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UNIVERSIDADE DE TRÁS-OS-MONTES E ALTO DOURO

RELATÓRIO DE ATIVIDADE PROFISSIONAL PARA


OBTENÇÃO DO GRAU DE MESTRE
2º CICLO EM ENSINO DA EDUCAÇÃO FÍSICA NOS ENSINOS BÁSICO E SECUNDÁRIO

A Importância do meio aquático em crianças


com Necessidades Educativas Especiais

Mestrando: Mário Sérgio Barros Teixeira

Orientador: Professor Doutor Nuno Domingos Garrido

Abril, 2015
RELATÓRIO DE ATIVIDADE PROFISSIONAL PARA
OBTENÇÃO DO GRAU DE MESTRE
2º CICLO EM ENSINO DA EDUCAÇÃO FÍSICA NOS ENSINOS BÁSICO E SECUNDÁRIO

A Importância do meio aquático em crianças


com Necessidades Educativas Especiais

Mestrando: Mário Sérgio Barros Teixeira

Orientador: Professor Doutor Nuno Domingos Garrido

Abril, 2015
Dissertação elaborada com vista à obtenção do grau de
Mestre em Ensino de Educação Física nos Ensinos Básico
e Secundário, ao abrigo do artigo 16.º do Decreto -Lei n.º
74/2006, de 24 de Março, com as alterações introduzidas
pelos Decretos-Leis n.ºs 107/2008, de 25 de Junho, e
230/2009, de 14 de Setembro, sob a orientação do Prof. Dr.
Nuno Domingos Garrido Nunes de Sousa e do Prof. André
Luiz Gomes Carneiro.

I
AGRADECIMENTOS

A realização desta dissertação de mestrado contou com importantes apoios e incentivos sem os
quais não teria sido possível a sua realização, aos quais estarei para sempre agradecido.
Agradeço à professora Sandra Fonseca pela sua colaboração, acompanhamento e disponibilidade.
Um profundo agradecimento a todos os alunos que em algum momento cruzaram a minha vida
profissional, contribuindo para o enriquecimento da minha formação profissional e pessoal.
Agradeço a todos os colegas dedicados e solidários com quem tive a honra de poder compartilhar
as dificuldades e êxitos alcançados.
Agradeço à minha família pelos ensinamentos e formação que me proporcionou com base na
igualdade e solidariedade.
Agradeço à minha namorada Filipa Carvalho, pela força e motivação que me dás, és tudo para
mim.
Agradeço a todos os amigos que permitem que cada dia seja uma nova esperança de que a
amizade sincera e a solidariedade são uma realidade.

A todos, um muito obrigado!

II
ÍNDICE

AGRADECIMENTOS ________________________________________________________________ II

RESUMO ________________________________________________________________________ V

ABSTRACT _______________________________________________________________________ VI

INTRODUÇÃO _________________________________________________________________ 1

1 – REVISÃO DA LITERATURA _______________________________________________ 3

1.1 – Meio Aquático _________________________________________________________________________ 4


1.1.1 – Definição __________________________________________________________________________ 4
1.1.1.1 – Propriedades Físicas da água ______________________________________________________ 4
1.1.1.2 – Efeitos fisiológicos do meio aquático _______________________________________________ 6
1.1.1.2.1 – Efeitos terapêuticos da água aquecida. __________________________________________ 7
1.1.1.2.2 – Efeitos psicológicos da água aquecida ___________________________________________ 8
1.1.2 – Benefícios do meio aquático __________________________________________________________ 8
1.1.2.1 – Benefícios psicomotores _________________________________________________________ 8
1.1.2.2 – Benefícios cognitivos ____________________________________________________________ 9
1.1.2.3 – Benefícios socio-afetivos _________________________________________________________ 9
1.1.3 – Hidroterapia _______________________________________________________________________ 9

1.2 – Necessidades Educativas Especiais ________________________________________________________ 10


1.2.1 – A pessoa com deficiência ____________________________________________________________ 10
1.2.2. – Enquadramento legal ______________________________________________________________ 11
1.2.3. – Definição de necessidades educativas especiais ________________________________________ 12
1.2.3.1. – Necessidades Educativas Especiais Temporárias ____________________________________ 13
1.2.3.2 – Necessidades Educativas Especiais Permanentes ____________________________________ 13

1.3 – As aulas de natação adaptada em crianças com necessidades educativas especiais ________________ 13
1.3.1 – Adaptação ao meio aquático _________________________________________________________ 15
1.3.2 – A criança e o seu desenvolvimento aquático ____________________________________________ 17
1.3.3 – O jogo ___________________________________________________________________________ 19

1.4 – Instalações ___________________________________________________________________________ 21

1.5 – Percurso profissional: contacto com crianças com Necessidades Educativas Especiais ______________ 21

2 – ABORDAGEM PRÁTICA EM CRIANÇAS COM NEE EM MEIO AQUÁTICO 22

2.1 – Abordagem prática a crianças com Necessidades Educativas Especiais __________________________ 23


2.1.1 – Criança com Síndrome de Down ______________________________________________________ 23
2.1.1.1 – Definição _____________________________________________________________________ 23
2.1.1.1.1 – Etiologia __________________________________________________________________ 23
2.1.1.1.2 – Características gerais _______________________________________________________ 24
2.1.1.2 – O aluno ______________________________________________________________________ 24
2.1.1.2.1 – Características específicas ___________________________________________________ 24

III
2.1.1.2.2 – Objetivos pretendidos ______________________________________________________ 25
2.1.1.2.3 – Metodologias aplicadas _____________________________________________________ 25
2.1.1.2.4 – Resultados ________________________________________________________________ 27
2.1.2. – Criança com Paralisia Cerebral _______________________________________________________ 27
2.1.2.1. – Definição ____________________________________________________________________ 27
2.1.2.1.1. – Etiologia _________________________________________________________________ 28
2.1.2.1.2. – Classificação ______________________________________________________________ 28
2.1.2.2 – O aluno ______________________________________________________________________ 29
2.1.2.2.1 – Características específicas ___________________________________________________ 29
2.1.2.2.2 – Objetivos pretendidos ______________________________________________________ 29
2.1.2.2.3 – Metodologias aplicadas _____________________________________________________ 29
2.1.2.2.4 – Resultados ________________________________________________________________ 30

3 – CONCLUSÃO _____________________________________________________________ 31

BIBLIOGRAFIA _______________________________________________________________ 33

IV
Resumo

A presente tese insere-se no plano da recomendação do CRUP – Conselho de Reitores das


Universidades Portuguesas, na Universidade de Trás os Montes e Alto Douro, no ciclo de estudos
conducentes ao grau de Mestre, no ensino da Educação Física nos ensinos básicos e secundários.
A sua elaboração visa documentar a minha experiência profissional, enquanto professor de Natação,
a duas crianças, uma com Síndrome de Down e outra com Paralisia Cerebral.
É uma revisão sobre as características físicas e efeitos fisiológicos da água, salientando desta forma
os benefícios do meio aquático, para a vida quotidiana do ser humano.
É pretendido demonstrar as vantagens e os benefícios que o meio aquático proporciona ao
desenvolvimento físico, psíquico e sócio-afectivo da criança. Através da minha experiência
profissional eu pretendo demonstrar de uma forma sucinta a evolução de dois alunos com
necessidades educativas especiais, um com Síndrome de Down e outro com Paralisia Cerebral de
forma espástica.

V
Abstract

This work is part of the recommendation plan CRUP - Conselho de Reitores das Universidades
Portuguesas, at the University of Trás-os-Montes e Alto Douro, in the course of studies leading to the
degree of Master in the teaching of Physical Education in the basic and upper secondary education.
This dissertation has the objective to document my experience as a swimming teacher, of two boys,
one with Down Syndrome and another with Cerebral Palsy.
It is a review of the physical and physiological effects of water, highlighting the benefits of the
aquatic environment, to the daily human life.
It is intended to demonstrate the advantages and benefits that the aquatic environment provides for
the physical, psychological and socio-emotional of the child. Through my professional experience is
intended to show in a succinct way the evolution of two children, one with Down Syndrome and one
with Cerebral Palsy in spastic form.

VI
Introdução

1
Introdução

A evolução da educação em indivíduos portadores de deficiência tem vindo a ser estudada e


desenvolvida. Este progresso tem implicado um maior investimento por parte das diferentes
instituições responsáveis, que por sua vez ganham maior visibilidade através dos técnicos, cada vez
mais, especializados, nas diversas áreas que compõem uma equipa multidisciplinar. Assim, a
qualidade de vida das pessoas com deficiência, tem aumentado exponencialmente quanto maiores
forem os recursos humanos e técnicos, a publicação de documentos e a organização de congressos.
Embora o indivíduo portador de deficiência tenha os seus direitos consagrados na lei, ainda não foi
estabelecida uma relação de total igualdade com os indivíduos ditos “normais “. A inclusão social é
uma das partes mais importantes, senão a mais importante, de todo este processo de educação,
nomeadamente no que respeita à valorização, tolerância e respeito pelo “ser diferente”.
É através do desporto e da atividade física que podemos catalisar a formação de atitudes, no que
concerne à conceção de competências e oportunidades.
Dois aspetos tornam-se cruciais na prática da atividade física: a motivação e a resposta. A motivação
estabelece uma relação direta com os estímulos que deverão ser variados e adequados. A resposta
torna-se, muitas vezes, uma incógnita para os profissionais de Educação Física, que trabalham com as
populações com necessidades educativas especiais.
Neste sentido, procuramos relatar as necessidades, as dificuldades e as superações sentidas, bem
como o efeito destas na melhoria da qualidade de vida, em dois alunos com quem tive a
oportunidade e o privilégio de trabalhar, enquanto professor de natação.
O presente trabalho está dividido em 2 capítulos, o primeiro subordinado à revisão da literatura e o
segundo capítulo dedicado à minha experiencia profissional no que respeita ao tema abordado.

2
1 – Revisão da

Literatura

3
1.1 – Meio Aquático
O meio aquático tem uma influência bastante benéfica sobre o corpo humano devido às suas
propriedades e características, permitindo desta forma promover o bem-estar físico, psíquico e social
do ser humano, as quais serão abaixo abordadas.

1.1.1 – Definição
O uso das propriedades físicas da água como meio de cura ou tratamento de variadas condições
clínicas data de tempos remotos, embora seja possível diferenciar tais aplicações seculares perante o
conceito atual de reabilitação no meio aquático (Ruoti et al., 2000).
A compreensão e o uso das propriedades físicas da água, bem como as respostas fisiológicas, que
estão associadas ao uso de movimentos e exercícios, podem favorecer a atuação da terapia aquática
e potencializar o processo de intervenção do terapeuta. (Geytenbeek, 2002; Hinmann et al., 2007).
De acordo com Becker & Cole (2000), é de evidenciar que um dos motivos que determinaram a
evolução das pesquisas e o uso das propriedades do meio aquático como tratamento, é a diminuição
da ação da gravidade. Tal característica fornece um ambiente ideal para a reabilitação de indivíduos
que precisam de uma menor carga de peso nas articulações ou que possuem limitações na terapia
fora de água.

1.1.1.1 – Propriedades Físicas da água


A água, como toda substância composta por matéria, apresenta uma densidade relativa, ou seja,
pode ser caracterizada pela relação entre a sua massa e o seu volume. A gravidade específica, por
sua vez, remete à relação entre a densidade de uma substância ou objeto com a densidade da água.
Deste modo, sabendo-se que a gravidade específica da água é 1, todo o objeto ou corpo que for
colocado no ambiente aquático, e apresentar uma densidade menor do que a da água, flutuará. Caso
a sua densidade seja maior do que a da água, o corpo afundará. A densidade relativa do corpo
humano é de aproximadamente 0,97, facto este que determina a característica de flutuação do
corpo (Ruoti et al., 2000).
Quanto à flutuação, este princípio pode ser definido como uma força (empuxo) que age contra a
gravidade, e está relacionado com o volume de água deslocado pelo corpo submerso. Deve-se à
flutuação o facto de que, na água, a gravidade pode ser relativamente anulada e ocasionar uma
menor carga do peso corporal.
A interação entre os conceitos de densidade e flutuação é importante, na medida em que
determinam a necessidade de equipamentos de assistência, como por exemplo, flutuadores, durante
a terapia. É importante verificar o comportamento do corpo do indivíduo, para se estimar a

4
densidade relativa e a necessidade de auxílio na flutuação. A flutuação determina a percentagem da
diminuição da carga do peso corporal, que varia conforme a profundidade na qual o indivíduo se
encontra. Este facto é importante para a reabilitação, na medida em que pode ser utilizado como
evolução gradativa para o aumento da diminuição de carga do peso corporal. Os níveis de
profundidade na altura dos joelhos, anca e pescoço podem diminuir o peso em 15%, 50% e 90%,
respetivamente.
No que respeita à pressão hidrostática, a água, assim como todos os líquidos, exerce uma pressão em
todas as direções. Um corpo submerso está exposto a um determinado grau de pressão, que é
determinada pela força por unidade de área (Becker & Cole 2000; Ruoti et al., 2000). Esta pressão é
influenciada pela densidade do líquido e pela profundidade, pois a coluna de líquido acima do corpo
será responsável pela pressão. Consequentemente, quanto maior a profundidade, maior a pressão
exercida. A pressão hidrostática age nos tecidos e exerce uma compressão de vasos sanguíneos,
podendo auxiliar no retorno venoso e na redução de edemas.
A viscosidade é uma propriedade dos líquidos, que representa uma medida importante no que refere
à resistência ao movimento (Nordin & Frankel 2003). Por outras palavras, a viscosidade demonstra o
atrito que o líquido exerce num corpo, quando o mesmo se movimenta. O coeficiente de viscosidade
mostra que, quanto mais viscoso um líquido, maior a força requerida para se criar um movimento,
quando imerso neste líquido (Becker & Cole 2000).
Quando um corpo ou objeto se movimenta na água, estará exposto a particularidades do fluxo do
líquido, que são determinadas pela velocidade, oscilação e formato do corpo. Quando o movimento
é suave e lento, o fluxo da água ao redor do objeto é chamado de fluxo laminar, na qual as moléculas
da água movimentam-se paralelamente e não se cruzam. Quando o movimento torna-se mais rápido
e o fluxo apresenta-se desigual, formam-se cruzamentos e oscilações, que pode ser chamado de
fluxo turbulento.
O movimento de um objeto também pode criar uma diferença de pressão com a água, e formar um
ponto de arrasto (coeficiente de arrasto). Ao caminharmos dentro da água e atrás de uma pessoa,
podemo-nos aperceber da formação de redemoinhos (fluxo turbulento) e da força de arrasto.
Deste modo, um aluno com dificuldades na marcha pode sentir mais facilidade em andar seguindo o
professor, pois será “puxado” pela força de arrasto criada atrás do corpo do professor.
Quanto à temperatura, a água possui a habilidade de reter ou transferir calor, pelos mecanismos de
condução (na qual a transferência se dá por colisões entre as moléculas e determinada pela
diferença de temperatura) e convecção (transferência durante o movimento de muitas moléculas, ao
longo de grandes distâncias).

5
O conceito anteriormente referenciado (temperatura) é importante, pois caracteriza uma
transferência constante de calor na interação do corpo com a água, e pode determinar efeitos
fisiológicos e a perceção térmica durante a terapia.
O conceito de torque (momento de força) representa a capacidade de rotação de uma força, quando
a mesma é aplicada sobre um sistema de alavancas (Nordin & Frankel 2003).
A aplicação deste conceito no ambiente aquático pode ser demonstrada pela interação entre a força
de empuxo e o posicionamento do corpo na água.
A interação implica o conhecimento da posição do centro de gravidade e centro de flutuação do
corpo.
O centro de gravidade pode ser entendido como um ponto que representa todos os centros de
massa dos segmentos do corpo que, na posição anatômica, se encontra aproximadamente na altura
da segunda vértebra sacral (Kapanji, 2000).
O centro de flutuação, por sua vez, é definido como o centro de todos os momentos de força
aplicados no corpo e encontra-se no meio da região torácica (Ruoti et al., 2000).
Alterações de posicionamento do corpo, que possam modificar a relação entre as posições do centro
de gravidade e do centro de flutuação, podem ocasionar movimentos rotacionais e favorecer a
flutuação em diferentes posições (decúbito dorsal, decúbito ventral).

1.1.1.2 – Efeitos fisiológicos do meio aquático


Os efeitos fisiológicos proporcionados pela água são amplos e envolvem respostas cardíacas,
respiratórias, renais e músculo-esqueléticas.
Tovin et al. (1994) afirmam que os exercícios realizados na água favorecem a reabilitação, pois os
efeitos proporcionam um menor stress articular, aumento da circulação e facilidade de se
movimentar.
A influência sobre o sistema termorregulador, diz respeito à manutenção do calor da água durante a
terapia diminui a sensibilidade da fibra nervosa com rapidez (tato) e a exposição prolongada diminui
a dor, através da sensibilidade da fibra nervosa lenta (Bates & Hanson, 1998). Então, na temperatura
de 330C a 36,50C haverá, dilatação dos vasos sanguíneos, levando ao aumento do suprimento
sanguíneo periférico e elevação da temperatura muscular, que leva ao aumento do metabolismo da
pele e dos músculos e consequentemente, ao aumento do metabolismo geral e da frequência
respiratória. Proporciona, ainda, um aumento da atividade das glândulas sudoríparas e sebáceas à
medida que a temperatura interna aumenta (Skinner,1985).
Quanto ao sistema cardiorrespiratório, neste haverá mudanças como, a melhoria da capacidade
aeróbica, melhoria nas trocas gasosas, reeducação respiratória, aumento no consumo de energia,

6
auxílio no retorno venoso e, por fim, melhoria da irrigação sanguínea, resultado na estabilidade da
pressão arterial e no retardo do aparecimento de varizes (Degani,1998; Skinner,1985).
O calor, sobre o sistema nervoso, relativamente brando, reduz a sensibilidade das terminações
sensitivas e, à medida que os músculos são aquecidos pelo sangue que os atravessa, o tónus
muscular diminui levando ao relaxamento muscular (Skinner,1985).
Sobre o sistema renal, com a variação do pH e da profundidade na qual o corpo está submerso, há
aumento dos fluídos corporais, levando ao aumento da diurese profunda. Isto porque o sangue, ao
ser bem distribuído, melhora a circulação venosa e, consequentemente, a reposta renal e o estímulo
do processo de micção, devendo-se tomar cuidado com pacientes com incontinência (Degani,1998).
Alguns estudos sobre o sistema imunológico comprovam que a aplicação intensa e prolongada de
calor húmido penetra até 3,4 centímetros, atingindo inclusive camadas superficiais dos músculos.
Promove, também, o aumento do número de leucócitos, além da melhora das condições tróficas,
levando a uma melhoria geral da saúde (Degani,1998).
Os exercícios físicos sobre o sistema musculosquelético podem começar a ser aplicados nas primeiras
fases da terapia, de modo a que os músculos possam ser relaxados e o metabolismo estimulado,
ocorrendo por consequência, uma redução do espasmo muscular e das dores, diminuição da fadiga
muscular, melhoria da performance geral (trabalho dos agonistas e antagonistas igualmente),
recuperação de lesões, melhoria do condicionamento físico, auxílio no alongamento muscular e
melhoria da resistência e da força muscular (Degani,1998).

1.1.1.2.1 – Efeitos terapêuticos da água aquecida.


A água aquecida, como forma preventiva, contribui para a prevenção de deformidades e atrofias,
ajuda na manutenção da condição do aluno, diminui o impacto e a descarga de peso sobre as
articulações (Degani, 1998).
O mesmo autor considera que também estimula o equilíbrio, a noção de esquema corporal, a
propriocepção e a noção espacial, já que a água é um meio instável; facilita as reações de
endireitamento e equilíbrio, visto que não existe pontos de apoio e o aluno é obrigado a promover
alterações posturais (flutuação e turbulência); diminui os estímulos propriocetivos à medida que
aumenta a profundidade, diminuindo a descarga de peso (Degani, 1998).
No que respeita ao aparelho motor, contribui para o melhoramento da flexibilidade, trabalho de
coordenação motora global, da agilidade e do ritmo. Diminuição do tónus, ajuda na reeducação dos
músculos paralisados, facilitação do ortostatismo e da marcha e fortalecimento dos músculos (Bates
& Hanson, 1998; Skinner, 1985).

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1.1.1.2.2 – Efeitos psicológicos da água aquecida
Bates e Hanson (1998) e Degani (1998) concordam que, como em todos os programas de saúde, o
meio aquático como terapia visa o bem-estar social do indivíduo. Quando passamos por dificuldades,
o organismo tende a desorganizar-se e essa desarmonia pode trazer sérias consequências físicas
e/ou psíquicas.
O bem-estar, segundo esses autores, não consiste apenas em respostas do corpo, da estrutura física,
mas, sobretudo, de uma integração do corpo e da mente para a obtenção de resultados ideais,
levando a uma perfeita condição de exercício da cidadania.

1.1.2 – Benefícios do meio aquático


A atividade aquática promove sensações de prazer e de bem-estar físico, emocional e social na
criança. Esta atividade facilita e apoia a realização de movimentos de difícil execução em terra,
promove o contacto corporal e a comunicação com outras crianças, bem como a participação em
novas situações de aprendizagem (Varela et al., 2000). A intervenção terapêutica em meio aquático
tem sido defendida por diversos autores como forma de promover e acompanhar o desenvolvimento
global da criança com deficiência, com perturbações do desenvolvimento ou em situação de risco.
Neste âmbito, Faria (1984, cit. in Varela et al., 2000) salienta os benefícios do meio aquático, no
desenvolvimento global da criança, particularmente no seu desenvolvimento psicomotor, percetivo-
motor, afetivo e social.
Sarmento & Mirna (1992, cit. in Varela et al., 2000), corroboram da mesma opinião quando afirmam
que a intervenção em meio aquático pretende incidir no desenvolvimento global do indivíduo, tanto
nos aspetos fisiológicos e funcionais, como nos aspetos psicomotores, psicológicos ou sociais, com o
objetivo de proporcionar à criança uma experiência complexa e um maior conhecimento de si
próprio e da água.

1.1.2.1 – Benefícios psicomotores


No âmbito da psicomotricidade, o meio aquático tem um papel de grande relevância, pois contribui
para o desenvolvimento funcional, relacional e fisiológico da criança, melhorando desta forma a
capacidade cardiorrespiratória, o tónus, a coordenação, o equilíbrio, a agilidade, a força, a
velocidade, desenvolve habilidades psicomotoras como a lateralidade, as perceções tátil, auditiva e
visual, as noções espaciais, temporal e de ritmo, sociabilidade e autoconfiança (Santos e Souza,
2010).
Antes de ser uma ferramenta utilizada para a formação de atletas, a natação deve garantir o
desenvolvimento equilibrado da personalidade do indivíduo, permitindo que ele mesmo atinja os
seus objetivos. A natação deve proporcionar o inter-relacionamento entre o prazer e a técnica,

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através de procedimentos pedagógicos criativos, principalmente sob a forma de jogos, que facultem
comportamentos inteligentes de interação entre indivíduo com o meio líquido, visando ao seu
desenvolvimento (Damasceno, 1997; Fonseca, 2002).
O principal objetivo da psicomotricidade é estimular e desenvolver o movimento, sendo que para
Archer (1998, p. 31), as funções psicomotoras podem ser atingidas com indivíduos portadores de
deficiência física através da prática dos estilos de nado, “desde que eles (estilos) sejam colocados ao
aluno de maneira que ocorra um respeito às suas características próprias.”
Segundo Velasco (2006, p. 87) a natação constitui-se numa das melhores práticas para o
desenvolvimento psicomotor, “não a natação pedagógica regular, realizada como principiantes da
modalidade, nem a competitiva para formar campeões, mas a que valoriza a motricidade aquática,
pondo em situação uma nova arquitetura psicomotora.”

1.1.2.2 – Benefícios cognitivos


Os aspetos motivacionais e propriedades terapêuticas da água estimulam o desenvolvimento da
aprendizagem cognitiva e o poder de concentração, pois o aluno busca compreender o movimento
do seu próprio corpo explorando as várias formas de se movimentar, adaptando as suas limitações às
propriedades da água (Dulcy, 1983 cit. in Lépore et al. 1998). De acordo com a American Red Cross,
(1977 cit in. Lépore et al. 1998), muitos instrutores de atividades motoras na água têm introduzido
conteúdos da aprendizagem escolar nas atividades aquáticas, reforçando desta forma o aspeto
cognitivo destas crianças, por exemplo, contar, mergulhar objetos de formas e cores diferentes,
entre outras. Permite desenvolver a decisão, o intelecto, a memória, a análise e o entendimento.

1.1.2.3 – Benefícios socio-afetivos


O meio aquático por si só auxilia na interação e no contacto com os outros colegas, contribui
também para a construção da personalidade, auxilia numa relação de empatia entre os colegas,
evitando qualquer tipo de preconceito, melhora as relações interpessoais, aumentando desta forma
os laços de amizade.
As atividades aquáticas devem propiciar ao indivíduo situações de desenvolvimento de atividades em
pequenos e grandes grupos, estimulando assim as experiências corporais, a integração e o convívio
social (LÉPORE, 2000).

1.1.3 – Hidroterapia
A hidroterapia é uma forma clássica de tratamento terapêutico, utilizada em grandes variedades de
disfunções. Neste tipo de atividade, as propriedades físicas da água aquecida, como já referidas
acima por Degani (1998), Bates & Hanson (1998) e Skinner (1985), promovem facilitação dos

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movimentos e alívio das dores, além de permitir o trabalho em grupo e tornar a terapia agradável,
principalmente para crianças, as quais muitas vezes são impossibilitadas de realizar determinadas
atividades num outro meio, senão o aquático. Nas sessões de hidroterapia, a temperatura da água
deve estar em torno de 30°C, com variação de 2°C (Adachi & Fosatto, 1988; Emery, 1993). Durante a
imersão em água aquecida, o corpo humano sofre algumas alterações, dentre as quais as mais
evidentes são alterações: na temperatura corporal, frequência cardíaca, pressão arterial e dos níveis
de saturação de oxigénio. Ao entrar na piscina aquecida, ocorre primeiramente uma vasoconstrição,
ocasionando um leve aumento da pressão arterial (Adachi & Fosatto, 1988). Hall et al. (1990)
observaram que, aproximadamente, 700 ml de sangue foram redistribuídos da periferia, causando
aumento do retorno sanguíneo para o coração. O débito cardíaco sofre um aumento de 34% durante
a imersão em água aquecida, e a 35°C a frequência cardíaca permaneceu relativamente estável
(Adachi & Fosatto, 1988; Hall et al., 1990). Dois fatores podem estar relacionados na redução destes
volumes: o primeiro fator está relacionado com pressão hidrostática da água sobre o tórax e
abdómen; o segundo fator está relacionado à complacência pulmonar que pode diminuir, como
resultado do ingurgitamento vascular central (HALL et al., 1990).
Os objetivos gerais da hidroterapia são os de melhorar a circulação sanguínea, o equilíbrio e a força
muscular, diminuir as alterações tróficas e os edemas (quando presentes), restaurar a mobilidade
articular, reeducar a postura, manter os movimentos voluntários e/ou melhorar a coordenação
motora e treinar a marcha submersa.

1.2 – Necessidades Educativas Especiais


O conceito de Necessidades Educativas Especiais surgiu nos anos setenta, através do famoso
relatório Warnok Report (1978), como resultado de um estudo, que revolucionou as perspetivas de
intervenção dentro do campo educativo e pedagógico, em crianças com problemas.

1.2.1 – A pessoa com deficiência


O conceito de ser pessoa, é descrito por Bento (2004), como ser sujeito e autor da sua própria vida. É
o ter consciência de si, que leva à construção da própria pessoa. Moura e Castro (2002) exprime a
ideia de que, as pessoas deficientes possuem uma limitação maior devido às consequências da
deficiência. Neste sentido, é necessário tentar ver na limitação, apenas um fator de referência que
deve ser compensado pelo potencial restante. A Pessoa com deficiência acima de tudo é um ser
humano como os outros. Encerra nela as capacidades como pessoa, os mesmos direitos como
cidadão, tal como os demais à sua volta. Segundo Dias, (2001), a maior deficiência está na ideia
comummente adaptada de que os deficientes rendem menos, que devem ficar em casa e que, são
unicamente sujeitos passivos, recetores do desenvolvimento económico. Pensamos que, acima de

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tudo e de qualquer visão que a própria sociedade possa ter das pessoas com deficiência, essas
pessoas têm que superar as incapacidades das suas próprias deficiências. Têm o direito de se
superar, de se transcender, dentro das suas incapacidades. Mais do que pensar a deficiência como
universo dos outros, e a inclusão como a estratégia de integrar esses outros no mundo dos que lhe
são opostos, deve-se construir a perspetiva de que no universo dos seres humanos não há senão
seres diferentes a funcionar obrigatoriamente de forma diferenciada e que, a inclusão só faz sentido
se for uma estratégia educativa a aplicar a todos os seres independentemente das suas distintas
formas de ser, fazer ou estar, que o mesmo é dizer, de afirmar o "Ser".
Fonseca (1980) define a criança deficiente, tão objetivamente como sendo a criança que se desvia da
média ou da criança normal em seis parâmetros, sendo eles: i) características mentais; ii) aptidões
sensoriais; iii) características neuromusculares e corporais; iv) comportamento emocional e social; v)
aptidões de comunicação e; vi) múltiplas deficiências; até que se justifique a modificação das práticas
educacionais e a requisição ou a criação de serviços especiais, de educação especial no sentido de
desenvolver ao máximo as capacidades destas crianças.

1.2.2. – Enquadramento legal


A educação especial sofreu várias mudanças ao longo do tempo, passando de uma perspetiva
segregacionista, onde as crianças com NEE eram isoladas das outras crianças, ditas “normais”, para
uma perspetiva de inclusão onde todas as crianças estudam juntas. (Sousa, 2007)
O Decreto-lei no 174/77, de 2 de Maio, regulamentava o regime escolar dos alunos portadores de
deficiências integrados no sistema educativo público para os ensinos preparatórios e secundário.
Mais tarde, esta regulamentação foi alargada para o ensino primário (decreto-lei no 84/78 de 2 de
Maio).
Em 1986, a Lei de Bases do Sistema Educativo – Lei no 46/86 de 14 de Outubro, definia que a escola e
o professor do ensino regular seriam parte integrante do desenvolvimento de uma estratégia que
apontasse para a integração e o ensino de todos os indivíduos, inclusive aqueles com NEE com
deficiência motoras e mentais (artigo no 17).
No entanto, a inclusão educativa e social, surge com a substituição do Decreto-Lei 174/77 pelo
Decreto-Lei 319/91 de 23 de Agosto, onde sugere a atualização e a ampliação da integração dos
alunos com necessidades educativas especiais nas escolas regulares. O objetivo é que todos possam
ter acesso e sucesso educativos, na autonomia, na estabilidade emocional, bem como na promoção
de igualdade de oportunidades, na preparação para o prosseguimento de estudos ou para a vida
profissional.
Segundo Correia (1997), o Decreto Legislativo 319/91 teve o mérito de atualizar e alargar a
regulamentação existente acerca da integração de alunos com necessidades educativas especiais no

11
ensino regular, uma vez que se baseia definindo o regime de educação especial a aplicar aos alunos
com necessidades educativas especiais dos níveis de ensino básico e secundário.
A inclusão e a escola inclusiva são termos referenciados em 1994, na Conferência Mundial de
Salamanca, por se considerar a inclusão dos alunos com necessidades educativas especiais, em
classes regulares, como uma forma de igualar as oportunidades educacionais. É, então, que o termo
integração é substituído pelo de inclusão, no sentido de escola para todos.
De acordo com Correia (1997), o conceito de inclusão passa pela Inserção do aluno na classe regular,
onde sempre que possível, deve receber todos os serviços educativos adequados, contando-se para
esse fim, com um apoio pedagógico apropriado às necessidades verificadas.
A legislação atualmente a vigorar em Portugal, reporta-se ao Decreto-Lei nº 3/2008 publicado, em
Diário da República, a 7 de janeiro de 2008 que define os apoios especializados a prestar no sistema
educativo, na educação pré-escolar e nos ensinos básico e secundário, com vista à criação de
condições que permitam dar respostas adequadas aos alunos com necessidades educativas
especiais. Este decreto circunscreve a população-alvo da educação especial aos alunos com
limitações significativas ao nível da atividade e da participação num ou vários domínios da vida,
decorrentes de alterações funcionais e estruturais, de carácter permanente, resultando em
dificuldades continuadas ao nível da comunicação, aprendizagem, mobilidade, autonomia,
relacionamento interpessoal e participação social. De acordo com a Classificação Internacional de
Funcionalidade, importa conhecer, integralmente, o enquadramento legal das crianças com
Necessidades Educativas Especiais, para poder garantir mais oportunidades a crianças que são
biologicamente diferentes e que, em consequência disso, por uma questão de igualdade, deveriam
ser compensadas (Fonseca, 2008).
O Decreto-Lei nº 3/2008 estabelece as seguintes medidas educativas: - Apoio pedagógico
personalizado; - Adequações curriculares individuais; - Adequações no processo de matrícula; -
Adequações no processo de avaliação; - Currículo específico individual; - Tecnologias de apoio.

1.2.3. – Definição de necessidades educativas especiais


Uma das definições de necessidade educativas especiais, é de Correia (1997) e diz-nos que os alunos
com necessidades educativas especiais são aqueles que, por possuírem condições específicas, podem
necessitar de apoio de serviços de educação especial durante todo ou parte do seu percurso escolar,
com o objetivo de facilitar o seu desenvolvimento académico, pessoal e socio emocional.
De acordo com Cruz (2012), ter necessidades educativas especiais significa precisar de
complementos educativos, adicionais ou diferentes daqueles que são normalmente aplicados nas
escolas pelo ensino regular. O objetivo principal é o de promover o desenvolvimento e a educação do
aluno, para que este possa viver como cidadão pleno e efetivo, autónomo e ajustado aos padrões

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sociais vigentes. O mesmo autor, realça a necessidade de separar o significado de NEE com o de
possuir uma deficiência física ou intelectual uma vez que, todos nós podemos ter uma determinada
necessidade transitória ou um apoio suplementar para ultrapassar barreiras que se nos deparam
durante os processos de aprendizagem ao longo da vida. Para tal, é necessário distinguir se tais
necessidades são esporádicas ou de caráter permanente e se são ligeiras, médias ou profundas.
“Há uma necessidade educativa especial quando um problema (físico, sensorial,
intelectual, emocional, social ou qualquer combinação destas problemáticas) afeta a aprendizagem
ao ponto de serem necessários acessos especiais ao currículo, ao currículo especial ou modificado,
ou a condições de aprendizagem especialmente adaptadas para que o aluno possa receber uma
educação apropriada. Tal necessidade educativa pode classificar-se de ligeira a severa e pode ser
permanente ou manifestar-se durante uma fase do desenvolvimento do aluno”. (Brennan, 1988:36,
Cruz, 2012)
Através desta definição, dá-se ênfase ao tipo e grau de problemas na aprendizagem, passando à
classificação de ligeiros e temporários a severos e permanentes.

1.2.3.1. – Necessidades Educativas Especiais Temporárias


As necessidades educativas temporárias abrangem crianças com um ritmo de aprendizagem mais
lento, no que concerne a problemas de leitura, escrita e cálculo, ao nível do desenvolvimento motor,
preceptivo e socio emocional. O meio em que estão inseridas estabelece uma relação direta com a
participação da criança desde o seu nascimento. Os objetivos educacionais visam, à semelhança das
restantes crianças, melhorar a sua cognição e a capacidade de resolver problemas.

1.2.3.2 – Necessidades Educativas Especiais Permanentes


As necessidades educativas permanentes incluem crianças ou jovens com problemas de origem
orgânica, intelectual, como deficiência mental ligeira, moderada, severa e profunda, dotados e
sobredotados, com dificuldades de aprendizagem, funcionais, sensoriais, défices socioculturais e
económicos graves, entre outros. Referem-se a uma adaptação generalizada do currículo, sujeito a
uma avaliação permanente, sequencial e sistemática, de acordo com os progressos do aluno.

1.3 – As aulas de natação adaptada em crianças com necessidades educativas especiais


Segundo Sherrill (1998), a natação é utilizada com o objetivo de proporcionar atividades para todos,
nomeadamente a alunos com deficiência. Este mesmo autor, refere que a natação adaptada usa a
adaptação ao meio aquático, as atividades recreativas, a didática de ensino, a natação, de modo a
promover o bem-estar, a reabilitação e promoção da saúde.

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A natação adaptada, embora siga as regras da dinâmica da natação, modifica as técnicas de nado,
adequando-as para indivíduos que não possuam força ou flexibilidade necessária, ou mesmo falta de
resistência para executar os movimentos (Lépore et al., 1998).
A iniciação da natação em alunos com deficiência motora dá-se através do Método Halliwick, que
ensina desde o controle respiratório até aos movimentos básicos de um nado. A partir daí, são
utilizadas técnicas de aprendizagem dos nados como na natação normal, respeitando a
individualidade e a capacidade de cada pessoa (Castro, 2005).
O principal objetivo da natação adaptada é o de promover as atividades de forma lúdica e
desenvolver, de forma global, a estimulação e a aprendizagem, proporcionando uma interação
social, onde o indivíduo tenha a possibilidade de se sentir atuante e participativo na sociedade
(Jacinto, 2005).
O meio aquático promove o desenvolvimento global da criança com deficiência, na medida em que
contribui para o desenvolvimento da personalidade, melhoria da noção do corpo e do movimento
dos diferentes segmentos que o compõem, facilita a obtenção do controlo respiratório bem como
dos movimentos da cabeça e relaxamento (Rodrigues, 1999). A natação é uma atividade que treina o
corpo todo, sem provocar tensão ou esforço excessivo em qualquer parte do mesmo. Segundo este
autor esta atividade proporciona a oportunidade de melhorar a força e a resistência do sistema
cardiovascular e a resistência da força em geral. O movimento realiza-se num ambiente que contribui
para o bom condicionamento físico, pois para além do ligeiro aumento das secreções do corpo
também impele o relaxamento, estimula a circulação, a respiração e a resistência muscular (Adams
1985).
A diminuição da ação da gravidade, reduz a resistência, mas também facilita a execução, mobilidade
e amplitude dos movimentos (Lehmand, 1984). Por vezes, a natação proporciona situações de
estimulação e de aprendizagem em relação às quais a criança não desenvolveu ainda mecanismos de
defesa (desistência) perante as suas dificuldades, nem cristalizou em estratégias de aprendizagem
incorretas ou improdutivas. Pode pois ser uma atividade em relação à qual não se estabeleceu,
ainda, o ciclo vicioso de insucesso (Matos, 1981).
Assim, a natação pode ser um meio importante de facilitação ou desbloqueamento de certos aspetos
do desenvolvimento, quer do domínio motor, cognitivo, ou sócio-emocional (Price, 1980). Também
para Tsutsumi et al. (2004), a natação traz grandes contributos no processo de reabilitação, pelo seu
valor recreativo, terapêutico e também social. Segundo estes autores a natação reduz a
espasticidade, desenvolve a coordenação e a condição aeróbia resultando em menos fadiga. De
acordo com Jacinto (2005), a natação adaptada tem como principais objetivos melhorar a aptidão
física e a execução psicomotora; melhorar o desenvolvimento social e psicológico, a elevar a sua
auto-estima, a melhorar a segurança da criança nas horas de lazer, a aliviar a dor articular e

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muscular, a deslocar-se de forma independente e segura sobre a água e a fortalecer o tónus
muscular. De acordo com Lepore et al. (1998), as atividades aquáticas ajudam a promover padrões e
possibilidades de movimentos que nunca tenham sido experimentados ou executados.
Segundo Campion (2000, cit. por Castro, 2005), o próprio meio, pode ajudar no alívio dos espasmos
musculares e consequentemente da dor. Também auxilia na amplitude dos movimentos; na
reeducação dos músculos paralisados; no aumento da tolerância dos exercícios; no fortalecimento
dos músculos, na manutenção e melhoramento da postura; na melhoria da circulação; no
encorajamento pelas atividades. Isto não significa que as dificuldades desaparecem. De facto, as
crianças com dificuldade de equilíbrio, de estruturação do esquema corporal e de orientação no
espaço são confrontadas com novos problemas nestes domínios. O professor, através de processos
metodológicos pode atuar sobre a causa das dificuldades e do insucesso, sem a eliminar, interferindo
sobre o processo de aprendizagem e de desenvolvimento do aluno, assim como sobre o grau dessa
interferência. Deste modo, os efeitos e as consequências podem ser minimizados e o processo de
aprendizagem otimizado, aproximando-se do que é normal e passando a serem controlados pelo
aluno (Matos, 1981).
A temperatura da água favorece o relaxamento e diminui a hipertonia muscular proveniente da
ansiedade, estimula a execução de diferentes movimentos dentro de água (Adams et al., 1985).
Massaud (2001) refere que através da prática da natação existem estímulos despoletados pela
contração e relaxamento muscular que são importantes para o desenvolvimento da musculatura e
da melhoria da postura corporal.

1.3.1 – Adaptação ao meio aquático


Neste ponto abordamos a adaptação ao meio aquático salientando a importância deste momento de
ensino na aquisição de um conjunto de habilidades, comportamentos e conhecimentos específicos
do meio aquático.
De acordo com Carvalho (1994), esta é a fase de aquisição das habilidades, cujo desenvolvimento
possibilitará em fases posteriores alcançar diferentes níveis de prestação. O mesmo autor refere que
saber nadar não é saber as técnicas formais da natação. Mais do que isso é saber estar no meio
aquático, de evidenciar uma boa relação com a água, sabendo adotar os comportamentos
adequados face ao meio em questão. De acordo com Campaniço (1989), entende-se por adaptação
ao meio aquático, "o processo que envolve a iniciação à natação, recorrendo ao domínio do corpo na
água, com base nos objetivos de cinco domínios: equilíbrio, respiração, imersão, propulsão e salto"
Quando um indivíduo inicia o seu processo de adaptação ao meio aquático, ocorre um conjunto de
transformações ao nível das referências dos órgãos dos sentidos (equilíbrio, visão, audição e
propriocetivos) e também ao nível de todas as referências que normalmente existem em terra (fora

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de água). Ao entrar num meio líquido, o indivíduo fica sujeito a um conjunto de estímulos que não
existem da mesma forma fora do mesmo. Assim, quando uma criança resolve iniciar a atividade física
na água, processam-se um conjunto de mudanças que passam por: alterações do equilíbrio, visão,
audição, respiração, das informações recebidas do meio — propriocetivas e do sistema
termorregulador do organismo (Carvalho, 1994).
De acordo com Sarmento (1982), o ser humano apresenta maiores dificuldades na adaptação ao
meio aquático, devido à influência do comportamento adquirido no meio terrestre. Ao confrontar-se
com estas dificuldades a criança aprende a controlar as suas reações, adaptando-se, tornando
possível a sua atuação de forma eficaz. Segundo Mota (1990), o meio aquático proporciona um
conjunto de atividades que promovem novas sensações e melhoram as habilidades motoras.
De acordo com Gutierres (2003) a atividade aquática facilita a perceção corporal, pois estimula e
fortalece os músculos paralisados, melhorando a postura e a mobilidade aperfeiçoando movimentos
básicos. No meio aquático a motricidade evolui duma posição vertical para horizontal, ao contrário
do que acontece no meio terrestre (Sarmento, 1979). Autores como Sarmento (1979) e Mota (1990)
defendem que são conteúdos essenciais para efetuar a adaptação ao meio aquático, tais como,
sensação de flutuação do corpo, a utilização dos membros para o equilíbrio, a habituação ao
mecanismo respiratório e à visão debaixo de água para o deslocamento.
Neste contexto Sarmento (1982) refere que na presença da ação da água, os padrões
comportamentais, sofrem alterações evidentes devidos, aos constantes desequilíbrios, à procura de
apoios fixos, à sensação desagradável de água na boca, nos olhos e nos ouvidos. Na adaptação ao
meio aquático a deslocação é o derradeiro objetivo, sendo antes importante perceber precisamente
as particularidades do meio, tais como o atrito e a impulsão (Abrantes, 1979). De acordo com
Sarmento (1979), devemos ponderar a existência de duas forças: a força da gravidade, que se
denomina por peso do corpo e se dirige de cima para baixo e a impulsão que está relacionada com a
massa de líquido deslocado ou o volume imerso. Segundo Abrantes (1979), o Homem pode penetrar
e deslocar-se no meio aquático comportando um atrito menor ao verificado no atrito do meio
terrestre, isto pois o meio terrestre não é deformável nem compressível. A impulsão é a primeira
força a surgir, fruto do volume de corpo inteiro e da densidade da água.
Mota (1990), refere que existem três fatores fundamentais, que não devem ser interpretados
isoladamente para a adaptação ao meio aquático: equilíbrio, respiração e propulsão. De acordo com
este autor, existem diferenças entre o meio aquático e o meio terrestre que provocam dificuldades
na adaptação do homem ao meio aquático. A posição horizontal é aquela que permite uma
deslocação, no meio aquático, mais proveitosa (Mota, 1990). De acordo com Sarmento (1979), é
necessário primeiramente solucionar questões de ordem psicológica para assim se efetuar a
mudança para a posição horizontal. Através da respiração, o homem encontra o equilíbrio. Quanto

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maior for o volume de ar nos pulmões, maior volume corporal será imerso, logo os valores de
impulsão e o volume de água deslocada serão superiores (Abrantes, 1979). Este autor considera que
pela colocação dos segmentos corporais o corpo humano pode alterar a colocação do centro de
gravidade, centro de impulsão, ponto de aplicação da impulsão, ponto de aplicação do peso. Deste
modo uma coordenação correta possibilita a aquisição do equilíbrio. Sarmento (1982), considera que
o equilíbrio aquático relaciona-se com a propulsão. Os apoios contínuos e as deslocações
segmentares variadas possuem duas componentes, uma equilibradora e outra propulsora. No meio
aquático existe a necessidade ao contrário de no meio terrestre de adquirir automatismos
relacionados com o aumento de trocas respiratórias (Mota, 1990). Segundo Sarmento (1979), a
respiração é no meio aquático, um comando voluntário. A inspiração é automática e realiza-se
segundo os movimentos equilibradores e propulsores, a expiração é "forçada" e tem a intenção de
vencer a pressão hidrostática. Este autor refere, ainda, que a respiração prende-se com o domínio
respiratório total quer à superfície, quer debaixo de água. As adaptações respiratórias são muito
importantes quer ao nível aquático, quer ao nível propulsor, para o domínio do meio aquático.
Relativamente à propulsão, Abrantes (1979), menciona o problema de resistência oferecida pela
água e a inércia do próprio corpo provocam uma resistência ao avanço ou seja o atrito. Quando se
atinge o domínio do equilíbrio, é fundamental que se utilize o atrito de forma positiva uma vez que a
deslocação depende disso mesmo. A propulsão é um aspeto preponderante relativamente à
aquisição de motivação e confiança, pois é a partir dela que se torna possível a deslocação no novo
meio (Mota, 1990).

1.3.2 – A criança e o seu desenvolvimento aquático


A natação tem um importante papel no contexto educacional e no desenvolvimento infantil, tendo
um grande significado na formação cultural do indivíduo construindo e promovendo assim durante
as aulas conhecimentos. Segundo Venditti Jr. e Santiago (2008), torna-se importante ao adentrar nos
aspetos infantis, a importância de procurar conhecimentos sobre o desenvolvimento da criança para
ter uma compreensão maior sobre o seu crescimento e entendimento das suas necessidades.
Filho e Manoel (2002) dão-nos a entender que o educador/professor tem “extrema importância para
o desenvolvimento psicomotor da criança, uma vez que é ele quem faz com que os alunos se sintam
motivados para dar prosseguimento às atividades aquáticas e obter os melhores resultados”.
Compreendemos assim que é na água que o aluno tem maiores condições de aumentar seu nível de
movimento, portanto a água atua como fator fundamental para o desenvolvimento psicomotor da
criança.
Como afirma Bueno (1998), a criança para poder atuar no mundo por meio dos seus movimentos
dispõe das suas capacidades motoras, intelectuais e afetivas. Com isso, ela estabelece a relação com

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o mundo na qual ela constrói no dia-a-dia, com as estimulações e limitações impostas pelo meio e
pelas pessoas que convivem com ela, desenvolvendo-se movimentos como um ser integral, único e
social.
Os estímulos propostos pelo meio são importantes para que a criança seja estimulada a realizar
movimentos que antes eram limitados ou impossíveis, assim o professor exerce uma grande
influência no desenvolvimento desses indivíduos.
O desenvolvimento harmonioso das crianças depende também da quantidade e qualidade dos
estímulos proporcionados pelo meio ambiente. Através da experiência aquática surgirão relações
sociais, através de jogos e brincadeiras, estímulos visuais, sonoros, táteis e sinestésicos, através das
cores do ambiente, dos materiais utilizados, do som da água, das vozes e do suporte do professor.
Infere-se que a combinação de movimentos fundamentais com estímulos proporcionados pelo meio
aquático permita o maior e melhor desenvolvimento motor de cada criança (Rosa, Zani, Zanqueta, &
Couri, 2005).
Podemos perceber que a vivência no meio aquático é importante para qualquer criança, tornando-se
indispensável para as possuidoras de uma deficiência.
Para o desenvolvimento do aluno é importante que o professor disponha de habilidades e
conhecimentos que transformem a sua aula numa aprendizagem que agregue as aptidões e
habilidades dos alunos. O professor deve ser um transformador de ideias e trabalhar como um
multiprofissional, procurando e adquirindo noutras áreas de conhecimento, formas que o auxiliem a
promover capacidades dos seus alunos que antes não se manifestavam.
A maioria das crianças são bastante dinâmicas. Partindo desse princípio, Jahn (2009) salienta que não
existem crianças desatentas, o que acontece, inúmeras vezes, é o professor distraído que não
corresponde às expectativas dos alunos. Reforça ainda que nessa fase de estruturação da
lateralidade e das possibilidades do corpo nenhuma exigência deve ser feita com padrões de
movimentos e críticas às tentativas é dispensável.
Para o desenvolvimento motor da criança Lima (2007 cit in JAHN, 2009) afirma que “o problema não
é a mudança de conteúdos, mas a forma como eles são apresentados aos alunos. Os conteúdos,
informações e materiais são irrelevantes: fundamental é a forma como se “opera os dados da
realidade”.
Outro ponto importante é quanto ao meio aquático, na sua relação direta com as possibilidades de
movimentos existentes, o indivíduo passa a distinguir melhor as características psicológicas, bem
como a lateralidade, as noções de espaço, objetos e pessoas como reforça Moreno e De Paula (2007
cit in. Silva et al., 2009).
O ambiente aquático estimula o desenvolvimento corporal ao provocar movimentos de intensidades
e amplitudes diferentes, que muitas vezes não podem ser efetuados no solo; atua também no

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âmbito psicológico, pelo controle do medo à água, contribui para a distinção de diferentes objetos,
espaços e pessoas. Além disso, pelas brincadeiras, são fornecidos estímulos externos que contribuem
para o desenvolvimento motor e cognitivo. Segundo Moreno e De Paula (2007 cit in. Silva et al.,
2009), a prática aquática auxilia a aquisição da independência e personalidade, podendo influenciar o
processo de aquisição da linguagem.

1.3.3 – O jogo
De entre os vários programas de exercício físico, as atividades aquáticas são possivelmente das mais
prescritas para crianças e jovens. Essa prática parece ter o seu auge entre os três e os onze ou doze
anos de idade. Os programas de atividades aquáticas nesta faixa etária têm um sentido: (i) utilitário -
de domínio do próprio meio já que não é específico do Ser humano; (ii) saúde – dadas as vantagens
fisiológicas e biomecânicas que o meio líquido apresenta para a prática de quer crianças ditas
saudáveis, quer das ditas “não-saudáveis” e; (iii) educativo – de desenvolvimento psicomotor, social
e cognitivo dos seus praticantes.
Tradicionalmente um programa introdutório às atividades aquáticas implicam um processo de
familiarização e adaptação com o meio aquático.
Os programas introdutórios, quando implementados em crianças e jovens, têm uma forte adesão por
parte de alunos na faixa dos três aos seis ou sete anos de idade.
Durante décadas os modelos de ensino-aprendizagem da adaptação ao meio aquático propostos
caracterizavam-se por estilos de ensino mais rígidos e formais (Catteau e Garoff, 1988). Onde a
essência do programa estava na habilidade que tinha de ser realizada. Com efeito, a prática analítica
das habilidades era também uma constante. Hoje em dia, os estilos de ensino na adaptação ao meio
aquático acompanham a tendência de outras atividades aquáticas (p.e. Barbosa e Queirós, 2004;
Barbosa et al., 2010; 2011; Langendorfer et al., 1988; Moreno, 2001; Moreno e Gutiérrez, 1998) e
inclusive paradigmas de ensino alicerçados na componente lúdica e no jogo. Um estilo de ensino
mais diretivo alicerça-se no pressuposto que a cada estímulo existe apenas uma resposta. Um estilo
de ensino mais lúdico fundamenta-se na proposta de uma tarefa com um determinado objetivo onde
podem existir múltiplas soluções corretas. Ora dada a faixa etária a que se destinam a maioria dos
programas de adaptação ao meio aquático, um estilo de ensino menos formatado, que dê uma maior
liberdade criativa ao aluno será uma mais-valia para o desenvolvimento de todo o seu vocabulário
motor. Uma outra vantagem deste estilo de ensino decorre do facto de estes programas serem o
primeiro contacto da criança com o meio aquático o que se pode revelar como assustador e
constrangedor. A opção por situações lúdicas na primeira etapa do programa também serve de
algum modo para facilitar a criação de empatia entre o professor e o aluno, assim como, motivar o
aluno a participar nas tarefas propostas e dessa forma se libertar de algum receio que tenha.

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Ofertar as atividades recreativas e gerar o prazer do ser humano em contato com a água caracteriza
papéis fundamentais da atuação profissional do professor.
A variação do jogo para as crianças com NEE e para as crianças não deficientes ocorre apenas nas
estratégias de ensino. As estratégias de ensino devem priorizar as características de desenvolvimento
biológicas, afetivas e cognitivas, assim como os interesses, as capacidades, as limitações e as
necessidades das crianças com NEE. O professor deve enfatizar os jogos cooperativos, que estimulam
a participação de todos os alunos, em que cada um contribui e participa da atividade, de acordo com
a sua capacidade (Costa e Silva et al., 2010)

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1.4 – Instalações
O complexo das piscinas municipais de Lousada é composto por dois tanques cobertos, um tanque
de aprendizagem com 16 metros de comprimento por 8 metros de largura com uma profundidade
de 1 metro numa extremidade e 1,20 metros na outra com uma temperatura constante de 32oC por
onde o acesso pode ser feito por escadas ou cadeira elevatória para utentes com mobilidade
reduzida. Possui um tanque desportivo, com 25 metros de comprimento por 16 metros de largura
com uma profundidade de 1,80 metros nas extremidades e 2 metros no meio com uma temperatura
da água compreendida entre os 26oC e os 29oC. No exterior tem um tanque de recreio e diversão em
forma de “feijão” com profundidades de 0,60m metros numa extremidade e 2 metros noutra
extremidade e um chapinheiro com 0.45 m de profundidade.

1.5 – Percurso profissional: contacto com crianças com Necessidades Educativas Especiais
Ao longo dos meus 10 anos de experiência profissional, estes foram preenchidos como professor de
natação iniciação, aperfeiçoamento e natação individualizada, na Empresa Municipal Lousada Séc.
XXI, na qual até à presente data, também leciono a disciplina de Atividade Física e Desportiva
(Natação) às escolas do primeiro ciclo do conselho de Lousada. Neste meu percurso tive o privilégio
de puder trabalhar com um variado leque de alunos, entre eles, crianças e adultos com
necessidades especiais. Ao longo das aulas pude aperceber-me das reais necessidades e obstáculos
enfrentados pelos alunos. Porém, o meu trabalho foi sempre executado, utilizando os meios
disponíveis, com o objetivo de promover e potencializar o desenvolvimento fisiológico, psicossocial
e cognitivo dos alunos. Ao longo destes anos por mim passaram vários casos de crianças com
necessidades educativas especiais, podendo salientar os 2 casos abaixo referidos, como casos de
maior sucesso, os quais me deram um gozo especial pelas adversidades e resultados obtidos.

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2 – Abordagem prática

em crianças com NEE

em meio aquático

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2.1 – Abordagem prática a crianças com Necessidades Educativas Especiais
Das experiências profissionais por mim vivenciadas no Ensino Regular da Educação Física a alunos
com NEE, pretendo destacar aquelas em que as intervenções realizadas na vertente da minha
disciplina surtiram um maior impacto no processo de aprendizagem do aluno com NEE: O papel da
Educação Física na aprendizagem de alunos com NEE.
De acordo com o tema abordado, especiais, são crianças que de alguma maneira apresentam uma
disfunção motora, sensorial ou mental, dificuldades de linguagem, de audição e de visão. Neste meu
trabalho vou-me alargar em classificar e conceituar os objetos de investigação, ou seja, crianças com
Paralisia Cerebral (PC) e Síndrome de Down (SD) com ou sem distúrbios associados.

2.1.1 – Criança com Síndrome de Down

2.1.1.1 – Definição
Síndrome de Down (SD) ou Trissomia 21 (T21) é uma deficiência mental de origem genética, que
representa a anomalia múltipla congénita mais comum nos humanos (Pinter et al., 2001).
O indivíduo portador de SD, apresenta uma série de problemas médicos associados à sua condição e
que podem ter repercussões negativas no desenvolvimento da criança portadora de SD (Burns e
Gunn, 1993).
De acordo com Oliveira (2006), em qualquer criança, será necessário analisar e potenciar as suas
capacidades e habilidades, estando sempre presente que as crianças com SD não vão ter as mesmas
capacidades comunicativas, de autonomia ou destreza.
Será, então, do senso comum, que quanto mais cedo for a intervenção precoce, maior será a
qualidade e esperança de vida, atingindo-se um melhor estado de saúde, uma maior autonomia
pessoal e uma melhor integração na comunidade dos indivíduos com este síndrome.

2.1.1.1.1 – Etiologia
Esta patologia resulta de uma alteração na organização genética e cromossómica do par 21, com
presença total ou parcial de um cromossoma 21 extra nas células do organismo, ou de uma alteração
dos cromossomas do par 21, por permuta de pares com outro par. (Oliveira, 2006).
Assim, e de acordo com a mutação genética ocorrida, o SD apresenta-se sob uma das três
modalidades: T21 livre (95%), translocação (4%) e mosaicismo (1%).
Morato (1995), refere que em qualquer um dos casos, a alteração deve-se à divisão celular de forma
irregular, cuja origem pode ser acidental, circunstancial ou predisposição genética.

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Existe, assim, uma diversidade de situações que variam extraordinariamente de pessoa para pessoa,
dependendo dos genes que estejam ativos e da interação estabelecida com os restantes do seu
genoma (Florez, 1999).

2.1.1.1.2 – Características gerais


Como mencionado, anteriormente, os indivíduos portadores do SD, apresentam uma deficiência
mental, que lhes permite aprender pequenas coisas, contando para tal com um número elevado de
repetições.
A deficiência mental, não é mais do que uma ampla categoria de indivíduos, que têm em comum, um
fraco resultado aquando da realização de testes de inteligência, nas aprendizagens escolares e na
rotina diária, não revelando competências mínimas necessárias para a resolução dos seus próprios
assuntos de forma autónoma. (Alonso e Bermejo, 2004; AAMR, 2002).
Tecklin (2002), evidencia três níveis de incapacidade cognitiva que variam entre o ligeiro, o
moderado e o severo. Por sua vez, Pennington et al. (2003), considera que o quociente de
inteligência (QI), nos portadores de SD, sofre influência de fatores genéticos e ambientais, estando
patente um declínio progressivo do QI, contrariamente ao que acontece em indivíduos ditos normais.
Dos vários traços que distinguem as pessoas com esta síndrome, salienta-se o aspeto físico. Revelam
algumas características como o achatamento da parte posterior da cabeça, fontanelas
frequentemente maiores (levando mais tempo a fecharem), contornos faciais mais achatados e nariz
pequeno. Os olhos são caracteristicamente mais estreitos, o rosto é redondo e o pescoço curto e
grosso. A estatura é reduzida, quando comparada com os seus pares, e existe um encurtamento ao
nível dos membros superiores e inferiores, sendo que estas proporções devem ser tidas em conta
pelos seus possíveis efeitos sobre a força, postura, locomoção e manipulação (Tecklin, 2002).
A hipotonia muscular e a excessiva mobilidade articular, são outras das características
persistentemente documentadas, na medida em que existe uma relação direta entre a hipotonia
muscular e os atrasos nos desenvolvimentos motor, cognitivo e fala.
Os problemas de obesidade surgem aos três anos de idade e que é absolutamente necessário dar
atenção à nutrição e fomentar a prática do exercício físico.

2.1.1.2 – O aluno
2.1.1.2.1 – Características específicas
O João é um rapaz atualmente com 11 anos e iniciou as aulas de natação individualizada com 9 anos,
tendo em conta que quando iniciou as aulas de natação, o aluno nunca tinha tido contacto com o
meio aquático nestes moldes. O aluno apresenta um défice cognitivo, excesso de peso não sendo
considerado obeso, hipotonia definida por fraqueza muscular e associado à hipotonia e ao défice

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mental uma mobilidade reduzida. Nas primeiras aulas o aluno apresentou um défice de atenção,
quanto às atividades propostas e por consequência dificuldade na adaptação ao professor, situações
estas que se vieram a atenuar com o decorrer das aulas.

2.1.1.2.2 – Objetivos pretendidos


O aluno tem 1 aula de 40 minutos por semana, na qual eu pretendo promover a autonomia do aluno
no meio aquático, melhorar a condição física e psicomotora e a interação do aluno com os restantes
elementos (outros professores e alunos) presentes no local no momento da aula de forma a
promover a sociabilização do aluno. Estas aulas têm também como objetivo numa próxima fase fazer
com que o aluno se desloque em decúbito ventral e dorsal sem recurso a material flutuador, ou seja,
fazer com que aprenda a nadar.

2.1.1.2.3 – Metodologias aplicadas


A Síndrome de Down não exige nenhum pré-requisito básico relativamente à motricidade. Suscita
uma estimulação diferenciada por meio de uma motricidade aquática dinâmica, essencial à sua
evolução, no seu decurso desenvolvimentista.
Por experiência e partilhando da opinião de vários autores, a natação é a atividade motora mais
indicada para o desenvolvimento motor, cognitivo e afetivo-social da criança com Síndrome de
Down.
Este tipo de natação não deve ser entendida no sentido literal da palavra, mas sim como atividade
aquática que faculta ações motoras de exploração do ambiente aquático, através de movimentos
fundamentais de locomoção, manipulação e equilíbrio na perspetiva do desenvolvimento.
A realização de atividades motoras deste aluno, além de exercerem um papel preponderante no seu
desenvolvimento somático e funcional, estimulou e desenvolveu as suas funções psíquicas.
Não há discussão possível, quanto ao facto de os indivíduos com Síndrome de Down responderem
positivamente aos programas de atividade motora. Esses benefícios envolvem a sua aptidão física e
saúde e até a própria qualidade da execução motora.
Inicialmente, foi promovida a relação aluno/ professor, procurando a interação deste com outros
alunos e deste com os objetivos propostos. Esta dupla interação permitiu de uma forma eficaz o
interesse do aluno para as tarefas e instruções a seguir.
Foi incentivada a exploração do meio aquático e dos materiais didáticos a utilizar nas aulas,
promovendo várias situações de deslocamentos e equilíbrios, permitindo desta forma um maior
relacionamento do aluno com o meio aquático.
Nesta etapa, todas as tarefas propostas foram apresentadas de uma forma lúdica com o intuito de
manter o aluno atento e interessado pela atividade.

25
De acordo com o esperado, e numa primeira fase, o aluno demonstrou dificuldades e desinteresse
em imergir a cara. Este facto, tornou-se no meu principal objetivo, com o intuito de promover a
adaptação ao meio aquático bem como a expiração dentro de água.
No decorrer das aulas e de acordo com as atividades propostas foi possível registar várias tentativas
de colocar a cara dentro de água, tentando imitar os outros e o professor. Assim, alguns exercícios
como o de empurrar uma bola com o sopro, com o nariz e de seguida com a testa, também o de
tentar alcançar objetos no fundo da piscina, resultaram no alcance do objetivo pretendido: promover
a habituação da água no rosto e de seguida o de colocar o rosto dentro de água.
Após a imersão do rosto, o aluno vivenciou a apneia, bloqueando a respiração e só expirando quando
emergia. Ao longo das aulas essa ação foi diminuído demonstrando cada vez mais o domínio sobre o
meio aquático. Considero que nesta etapa foram muito importantes os feedbacks positivos face às
ações realizadas pelo aluno.
Após o domínio dos conteúdos anteriores, foi apresentada ao aluno a propulsão ventral com apoio
de material flutuador, como forma de deslocamento. Neste ponto da adaptação ao meio aquático o
aluno demonstrou algum medo em tirar os pés do chão. Como forma de superar este desafio, foram
propostas ao aluno ações motoras que implicassem pequenos saltos para a frente sempre com o
apoio de material flutuador. O aluno demonstrou vontade e alguma renitência em relação a esta
atividade, mas utilizando uma vez mais uma componente lúdica, foi possível alcançar o objetivo
pretendido: retirar os pés do chão e adquirir a posição horizontal ventral.
No seguimento deste trabalho, consegui levar o aluno para a parte mais funda do tanque de
aprendizagem (120cm), e dar a conhecer ao aluno que na parte onde estava não poderia colocar os
pés no chão sem colocar a cabeça dentro de água. Ao aperceber-se que perdera o apoio do chão,
sugeri que realiza-se o batimento de pernas e que fosse orientando-se para a parte mais baixa do
tanque. Após várias repetições desta ação motora a propulsão ficou cada vez mais presente e foi
sendo executada com melhor coordenação motora.
Atualmente, o aluno consegue realizar pequenos deslizes sem o apoio do material flutuador, executa
a pernada de crawl com apoio da placa, recupera objetos do fundo da piscina, coloca a cabeça
dentro de água por livre vontade, em situação de apneia ou recorrendo à expiração, quando
solicitada. Porém, o aluno com a ajuda de material flutuador ainda não consegue adquirir a posição
horizontal dorsal sem o apoio do professor, e quando com a ajuda do professor mostra-se
desconfortável apresentando uma tensão muscular e rápida vontade de colocar os pés no chão.
É de salientar o horário da aula, sendo esta lecionada em simultâneo a uma aula de iniciação para
crianças, permite a interação entre alunos e sempre que possível o aluno é incluído nos jogos da
turma, procurando desta forma privilegiar o trabalho em equipa, visto que os jogos de grupo
fornecem a oportunidade de realizar um trabalho cooperativo. Desta forma, o aluno aprendeu a

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manter o respeito, a partilhar e a trabalhar de forma esforçada para chegar a uma conclusão ou
resolver um problema. Adquiriu noções de entreajuda, partilha e solidariedade.
Foi evitada a monotonia, tendo sido propostas atividades diversificadas e lúdicas o que acabou por se
traduzir numa maior motivação e envolvência do aluno, pois o prazer sentido durante a natação
jamais será esquecido pelo aluno.
Desta forma, as emoções incitadas durante as aulas poderão ser transformadas em conhecimento.

2.1.1.2.4 – Resultados
Consegui atingir alguns dos meus objetivos, o aluno está muito mais sociável, consegue identificar e
realizar os exercícios quando solicitados como, fazer imersões, recuperar objetos do fundo da
piscina, deslocamentos em decúbito ventral com apoio de material flutuador e apresentação de
pequenos deslizes também em decúbito ventral sem apoios. O aluno atualmente ainda demonstra
alguma renitência quanto ao deslocamento em decúbito dorsal.

2.1.2. – Criança com Paralisia Cerebral

2.1.2.1. – Definição
Em 1964, Bax, usou o termo Paralisia Cerebral (P.C.), pela primeira vez ao referir-se a “uma
desordem do movimento e postura em consequência de um defeito ou lesão num cérebro imaturo”
(Montenegro, 2011).
De acordo com o comité de “American Academy for Cerebral Palsy and Development Medicine” P.C.
é descrita como um “grupo de desordens do desenvolvimento do movimento e da postura causando
limitação na atividade, que é atribuída aos distúrbios não progressivos que ocorrem no
desenvolvimento fetal ou num cérebro imaturo”.
Segundo a Comissão Mundial de Paralisia Cerebral, 1988, a P.C. é um distúrbio de postura e
movimento persistente, causado por lesão no sistema nervoso em desenvolvimento, antes, durante
ou após o nascimento, nos primeiros meses de lactância. (Griffiths & Clegg,1998).
Martins (2008), considera a P.C. como um conjunto de desordens permanentes, mas não imutáveis,
provocadas por uma lesão cerebral. É caracterizada por disfunções de carácter neurológico e
muscular que afetam a mobilidade e o controlo motor, reportando o termo cerebral para as funções
do cérebro e o termo paralisia para as desordens de movimento e de postura.
Fonseca (1999, Silva, 2013), define P.C. como uma encefalopatia crónica infantil não-progressiva ou
uma disfunção neuromotora, decorrente de lesões ocorridas num encéfalo em desenvolvimento,
levando a distúrbios de motricidade, tónus e postura, podendo ou não ter comprometimento
cognitivo.

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2.1.2.1.1. – Etiologia
Ao conhecermos as causas originárias de uma lesão cerebral, podemos atuar precocemente sobre as
sequelas destas resultantes e conseguiremos, de igual modo, estabelecer uma profilaxia correta, que
poderá ajudar na prevenção da etiologia das lesões cerebrais.
Assim, Martins (2008), distingue três grandes fatores:
Fatores pré-natais (1%): predisposição familiar, infeções (rubéola, citomegalovirus,
toxoplasmose), trauma físico, diabetes, toxemia, infeções da gravidez (intra-uterinas em especial as
virais), anomalias da placenta, baixo peso para a idade de gestação, intoxicações (agentes tóxicos,
medicamentosos),exposição a radiações;
Fatores perinatais (95%): anóxia ou hipóxia, hemorragia intracraniana, prematuridade,
sofrimento fetal, parto prolongado ou distócico, icterícia grave, desequilíbrio hidra eletrolítico,
hipoglicémia, convulsões, sépsis, traumatismos mecânicos de parto
Fatores pós-natais (4%): trauma físico, infeção (ex.: meningite), acidentes vasculares, anóxia,
tumores, hidrocefalia, traumatismo cranioencefálico, meningoencefalite, abcesso cerebral,
desequilíbrio hidroelectrolítico grave.

2.1.2.1.2. – Classificação
Apesar do quadro sintomatológico da P.C. ser uma entidade aberta, Shepherd,R (1996, Silva, 2013),
classifica a sua tipologia em: espástica; atetósica; atáxica; rígida; mista; tremor; e coreica.
Forma Espástica: é a mais comum. Afeta a fala e os sons são emitidos de forma distorcida ou
mal pronunciada. Os movimentos são involuntários, descoordenados e lentos.
Forma atetósica: presença de movimentos involuntários (atetose), distonia e alguns casos de
rigidez muscular. Pode estar envolvido os quatro membros;
Forma hipotônica: apresenta grave depressão da função motora e fraqueza muscular. Algumas
crianças hipotônicas evoluem para atetose ou espasticidade;
Forma atáxica: apresenta sinais de comprometimento do cerebelo, manifestando-se por ataxia
(por exemplo, dismetria).
Forma mista: combinam-se as características das formas, espástica, atetósica e atáxica.
Associado a esta classificação estão os distúrbios que normalmente acompanham a P.C.,
nomeadamente, a alteração da visão, da audição, sucção, deglutição, fala, comportamento e
deficiência mental e, também, a epilepsia. Estas alterações delimitam as suas dificuldades no âmbito
escolar e, por isso, será necessário adotar estratégias e apoios pedagógicos específicos, com vista ao
sucesso do aluno.

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2.1.2.2 – O aluno

2.1.2.2.1 – Características específicas


O Octávio é um rapaz atualmente com 15 anos e iniciou as aulas de natação individualizada com 6
anos, tendo em conta que quando iniciou as aulas de natação, o aluno nunca tinha tido contacto com
o meio aquático. O Octávio apresenta uma forma espástica de Paralisia Cerebral, como característica,
apresenta uma estabilidade postural reduzida que leva a menor força e habilidade nas atividades
propostas. Este aluno quando iniciou apresentava flexão dos membros superiores e extensão dos
membros inferiores e apresentava algumas deformidades articulares.

2.1.2.2.2 – Objetivos pretendidos


O aluno tem 2 aula de 40 minutos por semana, nas quais, eu numa primeira fase, como objetivo
primário, pretendi promover a autonomia do aluno melhorando a condição física com recurso a
exercícios de hidroterapia. Quando esse objetivo foi superado, prossegui para a adaptação ao meio
aquático e por conseguinte o ensino das técnicas de nado, crawl e costas.

2.1.2.2.3 – Metodologias aplicadas


No decorrer das primeiras aulas, quando em contacto com o meio aquático, foi registado um
relaxamento muscular e melhorias da amplitude de movimentos. Inicialmente essas mesmas aulas
consistiram em aplicar exercícios de mobilização articular, reforço muscular com exercícios de puxar,
agarrar, alcançar, empurrar e também pequenos deslocamentos sempre com o apoio do professor.
Permitiram, também, explorar e experienciar vários materiais com várias texturas e diferentes pesos.
O aluno, demonstrou sempre, uma grande vontade de realizar as tarefas propostas. Ao longo dos
primeiros anos, com a apresentação de novos desafios de uma forma gradual, o aluno começou a
apresentar tentativas de promover a sua autonomia, tomando sentido da sua coordenação geral,
coordenação fina e óculo manual, equilíbrio estacionário, equilíbrio dinâmico, coordenação,
esquema corporal, lateralidade, orientação espacial e temporal. O período de adaptação ao meio
aquático, em nada diferiu comparativamente ao de uma criança “dita normal”. Consciente das suas
limitações a nível de motricidade, tentou sempre ultrapassar essas mesmas. A maior evolução do
aluno registou-se na fase de experienciar o meio subaquático (recuperação de objetos e
deslocamentos com diferentes percursos e distâncias), demonstrando progressivamente um
completo domínio do meio aquático.
Com a adaptação ao meio aquático alcançada, de uma forma lúdica, procedeu-se à apresentação dos
estilos de Crawl e posteriormente Costas. O aluno, nesta fase, apresentou algumas dificuldades na
pernada, exagerando na força e na velocidade. Assim, impus algumas limitações de movimento com

29
o objetivo de melhorar a coordenação motora, passando a verificar-se uma propulsão. De seguida,
foi apresentada a pernada de costas com apoio de material flutuador. Esta foi bem-sucedida e o
aluno alcançou o deslocamento horizontal.
No seguimento da planificação elaborada foi apresentado ao aluno o estilo de crawl, a
descoordenação motora manteve-se evidente, principalmente no ensino da braçada, embora
tenham sido verificadas melhorias na execução global desta técnica de nado.
Demonstrando o aluno cada vez mais interesse pela forma lúdica, e começando a ignorar as
aprendizagens anteriores foi proposto o uso de material flutuador. A presença do professor na água
e a experimentação na piscina grande, acabaram por ser fatores determinantes para que o aluno
realizasse as atividades propostas.
Procurei sempre motivar, incentivar e presentear a autonomia do aluno para a realização das tarefas
propostas.

2.1.2.2.4 – Resultados
Consegui atingir os meus objetivos, o Octávio é um aluno autónomo e encontra-se a frequentar a
piscina grande desde os seus 10 anos, conseguindo alcançar objetos nas várias profundidades da
piscina grande (1,80M e 2M). No que respeita às técnicas de nado, já consegue nadar Crawl de uma
forma autónoma sem apoios e realiza, sempre que solicitada, a respiração ao longo do nado.
Conseguiu aprender a nadar o estilo de costas sem apoio de material flutuador, embora apresente
grande dificuldade na coordenação e manutenção da posição de decúbito dorsal.
Considero ser relevante o facto de o aluno já ter participado em algumas provas de natação
adaptada, todas estas realizadas no complexo das piscinas municipais de Lousada, demonstrando
sempre um carácter competitivo e responsável, procurando alcançar sempre os seus objetivos
propostos.

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3 – Conclusão

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Conclusão

Como foi apresentado neste trabalho, o meio aquático é capaz de promover o bem-estar físico,
psíquico e social, essencialmente nas crianças. A natação é um desporto constituído por movimentos
específicos considerados habilidades motoras que permitem ao indivíduo deslocar-se na água.
O desenvolvimento motor é um processo de mudança nas ações motoras de maneira contínua e
permanente, sendo influenciado por fatores extrínsecos e intrínsecos à atividade desenvolvida.
Como em qualquer outro desporto, a natação, é constituída por habilidades motoras, não inibindo a
criatividade. Isto permite à criança a exploração e manuseamento do meio, contribuindo para a
estruturação do seu esquema corporal e desenvolvimento motor.
Dado o crescimento repentino, em jovens com idades compreendidas entre os 11 e os 15 anos, estes
encontram na natação o benefício para o desenvolvimento motor, uma vez que, este desporto atua
como o fator auxiliador do reequilíbrio e também para o aumento de movimentos ao seu acervo
motor. As duas crianças continuam a frequentar as atividades aquáticas como alunos da escola de
natação, continuando desta forma a promover o seu desenvolvimento das habilidades aquáticas.

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