Professional Documents
Culture Documents
Introdução
O tema desenvolvimento tem sido, nos últimos 30 anos, o mais recorrente nas
discussões acadêmicas, fóruns mundiais, entre os planejadores públicos e privados, e
mesmo envolvendo certos grupos da população. Ainda assim, parece que não há um
consenso de toda a sociedade para conceituá-lo, medi-lo, ou expressar seu significado.
Sempre falta o que discutir e avaliar. Portanto, mais uma vez, retoma-se aqui esta
questão, para examinar no caso cearense as tendências populacionais e os níveis
obtidos na qualidade de vida.
Na perspectiva da população, e apesar de ser a coisa mais concreta de um lugar de
uma região, por sua dimensão física propriamente dita, a discussão demográfica é
limitada, porque não basta conhecê-la em termos absolutos para concluir sobre como
ela vive, como se mantém, usa e se apropria dos territórios. Discorda-se desta forma
de abordagem. Acredita-se que é importante descer-se aos detalhes mais interiores da
vida em sociedade, para conhecer melhor sua população, para então, os números
absolutos passarem a ter significado e a expressar a realidade social.
Em conseqüência da abordagem quantitativa predominante, centrada no crescimento
populacional e em sua distribuição no espaço, é que as pesquisas, as estatísticas e os
indicadores vão sendo construídos e interpretados. Portanto, fazer uma análise
diferente das possibilidades de enumeração e distribuição populacional que permita
compreender o modo como vivem e se relacionam os segmentos populacionais em
sociedade, parece sempre um desafio ao pensamento crítico, principalmente, dentro
do que é possível a um breve artigo como este. Procura-se ir para além do que
aparentemente revelam os indicadores oficiais sobre as questões demográficas e
sociais, cotejando-os com o conhecimento adquirido pela pesquisa acadêmica de base
empírica mais qualitativa e teórica.
Faz-se, portanto, uma breve reflexão sobre as principais condições de vida que
revelariam ou não uma condição de desenvolvimento, considerando os últimos anos do
1
Socióloga, professora e coordenadora do Laboratório de Estudos de População (LEPOP) da
Universidade Estadual do Ceará (UECE).
2
Estatística, professora da Universidade Federal do Ceará e Analista de Políticas Públicas do Instituto de
Pesquisa e Estratégias Econômicas (IPECE).
2
século XX, entre 1991 e 2000, abordando aspectos da população total do estado, da
Região Metropolitana de Fortaleza (RMF), da capital e de outros sete municípios, em
cujas cidades sedes habitam 50.000 pessoas ou mais, que também são pólos
regionais (Crato e Juazeiro do Norte, ao sul do estado; Sobral e Itapipoca ao norte;
Iguatu a sudeste) ou cidades metropolitanas (Maracanau e Caucaia). Procura-se
responder a seguinte questão: os indicadores sócio-populacionais revelariam o tipo de
desenvolvimento desigual dos lugares pesquisados?
1. Metropolização e urbanização
As facilidades de acesso e de comunicação, o mercado de trabalho e de consumo, as
melhores condições do habitar, a variedade e a especialidade dos serviços são bons
motivos para se preterir o campo, os espaços rurais em favor do urbano e das cidades,
sobretudo das metrópoles. A escolha da população em habitar as cidades é uma
característica da modernidade que transcende a qualquer política de fixação do
homem no campo, como bem mostrou a história brasileira dos últimos 50 anos.
Entretanto, e ao mesmo tempo em que, as cidades representam um espaço cheio de
possibilidades, é, também, campo de contradições, conflitos, destruição e opressão. A
atmosfera da modernidade que se viveu no centro dos países capitalistas estendeu-se
para o mundo todo com o modernismo, copiado e ampliado, e a modernização,
imposta ou, ideologicamente, instalada. Vive-se um turbilhão social que é a vida
metropolitana. Após a migração de milhões de jovens do campo para as cidades, o
clima é de agitação e de violência, mas, também, de expectativas sobre um mundo
progressista, aquele considerado desenvolvido (BERMAN, 1990, p. 15).
Convive-se no Brasil, e mais particularmente no nordeste brasileiro, uma sensação de
dois mundos, simultaneamente, atrasado e moderno, tal são as desigualdades intra e
inter-regionais, urbanas e metropolitanas. É uma situação que envolve milhões de
trabalhadores sobre as mais diferentes relações com o capital: terceirizados, no
mercado informal, trabalhadores domésticos, desempregados e subempregados, além
dos trabalhadores diretamente produtivos, formando uma classe numerosa daqueles
que vivem do trabalho.
A globalização, atualmente, para Santos (2002, p.153-156) reuniria as condições
objetivas para se iniciar uma nova História, porque permitiria a interdependência das
economias, dos governos e dos lugares, poder-se-ia colocar o homem no centro das
decisões e dos projetos, combinando diferentes técnicas, tempos e velocidades, mas
3
3
Levou-se em consideração para a tipologia de níveis de desenvolvimento 1, 2, 3 e 4, uma hierarquia de
indicadores sócio-demográficos combinados ao Índice de GINI, renda familiar per capita e IDH.
7
deve deixar de considerar Crato (6,03), Juazeiro do Norte (5,96) e Iguatu (5,85), além
de Itapipoca (3,63), cujo acréscimo foi menor, mas acima da média estadual.
Muitas das mortes evitáveis foram diminuídas nas principais cidades, em compensação
outras mortes por causas externas surgiram, aquelas com origem na violência e nos
acidentes de trânsito, notadamente, em Maracanaú (80,7), Caucaia (67,1) e Fortaleza
(63,3). As menores taxas de mortalidade por estas causas ocorreram em Itapipoca
(42,4), Crato (55,4) e Iguatu (57,2). Estes são fatos que irão afetar, diretamente, a
população masculina que está mais submetida ao risco da violência urbana, do que a
feminina, e, assim, a esperança de vida entre as mulheres é mais prolongada (69,7
anos) que entre os homens (63,1), com um ganho de 9,4 anos sobre o total de anos a
serem vividos por elas, considerando o período de 1991 a 2000.
Maiores informações a respeito da relação entre população e desenvolvimento local
remetem à análise sobre a estrutura e a dinâmica demográficas.
4
Sabe-se que os melhores dados são aqueles expressos nas taxas especificas, entretanto, a ausência de
informações disponíveis leva ao uso indicativo dessas taxas brutas e totais, tendo por atenuante o fato de
9
ser curto o período no qual ocorrem pequenas diferenças nas estruturas populacionais.
10
Considerações finais
Os indicadores sócio-populacionais revelaram uma cartografia desigual de
desenvolvimento dos lugares pesquisados, expondo contradições entre crescimento
econômico associado à concentração de renda e qualidade de vida urbana. A
simultaneidade entre traços modernos e atrasados foi uma particularidade encontrada.
A vida urbana expandiu-se com o aumento populacional distribuído diferentemente no
espaço. Fortaleza permaneceu como a grande metrópole cearense reafirmando uma
estrutura urbana estadual concentrada na capital, que reúne a maior riqueza e as mais
diversificadas possibilidades de desenvolvimento, ao mesmo tempo em que produz as
mais expressivas desigualdades sociais, a despeito dos reduzidos efeitos das políticas
públicas. As oito maiores cidades estaduais com seus municípios repartem-se em
quatro níveis de desenvolvimento, resultantes das interligações entre: PIB, Índice de
GINI, renda média, urbanização, mortalidade infantil, esperança de vida, fecundidade,
analfabetismo, e outros. Alguns deles são resultados da aproximação com a metrópole,
e outros por suas características intrínsecas, certificando que o desenvolvimento só
poderia ser explicado pela sua multiplicidade de fatores articulados.
Referências Bibliográficas
BERMAN, Marshall. Tudo que é sólido desmancha no ar: a aventura da
modernidade. São Paulo: Companhia das letras, 1990.
HARVEY,David. Condição pós-moderna. São Paulo: Loyola, 1993.
SUDENE. Região Nordeste do Brasil em Números. Recife, 2003.
11