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U F R N

AVALIAÇÃO DA EFICIÊNCIA DOS POÇOS DE


INFILTRAÇÃO NO CONTROLE DA DRENAGEM NO LOTE

ROSA TICIANE DE OLIVEIRA ALMEIDA

TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO


(MODALIDADE – ARTIGO CIENTÍFICO)

NATAL-RN
2016
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE
CENTRO DE TECNOLOGIA
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA CIVIL

ROSA TICIANE DE OLIVEIRA ALMEIDA

AVALIAÇÃO DA EFICIÊNCIA DOS POÇOS DE


INFILTRAÇÃO NO CONTROLE DA DRENAGEM NO LOTE

Trabalho de Conclusão de Curso na modalidade


Artigo Científico, submetido ao Departamento
de Engenharia Civil da Universidade Federal do
Rio Grande do Norte como parte dos requisitos
necessários para a obtenção do Título de
Bacharel em Engenharia Civil.

Orientador: Profª. D.Sc. Joana Darc Freire de


Medeiros
Coorientador: Profª. M.Sc. Isabelly Bezerra
Braga Gomes de Medeiros

NATAL/RN, 31 DE MAIO DE 2016


AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente a Deus por ter iluminado todas as decisões que fiz em minha
vida. Ter escolhido sempre o melhor caminho é o que alguns chamam de sorte. Eu chamo de
benção.
À minha família, principalmente aos meus pais Rosa e Aurelio, meu agradecimento
especial. Devo-lhes o sucesso, não só do meu trabalho de conclusão de curso, mas de toda a
minha graduação. A eles agradeço por terem investido na minha educação tudo o que
conquistaram e por terem apoiado incessantemente a minha vida estudantil. Por cada
incentivo nos períodos difíceis e por cada conselho nos momentos de dúvida. Não conheço
pais mais presentes do que os meus. Esta vitória é muito mais deles do que minha.
Ao meu namorado Pablo, que, por ser engenheiro civil, contribuiu com muitas ideias
para o desenvolvimento deste trabalho. Agradeço por ter sido tão companheiro e
compreensivo, sobretudo, nesta reta final do curso.
Sou muitíssimo grata as minhas amadas amigas de infância por torcerem
verdadeiramente pelo meu sucesso e por estarem presentes em todos os momentos da minha
vida.
Quanto aos meus amigos da faculdade, agradeço imensamente pela amizade
construída ao longo desses cinco anos, a qual tornou as dificuldades inerentes à engenharia
um pouco mais leves. Sem eles eu não teria chegado até aqui.
Meu agradecimento especial as minhas orientadoras, Joana Darc Freire de Medeiros e
Isabelly Bezerra Braga Gomes de Medeiros, por todo o apoio, atenção e disponibilidade que
dedicaram à mim e a este trabalho. Suas contribuições foram, indubitavelmente, essenciais
para o sucesso dele.
Por fim, agradeço à professora Micheline Damião Dias Moreira e ao engenheiro Bruno
Freitas Cardoso por comporem a banca examinadora do meu trabalho e por suas observações
enriquecedoras.
RESUMO

AVALIAÇÃO DA EFICIÊNCIA DOS POÇOS DE INFILTRAÇÃO NO CONTROLE


DA DRENAGEM NO LOTE
Autor: Rosa Ticiane de Oliveira Almeida
Orientador: Joana Darc Freire de Medeiros
Departamento de Engenharia Civil - UFRN
Natal, Maio de 2016
A fim de contribuir para o dimensionamento de poços de infiltração de águas pluviais,
comparou-se os Método Racional e do Manual de Drenagem de Natal, avaliando a ocorrência
de extravasamentos. Para isto, foram avaliadas três áreas com diferentes capacidades de
infiltração, nas quais se determinou o número de poços e a quantidade de dias nos quais
ocorre extravasamento, para cada um dos métodos de cálculo. O método Racional resulta num
menor número de poços e, por consequência, numa maior frequência de extravasamento, nos
solos com taxa de infiltração média ou alta. No solo com baixa capacidade de infiltração o
número de poços necessários cresce significativamente, resultando numa menor frequência de
extravasamento. O método do Manual de Drenagem mostrou-se mais estável, com menor
variação na quantidade de poços nos diferentes tipos de solo estudados, com uma frequência
de extravasamento inferior a 1%.
Palavras-chave: poços de infiltração; métodos de cálculo; extravasamento.

ABSTRACT

EVALUATION ON THE EFFICIENCY OF INFILTRATION WELLS ON THE


CONTROL OF ON-LOT DRAINAGE
Author: Rosa Ticiane de Oliveira Almeida
Supervisor: Joana Darc Freire de Medeiros
Department of Civil Engineering, Federal University of Rio Grande do Norte, Brazil
Natal, May 2016
With the intention of contributing to the dimensioning of rainwater infiltration wells, a
comparison was made between the Rational Method and the method obtained from the
Drainage Manual issued by the city of Natal, aiming the analysis of the occurrence of water
overflow. In order to achieve this purpose, three areas with different infiltration capacities
were studied, which enabled the ascertainment of number of wells and quantity of days in
which the leakage occurs, for both calculation methods. The Rational Method results in fewer
wells and, consequently, a higher frequency of water overflow on soils with high or medium
infiltration rate. On the soil with low infiltration capacity the number of wells necessary
grows significantly, resulting on a lower leakage frequency. The method from the Drainage
Manual issued by the city of Natal presented more stability, having lower variation on the
quantity of wells on both studied soils, with a water overflow frequency inferior to 1%.
Keywords: infiltration wells, calculation methods, water overflow.
SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................... 6
2 METODOLOGIA.................................................................................................................. 7
2.1 ÁREA DE ESTUDO ............................................................................................................ 7
2.2 CÁLCULO DO NÚMERO DE POÇOS – MÉTODO RACIONAL ................................... 8
2.2.1 Coeficiente de escoamento superficial (C) .................................................................... 9
2.2.2 Intensidade Pluviométrica (I) ...................................................................................... 10
2.2.3 Tempo de concentração (tc) ......................................................................................... 10
2.2.4 Vazão efluente (Qe) ....................................................................................................... 10
2.2.5 Volume de detenção (Vd) ............................................................................................. 11
2.2.6 Quantidade de poços (Npoços) ....................................................................................... 11
2.3. CÁLCULO DO NÚMERO DE POÇOS – MÉTODO DO MANUAL DE
DRENAGEM DE NATAL....................................................................................................... 12
2.3.1 Pré-dimensionamento.................................................................................................... 12
2.3.2 Balanço hidrológico de 30 dias ..................................................................................... 12
2.3.3 Quantidade de poços (Npoços) ....................................................................................... 13
2.4. BALANÇO HÍDRICO ...................................................................................................... 13
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO ........................................................................................ 15
3.1 CÁLCULO DO NÚMERO DE POÇOS – MÉTODO RACIONAL ................................. 15
3.2 CÁLCULO DO NÚMERO DE POÇOS – MÉTODO DO MANUAL DE
DRENAGEM ........................................................................................................................... 15
3.3 CÁLCULO DO NÚMERO DE POÇOS – COMPARAÇÃO ENTRE MÉTODOS.......... 16
3.4 BALANÇO HÍDRICO ....................................................................................................... 17
4 CONCLUSÃO...................................................................................................................... 18
REFERÊNCIAS ..................................................................................................................... 19
APÊNDICE ............................................................................................................................. 20
6

1 INTRODUÇÃO

Historicamente, a urbanização de uma bacia hidrográfica sempre se iniciou próximo a


corpos hídricos, com maior concentração a jusante, uma vez que estes se configuram como
fonte de alimento, água e via de transporte para a população.
Mais tarde, para mitigar os alagamentos naturais e periódicos nesses locais e, para
incorporar as várzeas dos rios ao sistema viário, inúmeros córregos foram retificados e
canalizados (CANHOLI, 2014). Estas obras hidráulicas, apesar de somente levarem a
inundação de um local para outro, resolviam os problemas nos pontos críticos (TUCCI, 1995).
Surgia, então, a filosofia higienista de drenagem urbana, que, como Canholi (2014) define,
pauta-se em transferir rapidamente os picos de cheia para outros locais.
Contudo, com a inevitável canalização das áreas a montante, as inundações acabam
por retornar a jusante, já que “a drenagem urbana é fundamentalmente uma questão de
‘alocação de espaços’” (CANHOLI, 2014). Além do mais, as inundações a jusante são
agravadas ainda pelo acréscimo de volume decorrente do avanço da impermeabilização,
inevitável quando há desenvolvimento urbano. Tucci (1995) explica que a água pluvial que
antes infiltrava no solo, agora contribui para o aumento do escoamento superficial.
Neste momento, o problema que parecia resolvido ressurge, visto que, muitas vezes, a
ampliação da drenagem nessas áreas torna-se impossível pelos altos custos econômicos e
sociais requeridos.
Esses fenômenos causam prejuízos à população, principalmente em países carentes de
saneamento básico, onde as inundações se configuram como facilitadoras de contaminação de
doenças (CANHOLI, 2014). Além dos danos causados ao tráfego, as moradias e ao comércio,
não se pode deixar de citar o prejuízo acerca da deterioração da qualidade da água, uma vez
que ela carrega para o exutório cargas poluentes quando escoa pela bacia (TUCCI, 1995).
Neste contexto, ganha força na drenagem urbana a filosofia “conservacionista”, a qual
defende a retenção dos escoamentos pluviais nas proximidades de suas fontes (CANHOLI,
2014). Essa abordagem vem se refletindo nas legislações atuais. Um exemplo é a lei
complementar nº 082 de 21 de junho de 2007, a qual dispõe sobre o Plano Diretor do
Município de Natal, que determina no artigo 31, parágrafo único, que “as águas pluviais
incidentes em cada lote deverão ser infiltradas no próprio lote, de forma natural ou forçada,
admitindo-se dispositivo extravasor em ocasiões de escoamento por causa de precipitações
atípicas”. Além desta, existe a lei complementar n° 124 de 30 de junho de 2011, a qual dispõe
7

sobre o Plano Diretor de Drenagem e Manejo das Águas Pluviais do Município de Natal, que
no artigo 14 reafirma o descrito no parágrafo único do artigo 31 do Plano Diretor e faz
algumas considerações sobre os dispositivos extravasores.
A denominada “contenção na fonte” se apresenta como uma solução para os
problemas supracitados, uma vez que implementá-la implica em retardar os escoamentos, em
aumentar o tempo de concentração da bacia, bem como em reduzir as vazões máximas
(CANHOLI, 2014).
Uma das estruturas utilizadas para o controle do escoamento superficial na fonte são
os poços de infiltração de águas pluviais. Reis, Oliveira e Sales (2008) os definem como
micro reservatórios escavados no solo, construídos de forma a permitir a infiltração para o
solo do volume de água pluvial escoado para ele. Somente após a redução da capacidade de
absorção do solo e total enchimento do poço, a água passa a ser lançada no sistema público de
drenagem, por meio de tubos extravasores do próprio poço de infiltração.
O dimensionamento dos poços segue diversos modelos de cálculo, havendo
dificuldade em escolher qual destes métodos é o mais viável por parte dos projetistas, que se
veem diante de resultados díspares dependendo do método utilizado. Por exemplo, um
método mais econômico em determinada situação frequentemente apresenta-se mais oneroso
em outra diferente. Em parte, esta fragilidade advém do fato de que o critério acerca do
número de poços geralmente é o único a ser analisado (DANTAS, 2015).
Por tudo isso, o objetivo geral deste estudo consiste em comparar os métodos mais
utilizados no dimensionamento de poços de infiltração, verificando a eficiência quanto ao
extravasamento destes. Além disso, pretende-se determinar a quantidade de poços para a área
estabelecida para estudo; realizar o balanço hídrico a fim de contabilizar o extravasamento;
bem como, comparar os métodos escolhidos, verificando qual mais eficiente.

2 METODOLOGIA

2.1 ÁREA DE ESTUDO

O lote padrão escolhido para os estudos de caso tem área total (A) de 4067,57m²
(Figura A.1). Este consiste num condomínio residencial multifamiliar composto por 15
unidades habitacionais cobertas com telha cerâmica, cada uma com uma área de cobertura de
71,69 m². A rua principal e as garagens somam 1085,77 m² de asfalto, enquanto as calçadas
8

ocupam 697,99 m². Há ainda uma casa de lixo e gás, uma guarita e uma casa para lazer, todas
cobertas por laje de concreto armado, com 6,92 m², 24,09 m² e 18,71m² de área,
respectivamente. Por fim, as regiões cobertas por grama totalizam 1158,74 m².
O lote padrão é quadrado de aproximadamente 64 m de lado (L). Além disso, em
todos os casos admitidos hipoteticamente ele é considerado plano, com declividade de 1%
(S=0,01m/m).
Considerando que as características do solo impactam no dimensionamento e no
comportamento hidrológico dos poços de infiltração, foram estudados três diferentes locais
pertencentes a bacias hidrográficas distintas no município de Natal-RN. A tabela 1 traz as
informações acerca das bacias estudadas.
Tabela 1 – Características das bacias nas quais os estudos de caso foram inseridos
Coeficiente de fragilidade Taxa de infiltração do solo
Estudo Sub-
Bairro da bacia q
de caso bacia
k (mm/h)
1 XVII-3 Candelária 1,59 13
2 XX-2 Ponta Negra 1,44 7
3 VII-3 Ribeira 1,26 3
Fonte: Natal (2009)

2.2 CÁLCULO DO NÚMERO DE POÇOS – MÉTODO RACIONAL

O método Racional é, segundo Tucci (1995), o mais utilizado para a determinação de


vazões de pico em pequenas bacias, geralmente com área inferior a 3 km², como é o caso do
lote padrão em questão. Franco (2004) explica que a hipótese central deste método é que a
vazão máxima (Q) na seção de controle ocorre quando o tempo de duração da chuva (td) é
igual ao de concentração da bacia (tc), nesta seção.
Assim, a vazão de pico é expressa por:
= 0,278 ∙ ∙ ∙ (1)
Onde: Q = Vazão de pico (m³/s); C = Coeficiente de escoamento superficial
(adimensional); I = Intensidade pluviométrica (mm/h); A = Área total do lote (km²).
É importante destacar que o método racional não avalia o volume de cheia e sim,
somente, a vazão máxima. Porém, o dimensionamento de poços de infiltração requer
justamente que se mensure o volume de detenção. Sendo este o volume que o poço de
infiltração precisa comportar e infiltrar no solo para que somente a vazão máxima de pré-
urbanização continue saindo do lote.
9

Para obter o volume de detenção, Franco (2004) apresenta uma formulação baseada no
Método Racional, na qual considera-se que o tempo de duração da chuva é superior ao tempo
de concentração e o hidrograma afluente é representado por um trapézio isósceles, no qual os
trechos de ascensão e queda têm duração igual ao tempo de concentração. Já o hidrograma
efluente, desconhecido, é simplificado por uma linha reta variando entre zero, na origem, até
o ponto correspondente a vazão efluente no ramo descendente do hidrograma afluente (Figura
1).
Figura 1 – Avaliação dos volumes de detenção segundo a FAA – EUA

Fonte: Adaptado de Fendrich (2002 apud FRANCO, 2004)

Desta forma, o volume de detenção é dado por:

= 60 ∙ ∙ − ∙( + ) (2)
2
Onde: Vd = Volume de detenção (m³); Qa = Vazão afluente máxima (m³/s), obtida
pela equação 1; Qe = Vazão efluente máxima (m³/s); td = Tempo de duração da precipitação
(min); tc = Tempo de concentração (min).

2.2.1 Coeficiente de escoamento superficial (C)

O coeficiente de escoamento superficial C é obtido em função das características de


uso e ocupação do solo. Existem diversas tabelas na bibliografia com valores estimados de C.
Como há variação de tipo de cobertura no lote padrão estudado, o valor do C foi obtido pela
fórmula (TUCCI, 1995):

∑ =1 ∙
= (3)
10

Onde: C = Coeficiente de escoamento superficial (adimensional); Ci = Coeficiente de


escoamento superficial da subárea considerada (adimensional); Ai = Subárea considerada
(m²); A = Área total do lote (m²).
A Tabela 2 apresenta os valores de C utilizados, retirados de Tucci (2009b).
Tabela 2 – Valores de C para cada subárea e para a área total
Tipo de superfície de cada sub-área Área Ai (m) Coeficiente de Deflúvio Ci
Asfalto 1085,77 0,83
Concreto 49,72 0,88
Calçadas 697,99 0,80
Telhado 1075,35 0,85
Grama 1158,74 0,08
C 0,62

2.2.2 Intensidade Pluviométrica (I)

A intensidade pluviométrica (I) foi calculada utilizando-se a curva I-D-F (Intensidade–


Duração–Frequência) de Natal, retirada do Manual de Drenagem da cidade.
502,47 ∙ ,
= (4)
( + 10,8) ,

Onde: I = Intensidade pluviométrica (mm/h); tr = Tempo de retorno (anos); td = Tempo


de duração da precipitação (min).
Considerou-se o tempo de retorno igual a 5 anos.

2.2.3 Tempo de concentração (tc)

Silveira (2005) traz para cálculo do tempo de concentração a fórmula de Kerby-


Hathaway:
∙ ,
= 1,44 ∙ (5)

Onde: tc = Tempo de concentração (min); r = Coeficiente de rugosidade de retardação
(adimensional); L = Comprimento do ponto mais distante, medido paralelamente à
declividade, até o ponto a ser alcançado (m); S = Declividade do terreno (m/m).
Sendo S=0,01 e L=64, como citado na descrição do lote. Considerou-se r=0,02, uma
vez que é este o valor que Silveira (2005) traz para pavimentos alisados.

2.2.4 Vazão efluente (Qe)


11

Tucci (2000 apud FRANCO, 2004) fixa a vazão de saída igual àquela existente antes
da urbanização da bacia. Esse dado foi buscado no Manual de Drenagem do município, o qual
determina uma vazão de extravasamento de 0,03 m³/s para um poço com extravasor de 100
mm e revanche de transbordamento de 0,5m.

2.2.5 Volume de detenção (Vd)

Após encontrar os valores das vazões de entrada e saída e do tempo de concentração,


calculou-se o volume que precisa ser detido através da equação 2. O cálculo foi realizado por
tentativas. Em cada uma delas mantiveram-se fixos tanto os valores de tempo de concentração
como os de vazão efluente, variando-se apenas o tempo de duração da chuva – e
consequentemente os de intensidade pluviométrica e vazão afluente – obtendo-se assim
diversos valores de volume de detenção (Vd). As tentativas cessaram quando o maior volume
de detenção (Vdmax) foi encontrado (ver Tabela 3 no item 3.1).

2.2.6 Quantidade de poços (Npoços)

As dimensões dos poços de infiltração foram consideradas fixas, com diâmetro (Dpoço)
e altura (Hpoço) de 2,5m. A quantidade de poços (Npoços) foi calculada segundo a equação 6:
A
N = (6)
ç
At ç

Onde:
Npoços = Número inteiro de poços de infiltração a serem instalados no lote;
Ainf = Área necessária para infiltrar o volume de água escoado (m²);
Atpoço = Área de infiltração total do poço padrão obtida pela soma da área da base com a área
das paredes laterais (m²).
A área necessária para infiltração Ainf foi calculada pela equação 7, considerando-se
um tempo de detenção de água no poço (tdet) de 24h em todos os estudos de caso.
∙ 1000
= (7)

Onde: Ainf = Área necessária para infiltrar o volume de água escoado (m²); Vdmax =
Volume de detenção máximo encontrado (m³); q = Taxa de infiltração do solo (mm/h),
descrita na tabela 1; tdet = Tempo de detenção de água no poço (h).
12

2.3. CÁLCULO DO NÚMERO DE POÇOS – MÉTODO DO MANUAL DE DRENAGEM


DE NATAL

Como sugere o Manual de Drenagem do Plano Diretor de Drenagem e Manejo das Águas
Pluviais do Município de Natal, para a determinação do número de poços de infiltração no lote
foram realizadas duas análises: o Pré-dimensionamento e o Balanço hidrológico de 30 dias.

2.3.1 Pré-dimensionamento

Nesta análise inicial, primeiramente, definiu-se que a revanche de transbordamento do


poço (∆H) seria de 0,5m – uma vez que é este valor que o Manual sugere para um poço de
altura e diâmetro de 2,5m. Definiu-se também que o diâmetro do extravasor (Dext) seria de
100 mm, tal qual o Manual determina para uma área de lote maior que 3000 m².
Em seguida, obteve-se a área de contribuição do poço (Acpoço) utilizando-se as figuras
disponíveis do Manual (Figura 2).
Figura 2 – Revanche de transbordamento em tubos extravasores de 100mm

Fonte: Adaptado de Natal (2009).

2.3.2 Balanço hidrológico de 30 dias


13

Na segunda análise determinou-se novamente a área de contribuição efetiva do poço.


Porém, desta vez, através de outro gráfico (figura 3) com base no coeficiente de escoamento
superficial do lote (C) e na taxa de infiltração (q).
Figura 3 – Coeficiente de contribuição do lote por poço padrão.

Fonte: Adaptado de Natal (2009)

2.3.3 Quantidade de poços (Npoços)

A quantidade de poços foi calculada segundo a equação 8 com base na área de


contribuição do poço, para cada uma das estimativas acima. Assim, como o Manual sugere,
comparou-se as quantidades encontradas e adotou-se a situação mais desfavorável, ou seja, a
que determina o maior número de poços absorventes de águas pluviais.
A
N =k∙ (8)
ç
Ac ç
Onde: Npoços = Número inteiro de poços de infiltração a serem instalados no lote; k =
Coeficiente de fragilidade da bacia citado no item 2.1 (adimensional); Acpoço = Área de
contribuição efetiva do poço (m²); A = área de contribuição efetiva do lote (m²).

2.4. BALANÇO HÍDRICO

Para analisar a eficácia das metodologias acima descritas, foi realizado o balanço
hídrico nos poços para a série história de precipitação de Natal do ano de 2000 a 2015.
14

O volume armazenado no poço ao final do período simulado (Vf’) foi obtido através
da equação 9:
= + − − (9)
Onde: Vf’ = Volume final no poço (m³); Vp = Volume afluente (m³);
Vt-1 = Volume inicial no poço (m³); Vext = Volume que extravasa (m³); Vinf = Volume que
infiltra através do solo do poço (m³).
O volume afluente ao poço (Vp) foi obtido dividindo-se o volume total afluente no dia
(Vptotal) pelo número de poços (Npoços), conforme a equação 10.

= (10)
ç

O Volume total afluente no dia (Vptotal) foi obtido através da precipitação efetiva,
conforme a equação 11.
.
= (11)
1000
Onde: Vptotal = Volume total precipitado num dia (m³); Pef = Precipitação efetiva
(mm/dia); A = Área total do lote (m²).
O valor da precipitação efetiva (Pef) foi obtido utilizando-se o método do Soil
Conservation Service (TUCCI, 1995) de acordo com a equação 12.
( − 0,2 ∙ )
= (12)
( + 0,8 ∙ )
Onde: Pef = Precipitação efetiva (mm); P = Dado diário real de precipitação (mm); Rp
= Retenção potencial do solo o (mm), dado pela equação 13.
25400
= − 254 (13)

Onde: CN = Parâmetro número de curva.


Utilizou-se um CN de 85, valor o qual Tucci (2009a) indica para um lote cuja taxa de
impermeabilização é superior a 65%.
O volume que infiltra Vinf foi calculado através da equação 14. Sendo a altura de água
no poço (hagua), obtida pela equação 15, a média entre as alturas correspondentes dos volumes
inicial e final armazenado no poço.
= ∙ ç + ∙ ç ∙ℎ ∙ (2,4 ∙ 10 ) (14)
( + ) 1
ℎ = ∙ (15)
2 ç

Onde: Vinf = Volume que infiltra através do solo do poço (m³); q = Taxa de infiltração
do solo (mm/h); Abpoço = Área da base do poço padrão (m²); Dpoço = Diâmetro do poço padrão
15

(m); hagua = Altura de água no poço (m); Vt-1 = Volume inicial no poço (m³);Vt’= Volume
final armazenado no poço (m³).

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

3.1 CÁLCULO DO NÚMERO DE POÇOS – MÉTODO RACIONAL

O tempo de concentração do lote padrão estudado é de 5 min. Partindo-se deste tempo,


observa-se um aumento no volume de detenção até um tempo de duração da chuva igual a 65
min, quando o volume de detenção começa a decrescer (Tabela 3). Assim, o volume máximo
de detenção utilizado foi de 61,88m³, encontrado quando o tempo de duração da precipitação
foi de 65 min.
Tabela 3 – Determinação do volume de detenção máximo através do método racional
Qe tc C A tr td I Qa Vd
(m³/s) (min) (m²) (anos) (min) (mm/h) (m³/s) (m³)
0,03 5 0,62 4067,57 5 20 79,26 0,06 43,82
0,03 5 0,62 4067,57 5 35 62,32 0,04 55,25
0,03 5 0,62 4067,57 5 50 52,49 0,04 60,30
0,03 5 0,62 4067,57 5 65 45,93 0,03 61,88
0,03 5 0,62 4067,57 5 80 41,17 0,03 61,27

O número de poços necessários para deter o volume máximo de detenção variou em


função do local de estudo (Tabela 4). A Ribeira, que apresenta solo com menor capacidade de
infiltração, necessita de um número significativamente maior de poços do que Candelária,
onde a capacidade de infiltração é maior.
Tabela 4 – Determinação do número de poços através do método racional
Estudos de caso Atpoço (m²) Vdmax (m³) tdet (h) q (mm/h) Ainf (m²) Npoços
1 - Candelária 24,54 61,88 24 13 198,34 8
2 - Ponta Negra 24,54 61,88 24 7 368,35 15
3 - Ribeira 24,54 61,88 24 3 859,49 35

3.2 CÁLCULO DO NÚMERO DE POÇOS – MÉTODO DO MANUAL DE DRENAGEM

Utilizando-se a metodologia descrita no Manual de Drenagem de Natal, observa-se


que a área de contribuição dos poços muda nos diferentes bairros analisados em função da
capacidade de infiltração do solo. Quanto maior a capacidade de infiltração do solo, maior a
16

área de contribuição do poço. Com isto, o número de poços necessários é também função das
características do solo no local, sendo maior na Ribeira e menor em Candelária.
Tabela 5 – Determinação do número de poços através do método do Manual de Drenagem
Balanço hidrológico
Pré-dimensionamento Acpoço mais
de 30 dias k A Npoços
Estudo de caso desfavorável
Abpoço ∆H Dext Acpoço C q Acpoço
(m²) (m) (mm) (m²) (mm/h) (m²) (m²) (m²)
1 - Candelária 4,91 0,5 100 1245,44 0,62 13 440,00 440,00 1,59 4067,57 15
2 - Ponta Negra 4,91 0,5 100 1245,44 0,62 7 334,40 334,40 1,44 4067,57 18
3 - Ribeira 4,91 0,5 100 1245,44 0,62 3 223,60 223,60 1,26 4067,57 23

3.3 CÁLCULO DO NÚMERO DE POÇOS – COMPARAÇÃO ENTRE MÉTODOS

Comparando-se os resultados obtidos com os dois métodos utilizados (figura 4), pode-
se observar que o método racional apresentou menor quantidade de poços, comparado ao
método do Manual de Drenagem, nos estudos de caso 1 e 2. No primeiro estudo de caso, cuja
bacia possui a maior taxa de infiltração e o maior coeficiente de fragilidade das consideradas
nessa análise, houve um aumento de 87,5% na quantidade de poços de um método para outro.
No segundo estudo de caso, no qual a taxa de infiltração e o coeficiente de fragilidade são
menores do que a primeira, o aumento foi menor: de apenas 20%. Somente no estudo de caso
3, cuja bacia possui os menores q e k entre todos os casos, o método racional resultou numa
quantidade maior de poços: 52,2% maior do que o valor fornecido pelo Manual de Drenagem.
Figura 4 – Gráfico comparativo entre o número de poços resultantes em cada estudo de caso

É importante destacar que a diferença entre os métodos aconteceu devido ao fato de


que o coeficiente de fragilidade é levado em consideração somente pelo Manual de
17

Drenagem. O estudo de caso 1, no qual a diferença entre os resultados foi a mais discrepante,
é justamente aquele que possui o maior coeficiente de fragilidade considerado.

3.4 BALANÇO HÍDRICO

O balanço hídrico nos poços de infiltração, realizado a partir dos dados diários de
precipitação de Natal nos últimos 15 anos (tabela 6), mostrou que a frequência de
extravasamento é muito baixa nos dois métodos utilizados, com valores inferiores a 2% em
todos os casos estudados. O método Racional, comparado ao método do Manual de
Drenagem, apresentou maior taxa de extravasamento nos estudos de caso 1 e 2, ou seja, nos
casos em que a capacidade de infiltração do solo é maior. No caso da Ribeira, cuja capacidade
de infiltração do solo é baixa, método do Manual de Drenagem apresentou maior
extravasamento, sendo este 258,33% maior que o apresentado pelo Racional. No entanto,
observa-se que o método do Manual de Drenagem apresenta um resultado mais uniforme,
com menor variação na porcentagem de extravasamento nos três tipos de solo simulados.
Tabela 6 – Extravasamento no período de 2000 a 2015

Número de dias nos quais ocorre Porcentagem de


Estudos de caso extravasamento em 15 anos extravasamento em 15 anos

Método Racional Manual de Drenagem Método Racional Manual de Drenagem


1 - Candelária 111 54 1,90 0,92
2 - Ponta Negra 62 46 1,06 0,79
3 - Ribeira 12 43 0,21 0,74

Figura 5 – Gráfico comparativo entre o número de dias nos quais ocorre extravasamento em
cada estudo de caso
18

Em todos os casos analisados, o fator determinante foi o número de poços. Ou seja,


observou-se que o método que prevê menor número de dispositivos resultou sempre em maior
frequência de extravasamento.
A média de extravasamento do método Racional é de 62 dias, enquanto o Manual de
Drenagem apresenta extravasamento em 48 dias, em média, num período de 5842 dias
simulados (15 anos).

4 CONCLUSÃO

A partir da análise dos resultados obtidos foi possível concluir que, segundo o critério
de quantidade de poços previstos, o método do Manual de Drenagem se adapta melhor em
bacias cuja taxa de infiltração e coeficiente de fragilidade são bem baixos, como no estudo de
caso 3. Em bacias nas quais esses parâmetros são elevados, como no caso 1, o método
Racional apresenta-se como melhor opção, uma vez que determina um número muito inferior
de dispositivos.
Acerca do critério do extravasamento, observa-se que o método que subestima o
número de poços é sempre o que mais extravasa. Este fato confirma a ideia de que os dois
critérios propostos devem ser analisados conjuntamente.
Porém, uma vez que a sobrecarga do sistema de drenagem causada por sucessivos
extravasamentos provavelmente implicará na ocorrência de inundação urbana, é aconselhável
que sempre que possível este critério se sobreponha ao de quantidade de poços. Embora isto
signifique maiores custos para o construtor, é importante destacar que esse tipo de ponderação
também representa menores prejuízos para a sociedade como um todo, que passa a ter
menores problemas relacionados com o excesso hídrico na macrodrenagem.
Os resultados também mostraram que em bacias cujos parâmetros são intermediários,
como no estudo de caso 2, a realização da ponderação supracitada é indiferente, uma vez que
não há discrepância entre as quantidades de extravasamento e de número de poços sugeridas
por cada método.
De todo modo, concluiu-se que a escolha do método para dimensionamento de poços
de infiltração de águas pluviais precisa ser norteada de forma cuidadosa e que cada projetista,
assim como os construtores que os contratam, precisam ter consciência da contribuição
individual de cada edificação na sobrecarga do sistema.
19

REFERÊNCIAS

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Textos, 2014. 384 f.

DANTAS, Renato Carvalho. Análise de modelos de cálculo para dimensionamento de


poços absorventes de águas pluviais. 2015. 78f. Trabalho de Conclusão de Curso
(Graduação). Departamento de Engenharia Civil da Universidade Federal do Rio Grande do
Norte, Natal, 2015.

FRANCO, Edu Jose. Dimensionamento de bacias de detenção das águas pluviais com
base no método racional. 2004. 155 f. Dissertação (Mestre em Engenharia de Recursos
Hídricos e Ambiental) – Universidade Federal do Paraná, Curitiba, 2004.

NATAL, Prefeitura Municipal. Lei Complementar n° 082, de 21 de junho de 2007. Dispõe


sobre o Plano Diretor de Natal e dá outras providências. Instrumentos de Ordenamento
Urbano, Natal, p. 405-459, 2009. Natal: 2007. Disponível em:
<http://www.natal.rn.gov.br/semurb/paginas/ctd-102.html>. Acesso em: 15 dez. 2015.

NATAL, Prefeitura Municipal. Manual de drenagem. Natal: 2009. 256 p.

REIS, R. P. A.; OLIVEIRA, L. H.; SALES, M. M. Sistemas de Drenagem na Fonte por


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SILVEIRA, A. L. L. da. Desempenho de Fórmulas de Tempo de Concentração em Bacias


Urbanas e Rurais. RBRH: Revista Brasileira de Recursos Hídricos, Porto Alegre,v. 10, n. 1,
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TUCCI, Carlos E.M.; PORTO, Rubem L.L.; BARROS, Mário T. Drenagem Urbana. Porto
Alegre: ABRH, 1995.
20

APÊNDICE

Figura A.1 – Representação do lote padrão considerado nos estudos de caso.

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