Professional Documents
Culture Documents
1916 e no de 2002
L Publicado por Leticia C
há 3 anos 12,9K visualizações
Resumo
1. Introdução
Assim, o presente trabalho trará uma análise acerca do tratamento dado à mulher
pelo Código Civil de 1916 e de 2002, destacando suas principais diferenças. Serão
analisadas, também, as mudanças sociais e legislativas ocorridas entre os dois
Códigos, evidenciando o movimento feminista e as leis inovadoras promulgadas.
Antes mesmo de se analisar o tratamento dado à mulher pelo Código Civil de 1916,
faz-se necessário destacar os principais aspectos da sociedade brasileira à época.
https://lecampopiano24.jusbrasil.com.br/artigos/339145700/tratamento-da-mulher-no-codigo-civil-de-1916-e-no-de-2002 2/18
04/01/2019 Tratamento da Mulher no Código Civil de 1916 e no de 2002
Isso porque a legislação nada mais é que uma representação dos conceitos e
1 0 COMENTAR 1 COMPARTILHAR
princípios vigentes na vida social quando da sua elaboração.
Segundo Martha Solange Scherer Saad, "na classificação dos direitos e deveres de
cada cônjuge, a diferença de tratamento entre o marido, chefe da sociedade
conjugal, e a mulher, sua colaboradora, ficava evidente" (SAAD, 2010, p. 27).
Pode-se dizer que a mulher já era criada com o intuito de casar, ser mãe e cuidar
do marido e filhos. Era uma situação transmitida por gerações, sendo a
subordinação uma característica comum do comportamento feminino.
À mulher não se concedia a capacidade plena, ou seja, ela não podia realizar os
atos da vida civil de forma independente, precisando ser assistida ou ter seus atos
ratificados. Sendo relativamente incapaz, era equiparada aos menores, aos
pródigos e aos silvícolas, como demonstra o artigo 6º do Código em questão.
Assim, era a ela imposta uma situação de extrema subordinação, sendo que, para
praticar qualquer ato, dependia da anuência do pai e, quando casada, do marido.
Essa sujeição limitava o crescimento intelectual feminino, já que ela não tinha
liberdade para tomar atitudes sozinha.
https://lecampopiano24.jusbrasil.com.br/artigos/339145700/tratamento-da-mulher-no-codigo-civil-de-1916-e-no-de-2002 4/18
04/01/2019 Tratamento da Mulher no Código Civil de 1916 e no de 2002
O domicílio conjugal era fixado pelo marido, segundo determinava o artigo 233 do
Código vigente à época, que dizia que "o marido é o chefe da sociedade conjugal;
compete-lhe direito de fixar e mudar o domicílio da família". À mulher cabia
apenas mudar-se para onde o marido determinasse.
https://lecampopiano24.jusbrasil.com.br/artigos/339145700/tratamento-da-mulher-no-codigo-civil-de-1916-e-no-de-2002 5/18
04/01/2019 Tratamento da Mulher no Código Civil de 1916 e no de 2002
Assim, a mulher, por meio do dote, trazia meios de subsistência ao lar conjugal,
cabendo ao marido a administração desses bens para a manutenção da família.
§ 2º. Todos são iguais perante a lei. A República não admite privilégios de
nascimento, desconhece foros de nobreza e extingue as ordens honoríficas
existentes e todas as suas prerrogativas e regalias, bem como os títulos
nobiliárquicos e de conselho.
Portanto, o ideal genérico de que todos são iguais perante a lei, adotado
pela Constituição Federal à época, não era condizente com o apresentado pelas leis
infraconstitucionais, nem com a realidade social. Essa igualdade jurídica foi sendo
adquirida com o passar do tempo, após muita movimentação feminista nesse
sentido.
fossem sendo criadas até culminarem no Código Civil de 2002, que se mostra
1 0 COMENTAR 1 COMPARTILHAR
bastante diferente do de 1916.
Pode-se dizer que até mesmo antes do Código Civil de 1916, as mulheres já se
mostravam presentes, como ocorreu no movimento abolicionista, no final do
século XIX, com a figura marcante da Nísia Floresta, republicana, abolicionista e
feminista.
Maria Amélia de Almeida Teles, no artigo "A História pelo Direito do Voto
Feminino", adota a classificação que divide a história do movimento feminista em
ondas:
A primeira onda se inicia no século XVIII e vai até meados do século XX: trata-
se do movimento sufragista feminista. A segunda onda retoma o feminismo a
partir da segunda metade do século XX e se estende até o século XXI. Nesta
segunda onda, as mulheres lutaram por autonomia social e econômica, direito
a decidir sobre seu próprio corpo e direito à escolha, reivindicaram que o
pessoal é político e exigiram o direito pleno a todos os direitos, inclusive o de
viver uma vida sem violência. (TELES, p. 01).
Assim, no século XX, a manifestação feminista tem início com a ideia de adquirir
direitos políticos, ou seja, buscar a participação na democracia do país,
conseguindo, assim como os homens, demonstrar suas posições por meio do voto.
Criaram, por exemplo, em 1910, o Partido Republicano Feminino, no Rio de
https://lecampopiano24.jusbrasil.com.br/artigos/339145700/tratamento-da-mulher-no-codigo-civil-de-1916-e-no-de-2002 7/18
04/01/2019 Tratamento da Mulher no Código Civil de 1916 e no de 2002
Portanto, pode-se dizer que primeira conquista dessa mobilização foi o direito ao
voto. Isso aconteceu com o Código Eleitoral, em 1932, o qual não trazia
diferenciação entre homens e mulheres, no tocante ao poder de voto. Ambos, ao
atingirem 21 anos, poderiam consagrar sua opinião nas eleições.
https://lecampopiano24.jusbrasil.com.br/artigos/339145700/tratamento-da-mulher-no-codigo-civil-de-1916-e-no-de-2002 8/18
04/01/2019 Tratamento da Mulher no Código Civil de 1916 e no de 2002
A partir de então, muitas legislações foram sendo criadas para atender aos anseios
1 0 COMENTAR 1 COMPARTILHAR
da sociedade por inovação. Isso pode ser notado com o Estatuto da Mulher Casada
(Lei nº 4.121/62), com a Lei do Divórcio (Lei nº 6.515/77) e com a Constituição
Federal de 1988, que fizeram com que o tratamento dado à mulher evoluísse para a
igualdade.
Em 1962 é criada a lei nº 4.121, conhecida como Estatuto da Mulher Casada. Pode-
se dizer que ela foi um dos principais dispositivos que trouxe grande parte das
inovações no tratamento das mulheres, depois compiladas no Código Civil de
2002.
A mulher, que até então era considerada como relativamente incapaz, não podendo
realizar os atos da vida civil sem que fosse assistida ou ratificada pelo seu marido,
ganha a plena capacidade. O artigo 6º do Estatuto exclui o inciso II do
artigo 6º do Código Civil de 1916. Sendo assim, as mulheres não eram mais
equiparadas aos pródigos, silvícolas e menores de idade com relação à capacidade.
O chefe da família, função dada com exclusividade ao homem pelo Código Civil de
1916, agora passa a aceitar a colaboração da mulher, que ajudará nas decisões
familiares. Isso faz com que a mulher comece a ter voz na sua família, não mais
devendo obediência absoluta ao seu marido, podendo opinar acerca das decisões e
necessidades da família. Segundo o artigo 233 do Estatuto, "o marido é o chefe da
https://lecampopiano24.jusbrasil.com.br/artigos/339145700/tratamento-da-mulher-no-codigo-civil-de-1916-e-no-de-2002 9/18
04/01/2019 Tratamento da Mulher no Código Civil de 1916 e no de 2002
O domicílio conjugal, que, no Código de 1916, era decidido pelo homem, devendo a
mulher aceitá-lo, agora pode ser contestado por ela. O inciso III do artigo 233 do
Estatuto em questão, ressalvava a possibilidade da mulher recorrer ao juiz caso a
deliberação do marido a prejudicasse.
Em 1977, é criada a lei nº 6.515, conhecida como Lei do Divórcio. A partir de então,
o casamento poderia ser dissolvido, desfazendo-se o vínculo matrimonial, o que
permitia que homem e mulher divorciados pudessem contrair novas núpcias.
Uma importante mudança trazida por essa lei, no que diz respeito à mulher, é a
faculdade de acrescentar ou não o sobrenome do marido ao seu, no momento do
casamento. O parágrafo único do artigo 240 do Estatuto, diz que "a mulher poderá
acrescer aos seus os apelidos do marido".
https://lecampopiano24.jusbrasil.com.br/artigos/339145700/tratamento-da-mulher-no-codigo-civil-de-1916-e-no-de-2002 10/18
04/01/2019 Tratamento da Mulher no Código Civil de 1916 e no de 2002
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a
inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à
propriedade, nos termos seguintes:
https://lecampopiano24.jusbrasil.com.br/artigos/339145700/tratamento-da-mulher-no-codigo-civil-de-1916-e-no-de-2002 11/18
04/01/2019 Tratamento da Mulher no Código Civil de 1916 e no de 2002
Assim, por exemplo, no mercado de trabalho, homens e mulheres não podem ter
um salário diferenciado apenas porque possuem sexos diferentes.
https://lecampopiano24.jusbrasil.com.br/artigos/339145700/tratamento-da-mulher-no-codigo-civil-de-1916-e-no-de-2002 12/18
04/01/2019 Tratamento da Mulher no Código Civil de 1916 e no de 2002
Agora, o casamento passa a não ser mais um destino certo para a mulher, mas sim
uma das muitas escolhas da sua vida, que caminhará junto com a vida profissional
e acadêmica. Assim expõe Martha Solange Scherer Saad:
No que se refere à capacidade civil, o Código de 2002, no seu artigo 5º, não traz
diferenciação entre homens e mulheres. Portanto, qualquer pessoa, ao atingir os 18
anos, torna-se plenamente capaz, apta a realizar todos os atos da vida civil. Além
disso, o Código não inclui mais as mulheres no rol de hipóteses de relativamente
incapazes trazidos pelo artigo 4º, que diz "são incapazes, relativamente acertos
atos, ou à maneira de os exercer: os maiores de dezesseis e menores de dezoito
anos; os ébrios habituais, os viciados em tóxicos, e os que, por deficiência mental,
tenham o discernimento reduzido; os excepcionais, sem desenvolvimento mental
completo; os pródigos".
Essa é uma importante diferença que existe entre o Código Civil de 1916 e o de
2002. Isso porque, gozando da capacidade civil, a mulher adquire uma maior
https://lecampopiano24.jusbrasil.com.br/artigos/339145700/tratamento-da-mulher-no-codigo-civil-de-1916-e-no-de-2002 13/18
04/01/2019 Tratamento da Mulher no Código Civil de 1916 e no de 2002
autonomia, afinal, consegue praticar todos os atos da vida civil sem precisar que o
1 0 COMENTAR 1 COMPARTILHAR
marido a assista ou a dê permissão para isso.
Pode-se dizer, também, que atos específicos, como alienar ou gravar de ônus real
bens imóveis ou prestar fiança, que, no Código de 1916 (artigo 235), somente
poderiam ser feitos pelo homem, embora necessitasse de consentimento da
mulher, no de 2002 (artigo 1.647), também podem ser praticados pelas mulheres,
com anuência recíproca. Ou seja, a mulher e o homem podem realizar esses atos,
desde que tenham a autorização do outro cônjuge.
Nesse mesmo viés é apresentado o poder familiar, antes denominado como pátrio
poder. O artigo 1.631 do vigente Código diz que ambos os cônjuges exercerão o
poder familiar, sendo responsáveis, homem e mulher, pela criação dos filhos. Essa
é uma ideia, que, como já foi apresentado, surgiu com a Constituição Federal de
1988, sendo apenas ratificada pelo Código Civil de 2002.
https://lecampopiano24.jusbrasil.com.br/artigos/339145700/tratamento-da-mulher-no-codigo-civil-de-1916-e-no-de-2002 14/18
04/01/2019 Tratamento da Mulher no Código Civil de 1916 e no de 2002
O domicílio do casal será escolhido por ambos os cônjuges, segundo o artigo 1.569
do Código de 2002. Em 1916, essa escolha era vetada à mulher, ou seja, com o
casamento ela deveria ir morar no domicílio determinado pelo marido. Já hoje,
ambos devem decidir juntos essa fixação.
Além disso, o mesmo artigo determina que um ou outro pode adotar um domicílio
diverso do conjugal para atender a encargos públicos, exercer a profissão ou
mesmo por interesses particulares relevantes.
No mais recente, a mulher se encontra, não atrás, mas ao lado do homem. Sua
posição na sociedade tornou-se mais ativa e presente, não dependendo do marido
para tomar suas decisões. Agora, ela também é responsável pela coordenação da
família, podendo tomar decisões e agir para o bem estar de todos.
Porém, não se pode dizer que o Código Civil de 2002inovou, pois tais alterações já
haviam aparecido em outras leis no decorrer dos quase 100 anos. Um dos
exemplos é a Constituição Federal, que apresentou um importante passo no que
diz respeito à isonomia entre os sexos. Assim, diz-se que o Código Civil foi
https://lecampopiano24.jusbrasil.com.br/artigos/339145700/tratamento-da-mulher-no-codigo-civil-de-1916-e-no-de-2002 15/18
04/01/2019 Tratamento da Mulher no Código Civil de 1916 e no de 2002
5. Conclusão
Para que isso fosse possível, fez-se necessário uma luta ferrenha de mulheres que
acreditavam que poderiam ter mais do que a posição submissa que lhes era dada.
Conquistaram o direito ao voto, à autonomia na prática dos atos da vida civil, à
liberdade de escolha acerca da adoção do sobrenome do marido, à tomar decisões e
organizar a sua vida familiar, participando ativamente da educação e do
direcionamento dos filhos.
Pode-se dizer que as conquistas foram muitas e que houve sim uma profunda
mudança na atuação da mulher dentro da sociedade. Afinal, para quem não podia
nem mesmo praticar atos da vida civil sem a autorização de seu marido ou pai,
trabalhar, votar, sair às ruas por seus ideais, debater posições, decidir acerca da
orientação da sua família são conquistas inegáveis.
https://lecampopiano24.jusbrasil.com.br/artigos/339145700/tratamento-da-mulher-no-codigo-civil-de-1916-e-no-de-2002 16/18
04/01/2019 Tratamento da Mulher no Código Civil de 1916 e no de 2002
Porém, nossa sociedade ainda mantém certo preconceito com a atuação da mulher
1 0 COMENTAR 1 COMPARTILHAR
na sociedade. Ainda há, por exemplo, discriminação salarial, abuso doméstico,
subestimação dos atos praticados por mulheres. Enfim, a isonomia de gêneros foi
solidamente firmada pelo ordenamento jurídico, mas ainda existe um caminho a
percorrer para que a sociedade realmente se comporte como empregam as leis.
6. Bibliografia
http://www2.câmara.sp.gov.br/dce/escola_do_parlamento/publicacoes/CEP_IV
_Igualdade_de_Genero_I.pdf. Acessado em: 25/10/2015.
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituição/ConstituicaoCompilado.htm.
Acessado em: 25/10/2015.
25/10/2015.
https://lecampopiano24.jusbrasil.com.br/artigos/339145700/tratamento-da-mulher-no-codigo-civil-de-1916-e-no-de-2002 17/18
04/01/2019 Tratamento da Mulher no Código Civil de 1916 e no de 2002
DIAS, Maria Berenice. Manual de direito das famílias. São Paulo: RT, 2006.
http://www.observatoriodegenero.gov.br/menu/noticias/homens-recebem-
salarios-30-maiores-que-as-mulhe.... Acessado em: 26/10/2015.
http://www2.câmara.sp.gov.br/dce/escola_do_parlamento/publicacoes/CEP_IV
_Igualdade_de_Genero_I.pdf. Acessado em: 25/10/2015.
VENOSA, Silvio de Salvo. Direito Civil: Direito de Família. 14ª edição. São Paulo:
Editora Atlas, 2014.
https://lecampopiano24.jusbrasil.com.br/artigos/339145700/tratamento-da-mulher-no-codigo-civil-de-1916-e-no-de-2002 18/18