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OS DIREITOS HUMANOS
MANUAL DE EDUCAÇÃO PARA OS DIREITOS HUMANOS
© 3ª edição em Língua Inglesa: European Training and Research Centre for Human Rights
and Democracy (ETC) Graz, 2012
Grafismo:
JANTSCHER Werberaum
www.werberaum.at
3
sessões de trabalho, com o intuito de di- Para um centro de direitos humanos como
fundir o método de trabalho do manual. o IGC, dedicado ao ensino e à formação
Pareceu-nos, portanto, um enlace natural em direitos humanos, a educação em di-
a associação da organização da Comuni- reitos humanos é em si mesma um direito
dade dos Países de Língua Portuguesa a fundamental de todos e de cada um. Daí a
este projeto, cujo apoio institucional e fi- importância deste livro.
nanceiro muito nos honra.
Coimbra, 25 de Abril de 2013.
Por fim e acima de tudo, pretende-se com
este projeto contribuir para uma difusão
de informação teórica, prática e de aces-
so fácil relativa aos direitos humanos, na
senda do artº 1º, nº 1, da Declaração das
Nações Unidas sobre Educação e Forma-
ção em Direitos Humanos, de 2011, segun- Vital Moreira
do a qual “Todas as pessoas têm direito a
saber, procurar e receber informações sobre
todos os direitos humanos e liberdades
fundamentais e devem ter acesso à edu-
cação e formação em matéria de direitos
humanos”1.
Carla de Marcelino Gomes
1
Tradução livre da equipa técnica.
7
Agradecemos à Comunidade dos Países de Ribeiro Sales, ao Dr. Caíque Thomaz Leite
Língua Portuguesa, que não só viabilizou da Silva, à Drª Cátia Duarte, à Drª Isabel
financeiramente esta 1ª edição em língua Gomes, à Drª Rita Perdigão e ao Engº Pa-
portuguesa do Manual, como nos auxiliou trício Figueiredo pelo seu precioso contri-
na revisão final e, neste particular, o agra- buto, em sede de revisão final das provas
decimento recai nas pessoas do Dr. Ma- e pela sua pronta disponibilidade, mesmo
nuel Clarote Lapão, Dr. Philip Baverstock com um prazo tão limitado. Agradecemos,
e Dr. Mário Mendão. ainda, às nossas famílias pela infindável
Este Manual não teria sido possível sem a paciência e apoio, ao longo destes anos.
colaboração de inúmeras pessoas que nos Alguns dos colaboradores responsáveis
auxiliaram em várias fases do processo. pelo capítulo das Referências Bibliográ-
Desde logo, gostaríamos de demonstrar a ficas e Informação Adicional em Língua
nossa gratidão ao Professor Doutor Wolf- Portuguesa gostariam, igualmente, de for-
gang Benedek, que nos honrou com o con- mular agradecimentos pelo auxílio que
vite para nos associarmos a este projeto e obtiveram na recolha da informação ne-
pela sua sempre pronta disponibilidade ao cessária. Infra, encontraremos os agradeci-
longo destes anos de trabalho. Agradece- mentos pela colaboração externa relativos
mos igualmente à Drª Barbara Schmiedl a Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau
e à Drª Sarah Kumar, pelo apoio na trans- e Moçambique.
missão de documentos e informações in- Angola: Secretaria de Estado para os Di-
dispensáveis. reitos Humanos, representada pela Dr.ª
Devemos um agradecimento muito sentido Ana Januário, e Centro Cultural Mosaiko,
ao Senhor Professor Doutor Jónatas Macha- representado pelo Frei Mário Rui Marçal,
do pelo seu aconselhamento sempre lúci- aos quais se endereça, desde já, os devidos
do e pelo acompanhamento constante ao agradecimentos.
longo das várias fases deste projeto. Agra- Brasil: Agradecimentos especiais ao Dr.
decemos à Drª Maria Natália Neves, pelo Francisco Prado de Paula Avelino, Auditor
auxílio no que respeita à língua inglesa e à Federal de Controle Externo do Tribunal
revisão final das provas. À Drª Ana Paula de Contas da União, Brasília-DF, pela sua
Silva agradecemos o inestimável auxílio na importante e imprescindível colaboração
criação da página web dedicada ao livro, nas pesquisas elaboradas desde Brasília.
bem como a elaboração da capa e contra- Agradecimentos ao Centro de Pesquisas e
capa para esta edição. À Drª Bárbara Alves Estudos Jurídicos de Mato Grosso do Sul
agradecemos o seu sempre pronto apoio, pela disponibilização de sua biblioteca, à
nomeadamente, em matérias de formata- Dra. Vanívia Zanuzzo pelo seu zeloso au-
ção e revisão gráfica. Um agradecimento xílio com pesquisas realizadas no Mara-
especial é ainda dirigido à Drª Ana Amélia nhão, e ao Professor Doutor Fábio d’Ávila
8 AGRADECIMENTOS DA VERSÃO EM LÍNGUA PORTUGUESA
Rights and Democratisation. Foi bolseira man Rights Fellowship por Harvard Hu-
deste Centro Inter-Universitário na Dele- man Rights Program. Trabalhou como
gação da União Europeia junto da ONU advogada em Lisboa e em Bissau. Na
e de outras organizações internacionais Guiné-Bissau, foi Assessora Jurídica no
em Genebra. Colabora com o Ius Gentium Ministério da Educação e Assessora para
Conimbrigae/Centro de Direitos Humanos Assuntos Políticos no Gabinete Integrado
como investigadora associada e foi consul- das Nações Unidas para a Consolidação
tora internacional na Provedoria dos Direi- da Paz na Guiné-Bissau.
tos Humanos e Justiça de Timor-Leste.
Délia Imaculada Costa Ximenes Belo
(Timor-Leste)
NOTAS BIOGRÁFICAS DOS CO- Estudante da Faculdade Direito Universi-
LABORADORES DE ANGOLA, dade de Coimbra (frequência do 4º ano do
curso de Direito). Integrou a equipa técni-
BRASIL, CABO VERDE, GUINÉ- ca do Ius Gentium Conimbrigae/Centro de
-BISSAU, MOÇAMBIQUE, SÃO Direitos Humanos da Faculdade de Direito
da Universidade de Coimbra, no âmbito
TOMÉ E PRÍNCIPE E TIMOR- de uma parceria estabelecida entre o IGC/
-LESTE: /CDH, o Ministério da Justiça de Timor-
Leste e a UNICEF-Timor Leste.
Alcindo Júlio Soares (Cabo Verde)
Licenciado em Direito pela Faculdade Eugénia Marlene Reis de Sousa (Moçam-
de Direito da Universidade de Coimbra. bique)
Pós-graduado em Direito da Comunicação, Frequência do 2º ano do Mestrado em Po-
pelo Instituto Jurídico da Comunicação, da líticas de Desenvolvimento de Recursos
Faculdade de Direito da Universidade de Humanos no Instituto Superior de Ciên-
Coimbra. XV Curso Norma de Formação cias Sociais e Políticas da Universidade
de Magistrados do CEJ (Centro de Estudos Técnica de Lisboa (2012/2013). Frequên-
Judiciários) de Lisboa. Magistrado do Mi- cia da XV Pós-Graduação em Direitos Hu-
nistério Público de Cabo Verde, exercendo manos (2013), Ius Gentium Conimbrigae/
funções de Procurador-Geral Adjunto. /Centro de Direitos Humanos da Faculda-
de de Direito da Universidade de Coim-
Aua Baldé (Guiné-Bissau) bra. Licenciada em Relações Internacio-
Advogada; atualmente a trabalhar na nais pelo Instituto Superior de Ciências
missão de manutenção da paz da ONU Sociais e Políticas da Universidade Técni-
na Costa do Marfim. Pós-graduada em ca de Lisboa.
Direitos Humanos, Ius Gentium Conim-
brigae/Centro de Direitos Humanos da Helena Silves Ferreira (Cabo Verde)
Faculdade de Direito da Universidade Licenciada em Direito e Tradutor/Intérpre-
de Coimbra. Mestre em Direito, com te (Inglês) pelo Centro Universitário Ad-
especializaçao em Direito Internacional ventista de São Paulo – UNASP, campus
dos Direitos Humanos, pela Faculdade Engenheiro Coelho. Tradutora e intérprete.
de Direito da Universidade de Harvard. Advogada e Consultora Jurídica. Respon-
Distinguida com o prémio Henigson Hu- sável pela coordenação e elaboração dos
NOTAS BIOGRÁFICAS DOS COLABORADORES DE ANGOLA, BRASIL, CABO VERDE, GUINÉ-BISSAU, MOÇAMBIQUE 11
A equipa técnica deparou-se com alguns Um outro importante princípio que ado-
desafios de tradução de algumas palavras, támos foi o de envidarmos esforços para
umas vezes porque elas ainda não estão que todos os vocábulos fossem traduzidos
oficialmente reconhecidas no vocabulário para a língua portuguesa, mesmo aqueles
em língua portuguesa, outras porque nos que já adquiriram o estatuto de uso cor-
preocupámos em fazer uma correspondên- rente na nossa língua (ex. accountability,
cia exata de conceitos que nem sempre são advocay, bullying, etc.) pelo que nos so-
coincidentes, nos vários ordenamentos ju- corremos de traduções possíveis junto de
rídicos, nacionais e internacional. Assim, documentos e páginas oficiais de todos
houve opções genéricas que fizemos, ex- os países de língua oficial portuguesa, de
plicadas abaixo, e, noutros casos, procede- organizações internacionais intergoverna-
mos ao estudo caso a caso da palavra ou mentais que tenham documentos traduzi-
conceito em questão. dos para língua portuguesa, bem como das
ferramentas oficiais de tradução da União
A primeira opção de tradução que fizemos Europeia. Por vezes acrescentámos entre
foi dar preferência, sempre que possível, parêntesis o termo inglês originário, como
a linguagem utilizada nos documentos já referência auxiliar. Sobretudo no que res-
traduzidos para português e reconhecidos peita à descrição de algumas metodologias
oficialmente. Daí que tenhamos sempre aplicadas e nas secções relativas às ativi-
recorrido às páginas oficiais dos vários dades selecionadas, utilizámos o léxico
países de língua oficial portuguesa, no próprio das Ciências da Educação. Foram
sentido de encontrar as traduções ofi- poucas as exceções ao princípio acima
ciais. No que respeita a informação rela- enunciado: é o caso da palavra internet e o
tiva às Convenções, Declarações e outros de algumas abreviaturas (ex. UEFA, CIA),
documentos internacionais, utilizámos que mantivemos na língua inglesa, dado o
essencialmente as versões em português seu uso corrente e generalizado e o facto
contidas na página oficial do Gabinete de de as suas correspondentes em língua por-
Documentação e Direito Comparado da tuguesa não serem, de todo, comummente
Procuradoria-Geral da República, Portu- reconhecidas.
gal. No caso da Declaração das Nações Em casos excecionais, deparámo-nos com a
Unidas sobre Educação e Formação em utilização de palavras diferentes em países
Direitos Humanos, de 2011, não encon- diferentes para descrever a mesma realida-
trámos qualquer versão oficial traduzida de. É o caso da palavra “Tribunal” que, no
para língua portuguesa, pelo que fizemos Brasil, em alguns contextos, é também de-
uma tradução livre da mesma que, não signada por “Corte” e é também o caso das
sendo oficial, é da nossa inteira responsa- palavras “investigação”/”investigador” em
bilidade e não faz fé pública. âmbito académico que, no Brasil, correspon-
NOTAS DE TRADUÇÃO E ADAPTAÇÃO DA VERSÃO EM LÍNGUA PORTUGUESA 13
pelo seu contínuo apoio, valiosos comen- Manfred Nowak – Instituto Ludwig Boltz-
tários assim como sugestões conducentes mann de Direitos Humanos (BIM) – Viena,
e indispensáveis à finalização do manual: Monique Prindezis – CIFEDHOP – Gene-
Shulamith Koenig – PDHRE – Nova Ior- bra, a Liga Anti-Difamação – Nova Iorque,
que, Adama Samassekou e a equipa do o Comité Internacional da Cruz Vermelha
PDHRE – Mali, Manuela Rusz e a equipa – Genebra.
do Instituto de Direito Internacional e Re- Finalmente, gostaríamos de agradecer ao
lações Internacionais da Universidade de Departamento de Direitos Humanos do
Graz, Anton Kok – Centro de Direitos Hu- Ministério Federal dos Negócios Estrangei-
manos da Universidade de Pretória, Yan- ros austríaco, agora denominado de Minis-
nis Ktistakis – Fundação Marangopoulos tério Federal para os Assuntos Europeus e
para os Direitos Humanos – Atenas, Debra Internacionais, e à Agência Austríaca para
Long e Barbara Bernath – Associação para o Desenvolvimento, pela cooperação e
a Prevenção da Tortura (APT) – Genebra, apoio prestados.
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humanos, poderá começar pela primeira ber comentários e sugestões e onde estão
parte do Manual que contém a introdução. disponíveis as versões nas várias línguas.
Para os que procuram exemplos de ques- Também elaborámos apresentações em po-
tões específicas de direitos humanos, po- werpoint, para todos os módulos, que po-
derão começar a sua pesquisa pela parte dem ser descarregadas da nossa página de
dos módulos “convém saber”. Se procura internet. Além disso, podem ser encontra-
uma exploração mais sistemática e de aná- dos recursos adicionais, em todos os módu-
lise mais aprofundada de direitos humanos los, com materiais didáticos e atualizações
específicos, poderá começar com a parte em http://www.manual.etc-graz.at, em lín-
“a saber” dos diferentes módulos. E os in- gua inglesa. Os mesmos materiais podem
teressados em investigar e ensinar direitos ser encontrados traduzidos para língua
humanos, através de metodologias educa- portuguesa em www.fd.uc.pt/igc/manual/
tivas inovadoras, tanto a jovens, como a index.html.
adultos, poderão consultar diretamente a Agradecemos o envio de sugestões e co-
parte “atividades selecionadas” dos mó- mentários, pois estes ajudar-nos-ão a me-
dulos e, adicionalmente, ter em conside- lhorar o Manual de acordo com o objetivo
ração as notas gerais sobre a metodologia de ser útil aos educandos, educadores e
da educação para os direitos humanos. formadores, oriundos de contextos cultu-
Pretende-se que este Manual seja uma rais diversos e com níveis diferentes de co-
narrativa aberta e, deliberadamente, op- nhecimentos em direitos humanos.
tou-se por contemplar apenas um número Esperamos que lhe agrade a leitura e não
selecionado de temas essenciais. Gosta- hesite em contribuir para este projeto em
ríamos de o encorajar a, continuamente, curso, com as suas boas e melhores prá-
complementar o Manual com exemplos e ticas, com as preocupações da sua comu-
histórias, questões e experiências do seu nidade e encorajando mais pessoas a ler
próprio contexto local e agradecemos os e a compreender a atualidade vibrante
seus comentários. e o incessante fascínio dos direitos hu-
Com este propósito, o ETC criou, na sua manos.
página de internet, uma secção para rece-
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LISTA DE ABREVIATURAS
Caribe para a Defesa dos Direitos da Mulher FARE – Football Against Racism in Europe
CMSI – Cimeira Mundial sobre Sociedade Network (Rede de Futebol contra o Racis-
da Informação mo na Europa)
CNU – Carta das Nações Unidas FDC – Freedom from Debt Coalition (Coli-
CNUMAD – Conferência das Nações Unidas gação Contra o Endividamento)
sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento FLO – Fairtrade Labelling Organizations
CPDF – Convenção Internacional para a International (Organizações para a Etique-
Proteção de Todas as Pessoas Contra os tagem do Comércio Justo)
Desaparecimentos Forçados FMI – Fundo Monetário Internacional
CPLP – Comunidade dos Países de Língua FUEN – Federalist Union of European Na-
Portuguesa tional Minorities (União Federalista das
CPT - Comité Europeu para a Prevenção Minorias Nacionais Europeias)
da Tortura e Penas ou Tratamentos Desu-
manos ou Degradantes GATS – Acordo Geral sobre o Comércio de
CQMN - Convenção Quadro para a Prote- Serviços
ção das Minorias Nacionais GC – Global Compact
CSCE – Conferência sobre a Segurança e a GDM – Grupo Internacional de Direitos
Cooperação na Europa
das Minorias (Minority Rights Group Inter-
national)
DDPA – Declaração de Durban e Programa
GELMD – Gabinete Europeu para Línguas
de Ação
Menos Divulgadas (European Bureau for
DH – Direitos Humanos
Lesser Used Languages)
DIH – Direito Internacional Humanitário
DUDH – Declaração Universal dos Direitos
Humanos HREA – Human Rights Education Associ-
DST – Doenças Sexualmente Transmissíveis ates (Associados para a Educação para os
Direitos Humanos)
EAPN – European Anti Poverty Network
(Rede Europeia Anti-Pobreza) ICG – International Crisis Group (Grupo
ECOSOC – Conselho Económico e Social para a Prevenção e Resolução de Conflitos)
EDH – Educação para os Direitos Huma- ICSW – International Council on Social
nos (Human Rights Education) Welfare (Conselho Internacional de Bem-
EFA – Education for All (Programa “Educa- -Estar Social)
ção para Todos”) IDH – Índice de Desenvolvimento Humano
EPIC – Electronic Privacy Information Cen- IGC/CDH – Ius Gentium Conimbrigae/
tre (Centro de Informação sobre Privacida- Centro de Direitos Humanos da Faculdade
de Eletrónica) de Direito da Universidade de Coimbra
ERRC – European Roma Rights Centre (Cen- IHF – International Helsinki Federation
tro Europeu para os Direitos dos Roma) (Federação Internacional Helsinki para os
ET – Empresas Transnacionais Direitos Humanos)
ETC – European Training and Research Cen-
tre for Human Rights and Democracy (Cen- LAD – Liga Anti-Difamação
tro de Formação e Investigação em Direitos
Humanos e Democracia, Graz, Áustria) MT – Medicina Tradicional
EUA – Estados Unidas da América MGF – Mutilação Genital Feminina
26 LISTA DE ABREVIATURAS
ÍNDICE GERAL
ÍNDICE DESENVOLVIDO
direitos humanos?” ele respondia: “Dei- vidos, guiados pelos direitos humanos no
xem que as pessoas os conheçam”. Rosa sentido da sua realização plena.
Parks, cujo protesto silencioso acendeu o O quadro abrangente dos direitos huma-
movimento dos direitos civis nos EUA, dis- nos, se conhecido e reivindicado, é o mais
se que os seus atos colocaram poder nas importante guia para se traçar o futuro
mãos das pessoas para insistirem por par- por que todos ansiamos. É um sistema de
ticipação aquando da tomada das decisões apoio fundamental e uma ferramenta po-
que determinam as suas vidas. A isto, nós derosa para a atuação contra a atual desin-
acrescentamos: sermos guiados pelos di- tegração social, pobreza e intolerância que
reitos humanos como uma forma de vida. prevalece no mundo. É muito simples: os
A aprendizagem e a integração dos direi- direitos humanos estão todos relacionados
tos humanos referem-se ao conhecimento, com a igualdade sem discriminação. Com
apropriação, planeamento e ação. O edu- o conhecimento dos direitos humanos po-
cando assume a responsabilidade única de demos todos juntarmo-nos na mudança
se juntar ao esforço nobre para que todas do mundo, onde o sistema patriarcal pre-
as pessoas no mundo, mulheres, homens, valece, onde a justiça é injusta e onde as
jovens e crianças, possam conhecer os mulheres, assim como os homens, trocam
direitos humanos como inalienáveis, per- a igualdade pela sobrevivência. Não temos
tencentes a todos e como uma excelente outras opções!
ferramenta de organização, uma estratégia Tem nas suas mãos a história do milagre
única para o desenvolvimento económico, dos direitos humanos, criado pelas Nações
humano e societário. Unidas. É uma dádiva à humanidade de
Gota a gota, passo a passo, através de si e muitas nações que também se comprome-
das suas organizações, temos de nos en- teram em implementá-los. Infelizmente,
volver num trabalho de amor pela mudan- milhões de pessoas nascerão e morrerão
ça do mundo integrada em todos os níveis sem nunca saberem que são titulares de
da sociedade, uma aprendizagem signifi- direitos humanos e, por esse facto, inca-
cativa dos direitos humanos que conduza pazes de apelarem aos seus governos para
ao planeamento e a ações positivas. Na que cumpram com as suas obrigações e
realidade, o conhecimento dos direitos hu- compromissos (www.pdhre.org/justice.
manos é inerente a cada um de nós. Todos html). Nós dizemos, corretamente, que a
sabemos quando a injustiça está presente ignorância imposta é uma violação dos di-
e que a justiça é a expressão última dos di- reitos humanos e constitui uma falha que
reitos humanos. Todos nós nos afastamos mina a sua realização.
da humilhação de forma espontânea, po- É esta “violação de direitos humanos” e
rém, frequentemente devido ao medo da muitas outras, a ignorância sobre os direi-
humilhação, nós humilhamos os outros. tos humanos que este livro pretende elimi-
Este círculo vicioso pode ser quebrado se nar. Gota a gota, passo a passo - para que
as pessoas aprenderem a confiar e a res- as pessoas saibam, interiorizem e viven-
peitarem-se mutuamente, interiorizando ciem o desenvolvimento dos direitos hu-
e vivenciando os direitos humanos como manos e assegurem a sua realização para
uma forma de vida. Aprender que os di- todos.
reitos humanos apelam ao respeito mútuo À medida que prossegue nesta viagem,
e que todos os conflitos têm de ser resol- tente imaginar os direitos humanos como
PREFÁCIO DE SHULAMITH KOENIG 41
DIGNIDADE HUMANA
DIREITOS HUMANOS
EDUCAÇÃO PARA OS DIREITOS HUMANOS
SEGURANÇA HUMANA
“A campanha recorda-nos que, num mundo ainda a despertar dos horrores da Segunda
Guerra Mundial, a Declaração foi a primeira afirmação global daquilo que agora toma-
mos como adquirido – a inerente dignidade e igualdade de todos os seres humanos.”
Sérgio Vieira de Mello, Alto-comissário das Nações Unidas para os Direitos Humanos. 2003
44 I. INTRODUÇÃO AO SISTEMA DE DIREITOS HUMANOS
A. COMPREENDER
OS DIREITOS HUMANOS
A aspiração de proteger a dignidade humana A solidariedade relaciona-se com os di-
de todas as pessoas está no centro do concei- reitos económicos e sociais, tais como o
to de direitos humanos. Este conceito coloca direito à segurança social, remuneração
a pessoa humana no centro da sua preocu- justa, condições de vida condignas, saú-
pação, é baseado num sistema de valores de e educação acessíveis, que são parte
universal e comum dedicado a proteger a integrante do sistema de direitos huma-
vida e fornece o molde para a construção de nos. Aqueles pilares surgem em detalhe,
um sistema de direitos humanos protegido sob cinco títulos, sendo estes os direitos
por normas e padrões internacionalmente políticos, civis, económicos, sociais e cul-
aceites. Durante o século XX, os direitos hu- turais, juridicamente definidos em dois
manos evoluíram como um enquadramen- Pactos paralelos que, juntamente com a
to moral, político e jurídico e como linha DUDH, formam a Carta Internacional dos
de orientação para desenvolver um mundo Direitos Humanos.
sem medo e sem privações. No século XXI,
é mais imperativo do que nunca tornar os “Todos os direitos humanos para todos”
direitos humanos conhecidos e compreendi-
dos e fazê-los prevalecer. foi o lema da Conferência Mundial sobre
O artigo (artº) 1º da Declaração Univer- Direitos Humanos de Viena, em 1993.
sal dos Direitos Humanos (DUDH), ado- Os direitos humanos empoderam os in-
tada pelas Nações Unidas em 1948, refere divíduos, bem como as comunidades de
os principais pilares do sistema de direi- modo a procurarem a transformação da
tos humanos, isto é, liberdade, igualda-
sociedade rumo à completa implementa-
de e solidariedade. Liberdades tais como ção de todos os direitos humanos. Os con-
a liberdade de pensamento, consciência flitos têm de ser solucionados através de
e de religião, bem como de opinião e de meios pacíficos, fundamentados no prima-
expressão estão protegidas pelos direitos do do Direito e no âmbito do sistema de
humanos. Do mesmo modo, os direitos direitos humanos.
humanos garantem a igualdade, tal como Contudo, os direitos humanos podem in-
a proteção igual contra todas as formas de terferir entre si; eles são limitados pelos
discriminação no gozo de todos os direitos direitos e liberdades dos outros ou por
humanos, incluindo a igualdade total en- requisitos de moralidade, de ordem pú-
tre mulheres e homens. blica e do bem comum de uma sociedade
democrática (artº 29º da DUDH). Os di-
“Todos os seres humanos nascem livres e
reitos humanos dos outros têm de ser res-
iguais em dignidade e em direitos […] de- peitados, não apenas tolerados. Os direitos
vem agir uns para com os outros em espíri- humanos não podem ser utilizados para
to de fraternidade.” violar outros direitos humanos (artº 30º
Artigo 1º da Declaração Universal dos Direitos Hu-
da DUDH); assim, todos os conflitos têm
manos. 1948.
de ser resolvidos no respeito pelos direitos
A. COMPREENDER OS DIREITOS HUMANOS 45
B. DIREITOS HUMANOS
E SEGURANÇA HUMANA
A DUDH foi redigida na sequência das foi declarado que a segurança humana
mais graves violações da dignidade huma- visa proteger os direitos humanos, isto
na, em particular, a experiência do Holo- é, através da prevenção de conflitos e do
causto durante a Segunda Guerra Mundial. tratamento das verdadeiras causas para
O ponto central é a pessoa humana. O pre- a insegurança e a vulnerabilidade. Uma
âmbulo da DUDH refere-se à liberdade de estratégia de segurança humana pretende
viver sem medo e sem privações. A mes- estabelecer uma cultura política global, as-
ma abordagem é inerente ao conceito de sente nos direitos humanos. Neste contex-
segurança humana. to, a educação para os direitos humanos é
Na Sessão de Trabalho (Workshop) In- uma estratégia rumo à segurança humana,
ternacional sobre Segurança Humana e uma vez que capacita as pessoas na pro-
Educação para os Direitos Humanos que cura de soluções para os seus problemas,
decorreu em Graz, em julho de 2000, com base num sistema global de valores
48 I. INTRODUÇÃO AO SISTEMA DE DIREITOS HUMANOS
rança Humana. Desde 2005, é publicado Na década que se seguiu à destruição ter-
um Relatório sobre Segurança Humana, rorista do World Trade Centre, em 11 de
sob a direção de Andrew Mack, que se setembro de 2001, tem havido mais ênfase
centra nas ameaças violentas à seguran- sobre a soberania nacional e os interes-
ça humana. Este Relatório mostra a rela- ses de segurança, também como resulta-
ção entre conflitos e governação demo- do da “Guerra ao Terror”, declarada pelos
crática, demonstrando que um aumento Estados Unidos e que, porém, teve lugar
de governos democráticos no mundo em detrimento dos direitos humanos. Na
conduz a uma redução dos conflitos vio- Europa, a preocupação central tem sido o
lentos (Relatório sobre Segurança Huma- equilíbrio entre a segurança, a liberdade e
na 2009/2010). os direitos humanos.
C. HISTÓRIA E FILOSOFIA
DOS DIREITOS HUMANOS
A ideia de dignidade humana é tão an- A ONU, sob a liderança de Eleanor Roose-
tiga quanto a história da humanidade e velt, René Cassin e Joseph Malik, elaborou
existe de variadas formas, em todas as a DUDH, com a participação de 80 peritos
culturas e religiões. Por exemplo, o im- do Norte e do Sul, que moldaram as ideias
portante valor atribuído ao ser humano e linguagem do documento. Os direitos
pode ser encontrado na filosofia africana humanos tornaram-se num conceito uni-
de ubuntu ou na proteção de estrangei- versal, com fortes influências do Oriente
ros no Islão. A “regra de ouro” segundo a e do Sul, designadamente, o conceito de
qual devemos tratar os outros como gos- direitos económicos, sociais e culturais, o
taríamos de ser tratados existe em todas direito à autodeterminação e ao desenvol-
as grandes religiões. O mesmo vale para a vimento, a proteção contra a discrimina-
responsabilidade da sociedade de cuidar ção racial e o apartheid.
dos seus pobres e para as noções funda- Atendendo a que, historicamente, os ci-
mentais de justiça social. dadãos se tornaram os primeiros bene-
Contudo, a ideia de “direitos humanos” é ficiários dos direitos humanos constitu-
o resultado do pensamento filosófico dos cionalmente protegidos, em virtude das
tempos modernos, com fundamento na fi- suas lutas pelas liberdades fundamentais
losofia do racionalismo e do iluminismo, e pelos direitos económicos e sociais, os
no liberalismo e democracia, e também no estrangeiros só poderiam ser titulares de
socialismo. Ainda que o conceito moder- direitos em casos excecionais ou com base
no de direitos humanos tenha emanado em acordos bilaterais. Os estrangeiros ne-
sobretudo da Europa, deve ser sublinhado cessitavam da proteção do seu próprio Es-
que as noções de liberdade e de justiça so- tado, que representava os seus nacionais
cial, que são fundamentais para os direitos no estrangeiro, enquanto o conceito de
humanos, são parte de todas as culturas. direitos humanos obriga qualquer Estado
52 I. INTRODUÇÃO AO SISTEMA DE DIREITOS HUMANOS
D. CONCEITO E NATUREZA
DOS DIREITOS HUMANOS
Atualmente, o conceito de direitos huma- pela Conferência Mundial de Viena sobre
nos é reconhecido como universal, como Direitos Humanos, em 1993, e nas Resolu-
se poderá verificar na Declaração adotada ções da ONU aprovadas por ocasião do 50º
54 I. INTRODUÇÃO AO SISTEMA DE DIREITOS HUMANOS
aniversário da DUDH, em 1998. Alguns cé- social, que deverão ser “realizados progres-
ticos que questionam a universalidade dos sivamente”, devido ao facto de implicarem
direitos humanos devem ser recordados de obrigações financeiras para os Estados
que Estados tão geograficamente diversos (cfr. Artº 2º, nº1 do PIDESC).
como a China, o Líbano ou o Chile se en- No passado, alguns Estados ou grupos de
contravam entre aqueles que participaram Estados, tais como os Estados socialistas
na elaboração deste conceito, na segunda em particular, expressaram preferência pe-
metade dos anos 40. De qualquer modo, los direitos económicos, sociais e culturais,
desde então, muitos mais Estados demons- em oposição aos direitos civis e políticos, ao
traram o seu apoio à DUDH e ratificaram passo que os Estados Unidos da América e
o PIDCP e o PIDESC, que se fundamentam os Estados-membros do Conselho da Europa
na DUDH. A Convenção sobre a Elimina- demonstraram uma certa preferência pelos
ção de Todas as Formas de Discriminação direitos civis e políticos. Porém, na Confe-
contra as Mulheres (CEDM) já foi ratifi- rência Mundial de Direitos Humanos de
cada por 187 países, em janeiro de 2012, Teerão, em 1968, tal como na Conferência
embora com muitas reservas, ao passo que Mundial de Viena, em 1993, aquele debate
a Convenção sobre os Direitos da Criança improdutivo foi resolvido, tendo-se concluí-
(CDC) foi ratificada por 193 Partes. do pelo reconhecimento da igual importân-
A base do conceito de direitos humanos cia de ambas as categorias ou dimensões
assenta no conceito da inerente dignidade de direitos humanos. Em Teerão, em 1968,
humana de todos os membros da família estes foram declarados indivisíveis e inter-
humana, consagrado na Carta das Nações dependentes, uma vez que o gozo pleno
Unidas (CNU), na DUDH e nos Pactos de dos direitos económicos, sociais e culturais
1966, que também reconheceram o ideal de é praticamente impossível sem o gozo dos
seres humanos livres no exercício da sua direitos civis e políticos e vice-versa.
liberdade de viver sem medo e sem priva-
ções e enquanto titulares de direitos iguais “Os direitos humanos são a fundação da
e inalienáveis. Em concordância, os direi- liberdade, paz, desenvolvimento e justiça e
tos humanos são universais e inalienáveis, o cerne do trabalho das Nações Unidas em
o que significa que se aplicam em todo o todo o mundo.”
lado e não podem ser retirados à pessoa Ban Ki-moon, Secretário-Geral das Nações Unidas.
humana, ainda que com o seu consenti- 2010.
mento. Tal como defendido na Conferência
Mundial de Viena sobre Direitos Humanos, Nos anos 80, uma categoria adicional de
em 1993, pelo então Secretário-Geral das direitos humanos obteve reconhecimento,
Nações Unidas, Boutros Boutros-Ghali, “os ou seja, o direito à paz e à segurança, o di-
direitos humanos adquirem-se à nascença”. reito ao desenvolvimento e o direito a um
Os direitos humanos também são indivi- ambiente saudável. Estes direitos forne-
síveis e interdependentes. Podem ser dis- cem o quadro necessário ao gozo de todos
tinguidas diferentes categorias ou dimen- os outros direitos. Porém, não há condi-
sões de direitos humanos: direitos civis e cionalidade, no sentido de que uma cate-
políticos, como a liberdade de expressão, goria constitua uma condição prévia para
e direitos económicos, sociais e cultu- a outra. A terceira categoria é designada
rais, como o direito humano à segurança por direitos de solidariedade, uma vez
D. CONCEITO E NATUREZA DOS DIREITOS HUMANOS 55
E. PADRÕES DE DIREITOS
HUMANOS A NÍVEL UNIVERSAL
F. IMPLEMENTAÇÃO
DOS INSTRUMENTOS UNIVERSAIS
DE DIREITOS HUMANOS
Os Estados têm o dever de respeitar, pro- Outro desenvolvimento digno de nota é a
teger e implementar os direitos humanos. crescente ênfase na prevenção das vio-
Em muitos casos, a implementação signi- lações dos direitos humanos, através da
fica que o Estado e as suas autoridades adoção de medidas estruturais, isto é, atra-
têm de respeitar os direitos aceites, isto é, vés da atuação de instituições nacionais de
respeitar o direito à privacidade e o direito direitos humanos ou através da inclusão
de expressão. Isto é particularmente rele- de uma dimensão de direitos humanos nas
vante para os direitos civis e políticos, ao operações de manutenção da paz. O ob-
passo que os direitos económicos, sociais jetivo da prevenção é também uma priori-
e culturais implicam obrigações positivas dade da perspetiva da segurança humana
de implementação, por parte do Estado. relacionada com os direitos humanos (ver
Ou seja, neste último caso, o Estado terá também o B.).
de garantir ou fornecer certos serviços,
tais como a educação e a saúde e assegu- Em primeiro lugar, os direitos humanos
rar certos padrões mínimos. Neste contex- têm de ser implementados ao nível na-
to, é tida em consideração a capacidade de cional. Todavia, poderá haver obstáculos,
cada Estado para o fazer. Por exemplo, o nomeadamente, os relacionados com defi-
artº 13º do PIDESC reconhece o direito de ciências de “boa governação”, tais como a
todos à educação. Porém, especifica que existência de corrupção e ineficiência no
apenas o ensino primário tem de ser gra- âmbito dos poderes executivo ou judicial.
tuito. O ensino secundário e superior tem De forma a assegurar que o Estado está a
de ser disponibilizado e acessível, de uma cumprir com as suas obrigações, foi ins-
maneira geral para todos, mas apenas se tituída a monitorização internacional do
espera que a gratuitidade da educação seja desempenho dos Estados, na maior parte
conseguida progressivamente. O conceito das convenções internacionais de direitos
de realização progressiva de acordo com a humanos. Esta monitorização pode assu-
capacidade do Estado é aplicado a vários mir várias modalidades.
direitos económicos, sociais e culturais. O sistema de apresentação de relatórios
O dever de proteger requer que o Esta- existe em muitas convenções internacio-
do evite a violência e a violação de outros nais. Desta forma, os Estados têm de apre-
direitos humanos, junto da população do sentar relatórios, regularmente, acerca do
seu território. Do mesmo modo, os direitos seu desempenho no que respeita à prote-
humanos também têm uma “dimensão ho- ção dos direitos humanos. Normalmente,
rizontal”, que está a ganhar importância um comité de peritos analisa os relatórios
na era da globalização, ao suscitar a ques- e apresenta recomendações para o forta-
tão da responsabilidade social das empre- lecimento da implementação. O Comité
sas transnacionais. também pode elaborar Comentários Gerais
60 I. INTRODUÇÃO AO SISTEMA DE DIREITOS HUMANOS
quanto à interpretação correta da conven- tem os mecanismos criados pela Carta, que
ção. Em alguns casos, como o do PIDCP, se desenvolveram com base na Carta das Na-
existe um Protocolo facultativo que auto- ções Unidas e que se destinam às violações
riza o Comité dos Direitos Civis e Políticos dos direitos humanos no mundo. Um deles
a receber queixas individuais de pessoas foi o procedimento confidencial 1503, com
sobre alegadas violações dos seus direitos fundamento na Resolução 1503 do ECOSOC
humanos. Porém, tal só é possível para as de 1970, e 2000/3 de 2000, que permite o en-
pessoas que residem num dos 114 Estados vio de petições para o gabinete do Alto Co-
que ratificaram o protocolo facultativo. missário da ONU para os Direitos Humanos,
Protocolos semelhantes introduziram a em Genebra, e que são posteriormente ana-
queixa e, por vezes, também mecanismos lisadas por um grupo de peritos da Sub-Co-
de inquérito, no respeitante a outras con- missão da ONU para a Promoção e Proteção
venções, tais como o Protocolo Facultativo dos Direitos Humanos. Este procedimento,
ao PIDESC, de 2008 (6 Estados Partes2) ou que é especificamente destinado a violações
o Protocolo Opcional à Convenção sobre graves de direitos humanos, encontra-se sob
os Direitos das Pessoas com Deficiência, a responsabilidade do Conselho de Direitos
de 2006 (com 65 Estados Partes). Humanos desde 2006. As queixas sob o pro-
Algumas convenções também incluem o cedimento 1503 devem agora ser tratadas
mecanismo de queixas interestatais, mas através de dois comités (para as comunica-
esta é uma modalidade raramente utiliza- ções e para as situações), antes de chegarem
da. Só existe um procedimento judicial ao Conselho de Direitos Humanos. Durante
no âmbito das Convenções Europeia e o período de trabalho de 1947 a 2006, da Co-
Interamericana de Direitos Humanos, es- missão de Direitos Humanos e da sua Sub-
tando os respetivos Tribunais habilitados Comissão, os procedimentos especiais, isto
a emitir sentenças vinculativas para os Es- é, as atividades dos relatores especiais e dos
tados. Também se estabeleceu um Tribu- representantes da Comissão de Direitos Hu-
nal Africano dos Direitos Humanos e dos manos ou do Secretário-Geral relativamente
Povos, depois de o seu Estatuto (Protocolo aos direitos humanos, têm vindo a adquirir
à Carta Africana dos Direitos Humanos e importância. Há “relatores por país” como,
dos Povos) ter entrado em vigor com su- por exemplo, os relatores especiais e, confor-
cesso, em janeiro de 2004. Em 1 de julho me as circunstâncias, peritos independentes
de 2008, o tribunal foi fundido com o Tri- para situações específicas de direitos huma-
bunal de Justiça Africano, conhecido ago- nos no Sudão, no Haiti e Myanmar e na Re-
ra como o Tribunal Africano de Justiça e pública Democrática do Congo. Há também
Direitos Humanos. “relatores temáticos” como, por exemplo, os
De forma complementar aos mecanismos relatores especiais para a tortura ou para a
contidos nos instrumentos de direitos huma- violência contra as mulheres. O seu man-
nos, tais como as convenções, também exis- dato é normalmente de três anos, sujeito a
extensão.
No todo, existem cerca de 40 procedimen-
2
Nota da versão em língua portuguesa: O Protocolo tos especiais que recolhem informações de
Facultativo ao Pacto Internacional sobre os Direitos acordo com o seu país ou área temática de
Económicos, Sociais e Culturais entrou em vigor no
dia 5 de maio de 2013 tendo, nessa data, 10 Estados atividade, submetendo relatórios anuais.
Partes. Estes procedimentos refletem o ativismo
F. IMPLEMENTAÇÃO DOS INSTRUMENTOS UNIVERSAIS DE DIREITOS HUMANOS 61
crescente da ONU e também funcionam tuída pelo ‘Comité Consultivo para os Di-
como mecanismos de acompanhamento, reitos Humanos’, composto por peritos e
nos casos em que não tenham sido previs- realizando um trabalho substantivo a ser
tos procedimentos de cumprimento ou que adotado pelo CDH. Os procedimentos es-
se demonstre a falta de eficácia na susten- peciais continuam a ser testados. As pri-
tabilidade e na monitorização. Exemplos meiras experiências com o CDH foram de
podem ser encontrados na Declaração dos vária ordem. A intensidade das sessões
Defensores de Direitos Humanos, de 1998, aumentou, porém, os padrões de voto no
ou no caso de alguns direitos económicos Conselho deram a maioria aos países em
e sociais, tais como, os direitos humanos à desenvolvimento, especialmente do mun-
educação, à alimentação, a uma habitação do Islâmico, conduzindo a uma revisão
condigna, à saúde e a políticas de ajusta- das prioridades. Estes países pretenderam
mento estrutural. Existem ainda os “peritos que o Conselho focasse a sua atenção nos
independentes”, por exemplo do direito ao territórios palestinianos ocupados mais do
desenvolvimento e os “grupos de trabalho”, que, por exemplo, no genocídio no Sudão.
como é o caso do grupo de trabalho sobre os Também, os mandatos para os relatores
desaparecimentos forçados e involuntários. por país, de Cuba e da Bielorrússia, não
Em 2006, como parte das reformas das Na- foram renovados. Em 2010/2011, teve lugar
ções Unidas, o Conselho de Direitos Huma- a revisão dos novos procedimentos.
nos da ONU assumiu todos os mandatos, Note-se ainda que o Alto Comissariado da
funções e responsabilidades da Comissão ONU para os Direitos Humanos tem vindo
de Direitos Humanos e desde então respon- a aumentar os seus recursos, para o estabe-
de diretamente perante a Assembleia-Geral lecimento de missões do Alto Comissaria-
das Nações Unidas. O Conselho de Direitos do, em países em que existe uma situação
Humanos (CDH) é suposto levar a eficácia problemática no que diz respeito aos direi-
do sistema de direitos humanos das Na- tos humanos. Estabeleceram-se missões em
ções Unidas a um patamar mais elevado. países como o Afeganistão, a Bósnia-Her-
Para este efeito, aumentou-se o número de zegovina, o Camboja, a Colômbia, a Gua-
sessões para três por ano, assim como se temala, o Haiti, o Kosovo, o Montenegro,
atribuiu ao Conselho de Direitos Humanos a Serra Leoa, etc. Estas missões recolhem
a tarefa de rever a situação de direitos hu- informações e promovem a elevação dos
manos em todos os Estados-membros das padrões de direitos humanos, designada-
Nações Unidas, com base na DUDH e ou- mente, através da assessoria no processo de
tros tratados de direitos humanos ratifica- reforma legislativa ou da participação nos
dos [Revisão Periódica Universal (RPU)]. trabalhos da comunidade internacional.
Até 2011, todos os Estados-membros das As atividades destas instituições especiais
Nações Unidas foram submetidos à RPU têm um propósito de proteção e de promo-
que conclui com diversas recomendações e ção. Elas promovem a sensibilização para
constitui uma inovação relevante. os direitos humanos e a sua inclusão em
O Conselho de Direitos Humanos, através todas as ações, de modo a fundamentar
das suas sessões especiais, pode, rapida- solidamente as soluções adotadas em prin-
mente, responder a problemas graves de cípios de direitos humanos. Na verdade, a
direitos humanos. A Sub-Comissão para a promoção dos direitos humanos implica
Proteção dos Direitos Humanos foi substi- uma tarefa bem mais ampla que não pode-
62 I. INTRODUÇÃO AO SISTEMA DE DIREITOS HUMANOS
G. DIREITOS HUMANOS
E A SOCIEDADE CIVIL
O impacto da sociedade civil, representado Helsinki Federation (IHF) influenciam os go-
sobretudo pelas ONG, tem-se revelado cru- vernos e a comunidade internacional através
cial para o desenvolvimento do sistema de da elaboração de relatórios de elevada qua-
direitos humanos. As ONG assentam na li- lidade, fundamentados na investigação dos
berdade de associação, protegida pelo artº factos e na monitorização. Uma outra forma
22º do PIDCP. Na ONU, tornaram-se uma de atuação eficaz das ONG é a elaboração
espécie de “consciência do mundo”. Normal- dos “relatórios-sombra” paralelos aos rela-
mente, prosseguem interesses de proteção tórios oficiais nacionais apresentados junto
específicos, como a liberdade de expressão e dos órgãos internacionais de monitorização.
dos meios de informação (Artº 19º) ou a pre- Algumas ONG, tais como a Avaaz (voz) ou a
venção da tortura e de tratamentos desuma- Change especializaram-se em campanhas de
nos ou degradantes (Associação para a Pre- direitos humanos, meio-ambiente ou desen-
venção da Tortura, APT). As ONG, como a volvimento, etc., utilizando para o seu esco-
Amnistia Internacional, utilizam procedi-
po, com muita eficácia, a internet.
mentos particulares, tais como os “pedidos
urgentes de ação” com o objetivo de pres-
sionar os governos. A estratégia “mobiliza- De acordo com uma resolução da AGNU,
ção da vergonha” pode ser bastante efetiva, em 1998, a Declaração dos Defensores
sobretudo, se contar com o apoio de meios dos Direitos Humanos, as pessoas e
de informação independentes. As ONG, tais as ONG que trabalham ao serviço dos
como a International Crisis Group (ICG), a direitos humanos têm de ter a liberda-
Human Rights Watch, ou a International de necessária para o fazer e têm de ser
G. DIREITOS HUMANOS E A SOCIEDADE CIVIL 63
rindo só alguns, a sociedade civil interna- volver a participação cívica nos pro-
cional tem chamado a atenção do mundo cessos económicos e políticos e para
para as ameaças à segurança humana. assegurar que os compromissos institu-
As ONG podem fortalecer e mobilizar vá- cionais respondem às necessidades das
rias organizações da sociedade civil nos pessoas.
seus países, através de uma educação ba- (Fonte: Comissão sobre a Segurança
seada nos direitos humanos, para desen- Humana. 2003. Segurança Humana Já.)
H. SISTEMAS REGIONAIS
DE PROTEÇÃO E PROMOÇÃO
DE DIREITOS HUMANOS
Além do sistema universal de proteção lho da Europa (em 2012: 47 Estados-mem-
dos direitos humanos, desenvolveram-se bros), o da Organização para a Seguran-
vários sistemas regionais de direitos hu- ça e Cooperação na Europa (em 2012: 56
manos que, habitualmente, conferem um Estados-membros) e o da União Europeia
padrão mais elevado de direitos e da sua (em 2012: 27 Estados-membros, 28 depois
implementação. da adesão esperada da Croácia, em 2013).
A vantagem dos sistemas regionais é a O sistema europeu de direitos humanos é o
sua capacidade de resolver as queixas de sistema regional mais elaborado. Desenvol-
forma mais eficiente. No caso dos tribu- veu-se em reação às violações em massa de
nais, as sentenças são vinculativas e com direitos humanos durante a Segunda Guer-
indemnizações e as recomendações das ra Mundial. Os direitos humanos, o prima-
Comissões de Direitos Humanos são geral- do do Direito e a democracia pluralista são
mente levadas a sério pelos Estados. Po- os pilares do ordenamento jurídico euro-
dem não só resultar em “casos que abrem peu. Os instrumentos principais do Con-
precedentes” na interpretação e clarifica- selho da Europa e da União Europeia são
ção das disposições contidas nos instru- vinculativos para todos os Estados Partes.
mentos de direitos humanos, mas também
na alteração das leis nacionais de modo Instrumentos Europeus de Direitos
a torná-las conformes com as obrigações Humanos
internacionais de direitos humanos. Mais, - Convenção para a Proteção dos Direitos
os sistemas regionais tendem a mostrar Humanos e das Liberdades Fundamen-
uma maior sensibilidade para com preo- tais (1950) e 14 Protocolos Adicionais
cupações culturais e religiosas, caso haja
- Carta Social Europeia (1961), revista
razões válidas para elas.
em 1991 e 1996 e Protocolos Adicio-
nais 1988 e 1995
I. EUROPA
- Convenção Europeia para a Prevenção
O sistema europeu de direitos humanos da Tortura e das Penas ou Tratamentos
tem três dimensões: o sistema do Conse- Desumanos ou Degradantes (1987)
H. SISTEMAS REGIONAIS DE PROTEÇÃO E PROMOÇÃO DE DIREITOS HUMANOS 65
- Ato Final de Helsínquia (1975) e o vado interesse tem vindo a ser depositado
respetivo processo seguinte da CSCE/ na Carta Social Europeia que foi alterada
OSCE com a Carta de Paris para uma duas vezes, em 1988 e em 1995. Atual-
nova Europa (1990) mente, confere também a possibilidade de
queixas coletivas, com base num Protoco-
- Carta Europeia das Línguas Regionais lo Adicional.
ou Minoritárias (1992) Uma significativa inovação surgiu com a
- Convenção Quadro para a Proteção Convenção Europeia para a Prevenção da
das Minorias Nacionais (1994) Tortura e das Penas ou Tratamentos De-
- Carta dos Direitos Fundamentais da sumanos ou Degradantes, de 1987, que
União Europeia (2000) criou o Comité Europeu para a Prevenção
da Tortura e das Penas ou Tratamentos De-
1. O Sistema de Direitos Humanos do sumanos ou Degradantes. O Comité envia
Conselho da Europa delegações a todos os Estados Partes da
Convenção para realizarem visitas regula-
a. Visão geral res ou especiais (Ad-hoc) a prisões, hospi-
O instrumento jurídico principal é a Con- tais psiquiátricos e todos os outros locais
venção Europeia para a Proteção dos de detenção. Assim, a lógica do sistema
Direitos Humanos e das Liberdades Fun- assenta no seu efeito preventivo ao contrá-
damentais (CEDH), de 1950, juntamente rio da proteção ex-post facto ainda da res-
com os seus 14 Protocolos Adicionais. De ponsabilidade da CEDH e do seu Tribunal.
particular importância são os Protocolos Em dezembro de 2002, a AGNU adotou um
nº 6 e nº 13, sobre a abolição da pena Protocolo Facultativo à Convenção da ONU
de morte, que distinguem a perspetiva eu- contra a Tortura que prevê um mecanismo
ropeia de direitos humanos da perspetiva semelhante a operar em todo o mundo.
dos Estados Unidos da América, e os Pro- Este prevê os “Mecanismos de Prevenção
tocolos nº 11 e nº 14, que substituíram a Nacionais” a serem estabelecidos em todos
Comissão Europeia dos Direitos Humanos os Estados Partes e visitas preventivas a se-
e o Tribunal Europeu dos Direitos Huma- rem realizadas pelo Subcomité para a Pre-
nos por um tribunal permanente de Di- venção da Tortura (SPT).
reitos Humanos, o Tribunal Europeu dos
Direitos Humanos (TEDH), e melhoraram
os seus procedimentos. A CEDH contém, Proibição da Tortura
sobretudo, direitos civis e políticos, mas
também o direito à educação. A Convenção Quadro Europeia para a
A Carta Social Europeia, de 1961, foi con- Proteção das Minorias Nacionais (1995)
cebida para adicionar os direitos económi- foi elaborada após a Cimeira do Conse-
cos e sociais, mas nunca atingiu a mesma lho da Europa em Viena, em 1993, como
importância da CEDH. Desde o início que reação aos problemas crescentes com os
sofreu de um sistema de implementação direitos das minorias na Europa. Estes pro-
débil e ineficiente. Contudo, paralelamen- blemas são o resultado da dissolução da
te à crescente atenção conferida aos direi- União Soviética e da República Socialista
tos económicos e sociais, a nível universal, da Jugoslávia e, mais genericamente, dos
desde o final da década de 80, um reno- processos de autodeterminação que ocor-
66 I. INTRODUÇÃO AO SISTEMA DE DIREITOS HUMANOS
reram na Europa, na década de 90. Segun- - Comité Europeu dos Direitos Sociais
do a Convenção, os Estados têm de prote- (revisto 1999)
ger os direitos individuais dos membros de
minorias nacionais, mas também têm de - Comité Europeu para a Prevenção da
proporcionar as condições que permitam Tortura e das Penas ou Tratamentos
às minorias manter e desenvolver a sua Desumanos ou Degradantes (CPT,
cultura e a sua identidade. Contudo, o me- 1989)
canismo de efetivação da lei resume-se a - Comité Consultivo da Convenção Qua-
um sistema de apresentação de relatórios dro para a Proteção das Minorias Na-
e à existência de um Comité Consultivo de cionais (1998)
Peritos encarregado de analisar esses re-
latórios e que também realiza visitas aos - Comissão Europeia contra o Racismo e
países. a Intolerância (CERI, 1993)
A Comissão Europeia contra o Racismo - Comissário Europeu para os Direitos
e a Intolerância (CERI) foi estabelecida Humanos (1999)
na Cimeira da Europa em Viena, em 2003,
- Comité de Ministros do Conselho da
para combater o racismo, a xenofobia, o
Europa
antissemitismo e a intolerância. Para esta
finalidade, a Comissão, junto com os Esta- - Assembleia Parlamentar do Conselho
dos-membros do Conselho da Europa, pre- da Europa
para relatórios periódicos sobre a situação
nesta área. Também apresenta recomenda- Organização para a Segurança e Coope-
ções gerais de política e preocupa-se com ração na Europa (OSCE):
o envolvimento da sociedade civil, na luta
- Escritório para as Instituições De-
contra o racismo e intolerância.
mocráticas e os Direitos Humanos
O Conselho da Europa também estabe-
(ODIHR, 1990)
leceu, em 1999, um Comissário para os
Direitos Humanos que se centra nas la- - Alto Comissariado para as Minorias
cunas da proteção europeia dos direitos Nacionais (1992)
humanos, tal como a situação dos mi- - Representante para a Liberdade dos
grantes, e também realiza visitas aos paí- Meios de Informação (1997)
ses. A Assembleia Parlamentar do Con-
selho da Europa encontra-se ativamente União Europeia (UE):
envolvida nas questões dos direitos hu-
manos, enquanto o Comité de Ministros é - Tribunal de Justiça da União Europeia
o órgão funcional principal na supervisão (TJUE)
de todo o sistema. - Comissário Europeu de Justiça e Direi-
tos Fundamentais
Instituições e Órgãos Europeus de Di-
reitos Humanos - Agência dos Direitos Fundamentais
da União Europeia (2007), estabeleci-
Conselho da Europa (CdE): da a partir do Observatório Europeu
- Tribunal Europeu dos Direitos Huma- do Racismo e da Xenofobia (OERX,
nos (tribunal único em 1998) 1998)
H. SISTEMAS REGIONAIS DE PROTEÇÃO E PROMOÇÃO DE DIREITOS HUMANOS 67
b. O Tribunal Europeu dos Direitos Hu- grande número de queixas recebidas que
manos cresceu de cerca de 1.000, em 1998, para
O principal instrumento de proteção dos 56.000, em 2011, causando assim uma so-
direitos humanos na Europa é o Tribunal brecarga do sistema. Para fazer face a este
Europeu dos Direitos Humanos (TEDH), problema, foi adotado, em 2004, o Proto-
em Estrasburgo, cuja jurisdição obriga- colo nº14 à CEDH, porém, são necessárias
tória é reconhecida por todos os Esta- medidas adicionais. A adesão prevista da
dos-membros do Conselho da Europa. Em União Europeia à CEDH irá aumentar ain-
cada caso está envolvido um “juiz nacio- da mais o quadro de proteção dos direitos
nal” para facilitar a compreensão do direi- humanos na Europa, mas irá aumentar
to nacional. Contudo, uma vez nomeados, ainda mais o número de processos.
os juízes servem apenas na sua capacida-
de pessoal e o exercício das suas funções 2. O Sistema de Direitos Humanos da Or-
encontra-se limitado a 9 anos. ganização para a Segurança e Coope-
Para que uma queixa seja admissível, ração na Europa (OSCE)
têm de ser preenchidas quatro importantes
condições prévias: A OSCE, que substituiu a Conferência sobre
a Segurança e a Cooperação na Europa em
a. Violação de um direito consagrado na 1994, é uma organização muito peculiar.
Convenção Europeia dos Direitos Hu- Não tem uma carta jurídica nem personali-
manos ou nos seus Protocolos Adicio- dade jurídica internacional e as suas decla-
nais; rações e recomendações têm um carácter
b. O(s) autor(es) da queixa deve(m) ser meramente político e não são vinculativas
a(s) vítima(s) da violação; para os Estados. No entanto, as listas de
c. Esgotamento de todos os mecanismos obrigações frequentemente muito detalha-
de proteção nacionais eficazes; das, adotadas em diversas conferências
d. A queixa deve ser feita num prazo de 6 de acompanhamento ou em encontros de
meses depois de esgotados os mecanis- peritos e monitorizadas pelo Conselho de
mos de recurso nacionais. representantes dos Estados-membros, e as
conferências de acompanhamento regular-
Se considerada admissível, uma secção mente organizadas são um mecanismo de
de 7 juízes decide sobre o mérito do caso. monitorização bem sucedido. O “Processo
A sua decisão será definitiva se se con- de Helsínquia” desempenhou um papel
siderar que a questão não tem particular importante no desenvolvimento da coo-
relevância ou não representa uma nova peração entre o Leste e o Oeste durante a
linha de jurisdição. Caso contrário, verifi- Guerra Fria e na criação de uma base de co-
cando-se uma destas situações, o tribunal operação na Europa alargada de 56 países,
pleno, composto por 17 juízes, poderá in- incluindo os EUA e o Canadá.
tervir com a função de recurso. As senten- Sob o título da “dimensão humana”, a
ças são vinculativas e podem prever a atri- OSCE desenvolve diversas atividades na
buição de uma indemnização por danos. A área dos direitos humanos e dos direitos
supervisão da execução das sentenças é da das minorias, em particular. Também tem
responsabilidade do Comité de Ministros. vindo a desempenhar um papel importan-
O problema principal deste sistema é o te nas várias missões de terreno, como na
68 I. INTRODUÇÃO AO SISTEMA DE DIREITOS HUMANOS
UE e, desde então, tem sido complementa- venção Interamericana para Prevenir, Pu-
da por outras diretivas. nir e Erradicar a Violência contra a Mulher
Do mesmo modo, a União Europeia dá par- (Convenção de Belém do Pará), que entrou
ticular importância à igualdade. De acordo em vigor em 1995, merece ser referida de
com o artº 157º do Tratado sobre o Funciona- forma particular. Já foi ratificada por 32 dos
mento da União Europeia, os Estados-mem- 35 Estados-membros da OEA. De acordo
bros têm de aplicar o princípio da “igualdade com esta Convenção, devem ser submetidos
de remuneração entre homens e mulheres” relatórios nacionais regulares à Comissão
e de adotar medidas destinadas a assegurar Interamericana de Mulheres, criada já em
o princípio da igualdade de oportunidades. 1928. Há também um Relator Especial so-
Além disso, este princípio foi desenvolvido bre os Direitos das Mulheres (desde 1994).
por regulamentos e diretivas, como a diretiva
atualizada do tratamento igual 2002/73/EC. Direitos Humanos das Mulheres
das “petições” à Comissão Interamericana O seu preâmbulo faz referência aos valores
dos Direitos Humanos, que pode também da civilização africana que tem como obje-
pedir informação sobre medidas de direi- tivo inspirar o conceito africano dos direi-
tos humanos tomadas. Ao Tribunal Intera- tos humanos e dos povos. Além dos direi-
mericano não se pode aceder diretamente, tos individuais, consagra também direitos
só através da Comissão que pode decidir dos povos. Enuncia, ainda, os deveres dos
sobre que casos deverão ser transmitidos indivíduos, por exemplo, relativamente
ao Tribunal. Deste modo, no passado, o à família e à sociedade mas, na prática,
Tribunal não recebia muitos casos, o que aqueles deveres são pouco relevantes.
mudou desde então. O Tribunal pode tam-
bém emitir pareceres, nomeadamente, Sistema Africano de Direitos Humanos
sobre a interpretação da Convenção. Tal
como a Comissão, o Tribunal tem sete - Carta Africana dos Direitos Humanos
membros, e não tem carácter permanente. e dos Povos (1981, em vigor 1986, 53
A Comissão pode igualmente levar a cabo Estados Partes)
investigações no terreno e publica relató- - Comissão Africana dos Direitos Huma-
rios especiais sobre situações específicas nos e dos Povos (1987)
preocupantes. Há muitas ONG que ajudam - Protocolo sobre o Estabelecimento do
as vítimas de violações de direitos humanos Tribunal Africano dos Direitos Huma-
a levar casos à Comissão Interamericana de nos e dos Povos (1997, em vigor 2003,
Direitos Humanos e ao Tribunal. Também 24 Estados Partes)
existem procedimentos especiais como os - Protocolo sobre os Direitos das Mulhe-
Relatores Especiais sobre a liberdade de ex- res (2003, em vigor 2005, 28 Estados
pressão, sobre os direitos dos trabalhadores Partes)
migrantes, sobre os direitos das mulheres e - Carta Africana dos Direitos e do Bem-
sobre os direitos da criança. Estar da Criança (1990, em vigor 1999,
45 Estados Partes)
III. ÁFRICA - Tribunal Africano de Justiça e Direitos
Humanos (2008)
O sistema africano de direitos humanos foi
criado em 1981 com a adoção, pela então A Comissão Africana dos Direitos Huma-
Organização da União Africana (OUA), da nos e dos Povos tem um mandato amplo
Carta Africana dos Direitos Humanos e na área da promoção dos direitos humanos,
dos Povos, que entrou em vigor em 1986. mas pode também receber queixas de Es-
A Carta estabelece a Comissão Africana tados (o que nunca aconteceu até à data)
dos Direitos Humanos e dos Povos, for- e de indivíduos ou grupos. Os critérios de
mada por 11 membros, que tem sede em admissibilidade são amplos e também per-
Banjul, na Gâmbia. Atualmente, todos mitem comunicações de ONG ou indiví-
os 54 Estados-membros da União Africa- duos, em nome das vítimas das violações.
na (UA), que sucedeu à OUA em 2001, No entanto, a Comissão não pode emitir
ratificaram a Carta Africana que segue a decisões juridicamente vinculativas, uma
abordagem da Declaração Universal dos das razões que justificou a adoção de um
Direitos Humanos unindo todas as catego- protocolo adicional à Carta sobre o estabe-
rias de direitos humanos num documento. lecimento do Tribunal Africano dos Direitos
72 I. INTRODUÇÃO AO SISTEMA DE DIREITOS HUMANOS
Humanos e dos Povos, que entrou em vigor África e de outros locais que podem parti-
em 2003. No entanto, em 2004, a Assem- cipar nas reuniões públicas da Comissão.
bleia dos Chefes de Estado e de Governo Frequentemente, levam-lhe casos de vio-
decidiu fundir o Tribunal com o Tribunal da lações e apoiam o trabalho da Comissão e
União Africana, o que veio a acontecer em dos seus relatores especiais. É também im-
2008, tornando-se no Tribunal Africano de portante que os governos façam com que
Justiça e Direitos Humanos. O Tribunal a Carta seja diretamente aplicável nos seus
encontra-se em Arusha, na Tanzânia, e teve sistemas jurídicos nacionais. Isto aconte-
a sua primeira reunião em 2006. Em 2009, ceu, por exemplo, na Nigéria, tendo tido
o Tribunal proferiu a sua primeira decisão. como resultado o facto de as ONG nigeria-
Pode receber queixas através da Comissão, nas, como a Constitutional Rights Project,
tal como no sistema interamericano. Os terem levado com sucesso aos tribunais ni-
indivíduos apenas podem recorrer direta- gerianos casos de violações da Carta.
mente ao Tribunal se os Estados proferirem Depois da adoção da Convenção da ONU
uma declaração direta a esse respeito, o sobre os Direitos da Criança, em 1989, foi
que constitui até agora a exceção. adotada, em 1990, uma Carta Africana dos
Uma monitorização regular da situação Direitos e do Bem-Estar da Criança. No
nacional relativa aos direitos humanos entanto, apenas entrou em vigor em 1999 e,
é feita pela Comissão, através do exame até 2011, foi ratificada por 45 Estados-mem-
de relatórios estatais. No entanto, estes bros da UA. O Comité Africano de Peritos
relatórios são frequentemente irregulares sobre Direitos e Bem-estar da Criança reú-
e insatisfatórios. Baseando-se na prática ne-se pelo menos uma vez ao ano.
da ONU, a Comissão nomeou Relatores
Especiais sobre execuções extrajudiciais, IV. OUTRAS REGIÕES
sumárias e arbitrárias, sobre prisões e
condições de detenção, sobre liberdade de Relativamente aos países islâmicos, deve-
expressão, sobre os direitos dos arguidos, rá ser mencionada a “Declaração do Cai-
sobre refugiados, requerentes de asilo, mi- ro sobre Direitos Humanos no Islão”, de
grantes e deslocados internos e sobre os 1990, que foi redigida pelos Ministros dos
direitos das mulheres. Negócios Estrangeiros da Organização da
Na Cimeira de Maputo, Moçambique, a Conferência Islâmica (OCI)3, mas nunca
UA adotou um Protocolo Adicional à Carta adotada oficialmente. Todos os direitos
sobre os Direitos das Mulheres em África, consagrados nesta Declaração estão sujei-
em 2003. O Protocolo de Maputo entrou tos à Sharia Islâmica, o que é questionável
em vigor em 2005 e, em julho de 2010, fora em termos do direito internacional.
ratificado por 28 países. Além disso, foi elaborada uma Carta Árabe
A Comissão também envia missões de in- dos Direitos Humanos por peritos de direi-
vestigação e de divulgação, organiza ses- tos humanos árabes e adotada pelo Conse-
sões extraordinárias em casos específicos, lho da Liga dos Estados Árabes, em 1994,
como depois da execução de nove mem- mas que nunca entrou em vigor devido à fal-
bros do Movimento para a Sobrevivência
do Povo Ogoni, em 1995, e o seu julgamen-
to injusto na Nigéria. Uma parte importan- 3
Em junho de 2011, a OCI passou a designar-se Or-
te da força da Comissão vem das ONG de ganização da Cooperação Islâmica.
I. JURISDIÇÃO UNIVERSAL E O PROBLEMA DA IMPUNIDADE 73
I. JURISDIÇÃO UNIVERSAL
E O PROBLEMA DA IMPUNIDADE
A luta contra a impunidade e pela pres- convencer governantes antidemocráticos,
tação de contas tornou-se uma preocupa- normalmente generais, a transmitirem o
ção geral e global. Uma das considerações poder a governos eleitos democraticamen-
principais é a prevenção de mais crimes, te. Não deve ser confundida com as “am-
que normalmente constituem violações nistias” dadas relativamente a ofensas me-
sérias de direitos humanos e de direito hu- nores depois de guerras ou mudanças de
manitário. regime. A impunidade viola o princípio da
A garantia de impunidade a grandes prestação de contas, que cada vez mais é
violadores de direitos humanos tem sido realizado aos níveis nacional e internacio-
prática comum por todo o mundo, para nal, por exemplo, com o estabelecimento
74 I. INTRODUÇÃO AO SISTEMA DE DIREITOS HUMANOS
K. INICIATIVAS DE DIREITOS
HUMANOS NAS CIDADES
L. DESAFIOS E OPORTUNIDADES
GLOBAIS PARA
OS DIREITOS HUMANOS
Depois de várias décadas bem sucedidas das Nações Unidas sobre os Direitos das
de estabelecimento de padrões, o desafio Pessoas com Deficiência e o seu Protoco-
maior para os direitos humanos tornou- lo Opcional. A evolução também pode ser
se a implementação dos compromissos vista no trabalho em curso no âmbito de
assumidos. Estão a ser desenvolvidos áreas temáticas, tais como a diversidade
diversos métodos novos para reforçar a cultural, as questões de direitos humanos
implementação dos direitos humanos, relacionadas com a biotecnologia e enge-
tanto ao nível local e nacional, como nharia genética ou o comércio de órgãos
internacional. Entre estes, uma atitu- humanos. Tem de se prestar mais atenção
de mais dinâmica das Nações Unidas, aos direitos humanos dos migrantes (irre-
nomeadamente, a inclusão dos direitos gulares). Do mesmo modo, as implicações
humanos em todas as suas atividades e que a degradação ambiental, por exemplo,
uma presença mais sólida no terreno por a alteração climática tem sobre os direitos
parte do Alto Comissariado para os Direi- humanos, bem como as tecnologias de
tos Humanos, com funcionários de direi- informação, de comunicação e a internet
tos humanos em missões internacionais colocam novos desafios.
(de paz), institucionalizando, assim, as Ao mesmo tempo, os direitos humanos
preocupações dos direitos humanos, o existentes podem tornar-se mais visíveis,
que se espera venha a ter um importante dando ênfase a direitos essenciais, como
efeito preventivo e promocional. A longo demonstrado nos 6 mais importantes tra-
prazo, também poderão ter êxito propos- tados de direitos humanos das Nações
tas para um Tribunal Internacional de Unidas, ou nas 8 convenções principais
Direitos Humanos. do trabalho da OIT. Novos desafios vêm
O respeito pelos direitos humanos é tam- de alguns países do Sul que questionam
bém reforçado aos níveis local e nacional, o próprio conceito de universalidade dos
através da capacitação em matéria de di- direitos humanos e da democracia. Novos
reitos humanos de instituições locais, por desafios podem também ser vistos na ne-
exemplo, cidades de direitos humanos e cessidade de se dar maior atenção às liga-
a criação de instituições nacionais para ções entre os direitos humanos e o direito
a promoção e monitorização de direitos humanitário, como os “padrões funda-
humanos, nas quais as organizações não mentais da humanidade”. O mesmo vale
governamentais, enquanto representan- para a relação entre os direitos humanos
tes da sociedade civil, desempenham um e o direito dos refugiados, que existe tan-
importante papel. Há, ainda, necessidade to ao nível da prevenção dos problemas de
de estabelecimento de parâmetros em vá- refugiados, como ao nível do regresso dos
rias áreas preocupantes, como aconteceu, refugiados. Em ambos os casos, a situação
em 2006, com a adoção da Convenção de direitos humanos no país de origem é
L. DESAFIOS E OPORTUNIDADES GLOBAIS PARA OS DIREITOS HUMANOS 79
decisiva. Esta questão levanta uma outra 2011, um Grupo de Trabalho de 5 peritos
mais ampla relativa aos direitos humanos tem trabalhado sobre a implementação
e prevenção de conflitos, assim como a destes resultados.
questão da reabilitação e reconstrução Sob proposta do Secretário-Geral da ONU,
pós-conflito, que deve ser feita com base Kofi Annan, lançou-se o Global Compact,
nos direitos humanos e no primado do Di- em julho de 2000, como uma abordagem
reito. nova e inovadora no processo de globali-
zação. As empresas participantes aceitam
Direitos Humanos em Conflito dez princípios básicos na área dos direitos
Armado, Direito ao Asilo, Prima- humanos, padrões de trabalho, ambiente
do do Direito e Julgamento Justo, e anticorrupção, e participam num diálogo
Direito à Democracia orientado para os resultados sobre proble-
mas globais, por exemplo, o papel dos ne-
Em resultado da globalização, a res- gócios em zonas de conflito.
ponsabilização por violações de direi-
tos humanos e o respeito pelos direitos Direito ao Trabalho
humanos tornaram-se uma preocupação
global, que é exigida não só de indivídu- Um dos principais desafios é manter os
os, como também de atores não estatais, padrões de direitos humanos enquanto se
como empresas transnacionais (ET) e or- combatem novas ameaças terroristas. Nin-
ganizações intergovernamentais, como o guém pode ser deixado à margem da lei,
Banco Mundial, o FMI ou a OMC. Neste nem ser despojado dos seus direitos hu-
sentido, a questão da compensação de- manos inalienáveis sendo que, ao mesmo
pois de violações graves e sistemáticas tempo, a proteção dos direitos das vítimas
de direitos humanos tornou-se atual. As- de atos criminosos ou terroristas tem de
sim, em 2003, a Subcomissão da ONU ser aperfeiçoada. O Conselho da Europa
para a Proteção e Promoção dos Direitos adotou as “Orientações sobre Direitos Hu-
Humanos preparou as “Normas sobre a manos e o Combate ao Terrorismo”, assim
Responsabilidade de Empresas Transna- como linhas orientadoras sobre a “Prote-
cionais e Outras Empresas respeitantes a ção de Vítimas de Atos Terroristas” para
Direitos Humanos” que, porém, não fo- fazer face a estes novos desafios. O Se-
ram adotadas pela Comissão de Direitos cretário-Geral da ONU e o Alto Comissa-
Humanos. riado da ONU para os Direitos Humanos
Em 2005, o Secretário-Geral da ONU no- deixaram claro que a proteção dos direitos
meou John Ruggie como seu Represen- humanos deve fazer parte da luta contra
tante Especial para a questão dos direitos o terrorismo. O Tribunal de Justiça da UE,
humanos e as empresas transnacionais nos casos de Kadi (2008 e 2010), consi-
e outras empresas, para considerar a re- derou que as medidas antiterroristas do
lação entre os negócios e os direitos hu- Conselho de Segurança da ONU também
manos. Em 2011, Ruggie terminou o seu têm de respeitar as garantias dos direitos
relatório final, que contém um “Quadro humanos, tais como o direito a um julga-
para Proteger, Respeitar e Solucionar” e mento justo, incluindo o direito de acesso
um conjunto de “Princípios Orientadores às provas e um mecanismo de proteção.
para negócios e direitos humanos”. Desde O primeiro acórdão conduziu à introdução
80 I. INTRODUÇÃO AO SISTEMA DE DIREITOS HUMANOS
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UNIVERSALIDADE
IGUALDADE
INDIVISIBILIDADE E INTERDEPENDÊNCIA
HISTÓRIAS ILUSTRATIVAS
A SABER
1. UM MUNDO SEM TORTURA As formas mais graves de maus tratos estão
frequentemente associadas e são atribuídas
No início do século XXI, um mundo sem a sociedades e Estados onde as violações
tortura, tratamento desumano ou degra- de direitos humanos ocorrem diariamente.
dante é ainda uma ambição por concreti- Contrariamente à ideia geral de que a tortu-
zar. As organizações de direitos humanos ra é um fenómeno exclusivo das sociedades
e os meios de informação divulgam cada pobres e “subdesenvolvidas”, a Amnistia
vez mais casos de tortura e maus tratos Internacional - E.U.A relata que casos de
e tentam sensibilizar a sociedade para os tortura ou de maus tratos foram registados
padrões que foram comummente aceites e em mais de 150 países, incluindo em países
para os diferentes níveis de aplicação des- altamente industrializados e desenvolvidos.
ses padrões, pelos Estados. Na realidade, casos individuais de tortura e
90 II. MÓDULOS SOBRE QUESTÕES SELECIONADAS DE DIREITOS HUMANOS
outras penas ou tratamentos cruéis, de- cos internacionais, não têm sido garantia
sumanos ou degradantes é central na teórica suficiente contra a ocorrência da
busca pela segurança humana. Indiscu- tortura. Continua a existir uma flexibili-
tivelmente, a sensibilização relativa aos dade na definição, deixando uma margem
direitos humanos, através da educação de interpretação às autoridades estatais,
para os direitos humanos, em conjunto o que garante, em princípio, a sua acei-
com o aperfeiçoamento da base legal tação das normas internacionais, mas
para a proteção contra a tortura e os maus que, na prática, permite um desvio destas
tratos, e a sua prevenção, são as pedras obrigações.
angulares para a melhoria do bem-estar Uma definição jurídica de tortura foi in-
e da segurança humanos. Adicionalmen- cluída e aceite por todos os Estados signa-
te, uma melhor implementação de todos tários da Convenção das Nações Unidas
os padrões de direitos humanos constitui contra a Tortura e Outras Penas ou Trata-
um importante elemento da estratégia mentos Cruéis, Desumanos ou Degradan-
global de aperfeiçoamento da segurança tes (CCT), adotada pela Assembleia-Geral,
humana. O Estatuto do Tribunal Penal na Res. 39/46, de 10 de dezembro de 1984
Internacional, cujo estabelecimento tem e que entrou em vigor a 26 de junho de
sido fervorosamente promovido pela 1987. De acordo com a Convenção, a pala-
Rede de Segurança Humana, reconhece, vra “tortura” encontra-se definida no Artº
explicitamente, a tortura como um crime 1º como:
contra a humanidade e como crime de
guerra e, nesse sentido, dá especial ên- “[...]qualquer ato por meio do qual
fase à preservação da vida humana e da uma dor ou sofrimentos agudos, físi-
segurança humana. cos ou mentais, são intencionalmente
causados a uma pessoa com os fins
Introdução de, nomeadamente, obter dela ou de
uma terceira pessoa informações ou
confissões, a punir por um ato que ela
2. DEFINIÇÃO E DESENVOLVIMENTO ou uma terceira pessoa cometeu ou se
DA QUESTÃO suspeita que tenha cometido, intimi-
dar ou pressionar essa ou uma terceira
O que é a tortura? pessoa, ou por qualquer outro motivo
Tem havido um longo debate sobre como baseado numa forma de discrimina-
definir tortura e maus tratos de forma ção, desde que essa dor ou esses sofri-
amplamente consensual, apesar de a sua mentos sejam infligidos por um agen-
condenação e proibição serem geralmen- te público ou qualquer outra pessoa
te aceites como normas perentórias de di- agindo a título oficial, a sua instigação
reito internacional consuetudinário. Além ou com o seu consentimento expresso
disso, qualquer definição jurídica parece ou tácito. Este termo não compreen-
ter pouco efeito na aplicação da proibi- de a dor ou os sofrimentos resultan-
ção da tortura no terreno. As disposições tes unicamente de sanções legítimas,
acordadas, a nível internacional, sobre a inerentes a essas sanções ou por elas
proibição absoluta da tortura, que se en- ocasionados.”
contram previstas em vários textos jurídi-
92 II. MÓDULOS SOBRE QUESTÕES SELECIONADAS DE DIREITOS HUMANOS
e inferioridade com o fim último de des- tos degradantes e correm o risco de serem
truir as capacidades mentais do indivíduo. novamente traumatizados. Os que vivem
Estes atos têm um impacto significativo e em centros médicos e hospitalares espe-
duradouro tanto nas capacidades físicas, cializados, como os idosos e as pessoas
como nas mentais da pessoa torturada. A com deficiência mental, são muitas vezes
reabilitação física frequentemente demo- desconsiderados e até esquecidos pela so-
ra anos e nem sempre se consegue uma ciedade, podendo tornar-se vítimas de prá-
recuperação total. Além disso, as cicatri- ticas semelhantes à tortura ou maus tratos.
zes psicológicas marcam as vítimas para Tais situações resultam, muitas vezes, da
o resto das suas vidas e frequentemente falta de funcionários e financiamento o
impedem-nas de ter uma existência grati- que conduz à incapacidade de assegurar
ficante. uma qualidade de vida decente, tratamen-
to médico adequado e um envelhecimento
Vítimas e Perpetradores de Tortura e Tra- com dignidade.
tamentos Desumanos ou Degradantes Contudo, não são apenas as vítimas que
Qualquer pessoa pode ser vítima de tor- terão de lidar com os efeitos da tortura e
tura e de maus tratos. Crianças, homens dos maus tratos. Aqueles que praticam tais
e mulheres, jovens e idosos podem ser atos, em regra, não participam de forma
vítimas de tortura. Tal acontece especial- voluntária e podem ser seriamente afeta-
mente em sociedades onde não há tradi- dos pelo seu envolvimento nessas situa-
ção do primado do Direito ou onde as leis ções.
e as respetivas obrigações são raramente
respeitadas. Os maus tratos acontecem, de “Eles pedem sempre que os matem. A tortu-
forma mais frequente, em prisões, em es- ra é pior do que a morte.”
quadras da polícia ou noutros centros de Jose Barrera, torturador das Honduras
detenção, mas a sua ocorrência em casas
particulares ou em centros médicos espe- Existem muitos casos de agentes da polícia
cializados para pessoas com deficiência ou ou de militares que, de forma oficial, atu-
doentes mentais, não são raras exceções. am no cumprimento de ordens ou como
As pessoas em prisão preventiva e conde- membros de grupos especializados nos
nadas pela prática de um crime constituem quais a tortura e os maus tratos são uma
grupos especialmente vulneráveis a maus prática diária. Também o pessoal médico e
tratos porque estão dependentes das auto- de segurança em instituições para pessoas
ridades no que respeita às suas necessida- com necessidades especiais pode tornar-se
des básicas. Estes locais de detenção são, perpetrador de maus tratos devido a negli-
por definição, fechados. Assim, os detidos gência, falta de controlo e supervisão ou
estão longe da vista do resto da socieda- falta de recursos ou formação.
de e são frequentemente considerados um
grupo relativamente ao qual o público ge- 3. PERSPETIVAS
ral sente pouca empatia ou simpatia. Ou- INTERCULTURAIS
tros grupos vulneráveis, tais como as mi- E QUESTÕES CONTROVERSAS
norias sociais, religiosas ou étnicas, assim
como os refugiados e requerentes de asilo As práticas culturais e perceções distintas
são frequentemente sujeitos a tratamen- afetam indubitavelmente o entendimento
A. PROIBIÇÃO DA TORTURA 95
este problema está o direito de todas as No plano internacional, o Comité das Na-
pessoas ao princípio da presunção de ino- ções Unidas contra a Tortura e o Relator
cência até prova em contrário, de acordo Especial das Nações Unidas sobre a Tortu-
com a lei. ra, juntamente com um grande número de
Estes exemplos demonstram que apesar ONG, monitorizam a implementação dos
de a proibição da tortura ser quase univer- compromissos dos Estados sobre a proibi-
salmente aceite, a sua interpretação e im- ção da tortura e práticas semelhantes.
plementação podem diferir entre Estados. O Comité das Nações Unidas contra a Tor-
É, todavia, uma pergunta em aberto se tura, o órgão das Nações Unidas de mo-
tais diferenças reforçam a proibição uni- nitorização estabelecido de acordo com o
versal e absoluta da tortura num contexto artº 17º da Convenção da ONU contra a
culturalmente sensível ou se abertamente Tortura, começou os trabalhos no dia 1 de
contradizem os fins e o espírito tanto do janeiro de 1988. O Comité analisa os relató-
direito internacional codificado, como cos- rios dos Estados Partes da Convenção que
tumeiro. No respeitante à proibição da tor- devem ser submetidos cada quatro anos. O
tura, os juristas internacionalistas defen- Comité pode fazer inquéritos e pedir clari-
dem consistentemente a posição de que ficações aos Estados relativamente aos seus
a dualidade de parâmetros é inaceitável e relatórios, assim como pode solicitar infor-
de que as normas jurídicas internacionais mação adicional relativa à matéria de direi-
não deveriam ser aplicadas seletivamente to e de facto contida nos relatórios. Além
e deveriam ser respeitadas estritamente. disso, os Estados podem igualmente fazer
Só deste modo o espírito e a função do di- uma declaração reconhecendo a competên-
reito internacional, como guardião da paz cia do Comité para receber e analisar quei-
mundial, dos direitos humanos e da segu- xas individuais ou interestatais e enviar
rança humana, e o entendimento entre os ao queixoso e ao Estado em questão, as
Estados podem ser preservados. suas considerações finais e recomendações
para ação. Um relatório completo das ativi-
4. IMPLEMENTAÇÃO dades do Comité é publicado anualmente.
E MONITORIZAÇÃO
Protocolo Facultativo
Desde 1948, as disposições do direito in- à Convenção das Nações Unidas
ternacional sobre a proibição da tortura e contra a Tortura
outras formas de tratamentos cruéis, desu- A 57ª sessão da Assembleia-Geral das Na-
manos e degradantes têm sido substancial- ções Unidas adotou, em 2002, em Nova
mente desenvolvidas e melhoradas. Um Iorque, o Protocolo Facultativo à Conven-
número cada vez maior de Estados tem ção das Nações Unidas contra a Tortura e
assinado e ratificado esses compromissos outras Penas ou Tratamentos Cruéis, De-
internacionais, transpondo-os para a legis- sumanos ou Degradantes que entrou em
lação e práticas nacionais. Fortes sistemas vigor em 2006. O Protocolo, ratificado por
regionais de prevenção e proteção contra 61 Estados Partes até janeiro de 2012, foi
a tortura têm-se desenvolvido (na Europa, concebido para prevenir a tortura e outras
por exemplo) e também têm emergido me- formas de maus tratos, através do estabe-
canismos nacionais de inspeção indepen- lecimento de um sistema de visitas regu-
dentes (visitas). lares de inspeção a sítios de detenção por
A. PROIBIÇÃO DA TORTURA 97
CONVÉM SABER
gar no mundo sobre alguém que foi preso,
1. BOAS PRÁTICAS torturado ou executado porque as suas opi-
niões ou religião não são aceites pelo seu
Atualmente, há muitas atividades por todo governo. O leitor sente-se, furiosamente,
o mundo que visam mobilizar os governos impotente. Todavia, se estes sentimentos
e a sociedade contra práticas de tortura. de indignação se unissem para uma ação
Tais iniciativas operam em conjunto com comum, algo de efetivo podia ser feito.”
programas educativos cujos objetivos são Peter Benenson, Fundador da Amnistia Internacional.
a prevenção da tortura e dos maus tratos,
a assistência jurídica, bem como a reabi- Boas práticas para a prevenção de tortu-
litação física e psicológica das vítimas de ra e maus tratos podem ser:
tortura. Muitas das práticas são locais e • locais, que visam a ação – campanhas,
visam a ação; outras operam do topo para pressão, atividades de sensibilização,
a base, visando a capacitação local e o atividades educativas ao nível local;
conhecimento comunitário como meio de • reforço institucional e capacitação para
prevenção e proteção. influenciar estruturas e instituições já
Além disso, a capacitação institucional, a existentes, modificá-las ou criar novas
ratificação pelo Estado de tratados inter- instituições com capacidade local para
nacionais, as consequentes alterações à lidar com os problemas.
legislação e a respetiva implementação,
assim como a formação e programas de Atividades a Nível Nacional
educação promovem ainda mais as boas
práticas referentes à prevenção da tortura O Conselho Consultivo Austríaco para os
e dos maus tratos. Cada nível proporciona Direitos Humanos
mecanismos únicos para a promoção de Estabelecido em 1999, por sugestão do Co-
boas práticas, atuando também a uma es- mité Europeu para a Prevenção da Tortu-
cala maior e mais generalizada, no sentido ra e Penas ou Tratamentos Desumanos ou
da criação e estabelecimento de padrões Degradantes para aconselhar o Ministro
estatais e internacionais de ratificação e do Interior, o Conselho Consultivo Austrí-
implementação. aco para os Direitos Humanos produz re-
latórios e recomendações sobre problemas
“Abra o jornal em qualquer dia da semana estruturais de Direitos Humanos em todas
e encontrará uma reportagem de algum lu- as áreas de atividade da polícia austríaca.
A. PROIBIÇÃO DA TORTURA 99
tes, de forma célere, a uma autoridade tortura nunca possam ser invocadas em
judicial após serem detidos e que os seus procedimentos legais.
familiares, advogados e médicos lhes te- 7. Proibição legal da tortura
nham acesso imediato e regular.
Os governos devem assegurar que os
3. Não à detenção secreta atos de tortura sejam crimes puníveis
Em alguns países, a tortura acontece em pelo direito penal. De acordo com o di-
centros secretos e depois, muitas vezes, as reito internacional, a proibição da tortu-
vítimas são dadas como “desaparecidas”. ra não pode ser suspensa em qualquer
Os governos devem assegurar que as pesso- circunstância, incluindo estados de guer-
as privadas de liberdade são colocadas em ra ou outras situações de emergências
locais publicamente conhecidos e que in- públicas.
formação correta sobre o seu paradeiro seja 8. Acusação de alegados torturadores
disponibilizada a familiares e advogados.
Os responsáveis por atos de tortura de-
4. Garantias durante o interrogatório e vem responder perante a justiça. O prin-
o período de detenção cípio deve ser aplicado onde quer que es-
Os governos devem assegurar que os proce- tes se encontrem, onde quer que o crime
dimentos no âmbito da detenção e dos in- tenha sido cometido e qualquer que seja
terrogatórios sejam regularmente revistos. a nacionalidade dos perpetradores ou das
Todas as pessoas privadas de liberdade de- vítimas. Não pode existir qualquer “porto
vem, de imediato, tomar conhecimento dos seguro” para os que torturam.
seus direitos, incluindo o direito a apresen- 9. Procedimentos de formação
tar queixa contra a forma como é tratada.
Devem ser realizadas visitas de inspeção, Deve ser tornado claro, durante a for-
regulares e independentes, aos locais de mação de todos os profissionais envol-
detenção. Uma garantia importante contra vidos com a detenção, o interrogatório
a tortura seria a separação das autoridades ou o tratamento de detidos, que a tortu-
responsáveis pela detenção daquelas que ra constitui um crime. Estes devem ser
são competentes para o interrogatório. instruídos no sentido de que estão obri-
gados a desobedecer qualquer ordem de
5. Investigação independente de relatos
tortura.
sobre tortura
10. Indemnização e reabilitação
Os governos devem assegurar que todas as
queixas e os relatos relacionados com tor- As vítimas de tortura e os seus dependen-
tura sejam investigados de forma impar- tes devem ter direito a obter uma com-
cial e efetiva. Os métodos e as conclusões pensação financeira. Às vítimas devem
destas investigações devem ser tornados também ser assegurados cuidados médi-
públicos. Queixosos e testemunhas devem cos apropriados e a sua reabilitação.
ser protegidos contra a intimidação.
11. Resposta internacional
6. Não à utilização de declarações obti- Os governos devem utilizar todos os
das sob tortura meios disponíveis para interceder jun-
Os governos devem assegurar que as to dos governos acusados da prática de
confissões e outras provas obtidas sob tortura. Mecanismos intergovernamen-
A. PROIBIÇÃO DA TORTURA 103
1969 Convenção Americana sobre Direi- 1987 Convenção Europeia para a Preven-
tos Humanos, Artº 5º ção da Tortura e das Penas ou Trata-
1979 Código de Conduta das Nações mentos Desumanos ou Degradantes
Unidas para os Funcionários Res- estabelecendo o Comité Europeu
ponsáveis pela Aplicação da Lei para a Prevenção da Tortura (CPT)
1981 Carta Africana dos Direitos Humanos 1990 Regras das Nações Unidas para a
e dos Povos (Carta de Banjul), Art.º 5º Proteção dos Jovens Privados da
sua Liberdade
1982 Princípios de Deontologia Médica
aplicáveis à atuação do pessoal dos 1992 Convenção Interamericana para a
serviços de saúde, especialmente aos Prevenção e Punição da Tortura
médicos, para a proteção de pessoas 1994 Convenção Interamericana sobre o
presas ou detidas contra a tortura e Desaparecimento Forçado de Pessoas
outras penas ou tratamentos cruéis, 1998 Estatuto do Tribunal Penal Interna-
desumanos ou degradantes cional
1984 Convenção das Nações Unidas 2002 Protocolo Facultativo à Convenção
contra a Tortura e Outras Penas ou das Nações Unidas contra a Tortu-
Tratamentos Cruéis, Desumanos ra e Outras Penas ou Tratamentos
ou Degradantes (CCT) Cruéis, Desumanos ou Degradan-
1985 Relator Especial das Nações Unidas tes estabelecendo o Subcomité
para Tortura e outras Penas ou Tra- para a Prevenção da Tortura (SPT)
tamentos Cruéis, Desumanos ou 2006 Convenção Internacional para a
Degradantes Proteção de Todas as Pessoas con-
1985 Convenção Interamericana para tra os Desaparecimentos Forçados
Prevenir e Punir a Tortura (CPDF)
ATIVIDADES SELECIONADAS
ATIVIDADE I: mentos a favor e contra as questões le-
TORTURAR TERRORISTAS? vantadas, para analisá-las de acordo com
o quadro dos princípios de direitos huma-
Parte I: Introdução nos e debater outros assuntos relaciona-
O terrorismo e a tortura de (suspeitos) dos com estes.
terroristas e perpetradores de crimes ge-
rou um aceso debate particularmente de- Parte II: Informação Geral sobre a Ati-
pois do 11 de setembro de 2001. Muitas vidade
pessoas têm exprimido as suas opiniões Tipo de atividade: debate
e as suas preocupações, ainda que de for- Pergunta para debate:
mas diversas. É aceitável torturar (suspeitos) perpetra-
Através do debate proposto, poderia ser dores de crimes ou terroristas para salvar
feita uma tentativa para identificar argu- a vida de outras pessoas?
106 II. MÓDULOS SOBRE QUESTÕES SELECIONADAS DE DIREITOS HUMANOS
Parte III: Informação Específica sobre a também que falem dos pensamentos e
Atividade emoções que tiveram ao preparar os car-
Introdução do tema: tazes.
Como forma de aquecimento, pedir aos Reações:
participantes que partilhem os seus pensa- Pedir a cada um dos participantes para
mentos, ideias e opiniões sobre a tortura, caracterizar a sua experiência com este
numa sessão de chuva de ideias. Registar exercício numa palavra ou numa frase.
as respostas mais interessantes num qua- Numa segunda volta, pode perguntar de
dro ou em papel. que gostaram mais e se pensam que houve
Processo da atividade: alguma coisa no exercício que fosse per-
Dividir o grupo em grupos menores (4 a 5 turbadora.
membros no máximo) e espalhar o mate- Sugestões metodológicas:
rial recolhido numa mesa grande ou no Dependendo do grupo com o qual está a
chão. Dar tempo suficiente para se exami- trabalhar, deve ser muito cuidadoso/a so-
narem os desenhos e as fotografias e se bre a exibição de pormenores de fotogra-
lerem os textos. fias ou relatórios sobre tortura!
Dar uma folha de papel suficientemente
grande a cada grupo para que possam fa- Parte IV: Acompanhamento
zer cartazes contra a tortura e outros trata- Convidar ativistas da AI ou outros ativis-
mentos cruéis, desumanos e degradantes, tas locais com experiência a partilharem
escolhendo para esse efeito por entre o as suas experiências e eventualmente a co-
material apresentado ou criando desenhos meçarem um novo grupo/uma nova cam-
ou textos. panha.
Utilizar os últimos 45 minutos para a apre- Direitos relacionados/outras áreas a ex-
sentação dos cartazes ao grupo reunido plorar:
em plenário. Pedir aos participantes não Direito à vida, pena de morte e segurança
apenas que expliquem o seu trabalho, mas humana.
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110 II. MÓDULOS SOBRE QUESTÕES SELECIONADAS DE DIREITOS HUMANOS
“Toda a pessoa […] tem direito à segurança social […] e pode legitimamente exigir a sa-
tisfação dos direitos económicos, sociais e culturais indispensáveis […] à sua dignidade e
ao livre desenvolvimento da sua personalidade”
Toda a pessoa tem direito ao trabalho […]
Toda a pessoa tem direito a um nível de vida suficiente para lhe assegurar e à sua família
a saúde e o bem-estar, principalmente, quanto à alimentação, ao vestuário, ao alojamen-
to, à assistência médica e ainda quanto aos serviços sociais necessários […]
[…] Toda a pessoa tem direito à educação. […]”
Artigos 22º, 23º, 25º, 26º da Declaração Universal dos Direitos Humanos. 1948.
112 II. MÓDULOS SOBRE QUESTÕES SELECIONADAS DE DIREITOS HUMANOS
HISTÓRIA ILUSTRATIVA
ficaram sem trabalho e, portanto, sem Articule-as como “Violações dos direitos
nada para comer. humanos de/a …”.
“Os políticos não estão interessados em 2. O que desperta em si esta experiência e
nós”, disse uma mulher, Nabbo, de 50 o que pensa que deve ser feito?
anos, enquanto preparava a sua refeição 3. Compare/contraste a situação de pobre-
da noite de chapattis feita de sama – se- za em Baran com o que os pobres no
mentes de erva selvagem. seu país/contexto experienciam. Quais
(Fonte: Luke Harding. 2002. Dying of hun- são as imagens da pobreza de acordo
ger in a land of surplus. Caste and cor- com a sua experiência?
ruption connive to keep food from India´s 4. Vê alguma relação entre o aumento da
poor.) pobreza e a segurança humana? Acha
que tratar as pessoas da forma descrita
Questões para debate na história ilustrativa pode ter efeitos
1. Quais são as privações e vulnerabili- na segurança humana? Se sim, que tipo
dades sentidas pelos pobres em Baran? de efeitos?
A SABER
nomeou dois Peritos Independentes – um dial para 2003, por si só, cobriria o custo
tem o mandato de relatar, a um grupo de de construção de todas as escolas de que
trabalho especial, sobre a implementa- a África precisa para os jovens desde os
ção do direito ao desenvolvimento (Res. 0 até aos 18 anos e para pagar os seus
1998/72), enquanto o outro tem a respon- professores durante 15 anos”. No seu Re-
sabilidade de investigar e fazer recomen- latório de 2010, a Perita Independente
dações relativas ao efeito que a pobreza Magdalena Sepúlveda Carmona apresen-
extrema tem nos direitos humanos (Res. tou as suas recomendações sobre como
1998/25). O Perito Independente sobre melhorar o esboço de diretrizes sobre
Direitos Humanos e Pobreza Extrema extrema pobreza e direitos humanos, ori-
avalia as medidas tomadas ao nível na- ginariamente redigidos pela Subcomissão
cional e internacional para promover o para a Promoção e Proteção dos Direitos
pleno gozo dos direitos humanos pelas Humanos, em 2006.
pessoas que vivem em pobreza extrema,
examina os obstáculos encontrados e o Desenvolvimento e Erradicação da Po-
progresso feito pelas mulheres e homens breza
que vivem em pobreza extrema e apre- Objetivo: Reduzir para metade, até ao
senta também recomendações e propos- ano de 2015, a proporção da população
tas no âmbito da assistência técnica e mundial cujo rendimento é menor do
outras áreas para a redução e eventual que um dólar por dia e a proporção das
eliminação da pobreza. pessoas que passam fome.
No seu Relatório, de 2001, para a Comis-
são de Direitos Humanos, a Perita Inde- Estratégias de futuro:
pendente apresentou conclusões impor- Pobreza de rendimento
tantes sobre como a situação dos pobres - Assegurar o apoio a iniciativas econó-
pode ser alterada. Para cumprir estes re- micas e sociais promovidas pelos pa-
quisitos, a educação em direitos humanos íses que dão primazia à redução da
é necessária para empoderar os pobres pobreza;
e ajudá-los a modificar o seu destino.
- Reforçar a capacidade de prestar servi-
O processo de educação para os direitos
ços sociais básicos;
humanos promove e desenvolve a análise
crítica de todas as circunstâncias e reali- - Apoiar a capacitação para a avaliação,
dades com que os pobres são confronta- monitorização e o planeamento relati-
dos. Este processo fornece conhecimento, vamente à pobreza.
competências e capacidades adequados Fome
para lidar com as forças que os mantêm - Fazer um balanço das ações realizadas
pobres. Possibilita a estruturação de or- desde a Cimeira Mundial sobre a Ali-
ganizações e a criação de redes de auto- mentação de 1996 e propor novos pla-
ajuda de modo a que possam reclamar e nos, a nível nacional e internacional,
lutar pela realização progressiva de todos para alcançar os objetivos relacionados
os direitos humanos e erradiquem com- com a fome;
pletamente a pobreza. No seu Relatório
de 2004, a Perita Independente assinalou - Assegurar que o comércio de alimen-
que “o total do orçamento militar mun- tos e de produtos agrícolas, bem como
B. DIREITO A NÃO VIVER NA POBREZA 123
CONVÉM SABER
97% dos quais eram mulheres. Com 2.562 às suas famílias. A organização trabalha
agências, fornece serviços em mais de 83.000 para despertar as pessoas para a possi-
aldeias. O Banco Grameen procura mobilizar bilidade e para a sua própria capacidade
os pobres e fazê-los avançar principalmen- de conseguir mudanças sociais através da
te através da acumulação de capital local e pesquisa, análise, educação e promoção,
criação de ativos. Os seus fins são alargar as de modo a acabar com mitos e a expor as
facilidades bancárias aos homens e mulheres causas, identificar obstáculos à mudança e
pobres no Bangladesh rural, eliminar a explo- formas de removê-los, avaliar e publicitar
ração dos “emprestadores de dinheiro”, lan- alternativas bem-sucedidas e promissoras.
çar oportunidades de criação de próprio em-
prego para recursos humanos não utilizados Justiça Económica
e subutilizados, organizar as pessoas desfa- A Freedom from Debt Coalition (FDC),
vorecidas de modo a que elas compreendam sediada nas Filipinas, trabalha para o de-
e garantam um desenvolvimento sócioeconó- senvolvimento humano e concentra-se na
mico independente, através de apoio mútuo. equidade (incluindo igualdade de género),
Por se centrar naqueles que são conside- direitos económicos e justiça, crescimento
rados como os maiores riscos do crédito, equitativo e sustentável, em exercer pres-
o banco estabeleceu o facto de que os po- são sobre os governos para que cumpram o
bres são dignos de crédito. O banco abor- seu papel e lutar por relações económicas
da o duplo fardo do género e da pobreza globais benéficas entre as nações. A FDC
com os quais são confrontadas as mulheres apoia a campanha global para cancelar as
pobres. O Banco Grameen tem sido capaz dívidas dos países mais pobres do mundo.
de iniciar mudanças significativas nos pa- A Coligação tem considerado várias outras
drões da propriedade dos meios de produ- questões incluindo segurança alimentar,
ção e nas condições de produção em áreas despesa pública e o impacto das políticas
rurais. Estas mudanças são significativas, económicas sobre as mulheres. O seu tra-
não apenas porque foram capazes de co- balho de defesa integra tarefas conside-
locar os pobres acima da linha da pobreza, ráveis na educação popular e informação
mas também porque com apoios adequa- pública, mobilização de massas, investiga-
dos possibilitaram o florescimento da cria- ção e análise de políticas, construção de
tividade nas aldeias. O processo do Banco alianças e de redes ao nível regional.
Grameen tem sido experimentado também
em outros países vizinhos. 90% do Banco Acordo de Cotonu
pertence aos pobres, 10% ao governo. O Acordo de Cotonu é o acordo de parce-
ria mais completo entre os países em de-
Direito a Viver Sem Fome senvolvimento e a União Europeia. Desde
A Food First, sediada na Califórnia, nos 2000 que tem sido o quadro para as rela-
Estados Unidos da América, está empe- ções da UE com 79 países da África, Ca-
nhada em eliminar as injustiças que cau- raíbas e do Pacífico (ACP). O Artº 54º do
sam a fome. Esta organização acredita que Acordo aborda exclusivamente a questão
todas as pessoas têm o direito básico de se da segurança alimentar e, assim, reconhe-
alimentarem e que devem ter um controlo ce o papel importante que ela tem na ga-
democrático real sobre os recursos neces- rantia da segurança humana e bem-estar
sários para se sustentarem a si mesmos e humano. O Acordo também demonstra a
126 II. MÓDULOS SOBRE QUESTÕES SELECIONADAS DE DIREITOS HUMANOS
término da ajuda imediata, antes do início Ainda pior, outros 65 países não irão alcan-
das soluções a longo prazo. O objetivo é çar nem um Objetivo de Desenvolvimento
ajudar as pessoas que sofrem de fome, cer- do Milénio antes de 2040. Isto afeta, pri-
ca de 925 milhões, em 2010. meiramente, mas não exclusivamente, os
seus 1.2 biliões de habitantes.
2. TENDÊNCIAS (Fonte: PNUD. 2005. Relatório do Desen-
volvimento Humano. 2005.)
Progresso relativamente aos Objetivos
O Índice de Desenvolvimento Humano
de Desenvolvimento do Milénio – Esta-
(IDH) médio do mundo aumentou 18%
rão os países no trilho?
desde 1990, refletindo grandes melhorias
Muitos países fizeram progressos signifi-
agregadas na esperança de vida, escolari-
cativos, mas outros, geralmente os países
zação, alfabetização e rendimento. Quase
mais pobres, parecem ter dificuldades em
todos os países beneficiaram deste pro-
alcançar os objetivos. A análise de quatro
gresso. Com base nos dados de 1970-2010,
dos oito objetivos do milénio – mortalida-
dos 135 países que juntos representam
de infantil, inscrições escolares, paridade
92% da população mundial, apenas três
de género na educação, assim como o
(República Democrática do Congo, Zâm-
acesso a água e saneamento – conduzi-
bia e Zimbabué) têm hoje um IDH infe-
ram às seguintes conclusões do Relatório
rior do que em 1970. De uma forma ge-
de Desenvolvimento da ONU de 2005: 50
ral, os países pobres estão a aproximar-se
países, 24 dos quais estão na África Subsa-
dos países ricos. Esta convergência pinta
ariana, com uma população de, pelo me-
um quadro bastante mais otimista do que
nos, 900 milhões, retrocederam em vez de
uma perspetiva limitada às tendências dos
avançarem em relação a pelo menos um
rendimentos, onde a divergência persiste.
Objetivo de Desenvolvimento do Milénio.
Mas nem todos os países têm conhecido
um progresso rápido; aqueles que experi-
mentam o progresso mais lento são países
na África Subsaariana, atingidos pela epi-
demia de VIH, e os países da antiga União
Soviética, onde a mortalidade adulta au-
mentou.
(Fonte: PNUD. 2010. Relatório do Desen-
volvimento Humano. 2010.)
ATIVIDADES SELECIONADAS
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B. DIREITO A NÃO VIVER NA POBREZA 133
HISTÓRIA ILUSTRATIVA
Recomendação do Comité para a Elimi- do termo ofensivo pelos administradores
nação da Discriminação Racial teria violado a Lei federal contra a Discri-
minação Racial de 1975. Ele pretendia a
Em 1960, a tribuna de um importante centro remoção do termo ofensivo da tribuna e
de desportos em Toowoomba, Queensland, um pedido de desculpas pela administra-
na Austrália, recebeu o nome de “E. S. ‘Ni- ção. O Tribunal Federal rejeitou a ação do
gger’ Brown Stand”, em homenagem a uma requerente. O tribunal considerou que o
conhecida personalidade do desporto, o Sr. requerente não tinha demonstrado que a
E.S. Brown. A palavra racista, ofensiva “pre- decisão era um ato “com uma probabilida-
to” (doravante referida como “o termo ofen- de razoável de, em todas as circunstâncias,
sivo”) aparece numa grande placa na tribu- ofender, insultar, humilhar ou intimidar
na. O Sr. Brown, que faleceu em 1972, era um australiano indígena ou os australia-
de origem anglo-saxónica branca e tinha-lhe nos indígenas, em geral”. Por fim, o Tri-
sido dado o termo ofensivo, como alcunha. bunal considerou que a Lei não protegia
Tal termo era repetido oralmente em anún- a “sensibilidade pessoal dos indivíduos”,
cios públicos relativos às instalações despor- considerando ser esse o caso, mas sim
tivas e em comentários de jogos. que a Lei “considera ilegais os atos contra
Em 1999, o Sr. H., um australiano de ori- os indivíduos apenas quando envolverem
gem aborígene, solicitou à administração o tratamento do indivíduo de forma dife-
do centro de desportos que retirasse o ter- renciada e menos vantajosa em relação às
mo ofensivo, que ele considerava censu- outras pessoas que não pertençam ao gru-
rável e injurioso. Depois de consultar as po racial, nacional ou étnico do queixoso.”.
opiniões de vários membros da comunida- Em 2002, o Supremo Tribunal da Austrália
de que não se opunham ao uso do termo rejeitou o pedido do requerente.
ofensivo na tribuna, a administração infor- Numa queixa individual ao Comité para
mou o requerente de que nenhuma medi- a Eliminação da Discriminação Racial
da iria ser tomada. Numa reunião pública, (CEDR), o queixoso alegou que o termo
presidida por um proeminente membro da era “a palavra mais ofensiva racialmente
comunidade indígena local, e assistida por ou uma das mais ofensivas racialmente,
um grupo transversal da comunidade abo- na língua inglesa”. Por este motivo, ele e
rígene local, o presidente da câmara e o a sua família sentiram-se ofendidos pelo
presidente da administração do cento de seu uso no centro e, como tal, foram inca-
desportos aprovaram uma resolução de- pazes de comparecer aos eventos daque-
clarando que “O nome ‘E.S. Nigger Brown’ le que é o local mais importante para a
permanece na tribuna em homenagem a prática de futebol australiano. Ele defen-
um grande desportista e que, no interes- deu que, qualquer que fosse a posição
se do espírito de reconciliação, não serão tomada em 1960, a exposição atual e o
usados ou exibidos no futuro termos racial- uso do termo ofensivo era “extremamen-
mente derrogatórios ou ofensivos”. te ofensivo, especialmente para as pessoas
O requerente intentou uma ação no tribu- aborígenes e que preenchia a definição de
nal federal, alegando que a não remoção discriminação racial, nos termos do Arti-
C. ANTIRRACISMO E NÃO DISCRIMINAÇÃO 137
go 1º” da Convenção das Nações Unidas da placa em questão e que informe o Co-
para a Eliminação de Todas as Formas de mité quanto às diligências que realizou a
Discriminação Racial. Ele argumentou que este respeito.”
qualquer Estado Parte da Convenção tinha (Fonte: Comité para a Eliminação da Dis-
a obrigação de emendar as leis cujo efei- criminação Racial (CEDR). Comunicação
to era perpetuar a discriminação racial e nº 26/2002, CERD/C/62/D/26/2002 de 14
de se responsabilizar pelo combate contra de abril de 2003.)
os preconceitos conducentes à discrimina-
ção racial. O uso de palavras tais como o Questões para debate
termo ofensivo de uma forma muito pú- 1. Qual é a mensagem da história?
blica, representava a aceitação formal ou 2. Que direitos humanos foram violados?
aprovação e poderia perpetuar o racismo 3. O que fez o Sr. H para defender os seus
e reforçar os preconceitos conducentes à direitos?
discriminação racial. O requerente preten- 4. Por que é que os tribunais nacionais
dia a remoção do termo ofensivo da placa não seguiram as suas considerações?
e um pedido de desculpas, bem como al- 5. Por que é que a comunidade local não
terações à lei australiana que permitissem o apoiou?
um mecanismo de proteção efetivo contra 6. Por que é que o Comité subscreveu as
sinais racialmente ofensivos. alegações do queixoso?
Na sua comunicação nº 26/2002, o Co- 7. Estarão incluídos estereótipos e pre-
mité (CEDR) considerou que “o uso e ma- conceitos em relação a um grupo parti-
nutenção do termo ofensivo pode, no mo- cular de pessoas? Se sim, quais?
mento presente, ser considerado injurioso e 8. Tem conhecimento de incidentes seme-
insultuoso, mesmo que durante muito tem- lhantes no seu país? O que pode fazer
po não tenha sido necessariamente consi- em relação a eles?
derado desta forma.” Também considerou 9. Quais são os argumentos que os racis-
que “a memória de um desportista notá- tas usam para justificarem as suas ati-
vel pode ser honrada de outras formas que tudes e comportamento? Quais são os
não através da manutenção e exposição argumentos adequados para se contra-
de uma placa pública considerada racial- por a atitudes racistas?
mente ofensiva. O Comité recomenda que o 10. Como é que a não discriminação se
Estado Parte tome as medidas necessárias encontra ligada à liberdade de expres-
para garantir a remoção do termo ofensivo são?
A SABER
1. NÃO DISCRIMINAÇÃO - A LUTA IN- de discriminação em toda a sua vida. Verá
TERMINÁVEL E CONTÍNUA PELA que não encontrará uma!
IGUALDADE O princípio, pelo qual todos os seres hu-
manos têm direitos iguais e devem ser
Pense numa única pessoa que conheça que tratados de forma igual, é um dos pilares
nunca tenha sido alvo de qualquer forma da noção de direitos humanos e evoluiu a
138 II. MÓDULOS SOBRE QUESTÕES SELECIONADAS DE DIREITOS HUMANOS
partir da inerente e igual dignidade hu- lação a quaisquer outras pessoas, sendo a
mana de todas as pessoas. Enquanto nor- discriminação a expressão de tal imagina-
mativo comum de realização para todas as da superioridade.
pessoas e todas as nações, a Declaração Este módulo concentra-se em algumas das
Universal dos Direitos Humanos estabe- mais graves e devastadoras formas de dis-
lece os princípios básicos da igualdade e criminação, nomeadamente, o racismo, a
da não discriminação em relação ao gozo discriminação racial e as atitudes rela-
dos direitos humanos e das liberdades cionadas de xenofobia e de intolerância.
fundamentais, “sem distinção alguma, Na História da Humanidade, os seres hu-
nomeadamente de raça, de cor, de sexo, manos têm sido, uma e outra vez, classi-
de língua, de religião, de opinião política ficados segundo a artificialmente criada
ou outra, de origem nacional ou social, de categoria de “raça”, bem como segundo
fortuna, de nascimento ou de qualquer ou- o pressuposto errado da existência de
tra situação”. Porém, este direito natural à “raças superiores” e “raças inferiores”.
igualdade nunca foi, nem no passado nem Por exemplo, as teorias da evolução e da
no presente, plenamente reconhecido a to- sobrevivência dos mais aptos, de Charles
dos os seres humanos. Darwin, têm sido erradamente utilizadas
A discriminação, por uma ou outra forma, para justificar “cientificamente” noções
sempre foi um problema, desde o início da de “superioridade racial”. Formas de dis-
humanidade. A discriminação tem ocorri- criminação e racismo manifestam-se no
do contra os povos indígenas e as mino- sistema de castas indiano, bem como nas
rias em toda a parte, desde as florestas do antigas conceções gregas e chinesas de
Equador às ilhas do Japão, contra os abo- superioridade cultural. O racismo, nos
rígenes, os Roma, os judeus, assim como tempos medievais, foi dominado pela
contra as pessoas de pele escura. Acontece perseguição dos judeus em todo o mun-
contra trabalhadores migrantes, refugia- do. O sistema colonial espanhol, parti-
dos e requerentes de asilo. Ocorre contra cularmente dos séculos XVI e XVII, foi
crianças que são intimidadas ou abusadas, o primeiro a introduzir uma sociedade
contra mulheres tratadas como seres hu- racista de castas no “Novo Mundo” (o
manos com menos valor, contra pessoas continente sul-americano), onde a “pure-
infetadas pelo VIH/SIDA e contra aqueles za do sangue” se tornou um princípio su-
com incapacidades físicas ou psicológicas premo. As vítimas deste sistema foram os
ou devido à sua orientação sexual. Pode Americanos Nativos e os escravos depor-
encontrar-se até na nossa língua, através tados de África. Outros poderes coloniais
da qual, intencionalmente ou não, por ve- adotaram estas estruturas e tornaram-nas
zes, nos demarcamos em relação aos ou- a base das suas sociedades coloniais. No
tros. A discriminação aparece de muitas “Novo Mundo”, o termo ofensivo “ne-
maneiras e pode-se presumir que todos já gro/preto” era sinónimo de um membro
tenham sido afetados por esta em diferen- dos escravos de uma raça “inferior”, em
tes níveis. Assim, a consciência sobre o as- contraste com a raça branca dos donos.
sunto é essencial para se poder lidar com No final do séc. XVIII e início do séc. XIX,
a questão de forma eficaz. A raiz da mo- a ideologia do racismo atingiu uma outra
tivação para a discriminação encontra-se dimensão. Após a Guerra Civil Ameri-
na falsa sensação de superioridade em re- cana, os afro-americanos foram aterro-
C. ANTIRRACISMO E NÃO DISCRIMINAÇÃO 139
rizados pelo Ku Klux Klan, nos Estados forma desastrosa, o respeito próprio, a
do Sul. Embora a 14ª Emenda à Cons- autodeterminação e a dignidade humana
tituição americana garantisse proteção do ser humano discriminado. O racismo,
igual, perante a lei, a todos os cidadãos, a discriminação racial e outras violações
a segregação institucionalizada (doutrina de direitos dos que pertencem a grupos
“iguais mas separados”) manteve-se até vulneráveis, minorias ou imigrantes
ao final dos anos 60. O séc. XX assistiu pode, também, causar sérios conflitos
a formas muito extremas de racismo: o e um perigo para a paz e a estabilida-
ódio racial do regime Nazi na Europa re- de internacionais. O reconhecimento da
sultou no genocídio dos judeus europeus, inerente dignidade e dos direitos iguais
a discriminação racial institucionalizada de todos os membros da família huma-
do sistema do apartheid da África do Sul na, como estabelecido no Preâmbulo da
ou os genocídios motivados por razões DUDH, é o fundamento da liberdade, da
étnicas e raciais da Antiga Jugoslávia e justiça e da paz no mundo. Assim, ultra-
do Ruanda. passar na prática as desigualdades base-
Hoje, como consequência destes cri- adas em categorias tais como a “raça”,
mes contra a humanidade, a proibição género, deficiência, identidade étnica,
da discriminação encontra-se estabele- religião, identidade sexual, língua ou
cida em muitos tratados internacionais qualquer outra condição social deve ter
e constitui um elemento importante na alta prioridade na agenda da Segurança
legislação de várias nações. Todavia, a Humana.
discriminação com base na raça, cor,
etnia, bem como na religião, género, 2. DEFINIÇÃO
orientação sexual ou outras formas de E DESENVOLVIMENTO
dicriminação, constitui, ainda, uma das DA QUESTÃO
mais frequentes violações dos direitos
humanos que ocorre no mundo. O racismo e a discriminação racial cons-
tituem violações graves e obstáculos ao
Direitos Humanos das Mulheres gozo pleno de todos os direitos humanos
Liberdades Religiosas e negam a verdade evidente de que todos
Direitos das Minorias os seres humanos nascem livres e iguais,
em dignidade e em direitos.
Discriminação e Segurança Humana Existem diversos termos técnicos tais
como racismo, xenofobia, preconceito e
Um dos principais objetivos da seguran- intolerância. A discriminação implica ele-
ça humana é proporcionar as condições mentos de todos estes fenómenos.
para que as pessoas possam exercer e Em primeiro lugar, é muito importante dis-
expandir as suas oportunidades, esco- tinguir dois aspetos essenciais da discrimi-
lhas e capacidades, livres de inseguran- nação:
ça. A discriminação por qualquer moti-
vo impede as pessoas de exercerem, de Atitude ou Ação: Existe uma diferença sig-
forma igual, os seus direitos e escolhas e nificativa entre, por um lado, crenças e opi-
não só resulta em insegurança económi- niões pessoais e, por outro lado, manifesta-
ca e social como também afeta, de uma ções e ações concretas que são motivadas
140 II. MÓDULOS SOBRE QUESTÕES SELECIONADAS DE DIREITOS HUMANOS
cos são, de forma inerente, superiores ou “raça”, em si mesmo, é racista já que pres-
inferiores, desta forma sugerindo que uns supõe e defende a crença errónea de que
têm direito a dominar ou eliminar outros. existem diferentes “raças”. Os racistas de
De acordo com a UNESCO, “o racismo in- hoje dão mais ênfase às diferenças cul-
clui as ideologias racistas, as atitudes pre- turais e não às características biológicas,
conceituosas, o comportamento discrimi- sendo que se pode falar de um “racismo
natório, disposições estruturais e práticas cultural” recentemente desenvolvido que,
institucionalizadas que resultam na desi- muito provavelmente, representa a melhor
gualdade racial, assim como na noção fa- definição para a maioria das atitudes reais
laciosa de que as relações discriminatórias das pessoas que, hoje, são “racistas”.
entre grupos são moral e cientificamente Até o racismo como uma forma de pensar
justificáveis; encontra-se refletido em dis- pode ser nocivo, mas, sem expressão ou
posições discriminatórias, na legislação outra manifestação, as ideias racistas ou
ou regulamentação e em práticas discri- uma forma racista de pensar que só exis-
minatórias, bem como em crenças e atos tem em mentes racistas não podem ser
antissociais; dificulta o desenvolvimento sancionadas pela lei. Só se estes precon-
das suas vítimas, perverte quem os prati- ceitos e pensamentos levarem a políticas
ca, divide as nações internamente, impede discriminatórias, práticas sociais, discur-
a cooperação internacional e dá origem a sos de ódio ou à separação de grupos, se
tensões políticas entre os povos; é contrário poderá falar em ações discriminatórias
aos princípios fundamentais de direito in- sancionáveis ou em discriminação racial.
ternacional e, consequentemente, perturba
gravemente a paz e a segurança interna- Liberdade de Expressão
cionais”.
A Violência Racial é um exemplo particu-
O racismo existe em diferentes níveis – lar e grave do impacto do racismo, consti-
dependendo do poder usado e da relação tuindo atos específicos de violência e as-
entre a vítima e o perpetrador: sédio realizados contra uma pessoa ou um
• nível pessoal (atitudes, valores, crenças grupo com base na cor, ascendência ou
de alguém); origem nacional/étnica. A construção de
• nível interpessoal (comportamento para um grupo de pessoas como uma ameaça é
com os outros); uma parte essencial do ambiente político
• nível cultural (valores e normas de con- e social no qual ocorrem atos de violência
duta social); fundados no ódio.
• nível institucional (leis, costumes, tradi- Durante as últimas décadas de luta contra
ções e práticas). o racismo e a discriminação racial, um en-
tendimento mais amplo do termo racismo
O anterior regime do apartheid na África tem sido desenvolvido, incluindo a perce-
do Sul, que sistematicamente segregava os ção de que todas as sociedades no mun-
negros dos brancos, é um exemplo vívido do são afetadas e prejudicadas por este. A
de uma forma institucionalizada de racis- comunidade internacional empreendeu a
mo e discriminação racial. tarefa de determinar as causas básicas do
Hoje, a “raça” é entendida como uma racismo e de exigir as reformas necessá-
construção social. De facto, o termo rias para prevenir a erupção de conflitos
144 II. MÓDULOS SOBRE QUESTÕES SELECIONADAS DE DIREITOS HUMANOS
racial pode ser vista nas crianças, na medi- da ou expressada; pode ser dirigida a um
da em que o facto de terem presenciado ou grupo ou a uma pessoa desse grupo”.
sofrido racismo lhes causa profundos sen- Ambas as atitudes podem, facilmente, ser
timentos de medo e confusão. O racismo um motivo para qualquer tipo de ações
conduz a medos que quebram a confiança discriminatórias. Geralmente, a intolerân-
das crianças em si mesmas e nos outros. O cia e o preconceito são vistos como a base
tom racista, as palavras e os estereótipos e o ponto de partida para outros compor-
entram nas suas mentes tornando-se parte tamentos mais “específicos”, como o racis-
da forma como se veem a si mesmas. mo ou a xenofobia.
A noção de preconceito étnico só recen-
Durante um Painel de Debate das Na- temente foi desenvolvida, descrevendo a
ções Unidas, em Nova Iorque, que abor- antipatia fundada numa alegação de su-
dava o impacto do racismo nas crianças, premacia cultural de um grupo específico
uma senhora do Congo contou à audiên- em relação a outro. No contexto europeu é
cia que a primeira vez que ela tinha vi- exemplificado, nomeadamente, pelos pre-
venciado racismo foi à nascença, quan- conceitos antiturcos, antipolacos ou antir-
do a enfermeira no hospital se recusou russos. Uma vez que ataca, tipicamente,
a ajudar no parto complicado porque a os traços culturais/religiosos (reais ou
sua mãe era de uma zona diferente do imaginados) de um grupo particular, po-
país, que não a da enfermeira. Quando dem ser vistas algumas semelhanças com
ela cresceu, aprendeu rapidamente que o recente entendimento do racismo como
o seu contexto – a etnia a que pertencia, “racismo cultural”.
a língua que falava e a região onde vivia Normalmente, o preconceito e a intole-
– influenciava todos os aspetos da sua rância são difíceis de abordar e de com-
vida, o que a fez sentir inútil, insegura bater porque se adquirem com o tempo.
e incapaz logo desde o início da sua in- Para além disso, a noção de “tolerância”
fância. é controversa, já que pode implicar um
sentimento errado de superioridade, ao
Fenómenos Relacionados: tolerar-se a existência dos outros, mas sem
A Intolerância e o Preconceito realmente os receber bem ou os respeitar
A Universidade Estadual da Pennsylvania e aos seus direitos iguais. Por outro lado,
afirma na sua declaração de princípios que é importante ter consciência que a intole-
a intolerância é “uma atitude, sentimen- rância e os comportamentos intolerantes
to ou crença pela qual uma pessoa mos- não podem ser permitidos nem suporta-
tra desprezo por outras pessoas ou grupos, dos. A intolerância deve ser confrontada
com fundamento em características como através de coragem civil, o que significa
a raça, cor, origem nacional, género, orien- lidar-se com o comportamento intolerante
tação sexual, opiniões políticas ou crenças através de todos os meios apropriados.
religiosas”.
A definição clássica de preconceito é dada Questões para debate
pelo famoso psicólogo de Harvard, Gordon • Quem pode decidir sobre os limites da
Allport, que declara que “[…] o preconcei- tolerância?
to é uma antipatia fundada numa genera- • Existem normas ou padrões já estabe-
lização errónea e inflexível; pode ser senti- lecidos para distinguir entre tolerância
146 II. MÓDULOS SOBRE QUESTÕES SELECIONADAS DE DIREITOS HUMANOS
O hiato entre “a lei na teoria” e a “lei estabelece um quadro geral para combater
na prática”: As convenções ratificadas, as a discriminação na área do emprego e ocu-
declarações e os planos de ação são só a pação, e a “Diretiva de Igualdade Racial”
primeira etapa de uma verdadeira estraté- que proíbe, no emprego e no acesso aos
gia de combate contra o racismo e a dis- bens e serviços, a discriminação com base
criminação. na origem étnica. Estas diretivas ampliam
Se aqueles não forem plenamente aplica- o conceito clássico de igualdade de trata-
dos, o seu impacte será limitado. Uma for- mento entre mulheres e homens de forma
te vontade política é necessária para uma a permitir uma proteção mais abrangente,
implementação efetiva que, infelizmente, baseada nas necessidades da sociedade de
na realidade, muitas vezes tem de deixar hoje. Todos os Estados-membros da União
espaço para outros interesses políticos. Europeia têm de transpor as diretivas para
Neste contexto, não pode ser subestimado a legislação nacional. A violação destes
o importante papel de organizações não direitos de não discriminação pode ser
governamentais baseadas na comunidade, alegada em tribunais civis, o que é con-
das suas campanhas, da pressão que fa- siderado como um marco no desenvolvi-
zem e da realização de projetos. Além dis- mento de legislação antidiscriminação.
so, estas pressionam constantemente os Presentemente debate-se uma proposta
governos para que cumpram com as suas para se ampliar ainda mais a proteção da
obrigações, nacionais e internacionais, de discriminação.
direitos humanos.
Os instrumentos internacionais e meca-
“Muitas vezes é mais fácil indignar-se com nismos mencionados estão a ser cada
a injustiça do outro lado do mundo do que vez mais utilizados para a monitorização
com a opressão e a discriminação a um da implementação do princípio da não
quarteirão de casa.” discriminação. A importância das medi-
Carl T. Rowan das e estratégias preventivas, tais como
sistemas de alerta precoce, mecanismos
Discriminação entre Atores Não Estatais: preventivos de visitas, procedimentos
Outro problema relativo à proteção eficaz urgentes, informação e a educação e for-
contra a discriminação refere-se ao facto mação para os direitos humanos, contu-
de a prevenção da discriminação entre pes- do, têm sido desde há muito subestima-
soas privadas ser uma zona legal cinzenta. das, negligenciando-se, assim, a resposta
Geralmente, só atos discriminatórios na mais eficaz contra a discriminação e o
esfera pública (por autoridades estaduais) racismo, uma vez que estas estratégias
e de indivíduos que agem em público, po- atacam estes fenómenos na sua origem.
dem ser punidos por lei. Assim, muitas
vezes, a discriminação entre indivíduos na Programas de Educação
sua “esfera privada” não pode ser punida e Formação:
da mesma forma. O racismo, a xenofobia e atitudes relacio-
Nos últimos anos, a União Europeia in- nadas surgem frequentemente de forma
troduziu as Diretivas de Não Discrimi- subtil e insidiosa, muitas vezes difíceis de
nação, para o setor privado, tais como a serem abordados e identificados. Tal pode
“Diretiva de Igualdade no Emprego” que conduzir à perceção perigosa de que o ra-
C. ANTIRRACISMO E NÃO DISCRIMINAÇÃO 151
cismo só é cometido por outros e, como sos grupos profissionais, tais como os
tal, é da responsabilidade de outrem. De agentes responsáveis pelo cumprimento
forma a enfrentar-se com sucesso essas da lei, autoridades judiciais e professores,
opiniões e crenças, a discriminação racis- é realizada com o escopo de sensibilizar e
ta, o racismo e a intolerância relacionada fortalecer o papel destes profissionais na
têm de ser combatidos através do reforço proteção dos direitos humanos e na luta
de uma cultura de direitos humanos, a contra o racismo.
todos os níveis da sociedade. O racismo, A chave para se mudarem as atitudes
enquanto fenómeno multifacetado, deve e comportamentos baseados no racis-
ser combatido com uma série de medidas mo, xenofobia e intolerância relacionada
realizadas a todos os níveis, incluindo a encontra-se na educação para os direitos
educação e aprendizagem para os di- humanos, a todos os níveis e para todas
reitos humanos visando a promoção do as idades. É importante desenvolvê-la e,
respeito e valorização da diversidade nas quando já exista, apoiar a implementação
sociedades, bem como transmitir com efi- e continuação dos programas escolares
cácia e incorporar os direitos humanos educacionais e dos recursos contra o racis-
na sociedade. Existem em muitos países mo a todos os níveis da educação formal,
programas de formação para os professo- assim como na educação não formal, de
res, para ajudá-los a lidar com inciden- forma a promover a compreensão e forta-
tes racistas na escola. Durante o processo lecimento do respeito pelos direitos huma-
de preparação da Conferência Mundial nos e liberdades fundamentais para todos.
contra o Racismo, relataram-se uma sé-
rie de exemplos e ideias interessantes. O Papel Fundamental dos Meios de In-
Estes incluíram os esforços já em curso formação: Os meios de informação in-
em diversos países africanos para com- fluenciam as atitudes das pessoas. Eles
bater os preconceitos racistas nos livros podem desempenhar um papel positivo no
e programas escolares, ou uma iniciativa combate a estereótipos racistas, contribuir
europeia de redes de escolas redigirem para a promoção da igualdade, respeito
um código de conduta, incorporando e dignidade humana e para a afirmação
princípios claros de não discriminação dos valores da diversidade. Infelizmente,
nos seus objetivos educacionais. Em mui- muitos jornais e estações de rádio e tele-
tos países, existem programas de inter- visão, em todo o mundo, usam linguagem
câmbio escolar, encorajando estudantes depreciativa e promovem estereótipos ne-
de diferentes países a partilharem a sua gativos em relação a indivíduos ou grupos
cultura e aprenderem os idiomas uns dos vulneráveis, particularmente migrantes e
outros. Muitos governos e ONG incluem refugiados, e contribuem para a dissemi-
programas de formação sobre a diversi- nação de sentimentos e comportamentos
dade e sensibilidade cultural no seu ma- xenófobos e racistas entre o público. De-
terial sobre a educação para os direitos terminados meios de informação até fa-
humanos, o que promove a compreensão zem propaganda de discriminação e ódio
da contribuição de cada cultura e nação. racista. O poder dos meios de informação
Em muitos países, a formação para os di- pode ser visto, por exemplo, no caso da
reitos humanos centrada no combate ao “Rádio Mille Collines” no Ruanda, usada
racismo e não discriminação, para diver- para incitar os hutus ao massacre de tutsis
152 II. MÓDULOS SOBRE QUESTÕES SELECIONADAS DE DIREITOS HUMANOS
Tendências
Liberdade de Expressão
CONVÉM SABER
clusão, ao nível local. Com um “Plano de
1. BOAS PRÁTICAS Ação de Dez Pontos”, as cidades-membro
comprometem-se a promover e implemen-
Códigos de Conduta Voluntários no Setor tar iniciativas contra o racismo nas diferen-
Privado: Muitas empresas multinacionais tes áreas da competência das autarquias,
estabeleceram códigos de conduta volun- tais como a educação, habitação, emprego
tários, para si mesmas e para os seus par- e atividades culturais. Também se estão
ceiros, para impedir violações de direitos a criar coligações regionais em África, na
humanos, tais como, a discriminação por Região Árabe, na Ásia e Pacífico, na Eu-
motivos raciais. ropa, na América Latina e Caraíbas e na
América do Norte com os seus respetivos
Cláusulas Autodiscriminação em Con- Programas de Ação. Por exemplo, a Coli-
tratos Públicos de Aquisição: O governo gação Africana de Cidades contra o Racis-
sueco aprovou uma lei que exige das em- mo e Discriminação foi lançado em 2006
presas privadas que contratam com ór- em Nairobi, no Quénia.
gãos públicos um certificado confirman-
do que estas obedecem a todas as leis Combater o Racismo na Liga Europeia
antidiscriminação e promovem a igual- de Futebol: A União das Associações Eu-
dade nas suas políticas. O contrato pode ropeias de Futebol (UEFA, na sigla inglesa)
ser resolvido no caso de violação destas elaborou um plano de ação com dez pontos
disposições de antidiscriminação. Diver- listando várias medidas que incentivam os
sas cidades implementaram este concei- clubes a promover campanhas antirracismo
to (por exemplo, Londres, Galway). entre fãs, jogadores e funcionários. O plano
inclui medidas como declarações públicas
Coligação Internacional de Cidades Con- condenando os cânticos racistas em jogos
tra o Racismo: A Coligação Internacional ou ações disciplinares contra jogadores que
de Cidades contra o Racismo é uma inicia- que profiram insultos racistas. A UEFA tam-
tiva lançada pela UNESCO em 2004, para bém apoia a “FARE, na sigla inglesa - Rede
estabelecer uma rede de cidades interessa- de Futebol contra o Racismo na Europa”
das em partilhar experiências de forma a que realiza e coordena ações ao nível local
melhorar as suas políticas para o combate e nacional para combater o racismo e xeno-
ao racismo, discriminação, xenofobia e ex- fobia no futebol europeu.
154 II. MÓDULOS SOBRE QUESTÕES SELECIONADAS DE DIREITOS HUMANOS
entrou em vigor em 2006 e pretende a har- bém, apreensiva. Em tudo o que faz, diz
monização da legislação criminal respeitan- ela, preocupa-se sobre como tal afetará a
te ao combate ao racismo e xenofobia na sua família […]. O inglês de Seema é, sem
internet e a melhoria da cooperação inter- dúvida, de Queens, mas ainda se nota um
nacional nesta área. As medidas a tomar a traço de Bengali. Ela é uma cidadã dos Es-
nível nacional incluem a criminalização da tados Unidos. Mas, verdade seja dita, refere
disseminação através de sistemas informá- ela, sinceramente, não se vê como america-
ticos de materiais racistas ou de natureza na. “Bengali primeiro”, diz ela, antes de ex-
xenófoba, da ameaça ou insulto motivado pressar a sua incerteza sobre o que significa
pelo racismo ou xenofobia e a negação, ser americano […]. Questões sobre o que
minimização grosseira, aprovação ou justi- significa ser americano, sempre pairaram
ficação do genocídio ou de crimes contra sobre meninas como ela. Só que, o 11 de se-
a humanidade. Espera-se que a adoção e tembro e as suas repercussões afetaram-nas
implementação destes padrões conduzam de forma intensa. Durante semanas, após
a ulteriores desenvolvimentos nesta área. os ataques, meninas muçulmanas que ela
conhecia, tiraram o véu. (Seema é muçul-
Liberdade de Expressão mana mas não se cobre.) Os rapazes tira-
ram a barba. Outros foram espancados por-
Islamofobia: Repercussões do 11 de se- que usavam turbantes; nem sequer eram
tembro de 2001 muçulmanos. O seu pai que trabalha num
Na semana após os ataques de 11 de se- restaurante, temeu perder o seu emprego. A
tembro de 2001, houve 540 ataques regis- sua mãe tinha medo de ir do metro até casa
tados contra árabes-americanos, e pelo na sua túnica salwar kameez. A escola era
menos 200 a Sikhs (ascendência indiana), o pior de tudo. Uma vez, quando um pro-
em território norte-americano, compara- fessor aplaudiu o ataque ao Afeganistão,
dos com os 600 ataques registados, em Seema lembra-se de ter levantado o dedo
2000, a árabes-americanos. (Fonte: Am- para dizer algo sobre o destino dos civis
nistia Internacional, 2001. Crisis Response afegãos; os seus colegas de turma riram-se
Guide). dela. Outro professor disse algo sobre como
Na Europa, houve um aumento perturba- John Walker Lindh, o alegado simpatizante
dor de ataques racistas e abusos contra californiano dos Taliban, tinha sido enfei-
membros das comunidades das minorias, tiçado pelo Islão. Seema replicou. “O Islão
particularmente contra muçulmanos bri- não é uma bruxa nem nenhum tipo de fei-
tânicos, depois dos ataques bombistas em tiço mágico”, disse ela.
Londres, em 2005. Quanto a estes factos, (Fonte: Somini Sengupta. Bearing the
o seguinte artigo é um exemplo pessoal weight of the world, but on such narrow
ilustrativo e deve ser visto como ponto shoulders. Extratos de uma entrevista de
de partida para o debate: “Seema tem 18 um jornalista norte-americano a uma jo-
anos, acaba de sair da escola secundária. vem do Bangladesh com nacionalidade
Nascida no Bangladesh, passou quase norte-americana. New York Times, 7 de
metade da sua vida neste país, em Woo- julho de 2002.)
dside, Queens. É pequena, séria e, como a
mais velha de três filhos numa família de Direitos das Minorias
imigrantes, ela própria, admite estar, tam- Liberdades Religiosas
156 II. MÓDULOS SOBRE QUESTÕES SELECIONADAS DE DIREITOS HUMANOS
ATIVIDADES SELECIONADAS
ATIVIDADE I: TODOS mite que os participantes identifiquem a
OS SERES HUMANOS discriminação e que a experimentem por
NASCEM IGUAIS si mesmos.
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offenses
162 II. MÓDULOS SOBRE QUESTÕES SELECIONADAS DE DIREITOS HUMANOS
IMPLICAÇÕES SOCIAIS
PROGRESSO CIENTÍFICO
DISPONIBILIDADE E QUALIDADE
“Toda a pessoa tem direito a um nível de vida suficiente para lhe assegurar e à sua família
a saúde e o bem-estar, principalmente quanto à alimentação, ao vestuário, ao alojamen-
to, à assistência médica e ainda quanto aos serviços sociais necessários […]”
Artigo 25º da Declaração Universal dos Direitos Humanos. 1948.
166 II. MÓDULOS SOBRE QUESTÕES SELECIONADAS DE DIREITOS HUMANOS
HISTÓRIA ILUSTRATIVA
A história de Maryam
Maryam tem 36 anos de idade e é mãe de gua materna de Maryam, preferiu falar na
seis crianças. Cresceu numa aldeia longe língua dominante falada na capital e entre
dos centros urbanos e deixou de estudar a classe educada. A enfermeira intimidou
quando terminou o segundo ano. Os seus Maryam.
pais eram pobres e a escola era a quatro A sua vida foi uma longa saga de violên-
quilómetros a pé da sua aldeia. O seu pai cia, pobreza e carência. Maryam lutou
acreditava que a educação de uma menina para manter o seu corpo e alma juntos, ao
era uma perda de tempo e de esforço, uma longo das suas várias gravidezes e da edu-
vez que as meninas estão destinadas ao cação dos seus filhos. Ela cultivava uma
casamento e não a ganhar o sustento. pequena área de terra para alimentar as
Quando tinha 12 anos, Maryam foi circun- suas crianças porque o marido nunca lhe
cidada de acordo com o costume local. dava dinheiro suficiente. Recorreu aos pais
Aos 16 anos casou com um homem nos e até a missionários que visitavam a al-
seus 50 anos. O pai recebeu uma quantia deia. Todos lhe disseram para obedecer ao
substancial paga pelo noivo a título de marido e lembraram-lhe que o seu dever
dote. No ano seguinte, ela deu à luz um ra- era obedecer ao marido e família.
paz, mas a criança nasceu morta. A clínica Um dia o marido acusou Maryam de “fa-
regional era a 10 quilómetros da aldeia e zer companhia” a outro homem. Ele afir-
não assistia aos partos. O marido batia- mou que a viu a rir e a conversar com um
lhe muitas vezes durante a gravidez e ela aldeão local, num dia de mercado. Quan-
acreditava que o bebé tinha nascido morto do ela respondeu, ele agrediu-a repetida-
devido a esses espancamentos. Contudo, mente, esmurrando-a até ela cair no chão,
a família e muitos da aldeia colocaram a chamando-a de prostituta e jurando que ia
culpa pelo nascimento da criança morta vingar a sua desonra. Maryam ficou grave-
sobre ela. Maryam não tinha qualquer de- mente ferida e pensou que tinha fraturado
sejo de ter relações sexuais com o marido. algumas costelas. Durante semanas não
Ela tinha medo dele e temia uma gravidez. conseguiu sair de casa. Ela não tinha di-
O marido considerava que era seu direito nheiro para ir a um centro de saúde para
manter relações sexuais com ela e obriga- receber tratamento e não existia forma de
va-a, regularmente, a fazê-lo. Maryam não lá conseguir chegar. Ninguém na vila a aju-
queria engravidar mas não teve outra al- dou, embora algumas pessoas pensassem
ternativa. Ela visitou um curandeiro local, que, desta vez, o marido tinha ido longe
tomou misturas de ervas e usou amuletos demais. Uma mulher é assunto do marido.
que não trouxeram qualquer resultado. Incapaz de ir ao mercado para comprar e
Raramente tinha tempo para ir à clínica de vender e de tratar do seu quintal, Maryam
saúde e quando foi, porque os seus filhos e os filhos quase passaram fome.
estavam doentes, não conseguiu falar de Maryam sentiu que iria existir violência
contraceção com a enfermeira. A enfer- no futuro. Temeu pela sua vida e das suas
meira, embora parecesse perceber a lín- crianças. Num sonho, ela viu a sua própria
D. DIREITO À SAÚDE 167
morte e percebeu que tinha de partir. As- 2. Como foi ela tratada pelas figuras de
sim que conseguiu andar, pegou nos dois autoridade (pai, marido, enfermeira e
filhos mais pequenos e deixou a aldeia. missionário)? Porquê?
Agora vive noutra aldeia, uma refugiada 3. Que impacto teve a pobreza na vida de
no seu próprio país, vivendo no medo de Maryam e na dos seus filhos? Acha que
ser encontrada pelo marido e ser levada de Maryam e o marido eram igualmente
volta para casa. pobres?
(Fonte: Adaptado da Organização Mundial 4. Como é que posicionaria cada grupo
de Saúde. 2001. Transforming Health Sys- (homens, mulheres e crianças) na co-
tems: Gender and Rights in Reproductive munidade da Maryam, no que respeita
Health.) ao seu estatuto e poder? Justifique.
5. Que informação necessitaria Maryam
Questões para debate para mudar as circunstâncias da sua
Repare nos pontos de debate listados infra vida e a das suas crianças?
da perspetiva da definição de saúde, tal 6. Embora exista um centro de saúde na
como declarada na constituição da Organi- região, ele foi útil para a Maryam? Justi-
zação Mundial da Saúde (OMS), de 1946, fique.
“[…] um estado de completo bem-estar fí- 7. Observe o esquema abaixo: são dados
sico, mental e social, e não consiste apenas exemplos das interligações entre saúde
na ausência de doença ou enfermidade.” e direitos humanos. Que interligações se
1. Quando começaram os problemas de relacionam diretamente com as questões
Maryam? apresentadas na história da Maryam?
Saúde &
Direitos
Humanos
168 II. MÓDULOS SOBRE QUESTÕES SELECIONADAS DE DIREITOS HUMANOS
A SABER
1. O DIREITO HUMANO À SAÚDE NUM alimentação, ao vestuário, ao alojamento,
CONTEXTO MAIS ALARGADO à assistência médica e ainda quanto aos
serviços sociais necessários […]”.
O direito humano à saúde apresenta um vas- Uma definição ampla e visionária da saú-
to e complexo conjunto de questões inter- de é estabelecida no preâmbulo da Cons-
ligadas porque a saúde e o bem-estar estão tituição da Organização Mundial de Saúde
intrinsecamente ligados a todas as etapas (OMS): “[…] um estado de completo bem-
e aspetos da vida. Nos instrumentos inter- estar físico, mental e social, e não consiste
nacionais de direitos humanos encontram- apenas na ausência de doença ou de enfer-
se direitos específicos relacionados com a midade.”. Esta visão holística da saúde en-
saúde. Essencialmente, todos os direitos fatiza o facto de que muitas das políticas
humanos são interdependentes e interrela- que determinam a saúde são feitas fora do
cionados. Assim, a realização dos direitos setor convencional da saúde e afetam as
humanos e a negligência relativamente aos determinantes sociais da saúde.
mesmos ou a sua violação é relevante para
um conjunto de direitos humanos e não A OMS atribui uma importância crescente
para, apenas, um direito isolado. Esta in- à operacionalização dos princípios de di-
terconectividade torna-se evidente quando reitos humanos no seu trabalho e foca-se
se considera que o bem-estar humano (isto em três áreas principais: apoiar governos
é, a saúde) requer a satisfação de todas as na adoção e implementação de uma abor-
necessidades humanas, tanto físicas, tais dagem baseada nos direitos humanos ao
como a necessidade de ar, água, alimento e desenvolvimento da saúde, fortalecimento
sexo, como sociais e psicológicas, tais como das capacidades da OMS para integrar a
a necessidade de amor e pertencer a grupos abordagem baseada nos direitos humanos
de amigos, família e comunidade. no trabalho da OMS e promover o direito
Os direitos humanos encontram-se ligados à saúde no direito internacional e nos pro-
às obrigações dos Estados de contribuir cessos de desenvolvimento. A organização
para o cumprimento dessas necessidades adotou um documento com a sua posição
e de permitir a grupos e indivíduos viver sobre atividades de saúde e direitos huma-
com dignidade. A seguir à Segunda Guerra nos no seio da OMS, com o intuito de inte-
Mundial, a Carta das Nações Unidas tor- grar os direitos humanos no âmbito do seu
nou claro que os Estados-membros têm trabalho e de assegurar que o estatuto dos
obrigações a respeito dos direitos huma- direitos humanos seja elevado à condição
nos. O direito humano à saúde foi torna- de um elemento essencial nos sistemas na-
do explícito, em 1948, na Declaração Uni- cionais públicos de saúde.
versal de Direitos Humanos (DUDH), no
artº 25º que afirma que “Toda a pessoa Saúde e Segurança Humana
tem direito a um nível de vida suficiente
para lhe assegurar e à sua família a saú- O número crescente de conflitos arma-
de e o bem-estar, principalmente quanto à dos e emergências e o extenso número
D. DIREITO À SAÚDE 169
Existem vários tratados regionais de di- saúde, assim como de programas, que têm
reitos humanos que foram mais longe na de estar disponíveis em quantidade sufi-
definição do direito à saúde, incluindo o ciente.
artº 11º da Carta Social Europeia de 1961, A acessibilidade das instalações, bens e
que foi revista em 1996, o artº 10º do Pro- serviços para a saúde exige a não discrimi-
tocolo Adicional à Convenção Americana nação, a acessibilidade física, a acessibili-
sobre Direitos Humanos em Matéria de Di- dade económica e a informação adequada.
reitos, Sociais e Culturais de 1988 e o artº A aceitabilidade exige que todos os servi-
16º da Carta Africana dos Direitos Huma- ços de saúde, bens e serviços devam res-
nos e dos Povos, de 1981. peitar a ética médica e ser culturalmente
apropriados, sensíveis ao género e às con-
“É meu objetivo que a saúde seja, final- dições do ciclo da vida, assim como pro-
mente, vista não como uma bênção pela jetados para respeitar a confidencialidade
qual se espera, mas, sim como um direito e melhorar a saúde e o estado da saúde
humano pelo qual se tem de lutar.” daqueles a quem se dirige.
Kofi Annan A qualidade requer que os serviços de
saúde, bens e serviços devam ser cientí-
Os governos abordam as suas obrigações fica e medicamente apropriados e de boa
sob o artº 12º do PIDESC de forma dife- qualidade.
rente e o organismo encarregado de mo-
nitorizar a aplicação do Pacto procurou “O ser humano é a cura do ser humano.”
esclarecer as obrigações dos Estados com Provérbio tradicional Wolof
o seu Comentário Geral nº14, um texto
interpretativo adotado em maio de 2000. Não Discriminação
Este Comentário Geral demonstra como A discriminação em razão do género, et-
a realização do direito humano à saúde nia, idade, origem social, religião, defi-
depende da realização de outros direitos ciência física ou mental, estado de saúde,
humanos, incluindo os direitos à vida, ali- identidade sexual, nacionalidade, estado
mentação, habitação, trabalho, educação, civil, estatuto político ou outro pode pre-
participação, usufruto dos benefícios do judicar o gozo do direito à saúde. Parti-
progresso científico e sua aplicação, liber- cularmente importante neste sentido são
dade de procurar, receber e transmitir in- a DUDH, a Convenção Internacional so-
formações de todos os tipos, não discrimi- bre a Eliminação de Todas as Formas de
nação, proibição da tortura e liberdade de Discriminação Racial (CIEDR), de 1965,
associação, reunião e circulação. e a Convenção sobre a Eliminação de
Todas as Formas de Discriminação con-
Disponibilidade, tra as Mulheres (CEDM), de 1979, todas
Acessibilidade, elas se referindo ao acesso à saúde e a
Aceitabilidade e Qualidade cuidados médicos sem discriminação. Os
O Comentário Geral também estabelece artos 10º, 12º e 14º da CEDM afirmam
quatro critérios para, através deles, avaliar os direitos iguais das mulheres no aces-
o direito à saúde: so a cuidados médicos, incluindo pla-
A disponibilidade inclui o funcionamento neamento familiar, serviços apropriados
da saúde pública e dos bens e serviços de para os cuidados da saúde reprodutiva e
D. DIREITO À SAÚDE 171
apresentou novos factos sobre a prática e ser proativo na garantia do acesso aos cui-
salientou os aspetos de direitos humanos dados de saúde. Por exemplo, um número
e jurídicos. No mesmo ano, a Assembleia suficiente de clínicas de saúde deveria ser
Mundial da Saúde da OMS aprovou uma estabelecido para servir a população e es-
resolução sobre a eliminação da MGF que tas clínicas deveriam fornecer serviços de
se focou na importância da ação concer- acordo com os meios das populações que
tada entre os setores da saúde, educação, servem. O Estado deve publicitar a locali-
finanças, justiça e assuntos das mulheres. zação, serviços e requisitos da clínica. Isto
não pode ser garantido se os cuidados de
Direitos Humanos das Mulheres saúde forem relegados apenas para o setor
privado.
4. IMPLEMENTAÇÃO
E MONITORIZAÇÃO Limitações
ao Direito Humano à Saúde
Respeitar, Proteger Alguns direitos humanos são tão essen-
e Implementar ciais que não podem jamais ser limitados.
o Direito Humano à Saúde Estes incluem a proibição da tortura e da
As obrigações governamentais para garan- escravidão, e a liberdade de pensamento.
tir que os membros da sociedade usufru- Outros direitos humanos podem ser limi-
am do maior padrão de saúde possível re- tados quando o bem público tem priori-
querem um conjunto de compromissos. A dade sobre o direito individual. O artº 4º
obrigação de respeitar o direito humano do PIDESC permite limitações apenas se
à saúde significa que o Estado não pode as mesmas forem previstas por lei e ape-
interferir ou violar o direito. Um exemplo nas na medida em que as mesmas sejam
seria recusar prestar cuidados de saúde a compatíveis com a natureza desses direi-
certos grupos, tal como as minorias étni- tos e tenham como fim exclusivo a pro-
cas ou prisioneiros, e arbitrariamente re- moção do bem-estar geral numa sociedade
cusar cuidados de saúde, como no caso de democrática. Proteger o direito à saúde em
não permitir às mulheres serem cuidadas termos de saúde pública tem sido usado
por médicos e não providenciar médicas. pelo Estado como uma razão para colocar
Proteger o direito à saúde significa que restrições sobre outros direitos humanos.
o Estado deve prevenir que atores não es- É normalmente num esforço para prevenir
tatais interfiram de algum modo no gozo a propagação de doenças infecciosas que
do direito humano. Um exemplo seria têm sido limitadas outras liberdades. Ini-
evitar que uma empresa despejasse resí- bir a liberdade de movimento, estabelecer
duos tóxicos numa rede de abastecimen- quarentenas e isolar pessoas são medidas
to de água. Se a violação ocorre, o Estado que têm sido usadas para prevenir a pro-
deve fornecer à população algum tipo de pagação de doenças graves e transmissí-
compensação. Isto também significa que o veis, como o ébola, a SIDA, a febre tifoi-
Estado é obrigado a adotar a legislação ne- de e a tuberculose. Em certos momentos,
cessária e adequada, nomeadamente, leis estas medidas foram excessivas. De forma
reguladoras e de monitorização da gestão a prevenir os abusos de direitos humanos
de resíduos tóxicos. A implementação do cometidos em nome da saúde pública, as
direito à saúde significa que o Estado deve ações restritivas devem ser desenvolvidas
176 II. MÓDULOS SOBRE QUESTÕES SELECIONADAS DE DIREITOS HUMANOS
pelo governo apenas em último recurso. Estes relatórios sombra oferecem a visão
Os Princípios de Siracusa sobre as Dispo- da sociedade civil e podem não estar de
sições de Limitação e Derrogação no Pac- acordo com o relatório do governo. Toda
to Internacional sobre os Direitos Civis e a informação submetida é tida em conta
Políticos, de 1984, dão orientações a este quando o órgão do tratado prepara Co-
respeito e fornecem um quadro definido mentários e Observações Finais. Embora
estritamente sob o qual essas restrições não exista forma de impor o seu cumpri-
podem ser impostas. mento, este relatório torna-se parte do
Qualquer restrição: registo público e, a este respeito, o país
- deve estar prevista e ser imposta de acor- pode não desejar ser acusado de abusos
do com a lei; de direitos humanos que possam ter, en-
- deve aplicar-se no interesse de um objeti- tre outras consequências, um impacto di-
vo legítimo de interesse geral; reto sobre as relações com outros países.
- deve ser estritamente necessária numa Quando o Protocolo Facultativo ao Pacto
sociedade democrática para alcançar o ob- Internacional sobre os Direitos Econó-
jetivo; micos, Sociais e Culturais, adotado em
- deve aplicar-se se não existir outro meio 2008, entrar em vigor4, um mecanismo de
disponível, menos intrusivo e restritivo, queixas individuais também contemplará
para alcançar o mesmo fim; o direito à saúde e permitirá que o Comité
- não deve ser planeada ou imposta de for- dos Direitos Económicos, Sociais e Cultu-
ma arbitrária, ou seja, de forma discrimi- rais decida sobre casos individuais.
natória ou não razoável. O Relator Especial sobre o direito de to-
dos à satisfação do mais alto padrão atin-
Mecanismos de Monitorização gível de saúde mental e física, estabele-
Garantir que os governos cumpram com cido, em 2002, pela (então) Comissão de
as suas obrigações de respeitar, proteger e Direitos Humanos da ONU e mantido pelo
implementar o direito à saúde requer me- Conselho de Direitos Humanos compila
canismos, tanto ao nível nacional como informação e conduz um diálogo com os
internacional. Ao nível nacional, as co- governos e as partes interessadas, informa
missões governamentais, os provedores regularmente sobre o estado do direito à
de justiça e as ONG podem participar num saúde, incluindo leis, políticas, boas prá-
processo de revisão formal, assim que o ticas e obstáculos e faz as recomendações
país tenha ratificado o tratado que garan- necessárias. Para este fim, o Relator faz vi-
te o direito à saúde. Cada parte no tratado sitas aos diversos países e reage a alegadas
de direitos humanos deve apresentar um violações do direito à saúde.
relatório a um órgão de monitorização do
tratado, por exemplo, o Comité dos Di-
reitos Económicos, Sociais e Culturais. 4
Nota da versão em língua portuguesa: O Protocolo
No momento da revisão, as ONG também Facultativo ao Pacto Internacional sobre os Direitos
submetem relatórios que são muitas ve- Económicos, Sociais e Culturais entrou em vigor no
dia 5 de Maio de 2013 tendo, nessa data, 10 Estados
zes referidos como “relatórios sombra”.
Partes.
D. DIREITO À SAÚDE 177
CONVÉM SABER
Comissões de Cidadãos e Políticas de
1. BOAS PRÁTICAS Saúde Pública
As Comissões de Cidadãos (CC) são um
Prevenção do VIH/SIDA
novo modelo para adotar decisões políti-
Histórias de sucesso no Cambodja, no
cas de saúde pública. Os modelos no Rei-
Uganda, no Senegal, na Tailândia, na Zâm-
no Unido, na Alemanha, na Escandinávia
bia urbana e nos países ricos mostram que
e nos Estados Unidos da América envol-
uma abordagem abrangente de prevenção
vem 12 a 16 cidadãos comuns, ampla-
é eficaz. Os factos sustentam que:
mente representativos da população, para
• A mudança comportamental exige infor-
investigar a informação que lhes é dada,
mação específica, adequada ao local e
questionar peritos, debater, deliberar e
formação sobre negociação e capacida-
publicar as suas conclusões. As autorida-
des de tomada de decisão, apoio social
des devem responder dentro de um certo
e jurídico, acesso a meios de prevenção
período de tempo. No Reino Unido, vas-
(preservativos e agulhas esterilizadas) e
tos estudos-piloto sugerem que as CC são
motivação para a mudança.
melhores a tratar de questões complexas
• Nenhuma abordagem única de preven-
e a chegar a conclusões sólidas do que as
ção pode conduzir à mudança alargada
sondagens, grupos representativos e reuni-
de comportamento na população. Os
ões públicas. É claro que cidadãos comuns
programas de prevenção numa escala
estão dispostos a tornarem-se diretamente
nacional necessitam de se centrar em
envolvidos no processo de tomada de de-
múltiplas componentes desenvolvidas cisão, tendo uma forte e consistente visão
em estreita colaboração com a popula- sobre o tipo de saúde pública que querem
ção alvo. para si e para as suas famílias.
• Os programas de prevenção para a po-
pulação em geral devem centrar-se es-
O Juramento de Malicounda
pecialmente nos jovens.
Nos anos 80, uma organização popular do
• As parcerias são essenciais para o su-
Senegal desenvolveu um currículo de reso-
cesso. Programas múltiplos que procu-
lução de problemas que envolveu a apren-
ram múltiplas populações necessitam
dizagem, por parte de toda a aldeia, sobre
de parceiros múltiplos, incluindo os in-
direitos humanos e a sua aplicação na sua
fetados com VIH/SIDA.
vida quotidiana. O programa ofereceu aos
• A liderança política é essencial para
participantes a hipótese de abordar proble-
uma resposta eficaz.
mas tais como a saúde, higiene, questões am-
bientais, competências de gestão financeira
“Para se conseguir a abolição da prática
e material. A TOSTAN iniciou um programa
da MGF, será preciso uma mudança fun-
em Malicounda, uma aldeia de 3.000 habi-
damental de atitudes na forma como a so-
tantes, que é parte de uma série de aldeias
ciedade entende os direitos humanos das
em Bambara que ainda pratica infibulação,
mulheres.”
uma das mais completas e brutais formas
Efua Dorkenoo. Cutting the Rose.
de circuncisão feminina. Depois de grande
178 II. MÓDULOS SOBRE QUESTÕES SELECIONADAS DE DIREITOS HUMANOS
debate público, incluindo uma atuação de canais de comunicação, dentro das famílias,
teatro de rua que se focou sobre os proble- sobre o VIH/SIDA e, em particular, para aju-
mas de infeção, os partos perigosos e a dor dar as mães seropositivas a dizer aos seus
sexual causada pela infibulação, toda a al- filhos qual é o estado da sua infeção. Os pais
deia fez um juramento, prometendo acabar em estado terminal e os seus filhos traba-
com a prática da circuncisão feminina. Isto lham em conjunto para compilar um livro
tornou-se conhecido como o Juramento de de memórias que é normalmente um álbum
Malicounda. Depois, dois anciãos da aldeia que contém fotografias, piadas e outras re-
decidiram espalhar a palavra às outras al- cordações familiares. No Uganda, o uso de
deias de que esta prática tinha de ser parada. livros de memórias foi, pela primeira vez,
Em fevereiro de 1998, treze aldeias fizeram usado pela Organização de Apoio contra a
o Juramento. Mais 15 aldeias puseram fim à SIDA (TASO, na sigla inglesa), no início dos
prática, em junho do mesmo ano. O movi- anos 90. Desde 1998, a Associação Nacional
mento ganhou atenção internacional. A 13 de Mulheres que vivem com SIDA promo-
de janeiro de 1999, a Assembleia Nacional veu esta abordagem numa escala mais am-
do Senegal aprovou uma lei a proibir a mu- pla com ajuda da PLAN Uganda. A Associa-
tilação genital feminina. A ação jurídica, por ção descobriu que as mães infetadas com o
si só, não teria sido suficiente para abolir a VIH têm grande dificuldade em comunicar
prática. O poder reside no controlo social com os seus filhos sobre a sua saúde frágil;
executado pelas aldeias e na demonstração os livros de memórias foram boas formas de
da vontade pública ao prestar o Juramento as mães introduzirem a ideia do VIH/SIDA
de Malicounda. A formação realizada pela nas vidas dos seus filhos e debaterem o seu
TOSTAN enfatizou a ligação entre o direito à impacto. O livro funciona como uma lem-
saúde e outros direitos humanos. brança para os seus filhos das suas origens,
para eles não perderem o seu sentimento de
“Quando as plantas amistosas ouviram o pertença. O livro também promove a pre-
que os animais tinham decidido contra a venção do VIH/SIDA porque as crianças tes-
humanidade, planearam, por si mesmas, temunham e compreendem a agonia que os
uma contrajogada. Concordaram que cada pais estão a atravessar e não querem sofrer
árvore, arbusto, erva, relva e musgo encon- o mesmo destino.
traria uma cura para cada uma das doen-
ças referidas pelos animais e insetos. Depois, Atenção aos membros mais vulneráveis
quando os índios Cherokee visitavam o seu da sociedade
Xamã acerca das suas maleitas, e se o curan- Por todo o lado no mundo, os consumido-
deiro tivesse dúvidas, ele conversava com os res de droga e os prisioneiros estão entre os
espíritos das plantas. Eles sugeriam, sempre, membros mais vulneráveis da sociedade.
remédios adequados para as doenças da hu- No contexto do VIH/SIDA e em outras con-
manidade. Tal, foi o início da medicina na dições graves, o direito à saúde é raramente
tribo Cherokee há muito, muito tempo.” implementado entre esta população devido
Cherokee. The Origin of Medicine. à sua condição de criminosos ou da crimi-
nalização da toxicodependência que resulta
Livros de Memórias na falta de acesso à informação, educação
Em muitos países, os livros de memórias e serviços básicos de saúde e sociais. Nos
tornaram-se um modo importante para abrir anos 80, o Reino Unido e os Países Baixos
D. DIREITO À SAÚDE 179
3. ESTATÍSTICAS
1995 Quarta Conferência Mundial sobre 2002 Cimeira Mundial sobre o Desenvol-
as Mulheres vimento Sustentável
1997 Declaração Universal sobre o Ge- 2002 Relator Especial para o direito de to-
noma Humano e os Direitos Huma- dos à satisfação do mais alto padrão
nos (UNESCO) atingível de saúde mental e física
1998 Princípios Orientadores relativos 2003 Declaração Internacional sobre os Da-
aos Deslocados Internos dos Genéticos Humanos (UNESCO)
2000 Comentário Geral nº 14 do Comité 2006 Convenção das Nações Unidas so-
das NU dos Direitos Económicos, bre os Direitos das Pessoas com
Sociais e Culturais sobre o direito Deficiência
à saúde 2008 Protocolo Facultativo ao Pacto In-
2001 Declaração de Doha sobre o Acordo ternacional sobre os Direitos Eco-
TRIPS e a Saúde Pública nómicos, Sociais e Culturais
ATIVIDADES SELECIONADAS
ATIVIDADE I: ticipantes a consciencialização do direito
VISUALIZAÇÃO humano da saúde; criar ligações entre saú-
DE UM ESTADO DE COMPLETO de e outras necessidades fundamentais;
BEM-ESTAR FÍSICO, MENTAL E SOCIAL criar conexões entre necessidades funda-
mentais e direitos humanos.
Parte I: Introdução Grupo-alvo: Jovens adultos e adultos
Para muitas pessoas, o conceito de saúde Dimensão do grupo: 10-30
não está suficientemente desenvolvido de Duração: 120 minutos
forma a incluir as amplas necessidades da Materiais: folhas de papel grandes, marca-
sociedade, bem como o estado do indi- dores e fita adesiva para colar as folhas à
víduo. Esta atividade permite aos parti- parede; uma cópia da Declaração Univer-
cipantes reconhecer os vários elementos sal dos Direitos Humanos (DUDH).
que constituem uma condição ótima de Competências envolvidas: Comunicação
saúde e partilhar ideias com outros mem- verbal; análise participativa
bros do grupo de modo a criar um concei-
to abrangente. Parte III: Informação Específica sobre a
Atividade
Parte II: Informação Geral sobre a Ati- Instruções:
vidade O formador lê a definição de “saúde” da
Tipo de atividade: Sessão de chuva de OMS. O Preâmbulo da constituição da
ideias e reflexão de grupo. OMS define saúde como “[...] um estado de
Metas e objetivos: Tornar-se consciente do completo bem-estar físico, mental e social,
âmbito alargado de saúde como mais do e não meramente a ausência de doença.”.
que a “ausência de doença”; criar nos par- O formador faz a pergunta: que elementos
D. DIREITO À SAÚDE 185
cia e pede a cada grupo que apresente as de todas as partes. Depois de 30 minutos
suas posições e argumentos. O juiz resume de trabalho de grupo, cada grupo apresen-
todos os argumentos, pondera-os e profere ta o seu processo de debate e a sua pos-
uma decisão que tenha em consideração sível solução no plenário. As respostas e
as diferentes opiniões dos litigantes. soluções mais importantes são registadas
Outras sugestões: no quadro. Quando todos os grupos tive-
Encontrar um consenso no grupo: depois rem apresentado o debate do processo de
de todas partes terem apresentado os seus tomada da decisão, a atividade termina.
argumentos numa sessão plenária, os par- Direitos relacionados/outras áreas a ex-
ticipantes formam grupos de trabalho. Em plorar: Globalização, discriminação, po-
cada grupo de trabalho, deve haver um breza.
membro de cada litigante mais um juiz. O (Fonte: Adaptado de: Conselho da Euro-
formador pede aos grupos que tentem che- pa. 2002. Compass. A Manual for Human
gar a consenso sem negligenciar a posição Rights Education with Young People.)
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D. DIREITO À SAÚDE 189
“O avanço das mulheres e a conquista da igualdade entre mulheres e homens são uma
questão de direitos humanos e uma condição para a justiça social; não devem, portanto,
ser encarados isoladamente, como um problema feminino.”
Declaração de Pequim e Plataforma de Ação. 1995.
192 II. MÓDULOS SOBRE QUESTÕES SELECIONADAS DE DIREITOS HUMANOS
HISTÓRIA ILUSTRATIVA
Um caso da vida real: A história de Selvi T. taram nele. Disseram-lhe então: “Vai para
casa para o teu marido e fica lá”.
Selvi tem 22 anos e está grávida do seu quin- Selvi foi, secretamente, ao tribunal de fa-
to filho. O seu marido iniciou os ataques en- mília, mas disse ao procurador que tinha
quanto ela estava grávida do seu primeiro muito medo de apresentar uma queixa
filho. “Naquela primeira vez ele bateu-me, formal. Sendo o caso muito grave o pro-
pontapeou o bebé na minha barriga e atirou- curador iniciou, independentemente, um
me do telhado”, disse ela. “O bebé sobreviveu, processo para assegurar uma ordem de
mas penso que [a criança] tem uma doença proteção para a Selvi. O tribunal ordenou
mental.” Desde então, a violência tem au- ao marido da Selvi que se afastasse dela e
mentado, quanto à frequência e gravidade, e lhe pagasse uma prestação de alimentos.
agora afeta mesmo as crianças. O marido da Mas a ordem nunca foi executada. Ele não
Selvi controla todos os aspetos da sua vida e pagou quaisquer prestações de alimentos,
é extremamente ciumento. Ela relatou: “Ele nunca se mudou de casa e continuou a
viola-me a toda a hora e verifica os meus flui- bater-lhe. A polícia nunca a foi ver depois
dos ‘lá em baixo’ para confirmar que eu não da ordem ter sido emitida.
tive sexo [com um outro homem].” Numa dada altura Selvi mudou-se para
Em 2008, Selvi foi finalmente à polícia um abrigo. Porém, nem mesmo o abrigo
depois do seu marido ter “partido o seu oferecia segurança do seu marido que apa-
crânio e braço”. A polícia trouxe o seu ma- receu um dia depois da polícia ter revela-
rido à esquadra, deram ao casal alguma do a localização do abrigo. Uma mulher,
comida e mandaram-nos para casa, dizen- a trabalhar no abrigo disse à Selvi: “Fala
do-lhe: “Não há problema, falámos com com o teu marido, ele está aqui, a chorar.”
ele, estão novamente juntos.” A segunda Quando ela falou com ele, ele espetou um
vez que Selvi foi à esquadra, eles levaram- garfo no seu braço, resultando numa ci-
na ao hospital já que ela estava a sangrar catriz que ela mostrou na entrevista. Ele
da sua cabeça, pois ele tinha-a atingido levou-a para casa.
com uma pedra. No entanto, disseram-lhe Em junho de 2010, na altura em que a Hu-
que se devia reconciliar com o seu esposo. man Rights Watch falou com a Selvi, os
Nesta altura, em 2009, o marido da Selvi abusos continuavam. O seu esposo vive
trancou-a num quarto, batendo-lhe todos com ela, raramente trabalha, joga, não
os dias. Quando, numa terceira vez ela es- paga as contas e agride Selvi e as crianças
capou e foi à esquadra, eles chamaram o frequentemente. Ela tem muito medo de
marido e ele pediu desculpa. A polícia en- mandar as crianças para um dormitório do
viou-a para casa novamente. Em 2010, Sel- Estado e tem terror de fugir. Não consegue
vi foi, pela quarta vez, à esquadra quan- cuidados pré-natais que são urgentes, já
do o seu marido trouxe, à noite, amigos a que os abusos incluem pontapés no seu
casa tendo-lhes “oferecido” a Selvi. Para abdómen, pois o seu cartão do Estado do
fugir, ela saltou do telhado e fugiu para a seguro de saúde está entre os documen-
esquadra da polícia. O seu marido disse à tos civis que o seu marido queimou, numa
polícia que ela estava a mentir. Eles acredi- dada ocasião.
E. DIREITOS HUMANOS DAS MULHERES 193
A SABER
1. DIREITOS HUMANOS DAS MULHE- o Artº 1º da Declaração Universal dos Di-
RES reitos Humanos (DUDH) estava a ser redi-
gido em 1948. Esta mudança na formula-
As mulheres tiveram de lutar pelo seu re- ção tornou claro que os direitos humanos
conhecimento como seres humanos ple- pertencem a todos os seres humanos, não
nos e pelos seus direitos humanos básicos importa se mulher ou homem, e introdu-
por um longo período de tempo e, infe- ziu a igualdade como um dos princípios
lizmente, a luta ainda não terminou. Em- fundamentais no discurso e regime de pro-
bora a sua situação tenha melhorado de teção dos direitos humanos internacional.
muitas formas, quase globalmente, fatores O princípio da igualdade como é formal-
sociais ainda impedem a total e imediata mente expresso na lei, sem diferenciação
implementação dos direitos humanos para entre mulheres e homens, envolve fre-
as mulheres em todo o mundo. O séc. XX quentemente uma discriminação oculta
trouxe muitos avanços, mas também mui- contra as mulheres. Devido às diferentes
tos retrocessos, e nem mesmo em tempo posições e papéis que as mulheres e os ho-
de paz e progresso as mulheres e os seus mens têm tradicionalmente na sociedade,
direitos humanos foram alvo de atenção a igualdade de iure resulta, muitas vezes,
especial e nem ninguém, nessa altura, se na discriminação de facto. Esta situação
opôs a tal política. No entanto, em todos obrigou os ativistas dos direitos humanos
os períodos da história se podem encontrar das mulheres a promover a diferenciação
heroínas que lutaram pelos seus direitos entre igualdade formal e substantiva.
e pelos direitos de outras mulheres, com Em muitos contextos, as noções formais
armas ou palavras. Eleanor Roosevelt, por de igualdade não ajudaram as pessoas em
exemplo, insistiu que devia ser usado “to- situações de desvantagem. A noção tem de
dos os seres humanos são iguais” em vez evoluir na direção de uma definição subs-
de “todos os homens são irmãos” quando tantiva de igualdade tendo em conta plu-
194 II. MÓDULOS SOBRE QUESTÕES SELECIONADAS DE DIREITOS HUMANOS
lhes seja assegurada proteção especial. A prol da libertação e igualdade. Uma das
violência doméstica e outras formas de mais famosas proponentes do movimen-
violência ameaçam a segurança humana to foi Olympe de Gouges que escreveu a
das mulheres. Declaração dos Direitos da Mulher e da
Cidadã. Ela, assim como muitas das suas
A segurança humana trata, também, de companheiras, pagou na guilhotina o com-
assegurar o acesso igual à educação, promisso assumido com os direitos das
aos serviços sociais e ao emprego para mulheres.
todos, mesmo em tempo de paz. Às
mulheres é muitas vezes negado o ple- “A mulher nasce livre e goza de direitos
no acesso a estas áreas e o pleno gozo iguais aos dos homens em todos os as-
destes direitos. Assim, as mulheres e as petos”.
crianças, em particular, podem benefi- Artº 1º Declaração dos Direitos da Mulher e da
ciar de uma abordagem com base nos Cidadã.1789.
direitos humanos à segurança humana,
o que prova que esta não se atinge se os Também a Grã-Bretanha se revê numa
direitos humanos não forem totalmente longa e forte tradição de luta das mulhe-
respeitados. Desta forma, a erradica- res por direitos iguais. É até muitas vezes
ção de qualquer forma de discrimina- referida como “a terra natal do feminis-
ção, particularmente contra mulheres mo”. Logo por volta de 1830, as mulheres
e crianças, deve constituir uma priori- britânicas começaram a exigir o direito ao
dade na agenda da segurança humana. voto. Lutaram durante mais de 80 anos
Tem também particular relevância para com métodos distintos e, finalmente, em
a segurança humana, a situação das 1918, alcançaram os seus objetivos quan-
mulheres nos conflitos armados e a sua do lhes foi concedido o direito ao voto, a
proteção. partir dos 30 anos de idade. Outras áreas
de ação prioritárias destas primeiras fe-
Direitos Humanos em Conflito
ministas incluíram o acesso à educação,
Armado
o direito das mulheres casadas à proprie-
dade e o direito a desempenhar cargos
2. DEFINIÇÃO públicos.
E DESENVOLVIMENTO
DA QUESTÃO O Conselho Internacional das Mulheres
foi fundado logo em 1888 e, ainda hoje,
Uma Retrospetiva Histórica existe. Tem a sua sede em Paris e participa
Um importante acontecimento histórico, ativamente no processo de garantia dos di-
a Revolução Francesa, marca o começo reitos das mulheres, através de encontros
da luta das mulheres no sentido de serem internacionais, de seminários e workshops
reconhecidas como seres humanos iguais, nacionais, regionais e sub-regionais, com
num mundo masculino. Esta época consti- um programa de desenvolvimento intensi-
tui não só o começo do movimento a favor vo de projetos, em cooperação com agên-
dos direitos civis e políticos das mulheres cias internacionais, pelas Resoluções redi-
como também preparou o caminho para gidas e adotadas pela Assembleia-Geral,
o primeiro movimento de mulheres em pela cooperação, a todos os níveis, com
196 II. MÓDULOS SOBRE QUESTÕES SELECIONADAS DE DIREITOS HUMANOS
outras organizações não governamentais as pessoas cegas perante este facto. Os di-
e através de planos trienais de ação, em reitos fundamentais de mais de metade da
cada um dos seus cinco Comités Perma- humanidade foram esquecidos, o que, ine-
nentes. vitavelmente, conduziu à conclusão de que
não pode haver neutralidade de género nas
O primeiro órgão intergovernamental a leis internacionais ou nacionais, enquan-
tratar dos direitos humanos das mulheres to as sociedades, em todo o mundo, não
foi a Comissão Interamericana sobre as forem neutrais relativamente ao género, e
Mulheres (CIM), criada em 1928, para a continuem a discriminar as mulheres.
região da América Latina. Este órgão foi
o responsável pela elaboração do proje- Foi apenas nos anos 70 que a desigualdade
to da Convenção Interamericana sobre em muitas áreas da vida diária, a pobreza
a Nacionalidade das Mulheres, adotado entre mulheres e a discriminação contra me-
pela Organização dos Estados Americanos ninas levou as Nações Unidas a decidir ini-
(OEA), em 1933. Este tratado provocou ciar a Década para as Mulheres das Nações
um debate sobre o modo como a região Unidas: Igualdade, Desenvolvimento e
estava a desenvolver legislação que tratas- Paz, de 1976 a 1985. Em 1979, a Década cul-
se dos direitos humanos. minou com a adoção da Convenção sobre
a Eliminação de Todas as Formas de Dis-
Desde o início das Nações Unidas, em 1945, criminação contra as Mulheres (CEDM).
as mulheres procuraram participar na estru- Este documento é o mais importante instru-
tura e fazer sentir a sua presença no conteú- mento de direitos humanos para a proteção
do e na implementação dos instrumentos e e promoção dos direitos das mulheres e o
mecanismos dos direitos humanos. primeiro documento a reconhecer expres-
samente as mulheres como seres humanos
A Comissão para a Estatuto da Mulher plenos. A CEDM contém direitos civis e po-
(CEM) foi criada em 1946, com o mandato líticos, assim como direitos económicos, so-
de promover os direitos das mulheres em ciais e culturais, unindo os direitos humanos
todo o mundo. A sua primeira presidente que, por exemplo, nos Pactos Internacionais,
foi Bodil Boegstrup, da Bélgica. A CEM pro- estão divididos em duas categorias.
moveu a inclusão explícita dos direitos das
mulheres na DUDH e apresenta recomen- A Convenção regula questões relaciona-
dações ao Conselho Económico e Social das com a vida pública e privada das mu-
(ECOSOC), no respeitante a problemas ur- lheres. Vários artigos lidam com o papel
gentes a necessitarem de uma resposta ime- da mulher na família e na sociedade, a
diata, na área dos direitos das mulheres. necessidade de partilhar responsabili-
dades dentro da família e a urgência na
Embora as mulheres contribuíssem de igual implementação de mudanças nos sis-
forma, e desde o início, para a evolução do temas sociais e culturais que atribuem
sistema internacional político, económico e uma posição subordinada às mulheres.
social, a atenção dada aos problemas das Só através de tais mudanças elementa-
mulheres era mínima. Décadas de cegueira res é que o reconhecimento dos direitos
relativamente ao género, nos documentos humanos das mulheres pode ser trazido
dos direitos humanos, tornava, também, ao nível global. Até maio de 2012, 187
E. DIREITOS HUMANOS DAS MULHERES 197
ONG internacionais (como a Amnistia In- trou que o Egito ainda está entre os países
ternacional) e locais (como a Coligação do com a mais elevada (90%) prevalência de
Cairo do Egito contra a MGF), também as MGF no mundo. Para além das atitudes
Nações Unidas abordam frequentemen- pró-MGF de uma maioria de mulheres
te este assunto: em 2005, através de uma em ambos os cenários urbanos e rurais
abordagem estatística da UNICEF sobre a e das discussões políticas cada vez mais
MGF, em 2008, com a publicação de uma acesas com a Irmandade Muçulmana e fa-
declaração de interagências sobre a eli- ções Salafi, a impunidade é um dos prin-
minação da mutilação genital feminina cipais obstáculos para a redução da MGF
e, em 2010, através da promoção de uma no Egito. “Se denunciarmos a um polícia
estratégia global dirigida aos profissionais na esquadra local, estaremos a apresentar
da saúde para não realizarem a MGF. As uma denúncia junto a alguém que acre-
conclusões da UNICEF permanecem váli- dita nela”, explica um ativista anti MGF
das: as taxas de prevalência da MGF es- local.
tão lentamente a diminuir nalguns países,
as atitudes perante a MGF estão a mudar Uma pandemia que coloca seriamente em
lentamente com mais mulheres a oporem- risco as mulheres é o VIH/SIDA. Apesar
se à sua continuação. Considerando que, das novas infeções em todo o mundo terem
nalguns países, a Primavera Árabe trouxe atingido o pico em 1997 e de o número de
parlamentos e/ou governos com participa- novas infeções ter diminuído desde então,
ção islâmica, que tendem a adotar atitudes a percentagem de mulheres a viverem com
benevolentes em relação à MGF. Os luta- o VIH tem aumentado continuamente nas
dores contra a MGF devem considerar as últimas décadas. Em termos globais, as
seguintes recomendações: as estratégias mulheres representam metade de todas as
para acabar com a MGF enquanto um pessoas que vivem com VIH: nas Caraíbas,
comportamento social devem ser acom- no Norte de África e no Médio Oriente, a
panhadas de educação integral, com base percentagem é de cerca de 50%, na África
na comunidade e sensibilização; os pro- Subsaariana é de 59%, enquanto que as ta-
gramas devem ser específicos para cada xas de infeção na Europa são cerca de 27%
país e adaptados de forma a refletirem as e a América do Norte apresenta a menor
variações regionais, étnicas e socioeconó- taxa de todo o mundo de 21%.
micas, e a separação pormenorizada dos No entanto, o Relatório do Dia Mundial
dados por variáveis socioeconómicas pode da SIDA do UNAIDS para 2011 mostrou
otimizar significativamente e fortalecer os algumas tendências encorajadoras na luta
esforços de promoção ao nível nacional. contra a SIDA: a proporção de mulheres
a viverem com o VIH permaneceu está-
O caso do Egito mostra a necessidade vel e as novas infeções, em geral, dimi-
destas estratégias na linha de ação: em- nuíram em 33 países, 22 deles na África
bora a mutilação genital feminina tenha Subsaariana (a região mais afetada pela
sido proibida e seja punível com multa ou epidemia de SIDA), devido a mudanças
prisão, logo em 1959 (uma proibição con- no comportamento sexual, aumento da
firmada por vários decretos e decisões de idade do primeiro contacto sexual e au-
tribunais superiores, o mais recente em mento do tratamento antirretroviral nas
2008), o estudo de 2005 da UNICEF mos- mulheres grávidas.
202 II. MÓDULOS SOBRE QUESTÕES SELECIONADAS DE DIREITOS HUMANOS
O relatório apresenta uma visão positiva vivem ou que sejam afetadas pelo VIH em
cautelosa de que o objetivo de erradica- situações de conflito e pós-conflito.
ção das novas infeções em crianças pode
ser alcançado até 2015, se os esforços se Direito à Saúde
intensificarem em quatro áreas de ação:
prevenção da infeção do VIH nas mulhe- “Os Estados devem estabelecer um me-
res em idade reprodutiva, parando-se a lhor equilíbrio entre o controlo das fron-
transmissão sexual e relacionada com as teiras e a sua obrigação de proteger as
drogas; integrando-se os esforços de pre- pessoas que são titulares de direitos,
venção no cuidado pré-natal, possibilitan- nomeadamente, requerentes de asi-
do-se o acesso das mulheres aos serviços lo e vítimas presumidas de tráfico. [...]
de planeamento familiar; garantindo-se As obrigações de proteção para com as víti-
testes regulares de VIH e aconselhamen- mas de violações de direitos humanos devem
to às mulheres grávidas, assim como o ser vistas como parte integrante de uma po-
acesso a medicamentos antirretrovirais às lítica de migração ‘saudável’.”
mulheres grávidas com o VIH e aos seus Maria Grazia Giammarinaro. 2012.
recém-nascidos. A este respeito a África
do Sul pode servir como um exemplo de
boas práticas: em 2010, o país forneceu Mulheres e Violência
medicamentos antirretrovirais a cerca de Em muitas sociedades, mulheres e meni-
95% das mulheres elegíveis, para preve- nas são sujeitas a violência física, sexual
nir novas infeções do VIH entre as crian- e psicológica que é transversal a diferen-
ças, o que significa que a taxa de provisão tes rendimentos, classes e culturas, tanto
quase duplicou em apenas três anos. Esta na vida pública, como na privada. Muitas
conquista reflete o compromisso político, vezes, as mulheres são vítimas de viola-
o forte envolvimento da sociedade civil, ções, abusos sexuais, assédio sexual ou
uma prestação de serviços descentralizada intimidação. Escravidão sexual, crimes
e o empoderamento dos enfermeiros. relacionados com o dote, crimes de hon-
Também em 2011, o Conselho de Seguran- ra, gravidez forçada, prostituição forçada,
ça das Nações Unidas, na sua Resolução esterilização e abortos forçados, seleção
1983, afirmou que as mulheres e meninas pré-natal do sexo, infanticídio feminino e
são particularmente afetadas pelo VIH e a mutilação genital feminina são também
que o fardo desproporcional de VIH e SIDA atos de violência cometidos contra as mu-
nas mulheres é um dos obstáculos persis- lheres.
tentes e desafios para a igualdade de gé-
nero e empoderamento das mulheres. No Factos e números
âmbito do seu mandato de manutenção de
paz, o Conselho de Segurança apelou aos • No mínimo, uma em cada três mulhe-
Estados-membros e a outras partes inte- res no mundo já foi abusada, de algu-
ressadas para apoiarem o desenvolvimen- ma forma, durante a sua vida. Assim,
to e fortalecimento das capacidades dos a violência sexual contra as mulheres
sistemas nacionais de saúde e redes da so- e meninas é um problema de propor-
ciedade civil, a fim de prestarem uma as- ções pandémicas. Para além do mais,
sistência sustentável para as mulheres que as mulheres e as meninas normalmen-
E. DIREITOS HUMANOS DAS MULHERES 203
da pela Comissão Interamericana das Mu- lho sem discriminação em razão do género,
lheres ao longo de um processo de cinco encontra-se previsto no Protocolo Adicional
anos e constitui um quadro importante a de 1988.
nível político e jurídico. Lança as bases
para uma estratégia coerente de aborda- Mulheres e Conflitos Armados
gem ao problema da violência, tornando As mulheres muitas vezes tornam-se as
obrigatória a implementação, por parte primeiras vítimas de violência durante a
dos Estados, de estratégias públicas para a guerra e o conflito armado. No seu ensaio
prevenção da violência e apoio às vítimas. “A Segunda Frente: a Lógica da Violência
Sexual”, Ruth Seifert afirma que, em mui-
No quadro da Comissão Africana dos Di- tos casos, é uma estratégia militar atingir
reitos Humanos e dos Povos, o Protocolo à as mulheres, de modo a destruir o inimigo.
Carta Africana dos Direitos Humanos e dos Tal como demonstrado acima, a violência
Povos sobre os Direitos das Mulheres em sexual contra a mulher é um crime que as-
África (Protocolo de Maputo), foi elaborado sume proporções pandémicas. Se, na vio-
e adotado pelos Estados-membros da União lência com a origem num parceiro íntimo
Africana (UA) em 2003, e subsequentemen- esta constitui uma forma dos homens do-
te entrou em vigor em 2005. Até maio de minarem as mulheres, a violência sexual
2012, 30 dos 53 Estados-membros da União em tempos de guerra consiste numa forma
Africana ratificaram este Protocolo. de comunicação entre homens, através do
atropelamento dos corpos das mulheres.
Entre as principais convenções do Conselho As mulheres e as meninas são considera-
da Europa (CdE), há duas convenções no das como táticas de guerra para humilhar,
âmbito dos direitos das mulheres: a Con- dominar, introduzir o medo, punir, disper-
venção Europeia dos Direitos Humanos sar e/ou deslocar à força os membros de
(CEDH) e a Carta Social Europeia, e os seus uma comunidade ou grupo étnico. A vio-
respetivos Protocolos. Embora os direitos lação e outras formas de violência sexu-
das mulheres não sejam explicitamente dis- al podem mesmo ser consideradas como
cutidos na CEDH, o artº 14º proíbe qualquer genocídio quando cometida com o intuito
distinção em razão do género (ou outras de destruir um grupo no seu todo ou em
razões). O Protocolo Adicional nº7 à Con- parte, como foi considerado pelo Tribunal
venção adicionou aos direitos protegidos, a Penal Internacional para o Ruanda (TPIR)
igualdade entre cônjuges no respeitante aos na sua decisão relativa a Jean-Paul Akaye-
seus direitos e responsabilidades no casa- su. Conclui-se, também da guerra na Bós-
mento, e no Protocolo nº12, é estabeleci- nia do início dos anos 90, que a “limpeza
da a proibição geral da discriminação por étnica” é uma estratégia de guerra e a vio-
qualquer autoridade pública, por qualquer lação não é um efeito lateral mas um dos
razão, incluindo o género. Os direitos espe- seus métodos. Tendo começado com os tri-
cíficos das mulheres são definidos na Carta bunais do Ruanda e da antiga Jugoslávia,
Social Europeia, tais como a remuneração estes crimes são agora perseguidos e não
igual, proteção materna, proteção de traba- mais permanecem na sombra da impuni-
lhadoras e a proteção social e económica de dade. O Estatuto de 1998 do Tribunal Penal
mulheres e crianças. O direito a oportunida- Internacional, pela primeira vez na histó-
des e tratamento iguais, em relação ao traba- ria, designa expressamente a violação, a
E. DIREITOS HUMANOS DAS MULHERES 205
gravidez e prostituição forçadas como cri- mente violência sexual, durante o confli-
mes contra a humanidade e estabelece um to. Todos estes fatores devem ser tidos em
sistema de responsabilização individual consideração, especialmente em futuras
que tem como objetivo tanto trazer justi- missões de manutenção de paz, de modo a
ça para as vítimas como a pena adequada que seja fornecida às mulheres a máxima
para os perpetradores de tais crimes. assistência possível para lidar com as suas
necessidades especiais.
“Agora é mais perigoso ser-se uma mu-
lher do que um soldado num conflito mo- Uma mudança de paradigma na recons-
derno.” trução pós-conflito foi trazida pela Res.
Maj. Gen. Patrick Cammaert. 2008.
1325 (2000) do Conselho de Segurança da
ONU que foi o primeiro documento legal
do Conselho a exigir às partes em conflito
Factos e números o respeito pelos direitos das mulheres e o
apoio à sua participação nas negociações
• Foram proferidas, no Tribunal Penal para a paz e na reconstrução pós-conflito,
Internacional para a antiga Jugoslá- e que foi seguida pelas Resoluções 1888,
via, 18 condenações relacionadas com 1889 e 1894 (2009). As Resoluções enfati-
a violência sexual, enquanto funcio- zaram a necessidade de adotar uma pers-
nários das Nações Unidas estimam petiva de género em conflitos armados,
que as vítimas de violações ascendam assim como na gestão institucional dos
a 60.000. O número de condenações conflitos, na manutenção da paz e recons-
de outros tribunais é mais baixa: oito trução pós-conflito, para dar formação aos
pelo Tribunal Penal Internacional para funcionários sobre os direitos das mulheres
o Ruanda e seis pelo Tribunal Especial e, da mesma forma, incluir as mulheres em
para a Serra Leoa. processos de manutenção da paz e segu-
rança, especialmente ao nível da tomada
As mulheres raramente têm um papel ati- de decisões. Vários Estados estabeleceram,
vo nas decisões que levam ao conflito ar- entretanto, planos nacionais de ação para a
mado. Pelo contrário, elas trabalham para implementação das Resoluções e iniciativas
preservar ordem social no meio dos confli- da sociedade civil trabalham com o mes-
tos e dão o seu melhor para garantir uma mo objetivo. Contudo, na prática, a ONU
vida o mais normal possível. Além disso, dificilmente consegue atingir os seus pró-
as mulheres, “muitas vezes suportam uma prios objetivos: Nenhuma mulher foi, até
parte desproporcional das consequências agora, nomeada chefe ou mediadora prin-
da guerra”, como o Centro Internacional cipal para a paz em processos de negocia-
para a Investigação sobre as Mulheres afir- ção para a paz promovidos pela ONU, mas
mou no seu boletim informativo sobre re- em alguns processos desenvolvidos pela
construção pós-conflito. Muitas mulheres UA ou outras instituições, mulheres faziam
são esquecidas como viúvas que enfren- parte de equipas de mediadores. Um caso
tam o fardo pesado de apoiarem as suas recente positivo é o papel de Graça Machel
famílias, enquanto muitas vezes elas pró- como um dos três mediadores para a cri-
prias têm de lidar com o trauma causado se no Quénia em 2008. A participação das
por estarem expostas à violência, especial- mulheres nos processos de negociação para
206 II. MÓDULOS SOBRE QUESTÕES SELECIONADAS DE DIREITOS HUMANOS
a paz é ainda feita de forma ad hoc, não epidémicas. Esta bio-pirataria está a ser
sistematizada - em média, é menor do que agora justificada como uma nova “parce-
8% nos 11 processos de paz relativamente ria” entre agronegócios e as mulheres do
aos quais tal informação se encontra dis- Terceiro Mundo. Para nós, o furto não pode
ponível. Menos de 3% dos signatários dos ser a base de uma parceria.”
acordos de paz são mulheres. Fazendo face Vandana Shiva. 1998.
a estas insuficiências, entre outras, a As-
sembleia-Geral das Nações Unidas apoiou A deterioração dos recursos naturais tem
adicionalmente as Resoluções do Conselho efeitos negativos na saúde, bem-estar
de Segurança com a sua Resolução 66/132 e qualidade de vida da população como
em 2011. um todo, mas afeta especialmente as mu-
lheres. Além disso, o seu conhecimento,
Direitos Humanos em Conflito competências e experiências são raramen-
Armado te tomados em consideração pelos deci-
sores, que são maioritariamente homens.
Mulheres e Recursos Naturais A Conferência das Nações Unidas sobre
De acordo com o excerto de “Monocultu- Desenvolvimento Sustentável Rio+20,
ras, Monopólios e Mitos e a Masculiniza- centrou-se, por isso, na igualdade de gé-
ção da Agricultura”, de Vandana Shiva, nero como sendo fundamental para um
as mulheres na Índia têm um papel im- futuro sustentável, na discussão de estra-
portante no que respeita à preservação de tégias e programas para a igualdade de
conhecimentos sobre recursos naturais e género e o desenvolvimento sustentável e
ambiente: “as mulheres que se dedicam destacou o empoderamento das mulheres
à agricultura têm sido as guardiãs das se- nas chamadas economias verdes. A Dire-
mentes e as que as fazem crescer, através tora Executiva da ONU Mulheres, Michel-
dos tempos”. Isto não é apenas verdade na le Bachelet apelou a políticas robustas e
Índia, mas em todo o mundo. Através da compromissos fortes que refletissem com
sua gestão e uso dos recursos naturais, as clareza o papel central das mulheres no
mulheres providenciam sustento às suas desenvolvimento sustentável e condu-
famílias e comunidades. Assim, a tendên- zissem a uma mudança real na vida das
cia recente para a “apropriação das terras” pessoas, através da participação plena das
– aquisições de terras em larga escala por mulheres na agenda do desenvolvimento
empresas domésticas e transnacionais, sustentável.
governos e indivíduos, no seguimento
da crise mundial do preço dos alimentos A Menina
de 2007-2008 – fez das mulheres e das Em muitos países, a menina enfrenta dis-
suas crianças, as primeiras vítimas em criminação desde os seus primeiros anos
muitas regiões do hemisfério sul. de vida, ao longo da infância e na idade
adulta. Devido às atitudes e práticas no-
“O fenómeno da bio-pirataria através da civas, como a seleção pré-natal do sexo,
qual as empresas ocidentais estão a furtar o infanticídio feminino, a mutilação ge-
séculos de conhecimento coletivo e inova- nital feminina, a preferência pelos filhos
ção levada a cabo pelas mulheres do Tercei- rapazes, o casamento precoce, a explora-
ro Mundo está agora a atingir proporções ção sexual, as práticas relacionadas com
E. DIREITOS HUMANOS DAS MULHERES 207
tes recentes, tais como o caso de Sakineh sa do dote na Índia e nos países vizinhos,
Ashtiani no Irão, cuja execução foi adia- desde há décadas, as estatísticas da Índia
da diversas vezes e, no fim, transformada sobre criminalidade relatam milhares de
numa sentença de dez anos, depois de uma casos anuais e números crescentes desde
vaga de protestos internacionais em 2010 e a década de 90.
2011, ou o caso de 2012 de um casal do Mali,
condenados a 100 vergastadas pelo crime Hoje, a participação política das mulhe-
de terem tido um filho fora do casamento, res é considerada mais importante do que
demonstram que se alcançaram poucos re- nunca, uma vez que as mulheres podem
sultados na reconciliação da religião ou da abordar melhor as suas preocupações.
tradição com os direitos das mulheres. Nos últimos 50 anos, mais e mais mu-
lheres alcançaram o direito de voto e de
Proibição da Tortura se candidatar e ocupar cargos públicos.
Liberdades Religiosas De acordo com o anterior Fundo de De-
senvolvimento das Nações Unidas para a
Outra prática religiosa que afeta o quoti- Mulher (UNIFEM), cada vez mais mulhe-
diano das mulheres pode ser encontrada res procuram transformar a política, e os
na Índia onde a Sati, a tradição Hindu de grupos de mulheres estão-se a centrar em
autoimolação na pira funerária com o seu esforços para aumentarem a representação
marido falecido, foi proibida pelo gover- das mulheres nas eleições, para revigorar
no britânico em 1829, mas ainda ocorre a responsabilização política. Hoje, existem
como é provado pelos últimos casos docu- mais mulheres no governo do que nunca.
mentados em 2006 e 2008. Enquanto que A proporção de mulheres deputadas a ní-
a Sati, vista tradicionalmente como o ato vel nacional aumentou 8% na década de
altamente respeitado de uma total devo- 1998 a 2008, em relação à média global
ção da mulher ao seu marido, ainda existe atual de 18,4%, em comparação com o
embora mais raramente, na Índia moder- aumento de apenas 1%, nas duas décadas
na, há um aumento chocante do número após 1975. No entanto, em todo o mundo,
de mortes entre mulheres (na maioria, jo- a igualdade de género no âmbito da gover-
vens) cujos maridos estão bem e vivos. As nação democrática continua a ser bastante
chamadas “mortes por causa do dote”, às limitada. As mulheres encontram-se em
vezes também referidas como “homicídios menor número, de 4 para 1, nas legisla-
de noivas”, ocorrem muitas vezes após turas em todo o mundo. Em meados de
um longo período de perseguição e tortura 2009, apenas 17 chefes de Estado ou de
pelos parentes do noivo, de forma a pres- governo eram mulheres. Mesmo continu-
sionar a família da noiva a pagar um dote ando a aceleração da taxa atual relativa à
mais elevado do que o anteriormente acor- participação das mulheres, em compara-
dado. Estes incluem casos de mulheres ção com as décadas anteriores, estaremos
que são assassinadas, mas também que ainda muito longe de alcançar a “zona de
são, presumivelmente, forçadas a cometer paridade” de 40-60%. De acordo com esti-
suicídio por autoimolação, envenenamen- mativas da ONU Mulheres, os países com
to ou enforcamento. Apesar das ONG e do sistemas eleitorais representativos por
governo, bem como de iniciativas interna- maioria simples dos votos, sem qualquer
cionais de luta contra as mortes por cau- tipo de regime de quotas, não vão atingir
E. DIREITOS HUMANOS DAS MULHERES 209
CONVÉM SABER
da Declaração de Pequim e da Plataforma de
1. BOAS PRÁTICAS Ação relaciona as obrigações jurídicas com
a realidade, em muitos países, baseado em
Os Direitos Humanos numa Perspetiva relatórios de peritos, bem como em testemu-
de Género nhos de mulheres afetadas. Um outro manu-
O processo de interpretação dos instru- al “Between their Stories and our Realities”
mentos internacionais de direitos humanos foi produzido com o apoio do Instituto de
numa perspetiva sensível ao género já co- Viena para o Desenvolvimento e Coopera-
meçou. Um dos melhores exemplos é a ado- ção e pelo Departamento para a Cooperação
ção, pelo Comité dos Direitos Humanos das no Desenvolvimento do Ministério dos Ne-
Nações Unidas, do Comentário Geral nº gócios Estrangeiros Austríaco, em 1999, para
28, em março de 2000. Ao interpretar o artº comemorar o 20º aniversário da CEDM e é
3º do Pacto Internacional sobre os Direitos uma parte integrante da série de vídeo aci-
Civis e Políticos (PIDCP) no que respeita ma mencionada “Women Hold Up The Sky”.
aos direitos iguais de homens e mulheres no Com esta contribuição o People’s Movement
gozo de todos os direitos civis e políticos, o for Human Rights Education forneceu mate-
Comité reviu todos os artigos do Pacto atra- rial valioso para a formação das gerações fu-
vés de uma perspetiva sensível ao género. turas de ativistas dos direitos das mulheres.
Em 1992, o Comité Latino-Americano e
do Caribe para a Defesa dos Direitos da “Neste momento, gostaria de prestar home-
Mulher (CLADEM) lançou uma campanha nagem às mulheres da Women’s Caucus
que incluiu organizações de todo o mun- for Gender Justice, que tiveram em consi-
do que resultou na redação da Declaração deração as experiências das mulheres na
Universal dos Direitos Humanos (DUDH) guerra, identificaram estratégias para lidar
sob a perspetiva do género. Agora, esta com violações e ultrapassar a oposição in-
Declaração é usada como uma declara- tensa de muitos representantes nas nego-
ção “sombra”, para efeitos pedagógicos. ciações do Tribunal Penal Internacional
O objetivo é encorajar as mulheres não só (TPI), procurando garantir que a violação,
a aprender sobre direitos humanos, mas escravidão sexual, gravidez forçada e ou-
também a incluir neste quadro as suas tras formas de violência baseada no género
próprias experiências, necessidades e de- e sexual são incluídas no estatuto do TPI.”
sejos, expressos na sua própria língua. Mary Robinson, Alta Comissária das Nações Unidas
para os Direitos Humanos. 2000.
Formação para os Direitos das Mulheres
O People’s Movement for Human Rights O Apoio dos Meios de Informação Digi-
Education (PDHRE) fez uma importante tais aos Direitos das Mulheres e das Me-
contribuição para o avanço dos direitos das ninas
mulheres com o seu pioneiro “Passapor- Apesar do hiato digital mundial, mais mu-
te para a Dignidade” e as séries de vídeo lheres do que nunca, especialmente jo-
“Women Hold up the Sky”. O Passaporte vens e mulheres instruídas, têm acesso aos
para a Dignidade com a sua pesquisa global meios de informação eletrónicos e à World
sobre as 12 principais áreas de preocupação Wide Web. Um número crescente destas
212 II. MÓDULOS SOBRE QUESTÕES SELECIONADAS DE DIREITOS HUMANOS
esforço de vários anos a prevenir e elimi- ma das Nações Unidas, que se centravam
nar a violência contra as mulheres e me- exclusivamente na igualdade de género e
ninas em todas as partes do mundo. A empoderamento das mulheres: a Divisão
UNiTE apela aos governos, sociedade civil, para o Progresso das Mulheres, o Institu-
organizações de mulheres, jovens, ao setor to Internacional de Pesquisa e Formação
privado, aos meios de informação e a todo para a Promoção da Mulher, o Gabinete
o sistema da ONU para unirem forças para do Assessor Especial para Questões de
se enfrentar a pandemia global da violên- Género e Promoção da Mulher e o Fundo
cia contra as mulheres e meninas. de Desenvolvimento das Nações Unidas
A UNiTE pretende atingir até 2015 os se- para a Mulher (UNIFEM). As principais
guintes cinco objetivos, em todos os países: funções da ONU Mulheres são:
• a adoção e execução das leis internas • apoiar organismos intergovernamentais,
para enfrentar e punir todas as formas como a Comissão sobre o Estatuto das
de violência contra mulheres e meni- Mulheres, na sua formulação de políti-
nas; cas, padrões internacionais e normas;
• a adoção e implementação de planos de • ajudar os Estados-membros a imple-
ação nacionais multissetoriais; mentarem estas normas, disponibili-
• o reforço da recolha de dados sobre a zando-se para prestar apoio técnico e
prevalência da violência contra as mu- financeiro adequado aos países que o
lheres e meninas; solicitem, e estabelecerem parcerias efi-
• o aumento da consciência pública e mo- cazes com a sociedade civil; e
bilização social; e • manter o sistema das Nações Unidas
• a abordagem da violência sexual nos responsável pelos seus próprios com-
conflitos. promissos sobre a igualdade de género,
incluindo a monitorização regular do
Em 2010, as Nações Unidas agruparam as progresso de todo o sistema.
suas competências e esforços respeitantes
às mulheres e questões de género através da “No âmbito da ordem patriarcal existente,
criação da ONU Mulheres e a Entidade das a CEDM é um documento revolucionário
Nações Unidas para a Igualdade de Género extraordinário, único na sua perceção das
e o Empoderamento das Mulheres. mulheres enquanto seres humanos plenos.”
Shulamith Koenig. 2009.
Os Estados-membros da ONU deram,
desta forma, um passo histórico na ace- Um dos documentos mais recentes para a
leração do processo para se atingirem os aplicação e integração de questões de géne-
objetivos da organização respeitantes à ro na legislação e administração, bem como
igualdade de género e ao empoderamen- no âmbito das próprias Nações Unidas é a
to das mulheres. A constituição da ONU Resolução da Assembleia-Geral das Nações
Mulheres surgiu como parte da agenda Unidas 66/132, para o acompanhamento
de reforma das Nações Unidas, reunindo da Quarta Conferência Mundial sobre as
recursos e mandatos para obtenção de Mulheres, a implementação integral da De-
um impacto maior. Funde-se e constrói- claração e Plataforma de Ação de Pequim e
se sobre o trabalho importante de quatro dos resultados da vigésima terceira sessão
instituições distintas anteriores do siste- especial da Assembleia-Geral, em 2011.
E. DIREITOS HUMANOS DAS MULHERES 215
ATIVIDADES SELECIONADAS
ATIVIDADE I: a terminologia legal; trabalhar diferentes
PARAFRASEANDO A CEDM perspetivas sobre direitos das mulheres;
debater instrumentos jurídicos que lidam
Parte I: Introdução com os direitos das mulheres.
Esta atividade procura melhorar a compre- Grupo-alvo: Jovens adultos e adultos
ensão da CEDM e é especialmente direcio- Dimensão do grupo: 20-25; pequenos gru-
nada a não juristas que não estão familia- pos de trabalho e debate com o grupo todo
rizados com a terminologia jurídica. Duração: aproximadamente 60 minutos
Material: Cópias da CEDM, papel e caneta
Parte II: Informação Geral Competências envolvidas: leitura e para-
Tipo de atividade: Exercício fraseamento da terminologia jurídica, co-
Metas e objetivos: Sensibilização sobre os municação, cooperação e análise de dife-
direitos das mulheres; familiarizar-se com rentes pontos de vista.
E. DIREITOS HUMANOS DAS MULHERES 217
Parte III: Informação Específica sobre a intermédio dos homens? Quais são os
Atividade obstáculos à autonomia das mulheres?
Instruções: • O que diz a Constituição do seu país
Depois de fazer uma introdução à CEDM, sobre os direitos das mulheres? Existe
pedir aos participantes que se dividam em disparidade entre a realidade e a Cons-
grupos de 4 ou 5 pessoas. Cada grupo será tituição?
responsável por traduzir uma determinada • Tem conhecimento de algum processo
parte da CEDM para linguagem não jurídi- jurídico a decorrer atualmente a respei-
ca, linguagem corrente. É também possível to dos direitos humanos das mulheres?
entregar o mesmo artigo ou artigos a todos Qual é o assunto? Quais são os direitos
os grupos, o que torna o debate mais in- lesados?
teressante uma vez que diferentes pessoas Sugestões práticas:
poderão entender certas expressões de for- Trabalhar em pequenos grupos de quatro
ma diferente. ou cinco possibilita um debate mais inten-
Dar 30 minutos ao grupo para trabalhar sivo e permite aos participantes silencio-
e depois chamá-los para o plenário. sos ou tímidos uma melhor oportunidade
Cada grupo apresenta a sua “tradução” de se envolverem. Contudo, os resultados
ao grupo inteiro. Deixar tempo para o dos trabalhos de grupo devem ser sempre
debate e esclarecimento de questões. apresentados e debatidos na presença de
Depois, o grupo deve pensar na situa- todos de modo a garantir o mesmo nível
ção no seu país natal. O debate de todas de conhecimento a todos os participantes.
ou algumas das seguintes questões pode Outras sugestões:
ser útil na análise sobre o que pode ser A atividade pode ser realizada com qual-
modificado: quer documento jurídico de acordo com o
• A sua sociedade coloca os direitos das interesse dos participantes e os tópicos do
mulheres separados dos direitos huma- curso.
nos? Como é feita esta segregação: pela
lei? Pelo costume? Parte IV: Acompanhamento
• A segregação é direta? É um “facto da Um acompanhamento adequado pode ser
vida” sobre o qual ninguém fala? a organização de uma campanha para os
• A segregação afeta todas as mulheres? direitos das mulheres.
Se não, quais são as mulheres mais afe- Direitos relacionados/ outras áreas a ex-
tadas? plorar:
• Descreva exemplos particulares de se- Direitos humanos em geral, direitos das
gregação de género. minorias, não discriminação.
• Como respondem as mulheres à segre-
gação? ATIVIDADE II:
• Existem direitos humanos dos quais os O CAMINHO PARA A IGUALIA
homens gozam naturalmente enquanto
as mulheres têm de fazer um esforço Parte I: Introdução
especial para terem esses direitos reco- O caminho para a igualdade é longo e si-
nhecidos? nuoso...
• Existem aspetos da vida onde se espera Os participantes ajudam os viajantes a
que as mulheres devam agir através do encontrarem o seu caminho, por entre
218 II. MÓDULOS SOBRE QUESTÕES SELECIONADAS DE DIREITOS HUMANOS
abordar a forma como na realidade seria a prazo para aumentar a igualdade de gé-
Igualia e sobre os obstáculos: nero?
• As pessoas gostaram da atividade? De • Quais outros grupos são discriminados
que gostaram? na sua sociedade? Como se manifesta
• Qual das três perguntas foi a mais fácil de essa discriminação? Quais os direitos
debater? Qual foi a mais difícil? Porquê? humanos que estão a ser violados?
• Quais são as principais caraterísticas da • Como se podem empoderar os grupos
Igualia? desfavorecidos de forma a poderem re-
• Quais são os principais obstáculos que clamar os seus direitos?
impedem que a sociedade do presente
seja a Igualia ideal? Parte IV: Acompanhamento
• Se tivesse de classificar o seu país en- Considerar a política da sua escola, clube ou
tre todos os países do mundo, no que local de trabalho sobre a igualdade de oportu-
respeita à igualdade de oportunida- nidades em relação ao género e discutir como
des entre homens e mulheres, como o as políticas são implementadas e se são ne-
classificaria numa escala de 1 a 10? 1 é cessárias mudanças ou esforços para elevar a
muito desigual, 10 é a igualdade quase sua instituição ao estatuto da Igualia.
ideal. Direitos relacionados/ outras áreas a ex-
• O que precisa mudar, de forma a cons- plorar:
truir-se uma sociedade onde exista Direitos humanos em geral, direitos das
igualdade de género? minorias, não discriminação.
• Qual é o papel da educação para o em- (Fonte: Rui Gomes et al. (eds.). 2002.
poderamento e os direitos humanos? COMPASS. A manual on human rights
• Justificam-se as políticas de discrimina- education with young people.)
ção positiva enquanto medidas a curto
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222 II. MÓDULOS SOBRE QUESTÕES SELECIONADAS DE DIREITOS HUMANOS
“O primado do Direito é mais do que o uso formal dos instrumentos jurídicos, é também
o Primado da Justiça e da Proteção para todos os membros da sociedade contra um poder
governamental excessivo.”
Comissão Internacional de Juristas. 1986.
224 II. MÓDULOS SOBRE QUESTÕES SELECIONADAS DE DIREITOS HUMANOS
HISTÓRIA ILUSTRATIVA
Turquia: Farsa de Justiça no Julgamento cia decidiu que as suas declarações eram
de uma Ativista inadmissíveis como provas contra S.. Ne-
nhumas outras provas, testemunhais ou
Em 9 de fevereiro de 2011, S. vai ser jul- forenses, foram apresentadas para estabe-
gada pelo seu alegado envolvimento lecer uma ligação entre S. e a explosão.
numa explosão, em 1998, no Mercado de Verificou-se que uma declaração por escrito
Especiarias de Istambul, que matou sete supostamente feita pela tia de Ö., em que
pessoas e feriu mais de 100. É a terceira alegadamente identificou S. como tendo
tentativa para condená-la pela autoria de visitado a sua casa, foi fabricada, quando
um atentado com bomba letal apesar das se tornou claro que a sua tia apenas falava
provas substanciais de que não teve lugar curdo e não turco, tendo ela testemunhado
um atentado com bomba, mas sim que a que a polícia a tinha forçado a assinar um
explosão resultou de uma fuga de gás. documento cujo conteúdo ela desconhecia.
Em 1998, S., então com 27 anos, trabalha- No tribunal, tanto Ö. como a sua tia afir-
va num projeto de arte de rua em Istambul maram nunca sequer terem conhecido S..
quando foi detida. Um jovem de 19 anos de “O julgamento de S. representa uma per-
idade, Ö., também foi detido. O caso contra versão do sistema de justiça criminal e um
ele baseava-se na alegação, repetidamente abuso do processo equitativo”, disse Emma
negada, de que a explosão tinha resultado Sinclair-Webb, pesquisadora na Turquia
de um atentado com bomba e na acusação da Human Rights Watch, que irá assistir
feita por Ö., durante o interrogatório, da cul- ao julgamento. “A continuidade deste caso
pa de S.. Ö., mais tarde, retirou em tribunal desde há 12 anos viola os requisitos mais
a sua acusação, dizendo que tinha sido co- elementares para um julgamento justo. Es-
agido pela polícia, sob tortura. S. também tas acusações infundadas deveriam termi-
alega ter sido severamente torturada quando nar de uma vez por todas.”
se encontrava sob custódia da polícia. Persistem na Turquia preocupações bem
Inicialmente, os relatórios da polícia retira- fundadas sobre acusações motivadas po-
ram a hipótese de se tratar de um atentado liticamente, disse a Human Rights Watch.
com bomba, sugerindo que a explosão tinha Procuradores e juízes prosseguem proces-
sido causada por uma fuga de gás. O procu- sos, sem justificação, contra jornalistas e
rador que indiciou S. e Ö. rotulou a explosão editores, defensores dos direitos humanos,
como resultante de um atentado com bom- indivíduos que participam em manifesta-
ba, o que mais tarde foi refutado por três ções e pessoas envolvidas em atividades
relatórios separados de especialistas em di- legais políticas pró-curdas.
ferentes departamentos da universidade. Os S. é uma socióloga que fez campanhas e
relatórios da autópsia não referem quaisquer escreveu extensamente sobre questões dos
indícios de que as mortes tivessem sido cau- direitos humanos na Turquia, incluindo
sadas por um atentado à bomba. questões de género, dos direitos dos ho-
Quando Ö. foi absolvido de todas as acu- mossexuais, bissexuais e transsexuais, bem
sações, decisão confirmada pelo Tribunal como sobre os direitos dos curdos e de ou-
de Cassação, o tribunal de primeira instân- tras minorias. O seu julgamento é um dos
F. PRIMADO DO DIREITO E JULGAMENTO JUSTO 225
A SABER
1. INTRODUÇÃO duma sociedade democrática que se rege
pelo “primado do Direito”.
Imagine-se sentado num tribunal sem
saber porquê. Fica ainda mais confuso O Primado do Direito
quando o juiz começa a ler a acusação – o O primado do Direito abrange várias áreas
crime de que é acusado nunca antes foi e engloba aspetos políticos, constitucio-
considerado ilegal, uma vez que não se nais, jurídicos bem como dos direitos hu-
encontra descrito na atual legislação. Nin- manos. Qualquer sociedade democrática
guém responde às suas questões, sente-se tem de assegurar o respeito pelo primado
completamente incapaz de se defender a do Direito. Tal é essencial para a proteção
si próprio, porém, não lhe é facultado um efetiva dos direitos humanos.
advogado. Pior do que isto, quando se ini-
cia a inquirição das testemunhas, descobre Direito à Democracia
que pelo menos uma delas fala uma língua
que não compreende e que nenhum intér- Apesar de o primado do Direito ser um
prete está presente. Durante o julgamen- pilar da sociedade democrática, não
to, o juiz informa-o que esta é a segunda existe total consenso quanto a todos os
audiência, tendo a primeira decorrido sem seus elementos. Todavia, é comummente
a sua presença. À medida que decorre o aceite que os cidadãos só estão protegi-
julgamento, torna-se claro que todos estão dos contra atos arbitrários de autoridades
convencidos da sua culpa e que, na reali- públicas quando os seus direitos estejam
dade, a única questão é saber qual deve estabelecidos na lei. Esta lei tem de ser
ser a sua pena. de conhecimento público, tem de ser
aplicada de forma igualitária e o seu
Este exemplo demonstra o que acontece cumprimento tem de ser, efetivamente,
quando são violadas as garantias de um aplicado. Assim, torna-se evidente que
julgamento justo. O direito ao julgamen- a execução do poder estatal tem de ser
to justo, também denominado como “boa fundamentada em legislação elaborada
aplicação da justiça”, é um dos pilares de acordo com a Constituição e com o ob-
226 II. MÓDULOS SOBRE QUESTÕES SELECIONADAS DE DIREITOS HUMANOS
jetivo de garantir a liberdade, a justiça e a gos, como Aristóteles, que preferiam o esta-
certeza jurídica. do de direito ao estado discricionário. Outra
etapa pode ser identificada na Inglaterra me-
Em 1993, a Conferência Mundial das Na- dieval onde, em 1066, uma administração
ções Unidas sobre os Direitos Humanos, central foi estabelecida por Guilherme, o Con-
em Viena, reafirmou a ligação inquebrá- quistador. Embora o rei incorporasse os po-
vel entre o princípio do primado do Direi- deres executivo, legislativo e judicial centrais,
to e a proteção e promoção dos direitos ele próprio não se encontrava acima da lei –
humanos. Reconheceu que a ausência do era a lei que o tornara rei. Em consequência,
primado do Direito é um dos maiores obs- os tribunais de direito comum (common law)
táculos à implementação dos direitos hu- e o parlamento, em conjunto com a nobreza,
manos. O primado do Direito fornece os fortaleceram a sua influência no sistema na-
alicerces para a condução justa das rela- cional, estabelecendo a primeira monarquia
ções entre as pessoas, e é um pilar essen- parlamentar na Europa. As pedras angulares
cial do processo democrático. O primado do desenvolvimento do primado do Direito
do Direito também assegura a prestação foram a Magna Charta Libertatum (1215),
de contas e fornece um mecanismo de concedendo certos direitos civis e políticos
controlo daqueles que estão no poder. à nobreza, e a Lei do Habeas Corpus (1679)
que deu, a quem se encontrasse detido, o di-
“Para as Nações Unidas, o primado do reito inegável a ser informado das razões pe-
Direito refere-se a um princípio de gover- las quais a sua liberdade fora restrita.
nação no qual todas as pessoas, insti- Na Europa, o princípio do primado do Di-
tuições e entidades, públicas e privadas, reito ganhou importância no ambiente das
incluindo o próprio Estado, cumprem as revoluções civis, durante os séculos XVII e
XVIII. Atualmente, o primado do Direito é
leis promulgadas oficialmente, aplicadas
um princípio fundamental das instituições
com igualdade e imparcialidade e com-
nacionais e regionais em todo o mundo.
patíveis com os padrões e as normas in-
ternacionais de direitos humanos. Tam-
Primado do Direito, Julgamento Justo
bém requer medidas para a garantia da
e Segurança Humana
adesão aos princípios da supremacia do
direito, igualdade perante a lei, respon- A segurança humana tem a sua raiz no
sabilização em relação à lei, justiça na primado do Direito e no julgamento justo
aplicação da lei, separação dos poderes, e não se concretizará sem estes princípios
participação na tomada de decisões, se- fundamentais. Os princípios do primado
gurança jurídica, proibição da arbitrarie- do Direito e do julgamento justo contri-
dade e transparência processual e legal.” buem diretamente para a segurança da
pessoa, garantem que ninguém seja pro-
(Fonte: Nações Unidas. 2004. The Rule
cessado e preso de forma arbitrária e que
of Law and Transnational Justice in Con-
todos possam ser ouvidos em tribunal pe-
flict and Post-Conflict Societies.)
rante um juiz independente e imparcial.
Desenvolvimento Histórico do Primado A equidade nos procedimentos judiciais é
do Direito uma componente da justiça e assegura a
As raízes do princípio do primado do Direito confiança dos cidadãos numa jurisdição
podem ser encontradas já nos filósofos gre- com base na lei e imparcial.
F. PRIMADO DO DIREITO E JULGAMENTO JUSTO 227
2. Todos os acusados da prática de um 10. Ninguém deve ser condenado por atos
crime têm o direito a ser, atempada- ou omissões que não constituam um
mente, informados, em pormenor, ato delituoso, segundo o direito na-
num idioma que compreendam, da cional ou internacional, no momento
natureza e causa da acusação contra em que forem cometidos (“nullum
eles formulada. crimen, nulla poena sine lege”). Do
3. Todos os acusados da prática de um mesmo modo, não deve ser aplicada
crime têm o direito à presunção de nenhuma pena mais gravosa do que
inocência até ser provada a sua cul- aquela que era aplicável no momento
pa de acordo com a lei. em que a infração foi cometida.
4. O tribunal deve ser competente, in- 11. Todos têm o direito ao acesso gra-
dependente, imparcial e estabeleci- tuito a soluções judiciais eficazes e
do pela lei. equitativas. Todos aqueles que sejam
condenados pela prática de um crime
5. Todos têm direito a uma audiência equi- têm o direito a que a sentença que os
tativa e pública; termos em que, o público condena seja revista por um tribunal
só pode ser excluído em casos específicos. superior, nos termos da lei.
6. Todos têm o direito a ser julgados (Fonte: Extraídos dos principais instru-
sem demora excessiva. mentos dos Direitos Humanos da ONU.)
7. Todos têm o direito a estar presen-
te no julgamento. A pessoa acusada As disposições internacionais sobre o direito a
tem o direito a defender-se a si mes- um julgamento justo (por exemplo, o artº 14º
ma ou a ter a assistência de um de- do PIDCP que foi especificado e interpretado
fensor da sua escolha; se não tiver pelo Comité dos Direitos Humanos, no seu
defensor, deve ser informada do seu Comentário Geral nº 32, em 2007) aplicam-se
direito de ter um; sempre que o in- a todos os tribunais, quer ordinários quer
teresse da justiça o exigir deve ser- especiais. Em muitos países, existem tribu-
lhe atribuído um defensor oficioso, nais militares ou especiais que julgam civis.
a título gratuito, no caso de não ter Muitas vezes, a razão para o estabelecimento
meios para o remunerar. destes tribunais prende-se com permitir a apli-
8. A pessoa acusada tem direito a in- cação de procedimentos excecionais que não
terrogar, ou fazer interrogar, as tes- obedecem aos princípios normais da justiça.
temunhas de acusação e a obter a Embora o Pacto não proíba estas categorias
comparência e o interrogatório das de tribunais, as condições que estabelece, to-
testemunhas de defesa. A pessoa davia, indicam claramente que o julgamento
acusada tem direito a não ser força- de civis nestes tribunais deve ser excecional
da a testemunhar contra si própria e deve ter lugar em condições que garantam,
ou a confessar-se culpada. plenamente, o estipulado no PIDCP.
9. A pessoa acusada tem direito à assis-
Igualdade perante a Lei
tência gratuita de um intérprete, se
e perante os Tribunais
não compreender ou não falar a lín-
A garantia da igualdade é um dos princí-
gua utilizada no tribunal.
pios gerais do primado do Direito. Proíbe
F. PRIMADO DO DIREITO E JULGAMENTO JUSTO 229
lei assegura que quem vive de acordo com contra uma garantia financeira enquanto
a lei não corre o risco de, repentinamente, aguarda o início dos procedimentos judi-
ser punido pela prática de atos originaria- ciais. A existir na ordem jurídica de um
mente legais. Assim, a aplicação do princí- Estado, o direito à caução não pode ser re-
pio da não retroatividade é indispensável cusado, nem aplicado de forma arbitrária,
para a segurança jurídica. embora o juiz tenha poderes discricioná-
rios na tomada de decisão.
guns países ainda executam crianças in- e Iémen. Alguns destes países mudaram
fratoras. Estas execuções são poucas, em as suas leis para excluírem a prática. A
comparação com o número total de exe- execução de crianças infratoras represen-
cuções no mundo. O seu significado vai ta uma pequena fração do total de exe-
para além do seu número e questiona o cuções em todo o mundo registadas pela
compromisso dos Estados que realizam Amnistia Internacional, em cada ano. Os
estas execuções em relação ao respeito EUA e o Irão executaram mais crianças
pelo direito internacional. infratoras do que os outros oito países
Desde 1990, a Amnistia Internacional juntos e o Irão excedeu agora o total dos
documentou 87 execuções de crianças EUA, desde 1990, em 19 execuções de
infratoras, em 9 países: China, Repúbli- crianças infratoras.”
ca Democrática do Congo, Irão, Nigéria, (Fonte: Amnistia Internacional. Execu-
Paquistão, Arábia Saudita, Sudão, EUA tions of Juveniles since 1990.)
Execuções
Total de
conhecidas Países que executam crianças perpetradoras
execuções
Ano de crianças de crimes (o número de execuções conhecidas
conhecidas no
perpetradoras aparece entre parêntesis)
mundo
de crimes
1990 2 2029 Irão (1), EUA (1)
1991 0 2086 --
1992 6 1708 Irão (3), Paquistão (1), Arábia Saudita (1), EUA (1)
1993 5 1831 EUA (4), Iémen (1)
1994 0 2331 --
1995 1 3276 Irão (1)
1996 0 4272 --
1997 2 2607 Nigéria (1), Paquistão (1)
1998 3 2258 EUA (3)
1999 2 1813 Irão (1), EUA (1)
2000 6 1457 Rep. Dem. do Congo (1), Irão (1), EUA (4)
2001 3 3048 Irão (1), Paquistão (1), EUA (1)
2002 3 1526 EUA (3)
2003 2 1146 China (1), EUA (1)
2004 4 3797 China (1), Irão (3)
2005 10 2148 Irão (8) Sudão (2)
2006 5 1591 Irão (4), Paquistão (1)
F. PRIMADO DO DIREITO E JULGAMENTO JUSTO 235
Execuções
Total de
conhecidas Países que executam crianças perpetradoras
execuções
Ano de crianças de crimes (o número de execuções conhecidas
conhecidas no
perpetradoras aparece entre parêntesis)
mundo
de crimes
2007 14 1252 Irão (11), Arábia Saudita (2), Iémen (1)
2008 8 2390 Irão (8)
2009 7 714, excluindo Irão (5), Arábia Saudita (2)
a China
2010 1 527, excluindo Irão (1)
a China
2011 3 Não dispo- Irão (3)
nível
(Fonte: Amnistia Internacional: Executions of Juveniles since 1990. Disponível em: http://
www.amnesty.org/en/death-penalty/executions-of-child-offenders-since1990)
a maioria das mulheres no mundo, as bem como pelo mau funcionamento dos
leis que existem no papel nem sempre se sistemas judiciais nacionais. O estabeleci-
traduzem na igualdade e na justiça. Em mento de um regime baseado no primado
muitos contextos, tanto em países ricos do Direito que funcione bem é essencial
como pobres, a infraestrutura da justi- à democracia, sendo que tal objetivo de-
ça - a polícia, os tribunais e o judiciário mora a ser alcançado e requer recursos fi-
- falha às mulheres, o que se manifesta nanceiros. Além disso, é difícil alcançar a
através de serviços deficientes e atitu- independência judicial sem uma tradição
des hostis por parte das mesmas pesso- de respeito pelos valores democráticos e
as cujo dever é fazer cumprir os direitos pelas liberdades civis. Contudo, num mun-
das mulheres. Como resultado, apesar do de globalização económica, a exigência
da igualdade entre homens e mulheres internacional de estabilidade, de prestação
se encontrar garantida nas Constituições de contas e de transparência, que só podem
de 139 países e territórios, leis inade- ser garantidas por um regime que respeite
quadas e lacunas no quadro legislativo, o primado do Direito, continua a aumentar.
execuções deficientes e vastos hiatos na
implementação fazem destas garantias As violações do direito a um julgamento
promessas ocas, com pouco impacto no justo não ocorrem apenas em países em
dia a dia das mulheres. [...] Sistemas le- transição. Ao arrepio das garantias dos di-
gais e de justiça a funcionarem bem po- reitos humanos, 171 cidadãos estrangeiros
dem constituir um mecanismo vital para encontram-se detidos (12 dos quais desde
as mulheres alcançarem os seus direitos. janeiro de 2002) no centro de detenções
As leis e os sistemas de justiça moldam a na base naval dos EUA na Baía de Guan-
sociedade, promovendo a responsabiliza- tánamo, em Cuba, sem terem sido formal-
ção, travando os abusos de poder, crian- mente acusados da prática de um crime.
do novas normas que definem o que é Desde 2002, dos 779 detidos apenas uma
aceitável. Os tribunais têm sido um local pessoa foi condenada por um tribunal civil
fundamental para as mulheres reivindi- dos EUA. No seu relatório de 2011 sobre o
carem os seus direitos e, em casos raros, centro de detenções de Guantánamo, a Am-
provocarem uma mudança mais ampla nistia Internacional afirmou que “desde o
para todas as mulheres, através de lití- primeiro dia que os EUA não reconhecem a
gios estratégicos.” aplicabilidade do quadro jurídico dos direi-
tos humanos às detenções de Guantánamo.
(Fonte: ONU Mulheres. 2011. 2011- À medida que nos aproximamos de 11 de
2012 Progress of the World’s Women. janeiro de 2012, o dia 3.653 na vida desta
In Pursuit of Justice.) conhecida prisão, os EUA continuam a não
abordar as detenções num quadro de direi-
Direitos Humanos das Mulheres tos humanos. O agora muito referido objeti-
vo de encerramento do centro de detenções
Alguns dos mais difíceis problemas en- de Guantánamo permanecerá ilusório – ou
frentados pelos países em transição para será alcançado apenas com o custo da deslo-
a democracia estão diretamente relaciona- cação das violações – a não ser que o gover-
dos com os sistemas governativos e legais no dos EUA nos seus três ramos aborde as
caraterizados pela corrupção generalizada, detenções enquanto um assunto que inequi-
F. PRIMADO DO DIREITO E JULGAMENTO JUSTO 237
tos. A nível internacional, os tratados de Tal possibilidade existe, por exemplo, sob
direitos humanos foram celebrados para o Protocolo Facultativo referente ao Pacto
proteger os direitos humanos. Assim que Internacional sobre os Direitos Civis e Po-
um Estado se torna parte de um destes líticos, a Convenção Europeia dos Direitos
tratados está obrigado a garantir e a im- Humanos (Artº 34º), a Convenção Ameri-
plementar as disposições a nível domés- cana sobre Direitos Humanos (Artº 44º) e
tico. a Carta Africana dos Direitos Humanos e
dos Povos (Artº 55º). De acordo com estes
A fim de monitorizar a implementação das tratados, os particulares podem apresentar
disposições de direitos humanos, alguns a sua queixa perante o Comité dos Direi-
dos tratados de direitos humanos, como o tos Humanos da ONU ou o Tribunal Eu-
Pacto Internacional sobre os Direitos Civis ropeu dos Direitos Humanos, a Comissão
e Políticos (PIDCP), estabelecem um me- Interamericana dos Direitos Humanos ou
canismo de supervisão. Este mecanismo a Comissão Africana dos Direitos Huma-
consiste num sistema de relatórios pelo nos e dos Povos. Estes órgãos dos tratados
qual os Estados Partes estão obrigados a analisam a queixa e, caso encontrem uma
apresentar relatórios, a intervalos regula- violação, o Estado em questão é aconse-
res, a um órgão internacional de monito- lhado a tomar as medidas necessárias para
rização, sobre a forma como têm imple- alterar esta prática ou a lei e para reparar
mentado as disposições do tratado. No a situação da vítima. Os Estados Partes es-
que respeita à implementação das obri- tão vinculados às decisões do Tribunal Eu-
gações dos Estados contidas no PIDCP, o ropeu dos Direitos Humanos, do Tribunal
Comité dos Direitos Humanos da ONU Interamericano dos Direitos Humanos e do
comenta os relatórios dos Estados Partes, Tribunal Africano dos Direitos Humanos e
dá sugestões e faz recomendações para dos Povos, em todos os casos em que se-
melhorar a implementação das obrigações jam partes.
dos direitos humanos. Além disso, emite Como parte dos seus procedimentos te-
Comentários Gerais sobre a interpretação máticos, a Comissão de Direitos Huma-
do PIDCP, como o Comentário Geral nº 13 nos das Nações Unidas nomeou relatores
de 1984, sobre a igualdade perante os tri- especiais sobre as execuções arbitrárias,
bunais e o direito a um julgamento justo sumárias ou extrajudiciais (1982), sobre
e público, por um tribunal independente a tortura e penas ou tratamentos cru-
estabelecido por lei (artº 14º do PIDCP), éis, desumanos ou degradantes (1985),
que foi substituído pelo Comentário Geral sobre a independência dos juízes e ad-
nº 32 sobre o artº 14º: Direito à Igualdade vogados (1994), sobre a violência con-
perante os Tribunais e a um Julgamento tra as mulheres, as suas causas e con-
Justo, em 2007. sequências (1994), sobre a situação dos
Alguns dos tratados dos direitos humanos defensores de direitos humanos (2000)
também estabelecem um mecanismo de e sobre a promoção e proteção dos di-
queixa. Após a exaustão dos mecanismos reitos humanos na luta contra o terro-
de proteção domésticos, um indivíduo rismo (2005). Em 1991, foi estabelecido
pode apresentar uma “comunicação” sobre um grupo de trabalho sobre a detenção
uma alegada violação de direitos humanos arbitrária.
que sejam garantidos por aquele tratado.
F. PRIMADO DO DIREITO E JULGAMENTO JUSTO 239
CONVÉM SABER
os países africanos de um poder judicial
1. BOAS PRÁTICAS forte e independente, que beneficie da
confiança do povo, para uma democracia
Escritório para as Instituições Demo- e desenvolvimento sustentáveis, apelou a
cráticas e Direitos Humanos (ODIHR) estes países para adotarem medidas legis-
– OSCE lativas para salvaguardar a independência
O mandato do Escritório compreende do poder judicial; para lhe disponibiliza-
“[…] assegurar o pleno respeito pelos di- rem recursos suficientes para aquele cum-
reitos humanos e liberdades fundamen- prir a sua função; para darem aos juízes
tais, reger-se pelo primado do Direito, condições de vida decentes e condições
promover os princípios da democracia de trabalho aceitáveis para assegurar que
e […] construir, fortalecer e proteger as possam manter a sua independência; para
instituições democráticas bem como pro- se absterem de praticar atos que possam
mover a tolerância em toda a sociedade”. ameaçar, direta ou indiretamente, a inde-
No campo do primado do Direito, o Escri- pendência e a segurança dos juízes e ma-
tório está empenhado em vários projetos gistrados.
de ajuda técnica para fomentar o seu de- Além disso, apelou aos juízes africanos
senvolvimento. O Escritório executa pro- que organizem, a nível nacional e re-
gramas nas áreas do julgamento justo, da gional, encontros periódicos de forma a
justiça criminal e do primado do Direito; trocarem experiências e avaliarem os es-
além de que presta ajuda e dá formação a forços empreendidos, contribuindo para
advogados, juízes, procuradores, funcio- um poder judiciário eficaz e independen-
nários governamentais e à sociedade ci- te. Em 2011, a Comissão adotou os Prin-
vil. Através de projetos quanto a reformas cípios e Diretrizes sobre o Direito a um
legais e revisões legislativas, o Escritório Julgamento Justo e Assistência Jurídi-
ajuda os Estados a colocar as leis domés- ca em África, que incluem os princípios
ticas em sintonia com os compromissos gerais aplicáveis a todos os procedimen-
da OSCE e outras normas internacionais. tos jurídicos (por exemplo, audiências
Neste contexto, o Escritório opera, es- justas e públicas, tribunais independen-
sencialmente, na Europa de Leste e de tes e imparciais, etc.), formação judicial,
Sudeste, bem como na Ásia Central e no direito a soluções eficazes, acesso a ad-
Cáucaso. vogados e serviços jurídicos, assistência
oficiosa e assistência jurídica, direito dos
Fortalecimento da Independência do Po- civis não serem julgados em tribunais
der Judicial e Respeito pelo Direito a um militares, disposições aplicáveis à de-
Julgamento Justo tenção e privação de liberdade, etc. De
Na sua Resolução sobre o Respeito e o acordo com este instrumento, os prin-
Fortalecimento da Independência do Po- cípios e diretrizes estabelecidos devem
der Judicial, adotada em 1996, a Comis- tornar-se conhecidos por todos em Áfri-
são Africana dos Direitos Humanos e dos ca e ser promovidos e protegidos pelas
Povos, reconhecendo a importância para organizações da sociedade civil, juízes,
240 II. MÓDULOS SOBRE QUESTÕES SELECIONADAS DE DIREITOS HUMANOS
incluindo o próprio Estado, são responsá- 1966 Pacto Internacional sobre os Direi-
veis perante as leis promulgadas oficial- tos Civis e Políticos, artos 9º, 10º,
mente, aplicadas com igualdade e impar- 14º, 15º, 16º, 26º
cialidade e compatíveis com os padrões e 1969 Convenção Americana sobre Direi-
as normas internacionais de direitos hu- tos Humanos, artos 8º, 9º
manos. Também requer medidas para a
1977 Protocolo Adicional (I) às Con-
garantia da adesão aos princípios da su-
venções de Genebra, artos 44º,
premacia do direito, igualdade perante a
nº 4, 75º
lei, responsabilização em relação à lei, jus-
tiça na aplicação da lei, separação dos po- 1977 Protocolo Adicional (II) às Con-
deres, participação na tomada de decisões, venções de Genebra, Artº 6º
segurança jurídica, proibição da arbitrarie- 1979 Convenção sobre a Eliminação de
dade e transparência processual e legal.” Todas as Formas de Discriminação
(Fonte: Nações Unidas. 2004. Relatório contra as Mulheres, Artº 15º
do Secretário-Geral sobre o Primado do 1981 Carta Africana dos Direitos Huma-
Direito e Justiça de Transição em Socie- nos e dos Povos (Carta de Banjul),
dades em Conflito e Pós-Conflito.) artos 7º, 26º
1982 Relator Especial das Nações Uni-
3. CRONOLOGIA das sobre Execuções Extrajudi-
ciais, Sumárias ou Arbitrárias
1948 Declaração Universal dos Direitos Hu- 1984 Convenção contra a Tortura e Ou-
manos, artos 6º, 7º, 8º, 9º, 10º, 11º tras Penas ou Tratamentos Cru-
1948 Declaração Americana dos Direi- éis, Desumanos ou Degradantes,
tos e Deveres Humanos, artos I, II, artº 15º
XVII, XVIII, XXVI 1984 Protocolo nº 7 à Convenção Euro-
1949 Convenção de Genebra (III) relati- peia para a Proteção dos Direitos
va ao Tratamento dos Prisioneiros Humanos e das Liberdades Funda-
de Guerra, artº 3º, al. d), artos 17º, mentais, artos 1º, 2º, 3º, 4º
82º-88º 1984 Comentário Geral nº 13 sobre a
1949 Convenção de Genebra (IV) relati- Igualdade perante os Tribunais
va à Proteção de Civis em Tempo e o Direito a um Julgamento
de Guerra, artº 3º, al. d), artos 33º, Justo e Audiência Pública por
64º-67º, 70º-76º um Tribunal Independente esta-
belecido pela Lei (Artº 14º do
1950 Convenção Europeia para a Pro-
PIDCP)
teção dos Direitos Humanos e das
Liberdades Fundamentais, artos 5º, 1985 Princípios Básicos das Nações Uni-
6º, 7º, 13º das relativos à Independência da
Magistratura
1965 Convenção Internacional sobre a
Eliminação de Todas as Formas 1985 Regras Mínimas das Nações Uni-
de Discriminação Racial, artos 5º, das para a Administração da Justi-
al. a), 6º ça Juvenil (Regras de Pequim)
F. PRIMADO DO DIREITO E JULGAMENTO JUSTO 243
1985 Relator Especial das Nações Uni- Mulheres, as suas Causas e Conse-
das sobre a Tortura e outras Penas quências
ou Tratamentos Cruéis, Desuma-
1998 Estatuto de Roma do Tribunal Pe-
nos ou Degradantes
nal Internacional
1989 Convenção sobre os Direitos da
2000 Relator Especial das Nações Uni-
Criança, artos 37º, 40º
das sobre a Situação dos Defenso-
1990 Princípios Básicos das Nações Unidas res de Direitos Humanos
Relativos à Função dos Advogados
2004 Carta Árabe dos Direitos Huma-
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zes e Advogados Artigo 14º: Direito à Igualdade
1994 Relator Especial das Nações Uni- perante os Tribunais e a um Julga-
das para a Violência contra as mento Justo
ATIVIDADES SELECIONADAS
ATIVIDADE I: SER OUVIDO volver capacidades analíticas e demo-
OU NÃO SER OUVIDO? cráticas.
Grupo-alvo: Jovens adultos e adultos
Parte I: Introdução Dimensão do grupo: 15-20
Compreender as regras e os procedimen- Duração: cerca de 90 minutos
tos de um julgamento é essencial para a Preparação: Arranjar a sala como se fosse
compreensão do sistema judicial e para um tribunal. Colocar, à frente, uma mesa
poder defender os seus direitos. para o juiz e outras duas em ângulos cor-
retos em relação àquela, ficando uma em
Parte II: Informação Geral frente da outra, uma para o acusado e para
Tipo de Atividade: Dramatização a defesa, a outra para a acusação (equipa
Metas e objetivos: Experimentar uma de procuradores).
situação de tribunal; identificar a noção Competências envolvidas: Pensamento
de julgamento justo e público; desen- crítico e capacidades analíticas, capacida-
244 II. MÓDULOS SOBRE QUESTÕES SELECIONADAS DE DIREITOS HUMANOS
Aqueles que julgam o acusado não se de- Preparação: Preparar uma ficha informati-
vem deixar influenciar por outros. Com base va com a declaração do advogado de defe-
na dramatização, discutir o facto de que to- sa Gerry Spence (ver abaixo).
dos têm de ter uma oportunidade equitativa Competências envolvidas: Pensamento
de apresentar o seu caso. Isto é válido para crítico e capacidades analíticas, formação
casos criminais como para disputas civis, de opinião, capacidades de comunicação,
quando uma pessoa processa outra. expressar opiniões e pontos de vista dife-
Debater a definição usada pela Nações rentes sobre um assunto.
Unidas sobre o que constitui um tribunal
independente e imparcial: “independente” Parte III: Informação Específica sobre a
e “imparcial” significa que o tribunal deve Atividade
julgar cada caso de forma justa com base Instruções:
nas provas e no primado do Direito, sem Apresentar o tópico, permitindo que os par-
favorecer qualquer uma das partes por ra- ticipantes imaginem criminosos que sejam
zões políticas. seus conhecidos (ou mostrando um vídeo
Direitos relacionados/outras áreas a ex- sobre um deles). Se quiser, pode colocá-
plorar: los no quadro. Deixar que os participantes
A presunção da inocência, o reconheci- imaginem que são advogados de defesa de
mento como pessoa perante a lei, o direito clientes acusados de crimes conhecidos.
a uma defesa competente, elementos da Distribuir a declaração do advogado de
democracia. defesa Gerry Spence, que responde à ques-
(Fonte: adaptado de United Nations Cy- tão que lhe era, frequentemente, colocada:
berschoolbus. 2003. Disponível em:http:// “Como pode defender essas pessoas?”. Ini-
cyberschoolbus.un.org). ciar o debate sobre os direitos dos perpetra-
dores com base nesta declaração.
ATIVIDADE II: COMO PODE - Deve toda a pessoa ser considerada ino-
DEFENDER ESSAS PESSOAS? cente até que se prove a sua culpa?
- Se for acusado de um crime, deve ter sem-
Parte I: Introdução pre o direito de se defender a si próprio?
Esta atividade é um debate baseado em ca- - Deve permitir-se que toda a pessoa soli-
sos da vida real com o objetivo de identifi- cite aconselhamento jurídico e que o ob-
car preconceitos e a correspondente noção tenha de forma gratuita se não o puder
de julgamento justo. pagar?
- Deve toda a pessoa ser considerada igual
Parte II: Informação Geral perante a lei?
Tipo de atividade: Debate Se quiser, pode colocar alguns argumentos
Metas e objetivos: Identificar preconceitos no quadro para resumir o debate.
e limites de uma observação neutra; de-
senvolver capacidades analíticas e demo- Texto para a ficha informativa:
cráticas. Gerry Spence, advogado de defesa:
Grupo-alvo: Jovens adultos e adultos “Bom, acha que o arguido deve ser jul-
Dimensão do grupo: 15-20 gado antes de ser enforcado? Se sim, de-
Duração: cerca de 60 minutos. verá ser um julgamento justo? A ser um
Material: fichas informativas (ver abaixo) julgamento justo, deverá o arguido ter, ou
246 II. MÓDULOS SOBRE QUESTÕES SELECIONADAS DE DIREITOS HUMANOS
poder ter, um advogado? Se tiver um advo- das as garantias necessárias de defesa lhe
gado, deverá o advogado ser competente? sejam asseguradas.
Bom, então, se o advogado de defesa sou- 2 - Ninguém será condenado por ações ou
ber que o arguido é culpado deverá tentar omissões que, no momento da sua prática,
perder o caso? Se não, deverá ele dar o seu não constituíam ato delituoso à face do di-
melhor para que a acusação seja provada reito interno ou internacional. Do mesmo
para além de qualquer dúvida razoável? E modo, não será infligida pena mais grave
se ele der o seu melhor e a acusação não do que a que era aplicável no momento em
for provada para além de qualquer dúvida que o ato delituoso foi cometido.”
razoável e o júri absolver o arguido culpa- Escrevê-lo no quadro e explicar o seu sig-
do, de quem é a culpa? Culpamos o advo- nificado e propósito. Deve ser considera-
gado de defesa que fez o seu trabalho ou o do inocente até ser provada a sua culpa.
Ministério Público que não o fez?” Se for acusado de um crime, tem sempre
(Fonte: Adaptado de: Harper’s Magazine. o direito a defender-se a si próprio. Nin-
1997.) guém tem o direito de o condenar ou punir
por algo que não tenha feito. A presunção
Reações: da inocência e o direito a uma defesa são
Numa ronda de opiniões, pedir aos par- os dois princípios importantes articulados
ticipantes que resumam, brevemente, o neste artigo.
debate: Pode fazer o acompanhamento da ativida-
- Por que acham que os advogados defen- de “Ser ouvido ou não ser ouvido?” rela-
dem criminosos? cionando com isto.
- Acham que estes advogados são vistos
de mesma forma que os criminosos que Parte IV: Acompanhamento
defendem e porquê? Ler em voz alta os artigos 6º e 8º da DUDH.
Sugestões práticas: Artº 6º: “Todos os indivíduos têm di-
Pode apresentar a atividade mostrando um reito ao reconhecimento em todos os
vídeo ou lendo um artigo sobre criminosos lugares da sua personalidade jurídica.”
conhecidos. Pode também referir circuns- Explicar que isto significa que deve ser
tâncias locais e atuais e mencionar pessoas legalmente protegido da mesma forma,
que foram condenadas em debate público em todos os lugares e como todas as
depois de terem cometido um crime grave. outras pessoas. Definição: Uma pessoa
Se o fizer, tenha em conta as emoções que perante a lei é alguém que é reconhe-
tal tópico pode gerar. Não julgar as opini- cido pela lei como sujeito da proteção
ões dos participantes mas dizer claramen- oferecida pelo sistema legal e das res-
te que os direitos humanos são para todos ponsabilidades, por este, exigidas.
e que não podem ser derrogados de forma Artº 8º: “Toda a pessoa tem direito a re-
arbitrária em nenhum momento. curso efetivo para as jurisdições nacionais
Outras Sugestões: competentes contra os atos que violem os
Ler o artigo 11º da DUDH: direitos fundamentais reconhecidos pela
“1 - Toda a pessoa acusada de um ato de- Constituição ou pela lei.” Isto significa que
lituoso presume-se inocente até que a sua lhe deve ser permitido solicitar aconselha-
culpabilidade fique legalmente provada no mento jurídico quando os seus direitos hu-
decurso de um processo público em que to- manos não são respeitados.
F. PRIMADO DO DIREITO E JULGAMENTO JUSTO 247
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248 II. MÓDULOS SOBRE QUESTÕES SELECIONADAS DE DIREITOS HUMANOS
HISTÓRIA ILUSTRATIVA
Egito: Ativistas Livres Detidos em Visita O tiroteio, o rescaldo (manifestações que ter-
de Solidariedade minaram com a detenção de Muçulmanos e
Cristãos; detenção de ativistas que davam as
A 6 de janeiro de 2010, seis Cristãos cop- condolências às famílias das vítimas do tiro-
tas e um guarda Muçulmano foram atingi- teio) e o tratamento do caso pelas autoridades
dos por tiros no Egito quando os Cristãos demonstram a situação precária dos Cristãos
deixavam uma igreja em Nag’ Hammadi Coptas no Egito. Os Coptas são vítimas de
depois da missa de Natal. Os tiros foram ódio religioso e de ataques com base na sua
disparados de um carro em andamento. afiliação e prática religiosas. No seu relatório
De acordo com relatórios, três homens fo- anual de 2010, a HRW acusou o Egito de “dis-
ram detidos dois dias depois, a 8 de ja- criminação disseminada contra os Cristãos
neiro, e condenados, a 9 de janeiro, por Egípcios, assim como de intolerância oficial
“homicídio premeditado, tendo posto a de seitas Muçulmanas heterodoxas.”
vida de cidadãos em perigo e também por (Fonte: Human Rights Watch. 2010. Egypt:
danos à propriedade pública e privada”. Free Activists Detained on Solidarity Visit; Hu-
Apesar de a detenção ser vista como um pas- man Rights Watch. 2011. World Report 2011)
so na direção certa pela Human Rights Watch
(HRW), não é suficiente. A HRW argumenta Questões para debate
que a rotina, em casos semelhantes, consis- 1. Que razões pensa terem estado na base do
te em chamar as famílias envolvidas para tratamento dos Cristãos Coptas no Egito?
que estas não prossigam com a investigação 2. Já ouviu falar de incidentes compará-
criminal e procedam à resolução do caso de veis no seu país ou região?
modo privado. Frequentemente é paga uma 3. Que parâmetros internacionais de direi-
compensação às famílias das vítimas. tos humanos foram violados?
Sarah Leah Whitson, Diretora da HRW 4. Como se poderão prevenir situações se-
para o Médio Oriente instou o governo melhantes?
egípcio a implementar uma “campanha 5. Que instituições e procedimentos inter-
séria de respeito pela diversidade religiosa nacionais existem para fazer face a es-
e de direitos iguais para todos.” tes casos?
A SABER
1. Liberdades Religiosas: ainda um lon- gá-lo, a deixar a família, a ser-se persegui-
go caminho a percorrer do, posto na prisão ou até morto.
Milhões de pessoas acreditam que existe No século III a.C., os Budistas eram perse-
algo superior à humanidade que nos guia guidos na Índia por acreditarem nos ensi-
espiritualmente. Por força daquilo em que namentos de Buda. A partir do século IX
se acredita, é possível ser-se forçado a ne- d.C. – a “Idade das Trevas” da Europa -
G. LIBERDADES RELIGIOSAS 253
Muçulmanos e outros crentes não Cristãos ódio de grupo. A perseguição por motivos
começaram a ser perseguidos “em nome religiosos pode ser vista em conflitos re-
de Deus”. Subsequentemente, a guerra centes entre crentes e não crentes, entre
para expandir o Império Otomano e o Is- religiões tradicionais e “novas”, ou entre
lão assustou a Europa. Os Judeus eram Estados com religião oficial ou preferida e
fechados em guetos por Cristãos, mas indivíduos ou comunidades que a ela não
também já o tinham sido anteriormente, pertencem.
por Muçulmanos. O extermínio dos habi-
tantes nativos da América Latina também “Por natureza, ninguém está vinculado a
foi levado a cabo durante o seu processo nenhuma igreja ou seita particular mas
de Cristianização. todos se juntam, voluntariamente, àquela
No passado e no presente, as pessoas têm sociedade em que acreditam ter encontrado
sido ameaçadas pelas suas crenças e con- aquela fé e culto que é, verdadeiramente,
vicções. A faculdade de acreditar em algo aceitável para Deus. A esperança na salva-
e de o manifestar é conhecida e protegi- ção, sendo a única razão para a sua entra-
da como liberdade religiosa. Esta é uma da nessa comunhão, só poderá ser a única
questão não só jurídica mas também mo- causa da sua permanência aí […] Assim,
ral. As crenças religiosas interferem bas- uma igreja é uma sociedade de membros,
tante com a esfera privada do indivíduo, voluntariamente, reunidos para aquele
uma vez que tocam convicções pessoais e fim.”
a compreensão do mundo. John Locke. 1689. Letter Concerning Toleration.
A fé é um dos maiores elementos de ex-
pressão da identidade cultural. É por esta
razão que as liberdades religiosas são um “Não haverá paz entre as nações sem paz
tópico particularmente sensível de abordar entre as religiões. Não haverá paz entre as
e parece causar mais dificuldades do que religiões sem diálogo entre as religiões. Não
outras questões de direitos humanos. haverá diálogo entre as religiões sem inves-
Um outro problema tem impedido a re- tigação dos fundamentos das religiões.”
gulação das liberdades religiosas no di- Hans Küng, Presidente da Global Ethic Foundation.
reito internacional dos direitos humanos.
Por todo o mundo, religião e crença são As violações atuais das liberdades religio-
elementos chave da política. As crenças sas ocorrem por todo o mundo. No en-
e liberdades religiosas são muitas vezes tanto, a supressão sistemática de certas
usadas incorretamente para exigências crenças manifesta-se presente nos seguin-
políticas e reivindicações de poder, o que tes países: na Birmânia, todas as minorias
resulta, frequentemente, em argumentos religiosas são perseguidas – em particular,
enganosos quando religião e política são os Muçulmanos Rohingya e também Pro-
ligadas. testantes e monges Budistas; o governo
Uma proteção adequada tem-se tornado Norte-Coreano considera todas as crenças
mais premente em anos recentes, uma e ritos religiosos além da ideologia Juche
vez que a intolerância religiosa e persegui- como uma ofensa ao culto da personali-
ção têm tido lugar de destaque em vários dade da família Kim e uma violação da
conflitos trágicos em todo o mundo que autoridade governamental; no Egito, as-
envolvem problemas de etnia, racismo ou sistimos a discriminação contra Coptas,
254 II. MÓDULOS SOBRE QUESTÕES SELECIONADAS DE DIREITOS HUMANOS
Cristãos ortodoxos, Bahai, Ahmadis, Cora- sas. Se não pode acreditar num Deus
nistas, Shiitas e Muçulmanos Sufi, assim ou num qualquer conceito de universo
como antissemitismo virulento; na Eri- que queira, a liberdade e a segurança
treia, os seguidores das Testemunhas de pessoais continuarão fora do alcance.
Jeová, os Cristãos Evangélicos e o Movi- As ameaças à liberdade de pensamento,
mento de Pentecostes são alvos de supres- de crença, de consciência e de religião
são particulares; no Irão há discriminação afetam, diretamente, tanto indivíduos
e perseguição dos Bahai, Sufis, Muçul- como grupos no que respeita a assegu-
manos dissidentes e Cristãos; no Iraque e rar e desenvolver a integridade pessoal.
na Nigéria contra Cristãos e no Paquistão Quando a discriminação e a perseguição
contra Ahmadis. Na China, os Muçulma- baseadas na religião são sistemáticas ou
nos Uigures em Xinjiang, Protestantes, se- estão institucionalizadas, tal pode levar
guidores de Falun Gong e os Budistas Ti- à existência de tensões entre comunida-
betanos são particularmente afetados. No des ou mesmo a crises internacionais.
Sudão, os Cristãos são discriminados, e na Os agentes da insegurança podem ser
Árabia Saudita, os Muçulmanos Shiitas e quaisquer uns – indivíduos, grupos e
Ismaelistas. Por fim, assistimos a discrimi- até Estados. Esta ameaça, omnipotente e
nação forte contra grupos religiosos não omnipresente, à segurança pessoal, com
registados no Turquemenistão e Uzbequis- base na religião e na crença, precisa de
tão. As violações das liberdades religiosas medidas de proteção especiais. A educa-
variam do crescimento recente do funda- ção e aprendizagem para os direitos hu-
mentalismo Cristão nos EUA, à intensifica- manos são a solução para se respeitar as
ção do extremismo religioso islâmico, bem crenças religiosas e os pensamentos dos
como a novas formas de antissemitismo outros. A compreensão do respeito, da
(i.e., medo e ódio por Judeus/Judaísmo) tolerância e da dignidade humana não
em vários países e, especialmente, desde o pode ser alcançada à força. Tem de ser
11 de setembro de 2001, a uma Islamofobia um compromisso duradouro de todos na
(i.e. medo e ódio de Muçulmanos/Islão) construção conjunta da segurança indi-
crescente, embora muitas vezes ignorada, vidual e global.
nos EUA e na Europa.
Infelizmente, existem outros numerosos 2. DEFINIÇÃO E DESENVOLVIMENTO
casos que podem exemplificar a urgência DA QUESTÃO
de lidar com as liberdades religiosas, es-
pecialmente, quando estão ligadas a extre- O que é a Religião?
mismo. Este fenómeno tem de ser aborda- Não existe uma definição comum de re-
do separadamente. ligião nas discussões filosóficas ou socio-
lógicas. No entanto, nas diferentes defini-
Liberdades Religiosas e Segurança Hu- ções, vários elementos comuns têm sido
mana propostos.
Etimologicamente, religião, ligada ao La-
O direito de viver sem medo é um va- tim religare, refere-se a uma “vinculação”.
lor essencial da segurança humana. Este Religião é aquilo que vincula o crente a al-
valor essencial é extremamente ameaça- gum “Absoluto” – concetualizado em ter-
do pela violação das liberdades religio- mos pessoais ou impessoais. Normalmen-
G. LIBERDADES RELIGIOSAS 255
te, inclui uma série de ritos e rituais, regras Contrariamente a esta definição intelectu-
e regulações que permitem ao indivíduo al estrita de fé como ato de reflexão, a fé
ou comunidades relacionar a sua existên- significa um ato de crença ou confiança
cia com um “Deus” ou com “Deuses”. De em algo Supremo (seja esse algo pessoal
acordo com Milton J. Yinger, a religião re- ou não, como as Quatro Nobres Verdades
presenta um “sistema de crenças e práticas do Budismo).
pelos quais um grupo de pessoas luta com O Comité dos Direitos Humanos das Na-
os problemas derradeiros da vida”. ções Unidas, no seu Comentário Geral
Em comparação, o Dicionário de Black nº 22 sobre o artº 18º do Pacto Interna-
Law define religião como “Uma relação cional sobre os Direitos Civis e Políticos
[humana] com o Divino, a reverência, ado- (PIDCP) define a proteção da religião ou fé
ração, obediência e submissão a ordens e deste modo: “O artigo 18º protege fés teís-
normas de seres sobrenaturais ou superio- tas, não-teístas e ateístas tal como o direito
res. No seu sentido mais lato, [religião] in- a não professar qualquer religião ou fé.” O
clui todas as formas de crença na existên- Comentário Geral menciona também “Os
cia de um poder superior que exerce poder termos religião e fé devem ser entendidos
sobre os seres humanos, impondo sanções latamente. O artigo 18º, no que respeita à
e regras de conduta, juntamente com com- sua aplicabilidade, não se limita a religiões
pensações e punição futuras”. tradicionais ou a religiões e fés com carac-
Esta definição e outras semelhantes in- terísticas institucionais ou práticas análo-
corporam o reconhecimento da existência gas às das religiões tradicionais. O Comité,
de um Supremo, Sacro, Absoluto, Trans- consequentemente, encara com preocupa-
cendente, seja pessoal ou impessoal. O ção qualquer tendência para a discrimi-
“Supremo/Derradeiro” tem uma função nação de qualquer religião ou fé por um
normativa e os crentes devem seguir os qualquer motivo, incluindo o facto de as
ensinamentos e as regras de conduta da mesmas terem sido recentemente estabele-
sua religião, como o caminho até este cidas ou representarem minorias religiosas
Absoluto. Os crentes devem igualmente que possam ser alvo de hostilidade por par-
expressar as suas crenças religiosas sob te de um grupo religioso predominante”.
várias formas de adoração ou culto. Mui- (Fonte: Comité dos Direitos Humanos da
tas vezes, mas nem sempre, uma entida- ONU. 1993. Comentário Geral nº22, §48,
de legal, como uma igreja ou uma outra sobre o artº 18º do PIDCP)
instituição é estabelecida para organizar o Fés de outra natureza - seja política, cul-
grupo ou as práticas de adoração. tural, científica ou económica – não caem
sob esta proteção e têm de ser tratadas de
O Que É a Fé? forma diferente.
Fé é um conceito mais amplo do que re-
ligião. Inclui religião mas não se limita Liberdade de Expressão
ao seu significado tradicional. O Dicioná- Liberdade dos Meios de Informação
rio de Black Law define a mesma como
a “crença na verdade de uma proposição, O Que São
subjetivamente existente na mente e indu- as Liberdades Religiosas?
zida por argumentação, persuasão ou pro- Em direito internacional, as liberdades reli-
va direcionada ao julgamento”. giosas são protegidas enquanto liberdade
256 II. MÓDULOS SOBRE QUESTÕES SELECIONADAS DE DIREITOS HUMANOS
Manifestar a Fé Estado e Fé
A liberdade de manifestar uma crença Uma das maiores diferenças, a nível mun-
religiosa inclui a proteção da linguagem dial, no que respeita à proteção das liberda-
religiosa, ensinamentos, rituais, adoração des religiosas faz-se sentir na relação entre
e observância dessa fé. Temos o direito a os Estados e as religiões ou fés dos seus
falar sobre a nossa fé, a ensiná-la, a pra- cidadãos. Existem vários modelos princi-
G. LIBERDADES RELIGIOSAS 259
pais no que respeita à forma como os Esta- • Pensa ser possível estabelecer um sis-
dos podem interagir com as fés: religiões de tema de igualdade entre todas as fés,
Estado, igrejas estabelecidas, neutralidade quando uma é privilegiada?
dos Estados relativamente à fé e às suas • Pensa ser legítima a possibilidade de
instituições, inexistência de religião oficial, constituição de partidos políticos con-
separação do Estado e Igreja e proteção de fessionais ou religiosos?
grupos religiosos legalmente reconhecidos.
As normas internacionais não exigem uma Apostasia – A Liberdade de Escolha e
separação entre o Estado e a Igreja e não pres- Mudança de Religião
crevem qualquer modelo particular de rela- O ato de apostasia – abandono de uma reli-
ção entre o Estado e as fés. Os mesmos não gião por uma outra ou por um estilo de vida
requerem a visão de uma sociedade secular secular – é uma das questões mais contro-
que exclua a religião dos assuntos públicos, versas entre culturas diferentes, apesar da
apesar da separação da religião relativamente clareza das normas internacionais.
ao Estado ser uma das maiores caraterísticas Uma pessoa será apóstata se deixar uma
das sociedades modernas (ocidentais). religião e adotar uma outra ou assumir
O único requisito internacional é que uma um estilo de vida secular. Historicamente,
tal relação entre Estado e Igreja não resul- o Islão, o Cristianismo e outras religiões
te na discriminação contra aqueles que não adotaram uma visão muito reprovadora
pertençam à religião oficial ou às fés reco- dos apóstatas. A pena era frequentemente
nhecidas. No entanto, quando apenas uma a morte.
religião é considerada como constitutiva da No que respeita ao Islão, a apostasia é ain-
identidade nacional, é difícil perceber-se da severamente punida em muitos países
como pode ser garantido o tratamento igual onde as respetivas sociedades se baseiam
de fés diferentes ou minoritárias. nas lei Sharia. Países como o Afeganistão,
Do ponto de vista ocidental, é mais provável Irão, Indonésia, Índia, Paquistão, a Arábia
que uma relação neutral entre a religião e o Saudita ou o Egito simbolizam muitos ou-
Estado garanta plenamente a liberdade reli- tros onde é possível impor a pena perpé-
giosa do indivíduo. Pelo contrário, a lei tra- tua ou a pena de morte pela rejeição aber-
dicional Islâmica, Sharia, por exemplo, liga ta da fé Islâmica. Na prática, isto significa
o Estado e a fé porque este sistema é visto que não existe liberdade de escolha ou de
como aquele que providencia uma melhor mudança de religião ou fé.
proteção da liberdade religiosa da comuni- Este facto está em clara contradição com o
dade. Poder-se-á, no entanto, argumentar direito internacional dos direitos humanos.
que quando o Estado está ligado a uma igre- O indivíduo tem o direito a escolher a sua
ja ou religião particulares, será difícil que as fé com liberdade e sem coerção. O deba-
minorias religiosas recebam uma proteção te sobre esta questão é altamente emotivo
igual. e sensível, uma vez que toca convicções
profundas e diferentes entendimentos das
Questões para debate liberdades religiosas. O debate ilustra tam-
• Qual é a atitude do seu país relativa- bém as diferenças culturais na perceção da
mente às diferentes fés? liberdade religiosa e de outras liberdades e
• O seu país reconhece instituições de di- parece estabelecer uma diferença entre o
ferentes fés? “Ocidente” e o “resto do mundo”.
260 II. MÓDULOS SOBRE QUESTÕES SELECIONADAS DE DIREITOS HUMANOS
seculares têm uma obrigação igualmente que a sua fé é verdadeira. Uma cultura de
clara de salientar as violações dos Estados tolerância e respeito exige que nos recu-
e outros atores, de defender os persegui- semos a discriminar, denegrir ou difamar
dos e de promover a tolerância através de outras religiões e respeitemos o direito
campanhas informativas, campanhas de fundamental a ser-se diferente também em
sensibilização, programas educativos e termos religiosos. Significa igualmente que
educação. nos recusemos a discriminar o outro em
termos de emprego, habitação e acesso a
O Que Podemos Fazer? serviços sociais porque este tem outra fé. É
Nós podemos começar a prevenir a discri- também necessário, para uma efetiva mu-
minação e a perseguição religiosa, respei- dança de atitude, a promoção do diálogo in-
tando os direitos dos outros. A tolerância terreligioso e o encontro de crentes, numa
religiosa implica o respeito pelos seguido- plataforma comum, e não crentes para que
res de outras fés, quer acreditemos ou não aprendam a respeitar-se mutuamente.
CONVÉM SABER
1. BOAS PRÁTICAS • Parlamento Mundial das Religiões;
• Fundação Ética Mundial.
Diálogo Interreligioso Existem igualmente, por todo o mundo,
para o Pluralismo Religioso numerosas iniciativas locais e regionais
Durante as últimas décadas, as questões que promovem a resolução e prevenção de
sobre pluralismo religioso e cultural fize- conflitos, através do diálogo:
ram reavivar o interesse nas igrejas e co- • No Médio Oriente, a “Clergy for Peace”
munidades de crentes. Há um sentimento promove o encontro de rabinos, padres,
de urgência relativamente à construção de pastores e imãs em Israel e na Cisjordâ-
relações criativas entre pessoas de diferen- nia, tendo em vista o desenvolvimento
tes fés. Tal como o interesse no diálogo de uma ação comum e para ser teste-
tem crescido, assim também tem crescido munha da paz e justiça na região;
a sua prática, permitindo, deste modo, às • No Sul da Índia, o “Council of Grace” reú-
várias comunidades religiosas entende- ne Hindus, Cristãos, Muçulmanos, Budis-
rem-se melhor umas com as outras e tra- tas, Jains, Zoroastrianos, Judeus e Sikhs
balharem mais próximas na educação, re- numa tentativa de lidar com situações de
solução de conflitos e na vida quotidiana conflito comunitário (Comunalismo);
da comunidade. Entre muitas outras, estas • No Pacífico, a “Interfaith Search” reúne
ONG internacionais têm promovido o di- representantes de várias religiões nas
álogo religioso e a paz: Fiji com o objetivo de superar precon-
• Conselho Mundial das Igrejas; ceitos e promover o respeito e a apre-
• Conferência Mundial sobre Religiões e ciação mútuos;
Paz, com o seu grupo de trabalho per- • Na Europa, o “Project: Interfaith Europe”
manente sobre “religião e direitos hu- é a primeira iniciativa do género a con-
manos”; vidar políticos urbanos e representantes
G. LIBERDADES RELIGIOSAS 263
fo, muitas vezes acompanhado por rituais mes as penalizem ou mesmo ameacem as
únicos. suas vidas:
Considerando que ambos os termos são • A taxa de mutilação de meninas em zo-
definidos a partir da ideia de “desvio da nas rurais do Egito é de 95%. A muti-
norma”, a visão do que constitui seita ou lação genital feminina (MGF) é uma
culto será diferente entre as várias cren- tradição cultural em muitos países e é
ças. Enquanto o Budismo e o Hinduísmo severamente condenada pelos padrões
usam estes termos num sentido neutro, no internacionais de proteção dos direitos
mundo ocidental, “seita” ou “culto” são humanos. Graves problemas de saúde
conceitos frequentemente usados com co- podem surgir subsequentemente, po-
notação negativa. Este facto deriva não só dendo potencialmente resultar na morte.
da diferença destes grupos relativamente No entanto, em junho de 2003, foi alcan-
à norma, mas também do facto de serem çado um progresso a este respeito quan-
muitas vezes associados com uma comple- do representantes de vinte e oito países
ta devoção ou abusos em termos financei- africanos e árabes afetados por esta prá-
ros. Não estão protegidos pelas liberdades tica assinaram a Declaração Conjunta
religiosas grupos que se tenham formado do Cairo para a Eliminação da MGF na
como negócios, em vez de grupos religio- Consulta de Peritos Africanos e Árabes
sos. Um famoso e controverso exemplo é sobre “Medidas Legais para a Prevenção
a Igreja da Cientologia, que, em alguns da Mutilação Genital Feminina”.
países (sendo a Alemanha o mais famoso • Em zonas da Nigéria, Sudão, Paquistão
exemplo) não é reconhecida como religião e noutros países, são praticados casa-
por ser antes vista como uma empresa. mentos forçados que resultam frequen-
temente em escravidão. A necessidade
Questões para debate de consentimento da mulher não é res-
• As minorias religiosas são protegidas no peitada. Muitas vezes, as “esposas” não
seu país? Se sim, como? têm mais do que nove anos. No seio de
• Essas minorias têm os mesmos direitos/ determinados grupos na Europa e na
apoio do que a(s) principal(ais) fé(s)? América do Norte, são também prati-
cados casamentos forçados, defendidos
Mulheres e Fé ou tolerados em nome da cultura, tradi-
Durante toda a história, as mulheres têm ção e religião, apesar da existência de
sido discriminadas por praticamente todas proibições gerais de tal prática, nesses
as fés. Só tardiamente o seu direito hu- países.
mano à liberdade religiosa foi abordado. • A violação como forma específica de
A discriminação das mulheres na religião “limpeza étnica”: a afiliação religiosa
envolve dois aspetos. Por um lado, pode das vítimas foi em muitos casos a ra-
haver uma limitação da sua liberdade de zão por detrás de violações em massa
manifestar a sua fé, se não puderem ace- na ex-Jugoslávia, Geórgia, Sudão, Ru-
der em condições de igualdade a espaços anda ou Chechénia. A gravidez força-
de culto ou não puderem pregar ou lide- da de mulheres violadas garantia que
rar as suas comunidades. Por outro lado, publicamente as mesmas fossem vistas
podem ser vítimas de determinadas fés, como tendo sido violadas e, consequen-
quando as leis religiosas, práticas e costu- temente, desonradas e humilhadas, pro-
G. LIBERDADES RELIGIOSAS 265
a sua oposição à resolução pelo facto de a 1950 Convenção Europeia para a Pro-
mesma ameaçar a liberdade de opinião. Não teção dos Direitos Humanos
obstante, a resolução foi aprovada pelo Con- e das Liberdades Fundamentais
selho de Direitos Humanos. (Artº 9º)
Apenas em 2011, a Conferência dos Esta-
dos Islâmicos propôs uma resolução revis- 1965 Declaração sobre a Liberdade Reli-
ta que foi aceite por todos os estados do giosa pelo Conselho do Vaticano
Conselho de Direitos Humanos e preten- 1966 Pacto Internacional sobre os Direi-
de proteger pessoas que, por força da sua tos Civis e Políticos (Artos 18º, 20º,
religião ou crença, são confrontadas com 24º, 26º, 27º)
intolerância e violência. 1969 Convenção Americana sobre Direi-
(Fonte: Conselho de Direitos Humanos da tos Humanos (Artos 12º, 13º, 16º,
ONU. 2011. Combating intolerance, nega- 17º, 23º)
tive stereotyping and stigmatization of,
1981 Carta Africana dos Direitos Huma-
and discrimination, incitement to violence,
nos e dos Povos (Artos 2º, 8º, 12º)
and violence against persons based on reli-
gion or belief.) 1981 Declaração das Nações Unidas
sobre a Eliminação de Todas as
Questões para debate Formas de Intolerância e de Discri-
• Quais são as principais razões de confli- minação Baseadas na Religião ou
to no seio e entre comunidades religio- Crença
sas? Pode dar exemplos, tendo em conta 1989 Convenção sobre os Direitos da
a sua própria experiência? Criança (Artº 14º)
• Qual é o papel das fés na procura de paz
e na resolução de conflitos? Pense em 1990 Declaração do Cairo sobre Direitos
exemplos onde a religião tenha sido um Humanos no Islão
agente de reconciliação. 1992 Declaração das Nações Unidas so-
bre os Direitos de Pessoas Perten-
3. CRONOLOGIA centes a Minorias Étnicas, Religio-
sas e Linguísticas (Artº 2º)
Etapas importantes na história do de-
1993 Declaração para uma Ética Global,
senvolvimento das liberdades religiosas
apoiada pelo Parlamento das Reli-
1776 Declaração de Direitos da Virgínia giões do Mundo em Chicago
(1789 Carta de Direitos com Pri- 1994 Carta Árabe dos Direitos Humanos
meira Emenda) (Artos 26º, 27º)
1948 Declaração sobre a Liberdade Re- 1998 Carta Asiática dos Direitos Huma-
ligiosa do Conselho Mundial das nos (Artº 6º)
Igrejas
2001 Conferência Internacional Con-
1948 Declaração Universal dos Direitos sultiva das Nações Unidas sobre
Humanos (Artos 2º, 18º) a Educação Escolar em relação à
1948 Convenção sobre a Prevenção e a Liberdade de Religião e Crença, à
Repressão do Crime de Genocídio Tolerância e à Não Discriminação
(Artº 2º) (Madrid)
G. LIBERDADES RELIGIOSAS 267
2001 Congresso Mundial para a Preser- 2007 Declaração da OSCE sobre Intole-
vação da Diversidade Religiosa rância e Discriminação contra Mu-
(Nova Deli) çulmanos
2004 Carta Árabe dos Direitos Humanos
ATIVIDADES SELECIONADAS
ATIVIDADE I: Dividir os participantes em grupos de qua-
PALAVRAS QUE FEREM tro a seis pessoas. Uma pessoa de cada
grupo deve ler a primeira frase. Neste mo-
Parte I: Introdução mento, o grupo deve apenas aceitar que
Esta atividade visa mostrar os limites da se trata de um comentário ofensivo e de-
liberdade de expressão quando aquilo que bater a razão pela qual a pessoa magoada
se faz ou diz colide com as crenças religio- se sente dessa forma; se as pessoas devem
sas e sentimentos de outros. poder dizer tais coisas sem ter em conta os
seus possíveis efeitos e o que fazer quando
Parte II: Informação Geral isso acontece.
Tipo de atividade: Debate Repetir o processo para cada frase.
Metas e objetivos: Descobrir e aceitar os Reações:
sentimentos religiosos de outras pessoas; Como se sentiram os participantes durante
aprender sobre os limites que podem ser o debate? Foi difícil aceitar que os comen-
impostos à liberdade de expressão tários feriram alguém e ficar em silêncio?
Grupo-alvo: Jovens adultos e adultos Que limites devem ser impostos ao que se
Dimensão do grupo: 8-25 pode dizer sobre os pensamentos e cren-
Duração: pelo menos 60 minutos ças dos outros? Podemos dizer sempre
Material: quadro e marcador aquilo que queremos?
Preparação: Preparar um quadro e mar- Sugestões metodológicas:
cador. Assegurar-se de que é discreto e respeitoso
Competências envolvidas: Ouvir os outros, quando fizer esta atividade, não fazendo
ser sensível e aceitar opiniões diversas. ponderações ou valorizando subjetiva-
mente as afirmações.
Parte III: Informação Específica sobre a Outras Sugestões:
Atividade Como atividade final: uma carta para to-
Instruções: dos. Escrever os nomes dos participantes
Fazer com que os participantes elaborem uma em pequenos pedaços de papel, fazer
lista de comentários que firam e de estereóti- com que cada um tire um papel à sorte
pos relacionados com a consciência ou cren- e escreva uma carta dizendo coisas amá-
ças religiosas de alguém; comentários que os veis a essa pessoa – um final adequado a
participantes saibam que causem angústia. muitas atividades que evocam controvér-
Escolher alguns dos piores e escrevê-los. sias e emoções.
268 II. MÓDULOS SOBRE QUESTÕES SELECIONADAS DE DIREITOS HUMANOS
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272 II. MÓDULOS SOBRE QUESTÕES SELECIONADAS DE DIREITOS HUMANOS
HISTÓRIA ILUSTRATIVA
A História de Maya Questões para debate
1. Quais os problemas centrais evidentes nes-
“O meu nome é Maya. Nasci há 14 anos te caso? Sente empatia por Maya e consi-
numa pobre família camponesa. Já havia dera que ela tem, por si mesma, alguma
muitas crianças, portanto, quando eu nas- possibilidade de ultrapassar a sua situação
ci, ninguém ficou feliz. de pobreza e de ter acesso à educação?
Quando eu era ainda muito pequena, 2. Consegue pensar em razões que justi-
aprendi a ajudar a minha mãe e as minhas fiquem o facto de uma tão elevada per-
irmãs mais velhas nas tarefas domésticas. centagem de pessoas analfabetas serem
Varri o chão, lavei roupas e carreguei água, meninas e mulheres?
bem como lenha. Alguns dos meus amigos 3. Considera que existem diferentes tipos
brincavam na rua mas eu não podia jun- de conhecimento? Se sim, que conhe-
tar-me a eles. cimento é importante? Que tipos de co-
Ficava muito feliz quando me permitiam ir nhecimento perdem relevância?
à escola. Lá, fiz amigos novos e aprendi a 4. Considera que o direito à educação é,
ler e a escrever. Mas, quando cheguei ao 4º atualmente, uma prioridade para a co-
ano os meus pais interromperam os meus munidade internacional?
estudos. O meu pai disse que não havia di- 5. De quem é a responsabilidade de eli-
nheiro para pagar as despesas escolares e minar a ignorância e o analfabetismo e
que eu era precisa em casa para ajudar a através de que medidas?
minha mãe e os restantes. 6. A educação é importante para o gozo de
Se tivesse a possibilidade de nascer de outros direitos humanos? Se sim, porquê?
novo, preferiria ser rapaz.” 7. Considera que a educação pode contri-
(Fonte: Nações Unidas. 2000. Relatório do buir para a segurança humana? Se sim,
Milénio das Nações Unidas.) como?
H. DIREITO À EDUCAÇÃO 277
A SABER
1. INTRODUÇÃO ções, grupos étnicos ou religiosos e pode
ajudar a desenvolver uma cultura univer-
Porquê um Direito Humano à Educação? sal de direitos humanos.
Quase um bilião de pessoas entrou no sé-
culo XXI incapaz de ler um livro ou de as- Educação e Segurança Humana
sinar o seu próprio nome. Este número re-
presenta um sexto da população mundial, A negação, assim como as violações do
ou a população total da Índia. direito à educação, prejudicam a capaci-
O direito humano à educação pode ser ca- dade das pessoas de desenvolverem as
racterizado como um “direito de empode- suas próprias personalidades, de susten-
ramento”. Tal direito confere ao indivíduo tar e de se protegerem a si próprias bem
mais controlo no percurso da sua vida, e, como às suas famílias e de participar
em particular, mais controlo sobre o efei- adequadamente na vida social, política
to das ações do Estado em si. Por outras e económica. Na sociedade em geral,
palavras, exercer um direito de empode- a negação da educação fere a causa da
ramento permite à pessoa experienciar os democracia e do progresso social e, por
benefícios de outros direitos. extensão, a paz internacional e a seguran-
O exercício de muitos dos direitos civis e ça humana. A falta de segurança huma-
políticos, tais como a liberdade de infor- na impede as crianças de irem à escola.
mação, liberdade de expressão, direito ao Isto é óbvio relativamente a crianças em
voto e a ser eleito, entre outros, depende conflito armado, e, em particular, para as
de, pelo menos, um nível mínimo de edu- crianças-soldado. Mas a pobreza, como
cação. Igualmente, um conjunto de direitos uma das ameaças à segurança humana,
económicos, sociais e culturais, tais como o pode conduzir, também, à negação do di-
direito a escolher o trabalho, a receber re- reito à educação. O direito de conhecer
muneração igual por trabalho igual, a bene- os direitos de cada um, através da edu-
ficiar dos avanços científicos e tecnológicos cação e da aprendizagem para os direi-
e a receber educação superior com base nas tos humanos, pode ser uma contribuição
suas capacidades, só pode ser exercido de vital para a segurança humana. Através
uma forma significativa se determinado ní- da educação e da aprendizagem para os
vel de educação for alcançado. direitos humanos e o direito humanitário,
Tal, também se aplica ao direito de fazer podem ser prevenidas as violações dos
parte da vida cultural. Para as minorias ét- direitos humanos nos conflitos armados e
nicas e linguísticas, o direito à educação é ser facilitada a reconstrução da sociedade
um meio primordial de preservar e refor- depois dos conflitos.
çar a sua identidade cultural.
A educação pode, igualmente, promover Direitos Humanos da Criança
(embora não seja garantia) compreensão, Direitos Humanos em Conflito
tolerância, respeito e amizade entre as na- Armado
278 II. MÓDULOS SOBRE QUESTÕES SELECIONADAS DE DIREITOS HUMANOS
de escolar, então a obrigação legal do Esta- é obrigado a garantir que todas as escolas
do, face ao seu dever da escola obrigatória estão em conformidade com os critérios mí-
para todos, não é cumprida. nimos por si desenvolvidos, bem como a ve-
A disponibilidade do ensino secundário e rificar que a educação é aceitável tanto para
superior também é um aspeto importante os pais, como para os filhos”. Este princípio
no direito à educação. A exigência da in- envolve o direito de escolher o modelo de
trodução progressiva da educação gratuita educação recebida e o direito de estabele-
não significa que um Estado possa absol- cer, manter, orientar e controlar os estabe-
ver-se das suas obrigações. lecimentos de ensino privados. A educação
deve ser culturalmente apropriada e de boa
Acessibilidade qualidade. Os alunos e os pais têm o direito
No mínimo, os governos são obrigados a de ser livres da doutrinação e da obrigação
assegurar o gozo do direito à educação, de estudar assuntos incompatíveis com a
garantindo o acesso a instituições escola- sua religião ou outras crenças. Usar a au-
res existentes, de todas as meninas e rapa- toridade do sistema do ensino público para
zes, bem como mulheres e homens, com induzir as pessoas a mudar a sua fé pode
base na igualdade e não discriminação. ser considerado como proselitismo ilícito.
trabalho necessita ser feito para que estes ninas, pessoas que pertencem a minorias,
objetivos sejam alcançados. Ainda há mui- refugiados e migrantes, indígenas, pes-
tas questões a resolver de discriminação, de soas com deficiências, bem como grupos
desigualdade, de negligência e de explora- sociais ou economicamente em desvan-
ção, que afetam, particularmente, as meni- tagem, como soldados desmobilizados
nas, as mulheres e as minorias. A UNICEF, ou jovens marginalizados. Estes grupos
no seu Relatório sobre a Situação Mundial tornaram-se o centro de preocupação e de
da Infância 2006, intitulado ‘Excluídos e In- ação internacional, por exemplo, nos rela-
visíveis’ e o Relatório da Human Rights Wa- tórios obrigatórios dos Estados. O Relator
tch ‘Failing our children: barriers to the right Especial das Nações Unidas para o Direito
to education’ fornecem inúmeros exemplos à Educação, por exemplo, dedicou o seu
das causas da exclusão. As sociedades de- relatório de 2010 ao direito à educação dos
vem, portanto, intensificar os seus esforços migrantes, refugiados e requerentes de
para resolver as práticas sociais e culturais asilo, tendo recomendado a eliminação da
que impedem as crianças e outros grupos, discriminação, a integração bem-sucedida,
de beneficiar plenamente dos seus direitos justiça social e inclusão de todos os tipos e
à educação, e assim contribuir para a sua níveis de educação.
segurança humana. (Fonte: Vernor Munoz. 2010. Relatório do
O Relator Especial das Nações Unidas para Relator Especial para o Direito à Educação.
o Direito à Educação, Kishore Singh, no O direito à educação dos migrantes, refu-
seu relatório de 2011 sobre a promoção da giados e requerentes de asilo.)
igualdade de oportunidades na educação,
recomendou o reforço dos quadros regula- Deve ser prestada particular atenção às
dores nacionais, a abordagem a múltiplas necessidades educativas das pessoas com
formas de desigualdade e discriminação, deficiência. A Ação-Quadro adotada na
bem como o assegurar que recursos ade- Conferência de Salamanca, em 1994, de-
quados são aplicados de forma a respon- clarou-se a favor da educação inclusiva.
der às necessidades especiais das vítimas Assim, “as escolas devem receber todas
de marginalização e exclusão. as crianças, independentemente das suas
(Fonte: Kishore Singh. 2011. Relatório do condições físicas, intelectuais, sociais, emo-
Relator Especial para o Direito à Educação. cionais, linguísticas, ou outras”.
A promoção da igualdade de oportunida-
des na educação.) Os Direitos Humanos nas Escolas
Contrariamente à obrigação consagrada
Não Discriminação no Artº 26, nº 2º da Declaração Univer-
Direitos das Mulheres sal dos Direitos Humanos (DUDH), os di-
reitos humanos nas escolas estão muitas
Grupos Desfavorecidos e o Acesso ao Di- vezes ausentes. As crianças ainda estão
reito à Educação sujeitas ao castigo corporal ou a traba-
Têm sido identificados pela UNESCO e lhar. Elas não são ensinadas, nem infor-
outras organizações diversos grupos que madas sobre os seus direitos, tal como
enfrentam dificuldades particulares no foi estabelecido pela Convenção sobre os
acesso total à educação, com base na Direitos da Criança, ratificada por todos
igualdade. Estes incluem mulheres e me- os Estados-membros das Nações Unidas,
H. DIREITO À EDUCAÇÃO 285
temas abrangentes para obter melhores re- cia especializada das Nações Unidas, de-
sultados que permitem assegurar o direito sempenha um papel fundamental a este
universal ao ensino primário para todos. respeito, uma vez que, por força da sua
Estes são: compromisso político e finan- Constituição de 1946, a educação é uma
ceiro, o papel central do setor público, das suas funções principais. A UNESCO,
equidade no setor público, redução dos em cooperação com outras organizações,
custos de educação dos agregados fami- como a UNICEF ou a OIT, tem sido instru-
liares e integração de reformas educativas mental no início de reformas educativas e
em estratégias mais vastas de desenvolvi- de promoção da implementação total do
mento humano. direito à educação. Tal é evidenciado pela
panóplia de instrumentos que estabelecem
Do Fórum Mundial de Educação realiza- padrões mínimos, pelos variados docu-
do em Dakar, em 2000, resultou a maior mentos e relatórios, bem como numerosos
avaliação alguma vez feita no campo da fóruns, reuniões, grupos de trabalho, ati-
educação. No total, 164 países foram re- vidades de coordenação e a colaboração
presentados, além de 150 grupos da socie- com os Estados, organizações intergover-
dade civil, sobretudo, organizações não namentais internacionais e ONG. A UNES-
governamentais. A novidade do Fórum foi CO é, assim, a agência líder na coopera-
a adoção do Quadro de Ação de Dakar. ção internacional no campo da educação.
As Comissões Nacionais para a UNESCO
Convém saber: 2. Tendências asseguram que as ações desta sejam bem
enraizadas nos 193 Estados-membros.
O Fórum Mundial de Educação, realiza-
do em Dakar, também assistiu ao lança- A ação da UNESCO na educação desen-
mento de nove programas de proa da volve-se à volta de três objetivos estra-
“Educação para Todos”: A Iniciativa tégicos:
sobre o VIH/SIDA e a Educação; Cui- - Promover a educação como um direito
dados e Educação na Primeira Infân- fundamental;
cia; O Direito à Educação para Pessoas
- Melhorar a qualidade da educação;
com Deficiência; Em Direção à Inclusão;
Educação para a População Rural; Edu- - Promover a experimentação, a inova-
cação em Situações de Emergência e de ção e a difusão e partilha de informação
Crise; Concentração de Recursos numa e das melhores práticas, assim como o
Saúde Escolar Eficaz; Os Professores e a diálogo político sobre a educação.
Qualidade da Educação; A iniciativa das
Nações Unidas para a Educação das Me-
ninas; A Alfabetização no Programa da “A Educação não é uma forma de um país
Década das Nações Unidas para a Alfa- escapar à sua pobreza. É uma forma de lu-
betização. tar contra esta.”
Julius Nyerere
nacionais e internacionais, tal como foi su- Frequentemente o principal obstáculo que
blinhado pelo Relator Especial para o Di- dificulta a uma criança o exercício do direito
reito à Educação, no seu relatório de 2005. à educação, nos países em desenvolvimento,
As questões principais são a discrimina- é a pobreza. O problema não é tanto que as
ção na educação, em particular, no acesso crianças não tenham escolas para frequen-
igual de todos à educação. tar. Na verdade, mais de 90% das crianças
dos países em desenvolvimento iniciam o
ensino primário. O verdadeiro problema são
O Comité dos Direitos Económicos,
as elevadas taxas de abandono escolar ou de
Sociais e Culturais é o órgão de super-
repetição do ano escolar. A pobreza dificulta
visão das Nações Unidas responsável
o pagamento, pelas famílias das taxas esco-
pela monitorização da implementação
lares, os livros e os restantes materiais esco-
do Pacto Internacional sobre os Direi-
lares. Mesmo quando a escola é gratuita, é
tos Económicos, Sociais e Culturais
difícil mandar a criança para a escola quan-
(PIDESC), pelos Estados Partes. Aquele
do o seu trabalho poderia contribuir para o
órgão examina os relatórios nacionais
escasso orçamento familiar.
apresentados regularmente por esses
Estados e mantém o diálogo com estes,
Direito a Não Viver na Pobreza
a fim de assegurar a implementação
mais eficaz dos direitos consagrados
“[…] não existe ferramenta para o desen-
pelo Pacto.
volvimento mais eficaz do que a educação
No que respeita ao direito à educação, de meninas”.
o Comité coopera estreitamente com a Kofi Annan, anterior Secretário-Geral das Nações
UNESCO. A concretização total do di- Unidas. 2004.
reito à educação pode ser alcançada
através de uma combinação de medi- A falta de fundos impede as autoridades
das, isto é, uma maior determinação de construir ou manter escolas, criar es-
por parte dos Estados em cumprirem as colas de formação de professores, recru-
suas obrigações quanto à apresentação tar professores e pessoal administrativo
de relatórios no âmbito dos instrumen- competentes, providenciar materiais de
tos internacionais relevantes, em boa ensino, entre outros, bem como criar sis-
fé, dos “relatórios-sombra” das ONG e temas de transportes adequados para os
pressão das associações de profissionais. alunos. Tudo isto depende, diretamente,
dos recursos económicos que estão à dis-
posição do Estado. Um estudo conduzido
Problemas de Implementação pelo Save the Children Fund revelou que,
Os direitos económicos, sociais e culturais devido ao peso da sua dívida, os Estados
muitas vezes requerem, ao longo do tem- Africanos têm sido forçados, em algumas
po, quantidades substanciais de capital situações, a impor ou a aumentar o valor
para que, progressivamente, a sua imple- das taxas escolares, elevando, assim, o
mentação seja eficaz. Na verdade, de acor- custo da educação para as famílias. Como
do com a experiência de muitos países, a resultado, milhões de crianças nunca fre-
educação constitui um dos itens de maior quentaram a escola ou não concluíram o
despesa dos governos. ensino básico.
H. DIREITO À EDUCAÇÃO 289
Um outro fator é o uso generalizado do tra- motivação dos pais em mandar as meninas
balho infantil. Infelizmente, muitas famí- para a escola. Determinados grupos de me-
lias necessitam deste salário suplementar ninas – tais como meninas de comunidades
para fazer face às despesas. Este problema indígenas ou nómadas, minorias étnicas,
é particularmente analisado pelo trabalho abandonadas ou com deficiência – enfren-
da Organização Internacional do Trabalho tam dificuldades particulares.
(OIT), por exemplo, pela Convenção rela- É, portanto, uma crescente preocupação
tiva à Interdição das Piores Formas de Tra- internacional proporcionar acesso igual
balho das Crianças, de 1999, e por vários à educação de meninas e, assim, capaci-
programas, como o Programa Internacio- tá-las de forma a cumprirem o seu poten-
nal para a Eliminação do Trabalho Infantil cial humano. Em 2000, no Fórum de Edu-
(PIETI). A Conferência Global de Haia so- cação Mundial, em Dakar, foi lançada a
bre Trabalho Infantil de 2010 acordou sobre “Ten-Year United Nations Girls’ Education
um Roteiro para a eliminação das piores Initiative”, tendo como fim a sensibiliza-
formas de trabalho infantil até 2016. ção sobre a educação das meninas e a eli-
O progresso foi significativo relativamente minação das desigualdades de género.
a crianças com idades compreendidas entre
os 5 e 14, sendo que o número de crian- Direitos Humanos das Mulheres
ças trabalhadoras com estas idades dimi- Direitos Humanos da Criança
nuiu em 10%. O trabalho infantil entre as Não Discriminação
meninas decresceu em 15%. No entanto,
aumentou entre os meninos (em 8 milhões O VIH/SIDA, que causou mais de 3 mi-
ou 7%). O trabalho infantil entre jovens lhões de mortes em 2004, teve um profun-
com idades compreendidas entre os 15 e os do impacto na educação, nomeadamente,
17 cresceu em 20%, de 52 a 62 milhões. na África Subsaariana. O Quénia, a Tan-
(Fonte: Organização Internacional do Tra- zânia e a Zâmbia perderam, pelo menos,
balho (OIT). 2010. Accelerating Action cada um, 600 professores em 2005. O
against Child Labour. Global Report under absentismo, devido à SIDA, tornou-se no
the follow-up to the ILO Declaration on Fun- maior problema para as escolas, em Áfri-
damental Principles and Rights at Work.) ca.
(Fonte: UNESCO. 2005. EFA Global Moni-
A pobreza e o trabalho infantil são, particu- toring Report 2006).
larmente, um grave obstáculo à educação O programa conjunto da ONU sobre VIH/
de meninas. Muitas destas têm de assumir SIDA (UNAIDS) será guiado pela nova
trabalhos pesados, em idade precoce, para estratégia 2011-2015, que tem como fim
poderem sobreviver. Não só se espera que avançar o progresso global para se al-
correspondam às necessidades das famílias cançarem objetivos por países relativos
e assumam as tarefas laborais, bem como ao acesso universal à prevenção do VIH,
correspondam às expectativas sociais, no- tratamento, cuidados e apoio, bem como
meadamente, a maternidade precoce e ao fim e reversão da propagação do VIH e
outras condutas antiquadas. Estas visões contribuição para os Objetivos de Desen-
tradicionais relativamente à educação das volvimento do Milénio até 2015.
meninas, apesar de míopes e unilaterais, Estima-se que cerca de 28 milhões de
ainda prevalecem, resultando na falta de crianças em idade escolar (escola pri-
290 II. MÓDULOS SOBRE QUESTÕES SELECIONADAS DE DIREITOS HUMANOS
mária) em países afetados por conflitos (Fontes: UNESCO. 2011. EFA Global Moni-
estejam atualmente fora da escola. As es- toring Report 2011.; UNICEF. 2011. The Role
colas deveriam ser respeitadas e protegi- of Education in Peacebuilding.)
das como santuários e zonas de paz. Na
maioria das zonas de conflito, são alvos O Relator Especial da ONU para o Direito
de guerra – uma violação flagrante das à Educação, Kishore Singh, no seu rela-
Convenções de Genebra de 1949. As Na- tório intercalar de 2011, recomendou que
ções Unidas criaram um sistema extenso se garanta o financiamento adequado da
de monitorização de violações graves de educação em situações de emergência,
direitos humanos contra as crianças. Este- que se melhore a proteção das escolas re-
jam em zonas de conflito, deslocados no lativamente a ataques e se preste atenção
seu próprio país ou refugiados, os pais, à exclusão de meninas e grupos margina-
professores e crianças afetados por confli- lizados.
tos têm pelo menos uma coisa em comum: (Fonte: Kishore Singh. 2011. Interim-Report
um nível extraordinário de ambição, ino- of the Special Rapporteur on the Right to
vação e coragem que demonstram quando Education. The right to education (Domes-
tentam manter o acesso à educação. Os tic financing of basic education).)
pais entendem que a educação pode dar
às crianças um sentido de normalidade e Direitos Humanos em Conflitos
que tal é uma vantagem – muitas vezes, a Armados
única – que podem levar consigo quando
deslocados. Sabia que: a implementação da educa-
ção primária universal, numa década,
“Nada é mais importante numa nova na- em todos os países em desenvolvimento,
ção do que dar às crianças uma educação. custaria 7 a 8 biliões de dólares anual-
Se se quer paz e justiça, se se quer emprego mente, o que representa o valor de cerca
e prosperidade e se se quer que um povo de sete dias de gastos militares globais,
seja justo e tolerante para com o seu seme- o valor de sete dias de especulação mo-
lhante, só há um ponto de partida – e esse netária nos mercados internacionais, ou
ponto é a escola.” menos de metade daquilo que os pais
José Ramos Horta. Prémio Nobel da Paz. 1996. norte-americanos gastam em brinquedos
para os filhos todos os anos, e menos de
Um relatório de averiguação da UNICEF metade daquilo que os europeus gastam
considerou que a abordagem predomi- todos os anos em jogos de computador
nante à construção para a paz ainda mar- ou em água mineral.
ginaliza a educação, apesar da educação
poder desempenhar um papel crucial na (Fonte: Kevin Watkins, 1999. Education
construção para a paz em todas as fases Now. Break the Cycle of Poverty.)
do conflito.
H. DIREITO À EDUCAÇÃO 291
CONVÉM SABER
tribunais juvenis em todas as principais
cidades.
1. BOAS PRÁTICAS • No distrito de Mashan, na China, foi
atribuída prioridade nos empréstimos
• No Egito, o governo integrou, com su- ou na atribuição de fundos para o de-
cesso, um novo conceito de escolas senvolvimento às aldeias e famílias que
comunitárias amigas das meninas, no tomaram medidas eficazes no sentido
sistema educativo formal. O governo de mandar as meninas para as escolas.
lançou um pacote completo de reformas • A República Democrática Popular do
com o objetivo de criar escolas saudá- Laos está a implementar, com sucesso,
veis e que promovam a saúde. uma medida de inclusão de género que
• Malawi (1994), Uganda (1997), Tan- assegura o acesso ao ensino primário,
zânia (2002) e Quénia (2003) cortaram com qualidade, a meninas de zonas
nos custos da educação para a família, minoritárias. O objetivo a longo prazo
eliminando as taxas escolares. Alguns é integrar mais mulheres no desenvol-
países aboliram, igualmente, o uso obri- vimento socioeconómico, melhorando
gatório de uniformes. progressivamente o seu nível educativo.
• O Programa Busti, no Paquistão, fruto • Em Mumbai (antiga Bombaim), na Ín-
de uma colaboração entre uma ONG de dia, a Iniciativa Prathan Mumbai Edu-
Karachi e a UNICEF, pretende propor- cation, uma parceria entre educadores,
cionar o ensino básico às crianças para grupos comunitários, patrocinadores e
que possam posteriormente ser admiti- governo, criou 1600 escolas e ajudou
das nas escolas formais. A faixa etária a modernizar mais de 1200 escolas pri-
abrangida é dos cinco aos dez anos; márias.
cerca de três quartos dos alunos são • No Afeganistão, onde as meninas foram
meninas. Esta iniciativa teve sucesso na excluídas do sistema de ensino formal,
medida em que inverteu o normal pre- a UNICEF tomou a arrojada decisão de
conceito sexista, em parte, proporcio- apoiar escolas em casa, para meninas e
nando educação em casa. Este progra- rapazes, no início de 1999.
ma criou mais de 200 escolas em casa, • O Projeto CRIANÇA, na Tailândia, que
matriculando mais de 6000 alunos, com começou com os donativos de compu-
custos unitários de $6, muito inferior ao tadores em segunda mão, monitoriza
custo médio das escolas primárias es- as ligações entre a aprendizagem das
tatais. crianças e a saúde.
• A Mauritânia adotou legislação que • O Mali adotou a iniciativa “Fast Track”
proíbe casamentos precoces, tornou o com o objetivo de acelerar o processo
ensino básico obrigatório e aumentou para alcançar a educação primária uni-
a idade mínima de acesso ao trabalho versal até 2015.
para os 16 anos. Fundou o Conselho da • De acordo com um relatório do Banco
Criança com o fim de promover a imple- Mundial, a taxa de conclusão relativa ao
mentação da Convenção sobre os Direi- ensino primário cresceu de 43,2%, em
tos da Criança e promoveu a criação de 2005, para 55,7%, em 2010, dos quais
292 II. MÓDULOS SOBRE QUESTÕES SELECIONADAS DE DIREITOS HUMANOS
lência de todos, de tal forma que sejam comunidade doadora, sob a presidência da
atingidos, por todos, resultados reconhe- UNESCO e do Banco Mundial. No final de
cidos e mensuráveis da aprendizagem, 2010, o EFA FTI apoiava a educação em 44
especialmente na literacia e nas compe- países em vias de desenvolvimento que se
tências essenciais de vida. tornaram parceiros desta iniciativa. Entre
2004 e 2010, a FTI apoiou a reconstrução
de cerca de 30.000 salas de aula, forneceu
Alcançar o ensino primário universal mais de 200 milhões de livros escolares e
para todos os rapazes e meninas, igual- concedeu mais de dois biliões de dólares
dade de género e empoderamento das em ajuda financeira a países em vias de
mulheres, eliminando desigualdades de desenvolvimento. Também ajuda os doa-
género no ensino primário e secundário dores e os países em vias de desenvolvi-
até 2005, e, em todos os níveis de educa- mento parceiros desta iniciativa a traba-
ção, para todas as meninas e todos os ra- lhar conjuntamente, de modo a assegurar
pazes, até 2015, foi afirmado pela Cimeira que a ajuda à educação é mais bem co-
do Milénio, em setembro de 2000, como o ordenada e mais eficaz. Ajudou mais de
segundo e terceiro dos oito Objetivos de 19 milhões de crianças a ir à escola pela
Desenvolvimento do Milénio (ODM). O primeira vez. Em 2011, o nome foi mudado
compromisso de eliminar a discriminação para “Global Partnership for Education”.
com base no género na educação foi rea-
firmado pela Cimeira Mundial das Nações Comercialização da Educação
Unidas em setembro de 2005. Também ou- A globalização aumentou a comercializa-
tros ODM, como a redução da mortalida- ção da educação, que se está a tornar mais
de infantil e a melhoria dos cuidados de num serviço pago do que num serviço pú-
saúde materna ou combater o VIH/SIDA blico resultante de um direito humano. As
não podem ser alcançados sem políticas instituições educativas privadas, criadas
educacionais apropriadas. São exemplos: enquanto negócios, podem enfraquecer o
as iniciativas “EFA Flagship”, tal como a ensino público. Para contrariar esta ten-
iniciativa sobre o impacto do VIH/SIDA na dência e em resposta às preocupações das
educação, que são mecanismos de colabo- associações profissionais, a União Europeia
ração entre vários parceiros, em apoio aos evitou fazer quaisquer concessões nos ser-
objetivos do EFA. viços educativos, na Ronda de Doha de Ne-
gociações do Comércio Internacional.
O Banco Mundial que, outrora, sofreu crí-
ticas por não apoiar suficientemente o en-
sino primário gratuito, em 2002, começou O Progresso na Educação para Todos:
a iniciativa “EFA Fast Track” (EFA FTI) Resultados ambíguos.
como uma parceria global entre doadores e Tendências positivas desde 1999
os países em desenvolvimento, para asse-
gurar o rápido progresso em direção à edu- - Entre 1999 e 2008, mais 52 milhões de
cação primária universal. Os países com crianças se inscreveram na escola primá-
baixos rendimentos que demonstrem um ria. A inscrição na escola aumentou con-
compromisso sério em alcançar o segundo sideravelmente, em particular na África
ODM poderão receber apoio adicional da Subsaariana e no Sul e Oeste da Ásia.
294 II. MÓDULOS SOBRE QUESTÕES SELECIONADAS DE DIREITOS HUMANOS
ATIVIDADES SELECIONADAS
ATIVIDADE I: Pedir aos participantes para se juntarem em
DISPONÍVEL? ACESSÍVEL? pequenos grupos (4-6) e entregar a cada um
ACEITÁVEL? ADAPTÁVEL? uma folha de papel grande e marcadores.
Cada grupo escolhe um dos 4 princípios
Parte I: Introdução para a sua dramatização.
Esta atividade tem como objetivo aprofundar Primeiro, dar dez minutos ao grupo para
o conhecimento sobre as questões apresen- fazerem uma chuva de ideias sobre todas
tadas no módulo sobre o direito à educação. as suas ideias sobre o módulo e, de segui-
da, para identificarem duas ou três ideias
Parte II: Informação Geral principais que mais gostariam de trabalhar
Tipo de atividade: Dramatização, panto- na dramatização.
mima Dar ao grupo 30 minutos para delinear e
Metas e objetivos: A técnica da dramati- ensaiar a sua peça. Explicar que deve ser
zação pode possibilitar a aprendizagem. O um esforço de grupo, pelo que todos de-
seu propósito é fazer com que os partici- vem ter um papel na produção.
pantes experienciem situações pouco fa- Depois, juntar todos os grupos em círcu-
miliares, desenvolvendo empatia e apreço lo para que todos vejam as peças uns dos
por diferentes pontos de vista. outros.
Grupo-alvo: Jovens adultos, adultos Dar alguns minutos, depois de cada atua-
Dimensão do grupo: cerca de 20 ção, para comentários, reações e debate.
Duração: 90 minutos Solicitar primeiro aos intervenientes e de-
Material: cavalete com bloco de papel; pois aos observadores que dêem as suas
marcadores; cópias dos quatro princípios opiniões.
das obrigações do Estado (Disponibilida- Reações:
de, Acessibilidade, Aceitabilidade e Adap- Rever a própria atuação:
tabilidade) do “módulo do Direito à Edu- O que os participantes acharam desta ativi-
cação” (ver acima) dade? O que foi mais ou menos difícil face
Competências envolvidas: Capacidades ao que imaginaram? Quais os aspetos mais
de representação e linguísticas, bem como difíceis, ou o mais difícil de representar?
de empatia e criatividade. Os participantes aprenderam algo de novo?
Havia semelhanças ou diferenças entre os
Parte III: Informação Específica sobre a grupos? Se sim, quais?
Atividade Sugestões metodológicas:
Instruções: Uma dramatização pode seguir vários ca-
Explicar que o propósito do exercício é de- minhos, mas, em todos eles, os participan-
senvolver uma peça sobre o conteúdo do tes desenvolvem pequenas atuações que,
módulo do direito à educação. normalmente, despertam fortes emoções
Para começar, ler o significado dos 4 prin- tanto nos atores, como na audiência. Por-
cípios das obrigações dos Estados e asse- tanto, o líder do grupo deve ser encorajado
gurar-se de que todos os participantes en- a avaliar o que foi feito e a analisar a sua
tendem o seu conteúdo. relevância para os direitos humanos.
H. DIREITO À EDUCAÇÃO 297
com o grupo inteiro (ou em duas rondas que temos diferentes prioridades; que argu-
se o grupo for muito grande). mentos foram os mais persuasivos; como é
Regras do Jogo da Memória: colocar os a situação na sua própria comunidade?
cartões na mesa virados para baixo; quem Sugestões metodológicas:
começa a jogar, vira 2 cartões para que to- Assegurar-se que os participantes criam,
dos os possam ler. Se os cartões formarem no mínimo, 20 pares de cartões para tor-
um par, o participante pode ficar com eles; nar o jogo possível.
se não, são virados novamente, e o próxi-
mo participante, vira outros 2 cartões. Parte IV: Acompanhamento
Reações: Debater formas de alcançar o objetivo da
Convidar cada participante a falar sobre “Educação para Todos” nos países de cada
a sua experiência durante a atividade: foi participante. Se o grupo for muito ativo e
difícil criar pares de cartões? Aprenderam criativo, poderão iniciar uma campanha
algo que não sabiam antes? sobre a “Educação para Todos”.
Começar por convidar cada grupo a apre- Direitos relacionados: Globalização, par-
sentar os seus resultados. Continuar, anali- ticipação política. (Fonte: adaptado do
sando o quanto os participantes gostaram Conselho da Europa. 2002. Compass: A
da atividade e o que aprenderam. Manual on Human Rights Education with
Desenvolver algumas questões como: se- Young People.)
melhanças e diferenças entre os grupos; por
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302 II. MÓDULOS SOBRE QUESTÕES SELECIONADAS DE DIREITOS HUMANOS
HISTÓRIAS ILUSTRATIVAS
Castigos Corporais sobre Crianças - É mau ou triste quando o teu pai ou mãe
te dão uma palmada – tu tentas e dizes
Respostas de crianças sobre: Por que é que aos teus tios, mas eles não fazem nada.
achas que as crianças levam palmadas? (menina, 5 anos)
- Quando as pessoas se portaram mal e - Eu não fico triste, só quando a minha
estão a lutar, levam palmadas [dos seus] mãe me dá palmadas…e depois eu cho-
mãe ou pai. (rapaz, 6 anos) ro… (menina, 4 anos)
- [As crianças levam palmadas] quando (Fontes: Children’s Rights Alliance for
lutam com outras pessoas, quando atiram England and Save the Children UK (eds.).
pedras e coisas. (rapaz, 7 anos) 2004. It hurts you inside. Young children
- Talvez [quando se] pinta o tapete [ou] talk about smacking.; Elinor Milner. 2009.
fazemos desenhos no sofá [ou] não se lim- “I don’t get sad, only when my mum
pa o quarto – se se brinca com tinta e a smacks me.” Young Children Give Advice
derramamos sobre alguma coisa. E se se about Family Discipline.)
derruba o objeto de vidro preferido da mãe
e ele se parte. (menina, 5 anos) Questões para debate
- Bem, se estivesse na altura de limpar o 1. Por que é que as pessoas dão palmadas
quarto e só se tivesse uma hora para o fa- aos seus filhos?
zer e se se gasta essa hora a ler livros, po- 2. Dar palmadas às crianças é um modo
de-se levar uma palmada. (rapaz, 6 anos) legítimo de disciplinar?
- Porque os pais dizem para não se fazer 3. Quais as alternativas aos castigos cor-
algo e elas fazem-no. (menina, 7 anos) porais?
(Fonte: Carlyne Willow, Tina Hyder. 1998. 4. Por que é que só 29 países no mundo
It hurts you inside – children talking about proibiram os castigos corporais, de for-
smacking.) ma abrangente, em casa, nas escolas e
no sistema penal?
Respostas das crianças sobre: O que se sen- 5. O que é que cada um de nós poderá fa-
te quando alguém vos dá uma palmada? zer sobre esta questão, por si só e com
- Parece que alguém nos bate com um a ajuda de outros?
martelo. (menina, 5 anos)
- É como quando se está no céu e se cai Crianças Afetadas por Conflitos Arma-
para o chão e se magoa. (menino, 7 anos) dos
- Dói muito, faz-te sentir triste. (menina, “Eu fui raptada [por membros do Exército
6 anos) de Resistência do Senhor] quando ia com a
- Estás magoado choras [e] gotas saem dos minha mãe para o campo […]. Uma das ou-
teus olhos. (menina, 5 anos) tras meninas raptadas tentou fugir mas foi
- E sentes que já não gostas dos teus pais. apanhada. Os rebeldes disseram-nos que ela
(menina, 7 anos) tinha tentado fugir e que teria de ser morta.
- Sente-se, tu sentes como se quisesses fu- Eles obrigaram as crianças recém-chegadas
gir porque estão a ser como que maus e a matá-la. Eles disseram-nos que, se fugísse-
isso magoa muito. (menina, 7 anos). mos, matariam as nossas famílias.
I. DIREITOS HUMANOS DA CRIANÇA 305
A SABER
1. A LUTA PARA PROTEGER OS DIREI- trabalho explorador, a venda e o tráfico de
TOS DA CRIANÇA crianças e outras formas de abuso, negli-
gência, exploração e violência. Portanto,
Debater os direitos humanos das crianças as expectativas eram elevadas quando, em
é, por vezes, uma experiência singular e 2002, alguns milhares de representantes
ambivalente. Num primeiro momento, to- governamentais e não governamentais e
dos imediatamente concordariam com os mais de 600 jovens (até aos 18 anos), de
direitos dos jovens a um lar, a viver com mais de 150 países, se reuniram em Nova
família e amigos, a desenvolver a perso- Iorque, para a Sessão Especial da AGNU
nalidade e talentos, a ser protegido de para a Criança. Porém, o novo Plano de
abusos e a ser respeitado e levado a sério. Ação internacional “A World Fit for Chil-
Contudo, quando surgem questões sobre dren” que demorou quase dois anos a ser
padrões concretos de parentalidade e so- negociado, trouxe apenas um sucesso am-
bre responsabilidades para efetivar estes bíguo. E, mais surpreendentemente, um
objetivos, surgem também controvérsias. dos assuntos mais espinhosos foi o esta-
Atente-se na Convenção sobre os Direitos tuto da CDC no documento final, com al-
da Criança da ONU (CDC). Este tratado in- guns Estados, tais como os Estados Unidos
ternacional adotado pela Assembleia-Ge- da América a oporem-se totalmente a um
ral da ONU, em 1989, constitui a base da documento final inspirado nos direitos da
proteção internacional dos direitos huma- criança.
nos das crianças. A CDC é presentemente De acordo com a UNICEF, estima-se que
o tratado de direitos humanos mais rati- haja atualmente 127 milhões de crianças
ficado de sempre, com 193 Estados Par- com peso a menos no mundo em vias de
tes, incluindo todos os Estados da ONU, desenvolvimento, o que corresponde a
exceto dois (Estados Unidos da América 22% das crianças nos países em vias de
e Somália7), estabelecendo realmente pa- desenvolvimento; 9% das crianças no
drões universais de direitos humanos para mundo em vias de desenvolvimento está
as crianças. Porém, as boas notícias rela- em estado grave de falta de peso. Décadas
tivamente ao estabelecimento de normas depois dos compromissos feitos no sentido
contrastam abissalmente com o panorama de assegurar a qualidade da educação para
desastroso no que respeita à sua imple- todas as crianças, a cerca de 68 milhões de
mentação. A infância de milhões de crian- crianças em idade escolar (escola primá-
ças continua a ser devastada pela subnu- ria) este direito é ainda negado.
trição, pobreza e exclusão persistentes,
Direitos da Criança e Segurança Hu-
7
Nota da versão em língua portuguesa: a República
mana/da Criança
do Sudão do Sul tornou-se Estado-membro da ONU O conceito de segurança humana tem
a 14 de Julho de 2011 e também ainda não ratificou a sido descrito como liberdade de viver
Convenção sobre os Direitos da Criança.
I. DIREITOS HUMANOS DA CRIANÇA 307
sem ameaças invasivas aos direitos e à no contexto do debate atual sobre a par-
segurança da pessoa, promovendo o di- ticipação de crianças nos processos de
reito de viver sem medo e sem privações, paz e de reconstrução pós-conflito.
com iguais oportunidades para desenvol-
ver, plenamente, o seu potencial humano. Desde a sua criação, a Rede de Seguran-
Assim, dirige-se a situações de inseguran- ça Humana tem dedicado especial aten-
ça causadas por violência e pela pobreza ção à segurança da criança, especial-
e agravadas, ainda mais, pela discrimina- mente em relação aos conflitos armados.
ção e pela exclusão social. A necessidade Os conflitos são uma ameaça ao acesso
de dar prioridade e urgência a medidas por parte das crianças, à nutrição, água
para responder a ameaças imediatas à potável, saneamento, educação e a cui-
segurança da pessoa complementa fa- dados de saúde. As crianças são parti-
voravelmente o conceito dos direitos da cularmente vulneráveis a qualquer tipo
criança, particularmente se se seguir o de violência ou abuso e estão sujeitas
princípio da consideração primordial do a um maior risco de sequestro, tráfico,
interesse superior da criança. Todavia, ao recrutamento involuntário por grupos
utilizar o conceito da segurança humana ou forças armadas e de violência sexu-
como um instrumento político, algumas al, incluindo a violação como arma de
precauções devem ser consideradas. guerra. Nas suas Resoluções 1882 (2009)
e 1998 (2011), o Conselho de Segurança
Primeiro, um enquadramento jurídico das Nações Unidas condenou, de forma
vinculativo para a proteção dos direitos veemente, todas as violações do direito
humanos das crianças já existe, contem- internacional aplicável, que envolves-
plando direitos abrangentes e as respeti- sem o recrutamento e uso de crianças
vas obrigações dos Estados – enquanto pelas partes em conflitos armados, assim
para a segurança humana ainda falta como o seu recrutamento recorrente, ho-
este fundamento normativo. Segundo, micídio e mutilação, violação e outros
as abordagens à segurança humana/da tipos de violência sexual, sequestros,
criança podem conduzir a (um excesso ataques contra escolas ou hospitais e a
de) proteção, enfatizando a vulnerabili- negação do acesso humanitário pelas
dade e a dependência da criança – ao partes do conflito armado e todas as vio-
mesmo tempo negligenciando as capa- lações do direito internacional cometi-
cidades e os recursos da própria crian- das contra crianças durante as situações
ça. Assim, um desafio concetual para de conflito armado. Por conseguinte,
a segurança da criança encontra-se em reforçou o sistema de monitorização e
perceber como integrar da melhor forma de apresentação de relatórios relativos
o aspeto do empoderamento/autocapa- a estas sérias violações dos direitos das
citação, ponto essencial do discurso dos crianças durante os conflitos armados,
direitos humanos. estabelecido pela Resolução 1612 (2005)
Daqui retira-se que as sinergias entre as do Conselho de Segurança, que exige
abordagens aos direitos da criança e à das partes que cometem tais violações
segurança da criança devem ser acentua- de direito internacional uma comunica-
das, como demonstrado, por exemplo, ção direta e uma resposta.
308 II. MÓDULOS SOBRE QUESTÕES SELECIONADAS DE DIREITOS HUMANOS
bém quando a mesma não tenha um ob- situação económica e social dos seus cui-
jetivo sexual, como outras formas de tra- dadores (por exemplo, desemprego, sepa-
balho forçado, adoção ilegal e doação de ração dos pais), que têm efeitos imediatos
órgãos), prostituição e pornografia infan- no nível de vida da criança. Contudo, ao
tis, e que considerem tais ofensas puníveis proteger os direitos humanos das crianças,
através de penas adequadas. Os Estados o seu estatuto jurídico e social, alterar-se-á
Partes devem disponibilizar às crianças ví- profundamente. Não é uma solução para
timas, serviços legais e outros serviços de todos os problemas que as crianças en-
apoio. Atualmente, 154 Estados são parte frentam, nem um fim em si mesmo, mas o
do Protocolo Facultativo (abril de 2012). meio necessário para embarcar num pro-
Em dezembro de 2011, a Assembleia-Geral cesso que se dirige a estes problemas, de
das Nações Unidas adotou e abriu para uma forma abrangente, baseada no inte-
assinatura o Protocolo Facultativo à Con- resse superior da criança (e da sociedade).
venção sobre os Direitos da Criança rela- Aceitar os direitos dos jovens, portanto,
tivo a um Procedimento de Comunicação não implica criar um grupo social especifi-
que permitirá às crianças apresentar quei- camente “privilegiado”, ao invés, é um re-
xas individuais ao Comité dos Direitos da quisito essencial para elevar o seu estatuto
Criança, alegando que os seus direitos, es- na sociedade para um nível onde podem
tipulados na Convenção, foram violados. defender os seus interesses, em igualdade
Em abril de 2012, o Protocolo tinha sido de circunstâncias com os adultos.
assinado por 20 Estados mas ainda não ti- Só então uma criança será ouvida em tri-
nha entrado em vigor. bunal, em casos de guarda, ou uma meni-
na se sentirá suficientemente segura para
Conceitos Principais Presentes denunciar o abuso sexual. Isto também
na Convenção sobre sublinha o aspeto de prevenção e cons-
os Direitos da Criança: Empoderamento ciencialização do empoderamento das
e Emancipação, Aspetos crianças.
Geracionais e de Género E só então os interesses das crianças, en-
Com base no respeito pela dignidade de quanto grupo social específico e distinto,
todos os seres humanos, a CDC reconhe- serão levados a sério – um desafio crucial
ce toda a criança como detentora dos seus considerando a situação demográfica nas
direitos humanos: estes direitos não deri- “sociedades envelhecidas” do Norte, mas,
vam, nem dependem dos direitos dos pais também no hemisfério do Sul, onde os jo-
ou de quaisquer outros adultos. Esta é a vens, regularmente, representam mais de
base dos conceitos de emancipação e de 50% da população total.
empoderamento da criança, elevando a
criança a um sujeito e cidadão respeitado “Cem crianças, cem indivíduos que são
da sociedade, capaz de desafiar e alterar pessoas - não projetos de pessoas, não pes-
perceções e expetativas limitadoras e dis- soas no futuro, mas pessoas agora, agora
criminatórias sobre os jovens. mesmo - hoje.”
Na verdade, as crianças ainda dependem Janusz Korczak. How to Love a Child. 1919.
dos adultos (de acordo com o seu desen-
volvimento físico, emocional e social, au- A juntar a este aspeto geracional, a dimen-
sência de recursos/rendimentos, etc.) e da são do género é de importância primacial
310 II. MÓDULOS SOBRE QUESTÕES SELECIONADAS DE DIREITOS HUMANOS
educação” (2001), “tratamento das crian- Além disso, ao nível estrutural, a criação
ças não acompanhadas e separadas fora de uma perspetiva baseada nos direitos
do seu país de origem” (2005), os “direi- da criança, em todos os níveis legislati-
tos das crianças com deficiência” (2006), vos e de governo, ainda constitui um de-
“crianças indígenas e os seus direitos nos safio significativo. A avaliação regular do
termos da Convenção” (2009), o “direito a impacto das normas sobre as crianças,
ser ouvido” (2009) e o “direito da criança um orçamento que tem em consideração
à liberdade de não ser sujeito a qualquer as crianças, a participação das crianças
forma de violência” (2011). em estratégias de redução da pobreza e a
Cada vez mais, contudo, o aumento do criação/fortalecimento de provedores das
número de normas, instrumentos e insti- crianças ainda são mais a exceção do que
tuições, implica novos desafios quanto à a regra. Ademais, a sensibilização para
sua monitorização, requerendo uma co- os direitos da criança continua a ser um
ordenação mais próxima entre todos os movimento largamente conduzido por
agentes envolvidos, tanto a nível interna- adultos, portanto, têm de ser exploradas
cional, como nacional. Quanto a este últi- novas formas de apoio a iniciativas lide-
mo, é importante recordar o Documento radas por crianças/jovens. Vários Estados
Final da Sessão Especial de 2002, “Um começaram a debater, ou já integraram,
Mundo para as Crianças” (A World Fit os princípios da Convenção nas Consti-
for Children) que estabeleceu uma agenda tuições nacionais, fortalecendo, assim, os
com uma série de objetivos e de metas ba- direitos da criança nas leis e procedimen-
seados em quatro prioridades: a promoção tos internos.
de vidas saudáveis, a disponibilização de Por fim, qualquer esforço de promoção
educação para todos, a proteção das crian- deverá ter por base informação efetiva e
ças contra abuso, exploração e violência, e de confiança, estratégias educativas e de
o combate ao VIH/SIDA. Os chefes de Es- formação, com a possibilidade de a edu-
tado comprometeram-se a criar um “Mun- cação sobre os direitos da criança e sobre
do para Crianças” e a cumprir com estes os direitos humanos abranger crianças,
compromissos até ao fim de 2010. A última jovens e adultos. Tal como o Comité da
vez que a UNICEF elaborou um relatório CDC declarou no seu primeiro Comentá-
sobre o progresso na implementação des- rio Geral sobre os Objetivos da Educação,
tes compromissos foi em 2007 com o seu em 2001: “uma educação cujo conteúdo se
relatório “Progresso para as Crianças: Re- baseie firmemente nos valores do artº 29,
visão Estatística relativa a um Mundo para nº1, é, para todas as crianças, uma fer-
as Crianças”, que se encontra estruturado ramenta indispensável nos seus esforços
de acordo com os Objetivos de Desenvol- para, no decurso da sua vida, alcançar
vimento do Milénio que são atualmente o uma resposta equilibrada e consentânea
foco dos esforços mundiais ao nível do de- com os direitos humanos, aos desafios que
senvolvimento. Muitas das metas de “Um acompanham um período de mudanças
Mundo para as Crianças” são pedras basi- radicais proporcionadas pela globaliza-
lares no sentido dos ODM de 2015 e, con- ção, novas tecnologias e fenómenos rela-
sequentemente, os Estados concentrarão cionados”.
os seus esforços principalmente nos seus
compromissos relativos aos ODM. Direito à Educação
316 II. MÓDULOS SOBRE QUESTÕES SELECIONADAS DE DIREITOS HUMANOS
CONVÉM SABER
CDC, relatórios sobre o progresso quanto
1. BOAS PRÁTICAS à implementação da CDC. De modo a faci-
litar uma revisão abrangente destes relató-
Os exemplos seguintes de iniciativas e rios estatais, o Comité congratula-se com o
projetos fortaleceram com sucesso a im- envio de “relatórios-sombra”/ “relatórios
plementação da CDC: alternativos”, preparados por ONG ou re-
des de ONG (“coligações nacionais”) com
“Juntando Pessoas” a sua própria avaliação sobre a situação
Um projeto de patrocínio a jovens refugia- das crianças e adolescentes, no país sob
dos, na Áustria, organizado pela Asylko- avaliação. Em cerca de 100 países, já fo-
ordination Österreich (uma ONG austríaca ram criadas tais coligações de direitos das
que coordena organizações de refugiados crianças, que promovem e monitorizam a
e migrantes), com o apoio do Comité Aus- implementação da CDC. Mais, um grupo
tríaco da UNICEF. internacional para a CDC, em Genebra,
A ideia básica deste projeto é juntar jo- fornece apoio a ONG e coligações no pro-
vens refugiados não acompanhados, com cesso de elaboração do relatório e moni-
adultos que vivem na Áustria e que estão torização.
dispostos a partilhar algum tempo com
eles e a fornecer-lhes algum apoio prático, Grupo de ONG para a Convenção sobre
por ex., na educação, cursos de línguas, os Direitos da Criança
emprego, encontros com as autoridades, O Grupo de ONG para a Convenção so-
atividades desportivas, etc. É estabelecida bre os Direitos da Criança é uma rede de
uma relação de confiança entre a criança 79 ONG internacionais e nacionais que
e o seu “patrocinador”, o que ajuda o re- trabalham conjuntamente no sentido de
fugiado a estabilizar no seu ambiente e a facilitar a implementação da Convenção.
beneficiar o “patrocinador” com uma ex- As principais tarefas do Grupo são defen-
periência pessoal enriquecedora. Todos der e sensibilizar a opinião pública sobre
os “patrocinadores” são cuidadosamente a importância da CDC, promover e facilitar
selecionados e são sujeitos a uma pré- a implementação da Convenção através de
formação em assuntos jurídicos, questões programas específicos e ações, promover a
psicossociais, a trabalhar com as autorida- participação ativa das crianças em todos os
des, etc. Desde o seu início, em 2001, o aspetos da implementação e monitorização
projeto recebeu comentários positivos dos da Convenção e servir como um meio de
seus participantes e do público, autorida- contato entre a sociedade civil e o Comité
des e meios de informação. dos Direitos da Criança. Como parte do seu
trabalho, o Grupo de ONG publicou linhas
“Relatórios Sombra” Não Governamen- diretrizes para as ONG sobre a preparação
tais e “Coligações Nacionais” para a Im- de relatórios alternativos ao Comité da CDC
plementação Nacional da CDC e encoraja a criação e o desenvolvimento
Os Estados Partes da CDC são obrigados de coligações nacionais de ONG que traba-
a submeter regularmente, ao Comité da lhem com os direitos das crianças.
I. DIREITOS HUMANOS DA CRIANÇA 317
• Trabalho infantil: estima-se que 150 órfã ou foi separada das suas famílias.
milhões de crianças com idades com- Estima-se que 300.000 estejam direta-
preendidas entre os 5 e 14 anos es- mente envolvidas em conflitos como
tão envolvidas em trabalho infantil. crianças-soldado.
Milhões de crianças trabalham em
• Crianças refugiadas e deslocadas:
condições perigosas (por exemplo,
em todo o mundo há 27.1 milhões
em minas, com químicos e pesticidas
de pessoas que foram deslocadas in-
na agricultura ou com maquinaria pe-
ternamente por conflitos armados.
rigosa). A Organização Internacional
Destas, pelo menos 13.5 milhões são
do Trabalho (OIT) estima que mais de
crianças.
dois terços de todo o trabalho infantil
se encontre no setor da agricultura. • Crianças com deficiência: cerca de
Descobriu que as crianças em áreas 650 milhões de pessoas em todo o
rurais – meninas, especialmente – co- mundo vivem com uma deficiência.
meçam a trabalhar na agricultura logo De acordo com a Organização Mun-
aos 5-7 anos de idade. dial da Saúde (OMS), cerca de 10%
das crianças e jovens de todo o mun-
• Crianças de rua: estima-se que haja
do (cerca de 200 milhões) tem defi-
100 a 150 milhões de crianças de rua
ciências ao nível sensorial, intelectual
no mundo; este número está a au-
ou mental, sendo que 80% dos mes-
mentar.
mos vive em países em vias de desen-
• Educação: o número de crianças em volvimento. 20% das pessoas mais
idade escolar (escola primária) que pobres do mundo e 30% dos jovens
não frequenta a escola diminuiu de de rua tem uma deficiência; 90% das
115 milhões, em 2002, para 101 mi- crianças com deficiência nos países
lhões, em 2007. Em 2010, 68 milhões em vias de desenvolvimento não fre-
de crianças em idade escolar (escola quenta a escola.
primária) não frequentou a escola,
53% das quais eram meninas. • Violência: é impossível medir a ver-
dadeira magnitude da violência contra
• Serviços sociais e prioridades políti- as crianças, uma vez que uma grande
cas: em média, os países em vias de parte dos casos ocorre em segredo. No
desenvolvimento gastam mais em de- entanto, a UNICEF estima que entre
fesa do que na educação básica ou em 500 milhões e 1.5 biliões de crianças
cuidados de saúde básicos; os países experienciem violência anualmente e
industrializados gastam cerca de 10 que 2 em cada 3 crianças sejam subme-
vezes mais em defesa do que em ajuda tidas a punições físicas. A maioria da
internacional para o desenvolvimento. violência contra crianças é perpetrada
• Conflito armado: durante a última por pessoas que as crianças conhecem
década, mais de 2 milhões de crian- e em quem deveriam poder confiar,
ças morreram durante um conflito ar- como membros da família, pessoas
mado, 6 milhões foram severamente que cuidam das mesmas, professo-
feridas ou permanentemente incapa- res, etc. Os grupos de crianças par-
citadas. 1 milhão de crianças ficou ticularmente vulneráveis à violên-
I. DIREITOS HUMANOS DA CRIANÇA 321
ATIVIDADES SELECIONADAS
ATIVIDADE I: rem, identificar o quadro com “NECESSI-
DIREITOS E NECESSIDADES DADES”.
DAS CRIANÇAS De seguida, debater as seguintes pergun-
tas relativamente ao seu país ou região:
Parte I: Introdução - Que necessidades básicas foram escolhi-
Quando se fala em direitos humanos, de- das? Os participantes pensaram em obje-
ver-se-ia distinguir claramente direitos de tos materiais, emoções, relações ou em
necessidades. algo que os outros deviam fazer ou não?
- Quem é responsável pela satisfação des-
Parte II: Informação Geral tas necessidades?
Tipo de atividade: Descrição e discussão - Que necessidades podemos nós próprios
dos direitos e das necessidades das crianças satisfazer? E para que necessidades de-
Metas e objetivos: Compreender os direi- pendemos de outras pessoas?
tos da criança e perceber que os princípios - Todos nós temos estas necessidades sa-
dos direitos humanos se aplicam os todas tisfeitas?
as pessoas. - Alguém conhece alguma criança pessoal-
Grupo-alvo: Crianças e jovens mente cujas necessidades não são “total-
Dimensão do grupo: 10-20 participantes mente” satisfeitas?
Duração: 1-2 horas - Alguém conhece grupos que não tenham
Preparação: disposição da sala, cópias da acesso (suficiente) a uma ou mais destas
CDC (texto abreviado) necessidades?
Material: papel ou cartão; fita adesiva ou - Quem é responsável pela mudança?
pins; parede ou quadro para pins. Num terceiro passo, olhar para o mundo:
Competências envolvidas: competências que necessidades apontadas são básicas
analíticas e criativas para as crianças em todo o mundo? Re-
mover os cartões que os participantes não
Parte III: Informação Específica sobre a considerem como universais. Acrescentar
Atividade itens que não foram referidos anteriormen-
Os participantes trabalham em pares ou te. Os resultados devem ilustrar, primeira-
grupos pequenos. Cada par ou grupo cria mente, a compreensão dos participantes.
10 cartões que ilustrem coisas de que as Não é necessário, nesta fase, referir-se a
crianças necessitem. Aconselhar os partici- padrões reconhecidos internacionalmente.
pantes a pensar em objetos materiais (por Análise de direitos relacionados:
exemplo: água, comida, roupa), ideias abs- Passar de necessidades a direitos junta-
tratas (ex: amor, paz) e pessoas (ex: pais, mente com os participantes. Explicar bre-
amigos). Cada par/grupo coloca os cartões vemente o sistema de direitos humanos da
na parede ou no quadro e explica por que é ONU e depois distribuir os artigos da CDC
que as coisas descritas são importantes. Os (texto abreviado, cada artigo numa folha
grupos revesam-se e vão colocando novos ou pedaço de papel). Pedir aos participan-
cartões. Quando todos os grupos acaba- tes que completem o quadro, adicionando
324 II. MÓDULOS SOBRE QUESTÕES SELECIONADAS DE DIREITOS HUMANOS
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lencestudy.org/ Defence for Children: www.defencefor-
children.org/
United Nations Development Programme
(UNDP) (ed.). 2011. Human Development End Child Prostitution, Child Pornogra-
Report 2011. New York: Palgrave Macmil- phy and Trafficking of Children for Sexu-
lan. Available at: www.beta.undp al Purposes (ECPAT): www.ecpat.net
328 II. MÓDULOS SOBRE QUESTÕES SELECIONADAS DE DIREITOS HUMANOS
HISTÓRIA ILUSTRATIVA
Outrora um Rei Guerreiro: Memórias de Veio-me à memória o treino, a programação
um Militar no Vietname para matar, e comecei a matar.
Varnado Simpson, veterano americano da
Eu tinha 19 anos quando fui para o Vie- guerra do Vietname, relatando eventos
tname. Era atirador especial de 4ª cate- que ocorreram em 1968.
goria. Fui treinado para matar, mas a (Fonte: adaptado de: Donovan, David.
realidade de matar alguém é diferente de 2001. Once a warrior king: memories of an
treinar e puxar o gatilho. Não sabia que ia Officer in Viet Nam.)
fazer isso. Eu sabia que as mulheres e as
crianças estavam lá, mas para mim, dizer Questões para debate
que as ia matar, não sabia que o ia fazer 1. Por que é que este soldado decidiu dis-
até o ter feito. Eu não sabia que ia matar parar, apesar de saber que mulheres e
alguém. Eu não queria matar ninguém. crianças não são alvos legítimos?
Não fui educado para matar. 2. Por que é que as mulheres e as crianças
Ela estava a correr de costas na direção de são pessoas protegidas durante um con-
uma linha de árvores mas carregava algo. Eu flito armado?
não sabia se seria uma arma ou outra coisa. 3. Acha que a obediência é importante
Eu sabia que era uma mulher e não queria quando se trava uma guerra? Os solda-
disparar sobre uma mulher, mas recebi or- dos devem sempre obedecer às ordens?
dem para disparar. Na altura, pensei que ela 4. Quem acha que determina o que é uma
estava a correr com uma arma e, então, dis- conduta legal e ilegal, numa guerra?
parei. Quando a virei, era um bebé. Disparei 5. Quão importante é para os soldados
sobre ela cerca de 4 vezes, as balas atravessa- aprender o que é ilegal? Qual o propósi-
ram-na e mataram também o bebé. Quando to de ter regras?
a virei, vi que metade do rosto do bebé tinha 6. Como é que se pode evitar tragédias
desaparecido. Nesse momento, apaguei-me. como a descrita supra?
A SABER
do indivíduo. Os direitos humanos nunca
1. ATÉ AS GUERRAS TÊM LIMITES cessam de ser relevantes mas o surto de
violência sistemática e organizada, que
Poucas são as situações que ameaçam são as verdadeiras caraterísticas de um
tão drasticamente a segurança humana, conflito armado, constitui uma afronta
como a guerra. Nas circunstâncias extre- precisamente aos princípios constituti-
mas de conflito armado, os governos dão vos daqueles direitos. Como tal, as situa-
por si a ter de tomar decisões difíceis, ções de conflito armado requerem um
entre as necessidades da sociedade e as conjunto complementar, mas separado,
J. DIREITOS HUMANOS EM CONFLITO ARMADO 331
de normas com base numa ideia muito mais, limitar o sofrimento que a guerra
simples, a de que até as guerras têm pode causar. No esforço de preservação
limites. Estas regras são comummente da dignidade humana, poder-se-á dizer
designadas por Direito Internacional que o DIH contribui para uma paz even-
Humanitário (DIH) ou Direito dos Con- tual através do aumento das possibilida-
flitos Armados. O DIH pode ser sinte- des de reconciliação.
tizado como o conjunto de princípios e
regras que estabelecem limites ao uso de
violência durante os conflitos armados, “A guerra deve ser sempre travada com vis-
de modo a: ta à paz.”
• Salvar aquelas pessoas (“civis”) não Hugo de Groot (Grócio).
diretamente envolvidas nas hostilida-
des; As Origens do DIH
• Limitar os efeitos da violência (até para Embora os académicos estejam de acordo,
os “combatentes”) ao nível necessário de um modo geral, que o nascimento do
para os propósitos da guerra. DIH moderno foi em 1864, com a adoção
da Primeira Convenção de Genebra, tam-
DIH e Segurança Humana bém é claro que as regras contidas nessa
Convenção não eram inteiramente novas.
Muitos já questionaram e muitos negam Na verdade, uma grande parte da Primei-
que a lei possa regular o comportamen- ra Convenção de Genebra teve a sua fonte
to na realidade excecional, anárquica e em direito consuetudinário já existente. De
violenta dos conflitos armados. Como se facto, já existiam regras que protegiam de-
pode esperar que, onde a sobrevivência terminadas categorias de vítimas de confli-
do indivíduo ou da sociedade estão em tos armados e costumes relacionados com
jogo, considerações legais restringirão o os meios e métodos de combate, autoriza-
comportamento humano? Embora possa dos e proibidos, durante as hostilidades,
parecer surpreendente à primeira vista, que remontam a 1000 a.C.
existem várias razões preponderantes Até meados do século XIX, os códigos e
para que, tanto agressores, como defen- os costumes que constituíam o DIH eram
sores sigam as regras de conduta estabe- limitados geograficamente e não expres-
lecidas pelo DIH. Enquanto a explosão savam um consenso universal. O ímpeto
da violência nega a própria ideia de se- para o primeiro Tratado de Direito Huma-
gurança, é, todavia, importante perceber nitário resultou, em grande parte, de um
que o DIH contribui para a segurança empresário suíço chamado Henry Dunant.
humana ao defender a ideia de que até Tendo testemunhado a carnificina que
as guerras têm limites. O DIH reconhece ocorreu em Solferino, em 1859, durante a
a realidade dos conflitos armados e res- batalha em que as forças francesas e aus-
ponde a esta, de forma pragmática, com tríacas se debateram, no norte de Itália,
regras práticas e detalhadas dirigidas aos Dunant decidiu escrever um livro no qual
indivíduos. Este ramo de direito não ten-
relatou os horrores da batalha e tentou su-
ta estabelecer se um Estado ou um grupo
gerir e publicitar medidas possíveis para
rebelde têm, ou não, o direito a recorrer
melhorar o destino das vítimas da guerra.
ao conflito armado. Pretende, antes de
A adoção da Convenção de Genebra, de
332 II. MÓDULOS SOBRE QUESTÕES SELECIONADAS DE DIREITOS HUMANOS
1864, para Melhorar a Situação dos Fe- mais abrangente: as regras e os princípios
ridos e Doentes das Forças Armadas em que regulam a coordenação e a coopera-
Campanha resultou num tratado interna- ção entre os membros da comunidade in-
cional, aberto a ratificação universal, pelo ternacional, isto é, o Direito Internacional
qual os Estados concordaram, voluntaria- Público.
mente, limitar o seu próprio poder em prol
do indivíduo. Pela primeira vez, os confli- DIH e Direitos Humanos
tos armados foram regulados por uma lei Pode dizer-se que o DIH protege o “núcleo
escrita e geral. duro” dos direitos humanos em tempo de
conflito armado, uma vez que se esforça
“Quando o sol nasceu a vinte e cinco de por limitar o sofrimento e os danos causa-
junho de 1859, desvendou os mais terríveis dos por este. Aquele núcleo duro inclui o
cenários imagináveis. Corpos de homens e direito à vida, a proibição de escravidão,
cavalos cobriam o campo de batalha: cadá- a proibição de tortura e tratamento desu-
veres estavam espalhados pelas estradas, mano e a proibição de qualquer aplicação
valetas, ravinas, matagais e campos […]. retroativa da lei. Ao contrário de outros di-
Os pobres homens feridos que foram reco- reitos (tais como a liberdade de expressão,
lhidos, durante todo o dia, encontravam-se de circulação e de associação) que podem
extremamente pálidos e exaustos. Alguns, ser circunscritos em tempos de emergên-
os feridos mais graves, tinham um ar estu- cias nacionais, a proteção essencial con-
pidificado como se não percebessem o que cedida pelo DIH nunca pode ser suspensa.
lhes era dito […]. Outros estavam ansiosos Uma vez que o DIH se aplica precisamente
e excitados pela tensão nervosa e abalados às situações excecionais que constituem
por tremores espasmódicos. Alguns, que ti- os conflitos armados, o conteúdo desse
nham feridas abertas já mostrando sinais “núcleo duro” de direitos humanos tende
de infeção, quase endoideciam com a dor. a convergir com as garantias jurídicas fun-
Imploravam para lhes acabarem com o seu damentais fornecidas pelo Direito Huma-
sofrimento e retorciam-se, com as faces dis- nitário. Enquanto o DIH, como lex specia-
torcidas, na sua luta contra a morte.” lis, regula as situações de conflito armado,
Henry Dunant. A Memory of Solferino. e os direitos humanos visam os tempos de
paz, o direito internacional dos direitos
DIH enquanto Direito Internacional humanos continua a ser aplicável durante
As regras e princípios do DIH são dispo- os conflitos armados. O DIH e o direito dos
sições jurídicas universalmente reconhe- direitos humanos complementam-se na
cidas, não sendo apenas preceitos morais proteção da vida e da dignidade daqueles
ou filosóficos ou costumes sociais. O co- que são apanhados em conflitos armados.
rolário da natureza jurídica destas regras
é a existência de um regime detalhado de Infra, surgem algumas das formas, se-
direitos e obrigações impostas às diversas gundo as quais o DIH protege os direitos
partes de um conflito armado. Os indiví- humanos em conflitos armados:
duos que não respeitam as regras do DIH
serão levados à justiça. • a proteção concedida a vítimas de
O DIH tem de ser entendido e analisado guerra tem de ser conferida sem qual-
como uma parte distinta de um quadro quer discriminação;
J. DIREITOS HUMANOS EM CONFLITO ARMADO 333
Protocolo Adicional II relativo à proteção Tal até acontece quando outro Estado está
de vítimas de conflitos não internacionais, indiretamente envolvido nos incidentes.
tem 165 Estados-parte. Aceitar que está a suceder uma situação
de conflito armado significa aceitar que
3. PERSPETIVAS os responsáveis pela execução da violên-
INTERCULTURAIS E cia podem ser dignos de proteção à luz do
QUESTÕES CONTROVERSAS DIH, para além da proteção básica conce-
dida pelo direito dos direitos humanos. De
A Importância da Sensibilização Cul- forma não surpreendente, as autoridades
tural governamentais têm mais tendência para
Os esforços da humanidade no sentido de qualificar estes perpetradores como cri-
limitar a brutalidade da guerra são univer- minosos, bandidos ou terroristas do que
sais. Muitas culturas, ao longo da História, como combatentes evitando, assim, as re-
tentaram restringir o uso da violência de gras do DIH.
modo a reduzir o sofrimento desnecessá- Uma das formas de tornar o DIH aceitável
rio e a limitar a destruição. Ainda que as para os Estados, em tais situações, é ga-
Convenções iniciais de Genebra e de Haia rantir que a aplicabilidade das regras não
não fossem universais na sua conceção, confere nenhuma legitimação aos grupos
uma vez que foram redigidas e adotadas envolvidos nas hostilidades. A abordagem
por juristas e diplomatas pertencentes à realista e pragmática do DIH é utilizada
cultura Cristã Europeia, os princípios que para proteger as vítimas dos conflitos, in-
lhe são subjacentes são universais. Esta di- dependentemente dos lados envolvidos.
mensão universal do DIH não deve ser ja- É importante sublinhar que o DIH é um
mais subestimada ou esquecida: frequen- equilíbrio entre conceitos conflituantes:
temente, o respeito e a implementação das por um lado, a necessidade militar e, por
regras dependerá, de facto, do estabeleci- outro lado, preocupações humanitárias.
mento de uma correspondência clara en-
tre os tratados aplicáveis e as tradições ou
“Sabemos como uma pessoa, independen-
costumes locais.
temente da nacionalidade, pode, facilmen-
te, ser apanhada pela psicologia da bru-
Perspetivas Conflituantes quanto à Apli-
talidade quando esteja envolvida numa
cação do DIH
guerra. Tal brutalidade é, muitas vezes,
Apesar dos princípios do DIH terem obti-
causada pelo ódio de outros, como clara-
do uma aprovação quasi-universal, podem
mente ilustrado pelos atos de racismo. O
ocorrer dificuldades na sua implementa-
problema fundamental que deve ser abor-
ção devido a ideias concorrentes no mo-
dado ao lidar com qualquer crime de guer-
mento em que manifestações de violência
ra, é o profundo medo da morte que expe-
se tornam num conflito armado. A quali-
rimentam os soldados. Para ultrapassar o
ficação de um conflito como armado é de
medo durante a guerra, as pessoas tendem
importância primordial já que é o requisito
a apoiar-se na violência que, por sua vez,
básico para o DIH se aplicar. Quando os
esbate a sua ética e se manifesta como um
Estados se confrontam com atos de vio-
surto de brutalidade.”
lência no seu território, costumam preferir
Yuki Tanaka, académico japonês.
lidar internamente com estas ocorrências.
J. DIREITOS HUMANOS EM CONFLITO ARMADO 337
CONVÉM SABER
O Movimento Internacional da Cruz Ver- “A desintegração das famílias, em tempos de
melha e do Crescente Vermelho é compos- guerra, deixa mulheres e meninas especial-
to pelo Comité Internacional da Cruz Ver- mente vulneráveis à violência. Atualmen-
melha (CICV), pelas Sociedades Nacionais te, quase 80% dos 53 milhões de pessoas
da Cruz Vermelha e do Crescente Vermelho deslocadas devido a guerras, são mulheres
de 186 países e pela Federação Internacio- e crianças. Quando pais, maridos, irmãos e
nal de Sociedades da Cruz Vermelha e do filhos são levados para o combate, deixam
Crescente Vermelho. As Sociedades Nacio- mulheres, os mais novos e os mais velhos à
nais agem na qualidade de auxiliares das sua própria defesa. As famílias refugiadas
autoridades públicas dos seus próprios pa- apontam a violação ou o medo da violação
íses na esfera humanitária e fornecem uma como um fator preponderante nas suas de-
variedade de serviços, incluindo assistência cisões de procura de refúgio.”
a desastres e programas de saúde e sociais. UNICEF. The State of the World’s Children. 1996.
A Federação é a organização que promove
a cooperação entre as Sociedades Nacionais É conferida uma atenção especial às mu-
e promove a sua capacidade. lheres e às crianças, uma vez que o DIH
Enquanto guardião e promotor do DIH, lhes confere uma proteção específica.
o CICV desempenha o papel principal na As mulheres vivem os conflitos armados
busca da preservação de uma dimensão de múltiplas formas – desde participarem
humanitária em pleno conflito armado. ativamente enquanto combatentes, até
serem consideradas alvos enquanto mem-
1. BOAS PRÁTICAS bros da população civil ou porque são mu-
lheres. A experiência de guerra das mulhe-
Proteção de Civis res é multifacetada – significa separação,
O direito humanitário funda-se no princí- a perda de membros da sua família e do
pio da imunidade da população civil. As sustento, e um risco acrescido de violência
pessoas que não participam nas hostilida- sexual, ferimentos, privações e morte. A
des não podem ser atacadas, em qualquer resposta a esta realidade implica:
circunstância; têm de ser poupadas e pro- • Ensinar os direitos das mulheres aos de-
tegidas. Nos conflitos de hoje, porém, os tentores de armas.
civis, frequentemente, têm de enfrentar • Fornecer assistência a saúde ginecológi-
uma violência horrível, sendo, por vezes, ca e reprodutiva nas instalações médi-
alvos diretos. Massacres, tomada de re- cas e nos centros de saúde que auxiliam
féns, violência sexual, assédio, expulsão, as vítimas das hostilidades.
deslocações forçadas e pilhagens, bem • Recordar às autoridades dos centros de
como o impedimento deliberado no aces- detenção que as detidas devem estar
so à água, alimentos e cuidados de saúde, sob a supervisão imediata de mulheres
são algumas das práticas que espalham o e que as suas instalações para dormir e
terror e o sofrimento, na população civil. sanitárias têm de estar adequadamente
O CICV mantém uma presença constante separadas das dos homens.
em áreas onde os civis enfrentam riscos • Trabalhar sobre o reatamento de conta-
acrescidos. tos entre membros de famílias que fo-
J. DIREITOS HUMANOS EM CONFLITO ARMADO 339
• Restabelecer os laços familiares nos ca- ser repatriados ou reinstalados num país
sos em que estes foram quebrados. terceiro.
• Apoiar organizações de direitos huma- • Informar e apoiar as famílias dos desa-
nos, tais como a Amnistia Internacional parecidos.
e a Human Rights Watch ou organiza-
ções de direitos humanos locais que de-
Uma Palavra acerca do Emblema
nunciem o que sabem sobre o abuso de
prisioneiros pelos seus carcereiros. As Convenções de Genebra mencio-
nam três emblemas: a Cruz Vermelha,
Restabelecimento o Crescente Vermelho e o Cristal Verme-
dos Laços Familiares lho (desde 2006). O DIH regula o uso, o
Em quase todas as emergências – conflitos tamanho, o propósito e a colocação do
armados, deslocação em massa da popula- emblema, as pessoas e a propriedade
ção e outras situações de crise – as crianças que protege, quem o pode usar, o que
acabam separadas dos seus pais, famílias e significa respeitar o emblema e quais as
de outros adultos responsáveis. Dado que, sanções em caso do seu uso indevido.
raramente, o seu estatuto é imediatamente Em tempo de conflito armado, o emble-
claro, as crianças são mais frequentemente ma pode ser usado como proteção so-
designadas de ‘crianças separadas ou não mente por:
acompanhadas’ do que de ‘órfãs’. Outros,
1. Serviços médicos de uma força armada;
tais como os idosos ou as pessoas com de-
ficiências, também podem ficar sujeitos a 2. Sociedades Nacionais da Cruz Vermelha
uma situação difícil durante um conflito. e do Crescente Vermelho devidamente
Podem ficar para trás, isolados e separados reconhecidas e autorizadas pelos seus
dos seus parentes e incapazes de cuidar de governos para prestar assistência aos
si mesmos. Devido à sua particular vulne- serviços médicos das forças armadas;
rabilidade, o CICV toma, quando necessá- 3. Hospitais civis e outras instalações
rio, medidas específicas direcionadas à sua médicas reconhecidas enquanto tal
proteção e reunificação familiar. Algumas pelo governo;
destas medidas envolvem: 4. Outras agências voluntárias de ajuda
• Transmitir notícias da família através de sujeitas às mesmas condições das So-
mensagens da Cruz Vermelha, emissões ciedades Nacionais.
de rádio, telefone e internet, via Movi-
mento Internacional da Cruz Vermelha Três tipos de uso indevido do emblema:
e do Crescente Vermelho. 1. Imitação: uma organização humanitá-
• Organizar repatriações e reunificações ria usa uma cruz vermelha, geradora
familiares. de confusão, para se identificar.
• Facilitar visitas familiares a parentes de- 2. Usurpação: um farmacêutico anuncia
tidos ou que se encontrem para lá das o seu negócio com uma bandeira da
linhas da frente de batalha. Cruz Vermelha.
• Emitir documentos de viagem do CICV
para os que, pertencendo a um conflito, 3. Perfídia: as forças armadas usam uma
não tenham ou já não tenham documen- ambulância com uma cruz vermelha
tos de identificação e estejam prestes a para transportar armas.
J. DIREITOS HUMANOS EM CONFLITO ARMADO 341
Os Estados têm de tomar todas as medi- Unidade – só pode existir uma Socieda-
das para prevenir e reprimir o uso inde- de da Cruz Vermelha ou do Crescente
vido do emblema. Os casos mais sérios Vermelho em cada país.
de uso indevido do emblema são consi- Universalidade – organização mundial.
derados crimes de guerra.
Devido à natureza politicamente sensível
Princípios de Funcionamento da Ação do trabalho desenvolvido pelo CICV, que
Humanitária inclui visitas a prisioneiros ou a interme-
De modo a poder ser qualificada como hu- diação entre as partes em conflito, queren-
manitária, uma organização tem de obe- do estar presente e ser tolerado por todos
decer a certos princípios fundamentais. Os os lados, a confidencialidade ocupa uma
mais importantes destes princípios de fun- posição importante no trabalho da organi-
cionamento são a neutralidade e a imparcia- zação. Este princípio, juntamente com os
lidade. A neutralidade significa não tomar da neutralidade e imparcialidade, levanta
partido. Este princípio permite aos agentes alguns dilemas éticos para os agentes hu-
humanitários obter e manter a confiança de manitários que não podem denunciar abu-
todos os envolvidos no conflito. A imparcia- sos, pois fazê-lo pode colocar em perigo as
lidade significa que será concedida priorida- vidas das vítimas ou impedir a capacidade
de tendo em consideração as necessidades. de acesso aos que necessitam da sua as-
Na verdade, os agentes humanitários não sistência.
fazem distinção em razão da nacionalidade,
etnia, crenças religiosas, estatuto social ou 2. TENDÊNCIAS
opiniões políticas. São orientados, apenas,
pelas necessidades dos indivíduos e têm de
dar prioridade aos casos mais urgentes.
Tendências relativas a Conflitos Arma- “conflitos que envolvem o uso de força ar-
dos com base nos Estados, por Tipo: mada entre dois grupos organizados – sen-
1946-2008 do que nenhum dos mesmos é o governo
Os conflitos armados com base nos Estados de um Estado – que resultam em pelo me-
são definidos pelo Projeto de Relatório sobre nos 25 mortes em batalha num ano”. Pode
Segurança Humana (HSRP) como “conflitos ser feita uma distinção entre dois grupos
nos quais pelo menos uma das partes é o go- relativamente aos conflitos armados não
verno de um Estado e que resultam em 25 ou estatais: a primeira categoria inclui os
mais mortes em batalha declaradas num de- conflitos travados entre diferentes grupos
terminado ano do calendário”. Seguindo esta de rebeldes; a segunda categoria inclui os
definição, os conflitos com base no Estado, conflitos entre grupos étnicos, religiosos
incluem, por conseguinte, conflitos interesta- ou outros. Contrariamente aos conflitos
tais, conflitos intraestatais ou civis, conflitos armados com base no Estado, os conflitos
interestatais internacionalizados e conflitos armados não estatais têm uma duração
extraestatais. Durante as últimas décadas, mais curta e também são menos mortais.
têm-se tornado visíveis mudanças nos con- Embora, segundo o Relatório, o número de
flitos com base nos Estados. Atualmente, a conflitos tenha diminuído 52% entre 2002
grande maioria dos conflitos armados ocorre e 2007, o número total de conflitos atin-
no seio dos Estados: enquanto nos finais dos giu um recorde máximo em 2008. A única
anos 40, metade de todos os conflitos decor- região sem nenhum conflito armado não
ria nos seio dos Estados, no início dos anos estatal é a Europa, contrariamente à África
90, o número chegava já aos 90%. As formas Subsaariana que apresenta o número mais
mais mortais de conflitos foram sempre os elevado de conflitos.
conflitos entre Estados, mas estes tornaram- (Fonte: Human Security Report Project.
se muito raros. Em 2007, atingiu-se o mais 2011. Human Security Report 2009/10: The
baixo número de conflitos registado desde Causes of Peace and the Shrinking Costs of
1957. Não só diminuiu o número de guerras War.)
efetivas, como também o número de pessoas
mortas nesses conflitos tem vindo a diminuir. Terrorismo
De acordo com o HSRP, 20.000 pessoas eram Um assunto de relevo que surgiu da dis-
mortas por ano durante as guerras dos anos cussão sobre terrorismo em relação ao
50, comparado com 4.000 no novo milénio. DIH refere-se ao desafio à segurança co-
Desde o fim da Segunda Guerra Mundial, a locado pelo terrorismo, assegurando a
guerra tem vindo a tornar-se menos mortal. proteção dos direitos dos suspeitos. Um
(Fonte: Human Security Report Project. exemplo das dificuldades surgidas quan-
2011. Human Security Report 2009/2010: do confrontados com este desafio, é a
The Causes of Peace and the Shrinking situação dos detidos pelos EUA, em con-
Costs of War.) flitos armados e na “Guerra ao Terror”.
De acordo com os princípios do conflito
Tendências em Conflitos Armados Não armado, para que um conflito possa ser
Estatais, por Região: 2002-2008 qualificado como conflito armado, tem de
De acordo com o Relatório de Segurança envolver ou a força entre dois ou mais Es-
Humana de 2009/2010, os conflitos arma- tados ou um certo nível de violência entre
dos não estatais podem ser definidos como um Estado e um grupo armado. A inter-
J. DIREITOS HUMANOS EM CONFLITO ARMADO 343
pretação desta regra diverge de país para tentes e não combatentes, sendo que ape-
país, especialmente quando confrontados nas aos combatentes pode ser concedido
com os desafios colocados pelo terroris- o estatuto de “prisioneiro de guerra”. Os
mo. Os EUA têm uma opinião vincada combatentes podem lutar pelas forças ar-
sobre o facto de a “Guerra ao Terror” de- madas, enquanto que os não combatentes
ver ser qualificada como conflito armado, podem ser processados por lutarem uma
conflito esse que terminará apenas quan- vez que tal se qualifica como crime de
do o terrorismo for apaziguado. Susten- guerra. O artigo 5º da Convenção III de
tam também que as regras sobre a guerra Genebra declara que em caso de dúvida
se aplicam, uma vez que o terrorismo é sobre o estatuto de pessoas que tenham
um desafio global, em todo o mundo, o praticado um ato de beligerância e tenham
que inclui a ideia de que até um certo caído nas mãos do inimigo, “estas pesso-
ponto o homicídio de suspeitos de terro- as beneficiarão da proteção da presente
rismo é justificado. Convenção, aguardando que o seu estatuto
Para uma análise da situação dos detidos seja fixado por um tribunal competente”. A
na Baía de Guantánamo, deve ser feita aplicação desta regra à situação de Guan-
uma distinção entre os detidos capturados tánamo faz presumir que os detidos cujo
nos campos de batalha e os outros. Por estatuto não fosse claro aquando da cap-
conseguinte, deve também determinar-se tura deveriam ter o mesmo tratamento dos
se havia um conflito armado aquando da prisioneiros de guerra. A decisão de um
captura. Os EUA consideraram, como ato executivo ou de outra entidade militar não
de agressão, os ataques terroristas do 11 é qualificável como decisão por um tribu-
de setembro de 2001, o que lhes conferiria nal competente.
o direito à autodefesa, que aplicaram num (Fontes: CICV. 2012. Persons detained by
contra-ataque no Afeganistão. Os EUA the US in relation to armed conflict and
não consideraram o Afeganistão como o the fight against terrorism – the role of the
responsável pelos ataques de 2001, mas ICRC.; CICV.2011. The relevance of IHL in
o Afeganistão dava abrigo a campos de the context of terrorism.; CICV. 2010. Chal-
treino terrorista. O conflito no Afeganistão lenges for IHL – terrorism: overview.)
é qualificado como um conflito armado
internacional, tal como reconhecido pelo A Abolição de Minas Terrestres Antipes-
tribunal distrital dos EUA. A questão co- soais e de Munições de Fragmentação
loca-se em saber se os detidos capturados No decorrer dos anos 90, o movimen-
nos campos de batalha no Afeganistão são to internacional da Cruz Vermelha e do
prisioneiros de guerra, tal como definido Crescente Vermelho, organizações inter-
pelo DIH. Relativamente às pessoas cap- nacionais e uma coligação significativa
turadas não no campo de batalha de um de ONG trabalharam sem descanso, para
conflito armado mas durante a chamada alcançar a proibição de minas terrestres
“Guerra ao Terror”, o DIH não é aplicá- antipessoais e para prestar assistência às
vel. Para a determinação do estatuto de vítimas de minas e às comunidades afe-
um detido como “prisioneiro de guerra” tadas pelas minas. Este trabalho culmi-
são aplicáveis os princípios da Convenção nou, em 1997, com a adoção do Tratado
de Genebra de 1949. No entanto, o DIH de Otava, a Convenção sobre a Proibição
estabelece uma diferença entre os comba- da Utilização, Armazenagem, Produção
344 II. MÓDULOS SOBRE QUESTÕES SELECIONADAS DE DIREITOS HUMANOS
ATIVIDADES SELECIONADAS
ATIVIDADE I: pois acreditam que a própria ideia de
PORQUÊ RESPEITAR O DIH? guerra está em contradição com a noção
de Direito ou de direitos humanos. Mas,
Parte I: Introdução a verdade é que a maioria dos países do
Para muitas pessoas, a ideia de que pode mundo aceita e cumpre as regras do DIH.
haver regras na guerra parece absurda, Porquê? No debate proposto, serão dadas
J. DIREITOS HUMANOS EM CONFLITO ARMADO 347
Algumas vozes, noutros países, conde- questões devem ser registadas e poderão
nam o sofrimento das vítimas mas ne- constituir a base para uma tarefa.
nhum país estrangeiro demonstra von- Sugestões metodológicas:
tade em intervir, quer no sentido de Esta atividade pode ser frustrante para os
conseguir que os dois países cessem o participantes porque não trará respostas
conflito, quer fazendo pressão de modo claras. O que é importante é que a análise
a que poupem a população civil. “Qual se foque nas perspetivas dos agentes huma-
o significado de tentar prestar assistên- nitários e que os participantes regressem
cia humanitária quando sabemos per- sempre à ideia de proteger e auxiliar os que
feitamente que será apenas uma ‘gota precisam e aos princípios da neutralidade
no oceano’ e que, sem pressão políti- e da imparcialidade. Se o debate se afastar
ca externa ou uma intervenção mili- destes pontos, o formador poderá assinalar
tar, nós as organizações humanitárias, o facto de que há muitos atores envolvidos
apenas apaziguamos a consciência do num conflito armado cujas ações comple-
mundo?”, lamenta um agente humani- mentam as dos agentes humanitários.
tário. Outras sugestões:
• A ação humanitária torna-se um pre- Depois do debate, pedir a alguns participan-
texto para o ‘não envolvimento’ polí- tes que representem a seguinte situação:
tico? Um agente humanitário está à porta de um
D. Para reforçar o controlo sobre uma al- campo de refugiados. É confrontado com
deia, numa zona de combates que os uma família que pretende entrar mas que
rebeldes utilizavam como abrigo, os receia a presença de inimigos no interior
civis foram forçados a instalar-se num do campo. O pai insiste que tem de manter
campo a 30 kms das suas casas. Foi pe- a sua arma para proteger a sua mulher do-
dido às agências de ajuda humanitária ente e o seu bebé. A família também está
que levassem alimentos e assistência apavorada com a possibilidade de serem
médica a esse campo. Fazê-lo, porém, separados.
legitimaria a deslocação forçada de ci- Depois da dramatização, os participan-
vis. tes debatem os princípios que o agente
• Estaremos a legitimar o deslocamen- humanitário tem de ter em consideração
to forçado de civis? e em que medida alguns desses princí-
De forma a auxiliar os participantes a pen- pios são conflituantes com outros, nesta
sar sobre estas situações, o formador deve- situação.
rá perguntar se nada fazer nestes casos é
uma alternativa válida. Parte IV: Acompanhamento
Reações: Outras áreas a explorar:
Deverá dedicar-se 10 minutos, no final da Os ativistas de direitos humanos enfren-
atividade, a receber a opinião do grupo tam dilemas éticos no decurso do seu tra-
sobre o que gostaram e o que não gosta- balho?
ram nesta atividade. Se surgiram questões (Fonte: CICV. 2002. Exploring Humanitar-
relacionadas com o trabalho de organiza- ian Law, Education modules for young
ções específicas, durante o debate, essas people.)
J. DIREITOS HUMANOS EM CONFLITO ARMADO 351
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K. DIREITO AO TRABALHO
“[…] só se pode fundar uma paz universal e duradoura com base na justiça social […].”
Constituição da Organização Internacional do Trabalho. 1919.
354 II. MÓDULOS SOBRE QUESTÕES SELECIONADAS DE DIREITOS HUMANOS
HISTÓRIA ILUSTRATIVA
Horríveis Condições de Trabalho em por isso a fábrica estava montada como
“Zonas Francas” se fosse uma prisão, onde os trabalhado-
res viviam 24 horas por dia. Todas as ja-
Xiao Shen, uma jovem que vivia numa nelas estavam gradeadas e todas as saídas
pequena povoação rural chamada Zhon- de emergência estavam bloqueadas. Os
gyuan, no centro da China, tinha uma fiscais do Estado eram subornados para
existência árdua. Tinha pouco ou quase fazerem vista grossa relativamente a estas
nenhum arroz para comer, nem perspeti- condições.
vas de um futuro melhor. Dia após dia, ti- Dia após dia, Xiao Shen vivia atrás de
nha de andar de joelhos, em águas fundas, grades, sem possibilidades de deixar o
a ajudar o pai na cultura do arroz. edifício, incapaz de levar uma vida nor-
Finalmente, um dia decidiu partir. Tinha ou- mal, sem o seu espaço próprio. Na tarde
vido falar de uma terra estrangeira melhor, de 19 de novembro de 1993, deflagrou um
bastante distante, algures por detrás das incêndio que se espalhou, com rapidez in-
montanhas proibidas. E, então, uma manhã, controlável, a todo o edifício.
antes do sol nascer, ela e mais alguns amigos Armazenados por todo o edifício, havia
que partilhavam dos seus sonhos de uma produtos químicos altamente inflamáveis,
vida melhor, saíram de casa. Após dois mil causando um inferno com proporções de
quilómetros e dias intermináveis de esforço, pesadelo. Xiao Shen e os outros tentaram,
ansiedade e lágrimas incontáveis, chegaram desesperadamente, fugir do fogo – mas
ao destino, uma cidade chamada Shenzhen, como? Todas as janelas estavam barradas
uma zona de comércio livre, no sul da China e todas as portas estavam fechadas. Du-
perto da fronteira de Hong Kong. Lá, espera- zentos homens e mulheres, muitos deles
vam encontrar trabalho, ganhar dinheiro e nem sequer tinham mais de dezasseis
realizar os seus sonhos. anos, foram literalmente cercados pelas
Xiao Shen conheceu dois homens de ne- chamas, gritando pelas próprias vidas.
gócios chamados Huang Guoguang e Lao Xiao Shen conseguiu arrombar uma das
Zhaoquan que andavam a contratar tra- janelas barradas, no segundo piso e viu-
balhadores para a sua “Fábrica de Arte- se perante a escolha de saltar ou morrer
sanato Zhili”, uma empresa que produzia queimada. Decidiu saltar, partindo os dois
brinquedos. Xiao Shen era uma dos 472 tornozelos – mas sobreviveu. No total, 87
empregados e, em pouco tempo, aper- pessoas perderam a vida, naquela tarde,
cebeu-se de que estava muito pior agora e mais de 47 ficaram gravemente feridas.
do que quando estava na sua pequena (Fonte: Adaptado de Klaus Werner and
aldeia. Desde o crepúsculo até ao nascer Hans Weiss, 2001. Schwarzbuch Marken-
do dia, ela trabalhava penosamente na fá- firmen.)
brica Zhili por um ordenado de miséria,
apenas o suficiente para sobreviver (32-
49 dólares americanos por mês!). Ambos Questões para debate
os empresários tinham medo de que os 1. Quais os direitos humanos (relaciona-
empregados roubassem as mercadorias, dos com o trabalho) que foram violados
K. DIREITO AO TRABALHO 355
nas condições em que Xiao Shen tinha ção (ZFE) e reduzem ou removem as
de trabalhar? normas sociais e laborais?
2. Que medidas podiam ser tomadas à 4. Qual a responsabilidade das empresas
escala internacional para melhorar as multinacionais que produzem bens em
perspetivas ou, pelo menos, as condi- zonas de comércio livre?
ções de trabalho dos empregados como 5. Que ações podem os consumidores de-
Xiao Shen? senvolver para mudar situações como a
3. Por que razão estabelecem os Estados que foi descrita?
Zonas Francas Industriais de Exporta-
A SABER
1. O MUNDO DO TRABALHO NO SÉCU- integrada e aqueles que não as têm. Estas
LO XXI novas desigualdades e inseguranças estão a
conduzir a tensões entre os diferentes seto-
As novas tecnologias e a autoestrada da res da sociedade.
informação global têm o potencial de A competição elevada, como resultado
transformar o mundo do trabalho mais do da liberalização do comércio e dos re-
que a Revolução Industrial. gimes financeiros, exerce forte pressão
Devido à industrialização em curso, o nas empresas para reduzirem o custo de
séc. XX presenciou o declínio do setor agrí- produção. Para atingir estes objetivos, as
cola e a importância crescente do setor de empresas podem reduzir o custo-intensi-
serviços. Com a liberalização do mundo vo do “trabalho” através da automatiza-
do trabalho e com a “revolução cibernéti- ção, tornando a mão de obra redundan-
ca”, as oportunidades na economia global te, ou transferir a produção para países
tornaram-se muito mais vastas. com salários baixos, onde os níveis de
Esta nova economia global exige trabalha- vida são muito mais baixos. Os Estados
dores especializados que têm de ser bem podem também exercer pressão sobre o
treinados, flexíveis e altamente motivados, pagamento e as condições de trabalho, de
assim como terão de estar dispostos a se modo a fazê-las baixar, para estimular o
adaptar rapidamente às atuais exigências crescimento económico, atraindo o inves-
do mercado. Os trabalhadores têm de saber timento estrangeiro uma vez que uma es-
lidar com a pressão crescente e se adaptar tratégia de crescimento orientada para as
às alterações das condições de trabalho, à exportações é frequentemente vista como
luz de uma mudança estrutural e tecnológi- a única possibilidade de aumentar o cres-
ca acelerada. Cada vez mais, as pessoas tra- cimento económico. Muitas vezes, a ex-
balham a tempo parcial, por conta própria ploração, o trabalho forçado e o trabalho
ou enfrentam condições de instabilidade no infantil são consequências de tudo isto.
trabalho. Neste ponto de vista, a globaliza- Muitos países do mundo criaram Zonas
ção abre brechas sociais entre aqueles que Económicas Francas ou Zonas Francas In-
têm formação, competências e mobilidade dustriais de Exportação (ZFE), nas quais
para prosperarem numa economia global não só são reduzidos ou removidos os im-
356 II. MÓDULOS SOBRE QUESTÕES SELECIONADAS DE DIREITOS HUMANOS
necessário fazer uma retrospetiva histórica. Século XIX: A Revolução Industrial levou
Justiça social e condições de trabalho jus- ao surgimento da classe trabalhadora, um
tas são componentes indispensáveis na grupo social dependente do trabalho assa-
promoção da paz e do desenvolvimen- lariado, devido à falta de meios de produ-
to. As injustiças relacionadas com o tra- ção. Os trabalhadores eram explorados e
balho, bem como as dificuldades finan- sujeitos a condições de trabalho perigosas
ceiras e o desemprego são consideradas em fábricas, em tecelagens ou em minas.
como estando diretamente relacionadas O empobrecimento dos trabalhadores ge-
com a instabilidade social e com revol- rou um sentimento de solidariedade en-
tas do proletariado, em determinados tre estes, que começaram a organizar-se
momentos históricos. O reconhecimento (Karl Marx em “Trabalhadores do mundo,
de que um trabalho adequado é condição uni-vos”).
prévia da dignidade humana é, predomi- Passo a passo, a voz dos trabalhadores fa-
nantemente, o resultado de tais revoltas zia-se ouvir mais alto e a sua situação era
em que os trabalhadores lutaram pelo cada vez mais divulgada. Devido à pressão
reconhecimento estatal desses direitos exercida pelos primeiros sindicatos, foram
que consideram ser inalteráveis e inalie- aprovadas, em vários países, leis de refor-
náveis. A nível internacional, os direitos ma relativas à melhoria do número de ho-
dos trabalhadores foram incorporados na ras e das condições de trabalho. Todavia,
legislação do trabalho da OIT, desde 1919, a contínua agitação laboral pressionou os
e no processo de elaboração de normas industriais e os governos a considerarem a
empreendido pela ONU, após a Segunda criação de outras medidas.
Guerra Mundial.
Século XX: Alguns industriais propuse-
Século XVIII: A ideia de que o trabalho ram o estabelecimento de normas interna-
é um direito fundamental de todos os cionais comuns a fim de evitar vantagens
membros da sociedade foi uma pretensão comparativas das nações que não respei-
inicialmente avançada na Revolução Fran- tavam as normas laborais e, em 1905 e
cesa. Charles Fourier, um filósofo social 1906, foram adotadas as primeiras duas
utópico, foi o primeiro a utilizar a expres- convenções sobre o trabalho. Contudo, as
são “direito ao trabalho” e enfatizou a im- iniciativas para elaborar e adotar outras
portância do trabalho, não só para o bem- convenções foram interrompidas pela I
estar social como também psicológico do Guerra Mundial.
indivíduo. Ele considerava que os Estados O Tratado de Versalhes, que pôs fim à I
tinham a obrigação de fornecer oportuni- Guerra Mundial, reconheceu, formalmen-
dades equivalentes e concluiu que a reali- te, a interdependência entre as condições
zação deste direito iria requerer uma com- de trabalho, a justiça social e a paz mun-
pleta reorganização da sociedade. dial à escala universal, dando origem à
Esta perspetiva sobre o direito ao trabalho OIT como um mecanismo para a fixação
emergiu, de novo, nas teorias socialistas; de normas internacionais no âmbito do
mais tarde, os governos comunistas tam- trabalho e dos trabalhadores.
bém a promoveram. Assim, pode ser dito Entre 1919 e 1933, a OIT elaborou quarenta
que o direito ao trabalho tem uma certa convenções relativas a inúmeras questões
“tradição socialista”. no âmbito do trabalho. Porém, a quebra
358 II. MÓDULOS SOBRE QUESTÕES SELECIONADAS DE DIREITOS HUMANOS
quer parte, a OIT tem como objetivo me- • Estabelece normas internacionais
lhorar as condições dos trabalhadores em (convenções e recomendações) nestas
todo o mundo sem discriminação de etnia, áreas e monitoriza a sua implementa-
género ou origem social. ção nacional;
Em 1947, a OIT tornou-se uma agência
especializada das Nações Unidas e, em • Desenvolve um extenso programa de
1969, foi-lhe atribuído o Prémio Nobel da cooperação técnica para ajudar os
Paz pelo seu trabalho. Entre as agências da países a tornar eficazes as suas po-
ONU, a OIT é única porque goza de uma líticas.
estrutura tripartida, pela qual as decisões
dos seus órgãos representam os pontos de A OIT elaborou cerca de 190 convenções,
vista dos empregadores, dos trabalhado- estabelecendo padrões em matérias como
res, assim como dos governos. as condições de trabalho, segurança e saú-
de ocupacionais, segurança social, política
de emprego e formação vocacional e pro-
A OIT porcionando a proteção das mulheres, dos
migrantes e das pessoas indígenas. Con-
• Formula políticas e programas para tudo, apenas algumas das convenções da
promover os direitos humanos bási- OIT são usualmente referidas como con-
cos, para promover as condições de venções fundamentais de direitos huma-
trabalho e de vida e melhorar as opor- nos. Estas oito convenções e as respetivas
tunidades de emprego; ratificações estão listadas infra:
Número
Princípio Convenções de Ratificações
(janeiro de 2012)
Liberdade sindical e a proteção do direi- Convenção 87 (1948) 150
to de organização e negociação coletiva Convenção 98 (1949) 160
Idade mínima de admissão ao emprego e
Convenção 138 (1973) 161
proibição das piores formas de trabalho
Convenção 182 (1999) 174
infantil
Convenção 29 (1930) 175
Proibição do trabalho forçado
Convenção 105 (1957) 169
Direito à igualdade de remuneração e
Convenção 100 (1951) 168
proibição da discriminação em matéria
Convenção 111 (1958) 169
de emprego e profissão
(Fonte: ILO: www.ilo.org)
360 II. MÓDULOS SOBRE QUESTÕES SELECIONADAS DE DIREITOS HUMANOS
Como resposta aos novos desafios coloca- Apenas três Estados (República das Mal-
dos pela globalização, no dia 18 de junho divas, as Ilhas Marshall e Tuvalu) não ti-
de 1998, a OIT adotou a Declaração re- nham ratificado nenhuma convenção fun-
lativa aos Princípios e Direitos Funda- damental.
mentais no Trabalho e respetivo Acom- A OIT também emite, anualmente, rela-
panhamento. Define, com precisão, que tórios globais sobre o progresso feito, por
princípios e direitos dos trabalhadores são todos os Estados Partes, na implementação
fundamentais, nomeadamente, as princi- dos princípios fundamentais, de quatro em
pais convenções da OIT acima referidas. quatro anos, e que servem como base de
Este é um primeiro passo para uma imple- avaliação da eficácia das medidas tomadas
mentação prática correta para a adesão às durante o período precedente.
Convenções da OIT, a nível nacional, as-
sim como para adicionar ao diálogo inter- A Declaração Universal
nacional os direitos humanos relacionados dos Direitos Humanos (DUDH)
com o trabalho. Reflete o compromisso A Declaração Universal dos Direitos Hu-
dos Estados perante um conjunto comum manos contém um vasto leque de direitos
de valores expressos num certo número humanos relacionados com o trabalho. To-
de regras que constituem um “mínimo so- dos estes direitos são desenvolvidos, com
cial”. mais detalhe, nos dois Pactos da ONU,
que os tornam vinculativos para os seus
Hoje em dia, o trabalho adequado é uma Estados Partes. Infra, encontra-se um ex-
exigência global, com a qual se depara a trato da DUDH com a lista dos direitos em
liderança política e empresarial, em todo o questão.
mundo. Muito do nosso futuro comum de-
pende da forma como respondemos a este
“Ninguém será mantido em escravatura
desafio.”
ou em servidão […]. Toda a pessoa tem
Organização Internacional do Trabalho. 1999.
direito à liberdade de reunião e de asso-
ciação pacíficas […]. Toda a pessoa tem
A Declaração afirma que todos os mem-
direito ao trabalho, à livre escolha do tra-
bros da OIT, independentemente da rati-
balho, a condições equitativas e satisfa-
ficação das convenções em questão, são
tórias de trabalho e à proteção contra o
obrigados a respeitar, promover e pôr em
desemprego. Todos têm direito, sem dis-
prática os direitos fundamentais previstos
criminação alguma, a salário igual por
nas convenções. Os Estados que não te-
trabalho igual. Quem trabalha tem direi-
nham ratificado as convenções principais
to a uma remuneração equitativa e satis-
têm de apresentar relatórios anuais sobre
fatória, que lhe permita e à sua família
o progresso feito na implementação dos
uma existência conforme com a dignida-
princípios inscritos na Declaração. Como
de humana, e completada, se possível,
resultado desta iniciativa, a Declaração
por todos os outros meios de proteção so-
contribuiu para um aumento significativo
cial. Toda a pessoa tem o direito de fun-
de ratificações das convenções fundamen-
dar com outras pessoas sindicatos e de
tais dos direitos humanos. A 3 de janeiro
se filiar em sindicatos para a defesa dos
de 2012, 135 dos 183 membros da OIT ti-
seus interesses. Toda a pessoa tem direito
nham ratificado todas as oito convenções.
K. DIREITO AO TRABALHO 361
mente mulheres e crianças, para ganhos para efeitos de exploração laboral e sexual
económicos, através do uso da força ou e também a adoção de planos nacionais
do engano. Muitas vezes, as mulheres de ação em muitos países. Vários países
migrantes são enganadas e forçadas ao foram ao ponto de criar e formar unida-
trabalho doméstico ou à prostituição. des especiais para identificação de casos
• As piores formas de trabalho infantil de trabalho forçado e libertar as vítimas.
referem-se a crianças que trabalham em
condições de exploração ou de perigo. O Pacto Internacional sobre
Milhões de crianças em todo o mundo os Direitos Económicos,
trabalham a tempo inteiro, privadas de Sociais e Culturais (PIDESC)
educação e de diversão cruciais para o
seu desenvolvimento pessoal e social. O Direito ao Trabalho
(Fonte: Anti-Slavery International. What is “Os Estados Partes no presente Pacto
Modern Slavery?) reconhecem o direito ao trabalho, que
compreende o direito que têm todas as
De acordo com o Relatório Global de 2005 pessoas de assegurar a possibilidade de
da OIT, “Uma Aliança contra o Trabalho ganhar a sua vida por meio de um tra-
Forçado”, pelo menos 12.3 milhões de pes- balho livremente escolhido ou aceite […]
soas são vítimas de trabalho forçado em As medidas que cada um dos Estados
todo o mundo. Destes, 9.8 milhões são ex- Partes […] tomará com vista a assegurar
plorados por agentes privados, incluindo o pleno exercício deste direito devem in-
mais de 2.4 milhões em trabalho forçado, cluir programas de orientação técnica e
como resultado do tráfico humano. Outros profissional […]”
2.5 milhões são forçados a trabalhar, obri-
PIDESC, artº 6º
gados pelos Estados ou por grupos milita-
res rebeldes. O Relatório Global sobre Tra-
balho Forçado da OIT, de 2009, intitulado O Trabalho: Direito ou Obrigação?
“O Custo da Coerção”, não atualiza estes A correlação entre o conceito de trabalho
dados que se baseavam em extrapolações enquanto dever que requer esforço físico
de casos reais de trabalho forçado relata- ou mental e o conceito do direito ao traba-
dos durante um período de 10 anos. Ao in- lho, por vezes, provoca confusão quanto à
vés, o relatório analisou de um modo mais utilidade prática de tal direito. O trabalho,
aprofundado o custo financeiro que repre- contudo, está intimamente relacionado
sentava para os trabalhadores, afetados com a dignidade humana e com a partici-
em termos de salários não pagos, horas ex- pação da pessoa na sociedade, enquanto o
traordinárias não remuneradas, deduções desemprego pode conduzir a uma severa
a salários e taxas, uma estimativa de cerca frustração e, mesmo, depressão. O traba-
de 20 biliões de dólares americanos. A OIT lho também pode ser um meio de reali-
está atualmente a tentar reunir fundamen- zação pessoal e contribuir positivamente
tos para estimativas por países, mais fiá- para o desenvolvimento pessoal.
veis. Apesar dos vários hiatos e desafios, O direito ao trabalho pretende garantir que
o relatório de 2009 apresenta algumas ten- ninguém é excluído do mundo do trabalho,
dências positivas: novas leis, particular- ao tratar predominantemente do acesso ao
mente, contra o tráfico de seres humanos trabalho, mas também incluindo proteção
K. DIREITO AO TRABALHO 363
relativa a despedimentos injustos. O direito sua escolha […], com vista a favorecer e
ao trabalho, contudo, não inclui a garantia proteger os seus interesses económicos e
de que cada pessoa tenha emprego; de fac- sociais; […]; o direito de greve […]”
to, o desemprego existe em todos os Esta-
dos. Os governos, porém, têm de agir, por PIDESC, artº 8º
todos os meios apropriados, de modo a as-
segurar progressivamente o pleno exercício Unir-se em organizações foi sempre uma
deste direito (artº 2º PIDESC), principal- forma de as pessoas melhorarem a sua se-
mente, através da adoção e implementação gurança, quer no local de trabalho, quer
de políticas nacionais de emprego. dentro das respetivas comunidades e na-
ções.
O Direito a Condições de Trabalho Justas O artº 8º do PIDESC está estreitamente li-
e Favoráveis gado à liberdade de associação. O direito
à negociação coletiva torna a liberdade de
“Os Estados Partes […] reconhecem o associação efetiva no mundo do trabalho.
direito de todas as pessoas de gozar de Estes direitos são considerados importan-
condições de trabalho justas e favoráveis, tes porque através deles se abre, muitas
que assegurem […] um salário equitativo vezes, o caminho para a concretização
e uma remuneração igual para um tra- de outros direitos fundamentais e direitos
balho de valor igual, sem nenhuma dis- no trabalho. Contudo, nem sempre têm o
tinção […]; uma existência decente […]; mesmo reconhecimento ou compromisso
condições de trabalho seguras e higiéni- públicos, como por exemplo, o combate
cas; iguais oportunidades para todos de ao trabalho infantil.
promoção […]; repouso, lazer e limitação
razoável das horas de trabalho[…]” Direitos Relativos à Igualdade
PIDESC, artº 7º de Tratamento
e à Não Discriminação
Este artigo, inter alia, estabelece a exis- Quando se discutem direitos no âmbito do
tência de uma remuneração mínima, ga- trabalho, não se pode deixar de considerar
rantindo uma vida decente, assim como as normas relativas aos princípios da não
condições de trabalho justas e favoráveis. discriminação e da igualdade de tratamen-
Está intimamente ligado a um vasto núme- to. No seu Relatório Global de 2011, inti-
ro de convenções adotadas pela OIT e que tulado “Igualdade no Trabalho: o Desafio
também são utilizadas pelo Comité dos Contínuo” (Equality at Work: The conti-
Direitos Económicos, Sociais e Culturais nuing Challenge), a OIT debateu uma sé-
para que os Estados ponham em prática as rie de tendências positivas, já que são im-
obrigações decorrentes desta disposição. plementadas em todo o mundo cada vez
mais leis e iniciativas institucionais e há
O Direito de Formar Sindicados e de Se uma crescente consciencialização sobre a
Sindicalizar necessidade de superar a discriminação no
trabalho. Contudo, novos desafios emergi-
“Os Estados Partes (reconhecem) o direi- ram com a recente crise global financei-
to de todas as pessoas de formarem sin- ra. O relatório adverte para a tendência,
dicatos e de se filiarem no sindicato da durante recessões económicas, de mar-
364 II. MÓDULOS SOBRE QUESTÕES SELECIONADAS DE DIREITOS HUMANOS
mas é-lhes requerido que prossigam po- O pescador olhou para cima, sorriu e
líticas que levem a um constante desen- respondeu, “E qual será a minha recom-
volvimento económico, social e cultural pensa?”
e a um emprego produtivo e a tempo
inteiro (ex. políticas de pleno emprego). “Bom, pode conseguir redes maiores e
apanhar mais peixe!”, foi a resposta do
turista.
3. PERSPETIVAS
INTERCULTURAIS “E depois, qual será a minha recompen-
E QUESTÕES CONTROVERSAS sa?”, perguntou o pescador, continuando
a sorrir.
Neste enquadramento jurídico internacio- O turista respondeu, “Ganhará dinhei-
nal, as atividades de implementação têm ro e poderá comprar um barco, o que
de ter em consideração as mais variadas resultará numa maior quantidade de
formas segundo as quais pessoas oriundas pescado!”
de contextos étnicos e culturais diferentes “E depois, qual será a minha recompen-
abordam e experienciam o mundo do tra- sa?” perguntou, novamente, o pescador.
balho. A bem conhecida parábola do pes-
cador é uma boa ilustração para o facto O turista começava a ficar um pouco irri-
de que o “trabalho” tem valor diferente tado com as perguntas do pescador.
em contextos culturais diferentes e, assim, “Pode comprar um barco maior e con-
as medidas que vão alterar os modelos de tratar pessoas que trabalhem para si!”,
trabalho têm de ser ponderadas com as ex- disse ele.
pectativas e afinidades culturais.
“E depois, qual será a minha recom-
pensa?”
Uma Parábola: O Pescador O turista começava a ficar zangado.
“Será que não percebe? Pode construir
Ao fim de uma manhã, um pescador es-
uma frota de barcos de pesca, velejar por
tava estendido numa linda praia, com as
todo o mundo e deixar que os seus em-
suas redes espalhadas pela areia, estava
pregados apanhem peixe por si.”
a desfrutar do calor do sol, mirando, de
vez em quando, as resplandecentes on- Mais uma vez o pescador perguntou, “E
das azuis. depois, qual será a minha recompensa?”
Por essa altura, um turista caminhava O turista estava vermelho de fúria e gri-
pela praia. Reparou no pescador sentado tou ao pescador, “Será que não percebe
na praia e decidiu descobrir por que ra- que pode ficar tão rico que nunca mais
zão estava este pescador a relaxar em vez terá de trabalhar na vida! Pode passar
de estar a trabalhar duro para ganhar o resto dos seus dias sentado na praia,
sustento para si e para a sua família. olhando o pôr do sol. Não terá uma preo-
“Dessa forma não apanhará muito pei- cupação no mundo!”
xe”, disse o turista, “devia estar a traba- O pescador, continuando a sorrir, olhou
lhar mais arduamente, em vez de estar para cima e disse, “E o que pensa que
estendido na praia!” estou a fazer neste momento?”
K. DIREITO AO TRABALHO 367
ção. Uma vez que o direito ao trabalho se siões, o Comité identificou violações do
encontra associado ao direito a não ser Pacto e, consequentemente, pressionou
discriminado, outros Comentários Ge- os Estados a cessar a violação dos direitos
rais estão relacionados com assuntos no em questão.
âmbito do trabalho. Por exemplo, o Co- No entanto, ainda não é possível aos in-
mentário Geral sobre o direito igual de divíduos ou grupos submeterem queixas
homens e mulheres a gozar de todos os formais ao Comité sobre a violação dos
direitos económicos, sociais e culturais seus direitos. A Assembleia-Geral da ONU
inclui a obrigação de uma realização pro- adotou, a 10 de dezembro de 2008, um
gressiva de pagamento igual. Protocolo Facultativo ao Pacto. Em janeiro
Os Estados Partes do Pacto têm de apre- de 2012, apenas cinco Estados tinham ra-
sentar relatórios a cada 5 anos, especifi- tificado o Protocolo Facultativo, que ainda
cando as medidas legislativas, políticas não entrou em vigor8.
e outras, tomadas para garantir os direi-
tos económicos, sociais e culturais. Após
a análise dos relatórios pelo Comité e o 8
Nota da versão em língua portuguesa: O Protocolo
debate com os delegados dos Estados em Facultativo ao Pacto Internacional sobre os Direitos
Económicos, Sociais e Culturais entrou em vigor no
questão, o Comité emite considerações
dia 5 de Maio de 2013 tendo, nessa data, 10 Estados
nas “observações finais”. Em várias oca- Partes
CONVÉM SABER
Programa conseguiu alargar as suas ativi-
1. BOAS PRÁTICAS dades operacionais dos iniciais 6 para os
atuais 88 países, sendo que as despesas
Programa Internacional para a Elimina- anuais em projetos de cooperação técnica
ção do Trabalho Infantil (PIETI) atingiram, em 2008, mais de 61 milhões
Em 1992, a OIT desenvolveu o Programa de dólares americanos. Isto faz do PIETI o
Internacional para a Eliminação do Tra- maior programa do género no mundo.
balho Infantil (PIETI). Trabalhando em Contrariamente às tendências positivas
conjunto com governos nacionais, parcei- registadas no estudo prévio completado
ros sociais, bem como ONG, o PIETI de- em 2006, intitulado “O Fim do Trabalho
senvolve programas especiais, tendo em Infantil: um Objetivo ao Nosso Alcance”
consideração a complexidade do assunto (The End of Child Labour: Within Reach),
e a necessidade de métodos ponderados e o Relatório da OIT de 2010 “Acelerar a Ação
consistentes para solucionar o problema. contra o Trabalho Infantil”, demonstra pre-
Por exemplo, de modo a encontrar alter- ocupações crescentes relativas aos esforços
nativas ao trabalho infantil, o PIETI lan- de eliminação do (das piores formas do)
çou programas para retirar as crianças do trabalho infantil. O relatório menciona que
mundo do trabalho e dar-lhes alternativas o número global de crianças trabalhadoras
educacionais, bem como arranjar para as tem continuado a sua tendência decrescen-
famílias fontes alternativas de rendimen- te, tendo diminuído, no total, de 222 mi-
to e segurança. Desde que foi fundado, o lhões para 215 milhões entre 2004 e 2008
K. DIREITO AO TRABALHO 369
voluntárias aplicam-se apenas aos que as ção certa para o aumento da responsabi-
aceitam”. Todavia, são um passo na dire- lidade social.
Tabela 1.5. Tendências globais relativas à atividade económica das crianças por re-
gião, 2004 e 2008 (grupo etário 5-14)
Taxa de atividade
População infantil Crianças no emprego
Região (%)
2004 2008 2004 2008 2004 2008
Ásia e Pacífico 660 000 651815 122300 96397 18.8 14.8
América Latina e
111000 110566 11047 10002 10.0 9.0
Caraíbas
África Subsaaria-
186800 205319 49300 58212 26.4 28.4
na
Outras regiões 258800 249154 13400 10700 5.2 4.3
Mundo 1206500 1216854 196047 176452 16.2 14.5
(Fonte: OIT. 2010. Accelerating Action against Child Labour.)
Um outro exemplo conhecido de iniciativas de produtos inclui agora café, cacau, cho-
com vários intervenientes é a Iniciativa so- colate, sumo de laranja, chá, mel, açúcar
bre Comércio Ético (Ethical Trading Initia- e bananas. A Good Weave, anteriormente
tive-ETI). A iniciativa é diferente de outras conhecida como RugMark, é o exemplo de
como a CCC, uma vez que, além de sindi- uma organização global sem fins lucrati-
catos e organizações dos direitos laborais, vos que trabalha para acabar com o traba-
também algumas empresas privadas (mais lho infantil na indústria das carpetes e dos
de 70, em 2010) fazem parte desta aliança. tapetes na Ásia do Sul. A etiqueta Good
Para além de adotarem o Código Base da Weave assegura que nenhum trabalho in-
ETI, um código modelo de prática labo- fantil ilegal foi empregado na manufatura
ral derivado das Convenções da OIT, e de da carpete ou do tapete. A Good Weave uti-
subscreverem os Princípios de Implemen- liza as vendas dos tapetes e das carpetes,
tação da ETI, as empresas membros devem bem como doações, para fornecer apoio e
desempenhar um papel ativo nos projetos educação a anteriores vítimas de práticas
da ETI, trabalhando conjuntamente com de trabalho infantil. Desde a fundação da
sindicatos e ONG. Ademais, devem sub- RugMark International, em 1995, o núme-
meter relatórios anuais à Direção da ETI, ro de crianças trabalhadoras na indústria
sendo que 20% destes resultam de visitas das carpetes e dos tapetes, diminuiu de 1
de validação aleatórias. As tendências re- milhão para 250.000.
gistadas no desempenho da empresa são
monitorizadas por um órgão independente A Fairtrade Labelling Organizations In-
e a qualidade de membro pode perder-se ternational (FLO) existe para assegurar
caso o desempenho da empresa decaia. melhores transações para produtores mar-
Uma avaliação abrangente conduzida entre ginalizados e em desvantagem de países
2004 e 2006 confirmou que as atividades em vias de desenvolvimento. A FLO atri-
dos membros da ETI contribuíram para que bui uma etiqueta, a FAIRTRADE Mark, a
os locais de trabalho fossem mais seguros, produtos que cumprem as normas inter-
para eliminar o trabalho infantil e encorajar nacionalmente reconhecidas relativas ao
os fornecedores a pagar aos empregados o comércio justo. Esta etiqueta pode ser
montante a que estes tinham direito. Con- encontrada na maioria das cadeias de su-
tudo, muitos problemas persistem. permercados europeias e substituiu as eti-
quetas individuais nacionais. Apenas nos
Etiquetagem de Artigos Estados Unidos, um dos membros da FLO
A etiquetagem de artigos produzidos em ainda usa a sua etiqueta original, sendo
conformidade com as boas práticas sociais as etiquetas “Fair Trade Certified” indica-
é um passo recente no sentido de contri- tivas do cumprimento dos parâmetros da
buir para melhores práticas sociais e para Fairtrade. A Fairtrade cresceu significativa-
a proteção dos direitos humanos. Permite mente, devido ao apoio crescente dos con-
que os consumidores influenciem práticas sumidores. Os produtos da Fairtrade são
de produção, usando o seu poder como vendidos em 70 países. Em alguns mer-
compradores para apoiar as boas práticas. cados nacionais, os produtos da Fairtrade
Hoje, existem iniciativas relativas à etique- correspondem a uma quota de mercado
tagem em muitos países, principalmente, entre os 20% e os 50%, em determinados
na Europa e na América do Norte e a gama setores.
K. DIREITO AO TRABALHO 373
boral, como parte do plano de ação para das à procura de trabalho durante 12
os trabalhadores migrantes, adotado em meses ou mais é muito superior para
2004, pela Conferência Internacional do os jovens do que para os adultos. Na
Trabalho. Grécia, Itália, Eslováquia e no Reino
Unido, a probabilidade de os jovens
Desemprego dos Jovens ficarem desempregados durante um
Um dos problemas mais preocupantes longo período de tempo era duas a três
com que se deparam, tanto os países de- vezes superior à percentagem relativa
senvolvidos como os países em vias de aos adultos;
desenvolvimento, é o largo e crescente • Entre 2007 e 2010, as taxas de trabalho a
número de jovens desempregados. O ní- tempo parcial para os jovens cresceram
vel de incerteza entre jovens, homens em todas as economias desenvolvidas,
e mulheres, relativamente à procura de exceto na Alemanha.
um trabalho decente é alto, tendo a crise
económica exposto ainda mais a fragi- “Os jovens perfazem mais de 40% do total
lidade da juventude no mundo do tra- mundial de desempregados. Estima-se que
balho, tal como apontou o Relatório da existam, atualmente, 66 milhões de jovens
OIT de 2010 “Tendências Globais sobre desempregados no mundo – o que repre-
Emprego para a Juventude: edição espe- senta um acréscimo de, aproximadamen-
cial sobre o impacto da crise económica te, 10 milhões desde 1965. O subemprego
global na juventude”. A atualização des- é, também, outra crescente preocupação.
te estudo, em 2011, apresenta a infeliz A maioria dos novos empregos são mal
conclusão de que, no contexto atual de remunerados e instáveis. Cada vez mais,
instabilidade económica, a situação não os jovens estão a recorrer ao setor informal
tende a melhorar e as perspetivas futuras para conseguirem subsistir, com pouca ou
não são muito boas. De acordo com este nenhuma proteção laboral, benefícios ou
relatório: perspetivas para o futuro.”
• 75.1 milhões de jovens em todo o mun- Kofi Annan. 2001
do estavam desempregados, mais 4.6
milhões do que em 2007; O desemprego de longa duração, em
• Entre 2008 e 2009, o número global de determinados setores da população, sabe-
jovens desempregados cresceu 4.5 mi- se, afeta a coesão e estabilidade sociais,
lhões [a média de crescimento durante assim como contribui para acentuar as
o período anterior à crise (1997-2007) disparidades económicas e sociais nas
era inferior a 100.000 pessoas por ano]; sociedades. O desemprego dos jovens está,
• A taxa de desemprego jovem cresceu muitas vezes, relacionado com problemas
drasticamente durante a crise, de 11.6% sociais sérios, como a violência, a
a 12.7%; criminalidade, o suicídio e o abuso de
• Por exemplo, no final de 2011, a taxa de drogas e álcool e, dessa forma, o círculo
desemprego jovem, na UE, era de 21%, vicioso perpetua-se.
sendo que, em Espanha, era de quase Quaisquer políticas ou programas dirigidos
50%; ao combate efetivo do desemprego
• Na maioria das economias desenvolvi- jovem devem dirigir-se às causas sociais,
das, a parcela de pessoas desemprega- culturais e económicas desta questão e
376 II. MÓDULOS SOBRE QUESTÕES SELECIONADAS DE DIREITOS HUMANOS
ATIVIDADES SELECIONADAS
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“Ninguém sofrerá intromissões arbitrárias na sua vida privada, na sua família, no seu
domicílio ou na sua correspondência, nem ataques à sua honra e reputação. Contra tais
intromissões ou ataques toda a pessoa tem direito a proteção da lei.”
Artº 12º, Declaração Universal dos Direitos Humanos, 1948.
386 II. MÓDULOS SOBRE QUESTÕES SELECIONADAS DE DIREITOS HUMANOS
HISTÓRIA ILUSTRATIVA
Revelação de Dados Pessoais devido a tar provas de que foram feitas, neste caso, as
Medidas de Segurança Desapropriadas perguntas de segurança. O Comissário para a
Proteção de Dados também considerou o fac-
Em agosto de 2008, o Comissário para a Pro- to de a reserva ter sido feita através do com-
teção de Dados da Irlanda recebeu uma queixa putador pessoal da queixosa, utilizando um
respeitante à alegada revelação de informa- endereço eletrónico pessoal e não um endere-
ções pessoais, por parte de uma companhia ço eletrónico do local de trabalho do marido.
aérea. A queixosa afirmou que, em junho de O Comissário para a Proteção de Dados,
2008, na sequência de uma chamada telefóni- com base nas informações apresentadas,
ca, a companhia aérea revelou, através de cor- juntamente com o facto de que a companhia
reio eletrónico, um itinerário de viagem para aérea não apresentou quaisquer provas de
si própria e para o seu marido, ao empregador que as suas medidas de segurança foram,
do seu marido e que, como consequência, o de facto, utilizadas nesta situação, decidiu,
seu marido foi despedido. A queixosa afirmou após a investigação desta queixa, que a
que o empregador do seu marido redigiu uma companhia aérea infringiu a lei, ao proces-
declaração a afirmar que a mensagem ele- sar as informações pessoais da queixosa e
trónica referida foi enviada pela companhia do seu marido e revelar ao empregador do
aérea, após a mera indicação do apelido. Foi marido o itinerário da viagem deles, através
disponibilizada uma cópia desta declaração do uso de uma mera mensagem eletrónica.
ao Comissário para a Proteção de Dados. (Fonte: Irish Data Protection Commis-
No decurso desta investigação, a companhia sioner. 2009. Case Study 1: Disclosure of
aérea informou o Comissário para a Proteção personal data due to inappropriate security
de Dados que foram realizadas as perguntas measures.)
de segurança, antes do envio da mensagem
eletrónica em questão à terceira parte. A Questões para debate
companhia aérea não contestou o envio da 1. Quais são os direitos em questão?
mensagem eletrónica, porém, atendendo a 2. Realizar um debate sobre os problemas
que não gravou a chamada telefónica com o relacionados com a revelação de infor-
pedido de informações, nem se demonstrou mações delicadas.
que o sistema das perguntas de segurançati- 3. Qual o sistema de proteção internacio-
vesse sido efetivado, não foi possível apresen- nal a ser usado neste tipo de casos?
A SABER
1. INTRODUÇÃO dica que uma pessoa pode separar-se do
resto e, desta forma, revelar-se. Apesar das
Desenvolvimento Histórico do Direito à fronteiras da privacidade divergirem cul-
Privacidade turalmente, partilham um entendimento
O conceito de privacidade (em latim pri- básico comum.
vates que significa separado do resto) in- O primeiro artigo sobre a privacidade, nos
L. DIREITO À PRIVACIDADE 387
EUA, foi publicado por Warren e Brandeis, Refere o artº 12º da DUDH:
em 1890. O âmago do conceito liberal da
liberdade explica o direito à privacidade, “Ninguém sofrerá intromissões arbi-
tal como desenvolvido no final do sécu- trárias na sua vida privada, na sua
lo XVIII e durante todo o século XIX. A pri- família, no seu domicílio ou na sua cor-
vacidade desenvolveu-se historicamente respondência, nem ataques à sua honra
como uma zona isolada, manifestada em e reputação. Contra tais intromissões ou
estruturas como a proteção do domicílio, ataques toda a pessoa tem direito a pro-
da família e do segredo da correspondên- teção da lei.”
cia. Devido ao surgimento da ‘nova comu- O artº 17º do PIDCP é a disposição inter-
nicação social’, acrescentou-se o segredo nacional mais importante no que respei-
da telecomunicação. ta à privacidade. Refere o seguinte:
Desde então, a forma de se assegurar e “1. Ninguém será objeto de intervenções
proteger a privacidade mudou substan- arbitrárias ou ilegais na sua vida priva-
cialmente, devido ao desenvolvimento da, na sua família, no seu domicílio ou
tecnológico e especialmente desde o uso na sua correspondência, nem de atenta-
mais amplo da internet. Em particular, dos ilegais à sua honra e à sua reputação.
na última década, o significado e a com-
preensão de privacidade mudou devido 2. Toda e qualquer pessoa tem direito à
ao Web 2.0 e ao uso vasto das redes so- proteção da lei contra tais intervenções
ciais. ou tais atentados.”
ou lares enfrentam um risco particular destas perspetivas, os Estados que não pos-
de afetação do seu direito à privacidade. suem salvaguardas constitucionais ou le-
gais têm podido transformar radicalmente e
• Crianças expandir as suas leis relativas à vigilância,
No que respeita aos novos meios de in- com apenas algumas restrições. Nos países
formação, as crianças são suscetíveis de que possuem essas salvaguardas constitu-
sofrer infrações aos seus direitos à pri- cionais e legais, os governos questionaram
vacidade se revelarem informações pes- a proteção do direito à privacidade ao não
soais em redes sociais ou na internet em aplicarem e transformarem as salvaguardas
geral. existentes, por força da cooperação com
países terceiros ou com privados, ou ao
substituírem os sistemas de vigilância do-
Direitos Humanos das Crianças
méstica por outros extraterritoriais.
comunicações mais seguras, porém, mais protection of human rights and fundamen-
difíceis de serem intercetadas. tal freedoms while countering terrorism.)
(Fonte: United Nations. 2009. Report of the
Special Rapporteur on the promotion and Primado do Direito e Julgamento
Justo
Despa- Eletrónico
Linhas (in-
chos para Oral (in- (incluindo Pes- Pes-
cluindo quais-
Juris- a insta- cluindo pager di- Combi- soas soas
quer tipos de
dições lação de microfo- gital, fax, nação deti- conde-
telefone: fixo,
interce- ne) computa- das nadas
celular, móvel)
ções dor)
Total 2189 2092 6 4 87 3547 465
Federal 367 358 0 1 8 1006 47
(Fonte: US Courts Statistics 2011, www.uscourts.gov/uscourts/Statistics/WiretapRe-
ports/2011/Table6.pdf.)
(Fonte: United Nations. 2009. Report of the impressões digitais pelo facto de ter sido
Special Rapporteur on the promotion and soldado dos Estados Unidos. O indivíduo
protection of human rights and fundamen- foi detido em reclusão solitária, durante
tal freedoms while countering terrorism.) duas semanas, mesmo não sendo sua a
impressão digital. Os examinadores não
Antirracismo e Não Discriminação analisaram suficientemente a correspon-
dência, tendo a situação piorado quando
O Uso da Biometria e os Perigos dos Sis- se descobriu que o advogado tinha defen-
temas de Identificação Centralizados dido um terrorista condenado, era casado
O uso de técnicas de biométrica, tais com uma imigrante egípcia e se tinha con-
como o reconhecimento facial, as impres- vertido ao islamismo.”
sões digitais e a examinação da íris, consti- (Fonte: United Nations. 2009. Report of the
tui uma componente chave das novas polí- Special Rapporteur on the promotion and
ticas de identificação. Devido ao aumento protection of human rights and fundamen-
da recolha de informações biométricas, tal freedoms while countering terrorism.)
a percentagem dos erros e falhas pode
aumentar significativamente. Tal pode Circulação de Listas de Vigilância
resultar na criminalização errada de in- Outra técnica disponível é a monitoriza-
divíduos, assim como na exclusão social. ção das listas de vigilância. De mencio-
Para além disso, contrariamente a outros nar, desde já, a Resolução 1267 do Con-
identificadores, os biométricos não podem selho de Segurança da Organização das
ser revogados. Uma vez copiados e utiliza- Nações Unidas, adotada por unanimidade,
dos de forma errónea por uma parte, não em 1999, fazendo referência a diversas ou-
é possível dar a um indivíduo uma nova tras Resoluções [1189 (1998), 1193 (1998)
assinatura biométrica. Também relaciona- e 1214 (1998)], sobre a situação no Afega-
do com esta questão é de mencionar que, nistão. O Conselho estabeleceu um regime
contrariamente à sua objetividade científi- de sanções a abranger indivíduos e entida-
ca, a prova do DNA também pode ser fal- des associadas à Al-Qaida, Osama bin La-
sificada. A recolha centralizada de biomé- den e/ou aos Talibãs, independentemente
tricos apresenta o risco de multiplicar os da sua localização, conhecido por “Comi-
erros judiciários que podem ser ilustrados té de Sanções contra a Al-Qaida e os Ta-
pelo exemplo que se segue: libã”. O regime foi, desde então, reafirma-
“Após os ataques bombistas de Madrid, do e modificado por uma dúzia de outras
em 11 de março de 2004, a polícia de Es- Resoluções do Conselho de Segurança das
panha conseguiu uma impressão digital Nações Unidas [incluindo as Resoluções
numa bomba que não explodiu. Os peritos 1333 (2000), 1390 (2002), 1455 (2003),
em impressões digitais do Departamento 1526 (2004), 1617 (2005), 1735 (2006),
Federal de Investigação dos Estados Uni- 1822 (2008) e 1904 (2009)], de forma a
dos da América - United States Federal Bu- que as sanções podem agora ser aplicadas
reau of Investigation (FBI) – declararam a indivíduos designados e a entidades as-
que a impressão digital de um advogado sociadas à Al-Qaida, Osama bin Laden e/
correspondia à amostra encontrada no lo- ou aos Talibãs, independentemente da sua
cal do crime. A impressão digital da pes- localização. Desde a invasão do Afeganis-
soa encontrava-se no sistema nacional de tão pelos EUA, em 2001, que as sanções
392 II. MÓDULOS SOBRE QUESTÕES SELECIONADAS DE DIREITOS HUMANOS
nos sítios e programas, seriam a solução linguagem que a DUDH, para garantir os
preferível para a proteção suficiente dos direitos à privacidade das crianças.
dados pessoais. A Convenção sobre os Direitos da Criança
As características pessoais, como as parti- exige aos governos que protejam as crian-
lhadas em blogs e comentários, podem ser ças de todas as formas de exploração se-
acedidas por qualquer pessoa que veja a xual ou abuso e tomem todas as medidas
página do perfil. Se os operadores dos sí- possíveis para assegurarem que estas não
tios de redes sociais colocassem as defini- sejam raptadas, vendidas ou traficadas.
ções de privacidade por defeito, a um nível Complementando esta Convenção, o Pro-
de proteção mais elevado, os utilizadores tocolo Facultativo à Convenção sobre os
iriam ganhar imediatamente mais controlo Direitos da Criança relativo à Venda de
sobre os seus dados pessoais. As políticas Crianças, Prostituição Infantil e Porno-
de privacidade, tais como os contratos, de- grafia Infantil exige aos Estados Partes
veriam ser claras e de fácil acesso para que que proíbam a venda de crianças (tam-
os utilizadores tivessem uma noção clara bém para propósitos não sexuais – tais
do conteúdo em questão. Infelizmente, como outras formas de trabalhos força-
as políticas de privacidade dos sítios e os dos, adoção ilegal e doação de órgãos),
termos de uso aparecem frequentemente a prostituição infantil e a pornografia in-
com um excesso de referências cruzadas fantil e punam estas ofensas com penas
e são desnecessariamente complicados. adequadas. Este Protocolo Facultativo
Tal torna a tarefa de leitura da informação tem, presentemente, 143 Estados Partes
mais difícil do que teria de ser. (maio de 2011).
Em abril de 2012, o Comité de Ministros
do Conselho da Europa adotou uma Reco- Direitos Humanos da Criança
mendação sobre a proteção dos direitos
humanos em relação aos mecanismos 4. IMPLEMENTAÇÃO
de busca, estabelecendo que os Estados E MONITORIZAÇÃO
Partes devem acautelar a transparência na
forma como a informação é recolhida atra- Na maioria dos países, as normas básicas
vés dos mecanismos de busca, aumentar de direitos humanos estão estabelecidas na
a transparência na recolha de dados pes- Constituição. A Constituição normalmente
soais, etc. também estabelece vias para se invocar
(Fontes: Council of Europe. 2012. Recom- as normas de direitos humanos perante
mendation on the protection of human ri- os tribunais internos, no caso de alegada
ghts with regard to search engines; Peter violação destes direitos. A nível interna-
Malanczuk. 2009. Data, Transboundary cional, têm-se concluído tratados de direi-
Flow, International Protection.) tos humanos para se proteger estes direi-
tos. Sempre que um Estado se torne parte
Pornografia Infantil destes tratados é obrigado a implementar
A Convenção sobre os Direitos da e garantir o cumprimento das suas normas
Criança, que entrou em vigor em 1990, a nível interno. O direito internacional não
é o primeiro documento juridicamente indica a forma como o Estado irá imple-
vinculativo sobre os direitos humanos mentar essas normas, tal irá depender da
das crianças. O artº 16º adota a mesma sua ordem jurídica interna.
L. DIREITO À PRIVACIDADE 395
CONVÉM SABER
2. TENDÊNCIAS
1. BOAS PRÁTICAS
Listas de Vigilância, Listas de “Não voa”
Privacy.Org O tipo mais comum de listas de vigilância
O Privacy.Org é um sítio de notícias refere-se às listas “Não voa/selecionado”.
diárias, informação e iniciativas sobre a Normalmente, estas listas circulam entre
privacidade. Oferece uma visão geral so- as companhias aéreas e os funcionários de
bre atividades relacionadas com a privaci- segurança, com instruções para deterem
dade, sobre grupos preocupados com as- e interrogarem qualquer passageiro cujo
suntos relacionados com a privacidade e nome esteja na lista. A amplitude do uso
sobre publicações. Este sítio é um projeto destas listas permanece secreta, porém,
conjunto do Centro de Informações sobre nos países onde estes sistemas são super-
Privacidade Eletrónica (Electronic Privacy visionados publicamente têm surgido di-
Information Centre - EPIC) e da Privacy In- versos erros e preocupações de violações
ternational. à privacidade, particularmente, nos Esta-
dos Unidos e no Canadá. Permanecem as
Centro de Informações sobre Privacida- questões sobre a integridade dos dados,
de Eletrónica (Electronic Privacy Infor- ainda que estas listas sejam verificadas
mation Centre-EPIC) continuamente para deteção de erros, os
O EPIC é um centro de investigação de processos de identificação têm de realizar-
interesse público, situado em Washing- se com muito cuidado.
ton D.C.. Foi estabelecido em 1994, para A explicação oficial do motivo pelo qual
questões emergentes sobre liberdades ci- estas listas são guardadas frequentemente
vis e para proteger a privacidade, a Primei- em segredo é a de que poderiam deixar
ra Emenda e os valores constitucionais. os terroristas suspeitos em sobreaviso.
Porém, este sigilo levanta, simultanea-
Privacy International mente, problemas de indivíduos a serem,
É um grupo de direitos humanos constituí- continuamente, sujeitos a escrutínio sem
do em 1990, como vigilante de governos e saberem que fazem parte de uma lista e
de empresas. Privacy International encon- sem existir uma supervisão indepen-
tra-se sediada em Londres, na Inglaterra, dente eficaz. Esta vigilância secreta
e tem uma representação em Washing- constitui uma violação do direito à pri-
ton D.C.. Privacy International conduziu vacidade, nos termos do artº 17º do PID-
campanhas pelo mundo, sobre diferentes CP. Se estas listas antiterrorismo fossem
questões como escutas telefónicas e ativi- tornadas públicas, o artº 17º da Conven-
dades de segurança nacional até cartões ção seria desencadeado de outro modo.
de identificação, vigilância de vídeo, cor- O Comité dos Direitos Humanos concluiu
respondência de dados, sistemas de infor- que “a inclusão injustificada de uma pes-
mação da polícia e privacidade médica. soa na Lista Consolidada do Comité 1267
(Fonte: Peter Malanczuk. 2009. Data, das Nações Unidas constitui uma violação
Transboundary Flow, International Protec- do artº 17º. Considerou que a dissemina-
tion.) ção de informações pessoais constitui um
402 II. MÓDULOS SOBRE QUESTÕES SELECIONADAS DE DIREITOS HUMANOS
ataque à honra e à reputação das pessoas “Não fiz nada de errado”, disse aos jornal-
constantes na lista, devido à associação istas. “Encontrei-me, numa manhã, nesta
negativa entre os nomes e o título da lista situação sem quaisquer acusações nem a
de sanções.” apresentação de quaisquer provas.”
As listas de vigilância públicas e secretas
podem violar, frequentemente, princípios Ottawa tem o poder, segundo uma Re-
fundamentais de proteção de dados. As solução do Conselho de Segurança das
informações, uma vez geradas para um Nações Unidas, de punir qualquer pes-
propósito, são reutilizadas para propó- soa que dê apoio material a Abdelrazik.
sitos secundários e, nalguns casos, até Mesmo que este tivesse um cheque, não
partilhadas com outras instituições sem o podia levantar fundos da sua conta ban-
conhecimento ou consentimento das pes- cária. Depois de uma batalha judicial,
soas interessadas. Utilizam-se informações ele ganhou uma decisão que lhe permitiu
erróneas para decidir sobre as pessoas, o realizar levantamentos mensais limita-
que resulta sobretudo em restrições a via- dos, da sua conta da união de crédito.
jar, recusa de vistos, rejeição nas frontei- Tanto a CSIS como a RCMP reconheceram
ras ou proibição de embarcar num avião, que não têm provas contra Abdelrazik.
sem que sejam apresentadas provas da O Departamento de Justiça Sudanês
prática de quaisquer infrações. considerou, em 2005, que ele não tinha
(Fonte: United Nations. 2009. Report of the quaisquer ligações à Al-Qaida. Porém,
Special Rapporteur on the promotion and os esforços para remover o seu nome da
protection of human rights and fundamen- lista foram infrutíferos. O governo federal
tal freedoms while countering terrorism.) e outras autoridades têm continuado a
aplicar as sanções. Ottawa citou a lista
Um exemplo é a história do Sr. Abousfian ao recusar a concessão, a Abdelrazik, de
Abdelrazik: documentos para viajar, depois de ele ter
sido libertado de uma prisão no Sudão,
em que alega que foi torturado. Ele pas-
“Abousfian Abdelrazik, um homem de
sou meses num limbo judicial na Em-
Montreal que foi colocado na lista de vi-
baixada Canadiana em Cartum.
gilância do terror das Nações Unidas em
2006, mas nunca acusado de nenhum Mary Foster, que acompanhou Abdelra-
crime, continua a levar o seu caso a pú- zik numa campanha pelo país, disse que
blico. Abdelrazik foi preso, mas não con- os seus problemas fazem parte de uma
denado, durante uma visita, em 2003, luta maior contra a islamofobia, o racis-
ao Sudão para ver a sua mãe doente. No mo e o “poder governamental arbitrário”.
verão passado, ele foi, finalmente, auto- Ela disse que “Não se trata apenas de um
rizado a regressar ao Canadá, depois de indivíduo, mas de muitos indivíduos, de
seis meses no Sudão, que incluiram duas países inteiros cheios de indivíduos”.
passagens pela prisão e 14 meses na Os advogados de Abdelrazik, com o apoio
portaria da Embaixada Canadiana. Im- de grupos de liberdades civis, apresenta-
possibilitado de trabalhar por causa das ram um processo constitucional contra a
sanções, Abdelrazik disse que tem vivido lista de vigilância, conhecida como a lis-
num limbo desde que foi a casa. ta 1267 das Nações Unidas. Ele processou
L. DIREITO À PRIVACIDADE 403
de fixar a multa, a CNIL criticou a Google assim, as informações digitais podem ser
pela sua conduta durante a investigação: copiadas e distribuídas com facilidade a
“Eles nem sempre estavam dispostos a co- qualquer pessoa autorizada do grupo que
laborar connosco, não nos deram todas as passe as informações a outros. Além disso,
informações que pedimos, tal como o có- os sítios são objeto de partilha rotineira
digo de fonte de todos os dispositivos nos de informações dos utilizadores com ter-
carros da Google”, disse Yann Padova, o di- ceiros para efeitos comerciais.
retor executivo da CNIL. “Eles nem sempre (Fontes: BBC. 2008. Facebook ‘violates pri-
foram muito transparentes.” vacy laws’; EPIC, Social Networking Pri-
Diversos outros países, incluindo o Reino vacy, http://epic.org/privacy/socialnet/
Unido, o Canadá, a Alemanha e a Espa- default.html; Irish Data Protection Com-
nha, realizaram investigações similares e missioner. 2011. Facebook Ireland Ltd – Re-
determinaram que a Google violou as suas port of Audit.)
leis de privacidade.
(Fonte: BBC. 2011. France fines Google over Base Nacional de Dados de ADN do Rei-
Street View data blunder.) no Unido
Durante os últimos anos, o Comité Espe-
Redes Sociais cial sobre a Constituição da Câmara dos
Os sítios da Rede relativos a redes sociais Lordes, no Reino Unido, aprovou uma
tais como o Facebook, o MySpace, o Twit- expansão na Base Nacional de Dados de
ter, o Google Buzz, o LinkedIn e o Friends- ADN, assim como a introdução ou desen-
ter são fóruns estabelecidos para mante- volvimento de novas bases de dados para
rem em contato antigas amizades e para uma variedade de serviços públicos e um
se conhecerem novas, para a partilha de aumento constante no uso de Câmaras
informações pessoais e para se estabelece- em Circuito Fechado (CCTV), tanto no se-
rem capacidades de comunicação móvel. tor público como no privado. Tem havido
Apesar destes sítios da Rede serem ferra- uma expansão significativa e contínua dos
mentas úteis para a troca de informações, aparatos de vigilância, tanto do Estado
tem havido uma preocupação crescente como do setor privado. Nas últimas dé-
com as quebras de privacidade, causa- cadas, eram relativamente incomuns as
das por estes serviços de redes sociais, bases de dados informáticas e partilha de
pois muitos dos utilizadores sentem que dados, a monitorização das comunicações
os seus dados pessoais estão a circular de eletrónicas, a identificação eletrónica e as
uma forma muito mais abrangente do que Câmaras em Circuito Fechado, em recin-
desejariam. tos públicos. Hoje, estas tecnologias estão
Alguns fornecedores restringem o acesso omnipresentes e exercem uma influência
ao sítio e, como consequência, o acesso às sobre muitos aspetos nas nossas vidas diá-
informações do utilizador. Muitas páginas rias. Para além disso, a vigilância continua
incluem estipulações de idade nos seus a exercer uma influência poderosa sobre
termos de uso (o Friendster, por exem- a relação entre os indivíduos e o Estado e
plo, exige que todos os seus utilizadores entre os próprios indivíduos. A forma sele-
tenham mais de 16 anos de idade, o Face- tiva como, por vezes, é utilizada, ameaça
book e o MySpace exigem que os utilizado- discriminar certas categorias de indiví-
res tenham, pelo menos, 13 anos). Mesmo duos.
L. DIREITO À PRIVACIDADE 405
ATIVIDADES SELECIONADAS
ATIVIDADE I: Deve incentivar-se a apresentação de
DADOS PRIVADOS diferentes argumentos.
E DADOS PÚBLICOS 2. Cada grupo apresenta os seus resultados
aos outros e o moderador constitui uma
Parte I: Introdução lista comum. Em caso de desacordo, de-
Esta atividade pretende auxiliar na com- vem debater-se, no âmbito do grupo, as di-
preensão da necessidade da proteção da ferentes perspetivas. No final, deve refletir-
privacidade na internet. se sobre os resultados da lista comum.
Parte II: Informação Geral
Tipo de atividade: Trabalho de grupo Ficha de trabalho:
Metas e objetivos: Distinção entre dados pú- 1. Ler esta lista com atenção:
blicos e privados; reflexão sobre o uso e a par- A minha idade, o meu endereço, as horas
tilha de dados privados em redes sociais, etc. em que não estou em casa, o meu tama-
Grupo-alvo: Adolescentes e adultos jovens nho de sapato, a minha escola/local de
Dimensão do grupo: 6+ trabalho, as minhas informações médicas
Duração: 30-60 minutos (alergias, doenças, etc.), o meu número
Material: cópias das fichas de trabalho de telefone, as minhas atividades extra-
Competências envolvidas: Reflexão e curriculares, o meu peso, os meus cos-
competências de análise méticos favoritos, o meu prato favorito, a
minha série de televisão favorita, o nome
Parte III: Informações Específicas sobre do meu melhor amigo, a cor da minha
a Atividade roupa interior, o meu músico favorito, o
Instruções: meu namorado/namorada/cônjuge/noi-
1. Explicar aos participantes o significado vo, a minha religião, uma imagem minha
de dados pessoais/privados. A seguir, na banheira, o meu endereço eletrónico,
os participantes, em pequenos grupos uma imagem minha a mostrar a face, o
de 2 ou 3 pessoas, preenchem então salário que aufiro/dinheiro de bolso, o
uma ficha de trabalho. Devem debater nome do meu animal de estimação, a mi-
juntos e apontar quais os dados que de- nha alcunha, o meu aniversário.
vem ser integralmente privados e quais 2. Preencher a tabela com os dados referi-
os dados que podem ser partilhados. dos no ponto 1.
ATIVIDADE II:
A HISTÓRIA DE MARIANNE K.
Parte I: Introdução
Nós crescemos acostumados à vigilância
das câmaras no espaço público; nós já não
reparamos na vigilância das câmaras. Mas
quais as repercussões para o nosso direito à Marianne K. deixa o café, na praça prin-
privacidade, se cada passo puder ser acom- cipal da aldeia, na companhia de um ho-
panhado pela polícia, pelos funcionários de mem. Limpa algumas lágrimas da sua
segurança e mesmo por privados? face. Abraça então o homem que sussurra
algo ao seu ouvido. O homem vai-se em-
Parte II: Informação Geral bora. Quando ele se vira para trás, Ma-
Tipo de atividade: Exercício e discussão rianne acena-lhe com o braço para dizer-
de grupo lhe adeus. Ela então entra na farmácia.
Metas e objetivos: Sensibilizar os partici- Ao sair de novo, coloca, cuidadosamente,
pantes para possíveis ameaças ao direito à diversas caixas de medicamentos na sua
privacidade; discutir os prós e contras da mala de mão. Marianne dirige-se, depois,
vigilância das câmaras no espaço público. para o edifício com a placa “Advogado”
Grupo-alvo: Adolescentes e adultos junto à porta de entrada. Quando sai, de
Dimensão do grupo: 10+ novo, após algum tempo, leva consigo uma
Duração: 30-60 minutos pasta e dirige-se à igreja da aldeia. Passa
Materiais: Uma cópia da história da Marian- de novo algum tempo até que ela regressa
ne; uma imagem da aldeia K. (copiada ou do gabinete do pároco e se dirige ao cemité-
desenhada), uma fotografia das câmaras de rio. Por fim, vai ao supermercado junto ao
vigilância; cartões com duas cores diferentes café e regressa, de novo, com duas garra-
para o exercício de acompanhamento. fas de vinho tinto e duas garrafas de vinho
Competências envolvidas: Reflexão e branco.
competências analíticas, argumentação Dar aos participantes alguns minutos para
refletirem sobre os passos da Marianne.
Parte III: Informações Específicas sobre Pedir-lhes que especulem sobre o passado
a Atividade e motivos das suas atividades. Numa ses-
Instruções: são a envolver todo o grupo colocá-los a
Desenhar a aldeia K. num quadro ou co- trocar ideias e anotar as assunções no qua-
piar a imagem de baixo e dispô-la na sala dro ou cavalete.
408 II. MÓDULOS SOBRE QUESTÕES SELECIONADAS DE DIREITOS HUMANOS
Para terminar, ler alto a história integral: advogado para uma consulta sobre uma
A Marianne K. vive na aldeia K., junta- herança de Martin. Ao sair do escritório
mente com o seu marido, Martin, e os do advogado, levou consigo uma pasta
seus filhos Mary e Marcus. Ela viveu em com informações jurídicas para Martin.
K. a maior parte da sua vida, realizou os Foi à igreja da aldeia para inscrever a sua
seus estudos secundários em K. e tem al- filha Mary nas aulas da primeira comu-
guns familiares a viverem, também, nesta nhão. Quando saiu do gabinete do páro-
aldeia. O marido de Marianne, Martin, co, dirigiu-se ao cemitério para tratar da
cresceu na cidade de L.. Ele trabalha como campa do pai. Por fim, foi ao supermer-
gestor para uma empresa internacional e, cado junto ao café para comprar algumas
como consequência, transita diariamente garrafas de vinho tinto e branco para um
entre K. e a cidade de I.. Recentemente, ele jantar com amigos.
teve de assumir mais e mais deslocações Afixar uma fotografia de câmaras de vigi-
de negócios ao estrangeiro e também dá lância junto ao desenho da praça central
seminários nos fins de semanas, para em- da aldeia, antes de ler a última frase:
pregados e formandos da empresa onde Passou muito tempo antes da Marianne ter
trabalha. Assim, ele não despende de mui- notado, pela última vez, as câmaras de vi-
to tempo com a sua mulher e crianças e gilância no meio da praça central…
Marianne não se encontra muito feliz com Apresentar aos participantes as assunções
a situação. Mais, ela encontra-se à procu- que fizeram ao interpretar o comporta-
ra de um trabalho, já há bastante tempo, mento da Marianne. Os aldeães de K. co-
após ter estado em licença de maternida- nhecem a sua situação demasiado bem…
de por alguns anos e a cuidar da sua mãe, O que pensaria, por exemplo, um agen-
após o falecimento do seu pai, há pouco te da polícia em frente ao monitor? Será
tempo atrás. Marianne é assistente social que as interpretações e assunções sobre a
e não é fácil encontrar trabalho em K. ou conduta de Marianne terão consequências
nas aldeias vizinhas. para ela? Se sim, que consequências?
Após ter recebido mais cartas de recusa,
Marianne encontrou o seu colega de escola Acompanhamento:
e amigo próximo no café da aldeia. Eles Poder-se-á prosseguir com um grupo de
falaram dos seus problemas e Marianne fi- trabalho para recolher e debater os prós e
cou emocionada. Quando o seu colega de contras das câmaras de vigilância no espa-
escola teve de se ir embora, eles deixaram o ço público. Pedir aos participantes para se
café juntos e Marianne limpou as lágrimas dividirem em grupos de três a cinco pes-
da sua face. Ao despedirem-se abraçaram- soas e dar a cada grupo um par de cartões
se, tendo ele tentado confortar Marianne de cores diferentes (por exemplo, o verde
ao dizer-lhe que tudo irá correr bem no fi- para os prós e o vermelho para os con-
nal. Assim que ele a deixou, Marianne fi- tras). Dar 15 minutos para encontrarem
cou a observá-lo e acenou-lhe quando ele argumentos a favor ou contra as câmaras
se virou. de vigilância e para concordarem sobre os
Ela foi então à farmácia para levantar pontos nos grupos pequenos.
uma receita para a sua mãe. Ao sair, arru- Chamar então os participantes de volta ao
mou as caixas dos medicamentos na sua grupo e pedir-lhes que afixem os cartões
mala de mão e dirigiu-se ao escritório do no quadro ou parede e que discutam os ar-
L. DIREITO À PRIVACIDADE 409
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410 II. MÓDULOS SOBRE QUESTÕES SELECIONADAS DE DIREITOS HUMANOS
HISTÓRIAS ILUSTRATIVAS
Só o Silêncio te Protegerá, Mulher 15 dias da detenção do blogger e ativista
Alaa Abdel Fattáh.
Sri Lanka: A Dra. Manorani Saravanamuttu (Fonte: Reporters without Borders. 2011. In-
é a mãe de Richard de Zoysa, um jornalista ternational Community Urged to React as Sit-
que foi raptado e morto no Sri Lanka, em uation of Free Expression Worsens in Egypt.)
fevereiro de 1990. A Dra. Saravanamuttu fez
uma campanha para trazer à luz a verdade A SEEMO Condena as Novas Ameaças de
sobre o homicídio do seu filho. Ela providen- Morte contra o Jornalista Croata Drago Hedl
ciou às autoridades informação com vista à
Croácia: De acordo com informação da
obtenção de uma investigação da morte, mas
SEEMO (South East Europe Media Organi-
a única coisa que obteve foi uma carta na
sation), a 14 de dezembro de 2011, Drago
qual se lia: “Faça o luto pela morte do seu fi-
Hedl, o editor do semanário Croata, Feral
lho. Como mãe, deve fazê-lo. Qualquer outro
Tribune, recebeu novas ameaças de morte
passo que der resultará na sua morte quando
um dia depois de ter sido premiado pelo
menos esperar[...] Só o silêncio a protegerá.”
presidente croata pela defesa dos direi-
(Fonte: Jan Bauer. 1996. Only Silence Will
tos humanos. O mesmo tinha recebido já
Protect You, Women. Freedom of Expres-
ameaças de morte no passado, inter alia,
sion and the Language of Human Rights.)
pela série de artigos que publicou no Feral
Tribune sobre a tortura e assassinatos de
A Comunidade Internacional Apelou à
civis sérvios, em Osijek, em 1991.
Reação, pelo facto de a Situação da Liber-
(Fonte: SEEMO. 2011. SEEMO Condemns
dade de Expressão ter Piorado no Egito
New Death Threats against Croatian Jour-
nalist Drago Hedl.)
Egito: Os Repórteres sem Fronteiras (Re-
porters without Borders) condenaram a de- “Temos um direito natural a usar as nossas
terioração crescente da situação relativa à canetas, bem como as nossas línguas, por
liberdade dos meios de informação no Egi- nossa própria conta e risco.”
to, no período que antecedeu as eleições. Voltaire. 1764. Liberty of the Press.
O Conselho Supremo das Forças Armadas
tinha apenas ordenado uma extensão de
Questões para debate
1. Que direitos humanos foram violados e
por quem nestas histórias?
2. Que razões podem justificar os limites à
liberdade de expressão e à liberdade dos
meios de informação?
3. O que deve ser feito para proteger me-
lhor estas liberdades?
4. O que podem fazer as vítimas de uma
violação?
5. Quais são as obrigações dos jornalistas
responsáveis?
M. LIBERDADE DE EXPRESSÃO E LIBERDADE DOS MEIOS DE INFORMAÇÃO 415
A SABER
1. RELEVÂNCIA NO PASSADO E NO dos meios de informação. Uma vez que
PRESENTE o conceito de segurança humana tam-
bém se baseia no direito do indivíduo a
A liberdade de opinião e expressão – in- procurar e a receber informação e ideias
cluindo a liberdade de “receber e difundir, de toda a espécie, incluindo as que criti-
sem consideração de fronteiras, informa- quem os poderes dirigentes, a intimida-
ções e ideias por qualquer meio de expres- ção de jornalistas e o controlo dos meios
são” (artº 19º da Declaração Universal de informação constituem importantes
dos Direitos Humanos de 1948) – é um ameaças à segurança humana. Novas
dos direitos civis e políticos básicos, que ameaças à segurança humana, mas tam-
se encontra formulado em todos os respe- bém novas oportunidades, surgem com
tivos instrumentos de direitos humanos. as “novas tecnologias”. A nova “conecti-
Tem as suas raízes na luta pelas liberdades vidade” pode ser utilizada com fins edu-
pessoais nos séculos XVIII e XIX, quando cacionais, bem como para o crime or-
foi incluído nas Constituições dos EUA e ganizado. As campanhas internacionais
Europeias. O filósofo britânico John Stu- contra as minas terrestres e em prol de
art Mill chamou à liberdade de imprensa causas relacionadas com os direitos hu-
“uma das seguranças contra a corrupção e manos e o ambiente são facilitadas. Po-
governos tiranos” (Mill, John Stuart. 1859. rém, novos riscos aparecem sob a forma
“On Liberty”). É também um direito cons- de “crimes cibernéticos”. As economias e
titutivo de um sistema democrático no os serviços tornam-se cada vez mais de-
qual todas as pessoas, não só os cidadãos pendentes das novas tecnologias e novas
de um Estado, têm o direito humano de di- formas de inclusão e de exclusão desen-
zer o que pensam e de criticar o governo. volvem-se. Por exemplo, a Organização
Em janeiro de 1941, o Presidente Roosevelt dos Meios de Comunicação do Sudeste
anunciou a liberdade de expressão como Europeu (South-East Europe Media Orga-
uma das quatro liberdades na qual basear nisation - SEEMO), com sede em Viena,
uma futura ordem mundial pós-Segunda queixou-se que a Telekom Serbia estava
Guerra Mundial. O acesso e a liberdade a aplicar “limitações” em linhas de in-
de circulação de informação através das ternet alugadas para forçar os meios de
fronteiras é um elemento crucial de uma informação e outros a mudar de um for-
sociedade aberta e pluralista. necedor de internet privado para o servi-
ço de internet da Telekom Serbia.
Segurança Humana, Liberdade de Ex-
pressão e dos Meios de Informação
O “fator CNN”, i.e., a possibilidade de se
O “direito de viver sem medo” (freedom trazer qualquer conflito para a sala de es-
from fear) também inclui a liberdade de tar, mudou o papel dos meios de informa-
expressar a sua opinião e a liberdade ção. Por causa da importância da opinião
416 II. MÓDULOS SOBRE QUESTÕES SELECIONADAS DE DIREITOS HUMANOS
ram mortos (16% mais do que em 2010), Há a ameaça de censura que pode ocor-
1044 jornalistas foram detidos, 1959 fo- rer sob a forma de censura do Estado ou
ram atacados fisicamente ou ameaçados, censura através de meios económicos
499 meios de informação censurados, 199 ou outros. Isto pode significar que arti-
bloggers ou internautas foram detidos, 62 gos só possam ser publicados depois de
foram atacados fisicamente, 5 mortos e 58 aprovação por uma autoridade, como foi
países foram sujeitos a censura da inter- prática na maioria dos países socialistas
net. A organização propôs, em face desta da Europa de Leste antes do fim da Guer-
situação, instrumentos jurídicos especiais, ra Fria em 1989. Pode também significar
como a “Carta para a Segurança dos Jor- que interesses económicos impeçam a
nalistas em Serviço em Zonas de Guerra ou publicação de certas opiniões, como por
Áreas Perigosas”. Os Repórteres sem Fron- exemplo, se a indústria militar impedir
teiras, no final de 2006, também fizeram artigos que revelem uma atitude crítica
pressão no seio do Conselho de Segurança face à guerra.
das Nações Unidas, para que este passas- A censura também pode assumir a forma
se a Resolução 1738 sobre a proteção de de “autocensura” quando os interesses
jornalistas em zonas de guerra. Contudo, políticos ou outros já são tidos em consi-
a resolução, que obriga os Estados-mem- deração, à partida, pelo jornalista ou dire-
bros da ONU a proteger os jornalistas e tor do meio de informação. Finalmente, a
a investigar casos de violações, teve ape- decisão sobre o que é digno de ser notícia
nas um impacto limitado (vide: Reporters e “apto a ser impresso” pode excluir infor-
without Borders, Charter and Resolution, mação que não é considerada oportuna,
disponível em: http://en.rsf.org/charter- que é vista como a visão das minorias ou
and-resolution17-04-2007,21745.html). Foi que não vende bem.
positivo, contudo, o facto de o Conselho As decisões sobre o que e como publicar
de Segurança ter referido a importância de serão, frequentemente, discutíveis. Os Có-
proteger o pessoal dos meios de informa- digos de Boas Práticas podem dar uma
ção, em ambas as resoluções de 2011 sobre orientação. Caso contrário, o objetivo do
a crise na Líbia. pluralismo dos meios de informação é
assegurar que diferentes visões possam
A “Guerra contra o Terror” que se seguiu ser lidas, ouvidas e vistas.
aos ataques terroristas do 11 de setembro
de 2001 trouxe novas ameaças à liberdade Restrições Legítimas
de informação, por parte de vários gover- a este Direito
nos. Por exemplo, a associação de escrito- Não pode haver liberdade sem respon-
res, PEN, insistiu para que o USA PATRIOT sabilidade, uma vez que liberdades ilimi-
Act fosse revisto, a este respeito. A liberda- tadas podem levar a violações de outros
de de expressão e dos meios de informa- direitos humanos, como o direito à priva-
ção também pode ser usada incorretamen- cidade.( Direito à Privacidade) No
te para instigar ódio e conflito, como foi entanto, as restrições têm de ser justifi-
documentado pela International Helsinki cadas pelo governo com razões legítimas
Federation na sua publicação “Discurso que possam ser examinadas pela opinião
de ódio nos Balcãs” (“Hate Speech in the pública e, em última instância, pelas insti-
Balkans”). tuições judiciais.
420 II. MÓDULOS SOBRE QUESTÕES SELECIONADAS DE DIREITOS HUMANOS
5 anos) sobre a implementação das suas relatório anual de 2011, o Relator Especial
obrigações. Os relatórios são considerados da ONU para a Liberdade de Opinião e
pelo Comité dos Direitos Humanos. Este de Expressão, Frank La Rue, focou-se nos
Comité providenciou uma interpretação desafios criados pela internet. O Relator
do artº 19º, no seu Comentário Geral nº encontrou violações crescentes, sob a for-
10, de 1983, que, em 2011, foi substituído ma de bloqueio e filtragem pelos Estados,
pelo Comentário Geral nº 34. O Comité que também criminalizam a expressão le-
pode também receber comunicações, i.e., gítima, desconectam os utilizadores e não
queixas de particulares, caso o Estado em asseguram uma proteção adequada dos
questão tenha ratificado o 1º Protocolo Fa- dados e da privacidade. Salientou a neces-
cultativo referente ao Pacto Internacional sidade de assegurar o acesso à internet,
sobre os Direitos Civis e Políticos de 1966 como “catalisador de outros direitos hu-
(114 Estados Partes, em janeiro de 2012). manos”, como o direito à educação.
manente sobre a Liberdade dos Meios de possam silenciar jornalistas críticos. Eles
Informação, em 2001. também verificam o cumprimento dos
códigos profissionais de ética neste âm-
O Papel das Associações Profissionais e bito.
de outras ONG
As associações profissionais como a Fede- 4. PERSPETIVAS
ração Internacional de Jornalistas, o Ins- INTERCULTURAIS
tituto Internacional da Imprensa, a PEN
International ou a União Internacional de As diferenças culturais levam ao plura-
Editores recolhem informação detalhada lismo na implementação da liberdade de
sobre o estado da liberdade dos meios de expressão. Quando comparados com os
informação em diferentes países ou re- EUA, a Europa e outros Estados têm uma
giões do mundo e apoiam os seus mem- atitude diferente no que respeita ao dis-
bros contra restrições. Estas associações curso de ódio que ataca a dignidade de
chamam a atenção para situações em que um grupo. A Europa não tolera o apelo
estas liberdades são violadas, denunciam ao ódio nacional, racial ou religioso, em
restrições, lançam campanhas ou ações ur- particular, o antissemitismo, a propa-
gentes e preparam relatórios sobre proble- ganda Nazi ou a negação do Holocausto
mas específicos, como a concentração dos ou outras formas de extremismo de di-
meios de informação, corrupção, segredos reita, ao passo que o conceito de liber-
de Estado e transparência, de acordo com dade de expressão na Constituição dos
as regulações da Liberdade de Informação. Estados Unidos da América (Primeira
São apoiadas por ONG especializadas na Emenda), ainda que parcialmente, per-
proteção da liberdade de imprensa e dos mite tais formas de expressão. Por exem-
meios de informação, como as organiza- plo, a condenação de um autor britânico
ções “Artigo 19” (Article 19) ou os Repór- David Irving, na Áustria, a três anos de
teres sem Fronteiras, assim como pelas prisão por ter negado o Holocausto, em
ONG gerais de direitos humanos, como a 2006, tem sido criticada até por autores
Amnistia Internacional ou o International judeus, nos Estados Unidos, como vio-
Council on Human Rights Policy. Coope- lação do seu entendimento da liberdade
ram igualmente com organizações intergo- de expressão, que deve também incluir a
vernamentais e as suas instituições espe- “liberdade para o pensamento que odia-
ciais, como o Relator Especial das Nações mos” (Jeff Jacoby. The Boston Globe. 3
Unidas para a Liberdade de Expressão e o de março de 2006).
Representante da OSCE para a Liberdade As subtis distinções podem apreciar-se no
dos Meios de Informação. caso do TEDH, Jersild c. Dinamarca, no
Ao nível nacional, os órgãos de monito- qual o Tribunal entendeu que a condena-
rização institucional como as comissões ção de um jornalista, que tinha transmiti-
independentes dos meios de informa- do uma entrevista com jovens que faziam
ção ou as associações profissionais, tais declarações racistas, tinha sido uma viola-
como os conselhos de imprensa e ONG, ção da liberdade de informação contida no
têm por objetivo a prevenção de viola- artº 10º da CEDH, enquanto que aqueles
ções destes direitos humanos, de leis que tinham feito as declarações não esta-
de difamação excessivas e práticas que vam protegidos pelo artº 10º.
424 II. MÓDULOS SOBRE QUESTÕES SELECIONADAS DE DIREITOS HUMANOS
1993 Relator Especial das Nações Uni- 2005 Declaração do Conselho da Europa
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e de Expressão ção da Internet, em Atenas
1997 Representante da OSCE para a Li- 2011 Sexto Fórum sobre a Governação
berdade dos Meios de Informação da Internet, em Nairobi (Quénia)
1997 Relator Especial da Organização 2011 Comentário Geral nº 34 do Comi-
dos Estados Americanos (OEA) té dos Direitos Humanos sobre o
para a Liberdade de Expressão artº 19º do PIDCP
1999 Resolução da Comissão de Direi-
tos Humanos sobre a Liberdade de
Opinião e de Expressão (1999/36) “Os meios de informação têm, em demo-
2001 Convenção do CdE sobre o Ciber- cracia, o papel central de informar o pú-
crime e Protocolo Adicional de blico e de fazer o escrutínio dos assuntos
2003 públicos sem medo de serem perseguidos,
processados ou reprimidos.”
2003 Cimeira Mundial sobre a Informa- Kevin Boyle. 2000. Restrictions on the Freedom of
ção, primeira parte, em Genebra: Expression.
Declaração de Princípios e Plano
de Ação
2004 Relator Especial para a Liberdade “Senhor, não partilho das suas opiniões,
de Expressão em África mas arriscaria a minha vida pelo seu direi-
2005 Cimeira Mundial sobre a Infor- to a expressá-las.”
mação, segunda parte, em Tunes: Voltaire (1694-1778).
Compromisso de Tunes e Agenda
de Tunes para a Sociedade da In-
formação
CONVÉM SABER
1. O PAPEL DOS MEIOS to poder”, para além dos poderes legisla-
DE INFORMAÇÃO LIVRES tivo, executivo e judicial, exige também
PARA UMA SOCIEDADE especial cuidado e responsabilidade por
DEMOCRÁTICA parte dos jornalistas e donos dos meios de
informação, de forma a não violarem os
O pluralismo dos meios de informação é direitos humanos dos outros quando exer-
um elemento indispensável de uma demo- cem as suas liberdades.
cracia pluralista. A importância do papel
dos meios de informação enquanto “quar- Direito à Democracia
M. LIBERDADE DE EXPRESSÃO E LIBERDADE DOS MEIOS DE INFORMAÇÃO 427
Humanos, nem com os tratados interna- através de blogs. Agora, até empresas mais
cionais dos direitos humanos e seus me- pequenas de meios de informação têm a
canismos. Frequentemente, não percebem oportunidade de chegar a um público glo-
a diferença entre o direito dos direitos hu- bal. No entanto, certos Estados controlam
manos e as leis da guerra. Como resulta- ou censuram o acesso à internet, bloque-
do, os direitos humanos são, muitas vezes, ando o acesso a certos sítios. Em 2005, al-
erradamente, entendidos como relevantes guns motores de busca como o Yahoo! e o
só em relação à informação sobre um con- Google foram acusados por ONG de terem
flito.” assistido o governo chinês a procurar o pa-
(Fonte: Conselho Internacional sobre os radeiro de dissidentes políticos. Em reação
Direitos Humanos. 2002. Journalism, Me- a tal situação, a Amnistia Internacional
dia and the Challenge of Human Rights iniciou uma campanha contra a repressão
Reporting.) online no sítio www.irrepressible.info. En-
tretanto, a Google terminou parte das suas
7. TENDÊNCIAS operações na China, de modo a evitar as
condições impostas pelo governo chinês.
A Internet e a Liberdade de Expressão/ A Google também publica, nos seus relató-
Informação rios sobre transparência, o número de pe-
Segundo o Relatório UNESCO “Rumo às didos de bloqueio ou filtro recebidos por
Sociedades do Conhecimento” (“Towards governos.
Knowledge Societites”), a internet cres-
ceu exponencialmente durante os últimos Um novo relatório sobre Liberdade na
anos, de 16 milhões de utilizadores, em Internet de 2011 demonstrou crescentes
1995, a mais de 500 milhões, em 2004, ameaças à liberdade na internet por meio
aproximadamente 1 bilião, em 2007, e 2.3 de bloqueio de conteúdos, ataques ciber-
biliões, em 2011. Estima-se que, em 2015, néticos contra as críticas aos regimes e
o objetivo da Cimeira Mundial sobre In- censura. A interferência menor regista-se
formação de que metade da população na Estónia, EUA, Alemanha e Austrália,
mundial esteja conectada à internet possa sendo maior no Irão, Birmânia, Cuba e Chi-
ser alcançado. No entanto, ainda mais de na (RPC). (Vide: Freedom House: Freedom
cinco biliões de pessoas em todo o mundo on the Net, disponível em: www.freedom-
não tem acesso à internet. Em África, me- house.org/freedomonthenet 2011).
nos de 1% da população total tem acesso, A Wikileaks é uma organização sobre
o que demonstra o problema da “exclusão meios de informação sem fins lucrativos,
digital” e coloca a questão da “solidarie- dedicada a revelar notícias e informação
dade digital”. Não obstante, o crescimen- relevante para o público, expondo regimes
to da internet, dos meios de informação opressivos na Ásia, ex-União Soviética,
sociais e do número de jornalistas cida- África Subsaariana e Médio Oriente. Mais
dãos tem tido um impacto significativo recentemente, publicou informação confi-
nos meios de informação na medida em dencial de fontes militares dos EUA, o que
que coloca à disposição, de jornalistas e gerou grande controvérsia. A WikiLeaks
cidadãos comuns, uma variedade de no- define-se a si própria como um “sistema
vas oportunidades de leitura e de publi- não censurável para a divulgação sem ras-
cação em todo o mundo, nomeadamente, to de documentos em grande escala”.
M. LIBERDADE DE EXPRESSÃO E LIBERDADE DOS MEIOS DE INFORMAÇÃO 431
rádios locais com estruturas comunitárias (Fonte: UNESCO. 2005. Towards Knowl-
equipadas tecnologicamente, por exem- edge Societies. Paris)
plo, com computadores ligados à internet,
serviços de correio eletrónico, telefone, “Nunca existiu uma inanição substancial
fax e fotocópias. O objetivo é permitir aos num país que tem uma forma democrática
membros da comunidade que se tornem de governo e uma imprensa relativamente
utilizadores frequentes de novas tecnolo- livre.”
gias e tenham acesso à informação global. Amartya Sen, economista Prémio Nobel. 1999.
ATIVIDADES SELECIONADAS
ATIVIDADE I: Competências envolvidas: comunicação,
QUE CHAPÉU USA? criativas, analíticas e de pensamento crí-
tico
Parte I: Introdução
A atividade fornece uma oportunidade Parte III: Informação Específica sobre a
para os participantes praticarem, debate- Atividade
rem e expressarem as suas opiniões livre- Afirmação provocatória: Vivemos num
mente, mas, de uma forma responsável. país livre e todos têm o direito de expres-
Oferece, ainda, um método para debater sar livremente as suas opiniões. Portanto,
questões complexas ou para provocar de- por que é que se deve proibir ou censurar
clarações sob diferentes aspetos, encon- o discurso racista ou de ódio?
trando, assim, uma solução que vá ao
encontro dos interesses de todas as partes O/a facilitador/a introduz a afirmação
envolvidas. provocatória aos participantes, em ple-
nário. Os participantes refletem sobre a
Parte II: Informação Geral sobre a Ati- declaração, de todas as perspetivas possí-
vidade veis, usando o método do “chapéu pensa-
Tipo de atividade: debate dor”: só fala a pessoa que tem o chapéu
Metas e objetivos: Facilitar o pensamento na sua mão. Quando um/uma orador/a
crítico e a capacidade de resolver proble- terminar, entrega o chapéu à pessoa se-
mas; expressar a sua opinião, de uma for- guinte. Cada cor representa uma aborda-
ma responsável gem diferente:
Grupo-alvo: jovens adultos e adultos O chapéu branco representa informação:
Dimensão do grupo: 18-30 uma visão objetiva, tendo em considera-
Duração: cerca de 90 minutos ção apenas a informação que está disponí-
Preparação: colocar as cadeiras em círculo vel, quais são os factos;
para a sessão plenária O chapéu vermelho representa emoções:
Materiais: 6 chapéus de cores diferentes uma perspetiva subjetiva, reação ou decla-
(branco, vermelho, preto, amarelo, verde ração instintiva de um sentimento emocio-
e azul; podem ser feitos de papel ou em nal (mas, sem qualquer justificação);
cartão) O chapéu preto representa aspetos negati-
M. LIBERDADE DE EXPRESSÃO E LIBERDADE DOS MEIOS DE INFORMAÇÃO 433
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REPRESENTAÇÃO E PARTICIPAÇÃO
PLURALISMO E INCLUSÃO
DIGNIDADE HUMANA E LIBERDADE
“Toda a pessoa tem o direito de tomar parte na direção dos negócios públicos do seu país,
quer diretamente, quer por intermédio de representantes livremente escolhidos. Toda a
pessoa tem direito de acesso, em condições de igualdade, às funções públicas do seu país.
A vontade do povo é o fundamento da autoridade dos poderes públicos; e deve exprimir-
se através de eleições honestas a realizar periodicamente por sufrágio universal e igual,
com voto secreto ou segundo processo equivalente que salvaguarde a liberdade de voto.”
Artº 21º da Declaração Universal dos Direitos Humanos. 1948.
440 II. MÓDULOS SOBRE QUESTÕES SELECIONADAS DE DIREITOS HUMANOS
HISTÓRIA ILUSTRATIVA
Transição Democrática: o Legado de uma base da política e que elas próprias podem
Revolução é Forjado depois da Luta Ter assumir a responsabilidade pelo seu futuro.
Terminado Posto de maneira diferente, devemos ter
atenção para não nos tornarmos vítimas
As revoluções árabes de 2011 estão a come- das nossas poucas expectivas relativa-
çar a destruir o estereótipo de um mundo mente aos outros. Efetivamente, esta foi
árabe incapaz de uma transformação de- a razão que levou ao fracasso flagrante
mocrática. Contudo, o legado duradouro da comunidade internacional em prever
da Primavera Árabe será criado depois de os acontecimentos da Primavera Árabe.
as lutas terem terminado, uma vez que os Tinhamo-nos convencido de que as pesso-
países libertados como a Tunísia e o Egito as do Egito, Tunísia e outros países eram
estão agora perante a tarefa de construção de certo modo incapazes (culturalmente e
de sociedades estáveis e democráticas. não só) de tal insurreição. Não devemos
À luz das experiências no Afeganistão e cometer o mesmo erro duas vezes.
Iraque durante a última década, este desa-
fio parece ser difícil. Devemos, no entanto, Muitos observadores estavam igualmente
retirar inspiração das transições noutros lu- resignados aquando da Revolução Rosa,
gares que transformaram Estados em vias em 2003, na Geórgia. Tal como noutros
de falhar em democracias promissoras num países agitados por convulsões políticas
relativo curto espaço de tempo. Os Estados importantes, o Estado da Geórgia teve de
Bálticos e a América Latina pós-ditadura ofe- ser reconstruido quase de raiz. Ser forçado
recem alguns exemplos de progresso rápido. a começar do zero foi, porém, de muitos
A República da Geórgia, no Cáucaso do Sul, modos, uma benção, não uma maldição.
é um caso mais recente. Apesar de as cul- Não diferentemente das ditaduras do Nor-
turas e contextos poderem variar, há muito te de África, a essência da União Soviética
que aprender destas histórias de transforma- era controlo e corrupção. Imediatamente
ções relativamente bem-sucedidas. após a Revolução Rosa, a Geórgia pôs ter-
Talvez a maior lição seja a seguinte: não mo definitivo à era do domínio estatal. A
se pode subestimar o potencial para a mu- primeira reforma abrangente – a transfor-
dança. As transições podem ocorrer mais mação completa dos órgãos de aplicação
rapidamente do que a sabedoria conven- da lei – é particularmente ilustrativa. Co-
cional nos poderia fazer crer. O governo da meçou-se por despedir as forças da polícia
Geórgia compreende bem que o país tem de trânsito. A polícia foi, durante muito
um longo caminho a percorrer antes de ser tempo, uma peça central e um símbolo da
uma robusta democracia. O caso da Geór- corrupção e intimidação do Estado. Os ge-
gia, porém, também é importante porque orgianos viveram durante três meses sem
testemunha o facto de os momentos revo- polícia de trânsito – e, surpreendentemen-
lucionários serem importantes – principal- te, durante este período, as taxas de crimi-
mente – porque alimentam a imaginação nalidade reduziram em 70%. Porquê? Uma
do público mais vasto. As pessoas comuns explicação é que, deste modo, às pessoas
vêem que os valores podem tornar-se na da Geórgia foi atribuída – e interiorizada –
N. DIREITO À DEMOCRACIA 441
A SABER
1. DEMOCRACIA EM ALTA? na baseiam-se tanto na participação como
na democracia.
O direito de participação está no centro Democracia é normalmente traduzida
dos direitos humanos e é o alicerce dos como o governo do povo. No entanto, a
princípios, visões e valores refletidos pela democracia é mais complexa na sua defi-
Rede de Segurança Humana. A agenda po- nição. É uma forma de governo, é também
lítica específica seguida pelos seus países uma ideia que está na base da organização
membros e o avanço da segurança huma- sociopolítica e jurídica do Estado, pode
442 II. MÓDULOS SOBRE QUESTÕES SELECIONADAS DE DIREITOS HUMANOS
ser vista como uma ideologia, aparece na de Desenvolvimento Humano das Nações
forma de muitos modelos diferentes, tan- Unidas, reconhece que a inclusão não foi
to na realidade como na teoria científica conseguida para a sua população nativa.
– tudo junto abarca infinitos significados Em muitas democracias avançadas, a to-
diferentes. Contudo, na sua essência, a de- tal inclusão das mulheres em círculos de
mocracia está fortemente relacionada com poder e esferas de influência continua a
os princípios de direitos humanos e não ser negada. Nos Estados Unidos, um país
pode funcionar sem garantir o total respei- frequentemente rotulado como “a mais an-
to e proteção da dignidade humana. Para tiga democracia do mundo”, a inclusão e
além da participação e representação, o pluralismo são uma luta contínua para
também está relacionada com a inclusão, as populações minoritárias e para as mi-
entendida enquanto direito a ser totalmen- norias, como os homossexuais.
te incluído na vida cívica da comunidade, Por outro lado, o fracasso da inclusão e as
da região e do país de cada um. Embora deficiências na prática do pluralismo po-
o exercício do direito a ser incluído e a dem ter graves consequências. Isto foi vis-
participar esteja à discrição do próprio ci- to na agitação civil generalizada e violenta
dadão, o direito não lhe pode ser negado. em França, no fim de 2005. Até à data, a
Em conjunto com a inclusão, a noção de democracia é, indiscutivelmente, o sistema
pluralismo está no centro da governação mais propício para garantir a proteção dos
democrática. O pluralismo significa ultra- direitos humanos e a segurança humana.
passar a “estranheza do outro” e afirmar Porém, tal não nos deve distrair do facto
que pessoas com diferentes tipos de expe- de que a compreensão plena dos objetivos
riência humana podem viver em conjunto paralelos do pluralismo e da inclusão é es-
com dignidade, sob o primado do Direito, sencial para a evolução saudável de uma
com a diversidade vista como uma fon- sociedade democrática.
te de força e de resiliência. Em essência, A democracia depende do interesse e da
ninguém com um pedido justificado para ativa participação dos seus beneficiários.
a cidadania ou outra forma de residência Ser informado e ter acesso ao conhecimen-
legal pode ver negada a inclusão ou a dig- to é requisito para uma participação útil
nidade humana. Este é o verdadeiro teste no sistema democrático. Apenas aqueles
à democracia. com uma compreensão básica de como o
sistema trabalha e com conhecimento dos
Existe uma ligação aparente entre estru- mecanismos e instituições de uma socie-
turas não democráticas e violações de dade democrática podem contribuir e ser
direitos humanos. No entanto, mesmo beneficiados. Comunicar esta mensagem é
as democracias consolidadas podem ser uma das mais importantes funções da edu-
fracas se tolerarem a negação de direitos cação democrática cujo objetivo é a forma-
humanos. A violação é uma brecha espe- ção de cidadãos responsáveis.
cífica, mas a negação de direitos humanos Este módulo visa definir uma imagem da
– que pode ser muitas vezes a negação de democracia e dos direitos humanos que
uma inclusão genuína e do pluralismo – torne claro que a democracia não é algo
é societal e sistemática. Mesmo uma de- que é alcançado de uma vez por todas,
mocracia avançada como, por exemplo, a mas sim um processo que requer trabalho
do Canadá, um líder constante no Índice e compromisso permanentes.
N. DIREITO À DEMOCRACIA 443
(Fonte: Freedom House. 2011. Freedom in the World 2011; Economist Intelligence Unit. 2010.
Democracy Index 2010; Inter-Parliamentary Union (IPU). 2011. Parline database on women in
parliament.)
444 II. MÓDULOS SOBRE QUESTÕES SELECIONADAS DE DIREITOS HUMANOS
ra moral e racional agindo para um bem começa: “Sendo o Canadá fundado sobre
comum. O “Grande Ensinamento” confu- princípios que reconhecem a supremacia
cionista postula que a individualidade har- de Deus e do primado do Direito[…].”
moniosa origina uma família harmoniosa, As nações muçulmanas têm estado niti-
que produz uma comunidade harmoniosa, damente divididas com base no seu en-
que gera uma política bem ordenada, que tendimento e perspetivas em relação à
cria uma nação harmoniosa. O chamado democracia, sendo que a negação da de-
“choque” entre os valores e noções “asiáti- mocracia prevalece - pelo menos até re-
cas” e “ocidentais” de democracia é acima centemente - no Médio Oriente. Enquan-
de tudo uma questão de interpretação di- to os líderes dos movimentos islâmicos
ferente do verdadeiro significado da parti- principais e muitos estudiosos insistem
cipação e do bem-estar individual versus que o Islão e a democracia são compa-
coletivo. Em vez de rejeitar o conceito en- tíveis, aqueles que consideram que as
quanto tal, a crítica asiática de democracia construções divinamente ordenadas são
é frequentemente dirigida contra a especí- superiores às construções sociais huma-
fica ordem social e cultural dos EUA e de nas proclamam o contrário. Estes últimos
outros países ocidentais. rejeitam a democracia dizendo que o con-
ceito de soberania popular nega o credo
O Desafio da Democracia no Mundo Mu- fundamental do Islão, que é a soberania
çulmano de Deus. Eles acreditam que o quadro
Definir a relação entre Islão e democracia legislativo básico foi fornecido por Alá e
tem sido problemática tanto para os mu- não pode ser modificado. Apenas os seus
çulmanos como para os não muçulmanos. representantes podem interpretar e imple-
Os observadores que salientam que o Islão mentar a sua lei. Esta abordagem tradicio-
e a democracia são incompatíveis basea- nal e conservadora contradiz os valores
ram os seus argumentos no entendimen- democráticos básicos, como a abertura, o
to islâmico da soberania de Deus, que é pluralismo e a separação de poderes.
a única fonte de autoridade e de cuja lei
divina derivam todas as normas que regu- Contudo, apesar desta aparente divisão,
lam a comunidade de crentes. Esta é uma existem bons exemplos de Estados demo-
perceção demasiado simplista uma vez cráticos no mundo islâmico. Algumas das
que a divisão de poderes não é incompa- nações muçulmanas mais populosas são
tível com o Islão. Num certo número de democracias eleitorais. O país muçulmano
Estados Islâmicos, o Islão e a democracia mais populoso no mundo, a Indonésia, é
já provaram ser compatíveis, sendo que, uma jovem democracia fundada no com-
de facto, as manifestações religiosas tam- promisso com a inclusão e com o pluralis-
bém são familiares a muitas ordens consti- mo. A segunda maior população muçul-
tucionais ocidentais. Apesar da separação mana no mundo, na Índia, tem vivido em
oficial entre Igreja e Estado, os Estados democracia desde 1947. O terceiro maior
Unidos proclamam-se como “uma nação país muçulmano, o Paquistão, voltou à or-
sob Deus”, como parte da sua essência bá- dem democrática em 2008. Em 2005, um
sica. De igual modo, o preâmbulo da Carta parlamento democrático foi estabelecido
de Direitos e Liberdades do Canadá, a car- depois das eleições no Afeganistão, que
ta de direitos na Constituição canadiana, esteve, anteriormente, sob as regras dos
N. DIREITO À DEMOCRACIA 451
ser alcançado um amplo consenso são os opiniões e, assim, participar na vida polí-
direitos humanos. Garantir os direitos hu- tica e na tomada de decisões é de impor-
manos, incluindo o direito de participação tância crucial. Participar numa sociedade
política, é, deste modo, uma parte crucial civil ativa contribui para a democracia
de garantia da democracia. Portanto, ga- como um todo. A educação tem um pa-
rantias institucionais de direitos humanos pel chave neste processo uma vez que cria
são, de facto, garantes da democracia. o conhecimento que, desde logo, torna a
participação efetivamente possível. É para
A implementação global da democracia estes elementos de base de construção da
depende de cada e de todo o indivíduo e democracia que se deve chamar a atenção
das instituições estatais e internacionais e que devem ser ulteriormente desenvolvi-
que são chamadas a dar-lhe vida e a aju- dos de modo a permitir à democracia de-
dar a opor-se a desenvolvimentos autori- sabrochar e trazer resultados para todos,
tários. Exercer o direito de voto, expressar iguais e equitativos.
CONVÉM SABER
líticos nacionais. Posteriormente, elei-
1. BOAS PRÁTICAS ções democráticas parlamentares e pre-
sidenciais realizaram-se com intervalos
No Caminho da Democracia regulares com base em sistemas multi-
Em fevereiro de 1990, num discurso histó- partidaristas. A transição democrática na
rico, Fredrik Willem de Klerk manifestou- Europa Central e de Leste foi aprofunda-
se a favor do fim do Apartheid e de uma da em grande medida pelas políticas da
África do Sul democrática. A sua política União Europeia. Em particular, a perspe-
foi confirmada por um referendo pelo qual tiva de ser membro da UE, que depende,
70% da população branca apoiou as suas entre outras coisas, do preenchimento
reformas. As primeiras eleições democrá- dos chamados “Critérios de Copenhaga”
ticas na África do Sul realizaram-se em (incluindo o respeito por princípios de-
abril de 1994 e, em maio de 1994, Nelson mocráticos, direitos humanos e das mi-
Mandela tornou-se o primeiro presidente norias e o primado do Direito) tem con-
negro da África do Sul. Abria-se um novo tribuído significativamente para o ritmo
capítulo no desenvolvimento do país. e a sustentabilidade de reformas demo-
Europa Central e de Leste: Nos anos cráticas nos países em causa (a maioria
seguintes a 1989, os países do ex-bloco dos quais, entretanto, aderiu à União
comunista experimentaram uma onda de Europeia enquanto membros de pleno
democratização. Partidos novos, livres e direito).
democráticos foram criados na Polónia, Chile: Ao contrário de outros países sul-
Bulgária, República Checa, Alemanha americanos, o Chile tem uma história
de Leste, Hungria, Roménia, Eslováquia com mais de 150 anos como uma repú-
e em várias ex-Repúblicas Soviéticas e blica constitucional com governos demo-
uma transição pacífica e democrática craticamente eleitos. O restabelecimento
começou a mudar os seus cenários po- da democracia no Chile, em 1990, após
N. DIREITO À DEMOCRACIA 455
17 anos de governo militar sob o coman- que não são completamente democráticos,
do do General Augusto Pinochet, deu nem completamente autocráticos) é razão
um novo ímpeto ao diálogo democrático para preocupação.
e à cooperação regional e internacional. (Fonte: Human Security Report Project.
Hoje, a República do Chile está a consoli- 2011. Human Security Report 2009/2010:
dar a sua democracia e a promover, ativa- The Causes of Peace and the Shrinking
mente, os direitos humanos e a segurança Costs of War.)
humana na região.
Egito: Em meados de fevereiro de 2011, Participação Política das Mulheres
depois de mais de duas semanas de pro- A participação de mulheres na vida política
testos, o Presidente Hosni Mubarak acei- é ainda altamente desproporcional em rela-
tou retirar-se, pondo termo a três déca- ção à dos homens, apesar de as mulheres
das de governação com punho de ferro. constituirem mais de metade da popula-
O poder foi provisoriamente atribuído ao ção mundial. Este desequilíbrio evidente
Conselho Supremo das Forças Armadas, aponta para certos défices em matéria de
que se espera que governe durante seis género, em algumas instituições nacionais,
meses até poderem ser organizadas elei- de um modo geral, consideradas democrá-
ções democráticas. O gabinete anterior, ticas. De forma a corrigir esta situação, as
incluindo o anterior Primeiro Ministro, quotas são frequentemente utilizadas como
continua a servir como um governo de uma ferramenta para melhorar a participa-
gestão até ser formado um novo gover- ção das mulheres na vida política, particu-
no. Estando a Constituição anterior a ser larmente, nos parlamentos nacionais.
revista, o Egito está agora a iniciar a sua
forma própria de governação democrá- Questão para debate:
tica. • Consegue pensar em quaisquer outros
incentivos e ferramentas para estreitar
2. TENDÊNCIAS as diferenças de representação masculi-
na e feminina na vida política?
Aumento de Democracias
De acordo com o Relatório de Segurança
Mulheres no Parlamento
Humana de 2010, o declínio gradual, de-
pois da Segunda Guerra Mundial, no nú- • O número de Estados soberanos que
mero de guerras e conflitos civis coincide têm um parlamento aumentou sete
com o aumento constante do número de vezes desde 1945.
democracias. Em 1946, 28% dos governos
mundiais era democrático. Em 2008, esta • A percentagem de mulheres que são
percentagem tinha mais do que duplicado. Membros do Parlamento aumentou
Isto parece confirmar a chamada tese da globalmente mais de 40% nos últimos
“paz democrática”, de acordo com a qual 10 anos.
as democracias liberais dificilmente en-
• Se o atual incremento dos índices
tram em guerra entre si e existe também
continuar, não será antes de 2040 que
um risco menor de guerra civil. No entan-
existirá paridade de género em todos
to, o aumento do número de “anocracias”
os parlamentos.
ou “democracias não liberais” (regimes
456 II. MÓDULOS SOBRE QUESTÕES SELECIONADAS DE DIREITOS HUMANOS
Democr@cia online
Quando o uso da internet começou a es- Nader. O próprio Nader não teve qualquer
palhar-se em meados dos anos 90, alguns hipótese de ser eleito para presidente e,
observadores viram o amanhecer de um quando questionada depois, a maioria da
mundo em que todos podiam participar população que votou Nader teria preferido
no processo político de tomada de deci- o candidato democrata, Al Gore, em vez do
são fazendo uso da comunicação em linha republicano George Bush; isto conduziu à
(online), um mundo mais perto dos ideais situação bizarra de que em todos os esta-
gregos de democracia do que em qualquer dos indecisos, os eleitores de Nader con-
outra altura. No entanto, na verdade, esses tribuíssem involuntariamente para o au-
sonhos ainda não se tornaram realidade. mento das possibilidades de George Bush.
A disponibilidade de acesso à internet não Para evitar este efeito na votação seguinte,
é um substituto para as estruturas demo- alguns promoveram a ideia digna de nota
cráticas e, por si mesma, não cria consci- de criar sítios de internet baseados num
ência política – mas ainda tem as suas van- programa que permitiria aos cidadãos tro-
tagens. A informação pode ser procurada e car os seus votos. Um eleitor de Nader, de
encontrada globalmente em tempo real e, um dos estados indecisos, poderia trocar o
o que é mais importante, pode ser trocada seu voto com um eleitor de Gore residente
e usada para criar estruturas organizacio- num estado Bush; o eleitor de Nader vota-
nais informais. Tomemos como exemplo as ria, então, em Gore, num estado onde ele
eleições presidenciais americanas em 2000. tivesse a possibilidade real de ganhar, en-
Em alguns estados [os chamados estados quanto o eleitor de Gore votaria em Nader
“indecisos” (swing states)] o resultado da num estado onde o voto Gore não tivesse
eleição estava completamente em aberto. qualquer impacto. Embora possivelmente
O fator crítico era o número de votos para complicada, a ideia da “troca de votos” é
o candidato do Partido dos Verdes, Ralph um bom exemplo para os novos potenciais
458 II. MÓDULOS SOBRE QUESTÕES SELECIONADAS DE DIREITOS HUMANOS
ATIVIDADES SELECIONADAS
Parte III: Informação Específica sobre a
ATIVIDADE I: Atividade
SIM, NÃO OU ALGURES NO MEIO? Instruções:
Explicar que vai ler em voz alta uma afir-
Parte I: Introdução mação com a qual os participantes podem
Nesta atividade, os participantes poderão concordar, em maior ou menor medida.
aprender quantas opiniões diferentes, jus- Dizer aos participantes para se colocarem
tificadas e aceitáveis podem existir numa ao longo da parede entre os dois sinais, de
democracia. acordo com a medida em que concordam
ou discordam. Ler a primeira afirmação da
Parte II: Informação Geral lista indicada abaixo, em voz alta para o
Tipo de atividade: posicionamento socio- grupo. Quando as pessoas se tiverem po-
métrico sicionado, pedir-lhes para refletir sobre a
Metas e objetivos: aceitar opiniões dife- sua posição em relação à posição dos seus
rentes, desenvolver tolerância e respeito colegas e convidá-los a explicar por que
Grupo - alvo: jovens adultos e adultos estão na posição escolhida. Os participan-
Dimensão do grupo: qualquer uma tes podem mudar a sua posição quando
Duração: 60 minutos convencidos pelos argumentos dos outros
Materiais: papel e canetas de cor para pre- mas os debates intensos devem ser man-
parar os sinais, fita adesiva, papel e caneta tidos até à sessão final dos comentários.
para tomar notas Repetir o mesmo procedimento para as ou-
Preparação: fazer dois sinais, “Concordo” tras afirmações da lista.
e “Discordo” e colá-los quer no final de Reações:
uma longa parede, quer no chão. Colocar Juntar o grupo de novo em plenário para a
duas cadeiras no centro da sala, deixando sessão final de comentários. Pedir aos par-
espaço à volta delas de modo a permitir ticipantes para falarem sobre as suas emo-
que as pessoas se possam mover. ções durante a atividade, especialmente,
Competências envolvidas: comunicação, quando tomaram posições extremas ou
cooperação, exprimir pontos de vista dife- quando mudaram de posição. Depois, re-
rentes sobre um assunto, respeitar outras fletir sobre as razões para se considerar
opiniões. uma sociedade pluralista como um gran-
N. DIREITO À DEMOCRACIA 461
de valor. Como gerir opiniões diferentes? • Nós devemos obedecer a todas as leis,
Temos de aceitar opiniões dissidentes? Por até mesmo as injustas.
que é que as pessoas têm opiniões diferen- • As únicas pessoas que têm algum poder
tes? Isto é aceitável ou deve ser feito algo numa democracia são os políticos.
sobre isto numa sociedade democrática? • As pessoas têm os líderes que merecem.
Devem ser toleradas todas as opiniões em • “Numa democracia todos têm o direito
democracia? Quais as opiniões que podem de ser representados, até mesmo os idio-
ser consideradas extremistas? tas.” (Chris Patten, Estadista Britânico e
Sugestões metodológicas: Governador de Hong Kong)
Poder-se-á levantar a questão de saber se • 51% da nação pode estabelecer um regi-
o pluralismo ou a liberdade de expressão me totalitário, suprimir minorias e ain-
devem ser sujeitos a limitações, numa so- da continuar democrático.
ciedade democrática. Devem, por exem- • “O trabalho do cidadão é manter a sua
plo, ser permitidas as manifestações ra- boca aberta.” (Günter Grass, escritor,
cistas ou nacionalistas? Onde e como é laureado com o Prémio Nobel)
que uma democracia tem de estabelecer • “O melhor argumento contra a democra-
o limite entre o aceitável e o inaceitável? cia é uma conversa de 5 minutos com
Neste contexto, poder-se-á debater a no- um eleitor médio.” (Winston Churchill,
ção de “tolerância” e como as pessoas a Estadista Britânico e autor)
compreendem. Nota: pode encontrar outras afirmações
relacionadas com qualquer outro direito
Parte IV: Acompanhamento humano. As afirmações devem ser formu-
Selecionar imagens de jornais e revistas ladas de tal forma que provoquem a mani-
que mostram questões controvérsias que festação de diferentes opiniões.
ilustram o debate presente. Tentar cobrir Direitos relacionados/outras áreas a ex-
assuntos tais como discriminação contra plorar:
certos grupos (crianças, mulheres, imi- Liberdade de expressão e liberdade dos
grantes, grupos religiosos, pessoas porta- meios de informação.
doras de deficiência, etc.), poluição, de- (Fonte: adaptado a partir de: Conselho de
semprego, pobreza, opressão pelo Estado Europa. 2002. Compass – A Manual on
e violações dos direitos humanos em geral. Human Rights Education with Young Pe-
Recortar as imagens e mostrá-las aos par- ople; Susanne Ulrich. 2000. Achtung (+)
ticipantes. Deixar cada um deles escolher Toleranz- Wege demokratischer Konfliktlö-
uma imagem que ainda consiga tolerar e sung.)
uma que já não consiga tolerar. Os parti-
cipantes devem dar razões para a escolha ATIVIDADE II:
dessas imagens concretas, sem iniciar um UM MINARETE
debate. A opinião de cada participante tem NA NOSSA COMUNIDADE?
de ser respeitada.
Parte I: Introdução
Afirmações que podem ser usadas para Esta atividade simula uma assembleia
o debate: aberta ao público na sua comunidade ou
• Nós temos uma obrigação moral de numa pequena vila fictícia. Neste cená-
usar o nosso voto em eleições. rio, diversos interesses e preocupações de
462 II. MÓDULOS SOBRE QUESTÕES SELECIONADAS DE DIREITOS HUMANOS
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“Nos Estados em que existam minorias étnicas, religiosas ou linguísticas, as pessoas per-
tencentes a essas minorias não devem ser privadas do direito de ter, em comum com os
outros membros do seu grupo, a sua própria vida cultural, de professar e de praticar a sua
própria religião ou de utilizar a sua própria língua.”
Artº 27º do Pacto Internacional sobre os Direitos Civis e Políticos. 1966.
468 II. MÓDULOS SOBRE QUESTÕES SELECIONADAS DE DIREITOS HUMANOS
HISTÓRIA ILUSTRATIVA
O caso de D.H. e outros c. República Checa considerou existir um padrão de discrimi-
nação por todo o país e, pela primeira vez,
Em 2000, no caso de D.H. e outros c. Repú- reconheceu explicitamente, pelo nome, o
blica Checa, dezoito alunos da comunidade conceito de discriminação indireta. O Tribu-
Roma, colocados em escolas especiais para nal também considerou os dados estatísticos
crianças com deficiências mentais e físicas, disponibilizados pelo Comité Consultivo, ou
na cidade de Ostrava, na República Checa, seja, o órgão de monitorização no âmbito
levaram o seu caso ao Tribunal Europeu da Convenção Quadro para a Proteção das
dos Direitos Humanos (TEDH). Os alunos Minorias Nacionais do Conselho da Europa,
foram representados tanto por advogados que revelaram que aproximadamente 70%
locais, como por advogados do European de todas as crianças Roma, na República
Roma Rights Centre – ERRC (Centro Euro- Checa, tinham aprendido em escolas para
peu para os Direitos dos Roma), tendo estes crianças com deficiências mentais e físicas.
defendido que as crianças foram colocadas O governo Checo não pôde contestar estes
em escolas especiais sem justificação obje- argumentos. Assim, o TEDH considerou que
tiva, a não ser a sua pertença étnica à mi- tinha sido violado o normativo da Conven-
noria da comunidade Roma. ção Europeia dos Direitos Humanos.
Na cidade de Ostrava e por toda a Repúbli- (Fontes: Tribunal Europeu de Direitos Hu-
ca Checa, a colocação de crianças Roma em manos. 2007. D.H. and Others v. the Czech
escolas especiais para crianças com defici- Republic, No. 57325/00 of 13 November
ências mentais e físicas era particularmen- 2007 (grand chamber); Jennifer Devroye.
te elevada. A probabilidade de uma criança 2009. The Case of D.H. and Others v. the
Roma ser colocada numa escola especial Czech Republic. JIHR vol. 7/1.)
para crianças com deficiências mentais e fí-
sicas era 27 vezes maior do que no caso de Questões para debate
crianças não Roma. Deste modo, foi pedido 1. Quais foram os direitos humanos vio-
ao TEDH que aferisse se a colocação eleva- lados?
da, desproporcional de alunos Roma em “es- 2. Por que é que o TEDH considerou que as
colas especiais” constituía uma violação da disposições da Convenção Europeia dos
Convenção Europeia dos Direitos Humanos. Direitos Humanos tinham sido violadas?
A Grande Câmara do TEDH proferiu a sen- 3. Em que aspetos é que os alunos da co-
tença final em 2007 – uma decisão de refe- munidade Roma foram discriminados?
rência em que o Tribunal considerou que 4. Por que é que a sentença é importante
a concentração especialmente elevada de para os direitos das minorias em geral?
alunos Roma em escolas para crianças com
Direito à Educação
deficiências mentais e físicas violava o direi-
Não Discriminação
to à educação, assim como a proibição da
discriminação (nos termos do artº 2º do
“Um país deve ser julgado pela forma como
Protocolo nº 1 e do artº 14º da Convenção
trata as suas minorias.”
Europeia dos Direitos Humanos). A senten-
Mahatma Gandhi.
ça é de importância capital, já que o TEDH
O. DIREITOS DAS MINORIAS 469
A SABER
1. A LUTA PELA PROTEÇÃO DOS DIREI- emitiram declarações para a proteção das
TOS DAS MINORIAS: DESENVOLVI- suas minorias. Estes tratados estabelece-
MENTO HISTÓRICO ram o direito a usar a língua da mino-
ria na vida privada e pública, contendo
Podemos facilmente ficar com a impressão também cláusulas de não discriminação.
de que os assuntos de direitos humanos Porém, não existia um quadro específico
relacionados com as minorias constituem de direitos humanos e a ideia de direitos
descobertas recentes e de que são sobre- de grupo era contestada.
tudo uma preocupação nas políticas euro- Assim, depois da Segunda Guerra Mun-
peias. No entanto, um olhar mais atento dial a proteção das minorias foi substituí-
sobre a história do direito internacional da por instrumentos que protegiam os di-
revela um quadro diferente. No início, os reitos humanos individuais e liberdades,
assuntos das minorias estavam proxima- baseados nos princípios da não discri-
mente ligados às liberdades religiosas. O minação e igualdade. A Segunda Guer-
Tratado de Vestefália, de 1648, concedeu ra Mundial marcou o fim dos regimes de
direitos a determinadas – certamente não minorias na Europa Central, suplantados
a todas – minorias religiosas. As liberda- pela ideologia comunista da unidade dos
des na educação de grupos religiosos esta- trabalhadores. As minorias foram pressio-
vam ligadas a direitos religiosos acordados nadas a adaptarem-se à cultura do regime
pelas partes do Tratado. No século XVII, a ideológico dos Estados comunistas. De-
“proteção de minorias” tinha uma relevân- pois dos eventos de 1989 e da consequente
cia especial para as minorias religiosas ao dissolução do Império Soviético, a afilia-
passo que, posteriormente, a atenção mu- ção ou atribuição nacional e étnica come-
dou para as minorias étnicas ou nacionais. çou a desempenhar um papel importante.
O final da Primeira Guerra Mundial, em A identidade nacional e o sentimento de
1918, conduziu à dissolução do Império pertença a um grupo étnico ou nação tor-
Otomano e do Império Habsburgo multi- nou-se, em determinados casos, o veículo
nacional. Na Europa Central, emergiu o para a criação de novos Estados ou para a
princípio da autodeterminação nacional reclamação da independência nacional. A
e foram criadas novas leis para as mino- proteção das minorias e o reconhecimen-
rias. Além disso, celebraram-se tratados to dos seus direitos reemergiu, assim, na
de paz bilaterais e multilaterais, tam- agenda política. A proteção dos direitos
bém com disposições específicas para a das minorias tornou-se uma das condições
proteção das minorias. Depois da Primeira para a obtenção da qualidade de membro
Guerra Mundial, a Sociedade das Nações do Conselho da Europa. A União Europeia
foi incumbida de monitorizar os níveis de exigiu a proteção das minorias como con-
proteção concedidos a grupos minoritá- dição para o estabelecimento de relações
rios. Também alguns Estados, tais como a diplomáticas entre a União e os novos Es-
Finlândia ou a Estónia, em 1921 e 1923, tados.
470 II. MÓDULOS SOBRE QUESTÕES SELECIONADAS DE DIREITOS HUMANOS
European National Minorities-FUEN) apre- os assuntos que lhes digam respeito, tanto
sentou um projeto para uma convenção quanto possível; porém, explicitamente,
sobre direitos de autonomia de grupos não lhes confere soberania estatal.
étnicos, na Europa. Segundo a FUEN, “Au- (Fontes: Thomas Benedikter. 2006. Minori-
tonomia deverá significar um instrumento ties in Europe. Legal Instruments of Minor-
para a proteção das minorias nacionais e ity Protection in Europe - An Overview.;
étnicas que, sem prejuízo da integridade Jan Klabbers. 2009. Self-Determination.;
do território dos Estados Partes, garanta Gabriel Toggenburg, Günther Rautz. 2010.
o mais elevado grau possível de autode- ABC des Minderheitenschutzes in Europa.)
terminação interna e, em simultâneo, um
correspondente mínimo de dependência Deveres do Governo: os Princípios da
da maioria nacional”. De acordo com Não Discriminação, Integração e Medi-
outro conceito, distinguem-se três tipos das Positivas
de autonomia: 1. a autonomia territo- As pessoas pertencentes a minorias são
rial para as regiões em que uma minoria frequentemente discriminadas porque
constitui a maioria da população local; 2. são vistas como “diferentes”. São trata-
a autonomia cultural para as áreas comu- das, em situações comparáveis, sem que
nitárias tradicionais de uma minoria em motivos o justifiquem, de forma menos
que esta minoria não constitui a maioria favorável do que a maioria da população.
da população; e 3. a autonomia local para Estão frequentemente em desvantagem na
as unidades administrativas singulares (ou vida quotidiana, por exemplo, na área da
seja, em comunidades isoladas) em que a educação, quando procuram trabalho ou
minoria constitui a maioria da população habitação, quando vão a bares ou a res-
local. taurantes, na área da saúde, etc. A discri-
Um outro conceito distingue entre dois ti- minação pode ocorrer nas esferas política,
pos de autonomia, nomeadamente, a au- social, cultural ou económica, afetando
tonomia cultural e territorial. O primeiro aqueles que pertencem às minorias, numa
conceito envolve a proteção e a promoção variedade complexa de possibilidades ne-
de línguas, religiões e costumes de uma gativas.
minoria, normalmente não limitada a um Os Estados estão obrigados a respeitar e
território definido e que pode estar dis- a proteger o princípio da não discrimi-
persa em largas distâncias. A autonomia nação. As disposições proibindo a dis-
cultural permite que essa minoria orga- criminação encontram-se em todos os
nize a sua vida política, elegendo os seus documentos internacionais e numerosos
próprios órgãos para a sua autodetermi- documentos regionais de direitos huma-
nação. A autonomia territorial é uma op- nos, tais como a Convenção Europeia dos
ção preferencial sempre que uma minoria Direitos Humanos, a Carta Social Euro-
viva numa área comunitária relativamente peia, a Convenção Quadro para a Prote-
compacta, já que inclui o direito à autoad- ção das Minorias Nacionais do Conselho
ministração, mas também um mínimo de da Europa, o Documento do Encontro de
competências legislativas num determina- Copenhaga da Conferência sobre a Di-
do território. Este tipo de autonomia con- mensão Humana da OSCE, a Convenção
fere às minorias, num território determina- Americana sobre Direitos Humanos (Or-
do, o direito de, por si mesmas, regularem ganização dos Estados Americanos) e a
O. DIREITOS DAS MINORIAS 475
Carta Africana dos Direitos Humanos e tais como as fundadas no sexo, raça,
dos Povos (Organização de Unidade Afri- cor, língua, religião, opiniões políticas
cana, desde 2002 União Africana). A Car- ou outras, a origem nacional ou social,
ta dos Direitos Fundamentais da União a pertença a uma minoria nacional, a ri-
Europeia também proíbe a discriminação queza, o nascimento ou qualquer outra
com base na “pertença a uma minoria na- situação.”
cional”. De acordo com o Relatório da EU-
MIDIS, de 2009, da Agência dos Direitos Artº 14º da Convenção Europeia dos
Fundamentais da União Europeia, persis- Direitos Humanos
tem na Europa, níveis elevados de dis- “É proibida a discriminação em razão,
criminação e de crimes motivados por designadamente, do sexo, raça, cor ou
racismo. Os resultados são alarmantes já origem étnica ou social, características
que a educação e o emprego são geral- genéticas, língua, religião ou convicções,
mente considerados como as áreas chave opiniões políticas ou outras, pertença a
para a integração e a inclusão social. Um uma minoria nacional, riqueza, nasci-
outro resultado alarmante apontado no mento, deficiência, idade ou orientação
Relatório é um índice baixo de relatos das sexual.”
experiências negativas de discriminação.
Artº 21º da Carta dos Direitos Funda-
O mesmo se aplica às vítimas de ataques
mentais da União Europeia
e de ameaças. Isto deve-se a uma falta de
informação dos grupos vulneráveis sobre
a legislação antidiscriminação. O estudo “Existe a necessidade, em todos os Estados,
também revelou que a maior parte dos de terem um campo de ação comum no
inquiridos não acreditava que a denún- que respeita à igualdade e à não discrimi-
cia ou o registo dos atos de discrimina- nação. Isto implica inevitavelmente algum
ção pudesse conduzir a quaisquer conse- grau de integração. [...] A integração deve
quências positivas. ser desenvolvida com base na igualdade,
com todos os grupos a contribuírem com os
Não Discriminação seus valores e culturas para a definição do
campo de ação comum, no qual todos os
“Todos os seres humanos podem invocar membros irão interagir”, tal como referido
os direitos e as liberdades proclamados pelas Nações Unidas, em 1993. O concei-
na presente Declaração, sem distinção al- to de integração enquanto diretriz política
guma, nomeadamente de raça, de cor, de de imigração foi desenvolvido enquanto
sexo, de língua, de religião, de opinião opção alternativa, tanto à assimilação,
política ou outra, de origem nacional ou como à segregação. A assimilação pode
social, de fortuna, de nascimento ou de ser definida como um processo unilateral
qualquer outra situação”. de adaptação ao estilo de vida e sistemas
valorativos da sociedade anfitriã e, conse-
Artº 2º, nº1 da Declaração Universal
quentemente, implica o requisito de que a
dos Direitos Humanos
cultura dominante seja aceite como a su-
“O gozo dos direitos e liberdades reco- perior. As políticas de integração visam a
nhecidos na presente Convenção deve participação e oportunidades iguais para
ser assegurado sem quaisquer distinções, pessoas pertencentes a minorias e para
476 II. MÓDULOS SOBRE QUESTÕES SELECIONADAS DE DIREITOS HUMANOS
imigrantes. Partindo desta perspetiva, é vi- posição foi adotada pelo Alto Comissa-
tal promover todas as áreas de integração riado das Nações Unidas para os Direitos
social, incluindo o mercado de trabalho, a Humanos: “As diferenças no tratamento
educação, a vertente cultural, assim como destes grupos, ou indivíduos a estes per-
a integração jurídica. Outro aspeto central tencentes, justificam-se se forem realiza-
é a participação na vida pública, através das para promover a igualdade efetiva
de determinados direitos e deveres civis. e o bem-estar da comunidade como um
(Fonte: United Nations. 1993. Possible todo. Este tipo de ação afirmativa pode
ways and means of facilitating the peace- ter de ser mantido durante um período
ful and constructive solution of problems de tempo prolongado, de forma a permi-
involving minorities.) tir que os grupos de minorias beneficiem
de um posicionamento equitativo com a
São necessárias ações positivas para maioria.”
compensar as desvantagens históricas
das minorias e proteger e promovê-las Não Discriminação
ativamente, bem como a sua cultura úni-
ca. As pessoas que pertençam às mino- Instrumentos Internacionais
rias têm de ter a oportunidade de contri- de Direitos Humanos
buírem para uma sociedade culturalmen- para a Proteção
te diversa. das Minorias
Muitos instrumentos de direitos huma-
“A proteção das minorias inclui tanto a nos internacionais e regionais estabe-
proteção da discriminação como a proteção lecem direitos especiais para a proteção
contra a assimilação.” de pessoas pertencentes às minorias. A
John Humphries. disposição chave no ordenamento jurídi-
co internacional dos direitos humanos é o
Originalmente, considerava-se que a im- artº 27º do Pacto Internacional sobre Di-
plementação eficaz do princípio da não reitos Civis e Políticos (PIDCP), que refere
discriminação iria tornar as disposições o seguinte: “Nos Estados em que existam
especiais para os direitos das minorias minorias étnicas, religiosas ou linguísticas,
redundantes. Porém, muito rapidamen- as pessoas pertencentes a essas minorias
te se tornou óbvio que a proteção dos não devem ser privadas do direito de ter,
indivíduos contra a discriminação não em comum com os outros membros do seu
era suficiente para proteção e a promo- grupo, a sua própria vida cultural, de pro-
ção eficazes das minorias. São neces- fessar e de praticar a sua própria religião
sárias medidas ativas para proteger e ou de empregar a sua própria língua.”.
promover as minorias. Estes direitos Este artigo constitui a disposição vincula-
“especiais” não são privilégios; de fac- tiva mais amplamente aceite para a pro-
to, pretendem dar aos membros das mi- teção e promoção das minorias. Garante
norias a possibilidade de alcançarem as aos membros das minorias o direito à
mesmas condições de vida que a maio- identidade nacional, étnica, religiosa ou
ria da população. Além disso, os direitos linguística (ou uma combinação destas)
das minorias devem garantir às minorias e o direito a preservar as características
a preservação da sua identidade. Esta que pretendam manter e desenvolver. É
O. DIREITOS DAS MINORIAS 477
das minorias. No que respeita aos casos que os instrumentos de direitos humanos
de discriminação, NÓS devemos saber e tratados internacionais têm, desde há
qual a autoridade pública a quem pode- tanto tempo, tentado proteger”.
mos contactar e como tratar as viola- Acima de tudo, é especialmente impor-
ções de direitos humanos, especialmen- tante que os formadores de direitos hu-
te as violações dos direitos das minorias. manos levem as lições dos direitos hu-
O que NÓS podemos fazer é tornar pú- manos e direitos das minorias não ape-
blicas as violações dos direitos das mi- nas ao público em geral e aos funcioná-
norias, ao chamar a atenção dos meios rios governamentais, mas especialmente
de informação, tribunais e autoridades às próprias pessoas pertencentes às
competentes nacionais e internacionais, minorias. Desta forma, elas podem rei-
bem como das Nações Unidas ou ONG vindicar os seus direitos, apesar dos
relevantes. Assim, NÓS podemos procu- desafios potenciais colocados pela maio-
rar a reparação jurídica das violações ria da população que pode ser insensível
dos direitos das minorias. Deste modo, aos seus interesses legítimos.
a educação para os direitos humanos e
(Fontes: Claudia Mahler, Anja Mihr,
o compromisso de cada um de nós são
Reetta Touvanen (eds.). 2009. The Unit-
ferramentas excelentes para se apoiar os
ed Nations Decade for Human Rights
grupos minoritários.
Education and the Inclusion of National
Tal como refere Theodore Orlin, “De- Minorities.; Theodore Orlin. 2009. Mi-
vemos converter a retórica do direito norities and Human Rights Education.
internacional dos direitos humanos Human Rights Law as a Paradigm for the
numa realidade prática, em que, nas Protection and Advancement of Minority
relações de uns com os outros, pratique- Education in Europe.)
mos as exigências do direito dos direi-
tos humanos, de propiciar a dignidade
Direito à Educação
CONVÉM SABER
balha conjuntamente, em particular, com
1. BOAS PRÁTICAS comunidades de minorias, realizando ini-
ciativas de educação e de formação, sobre
Grupo Internacional de Direitos das Mi- como estas comunidades podem fazer uso
norias - GDM (Minority Rights Group In- dos seus direitos. A organização também
ternational) exerce pressão sobre governos e sobre as
O GDM é uma das ONG mais importan- Nações Unidas em prol das minorias. Tam-
tes no campo da proteção das minorias. bém publica relatórios científicos sobre
A organização visa assegurar, em todo o assuntos relacionados com as minorias.
mundo, os direitos das pessoas perten- Desta forma, a organização procura que
centes a minorias e povos indígenas. Tra- as minorias e os povos indígenas, estan-
O. DIREITOS DAS MINORIAS 489
ATIVIDADES SELECIONADAS
ATIVIDADE I: nação, especialmente contra as minorias.
CONFRONTAÇÃO ENTRE Os grupos que sofrem discriminação in-
PRECONCEITOS E DISCRIMINAÇÃO cluem as minorias étnicas, linguísticas,
religiosas e outras. O preconceito e a ig-
Parte I: Introdução norância promovem a desumanização
A identificação dos preconceitos, da dis- das minorias étnicas e protegem e apoiam
criminação, do racismo, do sexismo e do muitas formas de discriminação.
etnocentrismo constitui uma parte impor-
tante da educação para os direitos huma- Parte II: Informação Geral
nos. Estas formas de exclusão moral são Tipo de atividade: debate em grupo
manifestações fundamentais do problema Metas e objetivos: reflexão sobre o proces-
central da negação da dignidade humana, so e caraterísticas da discriminação e as
resultando em diversos tipos de discrimi- suas origens no preconceito, identificando
O. DIREITOS DAS MINORIAS 493
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HISTÓRIAS ILUSTRATIVAS
Através do Olhar dos Refugiados a cidade em 2010, depois de militantes o
terem tentado matar. Ela fugiu de camião
“O meu nome é Zamzam M. Deg Ahmed. Te- com os seus filhos, em novembro, sobrevi-
nho 38 anos e estou deslocada de minha casa. vendo a um assalto durante a viagem. Vive
Fugi de Mogadishu, na Somália. Posso falar agora num bairro de barracas nos subúr-
sobre a situação das mulheres: é muito difícil. bios da cidade do norte de Galkayo.
Os maridos ou filhos das mulheres Somalis (Fonte: UNHCR. 2011. Story Telling:
em Mogadishu…ou morreram ou foram for- Through the Eyes of Refugees.)
çados a fugir e a abandonar as suas famílias.
A última vez que eu vi o meu marido foi há “O meu nome é Lucy Juah. Sou refugiada
12 meses. Enquanto dormíamos, pessoas com no Quénia. Cheguei ao Quénia em 1992.
máscaras entraram na nossa casa à procura Fugi do Sudão devido à guerra civil que de-
dele. Não o encontraram. Ele estava escondido corre há 21 anos. A pior memória que te-
debaixo da cama. Depois de saírem, ele saiu nho é, ainda em Juba, do SPLM, a que cha-
de casa. Foi a última vez que o vi. Fugimos mamos os rebeldes – quando estávamos no
de manhã cedo, após as orações. Já na estra- Sudão chamávamos-lhes de rebeldes –, a
da, homens mascarados disparam contra nós, bombardear a cidade e das bombas, quan-
pararam o camião e levaram-nos para os ar- do caíam, a cortar tudo à sua volta. Vi uma
bustos. Disseram a todos nós para descermos mulher grávida a ficar cortada em pedaços
e deixarmos tudo. Eu estava preocupada pela devido a uma partícula.
minha filha. Ela tem 14 anos e eu estava com Foi muito doloroso deixar o meu país por-
medo que a violassem. Não pode imaginar o que não sabia para onde ia. Não conhecia
meu medo, até as crianças choraram. o meu destino. Ia simplesmente. De certa
Agora que chegamos a um lugar pacífico, forma também me senti bem pois estava
gostava de encontrar trabalho e que as a deixar algo. Estava a deixar aquela área
crianças continuassem a educação delas. terrível, com destino a um local mais se-
Estou preocupada com o futuro dos meus guro.
filhos, como irão crescer, tomar conta deles Foi muito difícil chegar a um local cuja lín-
próprios e sustentar-me. É nisto que penso gua desconhecia. Ao acordarmos, de ma-
quando tento adormecer. nhã, ninguém nos cumprimentava, como
Lembro-me de muitas coisas, terríveis, a no Sudão. No Sudão, se encontramos al-
perda da nação…a insegurança…os proble- guém no caminho, eles cumprimentam-
mas com que se defrontaram as mulheres… nos. Mas quando cheguei ao Quénia era
a fuga e a deslocação. Qualquer pessoa fi- um pouco diferente. Nós estávamos em
caria perturbada com esta situação. Estou casa com a porta sempre fechada. Não vía-
muito perturbada com os problemas na So- mos ninguém.
mália. Quem não estaria?” Zamzam M. Deg No dia em que o Sudão se tornou inde-
Ahmed, de 38 anos, é mãe de dez crianças, pendente, pensei que a nossa vida poderia
de Mogadishu, na Somália, que vendia ali- mudar, sei que poderei regressar ao Sudão,
mentos secos no mercado principal para poderei construir a minha casa porque, da
sustentar a família. O seu marido deixou forma como estava a ser assediada, todos
P. DIREITO AO ASILO 503
os meses tinha de pagar uma renda da civil do Sudão, em 1992, para o Quénia,
casa. Isto foi a primeira coisa que me veio onde tem estado a trabalhar como peque-
à mente. Temos terra suficiente que está na empresária e a cuidar de uma família
simplesmente inutilizada. Quero regressar com cinco filhos. Após a votação sobre a
porque somos milhares de mulheres Suda- independência do Sul do Sudão, em julho
nesas que nada sabem. Elas sabem, mas é de 2011, ela decidiu regressar a Juba com
muito difícil implementar. Sinto que quero o seu marido. Deixou para trás os seus fi-
regressar ao Sudão. Vamos e partilharemos lhos, em Nairobi, ao cuidado da filha mais
as nossas ideias com as nossas irmãs, com velha, até que terminem a educação.
as mulheres que deixei para trás, partilha- (Fonte: UNHCR. 2011. Story Telling:
remos ideias. Trabalharemos juntas de for- Through the Eyes of Refugees.)
ma a podermos fazer algo que possa aju-
dar a nação.
Será um pouco assustador para mim deixar Questões para debate
os meus filhos no Quénia e ir para o Sudão, 1. Por que é que Zamzam e Lucy deixaram
devido a muitas coisas que têm acontecido os seus países? Fizeram-no voluntaria-
no Quénia, por estes dias. Até os adultos mente?
estão a ser raptados, as crianças, crianças 2. O que lhes poderia ter acontecido e às
com menos de seis anos a ser violadas. Vou suas famílias se não tivessem fugido?
ficar um pouco preocupada, estarei a todo 3. Quais os direitos humanos que são,
o momento a pensar nos meus filhos, se com grande probabilidade, violados em
estarão em segurança. tempo de guerra?
Escrevi ao meu marido. Disse-lhe que, já
que veio a paz, um dia gostaria de vê-lo “Com o meu marido morto e com o nosso
sentado debaixo de uma grande árvore a modo de vida na Somália destruído, senti
olhar para os nossos netos a correr, à volta que nada mais tinha a perder. As minhas
do lugar. A casa que construímos... estarei únicas expetativas são as de conseguir um
lá sentada com o meu marido debaixo da abrigo, água e segurança.”
nossa grande árvore e a olhar pelos nossos Sara, 57, refugiada de Sirko na Somália, numa en-
netos. Sinto que a minha vida irá mudar.” trevista com os Médecins sans Frontières. 2011.
Lucy Juah, de 39 anos, fugiu da guerra
A SABER
1. INTRODUÇÃO do mundo. Os números apontados pelo
Alto Comissariado das Nações Unidas
O mundo permanece extremamente inse- para os Refugiados (ACNUR), desde o final
guro para milhões de indivíduos. Estima- de 2011, demonstram que destes, 15.2 mi-
se que 42.5 milhões de pessoas estejam lhões de pessoas são refugiados, 895.000
presentemente deslocadas à força, por são requerentes de asilo e 26.4 milhões
todo o mundo, como resultado de confli- são pessoas deslocadas internas (PDI). No
tos antigos ou novos, em partes diferentes final de 2011, 25.9 milhões de pessoas –
504 II. MÓDULOS SOBRE QUESTÕES SELECIONADAS DE DIREITOS HUMANOS
de ser expulsa para o seu país de origem. caso de não conseguirem o estatuto inte-
O direito ao respeito da vida privada e da gral de refugiados, nos termos da Conven-
vida familiar pode fazer com que a ex- ção de Genebra dos Refugiados.
pulsão da pessoa seja inaceitável à luz da
Convenção de Genebra. Proibição da Tortura
lamentos que promulguem para assegu- que Rege os Aspetos Específicos dos Pro-
rar a aplicação da Convenção (artº 36º blemas dos Refugiados em África (Con-
da Convenção). vention Governing the Specific Aspects of
Refugee Problems in Africa), de 1969, e a
A Convenção e o Protocolo de 1967 pre- Declaração de Cartagena, de 1984, adota-
vêem que os Estados cooperem com o da por um grupo de Estados Latino-Ame-
ACNUR no exercício das suas funções e ricanos.
que ajudem o ACNUR a supervisionar
a implementação das normas da Con- O Papel do Tribunal Europeu dos Direi-
venção. tos Humanos
Os Estados Partes também devem dispo- O Tribunal Europeu dos Direitos Humanos
nibilizar ao ACNUR as informações e da- (TEDH) é o tribunal do sistema de direitos
dos estatísticos pedidos, no respeitante: humanos do Conselho da Europa. Desem-
• à condição dos refugiados, penha um papel de capital importância na
proteção dos direitos humanos dos reque-
• à implementação da Convenção e do
rentes de asilo. Primeiro, decide sobre a
seu Protocolo de 1967, e
aplicação do artº 3º da Convenção Euro-
• às leis, regulamentos e decretos rela- peia dos Direitos Humanos (CEDH), isto
cionados com os refugiados que este- é, sobre a proibição da tortura e penas ou
jam ou possam vir a estar em vigor. tratamentos desumanos ou degradantes,
no respeitante aos procedimentos de de-
Assim, coloca-se um peso específico na portação e ao princípio de não repulsão
interpretação da Convenção, pelo ACNUR. (non refoulement). A deportação é proibi-
da se uma pessoa ao regressar ao seu país
O Pacto Internacional sobre os Direitos Ci- de origem ficar sujeita à tortura. A decisão
vis e Políticos (PIDCP) não inclui normas de referência respeitante a esta questão é o
explícitas sobre o direito ao asilo. Porém, processo Soering c. Reino Unido, em 1989.
os artos 6º e 7º do Pacto aplicam-se rela- O artº 8º (sobre o direito à privacidade e
tivamente ao princípio da não repulsão à vida familiar) também é muito impor-
(non-refoulement). Assim, a violação des- tante para os requerentes de asilo. Estes
tas normas, relevantes para o direito ao podem também recorrer ao Tribunal com
asilo, encontra-se sujeita aos mecanismos base neste artigo, se a sua vida familiar
de monitorização do PIDCP. tiver sido desrespeitada por decisões rela-
cionadas com o processo de asilo ou de
Instrumentos Regionais deportação pendente.
Para além da Convenção de Genebra dos Só se pode apresentar queixas junto do
Refugiados, existem instrumentos regio- Tribunal Europeu dos Direitos Humanos
nais para a proteção de refugiados (por quando tiverem sido esgotados todos os
ex., os princípios de Bangkok sobre o mecanismos internos de proteção e apenas
Estatuto e Tratamento de Refugiados, no prazo de seis meses após a decisão in-
adotados no Comité Jurídico Consultivo terna final, no Estado.
Afro-Asiático (Asian-African Legal Con-
sultative Committee), de 1966, a Conven- Com a adesão esperada da União Eu-
ção da Organização de Unidade Africana ropeia à CEDH, também as instituições
512 II. MÓDULOS SOBRE QUESTÕES SELECIONADAS DE DIREITOS HUMANOS
CONVÉM SABER
1. BOAS PRÁTICAS RefWorld
A Refworld é uma das fontes de informa-
Esquema de Reunificação Familiar ção mais importantes para as decisões
Uma das funções mais importantes do Co- sobre o estatuto de refugiado. A Refworld
mité Internacional da Cruz Vermelha contém um grande número de relatórios
(CICV), em conjunto com as Sociedades sobre os países de origem, documentos de
Nacionais da Cruz Vermelha e do Crescente diretrizes e posições políticas e documen-
Vermelho, é ajudar na reunificação de famí- tos relacionados com quadros jurídicos
lias separadas devido a conflitos ou desas- internacionais e nacionais. A informação
tres naturais. Durantes estas crises, as famí- é recolhida pelo ACNUR e pelas suas re-
lias podem ficar imediatamente separadas, presentações no terreno, governos e ONG,
nalguns casos, durantes anos. O CICV tra- assim como por entidades académicas e
balha no sentido de se descobrir o paradeiro judiciais.
de familiares e, uma vez descobertos, atua
como intermediário no processo de troca de
mensagens entre eles e ajuda na eventual Emancipação dos Refugiados
reunificação. A Agência Central de Rastrea- O Projeto de Emancipação de Refugiados
mento (Central Tracing Agency) do CICV é um projeto iniciado por requerentes de
também ajuda os Estados participantes em asilo na Alemanha. Pretende usar a inter-
conflitos armados a respeitarem as suas net como uma ferramenta para ligar os re-
obrigações de direito internacional humani- fugiados a outras pessoas, nos seus países
tário, exigindo às autoridades do Estado que de origem e por todo o lado, para reduzir o
façam tudo o que for possível para ajudar seu isolamento. Neste contexto, o projeto
os familiares separados devido ao conflito. organiza seminários e cursos e disponibi-
Esta obrigação fundamenta-se nos direitos liza informações de sensibilização. Para
reconhecidos internacionalmente, relaciona- além do fórum de conversações online,
dos com a proibição dos desaparecimentos também se editam, no website, histórias
forçados, e no direito a ser informado sobre pessoais. Desta forma, pode melhorar-se a
o destino dos familiares desaparecidos. qualidade de vida dos refugiados na Ale-
manha, simplesmente através da comu-
Direitos Humanos em Conflito nicação com outros a viverem situações
Armado semelhantes.
P. DIREITO AO ASILO 513
recebeu 6.555 chegadas marítimas irre- refugiado de Sirko, na Somália disse: “Eu
gulares, porém, muitos não conseguiram cheguei ontem à noite. Vim para cá com
atingir o continente tendo sido interceta- a minha mãe, mulher e as nossas cinco
dos pelos militares, ficando detidos em crianças. Não trouxemos nada connosco a
centros de processamento offshore. Em não ser as roupas que tínhamos vestidas.
dezembro de 2010, 50 viajantes morreram Estamos no abrigo da minha irmã, com
após a embarcação se ter despenhado con- a sua família de oito, enquanto aguarda-
tra rochas, na Ilha Natal na Austrália. mos encontrar o nosso local para viver-
(Fontes: Navi Pillay. 2009. Migrants at sea mos. No momento, dependemos da minha
are not toxic cargo.; UNHCR. 2009. Irre- irmã para tudo. Eles estão a partilhar as
gular Migration by Sea: Frequently Asked suas rações connosco, para que possamos
Questions.) comer.” Uma enfermeira dos Médecins
Sans Frontières disse: “Estas pessoas estão
Dadaab, o Maior Campo de Refugiados a sobreviver com o mínimo com que um
do Mundo ser humano pode sobreviver”.
O campo de refugiados de Dadaab, no (Fonte: Médecins Sans Frontières (MSF).
Quénia, foi estabelecido há 20 anos para 2011. No way in. The biggest refugee camp
abrigar refugiados que fugiam da vio- in the world is full.)
lência e guerra civil na Somália. Com o
conflito ainda em curso, Dadaab tornou- O Racismo e a Xenofobia em relação aos
se no maior complexo de refugiados do Migrantes, Refugiados e Requerentes de
mundo, albergando 500.000 pessoas. Foi Asilo
estabelecido para albergar até 90.000 pes- Em muitos países anfitriões, os migran-
soas, sendo que as condições básicas, no- tes, assim como os refugiados e reque-
meadamente os abrigos, água, condições rentes de asilo são confrontados com
sanitárias, educação e proteção para to- racismo, xenofobia e alegações de uso
das as pessoas a viverem no campo e de- incorreto do direito de asilo. Estas ati-
serto circundante, encontram-se a dimi- tudes xenofóbicas e de paranoia da so-
nuir. “A vida em Dadaab é muito difícil: ciedade são exacerbadas pelos meios de
somos dependentes do ACNUR para tudo. informação e políticos populistas ou ra-
A comida aqui não chega. Existe uma cri- cistas, o que resulta em leis e políticas de
se de água, ninguém tem água suficiente. migração e asilo mais restritivas, igno-
Recebemos apenas quatro contentores de rando ou mesmo violando as obrigações
água por família por dia, para tomarmos e compromissos de direitos humanos
banho, lavarmos a roupa, lavarmos os internacionais, de proteção efetiva das
utensílios, cozinharmos e para bebermos. pessoas da perseguição.
Todos necessitam de assistência e não a
conseguem”, disse Anfi, de 25 anos, re- Antirracismo e Não Discrimina-
fugiado de Kismayo na Somália, vivendo ção
em Dadaab, desde os seis anos de idade.
Para além da violência e das dificuldades, Distribuição Justa das Responsabilida-
os longos períodos de chuva intensa des- des
troem os abrigos de muitas pessoas e os Um relatório do ACNUR revela um pro-
mantimentos de comida. Hassan, de 39, fundo desequilíbrio no apoio internacio-
P. DIREITO AO ASILO 515
ATIVIDADES SELECIONADAS
1. APPELLIDO
2. PRIMER NOMBRE
3. FECHA DE NACIMIENTO
4. PAIS, CIUDAD DE RESIDENCIA
5. OU GENYEN FANMI NE ETAZINI?
6. KISA YO YE POU WOU
7. KI PAPYE IMAGRASYON FANMI OU YO
GENYEN ISIT?
8. ESKE OU ANSENT?
9. ESKE OU GEN AVOKA?
10. OU JAM AL NAHOKEN JYMAN
(Fonte: David Donahue, Nancy Flowers. 1995. The Uprooted: Refugees and the United
States.)
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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ning and Research Centre for Human Ri- Publishers.
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De Vinuesa, Belén García. 2003. Building wing refugee status. Available at: http://
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Julia González (eds.). Immigration in Eu- N:PDF
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bao: University of Deusto, pp. 41-47. Goodwin-Gill, Mc Adam. 2009. The Refu-
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Donahue, David and Nancy Flowers. University Press.
1995. The Uprooted: Refugees and the Uni-
P. DIREITO AO ASILO 519
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men and Children. 2008. Disabilities msf.org
among Refugees and Conflict-Affected Po-
pulations. Resource Kit for Fieldworkers. Office of the United Nations High Com-
New York: Women’s Commission for Re- missioner for Human Rights (OHCHR):
fugee Women and Children. Available at: www.ohchr.org
womensrefugeecommission.org/docs/di-
sab_res_kit.pdf Refugees Emancipation: www.refugeese-
mancipation.com
“1. Todas as pessoas têm o direito a saber, procurar e receber informações sobre todos os
direitos humanos e as liberdades fundamentais e devem ter acesso à educação e formação
em matéria de direitos humanos.
2. A educação e a formação em matéria de direitos humanos são essenciais para a pro-
moção do respeito universal e efetivo de todos os direitos humanos e as liberdades fun-
damentais de todas as pessoas, em conformidade com os princípios de universalidade,
indivisibilidade e interdependência dos direitos humanos. […]”
Artigo 1º da Declaração das Nações Unidas sobre Educação e Formação para os Direitos Humanos. 2012.
522 III. RECURSOS ADICIONAIS
Métodos para
Métodos baseados Métodos participa- Métodos de resolu-
aquecimento
na experiência tivos/interativos ção de conflitos
e descontração
Métodos Análise e métodos de
MÉTODOS
de apresentação interpretação
DA EDUCAÇÃO PARA
Métodos criativos OS DIREITOS HUMANOS Métodos de ação
Métodos apoiados
Métodos pelos meios
Métodos Métodos
de análise/pes- informáticos
de recolha de dados de conclusão
quisa e pelos meios de
informação
(Fonte: Traduzido e adaptado de: Vedrana Spaji-Vrkaš et al. 2004. Pouavanje prava i
sloboda. Prirunik za uitelje osnovne škole s vježbama za razrednu nastavu. Zagreb: FF-
press, 157.)
As principais características de cada méto- fazer com que estas se sintam bem-
do estão listadas em baixo e são acompa- vindas. Se for necessário, use o cha-
nhadas de outras dicas úteis sobre métodos mado “quebra-gelo”, uma atividade
que pretendem auxiliar os facilitadores a que ajude os participantes a conhece-
desenvolverem uma abordagem criativa e rem um pouco uns dos outros e a fica-
inovadora aos complexos problemas apre- rem mais à vontade ao se expressarem
sentados em cada atividade. no grupo:
- Natureza morta em grupo: cada
• Métodos para Aquecimento/Quebra- pessoa traz um objeto de casa com
gelo/Descontração significado, para contribuir para uma
Para começar uma atividade, faça com exposição, como forma de apresentar
que as pessoas se apresentem e tente algo importante para si.
530 III. RECURSOS ADICIONAIS
• Métodos Apoiados pelos Meios Infor- nham pensado inicialmente? Quais foram os
máticos e pelos Meios de Informação aspetos mais complicados ou os factos mais
Os métodos apoiados pelos meios in- difíceis de representar? Será que as pessoas
formáticos e pelos meios de informação aprenderam algo de novo sobre os direitos
consistem na realização de pesquisas humanos? Onde estavam as semelhanças e
através da internet, estabelecimento as diferenças no/s grupo/s? Houve opiniões
de contatos (networking), participação discordantes fundamentais sobre o conceito
em blogs, realização de debates nos fó- dos direitos humanos? Porquê?
runs dos meios de informação, etc. Ao tecer comentários, é importante res-
peitar os outros, centrar-se no que estes
• Métodos de Conclusão disseram ou fizeram e justificar o ponto
É importante terminar uma atividade no de vista apresentado. De modo a estimular
tom adequado. Em particular, os parti- os educandos, poderá utilizar uma das se-
cipantes precisam de uma oportunida- guintes formas de obter comentários:
de para sumariarem o que aprenderam, - Caixa de opiniões: cada participante es-
individual e coletivamente. Em geral, o creve a sua opinião sobre a atividade num
modo de concluir depende, em grande papel e coloca-a numa caixa. Depois, cada
parte, dos objetivos e do conteúdo da um tira um papel e lê-o em voz alta; o gru-
atividade. Aqui ficam algumas ideias de po todo debate sobre a opinião dada.
métodos de conclusão: - Siga, estou a ouvir: cada participante
- Passar a bola: os participantes pas- tem 5 minutos para dizer aos ouvintes a
sam uma bola de uns para os outros. sua opinião sobre a atividade.
Quem apanhar a bola diz uma coisa - Máquina de pessoas: todos os participan-
que tenha aprendido ou que possa tes formam um círculo, dando as mãos e
vir a utilizar, a partir da sessão; uma pessoa começa com algo de que gos-
- Resumo coletivo: os participantes tou ou não gostou. A pessoa que está ao
respondem, à vez, a uma pergunta lado repete esta opinião, concorda ou não
de resumo ou a uma afirmação com e depois dá a opinião sobre outra coisa.
um fim aberto. - Informação meteorológica: os partici-
- Diapositivos: o facilitador mostra fo- pantes descrevem a sua opinião sobre
tografias que tirou durante a sessão; a atividade como se apresentassem um
como reflexão sobre a atividade, cada boletim meteorológico.
participante faz um breve comentário - A Mão: os participantes apresentam
sobre o seu contributo, o que sentiu comentários oralmente, usando os seus
antes, durante e depois da sessão. dedos para recordar cinco assuntos a
ser referidos: o polegar representa o que
Tecer Comentários/Partilhar Reações (Gi- foi bom, o indicativo aponta para algo,
ving Feedback) é uma parte essencial de o dedo do meio representa o que não
toda a atividade. Existem várias formas de gostaram, o dedo anelar representa o
obter comentários e de os partilhar com os que foi emocionante e o dedo mindinho
participantes. Assim, os facilitadores devem representa o que ficou esquecido.
perguntar-se a si mesmos o seguinte: como - Semáforo: os participantes mostram
se sentiram as pessoas quanto a esta ativida- um cartão verde, amarelo ou vermelho
de? Foi mais ou menos difícil do que eles ti- de acordo com os comentários que que-
534 III. RECURSOS ADICIONAIS
rem apresentar e explicam os motivos reitos de todos. Não se trata tanto daquilo
para a cor escolhida. que fazemos mas a maneira como agimos.
- Acerte no alvo: o educador desenha um Os direitos humanos são altamente ins-
alvo num quadro e pede aos educandos piradores e práticos, representam as es-
para avaliarem a atividade colocando peranças e os ideais da maioria dos seres
pontos no alvo. Depois, os educandos humanos e empoderam as pessoas para os
têm a possibilidade de explicar. alcançar. A educação para os direitos hu-
- Uma carta a mim próprio: cada partici- manos partilha esses aspetos inspiradores
pante redige uma carta a si mesmo/a a e práticos. Estabelece normas mas tam-
resumir os resultados do curso e a fazer bém traz mudanças.
um compromisso concreto para a im-
plementação dos direitos humanos na A educação para os direitos humanos
sua vida ou trabalho. O facilitador reco- pode:
lhe todas as cartas e, após dois meses,
• modificar valores e atitudes;
envia-as aos participantes.
• modificar comportamentos;
4. PORQUÊ A EDUCAÇÃO • potenciar a justiça social;
PARA OS DIREITOS HUMANOS?
• ajudar a desenvolver atitudes de soli-
dariedade em assuntos, comunidades
A educação e aprendizagem para os direi-
e nações;
tos humanos é essencial para uma cida-
dania ativa numa sociedade democrática • ajudar a desenvolver conhecimentos e
e pluralista. Cidadãos ativos e responsá- capacidades analíticas; e
veis precisam de ser capazes de pensar • fomentar a educação participativa.
criticamente, fazer escolhas morais, tomar
posições de princípio sobre assuntos e O livro “Compreender os Direitos Huma-
planear rumos de ação democráticos. Só nos” pretende contribuir para o atual de-
os humanos que compreendam os direi- bate sobre a educação para os direitos hu-
tos humanos trabalharão para garantir e manos, tanto a nível do conteúdo, como da
defender os seus direitos e os dos outros. forma e, também, para o processo de cons-
Todavia, para estar envolvido desta forma, trução, a nível mundial, de uma cultura
é necessário estar informado. A educação genuína dos direitos humanos. A nossa
eficaz para os direitos humanos tem dois intenção é ajudar os educandos a adquirir
objetivos essenciais: aprender SOBRE os conhecimentos, bem como competências
direitos humanos e aprender PARA os para que assumam o controlo das suas
direitos humanos. Aprender sobre direi- vidas. Acreditamos que compreender os
tos humanos é um processo essencialmen- direitos humanos, um processo no qual a
te cognitivo, incluindo a história dos di- educação para os direitos humanos tem um
reitos humanos, documentos neste âmbito papel primordial, significa empoderamento
e mecanismos de implementação. A edu- e uma melhor vida para muitos. Só o res-
cação para os direitos humanos significa peito pelos princípios dos direitos humanos
compreender e fazer nossos os princípios na sua própria vida pode, finalmente, fixar
da igualdade e da dignidade humana e o as bases para uma existência comum e o
compromisso de respeitar e proteger os di- respeito pelos direitos dos outros.
B. A LUTA GLOBAL E CONTÍNUA PELOS DIREITOS HUMANOS – CRONOLOGIA 535
CONFERÊNCIAS,
LUTAS E EVENTOS
DOCUMENTOS INSTITUIÇÕES
HISTÓRICOS
E DECLARAÇÕES
Até ao Século XVII
Muitos textos religiosos Códigos de Conduta – Me-
acentuam a importância da nes, Asoka, Hammurabi,
igualdade, dignidade e res- Draco, Cyrus, Moisés, Solo
ponsabilidade para ajudar e Manu
os outros 1215 Magna Carta assina-
Há mais de 3000 anos, as da, reconhecendo que mes-
Vedas, Agamas e Upanisha- mo um soberano não está
ds dos Hindus; a bíblia Ju- acima da lei
daica: a Tora 1625 Ao jurista holandês
Há 2500 anos, a Tripitaka e Hugo Grotius é atribuído o
a Anguttara-Nikaya Budis- nascimento do direito inter-
tas e os Analectos de Con- nacional
fúcio, Doutrina do Meio e 1690 John Locke desenvol-
Grande Ensinamento ve a ideia dos direitos na-
Há 2000 anos, o Novo Tes- turais no Segundo Tratado
tamento Cristão e, 600 anos sobre o Governo
depois, o Corão Islâmico 1776 Bill of Rights (Declara-
ção de Direitos) da Virgínia
1789 Bill of Rights: Emen-
das I-X à Constituição dos
Estados Unidos da América
Séculos XVIII-XIX
1789 A Revolução Francesa 1792 Mary Wollstonecraft, 1809 O ombudsman (pro-
e a Declaração dos Direitos A Vindication of the Rights vedor de justiça) é estabe-
do Homem e do Cidadão of Woman (A Reivindicação lecido na Suécia
1815 Revoltas de escravos na dos Direitos da Mulher) 1815 Comité sobre o Co-
América Latina e em França 1860s No Irão, Mirza Fath mércio Internacional de Es-
1830s Movimentos pelos Ali Akhundzade, e na Chi- cravos, na Conferência de
direitos económicos e so- na, Tan Sitong, defendem a Viena
ciais – Ramakrishna na Ín- igualdade de género
dia, movimentos religiosos
no Ocidente
536 III. RECURSOS ADICIONAIS
1840 Na Irlanda, o Movi- 1860s O periódico “La Ca- 1839 Sociedade Anti-Es-
mento Cartista exige o su- mélia” de Rosa Guerra de- cravatura na Grã-Bretanha,
frágio universal e os direi- fende a igualdade das mu- seguida, nos anos de 1860,
tos dos trabalhadores e dos lheres na América Latina pela Confederação Aboli-
pobres 1860s No Japão, Toshiko cionista no Brasil
1847 Revolução Liberiana Kishida publica o ensaio 1863 Comité Internacional
1861 Libertação da servi- intitulado “I Tell You, My da Cruz Vermelha
dão na Rússia Fellow Sisters” 1864 International Working
1860-80 Mais de 50 trata- Men’s Association
dos bilaterais sobre a abo- 1898 Liga dos Direitos Hu-
lição do comércio de escra- manos, uma ONG, em res-
vos, em todas as regiões posta ao Caso Dreyfus
1900-1929
1900-15 Povos colonizados 1900 Primeiro Congresso 1902 Aliança Internacional
insurgem-se contra o impe- Pan-Africano em Londres para o Sufrágio e Igual Ci-
rialismo na Ásia e na África 1906 Convenção interna- dadania
1905 Movimentos de traba- cional proibindo o trabalho 1905 Sindicatos formam fe-
lhadores na Europa, Índia noturno de mulheres com derações internacionais
e nos Estados Unidos; em emprego em indústrias 1910 Sindicato Interna-
Moscovo, 300.000 trabalha- 1907 Conferência Centro- tional Ladies‘ Garment
dores manifestam-se Americana da Paz prevê o Workers‘ Union
1910 Camponeses mobili- direito dos estrangeiros a 1919 Sociedade das Nações
zam-se pelo direito às ter- recorrer aos tribunais do e Tribunal Internacional de
ras, no México local onde residam Justiça
1914-18 Primeira Guerra 1916 Alusão à autodetermi- 1919 Organização Interna-
Mundial nação em O Imperialismo, cional do Trabalho (OIT),
1914 Continuam os movi- Fase Superior do Capitalis- para defender a incorpora-
mentos pela Independência mo, de Lenine ção dos direitos humanos
e motins na Europa, África 1918 Alusão à autodetermi- no direito laboral
e Ásia nação em Fourteen Points 1919 Liga Internacional de
1915 Massacres dos Armé- (Catorze Pontos), de Wil- Mulheres para a Paz e a Li-
nios pelos Turcos son berdade
1917 Revolução Russa 1919 O Tratado de Versa- 1919 ONG dedicadas aos
1919 Protestos generaliza- lhes acentua o direito à au- direitos das mulheres co-
dos contra a exclusão da todeterminação e os direi- meçam a mencionar os
igualdade “racial” do Pacto tos das minorias direitos das crianças; Save
da Sociedade das Nações 1919 Congresso Pan-Africa- the Children (Reino Unido)
1920s Começam campa- no exige o direito à autode- 1920s Congresso Nacional
nhas pelos direitos das mu- terminação nas colónias da África Ocidental Britâni-
lheres aos contracetivos, ca em Acra, para promover
por Ellen Key, Margaret a autodeterminação
Sanger, Shizue Ishimoto
B. A LUTA GLOBAL E CONTÍNUA PELOS DIREITOS HUMANOS – CRONOLOGIA 537
1920s Greves generalizadas 1923 A Quinta Conferência 1922 Catorze Ligas Nacio-
e conflitos armados entre das Repúblicas America- nais de Direitos Humanos
trabalhadores e proprietá- nas, em Santiago do Chile, estabelecem a Federação
rios no mundo industriali- faz alusão aos direitos das Internacional das Ligas dos
zado mulheres Direitos Humanos
1924 Declaração de Gene- 1925 Representantes de
bra dos Direitos da Criança oito países em vias de de-
1924 Congresso norte-ame- senvolvimento fundam a
ricano aprova a Lei Snyder, Coloured International para
concedendo aos nativos pôr fim à discriminação ra-
americanos, a cidadania cial
completa 1928 Comissão Interameri-
1926 Conferência de Gene- cana sobre Mulheres, para
bra adota a Convenção so- assegurar o reconhecimen-
bre a Escravatura to dos direitos civis e políti-
cos das mulheres
1930-1949
1930 Na Índia, Gandhi li- 1930 Convenção da OIT so- 1933 Organização dos Re-
dera centenas em marcha bre o Trabalho Forçado ou fugiados
longa até Dandi para pro- Obrigatório 1935-36 Comissão Interna-
testar contra o imposto so- 1933 Convenção Interna- cional Penal e Penitenciá-
bre o sal cional para a Supressão do ria, para promover os direi-
1939-45 O regime Nazi de Tráfico de Mulheres Adul- tos básicos dos prisioneiros
Hitler mata 6 milhões de tas 1945 Julgamentos de Nu-
judeus e obriga a ida para 1941 O presidente Roose- remberga e de Tóquio
campos de concentração e velt, dos Estados Unidos, 1945 Nações Unidas
mata membros da comuni- identifica quatro liberdades 1946 Comissão de Direitos
dade Roma e Sinti, comu- essenciais – de expressão, Humanos das Nações Uni-
nistas, sindicalistas, dissi- religiosa, direito de viver das
dentes políticos, pessoas sem privações (freedom 1948 Organização dos Esta-
com deficiência, testemu- from want) e direito de dos Americanos
nhas de Jeová, homossexu- viver sem medo (freedom 1949 Conselho da Europa
ais e outros from fear)
1942 René Cassin de Fran- 1945 Carta das Nações Uni-
ça apela à criação de um das, destacando os direitos
tribunal internacional para humanos
punir os crimes de guerra 1948 Declaração Universal
1942 O governo norte- dos Direitos Humanos
americano coloca na prisão 1948 Convenção para a
cerca de 120.000 america- Prevenção e Repressão do
nos-japoneses durante a Crime de Genocídio
Segunda Guerra Mundial
538 III. RECURSOS ADICIONAIS
2001 Ataques terroristas 2001 Conferência Mundial 2007 Agência dos Direitos
ao World Trade Center e contra o Racismo, Discri- Fundamentais da União Eu-
ao Pentágono, o Presiden- minação Racial, Xenofonia ropeia, sediada em Viena
te Bush lança a “guerra ao e Intolerância Relacionada: 2008 O Tribunal de Justiça
terror”, tendo como alvo Declaração de Durban e Africano fundiu-se com o
infraestruturas terroristas Programa de Ação Tribunal Africano dos Direi-
no Afeganistão 2002 Protocolo Facultativo tos Humanos e dos Povos e
2002 Prisão de Guantána- à Convenção contra a Tor- criou o Tribunal Africano de
mo na Base Naval dos EUA, tura e outras Penas ou Tra- Justiça e Direitos Humanos
em Cuba tamentos Cruéis, Desuma- 2008 Navanethem Pillay é
2003 Ataque dos Estados nos ou Degradantes nomeado o Alto Comissário
Unidos contra o Iraque 2004 Carta Árabe dos Direi- das Nações Unidas para os
2004 Ataques terroristas em tos Humanos Direitos Humanos
Madrid e Beslan; é publica- 2005 Convenção do Con- 2009 É estabelecida a Co-
do material fotográfico de- selho da Europa relativa à missão Intergovernamental
talhando o abuso de prisio- Luta contra o Tráfico de Se- para os Direitos Humanos
neiros no Iraque, por forças res Humanos da ASEAN
militares americanas 2005 Conferência “Pe- 2011 O Painel para a Dig-
2005 Ataques terroristas quim+10” sobre os Direi- nidade Humana (Panel on
em Londres tos das Mulheres; Human Dignity) estabe-
2006 Execução de Saddam 2006 Convenção dos Direitos lecido em 2008 apresenta o
Hussein; Thomas Lubanga das Pessoas com Deficiência seu relatório sobre Proteger
(Congo) é o primeiro acu- 2006 Convenção Interna- a Dignidade: Uma Agenda
sado pelo TPI cional para a Proteção de para os Direitos Humanos
2007 O Tribunal Khmer- Todas as Pessoas contra os (“Protecting Dignity: An
Rouge inicia o seu funcio- Desaparecimentos Forçados Agenda for Human Rights)
namento; o primeiro acusa- 2006 Protocolo Facultativo
2011 O Representante Espe-
do é Kang Kek Ieu à Convenção dos Direitos
cial do Secretário-Geral das
2008 O Kosovo declara uni- das Pessoas com Deficiência
Nações Unidas apresenta
lateralmente a sua indepen- 2007 Convenção do Conse-
os “Princípios Orientadores
dência; Israel leva a cabo a lho da Europa para a Pre-
sobre Negócios e Direitos
operação “Cast Lead” contra venção do Terrorismo
Humanos”’
o Hamas na Faixa de Gaza; 2007 Declaração das Na-
2012 Navi Pillay foi reno-
Radovan Karadži é captura- ções Unidas sobre os Direi-
meado Alto Comissário das
do e enfrenta julgamento no tos dos Povos Indígenas
Nações Unidas para os Di-
Tribunal Penal Internacio- 2007 Tratado de Lisboa com
nal para a ex-Jugoslávia a Carta de Direitos Funda- reitos Humanos
2010 Kang Kek Ieu é conde- mentais da União Europeia
nado pelo Tribunal Khmer- 2008 Protocolo Facultativo
Rouge a 35 anos de prisão; ao Pacto Internacional so-
Primavera Árabe: muitas bre os Direitos Económicos,
pessoas se erguem contra Sociais e Culturais
regimes autoritários em Es- 2008 Convenção sobre as
tados do mundo árabe. Munições de Fragmentação
C. BIBLIOGRAFIA SUGERIDA SOBRE DIREITOS HUMANOS 543
Conteúdo: dá-se cada vez mais importân- e os abolicionistas que se opuseram à es-
cia à implementação eficaz das obrigações cravatura antes da era da Guerra Civil. Ele
dos tratados de direitos humanos pela lei presta um cuidado especial ao período de
interna. A nível global, cabe aos órgãos 1970 em diante e descreve o crescimento
dos tratados de direitos humanos das Na- do movimento dos direitos humanos de-
ções Unidas a responsabilidade principal pois dos acordos de Helsinki, os papéis
pela monitorização internacional da im- desempenhados pelas administrações pre-
plementação interna. Aqueles órgãos são sidenciais americanas e as surpreendentes
estabelecidos pelas convenções de direi- revoluções árabes de 2011. Neier defende
tos humanos respetivas e compostos por que o movimento contemporâneo de direi-
peritos independentes. Este livro examina tos humanos resultou, em grande parte, da
três aspetos destes órgãos: os aspetos le- Guerra Fria e demonstra como se tornou
gais da sua estrutura, funções e decisões; na influência impulsionadora no direito
a sua eficácia em assegurar o respeito pe- internacional, instituições e direitos. Neier
las obrigações dos direitos humanos e a sublinha figuras relevantes, controvérsias
legitimidade destes órgãos e das suas de- e organizações, incluindo a Amnesty Inter-
cisões. Esta análise contém contribuições national e a Human Rights Watch, e abor-
de diversos peritos legais proeminentes, da os desafios futuros.
incluindo membros atuais e anteriores dos
órgãos dos tratados e deve ser lida à luz do Título: International Human Rights Law
esforço em curso de fortalecimento dos ór- in Africa
gãos dos tratados sob os auspícios do Alto Autor/Editor: Frans Viljoen
Comissariado das Nações Unidas para os Local de publicação: Oxford
Direitos Humanos e com o envolvimento Editora: Oxford University Press
de outros intervenientes relevantes. Ano de publicação: 2012
ISBN: 978-0-19-964559-6
Título: The International Human Rights Conteúdo: este livro apresenta uma visão
Movement geral abrangente e analítica do ordena-
Autor/Editor: Aryeh Neier mento jurídico dos direitos humanos em
Local de publicação: Princeton África. Examina as instituições, normas e
Editora: Princeton University Press processos para a implementação dos direi-
Ano de publicação: 2012 tos humanos, estabelecidos sob o sistema
ISBN: 9780631135151 das Nações Unidas, a União Africana e as
Conteúdo: durante as últimas décadas, o comunidades económicas sub-regionais
movimento internacional dos direitos hu- em África e explora a relação com os sis-
manos teve um papel importante na luta temas jurídicos nacionais em Estados afri-
contra regimes totalitários, crueldades canos. Abordam-se três temas ao longo do
nas guerras e crimes contra a humanida- livro: a implementação nacional e cumpri-
de. Hoje, defronta-se com a guerra con- mento do ordenamento jurídico dos direi-
tra o terrorismo e os abusos subsequen- tos humanos, o direito e outras formas de
tes do poder dos governos. Ao discutir a integração e o papel dos direitos humanos
origem do movimento, o autor aborda os na erradicação da pobreza. Este livro tam-
dissidentes que lutaram pelas liberdades bém contém uma introdução aos conceitos
religiosas no século XVII, em Inglaterra, mais importantes dos direitos humanos.
C. BIBLIOGRAFIA SUGERIDA SOBRE DIREITOS HUMANOS 545
Título: The Local Relevance of Human uma introdução e uma análise crítica de
Rights temas recorrentes e assuntos da teoria
Autor/Editor: Koen De Feyter, Stephan Par- contemporânea e prática dos direitos hu-
mentier, Christiane Timmerman, George manos. Apresenta uma análise multidis-
Ulrich ciplinar com visões filosóficas, políticas e
Local de publicação: Cambridge sociais sobre o tema dos direitos humanos.
Editora: Cambridge University Press
Ano de publicação: 2011 Título: The Fundamentals of Internation-
ISBN: 978-1-107-00956-1 al Human Rights Treaty Law
Conteúdo: os direitos humanos oferecem Autor/Editor: Betrand G. Ramcharan
uma proteção real quando os grupos em Local de publicação: Boston/Leiden
desvantagem os invocam, a um nível lo- Editora: Martinus Nijhoff Publishers
cal, numa tentativa de melhorar as suas Ano de publicação: 2011
condições de vida? Se sim, como pode- ISBN: 978-90-04-17608-9
mos certificarmo-nos de que as experi- Conteúdo: este livro tem um objetivo sim-
ências daqueles que invocam os direitos ples: transmitir conhecimentos basilares
humanos ao nível local têm um impacto do direito dos tratados internacionais de
no desenvolvimento posterior dos direi- direitos humanos, de forma a poder ser
tos humanos (ao nível nacional e a outros útil ao líder nacional, funcionário ou as-
níveis), de forma a que a relevância local sessor jurídico cujas funções incluam a
dos direitos humanos possa aumentar? de ajudar à implementação de tratados de
Desde a adoção da Declaração Universal direitos humanos no seu país. É um livro
dos Direitos Humanos (DUDH), em 10 de de direito internacional, tal como estabele-
dezembro de 1948, numerosos documen- cido nos tratados principais de direitos hu-
tos universais vieram reafirmar os direitos manos internacionais e regionais, incluin-
humanos como normas globais. Este livro do jurisprudência e prática dos órgãos de
examina os fatores que determinam se os supervisão. O Capítulo I discute a nature-
recursos aos direitos humanos emanados za e características do direito internacional
a um nível local têm sucesso e se a DUDH dos direitos humanos. O Capítulo II discu-
responde adequadamente às ameaças, tal te o conceito de um sistema de proteção
como habitualmente definidas pelos gru- nacional que tem de ser instaurado para
pos interessados, ou se é necessária a re- a implementação adequada de um tratado
visão de algumas das ideias incluídas na de direitos humanos. O Capítulo III discute
DUDH, de forma a aumentar a sua rele- a jurisprudência e prática dos órgãos dos
vância contemporânea. tratados sobre os assuntos basilares da
democracia e o primado do direito. O Ca-
Título: Human Rights: Confronting Myths pítulo IV debate os direitos humanos em
and Misunderstandings tempos de crise e emergências. O Capítulo
Autor/Editor: Andrew Fagan V discute estratégias preventivas. O Capí-
Local de publicação: Cheltenham tulo VI discute o dever dos governantes de
Editora: Edward Elgar Publishing respeitarem, protegerem e assegurarem os
Ano de publicação: 2011 direitos humanos. O Capítulo VII discute
ISBN: 978-1-84980-982-5 o dever dos governos de assegurarem a
Conteúdo: este livro abrangente oferece reparação quando ocorram violações. O
546 III. RECURSOS ADICIONAIS
Título: Human Rights in Africa. From the se transformou recentemente. O livro está
OAU to the African Union dividido em capítulos que analisam vários
Autor/Editor: Rachel Murray temas, incluindo os direitos das mulheres,
Local de publicação: Cambridge os direitos da criança, o conceito de demo-
Editora: Cambridge University Press cracia e o direito ao desenvolvimento. Es-
Ano de publicação: 2004 crito por académicos de topo em matéria
Conteúdo: este trabalho analisa o papel de direitos humanos, este livro é de leitura
da Organização da Unidade Africana, atu- essencial para advogados que trabalhem
al União Africana e a forma como tem para os Estados africanos e para governos
lidado com os direitos humanos desde a estrangeiros e ONG que atuem em África,
sua criação, em 1963. Refere o papel das bem como se revela interessante para aca-
suas principais instituições, tanto sob a démicos que estudem os direitos humanos
OUA como sob a União Africana, em que a nível internacional e comparado.
dos e se desenvolvem num espaço de con- Autor/Editor: Peter Brett, Pascale Mom-
textos nacionais e internacionais. O pri- point-Gaillard, Maria Helena Salema
meiro tema aborda o papel do ensino dos Local de publicação: Estrasburgo
direitos humanos na educação da cidada- Editora: Council of Europe Publishing
nia e na educação para o desenvolvimen- Ano de publicação: 2009
to sustentável. O segundo tema centra-se Conteúdo: esta publicação apresenta as
nos direitos das crianças à educação e no principais competências necessárias aos
conceito de “voz”. O terceiro tema localiza professores e aos formadores de professo-
a educação para os direitos humanos na res, para formação pré-profissional e para
conceção de currículos e na prática esco- a formação contínua ao longo da profis-
lar. Este livro, que reúne uma série de tra- são, de forma a colocar a cidadania demo-
balhos apresentados originalmente numa crática e os direitos humanos em prática
conferência organizada pelo Centro para a na sala de aula, durante o ensino e na co-
Educação para os Direitos Humanos e Ci- munidade. São apresentadas cerca de 15
dadania no Colégio St. Patrick, em Dublin, competências e agrupadas em quatro gru-
traz uma contribuição importante para o pos. Cada agrupamento de competências
pensamento atual e para as melhores prá- corresponde a um capítulo, dentro do qual
ticas na educação dos direitos humanos. as competências são descritas em porme-
nor e exemplificadas. O leitor encontrará
Título: Global Standards – Local Action. grelhas de evolução e a sugestão de ativi-
15 Years Vienna World Conference on dades de desenvolvimento para cada com-
Human Rights. Conference Proceedings petência: estas grelhas – incluindo o foco,
of the International Expert Conferen- desenvolvimento e prática estabelecida e
ce held in Vienna on 28 and 29 August avançada – têm o objetivo de ajudarem os
2008. professores e formadores de professores a
Autor/Editor: Wolfgang Benedek e outros determinarem o nível a que corresponde
Local de publicação: Wien/Graz a sua prática profissional e, desta forma,
Editora: Neuer Wissenschaftlicher Verlag identificarem as melhorias necessárias e
Ano de publicação: 2009 práticas sobre as quais se poderão concen-
Conteúdo: quinze anos após a Declaração trar.
de Viena e Programa de Ação, uma confe-
rência internacional pesquisou e discutiu Título: Human Rights Education: Theory
o estado da implementação nos Estados, and Practice
das obrigações de 1993, em três grupos de Autor/Editor: C. Naseema
trabalho. A publicação resume as contri- Local de publicação: Nova Deli
buições da conferência, incluindo um ca- Editora: Shipra Publications
pítulo sobre as perspetivas internacionais Ano de publicação: 2008
e nacionais e as práticas na educação para Conteúdo: a educação para os direitos
os direitos humanos. humanos pode ajudar a reduzir as viola-
ções de direitos humanos e a contribuir
Título: How All teachers Can Support Ci- para a construção de sociedades livres
tizenship and Human Rights Education: e pacíficas. Os direitos humanos devem
A Framework for the Development of ser um tema para todos os níveis de en-
Competences sino. O livro apresenta uma visão geral
D. RECURSOS SOBRE A EDUCAÇÃO PARA OS DIREITOS HUMANOS 553
dos direitos humanos e aspetos de im- Título: Teachers, Human Rights And Di-
plementação e pedagógicos da educação versity: Educating Citizens in Multicul-
para os direitos humanos. Também lida tural Societies
especificamente com métodos e ativida- Autor/Editor: Audrey Osler
des que os professores podem utilizar Local de publicação: Londres
nas salas de aulas para o ensino dos di- Editora: Trentham Books
reitos humanos e do papel do professor. Ano de publicação: 2005
A vertente pedagógica da educação para Conteúdo: como se deve educar cidadãos
os direitos humanos abordada neste li- em sociedades multiculturais? Esta ques-
vro é um produto de uma série de ses- tão tem vindo a ganhar relevância por
sões de trabalho. todo o mundo. Neste volume, autores da
Inglaterra, Irlanda do Norte, República
Título: Human Rights Learning: A da Irlanda e Estados Unidos apresentam
People’s Report pesquisas recentes neste âmbito e anali-
Autor/Editor: Upendra Baxi, Kenny Mann sam as suas implicações para professores,
Local de publicação: Nova Iorque formadores de professores e professores
Editora: PDHRE – People’s Movement for estudantes. Alguns casos ilustram como
Human Rights Learning jovens cidadãos podem aprender a utilizar
Ano de publicação: 2006 os princípios dos direitos humanos e da
Conteúdo: o relatório foi preparado e escri- igualdade na resolução de questões com-
to através da revisão das muitas mudanças plexas e controversas.
que tiveram lugar nas duas últimas déca-
das, que reflete, em parte. Assim, transmi- Título: Economic, Social and Cultural
te uma ideia do passado, onde ainda não Rights: Handbook for National Human
se vislumbrava a ideia da educação para Rights Institutions
os direitos humanos e, no entanto, conse- Autor/Editor: United Nations
guiu alguns resultados duradouros para a Local de publicação: Nova Iorque /Gene-
dignidade humana, liberdade e bem-estar. bra
O relatório aborda algumas iniciativas na Editora: United Nations
educação para os direitos humanos, no Ano de publicação: 2005
passado bem como no presente: em geral, Conteúdo: o objetivo deste manual é
as ideias e os ideais da educação para os ajudar as instituições nacionais dos di-
direitos humanos têm um lugar mais segu- reitos humanos no desenvolvimento de
ro do que dantes nos setores da educação políticas, processos e técnicas que per-
formal e não-formal, pesquisa académica, mitam uma maior integração, no seu tra-
sensibilização pública organizada pelas balho, dos direitos económicos, sociais
ONG e movimentos populares. Os mate- e culturais. Analisa formas pelas quais
riais aqui reunidos confirmam a diversida- os mandatos legais destas instituições
de das dimensões da educação para os di- podem ser interpretados tendo em vista
reitos humanos e pretendem refletir sobre estes direitos nas respetivas jurisdições
o significado e valor, natureza e limites e e como as suas funções e poderes po-
o futuro da educação para os direitos hu- dem ser exercidos em respeito por tais
manos. Disponível em: www.pdhre.org/ direitos.
report/
554 III. RECURSOS ADICIONAIS
Título: International Perspetives in Hu- res na área dos direitos humanos. Apre-
man Rights Education senta um campo cada vez mais complexo,
Autor/Editor: Viola B. Georgi, Michael Se- de forma direta e acessível. Cada capítulo
berich tem um formato semelhante, de fácil uti-
Local de publicação: Gütersloh lização. O resumo do capítulo é seguido
Editora: Bertelsmann Foundation por uma introdução geral ao tema. Os
Ano de publicação: 2004 princípios internacionais são revelados
Conteúdo: a Declaração Universal dos Di- numa seleção de documentos essenciais.
reitos Humanos define um conjunto bási- As organizações de direitos humanos mais
co de direitos que se aplicam a todos os importantes são descritas: ONU, organi-
seres humanos. Educar as pessoas sobre zações regionais governamentais e não-
os seus direitos é um pré-requisito para governamentais (ONG). Uma vez que o
que eles sejam cumpridos. Assim, países manual não pretende ser exaustivo, cada
de todo o mundo têm o objetivo comum capítulo conclui com uma breve seleção de
de estabelecerem uma cultura de direitos recursos adicionais para posteriores leitura
humanos, cada um a seu modo e ao seu e investigação.
próprio ritmo. Ativistas de direitos huma-
nos, políticos e académicos concordam Título: Methodologies for Human Rights
que a educação para os direitos humanos Education
é uma ferramenta poderosa. Mas reconhe- Autor/Editor: Richard Pierre Claude
cem que a adoção dos direitos humanos Local de publicação: Nova Iorque
como a linguagem comum da humanida- Editora: Peoples Decade for Human Rights
de e como uma forma de fortalecerem a Education (PDHRE)
diversidade cultural e prevenirem a into- Ano de publicação: 1998
lerância e a discriminação constitui um Conteúdo: uma introdução prática à peda-
processo complexo, por vezes problemá- gogia da educação para os direitos huma-
tico e muitas vezes longo. Este conjunto nos, incluindo um ensaio sobre o direito
de ensaios explora as diferentes realidades das pessoas a conhecer os seus direitos,
da educação para os direitos humanos em um guia de planificação curricular, suges-
diferentes partes do mundo, comparando tões para o empoderamento e o estabeleci-
e discutindo abordagens, conceitos teó- mento de grupos de usuários e metodolo-
ricos e métodos. Disponível em: www. gias de avaliação.
bertelsmann-stiftung.de/cps/rde/xbcr/ Disponível em: http://www.pdhre.org/
SID-72858C5F-1738203E/bst/xcms_bst_ materials/methologies.html
dms_14994_14995_2.pdf
Título: Human Rights Education for the
Título: The Human Rights Handbook: A Twenty-First Century
Global Perspetive for Education Autor/Editor: George J. Andreopoulos e
Autor/Editor: Liam Gearon Richard Pierre Claude
Local de publicação: Londres Local de publicação: Filadélfia
Editora: Trentham Books Editora: University of Pennsylvania Press
Ano de publicação: 2003 Ano de publicação: 1997
Conteúdo: um guia de extrema relevância Conteúdo: a educação para os direitos
para professores, estudantes e investigado- humanos, que inclui o ensino sobre os
D. RECURSOS SOBRE A EDUCAÇÃO PARA OS DIREITOS HUMANOS 555
Título: Human Rights Education in the crianças, tais como acampamentos de ve-
School Systems of Europe, Central Asia rão ou atividades extra curriculares. Ajuda
and North America: A Compendium of a reforçar os valores positivos que derivam
Good Practice dos princípios fundamentais da dignidade
Autor/Editor: OSCE/ODIHR, Conselho da humana e da igualdade, contidos na Decla-
Europa, UNESCO ração Universal dos Direitos Humanos.
Local de publicação: Varsóvia Disponível em: http://equitas.org/wp-
Editora: OSCE/ODIHR content/uploads/2010/11/2008-Play-it-
Ano de publicação: 2009 Fair-Toolkit_En.pdf
Idiomas: inglês, árabe, francês, alemão,
italiano, russo, espanhol Título: Exploring Children’s Rights - Nine
Público-alvo: professores / educação para short projects for primary level
o nível primário e secundário Autor/Editor: Rolf Gollob, Peter Krapf
Conteúdo: esta nova ferramenta foi conce- Local de publicação: Estrasburgo
bida para as escolas primárias e secundá- Editor: Conselho da Europa (=EDC/HRE
rias, instituições para formação de profes- Volume V)
sores e outros contextos de aprendizagem, Ano de publicação: 2007
reunindo 101 práticas exemplares da Ásia Idiomas: Inglês, Francês, Russo
Central, Europa e América do Norte, sendo Grupo-alvo: Crianças, professores
um recurso valioso para professores e para Conteúdo: as crianças devem saber quais
os responsáveis pelas políticas de educa- os seus direitos, mas também devem apren-
ção. Fornece materiais relevantes para der a apreciá-los e usá-los. Para conseguir
uma educação de sucesso para os direitos isso, as escolas devem permitir um leque
humanos, incluindo: 1) leis, diretrizes e abrangente de experiências de aprendiza-
padrões; 2) ambiente de aprendizagem; 3) gem na educação dos direitos das crian-
ferramentas de ensino e de aprendizagem; ças. As crianças compreendem e apreciam
4) desenvolvimento profissional para os os seus direitos, utilizando-os, tanto na
educadores; e 5 ) avaliação. escola como na vida quotidiana. Para in-
Disponível em: www.hrea.org/index. centivar as crianças a fazê-lo, o desafio do
php?base_id=172&doc_id=458 professor é o de criar um ambiente regido
pelo espírito de democracia e de direitos
Título: Play it fair! A Human Rights Edu- humanos. Este manual foi concebido para
cation Toolkit for Children os professores que procuram ferramentas
Autor/Editor: Daniel Roy e outros. para ensinar os direitos das crianças e para
Local de publicação: Montreal, Quebec estudantes das escolas primárias.
Editora: Equitas – International Centre for
Human Rights Education Título: Designing and Delivering Effec-
Ano de publicação: 2008 tive Human Rights Education. Training
Idioma: Inglês Manual
Público-alvo: crianças, educadores Autor/Editor: Vincenza Nazzari e outros.
Conteúdo: o livro ajuda a promover os di- Local de publicação: Montreal, Quebeque
reitos humanos, a não-discriminação e a Editor: Equitas – International Centre for
resolução pacífica dos conflitos, no âmbito Human Rights Education
de programas de educação não-formal para Ano de publicação: 2007
D. RECURSOS SOBRE A EDUCAÇÃO PARA OS DIREITOS HUMANOS 557
bósnio, búlgaro, espanhol, alemão, ar- Título: Human Rights in the Curriculum:
ménio, azeri, georgiano, polaco, mace- History
dónio, checo, português, japonês, sér- Autor/Editor: Margot Brown e Sarah Slater
vio, eslovaco, turco, russo, esloveno, Local de publicação: Londres
francês Editora: Amnesty International/Education
Grupo-alvo: Jovens, adultos in Human Rights Network
Conteúdo: este guia educacional contém Ano de publicação: 2002
uma vasta gama de abordagens a temas Língua: Inglês
e métodos que devem inspirar todos os Grupo-alvo: Professores (nível secundário)
que se interessam por direitos humanos, Conteúdo: o livro inclui atividades diver-
democracia e cidadania. O guia também tidas e ideias para as aulas dos professo-
contém uma série de 49 fichas de trabalho res de História. Apresenta aos alunos a
com atividades práticas completas, pro- oportunidade de estudarem áreas do pla-
pondo um sistema pormenorizado para no curricular de uma nova forma inspira-
atividades na escola, bem como vários dora. Para além de encorajar os alunos a
textos e documentos relacionados. pensarem sobre a escravatura, o trabalho
Disponível em: http://eycb.coe.int/com- infantil, a luta pelos direitos das mulheres
pass/ e o Holocausto, da perspetiva dos direitos
humanos, o livro também apresenta figu-
Título: First Steps: A Manual for Starting ras históricas e inspiradoras desde Bar-
Human Rights Education tolomé de las Casas a Eleanor Roosevelt.
Autor/Editor: Amnistia Internacional Através da análise das etapas históricas
Local de publicação: Londres mais relevantes, os alunos compreenderão
Editora: Amnistia Internacional os direitos humanos e a necessidade de os
Ano de publicação: 2002 promover.
Língua: Inglês, albanês
Grupo-alvo: Crianças/educação entre pares Título: Time for Rights: Activities for Ci-
Conteúdo: este manual, publicado primei- tizenship and PSHE for 9-13 Year Olds
ro em 1996, foi desenvolvido pela Am- Autor/Editor: Pam Fenney, Heather Jarvis,
nistia Internacional especialmente para Elaine Nipper
as regiões da Europa Central e de Leste. Local de publicação: Genebra
O manual tem sido utilizado em diversos Editora: UNICEF
países na região. O First Steps foi concebi- Ano de publicação: 2002
do como uma ferramenta de ensino para Língua: Inglês
o professor bem como um recurso para a Grupo-alvo: Crianças
organização de atividades em ambientes Conteúdo: analisa a cidadania e os direi-
educacionais. O texto contém um total de tos relacionados com a Convenção sobre
27 aulas para crianças (até aos 12 anos) os Direitos da Criança da ONU. Através de
e 18 aulas para adolescentes. A edição de dramatizações, desenhos, histórias, poe-
2002 foi adaptada para a educação entre mas e de uma ampla variedade de ativi-
pares. dades, o livro examina o significado dos
Disponível em: www.amnesty.org/en/li- direitos humanos para uma criança, na
brary/info/POL32/002/2002/en família, na escola e na comunidade.
560 III. RECURSOS ADICIONAIS
dos recursos disponíveis bem como criar animadas, de traço simples, do artista bra-
os seus recursos próprios quando necessá- sileiro Otavio Roth, este livro ajuda-nos a
rio e possível. todos a melhor compreender a importân-
Disponível em: www.hrea.org/erc/Libra- cia dos direitos humanos.
ry/curriculum_methodology/SELFHELP.
html
EDUCAÇÃO PARA OS DIREITOS HUMA-
Título: Educating for Human Dignity: Le- NOS NA INTERNET:
arning about Rights and Responsibilities
Autor/Editor: Betty A. Reardon BIBLIOTECAS CONSULTÁVEIS POR VIA ELETRÓNICA
Local de publicação: Filadélfia (ONLINE), BASES DE DADOS E RECURSOS
Editora: Pennsylvania Studies in Human
Rights Addis Ababa University Center for Hu-
Ano de publicação: 1995 man Rights: www.aau.edu.et/humanri-
Língua: Inglês ghts/
Grupo-alvo: Crianças
Conteúdo: este é um dos principais livros Amnesty International USA – Human
sobre a educação para os direitos huma- Rights Education: www.amnestyusa.org/
nos, para o ensino primário e secundário. education
Escrito para professores e formadores dos
professores. É o primeiro recurso que ofe- Council of Europe: www.coe.int
rece um guia e outros materiais de apoio
a programas de educação para os direitos CRIN – Child Rights Information Ne-
humanos, desde o infantário à escola se- twork: www.crin.org
cundária. Abre possibilidades para uma
abordagem holística da educação para os Dadalos – International UNESCO Server
direitos humanos, que confronta, direta- for Democracy, Peace and Human Rights
mente, as questões de valores levantadas Education: www.dadalos.org
por problemas dos direitos humanos num
contexto de inter-relações globais. Derechos Humanos – Human Rights:
www.derechos.org
Título: The Universal Declaration of Hu-
man Rights. An Adaptation for Children Discover Human Rights Institute. A pro-
Autor/Editor: Ruth Rocha e Otavio Roth ject of The Advocates for Human Rights:
Local de publicação: Nova Iorque www.discoverhumanrights.org/
Editora: United Nations Publications
Ano de publicação: 1990 Equitas – International Centre for Hu-
Língua: Inglês man Rights Education: http://equitas.
Grupo-alvo: Crianças (livro de imagens) org/
Conteúdo: este livro, de leitura educacio-
nal e divertida, com bonitas ilustrações, ETCGraz – European Training and Rese-
cativa a todos, em especial as crianças. Es- arch Centre for Human Rights and De-
crito por Ruth Rocha, escritora para crian- mocracy: www.etc-graz.at, http://kenne-
ças de renome mundial, e com ilustrações deinerechte.at, www.das-boot-ist-voll.at
D. RECURSOS SOBRE A EDUCAÇÃO PARA OS DIREITOS HUMANOS 565
HREA – Human Rights Education As- Pedro Arrupe Human Rights Institute
sociates: www.hrea.org/index.php?base_ (Instituto de Derechos Humanos Pedro
id=101&language_id=1 Arrupe), University of Deusto, Spain:
http://www.idh.deusto.es
HRI – Human Rights Internet: www.
hri.ca Project DIANA Online Human Rights
Archive: http://avalon.law.yale.edu/sub-
HRRC– The Human Rights Resource ject_menus/diana.asp
Center: www.hrusa.org
TeachUNICEF: http://teachunicef.org/
HURIDOCS – Human Rights Information
and Documentation Systems: www.huri- The European Wergeland Centre: www.
search.org theewc.org
HURIGHTS OSAKA – Asia-Pacific Hu- United Nations Cyber School Bus: www.
man Rights Information Center: www. cyberschoolbus.un.org
hurights.or.jp
United Nations Online Databases: www.
IIDH – Instituto Interamericano de Dere- un.org/en/databases/
chos Humanos: www.iidh.ed.cr/
University of Minnesota Human Rights
I have a right to… – BBCWorld Service: Library: www.umn.edu/humanrts
www.bbc.co.uk/worldservice/people/fea-
tures/ihavearightto/index.shtml
Artigo 1º Artigo 5º
Todos os seres humanos nascem livres e Ninguém será submetido a tortura nem a
iguais. penas ou tratamentos cruéis, desumanos
ou degradantes.
Artigo 2º
Todos os seres humanos podem invocar os Artigo 6º
mesmos direitos humanos sem discrimina- Todos os indivíduos têm o direito humano
ção alguma. ao reconhecimento em todos os lugares da
sua personalidade jurídica.
Artigo 3º
Todo o indivíduo tem o direito humano à Artigo 7º
vida, à liberdade e à segurança. Todos são iguais perante a lei e têm o direi-
to humano a igual proteção da lei.
Artigo 4º
Ninguém será mantido em escravatura ou Artigo 8º
em servidão. Toda a pessoa tem o direito humano a me-
canismos de proteção se os seus direitos
humanos forem violados.
10
A tradução desta DUDH sintetizada utilizou, sem- Artigo 9º
pre que possível, as expressões e conceitos utilizados
na DUDH oficial que retirámos da página oficial da Ninguém pode ser arbitrariamente preso,
Assembleia da República de Portugal. detido ou exilado.
F. DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS HUMANOS (SUMÁRIO) 571
quem os seus esforços para difundirem a des das Nações Unidas para a manutenção
Declaração e promoverem o seu respeito da paz, segurança e promoção do desen-
e a sua compreensão a nível universal e volvimento e os direitos humanos,
pedem ao Secretário-Geral que inclua o
texto da Declaração na próxima edição Reafirmando o dever dos Estados, explici-
de Direitos Humanos: uma Compilação tado na Declaração Universal dos Direitos
de Instrumentos Internacionais (Human Humanos,13 no Pacto Internacional sobre
Rights: A Compilation of International os Direitos Económicos, Sociais e Cultu-
Instruments). rais14 e noutros instrumentos de direitos
humanos, de assegurarem que a educação
89ª Sessão plenária seja dirigida para o fortalecimento do res-
19 de dezembro de 2011 peito dos direitos humanos e liberdades
fundamentais,
Anexo
Declaração das Nações Unidas Reconhecendo a importância fundamental
sobre Educação e Formação da educação e formação em matéria de di-
em Direitos Humanos reitos humanos para a promoção, proteção
e realização efetiva de todos os direitos
A Assembleia-Geral, humanos,
H. GLOSSÁRIO
Agressão: consiste no uso de força armada Civil: pessoa que não é combatente.
por um Estado contra a soberania, integri-
dade territorial ou independência política Combatente: pessoa que participa de for-
de outro, ou de qualquer outra forma in- ma direta nas hostilidades ou é membro
consistente com a Carta das Nações Unidas. das forças armadas do estado ou organiza-
ção envolvidos num conflito armado.
Analfabetismo: incapacidade de ler ou es-
crever. Comunicação: uma queixa individual ou
coletiva, perante um órgão dos tratados,
Antissemitismo: ódio, preconceito, opres- relativa a uma alegada violação dos direi-
são, discriminação e, frequentemente, tos humanos. Também denominada “soli-
formas violentas de hostilidade contra Ju- citação”, “queixa” ou “petição”.
deus. O antissemitismo é uma forma espe-
cífica de racismo. Não é apenas parte da Confidencialidade: habilidade de guardar
ideologia Nazi, mas encontra-se espalhado segredo. A confidencialidade foi escolhida
por toda a população. como um método normal de trabalho pelo
Comité Internacional da Cruz Vermelha
Apartheid: apartheid é o termo em Afrika- (CICV) para poder ter acesso às vítimas,
ans para a discriminação sistemática e le- para as proteger com o desenvolvimento
galizada que existiu na África do Sul, entre de diálogos eficazes com as autoridades.
1948-1994. Sob a Lei do Registo Demográ-
fico (Population Registration Act), de 1950, Conflito Armado: situação na qual dois
a população era classificada em diferentes ou mais grupos organizados participam
categorias raciais, e a educação, a residên- em lutas armadas, quer internacionais ou
cia e o casamento só eram permitidos no internas. Qualquer diferendo que surja en-
seio de cada uma dessas categorias. Com tre dois Estados e que leve à intervenção
a eleição de Nelson Mandela como Presi- de forças armadas é um conflito armado,
dente, em 1994, o sistema foi legalmente mesmo se um dos Estados negar a existên-
desmantelado. cia de um estado de guerra.
dos, era o monarca. Em particular, os go- estão doentes ou naufragados e, dessa ma-
vernantes de tais Estados tentavam retirar, neira, não se encontram em posição para
à aristocracia e ao clero, a capacidade de lutar.
competir com o monarca. Este ideal rara-
mente foi conseguido. O termo não signifi- Humanidade: o valor e a honra de todas
ca que o monarca tinha controlo imediato as pessoas, não importa quem sejam e in-
e direto sobre a vida diária. dependentemente da sua nacionalidade,
cor, crenças religiosas, classe social, opini-
Eurocentrismo: processo de dar maior ên- ões políticas, etc.
fase às teorias e ideias Europeias (e, nor-
malmente, Ocidentais), à custa de outras Iluminismo: movimento intelectual que
culturas. Implícita nesta definição, está a começou em Inglaterra, no séc. XVII, en-
suposição de que os conceitos ocidentais raizado num ceticismo intelectual quanto
são fundamentalmente diferentes de ou- a crenças e dogmas tradicionais, marca
tros noutras culturas ou civilizações. Uma um contraste “iluminado” com o suposto
outra consequência algo contraditória mas carácter sombrio e supersticioso da Idade
igualmente importante é a suposição de Média. Desde a sua conceção, o Iluminis-
que os valores ocidentais são universais. mo centrou-se no poder e na bondade da
racionalidade humana.
Fé: é uma religião ou qualquer uma das
comunidades reconhecidas de crença reli- Imparcialidade: servir as pessoas ou to-
giosa. mar decisões sobre pessoas com base só
nas suas necessidades, sem considerar a
Género: as posições sociais atribuídas a nacionalidade, cor, crenças religiosas, clas-
mulheres e homens. se social ou opiniões políticas.
Intolerância: falta de vontade para acei- Minoria: “um grupo numericamente infe-
tar e/ou respeitar as crenças e práticas de rior ao resto da população de um Estado,
outros. em posição não dominante, cujos membros
– sendo nacionais desse Estado – possuem
Islamofobia: medo e a hostilidade que o características étnicas, religiosas ou lin-
acompanha, relativamente à religião do Is- guísticas diferentes das do resto da popu-
lão e seus seguidores. lação e demonstre, pelo menos de manei-
ra implícita, um sentido de solidariedade,
Isolamento solitário: o isolamento de um dirigido à preservação de sua cultura, de
prisioneiro, só com acesso ocasional ou li- suas tradições, religião ou língua“ (Fran-
mitado de outras pessoas, num ambiente cesco Capotorti, ex-Relator Especial das
apenas com as necessidades básicas para Nações Unidas).
permanecer vivo e onde geralmente é reti-
rada a luz, o som, a dieta alimentar, ma- Modificação Genética: é a supressão,
teriais de leitura, o exercício e, ocasional- modificação ou deslocação de genes num
mente, a temperatura. organismo bem como a transferência de
genes de um organismo para outro. Pode,
Legitimidade: grau até ao qual os procedi- também, significar a modificação de genes
mentos de um governo para fazer e aplicar existentes ou a construção de novos genes
as leis, são aceitáveis para a população. e a sua incorporação num organismo.
Um governo legítimo é legal, contudo,
mais importante é que os cidadãos o con- Mutilação Genital Feminina (MGF) ou
siderem adequado e adiram às suas regras. Corte Genital Feminino (CGF): engloba
A legitimidade está intrinsecamente ligada todos os procedimentos que envolvem a
à governação: o cumprimento voluntário remoção parcial ou total dos genitais ex-
das leis e regras resulta numa maior efi- ternos femininos e/ou lesão dos órgãos
cácia do que a coação e as lealdades pes- genitais femininos por razões culturais ou
soais. quaisquer outras razões não terapêuticas
(definição da OMS, 1995).
Limpeza Étnica: deslocar à força ou exter-
minar uma população étnica de uma de- Não Religioso: visões e convicções natura-
terminada área para afirmar a identidade e listas do mundo no âmbito do pensamento
o poder de outro grupo étnico. humano associadas a crenças e princípios
de consciência pelos quais as pessoas re-
Mediação: um processo de negociação gem a sua vida.
para resolução de problemas em que um
terceiro trabalha com as partes em disputa Objetivos Militares: objetos que, pela sua
para as ajudar a alcançar um acordo nego- natureza, localização, propósito ou uso
ciado satisfatório. Os facilitadores não têm dão uma contribuição efetiva à ação mi-
autoridade para decidir a disputa entre litar e cuja destruição dá uma vantagem
as partes; ao invés, as partes empoderam militar real.
o facilitador para as ajudar a resolver as
questões entre estas. Objeto Civil: qualquer objeto que não seja
um objetivo militar.
H. GLOSSÁRIO 583
Reserva: declaração feita por um Estado, Tortura: qualquer ato por meio do qual
por ocasião da ratificação de um tratado, uma dor ou sofrimentos agudos, físicos ou
pela qual exclui ou modifica os efeitos jurí- mentais, são intencionalmente causados a
dicos, para o Estado, de certas disposições. uma pessoa com os fins de, nomeadamen-
586 III. RECURSOS ADICIONAIS
te, obter dela ou de uma terceira pessoa Tráfico de Seres Humanos: é o movimen-
informações ou confissões, a punir por to ilícito e clandestino de pessoas através
um ato que ela ou uma terceira pessoa co- de fronteiras nacionais e internacionais,
meteu ou se suspeita que tenha cometido, particularmente, de países em vias de de-
intimidar ou pressionar essa ou uma ter- senvolvimento e alguns países em regime
ceira pessoa, ou por qualquer outro moti- de transição, com o objetivo de forçar
vo baseado numa forma de discriminação, pessoas (sobretudo, mulheres, meninas e
desde que essa dor ou esses sofrimentos crianças) a situações, sexual ou economi-
sejam infligidos por um agente público ou camente opressivas e de exploração para
qualquer outra pessoa agindo a título ofi- benefício dos recrutadores, traficantes,
cial, a sua instigação ou com o seu con- máfias bem como outras atividades ilegais
sentimento expresso ou tácito. Este termo relacionadas com o tráfico, como o traba-
não compreende a dor ou os sofrimentos lho doméstico forçado.
resultantes unicamente de sanções legí-
timas, inerentes a essas sanções ou por Violência Sexual: comportamento violen-
elas ocasionados (Convenção das Nações to com base no género pelo qual se preten-
Unidas contra a Tortura e Outras Penas ou de ferir ou matar alguém.
Tratamentos Cruéis, Desumanos ou Degra-
dantes). Xenofobia: ódio ou medo em relação a
estrangeiros ou países estrangeiros. Tam-
Trabalhadores Pobres: os que têm empre- bém carateriza atitudes, preconceitos e
go, todavia, vivem precariamente. comportamentos em que existe rejeição,
exclusão e, muitas vezes, difamação de
Trabalho Infantil: é o trabalho que priva pessoas, com base na perceção de que elas
as crianças da sua infância, do seu poten- são estranhas ou estrangeiras para com a
cial e da sua dignidade, e que é prejudi- comunidade, a sociedade ou identidade
cial para o seu desenvolvimento físico e nacional.
mental. A Convenção sobre os Direitos da
Criança da ONU, de 1989, apela à prote- Zona de Comércio Livre: zona industrial
ção “contra a exploração económica ou a onde um país permite que empresas estran-
sujeição a trabalhos perigosos ou capazes geiras importem materiais para a produção
de comprometer a sua educação, prejudi- e exportem bens acabados, sem pagar im-
car a sua saúde ou o seu desenvolvimento postos ou taxas (pagamentos ao governo)
físico, mental, espiritual, moral ou social.” significativos. Assim, uma zona de comér-
(Artº32) cio livre diminui os custos de produção de
uma empresa.
IV. REFERÊNCIAS
BIBLIOGRÁFICAS
E INFORMAÇÃO ADICIONAL
EM LÍNGUA PORTUGUESA 18
18
Porém, em alguns casos, fazemos menção a referências bibliográficas e a sítios na Internet em outras línguas
usadas nos países da CPLP.
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ÍNDICE REMISSIVO
A Comissão Interamericana dos Direitos Hu-
Ação afirmativa manos
ACNUDH Comissão sobre a Segurança Humana
Acordo de Cotonu Comissão sobre o Estatuto da Mulher
Alerta Precoce Comité contra a Tortura da ONU
Alto Comissariado da ONU para os Refu- Comité dos Direitos da Criança da ONU
giados Comité Europeu para a Prevenção da Tor-
Analfabetismo tura (CPT)
Anti-Discriminação Comunicação
Antissemitismo Conferência Mundial contra o Racismo
Apartheid Conferência Mundial sobre os Direitos Hu-
Apostasia manos da ONU
Asilo Conflito Armado
Assembleia-Geral da ONU Conselho da Europa
Autodeterminação Conselho de Segurança
Autonomia Conselho de Direitos Humanos da ONU
(CDH)
B Convenção Americana sobre Direitos Hu-
Banco Mundial manos
Convenção contra a Tortura
C Convenção Europeia para a Prevenção da
Carta Africana dos Direitos Humanos e Tortura
dos Povos Convenção Europeia para a Proteção dos
Carta Árabe dos Direitos Humanos Direitos Humanos e das Liberdades
Carta dos Direitos Fundamentais da União Fundamentais (CEDH)
Europeia Convenção Quadro Europeia para a Prote-
Carta Europeia das Línguas Regionais e ção das Minorias Nacionais
Minoritárias Convenção Quadro para a Proteção das
CCT Minorias Nacionais
CEDM Convenção sobre os Direitos da Criança
CEDR (CDC)
Cidadania Convenções de Genebra
Cidades dos Direitos Humanos Cooperação para o Desenvolvimento
Cimeira Mundial sobre a Sociedade da In- Criança
formação (CMSI) Crianças-Soldado
Coesão Crimes contra a Humanidade
Comissão Africana dos Direitos Humanos Carta Social Europeia
e dos Povos
Comissão de Direitos Humanos da ONU D
Comité de Direitos Económicos, Sociais e Declaração do Cairo sobre os Direitos Hu-
Culturais da ONU manos no Islão
644 ÍNDICE REMISSIVO
G N
Género Nações Unidas
Genocídio Não Discriminação
Global Compact
Globalização O
Grupos Vulneráveis Objetivos de Desenvolvimentos do Milé-
nio (ODM)
I Observatório Europeu do Racismo e da Xe-
Igualdade nofobia (OERX)
Igualdade de Género ODIHR
Impunidade Organização da Conferência Islâmica
Iniciativa Europeia para a Democracia e os (OCI)
Direitos Humanos Organização da Unidade Africana (OUA)
Integração Organização das Nações Unidas para a
Intolerância Educação, Ciência e Cultura (UNESCO)
ÍNDICE REMISSIVO 645
S X
Saúde Xenofobia
Saúde Pública
Secretário-Geral da ONU
Segurança Humana
Segurança na Alimentação