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janeiro 2008
Huymans ensaísta
O que caracteriza o conjunto de ensaios de J. K. Huysmans é a alternância entre
a militância inicial ao lado da pintura impressionista, dos salões dos
independentes ou de vários artistas e o caminho religioso que o faria
aproximar-se da pintura de Fra Angelico ou de Mathias Grünewald
Pablo Simpson
Faz pouco mais de um ano que foi publicada na França, pela primeira vez, a
edição completa dos ensaios que J. K. Huysmans dedicou, entre os anos 1867 e
1905, às artes plásticas: Écrits sur l’art, Bartillat, 2006. Edição cuidadosa,
estabelecida por Patrice Locmant, autor de uma recente biografia sobre
Huysmans, Le forçat de la vie (Bartillat, 2007), em que relata episódios curiosos
de sua vida, desde as seções de satanismo de que teria participado à sua
conversão ao catolicismo em 1892, seguindo talvez o presságio que Barbey
d’Aurevilly lhe anunciara no posfácio a seu romance À rebours (Às avessas,
tradução brasileira de José Paulo Paes, Companhia das Letras, 1987). Como para
o aristocrático e inusitado herói Jean Floressas des Esseintes, aquele capaz de
comprar uma tartaruga para atenuar o brilho do tapete oriental da sala,
esmaltando-lhe a carapaça com ouro, caberia ao autor, após concluir À rebours,
apenas duas alternativas: a boca de uma pistola ou os pés da cruz [1].
Crítica e religião
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instrutivo que as leis policiais proíbem; mas, enfim, pode acontecer. Se jamais
se ofereceu a muitos pintores – e eu entendo – porque ousam, mesmo assim,
representá-lo?
Nos dois casos, entretanto, o olhar do romancista surpreende uma verdade que
perseguiria em obras “as mais hostis”: inquietantes, novas, modernas. Assim,
reclama aos pintores de seu tempo outros meios para a representação das
parisienses e seus lábios pintados, com “ancas maliciosas, que mexem em suas
armações moldáveis de cetim e seda“. Do mesmo modo, em Mathias Grünewald,
sobre o qual publicaria dois ensaios – um escrito previamente para o romance
Là-bas (Além, tradução portuguesa de Aníbal Fernandes, Assírio e Alvim,
2006) [4], outro sobre o retábulo do Museu de Colmar – reconheceria a
adequada expressão da encarnação cristã: do sofrimento e de seu caráter
sobrenatural, “naturalista e místico”.
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página”, ora breves, com um humor nem sempre sutil, para obras rapidamente
descartadas.
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[1] O texto de Barbey d’Aurevilly foi publicado primeiramente como artigo em Le Constitutionnel e Le
Pays, em 28 e 29 de julho de 1884.
[4] Huysmans republicou em Pan, supplém ent français (no 4-5, junho-julho de 1895), o trecho da
visão e dos julgamentos da personagem principal de seu romance, Durtal.
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