugiadas
autoridades públicas dos seus próprios pa- apontam a violação ou o medo da violação
íses na esfera humanitária e fornecem uma como um fator preponderante nas suas de-
variedade de serviços, incluindo assistência cisões de procura de refúgio.”
a desastres e programas de saúde e sociais. UNICEF. The State of the World’s Children. 1996.
A Federação é a organização que promove
a cooperação entre as Sociedades Nacionais É conferida uma atenção especial às mu-
e promove a sua capacidade. lheres e às crianças, uma vez que o DIH
Enquanto guardião e promotor do DIH, lhes confere uma proteção específica.
o CICV desempenha o papel principal na As mulheres vivem os conflitos armados
busca da preservação de uma dimensão de múltiplas formas – desde participarem
humanitária em pleno conflito armado. ativamente enquanto combatentes, até
serem consideradas alvos enquanto mem-
1. BOAS PRÁTICAS bros da população civil ou porque são mu-
lheres. A experiência de guerra das mulhe-
Proteção de Civis res é multifacetada – significa separação,
O direito humanitário funda-se no princí- a perda de membros da sua família e do
pio da imunidade da população civil. As sustento, e um risco acrescido de violência
pessoas que não participam nas hostilida- sexual, ferimentos, privações e morte. A
des não podem ser atacadas, em qualquer resposta a esta realidade implica:
circunstância; têm de ser poupadas e pro- • Ensinar os direitos das mulheres aos de-
tegidas. Nos conflitos de hoje, porém, os tentores de armas.
civis, frequentemente, têm de enfrentar • Fornecer assistência a saúde ginecológi-
uma violência horrível, sendo, por vezes, ca e reprodutiva nas instalações médi-
alvos diretos. Massacres, tomada de re- cas e nos centros de saúde que auxiliam
féns, violência sexual, assédio, expulsão, as vítimas das hostilidades.
deslocações forçadas e pilhagens, bem • Recordar às autoridades dos centros de
como o impedimento deliberado no aces- detenção que as detidas devem estar
so à água, alimentos e cuidados de saúde, sob a supervisão imediata de mulheres
são algumas das práticas que espalham o e que as suas instalações para dormir e
terror e o sofrimento, na população civil. sanitárias têm de estar adequadamente
O CICV mantém uma presença constante separadas das dos homens.
em áreas onde os civis enfrentam riscos • Trabalhar sobre o reatamento de conta-
acrescidos. tos entre membros de famílias que fo-
J. DIREITOS HUMANOS EM CONFLITO ARMADO 339

ram separadas na sequência do conflito mília – e trabalhar no sentido da liber-


armado. tação das crianças.
• Fornecer apoio às famílias dos desapa-
recidos. Direitos Humanos das Crianças

Direitos Humanos das Mulheres


“Há crianças que se alistam por supostas ra-
zões voluntárias. Porém, penso que se deve
As crianças são, demasiadas vezes, testemu-
ter cuidado e reconhecer que não existe qual-
nhas em primeira mão das atrocidades come-
quer alistamento voluntário, na medida em
tidas contra os seus pais ou outros membros
que a grande maioria das crianças que se
da família. São mortas, mutiladas, feitas pri-
alistam voluntariamente, fazem-no por ne-
sioneiras ou, ainda, separadas das suas famí-
cessidade ou porque são vítimas, por medo
lias. Cortados os laços com o ambiente que
ou para segurança. Crianças não acompa-
lhes é familiar, mesmo as que conseguem
nhadas que não têm pais que as protejam,
escapar não têm qualquer certeza quanto ao
pessoas que temem morrer à fome ou que
seu próprio futuro e o dos seus entes queri-
não têm cuidados de saúde adequados, po-
dos. São, frequentemente, forçadas a fugir,
dem procurar uma atividade militar.”
abandonadas à sua própria sorte e rejeita-
Dr. Mike Wessells. 2006.
das por não terem uma identidade. Mais, as
crianças que vivem com as suas famílias ou
entregues a si mesmas, em zonas de confli- Proteger os Prisioneiros
to, são potenciais candidatas ao recrutamen- Uma das consequências dos conflitos arma-
to como crianças-soldado. Privadas de uma dos é a tomada e manutenção de prisioneiros.
família, estas crianças recrutas consideram A privação da sua liberdade coloca as pessoas
quase impossível imaginar a vida sem guerra. numa situação vulnerável face às autorida-
Associar-se a um grupo armado é uma forma des prisionais e no seio do ambiente prisio-
de garantir a sua própria sobrevivência. Dar nal. Esta vulnerabilidade é particularmente
resposta a esta realidade envolve: premente em tempos de conflito e violência
• Promover o respeito pelos direitos da interna, quando o uso excessivo e ilegal da
criança no seio dos detentores de ar- força ocorre e as deficiências estruturais são
mas. exacerbadas. O DIH inclui medidas especial-
• Erradicar o recrutamento e a participa- mente destinadas a proteger os prisioneiros.
ção das crianças em conflitos armados. As formas de assegurar o respeito pela vida e
• Fornecer às crianças vítimas de conflito, dignidade dos prisioneiros incluem:
assistência médica, psicológica e social • Assegurar que os responsáveis pelas
adequada. prisões recebem formação sobre as re-
• Trabalhar no sentido de restabelecer os gras e que são penalizados se não atua-
laços familiares, proporcionando prote- rem em consonância com estas.
ção a crianças não acompanhadas e lo- • Assegurar que as autoridades fornecem
calizando pessoas desaparecidas. fundos e meios adequados para as prisões.
• Monitorizar as condições de detenção • Permitir que organizações humanitárias
para as crianças – certificar-se de que neutras, como é o caso do CICV, visitem
são mantidas em separado dos adultos, prisioneiros e monitorizem o tratamen-
exceto se forem membros da mesma fa- to que lhes é concedido.
340 II. MÓDULOS SOBRE QUESTÕES SELECIONADAS DE DIREITOS HUMANOS

• Restabelecer os laços familiares nos ca- ser repatriados ou reinstalados num país
sos em que estes foram quebrados. terceiro.
• Apoiar organizações de direitos huma- • Informar e apoiar as famílias dos desa-
nos, tais como a Amnistia Internacional parecidos.
e a Human Rights Watch ou organiza-
ções de direitos humanos locais que de-
Uma Palavra acerca do Emblema
nunciem o que sabem sobre o abuso de
prisioneiros pelos seus carcereiros. As Convenções de Genebra mencio-
nam três emblemas: a Cruz Vermelha,
Restabelecimento o Crescente Vermelho e o Cristal Verme-
dos Laços Familiares lho (desde 2006). O DIH regula o uso, o
Em quase todas as emergências – conflitos tamanho, o propósito e a colocação do
armados, deslocação em massa da popula- emblema, as pessoas e a propriedade
ção e outras situações de crise – as crianças que protege, quem o pode usar, o que
acabam separadas dos seus pais, famílias e significa respeitar o emblema e quais as
de outros adultos responsáveis. Dado que, sanções em caso do seu uso indevido.
raramente, o seu estatuto é imediatamente Em tempo de conflito armado, o emble-
claro, as crianças são mais frequentemente ma pode ser usado como proteção so-
designadas de ‘crianças separadas ou não mente por:
acompanhadas’ do que de ‘órfãs’. Outros,
1. Serviços médicos de uma força armada;
tais como os idosos ou as pessoas com de-
ficiências, também podem ficar sujeitos a 2. Sociedades Nacionais da Cruz Vermelha
uma situação difícil durante um conflito. e do Crescente Vermelho devidamente
Podem ficar para trás, isolados e separados reconhecidas e autorizadas pelos seus
dos seus parentes e incapazes de cuidar de governos para prestar assistência aos
si mesmos. Devido à sua particular vulne- serviços médicos das forças armadas;
rabilidade, o CICV toma, quando necessá- 3. Hospitais civis e outras instalações
rio, medidas específicas direcionadas à sua médicas reconhecidas enquanto tal
proteção e reunificação familiar. Algumas pelo governo;
destas medidas envolvem: 4. Outras agências voluntárias de ajuda
• Transmitir notícias da família através de sujeitas às mesmas condições das So-
mensagens da Cruz Vermelha, emissões ciedades Nacionais.
de rádio, telefone e internet, via Movi-
mento Internacional da Cruz Vermelha Três tipos de uso indevido do emblema:
e do Crescente Vermelho. 1. Imitação: uma organização humanitá-
• Organizar repatriações e reunificações ria usa uma cruz vermelha, geradora
familiares. de confusão, para se identificar.
• Facilitar visitas familiares a parentes de- 2. Usurpação: um farmacêutico anuncia
tidos ou que se encontrem para lá das o seu negócio com uma bandeira da
linhas da frente de batalha. Cruz Vermelha.
• Emitir documentos de viagem do CICV
para os que, pertencendo a um conflito, 3. Perfídia: as forças armadas usam uma
não tenham ou já não tenham documen- ambulância com uma cruz vermelha
tos de identificação e estejam prestes a para transportar armas.
J. DIREITOS HUMANOS EM CONFLITO ARMADO 341

Os Estados têm de tomar todas as medi- Unidade – só pode existir uma Socieda-
das para prevenir e reprimir o uso inde- de da Cruz Vermelha ou do Crescente
vido do emblema. Os casos mais sérios Vermelho em cada país.
de uso indevido do emblema são consi- Universalidade – organização mundial.
derados crimes de guerra.
Devido à natureza politicamente sensível
Princípios de Funcionamento da Ação do trabalho desenvolvido pelo CICV, que
Humanitária inclui visitas a prisioneiros ou a interme-
De modo a poder ser qualificada como hu- diação entre as partes em conflito, queren-
manitária, uma organização tem de obe- do estar presente e ser tolerado por todos
decer a certos princípios fundamentais. Os os lados, a confidencialidade ocupa uma
mais importantes destes princípios de fun- posição importante no trabalho da organi-
cionamento são a neutralidade e a imparcia- zação. Este princípio, juntamente com os
lidade. A neutralidade significa não tomar da neutralidade e imparcialidade, levanta
partido. Este princípio permite aos agentes alguns dilemas éticos para os agentes hu-
humanitários obter e manter a confiança de manitários que não podem denunciar abu-
todos os envolvidos no conflito. A imparcia- sos, pois fazê-lo pode colocar em perigo as
lidade significa que será concedida priorida- vidas das vítimas ou impedir a capacidade
de tendo em consideração as necessidades. de acesso aos que necessitam da sua as-
Na verdade, os agentes humanitários não sistência.
fazem distinção em razão da nacionalidade,
etnia, crenças religiosas, estatuto social ou 2. TENDÊNCIAS
opiniões políticas. São orientados, apenas,
pelas necessidades dos indivíduos e têm de
dar prioridade aos casos mais urgentes.

Os Princípios Fundamentais do Movi-


mento da Cruz Vermelha e do Crescente
Vermelho
Humanidade – proteger a vida, a saúde
e assegurar o respeito pelo ser humano.
Imparcialidade – não discriminação
quanto à nacionalidade, raça, crenças
religiosas, classe ou opiniões políticas;
guiar-se só pela necessidade.
Neutralidade – não tomar partido nas Legenda: Eixo vertical: Milhões de vidas
hostilidades. Eixo horizontal: Século XVIII;
Independência – autonomia total em Século XIX; Século XX.
relação a todas as autoridades externas. Fonte: Inter-Parliamentary Union and In-
ternational Committee of the Red Cross.
Serviço voluntário – organização não 1999. Respect for International Humanita-
lucrativa. rian Law.
342 II. MÓDULOS SOBRE QUESTÕES SELECIONADAS DE DIREITOS HUMANOS

Tendências relativas a Conflitos Arma- “conflitos que envolvem o uso de força ar-
dos com base nos Estados, por Tipo: mada entre dois grupos organizados – sen-
1946-2008 do que nenhum dos mesmos é o governo
Os conflitos armados com base nos Estados de um Estado – que resultam em pelo me-
são definidos pelo Projeto de Relatório sobre nos 25 mortes em batalha num ano”. Pode
Segurança Humana (HSRP) como “conflitos ser feita uma distinção entre dois grupos
nos quais pelo menos uma das partes é o go- relativamente aos conflitos armados não
verno de um Estado e que resultam em 25 ou estatais: a primeira categoria inclui os
mais mortes em batalha declaradas num de- conflitos travados entre diferentes grupos
terminado ano do calendário”. Seguindo esta de rebeldes; a segunda categoria inclui os
definição, os conflitos com base no Estado, conflitos entre grupos étnicos, religiosos
incluem, por conseguinte, conflitos interesta- ou outros. Contrariamente aos conflitos
tais, conflitos intraestatais ou civis, conflitos armados com base no Estado, os conflitos
interestatais internacionalizados e conflitos armados não estatais têm uma duração
extraestatais. Durante as últimas décadas, mais curta e também são menos mortais.
têm-se tornado visíveis mudanças nos con- Embora, segundo o Relatório, o número de
flitos com base nos Estados. Atualmente, a conflitos tenha diminuído 52% entre 2002
grande maioria dos conflitos armados ocorre e 2007, o número total de conflitos atin-
no seio dos Estados: enquanto nos finais dos giu um recorde máximo em 2008. A única
anos 40, metade de todos os conflitos decor- região sem nenhum conflito armado não
ria nos seio dos Estados, no início dos anos estatal é a Europa, contrariamente à África
90, o número chegava já aos 90%. As formas Subsaariana que apresenta o número mais
mais mortais de conflitos foram sempre os elevado de conflitos.
conflitos entre Estados, mas estes tornaram- (Fonte: Human Security Report Project.
se muito raros. Em 2007, atingiu-se o mais 2011. Human Security Report 2009/10: The
baixo número de conflitos registado desde Causes of Peace and the Shrinking Costs of
1957. Não só diminuiu o número de guerras War.)
efetivas, como também o número de pessoas
mortas nesses conflitos tem vindo a diminuir. Terrorismo
De acordo com o HSRP, 20.000 pessoas eram Um assunto de relevo que surgiu da dis-
mortas por ano durante as guerras dos anos cussão sobre terrorismo em relação ao
50, comparado com 4.000 no novo milénio. DIH refere-se ao desafio à segurança co-
Desde o fim da Segunda Guerra Mundial, a locado pelo terrorismo, assegurando a
guerra tem vindo a tornar-se menos mortal. proteção dos direitos dos suspeitos. Um
(Fonte: Human Security Report Project. exemplo das dificuldades surgidas quan-
2011. Human Security Report 2009/2010: do confrontados com este desafio, é a
The Causes of Peace and the Shrinking situação dos detidos pelos EUA, em con-
Costs of War.) flitos armados e na “Guerra ao Terror”.
De acordo com os princípios do conflito
Tendências em Conflitos Armados Não armado, para que um conflito possa ser
Estatais, por Região: 2002-2008 qualificado como conflito armado, tem de
De acordo com o Relatório de Segurança envolver ou a força entre dois ou mais Es-
Humana de 2009/2010, os conflitos arma- tados ou um certo nível de violência entre
dos não estatais podem ser definidos como um Estado e um grupo armado. A inter-
J. DIREITOS HUMANOS EM CONFLITO ARMADO 343

pretação desta regra diverge de país para tentes e não combatentes, sendo que ape-
país, especialmente quando confrontados nas aos combatentes pode ser concedido
com os desafios colocados pelo terroris- o estatuto de “prisioneiro de guerra”. Os
mo. Os EUA têm uma opinião vincada combatentes podem lutar pelas forças ar-
sobre o facto de a “Guerra ao Terror” de- madas, enquanto que os não combatentes
ver ser qualificada como conflito armado, podem ser processados por lutarem uma
conflito esse que terminará apenas quan- vez que tal se qualifica como crime de
do o terrorismo for apaziguado. Susten- guerra. O artigo 5º da Convenção III de
tam também que as regras sobre a guerra Genebra declara que em caso de dúvida
se aplicam, uma vez que o terrorismo é sobre o estatuto de pessoas que tenham
um desafio global, em todo o mundo, o praticado um ato de beligerância e tenham
que inclui a ideia de que até um certo caído nas mãos do inimigo, “estas pesso-
ponto o homicídio de suspeitos de terro- as beneficiarão da proteção da presente
rismo é justificado. Convenção, aguardando que o seu estatuto
Para uma análise da situação dos detidos seja fixado por um tribunal competente”. A
na Baía de Guantánamo, deve ser feita aplicação desta regra à situação de Guan-
uma distinção entre os detidos capturados tánamo faz presumir que os detidos cujo
nos campos de batalha e os outros. Por estatuto não fosse claro aquando da cap-
conseguinte, deve também determinar-se tura deveriam ter o mesmo tratamento dos
se havia um conflito armado aquando da prisioneiros de guerra. A decisão de um
captura. Os EUA consideraram, como ato executivo ou de outra entidade militar não
de agressão, os ataques terroristas do 11 é qualificável como decisão por um tribu-
de setembro de 2001, o que lhes conferiria nal competente.
o direito à autodefesa, que aplicaram num (Fontes: CICV. 2012. Persons detained by
contra-ataque no Afeganistão. Os EUA the US in relation to armed conflict and
não consideraram o Afeganistão como o the fight against terrorism – the role of the
responsável pelos ataques de 2001, mas ICRC.; CICV.2011. The relevance of IHL in
o Afeganistão dava abrigo a campos de the context of terrorism.; CICV. 2010. Chal-
treino terrorista. O conflito no Afeganistão lenges for IHL – terrorism: overview.)
é qualificado como um conflito armado
internacional, tal como reconhecido pelo A Abolição de Minas Terrestres Antipes-
tribunal distrital dos EUA. A questão co- soais e de Munições de Fragmentação
loca-se em saber se os detidos capturados No decorrer dos anos 90, o movimen-
nos campos de batalha no Afeganistão são to internacional da Cruz Vermelha e do
prisioneiros de guerra, tal como definido Crescente Vermelho, organizações inter-
pelo DIH. Relativamente às pessoas cap- nacionais e uma coligação significativa
turadas não no campo de batalha de um de ONG trabalharam sem descanso, para
conflito armado mas durante a chamada alcançar a proibição de minas terrestres
“Guerra ao Terror”, o DIH não é aplicá- antipessoais e para prestar assistência às
vel. Para a determinação do estatuto de vítimas de minas e às comunidades afe-
um detido como “prisioneiro de guerra” tadas pelas minas. Este trabalho culmi-
são aplicáveis os princípios da Convenção nou, em 1997, com a adoção do Tratado
de Genebra de 1949. No entanto, o DIH de Otava, a Convenção sobre a Proibição
estabelece uma diferença entre os comba- da Utilização, Armazenagem, Produção
344 II. MÓDULOS SOBRE QUESTÕES SELECIONADAS DE DIREITOS HUMANOS

e Transferência de Minas Terrestres An- mentação. As bombas de fragmentação


tipessoais e sobre a sua Destruição que são armas que contêm até centenas de
entrou em vigor em 1 de março de 1999. É submunições explosivas, lançadas do ar
a primeira Convenção de sempre a proibir, ou disparadas do chão. A sua natureza
sob a égide do direito internacional huma- indiscriminada e o perigo a longo prazo
nitário, uma arma de uso generalizado e em que consistem os resíduos por explo-
que se tornou lei mais rapidamente do que dir, colocam perigos consideráveis para
qualquer anterior acordo multilateral so- os civis e afetam a vida da comunidade
bre armas. Em janeiro de 2012, 156 países durante décadas. A Convenção obriga os
tinham ratificado o Tratado de Proibição Estados a nunca usar, desenvolver, pro-
de Minas Antipessoais, de 1997. duzir, adquirir, armazenar ou transferir
Em 2008, a campanha sobre a proibição tais munições, a destruir munições de
de munições de fragmentação repetiu o fragmentação, a limpar as áreas afetadas
sucesso verificado relativamente às mi- e assegurar ajuda aos afetados. Em janei-
nas terrestres antipessoais, com a adoção ro de 2012, 59 Estados tinham ratificado
da Convenção sobre Munições de Frag- a Convenção.

Alguns números respeitantes à assistência do CICV (dados mundiais relativos a 2010)


Detidos visitados .................................................................................... 500.928
Número de visitas feitas .......................................................................... 5.027
Número de locais de detenção visitados ................................................... 1.783
Detidos registados pela primeira vez em 2010 ........................................... 14.738
Mensagens da Cruz Vermelha recolhidas (para restabelecer os laços familia-
res) ........................................................................................................ 160.338
Mensagens da Cruz Vermelha distribuídas (para restabelecer os laços fami-
liares) ................................................................................................... 145.114
Chamadas telefónicas facilitadas entre membros de família ....................... 12.795
Menores não acompanhados registados pela primeira vez ......................... 2.031
Crianças-soldado desmobilizadas registadas pela primeira vez................... 627
Itens domésticos essenciais distribuídos (ajuda humanitária) .................... 4.735.328
Assistência alimentar prestada ................................................................. 4.937.114
Atividades relacionadas com água e alojamento ....................................... 9.928.247
(Fonte: CICV. 2011. Annual Report 2010. Main Figures and Indicators.)

A Primeira Guerra Mundial (1914-1918)


3. CRONOLOGIA testemunhou o uso de métodos de guerra
que, se não completamente novos, foram
Alguns conflitos armados tiveram impacto usados numa escala sem precedentes. Es-
imediato no desenvolvimento do direito tes incluíram gás venenoso, os primeiros
humanitário. bombardeamentos aéreos e a captura de
J. DIREITOS HUMANOS EM CONFLITO ARMADO 345

centenas de milhares de prisioneiros. O 1906 Revisão e desenvolvimento da


Tratado de 1925 que proibia alguns méto- Convenção de Genebra de 1864
dos de guerra e os tratados de 1929, re-
lativos ao tratamento dos prisioneiros de 1907 Revisão das Convenções de Haia
guerra, foram uma resposta àqueles de- de 1899 e adoção de novas Con-
senvolvimentos. venções
A Segunda Guerra Mundial (1939-1945) 1925 Protocolo de Genebra relativo à
assistiu à morte de civis e militares em proibição de utilizar gazes asfi-
igual número, comparativamente a um rá- xiantes, tóxicos ou similares na
cio de 1:10, na Primeira Guerra Mundial. guerra
Em 1949, a comunidade internacional deu
1929 Duas Convenções de Genebra:
resposta a esses números trágicos e, par-
ticularmente, aos efeitos terríveis que a - Revisão e desenvolvimento
guerra teve sobre os civis, ao rever as Con- da Convenção de Genebra de
venções então em vigor e ao adotar um 1906
novo instrumento: as Quatro Convenções - Convenção de Genebra relativa
de Genebra relativas à proteção de civis. ao tratamento dos prisioneiros
Em 1977, os Protocolos Adicionais foram de guerra (nova)
a resposta aos novos desafios de proteção
1949 Convenções de Genebra:
nas guerras de descolonização, bem como
ao desenvolvimento de nova tecnologia I Convenção de Genebra para
militar. Em particular, o Protocolo Adi- Melhorar a Situação dos Feri-
cional II também inclui forças armadas dos e Doentes das Forças Ar-
dissidentes ou outros grupos armados or- madas em Campanha
ganizados que, sob comando hierárquico, II Convenção para Melhorar a Si-
exercem controlo sobre uma parte do ter- tuação dos Feridos, Doentes e
ritório. Náufragos das Forças Armadas
no Mar
Principais Instrumentos de DIH e Ou- III Convenção Relativa ao Tra-
tros Instrumentos Relacionados tamento dos Prisioneiros de
1864 Convenção de Genebra para me- Guerra
lhorar a situação dos militares fe- IV Convenção Relativa à Proteção
ridos nas forças armadas em cam- das Pessoas Civis em Tempo de
panha Guerra (nova)
1868 Declaração de São Petersburgo 1954 Convenção de Haia para a Prote-
(proibição do uso de certos projéc- ção dos Bens Culturais em caso de
teis em tempo de guerra) Conflito Armado
1899 Convenções de Haia respeitantes 1972 Convenção sobre a Proibição do
às leis e costumes da guerra em Desenvolvimento, da Produção e
terra e a adaptação à guerra marí- do Armazenagem de Armas Bacte-
tima dos princípios da Convenção riológicas (Biológicas) ou Tóxicas
de Genebra de 1864 e sobre a Sua Destruição
346 II. MÓDULOS SOBRE QUESTÕES SELECIONADAS DE DIREITOS HUMANOS

1977 Dois Protocolos Adicionais às qua- 1997 Convenção Sobre a Proibição da


tro Convenções de Genebra de Utilização, Armazenagem, Produ-
1949, que fortalecem a proteção ção e Transferência de Minas An-
das vítimas de conflitos armados tipessoais e Sobre a sua Destruição
internacionais (Protocolo I) e não 1998 Estatuto de Roma do Tribunal Pe-
internacionais (Protocolo II) nal Internacional
1980 Convenção sobre a Proibição ou Limi- 1999 Protocolo à Convenção de 1954 so-
tação do Uso de Certas Armas Conven- bre a Propriedade Cultural
cionais que podem ser Consideradas
como Produzindo Efeitos Traumáticos 2000 Protocolo Facultativo à Convenção
sobre os Direitos da Criança, rela-
Excessivos ou Ferindo Indiscriminada-
tivo à participação de crianças em
mente (CCW), que inclui:
conflitos armados
- Protocolo (I) relativo aos Estilha-
2001 Emenda ao Artigo 1 da CCW, alar-
ços Não Localizáveis
gada aos conflitos não internacio-
- Protocolo (II) sobre a Proibição nais
ou Limitação do Uso de Minas,
2002 Entrada em vigor do Estatuto de
Armadilhas e Outros Dispositivos
Roma, estabelecendo o primeiro
- Protocolo (III) sobre a Proibição tribunal penal internacional per-
ou Limitação do Uso de Armas manente
Incendiárias 2002 Entrada em vigor do Protocolo
1993 Convenção sobre a Proibição do Facultativo à Convenção sobre os
Desenvolvimento, Produção, Ar- Direitos da Criança, relativo à par-
mazenagem e Utilização de Armas ticipação de crianças em conflitos
Químicas e sobre a sua Destruição armados
1995 Protocolo sobre Armas Laser que 2003 Protocolo sobre Explosivos Rema-
Causam a Cegueira (Protocolo IV nescentes de Guerra (Protocolo V
[novo] da Convenção de 1980) da Convenção de 1980)
1996 Protocolo Revisto sobre a Proibição ou 2008 Convenção sobre Munições de
Limitação do Uso de Minas, Armadi- Fragmentação
lhas e Outros Dispositivos (Protocolo (Fonte: CICV: www.icrc.org/ihl)
II [revisto] da Convenção de 1980)

ATIVIDADES SELECIONADAS
ATIVIDADE I: pois acreditam que a própria ideia de
PORQUÊ RESPEITAR O DIH? guerra está em contradição com a noção
de Direito ou de direitos humanos. Mas,
Parte I: Introdução a verdade é que a maioria dos países do
Para muitas pessoas, a ideia de que pode mundo aceita e cumpre as regras do DIH.
haver regras na guerra parece absurda, Porquê? No debate proposto, serão dadas
J. DIREITOS HUMANOS EM CONFLITO ARMADO 347

algumas questões aos participantes que jados a pensar criativa e criticamente e a


os ajudarão a trabalhar com algumas das não desperdiçar tempo à procura da res-
principais razões por que os Estados cum- posta certa. É igualmente importante que
prem as suas obrigações humanitárias, em não sejam ignoradas respostas sarcásticas,
tempos de conflito armado. uma vez que o objetivo da atividade é que
os participantes descubram que os Estados
Parte II: Informação Geral têm incentivos para respeitar o DIH para
Tipo de atividade: debate além de razões morais e jurídicas para o
Objetivos: Compreender algumas das ra- fazer. Os comentários sarcásticos podem
zões pelas quais as regras são necessárias ser utilizados para desocultar estes incen-
nos conflitos armados; ter consciência das tivos e demonstrar a natureza pragmática
questões difíceis que surgem com a ideia do DIH.
do DIH; familiarizar-se com os motivos Processo do debate:
pelos quais os Estados respeitam o DIH; Os participantes são divididos em 4 sub-
compreender a complementaridade entre grupos e a cada grupo é distribuída uma
o direito dos direitos humanos e o DIH; co- das quatro questões de debate. São con-
nhecer algumas das regras básicas do DIH. cedidos trinta minutos para o debate do
Grupo-alvo: Jovens adultos e adultos grupo durante os quais o formador pode
Dimensão do grupo: 12-20 circular e ajudar no debate, ao apresentar
Duração: 90 minutos alguns dos assuntos elencados infra. Cada
Preparação e materiais: Distribuir cópias subgrupo deve nomear um porta-voz que
das regras principais de DIH, assim como relatará ao grupo todo assim que termina-
o gráfico que representa a complementa- rem os 30 minutos. Durante a hora restan-
ridade entre o DIH e os direitos humanos te, o palco está disponível para o grupo
(ver acima); deverá existir um quadro vi- inteiro debater cada questão à luz do que
sível onde se escrevem algumas das ideias os porta-vozes relataram.
principais que são trazidas durante o de- Questão 1: Se estou a ganhar numa guerra,
bate; distribuir as questões de debate cerca por que haverei de obedecer a regras que
de uma semana antes do dia da atividade, limitam o meu comportamento?
de modo a que os participantes tenham • Pense no interesse dos países a longo
tempo de pensar nelas e debatê-las entre prazo.
eles ou com amigos e família. • E se o seu lado começar a perder a guerra?
Competências envolvidas: capacidade de • Qual o papel da opinião pública?
desenvolver um argumento; capacidade Questão 2: Se estas regras forem sempre
de pensar criticamente; capacidade de co- quebradas por que é que precisamos delas?
municar eficazmente; capacidade de lidar • Cumprir as regras faz notícia?
com opiniões conflituantes. • Como sabemos que as regras são viola-
das a toda a hora?
Parte III: Informação Específica sobre a • O respeito imperfeito pelas regras pode
Atividade ainda conceder proteção a algumas pes-
Apresentação do tema: soas?
Este debate aborda algumas questões • E se as sanções fossem aplicadas de um
complexas para as quais não há respostas modo mais consistente em caso de vio-
fáceis. Os participantes devem ser encora- lação das regras?
348 II. MÓDULOS SOBRE QUESTÕES SELECIONADAS DE DIREITOS HUMANOS

Questão 3: Precisamos realmente do DIH Outras sugestões:


face a todos os instrumentos de direitos Depois do debate ocorrido nos sub-grupos,
humanos que existem? Por que é que organizar uma dramatização em que cada
os Estados simplesmente não dificultam grupo tem 10 minutos para usar as respos-
mais a suspensão das suas obrigações re- tas a que chegaram, de modo a convencer
lativas aos direitos humanos em tempo o seu governo de que deveria ratificar os
de guerra? tratados de DIH. Pode pedir-se a um par-
• Pense em bons motivos para suspender ticipante que desempenhe o papel de um
alguns direitos em tempo de conflito ar- chefe de Estado com dúvidas, por não ver
mado. o objetivo do DIH.
• O DIH protege os direitos humanos?
• Pode pedir-se aos combatentes que res- Parte IV: Acompanhamento
peitem o direito à vida, estando eles a Fazer uma revisão das notícias mundiais,
travar uma guerra? em jornais recentes e identificar violações
• Os instrumentos de direitos humanos do DIH que tenham sido cometidas em vá-
pronunciam-se sobre os meios e méto- rios conflitos. Os meios de informação, os
dos de combate? governos ou a ONU parecem entendê-las
Questão 4: Como pode o DIH pretender como factos de guerra ou parece-lhe que
uma melhoria nas perspetivas de paz e de condenam tais comportamentos?
segurança humana se aceita a realidade da Outras áreas a explorar:
guerra? Complementaridade entre os direitos hu-
• Quando um conflito cessa, pensa que manos e o DIH.
as partes se esquecem do que ocorreu (Fonte: CICV. 2002. Exploring Humanitar-
durante as hostilidades? ian Law, Education modules for young
• Pode a prevenção de destruição intensa people)
contribuir para a paz?
• Pense nas medidas repressivas que po- ATIVIDADE II:
dem ser utilizadas para garantir a justi- ÉTICA DA AÇÃO HUMANITÁRIA
ça depois de um conflito. Em que medi-
da é que contribuem ou não para a paz? Parte I: Introdução
Reações: Um dilema ético pode ser definido como
Deverão ser dedicados 10 minutos, no final uma situação em que a prossecução de
da sessão, de modo a obter-se a opinião um objetivo válido conflitua com outro
do grupo sobre o que gostaram e o que objetivo válido ou tanto prejudica, como
não gostaram no debate. Se outras ques- beneficia. Os agentes humanitários são
tões surgiram durante o debate, deverão regularmente confrontados com dilemas
ser registadas no quadro e, talvez, serem éticos na execução do seu trabalho. Como
utilizadas em debates futuros. resultado, existe muito criticismo contra
Sugestões metodológicas: a ação humanitária, em termos gerais.
Encorajar os participantes a ultrapassar É importante compreender que tipos de
a ideia do que está errado e do que está dilemas estão envolvidos na prestação
certo e dirigi-los para uma exploração da da assistência humanitária e debater se
razão por que é do interesse dos Estados existem alternativas sustentáveis. Na ati-
respeitar o DIH. vidade proposta, os participantes terão
J. DIREITOS HUMANOS EM CONFLITO ARMADO 349

de analisar situações que apresentam um o informador ou o seu desejo de privaci-


dilema ético e terão de decidir que ações dade. Rever a parte do módulo designada
tomariam. Ao fazê-lo, também deverão “Princípios de Funcionamento da Ação
desenvolver argumentação que repudie Humanitária” e certificar-se de que os par-
as críticas. ticipantes compreendem os princípios de
neutralidade e de imparcialidade. Escrever
Parte II: Informação Geral no quadro os aspetos principais que um
Tipo de atividade: Estudo de caso agente humanitário deve ter ao prestar
Objetivos: Ter consciência dos prin- assistência: auxiliar e proteger os que têm
cípios, tais como os da neutralidade e necessidades.
imparcialidade, que orientam a ação Procedimento quanto aos estudos de caso:
humanitária; compreender alguns dos Os casos são distribuídos e lidos em
dilemas que os agentes humanitários voz alta pelos participantes. O dilema
poderão ter de enfrentar ao desempe- ético tem de ser identificado pelos par-
nhar a sua função; compreender que ticipantes. O debate deverá centrar-se
mesmo em situações de não vitória, os na decisão de continuar, ou não, o es-
agentes humanitários não podem evitar forço humanitário face ao dilema iden-
fazer escolhas: não fazer nada é tanto tificado.
uma escolha, como executar uma ação A. Agências humanitárias foram em au-
específica. xílio de civis desesperados numa zona
Grupo-alvo: Jovens adultos e adultos devastada pela guerra. Uma vez que
Dimensão do grupo: entre 12 e 20 essas agências providenciaram ajuda
Duração: 90 minutos externa para assegurar a sobrevivên-
Preparação e materiais: Distribuir cópias cia dos civis, os grupos envolvidos na
dos 4 casos descritos infra e colocar as guerra puderam ignorar as necessida-
questões que ilustram cada situação num des dos seus próprios civis. Esta ajuda
local onde todos as possam ver. externa ajudou-os no uso de todos os
Competências envolvidas: Capacidade de recursos do país para abastecer os mili-
ver um problema de várias perspetivas; tares. E, tal, ajudou a que a guerra não
capacidade de desenvolver uma opinião terminasse.
própria; capacidade de resolver proble- • Estamos a prolongar a guerra?
mas; capacidade de criar empatia. B. Os civis fugiram para uma Zona Prote-
gida que foi criada como refúgio para as
Parte III: Informação Específica sobre a vítimas de “limpeza étnica” no seu país.
Atividade A partir dessa zona, os agentes humani-
Apresentação do tema: tários auxiliaram a sua evacuação para
Perguntar se alguém conhece códigos de centros de refugiados fora do país. Esta
conduta específicos que regulam o com- ação humanitária, portanto, contribuiu
portamento das pessoas no desempenho para a “limpeza étnica”, ao remover as
da sua profissão. As respostas podem in- vítimas da sua terra natal.
cluir as regras e deveres que os médicos • Estamos a apoiar políticas de separa-
têm de respeitar ou o código de ética dos ção étnica?
jornalistas que os proíbe de revelar as C. Dois países estão em guerra e as baixas
suas fontes, caso tal coloque em perigo entre a população civil são enormes.
350 II. MÓDULOS SOBRE QUESTÕES SELECIONADAS DE DIREITOS HUMANOS

Algumas vozes, noutros países, conde- questões devem ser registadas e poderão
nam o sofrimento das vítimas mas ne- constituir a base para uma tarefa.
nhum país estrangeiro demonstra von- Sugestões metodológicas:
tade em intervir, quer no sentido de Esta atividade pode ser frustrante para os
conseguir que os dois países cessem o participantes porque não trará respostas
conflito, quer fazendo pressão de modo claras. O que é importante é que a análise
a que poupem a população civil. “Qual se foque nas perspetivas dos agentes huma-
o significado de tentar prestar assistên- nitários e que os participantes regressem
cia humanitária quando sabemos per- sempre à ideia de proteger e auxiliar os que
feitamente que será apenas uma ‘gota precisam e aos princípios da neutralidade
no oceano’ e que, sem pressão políti- e da imparcialidade. Se o debate se afastar
ca externa ou uma intervenção mili- destes pontos, o formador poderá assinalar
tar, nós as organizações humanitárias, o facto de que há muitos atores envolvidos
apenas apaziguamos a consciência do num conflito armado cujas ações comple-
mundo?”, lamenta um agente humani- mentam as dos agentes humanitários.
tário. Outras sugestões:
• A ação humanitária torna-se um pre- Depois do debate, pedir a alguns participan-
texto para o ‘não envolvimento’ polí- tes que representem a seguinte situação:
tico? Um agente humanitário está à porta de um
D. Para reforçar o controlo sobre uma al- campo de refugiados. É confrontado com
deia, numa zona de combates que os uma família que pretende entrar mas que
rebeldes utilizavam como abrigo, os receia a presença de inimigos no interior
civis foram forçados a instalar-se num do campo. O pai insiste que tem de manter
campo a 30 kms das suas casas. Foi pe- a sua arma para proteger a sua mulher do-
dido às agências de ajuda humanitária ente e o seu bebé. A família também está
que levassem alimentos e assistência apavorada com a possibilidade de serem
médica a esse campo. Fazê-lo, porém, separados.
legitimaria a deslocação forçada de ci- Depois da dramatização, os participan-
vis. tes debatem os princípios que o agente
• Estaremos a legitimar o deslocamen- humanitário tem de ter em consideração
to forçado de civis? e em que medida alguns desses princí-
De forma a auxiliar os participantes a pen- pios são conflituantes com outros, nesta
sar sobre estas situações, o formador deve- situação.
rá perguntar se nada fazer nestes casos é
uma alternativa válida. Parte IV: Acompanhamento
Reações: Outras áreas a explorar:
Deverá dedicar-se 10 minutos, no final da Os ativistas de direitos humanos enfren-
atividade, a receber a opinião do grupo tam dilemas éticos no decurso do seu tra-
sobre o que gostaram e o que não gosta- balho?
ram nesta atividade. Se surgiram questões (Fonte: CICV. 2002. Exploring Humanitar-
relacionadas com o trabalho de organiza- ian Law, Education modules for young
ções específicas, durante o debate, essas people.)
J. DIREITOS HUMANOS EM CONFLITO ARMADO 351

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K. DIREITO AO TRABALHO

DIREITOS HUMANOS NO MUNDO DO TRABALHO


DIREITO AO TRABALHO E DIREITOS HUMANOS
NO ÂMBITO DO TRABALHO

“[…] só se pode fundar uma paz universal e duradoura com base na justiça social […].”
Constituição da Organização Internacional do Trabalho. 1919.
354 II. MÓDULOS SOBRE QUESTÕES SELECIONADAS DE DIREITOS HUMANOS

HISTÓRIA ILUSTRATIVA
Horríveis Condições de Trabalho em por isso a fábrica estava montada como
“Zonas Francas” se fosse uma prisão, onde os trabalhado-
res viviam 24 horas por dia. Todas as ja-
Xiao Shen, uma jovem que vivia numa nelas estavam gradeadas e todas as saídas
pequena povoação rural chamada Zhon- de emergência estavam bloqueadas. Os
gyuan, no centro da China, tinha uma fiscais do Estado eram subornados para
existência árdua. Tinha pouco ou quase fazerem vista grossa relativamente a estas
nenhum arroz para comer, nem perspeti- condições.
vas de um futuro melhor. Dia após dia, ti- Dia após dia, Xiao Shen vivia atrás de
nha de andar de joelhos, em águas fundas, grades, sem possibilidades de deixar o
a ajudar o pai na cultura do arroz. edifício, incapaz de levar uma vida nor-
Finalmente, um dia decidiu partir. Tinha ou- mal, sem o seu espaço próprio. Na tarde
vido falar de uma terra estrangeira melhor, de 19 de novembro de 1993, deflagrou um
bastante distante, algures por detrás das incêndio que se espalhou, com rapidez in-
montanhas proibidas. E, então, uma manhã, controlável, a todo o edifício.
antes do sol nascer, ela e mais alguns amigos Armazenados por todo o edifício, havia
que partilhavam dos seus sonhos de uma produtos químicos altamente inflamáveis,
vida melhor, saíram de casa. Após dois mil causando um inferno com proporções de
quilómetros e dias intermináveis de esforço, pesadelo. Xiao Shen e os outros tentaram,
ansiedade e lágrimas incontáveis, chegaram desesperadamente, fugir do fogo – mas
ao destino, uma cidade chamada Shenzhen, como? Todas as janelas estavam barradas
uma zona de comércio livre, no sul da China e todas as portas estavam fechadas. Du-
perto da fronteira de Hong Kong. Lá, espera- zentos homens e mulheres, muitos deles
vam encontrar trabalho, ganhar dinheiro e nem sequer tinham mais de dezasseis
realizar os seus sonhos. anos, foram literalmente cercados pelas
Xiao Shen conheceu dois homens de ne- chamas, gritando pelas próprias vidas.
gócios chamados Huang Guoguang e Lao Xiao Shen conseguiu arrombar uma das
Zhaoquan que andavam a contratar tra- janelas barradas, no segundo piso e viu-
balhadores para a sua “Fábrica de Arte- se perante a escolha de saltar ou morrer
sanato Zhili”, uma empresa que produzia queimada. Decidiu saltar, partindo os dois
brinquedos. Xiao Shen era uma dos 472 tornozelos – mas sobreviveu. No total, 87
empregados e, em pouco tempo, aper- pessoas perderam a vida, naquela tarde,
cebeu-se de que estava muito pior agora e mais de 47 ficaram gravemente feridas.
do que quando estava na sua pequena (Fonte: Adaptado de Klaus Werner and
aldeia. Desde o crepúsculo até ao nascer Hans Weiss, 2001. Schwarzbuch Marken-
do dia, ela trabalhava penosamente na fá- firmen.)
brica Zhili por um ordenado de miséria,
apenas o suficiente para sobreviver (32-
49 dólares americanos por mês!). Ambos Questões para debate
os empresários tinham medo de que os 1. Quais os direitos humanos (relaciona-
empregados roubassem as mercadorias, dos com o trabalho) que foram violados
K. DIREITO AO TRABALHO 355

nas condições em que Xiao Shen tinha ção (ZFE) e reduzem ou removem as
de trabalhar? normas sociais e laborais?
2. Que medidas podiam ser tomadas à 4. Qual a responsabilidade das empresas
escala internacional para melhorar as multinacionais que produzem bens em
perspetivas ou, pelo menos, as condi- zonas de comércio livre?
ções de trabalho dos empregados como 5. Que ações podem os consumidores de-
Xiao Shen? senvolver para mudar situações como a
3. Por que razão estabelecem os Estados que foi descrita?
Zonas Francas Industriais de Exporta-

A SABER
1. O MUNDO DO TRABALHO NO SÉCU- integrada e aqueles que não as têm. Estas
LO XXI novas desigualdades e inseguranças estão a
conduzir a tensões entre os diferentes seto-
As novas tecnologias e a autoestrada da res da sociedade.
informação global têm o potencial de A competição elevada, como resultado
transformar o mundo do trabalho mais do da liberalização do comércio e dos re-
que a Revolução Industrial. gimes financeiros, exerce forte pressão
Devido à industrialização em curso, o nas empresas para reduzirem o custo de
séc. XX presenciou o declínio do setor agrí- produção. Para atingir estes objetivos, as
cola e a importância crescente do setor de empresas podem reduzir o custo-intensi-
serviços. Com a liberalização do mundo vo do “trabalho” através da automatiza-
do trabalho e com a “revolução cibernéti- ção, tornando a mão de obra redundan-
ca”, as oportunidades na economia global te, ou transferir a produção para países
tornaram-se muito mais vastas. com salários baixos, onde os níveis de
Esta nova economia global exige trabalha- vida são muito mais baixos. Os Estados
dores especializados que têm de ser bem podem também exercer pressão sobre o
treinados, flexíveis e altamente motivados, pagamento e as condições de trabalho, de
assim como terão de estar dispostos a se modo a fazê-las baixar, para estimular o
adaptar rapidamente às atuais exigências crescimento económico, atraindo o inves-
do mercado. Os trabalhadores têm de saber timento estrangeiro uma vez que uma es-
lidar com a pressão crescente e se adaptar tratégia de crescimento orientada para as
às alterações das condições de trabalho, à exportações é frequentemente vista como
luz de uma mudança estrutural e tecnológi- a única possibilidade de aumentar o cres-
ca acelerada. Cada vez mais, as pessoas tra- cimento económico. Muitas vezes, a ex-
balham a tempo parcial, por conta própria ploração, o trabalho forçado e o trabalho
ou enfrentam condições de instabilidade no infantil são consequências de tudo isto.
trabalho. Neste ponto de vista, a globaliza- Muitos países do mundo criaram Zonas
ção abre brechas sociais entre aqueles que Económicas Francas ou Zonas Francas In-
têm formação, competências e mobilidade dustriais de Exportação (ZFE), nas quais
para prosperarem numa economia global não só são reduzidos ou removidos os im-
356 II. MÓDULOS SOBRE QUESTÕES SELECIONADAS DE DIREITOS HUMANOS

postos e tarifas, como também as normas manizando a economia global. Em 2002,


sociais e laborais internacionais. a Organização Internacional do Trabalho
(OIT) iniciou uma Comissão Mundial so-
“ O comércio tem o poder de criar oportuni- bre a Dimensão Social da Globalização,
dades e de suportar meios de subsistência; um órgão independente, que publicou
e tem o poder de os destruir. A produção um relatório intitulado Uma Globalização
para exportação pode gerar rendimentos, Justa: Criando Oportunidades para Todos
emprego e as trocas internacionais que os (A Fair Globalization: creating opportuni-
países pobres necessitam para o seu de- ties for all), em fevereiro de 2004 (Para
senvolvimento. Mas, também pode cau- mais informação, consultar: http://www.
sar a destruição ambiental e a perda dos ilo.org/fairglobalization/lang--en/index.
meios de subsistência, ou conduzir a ní- htm).
veis inaceitáveis de exploração. O impacto
humano do comércio depende de como os Trabalho e Segurança Humana
bens são produzidos, de quem controla a
produção e o comércio, de como a riqueza O direito ao trabalho, como uma norma
gerada é distribuída e dos termos segundo dos direitos humanos, vai muito além
os quais os países comercializam. O modo da mera salvaguarda da sobrevivência
como o sistema internacional de comércio porque a satisfação das necessidades
é gerido tem uma influência crucial em básicas não é suficiente para melhorar
todas estas áreas. Assim, […] o comércio a segurança humana. O trabalho não
internacional não é inerentemente, bom deve apenas assegurar a sobrevivência
nem mau.” e o bem-estar mas também se interliga
Kevin Watkins. 1995. com a relação e participação de cada um
na sociedade. Está também intimamen-
O fenómeno da “globalização” afeta as pes- te relacionado com a autodeterminação,
soas em todo o mundo mas os seus efeitos autorrespeito, autorrealização e com a
positivos distribuem-se de forma desigual. dignidade humana. O desemprego e a
Os poderes estatais para atenuar os efeitos negação de sindicatos conduzem não só
negativos da desregulação financeira e o à insegurança pessoal e a condições de
comércio livre estão a diminuir, sobretudo, trabalho perigosas, pouco saudáveis ou
devido aos novos “atores globais”: as em- injustas, mas também são propensos a
presas multinacionais. O poder financeiro gerar inquietação, insegurança e instabi-
destes “atores globais” atualmente excede lidade numa sociedade. Por estas razões,
o de muitos Estados. Mais de metade das a promoção de padrões de trabalho de-
100 maiores entidades económicas mun- cente sem exploração é uma condição
diais são empresas multinacionais. prévia, propícia ao aumento da seguran-
A dimensão social da globalização tem ça humana.
de se tornar numa das maiores preocu-
pações das políticas internacionais. Mais “UMA RETROSPETIVA
do que nunca, é importante promover pa- HISTÓRICA”
drões sociais e direitos humanos à escala
internacional, de forma a assegurar estabi- Para se compreender como é que a dimen-
lidade social, paz e desenvolvimento, hu- são humana do trabalho se desenvolveu, é
K. DIREITO AO TRABALHO 357

necessário fazer uma retrospetiva histórica. Século XIX: A Revolução Industrial levou
Justiça social e condições de trabalho jus- ao surgimento da classe trabalhadora, um
tas são componentes indispensáveis na grupo social dependente do trabalho assa-
promoção da paz e do desenvolvimen- lariado, devido à falta de meios de produ-
to. As injustiças relacionadas com o tra- ção. Os trabalhadores eram explorados e
balho, bem como as dificuldades finan- sujeitos a condições de trabalho perigosas
ceiras e o desemprego são consideradas em fábricas, em tecelagens ou em minas.
como estando diretamente relacionadas O empobrecimento dos trabalhadores ge-
com a instabilidade social e com revol- rou um sentimento de solidariedade en-
tas do proletariado, em determinados tre estes, que começaram a organizar-se
momentos históricos. O reconhecimento (Karl Marx em “Trabalhadores do mundo,
de que um trabalho adequado é condição uni-vos”).
prévia da dignidade humana é, predomi- Passo a passo, a voz dos trabalhadores fa-
nantemente, o resultado de tais revoltas zia-se ouvir mais alto e a sua situação era
em que os trabalhadores lutaram pelo cada vez mais divulgada. Devido à pressão
reconhecimento estatal desses direitos exercida pelos primeiros sindicatos, foram
que consideram ser inalteráveis e inalie- aprovadas, em vários países, leis de refor-
náveis. A nível internacional, os direitos ma relativas à melhoria do número de ho-
dos trabalhadores foram incorporados na ras e das condições de trabalho. Todavia,
legislação do trabalho da OIT, desde 1919, a contínua agitação laboral pressionou os
e no processo de elaboração de normas industriais e os governos a considerarem a
empreendido pela ONU, após a Segunda criação de outras medidas.
Guerra Mundial.
Século XX: Alguns industriais propuse-
Século XVIII: A ideia de que o trabalho ram o estabelecimento de normas interna-
é um direito fundamental de todos os cionais comuns a fim de evitar vantagens
membros da sociedade foi uma pretensão comparativas das nações que não respei-
inicialmente avançada na Revolução Fran- tavam as normas laborais e, em 1905 e
cesa. Charles Fourier, um filósofo social 1906, foram adotadas as primeiras duas
utópico, foi o primeiro a utilizar a expres- convenções sobre o trabalho. Contudo, as
são “direito ao trabalho” e enfatizou a im- iniciativas para elaborar e adotar outras
portância do trabalho, não só para o bem- convenções foram interrompidas pela I
estar social como também psicológico do Guerra Mundial.
indivíduo. Ele considerava que os Estados O Tratado de Versalhes, que pôs fim à I
tinham a obrigação de fornecer oportuni- Guerra Mundial, reconheceu, formalmen-
dades equivalentes e concluiu que a reali- te, a interdependência entre as condições
zação deste direito iria requerer uma com- de trabalho, a justiça social e a paz mun-
pleta reorganização da sociedade. dial à escala universal, dando origem à
Esta perspetiva sobre o direito ao trabalho OIT como um mecanismo para a fixação
emergiu, de novo, nas teorias socialistas; de normas internacionais no âmbito do
mais tarde, os governos comunistas tam- trabalho e dos trabalhadores.
bém a promoveram. Assim, pode ser dito Entre 1919 e 1933, a OIT elaborou quarenta
que o direito ao trabalho tem uma certa convenções relativas a inúmeras questões
“tradição socialista”. no âmbito do trabalho. Porém, a quebra
358 II. MÓDULOS SOBRE QUESTÕES SELECIONADAS DE DIREITOS HUMANOS

da bolsa de valores, em 1929, conhecida


como “Sexta-Feira Negra”, resultou num 2. DEFINIÇÃO
grave retrocesso. O descalabro financeiro E DESENVOLVIMENTO DA QUESTÃO
das economias ocidentais foi acompanha-
do por uma alta taxa de desemprego. Se- Exemplos de violação dos direitos hu-
guiram-se manifestações e distúrbios cau- manos no contexto do trabalho vão des-
sados por trabalhadores desempregados. de o trabalho de crianças em minas de
Na Alemanha, a crise económica mundial carvão e sindicalistas que são presos,
foi seguida por uma grave crise política a uma escravatura moderna, tal como
que contribuiu para a ascensão de Adolf a servidão ou a exploração comercial
Hitler e, por fim, conduzindo à II Guerra e sexual de crianças. A implementação
Mundial. prática de direitos humanos relaciona-
dos com o trabalho opera no sentido de
Depois da II Guerra Mundial: A Organi- reverter más condições de trabalho, tais
zação das Nações Unidas incluíu preocu- como um ambiente de trabalho insalu-
pações económicas e sociais nos seus ob- bre ou perigoso ou horas de trabalho
jetivos e programas para uma nova ordem exploradoras. Também se preocupa em
mundial, para prevenir que uma situação proteger grupos particularmente vulne-
semelhante voltasse a acontecer. ráveis no mundo do trabalho, como por
A ligação entre trabalho e dignidade hu- exemplo, as mulheres ou os migrantes.
mana surge destacada na Declaração Re- Mais importante, os direitos humanos
lativa aos Fins e Objetivos da Organiza- relacionados com o trabalho desempe-
ção Internacional do Trabalho, adotada nham um papel crucial na preservação
em Filadélfia em 1944 (conhecida como da ligação entre a dignidade humana, a
a “Declaração de Filadélfia”, incorporada segurança humana e condições decen-
na Constituição da OIT em 1946), que es- tes de trabalho.
tabelece que “o trabalho não é uma mer- A seguir, os dois mecanismos internacio-
cadoria” e que “todos os seres humanos nais mais importantes na proteção do di-
têm o direito de efetuar o seu progresso reito ao trabalho e dos direitos dos traba-
material e o seu desenvolvimento espiritu- lhadores, o sistema da OIT, por um lado, e
al, em liberdade e com dignidade, com se- a Carta Internacional dos Direitos Huma-
gurança económica e com oportunidades nos (DUDH, PIDCP e PIDESC), por outro,
iguais.” serão analisados.
Isto surge, também, claramente explicado
na Encíclica papal “Laborem Exercens”, A Organização Internacional
de 1981, que realçou a posição dos traba- do Trabalho (OIT)
lhadores como sujeitos e não objetos, dos A Organização Internacional do Trabalho
pontos de vista filosófico e religioso. foi criada em 1919, tendo a sua sede em
Muito tem sido feito para melhorar a situ- Genebra, na Suíça. Foi desenvolvida prin-
ação dos trabalhadores em todo o mundo, cipalmente para dar expressão à preocupa-
tanto pela OIT como pela ONU. Hoje, to- ção crescente das reformas sociais, após a
davia, à luz da economia globalizada, no- Primeira Guerra Mundial. Baseada na forte
vos desafios e novas inseguranças exigem convicção de que a pobreza é um perigo
novas e mais complexas soluções. para a prosperidade e segurança, em qual-
K. DIREITO AO TRABALHO 359

quer parte, a OIT tem como objetivo me- • Estabelece normas internacionais
lhorar as condições dos trabalhadores em (convenções e recomendações) nestas
todo o mundo sem discriminação de etnia, áreas e monitoriza a sua implementa-
género ou origem social. ção nacional;
Em 1947, a OIT tornou-se uma agência
especializada das Nações Unidas e, em • Desenvolve um extenso programa de
1969, foi-lhe atribuído o Prémio Nobel da cooperação técnica para ajudar os
Paz pelo seu trabalho. Entre as agências da países a tornar eficazes as suas po-
ONU, a OIT é única porque goza de uma líticas.
estrutura tripartida, pela qual as decisões
dos seus órgãos representam os pontos de A OIT elaborou cerca de 190 convenções,
vista dos empregadores, dos trabalhado- estabelecendo padrões em matérias como
res, assim como dos governos. as condições de trabalho, segurança e saú-
de ocupacionais, segurança social, política
de emprego e formação vocacional e pro-
A OIT porcionando a proteção das mulheres, dos
migrantes e das pessoas indígenas. Con-
• Formula políticas e programas para tudo, apenas algumas das convenções da
promover os direitos humanos bási- OIT são usualmente referidas como con-
cos, para promover as condições de venções fundamentais de direitos huma-
trabalho e de vida e melhorar as opor- nos. Estas oito convenções e as respetivas
tunidades de emprego; ratificações estão listadas infra:

As mais importantes convenções da OIT

Número
Princípio Convenções de Ratificações
(janeiro de 2012)
Liberdade sindical e a proteção do direi- Convenção 87 (1948) 150
to de organização e negociação coletiva Convenção 98 (1949) 160
Idade mínima de admissão ao emprego e
Convenção 138 (1973) 161
proibição das piores formas de trabalho
Convenção 182 (1999) 174
infantil
Convenção 29 (1930) 175
Proibição do trabalho forçado
Convenção 105 (1957) 169
Direito à igualdade de remuneração e
Convenção 100 (1951) 168
proibição da discriminação em matéria
Convenção 111 (1958) 169
de emprego e profissão
(Fonte: ILO: www.ilo.org)
360 II. MÓDULOS SOBRE QUESTÕES SELECIONADAS DE DIREITOS HUMANOS

Como resposta aos novos desafios coloca- Apenas três Estados (República das Mal-
dos pela globalização, no dia 18 de junho divas, as Ilhas Marshall e Tuvalu) não ti-
de 1998, a OIT adotou a Declaração re- nham ratificado nenhuma convenção fun-
lativa aos Princípios e Direitos Funda- damental.
mentais no Trabalho e respetivo Acom- A OIT também emite, anualmente, rela-
panhamento. Define, com precisão, que tórios globais sobre o progresso feito, por
princípios e direitos dos trabalhadores são todos os Estados Partes, na implementação
fundamentais, nomeadamente, as princi- dos princípios fundamentais, de quatro em
pais convenções da OIT acima referidas. quatro anos, e que servem como base de
Este é um primeiro passo para uma imple- avaliação da eficácia das medidas tomadas
mentação prática correta para a adesão às durante o período precedente.
Convenções da OIT, a nível nacional, as-
sim como para adicionar ao diálogo inter- A Declaração Universal
nacional os direitos humanos relacionados dos Direitos Humanos (DUDH)
com o trabalho. Reflete o compromisso A Declaração Universal dos Direitos Hu-
dos Estados perante um conjunto comum manos contém um vasto leque de direitos
de valores expressos num certo número humanos relacionados com o trabalho. To-
de regras que constituem um “mínimo so- dos estes direitos são desenvolvidos, com
cial”. mais detalhe, nos dois Pactos da ONU,
que os tornam vinculativos para os seus
Hoje em dia, o trabalho adequado é uma Estados Partes. Infra, encontra-se um ex-
exigência global, com a qual se depara a trato da DUDH com a lista dos direitos em
liderança política e empresarial, em todo o questão.
mundo. Muito do nosso futuro comum de-
pende da forma como respondemos a este
“Ninguém será mantido em escravatura
desafio.”
ou em servidão […]. Toda a pessoa tem
Organização Internacional do Trabalho. 1999.
direito à liberdade de reunião e de asso-
ciação pacíficas […]. Toda a pessoa tem
A Declaração afirma que todos os mem-
direito ao trabalho, à livre escolha do tra-
bros da OIT, independentemente da rati-
balho, a condições equitativas e satisfa-
ficação das convenções em questão, são
tórias de trabalho e à proteção contra o
obrigados a respeitar, promover e pôr em
desemprego. Todos têm direito, sem dis-
prática os direitos fundamentais previstos
criminação alguma, a salário igual por
nas convenções. Os Estados que não te-
trabalho igual. Quem trabalha tem direi-
nham ratificado as convenções principais
to a uma remuneração equitativa e satis-
têm de apresentar relatórios anuais sobre
fatória, que lhe permita e à sua família
o progresso feito na implementação dos
uma existência conforme com a dignida-
princípios inscritos na Declaração. Como
de humana, e completada, se possível,
resultado desta iniciativa, a Declaração
por todos os outros meios de proteção so-
contribuiu para um aumento significativo
cial. Toda a pessoa tem o direito de fun-
de ratificações das convenções fundamen-
dar com outras pessoas sindicatos e de
tais dos direitos humanos. A 3 de janeiro
se filiar em sindicatos para a defesa dos
de 2012, 135 dos 183 membros da OIT ti-
seus interesses. Toda a pessoa tem direito
nham ratificado todas as oito convenções.
K. DIREITO AO TRABALHO 361

• desumanizado, tratado como uma mer-


ao repouso e aos lazeres e, especialmen- cadoria ou comprado e vendido como
te, a uma limitação razoável da duração uma propriedade;
do trabalho […]. Toda a pessoa tem di- • limitado fisicamente ou com restrições
reito a um nível de vida suficiente para na sua liberdade de movimento”.
lhe assegurar e à sua família a saúde e o (Fonte: Anti-Slavery International.What is
bem-estar […] e tem direito à segurança Modern Slavery?)
no desemprego, na doença, na invalidez
[…] ou noutros casos de perda de meios Que tipos de escravidão existem hoje?
de subsistência […]” • O trabalho em regime de servidão por
Declaração Universal dos Direitos Hu- dívidas afeta milhões de pessoas no
manos: Artos 4º, 20º, 23º, 24º e 25º. mundo. As pessoas tornam-se trabalha-
dores em regime de servidão por terem
pedido ou terem sido levadas a pedir
O Pacto Internacional um empréstimo por tão pouco como o
sobre os Direitos Civis preço de um medicamento para um fi-
e Políticos (PIDCP) lho doente. Para pagar a dívida, muitas
são forçadas a trabalhar longas horas,
Proibição da Escravatura sete dias por semana, 365 dias por ano.
“Ninguém será mantido em servidão […] Recebem alimentação básica e abrigo
Ninguém será constrangido a realizar como “pagamento” pelo seu trabalho,
trabalho forçado ou obrigatório […].” porém, podem nunca conseguir pagar
PIDCP, artº 8º o empréstimo, que pode passar para as
gerações seguintes.
Embora universalmente condenadas, a • O casamento precoce e o casamento
escravatura e as práticas de trabalho for- forçado afetam mulheres e meninas
çado, ainda persistem, hoje em dia, sob que se casam sem terem escolha e que
várias formas. Muitas vezes, estão pro- são forçadas a vidas de servidão, acom-
fundamente enraizadas quer em conside- panhadas, frequentemente, por abuso e
rações ideológicas, quer em heranças cul- violência física e sexual.
turais tradicionais. De acordo com a OIT, • O trabalho forçado afeta pessoas que
há uma aparente ligação a estruturas não são recrutadas ilegalmente por indiví-
democráticas. Milhões de homens, mulhe- duos, governos ou partidos políticos e
res e crianças, por todo o mundo, são for- que são forçadas a trabalhar, normal-
çados a viver a sua vida como escravos. mente, sob a ameaça da violência ou de
Embora esta exploração não seja, muitas outras sanções.
vezes, apelidada de escravatura, as condi- • A escravidão pelo ascendente dá-se
ções são as mesmas. “Um escravo é: quando as pessoas nascem no seio de
• forçado a trabalhar – através de amea- uma “classe escrava” ou pertencem
ças mentais ou físicas; a um grupo que a sociedade vê como
• propriedade ou controlado por um “pa- apto a ser usado como trabalhadores
trão”, normalmente, através de abuso escravos.
mental ou físico ou ameaça de maus • O tráfico envolve o transporte e/ou o
tratos; comércio de seres humanos, normal-
362 II. MÓDULOS SOBRE QUESTÕES SELECIONADAS DE DIREITOS HUMANOS

mente mulheres e crianças, para ganhos para efeitos de exploração laboral e sexual
económicos, através do uso da força ou e também a adoção de planos nacionais
do engano. Muitas vezes, as mulheres de ação em muitos países. Vários países
migrantes são enganadas e forçadas ao foram ao ponto de criar e formar unida-
trabalho doméstico ou à prostituição. des especiais para identificação de casos
• As piores formas de trabalho infantil de trabalho forçado e libertar as vítimas.
referem-se a crianças que trabalham em
condições de exploração ou de perigo. O Pacto Internacional sobre
Milhões de crianças em todo o mundo os Direitos Económicos,
trabalham a tempo inteiro, privadas de Sociais e Culturais (PIDESC)
educação e de diversão cruciais para o
seu desenvolvimento pessoal e social. O Direito ao Trabalho
(Fonte: Anti-Slavery International. What is “Os Estados Partes no presente Pacto
Modern Slavery?) reconhecem o direito ao trabalho, que
compreende o direito que têm todas as
De acordo com o Relatório Global de 2005 pessoas de assegurar a possibilidade de
da OIT, “Uma Aliança contra o Trabalho ganhar a sua vida por meio de um tra-
Forçado”, pelo menos 12.3 milhões de pes- balho livremente escolhido ou aceite […]
soas são vítimas de trabalho forçado em As medidas que cada um dos Estados
todo o mundo. Destes, 9.8 milhões são ex- Partes […] tomará com vista a assegurar
plorados por agentes privados, incluindo o pleno exercício deste direito devem in-
mais de 2.4 milhões em trabalho forçado, cluir programas de orientação técnica e
como resultado do tráfico humano. Outros profissional […]”
2.5 milhões são forçados a trabalhar, obri-
PIDESC, artº 6º
gados pelos Estados ou por grupos milita-
res rebeldes. O Relatório Global sobre Tra-
balho Forçado da OIT, de 2009, intitulado O Trabalho: Direito ou Obrigação?
“O Custo da Coerção”, não atualiza estes A correlação entre o conceito de trabalho
dados que se baseavam em extrapolações enquanto dever que requer esforço físico
de casos reais de trabalho forçado relata- ou mental e o conceito do direito ao traba-
dos durante um período de 10 anos. Ao in- lho, por vezes, provoca confusão quanto à
vés, o relatório analisou de um modo mais utilidade prática de tal direito. O trabalho,
aprofundado o custo financeiro que repre- contudo, está intimamente relacionado
sentava para os trabalhadores, afetados com a dignidade humana e com a partici-
em termos de salários não pagos, horas ex- pação da pessoa na sociedade, enquanto o
traordinárias não remuneradas, deduções desemprego pode conduzir a uma severa
a salários e taxas, uma estimativa de cerca frustração e, mesmo, depressão. O traba-
de 20 biliões de dólares americanos. A OIT lho também pode ser um meio de reali-
está atualmente a tentar reunir fundamen- zação pessoal e contribuir positivamente
tos para estimativas por países, mais fiá- para o desenvolvimento pessoal.
veis. Apesar dos vários hiatos e desafios, O direito ao trabalho pretende garantir que
o relatório de 2009 apresenta algumas ten- ninguém é excluído do mundo do trabalho,
dências positivas: novas leis, particular- ao tratar predominantemente do acesso ao
mente, contra o tráfico de seres humanos trabalho, mas também incluindo proteção
K. DIREITO AO TRABALHO 363

relativa a despedimentos injustos. O direito sua escolha […], com vista a favorecer e
ao trabalho, contudo, não inclui a garantia proteger os seus interesses económicos e
de que cada pessoa tenha emprego; de fac- sociais; […]; o direito de greve […]”
to, o desemprego existe em todos os Esta-
dos. Os governos, porém, têm de agir, por PIDESC, artº 8º
todos os meios apropriados, de modo a as-
segurar progressivamente o pleno exercício Unir-se em organizações foi sempre uma
deste direito (artº 2º PIDESC), principal- forma de as pessoas melhorarem a sua se-
mente, através da adoção e implementação gurança, quer no local de trabalho, quer
de políticas nacionais de emprego. dentro das respetivas comunidades e na-
ções.
O Direito a Condições de Trabalho Justas O artº 8º do PIDESC está estreitamente li-
e Favoráveis gado à liberdade de associação. O direito
à negociação coletiva torna a liberdade de
“Os Estados Partes […] reconhecem o associação efetiva no mundo do trabalho.
direito de todas as pessoas de gozar de Estes direitos são considerados importan-
condições de trabalho justas e favoráveis, tes porque através deles se abre, muitas
que assegurem […] um salário equitativo vezes, o caminho para a concretização
e uma remuneração igual para um tra- de outros direitos fundamentais e direitos
balho de valor igual, sem nenhuma dis- no trabalho. Contudo, nem sempre têm o
tinção […]; uma existência decente […]; mesmo reconhecimento ou compromisso
condições de trabalho seguras e higiéni- públicos, como por exemplo, o combate
cas; iguais oportunidades para todos de ao trabalho infantil.
promoção […]; repouso, lazer e limitação
razoável das horas de trabalho[…]” Direitos Relativos à Igualdade
PIDESC, artº 7º de Tratamento
e à Não Discriminação
Este artigo, inter alia, estabelece a exis- Quando se discutem direitos no âmbito do
tência de uma remuneração mínima, ga- trabalho, não se pode deixar de considerar
rantindo uma vida decente, assim como as normas relativas aos princípios da não
condições de trabalho justas e favoráveis. discriminação e da igualdade de tratamen-
Está intimamente ligado a um vasto núme- to. No seu Relatório Global de 2011, inti-
ro de convenções adotadas pela OIT e que tulado “Igualdade no Trabalho: o Desafio
também são utilizadas pelo Comité dos Contínuo” (Equality at Work: The conti-
Direitos Económicos, Sociais e Culturais nuing Challenge), a OIT debateu uma sé-
para que os Estados ponham em prática as rie de tendências positivas, já que são im-
obrigações decorrentes desta disposição. plementadas em todo o mundo cada vez
mais leis e iniciativas institucionais e há
O Direito de Formar Sindicados e de Se uma crescente consciencialização sobre a
Sindicalizar necessidade de superar a discriminação no
trabalho. Contudo, novos desafios emergi-
“Os Estados Partes (reconhecem) o direi- ram com a recente crise global financei-
to de todas as pessoas de formarem sin- ra. O relatório adverte para a tendência,
dicatos e de se filiarem no sindicato da durante recessões económicas, de mar-
364 II. MÓDULOS SOBRE QUESTÕES SELECIONADAS DE DIREITOS HUMANOS

ginalizar políticas antidiscriminação e os discriminação relacionada com a gravidez e


direitos dos trabalhadores. Por exemplo, maternidade ainda são comuns.
as leis e instituições que atuam no sentido (Fonte: OIT. 2011. Equality at work: The
da prevenção da discriminação no local de continuing challenge. Global Report under
trabalho podem tornar-se menos efetivas the follow-up to the ILO Declaration on Fun-
quando os negócios ficam sobrecarrega- damental Principles and Rights at Work.)
dos com dívidas. Durante estes períodos,
a discriminação institucionalizada é agra- Direitos Humanos das Mulheres
vada. O relatório demonstra também que a
discriminação no local de trabalho se tor- Como referido no Relatório Global da OIT
nou mais variada e a discriminação com de 2011 sobre igualdade no trabalho, a dis-
base em causas múltiplas está a tornar-se criminação baseada na etnia (e género)
uma prática comum. é abordada pela maioria das legislações
sobre antidiscriminação no trabalho. Con-
Um importante marco no reconhecimento tudo, o racismo no trabalho ainda ocorre
de iguais direitos das mulheres, no que sob várias formas, devido à falta de aces-
diz respeito ao acesso às oportunidades so ao mercado de trabalho, intimidação
económicas, foi a adoção da Convenção (bullying) no local de trabalho, anúncios
sobre a Eliminação de Todas as Formas de trabalho discriminatórios, recusa de re-
de Discriminação contra as Mulheres conhecimento de diplomas estrangeiros,
(CEDM), um instrumento internacional etc. Os grupos mais vulneráveis são as
que também se dirige aos direitos repro- pessoas de ascendência Africana e Asiá-
dutivos das mulheres. Para prevenir a tica, as populações indígenas e as mino-
discriminação das mulheres com base no rias étnicas e, especialmente, as mulheres
casamento ou na maternidade e para lhes dentro destes grupos, que são vítimas de
assegurar o direito ao trabalho, os Estados discriminação intersectorial.
Partes devem proibir o despedimento com
base na gravidez ou em licença de mater-
Em 2009, 45% de todas as queixas re-
nidade e a discriminação fundada no casa-
lativas a discriminação no emprego
mento. Além disso, devem introduzir a li-
recebidas pelo Centro para as Oportu-
cença de maternidade com pagamento ou
nidades Iguais e Oposição ao Racismo
com regalias sociais idênticas, sem perda
na Bélgica, estavam relacionadas com
do posto de trabalho.
racismo. De modo semelhante, a Co-
Apesar de ter havido progressos signifi-
missão Australiana para os Direitos Hu-
cativos em relação à igualdade de género
manos informou que 44% das queixas
no local de trabalho em décadas recentes,
recebidas relacionadas com racismo se
a igualdade de género e o tratamento igual
referiam a emprego. Na Comissão para
não foram, de modo algum, atingidos. As
os Direitos Humanos da Nova Zelân-
mulheres ainda são vítimas de discrimina-
dia, a pergentagem era de 40%. As ta-
ção em termos de acesso ao trabalho, bene-
xas de desemprego podem ser usadas
fícios e condições de trabalho e acesso a po-
como indicadores ulteriores sobre o
sições de tomada de decisão ou de alto nível.
racismo e discriminação racial na área
Ademais, os salários das mulheres são, em
do emprego: a taxa de desemprego nos
média, 70-90% dos salários dos homens e a
K. DIREITO AO TRABALHO 365

Estados Unidos, por exemplo, entre as a baixa taxa de empregabilidade relativa


pessoas negras permanece quase o do- às mesmas.
bro da taxa relativa a brancos e o hiato
tem aumentado desde o início da crise Níveis de Obrigação
económica. Os dados na Europa são se- A eficácia máxima dos instrumentos in-
melhantes. Ademais, como salientado ternacionais é sempre contingente no que
pelo Centro Europeu para os Direitos toca às medidas adotadas pelos governos
dos Roma (European Roma Rights Centre para concretizarem as suas obrigações
– ERRC), “a discriminação racial contra legais internacionais. Os deveres dos Es-
os Roma é ainda um problema comum e tados relacionados com os direitos atrás
persistente por toda a Europa. […] Mui- mencionados incluem:
tos Romani permanecem sem educação e • A obrigação de respeitar:
estão desempregados […]”. A mais básica das obrigações dos Esta-
dos é respeitar a proibição da escrava-
tura e do trabalho forçado. Outro aspeto
Não Discriminação
importante é respeitar a liberdade de as-
Direitos das Minorias sociação, de se sindicalizar e de formar
sindicatos. Estes direitos são frequente-
Os anos 80 foram proclamados como a mente violados, já que eles têm poten-
“Década das Nações Unidas para as Pesso- cial para pressionar um Estado a imple-
as com Deficiência” pela Assembleia-Ge- mentar outros direitos importantes dos
ral. O Programa Mundial de Ação relativo trabalhadores.
às Pessoas com Deficiência foi iniciado • A obrigação de proteger:
para permitir aos governos e organiza- Os Estados Partes são obrigados a es-
ções implementar medidas para melhorar tabelecer padrões mínimos, não sendo
a vida das pessoas com deficiência por permitido que as condições de trabalho,
todo o mundo. Em 2006, foi adotada a de qualquer trabalhador, desçam abaixo
Convenção sobre os Direitos das Pessoas desses níveis. Além disso, o direito ao
com Deficiência. O artº 27º consagra o trabalho exige proteção contra despe-
“direito das pessoas com deficiência a tra- dimentos injustos e, em qualquer caso,
balhar, em condições de igualdade com as os Estados têm de assegurar proteção
demais; isto inclui o direito à oportunidade contra a discriminação no acesso ao tra-
de ganhar a vida através de um trabalho balho.
livremente escolhido ou aceite num merca- • A obrigação de promover:
do e ambiente de trabalho aberto, inclusivo No que respeita ao trabalho, esta obri-
e acessível a pessoas com deficiência.” A gação deve ser entendida como a obri-
implementação da Convenção pelos Es- gação de facilitar o acesso ao trabalho,
tados Partes é monitorizada pelo Comité providenciando orientação vocacional e
dos Direitos das Pessoas com Deficiência. facilidades de formação.
Contudo, a discriminação relacionada com • A obrigação de implementar:
o trabalho contra as pessoas com deficiên- Embora o direito ao trabalho seja, muitas
cia ainda existe para muitas das 650 mi- vezes, mal compreendido neste sentido,
lhões de pessoas com deficiência (cerca de não é exigido aos Estados a garantia de
10% da população mundial), como revela um posto de trabalho para toda a gente,
366 II. MÓDULOS SOBRE QUESTÕES SELECIONADAS DE DIREITOS HUMANOS

mas é-lhes requerido que prossigam po- O pescador olhou para cima, sorriu e
líticas que levem a um constante desen- respondeu, “E qual será a minha recom-
volvimento económico, social e cultural pensa?”
e a um emprego produtivo e a tempo
inteiro (ex. políticas de pleno emprego). “Bom, pode conseguir redes maiores e
apanhar mais peixe!”, foi a resposta do
turista.
3. PERSPETIVAS
INTERCULTURAIS “E depois, qual será a minha recompen-
E QUESTÕES CONTROVERSAS sa?”, perguntou o pescador, continuando
a sorrir.
Neste enquadramento jurídico internacio- O turista respondeu, “Ganhará dinhei-
nal, as atividades de implementação têm ro e poderá comprar um barco, o que
de ter em consideração as mais variadas resultará numa maior quantidade de
formas segundo as quais pessoas oriundas pescado!”
de contextos étnicos e culturais diferentes “E depois, qual será a minha recompen-
abordam e experienciam o mundo do tra- sa?” perguntou, novamente, o pescador.
balho. A bem conhecida parábola do pes-
cador é uma boa ilustração para o facto O turista começava a ficar um pouco irri-
de que o “trabalho” tem valor diferente tado com as perguntas do pescador.
em contextos culturais diferentes e, assim, “Pode comprar um barco maior e con-
as medidas que vão alterar os modelos de tratar pessoas que trabalhem para si!”,
trabalho têm de ser ponderadas com as ex- disse ele.
pectativas e afinidades culturais.
“E depois, qual será a minha recom-
pensa?”
Uma Parábola: O Pescador O turista começava a ficar zangado.
“Será que não percebe? Pode construir
Ao fim de uma manhã, um pescador es-
uma frota de barcos de pesca, velejar por
tava estendido numa linda praia, com as
todo o mundo e deixar que os seus em-
suas redes espalhadas pela areia, estava
pregados apanhem peixe por si.”
a desfrutar do calor do sol, mirando, de
vez em quando, as resplandecentes on- Mais uma vez o pescador perguntou, “E
das azuis. depois, qual será a minha recompensa?”
Por essa altura, um turista caminhava O turista estava vermelho de fúria e gri-
pela praia. Reparou no pescador sentado tou ao pescador, “Será que não percebe
na praia e decidiu descobrir por que ra- que pode ficar tão rico que nunca mais
zão estava este pescador a relaxar em vez terá de trabalhar na vida! Pode passar
de estar a trabalhar duro para ganhar o resto dos seus dias sentado na praia,
sustento para si e para a sua família. olhando o pôr do sol. Não terá uma preo-
“Dessa forma não apanhará muito pei- cupação no mundo!”
xe”, disse o turista, “devia estar a traba- O pescador, continuando a sorrir, olhou
lhar mais arduamente, em vez de estar para cima e disse, “E o que pensa que
estendido na praia!” estou a fazer neste momento?”
K. DIREITO AO TRABALHO 367

4. IMPLEMENTAÇÃO de cumprimento, desde 1967 observaram-


E MONITORIZAÇÃO se cerca de 2.000 alterações na legislação
laboral e social nacional em mais de 130
As convenções vinculam os Estados que países.
as ratificaram. Contudo, a eficácia dos Além deste mecanismo de supervisão, a
instrumentos internacionais depende da OIT possui dois procedimentos de quei-
vontade dos Estados de os fazer cumprir xa separados para a implementação de
através de leis nacionais e de acatar as normas laborais. O primeiro permite que
decisões das autoridades encarregadas empregadores ou organizações de traba-
de monitorizar a sua aplicação. Existem lhadores apresentem queixa contra um Es-
possibilidades limitadas de sanções con- tado Parte. O segundo permite que um Es-
tra um Estado que não cumpra as suas tado Parte e os delegados da Conferência
obrigações. Muitas vezes, o cumprimen- Internacional do Trabalho (delegados do
to depende da “mobilização da vergo- governo, dos trabalhadores ou dos empre-
nha”. Tais mecanismos de cumprimento gadores) apresentem queixa contra outro
fracos levaram a que se advogasse a in- Estado Parte. Depois, pode ser nomeada
terligação dos direitos humanos, e parti- uma comissão de inquérito.
cularmente dos direitos laborais, com o Convém mencionar que, além destes
comércio. Isto possibilitaria sanções co- mecanismos, um Comité especial da Li-
merciais contra os Estados que violassem berdade Sindical examina alegações de
normas internacionais. Todavia, este as- violações de direitos sindicais. As quei-
sunto é bastante controverso. As sanções xas podem ser apresentadas contra qual-
comerciais forçariam os Estados a legis- quer governo, tenha ou não ratificado
lar contra certas práticas, por exemplo, as convenções relevantes. Desde a sua
a proibição do trabalho infantil, porém, criação, em 1950, o Comité experimen-
os problemas requerem soluções muito tou sucessos desde a alteração de leis e a
mais complexas. reinserção de trabalhadores dispensados
à libertação de membros de sindicatos
Para o cumprimento das normas interna- presos.
cionais, a OIT e a ONU designaram vários O órgão da ONU que monitoriza a imple-
procedimentos de supervisão e de quei- mentação adequada do PIDESC é o Co-
xa. Os Estados Partes das convenções da mité dos Direitos Económicos, Sociais e
OIT têm de apresentar relatórios periódi- Culturais. Ao contrário dos outros órgãos
cos que são analisados e comentados pela dos tratados dos direitos humanos, não
Comissão de Peritos para Aplicação das foi estabelecido pelo correspondente ins-
Convenções e Recomendações. Os relató- trumento mas, em 1985, foi encarregado
rios desta Comissão são, depois, apresen- pelo ECOSOC da monitorização do Pac-
tados na anual Conferência Internacional to. O Comité, atualmente, funciona sob a
do Trabalho. Cada ano, a Conferência leva orientação de 18 peritos independentes.
a cabo um exercício de avaliação interpa- Em novembro de 2005, o Comité emitiu
res e emite conclusões respeitantes à apli- um Comentário Geral sobre o direito ao
cação das convenções por alguns Estados trabalho que explica e desenvolve o con-
Partes. Embora este procedimento possa teúdo deste direito e as medidas que os
parecer menos incisivo como instrumento Estados devem tomar para a sua realiza-
368 II. MÓDULOS SOBRE QUESTÕES SELECIONADAS DE DIREITOS HUMANOS

ção. Uma vez que o direito ao trabalho se siões, o Comité identificou violações do
encontra associado ao direito a não ser Pacto e, consequentemente, pressionou
discriminado, outros Comentários Ge- os Estados a cessar a violação dos direitos
rais estão relacionados com assuntos no em questão.
âmbito do trabalho. Por exemplo, o Co- No entanto, ainda não é possível aos in-
mentário Geral sobre o direito igual de divíduos ou grupos submeterem queixas
homens e mulheres a gozar de todos os formais ao Comité sobre a violação dos
direitos económicos, sociais e culturais seus direitos. A Assembleia-Geral da ONU
inclui a obrigação de uma realização pro- adotou, a 10 de dezembro de 2008, um
gressiva de pagamento igual. Protocolo Facultativo ao Pacto. Em janeiro
Os Estados Partes do Pacto têm de apre- de 2012, apenas cinco Estados tinham ra-
sentar relatórios a cada 5 anos, especifi- tificado o Protocolo Facultativo, que ainda
cando as medidas legislativas, políticas não entrou em vigor8.
e outras, tomadas para garantir os direi-
tos económicos, sociais e culturais. Após
a análise dos relatórios pelo Comité e o 8
Nota da versão em língua portuguesa: O Protocolo
debate com os delegados dos Estados em Facultativo ao Pacto Internacional sobre os Direitos
Económicos, Sociais e Culturais entrou em vigor no
questão, o Comité emite considerações
dia 5 de Maio de 2013 tendo, nessa data, 10 Estados
nas “observações finais”. Em várias oca- Partes

CONVÉM SABER
Programa conseguiu alargar as suas ativi-
1. BOAS PRÁTICAS dades operacionais dos iniciais 6 para os
atuais 88 países, sendo que as despesas
Programa Internacional para a Elimina- anuais em projetos de cooperação técnica
ção do Trabalho Infantil (PIETI) atingiram, em 2008, mais de 61 milhões
Em 1992, a OIT desenvolveu o Programa de dólares americanos. Isto faz do PIETI o
Internacional para a Eliminação do Tra- maior programa do género no mundo.
balho Infantil (PIETI). Trabalhando em Contrariamente às tendências positivas
conjunto com governos nacionais, parcei- registadas no estudo prévio completado
ros sociais, bem como ONG, o PIETI de- em 2006, intitulado “O Fim do Trabalho
senvolve programas especiais, tendo em Infantil: um Objetivo ao Nosso Alcance”
consideração a complexidade do assunto (The End of Child Labour: Within Reach),
e a necessidade de métodos ponderados e o Relatório da OIT de 2010 “Acelerar a Ação
consistentes para solucionar o problema. contra o Trabalho Infantil”, demonstra pre-
Por exemplo, de modo a encontrar alter- ocupações crescentes relativas aos esforços
nativas ao trabalho infantil, o PIETI lan- de eliminação do (das piores formas do)
çou programas para retirar as crianças do trabalho infantil. O relatório menciona que
mundo do trabalho e dar-lhes alternativas o número global de crianças trabalhadoras
educacionais, bem como arranjar para as tem continuado a sua tendência decrescen-
famílias fontes alternativas de rendimen- te, tendo diminuído, no total, de 222 mi-
to e segurança. Desde que foi fundado, o lhões para 215 milhões entre 2004 e 2008
K. DIREITO AO TRABALHO 369

(3%). No entanto, esta diminuição abran- publicitaram, amplamente, a campanha.


dou a um ritmo preocupante. Este relató- Estima-se que 12 milhões de pessoas rece-
rio também exprime preocupações sobre beram a mensagem no Quénia e 5 milhões,
o impacto da crise económica global que na Zâmbia. Em alguns países africanos,
pode inibir o progresso no sentido de se al- como o Egito ou o Gana, o entusiasmo pela
cançar o objetivo sugerido originariamente campanha foi tão grande que esta passou
no Relatório Global sobre Trabalho Infantil a fazer parte de muitas competições de fu-
de 2006: a eliminação das piores formas tebol seguintes, nacionais ou locais, e de
de trabalho infantil até 2016. Consequen- outros eventos públicos.
temente, na Conferência Internacional do
Trabalho, em junho de 2010, o Conselho de
Sabia que…
Administração introduziu o Plano de Ação
Global que inclui uma agenda estratégica e • Globalmente, quase 306 milhões de
um plano de ação para que a OIT e o PIETI crianças, com idades compreendidas
possam prosseguir o objetivo mencionado entre os 5 e os 17, trabalham.
supra. Também inclui um Roteiro para a
Eliminação das Piores Formas de Trabalho • O número de crianças trabalhadoras
Infantil até 2016, adotado por mais de 450 (crianças que têm uma idade inferior à
delegados de 80 países na Conferência Glo- idade mínima para trabalhar ou acima
bal sobre Trabalho Infantil que decorreu em dessa idade e que desenvolvem um
Haia, em maio de 2010. trabalho que representa uma ameaça
Além disso, o Dia Mundial contra o Trabalho para a sua saúde, segurança ou moral
Infantil em 2011 chamou a atenção global ou que estão sujeitas a condições de
para o trabalho infantil perigoso e apelou à trabalho forçado) continua a diminuir
ação urgente para fazer face ao problema. mas em menor medida do que há al-
guns anos. Aproximadamente 70% de
Em parceria com a Confederação Africana todas as crianças que trabalham (ver
de Futebol e os organizadores do Campe- supra), 215 milhões no total, são clas-
onato das Nações Africanas, o PIETI rea- sificadas como trabalhadores infantis.
lizou uma enorme campanha de sensibili- • Um pouco mais da metade de todas as
zação sobre o trabalho infantil, por ocasião crianças trabalhadoras, um total de 115
do Campeonato de 2002, no Mali. Com milhões de crianças, fazem trabalhos
uma mensagem simples e direta: “Cartão perigosos. O número de crianças en-
Vermelho ao Trabalho Infantil”, uma refe- volvidas em trabalho perigoso também
rência aos cartões vermelhos dos árbitros decresceu, particularmente o número
nos jogos de futebol, a campanha utilizou daquelas com idade inferior a 15 anos.
vários meios de informação – vídeos, músi-
ca popular e material impresso, divulgados • Estima-se que 8.4 milhões de crianças
pela televisão, rádios, duas companhias aé- estejam expostas às piores formas de tra-
reas internacionais e nos próprios jogos de balho infantil, incluindo trabalho força-
futebol – para chegar a milhões de pessoas do e servidão por dívidas (5.7 milhões),
em África e não só. Foram realizadas ativi- prostituição e pornografia (1.8 milhões),
dades em 21 nações africanas e os meios conflitos armados (0.3 milhões) e ativi-
de informação nacionais de vários países dades criminosas (0.6 milhões).
370 II. MÓDULOS SOBRE QUESTÕES SELECIONADAS DE DIREITOS HUMANOS

• A maioria das crianças trabalhadoras pressão política à escala internacional ou,


com idades compreendidas entre os 5 simplesmente, por meio das escolhas dos
e os 17 trabalha na agricultura (60%), consumidores de não comprar determina-
cerca de 26% no setor dos serviços e dos produtos. Cada vez mais, esta pressão
7% na indústria. resulta na adoção de códigos de conduta
empresarial, incluindo direitos humanos,
• Apenas uma em cada cinco crianças normas laborais bem como preocupações
trabalhadoras desempenha um traba- ambientais.
lho remunerado, sendo que a grande Exemplos proeminentes, entre outros, são
maioria é trabalhadora familiar de for- o Código de Conduta de Vendedor da Gap
ma não remunerada. Inc. ou as Diretrizes (Global Sourcing and
• Entre as meninas, regista-se um de- Operating Guidelines) da Levi Strauss and
créscimo nos números do trabalho in- Co.. Estes códigos de conduta autoimpos-
fantil, enquanto os números relativos tos são dirigidos aos empregados e/ou par-
a meninos aumentaram ligeiramente. ceiros contratuais e fornecedores dessas
• O maior número de crianças traba- companhias. Englobam, inter alia, normas
lhadoras regista-se na região da Ásia- de segurança ocupacional e de saúde, a li-
Pacífico (113.6 milhões), seguida pela berdade de associação, os salários e bene-
África Subsaariana (65.1 milhões), fícios, o tempo de trabalho, o trabalho in-
América Latina e Caraíbas (14.1 mi- fantil, as práticas não discriminatórias de
lhões) e outras regiões (22.4 milhões). contratação, etc. Para mais exemplos ver:
No entanto, o trabalho infantil é igual- http://www1.umn.edu/humanrts/links/
mente comum nos países desenvolvi- sicc.html.
dos.
Há demonstrações evidentes de que estes
(Fonte: OIT. 2010. Accelerating Action
esforços têm um efeito positivo nas con-
against Child Labour.)
dições sociais. Porém, as normas incor-
poradas nestes códigos de conduta têm
Direitos Humanos da Criança por objetivo atingir os padrões nacionais
mais baixos, em vez dos padrões elevados
Códigos de Conduta nas Empresas relati- estabelecidos pelos instrumentos interna-
vos ao Trabalho e aos Direitos Humanos cionais dos direitos humanos. Além disso,
As empresas multinacionais já não podem não têm sistemas de monitorização efeti-
escapar à responsabilidade pelas suas ati- vos, especialmente quando nenhum con-
vidades. O seu poder (financeiro) pode ser trolo externo é estabelecido pelo código
comparado ou excede mesmo o dos Esta- de conduta da empresa. Poder-se-á dizer
dos. Os Estados já não são os únicos poten- que, deste modo, as empresas não fazem
ciais violadores dos direitos humanos. Há mais do que falar sobre normas estabele-
um crescente interesse sobre a responsa- cidas. Ou, como referido pelo Conselho
bilidade das companhias privadas de res- Internacional dos Direitos Humanos na
peitar os direitos humanos. Os consumi- sua publicação “Além do Voluntarismo:
dores e os órgãos internacionais, como as Direitos Humanos e o Desenvolvimento
ONG, têm a capacidade de mudar práticas das Obrigações Legais Internacionais das
aceites no seio destas empresas, exercendo Empresas”: “Por definição, as iniciativas
K. DIREITO AO TRABALHO 371

voluntárias aplicam-se apenas aos que as ção certa para o aumento da responsabi-
aceitam”. Todavia, são um passo na dire- lidade social.

Tabela 1.5. Tendências globais relativas à atividade económica das crianças por re-
gião, 2004 e 2008 (grupo etário 5-14)

Taxa de atividade
População infantil Crianças no emprego
Região (%)
2004 2008 2004 2008 2004 2008
Ásia e Pacífico 660 000 651815 122300 96397 18.8 14.8
América Latina e
111000 110566 11047 10002 10.0 9.0
Caraíbas
África Subsaaria-
186800 205319 49300 58212 26.4 28.4
na
Outras regiões 258800 249154 13400 10700 5.2 4.3
Mundo 1206500 1216854 196047 176452 16.2 14.5
(Fonte: OIT. 2010. Accelerating Action against Child Labour.)

Iniciativas com Vários Intervenientes locais e ajudam a promover estratégias


As iniciativas com vários intervenientes para apoiar os trabalhadores na sua luta
contribuem, ainda mais, para se fazer pelos seus direitos, caso as intervenções e
face aos desafios sociais (e ecológicos) do a resolução com as respetivas empresas e
desenvolvimento global. Tais iniciativas autoridades públicas tenham falhado (ex.
reúnem diferentes partes interessadas, in- comunicados de imprensa, cartas de ob-
cluindo representantes governamentais, jeção, manifestações, campanhas públicas
sindicatos, empresas e a sociedade civil, para mobilizar os consumidores e ativistas
com o objetivo de encontrar soluções con- por todo o mundo). Através de avaliações,
juntas para problemas complexos. monitorização e a organização de campa-
Um exemplo proeminente, entre outros, é nhas públicas em caso de violações dos
a Campanha Roupas Limpas (Clean Clo- direitos humanos, a CCC exerce pressão
thes Campaign – CCC), uma aliança de sobre as empresas para que as mesmas
organizações em 15 países europeus, cujo dêem um verdadeiro significado a estes
objetivo é melhorar as condições de tra- códigos de conduta empresarial. A aliança
balho nas indústrias globais de vestuário considerou mais de 250 casos de violações
e vestuário de desporto. A CCC assenta de direitos dos trabalhadores, envolvendo
numa rede de parceiros de mais de 200 or- casos de discriminação contra membros
ganizações aliadas, incluindo sindicatos e de sindicatos, condições de trabalho inse-
ONG, em países produtores de vestuário. guras, violência contra trabalhadores, re-
Estas organizações identificam problemas tenção de salários, etc.
372 II. MÓDULOS SOBRE QUESTÕES SELECIONADAS DE DIREITOS HUMANOS

Um outro exemplo conhecido de iniciativas de produtos inclui agora café, cacau, cho-
com vários intervenientes é a Iniciativa so- colate, sumo de laranja, chá, mel, açúcar
bre Comércio Ético (Ethical Trading Initia- e bananas. A Good Weave, anteriormente
tive-ETI). A iniciativa é diferente de outras conhecida como RugMark, é o exemplo de
como a CCC, uma vez que, além de sindi- uma organização global sem fins lucrati-
catos e organizações dos direitos laborais, vos que trabalha para acabar com o traba-
também algumas empresas privadas (mais lho infantil na indústria das carpetes e dos
de 70, em 2010) fazem parte desta aliança. tapetes na Ásia do Sul. A etiqueta Good
Para além de adotarem o Código Base da Weave assegura que nenhum trabalho in-
ETI, um código modelo de prática labo- fantil ilegal foi empregado na manufatura
ral derivado das Convenções da OIT, e de da carpete ou do tapete. A Good Weave uti-
subscreverem os Princípios de Implemen- liza as vendas dos tapetes e das carpetes,
tação da ETI, as empresas membros devem bem como doações, para fornecer apoio e
desempenhar um papel ativo nos projetos educação a anteriores vítimas de práticas
da ETI, trabalhando conjuntamente com de trabalho infantil. Desde a fundação da
sindicatos e ONG. Ademais, devem sub- RugMark International, em 1995, o núme-
meter relatórios anuais à Direção da ETI, ro de crianças trabalhadoras na indústria
sendo que 20% destes resultam de visitas das carpetes e dos tapetes, diminuiu de 1
de validação aleatórias. As tendências re- milhão para 250.000.
gistadas no desempenho da empresa são
monitorizadas por um órgão independente A Fairtrade Labelling Organizations In-
e a qualidade de membro pode perder-se ternational (FLO) existe para assegurar
caso o desempenho da empresa decaia. melhores transações para produtores mar-
Uma avaliação abrangente conduzida entre ginalizados e em desvantagem de países
2004 e 2006 confirmou que as atividades em vias de desenvolvimento. A FLO atri-
dos membros da ETI contribuíram para que bui uma etiqueta, a FAIRTRADE Mark, a
os locais de trabalho fossem mais seguros, produtos que cumprem as normas inter-
para eliminar o trabalho infantil e encorajar nacionalmente reconhecidas relativas ao
os fornecedores a pagar aos empregados o comércio justo. Esta etiqueta pode ser
montante a que estes tinham direito. Con- encontrada na maioria das cadeias de su-
tudo, muitos problemas persistem. permercados europeias e substituiu as eti-
quetas individuais nacionais. Apenas nos
Etiquetagem de Artigos Estados Unidos, um dos membros da FLO
A etiquetagem de artigos produzidos em ainda usa a sua etiqueta original, sendo
conformidade com as boas práticas sociais as etiquetas “Fair Trade Certified” indica-
é um passo recente no sentido de contri- tivas do cumprimento dos parâmetros da
buir para melhores práticas sociais e para Fairtrade. A Fairtrade cresceu significativa-
a proteção dos direitos humanos. Permite mente, devido ao apoio crescente dos con-
que os consumidores influenciem práticas sumidores. Os produtos da Fairtrade são
de produção, usando o seu poder como vendidos em 70 países. Em alguns mer-
compradores para apoiar as boas práticas. cados nacionais, os produtos da Fairtrade
Hoje, existem iniciativas relativas à etique- correspondem a uma quota de mercado
tagem em muitos países, principalmente, entre os 20% e os 50%, em determinados
na Europa e na América do Norte e a gama setores.
K. DIREITO AO TRABALHO 373

O Global Compact da ONU O Global Compact é um conjunto de prin-


O Global Compact da ONU (GC) baseia-se cípios voluntário. Embora seja ampla-
numa ideia lançada pelo ex-Secretário-Geral mente reconhecido como um passo posi-
da ONU, Kofi Annan, numa declaração fei- tivo para incentivar as empresas a atuar
ta ao Fórum Económico Mundial, em 31 de de forma responsável, algumas dúvidas
janeiro de 1999, apelando à comunidade persistem relativamente à sua efetiva im-
empresarial a cumprir com valores apoiados plementação. Os críticos defendem que a
universalmente e a aproximar as empresas ausência de normas legais vinculativas e
das agências da ONU, entidades sindicais e de mecanismos independentes de contro-
da sociedade civil. Annan afirmou que a ten- lo e cumprimento, bem como a falta de
dência emergente da responsabilidade social clareza sobre o significado das próprias
das empresas não tinha uma estrutura inter- normas, são desafios colocados à eficácia
nacional para auxiliar as empresas a desen- da iniciativa.
volver e a promover uma gestão global com
base em princípios e valores. O GC preen- “Escolhamos unir os poderes do mercado
cheu esta lacuna e recebeu grande aceitação com a autoridade de princípios universais.”
pela comunidade empresarial. Kofi Annan.
O GC estabelece 10 princípios essenciais,
incluindo os direitos humanos, questões
relativas ao trabalho, ambientais e an- 2. TENDÊNCIAS
ticorrupção. Quanto ao trabalho, inclui
compromissos relativos ao cumprimento Zonas Francas Industriais de Exportação
das normas básicas sobre o trabalho esta- (ZFE)
belecidas pela OIT, que incluem: Para atrair investidores estrangeiros, cada
• liberdade de associação e reconheci- vez mais países estabelecem as chama-
mento efetivo do direito à negociação das zonas de comércio livre que oferecem
coletiva; isenções, não só de taxas/impostos, mas
• eliminação de todas as formas de traba- também da obrigação de cumprimento de
lho forçado ou obrigatório; normas internacionais laborais e ambien-
• abolição efetiva do trabalho infantil; tais. Em geral, as empresas multinacionais
• eliminação da discriminação em maté- beneficiam de custos de mão-de-obra bai-
ria de emprego e profissão. xos, todavia, muitos trabalhadores afluem
A OIT ajuda a formular medidas concre- a essas zonas porque, mesmo assim, os sa-
tas para promover e aplicar estas normas lários são mais altos do que os de trabalho
de forma eficaz. O website http://www. correspondente fora das ZFE. Em troca, as
unglobalcompact.org oferece acesso fácil condições de trabalho podem ser menos
a informação sobre os princípios desta ini- satisfatórias, por exemplo, relativamente a
ciativa, incluindo uma lista das entidades questões de segurança e saúde. A descon-
participantes. Desde o seu lançamento, sideração de regras de prevenção de incên-
centenas de empresas, agências da ONU, dios, a falta de instalações para primeiros
associações empresariais, organizações socorros e a existência de maquinaria sem
laborais, organizações da sociedade civil, segurança são apenas alguns dos proble-
participantes académicos e cidades aderi- mas que podem ocorrer em ZFE. As con-
ram ao Global Compact. dições têm certamente melhorado com o
374 II. MÓDULOS SOBRE QUESTÕES SELECIONADAS DE DIREITOS HUMANOS

aumento da sua publicidade, todavia, os aumentar devido às disparidades no de-


problemas persistem. senvolvimento económico e industrial.
Estimativas do Banco Mundial (2008) Em 2010, havia um total de 214 milhões de
apontam para a existência de 3000 zonas migrantes internacionais, perfazendo 3%
em 135 países e para o facto de as em- da população mundial. Quase 50% dos
presas ali estabelecidas empregarem 68 mesmos são mulheres. A maioria das pes-
milhões de pessoas. soas que deixa o seu país migra por razões
de trabalho. Os trabalhadores migrantes e
Declínio dos Sindicatos as suas famílias correspondem a cerca de
Em alguns países desenvolvidos, o núme- 90% da migração internacional total. De
ro de membros de sindicatos atingiu um acordo com os dados da OIT de 2010, apro-
mínimo sem precedentes. Nos EUA, por ximadamente 105 milhões dos migrantes
exemplo, apenas cerca de 11,4% dos tra- eram economicamente ativos. A contribui-
balhadores (2010) são membros de um sin- ção destes trabalhadores migrantes para a
dicato. Ademais, os sindicatos perderam economia mundial é enorme. Porém, mui-
muito do seu poder no mundo desenvol- tos são obrigados a trabalhar em condi-
vido, principalmente, devido ao aumento ções terríveis. Demasiadas vezes, os traba-
do poder político detido pelas empresas lhadores migrantes são sujeitos a todos os
multinacionais. Na maioria dos países em tipos de discriminação e exploração, não
vias de desenvolvimento, a liberdade de têm acesso a proteção social e são-lhes ne-
associação dos sindicatos é quase inexis- gados os seus direitos laborais.
tente. Obstáculos de vários tipos existem Além disso, os trabalhadores migrantes,
na organização de trabalhadores e, em cer- entre outros grupos vulneráveis, são parti-
tos países, a violência, tortura, homicídios cularmente afetados pelos abrandamentos
arbitrários e detenções arbitrárias são, co- económicos. Estão frequentemente empre-
mummente, usados para impedir que os gados nos setores da construção e turis-
trabalhadores se unam para reclamar os mo, que são os primeiros a ser afetados
seus direitos. em tempos de crise.
De acordo com o Inquérito Anual de 2011
da Confederação Sindical Internacional, As relevantes Convenções da OIT sobre
no ano de 2010, 90 pessoas foram assas- Trabalhadores Migrantes (Convenções
sinadas devido ao seu envolvimento em nº 97 e nº 143), infelizmente, tiveram
atividades sindicais, 75 sindicalistas rece- poucas ratificações uma vez que os Esta-
beram ameaças de morte, cerca de 2500 dos temem o escrutínio internacional das
foram detidos e 5000 despedidos. Estima- suas políticas de imigração.
se que o número de casos não relatados Um desenvolvimento positivo é a Conven-
seja muito superior. ção das Nações Unidas sobre a Proteção
dos Direitos de todos os Trabalhadores
Crescente Mobilidade Internacional: Migrantes e dos Membros das suas Fa-
Trabalhadores Migrantes mílias, que entrou em vigor a 1 de julho
Hoje, a pobreza e a violência são razões de 2003. O Comité para os Trabalhadores
trágicas que levam milhões de pessoas Migrantes monitoriza a implementação da
a deixar os seus países em busca de um Convenção. Um outro desenvolvimento é
futuro melhor. Esta situação tem vindo a o Quadro Multilateral sobre Migração La-
K. DIREITO AO TRABALHO 375

boral, como parte do plano de ação para das à procura de trabalho durante 12
os trabalhadores migrantes, adotado em meses ou mais é muito superior para
2004, pela Conferência Internacional do os jovens do que para os adultos. Na
Trabalho. Grécia, Itália, Eslováquia e no Reino
Unido, a probabilidade de os jovens
Desemprego dos Jovens ficarem desempregados durante um
Um dos problemas mais preocupantes longo período de tempo era duas a três
com que se deparam, tanto os países de- vezes superior à percentagem relativa
senvolvidos como os países em vias de aos adultos;
desenvolvimento, é o largo e crescente • Entre 2007 e 2010, as taxas de trabalho a
número de jovens desempregados. O ní- tempo parcial para os jovens cresceram
vel de incerteza entre jovens, homens em todas as economias desenvolvidas,
e mulheres, relativamente à procura de exceto na Alemanha.
um trabalho decente é alto, tendo a crise
económica exposto ainda mais a fragi- “Os jovens perfazem mais de 40% do total
lidade da juventude no mundo do tra- mundial de desempregados. Estima-se que
balho, tal como apontou o Relatório da existam, atualmente, 66 milhões de jovens
OIT de 2010 “Tendências Globais sobre desempregados no mundo – o que repre-
Emprego para a Juventude: edição espe- senta um acréscimo de, aproximadamen-
cial sobre o impacto da crise económica te, 10 milhões desde 1965. O subemprego
global na juventude”. A atualização des- é, também, outra crescente preocupação.
te estudo, em 2011, apresenta a infeliz A maioria dos novos empregos são mal
conclusão de que, no contexto atual de remunerados e instáveis. Cada vez mais,
instabilidade económica, a situação não os jovens estão a recorrer ao setor informal
tende a melhorar e as perspetivas futuras para conseguirem subsistir, com pouca ou
não são muito boas. De acordo com este nenhuma proteção laboral, benefícios ou
relatório: perspetivas para o futuro.”
• 75.1 milhões de jovens em todo o mun- Kofi Annan. 2001
do estavam desempregados, mais 4.6
milhões do que em 2007; O desemprego de longa duração, em
• Entre 2008 e 2009, o número global de determinados setores da população, sabe-
jovens desempregados cresceu 4.5 mi- se, afeta a coesão e estabilidade sociais,
lhões [a média de crescimento durante assim como contribui para acentuar as
o período anterior à crise (1997-2007) disparidades económicas e sociais nas
era inferior a 100.000 pessoas por ano]; sociedades. O desemprego dos jovens está,
• A taxa de desemprego jovem cresceu muitas vezes, relacionado com problemas
drasticamente durante a crise, de 11.6% sociais sérios, como a violência, a
a 12.7%; criminalidade, o suicídio e o abuso de
• Por exemplo, no final de 2011, a taxa de drogas e álcool e, dessa forma, o círculo
desemprego jovem, na UE, era de 21%, vicioso perpetua-se.
sendo que, em Espanha, era de quase Quaisquer políticas ou programas dirigidos
50%; ao combate efetivo do desemprego
• Na maioria das economias desenvolvi- jovem devem dirigir-se às causas sociais,
das, a parcela de pessoas desemprega- culturais e económicas desta questão e
376 II. MÓDULOS SOBRE QUESTÕES SELECIONADAS DE DIREITOS HUMANOS

devem também focar-se nas diferentes Em 2001, a OIT adotou um Código de


capacidades e necessidades dos jovens Conduta sobre VIH/SIDA e o Mundo
desempregados dessa sociedade. A do Trabalho, que constitui um quadro
ONU, a OIT e o Banco Mundial criaram para ajudar a prevenir a difusão do VIH/
a Youth Employment Network para tentar SIDA, mitigando também os seus efeitos
solucionar este problema a nível global. no local de trabalho, a nível local e na-
(Fonte: OIT. The Youth Employment cional. Entre os princípios deste Código
Network,http://www.ilo.org/public/ destacam-se a não discriminação no em-
english/employment/yen/) prego, igualdade de género, ambiente de
trabalho saudável, a proibição de testes
VIH/SIDA e o Mundo do Trabalho de VIH para efeitos de emprego, confi-
O problema do VIH/SIDA é uma questão dencialidade e a continuação da relação
que afeta a maioria dos setores da socie- laboral.
dade e, em particular, tem um impacto sig- Em 2010, a Conferência Internacional do
nificativo no mundo do trabalho. De acor- Trabalho adotou o primeiro parâmetro la-
do com a UNAIDS, o crescimento total da boral internacional em matéria de VIH e
epidemia global da SIDA estabilizou, uma SIDA: a Recomendação sobre VIH e SIDA
vez que o número de novas infeções pelo e o Mundo do Trabalho (nº 200). A Reco-
VIH decresceu constantemente, desde os mendação contém, inter alia, a proteção
finais dos anos 90. A taxa de mortalida- contra a discriminação tanto no recruta-
de também reduziu significativamente e, mento, como nos termos e condições de
atualmente, cada vez mais pessoas vivem emprego e proibe o despedimento com
com o VIH, maioritariamente, devido a um base numa infeção pelo VIH real ou sus-
melhor acesso a tratamento médico. Esti- peita.
ma-se que, no final de 2010, 34 milhões de (Fonte: OIT. ILO Programme on HIV/AIDS
pessoas viviam com o VIH; a maioria das and the world of work, http://www.ilo.
mesmas estava empregada (90%). org/public/english/protection/trav/aids.)
Tendo presentes estas estatísticas, é cla-
ro que o VIH/SIDA é um assunto que diz 3. CRONOLOGIA
respeito ao local de trabalho não só porque
1919 Fundação da OIT, como parte do
afeta a capacidade de trabalho, a assiduida-
Tratado de Versalhes, que pôs fim
de e a produtividade, mas também porque
à Primeira Guerra Mundial
o local de trabalho tem um papel vital a de-
sempenhar na luta mais abrangente para li- 1930 Convenção da OIT sobre Trabalho
mitar a propagação e os efeitos económicos Forçado
e sociais da epidemia. O VIH/SIDA ameaça 1948 Convenção da OIT sobre a Liber-
a subsistência de muitos trabalhadores e dade Sindical e Proteção do Direito
dos que destes dependem – famílias, co- Sindical
munidades e empresas. A discriminação 1949 Convenção da OIT sobre o Direito
e a estigmatização de mulheres e homens de Organização e de Negociação
com VIH ameaçam princípios e direitos Coletiva
fundamentais relacionados com o trabalho
e limitam os esforços para a prevenção e 1951 Convenção da OIT sobre Igualdade
cuidado. de Remuneração
K. DIREITO AO TRABALHO 377

1957 Covenção da OIT sobre Abolição 1992 Criação do Programa Internacional


do Trabalho Forçado para a Eliminação do Trabalho In-
1958 Convenção da OIT sobre Discrimi- fantil (PIETI)
nação (emprego e profissão) 1998 Declaração da OIT sobre os Prin-
1966 Pacto Internacional sobre os Direi- cípios e Direitos Fundamentais no
tos Económicos, Sociais e Cultu- Trabalho
rais (PIDESC), artos 6º, 7º e 8º 1999 Convenção da OIT sobre a Interdi-
1966 Pacto Internacional sobre os Direi- ção das Piores Formas de Trabalho
tos Civis e Políticos (PIDCP), artº8 das Crianças
1969 A OIT foi premiada com o Prémio 2001 Criação do Programa Especial de
Nobel da Paz Ação para Combater o Trabalho
Forçado pelo Conselho de Admi-
1973 Convenção da OIT sobre a Idade
nistração da OIT
Mínima de Admissão ao Emprego
2008 Protocolo Facultativo ao Pacto In-
1979 Convenção sobre a Eliminação de
ternacional sobre os Direitos Eco-
Todas as Formas de Discriminação
nómicos, Sociais e Culturais (PI-
contra as Mulheres (CEDM)
DESC)
1989 Convenção sobre os Direitos das
2010 Conferência Global sobre Trabalho
Crianças
Infantil, em Haia, adoção do “Ro-
1990 Convenção Internacional sobre teiro para a Eliminação das Piores
a Proteção dos Direitos de Todos Formas de Trabalho Infantil até
os Trabalhadores Migrantes e dos 2016”
Membros das suas Famílias (en-
trou em vigor em 2003)

ATIVIDADES SELECIONADAS

ATIVIDADE I: O SEU BEBÉ Metas e objetivos: esta dramatização pre-


OU O SEU TRABALHO! tende desenvolver conhecimentos sobre os
direitos reprodutivos das mulheres, tenta dar
Parte I: Introdução aos participantes uma ideia sobre o que se
Esta atividade envolve uma dramatização sente quando se é discriminado e promove
sobre a questão dos direitos reprodutivos a igualdade, a justiça e a responsabilidade.
das mulheres no local de trabalho. Os di- Grupo-alvo: jovens adultos e adultos
reitos reprodutivos incluem o direito de Dimensão do grupo: 15-25
optar entre ter ou não ter filhos. Duração: cerca de 90 minutos
Competências envolvidas: pensamento
Parte II: Informação Geral crítico, formação de opiniões, aptidões lin-
Tipo de atividade: dramatização guísticas e de empatia
378 II. MÓDULOS SOBRE QUESTÕES SELECIONADAS DE DIREITOS HUMANOS

Parte III: Informação Específica sobre a Reações:


atividade - Começar com a recolha de opiniões de
Introdução: cada grupo (como desenvolveram a dra-
“A Srª M. está desempregada há quase um matização; foi difícil?), e depois falar so-
ano e anda arduamente à procura de um novo bre as implicações e sobre o que deve
emprego. Há dez dias, foi a uma entrevista ser feito quanto a esta forma de discri-
para o seu emprego de sonho. Tudo correu bem minação.
e ofereceram-lhe o emprego. A empresa pediu- Pontos de partida para o debate:
lhe para se reunir com o Sr. W., o gestor do pes- - Alguém ficou surpreendido com a situação?
soal, para assinar o contrato. Na entrevista, ela - Que final deram os grupos à situação
já tinha falado sobre as suas funções e outros (finais realistas?; bons pontos – pontos
assuntos relativos ao trabalho, mas quando se fracos?; é melhor ser assertivo, agressivo
preparava para assinar o contrato, o Sr. W. dis- ou submisso?)
se que uma das condições impostas era que ela - Que direitos têm as mulheres no seu país?
assinasse uma declaração em como não teria (em particular, quando estão grávidas)
filhos nos próximos dois anos.” - Por que é que a empresa reagiu dessa
forma – acha justo?
Desempenho da dramatização: - Foram violados alguns direitos huma-
- Dividir o grupo em pequenos grupos nos? Se sim, quais?
(de 4-6 cada). - Se a Srª M. fosse um homem, será que
- Ler o texto e dar 20 minutos, a cada gru- situação semelhante teria acontecido?
po, para decidir sobre o fim da história - De que forma vêem os homens esta ques-
e para a adaptarem a uma dramatização. tão: de forma diferente das mulheres?
A dramatização deve começar com a - O que pode ser feito para promover e
reunião entre a Srª M. e o Sr. W. e não proteger os direitos reprodutivos das
deve durar mais de 5 minutos. mulheres?
- Convidar cada pequeno grupo a apre- Sugestões metodológicas:
sentar a sua dramatização – também se Antes de iniciar a dramatização, certificar-
pode usar os seguintes métodos, durante se de que o grupo compreendeu o signifi-
a dramatização: cado de direitos reprodutivos. Poder-se-á
- Inversão de papéis: sem avisar, parar a re- tentar formar grupos constituídos apenas
presentação, pedir aos participantes para por elementos do mesmo sexo, o que po-
trocarem de papéis e continuarem a repre- derá conduzir a finais mais polémicos.
sentação a partir daquele ponto. No final, Outras sugestões:
fazer um balanço detalhado da atividade. - Começar com dois voluntários para
- Nova dramatização: depois de uma dra- a dramatização, com o resto do grupo
matização, modificar a situação (ex: como observadores.
a Srª M. não consegue engravidar, a - Interromper a dramatização, de vez em
Srª M. já está grávida…) e pedir aos par- quando, e pedir comentários.
ticipantes para representarem, de novo, - Pedir aos observadores que troquem de
a mesma cena com estas mudanças. papéis com quem está a representar.
- Anotar os eventuais comentários dos - Acrescentar outras personagens à situa-
participantes para o balanço final sobre ção (marido, representante do sindicato,
a atividade. etc.).
K. DIREITO AO TRABALHO 379

Parte IV: Acompanhamento Parte III: Informação Específica sobre a


Pedir ao grupo para pesquisar sobre os Atividade
direitos reprodutivos da mulher no seu Introdução:
país (entrevistas, participação em peças Ficha de trabalho: T-Shirt Math - camise-
teatrais sobre os direitos humanos, em lu- ta de manga curta Matemática
gares públicos – convidar observadores a Uma camiseta de manga curta que é ven-
participar). dida por 20 dólares nos Estados Unidos é
Direitos relacionados/outras áreas a ex- manufaturada por uma empresa interna-
plorar: direitos sociais, igualdade de géne- cional numa das suas fábricas em El Sal-
ro, discriminação, xenofobia vador. Esta fábrica é um exemplo de uma
(Fonte: Adaptado de Conselho da Euro- maquiladora, que é uma fábrica de pro-
pa. 2002. Compass: A Manual on Human priedade estrangeira que monta produtos
Rights Education with Young People) para a exportação. Os trabalhadores de
El Salvador que produzem a camiseta de
ATIVIDADE II: manga curta são pagos a 0,56 dólares por
“VESTIDO JUSTAMENTE?” hora. Em média, um trabalhador é capaz
de coser, aproximadamente, 4.7 camisetas
Parte I: Introdução de manga curta por hora.
A distribuição de riqueza e poder na so- Em 1994, o governo de El Salvador calcu-
ciedade normalmente afeta as oportunida- lou que seriam necessários cerca de quatro
des das pessoas de gozarem, plenamente, salários auferidos por um trabalhador de
os direitos humanos e de terem uma vida uma maquiladora para sustentar uma fa-
com dignidade. Neste caso prático, os par- mília, num limiar mínimo de subsistência.
ticipantes analisam o conceito de “justiça/ Distribuir a ficha de trabalho e pedir aos
equidade” e refletem sobre as suas pró- participantes para calcular o seguinte (so-
prias situações. Estabelecem ligações entre zinhos ou em pares):
as suas roupas e as pessoas que as fazem. - Quanto é que um trabalhador recebe por
cada camiseta de manga curta?
Parte II: Informação Geral - Se os salários dos trabalhadores fossem
Tipo de atividade: caso prático quadruplicados, quanto é que ganha-
Metas e objetivos: esta atividade ajuda os riam por hora?
participantes a relacionarem as suas roupas - Quanto é que ganhariam por camiseta
com as pessoas que as fazem. Além disso, de manga curta?
coloca questões sobre as nossas responsa- - Se a empresa passasse este custo acres-
bilidades numa economia globalizada. cido para o consumidor, quanto custaria
Grupo-alvo: jovens adultos e adultos uma camiseta de manga curta?
Dimensão do grupo: cerca de 25 Agora imagine que os salários dos traba-
Duração: cerca de 90 minutos lhadores foram aumentados dez vezes:
Material: quadro, marcadores ou giz; - Qual seria a sua remuneração por hora?
questões para debate - Quanto é que ganhariam por cada cami-
Ficha de trabalho: T-Shirt Math seta de manga curta?
Competências envolvidas: análise, refle- - Se a empresa passasse este custo acres-
xão, aptidões linguísticas e pensamento cido para o consumidor, quanto custaria
crítico uma camiseta de manga curta?
380 II. MÓDULOS SOBRE QUESTÕES SELECIONADAS DE DIREITOS HUMANOS

Instruções para o caso prático: salários que sejam suficientes para se


Pedir aos membros do grupo para verifi- manterem a si e às suas famílias?
carem as etiquetas que conseguem encon- Reações:
trar em todas as suas roupas. Depois, fazer Colocar uma questão de resumo, pergun-
uma lista (no quadro) e escrever toda a tando, por exemplo, aos participantes que
informação acerca das etiquetas e dos paí- respondam à vez:
ses onde as roupas foram feitas. Assim que - Quais os comentários que ouviram hoje
a lista estiver completa, pedir aos partici- que lembrarão como significativos?
pantes para analisarem os resultados. Em - Tentem pensar numa palavra ou frase
quase todos os casos, a maioria das peças que resuma os vossos sentimentos.
de roupa indicam que foram feitas em pa- Sugestões metodológicas
íses mais pobres. Debater com todo o gru- Os casos práticos são frequentemente
po as questões seguintes: usados para preparar debates. Neste caso
- Quem acha que fez as suas roupas, ócu- particular, é necessário criar um ambiente
los de sol, sapatos, botões, fechos, ou- de confiança e respeito para que os par-
tros acessórios, etc.? ticipantes colaborem no debate. Assim, o
- Terá sido provavelmente um homem, grupo todo deve pensar em alguns princí-
uma mulher ou uma criança? pios que considere que todos devem se-
- Quanto acha que foi pago a estes traba- guir no debate. Listar todas as sugestões e
lhadores? colocá-las onde todos as possam ver.
- Que tipo de condições de trabalho en- Outras sugestões:
frentam? Como exercício de quebra-gelo, distribuir
Colocar os resultados no quadro. etiquetas que indicam o sexo, a idade e
Avaliação do caso: quanto é que essa pessoa é paga pelo seu
Quando abordados sobre aumentar salá- trabalho (ex: 10 rebuçados por 5 minutos
rios para os trabalhadores que fazem as de trabalho; 2 rebuçados por 10 minutos de
nossas roupas, os comerciantes retalhistas, trabalho…). Pedir a todo o grupo que faça
na área do vestuário, muitas vezes, decla- um exercício (sem sentido), por ex., dese-
ram que os salários têm de ser mantidos nhar triângulos numa folha de papel, etc.
baixos para que os consumidores possam Quando a tarefa for completada, pagar a
ter produtos baratos. cada pessoa de acordo com a idade, o sexo
Debater as seguintes questões com o grupo: e como indicado nas suas etiquetas. Contar
- Estaria disposto a pagar mais por uma ca- o “dinheiro” (= rebuçados) bem alto para
miseta de manga curta? Se sim, quanto? que todos saibam quanto é que os outros
- Será que alguns direitos humanos da vão receber pelo MESMO trabalho que TO-
Declaração Universal dos Direitos Hu- DOS fizeram. Debater os sentimentos de
manos estão a ser violados? Citar artigos todos.
específicos.
- Por que é que os fabricantes vendem os Parte IV: Acompanhamento
seus produtos em países ocidentais mas Direitos relacionados/outras áreas a explo-
fazem-nos em países como El Salvador, rar: direitos sociais, políticos e económicos
Bangladesh, China? (Fonte: Adaptado de David A. Shiman.
- De quem é a responsabilidade de as- 1999. Economic and Social Justice. A Hu-
segurar que os trabalhadores recebam man Rights Perspetive.)
K. DIREITO AO TRABALHO 381

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L. DIREITO À PRIVACIDADE

O DIREITO À PRIVACIDADE NAS SOCIEDADES DEMOCRÁTICAS


O DIREITO À PRIVACIDADE NA INTERNET
O DIREITO À PRIVACIDADE NO COMBATE AO TERRORISMO

“Ninguém sofrerá intromissões arbitrárias na sua vida privada, na sua família, no seu
domicílio ou na sua correspondência, nem ataques à sua honra e reputação. Contra tais
intromissões ou ataques toda a pessoa tem direito a proteção da lei.”
Artº 12º, Declaração Universal dos Direitos Humanos, 1948.
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HISTÓRIA ILUSTRATIVA
Revelação de Dados Pessoais devido a tar provas de que foram feitas, neste caso, as
Medidas de Segurança Desapropriadas perguntas de segurança. O Comissário para a
Proteção de Dados também considerou o fac-
Em agosto de 2008, o Comissário para a Pro- to de a reserva ter sido feita através do com-
teção de Dados da Irlanda recebeu uma queixa putador pessoal da queixosa, utilizando um
respeitante à alegada revelação de informa- endereço eletrónico pessoal e não um endere-
ções pessoais, por parte de uma companhia ço eletrónico do local de trabalho do marido.
aérea. A queixosa afirmou que, em junho de O Comissário para a Proteção de Dados,
2008, na sequência de uma chamada telefóni- com base nas informações apresentadas,
ca, a companhia aérea revelou, através de cor- juntamente com o facto de que a companhia
reio eletrónico, um itinerário de viagem para aérea não apresentou quaisquer provas de
si própria e para o seu marido, ao empregador que as suas medidas de segurança foram,
do seu marido e que, como consequência, o de facto, utilizadas nesta situação, decidiu,
seu marido foi despedido. A queixosa afirmou após a investigação desta queixa, que a
que o empregador do seu marido redigiu uma companhia aérea infringiu a lei, ao proces-
declaração a afirmar que a mensagem ele- sar as informações pessoais da queixosa e
trónica referida foi enviada pela companhia do seu marido e revelar ao empregador do
aérea, após a mera indicação do apelido. Foi marido o itinerário da viagem deles, através
disponibilizada uma cópia desta declaração do uso de uma mera mensagem eletrónica.
ao Comissário para a Proteção de Dados. (Fonte: Irish Data Protection Commis-
No decurso desta investigação, a companhia sioner. 2009. Case Study 1: Disclosure of
aérea informou o Comissário para a Proteção personal data due to inappropriate security
de Dados que foram realizadas as perguntas measures.)
de segurança, antes do envio da mensagem
eletrónica em questão à terceira parte. A Questões para debate
companhia aérea não contestou o envio da 1. Quais são os direitos em questão?
mensagem eletrónica, porém, atendendo a 2. Realizar um debate sobre os problemas
que não gravou a chamada telefónica com o relacionados com a revelação de infor-
pedido de informações, nem se demonstrou mações delicadas.
que o sistema das perguntas de segurançati- 3. Qual o sistema de proteção internacio-
vesse sido efetivado, não foi possível apresen- nal a ser usado neste tipo de casos?

A SABER
1. INTRODUÇÃO dica que uma pessoa pode separar-se do
resto e, desta forma, revelar-se. Apesar das
Desenvolvimento Histórico do Direito à fronteiras da privacidade divergirem cul-
Privacidade turalmente, partilham um entendimento
O conceito de privacidade (em latim pri- básico comum.
vates que significa separado do resto) in- O primeiro artigo sobre a privacidade, nos
L. DIREITO À PRIVACIDADE 387

EUA, foi publicado por Warren e Brandeis, Refere o artº 12º da DUDH:
em 1890. O âmago do conceito liberal da
liberdade explica o direito à privacidade, “Ninguém sofrerá intromissões arbi-
tal como desenvolvido no final do sécu- trárias na sua vida privada, na sua
lo XVIII e durante todo o século XIX. A pri- família, no seu domicílio ou na sua cor-
vacidade desenvolveu-se historicamente respondência, nem ataques à sua honra
como uma zona isolada, manifestada em e reputação. Contra tais intromissões ou
estruturas como a proteção do domicílio, ataques toda a pessoa tem direito a pro-
da família e do segredo da correspondên- teção da lei.”
cia. Devido ao surgimento da ‘nova comu- O artº 17º do PIDCP é a disposição inter-
nicação social’, acrescentou-se o segredo nacional mais importante no que respei-
da telecomunicação. ta à privacidade. Refere o seguinte:
Desde então, a forma de se assegurar e “1. Ninguém será objeto de intervenções
proteger a privacidade mudou substan- arbitrárias ou ilegais na sua vida priva-
cialmente, devido ao desenvolvimento da, na sua família, no seu domicílio ou
tecnológico e especialmente desde o uso na sua correspondência, nem de atenta-
mais amplo da internet. Em particular, dos ilegais à sua honra e à sua reputação.
na última década, o significado e a com-
preensão de privacidade mudou devido 2. Toda e qualquer pessoa tem direito à
ao Web 2.0 e ao uso vasto das redes so- proteção da lei contra tais intervenções
ciais. ou tais atentados.”

O Comité dos Direitos Humanos tem a


Privacidade e Segurança Humana tarefa de monitorizar a implementação
Uma pessoa cuja privacidade seja sig- do PIDCP. Também apresenta Comen-
nificativamente afetada não pode viver tários Gerais sobre assuntos específicos
uma vida sem medo e sem privação. respeitantes ao Pacto. O Comentário
Pressupõe-se a garantia da proteção Geral nº 16, sobre o direito ao respei-
básica dos direitos de privacidade para to da privacidade, família, domicílio e
que se possa viver uma vida com segu- correspondência e proteção da honra e
rança humana. reputação (art.º 17º), de 1988, e o Co-
mentário Geral nº 19, sobre a proteção
da família, direito ao casamento e igual-
dade dos cônjuges (artº 23º), de 1990,
2. DEFINIÇÃO são especialmente relevantes para a área
E DESENVOLVIMENTO da proteção da privacidade.
DA QUESTÃO Tal como mencionado no Comentário Ger-
al nº 16, o artº 17º protege o direito de
A privacidade é protegida a nível interna- todos contra as interferências na sua pri-
cional através de dois instrumentos essen- vacidade, arbitrárias ou ilegais. De acordo
ciais, a Declaração Universal dos Direitos com o Comité dos Direitos Humanos, estes
Humanos (DUDH) e o Pacto Internacio- direitos têm de ser protegidos contra inter-
nal sobre os Direitos Civis e Políticos ferências do Estado, mas também contra
(PIDCP). violações por outras pessoas, singulares
388 II. MÓDULOS SOBRE QUESTÕES SELECIONADAS DE DIREITOS HUMANOS

ou jurídicas. O Comité estabelece um en- micílio e à correspondência, assim como


tendimento amplo do termo ‘família’ de através da proteção de dados. Uma pes-
forma a abranger não apenas a família soa encontra-se protegida contra a publi-
‘típica’, de um casal casado e com filhos, cação, sem consentimento prévio, das
mas também outros tipos de família. O suas especificidades pessoais.
artº 17º do PIDCP não contém uma cláu-
sula de limitações específica. • Autonomia:
Esta abrange a área de realização pes-
Conteúdo do Direito soal dos seres humanos. É o direito ao
à Privacidade seu próprio corpo, que também confere
O direito à privacidade pode dividir-se em o direito a agir contra o próprio corpo,
vários subgrupos, nos termos do artº 17º incluindo o direito a cometer suicídio.
do PIDCP, ou seja, o direito à privacidade,
• Comunicação:
identidade, integridade, intimidade, auto-
nomia, comunicação e sexualidade. Esta área abrange a interação com as ou-
tras pessoas e confere, além da proteção
• Privacidade: especial da família, um direito a desen-
volver relações com outras pessoas.
O direito à privacidade, em sentido es-
trito, tal como adotado no artº 12º da • Sexualidade:
DUDH, protege o campo específico da A autonomia sexual é uma parte especial
existência individual que não toca a es- e particularmente importante do direito à
fera de privacidade dos outros. Também privacidade. Qualquer regulação dos com-
pode ser compreendido como o elemen- portamentos sexuais constitui uma inter-
to que não cai em nenhuma das catego- ferência no direito à privacidade. Apenas
rias que a seguir se mencionam. é permitida a interferência se for absolu-
• Identidade: tamente necessária à proteção das pessoas
afetadas (por exemplo, das crianças).
A identidade inclui ‘características’ pes-
soais, tais como o nome, aparência, in- (Fonte: Manfred Nowak. 2005. CCPR
dumentária, cabelo, género, código ge- Commentary, artº 17º CCPR.)
nético, assim como a confissão religiosa
ou crença de cada um. Grupos Especialmente Vulneráveis
• Integridade: • Pessoas com deficiência
A integridade pessoal também se encon- As pessoas com deficiência que neces-
tra protegida pelo artº 17º do PIDCP. sitem de cuidados especiais e de ajuda
Tal significa que, por exemplo, um tra- são, muitas vezes, suscetíveis de sofrer-
tamento médico sem o consentimento em interferências nos seus direitos à pri-
ou mesmo contra a vontade do paciente vacidade, por exemplo, se estiverem em
deve considerar-se como uma infração instalações fechadas.
ao direito à privacidade. • Pessoas afetadas por doenças e os
• Intimidade: idosos
A intimidade encontra-se, em primeiro As pessoas afetadas por doenças ou os
lugar, assegurada pela proteção ao do- idosos a viverem em hospitais, clínicas
L. DIREITO À PRIVACIDADE 389

ou lares enfrentam um risco particular destas perspetivas, os Estados que não pos-
de afetação do seu direito à privacidade. suem salvaguardas constitucionais ou le-
gais têm podido transformar radicalmente e
• Crianças expandir as suas leis relativas à vigilância,
No que respeita aos novos meios de in- com apenas algumas restrições. Nos países
formação, as crianças são suscetíveis de que possuem essas salvaguardas constitu-
sofrer infrações aos seus direitos à pri- cionais e legais, os governos questionaram
vacidade se revelarem informações pes- a proteção do direito à privacidade ao não
soais em redes sociais ou na internet em aplicarem e transformarem as salvaguardas
geral. existentes, por força da cooperação com
países terceiros ou com privados, ou ao
substituírem os sistemas de vigilância do-
Direitos Humanos das Crianças
méstica por outros extraterritoriais.

3. PERSPETIVAS Os Estados podem fazer uso de medidas es-


INTERCULTURAIS pecíficas de vigilância legais, mas apenas
E QUESTÕES CONTROVERSAS se for uma situação de interferência espe-
cífica resultante de um processo com fun-
A Erosão do Direito à Privacidade devido damento em causa provável ou se existirem
a Políticas de Combate ao Terrorismo motivos razoáveis e em respeito absoluto
Os Estados, ao lidarem com as políticas pelos direitos humanos. O primado do
atuais de combate ao terrorismo, dão, fre- Direito exige que exista uma base factual,
quentemente, ênfase à existência de duas relacionada com o comportamento de um
novas dinâmicas que têm de ser consid- indivíduo, que justifique a suspeita de que
eradas em conjunto com a proteção do di- esteja envolvido em atividades criminosas.
reito à privacidade. Em primeiro lugar, os Os desenvolvimentos nos últimos anos
Estados defendem que a sua capacidade demonstraram que tem havido um aumen-
para prevenir e investigar atos de terroris- to desproporcionado da vigilância das co-
mo está fortemente relacionada, quase uni- municações, pelos serviços de informação
camente com o aumento dos poderes de e pelas entidades responsáveis pelo cum-
vigilância. Por este motivo, a maior parte primento da lei, em todo o mundo. Existe
da legislação de combate ao terrorismo, uma atribuição de importância inegável às
após os ataques terroristas de 11 de setem- novas tecnologias (por exemplo, as “es-
bro de 2001, tem-se centrado no aumento cutas” e as tecnologias de vigilância que
dos poderes de vigilância dos governos. Em podem aceder à posição geográfica de tele-
segundo lugar, os Estados consideram que, fones móveis, a tecnologia que informa os
pelo facto de o terrorismo ser uma questão governos sobre o conteúdo de conversa-
global, a busca de terroristas não pode ções de texto privadas, de usuários da Voz
ser limitada pelas fronteiras nacionais. sobre o Protocolo de Internet (VoIP), ou
O auxílio de terceiros, potencialmente na que instala programas espiões nos com-
posse de quantidades extensivas de infor- putadores dos suspeitos, de forma a per-
mação sobre os indivíduos, constitui um re- mitir o acesso remoto aos computadores).
curso rico para se identificar e monitorizar Em alguns países, foram até banidas as
os suspeitos de terrorismo. Como resultado tecnologias de encriptação, que tornam as
390 II. MÓDULOS SOBRE QUESTÕES SELECIONADAS DE DIREITOS HUMANOS

comunicações mais seguras, porém, mais protection of human rights and fundamen-
difíceis de serem intercetadas. tal freedoms while countering terrorism.)
(Fonte: United Nations. 2009. Report of the
Special Rapporteur on the promotion and Primado do Direito e Julgamento
Justo

Tipos de vigilância usada, detenções e condenações através de interceções instala-


das, de 1 de janeiro até 31 de dezembro de 2011, nos EUA.

Despa- Eletrónico
Linhas (in-
chos para Oral (in- (incluindo Pes- Pes-
cluindo quais-
Juris- a insta- cluindo pager di- Combi- soas soas
quer tipos de
dições lação de microfo- gital, fax, nação deti- conde-
telefone: fixo,
interce- ne) computa- das nadas
celular, móvel)
ções dor)
Total 2189 2092 6 4 87 3547 465
Federal 367 358 0 1 8 1006 47
(Fonte: US Courts Statistics 2011, www.uscourts.gov/uscourts/Statistics/WiretapRe-
ports/2011/Table6.pdf.)

Poderes Ampliados para Parar, Interro- para calcular a probabilidade de atividades


gar e Inspecionar suspeitas e identificar os indivíduos consi-
Os Estados aumentaram as suas atividades derados passíveis de serem objeto de uma
de identificação, examinação e rotulação maior vigilância. Durante os últimos anos,
do público em geral, sob a desculpa de aplicaram-se técnicas ainda mais inovado-
“medidas de combate ao terrorismo”. As- ras, como por exemplo, a recolha de dados
sim, utilizam várias técnicas que podem biométricos ou o uso de examinadores do
violar o direito à privacidade do indivíduo: corpo que podem ver através das roupas.
quando a vigilância se realiza em locais
públicos e se refere a grupos mais alarga- A tendência geral alarmante é a de os
dos de pessoas, as medidas de vigilância Estados aumentarem os seus poderes
ficam, tipicamente, sujeitas a regimes mais para intercetar, questionar, inspecionar e
fracos de autorização e supervisão judicial. identificar indivíduos e reduzirem, em si-
Os padrões de direitos humanos existentes multâneo, os controlos jurídicos internos
foram flexibilizados, retorcidos e rompidos, para a prevenção do uso incorreto destes
através do uso de interceções e de buscas, poderes. Estes poderes deram origem a
através da ampliação da vigilância das fi- preocupações quanto aos perfis étnicos
nanças, comunicações e dados de viagens, e à discriminação em diversos países e
através do uso de perfis para a identificação preocupações de que estes novos poderes
de potenciais suspeitos, através da compi- causem tensões sérias entre os cidadãos e
lação de diversas listas e bases de dados o Estado.
L. DIREITO À PRIVACIDADE 391

(Fonte: United Nations. 2009. Report of the impressões digitais pelo facto de ter sido
Special Rapporteur on the promotion and soldado dos Estados Unidos. O indivíduo
protection of human rights and fundamen- foi detido em reclusão solitária, durante
tal freedoms while countering terrorism.) duas semanas, mesmo não sendo sua a
impressão digital. Os examinadores não
Antirracismo e Não Discriminação analisaram suficientemente a correspon-
dência, tendo a situação piorado quando
O Uso da Biometria e os Perigos dos Sis- se descobriu que o advogado tinha defen-
temas de Identificação Centralizados dido um terrorista condenado, era casado
O uso de técnicas de biométrica, tais com uma imigrante egípcia e se tinha con-
como o reconhecimento facial, as impres- vertido ao islamismo.”
sões digitais e a examinação da íris, consti- (Fonte: United Nations. 2009. Report of the
tui uma componente chave das novas polí- Special Rapporteur on the promotion and
ticas de identificação. Devido ao aumento protection of human rights and fundamen-
da recolha de informações biométricas, tal freedoms while countering terrorism.)
a percentagem dos erros e falhas pode
aumentar significativamente. Tal pode Circulação de Listas de Vigilância
resultar na criminalização errada de in- Outra técnica disponível é a monitoriza-
divíduos, assim como na exclusão social. ção das listas de vigilância. De mencio-
Para além disso, contrariamente a outros nar, desde já, a Resolução 1267 do Con-
identificadores, os biométricos não podem selho de Segurança da Organização das
ser revogados. Uma vez copiados e utiliza- Nações Unidas, adotada por unanimidade,
dos de forma errónea por uma parte, não em 1999, fazendo referência a diversas ou-
é possível dar a um indivíduo uma nova tras Resoluções [1189 (1998), 1193 (1998)
assinatura biométrica. Também relaciona- e 1214 (1998)], sobre a situação no Afega-
do com esta questão é de mencionar que, nistão. O Conselho estabeleceu um regime
contrariamente à sua objetividade científi- de sanções a abranger indivíduos e entida-
ca, a prova do DNA também pode ser fal- des associadas à Al-Qaida, Osama bin La-
sificada. A recolha centralizada de biomé- den e/ou aos Talibãs, independentemente
tricos apresenta o risco de multiplicar os da sua localização, conhecido por “Comi-
erros judiciários que podem ser ilustrados té de Sanções contra a Al-Qaida e os Ta-
pelo exemplo que se segue: libã”. O regime foi, desde então, reafirma-
“Após os ataques bombistas de Madrid, do e modificado por uma dúzia de outras
em 11 de março de 2004, a polícia de Es- Resoluções do Conselho de Segurança das
panha conseguiu uma impressão digital Nações Unidas [incluindo as Resoluções
numa bomba que não explodiu. Os peritos 1333 (2000), 1390 (2002), 1455 (2003),
em impressões digitais do Departamento 1526 (2004), 1617 (2005), 1735 (2006),
Federal de Investigação dos Estados Uni- 1822 (2008) e 1904 (2009)], de forma a
dos da América - United States Federal Bu- que as sanções podem agora ser aplicadas
reau of Investigation (FBI) – declararam a indivíduos designados e a entidades as-
que a impressão digital de um advogado sociadas à Al-Qaida, Osama bin Laden e/
correspondia à amostra encontrada no lo- ou aos Talibãs, independentemente da sua
cal do crime. A impressão digital da pes- localização. Desde a invasão do Afeganis-
soa encontrava-se no sistema nacional de tão pelos EUA, em 2001, que as sanções
392 II. MÓDULOS SOBRE QUESTÕES SELECIONADAS DE DIREITOS HUMANOS

têm sido aplicadas a indivíduos e a organi- centralizada, constitui um motivo de pre-


zações em todas as partes do mundo. ocupação. Tal prática aumenta os riscos
(Fonte: United Nations Security Coun- de insegurança na informação ao deixar
cil Counter Terrorism Committee, http:// os indivíduos vulneráveis em relação ao
www.un.org/en/sc/ctc/rights.html.) Estado.
Por este motivo, em 2009, as Nações Uni-
Em 19 de dezembro de 2006, o Conselho das foram solicitadas, por diversos Comis-
de Segurança adotou a Resolução 1730 sários para a Proteção dos Dados e da Vida
(2006), para estabelecer um procedimen- Privada, para ‘preparar um instrumento
to de remoção da lista. Quem constasse juridicamente vinculativo, a estabelecer
da lista poderia solicitar ao Comité que com clareza e em pormenor os direitos à
este reconsiderasse o seu caso. O procedi- proteção dos dados e à privacidade como
mento de listagem permaneceu indefinido direitos humanos a serem efetivados’.
até 22 de dezembro de 2006, altura em que Desde então, os governos estão convida-
o Conselho de Segurança adotou a Reso- dos a adotarem instrumentos jurídicos
lução 1735 (2006). Esta Resolução esta- nestes termos, assim como o Conselho
beleceu uma série de formulários para os da Europa, de acordo com o artº 23º da
países preencherem, de forma a colocarem Convenção do Conselho da Europa para a
na lista nomes de pessoas e entidades com Proteção dos Dados, que se encontra em
ligações aos Talibãs. processo de revisão. Porém, têm de fazer
O Conselho de Segurança também esta- uma tentativa séria de avançarem, ao ní-
beleceu o Gabinete do Provedor, através vel internacional, na melhoria dos padrões
da Resolução 1904 (2009), para assistir o universais de proteção da privacidade, não
Comité na consideração dos pedidos de re- apenas no interesse de protegerem os di-
moção da lista. reitos individuais, mas também – embora
(Fontes: Tessa Van Lieshout. 2006. The não de forma equitativa – no interesse de
United Nations and the fight against terro- baixarem as barreiras ao fluxo de dados
rism; United Nations Security Council Com- através das fronteiras.
mittee pursuant to Resolutions 1267 (1999) Por outro lado, têm havido alguns desen-
and 1989 (2011) concerning Al-Qaida and volvimentos a nível nacional que conduzi-
associated individuals and entities.) ram ao aumento das preocupações, mesmo
em algumas das sociedades mais liberais.
Primado do Direito e Julgamento Por exemplo, o Comité Especial sobre a
Justo Constituição da Câmara dos Lordes, no
Reino Unido, afirmou: “A vigilância é uma
Recolha de Dados em Bases de Dados parte incontornável da vida no Reino Uni-
Centralizadas do. Cada vez que fazemos uma chamada
Apesar das novas técnicas biométricas po- telefónica, enviamos uma mensagem ele-
derem, em determinadas circunstâncias, trónica, navegamos na internet ou mesmo
ser instrumentos legítimos para a identifi- caminhamos na nossa avenida, os nossos
cação de suspeitos, a questão do armaze- atos podem ser monitorizados e gravados.
namento de biométricos fora de um docu- Para dar uma resposta ao crime, comba-
mento de identidade, como por exemplo, ter a ameaça do terrorismo e melhorar a
o passaporte, mas numa base de dados eficácia administrativa, os governos que se
L. DIREITO À PRIVACIDADE 393

têm sucedido no Reino Unido construíram lizadores apercebem-se rapidamente que a


gradualmente um dos sistemas de vigilân- informação que pretendem partilhar ape-
cia mais abrangentes e avançados tecno- nas com os seus amigos pode terminar nas
logicamente do mundo. Em simultâneo, o mãos das autoridades, de estranhos, dos
setor privado tem sofrido desenvolvimentos meios de comunicação social e do públi-
semelhantes que contribuíram para uma co em geral. Por exemplo, os recrutado-
mudança profunda no modo de vida neste res de trabalho verificam estes sítios com
país. O desenvolvimento da vigilância ele- o propósito de acederem às origens de po-
trónica e a recolha e processamento de in- tenciais empregados. A pesquisa através
formações pessoais tornaram-se invasivas, destes sítios pode trazer uma quantidade
rotineiras e quase dadas como garantidas. substancial de informações pessoais sobre
Muitas destas práticas de vigilância são uma pessoa. A política de alguns sítios,
desconhecidas da maioria das pessoas e as imposta com vigor, sobre o uso do nome
suas consequências potenciais não são to- real em determinadas redes sociais piora o
talmente apreciadas.” problema. Relacionado com esta questão
(Fontes: Peter Malanczuk. 2009. Data, está a possibilidade de qualquer pessoa,
Transboundary Flow, International Protec- das centenas de “amigos” de um utiliza-
tion; 31st International Conference of Data dor, poder descarregar as informações que
Protection and Privacy Commissioners. queira e usá-las onde e como quiser (por
2009. Standards on Privacy and Personal exemplo, imagens). A realidade demons-
Data.) tra que o acesso abrange mais do que os
amigos e membros. Os utilizadores têm de
Privacidade na Internet – as Redes So- compreender que qualquer pessoa, como
ciais potenciais empregadores, autoridades res-
Atendendo ao rápido desenvolvimento da ponsáveis pelo cumprimento da lei, etc.,
tecnologia de informação e à expansão das pode aceder a fotografias, comentários e
redes de comunicação globais (por exem- informações colocadas nas páginas de per-
plo, o Facebook tinha 901 milhões de utili- fil. Porém, estas informações referem-se à
zadores em abril de 2012), a regulamenta- imagem que uma pessoa pretende trans-
ção internacional adequada da circulação mitir ao mundo fora da rede. É frequen-
de dados transnacional e a harmonização te que os utilizadores que esperam que
das leis internas respetivas irão permane- as suas informações sejam vistas apenas
cer como prioridades nas agendas legisla- por pessoas que conhecem, sejam surpre-
tivas, nos anos vindouros. Existem múlti- endidos com a forma como os seus dados
plas questões jurídicas ligadas à questão pessoais são disseminados. O problema
do crescimento célere dos sítios de redes principal é que uma vez publicados na in-
sociais, sendo uma delas a proteção de ternet, ficam com pouco ou nenhum con-
dados pessoais e a questão da privacida- trolo sobre eles.
de em geral. Os termos de privacidade estabelecidos
Os sítios de redes sociais (por exemplo, por defeito, em contas individuais, permi-
o Facebook, o Twitter, o Friendster, etc.) tem que se mostrem muitas informações
oferecem aos seus utilizadores uma forma a quem veja o perfil. Assim, ‘o modelo de
fácil de partilharem informações sobre si privacidade’, isto é, as definições apropria-
próprios e sobre outros. Porém, muitos uti- das da privacidade por defeito, já incluídas
394 II. MÓDULOS SOBRE QUESTÕES SELECIONADAS DE DIREITOS HUMANOS

nos sítios e programas, seriam a solução linguagem que a DUDH, para garantir os
preferível para a proteção suficiente dos direitos à privacidade das crianças.
dados pessoais. A Convenção sobre os Direitos da Criança
As características pessoais, como as parti- exige aos governos que protejam as crian-
lhadas em blogs e comentários, podem ser ças de todas as formas de exploração se-
acedidas por qualquer pessoa que veja a xual ou abuso e tomem todas as medidas
página do perfil. Se os operadores dos sí- possíveis para assegurarem que estas não
tios de redes sociais colocassem as defini- sejam raptadas, vendidas ou traficadas.
ções de privacidade por defeito, a um nível Complementando esta Convenção, o Pro-
de proteção mais elevado, os utilizadores tocolo Facultativo à Convenção sobre os
iriam ganhar imediatamente mais controlo Direitos da Criança relativo à Venda de
sobre os seus dados pessoais. As políticas Crianças, Prostituição Infantil e Porno-
de privacidade, tais como os contratos, de- grafia Infantil exige aos Estados Partes
veriam ser claras e de fácil acesso para que que proíbam a venda de crianças (tam-
os utilizadores tivessem uma noção clara bém para propósitos não sexuais – tais
do conteúdo em questão. Infelizmente, como outras formas de trabalhos força-
as políticas de privacidade dos sítios e os dos, adoção ilegal e doação de órgãos),
termos de uso aparecem frequentemente a prostituição infantil e a pornografia in-
com um excesso de referências cruzadas fantil e punam estas ofensas com penas
e são desnecessariamente complicados. adequadas. Este Protocolo Facultativo
Tal torna a tarefa de leitura da informação tem, presentemente, 143 Estados Partes
mais difícil do que teria de ser. (maio de 2011).
Em abril de 2012, o Comité de Ministros
do Conselho da Europa adotou uma Reco- Direitos Humanos da Criança
mendação sobre a proteção dos direitos
humanos em relação aos mecanismos 4. IMPLEMENTAÇÃO
de busca, estabelecendo que os Estados E MONITORIZAÇÃO
Partes devem acautelar a transparência na
forma como a informação é recolhida atra- Na maioria dos países, as normas básicas
vés dos mecanismos de busca, aumentar de direitos humanos estão estabelecidas na
a transparência na recolha de dados pes- Constituição. A Constituição normalmente
soais, etc. também estabelece vias para se invocar
(Fontes: Council of Europe. 2012. Recom- as normas de direitos humanos perante
mendation on the protection of human ri- os tribunais internos, no caso de alegada
ghts with regard to search engines; Peter violação destes direitos. A nível interna-
Malanczuk. 2009. Data, Transboundary cional, têm-se concluído tratados de direi-
Flow, International Protection.) tos humanos para se proteger estes direi-
tos. Sempre que um Estado se torne parte
Pornografia Infantil destes tratados é obrigado a implementar
A Convenção sobre os Direitos da e garantir o cumprimento das suas normas
Criança, que entrou em vigor em 1990, a nível interno. O direito internacional não
é o primeiro documento juridicamente indica a forma como o Estado irá imple-
vinculativo sobre os direitos humanos mentar essas normas, tal irá depender da
das crianças. O artº 16º adota a mesma sua ordem jurídica interna.
L. DIREITO À PRIVACIDADE 395

A Organização de Comentários Gerais, em relação a as-


das Nações Unidas suntos temáticos específicos. Por exemplo,
Alguns tratados de direitos humanos, tais no seu Comentário Geral nº 16: O direito
como o Pacto Internacional sobre os Direitos ao respeito da privacidade, da família, do
Civis e Políticos (PIDCP), estabelecem domicílio e da correspondência e à pro-
um mecanismo de supervisão para a teção da honra e da reputação (artº 17º)
monitorização da implementação das normas refere o seguinte:
de direitos humanos. Este mecanismo
consiste num sistema de relatórios que os
“Mesmo em relação a interferências que
Estados têm, obrigatoriamente, de apresentar,
estejam em conformidade com o Pacto,
com periodicidade regular, a um órgão de
a legislação relevante deve especificar em
monitorização internacional sobre a forma
pormenor as circunstâncias precisas em
como implementam as normas do tratado.
que tais interferências são permitidas. A
decisão da admissão de uma tal inter-
O Comité dos Direitos Humanos é um
ferência é tomada exclusivamente pela
órgão de peritos independentes que mo-
autoridade designada nos termos da lei
nitoriza a implementação do PIDCP pelos
e analisada caso a caso. O cumprimen-
Estados Partes do Pacto. Todos os Estados
to do artº 17º exige que se garantam,
Partes estão obrigados pelo Pacto a subme-
‘de jure’ e ‘de facto’, a integridade e a
ter relatórios regulares ao Comité, sobre a
confidencialidade da correspondência.
forma como implementam os direitos. Os
Deve proibir-se a vigilância, seja eletró-
Estados têm de apresentar um relatório
nica ou de outra forma, as interceções
inicial, um ano após acederem ao Pacto,
telefónicas, telegráficas ou através de ou-
e depois sempre que o Comité solicite um
tras formas de comunicação, as escutas
relatório (normalmente, em cada quatro
telefónicas e a gravação de conversas. As
anos). O Comité examina cada relatório
buscas domiciliárias devem restringir-
e apresenta as suas preocupações e reco-
se a buscas de provas necessárias e não
mendações ao Estado Parte, sob a forma
devem permitir-se se constituírem uma
de “Observações Finais”.
perseguição. A recolha e conservação de
informações pessoais em computadores,
Para além do procedimento dos relatórios,
bases de dados e outros dispositivos, seja
o artº 41º do Pacto estabelece que o Comi-
por autoridades públicas ou por parti-
té pode considerar um sistema de queixas
culares ou organismos, devem ser regu-
entre Estados, as comunicações inter-Es-
ladas por lei. Os Estados têm de adotar
tados. Para além disso, o Primeiro Proto-
medidas eficazes para garantirem que as
colo Facultativo ao Pacto atribui ao Comi-
informações sobre a vida privada de uma
té a competência para também examinar
pessoa não cheguem às mãos de pesso-
as comunicações de indivíduos, respei-
as que não estejam autorizadas por lei
tantes a alegadas violações da Convenção
para as receberem, processarem e usarem
por parte dos Estados Partes do Protocolo.
e que nunca sejam usadas para fins in-
compatíveis com o Pacto. Cada indivíduo
O Comité dos Direitos Humanos publica
deve também poder saber quais as au-
ainda a sua interpretação do conteúdo das
toridades públicas, pessoas singulares ou
normas de direitos humanos, sob a forma
396 II. MÓDULOS SOBRE QUESTÕES SELECIONADAS DE DIREITOS HUMANOS

entidades privadas que controlam ou que 1535 (2004) do Conselho de Segurança,


podem vir a controlar os seus ficheiros. o Comité começou a avançar para uma
Se os ficheiros contiverem dados pessoais política mais proactiva no respeitante aos
incorretos ou se tiverem sido recolhidos direitos humanos. O CTED foi mandatado
ou processados de forma contrária à lei, para comunicar com o Alto Comissariado
cada indivíduo deve ter o direito de pedir das Nações Unidas para os Direitos Huma-
a sua retificação ou eliminação.” nos (ACNUDH) e com outras organizações
de direitos humanos em questões relacio-
nadas com o combate ao terrorismo e foi,
O Relator Especial também, nomeado um perito em direitos
das Nações Unidas para a Promoção e humanos para o Comité. Adicionalmente,
Proteção dos Direitos Humanos em abril de 2005, com a Resolução 2005/80
e Liberdades Fundamentais da Comissão de Direitos Humanos, foi no-
no Combate ao Terrorismo meado um Relator Especial para a pro-
Os diversos desenvolvimentos da situa- moção e proteção dos direitos humanos
ção dos direitos humanos em todo o e liberdades fundamentais no combate
mundo, desde 11 de setembro de 2001, ao terrorismo. No seu Relatório de 2009,
têm sido bem documentados. Os ataques refere-se, de forma exaustiva, ao direito à
do 9/11 foram seguidos por uma onda de privacidade e à sua erosão nas medidas do
ataques racistas contra muçulmanos e combate ao terrorismo: uma vez que um
árabes, apenas devido à sua aparência, indivíduo esteja a ser formalmente investi-
em todo o mundo. Os governos também gado ou examinado por uma agência de se-
responderam com medidas legislativas gurança, as informações pessoais são par-
abrangentes. Muitos Estados adotaram tilhadas entre agências de segurança por
leis a criminalizarem condutas, a banirem razões de combate ao terrorismo, ficando
determinadas organizações, a congelarem o direito à privacidade quase automatica-
valores, a restringirem liberdades civis e a mente afetado. Estas são situações em que
reduzirem as salvaguardas contra as vio- os Estados têm o poder legítimo para limi-
lações de direitos humanos. Isto conduziu tar o direito à privacidade, nos termos do
a uma tendência perigosa para a legitima- quadro jurídico internacional dos direitos
ção das violações de direitos humanos, humanos. Porém, o combate ao terrorismo
com o pretexto do combate ao terrorismo. não legitima automaticamente qualquer
Os Estados que reagiram com exagero à interferência com o direito à privacidade.
ameaça colocada pelo terrorismo arrisca- Qualquer instância de interferência tem de
ram a violação dos direitos humanos, não ser sujeita a uma avaliação crítica. O artº
apenas dos alegados terroristas, mas tam- 17º do PIDCP constitui a mais importante
bém dos seus próprios cidadãos, cujos di- norma de tratados, juridicamente vincula-
reitos e liberdades poderão, por isso, ter tiva, sobre o direito humano à privacida-
ficado diminuídos. de, a nível global.
(Fontes: OHCHR. 2007. Human Rights,
Com o estabelecimento da Direção Exe- Terrorism and Counter-terrorism; Tessa
cutiva do Comité Contra o Terrorismo van Lieshout. 2006. The United Nations
(Counter-Terrorism Committee Executive and the fight against terrorism.; United
Directorate, CTED), através da Resolução Nations. 2009. Report of the Special Rap-
L. DIREITO À PRIVACIDADE 397

porteur on the promotion and protection of mentar 97/66/EC, relativa ao Tratamento


human rights and fundamental freedoms de Dados Pessoais e à Proteção da Pri-
while countering terrorism.) vacidade no setor das Telecomunicações
(“Diretiva da Privacidade nas Teleco-
Convenções Regionais municações”), abrangendo os telefones,
e Órgãos de Monitorização a televisão digital, as redes móveis e ou-
Esforços da União Europeia tros sistemas de telecomunicações. Com
Em 1995, o Conselho da União Europeia esta Diretiva, os portadores e fornecedores
(“Conselho da UE”) e o Parlamento Euro- de serviços têm de assegurar a privaci-
peu adotaram a Diretiva 95/46/EC, rela- dade das comunicações dos utilizadores,
tiva à Proteção das Pessoas Singulares no incluindo as comunicações e atividades
que diz Respeito ao Tratamento de Dados realizadas pela internet. A Diretiva da Pri-
Pessoais e à Livre Circulação desses Dados vacidade nas Telecomunicações restringe
(“Diretiva de Proteção de Dados”), para a o acesso aos dados das faturações e limita
harmonização das leis nos Estados-mem- a atividade comercial, o que significa que
bros da UE. A Diretiva de Proteção de uma vez que se complete uma chamada
Dados foi adotada com dois propósitos, o têm de ser eliminadas as informações re-
de garantir a proteção de dados dos in- cebidas pela realização da comunicação.
divíduos e o de remover os obstáculos à
livre circulação de dados pessoais entre Em 2002, o Parlamento Europeu e o Con-
Estados-membros da UE. A Diretiva de selho da UE adotaram a Diretiva 2002/58/
Proteção de Dados aplica-se ao processa- EC, relativa ao Tratamento de Dados Pes-
mento de informações pessoais em fichei- soais e à Proteção da Privacidade no setor
ros eletrónicos e manuais. das Comunicações Eletrónicas (Diretiva
Os direitos incluem: relativa à Privacidade e às Comunica-
• o direito à correção dos dados inexatos, ções Eletrónicas). Os Estados Partes têm
• o direito à prevenção dos processamen- de adotar legislação que estabeleça a exi-
tos ilegais, e gência da conservação dos dados de trá-
• o direito a optar, sem custos, a não re- fego e dados de localização de todas as
ceber diretamente anúncios de vendas. comunicações efetuadas através de tele-
Exige-se o consentimento expresso do fones móveis, mensagens de SMS, linhas
indíviduo para o uso comercial e gover- de telefones fixos, faxes, correio eletróni-
namental de dados pessoais delicados co, salas de conversação, internet ou de
relacionados com a saúde, vida sexual, qualquer outro dispositivo de comunica-
convicções religiosas ou filosóficas. Esta ções eletrónicas. Estas medidas podem
Diretiva aumentou a pressão sobre os pa- ser implementadas com fundamentos di-
íses fora da UE para adotarem leis restri- versos, incluindo a segurança nacional, a
tivas semelhantes de proteção de dados prevenção do crime e o cumprimento da
pessoais, para assegurar que determinados lei. A Diretiva relativa à Privacidade e às
tipos de circulação de informação continu- Comunicações Eletrónicas inclui disposi-
am na Europa. ções novas para a proteção de chamadas,
comunicações, dados de tráfego e de lo-
Em 1997, o Parlamento Europeu e o Con- calização para possibilitar um aumento
selho da UE adotaram a Diretiva suple- significativo da privacidade. Abrange to-
398 II. MÓDULOS SOBRE QUESTÕES SELECIONADAS DE DIREITOS HUMANOS

das as informações transmitidas através nal de Justiça da União Europeia anulou


da internet (“tráfego”), embora o “spam”, um acordo similar sobre a mesma maté-
isto é, a publicidade comercial através do ria (Parlamento Europeu c. Conselho da
correio eletrónico não solicitada nem con- União Europeia e Comissão Europeia, 30
sentida, seja proibido e os utilizadores dos de maio de 2006).
telefones móveis estejam protegidos do
sistema de localização e de vigilância por Em 2012, esteve em debate um projeto de
agências estatais. regulamento sobre a proteção das pes-
soas singulares em relação ao processa-
Em 2006, a UE prosseguiu com a apro- mento de dados pessoais e à circulação
vação da Diretiva 2006/24/EC, do Parla- desses dados e um projeto de diretiva
mento Europeu e do Conselho, relativa à relativa à proteção das pessoas singula-
Conservação de Dados Gerados ou Trata- res no que diz respeito ao tratamento de
dos no Contexto da Oferta de Serviços de dados pessoais pelas autoridades compe-
Comunicações Eletrónicas Publicamente tentes para efeitos de prevenção, investi-
Disponíveis ou de Redes Públicas de Co- gação, deteção e repressão de infrações
municações, que altera a Diretiva relativa penais ou de execução de sanções pe-
à Privacidade e às Comunicações Eletró- nais, e à livre circulação desses dados.
nicas. Esta Diretiva, muito controversa, O artº 16º do projeto de diretiva prevê o
exige que os fornecedores armazenem os direito à eliminação dos dados pessoais
dados por um período entre seis meses e quando o processamento dos dados não
dois anos. cumpra com o normativo.
[Fontes: European Commission. 2012.
Em 2007, a UE e os EUA chegaram a um Proposal for a Regulation of the European
acordo sobre a transferência de dados Parliament and of the Council on the pro-
financeiros pessoais da Sociedade para tection of individuals with regard to the
Telecomunicações Financeiras Inter- processing of personal data and on the
bancárias Globais (Society for Worldwi- free movement of such data (General Data
de Interbank Financial Telecommunica- Protection Regulation).; Peter Malanczuk.
tions-“SWIFT”), consórcio bancário com 2009. Data, Transboundary Flow, Interna-
sede em Bruxelas, para o Departamento tional Protection.]
do Tesouro dos EUA, pelo que a SWIFT
aderiu, deste modo, aos princípios do Convenção Europeia para a Proteção dos
“porto seguro”. A UE e os EUA tam- Direitos Humanos e das Liberdades Fun-
bém acordaram num mecanismo para a damentais (CEDH)
transferência dos dados dos registos de O artº 8º da Convenção Europeia para a
identificação dos passageiros: Acordo Proteção dos Direitos Humanos e das Li-
entre a União Europeia e os Estados Uni- berdades Fundamentais, de 1950, estabe-
dos da América sobre o processamento lece o seguinte:
e a transferência de dados contidos nos
registos de identificação dos passagei-
1. Qualquer pessoa tem direito ao respei-
ros, pelas transportadoras aéreas, para
to da sua vida privada e familiar, do seu
o Departamento da Segurança Interna
domicílio e da sua correspondência.
dos Estados Unidos. Em 2006, o Tribu-
L. DIREITO À PRIVACIDADE 399

2. Não pode haver ingerência da auto- Dados de Caráter Pessoal e Protocolo


ridade pública no exercício deste direito Adicional
senão quando esta ingerência estiver pre- A Convenção do Conselho da Europa para
vista na lei e constituir uma providência a Proteção das Pessoas relativamente ao
que, numa sociedade democrática, seja Tratamento Automatizado de Dados de
necessária para a segurança nacional, Caráter Pessoal e Protocolo Adicional, de
para a segurança pública, para o bem-es- 1981, tendo entrado em vigor em 1985,
tar económico do país, a defesa da or- encontra-se aberta à assinatura por parte
dem e a prevenção das infrações penais, de quaisquer países no mundo. A Conven-
a proteção da saúde ou da moral, ou a ção, ratificada por 44 Estados até junho
proteção dos direitos e das liberdades de de 2012, foi o primeiro instrumento in-
terceiros. ternacional juridicamente vinculativo
com importância global sobre a proteção
de dados. De acordo com a Convenção, os
A Convenção criou a Comissão Europeia Estados-membros têm de adotar as medi-
dos Direitos Humanos e o Tribunal Euro- das necessárias, nas suas ordens jurídicas
peu dos Direitos Humanos para monito- internas, para aplicarem os princípios da
rizarem o seu cumprimento. Ambos foram Convenção, de forma a assegurar os direi-
- e este tem sido - ativos na promoção do tos humanos essenciais relativos ao pro-
cumprimento dos direitos à privacidade, cessamento de dados pessoais.
tendo, consistentemente, interpretado o
artº 8º de forma extensiva e as restrições O Conselho da Europa também se encontra
de forma estrita. No caso de X c. Islândia a lançar uma campanha de modernização
(5 Eur. Comm’n H.R. 86.879) a Comissão da Convenção. Considerando que as infor-
considerou, em 1976: “Para muitos autores mações pessoais se encontram constan-
Anglo-Saxónicos e Franceses, o direito ao temente a ser registadas, comunicadas e
respeito da “vida privada” é o direito à pri- analisadas, muitas vezes sem o nosso con-
vacidade, o direito a viver, tanto quando sentimento e conhecimento, é necessário
se pretenda, protegido da publicidade... determinar a proteção jurídica dos nossos
Na opinião da Comissão, porém, o direito direitos fundamentais. A revisão da Con-
ao respeito da vida privada não termina venção constitui um processo necessário,
aqui. Também abrange, até determinado mesmo que exigente, numa altura em que
limite, o direito a estabelecer e desenvolver as fronteiras entre a privacidade e a liber-
relações com outros seres humanos, espe- dade se encontram esbatidas.
cialmente na esfera emocional para o de- Com o aumento da circulação de dados
senvolvimento e a realização da personali- pessoais através das fronteiras nacionais,
dade.” é necessário assegurar a proteção eficaz
(Fonte: Magdalena Sepulveda, Theo van dos direitos humanos e das liberdades
Banning et al. 2009. Human Rights Refer- fundamentais e, em particular, do direito à
ences Handbook.) privacidade. O Protocolo Adicional à Con-
venção para a Proteção das Pessoas relati-
Convenção do Conselho da Europa vamente ao Tratamento Automatizado de
para a Proteção das Pessoas relativa- Dados de Caráter Pessoal, respeitante às
mente ao Tratamento Automatizado de Autoridades de Supervisão e aos Fluxos
400 II. MÓDULOS SOBRE QUESTÕES SELECIONADAS DE DIREITOS HUMANOS

Transfronteiriços de Dados, entrou em vig- consumidores nos seus esforços para a


or em 2004 (32 Estados Partes em junho proteção da privacidade e dos dados pes-
de 2012). O Protocolo Adicional exige que soais.
os Estados Partes estabeleçam autoridades As diretrizes da OCDE estabelecem re-
de supervisão que exerçam as suas fun- gras específicas não vinculativas que
ções em absoluta independência das auto- abrangem o tratamento de dados ele-
ridades estatais e que sejam um elemento trónicos. Estas regras estabelecem que
para a proteção eficaz dos indivíduos em as informações pessoais têm de ser
relação ao processamento dos dados pes- protegidas em cada passo, da recolha
soais. à armazenagem e disseminação. Os
princípios e as formas de proteção dos
Convenção Americana sobre Direitos dados variam nas diferentes declara-
Humanos ções e leis, mas todos exigem que as
O artº 11º da Convenção Americana sobre informações pessoais sejam:
Direitos Humanos descreve o direito à pri-
vacidade em termos semelhantes aos da
Declaração Universal dos Direitos Huma- • obtidas de forma justa e legal;
nos. Em 1948, a Organização dos Estados
Americanos (OEA) proclamou a Declara- • usadas apenas para o propósito espe-
ção Americana dos Direitos e Deveres do cífico original;
Homem, apelando à proteção de vários • adequadas, relevantes e não excessi-
direitos humanos, incluindo o direito à vas para o propósito;
privacidade. O Tribunal Interamericano
de Direitos Humanos começou a abordar • precisas e atualizadas;
questões de privacidade nos seus proces- • acessíveis ao sujeito;
sos (por exemplo, Rivas Quintilla c. El Sal-
vador, Oscar Elias Biscet e outros c. Cuba). • mantidas de forma segura e destruí-
(Fonte: Magdalena Sepulveda, Theo van das findo o seu propósito.
Banning et al. 2009. Human Rights Refe-
rences Handbook.)
Carta Africana dos Direitos e Bem-Estar
Diretrizes da OCDE para a Proteção da da Criança
Privacidade e dos Fluxos Transfronteiri- A Carta prevê a proteção da privacidade
ços de Dados Pessoais no seu artº 10º ao referir que “Nenhu-
As Diretrizes da OCDE para a Proteção da ma criança será sujeita a interferência
Privacidade e dos Fluxos Transfronteiriços arbitrária ou ilegal na sua privacidade,
de Dados Pessoais, adotadas em 23 de família ou correspondência, nem a ata-
setembro de 1980, representam o consen- ques à sua honra ou reputação, desde
so internacional sobre as diretrizes gerais que os pais ou responsáveis legais te-
referentes à recolha e gestão de informa- nham o direito de exercer uma super-
ções pessoais. Ao estabelecerem princípios visão razoável em relação à conduta de
fundamentais, as diretrizes desempenham seus filhos. A criança tem direito à pro-
um papel fundamental no auxílio a gov- teção da lei contra tais interferências ou
ernos, a representantes de negócios e dos ataques.”
L. DIREITO À PRIVACIDADE 401

CONVÉM SABER
2. TENDÊNCIAS
1. BOAS PRÁTICAS
Listas de Vigilância, Listas de “Não voa”
Privacy.Org O tipo mais comum de listas de vigilância
O Privacy.Org é um sítio de notícias refere-se às listas “Não voa/selecionado”.
diárias, informação e iniciativas sobre a Normalmente, estas listas circulam entre
privacidade. Oferece uma visão geral so- as companhias aéreas e os funcionários de
bre atividades relacionadas com a privaci- segurança, com instruções para deterem
dade, sobre grupos preocupados com as- e interrogarem qualquer passageiro cujo
suntos relacionados com a privacidade e nome esteja na lista. A amplitude do uso
sobre publicações. Este sítio é um projeto destas listas permanece secreta, porém,
conjunto do Centro de Informações sobre nos países onde estes sistemas são super-
Privacidade Eletrónica (Electronic Privacy visionados publicamente têm surgido di-
Information Centre - EPIC) e da Privacy In- versos erros e preocupações de violações
ternational. à privacidade, particularmente, nos Esta-
dos Unidos e no Canadá. Permanecem as
Centro de Informações sobre Privacida- questões sobre a integridade dos dados,
de Eletrónica (Electronic Privacy Infor- ainda que estas listas sejam verificadas
mation Centre-EPIC) continuamente para deteção de erros, os
O EPIC é um centro de investigação de processos de identificação têm de realizar-
interesse público, situado em Washing- se com muito cuidado.
ton D.C.. Foi estabelecido em 1994, para A explicação oficial do motivo pelo qual
questões emergentes sobre liberdades ci- estas listas são guardadas frequentemente
vis e para proteger a privacidade, a Primei- em segredo é a de que poderiam deixar
ra Emenda e os valores constitucionais. os terroristas suspeitos em sobreaviso.
Porém, este sigilo levanta, simultanea-
Privacy International mente, problemas de indivíduos a serem,
É um grupo de direitos humanos constituí- continuamente, sujeitos a escrutínio sem
do em 1990, como vigilante de governos e saberem que fazem parte de uma lista e
de empresas. Privacy International encon- sem existir uma supervisão indepen-
tra-se sediada em Londres, na Inglaterra, dente eficaz. Esta vigilância secreta
e tem uma representação em Washing- constitui uma violação do direito à pri-
ton D.C.. Privacy International conduziu vacidade, nos termos do artº 17º do PID-
campanhas pelo mundo, sobre diferentes CP. Se estas listas antiterrorismo fossem
questões como escutas telefónicas e ativi- tornadas públicas, o artº 17º da Conven-
dades de segurança nacional até cartões ção seria desencadeado de outro modo.
de identificação, vigilância de vídeo, cor- O Comité dos Direitos Humanos concluiu
respondência de dados, sistemas de infor- que “a inclusão injustificada de uma pes-
mação da polícia e privacidade médica. soa na Lista Consolidada do Comité 1267
(Fonte: Peter Malanczuk. 2009. Data, das Nações Unidas constitui uma violação
Transboundary Flow, International Protec- do artº 17º. Considerou que a dissemina-
tion.) ção de informações pessoais constitui um
402 II. MÓDULOS SOBRE QUESTÕES SELECIONADAS DE DIREITOS HUMANOS

ataque à honra e à reputação das pessoas “Não fiz nada de errado”, disse aos jornal-
constantes na lista, devido à associação istas. “Encontrei-me, numa manhã, nesta
negativa entre os nomes e o título da lista situação sem quaisquer acusações nem a
de sanções.” apresentação de quaisquer provas.”
As listas de vigilância públicas e secretas
podem violar, frequentemente, princípios Ottawa tem o poder, segundo uma Re-
fundamentais de proteção de dados. As solução do Conselho de Segurança das
informações, uma vez geradas para um Nações Unidas, de punir qualquer pes-
propósito, são reutilizadas para propó- soa que dê apoio material a Abdelrazik.
sitos secundários e, nalguns casos, até Mesmo que este tivesse um cheque, não
partilhadas com outras instituições sem o podia levantar fundos da sua conta ban-
conhecimento ou consentimento das pes- cária. Depois de uma batalha judicial,
soas interessadas. Utilizam-se informações ele ganhou uma decisão que lhe permitiu
erróneas para decidir sobre as pessoas, o realizar levantamentos mensais limita-
que resulta sobretudo em restrições a via- dos, da sua conta da união de crédito.
jar, recusa de vistos, rejeição nas frontei- Tanto a CSIS como a RCMP reconheceram
ras ou proibição de embarcar num avião, que não têm provas contra Abdelrazik.
sem que sejam apresentadas provas da O Departamento de Justiça Sudanês
prática de quaisquer infrações. considerou, em 2005, que ele não tinha
(Fonte: United Nations. 2009. Report of the quaisquer ligações à Al-Qaida. Porém,
Special Rapporteur on the promotion and os esforços para remover o seu nome da
protection of human rights and fundamen- lista foram infrutíferos. O governo federal
tal freedoms while countering terrorism.) e outras autoridades têm continuado a
aplicar as sanções. Ottawa citou a lista
Um exemplo é a história do Sr. Abousfian ao recusar a concessão, a Abdelrazik, de
Abdelrazik: documentos para viajar, depois de ele ter
sido libertado de uma prisão no Sudão,
em que alega que foi torturado. Ele pas-
“Abousfian Abdelrazik, um homem de
sou meses num limbo judicial na Em-
Montreal que foi colocado na lista de vi-
baixada Canadiana em Cartum.
gilância do terror das Nações Unidas em
2006, mas nunca acusado de nenhum Mary Foster, que acompanhou Abdelra-
crime, continua a levar o seu caso a pú- zik numa campanha pelo país, disse que
blico. Abdelrazik foi preso, mas não con- os seus problemas fazem parte de uma
denado, durante uma visita, em 2003, luta maior contra a islamofobia, o racis-
ao Sudão para ver a sua mãe doente. No mo e o “poder governamental arbitrário”.
verão passado, ele foi, finalmente, auto- Ela disse que “Não se trata apenas de um
rizado a regressar ao Canadá, depois de indivíduo, mas de muitos indivíduos, de
seis meses no Sudão, que incluiram duas países inteiros cheios de indivíduos”.
passagens pela prisão e 14 meses na Os advogados de Abdelrazik, com o apoio
portaria da Embaixada Canadiana. Im- de grupos de liberdades civis, apresenta-
possibilitado de trabalhar por causa das ram um processo constitucional contra a
sanções, Abdelrazik disse que tem vivido lista de vigilância, conhecida como a lis-
num limbo desde que foi a casa. ta 1267 das Nações Unidas. Ele processou
L. DIREITO À PRIVACIDADE 403

o Ministro dos Negócios Estrangeiros A Google cessou a sua recolha ilegal de


Lawrence Cannon e o Governo Federal, transmissões de dados Wi-Fi devido a mui-
em $27 milhões. No seu processo, ele tos protestos em todo o mundo. A Google
alega que o governo organizou a sua acabou por admitir, com o decurso das
detenção arbitrária pelas autoridades investigações, que tinha intercetado e ar-
sudanesas, encorajando ou tolerando a mazenado dados de transmissão Wi-Fi,
sua tortura às mãos das autoridades su- incluindo palavras passe de correio ele-
danesas e obstruindo ativamente o seu trónico e conteúdos de correio eletrónico:
regresso ao Canadá, por diversos anos. “[...] nalgumas instâncias capturaram-se
mensagens eletrónicas integrais e URLs,
Melissa Lantsman, porta-voz de Can- assim como palavras passe.”
non, disse que não podia comentar as Em janeiro de 2011, conduziram-se investi-
especificidades do seu processo, por este gações em, pelo menos, 12 países. Pelo me-
se encontrar nas instâncias judiciais. Po- nos 9 países consideraram a Google culpada
rém, disse que “cabe ao Sr. Abdelrazik” de violar as suas leis. Um tribunal Suíço,
seguir os canais próprios para que o seu por exemplo, considerou que a Vista da Rua
nome seja retirado da lista de vigilância. da Google viola os direitos de privacidade.
O Canadá tentou que o nome de Abdel- O tribunal superior da Suíça decidiu contra
razik fosse removido da lista das Nações o serviço de mapa Vista da Rua da Google,
Unidas, em 2007, porém, tal foi rejeita- forçando-a a ofuscar as caras e as placas
do. Qualquer membro do Conselho de de matrículas antes de colocar as imagens
Segurança pode vetar um pedido de eli- na internet. O tribunal Suíço referiu “O in-
minação do nome da lista, sem oferecer teresse do público num registo visual e os
explicações.” interesses comerciais dos arguidos não se
(Fonte: CBC News. 2010. Montreal man sobrepõem, de forma alguma, aos direitos
on watch list rallies supporters.) sobre a imagem própria.”. Mais países, tais
como o Reino Unido, a França e a Espanha
Vista da Rua da Google consideraram que a Google violou leis de
Quando a Google iniciou o seu projeto Vis- privacidade, na medida em que os carros
ta da Rua, em 2007, levantaram-se muitas da Vista da Rua recolheram dados Wi-Fi de
preocupações em relação à privacidade, redes sem fios privadas.
porém, os debates centraram-se quase ex- A Comissão Nacional para Informática e
clusivamente sobre a recolha e a exibição Liberdades Civis da França (CNIL) mul-
de imagens obtidas pelas câmaras digi- tou a Google em 100.000 Euros, por violar
tais da Vista da Rua da Google. A Google as regras sobre privacidade de França, a
também obteve uma quantidade vasta de partir do momento em que os carros da
dados Wi-Fi de recetores Wi-Fi que foram Vista da Rua da Google recolheram endere-
escondidos em veículos da Vista da Rua. ços eletrónicos e palavras passe das pesso-
Iniciaram-se investigações independentes as, sem o seu conhecimento. A Comissão
e a Google reconheceu que tinha reunido referiu como fundamentação para conde-
endereços MAC e SSIDs de rede (o nome nar à multa mais elevada que alguma vez
de identificação de rede atribuído ao utili- atribuiu, “as violações estabelecidas e a
zador), ligados a informações de localiza- sua gravidade, assim como as vantagens
ção para redes sem fios privadas. económicas ganhas pela Google”. Depois
404 II. MÓDULOS SOBRE QUESTÕES SELECIONADAS DE DIREITOS HUMANOS

de fixar a multa, a CNIL criticou a Google assim, as informações digitais podem ser
pela sua conduta durante a investigação: copiadas e distribuídas com facilidade a
“Eles nem sempre estavam dispostos a co- qualquer pessoa autorizada do grupo que
laborar connosco, não nos deram todas as passe as informações a outros. Além disso,
informações que pedimos, tal como o có- os sítios são objeto de partilha rotineira
digo de fonte de todos os dispositivos nos de informações dos utilizadores com ter-
carros da Google”, disse Yann Padova, o di- ceiros para efeitos comerciais.
retor executivo da CNIL. “Eles nem sempre (Fontes: BBC. 2008. Facebook ‘violates pri-
foram muito transparentes.” vacy laws’; EPIC, Social Networking Pri-
Diversos outros países, incluindo o Reino vacy, http://epic.org/privacy/socialnet/
Unido, o Canadá, a Alemanha e a Espa- default.html; Irish Data Protection Com-
nha, realizaram investigações similares e missioner. 2011. Facebook Ireland Ltd – Re-
determinaram que a Google violou as suas port of Audit.)
leis de privacidade.
(Fonte: BBC. 2011. France fines Google over Base Nacional de Dados de ADN do Rei-
Street View data blunder.) no Unido
Durante os últimos anos, o Comité Espe-
Redes Sociais cial sobre a Constituição da Câmara dos
Os sítios da Rede relativos a redes sociais Lordes, no Reino Unido, aprovou uma
tais como o Facebook, o MySpace, o Twit- expansão na Base Nacional de Dados de
ter, o Google Buzz, o LinkedIn e o Friends- ADN, assim como a introdução ou desen-
ter são fóruns estabelecidos para mante- volvimento de novas bases de dados para
rem em contato antigas amizades e para uma variedade de serviços públicos e um
se conhecerem novas, para a partilha de aumento constante no uso de Câmaras
informações pessoais e para se estabelece- em Circuito Fechado (CCTV), tanto no se-
rem capacidades de comunicação móvel. tor público como no privado. Tem havido
Apesar destes sítios da Rede serem ferra- uma expansão significativa e contínua dos
mentas úteis para a troca de informações, aparatos de vigilância, tanto do Estado
tem havido uma preocupação crescente como do setor privado. Nas últimas dé-
com as quebras de privacidade, causa- cadas, eram relativamente incomuns as
das por estes serviços de redes sociais, bases de dados informáticas e partilha de
pois muitos dos utilizadores sentem que dados, a monitorização das comunicações
os seus dados pessoais estão a circular de eletrónicas, a identificação eletrónica e as
uma forma muito mais abrangente do que Câmaras em Circuito Fechado, em recin-
desejariam. tos públicos. Hoje, estas tecnologias estão
Alguns fornecedores restringem o acesso omnipresentes e exercem uma influência
ao sítio e, como consequência, o acesso às sobre muitos aspetos nas nossas vidas diá-
informações do utilizador. Muitas páginas rias. Para além disso, a vigilância continua
incluem estipulações de idade nos seus a exercer uma influência poderosa sobre
termos de uso (o Friendster, por exem- a relação entre os indivíduos e o Estado e
plo, exige que todos os seus utilizadores entre os próprios indivíduos. A forma sele-
tenham mais de 16 anos de idade, o Face- tiva como, por vezes, é utilizada, ameaça
book e o MySpace exigem que os utilizado- discriminar certas categorias de indiví-
res tenham, pelo menos, 13 anos). Mesmo duos.
L. DIREITO À PRIVACIDADE 405

(Fonte: Peter Malanczuk. 2009. Data, 3. CRONOLOGIA


Transboundary Flow, International Protec-
tion.) 1966 Pacto Internacional sobre os Di-
reitos Civis e Políticos (PIDCP),
Declaração Conjunta sobre a Liberdade artº 17º
de Expressão e a Internet 1980 Diretrizes da OCDE para a Prote-
Em junho de 2012, os relatores especiais ção da Privacidade e Fluxos Trans-
das quatro organizações internacionais fronteiriços de Dados Pessoais
a lidar com a liberdade de expressão, 1981 Convenção do Conselho da Europa
nomeadamente, as Nações Unidas, a para a Proteção das Pessoas relati-
Organização para a Segurança e Coope- vamente ao Tratamento Automati-
ração na Europa (OSCE), a Organização zado de Dados de Carácter Pessoal
dos Estados Americanos (OEA) e a Co-
1988 Comentário Geral nº 16 do Comité
missão Africana dos Direitos Humanos
dos Direitos Humanos das Nações
e dos Povos (CADHP), emitiram uma
Unidas, sobre o direito ao respeito
Declaração Conjunta sobre a liberdade
da privacidade, família, domicílio
de expressão e a internet, a dar ênfase
e correspondência e proteção da
a determinados princípios chave para a
honra e reputação (artº 17º)
liberdade de expressão na internet. De-
clararam, por exemplo, que as aborda- 1989 Convenção da Organização das
gens para a regulamentação de outras Nações Unidas sobre os Direitos
formas de comunicação não pode ser da Criança
simplesmente transferida para a inter- 1996 Diretiva da UE sobre a proteção de
net, devendo a regulamentação ser con- dados 95/46/EC
cebida de uma forma específica para
2001 Regulamento da UE sobre a prote-
este efeito.
ção de dados 45/2001/EC
(Fontes: OAS. 2012. Press release - Free-
dom of expression rapporteurs issue joint 2002 Protocolo Facultativo à Convenção
declaration concerning the internet.; Mat- sobre os Direitos da Criança relati-
thias C. Kettemann. 2012. 5 punchy princi- vo à Venda de Crianças, Prostitui-
ples for regulating the internet.) ção Infantil e Pornografia Infantil
2002 Diretiva da UE relativa às comuni-
Proteção de Direitos Humanos em linha cações eletrónicas 2002/58/EC
(online) e fora de linha (offline) 2003-2005 Cimeira Mundial sobre a so-
Em julho de 2012, o Conselho de Direitos ciedade da informação
Humanos das Nações Unidas confirmou,
finalmente, que não existem diferenças 2004 Protocolo Adicional à Convenção
entre a proteção dos direitos humanos do Conselho da Europa para a Pro-
fora de linha e em linha (UN Doc. A/ teção das Pessoas relativamente ao
HRC/20/L.13). A resolução confirma o Tratamento Automatizado de Da-
significado da universalidade e abertura dos de Carácter Pessoal, respeitan-
da internet. A resolução refere-se à De- te às Autoridades de Controlo e aos
claração Universal dos Direitos Humanos Fluxos Transfronteiriços de Dados
e ao PIDCP.
406 II. MÓDULOS SOBRE QUESTÕES SELECIONADAS DE DIREITOS HUMANOS

ATIVIDADES SELECIONADAS
ATIVIDADE I: Deve incentivar-se a apresentação de
DADOS PRIVADOS diferentes argumentos.
E DADOS PÚBLICOS 2. Cada grupo apresenta os seus resultados
aos outros e o moderador constitui uma
Parte I: Introdução lista comum. Em caso de desacordo, de-
Esta atividade pretende auxiliar na com- vem debater-se, no âmbito do grupo, as di-
preensão da necessidade da proteção da ferentes perspetivas. No final, deve refletir-
privacidade na internet. se sobre os resultados da lista comum.
Parte II: Informação Geral
Tipo de atividade: Trabalho de grupo Ficha de trabalho:
Metas e objetivos: Distinção entre dados pú- 1. Ler esta lista com atenção:
blicos e privados; reflexão sobre o uso e a par- A minha idade, o meu endereço, as horas
tilha de dados privados em redes sociais, etc. em que não estou em casa, o meu tama-
Grupo-alvo: Adolescentes e adultos jovens nho de sapato, a minha escola/local de
Dimensão do grupo: 6+ trabalho, as minhas informações médicas
Duração: 30-60 minutos (alergias, doenças, etc.), o meu número
Material: cópias das fichas de trabalho de telefone, as minhas atividades extra-
Competências envolvidas: Reflexão e curriculares, o meu peso, os meus cos-
competências de análise méticos favoritos, o meu prato favorito, a
minha série de televisão favorita, o nome
Parte III: Informações Específicas sobre do meu melhor amigo, a cor da minha
a Atividade roupa interior, o meu músico favorito, o
Instruções: meu namorado/namorada/cônjuge/noi-
1. Explicar aos participantes o significado vo, a minha religião, uma imagem minha
de dados pessoais/privados. A seguir, na banheira, o meu endereço eletrónico,
os participantes, em pequenos grupos uma imagem minha a mostrar a face, o
de 2 ou 3 pessoas, preenchem então salário que aufiro/dinheiro de bolso, o
uma ficha de trabalho. Devem debater nome do meu animal de estimação, a mi-
juntos e apontar quais os dados que de- nha alcunha, o meu aniversário.
vem ser integralmente privados e quais 2. Preencher a tabela com os dados referi-
os dados que podem ser partilhados. dos no ponto 1.

Absolutamente privado Apenas para amigos Não é claro Sempre público


L. DIREITO À PRIVACIDADE 407

Acompanhamento: de aula de forma a que os participantes a


Debater a separação dos dados privados e vejam enquanto se lê a seguinte história
dos dados públicos e por que é tão impor- em voz alta:
tante distingui-los. Como podem proteger-
se as informações pessoais na internet?
Direitos relacionados: Liberdade de ex-
pressão e liberdade dos meios de informa-
ção e todos os outros direitos humanos.

ATIVIDADE II:
A HISTÓRIA DE MARIANNE K.

Parte I: Introdução
Nós crescemos acostumados à vigilância
das câmaras no espaço público; nós já não
reparamos na vigilância das câmaras. Mas
quais as repercussões para o nosso direito à Marianne K. deixa o café, na praça prin-
privacidade, se cada passo puder ser acom- cipal da aldeia, na companhia de um ho-
panhado pela polícia, pelos funcionários de mem. Limpa algumas lágrimas da sua
segurança e mesmo por privados? face. Abraça então o homem que sussurra
algo ao seu ouvido. O homem vai-se em-
Parte II: Informação Geral bora. Quando ele se vira para trás, Ma-
Tipo de atividade: Exercício e discussão rianne acena-lhe com o braço para dizer-
de grupo lhe adeus. Ela então entra na farmácia.
Metas e objetivos: Sensibilizar os partici- Ao sair de novo, coloca, cuidadosamente,
pantes para possíveis ameaças ao direito à diversas caixas de medicamentos na sua
privacidade; discutir os prós e contras da mala de mão. Marianne dirige-se, depois,
vigilância das câmaras no espaço público. para o edifício com a placa “Advogado”
Grupo-alvo: Adolescentes e adultos junto à porta de entrada. Quando sai, de
Dimensão do grupo: 10+ novo, após algum tempo, leva consigo uma
Duração: 30-60 minutos pasta e dirige-se à igreja da aldeia. Passa
Materiais: Uma cópia da história da Marian- de novo algum tempo até que ela regressa
ne; uma imagem da aldeia K. (copiada ou do gabinete do pároco e se dirige ao cemité-
desenhada), uma fotografia das câmaras de rio. Por fim, vai ao supermercado junto ao
vigilância; cartões com duas cores diferentes café e regressa, de novo, com duas garra-
para o exercício de acompanhamento. fas de vinho tinto e duas garrafas de vinho
Competências envolvidas: Reflexão e branco.
competências analíticas, argumentação Dar aos participantes alguns minutos para
refletirem sobre os passos da Marianne.
Parte III: Informações Específicas sobre Pedir-lhes que especulem sobre o passado
a Atividade e motivos das suas atividades. Numa ses-
Instruções: são a envolver todo o grupo colocá-los a
Desenhar a aldeia K. num quadro ou co- trocar ideias e anotar as assunções no qua-
piar a imagem de baixo e dispô-la na sala dro ou cavalete.
408 II. MÓDULOS SOBRE QUESTÕES SELECIONADAS DE DIREITOS HUMANOS

Para terminar, ler alto a história integral: advogado para uma consulta sobre uma
A Marianne K. vive na aldeia K., junta- herança de Martin. Ao sair do escritório
mente com o seu marido, Martin, e os do advogado, levou consigo uma pasta
seus filhos Mary e Marcus. Ela viveu em com informações jurídicas para Martin.
K. a maior parte da sua vida, realizou os Foi à igreja da aldeia para inscrever a sua
seus estudos secundários em K. e tem al- filha Mary nas aulas da primeira comu-
guns familiares a viverem, também, nesta nhão. Quando saiu do gabinete do páro-
aldeia. O marido de Marianne, Martin, co, dirigiu-se ao cemitério para tratar da
cresceu na cidade de L.. Ele trabalha como campa do pai. Por fim, foi ao supermer-
gestor para uma empresa internacional e, cado junto ao café para comprar algumas
como consequência, transita diariamente garrafas de vinho tinto e branco para um
entre K. e a cidade de I.. Recentemente, ele jantar com amigos.
teve de assumir mais e mais deslocações Afixar uma fotografia de câmaras de vigi-
de negócios ao estrangeiro e também dá lância junto ao desenho da praça central
seminários nos fins de semanas, para em- da aldeia, antes de ler a última frase:
pregados e formandos da empresa onde Passou muito tempo antes da Marianne ter
trabalha. Assim, ele não despende de mui- notado, pela última vez, as câmaras de vi-
to tempo com a sua mulher e crianças e gilância no meio da praça central…
Marianne não se encontra muito feliz com Apresentar aos participantes as assunções
a situação. Mais, ela encontra-se à procu- que fizeram ao interpretar o comporta-
ra de um trabalho, já há bastante tempo, mento da Marianne. Os aldeães de K. co-
após ter estado em licença de maternida- nhecem a sua situação demasiado bem…
de por alguns anos e a cuidar da sua mãe, O que pensaria, por exemplo, um agen-
após o falecimento do seu pai, há pouco te da polícia em frente ao monitor? Será
tempo atrás. Marianne é assistente social que as interpretações e assunções sobre a
e não é fácil encontrar trabalho em K. ou conduta de Marianne terão consequências
nas aldeias vizinhas. para ela? Se sim, que consequências?
Após ter recebido mais cartas de recusa,
Marianne encontrou o seu colega de escola Acompanhamento:
e amigo próximo no café da aldeia. Eles Poder-se-á prosseguir com um grupo de
falaram dos seus problemas e Marianne fi- trabalho para recolher e debater os prós e
cou emocionada. Quando o seu colega de contras das câmaras de vigilância no espa-
escola teve de se ir embora, eles deixaram o ço público. Pedir aos participantes para se
café juntos e Marianne limpou as lágrimas dividirem em grupos de três a cinco pes-
da sua face. Ao despedirem-se abraçaram- soas e dar a cada grupo um par de cartões
se, tendo ele tentado confortar Marianne de cores diferentes (por exemplo, o verde
ao dizer-lhe que tudo irá correr bem no fi- para os prós e o vermelho para os con-
nal. Assim que ele a deixou, Marianne fi- tras). Dar 15 minutos para encontrarem
cou a observá-lo e acenou-lhe quando ele argumentos a favor ou contra as câmaras
se virou. de vigilância e para concordarem sobre os
Ela foi então à farmácia para levantar pontos nos grupos pequenos.
uma receita para a sua mãe. Ao sair, arru- Chamar então os participantes de volta ao
mou as caixas dos medicamentos na sua grupo e pedir-lhes que afixem os cartões
mala de mão e dirigiu-se ao escritório do no quadro ou parede e que discutam os ar-
L. DIREITO À PRIVACIDADE 409

gumentos. Se necessário, poder-se-á com- de uma sociedade homogénea – perda


plementar as conclusões dos participantes da diversidade através do efeito do ob-
com os seguintes argumentos: servador -, a erosão gradual do primado
• PRÓS: a eliminação de zonas quentes do Direito, a proximidade a um Estado
de pequena criminalidade, a resolução de vigilância, o fortalecimento do sen-
mais fácil dos crimes, a prevenção para timento de insegurança das pessoas, os
possíveis agentes do crime, a deteção e custos elevados, a monitorização e a su-
a luta contra ameaças à segurança pú- pervisão insuficientes, etc.
blica, a contribuição para uma maior Direitos relacionados: a liberdade de ex-
eficácia no trabalho da polícia, o forta- pressão e a liberdade dos meios de infor-
lecimento do sentimento de segurança mação, o primado do Direito e o julgamen-
das pessoas, a melhoria da reconstrução to justo.
dos eventos, a identificação de agentes (Fonte: Translated and adapted from: Ste-
criminosos, etc. phanie Deutinger, Lina Dornhofer. 2012.
• CONTRAS: a erosão gradual da presun- !?!... is watching you. Menschenrechte und
ção de inocência, a dessensibilização Überwachung.)
sistemática da sociedade, a manutenção

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UN Security Council Committee establi-


shed pursuant to resolution 1267 (1999)
M. LIBERDADE
DE EXPRESSÃO
E LIBERDADE DOS MEIOS
DE INFORMAÇÃO

ELEMENTOS SUBSTANTIVOS DO DIREITO


RESTRIÇÕES LEGÍTIMAS E ILEGÍTIMAS
PROIBIÇÃO DA APOLOGIA DO ÓDIO E DA VIOLÊNCIA
IMPORTÂNCIA PARA A DEMOCRACIA E PARA A SOCIEDADE
DIREITOS HUMANOS NA SOCIEDADE DE INFORMAÇÃO

“Todo o indivíduo tem direito à liberdade de opinião e de expressão, o que implica o


direito de não ser inquietado pelas suas opiniões e o de procurar, receber e difundir, sem
consideração de fronteiras, informações e ideias por qualquer meio de expressão.”
Artº 19º da Declaração Universal dos Direitos Humanos. 1948.
414 II. MÓDULOS SOBRE QUESTÕES SELECIONADAS DE DIREITOS HUMANOS

HISTÓRIAS ILUSTRATIVAS
Só o Silêncio te Protegerá, Mulher 15 dias da detenção do blogger e ativista
Alaa Abdel Fattáh.
Sri Lanka: A Dra. Manorani Saravanamuttu (Fonte: Reporters without Borders. 2011. In-
é a mãe de Richard de Zoysa, um jornalista ternational Community Urged to React as Sit-
que foi raptado e morto no Sri Lanka, em uation of Free Expression Worsens in Egypt.)
fevereiro de 1990. A Dra. Saravanamuttu fez
uma campanha para trazer à luz a verdade A SEEMO Condena as Novas Ameaças de
sobre o homicídio do seu filho. Ela providen- Morte contra o Jornalista Croata Drago Hedl
ciou às autoridades informação com vista à
Croácia: De acordo com informação da
obtenção de uma investigação da morte, mas
SEEMO (South East Europe Media Organi-
a única coisa que obteve foi uma carta na
sation), a 14 de dezembro de 2011, Drago
qual se lia: “Faça o luto pela morte do seu fi-
Hedl, o editor do semanário Croata, Feral
lho. Como mãe, deve fazê-lo. Qualquer outro
Tribune, recebeu novas ameaças de morte
passo que der resultará na sua morte quando
um dia depois de ter sido premiado pelo
menos esperar[...] Só o silêncio a protegerá.”
presidente croata pela defesa dos direi-
(Fonte: Jan Bauer. 1996. Only Silence Will
tos humanos. O mesmo tinha recebido já
Protect You, Women. Freedom of Expres-
ameaças de morte no passado, inter alia,
sion and the Language of Human Rights.)
pela série de artigos que publicou no Feral
Tribune sobre a tortura e assassinatos de
A Comunidade Internacional Apelou à
civis sérvios, em Osijek, em 1991.
Reação, pelo facto de a Situação da Liber-
(Fonte: SEEMO. 2011. SEEMO Condemns
dade de Expressão ter Piorado no Egito
New Death Threats against Croatian Jour-
nalist Drago Hedl.)
Egito: Os Repórteres sem Fronteiras (Re-
porters without Borders) condenaram a de- “Temos um direito natural a usar as nossas
terioração crescente da situação relativa à canetas, bem como as nossas línguas, por
liberdade dos meios de informação no Egi- nossa própria conta e risco.”
to, no período que antecedeu as eleições. Voltaire. 1764. Liberty of the Press.
O Conselho Supremo das Forças Armadas
tinha apenas ordenado uma extensão de
Questões para debate
1. Que direitos humanos foram violados e
por quem nestas histórias?
2. Que razões podem justificar os limites à
liberdade de expressão e à liberdade dos
meios de informação?
3. O que deve ser feito para proteger me-
lhor estas liberdades?
4. O que podem fazer as vítimas de uma
violação?
5. Quais são as obrigações dos jornalistas
responsáveis?
M. LIBERDADE DE EXPRESSÃO E LIBERDADE DOS MEIOS DE INFORMAÇÃO 415

A SABER
1. RELEVÂNCIA NO PASSADO E NO dos meios de informação. Uma vez que
PRESENTE o conceito de segurança humana tam-
bém se baseia no direito do indivíduo a
A liberdade de opinião e expressão – in- procurar e a receber informação e ideias
cluindo a liberdade de “receber e difundir, de toda a espécie, incluindo as que criti-
sem consideração de fronteiras, informa- quem os poderes dirigentes, a intimida-
ções e ideias por qualquer meio de expres- ção de jornalistas e o controlo dos meios
são” (artº 19º da Declaração Universal de informação constituem importantes
dos Direitos Humanos de 1948) – é um ameaças à segurança humana. Novas
dos direitos civis e políticos básicos, que ameaças à segurança humana, mas tam-
se encontra formulado em todos os respe- bém novas oportunidades, surgem com
tivos instrumentos de direitos humanos. as “novas tecnologias”. A nova “conecti-
Tem as suas raízes na luta pelas liberdades vidade” pode ser utilizada com fins edu-
pessoais nos séculos XVIII e XIX, quando cacionais, bem como para o crime or-
foi incluído nas Constituições dos EUA e ganizado. As campanhas internacionais
Europeias. O filósofo britânico John Stu- contra as minas terrestres e em prol de
art Mill chamou à liberdade de imprensa causas relacionadas com os direitos hu-
“uma das seguranças contra a corrupção e manos e o ambiente são facilitadas. Po-
governos tiranos” (Mill, John Stuart. 1859. rém, novos riscos aparecem sob a forma
“On Liberty”). É também um direito cons- de “crimes cibernéticos”. As economias e
titutivo de um sistema democrático no os serviços tornam-se cada vez mais de-
qual todas as pessoas, não só os cidadãos pendentes das novas tecnologias e novas
de um Estado, têm o direito humano de di- formas de inclusão e de exclusão desen-
zer o que pensam e de criticar o governo. volvem-se. Por exemplo, a Organização
Em janeiro de 1941, o Presidente Roosevelt dos Meios de Comunicação do Sudeste
anunciou a liberdade de expressão como Europeu (South-East Europe Media Orga-
uma das quatro liberdades na qual basear nisation - SEEMO), com sede em Viena,
uma futura ordem mundial pós-Segunda queixou-se que a Telekom Serbia estava
Guerra Mundial. O acesso e a liberdade a aplicar “limitações” em linhas de in-
de circulação de informação através das ternet alugadas para forçar os meios de
fronteiras é um elemento crucial de uma informação e outros a mudar de um for-
sociedade aberta e pluralista. necedor de internet privado para o servi-
ço de internet da Telekom Serbia.
Segurança Humana, Liberdade de Ex-
pressão e dos Meios de Informação
O “fator CNN”, i.e., a possibilidade de se
O “direito de viver sem medo” (freedom trazer qualquer conflito para a sala de es-
from fear) também inclui a liberdade de tar, mudou o papel dos meios de informa-
expressar a sua opinião e a liberdade ção. Por causa da importância da opinião
416 II. MÓDULOS SOBRE QUESTÕES SELECIONADAS DE DIREITOS HUMANOS

pública, os meios de informação torna- naram o controlo do fluxo de informação


ram-se uma parte importante do estado mais difícil, criando, assim, novas opor-
de guerra, como pôde ser visto no caso tunidades, mas também novas ameaças,
do Iraque. “A informação da guerra” (info- especialmente se os meios de informação
wars) ou “a informação/entretenimento” se tornarem um alvo de ataque ou de con-
(infotainment) correspondem à tendência trolo político. A diversidade e a qualidade
de que a informação está subordinada a dos programas podem ser reduzidas como
outros objetivos, em especial, políticos ou resultado da comercialização. Visa-se ter
económicos. sempre maiores audiências ou competir
por uma maior percentagem de leitores ou
“Não há segurança sem meios de informa- espectadores, centrando-se em histórias
ção livres.” de sexo ou crime.
Dunja Mijatovic, Representante da OSCE para a li-
berdade dos meios de informação. 2011.
Uma grande ameaça à liberdade
Antigos e Novos Desafios dos meios de informação é a concentra-
A liberdade de informação, de expressão ção dos meios de informação que existe,
e dos meios de informação teve uma im- tanto a nível local, como global. Assim,
portância especial durante a Guerra Fria em muitos países e na União Europeia há
quando as pessoas nos países socialistas leis contra a concentração dos meios de
da Europa de Leste não tinham acesso a informação com o intuito de preservar o
jornais e revistas estrangeiras ou indepen- pluralismo.
dentes. Atualmente, alguns países limitam Os desenvolvimentos tecnológicos,
o acesso à televisão por satélite e à inter- como o aumento da comunicação por sa-
net para evitar que os seus cidadãos ace- télite e o aumento do acesso à internet,
dam a sítios que consideram indesejáveis criaram novos desafios relativamente à
por motivos políticos ou religiosos. Alguns liberdade de informação e dos meios de
países censuram serviços de internet po- informação. Frequentemente, os Esta-
pulares, incluindo o Facebook, o Twitter e dos tentam restringir o acesso a novos
o Google; mais uma vez, algumas compa- meios de informação por causa de ideias
nhias de internet também exercem auto- ou de conteúdos que temem ser críticos
censura para poderem operar em países das políticas nacionais, bem como por ra-
com menor liberdade de expressão. zões religiosas ou morais. Uma vez que
Os meios de informação podem ter um há diversos sítios na internet que ofere-
papel duplo como beneficiários e violado- cem propaganda racista ou xenófoba ou
res da liberdade de expressão. O seu papel pornografia infantil, estas preocupações,
pode ser aquele de informar sobre pro- realmente, nem sempre são injustificadas.
blemas globais, reforçar a solidariedade A questão é, no entanto, a de saber como
global, mas também podem ser um instru- se pode manter o balanço frágil entre a
mento de propaganda do Estado ou de ou- liberdade de expressão e a legítima restri-
tros interesses económicos particulares ou ção com base nos interesses de uma so-
outros. Segundo a Comissão da UNESCO ciedade democrática. Devido ao facto de
sobre Cultura e Desenvolvimento, as tec- a internet não ter fronteiras, as respostas
nologias modernas de comunicação tor- devem ser principalmente encontradas ao
M. LIBERDADE DE EXPRESSÃO E LIBERDADE DOS MEIOS DE INFORMAÇÃO 417

nível internacional. Na sua Convenção Desde 2006, o Fórum sobre a Governação


sobre Cibercrime, de 2001, o Conselho da Internet (Internet Governance Forum),
da Europa já condenou a pornografia in- organizado enquanto fórum de diver-
fantil e tentou aumentar a responsabilida- sas partes interessadas, como governos,
de criminal a nível nacional, bem como organizações internacionais, o mundo
a cooperação internacional para efeitos dos negócios, ONG, academia, considera
de procedimentos judiciais, embora com os direitos humanos como um assunto
limitadas garantias de direitos humanos. transversal importante. Nas denominadas
Um Protocolo Adicional sobre Atos de “Coligações Dinâmicas” – como as foca-
Natureza Racista ou Xenófoba Cometi- das nos Direitos e Princípios relacionados
dos por Meio de Sistemas Informáticos com a Internet ou sobre a Liberdade de
foi adotado em 2003. A adesão por parte Expressão – tem-se registado progresso
de países não europeus foi autorizada e no trabalho sobre diretrizes de direitos
a Convenção foi já ratificada por países humanos para a internet. São resultados
como o Canadá, Japão, República da Áfri- importantes a “Carta de Direitos Huma-
ca do Sul e os EUA. Em janeiro de 2012, a nos e Princípios para a Internet” (Charter
Convenção tinha 32 ratificações e o Proto- on Human Rights and Principles for the
colo Adicional tinha 20 ratificações. Internet) e os “10 Direitos e Princípios na
Internet” (disponível em: www.internetri-
A Cimeira Mundial sobre a Sociedade da ghtsandprinciples.org). Um dos princípios
Informação, em Genebra, em 2003, e em mais importantes é aquele segundo o qual
Tunes, em 2005, lidou com outro assunto os direitos humanos que se aplicam fora
de grande relevo: a questão da inclusão e de linha (offline) também se aplicam em
exclusão numa era da comunicação, tam- linha (online). Desde 2008 que também
bém chamada “era digital”. A liberdade de existe um Diálogo Europeu sobre Gover-
expressão é afetada essencialmente pelo nação da Internet (EuroDIG) e outros diá-
problema de acesso à infraestrutura da logos regionais e nacionais, que ajudam a
informação ( Convém saber). Um clarificar a relação entre os direitos huma-
dos principais objetivos era desenvolver nos e a internet.
um plano de ação sobre como fechar o
hiato digital e de conhecimento entre os 2. CONTEÚDO E AMEAÇAS
que “têm” e os que “não têm” acesso às
tecnologias de informação e comunicação, A liberdade de expressão é um direito
a chamada “exclusão digital”. A falta ou a quadro que contém diversos elementos,
proibição de acesso resulta numa restrição incluindo a liberdade de informação e a
da liberdade de expressão porque, hoje em liberdade da imprensa e dos meios de in-
dia, a internet é essencial para o acesso formação em geral. Baseia-se na liberda-
e a divulgação de informação e de ideias. de de opinião. As suas manifestações vão
A Cimeira demonstrou que existe um con- desde a expressão individual de opiniões à
flito subjacente entre uma abordagem liberdade institucional dos meios de infor-
tecnológica e uma abordagem orientada mação. A liberdade de opinião é um direi-
para os direitos humanos. Os documentos to civil absoluto, enquanto a liberdade de
finais incluem apenas algumas referências expressão é um direito civil e político que
a direitos humanos. pode ser sujeito a certas restrições.
418 II. MÓDULOS SOBRE QUESTÕES SELECIONADAS DE DIREITOS HUMANOS

A liberdade de expressão é um direito du- Certos elementos do direito de expressão


plo, no sentido de liberdade de difundir, estão também relacionados com outros
i.e., de expressar opiniões e ideias de to- direitos humanos, como:
dos os tipos, e a liberdade de procurar e de • O direito à liberdade de pensamen-
receber informação e ideias, em qualquer to, consciência e religião (artº 18º da
forma – oralmente, escritas à mão ou im- DUDH);
pressas, sob a forma de arte, ou através
de outro meio de comunicação, incluindo Liberdades Religiosas
as novas tecnologias. As fronteiras não po- • O direito dos autores beneficiarem da
dem ser usadas para interferir com o direi- proteção dos interesses morais e mate-
to. Consequentemente, a liberdade de ex- riais resultantes de uma produção cien-
pressão seria também parte integrante de tífica, literária ou artística, i.e., os direi-
um proposto “direito a comunicar”. Contu- tos de autor (artº 15º, nº2, PIDESC);
do, o projeto de uma declaração sobre este • Relativamente ao direito humano à edu-
direito, completada de forma privada, não cação (artº 13º do PIDESC), a liberdade
teve ainda um apoio generalizado. de expressão também inclui as liberda-
des académicas e a autonomia das ins-
Principais Elementos da Liberdade de tituições de ensino superior de proteger
Expressão essas liberdades.

• liberdade a ter opiniões sem interfe- Direito à Educação


rência (liberdade de opinião);
• liberdade de procurar, receber e trans- Uma importante qualificação da liberdade
mitir informação e ideias (liberdade de de expressão está contida no artº 20º do
expressão, liberdade de informação); PIDCP que proíbe a propaganda em favor
• oralmente, por escrito, ou impressa, da guerra e qualquer apelo ao ódio na-
como expressão artística; cional, racial ou religioso que constitua
incitamento à discriminação, hostilidade
• através de qualquer meio de informa- ou violência. O Estado tem a obrigação de
ção (liberdade dos meios de informa- fazer cumprir estas proibições através de
ção); lei nacional.
• sem limitação de fronteiras (liberdade
de comunicação internacional). Não Discriminação

Violações deste Direito,


(Fontes: artº 19º da DUDH; artº 19º do Ameaças e Riscos
PIDCP; artº 10º da Convenção Europeia Na prática, assistimos a violações genera-
dos Direitos Humanos; artº IV da Decla- lizadas deste direito humano básico atra-
ração Americana dos Direitos e Deveres vés de restrições à liberdade de expres-
do Homem; artº 13º da Convenção Ame- são, nas suas variadas formas, em muitos
ricana sobre Direitos Humanos; artº 9º países do mundo, como pode ser visto
da Carta Africana dos Direitos Humanos pelos relatórios anuais de diversas ONG.
e dos Povos; artº 11º da Carta dos Direitos De acordo com a organização Repórteres
Fundamentais da União Europeia) sem Fronteiras, em 2011, 66 jornalistas fo-
M. LIBERDADE DE EXPRESSÃO E LIBERDADE DOS MEIOS DE INFORMAÇÃO 419

ram mortos (16% mais do que em 2010), Há a ameaça de censura que pode ocor-
1044 jornalistas foram detidos, 1959 fo- rer sob a forma de censura do Estado ou
ram atacados fisicamente ou ameaçados, censura através de meios económicos
499 meios de informação censurados, 199 ou outros. Isto pode significar que arti-
bloggers ou internautas foram detidos, 62 gos só possam ser publicados depois de
foram atacados fisicamente, 5 mortos e 58 aprovação por uma autoridade, como foi
países foram sujeitos a censura da inter- prática na maioria dos países socialistas
net. A organização propôs, em face desta da Europa de Leste antes do fim da Guer-
situação, instrumentos jurídicos especiais, ra Fria em 1989. Pode também significar
como a “Carta para a Segurança dos Jor- que interesses económicos impeçam a
nalistas em Serviço em Zonas de Guerra ou publicação de certas opiniões, como por
Áreas Perigosas”. Os Repórteres sem Fron- exemplo, se a indústria militar impedir
teiras, no final de 2006, também fizeram artigos que revelem uma atitude crítica
pressão no seio do Conselho de Segurança face à guerra.
das Nações Unidas, para que este passas- A censura também pode assumir a forma
se a Resolução 1738 sobre a proteção de de “autocensura” quando os interesses
jornalistas em zonas de guerra. Contudo, políticos ou outros já são tidos em consi-
a resolução, que obriga os Estados-mem- deração, à partida, pelo jornalista ou dire-
bros da ONU a proteger os jornalistas e tor do meio de informação. Finalmente, a
a investigar casos de violações, teve ape- decisão sobre o que é digno de ser notícia
nas um impacto limitado (vide: Reporters e “apto a ser impresso” pode excluir infor-
without Borders, Charter and Resolution, mação que não é considerada oportuna,
disponível em: http://en.rsf.org/charter- que é vista como a visão das minorias ou
and-resolution17-04-2007,21745.html). Foi que não vende bem.
positivo, contudo, o facto de o Conselho As decisões sobre o que e como publicar
de Segurança ter referido a importância de serão, frequentemente, discutíveis. Os Có-
proteger o pessoal dos meios de informa- digos de Boas Práticas podem dar uma
ção, em ambas as resoluções de 2011 sobre orientação. Caso contrário, o objetivo do
a crise na Líbia. pluralismo dos meios de informação é
assegurar que diferentes visões possam
A “Guerra contra o Terror” que se seguiu ser lidas, ouvidas e vistas.
aos ataques terroristas do 11 de setembro
de 2001 trouxe novas ameaças à liberdade Restrições Legítimas
de informação, por parte de vários gover- a este Direito
nos. Por exemplo, a associação de escrito- Não pode haver liberdade sem respon-
res, PEN, insistiu para que o USA PATRIOT sabilidade, uma vez que liberdades ilimi-
Act fosse revisto, a este respeito. A liberda- tadas podem levar a violações de outros
de de expressão e dos meios de informa- direitos humanos, como o direito à priva-
ção também pode ser usada incorretamen- cidade.( Direito à Privacidade) No
te para instigar ódio e conflito, como foi entanto, as restrições têm de ser justifi-
documentado pela International Helsinki cadas pelo governo com razões legítimas
Federation na sua publicação “Discurso que possam ser examinadas pela opinião
de ódio nos Balcãs” (“Hate Speech in the pública e, em última instância, pelas insti-
Balkans”). tuições judiciais.
420 II. MÓDULOS SOBRE QUESTÕES SELECIONADAS DE DIREITOS HUMANOS

De acordo com o artº 29º da DUDH, o enfraquecido e as restrições não podem


exercício dos direitos e das liberdades de ser maiores do que as necessárias para
cada um pode ser submetido a limitações proteger os direitos dos outros e os bens
prescritas pela lei, “com vista exclusiva- públicos básicos mencionados.
mente a promover o reconhecimento e o
respeito dos direitos e liberdades dos outros No artº 10º, nº 2 da Convenção Europeia
[…]”. O artº 19º, nº 3 do PIDCP recorda dos Direitos Humanos, a lista de possíveis
que os direitos enumerados comportam restrições é ainda maior, mas, mais clara.
deveres e responsabilidades especiais. Estabelece que o exercício da liberdade
Isto mostra que a liberdade de expressão de expressão pode ser submetido a “[…]
e dos meios de informação não é um direi- condições, restrições ou sanções, previs-
to absoluto. Os deveres e as responsabili- tas pela lei, que constituam providências
dades não estão indicados no Pacto, mas necessárias, numa sociedade democrática
encontram-se normalmente em códigos de […]”. Estas restrições podem ser justifica-
ética profissionais ou legislação do Esta- das para:
do que, contudo, não podem infringir o • os interesses da segurança nacional, a
conteúdo do direito humano. Os deveres integridade territorial ou a segurança
e as responsabilidades típicos relacionam- pública,
se com o dever de informação objetiva, • a prevenção da desordem ou do crime, a
em particular, a obrigação de relatar com proteção da saúde ou da moral,
verdade e, no mínimo, permitir diferentes • a proteção da honra ou dos direitos de
opiniões. outrem,
• impedir a divulgação de informações
Há um número limitado de restrições confidenciais, ou
legítimas da liberdade de expressão. No • garantir a autoridade e a imparcialida-
entanto, não há restrições legítimas à li- de do poder judicial.
berdade de opinião.
Segundo o artº 19º, nº3 do PIDCP, são Não há outro direito que tenha uma lista
possíveis três tipos de limitações, desde tão longa de razões para a exceção. No en-
que sejam impostas por lei e sejam consi- tanto, dois requisitos importantes têm de
deradas necessárias: se verificar para que a restrição ao direito
• Para o “respeito dos direitos ou da repu- seja legítima. A restrição tem de ser:
tação de outrem”; ou • Prevista pela lei e
• Para salvaguardar a “segurança nacio- • Necessária numa sociedade democráti-
nal” e “ordem pública”; ou ca.
• Para salvaguardar a “saúde” e “morali- “Prevista pela lei” significa que a restri-
dade públicas”. ção tem de ser um ato do parlamento e
As restrições têm de ser necessárias para não uma ordem executiva do governo. É
um propósito legítimo. As leis têm de ser de particular importância a qualificação
suficientemente claras e acessíveis ao pú- “providências necessárias, numa socie-
blico. De acordo com as regras sobre a dade democrática”. Esta liga a liberdade
interpretação jurídica, as restrições aos de expressão e dos meios de informação
direitos devem ser interpretadas restriti- ao conceito de sociedade aberta e plura-
vamente. O direito principal não deve ser lista que é governada por meios demo-
M. LIBERDADE DE EXPRESSÃO E LIBERDADE DOS MEIOS DE INFORMAÇÃO 421

cráticos. O Tribunal Europeu dos Direi- 3. IMPLEMENTAÇÃO


tos Humanos tem sido muito restritivo E MONITORIZAÇÃO
no que respeita a estes requisitos, como
pode ser visto pelo chamado caso Lin- Existe uma grande variedade de instru-
gens. Em 1986, o Tribunal Europeu dos mentos e procedimentos para implementar
Direitos Humanos decidiu que um po- o direito humano à liberdade de expressão
lítico tem de aceitar um grau maior de e os direitos que o compõem. Em primeiro
criticismo do que uma pessoa comum lugar, é obrigação dos Estados incorporar
e não pode silenciar um jornalista com as liberdades na sua legislação doméstica
base na necessidade de proteger a sua e providenciar mecanismos jurídicos de
reputação. Do mesmo modo, as leis so- proteção em casos de alegadas violações.
bre difamação que permitem a acusação Assim, este direito pode ser encontrado na
de jornalistas que critiquem pessoas que maioria das Constituições como parte in-
detenham posições públicas têm de ser tegrante do catálogo dos direitos e liberda-
contrabalançadas com a liberdade dos des fundamentais. Os parâmetros mínimos
meios de informação. Assim, o princípio derivam das obrigações internacionais ao
da proporcionalidade tem sempre de ser nível universal e, quando existente, ao ní-
tido em consideração. vel regional.
Também são extremamente importantes
De acordo com o artº 4º da Convenção as várias leis e os regulamentos sobre os
Internacional sobre a Eliminação de To- meios de informação e sobre a comuni-
das as Formas de Discriminação Racial, cação. Estes especificam os direitos e as
de 1965, a disseminação de ideias racistas, suas restrições, na prática quotidiana, em
incitamento à discriminação racial ou o conformidade com as obrigações inter-
financiamento de atividades racistas deve nacionais e a lei constitucional nacional.
ser considerado pelos Estados Partes um Podem estabelecer órgãos nacionais de
ato punível por lei. Estes devem também controlo, como conselhos da imprensa
declarar ilegal e proibir organizações e ati- ou dos meios de informação, para regular
vidades de propaganda que encorajem e ou autorregular a imprensa e os meios de
incitem à discriminação racial. Em janei- informação eletrónicos. Estes são frequen-
ro de 2012, a Convenção tem 175 Estados temente formados por peritos e/ou por re-
Partes. presentantes da sociedade civil. O Estado
pode emitir licenças para regular o setor
Em 2008, o Conselho da União Europeia dos meios de informação, para assegurar
adotou uma Decisão-Quadro relativa à parâmetros de qualidade e estimular a
luta por via do direito penal contra cer- competição. Estas têm de ser disponibili-
tas formas e manifestações de racismo zadas numa base não discriminatória.
e xenofobia, de acordo com a qual atos A tarefa de vários mecanismos de controlo
sérios de racismo e xenofobia devem ser ou monitorização é a de verificar o respei-
puníveis na União Europeia através de to por parte do Estado. Por exemplo, nos
sanções penais efetivas, proporcionais e termos do Pacto Internacional sobre os
dissuasivas. Direitos Civis e Políticos (PIDCP), os Es-
tados têm a obrigação de submeter relató-
Não Discriminação rios com uma periodicidade regular (cada
422 II. MÓDULOS SOBRE QUESTÕES SELECIONADAS DE DIREITOS HUMANOS

5 anos) sobre a implementação das suas relatório anual de 2011, o Relator Especial
obrigações. Os relatórios são considerados da ONU para a Liberdade de Opinião e
pelo Comité dos Direitos Humanos. Este de Expressão, Frank La Rue, focou-se nos
Comité providenciou uma interpretação desafios criados pela internet. O Relator
do artº 19º, no seu Comentário Geral nº encontrou violações crescentes, sob a for-
10, de 1983, que, em 2011, foi substituído ma de bloqueio e filtragem pelos Estados,
pelo Comentário Geral nº 34. O Comité que também criminalizam a expressão le-
pode também receber comunicações, i.e., gítima, desconectam os utilizadores e não
queixas de particulares, caso o Estado em asseguram uma proteção adequada dos
questão tenha ratificado o 1º Protocolo Fa- dados e da privacidade. Salientou a neces-
cultativo referente ao Pacto Internacional sidade de assegurar o acesso à internet,
sobre os Direitos Civis e Políticos de 1966 como “catalisador de outros direitos hu-
(114 Estados Partes, em janeiro de 2012). manos”, como o direito à educação.

Os sistemas regionais de monitorização, Direito à Privacidade


como os sistemas Interamericano e Afri- Direito à Educação
cano, admitem comunicações individuais
a Comissões que podem emitir conclu- Para os 56 Estados-membros da Organiza-
sões e recomendações. No caso dos siste- ção para a Segurança e Cooperação na
mas Africano, Interamericano e Europeu, Europa (OSCE), foi introduzido um Re-
o Tribunal pode emitir decisões vinculati- presentante para a Liberdade dos Meios
vas para o Estado e também atribuir uma de Informação, em 1997. Compete-lhe
indemnização. Todos estes procedimen- acompanhar os desenvolvimentos no se-
tos também contemplam a possibilidade tor dos meios de informação dos Estados
de apresentação de queixas por Estados participantes, com o objetivo de promover
contra outros Estados, embora estas se- meios de informação livres, independen-
jam raramente usadas na prática. Nos sis- tes e pluralistas, que são cruciais para uma
temas Interamericano (OEA) e Africano sociedade livre e aberta e um sistema de
(UA), foram criados relatores regionais governo responsável, baseado nas obri-
especiais relativamente às liberdades de gações internacionais e nos parâmetros
expressão, em 1997 e em 2004, respeti- da OSCE adotados numa série de confe-
vamente. rências e reuniões de peritos, desde a Ata
Final de Helsínquia de 1975.
Ao nível universal, há também os chama-
dos procedimentos baseados em tratados, Os quatro mecanismos internacionais de
como o Relator Especial sobre a Promo- promoção da liberdade de expressão, des-
ção e Proteção do Direito à Liberdade de de 1999, também emitem uma declara-
Opinião e de Expressão que deve comuni- ção conjunta anual, como a “Declaração
car, anualmente, ao Conselho de Direitos Conjunta sobre Liberdade de Expressão
Humanos da ONU, a situação da liberda- e a Internet de 2011” (disponível em:
de de expressão em todo o mundo, visi- http:www.osce.org/fom/78309).
tar países e emitir observações, recomen-
dações e comentários sobre os elementos A Assembleia Parlamentar do Conselho da
deste direito humano. Por exemplo, no seu Europa também nomeou um Relator Per-
M. LIBERDADE DE EXPRESSÃO E LIBERDADE DOS MEIOS DE INFORMAÇÃO 423

manente sobre a Liberdade dos Meios de possam silenciar jornalistas críticos. Eles
Informação, em 2001. também verificam o cumprimento dos
códigos profissionais de ética neste âm-
O Papel das Associações Profissionais e bito.
de outras ONG
As associações profissionais como a Fede- 4. PERSPETIVAS
ração Internacional de Jornalistas, o Ins- INTERCULTURAIS
tituto Internacional da Imprensa, a PEN
International ou a União Internacional de As diferenças culturais levam ao plura-
Editores recolhem informação detalhada lismo na implementação da liberdade de
sobre o estado da liberdade dos meios de expressão. Quando comparados com os
informação em diferentes países ou re- EUA, a Europa e outros Estados têm uma
giões do mundo e apoiam os seus mem- atitude diferente no que respeita ao dis-
bros contra restrições. Estas associações curso de ódio que ataca a dignidade de
chamam a atenção para situações em que um grupo. A Europa não tolera o apelo
estas liberdades são violadas, denunciam ao ódio nacional, racial ou religioso, em
restrições, lançam campanhas ou ações ur- particular, o antissemitismo, a propa-
gentes e preparam relatórios sobre proble- ganda Nazi ou a negação do Holocausto
mas específicos, como a concentração dos ou outras formas de extremismo de di-
meios de informação, corrupção, segredos reita, ao passo que o conceito de liber-
de Estado e transparência, de acordo com dade de expressão na Constituição dos
as regulações da Liberdade de Informação. Estados Unidos da América (Primeira
São apoiadas por ONG especializadas na Emenda), ainda que parcialmente, per-
proteção da liberdade de imprensa e dos mite tais formas de expressão. Por exem-
meios de informação, como as organiza- plo, a condenação de um autor britânico
ções “Artigo 19” (Article 19) ou os Repór- David Irving, na Áustria, a três anos de
teres sem Fronteiras, assim como pelas prisão por ter negado o Holocausto, em
ONG gerais de direitos humanos, como a 2006, tem sido criticada até por autores
Amnistia Internacional ou o International judeus, nos Estados Unidos, como vio-
Council on Human Rights Policy. Coope- lação do seu entendimento da liberdade
ram igualmente com organizações intergo- de expressão, que deve também incluir a
vernamentais e as suas instituições espe- “liberdade para o pensamento que odia-
ciais, como o Relator Especial das Nações mos” (Jeff Jacoby. The Boston Globe. 3
Unidas para a Liberdade de Expressão e o de março de 2006).
Representante da OSCE para a Liberdade As subtis distinções podem apreciar-se no
dos Meios de Informação. caso do TEDH, Jersild c. Dinamarca, no
Ao nível nacional, os órgãos de monito- qual o Tribunal entendeu que a condena-
rização institucional como as comissões ção de um jornalista, que tinha transmiti-
independentes dos meios de informa- do uma entrevista com jovens que faziam
ção ou as associações profissionais, tais declarações racistas, tinha sido uma viola-
como os conselhos de imprensa e ONG, ção da liberdade de informação contida no
têm por objetivo a prevenção de viola- artº 10º da CEDH, enquanto que aqueles
ções destes direitos humanos, de leis que tinham feito as declarações não esta-
de difamação excessivas e práticas que vam protegidos pelo artº 10º.
424 II. MÓDULOS SOBRE QUESTÕES SELECIONADAS DE DIREITOS HUMANOS

que é relevante não só a nível nacional,


“Falar não é uma coisa fácil, permanecer como também adquiriu atualmente uma
em silêncio é perigoso.” dimensão global.
Provérbio do Mali.
Em países asiáticos, restrições severas à li-
Segundo a “teoria da margem de aprecia- berdade de expressão e dos meios de infor-
ção”, do Tribunal Europeu dos Direitos mação têm sido, desde há muito tempo, jus-
Humanos, há espaço para diferenças en- tificadas com base na necessidade de man-
tre os Estados europeus. Isto adquire par- ter a estabilidade do país, ameaçada pela
ticular importância na proteção da moral “informação irresponsável” da imprensa,
no que respeita ao discurso, literatura ou instigando o conflito político. No entanto,
transmissão do que se considere ser por- como foi considerado numa Reunião Asiá-
nográfico. A questão da decência e a pro- tica-Europeia (Asia-Europe Meeting, ASEM),
teção de menores de idade, assim como em 2000, os governos tendem a exagerar e a
outros conteúdos perniciosos, são deixa- restringir a liberdade dos meios de informa-
das ao Estado que frequentemente usa ção mais do que seria necessário. Entendeu-
instituições independentes para guiar os se que problemas comuns, como a concen-
meios de informação neste aspeto. tração dos meios de informação ou a falta de
independência dos jornalistas, eram maiores
Há também diferentes parâmetros no que do que as diferenças regionais.
respeita à crítica pública de políticos ou de
instituições religiosas. Por exemplo, o que Em casos de disputa, é da responsabilida-
é considerado uma liberdade artística por de do poder judicial independente definir
uns, pode ser considerada blasfémia por a linha subtil entre a liberdade de expres-
outros. Por isso, a liberdade de expressão e são e dos meios de informação e as res-
dos meios de informação é um direito mui- trições legítimas, com fim à estabilidade
to sensível que tem de respeitar certos limi- de um Estado democrático e a integridade
tes, mas que também tem de ser protegido moral de uma pessoa que foi alvo de ale-
contra a tendência do Estado e de pessoas gações injustificadas nos meios de infor-
influentes de silenciar os seus críticos. mação. Por exemplo, em Banja Luka, na
Bósnia e Herzegovina, poucos anos depois
A caricatura do profeta Maomé, que foi do fim da guerra, um jornal publicou a
pela primeira vez publicada num jornal di- lista de pessoas que tinham alegadamente
namarquês, em 2005, e subsequentemente cometido crimes de guerra. Isto foi legiti-
reeditada em alguns países ocidentais, tem mamente interdito pelas autoridades por
provocado reações violentas em diversos causa do perigo criado para estas pessoas,
países islâmicos, assim como um boicote que (ainda) não tinham sido oficialmente
de produtos dinamarqueses. O governo di- acusadas, de se tornarem o alvo de vin-
namarquês foi forçado a pedir desculpa. gança pessoal.
Este evento levou a um debate à escala
mundial sobre as limitações da liberdade No caso Constitutional Rights Project, Civil
de imprensa e da liberdade de expressão, Liberties Organisation and Media Rights
por respeito aos sentimentos religiosos Agenda c. Nigéria, a Comissão Africana
enquanto parte da liberdade de religião, o para os Direitos Humanos e dos Povos
M. LIBERDADE DE EXPRESSÃO E LIBERDADE DOS MEIOS DE INFORMAÇÃO 425

teve de lidar com a interdição de jornais,


por decreto executivo por parte do gover- “A informação é o oxigénio da demo-
no militar da Nigéria, que se dirigia à opo- cracia.”
sição. A Comissão determinou: “Decretos Artº 19º - Campanha Global pela Expressão Livre.
como este representam para o público uma
séria ameaça ao seu direito de receber in- A Declaração de Marraquexe, adotada
formação que não esteja de acordo com pela conferência “O Papel e o Lugar dos
aquilo que o governo gostaria que o público Meios de Informação na Sociedade de In-
soubesse. O direito a receber informação é formação em África e na Região Árabe”,
importante: o artº 9º (da Carta Africana de 24 de novembro de 2004, reafirma que
dos Direitos Humanos e dos Povos) não a “liberdade de expressão e de imprensa
parece permitir derrogação, seja qual for está no centro da construção da sociedade
o tema da informação ou opiniões e inde- de informação em África, na região Árabe
pendentemente da situação política de um e por todo o mundo”. (Fonte: Soulbeat Afri-
país. Por conseguinte, a Comissão entende ca – Communication for Change, in www.
que a interdição dos jornais é uma violação comminit.com/en/node/215350/print)
do artº 9º, nº1.”.
“Os jornalistas são os guardiões da demo-
No que respeita às medidas tomadas con- cracia.”
tra jornalistas depois de um golpe de Es- Maud de Boer-Buquicco, Sub-Secretário Geral do
tado na Gâmbia, a Comissão Africana Conselho da Europa. 2002.
entendeu que: “A intimidação e prisão ou
detenção de jornalistas por causa de arti-
gos publicados e de perguntas colocadas, 5. CRONOLOGIA
priva não só os jornalistas do seu direito a
expressar livremente e disseminar as suas
1948 Declaração Universal dos Direitos
opiniões, como também o público, do seu
Humanos (artº 19º)
direito à informação. Esta ação é uma cla-
ra violação do artº 9º da Carta”. 1966 Pacto Internacional sobre os Direi-
(Fonte: African Commission on Human tos Civis e Políticos (artº 19º)
and Peoples’ Rights. 2000. Thirteenth Ac- 1978 Declaração da UNESCO sobre os
tivity Report of the African Commission Princípios Fundamentais relativos
on Human and Peoples’ Rights 1999-2000, à Contribuição dos Meios de Co-
Anexo V, Parágrafos 38 e 65.) municação Social para o Reforço da
Paz e da Compreensão Internacio-
Em 2002, em Banjul, a Comissão Afri- nais, para a Promoção dos Direi-
cana dos Direitos Humanos e dos Povos tos Humanos e para o Combate ao
adotou a Declaração de Princípios sobre Racismo, ao Apartheid e ao Inci-
Liberdade de Expressão em África, que tamento à Guerra (Declaration on
acentuou uma obrigação das autoridades Media)
de adotarem medidas positivas, no senti-
do da promoção da diversidade e também 1983 Comentário Geral do Comité dos
da independência dos órgãos regulatórios Direitos Humanos da ONU sobre o
para transmissão e telecomunicações. artº 19º do PIDCP
426 II. MÓDULOS SOBRE QUESTÕES SELECIONADAS DE DIREITOS HUMANOS

1993 Relator Especial das Nações Uni- 2005 Declaração do Conselho da Europa
das para a Proteção e a Promoção sobre Direitos Humanos e Internet
do Direito à Liberdade de Opinião 2006 Primeiro Fórum sobre a Governa-
e de Expressão ção da Internet, em Atenas
1997 Representante da OSCE para a Li- 2011 Sexto Fórum sobre a Governação
berdade dos Meios de Informação da Internet, em Nairobi (Quénia)
1997 Relator Especial da Organização 2011 Comentário Geral nº 34 do Comi-
dos Estados Americanos (OEA) té dos Direitos Humanos sobre o
para a Liberdade de Expressão artº 19º do PIDCP
1999 Resolução da Comissão de Direi-
tos Humanos sobre a Liberdade de
Opinião e de Expressão (1999/36) “Os meios de informação têm, em demo-
2001 Convenção do CdE sobre o Ciber- cracia, o papel central de informar o pú-
crime e Protocolo Adicional de blico e de fazer o escrutínio dos assuntos
2003 públicos sem medo de serem perseguidos,
processados ou reprimidos.”
2003 Cimeira Mundial sobre a Informa- Kevin Boyle. 2000. Restrictions on the Freedom of
ção, primeira parte, em Genebra: Expression.
Declaração de Princípios e Plano
de Ação
2004 Relator Especial para a Liberdade “Senhor, não partilho das suas opiniões,
de Expressão em África mas arriscaria a minha vida pelo seu direi-
2005 Cimeira Mundial sobre a Infor- to a expressá-las.”
mação, segunda parte, em Tunes: Voltaire (1694-1778).
Compromisso de Tunes e Agenda
de Tunes para a Sociedade da In-
formação

CONVÉM SABER
1. O PAPEL DOS MEIOS to poder”, para além dos poderes legisla-
DE INFORMAÇÃO LIVRES tivo, executivo e judicial, exige também
PARA UMA SOCIEDADE especial cuidado e responsabilidade por
DEMOCRÁTICA parte dos jornalistas e donos dos meios de
informação, de forma a não violarem os
O pluralismo dos meios de informação é direitos humanos dos outros quando exer-
um elemento indispensável de uma demo- cem as suas liberdades.
cracia pluralista. A importância do papel
dos meios de informação enquanto “quar- Direito à Democracia
M. LIBERDADE DE EXPRESSÃO E LIBERDADE DOS MEIOS DE INFORMAÇÃO 427

A liberdade de uma sociedade específica o diálogo interreligioso e intercultural […]


pode ser facilmente determinada pela li- podem ser consideradas como das melhores
berdade de imprensa e dos meios de in- medidas de proteção contra a intolerância
formação. A primeira medida que os go- religiosa […]”.
vernos autoritários ou ditaduras tomam,
habitualmente, é limitar ou abolir a liber- Liberdades Religiosas
dade de expressão e a liberdade dos meios
de informação. Para a reconstrução e re- “Quando é declarada guerra, a verdade é a
abilitação de sociedades democráticas de- primeira vítima.”
pois da guerra e conflito, um sistema de Arthur Ponsonby, político e escritor britânico. 1928.
meios de informação pluralista que fun-
cione com base no respeito e tolerância da
opinião dos outros e que se abstenha de “As palavras matam primeiro, as balas só
instigar ao ódio e à violência é de impor- depois.”
tância crucial. Adam Mihnik, escritor polaco.

Isto requer um quadro jurídico apropriado


que assegure a independência dos meios 2. MEIOS DE INFORMAÇÃO
de informação públicos e o pluralismo E AS MINORIAS
entre os privados e controle as atividades
dos meios de informação no que respeita As minorias enfrentam frequentemente pro-
a parâmetros de objetividade, equidade e blemas em termos de acesso aos meios de
decência. informação e para ter os meios de informa-
ção na sua própria língua. Na Europa, há
Em 2011, o Conselho de Direitos Humanos normas específicas, tais como, o artº 9º da
das Nações Unidas, na sua resolução 16/18 Convenção-Quadro do Conselho da Europa
sobre o Combate à intolerância, estereóti- para a Proteção das Minorias Nacionais, de
pos negativos e estigmatização e discrimi- 1995. Segundo esta, as pessoas que fazem
nação, incitamento à violência e a violência parte de uma minoria nacional também têm
contra as pessoas baseada na religião ou liberdade de opinião e de expressão. A sua
crença, reconheceu o papel positivo que o liberdade de procurar, receber ou transmitir
exercício do direito à liberdade de opinião, informação ou ideias em línguas minoritá-
de expressão e de informação pode ter no rias, independentemente das fronteiras, tem
reforço da democracia e no combate à into- de ser respeitada pelas autoridades públicas.
lerância religiosa. Apesar de expressar uma Os governos têm de assegurar que as pesso-
preocupação séria relativamente aos este- as que pertençam a minorias nacionais não
reótipos depreciativos de grupos religiosos sejam discriminadas em termos de acesso
(um exemplo seria a Islamofobia), não ape- aos meios de informação, o que, de facto,
la à adoção de medidas contra a difamação deveria ser facilitado.
de religiões, uma vez que a sociedade civil Não podem ser impedidas de criar os seus
e determinados Estados temeram que aque- próprios meios de informação escrita e, no
las tivessem um efeito inibidor no exercício âmbito da lei, também meios de informa-
da liberdade de expressão, mas reconheceu ção eletrónica. Também há outras normas
que “o debate público de ideias, assim como no âmbito da OSCE.
428 II. MÓDULOS SOBRE QUESTÕES SELECIONADAS DE DIREITOS HUMANOS

A situação é, contudo, mais problemáti- as falhas no acesso ou redistribuição dos


ca no que respeita às chamadas “novas recursos e a corrupção.
minorias” que derivam de fluxos migra-
tórios internacionais. Contrariamente às 4. PROPAGANDA DE GUERRA E APOLO-
minorias nacionais ou “antigas”, aquelas GIA DO ÓDIO
não têm normalmente direitos garantidos
legalmente que assegurem o seu acesso De acordo com o artº 20º, nº1 do PIDCP,
aos meios de informação. Isto é particu- “toda a propaganda em favor da guerra
larmente preocupante tendo em conside- deve ser interditada pela lei”, enquanto o
ração a forma xenófoba em que, por vezes, artº 20º, nº2 requer também a proibição
são descritas nos meios de informação do incitamento à discriminação, hos-
convencionais, sendo que as suas possibi- tilidade ou violência, através do apelo
lidades de expressão são limitadas. ao ódio nacional, racial ou religioso. Os
meios de informação foram, em parte,
O artº 11º da Carta Europeia das Línguas considerados responsáveis pelas guerras
Regionais ou Minoritárias, do Conselho na ex-Jugoslávia, por terem feito propa-
da Europa, de 1992, obriga os Estados Par- ganda a favor da guerra ou terem instiga-
tes a prever que os meios de transmissão do ao ódio e à limpeza étnica. As trans-
da informação ofereçam programas nas missões da Radio Mille Collines tiveram
línguas regionais ou minoritárias ou que um papel fundamental no genocídio do
assegurem, incentivem e/ou facilitem a Ruanda, em 1994, durante o qual mais
criação de, pelo menos, uma estação de rá- de um milhão de pessoas foi morta. “Não
dio e uma cadeia de televisão nas línguas matem aqueles inyenzi (baratas) com
regionais ou minoritárias. uma bala – cortem-nos aos bocados com
um machete” foi uma das frases trans-
3. LIBERDADE DOS MEIOS DE INFOR- mitidas, apelando aos Hutus para chaci-
MAÇÃO E DESENVOLVIMENTO ECO- narem Tutsis e Hutus que simpatizassem
NÓMICO com a causa Tutsi. A própria estação de
rádio foi criada, em 1993, pelos membros
A liberdade dos meios de informação e o da família do Presidente Hutu Habyari-
desenvolvimento económico estão tão in- mana, cuja morte foi uma das razões por
terligados como estão o direito de viver detrás do início do genocídio. A responsa-
sem medo e o direito de viver sem priva- bilidade da rádio foi estabelecida pelo Tri-
ções. A interdependência e indivisibilidade bunal Penal Internacional para o Ruanda,
de todos os direitos humanos, que impli- sedeado em Arusha (Tanzânia).
cam uma abordagem holística dos direitos
humanos em geral, podem também ser 5. BOAS PRÁTICAS
vistas na importância da liberdade de ex-
pressão e dos meios de informação para o • A UNESCO iniciou um Dia Mundial da
desenvolvimento económico, erradicação Liberdade de Imprensa a ser celebrado
da pobreza e para a realização dos direitos no dia 3 de maio e um Prémio Mundial
sociais e económicos básicos das pessoas. da Liberdade da Imprensa.
Se não houver relatos por parte dos meios • Os Repórteres sem Fronteiras lançaram,
de informação, podem nunca ser notadas em 2008, um Dia Mundial contra a Cen-
M. LIBERDADE DE EXPRESSÃO E LIBERDADE DOS MEIOS DE INFORMAÇÃO 429

sura Cibernética anual, que tem lugar de imprensa, ajudando os jornalistas


no dia 12 de março. e os meios de informação no sudeste
• A Irlanda, na qualidade de novo Estado europeu. A SEEMO lidera missões em
Presidente da OSCE, em 2012, anunciou países onde a liberdade de imprensa
que a promoção da liberdade na inter- é ameaçada, reúne-se com represen-
net seria uma das suas principais prio- tantes governamentais, diplomatas,
ridades. ONG e fornece representação legal e
• O Projeto Crimes de Guerra (Crimes of apoio em casos perante o tribunal.
War Project) reúne jornalistas, juristas e • No início de 2011, a Comissão Europeia
académicos para sensibilizar os meios requereu alterações às novas leis sobre
de informação, o governo e ONG de di- os meios de informação da Hungria,
reitos humanos e humanitárias, para as que tinha acabado de assumir a pre-
leis da guerra. sidência rotativa da União Europeia, e
• No caso do Kosovo, foram estabeleci- criticou a introdução de controlo estrito
dos uma Comissão Independente para de meios de informação estrangeiros,
os Meios de Informação e um Conselho através da introdução de novos requi-
de Imprensa para monitorizar a imple- sitos de registo. A Comissão também
mentação dos parâmetros contidos nas referiu a sua preocupação relativamente
regulações e lei sobre os meios de in- à independência do recém-criado Con-
formação. selho dos Meios de Informação, que
• A organização PEN International intro- pode multar os meios de informação
duziu, em 1999, uma “Rede de Escrito- por “reportagens parciais”. O Gover-
res em Exílio” (Writers in Exile Network) no Húngaro concordou apenas com
que, com a assistência de cidades que a introdução de algumas alterações.
colaboram no projeto, fornece um por- Porém, o Tribunal Constitucional da
to seguro para autores e jornalistas em Hungria, em dezembro de 2011, sus-
exílio. Por exemplo, a escritora Tunisina pendeu parte da lei sobre os meios de
Sihem Bensedrine foi convidada a ficar informação por razões semelhantes.
em Graz e em Barcelona antes de poder • Para melhorar a segurança da internet
regressar a casa, em consequência da para as crianças, a União Europeia apoia
Primavera Árabe de 2011. a rede europeia “ins@fe” que coordena
• A jornalista e ativista de direitos huma- diversas atividades para a segurança em
nos do Iémen, Tawakkol Karman, tor- linha (online).
nou-se a mais nova vencedora do Pré-
mio Nobel, em 2011, um prémio que lhe 6. A LIBERDADE DOS MEIOS DE INFOR-
foi atribuído pelo seu papel na Primave- MAÇÃO E A EDUCAÇÃO PARA OS DI-
ra Árabe no Iémen, onde liderou o gru- REITOS HUMANOS
po “Mulheres Jornalistas sem Amarras”
(Women’s Journalists without Chains). “No jornalismo existe uma séria falta de
• A organização de meios de informação conhecimento do que são os direitos hu-
do sudeste europeu (SEEMO) é uma manos. Muitos jornalistas – assim como
rede regional de jornalistas, sedeada muitos políticos e outros que trabalham na
em Viena e criada em 2000. A sua prin- sociedade civil – não estão familiarizados
cipal atividade é proteger a liberdade com a Declaração Universal dos Direitos
430 II. MÓDULOS SOBRE QUESTÕES SELECIONADAS DE DIREITOS HUMANOS

Humanos, nem com os tratados interna- através de blogs. Agora, até empresas mais
cionais dos direitos humanos e seus me- pequenas de meios de informação têm a
canismos. Frequentemente, não percebem oportunidade de chegar a um público glo-
a diferença entre o direito dos direitos hu- bal. No entanto, certos Estados controlam
manos e as leis da guerra. Como resulta- ou censuram o acesso à internet, bloque-
do, os direitos humanos são, muitas vezes, ando o acesso a certos sítios. Em 2005, al-
erradamente, entendidos como relevantes guns motores de busca como o Yahoo! e o
só em relação à informação sobre um con- Google foram acusados por ONG de terem
flito.” assistido o governo chinês a procurar o pa-
(Fonte: Conselho Internacional sobre os radeiro de dissidentes políticos. Em reação
Direitos Humanos. 2002. Journalism, Me- a tal situação, a Amnistia Internacional
dia and the Challenge of Human Rights iniciou uma campanha contra a repressão
Reporting.) online no sítio www.irrepressible.info. En-
tretanto, a Google terminou parte das suas
7. TENDÊNCIAS operações na China, de modo a evitar as
condições impostas pelo governo chinês.
A Internet e a Liberdade de Expressão/ A Google também publica, nos seus relató-
Informação rios sobre transparência, o número de pe-
Segundo o Relatório UNESCO “Rumo às didos de bloqueio ou filtro recebidos por
Sociedades do Conhecimento” (“Towards governos.
Knowledge Societites”), a internet cres-
ceu exponencialmente durante os últimos Um novo relatório sobre Liberdade na
anos, de 16 milhões de utilizadores, em Internet de 2011 demonstrou crescentes
1995, a mais de 500 milhões, em 2004, ameaças à liberdade na internet por meio
aproximadamente 1 bilião, em 2007, e 2.3 de bloqueio de conteúdos, ataques ciber-
biliões, em 2011. Estima-se que, em 2015, néticos contra as críticas aos regimes e
o objetivo da Cimeira Mundial sobre In- censura. A interferência menor regista-se
formação de que metade da população na Estónia, EUA, Alemanha e Austrália,
mundial esteja conectada à internet possa sendo maior no Irão, Birmânia, Cuba e Chi-
ser alcançado. No entanto, ainda mais de na (RPC). (Vide: Freedom House: Freedom
cinco biliões de pessoas em todo o mundo on the Net, disponível em: www.freedom-
não tem acesso à internet. Em África, me- house.org/freedomonthenet 2011).
nos de 1% da população total tem acesso, A Wikileaks é uma organização sobre
o que demonstra o problema da “exclusão meios de informação sem fins lucrativos,
digital” e coloca a questão da “solidarie- dedicada a revelar notícias e informação
dade digital”. Não obstante, o crescimen- relevante para o público, expondo regimes
to da internet, dos meios de informação opressivos na Ásia, ex-União Soviética,
sociais e do número de jornalistas cida- África Subsaariana e Médio Oriente. Mais
dãos tem tido um impacto significativo recentemente, publicou informação confi-
nos meios de informação na medida em dencial de fontes militares dos EUA, o que
que coloca à disposição, de jornalistas e gerou grande controvérsia. A WikiLeaks
cidadãos comuns, uma variedade de no- define-se a si própria como um “sistema
vas oportunidades de leitura e de publi- não censurável para a divulgação sem ras-
cação em todo o mundo, nomeadamente, to de documentos em grande escala”.
M. LIBERDADE DE EXPRESSÃO E LIBERDADE DOS MEIOS DE INFORMAÇÃO 431

A WikiLeaks recebeu o Prémio Meios de O Conselho da Europa assumiu a lide-


Informação da Amnistia Internacional do rança no que respeita à elaboração de
Reino Unido, em 2009. Em resposta às re- declarações e diretrizes sobre a aplicação
ações negativas de alguns Estados, a Alta dos direitos humanos na internet, como a
Comissária das Nações Unidas para os “Declaração sobre Direitos Humanos e a
Direitos Humanos manifestou a sua preo- Internet”, de 2005, e a “Declaração sobre
cupação relativamente à “guerra ciberné- a proteção da liberdade de expressão e da
tica” contra a WikiLeaks, que foi alvo de liberdade de reunião e de associação no
um embargo financeiro (Vide: WikiLeaks, que diz respeito às plataformas de internet
disponível em: wikileaks.org; UN News operadas por privados e aos prestadores
Centre. 2010. UN human rights chief voices de serviços em linha”, de dezembro de
concern at reported ‘cyber war’ against 2011. Também estão para ser adotadas di-
WikiLeaks. Disponível em: www.un.org/ retrizes de Direitos Humanos para motores
apps/news/story.asp?newsid=37009&Cr de pesquisa e redes sociais.
=leaked&Cr1).
A Comissária Europeia para a Justiça e
Na Venezuela, que tem um dos números Direitos Fundamentais, em resposta aos
mais elevados de conexões à internet na debates internacionais de 2011, sugeriu
América Latina, o presidente Hugo Chavez que o novo regulamento da UE sobre pro-
decretou, em 2009, que a internet no setor teção geral de dados deveria conter tam-
público era um luxo e que consistia uma bém um “direito a ser esquecido”, que
despesa supérflua. Desde então, tem-se deveria dar oportunidade aos utilizadores
desenvolvido uma tendência de controlo da internet de ter um maior controlo sobre
da internet por razões políticas. (Vide: Glo- os seus dados.
bal Information Society Watch, disponível
em: www.giswatch.org/). A transformação da sociedade de infor-
mação em sociedade de conhecimento
A rede internacional de campanhas “Ava- baseia-se numa maior disponibilidade das
az”, que significa “voz”, começou em 2007 tecnologias de informação e conhecimen-
com o objetivo de mobilizar as pessoas atra- to. No contexto da liberdade de expressão,
vés da internet para apoiarem petições so- o Estado tem a obrigação positiva de ga-
bre assuntos de direitos humanos, ambien- rantir o acesso às tecnologias de informa-
te e contra a corrupção, pobreza e guerra. ção, indispensável ao acesso ao conheci-
Em 2011, tinha já mais de 10 milhões de mento, o que tem uma relevância particu-
membros e tinha organizado diversas cam- lar no Sul. Com vista a este objetivo, foi
panhas com sucesso (Vide: Avaaz, disponí- lançada, por ocasião da Cimeira Mundial
vel em http:www.avaaz.org). da Sociedade de Informação, em 2003,
uma iniciativa para a criação de Centros
O Facebook, que começou em 2004 e, em Multimédia Comunitários, visando dimi-
2011 tinha mais de 750 milhões de mem- nuir a exclusão digital das comunidades
bros, foi forçado, na sequência da queixa ainda excluídas do acesso às tecnologias
de um estudante de Viena, em 2011, a mu- de informação. A abordagem adotada liga
dar a sua política de privacidade e de pro- acesso, aprendizagem e uma mistura de
teção de dados, na Europa. tecnologias novas e antigas, combinando
432 II. MÓDULOS SOBRE QUESTÕES SELECIONADAS DE DIREITOS HUMANOS

rádios locais com estruturas comunitárias (Fonte: UNESCO. 2005. Towards Knowl-
equipadas tecnologicamente, por exem- edge Societies. Paris)
plo, com computadores ligados à internet,
serviços de correio eletrónico, telefone, “Nunca existiu uma inanição substancial
fax e fotocópias. O objetivo é permitir aos num país que tem uma forma democrática
membros da comunidade que se tornem de governo e uma imprensa relativamente
utilizadores frequentes de novas tecnolo- livre.”
gias e tenham acesso à informação global. Amartya Sen, economista Prémio Nobel. 1999.

ATIVIDADES SELECIONADAS
ATIVIDADE I: Competências envolvidas: comunicação,
QUE CHAPÉU USA? criativas, analíticas e de pensamento crí-
tico
Parte I: Introdução
A atividade fornece uma oportunidade Parte III: Informação Específica sobre a
para os participantes praticarem, debate- Atividade
rem e expressarem as suas opiniões livre- Afirmação provocatória: Vivemos num
mente, mas, de uma forma responsável. país livre e todos têm o direito de expres-
Oferece, ainda, um método para debater sar livremente as suas opiniões. Portanto,
questões complexas ou para provocar de- por que é que se deve proibir ou censurar
clarações sob diferentes aspetos, encon- o discurso racista ou de ódio?
trando, assim, uma solução que vá ao
encontro dos interesses de todas as partes O/a facilitador/a introduz a afirmação
envolvidas. provocatória aos participantes, em ple-
nário. Os participantes refletem sobre a
Parte II: Informação Geral sobre a Ati- declaração, de todas as perspetivas possí-
vidade veis, usando o método do “chapéu pensa-
Tipo de atividade: debate dor”: só fala a pessoa que tem o chapéu
Metas e objetivos: Facilitar o pensamento na sua mão. Quando um/uma orador/a
crítico e a capacidade de resolver proble- terminar, entrega o chapéu à pessoa se-
mas; expressar a sua opinião, de uma for- guinte. Cada cor representa uma aborda-
ma responsável gem diferente:
Grupo-alvo: jovens adultos e adultos O chapéu branco representa informação:
Dimensão do grupo: 18-30 uma visão objetiva, tendo em considera-
Duração: cerca de 90 minutos ção apenas a informação que está disponí-
Preparação: colocar as cadeiras em círculo vel, quais são os factos;
para a sessão plenária O chapéu vermelho representa emoções:
Materiais: 6 chapéus de cores diferentes uma perspetiva subjetiva, reação ou decla-
(branco, vermelho, preto, amarelo, verde ração instintiva de um sentimento emocio-
e azul; podem ser feitos de papel ou em nal (mas, sem qualquer justificação);
cartão) O chapéu preto representa aspetos negati-
M. LIBERDADE DE EXPRESSÃO E LIBERDADE DOS MEIOS DE INFORMAÇÃO 433

vos: lógica aplicada a identificar falhas ou


barreiras, procura de incompatibilidades; ATIVIDADE II:
O chapéu amarelo representa aspetos po- O IMPACTO DA INTERNET
sitivos: lógica aplicada a identificar benefí-
cios, procura de harmonia; Parte I: Introdução
O chapéu verde representa criatividade: Esta atividade envolve trabalho em gru-
mudança para o melhor, alternativas, ver pos pequenos e debates de plenário para
até onde vai um pensamento; analisar os aspetos positivos e negativos
O chapéu azul representa o pensamento do uso da internet, as suas implicações na
e a mediação: tarefas de mediação, debate liberdade de expressão e os desafios para
e síntese. o futuro da internet.
Os participantes, um por um, comentam a
afirmação provocatória. A primeira volta tem Parte II: Informação Geral sobre o De-
de ser sempre dedicada ao chapéu branco, bate
para recolher informação e factos. A última Tipo de atividade: debate
volta tem de ser a do chapéu azul, as outras Metas e objetivos: Sensibilizar para as
cores podem ser usadas em qualquer ordem. implicações da internet e do acesso à in-
Reações: formação ao nível mundial; identificar o
Depois do debate, pedir aos participantes impacto da internet nos direitos humanos;
para refletirem sobre as suas emoções e explorar os fenómenos relacionados com
pensamentos. Já conheciam este método a internet.
de resolução de problemas? Alguém co- Grupo-alvo: jovens adultos e adultos
nhece abordagens semelhantes? Dimensão do grupo: qualquer
Sugestões metodológicas: Duração: cerca de 45 minutos
O/a facilitador/a tem de se assegurar que Material: quadro e marcadores
os oradores seguem a abordagem do cha- Competências envolvidas: competências
péu que usam na sua cabeça (ou que têm analíticas, de expressão de diferentes pon-
na sua mão). Por exemplo: se um parti- tos de vista sobre o assunto e de desenvol-
cipante tem o chapéu amarelo não deve vimento das capacidades de trabalho em
abordar qualquer aspeto negativo ou equipa.
emoção. A vantagem do método é evitar
que os oradores fujam ao tema e garantir Parte III: Informação Específica sobre o
a cada pessoa uma porção adequada de Debate
tempo para falar. O método está desenha- Introdução do tema: introduzir a ativida-
do para todos os assuntos ou problemas de referindo-se a algum conhecimento ge-
complexos, em que uma solução fácil pa- ral, dar ao grupo alguns factos básicos so-
rece impossível. A afirmação provocatória bre a internet como descritos no módulo;
pode ser facilmente adaptada a diferentes depois pedir que debatam em pares sobre
contextos sociais e culturais. a sua experiência com a internet e as van-
Direitos relacionados/outras áreas a ex- tagens e desvantagens da sua utilização/
plorar: não utilização. Deixar cerca de 10 minutos
Não discriminação e igualdade para esta tarefa.
(Fonte: adaptado de Edward de Bono. Depois, chamar todos os participantes
1990. Six Thinking Hats.) para reunião em plenário e pedir-lhes para
434 II. MÓDULOS SOBRE QUESTÕES SELECIONADAS DE DIREITOS HUMANOS

debater o impacto da internet, as suas van- Sugestões metodológicas:


tagens mas também desvantagens, poden- Averiguar o quão familiarizados estão os
do usar as seguintes perguntas: participantes com a internet antes do iní-
• Têm conhecimento de violações de di- cio da atividade para adequar o nível e a
reitos humanos pela internet (como por abordagem global.
exemplo, pornografia infantil, cibercrime)?
• Por que razão têm estas violações um Parte IV: Acompanhamento
impacto crescente na sociedade? Encorajar os participantes a visitar os sítios
• Até que ponto é que deveriam existir re- web de organizações de direitos humanos
gras para prevenir tais violações? e comparar as atividades das organizações
• Deve a governação da internet ser im- e a sua promoção através da internet. Com
plementada através de meios estatais base nestas descobertas, poderão, então,
e/ou regulamentos internacionais ou refletir sobre um projeto para:
por meios que exprimam compromis- • Usar os recursos da internet disponí-
sos voluntários e códigos de conduta veis para sensibilizar a vizinhança para
de todos os atores ou por meio de um questões de direitos humanos;
modelo de corregulação? • Criar o seu próprio sítio, página do Fa-
Pedir a um ou dois participantes que escre- cebook, blog ou semelhante e ligá-lo a
vam os pontos principais no quadro. outras organizações para lutar por um
Reações: direito humano que esteja em risco nas
O que é que os participantes aprende- suas comunidades.
ram sobre a internet durante o debate? Direitos relacionados/outras áreas a ex-
Observar os pontos principais anotados plorar:
no quadro e refletir sobre os assuntos: Meios de informação, globalização
são as vantagens do uso da internet em (Fonte: adaptado de Conselho da Europa.
maior número do que as desvantagens? 2002. Compass: A Manual on Human Ri-
O que pode ser feito no que respeita às ghts Education with Young people.)
desvantagens?

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N. DIREITO À DEMOCRACIA

REPRESENTAÇÃO E PARTICIPAÇÃO
PLURALISMO E INCLUSÃO
DIGNIDADE HUMANA E LIBERDADE

“Toda a pessoa tem o direito de tomar parte na direção dos negócios públicos do seu país,
quer diretamente, quer por intermédio de representantes livremente escolhidos. Toda a
pessoa tem direito de acesso, em condições de igualdade, às funções públicas do seu país.
A vontade do povo é o fundamento da autoridade dos poderes públicos; e deve exprimir-
se através de eleições honestas a realizar periodicamente por sufrágio universal e igual,
com voto secreto ou segundo processo equivalente que salvaguarde a liberdade de voto.”
Artº 21º da Declaração Universal dos Direitos Humanos. 1948.
440 II. MÓDULOS SOBRE QUESTÕES SELECIONADAS DE DIREITOS HUMANOS

HISTÓRIA ILUSTRATIVA
Transição Democrática: o Legado de uma base da política e que elas próprias podem
Revolução é Forjado depois da Luta Ter assumir a responsabilidade pelo seu futuro.
Terminado Posto de maneira diferente, devemos ter
atenção para não nos tornarmos vítimas
As revoluções árabes de 2011 estão a come- das nossas poucas expectivas relativa-
çar a destruir o estereótipo de um mundo mente aos outros. Efetivamente, esta foi
árabe incapaz de uma transformação de- a razão que levou ao fracasso flagrante
mocrática. Contudo, o legado duradouro da comunidade internacional em prever
da Primavera Árabe será criado depois de os acontecimentos da Primavera Árabe.
as lutas terem terminado, uma vez que os Tinhamo-nos convencido de que as pesso-
países libertados como a Tunísia e o Egito as do Egito, Tunísia e outros países eram
estão agora perante a tarefa de construção de certo modo incapazes (culturalmente e
de sociedades estáveis e democráticas. não só) de tal insurreição. Não devemos
À luz das experiências no Afeganistão e cometer o mesmo erro duas vezes.
Iraque durante a última década, este desa-
fio parece ser difícil. Devemos, no entanto, Muitos observadores estavam igualmente
retirar inspiração das transições noutros lu- resignados aquando da Revolução Rosa,
gares que transformaram Estados em vias em 2003, na Geórgia. Tal como noutros
de falhar em democracias promissoras num países agitados por convulsões políticas
relativo curto espaço de tempo. Os Estados importantes, o Estado da Geórgia teve de
Bálticos e a América Latina pós-ditadura ofe- ser reconstruido quase de raiz. Ser forçado
recem alguns exemplos de progresso rápido. a começar do zero foi, porém, de muitos
A República da Geórgia, no Cáucaso do Sul, modos, uma benção, não uma maldição.
é um caso mais recente. Apesar de as cul- Não diferentemente das ditaduras do Nor-
turas e contextos poderem variar, há muito te de África, a essência da União Soviética
que aprender destas histórias de transforma- era controlo e corrupção. Imediatamente
ções relativamente bem-sucedidas. após a Revolução Rosa, a Geórgia pôs ter-
Talvez a maior lição seja a seguinte: não mo definitivo à era do domínio estatal. A
se pode subestimar o potencial para a mu- primeira reforma abrangente – a transfor-
dança. As transições podem ocorrer mais mação completa dos órgãos de aplicação
rapidamente do que a sabedoria conven- da lei – é particularmente ilustrativa. Co-
cional nos poderia fazer crer. O governo da meçou-se por despedir as forças da polícia
Geórgia compreende bem que o país tem de trânsito. A polícia foi, durante muito
um longo caminho a percorrer antes de ser tempo, uma peça central e um símbolo da
uma robusta democracia. O caso da Geór- corrupção e intimidação do Estado. Os ge-
gia, porém, também é importante porque orgianos viveram durante três meses sem
testemunha o facto de os momentos revo- polícia de trânsito – e, surpreendentemen-
lucionários serem importantes – principal- te, durante este período, as taxas de crimi-
mente – porque alimentam a imaginação nalidade reduziram em 70%. Porquê? Uma
do público mais vasto. As pessoas comuns explicação é que, deste modo, às pessoas
vêem que os valores podem tornar-se na da Geórgia foi atribuída – e interiorizada –
N. DIREITO À DEMOCRACIA 441

a responsabilidade direta pelo sucesso da revolução real consiste no processo longo e


revolução. difícil de reforma que se segue. Cabe a to-
A luta contra a corrupção é a pedra an- das as democracias consolidadas partilhar
gular de qualquer esforço dirigido a uma as suas experiências – sucessos e fracassos
transformação real e duradoura – e deve- – com as nações que tenham acabado de se
ria ser a fundação da reforma no Norte de libertar. Talvez não seja surpresa o facto de
África. Na sua ausência, estas sociedades esta ser uma experiência de aprendizagem
correrão nova e brevemente o risco de de- para todos nós, uma vez que a essência da
sempoderamento das suas populações. A democracia é o facto de ter de se adaptar e
corrupção, afinal, não conhece fronteiras melhorar constantemente.
ideológicas. A luta contra a corrupção li- (Fonte: Temuri Yakobashvili. 2011. Arab-
berta as instituições dominadas por uma Spring, Act II. Analysis by Georgia’s Am-
pequena elite acostumada a exigir subor- bassador in Washington.)
nos ao cidadão comum.
Uma outra lição que pode ser extraída da Questões para debate
experiência da Geórgia é que apenas uma 1. As revoluções democráticas pós-1989
abordagem “todo-o-governo” e “toda-a-so- na Europa do Leste e na antiga União
ciedade” à reforma pode trazer resultados Soviética são comparáveis às revolu-
tangíveis e duradouros. As reformas do sis- ções árabes de 2011? São estes aconte-
tema judiciário, da polícia, da cobrança de cimentos apenas capítulos da mesma
impostos, da política aduaneira, da classe grande história da democracia?
política, do código eleitoral ou do sistema 2. Sabe de outros países que lutam pela
educativo não deveriam ser implementa- democracia? Quais são os problemas
das individualmente mas como parte de que eles enfrentam?
um projeto abrangente de transformação 3. Quais são os principais elementos que
social e política. Claro, isto eleva o nível devem caracterizar e estimular um pro-
– especialmente num Estado com capaci- cesso de democratização?
dades e recursos limitados. Não pode ser 4. Como podem contribuir os cidadãos ati-
feito isoladamente. vos para o processo de democratização
Não importa o quão belas e comoventes se- nos seus países? Procure fazer suges-
jam as exigências populares de liberdade, a tões concretas!

A SABER
1. DEMOCRACIA EM ALTA? na baseiam-se tanto na participação como
na democracia.
O direito de participação está no centro Democracia é normalmente traduzida
dos direitos humanos e é o alicerce dos como o governo do povo. No entanto, a
princípios, visões e valores refletidos pela democracia é mais complexa na sua defi-
Rede de Segurança Humana. A agenda po- nição. É uma forma de governo, é também
lítica específica seguida pelos seus países uma ideia que está na base da organização
membros e o avanço da segurança huma- sociopolítica e jurídica do Estado, pode
442 II. MÓDULOS SOBRE QUESTÕES SELECIONADAS DE DIREITOS HUMANOS

ser vista como uma ideologia, aparece na de Desenvolvimento Humano das Nações
forma de muitos modelos diferentes, tan- Unidas, reconhece que a inclusão não foi
to na realidade como na teoria científica conseguida para a sua população nativa.
– tudo junto abarca infinitos significados Em muitas democracias avançadas, a to-
diferentes. Contudo, na sua essência, a de- tal inclusão das mulheres em círculos de
mocracia está fortemente relacionada com poder e esferas de influência continua a
os princípios de direitos humanos e não ser negada. Nos Estados Unidos, um país
pode funcionar sem garantir o total respei- frequentemente rotulado como “a mais an-
to e proteção da dignidade humana. Para tiga democracia do mundo”, a inclusão e
além da participação e representação, o pluralismo são uma luta contínua para
também está relacionada com a inclusão, as populações minoritárias e para as mi-
entendida enquanto direito a ser totalmen- norias, como os homossexuais.
te incluído na vida cívica da comunidade, Por outro lado, o fracasso da inclusão e as
da região e do país de cada um. Embora deficiências na prática do pluralismo po-
o exercício do direito a ser incluído e a dem ter graves consequências. Isto foi vis-
participar esteja à discrição do próprio ci- to na agitação civil generalizada e violenta
dadão, o direito não lhe pode ser negado. em França, no fim de 2005. Até à data, a
Em conjunto com a inclusão, a noção de democracia é, indiscutivelmente, o sistema
pluralismo está no centro da governação mais propício para garantir a proteção dos
democrática. O pluralismo significa ultra- direitos humanos e a segurança humana.
passar a “estranheza do outro” e afirmar Porém, tal não nos deve distrair do facto
que pessoas com diferentes tipos de expe- de que a compreensão plena dos objetivos
riência humana podem viver em conjunto paralelos do pluralismo e da inclusão é es-
com dignidade, sob o primado do Direito, sencial para a evolução saudável de uma
com a diversidade vista como uma fon- sociedade democrática.
te de força e de resiliência. Em essência, A democracia depende do interesse e da
ninguém com um pedido justificado para ativa participação dos seus beneficiários.
a cidadania ou outra forma de residência Ser informado e ter acesso ao conhecimen-
legal pode ver negada a inclusão ou a dig- to é requisito para uma participação útil
nidade humana. Este é o verdadeiro teste no sistema democrático. Apenas aqueles
à democracia. com uma compreensão básica de como o
sistema trabalha e com conhecimento dos
Existe uma ligação aparente entre estru- mecanismos e instituições de uma socie-
turas não democráticas e violações de dade democrática podem contribuir e ser
direitos humanos. No entanto, mesmo beneficiados. Comunicar esta mensagem é
as democracias consolidadas podem ser uma das mais importantes funções da edu-
fracas se tolerarem a negação de direitos cação democrática cujo objetivo é a forma-
humanos. A violação é uma brecha espe- ção de cidadãos responsáveis.
cífica, mas a negação de direitos humanos Este módulo visa definir uma imagem da
– que pode ser muitas vezes a negação de democracia e dos direitos humanos que
uma inclusão genuína e do pluralismo – torne claro que a democracia não é algo
é societal e sistemática. Mesmo uma de- que é alcançado de uma vez por todas,
mocracia avançada como, por exemplo, a mas sim um processo que requer trabalho
do Canadá, um líder constante no Índice e compromisso permanentes.
N. DIREITO À DEMOCRACIA 443

ÍNDICE DE DEMOCRACIA 2010 (por tipo de regime)


% da população
Nº de países % de países
mundial
Democracias completas 26 15.6 12.3
Democracias com falhas 53 31.7 37.2
Regimes híbridos 33 19.8 14.0
Regimes autoritários 55 32.9 36.5
(Fonte: Economist Intelligence Unit.2010. Democracy Index 2010.)

PROCESSO DEMOCRÁTICO GLOBAL FRAGMENTAÇÃO GLOBAL


Desde 1980, países em todas as regiões do Nem todos os Estados que se autointitu-
mundo deram passos significativos para a lam “democráticos” são, de facto, com-
democracia, tendo vários regimes milita- pletamente democráticos. Muitos estão
res ou autoritários sido substituídos por ainda a transitar para uma democracia ou
governos civis. regressaram a um regime autoritário ou
conflito.
144 dos quase 200 países do mundo or- Apenas 26 países podem ser considerados
ganizam, agora, eleições multipartidárias democracias completas e 53 podem ser de-
– mais do que em qualquer época na his- nominadas “democracias com falhas”. Ainda
tória. há cerca de 55 regimes autoritários e mais de
30 “regimes híbridos”.
133 países, com 67% da população mun- 63 países, com 32% da população mun-
dial, têm meios de informação livres ou dial, ainda não tem meios de informação
parcialmente livres. livres.
O número de países que ratificaram os seis Muitos países ainda restringem importan-
principais tratados e pactos dos direitos tes liberdades civis e políticas.
humanos aumentou, drasticamente, des-
de 1990. As ratificações do PIDESC e do 25 países não ratificaram nem assinaram
PIDCP aumentaram de 90 para 160 e 167, o PIDCP e 32 não ratificaram nem assina-
respetivamente. ram o PIDESC.
Em 26 países, mais de 30% de deputados A nível mundial, só 19% dos deputados
parlamentares são mulheres. parlamentares são mulheres – e em 9 paí-
ses não há nenhuma.

(Fonte: Freedom House. 2011. Freedom in the World 2011; Economist Intelligence Unit. 2010.
Democracy Index 2010; Inter-Parliamentary Union (IPU). 2011. Parline database on women in
parliament.)
444 II. MÓDULOS SOBRE QUESTÕES SELECIONADAS DE DIREITOS HUMANOS

Democracia e Segurança Humana que a segurança humana se transfor-


me de um novo paradigma diplomático
A agenda da segurança humana centra-
em uma ampla base para a tomada de
se no alcance da liberdade em relação a
decisões democráticas e a cooperação
ameaças invasivas à vida e à subsistên-
internacional.
cia das pessoas, sejam estas, políticas,
sociais ou económicas. Parte da noção
de que o respeito pelos direitos huma- 2. DEFINIÇÃO E DESENVOLVIMENTO
nos e pelas liberdades democráticas, DA QUESTÃO
bem como o alcance do empoderamen-
to para o desenvolvimento humano, são O que é a Democracia
indispensáveis para salvaguardar e pro- e como se Desenvolveu?
mover a segurança humana. O progres- A democracia é uma forma de governo onde
so dos direitos humanos, o desenvolvi- a autoridade do Estado deriva do povo. A
mento humano e a segurança humana palavra “democracia” é oriunda das pala-
– três conceitos que se sobrepõem e in- vras demos – que significa povo – e kra-
terligam e que estão no centro da visão tos – que significa poder - da Grécia antiga.
de uma inovadora ordem mundial – só Os princípios da democracia moderna de-
se podem cultivar em sociedades nas senvolveram-se gradualmente através dos
quais os valores democráticos não se- movimentos religiosos Calvinistas durante
jam apenas divulgados, como também o século XVII, especialmente na Escócia,
praticados. Inglaterra e Países Baixos onde as comu-
nidades começaram a partilhar e a apoiar
O respeito pelos direitos humanos im-
não só ideias religiosas mas também polí-
plica estar livre do medo e de ameaças
ticas. A filosofia da liberdade e igualdade
à sua existência; o desenvolvimento hu-
para todos emergiu e acentuou-se durante
mano exige os recursos e as liberdades
o período do Iluminismo. Gradualmente,
necessárias para desenvolver, plenamen-
veio a ser reconhecida como o valor central
te, o potencial humano de cada um; a
da noção de democracia.
segurança humana invoca o direito a
não ter fome, a estar livre da guerra, dos
O primeiro Estado democrático da moder-
desastres ecológicos, de governos cor-
nidade foi estabelecido nos EUA, enquan-
ruptos e de outros impedimentos a uma
to a França foi o primeiro Estado europeu
vida justa, solidária, com igualdade de
a basear-se nos princípios democráticos,
oportunidades para todos.
após a Revolução Francesa. Depois de
Resumindo, só a participação equita- 1945, existiu uma propagação da demo-
tiva, livre e democrática na vida polí- cracia liberal tanto na Europa, como por
tica, social e económica de um Estado todo o mundo, muitas vezes substituindo
ou comunidade pode promover a segu- a alternativa: o governo autoritário. De-
rança humana. Só a total garantia dos pois da derrota dos governos fascistas,
direitos humanos, da governação parti- parecia que a crise da democracia teste-
cipada, do primado do Direito, do de- munhada na primeira metade do sécu-
senvolvimento sustentável e do igual lo XX tivesse sido ultrapassada. Em certa
acesso aos recursos, pode assegurar medida, esta tendência também foi subli-
N. DIREITO À DEMOCRACIA 445

nhada pelo longo e conturbado processo • Participação: A democracia não tem


de descolonização, que se baseou no re- sentido sem a participação. A participa-
conhecimento da autodeterminação como ção em assuntos comunitários e políti-
um direito legítimo de todos os povos e cos é um requisito para a construção de
que resultou - pelo menos inicialmente - um sistema democrático. A democracia
no estabelecimento de várias formas de requer participação que é, como tal,
democracia (processual) em muitas das um conceito mais amplo que não tem
antigas colónias. apenas fortes implicações políticas mas
também sociais e económicas. Assim, a
As ditaduras em Espanha, Portugal, Gré- participação, só por si, não é garante da
cia, Argentina e Uruguai tornaram-se de- democracia.
mocracias nas décadas de setenta e oiten- • Governo da maioria e os direitos da
ta. Com a queda do Muro de Berlim em minoria: Embora a democracia seja por
1989 e o colapso do comunismo na Europa definição o governo do povo, é, de fac-
Central e de Leste, parecia que a demo- to, o governo da maioria. Isto também
cracia de facto tinha sido bem-sucedida. significa uma obrigação da maioria de
Contudo, ainda nem todos os países que ter em consideração os direitos e as di-
teoricamente defendem a democracia ferentes necessidades dos grupos mino-
como uma forma de governo, respeitam ritários. A medida em que esta obriga-
plenamente os princípios democráticos ção é respeitada é um indicador para o
ou a vida democrática na prática. Este de- reforço dos valores democráticos numa
senvolvimento paradoxal demonstra que sociedade.
manter um debate crítico sobre democra-
cia e democratização é ainda uma neces- Direitos das Minorias
sidade. Não Discriminação
• Primado do Direito e julgamento jus-
Elementos Principais to: A democracia procura prevenir que
da Democracia Moderna uma só pessoa ou um pequeno grupo
É difícil medir o quanto uma sociedade é de pessoas possa governar a população
democrática. No entanto, existe um nú- de uma forma arbitrária. O primado do
mero de elementos chave comummente Direito garante que o Estado tem uma
reconhecidos como constituindo a base de ordem jurídica autónoma para assegu-
toda a sociedade democrática. rar a igualdade perante a lei, limitar o
• Igualdade: O princípio da igualdade signi- poder da autoridade pública e fornecer
fica que todos os seres humanos nascem acesso equitativo a um poder judiciário
iguais, devem gozar de oportunidades independente e justo.
iguais e poder participar na vida política
da comunidade, assim como têm o direito Primado do Direito e Julga-
a um tratamento igual perante a lei. Isto mento Justo
também inclui a igualdade económica e • Compromisso com os direitos huma-
social entre mulheres e homens. nos: Aceitar que “todos os seres huma-
nos nascem livres e iguais em dignidade
Direitos Humanos das Mulheres e direitos” é a base de uma sociedade
Não Discriminação democrática funcional que tem a obri-
446 II. MÓDULOS SOBRE QUESTÕES SELECIONADAS DE DIREITOS HUMANOS

gação de garantir o respeito, a proteção • Eleições livres e justas: As eleições


e a realização de todos os direitos hu- são normalmente vistas como a carac-
manos de modo a assegurar que os seus terística mais fundamental e única da
cidadãos possam viver “livres do medo democracia. Nenhum outro tipo de re-
e livres de privações”. Em relação à de- gime deixa a decisão sobre a liderança
mocracia, especial atenção devia ser co- política aos que são primeiramente afe-
locada naqueles direitos decisivos para tados pelo sistema de governo – o povo.
a participação cívica, como a liberdade Nas eleições, o povo pode expressar o
de reunião, liberdade de expressão, li- seu desejo por mudança, assim como o
berdade de pensamento, de consciência seu consentimento para políticas atuais
e de religião. Ainda assim, os direitos e participar num processo permanente
civis e políticos, por si só, não garantem de avaliação. Contudo, a História tem
a paz e a segurança humana. Apenas mostrado que a resposta à pergunta so-
se as necessidades básicas económicas, bre quem, exatamente, deverá ter o di-
sociais e culturais forem tidas em consi- reito a participar não é sempre evidente.
deração, podemos alcançar um ambien- Assim, apesar de ser geralmente uma
te favorável para a democracia. questão não controversa a exclusão de
• Pluralismo político: Tradicionalmente, menores de idade da participação no
é tarefa dos partidos políticos consoli- processo eleitoral, é ainda discutível
dar a diversidade de ideias e opiniões, se o direito de voto pode ser limitado
bem como representá-las no debate relativamente a pessoas condenadas a
público. Apenas o pluralismo político determinados crimes (graves) por um
pode garantir estruturas suficientemen- tribunal (uma prática seguida por mui-
te flexíveis e adaptáveis a necessidades tos Estados). Como já referido, as mu-
em mudança, mas que, simultaneamen- lheres, por exemplo, foram excluídas
te, permaneçam como base estável para deste processo durante muito tempo.
a governação democrática. Contudo, Em Appenzell-Innerrhoden, uma parte
a liberdade política pode também ser da Suíça, um país bem conhecido pelas
utilizada indevidamente para divulgar suas estruturas democráticas altamente
ideias que incitam ao ódio, provocam desenvolvidas, as mulheres adquiriram
a violência e, assim, constituem uma direito de voto apenas no início dos
ameaça a uma sociedade e ordem de- anos 90. De uma maneira geral, é assim
mocráticas. O desafio é gerir democra- essencial garantir que o direito de voto
ticamente tais tendências, sem violar o é garantido sem restrições irrazoáveis e
princípio geral da liberdade de expres- que as eleições são realizadas de forma
são mas também protegendo os interes- livre, igual, secreta, direta e por sufrágio
ses da sociedade no seu todo. Em certa universal.
medida, as democracias também neces- • Divisão de poderes: A divisão de pode-
sitam de se proteger (frequentemente res, introduzida como conceito por John
referido como o princípio da “democra- Locke (“Two Treaties on Government ”,
cia militante”). 1690) e promovida por Charles de Mon-
tesquieu (“De l´esprit des lois”- “The
Liberdade de Expressão e Liber- Spirit of the Laws”, 1748) foi inicial-
dade dos Meios de Informação mente dirigida contra o poder absoluto
N. DIREITO À DEMOCRACIA 447

do Estado absolutista. Hoje, é um prin- cracia substancial. Este debate centra-se


cípio fundamental das democracias mo- principalmente na questão de saber se
dernas. De acordo com este princípio, o os processos (ex. eleições) e instituições
poder do Estado está dividido entre ór- (ex. órgãos legislativos eleitos) democrá-
gãos legislativos, executivos e judiciais ticos ou as políticas amplamente benéfi-
que funcionam independentemente cas de promoção do bem-estar, segurança,
mas que são responsáveis perante cada igualdade social e a resolução de conflitos
um dos outros e perante o povo. Este pacífica são mais importantes quando se
sistema de pesos e contrapesos (checks avalia o carácter democrático (ou não de-
and balances) providencia mecanismos mocrático) de um regime.
de controlo adequados, prevenindo, as-
sim, o abuso do poder. Formas de Democracia
As democracias modernas diferem bastan-
Teorias de Democracia te no seu desenho e estrutura. A distinção
A deslumbrante complexidade da realida- tradicional feita em relação às democra-
de democrática produziu um vasto con- cias liberais faz-se entre modelos de de-
junto de teorias e de modelos. De acordo mocracia direta e representativa.
com o Discurso de Gettysburg de Abraham Democracia direta é a forma de governo
Lincoln de 1863, a democracia pode ser segundo a qual o direito de tomar decisões
definida como o “governo do povo, pelo políticas é exercido diretamente por todos
povo, para o povo”. Não é necessário dizer os cidadãos, atuando sob o procedimento
que estas palavras significam coisas dife- da regra da maioria. Este procedimento é
rentes para pessoas diferentes. apenas possível relativamente a entidades
De acordo com uma perspetiva histórica, pequenas. Portanto, nenhum sistema de-
deve fazer-se uma distinção fundamental mocrático é uma democracia direta pura,
entre as teorias da identidade e da com- embora quase todos tenham elementos de
petição da democracia. Em resumo, o democracia direta. Instituições de demo-
modelo da identidade baseia-se na ideia cracia direta são assembleias populares,
da identidade dos governantes e dos go- iniciativas legislativas populares, revoga-
vernados; nega a existência de diferenças ção de mandatos (destituição do governo),
políticas legítimas e luta para encontrar o referendos, etc.
que Jean-Jacques Rousseau chamou de A segunda forma básica é a democracia
“volonté générale”, a ser materializada representativa. É uma forma de governo
na legislação. O modelo da competição onde os cidadãos exercem o direito de to-
da democracia, por outro lado, permite a mar decisões políticas não pessoalmente
existência de opiniões legítimas diferentes mas através de representantes escolhidos
que competem umas com as outras, sendo e responsáveis perante eles. Dois elemen-
que a competição de opiniões é normal- tos essenciais da democracia representati-
mente estabelecida no mesmo sentido da va são a separação entre os governantes e
regra da maioria. os governados e eleições periódicas como
Uma outra distinção - mais moderna - que um meio de controlo dos governantes pe-
é frequentemente referida em discursos los governados.
teóricos sobre democracia é a distinção A democracia representativa está associa-
entre a democracia processual e a demo- da a dois sistemas básicos de governo: de-
448 II. MÓDULOS SOBRE QUESTÕES SELECIONADAS DE DIREITOS HUMANOS

mocracia parlamentar e democracia presi- os sistemas presidencialistas têm uma


dencialista. separação de poderes mais clara. No
• Democracia parlamentar: nesta forma entanto, nos sistemas parlamentares, o
de governo, o parlamento tem um papel próprio poder executivo está geralmen-
central; o executivo é chefiado por um te dividido entre o Chefe de Estado,
primeiro-ministro ou chefe do governo por um lado, e um primeiro-ministro,
e está dependente da confiança do par- por outro lado.
lamento; o chefe de Estado normalmen- • A iniciativa legislativa nas democracias
te tem poucos ou nenhuns poderes exe- parlamentares é em grande parte da res-
cutivos, desempenhando apenas uma ponsabilidade do governo.
função representativa. • Os partidos, em particular, os partidos
• Democracia presidencialista: o execu- da oposição, têm um papel mais forte
tivo é presidido pelo chefe de Estado, nas democracias parlamentares.
que é diretamente eleito pelo povo e não
depende da confiança do parlamento. TIPOS DE DEMOCRACIA

Quando os dois modelos são comparados,


Democracia Democracia
emergem diferenças que incluem: Direta Representativa

• Num sistema presidencialista, são rea-


lizadas eleições separadas para o gover-
no e para a assembleia parlamentar, en- Democracia Democracia
Parlamentar Presidencialista
quanto nas democracias parlamentares
uma eleição decide ambas (embora o
chefe de Estado possa ser eleito sepa-
Realidade: Formas mistas de democracia
radamente).
• Nos sistemas parlamentares, o governo
é autorizado pelo parlamento, que pode (Fonte: International UNESCO Education
também destitui-lo. Esta opção é nega- Server for Civic, Peace and Human Rights
da ao parlamento em sistemas presiden- Education: www.dadalos.org/)
ciais, que, contudo, normalmente dis-
põe de procedimentos de impugnação. Formas de Democracia
• Por outro lado, o chefe de Estado nos na Realidade
sistemas parlamentares normalmente A maioria das democracias existentes é
tem a possibilidade de dissolver a as- uma combinação destes tipos ideais de
sembleia parlamentar, sob certas condi- democracia representativa. Hoje em dia, a
ções. forma mais comum, entre os numerosos
• Em muitos sistemas parlamentares, é modelos mistos, é a democracia parlamen-
necessário ser membro do parlamento tar com um papel reforçado do chefe de
para se poder ser membro do governo, Estado. A distinção desenhada supra pode,
o que é incompatível com a maioria dos normalmente, ser aplicada às democracias
sistemas presidencialistas. no mundo, embora estas não façam, ne-
• O parlamento e o governo estão nor- cessariamente, uso das mesmas tradições
malmente mais interligados nas demo- comummente associadas à noção de de-
cracias parlamentares, ao passo que mocracia “liberal”.
N. DIREITO À DEMOCRACIA 449

Exemplos: a democracia parlamentar Não existem “democracias perfeitas”, nem


é o modelo que caracteriza os sistemas no hemisfério ocidental, nem no oriental.
da Grã-Bretanha e da maioria dos países Podemos universalmente concordar, hoje
da Europa Ocidental; por outro lado, os em dia, com vários elementos constituti-
Estados Unidos da América são o exem- vos da democracia, mas a importância co-
plo mais conhecido de democracia presi- locada nestes elementos e a sua realização
dencialista. Todavia, mesmo na Europa concreta muitas vezes difere entre cultu-
Ocidental, são inúmeros os exemplos ras. O entendimento ocidental da demo-
de modelos peculiares: estes incluem a cracia no geral está baseado na noção de
Suíça [um modelo consociativo (conso- indivíduo, que ganha o máximo de liber-
ciational) com uma forte ênfase na de- dade e voz numa sociedade genericamente
mocracia direta] e a França (uma demo- livre e liberal. A ênfase avassaladora nos
cracia semipresidencialista). direitos civis e políticos que distinguem
este modelo é um problema para alguns
outros países.
3. PERSPETIVAS
INTERCULTURAIS O Debate acerca dos “Valores Asiáticos”
E QUESTÕES CONTROVERSAS A China é um dos principais proponentes
de um modelo social e político baseado no
A democracia adota muitas formas, tem conceito de direitos coletivos e bem-estar
várias manifestações e é entendida de da sociedade que difere significativamente
modo diverso em culturas diferentes. En- da noção democrática ocidental de direi-
quanto algumas democracias põem ênfa- tos individuais. Aqueles direitos coletivos
se na divisão de poderes e no primado baseiam-se num sentido orientado para a
do Direito, outras baseiam-se predomi- comunidade e em conceitos tradicionais
nantemente no conceito de participação. de liderança patriarcal em vez de na ideia
Estas distinções emergentes estão princi- de máxima liberdade individual. De facto,
palmente baseadas na diferente interação muitas democracias situam-se algures en-
dos elementos principais constituintes da tre estes extremos de liberdade individu-
democracia. al sem restrições e a supremacia de uma
Uma relevante linha de crítica neste con- sociedade bem ordenada. O Canadá, por
texto refere-se ao “eurocentrismo” envol- exemplo, tem “paz, ordem e bom gover-
vido em muito do pensamento, teoria e no” como fio condutor (leitmotiv) da sua
prática políticos, em relação à democracia. Constituição, ao passo que os Estados Uni-
No entanto, a prática da própria democra- dos se baseiam na “vida, liberdade e na
cia é pluralista. Existem muitas formas vi- procura da felicidade”. Os modelos asiáti-
áveis de democracia que claramente não cos não são necessariamente inconsisten-
são eurocêntricas. Um país extremamente tes com a participação e a democracia. Os
pobre e superpovoado como o Bangladesh, modelos do Leste da Ásia, como aqueles
por exemplo, adere à democracia mesmo existentes em Singapura, na Malásia e,
perante tentações apelativas para escolher em menor medida, na Coreia do Sul e no
formas mais autoritárias; no entanto, a sua Japão, inspiram-se no ensinamento con-
democracia é orgânica e nativa e não uma fucionista fundacional e requerem uma
imposição externa. participação ativa de uma elite governado-
450 II. MÓDULOS SOBRE QUESTÕES SELECIONADAS DE DIREITOS HUMANOS

ra moral e racional agindo para um bem começa: “Sendo o Canadá fundado sobre
comum. O “Grande Ensinamento” confu- princípios que reconhecem a supremacia
cionista postula que a individualidade har- de Deus e do primado do Direito[…].”
moniosa origina uma família harmoniosa, As nações muçulmanas têm estado niti-
que produz uma comunidade harmoniosa, damente divididas com base no seu en-
que gera uma política bem ordenada, que tendimento e perspetivas em relação à
cria uma nação harmoniosa. O chamado democracia, sendo que a negação da de-
“choque” entre os valores e noções “asiáti- mocracia prevalece - pelo menos até re-
cas” e “ocidentais” de democracia é acima centemente - no Médio Oriente. Enquan-
de tudo uma questão de interpretação di- to os líderes dos movimentos islâmicos
ferente do verdadeiro significado da parti- principais e muitos estudiosos insistem
cipação e do bem-estar individual versus que o Islão e a democracia são compa-
coletivo. Em vez de rejeitar o conceito en- tíveis, aqueles que consideram que as
quanto tal, a crítica asiática de democracia construções divinamente ordenadas são
é frequentemente dirigida contra a especí- superiores às construções sociais huma-
fica ordem social e cultural dos EUA e de nas proclamam o contrário. Estes últimos
outros países ocidentais. rejeitam a democracia dizendo que o con-
ceito de soberania popular nega o credo
O Desafio da Democracia no Mundo Mu- fundamental do Islão, que é a soberania
çulmano de Deus. Eles acreditam que o quadro
Definir a relação entre Islão e democracia legislativo básico foi fornecido por Alá e
tem sido problemática tanto para os mu- não pode ser modificado. Apenas os seus
çulmanos como para os não muçulmanos. representantes podem interpretar e imple-
Os observadores que salientam que o Islão mentar a sua lei. Esta abordagem tradicio-
e a democracia são incompatíveis basea- nal e conservadora contradiz os valores
ram os seus argumentos no entendimen- democráticos básicos, como a abertura, o
to islâmico da soberania de Deus, que é pluralismo e a separação de poderes.
a única fonte de autoridade e de cuja lei
divina derivam todas as normas que regu- Contudo, apesar desta aparente divisão,
lam a comunidade de crentes. Esta é uma existem bons exemplos de Estados demo-
perceção demasiado simplista uma vez cráticos no mundo islâmico. Algumas das
que a divisão de poderes não é incompa- nações muçulmanas mais populosas são
tível com o Islão. Num certo número de democracias eleitorais. O país muçulmano
Estados Islâmicos, o Islão e a democracia mais populoso no mundo, a Indonésia, é
já provaram ser compatíveis, sendo que, uma jovem democracia fundada no com-
de facto, as manifestações religiosas tam- promisso com a inclusão e com o pluralis-
bém são familiares a muitas ordens consti- mo. A segunda maior população muçul-
tucionais ocidentais. Apesar da separação mana no mundo, na Índia, tem vivido em
oficial entre Igreja e Estado, os Estados democracia desde 1947. O terceiro maior
Unidos proclamam-se como “uma nação país muçulmano, o Paquistão, voltou à or-
sob Deus”, como parte da sua essência bá- dem democrática em 2008. Em 2005, um
sica. De igual modo, o preâmbulo da Carta parlamento democrático foi estabelecido
de Direitos e Liberdades do Canadá, a car- depois das eleições no Afeganistão, que
ta de direitos na Constituição canadiana, esteve, anteriormente, sob as regras dos
N. DIREITO À DEMOCRACIA 451

Talibãs tradicionais e radicalmente conser- • Qual é o papel dos meios de informação


vadores. na formação da noção de democracia
De facto, neste momento em que escreve- em diferentes culturas?
mos, início de 2011, a maioria dos muçul- • A tecnologia de informação moderna
manos do mundo viviam em democracias (internet, correio eletrónico, difusão por
ou em sociedades em transição para a satélite, etc.) tem o potencial de contri-
democracia. Só no sul e sudeste da Ásia, buir para um entendimento comum so-
mais de 500 milhões de muçulmanos no bre democracia para além das fronteiras
mundo vivem em Estados que possuem geográficas e culturais?
governos eleitos democraticamente, in-
cluindo a Índia, o Bangladesh, o Afega-
Mais alguns pontos para reflexão
nistão, a Indonésia, a Malásia e as Mal-
divas. Durante muito tempo, foi, particu- • A relação entre maioria e minoria
larmente, no Médio Oriente, que tem uma e, em particular, a proteção das mi-
população mais pequena de muçulmanos norias políticas, étnicas, religiosas e/
do que o resto da Ásia, que a ausência ou linguísticas é uma questão crucial.
de democracia era mais notória. Contu- A realização de eleições livres e justas
do, com as recentes insurreições demo- com base no voto da maioria signifi-
cráticas que surgiram de forma indepen- ca que as minorias são, muitas vezes,
dente em muitas partes do mundo árabe, excluídas do processo de decisão po-
esse facto pode agora mudar. A chamada lítica. Geralmente, a minoria tem de
“Primavera Árabe” – que começou com a sujeitar-se às decisões da maioria. As
Revolução de Jasmim na Tunísia em de- minorias requerem, portanto, proteção
zembro de 2010 e que, desde então, origi- especial de modo a garantir o respeito
nou agitações políticas em países como o pelos seus direitos e um grau justo de
Egito, Líbia, Síria e Iémen – é um proces- consideração da sua vontade política.
so importante (apesar de certamente de
longo prazo) no final do qual, a história Direitos das Minorias
sobre a relação alegadamente conturbada • A sociedade civil tornou-se um dos tó-
entre o Islão e a democracia terá de ser picos chave no debate e na prática da
completamente reescrita. democracia. A democracia necessita
de seres humanos livres e ativos, assim
Liberdades Religiosas como de pessoas responsáveis. Bertol
Brecht uma vez sugeriu ironicamente
Questões para debate: que o governo, se tão insatisfeito com
• É aceitável ter diferentes noções de de- o povo, deveria dissolver o povo e ele-
mocracia nas diferentes culturas? ger um novo. Apenas cidadãos livres e
• Se diferentes interpretações de demo- ativos podem desafiar os seus gover-
cracia são inevitáveis e aceitáveis, onde nos e mantê-los responsáveis para com
estão os limites, isto é, que elementos os seus compromissos pré-eleitorais.
essenciais devem ser mantidos sob
qualquer circunstância para que se pos- • Os meios de informação livres e in-
sa dizer que um determinado Estado é dependentes são um pilar importante
“democrático”? de qualquer democracia. O controlo
452 II. MÓDULOS SOBRE QUESTÕES SELECIONADAS DE DIREITOS HUMANOS

sobre os meios de informação é, hoje 4. IMPLEMENTAÇÃO


em dia, quase sinónimo de controlo E MONITORIZAÇÃO
sobre o processo de decisão numa
democracia. Os meios de informação Democracias perfeitas nunca existiram e
têm um papel fundamental na vida nem existem nos nossos dias. As democra-
diária das democracias, sejam jornais, cias modernas integram, até certo ponto,
televisão, rádio, a indústria do entre- todos os elementos essenciais da democra-
tenimento e, é claro, a internet. Os in- cia como parte da procura geral de “boa
divíduos, as sociedades e os Estados governação” que aspira à igualdade, não
têm de ser capazes de comunicar en- discriminação e justiça social. A democra-
tre si. Para facilitar a tomada de de- cia é um processo de constante interação,
cisão do eleitorado, é necessário que aperfeiçoamento e ajustamento tendo em
este seja informado sobre as metas e consideração as necessidades básicas da
objetivos daqueles que procuram ser sociedade e as estruturas sociais disponí-
eleitos. A liberdade de expressão é, veis para suprir essas necessidades.
assim, outro direito humano básico e Ao nível regional, existem vários mecanis-
delicado necessário para a realização mos de salvaguarda dos princípios da de-
de uma democracia funcional. mocracia. A Convenção Europeia de Direi-
tos Humanos, que estabelece um Tribunal
Liberdade de Expressão e Li- Europeu dos Direitos Humanos permanente
berdade dos Meios de Infor- e que oferece a possibilidade de apresentar
mação queixas contra Estados Partes por uma vio-
lação da Convenção, é um bom exemplo.
• A democracia e os direitos humanos
Uma vez que a democracia é a única forma
são inseparáveis – a relação varia en-
de governo considerada na Convenção (as-
tre uma relação de interação e uma
sim como na Carta do Conselho da Euro-
de identidade. Neste sentido, todos os
pa, a organização que começou a redigir a
direitos humanos são de uma impor-
Convenção), é também a única compatível
tância crucial para e numa democra-
com ela. Em 1967, a Dinamarca, a Noruega
cia. Os sistemas jurídicos de muitos
e a Suécia decidiram apresentar uma quei-
países diferenciam entre direitos dos
xa contra a Grécia depois de um regime
cidadãos e direitos humanos, signifi-
militar severo ter tomado controlo do país.
cando que alguns direitos, especial-
O governo grego depois disso denunciou
mente certos direitos políticos, estão
a Convenção mas, mesmo assim, o julga-
garantidos apenas aos cidadãos e
mento seguiu em frente e terminou com a
outros a todos os seres humanos. Os
Grécia a abandonar o Conselho da Europa
direitos humanos só podem ser garan-
de forma a evitar a suspensão. Com o res-
tidos numa e através de uma demo-
tabelecimento de um governo democrático
cracia funcional, mas a democracia
em 1974, a Grécia reingressou na Conven-
formal por si só não garante os direi-
ção e teve de pagar uma compensação às
tos humanos e a segurança humana.
vítimas do regime militar.
A realização dos direitos humanos é,
portanto, um indicador da vitalidade
Obviamente, nem todos os mecanismos
de uma democracia.
são tão efetivos quanto os estabelecidos
N. DIREITO À DEMOCRACIA 453

pelo Conselho da Europa, mas existem • Lugares ocupados por mulheres no


várias outras organizações que também Parlamento;
lutam pela proteção da democracia. Em • Participação em sindicatos;
1990, a OSCE estabeleceu o Escritório • Número de organizações não gover-
para as Instituições Democráticas e Di- namentais;
reitos Humanos (ODIHR), em Varsóvia, • Ratificação do Pacto Internacional so-
que tem a tarefa, entre outras, de ajudar os bre os Direitos Civis e Políticos;
Estados participantes na OSCE a construir, • Ratificação da Convenção da OIT so-
fortalecer e proteger as instituições demo- bre a Aplicação dos Princípios do Di-
cráticas. Está encarregado da observação reito de Organização e de Negociação
de eleições nacionais, assegurando, deste Coletiva.
modo, o respeito pelos princípios demo-
cráticos por parte dos membros da OSCE.
Recentemente, foram também introduzi- Ainda, alguns indicadores subjetivos,
dos mecanismos específicos que visam como as liberdades civis e os direitos po-
a proteção da democracia e a rejeição de líticos, liberdade de imprensa e prestação
alterações inconstitucionais, de governo, de contas, estabilidade política e ausência
pela Organização dos Estados Americanos de violência, primado do Direito e índice
(OEA), a União Africana e também por di- de perceção de corrupção, constituem um
versas organizações e acordos intergover- meio útil para avaliar a governação demo-
namentais sub-regionais. crática. Todos estes indicadores refletem
até que ponto os elementos essenciais que
Ao nível internacional, a União Interpar- formam a democracia interagem e se de-
lamentar (UIP) requer uma atenção espe- senvolvem ao longo do tempo. Eles forne-
cial. A UIP é composta pelos parlamentos cem a base para comparar as democracias
dos seus Estados-membros e procura fo- e outros regimes e para avaliar o progres-
mentar o diálogo e a cooperação entre po- so em direção à democracia, assim como
vos, para o fortalecimento da democracia uma medida qualitativa e quantitativa do
global. Foi estabelecida no início de 1889 nível de melhorias atingidas ou ameaças
e é, até hoje, um instrumento importante enfrentadas por um país.
para auxiliar a rede de parlamentos nacio- Em todas as democracias genuínas, o voto
nais e promover a democracia. popular, nacional ou localmente, é o mais
forte mecanismo de monitorização, acom-
panhado pela informação livre e inde-
O Programa das Nações Unidas para o
pendente e uma sociedade civil vigilan-
Desenvolvimento (PNUD) apresentou
te. Uma mudança da agenda do governo
alguns indicadores objetivos para medir
e das estruturas de poder pode resultar
o progresso da democracia, no seu Re-
desse voto popular, que implicitamente é
latório de Desenvolvimento Humano de
também uma avaliação da implementação
2002. Estes incluem:
dos compromissos assumidos pelos repre-
• A data da eleição mais recente;
sentantes democraticamente eleitos.
• Afluência ao voto;
Nem todos os padrões democráticos acima
• Ano em que as mulheres passaram a
expostos estão universalmente acordados.
ter o direito ao voto;
Contudo, os padrões sobre os quais pode
454 II. MÓDULOS SOBRE QUESTÕES SELECIONADAS DE DIREITOS HUMANOS

ser alcançado um amplo consenso são os opiniões e, assim, participar na vida polí-
direitos humanos. Garantir os direitos hu- tica e na tomada de decisões é de impor-
manos, incluindo o direito de participação tância crucial. Participar numa sociedade
política, é, deste modo, uma parte crucial civil ativa contribui para a democracia
de garantia da democracia. Portanto, ga- como um todo. A educação tem um pa-
rantias institucionais de direitos humanos pel chave neste processo uma vez que cria
são, de facto, garantes da democracia. o conhecimento que, desde logo, torna a
participação efetivamente possível. É para
A implementação global da democracia estes elementos de base de construção da
depende de cada e de todo o indivíduo e democracia que se deve chamar a atenção
das instituições estatais e internacionais e que devem ser ulteriormente desenvolvi-
que são chamadas a dar-lhe vida e a aju- dos de modo a permitir à democracia de-
dar a opor-se a desenvolvimentos autori- sabrochar e trazer resultados para todos,
tários. Exercer o direito de voto, expressar iguais e equitativos.

CONVÉM SABER
líticos nacionais. Posteriormente, elei-
1. BOAS PRÁTICAS ções democráticas parlamentares e pre-
sidenciais realizaram-se com intervalos
No Caminho da Democracia regulares com base em sistemas multi-
Em fevereiro de 1990, num discurso histó- partidaristas. A transição democrática na
rico, Fredrik Willem de Klerk manifestou- Europa Central e de Leste foi aprofunda-
se a favor do fim do Apartheid e de uma da em grande medida pelas políticas da
África do Sul democrática. A sua política União Europeia. Em particular, a perspe-
foi confirmada por um referendo pelo qual tiva de ser membro da UE, que depende,
70% da população branca apoiou as suas entre outras coisas, do preenchimento
reformas. As primeiras eleições democrá- dos chamados “Critérios de Copenhaga”
ticas na África do Sul realizaram-se em (incluindo o respeito por princípios de-
abril de 1994 e, em maio de 1994, Nelson mocráticos, direitos humanos e das mi-
Mandela tornou-se o primeiro presidente norias e o primado do Direito) tem con-
negro da África do Sul. Abria-se um novo tribuído significativamente para o ritmo
capítulo no desenvolvimento do país. e a sustentabilidade de reformas demo-
Europa Central e de Leste: Nos anos cráticas nos países em causa (a maioria
seguintes a 1989, os países do ex-bloco dos quais, entretanto, aderiu à União
comunista experimentaram uma onda de Europeia enquanto membros de pleno
democratização. Partidos novos, livres e direito).
democráticos foram criados na Polónia, Chile: Ao contrário de outros países sul-
Bulgária, República Checa, Alemanha americanos, o Chile tem uma história
de Leste, Hungria, Roménia, Eslováquia com mais de 150 anos como uma repú-
e em várias ex-Repúblicas Soviéticas e blica constitucional com governos demo-
uma transição pacífica e democrática craticamente eleitos. O restabelecimento
começou a mudar os seus cenários po- da democracia no Chile, em 1990, após
N. DIREITO À DEMOCRACIA 455

17 anos de governo militar sob o coman- que não são completamente democráticos,
do do General Augusto Pinochet, deu nem completamente autocráticos) é razão
um novo ímpeto ao diálogo democrático para preocupação.
e à cooperação regional e internacional. (Fonte: Human Security Report Project.
Hoje, a República do Chile está a consoli- 2011. Human Security Report 2009/2010:
dar a sua democracia e a promover, ativa- The Causes of Peace and the Shrinking
mente, os direitos humanos e a segurança Costs of War.)
humana na região.
Egito: Em meados de fevereiro de 2011, Participação Política das Mulheres
depois de mais de duas semanas de pro- A participação de mulheres na vida política
testos, o Presidente Hosni Mubarak acei- é ainda altamente desproporcional em rela-
tou retirar-se, pondo termo a três déca- ção à dos homens, apesar de as mulheres
das de governação com punho de ferro. constituirem mais de metade da popula-
O poder foi provisoriamente atribuído ao ção mundial. Este desequilíbrio evidente
Conselho Supremo das Forças Armadas, aponta para certos défices em matéria de
que se espera que governe durante seis género, em algumas instituições nacionais,
meses até poderem ser organizadas elei- de um modo geral, consideradas democrá-
ções democráticas. O gabinete anterior, ticas. De forma a corrigir esta situação, as
incluindo o anterior Primeiro Ministro, quotas são frequentemente utilizadas como
continua a servir como um governo de uma ferramenta para melhorar a participa-
gestão até ser formado um novo gover- ção das mulheres na vida política, particu-
no. Estando a Constituição anterior a ser larmente, nos parlamentos nacionais.
revista, o Egito está agora a iniciar a sua
forma própria de governação democrá- Questão para debate:
tica. • Consegue pensar em quaisquer outros
incentivos e ferramentas para estreitar
2. TENDÊNCIAS as diferenças de representação masculi-
na e feminina na vida política?
Aumento de Democracias
De acordo com o Relatório de Segurança
Mulheres no Parlamento
Humana de 2010, o declínio gradual, de-
pois da Segunda Guerra Mundial, no nú- • O número de Estados soberanos que
mero de guerras e conflitos civis coincide têm um parlamento aumentou sete
com o aumento constante do número de vezes desde 1945.
democracias. Em 1946, 28% dos governos
mundiais era democrático. Em 2008, esta • A percentagem de mulheres que são
percentagem tinha mais do que duplicado. Membros do Parlamento aumentou
Isto parece confirmar a chamada tese da globalmente mais de 40% nos últimos
“paz democrática”, de acordo com a qual 10 anos.
as democracias liberais dificilmente en-
• Se o atual incremento dos índices
tram em guerra entre si e existe também
continuar, não será antes de 2040 que
um risco menor de guerra civil. No entan-
existirá paridade de género em todos
to, o aumento do número de “anocracias”
os parlamentos.
ou “democracias não liberais” (regimes
456 II. MÓDULOS SOBRE QUESTÕES SELECIONADAS DE DIREITOS HUMANOS

• O número de parlamentos com menos Noruega, Finlândia, Dinamarca e Is-


de 10% de membros femininos tem lândia. Em contraste, as mulheres es-
diminuído significativamente de 63%, tão pouco representadas nos Estados
em 1995, para 37%, hoje em dia. árabes, onde a média regional nas câ-
• A Suécia tem a mais alta represen- maras baixas (lower houses) é inferior
tação de mulheres, com 45.3% do a 10%.
parlamento constituído por mulheres (Fonte: União Interparlamentar. 2006.
(em outubro de 2005), seguida pela Women in politics: 60 years in retrospect.)

Participação política das mulheres


Ano em Mulheres
Ano em Ano em Lugares
que as no Gover- Lugares
que as que as no Parla-
primeiras no ao ní- no Parla-
mulheres mulheres mento –
mulheres vel minis- mento –
obtiveram obtiveram câmara
foram elei- terial (% câmara
o direito o direito a baixa
tas para o do total) alta 2011
ao voto ser eleitas 2011
Parlamento 2009
Alemanha 1918 1918 1919 33.0 32.8 21.7
1902,
Austrália 1902, 1962 1943 24.0 24.7 35.5
1962
Áustria 1918 1918 1919 38.0 27.9 29.5
Burkina
1958 1958 1978 14.0 15.3
Faso
China 1949 1949 1954 9.0 21.3
Cuba 1934 1934 1940 19.0 43.2
Estados
1920, 1965 1788* 1917 24.0 16.8 17.0
Unidos
Geórgia 1918, 1921 1918, 1921 1992 18.0 6.5
Índia 1950 1950 1952 10.0 10.8 10.3
Mali 1956 1956 1959 23.0 10.2
Reino Unido 1918, 1928 1918, 1928 1918 23.0 22.0 20.1
Suécia 1862, 1921 1862, 1921 1921 48.0 45.0
Zimbabué 1919, 1957 1919, 1978 1980 16.0 15.0 24.2
* Não existe informação disponível sobre o ano em que todas as mulheres obtiveram
o direito a ser eleitas. A Constituição não menciona o género quanto a este direito.
(Fonte: PNUD. 2005. Relatório do Desenvolvimento Humano 2005. PNUD. 2009. Relatório
do Desenvolvimento Humano 2009; União Interparlamentar. 2012. Women in National Par-
liaments.)
N. DIREITO À DEMOCRACIA 457

Mulheres no Parlamento 1945 – 2011


Ano 1945 1955 1965 1975 1985 1995 2000 2005 2012
Número de Parla-
26 61 94 115 136 176 177 185
mentos
% de mulheres re-
presentantes (câma- 3.0 7.5 8.1 10.9 12.0 11.6 13.4 16.4 19.9
ra baixa)
% de mulheres re-
presentantes (câma- 2.2 7.7 9.3 10.5 12.7 9.4 10.7 15.0 18.2
ra alta)
(Fonte: União Interparlamentar. 2006. Mulheres na Política: 60 anos em retrospetiva; União Inter-
parlamentar. 2012. Mulheres nos Parlamentos Nacionais)

Direitos Humanos das Mulheres

Democr@cia online
Quando o uso da internet começou a es- Nader. O próprio Nader não teve qualquer
palhar-se em meados dos anos 90, alguns hipótese de ser eleito para presidente e,
observadores viram o amanhecer de um quando questionada depois, a maioria da
mundo em que todos podiam participar população que votou Nader teria preferido
no processo político de tomada de deci- o candidato democrata, Al Gore, em vez do
são fazendo uso da comunicação em linha republicano George Bush; isto conduziu à
(online), um mundo mais perto dos ideais situação bizarra de que em todos os esta-
gregos de democracia do que em qualquer dos indecisos, os eleitores de Nader con-
outra altura. No entanto, na verdade, esses tribuíssem involuntariamente para o au-
sonhos ainda não se tornaram realidade. mento das possibilidades de George Bush.
A disponibilidade de acesso à internet não Para evitar este efeito na votação seguinte,
é um substituto para as estruturas demo- alguns promoveram a ideia digna de nota
cráticas e, por si mesma, não cria consci- de criar sítios de internet baseados num
ência política – mas ainda tem as suas van- programa que permitiria aos cidadãos tro-
tagens. A informação pode ser procurada e car os seus votos. Um eleitor de Nader, de
encontrada globalmente em tempo real e, um dos estados indecisos, poderia trocar o
o que é mais importante, pode ser trocada seu voto com um eleitor de Gore residente
e usada para criar estruturas organizacio- num estado Bush; o eleitor de Nader vota-
nais informais. Tomemos como exemplo as ria, então, em Gore, num estado onde ele
eleições presidenciais americanas em 2000. tivesse a possibilidade real de ganhar, en-
Em alguns estados [os chamados estados quanto o eleitor de Gore votaria em Nader
“indecisos” (swing states)] o resultado da num estado onde o voto Gore não tivesse
eleição estava completamente em aberto. qualquer impacto. Embora possivelmente
O fator crítico era o número de votos para complicada, a ideia da “troca de votos” é
o candidato do Partido dos Verdes, Ralph um bom exemplo para os novos potenciais
458 II. MÓDULOS SOBRE QUESTÕES SELECIONADAS DE DIREITOS HUMANOS

democráticos desbloqueados através da or- oferecer lembranças neo-Nazis nos seus


ganização cívica informal. sítios de leilão – mas a oferta era feita nos
EUA, onde este comportamento não é ile-
Este está longe de ser o único exemplo. gal. Entretanto, a “Yahoo!” declarou a sua
As atividades das ONG por todo o mun- prontidão para monitorizar e proibir tais
do têm aumentado drasticamente graças atividades de forma voluntária.
à comunicação em linha (online) que A democracia é um processo complexo. A
permite estabelecer ligações entre movi- internet pode ser um meio de facilitar a
mentos em todas as partes do mundo. As comunicação mas nunca será um substi-
campanhas podem alcançar mais pessoas tuto da falta de compromisso no mundo
do que alguma vez antes, mobilizando offline.
novas formas de cooperação sobre te-
mas específicos além fronteiras. Os regi- Liberdade de Expressão e Liber-
mes totalitários têm meios limitados para dade dos Meios de Informação.
proibir a troca de ideias “revolucionárias”
online. Os indivíduos podem expressar Globalização e Democracia
a sua opinião mais facilmente e tornam- Tradicionalmente, a participação política
na globalmente disponível, encontrando, tem a sua linha de demarcação nas fron-
deste modo, apoio de pessoas com ideias teiras nacionais e as decisões que afetam a
semelhantes. vida das pessoas são tomadas em relação a
Existem novos potenciais para a demo- territórios específicos. Na era da globaliza-
cracia mas existem novos riscos. Presen- ção, muitas decisões e os seus resultados
temente, aproximadamente 1.3 biliões estendem-se para além das fronteiras na-
de pessoas por todo o mundo estão fa- cionais. Além disso, novos atores globais
miliarizadas com o uso da internet; qua- como as companhias multinacionais e as
se 5 biliões não o estão, ou não o estão organizações internacionais são responsá-
adequadamente. A chamada exclusão veis pelas extensas mudanças socioeconó-
digital entre países desenvolvidos e em micas no nosso mundo.
desenvolvimento (assim como entre áre- A ameaça à democracia, neste mundo glo-
as urbanas e rurais dentro dos países de- balizado, onde a tomada de decisão está
senvolvidos) tem um impacto sério no muitas vezes nas mãos de forças econó-
potencial democrático da internet – se a micas transnacionais ou de poderosas
maioria da população é informaticamen- instituições não democráticas, tem como
te analfabeta, não pode participar tão fa- resposta um dos maiores movimentos so-
cilmente ou não pode de facto participar ciais internacionais nos nossos dias – o
nas atividades online. movimento antiglobalização. Os apoian-
Os desafios democráticos não são apenas tes da antiglobalização defendem uma va-
sobre como garantir acesso mas também riedade de causas incluindo a proteção do
sobre conteúdos. Por exemplo, o altamen- ambiente, o perdão da dívida, os direitos
te racista Ku-Klux-Klan dos EUA afirma dos animais, a proteção das crianças, o an-
que desde que tem uma presença online, ticapitalismo, a paz e os direitos humanos.
o número dos seus membros tem aumen- O que eles têm em comum é o sentimento
tado consideravelmente. Em França, o por- de que ao mundo globalizado falta espaço
tal da internet “Yahoo!” foi processado por democrático.
N. DIREITO À DEMOCRACIA 459

O modo principal de fazer campanha do relações económicas internacionais e a


movimento são as manifestações em mas- participação da sociedade civil nas insti-
sa. O movimento chamou a atenção dos tuições internacionais. O movimento cha-
meios de informação internacionais pela ma a atenção para o constante perigo do
primeira vez, em 1999, quando 100 000 liberalismo económico minar as suas pró-
protestantes marcharam na cerimónia de prias bases de direitos humanos, despre-
abertura do terceiro encontro de gover- zando a importância dos direitos económi-
nos da Organização Mundial do Comércio cos, sociais e culturais.
(OMC), em Seattle. Depois disso, outros Apesar de a mudança do cenário onde a
protestos semelhantes têm ocorrido em tomada de decisões ao nível internacional
encontros do Banco Mundial e do Fun- tem lugar ser um processo complicado e
do Monetário Internacional (FMI), em a longo prazo, os atores globais cada vez
Washington D.C., do Fórum Económico mais têm de prestar contas sobre o que es-
Mundial, em Davos (Suíça), e também em tão a fazer devido ao aumento da atenção
cimeiras da União Europeia e do G8, em pública e são forçados a pensar sobre no-
diversas cidades. vas formas de representação democrática,
Apesar de a maioria dos protestos não ser transparência e responsabilização.
violenta, existe um grupo de protestantes
radicais que fazem um uso indevido de Direito a Não Viver na Pobreza
tais manifestações para ativamente incita- Direito ao Trabalho
rem à violência. Eles desviam a atenção
da agenda do movimento ao fazer recair “A minha noção de democracia é que, sob
sobre si mesmos a atenção dos meios de esta, os mais fracos devem ter a mesma
informação, o que muitos pensam ser la- oportunidade dos mais fortes.”
mentável. Por essa razão, em fevereiro de Mahatma Ghandi. 1948.
2001, os ativistas organizaram o primeiro
encontro do Fórum Social Mundial, em Défices Democráticos em Organizações
Porto Alegre, no Brasil, como uma alterna- Internacionais, em Empresas Multina-
tiva às explosivas manifestações em mas- cionais e em Organizações Não Governa-
sa. O Fórum, que desde então se tornou mentais
num evento anual, define-se como um “es- O papel dos Estados a nível nacional, re-
paço e processo abertos – plurais, diversos, gional e global está a mudar. As organiza-
não governamentais e apartidários – que ções internacionais, empresas multinacio-
estimulam o debate descentralizado, a re- nais e organizações não governamentais
flexão, a definição de propostas, a troca de entraram em cena como atores importan-
experiências e de alianças entre os movi- tes na política. As suas decisões e agendas
mentos e organizações envolvidas em ações afetam as políticas dos Estados e a vida de
concretas, no sentido de um mundo mais milhões de pessoas. Assim, uma das ques-
solidário, democrático e justo”. tões chave que necessita de ser respondida
Ao exercer o seu direito de reunião, os ci- é: quão democráticos/não democráticos
dadãos preocupados e organizações não- são estes atores não estatais? Encontrar
governamentais com perfis diversos lança- uma resposta para esta questão significa
ram um debate público sobre governação explorar práticas e políticas, assim como
democrática global, a “humanização” das o processo de tomada de decisão, de todas
460 II. MÓDULOS SOBRE QUESTÕES SELECIONADAS DE DIREITOS HUMANOS

as organizações internacionais, empresas plos incluem: a reforma do Conselho de


multinacionais e ONG e analisar se os Segurança das Nações Unidas; a criação
princípios fundamentais da democracia – de uma Assembleia Global do Povo e um
prestação de contas, legitimidade, partici- sistema de tomada de decisão mais demo-
pação, representação e transparência – são crático e transparente para a OMC, o FMI e
respeitados. o Banco Mundial; e introduzir Códigos de
As propostas para democratizar estes ato- Conduta e Códigos de Ética para as ONG e
res são largamente discutidas. Os exem- as empresas multinacionais.

ATIVIDADES SELECIONADAS
Parte III: Informação Específica sobre a
ATIVIDADE I: Atividade
SIM, NÃO OU ALGURES NO MEIO? Instruções:
Explicar que vai ler em voz alta uma afir-
Parte I: Introdução mação com a qual os participantes podem
Nesta atividade, os participantes poderão concordar, em maior ou menor medida.
aprender quantas opiniões diferentes, jus- Dizer aos participantes para se colocarem
tificadas e aceitáveis podem existir numa ao longo da parede entre os dois sinais, de
democracia. acordo com a medida em que concordam
ou discordam. Ler a primeira afirmação da
Parte II: Informação Geral lista indicada abaixo, em voz alta para o
Tipo de atividade: posicionamento socio- grupo. Quando as pessoas se tiverem po-
métrico sicionado, pedir-lhes para refletir sobre a
Metas e objetivos: aceitar opiniões dife- sua posição em relação à posição dos seus
rentes, desenvolver tolerância e respeito colegas e convidá-los a explicar por que
Grupo - alvo: jovens adultos e adultos estão na posição escolhida. Os participan-
Dimensão do grupo: qualquer uma tes podem mudar a sua posição quando
Duração: 60 minutos convencidos pelos argumentos dos outros
Materiais: papel e canetas de cor para pre- mas os debates intensos devem ser man-
parar os sinais, fita adesiva, papel e caneta tidos até à sessão final dos comentários.
para tomar notas Repetir o mesmo procedimento para as ou-
Preparação: fazer dois sinais, “Concordo” tras afirmações da lista.
e “Discordo” e colá-los quer no final de Reações:
uma longa parede, quer no chão. Colocar Juntar o grupo de novo em plenário para a
duas cadeiras no centro da sala, deixando sessão final de comentários. Pedir aos par-
espaço à volta delas de modo a permitir ticipantes para falarem sobre as suas emo-
que as pessoas se possam mover. ções durante a atividade, especialmente,
Competências envolvidas: comunicação, quando tomaram posições extremas ou
cooperação, exprimir pontos de vista dife- quando mudaram de posição. Depois, re-
rentes sobre um assunto, respeitar outras fletir sobre as razões para se considerar
opiniões. uma sociedade pluralista como um gran-
N. DIREITO À DEMOCRACIA 461

de valor. Como gerir opiniões diferentes? • Nós devemos obedecer a todas as leis,
Temos de aceitar opiniões dissidentes? Por até mesmo as injustas.
que é que as pessoas têm opiniões diferen- • As únicas pessoas que têm algum poder
tes? Isto é aceitável ou deve ser feito algo numa democracia são os políticos.
sobre isto numa sociedade democrática? • As pessoas têm os líderes que merecem.
Devem ser toleradas todas as opiniões em • “Numa democracia todos têm o direito
democracia? Quais as opiniões que podem de ser representados, até mesmo os idio-
ser consideradas extremistas? tas.” (Chris Patten, Estadista Britânico e
Sugestões metodológicas: Governador de Hong Kong)
Poder-se-á levantar a questão de saber se • 51% da nação pode estabelecer um regi-
o pluralismo ou a liberdade de expressão me totalitário, suprimir minorias e ain-
devem ser sujeitos a limitações, numa so- da continuar democrático.
ciedade democrática. Devem, por exem- • “O trabalho do cidadão é manter a sua
plo, ser permitidas as manifestações ra- boca aberta.” (Günter Grass, escritor,
cistas ou nacionalistas? Onde e como é laureado com o Prémio Nobel)
que uma democracia tem de estabelecer • “O melhor argumento contra a democra-
o limite entre o aceitável e o inaceitável? cia é uma conversa de 5 minutos com
Neste contexto, poder-se-á debater a no- um eleitor médio.” (Winston Churchill,
ção de “tolerância” e como as pessoas a Estadista Britânico e autor)
compreendem. Nota: pode encontrar outras afirmações
relacionadas com qualquer outro direito
Parte IV: Acompanhamento humano. As afirmações devem ser formu-
Selecionar imagens de jornais e revistas ladas de tal forma que provoquem a mani-
que mostram questões controvérsias que festação de diferentes opiniões.
ilustram o debate presente. Tentar cobrir Direitos relacionados/outras áreas a ex-
assuntos tais como discriminação contra plorar:
certos grupos (crianças, mulheres, imi- Liberdade de expressão e liberdade dos
grantes, grupos religiosos, pessoas porta- meios de informação.
doras de deficiência, etc.), poluição, de- (Fonte: adaptado a partir de: Conselho de
semprego, pobreza, opressão pelo Estado Europa. 2002. Compass – A Manual on
e violações dos direitos humanos em geral. Human Rights Education with Young Pe-
Recortar as imagens e mostrá-las aos par- ople; Susanne Ulrich. 2000. Achtung (+)
ticipantes. Deixar cada um deles escolher Toleranz- Wege demokratischer Konfliktlö-
uma imagem que ainda consiga tolerar e sung.)
uma que já não consiga tolerar. Os parti-
cipantes devem dar razões para a escolha ATIVIDADE II:
dessas imagens concretas, sem iniciar um UM MINARETE
debate. A opinião de cada participante tem NA NOSSA COMUNIDADE?
de ser respeitada.
Parte I: Introdução
Afirmações que podem ser usadas para Esta atividade simula uma assembleia
o debate: aberta ao público na sua comunidade ou
• Nós temos uma obrigação moral de numa pequena vila fictícia. Neste cená-
usar o nosso voto em eleições. rio, diversos interesses e preocupações de
462 II. MÓDULOS SOBRE QUESTÕES SELECIONADAS DE DIREITOS HUMANOS

diferentes movimentos políticos e sociais • Membros do conselho da cidade (3-5


divergem relativamente a um chamado pessoas) representando diferentes par-
“tema quente”. A imprensa está a assistir e tidos;
a documentar o encontro. • Membros de um grupo de trabalho “Por
um só mundo - contra a Xenofobia” (3-6
Parte II: Informação Geral pessoas);
Tipo de atividade: um jogo de simulação • Membros do comité de ação dos cida-
Metas e objetivos: experienciar processos dãos “Bem-vindo à nossa adorável co-
numa comunidade; identificar e entender munidade!” (3-5 pessoas);
contextos e mecanismos políticos; elaborar • Membros da comunidade islâmica (3-5
e apresentar diferentes pontos de vista; iden- pessoas);
tificar os limites do comportamento demo- • Meios de informação: jornalistas de dois
crático e respeitoso; fomentar simpatia entre jornais locais com abordagens políticas
todos os lados que são parte do conflito. opostas (1-2 pessoas cada);
Grupo-alvo: jovens adultos e adultos • Cidadãos que vão tomar parte na as-
Dimensão do grupo: 15 a 30 participantes sembleia (se houver participantes sufi-
Duração: 120 a 180 minutos cientes).
Preparação: folhas de papel para as eti- Note-se que quanto melhor for a descrição
quetas dos nomes, um quadro e papel, das diferentes personagens, mais efetiva
campainha e relógio para o presidente da será a simulação. Se desejar, pode escrever
câmara da comunidade algumas características das diferentes pes-
Competências envolvidas: comunicação, soas no quadro. Procurar estabelecer um
cooperação, expressar diferentes pontos conjunto de papéis que consistam numa
de vista sobre a questão, respeitar outras variedade de personagens contrastantes
opiniões. de modo a estimular um melhor debate.
Agora esboçar um horário: antes de come-
Parte III: Informação Específica sobre a çar a decorrer a simulação, os participan-
Atividade tes irão desenvolver a sua personalidade e
Instruções: começar por apresentar a ati- irão escrevê-la através do recurso a pala-
vidade explicando a situação fictícia de vras-chave (cerca de 15 minutos). Todos
que o grupo será parte. A pretendida cons- os participantes têm de ser fiéis aos papéis
trução de um minarete está a mexer com a que lhes foram atribuídos e abandonar as
comunidade. À última hora, é convocado suas próprias posições.
um conselho comunitário aberto para de-
cidir sobre uma reivindicação da comuni- Simulação:
dade islâmica para construir um minarete Fase 1: Preparação (20 minutos)
em toda a sua altura, que seria superior à Pedir aos participantes para se juntarem
do campanário da igreja. aos grupos que eles escolheram. Se pos-
Listar no quadro os diferentes papéis que sível, eles devem poder sair da sala e ter
vai dar aos participantes. As seguintes espaço suficiente para estarem sozinhos.
pessoas podem participar num conselho As personagens devem conhecer-se umas
aberto: às outras, decidir e preparar a sua estra-
• O presidente da câmara da comunidade tégia para o conselho aberto. A imprensa
para presidir à assembleia; começa a editar os seus jornais e faz as
N. DIREITO À DEMOCRACIA 463

primeiras entrevistas. Durante esta fase, Para analisar a simulação, em comparação


preparar a sala de aulas para a reunião: com um conselho aberto na vida real, per-
os grupos devem ser colocados em 4 me- guntar:
sas diferentes. As etiquetas dos nomes • Foi fácil ou difícil identificar-se com o
são colocadas em cima de cada mesa. seu papel?
O presidente da câmara deve sentar-se • Será que esta simulação foi próxima a
numa posição elevada e tem uma campai- uma situação da vida real?
nha e um relógio na sua mesa. Explicar Sugestões Metodológicas:
as regras procedimentais separadamente Se possível, deve fazer-se esta ativida-
durante a reunião à pessoa que represen- de em conjunto com outro formador de
ta o presidente. modo a ser capaz de responder a pergun-
Fase 2: Abertura da reunião do Conselho tas e coordenar cada passo da atividade
(45 minutos) ao mesmo tempo. Quando atribuir os
O presidente da câmara preside à assem- papéis, notar que o papel do presidente
bleia e abre a reunião com um pequeno da câmara é bastante exigente uma vez
discurso para introduzir o assunto e dar as que estrutura o decorrer da simulação.
boas-vindas aos participantes. A sua prin- Deve-se, portanto, analisar a tarefa com
cipal tarefa é moderar a reunião. Os gru- o participante que desempenha o papel
pos são sucessivamente chamados a dar do presidente antes da simulação. Notar
as suas opiniões e objetivos. Os perfis pre- que é o formador quem conduz a ativida-
parados relativos aos seus papéis devem de e que pode ser necessário intervir no
servir de guia. Depois, o presidente cha- decorrer da simulação se os participantes
ma à votação para decidir se a permissão começarem a desrespeitar-se uns aos ou-
deve ser dada à comunidade islâmica para tros. Além disso, interromper a simulação
a construção do grande minarete. se a situação ficar descontrolada (inven-
Fase 3: Reações (45 minutos) ção de novos factos, mudança de tópico).
Reunir os participantes num círculo que Se o conselho aberto não chegar a um
permita o debate e começar a ronda de acordo, lembrar que isso pode refletir um
respostas, saudando todos pelos seus resultado na vida real e não significa que
nomes verdadeiros. Isto é particularmen- a atividade falhou.
te importante, para que os participantes Outras sugestões:
possam abandonar os papéis e voltem a Dependendo do contexto da comunidade,
comportar-se como eles mesmos. pode e deve mudar-se o tópico para “Uma
Ao nível pessoal, questionar os partici- igreja na nossa comunidade” ou um “Tem-
pantes: plo budista na nossa comunidade”, em
• O resultado da simulação reflete o obje- vez de um minarete.
tivo do seu papel?
• Que influência teve (no seu papel) so- Parte IV: Acompanhamento
bre o resultado? Se for possível, as pessoas que represen-
• A interação com os outros levou a mu- tam o papel da imprensa na simulação po-
danças na sua estratégia? dem gravar ou filmar a reunião do conse-
Tentar evitar que os participantes conti- lho aberto e usar esta documentação como
nuem a simulação e tentar que os mesmos a base para a análise do debate e das suas
se concentrem na reflexão. regras, no dia seguinte.
464 II. MÓDULOS SOBRE QUESTÕES SELECIONADAS DE DIREITOS HUMANOS

Numa abordagem ao tópico da democracia Direitos relacionados/outras áreas a ex-


local em diferentes contextos, os partici- plorar:
pantes podem olhar à sua volta, encontrar Não discriminação, liberdades religiosas,
casos reais e documentá-los. Os seus re- liberdade de expressão e liberdade dos
sultados podem ser colocados num placar meios de informação.
ou numa pequena exposição. (Fonte: Adaptada de Susanne Ulrich. 2000.
Achtung (+) Toleranz – Wege demokrati-
sher Konfliktlösung.)

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O. DIREITOS DAS MINORIAS

DIREITOS DAS MINORIAS E DOS POVOS INDÍGENAS


DIREITOS INDIVIDUAIS E COLETIVOS
NÃO DISCRIMINAÇÃO E AÇÃO AFIRMATIVA
AUTONOMIA E INTEGRAÇÃO
DIVERSIDADE ÉTNICA E PLURALISMO

“Nos Estados em que existam minorias étnicas, religiosas ou linguísticas, as pessoas per-
tencentes a essas minorias não devem ser privadas do direito de ter, em comum com os
outros membros do seu grupo, a sua própria vida cultural, de professar e de praticar a sua
própria religião ou de utilizar a sua própria língua.”
Artº 27º do Pacto Internacional sobre os Direitos Civis e Políticos. 1966.
468 II. MÓDULOS SOBRE QUESTÕES SELECIONADAS DE DIREITOS HUMANOS

HISTÓRIA ILUSTRATIVA
O caso de D.H. e outros c. República Checa considerou existir um padrão de discrimi-
nação por todo o país e, pela primeira vez,
Em 2000, no caso de D.H. e outros c. Repú- reconheceu explicitamente, pelo nome, o
blica Checa, dezoito alunos da comunidade conceito de discriminação indireta. O Tribu-
Roma, colocados em escolas especiais para nal também considerou os dados estatísticos
crianças com deficiências mentais e físicas, disponibilizados pelo Comité Consultivo, ou
na cidade de Ostrava, na República Checa, seja, o órgão de monitorização no âmbito
levaram o seu caso ao Tribunal Europeu da Convenção Quadro para a Proteção das
dos Direitos Humanos (TEDH). Os alunos Minorias Nacionais do Conselho da Europa,
foram representados tanto por advogados que revelaram que aproximadamente 70%
locais, como por advogados do European de todas as crianças Roma, na República
Roma Rights Centre – ERRC (Centro Euro- Checa, tinham aprendido em escolas para
peu para os Direitos dos Roma), tendo estes crianças com deficiências mentais e físicas.
defendido que as crianças foram colocadas O governo Checo não pôde contestar estes
em escolas especiais sem justificação obje- argumentos. Assim, o TEDH considerou que
tiva, a não ser a sua pertença étnica à mi- tinha sido violado o normativo da Conven-
noria da comunidade Roma. ção Europeia dos Direitos Humanos.
Na cidade de Ostrava e por toda a Repúbli- (Fontes: Tribunal Europeu de Direitos Hu-
ca Checa, a colocação de crianças Roma em manos. 2007. D.H. and Others v. the Czech
escolas especiais para crianças com defici- Republic, No. 57325/00 of 13 November
ências mentais e físicas era particularmen- 2007 (grand chamber); Jennifer Devroye.
te elevada. A probabilidade de uma criança 2009. The Case of D.H. and Others v. the
Roma ser colocada numa escola especial Czech Republic. JIHR vol. 7/1.)
para crianças com deficiências mentais e fí-
sicas era 27 vezes maior do que no caso de Questões para debate
crianças não Roma. Deste modo, foi pedido 1. Quais foram os direitos humanos vio-
ao TEDH que aferisse se a colocação eleva- lados?
da, desproporcional de alunos Roma em “es- 2. Por que é que o TEDH considerou que as
colas especiais” constituía uma violação da disposições da Convenção Europeia dos
Convenção Europeia dos Direitos Humanos. Direitos Humanos tinham sido violadas?
A Grande Câmara do TEDH proferiu a sen- 3. Em que aspetos é que os alunos da co-
tença final em 2007 – uma decisão de refe- munidade Roma foram discriminados?
rência em que o Tribunal considerou que 4. Por que é que a sentença é importante
a concentração especialmente elevada de para os direitos das minorias em geral?
alunos Roma em escolas para crianças com
Direito à Educação
deficiências mentais e físicas violava o direi-
Não Discriminação
to à educação, assim como a proibição da
discriminação (nos termos do artº 2º do
“Um país deve ser julgado pela forma como
Protocolo nº 1 e do artº 14º da Convenção
trata as suas minorias.”
Europeia dos Direitos Humanos). A senten-
Mahatma Gandhi.
ça é de importância capital, já que o TEDH
O. DIREITOS DAS MINORIAS 469

A SABER
1. A LUTA PELA PROTEÇÃO DOS DIREI- emitiram declarações para a proteção das
TOS DAS MINORIAS: DESENVOLVI- suas minorias. Estes tratados estabelece-
MENTO HISTÓRICO ram o direito a usar a língua da mino-
ria na vida privada e pública, contendo
Podemos facilmente ficar com a impressão também cláusulas de não discriminação.
de que os assuntos de direitos humanos Porém, não existia um quadro específico
relacionados com as minorias constituem de direitos humanos e a ideia de direitos
descobertas recentes e de que são sobre- de grupo era contestada.
tudo uma preocupação nas políticas euro- Assim, depois da Segunda Guerra Mun-
peias. No entanto, um olhar mais atento dial a proteção das minorias foi substituí-
sobre a história do direito internacional da por instrumentos que protegiam os di-
revela um quadro diferente. No início, os reitos humanos individuais e liberdades,
assuntos das minorias estavam proxima- baseados nos princípios da não discri-
mente ligados às liberdades religiosas. O minação e igualdade. A Segunda Guer-
Tratado de Vestefália, de 1648, concedeu ra Mundial marcou o fim dos regimes de
direitos a determinadas – certamente não minorias na Europa Central, suplantados
a todas – minorias religiosas. As liberda- pela ideologia comunista da unidade dos
des na educação de grupos religiosos esta- trabalhadores. As minorias foram pressio-
vam ligadas a direitos religiosos acordados nadas a adaptarem-se à cultura do regime
pelas partes do Tratado. No século XVII, a ideológico dos Estados comunistas. De-
“proteção de minorias” tinha uma relevân- pois dos eventos de 1989 e da consequente
cia especial para as minorias religiosas ao dissolução do Império Soviético, a afilia-
passo que, posteriormente, a atenção mu- ção ou atribuição nacional e étnica come-
dou para as minorias étnicas ou nacionais. çou a desempenhar um papel importante.
O final da Primeira Guerra Mundial, em A identidade nacional e o sentimento de
1918, conduziu à dissolução do Império pertença a um grupo étnico ou nação tor-
Otomano e do Império Habsburgo multi- nou-se, em determinados casos, o veículo
nacional. Na Europa Central, emergiu o para a criação de novos Estados ou para a
princípio da autodeterminação nacional reclamação da independência nacional. A
e foram criadas novas leis para as mino- proteção das minorias e o reconhecimen-
rias. Além disso, celebraram-se tratados to dos seus direitos reemergiu, assim, na
de paz bilaterais e multilaterais, tam- agenda política. A proteção dos direitos
bém com disposições específicas para a das minorias tornou-se uma das condições
proteção das minorias. Depois da Primeira para a obtenção da qualidade de membro
Guerra Mundial, a Sociedade das Nações do Conselho da Europa. A União Europeia
foi incumbida de monitorizar os níveis de exigiu a proteção das minorias como con-
proteção concedidos a grupos minoritá- dição para o estabelecimento de relações
rios. Também alguns Estados, tais como a diplomáticas entre a União e os novos Es-
Finlândia ou a Estónia, em 1921 e 1923, tados.
470 II. MÓDULOS SOBRE QUESTÕES SELECIONADAS DE DIREITOS HUMANOS

No final do século XX, diversos instrumen- tais de pessoas pertencentes a minorias


tos internacionais ambiciosos sublinharam étnicas, linguísticas ou religiosas e alguns
a importância dos assuntos das minorias Estados não reconhecem sequer a existên-
para a agenda dos direitos humanos. O cia de minorias no seu território. Contudo,
ponto central foi principalmente, a prote- existem inúmeros casos na história que
ção dos interesses das minorias através do demonstram que a opressão e discrimina-
primado do Direito. Diversos documentos ção das minorias ou a negligência das suas
sublinham a importância do pluralismo necessidades legítimas pode conduzir a
(jurídico), tais como os documentos da tensões e conflitos graves, entre a maioria
OSCE, a Carta Europeia das Línguas Re- da população e minorias ou entre vários
gionais e Minoritárias (CELRM) ou a Con- grupos minoritários. A limpeza étnica, ex-
venção Quadro para a Proteção das Mi- pulsão e genocídio têm sido documentados
norias Nacionais do Conselho da Europa. como consequências de atos discriminató-
A inclusão da proteção dos direitos das mi- rios e opressivos contra as minorias, como
norias na Convenção das Nações Unidas critica o Alto Comissário das Nações Uni-
sobre os Direitos da Criança constitui um das para os Direitos Humanos (ACNUDH).
exemplo do interesse renovado nas ques- Tal como defendido pela Subcomissão das
tões dos direitos humanos. Nações Unidas para a Prevenção da Dis-
criminação e para a Proteção das Mino-
Hoje, os direitos das minorias constituem rias, “os conflitos de grupo frequentemente
uma parte integrante do direito interna- conduzem à propaganda e ao surgimento
cional e encontram-se estabelecidos em de organizações que pretendem justificar a
disposições que visam a proteção e pro- discriminação com base em noções de su-
moção das minorias, das suas culturas e perioridade racial ou na incompatibilida-
tradições. A recente preocupação pelos de de culturas com fundamento em outros
problemas das minorias, tal como a prote- motivos”. Além disso, tal como concluído
ção dos direitos dos Roma, povos indíge- pelo Conselho da Europa, no seu Relatório
nas e outras minorias e povos, demonstra sobre Diversidade e Coesão, determinados
que estas questões estão a ser altamente Estados realizaram e ainda realizam uma
priorizadas. Tal como observa Theodore política de assimilação aberta que conduz,
Orlin: “Esta preocupação parece refletir em última instância, à extinção de mino-
um compromisso emergente para o uso do rias e, por conseguinte, ao empobrecimen-
quadro normativo dos direitos humanos e to cultural.
respetivas políticas com o escopo de corri-
gir os erros impostos às minorias durante Não Discriminação
séculos”. Direitos Humanos da Criança
Como demonstrado no exemplo acima,
sobre as possibilidades educacionais res- 2. DEFINIÇÃO
tritas dos alunos pertencentes à minoria E DESENVOLVIMENTO DA QUESTÃO
Roma, há muito trabalho a ser realizado a
um nível prático de forma a fazer dos di- O Conceito de “Minoria” e a Noção de
reitos das minorias uma realidade para os “Direitos das Minorias”
membros destes grupos. Ainda persistem A questão de saber exatamente o que é
violações graves dos direitos fundamen- uma “minoria” permanece pouco clara.
O. DIREITOS DAS MINORIAS 471

Presentemente, não existe uma definição servar as suas próprias características e de


universalmente aceite de “minoria”. Isto serem aceites como parte daquele grupo.
deve-se sobretudo ao facto de existir uma Os direitos das minorias são normas que
grande variedade de exemplos do que protegem as minorias nacionais nos Esta-
pode ser considerado uma minoria, que dos e constituem direitos adicionais para
nem sempre são comparáveis: algumas determinados grupos. Os direitos específi-
minorias vivem em áreas comunitárias cos garantidos às minorias permitir-lhes-ão
definidas, outras encontram-se espalha- preservar a sua identidade. Os direitos das
das por um país ou mesmo por mais do minorias incluem o direito à educação dos
que um país; algumas têm um sentido alunos na língua da minoria, o direito ao
pronunciado de identidade cultural co- uso da língua da minoria em público e nos
letiva, baseado em eventos históricos, serviços governamentais, o uso de nomes
enquanto outras apenas têm um conhe- e apelidos na língua da minoria, o direito
cimento limitado do seu legado comum; a manter a cultura da minoria, o direito à
algumas têm um elevado grau de autono- participação política, etc.
mia, enquanto outras estão longe de se (Fontes: Francesco Capotorti. 1979. Stu-
governarem a si próprias; algumas têm dy on the Rights of Persons Belonging to
um desejo mais vincado de preservarem e Ethnic, Religious and Linguistic Minori-
desenvolverem a sua cultura e traços ca- ties; United Nations Office of the High
racterísticos, enquanto outras não tanto. Commissioner for Human Rights (UNO-
Por conseguinte, os Estados interpretam o HCHR). 1998. Fact Sheet No.18 (Rev.1,
termo “minoria” por si mesmos e de for- Minority Rights.)
mas diferentes.
Francesco Capotorti, ex-Relator Especial Os Povos Indígenas e os Direitos dos Po-
das Nações Unidas, desenvolveu uma vos Indígenas
definição de “minoria” aceite em termos Os povos indígenas são grupos especiais
gerais, porém, não reconhecida por todos entre as minorias. Tal como no caso das
os Estados: “um grupo numericamente minorias, não existe, no ordenamento jurí-
inferior ao resto da população de um Es- dico moderno dos direitos humanos, uma
tado, em posição não dominante, cujos definição aceite do termo “povos indíge-
membros – sendo nacionais desse Estado – nas”. Em determinados países, preferem-
possuem características étnicas, religiosas se expressões como “povos aborígenes”
ou linguísticas diferentes das do resto da ou “Primeiras Nações”. Dois instrumentos
população e demonstram, pelo menos de internacionais de direitos humanos recen-
maneira implícita, um sentido de solidarie- tes usam o termo “povos indígenas”. O pri-
dade, dirigido à preservação da sua cultu- meiro é a Convenção sobre os Povos In-
ra, das suas tradições, religião ou língua”. dígenas e Tribais da OIT, de 1989, e o se-
O que é comum à maioria dos contextos gundo, a Declaração das Nações Unidas
das minorias é a presença de um grupo sobre os Direitos dos Povos Indígenas.
não dominante de indivíduos que parti- O uso do termo “povos indígenas” nes-
lham determinadas características (na- tes instrumentos pressupõe a existência
cionais, étnicas, religiosas ou linguísticas), de outro grupo étnico dominante, dentro
diferentes das da maioria da população, do território do Estado em questão ou na
e cujos membros têm a vontade de pre- área tradicionalmente habitada pelos po-
472 II. MÓDULOS SOBRE QUESTÕES SELECIONADAS DE DIREITOS HUMANOS

vos indígenas. Noutras palavras, não é


Os Direitos das Minorias e a Segurança
suficiente que os membros de um grupo
Humana
étnico sejam descendentes dos primeiros
habitantes conhecidos do Estado ou área O direito de viver sem medo e o direito de
em questão; tem de existir um outro grupo viver sem privações são os objetivos prin-
étnico presente e de envolver relações de cipais do conceito de segurança humana.
poder, para preencher a definição legal de Esta política coincide com as intenções
“indígenas”. do sistema de direitos humanos, visando
ambas vencer o medo e a privação, nor-
Desafios Concetuais: Direitos Individu- malmente em relação a vulnerabilidades
ais e Coletivos sociais, culturais e outras. É evidente que
Os direitos das minorias são uma parte as minorias estão identificadas ou autoi-
importante do sistema de direitos huma- dentificam-se, como grupos em risco ele-
nos. Os direitos humanos pertencem a vado de sentir medo e privações já que,
todos os seres humanos e preocupam-se, na maior parte dos casos, o seu poder é
em primeira instância, com os direitos dos limitado para fazer cumprir os seus ob-
indivíduos. Porém, este foco no indivíduo jetivos e direitos contra os grupos mais
contrasta com o escopo dos direitos das fortes ou os governos responsáveis.
minorias, ou seja, de grupos identificados Muitas tensões e conflitos locais e regio-
de pessoas cuja proteção pode exigir me- nais são motivados por razões étnicas,
didas especiais e normas para melhorar o culturais ou religiosas. Em muitos casos,
gozo dos direitos dos grupos, de minorias estes conflitos conduzem à perseguição
e de povos indígenas. e ao genocídio. A perseguição das mino-
(Fonte: Kenya National Commission on rias nem sempre resulta de uma política
Human Rights and Centre for Minority governamental formal, embora frequen-
Rights Development (ed.). 2006. Report of temente, as autoridades respetivas tole-
the Round Table Meeting of Experts on Mi- rem ou promovam ofensas cometidas por
norities and Indigenous People in Kenya.) agentes não estatais; por vezes, os gover-
nos são demasiado fracos para protege-
A proteção das minorias e povos indíge- rem as minorias perseguidas. A preven-
nas é um assunto intersetorial já que os ção e o combate destas tensões e confli-
direitos das minorias se referem a diversas tos são medidas políticas importantes no
áreas da vida. Aos membros das minorias âmbito do conceito de segurança humana
pode ser negada a igualdade de tratamen- de “direito de viver sem medo”.
to, por exemplo, no mercado de trabalho,
no sistema educacional (ex. o direito à As minorias são frequentemente expos-
educação na língua materna), na política tas à “privação”, dependente ou inde-
(ex. o direito à participação política efe- pendentemente do medo. Antes de mais,
tiva), na economia (ex. na partilha equi- este é um fenómeno complexo e multi-
tativa da riqueza económica e dos benefí- facetado, com base no acesso deficiente
cios sociais), na esfera administrativa (ex. à saúde, educação e serviços sociais, se
o uso da língua da minoria como língua existentes, conduzindo à desvantagem
oficial perante autoridades administrativas no acesso a um rendimento apropriado;
e judiciais), nos meios de informação, etc. as consequências das alterações climáti-
O. DIREITOS DAS MINORIAS 473

cas ou da exploração ilimitada da terra Autonomia e Autodeterminação


em que se encontram estabelecidas as A ideia de autodeterminação expressa a
minorias podem conduzir a desvanta- convicção de que “deveria ser permitido
gens, privação e marginalização, sendo às pessoas governarem-se a si próprias” e
que todas estas conduzem à pobreza. “determinarem por si mesmas o estatuto
político do território em que vivem”. No
As regiões autónomas constituem um entanto, o que constitui um povo? Além
bom exemplo de como os assuntos acima disso, o reconhecimento da autodetermi-
mencionados têm vindo a ser abordados nação limita a unidade do território e pode
positivamente, tal como identificado pela conduzir ao desmembramento dos Esta-
Assembleia Parlamentar do Conselho da dos. A autodeterminação também foi um
Europa, nas suas Resolução 1334 e Re- veículo para movimentos secessionistas
comendação 1609, sobre as experiências e foi causa de violência em muitos casos,
positivas das regiões autónomas, enquan- quando os Estados existentes tiveram re-
to fontes de inspiração para a resolução lutância em conceder um governo próprio
de conflitos na Europa, em 2003. Neste às minorias. Todavia, a Carta das Nações
sentido, a autonomia ou um governo au- Unidas refere a autodeterminação como
tónomo regional podem ser vistos como um princípio, estabelecendo que um dos
tipos de parceria nacional do poder cen- propósitos da Organização das Nações
tral de um Estado com o poder regional Unidas é o desenvolvimento de relações
eleito democraticamente. Deste ponto de amigáveis entre nações, baseado no prin-
vista, a autonomia ou governo autóno- cípio da autodeterminação dos povos.
mo regional é um método útil de pre- Os artos 2º e 55º da Carta das Nações Uni-
venção de conflitos, em particular, em das referem o “princípio da [...] autode-
regiões onde habitem mais do que um terminação dos povos”. Porém, não é cla-
grupo linguístico ou étnico. ro, segundo o direito internacional, como
(Fonte: Thomas Benedikter. 2006. Minori- os dois conceitos de “povos” e do “prin-
ties in Europe. Legal Instruments of Mino- cípio de autodeterminação” devem ser
rity Protection in Europe - An Overview.) compreendidos. Neste contexto, em 1984,
o Comité dos Direitos Humanos observou
Direito a Não Viver na Pobreza que o direito à autodeterminação é “um
Direito ao Asilo dos mais complexos para se definir, já que
Primado do Direito e Julgamento o abuso daquele direito pode comprometer
Justo a paz internacional e a segurança, ao se
dar aos Estados a impressão de que a sua
“A promoção e proteção dos direitos das integridade territorial foi ameaçada”.
pessoas pertencentes a minorias nacionais De facto, estes conceitos têm de ser tra-
ou étnicas, religiosas e linguísticas contri- tados com muito cuidado, já que podem
buem para a estabilidade política e social sugerir um direito de secessão e, como
dos Estados em que vivem.” tal, serem a causa de conflitos nacionais e
Declaração da Organização das Nações Unidas So- internacionais graves.
bre os Direitos das Pessoas Pertencentes a Mino-
rias Nacionais ou Étnicas, Religiosas e Linguísti- Em 1994, a União Federalista das Minorias
cas. 1992.
Nacionais Europeias (Federalist Union of
474 II. MÓDULOS SOBRE QUESTÕES SELECIONADAS DE DIREITOS HUMANOS

European National Minorities-FUEN) apre- os assuntos que lhes digam respeito, tanto
sentou um projeto para uma convenção quanto possível; porém, explicitamente,
sobre direitos de autonomia de grupos não lhes confere soberania estatal.
étnicos, na Europa. Segundo a FUEN, “Au- (Fontes: Thomas Benedikter. 2006. Minori-
tonomia deverá significar um instrumento ties in Europe. Legal Instruments of Minor-
para a proteção das minorias nacionais e ity Protection in Europe - An Overview.;
étnicas que, sem prejuízo da integridade Jan Klabbers. 2009. Self-Determination.;
do território dos Estados Partes, garanta Gabriel Toggenburg, Günther Rautz. 2010.
o mais elevado grau possível de autode- ABC des Minderheitenschutzes in Europa.)
terminação interna e, em simultâneo, um
correspondente mínimo de dependência Deveres do Governo: os Princípios da
da maioria nacional”. De acordo com Não Discriminação, Integração e Medi-
outro conceito, distinguem-se três tipos das Positivas
de autonomia: 1. a autonomia territo- As pessoas pertencentes a minorias são
rial para as regiões em que uma minoria frequentemente discriminadas porque
constitui a maioria da população local; 2. são vistas como “diferentes”. São trata-
a autonomia cultural para as áreas comu- das, em situações comparáveis, sem que
nitárias tradicionais de uma minoria em motivos o justifiquem, de forma menos
que esta minoria não constitui a maioria favorável do que a maioria da população.
da população; e 3. a autonomia local para Estão frequentemente em desvantagem na
as unidades administrativas singulares (ou vida quotidiana, por exemplo, na área da
seja, em comunidades isoladas) em que a educação, quando procuram trabalho ou
minoria constitui a maioria da população habitação, quando vão a bares ou a res-
local. taurantes, na área da saúde, etc. A discri-
Um outro conceito distingue entre dois ti- minação pode ocorrer nas esferas política,
pos de autonomia, nomeadamente, a au- social, cultural ou económica, afetando
tonomia cultural e territorial. O primeiro aqueles que pertencem às minorias, numa
conceito envolve a proteção e a promoção variedade complexa de possibilidades ne-
de línguas, religiões e costumes de uma gativas.
minoria, normalmente não limitada a um Os Estados estão obrigados a respeitar e
território definido e que pode estar dis- a proteger o princípio da não discrimi-
persa em largas distâncias. A autonomia nação. As disposições proibindo a dis-
cultural permite que essa minoria orga- criminação encontram-se em todos os
nize a sua vida política, elegendo os seus documentos internacionais e numerosos
próprios órgãos para a sua autodetermi- documentos regionais de direitos huma-
nação. A autonomia territorial é uma op- nos, tais como a Convenção Europeia dos
ção preferencial sempre que uma minoria Direitos Humanos, a Carta Social Euro-
viva numa área comunitária relativamente peia, a Convenção Quadro para a Prote-
compacta, já que inclui o direito à autoad- ção das Minorias Nacionais do Conselho
ministração, mas também um mínimo de da Europa, o Documento do Encontro de
competências legislativas num determina- Copenhaga da Conferência sobre a Di-
do território. Este tipo de autonomia con- mensão Humana da OSCE, a Convenção
fere às minorias, num território determina- Americana sobre Direitos Humanos (Or-
do, o direito de, por si mesmas, regularem ganização dos Estados Americanos) e a
O. DIREITOS DAS MINORIAS 475

Carta Africana dos Direitos Humanos e tais como as fundadas no sexo, raça,
dos Povos (Organização de Unidade Afri- cor, língua, religião, opiniões políticas
cana, desde 2002 União Africana). A Car- ou outras, a origem nacional ou social,
ta dos Direitos Fundamentais da União a pertença a uma minoria nacional, a ri-
Europeia também proíbe a discriminação queza, o nascimento ou qualquer outra
com base na “pertença a uma minoria na- situação.”
cional”. De acordo com o Relatório da EU-
MIDIS, de 2009, da Agência dos Direitos Artº 14º da Convenção Europeia dos
Fundamentais da União Europeia, persis- Direitos Humanos
tem na Europa, níveis elevados de dis- “É proibida a discriminação em razão,
criminação e de crimes motivados por designadamente, do sexo, raça, cor ou
racismo. Os resultados são alarmantes já origem étnica ou social, características
que a educação e o emprego são geral- genéticas, língua, religião ou convicções,
mente considerados como as áreas chave opiniões políticas ou outras, pertença a
para a integração e a inclusão social. Um uma minoria nacional, riqueza, nasci-
outro resultado alarmante apontado no mento, deficiência, idade ou orientação
Relatório é um índice baixo de relatos das sexual.”
experiências negativas de discriminação.
Artº 21º da Carta dos Direitos Funda-
O mesmo se aplica às vítimas de ataques
mentais da União Europeia
e de ameaças. Isto deve-se a uma falta de
informação dos grupos vulneráveis sobre
a legislação antidiscriminação. O estudo “Existe a necessidade, em todos os Estados,
também revelou que a maior parte dos de terem um campo de ação comum no
inquiridos não acreditava que a denún- que respeita à igualdade e à não discrimi-
cia ou o registo dos atos de discrimina- nação. Isto implica inevitavelmente algum
ção pudesse conduzir a quaisquer conse- grau de integração. [...] A integração deve
quências positivas. ser desenvolvida com base na igualdade,
com todos os grupos a contribuírem com os
Não Discriminação seus valores e culturas para a definição do
campo de ação comum, no qual todos os
“Todos os seres humanos podem invocar membros irão interagir”, tal como referido
os direitos e as liberdades proclamados pelas Nações Unidas, em 1993. O concei-
na presente Declaração, sem distinção al- to de integração enquanto diretriz política
guma, nomeadamente de raça, de cor, de de imigração foi desenvolvido enquanto
sexo, de língua, de religião, de opinião opção alternativa, tanto à assimilação,
política ou outra, de origem nacional ou como à segregação. A assimilação pode
social, de fortuna, de nascimento ou de ser definida como um processo unilateral
qualquer outra situação”. de adaptação ao estilo de vida e sistemas
valorativos da sociedade anfitriã e, conse-
Artº 2º, nº1 da Declaração Universal
quentemente, implica o requisito de que a
dos Direitos Humanos
cultura dominante seja aceite como a su-
“O gozo dos direitos e liberdades reco- perior. As políticas de integração visam a
nhecidos na presente Convenção deve participação e oportunidades iguais para
ser assegurado sem quaisquer distinções, pessoas pertencentes a minorias e para
476 II. MÓDULOS SOBRE QUESTÕES SELECIONADAS DE DIREITOS HUMANOS

imigrantes. Partindo desta perspetiva, é vi- posição foi adotada pelo Alto Comissa-
tal promover todas as áreas de integração riado das Nações Unidas para os Direitos
social, incluindo o mercado de trabalho, a Humanos: “As diferenças no tratamento
educação, a vertente cultural, assim como destes grupos, ou indivíduos a estes per-
a integração jurídica. Outro aspeto central tencentes, justificam-se se forem realiza-
é a participação na vida pública, através das para promover a igualdade efetiva
de determinados direitos e deveres civis. e o bem-estar da comunidade como um
(Fonte: United Nations. 1993. Possible todo. Este tipo de ação afirmativa pode
ways and means of facilitating the peace- ter de ser mantido durante um período
ful and constructive solution of problems de tempo prolongado, de forma a permi-
involving minorities.) tir que os grupos de minorias beneficiem
de um posicionamento equitativo com a
São necessárias ações positivas para maioria.”
compensar as desvantagens históricas
das minorias e proteger e promovê-las Não Discriminação
ativamente, bem como a sua cultura úni-
ca. As pessoas que pertençam às mino- Instrumentos Internacionais
rias têm de ter a oportunidade de contri- de Direitos Humanos
buírem para uma sociedade culturalmen- para a Proteção
te diversa. das Minorias
Muitos instrumentos de direitos huma-
“A proteção das minorias inclui tanto a nos internacionais e regionais estabe-
proteção da discriminação como a proteção lecem direitos especiais para a proteção
contra a assimilação.” de pessoas pertencentes às minorias. A
John Humphries. disposição chave no ordenamento jurídi-
co internacional dos direitos humanos é o
Originalmente, considerava-se que a im- artº 27º do Pacto Internacional sobre Di-
plementação eficaz do princípio da não reitos Civis e Políticos (PIDCP), que refere
discriminação iria tornar as disposições o seguinte: “Nos Estados em que existam
especiais para os direitos das minorias minorias étnicas, religiosas ou linguísticas,
redundantes. Porém, muito rapidamen- as pessoas pertencentes a essas minorias
te se tornou óbvio que a proteção dos não devem ser privadas do direito de ter,
indivíduos contra a discriminação não em comum com os outros membros do seu
era suficiente para proteção e a promo- grupo, a sua própria vida cultural, de pro-
ção eficazes das minorias. São neces- fessar e de praticar a sua própria religião
sárias medidas ativas para proteger e ou de empregar a sua própria língua.”.
promover as minorias. Estes direitos Este artigo constitui a disposição vincula-
“especiais” não são privilégios; de fac- tiva mais amplamente aceite para a pro-
to, pretendem dar aos membros das mi- teção e promoção das minorias. Garante
norias a possibilidade de alcançarem as aos membros das minorias o direito à
mesmas condições de vida que a maio- identidade nacional, étnica, religiosa ou
ria da população. Além disso, os direitos linguística (ou uma combinação destas)
das minorias devem garantir às minorias e o direito a preservar as características
a preservação da sua identidade. Esta que pretendam manter e desenvolver. É
O. DIREITOS DAS MINORIAS 477

importante mencionar que o reconheci- A Declaração das Nações Unidas So-


mento formal de uma minoria por um Es- bre os Direitos das Pessoas Pertencen-
tado não é um requisito para que o Estado tes a Minorias Nacionais ou Étnicas,
esteja obrigado à sua proteção, tal como Religiosas e Linguísticas, adotada pela
clarificado pelo Alto Comissariado das Assembleia-Geral das Nações Unidas,
Nações Unidas para os Direitos Humanos. em 1992, é o único documento autó-
Embora os Estados não tenham de adotar nomo das Nações Unidas que trata dos
medidas específicas, os Estados Partes do direitos especiais das minorias. Nele é
PIDCP têm de garantir que todos os indiví- garantido o direito à identidade cultu-
duos sob a sua jurisdição gozem dos seus ral e religiosa para as pessoas perten-
direitos. centes a minorias, incluindo o direito
Será que esta disposição inclui a proteção à reunião, assim como a participação
dos povos indígenas? Os comentários plena, como um todo, na sociedade. A
gerais e recomendações do Comité de Declaração também exige que os Esta-
Direitos Humanos da ONU clarificam o dos adotem medidas para protegerem e
significado de “povos”, a quem a “pro- promoverem estes direitos, incluindo a
teção das minorias” tem de ser assegu- obrigação de estabelecerem condições
rada, enquanto grupo numericamente in- favoráveis para se conhecer e se exer-
ferior ou enquanto uma minoria “étnica” cer estas culturas, línguas e religiões,
ou “linguística”, nos termos do artº 27º implementarem medidas para o pro-
do PIDCP. Casos como os de Lovelace c. gresso económico e acesso ao sistema
Canadá, Lubicon Lake Band c. Canadá, de segurança social do país e, adicio-
e Kitok c. Suécia ilustram o facto de que nalmente, facilitarem a cooperação
o Comité, tal como no caso dos direitos com outros Estados, no que respeita a
dos Sami, baseia a proteção da cultura estas matérias.
dos povos indígenas, enquanto minorias
ameaçadas pelas culturas maioritárias
dos Estados, no artº 27º do PIDCP. As “Os Estados adotarão as medidas necessá-
decisões do Comité dão ao formador de rias para garantir que as pessoas perten-
direitos humanos uma oportunidade para centes a minorias possam exercer plena e
explicar como o ordenamento jurídico eficazmente todos os seus direitos huma-
dos direitos humanos trata os interesses nos e liberdades fundamentais sem dis-
concorrentes, frequentemente envolvidos criminação alguma e em plena igualdade
nas disputas entre minorias e os Estados perante a Lei.”
Partes que se comprometem às obriga- Artº 4º, nº1 da Declaração Sobre os Direitos das
Pessoas Pertencentes a Minorias Nacionais ou
ções do PIDCP, mas que têm interesses
Étnicas, Religiosas e Linguísticas. 1992.
económicos, administrativos e/ou outros,
que possam estar em conflito com os di-
reitos das minorias.
(Fonte: Theodore Orlin. 2009. Minorities Documentos Regionais
and Human Rights Education. Human de Direitos Humanos
Rights Law as a Paradigm for the Protec- para a Proteção das Minorias
tion and Advancement of Minority Educa- Para além dos documentos internacionais
tion in Europe.) universais acima mencionados, existem
478 II. MÓDULOS SOBRE QUESTÕES SELECIONADAS DE DIREITOS HUMANOS

tratados regionais de direitos humanos e da população Roma na Europa estima-se


outros documentos, tais como: que esteja entre os 7 e os 13 millhões,
• a Convenção Europeia dos Direitos Hu- representando aproximadamente 2% da
manos, população da UE.
• a Carta Social Europeia,
• a Carta dos Direitos Fundamentais da Os membros da comunidade Roma são
União Europeia, uma população relativamente jovem,
• o Documento do Encontro de Copenha- com uma percentagem elevada com me-
ga da Conferência sobre a Dimensão nos de 15 anos. Como resultado deste
Humana da OSCE, perfil demográfico jovem, a comunidade
• a Convenção Americana sobre Direitos Roma representa o futuro para muitos
Humanos, e países da Europa Central e de Leste e,
• a Carta Africana dos Direitos Humanos como tal, o seu potencial, assim como a
e dos Povos, sua cultura, não devem ser negligencia-
todos pretendendo proteger os direitos dos pelos Estados anfitriões.
humanos e contribuir para a proteção das O desafio do desenvolvimento económi-
minorias. Considerando que os conflitos a co e social da comunidade Roma consti-
envolverem as minorias podem ter efeitos tui uma das questões centrais na agen-
negativos nas relações entre Estados, estes da dos países, em particular, da Europa
instrumentos regionais desempenham um Central e de Leste, assim como de outros
papel importante na proteção da paz e es- países da UE e da UE como um todo.
tabilidade internacionais. Eles promovem A pobreza nesta minoria é múltipla, a
a existência e a identidade dos grupos mi- começar no baixo nível de escolaridade,
noritários e têm uma função de estabeleci- habitação inadequada, situação de saúde
mento dos modelos a ser seguidos. deficitária e elevados níveis de desem-
prego. A situação não diverge mesmo
A União Europeia adotou, em 1993, no nos países mais prósperos. A pobreza na
respeitante aos critérios exigidos para a comunidade Roma é muito mais elevada
obtenção da qualidade de Estado-membro do que em qualquer outro grupo e tem
(Critérios de Copenhaga), a inclusão da fundamento em inúmeros fatores acu-
implementação de padrões de respeito dos mulados, relacionados com a sua histó-
direitos de minorias, como requisito para ria, tradição e a sua exclusão social per-
a adesão. Em 2007, o Tratado de Lisboa, manente; os efeitos daí decorrentes são
que alterou o Tratado da União Europeia negativamente manifestados na falta de
e o Tratado que estabelece a Comunida- acesso à educação, serviços públicos, em-
de Europeia, mencionou expressamente a prego, habitação, sistema de saúde, etc. e
proteção das minorias. exigem a implementação de políticas para
parar a discriminação e dependência, am-
A Década da Inclusão da Comunidade bas a perpetuar a pobreza.
Roma: A iniciativa internacional da Década de
A comunidade Roma constitui a maior e Inclusão dos Roma (2005-2015) foi in-
a mais pobre minoria da Europa desde troduzida para acelerar a melhoria da si-
o alargamento da UE, em 2004. O total tuação económica e social dos membros
O. DIREITOS DAS MINORIAS 479

da comunidade Roma. A Década encon- gas” ou “históricas”). Segundo, existem


tra-se intimamente ligada aos Objetivos aqueles que afirmam que a cidadania não
do Desenvolvimento do Milénio e à Polí- é um pré-requisito para a constituição de
tica de Inclusão Social na UE, e centra-se uma minoria (as chamadas “novas mino-
particularmente, na educação, emprego, rias”). Isto constitui uma diferença signifi-
saúde e habitação. Presentemente, doze cativa a um nível prático porque o motivo
países europeus com minorias significa- predominante para o estabelecimento das
tivas de membros da comunidade Roma minorias encontra-se na migração humana
participam na Década, tendo todos de- em larga escala devido a guerras, perse-
senvolvido um Plano de Ação da Década guição, dificuldades económicas e, cada
que inclui: vez mais, também devido às alterações
climáticas. Estes movimentos podem ser
• o estabelecimento de objetivos claros forçados ou voluntários, mas todos podem
e mensuráveis para a melhoria da si- conduzir ao surgimento de, por vezes, nu-
tuação económica e social dos mem- merosas (novas) minorias.
bros da comunidade Roma e a criação
de uma base de dados informativa Ao se ler o Comentário Geral nº 23 sobre
para medir o progresso da realização o artº 27º do PIDCP fica claro que os não
destes objetivos; cidadãos podem constituir minorias: “Os
• a preparação de planos de ação nacio- termos usados no artº 27º indicam que as
nais para realizar estes objetivos; pessoas a serem protegidas são as que per-
• a monitorização regular do progresso tencem a um grupo e que partilham uma
e ajustamento dos planos de ação, de cultura, religião e/ou língua. Aqueles ter-
acordo com necessidades específicas. mos também indicam que os indivíduos a
serem protegidos não têm de ser cidadãos
(Fonte: Mabera Kamberi. 2005. Decade
do Estado Parte. Quanto a esta questão,
of Roma Inclusion 2005-2015.)
as obrigações resultantes do artº 2º, nº1
também são relevantes, já que um Estado
3. PERSPETIVAS Parte tem de assegurar, nos termos daquele
INTERCULTURAIS artigo, que os direitos protegidos segundo
E QUESTÕES CONTROVERSAS o Pacto abranjam todos os indivíduos que
se encontrem nos seus territórios e estejam
As Minorias “Antigas” e “Novas” e o Cri- sujeitos à sua jurisdição, exceto os direitos
tério de Cidadania expressamente dirigidos aos cidadãos, por
Tal como discutido anteriormente, não exemplo, os direitos políticos, nos termos
existe consenso sobre o que constitui uma do artº 25º. Um Estado Parte não pode,
minoria. Podem distinguir-se dois grupos por isso, restringir os direitos, nos termos
de definições. Primeiro, existem aqueles do artº 27º, apenas aos seus cidadãos.” O
que afirmam que as minorias são constitu- comentário à Declaração da Organização
ídas exclusivamente por cidadãos do país das Nações Unidas Sobre os Direitos das
em que residem, com quem têm laços his- Pessoas Pertencentes a Minorias Nacio-
tóricos, estando bem estabelecidos, e nele nais ou Étnicas, Religiosas e Linguísticas,
se encontrem numa situação de minoria adotada, em 2005, pelo Grupo de Trabalho
(as chamadas minorias nacionais “anti- das Nações Unidas sobre Minorias, parte
480 II. MÓDULOS SOBRE QUESTÕES SELECIONADAS DE DIREITOS HUMANOS

expressamente da perspetiva do Comité tóricas não têm, geralmente, uma história


dos Direitos Humanos das Nações Unidas, migratória recente mas formam comunida-
ao referir que: “As pessoas que ainda não des estabelecidas há muito dentro dos Es-
sejam cidadãs do país em que residam po- tados. Podem, por isso, exigir o reconheci-
dem fazer parte ou pertencer às minorias mento da sua língua, a representação po-
desse país.” lítica específica e, no caso de populações
indígenas, direitos de propriedade sobre
Com base nestas considerações, as pesso- a terra. Para os grupos de imigrantes que
as que pertençam a uma minoria não têm, ainda se sintam pertencentes à cultura do
em termos gerais, de ter a cidadania para seu país de origem, os assuntos culturais
o gozo, tanto dos direitos humanos, como e linguísticos são considerados assuntos
dos direitos das minorias. A única grande políticos mais do que direitos concedidos.
exceção refere-se à candidatura a cargos De acordo com o Conselho da Europa, os
políticos e votação nas eleições, pelo me- imigrantes pretendem a participação em
nos ao nível nacional. Vários governos na instituições dominantes e não exigem a
Europa argumentam que apenas os grupos representação política específica, tal como
de cidadãos dentro do Estado podem ser as minorias nacionais, nem exigem terras
considerados como minoria, com referên- no país anfitrião, tal como os povos indí-
cia ao termo “minoria nacional”, ao nível genas podem ter.
regional. Este argumento não é convincen- Os imigrantes e minorias nacionais têm
te, atendendo aos padrões mais alargados muitas características em comum e as po-
das Nações Unidas sobre os direitos das líticas a estes respeitantes frequentemente
minorias que todos os Estados da Europa se referem a matérias similares. As mino-
ratificaram. Existe uma pressão sobre os rias podem ter uma origem migratória e
Estados da Europa e as suas organizações as violações dos direitos das minorias po-
intergovernamentais e constitutivas de dem conduzir à migração forçada. A ques-
modelos, tais como o Conselho da Europa tão surge quanto a saber qual o período
e a OSCE, para reverem as suas posições. de tempo necessário para que um grupo
O Conselho da Europa afirma que, como possa ser considerado como estando his-
resultado da imigração, existe um núme- toricamente ligado ao território onde se
ro considerável de imigrantes com origens estabeleceu, ou seja, quanto tempo tem de
comuns em muitos países europeus. Nal- decorrer antes que uma “nova” minoria
guns países, estes grupos são referidos (alóctone) se possa tornar numa “antiga”
como novas minorias étnicas ou visíveis, minoria (autóctone). Os critérios mais im-
conhecidas comummente como minorias portantes são os elementos de cidadania e
alóctones. De acordo com o Conselho da a pertença a um grupo minoritário que
Europa, as minorias alóctones partilham tenha estado a viver num determinado
com as minorias autóctones e povos indí- território pelo menos há três gerações. A
genas o facto de “se distinguirem da maio- cidadania enquanto elemento constitutivo
ria ou grupos dominantes na sociedade, do conceito de minoria é a base para uma
em termos da origem étnica ou nacional, diferenciação entre as chamadas minorias
cultura, língua, religião ou cor da pele”. “antigas” e “novas”.
Os imigrantes e as minorias têm, na maior (Fontes: Council of Europe (ed.). 2000. Di-
parte, origens distintas. As minorias his- versity and Cohesion. New Challenges for the
O. DIREITOS DAS MINORIAS 481

Integration of Immigrants and Minorities; a emergir, que evidencia a contribuição


Gabriel Toggenburg, Günther Rautz. 2010. dos imigrantes e das minorias para a so-
ABC des Minderheitenschutzes in Europa.) ciedade e que valoriza as pessoas que são
de origens diferentes e têm identidades
“Um desafio fundamental para as socieda- múltiplas e diversas.”
des pluralistas na Europa é o de assegurar O que se descura frequentemente nestes
que as minorias participem em pé de igual- debates é o elemento dinâmico do desen-
dade no exercício do poder. volvimento dos grupos minoritários. Ape-
Se as minorias têm um acesso limitado ou sar de todos os membros do grupo partilha-
são excluídas do exercício do poder, isto vio- rem a sua origem étnica, alguns membros
la os princípios da democracia e os direitos são naturalizados e outros não, alguns são
humanos e cria uma sociedade baseada no imigrantes recentes enquanto alguns nas-
domínio étnico e na subordinação.” cem no país em segunda e terceira gera-
Comissão Europeia contra o Racismo e Intolerân- ção, alguns têm relações próximas com a
cia. 2001. sua sociedade de origem enquanto outros
perderam praticamente todas as ligações.
Demorou algum tempo para que os go-
vernos dos países que se tornaram, na Questões para debate
prática, países de imigração, se aperce- 1. Se os direitos individuais estiverem pro-
bessem da necessidade de integrarem os tegidos, existirá ainda a necessidade
imigrantes nas suas sociedades. O Conse- dos direitos de grupo?
lho da Europa considerou que “têm sido 2. Por que é tão difícil encontrar defini-
implementadas políticas de integração ções (jurídicas) adequadas para o con-
na maior parte destes países e tem-se ob- ceito de minoria?
tido experiência considerável sobre como 3. Quais poderão ser os motivos para se
estas políticas funcionam na prática. tratarem, no ordenamento jurídico in-
Adotaram-se, em todos estes países, meca- ternacional dos direitos humanos, os
nismos semelhantes, incluindo a fixação povos indígenas separadamente das mi-
de direitos de residência, medidas para norias?
facilitar a igualdade de oportunidades de 4. Por que se deve diferenciar minorias
trabalho, habitação, educação e tomada “antigas” de “novas”?
de decisões políticas; naturalização e po- 5. Argumenta-se frequentemente que as
líticas de cidadania; assim como esforços
medidas positivas para a promoção dos
para se combater a discriminação, racis-
membros de uma minoria discriminam
mo e xenofobia. As políticas de integração outras pessoas. É correto? Em que con-
baseiam-se frequentemente em diferentes dições é a “discriminação positiva” ne-
filosofias políticas e tradições de países de
cessária e aceitável? Ou é inaceitável?
imigração mais velhos, com adaptações
regulares para responderem à mudança 4. IMPLEMENTAÇÃO
dentro das sociedades anfitriãs. […] Os E MONITORIZAÇÃO
debates políticos focam frequentemente os
aspetos problemáticos da integração e os Organização das Nações Unidas
mecanismos disponíveis para se remover Existem diversos órgãos estabelecidos nos
as barreiras. Porém, um novo debate está tratados de direitos humanos que monito-
482 II. MÓDULOS SOBRE QUESTÕES SELECIONADAS DE DIREITOS HUMANOS

rizam a implementação dos direitos das to do diálogo, enquanto o mecanismo de


minorias (entre outros), nos termos es- alerta precoce do CEDR visa direcionar a
tabelecidos nesses tratados. Estes órgãos atenção para situações com níveis par-
monitorizam o progresso dos Estados no ticularmente elevados de discriminação
cumprimento das suas obrigações, nomea- racial.
damente se o quadro normativo domésti-
co, assim como a prática administrativa Organização para a Segurança e Coope-
e jurídica, estão em harmonia com essas ração na Europa (OSCE)
obrigações. Os Acordos de Helsínquia e documentos
subsequentes da OSCE, incluindo o Do-
Os comités mais importantes no que res- cumento do Encontro de Copenhaga, de
peita à implementação dos direitos das 1990, a Carta de Paris para uma Nova Eu-
minorias são: ropa, de 1990, e o Documento de Mosco-
vo, de 1991, fizeram da democracia, plu-
• o Comité dos Direitos Humanos ralismo e primado do Direito, princípios
(que monitoriza a implementação do normativos para a Europa. Estes docu-
PIDCP), mentos jurídicos não vinculativos geraram
• o Comité de Direitos Económicos, um consenso governamental dos membros
Sociais e Culturais (que monitoriza a da OSCE para a proteção das minorias. O
implementação do PIDESC), Documento do Encontro de Copenhaga de
• o Comité Internacional sobre a Eli- 1990, considerado frequentemente como
minação da Discriminação Racial uma “Carta Europeia de Minorias”, reflete
(que monitoriza a implementação da nas suas disposições um consenso político
CIEDR) e aparente. No entanto, permanece a pre-
ocupação no que respeita à proteção das
• o Comité dos Direitos da Criança minorias, sendo uma tendência política
(que monitoriza a implementação da emergente para as agendas nacionalistas.
CDC). Por este motivo, os instrumentos da OSCE
continuam a ser relevantes para o relacio-
Também se estabeleceram mecanismos namento entre os Estados-membros desta
de alerta precoce visando a prevenção Organização.
da escalada de tensões que possam ser (Fonte: Theodore Orlin. 2009. Minorities
motivadas por questões, inter alia, étni- and Human Rights Education. Human
cas ou religiosas ou por racismo e que Rights Law as a Paradigm for the Protec-
possam conduzir a conflitos. No que res- tion and Advancement of Minority Educa-
peita aos mecanismos de alerta precoce tion in Europe.)
respeitantes a minorias, é de mencionar o O trabalho do Alto Comissário para as Mi-
Alto Comissário das Nações Unidas para norias Nacionais (ACMN) da OSCE teve
os Direitos Humanos e o Comité das Na- sucesso ao conseguir lidar com alguns
ções Unidas para a Eliminação da Dis- dos muitos conflitos de minorias, ape-
criminação Racial (CEDR). O objetivo do sar de muitos dos problemas ainda não
Alto Comissário é prevenir a continuação estarem resolvidos de forma satisfatória
de abusos de direitos humanos através para as partes conflituantes. O mandato
da mediação, diplomacia e encorajamen- do ACMN baseia-se em três princípios
O. DIREITOS DAS MINORIAS 483

principais que são a imparcialidade, con- ratificaram. O Comité de Peritos examina


fidencialidade e cooperação, e funciona, periodicamente os relatórios dos Esta-
em primeiro lugar, para a prevenção e re- dos. Theodore Orlin avalia muito positi-
solução de tensões e conflitos. A sua fun- vamente o impacto da CELRM, como re-
ção principal é a de estabelecer um “aler- fere: “Uma vez mais, as experiências do
ta precoce” e, no caso de ser necessário, passado e as complexidades do presente
uma “ação precoce”, respeitante a tensões encorajaram, através do primado do Di-
que envolvam minorias. Assim, o ACMN reito plasmado num tratado, a proteção
segue uma abordagem orientada para a de um elemento central da cultura das
segurança. As suas recomendações não minorias; as línguas tradicionais foram
são vinculativas, nem jurídica nem poli- desafiadas pelas culturas minoritárias”.
ticamente; o seu impacto deve-se apenas Outros autores elogiaram o trabalho da
à autoridade institucional e pessoal e ao CELRM, já que produziu mais resultados
apoio dos Estados participantes e organi- do que o esperado inicialmente. A maior
zações internacionais. Nos termos do seu parte dos observadores profissionais es-
mandato, o ACMN recolhe e recebe infor- tavam, no início, bastante céticos quanto
mações sobre assuntos das minorias, de ao seu possível impacto positivo. O pro-
diferentes fontes, por exemplo, das partes cesso de mudança da mentalidade dos
interessadas, dos meios de informação, de políticos nacionais, dos burocratas e da
ONG, etc. O ACMN também pode visitar população maioritária pode ser lento e
qualquer um dos Estados participantes e difícil. Porém, os tratados internacionais
comunicar com as partes envolvidas, de multilaterais e as obrigações legais deles
forma a recolher informações e avaliar a decorrentes podem contribuir significa-
situação. O Comissário também pode pro- tivamente para se alcançarem melhores
mover o diálogo, a confiança mútua e a padrões para aqueles que pertencem
cooperação entre as partes. às minorias, já que os Estados têm de
cumprir com as obrigações estabelecidas
Conselho da Europa (CdE) pelos instrumentos jurídicos internacio-
A Carta Europeia das Línguas Regionais nais, e justificar as suas ações e a não
e Minoritárias (CELRM) e a Convenção implementação das obrigações que assu-
Quadro para a Proteção das Minorias miram. Também se estabeleceram outros
Nacionais (CQPMN) são dois tratados instrumentos de trabalho, incluindo re-
regionais juridicamente vinculativos, re- comendações específicas para os gover-
digidos sob os auspícios do Conselho da nos, declarações proferidas pelo ACMN,
Europa. sessões de trabalho e projetos com o es-
A Carta Europeia das Línguas Regionais copo de regular conflitos interétnicos e
e Minoritárias, de 1992, constitui um recomendações gerais (ex. as “Recomen-
passo importante no sentido da proteção dações de Haia”, respeitantes aos direi-
e promoção do uso das línguas das mi- tos das minorias na área da educação, as
norias, tanto em privado, como na vida “Recomendações de Oslo”, respeitantes
pública. É um instrumento dinâmico aos direitos linguísticos das minorias,
que estabelece um sistema de relatórios e a “Recomendação de Lund”, sobre a
e que também serve como instrumento participação efetiva das minorias na vida
de monitorização entre os Estados que a pública).
484 II. MÓDULOS SOBRE QUESTÕES SELECIONADAS DE DIREITOS HUMANOS

plataformas comuns de entendimento.


“[…] os Estados participantes em cujos ter- Contribuíram para este efeito, de acordo
ritórios existam minorias nacionais irão com o Conselho da Europa, o processo de
respeitar os direitos das pessoas pertencen- relatórios alternativos, as consultas dos
tes a estas minorias, irão proporcionar-lhes governos, os encontros durante as visitas,
oportunidades integrais para o gozo efetivo os comentários dos Estados e os encontros
dos direitos humanos e liberdades funda- de acompanhamento no âmbito do proces-
mentais e irão, desta forma, proteger os so de monitorização.
seus interesses legítimos nesta esfera.” (Fontes: Theodore Orlin. 2009. Minorities
Conferência para a Segurança e Cooperação na Eu- and Human Rights Education. Human
ropa, Documento Final de Helsinquia. 1975. Rights Law as a Paradigm for the Protec-
tion and Advancement of Minority Educa-
A Convenção Quadro para a Proteção das tion in Europe.; Patrick Thornberry, María
Minorias Nacionais (CQPMN), de 1995, Estébanez. 2004. Minority rights in Eu-
constitui o esforço mais recente no âmbi- rope. A review of the work and standards
to da proteção dos direitos das minorias. of the Council of Europe.)
Este ambicioso tratado pretende proteger
as minorias contra a assimilação, o nacio- Ao nível europeu, a jurisprudência do Tri-
nalismo ou o etnocentrismo das socieda- bunal Europeu dos Direitos Humanos
des e Estados em que vivam. É o primei- (TEDH) também é relevante para as mino-
ro documento multilateral juridicamente rias. Apesar de a Convenção Europeia dos
vinculativo, integralmente centrado na Direitos Humanos (CEDH) não conter dis-
proteção das minorias nacionais. Tal como posições específicas para a proteção das
a CELRM, a CQPMN também está aberta a minorias, as normas da Convenção e a sua
não membros do Conselho da Europa. Po- interpretação pelo Tribunal têm relevância
rém, a Convenção tem sido criticada por para os direitos e assuntos das minorias.
não estabelecer uma definição geral para O Tribunal apenas recentemente começou
“minoria” e permitir que os Estados Partes a proferir muitas decisões a clarificar o im-
definam “minoria” por si mesmos. pacto dos instrumentos de direitos humanos
Graças a estes dois instrumentos do Con- na discriminação das minorias. O Tribunal
selho da Europa, existe um “diálogo con- tem de equilibrar, em particular, os direitos
tínuo entre as diversas partes”, entre a concorrentes, tais como o uso (excessivo)
comissão de monitorização do Conselho da liberdade de expressão, a liberdade de
da Europa, as autoridades governamentais religião e o direito à não discriminação, de
nacionais, as ONG, os membros das mino- forma a assegurar o respeito pela dignidade
rias e os seus representantes. Neste con- inerente das minorias. Porém, poderá levar
texto, é importante realçar que a atmos- anos até que os grupos minoritários esgotem
fera predominante é um elemento chave as instâncias legais domésticas de forma a
nas relações entre as comunidades, que poderem submeter um pedido ao Tribunal
se refere ao grau de diálogo substancial Europeu dos Direitos Humanos.
em que se encontrem as diferentes comu-
nidades e áreas da sociedade relativamen- União Africana (UA)
te a assuntos delicados e à existência de A Comissão Africana dos Direitos Huma-
tentativas sérias para se estabelecerem nos e dos Povos é o órgão africano regio-
O. DIREITOS DAS MINORIAS 485

nal de monitorização para a promoção e


Povo de Saramaka tem o direito ao re-
proteção dos direitos humanos, incluindo
conhecimento de personalidade jurídica
os direitos das minorias. A Comissão co-
coletiva. O Tribunal Interamericano de
meçou o seu trabalho em 1986, depois da
Direitos Humanos atribuiu, pela pri-
adoção da Carta Africana dos Direitos
meira vez, indemnizações monetárias
Humanos e dos Povos (“Carta de Ban-
aos indígenas ou povo tribal, por danos
jul”). No seu preâmbulo, a Carta de Ban-
ambientais à terra e aos recursos dos
jul afirma que “[...] a realidade e o respeito
Saramakas, causados pelo Estado do
dos direitos dos povos deve garantir, neces-
Suriname. Em meados do século XX, o
sariamente, os direitos humanos”. Porém,
Estado do Suriname começou a explorar
não contém quaisquer disposições explíci-
a terra em que os Saramakas viviam há
tas para a proteção das minorias. Desde
mais de 300 anos, e da qual dependiam
2006, o Tribunal Africano dos Direitos
para a sua sobrevivência. No início, os
Humanos e dos Povos é o órgão judicial
Saramakas não conseguiram reagir às
que decide processos no âmbito da Carta
agressões. Porém, no final dos anos no-
de Banjul.
venta, os Saramakas começaram a rea-
gir de forma a proteger o seu território
Organização dos Estados Americanos
e apresentaram uma petição à Comissão
(OEA)
Interamericana de Direitos Humanos.
O Tribunal Interamericano de Direitos
Como base nesta petição, a Comissão
Humanos (TIDH) e a Comissão Interame-
pediu ao governo do Suriname para
ricana de Direitos Humanos constroem o
suspender todas as concessões de ex-
sistema de proteção dos direitos humanos
ploração de florestas e minas até que as
da Organização dos Estados Americanos
queixas substantivas fossem investiga-
(OEA), para executar e interpretar as dis-
das. Porém, o governo não cumpriu com
posições da Convenção Americana de
estas medidas cautelares e o processo foi
Direitos Humanos. Apesar de a Conven-
encaminhado para o Tribunal Interame-
ção não estabelecer direitos específicos
ricano de Direitos Humanos. O Tribunal
das minorias, o exemplo que se segue de-
sublinhou que o povo dos Saramaka
monstra a importância das decisões do Tri-
“possui características similares às dos
bunal para a proteção dos seus interesses.
povos indígenas […] cujas características
Povo de Saramaka: o reconhecimento sociais, culturais e económicas são dife-
da personalidade jurídica com direito rentes das de outros setores da comuni-
ao uso da sua terra dade nacional, em particular, devido à
Em 2007, no caso de referência “Povo relação especial com os seus territórios
de Saramaka c. Suriname”, o Tribunal ancestrais e porque eles se disciplinam
Interamericano de Direitos Humanos a si próprios, pelo menos parcialmente,
apreciou, pela primeira vez, direitos co- através das suas normas, costumes e/ou
letivos, incluindo o direito à autodeter- tradições”. O Tribunal também concluiu
minação de um povo. Em vez de con- que “o Estado tem a obrigação de ado-
siderar o Povo de Saramaka enquanto tar medidas especiais para reconhecer,
um grupo de indivíduos ou como uma respeitar, proteger e garantir o direito
comunidade, o Tribunal decidiu que o de propriedade comunal dos membros
486 II. MÓDULOS SOBRE QUESTÕES SELECIONADAS DE DIREITOS HUMANOS

de conflito. Encontram-se, frequentemen-


da comunidade Saramaka no território
te, envolvidas em mediação e podem sen-
em questão”. O Tribunal referiu ainda
sibilizar a opinião pública internacional,
que os recursos naturais (ex. florestas
assim como a nacional, quando os direitos
e rios), tradicionalmente usados pelos
das minorias forem negligenciados ou vio-
Saramakas, são essenciais para a sua
lados. As ONG podem, por um lado, ter
sobrevivência física e cultural, enquanto
um impacto significativo no que respeita
povo, e que estes recursos são abrangi-
à proteção das minorias, através da pes-
dos pelo âmbito de proteção da Conven-
quisa, publicação de relatórios e servindo
ção Americana e, consequentemente,
de canais ou plataformas para os grupos
constituem uma parte dos direitos de
de minorias e, por outro lado, disponibili-
propriedade do povo. Assim, em 2007,
zar informações oportunas e factuais aos
após mais de uma década de luta pelos
governos e órgãos intergovernamentais so-
seus direitos, fez-se finalmente justiça
bre situações que envolvam as minorias.
aos Saramakas.
Este papel encontra-se bem reconhecido
(Fontes: Tribunal Interamericano de Di-
e promovido pelo Alto Comissariado das
reitos Humanos. 2007. Case of the Sara-
Nações Unidas para os Direitos Humanos
maka People v. Suriname of 28 Novem-
(ACNUDH).
ber 2007.; Richard Price. 2009. Contested
O ACNUDH refere, explicitamente, que as
Territory: The Victory of the Saramaka
“ONG podem promover, de forma decisiva,
People v. Suriname.
a proteção das minorias ao:
• Encorajarem a adoção de medidas, ao
Pressão Internacional: o Papel das OIG, nível doméstico, para implementar, de
das ONG e dos Meios de Informação forma eficaz, as disposições dos instru-
No sistema internacional de direitos huma- mentos internacionais relevantes;
nos, a pressão internacional de diferentes • Contribuírem para a implementação, ao
atores, tais como as OIG (ex. a Organiza- nível local, nacional e regional das reso-
ção das Nações Unidas, o Conselho da Eu- luções internacionais e convenções rela-
ropa, etc.), por um lado, e as ONG, por ou- cionadas com questões das minorias;
tro, é uma “ferramenta” importante para • Disponibilizarem informações sobre
exigir a implementação dos direitos das violações dos direitos das minorias,
minorias. A pressão dos grupos de interes- levando-as à atenção de diversos meca-
se, dos quadros jurídicos internacionais, nismos de direitos humanos das Nações
dos tratados e das recomendações conduz Unidas (ex. Comissão dos Direitos Hu-
a uma maior sensibilização de quem pro- manos e a Subcomissão para a Preven-
fere as decisões e, consequentemente, a ção da Discriminação e Proteção das
uma maior implementação das exigências Minorias);
legais e normas dos direitos humanos. As • Disponibilizarem informações pormeno-
ONG desempenham um papel importante rizadas e objetivas sobre a situação das
na promoção da integração dos imigran- minorias e sobre formas possíveis de fo-
tes e das minorias. O Conselho da Europa mentar a sua manutenção e o seu desen-
refere que as ONG estão, diretamente ou volvimento;
através das suas filiais nacionais, próximas • Contribuírem para os relatórios dos Esta-
de situações de tensão e possíveis fontes dos sobre a situação das minorias, atra-
O. DIREITOS DAS MINORIAS 487

vés da inclusão de informações precisas É uma parte inerente do direito à edu-


nestes relatórios ou nos procedimentos cação e deve fazer parte de todos os sis-
de monitorização; temas de educação. Os aspetos práticos
• Atraírem a atenção dos órgãos dos trata- da educação para os direitos humanos
dos para infrações sérias e contribuírem relacionam-se com a transferência de co-
para a implementação das decisões e re- nhecimentos, sensibilização, construção
comendações dos comités.” de competências e estabelecimento de
(Fonte: Claudia Mahler. 2009. Is Human uma “cultura” em que os direitos huma-
Rights Education a Means of Supporting nos sejam compreendidos, respeitados e
Minorities?) defendidos.
Boas Práticas O que NÓS podemos fazer é conscien-
cializarmo-nos e sensibilizar outros
Para além dos atores já mencionados, os para o facto das pessoas pertencentes
meios de informação desempenham um a minorias poderem ter identidades di-
papel central ao relatarem a discriminação ferentes das da maioria da população.
contra as minorias e sobre as próprias mi- Cada uma dessas identidades tem um
norias. Também têm a função de sensibi- valor e as pessoas pertencentes a essas
lizarem a maioria da população e os res- minorias, assim como as pessoas per-
ponsáveis pelas decisões políticas quanto tencentes à maioria da população, têm o
às necessidades das minorias. No entanto, direito de manter e desenvolver as suas
os meios de informação também podem características específicas étnicas, reli-
atuar enquanto criadores e promotores de giosas e linguísticas.
estereótipos negativos e podem difundir O que NÓS devemos fazer é aprender
informações sensacionalistas e erróneas sobre a questão e reduzir os nossos pró-
respeitantes ao grupo minoritário. Assim, prios preconceitos. São valores impor-
é importante que as minorias tenham a tantes: o respeito por todos, incluindo
oportunidade de gerir os seus próprios a identidade dos grupos das minorias
meios de informação, assim como a opor- e da maioria da população, tal como o
tunidade de participar apropriadamente respeito pela diversidade linguística,
nos meios de informação principais e líde- étnica e cultural. O que NÓS podemos
res de opiniões. fazer é respeitar a diversidade como um
valor. Podemos reconhecer que conhecer
Liberdade de Expressão e muitas culturas e línguas constitui um
Liberdade dos Meios de Informação valor adicional para a sociedade e uma
vantagem para cada uma das pessoas.
Outra função da educação para os direi-
O que podemos NÓS fazer?
tos humanos é disponibilizar informa-
A educação para os direitos humanos ções sobre estes direitos e, desta forma,
envolve a aprendizagem e o ensino do empoderar as pessoas para reivindica-
respeito pelos direitos humanos, o co- rem e realizarem os seus direitos. As-
nhecimento destes direitos e a sua prá- sim, NÓS devemos estar informados
tica. e informar os outros sobre os direitos
488 II. MÓDULOS SOBRE QUESTÕES SELECIONADAS DE DIREITOS HUMANOS

das minorias. No que respeita aos casos que os instrumentos de direitos humanos
de discriminação, NÓS devemos saber e tratados internacionais têm, desde há
qual a autoridade pública a quem pode- tanto tempo, tentado proteger”.
mos contactar e como tratar as viola- Acima de tudo, é especialmente impor-
ções de direitos humanos, especialmen- tante que os formadores de direitos hu-
te as violações dos direitos das minorias. manos levem as lições dos direitos hu-
O que NÓS podemos fazer é tornar pú- manos e direitos das minorias não ape-
blicas as violações dos direitos das mi- nas ao público em geral e aos funcioná-
norias, ao chamar a atenção dos meios rios governamentais, mas especialmente
de informação, tribunais e autoridades às próprias pessoas pertencentes às
competentes nacionais e internacionais, minorias. Desta forma, elas podem rei-
bem como das Nações Unidas ou ONG vindicar os seus direitos, apesar dos
relevantes. Assim, NÓS podemos procu- desafios potenciais colocados pela maio-
rar a reparação jurídica das violações ria da população que pode ser insensível
dos direitos das minorias. Deste modo, aos seus interesses legítimos.
a educação para os direitos humanos e
(Fontes: Claudia Mahler, Anja Mihr,
o compromisso de cada um de nós são
Reetta Touvanen (eds.). 2009. The Unit-
ferramentas excelentes para se apoiar os
ed Nations Decade for Human Rights
grupos minoritários.
Education and the Inclusion of National
Tal como refere Theodore Orlin, “De- Minorities.; Theodore Orlin. 2009. Mi-
vemos converter a retórica do direito norities and Human Rights Education.
internacional dos direitos humanos Human Rights Law as a Paradigm for the
numa realidade prática, em que, nas Protection and Advancement of Minority
relações de uns com os outros, pratique- Education in Europe.)
mos as exigências do direito dos direi-
tos humanos, de propiciar a dignidade
Direito à Educação

CONVÉM SABER
balha conjuntamente, em particular, com
1. BOAS PRÁTICAS comunidades de minorias, realizando ini-
ciativas de educação e de formação, sobre
Grupo Internacional de Direitos das Mi- como estas comunidades podem fazer uso
norias - GDM (Minority Rights Group In- dos seus direitos. A organização também
ternational) exerce pressão sobre governos e sobre as
O GDM é uma das ONG mais importan- Nações Unidas em prol das minorias. Tam-
tes no campo da proteção das minorias. bém publica relatórios científicos sobre
A organização visa assegurar, em todo o assuntos relacionados com as minorias.
mundo, os direitos das pessoas perten- Desta forma, a organização procura que
centes a minorias e povos indígenas. Tra- as minorias e os povos indígenas, estan-
O. DIREITOS DAS MINORIAS 489

do em desvantagem, possam fazer ouvir comunidade Roma que foram vítimas de


as suas vozes. A organização também visa violação de direitos humanos e organiza
a erradicação, através de campanhas, de sessões de trabalho para juristas de di-
atitudes discriminatórias em relação àque- versos países europeus, familiarizando os
les que pertencem às minorias ou povos participantes com os mecanismos jurídi-
indígenas. O programa do GDM de apoio cos relevantes, os quais visam capacitar os
jurídico tem sido pioneiro para a proteção membros da comunidade Roma e os seus
dos direitos das minorias. De acordo com defensores na implementação dos direitos
a descrição interna do GDM, o trabalho da humanos.
organização recolhe provas para demons-
trar que “a inclusão das comunidades das Gabinete Europeu para Línguas Menos
minorias conduz a sociedades mais fortes Divulgadas - GELMD (European Bureau
e mais coesas”. O GDM tem uma vasta for Lesser Used Languages)
rede de parceiros. Colabora com mais de O GELMD é uma ONG fundada, em 1982,
150 parceiros em 60 Estados e tem expe- em Dublin (Irlanda), da iniciativa do Par-
riência considerável na promoção da co- lamento Europeu e de determinados re-
existência pacífica e da mudança social presentantes de organizações de minorias.
sustentável. O GDM apoia as minorias e Pretende promover as línguas e a diversi-
os povos indígenas nos seus esforços de dade linguística na Europa. É financiado
manutenção dos seus direitos em relação pela Comissão Europeia, assim como por
à terra em que habitam, à língua que fa- organizações governamentais locais e re-
lam, a oportunidades iguais na educação gionais e mantém um contato próximo com
e no emprego e na participação plena na o Parlamento Europeu e com o Conselho
vida pública, através da formação, da edu- da Europa. O GELMD tem tido diversos re-
cação, do apoio jurídico, das publicações e sultados importantes através do exercício
dos meios de informação. O GDM assume de pressão e da promoção das línguas re-
o compromisso de assegurar os direitos gionais e das minorias na Europa. Graças
de várias comunidades de minorias, tais ao compromisso do GELMD, a coordena-
como os Batwa na África Central, os Roma ção e cooperação entre as comunidades de
na Europa, os cristãos no Iraque, etc. O falantes de línguas menos divulgadas tem
GDM tem estatuto consultivo junto do melhorado substancialmente. Através do
Conselho Económico e Social das Nações projeto de escola “Euroschool” (Escola Eu-
Unidas (ECOSOC,) e estatuto de observa- ropeia), mais de 400 adolescentes, de mais
dor junto da Comissão Africana dos Direi- de 10 comunidades de línguas, puderam
tos Humanos e dos Povos. encontrar-se com outros adolescentes e as
suas famílias, numa variedade de proje-
Centro Europeu para os Direitos dos Roma tos de escola. Além disso, o GELMD lan-
(European Roma Rights Centre-ERRC) çou campanhas de informação de forma
O Centro Europeu para os Direitos dos a melhorar a imagem das minorias e das
Roma é uma ONG internacional sediada línguas das minorias. Criou-se a agência
em Budapeste, na Hungria. O seu objeti- de notícias “Eurolang” que publica artigos
vo é monitorizar as condições de vida da em diversas línguas sobre a situação das
minoria Roma, na Europa. O ERRC dispo- minorias. Também foram instaladas redes
nibiliza apoio jurídico para os membros da de informação sobre assuntos das mino-
490 II. MÓDULOS SOBRE QUESTÕES SELECIONADAS DE DIREITOS HUMANOS

rias. O GELMD também contribuiu para a respeitante à melhor representação política


redação da Carta Europeia das Línguas Re- das minorias, no mundo”.
gionais e Minoritárias (CELRM) e a Carta
dos Direitos Fundamentais da União Eu- 2. TENDÊNCIAS
ropeia. A ONG goza do estatuto de obser-
vador junto do ECOSOC, da UNESCO e do As Minorias “Antigas” e “Novas” e a
Conselho da Europa. Aplicabilidade do Sistema de Proteção
das Minorias às “Novas” Minorias
A Representação das Minorias no Parla- Os imigrantes e os seus sucessores estão
mento da África do Sul normalmente excluídos das definições
A participação efetiva das minorias na es- convencionais de minorias, mesmo que
fera política de um país é um factor essen- possuam características étnicas, religio-
cial para a sua proteção e para a prevenção sas, culturais e/ou linguísticas diferen-
de conflitos. O compromisso ativo das mi- tes das comunidades anfitriãs. O Comité
norias na vida política e social de um Es- Consultivo da Convenção Quadro para a
tado sustenta todos os outros esforços de Proteção das Minorias Nacionais (CQMN)
proteção dos seus direitos e atua como uma tem defendido, de forma consistente, que
válvula de segurança quando as situações a Convenção não apresenta uma defi-
de grande desacordo entre comunidades nição de minorias nacionais, pelo que
ameacem conduzir à violência, tal como os Estados Partes têm uma margem de
defendido pelo Grupo de Direitos das Mi- apreciação na determinação dos grupos
norias (GDM). De acordo com esta ONG, a quem se aplica a Convenção. Devido
as políticas da África do Sul pós-apartheid, à percentagem significativa de não cida-
para assegurar a representação das mino- dãos dentro da população total, o Comité
rias, tornaram o parlamento deste país Consultivo defendeu que seria “possível
entre os mais representativos etnica- considerar a inclusão de pessoas perten-
mente em relação a qualquer legislatura centes a estes grupos na aplicação da Con-
democrática no mundo. A lista referente à venção Quadro, através de uma análise
participação das minorias em legislaturas é artigo a artigo”, e notou que “as autori-
liderada por Estados africanos. Segundo o dades dos países em questão devem consi-
Relatório do GDM, sobre o Estado das Mi- derar esta possibilidade em consulta com
norias no Mundo, de 2007, a África do Sul os interessados, num momento apropria-
lidera esta lista, logo seguida da Namíbia do no futuro”. O Comité Consultivo cri-
e da Tanzânia. Alguns países africanos são ticou a aplicação estrita das disposições
os mais desenvolvidos no que respeita aos formais restritivas às minorias nacionais
conceitos de partilha do poder, baseados históricas, por estabelecer uma proteção
na etnicidade e representação étnica no insuficiente às minorias, contrariamente
parlamento. Isto é bastante surpreendente, ao espírito da Convenção. O Comité de-
especialmente considerando que “metade fendeu que as pessoas que pertençam a
da lista dos vinte países mais perigosos do “novas” minorias devem ter direito a de-
mundo para as minorias” se encontram terminados direitos fundamentais conti-
em África. De acordo com o GDM, “três dos na CQMN, tais como o direito à edu-
países africanos ganharam, claramente, às cação, à liberdade religiosa e à liberdade
democracias ocidentais estabelecidas, no de expressão.
O. DIREITOS DAS MINORIAS 491

Diversidade e Coesão tade e menos a filiações determinadas.


Os conceitos de diversidade, coesão, cida- Sexto, a diversidade trata, de forma cria-
dania e participação estão a ser progressi- tiva, da dicotomia entre valores e culturas
vamente aplicados e estão a adquirir novos universais e particulares. Finalmente, os
significados através do seu uso em debates valores comuns partilhados pela sociedade
políticos, a nível nacional e internacional. civil sustentam o conceito de sociedades
Por exemplo, o conceito de diversidade diversificadas.
tem vindo a ser objeto de cada vez mais O termo coesão tem origem em contextos
atenção e aplicação, no que respeita às po- de emprego, segurança social e pobreza.
líticas europeias e legislação implementa- A coesão (social) refere-se a políticas para
da. A igualdade forma a base fundamen- contrariar a desintegração social, exclusão
tal das políticas de integração e proteção social e marginalização de determinados
das minorias. O conceito de diversidade grupos. Estas políticas envolvem a promo-
foi introduzido nas políticas de integração, ção e proteção de direitos sociais funda-
desencadeadas por desenvolvimentos de- mentais, a implementação da proteção da
mográficos. Também se entende como um segurança social, o acesso universal à ha-
processo que a todos beneficia, de forma bitação, respondendo às necessidades es-
a tornar as sociedades cada vez mais plu- pecíficas de determinados grupos em risco
rais. O multiculturalismo foi usado como e potenciando o acesso aos mercados de
um conceito descritivo ou prescritivo, ou trabalho, através da educação, formação
seja, as sociedades devem tornar-se mul- e formação contínua. As políticas de coe-
ticulturais. Nos debates correntes, o signi- são social visam, assim, contrabalançar os
ficado de diversidade refere-se à variedade processos de fragmentação social.
de valores, estilos de vida, culturas, religi- (Fonte: Council of Europe. 2000. Diversity
ões e línguas que formam as sociedades. O and Cohesion. New Challenges for the Inte-
Conselho da Europa enumera seis aplica- gration of Immigrants and Minorities.)
ções diferentes ou explicações do conceito
de diversidade. Primeiro, o termo refere-se Apesar da difícil luta pelos direitos das
à diversidade cultural em geral e não ex- minorias e dos problemas persistentes res-
clusivamente enquanto uma consequência peitantes à proteção efetiva e promoção
dos movimentos migratórios e das comuni- das minorias, é importante salientar que
dades de minorias estabelecidas. Segundo, os esforços respeitantes aos direitos das
quando o termo é aplicado a imigrantes e minorias constituem etapas importantes
minorias, confere ênfase ao valor mais do no desenvolvimento do direito dos direitos
que aos problemas associados com o ser-se humanos. É fundamental que se continue
diferente. Terceiro, a diversidade reconhe- a expandir e proteger os direitos das mino-
ce o processo simultâneo da homogeneiza- rias. Os sucessos e insucessos devem ser
ção cultural (enquanto cultura global) e da compreendidos retrospetivamente, de for-
diversificação (culturas nacionais e locais). ma a se encontrar caminhos mais eficazes
Quarto, sublinha o facto de que as pessoas para se proteger as minorias. É essencial
normalmente (e cada vez mais) têm iden- que este processo se realize no âmbito do
tidades múltiplas, são membros de vários paradigma do direito dos direitos huma-
grupos ou têm diversas filiações culturais. nos e sem a retórica do nacionalismo e do
Quinto, a diversidade refere-se mais à von- etnocentrismo.
492 II. MÓDULOS SOBRE QUESTÕES SELECIONADAS DE DIREITOS HUMANOS

3. CRONOLOGIA 1994 Comentário Geral nº 23 do Comité


dos Direitos Humanos, sobre os di-
1920 Sociedade das Nações reitos das minorias
1965 Convenção Internacional para a 1995 Convenção Quadro para a Pro-
Eliminação de Todas as Formas de teção das Minorias Nacionais do
Discriminação Racial Conselho da Europa
1966 Pacto Internacional sobre os Direi- 2000 Comentário Geral nº 14 do Comité
tos Civis e Políticos dos Direitos Económicos, Sociais e
1966 Pacto Internacional sobre os Direi- Culturais, sobre o direito ao nível
tos Económicos, Sociais e Cultu- mais elevado à saúde
rais 2005 Comentário do Grupo de Traba-
1989 Convenção sobre os Direitos da lho sobre Minorias à Declaração
Criança da Organização das Nações Uni-
1990 Documento do Encontro de Cope- das Sobre os Direitos das Pessoas
nhaga da Conferência sobre a Di- Pertencentes a Minorias Nacio-
mensão Humana da OSCE nais ou Étnicas, Religiosas e Lin-
guísticas
1992 Carta Europeia das Línguas Regio-
nais e Minoritárias 2005 Convenção da UNESCO sobre a
Proteção e Promoção da Diversida-
1992 Declaração da Organização das
de das Expressões Culturais
Nações Unidas Sobre os Direitos
das Pessoas Pertencentes a Mino- 2007 Fórum sobre Assuntos das Mino-
rias Nacionais ou Étnicas, Religio- rias pelo Conselho de Direitos Hu-
sas e Linguísticas manos (Resolução 6/15)

ATIVIDADES SELECIONADAS
ATIVIDADE I: nação, especialmente contra as minorias.
CONFRONTAÇÃO ENTRE Os grupos que sofrem discriminação in-
PRECONCEITOS E DISCRIMINAÇÃO cluem as minorias étnicas, linguísticas,
religiosas e outras. O preconceito e a ig-
Parte I: Introdução norância promovem a desumanização
A identificação dos preconceitos, da dis- das minorias étnicas e protegem e apoiam
criminação, do racismo, do sexismo e do muitas formas de discriminação.
etnocentrismo constitui uma parte impor-
tante da educação para os direitos huma- Parte II: Informação Geral
nos. Estas formas de exclusão moral são Tipo de atividade: debate em grupo
manifestações fundamentais do problema Metas e objetivos: reflexão sobre o proces-
central da negação da dignidade humana, so e caraterísticas da discriminação e as
resultando em diversos tipos de discrimi- suas origens no preconceito, identificando
O. DIREITOS DAS MINORIAS 493

os problemas dos grupos das minorias re- e atitudes. O sentimento de preconcei-


lacionados com os preconceitos e com a to tem a sua origem na crença de que
discriminação e recomendando ações so- determinadas pessoas são inferiores e
bre as discriminações vividas pelos mem- que devem ser tratadas de uma forma
bros de uma minoria étnica, baseadas nas indigna ou mesmo com desprezo. O
normas nacionais e internacionais de di- preconceito é o terreno fértil no qual o
reitos humanos. costume, os hábitos e as atitudes se en-
Grupo-alvo: Jovens adultos e adultos raízam e crescem até se manifestarem
Dimensão do Grupo: 8–25; pequeno gru- enquanto opressão sistemática. Os pre-
po de trabalho e debate em grande grupo conceitos e o mal-estar dirigem-se fre-
Duração: 60 minutos quentemente contra as mulheres, assim
Materiais: cópias do Pacto Internacional como contra outros grupos na socieda-
sobre os Direitos Civis e Políticos (PIDCP), de: os refugiados e pessoas deslocadas,
quadro os membros de religiões diferentes, os
Competências envolvidas: comunicação, grupos étnicos e linguísticos, etc. O pre-
cooperação, avaliação de diferentes pon- conceito tende a ser mais forte nas pes-
tos de vista soas e sociedades em que o raciocínio
crítico é deficiente e onde a ignorância
Parte III: Informação Específica sobre a explica os processos perniciosos de ex-
Atividade clusão moral dos outros e o processo
Instruções: o formador deve ser criativo de negação do direito ao tratamento
ao explicar a distinção entre preconceito e igual e justo. É revelador de ignorância
discriminação e deve assegurar-se de que dizer-se que a exclusão e a negação são
os participantes compreendam a relação. “naturais”. O preconceito encontra-se
Atendendo a que este pode ser um tópico frequentemente escondido, mas torna-
delicado para muitos, é importante conce- se evidente quando as pessoas usam
der o tempo necessário para que se expri- de impropérios para se referirem a uma
mam as diferentes perspetivas. O formador minoria, deixando subentendido que
não deve tentar “corrigir” as perspetivas, os membros do grupo são inferiores, e
mas permitir que outros as comentem. usam de estereótipos. A discriminação
1. Pedir aos participantes que digam o envolve ação, baseada, frequentemen-
nome das minorias étnicas existentes te, em regras injustas. Os atos de discri-
nos seus países. Dizer-lhes que devem minação baseiam-se no entendimento
identificar um grupo com o qual este- de que o grupo dominante tem o direito
jam familiarizados e explicar se o gru- de negar a outro grupo, direitos huma-
po sofre preconceitos. Escrever, num nos básicos e o acesso aos benefícios
quadro ou cavalete, as minorias iden- da sociedade. A discriminação é a ne-
tificadas, por exemplo, a etnia vietna- gação da dignidade humana e de direi-
mita. tos iguais para aqueles que são vítimas
Intervenção do formador: explicar que da discriminação. Os atos de discrimi-
o preconceito e a discriminação se en- nação obstam à igualdade humana e
contram intimamente ligados e que o impõem uma vida de problemas e lutas
preconceito conduz à discriminação: o para alguns, enquanto asseguram a ou-
preconceito envolve crenças, emoções tros privilégios e benefícios. Na mesma
494 II. MÓDULOS SOBRE QUESTÕES SELECIONADAS DE DIREITOS HUMANOS

medida em que o preconceito dá vida forma a assegurar-se de que a ativida-


à discriminação, esta dá vida à explo- de foi compreendida.
ração e opressão. Quando a exploração Intervenção do formador: explicar aos
e opressão se reforçam pelo costume e participantes que a discriminação prove-
tradição, a luta pela igualdade torna-se niente das maiorias (i.e., a consideração
mais difícil. de alguns grupos da sociedade como infe-
2. Pedir aos participantes que discutam riores ou o seu tratamento com pouco ou
as noções de preconceito e de discrimi- nenhum respeito) constitui uma violação
nação. grave dos direitos humanos. O direito dos
3. Observar o quadro onde estão escritas direitos humanos exige que as minorias
as minorias identificadas. Pedir aos par- sejam tratadas com respeito e dignidade.
ticipantes que refiram os estereótipos Qualquer forma de discriminação ou in-
típicos para estes grupos de minorias. tolerância viola o respeito e a dignidade.
Explicar que estes são todos indícios do Assim, qualquer forma de discriminação
preconceito que pode conduzir à discri- deve ser levada seriamente e ser comba-
minação. tida.
4. Deixar os participantes identificarem
atos a envolverem discriminação, por Acompanhamento:
exemplo, atos de negação e exclusão na Discutir as seguintes ferramentas para a
área da educação, emprego, etc. obtenção de justiça, quando os direitos
5. Dividir os participantes em pequenos das minorias tenham sido violados:
grupos, cada um centrado numa mi- • apresentar uma queixa junto do tribu-
noria étnica específica. Cada grupo nal;
deve ter: 1. uma pessoa a relatar os • apresentar uma queixa de violação de
preconceitos e atitudes que as pessoas direitos humanos à polícia;
têm em relação ao grupo minoritário • consultar uma organização de apoio ju-
respetivo, incluindo impropérios e es- rídico que possa disponibilizar assistên-
tereótipos com o objetivo de desuma- cia jurídica;
nizar o povo envolvido; 2. uma pessoa • dar conhecimento a uma ONG de direi-
a relatar os problemas de discrimina- tos humanos com a capacidade de in-
ção ou atos de exclusão, exploração vestigar e relatar o incidente;
e opressão, dirigidos contra o grupo • informar os meios de informação: jor-
minoritário respetivo. Os dois relato- nais, rádio, televisão;
res apresentam as conclusões do de- • informar um representante político ou
bate do grupo ao plenário. Incentivar um membro do parlamento;
os participantes a pedirem ao relator • formar um grupo de bairro para investi-
do preconceito que explique como o gar e atuar em relação à alegação;
preconceito conduz à discriminação. • organizar um seminário de educação
Incentivar os participantes a solicita- para os direitos humanos na comunida-
rem ao relator da discriminação que de local.
lhes diga como os preconceitos estão Pedir aos participantes que se reúnam em
na base da discriminação. Já que esse grupos para decidirem sobre uma inicia-
passo é um pouco complexo, o forma- tiva que recomendem para solucionar o
dor deve “flutuar” entre os grupos de problema, atendendo às informações aci-
O. DIREITOS DAS MINORIAS 495

ma referidas e também às disposições apli- iguais; decisões de maioria – respeito pe-


cáveis do PIDCP: los direitos das minorias.
Artº 26º do PIDCP: “Todas as pessoas
são iguais perante a lei e têm direito, Parte II: Informação Geral
sem discriminação, a igual proteção da Tipo de atividade: trabalho de grupo e
lei. A este respeito, a lei deve proibir to- debate
das as discriminações e garantir a todas Metas e objetivos: reconhecer que exis-
as pessoas proteção igual e eficaz contra tem muitas situações nas quais nos pode-
toda a espécie de discriminação, nomea- mos encontrar numa situação de minoria;
damente por motivos de raça, de cor, de identificação de comportamentos discri-
sexo, de língua, de religião, de opinião minatórios em relação a outros; vivenciar
política ou de qualquer outra opinião, o dilema de respeitar os interesses legíti-
de origem nacional ou social, de proprie- mos dos outros contra os nossos próprios
dade, de nascimento ou de qualquer ou- interesses; aprender sobre o tratamento
tra situação.” justo das minorias em situações do quo-
Artº 27º do PIDCP: “Nos Estados em que tidiano.
existam minorias étnicas, religiosas ou Grupo-alvo: jovens adultos e adultos
linguísticas, as pessoas pertencentes a es- Dimensão do grupo: qualquer um; dividir
sas minorias não devem ser privadas do em subgrupos de 5-6 participantes
direito de ter, em comum com os outros Duração: 90 a 150 minutos
membros do seu grupo, a sua própria vida Preparação: ficha de trabalho “Cinco for-
cultural, de professar e de praticar a sua mas de proceder com as minorias”, cava-
própria religião ou de empregar a sua pró- lete, espaço para grupos de trabalho e de-
pria língua.” bates em plenário
(Fonte: George J. Andreopoulos, Richard Competências envolvidas: Confiança, au-
Pierre Claude. 1997. Human Rights Educa- toavaliação, consciência de si próprio (não
tion for the Twenty-First Century.) é para principiantes!)

ATIVIDADE II: Parte III: Informação Específica sobre a


CINCO FORMAS Atividade
DE PROCEDER COM AS MINORIAS Instruções:
1. Distribuir a ficha de trabalho “Cinco
Parte I: Introdução formas de proceder com as minorias”.
Todos se devem considerar membros de Dar as instruções adequadas. Formar os
minorias, em diversas situações do quoti- grupos de trabalho.
diano. Como devemos lidar com as mu- 2. Refletir sobre as situações (5-10 minutos).
danças na minoria ou na maioria da po- 3. Depois de o grupo ter chegado a uma de-
pulação? Quais são as vantagens de se ser cisão, os participantes podem completar
membro de uma ou de outra, em circuns- a história. Durante o debate, irá debater-
tâncias diferentes? Como devemos evitar se a decisão e o processo de decisão.
situações de restrição aos direitos e liber- 4. Os formadores podem ajudar ao apre-
dades? sentarem exemplos para serem traba-
Assuntos abordados: Relações maioria- lhados, assim como moderando o deba-
minoria; poder e autoridade; direitos te e o processo de decisão.
496 II. MÓDULOS SOBRE QUESTÕES SELECIONADAS DE DIREITOS HUMANOS

Ficha de trabalho: Cinco formas de proce- oportunidade de estar numa posição de


der com as minorias maioria nesses casos e decidir sobre uma
Reflita sobre uma a três situações diferen- destas alternativas. Porém, não deve justi-
tes do nosso quotidiano em que esteve ficar ou explicar a sua decisão, mas ape-
numa posição de minoria e tome notas. nas dar a conhecer a sua decisão.
Apresente as experiências ao grupo, sem Variações, Cenários:
mencionar a forma como terminou a situa- Decisão da maioria: debate da discrimina-
ção. Os membros do grupo irão então ado- ção da minoria.
tar a posição da maioria contra si. Eles têm Decisão por consenso: como se pode chegar
de decidir quanto a uma das cinco opções ao consenso/como se chegou ao consenso?
para se lidar com a situação descrita: Por decidir: o grupo da maioria não conse-
• excluir a minoria do grupo; gue decidir sobre uma das cinco possibili-
• convencer a minoria da opinião da dades. Porquê?
maioria; Fazer o balanço e avaliação:
• ignorar a minoria; O balanço e a avaliação devem conter:
• permitir que a minoria atue/decida por • a perceção emocional da minoria,
si própria; • a natureza da decisão tomada,
• dar à minoria a oportunidade de con- • o processo de formação da decisão.
vencer a maioria. (Fonte: Ulrich Maroshek-Klarmann, Oswald
Todos os outros membros do grupo tam- Henschel. 1997. Miteinander – Erfahrungen
bém irão apresentar exemplos. Terá a mit Betzavta.)

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P. DIREITO AO ASILO

O DIREITO A REQUERER ASILO


A PROTEÇÃO EM RELAÇÃO À PERSEGUIÇÃO
O PRINCÍPIO DA NÃO REPULSÃO (NON-REFOULEMENT)

“Toda a pessoa sujeita a perseguição tem o direito de procurar e de beneficiar de asilo em


outros países.”
Artº 14º, nº1 da Declaração Universal dos Direitos Humanos. 1948.
502 II. MÓDULOS SOBRE QUESTÕES SELECIONADAS DE DIREITOS HUMANOS

HISTÓRIAS ILUSTRATIVAS
Através do Olhar dos Refugiados a cidade em 2010, depois de militantes o
terem tentado matar. Ela fugiu de camião
“O meu nome é Zamzam M. Deg Ahmed. Te- com os seus filhos, em novembro, sobrevi-
nho 38 anos e estou deslocada de minha casa. vendo a um assalto durante a viagem. Vive
Fugi de Mogadishu, na Somália. Posso falar agora num bairro de barracas nos subúr-
sobre a situação das mulheres: é muito difícil. bios da cidade do norte de Galkayo.
Os maridos ou filhos das mulheres Somalis (Fonte: UNHCR. 2011. Story Telling:
em Mogadishu…ou morreram ou foram for- Through the Eyes of Refugees.)
çados a fugir e a abandonar as suas famílias.
A última vez que eu vi o meu marido foi há “O meu nome é Lucy Juah. Sou refugiada
12 meses. Enquanto dormíamos, pessoas com no Quénia. Cheguei ao Quénia em 1992.
máscaras entraram na nossa casa à procura Fugi do Sudão devido à guerra civil que de-
dele. Não o encontraram. Ele estava escondido corre há 21 anos. A pior memória que te-
debaixo da cama. Depois de saírem, ele saiu nho é, ainda em Juba, do SPLM, a que cha-
de casa. Foi a última vez que o vi. Fugimos mamos os rebeldes – quando estávamos no
de manhã cedo, após as orações. Já na estra- Sudão chamávamos-lhes de rebeldes –, a
da, homens mascarados disparam contra nós, bombardear a cidade e das bombas, quan-
pararam o camião e levaram-nos para os ar- do caíam, a cortar tudo à sua volta. Vi uma
bustos. Disseram a todos nós para descermos mulher grávida a ficar cortada em pedaços
e deixarmos tudo. Eu estava preocupada pela devido a uma partícula.
minha filha. Ela tem 14 anos e eu estava com Foi muito doloroso deixar o meu país por-
medo que a violassem. Não pode imaginar o que não sabia para onde ia. Não conhecia
meu medo, até as crianças choraram. o meu destino. Ia simplesmente. De certa
Agora que chegamos a um lugar pacífico, forma também me senti bem pois estava
gostava de encontrar trabalho e que as a deixar algo. Estava a deixar aquela área
crianças continuassem a educação delas. terrível, com destino a um local mais se-
Estou preocupada com o futuro dos meus guro.
filhos, como irão crescer, tomar conta deles Foi muito difícil chegar a um local cuja lín-
próprios e sustentar-me. É nisto que penso gua desconhecia. Ao acordarmos, de ma-
quando tento adormecer. nhã, ninguém nos cumprimentava, como
Lembro-me de muitas coisas, terríveis, a no Sudão. No Sudão, se encontramos al-
perda da nação…a insegurança…os proble- guém no caminho, eles cumprimentam-
mas com que se defrontaram as mulheres… nos. Mas quando cheguei ao Quénia era
a fuga e a deslocação. Qualquer pessoa fi- um pouco diferente. Nós estávamos em
caria perturbada com esta situação. Estou casa com a porta sempre fechada. Não vía-
muito perturbada com os problemas na So- mos ninguém.
mália. Quem não estaria?” Zamzam M. Deg No dia em que o Sudão se tornou inde-
Ahmed, de 38 anos, é mãe de dez crianças, pendente, pensei que a nossa vida poderia
de Mogadishu, na Somália, que vendia ali- mudar, sei que poderei regressar ao Sudão,
mentos secos no mercado principal para poderei construir a minha casa porque, da
sustentar a família. O seu marido deixou forma como estava a ser assediada, todos
P. DIREITO AO ASILO 503

os meses tinha de pagar uma renda da civil do Sudão, em 1992, para o Quénia,
casa. Isto foi a primeira coisa que me veio onde tem estado a trabalhar como peque-
à mente. Temos terra suficiente que está na empresária e a cuidar de uma família
simplesmente inutilizada. Quero regressar com cinco filhos. Após a votação sobre a
porque somos milhares de mulheres Suda- independência do Sul do Sudão, em julho
nesas que nada sabem. Elas sabem, mas é de 2011, ela decidiu regressar a Juba com
muito difícil implementar. Sinto que quero o seu marido. Deixou para trás os seus fi-
regressar ao Sudão. Vamos e partilharemos lhos, em Nairobi, ao cuidado da filha mais
as nossas ideias com as nossas irmãs, com velha, até que terminem a educação.
as mulheres que deixei para trás, partilha- (Fonte: UNHCR. 2011. Story Telling:
remos ideias. Trabalharemos juntas de for- Through the Eyes of Refugees.)
ma a podermos fazer algo que possa aju-
dar a nação.
Será um pouco assustador para mim deixar Questões para debate
os meus filhos no Quénia e ir para o Sudão, 1. Por que é que Zamzam e Lucy deixaram
devido a muitas coisas que têm acontecido os seus países? Fizeram-no voluntaria-
no Quénia, por estes dias. Até os adultos mente?
estão a ser raptados, as crianças, crianças 2. O que lhes poderia ter acontecido e às
com menos de seis anos a ser violadas. Vou suas famílias se não tivessem fugido?
ficar um pouco preocupada, estarei a todo 3. Quais os direitos humanos que são,
o momento a pensar nos meus filhos, se com grande probabilidade, violados em
estarão em segurança. tempo de guerra?
Escrevi ao meu marido. Disse-lhe que, já
que veio a paz, um dia gostaria de vê-lo “Com o meu marido morto e com o nosso
sentado debaixo de uma grande árvore a modo de vida na Somália destruído, senti
olhar para os nossos netos a correr, à volta que nada mais tinha a perder. As minhas
do lugar. A casa que construímos... estarei únicas expetativas são as de conseguir um
lá sentada com o meu marido debaixo da abrigo, água e segurança.”
nossa grande árvore e a olhar pelos nossos Sara, 57, refugiada de Sirko na Somália, numa en-
netos. Sinto que a minha vida irá mudar.” trevista com os Médecins sans Frontières. 2011.
Lucy Juah, de 39 anos, fugiu da guerra

A SABER
1. INTRODUÇÃO do mundo. Os números apontados pelo
Alto Comissariado das Nações Unidas
O mundo permanece extremamente inse- para os Refugiados (ACNUR), desde o final
guro para milhões de indivíduos. Estima- de 2011, demonstram que destes, 15.2 mi-
se que 42.5 milhões de pessoas estejam lhões de pessoas são refugiados, 895.000
presentemente deslocadas à força, por são requerentes de asilo e 26.4 milhões
todo o mundo, como resultado de confli- são pessoas deslocadas internas (PDI). No
tos antigos ou novos, em partes diferentes final de 2011, 25.9 milhões de pessoas –
504 II. MÓDULOS SOBRE QUESTÕES SELECIONADAS DE DIREITOS HUMANOS

10.4 milhões de refugiados e 15.5 milhões


de PDI – estavam a receber proteção ou O Asilo e os Direitos Humanos
assistência do ACNUR. Além disso, 4.8 O direito a requerer asilo é um direito
milhões de refugiados palestinianos tam- humano. Quando uma pessoa é forçada
bém estão a receber apoio em cerca de 60 a fugir do seu país de origem e, por esse
campos de refugiados no Médio Oriente. motivo, requer asilo num outro Estado, o
Apesar de os refugiados se encontrarem tratamento dessa pessoa não depende da
dispersos à volta do mundo, mais de 50% discricionariedade do Estado anfitrião,
de todos os refugiados vivem na Ásia e mas encontra-se disciplinado pelo direito
perto de 20% encontram-se em África. A internacional e em obrigações mútuas. O
maior parte dos refugiados mundiais (qua- direito ao asilo enquanto direito humano
tro quintos) encontra-se em países em vias encontra-se contido, para além da Conven-
de desenvolvimento. ção de Genebra Relativa ao Estatuto dos
(Fonte: UNHCR. 2012. Global Trends 2011.) Refugiados, especificamente em diversos
documentos jurídicos internacionais, tais
Direitos Humanos em Conflito como a Declaração Universal dos Direitos
Armado Humanos que, no artº 14º estabelece que
“(1) Toda a pessoa sujeita a perseguição
Desenvolvimento Histórico tem o direito de procurar e de beneficiar
A existência de refugiados não é um fenó- de asilo em outros países. (2) Este direito
meno novo. As provas da existência do di- não pode, porém, ser invocado no caso de
reito de pedir refúgio ou asilo remontam até processo realmente existente por crime de
cerca de 600 d.C.. Em especial, o direito de direito comum ou por atividades contrárias
pedir asilo em locais sagrados foi primei- aos fins e aos princípios das Nações Uni-
ro codificado pelo Rei Etelberto de Kent. A das”.
Convenção de Genebra Relativa ao Esta- Além disso, os artos 6º (o direito à vida)
tuto dos Refugiados, de 1951, e o Protocolo e 7º (proibição da tortura e outras penas
de 1967, são os instrumentos fundamentais ou tratamentos cruéis, desumanos ou de-
de proteção internacional dos refugiados e gradantes) do Pacto Internacional sobre os
considerados como a Magna Carta dos re- Direitos Civis e Políticos (PIDCP) enqua-
fugiados e requerentes de asilo. A Conven- dram o princípio da não repulsão (non-
ção estabelece os princípios respeitantes à refoulement), de acordo com as definições
definição de refugiado, os direitos das pes- desenvolvidas pelo Comité dos Direitos
soas a quem foi concedido asilo e também Humanos. Também se entende que o artº
refere, por exemplo, quem não deve rece- 3º da Convenção das Nações Unidas con-
ber o estatuto de refugiado. A Convenção tra a Tortura e Outras Penas ou Tratamen-
foi assinada em 1951 e entrou em vigor em tos Cruéis, Desumanos ou Degradantes
1954. Estabeleceu-se inicialmente apenas formula o princípio da não repulsão. De
para a proteção dos refugiados Europeus, acordo com este princípio, nenhuma pes-
após a Segunda Guerra Mundial, porém, o soa será expulsa, entregue ou extraditada
Protocolo de 1967 retirou esta limitação ge- para um Estado onde possa ser sujeita a
ográfica. A Convenção, até junho de 2012, perseguição.
tinha 145 Estados Partes e o Protocolo, 146
Estados Partes. Proibição da Tortura
P. DIREITO AO ASILO 505

O Asilo e a Segurança Humana não impede que milhões de pessoas fujam


dos seus países por motivos económicos e
O direito ao asilo encontra-se inextrica- peçam asilo nos países anfitriões.
velmente ligado à segurança humana:
uma pessoa que seja perseguida no seu Requerentes de Asilo
país de origem não pode aí viver sem Confundem-se frequentemente os ter-
medo e sem privações. Assim, é de capi- mos “refugiado” e “requerente de asilo”.
tal importância para a segurança huma- Um requerente de asilo é uma pessoa
na a proteção das pessoas no que respei- que declara que é refugiado, tendo a sua
ta à perseguição, assim como a proteção pretensão de ser verificada através dos
das suas vidas e integridade física. O di- procedimentos do asilo. Os sistemas de
reito a requerer e a gozar de asilo contra asilo nacionais têm a responsabilidade de
a perseguição, noutros países, e o direito determinar em que circunstâncias é que
a não ser devolvido ao país perseguidor realmente os requerentes de asilo podem
reflete o compromisso da comunidade beneficiar da proteção internacional, ou
internacional em proteger e assegurar seja, que pessoas têm o direito a receber
a todas as pessoas o gozo dos direitos asilo e a ser, desta forma, consideradas
humanos, incluindo o direito à vida, a como refugiados, nos termos da Conven-
ausência de tortura e de outras penas ou ção de Genebra.
tratamentos cruéis, desumanos ou de- Os requerentes de asilo a quem for nega-
gradantes, a ausência da perseguição e a do o estatuto de refugiado podem ser de-
liberdade e segurança da pessoa. volvidos ao seu país de origem, porém,
tal só pode acontecer se a devolução não
2. DEFINIÇÃO violar as normas de não repulsão (non-re-
E DESENVOLVIMENTO DA QUESTÃO foulement) ou outros mecanismos interna-
cionais de proteção (ou seja, de proteção
O Refugiado, tal como definido pelo Di- subsidiária).
reito Internacional
A Convenção de Genebra Relativa ao Es- Refugiados Prima-facie
tatuto dos Refugiados define o refugiado Os conflitos ou a violência generalizada
como uma pessoa que, se encontrando fora conduzem frequentemente a deslocamen-
do país da sua nacionalidade ou da sua tos em massa de refugiados. Contraria-
residência habitual, tem o receio fundado mente aos casos de perseguição individu-
de ser perseguida em virtude da sua etnia, al, no contexto de deslocações em massa,
religião, nacionalidade, filiação em deter- é impossível a realização de entrevistas de
minado grupo social ou das suas opiniões asilo individuais a todos os que fugiram e
políticas, e que não pode ou não quer a cruzaram a fronteira para um país vizinho
proteção desse país, assim como aí regres- anfitrião. Nestes casos, normalmente, tão
sar, devido ao medo da perseguição. Conse- pouco serão necessárias as entrevistas, já
quentemente, aqueles que buscam refúgio que as circunstâncias que estão na origem
por motivos diferentes dos mencionados na da fuga são geralmente conhecidas. Estes
Convenção de Genebra não se encontram grupos são frequentemente referidos como
protegidos pelos mecanismos da Conven- refugiados “prima facie”.
ção. Porém, o leque limitado de proteção (Fonte: UNHCR. Asylum-Seekers.)
506 II. MÓDULOS SOBRE QUESTÕES SELECIONADAS DE DIREITOS HUMANOS

Alternativa de Fuga Interna Pessoas Apátridas


Sempre que o requerente de asilo tiver Determinadas pessoas não conseguem ob-
medo, bem fundado, de perseguição na sua ter a cidadania de um Estado específico,
zona de residência, pode ter lugar a realo- por diferentes motivos. Essas pessoas não
cação interna (denominada “alternativa de têm a rede de segurança básica de uma
fuga interna”). De acordo com este prin- nacionalidade e são geralmente referidas
cípio, um refugiado tem de fundamentar como apátridas. Sem a cidadania, é extra-
a pretensão de que está, não só sujeito à ordinariamente difícil a obtenção de docu-
perseguição na sua área de residência, mas mentos jurídicos que provem a identida-
também que será incapaz de fugir à per- de e a ascendência. Consequentemente,
seguição, ao realocar-se em qualquer outro os apátridas têm problemas na obtenção
lado no seu país de origem. Na realidade, o de habitação e de emprego, são sujeitos a
medo de perseguição não tem necessaria- discriminação e vivem frequentemente em
mente de estar presente em todo o território situações precárias, à margem da socieda-
do país. No entanto, isto não significa que de. Não existem números precisos sobre
um requerente de asilo não possa receber o número de apátridas no mundo, porém,
asilo porque poderia ter escapado à perse- um relatório do ACNUR estima que exis-
guição ao realocar-se noutra região do seu tam aproximadamente 12 milhões.
país de origem, a não ser que, consideran- (Fonte: UNHCR. 2011. Global Report 2011.)
do todas as circunstâncias, fosse razoável
esperar que ele o tivesse feito. Migrantes
(Fontes: UNHCR. 2011. Handbook and Gui- Devido a um número limitado de funda-
delines on Procedures and Criteria for Deter- mentos, os migrantes não se encaixam no
mining Refugee Status under the 1951 Con- âmbito de aplicação da Convenção de Ge-
vention and the 1967 Protocol relating to the nebra, já que não se enquadram na defini-
Status of Refugees.; Immigration Advisory ção de refugiados. Em termos específicos,
Service. 2009. Internal Flight Alternative.) a Convenção de Genebra não se aplica a
pessoas que tiveram de deixar o seu país
“Eu cheguei aqui há 15 dias atrás, com seis por motivos económicos, já que essas pes-
membros da minha família. Temos um ter- soas não foram perseguidas, nos termos
reno, aqui na zona dos recém-chegados, dos cinco fundamentos especificados na
mas não temos nada para construir um Convenção de Genebra. Assim, os migran-
abrigo. Não temos plástico nem tendas. tes não têm direito a receber asilo, porém,
Temos cartões de registo mas ainda não re- poder-lhes-ão ser atribuídos direitos de re-
cebemos quaisquer rações de comida. Aqui sidência pelo país anfitrião.
é muito inseguro: à noite temos medo que
animais selvagens comam as crianças e já Expulsão e Unidade Familiar
fomos ameaçados de violência, por parte Quando o asilo não for concedido a uma
de pessoas locais que afirmam que a terra pessoa (por não preencher os critérios
é delas. Onde não existe segurança, não para a receção do estatuto de refugiado,
existe vida.” nos termos da Convenção de Genebra), e/
Fatima, 34 anos, refugiada de Mogadishu, na So- ou quando uma pessoa não gozar de outra
mália, tendo fugido para o Quénia, numa entrevis- forma de proteção internacional, um Esta-
ta da Médecins sans Frontières. 2011.
do poderá avaliar se essa pessoa é passível
P. DIREITO AO ASILO 507

de ser expulsa para o seu país de origem. caso de não conseguirem o estatuto inte-
O direito ao respeito da vida privada e da gral de refugiados, nos termos da Conven-
vida familiar pode fazer com que a ex- ção de Genebra dos Refugiados.
pulsão da pessoa seja inaceitável à luz da
Convenção de Genebra. Proibição da Tortura

Repatriação Voluntária e Deportação Exclusão do Estatuto de Refugiado


Forçada De acordo com o artº 14º, nº 2 da DUDH,
No caso de a expulsão ser declarada ad- o direito a requerer e a gozar de asilo não
missível, existem duas opções: o regresso pode ser invocado quando o requerente
voluntário ao país de origem ou a deporta- estiver a ser julgado por crimes que não
ção forçada. Em geral, muitos dos que não sejam políticos ou por atos contrários aos
reúnem os requisitos, quer para o asilo, princípios e propósitos das Nações Uni-
quer para qualquer outra forma de prote- das. A Convenção de Genebra enumera
ção estatal e cuja expulsão é admissível, alguns critérios conducentes à exclusão
deixam voluntariamente o país. Porém, de um indivíduo da oportunidade de
aqueles que não o fazem podem ser de- receber o estatuto de refugiado. Os con-
volvidos à força, pelo Estado, ao seu país denados por crimes de guerra, contra a
de origem. humanidade e contra a paz encontram-se
absolutamente excluídos da possibilidade
O Princípio da Não Repulsão de receber asilo. Para além disso, as pes-
(Non-Refoulement) soas condenadas por crimes não políticos
e Acordos de Proteção Subsidiária graves também se encontram excluídas.
O direito dos refugiados à proteção con- Esta é a única disposição da Convenção
tra a expulsão ou devolução forçada (re- de Genebra que se aplica expressamen-
foulement) encontra-se estabelecido no te aos crimes cometidos fora do país de
artº 33º da Convenção Genebra dos Refu- refúgio e anteriores à admissão naquele
giados: “Nenhum dos Estados Contratantes país enquanto refugiado.
expulsará ou repelirá um refugiado, seja de
que maneira for, para as fronteiras dos ter-
Grupos Especialmente Vulneráveis
ritórios onde a sua vida ou a sua liberdade
sejam ameaçadas em virtude da sua raça, • Pessoas com Deficiência
religião, nacionalidade, filiação em certo
Estima-se que 2.5 a 3.5 milhões de pes-
grupo social ou opiniões políticas.”
soas deslocadas tenham deficiências.
Considerando que este princípio é parte do
Este grupo é particularmente vulnerá-
direito internacional consuetudinário, os
vel dentro do grupo das pessoas des-
Estados que não ratificaram a Convenção
locadas, já que são frequentemente
de Genebra dos Refugiados encontram-se
esquecidos ou ostracizados nos cam-
igualmente obrigados a respeitarem este
pos de refugiados e não podem aceder
princípio. Este princípio é de importância
a instalações adequadas. Para quem
capital para a segurança e o bem-estar dos
tenha uma deficiência mental a situa-
requerentes de asilo e refugiados, já que
ção poderá ser ainda pior, já que pode
exige que os requerentes de asilo não se-
não ter acesso a informações com-
jam devolvidos ao seu país de origem, no
508 II. MÓDULOS SOBRE QUESTÕES SELECIONADAS DE DIREITOS HUMANOS

preensíveis sobre os procedimentos são mulheres. O ACNUR desenvolveu,


para a obtenção de asilo. Os direi- recentemente, uma série de progra-
tos dos refugiados com deficiência mas especiais para as mulheres, para
encontram-se mencionados na Con- promover a igualdade no acesso aos
venção das Nações Unidas sobre os serviços, o sentido de normalidade e
Direitos das Pessoas com Deficiên- o regresso à forma habitual de vida.
cia, de 2006, amplamente assinada e Para além disso, o ACNUR atribui
ratificada. uma importância especial à sensibi-
• Pessoas afetadas por Doenças e os lização para o problema da violência
Idosos sexual, mutilação genital feminina e
outras formas de discriminação sexu-
De acordo com o ACNUR, os refugia- al em relação às mulheres.
dos defrontam-se com três problemas
(Fontes: UNHCR. Children.; UNHCR.
graves: a dependência, a desintegra-
2000. UNHCR’s Policy on Older Refuge-
ção social e a seleção social negativa.
es.; UNHCR. Women.; Women’s Com-
Estes três problemas são, frequente-
mission for Refugee Women and Chil-
mente, exacerbados quando se trata
dren. 2008. Disabilities among Refugees
de refugiados mais velhos. No seu
and Conflict-Affected Populations.)
plano de ação de 2000, para os refu-
giados idosos, o ACNUR deu ênfase à
Direitos Humanos das Crianças
necessidade de integração das neces-
Direitos Humanos das Mulheres
sidades dos refugiados idosos no seu
trabalho quotidiano.
Alto Comissariado
• Crianças
das Nações Unidas
Dos milhões de refugiados, desloca- para os Refugiados (ACNUR)
dos internos e apátridas por todo o O ACNUR foi estabelecido em 1951, para
mundo, quase metade são crianças. assistir os milhões de refugiados em todo
A Convenção sobre os Direitos da o mundo, principalmente como resultado
Criança (CDC), de 1990, estabeleceu da Segunda Guerra Mundial e da política
o quadro para o trabalho do ACNUR que se lhe seguiu. Porém, as origens do
relacionado com as crianças refugia- Alto Comissariado podem ser encontradas
das. Em particular, o ACNUR trabalha em 1921, com a nomeação do primeiro
para garantir as necessidades básicas Alto Comissário Internacional para os Re-
das crianças (água, alimentação, pro- fugiados, Fridtjof Nansen, enquanto parte
visões para a saúde, educação), assim dos mecanismos internos da Sociedade
como auxilia na reunificação das fa- das Nações. Desde a sua formação e do
mílias, no apoio de programas de for- estabelecimento da sua sede em Genebra,
mação vocacional e oferece tratamen- o ACNUR tem ajudado dezenas de milhões
to psicológico, se necessário. de refugiados e deslocados internos a en-
• Mulheres contrar soluções duráveis e estáveis para o
problema da localização de uma residên-
Cerca de 50% daqueles que vivem em cia. O trabalho do ACNUR estende-se hoje
campos ou comunidades de refugiados a mais de 120 países e encontra-se, em
P. DIREITO AO ASILO 509

primeiro lugar, centrado na assistência das de Estados considerados mais atrativos.


pessoas forçadas a fugir para além frontei- Por exemplo, existe um fluxo de migração
ras, assim como daqueles que se encon- considerável de países em vias de desen-
tram em fuga no seu próprio país (deslo- volvimento para a Europa, através do qual
cados internos). A Convenção de Genebra tanto migrantes como refugiados tentam
e o seu Protocolo de 1967 exigem que os escapar à perseguição e a condições eco-
Estados Partes cooperem proximamente nómicas difíceis no seu Estado de origem,
com o ACNUR, no exercício das suas fun- de forma a iniciar uma vida melhor num
ções e na supervisão da implementação da outro lado. Porém, a própria viagem é
Convenção e do Protocolo de 1967. perigosa: nos últimos anos, milhares de
(Fontes: UNHCR. Refugee Figures.; UNHCR. refugiados e migrantes morreram no Mar
2011. World Refugee Day: UNHCR report Mediterrâneo ao tentar alcançar a “fortale-
finds 80 per cent of world’s refugees in de- za Europa”. Simultaneamente, a União Eu-
veloping countries.) ropeia também torna cada vez mais difícil,
aos migrantes e requerentes de asilo, a en-
3. PERSPETIVAS trada no seu território, através de medidas
INTERCULTURAIS jurídicas e concretas.
E QUESTÕES CONTROVERSAS
Direito a Não Viver na Pobreza
Refugiados Vítimas de Pobreza
O direito internacional distingue clara- Processos de Asilo
mente entre refugiados e diversas catego- Os processos para determinar se um indi-
rias de migrantes. Por exemplo, já que a víduo se enquadra nos critérios para a
Convenção de Genebra não abrange a fuga qualificação como “refugiado” ou se é
devida a motivos económicos e a insegu- necessária uma outra forma de proteção
rança económica, é essencial categorizar internacional (processo de asilo), devem
as razões que devem fundamentar o pedi- ser céleres, equitativos e eficazes. Porém,
do de asilo ou o abandono do país natal. o processo de reconhecimento das pesso-
Como consequência, aquelas pessoas que as como refugiado varia muito entre os
deixam o seu país devido à pobreza opres- Estados. Em muitos casos, demora anos
siva ou às condições económicas, como o até que o requerente saiba se lhe é con-
desemprego ou a falta de cuidados de saú- cedido o asilo ou outra forma de proteção
de, não têm direito ao estatuto de refugia- ou se tem de regressar. Esta morosidade
do, nos termos da Convenção. Este facto deixa um número considerável de pesso-
não obsta a que muitas pessoas requeiram as (e as suas famílias) sem certezas sobre
asilo com base nesses fundamentos pois, o futuro, sem autorizações de trabalho ou
nalguns Estados europeus, o estatuto de quaisquer outras perspetivas. Outra práti-
refugiado confere a hipótese de acesso ao ca alarmante é a detenção até à depor-
mercado de trabalho e à obtenção de resi- tação, aplicada a muitas pessoas a quem
dência no país de destino, após o decur- não foi concedido asilo ou qualquer outra
so de um determinado período de tempo. forma de proteção, de forma a assegurar
Em geral, a falta do gozo pleno dos direi- a sua deportação. A detenção das pesso-
tos humanos, em determinados Estados, as, em muitos casos por diversos meses,
conduz a fluxos migratórios no sentido apenas por terem atravessado fronteiras, é
510 II. MÓDULOS SOBRE QUESTÕES SELECIONADAS DE DIREITOS HUMANOS

contrária às garantias de direitos humanos lecimento de um processo único para os


fundamentais. refugiados e a determinação do estatuto de
Se o sistema de processamento de asilo proteção subsidiária, o aumento da eficá-
e dos refugiados for célere e equitativo, cia na análise do processo de requerimen-
aqueles que estão conscientes de que não to, a facilitação no acesso à análise dos
se enquadram no estatuto de refugiado procedimentos, a melhoria da qualidade
ou de asilo terão poucos incentivos para das decisões sobre asilo e a segurança de
apresentar um pedido. Desta forma, tan- que um requerente de asilo pode recorrer
to o país anfitrião, como os refugiados e da decisão. Esta proposta encontra-se pre-
requerentes de asilo genuínos, para quem sentemente a ser negociada no Parlamento
o sistema de processamento existe, saem Europeu e no Conselho Europeu.
beneficiados.
O uso do processo de asilo por parte de 4. IMPLEMENTAÇÃO
“refugiados económicos” evidencia as E MONITORIZAÇÃO
questões em torno dos migrantes econó-
micos. Um método mais prático para se O direito a requerer asilo inclui o direito
lidar com estes problemas pode ser a alte- a receber asilo apenas nos casos explici-
ração dos requisitos de imigração e proce- tamente mencionados na Convenção de
dimentos dos Estados anfitriões, de forma Genebra dos Refugiados. Assim, tem de
a permitir aos migrantes económicos, a se instaurar um processo de asilo para se
obtenção de trabalho e de residência, pelo estabelecer se o caso entra na alçada de
menos, parcial. proteção da Convenção de Genebra, con-
duzindo ao direito à atribuição de asilo.
Primado do Direito e Julgamento Contrariamente a outras convenções das
Justo Nações Unidas, a Convenção de Genebra
dos Refugiados não estabelece mecanis-
Sistema Europeu Comum de Asilo mos de implementação específicos, nome-
A Diretiva de 2005 da União Europeia, so- adamente, um sistema de relatórios dos
bre os procedimentos de asilo, veio esta- Estados ou de queixas individuais. O fun-
belecer um nível mínimo de garantias para cionamento e aplicação da Convenção de
um processo de asilo equitativo e eficaz, Genebra e do seu Protocolo de 1967 é su-
na União Europeia. Estabeleceu, nomea- pervisionado pelo Alto Comissariado das
damente, salvaguardas básicas para os re- Nações Unidas para os Refugiados (AC-
querentes de asilo, nomeadamente, garan- NUR). Os artos 35º e 36º da Convenção de
tias processuais, requisitos mínimos para o Genebra permitem a cooperação entre os
processo decisório, o direito ao recurso de Estados Partes e o ACNUR, incluindo a dis-
uma decisão de indeferimento e padrões ponibilização de informações relevantes e
comuns para a aplicação de determinados de estatísticas respeitantes ao conteúdo e
conceitos e práticas. A proposta de altera- à aplicação da Convenção.
ções à Diretiva de 2005, por parte da Co-
missão Europeia, em 2011, representa mais
um passo no sentido do estabelecimento Os Estados Partes da Convenção de Gene-
de um Sistema Europeu Comum de Asilo. bra têm de informar o Secretário-Geral
Essa proposta de alteração visa o estabe- das Nações Unidas sobre as leis e regu-
P. DIREITO AO ASILO 511

lamentos que promulguem para assegu- que Rege os Aspetos Específicos dos Pro-
rar a aplicação da Convenção (artº 36º blemas dos Refugiados em África (Con-
da Convenção). vention Governing the Specific Aspects of
Refugee Problems in Africa), de 1969, e a
A Convenção e o Protocolo de 1967 pre- Declaração de Cartagena, de 1984, adota-
vêem que os Estados cooperem com o da por um grupo de Estados Latino-Ame-
ACNUR no exercício das suas funções e ricanos.
que ajudem o ACNUR a supervisionar
a implementação das normas da Con- O Papel do Tribunal Europeu dos Direi-
venção. tos Humanos
Os Estados Partes também devem dispo- O Tribunal Europeu dos Direitos Humanos
nibilizar ao ACNUR as informações e da- (TEDH) é o tribunal do sistema de direitos
dos estatísticos pedidos, no respeitante: humanos do Conselho da Europa. Desem-
• à condição dos refugiados, penha um papel de capital importância na
proteção dos direitos humanos dos reque-
• à implementação da Convenção e do
rentes de asilo. Primeiro, decide sobre a
seu Protocolo de 1967, e
aplicação do artº 3º da Convenção Euro-
• às leis, regulamentos e decretos rela- peia dos Direitos Humanos (CEDH), isto
cionados com os refugiados que este- é, sobre a proibição da tortura e penas ou
jam ou possam vir a estar em vigor. tratamentos desumanos ou degradantes,
no respeitante aos procedimentos de de-
Assim, coloca-se um peso específico na portação e ao princípio de não repulsão
interpretação da Convenção, pelo ACNUR. (non refoulement). A deportação é proibi-
da se uma pessoa ao regressar ao seu país
O Pacto Internacional sobre os Direitos Ci- de origem ficar sujeita à tortura. A decisão
vis e Políticos (PIDCP) não inclui normas de referência respeitante a esta questão é o
explícitas sobre o direito ao asilo. Porém, processo Soering c. Reino Unido, em 1989.
os artos 6º e 7º do Pacto aplicam-se rela- O artº 8º (sobre o direito à privacidade e
tivamente ao princípio da não repulsão à vida familiar) também é muito impor-
(non-refoulement). Assim, a violação des- tante para os requerentes de asilo. Estes
tas normas, relevantes para o direito ao podem também recorrer ao Tribunal com
asilo, encontra-se sujeita aos mecanismos base neste artigo, se a sua vida familiar
de monitorização do PIDCP. tiver sido desrespeitada por decisões rela-
cionadas com o processo de asilo ou de
Instrumentos Regionais deportação pendente.
Para além da Convenção de Genebra dos Só se pode apresentar queixas junto do
Refugiados, existem instrumentos regio- Tribunal Europeu dos Direitos Humanos
nais para a proteção de refugiados (por quando tiverem sido esgotados todos os
ex., os princípios de Bangkok sobre o mecanismos internos de proteção e apenas
Estatuto e Tratamento de Refugiados, no prazo de seis meses após a decisão in-
adotados no Comité Jurídico Consultivo terna final, no Estado.
Afro-Asiático (Asian-African Legal Con-
sultative Committee), de 1966, a Conven- Com a adesão esperada da União Eu-
ção da Organização de Unidade Africana ropeia à CEDH, também as instituições
512 II. MÓDULOS SOBRE QUESTÕES SELECIONADAS DE DIREITOS HUMANOS

da União Europeia, nomeadamente, o reitos constantes na Convenção tiverem


Tribunal de Justiça da União Europeia sido violados pelas instituições da UE. A
(TJUE), ficarão vinculadas às disposições adesão da UE à CEDH irá permitir uma
da Convenção e à sua interpretação pelo aplicação mais consistente e implemen-
Tribunal Europeu dos Direitos Humanos tação das normas de direitos humanos e
(TEDH). Os indivíduos poderão submeter fortalecer a proteção dos direitos huma-
as suas queixas ao TEDH, se os seus di- nos.

CONVÉM SABER
1. BOAS PRÁTICAS RefWorld
A Refworld é uma das fontes de informa-
Esquema de Reunificação Familiar ção mais importantes para as decisões
Uma das funções mais importantes do Co- sobre o estatuto de refugiado. A Refworld
mité Internacional da Cruz Vermelha contém um grande número de relatórios
(CICV), em conjunto com as Sociedades sobre os países de origem, documentos de
Nacionais da Cruz Vermelha e do Crescente diretrizes e posições políticas e documen-
Vermelho, é ajudar na reunificação de famí- tos relacionados com quadros jurídicos
lias separadas devido a conflitos ou desas- internacionais e nacionais. A informação
tres naturais. Durantes estas crises, as famí- é recolhida pelo ACNUR e pelas suas re-
lias podem ficar imediatamente separadas, presentações no terreno, governos e ONG,
nalguns casos, durantes anos. O CICV tra- assim como por entidades académicas e
balha no sentido de se descobrir o paradeiro judiciais.
de familiares e, uma vez descobertos, atua
como intermediário no processo de troca de
mensagens entre eles e ajuda na eventual Emancipação dos Refugiados
reunificação. A Agência Central de Rastrea- O Projeto de Emancipação de Refugiados
mento (Central Tracing Agency) do CICV é um projeto iniciado por requerentes de
também ajuda os Estados participantes em asilo na Alemanha. Pretende usar a inter-
conflitos armados a respeitarem as suas net como uma ferramenta para ligar os re-
obrigações de direito internacional humani- fugiados a outras pessoas, nos seus países
tário, exigindo às autoridades do Estado que de origem e por todo o lado, para reduzir o
façam tudo o que for possível para ajudar seu isolamento. Neste contexto, o projeto
os familiares separados devido ao conflito. organiza seminários e cursos e disponibi-
Esta obrigação fundamenta-se nos direitos liza informações de sensibilização. Para
reconhecidos internacionalmente, relaciona- além do fórum de conversações online,
dos com a proibição dos desaparecimentos também se editam, no website, histórias
forçados, e no direito a ser informado sobre pessoais. Desta forma, pode melhorar-se a
o destino dos familiares desaparecidos. qualidade de vida dos refugiados na Ale-
manha, simplesmente através da comu-
Direitos Humanos em Conflito nicação com outros a viverem situações
Armado semelhantes.
P. DIREITO AO ASILO 513

2. TENDÊNCIAS e navegam perigosamente sobrelotadas.


Os traficantes também recorrem frequen-
Deslocados Internos temente a expedientes para forçar o salva-
Uma pessoa que requeira o estatuto de re- mento, sabotando o barco de forma a for-
fugiado tem de estar fora do seu país de çarem as autoridades do Estado a intervir.
origem. A travessia de uma fronteira in- Tal resulta, muitas vezes, em perdas consi-
ternacional preenche um dos elementos deráveis de vidas. Por exemplo, em 2009,
essenciais da definição comum de refugia- na Austrália, a tentativa de incêndio de
do. Contrariamente aos refugiados, as pes- um barco resultou numa explosão em que
soas deslocadas no seu país de origem morreram 5 e ficaram feridos 40. Tal como
são referidas como deslocados internos. referido pelo ACNUR, “não há dúvidas que
Tal como os refugiados, são forçados ao traficantes de pessoas sem escrúpulos são
desenraizamento devido ao conflito, vio- culpados da morte anual de milhares de
lência generalizada e violações de direitos pessoas no Mediterrâneo, Golfo de Áden,
humanos mas a diferença em relação aos Caraíbas, Oceano Índico e outros”. O AC-
refugiados é que eles continuam a viver no NUR relatou que se estima que mais de
seu país de origem ou de residência habi- 500 pessoas morreram, em 2007, ao tenta-
tual. Dos cerca de 42.5 milhões de pessoas rem atravessar o Mediterrâneo, enquanto
presentemente forçadas à deslocação, por as autoridades espanholas estimam que
todo o globo, como resultado de conflitos cerca de 1.000 pessoas morreram na ten-
novos e contínuos em diferentes partes do tativa de viajarem de África para as Ilhas
mundo, 26.4 milhões são deslocados in- Canárias. Estes números, porém, podem
ternos. Apesar de não se encontrar espe- não refletir o número real de mortos, já
cificamente previsto no mandato original que o processo de migração se encontra
do ACNUR, há anos que a agência ajuda quase indocumentado e muitos dos barcos
milhões deles, mais recentemente através simplesmente desaparecem na rota.
da supervisão da proteção e das necessi-
dades de abrigo e da coordenação e gestão A migração marítima irregular não é ape-
de campos. nas um fenómeno europeu. Todos os anos,
(Fonte: UNHCR. Internally Displaced Peo- dezenas de milhares de Somalis e Etíopes
ple Figures.) atravessam o Golfo de Áden para o Iémen,
onde têm a possibilidade de ser aceites
Migração Irregular pelo Mar como refugiados e de iniciar uma vida
Uma determinada percentagem de pessoas melhor. Em 2007, cerca de 27.000 migran-
a fugirem do seu país de origem fazem-no tes chegaram à costa do Iémen, enquanto
através da travessia de oceanos ou mares, mais de 1.200 foram declarados mortos ou
para encontrarem refúgio noutra parte. desaparecidos, estimando-se que a viagem
Este processo pode ser extraordinariamen- tenha uma taxa de mortalidade de cerca
te perigoso, sobretudo, devido aos grupos 5%. Da mesma forma, a Austrália é o prin-
organizados de traficantes de pessoas que cipal destino, na região da Ásia-Pacífico,
atuam sobre uma grande parte da migra- para os migrantes marítimos irregulares,
ção marítima. As embarcações muitas ve- através da Malásia e da Indonésia e com
zes não têm condições de navegabilidade origem predominante do Afeganistão, Ira-
nem equipamento de segurança adequado que, Irão e Sri Lanka. Em 2010, a Austrália
514 II. MÓDULOS SOBRE QUESTÕES SELECIONADAS DE DIREITOS HUMANOS

recebeu 6.555 chegadas marítimas irre- refugiado de Sirko, na Somália disse: “Eu
gulares, porém, muitos não conseguiram cheguei ontem à noite. Vim para cá com
atingir o continente tendo sido interceta- a minha mãe, mulher e as nossas cinco
dos pelos militares, ficando detidos em crianças. Não trouxemos nada connosco a
centros de processamento offshore. Em não ser as roupas que tínhamos vestidas.
dezembro de 2010, 50 viajantes morreram Estamos no abrigo da minha irmã, com
após a embarcação se ter despenhado con- a sua família de oito, enquanto aguarda-
tra rochas, na Ilha Natal na Austrália. mos encontrar o nosso local para viver-
(Fontes: Navi Pillay. 2009. Migrants at sea mos. No momento, dependemos da minha
are not toxic cargo.; UNHCR. 2009. Irre- irmã para tudo. Eles estão a partilhar as
gular Migration by Sea: Frequently Asked suas rações connosco, para que possamos
Questions.) comer.” Uma enfermeira dos Médecins
Sans Frontières disse: “Estas pessoas estão
Dadaab, o Maior Campo de Refugiados a sobreviver com o mínimo com que um
do Mundo ser humano pode sobreviver”.
O campo de refugiados de Dadaab, no (Fonte: Médecins Sans Frontières (MSF).
Quénia, foi estabelecido há 20 anos para 2011. No way in. The biggest refugee camp
abrigar refugiados que fugiam da vio- in the world is full.)
lência e guerra civil na Somália. Com o
conflito ainda em curso, Dadaab tornou- O Racismo e a Xenofobia em relação aos
se no maior complexo de refugiados do Migrantes, Refugiados e Requerentes de
mundo, albergando 500.000 pessoas. Foi Asilo
estabelecido para albergar até 90.000 pes- Em muitos países anfitriões, os migran-
soas, sendo que as condições básicas, no- tes, assim como os refugiados e reque-
meadamente os abrigos, água, condições rentes de asilo são confrontados com
sanitárias, educação e proteção para to- racismo, xenofobia e alegações de uso
das as pessoas a viverem no campo e de- incorreto do direito de asilo. Estas ati-
serto circundante, encontram-se a dimi- tudes xenofóbicas e de paranoia da so-
nuir. “A vida em Dadaab é muito difícil: ciedade são exacerbadas pelos meios de
somos dependentes do ACNUR para tudo. informação e políticos populistas ou ra-
A comida aqui não chega. Existe uma cri- cistas, o que resulta em leis e políticas de
se de água, ninguém tem água suficiente. migração e asilo mais restritivas, igno-
Recebemos apenas quatro contentores de rando ou mesmo violando as obrigações
água por família por dia, para tomarmos e compromissos de direitos humanos
banho, lavarmos a roupa, lavarmos os internacionais, de proteção efetiva das
utensílios, cozinharmos e para bebermos. pessoas da perseguição.
Todos necessitam de assistência e não a
conseguem”, disse Anfi, de 25 anos, re- Antirracismo e Não Discrimina-
fugiado de Kismayo na Somália, vivendo ção
em Dadaab, desde os seis anos de idade.
Para além da violência e das dificuldades, Distribuição Justa das Responsabilida-
os longos períodos de chuva intensa des- des
troem os abrigos de muitas pessoas e os Um relatório do ACNUR revela um pro-
mantimentos de comida. Hassan, de 39, fundo desequilíbrio no apoio internacio-
P. DIREITO AO ASILO 515

nal para quem tenha sido forçado a des- 3. CRONOLOGIA


locar-se: quatro quintos dos refugiados
a nível mundial encontram refúgio nos 1948 Declaração Universal dos Direitos
países em desenvolvimento. Muitos dos Humanos
países mais pobres do mundo recebem 1950 Convenção Europeia para a Pro-
muitos refugiados (por ex., o Paquistão, teção dos Direitos Humanos e das
o Irão e a Síria têm das maiores popula- Liberdades Fundamentais (Conse-
ções de refugiados, com 1.9 milhões, 1.1 lho da Europa)
milhões e 1 milhão de refugiados, res- 1951 Convenção de Genebra Relativa ao
petivamente). Apesar da desigualdade Estatuto dos Refugiados
na distribuição das responsabilidades, 1954 Convenção Relativa ao Estatuto
o sentimento paranoico antirrefugiados dos Apátridas
em muitos países industrializados está 1961 Convenção para a Redução dos Ca-
a tornar-se cada vez mais forte. Antó- sos de Apátridas
nio Guterres, Alto Comissário das Na- 1966 Pacto Internacional sobre os Direi-
ções Unidas para Refugiados, disse: “No tos Civis e Políticos (PIDCP)
mundo de hoje existem entendimentos 1966 Princípios de Bangkok sobre o Es-
erróneos preocupantes sobre os fluxos tatuto e Tratamento de Refugiados
de refugiados e o paradigma da prote- (adotado pelo Comité Jurídico Con-
ção internacional. Nos países industria- sultivo Afro-Asiático/Asian-African
lizados, o medo sobre os supostos fluxos Legal Consultative Committee)
de refugiados é exagerado ou resulta da 1967 Protocolo relativo ao Estatuto dos
confusão com as questões de migração. Refugiados
Entretanto, são os países mais pobres 1969 Convenção da Organização de
que ficam com o problema.” E continu- Unidade Africana que Rege os As-
ando: “O mundo está a falhar a estas petos Específicos dos Problemas
pessoas, deixando que esperem pelo fim dos Refugiados em África
da instabilidade em casa e que ponham 1984 Convenção das Nações Unidas
as suas vidas à espera, indefinidamen- contra a Tortura e Outras Penas ou
te. Os países em desenvolvimento não Tratamentos Cruéis, Desumanos
podem continuar a lidar sozinhos com ou Degradantes (CCT)
este fardo; os países desenvolvidos têm 1984 Declaração de Cartagena sobre Re-
de abordar este desequilíbrio.” Assim, é fugiados (adotada pelo Colóquio
essencial a partilha justa de responsa- sobre a Proteção Internacional dos
bilidades entre países desenvolvidos e Refugiados na América Central,
em desenvolvimento para se resolver a México e Panamá)
questão dos atuais 42.5 milhões de pes- 1985 Declaração da Assembleia-Geral das
soas deslocadas por todo o mundo. Tal Nações Unidas sobre os Direitos Hu-
constitui a chave para no futuro se lidar manos dos Indivíduos que não são
com a questão dos refugiados, de uma Nacionais do País onde Vivem
forma legal e digna. 1992 Relator Especial para os Desloca-
(Fonte: UNHCR. 2011. World Refugee Day: dos Internos
UNHCR report finds 80 per cent of world’s 1998 Princípios Orientadores em Maté-
refugees in developing countries.) ria de Deslocamento Interno
516 II. MÓDULOS SOBRE QUESTÕES SELECIONADAS DE DIREITOS HUMANOS

2000 Protocolo Contra o Contrabando 2003 Agenda para a Proteção, adotada


de Migrantes por Terra, Mar e Ar, pelo ACNUR
a suplementar a Convenção das 2006 Convenção das Nações Unidas para
Nações Unidas contra o Crime Or- a Proteção de Todas as Pessoas con-
ganizado Transnacional tra Desaparecimentos Forçados

ATIVIDADES SELECIONADAS

ATIVIDADE I: “Têm 5 minutos para preencher este


REQUERIMENTO DE ASILO formulário.” Esta frase também pode
ser dita numa qualquer língua estran-
Parte I: Introdução geira. Ignorar com frieza as questões e
Esta atividade simula alguns dos fatores protestos.
emocionais da realidade de um refugiado. 3. Cumprimentar as pessoas que chega-
rem atrasadas, secamente (por exem-
Parte II: Informação Geral plo, “existe algum motivo para ter
Tipo de atividade: dramatização chegado atrasado? Tem apenas ____
Metas e objetivos: Sensibilização para a minutos para preencher este formulá-
discriminação durante o processo de re- rio.”). A maior parte dos participantes
querimento de asilo irão rapidamente perceber a ideia, no
Grupo-alvo: adolescentes e adultos entanto, alguns poderão ficar zangados
Dimensão do grupo: qualquer uma ou ansiosos.
Duração: cerca de 15 minutos 4. Recolher os formulários sem sorrir ou
Material: formulário (ver abaixo), ca- estabelecer um contacto pessoal.
netas 5. Chamar um nome dos formulários pre-
Preparação: preparar um formulário e enchidos e pedir a essa pessoa que se
canetas, arranjar a sala de forma a poder aproxime. Olhar para o formulário e
sentar-se numa secretária, para recriar dizer: “vejo que respondeu NÃO a esta
um ambiente com a formalidade de um questão. Asilo indeferido.” Repetir este
escritório. processo diversas vezes.
6. Finalmente deixar de representar o pa-
Parte III: Informação Específica sobre a pel. Perguntar agora aos participantes
Atividade como se sentiram ao preencherem um
Instruções: formulário ininteligível. Perguntar-lhes
1. Deixar que a sala se encha de pessoas, como isto simula a experiência de um
sem as cumprimentar ou reconhecer a refugiado.
presença delas. Reações:
2. Alguns minutos depois da hora previs- Pedir aos participantes que resumam as
ta para o início, distribuir o formulá- suas experiências:
rio para requerimento de asilo, escrito • Esta é uma situação realista dos reque-
numa língua estrangeira. Diga apenas: rentes de asilo?
P. DIREITO AO ASILO 517

• Considera que os requerentes de asilo Direitos relacionados/outras áreas a ser


recebem um tratamento equitativo no exploradas:
decurso do processo? Direito a não ser discriminado devido à
• Quais são as consequências para uma nacionalidade, língua ou etnia.
pessoa a quem seja negado o asilo?

Formulário para entrega:

APPLICATION FOR ASYLUM

1. APPELLIDO
2. PRIMER NOMBRE
3. FECHA DE NACIMIENTO
4. PAIS, CIUDAD DE RESIDENCIA
5. OU GENYEN FANMI NE ETAZINI?
6. KISA YO YE POU WOU
7. KI PAPYE IMAGRASYON FANMI OU YO
GENYEN ISIT?
8. ESKE OU ANSENT?
9. ESKE OU GEN AVOKA?
10. OU JAM AL NAHOKEN JYMAN
(Fonte: David Donahue, Nancy Flowers. 1995. The Uprooted: Refugees and the United
States.)

ATIVIDADE II: Grupo-alvo: adolescentes e adultos


PREPARE A MALA E FUJA Dimensão do grupo: qualquer uma
Duração: cerca de 10 minutos
Parte I: Introdução
Esta atividade simula as decisões emocio- Parte III: Informação Específica sobre a
nais e práticas com que se defronta um Atividade
refugiado e as consequências imprevistas. Instruções:
1. Ler e explicar o seguinte cenário:
Parte II: Informação Geral Você é um professor no ___. O/A seu/
Tipo de atividade: dramatização sua parceiro/a desaparece e é mais tar-
Metas e objetivos: desenvolver conheci- de encontrado assassinado/a. O seu
mentos e compreensão sobre os refugiados nome aparece num artigo de um jornal,
e os seus direitos, promover a solidarieda- inserido numa lista de suspeitos sub-
de com as pessoas forçadas a, de um mo- versivos. Mais tarde, recebe uma carta a
mento para o outro, fugirem de suas casas. ameaçá-lo de morte, devido ao seu ale-
518 II. MÓDULOS SOBRE QUESTÕES SELECIONADAS DE DIREITOS HUMANOS

gado ativismo político. Você decide que Reações:


tem fugir. PREPARAR A MALA: apenas Pedir aos participantes que resumam as
pode levar cinco categorias de objetos e suas experiências:
apenas o que pode carregar. Faça uma • Até que ponto é que o tratamento dos
lista sobre o que levaria. refugiados foi justo?
2. Depois de alguns minutos, pedir aos • Um país deve ter o direito de devolver
participantes que leiam as suas listas os refugiados?
em voz alta. As listas (normalmente • Os refugiados têm o direito humano à
95%) não incluem o artigo do jornal ou proteção. Foi concedido a estes refugia-
a carta de ameaça. O formador diz: “Asi- dos o seu direito à proteção? Porquê/
lo negado!” Por que não?
3. Ler a definição jurídica de refugiado. • Existem, presentemente, pessoas deslo-
Discutir como esta definição é aplicada cadas no seu país?
na vida real e por que se negou asilo à • O que pode ser feito, desde logo, para
maior parte dos participantes, por não evitar que as pessoas se tornem refu-
terem provas para fundamentarem o giadas?
medo de perseguição, para receberem o Direitos relacionados/outras áreas a ser
estatuto de refugiado. exploradas:
4. Discutir a tomada de decisões sob pres- Não repulsão (non-refoulement), não dis-
são e os motivos conducentes às esco- criminação.
lhas pessoais e emoções que surgem (Fonte: David Donahue, Nancy Flowers.
durante o processo de decisão. Concluir, 1995. The Uprooted: Refugees and the Unit-
explicando o propósito desta atividade. ed States.)

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P. DIREITO AO ASILO 519

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III. RECURSOS ADICIONAIS

METODOLOGIA DA EDUCAÇÃO PARA OS DIREITOS HUMANOS


CRONOLOGIA
BIBLIOGRAFIA SUGERIDA SOBRE DIREITOS HUMANOS
RECURSOS SOBRE A EDUCAÇÃO PARA OS DIREITOS HUMANOS
DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS HUMANOS
DECLARAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS SOBRE EDUCAÇÃO
E FORMAÇÃO EM DIREITOS HUMANOS
GLOSSÁRIO

“1. Todas as pessoas têm o direito a saber, procurar e receber informações sobre todos os
direitos humanos e as liberdades fundamentais e devem ter acesso à educação e formação
em matéria de direitos humanos.
2. A educação e a formação em matéria de direitos humanos são essenciais para a pro-
moção do respeito universal e efetivo de todos os direitos humanos e as liberdades fun-
damentais de todas as pessoas, em conformidade com os princípios de universalidade,
indivisibilidade e interdependência dos direitos humanos. […]”
Artigo 1º da Declaração das Nações Unidas sobre Educação e Formação para os Direitos Humanos. 2012.
522 III. RECURSOS ADICIONAIS

A. METODOLOGIA DA EDUCAÇÃO PARA OS


DIREITOS HUMANOS
Os formadores de direitos humanos, antes
1. INTRODUÇÃO de selecionarem as atividades adequadas,
devem clarificar todos os fatores e parâ-
A Educação para os Direitos Humanos metros que determinam a situação da for-
(Human Rights Education) é toda a apren- mação em geral, bem como a formação es-
dizagem que desenvolve o conhecimento, pecífica a ser planeada. Os determinantes
as capacidades e os valores dos direitos principais são as quatro dimensões: conte-
humanos. Afirma a responsabilidade, quer údo, metodologia, estrutura organizacio-
dos Estados quer dos indivíduos, de res- nal e as atitudes, quer dos formadores,
peitar, proteger e promover os direitos de quer dos participantes:
todos os seres humanos, sem distinção de
sexo ou género, idade, deficiência, origens • Conteúdo: cada ação de formação ou
étnicas ou nacionais, língua ou crenças. Tal sessão de trabalho sobre direitos hu-
como qualquer outro campo da educação, manos tem de ter em consideração os
a educação para os direitos humanos en- interesses e as necessidades do gru-
globa um conjunto de métodos que refle- po-alvo específico, os seus ambientes e
tem as intenções da respetiva abordagem regras profissionais e adaptar o concei-
educativa: uma vez que a concretização to dos conteúdos de acordo com estes
dos direitos e a dignidade das pessoas es- parâmetros. Claro que é indispensável
tão no centro da educação para os direitos o conhecimento básico dos conteúdos,
humanos, a abordagem educativa tem de princípios e proteção dos direitos hu-
se centrar na pessoa. As ações de formação manos, mas o foco da formação deve
e os seminários sobre os direitos humanos incidir sempre sobre as necessidades
têm de ir ao encontro das preocupações e do grupo-alvo. Alguns aspetos, tais
das necessidades dos participantes, devem como a diversidade ou as perspetivas
combinar os desafios intelectuais com o de- do género, podem constituir o tópico
senvolvimento de competências e a mode- de uma sessão da formação mas de-
lação de atitudes. Escusado será dizer que vem, em qualquer outro caso, ser trata-
tudo isto não pode ser atingido sem um en- dos como questões transversais a deba-
volvimento ativo dos participantes e sem ter em diferentes contextos e assuntos
ter em consideração as respetivas experi- como a saúde, liberdades religiosas,
ências pessoais e profissionais. Memorizar direito do trabalho ou a dimensão dos
apenas a Declaração Universal dos Direitos direitos humanos dos respetivos am-
Humanos não é aquilo a que nos referimos bientes de trabalho.
quando falamos de educação para os direi-
tos humanos. • Metodologia: cada metodologia educa-
tiva pode ser descrita como uma com-
Na conceção das ações de formação e se- binação específica de componentes,
minários sobre os direitos humanos tem tais como o tamanho do grupo, orga-
de se ter em consideração vários pontos. nização social, atividades do formador
A. METODOLOGIA DA EDUCAÇÃO PARA OS DIREITOS HUMANOS 523

e dos participantes, fases da apren- da formação e tomar medidas para não


dizagem e os meios de informação. fatigar os grupos de formandos.
Uma forma de descrever estes fatores
interdependentes é a abordagem multi-
metodológica PIRA, que dá ênfase aos
princípios metódicos básicos de parti-
cipação, interação, reflexão e antecipa-
PIRA
ção. No que respeita à “participação” abordagem
e “interação”, recomenda-se que se multimetodo- ANTECIPAÇÃO
PARTICIPAÇÃO lógica
mantenha em mente que a educação
para os direitos humanos deve centrar- REFLEXÃO
INTERAÇÃO
se mais nos educandos do que nos
“peritos” ou na “matéria a aprender”.
Quando a perícia, as atitudes e as capa-
cidades são partilhadas não só pelo for-
mador mas também pelos participantes Métodos Métodos com Métodos
(baseando-se nas suas experiências in- intelectuais e base na criativos
analíticos experiência/
dividuais, educativas e profissionais), o empáticos
professor deve deixar a tradicional po-
sição dominante e deixar espaço para
a implementação de vários elementos
metodológicos e didáticos que têm em
Trabalho
comum a interatividade, a comunicação individual Trabalho
Trabalho Trabalho em plenário
e as competências de cada aluno, inde- em grupo
em pares
pendentemente do seu género, passado
cultural ou educacional. A “reflexão”
refere-se à necessidade de se avaliar, de
forma constante, os novos factos, ideias Fontes: traduzido e adaptado de: Vedrana
e perspetivas e de se questionar as Spaji-Vrkaš et al. 2004. Pouavanje prava i
ideias e posições de cada um, à luz dos sloboda. Prirunik za uitelje osnovne škole
novos factos e diferentes perspetivas, s vježbama za razrednu nastavu. Zagreb:
sendo que a “antecipação” e empatia FFpress, 212.)
são indispensáveis para a compreensão
e orientação de processos dinâmicos • Estrutura Organizacional: para se pla-
em grupos. Já que o formador normal- nificar uma ação de formação ou ses-
mente não pode controlar todos os fa- são de trabalho em direitos humanos,
tores e parâmetros que determinam o primeiramente, deve ter-se em mente
contexto da formação, deve centrar-se as “quatro letras (DAAA)” que deter-
na disposição e coordenação daqueles minam a vertente de direitos humanos
que pode influenciar. Ao escolher uma da educação: disponibilidade, acesso,
organização social, atividades e meios aceitação e adaptação. Para garantir o
de informação adequados, o formador aspeto de empoderamento no âmbi-
pode dirigir o processo de educação, in- to da educação para os direitos huma-
teração social e comunicação no local nos, devem ser elaboradas disposições
524 III. RECURSOS ADICIONAIS

que ofereçam a todos a oportunidade turais e de género, conhecimento de


de participar na formação e sessões de circunstâncias e contextos sociais,
trabalho em direitos humanos. Estas “mentalidades”, discriminação, etc.)
disposições podem ter efeitos sobre a
gestão do tempo e o local da formação, Estas normas, assim como a necessidade
assim como sobre possíveis medidas de de enfrentar diferentes tipos de educan-
ação afirmativa. Embora os formadores dos, aconselham a que uma ação de for-
nem sempre tenham a possibilidade de mação ou sessão de trabalho em direitos
influenciar a disponibilidade e o acesso, humanos deva ser, na melhor hipótese,
depende normalmente deles adaptar os orientada por um par de formadores de
seus cursos de forma a responder às ne- sexo diferente e/ou de origem étnica dife-
cessidades dos formandos e de aumen- rente, sobretudo, quando os aspetos inter-
tar a aceitação nas sessões. culturais e de género são abordados e as
competências e atitudes respetivas devem
• Atitudes dos formadores e dos partici- ser trabalhadas. Além disto, a cooperação
pantes: uma vez que a educação para entre dois formadores, com diferentes per-
os direitos humanos deve ser mais do sonalidades e diferentes hábitos de tra-
que a transferência de conhecimento, balho (ex. orientado para o conteúdo vs.
os formadores dos direitos humanos de- orientado para o processo) resulta numa
vem possuir várias competências, tais sessão mais eficaz.
como:
o Competência profissional (conheci- 2. PLANEAR A FORMAÇÃO
mento dos direitos humanos e res- EM DIREITOS HUMANOS
petiva proteção, implementação dos
direitos humanos em diferentes cená- A qualidade da formação ou sessões de
rios profissionais ou sociais); trabalho sobre educação para os direitos
o Competência metodológica e didá- humanos depende, largamente, da pla-
tica (conhecimento da educação e nificação aprofundada de cada passo. A
dos processos de aprendizagem, em seguir, encontra-se uma breve perspetiva
geral, e da educação para os direitos geral dos fatores mais importantes para a
humanos, bem como as competên- preparação:
cias profissionais para pôr em prática • Objetivos da aprendizagem
os conhecimentos); O objetivo global da educação para os
o Competência comunicativa; direitos humanos é compreender o sis-
o Competência empática e afetiva (ca- tema dos direitos humanos e aceitar os
pacidade para refletir a própria orien- direitos humanos como parte impor-
tação existencial e para interagir com tante e sensata da vida de cada um,
os formandos e com os formadores acompanhada pela implementação
coadjuvantes de uma forma empáti- dos princípios dos direitos humanos
ca); e no trabalho diário. Para levar a cabo
o Competência intercultural e de gé- e com sucesso a formação em direitos
nero (capacidade para refletir a pró- humanos, é de extrema importância
pria posição em relação a padrões planear, muito claramente, os objeti-
específicos de comportamentos cul- vos da aprendizagem. Estes devem ir
A. METODOLOGIA DA EDUCAÇÃO PARA OS DIREITOS HUMANOS 525

ao encontro das exigências específicas educandos precisam de suportes adi-


dos participantes. Toda a formação em cionais para conseguirem aplicá-las nas
direitos humanos deve resultar no de- suas vidas diárias. Este apoio tem de
senvolvimento das competências pro- ser encontrado na formação das capa-
fissionais e sociais dos participantes. cidades necessárias e que constituem
Esta abordagem, orientada para a com- um requisito para a implementação dos
petência, é característica da formação e direitos humanos. A formação em direi-
das sessões de trabalho. tos humanos deve basear-se sempre em
critérios que são formulados no início e
Quatro objetivos essenciais devem avaliados no final do curso. Ajuda ques-
constituir a base da educação para tionar-se: “Que conhecimento é que os
os direitos humanos em geral e o educandos devem dominar?”, antes do
fio condutor para a formação e se- curso e ter isto sempre em mente du-
minários: rante o curso. Os testes orais e escritos,
bem como os comentários podem for-
• A transferência de conhecimentos necer dados para a avaliação do proces-
e de informação (o que são os di- so de aprendizagem.
reitos humanos, normas de direitos
humanos, proteção dos direitos hu- • Grupo-alvo
manos, o que significam os direitos Sempre que se organiza uma formação
humanos na vida quotidiana e no em direitos humanos deve-se, com an-
trabalho dos participantes); tecedência, conhecer a composição do
• O desenvolvimento de aptidões grupo-alvo. Uma vez que cada grupo-al-
(empoderar os participantes a viver, vo profissional (ex: administradores,
trabalhar e cumprir as suas tarefas, agentes da polícia, juízes, advogados,
respeitando e implementando os assistentes sociais e de cuidados de
direitos humanos, desenvolvendo saúde, estudantes, professores, milita-
capacidades tais como comunica- res, etc) tem necessidades específicas,
ção, escuta ativa, argumentação e de acordo com as suas tarefas profissio-
debate, análise crítica, etc); nais, devem ser evitados, tanto quanto
• A modificação de atitudes (para possível, grupos “mistos” em formação
clarificar os valores, descobrir ati- pré-profissional ou formação em servi-
tudes negativas, revê-las e aceitar ço. Pode-se fazer uma exceção frutífera
novas atitudes, refletir sobre a re- a esta regra se for possível dar forma-
latividade dos papéis culturais e de ção a organizações ou unidades de or-
género de cada um); e ganização como um todo. Neste caso,
as diferentes perspetivas e visões irão
• A atuação (transferência ativa e
enriquecer o processo de aprendizagem
implementação de competências
e contribuir para o desenvolvimento or-
de direitos humanos e consciência
ganizacional.
na vida quotidiana e no trabalho).
As necessidades específicas do grupo-alvo
Não é suficiente aprender e conhecer devem refletir-se no processo de planifica-
as normas dos direitos humanos. Os ção. De acordo com aquelas, a formação
526 III. RECURSOS ADICIONAIS

pode centralizar-se em diferentes aspetos o Tópicos e apresentação de parâme-


– normas importantes para o respetivo tros
grupo profissional, orientação quanto ao Durante a preparação de uma forma-
conteúdo, construção de aptidões ou mo- ção em direitos humanos sobre um
delação de atitudes, sensibilização, etc. A determinado tópico, recomenda-se
metodologia e as atividades da formação convidar peritos nessa área especí-
devem espelhar as atitudes mais pragmá- fica. Grupos de peritos encontram-
ticas dos educandos adultos – dar a opor- se, geralmente, acessíveis através de
tunidade para a implementação de ideias e projetos locais, universidades e ad-
conceitos, trabalhar em problemas e casos ministrações. Em vez de apresentar
reais retirados dos ambientes profissionais um painel de académicos e peritos
dos participantes, ter em consideração a científicos, um painel misto de cien-
experiência profissional dos participantes. tistas e profissionais pode fomentar
Os educandos em direitos humanos devem o debate e assegurar a aplicabilidade
estar cientes da sua responsabilidade – o prática.
trabalho real começa quando a formação Além disso, as normas e os instru-
acaba e o conhecimento, as competências mentos relevantes dos direitos hu-
e as atitudes adquiridas têm de competir manos devem ser apresentados na
na vida e no trabalho de todos os dias. formação. O formador tem de ter em
Além das necessidades específicas, algu- consideração que as normas são dis-
mas condições organizacionais devem ser cutidas em função do grupo-alvo e
preenchidas para facilitar o processo de que a questão da sua implementação
aprendizagem (instalações, equipamento prática na rotina diária dos partici-
e material adequados; uma visão geral no pantes é, também, abrangida.
início do dia, um resumo no final; um ho- o Abordagem interativa
rário com intervalos suficientes; refeições Os educandos, em especial os edu-
leves, quando possível). candos adultos, têm de ser integra-
dos no processo de educação com to-
• Participação das as suas capacidades, experiência
De acordo com a afirmação segundo a pessoal e competência profissional.
qual a forma mais eficaz de aprender Num processo de educação intera-
é “aprender fazendo”, é fortemente tivo, o papel do educador/formador
recomendado aprofundar a aborda- muda da posição dominante do pro-
gem participativa e com base na expe- fessor tradicional para a de facilitador
riência, na educação para os direitos ou moderador. Apesar de as questões
humanos. A participação educacional de conteúdo e conhecimento não de-
é caracterizada por elementos, tais verem ser negligenciadas, o formador
como processos interativos, flexibi- tem de manter processos de grupo e
lidade, variedade na metodologia e facilitar e aprofundar a aquisição de
organização social e relevância dos atitudes e aptidões, estabelecendo
assuntos e materiais. Para conseguir limites, preparando material e a or-
um processo de formação ativo, bem ganização do grupo e dando apoio
como eficaz, deve refletir-se sobre os metodológico profissional ao mesmo
seguintes assuntos: tempo (ex: técnicas de ensino/apren-
A. METODOLOGIA DA EDUCAÇÃO PARA OS DIREITOS HUMANOS 527

dizagem). O novo papel do formador de transferência de conhecimentos,


como facilitador pode também con- modelação de atitudes e construção
tribuir para abrir portas que estavam de aptidões, será sempre como um
fechadas aos professores tradicionais. quadro inacabado. A modelação de
Especialmente pessoas com pouca atitudes e a construção de aptidões
ou má experiência escolar podem ser sem a transferência de conhecimen-
encorajadas por uma abordagem par- tos carece da base de informação.
ticipativa que dê relevância à expe- A transferência de conhecimentos e
riência pessoal, e não às falhas, dos a modelação de atitudes não fazem
educandos. sentido sem as necessárias aptidões
o Abordagem prática para implementar os direitos huma-
É um objetivo da educação para os nos. Finalmente, a transferência de
direitos humanos popularizar a ideia conhecimentos e a construção de ap-
de que os direitos humanos são ou, tidões sem a modelação de atitudes
pelo menos, podem ser um elemento podem até ser usados para trabalhar
essencial da vida quotidiana. Neste contra os direitos humanos. Assim,
aspeto, a educação para os direitos além de fornecer informação e técni-
humanos vai ao encontro das necessi- cas de formação, é tarefa da educa-
dades dos profissionais que não estão ção para os direitos humanos sensi-
só interessados na ideia abstrata dos bilizar os participantes e fazer com
direitos humanos mas, sobretudo, na que eles tenham consciência do seu
questão sobre como podem eles mes- próprio potencial – para apoiar os di-
mos lidar com as questões dos direi- reitos humanos ou para os violar.
tos humanos nos seus ambientes pri- o Reações (Feedback)
vados e profissionais. Como podem A avaliação nas ações de formação e
eles fazer um bom trabalho dentro em sessões de trabalho não pode ser
dos padrões dos direitos humanos? O considerada só num sentido, deven-
que ganham eles com isso? Qual é a do ser um processo permanente de
vantagem de compreender e viver os reações e comentários mútuos. O co-
direitos humanos? mentário positivo e construtivo tem
Consequentemente, os educadores de se reger por três regras:
em direitos humanos têm de incluir - a avaliação positiva e os elogios
informação prática no seu programa, vêm sempre em primeiro!;
de preparar bibliografia, material e ca- - pôr em foco ações e afirmações
sos relevantes para a vida prática. Se o concretas;
formador não tem experiência pessoal - dar a sua opinião e as razões do
no ambiente profissional do seu gru- seu ponto de vista.
po-alvo, geralmente, é boa ideia con-
sultar um profissional dessa área ou • Flexibilidade
envolver-se em equipas de formadores. As ações de formação em direitos hu-
o Sensibilização e construção de ap- manos devem ser elaboradas de forma
tidões a ser facilmente adaptadas a diferentes
A educação para os direitos huma- situações, grupos-alvo e circunstâncias,
nos que não se baseie nos três pilares de acordo com as necessidades e expe-
528 III. RECURSOS ADICIONAIS

riências culturais e educativas respeti- movimentação) e intelectuais dos par-


vas. Na preparação, também se deve ticipantes.
considerar que pode haver diferentes
grupos-alvo num curso ou pré-requi- • Avaliação
sitos diferentes no grupo-alvo. Assim, Os testes de perguntas, enquanto fer-
os educadores em direitos humanos ramenta de avaliação, têm três funções
devem prestar atenção ao uso de mate- principais, dependendo de quando são
riais “preparados”, sem refletir sobre as utilizados: no início, quando começa
necessidades específicas do grupo-alvo. a formação, ao ajudar a compreender
Devem estar prontos a adaptar ou a cor- melhor as necessidades, atitudes e o ní-
rigir o material disponível ou a procurar vel de conhecimentos prévios dos edu-
novos dados, casos, etc. Isto aplica-se candos, indicam um status quo, que é
também aos utilizadores do manual a base de todo o progresso e sucessos
“Compreender os Direitos Humanos - alcançados no curso; durante o curso,
Manual de Educação para os Direitos os testes ajudam o formador a adaptar o
Humanos”, que pretende ser um “tra- seu programa; os testes finais mostram
balho contínuo”. Os meios técnicos para os êxitos alcançados e, nessa medida,
a continuidade são os sítios na internet são uma importante ferramenta para a
do ETC e do Ius Gentium Conimbrigae/ futura modificação e o desenvolvimento
Centro de Direitos Humanos, que ofere- de cursos e materiais.
cem materiais adicionais, atualizações
e atividades e que convidam todos os • Sustentabilidade/Acompanhamento/
utilizadores a disponibilizar as suas cor- Ação
reções temáticas ou locais, a toda a co- A questão sobre o que acontece após
munidade do ensino. a formação para que os resultados se
mantenham deve, também, fazer parte
A escolha e a preparação cuidadas de do programa de formação. Os elemen-
materiais torna mais fácil a condução tos de um acompanhamento planeado
de um curso e uma ampla seleção de e estruturado podem ser reuniões peri-
materiais e atividades contribui para ódicas, viagens de campo e opiniões de
a flexibilidade do formador na sessão, peritos, relatórios sobre o trabalho dos
reagindo mais prontamente às necessi- educandos após a formação (sucessos
dades ou à complexidade do grupo. Ou- e problemas) ou a construção de redes
tra dica útil é organizar os assuntos por para fomentar a troca profissional de in-
módulos que podem ser facilmente ma- formação.
nobrados e rearranjados se necessário.
Embora seja absolutamente necessário 3. EXERCÍCIOS E ATIVIDADES
dar aos participantes limites temporais
para orientação, os formadores não As atividades listadas em todos os mó-
devem segui-los à risca a fim de evitar dulos do manual ajudam os educandos
frustrações e indiferença nos participan- a desenvolver a compreensão sobre os
tes. Os educadores devem equilibrar, da princípios essenciais dos direitos huma-
melhor forma possível, as necessidades nos, competências de comunicação, pen-
físicas (intervalos, pequenos lanches, samento crítico e capacidades analíticas, a
A. METODOLOGIA DA EDUCAÇÃO PARA OS DIREITOS HUMANOS 529

criatividade e técnicas de persuasão, que analisar as questões dos direitos humanos


são todos essenciais numa democracia. na sua complexidade, sem parcialidade e
Dão uma perspetiva multicultural, socioe- de diferentes ângulos, através de uma va-
conómica e histórica sobre a luta universal riedade de práticas educacionais. Assim,
pela justiça e dignidade. Pretendem envol- o objetivo final de todas as atividades é
ver a emoção, bem como a razão e desa- demonstrar que todos podem trazer mu-
fiar os diversos educandos a compreender danças e contribuir para a realização dos
o que significam os direitos humanos para direitos humanos, da justiça e da dignida-
si mesmos, pessoalmente, e encorajá-los a de para todos.
traduzir a compreensão numa ação infor- As atividades escolhidas para este manu-
mada e não violenta. Por último e não me- al ajustam-se ao quadro metodológico da
nos importante, as atividades pretendem educação para os direitos humanos:

Métodos para
Métodos baseados Métodos participa- Métodos de resolu-
aquecimento
na experiência tivos/interativos ção de conflitos
e descontração
Métodos Análise e métodos de
MÉTODOS
de apresentação interpretação
DA EDUCAÇÃO PARA
Métodos criativos OS DIREITOS HUMANOS Métodos de ação
Métodos apoiados
Métodos pelos meios
Métodos Métodos
de análise/pes- informáticos
de recolha de dados de conclusão
quisa e pelos meios de
informação
(Fonte: Traduzido e adaptado de: Vedrana Spaji-Vrkaš et al. 2004. Pouavanje prava i
sloboda. Prirunik za uitelje osnovne škole s vježbama za razrednu nastavu. Zagreb: FF-
press, 157.)

As principais características de cada méto- fazer com que estas se sintam bem-
do estão listadas em baixo e são acompa- vindas. Se for necessário, use o cha-
nhadas de outras dicas úteis sobre métodos mado “quebra-gelo”, uma atividade
que pretendem auxiliar os facilitadores a que ajude os participantes a conhece-
desenvolverem uma abordagem criativa e rem um pouco uns dos outros e a fica-
inovadora aos complexos problemas apre- rem mais à vontade ao se expressarem
sentados em cada atividade. no grupo:
- Natureza morta em grupo: cada
• Métodos para Aquecimento/Quebra- pessoa traz um objeto de casa com
gelo/Descontração significado, para contribuir para uma
Para começar uma atividade, faça com exposição, como forma de apresentar
que as pessoas se apresentem e tente algo importante para si.
530 III. RECURSOS ADICIONAIS

- Colocação em linha: deixar que as facilitadores devem fazer algumas re-


pessoas se alinhem de acordo com a comendações ao grupo para se poder
sua altura, a sua idade, o seu mês de retirar o máximo da atividade: esta-
aniversário, o seu tamanho de sapato belecer um limite de tempo para cada
e por aí fora. atividade e para a formação em geral.
- Entrevistas: cada pessoa forma um Os educadores e os educandos respei-
par com outra e faz várias perguntas. tam o horário, começando e acaban-
Depois, cada um apresenta o seu par- do com pontualidade. Um dos edu-
ceiro ao grupo. candos pode até ser o controlador do
- Eu também!: cada pessoa diz o seu tempo, especialmente em atividades
nome e começa a falar sobre si mes- para grupos pequenos. Os educado-
ma. Assim que alguém ouvir alguma res explicam o âmbito da atividade e
coisa que tenha em comum com o perguntam aos participantes quais as
orador, tem de interromper, dando suas expectativas; apontar isto num
o seu nome e começando por contar quadro ou num cavalete. Os edu-
algo sobre si mesmo. Continuar até cadores analisam a lista e avaliam,
que todos no grupo se tenham apre- honestamente, se é de esperar que a
sentado desta forma. sessão corresponda às expectativas
- Cadeiras musicais: colocar cadeiras listadas. Perguntar ao grupo o que
num círculo fechado e dizer aos par- eles não querem e apontar também.
ticipantes para se sentarem. Fique no Tal irá constituir uma boa base para
centro do círculo e diga o seu nome e o estabelecimento de regras básicas
algo sobre si mesmo. Quando o fizer, para o grupo. Educadores e educan-
aqueles para quem a sua afirmação dos, em conjunto, estabelecem regras
também seja verdadeira, têm de tro- básicas que ajudem a favorecer um
car de cadeira (ex: Eu sou X e tenho ambiente de confiança e a fazer com
dois filhos; Eu sou X e não gosto de que a interação seja respeitosa, con-
ratos…). Tente agora encontrar uma fidencial e útil.
cadeira para si. A pessoa que ficar
sem cadeira tem de se apresentar e • Métodos Baseados na Experiência
dizer algo (como no exemplo acima) - Dramatizações: nas dramatizações
que possa ter em comum com os ou- os participantes são colocados em
tros. circunstâncias fictícias. Os facilita-
- Nós: dizer a todos para se colocarem dores tanto podem dar, de forma de-
ombro a ombro, num círculo, com talhada, os papéis a desempenhar,
os braços esticados para a frente. como podem fornecer apenas algu-
Devem, agora, agarrar as mãos de mas informações sobre os papéis e
quem estiver no lado oposto do cír- deixar que os participantes os desen-
culo. Ninguém pode agarrar as mãos volvam por si mesmos. Os atores nas
de quem estiver a seu lado. Depois, dramatizações tanto podem fingir
diga aos participantes para desemba- que são outras pessoas, como po-
raçarem o nó sem largarem as mãos. dem atuar enquanto si mesmos em
- Regras do grupo: depois de as pes- situações novas. Todavia, é neces-
soas se começarem a conhecer, os sário estabelecer, claramente e logo
A. METODOLOGIA DA EDUCAÇÃO PARA OS DIREITOS HUMANOS 531

no início, que as dramatizações não cilitadores precisam de manter claro


devem ser muito longas nem muito o objetivo do debate e de apresentar
elaboradas quanto ao guião para que questões que encorajem a participa-
a assistência, bem como os atores, ção e a análise: hipotéticas (“O que
as possam seguir com facilidade. As faria se…?”), especulativas (“Como
dramatizações têm, frequentemente, podemos resolver o problema?”), de
um fim aberto para que se possam definição (“Pode explicar como acha
atingir os objetivos da aprendizagem que essa ideia funcionaria?”), argu-
e para se estimular o debate. Contu- mentativas (“Por que pensa isso?”),
do, a colocação cuidada de pergun- esclarecedoras/de resumo (“Estou
tas e de reflexões no final é essencial certo ao dizer que pensa…?”).
para se possibilitar aos participantes Uma forma de ajudar a criar um am-
que estabeleçam paralelismos entre biente de confiança e respeito mútuo
o que eles experimentaram e as si- é fazer com que os participantes de-
tuações do mundo real. Os facilita- senvolvam as suas próprias “Regras
dores devem ser muito sensíveis ao de Debate”. O educador pede aos
facto de que algumas pessoas podem educandos para pensarem nalguns
não se sentir à vontade, ou sentir-se princípios para o debate que conside-
desconfortáveis ou mesmo inúteis na rem que todos devem seguir e escre-
situação designada. ve todas as sugestões onde o grupo
- Outros métodos baseados na expe- as possa ver, combinando e simplifi-
riência incluem contar histórias, cando onde necessário. Se as regras
simulações ou simulações de tribu- listadas abaixo não forem sugeridas,
nais (moot courts). acrescente-as, pois são absolutamen-
te necessárias para o debate:
• Métodos Participativos/Interativos - Ouvir a pessoa que está a falar.
- Os debates fomentam a reflexão, a - Só falar uma pessoa de cada vez.
análise e o pensamento crítico, ofere- - Acordar sobre um determinado sinal
cendo uma aprendizagem não hierár- para se perceber quando alguém qui-
quica, democrática e colaboradora, ser dizer alguma coisa.
ajudando os participantes a respeitar - Evitar interromper quando alguém
e aceitar os vários pontos de vista e estiver a falar.
opiniões. Para manter o debate cen- - Quando se discordar de alguém, ter
tralizado, podem colocar-se, inicial- a certeza de que se distingue entre
mente, várias questões-chave. Quan- criticar a ideia de alguém e criticar a
to maior for o grupo, mais provável pessoa.
será que alguns participantes domi- - Não rir quando alguém está a falar – a
nem e que outros se mantenham si- não ser que essa pessoa diga uma piada.
lenciosos. Para garantir que todos te- - Encorajar todos a participarem.
nham a oportunidade de falar, pode - Por fim, mas muito importante, deve
dividir-se o grupo em grupos mais copiar-se a lista de regras e colocá-la
pequenos. Quando qualquer debate num sítio onde todos possam fazer
termine, resumir, oralmente e por referência às mesmas, adicionar ou
escrito, os pontos principais. Os fa- fazer mudanças se necessário.
532 III. RECURSOS ADICIONAIS

- Outros métodos participativos/interati- como estímulo a um diálogo, jogo


vos são as palestras, os relatórios, etc. ou atividade.

• Métodos Criativos • Métodos de Análise/Pesquisa


Os métodos criativos incluem a redação - Os estudos de caso podem fomentar a
de trabalhos, a pintura, a modelagem análise, o pensamento crítico, a reso-
de barro ou semelhante, a fotografia, lução de problemas e as capacidades
as filmagens, etc. de planificação, bem como a coopera-
ção e o espírito de equipa. Podem ser
• Métodos de Resolução de Conflitos usados para preparar debates eficazes
Os métodos de resolução de conflitos (ex. grupos designados para defender
são a mediação/moderação, a nego- determinadas posições sobre um as-
ciação, a arbitragem, etc. sunto) e comparações (ex. análise e
soluções diferentes de problemas de
• Métodos de Recolha de Dados um caso). O caso escolhido pode ser
- A chuva de ideias ou o agitar de um caso real, retirado de eventos his-
ideias (brainstorming) fomenta a tóricos ou atuais ou um caso fictício
criatividade e a rápida formação de ou hipotético, para abordar determi-
muitas ideias. Pode ser usado para nados assuntos ou tópicos de uma
identificar formas alternativas para sessão de trabalho. As situações fic-
resolver um problema específico, res- tícias podem, muitas vezes, abordar
ponder a uma questão, apresentar um assuntos sensíveis localmente, sem
novo assunto, despertar o interesse e provocar respostas sobre determina-
questionar conhecimentos e atitudes. das pessoas, organizações, grupos so-
Uma sessão de chuva de ideias pode ciais ou regiões geográficas. Um caso
seguir as seguintes formas: de trabalho de campo pode levar os
- apresentar uma questão, um pro- participantes a trabalharem e a reagi-
blema ou um tópico (oralmente e/ rem dentro da sua comunidade.
ou por escrito); - Outros métodos de pesquisa incluem
- convidar os membros do grupo a entrevistas, grupos temáticos, proje-
responderem com tantas ideias ou tos ou trabalhos de campo.
sugestões quanto possível, de pre-
ferência com palavras únicas ou • Análise e Métodos de Interpretação
frases curtas; A análise e métodos de interpretação
- colocar as respostas num quadro consistem na análise e interpretação
(não esquecer que, muitas vezes, as de textos, imagens, (fictícios) etc.
sugestões mais criativas e absurdas
são as mais úteis e interessantes); • Métodos de Ação
- estabelecer prioridades, analisar o Os métodos de ação consistem (sobre-
resultado e agrupar as soluções. tudo) em atividades de acompanha-
As sessões de chuva de ideias são mento, tais como campanhas, redação
um meio útil para se pôr todos à de cartas de apoio, ações urgentes, or-
vontade e se apresentar diferentes ganização de flash-mobs e manifesta-
tópicos, podendo ser utilizadas ções e trabalho voluntário.
A. METODOLOGIA DA EDUCAÇÃO PARA OS DIREITOS HUMANOS 533

• Métodos Apoiados pelos Meios Infor- nham pensado inicialmente? Quais foram os
máticos e pelos Meios de Informação aspetos mais complicados ou os factos mais
Os métodos apoiados pelos meios in- difíceis de representar? Será que as pessoas
formáticos e pelos meios de informação aprenderam algo de novo sobre os direitos
consistem na realização de pesquisas humanos? Onde estavam as semelhanças e
através da internet, estabelecimento as diferenças no/s grupo/s? Houve opiniões
de contatos (networking), participação discordantes fundamentais sobre o conceito
em blogs, realização de debates nos fó- dos direitos humanos? Porquê?
runs dos meios de informação, etc. Ao tecer comentários, é importante res-
peitar os outros, centrar-se no que estes
• Métodos de Conclusão disseram ou fizeram e justificar o ponto
É importante terminar uma atividade no de vista apresentado. De modo a estimular
tom adequado. Em particular, os parti- os educandos, poderá utilizar uma das se-
cipantes precisam de uma oportunida- guintes formas de obter comentários:
de para sumariarem o que aprenderam, - Caixa de opiniões: cada participante es-
individual e coletivamente. Em geral, o creve a sua opinião sobre a atividade num
modo de concluir depende, em grande papel e coloca-a numa caixa. Depois, cada
parte, dos objetivos e do conteúdo da um tira um papel e lê-o em voz alta; o gru-
atividade. Aqui ficam algumas ideias de po todo debate sobre a opinião dada.
métodos de conclusão: - Siga, estou a ouvir: cada participante
- Passar a bola: os participantes pas- tem 5 minutos para dizer aos ouvintes a
sam uma bola de uns para os outros. sua opinião sobre a atividade.
Quem apanhar a bola diz uma coisa - Máquina de pessoas: todos os participan-
que tenha aprendido ou que possa tes formam um círculo, dando as mãos e
vir a utilizar, a partir da sessão; uma pessoa começa com algo de que gos-
- Resumo coletivo: os participantes tou ou não gostou. A pessoa que está ao
respondem, à vez, a uma pergunta lado repete esta opinião, concorda ou não
de resumo ou a uma afirmação com e depois dá a opinião sobre outra coisa.
um fim aberto. - Informação meteorológica: os partici-
- Diapositivos: o facilitador mostra fo- pantes descrevem a sua opinião sobre
tografias que tirou durante a sessão; a atividade como se apresentassem um
como reflexão sobre a atividade, cada boletim meteorológico.
participante faz um breve comentário - A Mão: os participantes apresentam
sobre o seu contributo, o que sentiu comentários oralmente, usando os seus
antes, durante e depois da sessão. dedos para recordar cinco assuntos a
ser referidos: o polegar representa o que
Tecer Comentários/Partilhar Reações (Gi- foi bom, o indicativo aponta para algo,
ving Feedback) é uma parte essencial de o dedo do meio representa o que não
toda a atividade. Existem várias formas de gostaram, o dedo anelar representa o
obter comentários e de os partilhar com os que foi emocionante e o dedo mindinho
participantes. Assim, os facilitadores devem representa o que ficou esquecido.
perguntar-se a si mesmos o seguinte: como - Semáforo: os participantes mostram
se sentiram as pessoas quanto a esta ativida- um cartão verde, amarelo ou vermelho
de? Foi mais ou menos difícil do que eles ti- de acordo com os comentários que que-
534 III. RECURSOS ADICIONAIS

rem apresentar e explicam os motivos reitos de todos. Não se trata tanto daquilo
para a cor escolhida. que fazemos mas a maneira como agimos.
- Acerte no alvo: o educador desenha um Os direitos humanos são altamente ins-
alvo num quadro e pede aos educandos piradores e práticos, representam as es-
para avaliarem a atividade colocando peranças e os ideais da maioria dos seres
pontos no alvo. Depois, os educandos humanos e empoderam as pessoas para os
têm a possibilidade de explicar. alcançar. A educação para os direitos hu-
- Uma carta a mim próprio: cada partici- manos partilha esses aspetos inspiradores
pante redige uma carta a si mesmo/a a e práticos. Estabelece normas mas tam-
resumir os resultados do curso e a fazer bém traz mudanças.
um compromisso concreto para a im-
plementação dos direitos humanos na A educação para os direitos humanos
sua vida ou trabalho. O facilitador reco- pode:
lhe todas as cartas e, após dois meses,
• modificar valores e atitudes;
envia-as aos participantes.
• modificar comportamentos;
4. PORQUÊ A EDUCAÇÃO • potenciar a justiça social;
PARA OS DIREITOS HUMANOS?
• ajudar a desenvolver atitudes de soli-
dariedade em assuntos, comunidades
A educação e aprendizagem para os direi-
e nações;
tos humanos é essencial para uma cida-
dania ativa numa sociedade democrática • ajudar a desenvolver conhecimentos e
e pluralista. Cidadãos ativos e responsá- capacidades analíticas; e
veis precisam de ser capazes de pensar • fomentar a educação participativa.
criticamente, fazer escolhas morais, tomar
posições de princípio sobre assuntos e O livro “Compreender os Direitos Huma-
planear rumos de ação democráticos. Só nos” pretende contribuir para o atual de-
os humanos que compreendam os direi- bate sobre a educação para os direitos hu-
tos humanos trabalharão para garantir e manos, tanto a nível do conteúdo, como da
defender os seus direitos e os dos outros. forma e, também, para o processo de cons-
Todavia, para estar envolvido desta forma, trução, a nível mundial, de uma cultura
é necessário estar informado. A educação genuína dos direitos humanos. A nossa
eficaz para os direitos humanos tem dois intenção é ajudar os educandos a adquirir
objetivos essenciais: aprender SOBRE os conhecimentos, bem como competências
direitos humanos e aprender PARA os para que assumam o controlo das suas
direitos humanos. Aprender sobre direi- vidas. Acreditamos que compreender os
tos humanos é um processo essencialmen- direitos humanos, um processo no qual a
te cognitivo, incluindo a história dos di- educação para os direitos humanos tem um
reitos humanos, documentos neste âmbito papel primordial, significa empoderamento
e mecanismos de implementação. A edu- e uma melhor vida para muitos. Só o res-
cação para os direitos humanos significa peito pelos princípios dos direitos humanos
compreender e fazer nossos os princípios na sua própria vida pode, finalmente, fixar
da igualdade e da dignidade humana e o as bases para uma existência comum e o
compromisso de respeitar e proteger os di- respeito pelos direitos dos outros.
B. A LUTA GLOBAL E CONTÍNUA PELOS DIREITOS HUMANOS – CRONOLOGIA 535

B. A LUTA GLOBAL E CONTÍNUA PELOS DIREI-


TOS HUMANOS – CRONOLOGIA

CONFERÊNCIAS,
LUTAS E EVENTOS
DOCUMENTOS INSTITUIÇÕES
HISTÓRICOS
E DECLARAÇÕES
Até ao Século XVII
Muitos textos religiosos Códigos de Conduta – Me-
acentuam a importância da nes, Asoka, Hammurabi,
igualdade, dignidade e res- Draco, Cyrus, Moisés, Solo
ponsabilidade para ajudar e Manu
os outros 1215 Magna Carta assina-
Há mais de 3000 anos, as da, reconhecendo que mes-
Vedas, Agamas e Upanisha- mo um soberano não está
ds dos Hindus; a bíblia Ju- acima da lei
daica: a Tora 1625 Ao jurista holandês
Há 2500 anos, a Tripitaka e Hugo Grotius é atribuído o
a Anguttara-Nikaya Budis- nascimento do direito inter-
tas e os Analectos de Con- nacional
fúcio, Doutrina do Meio e 1690 John Locke desenvol-
Grande Ensinamento ve a ideia dos direitos na-
Há 2000 anos, o Novo Tes- turais no Segundo Tratado
tamento Cristão e, 600 anos sobre o Governo
depois, o Corão Islâmico 1776 Bill of Rights (Declara-
ção de Direitos) da Virgínia
1789 Bill of Rights: Emen-
das I-X à Constituição dos
Estados Unidos da América
Séculos XVIII-XIX
1789 A Revolução Francesa 1792 Mary Wollstonecraft, 1809 O ombudsman (pro-
e a Declaração dos Direitos A Vindication of the Rights vedor de justiça) é estabe-
do Homem e do Cidadão of Woman (A Reivindicação lecido na Suécia
1815 Revoltas de escravos na dos Direitos da Mulher) 1815 Comité sobre o Co-
América Latina e em França 1860s No Irão, Mirza Fath mércio Internacional de Es-
1830s Movimentos pelos Ali Akhundzade, e na Chi- cravos, na Conferência de
direitos económicos e so- na, Tan Sitong, defendem a Viena
ciais – Ramakrishna na Ín- igualdade de género
dia, movimentos religiosos
no Ocidente
536 III. RECURSOS ADICIONAIS

1840 Na Irlanda, o Movi- 1860s O periódico “La Ca- 1839 Sociedade Anti-Es-
mento Cartista exige o su- mélia” de Rosa Guerra de- cravatura na Grã-Bretanha,
frágio universal e os direi- fende a igualdade das mu- seguida, nos anos de 1860,
tos dos trabalhadores e dos lheres na América Latina pela Confederação Aboli-
pobres 1860s No Japão, Toshiko cionista no Brasil
1847 Revolução Liberiana Kishida publica o ensaio 1863 Comité Internacional
1861 Libertação da servi- intitulado “I Tell You, My da Cruz Vermelha
dão na Rússia Fellow Sisters” 1864 International Working
1860-80 Mais de 50 trata- Men’s Association
dos bilaterais sobre a abo- 1898 Liga dos Direitos Hu-
lição do comércio de escra- manos, uma ONG, em res-
vos, em todas as regiões posta ao Caso Dreyfus

1900-1929
1900-15 Povos colonizados 1900 Primeiro Congresso 1902 Aliança Internacional
insurgem-se contra o impe- Pan-Africano em Londres para o Sufrágio e Igual Ci-
rialismo na Ásia e na África 1906 Convenção interna- dadania
1905 Movimentos de traba- cional proibindo o trabalho 1905 Sindicatos formam fe-
lhadores na Europa, Índia noturno de mulheres com derações internacionais
e nos Estados Unidos; em emprego em indústrias 1910 Sindicato Interna-
Moscovo, 300.000 trabalha- 1907 Conferência Centro- tional Ladies‘ Garment
dores manifestam-se Americana da Paz prevê o Workers‘ Union
1910 Camponeses mobili- direito dos estrangeiros a 1919 Sociedade das Nações
zam-se pelo direito às ter- recorrer aos tribunais do e Tribunal Internacional de
ras, no México local onde residam Justiça
1914-18 Primeira Guerra 1916 Alusão à autodetermi- 1919 Organização Interna-
Mundial nação em O Imperialismo, cional do Trabalho (OIT),
1914 Continuam os movi- Fase Superior do Capitalis- para defender a incorpora-
mentos pela Independência mo, de Lenine ção dos direitos humanos
e motins na Europa, África 1918 Alusão à autodetermi- no direito laboral
e Ásia nação em Fourteen Points 1919 Liga Internacional de
1915 Massacres dos Armé- (Catorze Pontos), de Wil- Mulheres para a Paz e a Li-
nios pelos Turcos son berdade
1917 Revolução Russa 1919 O Tratado de Versa- 1919 ONG dedicadas aos
1919 Protestos generaliza- lhes acentua o direito à au- direitos das mulheres co-
dos contra a exclusão da todeterminação e os direi- meçam a mencionar os
igualdade “racial” do Pacto tos das minorias direitos das crianças; Save
da Sociedade das Nações 1919 Congresso Pan-Africa- the Children (Reino Unido)
1920s Começam campa- no exige o direito à autode- 1920s Congresso Nacional
nhas pelos direitos das mu- terminação nas colónias da África Ocidental Britâni-
lheres aos contracetivos, ca em Acra, para promover
por Ellen Key, Margaret a autodeterminação
Sanger, Shizue Ishimoto
B. A LUTA GLOBAL E CONTÍNUA PELOS DIREITOS HUMANOS – CRONOLOGIA 537

1920s Greves generalizadas 1923 A Quinta Conferência 1922 Catorze Ligas Nacio-
e conflitos armados entre das Repúblicas America- nais de Direitos Humanos
trabalhadores e proprietá- nas, em Santiago do Chile, estabelecem a Federação
rios no mundo industriali- faz alusão aos direitos das Internacional das Ligas dos
zado mulheres Direitos Humanos
1924 Declaração de Gene- 1925 Representantes de
bra dos Direitos da Criança oito países em vias de de-
1924 Congresso norte-ame- senvolvimento fundam a
ricano aprova a Lei Snyder, Coloured International para
concedendo aos nativos pôr fim à discriminação ra-
americanos, a cidadania cial
completa 1928 Comissão Interameri-
1926 Conferência de Gene- cana sobre Mulheres, para
bra adota a Convenção so- assegurar o reconhecimen-
bre a Escravatura to dos direitos civis e políti-
cos das mulheres
1930-1949
1930 Na Índia, Gandhi li- 1930 Convenção da OIT so- 1933 Organização dos Re-
dera centenas em marcha bre o Trabalho Forçado ou fugiados
longa até Dandi para pro- Obrigatório 1935-36 Comissão Interna-
testar contra o imposto so- 1933 Convenção Interna- cional Penal e Penitenciá-
bre o sal cional para a Supressão do ria, para promover os direi-
1939-45 O regime Nazi de Tráfico de Mulheres Adul- tos básicos dos prisioneiros
Hitler mata 6 milhões de tas 1945 Julgamentos de Nu-
judeus e obriga a ida para 1941 O presidente Roose- remberga e de Tóquio
campos de concentração e velt, dos Estados Unidos, 1945 Nações Unidas
mata membros da comuni- identifica quatro liberdades 1946 Comissão de Direitos
dade Roma e Sinti, comu- essenciais – de expressão, Humanos das Nações Uni-
nistas, sindicalistas, dissi- religiosa, direito de viver das
dentes políticos, pessoas sem privações (freedom 1948 Organização dos Esta-
com deficiência, testemu- from want) e direito de dos Americanos
nhas de Jeová, homossexu- viver sem medo (freedom 1949 Conselho da Europa
ais e outros from fear)
1942 René Cassin de Fran- 1945 Carta das Nações Uni-
ça apela à criação de um das, destacando os direitos
tribunal internacional para humanos
punir os crimes de guerra 1948 Declaração Universal
1942 O governo norte- dos Direitos Humanos
americano coloca na prisão 1948 Convenção para a
cerca de 120.000 america- Prevenção e Repressão do
nos-japoneses durante a Crime de Genocídio
Segunda Guerra Mundial
538 III. RECURSOS ADICIONAIS

1942-45 Lutas antifascistas 1948 Convenção da OIT so-


em vários países Europeus bre Liberdade Sindical e a
1949 Revolução Chinesa Proteção do Direito Sindical
1949 Convenção de Gene-
bra Relativa ao Tratamento
dos Prisioneiros de Guerra
1949 Convenção de Gene-
bra Relativa à Proteção das
Pessoas Civis em Tempo de
Guerra
1949 Convenção para a Su-
pressão do Tráfico de Pes-
soas e da Exploração da
Prostituição de Outrem
1949 Convenção da OIT so-
bre Direito de Organização
e Negociação Coletiva
1950-1959
1950s Guerras e revoltas 1950 Convenção Europeia 1950 A comissão investiga-
nacionais de libertação na dos Direitos Humanos dora da OIT lida com vio-
Ásia; alguns países africa- 1951 Convenção relativa ao lações dos direitos sindicais
nos tornam-se independen- Estatuto dos Refugiados 1951 Comité da OIT sobre
tes 1951 Convenção da OIT re- Liberdade Sindical
1955 Movimentos pelos di- lativa à Igualdade de Remu- 1954 Comissão Europeia
reitos políticos e civis, nos neração dos Direitos Humanos
Estados Unidos; Martin Lu- 1954 Convenção relativa ao 1959 Tribunal Europeu dos
ther King Jr. lidera o boico- Estatuto dos Apátridas Direitos Humanos
te aos autocarros em Mont- 1957 Convenção da OIT so-
gomery (381 dias) bre a Abolição do Trabalho
Forçado
1958 Convenção da OIT
sobre a Discriminação em
matéria de Emprego e Pro-
fissão
1960-1969
1960s Em África, 17 países 1960 Convenção da UNES- 1960 A Comissão Interame-
asseguram o direito à auto- CO Relativa à Luta contra ricana dos Direitos Huma-
determinação, como tam- a Discriminação no Campo nos realiza a sua primeira
bém o fazem outros países, do Ensino sessão
noutros lugares 1961 Convenção sobre a 1961 Amnistia Internacio-
Redução dos Casos de Apa- nal
tridia
B. A LUTA GLOBAL E CONTÍNUA PELOS DIREITOS HUMANOS – CRONOLOGIA 539

1962 Agricultores nacio- 1965 Convenção Interna- 1963 Organização da Uni-


nais (United Farm Workers cional sobre a Eliminação dade Africana
of America) organizam-se de Todas as Formas de Dis- 1965 Comité da ONU para
para proteger os direitos criminação Racial, ONU a Eliminação da Discrimi-
dos trabalhadores migran- 1966 Pacto Internacional nação Racial
tes nos Estados Unidos sobre os Direitos Civis e 1966 Comité dos Direitos
1960s-70s Movimentos fe- Políticos, ONU Humanos da ONU
ministas exigem igualdade 1966 Pacto Internacional so- 1967 Comissão Pontifícia
bre os Direitos Económicos, para a Justiça e Paz Inter-
Sociais e Culturais, ONU nacional
1966 Protocolo Facultativo
ao Pacto Internacional so-
bre os Direitos Civis e Po-
líticos
1966 Protocolo Relativo ao
Estatuto dos Refugiados
1968 Primeira Conferência
Mundial sobre os Direitos
Humanos, em Teerão
1970-1979
1970s Assuntos relativos 1973 Convenção Interna- 1970 Primeiras comissões
aos direitos humanos atra- cional para a Supressão e a sobre paz e justiça no Para-
em atenção generalizada Punição do Crime de Apar- guai e no Brasil
– o apartheid na África do theid, ONU 1978 Helsinki Watch (Hu-
Sul, o tratamento conferido 1973 Convenção da OIT so- man Rights Watch)
aos Palestinianos nos terri- bre a Idade Mínima de Ad- 1979 Tribunal Interameri-
tórios ocupados, a tortura missão ao Emprego cano dos Direitos Humanos
de opositores políticos no 1974 Declaração sobre a 1979 Comité para a Elimi-
Chile, a “guerra suja” na Proteção de Mulheres e nação da Discriminação
Argentina, o genocídio no Crianças em Situações de contra as Mulheres
Camboja Emergência e de Conflito
1970s Protestos populares Armado
contra o conflito israelo- 1974 Conferência Mundial
árabe, a guerra do Vietna- sobre Alimentação, em Roma
me e a guerra civil Nigéria- 1975 Declaração dos Direitos
Biafra das Pessoas com Deficiência
1976 A Amnistia Interna- 1977 Protocolo I Adicional
cional ganha o Prémio No- às Convenções de Genebra
bel da Paz de 12 de agosto de 1949 re-
lativo à Proteção das Víti-
mas dos Conflitos Armados
Internacionais
540 III. RECURSOS ADICIONAIS

1977 Protocolo II Adicional


às Convenções de Genebra
de 12 de agosto de 1949 re-
lativo à Proteção das Víti-
mas dos Conflitos Armados
Não Internacionais
1978 Declaração da UNES-
CO sobre a Raça e os Pre-
conceitos Raciais
1979 Convenção sobre a
Eliminação de Todas as For-
mas de Discriminação con-
tra as Mulheres (CEDM),
ONU
1980-1989
1980s Fim das ditaduras 1981 Carta Africana dos 1983 Organização Árabe
da América Latina – na Ar- Direitos Humanos e dos para os Direitos Humanos
gentina, Bolívia, Paraguai e Povos 1984 Comité das Nações
Uruguai 1984 Convenção contra a Unidas contra a Tortura
1986 Nas Filipinas, movi- Tortura e Outras Penas ou 1985 Comité das Nações
mentos populares pacíficos Tratamentos Cruéis, De- Unidas dos Direitos Econó-
(People’s Power Movement) sumanos ou Degradantes, micos, Sociais e Culturais
derrubam a ditadura de ONU 1985 Relator Especial das
Marcos 1986 Declaração sobre o Nações Unidas contra a
1989 Manifestações na Pra- Direito ao Desenvolvimen- Tortura e Outras Penas ou
ça Tiananmen to, ONU Tratamentos Cruéis, Desu-
1989 Queda do muro de 1989 Convenção sobre os manos ou Degradantes
Berlim Direitos da Criança, ONU 1988 Comissão Africana
1989 Segundo Protocolo dos Direitos Humanos e
Adicional ao Pacto Inter- dos Povos
nacional sobre os Direitos 1989 Comité das Nações
Civis e Políticos com vista à Unidas sobre os Direitos da
Abolição da Pena de Morte Criança
1989 Convenção sobre os
Povos Indígenas e Tribais
1990-1999
1990s A democracia espa- 1990 Convenção Interna- 1990 Comité para a Prote-
lha-se por África; Nelson cional Sobre a Proteção dos ção dos Direitos de Todos
Mandela é libertado da pri- Direitos de Todos os Traba- os Trabalhadores Migrantes
são e eleito presidente da lhadores Migrantes e dos e dos Membros das Suas
África do Sul Membros das Suas Famílias Famílias
B. A LUTA GLOBAL E CONTÍNUA PELOS DIREITOS HUMANOS – CRONOLOGIA 541

1990s Limpeza étnica na 1993 Declaração de Viena e 1992 Primeira Organização


Antiga Jugoslávia, e geno- Programa de Ação para a Segurança e Coope-
cídio e violações em massa 1993 Declaração sobre a ração na Europa (OSCE);
dos direitos humanos no Eliminação da Violência Alto Comissário para as Mi-
Ruanda contra as Mulheres norias Nacionais
1998 A Espanha inicia os 1990-96 Conferências e Ci- 1993 Primeiro Alto Comis-
procedimentos para a ex- meiras Mundiais das Na- sário das Nações Unidas
tradição do General Pino- ções Unidas sobre questões para os Direitos Humanos,
chet do Chile relativas às crianças, à edu- nomeado na Conferência
1999 Médicos sem Frontei- cação, ao meio ambiente e Mundial dos Direitos Hu-
ras ganham o Prémio Nobel desenvolvimento, aos direi- manos de Viena
da Paz tos humanos, à população, 1993-94 Tribunais Penais
às mulheres, ao desenvolvi- Internacionais para a Antiga
mento social e os assenta- Jugoslávia e o Ruanda
mentos humanos 1994 Relator Especial
1998 Estatuto de Roma sobre a Violência contra
para o estabelecimento do as Mulheres, suas causas e
Tribunal Penal Internacio- consequências
nal 1995 Comissão para a
1999 Protocolo Opcional à Verdade e Reconciliação da
CEDM África do Sul
1999 Convenção da OIT 1995-99 Dez países
sobre as Piores Formas de lançam planos de ação
Trabalho Infantil nacionais para a proteção
e a promoção dos direitos
humanos
1999 Foi estabelecida a Rede
para a Segurança Humana
2000-2012
2000 Tribunal no Senegal 2000 Protocolo Facultativo à 2003 O TPI inicia os seus
acusa o ex-ditador do Chad, Convenção sobre os Direitos trabalhos a 1 de janeiro
Hissene Habre, de “tortura da Criança relativo ao 2005 Relator Especial sobre
e barbárie” Envolvimento de Crianças a Promoção e Proteção
2000 Escalada de violência em Conflitos Armados dos Direitos Humanos no
entre Israelitas e Palestinianos 2000 Protocolo Facultativo Combate ao Terrorismo
desde 2000 (Intifada Al-Aqsa) à Convenção sobre os 2006 Conselho de Direitos
2001 Prémio da Paz atribuído Direitos da Criança relativo Humanos
conjuntamente às Nações à Venda de Crianças, 2006 Comité dos Direitos
Unidas e a Kofi Annan Prostituição Infantil e das Pessoas com Deficiência
Pornografia Infantil
2000 Declaração do Milénio
das Nações Unidas
542 III. RECURSOS ADICIONAIS

2001 Ataques terroristas 2001 Conferência Mundial 2007 Agência dos Direitos
ao World Trade Center e contra o Racismo, Discri- Fundamentais da União Eu-
ao Pentágono, o Presiden- minação Racial, Xenofonia ropeia, sediada em Viena
te Bush lança a “guerra ao e Intolerância Relacionada: 2008 O Tribunal de Justiça
terror”, tendo como alvo Declaração de Durban e Africano fundiu-se com o
infraestruturas terroristas Programa de Ação Tribunal Africano dos Direi-
no Afeganistão 2002 Protocolo Facultativo tos Humanos e dos Povos e
2002 Prisão de Guantána- à Convenção contra a Tor- criou o Tribunal Africano de
mo na Base Naval dos EUA, tura e outras Penas ou Tra- Justiça e Direitos Humanos
em Cuba tamentos Cruéis, Desuma- 2008 Navanethem Pillay é
2003 Ataque dos Estados nos ou Degradantes nomeado o Alto Comissário
Unidos contra o Iraque 2004 Carta Árabe dos Direi- das Nações Unidas para os
2004 Ataques terroristas em tos Humanos Direitos Humanos
Madrid e Beslan; é publica- 2005 Convenção do Con- 2009 É estabelecida a Co-
do material fotográfico de- selho da Europa relativa à missão Intergovernamental
talhando o abuso de prisio- Luta contra o Tráfico de Se- para os Direitos Humanos
neiros no Iraque, por forças res Humanos da ASEAN
militares americanas 2005 Conferência “Pe- 2011 O Painel para a Dig-
2005 Ataques terroristas quim+10” sobre os Direi- nidade Humana (Panel on
em Londres tos das Mulheres; Human Dignity) estabe-
2006 Execução de Saddam 2006 Convenção dos Direitos lecido em 2008 apresenta o
Hussein; Thomas Lubanga das Pessoas com Deficiência seu relatório sobre Proteger
(Congo) é o primeiro acu- 2006 Convenção Interna- a Dignidade: Uma Agenda
sado pelo TPI cional para a Proteção de para os Direitos Humanos
2007 O Tribunal Khmer- Todas as Pessoas contra os (“Protecting Dignity: An
Rouge inicia o seu funcio- Desaparecimentos Forçados Agenda for Human Rights)
namento; o primeiro acusa- 2006 Protocolo Facultativo
2011 O Representante Espe-
do é Kang Kek Ieu à Convenção dos Direitos
cial do Secretário-Geral das
2008 O Kosovo declara uni- das Pessoas com Deficiência
Nações Unidas apresenta
lateralmente a sua indepen- 2007 Convenção do Conse-
os “Princípios Orientadores
dência; Israel leva a cabo a lho da Europa para a Pre-
sobre Negócios e Direitos
operação “Cast Lead” contra venção do Terrorismo
Humanos”’
o Hamas na Faixa de Gaza; 2007 Declaração das Na-
2012 Navi Pillay foi reno-
Radovan Karadži é captura- ções Unidas sobre os Direi-
meado Alto Comissário das
do e enfrenta julgamento no tos dos Povos Indígenas
Nações Unidas para os Di-
Tribunal Penal Internacio- 2007 Tratado de Lisboa com
nal para a ex-Jugoslávia a Carta de Direitos Funda- reitos Humanos
2010 Kang Kek Ieu é conde- mentais da União Europeia
nado pelo Tribunal Khmer- 2008 Protocolo Facultativo
Rouge a 35 anos de prisão; ao Pacto Internacional so-
Primavera Árabe: muitas bre os Direitos Económicos,
pessoas se erguem contra Sociais e Culturais
regimes autoritários em Es- 2008 Convenção sobre as
tados do mundo árabe. Munições de Fragmentação
C. BIBLIOGRAFIA SUGERIDA SOBRE DIREITOS HUMANOS 543

2011 Ratko Mladi é captu- 2010 Na Conferência em


rado e enfrenta julgamento Kampala, foi conseguido
no Tribunal Penal Interna- um acordo sobre a defini-
cional para a ex-Jugoslávia; ção do crime de agressão
Osama bin Laden é morto; 2011 Pela primeira vez, o
intervenção humanitária na Conselho de Segurança das
Líbia; Muammar Kaddafi é Nações Unidas refere-se à
morto. Responsabilidade de Prote-
ger, nas suas resoluções
2011 Declaração das Na-
ções Unidas sobre Educa-
ção e Formação para os Di-
reitos Humanos

C. BIBLIOGRAFIA SUGERIDA SOBRE DIREITOS


HUMANOS

SELEÇÃO DE LIVROS a natureza da soberania estatal que está em


mudança. Os padrões de direitos humanos
Título: Human Rights in International são examinados de acordo com níveis de
Relations análise globais, regionais e nacionais, com
Autor/Editor: David P. Forsythe um capítulo em separado dedicado às em-
Local de publicação: Nova Iorque presas transnacionais. Esta 3ª edição foi
Editora: Cambrige University Press atualizada para refletir eventos recentes,
Ano de publicação: 2012 nomeadamente, a persistência do Islão mi-
ISBN: 978-1-107-62984-4 litante e de políticas robustas de combate
Conteúdo: este livro de textos apresenta ao terrorismo, o poder crescente da China
uma visão geral do papel dos direitos hu- e de outros Estados, não inteiramente sim-
manos na política internacional. Este papel patizantes de muitos direitos humanos, e
pode resumir-se através de um paradoxo as várias dificuldades económicas que real-
fundamental: embora os direitos humanos çam os custos associados a uma preocupa-
se encontrem estabelecidos com mais fir- ção séria com os direitos humanos.
meza no direito internacional, mais do que
nunca, a proteção destes direitos apresenta Título: UN Human Rights Treaty Bodies –
agora mais desafios do que antes. Este livro Law and Legitimacy
centra-se em quatro temas centrais: a resi- Autor/Editor: Hellen Keller, Geir Ulfstein
liência das normas de direitos humanos, a Local de publicação: Nova Iorque
importância de instrumentos jurídicos não Editora: Cambridge University Press
vinculativos (soft law), o papel fundamen- Ano de publicação: 2012
tal das organizações não governamentais e ISBN: 978-1-107-00654-6
544 III. RECURSOS ADICIONAIS

Conteúdo: dá-se cada vez mais importân- e os abolicionistas que se opuseram à es-
cia à implementação eficaz das obrigações cravatura antes da era da Guerra Civil. Ele
dos tratados de direitos humanos pela lei presta um cuidado especial ao período de
interna. A nível global, cabe aos órgãos 1970 em diante e descreve o crescimento
dos tratados de direitos humanos das Na- do movimento dos direitos humanos de-
ções Unidas a responsabilidade principal pois dos acordos de Helsinki, os papéis
pela monitorização internacional da im- desempenhados pelas administrações pre-
plementação interna. Aqueles órgãos são sidenciais americanas e as surpreendentes
estabelecidos pelas convenções de direi- revoluções árabes de 2011. Neier defende
tos humanos respetivas e compostos por que o movimento contemporâneo de direi-
peritos independentes. Este livro examina tos humanos resultou, em grande parte, da
três aspetos destes órgãos: os aspetos le- Guerra Fria e demonstra como se tornou
gais da sua estrutura, funções e decisões; na influência impulsionadora no direito
a sua eficácia em assegurar o respeito pe- internacional, instituições e direitos. Neier
las obrigações dos direitos humanos e a sublinha figuras relevantes, controvérsias
legitimidade destes órgãos e das suas de- e organizações, incluindo a Amnesty Inter-
cisões. Esta análise contém contribuições national e a Human Rights Watch, e abor-
de diversos peritos legais proeminentes, da os desafios futuros.
incluindo membros atuais e anteriores dos
órgãos dos tratados e deve ser lida à luz do Título: International Human Rights Law
esforço em curso de fortalecimento dos ór- in Africa
gãos dos tratados sob os auspícios do Alto Autor/Editor: Frans Viljoen
Comissariado das Nações Unidas para os Local de publicação: Oxford
Direitos Humanos e com o envolvimento Editora: Oxford University Press
de outros intervenientes relevantes. Ano de publicação: 2012
ISBN: 978-0-19-964559-6
Título: The International Human Rights Conteúdo: este livro apresenta uma visão
Movement geral abrangente e analítica do ordena-
Autor/Editor: Aryeh Neier mento jurídico dos direitos humanos em
Local de publicação: Princeton África. Examina as instituições, normas e
Editora: Princeton University Press processos para a implementação dos direi-
Ano de publicação: 2012 tos humanos, estabelecidos sob o sistema
ISBN: 9780631135151 das Nações Unidas, a União Africana e as
Conteúdo: durante as últimas décadas, o comunidades económicas sub-regionais
movimento internacional dos direitos hu- em África e explora a relação com os sis-
manos teve um papel importante na luta temas jurídicos nacionais em Estados afri-
contra regimes totalitários, crueldades canos. Abordam-se três temas ao longo do
nas guerras e crimes contra a humanida- livro: a implementação nacional e cumpri-
de. Hoje, defronta-se com a guerra con- mento do ordenamento jurídico dos direi-
tra o terrorismo e os abusos subsequen- tos humanos, o direito e outras formas de
tes do poder dos governos. Ao discutir a integração e o papel dos direitos humanos
origem do movimento, o autor aborda os na erradicação da pobreza. Este livro tam-
dissidentes que lutaram pelas liberdades bém contém uma introdução aos conceitos
religiosas no século XVII, em Inglaterra, mais importantes dos direitos humanos.
C. BIBLIOGRAFIA SUGERIDA SOBRE DIREITOS HUMANOS 545

Título: The Local Relevance of Human uma introdução e uma análise crítica de
Rights temas recorrentes e assuntos da teoria
Autor/Editor: Koen De Feyter, Stephan Par- contemporânea e prática dos direitos hu-
mentier, Christiane Timmerman, George manos. Apresenta uma análise multidis-
Ulrich ciplinar com visões filosóficas, políticas e
Local de publicação: Cambridge sociais sobre o tema dos direitos humanos.
Editora: Cambridge University Press
Ano de publicação: 2011 Título: The Fundamentals of Internation-
ISBN: 978-1-107-00956-1 al Human Rights Treaty Law
Conteúdo: os direitos humanos oferecem Autor/Editor: Betrand G. Ramcharan
uma proteção real quando os grupos em Local de publicação: Boston/Leiden
desvantagem os invocam, a um nível lo- Editora: Martinus Nijhoff Publishers
cal, numa tentativa de melhorar as suas Ano de publicação: 2011
condições de vida? Se sim, como pode- ISBN: 978-90-04-17608-9
mos certificarmo-nos de que as experi- Conteúdo: este livro tem um objetivo sim-
ências daqueles que invocam os direitos ples: transmitir conhecimentos basilares
humanos ao nível local têm um impacto do direito dos tratados internacionais de
no desenvolvimento posterior dos direi- direitos humanos, de forma a poder ser
tos humanos (ao nível nacional e a outros útil ao líder nacional, funcionário ou as-
níveis), de forma a que a relevância local sessor jurídico cujas funções incluam a
dos direitos humanos possa aumentar? de ajudar à implementação de tratados de
Desde a adoção da Declaração Universal direitos humanos no seu país. É um livro
dos Direitos Humanos (DUDH), em 10 de de direito internacional, tal como estabele-
dezembro de 1948, numerosos documen- cido nos tratados principais de direitos hu-
tos universais vieram reafirmar os direitos manos internacionais e regionais, incluin-
humanos como normas globais. Este livro do jurisprudência e prática dos órgãos de
examina os fatores que determinam se os supervisão. O Capítulo I discute a nature-
recursos aos direitos humanos emanados za e características do direito internacional
a um nível local têm sucesso e se a DUDH dos direitos humanos. O Capítulo II discu-
responde adequadamente às ameaças, tal te o conceito de um sistema de proteção
como habitualmente definidas pelos gru- nacional que tem de ser instaurado para
pos interessados, ou se é necessária a re- a implementação adequada de um tratado
visão de algumas das ideias incluídas na de direitos humanos. O Capítulo III discute
DUDH, de forma a aumentar a sua rele- a jurisprudência e prática dos órgãos dos
vância contemporânea. tratados sobre os assuntos basilares da
democracia e o primado do direito. O Ca-
Título: Human Rights: Confronting Myths pítulo IV debate os direitos humanos em
and Misunderstandings tempos de crise e emergências. O Capítulo
Autor/Editor: Andrew Fagan V discute estratégias preventivas. O Capí-
Local de publicação: Cheltenham tulo VI discute o dever dos governantes de
Editora: Edward Elgar Publishing respeitarem, protegerem e assegurarem os
Ano de publicação: 2011 direitos humanos. O Capítulo VII discute
ISBN: 978-1-84980-982-5 o dever dos governos de assegurarem a
Conteúdo: este livro abrangente oferece reparação quando ocorram violações. O
546 III. RECURSOS ADICIONAIS

Capítulo VIII discute a essência da super- perspetiva, assegurando o entendimento


visão em sistemas de queixas. O Capítulo pleno do fundamento da existência das leis
IX discute a essência das petições e pro- e de como estas funcionam.
cedimentos de investigação dos factos. O
Capítulo X conclui com uma discussão dos Título: Law of the European Convention
princípios estruturantes da universalidade, on Human Rights
igualdade e justiça, tal como emergem da Autor/Editor: David Harris, Michael
jurisprudência e prática dos órgãos dos O’Boyle, Colin Warbrick
tratados de direitos humanos. Local de publicação: Nova Iorque
Editora: Oxford University Press
Título: International Human Rights Law. Ano de publicação: 2009
Cases, Materials, Commentary ISBN: 978-0-40-690594-9
Autor/Editor: Olivier De Schutter Conteúdo: esta publicação coincide com o
Local de publicação: Nova Iorque 50º aniversário do Tribunal Europeu dos
Editora: Cambridge University Press Direitos Humanos, enquanto marco na
Ano de publicação: 2010 história jurídica Europeia. Ao apresentar o
ISBN: 978-0-521-74866-7 direito jurisprudencial de Estrasburgo, de
Conteúdo: como manter os estudantes forma atualizada e completa, e dos seus
motivados quando a sua perceção de um princípios estruturantes, este livro facilita a
assunto entra em conflito com a realidade compreensão em profundidade desta área
do seu estudo académico? O ordenamento do direito. Explora a fundo a forma como
jurídico internacional dos direitos humanos a Convenção exerce influência no desen-
é, sem dúvida, uma área interessante, po- volvimento jurídico das partes contratantes
rém, também complexa e exigente. Neste e revela, com exatidão, a forma como se
livro, De Schutter centra-se no ordenamen- conseguiu e se mantém esta autoridade tão
to jurídico internacional dos direitos huma- poderosa. Apresenta e analisa criticamen-
nos enquanto sistema jurídico global, mais te cada artigo da Convenção, que consti-
do que uma coleção de direitos diferentes tui uma garantia substantiva, e examina o
(embora relacionados), atribuindo-lhe rele- sistema de supervisão. A Convenção vin-
vância e imediatismo. Trabalha através de cula, presentemente, 47 estados europeus
casos e materiais provenientes de fontes e pretende ainda uma maior abrangência.
abrangentes. Demonstra como o ordena- Tornou-se, efetivamente, numa carta de di-
mento jurídico dos direitos humanos é uti- reitos constitucionais para a Europa, forne-
lizado como uma ferramenta para dar res- cendo padrões comuns de direitos humanos
posta a assuntos contemporâneos, tal como para todo o continente. Os parlamentos e
o combate ao terrorismo, pobreza global e os tribunais nacionais têm constantemente
diversidade religiosa. Os materiais são or- de olhar para a Convenção ao legislarem e
ganizados por temas, permitindo aos leito- decidirem os casos, sob pena de arriscarem
res estabelecerem comparações e ligações decisões adversas de Estrasburgo, em rela-
entre diferentes tratados legais e sistemas. ção às quais estão vinculados. Para quase
Os estudantes também podem facilmente todos os estados, a Convenção é diretamen-
compreender como os direitos humanos te aplicável nos seus tribunais nacionais.
se encontram protegidos pelas leis internas Para os restantes, oferece um modelo para
e internacionais. O direito é colocado em uma carta de direitos nacional. Todas estas
C. BIBLIOGRAFIA SUGERIDA SOBRE DIREITOS HUMANOS 547

considerações revelam o valor imenso da a proibição da tortura, a não discriminação,


explicação completa do direito da Conven- os direitos económicos e muitos outros.
ção que este livro apresenta.
Título: Human Rights Matters – Local
Título: The Law of International Human Politics and National Human Rights In-
Rights Protection stitutions
Autor/Editor: Walter Kälin, Jörg Künzli Autor/Editor: Julie A. Mertus
Local de publicação: Nova Iorque Local de publicação: Stanford
Editora: Oxford University Press Editora: Stanford University Press
Ano de publicação: 2009 Ano de publicação: 2009
ISBN: 978-0-19-956520-7 ISBN: 978-8047-6093-5
Conteúdo: ao apresentar uma visão geral Conteúdo: entre os defensores dos direi-
concisa, mas completa, da proteção inter- tos humanos, existe um entendimento co-
nacional dos direitos humanos aos níveis mum de que a promoção e a proteção dos
global e regional, este livro oferece uma direitos humanos depende não apenas dos
introdução às ideias, conceitos defendidos esforços internacionais mas da ação inter-
e doutrina do ordenamento jurídico inter- na. As instituições internacionais podem
nacional dos direitos humanos, incluindo encontrar-se nas luzes da ribalta mas são
as fontes, natureza legal e escopo de apli- os grupos nacionais que moldam efetiva-
cação das obrigações dos direitos humanos. mente as expetativas locais e, em última
Exploram-se as questões da implementação instância, fazem com que os direitos hu-
e cumprimento aos níveis interno, regional manos sejam importantes. Julie Mertus
e universal e avalia-se o impacto do Con- apresenta um olhar próximo aos trabalhos
selho de Direitos Humanos, recentemente quotidianos destes grupos, através de uma
estabelecido. Avaliam-se as garantias subs- série de casos de estudo e um leque vasto
tantivas dos direitos económicos, sociais de entrevistas aos funcionários e utentes
e culturais tal como dos civis e políticos, de instituições nacionais de direitos hu-
baseados no direito jurisprudencial dos manos. Apresenta um conjunto de casos
órgãos dos tratados de direitos humanos europeus, pouco usuais e interessantes –
e tribunais regionais de relevo. Este livro examinando a Bósnia, a República Checa,
demonstra que os direitos humanos são di- a Dinamarca, a Alemanha e a Irlanda do
reitos reais e geram titularidades jurídicas Norte – para ilustrar como as culturas lo-
para aqueles que estão protegidos por eles cais importam na promoção dos direitos
e impõem obrigações jurídicas para aque- humanos. Mas mesmo com os sucessos
les que estão vinculados a eles. Explora os óbvios dessas instituições, Mertus apre-
diferentes mecanismos estabelecidos pela senta uma visão cautelosa. As instituições
comunidade internacional para monitori- nacionais são incrivelmente difíceis de
zar a implementação das garantias dos di- conceber e de funcionar e apenas são efi-
reitos humanos e decidir casos individuais cazes tanto quanto as diretrizes políticas
trazidos à atenção dos tribunais de direitos e os fatores económicos nacionais o per-
humanos e órgãos quasi-judiciais ao nível mitam. É demasiado frequente que países
internacional. No final explora-se, com por- que apoiam muito os direitos humanos no
menor, o significado das garantias dos di- palco mundial provem ser uma desilusão
reitos humanos, tais como o direito à vida, em casa.
548 III. RECURSOS ADICIONAIS

Título: International Human Rights in Ano de publicação: 2006


Context: Law, Politics, Morals ISBN: 84-9830-034-7
Autor/Editor: Henry J. Steiner, Philipp Conteúdo: no início dos anos noventa,
Alston, Ryan Goodman existia uma expetativa, no âmbito da co-
Local de publicação: Oxford munidade dos direitos humanos, de que a
Editora: Oxford University Press década seguinte seria um período de con-
Ano de publicação: 2007 solidação para o regime internacional de
ISBN: 978-0-19927942-5 direitos humanos. Tal não aconteceu. Na
Conteúdo: este manual interdisciplinar verdade, o regime de direitos humanos foi
contém diverso material, principal e se- submetido a mudanças dramáticas como
cundário e, também, textos, comentários resposta às novas circunstâncias. Os auto-
editoriais e questões de estudo. A tercei- res tentaram, neste manual, realçar tanto
ra edição abrange, de forma completa, as os resultados alcançados como os desafios
características básicas do direito interna- do futuro. Disponível em: http://krisan.
cional, a evolução do movimento dos di- be/drammen/docs/heyns.pdf
reitos humanos, os direitos civis, políticos,
económicos e sociais, o direito humanitá-
rio (as leis da guerra), a globalização, a INFORMAÇÃO SOBRE A SITUAÇÃO
autodeterminação, os direitos das mulhe- DOS DIREITOS HUMANOS
res, o universalismo e o relativismo cul-
tural, as instituições intergovernamentais Título: Amnesty International Report
e não governamentais, a implementação e 2012: The State of the World’s Human
a execução, a aplicação interna das nor- Rights
mas de direitos humanos e a expansão Autor/Editor: Amnistia Internacional
do constitucionalismo. A 3ª edição inclui Local de publicação: Londres
novos temas e tópicos, incluindo os direi- Ano de publicação: 2012
tos humanos em relação ao terrorismo e à ISBN: 978-0862104726
segurança nacional, a responsabilidade de Conteúdo: o Relatório da Amnistia Inter-
atores não estatais pelas violações de di- nacional de 2012 documenta o estado dos
reitos humanos, as mudanças substanciais direitos humanos em 155 países e territó-
recentes nas fontes e nos processos de di- rios, em 2011.
reito internacional, as reformas potenciais Disponível em: www.amnesty.org/en/an-
e as alcançadas nas instituições de direitos nual-report/2012
humanos das Nações Unidas e teorias so-
bre as organizações internacionais e a sua Título: Human Rights Watch World Re-
influencia no comportamento do Estado. port 2012
Também é acompanhada por um sítio da Autor/Editor: Human Rights Watch
internet com o Anexo de Documentos. Local de publicação: Nova Iorque
Ano de publicação: 2012
Título: International Protection of Human ISBN: 978-1-60980-389-6
Rights: Achievements and Challenges Conteúdo: este vigésimo segundo relató-
Autor/Editor: Felipe Gómez Isa, Koen de Feyter rio anual resume as condições dos direitos
Local de publicação: Bilbao humanos em mais de 90 países e territó-
Editora: University of Deusto rios em todo o mundo, em 2011. Reflete
C. BIBLIOGRAFIA SUGERIDA SOBRE DIREITOS HUMANOS 549

um trabalho de investigação exaustivo que cations_per_year/2012/pub-annual-re-


os funcionários da Human Rights Watch port2012_en.htm
realizaram durante esse ano, frequente-
mente, em parceria estreita com ativistas Título: Human Development Report
de direitos humanos internos. Disponível 2011. Sustainability and Equity: A Better
em: www.hrw.org/world-report2012 Future for All.
Autor/Editor: Programa das Nações Uni-
Título: Fundamental Rights: Challenges das para o Desenvolvimento (PNUD)
and Achievements in 2011 Local de publicação: Nova Iorque
Autor/Editor: Agência dos Direitos Funda- Editora: Palgrave McMillan
mentais da União Europeia Ano de publicação: 2011
Local de publicação: Luxemburgo ISBN: 978-0230363311
Editora: Serviço de Publicações da União Conteúdo: o grande desafio para o desen-
Europeia volvimento no Século XXI é a salvaguarda
Ano de publicação: 2012 do direito das gerações de hoje e do futuro
ISBN: 978-92-9192-919-1 de viverem uma vida saudável e plena. O
Conteúdo: o relatório deste ano da FRA Relatório de Desenvolvimento Humano de
refere os desenvolvimentos positivos de 2011 oferece contribuições novas impor-
2011, bem como os desafios da UE e dos tantes para o diálogo global sobre este de-
seus Estados-membros no domínio dos di- safio, mostrando como a sustentabilidade
reitos fundamentais, com base em dados se encontra profundamente ligada à equi-
sociojurídicos objetivos, fiáveis e compa- dade - a questões de justiça e justiça social
ráveis. Analisa os progressos realizados na e de um maior acesso a uma vida melhor.
UE e as obrigações dos Estados-membros Disponível em: http://hdr.undp.org/en/
no âmbito da Carta dos Direitos Funda-
mentais da União Europeia, abrangendo Título: Human Rights in Asia and the Pa-
os seguintes tópicos: asilo, imigração e in- cific
tegração, controlo de fronteiras e política Autor/Editor: James T. Lawrence
de vistos, sociedade de informação e pro- Local de publicação: Huntington
teção de dados, direitos da criança e pro- Editora: Nova Science Pub Inc.
teção de crianças, igualdade e não discri- Ano de publicação: 2004
minação, racismo e discriminação étnica, Conteúdo: a existência dos direitos hu-
participação dos cidadãos da UE no fun- manos ajuda a assegurar a paz, a deter
cionamento democrático da União, acesso a agressão, a promover o primado do di-
a uma justiça eficiente e independente e reito, a combater o crime e a corrupção
os direitos das vítimas da criminalidade. e prevenir crises humanitárias. Estes direi-
Este ano, a secção de foco olha para os tos humanos incluem a liberdade contra a
direitos fundamentais na Europa de hoje. tortura, a liberdade de expressão, a liber-
Esta secção mostra como as várias insti- dade dos meios de informação, os direitos
tuições, direitos e mecanismos trabalham das mulheres, os direitos das crianças e a
em conjunto para dar vida a esses direitos proteção das minorias. Este livro examina
para todos na UE. os países da Ásia e do Pacífico e contem
Disponível em http://fra.europa.eu/ uma bibliografia e índices úteis por assun-
fraWebsite/research/publications/publi- to, título e autor.
550 III. RECURSOS ADICIONAIS

Título: Human Rights in Africa. From the se transformou recentemente. O livro está
OAU to the African Union dividido em capítulos que analisam vários
Autor/Editor: Rachel Murray temas, incluindo os direitos das mulheres,
Local de publicação: Cambridge os direitos da criança, o conceito de demo-
Editora: Cambridge University Press cracia e o direito ao desenvolvimento. Es-
Ano de publicação: 2004 crito por académicos de topo em matéria
Conteúdo: este trabalho analisa o papel de direitos humanos, este livro é de leitura
da Organização da Unidade Africana, atu- essencial para advogados que trabalhem
al União Africana e a forma como tem para os Estados africanos e para governos
lidado com os direitos humanos desde a estrangeiros e ONG que atuem em África,
sua criação, em 1963. Refere o papel das bem como se revela interessante para aca-
suas principais instituições, tanto sob a démicos que estudem os direitos humanos
OUA como sob a União Africana, em que a nível internacional e comparado.

D. RECURSOS SOBRE A EDUCAÇÃO PARA OS


DIREITOS HUMANOS
INFORMAÇÃO BÁSICA E DE CONTEX- na educação sobre o Holocausto e na edu-
TUALIZAÇÃO SELECIONADA, RECEN- cação para os direitos humanos e discute
SÕES E DISCURSO CIENTÍFICO NA EDU- possíveis sinergias na realização do obje-
CAÇÃO PARA OS DIREITOS HUMANOS tivo de sensibilização e da luta contra o
racismo e antissemitismo.
Título: Discover the Past for the Future:
The Role of Historical Sites and Museu- Título: Contemporary Issues in Human
ms in Holocaust Education and Human Rights Education
Rights Education in the EU Autor/Editor: UNESCO
Autor/Editor: Agência dos Direitos Funda- Local de publicação: Paris
mentais da União Europeia (ADF) Editora: UNESCO
Local de publicação: Viena Ano de publicação: 2011
Editora: Agência dos Direitos Fundamen- Conteúdo: esta publicação apresenta os
tais da União Europeia (ADF) pontos principais referentes ao papel da
Ano de publicação: 2011 educação para os direitos humanos, bem
Conteúdo: mais de 60 anos após o Holo- como os elementos chave para a sua im-
causto Shoah, a educação chegou a um plementação. Cada ponto aborda ques-
ponto de viragem: desde o início que foi tões atuais e desafios enfrentados ao in-
feita do cruzamento de experiências de so- corporar-se uma cultura para os direitos
breviventes e de testemunhas, o que agora humanos, também ilustrando a importân-
termina pela simples razão da sua idade. cia coletiva da educação para os direitos
Por outro lado, a ascensão da extrema-di- humanos, como base fundamental para
reita, por toda a Europa, faz-nos questio- uma sociedade justa e pacífica. Para cada
nar sobre o que aprendemos da história. um destes pontos, apresenta-se uma lis-
Esta publicação refere problemas comuns ta de exemplos inspirados por iniciativas
D. RECURSOS SOBRE A EDUCAÇÃO PARA OS DIREITOS HUMANOS 551

de diferentes países. Também se discute o Conteúdo: nos últimos 15 anos, a edu-


papel da pesquisa na promoção dos direi- cação para os direitos humanos evoluiu
tos humanos, no capítulo que descreve as para uma crescente formação pedagó-
principais tendências, exemplos e desafios gica que vai buscar o seu dinamismo e
relacionados com o papel da educação legitimidade ao consenso internacional
para os direitos humanos no Século XXI. percecionado sobre os direitos humanos.
A publicação encontra-se envolta de uma Porém, a proliferação da educação para
visão geral sobre os 60 anos de educação os direitos humanos, paradoxalmente,
para os direitos humanos e de uma exibi- não se encaixa numa análise teórica sus-
ção de materiais de aprendizagem de todo tentada e com significado, apesar de ter
o mundo. um alcance significativo nos sistemas de
Disponível em: http://unesdoc.unesco. educação formais e informais, em todo o
org/images/0021/002108/210895e.pdf mundo. Como resultado, a educação para
os direitos humanos cresceu no sentido de
Título: Human Rights Education in Asia- ser uma pedagogia declaracionista, con-
Pacific. Vol. 1-3 servadora, acrítica e motivada pelo cum-
Autor/Editor: Asia-Pacific Human Rights primento, informada por uma abordagem
Information Center resultante de ditames políticos. Este livro,
Local de publicação: Osaka portanto, apresenta uma análise concetual
Editora: Asia-Pacific Human Rights Infor- sistemática da educação para os direitos
mation Center humanos, propondo princípios concetuais
Ano de publicação: 2010-2012 alternativos para uma nova forma de edu-
Conteúdo: depois de doze anos de artigos cação para os direitos humanos emergir. A
sobre educação para os direitos humanos análise e propostas devem ajudar os pro-
no sistema de ensino, em mais de 20 pa- fissionais e académicos da educação para
íses da Ásia e para além da Ásia-Pacífico, os direitos humanos a contribuírem para
o Centro de Informação dos Direitos Hu- estes desenvolvimentos. Esta nova abor-
manos iniciou, em 2010, a publicação de dagem irá colocar-se numa relação crítica
um relatório anual sobre o tema. Tal como e não determinista em relação aos direitos
o seu antecessor, pretende documentar e humanos universais, o que irá aumentar
disseminar, para um público além das co- substancialmente o seu potencial transfor-
munidades dos indivíduos e instituições mador e humanizante.
que contribuem, as experiências ricas da
Ásia-Pacífico no que respeita à educação Título: Human Rights Education: Reflec-
para os direitos humanos. tions on Policy and Practice
Disponível em: www.hurights.or.jp/archi- Autor/Editor: Fionnuala Waldron, Brian
ves/asia-pacific/ (vol. 1 e 2) Ruane
Local de publicação: Dublin
Título: Human Rights Education: A Con- Editora: The Liffey Press
ceptual Analysis Ano de publicação: 2010
Autor/Editor: André Keet Conteúdo: esta publicação centra-se na
Local de publicação: Saarbrücken educação para os direitos humanos, em
Editora: Lambert Academic Publishing termos teóricos e práticos. Aborda três
Ano de publicação: 2010 temas principais que estão inter-relaciona-
552 III. RECURSOS ADICIONAIS

dos e se desenvolvem num espaço de con- Autor/Editor: Peter Brett, Pascale Mom-
textos nacionais e internacionais. O pri- point-Gaillard, Maria Helena Salema
meiro tema aborda o papel do ensino dos Local de publicação: Estrasburgo
direitos humanos na educação da cidada- Editora: Council of Europe Publishing
nia e na educação para o desenvolvimen- Ano de publicação: 2009
to sustentável. O segundo tema centra-se Conteúdo: esta publicação apresenta as
nos direitos das crianças à educação e no principais competências necessárias aos
conceito de “voz”. O terceiro tema localiza professores e aos formadores de professo-
a educação para os direitos humanos na res, para formação pré-profissional e para
conceção de currículos e na prática esco- a formação contínua ao longo da profis-
lar. Este livro, que reúne uma série de tra- são, de forma a colocar a cidadania demo-
balhos apresentados originalmente numa crática e os direitos humanos em prática
conferência organizada pelo Centro para a na sala de aula, durante o ensino e na co-
Educação para os Direitos Humanos e Ci- munidade. São apresentadas cerca de 15
dadania no Colégio St. Patrick, em Dublin, competências e agrupadas em quatro gru-
traz uma contribuição importante para o pos. Cada agrupamento de competências
pensamento atual e para as melhores prá- corresponde a um capítulo, dentro do qual
ticas na educação dos direitos humanos. as competências são descritas em porme-
nor e exemplificadas. O leitor encontrará
Título: Global Standards – Local Action. grelhas de evolução e a sugestão de ativi-
15 Years Vienna World Conference on dades de desenvolvimento para cada com-
Human Rights. Conference Proceedings petência: estas grelhas – incluindo o foco,
of the International Expert Conferen- desenvolvimento e prática estabelecida e
ce held in Vienna on 28 and 29 August avançada – têm o objetivo de ajudarem os
2008. professores e formadores de professores a
Autor/Editor: Wolfgang Benedek e outros determinarem o nível a que corresponde
Local de publicação: Wien/Graz a sua prática profissional e, desta forma,
Editora: Neuer Wissenschaftlicher Verlag identificarem as melhorias necessárias e
Ano de publicação: 2009 práticas sobre as quais se poderão concen-
Conteúdo: quinze anos após a Declaração trar.
de Viena e Programa de Ação, uma confe-
rência internacional pesquisou e discutiu Título: Human Rights Education: Theory
o estado da implementação nos Estados, and Practice
das obrigações de 1993, em três grupos de Autor/Editor: C. Naseema
trabalho. A publicação resume as contri- Local de publicação: Nova Deli
buições da conferência, incluindo um ca- Editora: Shipra Publications
pítulo sobre as perspetivas internacionais Ano de publicação: 2008
e nacionais e as práticas na educação para Conteúdo: a educação para os direitos
os direitos humanos. humanos pode ajudar a reduzir as viola-
ções de direitos humanos e a contribuir
Título: How All teachers Can Support Ci- para a construção de sociedades livres
tizenship and Human Rights Education: e pacíficas. Os direitos humanos devem
A Framework for the Development of ser um tema para todos os níveis de en-
Competences sino. O livro apresenta uma visão geral
D. RECURSOS SOBRE A EDUCAÇÃO PARA OS DIREITOS HUMANOS 553

dos direitos humanos e aspetos de im- Título: Teachers, Human Rights And Di-
plementação e pedagógicos da educação versity: Educating Citizens in Multicul-
para os direitos humanos. Também lida tural Societies
especificamente com métodos e ativida- Autor/Editor: Audrey Osler
des que os professores podem utilizar Local de publicação: Londres
nas salas de aulas para o ensino dos di- Editora: Trentham Books
reitos humanos e do papel do professor. Ano de publicação: 2005
A vertente pedagógica da educação para Conteúdo: como se deve educar cidadãos
os direitos humanos abordada neste li- em sociedades multiculturais? Esta ques-
vro é um produto de uma série de ses- tão tem vindo a ganhar relevância por
sões de trabalho. todo o mundo. Neste volume, autores da
Inglaterra, Irlanda do Norte, República
Título: Human Rights Learning: A da Irlanda e Estados Unidos apresentam
People’s Report pesquisas recentes neste âmbito e anali-
Autor/Editor: Upendra Baxi, Kenny Mann sam as suas implicações para professores,
Local de publicação: Nova Iorque formadores de professores e professores
Editora: PDHRE – People’s Movement for estudantes. Alguns casos ilustram como
Human Rights Learning jovens cidadãos podem aprender a utilizar
Ano de publicação: 2006 os princípios dos direitos humanos e da
Conteúdo: o relatório foi preparado e escri- igualdade na resolução de questões com-
to através da revisão das muitas mudanças plexas e controversas.
que tiveram lugar nas duas últimas déca-
das, que reflete, em parte. Assim, transmi- Título: Economic, Social and Cultural
te uma ideia do passado, onde ainda não Rights: Handbook for National Human
se vislumbrava a ideia da educação para Rights Institutions
os direitos humanos e, no entanto, conse- Autor/Editor: United Nations
guiu alguns resultados duradouros para a Local de publicação: Nova Iorque /Gene-
dignidade humana, liberdade e bem-estar. bra
O relatório aborda algumas iniciativas na Editora: United Nations
educação para os direitos humanos, no Ano de publicação: 2005
passado bem como no presente: em geral, Conteúdo: o objetivo deste manual é
as ideias e os ideais da educação para os ajudar as instituições nacionais dos di-
direitos humanos têm um lugar mais segu- reitos humanos no desenvolvimento de
ro do que dantes nos setores da educação políticas, processos e técnicas que per-
formal e não-formal, pesquisa académica, mitam uma maior integração, no seu tra-
sensibilização pública organizada pelas balho, dos direitos económicos, sociais
ONG e movimentos populares. Os mate- e culturais. Analisa formas pelas quais
riais aqui reunidos confirmam a diversida- os mandatos legais destas instituições
de das dimensões da educação para os di- podem ser interpretados tendo em vista
reitos humanos e pretendem refletir sobre estes direitos nas respetivas jurisdições
o significado e valor, natureza e limites e e como as suas funções e poderes po-
o futuro da educação para os direitos hu- dem ser exercidos em respeito por tais
manos. Disponível em: www.pdhre.org/ direitos.
report/
554 III. RECURSOS ADICIONAIS

Título: International Perspetives in Hu- res na área dos direitos humanos. Apre-
man Rights Education senta um campo cada vez mais complexo,
Autor/Editor: Viola B. Georgi, Michael Se- de forma direta e acessível. Cada capítulo
berich tem um formato semelhante, de fácil uti-
Local de publicação: Gütersloh lização. O resumo do capítulo é seguido
Editora: Bertelsmann Foundation por uma introdução geral ao tema. Os
Ano de publicação: 2004 princípios internacionais são revelados
Conteúdo: a Declaração Universal dos Di- numa seleção de documentos essenciais.
reitos Humanos define um conjunto bási- As organizações de direitos humanos mais
co de direitos que se aplicam a todos os importantes são descritas: ONU, organi-
seres humanos. Educar as pessoas sobre zações regionais governamentais e não-
os seus direitos é um pré-requisito para governamentais (ONG). Uma vez que o
que eles sejam cumpridos. Assim, países manual não pretende ser exaustivo, cada
de todo o mundo têm o objetivo comum capítulo conclui com uma breve seleção de
de estabelecerem uma cultura de direitos recursos adicionais para posteriores leitura
humanos, cada um a seu modo e ao seu e investigação.
próprio ritmo. Ativistas de direitos huma-
nos, políticos e académicos concordam Título: Methodologies for Human Rights
que a educação para os direitos humanos Education
é uma ferramenta poderosa. Mas reconhe- Autor/Editor: Richard Pierre Claude
cem que a adoção dos direitos humanos Local de publicação: Nova Iorque
como a linguagem comum da humanida- Editora: Peoples Decade for Human Rights
de e como uma forma de fortalecerem a Education (PDHRE)
diversidade cultural e prevenirem a into- Ano de publicação: 1998
lerância e a discriminação constitui um Conteúdo: uma introdução prática à peda-
processo complexo, por vezes problemá- gogia da educação para os direitos huma-
tico e muitas vezes longo. Este conjunto nos, incluindo um ensaio sobre o direito
de ensaios explora as diferentes realidades das pessoas a conhecer os seus direitos,
da educação para os direitos humanos em um guia de planificação curricular, suges-
diferentes partes do mundo, comparando tões para o empoderamento e o estabeleci-
e discutindo abordagens, conceitos teó- mento de grupos de usuários e metodolo-
ricos e métodos. Disponível em: www. gias de avaliação.
bertelsmann-stiftung.de/cps/rde/xbcr/ Disponível em: http://www.pdhre.org/
SID-72858C5F-1738203E/bst/xcms_bst_ materials/methologies.html
dms_14994_14995_2.pdf
Título: Human Rights Education for the
Título: The Human Rights Handbook: A Twenty-First Century
Global Perspetive for Education Autor/Editor: George J. Andreopoulos e
Autor/Editor: Liam Gearon Richard Pierre Claude
Local de publicação: Londres Local de publicação: Filadélfia
Editora: Trentham Books Editora: University of Pennsylvania Press
Ano de publicação: 2003 Ano de publicação: 1997
Conteúdo: um guia de extrema relevância Conteúdo: a educação para os direitos
para professores, estudantes e investigado- humanos, que inclui o ensino sobre os
D. RECURSOS SOBRE A EDUCAÇÃO PARA OS DIREITOS HUMANOS 555

direitos de cada um, é uma tarefa di- participação/análise do grupo-alvo, ava-


fícil. Para ajudar grupos interessados liação de expectativas, definição de objeti-
nesta tarefa, foi desenvolvido este livro vos de aprendizagem e de indicadores, de-
com trabalhos ainda não publicados so- senvolvimento de currículos e de métodos
bre problemas e desafios que são tanto de formação, facilitação e estabelecimento
conceptuais como práticos. Este livro foi de um ambiente de aprendizagem, ferra-
pensado para ser útil para profissionais mentas de avaliação e atividades de acom-
da área, oferece não só um guia teórico panhamento que apoiem a integração dos
como também conselhos básicos sobre a novos conhecimentos e ferramentas para
planificação e a implementação de pro- a prática dos participantes. Também aju-
gramas formais (da escola) e não for- da os usuários a adaptarem as ferramen-
mais (fora da escola) da educação para tas para diferentes tipos de construção de
os direitos humanos. competências (sessões de trabalho, confe-
rências, formação de formadores) e para
diferentes grupos-alvo.
MANUAIS E MATERIAIS EDUCATIVOS
SELECIONADOS Título: Compasito. Manual on Human
Rights Education for Children
Título: The Human Rights Education To- Autor: Nancy Flowers e outros.
olbox Local de publicação: Budapeste
Autor/Editor: Danish Institute for Human Editora: Council of Europe, Directorate of
Rights Youth and Sport/ European Youth Centre
Editora: Danish Institute for Human Rights Budapeste
Ano de publicação: 2011 Ano de publicação: 2009
Idioma: Inglês Idiomas: inglês, albanês, francês, georgia-
Grupo-alvo: profissionais (profissionais de no, alemão, húngaro, japonês, polaco, rus-
direitos humanos e de desenvolvimento, so, turco
assessores e representantes de doadores Grupo-alvo: crianças, educadores
que trabalhem diretamente em programas Conteúdo: o Compasito foi inspirado no
educacionais) Manual “Compass/Farol” de Educação
Conteúdo: este livro oferece uma introdu- para os Direitos Humanos com Jovens, de-
ção à educação para os direitos humanos senvolvido pelo Conselho da Europa, em
e a criação de um ambiente de aprendiza- 2002. O Compasito baseia-se na filosofia
gem baseada nos direitos humanos. Expli- e abordagem educacional do “Compasso”.
ca como conceber programas de educação Tal como o “Compasso”, utiliza uma me-
para os direitos humanos, incluindo pre- todologia de educação não formal e uma
parar uma lista de verificação, pesquisa de estrutura que fornece apoio teórico e prá-
fundo, facilitação de processos de aprendi- tico aos utilizadores do manual. No entan-
zagem e avaliação. Em seguida, descreve to, enquanto o “Compasso” se dirige aos
métodos para o planeamento de sessões de jovens, o Compasito dirige-se aos educa-
educação e gestão de programas de edu- dores adultos que trabalham com as crian-
cação para os direitos humanos. Também ças. Fornece-lhes informações teóricas e
contém ferramentas concretas e listas de metodológicas e debates substanciais dos
verificação sobre: planeamento logístico, temas
556 III. RECURSOS ADICIONAIS

Título: Human Rights Education in the crianças, tais como acampamentos de ve-
School Systems of Europe, Central Asia rão ou atividades extra curriculares. Ajuda
and North America: A Compendium of a reforçar os valores positivos que derivam
Good Practice dos princípios fundamentais da dignidade
Autor/Editor: OSCE/ODIHR, Conselho da humana e da igualdade, contidos na Decla-
Europa, UNESCO ração Universal dos Direitos Humanos.
Local de publicação: Varsóvia Disponível em: http://equitas.org/wp-
Editora: OSCE/ODIHR content/uploads/2010/11/2008-Play-it-
Ano de publicação: 2009 Fair-Toolkit_En.pdf
Idiomas: inglês, árabe, francês, alemão,
italiano, russo, espanhol Título: Exploring Children’s Rights - Nine
Público-alvo: professores / educação para short projects for primary level
o nível primário e secundário Autor/Editor: Rolf Gollob, Peter Krapf
Conteúdo: esta nova ferramenta foi conce- Local de publicação: Estrasburgo
bida para as escolas primárias e secundá- Editor: Conselho da Europa (=EDC/HRE
rias, instituições para formação de profes- Volume V)
sores e outros contextos de aprendizagem, Ano de publicação: 2007
reunindo 101 práticas exemplares da Ásia Idiomas: Inglês, Francês, Russo
Central, Europa e América do Norte, sendo Grupo-alvo: Crianças, professores
um recurso valioso para professores e para Conteúdo: as crianças devem saber quais
os responsáveis pelas políticas de educa- os seus direitos, mas também devem apren-
ção. Fornece materiais relevantes para der a apreciá-los e usá-los. Para conseguir
uma educação de sucesso para os direitos isso, as escolas devem permitir um leque
humanos, incluindo: 1) leis, diretrizes e abrangente de experiências de aprendiza-
padrões; 2) ambiente de aprendizagem; 3) gem na educação dos direitos das crian-
ferramentas de ensino e de aprendizagem; ças. As crianças compreendem e apreciam
4) desenvolvimento profissional para os os seus direitos, utilizando-os, tanto na
educadores; e 5 ) avaliação. escola como na vida quotidiana. Para in-
Disponível em: www.hrea.org/index. centivar as crianças a fazê-lo, o desafio do
php?base_id=172&doc_id=458 professor é o de criar um ambiente regido
pelo espírito de democracia e de direitos
Título: Play it fair! A Human Rights Edu- humanos. Este manual foi concebido para
cation Toolkit for Children os professores que procuram ferramentas
Autor/Editor: Daniel Roy e outros. para ensinar os direitos das crianças e para
Local de publicação: Montreal, Quebec estudantes das escolas primárias.
Editora: Equitas – International Centre for
Human Rights Education Título: Designing and Delivering Effec-
Ano de publicação: 2008 tive Human Rights Education. Training
Idioma: Inglês Manual
Público-alvo: crianças, educadores Autor/Editor: Vincenza Nazzari e outros.
Conteúdo: o livro ajuda a promover os di- Local de publicação: Montreal, Quebeque
reitos humanos, a não-discriminação e a Editor: Equitas – International Centre for
resolução pacífica dos conflitos, no âmbito Human Rights Education
de programas de educação não-formal para Ano de publicação: 2007
D. RECURSOS SOBRE A EDUCAÇÃO PARA OS DIREITOS HUMANOS 557

Idioma: Inglês do ensino básico. O manual tem um capí-


Grupo-alvo: educadores de direitos huma- tulo introdutório sobre o papel dos direitos
nos, professores, formadores humanos na escola e encontra-se cheio de
Conteúdo: o manual apresenta as linhas planos de aulas já testados, sugestões, ati-
gerais para uma sessão de trabalho de seis vidades, jogos, questionários e estudos de
dias, visando fornecer aos educadores de casos em diferentes disciplinas e áreas do
direitos humanos as ferramentas necessá- plano curricular, desde História e Geogra-
rias para planearem, conceberem e con- fia à Língua Inglesa.
duzirem sessões de trabalho eficazes para
a formação de formadores. O manual foi Título: DOmino - A Manual to Use Peer
concebido para uso dos facilitadores e par- Group Education as a Means to Fight Ra-
ticipantes. A sessão de trabalho é concebi- cism, Xenophobia, Anti-Semitism and
da como um curso para o desenvolvimento Intolerance
da educação para os direitos humanos. In- Autor/Editor: Antje Rothemund e outros.
cide sobre o “como “ conceber, realizar e Local de publicação: Estrasburgo
avaliar a formação em direitos humanos, Editor: Conselho da Europa
bem como o desenvolvimento de uma Ano da publicação: 2005 (3ª edição)
abordagem sistemática para a educação Idiomas: Inglês, Francês
para os direitos humanos. Os participantes Grupo-alvo: Jovens
irão aprender sobre a conceção da educa- Conteúdo: o DOmino tenta ajudar quem
ção para os direitos humanos assim como trabalhe ou pretenda trabalhar com jovens
também terão a oportunidade de aplicar a em projetos de educação através de grupos
teoria à prática, ao prepararem um mode- de trabalho. As diferentes secções do DO-
lo real para uma sessão de formação em mino contêm algum trabalho teórico sobre
direitos humanos. Espera-se que os partici- a educação através de grupos de trabalho
pantes usem o modelo como base para de- assim como diferentes descrições de pro-
senvolverem a formação que irão realizar jetos, métodos, citações e histórias de jo-
no âmbito do trabalho com as suas organi- vens. As referências aos recursos utilizados
zações. Disponível em: são colocadas entre parêntesis e as fontes
http://equitas.org/wp-content/uploa- podem ser encontradas na bibliografia, no
ds/2010/11/Equitas_Generic_TOT_2007. final da publicação. Disponível em: http://
pdf eycb.coe.int/domino/default.htm

Título: Our World. Our Rights Título: Education Pack-Ideas, Resources,


Autor/Editor: Amnistia Internacional Methods and Activities for Informal In-
Local de publicação: Londres tercultural Education with Young People
Editora: Educators in Human Rights Ne- and Adults
twork Autor/Editor: Mark Taylor, Pat Brander,
Ano de publicação: 2006 Carmen Cardenas, Rui Gomes e Juan de
Língua: Inglês Vicente Abad
Grupo-alvo: Crianças Local de publicação: Estrasburgo
Conteúdo: manual para professores, bem Editora: Conselho da Europa (Campanha
ilustrado, apresentando a Declaração Uni- Todos Diferentes Todos Iguais)
versal dos Direitos Humanos a uma turma Ano de publicação: 2005
558 III. RECURSOS ADICIONAIS

Língua: Inglês, Francês plicando que é necessário participar, ati-


Grupo-alvo: Jovens vamente, em campanhas pelos direitos
Conteúdo: nos dias de hoje, as sociedades humanos – e que a melhor forma de o
europeias continuam a sofrer do aumen- fazer é através da educação. Inclui es-
to de hostilidade racista e intolerância em tudos de casos e citações de pessoas de
relação às minorias. A necessidade de se todo o mundo.
continuar com o trabalho intercultural
com os jovens permanece inquestioná- Título: ABC Teaching Human Rights:
vel. A utilidade deste pacote resulta da Practical Activities for Primary and Se-
variedade e criatividade das metodologias condary Schools
propostas. O desempenho de papéis, exer- Autor/Editor: OHCHR
cícios de simulação, estudos de casos e Local de publicação: Nova Iorque/Gene-
trabalho de grupo em cooperação que este bra
documento de referência propõe serve de Editora: United Nations Publications
inspiração a muitos que trabalham com Ano de publicação: 2004
jovens, formadores, professores e outras Línguas: inglês, árabe, chinês, francês,
pessoas ativamente envolvidas na educa- russo, espanhol
ção intercultural. O Education Pack é um Grupo-alvo: crianças
livro para ser utilizado em ambientes não Conteúdo: ABC Teaching Human Rights
formais de educação, porém, as suas ativi- pretende ser uma ferramenta de uso fácil
dades podem ser incluídas em aulas. O li- na educação para os direitos humanos,
vro tem duas secções principais, a primei- cobrindo várias áreas básicas dos direi-
ra lida com os conceitos essenciais para a tos humanos. Oferece conselhos práticos
educação intercultural e a segunda sugere a professores e outros educadores que
atividades, métodos e recursos. queiram sensibilizar e fomentar a ação no
Disponível em: http://eycb.coe.int/edupa- campo dos direitos humanos a nível de
ck/default.htm escolas primárias e secundárias, incluin-
do sugestões para desenvolver atividades
Título: Why Do People Abuse Human Ri- para a aprendizagem. Não pretende sobre-
ghts? carregar, ainda mais, o plano curricular
Autor/Editor: Alison Brownlie mas sim, inserir questões de direitos hu-
Local de publicação: Londres manos em matérias já ensinadas nas esco-
Editora: Hodder Wayland las. Disponível em:
Ano de publicação: 2004 www.ohchr.org/en/publicationsresour-
Língua: Inglês ces/pages/trainingeducation.aspx
Grupo-alvo: Crianças
Conteúdo: o livro analisa como e porque Título: Compass-A manual on Human
é que os direitos humanos são violados. Rights Education with young people
Examina como os direitos dos que per- Autor/Editor: Rui Gomes e outros.
tencem a diferentes sectores da socie- Local de publicação: Estrasburgo
dade, tais como as crianças e os traba- Editora: Conselho da Europa
lhadores, podem ser violados e como os Ano de publicação: 2003 (2ª edição)
direitos humanos são afetados durante Línguas: inglês, árabe, croata, húngaro,
guerras e outros conflitos. Prossegue ex- romeno, neerlandês, italiano, esloveno,
D. RECURSOS SOBRE A EDUCAÇÃO PARA OS DIREITOS HUMANOS 559

bósnio, búlgaro, espanhol, alemão, ar- Título: Human Rights in the Curriculum:
ménio, azeri, georgiano, polaco, mace- History
dónio, checo, português, japonês, sér- Autor/Editor: Margot Brown e Sarah Slater
vio, eslovaco, turco, russo, esloveno, Local de publicação: Londres
francês Editora: Amnesty International/Education
Grupo-alvo: Jovens, adultos in Human Rights Network
Conteúdo: este guia educacional contém Ano de publicação: 2002
uma vasta gama de abordagens a temas Língua: Inglês
e métodos que devem inspirar todos os Grupo-alvo: Professores (nível secundário)
que se interessam por direitos humanos, Conteúdo: o livro inclui atividades diver-
democracia e cidadania. O guia também tidas e ideias para as aulas dos professo-
contém uma série de 49 fichas de trabalho res de História. Apresenta aos alunos a
com atividades práticas completas, pro- oportunidade de estudarem áreas do pla-
pondo um sistema pormenorizado para no curricular de uma nova forma inspira-
atividades na escola, bem como vários dora. Para além de encorajar os alunos a
textos e documentos relacionados. pensarem sobre a escravatura, o trabalho
Disponível em: http://eycb.coe.int/com- infantil, a luta pelos direitos das mulheres
pass/ e o Holocausto, da perspetiva dos direitos
humanos, o livro também apresenta figu-
Título: First Steps: A Manual for Starting ras históricas e inspiradoras desde Bar-
Human Rights Education tolomé de las Casas a Eleanor Roosevelt.
Autor/Editor: Amnistia Internacional Através da análise das etapas históricas
Local de publicação: Londres mais relevantes, os alunos compreenderão
Editora: Amnistia Internacional os direitos humanos e a necessidade de os
Ano de publicação: 2002 promover.
Língua: Inglês, albanês
Grupo-alvo: Crianças/educação entre pares Título: Time for Rights: Activities for Ci-
Conteúdo: este manual, publicado primei- tizenship and PSHE for 9-13 Year Olds
ro em 1996, foi desenvolvido pela Am- Autor/Editor: Pam Fenney, Heather Jarvis,
nistia Internacional especialmente para Elaine Nipper
as regiões da Europa Central e de Leste. Local de publicação: Genebra
O manual tem sido utilizado em diversos Editora: UNICEF
países na região. O First Steps foi concebi- Ano de publicação: 2002
do como uma ferramenta de ensino para Língua: Inglês
o professor bem como um recurso para a Grupo-alvo: Crianças
organização de atividades em ambientes Conteúdo: analisa a cidadania e os direi-
educacionais. O texto contém um total de tos relacionados com a Convenção sobre
27 aulas para crianças (até aos 12 anos) os Direitos da Criança da ONU. Através de
e 18 aulas para adolescentes. A edição de dramatizações, desenhos, histórias, poe-
2002 foi adaptada para a educação entre mas e de uma ampla variedade de ativi-
pares. dades, o livro examina o significado dos
Disponível em: www.amnesty.org/en/li- direitos humanos para uma criança, na
brary/info/POL32/002/2002/en família, na escola e na comunidade.
560 III. RECURSOS ADICIONAIS

Título: Passport to Dignity Local de publicação: Nova Iorque


Autor/Editor: PDHRE – People’s Decade Editora: PDHRE - People’s Decade for Hu-
for Human Rights Education man Rights Education
Local de publicação: Nova Iorque Ano de publicação: 2002
Editora: PDHRE - People’s Decade for Hu- Língua: Inglês
man Rights Education Grupo-alvo: Adultos, ativistas de direitos
Ano de publicação: 2002 humanos
Língua: Inglês Conteúdo: este pacote de recursos visa
Grupo-alvo: adultos, ativistas de direitos fornecer um quadro de direitos humanos
humanos para ONG e trabalhadores da comunidade.
Conteúdo: este livro de trabalho foi con- O “Call for Justice” encontra-se organizado
cebido para inspirar, informar e facilitar em duas categorias principais: “Grupos”
a transformação social e económica no e “Assuntos”. A categoria de “Grupos”
sentido da realização dos direitos huma- encontra-se direcionada para assuntos de
nos das mulheres. O livro utiliza a plata- direitos humanos, por grupos ou pessoas
forma completa da Plataforma de Ação de afetadas: idosos, crianças e jovens, pesso-
Pequim para demonstrar a natureza holís- as com deficiências, povos indígenas, tra-
tica dos direitos humanos e a ferramenta balhadores migrantes, minorias e grupos
poderosa que representa para as mulheres étnicos, refugiados e mulheres. A catego-
ultrapassarem a discriminação, alcança- ria dos “Assuntos” encontra-se direcio-
rem a igualdade plena, bem-estar e parti- nada para assuntos de direitos humanos
cipação nas decisões que determinam as relacionados com o desenvolvimento: de-
suas vidas e o futuro das suas comunida- senvolvimento, discriminação, educação,
des. Apresenta experiências e reflete sobre meio ambiente, saúde, habitação, subsis-
como usar o quadro dos direitos humanos tência e propriedade, participação, paz e
como uma ferramenta para uma análise desarmamento, pobreza, “raça”, religião,
sistemática, através de uma perspetiva de orientação sexual e trabalho. O pacote de
género, numa multitude de assuntos sobre recursos é um recurso a acompanhar o
as mulheres e partilha experiências e apre- “Passport to Dignity”, um guia de prepara-
senta uma orientação para ação no sentido ção baseado no essencial da Plataforma de
da transformação económica e social. As Ação de Pequim.
Áreas Críticas de Preocupação da Platafor- Disponível em: www.pdhre.org/justice.
ma de Ação de Pequim fornecem materiais html
para a educação para os direitos humanos
e linhas de orientação para a reivindica- Título: Freedom! Human Rights Educa-
ção e realização dos direitos humanos das tion Pack
mulheres. Autor/Editor: Amnistia Internacional
Disponível em: www.pdhre.org/passport. Local de publicação: Londres
html Editora: Amnistia Internacional
Ano de publicação: 2001
Título: A Call for Justice. Resource Pa- Língua: Inglês
cket Grupo-alvo: Jovens
Autor/Editor: PDHRE - People’s Decade Conteúdo: uma investigação estimulante
for Human Rights Education sobre o que são os nossos direitos huma-
D. RECURSOS SOBRE A EDUCAÇÃO PARA OS DIREITOS HUMANOS 561

nos e como foram desenvolvidos, recusa- Grupo-alvo: Adultos, educadores


dos e desafiados. Este livro é adequado Conteúdo: manual de formação com exer-
para alunos dos 14 aos 19 anos. Brilhan- cícios elaborados para a educação não
temente ilustrado, o livro contém informa- formal de base, dando relevância a ques-
ção, sugestões e instruções para professo- tões sobre mulheres e crianças, entre ou-
res, bem como casos práticos, atividades, tras, encontrando-se organizado em torno
projetos de pesquisa e exercícios para os de valores específicos. Estes incluem, por
alunos. Excelente para cursos de Cidada- exemplo, o respeito pela dignidade e re-
nia, Educação Religiosa, Estudos Gerais, gras justas, as ligações entre os direitos
Geografia, História, Inglês, Educação Pes- humanos e as responsabilidades, a cons-
soal, Social e relativa à Saúde (PSHE, em trução da sociedade civil, o confronto
inglês), Comunicação Social, Teatro, Direi- de preconceitos e a “informação para o
to e Sociologia. empoderamento”, etc. Os métodos alta-
mente participativos do manual podem
Título: Stand Up for Your Rights ser adaptados em diversos cenários e cul-
Autor/Editor: Paul Atgwa, Jasper Bakyayi- turas e, embora elaborado para a educa-
ta, Damien Boltauzer e outros. ção não formal, foi utilizado, com suces-
Local de publicação: Londres so, também, em programas de educação
Editora: Two-Can Publishing formal. Disponível em: www.hrea.org/
Ano de publicação: 2001 pubs/claude00.html
Língua: Inglês
Grupo-alvo: Crianças Título: Lesbian, Gay, Bisexual and Trans-
Conteúdo: escrito e editado por jovens de gender Rights: A Human Rights Perspe-
todo o mundo, o livro trata de questões tive
de direitos humanos. Contém histórias, Autor/Editor: Dave Donahue
poemas, memórias pessoais, transmitindo Local de publicação: Minneapolis
esperanças e medos sobre como nos trata- Editora: Human Rights Resource Center
mos uns aos outros. É uma comemoração Ano de publicação: 2000 (= Topic Book 3)
do que foi alcançado no desenvolvimen- Língua: Inglês
to dos direitos humanos, seguido de uma Grupo-alvo: Jovens, adultos
indagação sobre o que deverão significar Conteúdo: este manual pretende apro-
para o futuro. fundar a análise e desenvolver ações
responsáveis entre os alunos de escolas
Título: Popular Education for Human Ri- secundárias sobre questões relativas a ho-
ghts. 24 participatory exercises for facili- mossexuais, bissexuais e transsexuais, no
tators and teachers contexto mais amplo dos direitos huma-
Autor/Editor: Richard Pierre Claude nos. As atividades deste estudo promovem
Local de publicação: Amsterdão/Cambrid- ações apropriadas, além da reflexão e do
ge, MA debate. Os alunos são convidados a assu-
Editora: Human Rights Education Associa- mirem a responsabilidade pela homofobia
tes que conduz a abusos de direitos humanos.
Ano de publicação: 2000 Essa homofobia pode surgir, na escola, sob
Línguas: inglês, chinês, espanhol, neerlan- a forma de assédio ou na violência contra
dês estudantes homossexuais, na comunidade
562 III. RECURSOS ADICIONAIS

durante a realização de referendos sobre Disponível em: www1.umn.edu/hu-


a igualdade dos direitos dos homossexu- manrts/edumat/hreduseries/hrhand-
ais, ou no mundo, quando as pessoas são book/toc.html
aprisionadas, torturadas e executadas por
terem relações consensuais com adultos Título: Siniko. Towards a Human Rights
do mesmo sexo. Este manual prepara os Culture in Africa
alunos para responderem, com significa- Autor/Editor: Amnistia Internacional – Se-
do, a estes desafios. As atividades deste cretariado Internacional
currículo podem ser ensinadas individual- Local de publicação: Londres
mente ou conjuntamente, em sequência. Editora: Amnistia Internacional
Quanto mais forem integradas nas inves- Ano de publicação: 1999
tigações de direitos humanos nas salas de Línguas: inglês, francês e suaíli
aulas, melhor se permitirá que os alunos Grupo-alvo: crianças, professores
vejam estes direitos LGBT ainda com mais Conteúdo: este manual é concebido como
clareza, no âmbito do quadro dos direitos uma introdução básica para professores e
humanos. Disponível em: www1.umn. educadores em África que trabalhem com
edu/humanrts/edumat/ jovens em ambientes de educação formais
e informais, e que queiram inserir os di-
Título: The Human Rights Education Han- reitos humanos na sua prática de ensino
dbook. Effective Practices for Learning, – contém conselhos sobre metodologia,
Action and Change atividades para as crianças e adolescentes
Autor/Editor: Nancy Flowers e outros e ideias para atividades. Disponível em:
Local de publicação: Universidade de Min- http://amnesty.org/en/library/asset/
nesota AFR01/003/1999/en/c9e5d998-e1a5-11dd-
Editora: Human Rights Resource Center 9f8a-a19d21ac1fa4/afr010031999en.pdf
(= Topic Book 4)
Ano de publicação: 2000 Título: Raising Children with Roots, Ri-
Conteúdo: este manual pretende ajudar ghts and Responsibilities. Celebrating
quem se preocupa com os direitos huma- the UN Convention on the Rights of the
nos a tornar-se num bom educador, capaz Child
de partilhar tanto a sua paixão como o seu Autor/Editor: Lori Dupont, Joanne Foley e
conhecimento. Este livro expõe o essencial Annette Gagliardi
para aprofundar a educação para os direi- Local de publicação: Minneapolis
tos humanos, em todos as suas muitas Editora: Human Rights Resource Center;
formas: porquê, para quem, o quê, onde, Ano de publicação: 1999
quem e como. Baseia-se na experiência de Língua: Inglês
muitos educadores e organizações, mos- Grupo-alvo: crianças, professores, educa-
trando a suas práticas eficazes e revelan- dores
do o seu conhecimento acumulado. Está Conteúdo: este livro procura corresponder
desenhado para ser usado com uma refe- à responsabilidade delineada no Preâm-
rência e ferramenta já pronta: fácil de ler, bulo da Declaração Universal dos Direi-
de usar e de fotocopiar. Cada capítulo é tos Humanos que exorta cada indivíduo e
autónomo, possível de ser lido e usado in- cada órgão da sociedade a que “se esfor-
dependentemente. cem, pelo ensino e pela educação, por de-
D. RECURSOS SOBRE A EDUCAÇÃO PARA OS DIREITOS HUMANOS 563

senvolver o respeito por esses direitos e li- Local de publicação: Paris


berdades”. O guia para um programa de 12 Editora: UNESCO Publishing
semanas sobre direitos humanos baseia-se Ano de publicação: 1998
no poder da relação pais-criança. Língua: Inglês, francês, espanhol
Disponível em: www1.umn.edu/hu- Grupo-alvo: adultos, educadores e profes-
manrts/edumat/ sores
Conteúdo: estes documentos são recursos
Título: Economic and Social Justice. A com programas exemplares, planos de au-
Human Rights Perspetive las e unidades de ensino para serem utiliza-
Autor/Editor: David A. Shiman dos em diferentes setores. Eles centram-se
Local de publicação: Minneapolis em explicações e abordagens da educação
Editora: Human Rights Resource Center para a tolerância nas escolas, mas também
Ano de publicação: 1999 abordam o clima social em que as escolas
Língua: Inglês educam. Os materiais podem ser utiliza-
Grupo-alvo: Jovens, adultos dos, como um recurso introdutório, pelos
Conteúdo: este livro oferece informações professores nas aulas, formadores de pro-
gerais, ideias para tomar medidas e para fessores, líderes comunitários, pais, jovens
atividades interativas, para ajudar as pes- e trabalhadores sociais, com conhecimen-
soas a pensar os direitos humanos de forma tos do que está envolvido e é exigido da
mais ampla e inclusiva. Pretende ajudar a educação para a tolerância. As organiza-
definir questões, como a questão dos sem- ções, grupos e classes formais do nível
abrigo, a pobreza, a fome, os cuidados de secundário e superiores podem explorar
saúde inadequados, não apenas como pro- em conjunto os assuntos levantados e os
blemas sociais e económicos mas também problemas identificados. Faz parte do Pla-
como desafios para os direitos humanos. no de Ação Integrado da UNESCO sobre
O livro começa com uma resenha história Educação para a Paz, Direitos Humanos e
dos direitos económicos, sociais e cultu- Democracia.
rais e um ensaio, em formato de perguntas
e respostas, que apresenta estes direitos. Título: Self-Help Human Rights Educa-
Ainda que os direitos culturais estejam tion Handbook
inter-relacionados e sejam igualmente im- Autor/Editor: J. Paul Martin
portantes, enquanto direitos económicos e Local de publicação: Nova Iorque
sociais, este livro aborda principalmente a Editora: Center for the Study of Human Ri-
justiça nas suas vertentes económica e so- ghts, Columbia University
cial. A Parte II sugere nove atividades para Ano de publicação: 1996
se continuar a explorar e a aprender sobre Língua: Inglês
os direitos sociais e económicos. Grupo-alvo: Educadores e formadores
Conteúdo: este manual online foi elabora-
Título: Tolerance – the Threshold of Pe- do para habilitar experientes e futuros edu-
ace: Teacher-Training Resource Unit cadores para os direitos humanos, para es-
(vol. 1). Primary School Resource Unit clarecer objetivos educacionais claros para
(vol. 2). Secondary School Resource Unit os programas sobre os direitos humanos,
(vol. 3). para melhorar a capacidade de planificar
Autor/Editor: Betty A. Reardon e avaliar programas, para retirar o máximo
564 III. RECURSOS ADICIONAIS

dos recursos disponíveis bem como criar animadas, de traço simples, do artista bra-
os seus recursos próprios quando necessá- sileiro Otavio Roth, este livro ajuda-nos a
rio e possível. todos a melhor compreender a importân-
Disponível em: www.hrea.org/erc/Libra- cia dos direitos humanos.
ry/curriculum_methodology/SELFHELP.
html
EDUCAÇÃO PARA OS DIREITOS HUMA-
Título: Educating for Human Dignity: Le- NOS NA INTERNET:
arning about Rights and Responsibilities
Autor/Editor: Betty A. Reardon BIBLIOTECAS CONSULTÁVEIS POR VIA ELETRÓNICA
Local de publicação: Filadélfia (ONLINE), BASES DE DADOS E RECURSOS
Editora: Pennsylvania Studies in Human
Rights Addis Ababa University Center for Hu-
Ano de publicação: 1995 man Rights: www.aau.edu.et/humanri-
Língua: Inglês ghts/
Grupo-alvo: Crianças
Conteúdo: este é um dos principais livros Amnesty International USA – Human
sobre a educação para os direitos huma- Rights Education: www.amnestyusa.org/
nos, para o ensino primário e secundário. education
Escrito para professores e formadores dos
professores. É o primeiro recurso que ofe- Council of Europe: www.coe.int
rece um guia e outros materiais de apoio
a programas de educação para os direitos CRIN – Child Rights Information Ne-
humanos, desde o infantário à escola se- twork: www.crin.org
cundária. Abre possibilidades para uma
abordagem holística da educação para os Dadalos – International UNESCO Server
direitos humanos, que confronta, direta- for Democracy, Peace and Human Rights
mente, as questões de valores levantadas Education: www.dadalos.org
por problemas dos direitos humanos num
contexto de inter-relações globais. Derechos Humanos – Human Rights:
www.derechos.org
Título: The Universal Declaration of Hu-
man Rights. An Adaptation for Children Discover Human Rights Institute. A pro-
Autor/Editor: Ruth Rocha e Otavio Roth ject of The Advocates for Human Rights:
Local de publicação: Nova Iorque www.discoverhumanrights.org/
Editora: United Nations Publications
Ano de publicação: 1990 Equitas – International Centre for Hu-
Língua: Inglês man Rights Education: http://equitas.
Grupo-alvo: Crianças (livro de imagens) org/
Conteúdo: este livro, de leitura educacio-
nal e divertida, com bonitas ilustrações, ETCGraz – European Training and Rese-
cativa a todos, em especial as crianças. Es- arch Centre for Human Rights and De-
crito por Ruth Rocha, escritora para crian- mocracy: www.etc-graz.at, http://kenne-
ças de renome mundial, e com ilustrações deinerechte.at, www.das-boot-ist-voll.at
D. RECURSOS SOBRE A EDUCAÇÃO PARA OS DIREITOS HUMANOS 565

European Court of Human Rights Portal: Netherlands Institute of Human Rights


www.echr.coe.int/ECHR/Homepage_EN Documentation Site: http://sim.law.
uu.nl/SIM/Dochome.nsf?Open
DARE – Democracy and Human Rights Edu-
cation in Europe: www.dare-network.eu/ OHCHR– Database on Human Rights
Education and Training: http://hre.
FRA – European Union Agency for Fun- ohchr.org/hret/intro.aspx
damental Rights: http://fra.europa.eu/
fraWebsite/your_rights/about-rights/ OHCHR– Publications: www.ohchr.org/
about-rights_en.htm EN/PublicationsResources/Pages/Trainin-
gEducation.aspx
HRDC– Human Rights & Documentation
Centre (University of Namibia): PDHRE – The People’s Movement for
www.unam.na/centres/hrdc/hrdc_index.html Human Rights Learning: www.pdhre.org

HREA – Human Rights Education As- Pedro Arrupe Human Rights Institute
sociates: www.hrea.org/index.php?base_ (Instituto de Derechos Humanos Pedro
id=101&language_id=1 Arrupe), University of Deusto, Spain:
http://www.idh.deusto.es
HRI – Human Rights Internet: www.
hri.ca Project DIANA Online Human Rights
Archive: http://avalon.law.yale.edu/sub-
HRRC– The Human Rights Resource ject_menus/diana.asp
Center: www.hrusa.org
TeachUNICEF: http://teachunicef.org/
HURIDOCS – Human Rights Information
and Documentation Systems: www.huri- The European Wergeland Centre: www.
search.org theewc.org

HURIGHTS OSAKA – Asia-Pacific Hu- United Nations Cyber School Bus: www.
man Rights Information Center: www. cyberschoolbus.un.org
hurights.or.jp
United Nations Online Databases: www.
IIDH – Instituto Interamericano de Dere- un.org/en/databases/
chos Humanos: www.iidh.ed.cr/
University of Minnesota Human Rights
I have a right to… – BBCWorld Service: Library: www.umn.edu/humanrts
www.bbc.co.uk/worldservice/people/fea-
tures/ihavearightto/index.shtml

Ius Gentium Conimbrigae/Human Rights


Centre, University of Coimbra, Portugal:
http://www.fd.uc.pt/igc/
566 III. RECURSOS ADICIONAIS

E. DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS


HUMANOS9
9
PREÂMBULO Nações Unidas proclamam, de novo, a sua
fé nos direitos fundamentais do homem,
Considerando que o reconhecimento da na dignidade e no valor da pessoa huma-
dignidade inerente a todos os membros da na, na igualdade de direitos dos homens e
família humana e dos seus direitos iguais das mulheres e se declararam resolvidos a
e inalienáveis constitui o fundamento da favorecer o progresso social e a instaurar
liberdade, da justiça e da paz no mundo; melhores condições de vida dentro de uma
Considerando que o desconhecimento e o liberdade mais ampla;
desprezo dos direitos do homem condu- Considerando que os Estados membros se
ziram a atos de barbárie que revoltam a comprometeram a promover, em coopera-
consciência da Humanidade e que o adven- ção com a Organização das Nações Unidas,
to de um mundo em que os seres humanos o respeito universal e efetivo dos direitos
sejam livres de falar e de crer, libertos do do homem e das liberdades fundamentais;
terror e da miséria, foi proclamado como a Considerando que uma conceção comum
mais alta inspiração do homem; destes direitos e liberdades é da mais alta
Considerando que é essencial a proteção importância para dar plena satisfação a tal
dos direitos do homem através de um regi- compromisso:
me de direito, para que o homem não seja
compelido, em supremo recurso, à revolta A ASSEMBLEIA-GERAL
contra a tirania e a opressão;
Considerando que é essencial encorajar o Proclama a presente Declaração Universal
desenvolvimento de relações amistosas en- dos Direitos do Homem como ideal comum
tre as nações; a atingir por todos os povos e todas as na-
Considerando que, na Carta, os povos das ções, a fim de que todos os indivíduos e
todos os órgãos da sociedade, tendo-a cons-
tantemente no espírito, se esforcem, pelo
ensino e pela educação, por desenvolver o
9
A presente DUDH foi retirada, na íntegra, da pági- respeito desses direitos e liberdades e por
na oficial da Assembleia da República de Portugal,
em abril de 2013. Esta versão mantém a expressão
promover, por medidas progressivas de or-
“direitos do homem” em vez de “direitos humanos”, dem nacional e internacional, o seu reco-
não contemplando ainda, portanto, a Deliberação nhecimento e a sua aplicação universais e
da Assembleia da República de 8 de março de 2013 efetivos tanto entre as populações dos pró-
que “recomenda que as entidades públicas e priva-
das adotem a expressão universalista para referenciar
prios Estados membros como entre as dos
os direitos humanos”. A DUDH, no caso de Portu- territórios colocados sob a sua jurisdição.
gal, foi publicada no Diário da República, I Série A,
n.º 57/78, de 9 de março de 1978, mediante aviso do Artigo 1º
Ministério dos Negócios Estrangeiros. Disponível no
sítio da internet do Diário da República http://dre.pt/
Todos os seres humanos nascem livres e
comum/html/legis/dudh.html iguais em dignidade e em direitos. Dotados
E. DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS HUMANOS9 567

de razão e de consciência, devem agir uns


para com os outros em espírito de frater- Artigo 8º
nidade. Toda a pessoa tem direito a recurso efetivo
Artigo 2º para as jurisdições nacionais competentes
Todos os seres humanos podem invocar os contra os atos que violem os direitos fun-
direitos e as liberdades proclamados na pre- damentais reconhecidos pela Constituição
sente Declaração, sem distinção alguma, no- ou pela lei.
meadamente de raça, de cor, de sexo, de lín-
gua, de religião, de opinião política ou outra, Artigo 9º
de origem nacional ou social, de fortuna, de Ninguém pode ser arbitrariamente preso,
nascimento ou de qualquer outra situação. detido ou exilado.
Além disso, não será feita nenhuma distin-
ção fundada no estatuto político, jurídico ou Artigo 10º
internacional do país ou do território da na- Toda a pessoa tem direito, em plena igual-
turalidade da pessoa, seja esse país ou terri- dade, a que a sua causa seja equitativa
tório independente, sob tutela, autónomo ou e publicamente julgada por um tribunal
sujeito a alguma limitação de soberania. independente e imparcial que decida dos
seus direitos e obrigações ou das razões de
Artigo 3º qualquer acusação em matéria penal que
Todo o indivíduo tem direito à vida, à liber- contra ela seja deduzida.
dade e à segurança pessoal.
Artigo 11º
Artigo 4º 1. Toda a pessoa acusada de um ato de-
Ninguém será mantido em escravatura ou lituoso presume-se inocente até que a sua
em servidão; a escravatura e o trato dos es- culpabilidade fique legalmente provada no
cravos, sob todas as formas, são proibidos. decurso de um processo público em que to-
das as garantias necessárias de defesa lhe
Artigo 5º sejam asseguradas.
Ninguém será submetido a tortura nem a 2. Ninguém será condenado por ações ou
penas ou tratamentos cruéis, desumanos omissões que, no momento da sua práti-
ou degradantes. ca, não constituíam ato delituoso à face
do direito interno ou internacional. Do
Artigo 6º mesmo modo, não será infligida pena
Todos os indivíduos têm direito ao reconhe- mais grave do que a que era aplicável no
cimento em todos os lugares da sua perso- momento em que o ato delituoso foi co-
nalidade jurídica. metido.

Artigo 7º Artigo 12º


Todos são iguais perante a lei e, sem dis- Ninguém sofrerá intromissões arbitrárias
tinção, têm direito a igual proteção da lei. na sua vida privada, na sua família, no
Todos têm direito a proteção igual contra seu domicílio ou na sua correspondência,
qualquer discriminação que viole a presen- nem ataques à sua honra e reputação. Con-
te Declaração e contra qualquer incitamen- tra tais intromissões ou ataques toda a pes-
to a tal discriminação. soa tem direito a proteção da lei.
568 III. RECURSOS ADICIONAIS

Artigo 13º Artigo 18º


1. Toda a pessoa tem o direito de livremen- Toda a pessoa tem direito à liberdade de
te circular e escolher a sua residência no pensamento, de consciência e de religião;
interior de um Estado. este direito implica a liberdade de mudar
2. Toda a pessoa tem o direito de abando- de religião ou de convicção, assim como a
nar o país em que se encontra, incluindo liberdade de manifestar a religião ou con-
o seu, e o direito de regressar ao seu país. vicção, sozinho ou em comum, tanto em
público como em privado, pelo ensino, pela
Artigo 14º prática, pelo culto e pelos ritos.
1.Toda a pessoa sujeita a perseguição tem o
direito de procurar e de beneficiar de asilo Artigo 19º
em outros países. Todo o indivíduo tem direito à liberdade de
2.Este direito não pode, porém, ser invoca- opinião e de expressão, o que implica o di-
do no caso de processo realmente existente reito de não ser inquietado pelas suas opini-
por crime de direito comum ou por ativida- ões e o de procurar, receber e difundir, sem
des contrárias aos fins e aos princípios das consideração de fronteiras, informações e
Nações Unidas. ideias por qualquer meio de expressão.

Artigo 15º Artigo 20º


1. Todo o indivíduo tem direito a ter uma 1. Toda a pessoa tem direito à liberdade de
nacionalidade. reunião e de associação pacíficas.
2. Ninguém pode ser arbitrariamente pri- 2. Ninguém pode ser obrigado a fazer parte
vado da sua nacionalidade nem do direito de uma associação.
de mudar de nacionalidade.
Artigo 21º
Artigo 16º 1. Toda a pessoa tem o direito de tomar
1. A partir da idade núbil, o homem e a parte na direção dos negócios públicos do
mulher têm o direito de casar e de consti- seu país, quer diretamente, quer por inter-
tuir família, sem restrição alguma de raça, médio de representantes livremente esco-
nacionalidade ou religião. Durante o casa- lhidos.
mento e na altura da sua dissolução, am- 2. Toda a pessoa tem direito de acesso, em
bos têm direitos iguais. condições de igualdade, às funções públi-
2. O casamento não pode ser celebrado cas do seu país.
sem o livre e pleno consentimento dos fu- 3. A vontade do povo é o fundamento da
turos esposos. autoridade dos poderes públicos; e deve
3. A família é o elemento natural e funda- exprimir-se através de eleições honestas a
mental da sociedade e tem direito à prote- realizar periodicamente por sufrágio uni-
ção desta e do Estado. versal e igual, com voto secreto ou segundo
processo equivalente que salvaguarde a li-
Artigo 17º berdade de voto.
1. Toda a pessoa, individual ou coletiva-
mente, tem direito à propriedade. Artigo 22º
2. Ninguém pode ser arbitrariamente pri- Toda a pessoa, como membro da socieda-
vado da sua propriedade. de, tem direito à segurança social; e pode
E. DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS HUMANOS9 569

legitimamente exigir a satisfação dos di- as crianças, nascidas dentro ou fora do


reitos económicos, sociais e culturais in- matrimónio, gozam da mesma proteção
dispensáveis, graças ao esforço nacional e social.
à cooperação internacional, de harmonia
com a organização e os recursos de cada Artigo 26º
país. 1. Toda a pessoa tem direito à educação.
A educação deve ser gratuita, pelo menos a
Artigo 23º correspondente ao ensino elementar funda-
1. Toda a pessoa tem direito ao trabalho, mental. O ensino elementar é obrigatório.
à livre escolha do trabalho, a condições O ensino técnico e profissional deve ser ge-
equitativas e satisfatórias de trabalho e à neralizado; o acesso aos estudos superiores
proteção contra o desemprego. deve estar aberto a todos em plena igualda-
2. Todos têm direito, sem discriminação de, em função do seu mérito.
alguma, a salário igual por trabalho igual. 2. A educação deve visar à plena expansão
3. Quem trabalha tem direito a uma re- da personalidade humana e ao reforço dos
muneração equitativa e satisfatória, que direitos do homem e das liberdades funda-
lhe permita e à sua família uma existên- mentais e deve favorecer a compreensão, a
cia conforme com a dignidade humana, e tolerância e a amizade entre todas as na-
completada, se possível, por todos os outros ções e todos os grupos raciais ou religiosos,
meios de proteção social. bem como o desenvolvimento das ativida-
4. Toda a pessoa tem o direito de fundar com des das Nações Unidas para a manutenção
outras pessoas sindicatos e de se filiar em da paz.
sindicatos para a defesa dos seus interesses. 3. Aos pais pertence a prioridade do direito
de escolher o género de educação a dar aos
Artigo 24º filhos.
Toda a pessoa tem direito ao repouso e aos
lazeres e, especialmente, a uma limitação Artigo 27º
razoável da duração do trabalho e a férias 1. Toda a pessoa tem o direito de tomar
periódicas pagas. parte livremente na vida cultural da co-
munidade, de fruir as artes e de participar
Artigo 25º no progresso científico e nos benefícios que
1. Toda a pessoa tem direito a um nível de deste resultam.
vida suficiente para lhe assegurar e à sua 2. Todos têm direito à proteção dos interes-
família a saúde e o bem-estar, principal- ses morais e materiais ligados a qualquer
mente quanto à alimentação, ao vestuário, produção científica, literária ou artística
ao alojamento, à assistência médica e ain- da sua autoria.
da quanto aos serviços sociais necessários,
e tem direito à segurança no desemprego, Artigo 28º
na doença, na invalidez, na viuvez, na ve- Toda a pessoa tem direito a que reine, no
lhice ou noutros casos de perda de meios plano social e no plano internacional, uma
de subsistência por circunstâncias inde- ordem capaz de tornar plenamente efetivos
pendentes da sua vontade. os direitos e as liberdades enunciados na
2. A maternidade e a infância têm direito presente Declaração.
a ajuda e a assistência especiais. Todas
570 III. RECURSOS ADICIONAIS

Artigo 29º 3. Em caso algum estes direitos e liberda-


1. O indivíduo tem deveres para com a des poderão ser exercidos contrariamente
comunidade, fora da qual não é possível o aos fins e aos princípios das Nações Uni-
livre e pleno desenvolvimento da sua per- das.
sonalidade.
2. No exercício destes direitos e no gozo Artigo 30º
destas liberdades ninguém está sujeito Nenhuma disposição da presente Declara-
senão às limitações estabelecidas pela lei ção pode ser interpretada de maneira a en-
com vista exclusivamente a promover o volver para qualquer Estado, agrupamento
reconhecimento e o respeito dos direitos e ou indivíduo o direito de se entregar a al-
liberdades dos outros e a fim de satisfazer guma atividade ou de praticar algum ato
as justas exigências da moral, da ordem destinado a destruir os direitos e liberdades
pública e do bem-estar numa sociedade de- aqui enunciados.
mocrática.

F. DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS


HUMANOS (SUMÁRIO)10
10

Artigo 1º Artigo 5º
Todos os seres humanos nascem livres e Ninguém será submetido a tortura nem a
iguais. penas ou tratamentos cruéis, desumanos
ou degradantes.
Artigo 2º
Todos os seres humanos podem invocar os Artigo 6º
mesmos direitos humanos sem discrimina- Todos os indivíduos têm o direito humano
ção alguma. ao reconhecimento em todos os lugares da
sua personalidade jurídica.
Artigo 3º
Todo o indivíduo tem o direito humano à Artigo 7º
vida, à liberdade e à segurança. Todos são iguais perante a lei e têm o direi-
to humano a igual proteção da lei.
Artigo 4º
Ninguém será mantido em escravatura ou Artigo 8º
em servidão. Toda a pessoa tem o direito humano a me-
canismos de proteção se os seus direitos
humanos forem violados.
10
A tradução desta DUDH sintetizada utilizou, sem- Artigo 9º
pre que possível, as expressões e conceitos utilizados
na DUDH oficial que retirámos da página oficial da Ninguém pode ser arbitrariamente preso,
Assembleia da República de Portugal. detido ou exilado.
F. DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS HUMANOS (SUMÁRIO) 571

Artigo 10º Artigo 19º


Toda a pessoa tem o direito humano a um Todo a pessoa tem o direito humano à li-
julgamento justo. berdade de opinião e de expressão.

Artigo 11º Artigo 20º


Toda a pessoa tem o direito humano à pre- Toda a pessoa tem direito à liberdade de
sunção de inocência até que a sua culpa- reunião e de associação pacíficas.
bilidade fique provada.
Artigo 21º
Artigo 12º Toda a pessoa tem o direito humano de
Todos têm o direito humano à privacidade tomar parte na governação do seu país,
e à vida familiar. quer diretamente, quer por intermédio de
eleições livres e justas e de acesso aos ser-
Artigo 13º viços públicos.
Toda a pessoa tem o direito humano de
livremente circular e escolher a sua resi- Artigo 22º
dência no interior de um Estado, de aban- Toda a pessoa tem o direito humano à se-
donar o país em que se encontra e o direito gurança social e à satisfação dos direitos
de regressar ao seu país. económicos, sociais e culturais indispen-
sáveis à dignidade.
Artigo 14º
Toda a pessoa tem o direito humano de reque- Artigo 23º
rer asilo com fundamento em perseguição. Toda a pessoa tem o direito humano ao
trabalho, a condições justas de trabalho,
Artigo 15º à proteção contra o desemprego, a salário
Toda a pessoa tem o direito humano a ter igual por trabalho igual, a uma remunera-
uma nacionalidade. ção satisfatória, que lhe permita e à sua
família uma existência conforme com a
Artigo 16º dignidade humana e o direito humano de
Todos os adultos têm o direito humano de se filiar em sindicatos.
casar e de constituir família. Mulheres e
homens têm direitos humanos iguais de Artigo 24º
casar, durante o casamento e na altura da Toda a pessoa tem o direito humano ao
sua dissolução. repouso e ao lazer.

Artigo 17º Artigo 25º


Toda a pessoa tem o direito humano à pro- Toda a pessoa tem o direito humano a
priedade. um nível de vida suficiente para lhe as-
segurar a saúde e o bem-estar, principal-
Artigo 18º mente quanto à alimentação, ao vestuá-
Toda a pessoa tem o direito humano à li- rio, ao alojamento, à assistência médica
berdade de pensamento, de consciência e e ainda quanto aos serviços sociais ne-
de religião. cessários.
572 III. RECURSOS ADICIONAIS

Artigo 26º Artigo 30º


Toda a pessoa tem o direito humano à edu- Nenhuma disposição da presente Decla-
cação, incluindo ensino elementar gratuito ração pode ser utilizada como justificação
e obrigatório e educação para os direitos para a violação de outro direito humano.
humanos.
Artigo 27º
ATIVIDADE SELECIONADA:
Toda a pessoa tem o direito humano de
participar livremente na vida cultural e de
Ler em voz alta o sumário da DUDH e de-
participar no progresso científico, assim
bater os seus artigos, no grupo, tendo em
como à proteção das suas produções artís-
consideração os princípios da universali-
ticas, literárias ou científicas.
dade, indivisibilidade, interconexão e in-
Artigo 28º terligação dos direitos humanos.
Toda a pessoa tem direito a uma ordem (Fonte: The People’s Movement for Hu-
social e internacional capaz de tornar ple- man Rights Learning (PDHRE), www.
namente efetivos estes direitos. pdhre.org/conventionsum/udhr.html)
Artigo 29º
Toda a pessoa tem deveres para com a co-
munidade.

G. DECLARAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS SOBRE


EDUCAÇÃO E FORMAÇÃO EM DIREITOS
HUMANOS11
11
Resolução adotada pela Assembleia- ções Unidas sobre Educação e Formação
Geral das Nações Unidas em Direitos Humanos, na sua resolução
[com base no relatório do Terceiro Comité 16/1, de 23 de março de 2011,12
(A/66/457)]
66/137. Declaração das Nações Unidas 1. Adota a Declaração das Nações Unidas
sobre Educação e Formação em Direitos sobre Educação e Formação em Direitos
Humanos Humanos que se junta em anexo à presen-
te resolução;
A Assembleia-Geral, 2. Convida os governos, as agências e as
Acolhendo a adoção, pelo Conselho de organizações do sistema das Nações Uni-
Direitos Humanos, da Declaração das Na- das e as organizações intergovernamen-
tais e não governamentais a que intensifi-
11
A equipa técnica não encontrou traduzida para
português a presente Declaração das Nações Unidas,
12
pelo que fez da mesma uma tradução livre, não ofi- Ver os Documentos Oficiais da Assembleia Geral,
cial, e que, portanto, não faz fé pública. Sessão 66, Suplemento Nº 53 (A/66/53), cap. I.
G. DECLARAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS SOBRE EDUCAÇÃO E FORMAÇÃO EM DIREITOS HUMANOS 573

quem os seus esforços para difundirem a des das Nações Unidas para a manutenção
Declaração e promoverem o seu respeito da paz, segurança e promoção do desen-
e a sua compreensão a nível universal e volvimento e os direitos humanos,
pedem ao Secretário-Geral que inclua o
texto da Declaração na próxima edição Reafirmando o dever dos Estados, explici-
de Direitos Humanos: uma Compilação tado na Declaração Universal dos Direitos
de Instrumentos Internacionais (Human Humanos,13 no Pacto Internacional sobre
Rights: A Compilation of International os Direitos Económicos, Sociais e Cultu-
Instruments). rais14 e noutros instrumentos de direitos
humanos, de assegurarem que a educação
89ª Sessão plenária seja dirigida para o fortalecimento do res-
19 de dezembro de 2011 peito dos direitos humanos e liberdades
fundamentais,
Anexo
Declaração das Nações Unidas Reconhecendo a importância fundamental
sobre Educação e Formação da educação e formação em matéria de di-
em Direitos Humanos reitos humanos para a promoção, proteção
e realização efetiva de todos os direitos
A Assembleia-Geral, humanos,

Reafirmando os objetivos e os princípios Reafirmando o apelo da Conferência


da Carta das Nações Unidas relativos à Mundial de Direitos Humanos, celebrada
promoção e ao encorajamento do respeito em Viena em 1993, a todos os Estados e
de todos os direitos humanos e liberdades instituições para que incluam os direitos
fundamentais de todos, sem distinção por humanos, o direito humanitário, a demo-
motivos de raça, sexo, língua ou religião, cracia e o primado do direito como temas
dos planos de estudos de todas as insti-
Reafirmando também que todas as pesso- tuições de ensino, e a sua declaração de
as, bem como as instituições devem pro- que a educação em matéria de direitos hu-
mover, mediante o ensino e a educação, o manos deve abarcar a paz, a democracia,
respeito pelos direitos humanos e liberda- o desenvolvimento e a justiça social, nos
des fundamentais, termos dos instrumentos internacionais e
regionais de direitos humanos, a fim de se
Reafirmando ainda que todas as pessoas conseguir uma conceção comum e uma to-
têm o direito à educação e que a educa- mada de consciência coletiva que permita
ção deve ser orientada para o desenvolvi- consolidar o compromisso universal a fa-
mento pleno da personalidade humana e vor dos direitos humanos,15
o sentido da sua dignidade, para permitir
que todas as pessoas participem efetiva-
mente numa sociedade livre, para favore- 13
Resolução 217 A (III).
cer a compreensão, a tolerância e a amiza-
14
de entre todas as nações e todos os grupos Ver a resolução 2200 A (XXI), em anexo.
raciais, étnicos ou religiosos e, ainda, para 15
Ver A/CONF.157/24 (Parte I), Cap. III, Sec. II.D,
promover o desenvolvimento das ativida- par. 79 e 80.
574 III. RECURSOS ADICIONAIS

Recordando o Documento Final da Cimei- Artigo 2º


ra Mundial de 2005, em que os Chefes de 1. A educação e a formação em matéria
Estado e de Governo apoiaram a promo- de direitos humanos estão integradas num
ção da educação e a formação em maté- conjunto de atividades educativas, de for-
ria de direitos humanos a todos os níveis, mação, de informação, de sensibilização
em particular, através da execução do e de aprendizagem que têm por objetivo
Programa Mundial para a educação em promover o respeito universal pelo cum-
direitos humanos, e apelaram a todos os primento de todos os direitos humanos e
Estados para prepararem iniciativas nesse liberdades fundamentais, contribuindo as-
sentido,16 sim, inter alia, para a prevenção das viola-
ções e dos abusos de direitos humanos, ao
Movida pela vontade de emitir um sinal proporcionarem às pessoas conhecimen-
claro à comunidade internacional, para tos, competências, compreensão e desen-
que intensifique todos os esforços relati- volvimento das suas atitudes e comporta-
vos à educação e formação em matéria de mentos, para as empoderar no sentido de
direitos humanos, através de um compro- contribuírem para a criação e promoção
misso coletivo de todas as partes interes- de uma cultura universal de direitos hu-
sadas, manos.
2. A educação e formação em matéria de
Declara o seguinte: direitos humanos englobam:
a) A educação sobre os direitos humanos,
Artigo 1º que inclui proporcionar conhecimento e a
1. Todas as pessoas têm direito a saber, compreensão das normas e princípios de
procurar e receber informações sobre to- direitos humanos, dos valores que os sus-
dos os direitos humanos e liberdades fun- têm e dos mecanismos que os protegem;
damentais e devem ter acesso à educação b) A educação através dos direitos huma-
e formação em matéria de direitos huma- nos, que inclui a aprendizagem e o ensino
nos. em respeito pelos direitos dos educadores
2. A educação e a formação em matéria e dos educandos;
de direitos humanos são essenciais para c) A educação para os direitos humanos,
a promoção do respeito universal e efeti- que inclui empoderar as pessoas para que
vo de todos os direitos humanos e liber- gozem dos seus direitos e os exerçam, res-
dades fundamentais de todas as pessoas, peitem e defendam os direitos dos outros.
em conformidade com os princípios da
universalidade, indivisibilidade e interde- Artigo 3º
pendência dos direitos humanos. 1. A educação e a formação em matéria de
3. O gozo efetivo de todos os direitos hu- direitos humanos são um processo que se
manos, em particular, do direito à educa- prolonga por toda a vida e respeita a todas
ção e ao acesso à informação, facilita o as idades.
acesso à educação e formação em matéria 2. A educação e a formação em matéria
de direitos humanos. de direitos humanos respeita a todos os
setores da sociedade e a todos os níveis
de ensino, incluindo a educação pré-esco-
16
Ver a resolução 60/1, par. 131. lar, primária, secundária e superior, tendo
G. DECLARAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS SOBRE EDUCAÇÃO E FORMAÇÃO EM DIREITOS HUMANOS 575

em consideração a autonomia académica, tos humanos de qualidade, sem nenhum


quando for o caso, e todas as formas de tipo de discriminação;
educação, formação e aprendizagem, seja e) Contribuírem para a prevenção das
no âmbito formal, informal ou não-formal, violações e abusos dos direitos humanos
tanto no sector público como no privado. e combaterem e erradicarem todas as for-
Inclui, entre outras, a formação profissio- mas de discriminação e racismo, estereó-
nal, em particular, a formação de formado- tipos e incitamento ao ódio e as atitudes
res, professores e funcionários públicos, a e preconceitos nefastos que se encontram
educação contínua, a educação popular e na sua origem.
as atividades de informação e sensibiliza-
ção do público em geral. Artigo 5º
3. A educação e a formação em matéria 1. A educação e a formação em matéria de
de direitos humanos devem empregar idio- direitos humanos, seja realizada por agen-
mas e métodos adaptados aos grupos a que tes públicos ou privados, devem basear-se
sejam dirigidos, tendo em consideração as nos princípios da igualdade, especialmen-
suas necessidades e condições específicas. te a igualdade entre meninas e meninos
e entre mulheres e homens, da dignidade
Artigo 4º humana, da inclusão e da não discrimina-
A educação e a formação em matéria de ção.
direitos humanos devem basear-se nos 2. A educação e a formação em matéria
princípios da Declaração Universal dos Di- de direitos humanos devem ser acessíveis
reitos Humanos e nos demais instrumen- e disponíveis para todos e devem ter em
tos e tratados pertinentes, com vista a: consideração as dificuldades e os obstácu-
a) Fomentarem o conhecimento, a com- los específicos, as necessidades e expecta-
preensão e a aceitação das normas e dos tivas com que se defrontam as pessoas e
princípios universais de direitos humanos, os grupos em situações vulneráveis e des-
assim como das garantias de proteção dos favoráveis, como as pessoas com deficiên-
direitos humanos e liberdades fundamen- cias, a fim de fomentar o empoderamento
tais, ao nível internacional, regional e na- e o desenvolvimento humano, contribuir
cional; para a eliminação das causas da exclusão
b) Desenvolverem uma cultura universal ou marginalização e permitir a todos o
de direitos humanos, em que todos sejam exercício de todos os seus direitos.
conscientes dos seus próprios direitos e 3. A educação e a formação em matéria
das suas obrigações no que respeita aos de direitos humanos devem abarcar e en-
direitos dos outros, e favorecerem o de- riquecer, bem como colher inspiração da
senvolvimento da pessoa como membro diversidade das civilizações, religiões,
responsável de uma sociedade livre e pací- culturas e tradições dos diferentes países,
fica, pluralista e de inclusão; refletindo a universalidade dos direitos hu-
c) Realizarem o exercício efetivo de todos manos.
os direitos humanos e promoverem a tole- 4. A educação e a formação em matéria de
rância, a não discriminação e a igualdade; direitos humanos devem ter em conside-
d) Garantirem a igualdade de oportunida- ração as diferentes circunstâncias econó-
des para todos mediante o acesso a uma micas, sociais e culturais favorecendo, em
educação e formação em matéria de direi- simultâneo, as iniciativas locais, de forma
576 III. RECURSOS ADICIONAIS

a fomentar a apropriação do objetivo co- devem garantir a formação adequada em


mum que é a realização de todos os direi- direitos humanos e, quando apropriado,
tos humanos para todos. em direito internacional humanitário e di-
reito penal internacional, dos funcionários
Artigo 6º públicos, juízes, agentes de manutenção
1. A educação e a formação em matéria de da ordem pública e pessoal militar, assim
direitos humanos devem aproveitar e uti- como promover a formação adequada em
lizar as novas tecnologias de informação e direitos humanos, de professores, forma-
comunicação, assim como os meios de co- dores e outros educadores e pessoal pri-
municação, para promoverem os direitos vado a desempenharem funções por parte
humanos e liberdades fundamentais. do Estado.
2. Deve encorajar-se a arte como meio de
formação e sensibilização na esfera dos di- Artigo 8º
reitos humanos. 1. Os Estados devem formular ou promo-
ver a formulação, ao nível adequado, de
Artigo 7º estratégias e políticas e, conforme apro-
1. Os Estados e as autoridades governa- priado, de programas e de planos de ação,
mentais competentes são os principais para implementarem a educação e for-
responsáveis pela promoção e garantia da mação em matéria de direitos humanos,
educação e formação em matéria de direi- por exemplo, integrando-as nos planos de
tos humanos, concebidas e implementa- estudos das escolas e nos programas de
das através de um espírito de participação, formação. A este respeito, deve ter-se em
inclusão e responsabilidade. conta o Programa Mundial para a Educa-
2. Os Estados devem criar um ambiente ção em Direitos Humanos e as necessida-
seguro e adequado para a participação da des e prioridades nacionais e locais espe-
sociedade civil, do sector privado e de ou- cíficas.
tros interessados relevantes na educação 2. Na conceção, implementação, avalia-
e formação em matéria de direitos huma- ção e acompanhamento das estratégias,
nos, em que se proteja de forma plena os planos de ação, políticas e programas de-
direitos humanos e liberdades fundamen- vem participar todos os interessados rele-
tais de todos, incluindo os dos envolvidos vantes, incluindo o sector privado, a so-
neste processo. ciedade civil e as instituições nacionais de
3. Os Estados devem adotar medidas, direitos humanos, promovendo, conforme
individualmente e com a assistência e adequado, as iniciativas de diferentes in-
cooperação internacional, para garan- teressados.
tirem, até ao limite dos recursos de que
disponham, a implementação progressiva Artigo 9º
da educação e formação em matéria de Os Estados devem fomentar a criação, o
direitos humanos através dos meios ade- desenvolvimento e o fortalecimento de
quados, em particular, através da adoção instituições nacionais de direitos huma-
de políticas e de medidas legislativas e nos eficazes e independentes, conforme
administrativas. os Princípios relativos ao estatuto das
4. Os Estados e, quando aplicável, as au- instituições nacionais de promoção e pro-
toridades governamentais competentes teção dos direitos humanos (“Princípios
G. DECLARAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS SOBRE EDUCAÇÃO E FORMAÇÃO EM DIREITOS HUMANOS 577

de Paris”),17 reconhecendo que estas ins- Artigo 12º


tituições podem desempenhar um papel 1. A cooperação internacional, a todos os
importante, incluindo, se necessário, uma níveis, deve apoiar e reforçar as atividades
função de coordenação, na promoção da nacionais, incluindo, quando adequado,
educação e formação em matéria de di- as de nível local, para a implementação da
reitos humanos, entre outras coisas, cons- educação e formação em matéria de direi-
ciencializando e mobilizando os agentes tos humanos.
públicos e privados pertinentes. 2. Os esforços complementados e coorde-
nados ao nível internacional, regional, na-
Artigo 10º cional e local podem contribuir para que
1. Diversos atores sociais, como as institui- a educação e formação em matéria de di-
ções educativas, os meios de comunicação reitos humanos sejam implementadas com
social, as famílias, as comunidades locais, maior eficácia.
as instituições da sociedade civil, incluin- 3. Deve encorajar-se o financiamento vo-
do as organizações não-governamentais, luntário de projetos e iniciativas na esfera
os defensores dos direitos humanos e o da educação e formação em matéria de di-
sector privado podem contribuir, de ma- reitos humanos.
neira importante, para a promoção e dis-
ponibilização da educação e formação em Artigo 13º
matéria de direitos humanos. 1. Os mecanismos internacionais e regio-
2. Encorajam-se as instituições da socie- nais de direitos humanos devem, confor-
dade civil, do sector privado e outros in- me os seus respetivos mandatos, ter em
teressados relevantes a assegurarem que consideração no seu trabalho a educação
os seus funcionários recebam educação e e formação em matéria de direitos huma-
formação adequadas em matéria de direi- nos.
tos humanos. 2. Encorajam-se os Estados para que in-
cluam nos seus relatórios, no âmbito dos
Artigo 11º mecanismos de direitos humanos, quando
As Nações Unidas e as organizações inter- adequado, informações sobre as medidas
nacionais e regionais devem ministrar a adotadas no âmbito da educação e forma-
educação e formação em matéria de direi- ção em matéria de direitos humanos.
tos humanos ao pessoal civil, assim como
ao pessoal militar e policial que prestem Artigo 14º
serviços no âmbito dos seus mandatos. Os Estados devem adotar as medidas
adequadas para assegurarem a aplicação
eficaz e o acompanhamento da presente
Declaração e disponibilizarem os recursos
17
Resolução 48/134. necessários para este efeito.
578 III. RECURSOS ADICIONAIS

H. GLOSSÁRIO

Ação Afirmativa: um conjunto de ações Bioética: O campo da bioética engloba a


ou programas específicos concebidos para análise de questões morais que surgem
aumentar as oportunidades educacionais e das práticas científicas bem como o es-
de emprego de indivíduos ou grupos, aos tudo filosófico de questões de valores e a
quais tenham sido negados plena partici- investigação sobre assuntos de políticas
pação e acesso nesse âmbito. públicas.

Agressão: consiste no uso de força armada Civil: pessoa que não é combatente.
por um Estado contra a soberania, integri-
dade territorial ou independência política Combatente: pessoa que participa de for-
de outro, ou de qualquer outra forma in- ma direta nas hostilidades ou é membro
consistente com a Carta das Nações Unidas. das forças armadas do estado ou organiza-
ção envolvidos num conflito armado.
Analfabetismo: incapacidade de ler ou es-
crever. Comunicação: uma queixa individual ou
coletiva, perante um órgão dos tratados,
Antissemitismo: ódio, preconceito, opres- relativa a uma alegada violação dos direi-
são, discriminação e, frequentemente, tos humanos. Também denominada “soli-
formas violentas de hostilidade contra Ju- citação”, “queixa” ou “petição”.
deus. O antissemitismo é uma forma espe-
cífica de racismo. Não é apenas parte da Confidencialidade: habilidade de guardar
ideologia Nazi, mas encontra-se espalhado segredo. A confidencialidade foi escolhida
por toda a população. como um método normal de trabalho pelo
Comité Internacional da Cruz Vermelha
Apartheid: apartheid é o termo em Afrika- (CICV) para poder ter acesso às vítimas,
ans para a discriminação sistemática e le- para as proteger com o desenvolvimento
galizada que existiu na África do Sul, entre de diálogos eficazes com as autoridades.
1948-1994. Sob a Lei do Registo Demográ-
fico (Population Registration Act), de 1950, Conflito Armado: situação na qual dois
a população era classificada em diferentes ou mais grupos organizados participam
categorias raciais, e a educação, a residên- em lutas armadas, quer internacionais ou
cia e o casamento só eram permitidos no internas. Qualquer diferendo que surja en-
seio de cada uma dessas categorias. Com tre dois Estados e que leve à intervenção
a eleição de Nelson Mandela como Presi- de forças armadas é um conflito armado,
dente, em 1994, o sistema foi legalmente mesmo se um dos Estados negar a existên-
desmantelado. cia de um estado de guerra.

Apostasia: é um termo utilizado, frequen- Convenção: tratado multilateral que, de


temente de forma pejorativa, para descre- acordo com o direito internacional, é vin-
ver a recusa da sua religião. culativo para todas as partes. Também de-
H. GLOSSÁRIO 579

nominado “Pacto” no caso do PIDCP e do melhante que causem intencionalmente


PIDESC. grande sofrimento, ferimentos graves ou
afetem a saúde mental ou física” (artº 7º,
Criança: a Convenção sobre os Direitos da nº1, Estatuto de Roma do TPI)
Criança da ONU, de 1989, define criança
como “todo o ser humano menor de 18 Crimes contra a Paz: planear, preparar,
anos, salvo se, nos termos da lei que lhe for iniciar ou travar uma guerra de agressão
aplicável, atingir a maioridade mais cedo.” ou uma guerra em violação dos tratados
internacionais.
Criança Refugiada: uma criança refugiada
ou deslocada é toda a pessoa menor de 18 Danos Colaterais: danos ou perdas cau-
anos, que procura estatuto de refugiado ou sados acidentalmente durante um ataque,
outra proteção internacional, considerada apesar de tomadas todas as precauções
refugiada de acordo com a lei e os pro- necessárias para prevenir ou, em qualquer
cedimentos internacionais ou domésticos situação, minimizar a perda de vidas civis,
aplicáveis, quer esteja não acompanhada feridos civis ou danos em objetos civis.
ou acompanhada pelos seus pais ou por
qualquer adulto, que seja forçada a fugir Declaração: afirmação solene que pode
atravessando uma fronteira internacional conter recomendações mas não é legal-
(em resultado, por exemplo, de uma guer- mente vinculativa. Uma declaração pode
ra, guerra civil ou violência generalizada). também ser uma afirmação por Estados
individuais sobre a interpretação de uma
Crimes contra a Humanidade: “enten- obrigação.
de-se por «crime contra a Humanidade»
qualquer um dos atos seguintes quando Derrogação: suspensão de uma obrigação
cometido no quadro de um ataque, gene- relativa a um direito humano em determi-
ralizado ou sistemático, contra qualquer nadas circunstâncias claramente defini-
população civil, havendo conhecimento das, como a emergência pública.
desse ataque: homicídio; extermínio; es-
cravidão; deportação ou transferência à Desenvolvimento Sustentável: desenvol-
força de uma população; prisão ou outra vimento que satisfaz as necessidades do
forma de privação da liberdade física gra- presente sem comprometer a capacidade
ve, em violação das normas fundamentais das gerações futuras de satisfazer as suas
do direito internacional; tortura; violação, próprias necessidades.
escravatura sexual, prostituição forçada,
gravidez à força, esterilização à força ou Detido: civil que está acusado de um cri-
qualquer outra forma de violência no cam- me e é mantido como prisioneiro durante
po sexual de gravidade comparável, perse- um conflito armado.
guição de um grupo ou coletividade que
possa ser identificado, por motivos políti- Diálogo Inter-Crenças: uma tentativa de
cos, raciais, nacionais, étnicos, culturais, iniciar o diálogo, a cooperação e a compre-
religiosos ou de sexo (…); desaparecimen- ensão entre indivíduos de diferentes religi-
to forçado de pessoas; crime de apartheid ões. Diálogo inter-religioso tem o mesmo
e outros atos desumanos de carácter se- significado.
580 III. RECURSOS ADICIONAIS

Direitos Culturais: os direitos a preservar afetam uma maior proporção de pesso-


e a gozar a sua identidade cultural e de- as de um grupo específico. Pode ocor-
senvolvimento. rer mesmo quando não há intenção de
discriminar.
Direitos Económicos: direitos humanos
que dizem respeito à produção, desenvol- Doença Endémica: a presença constante
vimento e gestão de material para as ne- de uma doença ou de um agente infeccio-
cessidades da vida. so numa área geográfica específica; pode
também referir-se à prevalência normal de
Direito Internacional Humanitário / Di- uma determinada doença nessa área.
reito dos Conflitos Armados: princípios e
regras que estabelecem limites ao uso da Doença Epidémica: que ataca ou afeta
violência durante os conflitos armados, a muitas pessoas, em simultâneo, numa co-
fim de poupar as pessoas (“civis”) não en- munidade ou área.
volvidas diretamente nas hostilidades e li-
mitar os efeitos da violência (mesmo para Educação: disciplina que, neste contexto,
os “combatentes”), na medida necessária diz respeito, principalmente, aos métodos
para o propósito da guerra. de ensino e de aprendizagem nas escolas
ou em ambientes equivalentes, em oposi-
Direitos Sociais e Económicos: direitos ção aos vários meios informais de sociali-
que dão às pessoas segurança social e eco- zação (ex. entre pais e filhos).
nómica, por vezes, referidos como direitos
orientados para a segurança ou direitos de Educação Básica: também denominada
segunda geração. Exemplos são o direito educação primária. Tradicionalmente, a
à alimentação, à habitação e a cuidados primeira etapa da educação formal, que se
de saúde. inicia cerca dos 5 aos 7 anos e que termina
cerca dos 11 aos 13 anos.
Discriminação: considera-se discriminação
como qualquer distinção, exclusão, restri- Equidade: tratamento imparcial ou justo,
ção ou preferência com a consequente ne- que requer que casos semelhantes sejam
gação ou recusa da igualdade de direitos e tratados de modo semelhante.
da sua proteção.
Escravatura: é identificada por um ele-
Discriminação Direta: ocorre quando uma mento de propriedade ou controlo sobre a
pessoa ou um grupo de pessoas recebe tra- vida de outrem, coerção, pela restrição de
tamento menos favorável do que outra pes- movimento e pelo facto de alguém não ser
soa ou grupo na mesma situação receberia, livre de deixar ou mudar de empregador. A
devido ao sexo, idade, cor, origem nacional escravatura contemporânea nem sempre é
ou étnica, religião, língua, deficiência, iden- fácil de identificar ou desenraizar. A escra-
tidade sexual, etc. vatura por dívidas é praticada em muitas
partes do mundo.
Discriminação Indireta: inclui práti-
cas ou políticas que parecem ser “neu- Estado Absolutista: o termo indica que a
tras” ou “justas” mas, adversamente, única fonte legítima de poder, nesses Esta-
H. GLOSSÁRIO 581

dos, era o monarca. Em particular, os go- estão doentes ou naufragados e, dessa ma-
vernantes de tais Estados tentavam retirar, neira, não se encontram em posição para
à aristocracia e ao clero, a capacidade de lutar.
competir com o monarca. Este ideal rara-
mente foi conseguido. O termo não signifi- Humanidade: o valor e a honra de todas
ca que o monarca tinha controlo imediato as pessoas, não importa quem sejam e in-
e direto sobre a vida diária. dependentemente da sua nacionalidade,
cor, crenças religiosas, classe social, opini-
Eurocentrismo: processo de dar maior ên- ões políticas, etc.
fase às teorias e ideias Europeias (e, nor-
malmente, Ocidentais), à custa de outras Iluminismo: movimento intelectual que
culturas. Implícita nesta definição, está a começou em Inglaterra, no séc. XVII, en-
suposição de que os conceitos ocidentais raizado num ceticismo intelectual quanto
são fundamentalmente diferentes de ou- a crenças e dogmas tradicionais, marca
tros noutras culturas ou civilizações. Uma um contraste “iluminado” com o suposto
outra consequência algo contraditória mas carácter sombrio e supersticioso da Idade
igualmente importante é a suposição de Média. Desde a sua conceção, o Iluminis-
que os valores ocidentais são universais. mo centrou-se no poder e na bondade da
racionalidade humana.
Fé: é uma religião ou qualquer uma das
comunidades reconhecidas de crença reli- Imparcialidade: servir as pessoas ou to-
giosa. mar decisões sobre pessoas com base só
nas suas necessidades, sem considerar a
Género: as posições sociais atribuídas a nacionalidade, cor, crenças religiosas, clas-
mulheres e homens. se social ou opiniões políticas.

Genocídio: destruição deliberada e siste- Índice de Pobreza Humana: foi desenvol-


mática de um grupo étnico, religioso ou vido pelo PNUD para medir a pobreza que
cultural mediante assassínios, lesões, de- vai além da mera distribuição de rendi-
terioração das condições de vida, preven- mentos. Os cinco indicadores reais da po-
ção de nascimentos ou transferência de breza considerados são o analfabetismo, a
crianças. subnutrição das crianças, a morte preco-
ce, os fracos cuidados de saúde e o difícil
Gravidez Forçada: o isolamento ilegal da acesso a água potável.
mulher forçada a engravidar, com o intuito
de afetar a composição étnica de qualquer Inscrição: ato oficial de se juntar a um
população ou de cometer outras violações curso, escola etc.
graves do direito internacional. Esta defi-
nição, de maneira nenhuma, deve ser in- Internado: é um civil ou combatente que
terpretada de modo a afetar as leis nacio- não está acusado de um crime mas é man-
nais relativas à gravidez. tido como prisioneiro como uma medida
preventiva de segurança durante um con-
Hors de Combat: descreve os combatentes flito armado.
que foram capturados ou feridos ou que
582 III. RECURSOS ADICIONAIS

Intolerância: falta de vontade para acei- Minoria: “um grupo numericamente infe-
tar e/ou respeitar as crenças e práticas de rior ao resto da população de um Estado,
outros. em posição não dominante, cujos membros
– sendo nacionais desse Estado – possuem
Islamofobia: medo e a hostilidade que o características étnicas, religiosas ou lin-
acompanha, relativamente à religião do Is- guísticas diferentes das do resto da popu-
lão e seus seguidores. lação e demonstre, pelo menos de manei-
ra implícita, um sentido de solidariedade,
Isolamento solitário: o isolamento de um dirigido à preservação de sua cultura, de
prisioneiro, só com acesso ocasional ou li- suas tradições, religião ou língua“ (Fran-
mitado de outras pessoas, num ambiente cesco Capotorti, ex-Relator Especial das
apenas com as necessidades básicas para Nações Unidas).
permanecer vivo e onde geralmente é reti-
rada a luz, o som, a dieta alimentar, ma- Modificação Genética: é a supressão,
teriais de leitura, o exercício e, ocasional- modificação ou deslocação de genes num
mente, a temperatura. organismo bem como a transferência de
genes de um organismo para outro. Pode,
Legitimidade: grau até ao qual os procedi- também, significar a modificação de genes
mentos de um governo para fazer e aplicar existentes ou a construção de novos genes
as leis, são aceitáveis para a população. e a sua incorporação num organismo.
Um governo legítimo é legal, contudo,
mais importante é que os cidadãos o con- Mutilação Genital Feminina (MGF) ou
siderem adequado e adiram às suas regras. Corte Genital Feminino (CGF): engloba
A legitimidade está intrinsecamente ligada todos os procedimentos que envolvem a
à governação: o cumprimento voluntário remoção parcial ou total dos genitais ex-
das leis e regras resulta numa maior efi- ternos femininos e/ou lesão dos órgãos
cácia do que a coação e as lealdades pes- genitais femininos por razões culturais ou
soais. quaisquer outras razões não terapêuticas
(definição da OMS, 1995).
Limpeza Étnica: deslocar à força ou exter-
minar uma população étnica de uma de- Não Religioso: visões e convicções natura-
terminada área para afirmar a identidade e listas do mundo no âmbito do pensamento
o poder de outro grupo étnico. humano associadas a crenças e princípios
de consciência pelos quais as pessoas re-
Mediação: um processo de negociação gem a sua vida.
para resolução de problemas em que um
terceiro trabalha com as partes em disputa Objetivos Militares: objetos que, pela sua
para as ajudar a alcançar um acordo nego- natureza, localização, propósito ou uso
ciado satisfatório. Os facilitadores não têm dão uma contribuição efetiva à ação mi-
autoridade para decidir a disputa entre litar e cuja destruição dá uma vantagem
as partes; ao invés, as partes empoderam militar real.
o facilitador para as ajudar a resolver as
questões entre estas. Objeto Civil: qualquer objeto que não seja
um objetivo militar.
H. GLOSSÁRIO 583

Organização Internacional do Trabalho lhas, segurança e poder necessários para


(OIT): estabelecida, em 1919, como parte desfrutar de um padrão de vida adequado
dos tratados de paz após a I Guerra Mun- e outros direitos fundamentais civis, cultu-
dial, para melhorar as condições de tra- rais, económicos e sociais” (Alto Comissa-
balho e promover a justiça social; a OIT riado das Nações Unidas para os Direitos
tornou-se uma Agência Especializada da Humanos).
ONU, em 1946.
Pornografia Infantil: representação visual
Organização Não Governamental (ONG): de uma pessoa menor de 18 anos, ou que
qualquer grupo voluntário de cidadãos, aparente ser menor de 18 anos, envolvida
sem fins lucrativos, organizado a nível em práticas sexualmente explícitas. A re-
local, nacional ou internacional. Orienta- presentação visual pode também constituir
das por missões e dirigidas por pessoas pornografia infantil se for publicitada, pro-
com um interesse comum, as ONG de- movida ou apresentada de tal forma que
sempenham uma variedade de serviços “dê a impressão” que o material contém
e funções humanitários, transmitem as uma representação visual de um menor de
preocupações dos cidadãos aos governos, idade envolvido em práticas sexualmente
defendem e monitorizam políticas e en- explícitas. A pornografia infantil pode es-
corajam a participação política através da tar em cassetes de vídeo, fotografias, rolos
disponibilização de informação. de máquinas fotográficas não revelados e
ficheiros informáticos.
Pessoas com Deficiência: as pessoas com
deficiência são aquelas que têm impedi- Preconceito: um estado de espírito que
mentos de longo prazo de natureza física, tende a pré-julgar uma pessoa ou um gru-
mental, intelectual ou sensorial, os quais, po de forma negativa. Este julgamento
em interação com diversas barreiras, po- negativo é, normalmente, feito sem pro-
dem obstruir a sua participação plena e vas adequadas. “ (…) preconceito é uma
efetiva na sociedade em igualdade de con- antipatia fundada numa generalização
dições com as demais pessoas (Convenção errónea e inflexível; pode ser sentida ou
das Nações Unidas sobre os Direitos das expressada; pode ser dirigida a um grupo
Pessoas com Deficiência). ou a uma pessoa desse grupo” (Gordon All-
port).
Pessoas Deslocadas Internamente (PDI):
pessoas que se mudaram das suas casas, Primado do Direito: para as Nações Uni-
mas não deixaram o seu país, devido ao das, o primado do Direito refere-se a um
medo da perseguição, para evitar os efei- princípio de governo, no qual todas as
tos do conflito armado ou da violência, pessoas, instituições e entidades, públicas
violações dos direitos humanos ou desas- ou privadas, incluindo o próprio Estado,
tres naturais ou por mão humana. são responsáveis perante as leis promul-
gadas publicamente, feitas cumprir de for-
Pobreza: a pobreza é uma violação dos di- ma igual e decididas com independência,
reitos humanos. É “uma condição humana e que sejam consistentes com as normas
caracterizada pela privação prolongada ou e padrões de direitos humanos internacio-
crónica de recursos, capacidades, esco- nais. Também exige medidas para assegu-
584 III. RECURSOS ADICIONAIS

rar a adesão aos princípios da prevalência Provedor de Justiça: instituição, normal-


da lei, igualdade perante a lei, responsabi- mente um funcionário governamental,
lidade perante a lei, justeza na aplicação cuja função é analisar e informar sobre as
da lei, separação dos poderes, participação queixas, efetuadas por pessoas comuns,
nas decisões, segurança jurídica, preven- contra o governo ou autoridades públicas.
ção da arbitrariedade e transparência pro-
cessual e legal. Queixa: comunicação individual ou cole-
tiva a um órgão dos tratados chamando
Prisioneiro de Guerra: combatente captu- a atenção para uma alegada violação dos
rado num conflito armado internacional. direitos humanos. Ver, também, comuni-
Só os combatentes que preenchem certas cação.
condições têm direito a este estatuto (so-
bretudo membros das forças armadas). “Raça”: o termo “raça” é uma construção
artificial usada para classificar as pessoas
Processo Equitativo (due process): o Di- com base em categorias imaginadas. A ci-
reito na sua regular aplicação pelos tri- ência moderna demonstrou que a catego-
bunais de justiça. A garantia do processo ria biológica da raça não tem significado
equitativo requer que cada pessoa tenha a quando aplicada à espécie humana. De
proteção de um julgamento justo. facto, o termo “raça” é, ele próprio, racis-
ta, já que pressupõe e sustenta a crença
Programas de Ajustamento Estrutural: a falsa da existência de “raças” diferentes.
maioria dos empréstimos do FMI é condi-
cional, especificando uma série de requi- Racismo: um conjunto de suposições er-
sitos que um país tem de preencher para róneas, opiniões e ações em resultado
receber dinheiro. Uma vez que estes requi- da falsa crença de que um grupo é, ine-
sitos – os denominados programas de ajus- rentemente, superior a outro. O racismo
tamento estrutural – são altamente orien- refere-se não só a atitudes sociais relati-
tados para a redução de custos no sector vas a indivíduos e grupos considerados
social e a liberalização dos mercados, têm como inferiores, mas também a estrutu-
sido, frequentemente, criticados. ras sociais que excluem tais indivíduos e
grupos. O racismo pode estar presente em
Proselitismo: ato de tentar converter uma estruturas e programas organizacionais e
pessoa de um ponto de vista para outro, institucionais, bem como nas atitudes e no
geralmente num contexto religioso. Indu- comportamento das pessoas.
zir pessoas a mudar de religião pode ser
considerado ilícito, se meios impróprios Racismo Estrutural: desigualdades enraiza-
forem utilizados, como a coação, ameaças, das no funcionamento de todo o sistema de
o peso da autoridade do sistema educativo uma sociedade, que excluem números subs-
público, o acesso a serviços públicos de tanciais de membros de determinadas cate-
saúde e outros incentivos materiais. gorias étnicas, da participação significativa
nas suas principais instituições sociais.
Prostituição Forçada: forçar alguém à
prostituição, usada como um meio em Ratificação: procedimento pelo qual um
conflitos armados. Estado, por vezes após se ter chegado a
H. GLOSSÁRIO 585

um acordo no parlamento, declara estar Secular: marcado pelo secularismo; rela-


juridicamente vinculado a um tratado. cionado com assuntos terrenos, distinto
de assuntos relativos à religião. O secu-
Reabilitação após Tortura: ato de em- larismo é a crença de que a religião e os
poderamento das vítimas de tortura para assuntos eclesiásticos não devem entrar
recuperar a capacidade e a segurança ne- nas funções do Estado, especialmente, na
cessárias para retomar uma vida o mais educação pública.
completa possível. Os centros e progra-
mas de reabilitação adotam e implemen- Sindicato: organização de trabalhadores
tam uma série de diferentes abordagens criada para proteger e reivindicar os inte-
e tratamentos, tendo em consideração as resses dos seus membros através da ne-
específicas necessidades físicas e psico- gociação de acordos com os empregadores
lógicas da vítima individual de tortura e sobre salários e condições de trabalho. Os
o ambiente cultural, social e político em sindicatos podem também prestar apoio
que operam. jurídico, assistência financeira, subsídios
de doença e estruturas educativas. Um
Refugiado: uma pessoa que, estando fora sindicato independente não está sob o do-
do seu país de nacionalidade ou residência mínio ou controlo de um empregador e é
habitual, sente um receio fundado de ser financeiramente independente deste.
perseguido por razões de etnia, religião,
nacionalidade, pertença a determinado Sociedade Civil: refere-se ao conjunto de
grupo social ou de opinião política e é in- instituições, organizações e comportamen-
capaz ou não quer fazer valer-se da prote- tos situados entre o Estado, o mundo em-
ção desse país ou voltar para lá, devido ao presarial e a família. Em especial, inclui
medo de perseguição. organizações voluntárias e não lucrativas
de diferentes tipos, instituições filantrópi-
Relator Especial/Representante Especial: cas, movimentos sociais e políticos e ou-
indivíduo nomeado por um órgão de nível tras formas de participação e compromis-
universal ou regional, como o Conselho so sociais e os valores e padrões culturais
dos Direitos Humanos da ONU, para pre- associados (definição da London School of
parar relatórios regulares sobre a situação Economics).
dos direitos humanos num determinado
país (relatores por países) ou sobre um de- Suffragette: denominação das feministas
terminado assunto dos direitos humanos da Grã-Bretanha e dos Estados Unidos que
(“relator temático”). Quando nomeado lutaram pelos direitos das mulheres, espe-
pelo Secretário-Geral da ONU, denomina- cialmente, o direito ao voto.
se “representante especial”. Uma função
semelhante pode ser atribuída a um “pe- Sura: qualquer um dos 114 capítulos ou
rito independente”. secções do Corão.

Reserva: declaração feita por um Estado, Tortura: qualquer ato por meio do qual
por ocasião da ratificação de um tratado, uma dor ou sofrimentos agudos, físicos ou
pela qual exclui ou modifica os efeitos jurí- mentais, são intencionalmente causados a
dicos, para o Estado, de certas disposições. uma pessoa com os fins de, nomeadamen-
586 III. RECURSOS ADICIONAIS

te, obter dela ou de uma terceira pessoa Tráfico de Seres Humanos: é o movimen-
informações ou confissões, a punir por to ilícito e clandestino de pessoas através
um ato que ela ou uma terceira pessoa co- de fronteiras nacionais e internacionais,
meteu ou se suspeita que tenha cometido, particularmente, de países em vias de de-
intimidar ou pressionar essa ou uma ter- senvolvimento e alguns países em regime
ceira pessoa, ou por qualquer outro moti- de transição, com o objetivo de forçar
vo baseado numa forma de discriminação, pessoas (sobretudo, mulheres, meninas e
desde que essa dor ou esses sofrimentos crianças) a situações, sexual ou economi-
sejam infligidos por um agente público ou camente opressivas e de exploração para
qualquer outra pessoa agindo a título ofi- benefício dos recrutadores, traficantes,
cial, a sua instigação ou com o seu con- máfias bem como outras atividades ilegais
sentimento expresso ou tácito. Este termo relacionadas com o tráfico, como o traba-
não compreende a dor ou os sofrimentos lho doméstico forçado.
resultantes unicamente de sanções legí-
timas, inerentes a essas sanções ou por Violência Sexual: comportamento violen-
elas ocasionados (Convenção das Nações to com base no género pelo qual se preten-
Unidas contra a Tortura e Outras Penas ou de ferir ou matar alguém.
Tratamentos Cruéis, Desumanos ou Degra-
dantes). Xenofobia: ódio ou medo em relação a
estrangeiros ou países estrangeiros. Tam-
Trabalhadores Pobres: os que têm empre- bém carateriza atitudes, preconceitos e
go, todavia, vivem precariamente. comportamentos em que existe rejeição,
exclusão e, muitas vezes, difamação de
Trabalho Infantil: é o trabalho que priva pessoas, com base na perceção de que elas
as crianças da sua infância, do seu poten- são estranhas ou estrangeiras para com a
cial e da sua dignidade, e que é prejudi- comunidade, a sociedade ou identidade
cial para o seu desenvolvimento físico e nacional.
mental. A Convenção sobre os Direitos da
Criança da ONU, de 1989, apela à prote- Zona de Comércio Livre: zona industrial
ção “contra a exploração económica ou a onde um país permite que empresas estran-
sujeição a trabalhos perigosos ou capazes geiras importem materiais para a produção
de comprometer a sua educação, prejudi- e exportem bens acabados, sem pagar im-
car a sua saúde ou o seu desenvolvimento postos ou taxas (pagamentos ao governo)
físico, mental, espiritual, moral ou social.” significativos. Assim, uma zona de comér-
(Artº32) cio livre diminui os custos de produção de
uma empresa.
IV. REFERÊNCIAS
BIBLIOGRÁFICAS
E INFORMAÇÃO ADICIONAL
EM LÍNGUA PORTUGUESA 18

IV. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS E INFORMAÇÃO ADICIONAL EM LÍNGUA PORTUGUESA

18
Porém, em alguns casos, fazemos menção a referências bibliográficas e a sítios na Internet em outras línguas
usadas nos países da CPLP.
588 IV. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS E INFORMAÇÃO ADICIONAL EM LÍNGUA PORTUGUESA

Entendemos que o Manual sairia enri- Aceitámos, ainda, a possibilidade de re-


quecido se lhe juntássemos referências ferenciar textos de autores de outras na-
bibliográficas e informação institucional cionalidades que não a dos países de lín-
relativa aos vários países de língua oficial gua oficial portuguesa, mas, que tenham
portuguesa. A investigação foi desenvol- escrito, em português, sobre qualquer um
vida pelos colaboradores já identificados, dos países em questão e simultaneamente
oriundos desses países, à exceção do caso sobre os tópicos do Manual. Também acei-
de Portugal, cuja investigação ficou a car- támos relatórios, por exemplo, das Nações
go da equipa técnica do Manual. Foram Unidas, se escritos em português e se rela-
detetadas dificuldades, em alguns países, tivos aos países e aos tópicos em análise.
na recolha de entradas bibliográficas, para A bibliografia recolhida provém de áreas
determinados tópicos, pelo que, em con- científicas tão diversas como o Direito, as
junto, tentámos obviar essas dificuldades. Relações Internacionais, a Sociologia, as
As referências e a informação adicional Ciências da Educação, a Antropologia, a
aqui compiladas, por constrições de espa- Psicologia, o Jornalismo e a Economia.
ço e tempo, são apenas uma seleção longe Por vezes, tivemos dificuldade em inte-
de ser exaustiva, pelo que, desde já, nos grar algumas referências em determinado
penitenciamos por alguma omissão invo- capítulo porque, em rigor, versam sobre
luntária que, no entanto, poderá ser inseri- assuntos também relacionados com outros
da no Manual em versão eletrónica, a todo capítulos, tendo optado pela inserção no
o tempo. O critério temporal de pesquisa capítulo mais abrangente ou mais próximo
situou-se entre o ano de 2000 e a data do texto da referência bibliográfica. As re-
presente, exceto para aquelas obras que, ferências bibliográficas estão inseridas no
sendo anteriores ao ano 2000, são con- país sobre o qual se debruçam e que não
sideradas fundacionais, estruturantes e, coincide necessariamente com a naciona-
como tal, também figuram nesta seleção. lidade do/s autor/es que as escreveram.
Esta parte do Manual está estruturada exa- Para esta pesquisa, foram consultadas bi-
tamente segundo a mesma sistematização bliotecas públicas, privadas e online, bem
temática dos capítulos ao longo do Manu- como um acervo de instituições públicas
al. Dentro de cada capítulo, elencámos as (ministérios, comissões nacionais de direi-
entradas bibliográficas e informação adi- tos humanos) e privadas (centros cultu-
cional por país, listado em ordem alfabéti- rais, ONG, etc.), etc.
ca, para uma utilização mais fácil. Procu- No caso de Angola, recorreu-se aos arqui-
rámos, sobretudo, bibliografia oriunda de vos de várias bibliotecas públicas e pri-
autores de cada um dos países de língua vadas, à internet, bem como à Secretaria
portuguesa, que tenham escrito sobre: de Estado para os Direitos Humanos e ao
• o seu país Centro Cultural Mosaiko. No caso do Bra-
• sobre qualquer outro país de língua ofi- sil, foram realizadas pesquisas presenciais
cial portuguesa, no âmbito dos tópicos em várias bibliotecas do país – (Rio Grande
do Manual do Sul (UNISINOS), Paraná (Universidade
• sobre qualquer um dos tópicos do Ma- Federal do Paraná, Curitiba), São Paulo
nual, em geral, ainda que não seja sobre o (USP), Brasília-DF (Biblioteca do Tribunal
seu país em particular ou sobre qualquer de Contas da União e Biblioteca do Supre-
outro país de língua oficial portuguesa. mo Tribunal Federal), Maranhão (Bibliote-
IV. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS E INFORMAÇÃO ADICIONAL EM LÍNGUA PORTUGUESA 589

ca da Universidade Federal do Maranhão), de Moçambique, a recolha foi feita na Bi-


Mato Grosso do Sul (Universidade Federal blioteca da Faculdade de Direito da Univer-
do Mato Grosso do Sul e Centro de Pes- sidade de Coimbra, Biblioteca do Instituto
quisas e Estudos Jurídicos do Mato Gros- Superior de Ciências Sociais e Políticas da
so do Sul) –, sendo que a pesquisa contou Universidade Técnica de Lisboa e nos se-
com um colaborador em Brasília (Distrito guintes sítios da internet: www.scholar.
Federal) e outro no estado do Maranhão. google.pt, www.b-on.pt, WLSA – Mulher e
No que respeita a Cabo Verde, foram fei- Lei na África Austral Moçambique (www.
tas pesquisas, algumas presenciais, nas wlsa.org.mz), IESE-Instituto de Estudos So-
bibliotecas, livrarias, instituições da Cida- ciais e Económicos de Moçambique (www.
de da Praia, nomeadamente, na Biblioteca iese.ac.mz), MASC – Mecanismo de Apoio à
Nacional e Biblioteca da Procuradoria Geral Sociedade Civil, Moçambique (www.masc.
da República e instituições como a Comis- org.mz), Programa Geração Biz (www.ge-
são Nacional para os Direitos Humanos e racaobiz.org.mz), CAICC - Centro de Apoio
Cidadania, o Instituto Cabo-verdiano da à Informação e Comunicação Comunitária
Criança e do Adolescente – ICCA, em sites (www.caicc.org.mz), AMODE – Associa-
das instituições, nomeadamente da Biblio- ção Moçambicana para o Desenvolvimen-
teca Nacional, Instituto Cabo-verdiano da to da Democracia (www.amode.org.mz),
Igualdade e Equidade de Género – ICIEG, Repositório Saber – Universidade Eduardo
Centro de Investigação para Género e Famí- Mondlane (www.saber.ac.mz), Repositório
lia – CIGEF, Universidade de Cabo Verde – do ISCTE-IUL, www.repositorio-iul.iscte.pt,
UNICV, Comissão Nacional para os Direitos Ministério da Educação e Cultura de Mo-
Humanos e Cidadania – CNDHC, Associa- çambique (www.mec.gov.mz), repositório
ção Cabo-verdiana de Mulheres Juristas, bi- da Universidade de Coimbra (http://www.
blioteca particular, sites da internet: http:// uc.pt/fduc/biblioteca/pesquisa_catalogo).
www.portaldoconhecimento.gov.cv, obras Relativamente a Portugal, a pesquisa foi
citadas, para além de contactos diretos com feita presencialmente nas Bibliotecas da
alguns representantes de instituições. Re- Universidade de Coimbra, nomeadamente,
lativamente à Guiné-Bissau recorreu-se a nas da Faculdade de Direito e de Economia
uma pesquisa presencial e através da utili- e na Biblioteca Norte|Sul do Centro de Es-
zação de motores de busca disponíveis na tudos Sociais da Faculdade de Economia da
internet. Na pesquisa presencial, procedeu- Universidade de Coimbra. Aí, também, se
se à visita de dois acervos bibliográficos na procedeu a pesquisa nas respetivas bases
cidade de Bissau: Instituto Nacional de In- de dados online acessíveis a partir dessas
vestigação e Pesquisa [INEP] e o Centro de Bibliotecas. No caso de São Tomé e Prínci-
Documentação das Nações Unidas na Gui- pe, para além da pesquisa presencial e on-
né-Bissau. A pesquisa na internet utilizou line dos acervos bibliográficos desse país,
como motores de busca o google, o ‘sistema procedeu-se também a pesquisa presencial
integrado de bibliotecas da universidade e online através das Bibliotecas da Univer-
de Lisboa’, a Biblioteca Nacional de Portu- sidade de Coimbra. No que diz respeito a
gal, o Instituto Nacional de Investigação e Timor-Leste, a investigação foi feita na Bi-
Pesquisa (http://www.inep-bissau.org/) e blioteca Geral da Universidade de Coimbra,
Memórias de África e do Oriente (http:// na Biblioteca Norte|Sul do Centro de Estu-
memoria-africa.ua.pt/Home.aspx). No caso dos Sociais da Faculdade de Economia da
590 IV. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS E INFORMAÇÃO ADICIONAL EM LÍNGUA PORTUGUESA

Universidade de Coimbra, na Biblioteca da para o utilizador deste Manual poder ter


Faculdade de Economia da Universidade de informação sobre algumas das instituições
Coimbra e no Centro de Documentação 25 governamentais e não governamentais que
de Abril em Coimbra, tendo-se recorrido se dedicam a matérias relacionadas com
também às bases de dados online acessí- os direitos humanos e elaborámos uma
veis através dessas Bibliotecas. Também lista de contactos que, uma vez mais, não
nos socorremos do repositório da Univer- é exaustiva, por manifestas constrições de
sidade do Minho. Foi, ainda, feita investi- tempo e de espaço e das próprias dificul-
gação presencial na Provedoria dos Direitos dades de recolha de informação inerentes
Humanos e de Justiça de Timor-Leste. a uma pesquisa deste tipo e que nos im-
As opiniões expressas pelos autores referen- possibilitam de conhecer toda a realidade.
ciados na elencagem que se segue são de sua De qualquer modo, esta secção do livro é
exclusiva responsabilidade e não refletem, um trabalho sempre em construção e que
necessariamente, as opiniões dos investiga- pode ir sendo atualizado na versão eletró-
dores que as indicaram, nem as do IGC. nica do livro, à medida que nos vai che-
Por último, entendemos ser também útil gando mais informação.

I. INTRODUÇÃO AO SISTEMA DE DI- Constitucional Contemporâneo, in: Revista


REITOS HUMANOS da Faculdade de Direito da Universidade
Agostinho Neto, n.º 2, p. 7 e segs.
ANGOLA Hilário, Carlos Esteves e Michaela Web-
Bengui, António, Pedro Lungieky, Expe- ba, A Constituição da República de Ango-
riência Constitucional Angolana e a Justifi- la: Direitos Fundamentais, a sua promoção
cação dos Direitos Fundamentais. Mayam- e protecção: avanços e retrocessos. Open
ba Editora. Society.
Bessa, João. 2006. Mecanismos Legais de Lasarte, Martin et al., Direitos Humanos,
Defesa dos Direitos Humanos em Angola. Promoção de uma Cultura dos Direitos Hu-
Publicado pelo Centro Nacional de Acon- manos para uma Cidadania Activa e Par-
selhamento. Luanda 2006. ticipativa em Angola. Do Direito e Esquer-
Camati, Manuel, A Constituição Cultural do!. Editora Dom Bosco – Angola.
os Direitos Fundamentais da Última Gera- Machado, Jónatas e Paulo Nogueira Cos-
ção, in Revista Angola de Direito, ano 2, ta. 2013. Direito Constitucional Angolano.
n.º 4, p. 27 e segs. Editora Casa das Ideias. Coimbra Editora.
Chacachama, Miguel et al., Direitos Hu- Medina, Maria do Carmo, Direitos Huma-
manos, guia de apoio a cursos de formação nos e Direito da Família, in: Revista da Fa-
1999. Centro Cultural Mosaiko. culdade de Direito da Universidade Agosti-
Cruz, Rui, Direitos Fundamentais e Garan- nho Neto, n.º 4, p.117 e segs.
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cional Angolana, in: Revista da Faculdade nos e os seus Mecanismos de Protecção.
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Gouveia, Bacelar Jorge, A importân- volumes I e II (sobre jurisprudência, me-
cia dos direitos fundamentais no Estado todologia jurídica, constitucionalismo e
IV. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS E INFORMAÇÃO ADICIONAL EM LÍNGUA PORTUGUESA 591

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http://www.saudeportugues.org/ Serviço Jesuíta aos Refugiados: http://
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Conselho Português para os Refugiados: SOLSEF - Sol Sem Fronteiras: http://
http://www.cpr.pt www.solsef.org
Cruz Vermelha Portuguesa (CVP): www. SOS Criança: http://www.soscrianca.pt/
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Rede Europeia Anti Pobreza, EAPN (Eu- ção das Nações Unidas (em português):
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Fundação Calouste Gulbenkian: http:// tium Conimbrigae da Faculdade de Direi-
www.gulbenkian.pt/ to da Universidade de coimbra: http://
Fundação Mário Soares: http://www.fm- www.fd.uc.pt/igc/
soares.pt CEIS20 - Centro de Estudos Interdisciplina-
Fundação Portugal África: http://www. res do Século XX da Universidade de Coim-
fportugalafrica.pt/ bra: http://www.ceis20.uc.pt/ceis20/home/
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Universidade do Porto: http://www.afri- Núcleo da Federação das Mulheres Paz
canos.eu/ceaup/index.php Mundial
ONG Sítio do Equador
SÃO TOMÉ E PRÍNCIPE Organização Santomense de Direitos Hu-
Comissão Interministerial de Direitos manos
Humanos (Ministério da Justiça)
TIMOR-LESTE
Instituições Governamentais: Provedor dos Direitos Humanos e Justi-
Instituto de Violência Doméstica ça: http://pdhj.org/wp/
Instituto Nacional para Promoção e
Equidade de Género Instituições Governamentais:
Ministério dos Negócios Estrangeiros, Ministério da Justiça: www.mj.gov.tl/
Cooperação e Comunidades: http://
www.mnecc.gov.st/ Instituições Não Governamentais:
Ministério Público ETAN: www.etan.org
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minihub.org
Instituições Não Governamentais: LABEH: www.labeh.org
Associação para a Cooperação entre os Lao Hamutuk: http://www.laohamutuk.
Povos org/Judicial System Monitoring Program-
Associação Santomense de Mulheres de me: http://jsmp.tl/
Carreira Jurídica Alola Foundation: http://www.alolafoun-
Associação Santomense dos Direitos Hu- dation.org/
manos Rede Feto: http://redefeto.blogspot.pt/
Centro de Aconselhamento sobre Violên- Comissão de Acolhimento, Verdade e
cia Doméstica e Intrafamiliar Reconciliação de Timor-Leste: www.
Centro Integridade Pública cavr-timorleste.org/po/Apuramento%20
Fórum de Mulheres Santomenses, da%verdade.htm
Fundação da Criança e da Juventude
ÍNDICE REMISSIVO 643

ÍNDICE REMISSIVO
A Comissão Interamericana dos Direitos Hu-
Ação afirmativa manos
ACNUDH Comissão sobre a Segurança Humana
Acordo de Cotonu Comissão sobre o Estatuto da Mulher
Alerta Precoce Comité contra a Tortura da ONU
Alto Comissariado da ONU para os Refu- Comité dos Direitos da Criança da ONU
giados Comité Europeu para a Prevenção da Tor-
Analfabetismo tura (CPT)
Anti-Discriminação Comunicação
Antissemitismo Conferência Mundial contra o Racismo
Apartheid Conferência Mundial sobre os Direitos Hu-
Apostasia manos da ONU
Asilo Conflito Armado
Assembleia-Geral da ONU Conselho da Europa
Autodeterminação Conselho de Segurança
Autonomia Conselho de Direitos Humanos da ONU
(CDH)
B Convenção Americana sobre Direitos Hu-
Banco Mundial manos
Convenção contra a Tortura
C Convenção Europeia para a Prevenção da
Carta Africana dos Direitos Humanos e Tortura
dos Povos Convenção Europeia para a Proteção dos
Carta Árabe dos Direitos Humanos Direitos Humanos e das Liberdades
Carta dos Direitos Fundamentais da União Fundamentais (CEDH)
Europeia Convenção Quadro Europeia para a Prote-
Carta Europeia das Línguas Regionais e ção das Minorias Nacionais
Minoritárias Convenção Quadro para a Proteção das
CCT Minorias Nacionais
CEDM Convenção sobre os Direitos da Criança
CEDR (CDC)
Cidadania Convenções de Genebra
Cidades dos Direitos Humanos Cooperação para o Desenvolvimento
Cimeira Mundial sobre a Sociedade da In- Criança
formação (CMSI) Crianças-Soldado
Coesão Crimes contra a Humanidade
Comissão Africana dos Direitos Humanos Carta Social Europeia
e dos Povos
Comissão de Direitos Humanos da ONU D
Comité de Direitos Económicos, Sociais e Declaração do Cairo sobre os Direitos Hu-
Culturais da ONU manos no Islão
644 ÍNDICE REMISSIVO

Declaração e Programa de Ação de Viena Investigação


Declaração Universal dos Direitos Humanos Islamofobia
Defensores dos Direitos Humanos
Deficiência J
Democracia Jurisdição Internacional Penal
Derrogação Jurisdição Universal
Desenvolvimento Sustentável Juventude
Detenção Julgamento justo
Deveres
Dignidade Humana L
Dimensão Humana Liberdade de Associação
Direito Internacional Humanitário Liberdade de Expressão
Direito ao Trabalho Liberdade de Opinião
Direitos das Mulheres Liberdade dos Meios de Informação
Direitos Fundamentais Língua Minoritária
Direitos Humanos das Mulheres
Discriminação M
Discriminação Racial Mecanismos de Proteção, Direito a
Diversidade Medicina Tradicional
Menina
E Migração
ECOSOC Migrantes
Educação Minas Terrestres Antipessoais
Educação para os Direitos Humanos Minorias
Educação Primária Monitorização
Emprego Mulheres
Mulheres, Progresso das
F Multiculturalismo
Fundo Monetário Internacional (FMI) Mutilação Genital Feminina (MGF)

G N
Género Nações Unidas
Genocídio Não Discriminação
Global Compact
Globalização O
Grupos Vulneráveis Objetivos de Desenvolvimentos do Milé-
nio (ODM)
I Observatório Europeu do Racismo e da Xe-
Igualdade nofobia (OERX)
Igualdade de Género ODIHR
Impunidade Organização da Conferência Islâmica
Iniciativa Europeia para a Democracia e os (OCI)
Direitos Humanos Organização da Unidade Africana (OUA)
Integração Organização das Nações Unidas para a
Intolerância Educação, Ciência e Cultura (UNESCO)
ÍNDICE REMISSIVO 645

Organização dos Estados Americanos Sindicato


(OEA) Soberania
Organização Internacional do Trabalho Sociedade das Nações
(OIT) Sociedade Civil
Organização Mundial da Saúde (OMS) Sociedade da Informação
Organização Mundial do Comércio (OMC) Subcomissão para a Promoção e Proteção
Organizações Não Governamentais (ONG) dos Direitos Humanos da ONU
Orientação Sexual
T
P Terrorismo
Pacto Internacional sobre os Direitos Civis Tortura, Proibição da
e Políticos (PIDCP) Trabalho Infantil
Pacto Internacional sobre os Direitos Eco- Trabalho, Direito ao
nómicos, Sociais e Culturais (PIDESC) Tráfico de Seres Humanos
Participação Política Tratado de Lisboa
Pena de Morte Tratamento Desumano
Pessoas Deslocadas Internas Tribunal
PNUD Tribunal Africano dos Direitos Humanos e
Primado do Direito dos Povos
Pobreza, Tribunal Europeu dos Direitos Humanos
Povos Indígenas Tribunal Interamericano dos Direitos Hu-
Preconceito manos
Prevenção de Violações de Direitos Humanos Tribunal Penal Internacional (TPI)
Privacidade Tribunal Penal Internacional para a Antiga
Prisioneiro de Guerra Jugoslávia (TPIAJ)
Processo Equitativo Tribunal Penal Internacional para o Ruan-
Propaganda de Guerra da (TPIR)
Proselitismo
Protocolo Facultativo U
União Africana
R União Europeia
Racismo UNICEF
Rede para a Segurança Humana (RSH)
Refugiados V
Relatórios Sombra Valores Asiáticos
Reprodutivo, Controlo Violência contra as Mulheres
Requerentes de Asilo Violência Sexual
Responsabilidade, Individual VIH/SIDA

S X
Saúde Xenofobia
Saúde Pública
Secretário-Geral da ONU
Segurança Humana
Segurança na Alimentação

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