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A crise da visão grega: o helenismo

Assim como a cultura grega helenística avança para o Oriente - primeiramente com o domínio do
império macedônico que, com Alexandre, o Grande, levará a cultura helenística até a Índia; posteriormente
tal difusão ficará a cargo do domínio do império romano -, a cultura Oriental avança para o Ocidente -
inicialmente são os cultos politeístas das regiões de fronteira; depois, como maior importância, o
cristianismo e, já pela metade da Idade Média, o Islamismo.
A condição de dominados por outros povos não-gregos, neste caso, pelos macedônios e romanos,
afetou profundamente a filosofia helenística, que deixou de entender que a vida humana estava centrada na
polis (Cidade-Estado). A própria Atenas deixou de ser o centro do mundo grego, passando a sê-lo as cidades
do Oriente helenizado, como Alexandria.
Desse modo, não há mais como falar de autonomia política, como no período clássico, e a
realização humana não passa mais pelo espaço das leis e da participação nas coisas da polis, ou seja, da
política, na medida em que as leis não são mais elaboradas pelos próprios gregos, mas vêm de cima para
baixo do centro do poder, geradas por um outro, um bárbaro. Com isto, os pensadores do período helenístico
centram-se mais na temática ética, na vida interior. Tal postura leva a refletir a autonomia não mais no
contexto da política, mas de uma ascese pessoal. O “Conheci-te a ti mesmo” socrático é, de certa forma,
retomado.
A noção de humanidade que outrora estava circunscrita à cultura grega, de modo que os demais
povos eram vistos como bárbaros e, desta forma, sem a excelência humana, é ampliada para todo o mundo
dominado, e todos passam a serem os cidadãos do império, todos iguais. Com isto, até um escravo pode ser
um filósofo, o que seria impossível no mundo helênico. Observe que, de uma filiação dos homens pela
polis, com o cristianismo passa-se a uma vinculação de fraternidade entre os homens.
Num mundo conturbado como este, face aos temores desta época, a definição de homem procura
descartar a exterioridade. Assim, a natureza ou essência humana deve ser separada de todas as
características acidentais e externas. Uma fala de Marco Aurélio, apresentada por CASSIRER (1994, p. 18),
exemplifica tal posição: “Não chamai do homem nenhuma daquelas coisas que não lhe cabem como
homem. [...] Além disto, se qualquer dessas coisas coubesse ao homem, não caberia a ele desdenhá-las ou
opor-se a elas... mas, de qualquer forma, quanto mais o homem consegue libertar-se, desta e de outras coisas
tais como equanimidade, tanto mais ele é bom”.
Os estoicos, por exemplo, defendem que é possível fugir dos males do mundo, ou suportá-los, pois
aquilo que é do exterior não afeta o homem. Eles pregam a ataraxia - imperturbabilidade ou tranquilidade
da alma -, que pode ser tomada como sinônimo de felicidade, possível em função da apathia - ausência de
sensação - e da apraxia - a não-ação. Tal posição dá ao homem, lembra Cassirer (1994, p. 20), “... um
profundo sentimento de sua harmonia com a natureza como da sua independência moral em relação à
natureza.” Assim, o homem está em equilíbrio com o universo.
Para esses filósofos, o mundo é um corpo vivo, animado pelo pneuma, o sopro vital que lhe dá
vida, mas do mundo também faz parte a razão universal (logos) que está presente em tudo, de modo que,
para conhecer o mundo, é necessário considerar a relação entre “a natureza corpórea das coisas e a razão”.
Viver de acordo com a razão significa desviar-se das paixões, que são as perturbações da
razão. Se o mundo é regido por uma providência raciona1, o importante é que cada um se
reconheça como parte de1a, aceitando impassivelmente (sem paixão) a sua condição.
Nisso consiste a 1iberdade, e é por esse motivo que o homem pode ser 1ivre mesmo
quando escravo. Ausência de paixão, apatia - esse é o idea1 ético dos estoicos. (ABRAÃO,
1999, p. 75-76).
Também defendendo a razão como a fonte da felicidade, mas, discordando dos estoicos quanto ao
papel dos sentidos, dos estímulos exteriores, Epicuro toma o prazer (hedone) como fonte do equilíbrio
humano. Entretanto não se trata de qualquer tipo de prazer, mas o comedido. Aos temores de sua época
Epicuro responde que não há o que temer quanto aos Deuses, pois estes, como entes superiores, não afetam
os seres humanos. Também não devemos ter medo da morte, visto que esta é a total ausência de
sofrimentos, ou seja, a máxima tranquilidade, a felicidade plena, diz ele.
O epicurismo, desde a Antiguidade, foi mal entendido, e não são raras as imagens de bacanais e
orgias como a representação de tal posição filosófica. O cristianismo, a nova mentalidade que surge no
contexto helenístico, o nega fortemente.
Os elementos propostos pelos estoicos, na maior parte, se aproximam mais da nova mentalidade e,
por muito tempo, isto contribui para a transição entre a mentalidade grega e a cristã. Contudo aquilo que no
pensamento grego, desde seu início, é tomado como o máximo valor humano, a razão, para a nova
mentalidade pode ser a fonte da perdição humana. Nesta medida, o homem é visto como um ser misterioso
e, como tal, paradoxalmente, só o mistério pode ser a fonte de sua explicação.
No embate entre a cultura grega e a tradição cristã nascente, diversas posições se apresentam:
aquela que nega completamente as tradições gregas e as considera heréticas; aquelas que procuram manter
as tradições gregas com pequenas adaptações à época; e aquelas que estabelecem uma leitura dos dogmas
cristãos à luz das tradições gregas.

Diógenes de Sínope (413 - 323 a.C.)


Diógenes foi aluno de Antístenes, fundador da escola cínica. Em sua época Diógenes foi destaque e
símbolo do cinismo, pois tornou sua filosofia uma forma de viver radical. Diógenes expressava seu
pensamento através da frase "procuro um homem justo". Conforme relatos históricos ele andava durante o
dia em meio às pessoas com uma lanterna acessa pronunciando ironicamente a frase. Buscava um homem
que vivesse segundo a sua essência. Procurava um homem que vivesse sua vida superando as exterioridades
exigidas pelas convenções sociais como comportamento, dinheiro, luxo ou conforto. Ele buscava um
homem que tivesse encontrado a sua verdadeira natureza, que vivesse conforme ela e que fosse feliz.
Para ele os deuses deram aos homens formas para viverem de modo fácil e feliz, mas esses mesmos
deuses esconderam essas formas dos homens. Diógenes buscava descobrir esses modos de viver tentando
demonstrar que as pessoas têm a seu dispor tudo aquilo que realmente precisam para ser feliz. Mas para isso
as pessoas têm que conhecer a sua natureza e as verdadeiras exigências que essa lhe faz. Pensando nisso ele
afirma que a música, a física, a matemática, a astronomia e a metafísica são inúteis, pois são formuladoras
de conceitos, muito além dos conceitos. O que importa é a ação, o comportamento e o exemplo. Nossas
reais necessidades são para ele aquelas que nos impõe a nossa condição animal, como nos alimentar por
exemplo. O animal também não tem objetivos para viver, ele não tem que responder pelos seus atos para a
sociedade, ele não precisa de casa ou conforto. É nas necessidades básicas dos animais que o homem deve
se espelhar para conduzir sua vida.
Diógenes pôs em pratica seus pensamentos e passou a viver perambulando pelas ruas na mais
completa miséria tomando por moradia um barril o que se tornou um ícone do quão pouco os homens
precisam para viver. Alimentava-se do que conseguia recolher em sua cuia. Tinha por proteção um manto
que usava para dormir e usava os espaços públicos para fazer tudo mais que precisava. Segundo ele, esse
modo de viver o deixava livre para ser ele mesmo, pois eliminava a necessidade de coisas supérfluas. Ele
acreditava atingir essa liberdade cansando o corpo para se habituar a dominar os prazeres até desprezá-los
por completo, pois para os cínicos os prazeres enfraquecem o corpo e a alma, pondo em perigo a liberdade
do homem pois o torna escravo dos mesmos.
Os cínicos contestavam ainda o matrimônio e a convivência em sociedade. Eles se declaravam
cidadãos do mundo. Acreditavam que o homem deve ser autônomo e autossuficiente, tratando o mundo com
indiferença, pois a felicidade deve vir de dentro do homem e não do seu exterior.
Outro fato conhecido de Diógenes é seu encontro com Alexandre, então o homem mais poderoso
conhecido. Alexandre solicitou que Diógenes pedisse o que quisesse e este pediu que Alexandre saísse de
sua frente, pois estava tapando o sol. Diógenes estava, com esse ato, demonstrando o quão pouco ele
necessitava para viver bem conforme sua natureza.

Sentenças:
- Busco um homem honesto.
- Elogiar a si mesmo desagrada a todos.
- O amor é uma ocupação de quem não tem o que fazer.
- O insulto ofende a quem o faz e não a quem o recebe.
- A sabedoria serve para reprimir os jovens, para consolar os velhos, para enriquecer os pobres e para
enfeitar os ricos.
- A liberdade para falar é a coisa mais bela para um homem.
- Um filósofo só serve para machucar os sentimentos de alguém.
- O tempo é o espelho da eternidade.
- Sou uma criatura do mundo.

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