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netária;
ii. As obrigações em valor de uma espécie monetária.
A verificação de uma ou outra destas situações depende de ter sido ou
não estipulado igualmente um quantitativo expresso em moeda corrente.
Se não for estipulado um quantitativo expresso em moeda corrente
considera-se que a obrigação tem que ser efectuada na espécie
monetária estipulada, desde que ela exista, ainda que tenha variado de
valor após a data em que a obrigação foi constituída (art.º 553.º, CC).
Se for estipulado um quantitativo expresso em moeda corrente, a
estipulação do pagamento em moeda específica, é considerada apenas
como pretendendo estabelecer uma vinculação ao valor corrente que a
moeda ou moedas do metal específico tinham à data da estipulação (art.º
554.º, CC).
Obrigações de juros
Obrigações plurais
Os contratos – generalidades
Os negócios jurídicos costumam ser distinguidos em unilaterais, que são
os que possuem apenas uma parte, e contratos, que são os que possuem
duas ou mais partes. Normalmente, o contrato possui apenas duas partes,
sendo, por isso, designado de negócio jurídico bilateral, podendo, no
entanto, ocorrer que o contrato tenha cariz multilateral quando tiver mais
que duas partes.
Na definição tradicional entende-se por parte, não uma pessoa, mas
antes o titular de um interesse, o que poderia implicar que duas ou mais
pessoas constituíssem uma única parte, quando tivessem interesses
comuns. Daí a exigência de uma contraposição de interesses, na autoria
das declarações negociais, contraposição essa que seria resolvida através
precisamente da estipulação contratual. Portanto, o contrato consistiria,
para Antunes Varela, “num acordo vinculativo, assente sobre duas ou mais
declarações de vontade (oferta ou proposta, de um lado; aceitação do
outro) contrapostas, mas perfeitamente harmonizáveis entre si, que visam
estabelecer uma regulamentação unitária de interesses” ou que nele
existe, segundo Almeida Costa, “a manifestação de duas ou mais
vontades, com conteúdos diversos, prosseguindo distintos interesses e
fins, até opostos, mas que se ajustam reciprocamente para a produção de
um resultado unitário”.
No entanto, a classificação clássica das partes em função dos interesses
foi criticada não apenas por apelar a uma realidade extra-jurídica, mas
também porque os vários intervenientes num negócio unilateral podem
ter interesses diversos, sem prejuízo da sua posição comum.
Menezes Cordeiro vem propor, em alternativa, que a distinção entre
negócios unilaterais e contratos se baseia nos efeitos que venham a ser
desencadeados, sendo que “nos negócios unilaterais os efeitos não
diferenciam as pessoas que eventualmente neles tenham intervindo, pelo
que tende neles a haver uma única pessoa, uma única declaração ou um
único interesse”. Pelo contrário, nos contratos “os efeitos diferenciam
duas ou mais pessoas, isto é: fazem surgir, a cargo de cada interveniente,
regras próprias que devem ser cumpridas e possam ser violadas
independentemente umas das outras; em moldes formais, há mais que
uma parte; e em consequência, tendem a surgir várias declarações, várias
pessoas e vários interesses”.
Para Menezes Leitão, a distinção entre contratos e negócios jurídicos
unilaterais reside no facto do primeiro se assumir como o resultado de
duas ou mais declarações negociais contrapostas, mas integralmente
concordantes entre si, de onde resulta uma unitária estipulação de efeitos
jurídicos, enquanto que os negócios jurídicos unilaterais produzem efeitos
apenas com uma declaração negocial.
A par dos tipos contratuais legais, tem-se, ainda, tipos sociais, ou seja,
encadeamentos de cláusulas habitualmente praticadas em determinados
sectores, em regra dotados de designação própria e que, mau grado a não
formalização em lei, traduzem composições equilibradas e
experimentadas. Não obstante a ausência de regulação pelo legislador, o
tipo social pode funcionar em moldes paralelos ao tipo legal, evitando
este, às partes, o terem de se repetir em lugares comuns, ao mesmo
tempo que afeiçoa as soluções historicamente mais equilibradas.
Os tipos sociais são, com frequência, alvo de pequenas codificações,
feitas em cláusulas contratuais gerais, havendo, então, que proceder ao
seu controlo material através da LCCG.
Contratos mistos
A união de contratos
No caso de, sem que o contrato-promessa tenha eficácia real, uma acção
de execução específica julgada procedente que tenha sido registada pelo
seu autor, esta sentença é oponível a terceiros, desde que a sentença
favorável venha a ser registada.
O registo da sentença que julgue definitivamente procedente a acção de
execução específica baseada em contrato-promessa de venda de coisa
imóvel, destituída de eficácia real, tem os seguintes efeitos:
a. O direito do promitente-adquirente, convertido em adquirente pela
sentença de procedência da acção, prevalece evidentemente, pela
publicidade que o registo conferiu à acção, sobre o direito de todos
os promitentes-adquirentes baseados em contratos-promessa de
data posterior, quer estes tenham, quer estes não tenham eficácia
real;
b. A prevalência do registo da sentença favorável ao promitente-
adquirente estende-se ao próprio registo da transmissão efectuada
pelo promitente-vendedor a terceiro, depois de registada a acção de
execução específica, por duas razões: primeiro, porque o registo da
acção, embora provisório por natureza, tornou pública a pretensão
do promitente, alertando, por conseguinte, qualquer futuro
adquirente contra o perigo decisivo da sua aquisição; segundo,
porque, de outro modo, o promitente-vendedor, depois de
demandado na acção de execução específica, teria sempre um meio
fácil de inutilizar o efeito principal da procedência da acção,
alienando entretanto o imóvel a terceiro;
c. A prevalência do registo da sentença favorável ocorre sobre terceiro
que houver adquirido antes da propositura de acção de execução
específica quando esta última for julgada procedente antes do
terceiro adquirente proceder ao registo da aquisição.
Sinal
Funcionamento do sinal
Funções do sinal
O art.º 415.º, remetendo para o art.º 410.º, n.º 2, leva a que a forma
aplicável ao pacto de preferência seja equivalente àquela aplicável ao
contrato-promessa.
Assim, se a preferência respeitar a contrato para cuja celebração a lei
exija documento (autêntico ou particular), o pacto só é válido se constar
de documento escrito, assinado pelo obrigado, não sendo necessária a
assinatura da outra parte, visto esta não ser promitente.
No entanto, Menezes Cordeiro nota que seria pouco compaginável uma
preferência ad nutum, pelo que ou existe uma contraprestação – o prémio
da preferência – ou este inclui-se, como cláusula, num pacto mais vasto,
de onde promanam deveres para ambas as partes. Neste caso e para este
Autor, será exigível, se necessário, a assinatura de ambas as partes,
aplicando-se na falta de uma destas o regime do contrato-promessa,
relativo à redução ou conversão.
Pluralidade de preferentes
A simulação
A preferência com eficácia real e a daí derivada acção de preferência
levantam o problema relativo a quando a alienação feita pelo obrigado à
preferência, a um terceiro, assente num contrato simulado.
Há simulação quando se reúnam cumulativamente três requisitos (art.º
240.º, CC):
a. Um acordo entre o declarante e o declaratário;
b. No sentido de uma divergência entre a declaração e a vontade das
partes;
c. Com o intuito de enganar terceiros.
Estes elementos devem ser invocados e provados por quem pretenda
prevalecer-se da simulação ou de aspectos do seu regime.
O acordo entre as partes é essencial para prevenir a confusão com o erro
ou a reserva mental, surgindo a divergência entre a vontade e a
declaração como dado essencial da simulação e prendendo-se o intuito de
enganar terceiros com a criação de uma aparência. Terceiros são, neste
caso, quaisquer pessoas alheias ao conluio, não necessariamente ao
contrato simulado.
A prova da simulação
A opção tem uma estrutura que não lhe permite encarar com facilidade o
seu próprio incumprimento, em virtude de se ter, no seu cerne, um direito
potestativo e uma sujeição. O incumprimento de uma opção residirá,
fundamentalmente, na inobservância de prestações secundárias que
tenham sido pactuadas ou na desatenção pelos deveres acessórios que
recaiam, ex bona fide, em qualquer das partes.
No caso do adstrito à opção alienar a coisa que era suposto manter para
o optante, aplica-se, por analogia, o art.º 274.º, tornando-se a venda a
terceiro ineficaz quando a opção seja exercida – o optante adquire a
propriedade da coisa onde quer que ela esteja, podendo exigir, depois, a
sua entrega. Ressalvam-se apenas as hipóteses de o terceiro poder, por
razões próprias, invocar a usucapião ou a aquisição tabular. Ocorre, em
qualquer caso, violação de prestações secundárias e de deveres
acessórios, pelo que o adstrito deverá indemnizar o optante pelas maiores
despesas que tenha ocasionado.
A venda feita nestas condições é meramente ineficaz no caso de
exercício da opção, sendo, fora desse caso, válida e legítima, produzindo
efeitos até ao exercício deste direito potestativo.
A natureza da opção
Contrato para pessoa a nomear é aquele cujos termos permitem que uma
das partes tenha o direito de designar um terceiro que encabece os
direitos e as obrigações dele derivados. Num primeiro tempo, o contrato é
concluído entre duas partes, podendo uma delas, porém, indicar um
terceiro que irá ocupar o seu lugar. No contexto do contrato para pessoa a
nomear, usa-se a seguinte terminologia:
i. Promitens ou promitente – a parte firme;
ii. Stipulans ou estipulante – a parte que pode nomear um terceiro,
para ocupar o seu lugar;
iii. Amicus – o terceiro;
iv. Eligendus – o amicus ou terceiro, antes de ter ocorrido a sua
nomeação;
v. Electio ou electio amici – a escolha ou a escolha do amigo ou
terceiro, para ocupar o lugar definitivo no contrato;
vi. Electus ou amicus electus – o terceiro nomeado, que passa a
parte definitiva, no contrato;
vii. Facultas amicum eligendi – a faculdade de designar o terceiro ou
amicus, para integrar o contrato.
Regime e efeitos
Natureza
Menezes Cordeiro entende que o art.º 458.º, n.º 1, não origina qualquer
obrigação nova, limitando-se a permitir que se prometa uma “prestação”,
comum ou pecuniária, devidas, anteriormente, por força de qualquer
outra fonte. O único papel desse preceito será, para este Autor:
a. Dispensar o beneficiário de indicar a verdadeira fonte da obrigação
em jogo;
b. Fonte essa cuja existência se presume, até prova em contrário.
Existe, neste caso, um negócio unilateral, ainda que com mera eficácia
declarativa, limitada à inversão do ónus da prova. Antes, caberia ao
beneficiário que invocasse uma obrigação, provasse a sua fonte ou
origem; agora, pode este contentar-se com a apresentação da “promessa”
ou de “reconhecimento”, cabendo ao devedor demonstrar que, afinal, ela
não existia.
A declaração de promessa de cumprimento ou de reconhecimento de
dívida tem um destinatário – o próprio beneficiário, devendo ser
interpretada nos termos normais (art.º 236.º, n.º 1, CC). Se da declaração
resultar a existência de uma dívida, ainda que, a tanto, ela não for
primacialmente destinada, funciona a presunção do art.º 458.º.
Promessa pública
Concurso público
As diferenças de regime
O fenómeno da interpenetração
O concurso
Figuras afins
[pp. 409-428]
A imputabilidade
A natureza da ilicitude
A ilicitude implica uma pura desconformidade da conduta com a
estatuição normativa.
A ilicitude incide sobre uma acção humana, voluntária e imputável.
Cabem nesta todos os elementos subjectivos necessários para
compreender plenamente o sentido de uma acção humana.
As causas de justificação
A colisão de direitos
A legítima defesa
O estado de necessidade
A acção directa
O consentimento do lesado
O acto lesivo dos direitos de outrem, é lícito, desde que este tenha
consentido na lesão (art.º 340.º, n.º 1, CC). Assim, são pressupostos do
consentimento do lesado:
i. Um direito disponível;
ii. Um acto de consentimento;
iii. Um acto lesivo.
A disponibilidade do direito é um requisito basilar, sendo que o
consentimento do lesado não exclui a ilicitude do acto quando este for
contrário a uma proibição legal ou aos bons costumes (art.º 340.º, n.º 2,
CC).
Existem, assim, as hipóteses da indisponibilidade de um direito e as
hipóteses de, havendo embora disponibilidade, o consentimento do lesado
se revelar ineficaz, para efeitos de justificação de ilicitude, por o concreto
acto ofensivo ser, por si, contrário à lei ou aos bons costumes. As
hipóteses de proibição legal são mais extensas do que poderia parecer,
abrangendo designadamente:
a. Os direitos de personalidade, nos quais existem restrições
ponderosas (art.º 81.º, CC);
b. Nos direitos de crédito, onde não é permitida uma renúncia prévia
aos direitos do credor (art.º 809.º, CC), tendo a remissão, sempre,
natureza contratual (art.º 863.º, n.º 1, CC);
c. Não é possível a doação de bens futuros (art.º 942.º, n.º 1, CC);
d. No Direito da Família trabalha-se, em regra, com situações
indisponíveis.
O art.º 340.º só opera perante a responsabilidade aquiliana (art.º 483.º,
n.º 1, CC), especialmente com direitos reais e – nas devidas margens –
com direitos de personalidade.
O dolo
O dolo trata-se de uma graduação da culpa em sentido amplo, agindo
com dolo aquele que procede voluntariamente contra a norma jurídica
cuja violação acarreta o dano.
Existem três tipos de dolo:
i. Dolo directo – o agente actua directamente contra a norma;
ii. Dolo necessário – o agente actua em determinado sentido que, não
sendo propriamente a norma violada, implica, no entanto, a
inobservância voluntária desta;
iii. Dolo eventual – o agente actua em determinado sentido que, não
sendo o da violação da norma, pode implicar a inobservância
voluntária desta. Menezes Cordeiro entende que há dolo eventual
quando a conduta do agente ainda possa ser reconduzida à violação
da norma e não à simples inobservância de deveres de cuidado.
Para tal, basta averiguar se a conduta do agente era norteada de
antemão pela possibilidade de violação, sendo esta aceite como fim,
ainda que instrumental.
A culpa traduz o juízo de censura que recai sobre aquele cuja actuação é
reprovada pelo Direito – culpa lato sensu.
Actualmente, a mera culpa ou negligência tem sido entendida como a
violação (objectiva) de uma norma por inobservância de deveres de
cuidado ou, conforme explícito no Código alemão, por violação do cuidado
necessário no tráfego.
As causas de excusa
O dano – generalidades
Os artigos 495.º e 496.º não tratam, nem tinham de tratar, dos danos
sofridos pelo próprio morto, os quais, podendo ser patrimoniais ou morais,
derivam das normas que garantem a sua propriedade (em sentido amplo)
e os seus bens de personalidade, conjuntamente com as cláusulas gerais
dos art.os 483.º, n.º 1, e 496.º, n.º 1. Nos termos gerais do fenómeno
sucessório, as indemnizações a que tais danos dêem lugar transmitem-se
aos sucessores do morto que podem coincidir, ou não, com as pessoas
referidas no art.º 496.º, n.º 2. Havendo coincidência, as pessoas visadas
acumularão indemnizações: directamente, pelos danos por elas sofridos e
a título de sucessão, pelos danos suportados pelo morto.
Existe uma outra posição – defendida por Galvão Telles, Almeida Costa,
Leite de Campos, Menezes Cordeiro e Menezes Leitão – favorável a que,
para além das indemnizações atribuídas por via do art.º 496.º, ainda haja
outras, por danos morais e pela supressão do direito à vida, do próprio
lesado, e que seguem, depois, por via hereditária. Fundamentam esta
posição os seguintes argumentos:
a. Não faz sentido descobrir “direitos” e, depois, negar-lhes o regime;
se existe um direito à vida, então há que dotá-lo da competente
tutela aquiliana, logicamente a favor do seu titular;
b. A actual responsabilidade civil tem funções retributivas e
preventivas; ora tais funções perder-se-ão quando se admitam
direitos que desapareçam logo que sejam violados;
c. A mera aplicação do art.º 496.º, n.º 2, desarticulado do resto do
ordenamento, conduz a resultados inaceitáveis;
d. As indemnizações arbitradas pelos tribunais portugueses são, para
Menezes Cordeiro, totalmente insatisfatórias.
A jurisprudência envereda, na sua larga maioria, pelo caminho de que a
morte é um dano indemnizável, transmissível iure hereditario.
Danos emergentes e lucros cessantes
A natureza do dano
O art.º 492.º relativo aos danos causados por edifícios ou outras obras,
dispõe:
1. O proprietário ou possuidor de edifício ou de outra obra que ruir, no todo
ou em parte, por vício de construção ou defeito de conservação, responde
pelos danos causados, salvo se provar que não houve culpa da sua parte
ou que, mesmo com a diligência devida, se não teriam evitado os danos;
2. A pessoa obrigada, por lei ou por negócio jurídico, a conservar o edifício
ou obra responde, em lugar do proprietário ou possuidor, quando os danos
forem devidos exclusivamente a defeito de conservação.
Os requisitos para a existência de responsabilidade são os seguintes:
i. Um proprietário ou possuidor – ficam afastados detentores ou,
em geral, pessoas em cujos poderes não se incluem os de fazer
as obras de manutenção;
ii. Cujo edifício ou obra ruir, no todo ou em parte – figura-se uma
súbita modificação da coisa, que tenha por defeito o deixar jogar
a lei da gravidade;
iii. Por vício de construção ou defeito de conservação – estão em
causa vícios ou causas atinentes ao edifício ou à obra em causa,
por oposição a causas extrínsecas.
Perante isso, o proprietário ou possuidor implicados respondem pelos
danos causados, mas com duas ressalvas:
a. Ou de ele provar que não houve culpa da sua parte;
b. Ou que, mesmo com a diligência devida, não se teriam evitado os
danos.
A culpa é um juízo de valor formulado pelo ordenamento, que não pode
existir se não tiver ocorrido a (prévia) violação de normas, i.e., a ilicitude.
“Provar que não houve culpa”, pode significar uma de duas coisas:
1. Ou provar que não houve incumprimento de deveres aplicáveis
(ilicitude), sendo, por aí, inviável o juízo de culpa;
2. Ou que, apesar desse incumprimento, não era exigível, ao visado,
outra conduta – verificar-se-ia uma causa de excusa.
O art.º 492.º, n.º 2, convola para a pessoa obrigada, por lei ou por
negócio jurídico, a conservar o edifício ou obra, a responsabilidade por
defeito de construção. O dever do tráfego, passa, como é lógico, para
esta.
Os deveres do tráfego
A comissão
O primeiro pressuposto inserido no art.º 500.º, n.º 1, para a
responsabilidade do comitente, é a situação de alguém encarregar outrem
de uma comissão ou, se se quiser, o acto e o efeito de comitir. Podem
distinguir-se os elementos seguintes:
i. A presença de liberdade de escolha do comitente;
ii. A incumbência de uma comissão a outrem;
iii. A aceitação dessa incumbência, pelo escolhido que, assim, se
torna comissário ou comitido;
iv. A existência de uma relação, daí resultante;
v. A actuação do comissário, no âmbito da comissão, por conta do
comitente.
A liberdade de escolha do comitente é o ponto de partida para a
aplicação desta figura. Na sua falta haverá uma relação legal ou uma
gestão de negócios, consoante a relação derive da lei ou da iniciativa do
próprio agente, verificados os competentes pressupostos.
Para além da escolha, o comitente deverá ter incumbido o eleito de uma
determinada actuação ou comissão. A lei é muito abrangente, podendo
ser um acto isolado ou um desempenho continuado, de natureza jurídica,
material ou mista, gratuito ou oneroso, manual ou intelectual. A
incumbência pode – ou não – ser acompanhada da concessão de poderes
de representação, gerando o mandato, na em princípio, uma situação de
comissão.
A incumbência pode derivar de um contrato, entre ambos concluído, de
um acto unilateral operado no âmbito de uma relação previamente
constituída ou de uma pura indicação de facto, que são se deixe
validamente reconduzir a um figurino jurídico. Apenas se requer que o
comitente tenha a possibilidade de se exprimir e que o seu facto seja,
enquanto tal, devidamente tomado pelo seu destinatário, i.e., o
comissário.
A incumbência deve ser aceite, sendo que se assim não for, o comissário
irá agir como terceiro estranho, respondendo, nos termos gerais, pelas
decisões que tome e ponha em prática, mas sem com isso envolver a
responsabilidade do comitente. Não se exige ao comissário qualquer
aceitação juridicamente operacional, em termos de dar azo a um contrato,
sendo-lhe apenas exigida a imputabilidade geral (art.º 488.º, CC).
Da incumbência e da sua aceitação decorre uma relação entre as partes,
entendendo Antunes Varela que se exige um nexo de subordinação entre
o comitente e o comissário, a qual poderá ter carácter permanente ou
duradouro, assim como pode ser puramente transitória, ocasional,
limitada a actos materiais ou jurídicos de curta duração. Para Menezes
Cordeiro, a comissão existe quando alguém encarrgue outrem de agir por
conta do primeiro.
No exercício da função
A aplicação da comissão
Subjacente à imputação pelo risco por danos causados por veículos está
a ideia da ilicitude imperfeita, dirigindo-se o risco contra quem tem a
“direcção efectiva” do veículo e, portanto, contra a pessoa que pode
prevenir danos, tomando antecipadamente todas as medidas que, para
tanto, sejam necessárias. Tratando-se de pessoa não imputável, a
responsabilidade é filtrada pelo art.º 489.º, imputada a pessoa a quem
incumbe a vigilância – e que, aqui, deveria ter tomado as medidas
preventivas necessárias – e isso por forma a não privar o não-imputável
dos alimentos necessários (art.º 503.º, n.º 2, CC).
Os beneficiários e exclusão da responsabilidade
Havendo responsabilidade por danos causados por veículos, seja por via
delitual, seja por via do risco, as indemnizações caberão, à partida, aos
lesados. No entanto, é possível a exclusão ou limitação, por contrato, no
tocante aos danos que atinjam os bens (art.º 504.º, n.º 4, CC, a contrario).
A colisão de veículos
A solidariedade
A limitação da responsabilidade
As previsões de sacrifício
Concurso objectivo
Salvo nos casos dos artigos 491.º, 492.º, n.º 1, , 493.º, n.º 1 e 802.º, um
delito não deixa de o ser, i.e., não perde a natureza de acto ilícito, sempre
que o dano por ele provocado viesse a emergir de um outro factor nem a
imputação objectiva é paralisada em circunstâncias equivalentes. Assim,
Menezes Cordeiro opta pela irrelevância negativa da imputação virtual.
Prescrição
A natureza
O dever de prestar principal é fixado não pelo seu conteúdo, mas pela
sua finalidade – a supressão do dano. Está-se, assim, perante um vínculo
finalisticamente determinado: ao devedor (ao agente) cabe fazer tudo o
que seja necessário para suprimir o dano.
Infere-se daqui que, à partida, o conteúdo concreto da prestação não é
conhecido – apenas se apreende o dano que ela visa afastar. A regra
básica, é, sempre, a do princípio da reparação total. De outro modo, ficará
ainda uma parcela de dano por ressarcir, não tendo sido cumprido o dever
de indemnizar.
Por isso e entre outros aspectos:
i. Quando a reparação de um bem não seja viável, a indemnização
não deve ser o do seu valor venal, mas sim o custo da sua
substituição;
ii. Prevalece, nos termos legais, a reparação natural, cabendo ao
lesado justificar o porquê de um pedido em dinheiro; a passagem
a uma indemnização a dinheiro só ocorre quando se verifiquem
os requisitos legais;
iii. A aplicação do art.º 562.º envolve a actualização do valor em
jogo, só sobre ele se aplicando juros; a obrigação de
indemnização é uma obrigação de valor.
Os requisitos e as acções
Modalidades
O dono pode reagir diversamente, perante uma gestão alheia dos seus
negócios, tendo-se:
a. A gestão aprovada quando ele declare estar genericamente de
acordo com o que tenha sido feito;
b. A gestão não-aprovada, na hipótese inversa.
No último caso, a não-aprovação poderá resultar do puro silêncio do dono
ou, pelo contrário, de uma expressa declaração de discordância. No
entanto, esta distinção não se confunde com outra, a qual tem a ver, em
rigor, com os actos praticados pelo gestor em nome do dono, os quais
poderão ser:
1. Ratificados, sempre que o dono os faça seus, operando os seus
efeitos perante terceiros;
2. Não-ratificados, no caso contrário, não operando os seus efeitos
contra terceiros.
Figuras afins
Requisitos – generalidades
A direcção de negócio
No interesse do dono
A falta de autorização
O dever de entrega
O gestor deve entregar ao dominus tudo o que tenha recebido de
terceiros no exercício da gestão ou o saldo das respectivas contas, com os
juros legais, relativamente às quantias em dinheiro, a partir do momento
em que a entrega haja de ser efectuada (art.º 465.º, al e), CC).
O dever de entrega, ao dono, é um corolário lógico da actuação havida,
por conta dele, tendo-se várias hipóteses, consoante as circunstâncias:
1. A entrega de coisas corpóreas, obtidas com a gestão;
2. A transmissão, para o dono, de direitos adquiridos pelo gestor, em
nome próprio, mas por conta do dono e no âmbito da gestão;
3. A transferência, para o dono, de posições contratuais ou de débitos,
resultantes da gestão;
4. A manutenção de uma conta-corrente, quando haja entregas e
recebimentos de bens homogéneos ou de valores, com a restituição
do saldo a que haja lugar;
5. O pagamento dos juros legais, relativamente às importâncias em
dinheiro que o gestor tenha detido, por conta do dono,
A determinação da exacta obrigação de entrega depende do destino que
tenham os actos celebrados pelo gestor com os terceiros. Ter-se-á, pois,
de se indagar se houve, ou não, aprovação, se ocorreu ratificação e se o
dono exerceu as facultades que cabem ao mandante sem representação.
A responsabilidade do gestor
Se a gestão não for regular, i.e., se, tendo-se iniciado em termos úteis,
ela não respeitar o interesse do dono ou a sua vontade, real ou
presumível, não há lugar ao reembolso das despesas. Para além da
responsabilidade fixada no art.º 466.º, n.º 1, apenas poderá haver azo à
aplicação do enriquecimento sem causa (art.º 468.º, n.º 2, CC). Com o
seguinte alcance prático: o dono, tendo obtido efectivas vantagens com a
actuação do gestor, deve devolver a este não as despesas, mas apenas
aquilo com que tenha beneficiado, descontadas todas as desvantagens,
com a actuação do gestor, ficando ressalvada a hipótese de, não
obstante, haver aprovação da gestão pelo dono (art.º 468.º, n.º 2, in fine,
CC).
A remuneração do gestor
O dono apenas deve remunerar o gestor quando a gestão corresponda ao
exercício da actividade profissional deste (art.º 470.º, n.º 1, CC), sendo
aplicável o regime da remuneração do mandatário: não havendo ajuste,
recorre-se às tarifas profissionais; na falta destas, aos usos; na falta de
umas e outras, à equidade (art.º 1158.º, n.º 2 ex vi 470.º, n.º 2, CC).
No entanto, Menezes Cordeiro defende uma interpretação restritiva,
devendo considerar-se o próprio esforço do gestor como uma despesa a
ter em conta.
Direitos do dono
A aprovação da gestão
Natureza da gestão