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história, cultura
e crendices
Oficina 1
7
Oficina 2
13
Oficina 3 Oficina 6
19 37
Oficina 4 Oficina 7
25 47
Oficina 5 Oficina 8
31 55
Oficina 9
63
Glossário
69
Apresentação
Agora chegou a sua vez de fazer parte deste trabalho. Esta apostila
contém o conteúdo das nove oficinas que fazem parte do projeto Cultura na
Escola e serve de base para as atividades que serão desenvolvidas ao longo
do ano.
Belisa Maggi
Presidente da Fundação André e Lucia Maggi
Projeto Cultura na Escola
Agradecimentos
Muito obrigado.
Oficina
Itacoatiara: história, cultura e crendices
Introdução
Itacoatiara está entre os agrupamentos urbanos fundados no século XVII pela colonização portuguesa. Inicial-
mente uma aldeia itinerante do médio Rio Madeira administrada pelos padres jesuítas, o núcleo foi transladado em
1758 para a beira do Rio Amazonas, onde no ano seguinte recebeu os fôros municipais com o título de vila de Serpa
e, finalmente, a 25 de abril de 1874, ganhou a categoria de cidade com a atual denominação. Devido à sua excelen-
te posição geográfica, possui um relevante papel no contexto de ocupação da Amazônia Ocidental.
Etimologia
O termo Itacoatiara, aportuguesado do tupi
i’tá kwati’ara, refere-se ao Sítio Itaquatiara, na
orla do bairro do Jauari, onde, nas épocas de
vazante, podem ser vistos desenhos e pintu-
ras sobre pedras reproduzindo figuras huma-
nas e de animais, feitos pelos índios Aroaqui,
no período pré-colombiano. Por isso, a cidade é
conhecida como “Cidade da Pedra Pintada”.
Primeiros Habitantes
Os primeiros humanos teriam chegado ao continente americano aproximadamente 15 mil anos atrás. Vindos da
Ásia, ultrapassaram o Estreito de Bering, atravessaram as Américas do Norte e Central e entraram na América do
Sul pelo território da Colômbia. De lá, foram se expandindo lentamente até alcançar a Amazônia há uns 12 mil anos.
Os índios amazônicos adoravam ídolos, hábito que foi lentamente substituído pelos ritos católicos. Os pajés se
consideravam portadores de poderes ocultos, orientadores espirituais que, às vezes, assumiam o papel de médi-
cos, sacerdotes ou faziam o uso de plantas para fins medicinais ou invocações de entidades. Na seara indígena,
conhecendo os meios de entrar em contato com os espíritos, eles se julgavam aptos a afastar ‘mal olhado’ e a
mudar o destino das pessoas.
Na Costa da Conceição, uma comunidade rural situada um pouco acima da cidade de Itacoatiara, há um igarapé
de nome Cainamã. É uma alusão a Cainamé, entidade fantástica ou espírito sobrenatural que, em tempos idos,
aparecia de noite para amedrontar os moradores do local. Remonta aos séculos essa estória, mas ainda hoje quem
passa por ali, à noite, sente medo. Parece um lugar de atuação de um pajé aiba, amigo do espírito das trevas.
Por natureza, o habitante de Itacoatiara é sempre marupiara, que para os índios era uma pessoa feliz na caça
ou na pesca; e nos dias atuais uma pessoa que procura ser feliz nos negócios e nos amores. Diferente de panema:
infeliz na vida, azarado, ou vítima de feitiço.
Segundo a mitologia indígena, as cidades do baixo e médio Amazonas são sustentadas pela cabeça de uma
cobra gigante, correndo-se o perigo dessa cobra querer afundar de vez destruindo a cidade que está sobre ela.
Outra cobra gigante, conhecida como Boiúna ou Mãe D’Água, cujas peculiaridades são morar no fundo dos rios,
sair somente na lua minguante e aparecer em forma de um jogo de luzes fosforescentes desenhando no ar uma
caravela, ainda hoje confunde e assusta os navegantes noturnos.
Durante a Batalha Naval de 1932, que ocorreu em frente a Itacoatiara, conta-se que uma cobra grande ‘ajudou’ a
derrotar os invasores embarcados nos navios “Jaguaribe” e
“Andirá”, vindos da cidade paraense de Óbidos, sob o
comando do tenente Alderico Pompo de Oliveira,
que ameaçavam bom-
bardear Itacoa-
tiara. Naquela
ocasião,
segundo
visionários da
época, o afun-
damento
dos navios
se deu pela
‘mexida’
ou o ‘des-
locamento’
da cobra,
causando ra-
chaduras na
orla da cidade.
Outras Mitologias
Entre as narrativas dos antigos moradores que possuem um componente simbólico, passando de geração para
geração, estão as seguintes:
Curupira
É o mais endiabrado dos duendes da floresta. Rotulado de protetor das ma-
tas, apresenta-se como um moleque travesso de cabelos vermelhos, corpo
de macaco e os pés virados para trás, costuma castigar caçadores por meio
de ilusão de ótica.
Matinta Perera
Esse mito é uma variação do saci-pererê. Pequena figura
agourenta que pode assumir as formas de ave ou bruxa.
Causa medo perto dos tapiris onde canta, querendo café
e tabaco, o que deve ser atendido para que desapareça
dali sem fazer desgraças.
Murucututu
Coruja agourenta que exerce o papel de espantalho de
crianças que se recusam a dormir. Nas noites escuras,
durante seu piar fúnebre, as mães a invocam cantando:
Murucututu / Da beira do telhado / Leva menino / Que
quer ficar acordado.
Mais Crendices
Nascidas do imaginário popular que fazem parte do folclore regional.
Espinhela caída: revela-se por uma dor no interior da caixa toráxica. Só se cura com a ajuda de rezadores;
Jabuti: tido como o animal mais azarento da região. Pilotos de avião abominam transportar não somente jabu-
tis, mas qualquer espécie de quelônios;
VOCÊ SABIA?!
Que cidade e Município possuem conceitos diferentes, mas não dissociativos. Cidade é um grande aglomerado
de pessoas que objetiva o desenvolvimento comunitário. Município é um ente federativo – administrado por um
prefeito e uma câmara de vereadores - que integra junto com os Estados e o Distrito Federal a República Federati-
va do Brasil.
Geografia
Localização
A cidade de Itacoatiara está localizada no coração da grande zona intertropical, na Mesorregião centro-leste do
Estado do Amazonas, e integra a Região Metropolitana de Manaus (RMM). Fica 26 metros acima do nível do mar e
está assentada à margem esquerda do Rio Amazonas, um pouco acima da embocadura do Rio Madeira. Distante
177 km de Manaus, em linha reta, e 276 km por via rodoviária.
Hidrografia
O município é banhado pelos rios Amazonas, Madeira, Urubu, Preto da Eva, Anebá, Caru, os lagos de Serpa, Preto,
Miratuba, Canaçari e grande número de igarapés. Constitui-se de dois distritos: a sede e a vila de São José do Amatari.
Rio Amazonas
Limites
O município de Itacoatiara limita-se:
• Oeste: com os municípios de Manaus e Rio Preto da Eva;
• Norte: com os de Silves e Itapiranga;
• Sul: com os de Autazes, Careiro e Nova Olinda do Norte;
• Sudeste: com o de Maués;
• Leste: com os de Boa Vista do Ramos e Urucurituba.
Os grandes mamíferos da água, como o peixe-boi e o boto, são encontrados somente em regiões sem muita
movimentação. Algumas árvores nativas, como andiroba, copaíba, sumaúma, pau rosa, são encontradas apenas
em áreas intactas, nos altos rios. Ainda é possível encontrar inúmeras espécies de répteis (cobras: jiboia, sucuri,
surucucu, coral, cascavel, jararaca, etc.; quelônios: jabuti, tartaruga, tracajá, perema, mata-matá, cabeçudo, iaçá
ou pitiú; jacarés: açu e tinga; lagartos: camaleão, lagartixa, etc.) e primatas (macacos: cuxiu-preto, sauni-de-colei-
ra, macaco-prego, guariba, macaco-aranha, mico-de-cheiro, macaco-barrigudo, etc.), anfíbios e milhões de insetos,
pássaros e peixes de várias espécies, plumagens e peles...
Ainda assim, a cidade é circundada de matas de terra firme, várzeas e igapós – revestimento florístico que
corresponde ao clima tropical quente e úmido, presente em toda a Amazônia, chegando a alcançar a temperatura
anual média de 26º C e a máxima de 38º C.
Governo Municipal
Município misto porque contém quantidades significativas tanto de território urbano quanto de território rural, Ita-
coatiara rege-se por Lei Orgânica própria, aprovada segundo os princípios estabelecidos na Constituição Federal e
na Estadual. São dois os poderes do município: legislativo e executivo, o primeiro composto pelos vereadores que
têm como função propor/aprovar leis e fiscalizar o trabalho da prefeitura; e o executivo, formado pelo Prefeito, por
seus secretários e demais servidores públicos. Como chefe da administração, ao prefeito compete executar as
leis aprovadas pela Câmara e prestar os serviços para os cidadãos.
Não existe Poder Judiciário na esfera municipal. Os órgãos judicantes instalados no Município (Comarca Judiciária
e 3ª Zona Eleitoral) são da órbita do Tribunal de Justiça do Amazonas e do Tribunal Regional Eleitoral.
Representação Política
Em âmbito local é exercida por 15 vereadores, escolhidos em eleição direta juntamente com o prefeito munici-
pal, para um mandato de quatro anos.
Símbolos Municipais
São a Bandeira, o Brasão e o Hino. Os dois primeiros, de autoria do artista plástico Antonildes Mendonça, foram
instituídos pela Lei municipal nº 14, de 18 de maio de 1982, projeto do vereador Getúlio Lima. O Hino, escrito em
1968 pela religiosa Rita de Cássia Dias, e musicado pelo maestro Geraldo Dias, em abril de 1997 foi oficializado
pelo prefeito Miron Fogaça.
Bandeira de Itacoatiara
Demografia
Composição Étnica
Itacoatiarense é o gentílico dos nascidos no município de Itacoatiara.
Sua população resultou da mistura de indígenas, africanos e europeus. Povos do passado e do presente, migra-
dos de várias partes do mundo e da maioria dos estados brasileiros, têm contribuído para reinventar a identidade
da nossa gente. A posição estratégica da cidade, à margem do maior e mais caudaloso rio do mundo, é a causa-mor
da chegada de pessoas de fora, vindas de todos os cantos, para passear, estudar, trabalhar, viver a vida; que mes-
clam o seu sangue com o de outras raças, produzindo uma nova cor, novas faces, outros biotipos – consequências
que conferem aos moradores locais a condição de ‘povo misturado’. Em todos os segmentos representativos da
sociedade local – estudantil, docente, empresarial, político, etc., há descendentes de português, judeu, espanhol,
sírio-libanês, italiano, etc., misturados com nacionais do Norte, do Nordeste, do Centro-Oeste, do Sudeste e do Sul.
Área e População
A área da unidade A população municipal é Densidade demográfica:
territorial é de estimada em 98.503 hab. 9,77 hab/km2.
8.892,038 Km². (3ª do AM - IBGE/2015). (IBGE/2010).
Distribuição por
População Residente: População Urbana: População Rural:
Sexo - Masculino: 44.426
86.839 hab. 58.157 hab. 28.682 hab.
hab. (IBGE/2010). Feminino:
(IBGE/2010). (IBGE/2010) (IBGE/2010).
42.413 hab. (IBGE/2010).
Sede da 3ª Zona Eleitoral, o Município de Itacoatiara ocupa a terceira posição entre as cidades do Estado que
mais aumentaram o contingente eleitoral. Em agosto de 2015 saltou de 55.269 eleitores para 57.444: um ganho
de 2.175 eleitores.
A cidade divide-se em 24 bairros, inclusive o centro histórico. São 19.884 domicílios (IBGE/2015). Segundo a
planta topográfica elaborada em 1909 pelo agrimensor Cassiano Secundo, Itacoatiara possui um belo traçado
urbano focado em logradouros largos e bem urbanizados, com destaque para a Avenida Parque com 1.800 m de
extensão, duas pistas de rolamento e passeio central rodeado de oitizeiros formando um grande túnel verde. É um
dos orgulhos da cidade.
O Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM) – 0,644 médio –, medido pelo Programa das Nações
Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) é o quinto do Estado do Amazonas e o terceiro da Região Metropolitana de
Manaus (RMM).
VOCÊ SABIA?!
Que a cidade de Itacoatiara teve por berço o Rio Madeira?
Que ela nasceu em 1683, tornou-se vila em 1759 e foi elevada à cidade em 1874?
História
Conquista e Expansão
Período Colonial Época em que a Amazônia este-
A organização estatal na Amazônia, marcando definiti- ve sob o domínio do Império Ultramarino Português. Co-
vamente a ocupação dos portugueses na região, come- meçou com a chegada dos colonizadores, nas primeiras
çou em 1616, com o estabelecimento pelo capitão-mor décadas do século XVII, e terminou no dia 16 de agosto
Francisco Caldeira de Castelo Branco do Forte do Pre- de 1.823, com a junção da região ao Império do Brasil.
Durante este período, todo o território amazônico foi ad-
sépio, raiz da cidade de Belém do Pará. O gesto daquele
ministrado pela Coroa portuguesa. Todavia, a colonização
sertanista seria ratificado pelo rei Filipe III, criando em
da chamada Amazônia Ocidental – o largo trecho entre o
1.621 a Capitania do Maranhão e Grão-Pará, com sede na Rio Nhamundá e a fronteira do Javari, no alto Solimões –
cidade de São Luís, desmembrada do Brasil e subordinada teve início na segunda metade do século XVII.
diretamente a Lisboa.
A primeira viagem exploratória ao interior da região coube ao bandeirante Pedro Teixeira, o qual subiu o Rio
Amazonas em 1.637, alcançou Quito, no Equador, retornando em 1.639. Depois dele, missionários, militares e civis
incursionaram pela região, ocasionando conflitos entre portugueses e nativos. Em 1.653, destacado para dirigir a
evangelização dos indígenas, chega a Belém o famoso padre Antônio Vieira. Investido no cargo de superior regional
dos jesuítas, logo se tornaria o grande defensor da luta pela liberdade dos índios.
Entradas no Amazonas
O Regimento das Missões, baixado pela Lei de 9 de abril de 1.655, foi o documento-base da ação missionária
na Amazônia. A partir dele e sob a inspiração do padre Antônio Vieira, começaram os contatos com os índios do
médio e alto Amazonas. Para inaugurar as entradas nesta região
foram convocados os missionários Francisco Veloso e Manuel
Pires. Compondo a tropa de resgate do capitão-mor Vital Maciel
Parente, partiram de São Luís em 22 de junho de 1657, subiram o
Amazonas e, lá pelo final de agosto, pararam na aldeia de Matari,
ao lado esquerdo do Paraná do mesmo nome, nas proximidades da
atual vila do Engenho, acima de Itacoatiara. Celebraram missa e
assistiram aos índios Aroaqui. Prosseguindo viagem, alcançaram
o Rio Negro e passaram ao seu afluente Tarumã. Segundo Serafim
Leite, iniciavam ali “a colonização, exploração e catequização do
atual Estado do Amazonas”.
O retorno dos jesuítas à Amazônia oficialmente teve início no dia 7 de setembro de 1662, à exceção do padre
Vieira, que não retornou mais à região.
Fundação de Itacoatiara
Em fins do século XVII observa-se uma expansão das atividades missionárias com a criação de numerosas mis-
sões no Estado do Maranhão e Grão-Pará, incluída a futura Itacoatiara. Em março de 1.682, o jesuíta suíço Jódoco
Perez assumiu em Belém o cargo de superior da Ordem. E recebera a missão de viajar ao Rio Madeira para ver a
possibilidade de estabelecer ali residência entre os índios Iruri. O missionário deixou Belém provavelmente a 9 de
junho de 1.683. Depois de uma viagem de mais de 1.500 km subindo o Amazonas, ingressa no Madeira e, próximo
à boca do Rio Iruri, realiza o primeiro contato com membros da etnia desse nome: isso provavelmente no dia 7 de
setembro.
Afluente da margem direita do médio Rio Madeira, o Iruri, mais tarde redenominado Mataurá, é um rio pouco
extenso e de águas negras; fica acima do Rio Manicoré, entre os rios Atininga e Mariepáua.
Supondo-se que já anoitecia, só na manhã do dia seguinte, 8 de setembro, Jódoco Perez mandou levantar
uma cruz, celebrou missa e, perante toda a tribo, fundou o núcleo embrionário da cidade que haveria de vir. Era
Dia de Nossa Senhora da Luz e marcaria a primeira data histórica fundamental na vida cristã e civilizada da futura
Itacoatiara.
Os contatos da equipe do padre Jódoco Perez em favor da conversão dos Iruri foram feitos em língua geral, com
presentes e mensagens de paz. Depois de uns 15 dias missionando entre eles, o padre superior retornou levando
um filho do tuxaua Mamorini que, em Belém, aprenderia português e nheengatu e mais tarde retornaria aos seus
parentes como um intermediário nas negociações com os jesuítas. Mas, antes de partir Perez comprometeu-se
com os índios em mandar padres para assisti-los na nova povoação.
O fundador de Itacoatiara
Jódoco Perez nasceu em 20 de fevereiro de 1633 em Friburgo, na Suíça.
Estudou no colégio dos Jesuítas de sua terra natal entre 1644 e1653. Ingressou
na Companhia de Jesus em 15 de outubro de 1653, onde concluiu o noviciado
em 15 de outubro de 1655. Fez o Curso de Filosofia entre 1656 e 1658. Profes-
sor do Ensino Médio entre 1658e 1661, foi ordenado em 19 de junho de 1666.
Docente de Lógica no Colégio de Munique entre 1667 e 1668 e de Filosofia na
Universidade de Dillingen, de 1669 a 1671. Em seguida, foi enviado para Galiza
e de lá para Lisboa, de onde foi para o Estado do Brasil. De Salvador, na Bahia, foi
em 1678 para o Maranhão e em seguida para o Grão-Pará. Entre 1678 e 1681
pregou a fé cristã em muitas aldeias: foi incansável percorrendo centenas de
quilômetros em barcos e a pé pela floresta e rios da Amazônia. Faleceu em 22
de maio de 1707 em Belém.
Os colonos, liderados pelos irmãos Beckman, produtores rurais do Maranhão, insatisfeitos com a Lei do Escam-
bo e com os jesuítas que continuavam com o controle das aldeias de índios livres, impossibilitando-os de obterem
facilmente mão-de-obra escrava, revoltaram-se contra os missionários que, em consequência, pela segunda vez
foram expulsos da região - isso aconteceu no dia 26 de março de 1684.
Em 1685, os líderes da Revolta dos Beckman foram presos, levados a julgamento e condenados. Ato contínuo,
os jesuítas retornaram aos seus postos na região amazônica, inclusive o padre Jódoco Perez, que voltou em maio
de 1687. Trazia recomendações de Lisboa para apoiar o trabalho missionário e, seguindo a diretriz do Regimento
das Missões, “ajudar a nova missão do Rio Madeira”.
Itacoatiara é uma comunidade dotada de rica história e repleta de tradições. Quando Jódoco Perez chegou ao
Rio Madeira, no século XVII, deparou-se com a tribo dos Iruri, cuja origem é centrada na seguinte lenda:
Corria lenda que procedia de uma mulher-deusa que veio grávida do céu e pariu cinco filhos: Iruri, Aripuanã,
Onicoré, Torori e Paranapixana, dando origem às respectivas tribos. Depois, surpreendida por seus filhos comendo
peixe moqueado, a deusa ficou tão envergonhada que resolveu voltar para o céu. Daí em diante, os índios Iruri não
mais comeram peixe assado no moquém.
Os atos fúnebres seguiam uma simbologia: os corpos de seus líderes eram enterrados dentro de uns paus fura-
dos e, segundo João Felipe Bettendorff, “juntos com sua manceba mais querida e o seu mais mimoso rapaz”. Para
o restante da tribo, o sepultamento consistia em envolver os corpos em caixões ou troncos ocos e enterrá-los
dentro de suas casas – costume que se confrontava com a doutrina católica.
Excelentes artesões, fabricavam instrumentos musicais de sopro e de guerra tanto para uso próprio como para
vender a terceiros. Os Iruri - hoje totalmente extintos - plantavam mandioca, cheiravam o paricá e do cacau faziam
o cacauarí, bebida fermentada ainda hoje de larga aceitação, que consumiam durante os festejos da tribo.
Cultores da alegria e da descontração, usavam apitos imitando o canto dos pássaros e tiravam sons de flautas
de bambu para invocar deuses e controlar a natureza. Para interagir socialmente ou em rituais religiosos, além da
flauta tocavam o tambor e o membitarará - o segundo feito de troncos de árvores escavados como barris, encapa-
dos com peles de animais, e o último de pedaços de maçaranduba colados e unidos por tranças de cipós fortes.
VOCÊ SABIA?!
Sapopema, ou sapobemba, é uma palavra originada do tupi sau’pema, que significa raiz chata. Ela nomeia um
tipo de raiz grande que se desenvolve junto com o tronco formando divisões achatadas em torno dele. Raízes do
tipo sapopema são facilmente encontradas em matas de terra firme e de igapó (zona alagável) da Amazônia e
podem atingir até dois metros de altura e 10 metros de diâmetro.
Dotadas de beleza impressionante, as sapopemas agem como escoras que dão mais estabilidade aos troncos
das árvores.
A Missão Itinerante
Antes de ser fixado à margem esquerda do Rio Amazonas, por diversas razões, o povoado que deu origem a
Itacoatiara percorreu outros locais, conforme veremos a seguir:
Os padres João Ângelo Bonomi e José Barreiros partiram de Belém “pelas festas do Natal” de 1688, levando de
volta o filho do tuxaua Mamorini, já batizado e conhecedor da língua geral, e chegaram na localidade possivelmente
a 15 de março do ano seguinte. Espantaram-se ao encontrar no Rio Madeira colonos de Belém explorando livre-
mente o cacau e outros produtos florestais. Assistiram os Iruri por volta de um ano. Reorganizaram o aldeamento
na foz do Mataurá, segundo Bettendorff, “ensinando a todos os mistérios da fé [católica], acudindo aos adultos
com o batismo na hora da morte, e batizando os meninos em tempo mais convenientes”. Fundaram casa paroquial
e uma igreja, e nesta depositaram quatro imagens para que os índios prestassem culto de adoração.
Porém, em julho de 1691, padre Bonomi caiu doente, pela segunda vez, e teve de se retirar em definitivo para
Belém. Pouco antes, seu companheiro José Barreiros havia sido transferido para Monte Alegre, no Pará.
A retirada de ambos não agradou ao rei de Portugal. Reconhecendo-se que o Mataurá não era propício para
residência, resolveu-se transferi-la para outro local, ainda na região do Madeira. Os jesuítas haviam registrado uma
grande movimentação dos colonos na captura de índios ali aldeados. Canoas que iam ao sertão buscar cacau,
cravo e outros produtos da floresta, voltavam conduzindo escravos, além dos frutos para a exportação, motivando
os moradores a deslocar a missão para um sítio da margem direita do Canumã, quase na sua confluência com o
Paraná do Urariá, distante cerca de 280 km do lugar original. A mudança foi efetivada em agosto de 1691.
No final do século XVII para o começo do seguinte, Abacaxis já era um povoado historicamente reconhecido e
consolidado. A maioria de sua população era composta de índios da etnia do mesmo nome. Em 1712 já despontava
como uma das melhores residências jesuíticas. Prosperou muito sob a administração do frei João de Sampaio,
considerado o maior apóstolo do Rio Madeira.
Seus moradores, além de ocupados em roças de mandioca e milho, exerciam atividades de caça e pesca. Parte
da farinha e dos beijus que produziam atendia às encomendas das tropas que iam aos sertões. Muitos trabalha-
vam na colheita e no beneficiamento de cacau, na salga e secagem de peixes, e como mateiros e remeiros de
feitores e milícias armadas. Nos anos pós-1720 ampliaram-se os ataques dos Mura às povoações do Madeira,
inclusive a Abacaxis. Os perigosos indígenas saqueavam casas e roçados no entorno da missão, matando e/ou
aprisionando vários de seus habitantes.
Em 1757, os moradores de Abacaxis, cansados da perseguição dos índios Mura e procurando um lugar mais
propício à sua saúde e tranquilidade, abandonaram o lugar e se transferiram para um sítio à margem esquerda do
Rio Madeira, defronte à Ilha das Guaribas, uns 60 km abaixo da atual cidade Borba. Além das circunstâncias, agiram
assim estimulados pelo governador Mendonça Furtado quando, no ano anterior, passou pelo lugar.
Naquela oportunidade, o estadista colonial, segundo a carta que enviou a Lisboa em 4 de julho de 1758, afirmou
que vinha com “a resolução de erigir a vila com o nome de Serpa”. Porém, em razão dos moradores “requererem
instantemente que se queriam tirar daquele sítio, porque nele não logravam uma hora de saúde e que se conser-
vavam ali violentados pelos padres que os administram”, aconselhou-os a se mudarem para o Sítio Itaquatiara,
afirmando: “E lhes nomeei uns poucos de sítios para eles escolherem o que lhes parecesse melhor a bem da sua
saúde e da sua conveniência. Em observância desta ordem foram ver os sobreditos sítios e escolheram entre eles
um chamado Itaquatiara, sobre o Amazonas, a dois dias de viagem da primitiva habitação”.
Em 1754, com a missão de tratar sobre as delimitações territoriais entre Portugal e Espanha, foi ao Rio Negro
para se encontrar com o representante do governo espanhol, Dom José Iturriaga. À frente de uma comitiva de
mais de 1000 pessoas, deixou Belém em 12 de outubro, mas não fez viagem direta: foi visitando as povoações
situadas ao longo do Amazonas.
Na tarde do dia 29 de dezembro a expedição aportou, para descansar, no sítio Itaquatiara. Antes de retomarem a
viagem, no amanhecer seguinte, foi rezada uma missa. Furtado mandou registrar em ferro e fogo, numa das pedras
da margem do Jauari, a sua passagem pelo local. É a Pedra Histórica que dois séculos depois tornar-se-ia símbolo
municipal de Itacoatiara.
Em 1758, para instalar a Capitania de São José do Rio Negro, célula político-administrativa que originou o Estado
do Amazonas. Deixou Belém em 15 de janeiro, acompanhado do coronel Joaquim de Mello e Póvoas, seu sobrinho
e recém-nomeado governador da nova Capitania. No caminho, ia criando as vilas e lugares e instalando as câmaras
municipais. No território amazonense rumou direto para o Rio Madeira, alcançou Borba e em seguida encontrou-se
com os habitantes da missão de Abacaxis. Teve seu plano de transformá-la em vila adiado em razão das queixas de
seus moradores que, entre outras coisas, reclamavam do padre alemão, Antônio Maisterbourg, que os missionava.
Dali voltou para Belém no dia 26 de dezembro, transferiu as rédeas do governo ao seu substituto legal e viajou para
Lisboa, aonde foi assumir o cargo de secretário de Estado adjunto ao Marquês de Pombal.
Pedra Histórica
Símbolo maior de Itacoatiara. Ilustra a Bandeira e o Brasão municipais.
Retirada da beira do Rio Amazonas e depositada atualmente em frente à Catedral de Nossa Senhora do Rosário,
contém grafadas as datas de 1744 e 1754, além da figura de uma cruz e a palavra TROPA.
As datas simbolizam a passagem do sertanista Francisco Xavier de Morais pelo Sítio Itaquatiara, em 1744, e a
primeira viagem do governador Mendonça Furtado a caminho do Rio Negro, em 1754.
A palavra tropa se reporta aos militares portugueses que acompanhavam o governador Mendonça Furtado.
Vila de Serpa
A transferência dos moradores para a margem esquerda do Amazonas aconteceu em 18 de abril de 1758,
sendo que à nova povoação vieram ter grupos de índios Abacaxis, Arara, Iruri, Mundurucu e Torá. Mais tarde se
juntariam membros das etnias Aaná, Anicoré, Aponariá, Baniba, Bary, Cumaxiá, Curuaxiá, Juma, Juqui, Juri, Maué,
Mura, Pariqui, Passé, Sará, Tururi e Urupá. Juntos na nova comunidade trabalhariam mais diretamente envolvidos
com a economia extrativa e agrícola de subsistência.
Em ritmo de mutirão, os índios deram início aos trabalhos de derruba, limpeza e encoivaramento da área de
terra alta dominada por enorme, quase impenetrável floresta, onde seriam implantadas suas casas de residência,
a igreja e as repartições da futura vila. É o quadrilátero atualmente ocupado pela Praça da Catedral. Foram nove
meses de trabalho árduo. A localização estratégica do novo núcleo atendia aos interesses da Coroa Portuguesa,
possibilitando um maior controle sobre as aldeias vizinhas. Segundo afirmou Mendonça Furtado, em carta de 7 de
julho de 1.758, dirigida a Portugal:
A vila foi inaugurada no dia 1° de janeiro 1759, com o nome oficial de Nossa Senhora do Rosário de Serpa. A
cerimônia de instalação, presidida pelo governador Melo e Póvoas, revestiu-se das formalidades de praxe: o Pelou-
rinho, símbolo das franquias municipais em forma de coluna, foi levantado no terreno escolhido para servir a praça
principal e, sob aclamações de “Viva o Rei!”, foram dados tiros para o alto, saudando o soberano português. Em
seguida foi rezada missa em ação de graças.
Culminando a festa, foi instalada a Câmara, entidade autárquica que, incumbida de gerenciar o poder adminis-
trativo e judiciário, exerceria um importante papel político na vida comunitária, intervindo na atividade econômica
como órgão gestor e fiscalizador dos preços, dos produtos e serviços. Com a posse dos vereadores - escolhidos
entre os mais esclarecidos do lugar, portugueses e índios, já convivendo pacificamente, perfeitamente integrados
- foi dado início à vida municipal.
Para promover a elevação do povoado à vila, Mello e Póvoas fez-se acompanhar do vigário-geral da Capitania,
padre José Monteiro de Noronha, do comandante militar Gabriel de Souza Filgueiras, do juiz João Nobre da Silva, do
procurador da Câmara de Barcelos Agostinho Cabral de Souza, do tabelião e escrivão da mesma Câmara Francisco
Xavier de Andrade, do engenheiro militar Filipe Sturm, de oficiais e soldados da força militar, feitores, comerciantes
e pessoas designadas para agentes públicos locais.
O projeto de vila que o governador encomendara ao engenheiro Filipe Sturm, previa um traçado com forma de
hexágono e jamais foi executado. O original manuscrito da respectiva planta encontra-se na Biblioteca Nacional de
Lisboa, em perfeitas condições.
O governador via nos jesuítas o perigo da penetração estrangeira. Havia denúncias de que atentavam contra a
soberania lusitana; desobedeciam as ordens do Marquês de Pombal; exploravam o braço indígena em proveito pró-
prio e os instigavam contra a Coroa. Mandou pôr fora da região quatro jesuítas tidos como perigosos à ordem, taxa-
dos de contrabandistas, entre eles os padres Antônio José e Roque Runderpfund, que missionavam no Madeira.
Em Belém, o bispo do Grão-Pará, frei Miguel de Bulhões, cria a Vigararia-Geral do Rio Negro, sendo nomeado para
dirigi-la o padre José Monteiro Noronha.
Em Lisboa, a propaganda insidiosa do governo contra os padres gerou um comportamento radical em ambos os
lados, resultando num atentado contra a vida do rei dom José I. Atribuindo aos jesuítas a autoria do incidente, o
primeiro-ministro Marquês de Pombal mandou expulsar do país e de suas colônias todos os missionários. A medida
autoritária foi consumada entre junho de 1759 e julho do ano seguinte.
Segundo Arthur Cézar Ferreira Reis, em junho de 1759 já não havia mais um só jesuíta na Capitania. Antônio
Loureiro assegura que, na ocasião da efetivação da medida, “forças militares prenderam em Belém cerca de 150
padres, deportando-os para Lisboa”. Na verdade, os missionários da Amazônia foram retirados à força das mis-
sões, expulsos da colônia e tiveram sequestrados seus bens.
Do fim do século XVIII para meados do seguinte, a velha matriz colonial sofreu várias reformas e ampliações. No
inverno de 1927, parte dela desabou, e nova igreja foi levantada nos fundos da praça principal, uma construção
que durou quase duas décadas, sendo concluída entre 1939 e 1940. O sucedâneo da “Matriz” que nominava a
principal igreja da antiga Paróquia e que, a partir da criação da Prelazia em 1963 passou a intitular-se “Catedral”, é
um dos mais destacados da cidade. O edifício é imponente, sem dúvida, e suas características atuais decorrem da
grande reforma por que passou entre 2003 e 2012, comandada pelo falecido bispo dom Carillo Gritti.
Período Imperial. Época da história brasileira entre o Grito do Ipiranga, ocorrido em 7 de setembro de 1822,
e a Proclamação da República, a 15 de novembro de 1889. Esse período influenciou positivamente a história de
Itacoatiara em vários aspectos destacados a seguir.
Com a Declaração de Independência, a Câmara de Serpa continuaria fiel à sua responsabilidade, seguindo à
risca os preceitos legais. Em 22 de novembro de 1822, especialmente convocada à povoação da Barra, Serpa
adere à Independência do Brasil e presta o juramento de obediência e fidelidade a Dom Pedro I. Em seguida é
organizada a Junta Governativa, presidida por Bonifácio João de Azevedo e integrada por Luiz Ferreira da Cunha,
Raimundo Barroso de Bastos, Plácido Moreira de Carvalho e o ex-vereador da vila de Serpa, João da Silva e Cunha –
conhecido na história como “o patriota da autonomia amazonense”.
Posta em vigor a Constituição Imperial de 1824, no dia 6 de fevereiro de 1825 a Câmara de Serpa realiza sua
última sessão no Lugar da Barra.
Em julho de 1825, para preservar a autoridade do ouvidor Nunes Ferreira, o governador paraense decreta a
extinção da Junta Governativa e manda remover para o Lugar da Barra a Câmara de Barcelos. Liberada de seus
compromissos externos, a expectativa era que a Câmara de Serpa se entregaria por inteiro aos interesses estri-
tamente municipais e, assim, os espaços de progresso e bem-estar dos comunitários locais seriam ampliados.
A premissa era falsa porque mais e mais decepções vinham a caminho. Uma política municipalista equivocada,
causa da fermentação do ódio e das paixões, provocadora da animosidade entre localidades, nos anos seguintes
iria ferir de morte a vila de Serpa.
VOCÊ SABIA?!
O Lugar da Barra, atual Manaus, não possuía o título de vila e era considerado, segundo o historiador Arthur
Cézar Ferreira Reis, “para todos os efeitos um simples subúrbio de Serpa”. Para cá vinham os moradores da Barra
“requerer licença para abrir casas de negócio, para pescar nas praias, para colher as drogas e os frutos, para legali-
zar, enfim, a posse de suas terras”.
Continuando as desavenças no Rio Negro, em 1° de outubro de 1828 o imperador Dom Pedro I promulgou a Lei
Regulamentar das Câmaras, o chamado Código de Vereadores. Os municípios se transformaram em corporações
meramente administrativas, sendo garantidos o exercício da vereança e a gratuidade do trabalho parlamentar. As
eleições municipais seriam realizadas de quatro em quatro anos e a presidência da Câmara caberia ao vereador
mais votado.
A publicação do Código de Processo de 1832, contendo instruções sobre a organização dos municípios, omitiu
o nome de Serpa na relação dos novos termos amazonenses. O decreto de 25 de junho de 1833, do governo pa-
raense, extinguiu a Capitania do Rio Negro, as vilas de Silves, Borba, Santo Elias do Jaú e Vila Nova da Rainha e criou
a Comarca do Alto Amazonas, sediada em Manaus, integrada por quatro vilas: a própria capital, Barcelos, Maués e
Tefé.
A nova Comarca continuou governada pelos comandantes militares enviados de Belém, e essa sujeição aumen-
tou a frustração e a revolta do povo. A movimentação nativista descambou para a luta armada e mais uma vez lá
estava o vereador mais velho da Câmara de Serpa, João da Silva e Cunha. A luta pela autonomia do Amazonas, em
razão da guerra dos cabanos, foi suspensa e retomada, de forma mais branda, somente na segunda metade de
1840.
Quanto à Serpa, sua exclusão do quadro de municípios da Comarca do Amazonas foi um ato vil, deliberadamente
proposital. Extinta, a vila foi rebaixada a freguesia, tipo de organização intimamente ligada à estrutura eclesiásti-
ca. Questionado a respeito, o Conselho Paraense reuniu-se extraordinariamente no dia 8 de outubro de 1833 e, ao
invés de reparar a injustiça, baixou as instruções, de 14 de agosto do ano seguinte, tornando a ex-vila de Serpa um
simples distrito do termo de Manaus.
O rebaixamento de Serpa, que resultou na extinção do município, além de atrasar suas conquistas materiais
e espirituais, golpeou fundamente os brios da futura Itacoatiara. O decreto paraense veio em represália à inde-
pendência com que se portara a Câmara local. Enquanto Serpa expôs sinais de combate defendendo o coletivo
amazonense, Manaus mirou a si mesma. Esperava-se que a Câmara da nova capital protestasse contra o ato ilegal
e arbitrário. Ou, pelo menos, se solidarizasse com Serpa. Nem uma coisa nem outra. Apesar de tudo, Serpa prosse-
guiria sua longa caminhada. Dois anos depois a Cabanagem tingiria de sangue a freguesia. Encerrada a sedição, a
freguesia ficou na maior penúria. Sua população, que em 1840 ascendia a cerca de 700 pessoas, diminuiu consi-
deravelmente. Sua produção agrícola praticamente sumiu. Seu arquivo foi saqueado e dele desapareceram impor-
tantes documentos, como a Carta Régia da Coroa Portuguesa que delimitou o patrimônio urbano da povoação.
Colônia Agroindustrial
Em 05 de setembro de 1850, por meio da Lei nº 582, sancionada pelo imperador Pedro II, a Comarca do Alto
Amazonas ganhou foros de Província sendo instalada em 1º de janeiro de 1852. De imediato, o então diretor da fre-
guesia de Serpa, Damaso de Souza Barriga, felicita o presidente João Batista Tenreiro Aranha. Simultaneamente,
ampliando as possibilidades econômicas da nova unidade federativa, é inaugurada a navegação a vapor, uma feliz
iniciativa de Irineu Evangelista de Souza, mais tarde Barão e Visconde de Mauá.
Em 1854, subsidiado pelo governo imperial, a Companhia de Navegação e Comércio do Amazonas, do grupo
Mauá, funda uma Colônia Agroindustrial junto à freguesia de Serpa. Num terreno de 40.000 braças quadradas
foram montadas uma olaria e uma serraria, destinando-se parte dele ao cultivo agrícola. O primeiro diretor do
estabelecimento foi o engenheiro francês Le Gendre Decluy, mais tarde substituído pelo ex-oficial alemão Moritz
Becker. A diretoria consistia de dois administradores, um escrivão, um médico e um engenheiro. Quanto aos colo-
nos, 23 chineses e 21 portugueses, três anos depois ganhariam a companhia de 38 escravos africanos vindos de
São Mateus e Serinhaem.
Antônio Loureiro especula que esses africanos seriam os últimos entrados no Brasil e faziam parte do chama-
do grupo de escravos estatais, enviados para Serpa através do Ministério da Justiça, titulados como “escravos
livres”. A Colônia foi extinta em 1860, e dos mais de 100 mil contos de réis investidos nela, pouco ou quase nada
havia retornado.
O otimismo do governo imperial e o plano ambicioso do visconde de Mauá, antevendo a redenção do interior
amazonense através da colonização agroindustrial, resultaram num verdadeiro fiasco. Os chineses e os ilhéus que
se instalaram na Colônia Itacoatiara em breve estavam dissolvidos na vastidão de terra e absorvidos nas formas
de cultura regional. A remanescente povoação da Colônia deu origem ao atual bairro do mesmo nome, e os afro-
descendentes dali resultantes se integraram ao quilombo do Lago de Serpa.
Em meados de 1857 os reclamos da futura Itacoatiara chegam à Assembleia Legislativa Provincial. O projeto de
Lei propondo a elevação da freguesia à categoria de vila vai a plenário, é debatido e votado, transformando-se na
Lei nº 74, de 10 de dezembro, sancionada pelo presidente Francisco José Furtado.
Na manhã de 24 de junho de 1858 é reinstalada solenemente a vila de Nossa Senhora do Rosário de Serpa.
Renascia, assim, a Câmara Municipal. A cerimônia, presidida pelo vereador Salustiano de Oliveira, presidente da
Câmara de Silves, ocorreu no prédio da Guarda Nacional, à Rua Nova, atual Desembargador Meninea. Seguindo as
instruções provinciais de 26 de fevereiro desse ano e as normas protocolares inclusas no Código de Vereadores
de 1828, foram empossados os novos vereadores e proclamado presidente, Manuel Joaquim da Costa Pinheiro.
Vila de Serpa em 1859 • Pintura do fotógrafo francês Auguste François Biard (1798-1882).
Detalhe: Urubus no telhado da casa à direita (atentar para a seta em vermelho), sugere a
existência de um abatedouro no porto em frente.
A vila, cercada de rocinhas, pequenos lotes de agricultura de subsistência, avançava lentamente para trás e
para os lados. Serpa só se beneficiava do movimento comercial criado pela entrada de regatões paraenses que
iam ao Autazes e ao Madeira negociar com extratores de borracha.
Em janeiro de 1860 é aberto o Cemitério São Miguel, a 400 metros do centro, substituindo o chamado “Cemi-
tério dos Índios”, nos fundos da Matriz. Na década seguinte, segundo registros da Câmara, vários prestadores de
serviço trabalhavam na vila, entre eles alfaiates, sapateiros, ferreiros, funileiros, padeiros, todos de nacionalidade
portuguesa. Nas ruas centrais imperavam as lojas de secos e molhados, uma delas especializada em vender teci-
dos e outras variedades vindas de outros países.
Ainda foi dada continuidade às obras da rampa do porto e iniciado o calçamento das ruas da Glória e Formosa. O
governo municipal, na perspectiva de que em breve a vila receberia os fôros de cidade, fazia tudo para antecipar a
distinção. Conforme o respectivo Livro de Atas da Câmara, na moção de 15 de julho de 1870, enviada ao presiden-
te da Província do Amazonas, os vereadores pediam para que “fosse lançado sobre Serpa suas vistas benéficas”.
Nos três anos anteriores à elevação da cidade, Serpa deu lugar a acontecimentos significativos. Pelo decreto
imperial nº 5.146, de 27 de novembro de 1871, é criado o Termo Judiciário; em 1872 a Câmara conclui o novo Có-
digo de Posturas; em 25 de janeiro desse ano, através do decreto imperial nº 5.204, é criada a Alfândega de Serpa
que, instalada em 1º de janeiro de 1874, substituiu à Coletoria.
Entre as obras da municipalidade, inauguradas em 1873, estavam o prédio da escola de primeiras letras do sexo
masculino e a rampa do porto com sua escadaria ligando as partes alta e baixa da Rua da Glória (atual Quintino Bo-
caiuva). A frequência no porto dos navios a vapor e a importância da vila como entreposto comercial do Rio Madei-
ra eram motivos fortes para que fossem melhoradas suas instalações de embarque e desembarque.
No fim de 1874 foram montados nas ruas da orla 16 lampiões a gás carbônico, uma novidade no interior, à
época. Substituíam aos antigos lampiões à base de óleo de tartaruga. Por seis meses, desde o início do ano, no
período noturno, o escriturário da Alfândega de Serpa, jornalista e escritor Bento Aranha, filho do fundador da Pro-
víncia do Amazonas, ensinou gratuitamente na escola de primeiras letras recém-inaugurada. Às vésperas de ser
elevada à cidade, Serpa detinha a população urbana de 2.569 pessoas, sendo 2.487 livres e 82 escravos. Desse
total, apenas 285 sabiam ler e somente 52 frequentavam a escola de primeiras letras.
A instalação da cidade propiciou a implantação das seguintes providências compatíveis “à sua economia e ao
seu aformoseamento”: criação do Código de Posturas; reformulação do processo de concessões de terras públi-
cas; construções civis precedidas de licença e da planta de situação do imóvel; respeito ao arruamento e alinha-
mento das casas; fixação de área média para quadras urbanas; obrigação de cercar os terrenos baldios; maior
controle do lixo; transferência do abatedouro público da beira do rio para um lugar mais afastado do centro; higiene
do serviço de abate e distribuição de carne à população; e obrigação de serem numeradas as casas.
Aos poucos Itacoatiara foi ganhando uma forma estética, as ruas ordenadas, o casario reformulado, partindo da
orla ribeirinha para o norte, leste e oeste. Ainda nesse ano de 1876 nascia o jornal “A foz do Madeira” e era munici-
palizada a ponte sobre o Igarapé do Jauari, uma iniciativa do pioneiro norte-americano Jason Williams Stone. Além
do centro, cresciam a olhos vistos os bairros da Colônia e Jauari.
Na Assembleia Provincial, o deputado Damaso de Souza Barriga se empenhava pela criação da Comarca Judiciá-
ria. Três tentativas foram feitas para alcançar esse objetivo e, afinal, através da Lei nº 341, de 26 de abril de 1876,
sua luta resultou vitoriosa. Porém, o destino não permitiu que ele assistisse à instalação do novo órgão marcada
para 11 de setembro daquele ano, que consagrava de vez a sua terra natal: morreria três meses antes! Como
primeiro juiz de Direto da Comarca foi empossado Felipe Honorato da Cunha Meninéa.
O Avanço da Imigração
Repetindo o fluxo migratório de 1870-1880 proporcionado pela política nacional de criação de colônias, a
chegada de sírio-libaneses, judeus e portugueses, na virada do século XIX, repercutiu fortemente na Amazônia
e, como não podia deixar de ser, também no município de Itacoatiara. Paralelamente, reproduziu-se o fenômeno
da seca de 1877/1879 em que milhares de nordestinos, acossados pelo flagelo natural e pela crise da economia
agrária, vieram servir de mão-de-obra nos seringais, ampliando a fronteira do extrativismo amazônico.
A notícia da valorização da borracha e a navegação a vapor deram grande vulto à imigração, estendendo-se o
devassamento a todos os rios. A grande ocupação, contudo, seria realizada pelo elemento nordestino, cearenses
principalmente, cuja primeira leva chegou à região em outubro de 1869. A partir daí a imigração não cessou mais.
Segundo dados oficiais, já em 1877 tinham entrado no Amazonas mais de seis mil retirantes. Para localizar o
grosso desses imigrantes e dar-lhes trabalho, o governo criou uma comissão de colonização para administrar os
núcleos agrícolas instalados em vários pontos do interior, dois dos quais nas cercanias de Manaus e de Itacoatiara
- na Colônia Agrícola de Amatari.
Simultaneamente, na década de 1880 dá-se a chegada ao território de Itacoatiara dos primeiros imigrantes
judeus. Vinham somar com colonos portugueses e, mais tarde, com árabes, espanhóis, italianos, etc., e contribuir
com o desenvolvimento político, social, econômico e cultural da então jovem cidade. Ao longo do tempo muitos
de seus membros iriam se destacar na vida pública de Itacoatiara, e o principal deles foi Isaac José Perez (prefeito
em 1926-1930). Entre 1896 e o final da década de 1920, os judeus praticamente dominaram as atividades comer-
ciais da cidade. Conforme os anais da Câmara dos Deputados, a comunidade israelita local contava em 1915-1917
com cerca de 70 membros. Um ano depois, segundo o jornal “A Epocha”, esse número subiria para mais de 200
pessoas.
Desde lá, como ocorrido em todo o Brasil, o processo de mistura de etnias alcançaria todo o território amazo-
nense. Casamentos entre imigrantes e nativos tornaram-se comuns, estimulando a miscigenação. Sem a interfe-
rência ou estímulo do poder, no período houve um extraordinário avanço na fixação de culturas regionais, diferen-
ciadas no seu modo de ser, nas tradições, nos usos e costumes, na dança, música, culinária, etc.
Acresce que a atração por Itacoatiara continuaria no século seguinte. Além dos pioneiros acima referidos, viriam
norte-americanos, ingleses, alemães, franceses, sírio-libaneses, italianos, japoneses, espanhóis e argentinos.
O clima de euforia não alcançou somente as duas capitais da Amazônia, mas também o município de Itacoatiara,
onde o dinheiro corria livremente e o progresso dava as caras. Houve melhorias na economia, no espaço urbano e
no modo de vida em geral. Transformada em um movimentadíssimo centro comercial de venda de produtos regio-
nais e de importação de mercadorias estrangeiras, a cidade teve o seu patrimônio cultural material enriquecido
com dezenas de construções importantes, a exemplo dos prédios históricos abaixo relacionados, cuja maioria
ainda guarda suas linhas originais.
Construídos na década de 1870: prédio do Café Internacional, na esquina da Praça da Catedral com a Rua Salda-
nha Marinho; da antiga Escola de Primeiras Letras, à Rua Desembargador Meninéa; da Casa Anglo-Brasileiro, à Rua
Saldanha Marinho, outrora sede do Canto das Novidades; da Casa Moysés; e da Casa Marcos à Praça da Catedral.
Das casas do centro histórico, em estilo colonial - dezenas delas construídas entre o final do século XVIII e o
início do XIX, ou seja, antes do boom da borracha, poucas resistiram ao tempo e à sanha humana destruidora.
No concernente às construções do período 1870-1890, também demolidas, lembramos: o Casarão dos Peixoto
e o Edifício da antiga Alfândega, ambos na Rua Monsenhor Pereira; o Prédio dos Ezagui, ex-Miguel Pinto de França,
na Praça da Catedral; a Casa Hilário Antunes, na esquina das Ruas Conselheiro Rui Barbosa e Adamastor de Figuei-
redo, e vários outros.
Ainda permanecem de pé os prédios em estilo colonial construídos antes do período áureo da borracha: Casarão
do SESC (Casa dos Ausier) – dos idos de 1850 - na Rua Waldemar Pedrosa; e o do antigo Quartel da Guarda Na-
cional, à Rua Desembargador Meninéa, conjugado ao da antiga Escola de Primeiras Letras que, em 1858 e 1865-
1867, sediou a Câmara de Serpa.
Não só o setor econômico propriamente dito ganhou com o advento do período áureo da borracha. Ele também
refletiu positivamente em outros setores da vida municipal, públicos e privados. Assim foi na política, na informa-
ção e na cultura em geral, mercê dos inúmeros órgãos de imprensa criados à época. Exemplos: os jornais O Itacoa-
tiara (existiu em 1874); A foz do Madeira (1876-1877); O Município (1893-1895); O Arauto (1906-1911); O Avança
(1907); O Paládio (1908-1909); Cá e Lá (1910); O Conservador (1912-1921); Correio de Serpa (1912-1913); A
Imprensa (1913-1914); O Chicote (1914); O Chic (1915); O Raio X (1915-1917), etc.
VOCÊ SABIA?!
Que os prédios antigos do Centro Histórico foram tombados?
A palavra tombamento tem origem portuguesa e significa fazer um registro do patrimônio de alguém em livros
específicos num órgão de Estado que cumpre tal função. Ou seja, utilizamos a palavra no sentido de registrar algo
que é de valor para uma comunidade protegendo-o por meio de legislação específica.
Atualmente, o tombamento é um ato administrativo realizado pelo poder público com o objetivo de preservar,
através da aplicação da lei, bens de valor histórico, cultural, arquitetônico e ambiental para a população, impedindo
que venham a ser destruídos ou descaracterizados.
Com a Carta Estadual de 23 de julho de 1892 foram extintos o Conselho Municipal e a figura do Comissário
Executivo. Até a legislatura de 1926, os governos municipais seriam “constituídos de um superintendente, encar-
regado das funções executivas” e de “uma corporação deliberante com a denominação de Intendência”.
Os teatros Virgínia, à Rua Deodoro (atual Adamastor de Figueiredo), e Cinco de Setembro, à Rua Eduardo Ribeiro,
desde suas inaugurações na década de 1910 até o início da década de 1930, encenaram dramas de autores locais
e nacionais e sediaram sessões cinematográficas – fato que confirma a atração que as artes ofereciam à época
em Itacoatiara. Foram fundados: em 1911, o Clube dos Três; em janeiro de 1913 a Escola Sagrado Coração de
Jesus, da professora Rachel Fonseca de Castro e Souza, e o colégio do professor Crispim Lobo; em 1914 o Grêmio
Artístico Operário; e a refundação, em 1920, do clube social e humorístico “Cá e Lá”.
Outros fatos interessantes do período: 1913 - chegada do naturalista norte-americano Robert H. Becker; passa
a circular na cidade o primeiro automóvel motorizado, da marca Ford; e, por sua participação na Exposição Interna-
cional de Turim/Itália, Itacoatiara é premiada com medalhas de ouro e prata; 1917: o governo estadual manda in-
crementar a agricultura em Amatari; 1920: aberto o Cemitério Israelita e inaugurado o prédio do Matadouro; 1922:
abertura do lugar “Centenário” pelo comerciante Pedro Aguiar: originário do Ceará, foi quem instalou a primeira sala
fixa de cinema (mudo) em Itacoatiara.Foram fundados: em 1911, o Clube dos Três; em janeiro de 1913 a Escola Sa-
grado Coração de Jesus, da professora Rachel Fonseca de Castro e Souza, e o colégio do professor Crispim Lobo;
em 1914 o Grêmio Artístico Operário; e a refundação, em 1920, do clube social e humorístico “Cá e Lá”.
A partir do movimento, a inquietação política tornou-se crônica no Brasil. No Rio de Janeiro, as disputas em torno
da sucessão presidencial foram marcadas por profundas divergências. A crise social e econômica atingiria o seu
ápice com a queda da bolsa norte-americana em 1929. A campanha presidencial desse ano permite a aglutinação
de oposição e tenentistas. A 3 de outubro de 1930 explode a revolução. Diante da impetuosidade do avanço rebel-
de, as forças legais capitulam. A 24 de outubro, na capital da República, o presidente Washington Luís é deposto e
assume uma junta militar que, no dia 3 de novembro, transmite a chefia do governo a Getúlio Vargas.
Durante a Era Vargas, Getúlio dominou o Brasil como presidente provisório de 1930 a 1933; como presidente
eleito de 1934 a 1937; e como ditador, de 1937 a 1945. Nos 15 anos de duração da Era Vargas, 5 homens públicos
governaram o Estado do Amazonas, e, no mesmo período, foram 7 os prefeitos no município de Itacoatiara.
As ações governamentais desse período resultaram em benefícios concretos para o município. Exemplos: a)
introdução da navegação aérea, em 1933, através dos hidroaviões da Panair do Brasil; b) instalação, em 1937, da
primeira sala de cinema falado; c) início, em 1940, da imigração japonesa e introdução da juta indiana na economia
local; d) abertura de poços artesianos e da rede de distribuição de água potável à população.
Após dominarem a fortaleza de Óbidos, os revoltosos comandados por Alderico Pompo de Oliveira, apreenderam
os vapores Jaguaribe e Andirá e os armaram em guerra com canhões Krup de 75 mm, metralhadoras, obuses, fuzis
e farta munição. Acompanhados de duas lanchas, tais navios subiram o Rio Amazonas. No dia 21, ocuparam e sa-
quearam Parintins, e de lá rumaram para Itacoatiara. Às dez horas da manhã do dia 24, apareceram na curva do rio.
Lenta, cautelosa, a flotilha subiu e parou, sobre hélices, do lado oposto da cidade, frente ao bairro do Jauari. E logo
os rebeldes aprestaram uma lancha que se dirigiu ao porto, onde parte da força legalista se encontrava; orientados
a não hostilizar a lancha, os defensores tomaram conhecimento da mensagem dos rebeldes que era: “adesão ou
rendição”, com ameaça de bombardeio imediato da cidade.
Em Itacoatiara reinava a inquietude, o desespero. As forças locais, sob o comando dos tenentes do Exército
Álvaro Francisco e Albuquerque, patrulhavam a orla do rio e orientavam a defesa. A eles se incorporaram o prefei-
to Gonzaga Pinheiro, o tenente Francisco Júlio, da Força Policial do Estado, e dezenas de civis. Aos cerca de cem
praças e voluntários foram distribuídas armas e munições. Trincheiras foram abertas nas ruas próximas à orla.
Na capital, as forças navais de defesa foram organizadas sob o comando de uma flotilha composta dos vapores
“Baependi”, “Ingá”, “Rio Curuçá”, “Rio Aripuanã”, “Rio Jamari”, além da lancha “Íris”. Sob o comando do capitão-de-
-fragata Nelson Lemos Basto, a 22 de agosto desceram o Amazonas para dar combate aos rebeldes.
Estrategista, Gonzaga Pinheiro entreteve os adversários até a chegada da flotilha legalista. Em combinação
com o tenente Albuquerque, ficou no “adere ou não adere”. A bordo do Jaguaribe, nau-capitânia rebelde, resistiu
nobremente às tratativas de adesão, e pediu tempo para resolver a questão. Os revoltosos concederam-lhe uma
tolerância de duas horas “para evacuar a cidade”.
Expirado esse tempo, e o “Jaguaribe” já se preparava para bombardear Itacoatiara, com seus quatro canhões
de 75 mm, trazidos de Óbidos, eis que surgem os navios da frota legalista, procedente de Manaus, iniciando-se a
batalha naval; isso por volta do meio-dia de 24 de agosto de 1932. Os navios legais “Baependi” e “Ingá” entraram
imediatamente em luta, cercando os navios rebeldes. Depois de 40 minutos de tiroteio foram postos a pique os
vapores rebeldes. Da refrega resultaram cerca de 40 mortos e dezenas de feridos. Desde lá, dormem no fundo do
rio, em frente à cidade, os vapores “Jaguaribe” e “Andirá”.
Foi um período rico em propostas e realizações, de abertura, de conquista de espaços em que o social se sobre-
pôs ao individual. Itacoatiara foi beneficiada por grandes empreendimentos, tanto na área pública quanto na priva-
da. Na área pública: inauguração do novo prédio do grupo escolar “Coronel Cruz” (1948) e da maternidade “Senador
Cunha Melo” (1950); instalação da agência do Banco do Brasil (1952); abertura da Estrada Manaus-Itacoatiara e
descoberta de petróleo em Nova Olinda (1956); inauguração do Aeroporto do Guajará e ampliação do sistema de
abastecimento d’água (1957); instalação do seringal ETA-54 (1959); abertura dos serviços de telefonia urbana
(1962); estadualização da Escola Comercial - atualmente Vital de Mendonça (1963). Na área privada: abertura dos
cinemas Cinco Unidos e Geni (1950); e fundação do Colégio Nossa Senhora do Rosário e da Escola Comercial de
Itacoatiara (1952).
A despeito dos atos de força operados pelos governos do Regime Militar, é justo reconhecer que eles também
se esforçaram para interiorizar o progresso na região. Dentre os muitos eventos positivos do período, relativamen-
te ao município de Itacoatiara, destacamos os seguintes:
1 - Instalação, em 1970, da Aruanã – a maior fazenda Ecológica da Amazônia especializada em culturas tropi-
cais. Sediada no km 215 da Rodovia Manaus-Itacoatiara, com a área de 12 mil hectares, sua maior atuação é o
cultivo de castanheiras e de pupunheiras para palmito. Com 1.257.000 árvores, é a maior plantação de Castanha-
-do-Brasil existente, pioneira no Brasil e no mundo. Em 26 anos de trabalho técnico e científico, o Projeto Aruanã
viabilizou essa cultura garantindo a sobrevivência da espécie ante a destruição dos castanhais nativos;
É sabido que o Brasil passa por um processo de desindustrialização. Mais preocupante é a situação do Estado
do Amazonas, cuja desigual economia aparenta um ar de tragédia. Em 28 de fevereiro de 1967 foi instalada a Zona
Franca de Manaus, instrumento de política econômica que, sob o pretexto de desenvolver a Amazônia Ocidental,
nas décadas seguintes concentraria na capital do Estado a maior parte da atividade econômica, deixando os muni-
cípios interioranos vulneráveis e decadentes, com uma economia anacrônica e quase inviável. Quem mais perdeu
foi Itacoatiara.
Atualmente, Manaus concentra cerca de 80% do PIB do Amazonas, devido ao polo industrial, que precisa de
uma cadeia logística muito bem estruturada para escoar seus produtos ao restante do país. Um dos desafios é de-
senvolver os potenciais econômicos para que o Estado não dependa exclusivamente do polo industrial de Manaus.
Urge desenvolver as potencialidades de cada região, buscando formas de explorar recursos minerais, turismo,
piscicultura, fruticultura e outras vocações que o Estado possui. O Amazonas precisa ir além da Zona Franca de
Manaus.
A logística da região amazônica é deficitária e uma integração entre modais (em especial o aquaviário, o aeroviá-
rio e o rodoviário) permitirá ao norte do país ter, finalmente, um sistema logístico que alavanque e não atrapalhe o
desenvolvimento regional. A posição estratégica de Itacoatiara sinaliza um caminho.
Cultura e Sociedade
Bens Imateriais
Estão relacionados aos saberes, às habilidades, às cren-
ças, às práticas, ao modo de ser das pessoas. Desta forma Patrimônio Cultural A Constituição do Brasil
podem ser considerados bens imateriais: conhecimentos conceitua patrimônio cultural como sendo os bens “de
enraizados no cotidiano das comunidades; manifestações natureza material e imaterial, tomados individualmente
literárias, musicais, plásticas, cênicas e lúdicas; rituais e ou em conjunto, portadores de referência à identidade,
festas que marcam a vivência coletiva da religiosidade, do à ação, à memória dos diferentes grupos formadores da
sociedade brasileira”. O município de Itacoatiara é rico
entretenimento e de outras práticas da vida social; além
nesse contexto.
de mercados, feiras, santuários, praças e demais espaços
onde se concentram e se reproduzem práticas culturais.
Neste campo, podemos considerar: o FECANI, os carnavais, a dança da Tia Suzana, as festas dos santos, os arraiais
e quermesses, as pastorinhas, a dança do boi-bumbá, os terreiros de macumba (pais-de-santo); o modo artesanal de
fazer farinha de mandioca, beijus, doces, refrescos (vinhos de frutas), etc.
Artesanato
O artesanato de Itacoatiara destaca-se pela beleza e originalidade. O município conta com escultores, talhadores,
gravadores, pintores, desenhistas, ceramistas, tecelãs, doceiras, rendeiras, bordadeiras, criadores de instrumentos mu-
sicais, bijuterias e peças de madeira, cestas, gamelas, colchas de retalho, brinquedos e outros. Entre os trabalhos des-
ses autores, ressaltamos os de esculturas de cimento e murais em relevo com imagens de pessoas, santos e animais.
A produção de entalhes de madeira inclui a feitura de embarcações e instrumentos musicais, máscaras e bonecos.
Também se produz objetos mais diversificados com motivos da natureza amazônica, o universo humano e a fantasia.
A Cestaria (confecção de bolsas, cestos e outros objetos em miniatura, feitos especialmente de palha de tucumã).
A arte de trançar fibras, deixada pelos índios, inclui esteiras, redes, balaios, chapéus, peneiras e outros.
A Pintura revela quadros retratando paisagens regionais e ou elementos da flora, da fauna e do cotidiano do
ribeirinho.
São dezenas de homens e mulheres, inclusive jovens, dedicados ao ramo. Um expressivo número consta dos regis-
tros da Secretaria de Cultura da Prefeitura. Para o fortalecimento da arte itacoatiarense existe a Associação dos Arte-
sões de Itacoatiara (ARTEITA), entidade da sociedade civil representativa da categoria. Anualmente, no início de setem-
bro, a produção dos artesões de Itacoatiara é exposta na Barraca Cultural do Festival da Canção de Itacoatiara (FECANI).
Mas exposições periódicas acontecem na Casa de Cultura (órgão da Secretaria Municipal de Cultura), no Centro Cultural
Velha Serpa, no espaço cultural do SESC-SENAC, na orla da cidade, em escolas e prédios da rede bancária.
Os artesãos de Itacoatiara, além da luta para manter a tradição cultural que herdaram de seus antepassados, têm
se esforçado para produzir boas obras, levando o público a se interessar por elas. Essa é uma atividade produtiva que
precisa ser bem remunerada. Quando os objetos daí decorrentes não têm um caráter utilitário, isto é, são feitos apenas
para serem apreciados, o artesanato se confunde com arte.
Importante registrar: também, no interior do município há exemplos de participação nesse setor do artesanato: No
Rio Arari, um grupo de pessoas há alguns anos atrás fundou a Associação dos Artesões da Comunidade de São João
Batista do Araçá. Seus membros vêm produzindo trabalhos cerâmicos (vasos e panelas de barro modelado) e biojóias
(bijuterias e brinquedos) feitas de galhos de plantas e sementes de frutos. No Rio Urubu, remanescentes da tribo de ín-
dios Mura têm seu próprio artesanato: desenvolvem a cerâmica e a cestaria. Os cestos são, em sua maioria, feitos a par-
tir de folhas de palmeiras e usados para guardar alimentos. Já na cerâmica são produzidos potes (vasos) e panelas de
barro. Os adornos e a arte plumária são outro importante trabalho dos índios. Em geral a tinta que utilizam é totalmente
natural, vinda de árvores ou de frutos colhidos na floresta. Cerâmica e bonecos de barro, inclusive da polpa de guaraná,
uma das formas de artesanato herdada dos índios, desenvolve-se principalmente no interior. Reconstitui figuras típicas
da região.
Culinária
Em razão da fartura de peixes nos rios e lagos da região, a Culinária Amazonense (a mesma de Itacoatiara) valoriza,
acima de tudo, o pescado. Entre as espécies mais consumidas estão o tambaqui, tucunaré, pirarucu, jaraqui, pacu,
matrinxã, sardinha e bodó, que são transformados em pratos típicos, servidos fritos, assados ou cozidos. A maioria
dos pratos cozidos, como a famosa caldeirada, é acompanhada por pirão ou por tucupi. Para peixes fritos e assados é
indispensável o “baião de dois” (mistura homogênea de feijão, arroz e cheiro-verde) e farinha de mandioca. Tanto nestes
como no primeiro caso, também podem ser usados limão e pimenta.
As frutas regionais complementam o cardápio, podendo ser consumidas ao natural ou em forma de sucos, doces,
molhos, tortas, geleias e sorvetes. Entre as mais apreciadas estão: açaí, cupuaçu, caju, manga, pitomba, murici, jenipa-
po, maracujá, graviola, bacuri, melancia, tucumã, taperebá, araçá-boi, pupunha, biribá, buriti, bacaba, patauá, mari-mari e
guaraná.
No cardápio matinal, o café com leite quente (ou suco gelado de frutas) pode ser acompanhado das seguintes
opções: sanduíche formado de pão recheado de tucumã e queijo coalho; tapioquinha de mandioca, recheada de tucumã
e queijo coalho, ou sozinha na manteiga; e porções de pupunha, cará-roxo e branco, bolo de macaxeira, banana assada e
cozida, mungunzá.
Estas delícias podem ser encontradas nos restaurantes e cafés-regionais espalhados por toda a cidade. Pratos mais
requintados, tipo Pirarucu de Casaca, Pato no Tucupi, Galinha à Cabidela e Tartaruga (de criatório) podem ser adquiridos
por encomenda.
Bens Materiais
São os palpáveis. Na lista de bens materiais itacoatiarenses destacam-se principalmente os imóveis construídos no
centro histórico, antes e após o período áureo da borracha (1870-1912), e os sítios arqueológicos do Jauari e Rio Urubu.
Das 63 edificações de caráter colonial ou pertencentes ao eclético inventariadas pelo Instituto do Patrimônio His-
tórico e Artístico Nacional (IPHAN), em 2012, muitas estão em processo de arruinamento, [foram] alteradas ou desca-
racterizadas. Sem contar cerca de duas dezenas de outras demolidas por ação ou omissão humanas ou desgastadas
pelo tempo. A relação do IPHAN destaca a Avenida Parque, que a designa de “Jardim histórico”, principal via da cidade,
com mais de 1.800 metros de extensão e duas pistas de rolamento cercando um passeio central rodeado de oitizeiros.
Já destacamos, na oficina 06, os mais relevantes prédios históricos do século XIX. Quanto aos principais datados do
século XX, a título de exemplos, mencionamos os seguintes:
2) Mercado Municipal, entre a Rua Fileto Pires e a Praça da Bandeira, foi iniciado em 1.909 e concluído em 1.912;
3) Casa Nazira, na Avenida 15 de Novembro, era do início do século XX.
No interior do município:
1) Prédios da fazenda Santo Antônio e da fazenda Iracema – ambos à margem esquerda do Amazonas, acima da
vila do Amatari. Prédio da fazenda da comunidade São José, no Rio Arari. Os três são da primeira década do século XX,
encontram-se em estado precário de conservação ou parcialmente demolidos.
.
Principais Monumentos
São eles: Avenida Parque, a Pedra Histórica e a imagem de Nossa Senhora do Rosário.
1) O principal logradouro foi aberto em 1870 pelo empreiteiro português Joaquim José Pinto de França, mediante
contrato celebrado com a antiga Câmara de Serpa, e o início da sua urbanização, em 1927, devemo-lo ao prefeito Isaac
José Perez (1926-1930), até hoje considerado o prefeito mais operoso do município;
2) A Pedra Histórica contém datas e símbolos de meados do século XVIII;
3) Imagem da Santa Padroeira do povo católico de Itacoatiara, Nossa Senhora do Rosário, trata-se de uma escultura
barroca importada de Portugal e datada da segunda metade do século XVIII.
Entidades Culturais
1) Academia Itacoatiarense de Letras. Fundada em 17 de maio de 2009;
2) Associação Cultural Nossa Senhora do Rosário, em 28 de agosto de 2000;
3) Associação Dom Jorge Marskell, em 22 de maio de 2001;
4) Centro Cultural Velha Serpa. Projeto da Fundação André e Lúcia Maggi. Foi inaugurado em 1º de dezembro de
2009;
5) Cine Theatro Dib Barbosa (ex-Cine Teatro Cinco Unidos): fundado em 1950.
Visitantes Ilustres
1)Cientistas que estiveram em visita à vila de Serpa:
Outubro de 1820: os cientistas bávaros Johan Baptist Von Spix e Carl Friedrich Von Martius;
Julho de 1847: o naturalista francês Paul Marcoy;
Dezembro de 1849: os naturalistas ingleses Henry Walter Bates e Alfred Russel Wallace;
Junho de 1859: o médico e pesquisador alemão Robert Avé-Lallemant;
1870: o antropólogo João Barbosa Rodrigues;
1874: o paleontologista canadense Charles Frederick Hartt.
2) Presidentes da República:
9/10/1940: Getúlio Dorneles Vargas;
28/03/1955: João Café Filho;
19/04/1956: Juscelino Kubitschek de Oliveira;
4/11/1978: General Ernesto Geisel;
12/04/1991: Fernando Collor de Mello;
12/04/1997: Fernando Henrique Cardoso.
VOCÊ SABIA?!
Você sabia que existem instituições e órgãos responsáveis por identificar, preservar, promover e proteger o
patrimônio cultural?
O Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – Iphan é responsável pelas políticas nacionais de patri-
mônio cultural. Os principais instrumentos oficiais de proteção do patrimônio cultural brasileiro são o tombamento
e o registro e podem ser feitos pelos governos federal, estadual e municipal, com suas respectivas legislações.
Em âmbito federal, o tombamento foi instituído pelo Decreto-Lei nº 25, de 30 de novembro de 1937 e o registro
pelo Decreto nº 3.551, de 4 de agosto de 2000.
Há também uma instituição responsável por declarar os bens que compõem o patrimônio do mundo, a Organiza-
ção das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura – Unesco. Essas instituições trabalham para preser-
var, valorizar e difundir o patrimônio cultural.
Posição estratégica
Estrategicamente localizada à margem esquerda do grande Rio Amazonas, Itacoatiara é um importante porto recep-
tivo e escoador do país. Essa condicionante, além de favorecer a integração da cidade com o mundo exterior, elevan-
do-a nos campos da geopolítica, da historiografia, da economia, da sociologia e da cultura em geral, enseja o fortaleci-
mento da amizade e da paz construídas na relação entre seus habitantes e os diversificados grupos humanos regionais,
nacionais e estrangeiros que aqui chegam a todo instante.
Em 1758, o estadista colonial português Francisco Xavier de Mendonça Furtado, ao autorizar a transferência da
antiga povoação do Rio Madeira para o lugar onde é hoje, afirmou:
“O rio naquele sítio é abundantíssimo e sobretudo está na estrada real destes sertões, e com esta vila acharão os
passageiros socorros, e os índios civilizar-se-ão”.
Mais de um século depois, ou seja, nos idos de 1884, na cidade de Paris, o Barão de Santa-Anna Nery vaticinaria
nesses termos:
“Itacoatiara terá um grande porvir, em razão de sua localização, à margem do Rio Amazonas e há poucas léguas da
confluência do Madeira...”
Itacoatiara está plenamente inserida na geografia mundial. Aglomeração importante, um lugar onde param habitual-
mente autoridades públicas em missão oficial, pesquisadores, elementos da política, da administração, do direito e da
Justiça, oriundos de diversas partes do país e do exterior. Muitos vêm para aventurar ou motivados pela curiosidade, ora
em razão de seus deveres profissionais e, outras vezes, de passagem em demanda da capital do Amazonas.
Economia
Acompanhando o processo histórico da economia regional, o município de Itacoatiara tem contribuído larga-
mente para o desenvolvimento da Amazônia. Atualmente, essa atividade está concentrada primordialmente nos
setores madeireiro, agropecuário e de transporte. Os principais empreendimentos são:
Madeireiras: Duas madeireiras produzem madeira serrada para exportação, enviando-a para o sul-sudeste do
país e ao exterior;
Agropecuária: Fazenda Aruanã - cultivo de castanheira (Brazil Nuts) e de pupunheira (Peach Palm) para palmito.
Pioneira do ramo no Brasil e no mundo. Em 26 anos de trabalho técnico e científico, viabilizou essa cultura garantin-
do a sobrevivência da espécie ante a destruição dos castanhais nativos. É a maior Fazenda Ecológica da Amazônia;
AMAGGI: Está presente em Itacoatiara desde 1997, ano em que foi finalizada a obra do terminal portuário na ci-
dade, completando o projeto do Corredor Noroeste de Exportação. Neste corredor, os grãos saem de Mato Grosso
e seguem pela malha rodoviária até Porto Velho (RO). De lá vão em barcaças pelos rios Madeira e, posteriormente,
até Itacoatiara, de onde seguem para exportação.
Atualmente, a companhia possui duas unidades em Itacoatiara: o terminal portuário, que contempla também a
indústria de esmagamento de soja; e o estaleiro naval. Ambos empregam cerca de 900 colaboradores.
Setor Primário
Setor de produção como agropecuária, pesca, extrativismo e mineração. Produzindo produtos que geralmente
servem de matéria prima para indústria.
Piscicultura: principalmente criação das espécies tambaqui e matrinxã.
Fruticultura: Abacaxi (o maior produtor do Estado), Cupuaçu, Coco, Pupunha, Laranja, Graviola e Maracujá.
Culturas Industriais: Castanha, Pupunha/palmito e Farinha de Mandioca.
Pecuária: Predomina a de Corte. São 600 criadores. Plantéis: 60.000 bovinos e 20.000 bubalinos.
Culturas Alimentares: Feijão, Milho, Arroz, Hortaliças e Pequenos Animais (suínos, ovinos e caprinos), produzidos
em pequena escala (caso da Agricultura Familiar) - produtos nos dois ecossistemas: várzea e terra firme.
Setor Secundário
Setor Terciário
O setor de Serviços atravessa uma fase fantástica. Em ritmo veloz crescem os negócios de transportes, propa-
ganda e informação (sites), atividades de profissionais liberais, creches, educação física, esporte e lazer, hospe-
darias, centros de eventos, alimentação (restaurantes, panificadoras, confeitarias, self services), coreografias,
vestuário, etc.
Educação
O município conta com 152 escolas municipais, sendo 135 na zona urbana e 17 na zona rural e 15 escolas estaduais.
Quanto à educação da rede privada de ensino, é ofertada por 7 instituições, incluindo qualificação para o mercado de
trabalho.
Na Educação Especial a APAE desenvolve trabalhos da Educação Infantil I e Fundamental I e II, nas Escolas Técnicas:
CETAM (vinculada à Secretaria Estadual de Ciência, Tecnologia e Inovação) - Educação Profissional nos níveis básico,
técnico e tecnológico; e IFAM (Escola Técnica Federal): promove Educação, Ciência e Tecnologia.
Escolas de Nível Superior: ICET/UFAM (Instituto de Ciências Exatas e Tecnologia da Universidade Federal do Amazo-
nas); CESIT/UEA (Centro de Ensino Superior de Itacoatiara da Universidade do Estado do Amazonas); e UNOPAR (Univer-
sidade do Oeste do Paraná).
Saúde
Na cidade funcionam o Hospital José Mendes, da rede estadual; e 14 Unidades Básicas de Saúde (UBS’s), da Rede
Municipal, sendo 07 unidades na zona urbana e 07 na zona rural.
Esporte e Lazer
Os esportes aquáticos, de quadra e, principalmente, o futebol de campo dominam a cidade e o interior. São comuns
os eventos realizados por clubes amadores e associações esportivas que movimentam o centro e a periferia. A quase
unanimidade da população torce pelo Peñarol Atlético Clube, time de futebol fundado em 1947 que, desde a década de
1980, tem participado em vários certames profissionais promovidos pela Federação Amazonense de Futebol (FAF). Ao
desbancar os tradicionais clubes da capital, sagrou-se bicampeão estadual em 2010-2011.
Logística
Das formas de transportes de mercadorias e pessoas, Itacoatiara atende os modais hidroviário, rodoviário e
aeroviário:
Porto: o município possui larga tradição no transporte hidroviário. O porto local atua como polarizador de cargas
demandadas na Amazônia, principalmente, dos rios Madeira, Purus, Solimões e Negro, podendo operar normalmente o
ano inteiro. Dentre os portos da região, ele detém o terceiro lugar em movimentação de cargas, superado apenas por
Manaus e Porto Velho.
Rodovia: a cidade de Itacoatiara une-se, pela Rodovia “Antônio Vital de Mendonça”, às cidades de Rio Preto da Eva e
Manaus, e, através dos respectivos ramais, às de Silves e Itapiranga e às vilas do Engenho e de Novo Remanso. É total-
mente asfaltada, tem a extensão de 266 km.
Aeroporto: conta com o Aeroporto denominado “Arico Barros”, localizado na área rural do município, a cerca de 8 km
do centro da cidade, e a 43 m de altitude, cuja pista mede 1.515 m de comprimento por 30 m de largura. Mas o transpor-
te aéreo é utilizado em menor escala.
Turismo
O turismo é uma das vocações socioeconômicas de Itacoatiara – uma cidade histórica, cheia de tradições. Além do
exotismo da natureza, especialmente representada pelos rios e a floresta, ela oferece aos seus visitantes a paisagem
do Centro Histórico, representada por um belo conjunto de prédios antigos, alguns datados do final do século XVIII e
outros, do início do século XIX, recentemente tombados pela prefeitura, por orientação do IPHAN. Entre as característi-
cas do lugar, além da boa receptividade do povo itacoatiarense, estão: um ambiente sempre festivo, a criatividade dos
artistas e a existência de uma rica e variada culinária.
Essas e outras atrações turísticas constam de um calendário anual publicado pelo município. Os principais eventos
culturais da área urbana, que atraem turistas em maior número são: a Festa da Padroeira, no final de outubro para início
de novembro, e as similares do calendário cristão: Divino Espírito Santo, em maio ou junho, e São Francisco de Assis, no
começo de outubro; a Bienal Literária do SESC-SENAC, inaugurada em 2014 e repetida em 2016; o Carnaval Popular,
com o desfile de rua por várias agremiações e festas em vários clubes da cidade (em fevereiro); o Aniversário da Cidade
(em abril); e o Festival Folclórico (em junho). Porém, é inegável que, quando se fala em movimento cultural, o Festival da
Canção de Itacoatiara (FECANI) se projeta. Ocorrendo há mais de 30 anos, no início de setembro, o evento é dirigido pela
Associação dos Itacoatiarenses Residentes em Manaus (AIRMA). Bem estruturado e organizado, tem trazido a Itacoa-
tiara grandes compositores e intérpretes da música popular brasileira, que são assistidos por milhares de pessoas da
cidade, do Amazonas e de outros Estados.
Na sede do município, a rede hoteleira é representada por 13 hotéis e 6 hospedarias. Na área rural, há 3 hotéis de
selva que oferecem pacotes incluindo, além de hospedagem e refeições, pescaria esportiva centrada na apanha de
tucunaré.
Disponibilizado, desde o início, para a realização de ações próprias, de estudiosos, artistas e de parceiros institucio-
nais, como órgãos municipais, ONGs, associações comunitárias, sempre de forma gratuita e viabilizando a execução
das atividades. Até 2014 foram atendidas mais de 15 mil pessoas, número este ampliado para mais de 7.000 pessoas
em 2015 e cerca de 8.000 pessoas em 2016.
O Centro Cultural funciona no edifício do antigo Matadouro Municipal, uma construção da segunda década do século
XX, logo em seguida à queda da borracha – requintado monumento em estilo clássico plantado no coração de Itacoa-
tiara, que realça a paisagem urbana desta cidade. Estava em ruínas, quando recebido pela FALM e, após três anos de
serviço, foi restaurado em suas linhas originais. Em 2016, o prédio foi tombado pela Prefeitura Municipal, que o declarou
Patrimônio Cultural de Itacoatiara.
Como forma de preservação da memória do Matadouro, o espaço conta com uma sala onde ficam em exposição
a caldeira e tachos de escaldamento das vísceras, a pedra de abatimento dos bois, a cabeça bovina que adornava a
fachada e fotos do processo de reforma do prédio. Foi construído também um mezanino de madeira, com um minipalco
e duas minicoxias.
A maior parte do piso e algumas salas não puderam ser preservadas, devido à grande deterioração. Mas manteve-se
o padrão de mosaico alvinegro e, no escritório, conservou-se a cerâmica portuguesa original. O mesmo ocorreu em
relação ao vigamento superior: suporte de cobertura, em ferro fundido, importado de Liverpool. No salão principal existe,
à mostra, uma parte dos tijolos de adobe que dão sustentação às paredes laterais do edifício. Os lustres destinados
à iluminação interior foram doados depois de utilizados como cenografia do filme “Le Jaguar”, encenado na cidade na
década de 1990.
As atividades do Centro Cultural Velha Serpa são elaboradas no sentido do reconhecimento da cultura de Itacoatiara
e do Estado do Amazonas. O espaço é referência local na disseminação, promoção, valorização da arte, cultura e educa-
ção como instrumentos para o fortalecimento da cidadania. Possibilita à comunidade o resgate de sua identidade, além
das atividades com foco em geração de renda e promoção social.
Glossário
A
Amazonas. Denominação dada ao maior Estado da federação brasileira. Situado na região Norte do País, divide-se em
62 municípios e sua capital é a cidade de Manaus.
Amazonas. O maior e mais caudaloso rio do mundo: mede 6.437 km de extensão. Nasce nos Andes do Peru e desá-
gua no Oceano Atlântico, junto ao Rio Tocantins. Seu nome reporta às mulheres guerreiras que supostamente entraram
em luta contra a expedição do explorador colonial Francisco de Orellana, em 1639.
Amazônia. Região geoeconômica do Brasil. Compreende todos os estados da região Norte, exceto uma parte do de
Tocantins, praticamente todo o Mato Grosso e o oeste do Maranhão, numa área de aproximadamente 5,1 milhões de
km2.
Amazônia. É uma floresta latifoliada úmida que cobre a maior parte dos 7 milhões de km2 da Bacia Amazônica da
América do Sul. Inclui territórios pertencentes a nove nações. Sessenta por cento dela estão contidos dentro do Brasil.
Amatari. Distrito do Município de Itacoatiara, sediado na vila de São José do Amatari, localizada a oeste desta cidade.
Andiroba. Árvore grande, que chega a medir 30 metros de altura, e cuja madeira é usada em marcenaria e carpin-
taria. De seu fruto é extraído um óleo antinflamatório, bactericida, diurético e expectorante, largamente utilizado pela
Medicina.
Anta. Mamífero tapirídeo. Atinge até 2 m de comprimento por 1 m de altura, e pesa até 180 kg. Vive nas matas ama-
zônicas, nas proximidades de rios e lagoas, alimentando-se de frutos e folhas. Consta da relação dos animais quase em
extinção.
Arara. Ave grande com bico curvo resistente usado para quebrar frutos e sementes. Suas penas têm colorido forte
como o vermelho, azul e amarelo. Vivem em casais nas copas das árvores mais frondosas da região.
Arraial. Festa popular com barracas de comestíveis, jogos de diversões, etc., que integra o calendário das festivida-
des em homenagem aos santos da Igreja Católica.
Arauató. Paraná situado a oeste da cidade de Itacoatiara que liga os rios Amazonas e Urubu. Nome indígena que
remete ao macaco arauatu, ou guariba vermelho.
B
Baião de Dois. Mistura homogênea de feijão e arroz cozidos e cheiro-verde. Acompanha os pratos de peixes fritos e
assados, típicos da culinária amazonense.
Beiju. Bolo de massa de mandioca. Um ingrediente da culinária amazonense. Entre as espécies, destacam-se o
beijucica, o beiju-membeca, o beiju-moqueca e o beiju-poqueca.
Boi-Bumbá. Dança folclórica. Bailado popular organizado em cortejo com personagens humanas (Amo-do-boi, Catiri-
na e Pai Francisco) e animal bovino, cujas peripécias giram em torno da morte e ressureição do boi.
Boiúna (ou Mãe d’Água). Cobra Grande. Figura mitológica indígena, que toma a forma de cobra. Temida por sua
maldade, faz virar embarcações levando os náufragos para o fundo do rio.
Boldo. Vegetal de pequeno porte cujas folhas e caules são considerados medicinais. Integra o rol das espécies de
plantas (ou ervas) utilizadas pela medicina caseira.
Boto (ou Peixe-boto). Designação comum aos cetáceos que povoam os rios. Medem entre 1,70 m e 2,00 m e seu
peso pode ultrapassar 160 kg. Principais espécies: Boto-cor-de-rosa (o popular boto vermelho) e Boto-cinza ou Tucuxi.
Dóceis e brincalhões apreciam a companhia humana.
Borracha. Substância elástica feita do látex coagulado de várias plantas, como, por exemplo, a seringueira e o cau-
cho. O termo remete à chamada belle époque – o chamado período áureo (1870-1912), que resultou na construção dos
principais prédios do centro histórico de Itacoatiara.
C
Cabanagem. Revolta que ocorreu na Amazônia, de 1835 a 1840, alcançando a antiga freguesia de Serpa (atual Ita-
F
Farinha. Pó em que se transformam uma vez trituradas, certas sementes e raízes e, na Amazônia com especialidade
a farinha de mandioca. Espécies de farinha-produto da mandioca: farinha-seca, farinha d’água e farinha de tapioca.
Fecani. Festival da Canção de Itacoatiara. Evento cultural realizado desde 1985 nesta cidade, anualmente, no início
do mês de setembro.
Frutas da Amazônia. Complementam o cardápio regional, podendo ser consumidas ao natural ou em forma de
sucos, doces, molhos, tortas, geleias, sorvetes e outros produtos da culinária regional. Entre as mais apreciadas estão:
o açaí, cupuaçu, manga, pitomba, murici, jenipapo, maracujá, graviola, bacuri, melancia, tucumã, taperebá, araçá-boi,
pupunha, biribá, buriti, bacaba, patauá e guaraná.
I
Igapó. Mata cheia de água. Prepondera nas partes baixas da região.
Igarapé. Rio pequeno que tem a mesmas características dos grandes, e em geral perfeitamente navegáveis.
Ingá. Fruto do ingazeiro, árvore mimosácea, de origem amazônica. O ingá gera polpa doce e edule, perfeitamente
comestível.
Ingaipáua. Termo indígena que remete a “lugar cheio de ingazeiras”. Denominação do igarapé que nasce nas proximi-
dades do Lago Canaçari e desemboca no Amazonas, a leste de Itacoatiara.
INPA. Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia, órgão de pesquisa do governo federal, sediado em Manaus.
J
Jabutí. Réptil quelônio terrestre, comum nas matas da região. Tem carapaça alta e é coberto por escudos. Alimenta-
-se de frutos em geral. Sua fêmea chama-se jabota.
Jambu. Erva medicinal. Planta do tipo rasteiro, cujas folhas servem de tempero ao tacacá.
Jauari. Palmeira amazônica, que enfeita a paisagem dos alagados. Denominação dada ao bairro mais populoso de
Itacoatiara.
M
Macaxeira. Espécie de mandioca. Mandioca-mansa ou mandioca-doce. É fartamente empregada na alimentação
regional.
Madeira. Rio-berço de Itacoatiara. Nasce na Bolívia e, após percorrer 3.315 km, desemboca no Rio Amazonas, a jusan-
te desta cidade. Recente pesquisa o intitulou de “rio com mais peixes no planeta terra”, com cerca de 800 espécies.
Mamorini. Cacique dos Índios Iruri, os primeiros habitantes de Itacoatiara. Seu nome lembra a Mamorana-grande,
árvore bombacácea originária da Amazônia e irmã da Sumaumeira.
Mandioca. Planta euforbiácea de origem amazônica, cujos grossos tubérculos, ricos em amido, são de largo emprego
na alimentação.
Mangaratiba. Aguardente feita de mangarataia, uma erva medicinal (açafrão-da-terra).
Maniçoba. Iguaria amazônica. Alimento feito com folhas de mandioca (que cozinham por mais de 24 horas para
perder a toxidez e formar um caldo espesso) e ingredientes como mocotó, toucinho, charque, pé e costeletas de porco
salgadas.
Mapinguari. Figura lendária com formato humano, porém coberto de pelos, que integra a mitologia indígena.
Maquira. Ou Maqueira. Rede de dormir, comumente tecida de fibras de tucum.
Marupiara. Termo indígena. Pessoa feliz na caça ou na pesca. Pessoa feliz nos amores e nos negócios.
Missão. Aldeamento. Estabelecimento, instituição ou instalação de missionários para pregação da fé cristã. O termo
remete á Missão Itinerante fundada pelos jesuítas na região do médio Madeira, em 1683, que deu origem à atual cidade
de Itacoatiara.
Missionário. Pregador de missões. O termo remete à atividade missioneira dos padres jesuítas em terras amazôni-
cas, nos séculos XVI a XVIII.
Mixira. Conserva de peixe-boi, de tambaqui ou de tartaruga em azeite do próprio animal. Outra forma de conservar
alimentos, segundo a tradição indígena.
Moqueca. Assado de peixe ou carne na grelha. Prato que pode também ser feito de galinha, ovos, etc.. Na verdade,
onsta de um guisado temperado com salsa, coentro, limão e cebola.
Moquém. Grelha de varas para assar ou secar a carne ou o peixe. Uma das formas de conservar alimento inventadas
pelos índios.
Munguzá. Iguaria feita de grãos de milho, geralmente branco, cozidos em caldo açucarado, algumas vezes com leite
de coco ou de gado, a que se junta polvilho com canela. Um prato típico da culinária amazonense.
Mutirão (ou Puxirum). Palavra indígena que significa ‘reunião de várias pessoas envolvidas em um trabalho em pro-
veito do grupo, da comunidade a que pertencem’. É o mesmo que ‘trabalho em equipe’, e tem um sentido cooperativo.
Murucututu. Coruja do mato. Ave agourenta, segundo a mitologia indígena.
N
Nheengatu. Língua geral originada do Tupi que se difundiu na região amazônica – facilitando, no período colonial, o
contato entre índios e colonizadores.
O
Oitizeiro. Árvore crisobalanácea, de médio porte, apropriada para urbanizar cidades. Mais de 300 unidades da espé-
cie dominam a paisagem verde da Avenida Parque, o principal logradouro público de Itacoatiara.
Onça. Designação comum a todos os felídeos brasileiros de grande porte. Belo animal de pelagem lanosa, porém,
muito feroz. Na Amazônia são várias espécies, desde a jaguatirica (onça pintada) à suçuarana (onça vermelha).
P
Pajé. Chefe de ritual indígena. Na comunidade tem a atribuição ou o suposto poder de comunicar-se com as diversas
potências e seres não humanos (espíritos de animais, de pessoas mortas, etc.).
Paneiro. Cesto de tala de palmeira. Artefato herdado da cultura indígena.
Panela de Barro. Artefato cerâmico de origem indígena. Vasilha de cozinhar alimentos.
Panema. Termo tupi. Que, ou quem é infeliz na caça e ou na pesca. Azarado, ou vítima de feitiço.
R
Rasga-Mortalha. Segundo o folclore, coruja agourenta. Segundo a tradição, os seus grasnados noturnos trazem más
notícias.
Refresco. Na linguagem regional, sinônimo de vinho ou suco. Iguaria líquida feita de frutas e raízes da floresta
amazônica.
Remo. Instrumento de madeira, fruto do artesanato amazônico, composto de um cabo roliço terminado por uma parte
espalmada, que serve para impulsionar pequenas embarcações.
Rio. Curso de água natural, de extensão mais ou menos considerável. Nasce em terreno de nível mais elevado e se
desloca para outro mais baixo indo desembocar no mar, num lago ou noutro rio.
S
Sairé. Çairé em Tupi. Espécie de andor que consiste num semicírculo de madeira, sobre o qual se apoiam dois outros
menores, encimados por uma cruz. Festa popular, da época colonial, durante a qual esse instrumento era carregado em
procissão só de mulheres.
Sarapatel. Iguaria amazônica preparada com sangue e miúdos de tartaruga, com abundância de molho, e bem
condimentada.
Seringueira. Árvore da borracha. Denomina-se seringal a quantidade mais ou menos considerável delas, dispostas
proximamente entre si.
Seringueiro. Indivíduo que se dedica à extração do látex da seringueira. Produtor de borracha.
Sucuri (ou Cobra Sucuriju). Réptil das regiões de pantanosas. Chega a 10 m de comprimento. Vive na água, em rios
e lagoas, e alimenta-se de peixes, aves e mamíferos (inclusive humanos), que engole após triturar-lhes os ossos por
compressão muscular.
Sumaúma. Gigantesca árvore das florestas inundáveis, de tronco imenso e raízes tubulares (as sapopemas), cuja
madeira branca e leve serve para fazer caixotes, brinquedos e jangadas.
T
Tacacá. Iguaria amazônica. Mingau quase líquido de goma de tapioca temperado com tucupi, jambu, camarão e
pimenta.
Tapioca. Espécie de farinha amazônica. Fécula alimentícia que se extrai da mandioca.
Tapioquinha. Bolo feito de massa de macaxeira. Uma iguaria amazônica.
Tapiri. Cabana de palha. Habitação precária e rústica, encontrada nas regiões tropicais.
Tartaruga. Réptil quelônio aquático da Amazônia, de grande dimensão, que vem à terra apenas para a desova.
Tartarugada. Prato amazônico resultante do abate da Tartaruga. Pode ser preparada cozida, assada ou frita. Tipos de
prato: guisado, sarapatel, picadinho e farofa, esta feita no próprio casco.
Tatu. Mamífero desdentado. Variedade de porco doméstico. Alimenta-se de raízes, frutos, insetos, e até de carniça. É
uma das opções de comida da população ribeirinha.
Tipiti. Utensílio que consiste numa espécie de cesto cilíndrico, comprido, feito de palha, com uma abertura na parte
superior e duas alças. Invenção indígena ainda hoje usada pelos caboclos do interior para extrair, por pressão, o tucupi
da mandioca.
U
Urucu (ou Urucum). Fruto do urucuzeiro. Substância tintorial (avermelhada) que se extrai da polpa desse fruto. Após
torrado e pilado, serve para temperar comida no interior da região.
Urubu. Rio de águas negras integrante da rede hidrográfica de Itacoatiara. Nasce nas terras limítrofes de Brasil e
Venezuela e deságua no Rio Amazonas, à altura da cidade de Itapiranga.
Uxi. Grande árvore, típica da Amazônia, que possui flores amarelo-esverdeadas e fruto de polpa aromática, doce e
saborosa, e que fornece óleo bom para a culinária.
Uxituba. Na língua tupi significa “Muita árvore de uxi”. Denominação dada ao Paraná situado a leste da cidade de
Itacoatiara, que liga os rios Amazonas e Urubu.
V
Várzea. Terreno alagadiço. Planície fértil e cultivada que integra a paisagem ribeirinha da Amazônia.
Vereador. Agente político. Representante do povo. Membro eleito de Câmara Municipal.
Vitória Régia. Planta aquática, que enfeita os igapós da Amazônia, de grande tamanho e flores também de grande
porte branco-violáceas.
Referências bibliográficas
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Lahmayer, São Paulo, 1976.
Noronha, José Monteiro de. Roteiro da Viagem da
Cidade do Pará até as Últimas Colônias do Sertão da Wallace, Alfred Russel. Apud Francisco Gomes da
Província (1768), São Paulo, 2006. Silva, in Cronografia de Itacoatiara, 1º volume, Manaus,
1997.
Porro, Antônio. História indígena do alto e médio
Amazonas, in História dos índios no Brasil, de Manuela http: // www.ibge.gov.br/estadosat/perfil.
Carneiro da Cunha (org), São Paulo, 1992. php?sigla=am
Presidente
Belisa Souza Maggi
Secretaria Executiva
Juliana de Lavor Lopes
Analista de Comunicação
Maíza Cássia Prioli de Souza
Fotos
Arquivo AMAGGI/FALM
Jucinaldo Costa
www.iande.art.br/ceramica/ceramica.htm www.amazonianarede.com.br/com-apoio-do-governo-do-estado-o-
-fecani-podera-acontecer-em-outubro www.g1.globo.com/am/amazonas/musica/noticia/2015/09/show-de-
-bandas-locais-abre-festival-da-can-cao-de-itacoatiara-no-am.html www.amazonianarede.com.br/programa-
-de-investimentos-em-portos-inclui-manaus-e-itacoatia/ www.profricardoabreu.blogspot.com.br/2008/11/
edifcio-construdo-em-1912-pelo-portugus.html
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