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*CTC02-001462* .
Belo Hor1zonte
Série de Publicações Técnicas
Os trabalhos que compõem a Série poderão ser obtidos através do:

Gerência de Documentação e Informação


Coordenação Editorial da Série
Fundação Centro Tecnológico de Minas Gerais I CETEC
Caixa Postal, 2306/ Fone: (031) 461-7933/ ramal 350
30000- Belo Horizonte - MG

Para reprodução, é necessária a autorização formal do CETEC,


~ Fundação Centro Tecnológico de Minas Gerais/CETEC
W Série de PublicaçõesTécnicas/SPT-007 jiSSN-0100-95401

Manual de construcão
e operação de ·
fornos áe carbonizacão

Este volume integra o conjunto de trabalhos apresentados durante o evento
"Produção e Utilização de Carvão Vegetal/Curso e exposição de fornos de
carbonização", realizados em Belo Horizonte-MG, nos períodos de 18 a 22
e 25 a 29 de outubro de 1982, promovido e coordenado pela Fundação
Centro Tecnológico de Minas Gerais/CETEC. .
Patrocínio: FINEP, CNPq, STI/MIC, SETEC/MME, PETROBRAS
Apoio: SUBIN/SEPLAN e ABRACAVE

Belo Horizonte
1982
Equipe técnica:
Aluísio Marri
Joffre Batista de Oliveira
Marcelo Guimarães Mendes
Paulo Aguinélio Gomes
Ilustrações:
Moisés Flaviano Pereira
Agradecimentos:
Sr. Ruy Evangelista da Exaltação - A Rural Mineira
Dr. João JÚlio dos Santos - Cia. Setelagoana de Siderurgia/COSSISA

662.712
F98lm FUNDAÇÃO CENTRO TECNOLÔGICO DE MINAS
GERAIS/CETEC. Manual de construção
e operação de fornos de
carbonizaçao. Belo Horizonte, 1982.
lv. (Serie de Publicações Técnicas,
7.)

CDU: 662.712
Apresentação

As condições brasileiras favoráveis ao uso da biomassa como


fonte de energia e a escassez do petróleo motivaram, nos
Últimos anos, uma revisão das fontes tradicionais de energia,
particularmente aquelas derivadas a partir da madeira
'
As tecnologias de conversão vêm sofrendo constantes·
melhoramentos e adaptações às nossas condições, tendo em vista
os rendimentos e a qualidade do produto face ao seu uso final.

As perspectivas de utilização do Carvão Vegetal como


energético abriram novas linhas de pesquisas que integram seu
uso final aos métodos de sua obtenção.

Apesar de primitivos, os fornos de alvenaria são, ainda, uma


importante opção no carvoejamento. Sobre eles foram
introduzidos uma série de melhoramentos resultando daí
técnicas bastante diferenciadas, propriciando melhores
rendimentos e melhor controle da qualidade.

o manual que ora entregamos ao pÚblico mostra como sao


construídos e operados os quatro principais fornos de
carbonização. São eles de construção muito simples a partir de
tijolos e massa fraca e não exigem mão-de-obra especializada.

Para a elaboração deste manual foram construídos vários


exemplares de cada modelo que ficarão em exposição permanente,
no CETEC, franqueada às pessoas interessadas.

Ao editarmos este Manual, o fazemos com a intenção de


colaborar para que os conhecimentos, até hoje partilhados pelo
CETEC e por um número ainda muito reduzido de empresas, sejam
disseminados entre o maior número possível de produtores de
carvão vegetal.

Presidente da
Fundação Centro Tecnológico de Minas Gerais/CETEC
Sumário

1. Introdução 9
2. Forno Rabo Quente 11
3. Forno de Encosta 23
4. Forno de Superfície 35
S. Forno de Superfície com Câmara Externa 49
1. Introdução
A carbonizaxão consiste na _ Externa. A principal razão p~ra
transformaçao da madeira em carvao esta opção é que todo o carvao
pela ação do calor e em presença consumido no Estado é produzido
de quantidades controladas de nesses fornos.
oxigênio.
O Forno Rabo Quente pela sua
Sob a ação do calor a água contida simplicidade construtiva e baixo
na madeira se desprende em·forma custo é dos mais difundidos, junto
de vapor d'água o mesmo ocorrendo aos pequenos produtores, ao lado
com líquidos orgânicos e gases do Forno de Encosta cuja utilização
não-condensáveis, ficando como depende, em parte, de condições
resíduo 6 carvão. topográficas favoráveis.
A carbonização da madeira é feita O Forno de Superfície, como
nos fornos de carvoejamento, isto definido neste Manual, é mais
é, fornos apropriados, construidos utilizado pelos grandes produtores
em alvenaria, no interior dos de carvão vegetal e o Forno de
quais é empilhada a madeira a ser Superfície com Câmara Externa,
carbonizada. além de constituir um marco na
evolução recente dos fornos de
são vários os tipos de fornos carvoejamento, vem sendo cada vez
existentes, sendo os mais comuns mais utilizado pelos grandes
os fornos de superfície produtores de carvão.
convencionais e os de superfície
com câmara de combustão. Cada um desses fornos pode ser
mais recomendado para uma situação
No caso dos fornos convencionais especifica, não sendo possível uma
o calor necessário à transformação indicação geral para a escolha
da lenha em carvão é obtido pela do melhor forno, a não ser que se
queima de parte da lenha colocada analise as condições reais do
no forno, enquanto que nos fornos empreendimento.
com câmara o calor é produzido
pela queima, na câmara, de lenha Assim, o tipo de forno a ser
ou resíduos florestais. construido, seu dimensionamento,
bem como o tamanho da bateria
Como o processo é descontínuo, (número de fornos), dependem de
isto é, os fornos são resfriados fatores específicos gue dizem
para que o carvão seja descar~, respeito ao volume de madeira a
a cada carbonização o calor gerado ser carbonizada, ao tempo a ser
pela queima de parte da carga é dispendido para carbonizá-la, ao
utilizado para aquecer o forno, tipo de mão-de-obra disponível,
secar a lenha e processar a etc.
carbonização propriamente dita.
As dimensões dos fornos descritos
Dos diversos tipos de fornos neste Manual são as mais comuns
existentes optou-se por descrever encontradas para cada um deles.
neste Manual, quatro deles: o Pelas razões expostas o Manual não
Forno Rabo Quente, o Forno de trata da construção de baterias
Encosta, o Forno de Superfície e o de fornos, mas restringe-se à
Forno de SuperfÍcie com câmara construção de apenas uma unidade.
9
2. Forno Rabo Quente
S o mais barato, de construção O forno Rabo Quente tem o aspecto
mais simples e, possivelmente, o mostrado na figura 1, podendo,
mais difundido dos fornos de entretanto, ser encontrados fornos
carbonização. com diferenças na forma e em

Figura 1. Aspecto geral de um Forno Rabo Quente

11
detalhes construtivos. Sua muito trabalho de preparação de
caracteristica peculiar é a terreno. Caso contrário, a
ausência de chaminªs. preparação poderá ser mais cara do
que o pr8prio forno.
Nas figuras 2a, 2b e 2c, são
mostrados os desenhos que Como, em geral, não se constrói
orientarão a construção do forno. apenas um forno mas um conjunto de
fornos ou baterias, na escolha do
local deve-se levar em conta o
2.1. Escolha e preparação do número total de fornos a ser
terreno construido, além da área para
estocagem de lenha e carvão.
O forno Rabo Quente, pela sua o local deve:
simplicidade construtiva e baixo ser plano;
custo, é recomendado para locais
planos, que não necessitem de ter boas condições para o

Figura 2a. Medidas básicas para construção de um Forno com 3,0 m de diâmetro

Obs.: Medidas em centimetros

12
Figura 2b. Corte de um Forno com as medidas básicas para sua construção

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Obs.: Medidas em centimetros

escoamento de água de chuva;


2.2. Marcação do terreno
ser de fácil acesso ao tipo de
transporte a ser utilizado para
lenha e carvão; Depois de nivelado o local onde
ter água disponível, será construido o forno deve ser
feita a marcação de sua base.
Assim, a Única preparação
necessária ê o nivelamento do Para marcar a base do forno
local onde serão construidos os crava-se, no centro do local onde
fornos, o que poderá ser feito será construido, uma estaca de
com ferramentas manuais (pás, madeira roliça amarrando-se a ela
enxadas, etc.), sem maiores um arame liso. o arame deve ficar
dificuldades. frouxo para poder girar em volta
da estaca. Estica-se o arame e,
Cuidado importante é a construção a 1,70m da estaca, amarra-se um
de canaletas para o escoamento da prego grande. Com o arame
água de chuva. Essas canaletas esticado caminha-se em volta da
impedem que os fornos sejam estaca marcando o chão com o
inundados e recomenda-se a sua prego. Em seguida repete-se a·
construção logo no inicio dos operação com o prego amarrado a
trabalhos para evitar problemas l,SOm da estaca. A base do forno
durante a fase de construção do terá, assim, 20cm de largura
forno. (figura 3) .
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Figura 2c. Vista superior do Forno

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2.3. Materiais de construção em que se estiver construindo o


forno. A terra que normalmente
O Forno Rabo Quente é construido se encontra na superfície do
utilizando-se apenas tijolos terreno -(terra preta ou vegetal)
de barro "cozido" e argamassa de nao serve para fazer a argamassa,
barro e areia. devendo-se cavar até ultrapassar
esta faixa de terreno.
A argamassa utilizada na construção
do forno é uma mistura de terra, A mistura de areia tem o objetivo
areia e água em quantidades que de reduzir as trincas que aparecem
produzam um barro fácil de no forno durante as carbonizações.
trabalhar. A quantidade de areia a ser
misturada vai depender das
Para fazer a argamassa usa-se a condições da terra disponível e da
terra que for disponível no lugar função que a argamassa vai

14

Figura 3. Marcação do terreno e escavação da base do Forno

desempenhar, aspectos que serao Continuando a base constrói-se


abordados mais adiante. a parede ou camisa de reforço,
aprumada, com altura equivalente
a 7 fiadas e com espessura
2.4. A construção do forno igual à da base, isto é, com fiadas
de 1 tijolo. Para a construção
Acompanhando a marcação da base, da parede utiliza-se um cintel
corta-se no chão uma valeta com ou gabarito que, girando sobre uma
cerca de 20cm de profundidade, coluna provisória feita no centro
cujo fundo deverá ser socado e do forno, será levantado à medida
nivelado. A base do forno é que a parede for crescendo. A
construida assentando-se dentro da figura 5 dá uma idéia deste
valeta fiadas de 1 tijolo, processo.
rejuntadas com argamassa, até que
esteja, pelo menos, 1 fiada mais Um tipo de cintel ou gabarito que
alta do que o terreno em volta pode ser utilizado na construção
(figura 4). O piso do forno deve do forno Rabo Quente é mostrado
ser socado e nivelado com a base. na figura 6. Ele ê alongável e na
15
Figura 4. Aspecto da construção da base do Forno

construção da camisa de reforço é e altura de 1,60m.


usado em seu comprimento mínimo.
A copa, que é a parte curva do
A argamassa a ser utilizada nesta forno, é construída com fiadas de
fase da construção pode ser feita meio tijolo (cerca de lOcm de
com terra e areia em proporções espessura) • Na construção da copa
iguais, caso o teor natural de o cintel é alongado lcm a cada
areia na terra disponível seja fiada assentada, até a 40~. A
cerca de 25%. partir deste ponto acentua-se a
inclinação da copa tornando-a
O forno Rabo Quente não possui mais "achatada", fechando na parte
chaminé; portanto, a entrada de superior com a forma característica
ar para a carbonização da lenha e do forno Rabo Quente. A figura 7
a saída da fumaça se faz através dá uma idéia do processo. Depois
de orifícios de 10 por 5 de pronto o forno terá uma altura
centímetros(equivalente ã seção interna de cerca de 2,30m.
transversal do tijolo em uso)
chamados "tatus", "filas" e A argamassa a ser usada no
"baianas n. assentamento dos tijolos da copa
deve conter menos areia do que
Os "tatus" se localizam na primeira aquela utilizada na construção
fiada da parede, isto é, estão da parede. Uma argamassa com
nivelados com o piso do forno e menos areia dará mais liga, o que
são simplesmente uma falha de um facilita o assentamento dos
tijolo nesta fiada. Os "tatus" são tijolos. Se a terra disponível no
em número de 9 e estão distribuÍdos local contiver um teor natural de
conforme mostram as figuras 2a, 2b, areia cerca de 25%, a argamassa
2c e 5. deve ser feita com 25% de areia e
75% de terra (3 partes de terra
As figuras 5 e 7 mostram, ainda, para 1 de areia).
a localização e a forma da porta
do forno que tem 60cm de largura Em relação às quantidades de terra

16
Figura 5. Construção da camisa de reforço do Forno com utilização do cintel

e areia que compõem a argamassa de ar, será de manutenção mais


nas diversas fases de construção do fácil e terá maior durabilidade.
forno, deve ser observado que as
recomendações acima refletem uma Na copa estão localizadas as
situação ideal, isto é, "filas" e as hbaianas" que, como
disponibilidade de areia e os "tatus", têm a função de
conhecimento do teor de areia na ventilar o forno, isto ê, permitir
terra. Caso não se disponha a entrada de ar e a saída das
desses dados o forno poderá ser fumaças.
construído com uma argamassa feita
coro terra e água. As "filas", em número de 10, são
orifícios de 10 x 5cm localizados
No assentamento dos tijolos na 19~ fiada a partir do piso do
deve~se ter o cuidado de utilizar f.orno e estão intercaladas coro os
a menor quantidade possível de "tatus", conforme mostram as
argamassa, o suficiente apenas figuras 1 e 2b.
para proporcionar um bom
ajustamento dos tijolos. o forno As "baianas", em número de 7,
construído coro pouca argamassa estão localizadas na 40~ fiada a
terá menor quantidade de entradas partir do piso do forno e estão

17
Figura 6. Detalhe de um tipo de cintel utilizado na construção do Forno

distribuídas conforme mostram as mais fácil a demolição da porta


figuras l e 2b. após a carbonização havendo,
inclusive, melhor aproveitamento
Terminado o assentamento dos dos tijolos.
tijolos o forno deve ser revestido.
A argamassa para o revestimento
deve ser uma mistura de 25% de 2.6. Cura do forno
terra e 75% de areia (3 partes de •
areia para l de terra), caso haja A cura do forno consiste em sua
disponibilidade de areia e o secagem lenta, Isto pode ser feito
teor natural de areia na terra queimando-se pequenas quantidades
seja cerca de 25%. Caso contrário, de lenha no interior do forno por
como já foi assinalado, utiliza-se períodos prolongados, ou
apenas terra e água. A quantidade conduzindo-se as primeiras
de água pode ser maior do que a da carbonizações mais lentamente. o
argamassa de assentamento. A importante é que não haja aumentos
camada de revestimento deve ser a bruscos de temperatura antes que o
mais fina possível, isto é, forno esteja completamente seco.
suficiente apenas para cobrir as Este procedimento diminuirá as
imperfeições dos tijolos e as chances de aparecimento de trincas
falhas de rejuntamento. Desta no forno, aumentando sua
forma o revestimento estará menos durabilidade.
sujeito a trincas, contribuindo
para a maior durabilidade do forno.
2.7. Manutenção
2.5. Fechamento da porta O forno Rabo Quente não requer
manutenção especial, porém, sua
Para o fechamento da porta, o que vida útil pode ser aumentada se
ocorre antes de cada carbonização, forem observados alguns cuidados.
adota-se o mesmo procedimento Desses, os mais importantes são a
adotado na construção, isto é, a substituição de tijolos quebrados
porta é fechada com fiadas de e o barrelamento do forno.
meio tijolo e revestida com o
mesmo tipo de argamassa. g comum A substituiçãq imediata de tijolos
o fechamento da porta com os danificados evitará o aumento da
tijolos apenas justapostos, isto área a ser refeita. Os locais
é, sem argamassa de assentamento, críticos são os "tatus", as
e revestidos. Desta forma, fica "filas", as "baianas" e,

18
Figura 7. - Construção da copa do Forno com utilização do cintel

principalmente, a porta. A barrela pode ser aplicada com


uma brocha, um caneco ou mesmo
O barrelamento periódico do forno um pequeno feixe de sapé. Caso
é outro cuidado importante. A seja necessária sua aplicação c.om
barrela é uma mistura de terra as mãos (fechamento de uma baiana
(de preferência argilosa), com ou fila), a barrela deverá ser um
água, com a-consistência de um pouco mais consistente, isto é,
mingau. ser feita com menor quantidade
de água.
Sua aplicação sobre o revestimento
do forno tem a finalidade de Com o tempo e após vários
tampar as trincas que normalmente barrelamentos a camada de
aparecem durante a carbonização, revestimento pode tornar-se muito
impedindo a entrada de ar através grossa, sendo aconselhável que
delas. seja retirada e refeita.
19
2.8. Materiais e ferramentas O carregamento do forno com lenha
molhada ou verde, isto é, que
Para construir um forno Rabo acabou de ser cortada, torna a
Quente com ás mesmas medidas do carbonização mais demorada e
forno aqui descrito, são necessários prejudica·o rendimento do forno,
cerca de: ou seja, COII\ lenha molhada
obtém-se menos carvão. Como já foi
3.000 tijolos (20 x lO x Sem), visto, é a queima de parte da
lenha carregada no forno que
l,Om3 de terra, fornece o c.alor necessário para
l,Sm3 de areia. secar a lenha, aquecer o forno. e
transformar a lenha em carvão.
A construção deste forno não Quanto maior a. umidade da lenha,
exige ferramentas especiais além mais lenha será queimada no
daquelas comumente utilizadas para interior do forno e mais baixo
trabalhar a terra e misturar a será o rendimento.
argamassa, ou seja: pás, enxada,
colher de pedreiro, etc, Estudos realizados com lenha de
eucalipto ,indicam que uma maior
O piso do forno e a canaleta onde quantidade de carvão é obtida
será assentada sua base, podem quando a lenha é deixada secar por
ser socados com uma tora de um per!odo de 3 a 4 meses.
madeira, enquanto o gabarito
usado pode ser feito no local com o comprimento e o diâmetro das
qualquer material. toras de lenha também influem no
processo .de carbonização. Lenha
grossa demais (diâmetro acima de
2.9. Mão-de-obra 25 centimetros) ou comprida
demais (com mais de 2 metros de
EstLaa-se que, em condis;ões normais comprimento), atrasa a
de trabalho, a construçao deste carbonização podendo resultar em
tipo de forno consumirá cerca de maior qua..ntidade de tiços (madeira
24 horas de trabalho de um pedreiro .semi-carbonizada), além de ser
e 24 horas de um ajudante. dif!cil de manejar e movimep.ta,r.
CaracterS:sticas da madeira como a
2.1 O. Operação do forno densidade, a quantidade de casca
e outras, também influem na
A operação do forno compreende o carbonização e na qualidade do
seu carregamento, isto é, a carvão.
colocação da lenha em seu interior,
a carbonização e a descarga do o carregamento do. forno é outra
carvão produzido. etapa muito impo.rtante da sua
operação e consiste na arrumação
Conforme já foi visto anteriormente, da lenha no seu interior. Esta
a carbonização é a transformação arrumação .deve ser feita com.
da lenha em carvão. A primeira cuidado, de modo a aproveitar o
preocupação deve ser, portanto, melhor possS:vel o espaço
com a lenha,. matéria-prima do disponivel:
processo e responsável pela maior
parcela do custo do carvão. a lenha mais fina deve ser
colocada no espaço que fica entre
A lenha para carvoejamento deve as toras de lenha mais grossas;
apresentar certas qualidades para • deve-se evitar que uma tora de
que o rendimento do processo de lenha mais curta seja cercada
carbonização e a qualidade do por toras !llai~> compridas,
carvão não sejam prejudicados. formando um buraco dif!cil de
A utilização de lenha seca .é ser preenchido;
fundamental para que se tenha uma à medida que o forno vai sendo
boa carbonização, pois o teor de ocupado pela lenha colocada em
umidade da lenha influi dire~ pé, vai-se fazendo o trançado da
no rendimento do forno. copa, que consiste na co.li:>cação

20
da lenha "deitada", de forma a "filas" deve ser comprovada
preencher o espaço entre a visualmente e por sondagem.
lenha colocada em pé e a copa do
forno. O trançado deve ser feito A presença de brasas em uma
com cuidado para evitar espaços "fila", o que é constatado
vazios, porém, sem tampar as olhando-se através dela, significa
"baianas"- que a frente de carbonização já
atingiu aquele ponto. A inspeção
Depois de carregado o forno faz-se visual não fornece, entretanto,
·.o fechamento da porta, deixando-se informações sobre as condições na
uma abertura em sua parte superior região central do forno, o que
por onde será feito o acendimento. pode ser conseguido com a
utilização de uma sonda.
O acendimento do forno é feito
colocando-se no buraco deixado na A sonda é uma haste de madeira, de
parte superior da porta um material vergalhão ou cano, de comprimento
que pega fogo com facilidade suficiente para atingir o centro
como galhos secos e finos, folhas do forno, quando introduzida por
secas, cascas, etc., sobre o qual uma ''fila" ou 11
tatu n.
joga-se uma pá de brasas ou
ateia-se fogo de outra maneira Se ao introduzir-se a sonda
qualquer. através de uma "fila" não houver
resistência à sua penetração até
No início da combustão a fumaça o centro do forno, significa que a
sai pelo próprio buraco de frente de carbonização já atingiu
acendimento e é de cor esbranquiçada. a região central. Neste caso a
Assim que a fumaça torna-se escura, "fila" deve ser fechada com um
o que ocorrerá alguns minutos pedaço de tijolo assentado com
depois do acendimento, é sinal de argamassa.
que o "fogo pegou", isto ê, o
forno está aceso e pode-se A resistência à penetração da sonda
completar o fechamento da porta. A indica a existência de madeira não
carbonização está, assim, iniciada. carbonizada ou semi-carbonizada
(tiços) • Neste caso, isto é,
Depois de fechado o buraco de quando é notada a presença de
acendimento a fumaça começará a brasas na região próxima a uma
sair pelas "baianas". No início "fila", mas a carbonização ainda
a fumaça é branca ou de uma cor não atingiu a região central do
meio encardida, tornando-se forno, "escora-se" aquela "fila".
azulada com o tempo. Quando a "Escorar uma fila" significa
fumaça torna-se azulada numa reduzir a entrada de ar tapmdo-se
determinada baiana significa que a sua entrada com um pedaço de
carbonização, ou frente de tijolo, sem, contudo, utilizar
carbonização, já atingiu aquele argamassa ou barrela. Com esta
ponto e a baiana deve ser fechada. providência a frente de carbonização
Para isto utiliza-se um pedaço de deve progredir mais lentamente,
tijolo, que é assentado com até que a região central do forno
argamassa. esteja carbonizada quando, então,
fecha-se totalmente a "fila" com
Como a frente de carbonização nao barrela.
atinge todas as baianas ao mesmo
tempo, elas serão fechadas em O mesmo procedimento será repetido
momentos diferentes. quando a frente de carbonização
atingir a região dos "tatus". A
Com o desenvolvimento da fumaça se tornará azulada, a
carbonização a fumaça que sai inspeção visual indicará a
pelas "filas" vai tornando-se presença de brasas próximo ao
azulada, o que indica a aproximação "tatu" e a sondagem determinará o
da frente de carbonização dessa seu "escoramento" ou fechamento.
região. Este processo pode não ser
uniforme, isto é, os "tatus"
A passagem da frente de poderão ser fechados em momentos
carbonização pela região das diferentes.

21
Diversos fatores podem contribuir,
em maior ou menor grau, para o
desenvolvimento não uniforme da
carbonização. Entre outros podem
ser mencionados o carregamento
mal feito do forno, a lenha não
uniforme tanto em termos de
tamanho quanto em termos de
umidade e as condições climáticas
como ventos fortes e chuvas.
Todos esses fatores devem ser
contrabalançados por uma vigilârcia
constante do forno, "escorando-se"
ou fechando-se as "baianas",
"filas" e "tatus" na hora certa.
Depois de fechados todos os
"tatus" o forno deve ser barrelado
para impedir a entrada de ar em seu
interior durante o período de
resfriamento.
A descarga do carvão só deve ser
iniciada depois que o forno
estiver suficientemente frio.
A temperatura ideal para se abrir
o forno é de mais ou menos 60°C,
o que, na prática, é avaliado
encostando-se as costas da mão
na parede do forno e da porta. Não
se deve abrir um forno que não
esteja suficientemente frio, pois
a entrada de ar pode provocar o
incêndio do carvão.
Antes de abrir o forno deveMse
limpar o lugar onde vai ser
colocado o carvão e, por
precaução, dispor de água em
abundância para o caso de um
eventual incêndio.
Deve-se abrir rapidamente a porta
do forno e no caso de se notar
algum ponto de incêndio, o
carvoeiro deve abrir caminho até
aquele ponto, apagando-o com água.
Depois de desenfornado o carvão
limpa-se o forno e inicia-se
outro ciclo com novo carregamento
de lenha. Esta operação deve ser
bem rápida para que o forno não
esfrie totalmente.
Caso haja produção de tiços (lenha
mal carbonizada) em determinada
fornada, eles devem ser separados
do carvão e podem ser carregados
juntamente com a lenha numa
próxima operação.

22
3. Forno de Encosta
A principal caracteristica do Forno circular, apoiando-se a copa sobre
de Encosta é a de aproveitar o a borda do terreno, que funciona
desnlvel natural de terrenos corno se fosse a parede do forno.
acidentados. Para construi-lo
corta-se o barranco com a forma A figura 8 mostra o aspecto do

• Figura 8. Aspecto geral de um Forno de Encosta

23
Forno de Encosta que é descrito difundidos, principalmente pelo
neste manual. seu baixo custo de construção,
para o que contribui, furrlamental.mente,
O Forno de Encosta, juntamente com o fato dele não ter paredes
o forno Rabo Quente, é dos mais (camisa) construídas em alvenaria.

Figura 9. Medidas básicas da marcação do terreno para construção do Forno

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Obs.: Medidas em centimetros

24
O Forno de Encosta descrito neste mais baixa do terreno. Assim, esta
manual tem 4,0m de diâmetro, área deve ser ampla o suficiente
1,20m de altura e altura máxima para a estocagem de lenha , de
interna da copa de 2,36m. Com carvão, e para a movimentação de
essas dimensões o forno tem um veículos de transporte.
volume útil de aproximadamente
23m. O local deve, ainda, ser de fácil
acesso ao tipo de transporte de
Optou-se por descrever·um forno carvão e lenha a ser utilizado,
com 3 chaminés o que não significa ter boas condiçoes para o
uma definição de forno de encosta, escoamento de água de chuva, e
na medida em que há fornos de ter disponibilidade de água.
encosta com número diferente de
chaminés. Não são necessários cuidados
especiais de preparação do terreno
Nas figuras 9 e 10 são mostrados além do nivelamento da parte de
os desenhos que orientarão a cima do barranco, onde será
construção do forno. "cortado" o forno, e da construção
de canaletas para o escoamento
de água de chuva.
3.1. Escolha e preparação do Mesmo quando o terreno não for
terreno firme, isto é, em regiões de solo
arenoso, ainda é possível a
O aspecto principal na escolha do construção do forno de encosta,
local para a construção de um porém, suas paredes deverão ser
Forno de Encosta é a existência revestidas com alvenaria,
de um barranco em terreno firme, eliminando uma das grandes
com altura adequada ao tamanho do vantagens deste forno que é o
forno que se quer construir. emprego de pequena quantidade de
tijolos.
~lém disso deve-se considerar que,
sendo cortado no barranco e
possuindo apenas uma porta, o 3.2. Marcação e escavação do
trabalho de carga e descarga de terreno
lenha e carvão se dará na área em
Írente ao forno, isto é, na narte Como o Forno de Encosta constitui-se,

Figura 1 O. Corte de um Forno com as medidas básicas para sua construção

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Obs.: Medidas em centímetros

25
na realidade, em um buraco centro do forno (figura 13) •
escavado no barranco em cuja borda
se apoia sua copa, a marcação e Depois de escavado o corpo do
escavação do terreno são passos forno marca-se, a partir do centro
importantes em sua construção. da porta, os locais das chaminés
e "tatus" ou ventaneiras, conforme
A figura 11 mostra como deve ser mostra a figura 9. A figura 13
feita a marcação da circunferência mostra a marcação desses pontos
e da porta do forno. O centro · e as dimensões dos rasgos das
do forno deve estar a 2,80m da chaminés e "tatus",. bem corno o
beirada do barranco. Para se corte feito para a construção dos
marcar a circunferência gira-se, batentes da porta.
em torno de uma estaca cravada no
centro do forno, um cintel ou
gabarito com 2,0m de comprimento. 3.3. Materiais de construção
Antes de iniciar a escavação do Na construção do Forno de Encosta
buraco é necessário fixar o centro utiliza-se apenas tijolos comuns,
do forno, o que é feito terra e areia.
esticando-se um arame liso atado
a duas estacas e passando pelo Os tijolos são maciços, de barro
centro da circunferência (figura cozido, e a argamassa utilizada no
12) • seu assentamento é urna mistura de
terra, areia e água, formando um
Pa~a se achar o centro do forno barro fácil de trabalhar.
depois de escavado o buraco,
mede-se 2 1 0m a partir da parede e, Para fazer a argamassa usa-se a
com um fio de prumo, marca-se o terra que for disponível no local

Figura 11. Marcação do terreno para construção do Forno

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26
em que se está construindo o forno: Os "batentes" da porta vão até
normalmente a terra retirada do ao nível do terreno e devem ter as
buraco no barranco. Deve-se ter o dimensões e amarração mostradas na
cuidado de utilizar a terra da figura 14.
parte do fundo do buraco, pois a
terra da superficie (terra preta A construção da copa começa com o
ou vegetal) não serve para fazer a assentamento de uma fiada de 1
argamassa. tijolo na borda do barranco, sobre
a qual será assentada uma fiada de
Caso haja disponibilidade de areia, meio tijolo em cunha. A inclinação
a quantidade a ser misturada com a desta primeira fiada é dada pela
terra vai depender da função a ser inclinação do gabarito ou cintel.
desempenhada pela argamassa, O cintel terá um comprimento
valendo as mesmas observações equivalente à distância do centro
feitas para o forno Rabo Quente. do piso do forno à 1~ fiada
assentada sobre o barranco
(figura 15) •
3.4. Construção da copa,
chaminés e "tatus" A copa tem espessura equivalente
a 1/2 tijolo e as fiadas são
Os cortes feitos para as chaminés assentadas acompanhando-se a
e os "tatus" são revestidos com inclinação do cintel que vai
tijolos, conforme mostra a figura girando e fechando a copa do forno,
14. Depois de prontas, as chaminés conforme mostra a figura 16.
deverão ficar cerca de SOem mais
altas do que a copa do forno, e os O assentamento dos tijolos da copa
"tatus" 40cm acima do nível do deve ser feito com a menor
terreno. quantidade posslvel de argamassa,

Figura 12. Fixação do centro do Forno durante o início das escavações

27
isto é, apenas com o suficiente com uma camada fina de argamassa,
para uma boa acomodação dos isto é, uma camada que apenas
tijolos. A argamassa utilizada na cubra os defeitos dos tijolos
copa deve ser mais "liguenta", isto formando uma superficie lisa. A
é, deve conter menos areia do que a argamassa utilizada no reves~
utilizada no assentamento dos da copa deve conter um pouco de
tijolos das chaminés e "tatus". areia para'diminuir a quantidade
de trincas que aparecem durante a
Na 15~ fiada, a partir da fiada de carbonização. Sobre a composição da
tijolos em cunha, localizam-se as· argamassa valem as mesmas
"baianas" em número de 6, observações feitas para o forno
correspondendo a cada um dos Rabo Quente.
"tatus". As "baianas" são orificios
de 5 x lOcm (seção transversal do
tijolo) com a função de ventilar 3.5. Fechamento da porta
o forno no inicio da carbonização.
Antes de cada carbonização o forno
Um ponto importante na construção será fechado erguendo-se uma parede
da copa é a junÇão desta com o de 1/2 tijolo no vão da porta,
arco da porta. Para tanto o usando o mesmo procedimento adotado
gabarito mostrado na figura 17 é na construção de outras partes do
apoiado sobre os batentes da forno. ~ comum o fechamento da
porta e inclinado de forma a porta com os tijolos apenas
acompanhar a curvatura da copa. justapostos, isto é, sem argamassa
Sobre o gabarito são assentados de assentamento. Assim, fica mais
tijolos em folha. fácil a demolição da porta após a
carbonização, com melhor
A copa do forno deve ser revestida aproveitamento dos tijolos.

Figura 13. Aspecto do corpo do Forno e dos cortes para "tatus" e chaminés

28
Figura 14. Aspecto dos cortes das chaminés, "tatus" e reforço da porta já
revestidos com tijolos

e "tatus". A substituição dos


3.6. Cura do forno tijolos quebrados evitará danos
A cura do forno consiste na sua maiores ao forno.
secagem lenta. Ela pode ser feita Pela própria condição do Forno de
queimando-se lenha em seu interior, Encosta é conveniente manter em
ou conduzindo-se mais lentamente volta da copa uma canaleta de
as primeiras carbonizações. O escoamento de água de chuva sempre
importante é que não haja um em boas condições. Essa providência
aumento brusco de temperatura evitará uma infiltração excessiva
antes que o forno esteja seco. de água através do barranco para o
interior do forno.
Este procedimento diminuirá as
chances de aparecimento de trincas Da mesma forma recomendada para
na copa do forno, facilitando a o forno Rabo Quente, o barrelruoonto
manutenção e aumentando sua da copa do Forno de Encosta é
durabilidade. fundamental para sua conservação
e para o bom andamento das
carbonizações. O barrelamento é,
3.7. Manutenção aliás, cuidado de manutenção a ser
observado para todos os fornos de
A substituição imediata de tijolos alvenaria.
quebrados é um dos cuidados de
manutenção que devem ser observados. Antes de cada carbonização
deve-se inspecionar as chaminés e
No Forno de Encosta a quebra de os "tatus", limpando-os, caso seja
tijolos pode se dar com maior necessário, para que o fluxo de
freqtiência na porta e nas chaminés gases não seja obstruído.
29
Figura 15. Assentamento da primeira fiada da copa do Forno com utilização do
cintel

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3.8. Materiais e ferramentas Encosta aqui descrito, consumirá


em sua construção cerca de 40
Para se construir um Forno de horas de pedreiro e 120 horas de
Encosta com as dimensões do aqui servente de pedreiro.
descrito são necessários os
seguintes materiais:
3.10. Operação do forno
3.100 tijolos de barro maciços,
1,0 m3 de terra, A operação do Forno de Encosta é
semelhante àquela do Forno Rabo
1,0 m3 de areia. Quente, com algumas diferenças na
condução ou controle da
A construção do Forno de Encosta carboni~ação.
não exige ferramentas especiais.
Os cintéis e gabaritos são As mesmas considerações feitas em
facilmente construidos com madeira relação à lenha a ser enfornada no
e as ferramentas necessárias são Forno Rabo Quente valem para o caso
aquelas comumente utili~adas para do Forno de Encosta, e mesmo para
trabalhar a terra e misturar outros tipos de fornos de alv~ia.
argamassas, isto é, pás, enxadas
ou enxadões, colher de pedreiro, Os mesmos cuidados devem ser
etc. observados a respeito do
carregamento da lenha no forno.
3.9. Mão-de-obra Como o forno aqui descrito tem
1,20m de altura de parede (altura
Estima-se que, em condições do corte no barranco), supõe-se ser
normais de trabalho, o Forno de este o comprimento médio das ·
30
Figura 16. Construção da copa do Forno

toras de lenha, o que proporcionará inexistência de "filas" e mesmo


um carregamento mais homogêneo do a impossibilidade de se avaliar a
que aquele posslvel para o Forno temperatura externa das paredes.
Rabo Quente.
O controle da carbonização será
O trançado da copa é feito à feito com base na quantidade e
semelhança do Forno Rabo Quente, cor das fumaças que saem pelas
procurando sempre preencher todos chaminés.
os espaços vazios, sem, contudo,
obstruir as "baianas". Como o forno possui 3 chaminés e,
nem sempre a frente de
O acendimento do Forno de Encosta carbonização desenvolve-se de
também é feito pela parte superior maneira uniforme, é posslvel que o
da porta, e o procedimento a ser aspecto da fumaça em cada uma das
adotado no inicio da carbonização chaminés não seja o mesmo apôs
ê exatamente o mesmo do Forno Rabo algum tempo de carbonização.
Quente. Fechado o buraco de
acendimento as fumaças co~eçam a . "Escorando-se" um "tatu", isto é,
sair pelas "baianas" e estas serão fechando-se parcialmente sua
fechadas à medida que as fumaças entrada, reduz-se a quantidade de
adquirirem cor azulada. ar naquela região, o que tende
a reduzir a velocidade de
A partir do fechamento das propagação da frente de carbonização.
"baianas" o controle ou condução
de condução da carbonização "Abafando-se" uma chaminé, isto é,
torna-se um pouco mais delicado tapando-se parcialmente a salda das
do que no caso do Forno Rabo fumaças, há, também, tendência a
Quente. Contribui pa~a isto a diminuir a propagação da frente de
31
Figura 17. Detalhes para construção do gabarito utilizado na construção da
porta do Forno
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76 VISTA LATERAL
80

VISTA FRONTAL

PERSPECTIVA

Obs.: Medidas em centímetros

32
carbonização naquela região,
principalmente se os "tatus" mais
próximos forern escorados.
Esses procedimentos tendem a
modificar a circulação de gases no
interior do forno podendo fazer com
que a frente de carbonização mude
sua direção de propagação, e podem
ser utilizados durante toda a
fase de carbonização.
Quando a fumaça torna-se "leve",
isto é, pouco densa e de coloração
azulada ern determinada chaminé,
fecha-se os "tatus" mais próximos,
pois esta é urna indicação de que
a frente de carbonização já
atingiu o fundo do forno na
região daquela charninê. Dependendo
da aparência da fumaça nas demais
chaminés deve-se fechar ou, pelo
menos, "abafar" a própria chaminé.
O aparecimento de brasas no fundo
de urn "tatu", o que é comprovado
visualmente, é indicação segura de
que a frente de carbonização
atingiu aquela região, ou seja, o
"tatu deu pê", e deve ser
imediatamente fechado.
Quando todos os "tatus" e
chaminés estiverem fechados,
barrela-se o forno que entra,
então, na fase de resfriamento.
Como já foi abordado anteriormente
'o barrelamento terna função de
tampar as trincas que podem
aparecer durante a carbonização,
e pode ser necessário mais de urn
barrelamento durante a fase de
resfriamento. Trata-se, assim, de
impedir a entrada de ar através
das trincas, o que atrasaria o
resfriamento.
A descarga do carvão só deve ser
iniciada depois que o forno estiver
suficientemente frio, valendo as
mesmas observações feitas para o
Forno Rabo Quente.
Antes de se iniciar nova
carbonização deve-se ter o cuidado
de limpar o interior do forno,
desobstruir os "tatus" e
chaminés e abrir as "baianas". Esta
operação deve ser rápida para que
o forno não esfrie totalmente.

33
4. Forno de Superfície
Neste manual chama-se Forno de as seguintes condições:
Superfície o forno de alvenaria,
de camisa ou parede cilíndrica, ser plano e amplo;
com copa em forma de abóbada e uma
chaminé lateral de tiragem ter boas condi2ões para o
central. o forno possui duas escoamento de agua de chuva;
portas, sendo uma para o ser de fácil acesso a caminhÕes
carregamento da lenha e outra para e outro tipo de transporte pe~;
descarga do carvão.
ter disponibilidade de água.
o forno aqui descrito tem s,om de
diâmetro, altura total (incluindo a 4.2. Marcação do terreno
copa) de 3,10m e camisa com altura
de l,BOm. Com estas dimensoes o A marcação da base do forno deve
forno tem uma capacidade de cerca ser feita depois que o local de
de 36 estéreos de lenha. sua construção estiver nivelado.
Este forno é mais comumente Para marcar a base do forno
utilizado por empresas que têm crava-se no centro do local onde
reflorestamento próprio e em será construido uma estaca de
baterias de grande porte. madeira roliça, amarrando-se a
ela um arame·liso. o arame deve
O Forno de Superfície tem o aspecto ficar frouxo para poder girar em
mostrado na figura 18. volta da estaca. Estica-se o
arame, e, a 2,80m da estaca
Nas figuras 19a, l9b e l9c, são amarra-se um prego grande. Com o
mostrados os desenhos que servirão arame esticado caminha-se em volta
de orientação para a construção do da estaca marcando o chão com o
forno. prego. Em seguida repete-se a
operação com o prego amarrado a
2,50m da estaca.
4.1. Escolha e preparação do
terreno A base do forno terá uma largura
de cerca de 30cm, ou o equivalente
O Forno de Superfície deve ser a l tijolo e meio.
construido em local plano. Como,
em geral, não se constrói apenas No centro do forno deve ser marcado
um forno mas um conjunto deles ou um quadrado de 40cm de lado, onde
bateria, deve-se ter o cuidado de será construída a caixa de tiragem
escolher um local que seja amplo o da chaminé. Deve-se fazer, também,
suficiente para construir os fornos a marcação da canaleta que ligará
e estocar lenha e carvão. Deve ser a caixa de tiragem à chaminé. Na
previsto, também, um pátio para base da chaminé deve ser marcado
manobra de caminhões. um quadrado de 50cm de lado.
Em resumo o terreno deve preencher A figura 20 mostra com deve ser
35
Figura 18. Aspecto geral de um Forno de Superfície

E3

CJ

feita a marcação, indicando,inclusive, trabalhar.


a posição da chaminé e das portas.
Para fazer a argamassa usa-se
a terra que for disponível no
4.3. Materiais de construção lugar em que se estiver construindo
o forno. A terra que se encontra
Na construção do Forno de na superfície do terreno (terra
Superfície utiliza-se,. praticamente , preta) não serve para fazer a
apenas tijolos comuns, terra e argamassa, devendo-se cavar até
areia. ultrapassar esta faixa de terreno.
Os tijolos são maciços, de A mistura de areia tem o objetivo
barro "cozido", e a argamassa de reduzir as trincas que aparecem
utilizada no seu assentamento é uma no forno durante as carbonizações.
mistura de terra, areia e água, A quantidade de areia a ser
formando um "barro" fácil de misturada vai depender das

36
condições da terra disponivel Superficie.
e da função que a argamassa vai
desempenhar, aspectos já A experiência tem demonstrado que
abordados nos itens anteriores, e a mistura à argamassa de um
válidos, também, para o Forno de material resistente ao calor, como,

Figura 19a. Medidas básicas para marcação e corte do terreno para construção
do Forno
140
100

CORTE "88"

Obs.: Medidas em centimetros

37
Figura 19b. Medidas básicas para construção do Forno

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CORTE "AA'

Obs.: Medidas em centimetros

por exemplo, o cimento de alto será cortado conforme a marcação


forno (AF 320), aumenta a feita, e de acordo com as medidas
durabilidade do forno e reduz o mostradas nas figuras 19a, l9b e
trabalho de manutenção. l9c.
Como não é possivel o es~ec~to A caixa de tiragem é ligada à
de um traço, isto é, a proporção chaminé através de manilhas de
dos componentes da mistura de 30cm de diâmetro, o fundo da
terra, areia, cimento e água que caixa deve ficar, pelo menos,
seja econômica e atenda a todas lOcm mais baixo do que a manilha,
as situações, recomenda-se que os para evitar que pedaços de carvão
interessados procurem a Fundação caiam dentro da caixa e dificultem
Centro Tecnológico de Minas Gerais a passagem dos gases.
para orientação.
A caixa de tiragem pode ser
Outros materiais usados em menor coberta com uma grelha de
quantidade, como parafusos, vergalhÕes ou cantoneiras.
cantoneiras e outros, serão
mencionados durante a descrição do Como será visto adiante, o
processo de construção. gabarito para construção da copa do
forno é apoiado no centro do piso.
Por isto pode ser conveniente
4.4. Construção da base cavar o buraco da caixa de tiragem
somente após a construção da copa
Como mostra a figura 21 o terreno do forno.
38
Figura 19c. Vista superior do Forno
100

Obs.: Medidas em centímetros T = Tatus F = Filas

A base da chaminé deve ser bem O revestimento do fundo do forno


socada e revestida com paredes de com tijolos não é um procedimento
1/2 tij.olo. obrigatório, mas facilitará muito
a limpeza do mesmo após as
A base do forno será construída carbonizações e o carvão produzido
assentando-se na valeta já socada estará mais limpo.
e nivelada, fiadas de 1 tijolo e
meio, ate que a base esteja 1
fiada, pelo menos, mais alta do 4.5. Construção da parede
que o terreno em volta. o fundo
do forno deve ser socado e nivelado Conf.orme os desenhos das figuras
com a base (figura 22) . 19a, 19b e 19c, a camisa ou parede

39

Figura 20. Marcação da base do Forno

tem 1,80m de altura e será carregamento da lenha. As laterais


construída em fiadas de 1 tijolo das portas são reforçadas e a
(cerca de 20cm de espessura). amarração da alvenaria, bem como a
amarração da chaminé à parede do
Na 1~ fiada da parede estão forno são mostradas na figura 23.
localizados os "tatus" que,
conforme já foi mencionado, Ao se atingir a altura desejada
permitem a entrada de ar para a para as portas (1,60m), utiliza-se
carbonização. Os "tatus" têm a para cobrir o vão (l,Om), três
dimensão correspondente à seção cantoneiras de abas iguais
transversal de um tijolo, são em (2" x 1/4") com l,SOm de co:nprimento
número de 12 e estão distribuídos para cada porta. Sobre as
conforme mostra a figura 19c. cantoneiras serão assentadas 2
fiadas de tijolos, sendo que a
Na 15~ fiada estão localizadas segunda coincidirá com a última
as "filas" ou "orifícios de fiada da parede. Esta fiada será
segurança". As "filas", como os de 1 tijolo e meio, constituindo
"tatus", têm a dimensão de 1 tijolo, um beiral que protegerá a parede
são em número de 9 e estão do forno contra a chuva, aumentando
espaçadas umas das outras (figura a durabilidade de seu revestimento
19c). As "filas", além de (figura 23).
funcionarem, também, como entrada
de ar para a carbonização,
permitem o acompanhamento da frente 4.6. Construção da copa
de carbonização, como se verá mais
tarde.
Na construção da copa é utilizado
As portas são pontos críticos do um cintel ou gabarito com 3,10m
forno em termos de durabilidade, de comprimento, que é a distância
pois suas laterais estão sujetias entre o centro do forno e a
a pancadas freqdentes durante o primeira fiada da copa.
40 .

Figura 21. Escavação da base do Forno

A copa tem a espessura equivalente dividida em quatro parte iguais,


a 1/2 tijolo e sua primeira fiada com comprimento de 4,15m que,
é assentada conforme mostra a unidas com parafusos de 12,0cm
figura 24 e o detalhe da figura 25. de comprimento e diâmetro de
Os tijolos da primeira fiada são 16mm (5/8 de polegada), formam
chanfrados (em cunha) para que um anel com raio de aproximadamente
tenham a inclinação do cintel. 2,6Dm. No momento do ajuste da
As fiadas seguintes são assentadas cinta sobre a parede os parafusos
acompanhando-se a inclinação do não devem ser apertados,
cintel 1 que vai girando e mantendo-se as partes da cinta
fechando a copa do forno. separadas umas das outras,
conforme mostra a figura 25.
Depois de assentadas 3 ou 4 fiadas Recomenda-se que, a cada dez
da copa, ajusta-se a cinta que fiadas assentadas, os parafusos
irá sustentá-la. constrói-se esta que unem as 4 partes da cinta
cinta em ferro chato, com sejam ligeiramente apertados. O
espessura de aproximadamente 6mm aperto deve ser igual para todos
e largura de 7,50cm. A cinta é os parafusos, e ao se completar

41
Figura 22. Aspecto da base do Forno bem como da caixa de tiragem e
base da chaminé

a copa deve-se dar um último usar a menor quantidade de


aperto em todos os parafusos. Não argamassa e os tijolos de uma
é necessário que ao final da mesma fiada devem ser muito bem
construção as quatro partes da ajustados uns aos outros.
cinta estejam encostadas ou
ajustadas umas às outras.
4.7. Revestimento do forno
Conforme mostram as figuras 19b e O forno deve ser revestido
19c, há duas séries de oriflcios externamente com a mesma argamassa
na copa, as "baianas", que têm as usada para o assentamento dos
mesmas medidas dos "tatus" e das tijolos. Sobre a argamassa a ser
"filas". :E: pelas "baianas" que utilizada valem as observações
sai a fumaça durante o acendimento feitas nos itens anteriores, A
do forno. A primeira série, com 8 camada de revestimento deve ser
"baianas", coincide com a 14't fina, isto é, apenas suficiente
fiada da copa, e a segunda série para recobrir as juntas e as
com 4 "baianas", está localizada imperfeições dos tijolos.
na 27~ fiada. Durante·o
assentamento dessas fiadas o lugar Um revestim~nto bem feito
das "baianas" é simplesmente aumentará a durabilidade do forno,
deixado vazio. contribuindo, também, para que a
carbonização seja mais facilmente
No assentamento das fiadas deve-se conduzida.
42
Figura 23. Aspecto da amarração da chaminé à parede do Forno e do
assentamento dos tijolos sobre as cantoneiras

4.8. Cura do forno 4.9. Fechamento das portas


A cura do forno consiste na sua Antes de cada carbonização as
secagem lenta. Ela pode ser fei~a portas do forno serão fechadas de
queimando-se lenha em seu interior, acordo com o mesmo procedimento
ou conduzindo-se mais lentamente adotado na construção, isto é,
as primeiras carbonizações. O erguendo-se uma parede de 1/2
importante é que não haja um tijolo de maneira a fechar todo o
aumento brusco de temperatura seu vão.
antes que o forno esteja ~le~te
seco. Este procedimento diminuirá
as chances de aparecimento de 4.10. Manutenção
trincas no forno, facilitando a
manutenÇão e aumentando sua Observando-se alguns cuidados
durabilidade. simples de manutenção, pode-se

43
Figura 24. Assentamento da primeira fiada da copa com utilização do cintel

aumentar muito a vida útil dos um pequeno feixe de sapé. Caso


fornos de alvenaria e facilitar a seja necessária sua aplicação com
marcha da carbonização. as mãos (fechamento de um "tatu"
ou "baiana") , a barrela deverá ser
O barrelamento periódico do forno um pouco mais consistente, isto é,
é um dos cuidados de manutenção feita com·menor quantidade de
que deve ser observado, A barrela água.
é uma mistura de terra.e água, com
a consistência de um mingau. Sua Com o tempo e após vários
aplicação sobre o revestimento do barrelamentos a camada de
forno tem a finalidade de tampar revestimento pode tornar-se muito
as trincas que, normalmente, grossa, sendô aconselhável que o
aparecem durante a carbonização, revestimento seja retirado e
impedindo a entrada de ar através refeito.
delas. A barrela pode ser aplicada
com uma brocha, um caneco ou mesmo os tijolos quebrados ou danificados

44
devem ser imediatamente substituídos. alvenaria.
Atenção especial deve ser dada aos
batentes das portas e aos "tatus", A caixa de tiragem da chaminé deve
"filas" e "baianas", onde há um ser limpa após cada carbonização,
desgaste mais acentuado da oportunidade em que os tijolos que

Figura 25. Detalhe do assentamento das fiadas da copa e montagem da cinta

o
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45
a revestem devem ser examinados e, Além desse aspecto, a construção
se necessário, substituídos. do forno em si, não carece de
ferramentas especiais. Serão
o interior da chaminé deve ser necessários os instrumentos para
inspecionado de vez em quando e, cavar e socar a terra, bem como os
caso haja um acúmulo grande de utensílios normais de pedreiro. Os
"fuligem", esta deve ser raspada e cintéis ou gabaritos utilizados na
retirada pela base da chaminé. Um construção da parede e da copa
dos lados da caixa na base da podem ser construidos no local com
chaminé será desfeito, e, após a réguas de madeira ou outro material
limpeza, reconstruído. Esta qualquer.
operação não ocorrerá freqtlentanente.
4.12. Mão-de-obra
4.11. Materiais e ferramentas
Estima-se que, em condições
Para se construir o forno aqui normais de trabalho, 1 pedreiro e
descrito são necessãrios os 1 ajudante devem gastar cerca de
seguintes materiais: 70 horas de trabalho efetivo,
cada um, para construir este forno.
9,000 tijolos de barro maciços Tal estimativa não inclui a
(não considerando o revestimento mão-de-obra de preparação do
do piso do forno); terreno, na medida em que esta vai
4 manilhas de barro com diâmetro depender de fatores como, por
de 30cm e 0,70m de comprimento; exemplo, o tamanho da bateria ou o
tipo de máquina dispontvel,
4,50m 3 de terra; difíceis de serem aqui quantificados.
3.00m 3 de areia; .
4 cintas de ferro chato com 4.13. Operação do forno
7,5cm (2,5 polegadas) de largura,
espessura de 6mm (1/4 de polegada) O principio de funcionamento do
e comprimento de 4,15m; Forno de Superfície é o mesmo dos
fornos anteriormente descritos,
4 parafusos (com porcas) com isto é, a transformação da lenha
diâmetro de 16mm (5/8 de em carvão se dá por ação do calor
polegada) e comprimento de produzido pela queima de parte da
l20mm; lenha enfornada.
6 cantoneiras de abas iguais, de
50mm, com espessura de 6mm e Sua operação, entretanto, tende a
comprimento de 1,50m; ser mais simples devido,
principalmente, à existência de
1 grelha de ferro redondo (5/8 de apenas uma chaminé e à possibilidade
polegada), ou cantoneiras. de se utilizar as "filas" e
"tatus" para acompanhar o
As quantidades de areia e terra desenvolvimento da frente de
mencionadas acima referem-se a uma carbonização.
situação específica. Essas
quantidades variam de caso para As observações já feitas sobre as
caso, conforme as características condições da lenha a ser enfornada
da terra no local da construção. e sobre o carregamento do forno,
aplicam-se integralmente ao Forno
Da mesma forma, caso seja de Superfície e, como sua altura
necessário, as manilhas podem ter de parede (camisa) é de 1,80m,
outro comprimento, e o ferro chato supõe-se ser este o comprimento
pode ser substituído por outros médio das toras de lenha.
materiais, desde que cumpram as
mesmas funções. O acendimento deste tipo de forno
pode ser feito pela porta, como nos
Como já mencionamos o Forno de fornos já descritos, ou por uma
Superfície, normalmente é das "baianas" mais próximas da
utilizado em grandes baterias. parede.
Neste caso a preparação do terreno
é feita com máquinas pesadas. Como nos fornos anteriores, no

46
inicio da carbonização as fumaças é fechada com uma parede de 1/2
tendem a sair pelas "baianas" e o tijolo (conforme procedimento já
procedimento para o seu descrito), e inicia-se o
fechamento é o mesmo já descrito. carregamento da lenha para a
próxima fornada.
Coro o fechamento das "baianas"
as fumaças passarão a ser
expelidas pela chaminé, então,
deverá ser concentrada a
atenção do operador do forno. ~
o a~pecto da fumaça que indica o
deserrvolvimento da carbonizaç.§:o.
Além disso, a propagação da
frente de carbonização pode ser
acompanhada avaliando-se a
temperatura externa da parede e
através da inspeção visual e
sondagem de "filas" e "tatus".

O Forno de Superfície, pelas •


suas características de construção,
apresenta melhores condições do
que os anteriormente descritos
para que a frente de carboniza2ão
propague. de maneira mais horoogenea
e sob melhor controle do operador.
Ainda assim, por influência de
outros fatores como ventos fortes,
chuvas, etc., a propagação da
frente não é uniforme, sendo
necessário seu controle através do
"escoramento" ou fechamento de
"filas" e "tatus". O procedimento
é semelhante àquele descrito para
o Forno Rabo Quente.

Cons.tatado o final da carbonização


(fumaça pouco densa ("leve") e de
coloração azulada na chaminé e
brasa nos "tatus") a chaminé é
fechada e o forno barrelado para
impedir a entrada de ar durante a
fase de resfriamento. No caso de
aparecerem trincas durante esta
fase, o forno deve ser novamente
barrelado.

O procedimento para descarga do


carvão é o mesmo já descrito para
os outros fornos. Como o Forno de
Superfície possui duas portas,
depois de aberta a porta de
descarga, e, não havendo indicação
de pontos de incêndio (o que pode
obrigar· o fechamento imediato da
porta) abre-se, também, a porta de
carga, para facilitar a ventilação
e melhorar as condições do trabalho
de descarga do carvão.

Terminada a descarga do carvão, a


limpeza do forno e eventuais reparos
na alvenaria, a porta de descarga

47
5. Forno de Superfície
com Câmara Externa
Chama-se Fo~no de Superfície com Este forno (figura 26) tem S,Om de
câmara Externa ao forno de al~ia diâmetro, altura total (incluindo
cilíndrico, com copa em forma de a copa) de 3,10m e parede com
abóbada, uma chaminé lateral de altura de l,BOm. Com essas
tiragem central e uma câmara de dimensões o forno tem uma
combustão externa. O forno com capacidade de cerca de 36 estêreos
câma~a não possui "tatus", "filas", de lenha.
ou "baianas", sendo que o controle
da carbonização dá-se através da Nas figuras 27a e 27b são mostrados
câmara. os desenhos que servirão de
orientação para a construção do
Nos três primeiros tipos de fornos forno e da câmara de combustão.
descritos neste manual, o calor
necessário para transformar a A construção do Forno de Superfície
lenha em carvão é fornecido pela com câmara Externa segue os
queima de parte desse lenha no mesmos procedimentos adotados na
interior do forno. No forno com construção do Forno de Superfície
câmara de combustão, o calor para sendo que a única diferença
a carbonização da lenha é significativa ê a const~ução da
fornecido pela queima, na câmara, pr8pria câmara e o detalhe da
de lenha ou qualquer outro tipo de inexistência de "tatus", "filas"
material como cascas, galhadas, e "baianas".
etc. que, normalmente, não são
aproveitados em baterias de grande Desta forma não serão repetidos,
porte. neste item, os tópicos que tratam
de "Materiais de Construção",
Não havendo queima de lenha no "Construção da Base", "Construção
interior do forno, há um melhor da Parede", "Construção da Copa",
aproveitamento do seu espaço "Revestimento do Forno" e
interno, pois, toda a lenha "Fechamento dàs Portas", já
enfornada pode ser transformada em desenvolvidos para o Forno de
carvão. Além disso, não há Superfície. Além do tópico
necessidade de se controlar a relativo à construção da câmara
entrada de ar no forno, daí a de combustão, só serão retomados
inexistência de "tatus", "filas" aqueles que apresentarem diferenças
e "baianas", o que simplifica sua em relação ao Forno de Superfície.
operação e diminui o trabalho de
alvenaria.
5.1. Marcação do terreno
O forno com câmara é mais comumente
utilizado em baterias de grande A marcação do terreno é feita de
porte e por empresas que têm acordo com o procedimento adotado
reflorestamento próprio e, por para o Forno de Superfície.
isso, trabalham com lenha mais
homogênea, A figura 28 mostra como deve ser
49
Figura 26. Aspecto geral de um Forno de Superfície com Câmara Externa

feita a marcação do terreno, Depois de construída a parte


indicando a posixão da chaminé, superior da câmara, conforme
das portas, da camara de combustão detalhe da figura 30, deve-se
e das entradas do gás quente gerado cobr~-la com terra até nivelar
na câmara. com o terreno em volta do forno.

A câmara de combustão possui uma


5.2. Construção da câmara de grelha que funciona como cinzeiro.
combustão A grelha é feita com tubos de aço
de SOmm de diâmetro e 750mm de
Cortado o terreno, conforme comprimento, assentados durante a
indicado na figura 29, a câmara é construção das paredes laterais,
construída de acordo com os com espaçamento de SOmm entre os
desenhos mostrados na figura 30. tubos e a 20cm do fundo da câmara.

Depois de socado o fundo da câmara A câmara de combustão é provida de


deve ser revestido com uma camada uma porta feita de chapa de aço
de tijolos, As paredes laterais com 6mm (1/4 de polegada) de
que cco.nstituem apenas um espessura. Esta é fixada com
revestimento do corte no terreno dobradiças a um batente, também
feito para a câmara, são de chapa, e chumbada à alvenaria
construídas em meio tijolo. Os da câmara (razão pela qual os
tijolos mais próximos da entrada tijolos próximos à porta devem ser
da câmara devem ser assentados com assentados com argamassa·de
argamassa de cimento. cimento) • Os detalhes de

50
Figura 27a. Medidas básicas para construção do Forno

Obs. : Medidas em centímetros

construção e afixação da porta sao Caso não seja possível fazer uma
mostrados na figura 30. drenagem dessa área de trabalho,
aconselha-se a construção de
com a câmara em operação a porta uma cobertura para evitar que a
é mantida fechada e a "janela" em câmara seja inundada por água de
sua parte inferior permite a chuva.
entrada de ar por baixo da
grelha, melhorando as condfções
da queima do oxigênio do ar. 5.3. Cura do forno
os gases quentea gerados na Além dos cuidados já anteriormente
camara são conduzidos para o mencionados, deve-se considerar que
interior do forno através de três a câmara é um ponto crítico em
tubos construidos com manilhas termo de cura, pois em seu
(figura 27a). Dois deles, os interior são geradas altas
laterais, são construidos com temperaturas, Assim, durante a
manilhas de 20cm de diâmetro e o fase de cura do forno, a câmara,
terceiro, o central, com manilhas também, deve ser queimada
de 15cm, Nas extremidades dos lentamente. A cura cuidadosa do
tubos são construídas caixas de forno diminuirá as chances de
30 x 30cm e 15 x lScm, aparecimento de trincas.
respectivamente, revestidas com
tijolos em folha e protegidos por 5.4. Manutenção
uma grelha. Os fundos dessas
caixas devem ficar lOcm abaixo Além dos cuidados de manutenção
da boca das manilhas para evitar mencionados para o Forno de
que peda~os de carvão dificultem a Superfície, deve-se dar atenção
circulaçao de gases (figura 27b) . à porta de aço da câmara. Apesar
de não estar sujeita a altas
Como a câmara é construída temperaturas, a porta pode sofrer
abaixo do nível do terreno, é empenamentos que devem ser
necessário prever, além de uma corrigidos. Caso contrário, ao se
área de trabalho em frente fechar a porta não se conseguirá
à câmara, um acesso conveniente. boa vedação.

51
A limpeza freq~ente do c~nzeiro
sob a grelha é importante na
5.5. Materiais e ferramentas
medida em que permitirá boa Para se construir um Forno de
circulação de ar, e, con~~, Superficie com Câmara, como o aqui
uma queima mais homogênea. descrito, são necessários os

Figura 27b. Corte do Forno com as medidas básicas para sua construção

I"~~~ '" 1019


1"1 ... ... ...
CORTE ')./(

Obs.: Medidas em centimetros

Figura 28. Marcação do terreno para construção do Forno

52
Figura 29. Corte do terreno para construção do Forno

seguintes materiais: 4 grelhas de ferro redondo (5/8


de polegada) ou cantoneiras;
9200 tijolos de barro (maciço.) ; 14 tubos de aço com diâmetro
11 manilhas de barro com (externo) de 50mm e 75cm de
diâmetro de 30cm e 70cm de comprimento;
comprimento; 1 porta para a câmara em chapa
2 manilhas de barro com diâmetro de aço de 6mm (1/4 polegada)
de 15cm e 70cm de comprimento; de espessura;
4,50m3 de terra;
As mesmas observações feitas no
3,00m3 de areia; item anterior para o materiais e
4 cintas de ferro chato com ferramentas utilizados na
7,5cm (2,5 polegadas) de largur~ construção do Forno de Superficie,
espessura de 6mm (1/4 de polegada) valem para o Forno de Superficie
e comprimento de 4,15m; com câmara Externa.
4 parafusos (com porcas) com Na lista apresentada não foi
diâmetro de 16mm (5/8 de incluido o cimento recomendado para
polegada) e comprimento de 120mm; a conclusão da porta da câmara e
• 6 cantoneiras de abas iguais, de chumbamento do batente, apenas
50mm, com espe~sura de 6mm e porque ele é utilizado em pequena
comprimento de 1,50m; quantidade.

53
Figura 30. Detalhes da construção da câmara de combustão
A

C HUMBA D ORES

V I STA FRONTAL VISTA LATERAL

BATENTE

~ C(~€1lll
... :.

, .6 I lO I I6 I I~: I 26 ' I6 I 70 20

VISTA SUPERIOR CORTE "AA.' CO RTE "BB"

5.6. Mão-de-obra enfornada, sobre os cuidados


necessários para o carregamento do
Estima-se que, em condições forno e descarga do carvão
normais de trabalho, l(urn) pedreiro produzido, aplicam-se, também, ao
e l(urn) ajudante devem gastar cerca Forno de Superfície com Câmara de
de 10 horas de trabalho efetivo, Externa.
cada um, para construir a cãrnara
de combustão e assentar as Corno naqueles fornos, o
manilhas que conduzirão os gases desenvolvimento da carbonização
quentes. é acompanhado pelo aspecto das
fumaças que saem pela chaminé.
Desta forma, a construção do forno Neste caso, quando a fumaça
consumirá cerca de 80 horas de torna-se pouco densa e de
trabalho de um pedreiro e de um coloração azulada, é indicação de
ajudante, valendo as mesmas que a frente de carbonização
observações feitas no item anterior atingiu o fundo do forno, e a
para o Forno de Superficie. carbonização está no fim. A
temperatura das paredes do forno
é, ta~érn, urna boa indicação da
5.7. Operação do forno evoluçao da carbonização.

As observações feitas para os Diferentemente dos fornos já


fornos já descritos, em especial des c ritos anteriormente, o
para o Forno de Superfície, sobre con ·t __;:_ o le da carbonização ê feito
as condições da lenha a ser ex cl usivamente através da câmara

54
de combustão, na medida em que
esse forno não possui "tatus",
"filas" e "baianas" que, nos
demais fornos funcionam como
entradas de ar.
Depois de acesa a câmara, o
controle da carbonização se dâ pela
quantidade de ar que se deixa
entrar em seu interior. Com a porta
da câmara fechada, a quantidade
de ar ê regulada pela abertura da
janela na parte inferior da porta.
Em princípio, a c~mara deve ser
mantida acesa durante toda a fase
de carbonização. O controle da
chama na câmara é feito de modo a
não permitir a entrada de oxigênio
para o interior do forno,
procedimento que evitar'á a queima
da lenha enfornada. A alimentação
da câmara deve, portanto, ser feita
de tal maneira que não falte lenha
para queima, e que não seja
queimada lenha em excesso.
A um maior volume de ar que se
deixa entrar na câmara
corresponderá uma carbonização mais
rápida e, também, à queima de maior
quantidade de material na câmara.
~ preciso, portanto, procurar o
ponto de equilíbrio que tornará a
produção de carvão neste forno mais
econômica.
Ao final da carbonização a porta da
câmara e a janela existente em sua
parte inferior são fechadas e
vedadas com barro. O forno é
barrelado e, não havendo mais
emissão de fumaça pela chaminé,
esta também é vedada com tijolos e
barro. Inicia-se, assim, a fase de
resfriamento, que será a~
das mesmas operações descritas
para os fornos anteriores.

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SPT-001 USO DA MADEIRA PARA FINS ENERGÉTICOS

SPT-002 2!! PLANO DE DESENVOLVIMENTO INTEGRADO


DO NOROESTE MINEIRO

SPT-002/S 22 PLANO DE DESENVOLVIMENTO INTEGRADO


DO NOROESTE MINEIRO -Síntese

SPT-002/M 22. PLANO DE DESENVOLVIMENTO INTEGRADO


DO NOROESTE MINEIRO - Mapas

SPT-003 MANUAL PARA CONSTRUÇÃO E OPERAÇÃO DE


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SPT-006 CARVÃO VEGETAL • Destilação • Carvoejamento


• Propriedades • Controle de qualidade

SPT-007 MANUAL DE CONSTRUÇÃO E OPERAÇÃO DE


FORNOS DE CARBONIZAÇÃO
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