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POPULAÇÃO, DESENVOLVIMENTO E POLÍTICAS PÚBLICAS


Adelita Carleial1
Annuzia Gosson2

Introdução
O tema desenvolvimento tem sido, nos últimos 30 anos, o mais recorrente nas
discussões acadêmicas, fóruns mundiais, entre os planejadores públicos e privados, e
mesmo envolvendo certos grupos da população. Ainda assim, parece que não há um
consenso de toda a sociedade para conceituá-lo, medi-lo, ou expressar seu significado.
Sempre falta o que discutir e avaliar. Portanto, mais uma vez, retoma-se aqui esta
questão, para examinar no caso cearense as tendências populacionais e os níveis
obtidos na qualidade de vida.
Na perspectiva da população, e apesar de ser a coisa mais concreta de um lugar de
uma região, por sua dimensão física propriamente dita, a discussão demográfica é
limitada, porque não basta conhecê-la em termos absolutos para concluir sobre como
ela vive, como se mantém, usa e se apropria dos territórios. Discorda-se desta forma
de abordagem. Acredita-se que é importante descer-se aos detalhes mais interiores da
vida em sociedade, para conhecer melhor sua população, para então, os números
absolutos passarem a ter significado e a expressar a realidade social.
Em conseqüência da abordagem quantitativa predominante, centrada no crescimento
populacional e em sua distribuição no espaço, é que as pesquisas, as estatísticas e os
indicadores vão sendo construídos e interpretados. Portanto, fazer uma análise
diferente das possibilidades de enumeração e distribuição populacional que permita
compreender o modo como vivem e se relacionam os segmentos populacionais em
sociedade, parece sempre um desafio ao pensamento crítico, principalmente, dentro
do que é possível a um breve artigo como este. Procura-se ir para além do que
aparentemente revelam os indicadores oficiais sobre as questões demográficas e
sociais, cotejando-os com o conhecimento adquirido pela pesquisa acadêmica de base
empírica mais qualitativa e teórica.
Faz-se, portanto, uma breve reflexão sobre as principais condições de vida que
revelariam ou não uma condição de desenvolvimento, considerando os últimos anos do

1
Socióloga, professora e coordenadora do Laboratório de Estudos de População (LEPOP) da
Universidade Estadual do Ceará (UECE).
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Estatística, professora da Universidade Federal do Ceará e Analista de Políticas Públicas do Instituto de
Pesquisa e Estratégias Econômicas (IPECE).
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século XX, entre 1991 e 2000, abordando aspectos da população total do estado, da
Região Metropolitana de Fortaleza (RMF), da capital e de outros sete municípios, em
cujas cidades sedes habitam 50.000 pessoas ou mais, que também são pólos
regionais (Crato e Juazeiro do Norte, ao sul do estado; Sobral e Itapipoca ao norte;
Iguatu a sudeste) ou cidades metropolitanas (Maracanau e Caucaia). Procura-se
responder a seguinte questão: os indicadores sócio-populacionais revelariam o tipo de
desenvolvimento desigual dos lugares pesquisados?

1. Metropolização e urbanização
As facilidades de acesso e de comunicação, o mercado de trabalho e de consumo, as
melhores condições do habitar, a variedade e a especialidade dos serviços são bons
motivos para se preterir o campo, os espaços rurais em favor do urbano e das cidades,
sobretudo das metrópoles. A escolha da população em habitar as cidades é uma
característica da modernidade que transcende a qualquer política de fixação do
homem no campo, como bem mostrou a história brasileira dos últimos 50 anos.
Entretanto, e ao mesmo tempo em que, as cidades representam um espaço cheio de
possibilidades, é, também, campo de contradições, conflitos, destruição e opressão. A
atmosfera da modernidade que se viveu no centro dos países capitalistas estendeu-se
para o mundo todo com o modernismo, copiado e ampliado, e a modernização,
imposta ou, ideologicamente, instalada. Vive-se um turbilhão social que é a vida
metropolitana. Após a migração de milhões de jovens do campo para as cidades, o
clima é de agitação e de violência, mas, também, de expectativas sobre um mundo
progressista, aquele considerado desenvolvido (BERMAN, 1990, p. 15).
Convive-se no Brasil, e mais particularmente no nordeste brasileiro, uma sensação de
dois mundos, simultaneamente, atrasado e moderno, tal são as desigualdades intra e
inter-regionais, urbanas e metropolitanas. É uma situação que envolve milhões de
trabalhadores sobre as mais diferentes relações com o capital: terceirizados, no
mercado informal, trabalhadores domésticos, desempregados e subempregados, além
dos trabalhadores diretamente produtivos, formando uma classe numerosa daqueles
que vivem do trabalho.
A globalização, atualmente, para Santos (2002, p.153-156) reuniria as condições
objetivas para se iniciar uma nova História, porque permitiria a interdependência das
economias, dos governos e dos lugares, poder-se-ia colocar o homem no centro das
decisões e dos projetos, combinando diferentes técnicas, tempos e velocidades, mas
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sem, teoricamente, ninguém “arrastar” ninguém. Os que quiserem (e poderem) usufruir


a modernidade o fariam, mas admitiriam a possibilidade, o desejo e a condição dos
que vivem na lentidão.
As estratégias de sobrevivência não seriam apenas da burguesia que formula
mecanismos de dominação social e espacial, os operários lutariam e resistiriam à
capitulação do capital, embora ainda se limitassem ao controle do lugar e a
determinados setores da divisão do trabalho. Haveria duas forças contraditórias nesse
processo: aquela despendida pelo capital que tenta desconstruir a resistência social,
dando novas formas as suas bases geográficas e a marcada pelas “resistências
individuais [que] podem tornar-se movimentos sociais que visam liberar o espaço e o
tempo de suas materializações vigentes e construir um tipo alternativo de sociedade
em que o valor, o tempo e o dinheiro sejam compreendidos de novas formas bem
distintas” (HARVEY, 1993, p.217).
Antes que essas condições subjetivas sejam postas e venha-se a configurar um novo
mundo, o clima predominante é de pessimismo, mas com uma mescla de otimismo
daqueles que acreditam e defendem a possibilidade de uma efetiva emancipação
humana, que será concreta e viabilizada, socialmente, por meio de revoluções que se
originarão, centralmente, no mundo do trabalho. Enquanto isto, as condições locais de
vida evidenciam um desenvolvimento desigual e combinado, que diferencia os
consumidores e reparte injustamente a produção.
É nesse contexto que se pode compreender como residem cerca de três milhões de
habitantes na RMF, dos quais 72% ou 2,1 milhões habitantes são moradores de
Fortaleza. A região é uma opção de vida para uma população que representa 40,2%
do total residente no Ceará. A capital é a segunda metrópole nordestina, maior que a
de Recife em mais de 700 mil habitantes, embora a Grande Recife supere a RMF em
cerca de 350 mil pessoas (SUDENE, 2003). Além da metrópole há outras opções
regionais: Caucaia e Maracanau são os outros dois municípios mais populosos da
RMF que reúnem mais de 460 mil pessoas ou 15,5% dos moradores metropolitanos.
No interior do estado, as outras opções mais preferidas são incomparáveis às citadas e
estão bem distante social e espacialmente (Tabelas 1 e 2).
A distribuição desigual da população no espaço, de certo modo, reflete e provoca uma
concentração de capitais e de investimento, modificando e reorganizando o espaço
regional. A concentração de investimentos públicos e privados em Fortaleza decorre de
processo histórico relativo à expansão capitalista em seu território, associado à
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formação social brasileira. Nem sempre o desenvolvimento existente nas cidades e


metrópoles é bem distribuído e abarca todas as pessoas ou grupos da população.
Ainda assim, a mobilidade populacional segue a tendência do trabalho e a do capital.
Em 1991, já habitavam na RMF cerca de 2,4 milhões de pessoas, mas em 2000,
apenas nove anos depois, esta população havia sido aumentada de quase 628 mil
pessoas. É um crescimento significativo, de em média 2,4% ao ano, envolvendo uma
dinâmica que vai sendo deslocada da Capital, cuja taxa no período foi de apenas 2,1%,
para demais municípios metropolitanos, por exemplo, em Caucaia, cujo crescimento foi
de 4,7%.
Apesar de haver uma tendência generalizada à urbanização, observam-se
especificidades nesses municípios mais populosos do estado do Ceará. Na RMF, o
espaço rural perde totalmente o significado, seja porque os lugares vão se submetendo
à nova organização, a partir da metrópole, ou porque o modo de vida urbana perpassa
mais rapidamente, desvalorizando certos costumes e hábitos. Mas, nas regiões
interioranas, há, ainda, um relativo peso da população vivendo no espaço rural. Em
Iguatu e Itapipoca, por exemplo, as taxas de urbanização somente atingiram, em 2000,
a 72,8% e 51,4%, respectivamente, em um processo lento, face às mudanças na
última década.
A pressão demográfica sobre algumas cidades e municípios é maior considerando a
extensão territorial de cada um, em relação à população que lá habita. Fortaleza é a
cidade cuja concentração populacional encontra-se exacerbada pela densidade
demográfica de 6.854,7 habitantes em cada quilômetro quadrado. Guardando as
devidas proporções, Maracanaú possui a segunda maior densidade demográfica no
estado, lá reside 1.832,1 pessoas por Km2, seguido por Juazeiro do Norte (905,0) e
Caucaia (210,4). Os demais municípios, em apreço, estão com densidades acima da
média estadual (51,0 Km2), contudo bem aquém do quadro metropolitano.
Pesa, acentuadamente, sobre essa metrópole a responsabilidade de produção da
riqueza, de oferta de trabalho, bem como, muitos dos problemas decorrentes da
pobreza. A política pública de interiorização do desenvolvimento, via investimentos
industriais subsidiados, não consegue reverter a força econômica e política do
processo histórico de concentração de capitais na região, apesar de um diminuto
resultado. De quase R$ 21 bilhões de reais que foram produzidos nos dois anos em
todo estado, a preços constantes de 2000, a RMF produzia 64,3% e 62,5%,
respectivamente. Somente Fortaleza era responsável por 43,4% do PIB, em 1997, e
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42,8%, em 2000, dessa riqueza socialmente produzida. Os demais cinco municípios


interioranos, juntos, participaram inicialmente com 8,6% e depois evoluíram
discretamente para 8,8%.
Considerando a hipótese de uma distribuição igualitária da riqueza entre os residentes,
então, o indicador PIB per capita serviria para expressar os diferentes níveis de
desenvolvimento existentes entre as cidades e os municípios. Isto significaria que
Maracanau com o valor de R$ 10.529,00, em 2000, teria um desenvolvimento maior do
que o verificado em Fortaleza, cujo indicador chegara a R$ 4.175,00, no mesmo ano,
conclusão desmistificada por vários outros indicativos.
A este respeito, verifica-se primeiro, a concentração da renda no estado, indicada pelo
Índice de GINI, que embora possa estar reduzindo, ainda se mantém em níveis bem
acentuados. Tomando-se por referência os dados de 1991, sobre a renda do chefe dos
domicílios, constata-se que a concentração de renda é maior na RMF (0,6507) e,
sobretudo na metrópole (0,6545), ao contrário, ela é mais desconcentrada nos
municípios onde o processo de urbanização ainda não está tão avançado, como no
caso de Iguatu (0,6098) e de Itapipoca (0,5274). São exceções: Maracanaú (0,4679)
na Região Metropolitana e Crato (0,6536) no sul do estado.
Os dados a respeito da renda familiar per capita, também, trazem esses problemas de
concentração, embora em níveis menores, pois conseguem retratar uma dimensão
mais realística da situação de renda no estado, onde se observam: a situação
privilegiada de Fortaleza (R$ 303,14), seguida de Crato (R$ 166,81), Iguatu (R$
150,56), Sobral (R$ 150,64) e Juazeiro do Norte (R$ 146,61), ficando no terceiro grupo
os municípios metropolitanos de Caucaia (R$ 129,00) e de Maracanaú (R$ 129,69), e
ao final situando-se Itapipoca (R$ 82,91). Esta baixa renda em Itapipoca pode ser
explicada pelo peso que têm a agricultura de subsistência e a pesca artesanal na
economia desse município, cujas características são: atender o consumo familiar, que
não é contabilizado como renda direta; e gerar excedente para o mercado interno,
complementando a realização da renda familiar.
Mas, somente a renda, não é suficiente para indicar o desenvolvimento humano dos
estados e municípios como parece ser o entendimento da ONU e de seus estados
membros a respeito do assunto. O Índice de Desenvolvimento Humano (IDH)
considera a combinação da renda, com a educação e a esperança de vida para
mensurar o desenvolvimento entre países, havendo no caso brasileiro sido construído
um índice semelhante com a mesma lógica conceitual, aplicado para os municípios
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que é o IDHM. Conforme este indicador o Ceará estaria evoluindo em termos de


desenvolvimento, pois saíra de um patamar correspondente a 0,597 para o de 0,699
entre 1991 e 2000. Fortaleza (0,786) continuaria na liderança do desenvolvimento
estadual (Nível 1)3, já revelada por outros indicadores, mas aqui os municípios
metropolitanos confeririam melhores resultados que os pólos regionais: Caucaia
(0,721) e Maracanaú (0,736); e, apenas, Crato (0,716) que se situaria quase ao mesmo
patamar (Nível 2); Sobral (0,698) estaria à frente de Juazeiro do Norte (0,697) e de
Iguatu (0,692) (Nível 3); e, na retaguarda, permaneceria Itapipoca (0,659) (Nível 4).
Certamente que a proximidade de Fortaleza faz diferença no usufruto de serviços e de
renda indireta criada pelas políticas governamentais, relativamente, aos municípios
interioranos.
Assim, pode-se admitir que, realmente, tenha ocorrido uma melhora geral no nível de
desenvolvimento no estado, pois, entre os municípios, em estudo, houve uma evolução
significativa. Entretanto, quando se observam, em particular, os indicadores que fazem
o índice mortalidade infantil e da esperança de vida, quantas desigualdades
geográficas e sociais pode-se observar.
A mortalidade infantil no Ceará experimentou queda acentuada nos últimos vinte anos,
entretanto, ela não tem sido homogênea em todos os lugares, cidades e municípios,
apesar da persistente política governamental. Em 2000, municípios tidos, por
diferentes indicadores como de Nível 2 de desenvolvimento, no estado, ainda
apresentam altas taxas de mortalidade infantil (28,3 em cada mil nascidos vivos)
comparada à média regional (23,5) e a obtida em Fortaleza (23,3). Como, por exemplo,
citam-se os casos de Crato (31,8) e de Caucaia (32,8).
A esperança de vida ao nascer, em 2000, vai destacar mais a posição dos municípios
metropolitanos periféricos, Caucaia (70,83 anos) e Maracanau (70,58) que mesmo
Fortaleza (69,63). No interior, a esperança de vida é maior nos municípios cuja
urbanização é relativamente menor, que são Itapipoca (68,33) e Iguatu (68,65). O
ganho de três anos de vida a mais, entre 1991 e 2000, para todos os cearenses vai se
diferenciar em cada realidade socioeconômica e conforme os gêneros da população.
Na RMF, Fortaleza teve o acréscimo de 3,73 anos, mas já Maracanau evoluiu de 6,68
e Caucaia de 7,93. No interior, Sobral teve destaque no período (7,7 anos), mas não se

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Levou-se em consideração para a tipologia de níveis de desenvolvimento 1, 2, 3 e 4, uma hierarquia de
indicadores sócio-demográficos combinados ao Índice de GINI, renda familiar per capita e IDH.
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deve deixar de considerar Crato (6,03), Juazeiro do Norte (5,96) e Iguatu (5,85), além
de Itapipoca (3,63), cujo acréscimo foi menor, mas acima da média estadual.
Muitas das mortes evitáveis foram diminuídas nas principais cidades, em compensação
outras mortes por causas externas surgiram, aquelas com origem na violência e nos
acidentes de trânsito, notadamente, em Maracanaú (80,7), Caucaia (67,1) e Fortaleza
(63,3). As menores taxas de mortalidade por estas causas ocorreram em Itapipoca
(42,4), Crato (55,4) e Iguatu (57,2). Estes são fatos que irão afetar, diretamente, a
população masculina que está mais submetida ao risco da violência urbana, do que a
feminina, e, assim, a esperança de vida entre as mulheres é mais prolongada (69,7
anos) que entre os homens (63,1), com um ganho de 9,4 anos sobre o total de anos a
serem vividos por elas, considerando o período de 1991 a 2000.
Maiores informações a respeito da relação entre população e desenvolvimento local
remetem à análise sobre a estrutura e a dinâmica demográficas.

2. População e políticas públicas


A transição demográfica pela qual passa (ou passou) quase todos os países no mundo
vem sendo experimentada pela população cearense. Isto significa que os níveis de
fecundidade reduziram-se, drasticamente, acompanhando o declínio da mortalidade,
fazendo a estrutura populacional transitar de uma população, essencialmente, jovem
para uma mais adulta e envelhecida. O fato desta transição demográfica, ainda, estar
incompleta faz com que uma porção expressiva dos grupos populacionais, ainda
jovens, seja tão importante, quanto, uma parcela considerável de adultos além da
tendência ao crescimento relativo dos idosos. Esta performance tem rebatimento nas
políticas publicas que a considera para a promoção do desenvolvimento estadual e
local.
Na década de 90, tomando por parâmetro alguns indicadores brutos e totais4, constata-
se a redução significativa das variáveis demográficas de fecundidade, natalidade e
mortalidade no Estado como um todo (Tabela 3).
As implicações dessas mudanças demográficas para a sociedade se fazem sentir
quanto à necessidade de redefinição das prioridades das políticas públicas conforme
grupos etários específicos da população. Nos últimos 20 anos, as políticas voltaram-se
praticamente para atender as crianças recém-nascidas e suas mães, inclusive as
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jovens e adolescentes parturientes. Isto, ainda, é necessário se proceder, entretanto,


não com a mesma prioridade e mecanismos. Se antes, por exemplo, a mortalidade
infantil era, eficientemente, combatida via soro caseiro e amamentação, hoje ela
também necessita de cuidados médicos na gestação e no parto. Observe-se que a
população menor de um ano, entre 1991 e 2000, sofreu declínio em termos absolutos
e, principalmente, nos relativos: eram 154.593 e passaram para 154.097;
representavam 2,4% e 2,1%, respectivamente, mas ainda é um contingente expressivo
a se cuidar (Tabelas 4 e 5).
A população na idade pré-escolar e com necessidades de serviços de creches (entre 1
a 5 anos de idade) também experimentou redução, no período. Havia, em 2000, cerca
de 29 mil crianças a menos do que existiam em 1991, isto implicou na queda relativa
de 10,6% para 8,7%. Ao contrário, as crianças em faixa escolar, para o ensino
obrigatório, experimentaram um crescimento, que merece ser acompanhado, de
matrículas e de escolas. Em termos absolutos, o crescimento equivale a quase 61 mil
vagas, além daquelas que deverão permanecer para atender os que se evadiram, que
desejam retornar e os repetentes, pessoas dos mais diferentes grupos de idade.
Para atender às necessidades dos adolescentes e jovens compreendidos na faixa de
idade dos 15 aos 29 anos, criou-se uma nova Secretaria de Estado, cuja política de
atuação, ainda, é pouco conhecida, mas sua existência é justificada pelo fato de ser o
grupo jovem o segmento da população que mais cresceu no período. Eles somavam
1.760.136 pessoas e passaram para o contingente de 2.068.887, um diferencial
absoluto de quase 309 mil jovens e, relativamente a 1991, um incremento de 17,5%,
embora, praticamente, não tenham evoluído sobre o total da população, pois passaram
de 27,6% para 27,8%.
O grupo da população adulta na fase produtiva, estando parte dela na fase reprodutiva,
entre as idades de 30 a 64 anos, também merece maior atenção das políticas de
governo, não apenas pela necessidade do controle populacional, como tão claramente
parece assumir a política relativa à saúde reprodutiva, mas pelas necessidades
diversas, de seres plenos e maduros, cujos desejos e aspirações requerem decisões
concretas e imediatas. É sobre este grupo etário que recai o peso das crianças e dos
idosos dependentes seja de sua renda, ou de seus serviços e atenção, notadamente,
entre as populações residentes nas áreas rurais, cujas oportunidades de trabalho são

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Sabe-se que os melhores dados são aqueles expressos nas taxas especificas, entretanto, a ausência de
informações disponíveis leva ao uso indicativo dessas taxas brutas e totais, tendo por atenuante o fato de
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mais limitadas e concorridas. É o segmento mais expressivo sobre a população total,


por compreender várias gerações de adultos, sendo produtor de elevado incremento
populacional, em termos absolutos. A última variação entre os censos registrou um
acréscimo de 607 mil pessoas, ou 33,6% do recenseado em 1991. Foi uma evolução
que ficou acima daquela verificada entre os ocupados no mesmo período, cujo
incremento atingiu cerca de 427 mil pessoas, e, relativamente ao início do período,
uma variação de 19,7%.
A razão de dependência, em relação à população trabalhadora no estado, revela
diferenças espaciais que sempre condizem com o processo de urbanização-
metropolização, ou seja, a dependência entre os trabalhadores rurais é maior do que
para os urbanos. Em Fortaleza, para cada 100 trabalhadores há 52,67 dependentes,
uma responsabilidade, relativamente, menor tendo em vista que as oportunidades de
trabalho e de renda são melhores e mais freqüentes. Entretanto, o mesmo não se
possa concluir sobre os outros municípios metropolitanos pesquisados. Em Caucaia a
razão de dependência implicava no sustento de 64,28 pessoas para cada 100
trabalhadores e em Maracanaú a relação mantinha-se em 62,38%. Chama atenção,
contudo, os municípios com urbanizações pouco avançadas, cujas taxas de
dependência tendiam a se elevar, notadamente, entre os moradores rurais. Itapipoca
era um desses casos, com taxas elevadas no total (78,71%) e na população rural
(87,31%).
Quanto aos idosos, com idade para aposentadoria de 65 anos, houve um aumento
significativo em termos absolutos (117 mil pessoas) e relativos (34,4%), entre 1991 e
2000, intensificando a urgência de definir uma política mais efetiva, que reveja,
inclusive, o padrão da urbanização, considerando as comodidades e segurança
esperadas, garantindo-lhes o direito de ir e de vir, na cidade. Para a saúde pública,
então, seriam necessários investimentos maiores de modo a redobrar a atenção com
os idosos.
O índice de envelhecimento que relaciona essa população idosa às crianças diferencia
a transição em termos espaciais. Parte do processo do envelhecimento se deve a
redução do crescimento vegetativo e do aumento da esperança de vida, mas, também,
sofre influência dos fluxos migratórios. Os lugares que perdem população pela
emigração tendem a apresentar-se mais envelhecidos, pois a migração é um
fenômeno seletivo quanto as idades, em geral são os mais jovens que procuram novas

ser curto o período no qual ocorrem pequenas diferenças nas estruturas populacionais.
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oportunidades de vida em outros lugares. Ao contrário, os locais receptores de


imigrantes tendem a rejuvenescer sua população. Assim, é que se compreende porque
Fortaleza passa por este processo com índice de apenas 17,32 idosos em cada 100
crianças, enquanto são mais expressivos em Iguatu (25,00%), Juazeiro do Norte
(20,02%) e Crato (19,23%). Para estes três últimos municípios o destaque do
envelhecimento é entre suas populações urbanas. Mas há, também, situações rurais
de maior destaque, que acontecem nos municípios de Caucaia, Maracanaú e Sobral.
Itapipoca continua sendo um caso aparte, quase que não se observa diferença entre o
envelhecimento urbano (18,13%) e o rural (16,14%).

Considerações finais
Os indicadores sócio-populacionais revelaram uma cartografia desigual de
desenvolvimento dos lugares pesquisados, expondo contradições entre crescimento
econômico associado à concentração de renda e qualidade de vida urbana. A
simultaneidade entre traços modernos e atrasados foi uma particularidade encontrada.
A vida urbana expandiu-se com o aumento populacional distribuído diferentemente no
espaço. Fortaleza permaneceu como a grande metrópole cearense reafirmando uma
estrutura urbana estadual concentrada na capital, que reúne a maior riqueza e as mais
diversificadas possibilidades de desenvolvimento, ao mesmo tempo em que produz as
mais expressivas desigualdades sociais, a despeito dos reduzidos efeitos das políticas
públicas. As oito maiores cidades estaduais com seus municípios repartem-se em
quatro níveis de desenvolvimento, resultantes das interligações entre: PIB, Índice de
GINI, renda média, urbanização, mortalidade infantil, esperança de vida, fecundidade,
analfabetismo, e outros. Alguns deles são resultados da aproximação com a metrópole,
e outros por suas características intrínsecas, certificando que o desenvolvimento só
poderia ser explicado pela sua multiplicidade de fatores articulados.

Referências Bibliográficas
BERMAN, Marshall. Tudo que é sólido desmancha no ar: a aventura da
modernidade. São Paulo: Companhia das letras, 1990.
HARVEY,David. Condição pós-moderna. São Paulo: Loyola, 1993.
SUDENE. Região Nordeste do Brasil em Números. Recife, 2003.
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SANTOS, Milton. O País distorcido: o Brasil, a globalização e a cidadania;


organização, apresentação e notas de Wagner Costa Ribeiro; ensaio de Carlos Walter
Porto Gonçalves. São Paulo: Publifolha, 2002.

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