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Resumo
Este artigo investiga os fatores associados à frequência de indivíduos em eventos cul-
turais com desembolso direto, ou seja, pagamento de ingressos de sessões de cinema,
peças de teatro, concertos musicais, shows e exposições artísticas. Por meio de um
modelo Probit estima-se, para os anos de 2002-2003 e 2008-2009, a probabilidade
de ocorrência desse gasto, considerando-se o perfil socioeconômico do consumidor,
efeito do tempo livre (ausência de filhos menores no domicílio) e o efeito de um possível
“vício positivo”, como proposto por Stigler e Becker (1977) que, neste estudo, é tratado
pelo uso de uma variável indicadora de gasto com educação artística e instrumentos
musicais, sugerindo complementaridade entre consumo passado e presente.
A fonte de dados é a Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF), organizada pelo IBGE.
Os resultados mostram que renda e escolaridade são os principais fatores associados ao
perfil do consumidor de cultura fora do domicílio, mas evidenciam, também, que gastos
com educação artística contribuem positivamente para frequência a eventos culturais.
Palavras-Chave
cultura, consumo, vício positivo, probit, Brasil
Abstract
This paper investigates the determinants of attendance to cultural activities in Brazilian
metropolitan areas, through expenditures in tickets movies, museums, plays and ope-
ras, concerts and art exhibitions. Using a probit model, we estimate the probability of
expenditure, considering socio-economic profile, free time effect (absence of children
in the household) and positive addiction effect, as suggested by Stigler and Becker
(1977). The results show that income and education level of the consumer are the
main determinants of attending cultural activities, besides art education, our proxy to
positive addiction.
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Keywords
culture, consumption, positive addiction, Brazil
JEL Classification
Z11, D12
1. Introdução
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Por exemplo, o efeito de espetáculos de dança como substitutos de peças teatrais ou de ópe-
ras e vice-versa.
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O preço do lazer seria o custo de oportunidade, calculado a partir da taxa de salário real
ajustada pelo nível de desemprego.
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Renda ampla é quase seis vezes maior que a renda disponível.
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Considera aulas de teatro e atuação.
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Belém, Fortaleza, Recife, Salvador, Belo Horizonte, Rio de Janeiro, São Paulo, Curitiba e
Porto Alegre. Incluem-se ainda os municípios de Goiânia e o Distrito Federal
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Como fonte de dados sobre equipamentos culturais utiliza o Suplemento de Cultura da
Pesquisa de Informações Básicas Municipais – MUNIC 2006.
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3. Metodologia
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Base de Dados
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Estratégia Econométrica
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Belém / Fortaleza / Recife/ Belo Horizonte / Rio de Dummies para cada região metropolitana da POF. (Região de
Janeiro / Salvador / Curitiba / Porto Alegre referência: São Paulo)
Ano 1 – 2009; 0 – 2003.
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Por fim, inclui-se uma proxy para testar o efeito “vício positivo”
relatado no modelo de Stigler e Becker (1977). Trata-se de uma
dummy referente aos domicílios que possuem gasto positivo com cur-
sos relacionados a atividades artísticas – curso de dança, de pintura,
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4. Resultados
Análise Descritiva
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Finalmente, no que diz respeito aos gastos com cursos ligados à arte
e com a compra de instrumentos musicais, considerados como gastos
em educação artística, o percentual de domicílios que declaram al-
gum gasto é substancialmente baixo, não atingindo 5% nem mesmo
no caso das regiões metropolitanas. Entre os dois períodos há uma
pequena elevação deste percentual, com exceção de Belo Horizonte,
Salvador e Porto Alegre, que registram queda. Com relação à par-
ticipação sobre o gasto total, este sobe no caso do Brasil, mas cai
para as regiões metropolitanas, principalmente em São Paulo, Rio
de Janeiro e Curitiba.
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Tabela 1 - Percentual de domicílios consumidores (D) e participação no gasto total dos que consomem
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D P D P D P D P D P D P D P D P
Brasil 26,97 0,96 27,13 1,16 10,25 0,74 10,07 1,15 57,46 3,23 67,76 3,73 3,10 1,26 4,14 1,57
RMs 39,08 1,01 32,57 1,29 18,00 0,74 15,99 1,18 69,80 3,45 70,76 3,54 4,12 1,49 4,55 1,36
Belém 30,69 0,95 34,78 1,31 7,53 0,71 12,08 1,43 68,03 2,94 83,89 3,96 2,48 0,76 6,06 1,41
Fortaleza 32,59 1,24 33,32 1,16 12,92 0,60 8,64 0,77 63,71 3,45 76,07 3,99 1,60 1,22 3,82 1,30
Recife 42,17 1,18 38,53 1,42 14,16 0,99 11,96 1,38 68,40 3,83 73,28 4,41 2,03 0,61 3,05 0,89
Salvador 46,70 1,16 34,35 1,43 18,76 0,75 13,64 1,54 70,16 3,55 76,31 4,26 3,70 0,91 3,06 1,00
Belo Horizonte 40,51 0,94 38,89 1,21 15,04 0,62 18,48 1,06 68,55 3,53 76,86 3,46 7,48 1,12 4,65 1,32
São Paulo 40,69 1,03 30,96 1,26 20,62 0,78 18,50 1,13 69,26 3,65 69,22 3,49 4,13 1,98 4,68 1,40
Curitiba 37,96 1,04 26,21 1,19 17,68 0,67 9,98 1,33 74,47 3,19 52,15 3,42 3,86 1,98 4,60 1,73
Porto Alegre 47,07 0,90 37,77 1,12 19,32 0,66 14,09 1,00 77,24 3,14 78,13 3,33 5,09 0,82 5,04 1,33
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e mercadorias advindas das indústrias culturais como a do cinema, livro e disco.
plementares. Este valor dos bens inventariados também é incluído na construção da variável
arte propriamente ditas (artes plásticas ou visuais), espetáculos ao vivo (artes performáticas
bens inventariados referentes a aparelhos eletroeletrônicos considerados entre os bens com-
A variável referente ao gasto total representa a soma de todos os gastos com consumo do domi-
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cílio, excetuando-se gastos com aluguel, e acrescentando-se a estimativa da soma do valor dos
A definição de bens culturais diretos se baseia em Diniz (2009), e dizem respeito às obras de
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No que diz respeito à cor declarada pelo chefe, é possível notar que
este é um fator que diferencia fortemente o percentual de domicí-
lios consumidores, sendo a participação dos domicílios, cujo chefe
é branco, duas vezes a participação dos domicílios cujo chefe é ne-
gro, em 2002-2003. Esta diferença diminui pouco em 2008-2009.
Quando se trata dos domicílios que declaram gasto positivo com
produtos culturais externos, são os chefes entre 40 e 60 anos que
possuem os maiores percentuais, sendo que em 2002-2003 este per-
centual era maior para a faixa entre 41 e 50 anos; já em 2008-09,
para a faixa entre 51 e 60. Somente a faixa etária mais jovem, de
18 a 25 anos, registra aumento do percentual de domicílios consu-
midores, o que possui a característica positiva de ser a faixa etária
associada a chefes de classes sociais mais baixas.
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5. Considerações Finais
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Referências
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STIGLER, G. J.; BECKER, G. S. De gustibus non est disputandum. American Economic Review,
Nashville, v. 67, n.2, p. 76-90, Mar. 1977.
TOLILA, P. Cultura e economia: problemas, hipóteses, pistas. São Paulo: Iluminuras/Itaú Cultural, 2007.
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