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A Joia dos Desejos

Estudo 7i

A dificuldade na meditação começa antes mesmo de sentarmos na almofada:


está em nossa ansiedade e tensão no cotidiano, refletindo-se em imagens e
pensamentos que ocorrem desordenamente no fluxo mental incessante que é
a essência da nossa prisão e que conduz nossa imaginação.

A limpeza das marcas mentais se dá quando começamos a perceber a não


existência intriseca do mundo como conhecemos nem do mundo como
apreendemos. Quando começamos a ver que os objetos só existem como
particularidades específicas de experiências próprias começamos a ver que, de
fato, nos deixamos marcar por alguma circunstâncias e não por outras, criando,
em nós, a sensação de que o mundo é de uma forma e não de outra. É curioso
perceber que mesmo que sintamos algo e que ele nos corresponda, não
podemos dizer que este algo é definitivamente aquilo. Apesar da pessoa dizer
que nos ama, não é possível dizer que ela vai ficar conosco para sempre.
Apesar de termos sofrido um determinado trauma, não podemos dizer que ele
vai se repetir desta mesma forma. Apesar de acharmos que somos um nome
com uma bagagem emocional específica, não podemos dizer que o mundo vai
sempre respaldar o jeito que nós aprendemos a ser. Uma vez que as
propriedades do objeto dependem intrinsecamente do universo conceitual que
o cria, diz-se que o objeto é vazio em si mesmo, que é não existente. Então,
basicamente, sofremos porque estamos tentando impor sobre o mundo as
marcas específicas que apreendemos, quando o mundo é livre destas marcas.
Estamos tentando sempre forçar um tipo de existência no mundo e por isso
não conseguimos entrar em dialogo com ele. A percepção dos padrões é clara
quando meditamos ou nos isolamos um pouco. Se tivermos como perceber o
movimento da nossa mente, vamos ver que estamos dentro de prisões
específicas, delimitadas e que se repetem. Eventualmente, basta olharmos um
pouco a nossa vida para vermos a prisão se refletindo nas nossas escolhas e
nas formas como nos relacionamos. A contínua exposição à meditação por
outro lado oferece a base na qual passamos a perceber que as marcas
mentais, mesmo que repetitivas, dizem respeito a condições específicas. É
como se estivessemos apenas vivendo o eco delas, acreditando que somos ou
que estamos ligados inevitavelmente àquele processo. Isso faz sentido porque
nos expusemos, anteriormente, às marcas da busca externa e nos
familiarizamos a elas, achando que somos alguém que precisa ser feliz
externamente. A meditação, de fato, começa quando decidimos viver sob
outras bases e começamos a entender a importância de sermos/termos e
oferecermos mais espaço na nossa vida.

Exercício de contemplação:
1) Você consegue perceber que as coisas são existentes e não-existentes ao
mesmo tempo? Consegue dar exemplos sobre isso no seu cotidiano?
2) Que marcas/prisões você acha que vem repetindo? Sua família repete
marcas parecidas?
3) O que você sente quando fica só?
i
Estudo correspondente às páginas 43 a 45 e ao capítulo 5 “Aprisionamento” do livro Joia dos Desejos,
do Lama Padma Samten (2013).

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