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Menino de Engenho possui como narrador e personagem principal Carlinhos, que em sua
idade adulta narra aos leitores um pouco de sua história, que começa no Recife e passa pelos
engenhos nordestinos. Carlinhos, aos quatro anos, estava em casa quando seu pai assassina
sua mãe com um tiro. Seu Tio Juca vai buscá-lo para ir morar com seu avô materno em seu
engenho, chamado Santa Rosa. Chegando lá, ao ter contato com o campo, fica encantado. Logo
que chega, recebe cuidados carinhosos de sua tia Maria. Aos poucos, vai se familiarizando com
o ambiente e seus familiares até então desconhecidos. A tristeza vai dando lugar à curiosidade
de um menino diante do desconhecido.
Apaixona-se por sua prima Maria Clara, quando ela vem passar as férias no engenho, e tem
com ela seu primeiro beijo. Ela volta para a cidade, e ele fica muito solitário, chegando a
chorar. Na casa, é caçoado por tanto sentimento. Um dia, chega uma carta do hospício onde
seu pai está internado, e Carlinhos fica ciente da situação. Ele então fica com medo de ficar
igual ao seu pai. Carlinhos tinha também muito medo de morrer. Por ter asma crônica, se
sentia como um pássaro preso; não podia tomar banho de rio, brincar até tarde, pois podia ter
uma crise. Era cercado de cuidados até que Tia Maria casa-se e ele se sente ainda mais sozinho
e solitário. Tia Sinhazinha que passa a cuidar dele.
Aos 12 anos tem seu primeiro contato com uma mulher; uma negra chamada Zefa Cajá, e pega
uma “doença de homem”. Quando descobrem o que houve, prendem Zefa e todos fazem
piadas com Carlinhos, tratando-o como menino precoce, assim como seu avô. Carlinhos sente
que é um menino feito para a maldade. Era qualificado como libertino, perdido, e não religioso.
Sentia-se mal com tantos desejos sexuais. Seu avô decide então colocá-lo num internato, como
salvação. Carlinhos parte de trem, já sentindo saudade do engenho onde passou sua infância e
aprendeu tanta coisa.
Contexto
Sobre o autor
José Lins do Rego Cavalcanti, Zélins, como era chamado, nasceu em 1901 no estado da Paraíba.
Do seu crescimento no mundo rural nordestino, retira muitas experiências que servirão para
suas histórias nos seus 13 romances publicados. Em 1926 muda-se para Maceió, onde publica
seu primeiro romance, Menino do Engenho. O romancista recebe elogios da crítica e daí em
diante suas publicações tornam-se constantes. Em 1935, muda-se para o Rio de Janeiro e em
1955 é eleito para a Academia Brasileira de Letras. Falece em 1957.
Importância do livro
Publicado em 1932, Menino do Engenho é a primeira obra do autor, cujos exemplares foram
custeados por ele e quase todos vendidos. Aclamado pela crítica com entusiasmo, o livro foi
lido na época por grande parte do Rio de Janeiro e com isso recebeu o conhecido prêmio da
Fundação Graça Aranha.
Período histórico
Tendo como fundo os engenhos do interior paraibano, o livro retrata de forma genial o cenário
em que a escravidão já terminara, mas o respeito, a servidão e o cuidado entre senhor do
engenho e escravos ainda existia. As relações de afetividade entre os meninos, a sexualidade
das negras, as secas e as enchentes são retratadas com a pureza e verossimilhança de um
menino.
Análise
Como cenário histórico, é presente no livro o pós-escravidão, mas há a continuidade dos laços
de trabalho, confiança e respeito. Em troca de comida, casa e proteção, os escravos
trabalhavam nos engenhos e nas casas grandes. Com isso, as negras contadoras de estórias, as
crianças mulatas, as negras sedutoras, tudo faz parte do cotidiano do engenho e é retratado
pelo menino. A relação entre negros e brancos é vista sob uma óptica positiva, de ganhos para
ambos os lados. O avô de Carlinhos, sendo um homem justo e protetor, tem a confiança dos
negros, chegando a exercer o papel da justiça, onde muitas vezes castiga àquele que age fora
da lei social. Um negro chega a ir para o tronco, mesmo não sendo mais escravo segundo a lei.
Porém, fazendo uma conexão com "O Ateneu", ele não se vê como Sérgio, que era uma criança
ingênua. Carlos se vê como menino que já descobriu o que, segundo sua ideia, é ser homem;
mau, libertino e incontrolável. Ao ir para o internato, deseja fazer a vontade de sua mãe e seu
avô.
Personagens
Carlos: personagem principal, muda-se para o engenho após ficar órfão. Asmático, é sempre
cercado de muitos cuidados de sua tia; com isso, inveja a liberdade dos outros meninos
saudáveis. Não é religioso e, após iniciar a vida sexual aos 12 anos, torna-se um menino
libertino. Segundo ele, feito para a maldade.
D. Clarice: mãe de Carlos, assassinada por seu marido quando Carlos tinha quatro anos. Era
meiga, calma e muito amorosa.
Pai de Carlos: não é declarado seu nome no livro. Enquanto Carlos morava com ele, dava muita
atenção ao filho. Era apaixonado por sua esposa, Clarice. Após o assassinato, ficou internado
num hospício.
José Paulino: avô materno de Carlinhos. Era um homem justo, de caráter, respeitado, mas
severo. Era muito admirado por Carlinhos. Era o dono do engenho.
Tia Maria: irmã mais nova de sua mãe, cuidou de Carlinhos enquanto morava no engenho. Era
muito carinhosa com ele e tentava substituir a falta que sua irmã fazia ao sobrinho.
Tia Sinhazinha: cunhada de José Paulino, já de idade, cuidava da casa e era vista como uma
pessoa má. Todos tinham medo dela, principalmente os criados. Após o casamento de tia
Maria, ela cuida de Carlinhos e acaba se aproximando dele.
Tio Juca: filho de José Paulino, vai buscar seu sobrinho na cidade para ir para o engenho. Juca
se envolve com as mulatas do engenho e nunca é castigado. Faz o que quer, sem sofrer
punições. Estas que, por vezes, acaba caindo sobre outras pessoas, principalmente sobre os
negros.
Totonha: senhora que fazia visitas aos engenhos e contava muitas histórias para as crianças, o
que Carlinhos adorava.
Maria Clara: prima mais velha que Carlinhos, viera da cidade passar um tempo no engenho.
Carlinhos se apaixona por ela aos oito anos e quando ela parte, ele sofre.
JOSÉ LINS DO REGO NUMA ANÁLISE DE “MENINO DE ENGENHO” 1
INTRODUÇÃO
Publicada em 1932, esse livro de estreia tem como narrador-protagonista Carlinhos, que conta
a infância no Engenho Santa Rosa, propriedade do avô materno, o Coronel José Paulino, onde
lá conhece um mundo totalmente novo.
CAPÍTULO 1
CONTEXTO HISTÓRICO
José Lins do Rego (1901-1957) faz parte da segunda geração modernista brasileira (1930-1945),
destacando-se com sua prosa regionalista e o ciclo da cana-de-açúcar.
1
Marcela é graduada em Letras pela Universidade Estadual da Paraíba (UEPB) e graduanda em
Pedagogia. Acesso em http://escritosdemarcelita.blogspot.com/2011/07/jose-lins-do-rego-numa-
analise-de.html .
Em 1942, numa espécie de balanço da Revolução Modernista de 1922, Mário de Andrade
ressalta três conquistas decorrentes deste movimento: 1°) o direito permanente à pesquisa
estética; 2°) a atualização da inteligência artística brasileira e 3°) a estabilização de uma
consciência criadora nacional. Mas como ponto negativo ressalta a distância entre o fazer
literário e as multidões, a realidade político-social do Brasil. Isto porque o primeiro
Modernismo estava comprometido fundamentalmente com a implantação de uma nova
linguagem e de uma postura na literatura brasileira contra a rotina de imitação dos modelos
europeus e do academicismo que imperava no final do século XIX.
Do ponto de vista histórico e político, o ano de 1930 inaugura um novo período no Brasil. Com
o desgaste da política do café-com-leite, que caracterizou a Primeira República, os conflitos
gerados pelas insurreições militares (Tenentismo e Coluna Prestes), a crise política das
oligarquias e a “quebra” da Bolsa de Nova Iorque (1929), entre outros fatores, deflagram a
Revolução de 30 e, com ela, abre-se um espaço de mudanças.
É o início da Era Vargas, marcada pela preocupação em promover a conciliação entre os setores
agrários e os urbanos e em diversificar o capital, até então concentrado no café.
Com relação à prosa da segunda geração modernista, a qual estamos trabalhando, surge o
Neorrealismo, o tipo de Realismo em que o caráter cientificista e determinista do Naturalismo
do século XIX é substituído por um enfoque político, de problemas regionais como a condição e
os costumes do trabalhador rural, a seca, a miséria, o coronelismo, a decadência da oligarquia,
caracterizando a prosa regionalista, a tendência que alcançou maior repercussão e importância
na época, assumindo uma visão crítica das relações sociais e adquirindo contexto universalista.
Esse Neorrealismo dá nova dimensão tanto ao estilo realista quanto ao romance regionalista
brasileiro. Segundo Bosi (2010, p.389):
“ ... sendo o realismo absoluto antes um modelo ingênuo um limite
Encontramos bons exemplos de produção neorrealista brasileira nas obras de José Américo de
Almeida (A Bagaceira, 1928), Rachel de Queirós (O Quinze, 1930), Jorge Amado (O País do
Carnaval, 1931; Cacau, 1933; Suor, 1934; Jubiabá, 1935 e Capitães da Areia, 1937) entre
outros. Os principais representantes do período, porém, são José Lins do Rego e Graciliano
Ramos.
Trataremos agora, José Lins do Rego, em uma análise de sua obra “Menino de Engenho”, a
primeira do ciclo da cana-de-açúcar.
CAPÍTULO 2
ANÁLISE DA OBRA
José Lins do Rego Cavalcanti nasceu no Engenho Corredor, município de Pilar (Paraíba), a 3 de
Julho de 1901. Passou a infância no engenho do avô materno. Fez os estudos secundários em
Itabaiana e na Paraíba (atual João Pessoa) e Direito em Recife, onde a amizade com Gilberto
Freire, José Américo de Almeida e Olívio Montenegro desvia-lhe da política para a literatura.
Em 1926, decide deixar a promotoria em Minas Gerais e vai para Maceió (Alagoas), convivendo
com Graciliano Ramos, Jorge de Lima e Rachel de Queirós. Em 1935 vai para o Rio de Janeiro
onde participa ativamente da vida literária. Ocupou a cadeira 25 da Academia Brasileira de
Letras, de 1955 a 1957, ano de sua morte.
Suas obras foram vertidas para o inglês, italiano, francês, alemão e espanhol.
Suas obras:
· Obra de ficção: Menino de Engenho(1932), Doidinho(1933), Bangüe(1934), O Moleque
Ricardo(1935), Usina(1936), Pureza(1937), Pedra Bonita(1938), Riacho Doce(1939), Água
Mãe(1941), FogoMorto(1943), Eurídice(1947), Cangaceiros(1953).
Portanto, podemos dizer que o tema da obra condiz com a temática desenvolvida.
Menino de Engenho é uma narrativa regional, dividida em 40 capítulos, onde cada um trata
basicamente de um fato acontecido no engenho, como as visitas a outros engenhos, as
travessuras, etc., na infância do menino Carlinhos, ou mesmo na apresentação de personagens,
como o cap.7: “A minha tia Sinhazinha”, cap.8: “Magrinha e Branca”, cap.21: ”A velha Totonha”.
2.3.1. Enredo
A história conta a infância de Carlinhos, um menino que fica órfão aos quatro anos de idade,
depois do trágico assassinato da mãe pelo pai. Carlinhos é levado pelo tio Juca ao engenho do
avô materno Jose Paulino (O Santa Rosa), enquanto o pai é preso e levado para um hospício.
No engenho, Carlinhos vai conhecer a tia Maria, moça bondosa e generosa, que será para ele
sua segunda mãe. Em contrapartida conhece a tia Sinhazinha, uma mulher velha de uns
setenta anos, cunhada do avô que implicava com tudo e todos.
Longe dos olhos da tia Maria e na companhia dos primos conhece um mundo de aventuras,
desigualdades sociais vividas pelos empregados do engenho, promiscuidade e desrespeito
sexual. E foi nesse ambiente de falta de cuidados e atenção, que Carlinhos começa muito cedo
sua vida amorosa, apaixonando-se pela primeira professora (Judite) e pela prima Maria Clara.
Em meio ao desenvolvimento da infância de Carlinhos, alguns acontecimentos são marcantes,
como a grande enchente que destruiu plantações, casas, pessoas e animais, a morte da prima
Lili, o cangaceiro Antônio Silvino, o episódio do lobisomem, a morte do negro José Gonçalo e a
de um trabalhador, retratam a turbulenta vida no engenho e são importantes para a
construção da identidade do menino.
Com o casamento da tia Maria, o menino passou a ser cuidado pela tia Sinhazinha, bem mais
séria e distante. A repressão o levou a um estado maior de libertinagem, principalmente
sexual. Quando contrai uma doença venérea aos 12 anos com Zefa Cajá, a família decide enviá-
lo a um colégio interno, o lugar o qual o tornaria um verdadeiro homem.
2.3.2. Personagens
Como a narrativa trata de toda a infância do menino, apresentam-se muitas personagens, mas
destacaremos as principais:
Carlinhos compara o avô até mesmo com um santo: “Ele tinha o orgulho da casta, a única
vaidade daquele santo que plantava cana.” (pg.79)
Tia Maria — Irmã da mãe de Carlinhos (Clarisse) torna-se para este a sua segunda mãe.
Querida e estimada por todos pela sua bondade e simpatia, era chamada carinhosamente de
Maria Menina.
Velha Totonha — Uma figura admirável e fabulosa representa bem o folclore ambulante dos
contadores de histórias.
Tio Juca — Não representa um papel de tanto destaque no romance, mas por ser filho do
senhor de engenho, de fazer e desfazer (sobretudo sexo com as mulatas), e não era punido, e
representa uma figura de importância para Carlinhos, contribuindo relativamente na sua
formação.
Lula de Holanda — Embora ocupe pouco espaço na narrativa, o Coronel Lula é personagem
relevante, pois representa o senhor de engenho decadente que teima em manter a fachada
aristocrática. “E o açúcar subia e descia – e o Santa Fé sempre para trás, caminhando devagar
para a morte, como um doente que não tivesse dinheiro para a farmácia.”(pg.69)
2.3.3. Tempo
O tempo se dá cronologicamente. Uma das evidências disso é que Carlinhos tem quatro anos
de idade quando a narrativa começa, e doze quando termina e sem retornos ou flashbacks ao
passado.
“Eu tinha uns quatro anos no dia em que minha mãe morreu.” (pg.05)
“Tinha uns 12 anos quando conheci uma mulher como homem.” (pg.98)
2.3.4. Espaço
2.3.5. Narrador
“Eu tinha sido criado num primeiro andar. Todo o meu conhecimento do campo fizera nuns
passeios de bonde a Dois Irmãos.” (pg.12)
“A minha primeira paixão tinha sido a bela Judite, que me ensinara as letras no seu colo.”
(pg.80)
2.3.6. Discurso
Predomina o discurso indireto-livre, onde o narrador reproduz não só as falas dos personagens,
como também os pensamentos.
“— Quando o velho fechar os olhos, quem vai sofrer é a pobreza do Santa Rosa.
E esta ideia da morte do velho José Paulino dominava as minhas cogitações. Quem tomaria
conta do Santa Rosa, quem pagaria os trabalhadores?”(pg.64)
2.3.7. Linguagem
Carne-de-ceará — charque.
Gálico — doença venérea (a que pode deixar sífilis), blenorragia; estar engalicado.
Macaxeira — aipim.
Ouças — ouvidos.
Papeira — bócio.
Relho — chicote.
Taboca — bambu.
CAPÍTULO 3
A narrativa é muito rica nos elementos regionais, em toda a descrição do engenho, na vida de
seus moradores. “Da calçada da casa-grande viam-se no meio do canavial aquelas cabeças de
chapéu de palha subindo e descendo, no ritmo do manejo da enxada: uns oitenta homens
comandados pelo feitor José Felismino, de cacete na mão, reparando o serviço deles. Pegava
com o sol das seis, até a boca da noite. (...). paravam às dez horas, para o almoço de farinha
com bacalhau. Comiam na marmita de flandres, lambendo os beiços como se estivessem em
banquetes. E deitavam-se por debaixo dos pés de juá, esticando o corpo no repouso dos 15
minutos.” (pgs.74-75), e nessa descrição da vida no engenho destacamos a pobreza, uma
grande característica da realidade da época, observando a descrição de Carlinhos com relação
às crianças: ”E eram mesmo abençoados por Deus, porque tinham o sol, a lua, o rio, a chuva e
as estrelas para brinquedos que não se quebravam.”(pg.56), e mais ainda posto numa
comparação feita dos cães: “ Cachorrinhos com barriga partindo, de magros, acompanhavam
seus donos para a servidão. Rondavam pelos cajueiros, perseguindo os preás. Porém não
pisavam no terreiro da casa-grande. Os cachorros gordos do engenho não davam trégua aos
seus infelizes irmãos da pobreza.” (pg.75). Isso mostra a desigualdade social da época existente
até mesmo entre os animais.
Carlinhos acrescenta ainda que nunca tivera pena daquele povo que segundo ele: “Eles
nasceram assim porque Deus quisera, e porque Deus quisera nós éramos brancos e
mandávamos neles. Mandávamos também nos bois, nos burros, nos matos.” (pg.76).
Tratando-se por “brancos”, encontramos o tema da escravidão, o qual é muito intenso na obra,
na colocação da palavra “negro”, “negra”, exemplo: a negra Maria Gorda, o negro Salvador,
“um pretinho”, negro José Gonçalo, etc.. O narrador mostra que: “A senzala do Santa Rosa não
desaparecera com a abolição. Ela continuava pegada à casa grande, com as suas negras
parindo, as boas amas-de-leite e os bons cabras do eito.”(pg.52), e além da senzala a presença
também do tronco que raramente era usado, mas estava lá. Em um episódio, o velho José
Paulino apresenta memórias do tempo da escravidão, relatando até a passagem do imperador
Dom Pedro no Pilar.
Um aspecto importante a ressaltar dessa pobreza e servidão existentes no Santa Rosa é que
eles não reclamavam de nada, eram pessoas relativamente tranquilas, e isso se deve ao fato do
Coronel José Paulino ser um homem bom e justo, dando a assistência necessária ao povo.
Elementos de religiosidade também são bem marcantes na obra. Embora o quarto de santos
do engenho esteja sempre fechado, só abrir nos tempos de festa e o Coronel, segundo o
narrador não era um devoto, não costumava ir às missas, não se confessava, mas sempre vinha
em suas falas um “se Deus quiser”, “tenho fé em Nossa Senhora”, e ajudava os padres das duas
freguesias nas suas festas e necessidades. Tanto que na narrativa a palavra “Deus” estar
sempre presente.
E Carlinhos, embora a tia Maria tenha lhe ensinado as orações também se considerava
um sem religião: “... E nada de Deus por dentro de mim. Era indiferente aos castigos do céu. Os
lobisomens faziam-me mais medo. A minha religião não conhecia os pecados e as penitências.
O pavor do inferno, eu confundia com os castigos dos contos de Trancoso. (...). Ia para a cama
sem um pelo-sinal e acordava sem uma ave-maria. (...). Agora o colégio iria consertar o
desmantelo desta alma descida demais para a terra.” (pg.102). E isto porque como ele mesmo
diz sua alma desceu demais para a terra, para os prazeres da carne, especificamente sexuais:
“O sexo crescia em mim mais depressa do que as pernas e os braços.” (pg.87). Sobre esta
questão, podemos dizer que esse desenvolvimento precoce do menino teve influências como
as: dos primos e moleques nas travessuras, o Zé Guedes e suas conversas, das revistas do tio
Juca, as negras do engenho e ambientes como o curral: a aula pública do amor.
Falando em cultura popular, o folclore se faz presente na figura da velha Totonha, que saia de
engenho a engenho a contar histórias como uma edição viva das Mil e uma noites.
Já o cangaço se apresenta na figura de Antônio Silvino, temido e respeitado por todos, mas na
visita que fez ao Coronel José Paulino o tratou com respeito e simpatia.
Todos esses traços regionais são de excepcional importância para a construção da narrativa,
dando a ela um enriquecimento maior quanto à realidade.
Em resumo, o romance pode ser entendido como um canto de saudosismo aos engenhos,
caracterizado pelos métodos de produção de açúcar de cana de forma artesanal. E que depois
os engenhos foram substituídos pelas usinas, onde o sistema industrial predomina, a obra
apresenta, portanto, uma reunião de flashes do passado do autor.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A obra Menino de Engenho de José Lins do rego é de suma importância para a história do
Brasil, especificamente do Nordeste, essa região de grande destaque no cenário nacional,
sobretudo na época que a obra retrata, do início da industrialização, na substituição dos
engenhos açucareiros pelas usinas. A obra marca também a entrada do autor na vida literária,
e constitui um de seus marcos como autor regionalista brasileiro.
Com sua descrição minuciosa dos fatos, ele dá a obra, uma constituição mais real e criticista,
demostrando toda a realidade da época, de como era a vida dos trabalhadores e moradores de
engenho, nos fazendo transcender para aquele ambiente e assim nos instigando ao
desenvolvimento de uma crítica social, caracterizando o chamado Neorrealismo. E mais ainda
com o seu clima de saudosismo, com as lembranças que o “verdadeiro” menino de engenho
traz a tona daquela vida para ele boa que nos encanta mais ainda.
O autor soube, portanto, organizar da melhor maneira possível todos os flashes de lembranças
da vida na infância e nos transpor conhecimentos enriquecedores quanto ao tema.
REFERÊNCIAS
BOSI, Alfredo. História Concisa da Literatura Brasileira. 46ª ed. São Paulo, Cultrix: 2010.
MOISÉS, Massaud. A Literatura Brasileira Através dos Textos. 26ª ed. São Paulo, Cultrix: 2007.
REGO, José Lins do. Menino de Engenho. Organização de Maria Amélia Mello. Rio de Janeiro,
José Olympio: 2003
A linguagem romanesca, antes retórica e enfática, própria da tradição da escrita culta, da frase literária mais convencional,
torna-se coloquial, incorporada de neologismos e regionalismos, mais capaz de traduzir o povo e o ambiente nordestinos. O
carácter revolucionário reside, precisamente, na aproximação da linguagem literária à fala brasileira, mantendo-se “dentro de
uma norma culta, pan-brasileira, de fácil entendimento”, usando um vocabulário típico que assegura verosimilhança (mas
que lhe confere paralelamente um grau de universalidade), aumentando, também, o interesse do leitor pela obra literária,
uma das suas metas prioritárias. Deste modo, os romancistas de 30 criam uma linguagem adequada à valorização dos temas
que se propõem tratar.